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Pobreza e mobilidade de renda

nas regiões metropolitanas brasileiras*


Poverty and income mobility
in the Brazilian metropolitan regions

Lilia Montali
Luiz Henrique Lessa

Resumo Abstract
A questão da pobreza tem sido um dos principais The question of poverty has been one of the
temas na agenda pública da política brasileira e main topics on the Brazilian political agenda and
integra compromisso com as Metas do Milênio is among the Millennium Development Goals,
firmado no ano 2000. A pobreza entendida como a document that was signed in 2000. Poverty,
resultante de carências múltiplas vem se reduzin- understood as the result of multiple needs, has been
do enquanto resultado de um conjunto de políticas decreasing due to a set of social policies and to the
sociais e da retomada do crescimento econômico. resumption of economic growth. The objective of
O objeto deste ensaio é interrogar se a mobilidade this essay is to discuss whether the income mobility
de renda observada entre 2001 e 2012 (série Pnad- verified between 2001 and 2012 (Pnad-IBGE series)
-IBGE) é acompanhada de melhora em algumas das was accompanied by improvements in some of the
dimensões que possibilitam a elevação da condição dimensions that enable better living conditions
de vida da população nas regiões metropolitanas to the population in Brazil’s metropolitan regions
e de mudanças que permitam a discussão de mo- and by changes that allow the discussion of social
bilidade social. Constatou-se a mobilidade de ren- mobility. Income mobility was verified when
da, quando parcelas da população metropolitana sectors of the metropolitan population rise from the
se deslocam dos dois primeiros decís de renda per two lowest deciles of per capita household income
capita domiciliar para os subsequentes, e a persis- to higher deciles. The persistence of gaps in access
tência dos hiatos de acesso ao emprego, educação, to jobs, education, health and urban services was
saúde e serviços urbanos. also noted.
Palavras-chave: pobreza; desigualdade; mobilida- Keywords: poverty; inequality; income mobility;
de de renda; metrópoles. metropolises.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2016-3610
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

Introdução sociais. A desigualdade também apresenta ten-


dência declinante, ainda que se mantenha em
A pobreza e a permanência de elevados índi- níveis elevados. Dentre as políticas sociais re-
ces de desigualdade social têm se mostrado centes com maior impacto sobre a redução da
como temas relevantes da agenda pública da pobreza e da desigualdade, na primeira década
política brasileira na última década. Em 2000 o do século XXI, merecem destaque a política de
Brasil aderiu às Metas do Milênio (Pnud ONU, recuperação do salário mínimo (SM), as medi-
2000), com os demais 190 países membros da das para a recuperação do emprego e a política
ONU. Esse documento estabelece medidas e de transferência condicionada de renda.­
metas que deverão ser atingidas até 2015 para Indaga-se, neste ensaio, se a mobilidade
se reduzir a extrema pobreza e a fome, assim de renda observada a partir de 2004 – período
como promover a igualdade entre os sexos, em que se iniciam a retomada do crescimen-
entre outras. As metas de redução da pobreza to econômico no País e também a ampliação
e do número de pessoas subalimentadas fo- e o aperfeiçoamento das políticas de combate
ram atingidas pelo Brasil, segundo o relatório à pobreza –, é acompanhada de melhora em
da ONU “O Estado da Insegurança Alimentar algumas das dimensões que possibilitam a ele-
1
no Mundo 2015”. Nesse período, também foi vação da condição de vida da população nas
confirmada a redução da pobreza e da extrema regiões metropolitanas, além de mudanças que
pobreza, através de análise dos microdados permitam a discussão de mobilidade social.
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí- A análise tem por foco as regiões metro-
lios de 2014, IBGE, realizada pelo Ministério politanas brasileiras e privilegia como eixos o
de Desenvolvimento Social (MDS). Tal análise nível educacional e as formas de inserção no
mostra redução das taxas de pobreza extrema mercado de trabalho, bem como os indicadores
de 7,6% da população, em 2004, para 2,8%, de qualificação profissional. As regiões metro-
em 2014, e das taxas de pobreza de 22,3%, em politanas4 brasileiras apresentam-se como es-
2004, para 7,3% da população, em 2014.2 A paços importantes para o estudo da problemá-
continuidade da redução da pobreza até 2014 tica envolvida no comportamento da pobreza
também é apontada pelo relatório da Cepal e da desigualdade de renda, porque se, por um
“Panorama Social da América Latina 2015”. 3 lado, agregam as principais aglomerações ur-
Segundo Laís Abramo, diretora da Divisão de banas do País, sendo responsáveis por cerca de
Desenvolvimento Social da Cepal, a diminuição 40% do PIB nacional, por outro, apresentam
mais acentuada da pobreza entre os indigentes permanência de elevada proporção de pobres
mostra, a eficácia e a importância dos progra- (Rocha, 2003; 2010; 2013) e da desigualdade
mas de combate à extrema pobreza que exis- de renda que, embora em queda, é, em mé-
tem atualmente no País. dia, superior à nacional (Montali et al., 2014).
A análise do ano de 2012, aqui apresen- Deve-se ainda ressaltar que as regiões metro-
tada, mostra que a pobreza entendida como re- politanas brasileiras (RMs) evidenciam as mes-
sultante de carências múltiplas se reduz no País,­ mas tendências apontadas na literatura para o
como resultado de um conjunto de políticas­ Brasil com relação à redução da desigualdade

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

de renda a partir­de 2004, que resultam da ele-


Desigualdade de renda
vação da renda domiciliar per capita e do cres-
cimento mais acentuado do rendimento médio
nas metrópoles brasileiras
dos domicílios nos decis inferiores de renda.
O presente ensaio refere-se ao período A análise da primeira década do século XXI
entre 2001 e 2012, e o fato de sua publicação evidencia a tendência de redução da desigual-
ocorrer em 2016 nos obriga a registrar que dade de renda, a partir de 2004, no País e nas
essa tendência virtuosa de elevação do em- regiões metropolitanas. O Índice de Gini,5 en-
prego formalizado e do rendimento domiciliar tretanto, mostra queda da desigualdade menos
per capita,­observada até o ano de 2014, so- acentuada nas regiões metropolitanas que a
fre uma inflexão no decorrer do ano de 2015, observada para o País e também se observa a
como decorrência de uma conjunção desfavo- manutenção de elevada proporção de pobres
rável provocada por crise política e econômica nessas regiões.
que se instaura no País e permanece até o mo- Estudo de longo prazo sobre pobreza no
mento atual. A conjuntura de crise e recessão Brasil, feito por Rocha (2013), mostra que, en-
se acentua no ano de 2016 e é possível que tre 1970 e 2011, ocorreu tendência de redução
afete negativamente os indicadores de pobre- do número absoluto de pobres e de redução
za alcançados. sustentada da pobreza, que se apresentava co-
Entretanto, este ensaio retrata um mo- mo tendência desde 1997.6 Mostra, ainda, que
mento de crescimento econômico e de redução se altera o perfil da pobreza, que deixa de ser
da desigualdade de renda resultante de polí- predominantemente rural para se tornar mais
ticas econômicas e sociais, que tiveram êxito elevada nas áreas metropolitana e urbana.
na redução da pobreza. Ele é composto por Esse fato se relaciona às mudanças ocorridas
três partes. Na primeira parte são apresenta- no País. O Brasil, que em 1970 apresentava
das as regiões metropolitanas brasileiras e sua elevada proporção de população rural (45%),
heterogeneidade e é justificada a escolha do bem como elevada prevalência de pobreza,
agregado de regiões metropolitanas do Sul e torna-se, no decorrer do período, predominan-
do Nordeste, por apresentar situações contras- temente urbano e metropolitano. Outra ten-
tantes em relação à renda domiciliar per capita. dência relevante apontada é a convergência
Na segunda parte, são indicadas as principais da proporção de pobres segundo os locais de
políticas sociais responsáveis pela redução da residência. Durante o período referido, a redu-
pobreza na primeira década dos anos 2000. Na ção da pobreza rural é provocada por diversos
última parte, é apresentada a análise compa- fatores, desde mudanças no processo produti-
rativa dos dados da Pnad relativos ao período vo, como medidas de políticas públicas, com
de 2001 a 2012 com o intuito de identificar as destaque para a ampliação da previdência ru-
características da pobreza no Brasil naquele ral. Observa-se, também, o aumento da pobre-
momento, considerando-se como indicadores a za metropolitana a partir das décadas de 1980
renda, o vínculo contratual de trabalho, o nível e 1990, períodos de baixo crescimento eco-
educacional e o acesso a serviços urbanos. nômico e de migração em direção às regiões

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metropolitanas da região Sudeste (São Paulo de pobres cai de forma sustentada em todas as
e Rio de Janeiro). Segundo Rocha, os momen- áreas de residência analisadas, quais sejam,
tos de crise econômica dessas duas décadas metropolitana, urbana e rural.7 Entretanto,
de baixo crescimento afetaram de forma mais comparativamente, é menor a queda no es-
aguda as metrópoles primazes de São Paulo trato metropolitano, que se mantém apresen-
e Rio de Janeiro. Além disso, nesse período, tando a maior proporção de pobres em sua
ocorre a “metropolização da pobreza”, quando população, ou seja, esta passa de 38,8%, em
a proporção de pobres nos espaços metropo- 2004, para cerca de 27% em 2008; enquanto,
litanos passa de 29% em 1981, para 32% em na população brasileira, essa proporção cai de
1993 (Gráfico 1). 33,3% para 22,8%. Entretanto, a autora alerta
No período entre 2004 e 2008, caracte- para a heterogeneidade das regiões metropoli-
rizado pela expansão da economia e pela im- tanas brasileiras e para seu comportamento na
plementação de políticas sociais de combate à retomada do crescimento econômico a partir
pobreza, Rocha (2010) mostra que a proporção­ de 2004.

Gráfico 1 – Proporção de pobres segundo estrato de residência (%)


Brasil – 1970-2010

85

75

65

55

45

35

25

15

5
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

2003–2011 1953–2003 1980–1993 1970–1980


Brasil Urbano Metropolitano Rural

Fonte: Pnad, elaboração de Rocha (2013, p. 21).

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Ainda merece destaque que a renda per As áreas metropolitanas brasileiras fo-
capita domiciliar média das regiões metropoli- ram afetadas com mais intensidade do que
tanas é mais elevada que a média do País e que as áreas urbanas não metropolitanas e as
a média das áreas não metropolitanas (Gráfi- áreas rurais pelo processo de reestruturação
co 2). Além de ser mais elevada, a evolução da produtiva e organizacional. Além disso, esse
renda domiciliar per capita metropolitana apre- processo, que se intensifica a partir da década
senta oscilações mais acentuadas relacionadas de 1990 no País, atuou de forma diferenciada,
ao crescimento da economia. Assim, observa-se entre as regiões metropolitanas, relacionada
que a queda no PIB ocorrida em 2003 se reflete à organização das atividades econômicas em
nos menores valores de renda per capita me- cada uma delas. Associada ao baixo ritmo de
tropolitana em 2003. Nota-se também, para o crescimento da economia, a reestruturação
total metropolitano, que a elevação da renda é produtiva elevou o patamar de desemprego e
mais rápida nos anos de recuperação da eco- implicou crescente precarização das relações
nomia a partir de 2004 (Gráfico 2). de trabalho com redução do assalariamento

Gráfico 2 – Rendimento domiciliar per capita médio


Brasil, regiões metropolitanas e não metropolitanas, 2001-2012

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2001-2012).


Elaboração Nepp/Unicamp.
Valores atualizados para 2012 (INPC).
(1) O Total Metropolitano inclui as nove regiões metropolitanas e o Distrito Federal.

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regulamentado e com aumento de vinculações economia,­expressa-se nos valores mais ele-


menos protegidas. Nesse período, acentuou-se vados do rendimento­domiciliar per capita do
o empobrecimento nessas regiões. A partir de ano de 2009, com continuidade até o ano de
2004, quando se inicia a recuperação econô- 2012 (Tabe­la 1)­­.­­­­­­
mica, ampliam-se o emprego e as contratações Um dos indicadores da heterogeneidade­
regulamentadas, e ocorre elevação gradual nos existente entre as regiões metropolitanas –
rendimentos dos ocupados e nos rendimentos nestas incluindo o Distrito Federal (DF) – ex-
familiares (Montali,­2008). plicita-se na análise da renda domiciliar per
A inflexão observada nos valores do capita média. Ressalta-se que a renda domici-
rendimento domiciliar per capita no ano de liar per capita do Distrito Federal (R$2.012,90
2004 reflete a conjuntura de baixo crescimen- em 2012, equivalente a 3,2 salários mínimos
to, de elevado desemprego e de deterioração vigentes)8 é bastante superior ao rendimento
do mercado de trabalho que marcou o início domiciliar per capita das demais regiões es-
da primeira década do século XXI no País e tudadas (Tabela 1). Em segundo lugar, apare-
se estendeu até o ano de 2003. Já o período ce a RM de São Paulo com o valor médio de
entre 2004 e 2009 de maior dinamismo da R$1.485,20 no mesmo ano. Seguem-se a esta

Tabela 1 – Rendimento domiciliar per capita médio e Índice de Gini


Brasil e regiões metropolitanas, 2001-2012

Valores em reais Índice de Gini

2001 2004 2009 2012 2001 2004 2009 2012

Brasil 758,9 728,6 910,6 1.036,3 0,5939 0,5705 0,5401 0,5277


Total Metropolitano 1.047,4 964,5 1.183,5 1.340,7 – – – –
RM Belém 631,3 601,8 712,8 833,3 0,5845 0,5416 0,5122 0,5213
RM Fortaleza 655,5 601,8 754,8 805,3 0,6321 0,5999 0,5542 0,5217
RM Recife 682,5 645,8 790,1 816,1 0,6215 0,6269 0,5676 0,5431
RM Salvador 788,4 657,6 967,8 1.080,3 0,6216 0,588 0,58 0,5613
RM Belo Horizonte 868,8 876,3 1.193,3 1.419,3 0,5584 0,556 0,5303 0,5244
RM Rio de Janeiro 1.115,9 1.076,60 1.313,5 1.340,3 0,5719 0,5555 0,5563 0,5428
RM São Paulo 1.166,3 1.011,80 1.198,1 1.485,2 0,5679 0,5424 0,5142 0,5067
RM Curitiba 1.091,5 1.106,60 1310 1.420,2 0,5615 0,5635 0,5052 0,4804
RM Porto Alegre 1192 1.095,00 1.236,3 1.421,9 0,5625 0,5377 0,5126 0,5083
Distrito Federal 1.453,2 1.416,60 1.995,4 2.012,9 0,6203 0,6256 0,619 0,5822

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Indice de Gini: elaboração Ripsa – IDB – Brasil, 2012, Site Ministério da Saúde.
Valores atualizados para 2012 (INPC).

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

as RM de Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizon-


Salário mínimo e as políticas
te, com valores de rendimento domiciliar per
capita cerca de R$1.420,00, no último ano. Es-
sociais de transferência
sas RMs do Sudeste e do Sul são as que, após de renda: efeitos sobre
o DF, apresentam maiores valores médios, cerca a diminuição da desigualdade
de 2,3 salários mínimos. E as RMs do Norte e de renda
Nordeste apresentam os menores valores, va-
riando entre R$1.080,00 ou 1,7 SM (Salvador) A importância do salário mínimo
e R$816,00 ou 1,3 SM (Recife).
O Índice de Gini evidencia a tendên- Nos anos da década de 2000, período em que
cia de redução da desigualdade entre 2001 e ocorre a recuperação do salário mínimo, esta-
2012, tanto para o País como para as regiões belece-se um debate, com concordância entre
metropolitanas brasileiras. A queda da desi- diversos analistas, que o aumento do salário
gualdade de renda foi da ordem de 11% para o mínimo tem impacto nas remunerações pa-
País, no período entre 2001 e 2012, e de 7,5% gas, com maior ênfase nas remunerações mais
entre 2004 e 2012 (Tabela 1). Entretanto, para próximas ao seu valor, mas com efeitos que
o conjunto das regiões metropolitanas brasilei- alcançam remunerações mais elevadas, ainda
ras, a queda foi menor para ambos os períodos que com uma intensidade menor. Além disso, a
indicados. Apenas três entre as nove RM e o política de recuperação do valor real do salário
Distrito Federal apresentam redução da desi- mínimo se reflete no sistema previdenciário e
gualdade maior que a observada para o País. se discute sobre a importância do salário míni-
São elas RM de Fortaleza e Recife, na região mo como uma política pública capaz de mitigar
Nordeste, e de Curitiba, na região Sul. a desigualdade de renda no País.9 A Constitui-
As disparidades de renda e as carac- ção Federal de 1988 instituiu mudanças que
terísticas do desenvolvimento regional defi- ampliaram o alcance do salário mínimo. Além
niram a escolha neste ensaio em detalhar a de servir como um instrumento regulador das
análise para dois conjuntos correspondendo remunerações no mercado de trabalho, ele foi
às regiões metropolitanas do Sul (Curitiba e adotado como piso para uma série de benefí-
Porto Alegre) – dentre os níveis mais elevados cios sociais, dentre os quais os previdenciá-
de rendimento domiciliar per capita e com me- rios urbano e rural e o Benefício de Prestação
nor desigualdade de renda – e às regiões me- Continuada­ (BPC).
tropolitanas do Nordeste (Fortaleza, Recife, O salário mínimo foi instituído no Brasil,
Salvador) com valores menores de rendimento em 1936, por meio da lei nº 18510 e foi um dos
domiciliar per capita e indicador de desigual- direitos trabalhistas estabelecidos pela Conso-
dade de renda superior ou semelhante ao na- lidação das Leis do Trabalho.11 Desde sua cria-
cional. Procura-se identificar distinções entre ção, é possível identificar cinco momentos que
esses dois conjuntos de regiões metropolita- refletem as principais mudanças no seu valor
nas nas tendências da mobilidade de renda e real, como mostra o Gráfico 3. No período que
nas características da pobreza. vai da criação do salário mínimo em 1940 até

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início dos anos 1950, não há novos reajustes, que visava fortalecer a opinião dos poderes
o que leva a uma queda do seu valor. Num se- Executivo e Legislativo acerca da importância
gundo momento, há uma tendência de cresci- social e econômica da proposta de valorização
mento que vai até o Golpe Militar de 1964. A do salário mínimo. Também como resultado
partir de então, ele sofre uma queda acentua- dessas negociações, foi acordada uma política
da, mas que se estabiliza em 1967 e que dura permanente de valorização do salário mínimo.
até a crise econômica do início dos anos 1980. Segundo nota do Dieese (2010), o salário míni-
Durante essa década, a inflação corrói ainda mo teve um aumento real de 53,7% durante o
mais seu valor real, que só volta a crescer a governo de Luiz Inácio Lula da Silva (de abril de
partir de 1995, devido à estabilidade da moeda 2003 a janeiro de 2010), abrangendo cerca de
e à redução da inflação, obtidas a partir do pla- 46,1 milhões de pessoas que têm rendimentos
no Real e por diversas políticas de estabilização referenciados no salário mínimo. Apenas isso já
subsequentes a ele. bastaria para justificar a importância e valori-
A atual política de valorização do salá- zação de sua manutenção como política públi-
rio mínimo estabelecida pelo governo federal ca de regulamentação do mercado, mesmo que
respondeu à reinvindicação de movimento aproximadamente metade dos trabalhado-
articulado em 2004 pelas Centrais Sindicais, res brasileiros se encontre na informalidade.

Gráfico 3 – Valor real do salário mínimo, mensal, 1940 – agosto/2011

Fonte: Ipeadata (apud Montali et al., 2012).

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

As análises do Ipea indicam que as famílias que 1995, foram implementados em âmbito muni-
tiveram uma mudança efetiva de sua condição cipal, programas de transferência de renda de
de extrema pobreza ou pobreza foram as que forma pioneira em Campinas e Ribeirão Preto,
tiveram, dentre seus membros, alguém que no estado de São Paulo, e em Brasília (DF), se-
conseguiu um emprego regulamentado nesse guidos por outros municípios em diversos esta-
período ou que tinham algum familiar que re- dos brasileiros. O sucesso dessas experiências
cebesse benefícios sociais, como o BPC, no va- levou o governo federal a criar, em 1997, o Pro-
lor de um salário mínimo (Ipea, 2007). grama Federal de Garantia de Renda Mínima
que consistia no cofinanciamento de até 50%
dos programas instituídos nos municípios que
Os programas de transferência não tivessem recursos suficientes. Por ter como
de renda e o objetivo de erradicação critério de seleção os municípios que tivessem
da pobreza baixo IDH, era difícil conseguir municípios que
tivessem capacidade e disposição de financiar
Os atuais programas de transferência de renda a contrapartida exigida. Por esse motivo, o go-
no Brasil têm suas origens na década de 1990. verno federal criou, em 2001, o Programa Na-
As medidas neoliberais implementadas, tanto cional Bolsa Escola, cujo objetivo era garantir
no Brasil como nos demais países da Améri- acesso à escola da totalidade da população
ca Latina, por um lado provocaram profundas de 7 a 14 anos, mediante a concessão de uma
mudanças no mercado de trabalho e deterio- bolsa complementar, até o limite máximo de
ração do emprego e empobrecimento massivo três crianças por família. O cadastramento das
dos trabalhadores; por outro, no caso brasileiro, famílias e das crianças era de responsabilida-
interferiram nos direitos sociais que deveriam de das prefeituras municipais, que também se
ser garantidos sob a égide da Constituição comprometiam a desenvolver atividades socio-
Brasileira de 1988. Segundo Ivo (2011), o ca- educativas em horário complementar às aulas,
minho encontrado pelos governantes foi uma sem receber qualquer repasse financeiro do
tendência de restrição dos custos da “segurida- Governo Federal.
de social de perspectiva universalista e inclusi- No governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
va para a assistência focalizada sobre aqueles a rede de assistência social iniciada no gover-
em situação de pobreza e de pobreza extrema, no Fernando Henrique Cardoso foi ampliada
com base na gestão dos mínimos sociais”. em relação tanto ao seu volume de gastos em
Nesse contexto, surgem no Brasil di- programas de transferência de renda quanto
versos programas de auxílio focalizados nos ao número de beneficiários. Em 2003, foi criado
setores mais vulneráveis da população, ainda o Programa Bolsa Família, o que representou
no período do governo de Fernando Henrique um esforço do governo federal em unificar, in-
Cardoso. No âmbito federal foram instituídos, tegrar e ampliar a experiência dos programas
em 1996, dois programas: o BPC (Benefício de sociais anteriores, através de um cadastro
12
Prestação Continuada) e o Peti (Programa de único dos beneficiários formulado pelo MDS
Erradicação do Trabalho Infantil) em 1996. Em e aplicado pelas prefeituras dos municípios.

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Segundo­Fonseca­e Roquete (2005, p. 133), os a 2009, a pobreza e a extrema pobreza tor-


fundamentos inovadores do Programa Bolsa naram-se cada vez menos determinadas pelo
Família em relação aos demais programas re- baixo valor do rendimento per capita dos mem-
sidem em quatro aspectos: 1) a família como bros da família e cada vez mais determinadas
unidade básica receptora dos benefícios e do pela exclusão desses membros do mercado de
cumprimento das condicionalidades; 2) a in- trabalho, sugerindo que o Bolsa Família e de-
clusão prioritária dos membros das famílias em mais programas, como o BPC, têm sua eficácia
programas e políticas que permitam uma saída melhorada em associação com a renda oriunda
do programa; 3) a descentralização pactuada do trabalho.
com os estados e municípios da federação; e Nesse sentido, as políticas públicas que
4) o cadastro único dos programas sociais co- permitem a criação e o incentivo de empregos
mo ferramenta de planejamento e controle dos regulamentados, tais como a qualificação pro-
cadastrados no programa. O principal objetivo fissional e o aumento do salário mínimo, são
do programa residia na mitigação da pobre- fatores importantes para que se acelere a saída
za, porém seus programas complementares, a das famílias do programa, tornando-as eman-
exigência do cumprimento das condicionalida- cipadas economicamente. Algumas iniciativas
des e as ações focalizadas geraram inúmeras buscaram perseguir esses objetivos, embora
consequências positivas, tais como: criação de sem sucesso. Segundo estudo de Sergei Soa-
possibilidades de emancipação sustentada dos res “Distribuição de Renda no Brasil de 1976
grupos familiares; incentivo ao desenvolvimen- a 2004” apontado por Weissheimer (2010), o
to local dos territórios; prioridade assegurada programa foi responsável por um terço da que-
aos mais pobres; estabelecimento e busca do da na desigualdade no Brasil, logo no início de
princípio de equidade; aumento da eficiência e sua criação, e impactou diretamente na melho-
a efetividade do uso dos recursos; e unificação, ria da nutrição infantil e também, de modo in-
ampliação e racionalização dos programas de direto, na redução do trabalho infantil. O mer-
transferência de renda. cado de trabalho teria sido o responsável pelos
Os estudos realizados a partir dos dados outros dois terços de queda na desigualdade,
da Pnad mostram que o programa Bolsa Famí- segundo estudo realizado pelo Ipea (2006). De
lia obteve sucesso quanto a sua capacidade acordo com a pesquisa, a desigualdade caiu
de focalizar suas ações nos estratos mais vul- por ano em média 0,7 pontos percentuais do
neráveis da população brasileira. Desde a im- Índice de Gini.
plementação do programa, em 2004, diversas Considerando que a pobreza é um fe-
pesquisas têm registrado uma melhoria nas nômeno multidimensional, o governo Dilma
condições de vida dos setores mais pobres, com Rousseff lançou, em junho de 2011, o Progra-
redução de desigualdades sociais e aumento ma Brasil Sem Miséria, que visava identificar
de renda, embora inconclusivas na afirmação e combater a extrema pobreza no Brasil, cuja
acerca da existência de uma tendência perma- concentração é mais elevada principalmen-
nente de redução da pobreza no País. Segundo te nas áreas rurais do Norte e Nordeste. Esse
o informe do Ipea (2011a), no período de 2004 programa apresenta um conjunto de medidas

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

que não considera exclusivamente o critério de aos choques econômicos e à sazonalidade da


transferência de renda como instrumento de economia, mostrando que a renda familiar per
combate à pobreza. Segundo informe do Minis- capita dos inseridos no mercado de trabalho
tério do Desenvolvimento Social (MDS, 2012), o informal flutua continuamente, o que leva, por-
programa visa retirar a população extremamen- tanto, a uma variação na dependência ou não
te pobre de sua condição, rompendo o círculo das famílias ao programa, como aponta estu-
vicioso da exclusão social, que, segundo o Cen- do do Ipea (2007, p. 12). Em certos períodos,
so de 2010, era cerca de 16 milhões de pessoas: inclusive, é possível que alguns beneficiários
tenham uma renda que ultrapasse os limites de
A insuficiência de renda é um relevante
corte adotados para a concessão do benefício,
indicador de privações, mas não é o único.
Fatores sociais, geográficos e biológicos mas que, no momento da entrada no progra-
multiplicam ou reduzem o impacto exer- ma, cumpriam integralmente todos os critérios
cido pelos rendimentos sobre cada indiví- para a inclusão. Por avaliar esses aspectos o
duo. Entre os mais desfavorecidos faltam Programa Brasil Sem Miséria incluiu a possibili-
instrução, acesso à terra e insumos para
dade de desligamento voluntário do programa
produção, saúde, moradia, justiça, apoio
familiar e comunitário, crédito e acesso a com retorno garantido no prazo de 3 anos. Des-
oportunidades. (p. 6) sa forma, permitia que, em caso de perda do
emprego, a família pudesse retornar imediata-
De acordo com o informe, o objetivo do mente ao Programa Bolsa Família.
Brasil Sem Miséria é promover a inclusão so-
cial e produtiva da população extremamente
pobre, tornando residual a percentagem dos Mobilidade de renda
que vivem abaixo da linha da pobreza. Ele atua no período de 2004 a 201214
com base em três eixos específicos: 1) elevar a
renda familiar per capita; 2) ampliar o acesso A partir de 2004 até 2009 (ano da crise finan-
aos serviços públicos, às ações de cidadania e ceira), o Brasil retoma um período de cresci-
de bem-estar social; e 3) ampliar o acesso às mento econômico com aumento do emprego
oportunidades de ocupação e renda através de assalariado protegido pela legislação traba-
ações de inclusão produtiva nos meios urbano lhista. Há continuidade dessas tendências até
13
e rural (ibid., p. 2). 2012, embora com menor ritmo do crescimento
Considera necessário levar em conta ou- da economia.
tros mecanismos, além da simples transferên- Como já mencionado, este ensaio interro-
cia de renda, que permitam uma diminuição da ga se a mobilidade de renda observada, a partir
miséria e que ajam em conjunto com ela, uma de 2004 (período em que ocorre a retomada do
vez que apenas a transferência de renda é in- crescimento econômico no País e do emprego,
suficiente para promover uma estável seguri- além da ampliação e do aperfeiçoamento das
dade social às famílias beneficiadas. Os dados políticas de combate à pobreza), é acompanha-
mostram que as rendas das famílias continuam da de melhora em algumas das dimensões que
sujeitas à rotatividade dos empregos precários, possibilitam a elevação da condição de vida da

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 513
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

população nas regiões metropolitana, assim características contrastantes em relação aos


como também de mudanças que permitam a níveis de pobreza, apresentadas no item “Desi-
discussão de mobilidade social. Objetiva, ainda, gualdade de renda nas metrópoles brasileiras”.
identificar as características da pobreza no Bra- A partir da mudança observada no período
sil, com base nos recortes de pobreza extrema entre 2004 e 2012, há indícios de que, à me-
e de pobreza (um quarto de SM e meio SM, res- dida que há a redução da incidência de pobre-
pectivamente), através da análise consideran- za (considerando-se a insuficiência de renda),
do-se os decis da distribuição de renda. mais caracterizada ela se torna em relação aos
Optou-se por utilizar, como recurso para indicadores das demais carências.
análise, a distribuição por decis de renda – que
consiste em dividir a renda per capita total
em grupos que variam entre os dez por cento Brasil: indicadores de renda e pobreza
mais pobres até os dez por cento mais ricos,
obtendo, com isso, uma escala de distribuição Através da análise dos valores de corte dos
de renda com dez divisões. Para este trabalho, decis de renda per capita domiciliar do Bra-
utilizou-se a renda per capita domiciliar como o sil, é possível constatar indicações de que as
critério de referência para investigar a mobili- proporções mais elevadas de aumento do ren-
dade de renda, ainda que o objetivo seja identi- dimento ocorridas entre 2004 e 2012 se en-
ficar o perfil dos indivíduos que integram esses contram nos decis inferiores, com crescimento
15
domicílios. A escolha por se trabalhar com as cerca de 40%; enquanto, nos decis de renda
divisões por decis de renda difere da metodolo- mais elevados, o aumento foi de 20%, reafir-
gia de linhas de pobreza adotadas por Rocha, mando que o crescimento econômico do País
mencionadas em item anterior. Mesmo sendo no período tendeu a beneficiar os mais pobres
consideradas as limitações existentes por conta (Neri, 2006).16
da diversidade regional, foram adotados, nes- Os Gráficos 4 e 5 apresentam a distribui-
te ensaio, os mesmos cortes de renda indica- ção segundo cortes dos decis do rendimento
tivos de pobreza utilizados na formulação das per capita domiciliar para o total dos domicílios
políticas públicas, para identificar a gravidade do Brasil e para o total dos domicílios das áreas­
da pobreza e a elegibilidade dos beneficiários. metropolitanas brasileiras, e sua análise indi-
Assim, considera-se, nesse estudo em condição ca mobilidade de renda.17 Pode-se notar para
de pobreza, os “extremamente pobres” ou in- as áreas metropolitanas que o valor de renda
digentes – indivíduos em domicílios com renda domiciliar per capita correspondente à pobreza
per capita inferior a um quarto do salário míni- (inferior a meio salário mínimo – R$311,00 per
mo – e os “pobres” – aqueles com renda entre capita para valores de 2012) estava localizado
um quarto e meio salário mínimo, deflacionado no quarto decil, em 2001 e 2004. Assim, enten-
para os valores de 2012 (R$622,00 per capita). de-se que entre 2001 e 2004, são considerados
São comparadas as informações relativas ao pobres os domicílios com rendimento de até
Nordeste Metropolitano e ao Sul Metropolita- meio salário mínimo situados no quarto decil
no. Optou-se por comparar duas regiões com e abaixo dele. Em 2009, o corte de rendimento­

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

Gráfico 4 – Valor dos decis de rendimento domiciliar per capita (R$)


Brasil – 2001-2012

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Valores atualizados para 2012 (INPC).

Gráfico 5 – Valor dos decis de rendimento domiciliar per capita (R$)


Brasil Metropolitano – 2001-2009

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Valores atualizados para 2012 (INPC).

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 515
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

correspondente à pobreza encontrava-se no Nordeste Metropolitano


terceiro decil, nas áreas metropolitanas e tam-
bém para o total da população brasileira, e no
O crescimento econômico do Nordeste Metro-
segundo decil, no ano de 2012, também para
politano foi durante muito tempo influenciado
ambas. Esses dados indicam progressiva redu-
pelas atividades agrícolas voltadas para a ex-
ção da proporção de domicílios pobres, pois
portação. Com a decadência da economia nor-
eles estão cada vez mais se limitando aos pri-
destina, ainda no século XIX, nessas regiões,
meiros decis da distribuição de renda domici-
que outrora foram o centro da economia colo-
liar per capita.
nial, iniciou-se um grande ciclo de decadência;
Ressalta-se que, para o total da popula-
e, do acúmulo de riqueza, elas passaram a con-
ção brasileira, comparativamente à população
centrar pobreza. A industrialização ocorrida no
do Brasil Metropolitano, é maior a mobilidade
eixo sudeste só atingiu a região muito mais tar-
de renda, pois nesta os domicílios pobres (com
diamente, e ela sempre dependeu dos investi-
rendimento de até meio salário mínimo) estão
mentos estatais para se desenvolver na região,
situados no quinto decil e abaixo deste em
através de incentivos fiscais e financeiros, como
2001 e 2004; e passam a estar no terceiro decil,
a Sudene. A industrialização incentivada pe-
em 2009, e no segundo decil em 2012.
lo Estado e a descentralização da indústria do
A análise da faixa de renda domiciliar
eixo­Sudeste ocorrida nos anos recentes dina-
correspondente à extrema pobreza (inferior a
mizaram a economia metropolitana Nordestina,
um quarto de SM – R$155,00 per capita) mos-
tra que ela se situava no segundo decil para as [...] mas logrou quantidade de empregos
regiões metropolitanas, tanto em 2001quanto líquidos inferior ao planejado [...]. Por ou-
tro lado, o setor público transformou-se
em 2004. Entre 2009 e 2012, o valor de corte
no gerador privilegiado de ocupações da
do primeiro decil supera o valor corresponden- classe média, motivado pelos gastos em
te à extrema pobreza e restringe os domicílios infraestrutura, em políticas sociais (ex-
nessa condição no primeiro decil (Gráfico 5). A pansão de todos os níveis educacionais) e
distribuição de domicílios em extrema pobreza na expansão das autarquias e das empre-
sas estatais. Porém, dinamizar a economia
para o total da população do Brasil apresenta
não foi suficiente para equacionar a desi-
comportamento semelhante quanto à sua dis- gualdade social nessas localidades, inten-
tribuição por decis de renda (Gráfico 4). Ou se- sificada com a ampliação das atividades
ja, observam-se indicações de recuperação da informais e do subemprego na década de
renda domiciliar per capita e de redução dos 1990, ocupações de refúgio dos trabalha-
dores marginalizados na frágil estrutura
níveis de pobreza através da análise da evo-
produtiva. (Falvo, 2011, p. 125)
lução da proporção de domicílios em situação
de pobreza e de extrema pobreza, segundo os Dessa forma, foi somente após os anos
decis de renda per capita média dos domicílios, 2000 que a Região Metropolitana do Nordeste
considerando-se a população brasileira e a po- registra um aumento na renda dos mais pobres
pulação das regiões metropolitanas brasileiras. devido ao crescimento econômico gerador de

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

empregos, em concomitância às políticas de metropolitanas do Nordeste se encontram em


transferência de renda focalizadas do governo, situação de pobreza.
reduzindo-se a desigualdade de renda. A faixa de renda domiciliar correspon-
Nas regiões metropolitanas do Nordeste dente à extrema pobreza (inferior a um quar-
é bastante elevada a proporção de domicílios to de SM – R$155,00 per capita) situava-se no
pobres, e também há indicações de progressiva terceiro decil para as regiões metropolitanas do
redução da proporção de domicílios nessa con- Nordeste, tanto em 2001 quanto em 2004. Já
dição. Entre 2001 e 2004, os domicílios consi- os domicílios em extrema pobreza se situavam
derados pobres (com rendimento de até meio no segundo decil e, em 2012, no primeiro decil
salário mínimo) estão situados entre o quinto e (Gráfico 6). Essas informações apontam para a
o sexto decis e abaixo destes, significando que redução dos níveis de pobreza, ainda que ela
metade ou mais dos domicílios dessas regiões permaneça elevada.
metropolitanas se encontravam em situação O Gráfico 6 apresenta o valor da renda
de pobreza. Em 2009, o corte de rendimento domiciliar per capita do Nordeste Metropoli-
correspondente à pobreza desloca-se para o tano distribuída por decis. Chama a atenção a
quarto decil e, no ano de 2012, encontra-se no evolução do valor do corte dos três decis infe-
terceiro decil, significando, neste último ano, riores, que apresentam uma elevação da renda
que cerca de 30% dos domicílios das regiões superior a 100% entre 2001 e 2012.

Gráfico 6 – Valor dos decis de rendimento domiciliar per capita (R$)


regiões metropolitanas do Nordeste – 2001-2012

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Valores atualizados para 2012 (INPC).

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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

Entre os anos 2001 e 2004, a faixa de elevação­na proporção dos inativos, ambos
renda correspondente ao valor do salário mí- em 3 pontos percentuais. No ano de 2012, a
nimo estava situada entre o sétimo e oitavo PIA do primeiro decil mantém perfil bastante
decis; em 2009, esse valor se situava no sétimo específico, mas apresenta elevação da propor-
decil e, em 2012, no sexto decil. Pode-se in- ção de ocupados não precários, não ultrapas-
terpretar a elevação do rendimento per capita­ sando 5%, e redução gradual da proporção
dos três decis inferiores de renda no período dos ocupados precários; observa-se, no en-
de 2004 a 20012 como um dos efeitos das po- tanto, para o primeiro decil a redução no total
líticas de transferência de renda, bem como de ocupados (Tabela 2).
também da ampliação das oportunidades de A comparação dos decis inferiores de
trabalho nos anos 2000. Além disso, a polí- renda com aqueles acima da mediana e o to-
tica de valorização do salário mínimo permitiu tal da PIA das RM do Nordeste indicam, para
que aqueles domicílios que tinham a renda per estes, maior proporção em desemprego e em
capita­ média igual a um salário mínimo apre- inatividade e, também, menores proporções
sentassem mobilidade de renda e deixassem de ocupados. Observa-se, entretanto, que não
de se situar entre o sétimo e oitavo decis, do são muito distintas as proporções de ocupados
início da década, para se situarem no sexto de- precários, a partir do segundo decil em dire-
cil no final do período analisado. ção aos superiores, diminuindo no decorrer da
A análise da distribuição do perfil da PIA década para todos os decis. Esses indicadores
do Nordeste Metropolitano reflete, em 2004, apontam para a permanência nos primeiros
a crise do emprego do início da década, bem decis de pessoas com maiores dificuldades pa-
como do aumento do emprego precário, ten- ra a inserção no mercado de trabalho
dências apresentadas por todos os decis e para Considerando o total da PIA, no pe­ríodo­
o total da PIA nesse ano. A partir desse ano e entre 2004 e 2012, cresce a proporção de
no decorrer da década, cresce a proporção de ocupa­­dos nas RM do Nordeste, com destaque
ocupados e de ocupados não precários e cai a para o aumento de ocupados não precários
proporção em desemprego. Nota-se, entretan- (6 p.p) e queda no número de desempregados
to, a permanência de cerca de um quarto em (4 p.p). Ainda que as características da PIA
ocupa­ções precárias, e, entre 2004 e 2012, a tenham­se alterado pouco no período, esses
taxa de inatividade cerca de 40%. indicadores­ apontam para uma melhora na
Em 2004, a PIA do primeiro decil é com- qualidade das ocupações.
posta de apenas 2,4% de ocupados não pre- A análise da escolaridade do Nordeste
cários, 26% de ocupados precários e de 21% Metropolitano (Tabela 3) evidencia, em rela-
de desempregados, assim como também de ção ao primeiro decil, desigualdade bastante
uma proporção de inativos de 50%. Ainda acentuada e permanente, no período de 2001
que reflita a conjuntura de crise do emprego a 2012, e uma melhora bastante tímida quan-
e o início da recuperação, esse quadro perma- to aos indicadores educacionais. No primeiro
nece semelhante para 2009, com pequena re- decil, cai em 4 p.p. a proporção de analfabe-
dução da proporção de desempregados e com tos, entre 2001 e 2004, e 4,5 p.p. entre 2004

518 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

Tabela 2 – Distribuição da PIA (pessoas 10 anos e mais)


por situação ocupacional e condição na precariedade da ocupação
segundo decis do rendimento domiciliar per capita.
Regiões metropolitanas do Nordeste – 2001-2012

50% mais pobres 50% acima


Total
10% 20% 30% 40% 50% da mediana

2001
Ocupado não precário 2,9 9,0 11,3 15,7 19,0 29 19,2
Ocupado precário 19,3 23,3 27,6 27,4 29,1 24,7 25,0
Ocupado 22,2 32,3 38,9 43,1 48,2 54 44,2
Desempregado 15,3 9,3 8,5 7,5 7,4 4,4 7,3
Inativo 62,5 58,4 52,6 49,4 44,5 42 48,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2004
Ocupado não precário 2,4 10,8 13,9 17,0 22,4 33 22,0
Ocupado precário 25,7 27,1 29,9 29,0 30,7 25,9 27,3
Ocupado 28,1 37,9 43,9 46,0 53,1 58,7 49,4
Desempregado 21,5 14,8 12,0 11,0 8,9 6,2 10,3
Inativo 50,4 47,3 44,1 43,0 38,0 35,1 40,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2009
Ocupado não precário 2,7 13,2 16,8 22,0 27,4 38 26,1
Ocupado precário 24,7 25,7 31,5 28,0 30,2 25 26,5
Ocupado 27,3 38,9 48,3 50,0 57,6 62 52,5
Desempregado 19,5 12,1 10,8 9,6 7,4 4 8,4
Inativo 53,1 49,0 40,9 40,5 35,0 33 39,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Ocupado não precário 5,4 15,3 19,0 25,0 30,9 39,4 28,2
Ocupado precário 18,9 24,2 24,1 26,7 27,7 24,2 24,3
Ocupado 24,3 39,5 43,2 51,8 58,6 63,7 52,5
Desempregado 16,6 10,1 8,7 7,1 5,2 3,0 6,6
Inativo 59,1 50,3 48,2 41,2 36,1 33,3 40,9
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp. Excluídos da análise de domicílios: pensionistas, empregados domésticos residentes e parentes
dos empregados domésticos.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 519
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

Tabela 3 – Escolaridade da população de 10 anos e mais,


segundo decis do rendimento domiciliar per capita.
Regiões metropolitanas do Nordeste – 2001-2012

50% mais pobres 50% acima


Total
10% 20% 30% 40% 50% da mediana

2001
Analfabeto 20,6 16,5 14,4 12,5 11,6 6,3 11,4
Ensino Fundamental Incompleto 67,5 269,1 66,2 63,3 58,2 40,5 54,6
Ensino Fundamental Completo 3,0 2,9 3,7 4,4 5,7 3,8 3,8
Ensino Médio 8,6 11,2 15,2 19,2 23,5 33,4 23,0
Ensino Superior 0,3 0,2 0,5 0,7 1,0 16,0 7,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2004
Analfabeto 16,9 13,4 11,9 11,1 9,8 5,5 9,8
Ensino Fundamental Incompleto 68,1 66,4 63,1 58,0 52,1 34,7 50,6
Ensino Fundamental Completo 3,1 4,0 4,4 5,4 5,9 5,2 4,8
Ensino Médio 11,4 15,8 19,9 24,4 30,2 35,4 26,3
Ensino Superior 0,4 0,4 0,8 1,0 2,0 19,2 8,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2012
Analfabeto 12,4 11,4 10,7 8,9 8,4 4,8 8,1
Ensino Fundamental Incompleto 57,9 53,9 50,6 46,2 42,2 27,8 41,0
Ensino Fundamental Completo 5,5 6,3 5,6 6,1 6,1 5,6 5,8
Ensino Médio 22,3 27,1 30,9 35,4 37,5 37,0 33,1
Ensino Superior 2,0 1,4 2,2 3,4 5,8 24,8 12,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp. Excluídos da análise de domicílios: pensionistas, empregados domésticos residentes
e parentes dos empregados domésticos.

e 2012, exibindo valores superiores a 10% nos decis inferiores, da ordem de mais de 50% das
três primeiros decis, tanto em 2004 quanto em pessoas de 10 anos e mais, o que coincide com
2012. As alterações em relação aos perfis dos a PIA, indicando limitações para esse segmen-
50% mais pobres são bastante tímidas, no en- to nas possibilidades de inserção de qualidade
tanto há um aumento na escolaridade para es- no mercado de trabalho e de elevação da ren-
se grupo, com aumento do ensino fundamen- da domiciliar.
tal completo e ensino médio. Entretanto, per- Em relação ao grupo com renda acima
manece extremamente elevada a proporção­ da mediana, embora menores, são ainda ele-
com ensino fundamental incompleto nos três vadas as proporções com ensino fundamental

520 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

incompleto, cerca de 28% em 2012. No perío- A análise da distribuição da renda domi-


do, pode-se destacar, para estes, o aumento do ciliar per capita do Sul Metropolitano por de-
ensino superior, que alcança 25% em 2012, em cis mostra no período, para os decis inferiores,
contraste com cerca de 2% nos três primeiros elevação no valor de corte superior a 50%. O
decis no mesmo ano, reiterando as desigualda- primeiro decil, correspondente aos 10% mais
des educacionais no período. pobres, apresenta um ganho de renda de 65%
no período, entre os anos de 2004 e 2012, e
75% considerando-se desde 2001. Essa ten-
Sul Metropolitano dência de aumento cerca de 50% permanece
até o quarto decil e diminui para pouco mais de
Os valores dos cortes dos decis de renda domi- 40% no quinto decil (Gráfico 7).
ciliar per capita do Sul Metropolitano indicam Entre 2001 e 2004, a faixa de renda cor-
menor pobreza, se comparados ao Nordeste respondente ao valor do salário mínimo estava
Metropolitano. Estudo aponta, para a região situada entre o quinte e sexto decis;, em 2009,
Sul, as maiores quedas na proporção de pobres esse valor se situava entre o quarto e quinto
entre 1995 e 2008 (Ipea, 2010), da ordem de decis e, em 2012, entre os 3º e 4º decis. A po-
47% em relação à taxa de pobreza absoluta lítica de valorização do salário mínimo permi-
(rendimento domiciliar per capita de até meio tiu que aqueles domicílios que tinham a renda
SM) e 59,6% em relação à taxa de pobreza ex- per capita média igual a um salário mínimo
trema (rendimento domiciliar per capita de até apresentassem mobilidade de renda e também
um quarto de SM). Segundo projeções desse orientou a renda dos decis inferiores para cima
estudo, em 2016, a região Sul poderá ser a pri- (“efeito farol”).
meira localidade do País a superar a condição A análise da distribuição do perfil da
de pobreza absoluta. No mesmo período, a re- PIA do Sul Metropolitano não apresenta mu-
gião Nordeste poderá apresentar creca de 28% danças acentuadas, ainda que reflita as ten-
de sua população em pobreza absoluta. dências, a partir de 2004, do crescimento da
Nas regiões metropolitanas do Sul, há in- proporção de ocupados e de ocupados não
dicações de progressiva redução da proporção precários, assim como também de redução
de domicílios pobres, pois eles estão cada vez da proporção em desemprego observados no
mais limitados aos primeiros decis da distribui- País. A taxa de inatividade também cai, entre
ção de renda domiciliar per capita (Gráfico 7). 2001 e 2004, com tendência de elevação no
Ou seja, entre 2001 e 2004, os domicílios con- final do período.
siderados pobres (com rendimento de até meio A análise da evolução da PIA entre 2001
salário mínimo) estão situados no terceiro decil e 2012 evidencia, principalmente para os pri-
e abaixo deste. Já, em 2009, o corte de rendi- meiros decis da distribuição da renda domici-
mento correspondente à pobreza encontra-se liar per capita, comparando os anos entre 2004
no segundo decil e, no ano de 2012, no primei- e 2009 (Tabela 4), uma queda expressiva de
ro decil, caminhando no mesmo sentido das ocupados precários, o que mantém, em todos
projeções feitas por Ipea (2010). os decis de 2009, uma distribuição próxima à

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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

Gráfico 7 – Valor dos decis de rendimento domiciliar per capita.


Regiões metropolitanas do Sul – 2001-2012

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Valores atualizados para 2012 (INPC).

proporção total (24,3%), apresentando queda precários, entre 2004 e 2009, e de 7 p.p. entre
mais acentuada, em 2012, e proporções pró- esse ano e 2012; no período de 2004 a 2012,
ximas de 20%. Observa-se, ainda entre estes, apresenta ainda as tendências de redução do
elevação das proporções de ocupados com vin- total de ocupados e de elevação da proporção
culações contratuais não precárias até 2012. em inatividade. Esses dados sugerem que, no
Considerando-se o total da PIA, bem como os período entre 2004 e 2012, em consequência
50% acima da mediana, essas mudanças não da mobilidade de renda em direção aos decis
são acentuadas. superiores, permanecem nos decis inferiores as
Entretanto a PIA do primeiro decil re- pessoas com maiores restrições para se inseri-
gistra uma queda de 6 p.p. entre os ocupados rem no mercado de trabalho.

522 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

Tabela 4 – Distribuição da PIA (pessoas 10 anos e mais)


por situação ocupacional e condição na precariedade da ocupação
segundo decis do rendimento domiciliar per capita.
Regiões metropolitanas do Sul – 2001-2012

50% mais pobres 50% acima


Total
10% 20% 30% 40% 50% da mediana

2001
Ocupado não precário 7,0 14,8 21,1 26,1 30,4 35,7 26,9
Ocupado precário 23,6 26,1 24,3 27,5 27,2 24,7 25,1
Ocupado 30,6 40,9 45,4 53,6 57,6 60,5 52,1
Desempregado 11,7 7,3 6,5 5,7 4,4 5,7 5,2
Inativo 57,7 51,8 48,1 40,7 38,0 33,8 42,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2004
Ocupado não precário 9,2 19,1 26,3 31,4 36,0 42 32,4
Ocupado precário 29,9 30,1 28,2 27,2 27,6 23,6 26,4
Ocupado 39,1 49,2 54,6 58,6 63,7 65,7 58,7
Desempregado 13,2 8,0 6,7 6,9 4,4 2,7 5,5
Inativo 47,7 42,8 38,7 34,5 31,9 31,5 35,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2009
Ocupado não precário 12,1 21,5 31,1 30,7 38,8 43 34,1
Ocupado precário 23,6 23,9 25,7 23,1 26,5 24 24,3
Ocupado 35,7 45,4 56,8 53,8 65,3 67 58,3
Desempregado 14,1 8,0 5,5 4,8 3,6 2 4,9
Inativo 50,3 46,6 37,8 41,5 31,0 31 36,7
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Ocupado não precário 14,3 28,8 36,7 32,1 45,1 38,2 38,2
Ocupado precário 16,7 20,7 22,4 19,9 22,0 21,0 21,0
Ocupado 31,0 49,5 59,1 52,0 67,1 59,1 59,1
Desempregado 8,7 4,4 5,0 2,5 2,2 3,2 3,2
Inativo 60,3 46,2 35,9 45,5 30,8 37,6 37,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Excluídos da análise de domicílios: pensionistas, empregados domésticos residentes e parentes dos empregados domésticos.

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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

A Tabela 5 mostra lenta mudança no per- incompleto – cerca de 27% em 2012. No pe-
fil da escolaridade das pessoas no Sul Metropo- ríodo, pode-se destacar para esse grupo, o
litano. A queda na proporção de analfabetismo aumento do ensino superior, que alcança 33%
no período entre 2001 a 2012 pode ser consi- em 2012, em contraste com cerca de 3% nos
derada o elemento de melhora de maior signi- dois primeiros decis no mesmo ano, reiterando
ficância (pouco menos que 5 p.p.), no entanto, as desigualdades educacionais nas regiões me-
ainda é elevada a proporção de analfabetos tropolitanas do Sul.
entre o primeiro e o terceiro decis. A compara- Para finalizar, é possível observar que
ção entre o primeiro decil e o total da PIA das o acesso aos serviços públicos urbanos apre-
regiões metropolitanas do Sul revela que a pro- senta progresso entre 2001 e 2012, porém
porção de analfabetos no primeiro decil é mais permanece marcante a pior condição de aces-
que o dobro maior que a média metropolitana, so nos quatro decis inferiores de rendimento
evidenciando a desigualdade social nesses es- domiciliar per capita em ambos os conjuntos
paços e contribuindo para explicar as restrições de regiões­metropolitanas analisados (Tabelas
para a inserção no mercado da PIA do primeiro 6 e 7).
decil de renda. Também em ambos os casos e, especial-
As alterações em relação aos perfis mente, para os 4 decis inferiores de renda é
dos 50% mais pobres são bastante tímidas, pior o acesso aos serviços de coleta de lixo e
no entanto observa-se um aumento na esco- à rede coletora de esgoto, especialmente nas
laridade para esse grupo, com aumento do regiões metropolitanas do Nordeste, marcan-
ensino­fundamental­completo e ensino médio. do negativamente as condições de vida des-
Entretanto,­permanece extremamente elevada ses domicílios.
a proporção com ensino fundamental incom- Deve ser ressaltado, no entanto, que, no
pleto nos 3 decis inferiores, da ordem de mais período analisado, tornou-se quase universal­
de 50% das pessoas de 10 anos e mais em o acesso à água canalizada, em ao menos um
2012. Esse fato somado ao elevado nível de cômodo do domicílio, e à energia elétrica,
analfabetismo reforçam as dificuldades para embora com menor atendimento do acesso
esses segmentos obterem inserção de quali- à água canalizada, indicando melhora subs-
dade no mercado de trabalho e e elevação da tantiva nas condições de vida das populações
renda domiciliar. metropolitanas e ampliaçãoda possibilidade
Em relação ao grupo com renda acima de acesso a bens, como eletrodomésticos, que
da mediana, embora menores, são ainda ele- permitem maximizar o uso do tempo e am-
vadas as proporções com ensino fundamental pliar horizontes.­

524 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

Tabela 5 – Escolaridade da população de 10 anos e mais,


segundo decis do rendimento domiciliar per capita.
Regiões metropolitanas do Sul – 2001-2012

50% mais pobres 50% acima


Total
10% 20% 30% 40% 50% da mediana

2001
Analfabeto 24,6 18,5 14,9 10,7 11,3 4,6 11,4
Ensino Fundamental Incompleto 62,9 64,5 61,3 56,3 53,4 37,8 50,5
Ensino Fundamental Completo 4,7 5,7 6,6 8,5 7,5 5,3 5,9
Ensino Médio 7,0 10,4 15,6 22,8 24,7 29,4 21,4
Ensino Superior 0,8 0,8 1,5 1,7 3,2 23,0 10,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2004
Analfabeto 21,3 14,3 10,9 9,1 6,9 3,4 9,0
Ensino Fundamental Incompleto 62,6 61,8 56,7 52,4 46,7 31,4 46,1
Ensino Fundamental Completo 5,4 7,7 8,6 8,3 9,7 6,9 7,5
Ensino Médio 10,0 15,1 22,2 26,6 30,9 30,5 24,5
Ensino Superior 0,7 1,1 1,6 3,6 5,7 27,9 13,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100,0
2012
Analfabeto 14,1 9,9 7,4 6,8 5,3 2,8 6,3
Ensino Fundamental Incompleto 59,3 53,9 47,5 52,3 42,3 27,2 41,0
Ensino Fundamental Completo 7,3 8,2 9,5 8,1 9,6 6,5 7,6
Ensino Médio 16,5 24,9 30,0 25,9 34,0 30,1 27,6
Ensino Superior 2,8 3,1 5,6 6,9 8,7 33,4 17,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.
Excluídos da análise de domicílios: pensionistas, empregados domésticos residentes e parentes dos empregados domésticos.

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Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

Tabela 6 – Proporção de domicílios com acesso a serviços urbanos,


segundo decis de rendimento domiciliar per capita (%).
Regiões metropolitanas do Nordeste – 2004-20012

Água canalizada Rede elétrica Coleta de lixo Rede de esgoto


2001 2004 2012 2001 2004 2012 2001 2004 2012 2001 2004 2012
1º 74,3 80,3 92,2 98,4 99,1 99,5 84,6 88,5 94,1 35,5 42,5 59,0
2º 80,7 87,2 94,5 98,8 99,2 100,0 84,4 88,1 95,0 33,9 46,4 60,1
3º 85,6 87,8 96,1 99,1 99,8 99,8 87,5 93,0 95,7 38,0 46,3 62,4
4º 88,2 90,3 95,8 99,3 99,6 100,0 91,9 93,4 96,3 40,4 48,3 65,4
Decil de renda

5º 91,4 93,2 96,4 99,5 99,8 100,0 92,6 94,7 96,1 46,9 50,6 63,4
6º 90,0 92,7 95,4 99,2 99,7 99,8 93,8 94,8 96,8 46,5 55,7 65,5
7º 94,2 95,9 97,1 99,8 99,9 100,0 95,4 96,9 98,0 51,4 62,8 71,6
8º 96,5 97,2 98,5 99,8 99,9 99,9 97,2 97,6 98,8 58,4 67,6 73,7
9º 98,9 98,6 98,9 100,0 99,8 100,0 98,9 98,7 99,6 70,0 73,8 81,3
10º 99,2 99,5 99,0 99,9 100,0 100,0 99,3 99,1 100,0 79,1 81,8 88,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.

Tabela 7 – Proporção de domicílios com acesso a serviços urbanos,


segundo decis de rendimento domiciliar per capita (%).
Regiões metropolitanas do Sul – 2004-2012

Água canalizada Rede elétrica Coleta de lixo Rede de esgoto


2001 2004 2012 2001 2004 2012 2001 2004 2012 2001 2004 2012
1º 90,6 93,5 98,1 96,8 98,3 99,6 92,7 93,8 97,3 58,9 65,9 77,2
2º 96,0 97,7 98,5 99,7 99,7 100,0 96,1 96,3 98,4 68,6 69,6 81,8
3º 97,2 97,8 98,9 99,6 99,7 99,9 96,5 96,9 98,7 70,5 73,4 83,2
4º 97,2 98,6 99,1 99,2 100,0 99,8 95,3 98,3 98,5 72,6 81,2 81,3
Decil de renda

5º 98,5 98,9 99,4 99,5 99,8 100,0 97,9 99,0 98,9 78,2 82,8 84,2
6º 97,8 99,8 99,3 99,7 99,9 100,0 97,2 98,9 99,5 79,7 82,7 87,2
7º 98,8 99,2 98,8 99,9 100,0 100,0 98,8 98,5 98,3 83,3 84,9 86,3
8º 99,7 99,7 99,5 99,8 100,0 100,0 99,4 98,9 99,7 89,8 88,9 89,4
9º 99,4 99,8 100,0 100,0 99,9 100,0 99,3 99,8 99,6 90,9 92,8 93,3
10º 99,7 99,8 99,9 99,8 100,0 100,0 99,9 99,9 99,9 95,0 94,7 96,5

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


Elaboração: Nepp/Unicamp.

526 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

Considerações finais mais confunde do que ajuda a distinguir o que


de fato aconteceu no período de crescimento.
No Brasil, de forma semelhante ao que acon- Para as análises deste projeto, foram es-
tece em diversos países da América Latina e colhidos dois conjuntos de regiões metropoli-
nos demais países emergentes, são analisados tanas com características contrastantes: as re-
aspectos que indicam o crescimento da classe giões metropolitanas do Nordeste e as regiões­
média, ainda que com características distintas metropolitanas do Sul. O primeiro conjunto
da classe média tradicional (Birdsall, 2013). concentra muito mais pobreza que o segundo,
Atualmente, é assunto comentado na mídia no entanto, por serem regiões metropolitanas
brasileira e também oficialmente reconhecida intensamente urbanizadas, apresentam ca-
por parte de órgãos governamentais para a racterísticas, em comum, além da densidade
definição de suas políticas públicas, a “nova populacional, a complexidade econômica (va-
classe média” brasileira, que teria surgido no riedade de serviços e empregos) e os mesmos
período recente de crescimento pelo qual atra- problemas de várias regiões metropolitanas:
vessou o País, principalmente a partir de 2004. periferias com altas concentrações de pobreza
Essa nova classe emergiu da pobreza e se inte- em contraste com bolsões de habitação de po-
grou aos circuitos de consumo médio do País, pulação de rendimentos mais elevados.
frequentando escolas particulares, shopping É inegável que, nesse período de cresci-
centers, universidades e financiando a casa mento (2004-2012), houve aumento na renda
própria; trilhando, assim, o caminho da ascen- domiciliar per capita entre os grupos mais po-
ção social, outrora possibilidade impensada bres da população, como ficou claro nas distri-
para tal contigente de pessoas pauperizadas, buições de renda por decis, mas não se pode
cuja única preocupação se resumia à sobrevi- afirmar que esses grupos possam fazer parte
vência imediata. de uma suposta “nova classe média”. Embora
Dessa forma, convencionou-se, por parte as faixas de renda que correspondem a um va-
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre- lor igual ou pouco superior ao salário mínimo
sidência da República (SAE), chamar de “no- integrem os decis menos pobres da população,
va classe média” todos aqueles que recebem isto só reafirma a desigualdade social que con-
uma renda mensal per capita entre R$291,00 tinua a marcar o País como um dos mais desi-
e R$1.019,00, que é aproximadamente metade guais do mundo, mesmo com a recente queda
da População Economicamente Ativa (PEA) do do Índice de Gini.
País. Esse valor se situa entre 0,46 e 1,6 salá- O aumento do emprego entre as ocupa-
rios mínimos, considerando-se o SM vigente ções menos remuneradas foi um dos fatores de
em 2012 (R$622,00), ou seja, abarca diversos maior peso para o aumento de renda no perío­
perfis ocupacionais e situações sociais. Des- do. No entanto, para os decis de renda mais
considerando as implicações que esse termo baixos, há pouco a ser comemorado, uma vez
trouxe para a compreensão (ou falta dela) da que as taxas de desemprego e as ocupações
rea­lidade econômica do País, é inegável que ele precárias são altíssimas. Segundo Pochmann

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 527
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

(2012), em seu livro Nova classe média?, o terceirizados­de empresas que cumprem diver-
atual­ciclo de crescimento econômico foi mar- sas tarefas em indústrias. Esse movimento que
cado por três fatores principais: 1) crescimen- aumentou a proporção de ocupações não pre-
to do trabalho assalariado formal e protegido cárias se deve à formalização das ocupações de
por lei na base da pirâmide social brasileira; 2) baixa remuneração, pois, ainda que sejam mal
criação de emprego em ocupações que pagam remuneradas, as mínimas garantias e direitos
até 1,5 salário mínimo; e 3) deslocamento da oferecidos pelos empregos registrados em car-
dinâmica da geração de postos de trabalho da teira são suficientes para garantir alguma me-
indústria (décadas de 1970 e 1980) para o setor lhora na vida dos trabalhadores que ocupam
de serviços (anos 1990 e 2000). Dessa forma, a base da pirâmide social (o direito ao auxílio
com a valorização do salário mínimo e o au- desemprego é um deles, por exemplo). Dessa
mento do emprego, permitiu-se a esse enorme forma, os empregos que exigem baixa qualifi-
contingente de trabalhadores conquistar um cação foram os que mais influenciaram a mobi-
padrão de consumo relativamente inédito na lidade de renda verificada no período. Assim se
história nacional, o que possibilitou-lhes uma mantêm os “gargalos” que travam a ascenção
percepção de futuro mais positiva do que antes. social, sendo um exemplo o não preenchimen-
O crescimento do emprego (principal- to de vagas em empregos que oferecem melhor
mente no setor de serviços) na base da pirâmi- remuneração e exigem qualificação mais alta
de social brasileira no período de 2004 a 2009 que a média.
tem a ver com um processo de desindustrializa- A pobreza é entendida, neste trabalho,
ção intenso que atingiu o País principalmente como um fenômeno multidimensional, do qual
a partir da década de 1990. Os setores indus- a falta ou ausência de renda é apenas um de
triais ofereciam melhor remuneração, e muitos seus elementos. O aumento da renda regis-
dos trabalhadores dessas indústrias faziam trado no período não foi acompanhado por
parte da então tradicional “classe média” da melhorias substanciais em outros indicadores,
população, tendo em vista que, para ocupar como a qualidade do emprego e da educação,
tais empregos, era necessário determinado co- que são excelentes parâmetros de condição so-
nhecimento técnico, o que, portanto, exigia for- cial. O progresso registrado no período de cres-
mação educacional mais elevada. Atualmente, cimento pré-crise foi pontual, e há dificuldades­
esses setores médios se encontram principal- estruturais que dificultam o avanço dos indica-
mente no setor público ou no setor de serviços dores educacionais, apesar das diversas políti-
privado, em que se localizam os empregos de cas de inclusão.
melhor remuneração, uma vez que houve que- As condições de vida urbana ainda evi-
da nos empregos gerados pela indústria. As- denciam a permanência da desigualdade, em-
sim, restou, aos estratos mais vulneráveis da bora haja a quase universalização do acesso à
população, os empregos que oferecem menor energia elétrica e à agua. Permanece marcante
remuneração e que exigem baixa ou nenhu- a pior condição de acesso aos serviços urbanos
ma qualificação profissional, setores tais co- para os quatro decis inferiores de rendimento
mo telemarketing,­atendentes de comércio e domiciliar per capita em ambos os conjuntos

528 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016
Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

de regiões metropolitanas analisados, especial- isto é, na capacidade que a pobreza tem de se


mente no acesso aos serviços que impactam reproduzir entre as gerações das famílias em
nas condições de saúde: rede de esgoto e co- situação de vulnerabilidade.
leta de lixo. No referido período de crescimento, re-
As mudanças observadas na elevação da gistrou-se aumento na renda dos mais pobres,
renda se relacionam principalmente ao cresci- mas a questão da desigualdade social perma-
mento econômico combinado com as políticas nece. Assim, ainda que a elevação da renda
de valorização do salário mínimo e de transfe- familiar tenha favorecido o acesso a bens e
rência de renda. Espera-se, contudo, que essas serviços para segmentos mais amplos da popu-
mudanças possam levar a uma alteração no ci- lação, permanecem os hiatos de acesso a em-
clo intergeracional de transmissão da pobreza, prego, educação, moradia e saúde.

Lilia Montali
Universidade Estadual de Campinas, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Campinas/SP, Brasil.
lilia@nepp.unicamp.br

Luiz Henrique Lessa


Universidade Estadual de Campinas, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Campinas/SP, Brasil.
luizhlessa@gmail.com

Notas
(*) Trabalho apresentado no VI Congresso da Associação Latino-americana de População, realizado
em Lima, Peru, de 12 a 15 de agosto de 2014. Seção 5.3: “Pobreza e vulnerabilidade social:
aproximações conceituais e medição na última década na América Latina”.

(1) O Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) era de reduzir pela metade a fome, e a
meta estabelecida pela Cúpula Mundial de Alimentação era reduzir pela metade o número
absoluto de subalimentados. O Brasil é um dos 29 países que conseguiram alcançar essas duas
metas. O País reduziu em 82,1% o número de pessoas subalimentadas no período de 2002 a
2014. O documento aponta ainda que ele alcançou as metas estabelecidas pelas Nações
Unidas em relação à fome nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio e nos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2015. Esses dados estão disponíveis em http://www.fao.
org/hunger/es/ El estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2015 e foram divulgados
em 27/5/2015. Também foram divulgados Via Portal Planalto, em 28/5/2015, http://www2.
planalto.gov.br/noticias/2015/05/fome-cai-82-em-12-anos-no-Brasil-afirma-onu.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 36, pp. 503-533, jul 2016 529
Lilia Montali, Luiz Henrique Lessa

(2) IBGE mostra um país cada vez menos desigual: pobreza extrema cai a 2,8% da população.
Ministério do Desenvolvimento Social. Disponível em: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/
noticias/2015/novembro/um-pais-menos-desigual-pobreza-extrema-cai-a-2-8-da-populacao/
view. Acesso em: 13 nov 2015.

(3) Cepal-ONU. Panorama Social da América Latina 2015. Disponível em: http://www.cepal.org/pt-
br/node/36488. Acesso em: 25 mar 2016.

(4) São analisadas informações relativas ao conjunto de nove regiões metropolitanas brasileiras
(RMs) contempladas pelo desenho amostral das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios
(Pnad), possibilitando a análise dos microdados (IBGE, 2009): Belém, Belo Horizonte, Curitiba,
Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, instituídas nos anos 1970,
e o Distrito Federal (DF), ainda que atualmente no Brasil existam 35 regiões metropolitanas
oficialmente instituídas.

(5) O Índice de Gini mede a desigualdade de renda, e seu valor quanto mais próximo de 1, indica
maior desigualdade e quanto menor, indica menor desigualdade de renda.

(6) A metodologia para medir a pobreza utilizada por Rocha constrói linhas de pobreza baseadas
no custo de cesta de consumo diferenciada por áreas de residência e por região; pode ser
encontrada em Rocha (2003).

(7) Segundo Rocha (2010), a evolução da proporção de pobres entre 2004 e 2008 para a população
brasileira é de 33,3% para 22,8%; para as áreas metropolitanas cai de 38,8% para 27,1%; para as
urbanas: de 29,6% para 19,9%; para as rurais cai de 35,4% para 24,3%.

(8) O valor do salário mínimo (SM) vigente em 2012 era de R$622,00.

(9) Sistematização do debate salário mínimo pode ser encontrada em Montali et al. (2012, capítulo 2).

(10) http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=21191. Acesso: dez 2011.

(11) O salário mínimo (SM) é definido como: “A contraprestação mínima devida e paga diretamente
pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por
dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas
necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte” (Brasil, Lei
nº 5.452, 1º de maio de 1943). Entretanto, após a implementação, o salário mínimo atuou no
sentido de fixar um custo mínimo para a reprodução da força de trabalho brasileira.

(12) BPC é uma transferência monetária no valor de um salário mínimo nacional, destinado a idosos
acima de 65 anos e a portadores de deficiência, em famílias com rendimento domiciliar per
capita de até um quarto de salário mínimo. Trata-se de um direito constitucional. O Peti é
uma transferência monetária direta às famílias com crianças em trabalho infantil, vinculada à
participação em atividades complementares à jornada escolar.

(13) http://www.brasilsemmiseria.gov.br/documentos/Cartilha_20X20.pdf. Acesso em: ago 2012.

(14) Uma primeira versão dessa análise, para o período entre 2004 e 2009, pode ser encontrada em
Lessa (2012).

(15) A investigação se baseia nos microdados da série Pnad-IBGE (2001-2012).

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Pobreza e mobilidade de renda nas regiões metropolitanas brasileiras

(16) Para uma discussão mais aprofundada acerca do crescimento pró-pobre que teria ocorrido
no período, ver artigo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da FGV em parceria com a
International Poverty Centre (órgão da ONU), que define como pró-pobre o crescimento que
atinge proporcionalmente os mais pobres do que os não pobres. Assim, o crescimento pró-
pobre diminui a desigualdade, enquanto o antipobre a aumenta (Neri, 2006).

(17) Consideram-se como“extremamente-pobres” os indivíduos em domicílios com renda per capita


inferior a um quarto do salário mínimo (R$155,50); como “pobres” aqueles com renda entre um
quarto e meio salário mínimo (R$311,00) em valores deflacionados para 2012; salário mínimo:
R$622,00.

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Texto recebido em 12/ago/2015


Texto aprovado em 25/abr/2016

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