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Lilia Montali
Luiz Henrique Lessa
Resumo Abstract
A questão da pobreza tem sido um dos principais The question of poverty has been one of the
temas na agenda pública da política brasileira e main topics on the Brazilian political agenda and
integra compromisso com as Metas do Milênio is among the Millennium Development Goals,
firmado no ano 2000. A pobreza entendida como a document that was signed in 2000. Poverty,
resultante de carências múltiplas vem se reduzin- understood as the result of multiple needs, has been
do enquanto resultado de um conjunto de políticas decreasing due to a set of social policies and to the
sociais e da retomada do crescimento econômico. resumption of economic growth. The objective of
O objeto deste ensaio é interrogar se a mobilidade this essay is to discuss whether the income mobility
de renda observada entre 2001 e 2012 (série Pnad- verified between 2001 and 2012 (Pnad-IBGE series)
-IBGE) é acompanhada de melhora em algumas das was accompanied by improvements in some of the
dimensões que possibilitam a elevação da condição dimensions that enable better living conditions
de vida da população nas regiões metropolitanas to the population in Brazil’s metropolitan regions
e de mudanças que permitam a discussão de mo- and by changes that allow the discussion of social
bilidade social. Constatou-se a mobilidade de ren- mobility. Income mobility was verified when
da, quando parcelas da população metropolitana sectors of the metropolitan population rise from the
se deslocam dos dois primeiros decís de renda per two lowest deciles of per capita household income
capita domiciliar para os subsequentes, e a persis- to higher deciles. The persistence of gaps in access
tência dos hiatos de acesso ao emprego, educação, to jobs, education, health and urban services was
saúde e serviços urbanos. also noted.
Palavras-chave: pobreza; desigualdade; mobilida- Keywords: poverty; inequality; income mobility;
de de renda; metrópoles. metropolises.
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http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2016-3610
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metropolitanas da região Sudeste (São Paulo de pobres cai de forma sustentada em todas as
e Rio de Janeiro). Segundo Rocha, os momen- áreas de residência analisadas, quais sejam,
tos de crise econômica dessas duas décadas metropolitana, urbana e rural.7 Entretanto,
de baixo crescimento afetaram de forma mais comparativamente, é menor a queda no es-
aguda as metrópoles primazes de São Paulo trato metropolitano, que se mantém apresen-
e Rio de Janeiro. Além disso, nesse período, tando a maior proporção de pobres em sua
ocorre a “metropolização da pobreza”, quando população, ou seja, esta passa de 38,8%, em
a proporção de pobres nos espaços metropo- 2004, para cerca de 27% em 2008; enquanto,
litanos passa de 29% em 1981, para 32% em na população brasileira, essa proporção cai de
1993 (Gráfico 1). 33,3% para 22,8%. Entretanto, a autora alerta
No período entre 2004 e 2008, caracte- para a heterogeneidade das regiões metropoli-
rizado pela expansão da economia e pela im- tanas brasileiras e para seu comportamento na
plementação de políticas sociais de combate à retomada do crescimento econômico a partir
pobreza, Rocha (2010) mostra que a proporção de 2004.
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1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
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Ainda merece destaque que a renda per As áreas metropolitanas brasileiras fo-
capita domiciliar média das regiões metropoli- ram afetadas com mais intensidade do que
tanas é mais elevada que a média do País e que as áreas urbanas não metropolitanas e as
a média das áreas não metropolitanas (Gráfi- áreas rurais pelo processo de reestruturação
co 2). Além de ser mais elevada, a evolução da produtiva e organizacional. Além disso, esse
renda domiciliar per capita metropolitana apre- processo, que se intensifica a partir da década
senta oscilações mais acentuadas relacionadas de 1990 no País, atuou de forma diferenciada,
ao crescimento da economia. Assim, observa-se entre as regiões metropolitanas, relacionada
que a queda no PIB ocorrida em 2003 se reflete à organização das atividades econômicas em
nos menores valores de renda per capita me- cada uma delas. Associada ao baixo ritmo de
tropolitana em 2003. Nota-se também, para o crescimento da economia, a reestruturação
total metropolitano, que a elevação da renda é produtiva elevou o patamar de desemprego e
mais rápida nos anos de recuperação da eco- implicou crescente precarização das relações
nomia a partir de 2004 (Gráfico 2). de trabalho com redução do assalariamento
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início dos anos 1950, não há novos reajustes, que visava fortalecer a opinião dos poderes
o que leva a uma queda do seu valor. Num se- Executivo e Legislativo acerca da importância
gundo momento, há uma tendência de cresci- social e econômica da proposta de valorização
mento que vai até o Golpe Militar de 1964. A do salário mínimo. Também como resultado
partir de então, ele sofre uma queda acentua- dessas negociações, foi acordada uma política
da, mas que se estabiliza em 1967 e que dura permanente de valorização do salário mínimo.
até a crise econômica do início dos anos 1980. Segundo nota do Dieese (2010), o salário míni-
Durante essa década, a inflação corrói ainda mo teve um aumento real de 53,7% durante o
mais seu valor real, que só volta a crescer a governo de Luiz Inácio Lula da Silva (de abril de
partir de 1995, devido à estabilidade da moeda 2003 a janeiro de 2010), abrangendo cerca de
e à redução da inflação, obtidas a partir do pla- 46,1 milhões de pessoas que têm rendimentos
no Real e por diversas políticas de estabilização referenciados no salário mínimo. Apenas isso já
subsequentes a ele. bastaria para justificar a importância e valori-
A atual política de valorização do salá- zação de sua manutenção como política públi-
rio mínimo estabelecida pelo governo federal ca de regulamentação do mercado, mesmo que
respondeu à reinvindicação de movimento aproximadamente metade dos trabalhado-
articulado em 2004 pelas Centrais Sindicais, res brasileiros se encontre na informalidade.
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
As análises do Ipea indicam que as famílias que 1995, foram implementados em âmbito muni-
tiveram uma mudança efetiva de sua condição cipal, programas de transferência de renda de
de extrema pobreza ou pobreza foram as que forma pioneira em Campinas e Ribeirão Preto,
tiveram, dentre seus membros, alguém que no estado de São Paulo, e em Brasília (DF), se-
conseguiu um emprego regulamentado nesse guidos por outros municípios em diversos esta-
período ou que tinham algum familiar que re- dos brasileiros. O sucesso dessas experiências
cebesse benefícios sociais, como o BPC, no va- levou o governo federal a criar, em 1997, o Pro-
lor de um salário mínimo (Ipea, 2007). grama Federal de Garantia de Renda Mínima
que consistia no cofinanciamento de até 50%
dos programas instituídos nos municípios que
Os programas de transferência não tivessem recursos suficientes. Por ter como
de renda e o objetivo de erradicação critério de seleção os municípios que tivessem
da pobreza baixo IDH, era difícil conseguir municípios que
tivessem capacidade e disposição de financiar
Os atuais programas de transferência de renda a contrapartida exigida. Por esse motivo, o go-
no Brasil têm suas origens na década de 1990. verno federal criou, em 2001, o Programa Na-
As medidas neoliberais implementadas, tanto cional Bolsa Escola, cujo objetivo era garantir
no Brasil como nos demais países da Améri- acesso à escola da totalidade da população
ca Latina, por um lado provocaram profundas de 7 a 14 anos, mediante a concessão de uma
mudanças no mercado de trabalho e deterio- bolsa complementar, até o limite máximo de
ração do emprego e empobrecimento massivo três crianças por família. O cadastramento das
dos trabalhadores; por outro, no caso brasileiro, famílias e das crianças era de responsabilida-
interferiram nos direitos sociais que deveriam de das prefeituras municipais, que também se
ser garantidos sob a égide da Constituição comprometiam a desenvolver atividades socio-
Brasileira de 1988. Segundo Ivo (2011), o ca- educativas em horário complementar às aulas,
minho encontrado pelos governantes foi uma sem receber qualquer repasse financeiro do
tendência de restrição dos custos da “segurida- Governo Federal.
de social de perspectiva universalista e inclusi- No governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
va para a assistência focalizada sobre aqueles a rede de assistência social iniciada no gover-
em situação de pobreza e de pobreza extrema, no Fernando Henrique Cardoso foi ampliada
com base na gestão dos mínimos sociais”. em relação tanto ao seu volume de gastos em
Nesse contexto, surgem no Brasil di- programas de transferência de renda quanto
versos programas de auxílio focalizados nos ao número de beneficiários. Em 2003, foi criado
setores mais vulneráveis da população, ainda o Programa Bolsa Família, o que representou
no período do governo de Fernando Henrique um esforço do governo federal em unificar, in-
Cardoso. No âmbito federal foram instituídos, tegrar e ampliar a experiência dos programas
em 1996, dois programas: o BPC (Benefício de sociais anteriores, através de um cadastro
12
Prestação Continuada) e o Peti (Programa de único dos beneficiários formulado pelo MDS
Erradicação do Trabalho Infantil) em 1996. Em e aplicado pelas prefeituras dos municípios.
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Entre os anos 2001 e 2004, a faixa de elevaçãona proporção dos inativos, ambos
renda correspondente ao valor do salário mí- em 3 pontos percentuais. No ano de 2012, a
nimo estava situada entre o sétimo e oitavo PIA do primeiro decil mantém perfil bastante
decis; em 2009, esse valor se situava no sétimo específico, mas apresenta elevação da propor-
decil e, em 2012, no sexto decil. Pode-se in- ção de ocupados não precários, não ultrapas-
terpretar a elevação do rendimento per capita sando 5%, e redução gradual da proporção
dos três decis inferiores de renda no período dos ocupados precários; observa-se, no en-
de 2004 a 20012 como um dos efeitos das po- tanto, para o primeiro decil a redução no total
líticas de transferência de renda, bem como de ocupados (Tabela 2).
também da ampliação das oportunidades de A comparação dos decis inferiores de
trabalho nos anos 2000. Além disso, a polí- renda com aqueles acima da mediana e o to-
tica de valorização do salário mínimo permitiu tal da PIA das RM do Nordeste indicam, para
que aqueles domicílios que tinham a renda per estes, maior proporção em desemprego e em
capita média igual a um salário mínimo apre- inatividade e, também, menores proporções
sentassem mobilidade de renda e deixassem de ocupados. Observa-se, entretanto, que não
de se situar entre o sétimo e oitavo decis, do são muito distintas as proporções de ocupados
início da década, para se situarem no sexto de- precários, a partir do segundo decil em dire-
cil no final do período analisado. ção aos superiores, diminuindo no decorrer da
A análise da distribuição do perfil da PIA década para todos os decis. Esses indicadores
do Nordeste Metropolitano reflete, em 2004, apontam para a permanência nos primeiros
a crise do emprego do início da década, bem decis de pessoas com maiores dificuldades pa-
como do aumento do emprego precário, ten- ra a inserção no mercado de trabalho
dências apresentadas por todos os decis e para Considerando o total da PIA, no período
o total da PIA nesse ano. A partir desse ano e entre 2004 e 2012, cresce a proporção de
no decorrer da década, cresce a proporção de ocupados nas RM do Nordeste, com destaque
ocupados e de ocupados não precários e cai a para o aumento de ocupados não precários
proporção em desemprego. Nota-se, entretan- (6 p.p) e queda no número de desempregados
to, a permanência de cerca de um quarto em (4 p.p). Ainda que as características da PIA
ocupações precárias, e, entre 2004 e 2012, a tenhamse alterado pouco no período, esses
taxa de inatividade cerca de 40%. indicadores apontam para uma melhora na
Em 2004, a PIA do primeiro decil é com- qualidade das ocupações.
posta de apenas 2,4% de ocupados não pre- A análise da escolaridade do Nordeste
cários, 26% de ocupados precários e de 21% Metropolitano (Tabela 3) evidencia, em rela-
de desempregados, assim como também de ção ao primeiro decil, desigualdade bastante
uma proporção de inativos de 50%. Ainda acentuada e permanente, no período de 2001
que reflita a conjuntura de crise do emprego a 2012, e uma melhora bastante tímida quan-
e o início da recuperação, esse quadro perma- to aos indicadores educacionais. No primeiro
nece semelhante para 2009, com pequena re- decil, cai em 4 p.p. a proporção de analfabe-
dução da proporção de desempregados e com tos, entre 2001 e 2004, e 4,5 p.p. entre 2004
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
2001
Ocupado não precário 2,9 9,0 11,3 15,7 19,0 29 19,2
Ocupado precário 19,3 23,3 27,6 27,4 29,1 24,7 25,0
Ocupado 22,2 32,3 38,9 43,1 48,2 54 44,2
Desempregado 15,3 9,3 8,5 7,5 7,4 4,4 7,3
Inativo 62,5 58,4 52,6 49,4 44,5 42 48,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2004
Ocupado não precário 2,4 10,8 13,9 17,0 22,4 33 22,0
Ocupado precário 25,7 27,1 29,9 29,0 30,7 25,9 27,3
Ocupado 28,1 37,9 43,9 46,0 53,1 58,7 49,4
Desempregado 21,5 14,8 12,0 11,0 8,9 6,2 10,3
Inativo 50,4 47,3 44,1 43,0 38,0 35,1 40,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2009
Ocupado não precário 2,7 13,2 16,8 22,0 27,4 38 26,1
Ocupado precário 24,7 25,7 31,5 28,0 30,2 25 26,5
Ocupado 27,3 38,9 48,3 50,0 57,6 62 52,5
Desempregado 19,5 12,1 10,8 9,6 7,4 4 8,4
Inativo 53,1 49,0 40,9 40,5 35,0 33 39,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Ocupado não precário 5,4 15,3 19,0 25,0 30,9 39,4 28,2
Ocupado precário 18,9 24,2 24,1 26,7 27,7 24,2 24,3
Ocupado 24,3 39,5 43,2 51,8 58,6 63,7 52,5
Desempregado 16,6 10,1 8,7 7,1 5,2 3,0 6,6
Inativo 59,1 50,3 48,2 41,2 36,1 33,3 40,9
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
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2001
Analfabeto 20,6 16,5 14,4 12,5 11,6 6,3 11,4
Ensino Fundamental Incompleto 67,5 269,1 66,2 63,3 58,2 40,5 54,6
Ensino Fundamental Completo 3,0 2,9 3,7 4,4 5,7 3,8 3,8
Ensino Médio 8,6 11,2 15,2 19,2 23,5 33,4 23,0
Ensino Superior 0,3 0,2 0,5 0,7 1,0 16,0 7,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2004
Analfabeto 16,9 13,4 11,9 11,1 9,8 5,5 9,8
Ensino Fundamental Incompleto 68,1 66,4 63,1 58,0 52,1 34,7 50,6
Ensino Fundamental Completo 3,1 4,0 4,4 5,4 5,9 5,2 4,8
Ensino Médio 11,4 15,8 19,9 24,4 30,2 35,4 26,3
Ensino Superior 0,4 0,4 0,8 1,0 2,0 19,2 8,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2012
Analfabeto 12,4 11,4 10,7 8,9 8,4 4,8 8,1
Ensino Fundamental Incompleto 57,9 53,9 50,6 46,2 42,2 27,8 41,0
Ensino Fundamental Completo 5,5 6,3 5,6 6,1 6,1 5,6 5,8
Ensino Médio 22,3 27,1 30,9 35,4 37,5 37,0 33,1
Ensino Superior 2,0 1,4 2,2 3,4 5,8 24,8 12,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
e 2012, exibindo valores superiores a 10% nos decis inferiores, da ordem de mais de 50% das
três primeiros decis, tanto em 2004 quanto em pessoas de 10 anos e mais, o que coincide com
2012. As alterações em relação aos perfis dos a PIA, indicando limitações para esse segmen-
50% mais pobres são bastante tímidas, no en- to nas possibilidades de inserção de qualidade
tanto há um aumento na escolaridade para es- no mercado de trabalho e de elevação da ren-
se grupo, com aumento do ensino fundamen- da domiciliar.
tal completo e ensino médio. Entretanto, per- Em relação ao grupo com renda acima
manece extremamente elevada a proporção da mediana, embora menores, são ainda ele-
com ensino fundamental incompleto nos três vadas as proporções com ensino fundamental
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
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proporção total (24,3%), apresentando queda precários, entre 2004 e 2009, e de 7 p.p. entre
mais acentuada, em 2012, e proporções pró- esse ano e 2012; no período de 2004 a 2012,
ximas de 20%. Observa-se, ainda entre estes, apresenta ainda as tendências de redução do
elevação das proporções de ocupados com vin- total de ocupados e de elevação da proporção
culações contratuais não precárias até 2012. em inatividade. Esses dados sugerem que, no
Considerando-se o total da PIA, bem como os período entre 2004 e 2012, em consequência
50% acima da mediana, essas mudanças não da mobilidade de renda em direção aos decis
são acentuadas. superiores, permanecem nos decis inferiores as
Entretanto a PIA do primeiro decil re- pessoas com maiores restrições para se inseri-
gistra uma queda de 6 p.p. entre os ocupados rem no mercado de trabalho.
522 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
2001
Ocupado não precário 7,0 14,8 21,1 26,1 30,4 35,7 26,9
Ocupado precário 23,6 26,1 24,3 27,5 27,2 24,7 25,1
Ocupado 30,6 40,9 45,4 53,6 57,6 60,5 52,1
Desempregado 11,7 7,3 6,5 5,7 4,4 5,7 5,2
Inativo 57,7 51,8 48,1 40,7 38,0 33,8 42,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2004
Ocupado não precário 9,2 19,1 26,3 31,4 36,0 42 32,4
Ocupado precário 29,9 30,1 28,2 27,2 27,6 23,6 26,4
Ocupado 39,1 49,2 54,6 58,6 63,7 65,7 58,7
Desempregado 13,2 8,0 6,7 6,9 4,4 2,7 5,5
Inativo 47,7 42,8 38,7 34,5 31,9 31,5 35,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2009
Ocupado não precário 12,1 21,5 31,1 30,7 38,8 43 34,1
Ocupado precário 23,6 23,9 25,7 23,1 26,5 24 24,3
Ocupado 35,7 45,4 56,8 53,8 65,3 67 58,3
Desempregado 14,1 8,0 5,5 4,8 3,6 2 4,9
Inativo 50,3 46,6 37,8 41,5 31,0 31 36,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Ocupado não precário 14,3 28,8 36,7 32,1 45,1 38,2 38,2
Ocupado precário 16,7 20,7 22,4 19,9 22,0 21,0 21,0
Ocupado 31,0 49,5 59,1 52,0 67,1 59,1 59,1
Desempregado 8,7 4,4 5,0 2,5 2,2 3,2 3,2
Inativo 60,3 46,2 35,9 45,5 30,8 37,6 37,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 523
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A Tabela 5 mostra lenta mudança no per- incompleto – cerca de 27% em 2012. No pe-
fil da escolaridade das pessoas no Sul Metropo- ríodo, pode-se destacar para esse grupo, o
litano. A queda na proporção de analfabetismo aumento do ensino superior, que alcança 33%
no período entre 2001 a 2012 pode ser consi- em 2012, em contraste com cerca de 3% nos
derada o elemento de melhora de maior signi- dois primeiros decis no mesmo ano, reiterando
ficância (pouco menos que 5 p.p.), no entanto, as desigualdades educacionais nas regiões me-
ainda é elevada a proporção de analfabetos tropolitanas do Sul.
entre o primeiro e o terceiro decis. A compara- Para finalizar, é possível observar que
ção entre o primeiro decil e o total da PIA das o acesso aos serviços públicos urbanos apre-
regiões metropolitanas do Sul revela que a pro- senta progresso entre 2001 e 2012, porém
porção de analfabetos no primeiro decil é mais permanece marcante a pior condição de aces-
que o dobro maior que a média metropolitana, so nos quatro decis inferiores de rendimento
evidenciando a desigualdade social nesses es- domiciliar per capita em ambos os conjuntos
paços e contribuindo para explicar as restrições de regiõesmetropolitanas analisados (Tabelas
para a inserção no mercado da PIA do primeiro 6 e 7).
decil de renda. Também em ambos os casos e, especial-
As alterações em relação aos perfis mente, para os 4 decis inferiores de renda é
dos 50% mais pobres são bastante tímidas, pior o acesso aos serviços de coleta de lixo e
no entanto observa-se um aumento na esco- à rede coletora de esgoto, especialmente nas
laridade para esse grupo, com aumento do regiões metropolitanas do Nordeste, marcan-
ensinofundamentalcompleto e ensino médio. do negativamente as condições de vida des-
Entretanto,permanece extremamente elevada ses domicílios.
a proporção com ensino fundamental incom- Deve ser ressaltado, no entanto, que, no
pleto nos 3 decis inferiores, da ordem de mais período analisado, tornou-se quase universal
de 50% das pessoas de 10 anos e mais em o acesso à água canalizada, em ao menos um
2012. Esse fato somado ao elevado nível de cômodo do domicílio, e à energia elétrica,
analfabetismo reforçam as dificuldades para embora com menor atendimento do acesso
esses segmentos obterem inserção de quali- à água canalizada, indicando melhora subs-
dade no mercado de trabalho e e elevação da tantiva nas condições de vida das populações
renda domiciliar. metropolitanas e ampliaçãoda possibilidade
Em relação ao grupo com renda acima de acesso a bens, como eletrodomésticos, que
da mediana, embora menores, são ainda ele- permitem maximizar o uso do tempo e am-
vadas as proporções com ensino fundamental pliar horizontes.
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
2001
Analfabeto 24,6 18,5 14,9 10,7 11,3 4,6 11,4
Ensino Fundamental Incompleto 62,9 64,5 61,3 56,3 53,4 37,8 50,5
Ensino Fundamental Completo 4,7 5,7 6,6 8,5 7,5 5,3 5,9
Ensino Médio 7,0 10,4 15,6 22,8 24,7 29,4 21,4
Ensino Superior 0,8 0,8 1,5 1,7 3,2 23,0 10,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2004
Analfabeto 21,3 14,3 10,9 9,1 6,9 3,4 9,0
Ensino Fundamental Incompleto 62,6 61,8 56,7 52,4 46,7 31,4 46,1
Ensino Fundamental Completo 5,4 7,7 8,6 8,3 9,7 6,9 7,5
Ensino Médio 10,0 15,1 22,2 26,6 30,9 30,5 24,5
Ensino Superior 0,7 1,1 1,6 3,6 5,7 27,9 13,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Analfabeto 14,1 9,9 7,4 6,8 5,3 2,8 6,3
Ensino Fundamental Incompleto 59,3 53,9 47,5 52,3 42,3 27,2 41,0
Ensino Fundamental Completo 7,3 8,2 9,5 8,1 9,6 6,5 7,6
Ensino Médio 16,5 24,9 30,0 25,9 34,0 30,1 27,6
Ensino Superior 2,8 3,1 5,6 6,9 8,7 33,4 17,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa
5º 91,4 93,2 96,4 99,5 99,8 100,0 92,6 94,7 96,1 46,9 50,6 63,4
6º 90,0 92,7 95,4 99,2 99,7 99,8 93,8 94,8 96,8 46,5 55,7 65,5
7º 94,2 95,9 97,1 99,8 99,9 100,0 95,4 96,9 98,0 51,4 62,8 71,6
8º 96,5 97,2 98,5 99,8 99,9 99,9 97,2 97,6 98,8 58,4 67,6 73,7
9º 98,9 98,6 98,9 100,0 99,8 100,0 98,9 98,7 99,6 70,0 73,8 81,3
10º 99,2 99,5 99,0 99,9 100,0 100,0 99,3 99,1 100,0 79,1 81,8 88,0
5º 98,5 98,9 99,4 99,5 99,8 100,0 97,9 99,0 98,9 78,2 82,8 84,2
6º 97,8 99,8 99,3 99,7 99,9 100,0 97,2 98,9 99,5 79,7 82,7 87,2
7º 98,8 99,2 98,8 99,9 100,0 100,0 98,8 98,5 98,3 83,3 84,9 86,3
8º 99,7 99,7 99,5 99,8 100,0 100,0 99,4 98,9 99,7 89,8 88,9 89,4
9º 99,4 99,8 100,0 100,0 99,9 100,0 99,3 99,8 99,6 90,9 92,8 93,3
10º 99,7 99,8 99,9 99,8 100,0 100,0 99,9 99,9 99,9 95,0 94,7 96,5
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa
(2012), em seu livro Nova classe média?, o terceirizadosde empresas que cumprem diver-
atualciclo de crescimento econômico foi mar- sas tarefas em indústrias. Esse movimento que
cado por três fatores principais: 1) crescimen- aumentou a proporção de ocupações não pre-
to do trabalho assalariado formal e protegido cárias se deve à formalização das ocupações de
por lei na base da pirâmide social brasileira; 2) baixa remuneração, pois, ainda que sejam mal
criação de emprego em ocupações que pagam remuneradas, as mínimas garantias e direitos
até 1,5 salário mínimo; e 3) deslocamento da oferecidos pelos empregos registrados em car-
dinâmica da geração de postos de trabalho da teira são suficientes para garantir alguma me-
indústria (décadas de 1970 e 1980) para o setor lhora na vida dos trabalhadores que ocupam
de serviços (anos 1990 e 2000). Dessa forma, a base da pirâmide social (o direito ao auxílio
com a valorização do salário mínimo e o au- desemprego é um deles, por exemplo). Dessa
mento do emprego, permitiu-se a esse enorme forma, os empregos que exigem baixa qualifi-
contingente de trabalhadores conquistar um cação foram os que mais influenciaram a mobi-
padrão de consumo relativamente inédito na lidade de renda verificada no período. Assim se
história nacional, o que possibilitou-lhes uma mantêm os “gargalos” que travam a ascenção
percepção de futuro mais positiva do que antes. social, sendo um exemplo o não preenchimen-
O crescimento do emprego (principal- to de vagas em empregos que oferecem melhor
mente no setor de serviços) na base da pirâmi- remuneração e exigem qualificação mais alta
de social brasileira no período de 2004 a 2009 que a média.
tem a ver com um processo de desindustrializa- A pobreza é entendida, neste trabalho,
ção intenso que atingiu o País principalmente como um fenômeno multidimensional, do qual
a partir da década de 1990. Os setores indus- a falta ou ausência de renda é apenas um de
triais ofereciam melhor remuneração, e muitos seus elementos. O aumento da renda regis-
dos trabalhadores dessas indústrias faziam trado no período não foi acompanhado por
parte da então tradicional “classe média” da melhorias substanciais em outros indicadores,
população, tendo em vista que, para ocupar como a qualidade do emprego e da educação,
tais empregos, era necessário determinado co- que são excelentes parâmetros de condição so-
nhecimento técnico, o que, portanto, exigia for- cial. O progresso registrado no período de cres-
mação educacional mais elevada. Atualmente, cimento pré-crise foi pontual, e há dificuldades
esses setores médios se encontram principal- estruturais que dificultam o avanço dos indica-
mente no setor público ou no setor de serviços dores educacionais, apesar das diversas políti-
privado, em que se localizam os empregos de cas de inclusão.
melhor remuneração, uma vez que houve que- As condições de vida urbana ainda evi-
da nos empregos gerados pela indústria. As- denciam a permanência da desigualdade, em-
sim, restou, aos estratos mais vulneráveis da bora haja a quase universalização do acesso à
população, os empregos que oferecem menor energia elétrica e à agua. Permanece marcante
remuneração e que exigem baixa ou nenhu- a pior condição de acesso aos serviços urbanos
ma qualificação profissional, setores tais co- para os quatro decis inferiores de rendimento
mo telemarketing,atendentes de comércio e domiciliar per capita em ambos os conjuntos
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
Lilia Montali
Universidade Estadual de Campinas, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Campinas/SP, Brasil.
lilia@nepp.unicamp.br
Notas
(*) Trabalho apresentado no VI Congresso da Associação Latino-americana de População, realizado
em Lima, Peru, de 12 a 15 de agosto de 2014. Seção 5.3: “Pobreza e vulnerabilidade social:
aproximações conceituais e medição na última década na América Latina”.
(1) O Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) era de reduzir pela metade a fome, e a
meta estabelecida pela Cúpula Mundial de Alimentação era reduzir pela metade o número
absoluto de subalimentados. O Brasil é um dos 29 países que conseguiram alcançar essas duas
metas. O País reduziu em 82,1% o número de pessoas subalimentadas no período de 2002 a
2014. O documento aponta ainda que ele alcançou as metas estabelecidas pelas Nações
Unidas em relação à fome nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio e nos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2015. Esses dados estão disponíveis em http://www.fao.
org/hunger/es/ El estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2015 e foram divulgados
em 27/5/2015. Também foram divulgados Via Portal Planalto, em 28/5/2015, http://www2.
planalto.gov.br/noticias/2015/05/fome-cai-82-em-12-anos-no-Brasil-afirma-onu.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 529
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa
(2) IBGE mostra um país cada vez menos desigual: pobreza extrema cai a 2,8% da população.
Ministério do Desenvolvimento Social. Disponível em: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/
noticias/2015/novembro/um-pais-menos-desigual-pobreza-extrema-cai-a-2-8-da-populacao/
view. Acesso em: 13 nov 2015.
(3) Cepal-ONU. Panorama Social da América Latina 2015. Disponível em: http://www.cepal.org/pt-
br/node/36488. Acesso em: 25 mar 2016.
(4) São analisadas informações relativas ao conjunto de nove regiões metropolitanas brasileiras
(RMs) contempladas pelo desenho amostral das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios
(Pnad), possibilitando a análise dos microdados (IBGE, 2009): Belém, Belo Horizonte, Curitiba,
Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, instituídas nos anos 1970,
e o Distrito Federal (DF), ainda que atualmente no Brasil existam 35 regiões metropolitanas
oficialmente instituídas.
(5) O Índice de Gini mede a desigualdade de renda, e seu valor quanto mais próximo de 1, indica
maior desigualdade e quanto menor, indica menor desigualdade de renda.
(6) A metodologia para medir a pobreza utilizada por Rocha constrói linhas de pobreza baseadas
no custo de cesta de consumo diferenciada por áreas de residência e por região; pode ser
encontrada em Rocha (2003).
(7) Segundo Rocha (2010), a evolução da proporção de pobres entre 2004 e 2008 para a população
brasileira é de 33,3% para 22,8%; para as áreas metropolitanas cai de 38,8% para 27,1%; para as
urbanas: de 29,6% para 19,9%; para as rurais cai de 35,4% para 24,3%.
(9) Sistematização do debate salário mínimo pode ser encontrada em Montali et al. (2012, capítulo 2).
(11) O salário mínimo (SM) é definido como: “A contraprestação mínima devida e paga diretamente
pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por
dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas
necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte” (Brasil, Lei
nº 5.452, 1º de maio de 1943). Entretanto, após a implementação, o salário mínimo atuou no
sentido de fixar um custo mínimo para a reprodução da força de trabalho brasileira.
(12) BPC é uma transferência monetária no valor de um salário mínimo nacional, destinado a idosos
acima de 65 anos e a portadores de deficiência, em famílias com rendimento domiciliar per
capita de até um quarto de salário mínimo. Trata-se de um direito constitucional. O Peti é
uma transferência monetária direta às famílias com crianças em trabalho infantil, vinculada à
participação em atividades complementares à jornada escolar.
(14) Uma primeira versão dessa análise, para o período entre 2004 e 2009, pode ser encontrada em
Lessa (2012).
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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras
(16) Para uma discussão mais aprofundada acerca do crescimento pró-pobre que teria ocorrido
no período, ver artigo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da FGV em parceria com a
International Poverty Centre (órgão da ONU), que define como pró-pobre o crescimento que
atinge proporcionalmente os mais pobres do que os não pobres. Assim, o crescimento pró-
pobre diminui a desigualdade, enquanto o antipobre a aumenta (Neri, 2006).
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