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ESBOÇO DO ANTI-PROJETO PARA O MESTRADO EM 

FILOSOFIA DA UFC 

CANDIDATO: CHARLES ODEVAN XAVIER 

TÍTULO: A IRRACIONALIDADE DA RATIO 


OCIDENTAL: O PENSAMENTO ICONOCLASTA DE 
ROBERT KURZ. 

 
Este  estudo  toma  como  base  de  reflexão  o  ensaio  ​Razão  Sangrenta:  Vinte  Teses  contra o assim 
chamado  Esclarecimento  e  os  <<valores  ocidentais>>  do  publicista  e  pensador  alemão  Robert 
Kurz e traduzido pelo professor Fernando Ribeiro de Moraes Barros. 

Kurz,  na  trilha  iluminada  pela  brilhante  tradução  de  Barros,  só  vê  devastação  e 
auto-aniquilação no capitalismo. 

O  autor  de  ​Todo  Vapor  ao Colapso parece entender que há categorias imanentes e inerentes à 


sociedade  produtora  de  mercadorias.  Para  o  pensador  alemão  categorias  como:  direita  e 
esquerda,  progresso  e  reação,  liberdade  e  repressão,  justiça  e  injustiça  patenteiam  o 
“declínio  intelectual  das  ideologias  da modernização”, uma ignorância, um vazio conceitual 
e a constatação do fim do pensar nas formas atinentes ao sistema produtor de mercadorias. 

No  pensamento  kurziano  há  um  sujeito  do  mercado  e  do  dinheiro  fantasmagoricamente 
reproduzindo com papagaice as virtudes burguesas e os valores ocidentais. 

Para  o  autor  de  ​Os  últimos  combates​,  uma  crítica  que  se pretende radical, só o é, se apartar-se 
com  ira  e  asco  do  “inteiro  lixo  intelectual  do  ocidente”.  Contudo,  a  crítica  não  poderá 
deixar  se  levar  apenas  pelo  ódio  visceral;  deve  legitimar-se  novamente  em  seus 
fundamentos e do ponto de vista intelectual. 

Kurz  propõe  um  projeto  de  longo  fôlego;  pois  esta  crítica mesmo lidando com os padrões 
aufklarungianos,  deve  não  contentar-se  com  isso,  gerando  algo  que  vise  ser  uma 
“antimodernidade  radicalmente emancipatória”, a qual não seguiria o modelo conhecido do 
contrailuminismo  ou  da  contramodernidade  meramente  “reacionária”,  que  é,  ela  mesma, 
burguês-ocidental,  evadindo  na  idealização  de  algum  passado  ou  de  “outras  culturas”, 
muito  pelo  contrário,  uma  crítica  que  romperia  com  a  história  que  vigorou  até  agora,  no 
entender kurziano: enquanto uma história de relações de fetiche e dominação. 
O  autor  alemão  vai  desenhar  esse  megaprojeto  abrangente  e  revolucionário  que,  segundo 
ele,  abarcaria  a  superação  do  moderno  fetichismo  como  o  “fim  da  pré-história”  no  dito 
marxiano,  abarcaria  as  mais  abstratas  categorias  quanto  as  formas  simbólico-culturais  e  o 
próprio  dia-a-dia;  ou  seja,  uma  mega  teoria  negativa  capaz  de  fincar  a  alavanca  da  crítica 
radical  de  modo essencialmente mais profundo do que seus predecessores nos séculos XIX 
e XX. 

O  que  Kurz  parece  querer  com  isso  é  o  exame  negativo  do  construto  que  legitima  a 
modernidade produtora de mercadorias. 

Quando  Kurz  afirma  que  isso  tem  de  tratar-se  de  uma  macroteoria  negativa,  apta  a 
superar-se  a  si  mesma  e  tornar-se  supérflua,  no  meu  entender  é  porque  sua  ambição  é  de 
construir uma teoria viva e dialética. 

Kurz  informa  que  essa  nova  teoria  negativo-emancipatória  já  se  acha  formulada,  sob  o 
título de  “crítica do valor”, enquanto crítica categorial do sistema produtor de mercadorias, 
só  que  sem  a  clareza  suficiente  e  tampouco  sem  hostilizar  emancipatoriamente  a 
aufklärung,  cuja  ontologia  ideológico-burguesa  encontra-se,  todavia,  positivamente,  como 
“dimensão silenciosa” até na crítica aparentemente mais radical. 

Kurz  afirma  que  as  ruínas  inabitáveis  da  subjetividade  ocidental  precisam  não  do  restauro 
da  arquiteta  de  interiores  intelectual,  mas  do  motorista  de  demolição.  Ao  afirmar  isso  ele 
alude  ao  alicerce  e  as  referências  retrospectivas  de  todas  as  formações  téoricas  modernas 
dos séculos XIX e XX, ou seja justamente a Aufklarung. 

A  modernidade  ou  também  “economia  política  das  armas  de  fogo”,  a  partir  dos  séculos 
XV  e  XVI  engendrou  uma  nova  forma  de  organização  sociedade,  repressiva  de  uma 
maneira  inovadora,  a  qual,  passando  pelos  déspotas  militares,  acabou  por  conduzir  ao 
Estado  Moderno,  bem  como  ao  desencadeamento  do  processo  capitalista  de  valorização 
(“economia financeira” como fim irracional em si mesmo). 

Kurz  vê  a  interpretação  arraigada  acerca  da  aufklärung  de  uma  promessa  emancipatória 
como um mal-entendido crítico social. 

Kurz vê um substrato nazi numa tradição que vai de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche 
até chegar no existencialismo de Heidegger. 

Kurz  faz  um  acerto  de  contas  com  o  estruturalismo(Lévi-Strauss,  Barthès,  Lacan  e 
A,lthusser)  e  com  a  teoria  dos  sistemas(Luhmann),  pois  paraele  estas  correntes  de 
pensamento  liquidaram  a  ilusão  consoante  ao  sujeito  do  pensamento  esclarecido,  mas 
apenas  no  intuito  de reformular e dar continuidade à objetividade cega da socialiazação sob 
forma de valor. 

O  autor  de  ​Colapso  da  modernização  critica  o  pós-modernismo  e  o  pós-estruturalismo  em 


teóricos  como  Lyotard,  Derrida,  Foucaut  porque,  segundo  ele,  estes  pressupõe 
positivamente  o  desaparecimento  do  sujeito  e  pressuporem  as  categorias  do  sistema 
produtor de mercadorias como um fundamento natural da existência. 

 
 

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