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FILOSOFIA DA UFC
Este estudo toma como base de reflexão o ensaio Razão Sangrenta: Vinte Teses contra o assim
chamado Esclarecimento e os <<valores ocidentais>> do publicista e pensador alemão Robert
Kurz e traduzido pelo professor Fernando Ribeiro de Moraes Barros.
Kurz, na trilha iluminada pela brilhante tradução de Barros, só vê devastação e
auto-aniquilação no capitalismo.
No pensamento kurziano há um sujeito do mercado e do dinheiro fantasmagoricamente
reproduzindo com papagaice as virtudes burguesas e os valores ocidentais.
Para o autor de Os últimos combates, uma crítica que se pretende radical, só o é, se apartar-se
com ira e asco do “inteiro lixo intelectual do ocidente”. Contudo, a crítica não poderá
deixar se levar apenas pelo ódio visceral; deve legitimar-se novamente em seus
fundamentos e do ponto de vista intelectual.
Kurz propõe um projeto de longo fôlego; pois esta crítica mesmo lidando com os padrões
aufklarungianos, deve não contentar-se com isso, gerando algo que vise ser uma
“antimodernidade radicalmente emancipatória”, a qual não seguiria o modelo conhecido do
contrailuminismo ou da contramodernidade meramente “reacionária”, que é, ela mesma,
burguês-ocidental, evadindo na idealização de algum passado ou de “outras culturas”,
muito pelo contrário, uma crítica que romperia com a história que vigorou até agora, no
entender kurziano: enquanto uma história de relações de fetiche e dominação.
O autor alemão vai desenhar esse megaprojeto abrangente e revolucionário que, segundo
ele, abarcaria a superação do moderno fetichismo como o “fim da pré-história” no dito
marxiano, abarcaria as mais abstratas categorias quanto as formas simbólico-culturais e o
próprio dia-a-dia; ou seja, uma mega teoria negativa capaz de fincar a alavanca da crítica
radical de modo essencialmente mais profundo do que seus predecessores nos séculos XIX
e XX.
O que Kurz parece querer com isso é o exame negativo do construto que legitima a
modernidade produtora de mercadorias.
Quando Kurz afirma que isso tem de tratar-se de uma macroteoria negativa, apta a
superar-se a si mesma e tornar-se supérflua, no meu entender é porque sua ambição é de
construir uma teoria viva e dialética.
Kurz informa que essa nova teoria negativo-emancipatória já se acha formulada, sob o
título de “crítica do valor”, enquanto crítica categorial do sistema produtor de mercadorias,
só que sem a clareza suficiente e tampouco sem hostilizar emancipatoriamente a
aufklärung, cuja ontologia ideológico-burguesa encontra-se, todavia, positivamente, como
“dimensão silenciosa” até na crítica aparentemente mais radical.
Kurz afirma que as ruínas inabitáveis da subjetividade ocidental precisam não do restauro
da arquiteta de interiores intelectual, mas do motorista de demolição. Ao afirmar isso ele
alude ao alicerce e as referências retrospectivas de todas as formações téoricas modernas
dos séculos XIX e XX, ou seja justamente a Aufklarung.
A modernidade ou também “economia política das armas de fogo”, a partir dos séculos
XV e XVI engendrou uma nova forma de organização sociedade, repressiva de uma
maneira inovadora, a qual, passando pelos déspotas militares, acabou por conduzir ao
Estado Moderno, bem como ao desencadeamento do processo capitalista de valorização
(“economia financeira” como fim irracional em si mesmo).
Kurz vê a interpretação arraigada acerca da aufklärung de uma promessa emancipatória
como um mal-entendido crítico social.
Kurz vê um substrato nazi numa tradição que vai de Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche
até chegar no existencialismo de Heidegger.
Kurz faz um acerto de contas com o estruturalismo(Lévi-Strauss, Barthès, Lacan e
A,lthusser) e com a teoria dos sistemas(Luhmann), pois paraele estas correntes de
pensamento liquidaram a ilusão consoante ao sujeito do pensamento esclarecido, mas
apenas no intuito de reformular e dar continuidade à objetividade cega da socialiazação sob
forma de valor.