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Universidade Anhanguera-Uniderp

Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – Rede LFG

Curso de Pós-graduação Lato Sensu TeleVirtual em


DIREITO DO CONSUMIDOR

Disciplina
Contratos de Consumo

Aula 7
LEITURA COMPLEMENTAR 2
Lincoln Pinheiro da Costa
Juiz federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região

ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE O ESTATUTO DO TORCEDOR

Como citar:
COSTA, Lincoln Pinheiro. Algumas anotações sobre o
Estatuto do Torcedor. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.
147, 30 nov. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4417>.
Material da 7ª aula da disciplina Contratos de Consumo,
ministrada no Curso de Especialização Televirtual em
Direito do Consumidor – Anhanguera-Uniderp|Rede LFG.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Promulgada em 15 de maio de 2003, a Lei nº 10.671, mais conhecida como Estatuto do


Torcedor, veio responder aos anseios dos desportistas brasileiros que desejam a prevalência
da ética, da moralidade e da transparência no desporto profissional, especialmente o futebol.
De início, vale ressaltar a importância do tratamento legislativo desta matéria, pois o
futebol é, ao lado do carnaval, a principal manifestação cultural do povo brasileiro, um
esporte popular que mexe com a paixão da maioria dos brasileiros, de todas as classes sociais.
Paralelamente ao Estatuto do Torcedor temos a Lei Pelé, Lei nº 9615/98, que instituiu
normas gerais sobre desporto. Seu conteúdo vai no mesmo sentido moralizador do Estatuto do
Torcedor e desde sua entrada em vigor foi severamente criticada por alguns dirigentes
esportivos, tendo sofrido importantes modificações, a última delas pela Lei nº 10.672, de 15
de maio de 2003.

OS PONTOS MAIS POLÊMICOS

A entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de


prática desportiva detentora do mando de jogo, foram equiparadas ao fornecedor, conforme
definido no Código de Defesa do Consumidor - CDC.
Isto quer dizer que toda responsabilidade atribuída ao fornecedor pelo CDC também
pode ser cobrada da entidade organizadora da competição e da entidade de prática
desportiva detentora do mando de jogo.
Os torcedores têm, inclusive, os mesmos instrumentos processuais que os
consumidores para defesa em juízo, notadamente a legitimidade do Ministério Público para a
promoção de ações coletivas.
Em função da equiparação das entidades responsáveis pela organização da competição
ao fornecedor, medidas como a alteração da tabela da competição, como mudança de data,
local e horário das partidas, poderão ser invalidadas judicialmente, valendo acrescentar que
é proibido alterar o regulamento após sua divulgação definitiva, conforme dispõe o art. 9º, §
5º do Estatuto.
Importante ressaltar a competência da Justiça Federal para julgar causas relativas ao
desporto, pois a Lei nº 10672, de 15 de maio de 2003, alterou o § 2º do art. 4º da Lei nº
9615/98 que ficou assim redigido:

§ 2º. A organização desportiva do País, fundada na liberdade de


associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é
considerada de elevado interesse social, inclusive para os fins do
disposto nos incisos I e III do art. 5º da Lei Complementar no 75,
de 20 de maio de 1993. (Redação dada pela Lei nº 10.672, de
15.5.2003)

Estando, portanto, a organização desportiva do país integrada no patrimônio cultural


brasileiro e cabendo ao Ministério Público Federal promover a sua defesa, a Justiça Federal é
a competente para a causa, tendo em vista o disposto no art. 70 da Lei Complementar nº
75/93.
Outro ponto moralizador que merece destaque é a obrigatoriedade da escolha dos
árbitros por meio de sorteio público, pois a escalação de árbitros era uma das medidas que

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mais geravam reclamações e suspeitas, em virtude da falta de transparência e critério que
caracterizavam a organização das competições.

OBRIGATORIEDADE DO CRITÉRIO TÉCNICO

Se o futebol brasileiro era elogiado por sua técnica, era muito criticado por sua
desorganização.
Agora a lei estabelece a obrigatoriedade de se organizar pelo menos uma competição
de âmbito nacional com sistema de disputa em que as equipes participantes conheçam,
previamente, a quantidade de partidas que disputarão, bem como seus adversários, ou seja, o
chamado campeonato por pontos corridos em que o campeão é aquele que somar mais pontos
durante a competição, premiando, assim, o critério técnico e evitando-se injustiças tantas
vezes já ocorridas no certame nacional.
Garante-se também que as equipes tenham atividade por pelo menos dez meses do
ano, possibilitando-lhes auferir receitas e gerar empregos, salientando-se que o desporto
profissional é, por definição legal, atividade econômica.
Ainda no que concerne ao critério técnico, a Lei nº 10671, de 15 de maio de 2003,
veda expressamente, em seu art. 10, § 2º, a adoção de qualquer outro critério, especialmente
o convite.
Sendo assim, a Copa Sul-americana, anunciada para acontecer no segundo semestre
deste ano e cuja tabela foi divulgada no endereço eletrônico
http://www.conmebol.com/scripts/runisa.dll?S7:gp:517084:71185+/gl/compet+1154+2003+S,
já nasce eivada de ilegalidade porque o Juventude de Caxias do Sul (RS), apesar de ter
conquistado o direito de nela participar pelo critério técnico, como determina o art. 10, § 1º
do Estatuto do Torcedor, foi alijado pelos organizadores, sendo substituído por outras
agremiações que não obtiveram índice técnico para a referida competição.
Nem se alegue que a Copa Sul-americana, por ser organizada pela Confederação Sul-
americana de Futebol, não estaria sujeita à lei nacional, devido à personalidade estrangeira
daquela entidade.
Quando uma entidade com personalidade jurídica estrangeira organiza competição
com a participação de agremiações nacionais e com jogos disputados no território nacional, é
obrigatória a observância da lei brasileira, sob pena de nulidade.
Além disso, as entidades de prática desportiva nacionais, convidadas para a referida
competição, são equiparadas a fornecedores, conforme já explanado, e nesta condição
também são responsáveis pela legalidade da competição.

A RESPONSABILIDADE DOS DIRIGENTES

Um ponto muito criticado por alguns dirigentes que se posicionaram contra o Estatuto
do Torcedor foi o art. 19, que assim prescreve:

Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da


competição, bem como seus dirigentes respondem solidariamente
com as entidades de que trata o art. 15 e seus dirigentes,
independentemente da existência de culpa, pelos prejuízos
causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos
estádios ou da inobservância do disposto neste capítulo.

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Muitos provocaram alarme, dizendo que seriam presos caso algum torcedor sofresse
alguma agressão nos estádios.
Simplesmente cuida a lei da responsabilidade objetiva pela reparação do dano, na
esteira do que já prescreve a legislação consumerista.
Também reclamaram da obrigatoriedade da numeração dos ingressos e do direito do
torcedor ocupar o local correspondente ao número constante do ingresso, afirmando para isso
haveria necessidade de instalação das cadeiras numeradas, majorando os custos.
A leitura atenta da lei, contudo, revela que não é obrigatória a instalação de cadeiras
numeradas, bastando numerar o local de cada torcedor na própria arquibancada.
Deve-se observar que nem existe a obrigatoriedade de todos os lugares serem
numerados, pois além de se assegurar a existência da denominada "geral", o local em que os
torcedores assistem à partida em pé, nada impede que os estádios sejam divididos em
setores, ficando uma parte sem numeração onde os torcedores que assim preferirem,
especialmente os integrantes de torcidas organizadas, possam se agrupar para agitar suas
bandeiras e fazer suas coreografias, participando de uma forma ativa do espetáculo, ao
contrário daqueles que preferirem sentar e assistir passivamente ao espetáculo.
O Estatuto interfere também na administração da entidade de prática desportiva, a
exemplo do que já fazia a Lei Pelé, exigindo transparência financeira da entidade, bem como
a abertura de um canal de comunicação direta com o torcedor.

A JUSTIÇA DESPORTIVA

A Justiça Desportiva que tem, inclusive, status constitucional, já foi protagonista de


algumas das páginas mais vergonhosas do futebol brasileiro.
Agora, ela também está submetida aos princípios da ética, da moralidade e da
transparência que norteiam o Estatuto do Torcedor, exigindo-se a motivação de suas decisões
e a publicidade de seus julgamentos, ficando proibido o segredo de justiça. Acrescente-se que
o Conselho Nacional de Esportes – CNE terá o prazo de seis meses para adequar o Código de
Justiça Desportiva ao disposto na Lei Pelé e no Estatuto do Torcedor.
Seria desejável a mudança da sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD
para a capital federal, onde teria menor influência da imprensa esportiva, bem como a
fixação de regras transparentes e limitação temporal para a investidura de seus membros.

AS TRANSMISSÕES TELEVISIVAS

Um item de fundamental importância no qual o Estatuto do Torcedor foi omisso


refere-se às transmissões das partidas do campeonato pela TV aberta.
Esta situação tem gerado muitos protestos dos torcedores porque a emissora que
detém os direitos de transmissão das partidas do campeonato nacional privilegia o
televisionamento de jogos envolvendo equipes sediadas nas praças onde se localizam os
anunciantes, em detrimento das equipes dos outros estados da federação.
Não é demais recordar que o futebol, fazendo parte do patrimônio cultural brasileiro,
deve ser fortalecido regionalmente, estabelecendo a Constituição, de forma expressa, que a
programação televisiva atenderá de forma preferencial à finalidades educativas, artísticas,
culturais e informativas e ainda à regionalização da programação.

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Desta forma, as transmissões ao vivo das partidas pela TV aberta, a única acessível aos
torcedores de baixa renda, deveria obedecer ao critério da regionalização, transmitindo-se
para determinada unidade da federação a partida envolvendo o representante daquele Estado
no campeonato nacional.
A inexistência de dispositivo legal nesse sentido não significa que o torcedor não tenha
direito à regionalização das transmissões.
Isto porque o torcedor tem em sua proteção os mesmos direitos do consumidor,
incluindo o acesso à Justiça para garanti-los.
O Ministério Público Federal, responsável pela defesa do patrimônio cultural brasileiro,
no qual se insere o futebol, poderá acionar na Justiça os responsáveis pela escala das partidas
televisionadas por TV aberta, exigindo-se que se respeite o torcedor de todos os clubes,
transmitindo-se as partidas de forma regionalizada e corrigindo-se esta distorção hoje
verificada.
Não se pode alegar, em defesa do status quo, a existência de eventual cláusula
contratual que atribua à emissora detentora dos direitos de transmissão a livre escolha das
partidas transmitidas ao vivo, pois, em virtude da função social do contrato, a liberdade de
contratar encontra limitação na idéia de ordem pública, onde o interesse individual não pode
prevalecer sobre o interesse social, o interesse da coletividade.

CONCLUSÃO

Pode-se afirmar que o Estatuto do Torcedor representa um avanço na organização e


administração do desporto profissional, havendo razão para o otimismo quanto ao futuro,
quando, esperamos, não veremos mais escândalos e fraudes nesta importante atividade.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Disciplina
Contratos de Consumo

Aula 7
LEITURA COMPLEMENTAR 3
Paulo Marcos Schmitt
Advogado, Membro da Comissão de Estudos Jurídicos Desportivos do Ministério do Esporte e da
Comissão Especial incumbida da elaboração do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Secretário da
Comissão de Direito Desportivo do Conselho Federal da OAB e membro de Comissões de Direito
Desportivo junto à seção OAB-Paraná e subseção de Curitiba. Procurador-Geral do STJD do Futebol.
Presidente do STJD do Judô. Professor.

ESTATUTO DO TORCEDOR: LIBERDADE VIGIADA


A MÃO FORTE DO PRESIDENTE DO STJD DA CBF

Como citar:
SCHMITT, Paulo Marcos. Estatuto do torcedor:
liberdade vigiada. A mão forte do Presidente do STJD
da CBF. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 98, 9 out. 2003.
Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4184.
Material da 7ª aula da disciplina Contratos de Consumo,
ministrada no Curso de Especialização Televirtual em
Direito do Consumidor – Anhanguera-Uniderp|Rede LFG.

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Nem bem o Estatuto do Torcedor entrou em vigência e já está sendo violado. Como se
não bastasse toda a confusão instaurada com a aplicação do art. 301 do CBDF alterado
ilegalmente por uma Resolução de Diretoria da CBF, atribuindo pontos aos adversários de
equipes que se utilizam de atletas irregulares, estamos presenciando um verdadeiro ato de
exceção do presidente do STJD da CBF ao punir preventivamente atletas e árbitros com
fundamento exclusivo em imagens televisivas.
Quanto à polêmica do art. 301 do CBDF, a questão é de extrema simplicidade e
escrever ou entender o óbvio, muitas vezes, é por demais complicado. Desde 1993, a
competência para aprovação de códigos desportivos e suas alterações é de um órgão
colegiado – qual seja do Conselho Desportivo (CSD – Lei Zico / CNE – Lei Pelé). Além disso,
pelo princípio da hierarquia das normas, jamais um ato administrativo interno de uma
entidade desportiva (RDI) poderia alterar a redação originária de uma Portaria Ministerial. O
fato ganhou relevância, não apenas pela ilegalidade perpetrada na pontuação das equipes no
campeonato brasileiro, mas também pela punição imposta ao jurista desportivo Valed Perry
pelo STJD – uma punição a um parecerista, que culminou com uma acertada moção de
repúdio do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo - IBDD. Para dar uma noção exata do que
estamos vivenciando no mundo do Direito Desportivo, na reunião do STJD e TJDs, em
Curitiba, o presidente do STJD se referiu ao Instituto como sendo um "institutozinho" sem
credibilidade, causando a indignação maciça da doutrina na área. Um IBDD que vem
conseguindo congregar os maiores estudiosos no tema do Direito Desportivo, com publicação
especializada na matéria e veículo de comunicação digital recheado de informações,
administrado por diretoria idônea e conselho consultivo da mais alta competência.
Não obstante a tudo isso, na vã tentativa de inaugurar uma nova fase do futebol
nacional, o presidente do STJD lança um programa denominado "violência zero" em que as
imagens de TV serviriam para a instauração de processos disciplinares desportivos contra
supostos agressores ou infratores não identificados ou relatados em súmulas pelos árbitros.
Tudo em nome da moralidade desportiva. Ocorre que o presidente do STJD gostou tanto da
sua idéia que resolveu ser o próprio "salvador da pátria de chuteiras", aplicando, sem o devido
processo desportivo, punições preventivas. E foi além, ameaçou o atleta Rogério Ceni do São
Paulo de uma nova punição por causa de declarações contra a Justiça Desportiva. ''Por
enquanto, vou creditar isso à ignorância do jogador, que está mal-orientado. Porém, ele pode
ser punido. Ele deveria ter sido mais comedido'' (www.gazetaesportiva.net).
A suspensão denominada preventiva é utilizada para afastar, preventivamente, a
pessoa física que tenha praticado uma infração disciplinar. Todavia, se fazem necessários
alguns pressupostos para a aplicação desse tipo de suspensão, independente da ordem de
preferência (art. 91 do CBDF):
1º - Tenha ocorrido uma infração disciplinar (tipificada) punível com eliminação;
2º - certeza quase que absoluta de sua autoria (indícios veementes);
3º - praticada por pessoa física (não é cabível para pessoas jurídicas);
4º - a decisão não puder ser proferida desde logo (impossibilidade de julgamento
imediato);
5º - prazo não superior a trinta dias.
Em síntese, deve ocorrer sempre que inexistir possibilidade de processar e julgar um
infrator pelo ato cometido de relevante gravidade (punível com eliminação), antes que o
mesmo adentre em campo e participe novamente da competição. Tem caráter preventivo e é
utilizada para evitar maiores prejuízos aos participantes do evento, fazendo com que os
infratores não atuem impunemente. A suspensão preventiva deve ser aplicada com reservas e
muito cuidado, sob pena de afastar injustamente um participante da competição. No entanto,
uma providência excepcional, cautelar e preventiva para infrações cominadas com a pena de
eliminação vem sendo utilizada de forma banal, em prejuízo dos clubes e dos torcedores.

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Essa liberdade vigiada por olhos eletrônicos chega às raias do absurdo. Quando se
discute erro de fato e de direito no meio desportivo, o posicionamento jurisprudencial dá
conta de que

"O ERRO DE FATO DA ARBITRAGEM NAO PERMITE ALTERACAO DO


RESULTADO DA PARTIDA "A POSTERIORI", POR DECISAO
ADMINISTRATIVA DA JUSTICA DESPORTIVA, POIS FAZ PARTE DA
FALIBILIDADE INERENTE AO ESPORTE, AO QUAL ESTAO SUJEITOS
OS MEMBROS DA ARBITRAGEM." (Processo: 093235200, Origem:
CURITIBA - 11a. VARA CIVEL, Número do Acórdão: 18625, Órgão
Julgador: 4ª CAMARA CIVEL).

Com efeito, é preciso dizer o que poucos falam seja por receio de retaliações ou pelo
cargo de magistrado que ocupa o presidente do STJD: que tanto o campeonato brasileiro
como a copa do Brasil "não vai acabar bem". E de nada adianta promover evento pela
moralização ou violência "zero" no desporto, mediante a utilização de "olhos" eletrônicos para
chamar à atenção dos "holofotes" da mídia, sem sequer conhecer a ciência do Direito
Desportivo, estabelecendo, inclusive, punições a pareceristas ou preventivas arbitrárias e sem
qualquer base legal.
E tudo, diga-se novamente, sob a égide de um Estatuto do Torcedor (arts. 34 a 36) que
preconiza direito do torcedor que os órgãos da Justiça Desportiva, no exercício de suas
funções, observem os princípios da impessoalidade, da moralidade, da celeridade, da
publicidade e da independência. Ainda, estabelece que as decisões devem ser, em qualquer
hipótese, motivadas e ter a mesma publicidade que as decisões dos tribunais federais. E mais,
determina que são nulas as decisões que não observam tais preceptivos legais. Fica a
pergunta: Foi por mero acaso que a legislação trouxe tais normas de relação entre o torcedor
e a Justiça Desportiva do desporto profissional?
Cumpre, finalmente, examinar a fisionomia do princípio da moralidade não sob a ótica
da moral jurídica, mas sob o enfoque da ética ou filosofia moral. Destarte, tratar de um
assunto eminentemente filosófico sob o ponto de vista jurídico, seria ampliar o seu grau de
indefinição. É imperioso conceituar a moral e a ética em bases filosóficas e apenas
correlacioná-las com a atividade desportiva. Falar em moral é falar em juízo,
comportamento, hierarquia de valores e código de conduta. Parece-nos mais apropriado
analisar a moral pelo seu caráter pessoal. "O aumento do grau de consciência e liberdade, e
portanto de responsabilidade pessoal no comportamento moral, introduz um elemento
contraditório que irá, o tempo todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo que é o
conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos de um
grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas" (Maria Lúcia de Arruda Aranha e
Maria Helena Pires Martins, Introdução à Filosofia, 1987).
Assim sendo, a conduta moral é aquela praticada com lealdade, boa-fé, sinceridade e
lhaneza que asseguram a liberdade e consciência necessária à aceitação das normas. É fácil,
portanto, perceber porque a moralidade é princípio de Direito Desportivo desprezado pela
mais alta corte desportiva do futebol brasileiro e que deveria servir como contraveneno do
autoritarismo. Não há como negar que as suspensões preventivas, objeto do nosso estudo, são
nulas de pleno direito, porquanto violadoras dos princípios insculpidos no Estatuto do
Torcedor e das mais singelas normas constantes do CBDF. Mais que isso, é um verdadeiro "rolo
compressor" de direitos e garantias fundamentais no caminho de um profundo processo de
desumanização do desporto. Não tardará a substituição de árbitros por câmeras de vídeo e
atletas por auditores de tribunais desportivos. Será tudo mecânico, eletrônico e digital, sendo
desnecessário o operador do direito e o desprendimento de atletas e equipes. Até mesmo a
classificação do campeonato brasileiro é virtual. O torcedor "ganhou" direitos e com eles a
mão "pesada" do paladino da moralidade.

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