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Química dos Produtos Naturais

Terpenoides
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Terpenóides

Terpenóides, terpenos ou isoprenóides são três nomes utilizados para designar uma extensa e
numerosa família de produtos naturais. Segundo alguns autores deve ser utilizado o termo terpenóide.
O termo terpeno deve ser utilizado apenas para aqueles compostos que sejam alcenos. A palavra
terpeno tem origem no termo inglês terpene que por sua vez reflecte o facto de os primeiros terpenos
cuja estrutura foi conhecida, alfa-pineno e cânfora, terem sido isolados da terebentina, em inglês
turpentine. A palavra isoprenóide indica que estes compostos são formalmente derivados do isopreno.
Na realidade quando os compostos desta família eram sujeitos a pirólise decompunham-se com
formação de isopreno (2-metil-butadieno, Figura 12.1). Para além disso seguem a regra do isopreno.
Esta regra indica que os membros desta família são constituídos por unidades de cinco átomos de
carbono com a estrutura do isopreno ligadas entre si pela ordem “cabeça”-“cauda”.

OH

isopreno
cânfora
geraniol

cabeça cauda

Figura 12.1 – Estruturas do isopreno, do geraniol e da cânfora

A regra do isopreno nem sempre se verifica. Alguns terpenóides possuem cadeias carbonadas com um
número de átomos de carbono múltiplo de cinco, onde se consegue identificar a estrutura do isopreno
mas a ligação entre as unidades isoprénicas não é cabeça-cauda. Como exemplo do que acima se disse
veja-se a estrutura da cânfora apresentada na Figura 12.1.
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Os terpenóides podem ser subdivididos em várias classes de acordo com o número de átomos de
carbono ou seja de unidades isoprénicas. A Tabela 12.1 apresenta de uma forma resumida as várias
classes de terpenóides.

Tabela 12.1 – Classes de terpenóides


Classe Nº de C Ocorrência Precursor Aplicação Exemplos
Pirofosfato de
Óleos,
isopentenilo e
Hemiterpenóide 5 compostos --- isopreno
pirofosfato de
voláteis
dimetilalilo
Pirofosfato de Cânfora,
Monoterpenóides 10 Óleos, pétalas Perfumes
geranilo terpineol
Óleos,
Pirofosfato de Aromatizantes,
Sesquiterpenóides 15 resinas, vetivona
farnesilo perfumes
pétalas
Pirofosfato de ácido
Diterpenóides 20 Óleos, resinas Colas, vernizes
geranil-geranilo abiético
Pirofosfato de
Sesterterpenóides 25 Óleos, resinas ---- ofiobolina
geranil-farnesilo
Resinas, Produtos
ambreína,
Triterpenóides 30 madeira, Esqualeno farmacêuticos,
 amirina
cortiça perfumaria
Tecidos
Carotenóides (ou Corantes
40 verdes, raízes, Fitoeno  caroteno
tetraterpenóides) alimentares
pétalas
Latex, cera Pirofosfato de
Poli-isoprenóides n (n45) Borracha natural ---
das folhas geranilo-geranilo
Tecidos
vegetais e Produtos colesterol,
Esteróides 18 a 29 Esqualeno
animais, farmacêuticos cortisona
fungos,..

Os esteróides foram colocados numa classe separada em virtude de serem compostos que se formam a
partir de um precursor com 30 átomos de carbono, como acontece com os triterpenos, mas que em
seguida sofre degradação.

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Biossíntese

A biossíntese dos terpenóides é actualmente bem conhecida. Embora durante muito tempo houvesse
dúvidas de qual seria o precursor desta classe de compostos, a descoberta da existência de um ácido, o
ácido mevalónico, que se forma durante o processo de fermentação da cerveja e que é capaz de
permitir o crescimento de uma estirpe de bactérias que necessita de acetato para crescer mesmo
quando este não está presente, foi o impulso para imenso trabalho de investigação neste campo. Os
trabalhos de Bloch, Lynen, Cornforth e Popják foram pioneiros e permitiram elucidar a biossíntese do
ácido mevalónico e os mecanismos de conversão deste nas unidades em C 5 e portanto nos precursores
de todos os isoprenóides. A descoberta destes mecanismos bem como dos passos subsequentes na
biossíntese do colesterol levou a que estes cientistas recebessem o Prémio Nobel em 1964.

Biossíntese do ácido mevalónico e dos pirofostatos de isopentenilo e dimetilalilo

O passo inicial da biossíntese do ácido mevalónico é a condensação de duas unidades de acetil


coenzima A de um modo semelhante a uma condensação de Claisen (Figura 12.2). O passo seguinte é
uma condensação aldólica que resulta no hidroximetilglutarilcoenzima A (HMG-SCoA). A redução deste
composto com NADPH dá origem ao ácido mevalónico (MVA) o qual é fosforilado. Este sofre uma
descarboxilação e redução para dar o pirofosfato de isopentenilo. Este último isomerisa, perdendo o
hidrogénio pró R (Hr), em pirofosfato de dimetilalilo. (Diz-se que um átomo de hidrogénio é pró R (H r,)
ou analogamente pró S (H s), quando a sua substituição por um átomo de H marcado, deutério ou tritío,
leva a que o átomo de C a que está ligado dê origem a um centro quiral R, ou analogamente S).

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O
O O O
H3C SCoA HMG-SCoA H3C OH
sintase
O H3C C H2C C
SCoA SCoA
H2 H2
H C SCoA -O
H2 O O
HMG-SCoA
B-
H C SCoA
H2
reacção tipo conden-
sação de Claisen B-
NADPH
reacção tipo conden-
sação de aldólica

H3C OH OH
H3C OH H O O H
O P O P OH H2C C
ATP H2 H
H2C C
H2 H O O -O O
-O O
ácido mevalónico
(MVA)

+
H CH3 H O O CH3 H O O
O P O P OH O P O P OH
H2C H3C C
H O O H H O O
H R HS

pirofosfato de isopentenilo pirofosfato de dimetilalilo


(DMAPP)
(IPP)

Figura 12.2 - Biossíntese do ácido mevalónico e dos pirofostatos de isopentenilo e dimetilalilo

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Biossíntese dos monoterpenos

Os monoterpenos são formados por combinação de duas unidades isoprénicas, o pirofosfato de


isopentenilo e o pirofosfato de dimetilalilo, Figura 12.3. Contrariamente ao que se pensou durante
muito tempo, a reacção não se dá através de um ataque da dupla ligação do IPP ao carbono 4 do
DMAPP com saída concertada do grupo pirofosfato. Está actualmente bem estabelecido que há
inicialmente ionização do DMAPP originando um par iónico, o qual é um centro electrofílico muito
forte, e que este par iónico sofre ataque pelo IPP para dar origem ao geranilpirofosfato.

CH3

OPP CH3
HR H S OPP

_ +
PPO CH2
H3C CH3

H3C CH3
pirofosfato de geranilo

Figura 12.3 – Biossíntese do pirofosfato de geranilo

O pirofosfato de geranilo pode servir de substracto a várias ciclases que catalisam a formação de
monoterpenos cíclicos. A Figura 12.4 representa esquematicamente a formação de diversos
monoterpenos cíclicos.

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+
-OPP
OPP

OH
+
alfa-terpineol

+
+

+ alfa-pineno

O
beta-pineno

HO
O
tujona +
terpinen-4-ol
canfeno
cânfora

rearranjo de
Wagner-Meerwein

O
+

fenchona
canfeno

Figura 12.4 – Formação de monoterpenos cíclicos a partir do pirofosfato de linalilo

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Isolamento dos óleos essenciais

Os óleos essenciais que contêm mono e sesquiterpenos podem ser obtidos por hidrodestilação ou por
destilação por arrastamento de vapor, da parte da planta, flores, folhas ou caules, que contiver esse
óleo em maior quantidade. Devido á instabilidade de certos constituintes do óleo diferentes métodos
de extracção devem ser utilizados para diferentes matérias primas:
e) O dióxido de carbono (CO2) é o fluido supercrítico mais utilizado, por vezes, modificado
pela adição de co-solventes como o etanol ou o metanol. As condições de extração com
CO2 supercrítico são temperaturas superiores à temperatura crítica de 31 ° C e pressão
superior à pressão crítica de 74 bar. A adição de modificadores podem alterar ligeiramente
estes . A extracção è feita a partir do material sólido

Análise dos óleos essenciais

Devido à sua natureza muito volátil a técnica de cromatografia gás-líquido é a mais adequada para
analisar os mono e os sesquiterpenos. A associação de um espectrómetro de massa ao cromatógrafo
gasoso permite identificar cada componente sem o recurso moroso á utilização de padrões e sem
tornar necessário que a análise seja efectuada utilizando dois tipos de coluna com características
cromatográficas diferentes. Actualmente este tipo de equipamento inclui uma biblioteca de centenas
de espectros de massa o que faz com que a identificação dos componentes do óleo esteja bastante
mais facilitada.

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