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AO JUÍZO FEDERAL DA __ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO W

MÉVIO, brasileiro, solteiro, estudante universitário, portador do RG nº __,


inscrito no CPF nº __, residente e domiciliado na (endereço) capital do Estado W, CEP, e-
mail, por intermédio de seu advogado, que ao final subscreve, com escritório profissional sito
à (endereço), onde recebe notificações e intimações (art. 77,V), vem respeitosamente, com
fulcro no art. 5º, LXIX e art. 1º da Lei 12.016/2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

Contra ato praticado pelo _____ (autoridade coatora), qualificação, com sede de
suas atividades no endereço, o qual é vinculado a pessoa jurídica de direito público, ÓRGÃO
FEDERAL DA UNIÃO, nos termos do art 5º, LXIX da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1998 e da Lei nº 12.016/09, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos.

RESUMO FÁTICO

O Sr. MÉVIO, doravante impetrante, matriculou-se em Universidade particular


na data de **/**/****, ao passo que requereu seu ingresso em programa de bolsas de estudos
financiado pelo Governo Federal, apresentando toda a documentação exigida.

Ocorre que fora surpreendido com negativa do ÓRGÃO FEDERAL competente, ato
esse praticado pelo Sr. ____, que aduziu que o impetrante não preencheu os requisitos legais.
Dentre eles, está a exigência, em que pese descabida, de o requerente pertencer a determinada
etnia, vez que a justificativa é que o programa é exclusivo de inclusão social para integrantes
de grupo étnico descrito no edital, podendo, ao arbítrio da Administração, ocorrer integração
de outras pessoas, caso ocorra saldo no orçamento do programa. O que revela ser totalmente
inconstitucional, por violar diretamente princípios fundamentais e princípios da
Administração.
O impetrado, informou que existe saldo e que, por isso, o requerimento do
impetrante ficará no aguardo do prazo estabelecido em regulamento. Porém, cumpre destacar
que, o referido prazo não consta na lei que instituiu o programa, tão pouco, especificou a
limitação do financiamento para grupos étnicos. Assim, violando diretamente o princípio da
legalidade.

É de se destacar ainda, que devido a negativa do Órgão Federal, a matricula na


Universidade particular ficou suspensa, prejudicando a continuação no curso superior, visto o
valor da mensalidade por ano ser correspondente a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sendo um
curso de 4 (quatro) anos, não tendo condições assim, o impetrante, de arcar com seus estudos.

Desta forma, o impetrante não encontrou outra saída, senão buscar via judicial,
seu direito líquido e certo, pelo presente Writ, rogando para que ao final, tenha uma deslinde
satisfatória.

DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO

VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


Tanto a negativa do Órgão Federal, mas também o próprio instrumento editalício
que instituiu a limitação do financiamento a determinado grupo étnico, reverte se de
inconstitucionalidade, visto os mesmos discriminarem arbitrariamente o impetrante, que por
sua vez é amparado pela Lei Maior, e a lei ordinária (aquela que instituiu o programa) que em
seu texto, não limita o programa a determinada etnia.

De acordo com o art. 5º, inciso II, da Constituição Federal:

“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa


senão em virtude de lei”.
O que se extrai do dispositivo é um comando geral e abstrato, do qual concluímos
que somente a lei poderá criar direitos, deveres e vedações, ficando os indivíduos vinculados
aos comandos legais, disciplinadores de suas atividades.

Neste ponto, cumpre destacar que o ato normativo que instituiu o programa de
bolsa não limita, tão pouco menciona qualquer exclusividade do financiamento a
determinados grupos étnicos, o que por inversamente faz o instrumento editalício, visto que
limita tal financiamento, dando origem a violação ao direito líquido e certo do impetrante.
Dessa maneira, há clara violação ao princípio da legalidade, visto que o
instrumento editalício criar arbitrariamente requisito não previsto em lei, afrontando
diretamente o texto constitucional.

Embasando tal entendimento, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal:

EMBARGOS INFRINGENTES. CONCURSO PÚBLICO. NOMEAÇÃO.


NORMAS DO EDITAL EM CONFRONTO COM A LEI.
- A presunção de legalidade e legitimidade da norma editalícia não é
absoluta, sendo passível de perder sua vinculação quando seu conteúdo
estiver em confronto com a norma legal, devendo esta prevalecer sobre
aquela.
- Embargos infringentes improvidos.
(processo: EIAC 143533 RS 2000.04.01.143533-1, relator: relatora. Data do
julgamento: 15/01/2003.)
Portanto, entendemos que deve o edital ser preterido naquilo em que confronta
com a lei que o instituiu, além daquilo em confronto com a lei Magna.

VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA


O impetrante, o Sr. Mévio, requereu ingresso em programa de bolsa financiado
pelo Governo Federal, o que para tanto matriculou se em universidade particular. Porém, sua
pretensão fora injustamente denegada, sob a justificativa que o impetrante não atendera ao
requisito de pertencer a determinada etnia, mesmo tal requisito não estando previsto no ato
normativo que instituiu o programa, violando a legalidade do ato.

Além da violação supracitada, o ato praticado pelo impetrado afronta diretamente


os direitos fundamentais postos na Constituição Federal, em especial aqueles dispostos no art.
5º e 6º da Constituição Federal de 1988. Para tanto, analisemos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.
É direito de todos os brasileiros, independente de raça, cor e etnia, o acesso à
educação, de forma igualitária e sem discriminação. Assim sendo, a negativa do Órgão federal
baseada na limitação disposta em Edital, viola não somente a legalidade, como também,
ofende ao princípio da Isonomia.

No que tange ao princípio da Isonomia, por estar expresso no texto constitucional,


possui relevância, sendo, portanto, norma constitucional para a qual todas as demais devem
obediência. Esse é o entendimento da Doutora em Direito Constitucional FERNANDA
DUARTE LOPES LUCAS DA SILVA: “O princípio da igualdade ou da isonomia é norma
constitucional, e portanto, cogente, vinculando não só a produção legislativa, mas também a
atividade de aplicação da norma, orientando-a e inspirando-a.”

À luz do dispositivo constitucional (art. 5º CF/88), que prescreve a igualdade de


todos perante a lei, por se tratar de norma fundamental, pode-se dizer que tanto o legislador
como o aplicador da lei devem tratar todos os indivíduos de forma igualitária de modo a não
fazer qualquer distinção.

In casu, clara fica a violação a igualdade, pois o Órgão Federal não poderia usar
do financiamento para beneficiar somente uma determinada etnia.

VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL A EDUCAÇÃO

Salienta se igualmente violação ao direito fundamental a educação. Essa se dando


pela negativa do Órgão Federal, perfazendo até a suspensão da matricula do impetrante.

O direito à educação encontra-se previsto na redação do art. 6º da CF/88, que


tratou dos direitos sociais, e encontra sua regulação a partir do artigo 205. O art. 6º diz que:

Art. 6º “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição.”
Art. 205-“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
Aduz ainda o art. 206 da CF/88:

“Art. 206 O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola
Evidente é violação no caso concreto, pois as limitações impostas e a negativa do
impetrado, resultaram na suspensão da matricula do impetrante, que sem a bolsa do programa
não tem as mínimas condições de arcar com os valores do curso superior na Universidade.

Portanto, cristalino torna se, o direito fundamental do impetrante em ter acesso à


educação.

OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

Ademais, destaca se que ato arbitrário de poder incluir outras pessoas caso ocorra
saldo no orçamento do programa ofende diretamente os princípios da Administração Pública,
exemplificados no art. 37 da CF/88:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
Tal ofensa perfaz pelo simples motivo de a Administração pública não comportar
atos arbitrários, sendo estes inconfundíveis com atos discricionários.

Os atos discricionários podem ser entendidos como um poder, atribuído ao Estado


para alcançar, da melhor maneira, situações não previstas pelo legislador, agindo com
idoneidade, respeitando os princípios constitucionais e de forma limitada.

Não deve, portanto, o Ato Administrativo Discricionário, ser em hipótese alguma,


confundido com ato arbitrário. O ato arbitrário é ilegítimo e inválido, pois agride de forma
veemente os princípios constitucionais e da administração pública.

Com muita propriedade, nos ensina o professor Celso Bandeira de Mello (2002,
p.83): “Não se confundem discricionariedade e arbitrariedade. Ao agir arbitrariamente o
agente estará agredindo a ordem jurídica, pois estará se comportando fora do que lhe
permite a lei. Seu ato, em consequência, é ilícito e por isso mesmo corrigível judicialmente.”.

Desta forma, não resta dúvidas sobre a ofensa sobre os princípios da


Administração, oriundos do ato praticado pela autoridade coatora, Sr. ____, vinculado ao ente
público Órgão Federal.
Da Medida Liminar
O artigo 7º, III da Lei 12.016/2009, que disciplina o Mandado de Segurança,
prevê:
Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando
houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a
ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado
exigir da impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de
assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica (grifo nossos).
Como demonstrado, o caso apresenta os requisitos do fumus boni iuris e
periculum in mora, que são de total importância para a concessão da medida liminar.

Em relação ao fumus boni iuris, o bom direito está demonstrado através de todas
as fundamentações expostas, encontrando amparo em jurisprudências, e na Constituição
Federal, que comprovam o direito líquido e certo do Sr. MÉVIO, devendo prevalecer seu
direito fundamental a educação, atendendo aos princípios da legalidade e isonomia.

Assim como o periculum in mora, que nada mais é do que o proeminente perigo,
que é indiscutível no caso em tela, haja vista de que se não concedida a liminar, o direito de o
impetrante cursar seu ensino superior, legalmente conquistado, irá ser lesado. Ainda, visto que
a matricula do mesmo está suspensa, enquanto o período letivo aproxima-se, há iminente
perigo de prejuízos educacionais, podendo resultar em perda da própria bolsa de estudos ora
em lide.

Desta feita, roga-se.

DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer-se:

a) Que seja concedida em sede de MEDIDA LIMINAR a concessão de


bolsa financiada pelo Governo Federal, visto o impetrante cumpriu todos os requisitos
legais, além de manter junto a Universidade particular, a MATRICULA DO
IMPETRANTE já com a bolsa ofertada e concorrida;
b) A notificação do Órgão Federal, para apresentar suas informações no
prazo de 10 dias conforme artigo 7º, I da Lei 12.016/2009;
c) Manifestação do Ministério Público Federal para atuar como fiscal do
ordenamento conforme artigo 12º da Lei 12.016/2009;
d) A concessão definitiva da segurança e a ratificação da liminar no
sentido de assegurar o direito líquido e certo a nomeação do impetrante;

Dá-se o valor da causa R$ 1.000,00 (hum mil reais) para fins legais

Nestes termos

PEDE DEFERIMENTO

Advogado/OAB
Cidade/Estado W

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