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INSTITUTO

POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

ESCOLA SUPERIOR DE ARTES APLICADAS


Mestrado em Ensino de Música – 1º ano


Música: ainda é só para alguns?
Bandas Filarmónicas: a porta de entrada para o ensino da música em
Portugal em meios sociais mais desfavorecidos



Maria José Fonseca, nº32011018




Trabalho realizado para a unidade curricular:
Análise Social da Educação

Sob a orientação da docente Margarida Afonso


3 de Janeiro de 2017
Índice


1. Introdução ....................................................................................................................... 2

2. Contextualização histórica das Bandas Filarmónicas ...................................... 3

3. A importância social de uma Banda Filarmónica ............................................... 5

3.1. Contributo das Bandas para a socialização/aproximação dos jovens e das
famílias. .......................................................................................................................................... 5

4. Competências adquiridas por uma criança que estuda música .................... 6

4.1. As oportunidades que se geram quando uma criança aprende música. ......... 7

5. Conclusão/Considerações finais .............................................................................. 8

6. Referências Bibliograficas: ........................................................................................ 8

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1. Introdução
O presente trabalho visa apresentar uma pequena reflexão acerca do
contributo das Bandas Filarmónicas e da função social que estas têm
desempenhado ao longo dos tempos, no nosso país.
Este trabalho insere-se no âmbito da unidade curricular de “Análise Social da
Educação” do Mestrado de Ensino de Música.
Foram questões relacionadas com a integração social que me conduziram
e atraíram para a realização deste trabalho e também pelo facto de ter muitos
colegas que iniciaram a sua formação em Bandas Filarmónicas. Com os
conteúdos desta Unidade Curricular foi-me possível equacionar as minhas
questões de uma outra forma.
O ensino da música em Portugal, até há bem pouco tempo, era
centralizado numa determinada elite. Este tipo de ensino, apesar de já ter sofrido
algumas modificações e de o seu acesso ter melhorado consideravelmente,
continua ainda hoje a ser algo elitista.
Em Portugal, graças às Bandas Filarmónicas, o acesso a este tipo de
ensino tem sido mais favorável a meios sociais mais desfavorecidos, oferecendo
a oportunidade de esses meios se integrarem num ambiente musical. Na grande
maioria dos casos, as Bandas Filarmónicas fornecem os instrumentos musicais
aos alunos e desta forma não necessitam de comprar um instrumento para
aprender a tocar. A atividade das Bandas Filarmónicas é uma realidade muito
presente no nosso país, nomeadamente em muitas aldeias com cidades próximas
em que o êxodo rural não está tão presente.
A cultura é um conceito demasiado complexo para se discutir em poucas
palavras. No entanto de acordo com Alves (2013, p.21) citando Taylor, citado por
Trilla (1997: 20) enuncia que cultura “é o modo complexo que inclui
conhecimentos, convicções, arte, leis, moral, costumes e qualquer outra
capacidade e hábitos adquiridos pelo homem na qualidade de membro de uma
sociedade” . Alves (2013, p.21) refere ainda que de acordo com o mesmo autor,
de uma forma mais simples, cultura são todos os conhecimentos, valores,
tradições, costumes, formas de relacionamento que se transmitem de geração em
geração, na vida social, sendo adquiridos através de aprendizagens.

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O Homem como ser naturalmente social e dependente, que vive em grupo,
vai procurar e colmatar as necessidades e insuficiências para atingir objetivos
traçados. As Bandas Filarmónicas são parte das necessidades pertencentes a
determinadas comunidades.
Como se criaram as Bandas Filarmónicas e em que contexto? Que
objetivos têm uma Banda Filarmónica? Qual o contributo das Bandas
Filarmónicas na socialização dos jovens e das suas famílias? Que oportunidades
pode ter uma pessoa que frequente uma Banda Filarmónica e que oportunidades
poderá dar aos outros? Estas são as questões que nos irão orientar neste
trabalho.
Para isso, começarei por fazer uma breve contextualização histórica das
Bandas Filarmónicas.

Palavras-chave: Bandas Filarmónicas; educação musical; cultura; socialização;
integração, inclusão.

2. Contextualização histórica das Bandas Filarmónicas


A enciclopédia The New Grove Dictionary of Music and Musicians define o
conceito de banda como uma combinação de instrumentos de sopro e percussão,
ou sopro, metais e percussão.

Segundo Alves (2013, p.45) cintando Clemente (2009, p. 11) “A origem


das Bandas de Música remonta aos movimentos militares, uma vez que surgiu a
necessidade de o homem “poder comunicar, coordenar, educar as suas
populações e tornar os seus exércitos mais eficazes nas lutas que travavam
contra os seus inimigos”

Não há um data exacta que possa indicar o inicio das bandas, no entanto
há referências a grupos musicais no Antigo Testamento da Biblia.

As bandas militares, segundo Clemente (2009, p. 11), ao tocarem e


marcharem serviam para amedrontar os inimigos e assim foi durante muitos
séculos.

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As Bandas Filarmónicas nascem de um impulso de uma festa ou mecenas,
de uma ocupação dos tempos livres, dando corpo a encontros informais de
músicos. Sofrem uma enorme evolução “com melhorias nos instrumentos, fardas,
repertórios, sedes e espaços de ensaio”, Alves (2013, p. 48) citando Maria José
d’Alpium (2011, p. 22).

Segundo Alves (2013, p. 48), em Portugal existem bandas com mais de


200 anos, como é o caso da Banda de Golães em Fafe (Braga), também conhecida
como Sociedade Artísitica Musical Fafense. Por outro lado, a falta de
documentação dificulta a exatidão do surgimento das bandas filarmónicas
portuguesas.

“O registo da primeira Banda Filarmónica em Portugal (incluindo Açores


e Madeira) data de 1700, a da Pampilhosa da Serra no destrito de Coimbra.”
(Alves; 2013, p. 49)

Como já se referiu, Clemente (2009, p. 11) indica-nos que o aparecimento


de alguns instrumentos de sopro ao longo da história da música é recorrente,
nomeadamente as trompetas.

Em Portugal a atividade musical focava-se maioritariamente na corte e no


clero, mas segundo Alves (2013, p. 49) citando Franco (2011, p. 49) entre 1580 e
1640 na Dinastia Filipina houve um grande investimento na música. Os melhores
alunos eram enviados para Itália, a sede da grande escola musical mundial da
época. Este investimento veio, logicamente, contribuir de maneira positiva para
o desenvolvimento da musica em Portugal.

De acordo com Alves (2013, p. 49) devido às invasões Napoleónicas,


houve um abalo nas Bandas Filarmónicas que mais tarde ressurgiram com a
organização das tropas portuguesas. Ainda segundo a mesma autora “Em 1814
afirma-se a existência de uma lei que incentivava o serviço militar a quem se
dedicasse a aprender música, levando a uma enorme adesão, uma vez que o país
já estava saturado de tantas guerras. No entanto, há uma constante redução do
número de Bandas Militares. Em 1988 passam a existir apenas quatro (em
Lisboa, Porto, Évora e Açores)”.

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3. A importância social de uma Banda Filarmónica
Segundo Pereira (2014, p. 2) as Bandas Filarmónicas são financiadas
pelas autarquias (poder local).
Alves (2013, p. 49) citando Clemente (2009, p. 3) defende que as Bandas
Filarmónicas “constituem-se como instituições de caráter social e cultural que
proporcionam às populações envolventes o contacto com a realidade musical”.
Um dos grandes objetivos das Bandas Filarmónicas passa por desenvolver um
papel social, cultural e educacional fundamental no seio das populações mais
afastadas dos centros urbanos.

As Bandas Filarmónicas participam em várias festas populares (incluindo


procissões em alguns casos) e geralmente nessas festas poderá haver mais do
que uma banda o que estimula, mais uma vez, o convívio entre pessoas de várias
zonas.

Existe um site na internet (www.bandasfilarmonicas.com) que tem


informações sobre as atividades das Bandas Filarmónicas no país e que também
no qual se podem encontrar entrevistas de maestros ou músicos portugueses de
renome, artigos sobre Bandas Filarmónicas e outros eventos como
masterclasses, cursos e concursos. É uma ferramenta muito útil para a
comunicação e partilha de experiências entre músicos e bandas.

3.1. Contributo das Bandas para a socialização/aproximação dos


jovens e das famílias.
De acordo com Pereira (2014, p. 2) “as Filarmónicas podem ser vistas
predominantemente como Bandas Comunitárias e centros de socialização
locais”. Refere ainda que nas Bandas Filarmónicas se podem “encontrar sentadas
três gerações: avós, filhos e netos” e ainda “que desde há muito tempo que a
igualdade de género é o seu apanágio, não distinguindo entre homens e
mulheres.” Podemos dizer que são “centros de acolhimento universais” e uma
excelente forma de integração e convívio.
Como acima já foi referido, nas Bandas Filarmónicas muitas vezes se pode
encontrar vários agregados familiares e isso pode ser uma oportunidade para a

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socialização entre esses agregados, já que nos dias que correm os pais passam
cada vez menos tempo com os filhos e vice-versa.

4. Competências adquiridas por uma criança que estuda


música
As competências que uma criança adquire quando estuda um instrumento
musical, trazem-lhe entre outros aspetos sensações de bem-estar geral como nos
indica Chiarelli e Barreto (2005, p. 7) e, por sua vez, vai gerar em princípio, uma
maior estabilidade emocional.
A aquisição de competências musicais nos agregados familiares que
frequentam uma Banda Filarmónica, vão transformar-se em oportunidades de
melhoria das relações familiares como, por exemplo, tocar em casa uns com os
outros ou uns para os outros, de tocar para amigos ou até outros familiares. O
amigos poderão também interessar-se por aprender música e poderão até tocar
uns com os outros ou tocar uns para os outros também.
Ainda no caso dos agregados familiares os pais poderão ajudar os filhos,
pois também entendem a linguagem musical e assim a criança poderá sentir-se
mais apoiada nessa matéria.
Crianças com problemas de concentração ou até necessidades educativas
especiais, de acordo com Chiarelli e Barreto (2005, p. 8) “atividades relacionadas
com a música servem como estímulo para crianças com dificuldades de
aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras de
necessidades especiais.”
Ainda segundo os mesmos autores a música pode “servir de calmante,
reduzindo a tensão em momentos de avaliação” e também pode ser usada como
um recurso na aprendizagem de várias disciplinas. Portanto, isto pode dar ao
aluno um leque de ideias que possam ajudar na assimilação das matérias da
escola.

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4.1. As oportunidades que se geram quando uma criança aprende
música.
A aprendizagem da música pode contribuir para a economia da cultura,
pois os alunos que estudam música naturalmente vão procurar concertos de
música e isso vai gerar uma maior procura por parte deste tipo de público. Os
alunos ao estudarem música vão procurar interpretações do repertório que
estão a estudar tocadas por profissionais e, desta forma, a procura de concertos
vai aumentar podendo até dar emprego a músicos portugueses.
Quanto maior for o número de pessoas que estudem música maior é a
procura pelo consumo de cultura.
Tomemos como exemplo o caso da Alemanha, já com uma longa tradição
na música e outras artes, que apresenta valores no consumo de cultura bastante
significativos. No entanto, não podemos esquecer que, como nos diz o escritor
Wolfgang Menzel, a Alemanha é conhecida como Das Land der Dichter und
Denker (uma nação de poetas e filósofos).
Segundo o Estudo de Mercado da Alemanha editado pela Associação Textil
e Vestuário de Portugal, um alemão, em média, gasta 9,5% do seu ordenado em
cultura e lazer e 0,8% em educação.
Em Portugal, de acordo com os dados da Pordata, a cultura representa
0,3% do PIB de 2000 até 2006 e tem vindo a decrescer, depois deste período,
ficando nos 0,1% em 2015. Na Alemanha, segundo o Ministro da Cultura Bernd
Neumann numa entrevista à Agência Brasil em 2013, a cultura tem variado entre
0,8% e 1,9% do PIB. Nessa mesma entrevista o Ministro da Cultura Bernd
Neumann referiu que a Alemanha foi o único país da Europa que não reduziu os
custos na cultura.
Na Alemanha existe um conceito denominado Hausmusik (música caseira
ou, mais propriamente, música de câmara) que é muito habitual em ambientes
familiares. Como é um país que contribui imenso para o desenvolvimento da
cultura, é muito comum, desde há muito tempo, ver famílias em que cada um
sabe tocar um instrumento e há vários arranjos musicais de repertório famoso
para as mais estranhas formações que se pode imaginar. As Bandas Filarmónicas
em Portugal contribuem, de certa forma, para o conceito de Hausmusik no nosso
país.

5. Conclusão/Considerações finais
As Bandas Filarmónicas são uma excelente forma de integração e convívio
social e têm contribuído para a formação de muitos músicos profissionais ao
longo dos tempos em Portugal.
Para além da formação de músicos profissionais, as Bandas Filarmónicas
criam um ambiente saudável entre os jovens e famílias. De acordo com Chiarelli e
Barreto (2006, p. 9) “a música é concebida como um universo que conjuga
expressão de sentimentos, ideias, valores culturais e facilita a comunicação do
indivíduo consigo mesmo e com o meio em que vive.”
Este tipo de ensino pode, de certa forma, satisfazer algumas das
necessidades de meios sociais mais desfavorecidos que não possuem
capacidades monetárias de colocar os filhos em conservatórios ou escolas de
música privadas, já que os conservatórios nacionais são de alguma forma
limitados em relação ao resto do país. Desta forma os meios rurais e vilas com
acesso dificultado às cidades conseguem ter acesso ao ensino da música sem que
as famílias tenham demasiados custos monetários. Por esta razão é importante
dar valor às Bandas Filarmónicas e continuar a financiar este tipo de ensino, não
só pelo valor cultural mas também pelo desenvolvimento social que estas
acarretam especialmente em meios sociais mais desfavorecidos.
De acordo com o nosso ponto de vista, o acesso ao ensino da música ou de
qualquer outra arte é fundamental para o desenvolvimento de uma criança, pois
a arte coloca questões e incentiva à constante procura de respostas.

6. Referências Bibliograficas:
CHIARELLI, Lígia Karina Meneghetti; BARRETO, Sidirley de Jesus; A Música como
meio de desenvolver a inteligência e a integração do ser; Revista Recrearte, Nº3,
Junho de 2005
PEREIRA, Rui Penha; 2014; A Importância Histórica, Educativa Cultural das
Bandas Filarmónicas em Portugal

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LEMOS, Ana Silva Alves; 2013; A Banda Filarmónica como Associação e meio de
Animação Sóciocultural: Estudo de caso da Banda de Amares; Universidade do
Minho; Instituto de Educação
DOMINGOS DE CARVALHO, Delmar; A História das Bandas; Artigos Meloteca
2009
MOTA, Graça; 2009; Crescer nas Bandas Filarmónicas, Um estudo sobre a
construção da identidade musical de jovens portugueses; Edições Afrontamento
Estudo de Mercado da Alemanha; Associação Têxtil e Vestuário de Portugal

Webgrafia:
www.bandasfilarmonicas.com
https://sapientia.ualg.pt/handle/10400.1/5994
http://www.iacat.com/Revista/recrearte/recrearte03/musicoterapia.htm
http://www.make-it-in-germany.com/de/fuer-fachkraefte/deutschland-
kennenlernen/deutschland-im-portraet/kultur
file:///Users/mariajosefonseca/Desktop/Estudo%20de%20Mercado%20Alema
nha.pdf
http://www.pordata.pt/Portugal/Despesas+do+Estado+em+percentagem+do+P
IB+por+algumas+fun%C3%A7%C3%B5es-2778
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/agenciabrasil/noticia/2013-08-
22/ministro-alemao-defende-papel-da-cultura-na-inclusao-social-e-no-
desenvolvimento-dos-paises





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