Você está na página 1de 1525

Giovanni Seabra

(Organizador)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania


Alimentar
Volume III

Ituiutaba, MG
Março / 2015
© Giovanni Seabra (Org.), 2015.
Arte Gráfica e editoração: Claudia Neu, Cíntia Alvino da Luz Pereira, Laciene Karoline Santos de França,
Loester Figueirôa de França Filho e Maiane Barbalho da Luz.
Arte da capa: Ana Neu

Contatos:
www.conferenciadaterra.com
ambiental.gs@gmail.com

Edição: E-books Barlavento


Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Portuguez
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Maria Izabel de Carvalho Pereira

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar / Giovanni Seabra (Organizador).


Ituiutaba: Barlavento, 2015. Vol. III. 1525p.

ISBN: 978-85-68066-10-2

1. alternativas de manejo; 2. tecnologias de melhoramento; 3. envolvimento comunitário


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade


exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à E-books Barlavento e
aos organizadores da obra.

Ituiutaba, MG
Março / 2015
APRESENTAÇÃO
TERRA
Saúde Ambiental e Soberania Alimentar

Com o Tema Geral ―Agricultura Familiar, Natureza e Segurança Alimentar‖ A Conferência


da Terra - Fórum Internacional do Meio Ambiente - 2014, sediada na cidade de João Pessoa,
Paraíba, no período de 19 a 22 de novembro reuniu 800 congressistas. O Encontro foi promovido
pela Universidade Federal da Paraíba, em sintonia com a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas,
que elegeu 2014 como ―Ano Internacional da Agricultura Familiar‖ (AIAF).
Segundo a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO), a Segurança Alimentar e
Nutricional é uma forma de garantir a todas as pessoas condições de acesso a alimentos básicos de
qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais. A Soberania Alimentar, por sua vez, remete ao conceito de liberdade e
soberania de um povo, que depende, necessariamente, da alimentação.
Os trabalhos apresentados na Conferência da Terra estão materializados na publicação de 16
artigos no livro impresso ―A Conferência da Terra: Agricultura Familiar, Natureza e Segurança
Alimentar‖, lançado durante o evento, e o e-Book ―A Conferência da Terra: Saúde Ambiental e
Soberania Alimentar‖, que hora apresentamos, contendo 430 artigos versando sobre diversos temas,
com abordagem socioeconômica e socioambiental.
O Ano Internacional da Agricultura Familiar 2014 teve como objetivo aumentar a
visibilidade da agricultura familiar e da agricultura de pequena escala, despertando a atenção
mundial sobre a importância do seu papel na redução da fome e da pobreza, propiciando maior
segurança alimentar e nutrição, aprimorando os meios de subsistência, a gestão dos recursos
naturais e a proteção do meio ambiente e incentivando o desenvolvimento sustentável,
especialmente nas áreas rurais.
Como resultado da mobilização e motivação dos agricultores de base familiar, houve amplos
debates e conquistas nos níveis nacional, regional e global, aumentando possibilidade para
superação dos desafios enfrentados.
A agricultura familiar tem um papel importante no desenvolvimento socioeconômico,
ambiental e cultural e está relacionada a várias áreas do desenvolvimento rural, como agricultura,
pecuária, silvicultura, pesca, extrativismo, aquicultura pastoral e turismo com base local, sendo
operada pelas famílias e associações comunitárias. A produção rural no âmbito familiar é a forma
predominante na oferta de alimentos para suprimento diário da população.

Giovanni Seabra
SUMÁRIO
Vulnerabilidade, Riscos e Controle Ambiental ............................................................................................... 12
MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO: UMA CONTRIBUIÇÃO AO MUNICÍPIO DE ARATUÍPE,
NA BAHIA .................................................................................................................................................. 13
RISCOS + SUSCETIBILIDADE = DESASTRES CONTEXTO NO ESTADO DA PARAIBA .............. 24
DIAGNÓSTICO DO USO E MANEJO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE CURRAIS NOVOS/RN -
BRASIL ....................................................................................................................................................... 30
AS COOPERATIVAS MINEIRAS NA BOLÍVIA: ASPECTOS EDUCATIVOS E ECONÔMICOS DE
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS ................................................................................................................... 42
PLANEJAMENTO E RISCOS AMBIENTAIS URBANOS...................................................................... 50
TUBERCULOSE TRANSMITIDA PELO LEITE DE VACA .................................................................. 62
OCUPAÇÃO IRREGULAR E VULNERABILIDADE DE RISCOS GEOLÓGICOS NO BAIRRO DO
CURADO: JABOATÃO DOS GUARARAPES-PE................................................................................... 68
PERFIL DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS PARAÍBANAS: ÍNDICE DE VULNERABILIDADE
DE ESCASSEZ E QUALIDADE DE ÁGUA DE USO DOMÉSTICO -IEQ ............................................ 79
MODELO DIGITAL DE ALTURA E VOLUME DE VEGETAÇÃO NATURAL COMO
FERRAMENTA PARA DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS ......... 88
AGROTÓXICOS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE HUMANA: ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE
DO GRAMOREZINHO/NATAL/RN....................................................................................................... 102
PERFIL DO SEMIÁRIDO RURAL BRASILEIRO: ÍNDICE DE VULNERABILIDADE
SOCIOECONÔMICA E ECOLÓGICA DOS DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES POR
SETOR CENSITÁRIO - ISE .................................................................................................................... 116
PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO MUNICÍPIO DE PIMENTA
BUENO/RO: OPERAÇÃO ARCO DE FOGO E ARCO VERDE ........................................................... 126
DIAGNÓSTICO DA INFILTRAÇÃO DE ÁGUA E DA COMPACTAÇÃO DO SOLO EM ÁREA SOB
PROCESSO DE DEGRADAÇÃO............................................................................................................ 140
IDENTIFICAÇÃO E PROPOSTA DE CONTROLE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS RESULTANTES
DA IMPLANTAÇÃO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFCG EM POMBAL-PB ....................... 152
NAVEGANDO DE ACORDO COM A ―LEI DO RIO‖ .......................................................................... 163
AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NUMA ÁREA DO ENTORNO DOS
MUNICÍPIOS DE SOLÂNEA E BANANEIRAS .................................................................................... 176
OLHAR DO POVO POTIGUARA DA PARAÍBA SOBRE AS MUDANÇAS NA SUA CULTURA
AGRÍCOLA .............................................................................................................................................. 188
PROVÁVEIS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA FRUTICULTURA IRRIGADA DA
BANANEIRA: O CASO DE UM EMPREENDIMENTO EM IPANGUAÇU – RN .............................. 194
ESTUDOS SOBRE A ADSORÇÃO DO CORANTE AZUL DE METILENO UTILIZANDO CASCA
DO CAJUEIRO COMO MATERIAL ALTERNATIVO ADSORVENTE .............................................. 207
FORMIGAS DA ILHA DE CARIMÃ (RAPOSA, MARANHÃO) E SUA DISTRIBUIÇÃO NOS
DIFERENTES HABITATS ...................................................................................................................... 218
ANÁLISE DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA COMUNIDADE INDÍGENA
PITAGUARY - CE.................................................................................................................................... 224
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA PRAIA DE BÚZIOS - NÍSIA FLORESTA/RN ...................... 232
PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE VIANA, MARANHÃO - BRASIL ... 244
IDENTIFICAÇÃO DA FLORA PIONEIRA COMO BIOINDICADOR EM AREA DEGRADADA POR
QUEIMADA ............................................................................................................................................. 248
DEGRADAÇÃO FOTOCATALÍTICA DE 4-NITROFENOL EM SUSPENSÃO AQUOSA DE
NANOPARTÍCULAS DE TiO2 ................................................................................................................ 258
O PORTO DAS GAMBARRAS E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E ECONÔMICA PARA
ANAJATUBA ........................................................................................................................................... 271
IMPACTOS AMBIENTAIS DE DESPEJO DE LIXO INADEQUADO EM TERRENO BALDIO DE
CAMPINA GRANDE – PB ...................................................................................................................... 278
PERCEPÇÃO ECOLÓGICA COLETIVA: O CASO DA VOÇOROCA NAS PROXIMIDADES DO
PARQUE ECOLÓGICO DA TIMBAÚBAS, NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE ............... 285
DELINEAMENTO DO SITIO URBANO, VULNERABILIDADE E PAISAGEM DE RISCO EM
AREIA-PB................................................................................................................................................. 296
CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICO: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA
MUNICIPAL NA VILA FLORESTAL EM LAGOA SECA / PB ........................................................... 310
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB ............................................ 317
LEVANTAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA EM ÁREA CULTIVADA COM BANANEIRA NO
VALE DO AÇÚ ........................................................................................................................................ 328
PERCEPÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS E IMPACTOS AMBIENTAIS DE
FEIRA LIVRE NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE – PB ................................................................ 336
USOS ATUAL DAS TERRAS NO ESPAÇO RURAL DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
ITAMIRIM, SERGIPE .............................................................................................................................. 343
ATIVIDADE INSETICIDA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Hyptis suaveolens (L.) POIT. SOBRE
Drosophila melanogaster .......................................................................................................................... 354
OBSERVAÇÃO PRELIMINAR DA INFESTAÇÃO DE COLCHONILHA DO CARMIM (Dactylopius
opuntiae) NA PALMA FORRAGEIRA (Opuntia fícus-Indica Mill.) ...................................................... 363
ATIVIDADE ALELOPÁTICA DO HIDROLATO DE ESPÉCIES MEDICINAIS SOBRE O
DESENVOLVIMENTO DA RÚCULA (Eruca sativa L.) ....................................................................... 371
ESTRUTURA DE Cupania impressinervia Acev.-Rodr. EM REMANESCENTE DE FLORESTA
OMBRÓFILA DENSA EM BANANEIRAS, PB ..................................................................................... 380
REFLORESTAMENTO DO BIOMA CAATINGA NO ASSENTAMENTO RURAL MOACIR
LUCENA, APODI-RN .............................................................................................................................. 393
ESTUDO DO INGRESSO NO ESTRATO ARBUSTIVO-ARBÓREO REGENERANTE E DA
MORTALIDADE EM UMA ÁREA EM ESTÁGIO DE SUCESSÃO INICIAL NO CARIRI
PARAIBANO ............................................................................................................................................ 404
PERSPECTIVAS ATUAIS DO USO DE FITOTERÁPICOS PARA CONTROLE DA
HIPERCOLESTEROLEMIA .................................................................................................................... 413
DIAGNÓSTICO DA VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DA POPULAÇÃO
IDOSA DO MUNICÍPIO DE SUMÉ-PB ................................................................................................. 425
ALELOPATIA: FORMA ALTERNATIVA NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ................. 437
Tratamento de Resíduos, Saneamento e Reciclagem .................................................................................... 445
A IMPORTÂNCIA DO SANEAMENTO BÁSICO, DA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL E
DAS GESTÕES PÚBLICAS .................................................................................................................... 446
RECICLAGEM DE ÓLEO DE COZINHA E IMPLANTAÇÃO UM PONTO DE COLETA
VOLUNTÁRIO COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM CAMPINA GRANDE-PB ....................... 453
RESÍDUO SÓLIDO: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...... 465
DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS .................................................. 477
DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTORNO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE CAETÉS -
PE: OPORTUNIDADE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE LOCAL ...................... 489
PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE ANAERÓBIO EM REATOR COM ALGAS IMOBILIZADAS
EM ESCALA EXPERIMENTAL ............................................................................................................. 498
USO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS NA AGRICULTURA: DISCUSSÃO SOBRE SUA VIABILIDADE
................................................................................................................................................................... 507
DESEMPENHO DE REATOR ANAERÓBIO HÍBRIDO NA REMOÇÃO DE SULFETOS ................ 518
ANÁLISE SÓCIO-AMBIENTAL DO RIACHO CURIMATAÚ NO PERÍMETRO URBANO DE SÃO
JOSÉ DOS RAMOS/PB ............................................................................................................................ 526
ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE SANEAMENTO BÁSICO NO ESTADO DA PARAÍBA ................... 538
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CEFET-MG - CAMPUS – CURVELO: EVOLUÇÃO QUALI-
QUANTITATIVA ..................................................................................................................................... 551
PÓS-TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO EM LAGOA DE POLIMENTO ............................. 562
IMOBILIZAÇÃO DE MICROALGAS NO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS................. 574
RESÍDUOS SEM TRATAMENTO E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E NO MEIO
AMBIENTE .............................................................................................................................................. 587
USO DA CASCA DA BANANA NATURAL NA REMOÇÃO DE CHUMBO PARA REMEDIAÇÃO
DE EFLUENTES AQUOSOS A PARTIR DO PROCESSO DE ADSORÇÃO ...................................... 601
POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE REFRIGERAÇÃO DE DESTILADOR DE
ÁGUA LABORATORIAL ....................................................................................................................... 613
FILTRAÇÃO DA URINA COM UM FILTRO CASEIRO COMO ALTERNATIVA PARA SITUAÇÕES
DE ESCASSEZ HÍDRICA ........................................................................................................................ 626
IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELO DESCARTE DE REMÉDIOS NO LIXO URBANO .. 636
OS IMPACTOS CAUSADOS PELA DEPOSIÇÃO INADEQUADA DO LIXO: O CASO DE SÃO
FERNANDO-RN ...................................................................................................................................... 646
ASPECTOS AMBIENTAIS EM POSTOS REVENDEDORES DE COMBUSTÍVEIS (PRC) NA
ATIVIDADE DE ABASTECIMENTO DE VEÍCULOS ......................................................................... 654
A SERRAGEM COMO MATERIAL ADSORVENTE DO CORANTE AZUL DE METILENO ......... 668
ENTRAVES DA ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO BÁSICO:
ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM – CE .................................................... 676
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA SOLUÇÃO COAGULANTE DE Moringa oleifera NO
TRATAMENTO DA ÁGUA DO RIO APODI/MOSSORÓ PREPARADA EM DIFERENTES
INTERVALOS DE AGITAÇÃO ............................................................................................................... 687
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PROVENIENTE DA DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS NO MUNICÍPIO DE PRINCESA ISABEL/PB .................................................................... 695
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE RURAL PÉ DE SERRA DE
BARREIRAS, ICAPUÍ/CE ....................................................................................................................... 707
RESÍDUOS SÓLIDOS: VISÃO DOS GESTORES E CATADORES DO MUNICÍPIO DE
JAGUARUANA-CE ................................................................................................................................. 717
CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO NO SETOR DO
ESGOTAMENTO SANITÁRIO ............................................................................................................... 730
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE GROSSOS/RN ....................... 738
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE CONTROLE AMBIENTAL DO AR NA CIDADE DO NATAL-RN
................................................................................................................................................................... 751
LOGÍSTICA REVERSA DE ÓLEO LUBRIFICANTE USADO OU CONTAMINADO ...................... 761
OS ENTRAVES NA IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE ..................................... 772
CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO E DE UM EFLUENTE
GERADO DE UMA INDÚSTRIA TÊXTIL ............................................................................................ 781
CATADORES E DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO RIO GRANDE DO NORTE
................................................................................................................................................................... 789
DESODORIZAÇÃO DE EFLUENTE ANAERÓBIO UTILIZANDO MICROAERAÇÃO................... 800
CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA CIDADE DE GROSSOS
- RN ........................................................................................................................................................... 810
ANÁLISE DA COLETA SELETIVA DOS MUNICÍPIOS DE ARACAJU E JOÃO PESSOA: UM
PASSO PARA A GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
MUNICIPAIS ............................................................................................................................................ 822
MODELO DIFERENCIADO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PARA
O MUNICIPIO DE QUIXADÁ/CE: IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS E PERSPECTIVA DE
MANEJO SUSTENTÁVEL ...................................................................................................................... 836
RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: HERANÇA E DESAFIOS .............................. 848
DESEMPENHO DA CASCA DA BANANA COMO BIOSSORVENTE NATURAL NA REMOÇÃO DE
COBRE PARA REMEDIAÇÃO DE EFLUENTES AQUOSOS ............................................................. 857
Biotecnologia e Melhoramento dos Recursos Genéticos .............................................................................. 871
INFLUÊNCIA DO SUBSTRATO NA EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE MANGABEIRA
(Hancornia speciosa Gomes) .................................................................................................................... 872
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO CRESCIMENTO RADIAL E NA ATIVIDADE DAS
ENZIMAS TANINO ACIL HIDROLASE E FENOLOXIDASE EM MUCORALES DO SEMIÁRIDO
DE PERNAMBUCO ................................................................................................................................. 882
CINÉTICA DE SECAGEM DE SEMENTES DE JERIMUM CABOCLO ............................................. 894
INFLUÊNCIA DO PH NA FITOTOXICIDADE DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS
PROVENIENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA .................................................................................. 903
OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SAPOTI (Achras sapota L.) EM PÓ
OBTIDO POR LIOFILIZAÇÃO............................................................................................................... 912
ANÁLISE DA CINÉTICA DE SECAGEM EM CAMADA FINA DE POLPA DE MELÃO ................ 924
PRINCIPAIS MEIOS NUTRITIVOS PARA MICROPROPAGAÇÃO DE TECA (Tectona grandis):
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................ 938
SECAGEM DA POLPA DE RAMBUTAN EM CAMADA FINA ......................................................... 950
ESTUDO TOXICOLÓGICO DO EXTRATO AQUOSO (―LEITE‖) DO AMENDOIM FRENTE Á
Artemia salina LEACH E ANÁLISE AGUDO EM RATOS WISTAR ................................................... 961
INFLUÊNCIA DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Ormosia
fastigiata TUL. (FABACEAE) ................................................................................................................. 973
INDUÇÃO DE RESISTÊNCIA A DOENÇAS PÓS-COLHEITA........................................................... 982
EFEITO DO SUBSTRATO NA GERMINAÇÃO DAS SEMENTES DE PITOMBA Talisia esculenta
(A.St.-Hil.) Radlk. ..................................................................................................................................... 990
RESPOSTAS MORFOFISIOLÓGICAS DAS PLANTAS AO DEFICIT HÍDRICO .............................. 997
COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ESTERILIZAÇÃO DO MEIO NUTRITIVO PARA CULTIVO
DO MARACUJAZEIRO (Passiflora edulis F. flavicarpa DEGENER) ................................................. 1008
CRESCIMENTO DE (Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook F. Ex S. Moore) EM FUNÇÃO DE
INTERVALOS DE APLICAÇÃO E CONCENTRAÇÕES DE BIOFERTILIZANTE VIA FOLIAR . 1015
COMPORTAMENTO PRODUTIVO DE GENÓTIPOS DE MILHO EM ALTA DENSIDADE
POPULACIONAL .................................................................................................................................. 1026
CARACTERIZAÇÃO FLORAL EM POPULAÇÃO BASE DE PIMENTEIRAS ORNAMENTAIS
(Capsicum annuum L.) ............................................................................................................................ 1035
AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE FEIJÃO AZUKI (Vigna angularis) EM DIFERENTES
ESPAÇAMENTOS NO MUNICÍPIOS DE RIO LARGO-AL ............................................................... 1043
COMPARAÇÃO DA ATIVIDADE COAGULANTE DA SEMENTE DE Moriga oleifera PROCESSADA
POR DIFERENTES FORMAS COM UM COAGULANTE QUÍMICO ............................................... 1052
GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Parkia platycephala Benth. EM FUNÇÃO DE DIFERENTES
TEMPERATURAS E SUBSTRATOS ................................................................................................... 1059
MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Samanea tubulosa (BENTH.)
................................................................................................................................................................. 1067
VARIABILIDADE FENOTÍPICA ENTRE GENÓTIPOS DE PIMENTA (Capsicum spp.) ................ 1074
SEMENTES DE FAVA (Phaseolus lunatus) SUBMETIDAS A TRATAMENTOS COM ÓLEOS
ESSENCIAIS .......................................................................................................................................... 1083
EFEITO ALELOPÁTICO DA ALGAROBA (Prosopis juliflora) NA GERMINAÇÃO E NO
CRESCIMENTO DE PLANTAS............................................................................................................ 1091
Educação Ambiental no Mundo Globalizado .............................................................................................. 1101
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A PRÁTICA DOCENTE EM ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE
ESTADUAL DE ENSINO EM FORTALEZA - CEARÁ ...................................................................... 1102
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E O CALENDÁRIO
AMBIENTAL ESCOLAR ...................................................................................................................... 1115
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PROFUNDA – POSSIBILIDADES PARA O ENSINO INTEGRADO . 1127
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: UMA REVISÃO DE
LITERATURA ........................................................................................................................................ 1135
PROJETO VIVA O VERDE – EDUCANDO PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL ....................... 1147
A REFLEXÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS NUMA ESCOLA DE PEDAGOGIA DA
ALTERNÂNCIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA INTERDISCIPLINAR PARA ENSINO DOS
CONTEÚDOS MATEMÁTICOS ........................................................................................................... 1160
INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BAIRRO DE PEIXINHOS-OLINDA-PE: UM
OLHAR SOBRE O RIO BEBERIBE ..................................................................................................... 1168
OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE: UMA VISÃO DESDE A
DIMENSÃO DA ESPACIALIDADE E A TERRITORIALIDADE ...................................................... 1180
SENTIMENTOS E ATITUDES DOS AGENTES AMBIENTAIS A RESPEITO DE TRABALHO,
EXCLUSÃO, INCLUSÃO E NATUREZA ............................................................................................ 1189
CONSTRUÇÃO DE HORTA VERTICAL NA ESCOLA ESTADUAL TENENTE LUCENA: A
POTENCIALIDADE DE UMA DIDÁTICA INTERDISCIPLINAR .................................................... 1200
―PROJETO MATA VERDE‖: INICIATIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO COLÉGIO
IMPERATRIZ LEOPOLDINA, NO MUNICÍPIO GUARAPUAVA, PARANÁ .................................. 1211
EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PROJETO RIO MAMANGUAPE FASE II: PROFESSORES SÃO
CAPACITADOS EM EDUCAÇÃO NUTRICIONAL ........................................................................... 1222
RECICLAGEM DE MATERIAS: PROPOSTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................... 1235
O PROJETO SEMEANDO SABERES DESENVOLVIDO NO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO COMO
ALIADO NA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ...................................................................... 1239
PROBLEMAS AMBIENTAIS NO BAIRRO: REFLEXÃO A PARTIR DOS OLHARES DE
ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL II EM ESCOLAS PÚBLICAS DE JOÃO PESSOA-PB
................................................................................................................................................................. 1250
ESTUDO DE CASO SOBRE A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA QUÍMICA VERDE ...................... 1262
ANÁLISE DA PRIMEIRA FASE DA IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NO
IFAM, CAMPUS TABATINGA-AM ..................................................................................................... 1275
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇO NÃO FORMAL NO PROCESSO ENSINO -
APRENDIZAGEM COMO SUBSÍDIOS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA ..................................... 1283
―UMA FLOR EM MEIO A MUITOS ESPINHOS‖: A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NO ENSINO DAS GEOCIÊNCIAS .......................................................................... 1292
PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM
ESCOLAS MUNICIPAIS DE MOSSORÓ / RN .................................................................................... 1304
ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO PARA AS TARTARUGAS MARINHAS – PRODUÇÃO DE
FERRAMENTAS DIDÁTICAS E AÇÕES EDUCATIVAS NO LITORAL DE PERNAMBUCO...... 1317
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO GEOPARK ARARIPE: UMA ANÁLISE DAS AÇÕES E PROJETOS
DESENVOLVIDOS ................................................................................................................................ 1328
EDUCAÇÃO ESCOLAR DIFERENCIADA EM COMUNIDADE INDÍGENA: A PERCEPÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL DA ALDEIA INDÍGENA KANINDÉ DE ARATUBA – CEARÁ . 1340
UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FEIRA DE CIÊNCIAS E A SIGNIFICANCIA
DO LIXO (DA GERAÇÃO À DESTINAÇÃO) ..................................................................................... 1358
O ETHOS NO GEOSSÍTIO COLINA DO HORTO: DA CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E
CULTURAL PARA A ANÁLISE DO DISCURSO IDENTITÁRIO FEMININO ................................ 1366
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO CRÍTICA DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS RELATIVO AOS
PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS.................................................................................................... 1378
O LORAX – EM BUSCA DA TRÚFULA PERDIDA: VÍDEO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA
E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL..................................................................................................... 1385
UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS EM FLORIANO - PI
................................................................................................................................................................. 1395
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SANITÁRIA PELO BEM ESTAR HUMANO E ANIMAL ................ 1403
MELHORIA DO BEM ESTAR E SAÚDE ANIMAL EM LAGOA SECA/PB ATRAVÉS DA
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL ....................................................................................................... 1415
JUVENTUDE, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA: TECENDO REDES NO
QUILOMBO DA SERRA DO EVARISTO – BATURITÉ/CE.............................................................. 1427
EXPERIÊNCIA ECOLÓGICA NO CCHSA – BANANEIRAS, PB ..................................................... 1439
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ENFOQUE PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA ..... 1449
OS ENTRAVES DA MULTISSERIAÇÃO NAS ESCOLAS FAUSTO ANDRADE DE SOUSA E
SEBASTIÃO DE SOUSA SANTIAGO EM RIACHO DOS CAVALOS-PB ....................................... 1457
O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA CONSCIENTIZADORA PARA
ALUNOS DO MUNICÍPIO DE LAGOA SECA, PB ............................................................................. 1469
O CONCEITO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOB A ÓTICA DE PROFESSORES DO MUNICÍPIO
DE SÃO BENTO, PARAÍBA ................................................................................................................. 1479
PRÁTICAS DE BOTÂNICA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE BANANEIRAS, PB ...................... 1488
DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ...... 1499
CARAVANA DO MEIO AMBIENTE: SOCIALIZANDO A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS
AMBIENTAIS EM ESCOLA DO BREJO PARAIBANO ..................................................................... 1506
CONTRIBUIÇÃO DA SEMANA DO MEIO AMBIENTE NA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: ATUAÇÃO DO PIBID/BIOLOGIA NO COLÉGIO ESTADUAL
WILSON GONÇALVES, CRATO – CE ................................................................................................ 1516
Vulnerabilidade, Riscos e Controle Ambiental

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 12


MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO: UMA CONTRIBUIÇÃO AO MUNICÍPIO DE
ARATUÍPE, NA BAHIA

Edcassio AVELINO
Mestre em Geografia UFBA
ed.avelino@hotmail.com

RESUMO
Esta pesquisa tem o objetivo de elaborar o mapeamento geomorfológico do município baiano de
Aratuípe, identificando na(s) unidade(s) de relevo os principais comprometimentos ambientais. A
concepção teórica do estudo fundamentou-se nas contribuições de Penteado (1985); Cardoso da
Silva (2000) e Christofoletti (2012). A pesquisa utilizou a carta topográfica das folhas Jaguaripe
(IBGE, 1967) e Valença (SUDENE, 1977) com escala 1:100.000; imagem ASTER, resolução
espacial 30m, cenas S14W039 e S14W040, ano de 2009 (NASA/METI); bem com as propostas de
Ross (1992) e do IBGE (2009). Os resultados ajudaram identificar três unidades geomorfológicas
na área de estudo, denominadas de: (i) Planície Fluviomarinha; (ii) Tabuleiros do Recôncavo e (iii)
Tabuleiros Pré-Litorâneos. Os comprometimentos ambientais mais frequentes foram o aterramento
de manguezais; a prática da queimada e a formação/desenvolvimento de voçorocas. O mapeamento
geomorfológico ajudou a compreender os processos que originaram as formas de relevo de área de
estudo. Sendo assim, os resultados dessa pesquisa podem servir como ponto de partida para orientar
questões ligadas à gestão ambiental.
Palavras-chave: Geomorfologia; Mapeamento; Perdas ambientais.

ABSTRACT
This research aims to develop geomorphological mapping of the municipality of Bahia Aratuípe, in
identifying (s) unit (s) raised key environmental commitments. The theoretical study design was
based on input from Penteado (1985); Cardoso da Silva (2000) and Christofoletti (2012). The
research used the topographic map sheets Jaguaripe (IBGE, 1967) and Valencia (SUDENE, 1977)
with scale 1: 100,000; ASTER image, 30m spatial resolution, and scenes S14W039 S14W040, 2009
(NASA / METI); well with the proposed Ross (1992) and IBGE (2009).
The results helped to identify three geomorphological units in the study area, called: (i) Fluvial
Plain; (ii) Tabuleiros of Reconcavo and (iii) Tabuleiros Pre-Coastal. The most common
environmental losses were the grounding of mangroves; the practice of burned and formation/
development of gullies erosion. The geomorphological mapping helped to understand the processes
that led to the relief of the study area. Thus, the results of this research can serve as a starting point
to guide environmental management issues.
Keywords: Geomorphology; Mapping; Environmental losses.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 13


INTRODUÇÃO

O mapeamento das formas de relevo tornou-se fundamental nos estudos ambientais, pois
esse tipo de conhecimento ajuda a identificar as áreas susceptíveis à ocorrência de deslizamento de
terras; de inundações e de processos erosivos ajudando a ocupar o espaço de maneira racional.
Segundo Ross (1992), a Geomorfologia oferece suporte para o entendimento dos ambientes naturais,
onde as sociedades humanas se estruturam, extraem os recursos para a sobrevivência e organizam o
espaço físico-territorial.
As formas de relevo possuem dinâmicas com velocidades diferenciadas, ora são estáveis,
ora são instáveis (ROSS, 1992). Estes comportamentos são resultados não apenas dos processos
naturais, mas das diversas formas de intervenção humana sobre o espaço. Dessa maneira, a
necessidade de compreender a complexidade existente na formação/fisionomia do relevo contribuiu
para a elaboração de diferentes propostas de classificação geomorfológica. No Brasil, vale destacar
os trabalhos realizados por Azevedo (1949); Ab‘Sáber (1964) e Ross (1985).
Nos estudos sobre mapeamento geomorfológico é recorrente a preocupação com a
representação das formas de relevo (outeiro, serra, colinas, morros e vertentes). Além disso, outra
questão que se destaca diz respeito à escala do mapeamento, por isso, Ab‘Sáber (1998) em revisão
de trabalhos sobre mapeamentos de relevos chamou a atenção para a escassez de pesquisas feitas
em escalas mais detalhadas, acima de 1:100.000. Nesse contexto, vale ressaltar que a classificação
taxonômica do relevo proposta por Tricart (1965) e a sua leitura/ adaptada ao contexto brasileiro
por Ross (1992) constitui um procedimento metodológico que tem ajudado a adequar as questões da
representação do relevo e da escala do mapeamento à área de estudo.
Diante do exposto, essa pesquisa concentrou a sua atenção no recorte temático de município
pequeno, formado por até 20.000 habitantes (IBGE, 2010), com estudo de caso realizado no
município de Aratuípe, Bahia. O município de Aratuípe possui 8.599 habitantes (IBGE, 2010) e está
localizado a cerca de 200 km da cidade do Salvador, a capital do Estado da Bahia (BAHIA, 2010).
A escolha dessa área para a caracterização geomorfológica levou em consideração a importância
que a escala municipal exerce no contexto da gestão pública, bem como a escassez de informações
ambientais que pudessem traduzir a sua realidade geográfica.
Portanto, esta pesquisa tem o objetivo de elaborar o mapeamento geomorfológico do
município de Aratuípe, na Bahia; identificando na(s) unidade(s) de relevo os principais
comprometimentos ambientais. Os resultados do estudo podem subsidiar ações direcionadas à
gestão ambiental do município de Aratuípe, pois o conhecimento geomorfológico tornou-se um
instrumental utilizado na recuperação de áreas degradadas, na classificação de terrenos suscetíveis
aos deslizamentos e entre outas aplicações (CHRISTOFOLETTI, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 14


MATERIAIS E MÉTODOS

A concepção teórica do estudo fundamentou-se na contribuição de Penteado (1985);


Cardoso da Silva (2000) e Christofoletti (2012). A metodologia se baseou na proposta de Tricart
(1977) quanto à classificação do relevo em táxons (níveis de observação/escala); do projeto
RADAMBRASIL (1981) no que se refere à nomenclatura adotada para as unidades do relevo e de
Ross (1992) quanto à nocão de morfoestrutura/morfoescultura.
A pesquisa utilizou a carta topográfica, em formato vetorial, das folhas Jaguaripe (IBGE,
1967) e Valença (SUDENE, 1977), com escala de 1:100.000, disponibilizadas pela
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEPLAM, BAHIA). Além disso,
usou imagens do satélite Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer
(ASTER) do Global Digital Elevation Model (GDEM), resolução espacial 30m, cenas S14W039 e
S14W040, ano de 2009, cedidas pelo The Ministry of Economy, Trade and Industry of Japan (METI)
e National Aeronautics and Space Administration (NASA).
Os procedimentos adotados foram organizados em etapas sequenciais distintas, mas
complementares, os quais podem ser enumerados em: (1) Processamento - definição do sistema de
projeção cartográfica, do datum geodésico e tratamento da imagem ASTER para extração de
hipsometria, relevo sombreado, declividade e curva de nível; (2) Mapeamento geomorfológico -
construção da legenda, delimitação das unidades do relevo; aplicação da técnica de amostragem
aleatória simples para estabelecer as áreas visitadas durante a atividade de campo; (4)
Reconhecimento de campo - legitimação da(s) unidade(s) de relevo mapeada e identificação dos
principais comprometimentos ambientais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As discussões sobre geomorfologia feitas por Penteado (1985); Cardoso da Silva (2000) e
Christofoletti (2012), associadas às Propostas de classificação do relevo segundo Tricart (1977);
Projeto RADAMBRASIL (1981) e Ross (1992) permitiram identificar três unidades estruturais
(morfoestrutura) na área de estudo: (a) Depósitos Quaternários (b) Estrutura Sedimentar e (c)
Embasamento Cristalino. A partir dessa etapa se classificou as feições do relevo no município de
Aratuípe, estabelecendo as seguintes unidades geomorfológicas (morfoescultura): (i) Planície
Fluviomarinha, (ii) Tabuleiros do Recôncavo; e (iii) Tabuleiros Pré-Litorâneos (Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 15


Figura 1: Unidades geomorfológicas, município de Aratuípe, BA. Elaboração: Avelino, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 16


(i) Planície Fluviomarinha

A planície fluviomarinha corresponde às áreas baixas e planas situadas ao longo de regiões


costeiras, estuários e baías, onde a dinâmica dos ciclos das marés predomina sobre os movimentos
das ondas marítimas (IBGE, 2009). Em Aratuípe, a planície fluviomarinha (figura 2) está situada no
extremo leste do município, o relevo possui modelado de acumulação e se desenvolveu a partir da
combinação de processos geológicos e climáticos que resultaram na acumulação de sedimentos nas
terras baixas e planas, desencadeando a formação dos ambientes de manguezais nas margens do rio
Jaguaripe, extensão da área de estudo.

Figura 2: Planície Fluviomarinha, vila de Maragojipinho, município de Aratuípe, BA.


Elaboração: Avelino, 2014.

Na área de estudo, a planície fluviomarinha ocupa 3,94 km2 e as altitudes dessa feição de
relevo oscilam entre a linha de costa do rio Jaguaripe até o limite máximo de 5 metros. As
atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, mostraram que a Planície Fluviomarinha passa por
processo de descaracterização ambiental, devido ao aterramento dos ambientes de manguezais para
a construção de residências e de olarias para a produção de cerâmica.
Os ambientes de manguezais constituem um tipo de ecossistema costeiro, ocorrem em
terrenos baixos sujeitos à ação das marés e abriga fauna e flora endêmica, sendo área de
alimentação e reprodução de diferentes espécies de mosquitos (abelha, mutuca); de aves (garças,
gaivotas); de mamíferos (morcegos, guaxinins) e entre outras espécies (SCHAEFFER-NOVELLI,
1995). Além disso, as raízes da vegetação dos manguezais (plantas halófitas) ajudam a proteger as
áreas costeiras das agitações oceânicas (STEVEN & CORNWELL, 2007 apud TRANCREDO et al
2011).
Os manguezais, em função de sua importância ecológica para a biodiversidade brasileira,
foram transformados em áreas protegidas, conforme o Art. 5° da Constituição Brasileira de 1988.
Nesse sentido, vale ressaltar que no caso da área de estudo, os manguezais são fundamentais para a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 17


manutenção do equilíbrio ecológico do sistema estuarino no rio Jaguaripe. Dessa maneira, a
supressão dos manguezais, bem como o seu aterramento para a implantação de atividades
industriais, empreendimentos imobiliários, casas e olarias (figura 3) corresponde uma ameaça para a
manutenção/ conservação desse ecossistema no município de Aratuípe.

Figura 3: Aterramento de manguezal na vila de Maragojipinho, município de Aratuípe, BA.


Elaboração: Avelino, 2014.

(ii) Tabuleiros do Recôncavo

A unidade dos Tabuleiros do Recôncavo (figura 4) está sustentada pelas rochas sedimentares
do Grupo Brotas, situado entre os materiais argilo-siltosos (Leste) e as rochas do embasamento
cristalino (Oeste). Essa unidade geomorfológica é formada por materiais porosos e permeáveis
(arenitos), o que facilita a dissecação do modelado pela rede de drenagem e pelos processos
climáticos.

Figura 4: Outeiros registrados nos Tabuleiros do Recôncavo, município de Aratuípe, BA.


Elaboração: Avelino, 2014.

A fisionomia do relevo possui modelado sob a forma de dissecação homogênea (BRASIL,


1981); padrão de drenagem dendrítico e rios com baixa densidade; vertente com fisionomia
côncavo-convexo e feição suave ondulada, onde se identificam: (1) os outeiros; (2) as colinas com

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 18


topos semitabulares e rampas pouco inclinadas; (3) os vales largos com fundo chato e encostas
suaves; e (4) as áreas planas (BRASIL, 1983). Na área de estudo, essa forma de relevo ocupa 22
km2 e as altitudes variam de 6 a 90 metros.
As atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, evidenciaram que a prática da
queimada (figura 5) constitui a principal ameaça para essa unidade de relevo. A ação do fogo causa
a destruição dos habitats da fauna e flora endêmica e, consequentemente, a migração de aves,
répteis e mamíferos. Além disso, o fogo extingue a fertilidade natural do solo, porque afeta as
camadas que concentram matéria orgânica e nutriente, causando não apenas a infertilidade, mas a
degradação pedológica do terreno.

Figura 5: Consequências da ação do fogo nos Tabuleiros do Recôncavo, município de Aratuípe, BA.
Elaboração: Avelino, 2014.

Vale ressaltar que as consequências do fogo favorecem a desestabilização geológica do


terreno (GUERRA, 2006), por causa da incidência da chuva diretamente no solo sem a proteção da
cobertura vegetal, desencadeando a remoção das camadas mais superficiais do solo, em direção às
áreas com topografias mais baixas e planas, bem como para dentro do leito dos rios. Na atividade de
campos se constatou a acumulação de sedimentos (terras) às margens do rio Água Doce e do rio
Aratuípe. A deposição desses sedimentos no leito dos rios favorece o assoreamento, com
repercussões negativas sobre a vegetação, os animais e a população local.

(iii) Tabuleiros Pré-Litorâneos

Essa unidade de relevo se desenvolveu sobre as rochas do embasamento cristalino. Os


Tabuleiros Pré-Litorâneos (figura 6) possui modelado sob a forma de dissecação homogênea, os
seus interflúvios correspondem aos outeiros e morros com vertentes convexas e convexo-côncava,
com topo abaulado (BRASIL, 1981) e compõem a paisagem que foi denominada de ―mares de
morros‖ pelo geógrafo Aziz Ab‘Saber (2003).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 19


Figura 6: Vale com encostas suaves, Tabuleiros Pré-Litorâneos, município de Aratuípe, BA.
Elaboração: Avelino, 2014.

Em Aratuípe, o planalto mamelonizado ocupa 148 km2 e possui nível altimétrico acima de
91m (mínimo) até 240m (máximo), ocupando, assim, os terrenos mais elevados. No extremo Oeste
da área de estudo, predominam os morros com vales encaixados (vales em ―V‖) e as vertentes com
declividades que variam entre 30° e 45° (BRASIL, 1983). Por sua vez, nas áreas próximas à cidade
de Aratuípe, destacam-se as colinas tabulares, com declividade abaixo de 30° (BRASIL, 1983) e os
vales definidos com encostas suaves.
As atividades de campo, realizadas em 2012 e 2014, demonstraram que a pastagem, com
destaque para a pecuária bovina, constitui uma ameaça para o sistema ecológico-paisagístico nessa
unidade de relevo, uma vez que contribuiu para o desenvolvimento de terracetes nas áreas
onduladas e, consequentemente, com a formação de sulcos erosivos a partir do pisoteio do gado. A
ação das chuvas sobre os sulcos erosivos provocam a lavagem das camadas mais superficiais dos
solos. Além disso, as chuvas sobre os solos desprotegidos de cobertura vegetal, em relevo ondulado,
desencadeia a formação de voçoroca (figura 7).

Figura 7: Voçoroca, Fazenda Alto da Espada, Tabuleiros Pré-Litorâneos, município de Aratuípe, BA.
Elaboração: Avelino, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 20


De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT (1989, apud FLORENZANO,
2008), a erosão em canais com até 50 cm de largura e profundidade é considerada ravina; a erosão
em canais acima de 50 cm de largura e profundidade é denominada de voçoroca. Nos estudos
geomorfológicos existem diversas propostas para a caracterização de voçoroca, no caso da área de
estudo, a voçoroca encontrada na fazenda São José pode ser classificada como do tipo dendrítica,
isto é, apresenta padrão de expansão e de desenvolvimento em ramificações (IRELAND et al, 1939
apud VIERO, 2008).
Nas áreas dos Tabuleiros Pré-Litorâneos, a atividade da pastagem bovina contribuiu para a
abertura de fendas no terreno, este fato em conjunto com a ação das chuvas, tornaram os solos
suscetíveis à ocorrência de erosão laminar, de erosão em ravinas e de erosão em voçorocas. Estes
processos erosivos provocam o deslocamento dos sedimentos, situados em áreas elevadas, em
direção às áreas de baixo declive e a sua acumulação próxima ao leito dos rios (GUERRA, 2006),
causando a alteração de seus canais, o assoreamento e a formação de bancos de areia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As concepções teóricas sobre geomorfologia feitas por Penteado (1985); Cardoso da Silva
(2000) e Christofoletti (2012), associadas às Propostas de classificação do relevo segundo Tricart
(1977); Projeto RADAMBRASIL (1981) e Ross (1992) possibilitaram caracterizar o relevo do
município de Aratuípe, com base na escala local, por meio de mapa.
A utilização da imagem ASTER permitiu a extração de dados sobre a hipsometria, o relevo
sombreado, a declividade e a curva de nível. Estas técnicas em conjunto com a cartografia ajudaram
na delimitação das unidades de relevo, legitimando a importância dos produtos do sensoriamento
remoto para a caracterização geomorfológica da área de estudo.
No município de Aratuípe, identificou-se a existência de três unidades de relevo,
denominadas no estudo como: (i) Planície Fluviomarinha; (ii) Tabuleiros do Recôncavo e (iii)
Tabuleiros Pré-Litorâneos. As atividades de campos evidenciaram que os principais
comprometimentos ambientais são: o aterramento dos manguezais na Planície Fluviomarinha; a
prática da queimada nos Tabuleiros do Recôncavo e a formação/ desenvolvimento de voçorocas nos
Tabuleiros Pré-Litorâneos.
Portanto, espera-se que os resultados do estudo auxiliem na elaboração de outras pesquisas,
especialmente em municípios pequenos. Dessa maneira, esta pesquisa deixou sua contribuição e
desperta para a necessidade de ações direcionadas para a gestão ambiental no município de Aratuípe,
na Bahia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 21


REFERÊNCIAS

AB‘SÁBER, Aziz Nacib. Os Domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São


Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

AB‘SÁBER, Aziz Nacib. Megageomorfologia do território Brasileiro. In: CUNHA, S. B.;


GUERRA, A. J. T., (org.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p.
71-94.

______. O relevo brasileiro e seus problemas. Brasil a Terra e o Homem, v.1 cap. III. São Paulo:
Cia Editora Nacional, 1964.

AZEVEDO, Aroldo. As grandes unidades do relevo brasileiro. Boletim Paulista de Geografia. São
Paulo, n. 2, 1949.

BAHIA. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais. Estatística dos Municípios Baianos.


V14. Salvador: SEI. 2010.

BRASIL. Ministério de Minas e Energias. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL folha 25/25
Aracaju/ Recife; geologia, geomorfologia, pedologia vegetação e uso potencial da terra. Rio de
Janeiro, 1981.

______. Ministério do Interior. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Folha


topográfica de Valença. [Salvador], 1977. 1 mapa. Escala 1:100 000.

CARDOSO DA SILVA, Tereza. Indicadores geomorfológicos de sustentabilidade ambiental:


aplicabilidade no Brasil. Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 71-79,
2000.

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de


planejamento. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista (org.).
Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 11ª ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil,
2012, p. 415-440.

FLORENZANO, Tereza G. Sensoriamento remoto para geomorfologia. São Paulo: Oficina de


Texto, 2008.

GUERRA, Antônio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio
de Janeiro: Betrand Brasil, 2006.

IBGE. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 22
______. Manual técnico de geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

______. Folha topográfica de Jaguaripe. [Salvador], 1967. 1 mapa. Escala 1:100 000.

PENTEADO, Margarida Maria Orellana. Metodologia integrada no estudo do meio ambiente.


Geomorfologia, Rio Claro – SP, v. 10, n. 20, p. 125-148, 1985.

ROSS, Jurandir. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo.
Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n. 6, p. 17-29, 1992.

______. Relevo brasileiro: uma proposta de classificação. Revista do Departamento de Geografia.


São Paulo, n. 4, p. 25-39, 1985.

TANCREDO, K. R; NOBREGA, R. O; DIAS, T.; LAPA, K.R. Impactos ambientais da


carcinicultura brasileira. In: International Workshop Advances in Cleaner Production. 3rd, São
Paulo, Anais... São Paulo, 2011.

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.

_____. Principes et méthodes de la Geomorfhologie. Paris: Masson et Cie Editours, 1965.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 23


RISCOS + SUSCETIBILIDADE = DESASTRES CONTEXTO NO ESTADO DA
PARAIBA

Prof. Dr. José Paulo Marsola GARCIA


Departamento de Geociências - CCEN/UFPB
jp.marsola@terra.com.br

RESUMO
O trabalho é uma reflexão dos riscos de desastres tendo como estudo de caso o Estado da Paraíba,
não apenas as ― Secas ― , mas também a atenção as enchentes e inundações. O semiárido mesmo
com regime de baixa precipitação 400- 800 mm, apresenta chuvas torrenciais recorrentes; oque não
é senso comum para a maioria das pessoas, que não vivem neste ambiente. E por fim o papel dos
tomadores de decisão, buscando formar a mentalidade de prevenção, com foco nesta realidade.
Palavras Chave : Secas; Enchentes; Desastres; Nordeste; Paraíba

ABSTRACT
The paper of disaster risk taking as a case study of Paraíba state, not just the "Secas", but also the
attention floods and floods. The semiarid even with low rainfall 400- 800 mm regime, has recurring
torrential rains; what it is not common sense to most people, who do not live in this environment.
Finally the role of decision-makers, seeking to form the mentality of prevention, focusing on this
reality.
Keywords: "Secas"; floods; disasters; Northeast; Paraíba

INTRODUÇÃO

Segundo a Defesa Civil (2010) A ocorrência e a intensidade dos desastres dependem muito
do grau de vulnerabilidade dos cenários de desastres e das comunidades afetadas do que pela
magnitude dos eventos adversos. Assim, por exemplo, terremotos com magnitude de 6.5 graus na
escala Richter provocaram as seguintes perdas humanas: cinco óbitos na Califórnia; 20 mil óbitos,
no Cairo; 40 mil óbitos, na Armênia.
Desastres são construções socioculturais, os riscos são naturais ,mas os desastres NAO e a
conjunção de riscos mais suscetibilidades que est a diretamente ligado a culturas dos povos que esta
ameaçados ou não por riscos naturais
Nos casos de enchentes no Brasil existem municípios, que em função da ocupação
desordenada do solo, sofrem um aumento na vulnerabilidade as enchentes, enxurradas e
alagamentos. Dessa forma, uma mesma quantidade de chuva em municípios diferentes pode ter
danos humanos, ambientais e materiais completamente diferentes, em função especificamente da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 24


vulnerabilidade. Onde tiver uma barragem reguladora, obra de controle de enchentes, interligação
de bacias, projeto e planos de emergência comunitária, zoneamento urbano, sistema de
monitoramento, alerta e alarme, entre outras ações, a vulnerabilidade ao desastre será menor e a sua
ocorrência irá resultar em danos e prejuízos menores.
Medidas preventivas são essenciais para minimizar o desastre. A partir da constatação que
os desastres podem e devem ser minimizados, cresce a importância da mudança cultural relacionada
ao senso de percepção de risco.
Os conhecimentos referentes a riscos e desastres são complexos, requerem a abordagem
tanto multidisciplinar como interdisciplinar. A complexidade exigida em prevenção, não está
apenas na produção do conhecimento, mas acreditamos estar principalmente, na disseminação e
aplicação deste saber.
Com objetivo de disseminação e aplicação de diretrizes em prevenção a desastres, o foco
estaria nos atores sociais: públicos e privados que, vão do meio acadêmico aos órgãos de mídia,
perpassando por gestores públicos ao cidadão comum. Trabalhar estes objetivos, não deixa de ser,
ainda hoje um novo paradigma. Isto não é simples nem fácil. A proposta de atuação seria na
formação de novas visões de mundo, que são a base das tomadas de decisão que, muitas vezes, é
entendido também como ―mentalidade‖ desses atores sociais - que possuem o poder real de decisão
na sociedade brasileira.

CONTEXTO DE DESASTRES NA PARAÍBA

Historicamente quando a questão é Desastre na Paraíba, a primeira imagem é a das Secas,


que sem dúvida é o risco natural de maior impacto. As secas são estiagens prolongadas, que
temporalmente pode ocorrer em intervalos de 12 a 26 anos e com intensidades variáveis, tanto de
tempo, com espaço; esta grande variabilidade geográfica, esta condicionada a um complexo quadro
macro geomorfológico e circulação atmosférica muito particular região nordeste brasileira.
Os riscos de desastres não se resumem as Secas no Nordeste Brasileiro, em particular o
Estado da Paraíba também há questão das enchentes e alagamentos estes com maior recorrência,
tanto na Zona litorânea, que ocupa 14% do território, como na região semiárida, com 86% de seu
território. Paradoxalmente temos na região no semiárido a ocorrências alto índice de enchentes e
alagamentos, apesar desta região ter precipitação anual de 400-800mm. A explicação deste fato é a
distribuição extremamente irregular das chuvas, como no exemplo da Cidade de Patos no Sertão da
Paraíba, registrou em quatro horas de 284,6 mm de chuva forte em 14/04/2009 o que resultou em
1500 desalojados e 3000 pessoas afetadas (Defesa Civil 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 25


As secas históricas proporcionaram diversas ações e programas públicos como à criação do
DNOCS - Departamento Nacional de Combate as Secas a partir de 1909 sendo uma das principais
ações a construção de centenas de represa e açudes na Paraíba, para minimizar a escassez de água, a
não manutenção e construções precárias tornando estas, um risco constante em todo estado; o
rompimento de barragens e represas é um risco constante; como o exemplo da Barragem Camará/
Alagoa Grande- PB. em 2004
A zona litorânea tem a maior taxa de ocupação, com media anual de pluviometria de 1900
mm de chuva/ano, sendo 70 % desta precipitação ocorre concentrada em 3 meses, aumentando o
potencial de riscos, tanto de enchentes, como deslizamentos. Nesta região está sendo
potencializado o riscos, com a ocupação desordenada em toda a zona litorânea, intensificada na
região metropolitana de João Pessoa. O incremento da economia paraibana puxada pelo
crescimento da economia brasileira aumenta os riscos de desastres, com o incremento deste uso e
ocupação desordenado e impactando o meio físico ainda maior, tendo como causa o ganho em
escala dos fluxos de produtos e pessoa, com a duplicação da BR 116, principal rodovia que liga das
regiões Sul–Sudeste do Brasil com o Nordeste Brasileiro. A especulação imobiliária está acelerada
contribuindo ao crescimento desordenado do uso e ocupação do solo, sem planejamento e respeitos
aos limitantes naturais. Os riscos antrópicos tanto na produção, armazenamento e transporte de
produtos perigosos, tem que ser analisados e estudados para apoio a futuras tomadas de decisão.
Quando ampliamos o quadro de análise geográfica para o eixo econômico do extremo leste
do Nordeste Brasileiro, tendo como referência a região metropolitana de João Pessoa, tem se ao sul
a 130 km de distancia região metropolitana de Recife capital de Estado Pernambuco; e ao Norte a
180 km região metropolitana de Natal capital do Estado do Rio Grande do Norte. Neste contexto
geográfico há cerca de cinco milhões de pessoas em 300 km de litoral, com de intensa atividade
econômica, exemplificada por três portos, o maior parque industrial do nordeste, três aeroportos e
sendo dois internacionais, numa zona costeira com intenso uso e ocupação, portanto a questão dos
riscos de desastre torna-se chave ao seu desenvolvimento futuro.

HISTÓRICO DE DESASTRES NA PARAÍBA

O Estado da Paraíba é marcado pela presença de secas desde século XVI que em conjunto
com o processo de construção de seu arcabouço socioeconômico e político sofreu e sofre
conseqüências drásticas, tanto na perda de vidas como na depressão econômica e social na maior
parte de sua população. Investigar os desastres no Estado da Paraíba não se deve deixar de
considerar as variáveis históricas, socioeconômicas, políticas e culturais e não apenas a variável
natural, sendo a questão específica da Seca possui diversos desdobramentos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 26


―Uma seca pode-se fazer calamitosa no Ceará, no oeste do Rio Grande do Norte e nos
sertões ocidentais da Paraíba sem que nas demais áreas do Nordeste ocidental seus efeitos
alcancem o mesmo grau. (...) Os relatos 1877 que passou à crônica histórica como acerca da
famosa estiagem de ‗seca do Ceará‘ documentam claramente esse processo de crescente
angustia que começa, num ano, com a escassez das precipitações no tempo próprio e se
resolve em calamidade declarada quando, no verão-outono imediato, perdem-se de todas as
esperanças; porque, nesse caso, só em dezembro do terceiro ano haverá outras
possibilidades de ‗inverno‘.‖

[Gilberto Ozório de Andrade e Rachel Caldas Lins: 1971] Os climas do Nordeste,

A pior seca da historia do Nordeste é conhecida com as secas dos Sete das 1877 a 1879
estima - se em mais de 500 mil mortos. Como ex. em números estima-se que a população do Ceará
era de 900 mil pessoas sendo 480 mil indigentes destes houve mais de 180 mil mortes. Na capital
Fortaleza morreram mais de 65 mil pessoas, sendo a metade da população da capital na época.
Constituíram verdadeiros campos de horrores, nas piores condições de vida e propiciou grandes
epidemias como a da varíola. Como relatos :

―A mortalidade pela varíola continuou aumentando durante todo o ano de 1878. Em


novembro, o número de vítimas fatais atingia a cifra de 9.844 e em dezembro, 14.491. Para
se ter idéia das dificuldades sanitárias da época, só no dia 10 de dezembro de 1878
faleceram 1.004 pessoas, e .os cadáveres de mais de 200 ficaram insepultos e pela manhã
foram encontrados meio comidos pelos cães, pelos urubus não havendo tempo de enterrá-
los.‖

(Theóphilo, 1980, p. 94 ― ) In : COSTA 2004.

O Nordeste há muita discussão sobre os números, mas informações de jornais da época nos
dão a dimensão deste desastre, como a reprodução do Diário de Pernambuco, abaixo: ―o registro
na edição de 19 de dezembro de 1877 do jornal "O Retirante", o qual reproduz notícia veiculada
num periódico pernambucano:
"A Secca – Lê-se no Diário de Pernambuco:
‗as victimas a soccorrer na região presentemente flagellada pela secca, são:
Província do Piauhy ...................................... 150.000 pessoas
Ceará ............................................................. 700.000
Rio Grande do Norte ...................................... 117.000
Parayba ......................................................... 400.000
Pernambuco .................................................. 200.000
Alagoas ............................................................. 50.000
Sergipe .............................................................. 30.000
Provincia da Bahia .......................................... 500.000 "
Fonte: "O Retirante" de 01 e 08/07, 16 e 19/09 de 1877. Há outras tantas notícias em várias
edições dos citados jornais, todos disponíveis no setor de Microfilmagens da Biblioteca Pública
do Estado do Ceará In : Roberto Nunes Dantas CEEC-UNEB

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 27


A vulnerabilidade na região nordeste que sofre as secas é amplificado pela ocupação e
utilização dos solos por culturas e manejo não adequado as condições do semi árido e a
manutenção histórica da estrutura social profundamente concentradora e injusta(ANDRADE
1985) caracterizada por uma oligarquia com o controle da propriedade da terra e do processo
político na região.
As conseqüências mais evidentes das grandes secas são as fomes, as desnutrições, as
misérias e as migrações para os centros urbanos (êxodo rural), que incharam os grandes centros
urbanos do Brasil. Sendo tratado como problema nacional desde o século XIX, Originando dai o
processo de repasse de elevados recursos do governo federal a região, que ao invés de solucionar
mantém está concentração de rendo e poder político - resumindo os recursos destinados ao combate
à pobreza da região, historicamente vem sendo desviado das elites locais que mantém o quadro de
risco e desastre, para perpetuar este repasse e não desenvolver a região do semiárido do Brasil este
processo se denomina de "indústria da seca”, que não pode estar fora de qualquer discussão de
desastres no nordeste.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Universidade teria importante papel na Questão dos Desastre, que está em nosso entender,
em criar a cultura de prevenção como :
- Envolvimento e Difusão do Conhecimento visando proporcionar um ambiente
multidisciplinar e multinstitutional entre acadêmicos e profissionais envolvidos diretamente
no estudo e gestão de desastres
- Buscar reunir, organizar e trocar informações. Pretendendo ser uma fonte de informação
para os tomadores de decisão e profissionais diretamente ligados a emergência, urgência e
desastre.
- Novos caminhos sobre, prevenção e mitigação, e novas estratégias adaptadas às condições
particulares, em nosso estudo o caso o Estado da Paraíba. deve visar a troca de
conhecimentos entre os atores (agentes públicos que atuam em desastres).
Finalizando o papel da Universidade está em articular e difundir essas experiências de
prevenção, bem como a difusão de conhecimento de prevenção especifico atendendo a região
geográfica em que está inserida.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Manoel Correia de. A seca: realidade e mito. Recife: ASA Pernambuco, 1985. 81 p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 28


COSTA, M. C. L. Teorias médicas e gestão urbana: a seca de 1877-79 em Fortaleza..História,
Ciências, Saúde . Manguinhos, vol. 11(1): 57-74, jan.-abr. 2004.

DANTAS, Roberto, Nunes. A Seca de 1877/79. Algumas Considerações - Bahia e Ceará


http://www.portfolium.com.br/Sites/Canudos/conteudo.asp?IDPublicacao=91acessaso 23/ 09/
2011

SECRETARIA DE DEFESA CIVIL - MINISTÉRIO DO INTERIOR. Ocorrências Notificadas


SEDEC-Paraíba, In : http://www. defesacivil.gov.br/desastres/desastres/2009/ index . asp
Acesso 17/06/2010

VILLA, Marco Antônio. Vida e morte no sertão: História das secas no Nordeste nos séculos XIX e
XX. São Paulo: Ática, 2000. 269 p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 29


DIAGNÓSTICO DO USO E MANEJO DO SOLO NO MUNICÍPIO DE CURRAIS
NOVOS/RN - BRASIL

Natanael Santiago PEREIRA


Doutorando em Manejo de Solo e Água na UFERSA
natanaelsan@hotmail.com

Francisco GONÇALO FILHO


Mestrando em Manejo de Solo e Água na UFERSA
gonçalofilho.rn@gmail.com

RESUMO
O município de Currais Novos/RN está inserido em área susceptível à desertificação em categoria
muito grave, todavia, tem uma longa tradição agropecuária, particularmente com a pecuária leiteira,
estando situada na segunda bacia leiteira do estado. O objetivo com este trabalho foi elaborar um
diagnóstico acerca das atividades agrícolas desenvolvidas no município de Currais Novos/RN,
correlacionando os principais manejos atualmente adotados com os levantamentos
conservacionistas existentes a partir das informações sobre as atividades agropecuárias dos censos
agropecuários e dos órgãos governamentais ligadas ao setor, sendo assim possível enumerar os
principais problemas enfrentados e algumas das práticas de manejo e conservação do solo que
podem ser aplicadas com a finalidade de conservar e/ou melhorar as características produtivas dos
solos agrícolas do município.
Palavras-Chaves: Diagnóstico Agrícola; Desertificação; Manejo do Solo; Produção Sustentável.

ABSTRACT
The city of Currais Novos / RN is inserted into the area susceptible to desertification in very serious
category, however, has a long agricultural tradition, particularly dairy farming, being situated on the
second dairy region of the state. The aim of this study was to conduct a diagnosis about the
agricultural activities in the municipality of New Corrals / RN, correlating key managements
currently used with existing conservation surveys from the information on the agricultural activities
of agricultural censuses and government agencies linked to industry, making it possible to
enumerate the main problems faced and some of the management practices and soil conservation
that can be applied in order to preserve and / or improve the productive characteristics of
agricultural soils of the county.
Keywords: Agricultural diagnosis; desertification; Land Management; Sustainable Production.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 30


INTRODUÇÃO

O município de Currais Novos está inserido na região do Seridó que abrange Rio Grande do
Norte e Paraíba, sendo uma das maiores áreas sob processo de desertificação no semiárido
brasileiro. Segundo Santos et al. (2007) o desmatamento para o abastecimento de cerâmicas se
destaca entre os processos que podem intensificar a desertificação, pois expõe os solos já
susceptíveis a ações erosivas que são potencializadas pelas declividades elevadas comuns na região.
Esse núcleo envolve os municípios de Currais Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos
Dantas, Caicó, Jardim do Seridó e áreas de municípios vizinhos (SOBRINHO, 2002, p. 60).
Para o caso especifico da região do Seridó, em 1997, foi criado um grupo de estudo
interministerial para discutir os problemas da desertificação, denominado GEDS - Grupo de
Estudos sobre Desertificação no Seridó.
Para o enfrentamento em nível federal procurou-se integrar ações e programas dos vários
ministérios, considerando demandas de governos locais, da sociedade foi criado o Programa de
Ação Nacional de Combate a desertificação e mitigação dos efeitos da Seca – PAN BRASIL
(BRASIL, 2004); este fazendo parte compromissos frente à Convenção das Nações Unidas de
Combate à Desertificação e passa a contar com um instrumento norteador do processo de
transformação da realidade das áreas susceptíveis à desertificação, no âmbito das políticas de
desenvolvimento sustentável.
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó (RIO GRANDE DO NORTE, 2000),
aponta que o setor agropecuário, a bovinocultura de leite a atividade econômica de maior expressão
na região do Seridó, o mesmo plano enumera problemas na utilização dos recursos naturais, entre
eles o desmatamento das áreas de vegetação nativa; disponibilidade e armazenamento de água e
escassa dotação de recursos do solo.
Nesse sentido, o levantamento de informações sobre características físicas e das atividades
agrícolas na região podem colaborar para o diagnóstico e recomendações para o planejamento das
atividades desse setor no município, com a utilização de melhores práticas de manejo e conservação
do solo e da água e consequentemente colaborando para a manutenção/melhoria do potencial
produtivo dos solos.
Esse trabalho teve o objetivo de elaborar um diagnóstico a acerca das atividades agrícolas
desenvolvidas no município de Currais Novos/RN, correlacionando os principais manejos
atualmente adotados e com os levantamentos conservacionistas existentes; a partir das informações
sobre as atividades agropecuárias dos censos agropecuários e obtidas em órgãos governamentais,
sendo possível indicar os principais problemas enfrentados e algumas das práticas de manejo e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 31


conservação do solo que podem ser aplicadas, com a finalidade de conservar e/ou melhorar as
características produtivas das terras no município.

METODOLOGIA

Para a construção desse diagnóstico foram utilizadas informações sobre as atividades


agropecuárias do último censo agropecuário (IBGE, 2006) e da produção agropecuária municipal
do ano de 2011 (IBGE, 2012). Dados sobre a caracterização física, inclusive da aptidão das terras
foram obtidos de orgâos governamentais, como o IDEMA (Instituto de Desenvolvimento
Econômico e Meio Ambiente) e em artigos publicados. Demais dados e informações sobre
degradação/conservação e práticas indicadas foram obtidos a partir de consulta a livros e artigos
publicados.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

O município de Currais Novos está localizado na Microrregião do Seridó Oriental do estado


do Rio Grande do Norte entre 200 e 400 m de altitude, nas coordenadas 6º 15' 39" Sul e 36º 31' 04"
Oeste (FIGURA 1). Possui uma área aproximada de 864,344 km2 e população de 42.652 (IBGE,
2010).

Figura 1 - Localização do município de Currais Novos/RN.


Fonte: IDEMA (2008).

O clima é caracterizado como muito quente e semiárido. A precipitação pluviométrica


normal esperada é de 446,8 mm, a umidade relativa média anual de 64% e temperatura média de
27,5º, com máxima e mínima de 33 e 18ºC, respectivamente (IDEMA, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 32


Segundo o Plano Nacional de Combate a Desertificação – PNCD (BRASIL, 1998; 1999),
que define desertificação como a degradação dos solos nas áreas áridas, semiáridas e subúmidas
secas, resultante de vários fatores, incluindo variações climáticas e as atividades humanas, Currais
Novos está inserido em área susceptível à desertificação em categoria Muito Grave.
O município está inserido na Bacia Hidrográfica do rio Piranhas- Açu. Os solos
predominantes são os Litossolos Eutróficos (FIGURA 2), com alta fertilidade natural, textura
argilo/arenosa, argilosa ou arenosa, relevo plano, medianamente profundo imperfeitamente a
moderadamente drenados. A falta d‘água, erosão e o impedimento ao uso de máquinas devido ao
relevo, pedregosidade, rochosidade, como também devido a pequena profundidade são limitações
muito fortes ao uso agrícola. O município tem aptidão regular para pastagem natural, com pequenas
áreas isoladas indicadas para preservação da flora e da fauna ou para recreação (IDEMA, 2008).

Figura 2 – Mapa de solos do município de Currais Novos


Fonte: Oliveira & Cestaro (2012).

Em Currais Novos, segundo Bezerra Júnior & Silva (2007), os solos Litólicos Eutróficos
(atuais Neossolos Litólicos), ocorrem em topografia acidentado, associados ao afloramento de
rochas, tendo uma sequência de horizontes A-C-R, que não ultrapassam 50 cm de espessura até o
contato com a rocha.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 33


DIAGNÓSTICO DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS DESENVOLVIDAS

No município são adotados sistemas de manejo de baixo, médio e alto nível tecnológico,
sendo as terras utilizadas para na pecuária extensiva, rebanho suíno, criação de galináceos e em
culturas como manga, milho, feijão e batata doce, destacando-se na horticultura com a produção de
coentro, tomate, alface e pimentão, como também na produção de leite e ovos (IDEMA, 2008).
Por ocasião do último censo agropecuário (IBGE, 2006), o município de Currais Novos/RN
contava com 719 estabelecimentos agropecuários, totalizando 53.316 ha. Na Tabela 1 é apresentado
o uso da terra no município.

Hectares Estabelecimentos
Lavouras Temporárias 2237 379
Culturas Permanentes 73 23
Área plantada com forrageiras para corte 788 429
Pastagens Plantadas 398 35
Pastagens Naturais 38.799 480
Matas e/ou florestas naturais 1409 16
Área cultivada com espécies florestais também usadas para lavouras e
pastejo 1145 10
Aquicultura (lagos, tanques, açudes, etc.) 466 167
Terras degradadas (erodidas, desertificadas, salinizadas, etc.) 68 11
Inaproveitáveis para a agricultura 7328 171
Construções, benfeitorias ou caminhos 696 331
Tabela 1 – Utilização das Terras no município de Currais Novos/RN
Fonte: Censo agropecuário (IBGE, 2006).

A soma das áreas na Tabela 1 não corresponde exatamente ao total já informado de 53.316
ha dos estabelecimentos agropecuários, provavelmente, porque há sobreposição das áreas, já que
não estão discriminadas não apenas as culturas exploradas, mas também o seu estado de
conservação; além disso, entre as terras utilizadas para aquicultura estão incluídos também açudes
públicos.
Observa-se pela Tabela 1 que mais de 72% das áreas dos estabelecimentos agropecuários
(38.799 ha) são utilizados como pastagens naturais, enquanto que pouco mais de 2% das áreas
(1.186 ha) são de pastagens artificiais ou forrageiras para corte.
Para estimativa da capacidade de suporte forrageiro e consequente diagnóstico do uso das
pastagens foram utilizados coeficientes técnicos gerais e os recomendados por Araújo Filho (1996)
para a manipulação da Caatinga para fins pastoris: 0,25, 2,86, 3,57 e 12,5 ha/U.A./ano para
forrageiras, pastagens artificiais, pastagens naturais e áreas cultivadas com espécies florestais
usadas para pastejo, respectivamente. A partir destes coeficientes, estimou-se uma lotação máxima
de 14.246,62 U.A. (Unidade Animal).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 34


O efetivo de rebanho, por ocasião do último censo agropecuário (IBGE, 2006), é
apresentado na Tabela 2. Estimou-se um rebanho total de ruminantes próximo a 15.069,82 U.A.,
superior, portanto, a lotação máxima estimada anteriormente. No cálculo, não foram considerados
os restolhos das lavouras temporárias. Estes poderiam aumentar a capacidade forrageira, contudo,
considerou-se a sua utilização como suplemento à dieta dos animais, considerado um
aproveitamento de 100%, o que na prática não ocorre, nem é recomendado tendo em vista a
importância do retorno de parte dos restos como matéria orgânica ao solo, para a manutenção de sua
fertilidade do solo.

Estabelecimentos¹ Cabeça¹ U.A./Cabeça² U.A.²


Bovinos 543 11820 1 11820
Equinos 178 471 1,5 706.5
Asininos 340 518 1,5 777
Muares 132 201 1,5 301.5
Caprinos 182 4535 0,14 634.9
Ovinos 302 5928 0,14 829.92
Suínos 215 1423 - -
Aves 494 55381 - -
Outras aves 341 909 - -
Tabela 2 - Efetivo de rebanho
¹Fonte: Censo agropecuário (IBGE, 2006).
²Coeficientes técnicos gerais para o cálculo do rebanho total de ruminantes.

Deve-se salientar que embora as pastagens plantadas e forrageiras tenham uma contribuição
relativamente menor se comparada às pastagens naturais, se bem manejadas permitem um efetivo
de rebanho de 2 a 3 vezes maior que o estimado (3.291,3 U.A.), o que reduz ou até elimina o déficit
entre a capacidade forrageira e o potencial de lotação máxima. Por outro lado, para as pastagens
cultivadas, segundo o censo agropecuário (IBGE, 2006), em torno de 7% (29 ha) estariam
degradados. Aplicando-se este mesmo potencial de degradação para as pastagens naturais, reduz-se
a lotação em mais de 760 U.A.
Dessa forma, simularam-se diferentes situações de degradação das pastagens naturais e o
potencial de lotação resultante (Tabela 3). Esta estimativa é conveniente, particularmente para o
município de Currais Novos/RN, pois está inserido na região do Seridó, a qual foi diagnosticada
como a mais atingida pela desertificação no estado do Rio Grande do Norte. Caso a capacidade de
lotação seja superestimada, a degradação se acelera, reduzindo ainda mais a capacidade de lotação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 35


0% 7% 14% 21% 28%
0 760,46 1520,92 2281,38 3041,84
Tabela 3 – Simulação do decréscimo do potencial de lotação animal (U.A.) em função do percentual de
degradação

A partir da simulação apresentada na Tabela 3, estima-se um potencial de lotação entre


11.204,78 e 14.246,62 U.A., retornando um déficit de alimentação de 823,2 a 3865,04 U.A. As
estimativas de degradação apresentadas na Tabela 3 parecem ser razoáveis, pois, diferentes
problemas ambientais ligados às atividades econômicas do município vêm sendo relatados ha
tempos; a exemplo de Oliveira (2012) que cita o uso intensivo do solo pelas atividades de pecuária
que associado ao clima semiárido condicionaram à perda da capacidade produtiva do solo.
As produções dos produtos de origem pecuária podem ser consideradas razoáveis, apesar
das limitações apontadas. Pela Tabela 4, calcula-se uma produção de leite equivalente a 1.620
L/vaca/ano, pelo levantamento anual de produção agropecuária do ano de 2006 (IBGE, 2012),
superior, portanto, a produtividade da pecuária leiteira brasileira no mesmo ano (1.596 L/vaca/ano)
(IBGE, 2006). Isso confirma a tradição da região com a pecuária leiteira, como relatado no Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Seridó (RIO GRANDE DO NORTE, 2000), que já colocava a
bovinocultura de leite a atividade econômica de maior expressão no Seridó, com um rebanho em
constante melhoramento, sendo a região também a segunda bacia leiteira do estado.

Produção Unidade
Leite de vaca 10.574 Mil litros
Ovos de galinha 1.537 Mil dúzias
Mel de abelha 5.394 kg
Tabela 4 - Produção¹
¹Fonte: Produção Agropecuária (IBGE, 2012). ²6.527 vacas ordenhadas.

Uma área bem menos significativa é utilizada para as culturas permanentes (0,1%) e
lavouras temporárias (4,2%) (Tabela 1). Na Tabela 4 são apresentados os produtos da lavoura, a
partir do levantamento anual de produção agropecuária do ano de 2011 (IBGE, 2012).
Normalmente são escolhidas as melhores terras para a lavoura, o que explica as
produtividades apresentadas na Tabela 4 próximas à média nacional de culturas tradicionais como
feijão (718 kg/ha) e milho (3.606 kg/ha), pelo censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2006).
O censo agropecuário de 2006 de Currais Novos/RN (IBGE, 2006) fornece ainda um
indicativo sobre as práticas de manejo e conservação do solo. Segundo o levantamento, 91
estabelecimentos agropecuários existentes utilizam o cultivo convencional (aração mais gradagem),
249 apenas o cultivo mínimo e 3, o cultivo direto na palha.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 36


A conservação da palha na superfície, como vai ser discutido mais adiante, pode ser uma
boa alternativa para redução do risco de degradação das terras, por proteger o solo, reduzindo a sua
erodibilidade, além de mitigar os efeitos das sazonalidades climáticas, conservando por mais tempo
a umidade do solo, entre outros efeitos benéficos, com reflexos sobre a produtividade das culturas.

Área Quantidade Rendimento Valor da


colhida Área plantada produzida médio produção
(ha) (ha) (Mg) (kg/ha) (Mil Reais)
Lavoura Permanente
Banana 5 5 90 18.000 108
Castanha de 24 24 10 416 10
caju
Coco-da-baía 72 72 331² 4.597 165
Goiaba 11 11 66 6.000 66
Limão 2 2 9 4.500 7
Mamão 10 10 375 37.500 187
Manga 60 60 510 8.500 178
Maracujá 6 6 36 6.000 43
Lavoura Temporária
Batata doce 10 10 95 9.500 71
Feijão 310 310 125 900 312
Melancia - 5 150 30.000 45
Milho 315 315 171 3.420 85
Tomate 35 35 525 15.000 315
Tabela 5 – Lavoura Permanente e Temporária no município de Currais Novos/RN.
¹Fonte: Produção Agrícola Municipal (IBGE, 2012). ²Mil frutos.

Foram produzidos 53 t de carvão e extraídos 7.230 m³ de lenha no ano de 2011, segundo a


estatística de produção da extração vegetal e silvicultura (IBGE, 2012). Boa parte da madeira
extraída é, provavelmente, destinada à alimentação de fornos de mais de 80 fábricas de cerâmicas
na região, sendo a vegetação desmatada sem o controle do IBAMA (BEZERRA et al., 2011), o que
pode estar intensificando os fenômenos de degradação dos solos na região.

RECOMENDAÇÕES DE MANEJO

A partir das informações e considerações sobre as atividades agrícolas desenvolvidas no


município de Currais Novos/RN, podemos afirmar que ocorre um sobrepastejo que, provavelmente
acentua e acelera a degradação do solo e das pastagens e das pastagens nele implantadas.
Algumas práticas podem ser adotadas com o objetivo de aumentar a oferta de forragem,
como o melhoramento das pastagens alternativas e uso de alternativas alimentares, como forma de
suplementação, principalmente no período seco do ano (MORAIS & VASCONCELOS, 2007).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 37


A conservação e manutenção das pastagens, contribuindo para que se alcance a taxa de
lotação animal correta e fazendo uso de adubação, para reposição de nutrientes, ou mesmo para a
recuperação dos solos já esgotados, poderão contribuir para a manutenção ou melhoramento do
potencial produtivo do solo.
Várias tecnologias de convivência com o semiárido para a conservação de água já foram
desenvolvidas e precisam ser aplicadas com maior frequência, priorizando-se as áreas mais
atingidas pela seca; nesse sentido, práticas conservacionistas devem ser obrigatoriamente adotadas,
seja para a manutenção da sua fertilidade, por reduzir a perda de solo (em especial da camada
superficial, mais fértil), como também para a conservação da umidade, por maior tempo,
favorecendo o crescimento vegetal.
Santos et al. (2007) socializou experiências positivas de contenção de solo e água
subterrânea no Seridó do Rio Grande do Norte, realizadas pela EMATER-RN, com recursos do
Ministério da Ciência e Tecnologia; estas ações consistiram na construção de renques de pedras,
barramentos assoreadores e barragens subterrâneas (valores entre parênteses correspondem às
tecnologias construídas em Currais Novos): 519 barramentos (352) e 102 (55) barragens
subterrâneas, com 250 propriedades beneficiadas, sendo 170 no município de Currais Novos.
Segundo os autores, as barragens subterrâneas permitem o cultivo de culturas de subsistência além
de viabilizar poços e cacimbas a montante das mesmas e pequenas áreas de irrigação de hortaliças.
Além disso, podem contribuir significativamente na redução dos processos erosivos e na
conservação da água nas propriedades do Seridó. A construção de barragens subterrâneas poderá ser
feita de maneira a potencializar os sistemas agro-pastoris, tendo por base o mapa de capacidade de
uso e do diagnóstico sócio-econômico (SILVA, 2010).
A recuperação das áreas já atingidas pela degradação deve passar por melhorias das
condições do solo, com a reconstituição da vegetação original. Oliveira (2001) recomenda a
combinação de práticas edáficas e de reflorestamento conservacionista para a erosão foi mais
severa, com parte do horizonte superficial já erodido.
Entre as práticas conservacionistas, atenção especial deve ser dada ao terraceamento, se
adotado isoladamente, pois mesmo quando adequadamente construídos, existe o risco de serem
eventualmente destruídos no médio e longo prazo, e neste caso, a sua reconstrução dificilmente
seria possível em solos rasos, comuns no município de Currais Novos/RN, como já mencionado.
A utilização de cordões de pedra em contorno faz diminuir o volume e velocidade das
enxurradas, reduzindo também a exportação de sedimentos da área e melhorando a infiltração e o
armazenamento de água, pelo que formam patamares naturais (OLIVEIRA, 2001). Parece ser
bastante adequada ao município de Currais Novos, particularmente nas áreas em que são comuns os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 38


afloramentos rochosos, sendo bastante adequados às pequenas propriedades, havendo mão-de-obra
disponível.
Outras práticas de controle edáfico podem ser indicadas, como a construção de canais de
drenagem superficial, com a finalidade de conduzir os volumes concentrados de água das
enxurradas, evitando a erosão; utilização de barreiras de árvores e arbustos como quebra ventos,
reduzindo a erosão eólica e concorrendo para a conservação da umidade e diminuição da
evapotranspiração das culturas (OLIVEIRA, 2001).
O plantio direto na palha ou pelo menos o preparo mínimo do solo devem ser incentivados.
A proteção da superfície do solo protege a fauna microbiana do solo da elevada radiação na região,
diminuindo as oscilações de temperatura na superfície. Contribui ainda para conservação da
umidade do solo, dos efeitos erosivos das chuvas, além de exercer um controle sobre as ervas
daninhas (OLIVEIRA, 2001).
A adubação mineral, adubação verde e a reutilização dos resíduos das propriedades, por
meio da compostagem devem ser apropriadas pelos produtores, a fim de garantir a ciclagem e
reposição dos nutrientes, principalmente onde se pratica a pecuária intensiva e culturas hortícolas,
com grande potencial de extração de nutrientes, evitando o empobrecimento do solo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das informações sobre as atividades agropecuárias dos censos agropecuários e


obtidas em órgãos governamentais, foi possível indicar os principais problemas enfrentados e
algumas das práticas de manejo e conservação do solo que podem ser aplicadas, com a finalidade de
conservar e/ou melhorar as características produtivas das terras no município de Currais Novos/RN.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, J. M. SILVA, P. C. M.; LOPES, MORAIS, C. T. S.; BATISTA, R. O.; ANDRADE, L.


M. Utilização de geotecnologias na obtenção de indicadores de desertificação para o rio grande
do norte. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 8, n. 4, p. 222-241, 2011.

BEZERRA JÚNIOR, J. G. O.; SILVA, N. M. Caracterização geoambiental da microrregião do


Seridó oriental do Rio Grande do Norte. Holos, 23, Vol. 2, p.78-91, 2007.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - MMA.
Desertificação. In: CONFERÊNCIA DAS PARTES DA CONVENÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO, 3, Brasília, 23p, 1999.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 39


BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - MMA.
Mapa de ocorrência de desertificação e áreas de atenção especial. Brasília, Plano Nacional de
Combate à Desertificação, 1998.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretária de Recursos Hídricos. Programa de ação


nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília,
DF, 2004. 213 p.

IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTÁTÍSTICA. Produção Agrícola


Municipal 2011. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <<http://www.ibge.gov.br>.
Acesso em 18 de junho de 2013.

IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário


2006. IBGE, 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 de junho de 2013.

IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pecuária 2006. Rio de


Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240310&search=rio-grande-do-
norte|currais-novos|infograficos:-informacoes-completas>. Acesso em: 18 de junho de 2013.

IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População 2010.


Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 18 de junho de 2013.

IDEMA-INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE. Perfil do


seu município. Currais Novos v.10 p.1-23, 2008. Disponível em <
http://www.idema.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/idema/socio_economicos/enviados/perfil
_c.asp#curraisnovos>. Acesso em: 18 de junho de 2013.

MORAIS, D. A. E. F.; VASCONCELOS, A. M. Alternativas para incrementar a oferta de


nutrientes no semi-árido brasileiro. Revista Verde. Mossoró, RN, v.2, n.1, p. 01-24, 2007.

OLIVEIRA, A. V. L. C. Zoneamento geoambiental como subsídio ao planejamento territorial


municipal: estudo de caso para Currais Novos/RN. UFRN: Natal, 2012. 109p. (Dissertação de
mestrado).

OLIVEIRA, J. B. Manual técnico operativo do PRODHAM. Fortaleza: SRH, 2001. 177p.

RIO GRANDE DO NORTE (RN). Secretaria de Planejamento e Finanças. Instituto Interamericano


de Cooperação para a Agricultura – IICA. Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Seridó.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó: estratégias, programas e projetos e sistema de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 40
gestão. Caicó: Secretaria de Estado do Planejamento e das Finanças, 2000. ESTRATÉGIA,
Programas e Projetos e Sistema de Gestão. Natal: SEPLAN/IICA, 2000. v. 2.

SANTOS, S. C. L., MEDEIROS, J. F. D., MESQUITA, L. X. D., OLIVEIRA, F. D. A. D., &


MARACAJÁ, P. B. Tecnologias para contenção de solo e água subterrânea: uma experiência de
extensão rural na região do Seridó-RN. Informativo Técnico do Semi-Árido, v. 1, n. 1, 2010.

SOBRINHO, J. V. Desertificação no Nordeste do Brasil. Recife: UFPE, 2002.

SILVA, D. D. C. Aplicação e análise de metodologia de deterioração ambiental em micro-bacia do


Seridó Potiguar. UFRN: Natal, RN. 185p. (Dissertação de mestrado).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 41


AS COOPERATIVAS MINEIRAS NA BOLÍVIA: ASPECTOS EDUCATIVOS E
ECONÔMICOS DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

Renan Dias OLIVEIRA1


Professor de Sociologia e História no Ensino Básico e estudante de Filosofia na
Universidade de Franca
renandoliveira@yahoo.com.br

Marco Aurélio Maia Barbosa OLIVEIRA FILHO2


Coordenador técnico de projetos no Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos,
Formação e Intervenção em Economia Solidária (NuMI-EcoSol)
mambofilhopanda@gmail.com

RESUMO
A atividade mineira é muito antiga no continente sul-americano e constitui importante fonte de
renda para trabalhadores da região, principalmente na Bolívia. É sabido que a extração de minérios
é uma prática que causa danos ao ambiente natural, devido à sua necessária maneira de perfurar a
terra em busca de metais. Outro fator central da atividade mineradora é no que toca às condições de
trabalho dos mineiros. Este estudo buscou se centrar nesses dois eixos (impactos ambientais e
condições de trabalho) da atividade mineradora, desenvolver um estudo de caso em minas e
cooperativas de trabalho bolivianas e apontar como a organização dos trabalhadores mineiros tem
reconfigurado padrões clássicos de produção a fim de tornar a atividade menos impactante ao
ambiente natural e mais adequada à saúde e ao trabalho humano.
Palavras-chave: mineiros, cooperativismo, Bolívia.

ABSTRACT
The mining activity is very old in South America and is an important source of income for workers
in the region, especially in Bolivia. It is known that mineral extraction is a practice that causes
damage to the natural environment due to its necessary way to pierce the earth in search of metals.
Another central factor in mining activity is in relation to the working conditions of miners. This
study sought to focus on these two axes (environmental and working conditions) of the mining
activity, develop a case study in mines and Bolivian cooperatives work and point out how the
organization of the miners have re-set classic patterns of production in order to make the activity
less harmful to the natural environment and most appropriate health and human labor.
1
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e em História pela Universidade
de Franca (UNIFRAN), mestre em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP);
2
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), mestre em Sociologia pela
Universidade
2
Estadual Paulista (UNESP).
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), mestre em Sociologia pela
3
Universidade
Orientadora.Estadual Paulista (UNESP).
4
Bacharel em Serviço Social (FATERN). Especialista em Gestão Pública Ambiental (FATERN).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 42
Keywords: mining, cooperative, Bolivia

INTRODUÇÃO

A grande maioria das companhias mineiras do continente sul-americano é estrangeira. A


bolsa de valores de Toronto (Canadá) incorpora 60% de todas as empresas mineiras do mundo.
Toronto não impõe condições às operações das companhias de minério fora do Canadá e, mais
ainda, o governo canadense apoia política e economicamente tais empresas, apesar da contaminação
ambiental e das violações dos direitos humanos que provocam. Nos últimos anos, as operações de
minério financiadas por investidores canadenses se multiplicaram e constituem grande fonte de
riqueza para a economia canadense (RENSHAW, 2010).
A indústria mineira se transformou muito. Hoje a tecnologia se baseia na recuperação de
quantidades proporcionalmente mínimas de metal à base de processar quantidades enormes de
mineral, em uma área muito extensa. As minas de hoje são crateras enormes, de centenas de metros
de profundidade, que devoram montanhas inteiras. O problema imediato da atividade mineira é a
separação do metal. O cianureto é um elemento fundamental nesta nova tecnologia de minas a céu
aberto. Usa-se para que o lixo boie, deixando o metal à parte e, dessa forma, é um processo eficaz.
Entretanto, o cianureto é extremamente tóxico.
Se entrar no sistema de água, vastos terrenos agrícolas podem ficar contaminados. Muitas
minas na Bolívia se estabelecem em zonas com pouca água. Em alguns casos, rios podem ser
contaminados e prejudicar o abastecimento de águas inclusive para grandes cidades. Os governos
do Peru e do Chile tem se omitido frente a proibições constitucionais contra a atividade mineira. A
mina de Pascua Lama, por exemplo, que se encontra entre Chile e Argentina, destrói geleiras, fonte
importante de água para o país (RENSHAW, 2010).

METODOLOGIA

Os referenciais teóricos da economia solidária podem nos servir de referência no intuito de


compreender como tem se forjado novas formas de produção mais sustentáveis na América do Sul,
particularmente na Bolívia. Este trabalho se fundamentou em visitas às cooperativas mineiras na
região de Potosí, Bolívia, e consequente sistematização bibliográfica. O resgate das tradições
culturais e religiosas das comunidades diretamente a mineração casam-se com estas novas formas
de produção, e assim buscam apontar para novas formas mais sustentáveis e solidárias de
desenvolvimento da atividade mineira.

ECONOMIA SOLIDÁRIA E COOPERATIVISMO

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 43


O século XXI exige novos padrões de produção e consumo, formas mais sustentáveis e
solidárias, que respeitem a capacidade regenerativa da Terra e todas as formas de vida. Em todo
mundo, comunidades indígenas afetadas pela indústria mineira se unem a outras organizações da
sociedade civil para se opor a atividade predatória mineira e levantar bandeiras de responsabilidade
social e ambiental. Uma grande conquista foi em setembro de 2008 quando organizações de toda a
América Latina se reuniram em Bogotá, Colômbia. A declaração final desse encontro convida a
uma ação em nível continental contra a atividade predatória mineira. Na Bolívia, nos últimos anos,
o governo tem sido mais exigente com as companhias mineradoras. As fiscalizações e as multas
aumentaram e os acidentes, antes muito frequentes, diminuíram.
Concomitante a uma atitude governamental condizente com o documento de Bogotá, as
instituições da sociedade civil e os movimentos populares ligados à mineração têm buscado
articulações mais amplas para resistir ao modelo predatório mineiro. Desde as ONGs de apoio
técnico aos sindicatos, que tem uma longa jornada em defesa dos direitos humanos, passando por
outros setores tem apoiado um padrão sustentável e solidário na mineração. Novas cooperativas de
trabalhadores apontam que as comunidades envolvidas com a mineração sempre respeitaram o
ambiente natural. As cosmovisões e práticas indígenas (principalmente quéchua) encaram as minas
como presente de Pacha Mama (Mãe Terra) e por isso devem ser respeitadas e nunca saturadas, o
que certamente se choca com a voracidade das grandes mineradoras.
A Economia Solidária é um movimento social que se estabelece, enquanto tal, em meados
dos anos 1970, decorrente, fundamentalmente, da crise que se instaura no modo de produção
capitalista (calcado no modelo keynesiano-fordista), da crítica ao padrão de desenvolvimento
(baseado no crescimento econômico) e do fracasso das experiências socialistas de modelo soviético.
Este movimento se constitui numa recuperação do debate do movimento operário do século
XIX, quando da emergência do capitalismo industrial e do surgimento das primeiras cooperativas
como forma de reação da classe operária por melhores condições de trabalho e qualidade de vida,
contando, de igual modo, com a influência dos movimentos contraculturais do final da década de
1960, nos quais inúmeros movimentos sociais e étnicos trouxeram uma nova visão da dimensão
social, da sua relação com o econômico e da relação do homem com o meio ambiente. As
cooperativas, cuja estruturação obedecia aos valores básicos do movimento operário, de igualdade e
democracia, sintetizados na ideologia socialista, eram tentativas por parte dos trabalhadores de
recuperar trabalho e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas resultantes da
Primeira Revolução Industrial (SINGER, 2002; 2003).
Deste modo, subvertendo os princípios básicos do capitalismo de propriedade privada dos
meios de produção e da divisão do trabalho (em intelectual e manual fundamentalmente), e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 44


abolindo a figura do patrão (estabelecendo a democracia nas decisões no âmbito do
empreendimento), as cooperativas podem se configurar em formas socialistas de organização para o
trabalho dentro do sistema capitalista. Outra característica fundamental das cooperativas é a sua
relação com a comunidade, pois estas apresentam maior preocupação em desenvolvê-la de modo a
criar melhor qualidade de vida às pessoas que dela fazem parte. A preocupação com a comunidade,
assim como a ajuda mútua, responsabilidade social, igualdade, solidariedade, entre outros, está
presente nos princípios norteadores da atividade cooperativa (NOVAES, 2011).
No entanto, o capital acabou por incorporar o trabalho cooperativista (desvirtuando seus
princípios) com o intuito de diminuir custos de produção e tornar as empresas mais competitivas
por meio de um artifício denominado terceirização, sobretudo a partir do processo de reestruturação
do capitalismo a partir dos anos de 1970. Neste caso, portanto, a busca das empresas por escapar
das obrigações sociais (adquiridas em tempos anteriores pelos trabalhadores nas relações de
assalariamento), no intuito de obter mão-de-obra mais barata e tornarem-se mais competitivas,
propiciou a utilização do trabalho autogestionário em cooperativas de trabalho e de produção
industrial. Este, ainda que tenha se originado no seio do movimento operário em luta contra a
exploração capitalista, passou a ser apropriado pelo capital como forma de empresa capitalista
alternativa capaz de diminuir custos de produção, proporcionando a valorização do capital ao
mesmo tempo em que torna a situação do trabalhador mais precária (SINGER, 2002; 2003).
Embora possam contar com vantagens ao trabalhador que desempenha este tipo de
atividade, concentrando os poderes de decisão sobre a atividade produtiva nas mãos dos
trabalhadores (e não sobre a vontade e ganância de agentes externos que impõem a dinâmica
capitalista de lucro e de altas produtividades sobre os trabalhadores), tendo, do mesmo modo, uma
maior preocupação com o entorno do local de trabalho (as minas) no que diz respeito a uma maior
preocupação com o meio ambiente, desenvolvimento da comunidade e a preservação das culturas
tradicionais (a atividade mineradora é muito antiga em algumas regiões da Bolívia), que são
ameaçadas quando o controle da produção cabe a agentes externos (geralmente multinacionais), as
cooperativas de mineração também podem estar ligadas à lógica do modelo capitalista, o que pode
implicar ainda em maiores danos ao trabalhador, uma vez que este perde a seguridade dos direitos
trabalhistas (por exemplo, não há quem se responsabilize em relação à saúde deste trabalhador e em
caso de acidentes), uma vez que a relação deste, como sócio de uma cooperativa, é de trabalhador
autônomo, fator este que termina por dês-responsabilizar àqueles que se apropriam dos excedentes
do trabalho.
Deste modo, nos deparamos com dois tipos básicos de cooperativas, que são àquelas ligadas,
funcionalmente, ao modo de produção capitalista, e àquelas ligadas ao movimento operário, que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 45


visam outro tipo de relações econômicas e que estão comumente ligadas ao movimento de
Economia Solidária.

O TRABALHO MINEIRO

Tornou-se notório, em todo o mundo, o acidente ocorrido na jazida San José, em Copiapó,
localizada no deserto do Atacama chileno, no qual 33 mineiros (sendo 32 chilenos e um boliviano)
permaneceram presos a 700 metros de profundidade por 69 dias, tendo sido resgatados em outubro
de 2010. No entanto, a despeito de toda a mobilização midiática em torno do ocorrido, centrada na
expectativa de resgate dos trabalhadores, que demonstrou um pouco do que se passa com o setor da
mineração, tal como os riscos e impactos desta atividade aos trabalhadores e ao ambiente, e da
promessa do presidente chileno Sebastian Piñera (que assumiu o cargo em março de 2010) tenha
prometido modificar as leis trabalhistas para melhorar as garantias de trabalho nas jazidas, medidas
efetivas ainda não foram tomadas no intuito de evitar a ocorrência de novos acidentes.
O Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) informou que os acidentes
mais comuns ocorrem pela queda de placas, desmoronamentos e explosões. Quatro dos 10 acidentes
que ocorreram nos últimos quatro anos aconteceram somente em 2011, segundo a estatística do
Sernageomin, todas no norte do Chile. Durante o ano de 2010, a região de Atacama foi a região
com maior quantidade de acidentes fatais na mineração, foram 13 de 45. As 45 mortes de
trabalhadores aconteceram em 41 acidentes, enquanto em 2009 houve 35 falecimentos e, em 2008,
43.
Um grande exemplo de precariedade existente no trabalho de mineração pode ser encontrado
na situação dos ―pirquineros‖, que são trabalhadores que realizam a extração do minério de forma
artesanal, uma vez que não utilizam qualquer tipo de equipamento de segurança, arriscando suas
vidas neste trabalho. Esses mineradores vendem o resultado do trabalho para cooperativas que
revendem, por sua vez, à Empresa Nacional de Mineração no Chile. Ser "pirquinero" não é
considerado ilegal no país, e a atividade destes trabalhadores representa 7,5% da produção mineira
no Chile (http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/798193-mineradores-artesanais-no-
chile-arriscam-a-vida-por-dinheiro-assista.shtml).
A mineração chilena conta com 82,9% de recursos estrangeiros autorizados, com um total de
23 iniciativas por um montante de US$ 1,98 bilhão. Segundo a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), já ocorreram mais de 200 acidentes semelhantes na América Latina. O setor
mineiro emprega cerca de 1% da força de trabalho do mundo, e produz 8% dos acidentes laborais
graves. Além disso, a atividade mineradora na Bolívia representa, segundo dados levantados em
2006, 4,5% do Produto Interno Bruto do País (PIB) e ocupa apenas 1,5% da população, sendo que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 46


nos anos de 1970 contribuía com mais de 13% do PIB e ocupava 4% da população ativa. No
entanto, embora a contribuição considerada baixa ao PIB, as exportações mineras representam mais
de 25% do total de exportações do país (MICHARD, 2008).
Uma das características deste setor no país diz respeito à importância do setor cooperativista
dentro do setor minero em sua totalidade, pois se estima que o número de cooperativas alcance
aproximadamente 60 mil pessoas, representando 90% da ocupação minera nacional (MICHARD,
2008).

ECONOMIA SOLIDÁRIA NA BOLÍVIA

O movimento de Economia Solidária (e de comércio justo) possui um campo bastante


fecundo para se desenvolver em meio às culturas originárias da Bolívia, pois estas, em sua grande
parte (como a aimará e a quéchua, por exemplo), sendo a grande maioria pertencente ao meio rural,
vivem em pequenas comunidades nas quais se praticam a solidariedade, a reciprocidade e a
equidade, preocupando-se em viver em harmonia entre ela e com a natureza. Pode-se dizer que as
práticas culturais de povos tradicionais, com raízes indígenas, viaibilizam os princípios
fundamentais que constituem a Economia Solidária, nas quais podem ser descritas práticas
concretas tais como: o comércio comunitário, que se desenvolve em feiras rurais locais e
suburbanas, onde pode-se inclusive presenciar o intercâmbio de produtos sem a intervenção da
moeda; a auto-ajuda comunitária como a ―mink’a‖, o ―ayni‖, etc. (MALLCU, 2007).
Em relação às práticas ayni e mink’a, é somente por meio dos princípios da
complementaridade e da reciprocidade que se pode compreendê-las. A forma mais conhecida de
reciprocidade laboral é o ayni, que em sua raiz significa a ajuda mútua recíproca (o ayni é trabalhar
complementando-se constantemente). No momento da semeadura ou da colheita, os demais
membros do ayllu ajudam a um comunário; mas também, como retribuição recíproca, este também
lhes ajudará aos demais no momento oportuno. Mink’a é a forma de trabalho comunitário para um
bem comum, tal como uma estrada, canais de irrigação, construção de uma escola ou o manejo de
uma tenda comunitária, que se baseia também no princípio de reciprocidade: cada membro da
comunidade dá algo de seu esforço, para que o bem comum realizado esteja ao alcance de cada
membro (CÂMARA, 2011).
Ayllu, por sua vez, é a estrutura sócio-territorial matriz dos povos andinos. De acordo com
Stermann (2006, apud CÂMARA 2011):

Nos Andes, a entidade coletiva fundamental (poderíamos mesmo dizer ‗transcendental‘) e a


base imprescindível da identidade é o ayllu, a unidade étnica das comunidades campesinas.
O ayllu não é uma categoria puramente genealógica (família extensa), nem uma entidade
exclusivamente sócio-política. O ayllu é célula da vida, o átomo celebrativo e ritual, mas
também a base econômica de subsistência e de trocas internas (p. 16).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 47


Tal estruturação advém da própria dinâmica natural do espaço habitado pelas comunidades
originárias, e do estabelecimento, por estas, de uma relação de complementaridade entre os distintos
pisos ecológicos – altiplano, vales, yungas, planícies e costa – espaços ecológicos interconectados e
complementários climatológica e produtivamente, fato que não foi compreendido pela lógica
colonialista e republicana, e menos ainda pelo direito positivo privatista e pelo sistema de economia
de mercado vigente na Bolívia (Yampara, 2001, apud CÂMARA 2011). A relação de
complementaridade entre homem e natureza permite aos povos andinos o exercício de construção
de toda uma racionalidade que se faz presente na constituição do ayllu. A lógica andina se expressa
através de uma série de princípios fundamentais que são a base para suas manifestações materiais,
dos quais destacam-se os princípios da complementaridade e da reciprocidade (CÂMARA, 2011).
São práticas culturais ainda vivas no interior das diversas culturas da Bolívia, praticas
desenvolvidas por povos originários indígenas desde tempos remotos, tendo como princípio o bem
estar social de seus habitantes. De acordo com Câmara (2011), ―são práticas que possuem potencial
de rompimento com a lógica individualista imposta pela modernidade ocidental‖ (p. 18).

CONCLUSÕES

Os governos, principalmente os mais progressistas, podem e devem fomentar políticas


publicas que desenvolvam os setores da Economia Solidária na América do Sul. No caso boliviano,
uma necessidade do setor se refere à qualificação profissional. Deste modo, uma das contribuições
que podem ser despendidas pelo governo nacional são os planos setoriais de qualificação (em
economia solidária e cooperativismo, e também no ramo da atividade desenvolvida), assim como
fomentar educação e saúde para as comunidades. Um dos objetivos, em termos de política setorial
no campo da Economia Solidária, deve ser o de promover ações para o desenvolvimento de
atividades de geração de trabalho e renda nessas comunidades e territórios que possuam potencial
para atividades econômicas, estimulando em especial a organização de empreendimentos coletivos
solidários.
Acredita-se que o estímulo governamental pode favorecer a iniciativas solidárias dos
trabalhadores mineiros bolivianos. Mas sabe-se que somente sua organização autônoma e
combativa pode manter empreendimentos geridos pelos próprios trabalhadores. Os povos
bolivianos, mais especificamente os trabalhadores mineiros, por anos subjugados pelas grandes
mineradoras estrangeiras podem vislumbrar um futuro que objetive superar o trabalho alienado e a
exploração. O resgate de aspectos originários das culturas locais pode indicar para a construção de
formas mais sustentáveis e solidárias de produção no século XXI.

REFERÊNCIAS
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 48
CÂMARA, Marcelo Argenta. Movimentos Sócio-Territoriais e a construção de territorialidades
contrahegemônicas na Bolívia – uma contribuição desde a Geografia para o estudo dos
movimentos sociais. Disponível em: http://alter-latina.com/blog/wp-
content/uploads/2011/03/Territorialidades-contra-hegemonicas-na-Bol%C3%ADvia.pdf. Acesso
em: 20/01/2011.

MICHARD, Jocelyn. Cooperativas mineras em Bolivia – Formas de organización, producción y


comercialización. Cochabamba (Bolívia): Centro de Documentación y Información Bolivia –
CEDIB, 2008.

MALLCU, Alicia Canaviri. Informe preliminar sobre el avance del movimiento y La plataforma
multisectorial de promoción y desarollo de la economia solidaria y El comercio justo em
Bolivia. La Paz (Bolívia), 2007. http://www.facesdobrasil.org.br/midiateca/doc_details/265-
economia-solidaria-comercio-justo-en-bolivia-.html. Acesso em 25/01/2011.

NOVAES, Henrique (Org). O Retorno do Caracol à Sua Concha: alienação e desalienação em


associações de trabalhadores. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2011.

RENSHAW, Richard. Minas que devoram montanhas. Agenda Latino-Americana, São Paulo;
Editora Ave-Maria, 2010.

SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.

__________; SOUZA, André Ricardo (Orgs.). A Economia Solidária no Brasil – A autogestão


como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2003.

Sites consultados:

http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2011/03/02/onze-mineiros-morrem-no-chile-apos-
resgate-dos-33-de-atacama.jhtm. Acesso em 10/03/2013.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/798193-mineradores-artesanais-no-chile-
arriscam-a-vida-por-dinheiro-assista.shtml. Acesso em 05/02/2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 49


PLANEJAMENTO E RISCOS AMBIENTAIS URBANOS

Rildo Aparecido COSTA


Docente do Curso de Geografia da FACIP – Universidade Federal de Uberlândia
rildocosta@pontal.ufu.br

Emmeline Aparecida Silva SEVERINO


Discente do Curso de Geografia da FACIP – Universidade Federal de Uberlândia
emmelineseverino@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo abordar a profundidade do lençol freático nas áreas urbana e de
expansão urbana de Caldas Novas (GO), localizada no Sul Goiano, mais especificamente na
Microrregião Meia Ponte. Esta cidade conheceu nas últimas três décadas um crescimento acelerado
e praticamente sem nenhum planejamento, principalmente em relação ao meio físico. As
informações levantadas da profundidade do lençol é um aspecto importante no processo de
avaliação do meio físico para fins de uso e ocupação. Utilizou-se, para confecção do mapa de nível
da água freática (1: 25.000) a metodologia proposta por Nishiyama (1997), onde foi possível definir
quatro classes (0 – 2m; 2 – 5m; 5 – 10m e > 10m). Observou-se que aproximadamente 60% das
áreas urbana e de expansão urbana estão localizadas onde a profundidade do lençol freático está
entre 0 e 5 metros apontando uma fragilidade ambiental em relação ao uso e ocupação. Portanto,
esse cenário de fragilidade acaba por comprometer a qualidade de vida da população,
principalmente sobre dois aspectos ambientais: os resíduos sólidos urbanos, que são depositados em
um ―lixão‖, como também no carreamento e deposição do esgoto produzido pela cidade, sendo que
em sua maioria estão depositados em fossas (maioria tipo sumidouros).
Palavras-Chave: Água Freática; Crescimento Urbano; Fragilidade Ambiental.

ABSTRACT
This work aims to address the depth of groundwater in urban areas and urban expansion of Caldas
Novas (GO), located in southern Goiás, specifically in the Meia Ponte Microregion. This city has
known for three decades accelerated growth and virtually no planning, especially in relation to the
physical environment. The information gathered from the depth of water is an important aspect in
the evaluation of the physical environment for use and occupation. Was used for making up the map
of groundwater level (1: 25,000) the methodology proposed by Nishiyama (1997), where it was
possible to define four classes (0 - 2m 2 - 5m, 5 - 10m and> 10m). It was observed that
approximately 60% of urban areas and urban expansion are located where the water table depth is
between 0 and 5 m pointing a fragile environment in relation to the use and occupation. Therefore,
this scenario of weakness ends up compromising the quality of life, especially on two

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 50


environmental issues: municipal solid waste, which are deposited in a "dump", but also in the
Entrainment and deposition of wastewater produced by the city, and are mostly deposited in pits
(like most sinks).
Keywords: groundwater, Urban Growth, Environmental fragility

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do processo tecnológico-industrial vem, nos últimos 50 anos,


promovendo o crescimento dos centros urbanos. Nesse momento o homem, ao invés de se adaptar
às condições do meio físico, impõe-lhe as suas próprias condições, fazendo com que, muitas vezes,
o seu uso e ocupação se façam de maneira inadequada, ou seja, não respeitando os seus limites e
potencialidades.
O poder público, normalmente, tem dificuldades quanto à organização do crescimento
urbano, seja por falta de pessoal técnico qualificado, seja por falta de conhecimento das condições e
das características do meio físico ou, ainda, por falta de um planejamento adequado.
Se o uso e ocupação do meio físico é tão importante para o homem, este deve respeitá-lo e
entendê-lo como um todo, principalmente quanto às suas potencialidades e limitações, pois o
homem, ao ignorar esta condição, pode torná-lo vulnerável a danos até mesmo irreparáveis. Nesse
sentido, torna-se de suma importância o desenvolvimento da conscientização da coletividade, que
passa a exercer papel fundamental no processo de uso e ocupação. Assim sendo, deve-se sempre se
sobrepor a esse processo ações de preservação do meio, ainda que sua exploração seja necessária
(Costa, 2008).
Pode-se considerar que o desenvolvimento de uma determinada região só é satisfatório
quando se propicia uma relação adequada e positiva entre o homem e o meio físico, em função,
principalmente, da organização do sistema produtivo (gerador das atividades antrópicas) e das
necessidades sócio-econômicas (Boscov, 2008).
Dentre os componentes do meio ambiente, o meio físico é a base onde são desenvolvidas
todas as atividades antrópicas e eventos perigosos. Trata-se da parcela do meio ambiente constituída
pelos materiais rochosos e inconsolidados, as águas e o relevo, que estão combinados e arranjados
de diversas maneiras, em espaços tridimensionais.
Segundo Zuquette (1987), essas condições raramente são consideradas nos processos de
planejamento, no Brasil, principalmente as que dependem dos estudos sobre o meio físico
(geotécnicos). Assim, o mapeamento do meio físico deve promover o conhecimento das principais
variações espaciais dos seus componentes, assim como as convariações ou não dos seus atributos,
para que seja possível atender às necessidades dos planejadores.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 51


Nas áreas urbanizadas, o processo de uso e ocupação do meio físico é bastante diferenciado,
dependendo do seu valor econômico. Assim, evidenciam-se os contrastes entre os bairros ricos e
bairros pobres, a ocupação de áreas estáveis ou permissíveis para uso e, ao mesmo tempo, ocupação
de áreas de risco (fundos de vales ou vertentes com declives acentuados). Deve-se salientar,
também, que grandes incorporadoras transformam espaços considerados de risco em verdadeiras
áreas propícias para a ocupação, o que demonstra a força do capital em relação às supostas
limitações de uso impostas pelo meio físico.
O uso e a ocupação do meio físico pelo homem, em todas as suas formas, têm sido os
responsáveis pela maioria dos desequilíbrios nas interrelações meio físico/meio biótico, meio
físico/meio físico e meio biótico/meio biótico; portanto, acabam por afetar todos os ecossistemas
terrestres (ZUQUETTE, 1991). Embora se saiba, há muito tempo, que a ocupação desordenada do
meio físico, sem considerar as suas potencialidades e limitações e as diferentes inter-relações entre
os sistemas naturais, é a principal causa da degradação ambiental, pouco se tem realizado para a sua
minimização, em níveis aceitáveis.
Portanto, pode-se afirmar que o mapeamento do nível da água freática, enquanto
instrumento de representação dos atributos do meio físico, aproxima-se da Geografia, quando se
utiliza do espaço geográfico com a finalidade de ordenar ou planejar um dado espaço, sendo útil
para uso e ocupação mais racionais.
Enfim, o preço pago pela falta de um planejamento adequado tem sido muito alto, tanto pela
população quanto pelo poder administrativo, pois, além de desastres ecológicos, as conseqüências
implicam, muitas vezes, perdas de vidas humanas e de patrimônio.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pode-se afirmar que a baixa densidade de informações relativas à profundidade do nível da


água freática constitui-se num dos grandes obstáculos ao uso e ocupação adequada do meio físico e
para o planejamento como um todo. Normalmente, encontram-se informações referentes ao nível da
água freática em perfis de sondagens, em mapas geológicos, em mapas geomofológicos e
pedológicos, etc. Porém, são informações indiretas, ou seja, não tratam diretamente da profundidade
do nível da água. Esse atributo precisar ser interpretado a partir de outras informações contidas nos
mapas. Como por exemplo, a constatação de solos hidromórficos (mapas pedológicos); a presença
de rochas de baixa permeabilidade em situação aflorante (mapas geológicos).
Para o desenvolvimento do trabalho utilizou-se as cartas topográficas (1:25.000), elaboradas
pelo DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral – Projeto Hidrogeológico da Região de
Caldas Novas - GO, no ano de 1980. Para se obter o esboço da área estudada, usou-se a articulação

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 52


das cartas SE-22 X-D-V 2 – SO; SE-22 X-D-V 2 – SE; SE-22 X-D-V 4 – NO e SE-22 X-D-V 4 –
NE.
Para a confecção do mapa de Nível da Água Freática utilizou-se a interpretação de
fotografias aéreas pertencentes à USAF (Força Aérea dos Estados Unidos), obtidas em 1964 e 1965,
em escala de 1:60.000, e também fotografias aéreas obtidas pela Prefeitura Municipal de Caldas
Novas, no ano de 1993, na escala de 1:8.000. Essas fotografias aéreas foram de suma importância
para a confecção do mapa, pois foram retiradas informações sobre nascentes, afloramento rochoso e
solos hidromórficos.
Utilizou-se também a proposta metodológica elaborada por Nishiyama (1997), que busca
evidenciar, para uma análise mais precisa meios alternativos para o levantamento da profundidade
do nível d´água, tais como: mapas topográficos, fotografias aéreas e imagens de satélite. Por meio
desse material cartográfico foi possível analisar alguns condicionantes do meio físico (afloramento
rochoso, áreas úmidas situadas em encostas, presença de nascentes e formas de relevo); junto aos
dados obtidos nas medidas de cisternas contidas na área de estudo, perfazendo um total de 316
medidas, determinou-se a profundidade da Água Freática.

Caracterização Da Área De Estudo

A área de estudo situa-se na mesorregião sul do Estado de Goiás, mais especificamente na


microrregião Meia Ponte, entre os meridianos 48o 27‘ e 48o 56‘ W e os paralelos 17o 28‘ e 18o 05‘S,
totalizando uma área de aproximadamente 400km² (figura 1), possui o maior manancial hidrotermal
do mundo (explorado para fins turísticos). A cidade de Caldas Novas se localiza a 170 km da capital
do Estado (Goiânia), sendo a principal via de acesso a GO-213 e BR 153.
A dinâmica atmosférica, em Caldas Novas, está sob controle dos sistemas intertropicais.
Esses sistemas de circulação ocasionam um clima tropical alternadamente seco e úmido (DEL
GROSSI, 1991).
O Município de Caldas Novas apresenta temperatura média anual entre 20 e 22ºC, com
média nos meses mais frios girando em torno de 18ºC. Com base na classificação internacional de
Koeppen (1948), a região encontra-se caracterizada pelo clima tropical do tipo Aw.
Em relação à geologia, a área e constituída principalmente por rochas metamórficas do
Grupo Paranoá (Filitos, Quartizitos e Metacalcários) e do Grupo Araxá (representado por Xistos
variados e ocorrem também, cristas de quartzitos, quartzitos micáceos e quartzo xistos,
caracterizando prováveis arenitos e arenitos impuros, interdigitados e intercalados aos pelitos).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 53


Figura – 1: Localização da área de estudo.

Pode-se dizer que a estratigrafia local é caracterizada pela superposição tectônica do Grupo
Paranoá pelo Grupo Araxá. Neste aspecto o Grupo Araxá é representante de uma unidade tectono-
metamórfica da porção interna da Faixa Brasília, a qual foi posicionada em uma porção mais
externa pelo descolamento tectônico pelicular por nappes, empurrões, duplexes e escamamentos,
responsáveis pelo encurtamento crustal e movimentação desse conjunto litoestratigráfico por
dezenas de quilômetros.
Em relação à geomorfologia, a área de estudo insere-se na região que Pena (1976)
denominou Planalto Central Goiano, constituído pela ampla área do conjunto dos contribuintes da
margem direita do rio Paranaíba, entre outros os rios Corumbá, Meia Ponte, dos Bois e Turvo. A
referida unidade geomorfológica constitui um vasto planalto, compartimentado em níveis
topográficos distintos e com características próprias, porém ligados entre si. São as seguintes as
suas subunidades: Planalto do Distrito Federal, Depressões Intermontanas, Planalto do Alto
Tocantins-Paranaíba e Planalto Rebaixado de Goiânia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Evolução Urbana Da Cidade De Caldas Novas

Ao longo do século XX, acentuou-se a importância das cidades na dinâmica da sociedade.


Segundo Santos (1997, p.53), ―a cidade é um elemento impulsionador do desenvolvimento e
aperfeiçoamento das técnicas. Diga-se, então, que é a cidade lugar de ebulição permanente‖.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 54


Na segunda metade do século XX, o dualismo sítio-posição leva a uma visão regionalista
dos aspectos econômicos, que desvincularia o estudo da cidade do seu ambiente natural (DEL
GROSSI, 1991). Observa-se, nessa época, uma sistematização mais acadêmico-científica do
conhecimento das mudanças que o processo de urbanização causa no meio físico.
Em Caldas Novas (GO), uma cidade que se desenvolveu tendo como base econômica o
turismo, em muitos aspectos isso não foi diferente. O crescimento vertiginoso das últimas décadas
provocou uma série de impactos no ambiente da cidade. Caldas Novas, nesse período, experimentou
um crescimento surpreendente, gerado pela expansão de sua maior vocação econômica: o turismo.
Junto com a cidade de Rio Quente, o município forma o maior complexo hidrotermal do Brasil,
além de possuir o terceiro parque hoteleiro do país, com 23.052 leitos em seus 106 hotéis, pousadas,
pensões, flats e vários condomínios residenciais. É simplesmente o triplo da capacidade hoteleira de
Goiânia (COSTA e SILVA JÚNIOR, 2007).
Com o crescimento econômico, há um notável aumento da população. Em 1980 a população
do município de Caldas Novas era de 9.800 habitantes e, no ano de 1991, evolui para 24.900
habitantes (IBGE, 2007), tendo um aumento aproximado de 154,1%, em menos de onze anos (vide
tabela 01). Esse crescimento ocorre também nos dez anos subseqüentes, passando de 24.900
habitantes, em 1991, para 49.652 habitantes, em 2001, um aumento de aproximadamente 100,3%.

ANO NÚMERO DE HABITANTES CRESCIMENTO PERCENTUAL


1960 5.200 -
1970 7.200 38.5
1980 9.800 36.1
1991 24.900 154.1
2001 49.652 100.3
2007 62.204 28

Tabela 01 - Caldas Novas: Evolução da População, 1960 - 2007


Fonte: IBGE, 2008.

Assim, a especulação imobiliária assumiu papel fundamental na expansão urbana e na


criação da estrutura sócio-urbana da sociedade local. Independente da forma com que essa atividade
ocorra, a especulação, segundo Kandir (1984), ocorre sob três condições: a propriedade privada da
terra; os agentes econômicos devem saber que a oferta nem sempre responderá à demanda; e a
exigência de um mercado específico.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 55


Abertura de Loteamentos Por Década de Caldas
Novas - GO

50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Gráfico 1 – Caldas Novas: Abertura de Loteamentos Por Década


Fonte: Prefeitura Municipal de Caldas Novas, 2000.

Observa-se que, durante o século XX, houve, em Caldas Novas, uma crescente abertura de
loteamentos. Enquanto que, até a década de 1970, foram abertos 19 loteamentos, somente na década
de 1980, quando as águas termais começam realmente a se firmar como turismo, foram 23 abertos
mais do que em toda a existência de Caldas Novas. Na década de 1990 houve 35 loteamentos
abertos e, na década de 2000, 49, mostrando um crescimento desordenado e avantajado do
perímetro urbano de Caldas Novas.
Diante do exposto, percebe-se que, em todos os loteamentos irregulares de Caldas Novas,
não existe saneamento básico, sendo o esgoto a céu aberto, o que também não difere do restante da
malha urbana, que tem apenas 30% do seu esgoto coletado. O que se observou, portanto foi o
desrespeito à cidadania, às políticas públicas legais e a degradação ambiental, principalmente dos
loteamentos periféricos.
Em Caldas Novas, constatou-se que a especulação imobiliária e consequentemente, a criação
de loteamentos, muitas vezes de um dia para o outro, faz com que a urbanização não tenha
parâmetros legais e que a intervenção antrópica, no meio físico, não consiga integrar os espaços
naturais e espaços antropogênicos.
O tipo de turismo praticado é o de lazer/massas. A cidade pode receber quase três vezes
mais o número da sua população fixa. Uma rede de 95 meios de hospedagem, além do mercado
informal, foi criada nas últimas décadas para, atender à demanda pelo turismo.

Fragilidade Ambiental E Impactos Ambientais Em Caldas Novas

Entende-se como fragilidade ambiental um meio físico (solos, geologia, água freática,
relevo, etc.) que é vulnerável a um uso e ocupação mais intenso (ROCHA, 2006). Em Caldas Novas
observa-se um meio físico muito frágil o que acarreta muitos problemas socioambientais
ocasionando prejuízos para o poder público, bem como para a população em geral. Pode-se citar,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 56
vários problemas ambientais na cidade de Caldas Novas, mas alguns se destacam mais
(negativamente) porque a cidade está assentada num sítio urbano muito frágil, principalmente no
que diz respeito ao nível da água freática (Figura – 2).

Figura – 2: Mapa do Nível da Água Freática – Caldas Novas - GO

Deposição de Resíduos Sólidos

Os resíduos sólidos urbanos são aqueles gerados nas residências, nos estabelecimentos
comerciais, nos logradouros públicos e nas diversas atividades desenvolvidas nas cidades, incluindo
os resíduos de varrição de ruas e praças (BOSCOV, 2008). Os resíduos de serviços de saúde e de
portos e aeroportos têm destinação especial.
O lixo é definido com sendo ―restos das atividades humanas, considerados pelos geradores
como inúteis, indesejáveis ou descartáveis‖. Normalmente, apresenta-se sob estado sólido, semi-
sólido ou semi-líquido e compreende os lixos tipo domiciliar, comercial, público, hospitalar,
industrial, agrícola e entulho.
Caldas Novas, assim como a maioria das cidades do Brasil, ainda enfrenta o problema da
falta de um tratamento de seus resíduos, como um todo. Esse processo, por aqui, possui um peso
maior, visto que a economia local depende de um recurso hídrico subterrâneo e de um manejo
adequado dos resíduos sólidos, cujo chorume está se infiltrando no solo e no subsolo, podendo
contaminar águas subterrâneas, tanto a freática quanto a termal. Isso, com certeza, pode trazer
conseqüências drásticas à economia do município, arruinando a demanda turística local.
Uma circunstância que agrava ainda mais essa situação consiste no lixo domiciliar ou
comercial, eventualmente recusado pelo serviço de coleta organizado como sendo perigoso, como

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 57


os materiais para pintura (tintas, solventes, pigmentos e vernizes), produtos para jardinagem
(pesticidas, inseticidas, repelentes e herbicidas), produtos para motores (óleos, lubrificantes, fluidos
de freio e transmissão e baterias) e muitos outros itens mais comuns, como vidros, pilhas, pneus,
lâmpadas fluorescentes, animais mortos, dentre outros. Estes são dispostos pelos seus geradores em
locais menos visíveis do espaço urbano, normalmente em depressões de terrenos ou na margem de
cursos d´água que cruzam a cidade.
O lixo hospitalar é recolhido à semelhança dos demais, embora a lei determine a coleta
especial e a incineração em condições e locais apropriados, sendo os hospitais geradores igualmente
responsáveis por esse serviço. O descarte hospitalar no lixão, por apresentar alta toxidade, constitui
um fato de alto risco ambiental e para a saúde pública.
A fração coletada domiciliarmente é conduzida para o chamado ―lixão‖ (que está localizado
nessa unidade), onde é disposta em pilhas, podendo ser remexida por catadores à busca de objetos
que possam vir a oferecer algum ganho, como plásticos e latas recicláveis. De tempo em tempo, o
material das pilhas de lixo é revolvido por máquinas pesadas e espalhado e compactado na área.
O local do lixão de Caldas Novas situa-se a norte da cidade, na bacia do córrego Fundo,
contribuinte do ribeirão Pirapitinga, em local situado em cotas altimétricas aproximadas de 730m,
na zona de contato entre os micaxistos e os quartzitos do Grupo Araxá. Trata-se de uma área de alta
vulnerabilidade devido ao elevado grau de fraturamento dos micaxistos e quartzitos e ao tipo de
agente poluidor, que possui um potencial de alto risco ambiental.

Sistema de Coleta de Esgotos Sanitários

A cidade possui, hoje, aproximadamente 25% de esgoto coletado e tratado, os quais se


resume, praticamente, à área central. No restante da cidade, ainda se usa fossas. Segundo pesquisas
diretas, Caldas Novas, possui aproximadamente 14.000 (quatorze mil) fossas, sendo estas, em sua
maioria, fossas negras.
Há, ainda, um agravante, pois quase 60% da área urbana e de expansão apresentam um
lençol freático que varia entre 0 e 5 metros de profundidade, o que limita o uso e a ocupação de
extensas porções de terrenos. Esse fator – profundidade do lençol freático – se não forem tomadas
as devidas precauções, pode gerar grandes impactos, principalmente poluição e contaminação da
água subterrânea, pois um lençol muito raso, com uma grande quantidade de fossas, pode gerar
vários problemas, inclusive de saúde (respiratórios e parasitoses).
Em suma, as deficiências de todo o sistema de esgoto sanitário existente em Caldas Novas,
aliadas a um contexto geológico com fraturas profundas, de alta vulnerabilidade, configuram um
panorama de alto risco para os aqüíferos subterrâneos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 58


CONCLUSÕES

Ao escolher o município de Caldas Novas como objeto de estudo, procurou-se realizar um


trabalho de mapeamento do nível da água freática como possibilidade do estudo do meio físico
contribuir para a resolução e/ou amenização dos problemas ocasionados pela alteração antrópica.
Essas características estruturais, aliada aos demais atributos do meio físico que compõem a
paisagem, identifica, de maneira geral, que o processo de uso e ocupação deu-se sem observar as
limitações impostas pelo meio físico.
O uso e ocupação da cidade de Caldas Novas, foi realmente ocupado desordenadamente,
observa-se que não se levou em conta a fragilidade do meio físico, ou seja, o planejamento não está
sendo feito de maneira satisfatória, e a degradação ambiental é visível, gerando inclusive, prejuízos
para o setor público-privado.
Observou-se, também, que os impactos ambientais de Caldas Novas, são gerados, em sua
maioria, pela forma de uso e ocupação adotada pelo município. Embora tem-se que ressaltar
também a fragilidade dos atributos do meio físico.
Os principais problemas apresentados na área dizem respeito aos riscos de contaminações da
água freática, devido principalmente à pouca espessura dos materiais inconsolidados e a pouca
profundidade dos lençóis freáticos.
Recomenda-se, portanto, a adoção de medidas que evitem o intenso uso de fossas, no
entanto, áreas já ocupadas e que possuem fossas é necessário que se aplique medidas corretivas, tais
como:
- desenvolvimento de uma rede de coleta de esgoto, impermeabilização de fossas, caso não
se tenha a rede de esgoto e água encanada.
- implantação de um sistema de monitoramento de contaminação do lençol freático;
- Mapeamento mais detalhado dos bairros possuidores do lençol freático superficial e
captação de esgoto por fossas;
- esclarecer a comunidade sobre o risco de contaminação da água por esgoto.
Para as finalidades do presente estudo, é importante entender o fato de que as águas
subterrâneas, principal fonte de geração de riquezas da cidade, configuram um sistema complexo e
de difícil caracterização, e sua exploração se dá em áreas urbanas densamente povoadas. Tem sido
quase nula a preocupação do poder público e da sociedade em geral com relação às inúmeras
agressões ao recurso hidrotermal e ambiental que são perpetradas, constantemente, inconscientes da
lei de ação e reação da natureza. Assim, a situação de risco é considerável.
Por fim, os documentos e correlações gerados neste trabalho, por apresentarem algumas
características do meio físico, podem ser utilizados no auxilio ao planejamento urbano,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 59


principalmente no melhoramento do Plano Diretor Urbano, visando à adequada ocupação desse
meio físico, levando-se em conta suas potencialidades e restrições.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, L.G.S. et al. Subsídios ao Plano Diretor de Saúde e Ambiente no Âmbito do Sistema
Único de Saúde. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 295-315, 2005.

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Caderno de Ciências da Terra. São Paulo.
(13): 1 – 27, 1968.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Subsídios para construção da Política
Nacional de Saúde Ambiental. Brasília, 2007. 56 p.

BOSCOV, M. Geotecnia Ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: contexto, 1991.

COSTA, R.A. Zoneamento Ambiental da Área de Expansão Urbana de Caldas Novas – GO:
Procedimentos e Aplicações. 204 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-
Graduação em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008.

HAESBAERT; F. F COSTA, F. G. Relatório Técnico de Áreas de Proteção dos Aqüíferos Termais


da Região de Caldas Novas e Rio Quente. Caldas Novas: CPRM, 2000.

NATAL, D. . Fundamentos de Saúde Pública. In: PHILIPPI JR. A.; ROMÉRO. A.M., BRUNA,
C.G.; (Org.). Curso de Gestão Ambiental. Barueri, SP:Manole, 2004. 1045 p. (Coleção
Ambiental; 1).

PASSARGE, S. Physiologische Morphologie. Mettttail. Geogr. Cesellsch, Vol. XXVI. Hamburg,


1912.

ROCHA, G.C. Riscos Ambientais. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2006.

ROSS, J. A. S. Estudos e cartografia geomorfológica da província Serrana – MT. São Paulo: Tese
de Doutoramento, FFLCH/USP, 1987.

SANCHEZ, R. O. & SILVA. T. C. Zoneamento Ambiental: uma estratégia de ordenamento da


paisagem. São Paulo, IBGE, 1995.

SOTCHAVA, V. B. Geographie und Okologie. Petermanns Geographische, lunen, vol. 116, nº 2, p.


89 – 98, 1972.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 60
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro, IBGE-SUPREN, 1977.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 61


TUBERCULOSE TRANSMITIDA PELO LEITE DE VACA

Vivianne Raquel Felix SANTOS


Pós Graduada no curso de Fisioterapia UTI da CEFAP
viviannefisioterapia@hotmail.com

Maria Neuma Clemente GALVÃO


Especialista e Doutora em Educação da UFPB
neuma-galvao@ig.com.br

RESUMO
Este estudo objetiva relatar a ação fisioterapêutica hospitalar junto as complicações geradas em
pacientes portadores de tuberculose transmitida pela ingestão de leite cru de origem bovina
contaminado pelo Mycobacterium bovis. A tuberculose (TB) é uma doença infecto contagiosa que
acarreta em danos principalmente pulmonares e frequentemente as co-morbidades, com prejuízo da
qualidade de vida. Um terço da população mundial esta infectada por Mycobacterium tuberculosis e
grande proporção dela poderá desenvolver e transmitir a doença para a comunidade. A TB no ser
humano além da transmissão pelo Mycobacterium tuberculosis, também pode ser transmitida por
outras micobactérias como Mycobacterium bovis, a segunda causa mais comum de tuberculose
humana. O risco da transmissão da TB bovina em humanos é a muito tempo conhecido e, em
consequência disso foi instituída a prática de pasteurização do leite para eliminar seu agente
etiológico. O uso de recursos terapêuticos no tratamento dos danos causados pela doença exige um
aprofundamento, considerando a importância da tuberculose e o papel significativo da fisioterapia
na melhora da qualidade de vida destes pacientes.
Palavras-chave: Tuberculose, leite de vaca, transmissão, saúde, prevenção.

ABSTRACT
This study aims to report the hospital physiotherapy action with the complications generated in
patients with tuberculosis transmitted by the ingestion of raw milk from cattle infected by
Mycobacterium bovis. Tuberculosis (TB) is an infectious disease that mainly leads to lung damage
and often co-morbidities and impaired quality of life. A third of the world population is infected
with Mycobacterium tuberculosis and a great proportion of it can develop and transmit the disease
to the community. The human TB in addition to the transmission Mycobacterium tuberculosis can
also be transmitted by other mycobacteria, such as Mycobacterium bovis, the second most common
cause of human tuberculosis. The risk of transmission of bovine TB in humans is known for a long
time and therefore this practice instituted the milk pasteurization to eliminate its etiologic agent.
The use of therapeutic resources in the treatment of damage caused by the disease requires a deeper,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 62


considering the importance of tuberculosis and the significant role of physical therapy in improving
the quality of life of these patients.

INTRODUÇÃO

Em todo Brasil é muito comum o comércio do ―leite informal‖ conhecido também como
―leite clandestino‖. De acordo com NERO et al. (2003), grande parte da população tem o hábito de
consumir leite cru, isso está diretamente relacionado com a nossa cultura de que o leite tirado na
hora e consumido cru é muito mais saudável e não traz riscos à saúde. É por falta de informação
que desconhecem os riscos que esse produto pode oferecer. O comércio de leite cru é proibido no
Brasil desde a década de 1950 pela Lei n.o 1.283, de 18/12/1950, e pelo Decreto n.o 30.691, de
29/03/1952 (BRASIL, 1997). A comercialização de leite cru ou ―clandestino‖ no Brasil teve um
crescimento a partir do início da década de 1990 uma vez que, durante esse período, a cadeia
produtiva do leite passou por um profundo processo de transformação, tanto em termos estruturais
como operacionais, exigindo diversos ajustes e adaptações para se aproximar do nível de qualidade,
volume e regularidade que o varejo e as empresas laticinistas passaram a demandar (OLIVAL &
SPEXOTO, 2004).
O Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do leite, que está sendo implantado no país
pela Instrução Normativa no 51 – IN51, determina, dentre outros aspectos, parâmetros físico-
químicos e microbiológicos para o leite cru. Entretanto, o leite produzido em várias regiões do país
ainda não atende os padrões determinados. Entre as principais causas dessa situação, estão as
inadequadas condições de higiene de ordenha, procedimentos inadequados de limpeza de utensílios
e equipamentos, e problemas ligados ao armazenamento do leite cru refrigerado e o seu transporte
(NERO et al., 2008).
O comércio informal de leite é uma grande ameaça à saúde pública visto que, segundo a
Organização mundial de Saúde (OMS), dezesseis doenças bacterianas e sete viróticas são
veiculadas pelo produto, dentre elas a tuberculose, a brucelose e gastroenterites, sendo esta uma
grave consequência da baixa qualidade do leite proveniente do mercado informal (BADINI et al.,
1997).
No Brasil existem poucas informações da real situação das Enfermidades Transmitidas por
Alimentos (ETA), os poucos dados epidemiológicos que alguns estados conseguem compilar
dificilmente refletem a real situação do problema, uma vez que a maioria dos casos raramente é
comunicada aos órgãos de saúde locais.
Portanto a adoção de medidas que evitem o consumo e a comercialização de leite cru
depende do perfil do consumidor, que é quem exige esse tipo de produto, além de ser necessária a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 63


busca de opções para o destino dessa produção informal. Análises dessa natureza são mais
eficientes sendo efetuadas isoladamente em pequenas regiões, já que as realidades de produção e
consumo de leite cru são extremamente distintas em diferentes partes do país.
A transmissão para o homem ocorre pela ingestão de leite e derivados contaminados, via
cutânea e por via respiratória. A ocorrência no rebanho depende do tipo de exploração e sistema de
manejo. Nos bovinos a tuberculose caracteriza-se pelo desenvolvimento progressivo de lesões
granulomatosas, que podem se localizar em qualquer órgão, causando redução do tempo de vida
produtiva, rejeição parcial ou total de carcaças, crescimento mais lento ou mesmo perda de peso e
diminuição na produção de leite. A maior ou menor ocorrência de tuberculose por M.bovis e
brucelose por B. abortus no homem, depende da prevalência destas espécies nos bovinos e
bubalinos, hábitos alimentares da população, condições sócio econômicas, procedimentos adotados
na manipulação e conservação dos alimentos e das medidas de prevenção e controle adotadas nas
propriedades. Sabe-se que, as duas enfermidades estão disseminadas por todo território nacional,
porém não se conhece exatamente a sua prevalência e distribuição regional. A brucelose ocorre
tanto nos bovinos leiteiros como nos de corte, enquanto a tuberculose, atinge com maior frequência
o gado de leite. Estima-se uma prevalência de 4 a 5% de animais soropositivos para brucelose e de
aproximadamente 1,3% de animais reagentes à tuberculose. A predomínio destas enfermidades em
seres humanos no Brasil é desconhecida, ou por falta de comunicação às autoridades sanitárias, ou
por não se diferenciar a tuberculose humana causada pelo M. bovis e M. tuberculosis. (Programa
Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal, PNCEBT).
A tuberculose (TB) é uma doença infecto contagiosa que apresenta sintomas respiratórios
tosse, expectoração purulenta, hemoptise, dispneia e dor torácica, pode comprometer as vias aéreas
levando ao edema de mucosa, hipertrofia e hiperplasia das glândulas mucosas, aumento da secreção
de muco e hipertrofia muscular lisa, afeta o calibre das vias aéreas, aumenta a resistência e diminui
o fluxo aéreo. Por mecanismo de fibrose cicatricial há também redução da capacidade pulmonar
total. A TB pleural leva ao espessamento da pleura através da pleurite tuberculosa, assim quanto
mais tardio for o diagnóstico da TB, piores serão os danos pulmonares e mais frequentemente as co-
morbidades, com prejuízo da qualidade de vida (RAMOS et al, 2006; BENNETT et al., 2008).
Acompanha o homem desde a pré-história, ela ainda se mantém como umas das infecções
crônicas de maior índice de morbidade e mortalidade, mesmo após a descoberta do agente causador
da doença por Robert Hoch há mais de cem anos. É uma endemia que esteve presente como
problema de saúde pública no Brasil durante todo o século XX, e ficou conhecida como a
calamidade negligenciada, sendo declarada em 1993, emergência mundial pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), permanece ainda neste milênio, a doença infecciosa que mais mata no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 64


mundo, com 1,6 milhões de mortes em 2005. Um terço da população mundial esta infectada por
Mycobacterium tuberculosis e grande proporção dela poderá desenvolver e transmitir a doença para
a comunidade (BARRETO et al, 2005; RECH et al, 2005; VILLA et al, 2008; KRITSKI et al,
2007).
A tuberculose no ser humano além da transmissão pelo Mycobacterium tuberculosis,
também pode ser transmitida por outras micobactérias como Mycobacterium bovis, a segunda causa
mais comum de tuberculose humana. Na realidade, existe uma relação cruzada de infecção: TB nos
seres humanos secundaria a Mycobacterium tuberculosis e TB em pessoas por Mycobacterium
bovis, TB em bovinos consecutiva a Mycobacterium tuberculosis e TB em bovinos por
Mycobacterium bovis. Entretanto, é mais frequente a presença de Mycobacterium bovis em seres
humanos que Mycobacterium tuberculosis em animais bovinos (OLIVEIRA et al., 2007).
O risco da transmissão da TB bovina em humanos é a muito tempo conhecido e, em
consequência disso foi instituída a prática de pasteurização do leite para eliminar seu agente
etiológico. Contudo, o consumo do leite cru, ou seja não pasteurizado, e queijo fresco
principalmente por populações menos favorecidas ainda faz desta transmissão um problema de
saúde pública (PEREZ-GUERRERO et al., 2008).
Segundo estudos de Young e O'Connor (2005) e Harris et al. (2007), no México,
informações oficiais indicam que cerca de 30% do leite produzido no país é vendido e consumido
em sua forma crua, sendo que uma parte se destina a produção de queijo freso que se expenda aos
mercados populares. Este produto está relacionado com a transmissão de TB em crianças de origem
mexicana nos Estados Unidos e é confirmado a presença de Mycobacterium bovis nestes produtos,
bem como o contato como animais, a ingestão do leite cru e queijo fresco como fator causante da
doença.
Segundo Oliveira et al. (2008), há indicação de exercícios de relaxamento e de
condicionamento, treino da musculatura respiratória e uso de Laser As-Ga. A necessidade de
aprofundar os conhecimentos nessa matéria é urgente, considerando a importância e o papel
significativo da fisioterapia na melhora da qualidade de vida destes pacientes.
Nesse trabalho foi realizado uma revisão bibliográfica contendo artigos nacionais e
internacionais para um aprofundamento do assunto em questão.
O estudo é um alerta aos pequenos e grandes criadores dos cuidados e complicações geradas
em pessoas que consomem o leite de gado cru que possam passar a tuberculose Mycobacterium
bovis transmitida pela ingestão desse alimento.

REFERÊNCIA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 65


BARRETO SM, PINHEIRO ARO, SICHIERI R, MONTEIRO CA, BATISTA-FILHO M,
SCHIMIDT MI, LOTUFO P, ASSIS AM, GUIMARÃES V, RECINE EGIG, VICTORA CG,
COITINHO D, PASSOS VMA. Análise da Estratégia Global para Alimentação, Atividade Física
e Saúde, da Organização Mundial da Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 14, n. 1, p.
41-68, 2005.

BENNETT, D.E.; COURVAL, J.M.; ONORATO, I. Prevalence of tuberculosis infection in the


United States population: the national health and nutrition examination survey, 1999-2000.
American Journal of Respiratory Critical Care Medicine, vol. 177, n. 3, p. 348-55, 2008.

HARRIS NB, PAYEUR J, BRAVO D, OSORIO R, STUBER T, FARREL D. Recovery of


Mycobacterium bovis from sofa fresh cheese originating from Mexico. Applied Environment
Microbiology, v. 73, n. 3, p. 1025-1028, 2007.

MONTEIRO, P.C.; GAZETTA, C.E. Aspectos epidemiológicos, clínicos e operacionais do controle


da tuberculose em um Hospital Escola - 1999 a 2004. Arquivos de Ciências da Saúde, v. 14, n. 2,
p. 103-110, 2007.

OLIVEIRA, I.A.S. DE; MELO, H.P.C.; CÂMARA, A.; DIAS, R.V.C.; SOTO-BLANCO, B.
Prevalência de tuberculose no rebanho bovino de Mossoró, Rio Grande do Norte. Brazilian
Journal of Veterinariun Research, v. 44, n. 6, p. 395-400, 2007.

OLIVEIRA, D.C.; COUTINHO, C.M.; TAKATA, G.L.; SCHIAVETO, R.C.; ROSEIRO, M.N.V.
Recursos fisioterapêuticos em tuberculose pulmonar. Saúde, Santa Maria, vol. 34a, n 1-2: p 9-11,
2008.

PEREZ-GUERRERO, L.; MILIÁN-SUAZO, F.; ARRIAGA-DÍAZ, C.; ROMERO-TORRES, C.R.;


ESCARTÍN-CHÁVEZ, M. Epidemiología molecular de las tuberculosis bovina y humana en una
zona endémica de Querétaro, México. Salud pública México , v. 50, n. 4, p. 286-291, 2008.

VILLA, T.C.S.; Assis, E.G.; Oliveira, M.F.; Arcêncio, R.A.; Gonzáles, R.I.C.; Palha, P.F..
Cobertura do tratamento diretamente observado (DOTS) da Tuberculose no Estado de São Paulo
(1998 a 2004). Revista da Escola de Enfermagem - USP, v.42, n.1, p. 98-104, 2008.

YOUNG J, O'CONNOR ME. Risk factors associated with latent tuberculosis infection in Mexican
American children. Pedriatics, v. 115, p. 647-653, 2005.

NERO, L. A.; MATTOS, M. R.; BARROS, M. A. F.; ORTOLANI, M. B. T.; BELOTI, V.,
FRANCO, B. D. G. M. Listeria monocytogenes and Salmonella spp. in Raw Milk Produced in

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 66


Brazil: Occurrence and Interference of Indigenous Microbiota in their Isolation and
Development. Zoonoses and Public Health, Berlin, v. 55, n. 6, p. 299-305, Ago. 2008.

OLIVAL, A. de A.; SPEXOTO, A. A. Leite informal no Brasil: aspectos sanitários e educativos.


Revista Higiene Alimentar, v. 18, n. 119. p. 12-17, abr. 2004.

NERO, L. A.; MAZIERO, D.; BEZERRA, M. M. S. Hábitos alimentares do consumidor de leite


cru de Campo mourão, Pr. Semina: Ciências Agrárias, v. 24, n. 1, p. 21-26, 2003.

BADINI, K. B.; NADER, FILHO, A.; AMARAL, L. A. Hábitos dos consumidores de leite cru,
produzido e comercializado clandestinamente nos municípios de Botucatu/ SP e de São
Manuel/SP. Revista Higiene Alimentar, v. 11, n. 51. p. 15-17, 1997.

BRASIL. ministério da Agricultura. Decreto n. 30.691, de 29 de março de 1952, alterado pelos


Decretos n˚s.1255, de 25 de junho de 1962, n. 1236, de 2 de setembro de 1994, n.1812, de 8 de
fevereiro de 1996, e n. 2.244, de 4 de junho de 1997. Regulamento da Inspeção Industrial e
Sanitária dos Produtos de Origem Animal-RIISPOA. Brasília, DF, 1997.

FAO FOOD AND AGRICULTURAL ORGANIZATION. Classificação mundial dos principais


países produtores de leite – 2005. Embrapa Gado de Leite, fev. 2006. Disponível em:
<http://www. cnpgl.embrapa.br>. Acesso em: 10 mar. 2006.

Müller. Ernst E. BRUCELOSE E TUBERCULOSE BOVINA E BUBALINA Programa Nacional


de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 67


OCUPAÇÃO IRREGULAR E VULNERABILIDADE DE RISCOS GEOLÓGICOS NO
BAIRRO DO CURADO: JABOATÃO DOS GUARARAPES-PE

Aryanna Barbosa de Araújo Gonzaga BERLIM


Mestranda em Tecnologia Ambiental – ITEP/OS
aryannabarbosa@agtopografia.com.br

Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA


Profa. Dra. do Mestrado em Tecnologia Ambiental – ITEP/OS e Mestrado em Educação – UPE
noliveira825@gmail.com

João Allyson Ribeiro de CARVALHO


Prof. Dr. do Curso de Geografia da UPE
allysondecarvalho@hotmail.com

RESUMO
Este artigo trata do estudo da dinâmica urbana no bairro do Curado, Jaboatão dos Guararapes-PE
após a implantação de conjuntos habitacionais de interesse social financiados pelo extinto Banco
Nacional de Habitação (BNH), visando identificar se esses empreendimentos atuaram como
elemento basilar para a deflagração da desordem urbana, induzindo aos riscos ambientais. A
metodologia adotada caracteriza-se por uma análise temporal com base em ortofotocartas, fotos
aéreas e visita in loco, possibilitando uma visão detalhada da expansão urbana nesse período. Os
resultados mostraram o poder do Estado e desse tipo de equipamento em influenciar não só seu
entorno imediato como também áreas adjacentes, porém de forma desordenada e necessitada de
instrumentos de fiscalização e controle por parte da gestão pública para prevenir desastres causados
pelos riscos vivenciados no território estudado.
Palavras-chave: Risco geológico. Deslizamentos. Desordem urbana. Impacto social.

ABSTRACT
This article is a study about the urban dynamics in a specific area after the implementation of
popular habitations of social interest funded by the former Banco Nacional de Habitação
(BNH). In order to identify the potentialities of this equipment with respect to the power
of changes at the territory, the methodology adopted characterized by temporal analyses of
cartographic material, air photos and visits in place, allowing a detailed view of the urban expansion
in this period. The results shows the power of the State and the power of this kind of equipment in
influencing not only their immediate surroundings as well as the adjacent areas, but in a
disorderly way and needed tools for supervision and control by the public administration to avoid
disasters caused by the risks in the territory.
Keywords: Geological hazard. Landslides. Urban Disorder. Social Impact.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 68


INTRODUÇÃO

O planejamento urbano no Brasil sempre se caracterizou por favorecer a cidade capitalista


exercendo políticas de exclusão de classes menos favorecidas. No caso da cidade do Recife,
segundo Miranda et al. (2011), é possível citar a Comissão Censitária dos Mocambos no governo de
Agamenon Magalhães como principal desencadeadora do processo de ocupação desordenada. Em
1940, essa comissão preocupou-se em quantificar os mocambos existentes para planejar sua
erradicação. Nesse momento, essas populações fugiram para áreas periféricas onde a ocupação do
espaço se fez, na maioria das vezes, sem levar em conta nenhum tipo de planejamento, sem recursos
técnicos e, sobretudo, sem nenhuma preocupação com os riscos geológicos que poderiam ceifar
vidas humanas.
Na falta de alternativas, a população se instalou em desordem em áreas de vertentes e topos
dos morros ou em planícies alagadiças dos manguezais, substanciando um modelo na forma de
ocupação do solo desordenada. O período caracteriza-se, portanto, pelo surgimento dos primeiros
focos de favelas na região metropolitana do Recife (RMR). O processo histórico de urbanização
avança com o aumento de ocupação nas áreas de melhor acesso com a parcela da população de
maior poder aquisitivo, restando às favelas apenas a opção de se multiplicarem instalando-se em
locais de difícil acesso.
É nessa realidade que surge em 1964 o Banco Nacional de Habitação (BNH), atuando
principalmente com dois objetivos: minimizar o déficit habitacional e, ao mesmo tempo, gerar mais
empregos na construção das habitações financiadas, movimentando, assim, a economia local. Essas
ações buscavam restaurar a legitimidade do Estado, mostrando às populações urbanas de baixa
renda a preocupação do governo com seus ―problemas‖.
A atuação do BNH efetuou-se fortemente por meio da decisão em criar conjuntos
habitacionais em vez de consolidar assentamentos já existentes, visto que a consolidação seria
muito mais onerosa para o poder público. Essas novas habitações tinham o propósito de oferecer
condições mínimas de habitabilidade dentro de um padrão de classe média. Várias famílias foram
beneficiadas com esse programa, sendo o referido banco extinto em 1986 e suas atividades
absorvidas pela Caixa Econômica Federal, descontinuando os programas existentes.
Com esse olhar, em um sentido de incertezas, a população de baixa renda intensifica sua
residência nas vertentes dos morros, estando cada vez mais à mercê dos riscos geológicos e
produzindo impactos imensuráveis à área de ocupação.
Nessa visão, a pesquisa se fez mister no bairro do Curado, com ênfase na implantação do
Conjunto Residencial do Curado IV, no município de Jaboatão do Guararapes-PE (Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 69


Figura 1 – Mapa de localização
Fonte: Autoria própria, 2014.

A área em pesquisa remonta como características gerais um clima do tipo As‘


pseudotropical, com chuvas de outono e inverno, resultante da Massa Polar Atlântica e da
convergência intertropical. Índice de precipitação de cerca de 1.800 mm anuais, temperatura média
de 24ºC, umidade relativa do ar de 80%, com a inclinação dos raios solares de cerca de 2.200
horas/ano. No que concerne à cobertura vegetal, foi área de domínio da mata atlântica, restando
hoje poucos remanescentes. A vegetação tem seu início de perda por meio da lavoura agroindústria
açucareira, e posteriormente intensifica-se com o processo de urbanização descrito anteriormente.
Geologicamente, o espaço está recoberto através dos glacis de acumulação do Grupo Barreiras,
datado do Pliopleistoceno, resultado de sedimentos provenientes da formação sertaneja. No que se
reporta à Geomorfologia, podem-se vislumbrar colinas fragmentadas com o sistema de falhas,
indicando feições anticlinórias que, dentro da sua estrutura de gênese, conjugada ao índice de
umidade, encontra-se factível ao alto processo erosivo, sobretudo quando a cobertura vegetacional é
retirada e o espaço é submetido a cortes verticalizados. A ação hídrica parece ser um dos elementos
propulsores dos movimentos de massa na área em estudo, sem considerar áreas de depósito de
resíduos sólidos.
Com a visibilidade geral do cenário exposto anteriormente, a pesquisa teve como objetivo
principal analisar a dinâmica urbana no bairro do Curado após a implantação dos conjuntos
habitacionais, visando identificar se esses empreendimentos atuaram como elemento basilar para a
deflagração da desordem urbana, induzindo aos riscos ambientais.

MATERIAL E MÉTODOS

A gestão do meio ambiente deve ser canalizada com investigações que venham nortear o
foco das visões holísticas do espaço e a necessidade de compreensão entre sociedade e natureza. De
início, trata-se de uma revista bibliográfica substanciada na área espacial da pesquisa por meio de
um plural de importância em sua estrutura para chegar à aproximação do ideal do real da área

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 70


pesquisada. Para tanto, realizam-se trabalhos técnicos de campo em consórcio com registros
fotográficos e posteriores análises comparadas entre ortofotocartas datadas de 1986 e fotografias
aéreas de 1998 em trabalho de gabinete, de modo a permitir a compreensão da dinâmica da área
pesquisada em um referido intervalo de espaço e tempo.
No que se reporta à metodologia, utiliza-se a teoria geral dos sistemas na ótica processo-
resposta, em que cada processo reporta-se à ação e as respostas à forma, resultante das próprias
ações. Utiliza-se também o método quali e quantitativo no estudo comparado entre as imagens de
fotografias aéreas e ortofotocartas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A sistematização de visitas ao campo permitiram compreender que o Conjunto Habitacional


Cohab Curado foi construído em área periférica da RMR, localizado em proximidade ao distrito
industrial do Curado. No distrito do Curado, foram construídos os conjuntos habitacionais Curado I,
II e III em 1979 e em 1986 o Curado IV (Figura 2).

Figura 2 – Localização dos Conjuntos Habitacionais – Curado I, II, III e IV


Fonte: Loureiro e Amorim, 2005.

Construído em etapas, o referido conjunto foi o precursor em termos de habitação


residencial para o espaço que apenas se constituía de empreendimentos da indústria. O maior
conjunto habitacional é o Curado IV com uma área de 113,92 hectares e 142 blocos, cada um com
32 apartamentos. Também maior em extensão por compreender a parte baixa e a parte alta
(CONDEPE/FIDEM, 2010).
Os resultados obtidos demonstram a modificação no tecido urbano mediante a análise da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 71


ortofotocarta datada de 1986 em paralelo com a foto aérea datada de 1998 (Figura 3). O recorte
analisado permite notar que em 1986, [1] as superfícies de cimeira já apresentavam um
aplainamento indicando zona de preparação para o processo de urbanização e [2] a parte mais baixa
também se encontrava em preparação, visto que o Conjunto Habitacional do Curado IV se utilizou
dos pontos mais extremos no relevo, iniciando, assim, a última etapa de urbanização gerida pelo
poder público. Todavia, essa área evolui em seu processo de ocupação por meio dos pressupostos
do estado de Pernambuco em doze anos de sua implantação, o que caracterizou em 1998 até a
presente data um grande processo de transformação do território.

Figura 3 – Tecido urbano antes e após implantação do Curado IV


Fonte: Autoria própria, 2014, adaptado de ortofotocartas e fotos aéreas (Fidem, 1986; 1998).

Restando salientar que, com a finalização do Programa Habitacional do BNH, ficaram 38


mil famílias inscritas sem o direito do sonho de seu objetivo, que era a casa própria. Possivelmente,
esse fato foi o gatilho para o início das ocupações espontâneas no entorno do conjunto. Fato que
contribui para a transformação da paisagem natural em artificial, aumentada pelos impactos e riscos
geológicos, potencializados por habitações irregulares e os respectivos elementos, e fatores
espontâneos tais como cortes verticalizados, produção e disposição irregular de resíduos sólidos, em
que a drenagem superficial irregular transporta os resíduos até as áreas de convergência fluvial;
além de saturar o solo facilitando a ação gravitacional inerente aos processos de deslizamento, desse
modo favorecendo, em momentos de precipitação pluviométrica e em curto espaço de tempo,
consideráveis consequências irreversíveis como perda de vida humana (OLIVEIRA; CARVALHO;
SANTANA, 2006).
Outro elemento importante é o cultivo de vegetações incompatíveis com o grau de
inclinação do terreno e acumuladoras de umidade (Figuras 4 e 5), como exemplo, a Musa
sp.(banana).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 72
Figura 4 – Cultivo de Musa sp. (banana) nas Figura 5 – Cultivo de Musa sp. (banana) nas
vertentes vertentes
Fonte: Autoria própria, 2014. Fonte: Autoria própria, 2014.

A pressão populacional, como pode ser observada na Figura 6, indica que houve ocupação
em todo o entorno da área tracejada em vermelho que representa o conjunto habitacional do Curado
IV.

Figura 6 – Ocupação no entorno das unidades habitacionais do Curado IV


Fonte: Autoria própria, 2014.

Esse espaço foi alvo de uma ocupação forçada por indivíduos de baixa renda, passando eles
a partilhar os graves desequilíbrios, degradando o território até aquele momento maculado. Fato que
culminou em um complexo mosaico que representa o resultado não apenas da ocupação
desordenada, mas da condição de um reflexo socioeconômico.
Essas transformações ocorreram principalmente pela ocupação das encostas desprotegidas
por habitações irregulares com cortes inadequados nos taludes existentes, iniciando, assim, um
processo de vulnerabilidade aos deslizamentos na área. Convém destacar que a proximidade de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 73


infraestrutura e de serviços públicos, em paralelo com a condição fundiária do terreno de
propriedade pública, pode ter sido o principal incentivador desse processo.
Segundo Alheiros et al. (2003), essas invasões ocorreram pela carência de mecanismos de
controle urbano por parte dos gestores públicos. Por sua vez, as invasões consolidadas de forma
precária agravaram a estabilidade dos maciços. Além disso, os primeiros conjuntos habitacionais da
Comissão de Habitação de Pernambuco (Cohab-PE) realizados nessas áreas foram executados com
a mesma metodologia do planejamento dos assentamentos de planície: aplainando os topos de
morros para gerar um grande terreno plano, ignorando as especificidades de uma área de encostas.
Esses topos aplainados causam desequilíbrio no ambiente natural das mais diversas formas,
transformando as características mecânicas do solo, interferindo nas bacias de drenagem contíguas e
removendo a cobertura vegetal, provocando erosão. A evolução da erosão em sulcos ou
diferenciada altera a forma do talude, formando taludes negativos geralmente incompatíveis com a
resistência do solo já agravada pela saturação (Figuras 7 e 8).
Os resultados que as encostas darão às diversas maneiras como a sua ocupação é direcionada
vão depender não só dos solos ali existentes, mas da declividade, das formas das encostas e de
como o ser humano intervém, podendo acelerar ou evitar a ocorrência de processos
geomorfológicos catastróficos (JORGE; GUERRA, 2013). Essas áreas contam ainda com fatores
naturais que atuam agravando as situações de risco. Esses riscos iniciam-se com sua formação
geológica no Grupo Barreiras, onde grande parte dos deslizamentos e erosões que evoluem para
voçorocamentos concentra-se nos glacis de acumulação desse grupo (PFALTZGRAFF, 2007).
As transformações do espaço não se limitam à sua implantação e perímetro; é possível
verificar que o raio de abrangência do Curado IV transcendeu suas encostas, ou seja, além de
ocupações irregulares dentro do conjunto e do seu entorno imediato, nota-se a completa ocupação
do morro vizinho, hoje denominado Morro do Cuscuz, o qual se encontra totalmente
descaracterizado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 74


Figura 7 – Recorte da área após sofrer Figura 8 – Drenagem superficial
deslizamento em razão do corte inadequado saturando o solo
no talude e saturação do solo Fonte: Autoria própria, 2014.
Fonte: Autoria própria, 2014.

Até 1986, mesmo com os Curados I, II e III já construídos, o morro mantinha-se preservado
e na foto aérea de 1998 sua total ocupação é visivelmente constatada. Além disso, na visita in loco,
foi possível perceber que a ocupação não se limitou ao que foi visualizado em 1998, chegando em
2014 a ocupar as margens da BR-408. Segundo moradores do conjunto, o morro era conhecido pela
sua beleza preservada; hoje tem 100% da sua área desflorestada (Figuras 9 e 10)

Figura 9 – Evolução urbana do Morro do Cuscuz nas ortofotocartas de 1986 e 1998


Fonte: Fidem, 1986.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 75


Figura 10 – Morro do Cuscuz visto da alça de acesso à Arena Pernambuco na BR-408
Fonte: Autoria própria (2014).

Atualmente, a localidade vive um paradoxo do falho ou ausente planejamento urbano, visto


que, para resolver problemas de déficit habitacional de forma rápida, o poder público estadual
julgou como a solução mais prática e viável economicamente instalar esses conjuntos habitacionais
em áreas desvalorizadas e longe do centro da cidade. Porém, a cidade é um organismo vivo, e no
caso especial do estado de Pernambuco, continuou crescendo e se expandindo, ratificando o
processo de crescimento de urbanização no entorno das áreas limítrofes da pobreza com a expansão
de empreendimentos como condomínios fechados e bairros planejados, a exemplo do Condomínio
Alphaville (Figura 11).
O condomínio Alphaville encontra-se delimitado com as habitações sociais do Curado,
paradigmaticamente impondo novas fronteiras; isso está processando-se nessa forma. Aliadas à
saturação dos bairros centrais e a diversos problemas inerentes aos grandes centros urbanos, as
classes mais favorecidas passaram a ocupar áreas antes esquecidas, transpondo barreiras impostas
pelos limites sociais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 76


Figura 11 – Muro de delimitação do Alphaville Francisco Brennand com cerca elétrica, ocupação regular
Curado IV
e ocupação espontânea das encostas do conjunto
Fonte: Autoria própria (2014).

CONCLUSÃO

Com os dados analisados, conclui-se que o Conjunto Habitacional Curado IV atuou na área
estudada como forte elemento modificador do espaço urbano, e suas potencialidades são ligadas
diretamente a políticas públicas que favorecem o crescimento de forma desordenada, resultando em
locais sujeitos a desastres, onde a conjugação dos fatores e dos elementos chega a ser letal com a
ocorrência de movimentos de massa.
O ambiente caracteriza-se pela condição de instabilidade natural dos taludes que
desencadeia vulnerabilidades por meio de intervenções humanas incompatíveis como o corte
inadequado de barreiras para construção de moradias, drenagem difusa e anastomosada decorrente
de efluentes sem esgotamento sanitário, cultura de bananeiras e demais espécies vegetais que
acumulam água, deposição de resíduos sólidos, ausência de canais para escoamento pluvial, fatos
que acarretam sérios riscos geológicos decorrentes de deslizamentos.
A localidade é mais uma forma do descaso das políticas públicas. Em um sistema capitalista
e despreocupado com urbanização ou ecologia, a preocupação é descentralizar a população para
diminuir os riscos para quem mora nas planícies. Porém, em razão da violência, a população de
maior poder aquisitivo começa a ocupar a área dos morros como justificativa, por exemplo, de
climas mais amenos. Além do trânsito e de outros problemas da grande cidade. Esse processo
inverso está obrigando o rico a delimitar novas áreas e consequentemente supervalorizar esses
terrenos. Fato que contribui para a acentuação da segregação entre ricos e pobres.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 77


REFERÊNCIAS

ALHEIROS, M. M. et al. Manual de ocupação dos morros da região metropolitana do Recife.


Recife: Fidem, 2003.

CONDEPE/FIDEM. Gerência e gestão do uso e ocupação do solo de territórios estratégicos -


GEUS. Recife: Condepe/Fidem, 2010.

JORGE, M. D. C. O.; GUERRA, A. J. T. Processos erosivos e recuperação de áreas degradadas.


São Paulo: Ed. Oficina de Textos, 2013. v. 1, p. 7-30.

LOUREIRO, C.; AMORIM, L. Dois mundos, uma só espacialidade. Cadernos de Arquitetura, Belo
Horizonte, n. 12, p. 59-75, dez. 2005.

MIRANDA, L. I. B. et al. Os espaços de pobreza da Região Metropolitana de Recife: registros


institucionais e possibilidades analíticas. ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR: Quem planeja
o território? Atores, arenas e estratégias, 14., 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
Anpur, 2011.

OLIVEIRA, N. M. G. A. e.; CARVALHO, J. A. R. D.; SANTANA, P. H. D. Caracterização


geomorfológica e avaliação ambiental da fragilidade das vertentes no bairro de Tabatinga,
município de Camaragibe-PE. Revista do Departamento de Geografia, v. 19, p. 92-103, 2006.

PFALTZGRAFF, P. A. D. S. Mapa de suscetibilidade a deslizamentos na região metropolitana do


Recife. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 78


PERFIL DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS PARAÍBANAS: ÍNDICE DE
VULNERABILIDADE DE ESCASSEZ E QUALIDADE DE ÁGUA DE USO
DOMÉSTICO -IEQ

Aderaldo de Souza SILVA


Embrapa Semiárido
aderaldo.silva@embrapa.br

Angela Carolina de MEDEIROS


Doutoranda/UFCG
angelacarolinamedeiros@gmail.com

Vera Lúcia Antunes de Lima


CTRN/UFCG
vera.antunes@ufcg.com.br

André Luiz da SILVA


IFPB
andre.silvajp@gmail.com

RESUMO
A pesquisa demonstrou que a escassez de água esta se intensificando dada a desigualdade
socioeconômica e a falta de manejo ecológico dos recursos naturais. O resultado esclareceu a lacuna
de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das famílias quilombolas. As
variáveis que isoladamente mostraram significância maior em todo o universo foram: população
rural em extrema pobreza, domicílios com outra forma de destino do lixo e outra forma de
abastecimento de água domiciliar (poços, pequenas barragens de terra, barreiros, cacimbas e
cisternas), e cloro, turbidez, coliformes e potabilidade (mananciais subterrâneos). O Índice de
vulnerabilidade a escassez de água domiciliar (IEQ) demonstrou que, referente as 38 comunidades
pesquisadas, 21,05% (8) apresentaram um IEQ entre 0,04% e 0,32%, considerada de
vulnerabilidade baixa, 2,63% (1) comunidade com amplitude do IEQ de 0,40% considerada média,
7,89% (3) comunidades com IEQ entre 0,52% e 0,77%, considerada alta, 7,89% (4) comunidades
com IEQ entre 0,93% e 1,41% considerada muito alta, 18,42% (8) comunidades com IEQ entre
1,61% e 2,82%, com vulnerabilidade extremamente alta, 7,89% (3) comunidades com amplitude do
IEQ entre 3,07% e 3,55%, considerada elevada, 10,53% (4) comunidades com IEQ entre 3,83% e
4,68%, muito elevada, e 21,05% (8) comunidades com IEQ entre 5,0% e 7,26%, considerada
extremamente elevada.
Palavras-Chave: abastecimento, famílias negras, geoestatística, vulnerabilidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 79


ABSTRACT
Research has shown that water scarcity is intensifying due to socioeconomic inequality and the lack
of ecological management of natural resources. The results clarified the gap aimed at improving the
quality of life of families Maroons public policies. Variables that alone showed greater significance
in the universe were rural population living in extreme poverty, households with another form of
garbage and other form of household water (wells, small earth dams, pits, ponds and tanks) supply,
and chlorine, turbidity, coliform and drinkability (underground springs). The index of vulnerability
to water shortages household (IEQ) showed that, regarding the 38 communities surveyed, 21.05%
(8) had an IEQ between 0.04% and 0.32%, considered low vulnerability, 2.63 % (1) community of
IEQ with amplitude of 0.40% considered average, 7.89% (3) communities with IEQ between 0.52%
and 0.77%, considered high, 7.89% (3) communities with IEQ between 0.93% and 1.41%
considered very high, 18.42% (7) communities with IEQ between 1.61% and 2.82%, with
extremely high vulnerability, 7.89% (3) communities with IEQ amplitude of between 3.07% and
3.55%, considered high 10.53% (4) communities IEQ between 3.83% and 4.68%, very high, and
21.05% (8) communities IEQ with between 5.0% and 7.26%, which is considered extremely high.
Keywords: supply, black families, geostatistics, vulnerability.

INTRODUÇÃO

As questões relativas a escassez e qualidade das águas de uso doméstico, na atualidade,


referem-se a um dos mais importantes problemas enfrentados pelos governos Federal, Estadual e
Municipal, principalmente nos aglomerados urbanos brasileiros que abrigam contingentes
significativos de habitantes. Na pesquisa especifica, deu-se ênfases as comunidades quilombolas do
Estado da Paraíba em forma global.
A escassez de água no mundo está se intensificando dada a desigualdade socioeconômica e
da falta de manejo ecológico dos recursos naturais (UNITED NATIONS, 2012). No semiárido
brasileiro as diferenças registradas entre as 135 Unidades Geoambientais assustam e confirmam que
a crise regional da escassez das águas de uso doméstico está diretamente ligada às desigualdades
socioeconômicas e ecológicas, evidenciadas pela Embrapa semiárido, desde a década de 80 (ZANE,
2002 e ANA, 2011).
As desigualdades sociais são mais críticas na maioria das comunidades afro descendentes
que se encontram localizadas no Sertão do Estado da Paraíba. Elas estão entre as comunidades mais
pobres, e ainda, vivem em localidades isoladas para as quais os escravos fugiram. Atingir tais
populações com ações públicas para o abastecimento de água local sustentável é um desafio e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 80


servirá de exemplo, como forma de replicagem para outras regiões semiáridas, principalmente para
o Continente Africano.
Desde 1988 quando a Constituição brasileira assegurou a estas comunidades rurais negras,
quilombolas, o direito aos territórios ancestrais, estas vem organizando-se e reivindicando pelo
cumprimento da lei e pela igualdade de oportunidade entre todos.
As tendências de garantia de água para o futuro das comunidades dispersas do semiárido
paraibano não são animadoras, mesmo com o advindo da transposição das águas do rio São
Francisco. As mudanças globais se intensificam, carreada pela mudança climática, o crescimento
populacional e a urbanização intensa. Nesse sentido, são necessárias abordagens inovadoras, com
vista a garantia da qualidade de habitat humano (UNITED NATIONS, 2012).
As políticas governamentais e as organizações da sociedade civil na Paraíba tem enfrentado
estes desafios a medida que vão surgindo, principalmente, por meio de ações do Projeto
Cooperar/PB em parceria com o Banco Mundial nos últimos quatro anos, mas ainda não é o
suficiente para suprir as necessidades básicas das comunidades paraibanas afro descendentes. Este
estudo, em forma proativa, antecipa as demandas exigidas pelas comunidades, até então excluídas
do processo de serviços essenciais para a vida.
A caracterização da escassez e da qualidade das águas de uso doméstico in loco, pelas
comunidades quilombolas da Paraíba, não contemplaram apenas os setores censitários onde se
encontram localizadas, mas também as áreas do entorno, devido a interdependência direta entre as
Unidades Geoambientais (ZANE, 2002) e suas respectivas micro bacias hidrográficas, tendo em
vista os objetivos de gestão integrada dos recursos hídricos, através da oferta e uso em forma
sustentável.
Este estudo teve como objetivo principal construir um índice de vulnerabilidade
considerando a escassez de água de uso doméstico no universo das comunidades quilombolas
paraibanas, bem como a qualidade dos mananciais superficiais e subterrâneos locais, utilizados no
abastecimento in situ das famílias diretamente envolvidas.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo consistiu na espacialização e codificação dos territórios das comunidades


quilombolas paraibanas associadas aos setores censitários através da construção de um banco de
dados em Sistema Geográfico de Informação (SGI), contendo 337 variáveis. O banco de dados,
também, abrangeu a informação sobre a matriz ambiental água, solo e clima, referentes a 38 (trinta
e oito) Unidades Geoambientais (ZANE, 2002 e IBGE, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 81


A fim de se reduzir estatisticamente o número de variáveis e se criar novas (Fatores), foi
escolhido a Análise de Componentes Principais Fatorial (Método Varimax Rotacionado).
Complementando o propósito de construção do índice de vulnerabilidade para mensuração da
escassez e da qualidade da água de uso doméstico, foi definida a Análise de Clusters (Métodos
Cluster e Fastcluster) para divisão das comunidades quilombolas em grupos naturais, associados a
combinação de manifestações das magnitudes semelhantes (comunidades finais) dos fatores, com a
finalidade de coincidir com o código de situação do setor censitário (IBGE, 2010 e MDS, 2014).
A Análise Fatorial é uma técnica estatística de avaliação de um conjunto de variáveis e de
identificação de dimensões de variabilidade comuns existentes com o intuito de descobrir estruturas
existentes não observáveis diretamente. Enquanto, a Análise de Conglomerado (Cluster Analysis)
identifica e define os casos observados de acordo com as similaridades de suas respostas e os
organiza em grupos naturais (similares) consonantes a determinadas características, no caso
especifico, indicadores socioeconômicos e ecológicos.
As bases de dados georreferenciados utilizadas na construção do índice foram organizadas a
partir das informações geoespacializadas contidas nos arquivos digitais do censo quilombola e das
pesquisas provenientes de avaliação do programa cisternas do Governo Federal, em parceria com a
ASA (MDS, 2014) e na Base de informações do censo demográfico 2010: Resultado do universo
por setor censitário (IBGE, 2010).
Empregou-se nas análises multivariada a geoestatística agregada a um grupo de técnicas,
com a finalidade de analisar e concluir sobre uma determinada variável distribuída no espaço ou no
tempo. Já que a geoestatística é um conjunto de métodos estatísticos apropriados para avaliar um
atributo de um elemento que tem distribuição ininterrupta sobre uma determinada área geográfica,
ou seja, um setor censitário (FAY e SILVA, 2006).
A geração e sistematização final dos resultados teve como origem uma matriz
geoespacializada com 37 variáveis e 38 comunidades quilombolas analisadas, por meio do software
SAS, versão 9.3 (SAS, 2010). Estas, em ambiente de Sistema Geográfico de Informação
(ARCMAP V. 10.2) permitiram a integração dos dados que caracterizaram a variabilidade espacial
das famílias por domicílios particulares permanentes em oito grupos homogêneos em função de
suas características: socioambientais e de qualidade das águas superficiais e subterrâneas utilizadas
para uso doméstico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As cargas fatoriais expressam os coeficientes de correlação entre cada uma das variáveis e
seu respectivo fator, no presente estudo foi considerado, somente aquela maior ou igual a um r2 de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 82


0,3086 (SAS, 2010). Enquanto as magnitudes semelhantes estimam a proporção da variância de
cada variável explicada pelos oito fatores contemplados na análise.
As Figuras 1 e 2 apresentam os grupos médios (cluster means), em função da escassez e da
qualidade da água de uso doméstico, superficial e/ou subterrânea obtida in loco, bem como por
meio da covalidação de informações secundárias (ZANE, 2002, MDS, 2014 e IBGE, 2010), cuja
qualificação e quantificação são apresentadas a continuação:

Figura 1. Caracterização e codificação de oito fatores sobre um total de 37 indicadores,


correspondentes as características da matriz ambiental de escassez e parâmetros de qualidade
água domiciliar dos quilombolas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 83


Figura 2. Caracterização e codificação de oito fatores sobre um total de 37 variáveis
correspondentes as características geoambientais de escassez e qualidade de água domiciliar nos
territórios quilombolas (ZANE, 2002, MDS, 2014) e IBGE, 2010).

IEQ1–Aglomerado rural isolado e zona rural – Abastecimento permanente I - O fator 2


contemplou oito comunidades, localizadas nos municípios de Alagoa Grande (1), Areia (2), Conde
(4) e Ingá (1). Apresentaram os valores médios (cluster means) para abastecimento por meio de
rede geral (46 famílias em Cruz da Menina) e 71 em Ipiranga). Famílias abastecidas com água de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 84


poço ou fonte na propriedade são 60 em Engenho Mundo Novo e 37 na comunidade Engenho do
Bonfim. Este grupo foi classificado como de vulnerabilidade baixa com IEQ entre 0,04% 0,32%
(Figuras 1 e 2).
IEQ2: - Área urbanizada de cidade ou vila – Abastecimento permanente II. O perfil foi
caracterizado pelo agrupamento dos indicadores ocorridos no Fator 6. A comunidade de Negra de
Paratibe localizada no município de João Pessoa (PB) compõe este grupo. Este foi classificado
como de vulnerabilidade média com IEQ de 0,40% (Figuras 1 e 2).
IEQ3: Zona rural - Abastecimento permanente III – Este grupo representou 7,89% das
comunidades pesquisadas, compostas por Fonseca, Matão e Domingos Ferreira. A comunidade
jquilombola de Fonseca tem a maioria de suas famílias (73) abastecidas com água de poço,
enquanto em Domingos Ferreira 128 famílias são abastecidas por meio de outras fontes. Este foi
representado pelo Fator 5 e classificado como de vulnerabilidade alta com amplitude do IEQ entre
0,52% e 0,77% (Figuras 1 e 2).
IEQ4: Zona rural – Abastecimento semipermanente. O grupo é composto das comunidades
Pau de Leite, São Pedro e Curralinho Jatobá e Lagoa Rasa. Estas são abastecidas por rede geral
(Pau de Leite e Curralinho Jatobá) e a maioria das famílias com água provenientes de outras fontes,
sem garantia de qualidade. Este foi representado pelo Fator 3 (Parâmetros de qualidade de água:
temperatura, oxigênio dissolvido e amônia – parâmetros ecológicos: precipitação pluviométrica
média anual, altitude e final do período chuvoso). Ele foi classificado como de vulnerabilidade
muito alta com amplitude do IEQ entre 0,93% e 1,41% (Figuras 1 e 2).
IEQ5: Situação urbana e rural - Abastecimento limitado I - permanente (rede geral e outras
fontes: açudes, cisternas e barreiros) representou 18,42% (7) comunidades examinadas. O IEQ5
teve como variáveis significativas: a) alcal2 – A alcalinidade das águas; b) relevo - O relevo do
terreno; c) d1v233 – DPP com outra forma de destino do lixo e de abastecimento de água de uso
doméstico; e d) fe - Parâmetro de qualidade de água ferro. A classificação do IEQ variou entre
1,61% e 2,82%, considerada de vulnerabilidade extremamente alta (Figuras 1 e 2).
IEQ6: Situação urbana e zona rural (exclusive aglomerado rural) - Abastecimento limitado
II - Teve como indicadores na construção do Fator 1 as seguintes variáveis: a) popresurb –
população residente urbana; b) lixocolserlimp - Lixo coletado por serviço de limpeza; c) nodomurb
– Número de domicílios urbanos; d) popurbext – população urbana de extrema pobreza; e) cloro –
Parâmetro de qualidade de água de beber (Cloro); e) lixo caçamba – Lixo coletado por caçamba; e
f) situação setor – Situação do setor censitário. Neste agrupamento a existência de abastecimento
por meio de outras fontes (cisternas, poços, açudes e barreiros), associadas a variáveis indicadoras

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 85


de extrema pobreza, definiram a classificação do IEQ entre 3,07% e 3,55%, considerada de
vulnerabilidade elevada (Figuras 1 e 2).
IEQ7: Zona rural (exclusive aglomerado rural) – sem recursos hídricos disponível I - Teve
como indicadores na construção do Fator 8 as seguintes variáveis: a) qaguasubt – Qualidade das
águas subterrâneas; b) pH; c) turbmgl – Turbidez; e d) ugeo – Unidade Geoambiental (ZANE,
2002). Esta dimensão agrupou a maioria as comunidades Vinhas, Serra do Abreu, Grilo e
Pitombeira. Neste agrupamento os indicadores de abastecimento de água domiciliar por carro-pipa e
água de chuva, associados ao índice do potencial ambiental local, foram mais significativos. Por
esta razão a amplitude do IEQ variou entre 3,83% e 4,68%, considerada de vulnerabilidade muito
elevada (Figuras 1 e 2).
IEQ8: Zona rural, exclusive aglomerado rural - sem recursos hídricos disponíveis II - Este,
representado pelo fator 5, dada a escassez de água permanente as famílias vivem, em constante
estado de emergência. Domicílios Particulares Permanentes (DPP) com cargas fatoriais, altamente
significativas, para as variáveis ecológicas: a) qaguasuperf – Qualidade das águas superficiais; b)
aguasubterpot- Potabilidade das águas subterrâneas; c) d1v232 – Domicílios Particulares
Permanentes (DPP) com outra forma de destino do lixo e abastecimento de água de chuva
armazenada em cisterna; e d) chuvaini – Início do período chuvoso. (Figura 1). Presente em oito
setores censitários apresentou um índice IEQ entre 5,00 e 7,26%, considerado de vulnerabilidade
extremamente elevada de escassez e qualidade das águas domiciliares (Figuras 1 e 2).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado esclareceu a lacuna de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade


de vida das famílias quilombolas. As variáveis que isoladamente mostraram média (cluster means)
maior em todo o universo foram os parâmetros cloro, turbidez, coliformes e potabilidade de
qualidade de água, com ênfases aos mananciais subterrâneos e altamente significativa a variável
"domicílios particulares permanentes" com outra forma de destino do lixo (jogado em terreno
baldio ou logradouro) e outra forma de abastecimento de água (poços, pequenas barragens de terra,
barreiros, cacimbas e cisternas).
Os problemas de vulnerabilidade de escassez e de qualidade da água domiciliar ultrapassam
os limites territoriais das comunidades quilombolas, intrínsecas aos setores censitários pesquisados,
assim como a poluição, proteção e a preservação dos recursos hídricos que são caracterizadas e
instituídas por bacias hidrográficas e não por limites municipais.
Nesse sentido, o Índice de vulnerabilidade de escassez e de qualidade de água domiciliar –
IEQ, representou, significativamente, as informações multidimensionais das comunidades

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 86


quilombolas por Unidade Geoambiental, classificando-as quanto a vulnerabilidade nos seguintes
grupos: a) Aglomerado rural isolado e Zona rural - Abastecimento permanente I; b) Área
urbanizada - Abastecimento permanente II; c) Zona rural - Abastecimento permanente III; d)Zona
rural - Abastecimento semipermanente; f) Situação urbana e rural - Abastecimento limitado I; g)
Situação urbana e zona rural - Abastecimento limitado II; h) Zona rural - Sem recursos hídricos
disponível I; e i) Zona rural - Sem recursos hídricos disponível II.
O IEQ demonstrou que, referente as 38 comunidades pesquisadas, 21,05% (8) apresentaram
um IEQ entre 0,04% e 0,32%, considerada de vulnerabilidade domiciliar baixa, 2,63% (1)
comunidade com amplitude do IEQ de 0,40%foi consideradade vulnerabilidade média, 7,89% (3)
comunidades com amplitude do IEQ entre 0,52% e 0,77%, considerada alta, 7,89% (3)comunidades
com IEQ entre 0,93% e 1,41% considerada muito alta, 18,42% (7)comunidades com IEQ entre
1,61% e 2,82%, com vulnerabilidade extremamente alta, (3) comunidades com amplitude do IEQ
entre 3,07% e 3,55%, considerada elevada, 10,53% (4) comunidades com IEQ entre 3,83% e
4,68%, considerada muito elevada, e 21,05% (8) comunidades com IEQ entre 5,0% e 7,26%,
considerada extremamente elevada, respectivamente.

REFERÊNCIAS

ANA - AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil:
informe 2011. Brasília-DF, 2011.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, site: www.ibge.gov.br, Censo Demográfico,


2010.

FAY, E. F.; SILVA, C. M. M. de S. Índice do Uso Sustentável da Água (ISA-ÁGUA)- Região do


Submédio São Francisco. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/SP, 2006, pp. 158.

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Construção de cisternas avança


no semiárido, Disponível em <http://www,mds,gov,br/ascom/revistas/mds/cisternas,htm>,
Acesso em 5/06/2014,

SAS. Institute Inc., SAS/STAT. (2010). User‘s guide, version 9.3, ed. Cary: SAS Institute Inc., p.
443.

UNITED NATIONS. Word Urbanization prospects - The 2011 Revision. New York, 2012.

ZANE – Zoneamento Agroecológico do Nordeste do Brasil: diagnóstico e prognóstico. Embrapa


Solos, 2002.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 87


MODELO DIGITAL DE ALTURA E VOLUME DE VEGETAÇÃO NATURAL COMO
FERRAMENTA PARA DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DE ÁREAS
DEGRADADAS

Karidja Kalliany Carlos de Freitas MOURA3


Professora/Pesquisadora PNPD/CAPES da Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
karidja@ufersa.edu.br

Ana Cláudia Medeiros SOUZA


Mestra em Manejo de Solo e Água, UFERSA
anaclaudia.gambiental@hotmail.com

Clara Lívia Câmara e SILVA


Mestranda em Ciências Naturais – UERN
clarinhalcs@hotmail.com

Nildo da Silva DIAS


Professor Adjunto IV do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas, UFERSA
nildo@ufersa.edu.br

RESUMO
Atualmente, as atividades de exploração de recursos naturais sofrem uma forte pressão social,
cobrando das empresas do ramo uma postura ambientalmente correta. Tendo em vista que, a
recuperação das áreas degradadas deve ser motivo de preocupação e objeto de estudo desde o
momento do planejamento dessas ações impactantes até sua conclusão, as técnicas de
Geoprocessamento podem desempenhar um importante papel desde o diagnóstico de um cenário de
degradação até o monitoramento de sua recuperação. Este trabalho tem como objetivo propor
ferramentas de Geoprocessamento para apoiar o diagnóstico e monitoramento de áreas degradadas
em recuperação através da utilização de um Sistema de Informação Geográfica (SIG). A área em
recuperação do estudo pertence a uma jazida desativada e passa por processo de recuperação desde
o ano de 2010, cuja técnica de recuperação implantada foi de revegetação com espécies nativas da
Caatinga. Mediante as ferramentas disponíveis no SIG e, com a base cartográfica elaborada, foi
possível o cálculo de valores referentes à área em estudo, tomando como comparação, cenários
homólogos. De acordo com os valores obtidos conclui-se que, a situação de recuperação da área em
estudo não evoluiu de forma positiva, desde a implantação do PRAD até a atualidade. Para que o
processo de revegetação possa ser eficiente, indica-se o tratamento do solo totalmente degradado,
para que, em seguida, sejam implantadas as mudas das espécies nativas da Caatinga. Mediante o
manuseio do MDA, do VVN e demais informações geradas nesse trabalho, foi possível a obtenção

3
Orientadora.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 88


de valores bastante aproximados para diversos parâmetros, bem como, a criação de outros, tornando
possível uma melhor avaliação do processo de recuperação de áreas degradadas.

ABSTRACT
Currently the exploration of natural resources suffer a strong social pressure, charging the
companies in the industry an environmentally correct posture. Given that the recovery of degraded
areas should be of concern and object of study since the time of planning these impactful actions to
completion, technical GIS can play an important role since the diagnosis of a scenario of
degradation to monitoring his recovery. This work aims to propose geoprocessing tools to support
the diagnosis and monitoring of degraded areas in recovery through the use of a Geographic
Information System. The recovery area under study belongs to a disused quarry and goes through
the recovery process since the year 2010, for which the recovery was implemented revegetation
with native species. Through the tools available in GIS and cartographic base developed, the
calculation of values for the study area was possible, taking as scenarios compared counterparts.
According to the obtained values, we arrive at the conclusion that the state of recovery of the study
area has not evolved positively since the implementation of PRAD until today. For the revegetation
process could be efficient, indicates the treatment is totally degraded the soil, that could then be
deployed seedlings of native species. Upon handling the MDA, the VVN and other information
generated in this work it was possible to obtain very approximate values for various parameters and
also the creation of others, thus making possible a better assessment of the recovery process areas.

INTRODUÇÃO

Desde o início do século XX, o crescimento populacional de forma exponencial gerado pela
Revolução Industrial levou a sociedade à necessidade de maior exploração dos recursos naturais,
como também maior utilização de espaço físico, provocando crescimento desordenado e nocivo de
determinadas áreas. A ausência de planejamento das cidades provoca diversos danos à natureza,
entre eles, a geração indiscriminada de resíduos sem nenhum tipo de tratamento, poluição de corpos
hídricos, do ar, do solo e o desmatamento para seus diversos fins.
Segundo Fernandes (2010), desde a década de 70, a questão ambiental adquiriu maior
importância no contexto mundial, isso ocorreu devido a um maior interesse da sociedade em
modificar sua postura perante à gestão dos recursos naturais, enfatizando a conscientização e um
possível esgotamento destes no futuro. Atualmente, as atividades de exploração de recursos naturais
sofrem uma forte pressão social, quando se cobra das empresas do ramo uma postura
ambientalmente correta.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 89


De acordo com Bitar e Braga (1995), recuperar uma área significa dizer que o local alterado
é trabalhado de modo que as condições ambientais acabem se situando próximas às condições
anteriores à intervenção; ou seja, trata-se de devolver ao local o equilíbrio e a estabilidade dos
processos atuantes.
Tendo em vista que, a recuperação das áreas degradadas em prol do desenvolvimento deve
ser motivo de preocupação e objeto de estudo desde o momento do planejamento dessas ações
impactantes até sua conclusão, as técnicas de Geoprocessamento podem desempenhar um
importante papel desde o diagnóstico de um cenário de degradação até o monitoramento de sua
recuperação, podendo a área em estudo ser acompanhada com o passar do tempo, detectando e
analisando quaisquer alterações possíveis de serem representadas espacialmente.
Geoprocessamento é uma área do conhecimento, onde diversos tipos de informações
geográficas são processadas por meio de técnicas matemáticas e computacionais. O Sistema de
Informação Geográfica (SIG) é uma ferramenta do geoprocessamento, através da qual são geradas
informações por meio da análise e integração de dados geográficos. Num SIG, podem-se utilizar
imagens de satélite e/ou fotos aéreas, que podem ser analisadas em um determinado instante, ou em
diferentes épocas.
Segundo Câmara e Queiroz (2001), o termo SIG é aplicado para sistemas que realizam o
tratamento computacional de dados geográficos e recuperam informações não apenas com base em
suas características alfanuméricas, mas também através de sua localização espacial; oferecem ao
administrador uma visão inédita de seu ambiente de trabalho, em que todas as informações
disponíveis sobre um determinado assunto estão ao seu alcance, inter-relacionadas com base no que
lhes é fundamentalmente comum: a localização geográfica. Para que isto seja possível, a base
cartográfica de um SIG deve estar georreferenciada, ou seja, possuir um sistema de coordenadas
atrelado a um referencial geodésico e ser representada numa projeção cartográfica.
De acordo com Marcelino (2007), as geotecnologias, representadas em especial pelo
Sistema de Informação Geográfica (SIG), Sensoriamento Remoto e Sistema de Posicionamento
Global (GPS), apresentam uma série de facilidades na geração e produção de dados e informações
para o estudo de fenômenos geográficos. Utilizando estas ferramentas pode-se produzir informações
em pouco tempo e com baixo custo, combinando informações de dados espaciais multi-fontes a fim
de analisar as interações existentes entre as variáveis, elaborar modelos preventivos e dar suporte as
tomadas de decisões.
Dentro desse contexto, análises temporais podem ser bastante úteis quando se deseja avaliar
a evolução de uma área. Além disso, com a utilização de fotografias aéreas, é possível gerar
informações espaciais detalhadas de uma área, minimizando os trabalhos de campo. Todas essas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 90


informações espaciais contidas em um SIG auxiliam nas tomadas de decisão, pela visão dos
diferentes componentes do ambiente de forma geral e integrada.
Em um país de grande dimensão como o Brasil, a tomada de decisões referentes ao uso do
solo (urbano e/ou rural) torna-se dificultada pela falta de informações das áreas de interesse e é
nesse aspecto em que há a contribuição do geoprocessamento, já que o mesmo apresenta a
possibilidade de obtenção de informações ambientais, geomorfológicas, antropológicas e
geográficas, com escala e custo compatíveis com a aplicação de interesse.
Com o apoio das ferramentas de Geoprocessamento, busca-se neste trabalho sua integração
com outras técnicas ambientais para aprimorar e agilizar o processo de diagnóstico e subsequente
monitoramento de áreas degradadas em recuperação, podendo então constituir um banco de dados
de fácil atualização e manuseio para os usuários em várias áreas de interesses e também dar
condições para que se possa avaliar o processo de recuperação de áreas degradadas através dessas
informações obtidas.

MODELO DIGITAL DE ALTURA (MDA)

O Modelo Digital de Altura (MDA) foi desenvolvido por Silva (2012) e seus respectivos
colaborares no seu trabalho sobre diagnóstico e monitoramento de áreas degradadas, e resultou da
subtração do MDS (Modelo Digital de Superfície), que é representação matemática da distribuição
espacial das feições naturais e artificiais dissociadas da superfície topográfica tais como vegetação,
edificações e demais elementos artificiais, pelo MDT, que é a representação matemática da
distribuição espacial do terreno, isento de cobertura vegetal e de objetos que não caracterizem a
topografia do solo. As figuras 1, 2 e 3 apresentam, respectivamente, os três modelos digitais criados
sobre a área em estudo. O MDA representa tanto o solo exposto, através das regiões com valores
próximos a zero, quanto toda a cobertura do solo, através das regiões com valores acima de zero.
Como resultado, tem-se a distribuição das alturas das copas e arbustos, o que possibilita a
identificação dos indivíduos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 91


Figura 1 – Modelo Digital de Superfície.

Figura 2 – Modelo Digital de Terreno

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 92


Figura 3 – Modelo Digital de Altura

O Volume de Vegetação Natural (VVN), que representa o volume ocupado pela vegetação
natural, é obtido a partir do MDA gerado pelo software em uso, neste caso foi o ArcGis® 10.
Nas ciências naturais, resiliência é a capacidade de um determinado ambiente ou
ecossistema de retomar sua forma original após uma perturbação. O termo resiliência vem da física
e significa a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida
quando cessa a tensão causadora de uma deformação (FERREIRA,1986).
Pimm (1981, apud SILVA e REIS, 2000), considera resiliência como um balanço que pode
ocorrer tanto dentro da população como dentro de uma comunidade e que a velocidade da
resiliência desses dois níveis depende da energia disponível na área, envolvendo as condições que
favoreçam ou não as plantas a absorverem essa energia, e do número de ciclos necessários para a
recuperação do equilíbrio. A pesquisa realizada a partir da criação do MDA foi a primeira
utilizando modelagem digital para diagnóstico e avaliação de recuperação de área degradada na
caatinga.

METODOLOGIA

A área de estudo está localizada na mesorregião do Oeste Potiguar, município de


Mossoró/RN, próxima às margens da rodovia RN 117, com as coordenadas centrais (9408613,
671893) referenciadas ao Sistema de Referência Geodésico SIRGAS2000, Projeção UTM, M.C 39
°W.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 93


De acordo com Barreto (2010), trata-se de uma região de clima semi-árido, tendo como
vegetação predominante a caatinga, composta de árvores e arbustos baixos com características
xerofíticas. Constitui uma vegetação de clima quente e de fisionomia diretamente ligada às
condições climáticas e pedológicas regionais. Possui temperatura média anual de 27,4 °C. O
período chuvoso da região, em média, ocorre entre fevereiro e abril. A umidade relativa do ar é em
média de 70% e o tempo de insolação chega a 2 700 horas anuais. A precipitação média anual é de
765,8 mm.
A área em estudo do trabalho citado passa por processo de recuperação desde o ano de 2010,
cuja técnica de recuperação implantada foi de revegetação com espécies nativas. Apresenta espécies
arbustivas a rasteiras e ainda há espaços com solo exposto devido ao tipo de degradação resultante
da exploração a qual foi submetida por um determinado período.
Para o desenvolvimento do trabalho, foi utilizada uma base cartográfica composta por
imagens de satélite, ortofotos digitais, modelos digitais de terreno e modelos digitais de superfície,
cedidas pela empresa, a partir dos quais foram vetorizadas as feições que se fizeram necessárias
para fins de análises espaciais e/ou composição de bancos de dados espaciais relacionados a
informações alfanuméricas.
Para a análise do programa de recuperação implantado na área em estudo, foram definidos
três cenários, escolhidos através da interpretação visual, levando em consideração áreas que já
possuíam cobertura vegetal na época de aquisição das imagens de satélite QuickBird(2003/2005).
Outro parâmetro para escolha dos cenários foram regiões onde a vegetação do mesmo tipo
tinha comportamentos diferentes em termos de densidade. Esta simulação foi feita com o intuito de
comparar o estado de crescimento e situação evolutiva das plantas de cada área com a área que está
em recuperação. As áreas foram assim definidas: Área 0: área em recuperação em estudo; Área 1:
área com cobertura vegetal menos densa (cenário aceitável); Área 2: área com cobertura vegetal
mais densa (cenário ideal). As figuras 4, 5 e 6 representam, respectivamente, as áreas acima citadas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 94


Figura 4 –Visualização da área em estudo

Figura 5 – Área 1 ou área com cobertura vegetal menos densa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 95


Figura 6 – Área 2 ou área com cobertura vegetal mais densa

A partir do MDA foi realizado o cálculo do Volume de Vegetação Natural (VVN), que
representa o volume ocupado pela vegetação natural. Também foi tomada para comparação de
resultados, uma outra área, próxima à área em estudo, cuja ocorrência de resiliência foi detectada
por imagens de satélite Quickbird, obtidas entre 2003 e 2005, as quais foram comparadas com as
ortofoto atuais 2011/2. A ocorrência de resiliência também foi confirmada após a entrevista com
populares, que afirmaram o desuso da área de aproximadamente 6 anos. A figura 7 apresenta a
imagem de satélite da área (delimitada em linha roxa) no ano de 2005. A figura 8 apresenta um
recorte da ortofoto da área de resiliência.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 96


Figura 7 – Imagem de satélite da área de ocorrência de resiliência

Figura 8 – Imagem aérea da área de ocorrência de resiliência

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 97


RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a confirmação e a delimitação da área de ocorrência de resiliência foi possível o


cálculo da área da mesma, obtendo-se um valor 40.474,1 m² ou 4,05 ha. O VVN obtido para a área
de resiliência foi de 67.143,24 m³.
Fazendo uma relação entre o VVN e o valor da área da resiliência, tem-se:
VVN (m³) = A (m²) x Hm (m) (1)
VVN (m³) / A (m²)= Hm (m) (2)
Em que: A é o valor da área da resiliência; VVN é o Volume Vegetal Natural calculado para
a Área; e Hm é a altura média dos indivíduos da área de resiliência.
A partir das equações 1 e 2 apresentadas acima, é possível obter parâmetros para
comparação da situação de recuperação dessa área de ocorrência de resiliência com demais cenários
mencionados anteriormente utilizando a altura média dos indivíduos obtidos durante o processo de
geração do VVN. O quadro 1 representa a média dos indivíduos obtida a partir da relação fornecida
pela equação anterior.

Altura média dos


VVN (m³) Área (m²)
indivíduos (m)

Área 0 1.165,5 10.491,8 0,11


Área 1 18.570,89 10.491,8 1,77
Área 2 25.538,44 10.491,8 2,43
Área de resiliência 67.143,24 40.474,1 1,65
Quadro 01-Altura média dos indivíduos obtida a partir da relação VVN/Área.
Fonte: SILVA (2012)

De acordo com os valores apresentados acima, pode-se dizer que a área cuja recuperação
aconteceu através do processo de resiliência encontra-se em situação de desenvolvimento
aproximado ao cenário da área 1, que é de mata nativa e apresenta vegetação menos densa.
Fazendo-se uma relação equacional simples, sabendo que a área de ocorrência de resiliência
apresenta 40.474,1m² em área e 67.143,24m³ em volume de vegetação, obteve-se o valor ideal de
17.405,04m³ em volume de vegetação para a área em estudo, que apresenta 10.491,8m², estando ela
nas mesmas condições de desuso que a área em resiliência.
Tendo conhecimento de que o isolamento e período de desuso dessa área de ocorrência de
resiliência é de aproximadamente 6 anos e que também o bioma predominante na região é a
caatinga, sendo este de crescimento lento associado aos longos períodos de estiagem, pode-se
afirmar que esta área isolada encontra-se em boa situação de recuperação, quando comparada com

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 98


os cenários das áreas 1 e 2 (cobertura vegetal anterior a 2003/2005), tendo em vista que também não
houve tratamento de solo ou chuva de sementes, nem qualquer outro processo que estimulasse a
recuperação da mesma. Sugere-se então, a altura média dos indivíduos como mais um parâmetro de
avaliação da recuperação de áreas degradadas, além do VVN.
Deve-se salientar que todos os parâmetros apresentados anteriormente estão diretamente
relacionados com as espécies envolvidas na análise, a idade dessas plantas, como também com seu
estado de desenvolvimento, tendo em vista que há fases em que determinadas espécies perdem suas
folhagens, reduzindo o volume das copas, modificando então o resultado no cálculo do volume. O
bioma Caatinga possui características próprias de fisionomia e desenvolvimento.
As camadas superficiais do solo já haviam sido removidas devido ao tipo de exploração
sofrida pela área. Para que o processo de revegetação pudesse ser eficiente, deveria haver
inicialmente o tratamento deste solo degradado, para que em seguida pudessem ser implantadas as
mudas das espécies nativas. Este também foi um fator que influenciou no não sucesso no plano de
recuperação da área e consequentemente no baixo percentual de pega das mudas.
Há também a problemática de que há dois anos não há período chuvoso na região ou se
houve foi de baixo nível pluviométrico. Então como as mudas dependiam da água da chuva para
sobreviver, muitas morreram por falta d‘água. Mesmo que sejam espécies nativas da região, estas
foram plantadas em sua fase de crescimento que necessita de maior quantidade de água e nutrientes
para se desenvolver.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que, para que o processo de revegetação possa ser eficiente, deveria haver
inicialmente o tratamento deste solo totalmente degradado, para que, em seguida, sejam
implantadas as mudas das espécies nativas.
Com a utilização do MDA e do VVN previamente calculados, associado à imagens aéreas,
torna-se possível o monitoramento de impactos e acompanhamento por parte dos executores e
coordenadores do processo de recuperação da área degradada, mesmo que estejam em local distante
ao de recuperação, isso porque as informações que são lançadas ou alteradas no banco de dados
podem ser acessadas por outra pessoa em outra cidade, bastando que para isso os computadores
estejam ligados em rede.
Mediante o manuseio doMDA, do VVN e demais informações geradas nesse trabalho foi
possível a obtenção de valores bastante aproximados para diversos parâmetros, bem como também
a criação de outros, tornando possível assim uma melhor avaliação do processo de recuperação de
áreas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 99


Os dados reunidos ao final deste trabalho podem ser utilizados como parâmetros para a
elaboração de um indicador de qualidade do programa de recuperação aplicado na área, que foi
ineficaz. Esses dados podem ser atualizados de acordo com as necessidades do acompanhamento
desses processos por parte dos responsáveis pela área, gerando assim uma base atualizada das
situações das áreas de propriedade da empresa para apoiar respectivos licenciamentos ambientais
com melhor qualidade.

REFERÊNCIAS

BARRETO, A. C. Uso de uma ferramenta computacional (SIG) para o diagnóstico e


monitoramento de áreas degradadas em recuperação. 2010. 40f. Monografia (Graduação em
Engenharia Agrícola e Ambiental) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio
Grande do Norte.

BITAR, O. Y.; BRAGA, T. O. O meio físico na recuperação de áreas degradadas. In: BITAR, O.Y.
Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 1995. cap. 4.2, p.165-179.

CAMARA, G.; QUEIROZ, C. Arquitetura de sistema de informação geográfica. Disponível em


<http://mtcm12.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/sergio/2004/04.22.07.43/doc/ publicacao.pdf>. Acesso
em 15 de setembro de 2014.

FERNANDES, R. T. V. Biodiversidade nas salinas. Volume 1: Peixes. São Paulo. Editora Baraúna.
2010. 106 p.

FERREIRA, A. B. O. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira,1986.

MARCELINO, E. V. Desastres Naturais e Geotecnologias: Conceitos Básicos. INPE. Santa Maria.


2007.

PIMM, S. L. The balance of nature? Ecological issues in the conversation of species and
communities. Chicago. The University Chicago Press, 1991. 434p. In: SILVA, G. R. e REIS, A.
Recuperação da resilência ambiental em áreas degradadas: a relevância do hábito, floração e
frutificação no processo. 2000. Revista Saúde e Ambiente, v.1, n.1. p.68-72. Disponível em:
<http://periodicos.univille.br/index.php/RSA/article/viewFile/30/42 > Acesso em 15 de setembro
de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 100


SILVA, C. L. C. Geoprocessamento no monitoramento e diagnóstico da recuperação de áreas
degradadas. 2012. 61f. Monografia (Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental) –
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio Grande do Norte.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 101


AGROTÓXICOS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE HUMANA: ESTUDO DE CASO NA
COMUNIDADE DO GRAMOREZINHO/NATAL/RN

Ana Cristina Xavier Leandro de OLIVEIRA4


Secretária Estadual de Saúde do RN (SESAP-RN)
anaxavier@hotmail.com

Ângela Aparecida MAZZI5


Analista Clínico Laboratorial
angelamazzi@hotmail.com

Rivanildo Lopes PEREIRA6


Especialista em Gestão Pública Ambiental (FATERN)
rivadol@hotmail.com

Bruno Claytton Oliveira da SILVA7


Docente da UnP e FATERN
brunoclaytton@yahoo.com.br

RESUMO
A questão do descarte de produtos, invólucros ou recipientes tóxicos no meio, tem feito parte da
pauta de discussão dos principais fóruns ambientais da atualidade. A justificativa para tal é a já
reconhecida relação entre o descarte inadequado de tais materiais/produtos e o processo de
contaminação do solo, recursos hídricos e alimentos, além da notificação de vários agravos a saúde
humana. Os agrotóxicos são substancias químicas poluidoras que podem causar agravos muitas
vezes irreversíveis à saúde humana e a biodiversidade. Em face do exposto, o presente trabalho
objetivou levantar as condições e, consequentemente, traçar um quadro-diagnóstico sobre a
ocorrência de agravos específicos a partir do uso de agrotóxicos na comunidade agrícola do
Gramorezinho em Natal/RN. A pesquisa baseou-se em revisão bibliográfica de trabalhos pertinentes
ao tema, levantamento de campo e análises laboratoriais. Em suma, os resultados encontrados
sinalizaram para intoxicação por agrotóxicos, por parte dos agricultores, devido a três fatores
preponderantes: falta de uso de equipamentos de proteção individual, utilização de grande volume
do produto e aplicação dos agrotóxicos em horário inadequado. A realidade em questão alterou-se
substancialmente na comunidade citada, dada a adesão da mesma ao projeto ‗Amigo Verde‘, que
tem o apoio do Ministério Público, PETROBRAS SEBRAE, EMATER e UFERSA.
Palavras-chave: poluição ambiental; agravos à saúde humana; manejo de agrotóxicos.

4
Bacharel em Serviço Social (FATERN). Especialista em Gestão Pública Ambiental (FATERN).
5
Bacharel em Ciências Biológicas (Modalidade Médica, PUC-GO). Especialista em Gestão Pública Ambiental
(FATERN).
6
Bacharel em Administração (FATERN). Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte (FATERN).
7
Licenciado em Geografia (UFRN). Especialista em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido (IFRN). Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFRN).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 102


ABSTRACT
The issue of disposal of products, wrappers or recipients toxic in the middle, has been part of the
agenda for discussion of the major environmental forums today. The justification for this is already
recognized link between inappropriate Thus such materials / products and the process of
contamination of soil, water and food, in addition to notification of various aggravations to human
health. Pesticides are polluting chemicals that can cause health problems often irreversible human
health and biodiversity. In view of the above, the present work aims conditions and, consequently,
to establish a framework-diagnosis on the occurrence of specific aggravations from the use of
pesticides in agricultural community Gramorezinho in Natal-RN. The research was based on
literature review relevant to the topic, field survey and laboratory analysis work. In short, the results
signaled to pesticide poisoning, among farmers due to three preponderant factors: failure to use
individual protection equipment, use of large volumes of product and application of pesticides in
inappropriate time. The reality in question has changed substantially in said community, given the
membership of the same project 'Green Friendly', which has the support of PETROBRAS,
prosecutors, SEBRAE, EMATER and UFERSA.
Keywords: environmental pollution; aggravations to human health; management of pesticides.

INTRODUÇÃO

Na atualidade, o discurso sobre a importância de preservar o meio ambiente tornou-se


corriqueiro em busca de alternativas para a solução ou amenização das diversas questões ambientais
geradas por um conjunto de processos sociais, destacando-se, dentre outras, o uso indiscriminado de
agrotóxicos como um fator de preocupação e insegurança no cotidiano de agricultores,
trabalhadores, populações rurais e consumidores.
Neste contexto, a relevância do tema tratado justifica o presente estudo, pois, não apenas
descreve um quadro social recorrente, mas, objetiva levantar os principais agravos à saúde
decorrentes do uso de agrotóxicos por parte da população residente na comunidade do
Gramorezinho; área com características agrícolas inserida no meio urbano da cidade do Natal-RN.
Além disso, espera-se apontar estratégias para o fortalecimento da agricultura familiar no que tange
a produção de alimentos mais saudáveis.

Agrotóxicos: marco legal e riscos à saúde humana

De acordo com a Lei n. 7.802/89, consideram-se agrotóxicos o conjunto de produtos


químicos ou biológicos empregados na agricultura para combater as pragas, sobretudo em grande

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 103


escala. Sabe-se, portanto, que os efeitos de alguns desses contaminantes são irreversíveis à saúde
podendo apresentar suas manifestações após meses, anos ou décadas.
O Ministério da Saúde (1989) classifica os biocidas por sua toxidade em: Extremamente
Tóxico, Altamente Tóxico, Medianamente Tóxico e Pouco Tóxico, segundo a Dose Letal 50 (DL
50) sendo indicador de morte, em sentido do efeito agudo a sua exposição, comparando com a
quantidade em uso, a qual seria suficiente para levar o usuário à morte.
Não obstante, esses biocidas, no geral, são classificados por sua periculosidade ambiental,
como: Altamente, Muito, Pouco ou Perigoso, sendo essa classificação pressuposta de parâmetros de
bioacumulação, persistência, transporte e sua toxidade a variados organismos, potencialmente
mutagênico, teratogênico e carcinogênico (RIEDERET et al., 2004 apud BEDOR, 2008, p. 21).
De acordo com Garcia (2001) apud BEDOR (2008, p. 21):

―A periculosidade dos agrotóxicos para humanos começa pela ingestão, pela respiração e
por absorção dérmica, variando assim com a formulação empregada, obedecendo à
temperatura, umidade relativa do ar, sendo que as mãos, pulsos, nuca, pés, axilas, virilhas
tende a maior absorção, respeitando o tempo de contato e descontinuidade de tecido
lesado‖.

Entre os grupos profissionais mais expostos e mais predisponentes as patologias envolvidas


estão: o trabalhador dos setores agropecuário, transporte, comércio e indústria de formulação e
síntese. Além desses, destacam-se os profissionais da agroindústria – que são altamente expostos
aos componentes tóxicos da fórmula, a partir da manipulação, diluição, preparo de caldas – assim
como, os funcionários que entram nas lavouras sem os necessários Equipamentos de Proteção
Individual – EPIs (MARTINS et al. 2009).
No entanto, percebe-se, que os produtores agrícolas concebem o uso de agrotóxicos como
uma perspectiva para o aumento da produção, maior oferta de alimentos e, consequentemente, a
redução dos custos de produção. Isso, sem se importar com os possíveis danos ao meio ambiente e a
saúde pública decorrentes destes insumos. Porém, faz-se necessário o reconhecimento dos
produtores rurais acerca desses riscos reforçando a importância da sustentabilidade ambiental
garantindo a qualidade de vida dos trabalhadores e consumidores.

A toxidade por metamidofós

O uso elevado de pesticidas nas plantações para a prevenção ou ao combate de pragas tem
contribuído com uma série de efeitos deletérios sobre a saúde humana e de outros seres vivos
expostos. Neste grupo, destaca-se o metamidafós, que é uma substância extremamente tóxica, de
acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2009). A exposição a este

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 104


produto assim como a de outros pesticidas ocorrem comumente no setor agropecuário que além de
pôr o trabalhador em risco de intoxicação, expõe também outros grupos populacionais.

Agrotóxicos e meio ambiente

Diante das considerações levantadas, é evidente que tudo que diz respeito às questões
ambientais, está relacionado à vida presente e futura da humanidade. Neste contexto, enfatiza-se o
esclarecimento a respeito do perigo que causa o uso de agrotóxicos, sabendo-se que não atinge
somente seus alvos - insetos, fungos ou ervas daninhas, mas, também se torna uma importante via
de contaminação exercendo efeitos adversos sobre toda uma cadeia alimentar desde a água, o solo e
o ar. Além disto, merece destaque a questão da destinação final de suas embalagens vazias que
envolvem uma gama de procedimentos desde a fabricação, a comercialização, utilização,
licenciamento, fiscalização e monitoramento das atividades relacionadas com o manuseio,
transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens.
Esse complexo comportamento do agrotóxico no meio ambiente, tendo o homem como seu
maior receptor, vem gerando extensas discussões, pois, as perspectivas são de agravamentos para os
próximos anos. Essa visão contextualizada de superação vem ganhando apoio, gerando políticas
públicas e leis ambientais e impondo restrições ao meio ambiente.
Contudo, existem alguns fatores que dificultam a efetividade de se implantar medidas
seguras e protetoras à saúde e ao meio ambiente. Dentre outras dificuldades, inclui-se a deficiência
de políticas públicas, fiscalização, vigilância e orientação técnica limitada somada a dificuldade da
implementação do receituário agrônomo ou informação sobre produtos ilegais (LONDRES, 2011).
É sabido que a produção de gêneros alimentícios tem grande incentivo governamental.
Todavia, o acesso e uso dos produtos derivados do campo ainda apresentam-se como
desequilibrados, tendo em vista que o número significativo da população brasileira ainda permanece
em condições de extrema pobreza.
Acredita-se que uma saída para tal realidade, repousa na agricultura ecológica. No entanto,
para que essa modalidade de produção agrícola se desenvolva no país faz-se necessário uma ampla
reforma das políticas agrícolas e agrárias. Para isto, é importante que se coloque a agricultura
familiar como prioridade, dada a característica de produção destes grupos que, devido as suas
técnicas de manejo, reduzem significativamente os impactos negativos ambientais.

A chegada do agronegócio no Brasil e sua dimensão socioeconômica

Sabe-se que a prática da agricultura pela humanidade remonta aos dez mil anos, porém o uso
de agrotóxicos nas plantações existe apenas pouco mais de 50 anos tendo sua origem após as

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 105


grandes guerras mundiais que até então esses venenos eram usados como armas químicas,
encontrando na agricultura seu novo mercado (LONDRES, 2011).
No Brasil, a chegada do agrotóxico deu-se nas décadas de 1960-70, através de programas de
saúde pública para combater vetores e controlar parasitas, passando a ser mais utilizada no campo
de acordo com o aceleramento no processo de produção e automação das lavouras que ficou
conhecida como ―Revolução Verde‖.
É importante ressaltar que esse mercado no Brasil vem sendo alimentado por empresas
estrangeiras que ainda seguem comercializando agrotóxicos já banidos em países europeus, até
mesmo os que foram excluídos pela ANVISA por serem altamente perigosos (DECRETO
6.006/062). Não obstante, entre 2001 e 2008, a venda de venenos agrícolas no país saltou de pouco
mais de US$ 2 bilhões para mais US$ 7 bilhões. Neste período foram aplicados 986,5 mil ton. de
agrotóxicos. Esse consumo foi ampliado em 2009 para 1 milhão de ton., o que representa 5,2 kg de
veneno para cada habitante (LONDRES, 2011).
Diante desta realidade, devem-se questionar as causas dos problemas socioambientais,
melhoria da qualidade de vida e a preservação do meio ambiente levando em consideração a inter-
relação entre o homem e a natureza. Esse impacto negativo tem merecido atenção especial da
comunidade científica, pois, dentre os inúmeros problemas relacionados ao uso dos agrotóxicos,
acrescenta-se, ainda, a geração elevada e o descarte irregular de resíduos sólidos.

A questão da destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos

A produção tecnológica vem tomando lugar de destaque em escala global, cujos efeitos
geram cada vez mais acúmulos e resíduos poluentes que contribuem para a deterioração ambiental e
desequilíbrio dos ecossistemas.
Nos últimos anos, entre 2001 e 2008, o Brasil alcançou a posição de maior consumidor
mundial de agrotóxicos, saltou de pouco mais de US$ 2 bilhões para mais US$ 7 bilhões. Logo, o
uso desses produtos gera uma categoria específica de resíduos que são as embalagens vazias dos
mesmos. Pois, segundo o art. 1º, IX, do Dec. 4.074/2002, embalagem, ―é invólucro, recipiente ou
qualquer forma de acondicionamento removível ou não, destinado a conter, cobrir, empacotar,
envasar, proteger ou manter especificadamente ou não os agrotóxicos e afins‖ (BRASIL, 1989).
Sabe-se, portanto, que o destino final incorreto desses resíduos representa sérios danos para
o meio ambiente devido ao seu alto nível de periculosidade e toxidade. Dada a gravidade do
problema, foi criada a Lei Federal 9.974/00, que disciplina o recolhimento e destino final das
embalagens de agrotóxicos e divide responsabilidades entre os agentes atuantes como os
agricultores, fabricantes, canais de distribuição e o poder público.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 106


Para atender tais exigências, foi fundado aos 14 de dezembro de 2001, o Instituto Nacional
de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), representando a indústria fabricante de
agrotóxicos como uma iniciativa para atender as responsabilidades socioambientais no que se refere
ao descarte final das embalagens vazias dos agrotóxicos comercializados no Brasil. Dessa forma, o
inpEV tem contribuído com a sustentabilidade ambiental.
O inpEV tem uma estrutura organizacional definida em processos de suporte dando apoio e
orientação aos agentes, promovendo a educação e consciência de proteção ambiental, além de
promover a saúde humana, subdividindo-se em 6 sub-processos: recebimento, armazenamento nos
postos, transporte dos postos às centrais, armazenamento nas centrais, transporte das centrais à
destinação final e destinação final (reciclagem ou incineração).
Para que o processo ocorra de acordo com a legislação vigente, o setor de comercialização
deve indicar ao agricultor o local de devolução das embalagens vazias, na nota fiscal de venda, e
ainda, devem gerenciar esse local e emitir comprovante para os agricultores. Ficando os fabricantes
de agrotóxicos responsáveis pela destinação final das embalagens vazias após sua devolução pelos
agricultores.Insere-se também nesse processo, a realização de campanhas de orientação e
conscientização de agricultores pelos comerciantes, fabricantes e poder público.
Ainda nesse contexto, com a orientação do inpEV, foi criado em 2006 no município de
Mossoró/RN, a Associação do Comércio Agropecuário do Semi-Árido (ACASA), que conta com o
apoio do Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte (IDIARN).
É sabido que a presença desse material no meio ambiente é um dos fatores responsáveis pelo
desencadeamento de impactos ambientais o que significa que quando expostos a céu aberto ou
enterrados, contaminam o solo podendo ainda contaminar os lençóis freáticos.
Outra prática também responsável pela contaminação humana é a reutilização das
embalagens de agrotóxicos pós-uso como utensílios domésticos, cabendo ao poder público a
capacitação e a educação ambiental como uma alternativa capaz de reduzir essas práticas
incoerentes pela falta de informação dos agricultores e/ou familiares.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Estudo

A pesquisa de avaliação da relação entre agravos à saúde e exposição aos agrotóxicos foi
realizada in loco na comunidade do Gramorezinho, que se situa no bairro de Lagoa Azul, na cidade
do Natal/RN. A localidade tem característica urbana e rural, onde ver-se criações de animais e
atividades agrícolas, concentrando boa parte da produção de hortaliças que são consumidas pela
população local e da Grande Natal, sendo fonte de renda para cerca de 120 famílias. É neste
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 107
contexto que se inserem os expressivos agravos causados pela exposição aos agrotóxicos
representados pelos agricultores e população local na comunidade do Gramorezinho/Natal-RN.

Metodologia

Para fins de obtenção de dados, junto aos agricultores, realizou-se uma entrevista semi-
estruturada com os mesmos a fim de avaliar e diagnosticar as condições de trabalho e exposição aos
agrotóxicos utilizados na comunidade agrícola. Para o levantamento dos dados gerais da pesquisa,
foram considerados os casos registrados como intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola, tendo
como fonte de consultas sobre toxicologias o Centro de Informação Toxicológica (CIT) que
funciona nas dependências do Hospital Giselda Trigueiro (HGT) em Natal/RN. A unidade é
referência no estado em atendimento de Doenças Infecciosas, Informação Toxicológica e
Imunobiológicos Especiais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como citado inicialmente, foram aplicadas entrevistas direcionadas aos trabalhadores


envolvidos na produção agrícola da comunidade do Gramorezinho/Natal-RN. Em suas falas, os
mesmos relataram que faziam a dispersão do produto de formulação, SRA 5172, Tamaron, grupos
químicos dos metamidofós da classe dos organofosforado (OP), sem o uso de equipamentos de
proteção individual (EPIs) e em horário não adequado (alta incidência de radiação solar). Como
consequência, sintomas de intoxicações agudas e subagudas foram citados. Abaixo são expostas as
falas e as contribuições dos entrevistados para a devida elucidação da problemática em curso:
Caso 1: Senhor L. E. é morador e agricultor há mais de 30 anos na cultura de cebolinha e
coentro, ele relatou sentir cefaleia intensa, dor torácica e ardência em orofaringe, rigidez nas mãos,
braços e face, fadiga respiratória e tonturas. Descreveu, ainda, que aplicava o produto sem nenhum
equipamento de proteção.
Caso 2: O senhor J.V. A. é agricultor há 47 anos na cultura de hortaliças, expôs sentir
cefaleia intensa, queimação gástrica, incômodos respiratórios e fraqueza intensa. Disse, ainda, que
não conseguia voltar ao trabalho na parte da tarde devido ao intenso cansaço físico. Citou, ainda,
sentir odor acre do pesticida nas erupções estomacais e nas flatulências vindas, além de citar que o
uso do agrotóxico era feito em grande quantidade na hora mais quente do dia e sem proteção.
Caso 3: O senhora M.P. é moradora na localidade, não agricultora, referiu-se sentir cefaleia e
problemas alérgicos e respiratórios tendo que se mudar de sua residência por quase 3 anos devido a
necessidade de tratamento médico especializado para o seu neto, J.D.S.F, de 3 anos de idade que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 108


apresentou quadro agudo de Purpura Trobocitopénica Idiopática – PTI, segundo resultados de
exames hospitalar como mostra as figuras 1 e 2.

Figura 1: Resumo de Alta Hospitalar 1. Figura 2: Resumo de Alta Hospitalar 2.


Fonte: Senhora M.P, 2013. Fonte: Senhora M.P, 2013.

Análise patológica do sistema nervoso centrala partir dosrelatos dos trabalhadores expostos
diretamente ao biocida Tamaron na comunidade do Gramorezinho – Natal/RN.

Os efeitos dos compostos organofosforados potencialmente tóxicos se verificam a partir da


ligação desses a enzima acetilcolinesterase (AChE), impedindo-a de hidrolisar o neurotransmissor
acetilcolina, sendo que a função da acetilcolinesterase é inativar a acetilcolina - responsável pela
transmissão do impulso nervoso no Sistema Nervoso Central (SNC) nas fibras pré-ganglionares,
simpáticas e parassimpáticas na placa mioneural. A inativação da acetilcolinesterase permite que
haja maior quantidade de acetilcolina para estimular os receptores muscarínicos e nicotínicos
(MARTINS, et al. 2009).
Assim, a estimulação de receptores muscarínicos leva ao aparecimento de sintomas como:
alterações pulmonares como constrição e hipersecreção brônquicas, edema pulmonar e cianose;
alterações digestivas, como inapetência, náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia com
incontinência fecal e tenesmo. Observa-se ainda, incontinência urinária assim como bradicardia,
sudorese excessiva, sialorréia, lacrimejamento, miose e visão turva (MARTINS et al. 2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 109


Outros sintomas fazem parte das manifestações nicotínicas da síndrome colinérgica como às
alterações neuromusculares, como as contrações, câimbras, astenia, diminuição dos reflexos e
paralisia acompanhada do aumento da pressão arterial taquicardia, palidez cutânea e midríase
(MARTINS et al. 2009).
Existe ainda um comprometimento do sistema nervoso central com manifestações de
gravidade diversa desde labiridade expostos pelos usuários, confirmando o grau de toxicidade do
produto Tamarom, síntese emocional até convulsão e com depressão do sistema nervoso central.
Esses e outros sintomas formam química dos metamidofós da classe dos organofosforados, produto
proibido por lei desde 1990 (MARTINSet al. 2009).

Análise sobre exposição indireta fundamentada nas patologias de disfunção da medula óssea na
fase fetal

A Púrpura Trombocitopenica Idiopática (PTI), confirmada pelos valores hematimétricos


assim descritos apresentando uma Aplasia Medular envolvendo uma criança de apenas 3 anos (caso
3), vítima de interações tóxicas moleculares, é uma patologia autoimune relativamente comum,
causada por anticorpos antiplaquetários que podem atravessar a barreira placentária e produzir
trombocitopenia fetal. Os anticorpos antiplaquetários da classe de imunoglobulinas IgG ligados a
glicoproteínas nas plaquetas, impede a adesão plaquetária ao sistema endotelial causando
sangramentos irregulares podendo levar a morte (MARTINS et al. 2009).
Praticamente todos os biocidas e seus agentes tóxicos atravessam a barreira placentária, a
nível molecular em algum grau, com exceção dos grandes íons, e a maioria tem em sua fórmula
agentes alquilantes, como benzeno, mostarda nitrogenada, substâncias a base de arsênico e metais
pesados, e muitas dessas moléculas tóxicas atuam como antagonista do ácido fólico que é
responsável pelo fechamento do tubo neural e desenvolvimento fetal (MARTINS et al. 2009).
No caso de pesticidas a base de benzeno, primeiro envolve metabólitos hepáticos (o fígado)
às substâncias benzenofenol, catecol e hidroquinonas. O segundo passo envolve metabólitos
encontrados após a abertura do anel benzênico. O citocromo P4502E1 é responsável em metabolizar
o benzeno em fenol sendo este um mecanismo primário de toxicidade (FONSECA e PAQUINI,
2002, p. 6-8).
Sendo a medula óssea rica em atividade da enzima peroxidase, essa é responsável por ativar
estes metabólitos a reagir com as quinonas, ocasionando uma alteração na diferenciação celular na
medula óssea. Os biocidas e herbicidas com enzimas tóxicas moleculares principalmente a
topoisomerase II são capazes de inativar a função do DNA, responsável pela maturação genética,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 110


causando aplasia de medula assim como indução ao mecanismo de apoptose das células
progenitoras (FONSECA e PAQUINI, 2002, p. 6-8).
No caso 3 supracitado, além de anemia por alterações no índice de hemoglobina, uma
linfotoxidade é induzida devido a processos inflamatórios causado por moléculas tóxicas que
interagem e são absorvidas pelos tecidos e distribuídas através do sangue alterando os fatores
bioquímicos e ativando reações leucemóides (linfóides e mielóides).
Ver-se ainda índices marcantes de toxicemia medular, visando atipia medular para
megacariócitos, responsável pela maturação plaquetária que conclui o laudo de Púrpura Trombo
citopenica Idiopática (PTI) aguda, respondendo assim de apenas 10.000 plaquetas p/mm³ dentro do
quadro clínico agudo o qual se encontrava a criança (caso 3), quando o normal é de 150.000 a
450.000 plaquetas p/ mm³. Sendo assim, as patologias infantis acometidas por toxicidade são
influenciadas diretamente da organogênese seguido de relatos de malformações congênitas, mortes
neonatais e internações pediátricas.
Portanto, apesar de poucos exemplos apresentados neste trabalho pela exposição a
agrotóxicos, é importante salientar que seus resultados se desdobram em problemas reais ao qual
fazem parte um número significativo de pessoas afetadas. Isso reforça o expressivo impacto
negativo dos agrotóxicos sobre a saúde humana.
De acordo com informações da Agência Nacional de Saúde (2008), através de Nota Técnica
prevista na Resolução RDC nº 10/2008 e detalhada na Resolução RDC n° 48/2008, existe uma
grande subnotificação de intoxicações por agrotóxicos no Brasil. A estimativa é de que para cada
caso registrado ocorrem outros 50 sem notificação, ou com notificação errônea. Isso possibilita uma
visão da situação em que se encontra o país e do descaso diante de tantas evidencias de intoxicações
por agrotóxicos ocorridas principalmente pela exposição ocupacional.
De acordo com os dados do CIT (2012), foram registradas 642 informações sobre
toxicologia no estado do Rio Grande do Norte no período de entre 2002 a 2012. Para esses casos, o
CIT apresentou um levantamento no período de 2003 a 2010, que apontou 16 casos de intoxicação
por tentativa de suicídio, sendo quatorze na zona rural e dois na zona urbana. Todos ocorreram na
própria residência da vítima. Sendo que oito casos desses tiveram evolução de cura e os outros oito
casos não se teve retorno do seu quadro. Dessa forma, subentende-se que os agrotóxicos são apenas
um elemento a mais das questões sociais perpetrado de forma silenciosa. Ressalta-se, neste
contexto, de acordo com as falas dos agricultores, supracitados, a pouca importância dada ao uso de
EPIs e a forma inadequada como esses produtores usavam o veneno é relativo ao pouco
conhecimento sobre suas evidências nocivas a saúde humana e a todo um ecossistema.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 111


Atualmente, esses produtos não são mais utilizados pelos agricultores da comunidade do
Gramorezinho, graças à adesão ao projeto ‗Amigo Verde‘ patrocinado pela Petrobras, juntamente
com a Associação de Amigos Moradores do Sitio Gramoré e Adjacências (AMIGS), tendo como
parceiros o Ministério Público Estadual (MP), através da Promotoria do Meio Ambiente da
Comarca de Natal, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/RN) e ainda o
Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER).
O projeto ‗Amigo Verde‘ tem como objetivo a implantação da agricultura orgânica
beneficiando as famílias produtoras com expectativa de geração de mais benefícios para a saúde de
todos moradores da comunidade, para o meio ambiente e consumidores. Para isto, o projeto oferece
palestras de sensibilização, apoio técnico agrícola, obtenção de certificado para utilização do Selo
Orgânico e ainda bolsas - auxílio pelo período de adaptação ao novo modelo de cultivo aderido.

CONCLUSÕES

De acordo com o que se procurou avaliar neste trabalho, percebeu-se que o uso nefasto dos
agrotóxicos na comunidade do Gramorezinho era realizado de forma inadequado e sem atenção as
suas graves repercussões, seja pela perspectiva da saúde humana, seja pela ambiental.
Notabilizou-se que os agricultores e moradores de áreas nos arredores dos cultivos da
comunidade do Gramorezinho foram intoxicados por agrotóxicos de forma direta e indiretamente.
A situação verificada pode ser entendida como de baixa atenção dada, seja pelos residentes,
seja pelo poder público, dada a subnotificação dos agravos agudos e crônicos e a pouca informação
a respeito do atual cenário do uso de agrotóxicos.
Neste sentido, entende-se que a forma inibida de informação de dados dificulta a verificação
precisa da dimensão da problemática, bem como os efeitos que essas substâncias causam aos seres
humanos e todo ecossistema local afetado. Deve-se considerar também a necessidade de se priorizar
a implantação de políticas públicas que fomentem o conhecimento e a formação técnica e científica
sobre as questões desafiadoras dos agrotóxicos, sob pena de coibir o predominante o modelo do
agronegócio.

REFERÊNCIAS

AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Reavaliação toxicológica do Ingrediente


Ativo Metamidofós, prevista na RDC nº 10/2008 e detalhada na RDC nº 48/2008. Disponível
em:http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a12f9200474592189a97de3fbc4c6735/Nota+t%
C3%A9cnica+do+metamidof%C3%B3s.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso: 26/02/13.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 112


BARREIRA, L. P et al. As Problemáticas dos Resíduos Sólidos de Embalagens de Agrotóxicos no
Brasil.Disponível:<http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/mexico26/iv-001.pdf.>acesso: 28/02/13.

BEDOR, C. N. G. Estudo do potencial carcinogênico dos agrotóxicos empregados nafruticultura e


sua implicação para a vigilância da saúde. Recife, 2008. Disponível
em:<http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/3907/2/000014.pdf> acesso em: 15 fev. 2013.

BOMBARDI, L. M. BOLETIM DATALUTA. Artigo do mês: setembro de 2011. ISSN 2177-4463.


Disponível:<http://www2.fct.unesp.br/nera/artigodomes/9artigodomes_2011.pdf>.Acesso:01/03/
13.

BRASIL. Lei n.6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 07 mar.
2013.

BRASIL. Constituição Federal/1988. Do Meio Ambiente. Disponível em:


<http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>.
Acesso em: 10 mar. 2013.

BRASIL. Lei n. 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a


produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e
embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,
seus componentes e afins, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4074.htm>. Acesso em: 10 mar. 2013.

BRASIL. Resolução CONAMA 001/1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para
avaliação de impacto ambiental. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 10 mar. 2013.

CARNEIRO, F. F; et al. Dossiê ABRASCO: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na


saúde. ABRASCO, Rio de Janeiro, abril de 2012. 1ª Parte. 98p. Disponível em:
<http://www.abrasco.org.br/UserFiles/File/ABRASCODIVULGA/2012/DossieAGT.pdf. Acesso
em 20 fev. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 113


INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS (inpEV).
Destinação Final das embalagens vazias de agrotóxicos. Disponível em
<http://www.agrobyte.com.br/embalagens.htm>acesso em 25/07/2014.

FONSECA, T. C. C; PAQUINI, R. Anemia Aplástica Severa: análise dos pacientes pediátricos


atendidos pelo serviço de transplante de medula óssea do Hospital de Clínicas de Curitiba no
período de 1979-1993. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA.ISSN 0104-
4230, vol.48 no.3 São Paulo July/Sept. 2002. Disponível:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010442302002000300042&script=sci_arttext>. Acesso:
14/12/12.

INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS. Disponível


em:<http://www.inpev.org.br/institucional/estrutura/estrutura.asp>. Acesso em: 25 jan. 2013.

LONDRES, Flavia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. – Rio de Janeiro:
AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, 2011.

MARTINS, M.A. et al. CLINICA MÉDICA, volume 1: atuação de clinica médica, sinais e
sintomas de natureza sistêmica, medicina preventiva, saúde da mulher, envelhecimento e
geriatria, medicina laboratorial na prática médica – Barueri, São Paulo: Manole, 2009 –
(Clinica Médica).

MOREIRA, G. M; GOMES, S. F. Intoxicação ocupacional pelo benzeno: um assunto de saúde


ambiental. Ver. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, n. 2, 2011. Disponível em:
<http://revista.aborj.org.br/index.php/rbo/article/viewFile/298/248>. Acesso em: 10 fev. 2013.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA. O que


você precisa saber sobre a fome em 2012. Disponível: <http://www.onu.org.br>. Acesso
25/02/13.

SANTOS, V. M. R. et al. COMPOSTOS ORGANOFOSFORADOS PENTAVALENTES:


histórico, métodos sintéticos de preparação e aplicações como inseticidas e agentes antitumorais.
Química Nova. vol.30, no.1, São Paulo Jan./Fev. 2007. Disponível
:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010040422007000100028&script=sci_arttext>. Acesso
18/02/13.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 114


SUSTENTABILIDADE EM DEBATE – Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade
de Brasília, v. 1, n. 1 (2010). - Brasília Semestral ISSN 2177-7675. Desenvolvimento
Sustentável. Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 115


PERFIL DO SEMIÁRIDO RURAL BRASILEIRO: ÍNDICE DE VULNERABILIDADE
SOCIOECONÔMICA E ECOLÓGICA DOS DOMICÍLIOS PARTICULARES
PERMANENTES POR SETOR CENSITÁRIO - ISE

Angela Carolina de MEDEIROS8


Doutoranda UFCG
angelacarolinamedeiros@gmail.com

Vera Lúcia Antunes de LIMA


CTRN/UFCG
vera.antunes@ufcg.com.br

Tatiana Ayako TAURA


Embrapa Semiárido
tatiana.taura@embrapa.br

Aderaldo de Souza SILVA


Embrapa Semiárido
aderaldo.silva@embrapa.br

RESUMO
O presente estudo teve como objetivo construir um Índice de Vulnerabilidade Socioeconômica e
Ecológica (ISE) por meio de procedimentos geoestatísticos multidimensionais. A área de estudo foi
o Semiárido brasileiro com área de 969.589,3 Km² e abrangeu informações provenientes do
Zoneamento Agroecológico do Nordeste, pesquisas da EMBRAPA (micro dados) e Censo
demográfico 2010 levantados pelo IBGE em 14.126 setores censitários, abrangendo 2,091202
milhões de Domicílios Particulares Permanentes (DPP) sendo 98,5% do tipo casa. O ISE permite
compreender a similaridade natural entre as dimensões estudadas e a dimensão de vida em que a
população do Semiárido brasileiro é mais vulnerável. O que possibilita precisar a necessidade de
políticas públicas de "Convivência do homem com o semiárido", mais efetivas, por localidades ou
território.
Palavras-chave: setores censitários, dispersa, sustentabilidade, indicadores, aridez.

ABSTRACT
This study aimed to construct an Index of Ecological and Socioeconomic Vulnerability (ISE)
through multidimensional geostatistical procedures. The study area was the Brazilian semiarid
region with an area of 969,589.3 square kilometers and included information from the Agro-
Ecological Zoning of the Northeast, research EMBRAPA (micro data) and Census 2010 collected

8
Doutoranda do Programa de Pós –Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande, Av.
Aprígio veloso, 882, Bodocongó, 58109-970, Campina Grande - PB.angelacarolinamedeiros@gmail.com

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 116


by IBGE in 14,126 census tracts covering 2.091202 million Permanent private households (DPP)
with 98.5% of house type. The ISE allows us to understand the natural similarity between the
studied dimensions and the size of the population lives in the Brazilian semiarid region is most
vulnerable. What possible need the need for public policies "Coexistence of man with the semi-
arid", more effective, by localities or territory.
Keywords: population, dispersed, sustainability indicators, aridity.

INTRODUÇÃO

A área de estudo é o Semiárido brasileiro com área em torno de 969.589,3 Km²,


correspondendo à 56% da área do Nordeste. Abriga uma população de, aproximadamente, 22,6
milhões de habitantes, distribuídos em 1.134 municípios de nove estados (Brasil, 2005 e IBGE,
2010).
O semiárido brasileiro tem sido campo de inúmeras intervenções de pesquisa e de
desenvolvimento em âmbito regional em busca de soluções de convivência do homem com a seca
(CARITAS BRASILEIRA, 2014), sendo a maioria executada em forma imprecisa dada à falta de
informações georreferenciadas (micro dados), que lhes permitissem conhecer com precisão a
potencialidade da matriz ambiental, local, associada aos problemas socioeconômicos e ecológicos
domiciliares.
Por outro lado, na atualidade existem dois trabalhos realizados que podem contribuir,
significativamente, para a mudança deste quadro. O primeiro realizado pela ASA Brasil (2014). A
qual desde que surgiu, em 2003, até março de 2014, construiu 523.654 cisternas, todas
georreferenciadas. E o segundo o Censo Demográfico brasileiro, georreferenciado, realizado pelo
IBGE (2010). A mudança poderá ser factível a partir da sistematização, integração das informações
geoambientais, existentes, e análise multidimensional dos milhões de pontos geográficos gerados,
por meio de técnicas geoespacializadas em Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
Segundo a Caritas Brasileira (2014) a convivência com o semiárido é possível a medida em
que há a união de mais de 800 entidades, integrantes da ASA – Articulação com o Semiárido
Brasileiro.
Por outra parte, Moura (2005) afirma que uma das contribuições do geoprocessamento é a
possibilidade de implantar processos com abordagem e análise sistêmica, conceitos que lidam com
complexa gama de variáveis, com significativo ganho na proximidade entre o modelo de estudo e a
realidade.
Compreender a distribuição espacial de dados socioeconômicos e ecológicos ocorridos no
tempo e espaço constitui um grande desafio para esclarecer questões centrais, tipo: vulnerabilidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 117


Isto devido a avanços recentes no SIG e no Sistema de Posicionamento Global (GPS), que são
sistemas relacionados à informação espacial bem como avanço nos procedimentos computacionais,
a exemplo dos métodos estatísticos multidimensionais, que permitem e facilitam a análise dos
fenômenos que nele ocorrem. Assim, é crescente o interesse em analisar e ajustar modelos para
dados georreferenciados.
Segundo a SUDENE (2014), a dimensão ambiental do desenvolvimento não acontece de
maneira equitativa, o custo derivado da degradação ambiental recai nas comunidades menos
favorecidas afetadas pela falta de saneamento das cidades, dos aglomerados nas vizinhanças dos
lixões, na desertificação de áreas do semiárido entre outras. Isto remete a ordenar o uso dos
recursos naturais para prevenir impactos antrópicos, promover o zoneamento, recuperar áreas
degradadas e fortalecer as instituições e os instrumentos de regulação ambiental.
Seguindo-se esta lógica e buscando-se a avaliar a situação ambiental do semiárido, em
forma pioneira, o presente estudo tem como objetivo aplicar as técnicas de SIG e GPS, pós-
processamento dos milhões de dados compilados por meio de modelos geoestatísticos
multivariados, provenientes de pesquisas realizadas pela Embrapa Semiárido (ZANE, 2002), do
Censo demográfico (IBGE, 2010) e do Programa cisternas do Governo Federal (MDS, 2010), com a
finalidade de construir um índice de vulnerabilidade socioeconômica e ecológica dos domicílios
particulares permanentes por setor censitário do semiárido rural brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Os procedimentos metodológicos aplicados na construção dos indicadores de


vulnerabilidade basearam-se nos dados levantados no Censo Demográfico do ano de 2010 do IBGE,
associados no banco de dados geográfico pertencente à Embrapa Semiárido. Este banco de dados é
o resultado da compilação de dados e informações dos programas sociais do governo federal e de
suas próprias pesquisas de campo da Embrapa, a exemplo do Zoneamento Agroecológico do
Nordeste (ZANE, 2002).
A pesquisa socioeconômica foi construída considerando a existência de quatro tópicos
principais: a) Domicílios particulares com rendimento nominal mensal domiciliar per capita; b)
Domicílios particulares permanentes sem rendimento nominal mensal domiciliar per capita; c)
Domicílios particulares permanentes alugados; c) Domicílios particulares permanentes próprios.
Enquanto a ecológica considerou nove tópicos principais, a saber: a) Domicílios particulares
permanentes com abastecimento de água; b) Domicílios particulares permanentes com banheiro de
uso exclusivo dos moradores ou sanitário; c) Domicílios particulares permanentes com energia
elétrica; d) Domicílios particulares permanentes com lixo coletado; e) Domicílios particulares

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 118


permanentes com moradia; f) Domicílios particulares permanentes que tinham banheiro ou sanitário
e esgotamento sanitário da rede geral de esgoto ou rede pluvial; g) Quantidades de poços profundos;
h) Quantidades de unidades irrigadas e; i) Precipitação pluviométrica média anual. A pesquisa de
uma maneira geral analisou 178 indicadores.
As informações sistematizadas permitiram construir, pela primeira vez, um Banco de Dados
contendo todas as informações do Censo Demográfico 2010, realizado pelo IBGE, por setor
censitário com ênfases na zona rural e sua interface urbana, totalizando 14.126 (quatorze mil e
cento e vinte seis) setores censitários, abrangendo 2,091202 milhões de Domicílios Particulares
Permanentes (DPP) sendo 2,059997 milhões de DPP do tipo casa.
O Banco de Dados, também, continha 197,783 mil DPP com abastecimento de água da
chuva armazenada em cisterna, 190,676 mil DPP com abastecimento de água de poço e 686,626 mil
com outra forma de abastecimento de água, dentre outras 142 (cento e quarenta e dois) variáveis,
existentes.
Segundo o IBGE (2010), o setor censitário é a menor unidade territorial, formada por área
contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, com dimensão adequada à operação de
pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do território nacional, o que permite assegurar a plena
cobertura do país.
A definição e cálculo final dos 142 indicadores-chave das análises multidimensionais foi
realizada utilizando-se o software SAS The Statistical Analysis System (SAS, 2011) por meio de
vários métodos multivariados, tais como: a) Análise de fatores principais iterativos, o qual permitiu
reduzir, significativamente, o número de variáveis processadas (varimax rotacionado), b) Stepwise
- método auto regressivo gradual, ou seja, método de tendência de tempo que considera a diferença
entre cada valor e a tendência estimada, c) Método de variância mínima de Ward e análise
discriminante (fastclus) por meio dos quais se obteve os grupos similares de setores censitários
pesquisados, além das estimativas de densidade especifica do grupo para cada setor, possibilitando
a construção do ISE.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 apresenta 142 indicadores agrupados em oito fatores principais, associados as


dimensões socioeconômicas e ecológicas, obtidos com a aplicação do instrumento de análises
multidimensionais.
Procedimentos geoestatísticos multidimensionais, também, foram aplicados com a
finalidade de agrupar em forma natural os setores censitários similares, isto é, de características
socioeconômicas e ecológicas homogêneas para o conjunto de variáveis pesquisadas (142),

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 119


apropriado a igual número de indicadores analisados (Figura 1). Os resultados obtidos são
apresentados nas Figuras 2 e 3.
A síntese da variação percentual das variáveis mais significativas consideradas no estudo de
vulnerabilidade socioeconômica e ecológica dos DPP por setor censitário são apresentadas na
Figura2.
A partir do valor médio de cada variável por Grupo (cluster means) foi possível construir o
Perfil socioeconômico e ecológico de cada Grupo (Figuras 2 e 3). Neste caso, especifico, cada
grupo natural recebeu denominação similar a utilizada pelo IBGE, na construção dos códigos por
ocasião do Censo demográfico (IBGE, 2010) e, acrescentou-se o termo vulnerabilidade para se
definir a situação socioeconômica de cada setor agrupado.
A situação de vulnerabilidade de cada Grupo foi codificada e geoespacializada em um mapa,
em função do Índice de vulnerabilidade socioeconômica e ecológica dos DPP por setor censitário
(ISE). Vale ressaltar que o código atribuído a vulnerabilidade apresentou cores representativas
distintas, onde o menor ISE foi atribuído, como sendo a cor azul escura (ISE 1 – vulnerabilidade
muito baixa) e máximo ISE 8 (vulnerabilidade extremamente alta), atribuída a cor vermelha escura,
onde quanto menor o ISE, melhor a classificação. A continuação se interpreta o resultado alcançado
para cada um dos Grupos médios (cluster means) investigados.
ISE I - Vulnerabilidade de área urbanizada de cidade ou vila - O perfil foi caracterizado pelo
agrupamento dos indicadores ocorridos no Fator 4. Compõe este Grupo, apenas um setor censitário
localizado no município de Juazeiro do Norte (CE), isto é, 0,0071% entre os 14.126 setores
pesquisados. Caracteriza-se por apresentar o maior rendimento médio nominal mensal domiciliar,
segundo censo (IBGE, 2010), maior densidade de DPP com energia elétrica, DPP tipo casa, DPP
com abastecimento de água via rede geral, com lixo coletado por serviço de limpeza e com moradia
adequada e abastecidas com água de poço ou nascente na propriedade. Este grupo foi classificado
como de vulnerabilidade Muito baixa com ISE entre 0.00000000 e 0.000000001, e lhe foi atribuída
a cor ―azul escura‖ (Ver Figura 3).
ISE 2 - Área não urbanizada de cidade ou vila – Dentre os 14.126 setores censitários
0,0142% tinham ISE 2 representados pelo fator 3 contemplando, apenas, 2 setores. Um localizado
em Mossoró (RN) e outro no município de Juazeiro do Norte (CE). Estes setores apresentaram o
segundo maior valor do total do rendimento mensal dos DPP, bem como o segundo número de DPP
com energia elétrica e com abastecimento de água da rede geral, número de DPP beneficiados com
a coleta de lixo e com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitários e esgotamento
sanitário via fossa séptica.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 120


C A R G A S FATO R I A I S E M O R D E M D E S C E N D E NT E PA R A
A S C A R A C T E R Í S T I CA S S O C I O E C O N Ô MI C A S E
E C O L Ó G I C A S P O R FATO R P R I N C I PA L
fator 1 fator 2 fator 3 fator 4 fator 5 fator 6 fator 7 fator 8

100

80

60

40

20

0
var214

var271

var092

var215
var264
var262

var275
var251

var217
var284
var245
var282
var269
var199
var243
var207
var237
var033
var229
var083
var178
var238
var182
var234
var167
var173
var248
var036
var169
var042

var038
var235

var025
var231
var204
var196
-20

-40
FIGURA 1. Cargas fatoriais para os resultados obtidos pelo método Varimax, com a rotação ortogonal dos
fatores principais, considerando as 142 variáveis provenientes do Censo (IBGE, 2010) e Zoneamento
Agroecológico do Nordeste (ZANE, 2002), pertencentes a todos os domicílios rurais permanentes por setores
-60
censitários do semiárido rural brasileiro.

Este grupo foi classificado como de vulnerabilidade baixa com ISE entre 0.000000001 e
0.000000007, e lhe foi atribuída a cor ―azul clara‖ (Figura 3).
ISE 3 - Área urbana isolada - Compuseram este Grupo os indicadores contidos no Fator 1
representados pelos setores pertencentes aos municípios de Juazeiro - BA (um setor), Feira de
Santana-BA (dois setores), Petrolina-PE (três setores) e Garanhuns-PE (um setor). Bom Jesus (PI)
de Feira de Santana (BA). Deste grupo 0,0496% tinham em média 372, 33 e 33 DPP com
abastecimento de água da rede geral, proveniente de água de poço ou nascente na propriedade e
com lixo coletado por serviço de limpeza, respectivamente. Foi classificado como de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 121


vulnerabilidade média com ISE entre 0.000000007 e 0.000000035, e lhe atribuída a cor ―verde
escura‖. (Figura 3).
ISE 4 - Aglomerado rural de extensão urbana - Apresentou uma frequência de 80 setores,
0,5663% dos 14.126 setores pesquisados. Este grupo foi classificado como de vulnerabilidade alta
com ISE entre 0.000000035 e 0.000000466, e lhe atribuída a cor ―verde clara‖. (Figura 3).
ISE 5 - Aglomerado rural isolado - povoado - Foi representado pelo Fator 6 com setores em
Guanambi-BA (um setor), Feira de Santana-BA (dois setores), Arapiraca-AL (um setor), Serra
Talhada-PE (um setor), Petrolina-PE (dois setores), Patos-PB (um setor), Cajazeiras-PB (um setor),
Mossoró-RN (nove setores), Juazeiro do Norte-CE (um setor) e Iguatu-CE (um setor). Este grupo
foi classificado como de vulnerabilidade Muito alta com ISE entre 0.000000472 e 0.000000600, e
lhe atribuída a cor ―amarela clara‖. (Figura 3).
ISE 6 - Aglomerado rural isolado-núcleo - Os indicadores contidos no Fator 8 compunham
este Grupo com 536 setores censitários, 3,79% do total estudado. Este grupo foi classificado como
de vulnerabilidade elevada com ISE entre 0.000000608 e 0.000004919, e lhe atribuída a cor
―amarela escura‖. (Figura 3).
ISE 7 - Aglomerado rural isolado - outros aglomerados - representado pelo fator5 com 2.837
setores, 20,08% dos 14.126 analisados. Este grupo foi classificado como de vulnerabilidade Muito
elevada com ISE entre 0.000004937 e 0.000031640, e lhe atribuída a cor ―vermelha clara‖. (Figura
3).
ISE 8 - Zona rural, exclusivo aglomerado rural - Este Grupo representado pelo Fator 2 com
10.643 setores, 75,34% do total de setores do semiárido rural e suas interfaces urbanas. Este grupo
foi classificado como de vulnerabilidade Extremamente elevada com ISE entre 0.000031661 e
0.000146219, e lhe atribuída a cor ―vermelha escura‖ (Figura 3).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 122


Valores médios das principais características socioeconômicas
e ecológicas por grupos naturais (ISE) de setores censitários,
código, porcentagem e frequencia
600.00
500.00
400.00
300.00
200.00
100.00
0.00
Med Ext ele Bai Mui bai Mui ele Mui alt Alt Ele
3 8 2 1 7 5 4 6
0.05 75.34 0.01 0.01 20.08 0.14 0.57 3.79
7.00 10643.00 2.00 1.00 2837.00 20.00 80.00 536.00

var017 var018 var041 var197 var199 var042


var221 var211 var193 var195 var045 var214
var264 var205 var209 var183 var202 var244
var269 var257 var082 var239 var276 var171
var172 var253 var217 var262 var207 var268
var036 var019 var274 var242 var256 var223
var255 var258 var270 var173 var273 var241
var238 var229 var275 var170 var236 var174
var034 var283 var185 var272 var093 var025
var284 var261 var251 var230 var175 var260
var180 var243 var267 var224 var188 var192
var232 var254 var271 var210 var204 var282
var181 var182 var219 var206 var189 var208
FIGURA 2. Classificação dos 14.126 (quatorze mil, cento e vinte e seis) setores censitários do semiárido
rural brasileiro, obtidos por análise de agrupamentos, a partir da hierarquização de 142 variáveis obtidas por
métodos geoestatísticos multidimensionais (ZANE, 2002 e IBGE, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 123


Figura 3. Vulnerabilidade socioeconômica e ecológica dos Domicílios Particulares Permanentes por setor
censitário do Semiárido rural brasileiro (ZANE, 2002 e IBGE, 2010).

CONCLUSÕES

A abordagem socioeconômica e ecológica por meio de métodos geoestatísticos e


multidimensionais na construção de um índice de vulnerabilidade permite agrupar maiores detalhes
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 124
nos resultados investigativos, pois é, no momento, uma das mais vastas, precisas e flexíveis
metodologias aplicadas aos estudos de sustentabilidade ambiental, quando se tem micro dados sobre
as populações campesinas dispersas como objetos de investigação.
Os perfis (cluster means) dos Domicílios Particulares Permanentes (DPP) por setores
censitários apresentados pelo conjunto de Índice de vulnerabilidade socioeconômica e ecológica dos
DPP (ISE), expostos separadamente foram, altamente significativos, pois permitiram compreender a
similaridade natural entre as dimensões estudadas e a dimensão de vida em que a população do
Semiárido brasileiro é mais vulnerável. O que possibilita precisar a necessidade de políticas
públicas de "Convivência do homem com o semiárido", mais efetivas, por localidades ou território
em âmbito regional, podendo simplificar, significativamente, a monitoração e avaliação de
Programas socioambientais na região.
Em consequência do agravamento da crise da água a construção do ISE poderá contribuir na
tomada de decisão federal, estadual e municipal na gestão ecossistêmica dos recursos hídricos
escassos para as populações dispersas nordestinas, seguindo os princípios do desenvolvimento
sustentável.

REFERÊNCIAS

CARITAS BRASILEIRA. O Semiárido brasileiro. Disponível em < http://caritas.org.br/wp-


content/uploads/2011/03/caderno-3.pdf >. Acesso em: 08 setembros 2014.

ASA BRASIL. Disponível em <http://www.asabrasil.org.br/Portal/resultados. Acesso em 08


setembro/09/2014.

IBGE. Censo demográfico 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br, Censo Demográfico,


2010. Acesso em 08 setembro 2014.

MOURA, A. C. M. Geoprocessamento na gestão e planejamento urbano. 2. Ed., Belo Horizonte:


Ed. Da autora, 2005. 294 p.

SAS. Institute Inc., SAS/STAT. (2011). User‘s guide, version 9.3, ed. Cary: SAS Institute Inc., p.
443.

ZANE – Zoneamento Agroecológico do nordeste do Brasil: diagnóstico e prognóstico. Embrapa


Solos, 2002.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 125


PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO MUNICÍPIO DE
PIMENTA BUENO/RO: OPERAÇÃO ARCO DE FOGO E ARCO VERDE

Claudia Cleomar Araújo Ximenes CERQUEIRA9


Mestranda do PPG em Geografia na Universidade Federal de Rondônia – UNIR
profa.ximenescerqueira@gmail.com

Nubia Deborah CARAMELLO10


Doutoranda em Geografia na Fundação Universidade Autônoma de Barcelona - UAB
nubiacaramello@yahoo.com.br

Marilia LOCATTELI
Doutora Pesquisadora da Embrapa/RO e Professora da Pós-Graduação de Geografia da UNIR
marilia.locatelli@embrapa.br

Adriana Correia de OLIVEIRA


Mestranda do PPG em Geografia na Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR
Adriana.kant@hotmail.com

RESUMO
O alto índice de desmatamento na Amazônia Legal, fez com que o Governo Federal buscasse por
políticas públicas ambientais mais arrojadas implantando a Operação Arco de Fogo e,
posteriormente, a Operação Arco Verde. Com o objetivo de reduzir as ações antrópicas nocivas a
Natureza estas Operações apontaram os municípios prioritários para as ações de controle do
desmatamento e preservação ambiental. Pimenta Bueno, está entre as quatro cidades do Estado de
Rondônia listadas na Portaria MMA nº 28 de 24/01/2008, devido ao seu grande número de áreas
degradadas, deixando de receber benefícios econômicos e financeiros do Ministério do Meio
Ambiente. A condição para recebimento destes recursos é ter sobre controle o desmatamento e
recuperar ás áreas de preservação permanentes e reservas legais. Com o intuito de contribuir com o
desenvolvimento sustentável da economia local após diagnóstico propor a aplicação de metodologia
para outras áreas que é de analisando o passado, avaliar o presente e fazer uma projeção futura da
realidade socioeconômico e ambiental no uso e ocupação do solo. Objetivando a análise da
viabilidade real da implantação de planos de recuperação de áreas degradadas (PRAD) às margens
do Rio Machado, precisamente no setor Aeroporto, localizado no município de Pimenta Bueno/RO.
Para viabilização desta proposta índica-se estudos empíricos e científicos, com a utilização de
metodologia diferenciada para a análise de viabilidade econômica e para a mensuração dos
impactos ambientais, tendo o método dialético como ponto de equilíbrio norteador para o estudo. A
presente proposta é relevante para a construção de políticas públicas e ações governamentais de

9
Bolsista CAPES.
10
Bolsista CAPES.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 126


desenvolvimento regional visando à conservação e preservação ambiental de maneira integrada com
a comunidade.
Palavras-chave: Economia. Desmatamento. Políticas públicas. PRAD.

ABSTRACT
The high Brazilian Amazon deforestation rate, has made Federal Government to try implementing
environmental policies such as Arc of Fire operation, and later, Green Arc Operation. Aiming to
reduce harmful human actions these operations indicated the priority municipalities for actions to
control deforestation and environmental preservation. Pimenta Bueno, is among the four cities in
the state of Rondônia listed in Environmental Ministry Ordinance No. 28 of 2008/01/24, due to its
large number of degraded areas, leaving of receiving financial and economic benefits from the
Environment Ministry. The condition to receipt these funds is to have control over deforestation and
recover areas of permanent preservation and legal reserves. With the aim of contributing to
sustainable development of local economy after diagnosis it is proposed methodology application to
other areas which is analyzing the past, evaluate the present and make a future projection of
socioeconomic and environmental reality in the use and land occupation. Aiming implementation of
real viability analysis of degraded areas reclamation plans (PRAD) on the margins of the Machado
River, precisely at the Airport sector, located in Pimenta Bueno / RO. For the feasibility of this
proposal it is proposed empirical and scientific studies, with the use of differentiated economical
analysis and to measure the environmental impacts methodology, and the dialectical method as a
guiding point of equilibrium for the study. This proposal is relevant to public policies construction
and government actions aimed at development of regional conservation and environmental
protection in an integrated manner with the community.
Keywords: Economics. Deforestation. Public policies. PRAD.

INTRODUÇÃO

A busca por políticas públicas que contribuam com a diminuição do avanço do


desmatamento no Brasil remonta a década de 1990. No começo do Século XXI, em 2007, o
governo Federal por meio de ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA) instaurou a operação
Arco de Fogo com o objetivo de coibir o desmatamento na Amazônia Legal. Deu-se com esta
operação o triste diagnóstico, em 2008, de que 36 municípios situados no Bioma Amazônico
estavam em situações críticas no que tange o desmatamento. Em 12 de novembro de 2009, por meio
do Decreto n° 7.008/09 fica instituído ―Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
Desmatamento da Amazônia Legal‖, de forma a resolver os problemas apontados na Operação Arco
de Fogo. Bem neste período, são diagnosticados mais 43 municípios em estado de alerta.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 127
O contexto apresentado leva ao questionamento sobre o que o município de Pimenta Bueno
esta fazendo para cumprir a agenda de compromissos firmados com o Governo do Estado e com o
Governo Federal, por meio de seus ministérios e outros órgãos auxiliares como instituições
financeiras e o SEBRAE. A agenda de compromissos compactua esforços para redução do
desmatamento e das queimadas, bem como a valorização da floresta e da economia verde local.
Na busca de respostas e, ao encontrá-las surgiu à necessidade de propor a evidenciação das
ações concretizadas, e a serem realizadas, de forma transparente como prega a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), 101/2000. Sendo que para isto torna-se necessário a evidenciação
dos mesmos nos demonstrativos contábeis. Outrossim, propõe-se, também a análise
socioeconômica e ambiental da implantação de um plano de recuperação de áreas degradadas
(PRAD) as margens do Rio Machado localizado no setor Aeroporto.
O proposto proporcionará ao município de Pimenta Bueno/RO subsídios para implementar
políticas públicas de sustentabilidade, contribuindo para que o mesmo possa receber os benefícios
financeiros do Governo Federal. Igualmente, o proposto, favorecerá o planejamento ambiental e
urbano focado na sustentabilidade socioeconômica e cultural da população local considerando
aspecto tridimensional da cultura, tempo e lugar. Proporcionarão tomadas de decisão concretas com
a apresentação da quantificação das ações antrópicas sobre o ambiente. Bem como a mensuração
das ações do governo municipal o qual cumprirá com o pacto firmado entre os governos: Municipal,
Estadual e Federal, mediante a operação Arco de Fogo e a Operação Arco Verde.

LOCOS DA PESQUISA

O município de Pimenta Bueno (figura 01), esta localizado no Estado de Rondônia tem o
total de 33.822 de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2010). Sua Área é de
6.241,07 km² representando 2.627% do Estado, 0.162% da Região e 0.0735% de todo o território
brasileiro. Seu Índice de Desenvolvimento Humano é de 0.754 segundo o Atlas de
Desenvolvimento Humano/PNUD (2000).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 128


Fig. 1: Características de Pimenta Bueno/RO
Fonte: MMA, 2009

O ano de Instalação do município de Pimenta foi 1977, Microrregião: Vilhena, Mesorregião:


Leste Rondoniense Altitude da Sede: 195 m, Distância à Capital: 438.7547Km. (Atlas de
Desenvolvimento Humano/PNUD, 2000).

METODOLOGIA

O presente estudo classifica-se como exploratória por tratar de familiarizar a problemática


contribuindo com a formação de hipóteses e/ou propostas possíveis de solucionar o problema
pontuado (GIL, 2002). Os procedimentos técnicos deram-se por meio de pesquisa bibliográfica,
utilizando-se de fontes secundárias para a elaboração da proposta de implantação de dados, bem
como a mensuração e evidenciação das ações empreendidas pelos Governos: Municipal, Estadual e
Federal em prol de inibir a evolução do desmatamento no município de Pimenta Bueno/RO.
A natureza das análises é quali-quantitativa devido às abordagens de dados coletados pelas
inúmeras fontes citadas que contribuíram com a exposição de números, tabelas e gráficos
contextualizando os apontamentos das Operações Arco de Fogo e a do Arco Verde. Sposito (2004)
contribuiu para que os dados fossem trançados e apresentados de forma esclarecedora por
apresentar objetivos e metas; crítica por analisar densamente os dados e totalizantes por interagir
com o estudo em questão. Por conseguinte, este autor, proporciona a esta pesquisa procedimentos
para a investigação científica de forma a completar o embasamento teórico.

MENSURAÇÃO DAS AÇÕES ANTRÓPICAS E NATURAIS NO MEIO AMBIENTE

O desenvolvimento de uma região é resultado de diferentes processos intencionais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 129


endógenos e exógenos, que acabam provocando uma nova modelagem na paisagem, que hoje
graças ao avanço do Instituto Espacial de Pesquisa Brasileiro – INPE pode ser identificado e
monitorando por imagens de satélite. Cada lugar tem sua identidade resultado da diversidade dos
ecossistemas, da dinâmica econômica, da disponibilidade de recursos naturais e da cultura de cada
região. Neste sentido Becker (2004) destaca duas questões geográficas de grande relevância sendo a
primeira a questão da transformação de percepção com o avanço da tecnologia e a segunda a das
escalas espaço temporal, envolvendo a contextualização dos territórios e de suas diferentes escalas,
fundindo-se na construção do diagnóstico ambiental.
Com a mudança de percepção ocorrida nos últimos anos proporcionada pelas novas
tecnologias tornou-se possível contabilizar o patrimônio ambiental, facilitando a análise de
viabilidade e aplicabilidade de projetos na área (CRUZ et all, 2009), tornando-se um catalisador
para tomadas de decisões gerenciais. As matas ciliares, por exemplo, que apesar de renováveis, são
consideradas exauríveis; possíveis de mensurar, mesmo não tendo recuperação integral das
características e condições ecológicas após ocorrer destruição das bases que compõem o bioma não
havendo mais regeneração natural (YUNG et all, 2013).
Outro recurso natural na mesma situação das matas ciliares e que tem um vinculo forte com
elas, é a água apontada na Lei nº. 9.433/97 como bem de valor econômico (BENITEZ, 2009). Os
principais impactos sobre a teia hídrica. Neste contexto, é lícito pontuar que se devem levar em
conta as ações antrópicos e atribuir valores contábeis para os impactos ambientais e insumos
produzidos. As consequências advindas de processos de recuperação de áreas degradadas e o uso
dos recursos naturais mensurados materialmente, Ferreira (2003) explica que devem ser
contemplados nos demonstrativos contábeis. Vale ponderar que a LRF é inflexível quanto a
obrigatoriedade da transparência das ações do ente público.
Compreendido as concepções que acercam a natureza em um âmbito menos mundano, numa
diversidade de feedback surpreendente entre o Ser Humano e o Meio Ambiente torna-se imperial
que a sinergia existente trabalhe em prol da conservação e preservação dos recursos ambientais
coibindo os impactos nocivos. Importante pontuar que a paisagem e espaço resultam de um
processo de acumulação, contínua no espaço e no tempo, resultante de uma mistura de tempos e
objetos datados, firmando que o espaço vivido da população local é um conjunto de formas e
funções onde as discrepâncias somam os impactos em seus aspectos tangíveis e intangíveis.

Políticas Públicas: Operação Arco de Fogo e Operação Arco Verde

As ações antrópicas no Meio Ambiente ao longo da história mundial causaram grandes


impactos ambientais e econômicos em todo o Globo Terrestre, iniciando historicamente a reflexão

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 130


que algo necessitaria ser feito na década de 60 através da obra Primavera Silenciosa da Bióloga
Rachel Carson. Os danos deixados produziram marcas profundas, visíveis na paisagem,
contribuindo para o cenário mundial contemporâneo de degradação e redução dos recursos naturais.
Nas regiões Amazônicas iniciava-se nesse período o processo de estimulo migratório por
meio do Governo Federal, desvinculado totalmente das preocupações ambientais que se iniciava o
processo de diálogo em vários países que já estava pagando o preço da ausência de uma gestão
ambiental integrada com desenvolvimento e natureza. A ausência de políticas de desenvolvimento
territoriais vinculadas com as políticas voltadas a sustentabilidade dos ecossistemas deixou um
grande desafio, para restaurar a resilencia ambiental.
Uma preocupação que o Governo vem sendo desafiado a buscar na área hoje conhecida
como Arco de Fogo na Amazônia Legal, Brasil. Com o objetivo de estabelecer políticas públicas
que inibam o desmatamento e queimadas na Amazônia Legal foi implantado pelo Governo Federal
a Operação Arco de Fogo de responsabilidade da Polícia Federal. Posteriormente surgem as
políticas públicas da Operação Arco Verde com o intuito de ajudar os municípios na estruturação de
suas políticas ambientais (MMAa, 2009).
A Portaria nº 28/2007, apontou 36 municípios considerados prioritários para ações que
inibam o desmatamento e implementação de políticas públicas de preservação e conservação do
Meio Ambiente. Posteriormente surgiu a Operação Arco Verde pela Portaria nº 102/2009
aumentando o número de municípios para 43 e, Pimenta Bueno/RO já se encontrava na lista.
Constituída com o intuito de assegurar a presença efetiva do poder público nos municípios para a
transição do atual modelo de produção predatória para a sustentável. Todavia, o Ministério do Meio
Ambiente (MMA) foi conclusivo quando destacou que todo o esforço do Governo Federal em
contribuir com os municípios na formação de políticas públicas ambientais sustentáveis é
insuficiente se não houver o fortalecimento municipal da gestão ambiental e o engajamento da
sociedade local (MMAa, 2009).
Os caminhos para alcançar excelência nas ações prol Meio Ambiente exige tenacidade e
perseverança, entretanto, medidas de retaliação são necessárias, com esta visão o Governo Federal
aplicou sanções econômicas e financeiras aos municípios prioritários, como o embargo
agropecuário, a proibição de comercialização de seus produtos e de recebimento de créditos de
instituições oficias (MUNICÍPIOS VERDES, 2012).
O Decreto nº 6.321/2007 estabelece que para sair do patamar atual é necessário que o
município tenha no mínimo 80% dos imóveis rurais de seu território com cadastramento ambiental
devidamente monitorado pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), executadas as unidades de
conservação de domínio público e terras indígenas homologadas. Outro critério é que o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 131


desmatamento ocorrido nos últimos dois anos seja igual ou inferior a 60% em relação à média do
período de 2004 a 2006. Todavia, as ações em prol da recuperação das áreas degradadas não devem
ser vistas de maneira isolada, a condição socioeconômica da população carece atenção especial.

Recuperação de Áreas Degradadas: incentivos econômicos

A recuperação de áreas que sofreram ações predatórias necessita de Planos de Recuperação


de Áreas Degradadas (PRAD) com o potencial de auto-recuperação levando em conta o ecossistema
do entorno, contribuindo com a diversidade regional. Estes planos devem apresentar condições de
manutenção inibindo novas ações que prejudiquem a área que sofreu intervenção. Lícito destacar
que os custos relativos ao passivo e os PRADs precisam ser mensurados e contabilmente
registrados, pois, desde 2011 o custo relativo ao desenvolvimento de PRAD, esta previsto na
Instrução Normativa Nº. 4, de 13/04/2011 o qual dispõe de planilhas com a forma que deve ser
apresentado (IBAMA, 2011).
Tratando de políticas públicas espaciais de desenvolvimento regional (STEINBERGER,
2006) o PRAD pode (e deve) ser estendidos à captação de recursos públicos e privados que poderão
beneficiar os usuários diretos das margens do Rio Machado como incentivo para a recuperação e
preservação dos recursos naturais. Nesse sentido, políticas de Pagamentos por Serviços Ambientais
(PSA), que tem como objetivo a preservação e conservação dos recursos naturais e o fomento do
senso de desenvolvimento sustentável, têm sido apontadas como uma opção viável para alcançar
esse objetivo, complementando ações de comando e controle (SANTOS org. et all. 2012).
Priorizando a Amazônia Legal em programas de sustentabilidade o ―Fundo Vale‖, fundo de
cooperação, contribui financiando projetos estruturantes e transformadores que conciliem
conservação e uso sustentável dos recursos naturais com a melhoria das condições socioeconômicas
da população local (MUNICÍPIOS VERDES, 2012).
Outro recurso, este surgido por iniciativa da Operação Arco Verde, possível de ser
alcançado é a linha de crédito denominada ―Pró-recuperação‖, a qual financia proprietários que
tenham pré-disposição e queiram recompor as APPs e as RL, os juros são baixos e subsidiados com
carência de 12 anos e o prazo de financiamento é até 20 anos. Também, nesse processo, foram
incluídos os produtos extrativistas da Amazônia, do Cerrado e da Caatinga na Política Geral de
Preços Mínimos (PGPM) tendo cerca de 10 (dez) produtos de produção familiar extrativista que
poderão contar com a sua comercialização garantida junto a CONAB (MMA, 2009).
No entanto para que haja desenvolvimento sustentável as ações governamentais devem
seguir um planejamento que precisa ser levados em conta critérios econômicos, critérios financeiros
e critérios imponderáveis. Estas considerações, voltadas a Administração Pública contemplam a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 132


percepção no quanto as ações antrópicas poderão pesar na implantação de PRAD e o que o mesmo
irá modificar na vida socioeconômica dos usuários diretos e indiretos. Essa percepção pode se
estender de forma a se tornar catalisador para as mudanças que afeta o todo.

RESULTADOS, DISCUSSÕES APLICÁVEIS

Devido ao uso indiscriminado dos recursos naturais, os municípios de Pimenta Bueno, Nova
Mamoré, Porto Velho e Machadinho D‘Oeste no Estado de Rondônia (RO), com alto índice de
desmatamento e queimadas, sofreram intervenção do Governo Federal, por meio da Operação Arco
Verde, sendo indicados na Portaria MMA nº 28 de 24/01/2008 e reafirmando por meio do Decreto
Presidencial nº. 7.008/2009.
Mesmo com medidas estremas o município de Pimenta Bueno/RO não cumpriu com a sua
parte do acordo intitulado ―Agenda de compromissos pela redução do desmatamento e das
queimadas, pela valorização da floresta e da economia local e pelo fortalecimento da cidadania‖
firmado entre os Governos Federal, Estadual e Municipal (MMAb, 2009). Salvo a parte de
Regularização Fundiária que se refere a apoiar as ações do Governo Estadual e Federal na
regularização das áreas passiveis de regularização pela Terra Legal, dos projetos de assentamentos
rurais e das áreas urbanas. No ano de 2014 o Governo do Estado em parceria com o município
entregou mais de 1.000 títulos urbanos e algumas dezenas rurais. Mas, as atividades se encerram na
entrega dos títulos, faltando a parte que cabe diretamente ao município.
Pimenta Bueno/RO para deixar de figurar de forma negativa e passar para a lista dos
municípios monitorados com desmatamento sob controle precisa cumprir o acordo firmado entre as
três esferas de Governo. Em 16 de dezembro de 2009, o município de Pimenta Bueno, firmou
compromisso com o Governo Federal e Estadual se comprometendo com políticas públicas voltadas
para a regularização ambiental, fundiária e de produção sustentável (MMAb, 2009).
Uma das ações compactuadas é a sensibilização dos proprietários rurais quanto à
necessidade de conservação das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), da Reserva Legal (RL)
e, a implantação de programas de recuperação das mesmas. Estas ações deveriam ter sido
implementadas pelo município a partir do ano de 2010. Para cumprir sua parte, o município
(MMAb, 2009), necessita desenvolver políticas públicas de recuperação e conservação de áreas
degradadas como forma de excluí-la da lista daqueles que mais desmatou e queimou na Amazônia
legal na última década (PORTARIA MMA Nº 102-2009).
Antecedendo a intervenção do Governo Federal, em 2007, houve estudo bibliográfico e
documental que resultou num Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) para o
município de Pimenta Bueno, vinculado a Agenda 21. Todavia, não foi posto em prática, nem

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 133


tomou forma de lei ou outra forma de instituição legal. Este plano, não oferece estudos de
viabilidade socioeconômico e financeiro que alicercem a iniciativa, ignorando o princípio da
prudência, pois, a análise financeira está relacionada ao que serão utilizados, com estimativa
realista, elaboração e apresentação de planilha de custos de forma criteriosa e detalhada.
Doravante a implantação de um PRAD a mensuração dos impactos ambientais pelo anglo
socioeconômico é de suma importância para a gestão pública em função da sustentabilidade. As
políticas públicas ambientais devem ser inseridas no Portal da Transparência, prática difundida
principalmente pela Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (CRUZ et al, 2009). O princípio contábil
da oportunidade defende que cada ação deve ser mensurada, quantificada, assim como os seus
efeitos, de forma que o intangível e o tangível possam fundir-se e transformar-se em dados
quantitativos para figurarem nos demonstrativos contábeis dando transparência na gestão pública
(FERREIRA, 2003).
Considerando a importância socioeconômica e ambiental da Operação Arco Verde, a gestão
financeira, indubitavelmente, contribui para tomadas de decisões (GETMAN, 1997) e, a
recuperação das matas ciliares ao longo das margens do Rio Machado é inerente ao contexto geral,
data vênia a Lei 12.651/2012 (SODRÉ, 2013). A Bacia Hidrográfica do Rio Machado é pontuada
por Zuffo et al (2009) como uma das mais importantes no cenário socioeconômico rondoniense e
sofreu grande perda de qualidade dos recursos hídricos, pelo adensamento antrópico ao longo de
sua colonização, sem que se tenha sido adotado medidas satisfatórias para a utilização dos mesmos.
O assoreamento das matas ciliares do Rio Machado, no município de Pimenta Bueno (RO), chama
atenção, principalmente pelos mananciais existentes e pela falta de análise e mensuração dos
impactos antrópicos que possibilitem tomadas de decisões coesas e viáveis.
Este cenário concede a compreensão da necessidade de estudo de viabilidade econômica de
plano(s) de recuperação de áreas degradadas na Bacia do Rio Machado, como um dos processos
indispensáveis para se atingir a sustentabilidade Amazônica preconizada pelas leis e iniciativas
federais. No entanto, dúvidas quanto às políticas públicas voltadas a recuperação de áreas
degradadas são constantemente emergente nos debates acerca da sustentabilidade socioeconômico e
ambiental das ações de recuperação de áreas degradadas.
Até que ponto a implementação de PRAD, em municípios como Pimenta Bueno (RO) é
sustentável e economicamente viável considerando o impacto ambiental, social, econômico e
financeiro das ações antrópicas na Bacia do Rio Machado? Qual a correlação das áreas degradadas
pelas ações antrópicas em Bacias Hídricas como a do Rio Machado, na área aludi ao município de
Pimenta Bueno (RO), com o espaço, cultura, paisagem e economia local?
Com a recuperação das APPs do Rio Machado, localizado na extensão do Setor do

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 134


Aeroporto, o município de Pimenta Bueno (RO) irá atender as exigências do compromisso firmado
com o Governo Federal e Estadual, por meio da Operação Arco Verde, de forma que seja retirado
da lista dos municípios com alto índice de desmatamento?

PROPOSTA PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Buscando o pleno esclarecimento das ações questionáveis em prol de coibir o avanço do


desmatamento apontado nas Operações Arco de Fogo e a do Arco Verde, percebeu-se a necessidade
de um plano de recuperação de áreas degradadas eficiente e eficaz, sobretudo, funcional. Bem como
fazer-se presente no Portal da Transparência à mensuração das atividades voltadas ao meio
ambiente, o que a Contabilidade Ambiental possui as ferramentas que possam contribuir para que
seja cumprida as exigências da Lei 101/2000, a LRF.
A área proposta para a implantação de PRAD inclui as margens do Rio Machado que da sua
extensão global, 80.630,5663 km2 (ZUFFO, 2009), destas 390,32 (Fig. 1) estão em terras
pimentense, mais precisamente na extensão do setor Aeroporto. Conforme estudos apresentados por
Adamy (2005), a Bacia do Rio Machado é um dos mais importantes do estado, representa a
drenagem mais contundente do município de Pimenta Bueno, sendo o manancial de captação de
água para a rede urbana, um dos principais afluentes do Rio Madeira pela sua margem direita.
A avaliação do impacto ambiental, socioeconômico e financeiro na implantação de PRAD
na Bacia do Rio Machado, na extensão do Setor do Aeroporto em Pimenta Bueno, exige
investigação do passado, presente e futuro do espaço, cultura, local, paisagem e tempos históricos
diferentes, para isto deverá ter caráter exploratório com abordagem direta e indireta com estudo
bibliográfico, documental e pesquisa de campo.
A Dialética será empregada, pois a transformação permanentemente e a correlação entre os
agentes da pesquisa, aplicando instrumentos de identificação do pré-conhecimento (empíricos)
sobre a temática, posteriormente dialogado com os agentes diretos e indiretos do uso das margens
da Bacia do Rio Machado. Bem como, por se trabalhar com a dúvida da eficácia das ações de
recuperação de áreas degradadas propostas pelo Governo Federal, tanto quanto a eficiência das
ações de fiscalização e punições pelo não cumprimento dos pactos ambientas.
Entre os métodos tradicionais há três métodos apresentados por Rovere (1992) que
contribuirá diretamente para a avaliação dos impactos ambientais e econômicos, assim como no
impacto social das consequências ocorrias na Bacia do Rio Machado. Em síntese, os métodos para
nortear a proposta são os seguintes: Metodologia de Listagem (Check-list); Método das Matrizes de
Interações conhecida também por matriz de Leopold; e Método das Redes de Interações (Network).
Também, o uso dos métodos estatísticos, quantitativos e qualitativos deverá ser aplicado de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 135


forma que a contabilização dos recursos de medição (ALENCAR, 2005), de avaliação dos
impactos, de implementação da PRAD deverão ser expressos numericamente possibilitando a
análise do ativo/passivo ambiental e contabilização dos mesmos. A análise de viabilidade
econômica do PRAD poderá ser realizada com a contribuição da Matemática Financeira por meio
de softwares (BRITO, 2003) e, vale destacar que a taxa média indicará o retorno médio por período
contribuindo para tomadas de decisão na formação de políticas públicas para a recuperação das
matas ciliares ao longo do Rio Machado, no município de Pimenta Bueno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa proposta objetiva contribuir com a implementação de políticas públicas de


desenvolvimento regional buscando possibilitar que o município Pimenta Bueno/RO, saia da linha
de inadimplência com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), retomando ao posto que permita
recebimento de benefícios do Governo Federal tangente àqueles que estejam de acordo com a
legislação ambiental vigente no Brasil.
Os princípios contábeis comumente aceitos devem ser rigorosamente observados, de forma,
a gerar relatórios conscientes que possibilitem a transparência e avaliação das operações bem como
os seus resultados. Proporcionará ao município dados necessários para implementar as políticas
públicas de conscientização da população quanto a sua aderência ao plano proposto por meio de
ações socioeconômicos por meio do atendimento as exigências do Programa Arco Verde com sua
política de recuperação das áreas atingidas.
Além das ações éticas das políticas públicas municipais voltadas para o meio ambiente
passarem a ser evidenciadas de forma transparente nos demonstrativos contábeis a formalização da
identidade cultural, no tempo, espaço e lugar dos ribeirinhos tornará realidade, partindo do empírico
para o científico de forma sistêmica, consolidando o espaço geográfico com o espaço mental.
Torna-se elemento chave essencial que o processo de capacitação da secretaria de Meio
Ambiente e Agricultura, juntamente com representantes da sociedade civil organizada, seja
implantado, para que os conhecimentos empíricos juntamente com o conhecimento cientificam
possibilite novas percepções de desenvolvimento. Porque qualquer ação governamental
desvinculado do acesso a informação pelos demais setores pode se tornar onerosas e sem alcançar a
longo prazo os objetivos propostos.

REFERÊNCIAS

ADAMY, A. Zoneamento geoambiental de Pimenta Bueno. 146f. il., color. Dissertação (Mestrado
em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente-Núcleo de Ciências e Tecnologia),

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 136


Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2005. Disponível em:
http://www.cprm.gov.br/publique/media/amilcar_adamy.pdf. Acesso em: 16 Jun. 2013.

AGENDA 21, Pimenta Bueno/RO, 2007.

BECKER, B. A Amazônia e a política ambiental brasileira. GEOgraphia, América do Norte, 6, dez.


2009. Disponível em:
http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/139/134. Acesso em: 25 Set.
2013.

ALENCAR, A. J. S. M. Estatística aplicada para economia, administração, contabilidade e


informática. Rio de Janeiro: Expert Books, 2005.

BENITEZ, I. Legislação Ambiental Federal e de Rondônia. 3. ed. Ampliada e atualizada. Salvador,


Podivm, 2009.

BRASIL. Decreto nº. 6.321, de 21/12/2007: Estabelece, no Bioma Amazônia, ações relativas à
proteção de áreas ameaçadas de degradação e à racionalização do uso do solo. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/D6321.htm. Acesso em: 12
Jun. 2013.

BRITO, P. Análise e viabilidade de projetos de investimentos. São Paulo: Atlas, 2003.

CPRM, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. PRISMA – Pimenta Bueno/RO. Serviço


Geológico do Brasil. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/gestao/ecotur/pimenta.pdf. Acesso
em: 25 Set. 2013.

CRUZ, C. F. da et all. Informações Ambientais na Contabilidade Pública: reconhecimento de sua


importância para a sustentabilidade. Rev. Sociedade, Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v.
4, n. 2, jul/dez 2009. Disponível em: http://www.atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-
06/index.php/ufrj/article/viewFile/763/771. Acesso em: 12 Jun 2013.

FERREIRA, A. C. S. Contabilidade Ambiental: uma informação para o desenvolvimento


sustentável. São Paulo: Atlas, 2003.

GITMAM, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbras, 1997.

IBAMA. Instrução Normativa IBAMA N° 4, de 13 de abril de 2011. Disponível em:


http://www.faespsenar.com.br/faesp/pagina/exibe/faesp/legislacao/instrucao-normativa-ibama-
n%C2%B0-4-de-13-de-abril-de-2011/819. Acesso em: 10 de junho de 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 137


YOUNG, C. E. (org) et all. Sistema de contas ambientais para o Brasil: estimativas preliminares.
Texto para Discussão IE/UFRJ n.448. Setembro 2000. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. Disponível
em: http://www.ie.ufrj.br/gema/pdfs/td448.pdf. Acesso em: 25 Set. 2013.

MUNICÍPIOS VERDES. Série: Integração – Transformação – Desenvolvimento / Fundo Vale. –


Rio de Janeiro: Report Comunicação, 2012. Disponível em:
http://www.fundovale.org/media/87496/fundovale_municipiosverdes_julho2012.pdf. Acesso
em: 16 Jun. 2013.

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento
da Amazônia Legal. Operação Arco Verde. Jun. 2009. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/florestas/controle-e-preven%C3%A7%C3%A3o-do-
desmatamento/plano-de-a%C3%A7%C3%A3o-para-amaz%C3%B4nia-ppcdam. Acesso em: 25
Set. 2013.

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Agenda de compromissos pela redução do desmatamento e


das queimadas, pela valorização da floresta e da economia local e pelo fortalecimento da
cidadania. Pimenta Bueno/RO (2009). Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr/_arquivos/agenda_de_compromisso_pimenta_bueno_13
8.pdf. Acesso em: 6 Set. 2013.

MMA, Portaria nº 28 de 24/01/2008. Publicado no DO em 25 jan 2008. Dispõe sobre os municípios


situados no Bioma Amazônia onde incidirão ações prioritárias de prevenção, monitoramento e
controle do desmatamento ilegal. Disponível em:
http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=205491. Acesso em: 6 Set. 2013.

ROVERE, E. L. L. Metodologia de avaliação de impacto ambiental. Documento final,


Instrumentos de Planejamento e Gestão Ambiental para a Amazônia, Pantanal e Cerrado –
Demandas e Propostas. Brasília: Ibama, 1992.

SANTOS, P. Marco Regulatório sobre Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil. ISBN 978-
85-86212-45-1. Belém, PA: IMAZON; FGV. CVces, 2012. 76p. Disponível em: fas-
amazonas.org/versao/.../Marco-regulatório-PSA-Brasil_FGV.pdf. Acesso em: 25 Set. 2013.

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento


geográfico. São Paulo: UNESP, 2004.

STEINBERGER, M. (org.). Território, ambiente e políticas públicas espaciais. Brasília: Paralelo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 138


15 e LGE Editora, 2006.

SODRÉ, A. A. Novo Código Florestal Comentado Lei 12.651/12. SP: JH Mizuno, 2013.

ZUFFO, C. E. et all. Águas subterrâneas em Rondônia: análise estatística de dados hidroquímicos,


organolépticos e bacteriológicos. Rev. Inst. Geol., São Paulo, v. 30, n. 1-2, enero 2009.
Disponível em: http://ppegeo.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
929X2009000100005&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 06 Set. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 139


DIAGNÓSTICO DA INFILTRAÇÃO DE ÁGUA E DA COMPACTAÇÃO DO SOLO EM
ÁREA SOB PROCESSO DE DEGRADAÇÃO

Franciezer Vicente de LIMA


Pós Graduação em Manejo de Solo e Água UFERSA
franciezer@hotmail.com

Guttemberg da Silva SILVINO


Pós Graduação em Ciência do solo UFPB
guttemberg@cca.ufpb.br

Altamiro Oliveira de MALTA


Pós Graduação em Agronomia UFPB
altamiro1@ig.com.br

Vander MENDONÇA
Pós Graduação em Fitotecnia UFERSA
vander@ufersa.edu.br

RESUMO
Áreas de solo com manejo inadequado podem sofrer sérias consequências, principalmente quando
as mesmas estão inseridas em locais com forte declividade e pouca vegetação, o que favorece os
processos erosivos e traz prejuízos para a qualidade do solo. Desta forma, o presente estudo teve
como objetivo avaliar a variabilidade espacial da infiltração e da densidade do solo, bem como
verificar as relações existentes entre ambas, em uma área de encosta sobre processo de degradação,
utilizando métodos geoestatísticos. A pesquisa foi realizada em uma área localizada entre os
municípios de Areia-PB e Remígio-PB. O solo foi amostrado em grade com malha regular
(20x20m) entre pontos amostrais, perfazendo um total de 49 pontos em duas profundidades, de 0-10
cm; 10-20 cm, totalizando 98 amostras. Para análise da variabilidade espacial, utilizou se a
geoestatística, por meio da análise semivariográfica, interpolação dos dados por krigagem e
construção de mapas de isolinhas. Todos os atributos físicos analisados apresentaram dependência
espacial, uma vez que nenhum deles apresentou efeito pepita puro. Pôde-se verificar através dos
mapas que houve uma relação clara entre a infiltração e a densidade do solo, observando essa
correlação principalmente na parte superior sudoeste da encosta.
Palavras Chave: Relevo, Declividade, Atributos físicos, Conservação do solo.

ABSTRACT
Soil areas with inadequate management may suffer serious consequences, especially when they are
inserted in locations with strong slopes and little vegetation, which favors erosion and brings harm
to soil quality. Thus, the present study aimed to evaluate the spatial variability of infiltration and
soil bulk density, and verify the relationships between them, in a hillside area about the degradation
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 140
process, using geostatistical methods. The survey was conducted in the hilly area cultivated with
grassland, located between Areia and Remigio, to towns from Paraiba. The soil was sampled at
regular grid with mesh (20x20m) between sample points, making a total of 49 points into two
depths of 0-10 cm, 10-20 cm, totaling 98 samples. To analyze the spatial variability, geostatistics
was used through semivariográfica analysis, data interpolation by kriging and construction of maps.
All physical attributes analyzed spatial correlation, since none of them had pure nugget effect. It
was verified through the maps that there was a clear relationship between infiltration and soil
density, observing this correlation mainly in the upper southwest slope.
Key Words: Relief, slope, physical attributes, soil conservation.

INTRODUÇÃO

O uso desordenado dos recursos naturais vem trazendo diversos problemas ao planeta, vindo
a despertar cada vez mais interesse de pesquisadores na realização de estudos em busca de uma
melhor forma de adequação dos possíveis usos desses recursos, com menores prejuízos para o
equilíbrio dos ecossistemas naturais (MOURA et al., 2008). Entre algumas destas causas que
provocam prejuízos ao bom equilíbrio dos ecossistemas naturais, são o uso agrícola dos solos em
condições limitantes e sem adoção de práticas ou manejo conservacionista. Portanto, a introdução
dos sistemas agrícolas em substituição a vegetação natural causa um desequilíbrio no ecossistema
em que a retirada da cobertura vegetal original e a implantação de culturas, aliadas às práticas de
manejo inadequadas, promovem o rompimento do equilíbrio entre o solo e o meio, modificando
desta forma, suas propriedades e limitando com o tempo sua utilização.
De modo geral, o solo mantido em estado natural, sob vegetação nativa, apresenta
características físicas adequadas ao desenvolvimento normal das plantas (RICHART et al., 2005).
Nessas condições, o volume de solo explorado pelas raízes é relativamente grande, à medida que o
solo vai sendo submetido ao uso agrícola, as propriedades físicas sofrem alterações, geralmente
desfavoráveis ao desenvolvimento vegetal, principalmente quando á área em exploração apresenta-
se em local com topografia acidentada, ou seja, com forte declividade. Áreas com esta configuração
necessitam de manejo mais apropriado as suas condições, de forma que, se não adotada
frequentemente pode ocasionar perdas irreparáveis a qualidade do solo, podendo chegar a processos
de degradação e consequentemente a longo prazo em estado de desertificação.
Deste modo, algumas práticas de manejo do solo provocam alterações em suas propriedades,
as quais podem ser permanentes ou temporárias. Assim, o interesse em avaliar a qualidade do solo
tem sido incrementado por considerá-lo como um componente fundamental na manutenção e
sustentabilidade dos ecossistemas (LIMA, 2004).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 141


Dentre os atributos físicos que podem ser considerados como indicadores da qualidade do
solo, pode-se relatar a infiltração de água e o estado de compactação ou densidade do solo, de
maneira que estes atributos interagem entre si, e diretamente afetam o crescimento das plantas
(GUBIANI, 2012).
A densidade do solo contém uma complexidade de fatores inerente a cada local de
amostragem, o que leva à dificuldades na sua avaliação. Um dos principais fatores que contribuem
para tal complexidade tem sido atribuído a ampla variabilidade espacial, ou seja, a forma como se
encontra distribuída na área. Segundo Amaro filho et al. (2007), em razão dos atributos do solo e
em especial da densidade do solo não ser homogênea, causa sérios problemas no manejo em campo.
Por essa razão, a caracterização dessa variabilidade é essencial para um entendimento melhor das
inter-relações entre atributos do solo e o seu manejo.
Diretamente relacionada à compactação do solo está à infiltração de água no mesmo. O
manejo da água no solo requer estimativas seguras das suas propriedades hidráulicas. Antoneli &
Thomaz (2009) salientam que a alta variabilidade das propriedades físicas do solo, tais como a
densidade, bem como o conteúdo de areia e argila, resulta em alta variabilidade nas características
de retenção de água pelo solo. Em solo compactado, ocorre menor infiltração da água de chuvas e,
assim, maior escoamento superficial, sendo intensificado pelo aumento na declividade e ausência de
vegetação na superfície do solo.
Além das consequências para a conservação dos solos, o adensamento e a baixa infiltração
de água tornam as plantas mais sensíveis à déficits hídricos e com limitada capacidade de absorver
nutrientes em camadas subsuperficiais (BETIOLI JUNIOR et al., 2012).
Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar a variabilidade espacial da
infiltração de água e da densidade do solo, bem como verificar as relações existentes entre ambas,
em uma área de encosta sobre processo de degradação, utilizando métodos geoestatísticos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Localização Da Área De Estudo

O estudo foi realizado em uma área de encosta pertencente à Fazenda Riachão, que fica
situada à margem da rodovia PB 079 entre os municípios de Areia-PB e Remígio-PB. A mesma está
inserida na Microbacia hidrográfica do açude Vaca-Brava, localizada na mesorregião do Agreste,
microrregião do Brejo paraibano, Nordeste do Brasil, com área compreendida entre as coordenadas
geográficas (O 35° 46‘ 13.648‖) e (S 6° 57‘ 55.937‖).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 142


Clima

Segundo a classificação de Koppen, predomina o clima do tipo As‘, que se caracteriza por
ser quente e úmido, com chuvas de outono e inverno, com estação seca podendo atingir entre cinco
e seis meses; pluviosidade média anual entre 900 e 1.400 mm, concentradas nos meses de março a
agosto e com período seco entre setembro e fevereiro. As temperaturas anuais apresentam máxima
de 30ºC, média de 24ºC e mínima de 18ºC (SANTOS et al., 2002).

Relevo, Solo E Vegetação

A área da encosta selecionada ocupa uma superfície de aproximadamente 2,0 ha, com
altitude variando entre 600 a 566 m, no sentido do sul para o norte respectivamente. Na parte de
maior altitude o relevo da encosta tem forma côncava e, de maneira geral, variações entre ondulado
a forte ondulado, apresentando uma declividade de 24,28% enquadrando-se na faixa de relevo forte
ondulado (faixa de 20 a 45%, SANTOS et al., 2006). Os solos da bacia hidrográfica na qual a área
em estudo encontra-se localizada foram classificados de forma geral como ARGISSOLO Vermelho
Amarelo (BRASIL, 1972). A vegetação da área é caracterizada predominantemente como
pastagem, sendo composta principalmente pela gramínea Brachiaria decumbes. Segundo Galvão et
al. (2005), a pecuária é uma das principais atividades econômicas da região, desta forma a área em
questão é explorada para alimentação de bovinos por quase todo o decorrer do ano.

Descrição Do Estado De Degradação Da Encosta

A área apresenta um grau já pronunciado em relação ao processo degradativo, devido a


circunstancias topográficas na qual a mesma esta localizada e do elevado nível pluviométrico
registrado na região do Brejo paraibano, como da falta de melhor cobertura vegetal. Portanto, a
combinação destes fatores favorece o surgimento do processo erosivo, como pode ser observado na
Figura 1, associado aos fatores já mencionados, o tipo de exploração da área, que é a utilização da
pastagem para alimentação animal, agregado uma alta taxa de lotação animal proporciona fatores
indesejáveis e já conhecido que é a compactação provocada pelo pisoteio dos animais em pastejo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 143


Figura 1. Visualização geral da área, e em evidencia os sulcos de erosão existentes.

Análises Realizadas

Foram coletadas 49 amostras em pontos georeferenciados obedecendo à malha regular de


20x20 metros, divididos nas profundidades de 0-10 e 10-20 cm, totalizando 98 amostras de solo,
que foram coletadas, secas ao ar, e realizada análise da densidade do solo, as análises foram
realizados no laboratório de Física do Solo DSER/CCA/UFPB, seguindo a metodologia adotada
pela Embrapa (1997).
Ainda obedecendo à mesma grade (20x20m entre pontos), foram realizados os testes do
tempo infiltração em todos os 49 pontos da área, com utilização de cilindros infiltrômetros com
altura de 15 cm e diâmetro de 15 cm, conforme a metodologia de ―Beerkan‖ (LASSABATÉRE et
al., 2006; SOUZA et al., 2008).

MÉTODOS ESTATÍSTICOS

A variabilidade do solo foi inicialmente avaliada através da análise descritiva dos dados,
calculando se os valores mínimo, máximo, média, mediana, desvio padrão, coeficiente de variação,
coeficiente de assimetria e curtose, também foi realizada análise de normalidade pelo teste de
Shapiro-Wilks (w), realizada através do programa Assitat (SILVA & AZEVEDO, 2002). A
avaliação da variabilidade dos atributos foi baseada nos limites propostos por Warrick e Nielsen
(1980), para classificação de atributos do solo, que consideram: variabilidade baixa (CV < 12 %);
média (12% < CV < 60 %) e alta (CV > 60 %).
A análise geoestatística, foi realizada pelo software GS+ da Gamma Design. Os mapas foram
construídos utilizando-se os pontos amostrais, com suas respectivas coordenadas geográficas,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 144


atribuindo-se valores nos locais não amostrados através da técnica de Krigagem e das estruturas de
dependência espacial obtidas dos semivariogramas, permitindo-se com isso a confecção dos mapas
de isolinhas, e realizando a interpolação dos dados, estes procedimentos foram procedidos através
do programa computacional Surfer 9. Por fim, sobrepuseram essas informações e geraram-se mapas
temáticos possibilitando perceber visualmente as relações.
Posteriormente utilizou-se a classificação de Trangmar et al. (1985), que define um
parâmetro de comparação baseado no tamanho relativo do efeito pepita, chamado de índice de
dependência espacial (IDE), o qual possibilita a comparação do tamanho relativo do efeito pepita
entre os atributos do solo, dado pela equação:

( )
( )
( )
Onde, IDE: Indicativo de dependência espacial, y(h) pepita: semivariância do efeito pepita,
y(h) total: semivariância total ou patamar. O aplicativo GS+ trabalha com a seguinte relação:

( )
( )
Os resultados do IDE foram classificados da seguinte forma: dependência espacial fraca (≤
25%); dependência espacial moderada (entre 25% e 75%) e dependência espacial forte (> 75%).
Os valores analíticos dos atributos físicos avaliados foram utilizados para a análise da
variabilidade espacial, bem como seus índices de dependência espacial (IDE). Assim, os modelos
foram ajustados, considerando-se individualmente cada atributo e também o conjunto de dados que
representam cada profundidade de solo, utilizando os procedimentos geoestatísticos considerando-
se as análises semivariográficas isotrópicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta os resultados da estatística descritiva para o tempo de infiltração e


densidade do solo nas camadas de 0-10 e 10-20 cm. Os valores da média e da mediana para os
atributos estão próximos, indicando que estes dados seguem uma distribuição simétrica.

Variáveis Min Max Med Mediana DP CV(%) As Curt W*


T. Inf. 1059 9139 3887 3828 2014 45 1,04 0,33 Não
Ds 0-10 1,46 1,7 1,6 1,65 0,05 3 -0,92 0,63 Sim
Ds 10-20 1,48 1,7 1,5 1,6 0,05 3 -0,45 0,01 Sim
Min: valor mínimo, Max: valor máximo, Méd: valor médio, DP: desvio padrão, CV: coeficiente de
variação, As: assimetria, Curt: curtose, *: teste de normalidade Shapiro-Wilks (5% de significância), T.
inf: tempo de infiltração, Ds: densidade do solo.
Tabela 1. Análise descritiva dos atributos do solo: Tempo de infiltração (segundos), Densidade do solo (g.
cm3) nas camadas de 0-10 e 10-20 cm.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 145


Pode-se verificar através dos resultados presentes na Tabela 1 que os valores médios e a
mediana apresentam estimações muito próximas. Segundo Cambardella et al. (1994), os valores da
média estando próximos daqueles da mediana, é um indicativo de que as medidas de tendência
central são dominadas por valores típicos na distribuição. De maneira geral, os dados da Tabela 1
mostram tendência à uma menor distorção e maior normalidade, onde os atributos apresentaram
distribuição normal pelo teste Shapiro-Wilks (W).
Com base no critério de Warrick e Nielsen (1980), para classificar o coeficiente de variação
(CV), verificou-se valores médios para a variável tempo de infiltração, já para a densidade o
coeficiente de variação foi classificado como baixo em ambas as profundidades amostrais. O CV
pode ser usado para comparar e avaliar as variáveis, portanto podemos observar que as variáveis
que apresentam um CV baixo indicam uma pequena variação dos dados em relação à média,
mostrando uma distribuição homogênea. Já o atributo ou variável que apresentaram um CV médio
indicam uma maior variação dos dados em relação à média, mostrando uma distribuição com maior
heterogeneidade nos dados.
A Tabela 2 apresenta os resultados dos parâmetros matemáticos dos dados analisados. Pode-
se observar que os dados ajustaram-se bem aos modelos gausiano, esférico e exponencial, apesar de
o modelo esférico ser considerado por muitos autores como sendo o que melhor se ajusta aos
atributos do solo (SIQUEIRA et al., 2008).

Variáveis Modelo R2 Ef Pepita (C0) Patamar C0/(C0+C1) Alcance (A0) IDE


C1
T. Inf. Gausiano 0,99 763464 641000 88 156,92 Forte
Ds 0-10 Exponencial 0,50 35 483 73 18,20 Moderado
Ds 10-20 Esférico 0,58 0,0 0,0242 71 25,90 Moderado
Tabela 2. Modelos e parâmetros estimados aos semiovariogramas experimentais: Tempo de infiltração
(segundos), Densidade do solo (g. cm3) nas camadas de 0-10 e 10-20 cm.

Pode-se observar através dos resultados contidos na Tabela 2 que todos os atributos
apresentaram dependência espacial. A variável, tempo de infiltração se enquadrou com IDE forte,
mas, a densidade do solo apresentou-se como moderada nas duas profundidades. Cambardella et al.
(1994) evidenciam que quanto mais fortemente for à dependência espacial, maior é a possibilidade
de se afirmar que uma variável é influenciada pelas propriedades intrínsecas do solo, como a
densidade, porosidade, teor de água, etc. O atributo que apresentou um IDE considerado moderado
de acordo com a classificação adotada neste trabalho, mostra que as mesmas sofrem muito mais
influencias ocasionada pelo relevo, a falta de manejo e o pisoteio animal do que as demais. A
dependência das observações é avaliada através do ajuste aplicado sobre a nuvem de pontos, o que
permite observar que cada ponto representa a medida de semelhança entre vizinhos próximos. Deste
modo, o conhecimento da variabilidade espacial de um solo, além de caracterizar uma região, pode

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 146


indicar o número e a distribuição de amostras a serem retiradas, possibilitando um melhor
detalhamento da área.
Na Figura 2 está representado o mapa de isolinhas do tempo de infiltração, podendo-se
observar a disposição do tempo de infiltração de água no solo, vale destacar que neste teste, para
cada ponto foi atribuído um volume de 2000 ml de água, ou seja, um volume constante, sendo que
as variações decorridas foi o tempo em que tal volume consumia para ser infiltrado, e também, que
o sentido da declividade da encosta encontra-se do sul (600 metros) para o norte (566 metros). Nas
pequenas áreas de ocorrência de concentrações de linhas de contorno fechadas, sugerem o
acontecimento de variações nos valores do tempo de infiltração, ou seja, ocorrência de flutuações
nos valores em intervalo de espaço amostral, demostrando que na maioria dos pontos, o tempo de
infiltração encontra-se no intervalo de 1000 a 6500 segundos, pode-se verificar também que as
ocorrências dos maiores valores são em pontos mais isolados sendo os mesmos representados pela
cor mais avermelhada no mapa. Alguns autores ressaltam a ocorrência de variações da infiltração
em pequeno espaço amostral (JOSÉ et al., 2012).

Figura 2. Mapa de isolinhas dos dados do tempo de infiltração no solo da encosta, valores expressos em
segundos.

Verifica-se que na parte de maior altitude, e também com a presença de maior declividade
da área estudada, e mais precisamente na parte sudoeste do mapa (Figura 2), são encontrados os
maiores valores para o tempo de infiltração, demostrando a forte influência do relevo nesta variável
e consequentemente na contribuição para o aumento da degradação da área. Sabe-se que os fatores
de formação do solo (material de origem, clima, organismos, relevo e tempo) têm influência no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 147


resultado final dos solos e também que estes estão em operação constantemente. E entre tais fatores
podemos destacar o relevo, que é considerado muito mais como um agente de remoção e destruição
do solo do que de formação, visto sua influência no processo erosivo.
O relevo com suas componentes recebem especial atenção, tendo destacada influência sobre
a infiltração, movimentação vertical e horizontal de água. O estudo do relevo apresenta grande
importância para os processos que envolvem o movimento e armazenamento de água dentro do
perfil do solo e, ainda, sua relação com o transporte e a deposição de sedimentos (BETIOLI
JÚNIOR et al., 2012).
Os mapas de densidade do solo (Figura 3 A e B) apresentam condições semelhantes em
ambas às profundidades analisadas, onde os maiores valores estão presentes na parte superior da
encosta, sempre na parte sudoeste da mesma, com valores de densidade do solo (Figura 3A) que
variaram de 1,46 a 1,7 g cm-3, sendo que os valores mais altos (1,62 a 1,7 g cm-3) se encontram
desde o centro até a região sudoeste da área. Na Figura 3B, os maiores valores também estão
seguindo a mesma tendência, só que um pouco mais distribuídos pelo centro da encosta. A
compactação do solo pelo uso de práticas inadequadas de manejo modificam os atributos físicos do
solo, promovendo redução no crescimento do sistema radicular e no desenvolvimento das
pastagens, que traz como consequência uma menor proteção para o solo, resultando em áreas de
solo desnudo que facilitam o processo erosivo.

Figura 3. Mapa de isolinhas dos dados de densidade do solo no solo da encosta, A) (0-10 cm); B) (10-20
cm), valores expressos em g cm-3.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 148


Verificou-se que algumas partes da área apresentam valores de densidade inadequados, com
necessidade de adoção de um manejo apropriado. Sugerindo-se uma combinação de práticas de
manejo para amenizar o problema de compactação do solo. Segundo Mion et al. (2012) a densidade
do solo é uma das propriedades físicas que podem caracterizar o estado de compactação, sendo
limitantes ao crescimento radicular
Tavares et al. (2012) utilizando funções geoestatísticas, observaram que há uma
heterogeneidade muito grande entre os atributos físicos do solo, apesar da aparente semelhança
visual. Um importante argumento a ser tomado como explicação para os problemas relacionados à
degradação é a perda de solo em decorrência da erosão, ocasionadas pelo relevo e o pisoteio animal,
que podem trazer consequências negativas para as propriedades estudadas. Como a área em estudo
é utilizada para o fim de alimentação animal, pode-se concluir que este tipo de exploração pode
contribuir com alguns danos (TORRES et al., 2012), ressaltando que a área estudada tem um
histórico de aproximadamente 25 anos para pastoreio animal
Portanto, fazendo se uma correlação entre o tempo de infiltração e densidade do solo
(Figuras 2, e 3 A, B) tomando como base a área sudoeste dos mapas, é notável a ligação existente
entre estes atributos, demostrando com isso a precisão desta técnica. Vinculando os problemas
causados pelo pisoteio animal e o relevo declivoso, onde a combinação destes, assim como a falta
de um manejo adequado para áreas com essa conformação e este tipo de uso, é provável que
ocorram mais problemas de degradação do solo, o que já se torna perceptível na área estudada, onde
em muitos locais o solo já se encontra quase que completamente desnudo, como também o
surgimento de sulcos de erosão profundos, principalmente em locais onde a declividade é maior.

CONCLUSÕES

Houve uma relação clara entre a infiltração e densidade do solo, observando essa correlação
principalmente na parte superior sudoeste da encosta. E que tais atributos são diretamente
influenciados pelo relevo da encosta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARO FILHO, J.; NEGREIROS, R. F. D.; ASSIS JUNIOR, R. N.; MOTA, J.C.A. Amostragem e
variabilidade espacial de atributos físicos de um Latossolo Vermelho em Mossoró, RN. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, Vicosa, v.31, n.3, p. 415-422, 2007.

ANTONELI, V.; THOMAZ, E. L. Comparação de infiltração de água no solo mensurada em


período seco e úmido, em diferentes usos da terra na bacia do arroio Boa Vista, Guamiranga,
Paraná. Ambiência, Guarapuava-PR v.5, n.2, p.301-317, Maio/Ago, 2009.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 149
BETIOLI JÚNIOR, E. et al. Intervalo hídrico ótimo e grau de compactação de um Latossolo
Vermelho após 30 anos sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa-MG,
v.36, n. 3, p.971-982, maio, 2012.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Escritório de Pesquisas e Experimentação. Equipe de


Pedologia e Fertilidade do Solo. Levantamento exploratório reconhecimento de solos do Estado
da Paraíba. Rio de Janeiro-RJ, 1972. 670 p.

CAMBARDELLA, C. A. et al. Field scale variability of soil properties in Central Iowa soils. Soil
Science Society of America Journal, v.58, p.1501-1511, 1994.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - Embrapa. Centro Nacional de


Pesquisa de Solos. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Manual de métodos de análise
de solo. 2°. ed. Rio de Janeiro: Embrapa, 1997. 212 p.

GUBIANI, P. I. Regularidade de resposta da cultura do milho à compactação do Solo. 152 f.; Tese
(doutorado) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Programa de
Pós-Graduação em Ciência do Solo, RS, 2012.

GALVÃO, S. R. S.; SALCEDO, I. H.; SANTOS, A.C. Frações de carbono e nitrogênio em função
da textura, do relevo e do uso do solo na microbacia do agreste em Vaca Brava (PB). Revista
Brasileira Ciência do Solo. Solo, Viçosa-MG, v.29, n.2, p.955-962, 2005.

JOSÉ, J. V. et al. Variabilidade espacial de variáveis físico-hídricas de dois Latossolos da região


noroeste do estado do Paraná. Irriga, Botucatu-SP, v.17, n.2, p.208-219, abril-junho, 2012.

LIMA, C.L.R.; SILVA, A.P.; IMHOFF, S.; LIMA, H.V. & LEÃO, T.P. Heterogeneidade da
compactação de um Latossolo Vermelho-Amarelo sob pomar de laranja. Revista Brasileira
Ciência Solo, v.28, n.2 p. 409-414, 2004.

LASSABATÈRE, L. et al. Beerkan estimation of soil transfer parameters through infiltration


experiments – BEST. Soil Science Society of American Journal, v.70, p.521-532, 2006.

MION, R. L. et al. Variabilidade espacial da porosidade total, umidade e resistência do solo à


penetração de um Argissolo amarelo. Semina, Londrina-PR, v.33, n.6, p.2057-2066, nov/dez,
2012.

MOURA, W. B. D. de.; MEDEIROS, J. F. de.; SANTOS, S. C. L.; MOURA, A. G. D. da S. de.


Estudo hídrico e socioeconômico do assentamento Bela Vista, São Pedro-RN, com vista no
desenvolvimento sustentável. Intesa, Mossoró – RN – Brasil, v2, n.1, p.27-55, 2008.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 150
RICHART, A.; TAVARES FILHO, J.; BRITO, O. R.; LLANILLO, R. F.; Ferreira, R.
Compactação do solo: causas e efeitos. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 26, n. 3, p. 321-
344, 2005.

SANTOS, H. G. et al. Sistema brasileiro de classificação dos solos. 2° ed. Rio de Janeiro: Embrapa
Solos, 2006. 360p.

SANTOS, A.C.; SALCEDO, I.H. e CANDEIAS, A.L.B. Relação entre o relevo e as classes
texturais do solo na microbacia hidrográfica de Vaca Brava, PB. Revista Brasileira de
Cartografia, n.54, 2002.

SILVA, F. de A. S.; AZEVEDO, C. A. V. de. Versão do programa computacional assistat para o


sistema operacional Windows. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande-
PB, v.4, n.1, p.71-78, 2002.

SIQUEIRA, G. M.; VIEIRA, S. R.; CEDDIA, M. B. Variabilidade espacial de atributos físicos do


solo determinados por métodos diversos. Bragantia, Campinas-SP, v.67, n.2, p.693-699, 2008.

SOUZA, E. S. de. et al. Caracterização hidrodinâmica de solos: Aplicação do método Beerkan.


Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande-PB, v.12, n.2, p.128–
135, 2008.

TAVARES, U. E. et al. Variabilidade espacial de atributos físicos e mecânicos de um Argissolo


sob cultivo de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina
Grande-PB, v.16, n.11, p.1206–1214, 2012.

TORRES, J. L. R. et al. Resistência à penetração em área de pastagem de capim Tifton,


influenciada pelo pisoteio e irrigação. Biosciece Journal. Uberlândia-MG, v.28, n.1, p.232-239,
Mar 2012.

TRANGMAR, B. B. et al. Applications of geostatistics to spatial studies of soil


properties. Advances in Agronomy, San Diego, v.38, p.45-94, 1985.

WARRICK, A.W.; NIELSEN, D. R. Spatial variability of soil physical properties in the field. In:
Hillel, D. (Ed.). Applications of soil physics. New York: Academic, p.319-344. 1980.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 151


IDENTIFICAÇÃO E PROPOSTA DE CONTROLE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
RESULTANTES DA IMPLANTAÇÃO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFCG EM
POMBAL-PB

Naiara Angelo GOMES


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
naiaraangelocz@hotmail.com

José Cleidimário Araújo LEITE


Professor do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
cleidimario@ccta.ufcg.edu.br

Ana Paula Oliveira SILVA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
paulinhacatole@hotmail.com

Rodrigo Macêdo ARRUDA


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
rodrigo.15m@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho teve por objetivo realizar a identificação e proposição de medidas de controle para os
impactos ambientais decorrentes da instalação do campus da UFCG em Pombal-PB. A metodologia
utilizada teve por base pesquisas em estudos técnicos e cientificos, instituições públicas, visitas de
campo, utilização de fotografias digitais e imagens de satélite. Para a caracterização do
empreendimeto foram realizadas visitas a campo e pesquisas bibliográficas. Na catalogação dos
impactos ambientais utilizaram-se os métodos de avaliação Ad Hoc e Chek List. A indicação de
medidas de controle ambiental foi feita a partir de consultas bibliográficas do método Ad Hoc. De
acordo com os resultados, os principais impactos ambientais identificados foram: aceleração dos
processos erosivos, perda da vegetação e da fauna, e compactação do solo. As principais medidas de
controle ambiental foram: não desmatar desnecessariamente, limitar cortes e aterros e revegetar
áreas desmatadas. Espera-se que este trabalho venha a contribuir com a implantação de práticas
voltadas à conservação ambiental da área de estudo.
Palavras-chave: Avaliação de Impacto Ambiental, Recuperação Ambiental, Meio Ambiente.

ABSTRACT
This study aimed to identify and to proposal measures to control the environmental impacts
resulting from installation of a campus of UFCG in Pombal-PB. The methodology used was based
on research in technical and scientific studies, public institutions, field visits, use of digital
photographs and satellite images. To characterize the project field visits and literature searches were
performed. In cataloging the environmental impacts were used the impact assessment methods
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 152
called Ad Hoc and Chek List. The indication of environmental control measures was made from
bibliographic consultations and Ad Hoc method. According to the results, the main environmental
impacts identified were: acceleration of erosion, loss of vegetation and wildlife, and soil
compaction. The main environmental control measures were ―not deforesting unnecessarily‖, to
limit the cut and fill in small areas and reforest deforested areas. It is hoped that this work will
contribute to the implementation of practices aimed at environmental conservation in study area.
Keywords: Environmental Impact Assessment, Environmental Recovery, Environment.

INTRODUÇÃO

A preocupação com o meio ambiente relativa à extração, processamento e utilização dos


recursos naturais, bem como com a disposição dos resíduos gerados nas atividades antrópicas, teve
início na metade do século passado, quando houve uma sensibilização mundial com relação à falta
de sustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento.
Segundo FOGLIATTI et al. (2004) e BRAGA et al. (2005), nesse período, a sociedade
passou a se preocupar mais com a conservação e preservação ambiental, uma vez que o homem
finalmente passou a compreender que os recursos naturais são finitos e que a capacidade de suporte
do meio ambiente, bem como a sua capacidade de absorver os resíduos resultantes das atividades
humanas, também são finitos.
Sabe-se que as atividades antrópicas alteram o meio ambiente, o que resulta em diversos
impactos ambientais. Entre tais atividades, têm-se as da construção civil que, apesar de beneficiar o
meio antrópico, causam muitas alterações negativas sobre os meios biótico e abiótico.
De forma geral, entende-se por impacto ambiental qualquer alteração (positiva ou negativa),
de origem antrópica, que prejudique o meio ambiente. Na Resolução CONAMA No 001/86 define-
se impacto ambiental como:

―... qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem estar da população; as
atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais‖.

Uma vez identificados os impactos ambientais, estes podem ser controlados por medidas de
mitigação ou compensação. As medidas de mitigação são aquelas aplicadas aos impactos
ambientais negativos, as de compensação, também são aplicadas aos impactos negativos, mas
somente, quando estes não podem ser mitigados.
Nesse contexto, foi realizado um estudo para a identificação e proposta de mitigação e
compensação para os impactos ambientais resultantes da construção do Campus da Universidade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 153


Federal de Campina Grande (UFCG), localizado no município de Pombal-PB. Este estudo justifica-
se pelo fato de não haver um estudo ambiental aprofundado para a área de estudo. Assim,
necessário se faz a elaboração desse estudo para que sejam identificados os impactos positivos e os
negativos resultantes da implantação, na fase construtiva, e da fase de operação deste
empreendimento.

METODOLOGIA

A metodologia adotada nesse estudo teve por base a realização de pesquisas bibliográficas, a
realização de visitas de campo, utilização de fotografias digitais e imagens de satélites.
Adicionalmente, utilizaram-se fundamentos e ferramentas da avaliação de impacto ambiental e a
legislação ambiental brasileira.

Localização do empreendimento

O empreendimento objeto desse estudo é um Campus da UFCG, situado no município de


Pombal - PB (Figura 1), e possui uma área total de 155500,47 m².
O município de Pombal está situado na região oeste do Estado da Paraíba, Meso-Região do
Sertão Paraibano e Microrregião de Sousa - PB. Encontra-se localizado a 377 km de João Pessoa,
373 km de Natal - RN e 450 km de Fortaleza - CE, a uma altitude de 184 m em relação ao nível do
mar, entre as coordenadas 06046‘12‘‘S e 37048‘07‘‘W, possuindo uma área de 892,70 km².

Pombal - PB

Figura 1: Localização do munícipio de Pombal-PB.

A área em estudo está localizada na zona urbana do município de Pombal - PB,


especificamente na rua Jario Viera Feitosa, 1770, bairro dos Pereiros. Na Figura 2a mostra-se a
localização da área do empreendimento, apresentada em detalhe na Figura 2b.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 154


(a) (b)
Figura 2: Localização da área urbana (a) e do Campus da UFCG em Pombal - PB.
Fonte: (a) Google earth (2007) - adaptado; (b) Prefeitura Municipal de Pombal - PB.

O acesso ao local em estudo pode ser efetuado por duas vias: pela BR-230 e pela Rua Jairo
Vieira Feitosa, bairro dos Pereiros, onde se localiza o Campus Universitário.

Caracterização do empreendimento

A caracterização do empreendimento foi realizada através de visitas de campo, consultas


bibliográficas e a instituições como, a Secretaria de Projetos Estratégicos da Prefeitura Universitária
da UFCG, Campus de Campina Grande, e na Direção do CCTA/UFCG, em Pombal - PB.

Identificação dos impactos ambientais

A identificação dos impactos ambientais foi realizada por meio da análise de interação entre
as atividades e ações de projeto do empreendimento e as características do ambiente local, que
foram obtidas no estudo de Lima e Leite (2011), que realizam um estudo preliminar de avaliação
dos impactos ambientais na mesma área de estudo.
Nessa identificação, foram utilizados os métodos de avaliação Ad Hoc (método espontâneo)
e Check Lists (listas de verificação), de acordo com FOGLIATTI et al. (2004), PHILLIPI Jr. et al.
(2004) e SÁNCHEZ (2008).
Visitas de campo foram realizadas na área de influência do empreendimento para
complementar a etapa de identificação dos impactos ambientais.

Proposição das medidas de controle ambiental

Foram propostas medidas de controle ambiental para os impactos ambientais negativos, que
foram classificadas como: Preventivas, mitigadoras e compensatórias, sendo as preventivas com a
função de evitar a ocorrência dos impactos, as de mitigação para os impactos ambientais mitigáveis

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 155


e as de compensação para os não mitigáveis. Tais medidas foram obtidas na literatura (FOGLIATTI
et al., 2004; SÁNCHEZ et al. 2008) e adaptadas para a situação real da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do empreendimento

Nesta etapa de caracterização do empreendimento, foram levantados dados sobre as


principais atividades ou ações de projeto em cada fase de sua implementação do campus:
planejamento, instalação e operação. Essas atividades ou ações de projeto encontram-se
apresentadas na Tabela 1.

Fases Atividades
- Divulgação do empreendimento;
- Seleção da área;
Planejamento
- Contratação de mão-de-obra;
- Levantamentos topográficos.
- Serviços preliminares
- Instalação de canteiros de obras;
- Construção de caminhos de acesso.
- Terraplanagem
- Roçada da área;
Implantação
- Limpeza;
- Cortes e aterros;
- Bota-fora;
- Abertura e preparação de valas.
- Edificação e demais obras;
- Paisagismo.
- Serviços de manutenção;
- Contração de servidores e de serviços de terceirizados;
- Construção ou serviços de melhorias das vias de acesso;
- Aulas e atividades em laboratório;
Operação - Serviços de transporte de material;
- Ampliação e melhorias da infraestrutura já existente;
- Atividades agrícolas de projetos;
- Utilização de ferramentas manuais e mecanizadas nas atividades
agrícolas, principalmente na ceifa do mato.
Tabela 1: Fases e atividades ou ações de projeto do empreendimento.

Identificação dos impactos ambientais

Na Tabela 2, encontram-se os principais impactos ambientais identificados na área de


influência direta e indireta do empreendimento estudado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 156


Meio Fator Ambiental Impactos ambientais Figura
- Compactação do solo -------
- Aceleração dos processos erosivos 3a; 3b
- Provável contaminação do solo -------
Solo - Alteração na qualidade do solo 3c
- Impermeabilização do solo -------
- Alteração da topografia 3d; 3e
- Possível degradação do solo -------
- Desvio no curso do escoamento
-------
natural da água
FISÍCO - Aumento do volume e da velocidade
-------
do escoamento da água
- Assoreamento dos corpos hídricos -------
Água
- Alagamento de algumas áreas -------
- Possível contaminação da água
-------
superficial e subterrânea
- Perda de água por falhas nos
-------
sistemas de distribuição
- Lançamento de material particulado
-------
Ar (poeiras e fuligem)
- Aumento do nível de ruídos. -------
Paisagem - Alteração da paisagem natural -------
- Provável proliferação de vetores 3f; 3g
- Diminuição da oferta de abrigo e
-------
alimento à fauna
Fauna
- Redução da diversidade da fauna
-------
BIÓTICO local
- Alteração dos ecossistemas locais -------
- Perda de espécies vegetais -------
Flora - Redução da densidade florística -------
- Degradação da vegetação -------
- Oportunidade de empregos
-------
temporários
- Oportunidade de empregos
-------
Aspectos permanentes
ANTRÓPICO - Melhoria da estética local 3h
socioeconômicos
- Melhoria do microclima 3i
- Poluição visual 3j
- Intrusão visual -------
Tabela 2: Impactos ambientais identificados na área de influência direta do empreendimento.

Analisando-se a Tabela 3, nota-se que a maior quantidade de impactos ambientais adversos


foi verificada para o meio físico e que os fatores ambientais mais atingidos foram o solo, a água e a
fauna, respectivamente. O fator socioeconômico foi o único com impactos positivos. Vale
acrescentar que outros impactos ambientais, além dos identificados neste estudo, provavelmente
ocorreram ou ocorrerão, sendo necessária a elaboração de um estudo ambiental mais aprofundado
para a sua identificação e controle ambiental.
Na Figura 3 são apresentadas fotografias nas quais são destacados, de forma direta ou
indireta, alguns dos principais impactos ambientais adversos identificados na área de estudo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 157


(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g) (h)

(i) (j)
Figura 3: Impactos ambientais identificados na área de influência direta do empreendimento.
Fonte: Arquivo pessoal (2012).

Ao se analisar a Figura 3, observa-se que a maior parte dos impactos ambientais, são
impactos negativos, exceto os apresentados nas Figuras 3h e 3i, que são decorrentes das atividades
de desmatamento, corte, aterro, disposição inadequada de resíduos sólidos, etc. Devido esses
impactos não serem controlados, estes se acumulam no tempo e espaço e provocam consequências
maiores no meio ambiente. Um exemplo desse tipo de consequência é mostrado na Figura 3d que
por falta da aplicação de medidas de controle ambiental o solo desta área encontra-se degradado.
Nas Figuras 3h e 3i são apresentados exemplos de dois impactos ambientais positivos:
melhoria da estética e do microclima local, que foram resultantes da implantação de vegetação
paisagística e nativa para proporcionar melhora na estética e no microclima na área do
empreendimento, uma vez que a vegetação que nele existia foi removida para a sua construção. Este

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 158


resultado indica que alguns impactos ambientais têm recebido medidas de controle ambiental para
sua mitigação.

Indicação de medidas de controle ambiental

As medidas de controle ambiental propostas para os impactos ambientais negativos, bem


como sua classificação, estão apresentadas na Tabela 3.

Medidas de controle ambiental –


Impacto ambiental Atividades
Classificação
Cortes e aterros, terraplenagem, - Limitar o desmatamento às áreas
desmatamento e limpeza do necessárias. (1/ 2/ 4/ 5/ 7/ 9/10/
1. Compactação
terreno, traslado de veículos, 11/ 17/ 18/ 19/ 20/ 22) –
do solo
máquinas e equipamentos. (Preventiva)
Desmatamento e limpeza do - Evitar o uso excessivo de
2. Início ou aceleração maquinários e equipamentos
terreno, corte e aterro e
dos processos erosivos pesados trafegando diariamente
terraplenagem.
em terrenos desmatados. (1/5) –
(Preventiva)
- Recompor a cobertura vegetal
3. Provável Bota-fora das atividades advindas em áreas próximas da área
contaminação do solo da construção civil e atividades construída. (2) – (Compensatória)
laboratoriais. - Promover o uso racional dos
reagentes pelos alunos nas aulas
práticas. (3/12) – (Preventiva)
Bota-fora, terraplenagem,
4. Alteração na qualidade - Realizar programas de educação
desmatamento e limpeza do
do solo ambiental com os terceirizados e
terreno, cortes e aterro.
os técnicos dos laboratórios para
Desmatamento, limpeza do terreno, que os mesmos despejem os
cortes e aterro, terraplanagem e efluentes e resíduos sólidos em
5. Impermeabilização do
atividades realizadas por locais adequados. (3/12) –
solo
maquinaria e equipamentos (Preventiva)
pesados. - Não realizar queimadas. (4/17/
6. Alteração do relevo 22) – (Preventiva)
Cortes, aterros e terraplenagem. - Depositar os resíduos gerados
7. Possível desertificação das atividades em local adequado.
Desmatamento. (3/4/12/16/21) – (Preventiva)
do solo
8. Desvio no curso do - Limitar cortes, aterros e
escoamento natural da Construção das edificações. terraplenagem a áreas necessárias.
água (6) – (Preventiva)
9. Aumento do volume e - Construir cortinas vegetais, para
Desmatamento, terraplenagem e que esse impacto seja minimizado
da velocidade do
construção de edificações. nas áreas de influência direta e
escoamento da água
Desmatamento, terraplanagem, indireta do empreendimento.
compactação e impermeabilização (6/23/24) – (Mitigadora)
10. Assoreamento dos
corpos hídricos - Elaborar e executar projetos de
do solo.
reflorestamentos em áreas onde o
11. Alagamentos de Desmatamento, terraplanagem, solo não será mais utilizado e se
pequenas áreas pavimentação, etc. encontra sem cobertura vegetal.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 159


(7) – (Mitigadora)
12. Possível contaminação - Evitar construir as edificações
Atividades da construção civil em locais que interrompam o
da água superficial e
subterrânea
(bota-fora) e aulas laboratoriais. percurso natural da água. (8) –
(Preventiva)
- Evitar desmatamento
13. Perda de água por desnecessário, principalmente em
Fornecimento de água para
falhas nos sistemas de formações ciliares. (10) –
consumos diretos e indiretos.
distribuição (Preventiva)
14. Poluição e - Realizar cortes e aterros
Movimentação de máquinas e alterando de forma mínima o
contaminação do ar
utilização de equipamentos durante relevo local. (11) – (Preventiva)
por lançamento de
a realização das atividades de - Análise periódica da qualidade
material particulado
desmatamento, limpeza do terreno, da água superficial. (12) –
(poeira e fuligem)
cortes, aterros e terraplanagem. (Preventiva)
Movimentação de máquina e - Realizar os cuidados necessários
15. Impactos resultantes para que os efluentes não poluam
utilização de equipamentos
da geração de ruído o meio ambiente. (3/12) –
principalmente na fase de
implantação do projeto. (Preventiva)

- Realizar a manutenção do
16. Provável proliferação sistema de distribuição de água na
Construção civil.
de vetores indesejáveis área do campus. (13) –
(Preventiva)
17. Diminuição da oferta - Conscientizar a comunidade
de abrigo e alimento a Desmatamento e outras atividades acadêmica a não deixar torneiras
fauna que perturbam a fauna. ligadas, bebedouros ligados, etc.
(13) – (Preventiva)
Atividades nas fases de - Realizar manutenção regular de
18. Redução da implantação e operação do projeto, máquinas e equipamentos e
diversidade da fauna pela movimentação de pessoas e empregar equipes treinadas para o
local veículos na área do manuseio e operação destes.
empreendimento. (14/15) – (Preventiva)
19. Alteração dos - Controlar a emissão de efluentes
Desmatamento e limpeza do
ecossistemas locais
terreno. e disposição de lixo. (3/4/16) –
(Preventiva)
20. Perda de espécies - Realizar o tratamento adequado
vegetais Desmatamento do esgoto e lixo gerado por todas
as pessoas que estudam e
Lançamento e depósito de materiais trabalham no empreendimento.
21. Degradação da indesejáveis advindos das (16) – (Preventiva)
vegetação atividades da construção civil e - Sinalizar as áreas com cobertura
também da comunidade acadêmica. vegetal para que não ocorra
perturbação das espécies de
22. Redução da animais existentes. (18/19) –
Atividades da compactação.
diversidade vegetal (Preventiva)
- Tratar e dar destino adequado
para os resíduos sólidos
23. Alteração da paisagem produzidos pelos serviços.
Construção dos edifícios. (3/4/16/21) – (Preventiva)
natural
- Realizar obras de paisagismo
24. Poluição visual procurando manter as espécies
naturais da região. (23/24/25) –
Construção civil.
25. Intrusão visual (Mitigadora)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 160


Tabela 3: Medidas de controle ambiental propostas para os impactos negativos.
Observa-se na Tabela 3 que foram proposta medidas de controle ambiental para todos os
impactos ambientais negativos identificados, sendo a maioria delas do tipo ―Preventiva‖, seguidas
das mitigadoras e compensatórias respectivamente. Vale ressaltar que também foram identificados
impactos ambientais positivos, conforme visto na Tabela 2, especificamente no meio antrópico.
Para estes impactos, podem ser apresentadas medidas de maximização, a exemplo de preferência
para a contratação de mão-de-obra local (Oportunidade de empregos temporários), implantação de
projeto de arborização (Melhoria do microclima) e ampliação no número de cursos no campus da UFCG
(Oportunidade de empregos permanentes).

CONCLUSÕES

A partir dos resultados, conclui-se que vários componentes ambientais foram impactados, de
forma negativa, na área de estudo, principalmente o solo, a água, a fauna e a flora. Entre as
principais causas desses impactos estão as atividades realizadas de forma inadequada, sob o aspecto
ecológico, para a construção das edificações e utilização do solo em áreas experimentais agrícolas,
bem como outras realizadas na fase de operação do empreendimento, como, por exemplo, a
destinação ambientalmente inadequada de resíduos sólidos.
Em algumas áreas, além dos fatores ambientais se encontrarem impactados, estes se
encontram alterados de forma significativa, ou seja, degradados, sendo que algumas delas estão em
estágio de recuperação natural.
Por fim, com a aplicação das medidas de controle ambiental espera-se que sejam reduzidas
as alterações nos fatores ambientais e consequentemente aumentada a preservação do meio
ambiente.

REFERÊNCIAS

BRAGA, et al. Introdução à Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentável. 2


ed. São Paulo. Pearson, Prentice Hall, 2005.

BRASIL. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 01, de 23 de Janeiro de 1986. Dispõe sobre procedimentos


relativos ao Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA-
RIMA). Publicada no Diário Oficial da União em 17 de Fevereiro de 1986.

FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de Impactos Ambientais: Aplicação


aos Sistemas de Transporte. Rio de Janeiro: Interciência: 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 161


IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em < www.ibge.gov.br/cidadesat
> acesso no dia 11 de fevereiro de 2013, às 11:27 h.

LIMA, F. C.; LEITE, J. C. A. Estudo de avaliação e diagnóstico dos impactos ambientais dos
impactos ambientais resultantes da implantação do campus universitário da UFCG em Pombal
– PB. Relatório Final de Projeto PIBIC - UACTA/CCTA/UFCG, Pombal: PB, 2011.

PHILIPPI JR., A.; ROMERO, M. de A. & BRUNA, G. C. Curso de gestão ambiental. São Paulo:
Manole, 2004.

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. 2a ed. São Paulo: Oficina
de Textos, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 162


NAVEGANDO DE ACORDO COM A ―LEI DO RIO‖

Maria Isabel de ARAÚJO


MBA. Meio Ambiente, UNOPAR
miar@terra.com.br

Silas Garcia Aquino de SOUSA


Dr. Eng. Florestal, EMBRAPA
sigas.50@gmail.com

Izabel Cristina da SILVA


Esp. Analise Ambiental, IFRO
izabelcrisrondonia@gmail.com

Rosineide da Silva DIAS


Msc. Ciências Florestais, IFAM
rosedias10@gmail.com

RESUMO
O rio Amazonas nasce no Peru no Rio Apurímac, passa a chamar-se Solimões ao entrar no território
Nacional, recebe o nome de Amazonas após a junção com o Rio Negro. É o maior rio do mundo em
volume de água e comprimento com 6.937,08 km de extensão, sua bacia hidrográfica é a maior do
mundo, com uma superfície aproximada de 7 milhões de km². É o Rio as ruas da Amazônia cujo
transporte fluvial incorpora os aspectos econômicos, sociais e ambientais no desenvolvimento
sustentável da região, cuja população ribeirinha aprenderam a viver e conviver com os períodos de
cheias e vazante relacionando os saberes e práticas ao modo de viver, a saúde e a doenças,
construídos historicamente através das relações familiares e sociais. Neste trabalho busca-se
analisar a saúde e a segurança dos barcos regionais com capacidade até 50 passageiros que singram
os rios amazônicos, destacando a saúde e a segurança concernente a aplicação da legislação
marítima fluvial no procedimento próprio da navegação regional conhecida dos navegantes fluviais
como lei natural, chamada ―lei do rio‖. Trata-se de uma pesquisa-ação e atividades de campo in
loco, objetivando avaliar os impactos socioeconômicos ambientais, referente à aplicação da
legislação marítima. Não se pretende apresentar soluções definitivas para as questões tratadas no
presente trabalho, como resultado conclui-se que os rios amazônicos constituem meios de transporte
de massa, assumindo importância socioeconômica fundamental para a região fortalecendo a
socialização nas comunidades, e que devido a precária infraestrutura das embarcações, a
fiscalização penúriosa do Estado, e a alienação dos passageiros concernente à saúde e a segurança,
sendo acomodados no mesmo convés onde é estivada a carga, colocando em risco a segurança e a
saúde dos tripulantes, dos passageiros, da carga e da própria embarcação, ou seja, representam a
possibilidade real de acidente fluvial.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 163


Palavras-chave: Rio Amazonas; Navegação interior; Saúde e Segurança nas embarcações.

ABSTRACT
The Amazon River rises in Rio Apurimac in Peru, will draw up Solimões to enter the national
territory, receives the name Amazonas after the junction with the Rio Negro. It is the world's largest
river by volume of water and with length 6937.08 km long; its watershed is the largest in the world,
with an area of approximately 7 million square kilometers. Is the Amazon River streets whose
fluvial transport incorporates economic, social and environmental aspects of sustainable
development in the region, whose local population learned to live and cope with periods of flood
and ebb knowledge and practices relating to the mode of living, health and disease, historically
constructed through family and social relationships. This paper seeks to analyze the health and
safety of regional boats with capacity up to 50 passengers sail through the Amazonian rivers,
highlighting the health and safety concerning the application of maritime legislation in fluvial own
procedure known navigators of river navigation as regional law natural, "law of the river". This is
an action research and field activities in situ, to evaluate the socioeconomic environmental impacts,
on the application of maritime legislation. Not intended to provide definitive solutions to the issues
addressed in this work, as a result it is concluded that Amazonian rivers are means of mass
transportation, assuming fundamental socio-economic importance to the region by strengthening
socialization in communities, and that due to the poor infrastructure boats, penúriosa State
supervision and disposal of passengers concerning health and safety, being accommodated in the
same deck where the cargo is stowed, endangering the safety and health of the crew, passengers,
cargo and of itself vessel, e, and present the real possibility of fluvial accident.
Keyswords: Amazon River; Inland waterways; Health and Safety in the boats.

INTRODUÇÃO

Compreender a dinâmica da mobilidade do transporte fluvial em um labirinto de rios, lagos,


paranás, furos e igarapés do Rio Amazonas é um grande desafio, visto que o rio comanda a vida do
ribeirinho amazônico. Sendo este a principal via de transporte da região de passageiros e cargas
transladando de uma cidade ou comunidade a outra. Todo esse imenso labirinto de águas fortalece a
hipótese de que o rio desempenha um papel fundamental na convivência ribeirinha com o meio
ambiente, ou seja, nos períodos de enchente e vazante os ribeirinhos aprenderam a viver e conviver,
ao mesmo tempo priorizam a navegação, o que legitima indiretamente que o rio comanda a vida
ribeirinha.
A Constituição Nacional homologada a partir de 1988, em seu artigo 196 dispõe que: ―A
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 164
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações
e serviços para a promoção, proteção e recuperação‖. Desta forma a saúde torna-se legalmente um
dever do Estado e um direito de todos, denotando desta forma um caráter muito mais amplo que
apenas a procura ao serviço de saúde pelo cidadão. Por outro lado, tal preceito é complementado
pela lei 8.080/90, em seu artigo 2º: ―A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício‖. No que tange ao direito à saúde
não a qualquer distinção na Lei Fundamental, sendo expressada como acesso universal a todo
individuo, bem como as ações de proteção, promoção e recuperação da saúde, segundo as diretrizes
traçadas pela Organização Mundial de Saúde, qual caracteriza a saúde como o completo bem estar
físico da sociedade e não apenas como a ausência de doenças.
Compreender, conhecer e discutir o dia-a-dia dessa população com base no enfoque regional
não elimina as contradições das práticas e saberes vivenciados e utilizados no cotidiano dos
passageiros que navegam nos labirintos do rio Amazonas concernente a saúde e a segurança nas
embarcações, considerando que os fatores geográficos e socioeconômicos influenciam diante das
necessárias travessias, tanto para buscar um cuidado como para ser cuidado ao acesso aos serviços
de saúde médico e hospitalares. Percebe-se com base neste enfoque que o cuidado com a saúde é
vivenciado no cotidiano da população ribeirinha em busca de saúde e qualidade de vida
envolvendo-se harmonicamente com o ecossistema local. Diante desse imenso labirinto formado
pelas águas do Rio Amazonas percebe-se que as populações ribeirinhas possuem marcas culturais
no seu modo de ser cotidiano, visto que os recursos do rio são presentes em seu cotidiano. Não se
pretende apresentar soluções definitivas para as questões tratadas no presente trabalho. Como
resultado conclui-se que os rios amazônicos constituem meios de transporte dos ribeirinhos,
assumindo importância socioeconômica fundamental para a região, fortalecendo a socialização nas
comunidades ribeirinhas, por meio da aproximação das pessoas que navegam pelos rios, igarapés,
furos e igapós do Amazonas.

OBJETIVOS

Objetiva-se no presente artigo apresentar uma abordagem sobre a saúde e a segurança das
embarcações mistas (canoas, rabetas, a jato e barcos regionais construídos principalmente de
madeira) que navegam nos labirintos do rio Amazonas, usada para transporte de passageiro e carga
em geral de até seis metros de comprimentos com capacidade para até 50 passageiros, destacando a
saúde e a segurança conforme disposto na Legislação, Regulamentos e Normas sobre Segurança,
Higiene e Saúde no Trabalho e na Navegação Marítima Fluvial e os demais procedimentos próprios

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 165


da navegação regional, conhecida dos navegantes fluviais como lei natural, chamada ―lei do rio‖,
evidenciando sua importância e as consequências da inserção desse tema na esfera educacional.

MATERIAL E MÉTODOS

A abordagem deste estudo refere aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa-ação
com trabalho de campo com coleta de dados in loco, nos barcos que realizam a travessia dos
passageiros para os municípios do entorno da cidade de Manaus (Careiro da Várzea, Iranduba,
Novo Airão, Rio Preto da Eva) objetivando avaliar os impactos socioeconômicos e ambientais,
referente à aplicação da legislação marítima concernente a saúde e a segurança dos passageiros e da
carga.
Thiolent (2004), define o termo metodologia da pesquisa-ação, como sendo um tipo de
pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Além das leituras no material didático disponibilizado sobre o tema, por meio de uma revisão
bibliográfica, que teve como objetivo embasar e uniformizar os conhecimentos primordiais sobre o
assunto. Para melhor abordagem, fez-se necessário dividir o artigo em três seções. A primeira seção
está destinada às considerações gerais sobre o rio Amazonas. Na segunda seção, aborda-se a
legislação marítima da segurança da navegação e na terceira seção discorre-se sobre a saúde e
segurança das populações ribeirinhas no contexto da navegação nos rios, igarapés, furos e igapós do
Rio Amazonas.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O RIO AMAZONAS

O Amazonas é o estado com maior área territorial da federação, 1.564.445km2 é o com 62


municípios, faz fronteira com a Venezuela e Colômbia. Sua capital Manaus com 14.337 km 2 está
localizada estrategicamente no Rio Amazonas, garantindo a soberania brasileira nestas águas.
Recebe este várias denominações desde a sua origem na nascente do rio Apurímac no Peru,
destacando-se Rio Carhuasanta, Apurímac, Ene, Tambo, Ucayali, Marañon. Ao entrar no território
Nacional brasileiro passa a chamar-se Solimões (figura 1) e, após a junção com o Rio Negro (figura
1) em Manaus (figura1), recebe o nome de Amazonas (figura 1) (ARAÚJO, 2012). É o maior rio do
mundo em volume de água e comprimento com 6.937,08 km de extensão, possui mais de mil
afluentes, sua bacia hidrográfica é a maior do mundo, com uma superfície de aproximadamente sete
milhões de km² de formação terciário-quaternária, escoando cerca de 1/5 da água doce do planeta,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 166


apresentando no seu eixo principal no sentido oeste-leste cortando a região uma drenagem de mais
de 7 milhões de km2 de terra com uma vazão média anual de 176.000 m3/s, (IBGE, 2014).

Figura 01: Rio Solimões, Rio Negro, Porto de Manaus e Rio Amazonas
Fonte: SOUSA, S.G.A. et al (2013)

Sua alimentação é plúvio-nival, devido ao fato de que no alto curso de seus formadores, no
Peru, estão acima de 3.000 metros de altitude, onde o degelo da neve no verão exerce influência em
seu volume e nível. Enquanto que no Brasil seu regime é pluvial, em decorrência das chuvas que
caem nos dois hemisférios, provocando uma flutuação anual, regular, monomodal, e de grande
amplitude, no nível da água do Rio Amazonas. As flutuações no nível da água, dirige o
funcionamento ecológico do sistema. Durante o período de nível alto dos rios, todo o sistema sofre
inundação.
Segundo Amadio (2007), os rios e a floresta do Amazonas constituem um ecossistema
(figura 2) complexo de canais, rios, lagos, ilhas, depressões, permanentemente modificadas pela
sedimentação e transporte de sólidos em suspensão, influenciando também a sucessão da vegetação
terrestre pela constante modificação, remoção e deposição de material nos solos, seu ciclo
hidrológico é subdividido em 4 períodos: seca, enchente, cheia, e vazante a partir dos valores
obtidos no porto de Manaus.
Diante desta realidade amazônica ocorrem impactos naturais, oriundos de mudanças
climáticas, refletidas na dinâmica de enchente e vazante do rio (figura 2). Possui em suas margens o
rio Amazonas grandes extensões de terras baixas, conhecidas como várzeas. Durante seis meses
estas terras são inundadas pelas enchentes e na vazante deixam rios com apenas filetes de águas.
Devido as influências climáticas, o desmatamento, resultado de ações antrópicas que a cada ano
atingem a região, agravam a situação de vida da população ribeirinha na Amazônia, ou seja, é vista
como fonte de lucro a floresta e toda sua rica biodiversidade. Estes habitantes vivem um eterno
recomeço, seja pela relação de produção, seja pela enchente e vazante.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 167


Figura 2: Habitações ribeirinhas na enchente e vazante.
Fonte: ARAÚJO, M.I., et al. (2013/4)

Sendo primordial a vida, os rios e seus meandros cumprem sua função e através dele o
ribeirinho viabiliza suas atividades econômicas e sociais livremente, navegando sem a menor
preocupação com a segurança, utilizando-se de vários tipos de embarcações regionais.

A LEGISLAÇÃO MARÍTIMA

Devido à grande extensão territorial da Amazônia, a baixa densidade demográfica, as


dificuldades de acessibilidade, além da própria cultura intrinsecamente conexa com estas
características, demandam uma análise diferenciada em relação às suas políticas públicas de
segurança na navegação. O Decreto-lei n. 2.281 de 05.06.1940, em seu artigo 6º estabelece que é
navegável, o curso d‘água no qual seja possível a navegação por embarcações de qualquer natureza,
em águas médias, permita a navegação, em iguais condições, num trecho qualquer de sua superfície.
Igual respaldo versa no artigo 37 do Código de Água, Decreto n. 24.643 de 10.07.1934 da
importância da navegação em áreas públicas: O uso das águas públicas se deve realizar, sem
prejuízo da navegação, salvo a hipótese do art. 48, e seu parágrafo único. Por outro lado a Lei n.
9.432 de 8.01.1997. Dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências,
regulamentada pelo Decreto 2.256 de 17.06.1997, que Regulamenta o Registro Especial Brasileiro -
REB, para embarcações. Outro respaldo legal que também diz respeito a este tema é o Decreto nº
87.648, de 24.09.1982, e alterado pelo Decreto nº 511, de 27.04.1992, que regulamenta o Tráfego
Marítimo e estabelece princípios gerais para o tráfego marítimo, fluvial e lacustre para a saúde e
segurança da navegação sobre as águas sob jurisdição nacional. Mister se faz ressaltar a diferença
do conceito de hidrovia no ordenamento jurídico e via navegável - Hidrovia ou via navegável é o
aproveitamento de um recurso natural, como via de navegação (via navegável) utilizada por meios
de transporte aquáticos (barcos, navios ou balsas) para transportar mercadorias e passageiros, em
oceanos, mares, lagos, rios, ou canais, respeitadas as condições ambientais, de segurança e de
navegabilidade do rio. Diante deste contexto compreende-se que: A hidrovia é definida pelo seu

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 168


critério de navegabilidade, enquanto a via navegável caracteriza-se por um ato do poder público em
permitir a navegação.
Estas possuem na Amazônia uma morfologia específica para cada tipo de cursos de água
com denominações locais: Igarapé – rio estreito que percorre as áreas mais elevadas e por onde se
penetra na selva; Igapós - área da floresta amazônica que se mantém alagada, mesmo após as
chuvas ou as cheias dos rios; Furo – comunicação natural entre dois rios ou entre um rio e uma
lagoa de várzea (lagoa formada na época da cheia do rio); Lago – áreas alimentadas por afluentes
do transbordo do rio; Paraná - é a comunicação natural entre dois rios ou entre o rio e uma lagoa;
Paranás-mirim – braço de rio que contorna ilhas fluviais.
As grandes distancias do grande rio e de seus afluentes aliada a fragilidade da economia
regional provocam situações contraditórias e difusas que muitas vezes dificultam ao empresário
privado a compreensão das questões relativas à segurança da atividade de transporte de cargas e
passageiros (figura 3) na região, bem como a estrutura de dezenas de portos informais e ilegais
espalhados por toda a região. Diante destes fatos, não basta apenas a empresa comprar equipamento
de segurança, é preciso conscientizar os colaboradores sobre seu uso. A prevenção de acidentes
proporciona implicações econômicas e sociais relevantes e, por isso, deve ser tratada com a mesma
seriedade e, o mesmo rigor dispensado aos demais fatores associados à gestão empresarial. Visto
que as embarcações são obrigadas por norma fixada pela autoridade marítima a colocar um colete à
disposição de cada passageiro.
A segurança no trabalho no Brasil é regida pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de Maio de
1943, que aprovou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e regulamentada por 30 NR´s
(Normas Regulamentares). Ressaltamos a NR 29 em consonância com a legislação que regula as
atividades portuárias vem dar esta responsabilidade aos Operadores Portuários ou empregadores
que realizem trabalhos de carga e descarga portuária, pela gestão da saúde e segurança dos
trabalhadores tanto em atividades em terra como nos navios ou embarcações, como dos passageiros.

Figura 3: Transporte sem segurança.


Fonte: ARAÚJO, M.I., et al. (2013)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 169


A NR 6 - Equipamentos de Proteção Individual – EPI: Estabelece e define os tipos de EPI's
a que as empresas estão obrigadas a fornecer a seus empregados, sempre que as condições de
trabalho o exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores. E a NR 29
– Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: Tem por objetivo regular a proteção obrigatória contra
acidentes e doenças profissionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados e alcançar as
melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. As disposições
contidas nesta NR aplicam -se aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em
terra, assim como aos demais trabalhadores que exerçam atividades nos portos organizados e
instalações portuárias de uso privativo e retro portuárias, situadas dentro ou fora da área do porto
organizado. Ainda conforme o Manual de Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho, NR-6,
que regulamenta o uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual) ―cabe ao empregador, exigir o
uso dos EPI´s e ao empregado usá-lo apenas para a finalidade a que se destina.‖
Percebe-se desta forma a não participação e/ou exclusão da população ribeirinha que todos
os dias transitam nos rios amazônicos de forma irregular do conhecimento acerca das normas de
saúde e segurança da navegação marítima.

A LEI DO RIO

Pelas suas condições o rio Amazonas, de relativa tranquilidade, quando não no curso
principal, pelo menos nos seus inumeráveis furos, igarapés, igapós e paranás, permitindo o acesso e
a atracação praticamente em qualquer barranco, desempenha a função de via de navegação interior.
Considerando que estes rios desempenham condições de navegabilidade e exigem uma navegação
com características próprias, tanto nos rios de boas condições de navegabilidade, como, nos rios de
condições de navegabilidade menos favoráveis, a navegação praticada deve ser sempre considerada
como navegação em águas restritas, cercando-se o navegante permanentemente dos cuidados e
atenções especiais inerentes a este tipo de navegação. Ocorre que na região uma lei natural, há
muito conhecida dos navegantes fluviais, chamada ―LEI DO RIO‖, qual prescreve: ―Quem navega a
favor da correnteza segue a meio caudal, enquanto quem sobe o rio segue próximo à margem; quem
desce o rio tem a preferência‖ (RIPEAM, 2007).
Dada as características de baixo e médio curso dos rios do Amazona é lenta. Aliás, não
existem obstáculos marcantes separando os cursos e os limites, estes oscilam ao longo do ano,
subindo os rios na época da enchente e descendo na época da vazante, onde ocorrem, com razoável
frequência, modificações naturais que alteram as condições de navegabilidade de determinados
trechos, com mudanças no canal de navegação. A dinâmica da navegação fluvial exige
familiarização com o trajeto, isto é, um conhecimento prático do local semelhante ao requerido

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 170


pelas navegações de entrada e saída de portos, no interior destes ou em águas muito restritas, no
caso da navegação marítima. Este conhecimento local é que tornará os navegantes capazes de
atender prontamente às diversas manobras necessárias à permanência da embarcação no canal de
navegação.
O prático de navegação é o elemento familiarizado com o trajeto, com as características e
peculiaridades da hidrovia. É a pessoa criada na região e com um conhecimento totalmente
empírico da navegação local e aprendizado prático na área, através de frequentes viagens na
hidrovia, acompanhando as manobras executadas por elemento já conhecedor da mesma. Estes
práticos sabem, por exemplo, que as calhas profundas podem ser localizadas pela presença de
folhagens flutuando, levadas pela correnteza, ou seja, quem navega pelo canal mais fundo segue
sobre o ―lixo‖.
Sabem, também, que um arbusto flutuando (figura 4) pode, muitas vezes, ser um galho de
uma vastíssima árvore semi-submersa que, como um aríete à deriva, está pronta a colidir contra o
casco, abrindo-lhe água.

Figura 4: Arbustos flutuando.


Fonte: ARAÚJO, M. I. (2013)

Conhecem igualmente os regimes de águas normais da hidrovia, isto é, os períodos de cheia


e de vazante do rio, bem como as cotas normalmente alcançadas em diversos pontos da via
navegável, a velocidade da corrente nos rios e a ocorrência de remansos, rebojos ou redemoinhos
perigosos à navegação. De igual forma sabem que os balseiros (aglomerações de terra, capim, paus,
folhas, galhos, troncos e árvores, que descem no fio da corrente) são sinais de repiquete, que é à
rápida subida das águas do rio, após o início da vazante. O ciclo de enchentes e vazantes, repete-se
várias vezes durante o inverno (período de janeiro a julho), até que, por fim, o rio estagna numa
horizontalidade mínima, ao entrar a época de estiagem, ou verão (período de agosto a dezembro).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 171


A SAÚDE NA NAVEGAÇÃO RIBEIRINHA

As pequenas embarcações (barcos, motor, canoas, rabetas, a jato) são os elos de socialização
dos ribeirinhos com as comunidades, pois é o rio quem o dá acesso à igreja, casa da família, amigos,
festas, escola e ao comercio. Geralmente estas embarcações são de propriedade de famílias de
pobres, de baixa renda, e que muitas vezes utilizam-se deste meio de transporte para ganhar seu
sustento, através da pesca, do transporte passageiros, de frutas e verduras, entre outros. Todos os
membros da família dirigem o pequeno barco, as canoas e as rabetas, crianças, jovens, adultos e os
idosos, não existindo nenhum tipo de fiscalização. Mesmo porque, para o Estado, a maior parte
destas embarcações nem existe. Outro problema é a contaminação de alimentos transportados como
carga que viajam junto com os passageiros, sem que haja uma separação adequada dos dois, o que
ocorre com frequência. Em muitos casos as pessoas vão deitadas em redes ou sentadas em sacos de
farinha, cereais, frutas, e estes são contaminados com coliformes fecais até a chegada no seu destino
final, sendo muitas vezes consumidos sem as menores condições de higiene. Estes consumidos,
comprometem a saúde de quem as ingere. Não podemos esquecer que várias doenças estão ligadas
ao consumo de alimentos contaminados como a cisticercose, a brucelose, as doenças diarreicas, a
salmonelas e a Hepatite A. (SANTOS, GAMA, FERNANDES, 2010).
Em todas as comunidades ribeirinhas ocorrem o mesmo padrão de dificuldades na questão
acesso à saúde e a segurança alimentar, de modo geral, estes possuem um diagnóstico próprio de
seus males: a ―indisposição da viagem‖. As causas que justificam o surgimento dessas doenças, em
sua grande maioria, são sinônimas das relações inapropriada com a natureza e/ou com os outros
membros da comunidade que vivem em precárias condições de saneamento, por razões
socioeconômicas e culturais, e estão relacionadas ao meio ambiente, compreendendo habitação, tipo
de solo e variações climáticas, duas condições que norteiam o cotidiano das comunidades
ribeirinhas. Além destas variáveis, estas populações convivem ainda com a subalimentação, a
educação e saúde precárias, que, quando somadas, resultam na má qualidade de vida de suas
crianças.

RESULTADO E DISCUSSÕES

O Rio Amazonas, é o maior rio em volume de água e comprimento com 6.937,08 km de


extensão, possui mais de mil afluentes, sua bacia hidrográfica é a maior do mundo com uma
superfície de sete milhões de km² de formação terciário-quaternária, escoando cerca de 1/5 da água
doce do planeta (IBGE, 2014). Sua alimentação é plúvio-nival, pois seus formadores, no Peru, estão
acima de 3.000 metros de altitude, onde o degelo da neve no verão exerce influência em seu volume
e nível. No Brasil seu regime é pluvial, em decorrência das chuvas que caem nos dois hemisférios,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 172


qual constituem um ecossistema complexo de rios, ilhas, paranás e igarapés constantemente
modificados devido a sedimentação e transporte de sólidos em suspensão em suas aguas. Os
habitantes desta região vivem um eterno recomeço, seja pela relação de produção, seja pela
enchente e vazante, é através do rio que o ribeirinho viabiliza suas atividades econômicas e sociais
livremente, utilizando-se de vários tipos de embarcações regionais.
Ocorre que devido à grande extensão territorial da Amazônia, a baixa densidade
demográfica, as dificuldades de acessibilidade, além da própria cultura intrinsecamente conexa com
estas características, demandam uma análise diferenciada em relação às suas políticas públicas de
segurança na navegação para transporte de carga e passageiros nos rios, furos, lagos, igarapés e
igapós respeitadas as condições de segurança e de navegabilidade. Pelas suas condições de
navegabilidade o rio Amazonas e seus afluentes, de relativa tranquilidade, quando não no curso
principal, e sim em seus inumeráveis furos, igarapés, igapós e paranás, permite o acesso e a
atracação em qualquer margem fluvial, desempenha importante função de transporte fluvial no
interior. Entretanto, existe na região uma lei natural, há muito conhecida pelos navegantes fluviais,
chamada ―LEI DO RIO‖, a qual prescreve: ―Quem navega a favor da correnteza segue a meio
caudal, enquanto quem sobe o rio segue próximo à margem; quem desce o rio tem a preferência‖. A
dinâmica da mobilidade navegação fluvial exige familiarização com o trajeto, isto é, um
conhecimento prático do local. Este conhecimento local é que tornará os navegantes capazes de
atender prontamente às diversas manobras necessárias à permanência da embarcação no canal de
navegação (RIPEAM, 2007).
O profissional denominado de ―prático de navegação‖ é o elemento familiarizado com o
trajeto, com as características e peculiaridades da hidrovia. É a pessoa criada na região e com um
conhecimento totalmente empírico da navegação local e aprendizado prático na área, forjado pelos
pelas frequentes viagens na hidrovia, acompanhando as manobras executadas por elemento já
conhecedor da mesma. Estes práticos sabem, por exemplo, que as calhas profundas podem ser
localizadas pela presença de folhagens flutuando, levadas pela correnteza, ou seja, quem navega
pelo canal mais fundo segue sobre o fluxo das plantas flutuantes.
Sabem, também, que um arbusto flutuando pode, muitas vezes, ser um galho de uma
vastíssima árvore semi submersa que, como um aríete à deriva, está pronta a colidir contra o casco,
abrindo-lhe água. De igual forma sabem que os balseiros ou barragem (acumulado de capim, várias
macrófitas, folhas, galhos de árvores, que descem na corrente) são sinais de repiquete, que é à
rápida subida das águas do rio, após o início da vazante.
O ciclo de enchentes e vazantes, repete-se várias vezes durante o inverno amazônico (janeiro
a julho), até que, por fim, o rio estagna numa horizontalidade mínima, a época de estiagem, ou

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 173


verão amazônico (agosto a dezembro). Quase todos os membros da família ribeirinha, crianças,
jovens, adultos e os idosos, sabem remar e conduzir pequenos barcos (figura 5), as canoas e as
rabetas, não existindo nenhum tipo de capacitação formal e fiscalização. Mesmo porque, para o
estado brasileiro, a maior parte destas embarcações não há registro, portanto, nem existe. Sendo
assim, não há controle de quem pilota, quem é transportado, de onde vem e para onde vão, e o que
carregam.

Figura 5: Conduzindo os barcos


Fonte: ARAÚJO, M. I., et al (2014)

Além disso, não há orientação, educação e prevenção com o que é transportado em matéria
de carga, os produtos alimentícios e as pessoas que podem estar ao lado ou em cima de carga de
produtos tóxicos, combustíveis fosseis e demais materiais contaminantes e explosivos. Os
passageiros podem ser contaminados ou acidentados com estes produtos pelo contato e inalação.
Não há orientação sobre os riscos de acidentes com a manipulação dos motores e explosão, assim
como, informações sobre a capacidade da quantidade de cargas e pessoas que podem ser
transportadas em função das mudanças climáticas e hidrográficas, que ocorrem com frequência
sobre as correntes fluviais da bacia Amazônica. Toda essa dinâmica da mobilidade fluvial praticada
pela população ribeirinha Amazônica carece ser compreendida e sistematizada para que haja maior
aplicação da legislação do tráfego marítimo fluvial, em consonância com a saúde, a segurança da
navegação e a valorização do conhecimento tradicional desse meio de transporte das populações
ribeirinhas Amazônicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se desta forma a não participação e/ou exclusão da população ribeirinha que todos
os dias transitam nos rios amazônicos de forma irregular pela falta de informação e conhecimento
acerca das normas da segurança da navegação marítima fluvial. Devido a precária infraestrutura
portuária regional, a fiscalização penúriosa da navegação feita pelo estado brasileiro, a alienação
dos passageiros e tripulantes concernente à saúde e a segurança, e a ganância do
proprietário/armador pelo lucro contribuem e permitem a navegação sem segurança. Assim sendo,
esta discussão não se encerra, mas abre a oportunidade para novos olhares e novas leituras sobre o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 174


transporte marítimo fluvial nos rios da Amazônia, com ampla reflexão sobre Educação Ambiental
Marítimo Fluvial, tendo como foco as normas de saúde e segurança, o conhecimento tradicional de
construção das embarcações e navegação, as mudanças climáticas e o manejo dos recursos naturais
das áreas de várzeas do rio Amazonas.

REFERÊNCIAS
AMADIO, Sidinéia Aparecida. BITTENCOURT, Maria Mercedes. Proposta para identificação
rápida dos períodos hidrológicos em áreas de várzea... Acta Amaz. vol.37 no.2 Manaus June
2007. Disponível em <http://dx. doi.org /10.1590/S0044-59672007000 200019> Acesso em
05.07.2014

ARAÚJO, M. I. Meio Ambiente Amazônico. Trabalho de Conclusão do curso de Pós Graduação em


Meio Ambiente da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. Manaus, 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.

________. ANTAQ. Agência Nacional de Transporte Aquaviário. Legislação. Disponível em <


http://www.antaq.gov.br/portal/Legislacao_LeisDecretos.asp> Acesso em 04/07/2014.

________. Marinha do Brasil. Diretoria de Portos e Costas. Convenção sobre o regulamento


internacional para evitar abalroamentos no mar - RIPEAM. 2007. Disponível em:
<https://www.dpc.mar.mil.br/sta /ripeam/flipbook/index.html#/94> Acesso em 23.06.2014.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Amazonas. Disponível em


<http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=am> Acesso em 03/07/2014.

SANTOS, Francenilton Sampaio dos, GAMA, Abel Santiago Muri, FERNANDES, Alana Batista et
al. Prevalência de enteroparasitismo em crianças de comunidades ribeirinhas do Município de
Coari, no médio Solimões, Amazonas, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude, Dec. 2010, vol.1, no.4,
p.23-28. ISSN 2176-6223.

THIOLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2004. 107p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 175


AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NUMA ÁREA DO
ENTORNO DOS MUNICÍPIOS DE SOLÂNEA E BANANEIRAS

Silvânia Maria de Souza Gomes NASCIMENTO


Dra. Professora do CCHSA/UFPB
silvania.ufpb@yahoo.com.br

André Luis Pereira dos SANTOS


Bolsista PIVIC-IC, Graduando do Curso de Ciências Agrárias da UFPB
andre.lui_ps@hotmail.com

Everaldo Silva do NASCIMENTO


Graduando do Curso de Agronomia da UFPB
everaldosn@hotmail.com

José Diego de Souza ELESBÃO


Bolsista PIBIC-EM, Estudante do Curso Técnico em Agropecuária da UFPB
Jose_diego015@hotmail.com

RESUMO
A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) torna-se uma ferramenta importante no diagnóstico
ambiental de uma área em processo de degradação fornecendo subsídios para a tomada de decisão,
considerando os fatores saúde, bem-estar humano e meio ambiente, elementos dinâmicos no estudo
que permitem quantificação dos itens qualitativos e quantitativos, possibilitando, desta forma,
observar o grau em que determinado cenário ambiental está sendo afetado. Assim, o objetivo deste
trabalho consiste na avaliação simplificada dos impactos ambientais existente no interior de uma
área pertencente ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da
Paraíba localizada entre os municípios de Solânea e Bananeiras No campo foram identificadas e
descritas as atividades impactantes evidentes e em seguida georreferenciadas. Posteriormente,
foram fotografadas, expostas num mapa no sentido de viabilizar a avaliação de seus impactos os
quais foram caracterizados qualitativamente a partir da utilização do método da Matriz de Interação.
Identificaram-se nove ações impactantes na área: queimadas, resíduos sólidos, resíduos líquidos,
estradas, retirada de solo, pecuária, campo de futebol, pista de aeromodelismo e criatório de suínos
cujos impactos ambientais relacionados e qualificados mostraram que todos influem negativamente
no meio ambiente. O compartimento abiótico apresentou resultado igual ao biótico para o número
de impactos relacionados diferentemente do compartimento antrópico. De maneira geral, conclui-se
que o método utilizado para a identificação e qualificação dos impactos se mostrou eficiente
possibilitando uma visualização rápida dos impactos mais importantes se tornando um instrumento
de auxílio no processo de avaliação, controle e adoção de medidas de controle.
Palavras-chave: Degradação, meio ambiente, qualidade ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 176


INTRODUÇÃO

As cidades mesmo sendo consideradas as estruturas materiais mais arrojadas que a


humanidade já elaborou, têm concentrado cada vez mais população no mundo e, em particular no
Brasil. Essa concentração, ligada a um crescimento desordenado e acelerado, tem provado uma
série de mudanças no ambiente urbano e do seu entorno (CETESB, 2004).
Assim, os diferentes processos e atividades como novos loteamentos e construções,
intervenções urbanísticas diversas, atividades industriais e comerciais, exploração de recursos
naturais, etc., acabam causando, segundo Araújo (2010), uma série de impactos ambientais como
degradação do solo o que se torna um fator preocupante tendo em vista a necessidade do
estabelecimento da vegetação como forma de recuperação, principalmente, em áreas do seu
entorno. Porém, a intensidade desses impactos variam com as condições edafoclimáticas, a natureza
do solo e os usos e manejos adotados (ARAÚJO et al., 2005; MARTINS, 2013).
De acordo com o Artigo 1º da Resolução CONAMA no 01 de 1986 (CONAMA, 1986),
trata-se da alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante de atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetem: (i) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (ii) as atividades sociais
e econômicas; (iii) a biota; (iv) as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; (v) a
qualidade dos recursos ambientais.
Pode-se dizer, portanto, que a relação aspecto-impacto equivale à relação causa-efeito.
Aspectos significativos são aqueles que têm ou podem ter impactos ambientais significativos.
Depois de identificados os aspectos e impactos, serão propostos procedimentos de maneira a
auxiliar no controle e na definição de responsabilidades.
Neste contexto, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) torna-se uma ferramenta
importante no diagnóstico ambiental de uma área em processo de degradação. Para Sánchez (2008),
a AIA fornece subsídios para o processo de tomada de decisão, considerando os fatores saúde, bem-
estar humano e meio ambiente, elementos dinâmicos no estudo para avaliação que permitam
quantificação dos itens qualitativos e quantitativos, possibilitando, desta forma, observar o grau em
que determinado cenário ambiental está sendo afetado.
Assim, uma área pertencente ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da
Universidade Federal da Paraíba e, localizada entre os municípios de Solânea e Bananeiras vêm
sofrendo pressões de graus e formas variadas tendo em vista sua localização e as diversas atividades
no seu entorno. Com isso o objetivo deste trabalho consiste na avaliação simplificada dos impactos
ambientais existente no interior dessa área, bem como conhecer os principais elementos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 177


impactantes, analisar as atividades que geram esses impactos e indicar medidas minimizadoras,
visando subsidiar informações para a formulação do plano de recuperação da mesma.

MATERIAL E MÉTODOS

A área degradada pertencente ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias está


localizada entre os municípios de Solânea e Bananeiras, PB, ocupando uma área de 253,2 ha
(Figura 1), incluído na área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro (IBGE, 2010).
O clima da região onde está inserida a área degradada é do tipo tropical chuvoso, com verão
seco. A estação chuvosa se inicia em janeiro/fevereiro com término em setembro, podendo se
adiantar até outubro. A temperatura média anual situa-se em torno de 25°C, estando inserida nos
domínios da bacia hidrográfica do Rio Curimataú (IBGE, 2010).

Figura 1 – Área do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias da UFPB.

A vegetação é formada por Florestas Subcaducifólica e Caducifólica, próprias das áreas


agrestes. Nas superfícies suaves onduladas a onduladas, ocorrem os Planossolos, medianamente
profundos, fortemente drenados, ácidos a moderadamente ácidos e fertilidade natural média e ainda
os Podzólicos, que são profundos, textura argilosa, e fertilidade natural média a alta. Nas elevacões
ocorrem os solos Litólicos, rasos, textura argilosa e fertilidade natural média (IBGE, 2010).
No campo no período de maio à junho de 2013 foram identificadas e descritas as atividades
impactantes evidentes e em seguida georreferenciadas utilizando aparelho de GPS (Global
Positioning System). Posteriormente, fotografados e escaneadas para a geração de um banco de
dados digital de imagens e as anotações de campo organizadas em planilhas, nas quais foram feitas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 178


associações entre cada ponto e suas respectivas coordenadas UTM (Tabela 1), fotos e anotações
sendo em seguida expostas num mapa no sentido de viabilizar a avaliação de seus impactos.
A identificação e caracterização qualitativa dos impactos ambientais foi realizada a partir da
utilização do método da Matriz de Interação, que, baseado em Brito (2001) e Lelles et al. (2005) é
um método que utiliza uma figura para relacionar os impactos de cada ação como fator ambiental a
ser considerado, a partir de quadrículas definidas pelo cruzamento de linhas e colunas. Funciona
como uma listagem de controle bidimensional, uma vez que as linhas podem representar as
atividades impactantes e as colunas os fatores ambientais impactados.

PONTO COORDENADAS ALTITUDE(M) FIGURA PROCESSOS


UTM DEGRADATIVOS
x y
1 0205988 9252790 577 1 Estrada
2 0205993 9252771 581 2 Resíduos Sólidos
3 0205995 9252753 584 3 Queimadas
4 0205944 9252822 588 4 Estrada
5 0205936 9252816 590 5 Estrada
6 0205879 9252761 592 6 Retirada de solo
7 0205861 9252724 593 7 Resíduos Sólidos
8 0205792 9252740 594 8 Retirada de solo
9 0205776 9252731 597 9 Retirada de solo
10 0205756 9252727 599 10 Retirada de solo
11 0205819 9252867 607 11 Resto de animal
12 0205677 9252913 611 12 Animais
13 0205614 9252885 613 13 Queimadas
14 0205523 9252855 617 14 Resíduos Sólidos
15 0205558 9252835 619 15 Retirada de solo
16 0205606 9252794 619 16 Campo de Futebol
17 0205622 9252822 621 17 Animais
18 0205569 9252808 623 18 Retirada de solo
19 0205565 9252806 624 19 Retirada de solo
20 0205555 9252804 624 20 Resíduos Sólidos
21 0205537 9252793 625 21 Resíduos Sólidos
22 0205532 9252804 625 22 Resíduos Líquidos
23 0205517 9252839 627 23 Resíduos Líquidos
24 0205490 9252882 630 24 Criatório de Suíno
25 0205497 9252929 631 25 Campo de Futebol
26 0205400 9253008 633 26 Resíduos Sólidos
27 0205362 9253093 633 27 Resíduos Sólidos
28 0205441 9253099 635 28 Resíduos de Sólidos
29 0205531 9253144 635 29 Campo de Futebol
30 0205564 9253145 636 30 Pista Aeromodelismo
Tabela 1 – Pontos de degradação localizados em área do Campus III da Universidade Federal da Paraíba,
com suas respectivas coordenadas geográficas.

A matriz de Interação qualifica os impactos seguindo critérios apresentados por Silva (2008)
com características de valor, ordem, espaço, tempo, dinâmica e plástica, os quais apresentam
subsídios para adoção de medidas ambientais minimizadoras ou potencializadoras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 179


Os impactos aos meios físicos, bióticos e antrópicos provenientes das etapas do processo
produtivo foram plotadas na matriz de integração e correlacionados com cada elemento do meio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Identificação e Descrição das Atividades Impactantes

Foram identificadas nove ações impactantes na área: queimadas, resíduos sólidos, resíduos
líquidos, estradas, retirada de solo, pecuária, campo de futebol, pista de aeromodelismo e criatório
de suínos os quais foram evidenciados no mapa apresentado na figura 2.

Figura 2 – Impactos ambientais no entorno da área degradada.

Queimadas – Provocam forte alteração no meio físico com aumento da concentração de


gases, interferindo na qualidade do ar e aumentando o efeito estufa como também a questão dos
nutrientes do solo que se tornam quase nulos, uma vez que o fogo torna o solo fraco e praticamente
improdutivo. No meio biótico acarreta a redução da fauna e da flora e consequentemente da base
genética. Observou-se que focos de queimadas aconteceram ao longo de toda área causadas
principalmente por queima de lixo e vandalismo.
Resíduos Sólidos – Foram encontrados na área vários pontos de depósitos de resíduos
sólidos dispostos por pessoas que vivem no entorno da área como também restos de carcaças de
animais procedentes de matadouros. Segundo a NBR 10.004 (ABNT, 2004), os resíduos sólidos
urbanos podem ser definidos como, resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam da
atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola de
serviços e varrição. Essa prática inadequada de disposição dos resíduos sólidos, apesar de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 180


corriqueira, pode acarretar problemas à saúde pública e a qualidade do ambiente, por propiciar o
desenvolvimento de focos de doenças, facilitar a proliferação de vetores, disseminar odores
desagradáveis, contaminar o solo e os recursos hídricos (ESCOSTEGUY, 2003).
Resíduos Líquidos – Constatou-se a presença de lançamento de esgoto no entorno da área
próxima às moradias. A falta de saneamento básico é um dos principais problemas de insalubridade
verificados em nossos municípios ocasionando doenças, contaminando o ambiente e principalmente
a água. Souza (2012) alerta que nos países emergentes, como o Brasil, o crescimento acelerado da
urbanização, aliado ao despreparo cultural e à escassez de recursos financeiros faz com que a
degradação da qualidade das águas cresça de forma rápida.
Estradas – Várias estradas foram encontradas na área proporcionando inúmeros impactos no
meio físico dentre eles o aumento das partículas sólidas em suspensão, devido o tráfego constante
de carros e da população que acabam depreciando consideravelmente a qualidade do ar. Dentre os
impactos do meio biótico destacam-se os danos inerentes à flora e fauna (aquática e terrestre)
acarretando estreitamento da base genética vegetal. No meio antrópico os impactos mais
perceptíveis são aqueles relacionados com o paisagismo local. Outro problema é a erosão dos
taludes que acaba gerando um desconforto visual ao longo do traçado das estradas.
Retirada de solo – Essa atividade altera intensamente o ambiente, gerando transformações
no meio físico e transformações no meio biótico, com a redução da biodiversidade. No meio
antrópico provoca impacto visual.
Pecuária – Observou-se vários animais pastando na área. Essa prática causa vários impactos
ambientais como o aumento dos processos erosivos e consequentemente a redução da capacidade
produtiva do solo. No meio biótico os impactos são caracterizados pela diminuição da base genética
em decorrência da redução do banco de propágulos vegetais no solo e da redução da biota do solo.
Campo de futebol - A construção de campo de futebol envolve uma série de impactos
principalmente danos à microbiota do solo, ocasionados pelos trabalhos de remoção da vegetação e
pela interferência direta nesta, decorrente da compactação dos solos, em virtude da atividade
desportiva.
Pista de aeromodelismo – Provocam estresse da fauna silvestre, ocasionado pela geração de
ruídos e danos à microbiota do solo, em virtude da maior exposição do solo às intempéries,
decorrente da retirada da vegetação nessas áreas.
Criatório de suínos – A falta de um manejo adequado na criação domestica de suínos é um
sério problema para o meio ambiente. Os resíduos da suinocultura que geram maior impacto
ambiental nos recursos hídricos são os dejetos, compostos basicamente por fezes, urina, restos de
ração e água; outros resíduos que também podem causar impacto são as carcaças dos animais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 181


mortos (PALHARES; JACOB, 2002). Na área foi encontrado um criatório de suínos sem nenhum
manejo adequado dos resíduos gerados.
Observou-se, ainda, que de acordo com o potencial de ocorrência, a disposição inadequada
de resíduos sólidos como latas, garrafas, papéis, etc, foram predominantes na área (26,66%) seguido
da retirada de solo (23,33%)(Figura 3 e 4).

Figura 3 – Resíduos Sólidos disposto na área Figura 4 – Retirada de Solo na área

Entre os vários aspectos ambientais envolvidos na disposição inadequada de resíduos sólidos


urbanos, a contaminação em longo prazo no ambiente por metais tóxicos, a exemplo do chumbo
(Pb), tem sido alvo de estudos (ALVES et al., 2008; MEERS et al., 2010; ARAÚJO;
NASCIMENTO, 2010). O Pb nestes resíduos podem se disseminar no solo, água e atmosfera, e
quando em altas concentrações podem ser absorvidos pelas plantas causando efeitos nas reações
fotoquímicas e de carboxilação, durante a fotossíntese (GAUTAM et al., 2011; AHMAD et al.,
2011), inibição da síntese de clorofila (GUPTA et al., 2009), inibição da atividade de enzimas do
cilclo de Calvin, bem como deficiência de CO2 como resultado de fechamento dos estômatos
(SHARMA; DUBEY, 2005).

Caracterização qualitativa dos impactos ambientais

Elaborou-se uma matriz de avaliação qualitativa dos impactos ambientais (Quadro 1)


caracterizados de acordo com os critérios de valor, ordem, espaciais, temporais, dinâmicos e
plásticos. Assim, observou-se em números totais, que todos os impactos ambientais identificados na
área influem negativamente no meio ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 182


FATORES AMBIENTAIS RELEVANTES
MEIO ABIÓTICO MEIO BIÓTICO
Ar Recurso Recursos Flora Fauna MEIO
Edáfico Hídricos Ter. Aqt Ter. Aqt. ANTRÓPICO

Qualidade química da agua

Qualidade química da agua


Aumento da concentração

Contaminação da cadeia
ATI
VID

Ocupação do habitat

Ocupação do habitat

Ocupação do habitat
Ocupação de habitat

Diminuição da base

Diminuição da base

Diminuição da base

Diminuição da base
Microbiota do solo

Qualidade química

Processos erosivos

Conforto olfáctico
AD Partículas solidas

Conforto térmico
Conforto sonoro
Conforto visual
ES

Compactação
Temperatura

Fotossíntese
IMP

subterrânea
superficial

alimentar
AC

Turbidez
de gases

genética

genética

genética

genética
TA

Saúde
NT
ES
Quei N n n ni ni n n n n n n n ndlc n n n n
mad d d d e r v d dr d ir d ir tv dl d d i
as lc e e m m l m r o r m m c c
t ct o y y y y m y o t y t t
v v p v v v v tv v t v v
v v
Resí n ni n n n n n n nde n
duos d e ie d d i ie d ov d
sólid e m v e m o c r
os o tv o v y a o
v a v r a
v s
Resí n n n n
duos d d d d
líqui l v v v
dos o
a
v
Estr n n n n n n n n n n ndl
adas dl dl d d d dl dl d d d oav
o o l l l o o l l l
a a o o o a a o o o
v v a a a v v a a a
v v v v v v
Retir n n n n
ada dl d il ic
de ct ct m y
solo s s v v
Pecu n n n n n n n ndlc
ária d dl d dl d d d tv
e c lc ct lc lc lc
c v v v t t t
v v v v
Cam n n n n n n n n ndc
po d d d d d d d d av
de c c c c c c c c
fute a a a a a a a a
bol v v v v v v v v
Pista n n n n n n n n ndc n
de d d d d d d d d av d
aero c c c c c c c c c
mod a a a a a a a a t
elis v v v v v v v v s
mo
Criat n n n n n n ndlc n n
ório dl dl d dl d d av d i
de ct c lc c lc lc l m
suín v y y a a a c v
os v v v v v a
s
Quadro 1- Matriz para identificação e qualificação dos impactos ambientais da área degradada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 183


-CRITÉRIOS: Valor (Positivo-p; Negativo-n); Ordem (Direto-d; Indireto-i); Espaço (Local- l; Regional- r; Estratégico-
e); Tempo (Curto prazo-c; Médio prazo-m ; Longo prazo-o); Dinâmica ( Temporário-t; Ciclico-y; Permanente-a);
Plastica (Reversivel-v; Irreversivel-s).

O compartimento abiótico apresentou resultado igual ao biótico para o número de impactos


relacionados diferentemente do compartimento antrópico. Foram dez no meio físico, dez no meio
biótico e cinco no meio antrópico. Percentualmente esses valores ficaram distribuídos com 40%
para os meios físicos e bióticos cada e 20% para o meio antrópico (Figura 3).

Meio abiótico Meio biótico Meio antrópico

20%

40%

40%

Figura 3 – Distribuição dos impactos ambientais nos três compartimentos (Abiótico, biótico e antrópico) na
área degradada.

Todos esses impactos poderiam ser minimizados pela adoção de medidas de manejo, tais
como:
 Controle e planejamento da expansão urbana pela administração pública municipal do
entorno da área;
 Implantação de sistema de tratamento de efluente;
 Coleta e disposição adequada dos resíduos sólidos;
 Criação de mecanismos para facilitar a interlocução do poder público com a população;
 Incentivar a participação dos moradores do entorno da área no desenvolvimento responsável
da área;
 Implantação de educação ambiental para a população local.

CONCLUSÕES

Todos os impactos ambientais identificados são negativos sendo originados das atividades
humanas na área e estão, a princípio, relacionados aos danos potenciais ao meio ambiente;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 184


A área investigada está sendo fortemente afetada pelas atividades antrópicas dos municípios
do entorno;
O método utilizado para a identificação e qualificação dos impactos se mostrou eficiente
possibilitando uma visualização rápida dos impactos mais importantes se tornando um instrumento
de auxílio no processo de avaliação, controle e adoção de medidas de controle.

AGRADECIMENTOS

A CAPES, pelo financiamento do projeto através do Programa Novos Talentos; e ao CNPq,


pela concessão da bolsa PIBIC-EM ao último autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHMAD, D. S. A.; ASHRAR, M.; TABASSAM, Q.; HUSSAIN, M. & FIRDOUS, H. Lead (Pb) –
Induced regulation of growth, photosynthesis, and mineral nutrition in maizene (Zea mays L)
plants at early growth satges. Biological trace element research, v. 144, p.1229-1239, 2011.

ALVES, J. DO C.; SOUZA, A. P. DE; PORTO, M. L.; ARRUDA, J. A. DE; TOMPSON JÚNIOR,
U. A.; SILVA, G. B. DA; ARAÚJO, R. DA C. & SANTOS, D. Absorção e distribuição de
chumbo em plantas de vetiver, jureminha e algaroba. R. Bras. Ci. Solo, v. 32, p.1329-1336,
2008.

ARAÚJO, J. C. T.; NASCIMENTO, C. W. A. Phytoextraction of lead from soil from a battery


recycling site: the use of citric acid and NTA. Water, Air and Soil Pollution, v. 211, p.113-120,
2010.

ARAUJO, G. H. de S.; ALMEIDA, J. R.; GUERRA, A. J. T. Gestão Ambiental de Áreas


Degradadas. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2005.p. 112.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Classificação de resíduos


sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

BRITO, E. R. Avaliação qualitativa de impactos ambientais decorrentes do empreendimento


denominado ―praias fluviais‖ no Estado de Tocantins. 2001. 124 f. Dissertação (Mestrado em
Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG: 2001.

CETESB. Prevenção e controle da poluição do solo e das águas subterrâneas. São Paulo:
CETESB, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 185


CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 01, Brasília, IBAMA,
1986.

ESCOSTEGUY, P.A. V. Gerenciamento de resíduos sólidos e seus impactos ambientais: uma


visão do contexto atual. Passo Fundo: UPF Editora, 2003.

GAUTAM, M.; SINGH, A. K. & JOHRI, R. M. Impacto f lead contaminated water on root
morphology of tomato and brinjal. Indian Journal of Horticulture, v. 68, p.512-515, 2011.

GUPTA, D. K. F. T.; NICOLOSO, M. R. C.; SCHETINGER, L. V.; ROSSATO, L. B.; PEREIRA,


G. Y.; CASTRO, S. & SRIVASTAVA, T, R. D. Antioxidant defense mechanism in
hydroponically grown Zea mays seedlings under moderate lead stress. Journal of Hazardous
Materials, v.172, p.479-484, 2009.

IBGE, 2010. Disponivel em: <www.ibge.com.br> Acesso em: 08 de fevereiro de 2013.

LELLES, L. C.; SILVA, E.; GRIFFITH, J. J.; MARTINS, S. V. Perfil ambiental qualitativo da
extração de areia em cursos d‘água. Revista Árvore, v. 29. p. 439-444, 2005.

MARTINS, S. V. Recuperação de Áreas Degradadas: como recuperar áreas de preservação


permanente, voçorocas, taludes rodoviários e áreas de mineração. 3ª ed., Viçosa: Aprenda
Fácil,2013. 264p.

MEERS, E.; SLYCKEN, S. V.; ADRIAENSEN, K.; RUTTENS, A.; VANGROSVELD, J.;
LAING, G. D.; WITTERS, N.; THEWYS, T. & TACK, F. M. G. The use of bio-energy crops
(Zea mays) for ‗phytoattenuation‘ of heavy metals on moderately contaminated soils: A field
experiment. Chemosphere, v.78, p.35-41, 2010.

PALHARES, J.C.P.; JACOB, A.D. Impacto ambiental da suinocultura e da avicultura nos recursos
hídricos. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DE AVES E SUÍNOS E
TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE RAÇÕES, 2002, Campinas. Anais... Campinas: CBNA,
2002. p.31-44.

SHARMA, P.; DUBEY, R.S. Lead toxity in plants. Braz. J. Plant Physiol., v.17, p.35-52, 2005.

SANCHEZ, L.E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo. Oficina de
textos, 2008. 495 p.

SILVA, E. Impactos ambientais. In: MACHADO, C. C. (Ed.) Colheita florestal. 2. ed. Viçosa, MG:
UFV, p. 410-435, 2008,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 186


SOUZA, W. J. Resíduos: conceitos e definições para manejo, tratamento e destinação. 1ª ed. São
Paulo: FEALQ, 2012. 272p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 187


OLHAR DO POVO POTIGUARA DA PARAÍBA SOBRE AS MUDANÇAS NA SUA
CULTURA AGRÍCOLA

Victor Junior Lima FELIX


Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB
victorfelixif@gmail.com

Dácio Jerônimo de ALMEIDA


Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB
almeida_dacio@hotmail.com

Jhony VENDRUSCOLO
Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB
jhoven2@hotmail.com

Vanderleia Fernanda dos Santos ARAÚJO


Graduanda do Curso Tecnologia em Agroecologia do IFPB
vanderleiafernanda@gmail.com

RESUMO
Inseridos no contexto de maior vulnerabilidade ambiental e socioeconômica no Brasil, o estudo
buscou o olhar do povo Potiguara da Paraíba, sobre as mudanças e impactos ocorridos na sua cultura
agrícola e os possíveis agentes ou fatores causadores das mesmas. Através de entrevistas realizadas
com anciãos Potiguara, relatando a partir de sua vivência e enquanto atores do processo, suas
percepções a cerca do seu território. Onde ficou notório a intervenção de grandes latifundiários no
atual cenário de produção agrícola que se encontram e, ainda o descaso com uma antiga comporta que
não mais funciona, impossibilitando o uso do Paú na Terra Indígena Potiguara sua melhor área
agricultável, concluindo, que politicas publicas e uma intervenção agroecológica pode atuar
revalidando a cultura agrícola Potiguara.
Palavras-chave: Vulnerabilidade Ambiental, Anciãos Potiguara, Entrevistas.

ABSTRACT
Within the context of greater environmental and socioeconomic vulnerability in Brazil, the study
sought to look Potiguara of Paraiba people about the changes and impacts occurred in your farming
culture and possible causes agents or the same factors. Through interviews performed with elders
Potiguara, reporting as from his experience and as actors in the process, their perceptions to about
their territory. Where stayed notable the intervention of large landowners in the current scenario of
agricultural production that meet and still the disregard with an ancient gate that no longer operates,
precluding the use of Pau in Indigenous Land Potiguara your best arable area, concluding that
public policies and agroecological intervention can act revalidating the farming culture Potiguara.
Keywords: Environmental Vulnerability, Potiguara elders, Interviews.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 188
INTRODUÇÃO

Os Potiguara, pertencentes à grande família do tronco linguístico tupi antigo, habitavam


grandes extensões de terras antes da colonização, ocupando desde o atual estado de Pernambuco até
o Maranhão. Constituía-se no mais organizado e poderoso povo existente no Nordeste do país, sua
população, em meados do século XVI, era estimada em mais de cem mil pessoas, baseado em
registros (MOONEN, 2008).
No processo de colonização das terras, os Potiguara tiveram sua população reduzida, onde
milhares deles foram vitimados pelas guerras, devido a resistência que imprimiam diante dos
invasores, bem como, pelas doenças transmitidas por estes para a população indígena (MOONEN,
2008).
―É um dos poucos exemplos de povos indígenas que se fixaram na ‗mãe terra‘ e
conseguiram que sua etnia e suas tradições culturais e religiosas fossem relativamente preservadas,
mesmo com toda imponência do invasor‖ (BARCELLOS & PAIVA 2002). Assim, importantes
componentes da cultura Potiguara foram mantidas, como os rituais, o toré (dança), pinturas
corporais, artesanato e a língua materna, que está sendo ensinada nas escolas Potiguara, numa
tentativa de revitalização, já que o povo fala português fluentemente, desde que foram impedidos de
falar em sua língua pelos os colonizadores.
Na atualidade, os Potiguara habitam o litoral norte da Paraíba, onde se localizam, dentro de
sua reserva, os municípios de Baia da Traição, Marcação e Rio Tinto, onde são maioria absoluta dos
habitantes dos dois primeiros municípios e uma importante minoria no ultimo, respectivamente
(PALITOT, 2009).
O território esta dividido em três terras indígenas (TIs): a Terra Indígena Potiguara, a Terra
Indígena Jacaré de são Domingos e a Terra Indígena Potiguara de Monte-Mór, perfazendo um total
de 33.757 hectares. A TI Potiguara, possui uma área de 21.238 hectares, com uma população de
8.109 índios, distribuídos em 25 aldeias, nos municípios de Baia da Traição e Marcação
(CARDOSO & GUIMARÃES, 2012).
Documentos históricos relatam que foi desta terra que os potiguaras sempre tiraram seu
sustento, com uma agricultura bem desenvolvida de acordo com seu ambiente.
Em um estudo realizado pela Coordenação Geral de Monitoramento Territorial
(CGMT/DPT/Funai) que visou caracterizar as Terras Indígenas de acordo com suas características
especificas, problemas e demandas, as terras indígenas Potiguara foram consideradas prioritárias, dentre
as demais terras indígenas do Brasil, devido a sua vulnerabilidade ambiental e socioeconômica
(CARDOSO & GUIMARÃES, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 189


O presente trabalho tem por objetivo, através de metodologia participativa, apresentar o
olhar ou percepção do povo potiguara, para as mudanças ocorridas na sua cultura agrícola.

METODOLOGIA

Descrição do local de estudo

A pesquisa foi realizada na Terra Indígena Potiguara, uma das três terras indígenas
constituintes do Território Indígena Potiguara (Figura 1). Onde se situa o município de Baía da
Traição-PB, nas coordenadas geográficas de 6°41'31" latitude Sul e 34°56'51" longitude oeste. O
estudo foi realizado nas aldeias São Miguel e na aldeia Forte, as duas distando aproximadamente 2
km da sede do município, ambas as aldeias se encontram inseridas num contexto de visíveis
transformações e vulnerabilidade.

Figura 01- Território Indígena Potiguara mostrando localização das diversas aldeias (Fonte: CARDOSO &
GUIMARÃES, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 190


Coleta de dados

Este estudo envolveu entrevistas em nível de campo, valorizando a narrativa dos próprios
indígenas sobre sua percepção das mudanças no modo de produção agrícola ocorridas na sua região
a partir de suas próprias experiências e história de vida enquanto atores do processo.
Foram escolhidos três Anciãos, um da aldeia São Miguel e um da aldeia Forte e o ultimo um
ancião e também ex-cacique da aldeia São Miguel. Por meio de entrevistas registradas com gravador
digital se obteve seus relatos em momentos distintos.
De acordo com Andrade (2008), a valorização da fala espontânea dos entrevistados,
conferindo-lhe um caráter central na pesquisa, enriquece a construção do discurso científico na
medida em que sobressalta a simbologia, os significados, o ordenamento e a lógica peculiar do
discurso nativo. A partir desta ótica, este trabalho foi desenvolvido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Documentos históricos relatam que foi de suas terras que os potiguara sempre tiraram seu
sustento, com uma agricultura bem desenvolvida de acordo com seu ambiente. Onde se destacava a
produção de mandioca como principal, seguindo-se o milho, a batata, o feijão, o jerimum, o
amendoim, evidenciando uma abundancia de alimentos nas comunidades, onde plantavam ainda
algodão e fumo, (MOONEN, 2008).
Na segunda metade do século XX os potiguara enfrentavam a invasão de suas terras por
diversos interesses, pode-se citar, alguns grandes fazendeiros, a grande companhia de tecido da
poderosa família Lundgren, além dos plantadores de cana, incentivados pelo governo.
Esses latifundiários se apossaram de grandes extensões de terras indígenas, desmatando para
extração de madeira e levantando seus grandes monocultivos, ainda mais, depois dos anos 60, com
o advento da revolução verde, aliado a injusta demarcação das terras. O que fez com que
ocorressem mudanças na cultura agrícola do povo potiguara.

―A terra era muito adubada, um adubo natural da própria mata. Então se você colocava um
roçado, ia plantar milho, feijão, abacaxi e outras coisas no terreno que era mata, então isso
com o tempo, com as queimadas, derrubadas, desmatamento, desapareceram, hoje sobre
esse terreno não tem mata, então esses terrenos estão pobres. Por isso que hoje planta-se
diferente, só dá nesse terreno se colocar adubo.‖ (ex-cacique Nel, Ancião Aldeia São
Miguel)

Desse modo, os impactos ocasionados pelos grandes latifundiários dentro do território


indígena foram determinantes. Fica visível quando falam de como era a atividade agrícola quando
ainda podia ser tida como principal.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 191


―A gente começava a plantar no mês de agosto pra colher em novembro, dezembro, janeiro,
fevereiro a mandioca já tava toda madura. Muito arroz também que o pessoal plantava,
cada quadro de arroz nesse Paú aí! E... muito feijão, bananeira dava cada um cacho de
banana que era assim olha! E hoje tem uma casa de farinha aí, mas é muito difícil funcionar,
por que o pessoal não tão plantando mais. Hoje em dia agora mais, só tem cana, só tem
cana. Onde a gente quisesse trabalhar a gente trabalhava que num tinha ninguém pra
empatar, a terra era própria aí, a terra era pra todo mundo que morasse aqui trabalhar, num
tinha esse negocio de ir pedir, ir falar, não.‖ (Terezinha, Anciã Aldeia Forte)

Apesar dos modelos da revolução verde estarem associados a discursos progressistas para
toda a sociedade, a população rural se viu mais pobre, aumentou a insegurança alimentar e a fome,
houve deterioração da saúde e enorme depredação do meio ambiente (ALTIERI, 2006). Mostrando-
se inviável à agricultura familiar, principalmente por danos aos agroecossistemas, às economias e
saúde e, na realidade do povo Potiguara, intensificou o conflito em relação à terra.
Além das ações dos invasores, se referem a outros fatores que também contribuíram com a
transformação do modo de produção do povo potiguara.

―Tinha os Paú também que trabalhava plantando a macaxeira, a bananeira e isso tudinho era
a agricultura daqui, não tinha negocio de irrigação... A agricultura aqui caiu demais, demais,
diminuiu muito, muito mesmo. Diminuiu por que o povo não quer mais trabalhar. O Paú aí
era coberto de lavoura de arroz de macaxeira de bananeira de tudo tinha e tudo que planta-
se dá, nessa várzea aí. Mas o rio aterrou, encheu, agora os Paú é tudo cheio d‘agua,
ninguém pode plantar, por que a comporta que quebrou e o governo não botou outra.‖
(Antônio, Ancião Aldeia São Miguel).

Dessa forma, em especifico para a TI Potiguara, relatam a restrição de umas das melhores
áreas para cultivo agrícola que é o Paú, uma vez que não pode ser mais utilizado, já que
permanecem encharcadas pela não manutenção de uma comporta que controlava o nível do
principal rio da TI Potiguara, Como também é enfatizado nesta fala...

―Se o Paú fosse utilizado, todo mundo produzia, como antes, todo mundo aqui era
autossuficiente, ninguém comprava farinha... hoje quase todo mundo compra farinha‖ (Ex-
cacique Nel Ancião da Aldeia São Miguel)

Então, facilmente identificam e pontuam através de seus relatos, os principais causadores


das mudanças e impactos ocorridos no território Potiguara, em especial na TI Potiguara, atuando ou
influenciando em um possível processo de descaracterização da cultura desse povo.

―Chegou o tempo, por causa do povo das canas, os próprio índios já estão plantando cana
também. Então mudou por causa das comportas que não tem mais e dos plantadores de
cana.‖ (Terezinha, Anciã da Aldeia Forte).

Observa-se a partir dos depoimentos feitos pelos Anciãos do povo Potiguara, que os mesmos
apontam claramente os fatores responsáveis pelas mudanças e os impactos causados no seu modo de
produção, em discursos bem parecidos. Podendo ser citado, os grandes latifundiários, em especial o
cultivo da cana-de-açúcar, presentes no território indígena, levando uma realidade de aumento do conflito

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 192


por terras, tendo suas áreas de roçado para sustento, reduzidas, bem como interferência negativa na
soberania alimentar, culminando com a desigualdade social dos Potiguara.
Neste sentido, diante da realidade de uma agricultura enfraquecida, vivida pelo povo
Potiguara, intervenções que colaborem para o reavivamento e potencialização da sua cultura
agrícola se tornam necessárias, principalmente no campo da soberania alimentar e validação da
cultura.

CONCLUSÃO

A partir dos relatos dos anciãos potiguara, nota-se que é perceptível para estes, as mudanças
agrícolas e as causas que às provocaram no seu território. Citam como principais, os impactos
causados pelos grandes latifundiários, principalmente com o cultivo da cana-de-açúcar, e o descaso
com uma antiga comporta que controlava o nível do rio na TI Potiguara, impossibilitando o uso da
área de paú que era amplamente cultivada.
Diante disso, tornam-se importantes nesse processo, políticas públicas direcionadas e um
possível processo de transição agroecológica a partir do conhecimento Potiguara de suas terras e,
valorização de sua cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALTIERI, M. A. Agroecología: principios y estratégias para uma agricultura sustentable em


América Latina del siglo XXI. Brasília, 11 de novembro de 2006. Tradução de: Francisco
Roberto Caporal.

ANDRADE, A. .R . P. Cultura e sustentabilidade: a sociedade potiguara e um novo mal-estar na


civilização. Tese de (doutorado) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de
Ciências Humanas e Sociais, 2008.

BARCELLOS, L. A.; PAIVA, M. O RESSURGIR DOS POTIGUARAS. Universidade Federal do


Rio Grande do Norte (UFRN), 2002.

CARDOSO, T. M.; GUIMARÃES, G. C. (Orgs.). Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba.


Brasília: FUNAI/CGMT/CGETNO/CGGAM, 2012. (Séria Experiências Indígenas, n.2) 107p.
Ilust.

MOONEN, F. Os Índios Potiguara da Paraíba. 2ª edição digital aumentada. Recife, 2008.

PALITOT, E. Os Potiguara. In: MARQUES, C.F.; ARAÚJO, I. X.; SIMAS, H. C. P (Org). Lendas e
causos do povo Potiguara. João Pessoa: editora da UFPB, 2009. p. 8-10.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 193


PROVÁVEIS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA FRUTICULTURA
IRRIGADA DA BANANEIRA: O CASO DE UM EMPREENDIMENTO EM
IPANGUAÇU – RN

Aline Patrícia Lopes QUINTINO


Estudante do Curso Técnico em Petróleo e Gás do IFRN
alinepatricialq@yahoo.com.br
Mayra Fernandes NOBRE
Professora da Universidade Federal do Piauí-CT-UFPI

RESUMO
A fruticultura irrigada no município de Ipanguaçu/RN se expandiu gradativamente, sendo tal fato
decorrente da presença de grandes grupos empresariais, que passaram a investir na fruticultura de
larga escala. Tal investimento repercutiu também em mudanças sociais, econômicas e ambientais
por vezes benéficas ou adversas. Porém, assim como outras atividades econômicas, se mal
planejadas podem vir a promover alterações adversas no ambiente. O presente trabalho objetivou
identificar prováveis impactos ambientais advindos da fruticultura irrigada no município, em
especial a cultura da banana, e foi realizado através de um estudo de caso em uma empresa
multinacional. Como instrumentos de coleta de dados foram adotados um Check List, que consiste
em uma lista de itens que foram observados no empreendimento para identificar ocorrência de
possíveis impactos ambientais e entrevista realizada com o responsável pelo Departamento de
Gestão Ambiental da empresa. Pôde-se concluir que o empreendimento tem no processo produtivo
alguns fatores que podem ser causadores de impactos ambientais, como por exemplo, a utilização
de agroquímicos classificados como extremamente tóxicos e muito perigosos ao meio ambiente,
podendo causar contaminação dos recursos naturais e também efeitos nocivos à saúde. Há um
controle ambiental do empreendimento, porém o que foi constatado é que a realização de tal deve-
se principalmente a pressões externas oriundas dos consumidores e de imposições legais.
Palavras-chave: Alterações Ambientais. Cultura da Banana. Controle Ambiental.

ABSTRACT
The irrigated horticulture in the municipality of Ipanguaçu / RN expanded gradually, being this fact
due to the presence of large enterprise groups, which started investing in large-scale fruit
production. Such investment has also resulted in social, economic and environmental sometimes
beneficial or adverse changes. However, like other economic activities, if poorly planned may well
promote adverse changes in the environment. This study aimed to identify potential environmental
impacts resulting from irrigated horticulture in the city, especially bananas, and was carried out
through a case study of a multinational company. As instruments for data collection were adopted a
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 194
Check List, which consists of a list of items that were observed in the project to identify the
occurrence of possible environmental impacts and interview with the head of the Department of
Environmental Management Company. It could be concluded that the project has some factors in
the production process that can be sources of environmental impacts, such as the use of pesticides
classified as extremely toxic and very dangerous to the environment, may cause contamination of
natural resources and also harmful effects health. There is an environmental control of the business,
but what has emerged is that the realization of this is due mainly originated consumer and legal
constraints external pressures
Keywords: Environmental Changes. Culture of Banana. Environmental Control.

INTRODUÇÃO

A produção de alimentos é um dos eixos que norteia a economia e na medida em que a


população cresce vem surgindo uma maior necessidade de aumento desta produção. A ampliação da
necessidade de alimentos tem contribuído para que haja aumento das safras, da produção agrícola e
da utilização da terra (PROGRAMA DAS NAÇÔES UNIDAS PARA MEIO AMBIENTE, 2002).
A agricultura no semiárido nordestino teve um avanço em virtude da adoção de técnicas de
irrigação que possibilitam a produção agrícola em larga escala, com destaque para a fruticultura
(BARBOSA, 2006). De acordo com Souza (2006) a região do Vale do Açú, no estado do Rio Grande
do Norte destacou-se na produção de fruticultura irrigada atraindo grandes empresas produtoras
com vistas ao mercado externo. Porém, a atividade não gera somente benefícios econômicos mas
pode também ser fonte de potenciais impactos socioambientais negativos em decorrência do mal
gerenciamento ambiental da atividade.Os impactos decorrentes desse mal gerenciamento podem
representar risco à saúde não só dos funcionários, mas também da população que reside próximo
das áreas produtivas bem como dos consumidores finais, e isso se dá principalmente pelo uso de
defensivos químicos na produção. Para o entendimento desta pesquisa se faz necessário conhecer o
conceito do termo impacto ambiental, que segundo a resolução do Conselho Nacional de Meio
Ambiente-CONAMA nº 001/86, art. 1º, é:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as
atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do
meio.

Os impactos ambientais negativos resultantes da atividade agrícola estão associados à perda


do habitat natural e ao uso inadequado de pesticidas e fertilizantes (ARAUJO; ALMEIDA;
GUERRA, 2010). A problemática dos impactos ambientais decorrentes da agricultura irrigada deve

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 195


ser vista de forma sistêmica, devendo considerar todas as dimensões relevantes para a produção
agrícola, (no antes, durante e depois) e levando em consideração seus diversos compartimentos
(água, solo, ar, sistemas vivos) (RODRIGUES; IRIAS, 2004).
Em virtude do acima exposto, faz-se mister investigar de que forma as empresas de
fruticultura irrigada atuam na configuração ambiental do território de Ipanguaçu/RN. Isso posto, a
pesquisa ora apresentada objetivou identificar os prováveis impactos ambientais decorrentes das
atividades realizadas por um empreendimento de fruticultura irrigada no município.

METODOLOGIA

A pesquisa ora apresentada tratou-se de um estudo de caso em um empreendimento de


fruticultura irrigada localizado no Vale do Açu, no município de Ipanguaçu. As técnicas de coletas
utilizadas deram-se através da documentação indireta e direta.
O município de Ipanguaçu está localizado no Estado do Rio Grande do Norte, situado na
micro-região do Vale do Açu. Esta pesquisa foi realizada em uma empresa considerada de grande
porte no município de Ipanguaçu/RN e tem sua base tecnológica toda originada da Costa Rica, onde
é produzida banana há mais de 100 anos, adaptando-a a algumas particularidades da região. A
variedade produzida é identificada como ―Nanica ou Nanicão‖ que pertence ao Subgrupo
Cavendish, não sendo muito aceita no nosso país, mas é uma variedade ideal para exportação. O
empreendimento conta com 12 fazendas que estão distribuídas no Vale do Açu. Foi realizada uma
visita em três das fazendas do grupo para fazer observações in loco acerca das ações do
empreendimento e a verificação de prováveis riscos de impactos ambientais.
Os instrumentos de coletas utilizados foram:
a) Entrevista aos responsáveis da empresa formulada com o objetivo de entender o funcionamento
da empresa em conjunto com as práticas de controle ambiental.
b) ―Listagem de Controle ou Chek List‖ que, segundo Tommasi (1994), trata-se de uma lista de
fatores ambientais que devem ser observados em virtude da ocorrência da intervenção antrópica no
objeto do estudo. Este Check List foi realizado com intuito de verificar possíveis impactos que
podem estar ocorrendo devido a atividades da empresa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Um impacto que é provindo da realização da prática de fruticultura irrigada e que foi


mencionado pelo responsável do departamento de gestão ambiental da empresa, diz respeito à
mudança da paisagem. A supressão da vegetação nativa foi a primeira prática realizada para dar
início à instalação desses empreendimentos. Além da modificação da configuração natural da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 196


paisagem é provável que a remoção da vegetação nativa tenha gerado também danos a fauna ali
existente, pois, segundo Lima (2004) a remoção total ou parcial da cobertura florestal e uso
inadequado das áreas podem provocar redução da biodiversidade e levar a processos de erosão
através da desagregação do solo, ocasionando o empobrecimento destes. Tal situação intensifica o
processo de escoamento superficial, em virtude da ausência da cobertura vegetal, podendo vir a
resultar em situações extremas de desertificação. As áreas no município de Ipanguaçu tiveram sua
paisagem substituída das carnaúbas para os bananais gradativamente a partir da década de 50
(ALBANO; SÁ, 2009). As figuras 1, 2, 3 e 4 caracterizam um pouco dessa mudança.

Figura 1 - Densidade de Carnaúbas no Vale do Figura 2 - Destruição das Carnaúbas no Vale do


Açu, 1984 Açu, 1983
Fonte: Universidade do Estado do Rio Grande Fonte: Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte do Norte

Figura 3 - Substituição das carnaúbas por Figura 4 – Imagem aerea dos bananais no Vale
bananais no município de Ipanguaçu no Vale do Açu, 2008.
do Açu Fonte: Universidade do Estado do Rio Grande
Fonte: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (2008).
do Norte

Diante das imagens acima, pode-se ter uma ideia da dimensão da devastação das carnaúbas,
sendo substituídas por bananais no Vale do Açu, principalmente no município de Ipanguaçu. De
acordo com Souza e Jales (2005), que realizaram um estudo sobre os impactos ambientais da
fruticultura irrigada em uma comunidade do município de Mossoró/RN, o alto índice de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 197


desmatamento que transforma toda paisagem natural da região causa um impacto ambiental
negativo, tido como irreversível, visto que isso se dá, principalmente porque a maioria dos
produtores rurais não atende ao limite exigido de manter 20% das áreas preservadas.
Outra prática na agricultura que pode resultar em impactos ambientais adversos ao ambiente
e também alterações da saúde das pessoas é o uso indiscriminado de agroquímicos. Estes se
classificam em: bactericidas (controle de bactérias); os nematicidas (controle de nematoides); os
herbicidas (controle de ervas daninha); os fungicidas (controle de fungos); inseticidas (controle de
insetos) e os acaricidas (controle de ácaros) (CHAGAS, [2009?]).
Os organismos podem absorver agroquímicos de três maneiras: ingestão, inalação, ou
contato com a pele e mucosas, podendo ser aquele contato direto que se dá na hora do preparo,
manuseio e aplicação ou por contato indireto que se dá pela ingestão de água e alimentos
contaminados (SCHIESARI, 2012). Segundo Trapé ([20--]), dependendo do tipo e do tempo de
exposição aos mesmos podem provocar efeitos sobre a saúde humana, podendo ser agudos, com
exposição em curto prazo, (por horas ou alguns dias), com sintomas de aparecimento rápido, como
sinais de intoxicação ou ―algumas lesões de pele, irritações das mucosas dos olhos, nariz e garganta,
dor no estômago‖, ou crônico, por uma exposição em longo prazo (por mais de um ano), podendo
ter efeitos adversos ou até mesmo irreversíveis.
O aumento da utilização de agrotóxicos é responsável por uma série de transtornos e
modificações no meio ambiente. Ribas e Matsumura (2009) relatam a contaminação das
comunidades de seres vivos resultantes da acumulação de agroquímicos nos meios biótico e
abiótico dos ecossistemas e um dos principais efeitos indesejáveis a contaminação de espécie não-
alvo, ou seja, aquelas que não interferem no processo de produção.
No empreendimento estudado, um dos agroquímicos utilizados é o herbicida para o controle
das ervas daninhas que é aplicado via bomba costal terrestre mensalmente, sendo dois aplicadores
por fazenda, que trabalham no período matutino. O princípio ativo do produto utilizado é o
Paraquat, que está classificado de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA (2013), na Classe toxicológica I, sendo considerado extremamente tóxico,
e na classificação ambiental II, sendo muito perigoso ao meio ambiente.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul- FEPAM ([201-], p. 2),
através de uma Nota Técnica veiculada na mídia on line, indeferiu o uso de produtos com o
princípio ativo Paraquat por entender que o mesmo ―supera os níveis aceitáveis de exposição para o
operador‖, tendo o supracitado órgão constatado que mesmo com a utilização de Equipamentos de
Proteção Individual - EPIs ainda permaneciam os riscos à saúde do trabalhador. Ainda segundo o
documento supracitado só no Estado do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2005 e 2011,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 198


ocorreram 167 intoxicações por Paraquat, destas 35 resultaram em óbito. Esses produtos podem ser
causadores de falência aguda de órgãos e de fibrose pulmonar progressiva e segundo a FEPAM ―o
Paraquat causa asfixia progressiva do intoxicado, que se agrava quando é fornecido oxigênio ao
paciente‖. Em estudo realizado por Costello (2009) na Califórnia, foi constatado haver relação entre
a exposição ao herbicida Paraquat com a doença de Parkinson. O experimento foi conduzido com
ratos e pôde comprovar o risco de 75% de ocorrência da doença em seres humanos quando expostos
ao produto em um raio de até 500m. Ainda segundo o estudo, este agroquímico se liga fortemente
ao solo, podendo resultar em sua contaminação, podendo ainda o mesmo estar presente nas
partículas de poeira de solos contaminados com o produto, incorrendo em risco de dispersão eólica
(COSTELLO et al., 2009, tradução nossa).
Pode-se inferir que o uso inadequado deste herbicida pode representar riscos à saúde
humana e ao meio ambiente. Um caso de contaminação pela aplicação aérea de Paraquat ocorreu na
cidade de Lucas do Rio Verde, no estado do Mato Grosso em março de 2006, onde foi realizada
uma pulverização aérea por Paraquat, tendo ocasionado a destruição de plantações, hortas e jardins,
atingindo também cursos d‘águas, casas e pessoas, provocando problemas de saúde (LONDRES,
2011).
A pulverização aérea se constitui também como outra atividade que pode resultar em
alterações ambientais e na saúde, sendo uma prática realizada pelo empreendimento. Além de
acidentes ocasionados, o grande risco deste método diz respeito à deriva, que segundo Coutinho
Júnior (2012), trata-se de uma porcentagem de agrotóxicos que não atinge a lavoura, devido a
fatores como os ventos, podendo ocorrer à contaminação de águas superficiais e até chegar a
povoados próximos das áreas cultivadas. A Instrução Normativa nº 02/2008, do MAPA, estabelece
restrições em relação a esta atividade, proferindo em seu Art. 10 que essa aplicação aérea deve ser
conduzida a uma distância mínima de quinhentos metros de povoados, cidades, vilas, bairros, de
mananciais de captação de água; duzentos e cinquenta metros para mananciais de água, moradias
isoladas e agrupamentos de animais. Com relação à aplicação de fertilizantes e sementes em áreas
inferiores a quinhentos metros de moradias, deve-se comunicar previamente aos moradores
residentes na área. As aeronaves que pulverizam com produtos químicos, especificamente os
agrotóxicos, ficam proibidas de sobrevoar as áreas povoadas. Muito comumente essas restrições não
são cumpridas, as aeronaves de pulverização muitas vezes chegam muito próximas das
comunidades, despejando no ar grandes quantidades de agroquímicos, podendo se agravar em
função das condições ambientais (temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade dos ventos).
Em alguns desses casos, é comum relatos de mortes de animais e problemas de saúde que assolam a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 199


população (LONDRES, 2011). No empreendimento estudado são aplicados, através da pulverização
aérea, fungicidas para o controle da doença Sigatoka Amarela e os fertilizantes.
Na figura 6 é possível observar a proximidade das áreas de cultivo das residências. A parte
em retângulo são as áreas de cultivo e o círculo destaca as casas que são encontradas vizinhas às
áreas cultivadas.

Figura 5 - Áreas cultivadas vizinhas às casas em


Ipanguaçu, 2013.
Fonte: Adaptado do Google Earth

A Sigatoka Amarela se identifica como uma das mais graves doenças da cultura da
bananeira no país, e ocorre nas folhas. É geralmente influenciada pelas condições climáticas: chuva,
orvalho e temperatura. Várias medidas podem ser tomadas para o controle desta doença, tais como:
drenagem do solo, combate às plantas daninhas, nutrição do bananal, desfolha sanitária e
sombreamento, mas o uso de fungicidas ainda é a principal forma de controle (CORDEIRO, 2002).
No empreendimento estudado, para o controle desta doença é utilizado o fungicida com nome
comercial ―TILT‖ e que tem como princípio ativo o Propiconazol. Segundo consulta à base
―Agrofit‖ de Agroquímicos do MAPA (2013), o produto segundo a toxicologia é classificado na
classe I – extremamente tóxico. Na classificação ambiental é considerado classe II - produto muito
perigoso ao meio ambiente. A bula também foi consultada para verificar o grau de toxidade do
produto, e houve certa incoerência ao compará-la com a ficha de informação de segurança dos
produtos químicos – FISPQ. A bula indica que o produto é considerado extremamente tóxico –
Classe I, já a FISPQ indica que o produto é pertencente à Classe III, que equivale a medianamente
tóxico, sendo estes originados pela própria empresa de fabricação. Este tipo de princípio ativo,
segundo Schiesari (2012), é tóxico ao sistema reprodutivo ou ao desenvolvimento de fetos e são
contaminantes de águas subterrâneas, podendo acarretar em contaminação das águas de poços.
Em pesquisa realizada na região do Baixo do Jaguaribe, onde se encontra a mesma prática
agrícola, foi contatado e apresentado no relatório da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos -

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 200


COGERH resultados de análises de 10 amostras de águas de poços que foi realizada pelo Instituto
de Tecnologia de Pernambuco – ITEP. Nas análises foi constatada a presença da concentração de
0.05ug/L de fungicidas com o princípio ativo Propiconazol pertencente ao grupo químico dos
Triazóis, estes também foram encontrados em águas superficiais de acordo com estudo realizado
pela Universidade Federal do Ceará - UFC (RIGOTTO, 2010). Então se entende que as águas
superficiais e subterrâneas na área de estudo podem também apresentarem o mesmo risco de
estarem com a presença do mesmo princípio ativo da mesma forma que as águas analisadas no
estudo realizado na Chapada do Apodi, considerando que o Propiconazol é considerado
extremamente tóxico, podendo ser danoso à saúde das pessoas que consomem e utilizam estas
águas.
O supracitado estudo também expôs casos de acidentes de trabalhadores na atividade e até
óbito. Colegas de trabalhos da vítima de óbito relataram que o mesmo fazia o uso de Equipamentos
de proteção individuais - EPIs, e que todos os cuidados eram realizados. O entrevistado também
relatou que os responsáveis do empreendimento ―fingiam‖ que não existiam acidentes, inclusive a
placa que registrava a quantidade de acidentes, sempre era a mesma. Os produtos químicos
utilizados pertenciam, em sua maioria, às classes toxicológicas II, III e IV (RIGOTTO, 2010) e
mesmo assim acarretaram acidentes. Tal constatação denota a gravidade do risco ao se utilizar um
produto da classe toxicológica I, uma vez que tem um grau mais elevado de risco.
Os fertilizantes utilizados pelo empreendimento estudado no processo produtivo
(quantidades e tipos) são resultantes de análise do solo que subsidia o receituário agronômico,
segundo o entrevistado são aplicados macronutrientes e micronutrientes direcionados para os tipos
de solos e a cultura. Resende (2002) traz algumas alterações ambientais que o excesso de fósforo e
nitrogênio pode causar. De acordo com o autor, o principal fator que leva o fósforo até às águas
superficiais diz respeito ao escoamento superficial e a erosão dos solos. O enriquecimento das águas
por estes nutrientes podem trazer sérios danos no que diz respeito ao desequilíbrio dos ecossistemas
aquáticos, podendo provocar o processo de eutrofização. O que também pode influenciar neste
processo é a grande presença de Nitrato que é a principal forma de nitrogênio, estando associada à
contaminação da água pelas atividades agropecuárias. Este processo consiste no enriquecimento da
água em nutrientes, favorecendo o desenvolvimento de algas e plantas aquáticas, provocando a
redução do oxigênio disponível para a sobrevivência das espécies. Um problema indireto do nitrato
diz respeito também à possibilidade de pessoas se intoxicarem ao consumirem a água de ambientes
eutrofizados, que podem conter toxinas que são produzidas pelas algas que encontram nesses
ambientes o substrato ideal para o seu desenvolvimento (RESENDE, 2002). Foi constado no rio,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 201


para onde as águas escoadas da irrigação são direcionadas um indicativo de início de eutrofização
como mostra a figura 7.

Figura 6 - Drenos indo em direção ao rio no Figura 7 - Rio que Recebe a água dos drenos
município de Ipanguaçu/RN, 2013. com inicio de eutrofização em Ipanguaçu,
Fonte: Autora da Pesquisa 2013.
Fonte: Autora da pesquisa.

Outra atividade que pode estar acarretando alterações, principalmente no recurso hídrico, diz
respeito à possibilidade dos agroquímicos serem carreados para os drenos (figura 6) que vão
diretamente para o rio. O excesso de água utilizada na irrigação é toda drenada e direcionada para
os mananciais próximos as áreas cultivadas, tendo uma grande possibilidade que em conjunto com
essas águas, escoem também fertilizantes, herbicidas e fungicidas utilizados no processo de
produção. A água utilizada no Packing House que contém cloro e detergente vai para estes drenos,
mas, segundo o relato do entrevistado, esta água passa por um filtro de argila antes de ser
direcionada ao dreno. Já a água utilizada na irrigação tem seu excesso retornado ao rio por meio de
escoamento superficial ou através da percolação profunda, podendo chegar até os depósitos
subterrâneos. Segundo Chagas, [2009?], essa água percolada ou escoada pode conter resíduos de
fertilizantes e outros defensivos agrícolas, acarretando riscos de contaminação dos recursos hídricos
presente no local. De acordo com Who (1991 apud Romano, 2006), os agroquímicos, que são
aplicados na superfície do solo, são suscetíveis a perdas por escoamento e também pela erosão.
O empreendimento não disponibilizou as análises das águas que vão para o rio. Segundo o
entrevistado, estas retornam em melhor qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do estudo realizado, foi possível observar que o empreendimento trouxe várias
mudanças, tanto sociais, econômicas, como também ambientais ao município de Ipanguaçu. O
aspecto visual foi a principal alteração que resultou da instalação desse grande grupo empresarial,
podendo acarretar em modificações da diversidade de espécies existentes no local, tanto da fauna,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 202


quanto da flora. Com relação a este último, a cidade continha uma grande presença de exemplares
da espécie carnaúba, que foi aos poucos sendo substituída pelas bananeiras. Foram identificados os
produtos químicos que são utilizados, e alguns aspectos que podem estar acarretando alterações no
ambiente e na saúde das pessoas. O herbicida e o fungicida adotados que tem seus princípios ativos
classificados como extremamente tóxicos e muito perigosos ao meio ambiente, podem resultar em
danos se mal conduzidos.
A realização deste estudo foi pertinente para que se possa perceber que as atividades mal
planejadas podem acarretar em riscos de danos à saúde humana e ao meio ambiente. Não foi
possível identificar impactos concretos no que se refere à contaminação dos recursos hídricos e do
solo, visto que há uma carência de estudos no Vale do Açu sobre esses aspectos, e também não foi
possível obter análises destes recursos, mas foi possível comprovar os prováveis impactos que essa
atividade pode estar proporcionando à região. A pesquisa ora apresentada constatou também a
necessidade de mais pesquisas no Vale do Açu que abordem essa problemática ressaltando também
formas de minimização ou mitigação dos impactos adversos potencialmente ocasionados.

REFERÊNCIAS

ALBANO, Gleydson Pinheiro; SÁ, Alcino José de. Vale do Açu-RN: a passagem do extrativismo
da carnaúba para a monocultura de banana. Revista de Geografia. Recife/PE: UFPE –
DCG/NAPA, 2009. Disponível em:
<http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/viewFile/203/176> Acesso
em: 20 ago. 2013.

ARAUJO, G.H.S.; ALMEIDA, J.R.; GUERRA, A.J.T. Gestão Ambiental de Áreas

Degradadas. Editora Bertrand Brasil, 2010. 320 p.

BARBOSA, Gabriela da Rocha. A fruticultura irrigada no nordeste: estímulo ao desenvolvimento


sustentável?. Fortaleza/CE: 2006. Disponível em:
<http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2006_TR560372_7188.pdf> Acesso em: 16 fev.
2012.

CHAGAS, Ivaldir Donizetti. Os impactos dos agroquímicos sobre o meio ambiente. [S.l.], [2009?].
Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.com/biologia/os-impactos-agroquimicos-sobre-
meio-ambiente.htm> Acesso em: 15 ago. 2013

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 203


CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução n° 001 de 23 de
janeiro de 1986. Disponível em:<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>
Acesso em: 05 ago. 2012.

CORDEIRO, Zilton José Maciel. Folha sob ataque. Cultivar HF. Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Abril/maio, 2002. Disponível em: <http://www.grupocultivar.com.br/arquivos/hf13_folha.pdf>
Acesso em: 15 ago. 2013.

COSTELLO, Sadie. et al. Parkinson's Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat
From Agricultural Applications in the Central Valley of California. Berkeley: University of
California, 2009. Disponível em: <http://aje.oxfordjournals.org/content/169/8/919.full> Acesso
em: 22 ago. 2012.

FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – FEPAM. Nota Técnica.


Esclarecimentos sobre o indeferimento do cadastro do Paraquat. Rio Grande do Sul: [2011?].
Disponível em: <http://www.slideshare.net/ceaong/esclarecimento-fepam-indeferimento-
paraquat>. Acesso em: 18 ago. 2013.

JUNIOR, José Coutinho. A pulverização aérea é o método de aplicação mais perverso que existe.
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Outubro de 2012. Disponível em:
<http://www.mst.org.br/A-pulverizacao-aerea-e-o-metodo-de-aplicacao-mais-perverso-que-
existe>. Acesso em: 30 jul. 2013

LONDRES, Flavia. Agrotóxicos no Brasil: Um guia de defesa da vida. 1. ed. Rio de Janeiro:

AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, 2011.

190 p.. Disponível em: < http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2011/09/Agrotoxicos-no-Brasil-


mobile.pdf> Acesso em: 20 ago. 2013.

LIMA, Paulo César Fernandes. Áreas degradadas: métodos de recuperação no semiárido brasileiro.
Petrolina: XXVII Reunião Nordestina de Botânica, 2004. Disponível em:
<http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPATSA/28559/1/OPB406.pdf> Acesso em:
20 ago. 2012.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO GABINETE DO


MINISTRO. Instrução Normativa. nº 2 de 3 de janeiro de 2008. Disponível em:
<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/instrucao_normativa_no_2_minist._agric..pdf>
Acesso em: 22 ago. 2013

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 204


PROGRAMA DAS NAÇÔES UNIDAS PARA MEIO AMBIENTE – PNUMA. Perspectivas do
meio ambiente mundial - GEO3. Passado, Presente e Futuro. 2002.

Disponível em:< http://www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/cap2_%20terra.pdf.> Acesso


em: 05 ago. 2012.

RESENDE, Álvaro Viela de. Agricultura e qualidade da água: Contaminação da água por nitrato.
Planaltina: Embrapa Cerrados, 2002. Disponível em:
<http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAC-2009/24718/1/doc_57.pdf]> Acesso em:
18 ago. 2013.

RODRIGUES, Geraldo Stachetti; IRIAS Luiz José Maria. Considerações sobre os Impactos
Ambientais da Agricultura Irrigada. Circular técnica. Cap. 7. São Paulo/SP: 2004. Disponível
em:<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/circular_7ID-cKH03Ez46o.pdf> Acesso
em: 01 out. 2012

ROMANO, Daniel Henrique de Melo. Uso da água: levantamento da qualidade da água em cultura
bananeira (Musa sp.) no Vale do Assu Estado do Rio Grande do Norte. 2006. 51f. Monografia
(Especialização em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), Universidade Potiguar,
Natal.

RIBAS, Priscila Pauly; MATSUMURA, Aida Terezinha Santos. A química dos agrotóxicos:
impacto sobre a saúde e meio ambiente. Revista Liberato, Novo Hamburgo/RS, v. 10, n. 14, p.
149-158, jul./dez. 2009. Disponível
em:<http://www.liberato.com.br/upload/arquivos/0120110910074119.pdf> Acesso em 15 ago.
2013.

RIGOTTO, Raquel Maria (Coord.) Estudo epidemiológico da população da região do baixo


jaguaribe exposta à contaminação ambiental em área de uso de agrotóxicos. Fortaleza, 2010. 72
f. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. Disponível em:
<http://www.memorialapodi.com.br/linha-do-
tempo/docs/2010/08/Pesquisa%20,%20Estudo%20Epidemiologico%20da%20Populacao%20do
%20Baixo%20Jaguaribe%20,%20Doc%20Sintese%20dos%20Resultados%20Parciais%20da%2
0Pesquisa%20,%2008.2010.pdf> Acesso em: 15 ago 2013

SCHIESARI, Luis. Defensivos agrícolas: Como evitar danos à saúde e ao meio ambiente. v. 8.
Série Boas Práticas. 2012. Disponível em: <http://www.ipam.org.br/biblioteca/livro/Defensivos-
agricolas-Como-evitar-danos-a-saude-e-ao-meio-ambiente/681>. Acesso em: 22 ago. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 205


SOUZA, Francisco das Chagas Silva. Análise da sustentabilidade da fruticultura irrigada no Semi-
Árido Norte-Rio-Grandense. Fortaleza/CE: Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia
Rural, 2006. Disponível em:< http://www.sober.org.br/palestra/5/172.pdf> Acesso em: 16 fev.
2012.

TRAPÉ, Ângelo Zanaga. Efeitos toxicológicos e registro de intoxicações por agrotóxicos.


Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, [20--]. Disponível em:
<http://www.feagri.unicamp.br/tomates/pdfs/eftoxic.pdf> Acesso em: 20 ago. 2013

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 206


ESTUDOS SOBRE A ADSORÇÃO DO CORANTE AZUL DE METILENO
UTILIZANDO CASCA DO CAJUEIRO COMO MATERIAL ALTERNATIVO
ADSORVENTE

Daniel David Paulino de FARIAS


Aluno do COLUN/UFMA
daniel_david36095@hotmail.com
José Alberto Pestana CHAVES
Professor do COLUN/UFMA
jose.alberto@ufma.br

RESUMO
Os materiais poluentes químicos, vindo principalmente de grandes empresas, vêm sendo um
problema, contaminam o ambiente, alimentos, consequentemente, a cadeia trófica, alcançando
assim o homem. Em função do acúmulo desses materiais, bem como de suas consequências
danosas, estão sendo realizados estudos para solucionar esse problema em meios aquosos como rios
e mares, utilizando materiais de baixo custo e a técnica da adsorção, um processo físico-químico de
interface entre duas substâncias (adsorvente e adsorvato), aplicando essa metodologia para a
descontaminação ambiental. Ou seja, a ideia consiste em utilizar os processos de adsorção como
técnicos de despoluição de corpos hídricos pela total ou parcial remoção de poluentes presentes
nesses sistemas. Para isso, nesse trabalho, foi utilizado um material de baixo custo como adsorvente
– a casca do cajueiro –, obtido in natura, seco para eliminação de umidade ou outras substâncias
presentes e moídos para obtenção de melhor granulometria. As potencialidades adsortivas desse
material foram testadas frente ao corante orgânico azul de metileno usado como adsorvato padrão
nos experimentos. Os testes de adsorção foram realizados em batelada assim como foram utilizadas
soluções aquosas com valores de pH constantes (soluções tampão com pH‘s entre 1 e 10). Também
foram realizados ensaios de adsorção levando em consideração a relação entre a concentração do
corante, as massas do material adsorvente e o tempo de contato. Os demais fatores inerentes às
reações de adsorção tais como, temperatura e granulometria foram mantidas constantes para se
evitar variações nos resultados obtidos entre as amostras estudadas.
Os dados iniciais obtidos demonstraram a viabilidade e o emprego desse material como adsorvente
para a descontaminação hídrica, pois, em certos, obtivemos resultados bem próximos de 100 % de
remoção do corante do meio, seja pela faixa de pH estudada, seja pela quantidade de material
adsorvente empregada ou mesmo pela concentração do corante no meio.
Palavras-chave: Adsorção, azul de metileno, casca de cajueiro, meio ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 207


ABSTRACT
The materials chemical pollutants mainly come from large companies, have been a problem,
contaminate the environment, food, hence the food chain, thus affecting humankind. Due to the
accumulation of these materials, as well as their harmful consequences, studies are being conducted
to solve this problem in aqueous media as rivers and seas, using inexpensive materials and the
technique of adsorption, a physical-chemical process of interface between two substances
(adsorbent and adsorbate), applying this methodology for environmental decontamination. In other
words, the idea is to use adsorption processes as technical remediation of water bodies by the partial
or total removal of pollutants present in these systems. The shell of the cashew was obtained in
natura, dried to eliminate moisture or other substances and ground to obtain better particle size for
this, in this paper, a low cost material was used as adsorbent. The adsorptive potential of this
material against the blue organic dye methylene adsorbate used as standard in the experiments were
tested. The adsorption tests were conducted batchwise as well as aqueous solutions were used with
constant pH (buffers at pH's between 1 and 10). For adsorption taking into consideration the
relationship between the concentration of the dye, the masses of the adsorbent material and the
contact time was also performed. Other factors inherent in reactions such as adsorption, temperature
and particle size were held constant to avoid variation in results between the samples.
Initial data obtained demonstrated the feasibility and the use of this material as an adsorbent for
water decontamination, as in some, we obtained results very close to 100% removal of the medium
the dye, the pH range is investigated, whether the amount of material adsorbent used or the
concentration of the dye in the medium.
Keywords: Adsorption, methylene blue, cashew husk, environment.

INTRODUÇÃO

Tratamentos biológicos, processos que fazem uso de membranas, processos oxidativos,


técnicas eletroquímicas e/ou químicas e procedimentos que envolvam fenômenos de adsorção são
os processos mais comumente utilizados para remoção de compostos poluentes de efluentes
industriais, sejam eles metais pesados ou de natureza orgânica [1,2].
Dentre todos estes processos, a adsorção constitui um dos métodos mais comumente
utilizados pelo fato de ser bastante eficaz na remoção de espécies em soluções líquidas, e,
dependendo do material adsorvente que é utilizado no processo, pode se tornar um método de baixo
custo para o tratamento de efluentes que apresentam poluentes de diferentes origens.
O fenômeno da adsorção é um processo de equilíbrio entre duas fases, simples (veja
esquema demonstrado na Figura 01), na qual a superfície onde ocorre a adsorção chama-se

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 208


adsorvente e a substância que é adsorvida é denominada adsorvato [3]. A tendência de aumento de
concentração e acumulação de uma substância (adsorvato) sobre a superfície do adsorvente é o que
caracteriza o processo de adsorção.

A Msup. A Msup.

Figura 01. Representação esquemática do processo da adsorção, onde A representa o adsorvato e M(SUP.)
representa o adsorvente.

O fenômeno da adsorção é termodinamicamente explicado pela existência de forças de


atração perpendiculares ao plano da superfície da fase sólida, que, dessa forma, passa a apresentar
insaturação. Dependendo da força das ligações entre as moléculas que estão sendo adsorvidas e o
material sólido adsorvente, podem-se diferenciar dois tipos principais de adsorção: a adsorção física
(fisiossorção) e a adsorção química (quimiossorção) [4].
O presente trabalho foi desenvolvido utilizando a casca do cajueiro, um material sólido
como substrato adsorvente frente a um corante orgânico presente em sistemas aquosos. Foram
utilizadas diferentes variáveis, tais como pH do meio, quantidade de adsorvente e quantidade de
adsorvato para se definir as melhores condições de adsorção desse corante sobre os materiais
empregados.

METODOLOGIA

Neste trabalho foram observadas as propriedades adsortivas do material à base da casca de


cajueiro, um substrato sólido que apresenta viabilidade quanto às suas aplicações por ser mais
barato, não poluente, de fácil obtenção e de rápida preparação. Além disso, é um material que
apresenta na sua essência o biopolímero celulose (sua estrutura é apresentada na Figura 02), já
amplamente conhecida como uma substância de caráter fortemente adsorvente [5-8].
H2COH H2COH H2COH

H O H O H O
H H H
O H O H O H O
OH OH OH
H H H

H OH H OH H OH

Figura 02. Estrutura química da celulose.

O adsorvato padrão utilizado nestes experimentos foi o corante azul de metileno, cuja
fórmula estrutural é apresentada na Figura 03. Essa substância apresenta anéis aromáticos,
heterocíclicos, é um sólido verde escuro, solúvel em água, produzindo solução azul, inodoro, com
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 209
fórmula molecular: C16H18ClN3S e massa molar 319,85 g.mol–1 [9], possuindo grupos cromóforos
responsáveis pela sua intensa coloração e um grupo polar responsável pela sua fixação, como pode
ser observado na Figura 03.

H3C +
CH3
N S N
H3C Cl- CH3
Figura 03. Estrutura química do corante azul de metileno.

As medidas potenciométricas e leituras de pH das soluções foram realizadas por um


pHmetro da PHTEK, modelo pH-100.
Os experimentos de adsorção foram realizados com temperatura e agitação constantes em
um agitador tipo bandeja, da marca MLW. E se realizaram da seguinte maneira:
1° Passo: Pesava-se aproximadamente 0,200 g do material adsorvente em 10 frascos
diferentes, anotando os pesos de cada um.
2° Passo: Preparava-se uma solução estoque do corante com concentração de 1x10–2 mol.L–
1
. (0,356 g do corante em um balão de 100 mL com água destilada).
3° Passo: Retirava-se uma alíquota de 0,4 mL da solução estoque do corante e transferia-se
para o balão de 10 mL e completava-se o volume com a solução tampão de pH fixo, obtendo-se
assim uma solução final de concentração 4x10–4 mol.L–1. As soluções tampões apresentavam os
seguintes pH‘s 1,0; 2,0; 3,0; 4,0; 5,0; 6,0; 8,0; 9,0; 10,0. Verificava-se o real valor do pH de cada
solução tampão em pHmetro com a correção do mesmo, caso fosse necessário.
4° Passo: Cada solução com seu respectivo pH era adicionada ao frasco do material
adsorvente, agitando a mistura adsorvente+solução do corante, com o frasco tampado em bandeja
de agitação, por um período de 24 horas.
5° Passo: Após esse período, separava-se a mistura por filtração, usando funil e papel de
filtro.
6° Passo: Realizava-se a leitura comparativa do filtrado com soluções padrões previamente
preparadas, com valores de 0 a 100% de corante para identificar a quantidade de corante adsorvido
no material.
Toda a sequência dos passos descritos anteriormente é apresentada na Figura 04, mostrando
todas as etapas dos experimentos de adsorção realizados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 210


1 2 3

4 5 6
Figura 04. Fotos que demonstram as etapas de adsorção do corante azul de metileno sobre cada um dos
materiais sólidos: 1) pesagem do adsorvente; 2) preparação da solução estoque do corante; 3) preparação da
solução do corante com pH constante; 4) mistura da solução ao adsorvente; 5) filtração; 6) comparação com
os padrões.

A solução tampão ou as soluções que apresentavam os melhores resultados de adsorção


eram submetidas a novas bateladas com variações da massa do material e da concentração do
corante.
Os passos 1 ao 6 foram repetidos para cinco frascos diferentes, resalvando que neste
segundo ensaio de experimentos, a massa do material sólido variava de 0,100 g a 0,500 g e
mantinha-se constante o pH do meio (com as soluções tampão que apresentavam os melhores
resultados de adsorção), bem como a concentração do corante (4x10–4 mol.L–1).
Numa terceira etapa do trabalho, as massas dos materiais eram mantidas constantes em um
valor próximo de 0,200 g, bem como o pH do meio, variando-se, nesse caso a concentração do
corante em intervalos de 1x10–4 mol.L–1 a 5x10–4 mol.L–1.
Essas repetições foram realizadas para se obter as melhores condições de adsorção do
corante sobre os materiais adsorventes (pH, quantidade de material e concentração do corante),
sempre mantendo-se constante a temperatura dos processos reacionais e a granulometria dos
materiais.
Na quarta e última etapa, os processos adsortivos foram investigados mantendo-se constante
todos os parâmetros enumerados anteriormente (pH, massa do adsorvente, concentração do corante,
granulometria, temperatura) e apenas variando as reações em função do tempo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 211


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da investigação da adsorção do corante azul de metileno sobre o material estudado (casca do


cajueiro) apresentamos inicialmente os dados referentes à quantidade adsorvida em função dos
diferentes pH‘s do meio aquoso. Esses resultados são mostrados na Figura 05.
Percebe-se que as maiores porcentagens de adsorção do corante (acima de 60%) sobre os
diferentes materiais ocorreram predominantemente em pH‘s mais ácidos, diminuindo a quantidade
adsorvida à medida que o pH passava para valores mais alcalinos.

100

% Adsorção 50 Casca do cajueiro

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
pH
Figura 05. Gráfico da quantidade de corante adsorvido em função do
pH.

A Tabela 01 apresenta os resultados da quantidade de corante adsorvido sobre a superfície


do material (casca do cajueiro), variando-se as massas dos adsorventes (0,100 a 0,500 g), mantendo-
se constante os demais parâmetros (granulometria, temperatura, pH e a concentração do corante em
solução).

Massa do adsorvente casca do cajueiro (g) pH 2 pH 5


0,100 95 98
% Adsorção

0,200 96 75
0,300 98 68
0,400 100 55
0,500 89 70

Tabela 01: Quantidades de corante adsorvidas em função das massas do adsorvente.

Na Tabela 01, pode-se constatar que o aumento da massa do material adsorvente, não
ocasionou de forma direta o aumento na quantidade de corante adsorvida, ou seja, a granulometria
final de todos os sólidos investigados já proporcionava uma alta área superficial por menor que
fosse a massa utilizada, incorrendo numa saturação completa da superfície do sólido pelo corante
mesmo com quantidades mínimas utilizadas. Isso tudo pode ser explicado por perdas de massa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 212


durante os processos de adsorção e, consequentemente, diminuição de área efetiva de adsorção,
como já fora mencionado anteriormente.
Já a Tabela 02 apresenta as porcentagens de adsorção e demonstra como ocorreu esse
processo entre o corante e a superfície do material investigado, dessa vez variando a concentração
do próprio corante (1x10–4 a 5x10–4 mol.L–1) e mantendo constante os demais fatores já citados. O
material apresentou inconstância nos resultados, aumento nos valores de adsorção com o aumento
da concentração do corante e valores constantes na faixa estudada, observação: com o aumento da
concentração do corante e a manutenção da massa de adsorvente pode ter ocorrido uma saturação
da superfície efetiva do material, diminuindo assim a interação dos sítios superficiais do adsorvente
com as moléculas do corante, o que levou um aumento da quantidade do corante na solução.

Concentração do corante (mol.L–1) pH 2 pH 5


1x10–4 93 70

% Adsorção
2x10–4 94 75
3x10–4 96 81
–4
4x10 98 85
5x10–4 99 92

Tabela 02: Quantidades de corante adsorvidas em função das concentrações do corante.

Além disso, para a observação dos resultados de adsorção com maior exatidão, determinou-
se o tempo mínimo necessário de aproximadamente 24 horas. Para análise desses resultados foi
construída uma classificação qualitativa do tipo excelente, satisfatória, baixa adsorção e nenhuma
adsorção. Sendo que essa classificação teve como base os registros fotográficos antes e após os
processos adsortivos do corante sobre os diferentes materiais, para cada pH, considerando a
indisponibilidade de um espectrofotômetro.
As imagens fotográficas que são apresentadas como exemplo nas Figuras 06 e 07 referentes
ao processo antes e após a adsorção do corante sobre a casca do cajueiro, foram significativas para o
registro dos processos de remoção dessa substância de uma solução aquosa, haja vista que, a
solução do corante, por apresentar uma intensa coloração azul (Figura 06), por vezes adquiria uma
pálida coloração azulada e em diferentes tonalidades, após mistura, homogeneização, filtragem e
separação do material sólido (Figura 07), de acordo com o pH investigado. A figura 07 tem como
exemplo a casca da macaxeira, outro material utilizado em nossa pesquisa.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 213


Figura 06. Solução do corante azul de metileno antes do processo de adsorção.

Figura 07.Solução do corante azul de metileno após processo de adsorção sobre casca de macaxeira em pH 3.

Os processos de adsorção observados entre o corante e as superfícies sólidas consistem


essencialmente numa interação entre ambos por protonação ou não da superfície do material ou
mesmo do corante, dependendo do valor do pKa desses espécies envolvidas nesses processos.
Todas essas observações podem pressupor que as adsorções do corante às superfícies do
material investigado pode acontecer segundo três mecanismos alternativos, levando-se em
consideração que este material é muito rico no biopolímero celulose mostrada na Figura 02:
Mecanismo I – A adsorção ocorre pela interação entre o grupo –OH da celulose protonado
(OH2+) com o átomo de nitrogênio pela disponibilidade de um par de elétrons que este último
apresenta em formar uma ligação dativa com a outra espécie positiva.
Mecanismo II – A adsorção do corante à celulose deve-se a uma interação eletrostática entre
o grupo –OH do material adsorvente (celulose) e o átomo de enxofre que possui uma carga positiva
sobre si. Nesse caso, não existe a protonação em nenhuma das duas espécies diretamente envolvidas
na interação entre ambas.
Mecanismo III – A adsorção ocorre pela interação entre o grupo –OH da celulose não
protonada com o átomo de nitrogênio, desta vez protonado e, por isso, apresentando uma carga
positiva sobre si. Desta vez, a ligação dativa deverá ocorrer pela disponibilidade do par de elétrons
disponível no átomo de oxigênio presente na hidroxila que é ―doado‖ para a espécie positiva do
outro lado da ligação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 214


Mas, o que de fato apresentou-se como maior viabilidade para a utilização desses materiais
foi a ampla faixa de pH na qual o corante apresentou ótimos resultados de adsorção para o material,
ou seja, se em uma determinada circunstância um efluente apresenta um pH ácido, pode-se utilizar a
casca da macaxeira, ou a casca do coqueiro ou mesmo a casca do cajueiro como agente sequestrante
do corante do meio aquoso. Se o efluente apresentar um pH tendendo para a neutralidade, o ideal
seria a utilização da serragem como material adsorvente. Em um terceiro caso, se o efluente
apresenta um pH mais alcalino, uma outra possibilidade é viável pelo uso da casca da semente de
abóbora.
Os gráficos referentes à cinética de adsorção do corante sobre a superfície de todos
adsorventes são mostrados na Figura 08.

100 100

80 80

60
% Adsorção

60
% Adsorção

40 40

massa da casca do cajueiro = 0,200 g


20 massa da casca do cajueiro = 0,200 g 20 -4 -1
-4 -1 conc. do corante = 1x10 mol.L
conc. do corante = 1x10 mol.L
pH = 5
pH = 2
0 0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
tempo (min) tempo (min)
A B
Figura 08. Cinéticas de adsorção do corante azul de metileno sobre a casca do cajueiro. A: pH 2,0 e B: pH
5,0.

É possível observar no gráfico de adsorção em função do tempo que este é um parâmetro


também a ser considerado quando se deseja que uma maior quantidade de corante seja retirada do
meio aquoso pelo material empregado, ou seja, o tempo de contato entre adsorvente e o adsorvato
(azul de metileno) influencia significativamente na retirada parcial ou total do corante da solução.
Em média, tempos superiores a 130 minutos (1 hora e meia) são suficientes para o contato ou a
passagem da solução pelo material sólido. Isso se torna importante, pois significa redução de tempo
e custo para o órgão ou empresa que deseja descontaminar o meio hídrico com espécies dessa
natureza. Não sendo necessárias grandes quantidades de adsorventes, também não se torna
necessário um tempo muito longo para a retirada de poluentes que contaminam os corpos hídricos
que recebem tais efluentes oriundos das empresas que se utilizam dessas substâncias.
Esse fator (tempo) também é bastante considerado e pode ser observado em diversos
trabalhos envolvendo a adsorção de corantes sobre materiais à base de polissacarídeos [10-13].

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 215


CONCLUSÕES

O presente trabalho foi proposto com o intuito de buscar formas simples e economicamente
viáveis que pudessem ser usadas no tratamento da água, em virtude da grande importância desse
recurso. E, a partir dos estudos realizados, foi possível constatar que, dos seis materiais
investigados, apenas a casca de laranja não apresenta potencial caráter adsorvente para esse tipo de
finalidade. Os demais materiais, casca de macaxeira, casca do cajueiro, casca da semente de
abóbora e a casca da palmeira de coco, podem sim ser usados no tratamento da água em uma vasta
faixa de pH e com baixíssimas quantidades. Complemento ainda essa possibilidade da aplicação
desses materiais, corroboram o fato de serem substâncias simples, viáveis economicamente e muito
disponíveis em qualquer região do país.
Esses materiais, que porventura muita das vezes são subestimados e descartados,
aumentando o volume em lixões e aterros, poderiam ser utilizados para o tratamento dos ambientes
aquáticos que estivessem poluídos com o corante azul de metileno ou outras substâncias que
apresentassem uma similaridade com esse corante. Dessa forma, o volume de lixo acumulado por
esses materiais seria sensivelmente diminuído e se aproveitaria o caráter adsortivo de cada um deles
para uma efetiva descontaminação e tratamento da água.

REFERÊNCIAS

CRINI, G.; Recent developments in polysaccharide-based materials used as adsorbent in


wastewater treatment. Progress in Polymers Science. 30: 38, 2005. Também algumas referências
contidas nesse artigo.

CRINI, G.; Non-conventional low-cost adsorbents for dye removal: a review. Bioresource
Technology. 97: 1061, 2006. Também algumas referências contidas nesse artigo.

ATKINS, P.W.; Physical chemistry. 5th ed. Oxford: Oxford University Press, 1994. p. 985-1002.

ORTIZ, N.; Estudo da utilização de magnetita como material adsorvedor dos metais Cu2+, Pb2+,
Ni2+ e Cd2+ em solução. São Paulo, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, USP, 2000.
Tese de doutorado, 176 p.

SHAO, Z.; LI, G.; XIONG, G.; YANG, W.; Modified cellulose adsorption method for the synthesis
of conducting perovskite powders for membrane application. Powder Technology. 122: 26, 2002.

ALOULOU, F.; BOUFI, S.; LABIDI, J.; Modified cellulose fibres for adsorption of organic
compound in aqueous solution. Separation and Purification Technology. 400: 1021, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 216


TORRES, J.D.; FARIA, E.A.; PRADO, A.G.S.; Thermodynamic studies of the interaction at the
solid/liquid interface between metal ions and cellulose modified with ethylenediamine. Journal
of Hazardous Materials. B129: 239, 2006.

VALENTE, A.J.M.; BURROWS, H.D.; POLISHCHUK, A.Y.; DOMINGUES, C.P.; BORGES,


O.M.F.; EUSÉBIO, M.E.S.; MARIA, T.M.R.; LOBO, V.M.M.; MONKMAN, A.P. Permeation
of sodium dodecyl sulfate through polyaniline-modified cellulose acetate membranes. Polymer.
46: 5918, 2005.http://pt.wikipedia.org/wiki/Azul_de_metileno. Acesso em 03 de Setembro de
2013.

CHAVES, J.A.P.; SANTANA, S.A.A.; SCHULTZ, M.S.; SILVA, H.A.S.; PENHA, R.S.; VIEIRA,
A.P.; SOUZA, A.G.; BEZERRA, C.W.B. Removal of the Textile Dye Indanthrene Olive Green
from Aqueous Solution Using Chitosan. Adsorption Science & Technolog, 27: 947, 2009.

CHAVES, J.A.P.; SANTANA, S.A.A.; SCHULTZ, M.S.; SILVA, H.A.S.; PENHA, R.S.; VIEIRA,
A.P.; SOUZA, A.G.; BEZERRA, C.W.B. Kinetics and thermodynamics of indanthrene textile
dye adsorption onto chitosan. E-Polymers, 66: 1, 2010.

VIEIRA, A.P.; SANTANA, S.A.A.; BEZERRA, C.W.B.; SILVA, H.A.S.S.; CHAVES, J.A.P.;
MELO, J.C.P.; SILVA FILHO, E.C.; AIROLDI, C. Kinetics and thermodynamics of textile dye
adsorption from aqueous solutions using babassu coconut mesocarp. Journal of Hazardous
Materials. 166: 1272, 2009.

CHAVES, J.A.P.; BEZERRA, C.W.B.; SILVA, H.A.S.; SANTANA, S.A.A.; VIEIRA, A.P.;
SOUZA, A.G. Estudos Cinéticos, Isotérmicos e Termodinâmicos Referentes à Adsorção do
Corante Têxtil Rubi 2G Dianix sobre Quitosana. Química dos Materiais, 1: 13, 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 217


FORMIGAS DA ILHA DE CARIMÃ (RAPOSA, MARANHÃO) E SUA DISTRIBUIÇÃO
NOS DIFERENTES HABITATS11

Yuzan Melonio SERRA


Bolsista de Iniciação Científica - UFMA
yuzan.melonio@hotmail.com
José Angelo Cordeiro MENDONÇA
Professor Orientador - UFMA
jfangelo@uol.com.br

RESUMO
As formigas apresentam uma ampla distribuição no planeta habitando diversos ecossistemas
naturais ou artificiais sendo usadas em muitas pesquisas como bioindicadores de alterações
ambientais causadas por atividades antrópicas. O trabalho teve como objetivo observar a
distribuição espacial de diferentes gêneros de formigas na ilha de Carimã (Raposa), assim como,
sua abundância e diversidade e relacionar esses dados com fatores ambientais como temperatura,
umidade e tipo de solo. As coletas foram realizadas mensalmente com armadilhas de solo em
diferentes ambientes na ilha de Carimã. As formigas estão sendo conservadas em álcool 70 %.
Houve predomínio do gênero Azteca mostrando uma grande adaptação destas formigas aos
ambientes estudados.
Palavras-chave: Formigas, distribuição espacial, diversidade, ambiente.

ABSTRACT
Ants have a wide distribution on the planet inhabiting different natural or artificial ecosystems
being used in many studies as bioindicators of environmental changes caused by anthropogenic
activities. The aim of this work is to observe the spatial distribution of different kinds of ants on the
island of Carimã (Raposa), as well as their abundance and diversity, and relate these data with
environmental factors such as temperature, humidity and soil type. The collect are being held
monthly with pitfall traps in different environments on the island of Carimã. Ants are being
preserved in 70% alcohol and then mounted for identification. So far predominated Azteca showing
a great adaptation to environments studied these ants.
Keywords: Ants, spatial distribution, diversity, environment.

INTRODUÇÃO

11
Pesquisa financiada pela FAPEMA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 218


Os artrópodes compõem o filo com a maior abundância e diversidade de organismos dentre
os invertebrados. O grande sucesso evolutivo desse grupo deve-se à classe dos insetos e dentro do
grupo insetos merece destaque os hymenópteros, representados, entre outros, por formigas e
abelhas.
As formigas, por exemplo, são encontradas em quase todos os habitat, exceto nos polos. São
dominantes em muitas comunidades ecológicas, inclusive em áreas de vegetação de dunas (Dieh, et
al, 2005) ocupando todos os espaços disponíveis, onde executam um grande número de funções
(Silva & Brandão, 1999).
A heterogeneidade do ambiente é um fator determinante para a coexistência e diminuição da
competição entre espécies (Corrêa et al. 2006). As espécies de formigas mais agressivas na
utilização de recursos se adaptaram de forma mais eficiente nas áreas urbanas degradadas e nos
ambientes domésticos de tal maneira que essas espécies podem passar longos períodos de escassez
de alimento, competir com mais eficiência com outras espécies e colonizar com rapidez e
competência ambientes alterados pelo homem e com baixa complexidade estrutural (Marinho, et al.
2002; Fonseca e Diehl, 2004).
São poucos os estudos sobre comunidades de formigas no Maranhão se compararmos com
as pesquisas feitas com abelhas que pertencem à sua mesma ordem (Hymenoptera). Em vegetação
de dunas, por exemplo, tem-se conhecimento do levantamento de espécies de abelhas realizado por
Albuquerque et al. em 1992 e muitos outros trabalhos com espécies apícolas em diferentes
ecossistemas como cerrado ou mata secundária. Sabe-se que, através do Laboratório de
Entomologia da UFMA, algumas pesquisas, sobretudo de distribuição espacial e diversidade, estão
sendo realizadas. O objetivo deste trabalho é somar-se a essas pesquisas para que se aumente o
nível de conhecimento sobre a estrutura e funcionamento dessas comunidades que são essenciais
para a manutenção do equilíbrio nos ambientes naturais.
A Ilha de Carimã localiza-se no município de Raposa, que compõem, juntamente com São
Luís, Paço do Lumiar e São José de Ribamar, a Ilha do Maranhão, localizada ao Norte do Estado do
Maranhão (Figura 1). As coletas foram realizadas em vegetação de dunas ativas com predomínio de
vegetação rasteira, área de restinga e manguezal.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 219


Figura 1. Localização do município de Raposa

As coletas foram realizadas nos períodos de estiagem e de chuvas com armadilhas de solo,
produzidas a partir de garrafas pets cortadas com o seu gargalo voltado para sua parte interna,
formando um funil. Para atração das formigas utilizou-se isca de sardinha moída.
A biodiversidade de formigas tem sido estudada com o objetivo de compreender as
perturbações ocasionadas pelas constantes simplificações dos ecossistemas naturais (Majer 1996),
pois além de responderem ao estresse do meio, as formigas apresentam ampla distribuição e
abundância local, são facilmente amostradas e relativamente mais fáceis de serem identificadas do
que outros organismos (Alonso & Agosti 2000).
Na área de estudo observa-se grande degradação antrópica causada, sobretudo, pelo lixo
depositado a céu aberto. A região de Carimã está se tornando um roteiro turístico importante, daí os
estudos preliminares sobre biodiversidade serem de suma importância para que no futuro se
compreenda como o turismo alterou a composição florística ou faunística, ou então, promover-se
projetos de desenvolvimento sustentável para se impedir a diminuição da biodiversidade desses
ambientes.
Quase cinco mil quilômetros do litoral brasileiro são constituídos de restingas e dunas
(Araújo & Lacerda, 1987) que, no Maranhão, misturam-se com as vegetações de cerrado. Por isso a
vegetação de dunas merece atenção especial devido à intensa modificação a que está sujeita, e ao
papel que desempenha na preservação da morfologia costeira (Feitosa, 1998). As espécies vegetais
aí encontradas apresentam um conjunto de adaptações relativas às condições extremas de
salinidade, baixa disponibilidade de água e intensa radiação solar (Scarano et al 2001).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 220


A restinga apresenta grande diversidade fitofisionômica e sofre em todo país diversos tipos
de influência biótica e abiótica (Pereira, 1990; Araújo, et al. 2004, Menezes e Araújo, 2005). As
restingas apresentam tanto formações herbáceas quanto arbustivas e florestais distribuídas de
acordo com o nível dos lençóis freáticos (Pereira, 2003), no caso das restingas de Carimã tem-se um
porte predominantemente herbáceo com poucos arbustos e sem a notação de plantas de porte
arbóreo.
Os manguezais maranhenses ocupam uma grande área do litoral margeando rios e igarapés
sobre a costa como franjas, atrás das praias, cordões litorâneos e dunas arenosas (Silva & Mochel,
1994). A vegetação dos manguezais é composta por espécies vegetais lenhosas típicas
(angiospermas) além de micro e macroalgas adaptadas a condições peculiares, como alta salinidade,
baixa concentração de oxigênio do substrato lamoso e regime de inundações diárias (Tomlinson,
1986; Kurtz et al 2002). Por conta das condições adversas encontradas para a maioria das espécies
da flora e fauna os animais que vivem nesse ambiente são altamente especializados e adaptados
para sobreviver nessa área, no caso das formigas coletadas, observa-se a ocorrência de apenas um
gênero, Azteca, com pouca diversidade e abundância.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, P. M. C. DE; CAMARGO, J. M. F. DE & MENDONÇA, J. A. C. Bee


Communityof a beach dune ecosystem on Maranhão Island, Brazil. Brazilian Archives of
Biology and Technology, 50(6) 1005-1018.

ALONSO, L.E. & D. AGOSTI. 2000. Biodiversity Studies, Monitoring, and Ants: An Overview, p.
1-8. In D. Agosti, J. D. Majer, L. E. Alonso & T. R. Schultz (eds.), Ants: standard methods for
measuring and monitoring biodiversity. Smithsonian Institution Press, Washington, 280p.

ARAÚJO, D.S.D & LACERDA, L.D., 1987 A natureza da restinga. Ciência Hoje 6(33): 42-48.

ARAÚJO, T. C. M.; SEOANE, J. C. S.; COUTINHO, P. N. 2004 Geomorfologia da Plataforma


continental de Pernambuco. In: Leça E. E., Neumann-Leitão, S. e Costa M.F. (Eds.)
Oceanografia – Um cenário tropical, Recife, Ed. Bagaço. 39-57p

CORRÊA, M. M. ; W. D. FERNANDES; I. R. LEAL. 2006. Diversidade de formigas epigéicas


(Hymenoptera: Formicidae) em Capões do Pantanal Sul Matogrossense: relações entre riqueza
de espécies e complexidade estrutural da área. Neotropical Entomology 35(6): 724-730.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 221


DIEHL, E. ; F. SACCHETT ; E. Z. DE ALBUQUERQUE. 2005. Riqueza de formigas de solo na
praia da Pedreira, Parque Estadual de Itapuã, Viamão, Rs, Brasil. Revista Brasileira de
entomologia 49(4): 552-556.

FEITOSA, A. C. Evolução morfológica do litoral norte da ilha do Maranhão. 1988. Dissertação


(Mestrado em Organização do Espaço) – Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita
Filho. Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro, 1988.

FONSECA R. C. & E. DIEHL. 2004. Riqueza de formigas (Hymenoptera, Formicidae) epigéicas


em povoamento de Eucalyptus spp. (Myrtacea) de diferentes idades do Rio Grande do Sul,
Brasil. Revista Brasileira de Entomologia 48: 95-100.

MAJER, J.D. 1996. Ant recolonization of rehabilitated bauxite mines at Trombetas, Pará, Brazil. J.
Appl. Ecol. 12: 257-273

MARINHO, C. G. S.; R. ZANNETTI.; J. H. C. DELABIE ; M. N. SCHLINDWEIN;L. S. RAMOS.


2002. Diversidade de formigas (Hymenoptera: Formicidae) da serrapilheira em eucaliptais
(Myrtacea) e área de cerrado de Minas Gerais. Neotropical Entomology 31: 187-195.

MENEZES, L. F. T.; ARAUJO, D. S. D. Formações vegetacionais da Restinga da Marambaia, Rio


de Janeiro. 2005. In: MENEZES, L. F. T.; PEIXOTO, A. L.; ARAÚJO, D. S. D. (Orgs.).
História natural da Marambaia. Rio de Janeiro: EDUR, p.67-120

PEREIRA, O.J. 1990. Caracterização fitofisionômica da restinga de Setiba, Guarapari, ES. Pp.
207-219. In: S. Watanabe (org.). Anais do Simpósio de Ecossistemas da Costa Sul-sudeste
Brasileira. v.3. São Paulo, Publicações ACIESP.

PEREIRA, O. J. Restinga: origem, estrutura e diversidade. In: JARDIM, M. A. G.; BASTOS, M.


N. C.; SANTOS, J. U. M. (Orgs.). Desafios da Botânica Brasileira no Novo Milênio: inventário,
sistematização e conservação da biodiversidade vegetal. Belem: Sociedade Brasileira de
Botânica, 2003. p.177-179.

SCARANO, F.R.; DUARTE, H.M.; RIBEIRO, K.T.; RODRIGUES, P.J.F.P & BARCELLOS,
E.M.B. 2001. Four sites contrasting environmental stress in southeastern Brazil: relations of
species, life form diversity, and geographic distribution to ecophysiological
parameters. Botanical Journal of the Linnean Society 136(4): 345-364.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 222


SILVA, L.N. M.& MOCHEL, F.R. 1994. Aspectos ecológicos da macrofauna bêntica dos
manguezais do estado do Maranhão. Ilha de São Luís. Relatório parcial do programa integrado
de estudos ecológicos dos manguezais do estado do Maranhão, UFMA, v.01.

SILVA, R. R. DA & C. R. F. BRANDÃO. 1999. Formigas (Hymenoptera, Formicidae) como


indicadoras da qualidade ambiental e da biodiversidade de outros invertebrados terrestres.
Biotemas 12: 55-73.

TOMLINSON, P. B. 1986. The botany of mangroves. Cambridge University Press, Cambridge. 413
pages.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 223


ANÁLISE DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA COMUNIDADE
INDÍGENA PITAGUARY - CE12

Filipe Adan Santos da SILVA


Graduando do Curso de Geografia da UFC
filipe.adan@yahoo.com.br
Pedro Edson Face MOURA
Graduando do Curso de Geografia da UFC
pedroedson@gmail.com
David Basílio de MELO
Graduando do Curso de Geografia da UFC
david.b.meloo@gmail.com

RESUMO
A análise proposta neste trabalho refere-se na vulnerabilidade dos elementos culturais, territoriais e
ambientais decorrentes dos conflitos envolvendo os indígenas, em virtude, da atuação de obras de
uma grande empreiteira de extração mineral, localizada em torno da comunidade tradicional
indígena do Povo Pitaguary. A mesma ocupa tradicionalmente o sopé da Serra da Aratanha, entre os
municípios cearenses de Maracanaú e Pacatuba, distantes aproximadamente 26 quilômetros da
capital Fortaleza. A comunidade indígena tem enfrentado diferentes conflitos à efetivação de seus
direitos, principalmente quanto ao acesso ao patrimônio natural, pois a mesma, desde a implantação
do aldeamento local tem sofrido na utilização da área, onde se localiza a pedreira e também se
desenvolvem as tradições dos rituais indígenas. Dentre as principais dificuldades enfrentadas pela
comunidade indígena, destacam-se as problemáticas paisagísticas, hídricas e de saúde na aldeia de
Santo Antônio do Povo Pitaguary. Foi diagnosticado o desaparecimento de afluentes e riachos que
antes subsidiavam recursos à comunidade, já em relação à saúde, ocorreu um aumento de doenças
respiratórias tais como, asma, bronquite e pneumonia, em razão da presença da contínua da
empreiteira em torno do território. Outra preocupação da comunidade indígena é a transformação
paisagística da Serra da Aratanha, pois com a realização da extração mineral, as áreas degradadas
devido aos desmatamentos, avançam de forma progressiva colocando em risco áreas preservadas do
aldeamento. Assim a possível solução reivindicada pela comunidade indígena é a desativação
definitiva da pedreira e efetivação de um sistema de ecoturismo, pois dessa forma os impactos
socioambientais gerados pela atuação da empreiteira se mitigariam e a comunidade voltaria a
utilizar as áreas em torno de seu território gerando recursos e mantendo o equilíbrio da relação
homem e natureza.

12
Orientador - Prof. Dr. Edson Vicente da Silva, Dpto. em Geografia da UFC

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 224


Palavras Chaves: Vulnerabilidade, Comunidade Indígena, Socioambientais, Território, Ecoturismo.

ABSTRACT
The analysis in this paper the proposed refers to the vulnerability of cultural, territorial and
environmental elements Arising from Conflicts Involving indigenous peoples, as a result, the
performance of works of a large general contractor of mineral extraction, located around the
traditional indigenous community of Pitaguary People. The same traditionally occupies the
foothills of the Serra da Aratanha, between the Municipalities of Ceará of Marazion and Pacatuba,
Approximately 26 km distant from the capital Fortaleza. The indigenous community has faced
different Conflicts to effectuate Their rights, Mainly Regarding access to natural heritage, since the
same, since the deployment of the local village has Suffered in the use of the area, where is located
the quarry And Also develop the traditions of indigenous rituals. One of the main Difficulties faced
by indigenous community, highlight the problems of landscape water and health, in the village of
Santo Antônio do Pitaguary People. Was Diagnosed the disappearance of tributaries and streams
before funding resources to the community, in respect of health, there was an Increase in respiratory
diseases such as asthma, bronchitis and pneumonia, because of the presence of remains of general
contractor around the territory. Another concern of the indigenous community and the Serra da
Aratanha landscape transformation, because with the realization of mineral extraction, the degraded
areas due to deforestation advance progressively endangering preserved areas of the resort. So the
possible solution claimed by the indigenous community and the end deactivation of the quarry, and
completion of the system of ecotourism, because in this way the environmental impacts generated
by the performance of the contractor and mitigate if the community would use the areas around its
territory, generating resources and keeping the balance of the relation between man and nature.
Key Words: Vulnerability, Environmental, Indigenous Community, Territory, Ecotourism.

INTRODUÇÃO

A história de luta dos povos tradicionais na formação do Brasil foi construída através da
destruição de muitas nações indígenas, por meio de confinamentos, violências e genocídios, a
colonização causou o avanço da degradação ambiental e a conquista dos territórios indígenas
tradicionais. Fez também com que os índios restantes se agrupassem em diversificadas
concentrações em pequenos territórios espalhados pela nação.
Segundo os cronistas do século XVII, o aldeamento de Santo Antônio do Pitaguary surgiu
após a ação missionária dos jesuítas, que com auxílio do cacique Amahi fundaram o primeiro
núcleo populacional indígena em Maracanaú. O objetivo principal da ação dos jesuítas era a
catequese, para assim submeter os índios a fé católica.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 225


Em 20 de abril de 1722, os índios receberam do Capitão-Mor Manoel Francês duas
sesmarias que davam garantia de posse aos seus territórios na serra dos Pitaguary. Em 6 de
setembro de 1854, o cacique Pitaguary Marcos de Souza Caaiba Arco Verde Camarão registra em
cartório, as terras pertencentes ao seu povo.
As histórias contadas pelos índios do Pitaguary remontam a um tempo de liberdade e depois
de escravidão, quando os mesmo passaram a viver em um grande cativeiro em função da política
governamental do decreto de 1863. As construções da capela e do açude foi um tempo de muita
opressão e hoje são os marcos da história desta comunidade indígena.
Atualmente a situação da Terra Indígena Pitaguary está identificada no diário oficial da
União dia 03 de julho de 2000, do relatório oficial da FUNAI, com 1.735 hectares. A existência de
uma liminar que proibia a sua demarcação territorial foi cassada dia 15 de maio de 2003 e no dia 14
de dezembro de 2006, o então ministro da Justiça assinou uma portaria declaratória que demarca as
terras da etnia Pitaguary no Ceará.
Nessa perspectiva, o presente trabalho visa analisar e discutir a respeito da vulnerabilidade,
risco e controle ambiental enfatizando especificamente a atuação da pedreira localizada no entorno
da terra demarcada como pertencente à Comunidade Indígena Santo Antonio do Pitaguary. Esse
território que é ocupado tradicionalmente situa-se no sopé da Serra da Aratanha, nos municípios
cearenses de Maracanaú e Pacatuba, na Região Metropolitana distante aproximadamente 26
quilômetros da capital Fortaleza, figura 01.

Figura 01- Localização Geográfica da Terra Indígena Pitaguary no estado do Ceará, 2014.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 226
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A elaboração deste trabalho foi possível graças a uma parceria com a Escola Indígena de
Educação Básica do Povo Pitaguary, na qual se obteve a colaboração de professores, estudantes e
pais de alunos, no que tange a obtenção de dados e informações a respeito da realidade desse povo.
As ações foram efetivadas através do projeto de extensão Interações Didáticas para
Educação Indígena e Ambiental - IDEIA, vinculado ao Laboratório de Geoecologia das Paisagens e
Planejamento Ambiental pertencente ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do
Ceará, onde se obteve os materiais de consumo, apoio logístico, e acesso a bibliografias atualizadas
a respeito dos temas: povos indígenas, Educação Ambiental, sustentabilidade e planejamento e
gestão territorial.
A partir de levantamentos de dados primários, como documentação cartográfica da área,
obtenção de imagens de satélites, e delimitações das terras indígenas dos Pitaguary, através da
FUNAI (Fundação Nacional do Índio), foi possível identificar e mapear as paisagens das terras
indígenas. O mapa que foi produzido pelos autores, teve como base softwares livres, no caso o Q-
Gis na versão 2.0.
Foi realizado levantamento a partir de trabalhos de campo realizados na comunidade,
ajudando a compor um cenário ilustrado da situação atual da área. Também serviu como material
para análise do quadro geral da vulnerabilidade e riscos ambientais, assim como prova material das
condições degradantes impostas pela pedreira instalada nos arredores das terras dos Pitaguary.
Entretanto, um dos problemas decorrentes da crescente urbanização e dos conflitos por
terras ocasionados, principalmente, pela pedreira, foi à localização e a identificação dos ―índios não
aldeados‖, que correspondem àqueles indígenas que não possuem residência nas terras demarcadas.
Recorreu-se na pesquisa a utilização de entrevistas estruturadas e semiestruturadas, com
agentes de saúdes que trabalham diretamente com a comunidade que cerca as terras indígenas.
A interpretação dos dados obtidos nos levantamentos de campo, referentes às entrevistas
realizadas na comunidade, foram de grande relevância para a composição final do quadro geral da
situação de insalubridade da população e vulnerabilidade territorial da comunidade indígena.
Verificou-se até onde os problemas, referentes à deterioração da saúde os riscos ambientais dos
indígenas está vinculada diretamente às ações da pedreira, e como alcançam e afetam essa
comunidade.

PATRIMÔNIO NATURAL, E VULNERABILIDADES DA SAÚDE

A realidade vivenciada pela comunidade Santo Antônio do Pitaguary na luta contra o grande
empreendimento da pedreira, deve-se ao fato que a mineração segundo a comunidade, está situada

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 227


em área de patrimônio natural do território tradicional, fazendo parte da memória e do patrimônio
cultural, sendo que inclusive constitui um espaço dedicado a realização de caças e rituais
tradicionais. Conforme Pellegrini (1993, p. 52). ―o patrimônio natural é defendido por aqueles que
criam laços, transformando-o também em patrimônio cultural a partir das relações construídas‖.
Os proprietários da área de mineração afirmam que as terras exploradas estão fora da terra
indígena demarcada, podendo assim agir de forma legal na atuação da exploração dos recursos
minerais na Serra da Pacatuba. Desta forma, nota-se uma intensificação nos conflitos territoriais. Os
indígenas não aceitam a pedreira nas proximidades da comunidade, devido aos efeitos da
degradação socioambiental ocasionada. Em decorrência da pedreira se encontrar próxima a
comunidade indígena, essa atividade vem acarretando consequências socioambientais graves para o
povo indígena, tais como a ocorrência da degradação de riachos afetando a qualidade e quantidade
da água e contaminando seus recursos alimentícios, antes consumidos por toda comunidade.
Outro aspecto versa sobre a problemática inerente a saúde, pois, as condições de saúde têm
sido afetadas também através dos impactos das explosões e sedimentos de pó da pedreira, elevando
assim o índice de doenças respiratórias que afetam diretamente as crianças e idosos da comunidade
pela maior vulnerabilidade dos mesmos.
Tal realidade fez com que em 2006, a Prefeitura de Maracanaú optasse trazer, para a área da
comunidade Santo Antônio do Pitaguary, um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS
específico para a população indígena (Figura 02).

Figura 02: Centro de Referência de Assistência Social localizado na Terra Indígena Pitaguary,
Fonte: Silva, 2014.

Funcionando com uma infraestrutura organizada, o CRAS indígena Pitaguary presta


serviços de atenção básica a famílias e indivíduos aldeados em situação de vulnerabilidade, além de
fazer o controle dos benefícios advindos de políticas assistenciais dentro da área de demarcação. O
CRAS de Santo Antônio do Pitaguary tem por objetivo trabalhar lado a lado com as políticas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 228


públicas na área da saúde, educação e assistência social, sendo o mesmo altamente necessário para
o atendimento aos pacientes enfermados em razão da atuação da pedreira.
Segundo médicos e agentes de saúde, desde a implantação da pedreira os números de causas
de doenças em conseqüências das grandes obras realizadas na Serra a Aratanha estão na proporção
de cerca de 9 para cada 10 moradores. Os mesmos sofrem ou já sofreram alguma enfermidade em
virtude dos sedimentos provocados pela mineração que se dispersam afetando toda a comunidade.
Os não aldeados ou ―folhas‖, como são chamados, aqueles que possuem descendência
indígena, porém não tem propriedades de terras nas áreas demarcadas, quando necessitam de
atendimento médico devem procurar as unidades de saúde do município de Maracanaú.
Em relação aos problemas ocasionados pela extração mineral, alguns ―folhas‖ têm
discordâncias de opiniões acerca das obras de atuação da pedreira, alguns trabalham ou já
receberam algum tipo de indenização do empreendimento, pois, são dependentes financeiros o que
os leva a não se posicionar em concordância com os restante da comunidade indígena que é contra a
exploração mineral.

A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM NA TERRA INDÍGENA PITAGUARY.

Outra preocupação da comunidade indígena são as transformações ocorridas na paisagem,


pois devido à intensa degradação, esta tem sofrido com os desmatamentos, acarretando com o
desequilíbrio das relações comunidade e natureza. Segundo Rodriguez et al. (2013, p. 15), a
paisagem pode ser conceituada como uma formação antropo-natural composta por um sistema de
―elementos naturais e antropotecnogênicos condicionados socialmente, que modificam ou
transformam as propriedades das paisagens naturais originais‖. As transformações paisagísticas
podem ser visualizadas na figura 03.

Figura 03 Degradação paisagística provocada pela mineração na Serra da Aratanha ,


Fonte: Silva, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 229


CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões realizadas neste estudo possibilitaram a discussões de propostas sendo uma


delas a de Zoneamento Ambiental para o desenvolvimento da comunidade, que é um instrumento
da Política Nacional do Meio Ambiente. A sua regulamentação se deu pelo Decreto n. 4.297 de
julho de 2002, tal procedimento e capaz de fornecer direcionamentos programáticos e normas gerais
para o disciplinamento dos usos dos recursos ambientais e da ocupação do solo, para que ambos
interessados, índios e mineradores possam sair beneficiados, considera-se que apesar de toda a
problemática da atuação da pedreira. Alguns não aldeados dependem financeiramente do
empreendimento, sendo assim a implantação de programas voltados para o melhoramento da
qualidade de vida e controle ambiental na comunidade tradicional e seu entorno.
Nesta questão de conflitos territoriais a comunidade Indígena Santo Antônio do Pitaguary ao
longo do tempo luta para desativação definitiva da pedreira, pois os mesmos afirmam que os
grandes empresários poderiam investir no sistema do ecoturismo na comunidade indígena, devido o
potencial turístico e cultural existente na região. Propõem-se também o deslocamento da mineração
para uma localidade mais distante da Terra Indígena Pitaguary.
O ecoturismo constitui uma atividade econômica que pode adequar-se plenamente na terra
Indígena Pitaguary, por ser uma atividade pouco impactante, quando é bem conduzida. Ela explora
os recursos paisagísticos típicos, contribuindo ainda para a conservação ambiental e a proteção do
patrimônio cultural, sendo os mesmos resgatados e valorizados. A Educação Ambiental e o
Ecoturismo devem formar parcerias e caminhar juntos na busca de um desenvolvimento local com
base sustentável, a figura 04 mostra o potencial natural local.

Figura 04- Potencial paisagístico da Terra Indígena Pitaguary,


Fonte: Silva, 2014.

É necessário realizar no território tradicional a pratica da Educação Ambiental como


instrumento de educação formal e informal, ajudando as comunidades a conviver melhor em seu

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 230


meio. As praticas devem ser direcionados tanto aos seus moradores, como aos visitantes da área. A
sua aplicabilidade pode ser por meio de atividades curriculares ou de maneira informal, com cursos
e oficinas que enriqueçam os saberes culturais e possibilite uma melhor relação com a natureza e
também a realização de oficinas pedagógicas pratica. Acredita-se que a leitura, diagnóstico e gestão
participativa nos territórios indígenas podem levar a uma melhor organização espacial em rumo a
um desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

Decreto 4.297, de 10 de julho 2002 - Regulamenta o art. 9o, inciso II, da Lei no 6.938, de 31 de
agosto de 1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico Econômico do Brasil -
ZEE.

GALDINO, L. K. A. Os caminhos da territorialidade da etnia Pitaguary: o caso da Aldeia de


Monguba no município de Pacatuba no Ceará. 119 f. Dissertação (Mestrado em Geografia –
Programa de pós-graduação em Geografia), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007.

GALDINO Lúcio Keury Almeida; Territorialidade, Meio Ambiente e Turismo: O Caso da Terra
Indígena dos Pitaguary no ceará. Fortaleza - CE 2014.

OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. A Geografia das Lutas no Campo. 6ª ed. São Paulo: Coleção
Repensando a Geografia, 1994.

PELLEGRINI, F. Américo. Ecologia, Cultura e Turismo. 6°Ed. Papirus, São Paulo - SP, 1993.

RODRIGUEZ, J. M. M.(Org.); SILVA, E. V. S.; CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das


Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 4. Ed. Fortaleza: Edições UFC, 2013.
222 p.

www.funai.gov.br

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 231


IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA PRAIA DE BÚZIOS - NÍSIA FLORESTA/RN

Larissa Freire de LIMA


Cursista do Curso Técnico Integrado de Geologia do Instituto Federal de Educação Ciencia e
Tecnologia do Rio Grande do Norte
larissafreire_13@hotmail.com
Viviane Feitoza CAVALCANTI
Cursista do Curso Técnico Integrado de Geologia do Instituto Federal de Educação Ciencia e
Tecnologia do Rio Grande do Norte
viviane.cavalcanti17@gmail.com
João Correia SARAIVA JUNIOR
Professor do Instituto Federal de Educação Ciencia e Tecnologia do Rio Grande do Norte
joao.correia@ifrn.edu.br

RESUMO
O turismo vem provocando diversas modificações nas paisagens particularmente nos municípios
litorâneos. Este artigo visa discutir os efeitos do turismo no bairro de Búzios, localizado no
município de Nísia Floresta no Rio Grande do Norte, em particular sobre a dinâmica geológica. A
metodologia é baseada em revisão bibliográfica, trabalhos de campo e realização de entrevistas com
moradores do local. Os resultados apontam que devido ao crescimento da construção civil e do
turismo na região, a praia de Búzios vem perdendo as suas principais características naturais.
Palavras-chave: Turismo, Praia, Nisia Floresta/RN

ABSTRACT
The tourism has led to several changes in landscapes particularly in coastal municipalities. This
article discusses the effects of tourism in Búzios, located in the municipality of Nísia Floresta in Rio
Grande do Norte, in particular about the geological dynamics. The methodology is based on
literature review, fieldwork and interviews with local residents. The results show that due to the
growth of the civil construction and tourism in the region, the beach of Buzios is losing its main
natural features.
Keywords: Tourism, beach, Nísia Floresta/RN

INTRODUÇÃO

No Brasil a região que mais se beneficia da prática turística é o Nordeste, pois possui
exemplos benéficos geradores de desenvolvimento regional, acarretando na produção de renda para
a população e no crescimento econômico. As atividades ligadas ao turismo são equivalentes a 9, 8%
do PIB da região, o que representa um faturamento de R$ 42,7 milhões por ano, de acordo com um

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 232


estudo do Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
(Fipe) (BRASIL, 2013).
O Nordeste é privilegiado quando diz respeito ao turismo, devido a sua vasta extensão de
costa e níveis elevados de insolação, somando-se a extensas áreas de baixa ocupação ou baixa
densidade demográfica e baixo custo da terra, sem contar com a grande proximidade geográfica
referente às regiões sul e sudeste do país que, por sua vez, é um importante polo emissor de turistas
(CRUZ, 2006). Nesse quadro o Nordeste torna-se palco de grandes transformações estruturais, para
receber de forma mais adequada os turistas nacionais e internacionais, essas transformações na
infraestrutura são efetuadas para sanar as exigências do mercado turístico.
O presente artigo tem como objetivo identificar os impactos ambientais potencializados pelo
turismo em Búzios no município de Nísia Floresta. Os objetivos específicos se debruçam sobre a
caracterização geoambiental de Búzios, discussão sobre a evolução do turismo nesta praia e a
identificação dos efeitos ambientais no ambiente litorâneo de Búzios/RN, provocados pelo uso
turístico.
Utilizamos um modelo de investigação para essa pesquisa que se baseou na realização de
um levantamento bibliográfico para obter informações sobre os aspectos geológicos das localidades
em questão, a fim de conhecer diferentes vertentes sobre o tema a ser tratado, explicitando seu
contexto histórico, origem, importância da região para a população nativa. Através dessas pesquisas
e em entrevistas com alguns moradores, um arqueólogo e um historiador, foram recolhidos dados
para assim explanarmos melhor sobre esse assunto tão pouco estudado.
As entrevistas foram realizadas em dezembro de 2013, utilizando-se um gravador e
documentos como fotos e textos fornecidos pelo arqueólogo W. S.. Foram entrevistados uma antiga
moradora nativa e um estudioso da área, ambas as pesquisas foram feitas em um só dia e
objetivavam somar informações a respeito do Bairro de Búzios, o qual se tem uma escassez de
informações concretas significativa.
A Praia de Búzios é um bairro pertencente à cidade de Nísia Floresta ao nordeste do Brasil,
no estado do Rio Grande do Norte também conhecida como região Agreste, representado na figura
1 e 2. A distância aproximada da Praia de Búzios e Natal é de 35 km, o Bairro concentra-se entre a
praia de Tabatinga e Pirangi do Sul, sendo pertencente a microrregião de Macaíba, na Mesoregião
do Leste Potiguar e no Polo Costa das Dunas. Sendo banhado pelo Oceano Atlântico, tendo como
coordenadas geográficas à beira-mar a latitude de 6°0'42"S e longitude 35°6'26"O (CORREIA,
MARQUES, PALHARES, RODRIGUES & TRINDADE, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 233


Figura 1 e 2-Fonte: Prefeitura Municipal de Nísia Floresta/RN
Fonte: Prefeitura Municipal de Nísia Floresta, 2007.

A estrutura do artigo visa inicialmente apresentar as características do meio físico, na


sequencia o turismo em Nísia Floresta enquanto importante atividade econômica e os efeitos
ambientais provocados por essa atividade na praia de Búzios/RN.

O TURISMO NO RIO GRANDE DO NORTE

Segundo Ruschmann (2004, p.12), o turismo é o maior dos movimentos migratórios da


história da humanidade e caracteriza-se por sua taxa de crescimento constante. Sobretudo a partir
dos anos 1970, a noção de turismo se altera e amplia, tornando-se uma palavra quase mágica, capaz
de ―acordar‖ mesmo pequenas comunidades esquecidas pela história que, subitamente, se
descobrem como destinações turísticas (VOISIN, 2004).
O Turismo constitui um bem simbólico da Sociedade Moderna, sendo considerado pelos
estudiosos como um dos fenômenos mais expressivos da Contemporaneidade, por envolver a cada
ano o deslocamento e a interação de milhares de pessoas de culturas diferentes, em lugares do
mundo inteiro (SOUZA, 2006).
Para o desenvolvimento do turismo o estado deve efetuar uma filtragem dos locais mais
propícios, como é o caso do litoral do RN que possui um cenário favorável para a prática de várias
formas de turismo, como o turismo de sol e praia, que é um dos focos desse trabalho. Além disso, o
RN também proporciona o turismo de aventura, o turismo cultural, o náutico e o turismo de
negócios.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 234
Natal, capital do Rio Grande do Norte, é afamada por muitos atrativos, tanto que é
conhecida como ―Cidade do sol‖, ―Capital mundial do Buggy‖, ―Terra do Camarão‖ e cidade onde
nasceu o forró. Tem cerca de 800 mil habitantes, recebe anualmente aproximadamente 2 milhões de
turistas, possuindo uma Costa Atlântica com mais de 400 km. A capital potiguar também apresenta
uma rede hoteleira com mais ou menos 25 mil leitos, um centro de convenções com auditórios
multiuso, com 4 mil assentos, de um total de 15 mil assentos, com auditórios equipados de forma
adequada. (Portal do Turismo do RN, Prefeitura Municipal de Natal).
O turismo é uma das atividades que mais contribuem para a economia do Rio Grande do
Norte, colaborando com geração de renda e empregos, em média segundo a Assessoria de
Comunicação do Rio Grande do Norte (ASSECOM/RN), chega a produzir 100 mil empregos e
possui cerca de 54 outras atividades relacionadas direta ou indiretamente. Vantagens comparativas
como ampla extensão de costa e altos níveis de insolação somam-se, no Nordeste, a poucos
constrangimentos espaciais, como extensas áreas de baixa ocupação ou baixa densidade
demográfica e baixo custo da terra, bem como maior proximidade geográfica. (CRUZ, 2006)
Portanto, a partir dos anos 1990, o litoral nordestino passou por um processo de ampliação e
modernização de seus aeroportos, somando as reformas rodoviárias. Nesse período foi investido
pela Política Nacional do Turismo US$ 16, 5 bilhões com o intuito de aprimorar a infraestritura do
território regional (BRASIL, 2002) e (CRUZ, 2006).

O TURISMO EM NÍSIA FLORESTA

Nísia Floresta, quando nos referimos ao potencial do espaço físico, tem grande capacidade
turística como é o caso do turismo de sol e praia e o turismo cultural. Mas, infelizmente, em alguns
casos não supre as necessidades básicas necessárias para que haja um crescimento significativo do
turismo local. Necessidades como saneamento básico, educação, infraestrutura, saúde, vias de
acesso, entre outros fatores essenciais a todo município são escassos em grande parte de Nísia
Floresta.
Esse problema tem sido debatido entre os políticos locais, onde, os mesmos têm apresentado
soluções, tais como o investimento em profissionais na área do turismo, manutenção dos atrativos
culturais, como o túmulo de Nísia Floresta, e uma maior divulgação através de folders elaborados.
No entanto, poucas das propostas foram postas em prática.
Nísia Floresta conta com mais de 20 lagoas abastecidas pelos lençóis freáticos, muitas com
excelente infraestrutura, belas paisagens e diversão fornecida pelos empreendedores locais, como,
por exemplo, a tirolesa ou o pedalinho na lagoa de Arituba (figura 3), dentre as muitas lagoas
também destaca-se a lagoa do Bonfim que, apesar de não fornecer boa infraestrutura é ótima para

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 235


velejar, pois tem a concentração de água bastante elevada, a lagoa do Carcará (figura 4) também
está entre as preferências dos turistas que chama atenção pelo diferencial que é o passeio de caiaque
e as águas cristalinas.

Figura 3 e 4-Lagoa de Arituba Carcará. Fonte: TripAdvisor, 2013.

Além das lagoas, Nísia Floresta contém belas praias, muitas, com cenários paradisíacos
como é o caso da praia de Tabatinga com ondas relativamente tranquilas e as suas tão conhecidas e
procuradas falésias, destacam-se também a Praia de Pirangi do Sul, Barreta e Camurupim com
águas tranquilas represadas por recifes, assim como destaca-se a Praia de Búzios, que é um dos
focos desse trabalho, alternada por águas calmas e violentas, sem contar nas dunas que também é
forte atração para os ―Bugueiros‖.
Segundo a Prefeitura Municipal de Nísia Floresta, artigo número 22 da Lei Complementar
do Plano Diretor Participativo de Nísia Floresta de 2007, a área especial de interesse turístico e de
lazer será classificada como área prioritária, de potencialidade turística, onde é possível o
desenvolvimento de planos e programas de interesse turístico, bem como a uso econômico da área
para dar suporte ao desenvolvimento da atividade turística e de lazer da população e dos turistas
visitantes.
Alguns dos eixos estratégicos que definem as diretrizes de expansão urbana e
desenvolvimento do território municipal, segundo a prefeitura de Nísia, serão: a consolidação da
atividade turística com o disciplinamento da ocupação do território, como fonte geradora de renda,
ocupação de mão de obra e polarizadora do desenvolvimento sócio econômico visando a um
controle da densidade demográfica, da distribuição estratégica dos equipamentos e serviços, da
diversidade morfológica e a incorporação ao poder público do papel de articulador de projetos
especiais focando o desenvolvimento do turismo sustentável.

ASPECTOS GEOLÓGICOS/GEOMORFOLÓGICOS DA PAISAGEM DE BÚZIOS/RN

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 236


Se tratando da área geológica Nísia floresta está inserida, principalmente, na abrangência da
Formação Barreiras, com idade geológica do terciário superior, onde tem predominância de argilas,
arenitos conglomeráticos, silíticos, arenitos caulínicos, inconsolidados e mal selecionados
(ANGELIM et al, 2006).

Figura 5 – Mapa geológico de Nísia Floresta. Fonte: IBGE, 2010.

As formações rochosas da Formação Barreiras como é citado na Figura 5 estão recobertas


localmente por extensas coberturas arenosas coluviais e eluviais indiferenciados que formam solos
altamente permeáveis e lixiviados, bem próximos ao litoral, reabrindo toda a sequência, estão as
peleodunas ou Dunas Fixas de idade Quaternária, composta por areia consolidadas e bem
selecionadas de origem marinha, que foram transportadas pela ação dos ventos, formando cordões,
atualmente fixados pela vegetação (ANGELIM et al, 2006).
Acompanhando a faixa litorânea estão depositados os sedimentos areno-quartizosos,
também de origem marinha, transportados pelos ventos que compõe as Dunas Móveis ou também
chamadas de Dunas recentes. Algumas das ocorrências minerais são a presença do mineral não
metálico-diatomito, entre outros (ANGELIM et al, 2006).
Quanto aos aspectos geomorfológicos, uma das características mais comuns do relevo de
Nísia Floresta é a presença de praias, dunas e beach rocks. Os processos morfodinâmicos exercem
grande influência na modelagem e remodelagem da linha de costa, sendo representados por ações
físicas, químicas e biológicas, podendo ser destrutivas, no caso da erosão, e construtivo, por
exemplo pela deposição de sedimentos. Tais mudanças são provocadas na maioria das vezes através
de três fenômenos essenciais: as ondas, as correntes costeiras e as marés (BAPTISTA NETO,
2004).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 237


As ondas são um dos processos marinhos mais eficientes na seleção e redistribuição de
sedimentos depositados nas regiões costeiras e plataforma continental interna. Mesmo depois que o
vento acaba, as ondas geradas viajam mantendo sua trajetória. Se uma partícula d'agua for
acompanhada durante uma onda em aguas profundas, percebe-se que esta faz movimentos orbitais
circulares, diminuindo de tamanho com a profundidade, até desaparecer antes de chegar ao fundo
submarino (BAPTISTA NETO, 2004). Em aguas profundas, as ondas não exercem nenhum efeito
no fundo, e não podem mover os sedimentos do fundo oceânico. Todavia, nas aguas rasas, as ondas
tocam o fundo, refletindo em modificações em seu comportamento.
Com a quebra das ondas numa posição obliqua a linha da costa, o transporte de sedimentos na
face da praia segue a direção de propagação. Contudo as correntes de refluxo, isto é, as ressacas
movem os sedimentos na direção do mergulho da praia. Como resultado deste fenômeno estabelece-
se um movimento de zig zag da onda.
A circulação perpendicular, também conhecida como corrente de retorno, se estabelecem em
locais em que as alturas das ondas são menores. Essas correntes de retorno são responsáveis pelo
transporte de sedimentos do fundo submarino para praia e vice versa (BAPTISTA NETO, 2004). A
região do Rio Doce, em Búzios, é um local de permanência dessas correntes de retorno o que torna
a praia uma área de grande risco, sendo responsável por um alto índice de afogamentos, uma vez
que, em função dessas correntes, os banhistas são arrastados pela corrente que cavam túneis quando
retornam para o oceano e as pessoas caem nessas valas, ou buracos.

PRAIA DE BÚZIOS: DA FORMAÇÃO AO USO PELOS TURISTAS

Em pleno século XVI, no Brasil o atual estado do Rio Grande do Norte, era de pleno
domínio da nação Potiguara, derivada da etnia Tupi, cujas aldeias situavam-se em ambos os lados
do rio Potengi. Segundo Cascudo, informações mais antigas indicam grande população indígena na
região onde se fundou a cidade de Natal. A caça, a pesca, o clima, as condições ecológicas de
persistência, ambientavam e mantinham uma sociedade indígena que ainda o português encontrou
prolífera e possivelmente feliz (CASCUDO, 1980:92).
O Rio Grande do Norte foi palco de grande transitoriedade de povos, bem como os
franceses, que fizeram amizade com os indígenas e logo começaram a praticar a troca de
mercadorias europeias por produtos exóticos da terra brasileira, principalmente, o pau Brasil e
utilizavam-se da terra Potiguar para descansar de suas grandes expedições, concertar suas
embarcações e firmar pontos para combater os portugueses (SPENCER, 1996).
Existe em Búzios uma região chamada de Rio Doce nome que já denominou o próprio local,
onde de fato, existe um rio, hoje, quase extinto. Mas que outrora serviu de fonte de abastecimento

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 238


de água doce para as grandes embarcações, tendo em vista que a água do Rio Potengi é salgada e
que Búzios também era utilizado como porto. Além de usufruírem da água, utilizavam-se dos
Búzios, os conhecidos buzinhos, eles retiravam grandes quantidades desse material e levavam para
a África, onde tinham valor de moeda e trocavam por escravos (SPENCER, 1996).
Por volta dos anos 1970, havia em Búzios umas duas casas que pertenciam uma ao Coronel
Pascal e a outra ao Cumpadre Dantas, sendo que a casa de Pascal era residência fixa e a de C.
Dantas era de veraneio. Antes dessas duas casas Búzios se ambientava basicamente de Dunas,
praias e lagoas. De 1970 em diante chegaram Marcelo Marcelino e sua esposa Francisca do
Nascimento, logo depois a família de Francisca firmou residência na praia de Búzios seguida pela
família Alves Freire. Antes mesmo de essas famílias firmarem residência já frequentavam o local
visando a pesca e esse foi o principal motivo de escolherem morar na praia (Entrevista com Antiga
moradora B.N.).
Os primeiros moradores do local afirmam que antes do crescimento populacional Búzios era
um verdadeiro paraíso, pois era um local calmo, onde, eles poderiam viver de forma harmônica com
a natureza. Usufruindo de suas propriedades naturais sem causar desequilíbrio ambiental. Outra
atividade econômica que os antigos moradores de Búzios praticavam era a fabricação de carvão
orgânico, a partir de Madeira extraída da flora local (Entrevista com Antiga moradora B.N.).
Pode-se dizer que a pesca foi um fator influente para o processo de povoamento da Praia de
Búzios, sendo esta uma das primeiras atividades econômicas do local. Nos tempos do ―ápice‖
pesqueiro o alvo não era apenas os peixes, mas também o sargaço (algas marinhas), que era
coletado da praia com o objetivo de vender para grandes empresas de cosméticos. Antes mesmo de
Búzios ser considerado bairro de Nísia Floresta, moradores de outros lugares como Alcaçuz e
Pirangi se dirigiam a praia para praticar a pesca. E foi assim que surgiu a pesca coletiva. A pesca
era realizada com certas regras, formuladas pelos próprios pescadores. Uma delas era a divisão dos
peixes, quem possuía rede de pesca ficava com metade dos peixes arrecadados, o restante era
dividido por igual entre os demais colaboradores.
A pesca era realizada da seguinte forma: enquanto dois pescadores seguravam ambas as
pontas da rede, outros pescadores, que ficavam em cima da jangada, seguravam um pedaço de
madeira para assustar os cardumes de modo que quando passassem perto da rede ficariam presos na
mesma. Com o passar do tempo à prática pesqueira foi diminuindo e a pesca coletiva foi tornando-
se escassa. Atualmente a pesca existente na praia de Búzios não é a principal fonte de subsistência
dos moradores, por diversos fatores. Os pescadores que ainda estão em atividade utilizam-se desse
meio, se não por lazer, para conseguir renda complementar.

VERANEIO E TURISMO: PRÁTICAS CRESCENTES EM BUZIOS/RN.


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 239
Ontem a pesca, hoje, o turismo e o veraneio, essas são as práticas de subsistência mais
significativas na Praia de Búzios nos dias atuais. Cada vez mais as praias do sul do Rio Grande do
Norte são procuradas pelos moradores das capitais com o intuito de buscarem tranquilidade e
diversão, esses são os principais fatores que aumentam cada vez mais essas práticas na Praia de
Búzios. O litoral de Nísia Floresta tem várias praias com as mais belas paisagens e Búzios está
incluso dentre elas, com uma praia exuberante alternada em locais calmos para pais e crianças e
violentos com grandes ondas que chamam a atenção dos surfistas, atrai todo tipo de visitantes das
mais diversas localizações.
Mais ao centro da praia de Búzios a beira mar existem as chamadas barracas, que são
variedades de restaurantes que funcionam, principalmente, no período do verão de dezembro a
março. Onde o movimento de clientes é crescente. Estas barracas localizam-se a beira mar e
estendem-se pela orla com mesas e guarda-sóis, felizmente elas realizam manutenção do lixo ao
final de cada expediente, impossibilitando a ida do mesmo ao mar. Lamentavelmente a Praia de
Búzios não tem saneamento básico e os dejetos são conduzidos a foças próprias de cada
estabelecimento, o que é extremamente negativo devido à proximidade desses dejetos aos lençóis
freáticos.
O veraneio e o turismo na praia de Búzios acarretaram não só no desenvolvimento
econômico do litoral, mas também trouxe consigo práticas até então não conhecidas no litoral como
o kitesurf, que é um desporto aquático onde se utiliza uma prancha e uma pipa, também conhecida
como papagaio. As figuras 6 e 7 ilustram essa atividade que atraiu a curiosidade dos turistas. O kite
é uma prática bastante propícia para a Praia de Búzios em decorrência de seus aspectos físicos como
as ondas grandes e os fortes ventos, o esporte tornou-se mais frequente após a abertura de uma
escola de aulas particulares do esporte na praia.

Figura 6 e 7 – kitesurf em Búzios/RN. Fonte: Évital, 2012.

Sem contar com a invasão de grandes construções a beira mar, como condomínios e
mansões para veraneio, exemplificado nas figuras 8 e 9. Essas grandes construções limitam o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 240


espaço da areia da praia de tal modo, que em muitos casos, atingem até mesmo o limite da maré
cheia, chegando a ocupar aproximadamente 5.650 metros da costa litorânea. E consequentemente,
os muros e alicerces das construções são destruídos pelas ondas.

Figura 8 e 9 – invasão das construções nos limites da praia. Fonte: dos autores.

―A maré ficava lá fora, quando era de noite a gente ia para as areias brancas. Deitávamos os
meninos e íamos para a praia. Agora não tem mais praia não. A maré toma conta.‖ Segundo uma
antiga moradora de Búzios, comentando acerca da invasão de construções no limite da praia.
De acordo com Pye & Tsoar (1990) a morfologia de dunas costeiras está ligada diretamente
a quatro fatores principais que são: a morfologia da praia e dinâmica da linha de costa, nas quais
influenciam, por exemplo, na taxa de suprimento de areia; a características do vento, incluindo a
distribuição da intensidade, frequência e variabilidade direcional; a extensão e crescimento da
cobertura vegetal e as atividades humanas, que podem trazer impactos diretos e indiretos
(ARAÚJO, 2004).
A área de estudo apresenta-se profundamente modificada pela ação do homem, parte da
região dos corredores de vento é hoje ocupada por residências (ARAÚJO, 2004). A atividade
antrópica vem crescendo intensamente, provocando a diminuição drástica das áreas. Em Búzios,
devido ao desordenado crescimento das construções, a forma das grandes aglomerações de areias
vem sendo alteradas, como as dunas são as principais protetoras da ação do mar na zona de praia, à
retirada dos sedimentos e a terraplanagem dos terrenos contribui para degradação das proteções
naturais opostas as ressacas marinhas. Além de implicar também na perda de uma parte da
diversidade vegetal e animal da região (CORREIA, MARQUES, PALHARES, RODRIGUES &
TRINDADE, 2013).

CONCLUSÃO

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 241


O crescimento no setor turístico é algo evidente, considerando-se sua magnitude a nível
mundial, podemos concluir que seu desenvolvimento pode acarretar tanto aspectos ambientais
positivos, quanto negativos. Portanto, no Município de Nísia Floresta não poderia ser diferente.
Búzios, bairro de Nísia F. como um dos principais pontos turísticos do município é influenciado
pela circulação turística. O turismo proporciona a Praia de Búzios visibilidade no cenário nacional e
internacional, o que é um fator positivo para a localidade, pois com uma maior visibilidade,
teoricamente, maiores serão as melhorias infraestruturais por parte dos governantes e maior o
crescimento da economia local.
Mas, no entanto, a Praia de Búzios sofre com a ação antropológica, tendo em vista que
grande parte dos empreendedores não está preocupada com a fauna e flora local, construindo
grandes edificações a beira mar sem atentar para os limites da orla ou invadindo as dunas, grande
atrativo do cenário.
Búzios como um lugarejo formado inicialmente de dunas e mar vem perdendo
crescentemente as suas características particulares, dando lugar a construções com o intuito de
melhorar as acomodações para os possíveis turistas. Todavia, os governantes deveriam tomar
providências cabíveis para unir o útil ao agradável e entrar em um consenso com os órgãos de
empresas privadas empreendedoras para criar e construir de forma sustentável explorando de forma
benéfica o meio ambiente do cenário local.
A carência de estudos relacionados ao turismo e seus impactos, bem como outras atividades
presentes na Praia de Búzios é gritante, espera-se que este artigo possa abrir caminho para futuros
estudos que envolvam a localidade, pois a mesma possui grande potencial de estudos, tanto turístico
quanto biológico, no que diz respeito à fauna e flora marinha.

REFERÊNCIAS

ANGELIM, Luiz A. A. et al. Geologia e Recursos Minerais do Estado do Rio Grande do Norte:
Texto Explicativo dos Mapas Geológico e de Recursos Minerais do Estado do Rio Grande do
Norte - Escala 1:500.000. CPRM: Recife, 2006.

ARAÚJO, Veronica Dantas de. Mapeamento geológico de uma área entre natal e nísia floresta - rn
com ênfase na geometria de depósitos eólicos. 2004. Natal. In: Brasil.

ASSECOM/RN. Turismo, 2014. Disponível em:


<http://www.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=12096&ACT&PAGE=0&PARM
&LBL=Conhe%E7a+o+RN>. Acesso em: 30 de setembro de 2014.

BAPTISTA NETO, J.A. et.al. Introdução à geologia marinha. Interciência, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 242


CORREIA, MARQUES, PALHARES, RODRIGUES, TRINDADE. Antropismo e devastação das
dunas na praia de búzios em Nisia Floresta/RN. 2013.

CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Planejamento governamental do turismo: convergências e


contradições naprodução do espaço. En publicación: América Latina: cidade, campo e turismo.
Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo, María Laura Silveira. CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre 2006.

JACOMINE, P. K. T. et al. 1971. Levantamento exploratório-reconhecimento de solos do estado do


Rio Grande do Norte. SUDENE/Divisão de Pesquisa Pedológica, Recife, v. 1, 531 p. (sér.
Boletim Técnico, n. 21; sér. Pedologia, n. 9).

NUNES, Elias. Geografia física do Rio Grande do Norte. 1 ed. Natal: Imagem Gráfica, 2006.

PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro, IBGE, 1974.

PRATES, M., GATTO, L. C. S. & COSTA, M. I. P. Geomorfologia. In: BRASIL


PROJETORADAMBRASIL. 1981. Folhas SB. 24/25 Jaguaribe/Natal. Rio de Janeiro: Projeto
RADAMBRAIL. (série Levantamento de Recursos Naturais, v. 23). P. 349-484. 1981.

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 8 ed. São Paulo:
Contexto, 2005.

SILVA, João dos Santos Vila da; SANTOS, Rozely Ferreira dos. Zoneamento para planejamento
ambiental: vantagens e restrições de métodos e técnicas. Revista caderno de ciências e
Tecnologia, Brasília, v. 21, n. 2. p. 221-263, maio/ago. 2004.

SPENCER, Walner Barros. Ecos de silêncio. Sebo Vermelho, 2010.

VITAL, Rogério. É Vital assessoria e marketing esportivo, 2012. Disponível em:


<http://rogeriovital.com.br/albums/view/8/>. Acesso em: 29 de setembro de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 243


PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE VIANA, MARANHÃO -
BRASIL

Vitória da Silva Ferreira de LIMA


Aluna do Ensino Médio do COLUN (UFMA)
vitoria_sfl@hotmail.com
Brunno Jansen FRANCO
Aluno do Curso Técnico em Meio Ambiente COLUN (UFMA)
brunno_jfranco@hotmail.com
José Angelo Cordeiro MENDONÇA
Orientador
jose.angelo@ufma.br

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo diagnosticar as condições socioambientais do município de
Viana (integrante da Baixada Ocidental Maranhense), visitando as principais áreas impactadas,
dando destaque ao desequilíbrio ambiental causado pela redução da fauna e da flora e à introdução
de espécies exóticas, identificando as diversas formas de uso, classificando as formas e os agentes
de ocupação.
Palavras-chave: Baixada Maranhense, Viana, Impactos Ambientais

ABSTRACT
The present work aimed at diagnosing the environmental conditions of the municipality of Viana (
integral Baixada Ocidental Maranhense ) browsing the main impacted areas, highlighting the
environmental imbalance caused by the reduction of fauna and flora and the introduction of exotic
species, identifying the different forms of use, classifying the forms and agents of occupation.
Keywords: Baixada Maranhense, Viana, environmental impacts

INTRODUÇÃO

A Baixada Maranhense situa-se na porção centro-norte da área de transição entre a


Amazônia e o Nordeste Brasileiro, possuindo uma parte expressiva da população maranhense,
segundo dados do IBGE (2010)1. A cidade de Viana está localizada na Baixada Maranhense e
constitui um eco complexo composto por lagos, estuários, agroecossistemas e áreas urbanas, além
de campos naturais e um grande sistema de áreas inundáveis característicos a esta região2. Porém,
desde o início da ocupação da Baixada Maranhense, os habitantes não vem se preocupando com a
problemática causada pela exploração indevida da área, gerando grandes transtornos para a atual

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 244


população, que está vivendo diretamente e em escalas maiores com as consequências causadas por
tais impactos.
Alguns fatores contribuem para que a situação se agrave ainda mais, tais como a plantação
irregular do arroz no leito do rio e o consequente assoreamento do mesmo, além da implantação do
gado bubalino na região.
O trabalho ora proposto, a partir do levantamento de informações e conclusões apresentadas,
pode se constituir em mais um elemento de auxílio à gestão dos recursos naturais no município de
Viana; assim como alimentar o projeto Biblioteca Digital da Baixada Maranhense, voltado para a
discussão dos assuntos relacionados à região.

MÉTODOS

Para a execução dos objetivos propostos neste trabalho foram utilizados métodos e técnicas
de análise geográfica. Tendo como ferramenta diferentes procedimentos a partir da visita de campo
e analise de dados.
No primeiro momento, antes da viagem de campo, foram feitos levantamentos
bibliográficos, tais como leituras de obras, aulas e discussões, onde estiveram presentes professores
e alunos envolvidos nas pesquisas, para que pudessem ser feitas as devidas conclusões relacionadas
à temática do trabalho.
Durante a viagem de campo, o grupo envolvido no projeto Biblioteca Digital da Baixada
Maranhense, sendo esta uma plataforma digital de domínio público contendo trabalhos acadêmicos,
acervos particulares e relatos orais de memória referentes à microrregião da Baixada Maranhense,
fez levantamento de dados através de registros fotográficos e diálogos orais com moradores locais,
que foram devidamente registrados através de anotações e gravações (autorizadas pelos
entrevistados), para que posteriormente servissem de relatórios relacionados à problemática.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O município de Viana, assim como os demais municípios da Baixada, foi fundado e cresceu
em função dos ricos recursos obtidos da natureza, principalmente dos seus sistemas fluviais. Porém
a exploração indevida acarretou em diversas problemáticas relacionadas ao meio. Por ser uma
cidade que cresceu em função dos rios, os impactos ambientais estão principalmente relacionados a
eles.
Banhada pelo Rio Maracu, Viana enfrenta atualmente grandes dificuldades geradas pela
utilização indevida- geralmente visando algum retorno financeiro- de seus sistemas lacustre e
consequentemente da fauna e flora situada às suas margens.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 245


PLANTAÇÕES DE ARROZ

O arroz, que começou a ser plantado em maior escala em Áreas de Proteção Ambiental em
meados de 2007, vem causando grandes preocupações para os moradores ribeirinhos e para os
ambientalistas de toda região. Tal preocupação está relacionada à grande capacidade que o arroz
tem de absorver água, aumentando a possibilidade de invasão de águas salgadas, pondo em risco o
desaparecimento de peixes e os outros animais que dependem da água doce para sobreviver.
As plantações são feitas em áreas de proteção ambiental e para piorar a situação são
colocadas cercas, por vezes eletrificadas, para delimitar o ―território‖ de cada produtor. Quando o
período de colheita termina, as cascas do arroz são simplesmente jogadas nas águas, sendo
transportadas pela corrente, que logo em seguida depositando-se no fundo do rio, o que aumenta o
processo de assoreamento. Esse entulho é mais um dos fatores prejudiciais aos pescadores, que
além de não conseguirem peixes, também não podem navegar pelos rios.
O arroz, mesmo que traga uma forma de renda temporária para os trabalhadores da lavoura,
está prejudicando a pesca (principal forma de subsistência da população ribeirinha), e danificando o
meio ambiente.

Assoreamento do Rio

Outro indicador de desequilíbrio é o assoreamento do rio causado pela própria ação da


natureza, influenciada pelas atividades antrópicas como o desmatamento da mata ciliar e a
utilização da madeira das árvores para fins econômicos.

Criações Bubalinas

Praticamente todos os rios, campos alagados e o ecossistema geral da Baixada Maranhense


vem sendo pátio para a criação de búfalo, que se instalou na região como uma tentativa de alavancar
a economia maranhense, em especial a da baixada.

―Inicialmente, a chegada dos búfalos na Maranhão foi apresentada por planejadores estatais
como a redenção econômica da Baixada. Na segunda metade dos anos 1960, o governo
incentivou a importação de búfalos para o Estado com o apoio da SUDAM e Embrapa; o
Banco do Estado do Maranhão (o extinto BEM), Banco da Amazônia e o Banco do Brasil
financiaram os criadores para adquiri-los. Atendendo a solicitação de agropecuaristas, o
Banco do Brasil e o Banco da Amazônia abriram uma linha de crédito especial para a
bubalino cultura. A política de financiamento se apresentava muito atrativa, fornecendo
juros anuais de 7%, ao prazo de 12 anos com seis de carência‖ 3.

No entanto, não se levou em conta os impactos que estes ocasionariam, observando-se que
atualmente os problemas referentes à criação de gado são maiores que os lucros obtidos com o
mesmo, destacando a contaminação por suas fezes que são depositadas no rio, a grande área que é

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 246


reservada a eles, sendo que estas muitas vezes são APP‘s e a compactação do solo de várzea,
tornando-os impermeáveis, dificultando a renovação dos lençóis freáticos 4.

CONCLUSÃO

Os principais fatores de desequilíbrio ambiental presentes em Viana, assim como nos demais
municípios da Baixada Maranhense, estão diretamente relacionados à ação antrópica, que ocorre de
maneira irregular e imprudente, não respeitando as leis que proíbem a ocupação e utilização das
áreas que atualmente se encontram como centro das discussões sobre impactos ambientais na área
acima estudada. Geralmente tais ações são motivadas pelo interesse meramente lucrativo que a
região oferece aos grandes produtores rurais, que não consideram a forma como seus produtos serão
prejudiciais à natureza e à população local. Segundo Nonato Reis, ―Decretar sua morte (Rio
Maracu) é assinar o atestado de óbito do ecossistema de uma vasta região da Baixada, que se
mantém graças a um delicado equilíbrio de enchente e vazante. E, em última instância, é selar o
destino de populações ribeirinhas, já tão massacradas pela ausência de políticas públicas‖.
O trabalho proposto atingiu os seus objetivos, ao diagnosticados os principais fatores de
impactos ambientais e as suas consequências, e os fatores sociais que os envolvem.
“Só quando a ultima árvore for derrubada, o ultimo peixe for morto e o ultimo rio poluído, é que o
homem perceberá que não pode comer dinheiro.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE. Resultados do censo 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.gov.br.

CONCEIÇÃO. M.V.S.; MOREIRA, J.F.; FARIAS FILHO, M.S. O espaço Natural da Baixada
Maranhense. In O Espaço Geográfico da Baixada Maranhense. São Luís, MA. JK gráfica
Editora, 2012.

(SMDDH, 1993)

LAFONTAINE. L.C. & FARIAS FILHO, M.S. Implicações Territoriais da Bubalinocultura


Extensiva na Baixada Maranhense. In O Espaço Geográfico da Baixada Maranhense. São Luís,
MA. JK gráfica Editora, 2012.

Provérbio Xingu.

Fomento:

PIBIC / CNPq; FAPEMA.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 247


IDENTIFICAÇÃO DA FLORA PIONEIRA COMO BIOINDICADOR EM AREA
DEGRADADA POR QUEIMADA

Ana Lúcia Araújo CUNHA


Graduanda do Curso bacharelado em Agroecologia-UEPB
anahsamu@yahoo.com.br
Vanuze Costa OLIVEIRA
Doutoranda em Ciencias do Solo - UFLA
vanuze.costa@gmail.com
José Emídio de ALBUQUERQUE JUNIOR
Graduando do Curso bacharelado em Agroecologia - UEPB
emidio.agro@gmail.com
Alexandre Costa LEÃO
MSc. Docente da UEPB
acostaleao@yahoo.com.br

RESUMO
As ações antrópicas ao longo dos tempos têm alterado a fertilidade dos solos e reduzido a
capacidade dos bioindicadores de indicar o nível de degradação de um ambiente.
As ocorrências de queimadas e incêndios provocam mudanças na florística e na estrutura da
vegetação. Pode ocorrer diminuição de densidade de árvores e arbustos favorecendo o
estabelecimento certas espécies e provocando eliminação de espécies sensíveis. As ervas
espontâneas desenvolveram mecanismos de defesa para a perpetuação da espécie, tais como, grande
produção e capacidade de disseminação de sementes, além da alta longevidade. Apesar das plantas
espontâneas apresentarem risco para a produção agrícola, elas possuem funções de grande
importância para o reconhecimento de determinadas áreas; elas atuam como bioindicadoras: acidez
do solo, ausência/presença de determinado nutriente, desestruturação do solo, falta/excesso de água.
Também contribuem com a disponibilização de nutrientes ao solo, ciclagem de nutrientes e
contribuição para a diminuição da erosão do solo. O presente trabalho objetivou-se identificar a
flora pioneira como bioindicadora em área degradada por queimada analisando as espécies
ressurgidas das cinzas. Foram identificadas 11 famílias botânicas, do qual destacou-se a família
Poaceae, exemplificando a espécie Cynodondactylon conhecida popularmente por Grama de seda
ou de Burro
Palavras-chave: Ervas espontâneas, solo compactado, degradação

ABSTRACT
Anthropogenic actions over time have altered soil fertility and reduced the ability of the biomarkers
to indicate the level of degradation of anenvironment. Fire occurrences and fire causes changes in

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 248


floristic and vegetation structure. Decrease in density of trees and shrubs may occur favoring the
establishment of individual species and causing elimination of sensitive species. The weeds have
developed defense mechanisms to the perpetuation of the species, such as large capacity production
and dissemination of seeds, besides the high longevity. Despite the weeds present risk to
agricultural production, they have functions of great importance for the recognition of certain areas;
they act as bioindicators: soil acidity, absence / presence of a certain nutrient, soil disruption, lack /
excess water. Also contribute to the availability of nutrients to the soil, nutrient cycling and
contribution to the reduction of soil erosion. This study aimed to identify the pioneer flora as
bioindicator in degraded area burned by analyzing the resurgent ashes species. 11 botanical
families, which we can highlight the Poaceae family, exemplifying the kind (Cynodondactylon)
popularly known as Silk Grass or Ass, he resurfaces after burning indicating a very compacted soil
were identified. However the use of pastures in the process of recovery of degraded soils has been
an alternative to mitigate the process.
Key words: Spontaneous Herb, compacted soil, degradation

INTRODUÇÃO

Os agroecossistemas estão constituídos por múltiplos sistemas solo, vegetação, macro e


microrganismos que interagem e competem dentro de um sinergismo, devido em grande medida à
diversidade de seus componentes. Esta biodiversidade exerce influência ao nível de todos os
componentes do agroecossistema (Labrador Moreno & Altieri, 1994).
Os ecossistemas têm a capacidade de produção, e ainda, as bases do enfoque agroecológico
visam manter a produtividade agrícola, mantendo a capacidade produtiva do solo, a qualidade e a
quantidade dos alimentos a longuíssimo prazo. Sob o ponto de vista mais teórico e atual, a
agroecologia precisa estar alicerçada a uma abordagem sistêmica, caso contrário não é possível
entender esta ciência sobre os vários aspectos que a mesma se propõe.
O enfoque agroecológico analisa os ecossistemas agrícolas como as principais unidades de
estudos, suas particularidades e as interações que ocorrem com as mesmas e são fundamentais nos
estudos dentro da agroecologia. (Gliessman, 2003).
Essa ciência visa contribuir com as sociedades, para que possa haver um redirecionamento
do curso alterado da co-evolução social e ecológica, nas suas mais diferentes inter-relações
(CAPORAL et. al, 2009). Os autores afirmam que essa ciência consegue entender as relações entre
―sociedade/indivíduo/natureza/ economia/cultura/política‖, as quais são inseparáveis na visão dos
mesmos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 249


A Agroecologia tem como um dos seus objetivos, práticas que contribuam com o
desenvolvimento agrícola, sem, no entanto, ocasionar degradações ambientais que o cultivo possa
provocar.
Dentre as práticas agrícolas que têm sido desenvolvidas nos últimos anos e que esta ciência
objetiva minimizar e/ou eliminar é a queimada, que ocasiona sérios danos ao ambiente edáfico,
principalmente no que diz respeito a biota, já que a maioria dos microrganismos do solo são
sensíveis a altas temperaturas. Isso também proporciona modificações desastrosas nas
características físicas e químicas. Além disso, as ocorrências de queimadas e incêndios provocam
mudanças na florísticas e na estrutura da vegetação (Frost &Robertson 1987; Agee 1993; Medina
&Huber 1994).
As plantas desenvolvem mecanismos que possibilitam a sobrevivência em determinados
ambientes que passaram por um estresse, como em áreas que passaram por queimadas. Os vegetais
que em seu sistema radicular conseguem armazenar altos teores de carboidratos possuem maior
resiliências a estas situações estressantes. Por exemplo, nestes ambientes, é comum o surgimento
das ervas espontâneas, pois além de possuírem alta capacidade de perpetuação, elas desenvolvem
mecanismos de resistência, como o citado acima e alto poder germinativo quando oferecidas as
mínimas condições para a germinação.
Ações antrópicas, ao longo dos tempos têm alterado a fertilidade dos solos e reduzido a
capacidade dos bioindicadores de indicar o nível de degradação de um ambiente. Para Wink &
Jerson (2005), cada espécie responde de forma diferenciada a um distúrbio, sendo fundamental,
reconhecer a sua interação com as alterações ambientais, bem como reconhecer e entender a sua
evolução, tanto em locais degradados como em estágio de recuperação.
Erva espontânea é toda planta que, sem a interferência humana, tem a capacidade de brotar,
nos mais diversos ambientes e condições. A termologia erva espontânea, deve-se ao fato destas
plantasterem grande capacidade de nascerem e se reproduzirem sem serem cultivadas pelo homem.
As ervas espontâneas desenvolveram mecanismos de defesa para a perpetuação da espécie,
tais como, grande produção e capacidade de disseminação de sementes, além da alta longevidade.
Isso torna as ervas espontâneas, também consideradas invasoras ou daninhas, altamente competitiva
com as culturas de interesse agrícola; competindo por nutrientes, água e luminosidade.
Um dos maiores problemas relacionado à perpetuação das ervas espontâneas, é que estas,
além de produzirem elevada quantidade de sementes, ainda têm a capacidade de dormência
temporária, ou seja, podem passar muitos anos sem germinarem, vindo a germinar muitos anos mais
tarde quando condições favoráveis para germinação são oferecidas para as citadas plantas. (Matter,
2002)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 250


Apesar das plantas espontâneas apresentarem risco para a produção agrícola, elas possuem
funções de grande importância para o reconhecimento de determinadas áreas; elas atuam como
bioindicadoras: acidez do solo, ausência/presença de determinado nutriente, desestruturação do
solo, falta/excesso de água. Também contribuem com a disponibilização de nutrientes ao solo,
ciclagem de nutrientes e contribuição para a diminuição da erosão do solo (MEDA et al., 2002).
Neste contexto, objetivou-se identificar as espécies pioneiras como bioindicadoras em área
degradada afetada por queimada.

METODOLOGIA

Identificação da área de estudo

A identificação da vegetação espontânea foi realizada no mês de Março de 2012 na


propriedade Olho D‘água localizada na zona rural do município de Lagoa-Seca, no estado da
Paraíba, em área de reserva ambiental, que havia sido atingida por um incêndio criminoso,
localizado nas coordenadas geográficas de latitude 7º 09‘ S; longitude 35º 52‘ W e altitude 634 m.

Figura:1: Localização de Lagoa Seca, no Estado da Paraíba.

HISTÓRICO DA ÁREA DE ESTUDO

A propriedade pertencente à Família Farias Alves desde 1975, possui uma área de 20
hectares, destes10 ha são destinados a reserva nativa. Até meiados da década de 90, ela foi
considerada uma das mais importantes produtora de cará preto, mandioca e feijão carioquinha do
brejo paraibano, além de benificiadora e destribuidora de farinha brejeira, onde com a seca ocorrida
nesta década essas funções foram extintas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 251


Com a passagem do período de estiagem, os irmãos Farias Alves voltaram a ser conhecidos
como produtores de Citros, destacando-se a produção de Laranja Pocan e Cravo, chegando a
produzir em torno de 2.000 a 2.500 caixas de laranja no periodo de Setembro a Novembro.
Orgulhosos com os resultados alcançados com a nova produção e faturamento da produção,
em março de 2012 misteriosamente uma parte da área de reserva é encontrada em chamas,
atingindo também o plantio comercial de citros além de mangueiras e cajueiros, cerca de três
hectares foram atingidos pelo fogo.

Figura 2. Área de reserva ambienatl antes da queimada.

Figura 3. Área da Reserva após ser atingida pelo fogo.

Figura 4. Área de interesse agrícola atingida pela queimada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 252


Figura 5. Área comercial totalmente queimada comprometento 100% de toda produção.

Levantamento florístico

Foi realizada uma pesquisa de campo, com a finalidade de se identificar as espécies


pioneiras como bioindicadoras nesta área atingida pela queimada. A área avaliada corresponde a
0,25 ha ou 2.500 m², delimitada em parcelas com dimensões de 1m², escolhidas aleatoriamente.
Para o reconhecimento das espécies, contou-se com o auxílio do produtor rural e Técnico
Agrícola Erivan Farias Alves que possui alto conhecimento das espécies daquela região. Além do
auxílio do manual de identificação e controle de plantas daninhas. Este também foi utilizado para a
identificação da nomenclatura científica e a autoria das espécies. Para a classificação das espécies
dentro das famílias, usou-se como base o sistema APG II (LORENZI 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificadas 11 famílias e 21 espécies espontâneas na área atingida por queimada, a


saber: Albizia polycephala (Benth) Killip, Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret, Mimosa
caesalpiniifolia Benth, Spondias mombim Jaeq, Anacardium occidentale L., Cymbopogon
martiniivar sofia Bruno, Panium maximum, Cynodon dactylon (L.) Pers, Cynodon dactylon,
Sporobulus indicus, Bowdichia virgilioides kunth, Mimosa pudica L., Caesalpinia férrea, Borreria
verticillata (L.) G. Mey., Richardia brasiliensis, Cecropia pachystachya, Psidium araçá Raddi,
Petroselinum sativum L., Lantana camara L., Anodacristata (L.) Schltdl., Solanus paniculatum L.
Do total de famílias identificadas, a que apresentou o maior número de espécies foi a
Poaceae, com cinco espécies no total, isso devido, em especial, ao fato de esta família botânica ter
como principal característica, o armazenamento de carboidratos em seu sistema radicular,
favorecendo, assim, a alta capacidade de rebrota quando as plantas passam por um estresse severo,
como ocorreu na área de estudo. Um trabalho realizado por Corrêa et al. (2011) corroboram os
resultados encontrados neste trabalho, estes pesquisadores detectaram a família Poaceae como uma
das mais representativa em números.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 253


A segunda família com maior número de espécies foi a Fabaceae mesma quantidade de
espécies identificadas na família botânica Mimosaceae. O aparecimento destas plantas varia de
acordo com diversos fatores, como uso e manejo do solo, características do ambiente edáfico:
físicas, químicas e biológicas. Em uma condição bem distinta da realizada neste estudo, Sousa et al.
(2011) constataram que a família Asteraceae é a que tem surgimento pioneiro quando há o cultivo
de Jatropha Sp.
Outras famílias foram encontradas: Anacardiaceae, Rubiaceae, Cecropiaceae, Myrtaceae,
Umbelliferae, Verbenaceae, Malvaceae e Solanaceae. As duas primeiras famílias apresentaram
duas espécies, as demais famílias foram identificadas apenas uma espécie de cada (Figura 6).

Fig. 6: Representação em porcentagem das famílias Botânica identificadas.

As espécies espontâneas identificadas na área atingida são mostradas na tabela 1. Estão


apresentadas as famílias botânicas, o nome comum e o nome científico.

Família Botânica Nome comum Nome científico


Camuzé Albizia polycephala (Benth) Killip
Mimosaceae Jurema Preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret
Sabiá Mimosa caesalpiniifolia Benth.
Cajá Spondias mombim Jaeq
Anacardiaceae
Caju Anacardium occidentale L.
Capim Gengibre Cymbopogon martinii var Sofia Bruno
Capim Colonião Panium maximum
Poaceae Capim Seda Cynodon dactylon (L.) Pers
Grama de Burro Cynodon dactylon
Capim Luca Sporobulus Indicus
Sicupira Bowdichia virgilioides kunth
Fabaceae Malicia Mimosa pudica L.
Pau de Ferro Caesalpinia férrea
Vassoura de Botão Borreria verticillata (L.) G. Mey.
Rubiaceae
Poaia do Campo Richardia brasiliensis

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 254


Cecropiaceae Imbaúba Cecropia pachystachya
Myrtaceae Araçá Psidium araçá Raddi
Umbelliferae Salsa Petroselinum sativum L.
Verbenaceae Chubim Lantana camara L.
Malvaceae Vassourinha Anodacristata (L.) Schltdl.
Solanaceae Jurubeba Solanus paniculatum L.
Tabela 1: Tabela representativa das espécies por famílias, nome comum e científico.

Oliveira & Franklin (1993), observando efeito do fogo sobre a mesofauna do solo,
reconhecem que a perturbação exercida do ambiente resulta no desaparecimento de vários grupos
taxonômicos, principalmente, nos períodos iniciais após a queima. percebeu-se que a baixa
densidade de algumas espécies registrou-se na área queimada, o surgimento da família poaceae
fortemente relacionada ao desenvolvimento da cobertura vegetal.
Para Rovedder et al. (2004), devido à alta sensibilidade as alterações ambientais, a fauna
edáfica vem sendo utilizada como indicador da qualidade do solo e, constataram que em
área degradada houve um menor número total de organismos e um menor índice de
diversidade, além de um menor número de collembolos, evidenciando as características de
solo degradado pela arenização. Nesse sentido, Steffen et al. (2004), reafirmam a eficiência dos
collembolos como bioindicadores da qualidade do solo. No entanto a presença da espécie Poaceae
conhecida popularmente com capim de seda ou burro ele indica solo muito compactado.
Já para Sauteer et al ( 1998) a utilização de pastagens nos processos de recuperação de
solos degradados tem sido mais uma alternativa para mitigar o processo, embora, o excesso
esteja comprovado que degradam o solo.
Em condições de desequilíbrios nutricionais, as plantas adaptadas possuem a capacidade de
exudar compostos que auxiliam a simbiose ou mesmo ácido orgânicos de baixo peso molecular que
possuem a função de solubilizar formas não-lábeis e servem de fonte de energia para
microrganismos da rizosfera destas plantas (Silva et. al., 2001; Siqueira& Moreira, 2002). Colocar
mais coisas Certas plantas podem indicar as condições atuais do solo, desde que, considere os
processos sucessórios, estratégias competitivas e distúrbios na sua maioria antrópicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando uma área é afetada por estresses como queimadas por exemplo, as ervas
espontâneas pertencentes à família Poaceae são as primeiras a ressurgirem, isso devido essas plantas
terem a capacidade de armazenar aminoácidos em seu sistema radicular favorecendo, assim, sua
rebrota pioneira, quando comparada à outras famílias botânicas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 255


Embora este estudo tenha atingido as expectativas na identificação de flora pioneira em área
degradada por queimada, catalogados 11 família e 21 espécies, destacando-se a família Poaceae
como bioindicadora de solo degradado.
Pode-se dizer que poucos são os conhecimentos sobre as plantas indicadoras da condição de
solos após queimada, por isso são necessários mais estudos em áreas de queimadas, já que a relação
solo/planta é de grande importância para a agroecologia e a humanidade como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, M.J.P.; ARAÚJO, M.S.; SILVA, M.R.M.; FREITAS, A.C.R. Levantamento da flora
espontânea na cultura do feijão-caupi sob manejo de capoeira triturada no município de Santa
Luzia do Paruá - MA. Cadernos de Agroecologia, v.6, n.2, 2011.

Foste, P.G.H & Robertson,F .1997. The ecological effects of fire in savanna Pp 93-40. In: BH
walter (ed) Determinants of Tropical Savana. Oxfort, IRL Press.

LABRADOR MORENO, J.; ALTIERI, M. Manejo y diseño de sistemas agrícolassustentables. In:


HOJAS Divulgadoras. Madrid: Instituto Nacional de Reforma y Desarrollo Agrario, Ministerio
de Agricultura, Pesca y Alimentacion, 1994. 52p. (n. 6-7).

LORENZI, H. 2014. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e


convencional. 7º Ed. Plantarum, Nova Odessa, Brasil 269pp.

MATTER, G. Plantas Daninhas: Invasores ou Úteis? Disponível em:


http://www.paisagismobrasil.com.br/index.php?system=newsenews_id=1415eaction=read.
Acesso em: 21 de Dez. 2013.

MEDA, A.R.; PAVAN, M.A.; MIYAZAWA, M.; CASSIOLATO, M.E. Plantas invasoras para
melhorar a eficiência da calagem na correção da acidez subsuperficial do solo. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.26, n.3, p.647-654, 2002.

Medina, E. & Huber, O. 1994. The role of biodiversity in the functioning of savanna ecossitems. In:
O.T.solbring H.M. Emerso & P.G.W.J. oordt ( eds). Biodiversty and Global Change. IUBS.
Chicago, CAB Internacional

OLIVEIRA, E.P.; FRANKLIN, E. Efeito do fogo sobre a mesofauna do solo: recomendações em


áreas queimadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira,Brasília, v. 28, n. 3, p. 357-369, 1993.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 256


ROVEDDER, A.P.; ANTONIOLLI, Z.I.; SPAGNOLLO, E.; VENTURINI, S. Fauna edáfica em
solo susceptívelà arenização na região Sudoeste do Rio Grande do Sul.Revista de ciências
agroveterinárias, Lages, v. 3, n. 2, p. 87-96, 2004.

SAUTTER, K.D.; MOTTA NETO, J.A.; MORAES, A.; SANTOS, A.R.; RIBEIRO, P.J.
População de Oribatei e Collembola em pastagens na recuperação de solos degradados
pela mineração do xisto, Brasília,DF.Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.33, n.9, p.201-
205,1998.

STEFFEN, R.B.; BENEDETTI, T.; HUBNER, A.P.; KUSS, A.V.; ANTONIOLLI, Z.I.
Reprodução de colêmbolos nativos com diferentes substratos em condições de
laboratório.FERTIBIO( CD-Rom), Larges, SC, 2004.

http://www.gvaa.com.br/revista/index.php/RVADS/article/viewFile/714/pdf_315 (SOUSA et al.,


2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 257


DEGRADAÇÃO FOTOCATALÍTICA DE 4-NITROFENOL EM SUSPENSÃO AQUOSA
DE NANOPARTÍCULAS DE TiO2

Auriléia Pereira da SILVA


Graduanda em Agronomia/CCA/UFPB
aurileias@gmail.com
Kalline de Almeida Alves CARNEIRO
Mestranda Bolsista/PPGCS/CCA/UFPB
kallinequimica2014@gmail.com
Vegner Hizau dos Santos UTUNI
Pesquisador Bolsista/INSA/MCTI
vegner@gmail.com
Lucina Rocha SOUSA
Professor Orientador/DCFS/CCA/UFPB
rslucina@gmail.com

RESUMO
O 4-nitrofenol (PNP) é um poluente orgânico que representa risco significativo para a saúde pública
e ambiental, devido ao seu potencial bioacumulativo, além de ser mutagênico ou carcinogênico.
Uma vez que o dióxido de titânio (TiO2) promove a oxidação de poluentes orgânicos, objetivou-se
preparar pós de TiO2 nanoestruturados para se avaliar os efeitos da secagem (PO1E) e/ou
tratamento térmico (PO1EF e PO1F) na melhoria de sua capacidade fotocatalítica visando a
decomposição do PNP. O procedimento experimental foi realizado em duas etapas: Síntese dos pós
de TiO2 e caracterização de sua atividade fotocatalítica na presença de luz UV, luz fluorescente e no
escuro na decomposição do PNP. A caracterização morfológica e química do pó foi realizada por
Microscopia Eletrônica de Varredura com Feixe de Emissão de Campo (MEV/FEG) acoplada à
Espectroscopia por Energia Dispersiva de Raios X (EDX). A caracterização estrutural foi obtida por
Difratometria de Raios X (DRX ). Para os ensaios de fotocatálise foram preparadas soluções de
PNP em meio aquoso com concentração de 25 mg.L-1. Um espectrofotômetro UV-vis foi utilizado
para se estabelecer os limites máximo e mínimo da absorbância/transmitância % medidas a 405 nm.
Os pós apresentam-se como partículas nanométricas aglomeradas formando uma estrutura porosa,
mostrando-se mais sinterizadas após o tratamento térmico 450 ºC/1h. Há a presença de anatásio em
todos os pós anodizados. Os resultados de fotocatálise sob luz UV e luz fluorescente demonstraram
que o P25, material de referência, foi melhor que ambos os tratamentos propostos aqui, contudo
dentre os pós anodizados de TiO2, PO1E foram os mais promissores sob luz UV e luz fluorescente,
respectivamente, na decomposição do PNP.
Palavras-chave: Anatásio, Brokita e Fosfatos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 258


ABSTRACT
4-nitrophenol (PNP) is an organic pollutant that poses significant risk to the public and
environment, due to their bioaccumulative potential health risk, and be mutagenic or carcinogenic.
Since titanium dioxide (TiO2) promotes the oxidation of organic pollutants, it was aimed to prepare
TiO2 nanoestructured powders to evaluate the effects of drying (PO1E) and/or heat treatment
(PO1EF and PO1F) in improving their ability to PNP photocatalytic decomposition. Experimental
procedure was performed in two stages: TiO2 powders synthesis and their photocatalytic activity
characterization under UV, fluorescent light and dark to PNP decomposition. Powder
morphological and chemical characterization was performed using Scanning Electron Microscopy
Field Emission Gunt (SEM-FEG) coupled to Energy-Dispersive X-ray Spectroscopy (EDS).
Structural characterization was obtained by XRD (X-ray Diffraction. For photocatalysis tests, PNP
aqueous solutions at concentration of 25 mg.L-1 were prepared. An UV-vis spectrophotometer was
used to establish the maximum and minimum absorbance/transmittance% limits measured at 405
nm. The powders were present as nanosized particles agglomerated to form a porous structure,
being sintered after heat treatment at 450 ° C/1h. There was anatase phase in all anodized powders.
The photocatalytic results under UV and fluorescent light shown that P25, reference material, was
better than both proposed treatments, however between TiO2 anodized powders, PO1E was the
most promising under UV and fluorescent light, respectively, on PNP decomposition.
Keywords: Anatase, Brookite and Phosphates.

INTRODUÇÃO

Vários métodos podem ser empregados para a descontaminação da água e do solo contendo
poluentes químicos tóxicos ou nocivos ao homem e/ou à biota e que são resultantes de atividades
antropogênicas. Em meio às diferentes abordagens empregadas estão aquelas que utilizam organismos
vivos, tais como plantas e animais, bem como fenômenos físicos e/ou químicos que promovem a
absorção, transformação e/ou decomposição destes poluentes. A fotocatálise heterogênea empregando
dióxido de titânio (TiO2) como fotocalisador tem se revelado uma técnica muito promissora para
oxidação de poluentes orgânicos, sendo o TiO2 o semicondutor mais empregado. Limitações quanto
ao uso da radiação UV, bem como a capacidade deste semicondutor em atuar na região do visível tem
conduzido os pesquisadores a modificar a morfologia e a estrutura do TiO2 por meio de novas rotas de
síntese de nanoestruturas e pelo emprego de tratamentos pós-anodização, sejam estes térmicos e/ou
químicos. Dentre os diferentes processos que podem ser empregados para a síntese de nanoestruturas,
tais como o sol-gel, a via hidrotérmica, a síntese eletroquímica se destaca, também chamada de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 259


anodização, vem sendo largamente investigada nos últimos 10 anos devido a sua reprodutibilidade,
praticidade e baixo custo.
A síntese eletroquímica tem permitido a obtenção de pós em diferentes morfologias, tais como
nanopartículas, nanoanéis, nanofios, nanobastões, entre outras. Os nanotubos de TiO2 podem ser
sintetizados em eletrólitos aquosos ou orgânicos, ácidos ou básicos.
O objetivo deste trabalho foi preparar pós de TiO2 adaptando-se o método de síntese de Fahim
& Sekino (2009) e avaliar os efeitos da secagem e/ou do tratamento térmico na sua capacidade
fotocatalítica visando a decomposição do 4-nitrofenol (PNP), poluente orgânico utilizado em larga
escala como precursor na síntese de agrotóxicos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Princípios da fotocatálise utilizando TiO2/UV

Neste processo, a reação de degradação é fotocatalisada por um semicondutor e envolve a


fotoexcitação de partículas do semicondutor por radiação UV fazendo com que um elétron da banda
de valência (BV) seja transferido para a banda de condução (BC) resultando na criação de vacâncias
na BV e elétrons na BC.
O TiO2 é o semicondutor mais utilizado em fotocatálise, e por esta razão, várias propriedades
já foram bastante estudadas. A atividade fotocatalítica e o mecanismo de reação do TiO2 são
influenciados pela estrutura, defeitos e impurezas, morfologia da superfície e interface, entres outros
fatores. Dependendo das fases cristalinas presentes, as quais vão variar com o pré-tratamento e o
método de preparação do TiO2, partículas com estruturas anatásio e/ou rutilo são obtidas. Muitos
pesquisadores argumentam que a forma rutilo é menos fotoativa que o anatásio ou até mesmo que não
possui atividade fotocatalítica, enquanto outros atribuem uma atividade seletiva junto a certos
substratos. Em consequência do exposto, a forma anatásio é preferencialmente usada (ZIOLLI &
JARDIM, 1998). Estes pesquisadores sumarizaram as principais etapas, propondo um mecanismo
geral para fotocatálise heterogênea utilizando TiO2 como fotocatalisador, que ocorre por adsorção na
partícula do catalisador, excitação do semicondutor, manutenção e recombinação das cargas.
Para se compreender o mecanismo da reação do TiO2 na degradação fotocatalítica de
compostos orgânicos é necessária a compreensão de mecanismos em três sistemas distintos que
podem ser estudados pela química do estado sólido, química de interface e química de solução. A
ideia é iniciar pelo semicondutor puro e isolado, para se chegar aos produtos finais de uma
fotodegradação completa, ou seja, CO2 e H2O. Independentemente do mecanismo seguido, a
fotocatálise tem se mostrado como uma tecnologia bastante promissora no combate de poluentes, e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 260


juntamente com outros tipos de processos oxidativos emergentes certamente deverão substitutir, a
médio prazo, muitas das chamadas tecnologias convencionais (ZIOLLI & JARDIM, 1998).

Síntese de pó de TiO2 nanoestruturado

De acordo com Fahim & Sekino (2009), inicialmente o titânio oxida para formar uma camada
compacta de TiO2 via reação no anodo. Em seguida, ocorre o mecanismo de formação do pite (poro)
se deve aos íons cloretos. Acompanhado de uma rápida evolução de hidrogênio no catodo é observada
com grande borbulhamento na célula devido à reação no catodo.
Li, M. et al. (2011) obtiveram várias nanoestruturas de TiO2, tais como nanoanéis e
nanobastões que foram sintetizadas por anodização potenciostática de titânio. A morfologia das
nanoestruturas de TiO2 pode ser modificada pela variação do potencial aplicado. Um mecanismo
possível de formação foi sugerido com base na evolução da forma das nanoestruturas de TiO2
observados por MEV-FEG.
Em suma, existem vários métodos de síntese do TiO2, que pode ser obtido na forma de pó,
cristais, ou filmes finos. Gupta & Tripathi (2012) revisaram estudos de síntese por via úmida que,
segundo os autores, é um dos métodos de síntese mais convenientes e utilizados, pois apresenta as
vantagens de permitir o controle sobre a estequiometria, a produção de materiais homogêneos, a
formação de formas complexas, além da preparação de materiais compósitos. No entanto, podem
existir algumas desvantagens, tais como precursores caros, longos tempos de processamento, bem
como a presença de carbono como impureza. Em comparação, as técnicas de produção físicas,
embora ―ambientalmente corretas‖, são limitadas pelo tamanho das amostras produzidas serem
insuficientes para uma produção em grande escala. Cada método, portanto, apresenta sua importância
e vantagens próprias.

Aplicação dos fotocalisadores de TiO2/UV

Segundo Silva et al. (2013) apesar das inúmeras vantagens apresentadas pelo TiO2 como
fotocatalisador, o seu band gap em torno de 3,2 eV, o torna eficaz em radiações de até 385 nm,
inviabilizando a sua utilização sob radiação visível. Neste sentido, vários estudos tem utilizado a
dopagem com metais como estratégia para melhorar a atividade fotocatalítica na região do visível.
Contudo, nem sempre a modificação do band gap para melhorar a absorção na região do visível
garante melhor desempenho fotocalítico, pois outros fatores como a estrutura e a morfologia, além de
tratamentos realizados após a síntese, como o pH de lavagem e a temperatura de calcinação, também
tem ação sobre a fotocatálise mas não são muito explorados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 261


Wang et al. (2009) modificaram a superfície de nanotubos de TiO2 anodizados
eletroquimicamente, por imersão em solução aquosa de ácido salicílico (SA) melhorando a atividade
fotoeletrocatalítica do TiO2 na luz visível. A aplicação de corrente, conforme Ojani et al. (2013),
melhora consideravelmente, em cerca de 3x, a eficiência do processo de degradação comparando-se a
fotoeletrocatálise com a fotocatálise do 3-nitrofenol sob luz UV. Este estudo também avaliou os
efeitos do pH da solução e o potencial aplicado na eficiência de degradação. A eficiência na remoção
do fenol sob irradiação UV atingiu 100% após 4 horas de experimento ao se utilizar nanotubos hetero-
nanoestruturados de α-Fe2O3/TiO2, obtidos pelo método anodização eletroquímica de chapa de Ti,
para a degradação de fenol pelo processo fotoeletro-Fento, constituindo um material promissor para a
decompor esse tipo de poluente, segundo Cong et al. (2012).

4-Nitrofenol

O 4-nitrofenol (PNP) é um poluente capaz de provocar distúrbios no sangue, irritação nos


olhos e na pele, danos aos rins e fígado, e pode causar ainda, envenenamento e danos ao sistema
nervoso central de seres humanos e animais. Este composto é utilizado como matéria-prima, na
indústria química, para a fabricação de pesticidas, herbicidas, corantes sintéticos e produtos
farmacêuticos, e para o tratamento de couro. Devido à sua elevada solubilidade e estabilidade em
água, o PNP pode ser encontrado em efluentes industriais e agrícolas, o que representa um risco
significativo para a saúde pública e meio ambientae, consequente ao seu potencial bioacumulativo
na cadeia alimentar, além de ser mutagênico ou carcinogênico (SHAOQING et al., 2010).
A fim de conhecer as condições para a degradação máxima de 4-nitrofenol em presença de
luz UV 254 nm, Islam et al. (2014) observaram os efeitos das concentrações iniciais de 4-nitrofenol
e as doses de TiO2. Observaram que a taxa de degradação fotocatalítica do 4-nitrofenol foi
melhorada com o aumento da dose de TiO2 até um valor máximo de 0,4 g/100 mL a pH 3. Um
aumento adicional do TiO2 diminuiu a degradação. A degradação de 4-nitrofenol foi reduzida com
o aumento da concentração de 4-nitrofenol. O efeito de íons de Cu (II) e Fe (II) na reação de
degradação também foi investigada. A adição de íons de Cu (II) aumenta a percentagem de
degradação, mas o excesso diminui a degradação. Sob as mesmas condições experimentais, a
presença de NO3-, CO32-, SO42- e Cl- são prejudiciais para a fotodegradação de 4-nitrofenol. A
concentração de íons hidrogênio aumentou continuamente durante a fotodegradação sugerindo
mineralização de 4-nitrofenol.

MATERIAL E MÉTODOS

Reagentes empregados

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 262


Os reagentes utilizados foram de Grau Analítico. O titânio comercialmente puro (Ti c.p.) grau
II Tibras foi adquirido nacionalmente, e o TiO2 P25 foi doado pela Degussa Evonik.

Anodização eletroquímica

Ti c.p. (comercialmente puro) grau II foi adquirido em placas que foram tratadas segundo
Fahim & Sekino (2009). A fonte de alimentação, marca EA modelo PS2032-050, foi utilizada no
modo potenciostático, empregando-se 30V/16,5 min em 70 mL de solução aquosa de eletrólito,
utilizado por Fahim & Sekino (2009), constituído por NaCl 0,3M/NH4H2PO4 0,3 M. Após este
processo, o pó foi lavado com água destilada e separado em centrífuga, FANEM EXCELSA BABY
II, a 1200 rpm/5 min por 3 vezes. Por fim, o pó foi seco ao ar e/ou submetido à secagem em estufa,
QUIMIS 316B12, a 60 °C/1h e/ou tratado termicamente em mufla, JUNG J200, a 450 °C/1h.

Caracterização morfológica, estrutural e química dos pós anodizados

A caracterização morfológica e química do pó foi feita por Microscopia Eletrônica de


Varredura com Feixe de Emissão de Campo (MEV-FEG) acoplada à Espectroscopia por Energia
Dispersiva de Raios X (EDX), realizada no CETENE – Recife – PE. O equipamento MEV-QUANTA
FEG foi utilizado com potência de feixe 20 keV. O pó foi depositado sobre fita condutora de carbono.
A caracterização estrutural foi obtida pelo uso da Difratometria de Raios X (DRX),
Difratômetro D2-Phaser Bruker, ocorrida no INSA – Campina Grande – PB. A radiação utilizada foi
de 1,54060 Å, Kalfa1 do cobre.

Quantificação do PNP por espectrofotometria UV-vis

Para os ensaios de fotocatálise foram preparadas soluções de PNP em meio aquoso a 30 °C


com concentração de 25 mg.L-1 para se estabelecerem os limites máximo e mínimo da
absorbância/transmitância % e a curva de calibração, medidas por espectrofotometria no comprimento
de onda de 405 nm. Para tanto, foi empregado um espectrofotômetro UV-vis FEMTO CIRRUS 80
MB. Para a curva de calibração, foram utilizadas concentrações de 0,025 a 25 mg.L-1.
A seguir, é apresentada, na Figura 1, a curva de calibração do PNP obtida pela absorbância das
soluções de PNP preparadas em diferentes concentrações.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 263


Figura 1: Curva de calibração das soluções de PNP em meio aquoso, após aquecimento a 30 °C/1h, com
concentrações de 0,025 a 2,5 mg.L-1 a partir das absorbâncias medidas por espectrofotometria no
comprimento de onda de 405 nm. Medições realizadas com alíquotas de 3000 µL.

Fotocatálise empregando TiO2 para decomposição do PNP

O teste de quantificação do PNP constou de 5 tratamentos sob luz UV, luz fluorescente ou
no escuro (PNP 25 mg.L-1 sem TiO2, e com 5,0 mg de TiO2: BPO1E, BPO1F, BPO1EF e BP25),
com 3 repetições e 5 brancos sob luz UV (H2O destilada sem pó e H2O destilada com 5,0 mg
deTiO2: PO1E, PO1F, PO1EF e P25), com 3 repetições. Este foi dividido em três etapas, segundo o
número máximo de placas submetidas à agitação comportado na câmara. A ordem dos tratamentos
foi sorteada e os testes realizados no período de 3 dias.
As placas de Petri foram preparadas contendo 10 mL de PNP 25 mg.L-1 em 5,0 mg de TiO2 e
levadas à câmara, que foi montada em uma estufa de secagem Nova Ética com paredes de aço inox.
Foi montado um conjunto de 6 lâmpadas UVC Silvania F15WQT8 Blacklight Blue ou lâmpadas
Silvania 15W Branca, distadas de 6 cm entre si e posicionadas a 20 cm das placas. O sistema foi
mantido em temperatura média de 28°C durante 1h, dependendo do tipo e/ou presença de irradiação.
Para a agitação das soluções foi utilizado agitador magnético TECNAL com 10% de agitação. Em
seguida, o conteúdo das placas foi centrifugado na Centrífuga Refrigerada SL-701 SOLAB a 6000
rpm/20 min/21 ºC e seguiu-se a medição da absorbância/transmitância% na penumbra utilizando
Espectrofotômetro UV-vis Femto Cirrus80MB. As alíquotas utilizadas para a quantificação
espectrofotométrica foi de 3000 µL transferidos para uma cubeta de quartzo, caminho ótico de 10
mm. O comprimento de onda (λ) selecionado foi de 405 nm.
A temperatura na câmara foi monitorada durante todo o experimento, com média de iniciando
em 29ºC sob luz UV. Dada a maior energia associada ao comprimento de onda da luz UV a
temperatura média de 27°C em luz fluorescente e no escuro.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 264


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pós de TiO2 anodizados após os tratamentos estufa/1h (PO1E), mufla/1h (PO1EF) e


estufa/1h+mufla/1h (PO1EF) foram macerados para então serem submetidos às caracterizações por
MEV-FEG acoplado ao EDS, ao DRX e aos testes de Avaliação das Propriedades Fotocatalíticas.

Caracterização por MEV-FEG acoplado ao EDX

A caracterização morfológica e química dos pós anodizados é apresentada na Figura 2.

Figura 2: Imagens MEV-FEG dos pós anodizados nos diversos tratamentos na magnitude 80.000x: PO1E
(60ºC por 1 h) (A); PO1F (450ºC por 1 h) (B); e PO1EF (60ºC por 1 h, seguido de 450ºC por 1h) (C).
Percentual atômico (D) dos elementos encontrados nos pós de TiO2 (A, B e C).

O pó seco em estufa (Figura 2A) apresenta partículas micrométricas com uma estrutura de
camadas, enquanto os demais pós, PO1F e PO1EF, apresentam partículas micrométricas
sinterizadas (Figuras 2B e 2C). Em todos os pós também são visualizadas partículas e agregados de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 265


menor tamanho. É possível identificar que essas partículas micrométricas apresentam uma
subestrutura nanométrica, dada a rugosidade presente nas suas superfícies, bem como pela presença
de nanopartículas (<50 nm) e agregados das mesmas. Ambos os fatores contribuem para a
fotocatálise, pois quanto menor as partículas, maior a sua área superficial disponível para a adsorção
do composto a ser degradado. Contudo, outros fatores como a composição química e a estrutura
cristalina também são relevantes.
Os espectros de EDX apresentam a caracterização química dos pós anodizados. Observa-se
a presença predominante dos elementos Ti, P, O, C e Na, seguido por N, Cl, Si e Al. O P e o Na
foram incorporados a partir do di-hidrogenofosfato de amônio e cloreto de sódio presentes no
eletrólito. Contudo, para PO1E a proporção de P é maior, indicando decomposição térmica nas
amostras PO1F e PO1EF, o que pode ocorrer a partir de 200 °C. Essa observação é corroborada
pelo fato de haver resíduo de nitrogênio somente em PO1E. Este dado pressupõe que o N possa ter
permanecido como íon amônio e volatilizado como amônia durante o aquecimento. Algum resíduo
de Cl ainda é visível em PO1F mesmo após sucessivas lavagens. Os resíduos de elementos
estranhos ao processo de anodização como Al e Si foram contaminantes introduzidos durante a
maceração. A presença de C, em todas as amostras, deve-se à fita condutora de carbono utilizada no
MEV.

Caracterização por DRX

A Figura 3 apresenta os difratogramas da estrutura cristalina dos pós. Observa-se que os picos
largos denotam que os cristais são nanométricos conforme visualização por MEV-FEG. Como
esperado, observa-se também aumento da cristalinidade nas amostras PO1F e PO1EF, que foram
submetidas ao tratamento em mufla, quando comparadas à amostra PO1E, somente seca em estufa.

Figura 3: Difratogramas dos pós anodizados em conjunto: PO1E (vermelho), PO1F (verde) e PO1EF (azul).

Pode-se afirmar que há anatásio em todas as amostras pelo ajuste dos picos ao padrão para esta
fase (código de referência PDF: 01-086-1156). Na amostra PO1E, existe um óxido com rede
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 266
semelhante a brookita (código de referência PDF: 01-076-1937), fase precursora do anatásio, porém
não há como afirmar pelo fato de os picos não estarem bem definidos. Também há uma fase
notadamente mais cristalina que as demais em PO1EF, ainda não identificada, mas que
provavelmente tem relação com os fosfatos encontrados na análise química por EDX.

Fotocatálise empregando TiO2 para decomposição do PNP

A quantificação da fotodecomposição do PNP catalisada por diferentes pós de TiO2 em meio


aquoso foi determinada por espectrofotometria, conforme apresentado na Figura 4.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 267


Figura 4: A – Percentual residual; B – Percentual de adsorção; e C – Percentual de degradação de PNP a
λ=405 nm, após exposição sob luz UV, luz fluorescente e no escuro a 30°C/1h e centrifugação a 6000 rpm
durante 20 min a 21 ºC: solução aquosa de PNP 25 mg.L-1 como referência, contendo 5,0 mg de TiO2
anodizado seco a 60 ºC/1 h e/ou tratado a 450 ºC/1 h ou TiO2 (P25).

Os dados percentuais foram calculados tomando-se por base a absorbância média do PNP
por espectrofotometria, seguindo a seguinte fórmula:
% Residual = (Abs PNP-TiO2 / Abs PNP) x 100
onde:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 268


 Abs PNP-TiO2 é a absorbância da solução de PNP após o teste com o TiO2;
 Abs PNP é a absorbância da solução do PNP.

O % Residual (Figura 4A) apresentou uma tendência de redução em função do tratamento


no forno para os pós anodizados, independentemente da condição de iluminação empregada, mas
para o P25 os resultados apresentaram-se bastante diversificados. Sob luz UV, o P25 deixou 8 %
Residual de PNP, mas apenas 54 e 90% para luz fluorescente e escuro, respectivamente. O PO1F
apresentou os melhores percentuais residuais entre os pós anodizados.
Na adsorção (Figura 4B), cujo processo ocorre somente no escuro, o percentual foi maior para
PO1F, seguido de PO1EF e PO1E = P25, indicando que a fotocatálise (Figura 4C) não tem como
fator preponderante o % Adsorção. Para os resultados sob luz UV e fluorescente (Figura 4C) foram
descontados os efeitos de adsorção. Esta análise revelou que o melhor fotocatalisador, em ambos os
casos, luz UV e fluorescente, foi para o P25. Dentre os pós anodizados, o PO1E foi o melhor sob luz
UV e em luz fluorescente contrariamente ao que se esperava pois não foi submetido ao tratamento
térmico em mufla. Destaca-se também a alta capacidade adsortiva do PO1F.
Ainda são necessários estudos complementares para se investigar os efeitos da adsorção,
composição química e estrutura cristalina sobre a fotocatálise para maiores tempos de experimentação
(24 horas).

CONCLUSÃO

A fotocatálise em luz UV e luz fluorescente demonstraram que o P25, material de referência,


tanto em luz UV quanto em luz fluorescente foi o melhor, contudo dentre os pós anodizados de TiO2,
PO1E foi os mais promissores sob luz UV e fluorescente, respectivamente, na decomposição do PNP.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo Programa de Iniciação Científica Voluntária/PIVIC/UFPB e pela Bolsa de


Pesquisador INSA/MCTI, bem como à CAPES pela Bolsa de Mestrado/PPGCS/UFPB.
Ao CETENE e INSA pelas análises de MEV-FEG/EDX e DRX, respectivamente.
À Degussa Evonik pela doação do TiO2 P25.

REFERÊNCIAS

CONG, Y. et al. Synthesis of α-Fe2O3/TiO2 nanotube arrays for photoelectro-Fenton degradation of


phenol. Chemical Engineering Journal, v. 191, p.356-363, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 269


FAHIM, N. F. e SEKINO, T. A novel method for synthesis of titania nanotube powders using rapid
breakdown anodization. Chemistry of. Materials, v. 21, p. 1967–1979, 2009.

GUPTA, S. M.; TRIPATHI, M. A review on the synthesis of TiO2 nanoparticles by solution route.
Central European Journal of Chemistry, v.10, n. 2, p. 279-294, 2012.

ISLAM, S. et al. Photocatalytic Degradation of p-Nitrophenol (PNP) in Aqueous Suspension of TiO2.


American Journal of Analytical Chemistry, Vol.5, pp. 483-489, 2014.

LI, M. et al. Synthesis of TiO2 nanorings and nanorods on TCO substrate by potentiostatic
anodization of titanium powder. Crystal Research and Technology, v. 46, n. 4, p. 413-416, 2011.

OJANI, R. et al. Photoelectrocatalytic degradation of 3-nitrophenol at surface of Ti/TiO2 electrode.


Journal of Solid State Electrochemistry, v. 17, n. 1, p. 63-68, 2013.

SHAOQING, Y. et al. Radiation-induced catalytic degradation of p-nitrophenol (PNP) in the


presence of TiO2 nanoparticles. Radiation Physics and Chemistry, v. 79, p. 1039–1046, 2010.

SILVA, W. L. et al. Síntese, caracterização e atividade fotocatalítica de catalisadores


nanoestruturados de TiO2 dopados com metais. Química Nova, v. 36, n. 3, p. 382-386, 2013.

WANG, X. et al. Visible light photoelectrocatalysis with salicylic acid-modified TiO2 nanotube array
electrode for p-nitrophenol degradation. Journal of Hazardous Materials, v. 166, n. 1, p. 547-552,
2009.

ZIOLLI, R. L. e JARDIM, W.F. Mecanismo de fotodegradação de compostos orgânicos catalisada


por TiO2. Química Nova, v. 21, n. 3, 1998.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 270


O PORTO DAS GAMBARRAS E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E ECONÔMICA
PARA ANAJATUBA

Brunno Jansen FRANCO


Aluno do curso técnico de meio ambiente (COLUN)
brunno_jfranco@hotmail.com
Edgar Costa MELO
Colaborador
edgar_cmello@hotmail.com
Núbia Luz FERNANDES
Aluna do ensino médio (COLUN)
nubialuzfernandes@gmail.com
José Angelo Cordeiro MENDONÇA
Professor do Colégio Universitário UFMA
jfangelo@oul.com.br

RESUMO
Anajatuba é um município da microregião da baixada maranhense, o qual localizava-se um porto de
grande importância econômica e social para a região litorânea de Maranhão: Porto das gambarras;
um local onde aconteceram diversos fenômenos naturais, que tiveram relevância na sociedade e na
logística econômica da baixada. O objetivo do artigo foi diagnosticar quais acontecimentos
afetaram este porto, levando em consideração aspectos biológicos como aparecimento de espécies
não oriundas deste local e as consequências socioeconômicas.
Palavras-chave: Baixada maranhense, impactos, porto de gambarras.

ABSTRACT
Anajatuba is a municipality in the micro-region of Baixada Maranhense, which was located in a
port of great economic and social importance for the coastal region of Maranhão: Porto das
gambarras; a place where there have been various natural phenomena, which have relevance in
society and economic logistics of baixada. The objective was to diagnose which events affected this
port, taking into account aspects such as appearance of biological species not arising out of this
place and the socioeconomic consequences.
Keywords: Baixada Maranhense, impacts, porto das gambarras

INTRODUÇÃO

Anajatuba é um município que integra a microrregião conhecida como Baixada Maranhense.


Por se situar próxima ao Rio Mearim, sua posição era estratégica e muito importante para a
economia local e dos demais municípios baixadenses, pois a cidade dispunha de um importante

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 271


porto – Porto das Gabarras - de onde eram embarcadas e desembarcadas mercadorias que seriam
comercializados dentro e fora da capital. Contudo o porto, os igarapés, e os campos vêm passando
por mudanças causadas pelo processo de assoreamento gerado pela própria ação da natureza. O
presente trabalho teve como objetivo diagnosticar as atuais situações ocorridas após o fim das
atividades portuárias, e ampliar as informações atualizadas relativas às pesquisas sobre a localidade.

Porto das Gabarras

O Porto das Gabarras foi um notável porto da Baixada Maranhense, pois permitiu o
desenvolvimento comercial para a cidade de Anajatuba. Ele dispunha de uma localização favorável
estrategicamente, por isso foi um dos locais escolhidos para combater a invasão francesa; sua
presença também foi marcante na Guerra da Balaiada. Graças ao lucro nas atividades comerciais
locais, foi propício o desenvolvimento de uma vila ao redor do porto, que usufruía e gerava mão de
obra para as atividades portuárias.
A vila, assim como boa parte da região da Baixada era extremamente católica, e tinha como
padroeiro o Santo Cristo Reis, com isso o povoado ficou conhecido e muito visitado, considerando
os festejos religiosos. A arquitetura das casas era desenvolvida com base nos parâmetros da época,
o que pode ser comprovada pelos vestígios de tijolos, telhas e cerâmica encontrados no local onde
foram edificadas as casas. A vila possuía de tudo um pouco, tal como campinhos de futebol para as
crianças, bares, comércios e até mesmo escolas.

Figura 1 - Imagem que mostra os vestígios da vila. Fonte: Os autores

Porém uma das desvantagens que o lugar apresentava era a falta de um hospital ou algo
semelhante, isto obrigava quem precisava de atendimento a ser transportado por meio das
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 272
gambarras para São Luís, contudo o trajeto era longo e imprevisível podendo durar até quatro dias,
tempo que por vezes o enfermo não dispunha, podendo até mesmo levá-lo a óbito durante o
percurso. Outra alternativa encontrada seria levá-los para a região central de Anajatuba, sendo o
local mais próximo com atendimento hospitalar, o paciente era levado às pressas em redes por um
amigo ou qualquer outra pessoa disponível.
A população local vivia quase que integralmente da agricultura das suas próprias terras,
além de aproveitar todos os recursos que o porto lhes oferecia, tais como a pesca, comércio e o
transporte que eram feitos para outros portos da baixada e para a capital maranhense. Outra forma
de comércio bastante lucrativo era o realizado entre o Porto das Gabarras e vários outros portos
internacionais do continente americano onde eram realizadas trocas clandestinas do café e da cana-
de-açúcar maranhenses pelo tabaco, uísque e outros produtos da localidade. Essas viagens
chegavam a durar anos, época que os marinheiros não possuíam qualquer contato com sua família
e/ou amigos. Todavia quando retornavam para casa eram recebidos com grande prestígio, já que o
ofício de marinheiro era uma das profissões mais cobiçadas pelos homens do vilarejo.
Um fato que os moradores até então não previam ou não se preocupavam, era que o rio
poderia assorear e isto realmente aconteceu uma vez que havia uma prejudicial evasão de detritos
do porto para o mar, causando o assoreamento e consequentemente o fechamento gradual do porto,
acabando com as bases da economia local. A população então foi obrigada a se retirar, transferindo-
se para vilas próximas ou para a sede do município, o que fosse mais oportuno para o sustento das
famílias. Outro fator para o fechamento do porto foi a construção da estrada, já que o advento desta
facilita o deslocamento, portanto as pessoas não recorreriam mais ao porto como meio de
transporte.

Figura 2 - Imagem da real situação do porto. Fonte: Os autores


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 273
Hoje, o Porto das Gabarras é um lugar de memória, são somente ruínas e alguns barcos no
meio de um córrego. Os moradores que lá viveram mantém viva a lembrança de muitas histórias do
vilarejo, local onde testemunharam o auge e a decadência do relevante porto.

Surgimento de mangues a partir do assoreamento do Igarapé do Porto

Esse porto localiza-se no município de Anajatuba- MA próximo ao povoado de Afoga. O


porto era o maior da região durante o século XIX até meados da segunda metade do século XX,
porém o mesmo não existe mais devido ao assoreamento do igarapé do porto, curso d‘água no qual
o porto se estabelecia e que fica na foz do rio Mearim, além do surgimento de plantas de mangue.
Em visitas de campo podemos identificar que neste habitat estabelecem todas às três espécies desta
arvore, Rhizophora mangle L., Avicennia shaueriana stapt e Laguncularia racemosa Gaerth,
popularmente conhecidas como Mangue Vermelho, Mangue negro e Mangue Branco,
respectivamente.

Figura 3 - Imagem do mangue branco. Fonte: Os autores

O nome Gabarras advém de barcos de dois andares que assim eram chamados e utilizados
para transporte de gado, suínos e até mesmo pessoas para a capital São Luis, pois ainda não havia
estrada nesta região.
A relação do surgimento do manguezal com a inviabilização de funcionamento do porto
aconteceu a partir do desenvolvimento embrionário das plantas de mangue, no qual suas sementes
podem flutuar por um período de 35 dias e quando fixadas no solo há a possibilidade de
germinação. A predominância da espécie Laguncularia racemosa Gaerth pode ser explicada pela
zonação, (distribuição das sementes no espaço físico) de acordo com as características de solo,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 274


influência da maré, salinidade e imersão. E com o surgimento das plantas, as gambarras - as quais
deram nome ao porto - ficaram impossibilitadas de fazer o trajeto no curso do igarapé, pois além do
assoreamento do mesmo agora também existem plantas que dificultam ainda mais a locomoção dos
barcos. Pode-se identificar ainda navegações, mas de pequeno porte e apenas para pesca, não mais
para transporte de bovinos, suínos e de pessoas.

Igarapé de Troitá

Esse igarapé compõe um dos braços do Rio Mearim, e é de fundamental importância para o
deslocamento por mar, pois através do Troitá desemboca no Mearim de onde é possível chegar aos
demais municípios da Baixada Maranhense situados às margens do rio, também é possível chegar à
Ilha do Maranhão pelo mesmo.
As espécies de peixes encontradas em Anajatuba são muito apreciadas pela comunidade
local e pelos turistas que visitam a região. Os antigos agricultores que foram expulsos pela
concentração fundiária, viram nos lagos a chance de se manterem. Passaram então a incorporar a
pesca como uma das atividades econômicas do município.
O fato é que como passar dos anos o problema vem aumentando sobremaneira, fazendo com
que os lagos percam suas características e riquezas naturais (compostos principalmente por espécies
marinhas) e em contrapartida essa perda compromete a pesca.
Segundo relato de moradores o aterramento dos lagos e do Igarapé de Troitá é um problema
que permeia desde épocas passadas e acontecia de forma lenta e gradual, mas atualmente esse
fenômeno vem tomando proporções alarmantes. O vendedor de gelo Raimundo destacou que ―o
lago que ficava antes de chegar em Troitá já vinha sendo aterrado, mas há uns 4 anos atrás ele
entupiu e agora o acesso a outras cidades e a pesca ficou dificultada‖
Comprova-se o assoreamento dos lagos e do Igarapé a partir da diminuição do número de
embarcações que trafegam por ele, pela sua profundidade e sua largura que tem sido menores a cada
ano. Moradores mais antigos afirmam ter visto no porto gambarras - barcos de grande porte que
faziam o transporte de cerca que 20 cabeças de gados, mais a tripulação de sete pessoas e
mercadorias que seriam comercializadas na capital ou fora dela. Hoje há apenas um canal estreito
onde antes era um igarapé extenso e com certa profundidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 275


Figura 4 - Imagem da atual situação do rio Troitá. Fonte: Os autores

Sabe-se que o assoreamento é um problema causado pela própria ação da natureza, embora
muitas vezes esse processo tenha contribuição humana. Entretanto em Anajatuba observa-se que
esse processo é de cunho quase total da natureza, sem motivos específicos observados no trabalho
de campo.
No contexto econômico essa situação está chegando a pontos alarmantes, tanto para o
ambiente quanto para a subsistência da população que depende da pesca. Destacando os problemas
sofridos pela natureza: com o assoreamento, as espécies marinhas ficam comprometidas, já que a
partir de então a pesca (que antes era feita durante todo o ano, pois os lagos recebiam e
―guardavam‖ mais águas) Atualmente é feito apenas no período das cheias, que vão de janeiro a
abril. Nos demais meses pesca-se também, sendo este o prejuízo causado: na falta de peixes em
tamanho ideal pra ser comercializados, são pescados também os pequenos. ―Durante a época seca
dos rios a qualidade de peixes em tamanho ideal para se comercializar são ínfimos, os pescadores
são obrigados a pescar também os peixes pequenos, prejudicando a população de peixes‖ (Mauro
Rêgo, informação pessoal).
A falta de peixes não compromete apenas o pescador, mas sim prejudica toda a comunidade
que depende economicamente da pesca, bem como revendedores, vendedores de gelo, restaurantes,
entre outros.
Para tentar solucionar a dificuldade de acesso do igarapé, a prefeitura manda construir
estradas sobre o campo no período da seca. ―no período que vai de junho pra frente o prefeito
manda raspar o campo, para os pescadores chegarem até lá onde o lago não entupiu‖ destacou o
morador Raimundo. Essa tentativa de solucionar acaba se constituindo mais um dos problemas que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 276


assoreia ainda mais o rio, pois os sedimentos que são retirados pelos tratores acumulam-se nos
campos e dificulta a renovação das águas.

CONCLUSÃO

Observou-se que em Anajatuba o principal problema causado com o aterro dos rios lagos,
igarapés, foi o posterior fim do porto, das atividades comerciais, e o desaparecimento dos vilarejos
que só se mantinham por conta das relações econômicas que eram desenvolvidas no porto.
Vale ressaltar que a espécie Laguncularia racemosa Gaerth apresenta uma maior incidência
neste local devido as condições apresentadas pelo ambiente, ou seja, esse local apresenta uma
quantidade maior de substrato arenoso que propicia esse espécie. Que por sua vez advém do
processo de assoreamento dos rios.

REFERENCIAS

AB'SABER, A.N. Litoral do Brasil. São Paulo: Meta Livros, 2002.

FRANCO,B.J. & MELO,E.C Ocupação dos manguezais ludovicenses. Ic. Jr.-Colégio universitário,
2012.

PROST,M.T.R.C & MENDES,A. Ecossistemas Costeiros: Impactos e Gestão Ambiental. Museu


paraense Emílio Goeldi,2001,p.113-128.

REBELO, F. C.; MEDEIROS, T. C. C. Cartilha do Mangue. São Luís, 1988.

REIS, R. J. Costa sudeste de São Luís-MA: análise e proposta para gestão ambiental. 2005.
Dissertação (Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais) – Universidade Federal de
Pernambuco, Pernambuco, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 277


IMPACTOS AMBIENTAIS DE DESPEJO DE LIXO INADEQUADO EM TERRENO
BALDIO DE CAMPINA GRANDE – PB

Bruno Gaudêncio de ALMEIDA


Graduando do Curso de Agroecologia da UEPB
brunogaudenciocg@hotmail.com
Hallyson OLIVEIRA
Graduando do Curso de Engenharia Agrícola da UFCG
hallysonoliveira_@hotmail.com
Tainara Tâmara Santiago SILVA
Mestranda Irrigação e Drenagem da UFCG
tainara.eng.agri@gmail.com
Maria Sallydelândia Sobral de FARIAS
Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG
sallyfarias@hotmail.com

RESUMO
Nos dias atuais as cidades paraibanas vêm sofrendo com os despejos de lixo em terrenos baldios por
falta de locais adequados para a colocação do mesmo. A cidade de Campina Grande - PB por ser a
segunda maior cidade da Paraíba e consequentemente por ter uma grande população torna-se uma
das cidades com maior índice de despejo de lixo em locais inadequados, principalmente lixo
domiciliar e de construção civil, que serão discutidos neste estudo. Objetivou-se mostrar os
principais impactos ambientais decorrentes do descarte inadequado desses resíduos, em um terreno
baldio localizado na cidade de Campina Grande – PB, e as possíveis medidas que devem ser
tomadas para recuperação desta área. Não há limpeza na área por parte da Prefeitura, pois é uma
área particular, ocorrendo assim somente à compactação dos resíduos. Os principais impactos
ambientais observados foram: destruição do ecossistema, proliferação de vetores de doenças,
poluição visual, poluição do solo e poluição do ar. O estudo realizado nesse trabalho serve também
como ênfase para os demais locais onde há o despejo inadequado desses resíduos.
Palavras-chave: domiciliar, poluição, recuperação.

ABSTRACT
Nowadays the Paraíba cities have suffered from the dumps trash in vacant lots for lack of suitable
placement of waste sites. The city of Campina Grande - PB for being the second largest city of
Paraíba and consequently to have a large population becomes one of the cities with the highest
garbage dump in inappropriate places, especially household trash and construction, which will be
discussed in this study. The objective is to show the main environmental impacts of improper
disposal of such waste in a vacant lot in the city of Campina Grande - PB, and possible measures to

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 278


be taken to recover this area. No cleaning in the area by City Hall, it is a particular area, going so
only to compaction of waste. The main environmental impacts were observed: ecosystem
destruction, proliferation of disease vectors, visual pollution, soil pollution and air pollution. The
study performed in this work also serves as emphasis to other locations where there is inadequate
disposal of such waste.
Key words: household, pollution, recovery.

INTRODUÇÃO

A população brasileira vem crescendo muito durante os últimos 12 anos, segundo dados do
IBGE, de 2000 a 2010 o Brasil teve uma taxa de crescimento de 1,17%, o estado da Paraíba de
0,90% e a cidade de Campina Grande – PB um aumento de pouco menos que 8%, o que implica
também no aumento excessivo da geração de resíduos sólidos, dentre os quais se destacam os
resíduos domiciliares e os resíduos advindos de construções civis.
No Brasil, estima-se que mais de 90% do lixo é jogado a céu aberto, gerando uma ameaça
constante de epidemias, pois os lixões fornecem condições propícias para a proliferação de doenças
(ROUQUAYROL, 1999). Além da liberação de gases, a decomposição do lixo gera o chorume,
líquido que contamina o solo e a água por compostos orgânicos e íons metálicos (BRAGA et al.
2002). Os resíduos sólidos dispostos a céu aberto também favorecem a proliferação de mosquitos,
moscas, baratas e ratos, os quais são vetores de inúmeras doenças ao homem, tais como a febre
tifóide, salmonelose, desinterias e outras infecções. Além destes insetos e roedores, constata-se a
presença de animais domésticos nessas áreas, como cachorros e gatos que, junto com as aves,
podem transmitir a toxoplasmose (ROUQUAYROL, 1999).
De acordo com Philippi Jr. et al (2005), os resíduos domiciliares são aqueles gerados nos
lares ou que quando gerados em outras atividades, possuem características compatíveis com os
gerados nos lares. Predominam restos orgânicos e outros materiais não perigosos, recicláveis ou
não.
Segundo o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), o Brasil produz cerca
de 160 mil toneladas de resíduos comercial e domiciliar por dia e dos municípios brasileiros com
coleta dos resíduos sólidos urbanos, aproximadamente 59% ainda os dispõem em lixões.
Oliveira et al (2008) argumentam que quando o cidadão coloca o lixo para recolhimento
pelo lixeiro ou jogando-o em terrenos baldios, resolve apenas seu problema individual, não se
dando conta de que as áreas de depósitos de lixo das cidades estão cada vez mais escassas e que o
lixo jogado nos terrenos baldios favorece o desenvolvimento de insetos e ratos transmissores de
doenças causando assim outros danos ambientais. A disposição dos resíduos nesses locais provoca

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 279


problemas que afetam a integridade do meio ambiente, compromete a saúde e o bem-estar da
população (MONTEIRO et al, 2001).
Diante do exposto objetivou-se mostrar os principais impactos ambientais decorrentes do
descarte inadequado desses resíduos, em um terreno baldio localizado na cidade de Campina
Grande – PB, e as possíveis medidas que devem ser tomadas para recuperação desta área.

METODOLOGIA

A área estudada foi na Cidade de Campina Grande – PB, localizada ao lado da Universidade
Federal de Campina Grande e ao lado de uma empresa de papel, onde se tem o despejo irregular de
resíduos sólidos, sendo como principais os resíduos domiciliares e de construções civis.
O terreno possui aproximadamente 70 metros de comprimento e 30 metros de largura,
totalizando uma área de 2100 m2, não possuindo nenhum tipo de isolamento e grande parte desses
resíduos são deixados no terreno pelos próprios moradores ou moradores da região.

Figura 1: Localização do Terreno Baldio


Fonte: Google Earth. Acesso: 18/09/2014

A pesquisa realizada resultou num diagnóstico ambiental da área afetada por problemas de
degradação causada pela disposição imprópria de lixo orgânico e inorgânico. O estudo foi realizado
através de visitas periódicas ao local, em que os dados foram coletados a partir da observação direta
e registros fotográficos.
Através de uma câmera fotográfica digital, foram retiradas diversas fotografias/imagens de
determinados trechos do local, estas retratam a atual situação do ambiente em estudo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 280


Figura 2 e 3 – Principais tipos de resíduos jogados na área

Realizou-se também a leitura de artigos, relatórios e diagnósticos que serviram para a


obtenção de conhecimentos sobre áreas com o mesmo problema encontrado na área estudada.

RESULTADOS

Ao longo das visitas pode-se verificar que os resíduos são jogados diariamente no local,
onde os principais resíduos vistos são restos de comidas, embalagens, vidros, entulhos de
construções civis e etc. Durante os deslocamentos ao local, tentamos verificar se havia resíduos
hospitalares e resíduos provenientes da indústria de papel localizada ao lado do terreno, não
encontrando nem um resquício dos mesmos.
Observou-se que houve desmatamento da mata existente no local para a colocação dos
resíduos, há muitos mosquitos e moscas, o solo está impossibilitado de produzir alimentos
agrícolas, pois além de haver a poluição do mesmo, o mesmo foi coberto pelo lixo compactado,
como pode ser visto na Figura IV e V.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 281


Figura 4 – Mata existente ao lado do terreno baldio com despejo de resíduos sólidos

O descarte indevido dos resíduos domiciliares e de construções civis, entre outros, em


terrenos baldios, proporciona outro grande problema que afeta a população, que é a proliferação de
vetores de doenças, incluindo ratos, moscas, mosquitos, baratas e etc, trazendo assim doenças
gravíssimas aos habitantes que residem próximo aos ―mini-lixões‖

Figura 5 – Lixo compactado

Os resultados obtidos neste diagnóstico servem como base para os demais locais onde há o
mesmo problema de descarte inadequado de resíduos.

CONCLUSÃO

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 282


Existe alternativas para a recuperação ambiental e produtiva do local, como retirada dos
resíduos e com isso a recuperação do solo, mas isso trará ao proprietário um alto investimento desde
a retirada do lixo até a parte final da recuperação do solo. Então se recomenda ao proprietário,
compactar o restante dos resíduos e implantar um programa de reflorestamento da área com a flora
existente ao lado do terreno. Realização de palestras relacionadas à educação ambiental, oficinas de
reciclagem de forma que contribua para a comunidade. Implantação de coletores do tipo para
entulho para que a população possa dispor de um lugar para armazenar o lixo nos dias em que o
caminhão não passa o que evitaria a disposição incorreta dos resíduos nos terrenos próximos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos –


classificação. Rio de Janeiro, 2004.

BRAGA, B., HESPANHOL, CONEJO, J. G. L., BARROS, M. T. L., SPENCER, M., PORTO, M.,
NUCCI, N., JULIANO, N., EIGER, S. Introdução a Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice
Hall, 2002. v. 1, 305p.

CETESB. Poluição, 2008. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/ solo/solo/poluicao.asp>.

DA SILVA, J. A., DE SOUZA, V., DE MOURA, J. M. Gestão de Resíduos Sólidos Domiciliares


em Cuiabá: Gerenciamento Integrado. II Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Londrina –
PR, 2011.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA. Manual de saneamento. 3. ed. rev. Brasília:


Fundação Nacional de Saúde, 2004. 408 p. Disponível em: <http://www.funasa.-
gov.br/Web%20Funasa/pub/manusane/manual_saneamento.pdf>.

INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL - IBAM. Manual


dogerenciamento integrado dos resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. Disponível em:
<http://www.ibam.org.br/- publique/media/manualRS.pdf>.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Demográfico.


Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>.

IPT/CEMPRE. D‘almeida, M. L. O; Vilhena, A.(Coord.); Lixo municipal: manual de


gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 283


MONTEIRO, J.H.P. et al. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro,
IBAM, 2001.

ROUQUAYROL, M. Z & ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde Pública. 5 ed. Rio de


Janeiro: Medsi, 1999, 500 p.

WORLDWATCH INSTITUTE. Estado do Mundo. Salvador: UMA Editora, 1999.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 284


PERCEPÇÃO ECOLÓGICA COLETIVA: O CASO DA VOÇOROCA NAS
PROXIMIDADES DO PARQUE ECOLÓGICO DA TIMBAÚBAS, NO MUNICÍPIO DE
JUAZEIRO DO NORTE

Cícero Luciano Ferreira de CASTRO


Especialista em Geografia e Meio Ambiente - URCA
lucianofdecastro@gmail.com
Pedro Silvino PEREIRA
Mestrando em Ciências Florestais - UFCG
pedro.sillvino@gmail.com
Ana Josicleide MAIA
Doutorado em Agronomia UFC
anajosicleide.maia@gmail.com
Marcos Antonio DRUMOND
Doutorado em Ciências Florestais - UFV
marcos.drumond@embrapa.br

RESUMO
Fundamentada em estudos realizados sobre o uso do solo e processos erosivos o presente trabalho
tem como objetivo averiguar o grau de conhecimento ecológico dos moradores sobre a voçoroca
formada nas proximidades do Parque Ecológico das Timbaúbas no município de Juazeiro do Norte
– CE. A questão em estudo trata-se da erosão do solo ocasionando pelo escoamento superficial
concentrado oriundo de um duto de esgoto, onde o lençol de água rasga o solo arrastando os
agregados minerais caracterizando uma voçoroca. A pesquisa foi constituída de um levantamento
preliminar teórico metodológico e da aplicação de um questionário semiestruturado a cem
moradores locais em um perímetro de 500m (quinhentos metros) da voçoroca. Foi usado o software
Excel® para tabulação dos dados. Os resultados da pesquisa apontaram que 86% desconhecem a
origem da voçoroca; 57% também não souberam quais os fatores que contribuem para o surgimento
da mesma; porém 67% responsabilizaram a prefeitura pela presença do mesmo. Entende-se que os
moradores pouco sabem o que é a voçoroca e os fatores que contribuem para o seu aumento. É
necessário fazer uma campanha educativa com o intuito de sensibilizar a população para que a
mesma mude os seus hábitos em relação ao meio ambiente no qual estão inseridos.
Palavras-chaves: geomorfologia, voçoroca, escoamento superficial concentrado.

ABSTRACT
Based on studies conducted on the use of soil erosion and the present work aims to investigate the
degree of ecological knowledge of residents about the gullies formed in the vicinity of the
Timbaúbas Ecological Park in Juazeiro do Norte - CE. The question under study it is causing soil

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 285


erosion by concentrated runoff coming from a sewer pipe, where the water table ripping solo
dragging the mineral aggregates featuring a gully. The survey consisted of a methodological and
theoretical preliminary survey of the application of a semistructured questionnaire to a hundred
local residents in a perimeter of 500m (five hundred meters) of the gully. The Excel software for
data tabulation was used. The survey results indicated that 86% are unaware of the origin of the
gully; 57% also did not know what factors contribute to the emergence of the same; although 67%
blamed the city by the presence of the same. It is understood that some residents know what is the
gully and the factors that contribute to its increase. You must be an educational campaign aimed at
sensitizing the population to the same change their habits in relation to the environment in which
they live.
Keywords: geomorphology, gully, concentrated runoff.

INTRODUÇÃO

Explicar as formas de relevo sempre foi uma curiosidade do homem, o que pode ser
confirmado por Cristofoletti (2003), onde o homem tem de compreender os processos envolvidos na
formação e transformação do relevo e o surgimento da geomorfologia como ciência. Para
Cristofoletti (2003), as formas da superfície terrestre sempre se constituíram em alvo de curiosidade
humana. Desde o inicio da civilização, encontramos alusões que tratam desta temática.
Sabendo-se que as formas de relevo se dão devido aos processos endógenos (forças atuantes
no interior da Terra) somadas aos processos exógenos (forças atuantes no exterior da Terra) torna-se
incoerente afirmar que não existe um equilíbrio entre ambos. Há, porém, alguns casos em que
pode-se constatar que um destes processos morfogenéticos (endógenos ou exógenos) venha a
destacar-se.
A geomorfologia é a ciência que estuda as formas dos relevos e os processos que estão
diretamente ligados a estruturação dos mesmos. Nascida como ciência em meados do século XIII
Ribeiro (2012) a geomorfologia está presente no cotidiano do homem, entretanto detectar o grau de
conhecimento deste ramo da ciência e, principalmente, os processos para formação, como parte da
percepção ecológica coletiva preferencialmente nos fatores geradores da voçoroca nas proximidades
do Parque Ecológico da Timbaúbas, no Município de Juazeiro do Norte é o foco desta pesquisa.

O conceito de ravinas e voçorocas

Segundo o Novo Dicionário Geológico Geomorfológico ravinas são sulcos produzidos nos
terrenos devido ao trabalho erosivo das águas de escoamento e voçorocas são formadas pela
escavação ou o rasgão do solo ou da rocha decomposta ocasionado pela erosão do lençol de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 286


escoamento superficial, podendo também serem formadas pelo escoamento subsuperficial
(GUERRA; GUERRA, 2003).
Ravinas e voçorocas são consequências da erosão e podem ser ocasionadas por vários
fatores que atuam em diferentes escalas temporais e espaciais (CHEROBIN, 2012). Estas erosões
derivam de rotas tomadas pelos fluxos de água que podem ocorrer na superfície ou subsuperfície.
Mesmo assim, temos que considerar outros fatores além dos fluxos de água na superfície ou
subsuperfície, tais como o relevo que exerce uma forte influência na evolução e desenvolvimento
dos solos e este por sua vez na configuração da paisagem, a dinâmica da água, a espessura do solo,
o teor de matéria orgânica, a cor e temperatura do solo e a saturação de bases (CUNHA; GUERRA,
2003b).
Estes processos erosivos originados nas rotas dos fluxos de água são considerados da
seguinte forma, segundo Guerra e Botelho (1999, p.60):

(...) (A) deslocamento de partículas por impactos de gotas de chuva, (B) transporte de
partículas de solo pelo escoamento superficial difuso, (C) transporte de partículas por
fluxos concentrados, (D) erosão por quedas-d‘água, (E) solapamento da base de talude, (F)
liquefação de materiais de solo, (G) movimentos de massa localizados, (H) arraste de
partículas por perlocação e (I) arraste de partículas por fluxos concentrados em túneis ou
dutos.

A aceleração dos processos erosivos são consequências de certos condicionantes naturais:


chuvas concentradas, encostas desprotegidas de vegetação, contato solo – rocha abrupto e encostas
íngremes (CUNHA; GUERRA, 1996). A ação antrópica como causador deste processo se dá da
seguinte forma: deslocamento e corte das encostas, para construção de casas, prédios e ruas
ocasionando assim mais facilidade de escoamento das águas em superfície e em subsuperfície (duto
de esgoto) e as descontinuidades nos afloramentos e nos solos.
Como consequência do processo erosivo evidenciado neste estudo, pode-se constatar uma
desestabilização do terreno ocasionado pelo deslocamento do solo em virtude da suave inclinação
do relevo associado ao escoamento superficial concentrado nas estações chuvosas e o escoamento
subsuperficial concentrado do duto de esgoto, o que vem dar origem a uma voçoroca. Para que este
tipo de problema seja evitado tem de ser tomada algumas atitudes que desacelere o processo de
desgaste do solo.
Segundo Cunha e Guerra (1996), o solo é conceituado como parte fundamental que integra o
meio ambiente e que merece uma observação mais cuidadosa na sua composição já que o mesmo é
influenciado na formação do relevo, além disso, eles denunciam as características, os processos e os
mecanismos que atuam na sua formação.
Como coloca Cunha e Guerra (1996, p.118):

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 287


Os solos são parte vital e integra do ambiente e são definidos como indivíduos naturais
distintos, produzidos pela interação, na superfície terrestre, e expressam características dos
processos e mecanismo que predominam na sua formação.

Portanto, é conhecendo estas características através de um levantamento de campo do meio


ambiente em questão que será possível propor soluções baseadas em experiências já relatadas.
Sugere-se um monitoramento das voçorocas e ravinas usando estacas que serão fincadas no solo a
dez metros de distância da borda da voçoroca, além de um levantamento do tipo de solo e suas
propriedades, taxa de infiltração, teor de umidade do solo e outros (CUNHA; GUERRA, 1996),
para que depois possa se escolher de acordo com o objetivo que se quer alcançar um dos métodos
de conservação do solo. A respeito destes métodos, Cunha e Guerra (2003a) apontam cinco
medidas estratégicas que se utilizadas podem retardar o processo de erosão e até solucionar de vez o
problema, que são: cultivo em curva de nível, terraceamento, captação de águas, estruturas de
estabilização e geotêxteis (CUNHA; GUERRA, 2003a).
O processo erosivo acelerado (voçoroca) levantado aqui em estudo define-se pela escavação
de solo ou regolito, ocasionada pela erosão do lençol de escoamento superficial ou subsuperficial
(GUERRA; GUERRA, 2003). A influência no uso do solo neste tipo de processo erosivo, nas
Timbaúbas no Município de Juazeiro do Norte – CE, ocorre de forma a comprometer qualquer
construção civil presente muito próximo ao local onde ela se encontra. Deve-se também levar em
consideração a forma como o relevo se apresenta e as propriedades do solo. Segundo Palmieri e
Larach (2011), o relevo exerce uma forte influência na evolução e desenvolvimento dos solos e este
por sua vez na configuração da paisagem. São fatores a serem considerados: a dinâmica da água, a
espessura do solo, o teor de matéria orgânica, a cor e temperatura do solo e a saturação de bases.
A presente pesquisa teve como objetivo averiguar o grau de conhecimento ecológico dos
moradores sobre a voçoroca formada nas proximidades do Parque Ecológico das Timbaúbas, a qual
tem influenciado na modificação da paisagem local.

MATERIAIS E METÓDOS

Caracterização da área de estudo

O Município de Juazeiro do Norte apresenta um clima tropical quente semiárido e tropical


quente semiárido brando, a pluviosidade é de 925,1mm anuais, tendo o período chuvoso nos meses
de janeiro a maio. As temperaturas médias variam de 24ºC a 26ºC. (IPECE, 2012). Juazeiro do
Norte está localizado ao Sul do Ceará na região do Vale do Cariri. Aproximadamente a 7° 12‘ 47‘‘
de latitude Sul e 39° 18‘ 55‘‘de longitude Oeste. Possui uma área de 248,55 Km 2, e está a 377,33

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 288


metros de altitude acima do nível do mar e uma distância em linha reta até a capital de 396,0 Km.
(IBGE, 2010).

Figura 1: Localização do Município de Juazeiro do Norte


Fonte: WIKIPEDIA (2013)

Procedimentos metodológicos

Inicialmente efetuou-se uma pesquisa bibliográfica no sentido de adquirir o embasamento


teórico necessário à compreensão do problema, seguidamente foi executada uma entrevista através
de um questionário semiestruturado, nos meses de novembro e dezembro de 2013 e janeiro a abril
de 2014, com cem moradores em um raio de 500m (quinhentos metros) da voçoroca próximo ao
Parque Ecológico no Município de Juazeiro do Norte – CE (Figura 2), para que se possam tabular e
interpretar os dados da entrevista no intuito de identificar o grau de conhecimento ecológico das
pessoas que compõem o universo pesquisado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 289


.
Figura 2: Visão leste/oeste do início da voçoroca. Fonte: CASTRO (2014)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perguntado aos entrevistados sobre a origem da voçoroca no local, apenas 14% dizem saber
como surgiu; enquanto que 86% desconhecem a sua origem, isso reflete a ignorância e o descaso
com o meio ambiente que os rodeia (Figura 3).

Origem da voçoroca

14%
Sim
Não
86%

Figura 3 – Opinião da origem da comunidade sobre voçoroca

De acordo com Bacellar (2000) e Cherobin (2012) as voçorocas podem ser consequências de
modificações antrópicas, mas não constituem um pré-requisito para o seu desenvolvimento, sendo o
homem apenas um dos agentes destas modificações, que atua acelerando o processo.
Ao serem perguntados sobre os fatores que contribuíram para o surgimento da voçoroca,
57% disseram não saber, 24% afirmaram que era devido ao escoamento pluvial e 19% a um
escoamento do duto de esgoto (Figura 4).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 290


Fatores que contribuem para a voçoroca
57%
60%

Percentual (%)
50%
40%
30% 24%
19%
20%
10%
0%
Não sabem Escoamento Escoamento superficial
subsuperficial pluvial concentrado
concentrado por um duto
de esgoto
Fatores

Figura 4 – Fatores que contribuem para o surgimento da voçoroca

Cunha e Guerra (2003b, p.195), afirmam que existem vários métodos de controle de erosão
do solo:

As estratégias de conservação dos solos implicam a sua proteção para prevenir a ação do
impacto das gotas de chuva. Isso aumenta a capacidade de infiltração, melhorando a
estabilidade dos agregados e aumenta a rugosidade da superfície do solo. Tudo isso tem o
objetivo de reduzir a velocidade do runoff e do vento. Existe grande variedades de métodos
de controle de erosão do solo.

De acordo com o comportamento observado na comunidade em relação ao avanço da


voçoroca, 12% dos entrevistados afirmaram que usá-lo como depósito de lixo contribuem para o
seu aumento, 19% não ter esgotos ligados à caixa coletora do sistema de água e esgoto local e 69%
afirmaram que nenhum dos fatores colocados contribuem para o seu aumento (Figura 5).

Aumento da voçoroca
Variável

Não ligação do esgosto a caixa


19%
coletora

Depósito de lixo 12%

Nenhuma das alternativas 69%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Percentual (%)
Figura 5 – Fatores que provocam o aumento da voçoroca

Sabe-se que este tipo de ação influencia na erosão do solo, pois, quando eles depositam o
seu lixo às margens e dentro da voçoroca, fazendo com que a vegetação que ali existe morra, eles
consequentemente estão desprotegendo o solo facilitando o aumento dos efeitos do escoamento
superficial. Cunha e Guerra, (2003a, p.171), afirma o seguinte:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 291


A ausência da cobertura vegetal facilita o impacto das gotas de chuva, fazendo com que os
agregados se quebrem, crostas sejam formadas na superfície do solo, o que aumenta os
efeitos do escoamento superficial, causando maiores taxas de erosão.

Entre os principais transtornos apontados como difíceis de conviver pela comunidade, 21%
afirmaram que era o avanço da voçoroca, 31% o mau cheiro ocasionado pelo lixo e os dejetos do
esgoto, 48% não responderam (Figura 6)

Transtornos

Não responderam
29%
45% Avanço da
voçoroca
26% Mau cheiro de
esgoto e lixo

Figura 6 – Principais transtornos da comunidade

Para Cherobin (2012, p.14):

As voçorocas podem ser consideradas de grande poder destrutivo, envolvendo diferentes


mecanismos relacionados entre si, que atuam de forma intensa, desagregando os solos e
inutilizando grandes extensões de terra. Assim a inter-relação que ocorre nos mecanismos
promovidos pelo escoamento das águas de superfície e subsuperfície, com a evolução do
processo de erosão, pode ser compreendida pela análise dos testemunhos que permanecem
após seu desencadeamento. Com isso, as feições/sinais que ocorrem no interior e ao redor
de uma voçoroca podem fornecer o registro de quais mecanismos atuam com maior ou
menor intensidade e, assim, possibilitarem correlações com o material transportado que
indica o avanço do processo de erosão em determinada direção.

Perguntados sobre de quem era a responsabilidade do problema da presença da voçoroca,


67% responderam que era da prefeitura, 24% dos moradores e 9% de ambos (Figura 7).

Responsabilidade
Percentual (%)

80%
67%
70%
60%
50%
40%
30% 24%
20%
9%
10%
0%
Ambos Prefeitura Moradores

Figura 7 – Responsáveis pela presença da voçoroca

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 292


Para Cassete (1995), geomorfologicamente a infiltração é responsável pelo intemperismo
que permite o desenvolvimento da formação dos solos, propiciando assim o material para eventual
transporte. Ainda de acordo com Walter e Crispim (2011), a voçoroca é de reponsabilidade política
e dos moradores, pois os mesmos não são conscientes da sua existência.
Existem algumas estratégias propostas por Cunha e Guerra (2003b), entre elas estão:
a) O cultivo em curva de nível ajuda a reduzir a perda do solo em até cinquenta por cento se
comparado ao plantio de alto a baixo na encosta, prática muito realizada pelos agricultores da
região, contudo não se aplica ao caso em estudo.
b) O terraceamento é uma estratégia utilizada para interromper o escoamento superficial, e
possui três objetivos básicos. O primeiro é interceptar o fluxo de água superficial, o segundo é
aumentar o armazenamento de água e o terceiro é construir degraus nas encostas com mais de 30°
que precisam ser cultivados. A estratégia do terraceamento é uma medida inviável para o caso da
voçoroca do Parque Ecológico das Timbaúbas, no Município de Juazeiro do Norte – CE porque o
lençol de água que rasga o solo é formado por dejetos dos esgotos das residências.
c) As estruturas de estabilização é uma estratégia onde se constrói uma pequena parede de
40cm a 2m de altura com material disponível no próprio local, tais como rochas, madeiras e areia. É
uma solução que apresenta um alto risco de insucesso por isso se torna uma solução inviável.
d) A estratégia de usar geotêxteis consiste em desenrolar uma tela do topo até a base da
voçoroca e fixá-la com pinos, o que permitiria um crescimento da vegetação se fosse realizado um
trabalho de recuperação do solo. É uma estratégia que reduz até vinte por cento da taxa de erosão
se comparada com encostas desprotegidas.
e) A captação de águas consiste em captar o runoff (escoamento superficial) a uma velocidade
não erosiva até um ponto onde esta água possa ser dispersa. É uma estratégia considerada viável
para esta situação, todavia, ao invés de dispersar a água ela deveria ser captada pela subestação de
esgoto da cidade, para depois ser enviada através de bombas para a estação de tratamento de água e
esgoto.

CONCLUSÃO

Pode concluir que:


a) A voçoroca no entorno do Parque Ecológico das Timbaúbas tem aumentado e avançado;
b) Os moradores pouco entendem ou sabem o que é a voçoroca, o que acaba contribuindo
para o seu aumento, quando ocorre o depósito de resíduos sólidos e água de esgoto no local;
c) É necessário fazer uma campanha educativa que possa sensibilizar a população para que a
mesma mude os seus hábitos em relação ao meio ambiente no qual estão inseridos;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 293


d) A prefeitura deve a realizar construção de uma canaleta que captará toda a água oriunda
do escoamento superficial concentrado e superficial concentrado difuso, além de exigir que a
população ligue o esgoto da sua residência à caixa coletora da companhia de água e esgoto local;
e) Aterrar e compactar a área degradada não esquecendo de plantar uma vegetação rasteira
que protegerá o solo da erosão ocasionada pela força mecânica das gotas das chuvas evitando o
arranque e perlocação de partículas por escoamento pluvial e sustentará a superfície do terreno.

REFERÊNCIAS

BACELLAR, L. A. P. Condicionantes geológicos, geomorfológicos e geotécnicos dos mecanismos


de voçorocamento na Bacia do rio Maracujá, Ouro Preto, MG. COPPE/UFRJ. Tese de
doutorado, 2000.

CASSETI, V. Ambiente e Apropriação do Relevo. São Paulo 2. ed. Contexto, 1995.

CHEROBIN, S. F. Estimativa de erosão e sua relação com os diferentes mecanismos erosivos


atuantes: estudo da voçoroca Vila Alegre. 116f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Ambiental) - Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, 2012.

CRISTOFOLETTI, A. A Geomorfologia. São Paulo: 2. ed. Edgard Blucher, 2003.

CUNHA, S. B.; GUERRA, A J. T. Geomorfologia e Meio Ambiente. 4. Ed. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 2003a.

CUNHA, S. B.; GUERRA, A J. T. Geomorfologia: Exercício Técnicas e Aplicações. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

CUNHA, S. B.; GUERRA, A J. T. Geomorfologia: Uma Atualização de Bases e Conceitos. 5ed.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003b.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo do Estado do Ceará. 2010. Disponível
em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_cea
ra.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2014.

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Perfil Básico Municipal. 2012.
Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2012/Juazeiro.pdf>.
Acesso em: 15 mar. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 294


GUERRA, A J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. (Org.) Erosão e Conservação dos Solos.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

GUERRA, A T.; GUERRA A J. T. Novo Dicionário Geológico Geomorfológico. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 2003.

PALMIERI, F.; LARACH, J.O.I. Pedologia e Geomorfologia. In: Geomorfologia e Meio Ambiente.
10. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2011.

RIBEIRO, S. C. Etnogeomorfologia sertaneja: proposta metodológica para a classificação da sub-


bacia do rio Salgado/CE. 282f. Tese (Planejamento e Gestão Ambiental). Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012

WALTER, D. F; CRISPIM, J. Q. Monitoramento e análise da ação antrópica do processo erosivo


por voçoroca próximo ao perímetro urbano do município de Luiziana, PR. IN: I Simpósio de
Estudos Urbanos, 3, 2011, Paraná. Anais... SEUR, 2011, p. 1-5.

WIKIPEDIA. Juazeiro do Norte, 2013. Disponível em:


<http://pt.wikipedia.org/wiki/Juazeiro_do_Norte> Acesso em: 15 mar. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 295


DELINEAMENTO DO SITIO URBANO, VULNERABILIDADE E PAISAGEM DE
RISCO EM AREIA-PB

Douglas Cavalcante de ARAÚJO


Aluno de graduação de licenciatura em Geografia/Universidade Federal de Campina Grande
douglascaraujoo@gmail.com
Ailson de Lima MARQUES
Aluno de graduação de licenciatura em Geografia/Universidade Federal de Campina Grande
marques.ailsonl@gmail.com
Ewerton da Silva BARBOSA
Aluno de graduação em Engenharia Agronômica/Universidade Federal da Paraíba
ewertonsilva07@gmail.com
Ana Raquel Dionísio RAMOS
MSc em Meteorologia e lotada no Laboratório de Ensino de Geografia-LAEG/UAG/CH/UFCG
anna.raquelramos@gmail.com

RESUMO
A expansão urbana nos países subdesenvolvidos pode se tornar um problema catastrófico quando
acontece em terrenos ambientalmente instáveis, a geomorfologia urbana é a ciência que estuda os
sítios urbanos pelo viés das características do relevo e suas inter-relações com outros componentes
da paisagem, como o clima, meteorologia, geologia, vegetação e uso e ocupação. A partir do
delineamento Geoambiental da paisagem urbana com uso do Geoprocessamento, Sensoriamento
Remoto e Análise Empírica esta pesquisa tem por objetivo geral: Objetivo geral: retrata a interface
geomorfológica do sitio urbano de Areia-PB, e especificamente: identificar paisagens de risco
urbano através da matriz geossistêmica. Como resultado principal tem-se áreas com ocupação
irregular e construções frágeis em terrenos íngremes. É plausível que essa pesquisa venha a
direcionar e possibilitar outras, que aprofundem mais os levantamentos dos problemas de
ordenamento territorial do sitio urbano de Areia e também possa subsidiar politicas publicas
urbanas.
Palavras-chave- expansão urbana, geoambiental, terrenos íngremes.

ABSTRACT
Urban expansion in underdeveloped countries can become a problem when catastrophic happens in
environmentally unstable land, urban geomorphology is the science of urban sites by the
characteristics of the terrain and their interrelations with other components bias the landscape, such
as climate, meteorology, geology, vegetation and land use and settlement. From the design
Geoenvironmental the urban landscape with the use of GIS, Remote Sensing and empirical analysis
of this research has the objective: portraying the geomorphological urban interface sitio de Areia-

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 296


PB, and specifically to: identify areas with geomorphological vulnerability to mass movements. As
a result it has been uneven and fragile areas with urban density in steep terrain. It prazível that this
research will direct and enable others to deepen further surveys of the problems of territorial
planning of the urban site of Sand and may also subsidize urban public policies.
Key-words-urban sprawl, geoenvironmental, steep terrain.

INTRODUÇÃO

As pesquisas geomorfológicas de sítios urbanos no Brasil tiveram inicio a partir Ab‘Saber:


(1953; 1959; 1960; 1965), decorrente da preocupação do autor com a expansão urbana em
ambientes instáveis. Aglomerações urbanas são responsáveis por processo de expansão espacial
permanente que no Brasil, bem como na maior parte dos países subdesenvolvidos, tem
desencadeado preocupações de entidades governamentais e não governamentais, devido à
aceleração descontrolada dos adensamentos urbanos na paisagem vulnerável. O relevo constitui a
principal expressão física das condições de equilíbrio na litosfera e a adaptação do homem a esse
meio pode se tornar catastrófica, com desastres ecológicos diversos e consequentemente perdas de
vidas humanas e patrimônios privados e coletivos (Saadi, 1997).
Ainda segundo autor, a geomorfologia urbana se preocupa em estabelecer fieis prognósticos
do uso e ocupação na paisagem urbana, bem como sobre as limitações dessa paisagem mediante o
ambiente físico e biótico. Nesse contexto, o papel da geomorfologia urbana ainda é mais realçado
em regiões submetidas a condições bioclimáticas intertropicais que prevalecem instabilidades
morfodinâmicas no manto de intemperismo, onde os componentes do Geossistema: clima,
meteorologia, geologia, geomorfologia, pedologia, biogeografia e uso e ocupação, formam uma
paisagem única. São exemplos desses estudos os ricos hás vulnerabilidades de movimentos
gravitacionais de massa, como deslizamentos e desmoronamentos que comprometem a paisagem
urbana.
Nesse sentido, entre muitas outras ferramentas de diagnostico da paisagem urbana de risco,
esta pesquisa apoia-se na teoria dos Geossistemas, método de análise empírica da paisagem e em
produtos de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento.
Segundo Sochava (1978), um Geossistema é uma dimensão do espaço terrestre onde os
diversos componentes ambientais encontram-se sistematicamente ordenados interagindo com a
sociedade formando o espaço geográfico. Baseado na Teoria da Ecodinâmica de Tricart (1977),
Ross (1994) criou a metodologia Análise Empírica de Fragilidade Ambiental, esta se direciona a
uma análise profunda da paisagem através da pesquisa de campo e levantamentos sistêmicos para
identificação de espectros de vulnerabilidade e potencialidades de diferentes ambientes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 297


De acordo com Florenzano (2007), o Sensoriamento Remoto é a ciência ou técnica que
permite capturar informações sobre a superfície terrestre por meio de sensores ópticos e radares,
entre os muitos produtos e possibilidades estão imagens de alta resolução e ferramentas que
permitem espacializar o espaço geográfico, a partir de Modelos Digitais de Elevação do Terreno –
MDE, obtendo-se, entre outras, variáveis morfométricas, como dados de altitude e declividade e
perfil topográfico.
O Geoprocessamento é uma ferramenta vinculada a um Sistema de Informações Geográficas
– SIG que busca levantamentos, análises e cruzamentos de dados georreferenciados visando a
realização do planejamento, manejo e ou gerenciamento de espaços específicos (Fitz, 2008). Para
Kimerling (1994), um SIG pode ser definido como um conjunto de hardwares e softwares
interligados para a aquisição, armazenamento, estruturação, manipulação, análise e exibição gráfica
de dados espacialmente referenciados por coordenadas geográficas.
Assim essa pesquisa tem por: Objetivo geral: retrata a interface geomorfológica do sitio
urbano de Areia-PB e, especificamente: identificar paisagens de risco urbano através da matriz
geossistêmica.

METODOLOGIA

Caracterização e localização da área de estudo

A cidade de Areia está localizado na microrregião do brejo paraibano, entre as coordenadas


geográficas 6º51‘47‖ e 7º02‘04‖S, e 35º34‘13‖ e 35º48‘28‖W, (Figura 03), numa área de 0,97
4Km², a população urbana é de aproximadamente 14.602 hab. e sua densidade demográfica é de
150 hab/Km² (IBGE, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 298


Figura 01. Localização da área de estudo.
Base de dados: INPE; AESA; GOOGLE EARTH PRO (2014).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia dessa pesquisa esta embasada nas pesquisas de: Ross (1991; 1994),
Christopherson (1994), Salomão (1999), CPRM (2003) e Schaefer (2012). Para isso foram
desenvolvidas as seguintes etapas:
Revisão de literatura: do clima, meteorologia, geologia, geomorfologia, pedologia,
biogeografia e uso e ocupação da terra do município de Areia-PB.
Mapeamento do sitio urbano, análise da topografia e análise do crescimento urbano: foram
realizados com auxilio da revisão bibliográfica e do Google Earth Pro. No software utilizaram-se as
ferramentas de Comparação Histórica de Imagens; Delimitação Poligonal e Extração de Perfil
Topográfico.
Análise dos bairros, identificação das vulnerabilidades e espacialização de áreas risco: foram
adquiridos os modelos topográficos digitais, o SB–25–Y-A e o SB-25-Y-C, no banco de dados on
line TOPODATA, no datum WGS-84, com resolução espacial de 30 m. Com auxilio do software
Arc Gis 10 foram extraídas as variáveis geomorfológicas de Morfologia (forma) e Morfométria
(altitude e declividade) e incorporados os perfis topográficos e as informações climáticas,
meteorológicas, geológicas, geomorfológicas, pedológicas, biogeográficas (vegetação) e de uso e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 299
ocupação. Através da análise empírica in loco foram analisados todos os bairros do sitio urbano,
identificado o arranjo das vulnerabilidades, fotografadas as áreas risco, e depois espacializadas as
informações nos resultados.
Todos os equipamentos (maquina fotográfica digital e o softwares ArcGis 2010), estão
licenciados para o Laboratório Multiusuário dos Cursos de Pós-Graduação, do Centro de
Humanidades da Universidade Federal de Campina Grande (CADIGEOS). O software Google
Earth Pro esta sob licença provisória de teste.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do delineamento do sitio urbano do Município (Figura 02) tem-se os detalhes do


crescimento urbano em relação ao do perfil topográfico do Município. O contorno laranja apresenta
o delineamento do sitio urbano no ano de 1969 e o contorno azul do delineamento do ano de 2010.
Em 1969 o sitio urbano apresentava uma área estimada em 0,49 Km² e em 2010 de 0,97 Km², um
crescimento estimado em 0,48 km² em uma diferença espaço temporal de 41 anos.

Figura 02. Crescimento urbano e perfil topográfico do sitio urbano de Areia-PB no intervalo temporal 1969-
2010. Base de dados: Google Earth Pro 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 300


Ao verificar o perfil topográfico contido na Figura 02 e a altitude da sede municipal (620 m)
é perceptível que o adensamento urbano acompanhou a topografia montanhosa e acidentada da área
de cima para baixo, ou seja, a sede fica no platô e a periferia segue o relevo íngreme.
Corroborando com essa pesquisa, Moraes (2005) atribui que a conjuntura do sitio urbano do
município de Areia apresenta seu inicio de adensamento populacional em 1701 e dá ao processo de
crescimento do município etapas no intervalo temporal (1701-2005), assim têm-se os primórdios da
ocupação (1701-1800); o crescimento territorial expressivo (1801-1850); interrupção abrupta do
crescimento (1851-1900) e; nova fase de crescimento urbano e explosão demográfica, desencadeada
a partir do início do século XX (1901-2005). Essas etapas estão espacializadas na Figura 03.

Figura 03. Etapas do crescimento urbano do Município de Areia-PB.


Fonte: Moraes (2008).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 301


O intervalo espaço temporal de 1969 a 2010 tecnicamente pertence à época da nova fase de
crescimento urbano e explosão demográfica apresentada por Moraes (2008), desencadeada a partir
do início do século XX (1901-2005), tal fato é observado ao comparar a Figura 02 com a 03.
Ao analisar a conjuntura geomorfológica do sitio urbano do Município (Figura 04), é
verificável que possui uma morfologia de morros de topos planos e encosta ravinadas permeadas
por morrotes, vales e várzeas, apresentando nas variáveis morfométricas: altitudes de 509 a 635 e
declividades de 3 a 45º.

Figura 04. Espacialização da Hipsometria (altitude) e declividade do sitio urbano de Areia-PB.


Base de dados: INPE; AESA; TOPODATA (2014).

De acordo com a chave de declividade para classificação de terrenos proposta pela Embrapa,
o sitio urbano de Areia-PB apresenta terreno com: (quadro 01):

Declividade Classificação Características do relevo


% do terreno
3a8 Suave Superfície de topografia pouco movimentada,
Ondulado constituída por conjuntos de colinas e ou outeiros
(elevações relativas de até 50 m e de 50 a 100 m,
respectivamente), apresentando declives suaves.

9 a 20 Ondulado Superfície de topografia pouco movimentada,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 302


constituída por conjunto de colinas, apresentando
declives moderados.

21 a 45 Forte Superfície de topografia movimentada, formada por


Ondulado outeiros e/ou morros (elevações de 50 a 100 m e de
100 a 200 m respectivamente) e raramente colinas,
com declives fortes.

Quadro 01. Classificação do terreno do sitio urbano de Areia-PB com base na declividade.

Ao analisar o arranjo do sitio urbano do Município com as variáveis geomorfológicas


digitais: altitude/declividade/perfil topográfico e ao comparar com o adensamento urbano observado
na analise empírica tem-se que as áreas mais vulneráveis, são as da explosão demográfica (1901-
2005) e são periferias, onde coparticipam construções urbanas seguras e construções urbanas
problemáticas (irregulares e inseguras), em terrenos ambientalmente vulneráveis.
No Mapeamento Geossistêmico das áreas de risco com vulnerabilidade a movimentos de
massa levou-se em consideração que o sitio urbano apresenta o Clima: As- tropical quente e úmido
(Köppen-Geiger); Precipitação orográfica: médias de 1400 mm/ano; Geologia: complexo granítico
sob intemperismo químico (Formação Serra dos Martins-sm); Pedologia: Argissolos amarelos e
Argissolos vermelho-amarelos. Na classificação de Marques et. al (2014), o sitio urbano faz parte
da morfoescultura dos maciços residuais da morfoestrutura do Planalto da Borborema, devido o
posicionamento continental a leste desses maciços, na área há exposição a massas de ar úmidas, que
tem como resultado a dissecação mais ativa do relevo. A morfologia apresenta-se em forma mesetas
de contornos irregulares, com encostas abruptas e ravinadas (escarpas), formando a unidade
Geossistêmica Planalto que a barlavento originou os Brejos de Altitude e Exposição (acidente
geográfico do Município que o faz ter como vegetação nativa a Floresta Ombrófila Aberta).
O contexto Geoambeintal usufrui de variantes naturais e antrópicas, assim de acordo com
Bigarella et al.(2003, p. 1026)

―As condições que favorecem os movimentos de massa dependem principalmente da


estrutura geológica, da declividade da vertente (forma topográfica), do regime de chuvas
(em especial de episódios pluviais intensos), da perda de vegetação e da atividade
antrópica, bem como pela existência de espessos mantos de intemperismo, além da
presença de níveis ou faixas impermeáveis que atuam como planos de deslizamentos‖.

Foram identificadas três áreas com interface Geoambiental problemática à ocupação, mas
que apresentam adensamento urbano, ou seja, um contexto de vulnerabilidade que desencadeia uma
paisagem de risco.
A primeira área recebeu o nome de Adensamento Jussara (Figura 05), localiza-se na zona
leste do Município, no bairro Jussara, na saída para Pilões, João Pessoa e etc. Nesta área a altitude
tem uma variação 590-540 m, a declividade forma terrenos ondulados e forte ondulados,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 303


apresentando três morros de topos planos e encostas abruptas, formando um vale encaixado e uma
área de várzea rodeada por morrotes. O adensamento urbano começa no topo do morro, onde há a
PB-079 e acompanha a topografia de forma problemática até a várzea, com construções
aparentemente frágeis, não houve no processo de loteamento o incremento medidas de contenção a
movimentos de massa, como curvas de nível e as residências aparentemente são frágeis face ao
contexto Geoambiental de um terreno íngreme, com solo exposto ou cobertura vegetal formada
principalmente por bananeira (Musa spp) e Jaqueira (Artocarpus heterophyllus), precipitação alta
podendo ser influenciada por fenômenos torrenciais de chuva e La nina, além de ser uma área que
não há um programa de saneamento básico eficaz, onde há com vazamentos de água e os esgotos
correm a céu aberto penetrando no solo (Figura 05, imagens:1 e 2). Dessa forma, uma paisagem
urbana de risco, vulnerável a movimentos gravitacionais de massa, como rastejos, escorregamentos
e corridas, além do o efeito domino sob as construções.

Figura 05. Adensamento Jussara do sitio urbano de Areia-PB.


Base de dados: Google Earth Pro. Fotos: Barbosa (2014).

A segunda área recebeu o nome de Adensamento Palha (Figura 06), localiza-se na zona
Centro-Oeste do Município, no bairro Centro, na saída para Remígio, Campina Grande e etc. Nesta

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 304


área a altitude tem uma variação 612-550 m, a declividade forma terrenos ondulados e forte
ondulados, apresentando uma encosta abrupta de um morro de topo íngreme. O adensamento
urbano se instalou desde o corte do morro para instalação da rua principal até as áreas mais
íngremes, onde esta a PB-079, acompanhando a topografia de forma problemática, como no
Adensamento Jussara, as construções aparentemente são frágeis e não houve no processo de
loteamento o incremento medidas de contenção a movimentos de massa, como curvas de nível e as
residências aparentemente são frágeis face ao contexto Geoambiental de um terreno íngreme, com
solo exposto ou cobertura vegetal formada principalmente por bananeira (Musa spp) e Jaqueira
(Artocarpus heterophyllus), precipitação alta podendo ser influenciada por fenômenos como chuvas
torrenciais e La nina, além de ser uma área que não há um programa de saneamento básico eficaz,
onde há vazamentos de água e os esgotos correm a céu aberto penetrando no solo (Figura 06,
imagens: 1, 2 e 3). Dessa forma, uma paisagem urbana de risco, vulnerável a movimentos
gravitacionais de massa, como rastejos, escorregamentos e corridas.

Figura 06. Adensamento Palha do sitio urbano de Areia-PB. Base de dados: Google Earth Pro. Fotos:
Barbosa (2014).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 305


A terceira área recebeu o nome de Adensamento Mutirão (Figura 07), localiza-se na zona
Oeste do Município, no bairro Cidade Universitária, na saída para Remígio, Campina Grande e etc.
Nesta área a altitude tem uma variação 651-531 m, a declividade forma terrenos ondulados e forte
ondulados, apresentando uma encosta abrupta de um morro de topo íngreme. O adensamento
urbano se instalou desde o corte do morro para instalação da PB-79 até as áreas mais íngremes,
acompanhando a topografia de forma problemática, como no Adensamento Jussara e Adensamento
Palha, as construções aparentemente são frágeis e não houve no processo de loteamento o
incremento medidas de contenção a movimentos de massa, como curvas de nível e as residências
aparentemente são frágeis face ao contexto Geoambiental de um terreno íngreme, com solo exposto
ou cobertura vegetal formada principalmente por Bananeira (Musa spp) e Jaqueira (Artocarpus
heterophyllus), precipitação alta podendo ser influenciada por fenômenos como chuvas torrenciais e
La nina, além de ser uma área que não há um programa de saneamento básico eficaz, onde há
vazamentos de água e os esgotos correm a céu aberto penetrando no solo (Figura 06, imagens: 1, 2 e
3). Dessa forma, uma paisagem urbana de risco, vulnerável a movimentos gravitacionais de massa,
como rastejos, escorregamentos e corridas.

Figura 07. Adensamento Mutirão do sitio urbano de Areia-PB.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 306


Base de dados: Google Earth Pro. Fotos: Barbosa (2014).

Em contextos urbanos vulneráveis, Castro et. al (2005, p.27), afirmam que:

―Seja na cidade ou no campo, os processos atmosféricos, hidrológicos, sociais, político-


econômicos e industriais produzem quadros conjunturais de riscos, com diferentes
intensidades e níveis de exposição da sociedade, que reclama esforços para a mitigação de
danos, regulamentação de usos e compensações financeiras, definição de investimentos, e,
em outra instância, políticas e ações específicas contidas no planejamento e na gestão
territorial‖.

O contexto Geoambiental observado em cada adensamento do município repercute um dos


principais problemas urbano brasileiro frente à expansão e ordenamento territorial, muitas vezes
desordenado, em áreas ambientais vulneráveis e com risco eminente, muitas vezes isso fica
encoberto pelo poder público, vindo à tona apenas quando já ocorreu algum tipo de catástrofe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo com a vulnerabilidade desencadeada pelas características ambientais e de uso e


ocupação no perímetro do sitio urbano, o Plano Diretor do Município não trás soluções e mediações
de urgência e longo prazo especificas há paisagem geomorfológico-urbana de risco. É plausível que
essa pesquisa venha direcionar e possibilitar outras que aprofundem mais os levantamentos dos
problemas de ordenamento territorial do sitio urbano de Areia, e também possa subsidiar politicas
públicas.

REFERÊNCIAS

AB‘SABER.A.N. A cidade de Manaus (Primeiros estudos). Boletim Paulista de Geografia. São


Paulo n° 15, p18-45.1953.

_________Geomorfologia do sitio urbano de São Paulo. Bol. Fac. Fil. Ci. Letras. São Paulo, 219p.,
1959.

_________O sítio da cidade de Salvador, in Cidade de Salvador. Imp. Ofic. da Bahia. 112p., 1960.

_________O sítio urbano de Porto Alegre: estudo geográfico. Bol. Paulista de Geografia. São
Paulo, n° 42, 130p., 1965.

BIGARELLA, J. J.; PASSOS, E. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais.


Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2003 v. 3 (p.877-1436).
CASTRO, C. M. de; PEIXOTO, M. N. de O.; RIO, G. A. P. do. Riscos Ambientais eGeografia:
Conceituações, Abordagens e Escalas. Anuário do Instituto de Geociências. UFRJ. 28-2 / 2005
p. 11-30.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 307
CHRISTOPHERSON, R. W. Geosystems: an introduction to physical geography. New York:
MacMillan College Publishing Co. 1994.

CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Zoneamento Geoambiental da Região de Irauçuba – CE.


Texto explicativo. Carta Geoambiental. Fortaleza: CPRM, 2003.

FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficinas de Textos, 160p. 2008.

FLORENZANO, T. G. Sensoriamento Remoto para Geomorfologia. In: FLORENZANO, T. G.


(Org). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

KIMERLING, J. 1994. Sistemas de Informações Geográficas e Cartografia. Associação


Cartográfica Internacional. Tradução de Fernando Santil e José Hamilton Azenha Pereira para o
Projeto Courseware em Ciências Cartográficas. Unesp, Campus Presidente Prudente, Faculdade
de Ciências e Tecnologias. Coordenação: Arlete Meneguette. São Paulo.

EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.


Brasília:

Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 1999. 412p.

MARQUES, A.L.; Silva, J.B.; Silva, D.G. Compartimentação geológico/geomorfológica da bacia


do rio Mamanguape-PB. SBSR. João Pessoa-PB, 9p. Trabalho não publicado.

MORAES, C. G. M. S. M. Areia - Paraíba: morfologia e desenvolvimento urbano (séculos XVIII,


XIX e XX). 2008. 223f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) - Departamento de
Arquitetura, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

ROSS, J. L. S. Geomorfologia Ambiente e Planejamento. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 1991.

_______. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista do


Departamento de Geografia, n. 8, São Paulo: FFLCH/USP, 1994.

SAADI, Allaoua. (1997). A geomorfologia como ciência de apoio ao planejamento urbano em


Minas Gerais. In: 7 Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada/1 Fórum Latino-
Americano de Geografia Física Aplicada, 1997, Curitiba-PR. Anais do 7 Simpósio Brasileiro de
Geografia Física Aplicada. Curitiba-PR : UFPR, 1997. v. 2.

SALOMÃO, F. X. T. Controle e prevenção dos processos erosivos. In: Guerra, A. J. T.; Silva, A.
S.; Botelho, R. G. M. (Ed.) Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. Cap. 7, p. 229-268.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 308
SCHAEFER, C. E. et al. Análise Multi-Critério (MCE) aplicada ao mapeamento de áreas
susceptíveis a movimentos de massa na área urbana de Viçosa-MG. IV Simpósio Brasileiro de
Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 06- 09 de Maio de 2012. p.
001 – 009.

SOCHAVA, V.B. Por uma Teoria de classificação de geossistemas da vida terrestre. Biogeografia,
n.14. IGUSP. São Paulo. 1978. 23 p.

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio De Janeiro: IBGE, 1977.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 309


CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICO: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE UMA
ESCOLA MUNICIPAL NA VILA FLORESTAL EM LAGOA SECA / PB

Edgleiston Vieira da SILVA


Graduandos em Agroecologia, CCAA/UEPB
edgleiston1978@hotmail.com
Alfredo Rosas de LIMA JÚNIOR
Graduandos em Agroecologia, CCAA/UEPB
Edivânia Abidon da SILVA
Graduandos em Agroecologia, CCAA/UEPB
Shirleyde Alves dos SANTOS
Professora MSc. do Departamento de Agroecologia e Agropecuária, CCAA/UEPB

RESUMO
A partir da segunda guerra mundial, deu-se o emprego de grandes quantidades de produtos
químicos na agricultura, com o intuito de aumentar a produção de alimentos, a qual foi chamada de
revolução. Nesta perspectiva de consciência sobre as causas e consequências do uso de agrotóxicos,
uma das alternativas é o emprego da Educação Ambiental. A escola é um espaço privilegiado para
estabelecer conexões e informações, como uma das possibilidades para criar condições e
alternativas que estimulem os alunos a terem concepções e posturas cidadãs, cientes de suas
responsabilidades e, principalmente, perceberem-se como integrantes do meio ambiente. Diante
disso, o objetivou-se analisar o conhecimento das crianças acerca do tema ―agrotóxico‖ e promover
a conscientização dos mesmos sobre os riscos de contaminação dos alimentos com o uso excessivo
desses contaminantes. Para avaliar a percepção dos alunos foi utilizado questionários estruturados,
abordando temas relevantes como agrotóxico e meio ambiente, os alimentos mais contaminados por
agrotóxicos e intoxicação humana pelo uso de agrotóxicos. Além disso, foram apresentados aos
alunos dois vídeos educacionais. Também foram mostradas as crianças duas cestas, uma contendo
alimentos com agrotóxicos e uma sem agrotóxicos, a fim de que eles indicassem diferenças básicas
entre os dois grupos. De forma geral, as crianças da escola municipal em Lagoa Seca/PB
desconhecem o os conceitos que envolvem tema agrotóxico e alimentação saudável, contudo, elas
associaram à palavra ―agrotóxico‖ com algo que possa destruir a natureza e causar danos à saúde
humana. Sendo assim, as crianças absorveram de forma positiva os ensinamentos que lhes foram
oferecidos e com isso elas puderam construir um conceito de agrotóxico e alimentação saudável de
uma forma mais acessível a sua faixa etária.
Palavras-chaves: defensivo químico, educação ambiental, soberania alimentar.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 310


ABSTRACT
After the second world war, was given the job of large quantities of chemicals in agriculture, in
order to increase food production, which has been called revolution. From the perspective of
awareness about the causes and consequences of pesticide use, one alternative is the use of
Environmental Education. The school is a privileged place to make connections and information, as
one of the possibilities to create conditions and alternatives that encourage students to take concepts
and postures citizens, aware of their responsibilities and mainly perceive themselves as part of the
environment. Therefore, we aimed to analyze the children's knowledge about the topic of
"pesticide" and promote awareness of ourselves about the risks of food contamination with the
overuse of these contaminants. To assess the students' perception was used structured
questionnaires, addressing relevant topics such as pesticide and environment, the most
contaminated by pesticides and human poisoning by pesticide use food. In addition, students were
presented two educational videos. Children were also shown two baskets, one containing foods with
pesticides and pesticide free, so that they indicate basic differences between the two groups. In
general, children of the municipal school in Lagoa Seca / PB unaware of the concepts involving
pesticides and healthy eating theme, however, they associated the word "pesticide" with something
that can destroy nature and cause harm to human health. Thus, the children absorbed in a positive
way the teachings that were offered to them and that they were able to build a concept of pesticide
and healthy eating in a more affordable way to their age group.
Key words: chemical defense, environmental education, food sovereignty.

INTRODUÇÃO

A partir da segunda guerra mundial, deu-se o emprego de grandes quantidades de produtos


químicos na agricultura, com o intuito de aumentar a produção de alimentos, a qual foi chamada de
revolução verde, formando-se um novo modelo agroalimentar. O mesmo baseou-se na implantação
da monocultura mecanizada, bem como de novas técnicas de controle de pragas disseminadas nas
lavouras (NENNING et al, 2014).
Aqueles que têm contato direto com os agrotóxicos, na fabricação, no transporte, no
armazenamento, na comercialização e na aplicação, correm riscos de intoxicação que, dependendo
do produto e dos cuidados seguidos na manipulação, podem, muitas vezes, ser fatais (GARCIA,
1996).
Com relação à possibilidade de contaminação ambiental, muito há que se conhecer sobre o
comportamento final e os processos de degradação dos agrotóxicos, o que traz grande preocupação

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 311


como a demonstrada pela opinião pública de países desenvolvidos para as contaminações do ar do
solo e, principalmente, das águas (LUNA et al., 2000).
Com isso, a contaminação humana e ambiental por agrotóxicos está longe de ser um
problema simples, muito em parte pela diversidade de determinantes de ordens social, econômica
ecultural, que o permeiam (SILVA et al., 2013).
Em virtude do uso excessivo desses defensivos utilizados nas lavouras, e consequentemente
altos níveis tóxicos presentes nos alimentos, na maioria das vezes além do permitido, buscam-se
vicissitudes para conscientização da população do limite de uso e seus efeitos nocivos, tanto para o
ser humano quanto para o meio ambiente (NENNING et al, 2014).Nesta perspectiva de consciência
sobre as causas e consequências do uso de agrotóxicos, uma das alternativas é o emprego da
Educação Ambiental, que de forma transversal e interdisciplinar, permite a conscientização de
forma diferenciada para vários grupos (AYRES E BASTOS FILHO, 2007).
A escola é um espaço privilegiado para estabelecer conexões e informações, como uma das
possibilidades para criar condições e alternativas que estimulem os alunos a terem concepções e
posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades e, principalmente, perceberem-se como
integrantes do meio ambiente. A educação formal continua sendo um espaço importante para o
desenvolvimento de valores e atitudes comprometidas com a sustentabilidade ecológica e social
(LIMA, 2004).
Diante disso, o objetivo desse trabalho foi analisar o conhecimento das crianças a cerca do
tema ―agrotóxico‖ e promover a conscientização dos mesmos sobre os riscos de contaminação dos
alimentos por o uso excessivo desses contaminantes.

METODOLOGIA

Para avaliar a percepção dos alunos de uma escola municipal na Vila Florestal de Lagoa
Seca/PB em relação aos agrotóxicos e os riscos de contaminação dos alimentos foram utilizados
questionários estruturados, abordando temas relevantes como agrotóxico e meio ambiente, os
alimentos mais contaminados por agrotóxicos e intoxicação humana pelo uso de agrotóxicos.
Além disso, foram apresentados aos alunos dois vídeos educacionais chamados de
―Conhecendo os alimentos com o senhor banana‖ e ―As Aventuras de Leo e Juju - 19 Agrotóxicos‖,
abordando temas como alimentação saudável e contaminação dos alimentos por agrotóxicos de
forma atrativa e educativa, sendo assim ideal para crianças. Também foram mostradas as crianças
duas cestas, uma contendo alimentos com agrotóxicos e uma sem agrotóxicos, a fim de que eles
indicassem diferenças básicas entre os dois grupos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 312


Os dados coletados durante a aplicação dos questionários foram analisados a partir de
análise estatística descritiva mediante determinação das frequências percentuais observadas nas
categorias das variáveis. Para a formação do banco de dados foram tomados todos os dados obtidos
através do preenchimento do questionário, e posteriormente tabulados através do software editor de
planilhas Excel, sendo elaboradas tabelas de quantificação das respostas, que foram apresentadas
em porcentagem de acordo com as variáveis de estudo, sendo os dados analisados descritivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas 30 crianças da escola municipal na Vila Florestal em Lagoa Seca/ PB.
Na oportunidade foram perguntadas as crianças se em algum momento ele já tinham ouvido falar
em agrotóxico e 90% respondeu que não e apenas 3% que sim. E quando perguntado se os
agrotóxicos destroem a natureza 67% respondeu que sim e 33% que não.
Apesar de as crianças nunca terem ouvido falar no termo agrotóxico foi observado que uma
grande maioria afirmou que os agrotóxicos destroem a natureza. A contaminação do ambiente é um
dado preocupante, pois geralmente interfere afetando o solo, águas, ar, fauna e vegetação. Quando
os agentes químicos são usados em grande quantidade podem provocar a acidez dos solos, a
mobilidade dos metais pesados e originar a salinização do solo e/ou a toxidade das plantas com
excesso de nutrientes. A pulverização, levada pelo vento, ajuda sua propagação causado males
inclusive nos próprios agricultores. (DARELLA, 2001, p. 147).

Você já ouviu falar em Os agrotóxico destroem a


agrotóxico? natureza?
100% 80%
80% 60%
60%
40%
40%
20% 20%

0% 0%
Sim Não A Sim Não B
Figura 1. Conhecimento dos alunos sobre agrotóxico. A. você já ouviu falar em agrotóxico; B. os
agrotóxicos destroem a natureza.

Quando foi perguntado aos alunos se os agrotóxicos podem causar alguma doença, 67% das
crianças responderam que sim e 33% respondeu que não. E em relação a se os agrotóxicos podem
matar, foi observado que 67% das crianças responderam que sim e 33% que não.
De acordo com Lyznicki et al. (1997), os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana,
especialmente os crônicos, não têm sido caracterizados adequadamente, pois os efeitos tardios de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 313
alguns desses químicos podem se tornar aparentes após anos de18 exposição. Apesar dessa
dificuldade, a literatura médica fornece um conjunto de indicadores que relacionam os efeitos na
saúde devidos à exposição em longo prazo aos agrotóxicos. Problemas oculares, no sistema
respiratório, cardiovascular, neurológico, assim como efeitos cutâneos e problemas
gastrointestinais, podem estar relacionados ao uso desses produtos (Pingali et al., 1994).

Você acha que os agrotóxico Você acha que agrotóxico podem


causam doença? matar?
80% 80%

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
Sim Não A Sim Não B
Figura 2. Doenças causadas por agrotóxicos. A. Você acha que os agrotóxicos causam doença? B. Você
acha que os agrotóxicos podem matar.

Quando o assunto foi os alimentos contaminados por agrotóxicos os alimentos mais citados
pelas crianças foi o pimentão e a cenoura. E quando questionados se as frutas também tinham
agrotóxicos 67% das crianças responderam que sim e 33% que não. Segundo a ANVISA (2010) o
pimentão, o morango e o pepino lideram o ranking dos alimentos com o maior número de amostras
contaminadas por agrotóxico, durante o ano de 2010. Além desses alimentos a alface e a cenoura
também apresentaram elevados índices de contaminação por agrotóxicos. Em 55% das amostras de
alface foram encontradas irregularidades. Já na cenoura, o índice foi de 50%.

Em quais alimentos você acha que tem Será que as frutas


mais agrotóxico? também têm agrotóxico?
30 80%

20 60%

40%
10
20%
0
Cenora Tomate Coentro Pimentão Alface Batata 0%
Inglesa A Sim Não B
Figura 3. Alimentos contaminados por agrotóxico. A. Em quais alimentos você acha que tem mais
agrotóxico? B. Será que as frutas também têm agrotóxico.

Também foi apresentado para as crianças vídeos educativos a fim de apresentar conceitos
básicos sobre o uso e a contaminação dos alimentos por agrotóxico e, além disso, conscientizar as
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 314
crianças sobre os benefícios de uma alimentação saudável. Em outro momento, foi feita a
apresentação das cestas as crianças, onde elas puderam evidenciar as diferenças entre um alimente
que tem agrotóxico e um alimento sem agrotóxico.

Figura 4. Ação Educativa na Escola Municipal em Lagoa Seca-PB

CONCLUSÃO

De forma geral, as crianças da escola municipal em Lagoa Seca/PB desconhecem o os


conceitos que envolvem tema agrotóxico e alimentação saudável, contudo, elas associaram à
palavra ―agrotóxico‖ com algo que possa destruir a natureza e causar danos à saúde humana. Sendo
assim, as crianças absorveram de forma positiva os ensinamentos que lhes foram oferecidos e com
isso elas puderam construir um conceito de agrotóxico e alimentação saudável de uma forma mais
acessível a sua faixa etária.

REFERÊNCIAS

BIANCHI, C.; MELO, W. Desenvolvimento de um projeto de ação pedagógica para


conscientização ambiental com alunos de 9º ano do Ensino Fundamental. Revista Electrónica de
Enseñanza de lasCiencias, v. 8 n. 3, 976 – 1003. 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 315


SILVA, F. R. GenotoxicityofNicotianatabacumleavesonHelix aspersa. Geneticsand Molecular
Biology, vol.36, n.2, P. 269-275.

NENNING, C. R. Concurso de desenhos como forma lúdica de conscientização contrao uso de


agrotóxico. Cadernos de Agroecologia, Vol9, No. 1, 2014

GARCIA, E G. Segurança e saúde no trabalho rural com agrotóxicos: contribuição para uma
abordagem mais abrangente. São Paulo: USP, 1996. 128p. Dissertação de mestrado –
Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, São Paulo.

AYRES, Fernando Guilherme Silva, BASTOS FILHO, Jenner Barretto. O exercício das liberdades,
o combate à pleonexia e a educação ambiental no processo do desenvolvimento. In: Revista
Brasileira de Ciências Ambientais, n. 07, p. 27-33.

LUNA, A J; SALES, L T; SILVA, R F . Agrotóxicos: responsabilidade de todos (Uma abordagem


da questão dentro do paradigma do desenvolvimento sustentável). FUNDACENTRO-PE,
2000.LIMA, Waldyr. Aprendizagem e classificação social: um desafio aos conceitos. Fórum
Crítico da Educação: Revista do ISEP/Programa de Mestrado em Ciências Pedagógicas. v. 3, n.
1, out. 2004.

DARELLA, M. S. Os cultivos de arroz, fumo e banana na sub-bacia do Córrego Guaruva, Sombrio


- SC: A utilização dos agrotóxicos e sua implicação na saúde dos trabalhadores. Florianópolis:
UFSC, 2001.147 p. dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2001.

LYZNICKI MS. Educational and Information Strategies to Reduce Pesticide Risks. Preventive
Medicine, 1997; 26: 191-200.

Pingali PL, Marquez CB, Palis FG. Pesticides and Philippine Rice Farmer Health: A Medical and
Economic Analysis. Amer J Agr Econ, 1994; 76:587-592.

ANVISA (2010). Contaminação por agrotóxicos persiste em alimentos analisados pela ANVISA.
Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/imprensa. Acesso em 17 de
outubro de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 316


USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB

Edvânio Batista de ALMEIDA13


Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia – UEPB
edvaniogts@hotmail.com
Auricelia Batista da SILVA14
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Geografia – UEPB
auryb56@gmail.com
Jailson da Silva CARDOSO15
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia – UEPB
geohistoriapiloes@gmail.com
Luciene Vieira de ARRUDA16
Prof. Dr.ª do Curso de Licenciatura Plena em Geografia – UEPB
luciviar@hotmail.com

RESUMO
A Serra do Espinho é o nome dado às elevações situadas na vertente oriental do Planalto da
Borborema, na área ocupada pelo município de Pilões/PB, em direção ao município de Cuitegi/PB.
É formada predominantemente por material cristalino, com densa rede de drenagem que modela
vales em ―V‖. Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a
produção agrícola e pecuária, a manutenção de florestas e animais e ainda ter forte potencial
turístico, essa área possui muitas limitações e instabilidades por conta do relevo acentuado e
impermeabilidade de seus solos, sujeitos a constantes deslizamentos. Nesse contexto, realizou-se
um estudo nessa área envolvendo as comunidades de Veneza, Titara, Ouricuri e Poço Escuro, para
conhecer as formas de uso e ocupação do solo e contribuir para um maior conhecimento de seu
potencial natural. Os métodos utilizados na pesquisa seguiram os pressupostos escritos por
Ab‘Sáber (1969) e Tricart (1977), como base para um estudo integrado do meio ambiente. Os
estudos foram divididos em etapas de gabinete, com pesquisas preliminares de revisão de literatura;
na área da pesquisa foram coletadas todas as informações necessárias para confirmar a verdade
terrestre e atualização de dados tais referente ao uso e ocupação do solo. Os resultados aqui obtidos
são essenciais para desencadear um processo de conscientização com relação ao melhor uso do
conjunto de recursos naturais dispostos na Serra do Espinho, bem como às atuais práticas do
desenvolvimento do turismo e das atividades econômicas e sociais dessa área. A meta é
compreender o equilíbrio harmonioso entre as atividades humanas e o meio ambiente, de modo a

13
Bolsista do Programa de Iniciação Científica - UEPB/CNPq - COTA 2013/2014
14
Bolsista do Programa de Iniciação Científica - UEPB/CNPq - COTA 2014/2015
15
Bolsista do Programa de Iniciação Científica - UEPB/CNPq - COTA 2013/2014
16
Professora Drª. e orientadora da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 317


possibilitar o melhor aproveitamento dos recursos naturais e de reverter o atual processo de
degradação na área de estudo.
Palavras-chave: Degradação ambiental, Uso do solo, Recursos naturais.

INTRODUÇÃO

A Serra do Espinho, objeto da presente pesquisa, faz parte da vertente oriental do Planalto
da Borborema, na conhecida microrregião do brejo paraibano, área beneficiada pela umidade
proveniente do litoral e da zona da mata, localizada entre os municípios de Pilões e Cuitegi. Trata-
se de um ambiente formado predominantemente por material cristalino, dissecado em colinas e
lombas alongadas, de topografias forte-onduladas a montanhosas, com densa rede de drenagem de
padrão dendrítico e sub-dendrítico, com quedas d‘água, que formam vales em ―V‖ (CPRM, 2005;
CAVALCANTE, 2010; FERREIRA, 2012). Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas
comunidades, de proporcionar a produção agrícola e pecuária, a manutenção de florestas e animais
e ser dotado de forte potencial turístico, essa área possui muitas limitações e instabilidades naturais
e sociais que merecem ser discutidas à luz do conhecimento científico em busca do uso racional
desse ambiente.
Os ambientes naturais que se formaram ao longo da Serra do Espinho, de onde fluem quedas
d‘águas que modelam o relevo, têm contribuído para a exploração de suas trilhas, onde se
desenvolvem várias atividades econômicas e de lazer, porém, sem a mínima consciência ecológica.
O morador local explora o espaço com culturas tradicionais, marcadas por plantios morro abaixo; já
o visitante se utiliza desse meio para relaxar e revitalizar suas energias, mas não tem noção de como
se comportar nesses espaços, pois pratica um turismo predador que promove a degradação do meio
e interfere no equilíbrio natural (CARDOSO et al 2013).
Nesse Contexto, a presente pesquisa objetiva fazer uma análise do uso e ocupação do solo
da Serra do Espinho, para conhecer suas potencialidades, vulnerabilidades e contribuir para o
processo de conscientização com o meio ambiente e com o crescimento econômico e social dessa
área.

MATERIAIS E MÉTODOS

As atividades propostos na presente pesquisa ocorreram através do levantamento


bibliográfico, do reconhecimento de campo, do estudo da localização e da caracterização da área de
estudo, do registro fotográfico, das conversas informais e, principalmente, da aplicação de
questionários semiestruturados aos moradores mais antigos e representantes das associações locais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 318


Utilizou-se como um dos métodos para a avaliação dos recursos naturais os pressupostos
escritos por Ab‘Sáber (1969) e Tricart (1977), como base para um estudo integrado do meio
ambiente. Nesse contexto, o desenvolvimento da pesquisa decorreu dos procedimentos de gabinete,
de campo e de laboratório, a partir do material e instrumental técnico.
Em gabinete levantou-se o material bibliográfico e geocartográfico; a análise visual das cartas
topográficas e das imagens de sensoriamento remoto; os cálculos climáticos seguidos de análise de
suas tabelas e gráficos; Foram elaborados os croquis das trilhas ecológicas; os questionários
socioeconômicos e as fichas de campo para a caracterização e avaliação do meio físico.
Os trabalhos de campo consistiram na atualização da verdade terrestre seguindo as trilhas
existentes na área de estudo e aplicando a ficha de campo para caracterização do meio físico
proposta por SOUZA (1999), contendo dados ligados à geologia, geomorfologia, aspectos hídricos
e climatológicos, processos morfodinâmicos, formações superficiais e processos pedogenéticos,
cobertura vegetal, características do uso e ocupação do solo e impactos emergentes.
Para o levantamento das trilhas ecológicas foi utilizado o GPS, a máquina fotográfica e
cadernetas. O software de SIG (Sistema de Informação Geográfica) ArcGis 9.3 foi a base de todas
as análises espaciais e geração de cartografia temática. Os pontos-coordenada GPS, adquiridos em
campo, foram exportados para meio digital e inseridos em ambiente SIG. Estes pontos foram
interligados representar a realidade física da trilha e permitir os cálculos do comprimento total do
percurso realizado.

A Serra do Espinho, Pilões/PB - Localização Geográfica

O município de Pilões está localizado na Microrregião do Brejo e na Mesorregião Agreste,


do Estado da Paraíba (CPRM 2005). De acordo com dados do Censo demográfico (IBGE, 2010),
Pilões abrange uma área territorial de 64 km², abriga uma população de 6.978 habitantes, sua sede
está na altitude de 334 metros (Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 319


Fonte: Henrique e Fernandes 2011.
Figura 1– Mapa de localização do município de Pilões/ PB.

O município de Pilões está a uma distância de 117 km da capital e seu acesso se dá a partir
de três vias estaduais, duas delas asfaltadas, que ligam o município aos seus vizinhos e demais
regiões do país, que são a PB 077 (João Pessoa – Guarabira – Cuitegi); PB 087 (Campina Grande –
Areia – Pilões).
Segundo Ferreira (2010), o material geológico na Serra do Espinho é composto por granito e
gnaisses, que compõem, de forma geral, o arcabouço, com uma estruturação compacta e
homogênea, mas é possível enumerar diversos pontos desse material rochoso que aflora e apresenta
significativos planos de fraturas, diaclases e pequenas dobras.
De acordo com CPRM (2002), os aspectos geológicos da Serra do Espinho se encontram
divididos em dois períodos geológicos (Mesoproterozóico e Paleógeno) e três unidades
estratigráficas distintas: Formação Serra dos Martins, Complexo São Caetano e metagranitóides
Cariris Velhos.
De acordo com os dados pluviométricos da Agência Executiva de Gestão das Águas do
Estado da Paraíba (AESA, 2004) a região da Bacia Hidrográfica do Mamanguape apresenta
precipitações médias anuais que variam entre 700 e 1600 mm, com o mês de Maio sendo o mais
chuvoso e o de outubro o mais seco.
Na Serra do Espinho, há uma amplitude altimétrica significativa, com variações de mais de
300 m. Nas áreas de planície aluvial, predomina a acumulação de material proveniente das partes
mais altas, há variações altimétricas que são evidenciadas pelos Knickpoints fluvial (HENRIQUE,
2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 320


Segundo a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM, 2005) a malha hidrográfica
do município de Pilões é composta pelo rio Araçagi e Araçagi-Mirim, afluentes da bacia
hidrográfica do Mamanguape. Geomorfologicamente, é notória a formação de feições conhecidas
como ―marmitas de gigante‖, que se trata de geoformas circulares e côncavas esculpidas nas rochas
através da ação erosiva das águas ao longo do curso do rio.
O relevo côncavo-convexo, com resquícios de vegetação da mata atlântica está presente na
Serra do Espinho, condicionados fortemente pela encosta orientada em barlavento, exposta às
chuvas orográficas e favorecidas pela penetração de ventos alísios ricos em umidade através dos
vales do Paraíba do Norte e do Mamanguape. A ação provocada por esses fenômenos intensifica a
formação do manto de intemperismo, e contribui para que exista nesses ambientes certa perenidade
hídrica nos canais fluviais que ali se formam (HENRIQUE E FERNANDES, 2011).
Segundo a CPRM (2005) as principais classes de solos que ocorrem no município de Pilões
são os ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO distróficos e os NEOSSOLOS LITÓLICOS.
A cobertura vegetal da localidade enquadra-se no tipo mais conhecido como brejo ciliar, é
uma formação de porte alto e de grande densidade. As principais essências florestais encontradas
nesse tipo de mata são: Angico (Anadenanthera macrocarpa), Pau D‘arco Roxo (Handroanthus
heptaphyllus), Pau D‘arco Amarelo (Handroanthus serratifoliius)), Aroeira (Myracrodruon
urundeuva), Freijó (Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. Ex Steud), Ingá (Inga vera subsp. Affinis
(DC.) T.D. Penn e Embaúba (Cecropia pachystachya Trécul). Com a devastação original da flora, a
cobertura vegetal do município enquadra-se na mata latifoliada perenifóliada de altitude
(FERREIRA, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Moreira e Targino (1997), ao discutir sobre a ocupação do Planalto da Borborema, ressaltam


que, ao lado da agricultura, a cana de açúcar foi desenvolvida desde cedo, com o objetivo de
produzir o açúcar mascavo para o próprio consumo. Logo, uma sucessão de culturas, inclusive a da
própria cana de açúcar, passou a marcar a organização do espaço regional, dando origem ao que
alguns historiadores e cronistas denominam de ciclos econômicos do Brejo paraibano. A
monocultura da cana de açúcar e a agricultura de subsistência foram culturas utilizadas pelo
agricultor local, ou seja, fatores responsáveis pela degradação da cobertura vegetal primária.
De acordo com os autores supracitados, as modificações provenientes do uso da paisagem
rural, ao integrar o litoral ao Agreste e Brejo, promoveu certa homogeneização no trecho oriental do
estado, ou seja, na sua sede de terras, a cana incidiu fortemente sobre a vegetação de Mata Atlântica
e de Cerrado dos tabuleiros, deixando os solos desprotegidos e sujeitos a processos erosivos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 321


Na Serra do Espinho foram identificadas quatro comunidades que são ligadas por estradas
de barro à rodovia principal, a PB 077. Além dessas estradas, cada comunidade possui algumas vias
menores e mais estreitas, as chamadas trilhas, que adentram pela mata, permeando os morros e
riachos e permitem descobrir ambientes com potencial geoturístico bastante apreciado pelos
visitantes e pelos próprios moradores locais. As comunidades Veneza, Titara, Ouricuri e Poço
Escuro são os principais aglomerados e serão apresentadas a seguir.
A serra do Espinho, ao longo das conquistas territoriais pelos fazendeiros e produtores
rurais, serviu de exploração no cultivo da agricultura familiar, na plantação da cana de açúcar, na
plantação do sisal e atualmente é explorada com a plantação da banana, principal fonte de renda das
comunidades inseridas nesse projeto, bem como no município de Pilões. Os moradores locais ainda
criam animais bovinos, caprinos e suínos.
As atividades dos agricultores ocorrem de forma aleatória sem nenhum cuidado em degradar
a flora, fauna, o relevo e todo ecossistema relacionado. A exploração e ocupação do relevo, dos
recursos naturais nessas comunidades não ocorrem com consciência ambiental, às plantações de
banana não respeitam a legislação ambiental vigente, aja vista que as mesmas em muitos locais
estão plantadas em encostas e bem próximo do leito dos rios.
Os moradores, em seus cultivos, fazem queimadas, não respeitam as curvas de níveis, o que
ocasiona as erosões desses locais acelerando a degradação já que são terrenos íngremes e
acidentados, o que possibilita a perda de nutrientes dos solos, sendo transportados pelas águas das
chuvas, o que também acaba contribuindo diretamente para a formação de voçorocas e ravinas.
Na Serra do Espinho ocorre também a caça predatória e muitos animais estão em extinção
como o tatu bola (Tolypentis tricinctus), tamanduá (Myrmecophaga tridactyla), raposa (Cerdocyon
thous), guaxinim (Procyon cancryvorus), preá (Galea spixii). Outros animais que fazem parte da
fauna local quase não são vistos pelos moradores das comunidades como antigamente eram vistos
com frequência. A cobertura vegetal é outro problema, sendo resquícios de mata atlântica e mata
acatingada que guardam uma diversidade de vegetais, estão desaparecendo espécies de grande
importância devido o desmatamento acelerado.
Dessa maneira, para se chegar a recuperar diversas áreas degradadas do espaço em estudo
será necessária a parceria entre a prefeitura municipal, a secretaria de meio ambiente do município,
da agricultura, parcerias com as secretarias do estado da Paraíba, órgãos responsáveis pela
fiscalização como o IBAMA e claro a parceria entre os moradores e os proprietários de terras ao
longo da serra do Espinho.
Com a aplicação de questionários socioeconômicos nessas comunidades em estudo, os
entrevistados enfatizaram a importância das coletas dos resíduos sólidos principalmente nos locais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 322


que são receptores dos potenciais turísticos existentes como cachoeiras, trilhas ecológicas, e locais
de banhos nos rios Araçagi e Araçagi- Mirim. Esses rios recortam essas comunidades e atraem
muitos visitantes todos os anos, principalmente nos feriados, finais de semana e na estação mais
seca que é verão.
Para a conservação dos recursos naturais existentes na Serra do Espinho será necessário
tomar algumas providências em relação ao meio ambiente, os órgãos públicos municipais deverão
buscar apoio das universidades e dos órgãos competentes que trabalham com a temática e
desenvolverem projetos que a apoiem tais iniciativas. A educação ambiental é fundamental para
renovar os valores e a percepção dos problemas relacionados à crise ambiental, pois ela é capaz de
estimular a tomada de consciência e possibilitar a mudança, desde as pequenas atitudes individuais
até a participação e o envolvimento na solução dos problemas (NEHME E BERNARDES, 2011).
A partir do estudo elaborado no espaço natural, ao longo das trilhas que dão acesso às
comunidades da Serra do Espinho, foi possível confirmar relevante potencial para a prática do
turismo rural, capaz de desenvolver o ecoturismo, o turismo de aventura e o geoturismo, além de
reforçar a valorização natural com as manifestações culturais locais, sendo estes os motivos para
desenvolver o turismo de base comunitária e a valorização do lugar, tanto pelos visitantes quanto
pelos residentes.
O potencial geoturístico das comunidades estudadas se traduz em elementos da
geodiversidade, da biodiversidade, da formação social e da cultura local, constituindo importantes
elementos que constituem o patrimônio social e natural de Pilões. No que diz respeito ao patrimônio
geológico, as ―marmitas de gigante‖, escavadas ao longo dos cursos d‘água, configuram uma
singularidade belíssima à paisagem, além de servir como atrativo a visitantes que se impressionam
com o formato circular dessas feições, polidas pelas forças das águas.
A área mais representativa da Serra do Espinho é a Pedra do Espinho, uma formação
rochosa com mais de 400m de altitude, muito utilizada para o turismo de aventura e a prática de
esportes radicais (como o rappel), além de servir como área para treinamento das forças armadas e
do corpo de bombeiros. Próximo ao sopé desse grande afloramento rochoso encontra-se uma gruta
conhecida por ―Loca do Major‖, que ainda precisa ser estudada para reconhecer o seu potencial.
Existem ainda várias trilhas que podem ser transformadas em espaço de reconhecimento e
de valorização dos elementos naturais, dentro de uma perspectiva de uso sustentável. As riquezas
geológicas, geomorfológicas e da biodiversidade carecem de estratégias de conservação que sejam
adequadas às condições locais e que incentivem na conservação desse patrimônio geoambiental.
Sua importância vai além da relevância educacional e científica, pois envolve a identidade local, a
relação do morador com o seu próprio ambiente e sua valorização. Ocorre que esse patrimônio está

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 323


sujeito a degradações humanas e naturais, que interferem negativamente em muitos casos, com
atitudes pouco conscientes como a deposição de lixo nos afloramentos e a derrubada da mata ciliar,
intensificando os processos erosivos nos rios (erosão lateral) e assoreamento dos mesmos.
Nesse contexto, é preciso que as comunidades conheçam e valorizem as suas riquezas
naturais e humanas, procurando se organizar e se adaptar às exigências de preservação dos riachos,
da vegetação natural, das formações rochosas (pilões), que dão nome ao município, ter
conhecimento de licenciamento ambiental e de segurança na atividade turística. Assim, o
desenvolvimento baseado no turismo de base rural, se bem planejado, será capaz de promover o
crescimento econômico endógeno e exógeno, com seus agentes sociais locais.
Atualmente o potencial do turismo de base rural vem se destacando nacionalmente com o
incentivo do Ministério do Turismo, dentre outros órgãos públicos e privados. Queiroz (2012)
enfatiza que no Brasil se percebe essa modalidade do turismo rural que vem conquistando espaços,
mesmo que ainda de forma desordenada, mas com propostas de conservação ambiental, estímulo
aos produtos artesanais locais e redescoberta do modo de vida do campo como valor cultural, que
guarda uma identidade importante para a nossa sociedade.
No tocante ao turismo rural Seabra (2012) assegura que essa modalidade de turismo tem por
objetivo, na sua forma original, proporcionar ao visitante o contato com as atividades e
equipamentos rurais em equilíbrio com a natureza. Neste caso, essa atividade é constituída de
estruturas eminentemente campesinas, rústicas e rudimentares. O autor afirma que o interesse do
viajante pelo destino rural se dá pela atração combinada dos elementos que compõem a paisagem
rural, envolvendo os aspectos naturais, o patrimônio cultural e as atividades agropecuárias.
Desse modo, espera-se que o levantamento das potencialidades naturais e humanas da Serra
do Espinho seja utilizado como vetor de desenvolvimento sustentável, no intuito de preservar a
biodiversidade, a geodiversidade e promover geração de renda nas comunidades locais a partir do
turismo rural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados aqui obtidos são essenciais para desencadear um processo de conscientização


com relação ao melhor uso do conjunto de recursos naturais dispostos na Serra do Espinho, bem
como às atuais práticas do desenvolvimento do turismo e das atividades econômicas e sociais dessa
área, pois as atividades turísticas têm ocorrido sem planejamento e sem a preservação da
biodiversidade e da geodiversidade, que são relevantes na manutenção do equilíbrio ecológico.
Contudo, o estudo nessas comunidades tem o papel fundamental de desenvolver técnicas de
incentivos na aplicabilidade do desenvolvimento do geoturismo, de forma ecologicamente correto e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 324


sustentável.
Essa pesquisa se constitui em um instrumento de grande importância na discussão de um
planejamento que envolva a preservação dos recursos naturais da Serra do Espinho, seu
planejamento turístico e ainda um exemplo a ser utilizado para outras áreas do Estado que também
estejam passando pelos mesmos processos de degradação. A meta é compreender o equilíbrio
harmonioso entre as atividades humanas e o meio ambiente, de modo a possibilitar o melhor
aproveitamento dos recursos naturais e de reverter o atual processo de degradação na área de
estudo.
Do ponto de vista acadêmico, o estudo elaborado na Serra do Espinho, contribuiu para o
aprendizado da equipe de estudantes, graduandos do Curso de Geografia do Centro de
Humanidades da UEPB, dando-lhes a oportunidade de exercer a cidadania e a valorização do meio
ambiente, na promoção do conhecimento, na preservação e na conscientização ambiental desse
modelado serrano, de onde vertem riachos em forma de belas cachoeiras e que ainda abrigam
diversas espécies de vegetação e de fauna no âmbito da Microrregião do Brejo Paraibano e que
precisam ser reconhecidas cientificamente.
Espera-se que os resultados dessa pesquisa contribuam para diminuir a degradação da Serra
do Espinho, no intuito de evitar o desencadeamento de processos erosivos, a poluição dos solos e
dos rios, a extinção de espécies animais e de vegetais importantes na sucessão ecológica. Desse
modo, pretende-se contribuir para um processo de conscientização dos atores sociais sobre a
importância dos recursos naturais, na manutenção dos ecossistemas locais e que possa promover
mudanças de posturas relativas às atuais práticas culturais dos turistas, dos agricultores locais, bem
como da administração municipal, que é a maior interventora desse ambiente.
Ressalta-se também a importância da relação entre o saber científico e o saber local,
promovendo a articulação entre pesquisadores, educandos colaboradores e as comunidades locais,
de maneira que ocorra uma participação e interação, gerando importantes trabalhos acadêmicos
sobre o uso e ocupação dos diversos ambientes da Serra do Espinho.

REFERÊNCIAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. Turismo com atividades de caminhada — Parte
1: Requisitos para produto. CB-5 Projeto 54:003.10-001/1, MARÇO: 2007.

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. Turismo de aventura – Condutores de


caminhada de longo curso - Competências de pessoal. Projeto 54:003.05-002, Setembro: 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 325


AB‘ SABER, A.N. Um Conceito de Geomorfologia a Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário.
São Paulo: USP, Instituto de Geografia, 1969.

AESA. Proposta de instituição do comitê das bacias hidrográficas do litoral norte, conforme
resolução no 1, de 31 de agosto de 2003, do conselho estadual de recursos hídricos do estado da
Paraíba. Dezembro de 2004.

CARDOSO, J.S; ROCHA, G.R; SANTOS, E.M. O potencial geoturístico do município de


Pilões/PB: ―As marmitas de gigantes‖ e o seu valor geológico, geomorfológico e cultural. Anais
do II ENECO-PB: Encontro de Ecologia da Paraíba. Rio Tinto /PB. 21 a 24 de Maio de 2013.

CAVALCANTE, T. M. S. Balneário Paraíso Ecológico De Poço Escuro: Desenvolvimento turístico


local em Pilões-PB./Especialização/UEPB-CH Marceleuze de Araújo Tavares/UEPB-CH, 2010.

CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por Água
Subterrânea. Diagnóstico do município de Pilões, Estado da Paraíba. Organização:

CPRM- Serviço Geológico do Brasil. SANTOS, E. J; FERREIRA, C. A; SILVA, J. M. F.Jr. (Org.).


Geologia e recursos minerais do estado da Paraíba. Recife, 2005.

FERREIRA, J. I. S. F. análise geomorfológica com enfoques ao planejamento ambiental na serra do


espinho, Pilões – PB (Monografia, Especialização em Geografia e Território: Planejamento
Urbano, Rural e Ambiental – UEPB) 2012, 38 p.

FERREIRA, Joab Ítalo da Silva. Geomorfologia da Serra do Espinho, Pilões/PB. Guarabira, UEPB,
2010. ( Monografia).

FERREIRA, J. I. S. F. análise geomorfológica com enfoques ao planejamento ambiental na serra do


espinho, Pilões – PB (Monografia, Especialização em Geografia e Território: Planejamento
Urbano, Rural e Ambiental – UEPB) 2012, 38 p.

HENRIQUE, F. M. Análise morfopedológica aplicada à compreensão dos processos erosivos


hídricos em vertentes do município de Pilões/PB. UFRN, 2012. (Dissertação de Mestrado).

HENRIQUE, F. M; FERNANDES, E. Análise dos processos erosivos no município de Pilões/PB.


Sociedade e Território, Natal, v. 23, nº 2, p. 74 - 89, jul./dez. 2011.

IBGE.Cidades, 2010, Rio de Janeiro. Disponível em:<


http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=251160&search=paraiba|piloes
> acesso em 19 de agosto de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 326


MOREIRA, E; TARGINO, I. Capítulos de geografia agrária da Paraíba. João Pessoa: Editora
universitária/ UFPB, 1997. 332p.

NEHME, V. G; BERNARDES, M. B. Projetos e metodologias para a formação de sujeitos


ecológicos. In: SEABRA, G.(Org.). Educação Ambiental no Mundo Globalizado. João Pessoa:
Editora universitária/ UFPB, 2011.

NASCIMENTO, M. A. L; RUCHKYS, U. A; MANTESSO, V. Geoturismo: Um novo segmento do


turismo no Brasil. Global Tourism. ISSN: 1808-558x. Vol.3, nº 2. Novembro, 2007.

NUNES Yule R. F.; FAGUNDES Marcílio; SANTOS, Rubens M.; Ellen B. S. Domingues,
ALMEIDA, Hisaias S. ; GONZAGA, Anne Priscila D. Atividades fenológicas de Guazuma
ulmifolia Lam. (Malvaceae) em uma floresta estacional decidual no norte de Minas Gerais.
Instituto de Ciências Biológicas – UFMG, 2005 P 99-105.

QUEIROZ, O. T. M. M. O Meio Rural e Sua Apropriação pelo Turismo. In: SEABRA, G. F.;
PORTUGUEZ, A. P.; QUEIROZ, O. T. M. M. (Org). Turismo, espaço e estratégias de
desenvolvimento local. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. 365p.

SEABRA, G. F. Natureza, Cultura e Turismo em Unidades de Conservação. In: SEABRA, G. F.;


PORTUGUEZ, A. P.; QUEIROZ, O. T. M. M. (Org). Turismo, espaço e estratégias de
desenvolvimento local. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. 365p.

SOUZA, M.J.N. Geomorfologia, Ambiente e Problemas Conservacionistas. UFC, 1983.

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria Técnica, 1977.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 327


LEVANTAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA EM ÁREA CULTIVADA COM
BANANEIRA NO VALE DO AÇÚ

Karidja Kalliany Carlos de Freitas MOURA17


Professora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
karidja@ufersa.edu.br
Sara Cristina Rodrigues dos SANTOS18
Engenheira Agrônoma Esp. em Gestão Ambiental - FVJ
seguagro@gmail.com
Fiama Beatriz TAVARES19
Graduanda em Agronomia/Bolsista PIVIC – Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
fiama_beatryz@hotmail.com
Kallyo Halyson Santos MOURA20
Engenheiro Agrônomo MSc.em Fitotecnia - SEBRAE/RN
kallyojr@hotmail.com

RESUMO
Nesse estudo foi avaliada a qualidade da água utilizada para a produção da bananeira ao longo do
Rio Açú tomando como parâmetros específicos: Nitratos, Coliformes fecais e herbicida (paraquat).
Os resultados foram obtidos através de pesquisa e análise da água coletada em onze fazendas ao
longo do rio, nas proximidades do dreno de irrigação. Onde os dadosforam levantados nos anos de
2007, 2008 e 2009. Os valores obtidos para coliforme fecais comprovam a não possibilidade de
distribuição da água para consumo humano e lavagem das frutas devido à contaminação do rio Açú
por coliformes fecais, o que indica risco de contaminação das frutas e trabalhadores pela bactéria
coliforme. Mas o tratamento com 3ppm de cloro livre é eficaz para os processos de beneficiamento
de bananas, pois retira os coliformes da água; Os valores obtidos para nitrato próximos aos limites
do uso para irrigação 30 ml/L e acima dos limites ambientais que é 10 ml/L. tendo como possíveis
causas a instalação de novos lotes de produção, onde são aplicadas quantidades de calcário para
correção do solo e maior liberação de nutrientes para a planta em formação. Devido ao
fracionamento dos adubos nitrogenados do ano seguinte, houve uma diminuição considerável nos
valores de nitrato chegando a no máximo 2,8 mg/L. Em relação à utilização do herbicida, observou-
se que não foi encontrado nenhum traço de resíduo de paraquat nas águas coletadas nas fazendas,
acredita-se que a matéria orgânica no solo eliminou o resíduo.
Palavras-chaves: Qualidade da água; Irrigação; Coliformes fecais.

17
Professora orientadora / Pesquisadora PNPD/CAPES da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
18
Engenheira Especialista em Gestão Ambiental - FVJ
19
Bolsista PIVIC – Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
20
Engenheiro Mestre em Fitotecnia / Consultor SEBRAE/RN

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 328


ABSTRACT
In this study we evaluated the quality of water used for the production of banana along the Rio Açu
taking as specific parameters: nitrates, fecal coliform and herbicide (paraquat). The results were
obtained through research and analysis of water collected in eleven farms along the river, near the
drain irrigation. Where data was collected in 2007, 2008 and 2009 values obtained for fecal
coliform not prove the possibility distribution of drinking water and washing of fruits due to
contamination by fecal coliforms Açu River, which indicates risk of contamination of fruits and
workers by coliform bacteria. But treatment with 3 ppm free chlorine is effective for the
improvement of processes for bananas removes water coliforms; The values obtained for nitrate
close to the limits for irrigation use 30 ml/L and the environmental limits above which is 10 ml/L.
taking as possible causes the installation of new production batches, where amounts of lime to
correct the soil and greater release of plant nutrients in training are applied. Due to fractions of
nitrogenous fertilizers in the following year, there was a considerable decrease in the amounts of
nitrate reaching a maximum 2.8 mg/L. Regarding the use of the herbicide, it is noted that we found
no trace of residue of paraquat in the sample collected on farms, it is believed that the organic
matter in the soil eliminated the residue.
Key words: water quality; Irrigation; Faecal coliforms.

INTRODUÇÃO

A bananeira (Musa sp.) é a principal fruta no comércio internacional e a mais popular no


mundo (FIGUEREDO et al., 2006). Em termos de volume é a primeira fruta exportada, perdendo
apenas para as frutas cítricas em termos de valor, além de representar segurança alimentar para
muitos países em desenvolvimento. Segundo informações da FAO, a produção de banana para
exportação se faz principalmente no nível local e regional estimando-se que as exportações
mundiais superem US$5 bilhões por ano, o que a torna uma fonte vital de renda para muitos países
(UNCTAD, 2003).
O Brasil se destaca como um dos países com maior produção e consumo de bananas,
embora a qualidade inferior do produto cause limitação de sua exportação. A exploração em
condições irrigadas tem sido uma solução para os locais em que as precipitações não são suficientes
para suprir as necessidades hídricas da bananeira (FAO, 1994).
Na região nordeste do país existe uma problemática com a questão da água. Por tratar-se de
uma região com grandes períodos de seca. Os locais de captação de águas têm um papel
fundamental nesta região, pois a água armazenada ajuda a superar esses momentos de escassez,
amenizando o problema. A presença das bactérias coliformes na água de um rio significa, pois, que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 329


esse rio recebeu matérias fecais, ou esgotos (CARMOUZE, 1994). Por outro lado,o uso de produtos
químicos de maneira inadequada em áreas agrícolas representa uma grande ameaça (Brady,
1989).Assim, um aspecto importante a ser trabalhado nas áreas onde se situam os mananciais
hídricos deve sersempre avaliar a qualidade das suas águas.
Considerando que na Bacia do Rio Açú, Estado do Rio Grande do Norte são áreas
susceptíveis a ocorrência de variações na água e diversos impactos ambientais, devidoàexistência
do uso intensivo dos recursos naturais para a agricultura, avaliou-se no presente trabalhoa qualidade
da água utilizada para a produção da atividade bananeira em diversas fazendas situadas ao longo do
Rio Açúem 03 (três) parâmetros específicos: Nitratos, Coliformes fecais e Herbicida (paraquat).

ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA CULTURA

Segundo Soto (1992) as bananeiras são plantas herbáceas com pseudocauleaéreo, que se
originam de rizomas nos quais se desenvolvem numerosas gemas laterais ou ―filhos‖. As folhas
possuem uma distribuição helicoidal e as bases circundam o caule dando origem ao pseudocaule. A
inflorescência é terminal e cresce através do centro do pseudocaule até alcançar a superfície.
A bananeira apresenta crescimento lento até o quarto mês, com pequena absorção de
nutrientes e demanda por água. No entanto, do quarto mês até o florescimento (sétimo ao décimo
mês) o crescimento é intenso, com acúmulo significativo de matéria seca e, consequentemente, de
nutrientes (BORGES et al., 1987).
Nas cultivares que apresentam bom perfilhamento (Nanica, Nanicão, Prata, Maçã) as
brotações laterais começam a surgir aos 30 – 45 dias pós plantio (ALVES e OLIVEIRA, 1997),
quando então passam a co-existir mais de uma planta por cova, com idades e exigências diferentes.
Esta situação se perpetua na maioria dos bananais onde, normalmente, o manejo dos brotos é feito
com desbaste de forma a ter a planta mãe, filha e neta em uma mesma cova (RODRIGUES et al.,
2001).
A demanda da bananeira por nutrientes e água a partir do primeiro ano de cultivo, quando
passam a conviver três plantas de idades diferentes na mesma cova, é ditada pela que estiver na fase
mais exigente ou pelo somatório de todas.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizadas ações de pesquisas para avaliar a qualidade da água utilizada para a
produção da atividade bananeira em diversas fazendas situadas ao longo do Rio Açú em 03 (três)
parâmetros específicos: Nitratos, Coliformes fecais e Herbicida (paraquat).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 330


A pesquisa foi realizada na Zona Rural de Açú-RN, localizado numa região as chuvas são
escassas e irregulares, concentradas em três ou quatro meses do ano. A temperatura média anual é
de 27,1ºC (máxima média de 32,5ºC e mínima média de 21,8ºC). A temperatura média dos meses
mais quente, janeiro e dezembro, é de 27,8ºC, e a do mês mais frio, julho, é de
25,5ºC. A precipitação média anual é de 685,2 milímetros (mm), sendo março o mês mais chuvoso
do ano é março (precipitação média de 164,1 mm) e novembro o mais seco (precipitação média de
2,5 mm).
Foi avaliada a qualidade da água utilizada na produção bananeira em 11 (onze) fazendas:
DMI, DMII, DMIII, DMIV, DMV, DMVI, DMVII, DMVII, DMIX, DMX e DMXI, situadas no
Vale do Açú/RN, irrigadas com o sistema de mini-aspersão. Os dados foram levantados nos anos de
2004, 2005 e 2006.
Na avaliação da qualidade da água foram medidos os seguintes parâmetros:
Coliformes Fecais (Ano 2007): Foram coletadas amostras ao longo das captações (onze)
para o processo de lavagem da fruta e nas saídas para o dreno principal após cloração (adição de
cloro para uma concentração de3ppm). A metodologia de avaliação e coleta seguiu o Método de
Análise Baseado no ―StandartMethods for theexaminationofwaterandwastwater‖.
Nitratos (Ano 2007 e 2008): Foram coletadas amostras ao longo saídas dos drenos
principais. A metodologia de avaliação e coleta utilizada foi o Método de Análise Baseado no ―
StandartMethods for theexaminationofwaterandwastwater‖.
Herbicida (Paraquat) – (Ano de 2009): Foram coletadas amostras nas seguintes áreas: Poço
Tubular da Fazenda DMI; Poço Tubular da Fazenda DMII;Saída do Dreno Principal da Fazenda
DMX;Ponto de Captação para Irrigação (aspersor) da Fazenda DMX;Ponto de Captação para
Irrigação (aspersor) da Fazenda DMVIII;Saída do Dreno Principal da Fazenda DMVIII;Rio Açú
(Fazenda DMVIII).Os Ensaios estão credenciados pelo INMETRO e foram analisados e coletados
segundo a Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, usando metodologia descrita e revisada em 2006.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores obtidos para coliforme fecais (Figura 1) comprovam a não possibilidade de


distribuição da água para consumo humano e lavagem das frutas devido à contaminação do rio Açú
por coliformes fecais, segundo a CONAMA 20/86 e a Portaria 518/04 GM do Ministério da Saúde.
Tal legislação informa que para consumo a água deve ter ausência de coliformes fecais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 331


24,0

20,0
20,0 Entrada 19,0 19,0
Saída 18,0

Coliformes Fecais (NMP/100ml)


16,0 15,0

12,0
12,0 11,0 11,0 11,0
10,0
9,0

8,0

4,0

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
0,0
DMI DMII DMIII DMIV DMV DMVI DMVII DMVIII DMIX DMX DMXI

Fazendas

FIGURA 1: Níveis de coniformes fecais, dados da entrada e saída da


unidade de produção (tratamento da água), Vale do Açú/RN.

Os resultados também relatam significativa eficiência no tratamento com cloro realizado.


Valores altos de presença de coliformes fecais são eliminados devido ao tratamento a 3ppm de cloro
livre injetado através de bombas dosadoras. Tais resultados elevados informam a alta probabilidade
do rio Açu receber esgotos com material fecal.
O resultado também indica risco de contaminação das frutas e trabalhadores pela bactéria
coliforme, determinando que a cloração na unidade de beneficiamento e o uso de EPI são
fundamentais para a atividade bananeira.
Os valores obtidos para nitrato (Figura2), nas análises da coleta da água dos drenos
principais, relataram que em 2007 nas fazendas DMIV, DMV, DMVI, DMVI e DMVIII valores de
nitratos próximos aos limites do uso para irrigação 30 ml/L e acima dos limites ambientais que é 10
ml/L.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 332


20,0
19,0
18,0
18,0 17,5

16,0 2004
2005 14,4
14,0

12,0
10,8

Nitratos mg/L
10,0

8,0

6,0
4,5 4,7
4,3
4,0
2,6 2,8
2,2 2,5 2,2 2,3 2,4 2,3
2,0 2,1 2,1
2,0

0,0
DMI DMII DMIII DMIV DMV DMVI DMVII DMVIII DMIX DMX DMXI

Fazendas

FIGURA 2: Valores de nitratos (2007 e 2008) nos drenos das


fazendas, Vale do Açú/RN.

Possíveis causas destes altos valores podem ser explicadas pelo fato de que em 2007,
estavam sendo instalados novos lotes de produção, onde são aplicadas quantidades de calcário para
correção do solo e maior liberação de nutrientes para a planta em formação. Fato também
encontrado nas soluções dos solos em experimentos realizados por Curtin e Smille (1983). Os
resultados encontrados em 2009 (diminuição dos valores de nitratos – em todas as fazendas,
variando para no máximo 2,8 mg/L) podem ser explicados pelo fracionamento dos adubos
nitrogenados neste anoe pelas reações de nitrificação e cinética de processos correlatos que
controlam as perdas de nitrogênio das camadas aeróbico-anaeróbicos do sistema do solo inundado,
onde os nitratos que se formam na fina camada aeróbica de solo, logo abaixo da interface solo-água,
difundem-se no interior da camada anaeróbica logo abaixo e podem ser desnitrificados para as
formas gasosas N2 e N2O que se perdem na atmosfera (Brady, 1989). Os dados também informam a
limitação para utilização de águas residuárias de processos de beneficiamento de bananas.
Em relação à utilização do herbicida, observou-se que não foi encontrado nenhum traço de
resíduo de paraquatnas águas coletadas nas fazendas objeto desta avaliação. Este fato pode ser
explicado pela aplicação do produto em períodos adequados para degradação da planta e a alta
diluição para aplicação no campo. A alta adsorção nas partículas do solo, principalmente os
argilosos, onde se instala todas as fazendas, também contribui para eliminação do potencial de
lixiviação e contaminação ambiental do produto. Outro fato importante para não termos encontrado
traços de resíduo é a eliminação do paraquatpela matéria orgânica. Encontramos nas fazendas,
solos com bastante matéria orgânica, seja pelos materiais vegetais deixados no solo, pelo corte da
colheita ou pela aplicação de adubos orgânicos. Mesmo fato encontrado por Burns e Audus em

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 333


1970, que estudaram a migração do paraquat da matéria orgânica do solo para as partículas
minerais argilosas.

CONCLUSÕES

Existe contaminação no Rio Açú causada por coliformes fecais; o tratamento com 3ppm de
cloro livre é eficaz para os processos de beneficiamento de bananas, pois retira os coliformes da
água; existe risco de contaminação pelo uso da água da irrigação para frutas e trabalhadores pela
bactéria coliforme; o fracionamento adequado de adubos nitrogenados diminui a fração do nitrato
nas águas e por ora não existe contaminação por herbicida (paraquat) ao longo do Rio Açú e
mananciais nas fazendas bananeiras no Vale do Açú/RN.

REFERÊNCIAS

ALVES, E. J.; OLIVEIRA, M. de A.; DANTAS, J. L. L.; OLIVEIRA, S. L. de. Exigências


climáticas. In: ALVES, E. J. (Org.) A cultura da banana: aspectos técnicos, socioeconômicos e
agroindustriais. Cruz das Almas: Embrapa CNPMF, 1997. P. 35-46.

BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 878
p.

BURNS, R.G.; AUDUS, L.J. Distribution and breakdown of paraquat in soil.Weed Res., 10: 49-58.,
1970.

BORGES, A. L.; OLIVEIRA, A. M. G.; SOUZA, L. da S. Solos, nutrição e adubação. In: ALVES,
E. J. (Coord.). A cultura da banana:aspectos técnicos, socioeconômicos e agroindustriais.
Brasília: Embrapa- SPI, 1987. p. 197-260.

CARMOUZE, J. P. O Metabolismo dos ecossistemas aquáticos: fundamentos teóricos, métodos de


estudo e análises químicas. São Paulo: Edgard Blücher/FAPESP, 1994. 253p.

CURTIN, D.; SMILLIE, G.W. Soil solution composition as affected by liming and incubation.Soil
Science Society of American Journal,Madison, v. 47, n.4, p.701-707, 1983.

FIGUEREDO, Flávio P. de; MANTOVANNI, Everardo C.; SOARES, Antonio A.; COSTA, Luiz
C.; RAMOS, Márcio M.; OLIVEIRA, Flávio G.Produtividade e qualidade da banana prata anã,
influenciada por lâminas de água, cultivada no Norte de Minas Gerais. Rev. bras. eng. agríc.
ambient. vol.10 no.4 Campina Grande Oct./Dec. 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 334


RODRIGUES, M. G. V.; SOUTO, F. S.; DIAS, M. S. C.; SILVA, E. B. Manejo do bananal de
Prata Anã cultivada no norte de Minas. SIMPÓSIO NORTE MINEIRO SOBRE A CULTURA
DA BANANA, 1., 2001. Nova Porteirinha. Anais... Montes Claros: UNIMONTES, 2001. p.
154-167.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 335


PERCEPÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS E IMPACTOS
AMBIENTAIS DE FEIRA LIVRE NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE – PB

Hallyson OLIVEIRA
Graduando do Curso de Engenharia Agrícola da UFCG
hallysonoliveira_@hotmail.com
Tainara Tâmara Santiago SILVA
Mestranda Irrigação e Drenagem da UFCG
tainara.eng.agri@gmail.com
Bruno Gaudêncio de ALMEIDA
Graduando do Curso de Agroecologia da UEPB
brunogaudenciocg@hotmail.com
Maria Sallydelândia Sobral de FARIAS
Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG
sallyfarias@hotmail.com

RESUMO
A feira livre é um ambiente de venda de produtos como hortaliças, frutas, legumes, carnes, entre
outros, onde o produtor rural oferece aos consumidores produtos de suas respectivas atividades,
obtendo assim um maior lucro com a venda, pois não há intermediários. Faz-se necessário ter nesse
local as melhores condições higiênico-sanitárias e ambientais para que não haja problemas de
crescimento e proliferação de microorganismos, o que proporciona inúmeros problemas a segurança
alimentar dos consumidores, desse modo, objetivou-se analisar os impactos ambientais e as
condições higiênico-sanitárias de uma feira livre localizada no centro da cidade de Campina Grande
– PB. Na avaliação foi utilizado o método de check-list, verificando pontos negativos, como por
exemplo: poluição sonora, poluição visual, ausência de higiene local, instalações inadequadas,
problemas na higiene dos alimentos, entre outros e dando ênfase aos pontos positivos, como:
geração de empregos, renda para os feirantes, maior comodidade aos consumidores e maior
aquecimento e desenvolvimento da economia local. Foram elaboradas medidas mitigadoras com o
intuito de impedir ou minimizar os aspectos negativos encontrados na feira.
Palavras-chave: avaliação, mercado, higiene.

ABSTRACT
The free fair is a place of sales of products like vegetables, fruits, meats, among others, where the
farmer provide consumers with products of their respective activities, obtaining a higher profit by
selling, because there are not middlemen. It is necessary to have in the place the best hygienic-
sanitary and environmental conditions, so there are not problems of growth and proliferation of
microorganisms, which provides numerous problems for food safety for consumers, thereby, the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 336


objective was to analyze the environmental impacts and the hygienic-sanitary conditions of a free
fair located in the city center of Campina Grande – PB. In the evaluation was used the check-list
method, checking the negatives points, such as example: noise pollution, visual pollution, lack of
local care, inadequate facilities, problems in food hygiene, among others and emphasizing the
positive points, as: jobs generation, rents to the vendors, convenience for consumers and higher
heating and local economic development. Mitigating measures were prepared in order to prevent or
minimize the negative aspects found.
Key words: evaluation, market, hygiene.

INTRODUÇÃO

Atualmente existe uma grande preocupação da população com a qualidade dos alimentos,
incluindo os métodos utilizados na produção, transporte, armazenamento e comercialização até
chegar ao consumidor final.
A feira livre floresceu na Europa durante a Idade Média e teve papel fundamental no
desenvolvimento das cidades e no chamado renascimento comercial observado durante o século
XIII. Na medida em que a produção agrícola foi ganhando sofisticação nos feudos, o excedente
passou a ser comercializado nas cidades durante as feiras(NAGEL,2007).
Com formas de garantir a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade dos alimentos na
comercialização de alimentos temos as Boas Práticas de Fabricação de Alimentos, que são normas
criadas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as quais devem ser adotadas
pelas instituições ligadas aos serviços de alimentação e envolvem requisitos essenciais, que vão
desde instalações adequadas, estendendo-se até as regras de limpeza do local de trabalho e higiene
pessoal, tais como a lavagem freqüente e correta das mãos, utilização de uniformes adequados,
disponibilização de materiais higiênicos e uso de sanitizantes apropriados, concluindo com a
descrição dos procedimentos por escrito envolvidos no processamento dos alimentos (BRASIL,
2004; TOMICHI, 2005).
Geralmente, as áreas de venda como as feiras livres apresentam infra-estrutura inadequada,
falta de acesso à água potável e às instalações sanitárias, fatos que propiciam ao risco de servirem
como veículos de doenças (MARTINS, 2008).
Embora a feira seja um empreendimento de importância sócio-econômica, tanto para
pequenos produtores rurais, como para os consumidores que da mesma se abastecem, ainda são
poucos os estudos e diagnósticos que tratam de problemas relacionados ao funcionamento de uma
feira livre (FERNANDES NETO,2007).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 337


Geralmente utiliza-se o método de check list, porque além de ser um meio de melhor
aferição que os questionários abertos, tem tido grande aceitação na área de saúde e segurança além
de ser uma ferramenta mais fácil tanto para quantificar como para qualificar o local e as condições
de trabalho (BRASIL, 2003).
Sendo assim, objetivo deste trabalho foi avaliar os impactos ambientais associados à feira,
com o levantamento dos problemas encontrados no ambiente, bem como, dos produtos ali
comercializados, dentre outros aspectos.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado em uma feira livre no centro da cidade de Campina Grande – PB ao
lado do supermercado Hiper Bompreço (Figura I).

Figura I: Localização da Feira Livre


Fonte: Google Earth. Acesso: 12/09/2014

Nessa feira livre encontra-se a comercialização de vários produtos, como de origem animal
(carnes, peixes, queijos e ovos), hortifrutigranjeiros (hortaliças, frutas, legumes, grãos), além de
doces caseiros e outros produtos.
O levantamento de dados e visualização dos aspectos positivos e negativos em relação às
condições higiênico-sanitárias e impactos ambientais foram realizados ―in loco” em um total de
quatro visitas no mês de agosto de 2014. O método utilizado para avaliação desses aspectos foi o
check-list. A metodologia do check-list consiste na identificação e na enumeração sistemática dos
fatores ambientais relevantes encontrados a partir das ações impactantes advindas da
implementação do empreendimento (Rocha, 1997).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 338


RESULTADOS

Diante dos resultados obtidos através dos questionamentos e visitas realizadas na feira com
relação às condições higiênico-sanitárias e impactos ambientais, observou-se tanto pontos positivos
quanto pontos negativos, destacando-se um maior número de aspectos negativos.
Aspectos positivos:

 Geração de emprego e renda: os produtores rurais são privilegiados em comercializar os


produtos de suas respectivas atividades, obtendo uma melhor renda familiar.
 Aquecimento da economia local: a feira livre trás benefícios para os estabelecimentos que
ficam ao redor da mesma.
 Comodidade para os consumidores: como a feira acontece em um local de fácil localização e
próximo a um supermercado, facilita para os consumidores comprarem produtos in natura;
 Preço dos produtos mais acessíveis: como não há a intervenção de intermediários, o
produtor pode vender o seu produto por um preço diferenciado;
 Ausência de problemas de saneamento: o local não tem problema quanto a saneamento
básico, o que diminui os problemas de atração de vetores e pragas;
 Piso conservado: facilita o acesso e percurso dos consumidores.

Aspectos negativos:

 Poluição visual: exposição inadequada de alguns produtos como carnes, peixes, etc;

Figura II: Exposição inadequada de carnes

 Poluição sonora: devido à proximidade da pista que fica ao lado da feira, há ruídos sonoros
ocasionado pelo grande fluxo de carros e motos;
 Mau cheiro: devido à má exposição de alguns alimentos, principalmente peixes e também a
alimentos estragados jogados ao redor da feira;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 339


 Falta de higiene: há o contato direto entre o manipulador/consumidor e o alimento, além da
falta de cuidado ao lidar com o dinheiro e o alimento;
 Atrativo de vetores de doenças: diante da exposição inadequada dos alimentos,
principalmente os de origem animal, há presença de moscas, baratas, entre outros;
 Exposição inadequada dos alimentos: os alimentos, principalmente os de origem animal, são
expostos ao ar livre, sem nenhuma refrigeração e sobre bancadas;
 Ausência de coleta dos resíduos sólidos e orgânicos: não há presença de lixeiras ou coleta
seletiva na feira, o que induz ao comerciante fazer ―entulhos‖ de resíduos sólidos ou
alimentos estragados;

Figura III: Restos de alimentos jogados no chão.

 Desperdício de alimentos: alimentos jogados fora, mesmo podendo ser utilizados em outras
atividades, por não apresentar bons aspectos físicos;
 Ausência de instalação física: a feira localiza-se ao ar livre, o que prejudica em caso de dia
chuvoso, impossibilitando o acontecimento da mesma;
 Asseio pessoal: os manipuladores utilizam adornos, as mãos em muitos casos não estão
limpas, o que compromete o manuseio dos alimentos, entre outros.

MEDIDAS MITIGADORAS

Com o intuito de impedir ou minimizar os aspectos negativos observados, apresenta-se as


seguintes proposições:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 340


 Fiscalização da vigilância sanitária da cidade, com o objetivo de impedir a exposição e a
comercialização de forma inadequada dos alimentos;
 Maior suporte técnico da EMATER – PB aos produtores rurais, para uma melhor produção,
armazenamento, comercialização e transporte;
 Aplicação de cursos aos produtores rurais com relação à produção, armazenamento,
comercialização e transportes dos produtos de suas respectivas atividades;
 Utilização de coleta seletiva, para que os resíduos sólidos gerados na feira tenham a
destinação adequada;
 Utilização de lixeiras para a colocação de alimentos estragados, para que os mesmos não
sejam jogados ao redor da feira e tenham uma destinação final adequada;
 Aplicação de cursos aos comerciantes com relação ao manuseio adequado dos alimentos;
 Melhoria na estrutura física, se possível, a construção de uma estrutura que impossibilite os
problemas advindos dos dias chuvosos;
 Melhoria no armazenamento dos produtos oriundos de animais, pois podem ficar
armazenadas em caixas resfriadas ou caixas térmicas;
 Com a melhoria da estrutura física, colocar as instalações elétricas, para que haja uma
melhor iluminação do local;
 Elaboração de regras de limpeza do local e do produtor, manuseio e descarte dos alimentos
para serem seguidas por todos os integrantes da feira livre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo realizado na feira livre no centro da cidade de Campina Grande – PB,
utilizando o método de check-list, identificou-se tanto problemas positivos quanto problemas
negativos, no qual se destacam como principais aspectos positivos a geração de empregos, uma
maior renda para os produtores que fazem parte da feira, preço dos produtos mais acessíveis aos
consumidores e aquecimento e desenvolvimento da economia local. No que tange os aspectos
negativos se destacam a poluição visual, problemas em relação ao manuseio dos alimentos,
ausência de uma instalação adequada e ausência de lixeiras e/ou coleta seletiva para colocação dos
resíduos gerados da feira.
Diante dos aspectos negativos citados nesse estudo, foram elaboradas medidas mitigadoras
com o objetivo de impedir ou minimizar os mesmos, mostrando de forma sucinta aos órgãos
públicos um maior comprometimento quanto à fiscalização dessas feiras, do financiamento de
cursos relacionados às produções, armazenamento dos produtos, comercialização e transporte dos
mesmos até o local de venda, além da construção de uma instalação física adequada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 341


Com isso, acredita-se que esse estudo tenha uma enorme importância para os produtores
agregarem valores aos seus produtos, possibilitando também uma maior segurança alimentar para
os consumidores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria colegiada

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Comissão Interinstitucional de Prevenção aos


Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais. Programa de Avaliação das Condições de
Trabalho da Indústria da Construção Civil. Jundiaí: CEREST, 2003. Disponível em:
<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/construcao%20civil/Programa%20de%20Av
aliacao%20das%20Condicoes%20de%20Trabalho%20da%20Industria%20da%20Construcao%2
0Civil.pdf>. Acessado em: 19 set. 2014.

FERNANDES NET, S., ABREU, S. B., MEIRA, W., SOUZA, S. A., LIMA, V.L.A, estudo
ambiental em uma feira - livre – Campina Grande/PB. Revista Educação Agrícola Superior.
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS - v.22, n.2, p.8-12, 2007.

MARTINS, F. Metodologia de avaliação das condições sanitárias de vendedores ambulantes de


alimentos no Município de Ibiúna-SP. Rev. bras. epidemiol. vol.11 no.2 São Paulo Jun/2008.

NAGEL, B., GONÇALVES, D., RANGEL, P. PEÇANHA, T. Os bastidores de uma feira livre.
Consumidores e feirantes falam sobre o velho hábito de ir à feira. 2007.

RDC 216 de 15 de setembro de 2004.

ROCHA, J. S. M. Manual de projetos ambientais. Santa Maria: Universidade Federal de Santa


Maria, 1997, 423p.

TOMICHI, P.G.R. Metodologia para avaliação das Boas Práticas de fabricação em indústrias de
pão de queijo. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 25(1): 115-120 jan.-mar. 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 342


USOS ATUAL DAS TERRAS NO ESPAÇO RURAL DA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO ITAMIRIM, SERGIPE

Isabela Santos de MELO


Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe
isabela_santosdemelo@yahoo.com.br
Débora Barbosa da SILVA
Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe
deborabarbs@ig.com.br
Izabella Santos de Macêdo CARVALHO
Graduanda em geografia pela Universidade Federal de Sergipe
izamace@yahoo.com.br
Tatiane Santos da CRUZ
Graduanda em geografia pela Universidade Federal de Sergipe
tatiane.cruzz@hotmail.com

RESUMO
No espaço rural, o uso e manejo das terras são os principais indutores pelas mudanças impressas na
paisagem. As constantes pressões exercidas pelas intervenções humanas no manejo dos recursos
naturais em bacias hidrográficas têm culminado em impactos ambientais, resultantes da degradação
dos componentes do meio ambiente, repercutindo em transformações na organização espacial e na
qualidade de vida das populações. Neste sentido, este artigo objetiva analisar o uso atual das terras
na sub-bacia hidrográfica do rio Itamirim, a partir das interações entre os componentes bióticos,
abióticos e antrópicos que estruturam a paisagem. Os fundamentos teóricos deste estudo foram
pautados nos pressupostos sistêmicos da análise integrada da paisagem de Christofoletti (1999),
Bertrand (2004) e do sistema GTP (Geossistema, Território e Paisagem) de Claude Bertrand e
Bertrand (2007). Para o alcance do objetivo proposto foram realizados levantamento bibliográfico e
cartográfico, interpretação de imagens de satélite SPOT e de radar SRTM e trabalhos de campo.
Neste trabalho, a análise do uso das terras consistiu na observação da interação entre os aspectos
naturais e o fator antrópico em distintos setores da paisagem, delimitados em duas unidades
ambientais sistêmicas, denominadas de Sistema Ambiental I e Sistema Ambiental II. Na primeira
unidade sistêmica, a agricultura permanente e a agropecuária são as principais classes de uso das
terras, enquanto na segunda, as principais classes de uso são a pecuária extensiva, a extração
mineral de argila e a atividade industrial de cerâmica. As atividades econômicas desenvolvidas em
cada recorte espacial da sub-bacia se repercutem na degradação dos solos potencializado pela ação
morfodinâmica, evidenciado em feições erosivas de sulcos, ravinas e voçorocas; na
descaracterização da paisagem devido ao manejo inadequado na extração de argila, e no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 343


assoreamentos dos canais fluviais em razão do desmatamento desordenado e da prática de
queimadas realizadas nas margens dos rios.
Palavras-chaves: Uso das terras, paisagem integrada, recursos naturais, impactos ambientais.

ABSTRACT
In rural areas, the use and management of land are the main inducers printed by changes in the
landscape. The constant pressure exerted by human intervention in natural resource management in
watersheds have culminated in environmental impacts resulting from the degradation of
components of the environment, resulting in changes in the spatial organization and the quality of
life of populations. In this sense, this article aims to analyze the current land use in the sub-basin of
the river Itamirim, from the interactions between biotic, abiotic and anthropogenic components that
structure the landscape. The theoretical foundations of this study were based on assumptions of
systemic integrated landscape analysis of Christofoletti (1999), Bertrand (2004) and GTP
(geosystem, Planning and Landscape) system Claude Bertrand and Bertrand (2007). To achieve the
proposed objective bibliographic and mapping, interpretation of SPOT satellite images and SRTM
radar and fieldwork were conducted. In this work, analysis of land use consists in the observation of
the interaction between natural and anthropogenic factor aspects in different sectors of the
landscape, enclosed in two systemic environmental units, called Environmental System I and
System II Environmental. The first systemic unity, permanent agriculture and farming are the main
classes of land use, while in the second, the main classes of use are extensive cattle ranching,
mining of clay and ceramic industrial activity. The economic activities in each spatial area of sub-
basin are reflected in land degradation potentiated by morphodynamic action, evidenced by
erosional features grooves, gullies and ravines; mischaracterization in the landscape due to
improper handling in the extraction of clay and silt of fluvial channels due to uncontrolled
deforestation and the practice of burning conducted on the banks of rivers.
Keywords: land use, integrated landscape, natural resources, environmental impacts.

INTRODUÇÃO

Na relação da sociedade com a natureza o espaço geográfico se transforma e se reproduz de


acordo com a conjuntura política, social e econômica em distintos contextos históricos. Na
atualidade, os processos de transformação espacial originados dessa relação ocorrem com o intuito
de atender aos anseios do modo de produção vigente, evidenciados nas paisagens a partir da
apropriação dos recursos naturais.
O uso e o manejo das terras no espaço rural são viabilizados pelas condições naturais,
consistindo os principais indutores das mudanças impressas nas paisagens. A influência dos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 344
componentes ambientais, sobretudo os abióticos, como o clima, solo, relevo e água, em associação
com as intervenções humanas, favorecem, principalmente, a existência da agricultura e da
agropecuária como as principais classes de uso das terras.
Considerada uma porção do espaço geográfico, a bacia hidrográfica integra em sua área de
influência a síntese paisagística, constituída pela interação dos componentes naturais, sociais e
econômicos, sendo, portanto passível de análise para os estudos ambientais.
As constantes pressões exercidas pelas intervenções humanas no manejo dos recursos
naturais em bacias hidrográficas têm culminado em impactos ambientais resultantes da degradação
dos componentes que estruturam o meio ambiente.
Visando mitigar ou solucionar os impactos provenientes da exploração dos recursos
naturais, inúmeros estudos têm sido realizados com a finalidade de fornecer subsídios para o
planejamento e gestão de bacias hidrográficas.
Nos estudos ambientais, por exemplo, reconhecendo os fenômenos espaciais e a relação de
interdependência entre os elementos bióticos, abióticos e antrópicos, por meio de uma visão
sistêmica do espaço geográfico, muitos geógrafos analisam a bacia hidrográfica para compreender a
organização espacial e os problemas ambientais ocorrentes.
Pires et al., (2005), afirmam que o conceito de bacias hidrográficas pode auxiliar na gestão
dos recursos naturais, pois na avaliação ambiental, os planejadores que o utilizam certamente
envolvem em seus estudos não apenas os aspectos hidrológicos, mas também a estrutura biofísica e
os problemas ambientais desencadeados pelas mudanças nos padrão de uso das terras.
O presente estudo objetiva analisar o uso atual das terras no espaço rural da sub-bacia do rio
Itamirim, a partir dos impactos ambientais decorrentes das interações entre os componentes
bióticos, abióticos e sociais que estruturam a paisagem.
Os fundamentos teóricos utilizados nesta pesquisa foram pautados no princípio sistêmico do
estudo integrado da paisagem, a partir dos pressupostos teórico-metodológicos de Christofoletti
(1999), Bertrand (2004) e do sistema GTP (Geossistema, Território e Paisagem) de Claude Bertrand
e Bertrand (2007).
A concepção do modelo geossistêmico formulada inicialmente pelo russo Sotchava na
década de 60, tem como ponto de partida a perspectiva holística e interacionista da paisagem
natural, composta por partes interdependentes que mantém conectividade através de fluxos de
matéria e energia (NASCIMENTO e SAMPAIO, 2005).
De acordo com Bertrand (2004), o geossistema corresponde a uma unidade taxonômica da
paisagem, constituindo-se como uma porção espacial, delimitada temporal e espacialmente, cuja
estrutura é formada pelo potencial ecológico (clima, hidrologia e geomorfologia); exploração

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 345


biológica (vegetação, solo e fauna) e pela ação antrópica. A combinação destes elementos naturais
com a ação antrópica é responsável pela dinâmica ambiental.
A partir da abordagem geossistêmica, o espaço geográfico passou a ser concebido como
uma totalidade composta por partes interdependentes que interagem em busca do equilíbrio
dinâmico. Portanto, nos estudos da organização espacial por meio do modelo geossistêmico, a bacia
hidrográfica pode ser analisada como uma unidade espacial estruturada pela interação dinâmica dos
componentes naturais e sociais.
Christofoletti (1999) considera as unidades espaciais dinâmicas, ou seja, os geossistemas,
denominando-as de sistemas ambientais. Para este autor, todo sistema ambiental encontra-se
inserido em um sistema maior. A relação entre esses dois conjuntos fundamenta-se na troca de
energia e matéria, em que a alteração no fornecimento de um desses elementos, seja de ordem
natural ou antrópica, repercutirá no seu comportamento, alterando-o. Assim, o funcionamento
interno de um sistema é reflexo das influências ambientais externas as quais ele está submetido.
O estudo da sub-bacia do rio Itamirim fundamentado no sistema GTP, justifica-se pela
possibilidade de realizar uma análise integrada do espaço, a partir das dimensões natural,
econômica e social, responsáveis pelas transformações que se sucedem na área em estudo.
Segundo Santos e Souza (2013, p.2),

O sistema GTP (Geossistema, Território e Paisagem) é um pressuposto teórico-


metodológico completo, pois abrange todos os elementos responsáveis pelas alterações
espaciais que os geógrafos estão aptos a analisar, uma vez que a abordagem busca entender
os fenômenos entre a natureza e a sociedade de modo integrado.

A análise das interrelações entre os componentes bióticos, abióticos e antrópicos da sub-


bacia do rio Itamirim possibilitou individualizar duas unidades geossistêmicas delimitadas
conforme as feições do relevo sendo denominadas de Sistema Ambiental I e Sistema Ambiental II.
Para o alcance do objetivo proposto foram realizados os seguintes procedimentos
metodológicos: pesquisa bibliográfica a partir de artigos, livros, teses e dissertações, cujas temáticas
abordam estudos sobre bacias hidrográficas, uso das terras e análise sistêmica da paisagem, bem
como dados de instituições públicas como a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe
(EMDAGRO); análise de mapas temáticos; interpretação de imagens de satélite SPOT e de radar
SRTM. O método fenomenológico e empírico executado por meio da observação e análise das
características da paisagem e realização de entrevistas com produtores rurais permitiram aferir
informações primárias sobre os aspectos naturais, o uso e ocupação das terras e as repercussões
sociais e ambientais da área em estudo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 346


CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

A sub-bacia hidrográfica do rio Itamirim situa-se no sul e em porções do centro-sul do


Estado de Sergipe, entre as coordenadas geográficas 37 º 30‘ 00‖ e 38 00‘ 00‖ Oeste e 11º 30‘ 00‖ e
11º 32‘ 00‖ Sul. Esta sub-bacia abrange áreas dos municípios de Tobias Barreto, Itabaianinha,
Tomar Geru, Umbaúba, Cristinápolis e Indiaroba.
A maioria dos cursos d‘água da sub-bacia é intermitente, sendo que o seu rio principal, o rio
Itamirim, nasce na serra da Mata Verde, município de Tobias Barreto e deságua no rio Real divisa
entre os municípios de Cristinápolis e Umbaúba, drenando terras de diferentes compartimentos
litológicos e geomorfológicos.
A área de estudo está submetida aos tipos climático semi-árido, predominante no alto curso
do rio Itamirim, e aos climas seco e subúmido, situados respectivamente no médio e baixo curso
(Silva, 2009).
A geomorfologia da sub-bacia apresenta duas unidades: os Tabuleiros Costeiros e o
Tabuleiro do Rio Real, enquanto as principais classes de solos predominantes são Argissolos,
Neossolos, Planossolos, Cambissolos e Latossolos (Silva, 2009).
De acordo com os estudos realizados por Brasil (1983), as formações vegetais que se
destacam na área da sub-bacia são Floresta Estacional Semidecidual e Contato Estepe-Floresta
Estacional.
Na sub-bacia do rio Itamirim, o uso das terras ocorre por meio da agricultura de subsistência
e agricultura permanente, da agropecuária, da atividade industrial ceramista e mineração de argila.
As características dos condicionantes ambientais de maior expressividade na organização
espacial da sub-bacia são o relevo, o solo e o clima, que influenciam o uso das terras, imprimindo
feições e impactos ambientais diferenciados em distintas porções.
A aplicação dos pressupostos sistêmicos na análise ambiental da área da sub-bacia do rio
Itamirim possibilita seu reconhecimento como um sistema espacial, cuja dinâmica dos sistemas
ambientais e as alterações provocadas pela interferência humana são identificadas nos diferentes
compartimentos da paisagem, intitulados de Sistema Ambiental I e Sistema Ambiental II.

SISTEMAS AMBIENTAIS E USO DAS TERRAS NA SUB-BACIA DO RIO ITAMIRIM

Na sub-bacia, o Sistema Ambiental I está situado no alto curso do rio Itamirim abrangendo
áreas dos municípios de Tomar do Geru, Itabaianinha e Tobias Barreto.
O tipo climático predominante nesta unidade ambiental corresponde ao clima seco com
transição para o semiárido (Silva, 2009), com totais pluviométricos de 749,9 mm para o município
de Itabaianinha e 308,5 mm para o município de Tobias Barreto (EMDAGRO, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 347


De acordo com os estudos realizados por Brasil (1983), na área correspondente a está
porção espacial há a presença de rochas da Formação Palmares como grauvacas seixosas,
conglomerados e arenitos arcoseanos, maciços e litotipos da Formação Lagarto, constituídos por
metarenitos e metasiltitos (Brasil, 1983).
A geomorfologia do Sistema Ambiental I integra o Domínio das Bacias e Coberturas
Sedimentares, formado pela região Baixo Planalto Palmares – Estância, unidade Tabuleiros do Rio
Real (Brasil, 1983). A paisagem desta unidade sistêmica é caracterizada por colinas de baixa
convexidade e por feições residuais de inselbergs, denominadas localmente por serras, circundadas
por superfícies aplainadas predominantes do município de Tobias Barreto.
As classes de relevo destas morfologias variam de plano a ondulado. No topo das serras as
declividades variam entre 0 a 8%, enquanto nas vertentes as classes de relevo variam de forte
ondulado a ondulado com declives entre 8 a 20% (Silva, 2009).
Segundo Silva (2009), as classes de solos predominantes nesta porção espacial são os
Planossolos Háplicos, Planossolos Nátricos e os Neossolos Litólicos.
Em razão do predomínio do intemperismo físico característico do clima seco a semi-árido e
da declividade acentuada, os Neossolos Litólicos aparecem associados a afloramentos rochosos. Por
serem pouco evoluídos, estes solos apresentam restrições à existência de agricultura permanente,
favorecendo a implantação da agricultura temporária e pastagem.
As declividades mais acentuadas ocorrem na Serra da Mata Verde propiciando maior
escoamento superficial das águas pluviais e remoção das camadas superficiais do solo.
No Sistema Ambiental I, a agricultura de subsistência, a pastagem, a atividade industrial de
cerâmica e a extração de argila são as classes de uso das terras predominantes.
Muitas vezes, a lavoura temporária é realizada em consórcio com cultivos temporários
diversos. Na agricultura de subsistência, o manejo do solo é realizado com uso de tratores e
implementos agrícolas tradicionais. Esta prática favorece a compactação da superfície dos solos
dificultando o desenvolvimento das atividades agrícolas, pois promove alterações na estrutura dos
solos, reduzindo a aeração e a retenção de água necessária ao desenvolvimento das espécies
vegetais. Além disso, aumenta o escoamento superficial e a erosão dos solos.
Características ambientais como baixo índice pluviométrico e solos rasos encontrados no
município de Tobias Barreto e Itabaianinha concorrem para a existência da agropecuária como
principal atividade desenvolvida no espaço rural.
Nos estabelecimentos agropecuaristas, a formação de tanques nos leitos de rios temporários
destinados ao consumo de água pelo gado, provocou pequenos desvios no curso do rio Itamirim e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 348


em alguns de seus afluentes como o rio Poção. Entretanto, a retirada da mata ciliar propicia o
assoreamento desses cursos d‘ água.
Em áreas de declividades mais acentuadas, como na Serra da Mata Verde, próximo à
nascente do rio Itamirim, o pisoteio do gado também tem ocasionado a compactação dos solos que
dificulta a infiltração da água da chuva e acelera o escoamento superficial originando feições
erosivas de terracetes.
Quanto à atividade ceramista, esta se realiza por meio da produção de artefatos de cerâmica
no município de Itabaianinha e é considerada uma das atividades econômicas mais representativas
do Sistema Ambiental I, pois contribui para a economia do município e do Estado de Sergipe.
As indústrias de grande porte se destacam pela produção de blocos de cerâmica de variados
tipos que são comercializados para a construção civil em Sergipe e em outros estados do Nordeste.
Enquanto que as olarias disputam o mercado consumidor com as empresas citadas apesar de sua
produção, geralmente, se destinar ao próprio município em razão dos produtos apresentarem
qualidade inferior.
Para a produção dos artefatos de cerâmica, segundo os funcionários das indústrias
ceramistas, os fornos funcionam com a utilização de madeira de pinnus proveniente de silviculturas
situadas no Estado da Bahia, porém verificou-se que em alguns estabelecimentos como algumas
olarias, nos fornos é utilizada madeira nativa da região como a Umbaúba decorrente do
desmatamento.
Nas indústrias, a produção de artefatos de cerâmica tem como matéria prima a argila
extraída em áreas de colinas e do leito de rios temporários afluentes do rio Itamirim, situados no
alto curso.
A extração dos sedimentos argilosos é realizada com tratores e, nesse processo há a remoção
da cobertura vegetal. Como consequência, os solos tornam-se mais suscetíveis aos processos
erosivos, uma vez que a retirada da vegetação ao deixar os solos desnudos, aumentam os impactos
das gotas de chuva, propiciando a selagem da parte superficial dos solos e o aumento do
escoamento superficial devido a redução da infiltração.
A explotação de argila próximo às margens dos rios torna-os assoreados devido a remoção
da vegetação ciliar facilitando a deposição de sedimentos pelo escoamento superficial.
No médio e baixo curso da sub-bacia, as distintas características ambientais possibilitou a
compartimentação da paisagem em outra unidade sistêmica que apresenta uso e ocupação das terras
diferenciados.
O Sistema Ambiental II abrange áreas dos municípios de Cristinápolis, Umbaúba, Indiaroba
e porções de Itabaianinha e Tomar do Geru. O tipo climático predominante nesta unidade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 349


paisagística é o subúmido (SILVA, 2009), com totais pluviométricos de 902,5 mm para o município
de Cristinápolis; 1343, 6 mm para Umbaúba e 1902, 0 para o município de Indiaroba (EMDAGRO,
2013).
Segundo Brasil (1983), a geologia que corresponde a área de abrangência desta unidade
ambiental é constituída por litotipos do Complexo Jequié, formado pela presença de granulitos,
charnokitos quartzo-feldspático, piriclasitos, gnaisses e granitos e; pelo Grupo Barreiras, cuja
composição litológica está representada por arenitos, conglomerados e materiais areno-argiloso com
estratificação irregular compactos em acamamento mal-definido (BRASIL, 1983).
Geomorfologicamente o Sistema Ambiental II é formado pelo Domínio Depósito
Sedimentares, Região Piemontes Imunados e Unidade dos Tabuleiros Costeiros.
No que se refere as características da paisagem, a ação dos agentes morfogenéticos
proporcionou a existência de feições diferenciadas. No topo dos Tabuleiros Costeiros predominam
feições tabuliformes, contudo o entalhe dos rios nas vertentes dessa unidade geomorfológica
propiciou a evolução de feições de anfiteatro e colinas convexas.
A cobertura pedológica dessa unidade paisagística apresenta predomínio de Argissolos
(SILVA, 2009).
No Sistema Ambiental II, a agricultura permanente e temporária, a agropecuária e a
mineração de argila são as classes de uso e ocupação das terras predominantes.
Devido ao clima, as classes de relevo e as características dos solos no topo dos Tabuleiros
Costeiros, a maior produção econômica provém da citricultura com destaque para a produção de
laranja nos municípios de Cristinápolis e Itabaianinha. O cultivo de eucalipto, tangerina, limão,
além de cultivos temporários de milho, feijão, pimenta e maracujá também são observados em
Cristinápolis.
Apesar da baixa declividade, no topo do Tabuleiro foi possível evidenciar feições erosivas
de sulcos, resultantes do manejo inadequado dos solos, nos cultivos de laranja e eucalipto, pois os
solos apresentam-se desnudos entre os indivíduos e desprotegidos do impacto das gotas das chuvas.
Na citricultura, o manejo inadequado também ocorre com o uso intensivo de agrotóxicos. A
inserção de insumos químicos nos solos e nos cultivos conduz à alteração das propriedades
químicas e à contaminação da água do solo. Portanto, os compostos químicos oriundos destes
insumos são absorvidos pelas raízes dos vegetais e posteriormente ingeridos pelos consumidores.
Além disso, estes insumos proporcionam a morte de microorganismos necessários à decomposição
da matéria orgânica.
Nas encostas de colinas com declividade mais acentuada há a implantação da agropecuária.
Nestas áreas, dentre os processos morfodinâmicos destaca-se o escoamento superficial

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 350


influenciando o desenvolvimento de feições erosivas como sulcos e ravinas, enquanto a ação
mecânica do pisoteio do gado sobre a superfície dos solos originaram terracetes.
Em algumas áreas do Sistema Ambiental II queimadas são realizadas para a implantação da
agricultura e agropecuária. Como consequência, a mata ciliar situada nas margens de alguns cursos
d‘água afluentes do rio Itamirim, a exemplo do riacho da Jiboia, aparece rarefeita favorecendo o
assoreamento, a diminuição da profundidade do leito, a redução da capacidade de transporte dos
sedimentos e o surgimento de meandros.

REPERCUSSÕES DO USO DAS TERRAS NA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

Considerando a proposta de estudo sistêmica realizada a partir das interrelações entre os


componentes bióticos, abióticos e antrópicos, a análise do uso e manejo das terras no espaço rural
da sub-bacia permitiu identificar alguns impactos ambientais e repercussões econômicas
provenientes do manejo inadequado dos recursos naturais.
Apesar de contribuir para a geração de emprego e renda e, portanto para a economia dos
municípios que integram a sub-bacia do rio Itamirim, as atividades produtivas agrícolas e
agropecuárias, a atividade industrial de cerâmica e a mineração de argila proporcionam intensas
alterações na organização espacial.
O desmatamento e a prática de queimadas da vegetação nativa para a implantação da
agropecuária extensiva e da citricultura ocasionam a degradação das características ambientais e a
redução da biodiversidade, interferindo no equilíbrio ecológico, além de favorecer a morte dos
microorganismos necessários à manutenção das propriedades dos solos e da ciclagem dos nutrientes
disponíveis para o desenvolvimento das cultivares.
A presença de feições erosivas como ravinas, terracetes e os processos de voçorocamento
reduzem a capacidade produtiva dos solos repercutindo na rentabilidade na produção das atividades
rurais e na qualidade de vida da população que tem na agricultura e na agropecuária a garantia da
sobrevivência e da arrecadação municipal através dos impostos.
Nas margens dos rios, a prática de queimadas tem como consequência o assoreamento dos
cursos d‘água da sub-bacia. Entretanto, a remoção da cobertura vegetal interfere na vazão dos rios
nos períodos de cheia e, o posterior carreamento dos sedimentos contaminados por agroquímicos
utilizados nas atividades agrícolas e agropecuárias proporciona a contaminação das águas.
Quanto à extração de argila, dentre os principais impactos estão, a descaracterização da
paisagem devido a alteração da topografia, através dos desmontes das colinas e a formação de
crateras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 351


No processo produtivo dos artefatos de cerâmica há o lançamento de fuligens e gases
poluentes na atmosfera, comprometendo a saúde da população. Além disso, durante a realização do
trabalho de campo nas olarias constatou-se a utilização de mão de obra infantil, enquanto nas
indústrias de grande porte, foi observado que alguns funcionários trabalham sem a utilização de
equipamentos de proteção individual (EPIs) para prevenir acidentes de trabalho.
Portanto, a organização espacial da sub-bacia do rio Itamirim se estabelece pela interação
entre os componentes bióticos e abióticos em associação com as intervenções humanas, as quais
realizadas por meio do uso e manejo das terras ocasionam modificações nas características
ambientais expressas na estrutura da paisagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do uso e ocupação das terras na sub-bacia hidrográfica do rio Itamirim possibilitou
conhecer o grau de intervenção humana nos condicionantes ambientais e as repercussões na
alteração das características ambientais e socioeconômicas nos distintos sistemas ambientais,
evidenciando a necessidade de gestão e planejamento do uso dos recursos em distintos setores da
sub-bacia.
O desmatamento e a prática de queimadas para a implantação de pastagens e agricultura,
bem como a extração de argila e a produção industrial de cerâmica são as principais atividades
responsáveis pelos impactos socioambientais existentes na sub-bacia do rio Itamirim.
Neste estudo foi possível constatar a fragilidade da atuação do Poder Público no
ordenamento territorial e na conservação ambiental, pois os impactos ambientais são favorecidos
pela ineficiência da fiscalização dos órgãos ambientais quanto ao cumprimento da legislação
ambiental no desenvolvimento de atividades produtivas.
Tendo em vista a vulnerabilidade dos sistemas ambientais analisados e as atividades
produtivas desenvolvidas no espaço rural da sub-bacia do rio Itamirim que são influenciadas pelos
fatores ambientais, se fazem necessários o planejamento e a gestão territorial para assegurar as
potencialidades ambientais e reduzir os impactos negativos sobre a qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

BERTALANFFY, Ludwig. Von. Teoria Geral dos Sistemas. 2º Ed. Pétropolis: vozes, 1975.

BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de


Ciências da Terra. Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo, n. 13, 1972.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 352


BRASIL. Ministério das Minas e Energias. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL. Rio de
Janeiro, 1983. 856p.

COSTA, Jailton de Jesus; FONTES, Aracy Losano; MELO e SOUZA, Rosemerie. O GTP
(Geossistema/Território/Paisagem) na Planície Costeira Sergipana, Brasil1. Revista Geonorte,
Edição Especial, V. 1, N.4, p. 46 – 58. 2012.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais.São Paulo: Editora Edgard Blucher LTDA.


(1999). 233p.

EMDAGRO. Pluviosidade mensal. Aracaju, SE. Disponível em:


http://www.emdagro.se.gov.br/modules/tinyd0/index.php?id=8. Acesso em: 1/08/2014.

FARJADO, Sérgio. Considerações sobre o espaço rural a partir do enfoque econômico da paisagem
e do território. Revista Caminhos de Geografia. Uberlândia. v. 11, nº 34. p. 225-234. 2010.

NASCIMENTO, Flávio Rodrigues; SAMPAIO, José Levi Furtado.Geografia Física, Geossistemas


e Estudos Integrados da Paisagem. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral,v. 6/7, n.1,
p. 67-179, 2004/2005.

PIRES, José Salatiel Rodrigues; SANTOS, José Eduardo dos; DEL PRETE, Marcos Estevan. A
utilização do conceito de bacia hidrográfica para a conservação dos recursos naturais.p. 17-35.
In: SHIAVETTI, Alexandre; CAMARGO, Antônio F. M. (org.).Conceitos de Bacias
Hidrográficas/Teorias e Aplicações.– Ilhéus, Ba : Editus, 2005.

PISSINATI, Mariza Cleonice; ARCHELA, Rosely Sampaio.Geossistema Território e Paisagem -


método de estudo da paisagem rural sob a ótica bertrandiana.Rev. Geografia - v. 18, n. 1.–
Universidade Estadual de Londrina. 2009.

SANTOS, Cleane Oliveira dos; MELO E SOUZA, Rosemerie. O sistema GTP no território do
Agreste Central de Sergipe. Universidade federal de sergipe –UFS. Pró-Reitoria de Pós-
Graduação e Pesquisa – POSGRAP. São Cristóvão, 2013.

SILVA, Débora Barbosa. Avaliação das unidades ambientais complexas na dinâmica ambiental do
sistema hidrográfico do rio Real. Bahia/Sergipe – Brasil 2010, Tese de doutorado (Doutorado
em Geografia) – NPGEO vol. 1 e 2, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão 2010. 539p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 353


ATIVIDADE INSETICIDA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Hyptis suaveolens (L.) POIT.
SOBRE Drosophila melanogaster

José Weverton Almeida BEZERRA


Graduando do Curso de Ciências Biológicas da URC
weverton_liceu@hotmail.com
Joycy Francely Sampaio dos SANTOS
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
biologiaminhavida@hotmail.com
João Victor de Alencar FERREIRA
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da URCA
ferreirapernambuco@gmail.com
Francisco Assis Bezerra da CUNHA
Doutorando em Bioquímica Toxicológica da UFSM
cunha.urca@gmail.com

RESUMO
Os agrotóxicos são utilizados na agropecuária visando à proteção de produtos agrícolas contra
pragas. Devido a sua toxicidade tem causado impactos ambientais inclusive intoxicações
alimentares nos animais, dentre eles o ser humano. Desta forma a busca por bioinseticidas constitui-
se num desafio visando a bioprospecção de moléculas biologicamente ativas, com baixa toxicidade
para mamíferos e cujos resíduos sejam biodegradáveis. A Hyptis suaveolens (L.) POIT. pertence à
família Lamiaceae, é conhecida popularmente como bamburral, a campo se apresentando resistente
às pragas, o que sugere possível atividade repelente ou inseticida de seus constituintes. O presente
trabalho consiste na avaliação da atividade inseticida do óleo essencial das folhas da H. suaveolens
contra o artrópodo-modelo Drosophila melanogaster. O óleo essencial foi extraído das folhas secas
da planta por arraste de vapor em aparelho Clevenger. Os testes foram realizados em triplicata, com
vinte moscas cada frasco, tratados com sacarose a 1%, nas concentrações de 1, 2,5, 5, 7,5 e 10
mg/330mL de óleo essencial. Os animais, durante o período de experimento, foram mantidos em
ambiente climatizado com temperatura de 25ºC ± 1ºC e umidade relativa do ar de 60%. O grupo
controle foi tratado apenas com sacarose. As leituras da mortalidade e da geotaxia negativa foram
realizadas a cada 3, 6, 12, 24 e 48 horas. Os resultados são expressos como a média da mortalidade
e a média do ensaio locomotor mais ou menos o desvio padrão da média. O óleo essencial provou
no modelo biológico testado ser uma alternativa como bioinseticida, pois apresentou uma elevada
mortalidade e uma baixa geotaxia negativa.
Palavras-chaves: Bamburral; Bioinseticida; Agrotóxico; Mosca-da-fruta.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 354


ABSTRACT
The pesticides are used in agriculture in order to protect of agricultural products against pests. Due
to its toxicity has caused environmental impacts including food poisoning in animals, including
humans. This way the search for insecticides constitutes a challenge aimed at bioprospecting of
biologically active molecules with low toxicity to mammals and whose waste is biodegradable. The
Hyptis suaveolens (L.) POIT. belongs to the Lamiaceae family, is popularly known as bamburral
the field presenting resistant to pests, suggesting possible repellent or insecticidal activity of its
constituents. The present work consists in evaluating the insecticidal activity of the essential oil
from the leaves of H. suaveolens against arthropod-model Drosophila melanogaster. The essential
oil was extracted from the dried leaves of the plant by steam drag in Clevenger apparatus. Tests
were conducted in triplicate, with twenty flies each vial, treated with 1% sucrose at concentrations
of 1, 2.5, 5, 7.5 and 10 mg / 330ml essential oil. The animals during the experiment were kept in
air-conditioned environment temperature of 25 ° C ± 1 ° C and relative humidity of 60%. The
control group was treated only with sucrose. The readings from mortality and the negative geotaxia
were performed every 3, 6, 12, 24 and 48 hours. The results are expressed as the mean of mortality
and the mean the locomotor test plus or minus the standard deviation from the mean. The essential
oil proved in the biological model tested be an alternative of biopesticide, because it showed a high
mortality and a negative low geotaxia.
Keywords: Bamburral; Bioinsecticide; Agrotoxic; Fruit-fly.

INTRODUÇÃO

A legislação, positiva, que os agrotóxicos são produtos resultantes de processos físicos,


químicos ou biológicos, utilizados nos setores de produção agropecuária, que beneficiam os
produtos agrícolas, pastagens, proteção de floresta, nativas ou plantadas. Os agrotóxicos visam
preservar os danos causados à pecuária e às culturas agrícolas das ações causadas por outros seres
vivos considerados nocivos (BRASIL, 1989).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, os agrotóxicos
podem ter efeitos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente, sendo que o Brasil se destaca como
sendo o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, respondendo, na América Latina, por 86% dos
produtos (IBGE, 2006).
As pragas e insetos da agropecuária acometem a economia da agricultura familiar e
comercial, principalmente aos fruticultores, por conta de atacarem os órgãos de propagação das
plantas, de preferência os frutos com polpas, inviabilizando o seu consumo e consequentemente a
sua comercialização (SILVA & BATISTA, 2014).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 355


As pragas são usualmente combatidas com agrotóxicos químicos a fim de diminuir as percas
das colheitas. Porém, o uso de agrotóxicos tem causado problemas ambientais, bem como
intoxicação alimentar, devido a seus resíduos tóxicos permanecerem por certo tempo após a
aplicação (FERRER & CABRAL, 1991).
É, principalmente, no ciclo de reprodução das pragas que o órgão de propagação do vegetal
é afetado, pois durante a deposição dos ovos no fruto, há a infiltração de micro-organismos que
darão início ao processo de deterioração no fruto. Neste local onde são depositados os ovos é
formada uma mancha de coloração diferente da do fruto e a área danificada fica mole, tempos
depois as larvas consomem a polpa da fruta e continuam o seu ciclo biológico (SILVA &
BATISTA, 2014).
Há inúmeros estudos direcionados à busca de métodos alternativos que diminuam os danos
econômicos causados pelas pragas, e que não sejam nocivos à saúde humana. Um importante
modelo biológico que está sendo utilizado em testes de bioinseticidas é a mosca da espécie
Drosophila melanogaster conhecida popularmente como mosca-da-fruta, pertence à família
Drosophilidae (HIRATA, 2003).
A mosca-da-fruta, Drosophila melanogaster, tem se revelado como um excelente modelo
para diversos testes biológicos. Ela é um díptero muito utilizado nas pesquisas genéticas e que nas
últimas décadas, surgiu como um dos melhores organismos para estudos de doenças humanas e
observações toxicológicas (SIDDIQUE et al., 2005). Outra vantagem é a ausência de mitose
celular nas moscas em fase adulta. Desse modo, a mosca na fase adulta tem envelhecimento
sincronizado das suas células, exceto as células das gônadas e algumas do intestino (JIMENEZ et
al., 2009). Isso torna possível a determinação dos danos causados por um xenobiótico.
Além disso, há uma semelhança no modo de ação de drogas e resposta de genes na rede
dopaminérgica de drosófila e de mamíferos. É um modelo conveniente para responder questões de
como o organismo se defende contra o excesso de um determinado poluente, uma vez que muitos
aspectos da homeostase, principalmente dos metais, são conservados entre as moscas e os humanos
(YEPISKOPOSYAN et al., 2006). Portanto a D. melanogaster é um importante modelo na busca
por bioinseticidas.
No estudo de Sobral-Souza, et al., 2013, o alvo da pesquisa foi o óleo essencial da espécie
Eugenia jambolana Lam. em que apresentou atividade inseticida e aparentou ser uma importante
alternativa na busca de bioinseticidas, uma vez que apresentaram resultados positivos em
concentrações relevantes frente a D. melanogaster.
Nos estudos direcionados à procura de bioinseticidas são utilizadas plantas nativas de
diversas regiões. Nestes estudos são utilizados diversos componentes. Os alvos são plantas em que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 356


os animais rejeitam em sua alimentação, pois levam indícios de toxicidade em sua composição, ou
que a utilizem como repelente natural.
A Hyptis suaveolens (L.) Poit. pertence à família Lamiaceae e é conhecida no nordeste
brasileiro como bamburral e no sul como erva-canudo, é uma planta anual que é considerada
invasora de ambientes submetidos à ação antrópica como, por exemplo, as lavouras de milho
(POLO & FELIPPE, 1983) e as pastagens (WULFF, 1973), podendo ser encontrada em regiões
tropicais e subtropicais.
O estudo de Padalia, et al., 2014, afirma que a H. suaveolens é considerada na Índia uma das
ervas daninhas mais nocivas do mundo. Pois invadem rapidamente ecossistemas tropicais em
qualquer parte do mundo, sendo que neste país ela é a principal ameaça para a biodiversidade
nativa.
Há alguns ensaios de toxicidade dos constituintes químicos da H. suaveolens, um exemplo é
o teste de Kothandan & Swaminathan, 2014, que de acordo com a metodologia empregada, os
extratos aquosos, hidroetanólico e etanólico da planta apresentou atividade contra o vírus
Chikungunya quando comparado com o fármaco padrão ribavirina. A atividade da planta em estudo
pode ser devido à presença de pentacíclico triterpenóides como o principal constituinte nas folhas.
Segundo Azevedo, et al., 2001, a H. suaveolens apresenta uma variação na composição
química de acordo com a sua localização geográfica, os sesquiterpenos existentes na planta são
produzidos em quantidade maior quantidade em altitudes e latitudes baixas. E de acordo com
Martins, et al., 2006, há variação significativa na composição do óleo essencial por motivos de
interferências de fatores ambientais e idade da planta, principalmente este último. Ainda segundo
ele, a H. suaveolens, produz um óleo essencial rico em terpenóides. Sabe-se que o óleo essencial
tem sido alvo de vários estudos quanto à sua ação nematicida.
Neste contexto, a busca por inseticidas naturais tem sido alvo de estudos, visando a
produção de alimentos isentos de agrotóxicos, pois estes são perigosos à saúde humana. Com isso, o
presente trabalho consiste na avaliação inseticida do óleo essencial da espécie H. suaveolens frente
ao artrópodo modelo Drosophila melanogaster.

MATERIAL E MÉTODO

Coleta do Material Botânico

O material botânico da H. suaveolens foi coletado no município de Quixelô- Ceará, às 09:00


h, ± 30 min, nas seguintes coordenadas: Latitude de -6° 15‘ 43.0056‘‘, longitude -39° 16‘ 2.5926‖ e
altitude de 193,265 m. A folhas foram coletadas e postas para secarem à sombra. O óleo essencial
foi extraído utilizando-se a metodologia de Matos, 2009, em sistema de hidrodestilação, onde 150 g
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 357
das folhas secas e trituradas foram colocadas em um balão de vidro com volume de 5 L, juntamente
com 2 L de água destilada e mantidas em ebulição durante duas horas. O óleo foi coletado em
aparelho tipo Clevenger.

Estoque e criação de Drosophila melanogaster

A criação das moscas D. melanogaster(estirpe Harwich), foi feita no Laboratório de


Microbiologia e Biologia Molecular (LMBM) da Universidade Regional do Cariri - URCA. Elas
foram obtidas da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, a partir de estirpes originárias do
National Espécies Stock Center, Bowling Green, OH. As moscas foram criadas em garrafas de
vidro de 2,5 × 6,5 cm, contendo aproximadamente 5 mL de meio padrão (1% w/v de levedura de
cerveja, 2% w/v de sacarose, 1% w/v de leite em pó, 1% w/v de agar; 0,08% w/v de nipagin ),
criadas à temperatura e umidade constantes (25 ± 1°C, 60% de umidade relativa, respectivamente).
Todos os testes foram realizados com a mesma estirpe.

Ensaio de Toxicidade

Um dia antes do teste é feito a autoclavagem dos frascos e das tampas. A secagem é feita em
estufa a 50°C. No dia seguinte é feito a montagem do material do teste, o primeiro passo é cortar
lenços de papel de acordo com o fundo do frasco deixando bem ajustados sem espaços entre as
paredes com o intuito que as moscas não ultrapassem a barreira do papel e fiquem dispostas entre o
papel e o fundo do frasco. O segundo passo é a distribuição de 1 mL da solução de sacarose a 1%,
em água destilada, em todos os frascos, distribuída homogeneamente. Em seguida moscas adultas
(machos e fêmeas) foram colocadas em frascos com um volume de 330 mL, sendo o teste feito em
triplicata. A tampa dos frascos é adicionada uma contra tampa de polietileno teraftalato (PET).
Fixado com fita gomada, papel filtro, nele foram aplicadas as diferentes concentrações de óleo
essencial. Todos os frascos receberam o tratamento de sacarose a 1%, e os tratamentos para óleo
essencial foram os seguintes: 1; 2,5; 5; 7,5; e 10 mg/330mL, e o grupo controle foi tratado apenas
com a solução de sacarose, posteriormente as leituras foram feitas a cada 3, 6, 12, 24 e 48 h, em
uma câmara climatizada à temperatura de 25±1ºC, umidade relativa de 60% e fotoperíodo de 12
horas claro-escuro, no Laboratório de Zoologia de Invertebrados, da Universidade Regional do
Cariri – URCA, Crato - CE (SOBRAL-SOUZA, 2014). A leitura da mortalidade foi expressa em
percentuais e foram comparadas ao controle. A atividade locomotora foi determinada pelo ensaio de
geotaxia negativa, como descrito por Bland, et al., 2009. As moscas sobreviventes foram contadas
pelo seu acesso vertical ao vidro acima de 6 cm de altura. Para que as moscas fossem ao fundo do
vidro foi utilizado o método de batidas em manta seca na bancada, contava-se 6 segundos e fazia-se

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 358


a leitura do ensaio locomotor, registrando o número de moscas na parte superior e inferior da marca
(JIMENEZ et al., 2010). Os ensaios foram repetidos para cada grupo cinco vezes em intervalos de 1
min.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mortalidade

No intervalo de 3 horas, compreendido entre o início do teste e a sua leitura, como mostrado
na figura 2, houve uma mortalidade de 96,67% de todas as moscas na concentração de 10
mg/330mL, sendo esta a maior concentração testada. A concentração de 5 mg/330mL apresentou
mortalidade superior a 50% a partir das 12 horas.

% 120

100

80 CONTROLE
1 mg/330mL

60 2,5 mg/330mL
5 mg/330mL
40 7,5 mg/330mL
10 mg/330mL
20

0
3 6 12 24 48 horas

Figura 1: Gráfico de Mortalidade

Ensaio Locomotor

Na figura 3, é possível perceber que ao longo do tempo as moscas apresentaram um mau


desempenho locomotor nos frascos tratados com óleo essencial, quando comparadas com o grupo
controle. Nas concentrações de 7,5 e 10 mg/330mL o ensaio locomotor não pode ser avaliado pois
nestas concentrações a mortalidade foram próximas a 100%, sendo assim, os organismos restantes
eram insuficientes para a análise estatística. Na concentração de 5 mg/330mL, as moscas
apresentaram uma média de 29,75% quanto a sua geotaxia negativa, enquanto que no grupo
controle a média foi 79,5%.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 359


% 100

90

80

70 CONTROLE
60 1 mg/330mL

50 2,5 mg/330mL
5 mg/330mL
40
7,5 mg/330mL
30
10 mg/330mL
20

10

0
3h 6h 12h 24h 48horas

Figura 2: Geotaxia Negativa

CONCLUSÃO

Este estudo fornece evidências que o óleo essencial de H. suaveolens, no modelo testado,
apresenta-se com um potencial bioinseticida, devido à sua elevada mortalidade e baixa geotaxia
negativa. Novos testes necessitam ser realizados visando a identificar se a sua ação se deve a um
constituinte isolado ou a uma ação sinérgica. Assim como identificar o mecanismo de ação deste
óleo e a sua citotoxidade e genotoxicidade para mamíferos.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, N. R.; CAMPOS, I. F. P.; FERREIRA, H. D.; et al., Chemical variability in the
essential oil of Hyptis suaveolens; Phytochemistry, 57, 733. 2001.

BLAND, N. D.; ROBINSON, P.; THOMAS, J. E.; et al., Locomotor and geotactic behavior of
Drosophila melanogaster over-expressing neprilysin. Peptides 30: 571–574, 2009.

BRASIL. Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989.

FERRER, A. & CABRAL, R. Toxic epidemics caused by alimentary exposure to pesticides: a


review. Food Add. Contam., v.8, p.755-776, 1991.

HIRATA, R.; SKORTZARU, B.; NARCISO, E.S. Avaliação da degradação de inseticidas, em


função do pH, utilizando Drosophila melanogaster e teste de inibição enzimática. Arquivos do
Instituto Biológico, São Paulo,v.70, n.3, p.359-365, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 360


IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento Sistemático da produção
Agrícola: pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil
2000 - 2005. Rio de Janeiro: IBGE, v. 12-17, 2000 - 2006., 2006.

JIMENEZ, D. R. M.; GUZMAN, M. C.; e VELEZ, P. C.;. The effects ofpolyphenols on survival
and locomotor activity in Drosophila melanogaster exposed toiron and paraquat. Neurochem.
Res. 35:227–238. 2010.

KOTHANDAN, S., SWAMINATHAN, R. Evaluation of in vitro antiviral activity of Vitex


Negundo L., Hyptis suaveolens (L) poit., Decalepis hamiltonii Wight & Arn., to Chikungunya
virus. Asian Pacific Journal of Tropical Disease, v. 4, p. S111-S115, 2014.

MARTINS, F. T.; POLO, M.; DOS SANTOS, M.H.; et al., Variação química do óleo essencial de
Hyptis suaveolens (L.) Poit., sob condições de cultivo. Química Nova 29:1203-1209, 2006.

MATOS, F. J. A. de, INTRODUÇÃO À FITOQUÍMICA EXPERIMENTAL. UFC, Fortaleza, P.


148. 2009.

PADALIA, H., SRIVASTAVA, V. & KUSHWAHA, S. P. S.. Modeling potential invasion range of
alien invasive species, Hyptis suaveolens (L.) Poit. in India: Comparison of MaxEnt and GARP.
Ecological Informatics, Forestry and Ecology Department, Indian Institute of Remote Sensing,
ISRO, Dehradun 248001, India V. 22, p. 36-46, 2014.

PEERZADA, N., Chemical composition of the essential oil of Hyptis suaveolens. Molecule 2, 165-
168, 1997.

POLO, M. & FELIPPE, G. M., Germinação de ervas invasoras: efeito de luz e escarificação.
Revista Brasileira de Botânica 6:55-60. 1983.

SIDDIQUE, H. R.; GUPTA, S. C.; DHAWAN, A.; et al., Genotoxicity of Industrial Solid Waste
Leachates in Drosophila melanogaster. Environmental and Molecular Mutagenesis v46,p189-
197, 2005.

SILVA, A. B. da & BATISTA, J. de L. Mosca-das-frutas: uma ameaça à fruticultura Disponível


em: <http://www.grupocultivar.com.br/site/content/artigos/artigos.php?id=723> Acesso em: 4
jun. 2014.

SOUZA, C. E. S.; LEITE N. F.; CUNHA F. A. B.; et al.,. Cytoprotective effect against mercury
chlorideand bioinsecticidal activity of Eugenia jambolana Lam. Arab J. Chem, v. 7, p. 165-170,
2014.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 361
WULFF, R.. Intrapopulational variation in the germination of seeds in Hyptis suaveolens. Ecology
54:646-649. 1973.

YEPISKOPOSYAN, H.; EGLI, D.; FERGESTAD, T.; et al., Transcriptome response to heavy
metal stress in Drosophila reveals a new zinc transporter that confers resistance to zinc.
Nucleic Acids Research. p1-12 ,2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 362


OBSERVAÇÃO PRELIMINAR DA INFESTAÇÃO DE COLCHONILHA DO CARMIM
(Dactylopius opuntiae) NA PALMA FORRAGEIRA (Opuntia fícus-Indica Mill.)

Juliana de Lima SILVA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas-URCA
julianalimas_2011@hotmail.com
Izidório Alves de MENDONÇA
Especialista em Biologia e Química-URCA
julianalimas2014@gmail.com
Cícero Cordeiro ALEXANDRE
Graduando do Curso de Ciências Biológicas-URCA
cicero_cicero1@hotmail.com
Luis Marivando BARROS
Orientador Doutorando em Bioquímica Toxicológica- DINTER/UFSM/URCA
lmarivando@hotmail.com

RESUMO
A palma forrageira (Opuntia fícus – indica Mill) é uma planta de origem mexicana pertencente à
família Cactaceae. Esta espécie vem sendo disseminada por todo Nordeste brasileiro como uma
importante alternativa na alimentação de ruminantes na época da estiagem. Porém, nos últimos
anos, vem sendo ameaçada por um inseto que, em pouco tempo de instalado, reproduz-se
rapidamente, tornando-se praga. Este inseto é a cochonilha do carmim (Dactylopius opuntiae), que
se alimenta da seiva da palma, deixando esta debilitada e em níveis de infestação muito grande,
pode causar até a morte da planta em pouco tempo. Com o objetivo de encontrar uma solução para
este problema, foram testados vários produtos, em um palmal da variedade gigante localizado no
sítio Santa Cruz, município de Caririaçu – CE. Utilizando-se três tratamentos: I - Extrato Biológico:
o extrato se constitui de 10% de esterco fresco, 10% de folhas verdes principalmente de gramíneas e
plantas perenes diversas que estão disponíveis na área de estudo o ano inteiro e 80% de água; II -
tratamento com querobão, feito a partir de 600ml de detergente neutro, 50ml de querosene e 20
litros de água; III - tratamento químico, a base de cipermetrina 15,0 g, clopirifos 25,0 g e citronela
1,0 g forma misturados a 1000ml de água. Nos resultados do tratamento na forma pulverizada
utilizando o extrato biológico pode-se observar que este não é um bom agente para ser usado no
controle da cochonilha do carmim. Porém, usando o querobão e o tratamento químico, estes se
mostraram eficientes no controle desta praga. Enquanto que no combate a cochonilha utilizando o
tratamento I, II e III, todos com o auxilio do pincel, os resultados foram regular, bom e excelente
respectivamente. Desta forma conclui-se que o melhor tratamento para o controle da praga neste
caso foi utilizado o tratamento químico.
Palavras-chaves: Praga, palma forrageira, controle biológico, tratamento químico.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 363
ABSTRACT
The forage Palm (Opuntia ficus-indica Mill) is a Mexican plant belonging to the family Cactaceae.
This species has been disseminated throughout the Brazilian Northeast as an important alternative
in feeding of ruminant in time of drought. However, in recent years, has been threatened by an
insect that, within a short time of installed, it reproduces quickly, becoming Prague. This insect is
cochineal Carmine (Dactylopius opuntiae), which feeds on the sap of Palm, leaving this weakened
and in very large infestation levels, can lead to death of the plant in a short time. With the aim of
finding a solution to this problem, have been tested multiple products, in a giant variety palmal
located on the site Santa Cruz, municipality of Caririaçu – CE. Using three treatments: I -
Biological extract: extract constitutes 10% of fresh manure, 10% of green leaves mainly of grasses
and various perennials that are available in the study area throughout the year and 80% water; II-
treatment with querobão, made from 600 ml of neutral detergent, 50 ml of kerosene and 20 liters of
water; III-chemical treatment, the basis of Cypermethrin 15.0 g, clopirifos 25.0 g and 1.0 g mixed
shape citronella to 1000 ml of water. On the results of treatment in the form sprayed using
biological extract it can be observed that this is not a good agent to be used in the control of
cochineal Carmine. However, using the querobão and the chemical treatment, these proved efficient
in the control of this pest. While in combat the cochineal using the treatment I, II and III, all with
the aid of the brush, the results had been regular, good and excellent respectively. Thus we conclude
that the best treatment for pest control in this case we used the chemical treatment.
Keywords: Prague, forage Palm, biological control, chemical treatment.

INTRODUÇÃO

A palma forrageira, Opuntia fícus-indica, é uma espécie da família Cactaceae de origem


mexicana e cultivada em boa parte do nordeste brasileiro (ADAGRI-CE, 2009). Esta planta foi
introduzida no nordeste no final do século XIX, com o intuito da produção de corante carmim.
Porém, esta planta teve reconhecida a sua real função só a partir de 1932, quando ocorreu a grande
seca neste ano e que a palma foi descoberta como uma excelente alternativa forrageira.
As cactáceas são espécies bem adaptadas as condições adversas do semi-árido, por conta de
sua fisiologia caracterizada pelo processo fotossintético denominado Metabolismo Ácido das
Crassuláceas (CAM), estas planta a noite abrem os estômatos que permitem a entrada do CO 2, que
fica armazenado temporariamente em ácido málico, sendo consumido nas reações fotossintética do
dia seguinte. A redução do CO2, na fotossíntese ocorre sem a troca de gases com a atmosfera
consequentemente, sem perda de água. Além desse comportamento fisiológico a palma apresenta
raízes superficiais que penetram normalmente, até oitenta centímetros de profundidade no solo e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 364


atingem vários metros de extensão formando verdadeira rede capilar, com elevada capacidade de
absorção da água do solo (ARRUDA FILHO & ARRUDA 2005).
Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (ADAGRI-CE, 2009), atualmente
existem cerca de 500.000 ha cultivados com palma forrageira no nordeste, principalmente nos
estado do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e Bahia. No estado do Ceará,
a palma forrageira é cultivada atualmente em cerca de 45 municípios. Segundo a Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE), o município de Caririaçu-CE,
encontra-se com cerca de 100 ha plantadas de palma forrageira da variedade gigante, sendo esta a
mais importante fonte de alimentação dos rebanhos bovinos, caprinos, ovinos e outros animais no
período da estiagem.
A rusticidade, características nutricionais e aceitação pelos animais tornaram a palma na
principal alternativa para as cadeias produtivas de carne e leite de caprinos, ovinos e bovinos
(EMBRAPA SEMI-ÁRIDO, 2009).
No entanto, esta base de sustentação esta seriamente ameaçada por uma cochonilha
produtora de ácido carmínico, conhecida como cochonilha do carmim, ou falsa cochonilha -
Dactylopius opuntiae (ADAGRI-CE, 2009).
As cochonilhas exercem uma relação, sobre palma, mais conhecida como parasitismo, que
se caracteriza quando uma espécie, geralmente a menor age sobre a outra e depende
diretamente para se alimentar, inibindo o crescimento ou a reprodução do seu hospedeiro, podendo
levar ou não a morte.
As cochonilhas pertencem à ordem Hemiptera, família Dactylopiidae, com nove espécies
pertencentes ao gênero Dactylopius. Apresentam-se como pequenos tufos brancos imóveis,
parasitando os cladódios da palma. Os tufos são constituídos por uma secreção serosa, pulverulenta
e que contêm finos filamentos produzidos pelo inseto, protegendo-o de predadores. Após a eclosão
das ninfas-macho jovens, o macho começa a elaborar um casulo, onde sofrerá uma série de
metamorfoses até a fase adulta. O macho adulto alado, desprovido de aparelho bucal, fato que o faz
viver por apenas uma semana, período em que procura acasalar o maior número de fêmeas possível.
A ninfa fêmea se divide em dois estágios: ninfa migrante e ninfa estabelecida. A ninfa em
seu primeiro estágio possui alta capacidade de dispersão e chega a migrar 1,0 cm a cada 12
segundos. É nesta fase que procura o local para se estabelecer.
Posteriormente ocorre uma segunda metamorfose da qual emerge a fêmea. Uma vez
estabelecida, a fêmea fixa o aparelho bucal na palma, onde se desenvolve coberta da serosidade
branca. As fêmeas são ápteras, possuindo pernas vestigiais, o que as tornam imóveis (ADAGRI-CE,
2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 365


Segundo Cavalcanti et al. (2001), o controle desse inseto pode ser mecânico, químico,
biológico e com uso de variedades resistentes. Porém, no caso da cochonilha do carmim como
praga da palma forrageira, ainda não foi encontrado nenhum inseticida eficiente. Desse modo, o
presente estudo tem como objetivo testar e identificar, meios de prevenir e combater a cochonilha
do carmim nas plantas de palma forrageira, no município de Caririaçu, empregando diferentes
técnicas controle biológico.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no município de Caririaçu estado do Ceará, durante o


período de fevereiro a maio de 2013. Este município fica localizado na Região do Cariri, Sul do
Estado, distante 505 km da capital Fortaleza, de coordenadas geográficas: Latitude 7º02`32`` S e
Longitude 39º 17`01`` W, sua altitude é de 715 metros. A vegetação varia entre a Caatinga
Arbustiva Densa, Cerrado, Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial e Floresta Caducifólia
Espinhosa. O clima varia entre o Tropical Quente Semi-Árido e Tropical Quente Semi-Árido
Brando, por localizar-se próximo a Chapada do Araripe a região é beneficiada com uma
pluviosidade média ano de 1.127,1mm e uma temperatura média de 24 ºC a 26 ºC
anualmente (IPECE 2013).
A plantação da palma forrageira na qual foi desenvolvido o trabalho é localizada no Sítio
Santa Cruz, Zona Rural distante 6 km da sede do município. A principio 30 plantas de palma
forrageira, contendo populações significativas da praga, foram escolhidas para aplicação dos
tratamentos. Cada indivíduo continha em média 40 raquetes entre troncos e raquetes jovens. Os
trinta indivíduos de palma forrageira foram divididos em 3 amostras de 10 cada, e receberam os
seguintes tratamentos:

TRATAMENTO I - Extrato Biológico: o extrato se constitui de 10% de esterco fresco, 10%


de folhas verdes principalmente de gramíneas e plantas perenes diversas que estão disponíveis na
área de estudo o ano inteiro e 80% de água. Os ingredientes são misturados e postos em um
recipiente hermeticamente fechado e armazenado em um local à sombra na temperatura ambiente,
deixando repousar por 4 dias. Posteriormente o produto obtido é aplicado diretamente nos cladódios
da palma forrageira previamente selecionada.
TRATAMENTO II - Querobão: este compõe-se da mistura dos seguintes componentes: 600
ml de detergente neutro, 50 ml de querosene diluído em 20 litros de água. Posteriormente o produto
também é aplicado na palma forrageira.
TRATAMENTO III - Tratamento químico: este tratamento é feito a partir da mistura de
15,0g de cipermetrina, 25,0g de clorpirifos, 1,0g citronela e 100ml de veículo q.s.p. (mais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 366


conhecido como couro limpo da noxon do Brasil), usando cerca de 1ml para cada litro de água.
Estas duas últimas misturas, logo após serem efetuadas, foram aplicadas diretamente na palma pré-
selecionadas para cada tipo de tratamento.

Cada um destes tratamentos foram utilizados em duas aplicações com intervalo de 8 dias. E
para efeito de comparação, foram usados dois tipos de manejo para cada defensivo: uma
pulverizando, molhando bem as raquetes infestadas pela cochonilha. E outra aplicada com um
pincel como se estivesse caiando. Este último, além da ação do produto que foi aplicado, ainda há a
ação mecânica que o pincel exerce retirando a proteção serosa que impermeabiliza a praga,
deixando-a exposta ao inseticida e as ações do meio.

RESUTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontrados a partir da aplicação do extrato biológico na forma pulverizada


foram imperceptíveis. Não foi encontrada nenhuma alteração nas colônias de cochonilha do carmim
nem mesmo após a segunda aplicação do produto. Isso mostra que o tratamento com este produto
em palma forrageira da variedade gigante para combater este tipo de praga não é viável.
Os efeitos encontrados com as aplicações do extrato biológico, utilizando o pincel como
agente aplicador foram de 50% de morte das colônias adultas e 70% das colônias jovens, com baixo
índice de reinfestação da praga no prazo de 90 dias, após a última aplicação.
No tratamento da palma forrageira infestada, utilizando o querobão pulverizando os
cladódios, os resultados foram de 40% de morte das colônias adultas e de 70% de morte das
colônias jovens, com ressurgência da praga de 50% no período de 90 dias após a última aplicação.
O querobão aplicado com o pincel obteve os seguintes resultados: 80% de morte das colônias
adultas e 100% de morte nas colônias jovens, porém não se observou aparecimento de novas
colônias após 90 dias a partir da ultima aplicação.
No combate da cochonilha, utilizando tratamento químico, os resultados obtidos são os
seguintes: usando este produto para pulverizar os cladódios observou-se a morte de 90% de morte
das colônias adultas e 100% de morte nas colônias jovens. No tratamento químico utilizando o
pincel como vetor, observou-se a morte de 100% das colônias adultas bem como nas colônias
jovens. Não encontramos nenhum tipo de colônia da praga na palma tratada com este produto no
prazo de 90 dias após a sua última aplicação.
Constatou-se que em todos os tratamentos realizados, os resultados obtidos foram maiores
quando foi utilizado o pincel, fato que pode ser atribuído devido a ação mecânica deste sobre a seda
que cobre os insetos, tendo em vista que este mecanismo retira a proteção da cochonilha do carmim
deixando-a exposta ao produto e as ações do meio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 367


Para Brito et al. (2008), uma das alternativas para amenizar o problema, visando à redução
do numero de aplicação de inseticida no controle de pragas é a condução de táticas do manejo
integrado de pragas (MIP), envolvendo a utilização de produtos alternativos. Neste mesmo trabalho
estes utilizaram produtos alternativos como: Água sanitária, detergente, sabão em pó, querosene,
óleo diesel, óleo mineral e óleo vegetal à 5% e pesticidas como: parathion metílico e dimethoate à
0,4%. As respectivas concentrações aplicadas sobre os cladódios da palma forrageiras variedade
gigante, no combate a cochonilha do carmim com eficiência de 23,72% e 97,11% variando entre
tratamentos.
Silva et al. (2009), afirmam que há uma necessidade de se utilizar métodos de controle
biológico, pois além de ser uma técnica econômica, não contamina o meio ambiente nem prejudica
a saúde humana. Afirma ainda que o método mais indicado para combater a cochonilha é através do
controle biológico, no qual são usados os inimigos naturais, tais como, o bicho lixeiro (Chrysoperla
externa) como uma possível eficaz alternativa para seu controle.
Garziera et al. (2009), avaliando o potencial de predação de Dactylopius oputiae por
Chrysoperla externa , concluiu que C. externa não é um bom agente para ser usado em programa de
controle biológico da cochonilha do carmim, apesar de já ter sido comprovado em diversos
trabalhos, para o cotrole de algumas espécies de afídeos e cochonilhas em culturas de importância
agrícola.
Brito et al. (2008), utilizando água sanitária, óleo diesel, querosene a 5% no controle da
cochonilha do carmim em palma forrageira, obtiveram resultados abaixo de 43%. Os mesmos
autores utilizando sabão em pó, detergente, óleo vegetal, óleo mineral à 5% e parathion metílico e
dimethoate à 0,4%, obtiveram resultados a cima de 83%, observaram ainda que os produtos que
tiveram os maiores índices de mortalidade foram: óleo vegetal (93,96%), parathion metílico
(94,43%) e óleo mineral com (97,11%), onde a eficiência destes produtos foram percebidas poucos
minutos depois de aplicados no campo, onde a coloração das colônias passou de branca para
enegrecidas.
As diferenças encontradas nos resultados obtidos por Brito et al. (2008), e este trabalho
deve-se ao uso de defensivos diferentes e pesticidas diferentes. Além de neste trabalho ter sido
usado duas técnicas de aplicação, uma das quais não foi usada no trabalho comparado.

CONCLUSÃO

Constatamos que a ADAGRI-CE, autoridades municipais e lideranças rurais vêm sendo


conscientizadas da importância da erradicação da praga. Produtores rurais são orientados sobre
como controlar a cochonilha do carmim.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 368


O programa tem conscientizado os agricultores através de divulgação contínua da
necessidade de identificação precoce dos focos e as medidas a serem tomadas para evitar a
disseminação da praga.
Recomendam-se, adquirir muda sadia ou plantar muda resistente a cochonilha do carmim, e
em volta plantar uma cerca viva, ou fazer o plantio longe da estrada e bem isolado, para que se
possa controlar a praga e garantir a pastagem dos animais em quantidade e qualidade.
Pode-se constatar ainda que mesmo depois de ser usado no combate de diversas pragas, o
extrato biológico, mostrou-se inviável ao combate da cochonilha do carmim quando aplicado na
forma de pulverização dos cladódios, no entanto uando aplicado com o pincel obteve um resultado
positivo.
Os resultados obtidos a partir da aplicação do querobão foram melhores que do extrato
biológico, porém, quando utilizamos o tratamento químico os resultados foram entre 90% e 100%
de morte das colônias da praga.
O controle químico, por seu elevado custo e suas possíveis implicações ambientais, torna-se
difícil, principalmente em virtude das condições sócio-econômicas dos pequenos produtores rurais.
Porém, utilizando os produtos alternativos, temos a vantagem de não contaminar o meio ambiente,
nem oferecer riscos para quem estar aplicando, nem para os animais que vierem se alimentar da
palma.

REFERÊNCIAS

ADAGRI-CE - Agência de Defesa Agropecuária do Ceará. Ações de defesa fitossanitária. Ceará.


2009. Disponível em:< https://www.adagri-ce.gov.br> acesso em: 10 Fevereiro de 2013.

ADAGRI-CE - Agência de Defesa Agropecuária do Ceará. Cochonilha do carmim. histórico.


Ceará, 2009. Disponível em:<https://www.adagri.ce.gov.br> acesso em: 10 de Fevereiro de
2013.

ARAÚJO, L. F. BRITO, E. A. OLIVEIRA JÚNIOR, S. Enriquecimento protéico da palma


forrageira com Saccharomyces cereviseae para alimentação de ruminantes. Arq. Bras. Med. Vet.
Zootec., v.60, n.2, p.401-407, 2008 .

ARRUDA FILHO, G. P. & ARRUDA, G. P. Manejo integrado de cochonilha Diaspis echinocacti


praga da palma forrageira em Brasil. Hoja TECNICA. Manejo integrado de plagas e
agroecologia (Costa Rica) Nº 64, p. I-VI, 2002.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 369


BRASIL. Decreto n. 5.741, de 30 de março de 2006. Instrução normativa n. 23 de 29 de maio de
2007 publicado no diário oficial da união de 30/05/2007, seção 1, pagina 16.

BRITO, C. H. LOPES, E. B. ALBUQUERQUE, I. C. BATISTA, J. L. Avaliação de produtos


alternativos e pesticidas no controle da cochonilha do carmim na Paraíba. Revista de biologia e
ciências da terra. v. 8, n. 2 – 2° Sem. 2008.

CAVALCANTI, V.A.L.B.; SENA, R.C.; COUTINHO, J.L.B.; ARRUDA, G.P.; RODRIGUES,


F.B. Controle das cochonilhas da palma forrageira, Boletim IPA Responde, nº 39, p.1-2, 2001.

EMBRAPA SEMI-ÁRIDO - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no Semi-árido,.


Pesquisa desenvolve tecnologia para o controle da cochonilha do carmim. 2009. Disponível em:
<HTTP://www.cpatsa. embrapa.br/imprensa/noticias/pesquisa-desenvolve-tecnologia-para-o-
controle-da-cocho nilha-do-carmim/ > acesso em: 14/06/2010.

GARZIERA, L.; SILVA, L.D. SIQUEIRA, M. C.; TORRES, T. G.; CASTRO, R. M.; SOARES, F.
C. L.; PARANHOS, B. A. J. & GAVA, C. A. T. Chrysoperla externa como predadora da
Dactylopius opuntiae. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, Bento Gonçalves. 11.,
Tecnologia e Conservação Ambiental: Resumos. 2009.

GARZIERA, L.; SILVA, L.D.; SIQUEIRA, M. C.; TORRES, T. G.; CASTRO, R. M.; SOARES, F.
C. L. & PARANHOS, B. A. J. A cochonilha do carmim (Dactylopius opuntie) pode ser
controlada por chrysoperla externa?. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÌFICA DA
EMBRAPA SEMI-ÁRIDO, 4., Anais. 2009.

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará-, 2013. Perfil Básico municipal de
Caririaçu Ceará. Disponível em:<https://www.ipece.gov.br/publicacoes/ perfil-basico/pbm-
2009/caririacu.broffice.pdf > acesso em: 14/06/2013.

LOPES, E. B.; Albuquerque, I. C.; BRITO. C. H.; BATISTA, J. L. Velocidade de infestação e


dispersão de Dactylopius oputiae cockerell. 1896 em palma gigante na Paraíba. Engenharia
ambiental. Espírito santo dos Pinhais, v.6, n.1, p. 196-205, jan/abr 2009.

SILVA, J. G.; WANDERLEY, P. A.; MINA, A. J. S.; LIMA, F. M. C. Palma Forrageira com bicho
lixeiro é mais saudável. Folha do Cariri. 2009. Disponível em:
<http://ocariri.blogspot.com/2004/04/palma-forrageira-com-bicho-lixeiro-e.html> acesso em:
05/07/2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 370


ATIVIDADE ALELOPÁTICA DO HIDROLATO DE ESPÉCIES MEDICINAIS SOBRE
O DESENVOLVIMENTO DA RÚCULA (Eruca sativa L.)

Kyhara Soares PEREIRA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
kyharasoares@hotmail.com
Toshik Iarley da SILVA
Graduando do Curso de Engenharia Agronômica da UFCA
iarley.toshik@gmail.com
João Esdras Calaça FARIAS
Graduando do Curso de Engenharia Agronômica da UFCA
joaoesdras7@gmail.com
Cláudia Araújo MARCO
Doutora em Fitotecnia e Professora do Curso de Engenharia Agronômica da UFCA
clmarko@yahoo.com.br

RESUMO
A alelopatia é definida como qualquer efeito direto ou indireto, benéfico ou prejudicial, de uma
planta sobre outra, mediante produção de compostos químicos que são liberados no ambiente.
Dentre as plantas com esse efeito, está a malva-do-reino (Plectranthus amboinicus(Lour.) Spreng:
Malvaceae), boldo-do-chile (Peumus boldus, Molina: Monimiaceae) e o eucalipto (Eucalyptus
globulus, Labill: Myrtaceae). Objetivou-se com esse trabalho analisar os efeitos alelopáticos de
hidrolato destas espécies na germinação de rúcula (Eruca sativa L.: Brassicaceae). O experimento
foi realizado no Laboratório de Tecnologia de Produtos (LTP) e de Tecnologia de Sementes da
Universidade Federal do Cariri (UFCA). O hidrolato foi obtido através da extração de óleo
essencial, pelo método de hidrodestilação em aparelho tipo Clevenger, das espécies supracitadas. A
concentração utilizada foi 100% para cada tratamento. O experimento foi conduzido em placas de
petri por um período de sete dias, sendo mantidas em BOD à 25º C. Nessas condições, foram
analisadas as variáveis: percentual de germinação (PG), índice de velocidade de germinação (IVG),
necrose de radícula (NR) e comprimento de radícula (CR). O delineamento experimental adotado
foi inteiramente casualizado (DIC), com quatro tratamentos e cinco repetições de 15 sementes cada.
As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância, usando o programa
operacional SISVAR-UFLA. As variáveis analisadas foram: percentual de germinação, Índice de
Velocidade de Germinação (IVG), comprimento e necrose de radícula. Verificou-se diferença
significativa para todos os parâmetros analisados quando foi utilizado o tratamento com hidrolato
de malva-do-reino. Os demais hidrolatos não diferiram estatisticamente da testemunha (água
destilada). Conclui-se, no entanto, que sob as condições analisadas, apenas o tratamento com
hidrolato de malva-do-reino teve efeitos alelopáticos sobre a germinação da rúcula.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 371
Palavras-chave: Alelopatia, hidrolato, Eruca sativa L.

ABSTRACT
Allelopathy is defined as any direct or indirect, beneficial or harmful effect of one plant on another
through production of chemical compounds that are released into the environment. Among the
plants that purpose is mauve-the-kingdom (Plectranthusamboinicus (Lour) Spreng:. Malvaceae),
Bilberry-of-chile (Peumusboldus Molina: Monimiaceae) and eucalyptus (Eucalyptus globulus
Labill: Myrtaceae). The objective of this work is to analyze the allelopathic effects on the
germination of these species hydrolate arugula (Eruca sativa L .: Brassicaceae). The experiment was
conducted at the Laboratory of Technology Products (LTP) and Seed Technology, Federal
University of Cariri (UFCA). The hydrolate was obtained by extraction of essential oil by method
of hydrodistillation in Clevenger type apparatus, the above species. The concentration used was
100% for each treatment. The experiment was conducted in petri dishes for a period of seven days,
being kept in BOD at 25 C. Under these conditions, the variables were analyzed: germination
percentage (PG), germination speed index (GSI), necrosis of radicle (NR) and radicle (CR). The
experimental design was completely randomized design (CRD) with four treatments and five
replicates of 15 seeds each. Means were compared by Tukey test at 5% significance level, using the
SISVAR-UFLA operational program.The variables analyzed were: germination percentage, speed
of germination index (GSI), and necrosis of radicle length. There was a significant difference for all
parameters analyzed when treatment was used with hydrolate mauve-the-kingdom. The other
hydrolats not differ statistically from the control (distilled water). However, that under the
conditions examined, only treatment with hydrolate mauve-the-kingdom had allelopathic effects on
the germination of rocket it is concluded.
Keywords: Allelopathy, hydrolate, Eruca sativa L.

INTRODUÇÃO

A alelopatia pode ser definida como a interferência positiva ou negativa de compostos


metabólicos secundários produzidos por uma planta (aleloquímicos) e lançados no meio. Esta
interferência sobre o desenvolvimento de outra planta pode ser indireta, por meio de transformação
destas substâncias no solo pela atividade de microorganismos (FERREIRA e BORGHETTI, 2004).
Plantas daninhas são capazes de produzir compostos químicos que podem influenciar o
crescimento e produtividade de plantas vizinhas. As plantas têm seu próprio mecanismo de defesa,
os aleloquímicos, que de fato são herbicidas naturais. Os aleloquímicos se encontram presentes em
todos os tecidos das plantas, como folhas, flores, frutos, raízes, rizomas, caule e sementes. Estes
herbicidas naturais podem ser mais específicos com novos modos de ação e de maior potencial que
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 372
aqueles usados atualmente na agricultura. O uso de aleloquímicos como herbicidas, naturais ou
modificados, é uma das técnicas, envolvendo alelopatia, que têm sido sugeridas para eliminar
plantas daninhas (SANTOS et al., 2013).
Todas as plantas produzem metabólicos secundários, que variam em qualidade e quantidade
de espécie para espécie, e até mesmo na quantidade de um metabólito de um local para outro, pois
muitos deles têm sua síntese desencadeada por eventuais virtudes às quais as plantas estão expostas
(FERREIRA e ÁQUILA, 2000).
Entre os efeitos alelopáticos mais comuns constatados na bibliografia corrente sobre o
crescimento vegetal, é destacada a interferência dos aleloquímicos na divisão celular, síntese
orgânica, interações hormonais, absorção de nutrientes, inibição da síntese de proteínas, mudanças
no metabolismo lipídico, abertura estomática, assimilação de CO2 e na fotossíntese, inibindo o
transporte de elétrons e reduzindo o conteúdo de clorofila na planta (SILVA, 2012).
Os testes de germinação são simples de serem realizados, no entanto há uma série de
cuidados que devem ser tomados para que se possa ter respostas reproduzíveis. A temperatura, o
substrato e a umidade influem bastante sobre a germinação e por isso devem ser controlados. As
sementes teste devem ser de espécies cultivadas de boa qualidade, como tomate e alface, pois são
facilmente encontradas e bastante sensíveis a vários aleloquímicos (SOUSA et al., 2007).
A forma de ação dos alequímicos pode ser direta ou indireta. Quando indireta, as alterações
ocorrem nas propriedades do solo, suas condições nutricionais, variação de populações e atividade
dos microorganismos. Quando direta, os aleloquímicos agem sobre as membranas do vegetal
receptor, permitindo a ligação e a penetração dos compostos nas células e, assim, interferindo no
seu metabolismo. Apesar de as alterações serem pontuais, o metabolismo funciona a partir de
reações por feedback, e isso pode alterar processos inteiros (LIMA et al., 2009)
As plantas competem por luz, água e nutrientes, revelando uma concorrência constante entre
as espécies que vivem associadas. Essa concorrência coopera para a sobrevivência das espécies no
ecossistema, e algumas desenvolvem mecanismos de defesa que se fundamentam na síntese de
determinados metabólitos secundários, liberados no ambiente e que irão interferir em alguma etapa
do ciclo de vida de outra planta (ALVES et al., 2004).
As substâncias alelopáticas são liberadas dos tecidos vegetais por lixiviação, exsudação
radicular e pela decomposição de resíduos vegetais. Geralmente, estas substâncias apresentam
grande instabilidade, sendo rapidamente decompostas após sua liberação (OLIVEIRA et al., 2011).
A alelopatia pode ser uma estratégia ecológica de competição, pois através desse
mecanismo, uma planta pode interferir no crescimento da outra, reconhecida como um importante
mecanismo ecológico que influencia a dominância vegetal, a sucessão, a formação de comunidades

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 373


vegetais e de vegetação clímax, bem como a produtividade e manejo de culturas (SOUZA et al.,
2007).
O plantio de hortaliças é cercado por exigências técnicas e econômicas que limitam de
forma considerável seu manejo, dentre essas exigências está o controle de plantas invasoras, pois o
cultivo de culturas hortícolas não permite o uso de herbicidas, uma vez que a parte aérea da planta é
consumida e este é o alvo da aplicação do defensivo (MELHORANÇA FILHO et al., 2012).
A técnica de destilação por arraste a vapor é utilizada na extração de óleos voláteis, pois
estes óleos possuem tensão de vapor mais elevada que a da água, sendo assim arrastados pelo vapor
d‘água. O extrato (óleo) obtido após separar-se da água é evaporado a seco (extrato seco),
diminuindo assim o crescimento de microrganismos e facilitando o armazenamento. (SANTOS et
al., 2013).
A exploração da atividade biológica de compostos de extratos brutos, óleos e hidrolatos de
plantas medicinais podem constituir ao lado da indução de resistência, em uma forma potencial de
controle alternativo de doenças em plantas cultivadas. (STANGARLIN et al., 1999).
Embora a maioria dos estudos com produtos alternativos para controle de fitopatógenos
tenha sido realizado com extratos ou óleos essenciais, outros métodos de extração ou compostos
podem ainda ser utilizados, como o hidrolato, sendo este o líquido resultante do processo de
extração de óleo essencial por arraste a vapor, o qual apresenta geralmente compostos voláteis
hidrossolúveis como ácidos, aldeídos e aminas, em quantidades que podem variar desde 0,05 a 0,20
g de óleo essencial por litro (MOURA et al., 2014).
Sendo assim, o objetivo neste trabalho foi avaliar a atividade alelopática do hidrolato de três
espécies vegetais: malva-do-reino (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng), boldo-do-chile
(Peumus boldus, Molina) e eucalipto (Eucalyptus globulu Labill) sobre a germinação e
desenvolvimento da rúcula (Eruca sativa L.).

METODOLOGIA

O ensaio foi conduzido nos Laboratórios de Tecnologia de Produtos e de Tecnologia de


Sementes da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Campus Crato-CE, no mês de julho de 2014.
A espécie-alvo para o bioteste foi a rúcula (Eruca sativa L.: Brassicaceae), variedade Apreciatta
folha larga, cujas sementes foram adquiridas em casa agropecuária da cidade de Crato. Foi utilizado
hidrolato de três espécies vegetais: malva-do-reino (Plectranthusamboinicus(Lour.) Spreng:
Malvaceae), boldo-do-chile (Peumusboldus, Molina: Monimiaceae) e o eucalipto (Eucalyptus
globulus, Labill: Myrtaceae).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 374


As amostras foram coletadas no horto de plantas medicinais da Universidade Federal do
Cariri. As mesmas foram lavadas com água destilada e pesadas (100g) em balança de precisão. Em
seguida, foram cortadas em pequenos pedaços e levadas individualmente para o balão de gargalo
com capacidade de 5 litros. O balão foi conduzido à manta aquecedora e acoplado ao Clevenger. O
hidrolato (caracterizado como a fração aquosa contendo o óleo essencial emulsionado) foi extraído
pelo método de hidrodestilação em aparelho Clevenger. O vegetal (100g de material fresco)
permaneceu em ebulição por duas horas em 1 litro de água, como descrito por NASCIMENTO et
al. (2009). Finalizada a destilação, os hidrolatos foram coletados e identificados (rotulados) e
armazenados em frascos de vidro e acondicionados sob refrigeração. Foram utilizadas
concentrações de 100% para todas as repetições.
As sementes de rúcula foram acondicionadas em placas de petri, cobertas com papel filtro
umedecidos com 3 ml do hidrolato e no quarto dia de instalação do experimento as placas foram
umedecidas com mais 2 ml de água destilada. O experimento foi conduzido em BOD a uma
temperatura regulada de 25°C e as contagens realizadas a cada 24h por um período de 7 dias.
As variáveis avaliadas foram porcentagem de germinação, índice de velocidade de
germinação (IVG), comprimento e necrose da radícula. A porcentagem de germinação (PG) e o
índice de velocidade de germinação (IVG) foram calculados com o uso das seguintes fórmulas,
conforme Labourial e Valadares (1976):

PG = (N/A)x100
N = número total de sementes germinadas;
A = número total de sementes colocadas para germinar.

Foram consideradas germinadas aquelas sementes que as radículas atingiram 2 mm de


comprimento. O IVG foi medido através do somatório da razão entre o número de sementes
germinadas no dia e o número de dias. Após a última contagem, a radícula foi medida com régua e
analisada a presença ou não de necrose. O delineamento experimental adotado foi inteiramente
casualizado (DIC), com quatro tratamentos e cinco repetições de 15 sementes cada. Os dados
obtidos foram analisados pelo teste de Tukey a 5% de significância, usando-se o Programa
Operacional SISVAR-UFLA.

RESULTADOS

Na variável percentual de germinação foi possível verificar que sementes tratadas com
hidrolato de malva-do-reino não germinaram, indicando efeito alelopático negativo sobre esta
variavel. Weir, Park e Vivanco (2004) sugerem que dois mecanismos principais podem estar
envolvidos, a paralisação da respiração mitocondrial e a perturbação de enzimas do ciclo de Krebs,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 375


já que durante a germinação das sementes, há um rápido aumento na atividade glicolítica ligado a
um aumento da taxa de respiração que irá mobilizar os carboidratos armazenados, fornecer a
semente poder redutor, ATP e produtos de carbono necessário para a biossíntese das raízes e parte
aérea das plântulas emergentes, se o processo de respiração é comprometido, consequentemente a
germinação é afetada. As sementes tratadas com boldo-do-chile e eucalipto apresentaram
germinação de 80,0% e 75,8%, respectivamente. Deduzindo que estas não diferiram estaticamente
da testemunha que apresentou 77,4% de sementes germinadas (Figura 1).

Médias da rúcula (%)


Tratamentos Germinação
Malva-do-reino 0.00 a1
Eucalipto 75.80 a2
Boldo-do-chile 80.00 a2
Testemunha 77.40 a2

Figura1. Atividade alelopática do hidrolato de espécies medicinais


sobre o percentual de germinação da rúcula (Eruca sativa L.).

Aferindo a variável necrose de radícula, foi observado que apenas apresentaram diferenças
significativas para esta variável (p<0,05) àquelas tratadas com hidrolato de malva-do-reino,
indicando efeito fitóxico deste sobre a germinalidade da espécie. Os demais hidrolatos para essa
variável não diferiram estatisticamente com a testemunha.
Com relação ao Índice de Velocidade de Germinação (IVG) verificou-se que somente as
sementes tratadas com hidrolato de malva-do-reino expressaram diferenças significativas em
relação à velocidade de germinação (Figura 2).

Médias da rúcula (%)


Tratamentos IVG
Malva-do-reino 0.00 a1
Eucalipto 11,75 a2
Boldo-do-chile 12,28 a2
Testemunha 15,47 a2

Figura 2. Atividade alelopática do hidrolato de espécies medicinais


sobre o Índice de Velocidade de Germinação (IVG) da rúcula (Eruca
sativa L.).

Ao analisar o comprimento das raízes, observou-se que não houve diminuição


estatisticamente significativa para os tratamentos com hidrolato de boldo-do-chile (2,28 cm) e
eucalipto (2,36 cm) e a testemunha (2,72 cm) (Figura 3).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 376
Médias da rúcula (%)
Tratamentos Radícula
Malva-do-reino 0,00 a1
Eucalipto 2,36 a2
Boldo-do-chile 2,28 a2
Testemunha 2,72 a2
Figura 3. Atividade alelopática do hidrolato de espécies medicinais
sobre o comprimento de radícula da rúcula (Eruca sativa L.).

Segundo Ferreira e Borghetti (2004), muitas vezes o efeito alelopático não se dá pela
germiniabilidade, mas sobre a velocidade de germinação ou sobre outro parâmetro do processo. O
efeito alelopático pode provocar alterações na curva de distribuição da germinação ou no padrão
polimodal de distribuição de germinação das sementes devido ao ruído informacional
(interferências ambientais que bloqueiam ou retardam o andamento de processos metabólicos).
Na agricultura, os estudos alelopáticos podem ser de grande importância, servindo para
desvendar muitas causas de insucessos dos cultivares que não obtiveram o desempenho esperado, se
tornando uma importante e vantajosa ferramenta para a agronomia (SILVA, 2012).
Plantas possuidoras de compostos com atividade alelopática inibitória podem ser utilizadas
como herbicidas naturais eficientes, controlando plantas daninhas, e também, servindo como
indicativos para possíveis fontes de novos compostos com ação biocida, contribuindo para o
aumento da produtividade e permanência sadia dos cultivares, tornando a área de cultivo mais
equilibrada (SILVA, 2012).
A comprovação da existência de substâncias alelopáticas em malva-do-reino indica a
necessidade de estudos complementares para a quantificação e a identificação dos compostos
presentes, com o objetivo de se realizar a bioprospecção de moléculas de interesse agronômico.
Desta forma, espécies vegetais com efeitos alelopáticos podem ser utilizadas como cobertura
vegetal com a finalidade de inibir a incidência de plantas invasoras, minimizando o uso de
compostos químicos (herbicidas), além de proteger e melhorar as condições físicas, químicas e
biológicas do solo (MELHORANÇA FILHO, 2012).

CONCLUSÃO

Os tratamentos com hidrolato extraído a partir de folhas de malva-do-reino apresentaram


efeitos alelopáticos para todas as variáveis analisadas. Os hidrolatos de boldo-do-chile e de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 377


eucalipto não apresentaram efeito, de acordo com as variáveis observadas. É possível que a ação
alelopática se deva a presença desses aleloquímicos, sendo desse modo necessário, a realização de
pesquisas mais aprofundadas com fins de identificar e isolar os mesmos visando uma utilização
futura como bioherbicidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, M. C. S. A.; MEDEIROS FILHO, S.; INECCO, R.; TORRES, S. B. 2004. Alelopatia de
estratos voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. In: Revista
Agropecuária Brasileira 39: 1083-1086.

FERREIRA, A. G.; AQUILA, M. E. A. Alelopatia, uma área emergente da ecofisiologia. Revista


Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 12, p. 175-204, 2000. Edição especial.

FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed,


2004. 323 p.

LAVABRE, M. Aromaterapia: a cura pelos óleos essenciais. Rio de Janeiro: Record. 1993. 172p.

LIMA, G. P.; FORTES, A. M. T.; MAULI, M. M.; ROSA, D. M.; MARQUES, D. S. Alelopatia de
capim-limão (cymbopogon citratus) e sabugueiro (sambucus australis) na germinação e
desenvolvimento inicial de corda-de-viola (ipomoea grandifolia). In: Publ. UEPG Ci. Exatas
Terra, Ci. Agr. Eng., Ponta Grossa, 15 (2): 121-127, Ago. 2009.

MELHORANÇA FILHO, A. L.; ARAÚJO, M. L.; SILVA, J. E. N.; OLIVEIRA Jr. P. P.; SILVA,
M.F. Avaliação do potencial alelopático de capim-santo (Cymbopogon citratus (DC) Stapf.)
sobre o desenvolvimento inicial de alface (Lactuca Sativa L.). In: Ensaios e Ciência: Ciências
Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 16, n°.2, Ano 2012, p. 21-30.

MOURA, G. S.; FRANZENER, G.; STANGARLIN, J. R.; SCHWAN-ESTRADA, K. R. F.


Atividade antimicrobiana e indutora de fitoalexinas do hidrolato de carqueja [Baccharis trimera
(Less.) DC.]. In: Rev. Bras. Pl. Med., Campinas, v.16, n.2, supl. I, p.309-315, 2014.

OLIVEIRA Jr. R. S.; CONSTANTIN, J.; INOUE, N. H. Biologia e Manejo de Plantas Daninhas.
Curitiba. Omnipax. 348 p. 2011.

SANTOS, P.L.; PRANDO, M. B.; MORANDO, R.; PEREIRA, V. N.; KRONKA, A. Z. Utilização
de extratos vegetais em proteção de plantas. In: ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro
Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p. 2566. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 378


SILVA, P. S. S. Atuação dos aleloquímicos no organismo vegetal e formas de utilização da
alelopatia na agronomia. In: Biotemas, 25 (3), 65-74, ISSNe 2175-7925. 2012.

SOUSA, C. S. M.; SILVA, W. L. P.; GUERRA, A. M. N. M.; CARDOSO, M. C. R.; TORRES, S.


B. Alelopatia do extrato aquoso de folhas de aroeira na germinação de sementes de alface. In:
Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.2, n.2, p.96 - 100 julho/dezembro de 2007.

STANGARLIN, J. R. SCHWAN-ESTRADA, K. R. F.; CRUZ, M. E. S; NOVAKI, M. H. Plantas


medicinais e controle alternativo de fitopatógenos. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento,
AnoII, n. 11, p. 16-21, 1999.

WEIR, T. L.; PARK, S. W.; VIVANCO, J. M. Biochemical and physiological mechanisms


mediated by allelochemicals. In: Current Opinion in Plant Biology, 7:472–479. 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 379


ESTRUTURA DE Cupania impressinervia Acev.-Rodr. EM REMANESCENTE DE
FLORESTA OMBRÓFILA DENSA EM BANANEIRAS, PB

José Nailson Barros SANTOS


Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais UFRPE/PPGCF
nailson.gba@hotmail.com
Leandro de ARAÚJO
Graduando em Ciências Agrárias UFPB/CCHSA
leandroaraujog@hotmail.com
Ana Jéssica Soares BARBOSA
Esp. em Agricultura Familiar Camponesa, Ed. do Campo e Residência Agrária UFPB/CCHSA
ajsoaresbarbosa22@gmail.com
Alex da Silva BARBOSA
Professor do Departamento de Agropecuária, UFPB/CCHSA
aldasibarbarbosa@gmail.com

RESUMO
A Cupania impressinervia é uma árvore nativa comum no Brasil pertencente à família das
Sapindaceae. O objetivo do estudo foi realizar um levantamento populacional de C. impressinervia,
em um remanescente de brejo de altitude no município de Bananeiras- PB. A pesquisa foi realizada
noHorto Florestal da UFPB/CCHSA, Campus III, no município de Bananeiras no período de agosto
de 2011 a Dezembro de 2012. Foram plotadas 22 parcelas com 200 m² cada, em todos os ambientes
de ocorrência de C. impressinervia foram verificados o diâmetro a nível do solo (DNS) e altura total
das plantas. A estrutura da população foi avaliada através da área basal (AB), densidade absoluta
(DA), frequência absoluta (FA) e índice de agregação da espécie (IGA). As análises descritivas
foram feitas por meio do software Mata Nativa 2©.Foram amostrados 137 indivíduos regenerantes,
distribuídos em vinte (20) unidades com AB= 0,019m², DA=311,364ind. ha-1, FA= 90,91%,
IGA=2,6, apresentando padrões de populações agregadas. Em exemplares adultos, foram
amostrados 53 indivíduos, em dezesseis (16) unidades com AB=0,2961m², DA= 12,045ind. ha-1,
FA=72,73%, IGA=1,85, apresentando leve mudança no padrão básico de distribuição espacial de
agrupada (estrato regenerante) para tendência a agrupamento (estrato adulto). Quando comparado
aos resultados gerais de outros inventários, realizados a nível regional, o táxon estudado (C.
impressinervia) apresentou-se presente em diversos tipos de floresta atlântica, especialmente, em
florestas ombrófilas. A espécie estudada (C. impressinervia) possui alta capacidade de regeneração
no ecossistema estudado.
Palavras-chave: Cabatã, Brejo de Altitude, Regeneração Natural, Biodiversidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 380


ABSTRACT
The impressinervia Cupania is a common native tree in Brazil belonging to the family Sapindaceae.
The aim of the study was a population-based survey of C. impressinervia, in a remnant marsh
elevation in the city of Bananeiras- PB. The survey was conducted Forestry no Horto UFPB /
CCHSA, Campus III, in the municipality of Banana from August 2011 to December 2012 22 plots
with 200 m² each, were plotted in all environments occurrence of C. impressinervia were checked
diameter at ground level (DGL) level and total height of the plants. The population structure was
assessed by basal area (BA), absolute density (AD), absolute frequency (AF) and aggregation index
of species (IGA). Descriptive analyzes were made by the Native Forest 2 software © .were
regenerants sampled 137 individuals, distributed in twenty (20) units with AB = 0,019m², DA =
311,364ind. ha-1, FA = 90.91%, IGA = 2.6, showing patterns of aggregated populations. In adult
specimens, 53 specimens were sampled in sixteen (16) units with AB = 0,2961m², DA = 12,045ind.
ha-1, FA = 72.73%, IGA = 1.85, with a slight change in the basic pattern of spatial distribution of
grouped (regenerating stratum) for clustering tendency (adult class). Compared to the general
results of other surveys conducted at the regional level, the taxon studied (impressinervia C.)
presented in a various types of Atlantic forest, especially in rainforests. The studied species (C.
impressinervia) has a high regeneration capacity in the studied ecosystem.
Keywords: Cabatã,Heath Altitude, Natural Regeneration, Biodiversity.

INTRODUÇÃO

Os Brejos de Altitudes Nordestinos são áreas que apresentam microclimas dissociantes do


contexto onde estão inseridos (semiárido). Essa umidade característica está associada ao efeito
orográfico, planaltos e chapadas entre 600 e 1.100 m de altitude, que aumentam os níveis de
pluviosidade e diminuem as temperaturas, o que forma ―ilhas‖ de microclima diferenciado. Suas
formações florestais são disjunções de floresta atlântica, ilhadas pela vegetação da caatinga,
condição que torna esses remanescentes áreas de elevada biodiversidade (BARBOSA et al., 2004).
Segundo Veloso et al. (1991), esta tipologia pode ser considerada como refúgio ou relíquia
vegetacional, por apresentar peculiaridades florísticas, fisionômicas e ecológicas, dissonantes do
contexto em que está inserido.
Historicamente, vêm sofrendo com forte antropismo que se manifesta de diferentes formas.
Segundo Lins (1989), tais condições climáticas favoreceram a expansão da agricultura e pecuária, e
principalmente a monocultura da cana-de-açúcar, que, associada às práticas inadequadas de manejo,
restringiram a vegetação a pequenas manchas, quase sempre com dimensões e características
inadequadas para a manutenção da diversidade local (LINS & MEDEIROS, 1994).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 381


A compreensão do comportamento da regeneração natural em ecossistemas florestais
possibilita que sejam feitas estimativas de parâmetros populacionais, comportamento e
desenvolvimento futuro da espécie na floresta, pois fornece a relação e a quantidade de indivíduos
que constitui o seu estoque populacional, bem como suas dimensões e distribuição na área,
imprescindível para a consecução do manejo florestal sustentado (ALBUQUERQUE, 1999).
Segundo Higuchi (1985), através do estudo de regeneração natural são obtidas informações sobre
autoecologia, estágio sucessional, efeito da exploração florestal, entre outras informações
importantes que orientam nas intervenções silviculturais previstas nos planos de manejo. De acordo
com Daniel Jankauskis (1989) o entendimento da regeneração natural em florestas é uma
importante ferramenta utilizada para o sucesso de seu manejo, o qual necessita de informações
básicas em qualquer nível de investigação.
A cabatã (Cupania impressinervia), assim como é chamada por populares que habitam
encostas de florestas de brejo de altitude, como mostra um estudo etnobotânico realizado por Abreu
(2011).Predomina facilmente no interior de matas primárias, bem como em todos os estádios de
formações secundárias. É descrita na literatura como uma espécie semidecídua, heliófita e seletiva
higrófita, característica da floresta semidecídua de altitude e da mata pluvial atlântica. Trata-se de
uma espécie de interesse ecofisiológico e econômico, podendo ser utilizada tanto na recuperação de
áreas degradadas de preservação permanente quanto no paisagismo. Vale ressaltar também seu
grande valor para a fauna, pois seus frutos são utilizados na alimentação, principalmente por
pássaros (LORENZI, 2000), além do seu potencial medicinal, pois é utilizado na medicina popular
contra asma e tosses convulsivas (RODRIGUES e CARVALHO, 2001).

OBJETIVOS

Objetivou-se avaliar a estrutura populacional do táxon, bem como o contingente de plântulas


do estrato regenerante. Levantar inferências sobre os parâmetros populacionais, em um
remanescente de Floresta Ombrófila Aberta. Neste sentido, subsidiar informações sobre planos e
intervenções silviculturais do espécime na área.

MATERIAL E MÉTODOS

Descrição geral da área

A presente pesquisa realizou-se em um remanescente de Floresta Ombrófila Densa,


pertencente a Reserva Florestal da Universidade Federal da Paraíba – CCHSA/UFPB, campus III. É
considerado um importante fragmento florestal ecotonal de Brejo de Altitude. Está situada na
microrregião de Brejo Paraibano, na Cidade de Bananeiras – PB. Sendo um de seus principais
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 382
fragmentos portador de aproximadamente 35,5 ha, cujas coordenadas são: 6°46‘S e 35°38‘W. Gr.
com altitude variante entre 510 e 617m de altitude. O clima da região é o As‘ (tropical chuvoso)
quente e úmido (Classificação de Köppen) e se caracteriza por apresentar temperatura máxima de
38°C e mínima de 18°C, com chuvas de outono a inverno (concentradas nos meses de maio a
agosto). O solo da reserva é do tipo Latossolo Amarelo distrófico, textura franco arenosa a franco
argilosa, fase floresta tropical subperenifólia. Geomorfologicamente caracteriza-se pelo relevo
suave ondulado (Embrapa, 1999).

Figura 1 - Localização geográfica da Reserva do UFPB/CCHSA, Bananeiras-PB.

Método de parcelas fixas

A alocação de parcelas permanentes obedeceu a critérios de cobertura geográfica, realizada


com auxílio de ferramentas como imagens de satélites ou fotos aéreas, aparelhos de
georeferenciamento (GPS) e expedições de campo para confirmação das condições da vegetação
representada pelas imagens ou fotos. A amostragem das parcelas foi proferida de forma
sistematizada em função das adversidades encontradas como; presença de áreas degradadas,
antropizadas e estratos florestais divergentes e condições orográficas como mostra um trabalho
realizado por Santos et al. (2012).

Suficiência amostral

Para determinar a intensidade amostral mínima realizou-se uma pré-amostragem (inventário-


piloto) proposto por Felfiliet al. (2011). Constando, inicialmente, de 10 parcelas fixas de 10 X 20 m
(200m²), que confluiu à uma área de 2.000 m². E calculados posteriormente a densidade de
indivíduos (ind. ha-¹) e área basal (m². ha-¹) por unidade amostral. Com objetividade de estabelecer
a suficiência amostral na área.
Uma vez realizado o inventário piloto, fez-se necessário calcular as seguintes estimativas
estatísticas que descrevem a amostra: média ( ), variância, desvio padrão, coeficiente de variação
(cv), fator de correção ( ), variância da média, erro padrão, erro de amostragem absoluto e erro
de amostragem relativo. Com a obtenção dos resultados foi definida a quantidade de parcelas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 383


mínimas, que representou a suficiência amostral de vinte e duas (22) unidades amostrais, as quais
corresponderiam 12,39% da área a ser inventariada.

Levantamento populacional

Na área selecionada foi realizado um levantamento populacional para os representantes da


espécie (C. impressinervia). Para tal procedimento, foram plotadas 22 parcelas fixas de 10 X 20m.
Sendo cada parcela com 200 m², totalizando uma área amostral de 4.400 m², correspondendo a
12,39% do remanescente, distribuídas sistematicamente no local. A mensuração das parcelas foi
realizada através de trenas Bellotas® (50 m), piquetes e cordas.
Todos os indivíduos (C. impressinervia) com forma morfológica definidaforam
identificados e inventariados de forma indiscriminada nas unidades amostrais e tomados o DNS
(Diâmetro ao Nível do Solo), em centímetros. Para o estrato regenerante (fase de plântula) utilizou-
se paquímetros E-colflex®, os indivíduos adultos foram mensurados com o auxílio de suta
dendométrica (Mantax®), e estimada a altura total (ao nível do solo ao ápice da copa), em metros.
A altura total foi estimada com a utilização de réguas e canos de PVC com graduações de 1m. Em
troncos de formato elíptico foram realizadas duas medidas com paquímetro para uma estimativa de
área basal mais aproximada da realidade. O georeferenciamento foi realizado através de um
equipamento de Sistema de Posicionamento global (GPS), bem como, a utilização de mapas e
imagens do Google Earth.
Os materiais vegetais do táxon (C. impressinervia) foram coletados com presente aparente
de descritores, foram acondicionados em prensas e em seguida preparou-se as exsicatas. O material
foi enviado para o ―Herbário Jaime Coelho de Morais‖ no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II, Areia - PB, sendo classificado e identificado,
posteriormente.Para o processamento dos dados obedeceu-se tal critério de inclusão; todos os
indivíduos com o DNS ≤3 cm e altura de ≤1m, foram classificados em estrato regenerativo ou fase
de plântula. Para o estrato adulto, considerou-se todos os indivíduos ˃ 3 cm de DNS e ˃1 m de
altura.
A estrutura da vegetação foi avaliada através da área basal (AB), densidade absoluta (DA),
frequência absoluta (FA) e índice de agregação da espécie (IGA), (Brown-Blanquet, 1950; Müller-
Dombois e Ellemberg, 1974; Kent &Coker, 1999). As análises descritivas foram feitas por meio do
software Mata Nativa 2© (CIENTEC, 2002). Para verificar o padrão de distribuição espacial das
espécies na área utilizou-se o Índice de Agregação de MacGuinnes - IGA (MCGUINNES, 1934). A
classificação do padrão obedece à seguinte escala: IGAi< 1: distribuição uniforme; IGAi = 1:
distribuição aleatória; 1 <IGAi< = 2: tendência ao agrupamento e IGAi> 2: distribuição agregada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 384


RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o estrato regenerante foi levantado um total de 137 indivíduos (72,11% dos indivíduos
amostrados), distribuídos em vinte (20) unidades amostrais, de um conjunto amostral de vinte e
duas (22) parcelas. Este estrato populacional concentrou-se com 311,364 ind.ha-1, e uma Frequência
Absoluta de 90,91. Uma vez que a predominância deste gênero é bastante comum no cerrado
(Moura & Sampaio, 2001),e em toda a mata atlântica e suas disjunções: Estacional Semidecídua
Montana(CUNHA et al., 2012), Floresta Ombrófila Aberta, (ABREU et al., 2011), Floresta
Ombrófila Densa(SILVA et al., 2010). Ainda com base nos dados da tabela 1, correspondente aos
indivíduos do estrato arbóreo. Foram amostrados um total de 53 indivíduos em estádio de
crescimento de joven a adulto, distribuídos em dezeseis (16) unidades amostrais de um total de
vinte e dois (22) unidades. Em uma trabalho de florística e fitossociologia realizado por Silva
(2010) em quatro remanescentes de floresta Ombrófila Densa, no município de Catende – PE, foi
encontrado para a Cupania racemosa e a Cupania revoluta resultados semelhantes em relação a
regeneração natural, já que espécie apresentou-se entre as principais responsáveis pela regeneração
natural em três fragmentos estudados: Mata das Galinhas, Mata de Santa Luzia e Mata da conceição
no município de Catende- PE, bem como em diversas florestas da região Suldo país, principlamente
em florestas Ombrófilas Mistas, (SILVESTREet al., 2012), (GERALDI et al., 2005), (KLAUBERG
et al., 2010). As populações deste Gênero Cupania geralmente encontram densas em florestas
Ombrófilas, apresentando Frequência Absoluta (FA), geralmente maior que 50%, (NASCIMENTO
et al., 2001), (GERALDI et al., 2005). Característica notada no presente trabalho em ambos os
estratos avaliados: estrato regenerante FA = 90,91 e adulto, FA=72,73, como mostra a tabela 1.

Cupania impressinervia Acev.-Rodr.


Local : Reserva Florestal do N U AB DA FA IGA Classificação
CCHSA/UFPB m2 (Ind. ha-1) (%) do IGA
Estrato regenerante 137 20 0,019 311,364 90,91 2,6 Agregada
(fase de plântula)
Estrato arbóreo (adulto) 53 16 0,2961 12,045 72,73 1,85 Tend. Agrup.
(N=número de indivíduos; U=número de parcelas experimentais onde ocorreu a espécie; AB=área basal; DA=densidade
absoluta; FA=frequência absoluta; IGA=índice de agregação da espécie, Índice de MacGuinnes)
Tabela 1 – Resultado, por estrato amostrado, dos descritores estruturais da Cupania impressinervia Acev.-
Rodr., ocorrente na reserva do CCHSA/UFPB, Bananeiras-PB.

Na literatura há poucos registros que denotem sobre a dispersão desta espécie no Brasil,
entretanto, sabe-se que este gênero, Cupania, e suas sinonímias botânicas tem sua dispersão
realizada potencialmente por aves que compõem a fauna local (Hasui, 1994), por tanto,a espécie em
estudo pode ser classificada como zoocórica. A distribuição espacial da população no fragmento
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 385
depende muito da forma que a polulação realiza a disperção de suas sementes. Neste caso
adistribuição das sementes depende de fatores bióticos, como a própria conservação do
remanescente, quando relacionamos os abrigos destes animais. Assim a presença destas aves é um
forte bioindicador para a mútua dispresão da população de planta e perpetuação das aves frugívoras
que dependem das sementes. De um modo geral, os indivíduos de uma população podem estar
localizados no espaço de três formas básicas: aleatória, quando distribuídos ao acaso, regular,
quando em intervalos similares, e agregada, no caso da formação de ―manchas‖ (Meirelles & Luiz,
1995). A espécie em estudo, de acordo com o Índice de Agregação de MacGuinnes (IGA),
apresentou-se de forma agregada para o estrato regenerante (IGA=2,6), entretanto, para o estrato
arbóreo sua posição sociológica expressou uma leve mudança de comportamento (IGA=1,85). Este
fato deve-se provavelmente ao fato da mortalidade de plântulas, considerada, bem maior, quanto o
estrato é regenerante, e principalmente quando se concentram sob a copa dos indivíduos adultos da
população, (Howe&Smallwood, 1982).
Em estudos realizados, Nascimento et al., (2001), quando avaliou a estrutura e padrões de
distribuição espacial de espécies arbóreas em uma amostra de floresta ombrófila mista em Nova
Prata – RS. Observou-se que a população adulta de Cupania vernalisconformou-se de forma
agregada.Klauberget al., (2010) trabalhou com Florística e estrutura de um fragmento de Floresta
Ombrófila Mista no Planalto Catarinense, também verificou o mesmo comportamento. Para este
trabalho foi verificado que a espécie possui tentência de agrupamento, quando o estrato é
regenerante e agregada quando se torna adulto.
Em geral, os trabalhos presentes na literatura tendem a abordar apenas um determinado
estádio de desenvolvimento da espécie de planta estudada, enquanto, na verdade, o padrão espacial
pode mudar ao longo do desenvolvimento, (Augspurger, 1983) como observado na tabela acima.
Sendo assim, é importante avaliar os padrões em todos os estádios de desenvolvimento, a fim de
chegar a uma compreensão mais ampla dos processos que influenciam uma determinada espécie de
planta. No presente estudo foi observado uma mudança do índice de agregação do estrato
regenerante para o adulto. Portanto, refletindo estes resultados diretamente na posição sociológica
da população em relação a distribuição espacial observada. Levando-se em conta que a dispersão de
sementes é o processo inicial, dentre todos os que geram a distribuição espacial de uma dada
espécie de planta, convém discorrer sobre a maneira como ele costuma ocorrer na área. A forma de
dispersão observada é zoocórica (quando o efeito é por animais), deste modo as sementes tendem a
serem depositadas, por animais em outras localidades dentro do ecossistema. Parte dos frutos,
também, tende a cair e permanecer, muitas vezes, embaixo da copa das árvores adultas e
incorporando-se ao banco de sementes da floresta, e vindo a germinar posteriormente. Isto explica

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 386


as manchas agregadas desta espécie dentro da fitocenose, quando relacionamos o estrato
regenerante da população.
Alguns pesquisadores, como Scolforoet al. (1998), relataram que a análise dos dados de
distribuição de diâmetros é importante, pois pode predizer sobre o passado (perturbações, como
exploração da madeira) e o futuro da floresta (como estoque de madeira disponível e informações
sobre uma possível reposição florestal).
A figura 2 mostra a relação entre a estrutura diamétrica da cabatã (C. impressinervia) e o
número de indivíduos amostrados na reserva florestal da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Campus III, Bananeiras-PB.

120 111
100
Nº de Indivídivius

80
60
36
40
20 14
7 7 8 3 2 2
0

Classe Diamétrica (cm)


Figura 2 - Estrutura diamétrica populacional (regenerante e estrato adulto) de
Cupania impressinervia, em remanescente de Floresta Ombrófila,
Bananeiras – PB.

Nota-se na figura 2 que maior parte da população de C.impressinervia (58,42%) é


regenerante e distribui-se, principalmente, na primeira classe diamétrica (˂2), as menores plantas
foram verificadas com diâmetro de 0,1. Os demais indivíduos são caracterizados como jovens e
adultos, como de fato a presença de exemplares adultos na população, provavelmente, reflete por
um distúrbio já que a população dos entornos do remanescente faz o uso da madeira desta espécie,
principalmente como escoras para construções e energia. O maior exemplar amostrado portava
18,00 cm de diâmetro. Apesar de poucos exemplares adultos, estes estão em plena atividade
reprodutiva, deste modo estes indivíduos os estão atuando para a regeneração natural na área
estudada. A população está bem conformada na área, embora haja um número relativamente menor
de indivíduos do estrato adulto, quando correlacionado com o estrato regenerante, sendo este fato
bastante comum em formações florestais jovens.
O presente trabalho identificou as características e problemas ambientais da área de estudo,
como por exemplo, o corte seletivo da madeira e alguns clarões em meio à mata. Esta problemática
acaba influenciando diretamente para a elevação do índice da regeneração natural da população na
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 387
área, haja vista, que o corte da madeira acaba interferindo no dossel da floresta, e conseguintemente
a incentivar a germinação e o crescimento do banco de plântulas da fitocenose.
A figura 3 mostra a relação entre a estrutura hipsométrica da cabatã (C. impressinervia) e o
número de indivíduos amostrados na reserva florestal da Universidade Federal da Paraíba - UFPB,
Campus III, Bananeiras-PB.

70 64
60
46 48
50
Nº de Indivíduos

40
30
20 16
12
10 4
0
0

Classe Hipsométrica (m)

Figura 3 - Estrutura Hipsométrica populacional (regenerante e estrato adulto)


de Cupania impressinervia, em remanescente de Floresta Ombrófila,
Bananeiras – PB.

Em relação a estrutura vertical a C. impressinervia possui um importância considerável na


cobertura do dossel médio da floresta, já que a população porta uma altura média de 2,32 m, sendo
o maior indivíduo amostrado com 10,00 m de altura. O que também foi constatato por Oliveira et
al. (2006) quando trabalhou com fragmentos de Floresta Ombrófila no município de Areia – PB,
indicando o pioneirismo da espécie em fragmentos florestais jovens. A figura 3 reflete bem a
estrutura populacional da espécie no remanescente estudado, corroborando com os dados da
estrutura diamétrica da população geral. Mesmo em vista as peculiaridades das ações antrópicas
encontradas na área, observa-se que a população está bem estabelecida, principalmente, quanto a
presença de indivíduos jovens, supridos pelos processos contínuos ecológicos de sucessão e
regeneração da própria população da C. impressinervia, e que se perpetuará no futuro, para tanto é
necessário que não haja perturbação no ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A espécie estudada (C. impressinervia) possui, normalmente, capacidade de regeneração


natural considerável, no ecossistema avaliado. Quando comparado aos resultados gerais de outros
inventários, realizados a nível regional, o táxon avaliado (C. impressinervia) apresentou-se bastante
presente, em diversos tipos de floresta atlântica, especialmente, em florestas Ombrófilas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 388


Mesmo apresentando pluralidade em relação a posição fitossociológica, o táxon assume uma
distribuição espacial de forma agregada, o que também foi constatado em outros estudos
relacionados.

REFERENCIAS

ALBUQUERQUE, S. G. de. Caatinga vegetation dynamics under various grazing intensities by


steers in the semi-arid Northeast, Brazil. Journal of Range Management, v.52, p.241- 248, 1999.

AUGSPURGER, C.K. 1983. Offspring recruitment around tropical trees: changes in cohort
distance with time.Oikos 40(2): 189-196.

BARBOSA, M. R. V.; AGRA, M. F.; SAMPAIO, E. V. S. B.; CUNHA, J. P.; ANDRADE, L. A.


Diversidade florística da Mata do Pau-Ferro, Areia, Paraíba. In: PÔRTO, K.C.; CABRAL, J.J.P.;
TABARELLI, M. (Ed.). Brejos de altitude em Pernambuco e Paraíba: história natural, ecologia
e conservação. Brasília – DF, Ministério do Meio Ambiente – MMA, Série Biodiversidade 9,
2004. p.111-122.

VELOSO, H. P., RANGEL-FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação


brasileira, adaptada a um sistema universal. IBGE, Rio de Janeiro, 1991. 91 p.

LINS, R. C. As áreas de exceção do agreste de Pernambuco. Recife: SUDENE/PSU/SER


(SUDENE, Estudos Regionais, 20), 1989. 402 p.

LINS, J. R. P.; MEDEIROS, A. N. Mapeamento da cobertura florestal nativa lenhosa do estado da


Paraíba. João Pessoa, PNUD/FAO/IBAMA/Governo da Paraíba, 1994. 44 p.

VIANA, V. M.; PINHEIRO, L. A. F. V. 1998. Conservação da Biodiversidade em fragmentos


florestais. ESALQ/USP. Série Técnica IPEF 12 (32): 25-42.

HIGUCHI, J.A. Bacia 3 Inventário diagnóstico da regeneração natural. Acta Amazonica, Manaus,
v.15, n.1/2. p.199-233, 1985.

DANIEL, O.; JANKAUSKIS, J. Avaliação de metodologia para o estudo do estoque de sementes


do solo. Série IPEF, Piracicaba, p.41-42, 1989.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas


do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Plantarum, 2002. 384 p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 389


CONSULTORIA E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS LTDA - CIENTEC. Mata Nativa:
Sistema para análise fitossociológica e elaboração de planos de manejo de florestasnativas. São
Paulo, 2002. 126 p.

SCOLFORO, J. R. S.; PULTZ, F. A.; MELO, J. M. Modelagem da produção, idade das florestas
nativa, distribuição espacial das espécies e a análise estrutural. In: SCOLFORO, J. R. S.
(Coord.). Manejoflorestal. Lavras:UFLA/FAEPE, 1998. p.189-246.

FELFILI. J. M.; ROITMAN. I.; MEDEIROS. M. M.; SANCHEZ. M. Cap. 3. Procedimentos e


Métodos de Amostragem de Vegetação, Fitossociologia no Brasil; Métodos e estudos de casos,
volume 1, Editora UFF. FELFILI. J. M.; EISENLOHR. P. V.; MELO. M. M. R. F.; ANDRADE.
L. A.; NETO. J. A. A. M. 2011, p. 93-104.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de janeiro, RJ). Sistema brasileiro de
classificação dos solos. Brasília: Embrapa-SPI, 1999. 412p.

MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methods of vegetation Ecology.

New York, John Wiley & Sons, 1974.547 p.

MCGUINNES, W. G. The relationship between frequency index and abundance as applied to plant
populations in a semiarid region. Ecology, Washington, v. 15, n. 3, p. 263-282, 1934.

BROWN-BLANQUET, J. Sociologia vegetal: estudio de las comunidades vegetales.

Buenos Aries: Acme, 1950. 44 p.

KENT, M.; COKER, P. Vegetation description and analysis – a pratical approach.Chichester: John
Wiley& Sons, 1999. 363 p.

SANTOS, J. N. B.; MEDEIROS, R. L. S.; BARROS, A. P.; BARBOSA, A. S.; Ações antrópicas e
a degradação edáfica da área florestal da UFPB/CCHSA, campus de Bananeiras. 2012. Ciclo
de palestras – Dia do Solo, Universidade Federal da Paraíba, Bananeiras, PB, 2012.

CARVALHO, Fabrício Alvim; NASCIMENTO, Marcelo Trindade and BRAGA, João Marcelo
Alvarenga. Estrutura e composição florística do estrato arbóreo de um remanescente de Mata
Atlântica submontana no município de Rio Bonito, RJ, Brasil (Mata Rio Vermelho). Rev.
Árvore [online]. 2007, vol.31, n.4, pp. 717-730. ISSN 0100-6762.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 390


Moura, F. de B.P.; Sampaio, E.V.S.B. Flora lenhosa de uma mata serrana semidecídua em
Jataúba, Pernambuco. Revista Nordestina de Biologia, v.15, n.1, p. 77-89, 2001.
<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/revnebio/article/ view/13169>. 23 Set. 2012.

SILVA, W. C.; Marangon L. C.; Ferreira R. L. C.; Feliciano A. L. P.; Aparício P. S.; Junior R. F. C.
Estrutura horizontal e vertical do componente arbóreo em fase de regeneração natural na mata
Santa Luzia, no município de Catende-PE. Rev. Árvore [online]. 2010, vol.34, n.5, pp. 863-869.
ISSN 0100-6762.

HASUI, E., 1994, O papel das aves frugívoras na dispersão de sementes em um fragmento de
floresta estacional semidecídua secundária em São Paulo, SP. Dissertação de Mestrado, IBUSP,
São Paulo.

HOWE, H. F. & SMALLWOOD, J., 1982, Ecologyofseeddispersal. Ann. Rev. Ecol. Sys., 13: 201-
208.

Silvestre, R.; Koehler, H. S.; Machado, S. A.; Balbinot R.; Watzlawick L. F. Análise estrutural e
distribuição espacial em remanescente de floresta ombrófila mista, guarapuava (PR). 2012, v.8
n.2 p. 259 – 274, ISSN 1808 – 0251.

Geraldi, S. E.;Koehler A. B.; Kauano É. E. Levantamento fitossociológico de dois fragmentos da


Floresta Ombrófila Mista,em Tijucas do Sul, PR. 2005,Rev. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p. 27-36.

Klauberg C.;Paludo G. F.;Bortoluzzi R. L. C.; Mantovani A. Florística e estrutura de um fragmento


de Floresta Ombrófila Mista no Planalto Catarinense. 2010, Rev.Biotemas, v. 23 (1): 35-47,
ISSN 0103 – 1643.

Nascimento A. R. T.;Longhi S. J.; Brena D. A. Estrutura e padrões de distribuição espacial de


espécies arbóreas em uma amostra de floresta ombrófila mista em nova prata, RS. 2001,Ciência
Florestal, Santa Maria, v.11, n.1, p.105-119, ISSN 0103-9954.

Abreu D. B. O.; F. R. B. O.; Neto C. F. A. V.; Lucena C. M.; Felix L. P;. Reinaldo Lucena F. P.
Classificação etnobotânica por uma comunidade rural em um brejo de altitude no Nordeste do
Brasil. 2011,Rev. de Biologia e Farmácia, v. 06,n. 01. ISSN 1983-4209.

Meirelles, M. L.; A. J. B. Luiz. 1995. Padrões espaciais de árvores de um cerrado emBrasília, DF.
Rev. Brasil. Bot. 18: 185-189.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 391


Cunha M. C. L.; Júnior M. C. S.; Lima R. B. A flora lenhosa na floresta estacional
semidecíduamontana do Pico do Jabre, PB. 2012, Rer. Brasileira de Ciências Agrárias, v.8, n.1,
p.130-136, 2013, Recife, PE, ISSN 1981-0997.

OLIVEIRA, Francieldo Xavier de; ANDRADE, Leonaldo Alves de and FELIX, Leonardo
Pessoa.Comparações florísticas e estruturais entre comunidades de Floresta Ombrófila Aberta
com diferentes idades, no Município de Areia, PB, Brasil.Acta Bot. Bras. [online]. 2006, vol.20,
n.4, pp. 861-873. ISSN 0102-3306. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33062006000400011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 392


REFLORESTAMENTO DO BIOMA CAATINGA NO ASSENTAMENTO RURAL
MOACIR LUCENA, APODI-RN

Lizandra Evylyn Freitas LUCAS


Graduanda em Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
lizandra_evylyn@hotmail.com
Ilton Araújo SOARES
Professor do Dpto de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN
iltonet@yahoo.com.br
Laura Maiara Noronha de SOUSA
Graduanda em Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
lauranoronha9@gmail.com
Dayane Suellen Cabral de MEDEIROS
Graduanda em Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
dayane_suellen@hotmail.com

RESUMO
O bioma caatinga vem sofrendo um acelerado processo de degradação ambiental decorrente da
constante exploração de seus recursos naturais, principalmente através da extração vegetal. Nesse
sentido, faz-se necessário buscar alternativas que venham a mitigar tal problemática, de forma a
garantir a conservação desse bioma extremamente biodiverso e pouco conhecido. Nessa
perspectiva, este artigo tem como objetivo geral descrever o processo de reflorestamento de
espécies da caatinga realizado no assentamento rural Moacir Lucena localizado no município de
Apodi-RN, bem como caracterizar o bioma caatinga e identificar os principais benefícios
ecológicos e socioeconômicos do reflorestamento na área estudada. As ações de recuperação da
vegetação nativa são desenvolvidas por 19 famílias que vivem no assentamento, teve início no ano
de 2003, alcançando uma área equivalente a 10 hectares e é realizado por meio do plantio de cerca
de 13 espécies nativas do bioma caatinga. O reflorestamento é feito anualmente sempre no período
chuvoso. Essa iniciativa realizada no assentamento contribui de forma significativa para
conservação e recuperação do bioma na área estudada, além de propiciar uma maior sensibilização
ambiental por parte dos assentados e possibilitar a diversificação das atividades desenvolvidas,
como extração do mel de abelhas e possibilidade futura do manejo florestal sustentável.
Palavras-chave: Recuperação de áreas degradadas, reflorestamento, bioma caatinga, gestão
ambiental rural.

ABSTRACT
The caatinga biome has been suffering a fast environmental degradation process due to the constant
exploration of its natural resources, mainly through plant extractivism. In that sense, it is necessary

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 393


to look for alternatives that can mitigate such issue, assuring the preservation of this extremely
biodiverse and not very known biome. On this perspective, this paper has as its general purpose to
describe the reforestation process of caatinga species performed on the Moacir Lucena rural human
settlement located on the municipality of Apodi-RN, as well as to characterize the caatinga biome
and identify the major ecological and socioeconomic benefits of the reforestation of the studied
area. The actions of the recovery of native vegetation are developed by 19 families that live in the
human settlement, it started on 2003, reaching an area of 10 hectares and it is performed through the
plantation of around 13 native species from the caatinga biome. The reforestation is done annually,
always during the rainy period. This initiative conducted in the human settlement helps greatly for
the preservation and recovery of the biome in the studied area, in addition to providing a bigger
environmental awareness of the people who live in the human settlement and allowing the
diversification of activities developed, such as honey extraction and the future possibility of
sustainable forest handling.
Keywords: Recovery of degraded areas, reforestation, caatinga biome, rural environmental
management.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a caatinga vem sofrendo com o crescente desmatamento devido
principalmente a retirada da vegetação para produção de lenha, que na maioria das vezes são
extraídas de forma ilegal e insustentável (MMA, 2014).
A devastação da Caatinga para dar espaço às atividades agropastoris e à exploração de
produtos florestais para fins energéticos são ameaças crescentes à biodiversidade desse bioma
(BRASIL, 1991 apud PESSOA, 2008). Uma análise de dados de satélites mostrou que, entre os
anos de 2002 e 2008 a estimativa preliminar do desmatamento ocorrido na caatinga passou de
43,38% até 2002 para 45,39% até o ano de 2008, e que a vegetação remanescente em 2002
representava 55,67% e em 2008 esse valor foi de 53,62% (MMA, 2010).
Nessa perspectiva é que a presente pesquisa parte da justificativa de que é necessário buscar
formas sustentáveis de convivência com o meio ambiente, de forma a conservá-lo e buscar maneiras
de mitigar os danos causados aos ambientes naturais. Para isso, a pesquisa tem como objetivo geral
descrever o processo de reflorestamento do bioma caatinga realizado no assentamento rural Moacir
Lucena localizado no município de Apodi-RN, e como objetivos específicos caracterizar o bioma
caatinga e identificar os benefícios ecológicos e socioeconômicos do reflorestamento na área
estudada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 394


REFERENCIAL TEÓRICO

O bioma Caatinga

A caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional e engloba os estados de Alagoas,


Bahia, Piauí, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e o norte de
Minas Gerais, tem uma rica biodiversidade e possui grande importância e potencialidade para o
nordeste brasileiro (MMA, 2014).
O bioma caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente
brasileiro, o que significa dizer que grande parte de seu patrimônio biológico não é encontrado em
outro lugar do mundo além da região nordeste do Brasil e parte do estado de Minas Gerais. Possui
uma biota rica em espécies e em endemismos, detém uma vegetação extremamente diversificada,
onde se estima que pelo menos 932 espécies tenham sido registradas, sendo dessas 380 endêmicas,
bem como grande diversidade de aves, répteis, mamíferos, anfíbios, fauna aquática, invertebrados.
(MMA, 2002).
Rodal e Sampaio (2002 apud GARIGLIO et al., 2010, p. 29) analisaram as implicações das
diferentes descrições e delimitações de caatinga e identificaram três características básicas, na
maioria dos escritos: (i) a vegetação que cobre uma área grande é mais ou menos contínua no
nordeste do Brasil, submetida a um clima semiárido, bordejada por áreas de clima mais úmido; (ii) a
vegetação dessa área, com plantas que apresentam características relacionadas à adaptação à
deficiência hídrica (caducifólia, herbáceas anuais, suculência, acúleos e espinhos, predominância de
arbustos e árvores de pequeno porte, cobertura descontinua de copas); e (iii) a vegetação com
algumas espécies endêmicas e com outras que ocorrem na caatinga e em áreas secas mais distantes,
mas não circunvizinhas.
Esse bioma situa-se entre o Equador e o trópico de Capricórnio, portanto, dispõe de
abundante intensidade luminosa em seu território durante todo o ano. As altitudes são relativamente
baixas, exceto alguns pontos que ultrapassam os 2000 m. As temperaturas são altas e pouco
variáveis, espacial e temporalmente, com médias anuais entre 25ºC e 30ºC e poucos graus de
diferença entre as médias dos meses mais frios e mais quentes. Assim, a luz e a temperatura não são
limitantes ao crescimento vegetal e não são causa de maior variabilidade ambiental na área de
caatinga (SAMPAIO, 2003 apud GARIGLIO et al., 2010).
No que se refere à disponibilidade hídrica em relação a este bioma, pode-se dizer que a
mesma não só é limitante quanto extremamente variável no tempo e espaço. Essa variação se
origina de quatro causas principais: (i) sistema muito complexo da formação de chuvas, com frentes
que vem de vários quadrantes e vão perdendo sua força à medida que penetram no núcleo do

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 395


semiárido, resultando em chuvas erráticas e concentradas em poucos meses do ano e em anos
chuvosos alternados irregularmente com anos de secas; (ii) disposição orográfica, com serras e
chapadas mais altas interceptando as frentes mais úmidas, recebendo mais chuvas que o entorno e
criando zonas pouco chuvosas a sotavento; (iii) escoamento das águas, deixando as encostas mais
secas e concentrando-se nos vales, formando lagoas e rios, a maioria deles temporários, onde a
disponibilidade hídrica estende-se por semanas e até meses depois que as chuvas cessam; e (iv)
variabilidade dos solos, com maior ou menor capacidade de reter as águas das chuvas, por conta de
diferentes profundidades e texturas (RODAL; SAMPAIO, 2002 apud GARIGLIO et al., 2010).
As médias de precipitação anual oscilam de pouco menos de 300 mm até pouco mais de
1000 mm, com um padrão geral de diminuição em relação ao núcleo mais seco (REDDY, 1983
apud GARIGLIO et al., 2010). Essas médias contrastam com as evapotranspirações potenciais, bem
menos variáveis que as chuvas, situando-se, em geral, entre 1500 mm e 2000 mm anuais, e que,
conjugadas, caracterizam as deficiências hídricas definidoras da semiaridez climática (relação
precipitação/evapotranspiração potencial < 0,65).

Reflorestamento

Segundo Dipe (2009, p. 22) ―reflorestamento é o processo que consiste no replantio de


árvores em áreas anteriormente ocupadas por florestas e formações vegetais‖. No que se refere a
aspectos históricos, durante a ocupação do Brasil boa parte da vegetação foi sendo derrubada, para
dentre outras coisas a extração de madeira e plantio de outras culturas.
No caso de reflorestamento de ambientes degradados, ainda de acordo com Dipe (2009, p.
22), é importante selecionar espécies que sejam mais aptas a se estabelecerem e crescerem em
condições de solos pobres. Os estudos sobre comportamento das espécies florestais também são
essenciais, pois permitem a escolha da espécie correta para cada condição de plantio. Um exemplo
disso é que vários estudos vêm sendo realizados com espécies florestais que vão desde as sementes
até o seu estabelecimento e desenvolvimento no campo, o que contribui para a preservação e
perpetuação das espécies reflorestadas (DAVIDE, et al., 2002 apud DIPE, 2009).
Após a implantação de um projeto de reflorestamento se faz necessário o monitoramento de
florestas com o acompanhamento temporal dos parâmetros estabelecidos para posterior avaliação,
ou seja, verificar se a área restaurada atingiu o estado pré-definido (GANDOLFI, 2006).
A avaliação e monitoramento de florestas implantadas são fundamentais para o
melhoramento das técnicas de restauração, especialmente em ecossistemas tropicais e subtropicais,
onde a diversidade e complexidade das interações entre os organismos representam um desafio no
que se refere à recuperação (SORREANO, 2002).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 396


Ainda segundo Sorreano (2002) para áreas reflorestadas muito pouco tem sido feito, no que
se refere à avaliação e monitoramento das áreas implantadas e sugere dois tipos de indicadores: de
avaliação da implantação e de avaliação e monitoramento da fase pós-implantação. Assim, após o
estabelecimento adequado das espécies utilizadas em plantios de recuperação a garantia de sucesso
dependerá da capacidade da vegetação implantada de se auto-regenerar, dentre outras
características.
Os reflorestamentos além do aspecto econômico podem servir a várias funções ao mesmo
tempo, como: sombra, quebra-ventos, produção de forragens, controle de erosão, produção de
madeira, etc. (RODIGHERI, 2000).

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada no mês de Dezembro de 2013, no assentamento Moacir


Lucena, zona rural do município de Apodi-RN. O método de abordagem utilizado nesta pesquisa foi
o método dedutivo, pois se trata de uma pesquisa que parte de teorias e conceitos, com o intuito de
analisar e descrever como ocorre o reflorestamento no assentamento (GIL, 2008). A mesma trata-se
de uma pesquisa descritiva, pois busca caracterizar o assentamento e como ocorre o reflorestamento
da vegetação nativa. Quanto à natureza, a pesquisa classifica-se como qualitativa.
Para a realização desta pesquisa foram utilizados dados primários e secundários. No que se
refere aos dados secundários os mesmos foram obtidos por meio de consultas bibliográficas a
livros, pesquisas em sites na internet, artigos e textos que serviram para subsidiar e aprofundar os
conhecimentos em relação a temática abordada. Já os dados primários foram obtidos por meio da
realização de uma entrevista com o representante do assentamento através da utilização de
formulário semiestruturado com questões abertas. Também foram realizados registro fotográfico,
conservas informais com alguns assentados e observações in loco.

Caracterização da área de estudo

O assentamento Moacir Lucena está localizado na área rural do município de Apodi e


pertence à mesorregião Oeste, encontra-se inserido na microrregião da Chapada do Apodi, no
estado do Rio Grande do Norte, a uma distancia de 375 km da capital Natal. Está situado entre as
coordenadas geográficas 05º 32‘ de latitude sul e 37º 52‘ de longitude oeste, com uma altitude
média de 130 metros (BRASIL, 1971). Tem como característica marcante a irregularidade de
precipitações pluviométricas, com probabilidade do período chuvoso se estender de fevereiro a
maio, sendo os meses de março a abril os de maiores precipitações e os demais meses praticamente

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 397


secos (ERNESTO SOBRINHO et al., 1983 apud GUERRA et al., 2010). A figura 1 abaixo mostra a
parte do assentamento onde ficam as residências dos moradores da localidade.
No assentamento residem aproximadamente 200 habitantes, distribuídos em 20 famílias que
sobrevivem da agricultura, através do cultivo de culturas de sequeiro, como feijão, milho e algodão,
da pecuária, principalmente ovinocaprinocultura e apicultura (GUERRA et al., 2010), além da
fruticultura para comercialização dos frutos e da polpa.

Figura 1 – Vista aérea da localização das residências do assentamento Moacir Lucena Apodi-RN
Fonte: Google earth (2014).

No que se refere a aspectos históricos relacionados ao assentamento, o mesmo está


localizado onde antes era uma grande fazenda que tinha como principal atividade o cultivo de
algodão e sua mão de obra era composta pelos atuais moradores do assentamento Moacir Lucena,
que após mobilização social conseguiram a desapropriação da terra e criação do assentamento.

RESULTADOS

A área reflorestada do assentamento corresponde a 10 hectares com a utilização de 13


espécies nativas da caatinga (quadro 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 398


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
AROEIRA Myracrodruon Urundeuva
SABIÁ Mimosa Caesalpiniaefolia
ANGICO Anadenanthera Colubrina
PAU-D‘ARCO Tabebuia impetiginosa
JUAZEIRO Zizyphus Joazeiro
JUCÁ Libidibia Ferrea
JUREMA Piptadenia stipulocea
PAU-BRANCO Auxemma oncocalyx
CATINGUEIRA Poincianera pyramidalis
PEREIRO Aspidosperma pyrifolium
MORORÓ Bauhinia cheilantha
CUMARÚ Amburana cearensis
IMBURANA Commiphora leptophloeos
Quadro 1 – Relação das espécies utilizadas no reflorestamento
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

A iniciativa de reflorestar parte do assentamento surgiu da idéia de recuperar por meio de


conhecimentos ecológicos e de recuperação de áreas degradadas áreas do assentamento de solo
exposto e sem vegetação e, da necessidade de se ter mais diversidade de plantas que de alguma
forma viesse a contribuir na ampliação da renda das famílias assentadas. As áreas escolhidas para o
reflorestamento estão em locais antes utilizados para o cultivo extensivo de algodão. Nessa
perspectiva e por meio do envolvimento de 19 famílias direta e indiretamente, bem como através da
capacitação dos assentados por meio de parceiros como a Cooperativa de Assessoria e Serviços
Múltiplos ao Desenvolvimento Rural – COOPERVIDA, Projeto Dom Helder Câmara e instituições
de ensino, foi possível no ano de 2003 o início das atividades de reflorestamento das áreas
degradadas.
Na primeira tentativa de reflorestamento foram utilizadas 1.500 mudas, mas em decorrência
de alguns fenômenos ambientais como chuvas intensas e posteriormente períodos de seca, a maioria
dessas mudas não sobreviveu. A estimativa de sucesso foi de que a cada 100 mudas plantadas
apenas 5 sobreviveram.
Após o insucesso com a técnica de reflorestamento através do plantio de mudas os
assentados utilizaram outro procedimento que consistiu na colheita de sementes no período de
produção de frutos e plantio em fileiras alternadas no período chuvoso. Para a reestruturação da
camada fértil do solo foram utilizadas o material das podas das árvores e serrapilheira.
Segundo o entrevistado, houve várias tentativas e insucessos na fase inicial do
reflorestamento, isso condicionado a mudanças climáticas e fatores como temperatura e
luminosidade. A participação dos assentados foi de fundamental importância para o êxito desta
prática, e após 10 anos do início do reflorestamento é possível observar diversas espécies com
diferentes idades e estratos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 399


As figuras 2 e 3 abaixo mostram a técnica de plantio de espécies em fileiras com
aproximadamente cinco anos de idade. Observa-se a serrapilheira alinhada as fileiras dos arbustos
com funções de fertilizar o solo, aumentar sua umidade, evitar a erosão durante os períodos
chuvosos e servir de refúgio para espécies animais de pequeno porte, como cobras, roedores e
formigas. O aspecto seco e sem folhagem dá-se em função da característica caducifólia da
vegetação da caatinga que perde suas folhas durante o período de estiagem.

Figuras 2 e 3 – Área reflorestada no assentamento Moacir Lucena, Apodi-RN


Fonte: Autores, 2013.

O reflorestamento realizado no assentamento propiciou um reequilíbrio ecológico em áreas


antes degradadas sem nenhum tipo de uso e outras partes do assentamento. Um exemplo disso é o
ressurgimento de espécies animais, como Tejo (Tupinambis teguixim), Tatu (Tolypentis tricinctus),
Tatu peba (Euphractus sexcintus), Seriema (Cariama cristata), Nambu (Crypturellus cinereus),
dentre outras.
Um exemplo dos benefícios econômicos do reflorestamento foi o ressurgimento das abelhas
e extração do mel para comercialização, diversificando as atividades desenvolvidas pelos
assentados. Algumas espécies plantadas já alcançaram o estrato arbóreo (figura 4) e têm valor
comercial, entretanto, de acordo com o entrevistado os assentados ainda não pretendem
comercializar a madeira e preferem deixá-la como reserva potencial caso venham no futuro passar
por dificuldades financeiras. O líder do assentamento destaca, porém, que a exploração florestal só
acontecerá mediante plano de manejo aprovado pelo órgão responsável.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 400


Figura 4 – Estrato arbóreo de espécie reflorestada no assentamento Moacir Lucena, Apodi-RN.
Fonte: Autores, 2013.

Pode-se dizer então que dentro de uma idéia de sustentabilidade e de conservação e


preservação do meio ambiente o reflorestamento realizado no assentamento Moacir Lucena
correlaciona-se com alguns dos 6 princípios formulados por Sachs e abordados por Camargo
(2003): 1. Satisfação das necessidades básicas; 2. Solidariedade com as futuras gerações; 3.
Participação da população; 4. Preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; e 5. Programas
de educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta pesquisa foi possível descrever como ocorre o reflorestamento de espécies da
caatinga no assentamento Moacir Lucena, Apodi-RN de forma a atentar para a importância dessa
prática para recuperação e conservação desse bioma. O bioma caatinga é o único exclusivamente
brasileiro, isso já implica dizer que em si o mesmo deveria conter enorme relevância, porém não é
isso que ocorre. Em detrimento de queimadas e desmatamento este bioma esta se extinguindo aos
poucos, e sua diversidade biológica sendo perdida a passos rápidos. Nessa perspectiva, ações como
a de reflorestar áreas degradadas como as que ocorrem no assentamento Moacir Lucena se refletem
como de suma importância, pois por meio destas se faz possível recuperar parte de sua vegetação, e
assim, tentar restabelecer o equilíbrio ecológico entre as espécies animais e vegetais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 401


Essa prática além de benefícios ao meio ambiente traz consigo também benefícios aos
assentados, uma vez que por meio de um plano de manejo os mesmos podem vir a utilizar a
madeira de origem reflorestada em prol de uma maior renda. Entretanto, faz-se necessário um maior
envolvimento de instituições públicas e organizações não governamentais no sentido de ampliar a
área reflorestada do assentamento e replicar a experiência para outras áreas da caatinga, de maneira
que se possa cada vez mais recuperar porções maiores desse bioma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento exploratório, reconhecimento de solos do


Estado do Rio Grande do Norte. Recife, 1971. (Boletim Técnico 21). Disponível em:
<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/330796>. Acesso em: 26 Set. 2014.

CAMARGO, Ana Luiza de Brasil. O desenvolvimento sustentável. In: ____. Desenvolvimento


sustentável: dimensões e desafios. Campinas, SP: Papirus, 2003.

DIPE, Marcos Paulo Machado. Reflorestamento de área degradada em propriedade cafeeira. 2009.
34f. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Cafeicultura) -
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul de Minas Gerais,
Muzambinho.Disponível em:
<http://www.muz.ifsuldeminas.edu.br/attachments/217_reflorestamento_area_degradada.pdf>.
Acesso em: 17 Jan. 2013.

GANDOLFI, Sérgius. Indicadores de avaliação e monitoramento de áreas em recuperação. In:


WORKSOHP SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM MATAS CILIARES,
2006, São Paulo. Anais... São Paulo: Instituto de Botânica, 2006. Disponível em:
<http://www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam2/Repositorio/126/Documentos/Eventos/20065_An
ais.pdf>. Acesso em: 26 Set. 2014.

GARIGLIO, Maria Auxiliadora; et al. (Org). Uso sustentável e conservação dos recursos florestais
da caatinga. Brasília: Serviço Florestal Brasileiro, 2010. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sfb/_arquivos/web_uso_sustentvel_e_conservao_dos_recurs
os_florestais_da_caatinga>. Acesso em: 17 Jan. 2013.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GUERRA, Antonia Mirian Nogueira de Moura; PESSOA, Marcos de Freitas; SOUZA, Clarice
Sales Moraes de; MARACAJÁ, Patrício Borges. Utilização de plantas medicinais pela

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 402


comunidade rural Moacir Lucena, Apodi-RN.Biosci J., Uberlândia, v. 26, n. 3, p. 442-450,
Mai/Jun. 2010.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. Avaliação e identificação de áreas e ações


prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da
biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília: MMA/SBF, 2002. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/Bio5.pdf>. Acesso em 19 Jan. 2014.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. Monitoramento do Desmatamento nos Biomas


Brasileiros por satélite: Monitoramento do Bioma Caatinga. Brasília: Centro de Sensoriamento
Remoto – CSR/IBAMA, 2010. Disponível
em:<http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/relatrio_tcnico_caatinga_72.p
df>. Acesso em: 16 set. 14.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE- MMA. Caatinga. Brasília: MMA, 2014. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga>. Acesso em: 26 Set. 2014.

PESSOA, Marcos de Freitas, et al. Estudo da cobertura vegetal em ambientes da caatinga com
diferentes formas de manejo no assentamento Moacir Lucena, Apodi-RN. Revista Caatinga,
Mossoró, v. 21, n. 3, p. 40-48, jun./ago. 2008.

RODIGHERI, H.R. Florestas como alternativas de aumento de emprego e renda na propriedade


rural. Colombo: Embrapa Florestas, 2000. (Embrapa Florestas. Circular Técnica, 42).
Disponível em:<http://www.cnpf.embrapa.br/publica/circtec/edicoes/circ-tec42.pdf>. Acesso
em: 17 Jan. 2014.

SORREANO, Maria Claudia Mendes. Avaliação de aspectos da dinâmica de florestas restauradas,


com diferentes idades. 2002. 145 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais),
Universidade de São Paulo, Piracicaba. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11150/tde-21082002.../maria.pdf>. Acesso em: 26 Set.
2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 403


ESTUDO DO INGRESSO NO ESTRATO ARBUSTIVO-ARBÓREO REGENERANTE E
DA MORTALIDADE EM UMA ÁREA EM ESTÁGIO DE SUCESSÃO INICIAL NO
CARIRI PARAIBANO

Maria da Gloria Lopes FRAGOSO


Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia UFCG/CDSA
glorinhafragoso@hotmail.com
Alecksandra Vieira de LACERDA
Professora Adjunta da UFCG/CDSA
alecvieira@ufcg.edu.br
João Paulo Pereira de LIMA
Graduando do Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia UFCG/CDSA
jplima1912@gmail.com
Francisca Maria BARBOSA
Professora PRONATEC/UFPB
fmariabarbosa@yahoo.com.br

RESUMO
Os ecossistemas da Caatinga tem-se revelado detentores de uma grande riqueza biológica e nesse
sentido a compreensão dos processos sucessionais nestas áreas se mostram relevantes para gerar
informações que possam fortalecer ações voltadas para a biologia da conservação e recuperação de
áreas degradadas. Assim, objetivou-se neste trabalho avaliar o ingresso e a mortalidade de espécies
arbóreas e arbustivas em uma área definida pelo estágio inicial de sucessão no Cariri Ocidental da
Paraíba. O trabalho foi realizado na Área Experimental Reservada para Estudos de Ecologia e
Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB/CDSA/UFCG (7°39‘38.8‘‘ S
e 36°53‘42.4‘‘ W; 538 m de altitude). Neste espaço foram implantadas, para o acompanhamento da
evolução da sucessão ecológica, 17 parcelas de 1x1 m. Os dados foram coletados no período de
12/12/2012 à 10/03/2014, considerando 03 monitoramentos semanais. No conjunto das 17 parcelas
amostradas para o estudo de sucessão ecológica foram registrados 25 indivíduos do componente
arbustivo-arbóreo. As espécies com os seus respectivos números de indivíduos ingressos e número
de mortalidade respectivamente estão a seguir elencadas: Jatropha molisima (Pohl) Baill. com três
indivíduos (mortalidade – três), Croton blanchetianus Baill. com 21 indivíduos (mortalidade – 20) e
Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P. Queiroz com um indivíduo (mortalidade – um). Portanto, os
dados gerados nesse trabalho se mostram de grande importância para o entendimento dos elementos
que definem a dinâmica da vegetação em áreas caracterizadas pelo processo inicial de sucessão.
Palavras-chave: Dinâmica, Sucessão Ecológica, Semiárido

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 404


ABSTRACT
Caatinga ecosystems has proved holder of a biologically rich and accordingly understanding of
successional processes in these areas are relevant to generate information that will strengthen actions
for conservation biology and restoration of degraded areas. Thus, this study aimed to evaluate the
ingrowth and mortality of tree and shrub species in a defined initial stage of succession in the Western
Cariri of Paraiba area. The work was executed in the Reserved Experimental Area for Studies of
Ecology and Dynamics of the Caatinga of the Laboratory of Ecology and Botany -
LAEB/CDSA/UFCG (7°39'38.8 '' S and 36°53'42.4 '' W; 538 m of altitude). In this space, have been
deployed to monitor the evolution of ecological succession, 17 parcels of 1x1 m. Data were collected
between 12/12/2012 to 03/10/2014, considering 03 weekly monitoring. In the group of 17 parcels
sampled for the study of ecological succession 25 individuals tree and shrub component were
recorded. Species with their own individual ingrowth numbers and the number of mortality are
respectively listed below: Jatropha molisima (Pohl) Baill. three individuals (mortality - three), Croton
blanchetianus Baill. with 21 individuals (mortality - 20) and Poincianella pyramidalis (Tul.) LP
Queiroz with one individual (mortality - one). Therefore, the data generated in this work are shown of
great importance for the understanding of the elements that define the vegetation dynamics in areas
characterized by the initial process of succession.
Keywords: Dynamics, Ecological Succession, Semiarid.

INTRODUÇÃO

O Semiárido brasileiro é considerado como o mais populoso e biodiverso do mundo (MMA,


2010). Nessa região, a vegetação dominante em baixas altitudes é a Caatinga, marcada pelas
características caducifólia, xerófila e espinhosa apresentando variações fisionômicas e florísticas
(RIZZINI, 1997). Nas maiores altitudes, especialmente em chapadas sedimentares, Andrade-Lima
(1981), registra uma vegetação xerófila arbustiva não espinhosa chamada carrasco.
A Caatinga abrange cerca de 11 % do território brasileiro, sendo o principal ecossistema da
região Nordeste. Conforme o MMA (2010), este bioma é considerado exclusivamente nacional e
caracterizado pelo elevado número de espécies adaptadas aos longos períodos de estiagem.
Entretanto, trata-se de uma área pouco conhecida, no que tange as suas riquezas, potenciais e
peculiaridades, devido à carência de pesquisas detalhadas na região.
Assim o entendimento dos processos que definem as etapas da sucessão e da regeneração
natural em áreas de Caatinga é muito importante para a compreensão da organização e manutenção
dos ecossistemas por sua influência sobre a composição, estrutura e dinâmica de populações e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 405


comunidades de plantas presentes nessas áreas. Desta forma, ofertam importantes informações das
relações biológicas com os perfis físicos e climáticos de um sistema ecológico.
Blanchard e Prado (1995) confirmam que essas informações são importantes subsídios para
o desenvolvimento de plano de manejo adequados à conservação das florestas. Diante disto, tem-se
ratificado que entender a dinâmica e processo da sucessão é relevante para a conservação do
ecossistema e para o entendimento das interações de processos naturais para o seu restabelecimento.
Portanto, objetivou-se com este trabalho avaliar o ingresso e a mortalidade de espécies
arbóreas e arbustivas em uma área definida pelo estágio inicial de sucessão no Cariri Ocidental da
Paraíba.

METODOLOGIA

Área de Estudo

O trabalho foi realizado no município de Sumé (Figura 1), localizado na microrregião do


Cariri Ocidental, entre as coordenadas geográficas 07°40'18" de Latitude Sul e 36°52'48" Longitude
Oeste. De acordo com o IBGE (2010), sua população atual é estimada em 16.072 habitantes. A área
territorial é de 864 km², encontra-se a 532m de altitude. Relacionado ao clima, este é caracterizado
pela escassez de chuvas e temperaturas elevadas, acarretando acentuada evaporação. O período seco
é de junho a janeiro e a temperatura média é de 24°C, sendo o índice de insolação médio anual de
2.800 horas. O solo e subsolo são de baixa permeabilidade e a vegetação predominante é a caatinga
hiperxerófila densa própria dos Cariris, do tipo arbustivo-arbóreo (PARAÍBA, 1985; SEBRAE,
1996). Inserido nos limites municipais de Sumé, o estudo foi executado na Área Experimental
Reservada para Estudos de Ecologia e Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica
– LAEB/CDSA/UFCG (7°39‘38.8‘‘ S e 36°53‘42.4‘‘ W; 538 m de altitude). Nesta área foi
realizado o desmatamento de uma faixa de vegetação para o processo de cercamento. Nesse sentido,
para o estudo de sucessão ecológica foram amostradas as duas laterais onde as faixas ficaram com
uma largura média de 8 metros.

Figura 1 – Localização do município de Sumé na microrregião do Cariri Ocidental, semiárido paraibano.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 406


Coleta e Análise dos Dados

Considerando a faixa desmatada para o cercamento da Área Experimental Reservada para


Estudos de Ecologia e Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica –
LAEB/CDSA/UFCG foram implantadas, para o acompanhamento da evolução da sucessão ecológica,
17 parcelas de 1x1 m através do uso de um gabarito feito com cano PVC para facilitar a medição das
mesmas. Na marcação empregou-se piquetes de madeira e barbante (Figura 2). As parcelas
encontram-se espaçadas a uma distância aproximada de 10 m entre elas e com variação de 5 m de
distância da área com cobertura vegetal. Os dados foram coletados no período de 12/12/2012 à
10/03/2014, considerando 03 monitoramentos semanais. Os indivíduos foram acompanhados e
marcados com plaquetas de alumínio (Figura 2). Para a identificação procedeu-se coleta dos
indivíduos próximos das parcelas monitoradas e conduzidos com a finalidade de serem transplantados
em sacos no Viveiro para Produção de Mudas Nativas e Estudos de Ecologia e Dinâmica da Caatinga
- LAEB/CDSA/UFCG. Posteriormente foram preparadas exsicatas desse material. A identificação
e/ou confirmação dos indivíduos regenerantes foram realizadas através de consultas a especialistas e
por meio de morfologia comparada, usando bibliografia especializada.

Figura 2 – Indivíduos monitorados nas parcelas implantadas na Área


Experimental Reservada para Estudos de Ecologia e Dinâmica da
Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica –
LAEB/CDSA/UFCG município de Sumé, Paraíba.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas 17 parcelas amostradas para o estudo de sucessão ecológica na Área Experimental


Reservada para Estudos de Ecologia e Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica –
LAEB/CDSA/UFCG foram registrados nos 185 monitoramentos (período de 12/12/2012 à
10/03/2014) 4.260 indivíduos. Considerando o componente arbustivo-arbóreo, germinaram 25
indivíduos, pertencente a duas famílias, sendo elas Euphorbiaceae e Fabaceae.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 407


O pinhão (Jatropha mollissima (Pohl) Baill.) foi o primeiro que germinou no processo inicial
de sucessão com três indivíduos (maio/2013) (Figura 3).

Figura 3 – Imagens do pinhão na Área Experimental Reservada para Estudos de Ecologia e Dinâmica da
Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB/CDSA/UFCG, município de Sumé, Paraíba.

O surgimento do pinhão como a primeira espécie do componente arbustivo-arbóreo no


processo inicial de sucessão pode está relacionado a alta densidade e freqüência do mesmo no
componente adulto desta área. Nesse sentido, no levantamento do estrato arbustivo-arbóreo adulto na
área da reserva, foi registrado um total de 2.922 indivíduos, sendo 345 pertencentes a espécie do
pinhão. Nesse levantamento, o pinhão apresentou a freqüência absoluta 100% e foi a quarta espécie
de maior Valor de Importância.
Autores como Barbosa et al. (2007) e Lacerda et al. (2005), também referenciam esta
espécie como apresentando uma alta freqüência no Cariri paraibano. Especificamente no município
de Sumé, o pinhão também foi citado como uma das espécies mais freqüentes (BARBOSA &
BARBOSA, 1999). Se reportando a esta espécie Maia (2004) coloca que o pinhão, pertence à
família Euphorbiaceae, é um pequeno arbusto de 1 a 3 metros de altura, com ocorrência desde o
Ceará até a Bahia e Minas Gerais, na Caatinga arbustiva ou arbórea aberta. É considerada endêmica
da Caatinga (GIULIETE, 2002). Ocorre em várzeas aluviais de solos pesados aonde chega a formar
populações quase puras, floresce na época de transição, seca chuvosa e na época chuvosa. Sua
propagação ocorre por sementes. Essa planta é indicada para o combate a erosão e para primeira
fase de restauração florestal mista (MAIA, 2004).
De modo particular a germinação do pinhão se processou com o primeiro indivíduo surgindo
no dia 03/05/2013 na parcela 12 e no dia 08/05/2013 surgiram mais dois indivíduos na parcela 16.
No dia 31/05/2013 os indivíduos desta espécie morreram nas parcelas monitoradas.
A germinação da catingueira (Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P. Queiroz) ocorreu em
janeiro de 2014 com apenas um indivíduo. No total foram 21 indivíduos do marmeleiro (Croton

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 408


blanchetianus Baill) que germinaram durante o período amostral, sendo sete no período de
dezembro de 2013 e 14 no período de janeiro de 2014.
Relacionado ao marmeleiro Maia (2004) coloca que ele, pertence à família Euphorbiaceae, é
um pequeno arbustos de 1 a 3 metros de altura, com ocorrência desde o Ceará até a Bahia e Minas
Gerais, na Caatinga arbustiva ou arbórea aberta. É considerada uma espécie endêmica da Caatinga
(GIULIETE, 2002). Segundo Silva et al. (2009) a catingueira é uma das espécies de mais ampla
dispersão no nordeste Semiárido podendo ser encontrada em diversas associações vegetais. Ocorre
nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia,
sendo considerada endêmica na Caatinga.
No levantamento florístico, também no Cariri Paraibano, Santos e Melo (2010) citaram o
marmeleiro e a catingueira como espécies que aparecem com mais freqüência. Autores como
Barbosa et al. (2007) e Lacerda et al. (2005) também referenciam estas espécies como apresentando
uma alta freqüência no Cariri paraibano. Souza (2008), referenciou as famílias Euphorbiaceae e
Fabaceae como as mais representativas na área estudada em número de indivíduos, e nesse estudo
também as espécies mais abundantes foram o marmeleiro sendo a única espécie representada em
todas as unidades amostrais e segunda espécie com maior número de indivíduos foi catingueira.
A germinação do marmeleiro aconteceu nos dias 27 e 28 de dezembro sendo seis no dia 27 e
um no dia 28, ambos na parcela 13. No dia 26/02/2014 foram registrados cinco indivíduos que
morreram na parcela monitorada e no dia 10/03/14 ocorreu a mortalidade de mais um indivíduo,
restando assim apenas um indivíduo vivo dessa espécie na parcela (Figura 04).

Figura 4 – Imagens do marmeleiro na parcela monitorada, na Área Experimental Reservada para Estudos de
Ecologia e Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB/CDSA/UFCG, município
de Sumé, Paraíba.

Relacionado a catingueira sua germinação aconteceu no dia 08/01/2014 na parcela 07


(Figura 5). Nesse sentido, o único indivíduo desta espécie morreu no dia 10/03/2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 409


Figura 5 – Imagens da catingueira na Parcela Monitorada, na Área Experimental Reservada para Estudos de
Ecologia e Dinâmica da Caatinga do Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB/CDSA/UFCG, município
de Sumé, Paraíba.

Possivelmente a baixa taxa de precipitação pluviométrica nesse período tenha contribuído


fortemente para que as espécies não tenham completado o seu ciclo de vida. Considerando os dados
da SUDENE (1990) tem-se para o município de Sumé uma série de 30 anos de dados, os quais
apontam para uma precipitação média de 584,9 mm anuais (Tabela 1).

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL
43,8 77,4 132,9 130,2 58,6 42,4 23,4 9,2 5,0 6,4 11,9 18,1 584,9
Tabela 1. Dados de precipitação média mensal e anual (mm) de 30 anos – Publicação SUDENE – Dados
Pluviométricos do Nordeste – Série Pluviometria 5, Recife, 1990. Posto Sumé (Latitude (Graus) -7,67360;
Longitude (Graus) -36,89640), Cariri paraibano (AESA, 2013).
Fonte: AESA (2014)

Entretanto, para os anos de 2012 e 2013 a precipitação anual em Sumé foi de 21 mm e


350mm respectivamente (Tabela 2).

Posto/Ano JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL
01/2012 10,9 10,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 21,0
02/2013 55,5 0,0 41,0 41,9 20,5 57,2 69,3 5,4 0,0 0,0 0,0 60,0 350,8
Tabela 2. Dados de precipitação mensal e anual (mm) para os ano de 2012 e 2013. 01 = Posto Sumé
(Latitude (Graus) -7,67360; Longitude (Graus) -36,89640), 02 = Posto Sumé/Fazenda Bananeiras (Latitude
(Graus) -7,50689; Longitude (Graus) -36,96311) no Cariri paraibano (AESA, 2014).
Fonte: AESA (2014)

Para o ano de 2014 choveu no município 104,8 mm - período de janeiro a março (Posto
Sumé/Fazenda Bananeiras - Latitude (Graus) -7,50689; Longitude (Graus) -36,96311). Assim, tem-
se que no período observado choveu abaixo da média histórica. Portanto, a associação da
mortalidade das espécies com os níveis de precipitação são indicativos fortes, uma vez que o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 410


recurso água é essencial para o desenvolvimento e definição dos processos ecofisiológicos das
espécies.
Portanto, os dados gerados se mostram de grande importância para o entendimento dos
elementos que definem a dinâmica da vegetação em áreas caracterizadas pelo processo inicial de
sucessão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AESA. Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Disponível em:
http://www.aesa.pb.gov.br. Acesso em 20 de setembro de 2014.

ANDRADE-LIMA , D. The Caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica. v.4, p. 149-163,


1981.

BARBOSA, F. M. & BARBOSA, M. R. V. Inventário exploratório em áreas produtoras de carvão


vegetal e de cascas de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan no Cariri Ocidental da Paraíba.
In: Anais do 50o Congresso Nacional de Botânica. PP: 200. 1999.

BARBOSA, M. R. V.; LIMA, I. B.; LIMA, J. R.; CUNHA, J. P.; AGRA, M. F.; THOMAS, W. W.
Vegetação e Flora no Cariri Paraino. Oecol. Bras., v. 11, n. 3, p. 313-322, 2007.

BLANCHARD, J. e PRADO, G. Natural regeneration of Rizophora mangle in strip clearcuts in


Northwest Ecuador. Biotropica, v.27, n.2, p.160-167, 1995.

GIULIETTI, A. M.; HARLEY, R. M.; QUEIROZ, L. P.; BARBOSA, M. R. V., BOCAGE NETA,
A. L.; FIGUEIREDO, M. A. Espécies endêmicas da Caatinga. p. 103-119, In: SAMPAIO, E.;
GIULIETTI, A. M.; VIRGÍNIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C. F. L. (orgs). Vegetação e Flora da
Caatinga. Recife: APNE/CNIP. 2002.

IBGE - Instituto Brasileiro de Pesquisa de Geografia e Estatística. IBGE Cidades 2010. Disponível
em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=251630&search=paraiba|sume.>
Acesso em: 22 set. 2014.

LACERDA, A. V. NORDI, N.; BARBOSA, F. M.; WATANABE, T. Levantamento florístico do


componente arbustivo-arbóreo da vegetação ciliar na bacia do Rio Taperoá, PB, Brasil. Acta
Botânica Brasílica, v.19, n.3, p.647-356, 2005.

MAIA, G. N. Caatinga: Árvores e arbustos e suas utilidades. 1ª ed. São Paulo. Leitura e Arte

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 411


editora, 2004. 413 p.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Monitoramento por Satélite do Desmatamento no Bioma


Caatinga. Núcleo do Bioma Caatinga DCBIO/SBF. Secretaria de Biodiversidade e Floresta e
Florestas. Ministério do Meio Ambiente. 2010.

PARAÍBA. Secretária de Educação/Universidade Federal da Paraíba. Atlas Geográfico do Estado


da Paraíba. João Pessoa: GRAFSET, 1985. 100 p.

RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil. 2ª Edição. Âmbito Cultural Edições Ltda, Rio
de Janeiro, 1997.

SANTOS, A. C. J; MELO, J. I. M. Flora Vascular de uma Área de Caatinga no Estado da Paraíba -


Nordeste Do Brasil. Revista Caatinga, Mossoró, v. 23, n. 2, p. 32-40, 2010.

SEBRAE. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba. Programa de Emprego e


Renda: Sumé. João Pessoa, 1996. 53 p.

SILVA, L. B; SANTOS, F. A. R.; GASSON, P.; CUTLER, D. Anatomia e densidade básica da


madeira de Caesalpinia pyramidalis Tul. (Fabaceae), espécie endêmica da caatinga do Nordeste
do Brasil. Acta bot. bras. n. 23, v. 2, p. 436-445, 2009.

SOUZA, P. F. Análise a Vegetação de um Fragmento de Caatinga na Microbacia Hidrográfica do


Açude Jatobá – Paraíba. 2008. (Monografia). Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal.
Universidade Federal de Campina Grande.

SUDENE (Brasil). Dados pluviométricos mensais do Nordeste: Estada Paraíba. Recife, 1990.
(Brasil.SUDENE.Pluviometria, 5).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 412


PERSPECTIVAS ATUAIS DO USO DE FITOTERÁPICOS PARA CONTROLE DA
HIPERCOLESTEROLEMIA

Antônio Carlos Evangelista de Araújo BONFIM


Acadêmicos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande
Daniel Pinheiro Callou NASCIMENTO
Acadêmicos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande
Maria Flávia Karina COSTA
Acadêmicos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande
Thárcia Kiara Beserra OLIVEIRA
Médica Veterinária, Coordenadora do Comitê de Ética no Uso de Animais da Faculdade de
Ciências Médicas de Campina Grande
aceac@hotmail.com

RESUMO
A hipercolesterolemia corresponde ao aumento dos níveis de colesterol no sangue, condição cada
vez mais prevalente no Brasil e demais sociedades industrializadas e consequência principalmente
de mudanças de hábitos de vida da população. O colesterol plasmático elevado é um dos principais
fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV), que representam a principal
causa de óbito atualmente em todo o mundo. Além da influência de fatores genéticos para o
surgimento da hipercolesterolemia, a alimentação inadequada e o sedentarismo são determinantes
marcantes que favorecem a ocorrência do quadro. O consumo de frutas e vegetais tem sido indicado
como prevenção e como terapêutica pela medicina natural por conterem fibras e outras substâncias
capazes de modular o metabolismo lipídico, como flavonóides e fenóis antioxidantes, fitoquímicos
com propriedades anti-inflamatórias e componentes com efeitos sobre plaquetas e vasos sanguíneos.
Atualmente, há várias correntes de estudo que exploram o uso de fitoterápicos como opção
terapêutica para redução do colesterol, que consiste em uma modalidade de tratamento que já possui
grande quantidade de adeptos, principalmente por falta de acesso a medicamentos convencionais.
Alimentos como a erva-mate, o guaraná e a banana, entre outros, têm sido pesquisadas quanto aos
seus efeitos sobre o colesterol com obtenção de dados promissores, o que é importante para ampliar
o arsenal de opções terapêuticas das dislipidemias e prevenção das DCV. No entanto, é fundamental
basear a indicação de tais substâncias em evidências concretas e na comprovação de ausência de
risco ao organismo.
Palavras-chave: hipercolesterolemia; fitoterapia; doenças cardiovasculares; medicina alternativa.

ABSTRACT

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 413


Hypercholesterolemia corresponds to high levels of blood cholesterol, an increasingly prevalent
condition in Brazil and other industrialized societies and resulting primarily from changes in life
habits of the population. The high blood cholesterol is a major risk factor for the occurrence of
cardiovascular disease (CVD), which is the leading cause of death worldwide today. Besides the
influence of genetic factors to the emergence of hypercholesterolemia, a poor diet and physical
inactivity are strong determinants to the occurrence of the condition. The consumption of fruits and
vegetables has been indicated as prevention and as a treatment for fans of natural medicine because
they contain fiber and other substances that modulate lipidmetabolism, such as flavonoids and
phenolic antioxidants, phytochemicals with anti-inflammatory properties and components with
effects on platelet and blood vessels. Currently, there are various streams of study that explores the
use of herbal medicine as a treatment option for lowering cholesterol, which is a modality that
already has lots of adepts, mainly due to lack of access to conventional medicines. Food as yerba
mate, guarana and banana, among others, have been studied for their effects on cholesterol with
obtaining promising data, which is important to expand the arsenal of therapeutic options of
dyslipidemia and prevention of CVD. However, it is essential to base the indication of such
substances on concrete evidence and proof of absence of risk to the organism.
Keywords: hypercholesterolemia; phytotherapy; cardiovascular diseases; complementary therapies.

INTRODUÇÃO

Atualmente, as doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de óbito,


correspondendo a cerca de 20% das mortes em todo o mundo (KLASSA et al., 2013; HAIMEUR et
al., 2013). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2011), a quantidade de mortes devido
às DCV atingirá 23,3 milhões em todo o mundo até 2030. As DCV estão associadas a fatores de
risco como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, hipercolesterolemia, altos níveis de LDL-c e
baixos níveis de HDL-c (ANGELIS-PEREIRA et al., 2013; HAIMEUR et al., 2013).
Aproximadamente um quinto da população brasileira apresenta níveis elevados de
colesterol, principalmente na faixa etária acima dos 45 anos, segundo a Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SPOSITO et al., 2007). Nos Estados Unidos, 71,3 milhões de pessoas possuem dois ou
mais fatores de risco para doenças cardiovasculares, sendo um em cada três americanos acometido
no decorrer da sua vida (FROTA, 2011). Pessoas com hipercolesterolemia estão mais propensas a
sofrerem infarto do miocárdio que pessoas com níveis normais de colesterol sanguíneo, o que
mostra a importância do combate agressivo a esse fator de risco com foco principal na modificação
de dieta e hábitos de vida (HAIMEUR et al., 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 414


A hipercolesterolemia está associada à obesidade, alimentação inadequada com excesso de
gorduras, colesterol e açúcares, pouca quantidade de fibras, desordens genéticas e sedentarismo
(SPOSITO et al., 2007; KLASSA et al., 2013). O colesterol plasmático é um dos principais fatores
para aumento das DCV, porem deve estar em nível adequado para preservar a função celular normal
(BERGMANN, 2011). Com isso o presente estudo busca alternativas terapêuticas eficazes e de
baixo custo, além de investigações para compreender os riscos associados com o uso de
fitoterápicos aparentemente inócuos amplamente usados pela população como terapia alternativa.

REFERENCIAL TEÓRICO

Doenças cardiovasculares

O uso de drogas modernas para o tratamento da dislipidemia muitas vezes é caro e fora do
acesso de boa parte da população mundial, além da desvantagem de diversos efeitos colaterais
associados (KLASSA et al., 2013). Estudos recentes têm mostrado que certos componentes da
dieta, como fibras, fitosteróis, polifenóis, peptídeos bioativos e probióticos podem modular o
metabolismo lipídico e assim, contribuir para a redução das doenças cardiovasculares (ANGELIS-
PEREIRA et al., 2013).
A redução de 1% no nível de colesterol plasmático corresponde a uma redução de 2% na
probabilidade que eventos cardiovasculares venham a ocorrer (PRAÇA et al., 2004). Uma dieta
com reduzida concentração de gordura saturada e colesterol ajuda a prevenir as DCV e o consumo
de leguminosas tem sido indicado como potencial redutor do LDL-c e do colesterol total. Outro
importante indicador são os altos níveis de HDL plasmáticos que implicam em uma proteção contra
as DCV (FROTA, 2011).
Muitos estudos epidemiológicos têm sido realizados para verificar a influência do consumo
de frutas e verduras na prevenção de DCV e demonstrado que o consumo de flavonóides apresenta-
se inversamente relacionado com a incidência de infarto do miocárdio e doença coronariana,
apresentando impacto na redução da mortalidade por DCV e também nos níveis plasmáticos do
LDL-c e do colesterol total (LIU, 2013). O The Women‘s Health Study (LIU et al., 2008), realizado
com 39.876 mulheres que foram avaliadas quanto à dieta e acompanhadas pelo período de cinco
anos, reportou que houve redução de 20-30% no risco de DCV associado a maior ingestão de frutas
e verduras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 415


ALIMENTOS COM AÇÃO TERAPÊUTICA

BANANA (Musa paradisíaca)

A banana (Musa paradisíaca) é uma fruta bastante presente na dieta brasileira e é fonte de
energia, fibras e amido, além de conter flavonóides com efeitos sobre o metabolismo lipídico. A
farinha de banana contém 61-76% de amido, 6-15% de fibras totais, 2-3% de fibras solúveis e 12%
de fibras insolúveis (MOTA et al., 2000). O amido resistente, encontrado em abundância na farinha
de banana verde, é um tipo de amido que não sofre digestão no intestino, mas pode ser fermentado e
produzir efeitos benéficos, como a redução do colesterol (GARCIA et al., 2006, ANGELIS-
PEREIRA et al., 2013).
Angelis-Pereira et al. (2013), investigaram os efeitos das farinhas de polpa de banana e de
casca de banana em ratos com hipercolesterolemia e verificaram que não houve efeito considerável
das farinhas na redução do colesterol total, do HDL-c e do LDL-c. A taxa de triglicerídeos,
entretanto, foi reduzida em 22%, levando a níveis similares aos do grupo controle com colesterol
normal. Yin et al. (2008), estudando o efeito de uma única refeição com banana sobre as
lipoproteínas plasmáticas em vinte voluntários saudáveis, verificaram que houve redução
significativa de peróxidos de lipídios, de lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL), do LDL-c
e do HDL-c na dosagem 2 horas pós-refeição, indicando que o consumo de banana reduz o estresse
oxidativo e aumenta a resistência oxidativa do LDL-c.

ALHO (Alliumsativum L.)

O alho (Alliumsativum L.), planta nativa da Ásia Central, tem grande importância na
culinária brasileira e é bastante acessível economicamente. É rico em fitoquímicos terapeuticamente
úteis por ação antibacteriana, antioxidante, fibrinolítica e anticoagulante, anti-hipertensiva,
natriurética e diurética, hipoglicemiante e moduladora do metabolismo lipídico, com capacidade de
prevenir DCV (CUTLER, WILSON, 2004; MARCHIORI, 2005; DROBIOVA et al., 2009;
KLASSA et al., 2013).Klassaet al., (2013), utilizando extrato aquoso de alho a 5% durante 42 dias
em coelhos com hipercolesterolemia induzida, não obtiveram dados estatisticamente significativos
por que corroborassem a eficácia do uso do alho para a redução do colesterol plasmático, apesar de
ter sido observada uma tendência em aumento dos níveis de HDL-c e redução do LDL-c nos
animais suplementados com o extrato, o que sugere algum efeito terapêutico. Os autores acreditam
que com maior tempo de suplementação e outras formas de administração, além de uso de uma
maior amostra, a eficácia do alho no combate à hipercolesterolemia possa ser comprovada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 416


CHÁ VERDE (Camellia sinensis)

Originado na China e consumido há mais de 3.000 anos, o chá-verde tem sido alvo de
investigações sobre suas propriedades medicinais. Extraído de folhas frescas de Camellia sinensis, é
rico em polifenóis antioxidantes e flavonóides do tipo catequinas, principalmente epigalo catequina-
galato (EGCG), que podem ser responsáveis pelos efeitos terapêuticos do chá-verde (TOKUNAGA
et al., 2002; BATISTA et al., 2009). Batista et al. (2009) realizaram um estudo sobre o efeito do
consumo de chá-verde em pacientes com dislipidemia, utilizando amostra composta por 33
voluntários acima dos 20 anos de idade, com colesterol total > 200 mg/ml e LDL-c > 130mg/dl,
sem evidências de doença coronariana. O uso do chá-verde mostrou redução estatisticamente
significativa de 3,9% no colesterol total e de 4,5% no LDL-c, não apresentando efeito sobre o HDL-
c e triglicerídeos, o que confirma os achados do estudo de Tokunaga et al. (2002), onde foi
evidenciado que o consumo de chá-verde estava associado a níveis séricos mais baixos de colesterol
total e de LDL-c em amostra composta por 13.916 trabalhadores japoneses saudáveis com idade
entre 40-69 anos.

GUARANÁ (Paullinia cupana)

O guaraná (Paullinia cupana), que tem origem na floresta tropical da Amazônia, possui
frutos ricos em cafeína e é amplamente utilizada no Brasil como ingrediente de refrigerantes e
bebidas energéticas, sendo bastante popular entre adolescentes e adultos jovens. Além de cafeína, o
guaraná possui teobromina, teofilina e taninos, podendo tais substâncias apresentar algum efeito
benéfico na proteção contra DCV (DUCHAN et al., 2010; PORTELLA et al., 2013).Estudos
recentes têm mostrado que o guaraná apresenta efeitos sobre a perda de peso corporal, o gasto
energético basal e o metabolismo lipídico, além de efeito inibidor da agregação plaquetária,
reduzindo fatores de risco para DCV (LIMA et al., 2005; PORTELLA et al., 2013).
Portella et al. (2013), pesquisaram os efeitos do guaraná sobre a oxidação do LDL-c em
idosos in vivo através da análise da formação de íons conjugados em amostras plasmáticas de
indivíduos saudáveis que ingeriam guaraná habitualmente e de outros que nunca haviam ingerido
guaraná e verificaram menor oxidação do LDL-c no grupo que consumia, correspondendo a uma
redução de 27% em comparação com o outro grupo. Em outra etapa do mesmo estudo, as amostras
obtidas de 3 voluntários saudáveis que não consumiam guaraná foram testadas in vitro e
evidenciaram alta atividade antioxidante da fruta, principalmente em concentrações entre 1 e 5
μg/mL.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 417


BERINJELA (Solanummelongena)

A berinjela (Solanummelongena) é um alimento bastante consumido no Brasil e amplamente


difundido como redutor em potencial do colesterol plasmático por adeptos da medicina alternativa,
apesar da escassez de evidências científicas que demonstrem a eficácia desta planta (PRAÇA et al.,
2004). Guimarães et al. (2000), em seu estudo com objetivo de verificar os efeitos do consumo de
infusão de berinjela na concentração de 2% por cinco semanas em voluntários com
hipercolesterolemia, encontraram redução do colesterol total, do LDL-c e da apolipoproteína B
modesta e transitória, não diferindo significativamente dos níveis encontrados após orientação e
adequação dietética. Praça et al. (2004) compararam os efeitos do consumo de suco de berinjela na
concentração de 50% aos da lovastatinae verificaram que não houve redução do colesterol total e do
LDL-c com o uso do suco de berinjela, semelhante ao ocorrido com o grupo controle. A berinjela,
portanto, parece não ser uma alternativa eficaz no tratamento da hipercolesterolemia.

ARGANIA (Argania spinosa)

De uso bastante comum no Marrocos e cada vez mais popular na medicina alternativa, o
óleo de argan é obtido da planta Argania spinosa, abundante no sudoeste marroquino, e bastante
rico em ácidos graxos insaturados, incluindo os ácidos oléicos e linoléicos, além de componentes
antioxidantes, como os tocoferóis (KHALLOUKIet al., 2003; HAIMEUR et al., 2013). Diversos
estudos têm mostrado o potencial do óleo de argan de redução do colesterol plasmático total, do
LDL-c e dos triglicerídeos, além de aumento do HDL-c e de redução da oxidação de ácidos graxos,
havendo ainda evidências de propriedade antitrombótica do óleo de argan, devido principalmente
àatividade antiagreganteplaquetária (DRISSI et al., 2004; DEROUICHE et al., 2005; CHERKI et
al., 2005; HAIMEUR et al., 2013).

ERVA-MATE (Ilex paraguaiensis)

Nativa de regiões subtropicais na América do Sul, a erva-mate (Ilexparaguaiensis) é


utilizada para a fabricação de bebidas tradicionais como o chimarrão, chá mate e tererê, consumidas
principalmente no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O extrato de erva-mate tem sido usado
recentemente como princípio ativo de inúmeros cosméticos. Balzanet al. (2012) evidenciou em seu
estudo tanto a propriedade antioxidante da erva-mate quanto a ação inibitória na progressão de
aterosclerose. No estudo, ratos Wistar foram submetidos a uma dieta rica em colesterol e observou-
se, após esse período, um quadro de hipercolesterolemia a partir de exames bioquímicos
sanguíneos. O tratamento da dislipidemia induzida teve como base um extrato alcoólico da erva-
mate contendo cafeína, teobromina, ácido cólico, ácido clorogênico, dentre outros compostos e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 418
observou-se que após 60 dias de tratamento os níveis séricos de colesterol e as placas ateromatosas
estavam reduzidos.

PISTACHE (Pistacia vera)

Ainda há um conhecido grão incorporado à dieta de diversas populações e muito utilizado


em saladas, petiscos e sorvetes. O pistache (Pistacia vera) é nativo do sudoeste asiático, mas é
cultivado em vários países, em maior escala nos Estados Unidos e regiões mediterrâneas. Esses
grãos são uma rica fonte de ácidos graxos insaturados e agentes antioxidantes, incluindo o γ-
tocoferol, β-caroteno, luteína e selênio. As propriedades antioxidantes e redutoras de colesterol do
pistache já haviam sido descritas, entretanto, o primeiro estudo randomizado com pacientes com
hipercoleterolemia clinicamente confirmada em que a alimentação foi controlada de modo a avaliar
ação do pistache sobre as lipoproteínas foi realizado por Gebaueret al. (2008). Um grupo de 28
pacientes participou do estudo submetendo-se a quatro períodos diferentes de dieta de modo que
todos os períodos elencavam os mesmos nutrientes e mesmo valor energético total, diferindo apenas
a quantidade de cada nutriente isoladamente. Os resultados mostraram que a concentração lipídica
sérica se altera de maneira inversa à presença de pistache e seus componentes antioxidantes na
dieta.

DISCUSSÃO

Após a Revolução Industrial, com desenvolvimento e consolidação do capitalismo, nota-se o


impacto ambiental gerado a partir deste processo. A contemporaneidade busca, incessantemente, a
resolução dos problemas ambientais elencando projetos baseados na revalorização da natureza e na
sustentabilidade e criando um capitalismo mais ecológico nos seus diversos aspectos (MOREIRA,
1997).
Atualmente fala-se muito em alimentos funcionais, ou seja, ricos em componentes que, além
da função nutricional, desempenham função fisiológica ou metabólica no organismo. Devem ser
consumidos em sua forma natural, diariamente, para que possam atuar atenuando ou prevenindo
doenças crônico-degenerativas (VIDAL etall 2012).
A agricultura familiar no Brasil representa 87,95% de todos os estabelecimentos
agropecuários (IBGE, 2006) sendo, portanto, o principal meio de oferta de alimentos à população.
Essa modalidade de cultivo vem ganhando cada vez mais espaço, uma vez que serve para o
cumprimento de exigências sociais tais como a geração de emprego, renda e conservação da
biodiversidade e configura-se, também, de fundamental importância na área de segurança alimentar
e nutricional (SOARES; MELO; CHAVES, 2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 419


O Brasil, país de dimensões continentais, possui 190.732.694 pessoas (CENSO, 2010).
Destes, cerca de 16% residem em área rural e sobrevivem basicamente da agricultura familiar e
criação de animais (IBGE, 2010). A pesquisa Demografia Médica no Brasil evidenciou a baixa
relação médicos/habitantes no país, sendo em média 1,95. Nas regiões Norte e Nordeste, essa
relação médico/habitantes é abaixo da média do país, sendo a assistência médica ainda mais
escassa, levando a população a buscar alternativas para solucionar seus principais problemas de
saúde (DMB, 2013).
A diversidade biológica brasileira é uma das maiores do planeta, com uma flora estimada em
cerca de 50 a 56 mil espécies (CARVALHO, 2011). Plantas medicinais são utilizadas nas práticas
médicas desde os tempos mais remotos com finalidades terapêuticas e profiláticas. Esse
conhecimento é transmitido de geração em geração perpetuando até os dias atuais (CARVALHO,
2011). Até o início da década de 90, 65-80% da população de países emergentes dependiam das
plantas medicinais para cuidados básicos. Essas plantas, em sua grande maioria, são utilizadas pela
facilidade de obtenção e por seu baixo custo servindo como complemento para a terapia
convencional de doenças (JÚNIOR; PINTO; MACIEL, 2005).
Apesar de seus comprovados benefícios, as plantas medicinais são consideradas agentes
xenobióticos que produzem produtos potencialmente tóxicos, levando a reações inesperadas e até à
morte (CARVALHO, 2011).No Brasil, no ano de 2010, dos 1132 casos registrados de intoxicação
por plantas medicinais cinco resultaram em óbito (SINITOX, 2010). Grande parte dessas
substânciasé utilizada sem comprovação de suas propriedades farmacológicas, baseadas apenas
noconhecimento popular e até mesmo com finalidades divergentes das aconselhadas, o que pode
levar a graves consequências (JÚNIOR; PINTO; MACIEL, 2005).
Entre os exemplos de efeitos tóxicos presentes nas plantas medicinais podem-se destacar a
hepatoxicidade do apiol, do safrol, alcalóidespirrolizidínicos, além da ação tóxica renal causada
pelos terpenos e saponinas.O ácido oxálico, nitrato e ácido erúcico estão presentes em muitas
plantas de consumo comercial. Muitas outras plantas utilizadas como fitoterápicos ainda necessitam
de estudos mais específicos para avaliar seu real potencial toxicológico (JÚNIOR; PINTO;
MACIEL, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de plantas medicinais parece ser uma alternativa em potencial como tratamento
coadjuvante da hipercolesterolemia. No entanto, pela escassez de dados sobre toxicidade e dose
terapêutica adequada, ainda não há evidências suficientes que assegurem o uso de fitoterápicos, o
que pode implicar em risco para a população os utilizar com a intenção de reduzir o colesterol

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 420


plasmático. Por ser uma opção de baixo custo e fácil acesso, o uso de tais substâncias deve ser mais
bem estudado para que venha a se tornar uma alternativa confiável.

REFERÊNCIAS

ANGELIS-PEREIRA, M. C. et al. Effects of the kefir and banana pulp and skin flours on
hypercholesterolemic rats. Acta Cirúrgica Brasileira, 28 (7), 2013.

BALZAN, S. et all. Lipid-lowering effects of standardized extracts of Ilex paraguariensis in high-


fat-diet rats. Jorn. Fitoterapia, v. 86, p. 115-122, 2013.

BATISTA, G.A.P. et al. Prospective Double-Blind Crossover Study of Camellia Sinensis (Green
Tea) in Dyslipidemias. Arq Bras Cardiol; 93(2):121-127, 2009.

BERGMANN, M. L. A. et al. Colesterol Total e Fatores Associados: Estudo de Base Escolar no Sul
do Brasil. Arq. Bras. Cardiol., v. 97, n. 1, p.17-25, 2011.

CARVALHO, L. S. Alterações clínicas e histológicas decorrentes de neurointoxicação por plantas


medicinais. 2011. p.38. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal). Universidade Federal de
Goiás. Goiânia, 2011.

CHERKI, M. et al. Consumption of argan oil may havean antiatherogenic effect by improving
paraoxonase activities andantioxidant status: Intervention study in healthy men.
NutrMetabCardiovasc Dis, 15:352–360, 2005.

CUTLER, R.R.; WILSON, P. Antibacterial activity of a new stable aqueous extract of allicin
against methicillinresistant Staphylococcus aureus. British Journal of Biomedical Science, v.61,
n.2, p.71-4, 2004.

DEROUICHE, A. et al. Nutritional intervention study withargan oil in man: effects on lipids and
apolipoproteins. Ann NutrMetab, 49:196–201, 2005.

DMB - Demografia Médica no Brasil, v. 2 / Coordenação de Mário Scheffer; Equipe de pesquisa:


Alex Cassenote, Aureliano Biancarelli. – São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo: Conselho Federal de Medicina, 2013.

DRISSI, A. et al: Evidence of hypolipemiant andantioxidant properties of argan oil derived from the
argan tree (Arganiaspinosa). ClinNutr, 23:1159–1166, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 421


DROBIOVA, H. et al. Garlic increases antioxidant levels in diabetic and hypertensive rats
determined by a modified peroxidase method. Evidence-based Complementary and Alternative
Medicine, vol. 2011, 2009.

DUCHAN, E.; PATEL, N.D.; FEUCHT, C. Energy drinks: a review of use and safety for athletes.
PhysSportsmed, 38:171–179, 2010.

FROTA, K. M. G. Efeito da proteína de feijão caupi (Vigna unguiculata L. Walp) nos marcadores
nos marcadores de risco para doença cardiovascular em pacientes hipercolesterolêmicos. 2011.
p. 129. Dissertação (Doutorado em Nutrição em Saúde Pública). Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2011.

GARCIA, E. J. et al. Composition, digestibility and application in bread making of banana flour.
Plant Foods Hum Nutr, 61(3):131-7, 2006.

GERBAUER S. K. et al. Effects of pistachios on cardiovascular disease risk factors and potential
mechanisms of action: a dose-response study. Am J Clin Nutr, v. 88, p. 651–659, 2008.

Global status report on noncommunicable diseases 2010. Geneva, World Health Organization,
2011.

GUIMARÃES, P.R. et al. Eggplant (Solanummelongena) infusion has a modest and transitory
effect onhypercholesterolemic subjects. Braz J Med Biol Res, 33(9), 2000.

HAIMEUR, A. et al. Argan oil prevents prothrombotic complicationsby lowering lipid levels and
platelet aggregation,enhancing oxidative status in dyslipidemicpatients from the area of Rabat
(Morocco). Lipids in Health and Disease, 12:107, 2013.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário: resultados preliminares


– Rio de Janeiro; 2006. (Censo Agropecuário 2006 Resultados preliminares).

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico: Resultados do universo.


Rio de Janeiro; 2010. (Características da população e dos domicílios).

KHALLOUKI, F. et al: Consumption of argan oil (Morocco) with its unique profile of fatty acids
tocopherolssqualene sterols and phenolic compounds should confer valuable cancer
chemopreventive effects. Eur J CancPrev, 12:67–75, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 422


KLASSA, B et al. Avaliação do efeito do alho (Alliumsativum L.) sobre o colesterol plasmático em
coelhos com hipercolesterolemia induzida. Rev. Bras. Pl. Med., Campinas, v.15, n.4, p.557-565,
2013.

LIMA, W. P. et al. Lipid metabolism in trained rats: effect of guarana (Paullinia cupana Mart.)
supplementation. ClinNutr, 24:1019–1028, 2005.

LIU, R.H. Health-Promoting Components of Fruits and Vegetables in the Diet. AdvNutr; 4(3),
2013.

LIU, S. et al. Fruit and vegetable intake and risk of cardiovascular disease: the Women‘s Health
Study. Am J ClinNutr,72:922–8, 2000.

MARCHIORI , V. F. Alho - descubra como o alho pode favorecer muito a sua saúde. 1. ed. São
Paulo: Scortecci Editora, 2005.

MOTA, R. V. et al. Composition and functional properties of banana flour from different varieties.
Starch, 52(2):63-8, 2000.

PORTELLA, R. L. et al. Guaraná (Paullinia cupana Kunth) effects on LDL oxidation in elderly people: an
in vitro and in vivo study. Lipids in Health and Disease, 12:12, 2013.

PRAÇA, J. M.; THOMAZ, A.; CARAMELLI, B. O Suco de Berinjela (Solanum melongena) não
Modifica os Níveis Séricos de Lípides. Arq Bras Cardiol, São Paulo, vol. 8, nº 3, 269-72, 2004.

SINITOX, Casos, Óbitos e Letalidade de Intoxicação Humana por Agente e por Região. Brasil,
2009. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/media/b3.pdf>.

SOARES I. F.; MELO A. C.; CHAVES A. D. C. G. A AGRICULTURA FAMILIAR: Uma


alternativa para o desenvolvimento sustentável no município de Condado – PB.
INFOTECNARIDO, v. 3, n. 1, p. 56-63, 2009.

SPOSITO, A.C. et al. IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose.Arq.


Bras. Cardiol., v.88, suppl.1, 2007.

TOKUNAGA, S. et al. Green Tea Consumption and Serum Lipids and Lipoproteins in aPopulation
of Healthy Workers in Japan. Ann Epidemiol; 12:157–165, 2002.

VEIGA JÚNIOR, V. F.; PINTO, A. C.; MACIEL, M. A. M. Plantas medicinais: cura segura?
Química Nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, fev. 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 423


VIDAL A. M. et al. Cadernos de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde, v.1, n.15, p. 43-52,
out. 2012.

YIN, X. et al. Banana prevents plasma oxidative stress in healthy individuals. Plant Foods Hum
Nutr. 63:71–6, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 424


DIAGNÓSTICO DA VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DA
POPULAÇÃO IDOSA DO MUNICÍPIO DE SUMÉ-PB

Rafaela Ribeiro BARBOSA


Graduanda em Engenharia de Biossistemas, CDSA/UFCG
rafaela.r.barbosa@bol.com.br
George do Nascimento RIBEIRO
Doutor, Professor CDSA/UFCG
george@ufcg.edu.br
José Rodrigo SOUSA SILVA
Graduando em Engenharia de Biossistemas, CDSA/UFCG
rodrigo.tricolor@windowslive.com
Paulo Roberto Megna FRANCISCO
Doutor, UFCG
paulomegna@ig.com.br

RESUMO
As transformações demográficas iniciadas no último século permitem observar em sua composição
um número crescente de indivíduos idosos. A vulnerabilidade ambiental do local, pode ser
diagnosticada pelos aspectos e condições do meio ambiente, aliados à vulnerabilidade
sociodemográfica da população inserida neste ambiente. O presente estudo tem como objetivo
diagnosticar a vulnerabilidade socioambiental da população idosa do município de Sumé-PB. A
metodologia utilizada para a análise socioeconômica e ambiental foi adaptada à partir da
metodologia utilizada por Rocha através de questionário aplicado com códigos e critérios de
estratificação e tabulação dos dados. Os resultados relacionados à degradação do fator
socioeconômico para as condições do passado foi de 54,45% e do presente foi de 44,65%. Os
resultados relacionados a degradação ambiental no passado foi de 50% e no presente foi de 39,53%.
Os resultados referente a vulnerabilidade do fator condições e conhecimentos pessoais para a
condição do passado e do presente, observa-se 42,86% e 60%, respectivamente.
Palavras-chave: Condições de vida, sustentabilidade, meio ambiente.

ABSTRACT
Demographic changes initiated in the last century allow us to observe in its composition a growing
number of elderly individuals. The environmental vulnerability of the site, can be diagnosed by
aspects of the environment and conditions, together with socio-demographic vulnerability of the
population included in this environment. This study aims to diagnose the environmental
vulnerability of the elderly population of the municipality of Sumé-PB. The methodology used for
the socio-economic and environmental analysis was adapted from the methodology used by Rocha

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 425


via questionnaire with codes and stratification criteria and data tabulation. The results related to the
degradation of socioeconomic status to past conditions was 54.45% and this was 44.65%. The
results related to environmental degradation in the past was 50% and this was 39.53%. The results
concerning the vulnerability of the factor conditions and personal knowledge to the condition of the
past and present, there is 42.86% and 60%, respectively.
Keywords: Conditions of life, sustainability, environment.

INTRODUÇÃO

As transformações demográficas iniciadas no último século permitem observar em sua


composição um número crescente de indivíduos idosos. Este fato, evidenciado nos censos e
projeções estatísticas, tem desdobramentos na área social, econômica, política, nos sistemas de
valores e nos arranjos familiares (ALMEIDA et al., 2011).
Para Moreira & Araújo (2002), o aumento populacional da faixa etária de idosos é resultante
direto do aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade brasileira, aliado ao
maior e facilitado acesso aos programas básicos de saúde do governo. Segundo dados do IBGE
(2002) o Brasil possui aproximadamente 15 milhões de idosos, correspondendo à 8,6% da
população total, com uma proporção de 30 idosos para 100 crianças. A Paraíba insere-se como
segundo estado mais numeroso nesta faixa etária.
Quanto à vulnerabilidade ambiental do local, pode ser diagnosticada pelos aspectos e
condições do meio ambiente, aliados à vulnerabilidade sociodemográfica da população inserida
neste ambiente. De acordo com Fonseca (2007), o conceito de vulnerabilidade pode ser entendido
como uma noção relativa, dado que está associado à exposição aos riscos produzidos socialmente e
denota maior ou menor susceptibilidade de pessoas, lugares e infraestruturas sofrerem algum tipo de
agravo.
A mudança sócio demográfica parece estar a acontecer a um ritmo tal que, aquele que era
outrora o maior grupo demográfico da sociedade, as crianças, será em breve o menor, cedendo o seu
lugar aquele que, tendo sido outrora o grupo de menor expressão, a população acima dos 65, será,
em breve, a maior (YASSINE, 2011).
Nesse ensejo, pesquisas que possibilitem observar as necessidades e demandas dos idosos se
demostram de extrema importância. Assim, o presente estudo tem como objetivo diagnosticar a
vulnerabilidade socioambiental da população idosa do município de Sumé-PB.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 426


A velhice é definida e determinada por dados de natureza biológica, por condicionamentos
sociológicos e econômicos, mas também por determinantes de cunho cultural e político (VALLE,
1998). O mesmo autor ainda enfatiza a questão de que o idoso, atualmente, está suscitando os
interesses de reinserção no mercado de trabalho através de: empresas, escolas, partidos políticos e
universidades.
Bosi (1994), reporta que as lembranças dos idosos, através da memória de longo prazo, por
retratarem momentos de participação misturados às aspirações não realizadas, trazem a
possibilidade de conhecimento das condições vividas, apesar de trazer o contexto para o seu
cotidiano, através de uma reflexão do seu entorno socioambiental, como também por suscitar
mecanismos individuais e coletivos para ações positivas na sociedade civil organizada.
Segundo Laidlaw & Pachana (2009), a humanidade vive cada vez mais tempo e em
melhores condições de saúde do que em qualquer outro momento da história, o que acarreta, por si
só, enormes avanços e modificações ao nível sóciodemográfico. Ao longo do último século, as
condições e contextos do envelhecimento humano têm melhorado de um modo sem precedentes
(ROHR &LANG, 2009).
Demakakos et al. (2007), alertam para que à semelhança do que sucede com a idade
cronológica, o envelhecimento deve ser entendido em termos da percepção individual e das
experiências do próprio indivíduo. Simultaneamente, considerando que o envelhecimento deverá ser
entendido como, um processo dinâmico que decorre ao longo do tempo e que envolve uma
mudança progressiva em diferentes aspectos da vida (De Gracia-Blanco et al., 2004), e
considerando segundo Bowling (2008), que existe a necessidade de adicionar uma crescente
qualidade de vida e bem-estar no dia-a-dia dos mais velhos, amplificando as suas oportunidades
sociais, econômicas e de participação social.

METODOLOGIA

A área de estudo compreende o município de Sumé, localizado no Cariri Paraibano, com


uma extensão de 838,6 km² (Figura 1).De acordo com o IBGE (2010) a população total é de 16.060
habitantes e a de idosos é de 1.184 habitantes, considerados acima de 60 anos de idade, para o
município de Sumé-PB.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 427


Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Adaptado de IBGE (2009).

Na metodologia utilizada foram realizadas as seguintes etapas:

DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL

A metodologia utilizada para a análise socioeconômica e ambiental foi adaptada à partir da


metodologia utilizada por Rocha (1997) descrito a seguir:

Questionário:

A – Fator socioeconômico, variáveis: demografia, consumo de alimentos, habitação, saúde e


segurança, educação e ajuda governamental.
B – Fator ambiental, variáveis: recursos hídricos, resíduos sólidos e urbanos.
C – Fator conhecimentos e condições pessoais, variáveis: participação ativa na comunidade.

Códigos e critérios de estratificação

Nesse caso, a cada variável foi atribuído um valor de 1 a 5, de acordo com a subdivisão da
variável e em atenção à sua importância. O valor maior do código representa a maior degradação e
o valor menor, a menor degradação.

Tabulação dos dados

A tabulação consistiu em agrupar os códigos e repetir aqueles de maior frequência,


utilizando análise estatística. Esses valores, juntamente com as equações das retas, determinadas
para cada caso, definiram as Unidades Críticas de Degradação Socioeconômica, Ambiental e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 428
Conhecimentos e condições pessoais. O cálculo das retas de degradação destas unidades críticas é
dado pela equação 1.
y = ax + b (Eq. 1)

Onde: y = vulnerabilidade ambiental, variando de 0 a 100; a e b = constantes para cada fator; x =


valor significativo encontrado (ROCHA, 1997).

Na metodologia utilizada, verificou-se a população totale a de idosos, considerados acima de


60 anos de idade, para o município de Sumé-PB, de acordo com os dados do IBGE (2010).Após,
calculou-se a população de idosos para a área total. Para quantificar o universo da pesquisa, levou-
se em conta a equação 2.

(Eq. 2)
Onde: n - amostra calculada; N – população; Z - variável normal padronizada associada ao nível de
confiança; p - verdadeira probabilidade do evento; e - erro amostral.

Para o cálculo dos parâmetros foram utilizados os seguintes valores: erro amostral de 5%,
Nível de confiança 95%, Percentual máximo de 5%.
Para poder distinguir as diferenças no decorrer do espaço-tempo, as arguições foram
estruturadas para o presente e para as mesmas questões, quais eram suas condições há 30 anos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas Figuras 2 e 3, observa-se dados relacionados às degradações dos fatores


socioeconômicos para as condições de passado e presente, respectivamente, pode-se observar que
no passado (Figura 2) o resultado demonstrou ser inferior ao que se passa no presente (Figura 3),
54,45% e 44,65% respectivamente.
Possivelmente, podem-se levar em consideração as condições socioeconômicas pretéritas,
não favorecerem o bem estar da população da época. Em se considerando esse fator, podemos
observar que a qualidade de vida na condição passada era inferior às condições atuais. O valor de
44,65% da vulnerabilidade social para o presente, pode ser reflexo positivo de alguns programas do
governo como o Programa de Saúde da Família (PSF), no entanto este valor ainda é considerado
alto.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 429


100,00
y = 0,5236x - 42,932

80,00

60,00 54,45%

40,00

20,00

0,00
70 120 170 220 270

Figura 2. Vulnerabilidade do fator socioeconômico para a condição do passado.

100,00
y = 0,6289x - 43,396

80,00

60,00
44,65%
40,00

20,00

0,00
50 100 150 200 250

Figura 3. Vulnerabilidade do fator socioeconômico para a condição do presente.

Com base nas respostas dos questionários observa-se no levantamento socioeconômico que,
a maioria da população idosa em tempos pretéritos não tinham acesso ao crédito bancário, ao
transporte, não recebiam assistência técnica dos órgãos competentes, nem a tratamentos médicos
adequados. Esses e outros fatores que são de suma importância para essa população, não eram
disponibilizados no passado, fazendo com quem eles não tivessem uma qualidade de vida adequada,
e isso possivelmente provocando um aumento na taxa de mortalidade à época.
Ao analisar a Figura 2, referente às condições socioeconômicas do presente, observa-se uma
melhora com diferença de quase 10%,no entanto, essa condição ainda não é satisfatória, embora a
qualidade de vida dos idosos atualmente é bem melhor em comparação ao passado. Devido às
baixas condições socioeconômicas e culturais, as quais foram constatadas, significa uma ampla
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 430
ausência de políticas públicas destinadas à assistência social e médica daquelas populações mais
afastadas dos centros urbanos desenvolvidos, ainda, demonstrando a relação das características
específicas do meio ambiente e fatores associados à expectativa de vida, elementos estes que
constituíram atenuantes para a diminuição e retratação da qualidade de vida deste grupo social
averiguado.
A partir da facilidade de acesso e oferta dos serviços públicos, mesmo em proporção
mínima, mas acima de tudo, preliminarmente ofertada, bem como as questões ligadas a melhoria da
qualidade de vida no sentido de valorização financeira e salutar, vinculada a uma maior opção de
conquista em relação aos fatores socioeconômicos, são certamente determinantes para assegurar
uma condição de vida melhorada, fazendo com que houvesse um maior aumento da expectativa de
vida, em virtude das melhorias básicas de qualidade dos elementos sociais, desde o acréscimo na
renda por criação de ações sociais, permitindo acesso a uma alimentação adequada e assistência
médica capaz de subsidiar o tratamento de doenças de natureza geriatra.
Destacar-se, que havia uma maior dificuldade em torno de quesitos que hoje são mais
acessíveis. Podemos perceber na vulnerabilidade socioeconômica apresentada, o baixo nível de
renda por aspectos de fragilidade no cultivo da terra, gerando uma agricultura ineficiente, sendo
esta, também, normalmente, a única fonte advinda para a sustentabilidade, acarretando
indisponibilidade de aquisição de alimentos e transporte. Pois sem renda agregada ao
desenvolvimento familiar, as dificuldades de consumo foram bem consolidadas, visto que
anteriormente era precária a falta de renda, ausência de energia elétrica, ausência total de
infraestrutura logística, oferta de educação inexistente para valorizar o ensino básico de formação e
alfabetização, evidenciando que a ação governamental, da época, não ofertava o mínimo de serviços
possíveis de prestação, no âmbito educacional e médica. Constata-se também a falta de
conhecimento da população idosa dos direitos básico e constitucionais, sobretudo, da inexistência
substancial de assistência social e estrutural, e desse modo, das oportunidades necessárias entre
outros fatores, são uma junção e espelho da menção dos dados apresentados e coletados.
Observa-se que, em decorrência de atenuantes que levaram à melhores condições de vida e
níveis de renda, acesso a programas sociais chancelados pelos poderes públicos, crescente
disponibilidade de acesso à água e outras variáveis, uma vez que melhorando as infraestruturas de
logística na área elétrica e de abastecimento de água, somado ao conjunto de medidas no sentido de
aperfeiçoar os ensinos educacionais, diminuindo a pobreza e garantindo uma qualidade de vida e
dignidade, contribuíram para um resultado favorável desses aspectos.
Como se observa nas Figura 4 e 5, de degradação ambiental, no passado, as condições
ambientais prevalecentes na cidade era de péssima qualidade (50%), devido, possivelmente, a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 431


vários fatores que contribuíram ainda mais para as vulnerabilidades sociais, econômicas e
ambientais.

100,00
y = 1,1905x - 30,952

80,00

60,00
50,00%

40,00

20,00

0,00
20 40 60 80 100

Figura 4. Vulnerabilidade do fator ambiental para a condição do passado.

100,00
y = 1,1628x - 27,907
80,00

60,00

39,53%
40,00

20,00

0,00
20 40 60 80 100

Figura 5. Vulnerabilidade do fator ambiental para a condição do presente.

Segundo Barbosa et al. (2005), os problemas ambientais causados pela sociedade, em seu
processo de construção e reconstrução de espaços geográficos, decorrem, sobretudo do modo como
as sociedades se apropriam da natureza, usam, destinam e transformam os recursos naturais.
Consiste numa questão de ordem política econômica e primordialmente de cunho cultural, pois a
sociedade age na natureza segundo os padrões ou costumes políticos, econômicos e culturais
criados por ela mesma. Além disso, esse processo pode levar a degradação das terras, proveniente
de atividades humanas. Essas práticas são responsáveis pelo aparecimento das erosões, que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 432


desencadeiam o processo de desertificação em estágio severo, os assoreamentos dos recursos
hídricos, além do êxodo rural.
Desse modo, as questões relacionadas à produção e destino do lixo, utilização dos recursos
naturais, hábitos e atitudes ecológicas fazem parte da agenda global e dos grandes desafios no
passado. Por suposto, para a condição do passado os resultados obtidos não foram satisfatórios, uma
vez que o valor da degradação foi de 50,0%, não obstante, naquele tempo não se tinha os recursos
necessários que se tem nos dias de hoje.
Observa-se que houve uma grande melhora referente aos dados coletados no passado, já que
diminuiu de 50% para 39,53%, que nesse caso já é considerado dentro do padrão. Possivelmente o
motivo dessa diferença deve-se ao aumento de recursos que foram surgindo no decorrer do tempo e
supostamente, a realização de projetos que ajudaram a conscientizar a população, promovendo, de
forma coordenada, o uso, proteção, conservação e monitoramento dos recursos naturais com vistas
ao desenvolvimento sustentável, que considere a capacidade dos ecossistemas em absorver os
impactos das atividades humanas, bem como entender a dinâmica dos elementos dos ecossistemas
sem comprometer a qualidade do ambiente para as gerações futuras.
Dessa forma, pode-se prever que futuramente os dados poderiam ser ainda melhores caso
continuasse nessa evolução, já que os dados anteriores não eram nada favoráveis, principalmente
em relação ao lixo, onde dados coletados demonstraram que a população não dava muita
importância ao mesmo, pois não tinham conhecimento suficiente para poder fazer algo que
melhorasse o ambiente em que viviam.
Observando as Figuras 6 e 7 referente avulnerabilidade do fator condições e conhecimentos
pessoais para a condição do passadoe do presente, observa-se 42,86% e 60% respectivamente, esse
fator apresentou o pior resultado em comparação aos outros estudados. Nota-se um grande aumento
na péssima condição de vida que a população idosa tinha naquelaépoca, e se permanecer desta
forma, futuramente os dados poderão ser ainda piores.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 433


100,00
y = 14,286x - 42,857

80,00

60,00
42,86%
40,00

20,00

0,00
0 2 4 6 8 10 12

Figura 6. Vulnerabilidade do fator condições e conhecimentos pessoais para a condição do passado.

100,00 y = 20x - 40

80,00

60,00%
60,00

40,00

20,00

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8

Figura 7. Vulnerabilidade do fator condições e conhecimentos pessoais para a condição do presente.

CONCLUSÕES

Por este trabalho pode-se concluir que:


Os resultados relacionados à degradação do fator socioeconômico para as condições do
passado foi de 54,45% e do presente foi de 44,65%.
Os resultados relacionados a degradação ambiental no passado foi de 50% e no presente foi
de 39,53%.
Os resultados referente a vulnerabilidade do fator condições e conhecimentos pessoais para
a condição do passado e do presente, observa-se 42,86% e 60%, respectivamente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 434


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, P. M. de; Mochel, E. G.; Oliveira, M. do S. S. (2011). O idoso pelo próprio idoso:
percepção de si e de sua qualidade de vida. RevistaKairósGerontologia, 13(2), 99-113.

BARBOSA, M. P.; FERNANDES, M. F. de.; SILVA, M. J.; GUIMARÃES, C. L.; COSTA, I. C.;
Diagnóstico Socioeconômico Ambiental da APA Chapada do Araripe: Ceará, Pernambuco e
Piauí. Projeto APA. Convênio: ATECEL/GRUPO GESTÃO. Campina Grande, PB. 2005.

Bowling, A. (2008). Enhancing later life: How older people perceive active ageing? Aging&
Mental Health, 12(3), 293-301.

Bosi, E. (1994). Memória e sociedade – lembranças de velho. São Paulo: Companhia das Letras.

Demakakos, P.; Gjonca, E.; Nazroo, J. (2007). Age identity, age perceptions, and health. Annals of
the New York Academy of Sciences, 1114, 279-287.

De Gracia Blanco, M.; Olmo, J.;Arbonès, M.; Bosch, P. (2004). Analysis of selfconcept in older
adults in different contexts: Validation of the Subjective Aging Perception Scale (SAPS).
European Journal of Psychological Assessment, 20(4),262-274.

Fonseca, A.F. Corbo, A.A (org).O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro, EPSJV-
Fiocruz, 2007.

IBGE. (2002).Dados da população brasileira. CD-ROM: Rio de Janeiro.

Laidlaw, K.;Pachana, N. A. (2009). Aging, mental health, and demographic change: Challenges for
psychotherapists. Professional Psychology: Research and Practice, 40(6), 601-608.

MOREIRA, E.F. e ARAÚJO, L.F. de. Intervenção psicossocial na qualidade de vida de idosos com
vulnerabilidade sócio-ambiental. In: Anais do I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária.
UFPB-PRAC, João Pessoa-PB, 2002.

Rohr, M. K.; Lang, F. R. (2009).Aging Well Together – A Mini-Review. Gerontology, 55(3), 333-
343.

Rocha, J.S.M. da.(1997). Manual de Projetos Ambientais. Santa Maria: Imprensa Universitária.

Vale, E. (1998). A velhice e o futuro: os novos velhos do terceiro milênio. São Paulo. Revista
Terceira Idade, 23, (10).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 435


Yassine, I. M. C. A auto percepção do envelhecimento e os traços de personalidade em idosos.
2011. Dissertação. (Mestrado integrado em Psicologia). Universidade de Lisboa – Faculdade de
Psicologia, 71p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 436


ALELOPATIA: FORMA ALTERNATIVA NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

Renata Ranielly Pedroza CRUZ


Graduanda em Agronomia, CCA/UFPB
renataranielly426@gmail.com
Begna Janine da Silva LIMA
Mestranda em Ciência do Solo do CCA/UFPB
begna.agro@gmail.com
Manoel Bandeira de ALBUQUERQUE
Professor do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do CCA/UFPB
manoel@cca.ufpb.br
Thais Michelle Barboza PEREIRA
Graduanda em Ciências Biológicas, CCA/UFPB
tm.michelle@hotmail.com

RESUMO
A preocupação com a qualidade dos alimentos que ingerimos vem crescendo a cada dia, visto que
muitos alimentos para terem boa produtividade no campo e aparência nas gôndolas dos mercados
precisam receber uma forte carga de agrotóxicos. Dentre estes, causam apreensão os herbicidas, que
são agroquímicos destinados ao combate de plantas invasoras que disputam espaço, água e
nutrientes com as culturas de interesse. Nos últimos dez anos a venda de herbicidas aumentou cerca
de 70%. Tal cenário desperta a necessidade de se buscar novas alternativas para o controle de
plantas daninhas. Destaca-se aqui a possibilidade do uso da alelopatia, que é a influência de uma
espécie vegetal sobre a outra a partir da liberação de substancias do metabolismo secundário e que
podem inibir o desenvolvimento de potenciais competidores. A literatura corrente aponta vários
estudos sobre a influência dos aleloquímicos em plantas daninhas. O presente trabalho consiste em
uma revisão literária sobre os estudos da alelopatia de vários autores com o objetivo de saber qual o
nível de conhecimento e utilização da mesma.
Palavras-chave: controle alternativo, substâncias aleloquímicas, bioherbicida.

ABSTRACT
The preoccupation with the quality of food we eat is increasing, seen that many foods to have good
productivity in the field and appearance in shelving of the supermarkets need receive a strong
charge of pesticide. Among these, induce apprehension the herbicides, are agrochemicals destined
to combat the invasive plants that dispute for space, water and nutrients with other cultures of
interest. In the last ten years the selling of herbicides increased in about 70%. Such scene waken the
necessity of research of news alternatives in the weed plants control. The possibility in use of the
allelopathy, which is the influence of the plant species on the others starting with release of

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 437


substances of the secondary metabolism and can inhibit the growth of competitive potential weed
plants, deserve special attention. The current literature points many studies about the influence of
the allelochemicals in weed plants. This work is showing a literature revision on the studies about
allelopathy of diverse authors aiming to know the level of knowledge and using of the same.
Keywords: alternative control, allelopathic substances, bioherbicide.

INTRODUÇÃO

Aliada a preocupação com a qualidade sanitária dos alimentos, existe a necessidade de


manutenção de altas produtividades para garantir o abastecimento das gôndolas dos supermercados
e feiras-livres. Sendo assim, não é incomum encontrarmos agricultores que usam agrotóxicos sem a
devida precaução, utilizando muitas vezes aqueles que não são indicados para determinadas
culturas, em dose excessiva ou até mesmo sem respeitar o período de carência do produto. Este
descontrole no uso de agroquímicos além de por em risco a saúde do consumidor, resulta numa
contaminação generalizada do solo e corpos hídricos, comprometendo assim muitas das funções do
ambiente em que estão sendo aplicados (PESSOA et. al, 2003).
Agrotóxicos são definidos pelo Decreto Federal Brasileiro nº 4.074 de 04 de janeiro de 2002
como:

―produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos


setores de produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agrícolas, nas
pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas e de outros ecossistemas e de
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora
ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem
como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores do crescimento das plantas.‖

A utilização de agrotóxicos na agricultura é datada desde 1200 a.C. com fins destrutivos,
pois era uma mistura de sal com cinzas aplicadas em terras utilizadas por exércitos bíblicos contra
seus inimigos, deixando a terra infértil, facilitando a sua conquista. Suas principais funções são o
controle ou morte total de um organismo vivo (animal ou vegetal). Em muitos pólos agrícolas, por
exemplo, 95% da agricultura familiar faz uso dos agrotóxicos, resultando em cerca de 20% de casos
de pessoas intoxicadas (VARGAS et. al , 2013). Há diversas classificações para os agrotóxicos
(orgânicos/inorgânicos), mas a que mais interessa em relação a produtividade, são os herbicidas que
atuam no controle direto ou indireto de plantas daninhas, os quais são produtos químicos capazes de
matar plantas em grandes escalas. O seu uso industrial é datado do ano de 1944, quando se
descobriu que a molécula 2,4-D (2,4-diclorofenoxiacético) apresentava propriedades tóxicas. Um
levantamento feito por Lorenzi (2006) aponta que existe cerca de 50 princípios ativos e inúmeras

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 438


formulações de herbicidas, os quais se forem utilizados de maneira correta, promoverão boa
rentabilidade da atividade agrícola, caso contrário, poderão causar grandes perdas e intoxicações.
As plantas alvo dos herbicidas são comumente conhecidas como plantas daninhas, que são
definidas como aquelas que nascem em local inapropriado, muitas vezes competindo com a cultura
agrícola ou causando poluição visual em parques e jardins. Em outras palavras, toda aquela que se
desenvolve onde não são desejadas. Lorenzi (2006) as descreve como aquelas que disputam espaço,
água e nutrientes com as culturas de interesse, sendo chamadas de plantas daninhas verdadeiras
(apresentam agressividade) ou quando são sementes de culturas que ficam no solo que irão aparecer
ao ocorrer um consórcio com outra, chamadas de plantas não verdadeiras (apresentam baixa
agressividade).
É sabido que o uso indiscriminado de herbicidas em lavouras faz com que as plantas
daninhas se tornem extremamente resistentes, ou seja, o uso contínuo desses produtos faz com que a
planta ao longo dos anos não seja mais afetada por sua composição. No Rio Grande do Sul, o uso
excessivo por 10 anos de glyphosate fez com que Euphorbia heterophylla conhecida vulgarmente
como leiteira, comum em plantações de soja se tornasse resistente a este herbicida (VARGAS. et al
, 2013).
Plantas daninhas crescem disputando recursos com as culturas, ocorrendo uma redução no
tamanho das plantas, além da perca de nutrientes, água e CO2, sendo exercidas por meio de
substâncias químicas (LORENZI, 2006), que são denominadas de aleloquímicos (PIRES et al.,
2001), originadas no metabolismo secundário e são de diversas classes químicas (por exemplo,
taninos, glicosídeos cianogênicos, alcalóides, sesquiterpenos, flavonóides e ácidos fenólicos)
(ALVES et al., 2004; KING E AMBIKA, 2002). Tal cenário vem sendo estudado por vários
autores no controle de plantas invasoras indesejáveis na plantação de culturas agrícolas que podem
ser controladas com o uso de plantas daninhas, sendo uma mudança que pode ser uma nova
alternativa em sistemas agroecológicos (ALBUQUERQUE et al., 2011; VASCONCELOS et. al.,
2009). Atualmente sabe-se que o centeio, trigo, girassol, sorgo e arroz são culturas com alto
potencial alelopático utilizadas no controle de algumas plantas daninhas (ALBURQUEQUE et al.,
2011; CHEEMA e KHALIQ, 2000).
Este trabalho consiste em uma revisão de literatura sobre os estudos de alelopatia nos
últimos anos e suas contribuições para o meio científico.

AVANÇOS DA ALELOPATIA AO LONGO DOS ANOS

Capacidade alelopática da Leucena (Leucaena leococephala) sobre plantas daninhas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 439


Estudos realizados por Pires (2001) testando as propriedades alelopáticas da leucena
(Leucena leococephala) em plantas daninhas: Desdmodium purpureum (desmódio), Bidens pilosa
(picão-preto) e Amaranthus hybridus (caruru), realizando ensaios em casa de vegetação e em
laboratório com a preparação de extratos com as folhas e caules jovens da planta alelopática, diluída
nas concentrações de 100, 50, 25, 12,5% mostraram que em laboratório, das espécies estudadas, as
sementes de desmódio não germinaram nas concentrações de 50 e 100%, resultado que pode
explicado pelo fato das sementes de desmódio apresentarem uma dormência que não foi quebrada
com o uso de escarificação. O caruru foi o que apresentou maior sensibilidade ao extrato. No teste
em casa de vegetação, onde houve adição do extrato e o revolvimento do substrato, o extrato nas
concentrações de 50 e 100% também foram os que se apresentaram como mais prejudiciais as
plantas daninhas, das espécies estudadas o picão preto e o caruru apresentaram redução no seu
crescimento. Nesse estudo comprovou-se que as propriedades alelopáticas da leucena sobre as
plantas daninhas são mais eficientes com o uso do filtro, mas que no revolvimento com o solo
também obtêm bons resultados, apresentando-se como uma prática futurística no controle de plantas
daninhas em plantações.
Mauli (2009) também conduziu experimentos com o uso do extrato aquoso utilizando
Leucena (Leucaena leococephala) sobre picão preto (Bidens pilosa), guaxuma (Sida rhombifolia
L.) e corda de viola (Ipoemoae grandifolia) que são plantas daninhas comuns na cultura da soja.
Houve a preparação de dois tipos de extrato: quente e frio, sendo trituradas as folhas da Leucena
com obtenção de 200g para em 1L em água em temperatura ambiente para o extrato frio e água em
temperatura de 80ºC para o extrato quente, este extrato permitiu a obtenção das seguintes
concentrações 0% (testemunha - água destilada), 20%, 40%, 60%, 80% e 100%. O experimento foi
conduzido em câmara B.O.D. com o auxílio de papel Germitest. Os resultados obtidos mediante
este experimento para a guaxuma foram que as concentrações do extrato frio a partir de 60% e do
quente na concentração de 80% proporcionaram redução na germinação das sementes, no caso do
comprimento médio da raiz, as concentrações 40 e 60% de ambos extratos reduziram seu
crescimento. O picão preto mostrou redução na germinação a partir da concentração de 40% e
redução no crescimento da raiz nas concentrações de 20 e 40% de ambos extratos. A corda de viola
não houve diferença significativamente em relação a germinação, porém as concentrações de 80 e
100% afetou diretamente o comprimento das raízes, concluindo-se que no caso desta última
invasora a Leucena não afeta a sua germinação, no entanto, afeta seu desenvolvimento.

Controle de plantas daninhas com propriedades alelopáticas de Canola (Brassica napus L.)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 440


Rizzard et al. (2008a) realizou estudos sobre o potencial alelopático de Canola (Brassica
napus L.) sobre picão-preto (Bidens spp.), utilizando-se partes vegetativas da planta (folhas, caules
e raízes), secando e triturando-as, obtendo-se o pó e acrescentando-se 1L de água destilada e
diluindo nas concentrações de 0% (água destilada), 20%, 40%, 60%, 80% e 100%. Realizando
também, um segundo experimento que consistia na união do extrato aquoso com palhas verdes
coletadas em uma plantação de Canola, seguindo o mesmo procedimento do primeiro experimento,
fazendo avaliações diárias em ambos. O efeito mais notório da ação alelopática da Canola em
picão-preto, apresentou-se no extrato feito com partes secas na concentração de 60 a 100%, onde
ocorreram poucas germinações, pois a família das brassicáceas, a qual pertence a Canola possui três
compostos alelopáticos conhecidos (glucosinolatos em isotiocianatos e tiocianatos) que durante sua
degradação inibe a germinação de plantas. Em relação ao extrato aquoso preparado com folhas, este
mostrou-se mais eficiente, reduzindo cerca de 80% da germinação, seguido pelo extrato de caule
com 60% e de raízes com 46%, apresentando assim resultados efeito sobre as plantas daninhas,
podendo ser uma forma alternativa de controle, diminuindo o uso dos herbicidas sintéticos.
Rizzard et. al (2008b) elaborou novos estudos alelopáticos com Canola, com extratos
obtidos de treze genótipos, cultivados e manejados pelos próprios pesquisadores, os quais foram
lavados após sua floração, cortados e congelados, depois triturados, colocados em vidros e postos
mais uma vez para congelar até que fossem usados para não haver perdas nas suas propriedades
alelopáticas. O mesmo processos de assepsia realizou-se para o picão-preto (Bidens pilosa) que logo
em seguida foi preparado para germinar recebendo cerca de 8mL do extrato que foi diluído em
cinco concentrações (0%- água destilada, 25%, 50%, 75% e 100%). Os resultados mostraram que
houve efeito negativo da Canola sobre o picão-preto, onde medida que se aumentou a concentração
de 0% para 100%, os aquênios da planta alvo reduziram a velocidade do tempo de germinação e o
comprimento e suas raízes.

Uso das propriedades alelopáticas do Nim indiano (Azadiracha indica) no controle de plantas
daninhas

Melo Filho (2013) realizou estudos sobre o efeito alelopático de Nim indiano (Azadirachta
indica) e Algaroba (Prosopis juliflora) sobre Erva quente (Spermacoce latifolia), Anileira
(Indigofera hirsuta), Muçambê (Cleome spinosa), Jureminha (Desmanthus virgatus), Fedegoso
(Senna occidentalis L.) e Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus L.), através da preparação do
extrato aquoso (100%) diluído em nas concentrações de 25 , 50 , 75 % , utilizando água como
testemunha (0%), observou-se que o Nim indiano e Algaroba tiveram efeito alelopático na
germinação das sementes e tamanho das radículasem todas as espécies de plantas daninhas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 441


Garcia Neto (2013) ao trabalhar com o potencial alelopático do Nim indiano (Azadirachta
indica) sobre plantas daninhas, observou que este possui um efeito negativo na germinação de
plantas daninhas, apresentando uma ação alelopática com maior potencialidade nas concentrações
mais baixas e variando de espécie para espécie, confirmando estudos realizados por Silva et. al,
(2007) o qual concluiu que o potencial inibitório do Nim indiano (Azadirachta indica) é capaz de
afetar a germinação e índice de velocidade de germinação de feijão, sorgo, alface e picão-preto.

Efeitos alelopáticos do Cumaru-do-Ceará (Amburana cearenses) em plantas daninhas

Felix (2012) estudou as propriedades alelopáticas da Amburana cearenses mais comumente


conhecida com Cumaru-do-Ceará, como forma alternativa de controle de picão-preto (Bidens
pilosa) e carrapicho (Cenchrus echinatus L.) que rapidamente se multiplicam pela grande dispersão
de suas sementes, evitando o uso exacerbado de herbicidas. Seguindo uma metodologia diferente da
usada por Neto (2013), usando sementes da planta e conduzindo experimentos tanto em casa de
vegetação como em laboratório, onde com o pó obtido das sementes da A. cearenses preparou-se
dois tipos de extratos (o aquoso fervido e o triturado). Com exceção da testemunha todos os demais
tratamentos que consistiam em um extrato aquoso com porcentagem do pó das folhas e água
destilada, inibiram totalmente a germinação das plantas daninhas. No caso do experimento em
laboratório com exceção da testemunha e do tratamento com cumarina, todos os demais inibiram a
germinação das plantas daninhas. Assim sendo, para estudos agronômicos a A. cerenses é de grande
importância por possuir grande potencial na inibição da germinação das plantas daninhas, sendo
necessário outros estudos com espécies diferentes para real afirmação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir diante do levantamento de trabalhos realizados nos últimos anos que os
estudos sobre alelopatia apresentam uma grande diversidade, devido ao aumento na preocupação
dos consumidores com os alimentos ingeridos, a alelopatia tornou-se alvo de estudos para que
futuramente seja utilizada como alternativa no controle de plantas daninhas diminuindo o uso dos
herbicidas sintéticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, M. B.; SANTOS, R. C. ; LIMA, L. M.; FILHO, P. A. M.; NOGUEIRA, R.J. M.


C.; CÂMARA, C. A. G.; RAMOS, A R.. Allelopathy, an alternative tool to improve cropping
systems. Agronomy for Sustainable Development. v.30, n.4.2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 442


ALVES, M.C.S., MEDEIROS FILHO, S., INNECCO., TORRES, S.B., 2004. Alelopatia de
extratos voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. Pesq. Agropec.
Bras. 39, 1083-1086.

CHEEMA Z.A.; KHALIQ A. (2000) Use of sorghum allelopathic properties to control weeds in
irrigated wheat in a semi arid region of Punjab. Agriculture, Ecosystems & Environment, v.79,
p.105–112.

FELIX, Rozeli Aparecida Zanon. EFEITO ALELOPÁTICO DE EXTRATOS DE Amburana


cearensis (Fr. All.) AC Smith SOBRE A GERMINAÇÃO E EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS.
2012. Tese de Doutorado. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA.

KARAM, D., DA CRUZ, M. B. & ANTÔNIO, M. Manejo de plantas daninhas na cultura do milho,
2006.

KING,S.R.; AMBIKA,R. Allelopathicplants. 5. Chromolaena odorata(L.). Allelopathy Journal,


Philadelphia, v.9,n.1, p.35-41,2002.

MAULI, M. M.; FORTES, A. M. T.; ROSA, D. M.; PICCOLO, G.; MARQUES, D. S.;
CORSATO, J. M.; LESZCZYNSKI, R. Alelopatia de Leucena sobre soja e plantas invasoras.
Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 30, n. 1, p. 55-62, 2009.

MELO FILHO, M. A. O; Albuquerque, M. B. Avaliação do potencial alelopático de algumas


espécies vegetais no controle de ervas daninhas da cultura do amendoim. In: Resumos dos
trabalhos do XXI Encontro de Iniciação Científica da UFPB/ Bernadete de Lourdes Figueiredo
de Almeida (Org.). João Pessoa: Editora da UFPB, p64, 2013.

GARCIA NETO, S. Efeito do extrato aquoso das folhas de Nim indiano (Azadirachta indica) sobre
o crescimento inicial de plantas daninhas. 2014.

PESSOA, Maria Conceição Peres Young et al. Identificação de áreas de exposição ao risco de
contaminação de águas subterrrâneas pelos herbicidas Atrazina, Diuron e Tebutiuron. Pesticidas,
v. 13, p. 111-122, 2003.

PIRES, N. M.; PRATES, H. T.; PEREIRA FILHO, I. A.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. S.; FARIA T. C.
L. . Atividade alelopática da leucena sobre espécies de plantas daninhas. Scienta Agrícola,
Piracicaba, v.58, n.1, p.61-65, jan/mar, 2001.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 443


RIZZARDI, M. A.; NEVES, R.; LEMB, T. D.; JOHANN, L. B. Potencial da cultura da Canola (
Brassica napus L.) na supressão de picão-preto (Bidens sp.) e soja. Revista Brasileira
Agrociência, Pelotas, v.14, n.2 , p.239-248, abr-jun, 2008. (a)

RIZZARDI, A. et al. Potencial alelopático de extratos aquosos de genótipos de canola sobre Bidens
pilosa. Planta daninha, v. 26, n. 4, p. 717-724, 2008. (b)

SILVA, J. de P. da; CROTTI, A. E. M.; CUNHA, W. R. Antifeedant and allelopathic activities of


the hydroalcoholic extract obtained from Neem (Azadirachta indica) leaves. Revista Brasileira
de Farmacognosia Brazilian Journal of Pharmacognosy. 17(4): 529-532, Out./Dez. 2007.

SOUZA FILHO, A. P. S. Atividade potencialmente alelopática de extratos brutos e hidroalcoólicos


de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes). Planta Daninha, Viçosa, v.20 , n.3 , p. 357-64, 2002.

SOUZA FILHO, A. P. S.; ALVES, S. M. Potencial alelopático de plantas de acapu ( Voaucapoua


americana): efeito sobre plantas daninhas de pastagens. Planta Daninha, Viçosa, v.18, n.3, p.435-
441, 2000.

VASCONCELOS, F.M.T.; ALBUQUERQUE, M. B.; MELO FILHO, P.A.; SANTOS, R. C.


(2009). Ação alelopática de extratos aquosos de Croton sonderianus sobre a germinação e
crescimento de duas espécies daninhas do algodoeiro. In: VII Congresso Brasileiro do Algodão,
2009, Foz do Iguaçu. Anais do VII Congresso Brasileiro do Algodão. Campina Grande:
Embrapa Algodão, 2009. p. 1775-1780.

VARGAS, L. et al. Práticas de Manejo de Resistência de Euphobia heterophylla aos Inibidores da


ALS e Tolerância ao Glyphosate no Rio Grande do Sul. Planta Daninha, Viçosa-MG, v.31, n.2,
p.427-432, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 444


Tratamento de Resíduos, Saneamento e
Reciclagem

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 445


A IMPORTÂNCIA DO SANEAMENTO BÁSICO, DA PARTICIPAÇÃO DA
SOCIEDADE CIVIL E DAS GESTÕES PÚBLICAS

Marcones Madruga FARIAS


Mestrando em Educação e Tecnologia IFSul Pelotas
marconesfarias@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo discutir sobre a Lei 11.445 de 2007, que trata do Plano Nacional
de Saneamento Básico, abordando três dos quatro componentes básicos contemplados por ela –
abastecimento e tratamento de água; coleta e tratamento de esgotos; e resíduos sólidos. Buscar-se-á
questionar de que maneira é possível seu cumprimento, quais estratégias e que ações por parte das
Administrações Públicas e também da Sociedade Civil deverão ser articuladas para obdecer as
diretrizes impostas pela Lei e alcançar metas estabelecidas. O assunto é motivo de preocupação no
mundo inteiro e se tornou um grande desafio para as Administrações Públicas de todas as esferas,
pois impacta diretamente no meio ambiente e na saúde pública, alterando as condições de vida da
população, e interferindo na qualidade de vida e no viver em harmonia com a natureza. Observa-se
que só teremos resultados satisfatórios se realmente houver investimentos em Políticas Públicas e
na mobilização da Sociedade Civil organizada em reivindicar seus direitos que lhe é assegurado
pela Constituição Brasileira e também em cumprir o papel que lhe cabe como cidadão.
Palavras-Chave: Saneamento Básico,Sociedade Civil, Administrações Públicas .

ABSTRACT
This article aims to discuss the Law 11.445/2007, which is about the National Sanitation Plan, and
debates on three of the four basic components contemplated by it – water supply and treatment;
sewage collection and treatment; and solid waste. The objective is to question how it is possible to
implement the Law, what Public Administration and Civil Society strategies and actions should be
articulated to fulfill the Act guidelines. The matter is of concern worldwide and has become a major
challenge for all levels in the Public Administrations since it directly impacts on the environment
and in public health by changing population living conditions, and interferes in life quality and in
the relation human and nature. It is observed that we only will have really satisfactory results if
investments in Public Policy and in Civil Society mobilizations organized in claiming their rights
that are guaranteed by the Brazilian Constitution.
Keywords: Sanitation, Civil Society, Public Administration.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 446


INTRODUÇÃO

Sancionada em 5 de janeiro de 2007, e regulamentada pelo decreto nº 7.217, de 21 de


junho de 2010, a Lei 11.445 torna-se uma das mais importantes referentes às questões ambientais,
pois contempla quatro componentes básicos do cotidiano da população: 1) abastecimento e
tratamento de água, 2) manejo de água pluvial (drenagem urbana), 3) coleta e tratamento de esgotos
e 4) resíduos sólidos. Desta forma, ela envolve diretamente meio ambiente e saúde, bem como
influencia assim diretamente em todos os ecossistemas.
Num primeiro momento, buscar-se-á refletir a sobre a importância da água e o porquê de
termos chegado à situação atual, sem nenhum tipo de tratamento, ou até mesmo sem acesso a ela.
Posteriormente, traremos dados sobre a realidade vivida pela população, referentes ao saneamento
básico, especificamente a água e esgotamento sanitário.Logo após discutiremos sobre resíduos
sólidos abordando Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS – Lei nº 12.305, de 02 de agosto
de 2010. Finalizaremos o presente artigo discutindo estratégias e ações por partes dos gestores
públicos e da sociedade civil, tendo em vista obter os bons resultados diante das diretrizes
nacionais estabelecidas pela Lei.
Para que as atuais diretrizes possam ser melhor entendidas, faz-se também necessário
conhecer o histórico das políticas públicas voltadas às questões ambientais a partir da década de
1980, sendo que Plano Nacional de Saneamento Básico – PNSB – é integrante de uma delas, a da
Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA, Lei nº. 6.938/81, que no Art 2º, diz para que veio:

[...] a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] I - ação governamental na
manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio
público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; [...] II
- racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; [...] Ill - planejamento e
fiscalização do uso dos recursos ambientais; [...] IV - proteção dos ecossistemas, com a
preservação de áreas representativas; [...] V - controle e zoneamento das atividades
potencial ou efetivamente poluidoras; [...] VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de
tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; [...] VII -
acompanhamento do estado da qualidade ambiental; [...] VIII - recuperação de áreas
degradadas; [...] IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; [...] X - educação
ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente [...].

Assim, institucionalizou-se uma Legislação com a finalidade de fomentar Políticas Públicas


voltadas à preservação do meio ambiente. Os objetivos são de garantir a preservação e a
manutenção de todas as espécies vivas do planetas, bem como uma primar por uma relação
harmonioza com a natureza, ratificada na Constituição de 1988, conforme lemos no artigo 225:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 447


[...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Nesse sentido, o Plano Nacional de Saneamento Básico traz objetivos, diretrizes e metas
visando a regrar as ações empreendidas para tal fim, sendo ele integrante da Política Nacional do
Meio Ambiente –PNMA, LEI nº 6.938/81 os quais são analisados nesse artigo. Também, pensar-se-
á a questão da Educação Ambiental, também prevista por lei, nesse processo, a qual contribui para
as mudanças de atitudes do ser humano em relação ao ambiente.

ELEMENTO ÁGUA

Conforme LEFF,

[...] a água é a origem da vida. Mais de 75% do planeta e do corpo humano são compostos
por água.Antes de nascer vivemos envoltos em água no útero materno. A água é
fundamental para a manutenção da vida.A água é, junto com o ar, a terra e o fogo, um dos
elementos constitutivos do mundo que habitamos.A água circulou livre e abundante,
alimentando a vida no planeta.E, no entanto, a supereconomicização do mundo transformou
a abundancia em escassez.Depois do ouro negro e do ouro verde, hoje a água surge na
superfície do mercado como ouro azul.Para isso foi necessário produzir sua escassez, para
inserilá na lógica da economia (Leff, 2010, p.109).

Diante do exposto acima, podemos refletir sobre a importância que a água tem para a
manutenção de todas as formas de vida no planeta e de como ela foi usada de forma irracional
devido a sua fartura, tornando-a escassa, e consequentemente trazendo sérios problemas atualmente
para o planeta.
Nesse sentido Leff, também afirma que,

[...] hoje, a poluição e a falta de água aparecem, juntamente com o aquecimento da


atmosfera, a perda da biodiversidade e a desertificação das terras, como um fator crítico da
sustentabilidade do planeta (Leff, 2010, p.109).

No entanto, diante dos problemas ambientais da atualidade, estão presentes relacionados a


água, o que necessita que sejam tomadas medidas urgentes, visando ao uso e abastecimento desse
recurso, o que é fundamemtal inteligência e competência na gestão dos recursos hídricos, pois o
consumo aumenta alarmantemente em relação a população, conforme Leff,

[...] o consumo de água duplica a cada vinte anos em relação ao crescimento demográfico
(a população mundial cresceu três vezes mais desde os anos 1950 enquanto a demanda de
água aumentou seis vezes). Essas cifras indicam que quanto mais o mundo se economiciza,
mais água é consumida (Leff, 2010, p.109).

A partir da análise da questão da importância da água para a sobrevivência de todos os seres


vivos do planeta, e da preocupação quanto a seu consumo, também sabe-se que a qualidade é outra
questão a ser tratada. Segundo dados do IBGE, um quarto da população no Brasil não possui acesso
a água tratada, comprometendo assim a saúde das pessoas e o meio ambiente. Assim, investir em
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 448
saneamento básico é mais do que uma simples obrigação por parte dos gestores públicos, e sim
uma questão urgente de saúde publica e meio ambiente.Vivemos graves problemas, pois segundo
Leff, vivemos um paradoxo latino-americano, já que temos escassez de água em uma terra com
importantes recursos aquáticos naturais, no entanto,

[...] mais de 130 milhões de pessoas carecem de abastecimento de água potável em suas
casas, e calcula-se que somente uma pessoa de cada seis conta com redes de saneamento
adequadas. A cidade de São Paulo, em que pese pertencer ao país com mais mananciais de
água doce do mundo, enfrenta uma grave ameaça de racionamento, pois seu abastecimento
de água depende de fontes que estão cada vez mais distantes da cidade, e o custo do
transporte supera a capacidade aquisitiva de muitos habitantes (Leff, 2010, p.113).

A análise feita pelo autor, que data de 2010, serve como um prognóstico que acabou se
confirmando, pois a cidade de São Paulo vive atualmente esse dilema. É preciso também entender
que esses acontecimentos negativos tem a conivência por parte dos gestores públicos, pois além de
não articularem medidas preventivas a longo prazo para que isso não ocorra, são inoperantes no ato
de regrar e fiscalizar o uso desse recurso.
Nesse sentido afirma Leff,

[...] no entanto, hoje em dia, o metabolismo da água e dos ecossistemas não apenas é
alterado pelas grandes represas, ou pelo simples crescimento demográfico e suas demandas
incrementadas de água, mas pelos efeitos da crescente intervenção do sistema econômico
sobre a natureza através dos fluxos e refluxos da água que alimenta os processos industriais
e comerciais (Leff, 2010, p.114).

Cabe a população de forma organizada reivindicar seus direitos, exigindo dos gestores
principalmente dos locais, um planejamento que lhe garantam acesso a água tratada e a canalização
e tratamento de esgoto, mas isso por si só não resolve pois é necessário . Isso implica na elaboração
dos Plano Municipal de Saneamento Básico que deve ser construído de forma democrática e
participativa.

RESÍDUOS SÓLIDOS – OUTRO DESAFIO PARA TODOS NÓS

O crescimento da população mundial ocorrida nos últimos anos, principalmente na migração


para a cidade, interfere diretamente no aumento da relação produção e consumo, que por sua vez
impacta na geração de resíduos sólidos (BRASIL, 2013, p.24). Em meio a este contexto torna-se
imprescindível o descarte e o destino final adequado dos detritos gerados pelo ser humano.
Um importante tema referente às questões ambientais tem sido pauta de discussões em
conferências municipais, estaduais e federais, envolvendo ambientalistas, empresários, o poder
público e a sociedade civil, o qual diz respeito à forma de como se deve ―tratar‖ os resíduos sólidos.
E essa preocupação toma conta das agendas públicas, associada ao crescente aumento da população,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 449


principalmente urbana, o que impacta no aumento do uso de matérias-primas e consequentemente
na geração se resíduos sólidos.
Na intenção de buscar soluções para a problemática ambiental anunciada, o Governo
Federal, depois de vinte e um anos de discussões, negociações e participação social na elaboração
das políticas públicas, envolvendo o setor produtivo e a sociedade civil instituiu a Política Nacional
de Resíduos Sólidos – PNRS – pela Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Cabe destacar seu Art.
1º, que diz :

[...] Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão
integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluída os perigosos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos
aplicáveis.

Não é necessária muita pesquisa e teoria para chegarmos à conclusão de que o ser humano
ainda está muito longe de perceber que ele é parte da solução do problema. Isto se manifesta pelas
atitudes de gerar resíduos sólidos de maneira desenfreada e muitas vezes não dando o destino final
ambientalmente correto. Porém, a implantação da Legislação procura disciplinar de modo
integrado, ou seja, atribuindo responsabilidades aos geradores, sendo eles poder público, pessoas
físicas ou jurídicas, sejam elas direta ou indiretamente ligadas à geração dos Resíduos Sólidos.
Além disso, em relação à gestão local dos detritos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos –
PNRS – determina que por ser de competências dos municípios, eles devem elaborar seus próprios
planos de resíduos sólidos. O mesmo é denominado Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos – PMGIRS, e deve contemplar o conteúdo mínimo descrito na PNRS, devendo
ser compatíveis com realidade local.
Assim toda a sociedade brasileira é responsável pela gestão integrada e pelo gerenciamento
dos resíduos sólidos, o que na Lei apresenta-se, como três conceitos cruciais:gestão integrada de
resíduos sólidos, responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e logística
reversa.A gestão integrada dos resíduos sólidos tem como objetivo sob a responsabilidades dos
entes federados, de elaborar planos que atendam questões como coleta seletiva, reciclagem,
inclusão social e participação da sociedade civil durante a elaboração, implementação e
monitoramento, estabelecendo, inclusive, meios de controle e fiscalização da sua implementação e
operacionalização.Cabe destacar aqui, a importância na Lei é a inclusão social dos catadores de
materiais recicláveis.Segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos(2011), estimava que no Brasil
existam em torno de 600 mil, desempenhando assim um relevante serviço no processo de
reciclagem.
Nesse sentido, a sociedade civil desempenha um papel fundamental na gestão dos resíduos
sólidos na medida que é responsável, de acordo com a Lei, pela separação dos resíduos para a coleta
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 450
seletiva, e também na devolução após uso de embalegens facilitando a logistiva reversa. Na Carta
de Belgrado foi definido como um dos seis objetivos indicativos da educação ambiental, conforme
Marcos Reigota, a

[...] participação – levar indivíduos e grupos a perceber suas responsabilidades e


necessidades de ação imediata para a solução dos problemas ambientais. Procurar nas
pessoas o desejo de participar na construção de sua cidadania. Fazer com que as pessoas
entendam os deveres que todos têm com uma melhor qualidade de vida (Reigota, 1998,
p.34).

Dessa forma, é fundamental que a articulação da sociedade civil organizada reivindiquem o


investimento em políticas públicas, no que tange ao plano de saneamento básico,alcançando assim
importante e vital para a manutenção do equilíbrio ambiental e da qualidade de vida das pessoas que
é o da reciclagem, ainda não é reconhecido como profissão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi mencionado anteriormente, observa-se que o Plano Nacional é um plano
importante e necessário, com metas estabelecidas que precisam ser alcançadas de forma urgente,
devido a situação precária em que se encontra o saneamento básico no Brasil. Porém, que sejam
implantadas estas medidas, há a necessidade de se ter um engajamento da sociedade civil
organizada e dos getores públicos de todas as esferas para que seu efetivo objetivo se concretize.
A sociedade civil realizando o seu dever de cidadão, separando seus resíduos domésticos
para a coleta seletiva, se mobilizando, exigindo investimentos em políticas públicas de saneamento
básico, cabendo estratégias e programas e fiscalizando o cumprimento da legislação vigente.
Por parte dos gestores públicos, principalmente o local, cabe a implementação de políticas
públicas, como por exemplo a elaboração de um plano de saneamento básico para seu município,
levando em conta a realidade local, e convocando a participação da população para a construção do
mesmo, de forma democrática e participativa.
Desta maneira podemos chegar a universalização dos serviços de saneamento básico, tão
sonhado por todos, e assim, estabelecer um equilíbrio entre as questões ambientais, econômicas e
sociais de maneira que cada individuo tenha acesso aquilo que lhe deveria ser básico e que em
muitas vezes fica somente no nome.

REFERÊNCIAS

______. Ministério do Meio Ambiente. Vamos cuidar do Brasil – 4ª Conferência Nacional do Meio
Ambiente: Resíduos Sólidos. Brasília: Coordenação Executiva da 4ª CNMA, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 451


______. Presidência da República, Casa Civil. Lei nº. 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos
Sólidos. Brasília: Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2010.

______. Constituição Federal. Disponível em


<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/constfed.nsf/16adba33b2e5149e032568f60071600f/62e3ee4d23ca
92ca0325656200708dde?OpenDocument> Acesso em 29 de setembro 2014.

______.JusBrasil.Disponível em <http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/95020/lei-de-
saneamento-basico-lei-11445-07#art-1> Acesso em 29 de setembro 2014.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6.


ed. São Paulo: Cortez, 2012.

GOMES, Daniela V. Educação para o consumo ético e sustentável. In: Rev. Eletrônica Mestrado
Educ. Ambiental. ISSQN 1517-1256, v. 6, janeiro junho 2006.

LEFF, E. Saber Ambiental. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

LEFF, E. Discursos Sustentáveis.São Paulo: Cortez, 2010.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 452


RECICLAGEM DE ÓLEO DE COZINHA E IMPLANTAÇÃO UM PONTO DE COLETA
VOLUNTÁRIO COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM CAMPINA GRANDE-PB

Maria Célia Cavalcante de Paula e SILVA21


Professora do Ensino Básico
romulo_celia@hotmail.com

RESUMO
O educando apresenta um perfil de sujeito proativo frente ao conhecimento novo e dinâmico se
envolve e quer participar de sua realidade. Assim, a escola passa a ser importante na formação
crítica desse indivíduo. A utilização de inovações metodológicas no processo de ensino e
aprendizagem tem sido muito bem explorada por trabalhos do gênero (ROMANOWSKI;
WACHOWICZ, 2003; CARVALHO et al., 2010; PACHECO, 2007). Este trabalho foi realizado
com seis turmas de ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, Félix Araújo,
situada em Campina Grande- PB. Propôs-se a avaliar a compreensão da comunidade escolar sobre a
importância da reciclagem do óleo de cozinha e promoção da sensibilização destes alunos, para
atuarem como sujeitos pró-ativos no processo de reaproveitamento deste resíduo para a produção de
sabão. Na primeira etapa, os alunos pesquisaram sobre o tema. Realizou-se a aplicação de um
questionário fechado, a apresentação do projeto em slides, promoção de uma palestra por um
pesquisador da área de reciclagem de resíduos, coleta do óleo junto à comunidade escolar, uma
oficina de sabão com os alunos e por fim, a implantação de um PCV- Posto de Coleta Voluntário.
Foram produzidos 3 Kg de sabão, cortados em barras de 100g, distribuídas para 30 famílias. Os
resultados obtidos são indicativos de que houve uma apropriação gradativa dos conhecimentos
pelos alunos, que demonstraram boa participação durante todas as etapas do projeto, passando a
trazer porções médias de 20 ml de óleo usado para reciclagem. As famílias foram informadas sobre
o projeto em reunião pedagógica, passando também a colaborar no envio do resíduo. Registrou-se
ser viável e importante, nos aspectos ecológico e pedagógico a implantação de um Posto de Coleta
Voluntário (ECOPONTO) na escola, pois promove interação entre escola e famílias e maior
aprendizagem e interesse por parte dos alunos.
Palavras Chaves: Reciclagem de óleo, Produção de sabão ecológico, Educação ambiental.

ABSTRACT
The learner profile provides a proactive subject towards the new and dynamic knowledge is
involved and wants to participate in their reality. Thus, the school becomes important in the critical
training that individual. The use of methodological innovations in the teaching and learning process

21
Licenciada em Ciências Biológicas pela UEPB. Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 453


has been very well explored by works of the genre (ROMANOWSKI; Wachowicz, 2003;.
CARVALHO et al, 2010; PACHECO, 2007). This work was carried out with six groups of high
school at the State School of Basic and Secondary Education, Felix Araujo, located in Campina
Grande-PB. It was proposed to assess the understanding of the school community about the
importance of recycling kitchen and promoting awareness of these pupils oil, to act as subjects in
pro-active reuse of this waste for the production of soap process. In the first stage, students
researched the topic. Held the application of a closed questionnaire, the project presentation slides,
promoting a lecture by a researcher in the field of waste recycling, collecting oil near the school
community, a workshop of soap with students and finally, deploying a PCV- Collection Post
Volunteer. 3 kg of soap, cut into bars 100g, distributed to 30 families were produced. The results
are indicative that there was a gradual acquisition of knowledge by students who demonstrated good
participation during all stages of the project, starting to bring sized portions of 20 ml of used oil for
recycling. The families were informed about the project in meeting pedagogical also going to
collaborate in delivering the waste. Reported to be viable and important ecological and pedagogical
aspects in the implementation of a Volunteer Tour Collection (ECOPOINT) in school because it
promotes interaction between families and school and higher learning and interest by students
donate.
Keywords: Recycling oil, Production ecological soap, Environmental Education.

INTRODUÇÃO

A escassez de água potável é uma realidade nos dias atuais, pois a ação antrópica irrefletida,
seja por desperdício, por má utilização ou mesmo por inadequada disposição das águas residuárias
nos corpos hídricos, tem promovido o desgaste deste bem.
Segundo Silva (2011), os efeitos dessa degradação são percebidos na biocenose, pois os
diversos resíduos gerados são normalmente dispostos de forma incorreta e sem o devido tratamento.
Essa constatação é registrada no Brasil e no mundo, onde a urbanização desenfreada, bem como a
concentração da população e das atividades industriais sobre o mesmo espaço, tem contribuído para
a eutrofização dos corpos d‘água através do despejo de águas residuárias sem tratamento adequado.
A abordagem crítica dos conteúdos de ecologia e a sensibilização do aluno, para que perceba
a problemática ambiental, a exemplo da degradação da água, devem ser trabalhadas na escola,
visando à formação de um sujeito envolvido com a promoção do bem comum da comunidade onde
está inserido. Nesse contexto, o aluno pode se construir como sujeito responsável pela conservação
do meio ambiente, por perceber-se parte integrante desse.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 454


A comunidade escolar agrega um grupo de indivíduos com heterogeneidade de ideias e
amplo potencial construtivo, que suscita motivação e orientação para ser desenvolvida. A prática
pedagógica do professor deve ser eficaz e significativa. Corroborando com esse posicionamento,
Na concepção de Moran (2000) as instituições de ensino sentem necessidade de modificações, não
só no paradigma educacional como na introdução de novas estratégias de ensino no seu cotidiano
escolar.
Segundo Cascino (1999) as questões ambientais, atualmente, são alvos de debates e
preocupações das comunidades, pois, há a consciência de que a fragilidade da natureza coloca em
risco a sobrevivência humana. Este fato também é comprovado na questão do óleo de cozinha, um
dos muitos poluentes aquáticos, causa ndo a morte da biota aquática, que necessitam de oxigênio
dissolvido neste meio.
A presença do óleo na água é facilmente perceptível. Por ser mais leve e menos denso que a
água ele flutua, não se misturando, permanecendo na superfície. Cria-se assim uma barreira que
dificulta a entrada de luz e bloqueia a oxigenação da água. Esse fato pode comprometer a base da
cadeia alimentar aquática (fitoplâncton), causando um desequilíbrio ambiental, comprometendo a
vida (PARAÍSO, 2008).
Essa substância lançada no ralo da pia prejudica o meio ambiente; se o produto for para as
redes de esgoto pode provocar entupimentos, encarecendo o tratamento dos resíduos. O
conhecimento desse quadro pode mobilizar o educando na mitigação do mesmo.
Utilizando essa consciência adquirida, sabe-se que o desenvolvimento sustentável abrange a
reciclagem dos resíduos, representando a possibilidade de mudanças sociopolíticas, que não se
limita à problemática ecológica, mas também a viabilidade econômica e social (JACOBI, 2003).
Diante do exposto, este trabalho se propõe, através da a Implantação de um PCV de óleo de
cozinha, para a produção de sabão ecológico, verificar o nível de compreensão da comunidade
escolar acerca da importância de cada indivíduo atuar como sujeito pró-ativo no processo de
preservação do ambiente onde está inserido.

METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho de natureza qualitativa que foi desenvolvido no período


compreendido entre março de 2013 e maio de 2014 com seis turmas de ensino médio do turno da
tarde de uma escola pública na cidade de Campina Grande. Seguiu a trilha metodológica:
I- Consulta bibliográfica sobre reutilização do óleo de cozinha, realizada pelos alunos;
II- Aplicação de questionário, visando avaliar a percepção que os alunos tinham sobre o
tema;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 455


III- Apresentação do projeto através de slides, para as turmas envolvidas;
IV- Palestra com aluna de Mestranda da UFCG e presidente da Cooperativa ARENSA-
Associação de Catadores Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora;
V- Coleta do óleo junto aos alunos, e armazenamento no laboratório da escola;
VI- Cálculo da per capita de consumo de óleo através de questionário fechado, respondido
por 35 famílias;
VII- Palestra com aluna do curso de Matemática do IFPB- Campina Grande, sobre tema: A
Matemática Ambiental;
VIII- Oficina de produção e embalagem de sabão com suporte técnico de um representante
da Cooperativa ARENSA;
IX- Levantamento da per capita de descarte de óleo realizado por alunos da 3a série;
X- Implantação do PCV no Laboratório de Biologia da Escola.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Objetivando avaliar o conhecimento prévio sobre a proposta apresentada, foi aplicado um


questionário com 88 alunos, 36 da 1a série, 19 da 2a série e 39 alunos da 3a série. Foi solicitado que
os alunos, individualmente, realizassem uma consulta bibliográfica na internet de artigos científicos
que tratassem sobre a reutilização do óleo de cozinha para produção dos mais diversos produtos. Os
resultados dos conteúdos mais relevantes na concepção dos alunos, estão apresentados no Quadro 1.

CONTEÚDOS Número %
1- A reutilização do óleo na fabricação de sabão 11 12,50%
2- O óleo obstrui tubulações, dificultando o tratamento dos esgotos. 3 3,41%
3- Os impactos ambientais negativos do lançamento do óleo de cozinha 39 44%
4- A importância das pessoas conhecerem a poluição causada pelo óleo 5 5,68%
5- As múltiplas utilidades do óleo de cozinha (reciclagem) 25 28,41%
6- Apenas 2,5% do óleo de cozinha produzido no Brasil são reutilizados 4 4,54%
7- O elevado percentual de esgoto que não é tratado no Brasil 1 1,14%
Quadro 1: Conteúdos mais relevantes e curiosos na concepção dos alunos

Os dados coletados indicaram que 44% dos alunos tiveram sua atenção voltada para os
impactos negativos do descarte indevido do óleo de cozinha. Foi questionado ao aluno se ele
considerava que a consulta realizada trazia informações importantes sobre parte da problemática
Ambiental, tão amplamente discutida na atualidade. A Figura 1 apresenta essa avaliação na
concepção do aluno.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 456


Figura 1: Avaliação dos alunos sobre a importância realização da consulta bibliográfica.

Esses resultados sugerem que o grupo estava sensível para se envolver com a proposta de
reciclagem do óleo de cozinha. Conforme dados coletados, 60,23% dos alunos não reaproveitavam
o óleo de cozinha após o uso. A Figura 2 apresenta o percentual de reutilização do óleo de cozinha
por famílias pesquisadas.

Figura 2: Reutilização ou não do óleo usado por famílias pesquisadas.

No dia 18 de agosto de 2013, foi realizada na escola, uma palestra-debate desenvolvida por
mestranda em Recursos Naturais da UFCG, e uma representante da Cooperativa ARENSA-
Associação de Catadores Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida com presença de
duas professoras da escola, para 74 alunos integrantes da 2a e 3a séries do ensino médio. As
expositoras convidadas geraram com os adolescentes uma rica discussão sobre a ação antrópica no
ambiente nos dias atuais apontando também algumas atitudes no caminho da sustentabilidade.
Conforme apresentado na Figura 3, momentos da palestra, oficina e embalagem do sabão pelos
alunos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 457


Figura 3: Palestra, aula, oficina e embalagem do sabão ecológico.

Durante a discussão da temática pelas expositoras, foi realizado o registro de algumas


afirmações e perguntas apresentadas por alunos.

O lixo é que causa as enchentes em minha rua, no Jardim Paulistano, a rua alagou e
quando a prefeitura veio, retirou muito lixo da boca de Lobo.
(Aluna 1, 2o médio- Turma D.)

Quando apresentados dados de quanto à disposição inadequada do óleo de cozinha nos


prejudica, inclusive onerando o tratamento do efluente, outra aluna comenta.

Nós vamos pagar caro pelo tratamento do esgoto contaminado pelo óleo.
(Aluna 2, 2o médio- Turma D.)

Demonstrando já apresentar alguns fundamentos teóricos dentro do tema, uma aluna pontua.

Com óleo de cozinha na água, a luz não passará e as algas não serão capazes de realizar
fotossíntese.
(Aluna 3, 2o médio- Turma E.)

No momento da interação no qual a pesquisadora da UFCG fechava as discussões sobre a


questão do óleo como poluente, um aluno comenta:

Então, o mesmo óleo que polui a água, entope o solo e provoca enchentes?
(Aluno 4, 3o médio- Turma D.)

Trazendo outras dúvidas para o universo da discussão, uma aluna questiona a pesquisadora:

Como se realiza a compostagem? É possível fazer em casa?


(Aluna 5, 30médio, Turma E)

Nas pontuações da pesquisadora da UFCG, a palestra apresentou o formato de debate, dada


também a participação professora da disciplina geografia e de alguns jovens resultando em interesse
pelos tópicos apresentados. Foi muito produtivo para todos nós, onde pudemos perceber como o
aluno precisa e interage bem com dessa extrapolação do conteúdo curricular trabalhado pelo
professor em sala.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 458
Em sua fala, a presidente da ARENSA, explicou com clareza, o que era logística reversa, e,
como esta se processava para o óleo de cozinha, descreveu também, qual era a metodologia de
produção do sabão a partir de óleo de cozinha, abaixo descrita, adotada pela ARENSA

Material Necessário:

1(um) balde plástico de 20 L.

1(um) litro de soda caustica líquido.

5(cinco) litros de óleo

Corante (aproximadamente uma colher de sopa)

Uma vara de madeira de 1m

1(um) par de luvas de borracha

Uma máscara protetora

Fitas para aferição do pH

Procedimento:

Coloca-se toda a água no balde e lentamente vai acrescentando a soda caustica. Em seguida,
adiciona-se aos poucos o óleo de cozinha, mexendo sem parar. Ao despejar todo o óleo, permanece
mexendo por 40 minutos. Despeja-se o conteúdo em embalagens de leite longa vida e de sucos.
Aguarda-se por 2 (dois) dias e em seguida realiza-se o corte em barras de 100 gramas.
A presidente da ARENSA também apresentou de forma musicada, algumas paródias que
enfocavam a importância da reciclagem na qualidade de vida dos catadores, assim como para a
mitigação da problemática ambiental vigente.
Aplicou-se um segundo questionário sobre o consumo de óleo de cozinha visando perfilar
uma per capita de consumo de óleo entre 35 famílias pesquisadas, compostas por 154 pessoas. Os
resultados apontaram um consumo per capita de 680 ml/mês, valor considerado muito elevado para
a saúde humana e também para o equilíbrio ambiental, considerando que parte desse óleo é
disposta, inadequadamente, nos mananciais e no solo.
Corroborando com essa proposta de sensibilização para a educação ambiental, Santos (2007)
pontua que, o letramento dos cidadãos vai desde o entendimento de princípios básicos de fe-
nômenos do cotidiano até a capacidade de tomada de decisão em questões relativas à ciência e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 459


tecnologia em que estejam diretamente envolvidos. Os alunos foram se integrando a cada ação
proposta e se disponibilizando a juntar e trazer óleo de cozinha para o ecoponto de sua escola.
No dia 23 de novembro de 2013 por ocasião do lançamento oficial do Ecoponto, solicitamos
que alguns alunos voluntariamente, avaliaram a relevância desse projeto. Alguns desses registros
estão listados a seguir:

 Com a reciclagem do óleo nós podemos ajudar na diminuição da poluição do meio


ambiente preservando a vida aquática
(aluna 1- 20D)
 Pois o que iria ser descartado, foi reaproveitado de forma bastante interessante, fazendo o
sabão em barra, que pudemos levar para casa.
(alunas 2 e 3- 20E)
 Achei interessante como o óleo de cozinha que a gente joga fora pode ser transformado em
uma coisa boa para o nosso dia-a-dia.
(aluno 4- 20 D)
 A fabricação do sabão ecológico, pois, através desse projeto podemos diminuir a poluição
dos rios, entupimentos… E ainda economizarmos dinheiro.
(alunos 5e 6- 20 D)
 Com a coleta do óleo fica possível contribuirmos para a preservação do solo e das águas
dos rios e mares ajudando também na parte financeira e contribuindo para um mundo
sustentável.
(alunas 7 e 8- 1 0 D e E)
 Achamos interessante porque a situação é realmente preocupante em relação à poluição.
Essa pequena tentativa pode amenizar uma grande situação.
(alunos 9 e 10- 20 E)

A partir da palestra sobre A Matemática Ambiental disponibilizada para très turmas de


ensino médio, 71 alunos receberam um recipiente de 500 ml ( garrafa de polietileno ou recipientes
de água mineral), devidamente etiquetados, sendo orientados a coletar todo o óleo que seria
descartado durante o mês de maio de 2014 .e, caso o depósito fosse insuficiente para o
armazenamento do óleo. que utilizassem outro complementar. O óleo foi coletado ao término dos
30 dias, e, as alunas da 3a série, turma E, realizaram a medição da quantidade trazida de cada
família fazendo uso de balões e provetas de vidro de 10, 100 e 500 ml. Foram recolhidos 29895 ml
de 71 famílias compostas por 342 pessoas e confrontados com o número de residentes de cada
família, calculando-se a média de cada família e, resultando em uma per capita média de descarte de
87,41 ml/pessoa a cada mês. A Figura 4 apresenta o trabalho dessas alunas na geração dos dados.

Figura 4: alunas realizando cálculo de per capita de descarte de óleo em cada família.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 460


Cada litro de óleo despejado no esgoto tem capacidade para poluir cerca de um milhão de
litros de água. Essa quantidade corresponde ao consumo de uma pessoa durante 14 anos (SABESP,
2008). Esse dado levantado causou um impacto reflexivo muito grande com alguns alunos, levando-
os a adotar uma postura proativa em relação à preservação do ambiente. Os alunos perceberam que
cada um possui um papel na preservação do lugar onde reside.
A Educação ambiental está intimamente relacionada com mudanças de comportamento e
reeducação, porém não se restringe a isso. Mais que uma disciplina, é uma ideologia bastante clara
que se apoia num conjunto de ideias que pretende contribuir para a melhoria da qualidade de vida,
solidificando práticas que promovam o equilíbrio entre as necessidades humanas e a
sustentabilidade ambiental (JUNIOR & PELICIONI, 2002). Reforçando esse posicionamento,
Percebeu-se que a medida que os alunos se apropriavam de conhecimentos novos sobre o assunto
aumentava seu interesse e engajamento com o projeto. A Figura 5 apresenta os valores médios de
da per capita de descarte de óleo obtidos junto a 71 famílias.

Figura 5: valores médios de da per capita de descarte de óleo em 71 famílias.

Os resultados obtidos apontaram grandes disparidades quanto ao consumo e descarte de óleo


de cozinha. Ano comparativo entre as famílias. A família 14 apresentou uma per capita média de
descarte de 500ml/ mês para 21ml/ mês da família 71. Esses dados são indicativos de que uma
pesquisa de educação ambiental pode também levar uma reflexão sobre um regramento em nossos
hábitos alimentares, contribuindo na promoção da qualidade da vida das pessoas.
Foi realizada uma mostra pedagógica na escola, na qual, o projeto de divulgação do
ECOPONTO esteve representado por alunas do 30 E. A Figura 6 apresenta alguns momentos da
Parada da Saúde, bem como a atividade de divulgação amostras de sabão que foram distribuídas
para o público.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 461


Figura 6: Mostra pedagógica realizada no auditório na escola
Foi produzido um relatório pelos alunos do ensino médio que não se envolveram
diretamente com a socialização. Queremos dar destaque para dois textos produzidos por alunos
pontuando acerca da importância da educação ambiental na escola:

 A maior importância da educação ambiental na escola é poder conscientizar os alunos que


as suas atitudes muitas vezes não são corretas e fazer com que eles mudem e entendam que
vão mudar para preservar o meio ambiente, mas também, para melhorar sua própria vida.
E podemos os fazer mudar em pequenas atitudes que passam despercebidas e achamos que
não vão ter consequências para nós como jogar papel de bala ou um copo plástico no chão,
e isso, pode fazer uma grande diferença para o meio ambiente. (Aluna 11- 10 E)

 É importante pelo fato de que na escola nós aprendemos várias coisas, incluindo, como
cuidar e preservar o meio ambiente. A escola é o melhor lugar para se aprender sobre
consciência ecológica pelo fato dos professores saberem mais sobre o assunto e terem
muita influência sobre a educação geral. (Aluno 12- 10 E)

Os alunos revelam em sua fala, que compreenderam o objetivo da escola em provocar a


discussão sobre a reciclagem de resíduos, bem como a importância do professor mediador nas
amplas mudanças que podem ocorrer na comunidade escolar. Corroborando com esse
posicionamento, Serrano (2003), pontua que a Educação Ambiental surge como excelente
ferramenta de ensino nas instituições de educação, na busca da formação de cidadãos conscientes e
comprometidos com as principais questões da sociedade moderna. Ainda corroborando com a
posição do aluno 12, Bezerra e Silva (2013), defendem que, o ambiente escolar é espaço de
construção do conhecimento, onde na interação, a sensibilização individual dos sujeitos pode ser
trabalhada, visando à promoção do bem da comunidade.
Os dados são indicativos de que é possível, através da inserção da comunidade (alunos,
famílias e professores) sensibilizar um grupo no tocante a práticas cotidianas de reciclagem de
resíduos que, se mal destinados, impactam, negativamente, o meio ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 462


CONCLUSÃO

Os alunos sinalizaram estarem dispostos a se apropriar de novos conhecimentos, bem como


de participar ativamente de propostas diferenciadas, dando contribuições relevantes na pesquisa de
dados, divulgação, coleta de óleo e na produção do sabão;
Ações dessa natureza extrapolam o currículo regular proporcionando maior engajamento de
alunos e professores com o aprendizado;
O aluno passou a reconhecer que a implantação de um ECOPONTO para produção de
sabão, a partir do óleo usado, é uma proposta viável e ecologicamente sustentável e, que promove
saúde e bem estar para si e às pessoas em geral.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, T. M. F.,SILVA, M. C. C. P. Estudando os Desequilíbrios Ambientais em Campina


Grande- PB através do Viés Fotográfico: Uma Experiência de Educação Ambiental com Alunos
do ensino Médio- Anais do ENID- UEPB. Campina Grande. 2013.

COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SABESP. 2008.


Programa de uso racional da água - http://www.sabesp.com.br/ Acessado em 30/09/2013.

CARVALHO, U. L. R. et al. A importância das aulas práticas de biologia no ensino médio. X


Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro,
2010.

CASCINO, F. Educação Ambiental: Princípios, História e Formação de Professores. São Paulo:


Senac, 1999.

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, São Paulo,


n.118, p. 189-205, março/2003.

JUNIOR, A. P. e PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental - Desenvolvimento de cursos e


Projetos. In: COIMBRA, José de Ávila Aguiar. Considerações para Elaboração de Projetos em
educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: USP, Signus. Cap. 20, p. 186-197, 2002.

MORAN, J. M. Ensino aprendizagem inovadores com tecnologia. Revista Informática na


Educação: Teoria e Pratica. Porto Alegre, UFRGS, n.1, p. 137-144, 2000. Disponível em:
<http://www.eca.usp.br/prof/moran/textos.htm>. Acesso em: 17/07/2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 463


PACHECO, R. A. Ensinar aprendendo: A práxis pedagógica do ensino por projetos no ensino
fundamental. PerCursos, Florianópolis, v.8, n.2, p. 19-40, 2007.

PARAÍSO. Programa de coleta seletiva de óleo de cozinha usado. 2008. Disponível em:
<http://www.paraiso.mg.gov.br>. Acesso em: 03 out. 2014.

ROMANOWSKI, J. P.; WACHOWICZ, L. A. Inovações metodológicas na educação superior e a


transformação da prática pedagógica. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.4, n.10, p.143-
154,2003.

SERRANO, C. M. L.. Educação ambiental e consumismo em unidades de ensino fundamental de


Viçosa-Mg. Dissertação (mestrado em Ciências Florestal) – Universidade Federal de Viçosa:
UFV, 2003. 91P

SILVA, M.C.C.P., Tratamento terciário de efluente secundário, usando a microalga Chlorella sp.
em matriz de alginato de cálcio. Dissertação de Mestrado. UEPB. 2011. 85p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 464


RESÍDUO SÓLIDO: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

Herika Bastos de MEDEIROS22

Luis Gabriel Rodrigues SOUSA23

RESUMO
Este artigo envolve uma análise realizada a partir do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, com
objetivo de introduzir o debate com alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) sob o aspecto
do consumo consciente. Nesse sentido, busca-se associar assuntos como gestão compartilhada,
logística reversa de forma interdisciplinar através da exploração desses assuntos em sala de aula,
atrelado ao conteúdo programático. Acreditamos que a educação ambiental representa uma
importante estratégia de ensino-aprendizagem favorecendo no processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Política Nacional de Resíduos Sólidos, Educação Ambiental.

ABSTRACT
This article involves an analysis from the National Solid Waste Plan, with the aim of introducing
students to debate the EJA (Youth and Adults) under the aspect of conscious consumption.
Accordingly, we seek to associate subjects as shared management, reverse logistics in an
interdisciplinary way through the exploration of these issues in the classroom, tied to the
curriculum. We believe that environmental education is an important strategy for promoting
teaching and learning in the teaching-learning process.
Keywords: National Policy on Solid Waste, Environmental Education.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, a urbanização e a revolução


tecnológica vem sendo acompanhadas por alterações de vida e nos modos de produção e consumo
da população.

Como decorrência direta desses processos, vem ocorrendo um aumento na produção de


resíduos sólidos, tanto em quantidade como em diversidade, principalmente nos grandes
centros urbanos (Gouveia, 2004, p:1504).

22
Mestre em Ensino da Saúde e do Ambiente (UNIPLI), cursando doutorado em Historia da Ciencia no IESLA, Prof.
da Rede Municipal de Itaboraí e São Gonçalo; herikabastos@yahoo.com.br .
23
Mestre em Ensino da Saúde e do Ambiente (UNIPLI), Prof. da Rede Municipal de São Gonçalo e Rede Estadual do
RJ; luisgabrielrs@ibest.com.br .

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 465


Segundo Sabargo e Marin (2010) a exploração desenfreada da natureza, o desenvolvimento
de novas tecnologias e o incentivo ao consumo acarretaram o aumento da geração de resíduos
provocando uma imensa crise. ―A crise ambiental é uma crise civilizatória, chegamos ao ponto de
colocar em risco não apenas a biodiversidade ao planeta, mas a vida humana, e junto com ela algo
essencial da vida humana, o sentido da vida‖(Leff, 2010, p: 82).

O atual padrão de consumo de nossa sociedade é colocado em pauta nas abordagens dos
temas ambientais e principalmente na discussão dos resíduos, como um modelo que deve
ser repensado para a garantia de sobrevivência das gerações futuras (SOBARZO e
MARINS, 2010, p:3).

O relatório da ONU (2010) argumenta que é possível deter a destruição dos ecossistemas se
medidas coordenadas forem tomadas para reduzir a pressão sobre o meio ambiente natural.

A relevância da educação ambiental em favor de uma sociedade mais justa e sustentável é


cada vez mais reconhecida por se constituir um dos meios de enfrentamento da degradação
socioambiental, em escala local, nacional e global. Em vista disso, a educação ambiental
vem demandando fortemente a gestão por meio de políticas, programas e ações orientadas
para a formação de uma cidadania sintonizada com a sustentabilidade em todas as suas
dimensões (Marcon, Andrade e Veneral, 2014, p:133).

Para Layargues (2002), a questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um
dos mais graves problemas ambientais urbanos da atualidade, a ponto de ter se tornado objeto de
proposições técnicas para seu enfrentamento e alvo privilegiado de programas de educação
ambiental na escola brasileira.
A ONU alerta para o risco de degradação e colapso24 de ecossistemas importantes para o
homem. Segundo Leff (2010) o maior desafio da educação em nossos dias: o da responsabilidade e
da tarefa de contribuir para este processo de reconstrução, educar para que os novos homens e
mulheres do mundo sejam capazes de assumir esta crise civilizatória e converte-la no sentido de sua
existência.
Atento a essas questões, esta investigação tem como objetivo apresentar uma palestra sobre
o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e, fundamentalmente, avaliar a sua adequação à sala de aula,
em assuntos como Gestão Compartilhada, Política Reversa, entre outros, visando a conscientização
do educando enquanto participante ativo na própria realidade dos fatos.
Sendo assim Busquets et all (1997) uma das propostas de se influir nesse processo de
transformação da sociedade, sem abrir mão dos conteúdos curriculares tradicionais, é por meio da
inserção transversal, na estrutura curricular da escola. Por isso, faz-se necessário ―tornar a educação

24
Colapso é, portanto, uma forma extrema de diversos tipos mais brandos de declínio, e torna-se arbitrário decidir quão
drástico deve ser o declínio de uma sociedade antes que se possa qualificá-la como colapso. (DIAMOND, 2010,p: 3)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 466


ambiental parte integrante dos currículos, estimulando uma nova postura em relação à questão
ambiental‖ (Herika e Miranda, 2011, p.2).

DESENVOLVIMENTO

A preocupação com a destinação dos resíduos vem sendo discutidas em âmbito nacional e
internacional. Com a aprovação em 2010 no Congresso, da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) passa a ser um marco envolvendo governo, sociedade civil e iniciativa privada. A
sociedade passa a ser responsável pela disposição correta dos resíduos, os governos são
responsáveis pela implantação e implementação dos planos de gestão que fazem parte da PNRS.

A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos o cidadão é responsável não só pela


disposição correta dos resíduos que gera, mas também é importante que repense e reveja o
seu papel como consumidor; o setor privado, por sua vez, fica responsável pelo
gerenciamento ambientalmente correto dos resíduos sólidos, pela sua reincorporação na
cadeia produtiva e pelas inovações nos produtos que tragam benefícios socioambientais,
sempre que possível. Os governos federal, estadual e municipais são responsáveis pela
elaboração e implementação dos planos de gestão de resíduos sólidos, assim como dos
demais instrumentos previstos na Política Nacional que promovam a gestão dos resíduos
sólidos, sem negligenciar nenhuma das inúmeras variáveis envolvidas na discussão sobre
resíduos sólidos (PNRS, 2010, p:2).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 23, inciso VI, estabelece que a proteção ao
meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas – inclusive a contaminação do
solo por resíduos- é de competência comum da União, Estado, do Distrito Federal e dos Municípios.
A Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA no artigo 1º entendem-se por educação
ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Em seu
artigo 2º afirma que a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Neste intuito a escola possui uma grande responsabilidade preparando-os para o uso correto
de gestão de resíduos, sabendo que o lixo acaba muitas vezes em lixões sem o devido tratamento
prejudicando e contaminando o meio ambiente‖(Silva , p.2).
Segundo Leff (2010) ―a interdisciplinaridade no campo da economia ecológica não se limita
ao propósito de iniciar um diálogo entre disciplinas e de estabelecer suas homologias, conexões e
complementaridades possíveis‖.

A interdisciplinaridade deve gerar um espaço de articulação das ciências, mas deve


transcender para uma hibridação entre as disciplinas científicas, os saberes acadêmicos e os
saberes populares (Leff, 2010, p: 33).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 467


Material E Método

Esta investigação apresenta-se como uma pesquisa qualitativa de caráter exploratória


descritiva, cujo objetivo é promover a participação dos educandos na discussão do PNRS e analisar
suas observações acerca desse assunto.
O Cenário da pesquisa foi a Escola Municipal José Manna Junior, localizada na sede do
Município de São Gonçalo, bairro Nova Cidade. Os sujeitos da pesquisa foram 15 alunos da III fase
da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que corresponde ao oitavo ano do Ensino Fundamental.
Nesse cenário foram analisados tópicos da PNRS, visando a analise das observações desses
educandos.
O traçado metodológico desta pesquisa desenvolve-se em três etapas: na primeira etapa,
apresenta-se um vídeo sobre: ―Ilha das Flores‖,com intuito de despertar o interesse dos educandos
para a importância no descarte dos resíduos; na segunda etapa, e feita uma palestra explicando a
importância da PNRS e analisando tópicos como:Resíduos e rejeitos, logística reversa, gestão
compartilhada e outros que serão discutidos no decorrer da palestras; na terceira e ultima etapa, a
análise e importância do tema em questão.

Análise Do Plano Nacional De Resíduo Sólido

A disseminação de uma Política de Minimização de Resíduos e de valorização dos 3 Rs, é


um conceito presente na Agenda 21 e claramente no Art.19 Inciso X da PNRS que coloca a
importância de, nesta ordem de prioridades de : Reduzir a Geração de Resíduos 25, Reutilizar26,
Reciclar27. Os mais importantes equacionamento desses problemas são: o princípio do poluidor-
pagador; a responsabilidade compartilhada dos fabricantes e a logística reversa dos resíduos.
Considerando as limitações das opções de destinação final para resíduos, é imprescindível
minimizar as quantidades produzidas por meio da redução, reutilização e reciclagem.

25
Reduzir a Geração de Resíduos - em consonância com a percepção de que resíduos e,principalmente, resíduos em
excesso significam ineficiência de processo, caso típico da atual sociedade de consumo. Este conceito envolve não só
mudanças comportamentais, mas também novos posicionamentos do setor empresarial como o investimento em
projetos de ecodesign e ecoeficiencia, entre outros (PNRS, 2010, p.57).
26
Reutilizar – aumentando a vida útil dos materiais e produtos e o combate à obsolescência programada, entre outras
ações de médio e grande alcance. É importante ampliar a relevância do conceito, muitas vezes confundido e limitado à
implantação de pequenas ações de reutilização de materiais que resultam em objetos ou produtos de baixo valor
agregado, descartáveis e /ou sem real valor econômico ou ambiental. Estas práticas têm sido comumente disseminadas
como solução para o sério problema de excesso de geração e disposição inadequada de resíduos e compõem muitas
vezes, em escolas e comunidades, grande parte do que é considerado como educação ambiental (PNRS, 2010, p:57).
27
Reciclar – valorizando a segregação dos materiais e o encaminhamento adequado dos resíduos secos e úmidos,
apoiando desta forma, os projetos de coleta seletiva e a diminuição da quantidade de resíduos a serem dispostos em
consonância com as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos(PNRS, 2010, p:57).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 468


Apresentado como um dos instrumentos da PNRS, a Logística Reversa é definida no Art. 3º,
inciso XII da PNRS como:

―o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado pelo conjunto de


ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos
sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.‖ Assim, a PNRS também
estabelece a responsabilidade compartilhada pelos resíduos entre geradores, poder público,
fabricantes e importadores‖ (PNRS, 2010, p.29).

Para a implementação da Logística Reversa é necessário o acordo setorial,

que representa: ―ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto‖(PNRS, 2010, p.29).

Aluno A_ “ As empresas não disponibilizam pontos de coletas. Eu mesma já fui até ao local onde
comprei a pilha e perguntei onde poderia descartar aquele material, eles disseram que a empresa
responsável não disponibilizou naquele lugar ponto de coleta. Fui informada que teria que ver na
internet o local onde poderia levar esse resíduo”

Aluno C_ ―Não basta apenas eu fazer a minha parte porque a empresa não se responsabiliza pelo
destino final desse resíduo”.

Aluno E_ “Eu já tentei separar os resíduos seco do molhado, mas quando o caminhão do lixo
passa mistura todo o lixo novamente.”

No município de São Gonçalo, a empresa responsável pela coleta ainda não separa os
resíduos. O Plano Gestor do município ainda não atende essas necessidades.
A mudança de hábitos de consumo é de extrema importância para a redução da geração dos
resíduos. ―É imperativo que não só o governo, mas outros setores importantes da sociedade ativem
campanhas para convencer os consumidores de que a separação do lixo e o descarte responsável,
são fundamentais para que os objetivos da PNRS sejam alcançados‖ (Trigueiro, 2010, p:59).

Para que as diretrizes da PNRS sejam obedecidas, e as metas do Plano Nacional de


Resíduos Sólidos alcançadas são necessários ainda instrumentos e metodologias de
sensibilização e mobilização capazes de influenciar os vários segmentos da sociedade,
inclusive os profissionais da área e a população como um todo. Este papel de sensibilização
e mobilização cabe à Educação Ambiental. (Marcon, Andrade e Veneral, 2014, p:3 /4).

Tabela 1 - Quantidades de Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva na Região Sudeste


Fonte: ABRELPE

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 469


Aluno H_ “Mesmo que eu separasse os resíduos eu não saberia o que pode do que não pode ser
reaproveitado”.

Conforme Trigueiro (2010) é importante reforçar que a lei n 12.305, de 2010, com muita
propriedade buscou diferenciar o que são resíduos (aquilo que tem valor econômico, que pode ser
reciclado ou reaproveitado) do que são rejeitos (aquilo que não pode ser reaproveitado ou
reciclado).

Para a prevenção e redução da geração de resíduos, a PNRS considera a mudança de


hábitos de consumo fundamental. Esforços consideráveis devem ser empreendidos no
sentido de engajar os cidadãos brasileiros na separação do lixo seco do molhado, também
deverá haver esforço igual no engajamento de instituições de diversos tipos (escolas,
hospitais, empresas públicas e privadas), pois esquecemos esses consumidores coletivos
(Trigueiro, 2010, p. 59).

Segundo Waldman (2010) a cultura do lixo28 deve desaparecer para ceder lugar à cultura dos
resíduos29 sólidos, matéria-prima digna de reaproveitamento. A resolução n. 283 do CONAMA, de
2001, determina que caberá ao responsável legal pelo estabelecimento gerador a responsabilidade
pelo gerenciamento de seus resíduos desde a geração até a disposição final.
Os resíduos sólidos são gerados após a sua produção e grande parte destes resíduos podem
retornar a cadeia de produção, gerando renda para os trabalhadores. No provido catálogo dos RSU
constam

os resíduos: públicos, comerciais, domiciliares, da construção e demolição, especiais e ,


também, os dos portos, aeroportos, terminais de ônibus e estradas de ferro. Funcionalmente,
este rejeitos, vez por outra grafados como lixo municipal, constituem foco de interesse
primordial para o Serviços de Limpeza Urbana (SLU), sob cujo mandato está a coleta e
disposição final do lixo (Waldman apud IBAMA, 2001 e CEMPRE, 2000).

TIPOS DE RESÍDUOS ORIGEM


No caso de ser proveniente dos serviços públicos (linpeza urbana, limpeza de
Resíduos Públicos áreas de feiras livres)

Quando produzido em estabelecimentos comerciais e de serviços (papeis ,


Resíduos Comerciais embalagens diversas).

Originando das residências (restos de alimentos, jornais, revistas, embalagens ,


Resíduos Domiciliares fraldas descartáveis).

28
Lixo seria todo o material descartado posto em lugar público, tudo aquilo que ―se joga fora‖, ― não presta‖, condição
à qual são evocados longas catilinárias devotadas à sua nocividade, periculosidade, intratabilidade, etc. (Waldman,
2010, p.18).
29
Resíduos sólidos são os que se separam ―no estado sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de
origem: industrial, doméstica, hospitalas, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição
os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle da
poluição, bem como determinados líquidos cujas partículas tornem inviáveis o lançamento na rede pública de esgoto ou
corpos d‘ água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia
disponível (Waldman, 2010, p.27).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 470


Quando descartados em hospitais (resíduos sépticos, como seringas, algodoes,
Resíduos Hospitalares tecidos removidos, cadáveres de animais usados em teste, sangue, luvas, remédios
vencidos, resíduos assépticos, que não entram em contato direto com pacientes, ou
resíduos sépticos.

Tabela 2– Classificação de Resíduos


Fonte: BONELLI ,(2005).

O descarte de forma inadequada contamina o solo, o ar e causa a proliferação de doenças.


Esses problemas podem ser mais acentuados quando observamos o descaso com a situação do
gerenciamento dos resíduos sólidos. Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), temas como: Responsabilidade Compartilhada, Logística Reversa torna-se grandes
desafios pois a infra-estrutura do gerenciamento do resíduo sólido no nosso país não são suficientes.
As condições precárias do gerenciamento dos resíduos no Brasil, decorrem de vários
problemas que afetam a saúde da população como a contaminação da água, do solo, da atmosfera e
a proliferação de vetores- e a saúde dos trabalhadores que tem contato com esses resíduos
(GARCIA e RAMOS, 2004, p:1).
Conforme Gouveia (2010) o mau gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde pode
favorecer a propagação da resistência bacteriana múltipla a antimicrobianos. Segundo ABNT NBR
10004/2004 define a periculosidade de um resíduo30

como a característica oferecidas por estes que, em decorrência de suas propriedades físicas,
químicas ou infectocontagiosas, é passível de apresentar riscos de provocar mortandade,
incidência de doenças ou acentuando seus índices; e o segundo, quando o resíduo for
gerenciado de forma inadequada. (BARROS, 2012, p.26).

TEMPO DE SOBREVIVÊNCIA DE ALGUNS ORGANISMOS EM RESÍDUOS


SÓLIDOS
ORGANISMOS TEMPO DE SOBREVIVÊNCIA
BACTÉRIAS
Mycobacterium tuberculosis 150 -180 dias
Salmonella sp. 29- 70 dias
Leptospira interrogans 15 – 43 dias
Coliformes fecais 35 dias
VIRUS
Vírus da hepatite B (HBV) Algumas semanas
Pólio Vírus- pólio tipo I 20- 170 dias
Enterovírus 20 – 70 dias

30
Para os efeitos da ABNT NBR 1004//2004, os resíduos sólidos são classificados conforme apresentado a seguir:-
Resíduos de Classe I- Perigosos (apresentam, periculosidade, traduzida em riscos potenciais à saúde pública e/ou meio
ambiente ou uma das caracteristicas com as respectivas codificações, a saber: inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxidade ou patogenicidade).; Resíduos Classe II- Não Perigosos ( São subdivididos em não inertes e
inertes), onde os resíduos não inertes- são passiveis de ter propriedades, tais como:a combustividade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água.O resíduo inerte, ao serem amostrados e submetidos à temperatura
ambiente, não tiveram nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água, salvo aspecto, turbidez, cor, dureza, sabor. (BARROS, 2012, p:27).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 471


Víruas da imunodeficiência humana 3 – 7 dias

Tabela 3- Tempo de sobrevivência de alguns organismos em resíduos sólidos


Fonte: Organização Mundial da Sáude, 1993, apud Gouveia.

Em virtude da legislação atribuir aos geradores a responsabilidade pelo tratamento e destino


final dos RSS, grande parte dos municípios coletam e dão destinação final apenas para os
resíduos deste tipo gerados em unidades públicas de saúde. É sob esta ótica que devem ser
interpretados os dados apresentados na Tabela 2, que mostra um crescimento discreto nas
quantidades (ABRELPE, 2013, p.6)

Aluno F_ “Meu filho diariamente toma insulina injetável e o descarte desse material é feito junto
com o lixo comum que eu jogo fora. Eu nunca parei para pensar nisso!”

Parte dos resíduos domiciliares possui características que fazem com que se assemelhem aos
resíduos de serviços de saúde, como: pacientes diabéticos, que administram insulina injetável,
geram resíduos perfurocontantes, que geralmente são dispostos junto com resíduos domiciliares.
(Garcia e Ramos, 2004, p: 745).

Grafico 1 - Percentual de Município por modalidade de destinação de RSS na Região Sudeste


Fonte: Pesquisa ABRELPE

Segundo MMA (2014) as cinco cadeias identificadas, inicialmente como prioritárias, são:
descarte de medicamentos; embalagens em geral; embalagens de óleos lubrificantes e seus resíduos;
lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, e eletroeletrônicos.
Segundo ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais, o País registra a presença de lixões em todos os Estados, cerca de 60% dos municípios
brasileiros ainda caminham seus resíduos para locais inadequados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 472


Gráfico 2- Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municípios em 2013.
Fonte: ABRELPE- 2013.

Em 2013, pouco mais de 62% dos municípios registraram alguma iniciativa de coleta
seletiva, conforme mostra a gráfico 3. Embora seja expressiva a quantidade de municípios
com iniciativas de coleta seletiva, convém salientar que muitas vezes estas atividades
resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária ou convênios com
cooperativas de catadores, que não abrangem a totalidade do território ou da população do
município (ABRELPE, p:.30).

Considerando as limitações das opções de destinação final para resíduos, é imprescindível


minimizar as quantidades produzidas por meio da redução, reutilização e reciclagem. Conforme
(ABRELPE) a comparação entre os dados apresentados na tabela a seguir revela um aumento
inferior a meio ponto percentual no índice de geração per capita de RSU e um acréscimo de 4,1%
na quantidade total gerada.

Tabela 3- Quantidade de RSU gerado em 2012 e 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 473


Fonte: Pesquisa ABRELPE e IBGE (2013)

Na Região Sudeste segundo dados da (ABRELPE e IBGE) dos 1.668 municípios dos quatro
Estados da região Sudeste geraram, em 2013, a quantidade de 102.088 toneladas/dia de RSU, das
quais 97,1% foram coletadas. Os dados indicam crescimento de 4,2% no total coletado e aumento
de 3,9% na geração de RSU em relação ao ano anterior.

A comparação entre os dados relativos a destinação de RSU praticamente não apresentou


evolução de 2012 para 2013 na região. Dos resíduos coletados na região, cerca de 28%,
correspondentes a 27.475 toneladas diárias, ainda são destinados para lixões e aterros
controlados que, do ponto de vista ambiental, pouco se diferenciam dos próprios lixões,
pois não possuem o conjunto de sistemas necessários para proteção do meio ambiente e da
saúde pública. (ABRELPE, p:72).

Tabela 4 - Destinação final de RSU na Região Sudeste (t/dia)


Fonte: Pesquisa ABRELPE

Atualmente, a prática educativa corrente se insere na lógica da metodologia da resolução de


problemas ambientais locais de modo pragmático, tornando a reciclagem do lixo uma atividade-fim, ao
invés de considerá-la um tema-gerador para o questionamento das causas e consequências da questão do
lixo (LAYRARGUES, 2014, p:127).

CONCLUSÃO

Segundo Marcon, Andrade e Veneral (2014), ―para que as diretrizes da PNRS sejam
obedecidas, e as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos alcançadas, são necessários ainda
instrumentos e metodologias de sensibilização e mobilização capazes de influenciar em vários
segmentos da sociedade‖.
A educação ambiental é de suma importância para que esse conhecimento necessário seja
repassado aos cidadãos, além de tornar uma alternativa viável para amenizar o problema do lixo,
concientizando-os da importância de serem agentes multiplicadores da política dos 3R‘s.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 474


REFERÊNCIAS

BARROS. Regina Mambeli. Tratado sobre Resíduso Sólidos: Gestão, Uso e Sustentabilidade.Rio
de janeiro: Interciência; Acta, 2012.

BRASIL, Lei nº. 9394/96- Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB/MEC/SEF- Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental: Meio Ambiente e Saúde. Temas
Transversais, 1ª a 4ª série. 1997.

BRASIL. Lei 12. 305 de 2010. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. 2010.

BUSQUETS, Maria Dolors; et all. Temas Transversais em Educação: Bases para uma formação
integral.Editora Ática, 1997.

GARCIA, Leila Posenato; RAMOS. Betina Giehl Zanetti. Gerenciamento dos resíduos de serviços
de saúde: uma questão de biossegurança. Cad. Saúde, Rio de Janeiro, 20(3):774-752, mai-jun,
2004.

GOUVEIA. Nelson. Resíduos Sólidos Urbanos: impactos e perspectiva de manejo sustentável com
inclusão social. Ciência e Sociedade Coletiva, 17 (6): 1503-1510, 2012.

LEFF. Enrique. Discursos Sustentáveis. São Paulo: Cortez, 2010.

MARCON. Gabrielle Teresa Gadens; ANDRADE, Marcia Cristiane Kravetz e VENERAL. Debora
Cristina. Os desafios da Educação Ambiental frente à Política Nacional de Resíduos
Sólidos.Revista de Meio Ambiente e Sustentabilidade, v.5, n.3, Jan/jun, 2014.

MEDEIROS, Herika Bastos; MIRANDA, Antonio Carlos. Jogos Computacionais: uma proposta de
educação ambiental. V. 9, n. 2, dezembro, 2011.

Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, 2012.

MMA. Disponível em http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/instrumentos-


da-politica-de-residuos/comite-orientador-logistica-reversa. Acessado em: 20/09/2014.

SOBARZO. Liz Cristiane Dias; MARIN. Fátima Aparecida Dais Gomes. Resíduos Sólidos:
Representações Conceitos e Metodologia: Propostas de Trabalho para o Ensino Fundamental.
Revista. Ensino. Geogr. Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 3-14, jul./dez.2010.

TRIGUEIRO. André. Mundo Sustentável 2: Novos Rumos para um Planeta em crise. São Paulo.
Editora Globo, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 475


WALDMAN. Maurício. Lixo: Cenários e Desafios. São Paulo: Editora Cortez, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 476


DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

Paula Mikacia Umbelino SILVA


Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental da UEPB
pmikacia@gmail.com

Valderi Duarte LEITE


Doutor em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP
valderileite@uol.com.br

Tatiana Gomes de PONTES


Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental da UEPB
tatiana_tatianapontes@hotmail.com

RESUMO
A acumulação dos resíduos sólidos orgânicos pode atingir níveis críticos em quase todo o mundo,
estes resíduos merecem uma gestão sustentável para evitar o esgotamento dos recursos naturais e o
aproveitamento dos mesmos, minimizar os riscos para a saúde humana, reduzir os encargos
ambientais e manter um equilíbrio global no ecossistema. Um número de métodos são atualmente
aplicados ao tratamento e gestão de resíduos sólidos orgânicos, esta avaliação incide sobre o
processo de digestão anaeróbia, que é considerado uma das opções mais viáveis para a reciclagem
da fração orgânica dos resíduos sólidos. O envolvimento de uma gama diversificada de
microrganismos e os fatores ambientais sobre a eficiência do processo de digestão anaeróbia. De
acordo com a literatura a digestão anaeróbia pode ser uma opção atraente para a conversão de
resíduos sólidos orgânicos brutos em produtos úteis, como o biogás e outros compostos ricos em
energia, que tem um papel fundamental no cumprimento das crescentes necessidades energéticas do
mundo.
Palavras-chaves: Digestão anaeróbia; resíduos sólidos orgânicos, fatores ambientais.

ABSTRACT
The accumulation of organic solid waste can reach critical levels in most of the world, they deserve
a sustainable waste management to prevent the depletion of natural resources and the exploitation of
which minimize the risks to human health, reduce environmental burdens and maintain a overall
balance in the ecosystem. A number of methods are currently applied to the treatment and
management of organic solid waste, this assessment focuses on the anaerobic digestion process,
which is considered one of the most viable options for recycling the organic fraction of solid waste.
The involvement of a diverse range of microorganisms and environmental factors on the efficiency
of the anaerobic digestion process. According to the literature anaerobic digestion can be an
attractive option for converting raw organic solid waste into useful products such as biogas and

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 477


other energy-rich compounds, which have a key role in meeting the growing energy needs of the
world.
Keywords: Anaerobic digestion; organic solid waste, environmental factors.

INTRODUÇÃO

A produção de resíduos sólidos urbanos está associada diretamente à história do homem


desde seu surgimento, porém com o passar dos anos, a industrialização e o acelerado crescimento
dos centros urbanos fez com que a geração destes resíduos crescesse. Por esse motivo há a
necessidade da implantação de sistemas de gerenciamento de resíduos urbanos como uma prática
usual para que se possa proporcionar a redução dos impactos ambientais causados no solo, no ar e
nos corpos aquáticos.
Para evitar os problemas do descarte inadequado dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é
necessária a aplicação de métodos de tratamento. Para isso, existem dois tipos de tratamentos
biológicos a serem considerados: o aeróbio que ocorre na presença de oxigênio molecular livre, e
que requer energia e menos tempo de retenção e o anaeróbio que se da na ausência de oxigênio
molecular livre, porem necessita de um tempo de retenção bem maior quando comparado a o
tratamento aeróbio.
Quando descartados de forma inadequada, os Resíduos Sólidos Orgânicos (RSO) sofrem
biodegradação, tornando-se responsáveis pela geração de compostos poluentes que geram grandes
impactos ao meio ambiente. Para evitar tais problemas, se faz necessária a aplicação de métodos
que possam ser utilizados como forma de tratamento. Entre esses métodos, destacam-se os
processos biológicos aeróbios, que caracterizam-se por produzir compostos capazes de fertilizar o
solo, e os processos biológicos anaeróbios, que apresentam como principal produto o biogás, com
potencial energético.

RESÍDUOS SÓLIDOS /CLASSIFICAÇÃO/RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

Segundo a Norma Brasileira (NBR) 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT), revisada em 2004, define-se resíduo sólido como sendo, ―resíduos nos estados sólido e
semissólido, que resultam das atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços de varrição e lodos provenientes de sistemas de tratamento de água‖.
A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil,
define os resíduos sólidos como materiais, substâncias, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 478


Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com a sua origem, composição e
nível de risco potencial a saúde e ao meio ambiente, conforme a Norma NBR-10.004 (ABNT,
2004). No processo de digestão anaeróbia de acordo com a ABNT (2004) os resíduos de Classe II –
Não perigosos de Classe II A (Não Inertes) que são os resíduos que não se enquadram nas
classificações de resíduos classe I – Perigosos ou resíduos de classe II B – Inertes. Podem ter
propriedades tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Os Resíduos Sólidos Orgânicos (RSO) compreendem a parcela dos resíduos que são
passíveis de degradação por ação microbiana e sua decomposição resulta em compostos com
elevada Demanda Química de Oxigênio (DQO) e gases de efeito estufa.
Estima-se que os RSO constituam em média 50% dos RSU, portanto o tratamento dessa
fração orgânica presentes nos resíduos, torna-se imprescindível para evitar possíveis impactos
ambientais com o seu descarte inadequado. As propriedades desses resíduos estão relacionadas com
as características de cada componente presente em sua composição como o teor de umidade,
matéria orgânica, teor de material fertilizante e valor calorífico.
Fatores como crescimento urbano e desenvolvimento econômico, ocasionam os maiores
impactos em relação ao gerenciamento de resíduos sólidos nos países em desenvolvimento. Os
resíduos sólidos gerados e dispostos de forma inadequada causam sérios danos não apenas a saúde
da população, mas também danos ambientais, tais como a contaminação do solo, do ar e dos
recursos hídricos entre outros.
Segundo Zhu et al. (2009), os processos de tratamento mais utilizados para fração orgânica
dos RSU são a compostagem e a digestão anaeróbia. A aplicação da digestão anaeróbia torna-se
uma alternativa viável que permite a estabilização e redução do volume dos RSU direcionados à
disposição final, proporcionando também excelentes condições para o aproveitamento do biogás.
A escolha do processo para tratar os RSO, é influenciada pelo local onde este será
implantado. A região deverá absorver os produtos gerados para que seja viável a aplicação desse
processo de tratamento. A via biológica para degradação dos resíduos apresenta diversas vantagens,
dentre elas a conservação dos recursos, através da reciclagem da matéria orgânica e da possível
produção de energia.

DIGESTÃO ANAERÓBIA

Digestão anaeróbia é um processo de conversão de matéria orgânica em condições de


ausência de oxigênio livre, e ocorre em dois estágios: primeiro ocorre a conversão de orgânicos
complexos em materiais como ácidos voláteis; e depois a conversão destes ácidos orgânicos, gás

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 479


carbônico e hidrogênio em produtos finais gasosos, o metano e o gás carbônico (Chernicharo,
1997).
A digestão anaeróbia em si não é uma coisa nova. O processo de decomposição biológica
natural que ocorre na digestão anaeróbia tem sido utilizado durante anos pelo mundo afora. Por
mais de 100 anos a digestão anaeróbia tem sido utilizada para o tratamento de lodo de esgoto e
durante as últimas quatro décadas muitas experiências foram feitas com a digestão anaeróbia de
resíduos líquidos, tais como resíduos rurais e esgotos industriais de altas concentrações.
Raposo et al. (2011), citaram que a digestão anaeróbia é um processo tecnológico
bioquímico para o tratamento de substratos orgânicos como esgoto e efluentes industriais, esterco
animal e substratos sólidos (culturas energéticas, resíduos da agricultura e rejeitos de alimentos).
Este processo envolve a degradação e estabilização da matéria orgânica complexa pelo consórcio de
microrganismos conduzindo a biogás.
Segundo Bruni (2010), a decomposição anaeróbia da matéria orgânica é um processo
complexo que envolve diferentes populações microbianas, em que a maioria destas não produz
metano (CH₄), porém realizam algumas etapas de toda a cadeia de reações.
Leite et al. (2009), mencionaram que durante a digestão anaeróbia, diversas espécies de
microrganismos interagem na conversão de substâncias complexas em substâncias mais simples,
como CH₄, compostos inorgânicos, CO₂, nitrogênio (N₂), amônia (NH₃), gás sulfídrico (H₂S) e
traços de outros gases e ácidos orgânicos de baixo peso molecular.
A digestão anaeróbia pode ser uma opção atrativa como rota de disposição e fonte
alternativa de energia, sendo muito estudada com o objetivo de introduzi-la ao tratamento da fração
orgânica dos RSU.
O esquema resumido das etapas da digestão anaeróbia é apresentado na Figura 1 a seguir:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 480


Figura 1 Sequências metabólicas e grupos microbianos envolvidos na digestão anaeróbia (com redução de
sulfato).
Fonte: CHERNICHARO (1997).

É importante ressaltar que no tratamento de resíduos orgânicos, a presença do sulfato


provoca uma série de alterações em reatores biológicos, haja vista ser estabelecida competição pelo
mesmo substrato por parte de bactérias sulforredutoras (bactérias redutoras de sulfato) e bactérias
fermentativas, acetogênicas e metanogênicas dando origem a dois produtos finais: metano e sulfeto
(BARCELOS, 2009).
De uma maneira geral, a digestão anaeróbia pode ser descrita em quatro estágios: pré-
tratamento, a digestão dos resíduos, a recuperação do biogás e o tratamento dos resíduos. A maioria
dos sistemas requer pré-tratamento dos resíduos para se obter uma massa homogênea. Este pré-
processamento envolve a separação ou triagem dos materiais não biodegradáveis seguido por uma
trituração. A triagem tem por objetivo a remoção de materiais reaproveitáveis como vidros, metais,
ou plásticos ou não desejáveis (o rejeito) como pedras, madeira, etc. (DE BAERE, 2003).
Dentro do digestor, a massa é diluída para obter o conteúdo de sólidos desejado, e
permanece no interior do reator por um determinado tempo de retenção. Para a diluição, pode ser
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 481
utilizado água da torneira, lodo de esgoto, esgoto doméstico, ou a recirculação do líquido efluente
do reator. Um trocador de calor é usualmente requerido para manter a temperatura desejada.
O biogás obtido com a digestão anaeróbia é purificado e armazenado em gasômetros. Em
caso do efluente do digestor estar com umidade muito elevada, faz-se necessário um processo de
secagem do mesmo, e o efluente líquido utilizado para recirculação ou enviado para tratamento. O
biossólido resultando deve ser curado aerobiamente para obter um composto de qualidade.

MICROBIOLOGIA DOS PROCESSOS ANAERÓBIOS

A digestão anaeróbia é representada por dois grupos de bactérias, as anaeróbias produtoras


de ácidos e as Archaeas produtoras de CH₄. De acordo com Dancanal (2006), esses dois grupos de
microrganismos anaeróbios ainda podem ser subdivididos em quatro, sendo eles as bactérias
formadoras de ácidos (butírico e propiônico), bactérias acetogênicas (ácido acético e H₂), as
Archaeas metanogênicas acetoclásticas e, por fim, Archaeas metanogênicas hidrogenotróficas.
Segundo Fdez. - Güelfo et al. (2011b), os microrganismos acidogênicos se desenvolvem
mais rapidamente que os metanogênicos. Portanto, caso o substrato apresente elevada concentração
de matéria orgânica particulada, a etapa de hidrólise será apontada como limitante, uma vez que
será requerido maior tempo para solubilização dos compostos orgânicos. Caso o substrato a ser
tratado venha a ser solúvel, a etapa limitante será a metanogênica.
De acordo com Stams e Plugge (2009), filogeneticamente, são diversas as Archaeas
metanogênicas, sendo mais comumente encontradas atuando com as bactérias anaeróbias, as
Methanobacteriales, Methanomicrobiales e Methanosarcinales. Os autores também citaram que a
relação sintrófica dos microrganismos da digestão anaeróbia torna-se importante, em virtude do H₂
não ser abundante na biosfera, e ser requisito necessário para o metabolismo de alguns
microrganismos anaeróbios, e é continuamente produzido e consumido por microrganismos que
contêm hidrogenases.
Os grupos e espécies de microrganismos que interagem entre si no processo anaeróbio são
apresentados na Tabela 1.

TIPOS ESPÉCIES DE BACTERIAS


Bactérias Fermentativas Clostrídios, Acetivibrio cellulolyticus, Bacteroides succinogenes,
Butyrivibrio fibrisolvens, Eubacterium cellulosolvens, Bacillus sp,
Selenomonas sp, Megasphaera sp, lachNospira multiparus,
Peptococcus anaerobicus, Bifidobacterium sp, Staphylococcus sp.
Bactérias Acetogênicas Syntrophomonas wolinii, S. wolfei, Syntrophus buswellii,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 482


Clostridium bryantii, Acetobacterium woddii.
Archaea Metanogênicas Methanosarcina sp e Methanothrix sp, Methanosaeta sp.
Acetoclástica
Archaea Metanogênicas Methanobacterium sp, Methanobrevibacter sp, Methanospirillum
Hidrogenotróficas sp
Bactérias Redutoras de Desulfotomaculum sp, Desulfovibrio sp, Desulfobacter sp,
Sulfato Desulfococcus sp, Desulfosarcina sp, Desulfobacterium sp,
Desulfonema sp

Tabela 1 Grupos e espécies de bactérias participantes do processo anaeróbio.


Fonte: LOPES (2000).

FATORES INTERVENIENTES NA DIGESTÃO ANAERÓBIA

Muitos são os fatores que influenciam nos processos de tratamento anaeróbio dos resíduos
sólidos, sendo a temperatura, concentração de sólidos totais, alcalinidade e pH, umidade e
nutrientes, exemplos desses fatores.

Temperatura

A temperatura é um fator importante a ser observado na digestão anaeróbia, uma vez que
esta pode alterar a atividade metabólica dos microrganismos, influenciar nas taxas das reações
enzimáticas e desnaturar enzimas e proteínas em geral.
Segundo Raposo et al. (2011), a digestão anaeróbia pode proceder em condições psicrófilas
(< 20ºC), mesófilas (20 a 40ºC) e termófilas (45 a 60 °C), sendo o principal problema da operação
em baixas temperaturas o decréscimo na atividade do consórcio microbiano.
De acordo com Lopes et al. (2004), em temperaturas altas, as reações biológicas ocorrem
com maior velocidade, resultando possivelmente em maior eficiência do processo.

Concentração de sólidos

De acordo com Leite e Povinelli (1999), o resíduo total presente no substrato, seja oriundo
de fonte orgânica ou inorgânica, irá se referir à concentração de sólidos totais, podendo ser o
indicador da massa total a ser tratada. Os autores ainda citaram que no processo anaeróbio, a
bioconversão acontecerá na fração orgânica do substrato, aumentando a taxa de bioconversão do
resíduo à medida que a concentração de sólidos totais voláteis (STV) aumente.
Abbassi-Guendouz et al. (2012), descreveram que baseando-se nos sólidos totais contidos
nos resíduos sólidos, são desenvolvido três principais tipos de tecnologias para a digestão

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 483


anaeróbia: processos úmidos (teor de sólidos totais inferior a 10%), semi-secos (teor de sólidos
totais variando entre 10 a 20%) e secos (teor de sólidos totais superior a 20%). A tecnologia seca,
também chamada de processos anaeróbios com alta concentração de sólidos totais, se torna atrativo
devido reduzir a quantidade de água presente no resíduo bruto, e consequentemente, minimiza o
tamanho do reator utilizado no tratamento. Entretanto, são relatadas dificuldades na operação da
digestão seca em escalas laboratorial e industrial devido a altas concentrações de sólidos totais.
Segundo Dacanal (2006), as sobrecargas orgânica, hidráulica ou tóxica, podem ocasionar a
acumulação de ácidos voláteis, devido à lavagem ou inibição das Archaeas metanogênicas,
ocasionando, consequentemente, a inibição da produção de CH₄.

Alcalinidade e pH

Metcalf e Eddy (2003), citaram que o pH é a forma utilizada para expressar a acidez ou
alcalinidade do meio, e é definido como sendo o logaritmo negativo da concentração de íons
hidrogênio. Segundo Lopes (2000), quando o pH apresenta valores baixos, há possibilidade da
concentração de Ácidos Graxos Voláteis (AGV) estar alta, o que inibirá a metanogênese, no
entanto, quando os valores se encontram acima de 8,0, é possível indicar a formação de NH₂.
As bactérias acidogênicas produzirão ácidos que, como consequência, tendem a baixar o pH
do substrato. Em condições normais, esta redução é tamponada por bicarbonatos produzidos durante
o processo de digestão anaeróbia, quando em condições adversas, esta capacidade tamponante tende
a ser rompida, afetando a produção de CH₄, a acidificação é mais inibitória para os microrganismos
metanogênicos que para os acidogênicas.
Deublin e Steinhauser (2008), relataram que o pH ótimo para os microrganismos
metanogênicos situa-se entre 6,7 e 7,5 e que para valores abaixo de 6,5, somente a Methanosarcina
é capaz de suportar, o que reduzirá a eficiência de produção de CH₄.
Segundo Manahan (2000), alcalinidade é a capacidade da água de aceitar íons H⁺. É um
parâmetro importante, pois serve como tampão, evitando variações elevadas do pH. Geralmente os
íons bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos são responsáveis pela alcalinidade na água.

Umidade

O teor de umidade, segundo Lima (2004), representa a quantidade de água contida na massa
do resíduo, e um fator importante, visto que exerce influencia na escolha do sistema de tratamento e
aquisição de equipamentos de coleta.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 484


De acordo com Picanço (2004), o crescimento dos microrganismos é influenciado pela
mudança nos teores de umidade, pois esta é responsável pelo transporte de enzimas, bem como pela
solubilização dos principais nutrientes.
O teor de umidade nos RSU depende diretamente das condições climáticas, variando
sensivelmente de um lugar para outro. Com relação à fração orgânica putrescível dos resíduos
sólidos urbanos esta apresenta teor de umidade em torno de 80%%. (LOPES et al, 2002).
No Brasil, os resíduos sólidos urbanos são constituídos, basicamente, por umidade, matéria
orgânica putrescível, plástico, papel e papelão. O percentual de umidade gira em torno de 50% (em
peso), dependendo da época do ano e dos hábitos e costumes da população, enquanto os 50%
restantes que correspondem à fração sólida, estão presentes nos demais constituintes físico-
químicos.

Nutrientes

O bom desempenho dos processos biológicos requer a disponibilidade de nutrientes


essenciais para o desenvolvimento microbiano, em proporções adequadas (VERSIANI, 2005).
Khanal (2008) relatou que na verdade os nutrientes não estão diretamente envolvidos na
estabilização dos resíduos, mas são os componentes essenciais de uma célula bacteriana,
necessários para a atividade e multiplicação das células existentes e síntese de novas células.

CONCLUSÃO

O tratamento anaeróbio tem-se apresentado como uma alternativa viável e que vem sendo
aceita com relevante aplicabilidade e implantação nos sistemas de tratamento, visando à
estabilização e o aproveitamento energético desses resíduos. O biogás produzido é proveniente de
compostos orgânicos complexos, oriundo da mediação de diversificados grupos de microrganismos,
é constituído basicamente de metano, compostos inorgânicos e traços de outros gases e ácidos
orgânicos de baixo peso molecular. A aplicação desse tipo de tratamento, além de oferecer suporte a
matriz energética ao aproveitar os resíduos sólidos orgânicos, evita-se também a destinação
inadequada destes resíduos em aterros sanitários ou lixões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBASSI-GUENDOUZ, A., BROCKMANN, D., TRABLY, E., DUMAS, C., DELGENÈS, J-P.,
STEYER, J-P., ESCUDIÉ, R., Total solids content drives high solid anaerobic digestion via
mass transfer limitation, Bioresource Tecnology, 2012, doi: 10.1016/j.biortech.2012.01.174

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 485


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR – 10.004. Resíduos Sólidos –
classificação. Rio de Janeiro, 2004.

BARCELOS, B.R. Avaliação de Diferentes Inóculos na Digestão Anaeróbia da Fração Orgânica


de Resíduos Sólidos Doméstico . Brasília-DF, 90 p. Dissertação (Mestrado), Tecnologia
Ambiental e Recursos Hídricos. Universidade de Brasilia, 2009.

BRASIL, Ministério da Casa Civil. Política Nacional dos Resíduos sólidos. Lei no 12.305, 2010.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/> . Acesso em 17 de Maio de 2014.

BRUNI, E.; Improved Anaerobic Digestion of Energy Crops and Agricultural Residues, PhD
Thesis, department of Environmental Engineering, Technical University of Denmark, Denmark,
2010.

CHERNICHARO, C. L. Reatores anaeróbios. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, 1997.

DACANAL, M.; Tratamento de Lixiviado Através de Filtro Aeróbio Associado a Membrana de


Microfiltração. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Materiais,
Universidade de Caxias do Sul, 2006.

DE BAERE L. 2003. State-of-the-art of anaerobic digestion of municipal solid waste. In: NINTH
INTERNATIONAL WASTE MANAGEMENT AND LANDFILL SYMPOSIUM, 2003,
Cagliari, Italy. Proceedings. CISA p.1–9.

DEUBLIN, D.; SETINHAUSER, A.; Biogas from Waste and Renewable Resources: An
Introduction. Ed.:Wiley-VCH Verlag GmbH & Co KGaA, Weinheim, Germany. 2008

FDEZ. - GÜELFO, L. A.; ÁLVAREZ-GALLEGO, D.; SALES, D.; GARCÍA, L. I. R.;


Determination of Critical and Optimum Conditions for Biomethanization of OFMSW in a Semi-
Continuous Stirred Tank Reactor, Chemical Engineering Journal, 171, p.418–424, 2011b.

KHANAL, S. K.; Anaerobic Biotechnology for Bioenergy Production: Principles and Applications,
Wiley-Blackwell, Ames, Iowa, USA, 2008.

LEITE, V. D.; POVINELLI, J.; Comportamento dos Sólidos Totais no Processo de Digestão
Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental. Vol. 3, nº 2, p. 229-232, 1999. LIANHUA, L.; DONG, L.;
YONGMING,S.; LONGLONG, M.;ZHENHONG, Y.;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 486


LEITE, V. D.; LOPES, W. S.; SOUSA, J. T.; PRASAD, S.; SILVA, S. A.; Tratamento Anaeróbio
de Resíduos Sólidos Orgânicos com Alta e Baixa Concentração de Sólidos. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande-PB, 2009.

LEVINE, A. D.; TCHOBANOGLOUS, G.; ASANO, T. Size Distribution of Particulate


Dontaminants in Wastewater and Their Impact on Treatability. Wat. Res., v. 25, n. 08, p. 911-
922, 1991.

LIMA, L. M. Q. Lixo: Tratamento e Biorremediação. Ed. Hermus, São Paulo-SP, 2004, p. 265.

LOPES, W. S.; Biodigestão Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos Inoculados com rumem
bovino. Dissertação de mestrado - Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, UFPB/UEPB, 2000.

LOPES, W. S.; LEITE, V. D.; SOUZA, J. T.; JUNIOR, G. B. A.; SILVA. S. A.; SOUSA, M. A.;
Influência da Umidade na Digestão Anaeróbia de Resíduos Sólidos , XXVIII Congresso
Interamericano de Ingenieria Sanitaria y Ambiental, Cancun, México, 2002.

LOPES, W.S., LEITE, V.D., PRASAD,S. Influence of inoculum on performance of anaerobic


reactors for testing municipal solid waste . Bioresource. Technology: 94 , 261-266, 2004.

MANAHAN, S. E.;Environmental Chemistry, 7thed, New York, USA, Lewis Publishers, 2000.

METCALF & EDDY; Wastewater Engineering: Treatment and Reuse, 4a ed, New York – USA,
McGraw-Hill, 2003.

PICANÇO, A. P.; Influência da Recirculação de Percolado em Sistemas de Batelada de uma Fase


e Híbrido na Digestão da Fração Orgânica de Resíduos Sólidos de Urbanos, tese de doutorado,
USP, São Carlos, 2004.

RAPOSO, F.; de la RUBIA, M. A.;FERNÁNDEZ-CEGRÍ, V.; BORJA, R.; Anaerobic Digestion of


Solid Organic Substrates in Batch Mode: An Overview relating to Methane Yields and
Experimental Procedures, Renewable and Sustainable Energy Reviews, 16, p.861–877, 2011.

STAMS, A. J. M.; PLUGGE, C. M.; Electron Transfer in Syntrophic Communities of Anaerobic


Bacteria and Archaea. Nat. Rev. Microbiol., vol. 7, 2009.

VERSIANI, B. M.; Desempenho de um Reator UASB Submetido a Diferentes Condições


Operacionais Tratando Esgotos Sanitários do Campus da UFRJ. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação de Engenharia, UFRJ, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 487


ZHU, B.; CIKAS, P.; ZHANG.; LORD, J.; JENKINS, B.; LI, X.; Characteristics and biogas
Production Potential of Municipal Solid Wastes Pretreated with a Rotary Drum Reactor.
Bioresource Technology 100, 1122–1129, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 488


DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTORNO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA
DE CAETÉS - PE: OPORTUNIDADE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
COMUNIDADE LOCAL

Adriana Aparecida Megumi NISHIWAKI


Mestranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental – UFRPE
adri_megumi@yahoo.com.br

Liliana Andréa dos SANTOS


Mestranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental – UFRPE
liliana.andrea.santos@gmail.com

Danyelle Soraya MONTEIRO


Mestranda do Programa de Administração e Desenvolvimento Rural, UFRPE-PADR
monteirodmonteiro@yahoo.com.br

Rainier Emanuel Freire de Freitas GUEDES


Mestrando do Programa de Administração e Desenvolvimento Rural, UFRPE-PADR
rainierfreire@gmail.com

RESUMO
A proteção e manutenção da biodiversidade, dos recursos naturais e culturais são funções de uma
unidade de conservação. No entanto, ações antrópicas vêm afetando a integridade e o equilíbrio das
unidades comprometendo a eficiência da preservação. O presente estudo é focado na Estação
Ecológica de Caetés (ESEC-Caetés), localizada no município de Paulista (PE), entre 7°55‘15‘‘ e
7°56‘30‘‘ de latitude Sul e 34°55‘15‘‘ e 34°56‘30‘‘ de longitude Oeste, num resquício de mata
atlântica com 157 ha. Este trabalho visa estudar a disposição irregular de resíduos sólidos e suas
consequências na ESEC-Caetés, apresentando uma proposta de educação ambiental envolvendo a
comunidade local. Por meio de levantamento de dados primários, foram identificados os problemas
ambientais de fundo antrópico, sendo estes cruzados com dados secundários referentes a educação
ambiental em comunidades. O descarte inadequado de resíduos sólidos nas margens da unidade
pelos moradores do entorno da ESEC pode ocasionar a contaminação do solo e da água, dano à
fauna e flora, alteração do funcionamento dos ecossistemas, além de atrair vetores, disseminando
doenças na comunidade local. A estratégia para reverter este quadro consiste em ações de educação
ambiental na comunidade local por meio de visitas ecológicas, conscientizando sobre a importância
da preservação ambiental, consolidação de coleta seletiva de resíduos sólidos na unidade,
incentivando a prática dos 3R's (reduzir, reutilizar e reciclar) e inclusão dos moradores no processo
da destinação adequada dos resíduos sólidos como na reciclagem e compostagem, gerando renda
para essas pessoas. Dessa forma, essa conscientização vai além da prática conservacionista, ela

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 489


busca desenvolver uma visão holística ambiental, no qual o homem está inserido, resgatando assim
o equilíbrio ambiental na unidade.
Palavras-chaves: ESEC Caetés; resíduos sólidos; unidade de conservação; gestão integrada.

ABSTRACT
The biodiversity, natural and cultural resources protection and maintenance are functions of
conservation unit. However, human activities are affecting the unit‘s integrity and balance,
compromising the efficiency of preserving these natural resources. The present study is focused on
Caetés Ecological Station (ESEC-Caetés), located in Paulista city (PE), between 7 ° 55'15'' and
56'30'' 7 ° South latitude and 34 ° 55'15 '' 56'30'' and 34 ° West longitude, a rain forest remnant of
157 ha. This work aims to study the solid waste irregular disposal and its consequences on ESEC-
Caetés. presenting a proposal of environmental education involving the local community. Through
primary data collection, environmental problems were identified, these data was crossed with
secondary data of environmental education in communities. Improper disposal of solid waste in
unit´s limits for the residents surrounding the station may result in contamination of soil and water,
flora and fauna damage, alteration of ecosystem functioning, besides attracting vectors spreading
disease for local community. The strategy to revert this situation consists in actions of the
environmental education in local community, continuously, with eco-tours, raising awareness about
the importance of environmental preservation, consolidation of solid waste selective collection,
encouraging the practice of 3Rs (reduce, reuse and recycle) and inclusion of local residents in
appropriated process of garbage disposal like recycling and composting, generating income for
these people. Thus, this awareness goes beyond conservation practice. Try to develop a
environmental holistic view, which man is inserted, recovering the balance of environmental in a
conservation unit.
Keywords: ESEC Caetés; solid waste; conservation unit; integrated management.

INTRODUÇÃO

No Brasil, uma das fontes de poluição ambiental mais comum é os resíduos sólidos
dispostos irregularmente pelo gerador ou por intermediários. Segundo a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE (2013), no Brasil, entre 2012 e
2013, o índice de geração total de resíduos sólidos urbanos (4,1%) foi maior que a taxa de
crescimento populacional (3,7%). Nesse período, apesar de ter identificado uma melhora no índice
de coleta dos resíduos gerados (4,4%), houve mais de 20.000 toneladas de resíduos sólidos urbanos
não coletados, apenas em 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 490


Além de causar poluição ambiental, como poluição visual, hídrica, edáfica e atmosférica, e
de propiciar a atração de vetores transmissores de doenças, que comprometem a saúde humana, o
lixo também causa dano à fauna e flora, interferindo no funcionamento dos ecossistemas (SOARES
et al, 2007). Mais preocupante ainda, quando ocorre nas proximidades das áreas protegidas onde a
biodiversidade silvestre deve ser resguardada.
Os primeiros conceitos de áreas protegidas na legislação brasileira surgiram em 1934 no
Código Florestal Brasileiro, que posteriormente foi alterada adotando novos critérios para a
determinação de áreas protegidas e de áreas de exploração. Em 1967, foi instituído o Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, pelo decreto nº 289, tendo como um dos objetivos
a administração das unidades de conservação, que antes era responsabilidade do Ministério da
Agricultura. Posteriormente, em 1973, outro órgão foi criado para auxiliar nesse processo de gestão
e implantação das unidades de conservação, a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, um
órgão federal, que apesar de atuar de modo desconexo com o IBDF, estabeleceu duas novas
categorias de unidade de conservação ao sistema nacional: estações ecológicas e áreas de proteção
ambiental, além de participar na articulação da elaboração da Lei 6.938/1981, que instituiu a
Política Nacional do Meio Ambiente. Em 1979, o IBDF também atuou no desenvolvimento da
primeira etapa do Plano do Sistema de Unidades de Conservação no Brasil, baseada nas categorias
de manejo de áreas protegidas apresentadas pela União Internacional para a Conservação da
Natureza – IUCN. Na segunda etapa do plano do sistema de unidades de conservação foi conferido
algumas alterações a favor do uso direto dos recursos naturais, dessa forma contrariando a
preservação dos mesmos (BATARCE, 2010; HOSAKA, 2010; IBAMA, 2014).
Entretanto o plano não foi reconhecido legalmente, visto que o sistema de unidades de
conservação se demonstrava confuso em seus objetivos e nas definições das categorias nas esferas
municipal, estadual e federal (RYLANDS E BRANDON, 2005). Desde então, instituições
governamentais e uma ONG estudaram e debateram sobre o assunto, até que em 1992, foi
apresentado o Projeto de Lei nº 2.892/1992, que propôs o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, ficando em tramitação no Congresso Nacional até ser aprovado em 2000,
por meio da lei nº 9.985 (RYLANDS E BRANDON, 2005; HOSAKA, 2010).
Com o surgimento do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA, resultante da unificação do IBDF e da SEMA, em 1989, centralizou-se em
um órgão as funções de gestão, evitando desorganização das atribuições, que era recorrente entre as
duas instituições (RYLANDS E BRANDON, 2005). Atualmente, as unidades de conservação
nacionais são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -
ICMBio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 491


Conforme o Ministério do Meio Ambiente (2008), as unidades de conservação são ―áreas
instituídas pelo poder público para a proteção da fauna, flora, microrganismos, corpos d‘água, solo,
clima, paisagens, e todos os processos ecológicos pertinentes aos ecossistemas naturais‖. Ainda
segundo o estudo, a proteção abrange o ―patrimônio histórico-cultural e as práticas e o modo de
vida das populações tradicionais‖. A lei nº 9.985/2000 classifica as unidades de conservação em
dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável, os quais diferem no
manejo concedido pelo regulamento específico e pelo plano de manejo das mesmas.
Uma das categorias de unidades de proteção integral é a estação ecológica, área de domínio
público, que visa a preservação da natureza e realização de pesquisas científicas. Há possibilidade
de interferência no ecossistema protegido de modo a contribuir na efetivação das funções da estação
ecológica. As exceções são: ações restauradoras em ecossistemas alterados; manejo de espécies
para preservar a biodiversidade; pesquisas científicas, tanto em simples coleta de elementos que
fazem parte do ecossistema protegido como os que causam impactos em maior extensão tendo o
limite de 3% do total da unidade ou no máximo 1.500 ha (BRASIL, 2000).
Complementando a regulamentação da estação ecológica, o Decreto nº 99.274/1990 (art.27)
estabelece que ―nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio de dez quilômetros,
qualquer atividade que possa afetar a biota ficará subordinada às normas editadas pelo Conama‖.
Ainda neste dispositivo legal elenca uma série de infrações que são suscetíveis a multas diárias,
dentre elas, este trabalho destaca o inciso III: ―emitir ou despejar efluentes ou resíduos sólidos,
líquidos ou gasosos causadores de degradação ambiental, em desacordo com o estabelecido em
resolução ou licença especial‖, uma vez que tem sido um dos problemas identificados na Estação
Ecológica de Caetés, o local onde foi realizado o estudo.
Recentemente foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS pela Lei nº
12.305/2010, a qual trouxe obrigações e metas para os gestores públicos se comprometerem a
reverter essa situação dos resíduos sólidos. Um dos instrumentos citados pela PNRS e um dos temas
mais discutidos desde a década de 1970, é o tema central da Lei nº 9.795/1999, que define a
educação ambiental como ―processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade‖.
Partindo das considerações apresentadas, o presente trabalho tem como objetivo analisar a
disposição irregular de resíduos sólidos e suas consequências na ESEC-Caetés, e propor estratégias
de educação ambiental envolvendo a comunidade do entorno para a resolução deste problema.

METODOLOGIA
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 492
Caracterização e Localização da Área de Estudo

O estudo foi realizado na Estação Ecológica de Caetés – ESEC Caetés, localizada no


município de Paulista, situada na Região Metropolitana do Recife (RMR), no estado de
Pernambuco nas coordenadas 7°55'39‖ S e 34°55'52‖ W. Sendo uma área de remanescente florestal
da mata atlântica do estado, ocupando uma extensão de 157,1 ha, foi instituída inicialmente como
Reserva Ecológica pela lei nº 9.989/1987 e posteriormente redefinida como Estação Ecológica
através da lei 11.622/1998, por questões de enquadramento às categorias estabelecidas pelo SNUC
e de adequação aos objetivos da unidade (CPRH, 2006). Além dos objetivos conservacionistas, a
ESEC Caetés tem função fundamental em conscientizar a população da RMR na questão ecológica,
o que possibilita a participação das populações locais no processo da gestão da unidade, condição
prevista pela Lei que instituiu o SNUC (BRASIL, 2000).
A área é predominantemente florestal, onde há partes preservadas e outras em regeneração,
porções estas que sofreram desmatamento, devido ao corte seletivo de árvores que ocorreu há
alguns anos atrás. Quanto à fauna, as espécies presentes na ESEC Caetés, assim como em todo o
estado, pertencem a Província Zoogeográfica Cariri, com predominância de espécies arborícolas
(CPRH, 2006; FARIAS, 2009). Segundo o plano de manejo da unidade, de acordo com
levantamentos preliminares, a ESEC Caetés protege uma biodiversidade constituída por 38 espécies
de insetos; 20 espécies de anfíbios anuros; 112 espécies de aves; e 8 espécies de quirópteros
(CPRH, 2006). A ESEC é um importante refúgio para a avifauna nativa, onde é encontrado algumas
espécies endêmicas da região.
Em razão da proximidade da ESEC com a fronteira entre os municípios Paulista e Abreu e
Lima, a vizinhança é constituída por habitantes do município de Abreu e Lima, tendo o conjunto
habitacional de Caetés I os seus vizinhos mais próximos. Muitos fatores críticos à unidade pode
advir do crescimento desordenado da população do município adjacente, resultando no aumento de
geração de resíduos sólidos e sua destinação inadequada, no esgotamento sanitário impróprio e na
exploração ilegal dos recursos naturais (CPRH, 2006).

Levantamento de Dados

O presente trabalho de cunho qualitativo e propositivo, inicialmente identificou a


problemática da deposição irregular de resíduos sólidos nos limites da unidade por meio de visitas
no local, entre 2013 e 2014. Os dados levantados na pesquisa foram utilizados nas seguintes etapas:
a) Análise da disposição dos resíduos sólidos e suas consequências na ESEC Caetés, e
b) Desenvolvimento de proposta de educação ambiental envolvendo a comunidade
circunvizinha na destinação correta do lixo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 493


A primeira etapa baseou-se em dados primários, consistindo em observações, registros
fotográficos e relatos de colaboradores da ESEC, assim como dados secundários relacionados aos
resíduos sólidos e seus efeitos negativos. Esta etapa subsidiou o planejamento das estratégias de
educação ambiental, que teve como público-alvo a comunidade local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em todas as visitas, sem exceção, encontrou-se lixo disposto nos limites da unidade,
inclusive na área interna em pequenas quantidades (figuras 1 e 2). A unidade de conservação em
questão é delimitada por cercas de arame farpado, onde possibilita a passagem de animais silvestres
de pequeno e médio porte, facilitando assim o acesso à maior quantidade de resíduos sólidos na área
externa do entorno. Isso pode comprometer a saúde dos animais silvestres da unidade, por meio de
ingestão ou ferimento em resíduos. O ICMBio confirma esse impacto causado pelo lixo sobre a
fauna silvestre em unidades federais de proteção integral, cuja fonte geradora são os visitantes das
unidades, diferentemente do que ocorre na ESEC Caetés onde os moradores do entorno são os
responsáveis pelo impacto. O lixo ao atrair os animais acaba deixando suscetíveis à caça, uma
prática muito comum no local, que também ameaça a biodiversidade da ESEC.

(1) (2)

Figuras 1 e 2. Resíduos sólidos dispostos no entorno da ESEC Caetés. Autora: Adriana A. M. Nishiwaki

A saúde da comunidade circunvizinha também se prejudica com esse ato inconsequente e


cultural de abandonar o lixo em locais inapropriados, visto que os resíduos sólidos atraem vetores
transmissores de doenças, tais como ratos, cães, gatos, baratas, mosquitos, entre outros, sendo a
maioria reservatórios de agentes causadores de zoonoses. Esse fato é mostrado na figura 1, na qual
exibe um cão se alimentando de restos de alimentos e animais em decomposição. Outra forma que
pode atingir a saúde dos moradores do local é a contaminação dos corpos d‘água utilizados pela
comunidade para consumo, causando diversas afecções (MUCELIN e BELLINI, 2008).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 494


A partir deste diagnóstico, pode-se delinear estratégias de educação ambiental relacionado
aos resíduos sólidos na comunidade do entorno. Salientando que o processo de educação ambiental
já faz parte das atividades da unidade de Caetés, no qual o presente trabalho agregará, de forma
específica, conhecimentos e novos hábitos sustentáveis. O processo educacional consistirá em:
- Palestras sobre assuntos oportunos, como o forte histórico e a função da ESEC Caetés; os
impactos causados pelos resíduos sólidos sobre o meio ambiente e a fauna; e a importância da
conservação da flora e da fauna assim como dos recursos naturais, entre outros;
- Orientação sobre a prática dos 3 R‘s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), demonstrando
situações diversas para sua aplicabilidade no cotidiano;
- Dinâmicas e oficinas temáticas, utilizando resíduos sólidos recicláveis, esclarecendo sobre
os materiais passíveis de reciclagem;
- Atualização técnica dos catadores de materiais recicláveis moradores da comunidade local;
- Capacitação da comunidade nas técnicas de compostagem com resíduos orgânicos.
Nas oficinas de reciclagem e de compostagem terão oportunidade de obter uma fonte
alternativa de renda ou mesmo emprego, o que contribuirá de fato na efetivação do objetivo do
trabalho em solucionar o problema com os resíduos sólidos abandonados incorretamente, uma vez
que haverá melhoria da qualidade de vida dos interessados. Muito além dos benefícios financeiros,
essas atividades, assim como as palestras, possibilitarão a formação de um pensamento reflexivo e
crítico diante do atual cenário (SANTOS et al, 2010). A atualização técnica de catadores abordará
assuntos como gestão, saúde, segurança de trabalho além de meio ambiente.
Outro ponto das estratégias delineadas é a consolidação da coleta seletiva na ESEC Caetés
com a participação dos catadores da comunidade. A unidade hoje realiza a separação dos resíduos
sólidos, porém os resíduos são reunidos novamente e recolhidos pela Companhia de Limpeza de
Abreu e Lima. Tem-se um grande interesse por parte da ESEC em destinar os materiais recicláveis
através de catadores. Para apoiar as atividades buscará auxílio dos poderes públicos municipais, que
tem essa obrigação originada pela Lei nº 12.305/2010 de implementar a coleta seletiva nos
municípios.
Este estudo corresponde com o Subprograma de Educação Ambiental e Interpretação que
compõe os programas de manejo previsto no plano de manejo da ESEC Caetés, cujo o objetivo é
promover a ―compreensão do meio ambiente, favorecendo ações que visem a conscientização da
causa ambiental‖ (CPRH, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 495


Em contradição à luta pela criação da ESEC Caetés conquistadas pelos ambientalistas e
moradores de Caetés I, os quais com empenho conseguiu embargar um projeto de aterro sanitário
que iria ser construído no local, hoje a comunidade despreza o seu passado ao abandonar o lixo nas
margens da ESEC. A proposta do presente trabalho reacende essa mobilização por uma causa
ambiental por meio do processo de educação ambiental. Este trabalho desenvolverá não só a
conscientização sobre as práticas conservacionistas, mas também a visão holística desse processo,
esclarecendo a integração entre o homem e o meio ambiente, salientando sua dependência ao
equilíbrio desse último. A chave da resolução da problemática também está na manutenção do
legado que a educação ambiental deixará, para isso é necessário o compromisso de todos, tanto do
poder público quanto da comunidade local, garantindo assim o bem estar coletivo e do meio
ambiente.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HIDRICOS - CPRH. Plano de


Manejo Fase I - Estação Ecológica de Caetés. Recife; 2006. 63p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS


ESPECIAIS – ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2013. Disponível em <
http://www.abrelpe.org.br/panorama_edicoes.cfm>. Acesso em: set 2014.

BATARCE, A. P. A. Evolução das unidades de conservação no contexto nacional. In: Anais XVI
Encontro Nacional dos Geógrafos – ENG, 2010, Associação dos Geógrafos Brasileiros, Porto
Alegre, RS.

BRASIL. Decreto nº 99.274 de junho de 1990. Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981,
e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de
Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.985 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 496


BRASIL. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.

FARIAS, G. B. Variação temporal em uma comunidade de aves em área de mata atlântica na


estação ecológica de Caetés, Pernambuco, Brasil. Atualidades Ornitológicas On-line Nº 147 -
Janeiro/Fevereiro 2009.

HOSAKA, A. M. S. Unidades de conservação: Aspectos históricos e conceituais. In: PHILIPPI JR,


A.; RUSCHMANN, D. V. M. Gestão ambiental e sustentabilidade no turismo. Barueri, SP:
Manole, 2010. Pg. 275-80.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS


RENOVÁVEIS – IBAMA. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/acesso-a-
informacao/historico>. Acesso em: set. 2014.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – ICMBIO.


Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/4-destaques/4939-lixo-
na-natureza-ameaca-a-fauna-a-flora-e-os-humanos.html>. Acesso em: set. 2014.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Unidades de conservação: conservando a vida, os bens e


os serviços ambientais. São Paulo, 2008. Disponível em<
http://www.mma.gov.br/estruturas/pda/_arquivos/prj_mc_061_pub_car_001_uc.pdf>. Acesso
em: set. 2014.

MUCELIN, C. A.; BELLINI, M. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano.


Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 20, n. 1, p. 111-124, 2008.

RYLANDS, A. B.; BRANDON, K. Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade, v.1,


n.1, jul. 2005.

SANTOS, H. M. N.; BORGES, A. A. S.; CÂNDIDA, A. C.; FEHR, M. Educação ambiental e


resíduos sólidos em Araguari/MG – Brasil. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 136-
152, 2010.

SOARES, L. G. C.; SALGUEIRO, A. A.; GAZINEU, M. H. P. Educação ambiental aplicada aos


resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso. Revista Ciências &
Tecnologia, Ano 1, n. 1, jul-dez 2007 – 1.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 497


PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE ANAERÓBIO EM REATOR COM ALGAS
IMOBILIZADAS EM ESCALA EXPERIMENTAL

Dayane de Andrade LIMA


Mestranda/UEPB
dayane_eld@hotmail.com

Jéssyca de Freitas LIMA


Mestranda/UEPB
jessyca-11f@hotmail.com

Rodolfo Hathchwell Borges de QUEIROZ


Graduado/UEPB
rodolfox.borges@gmail.com

Israel Nunes HENRIQUE


Professor Orientador/UFOPA
israelnunes@yahoo.com.br

RESUMO
O lançamento de esgotos sem tratamento em corpos aquáticos causa sérios problemas à qualidade
de vida e coloca em risco o abastecimento de água da população, como consequência a eutrofização
das águas e disseminação de doenças. A necessidade de preservar os recursos hídricos impulsionou
o desenvolvimento de diversos processos de tratamento para minimizar os efeitos adversos
ocasionados com o lançamento de esgoto no meio ambiente. O objetivo desse trabalho foi avaliar a
remoção de nutrientes e de indicadores de contaminação fecal em reator de algas imobilizadas
realizando pós tratamento de efluente anaeróbio. Nesse contexto foi instalado um Reator Anaeróbio
Híbrido (RAH), constituído de um reator anaeróbio de manta de lodo de fluxo ascendente (UASB)
seguido de filtro anaeróbio (FA) alimentado por esgoto doméstico, onde efluente desse reator era
conduzido a um Reator de Algas Imobilizadas (RAI) para fins de pós-tratamento. Foram analisados
parâmetros físicos, químicos e microbiológicos, dando suporte a avaliar remoção de nutrientes e
indicadores de contaminação sanitária. A remoção de coliformes totais alcançou 99,98%, resultando
em valores de concentração aproximado do recomendado pela OMS (≤1000 UFC/100mL), para uso
irrestrito na irrigação ou lançamento em locais destinados a recreação. A remoção de nitrogênio,
para o NTK foi de 65% de eficiência, a amônia chegou a 84%, o mecanismo de remoção de
nitrogênio que predominou foi a volatilização da amônia. A remoção de fósforo na forma de
ortofosfato atingiu valores muito significativos em torno 87%, resultante da precipitação química
como o principal mecanismos de remoção. De acordo com os resultados obtidos, o reator com algas
imobilizadas mostrou-se uma alternativa eficiente no pós-tratamento de efluentes de reator
anaeróbio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 498


Palavras–chave: Reator de Algas Imobilizadas. Remoção de Nutrientes. Indicadores de
Contaminação Fecal.

ABSTRACT
The release of untreated sewage in water bodies causes serious problems to the quality of life and
threatens the water supply of the population, result in eutrophication of water and spreading disease.
The need to preserve water resources spurred the development of several treatment processes to
minimize the adverse effects caused with the release of sewage into the environment. The aim of
this study was to evaluate the removal of nutrients and indicators of fecal contamination in
immobilized algae reactor performing anaerobic effluent after treatment. In this context it was
installed an Anaerobic Hybrid Reactor (AHR), consisting of an upflow anaerobic sludge blanket
upflow (UASB) followed by anaerobic filter (AF) powered by domestic sewage, where effluent
from this reactor was led to a reactor Algae immobilized (RAI) for purposes of post-treatment.
Physical, chemical and microbiological parameters were analyzed, supporting evaluate nutrient
removal and indicators for sanitary contamination. The removal of total coliforms reached 99.98%,
resulting in values approximate concentration recommended by WHO (≤1000 CFU / 100mL), for
unrestricted use for irrigation or release sites for recreation. Nitrogen removal for the NTK was 65%
efficiency, ammonia reached 84%, the removal mechanism of nitrogen that prevailed was the
ammonia volatilization. The removal of phosphorus in the form of orthophosphate very significant
values reached around 87%, resulting in precipitation as the main chemical removal mechanisms.
According to the results, the reactor with immobilized algae proved to be an effective alternative in
post-treatment of effluents from anaerobic reactor.
Keywords: Immobilized Algae reactor. Nutrient Removal. Indicators of Fecal Contamination.

INTRODUÇÃO

O lançamento indiscriminado de esgoto ―in natura‖ em corpos hídricos causam diversos


impactos ao meio ambiente. Sendo necessário o tratamento desses para reduzir os impactos
ocasionados. O emprego de tratamentos anaeróbios tem ganhado destaque no Brasil nos últimos
anos. As tecnologias anaeróbias apresentam diversas vantagens, como economia no processo,
simplicidade operacional, baixa produção de lodo excedente e lodo estabilizado, baixo
requerimento de área e baixa necessidade de nutrientes (CHERNICHARO, 2007).
O tratamento anaeróbio de esgoto doméstico remove parcialmente os poluentes como
material carbonáceo e sólidos em suspensão gerando efluente que ainda apresentam constituintes
indesejáveis e não atende as exigências da legislação ambiental vigente, portanto, a utilização de
sistemas de pós-tratamento é ideal para uma remoção satisfatória. A combinação de processo
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 499
anaeróbio/aeróbio de tratamento de águas residuárias domésticas, além de completar a remoção da
matéria orgânica, remove os nutrientes como nitrogênio e fósforo e os organismos patogênicos.
Todavia, permitir a utilização de menores áreas de instalação, menor geração de lodo e menores
custos com tratamento e destinação final do lodo produzido (TONETTI et al., 2012).
Os estudos e experiências atuais mostram que tratamentos biológicos de águas residuárias
têm focado em investimentos para alternativas de pós-tratamentos e de sistemas compactos unindo
diferentes tipos de tratamentos biológicos, resultando em uma eficiência maior do que o uso de cada
uma delas separadamente para obter melhores resultados e diminuindo as falhas individuais de cada
tecnologia, de forma que a desvantagem de um processo acaba sendo aproveitada como vantagem
para o outro. Com isso o uso de reatores anaeróbios associados a outras tecnologias tem a finalidade
de promover um sistema mais eficiente para tratar águas residuárias domésticas (FORESTI et al,
2006).
O uso de lagoas de polimento é uma alternativa muito empregada no pós-tratamento de
efluentes digeridos por processos anaeróbios, pois as algas exercem um importante papel no
tratamento, aumentam a concentração de oxigênio dissolvido através da fotossíntese, que é
necessário ao metabolismo das bactérias aeróbias e consomem o dióxido de carbono produzido pela
oxidação bacteriana da matéria orgânica, elevando o pH do meio e possibilitando a remoção de
nutrientes e patógenos das águas através de seu metabolismo consorciado ao crescimento celular. A
técnica de imobilização de algas consiste em aprisionar os microrganismos em material suporte com
a finalidade de obter melhor desempenho (MARCON, 2005).
De acordo com Silva (2007), as maiores limitações praticadas no tratamento de águas
residuárias utilizando algas é a separação e a coleta da biomassa proveniente da descarga de água
tratada, desta maneira, a técnica de imobilizar algas para este intuito permite uma maior
flexibilidade no desempenho e na construção de biorreatores, quando comparado com sistemas
convencionais que utilizam algas em suspensão. O meio suporte promove área superficial onde
agrega-se a biomassa de algas realizando esse processo em um espaço reduzido quando comparado
à lagoa de estabilização.
Nesse sentido o presente trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho de um reator com
algas imobilizadas (RAI) no pós-tratamento de efluente anaeróbio para verificação da remoção de
nutrientes e indicadores de contaminação fecal (coliformes termotolerantes).

MATERIAL E MÉTODOS

Foi instalado e monitorado o Reator Anaeróbio Híbrido (RAH) e o Reator de Algas


Imobilizadas (RAI) ambos em escala de bancada. Os sistemas experimentais foram operados em

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 500


uma área pertencente à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), nas instalações físicas da
Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgotos Sanitários - EXTRABES - Campina
Grande – PB.

Instalação, Partida e Operação do Reator

O experimento foi constituído por um Reator Anaeróbio Híbrido - RAH tratando esgoto
sanitário (Figura 1A), sendo formado por um reator UASB na parte inferior e na parte superior
estava acoplado um filtro anaeróbio com meio suporte em poliuretano. O Reator com Algas
Imobilizadas - RAI (Figura 1B) foi construído para fazer o polimento do efluente do RAH. O RAH
foi alimentado com esgoto sanitário originário do sistema de esgotamento sanitário da cidade de
Campina Grande – PB e o RAI era alimentado com o efluente gerado pelo RAH.

Biogás Efluente

Afluente

Figura 1: Esquema ilustrativo da configuração dos sistemas e da disposição dos seus elementos-suporte, A-
esquema e foto do Reator Anaeróbio Híbrido; B- foto do Reator de Algas Imobilizadas.

O RAI foi operado sob as seguintes condições: temperatura média de 30ºC, oxigênio
dissolvido médio de 11 mg.L-1 (valor medido no processo fotossintético) volume de
aproximadamente 6 litros, sendo 2 litros num compartimento externo (Becker) e 4 litros no reator
principal. Utilizou-se um dispositivo (bomba de aquário) no fundo do reator para fornecer o
bombeamento e recirculação do líquido. Durante o experimento foi recirculado 5 litros por minuto
de efluente e operado com características de moving bed biofilm reactor (Reator com biofilme de
leito móvel).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 501


Métodos Analíticos

Ocorridos 15 dias após a partida do reator, iniciou-se à fase de monitoramento do


desempenho do RAI enfatizando a remoção dos nutrientes e dos coliformes termotolerantes. Foram
realizadas semanalmente análises dos parâmetros listados na Tabela 1. Essas análises foram
realizadas no afluente (efluente do RAH) e no efluente do RAI.

Variáveis Métodos Analíticos Referência


N – NH4 (mg.L-1)
+
Semi-Micro Kjeldahl 4500-NH4 / APHA et al. (2012)
N – NTK (mg.L-1) Semi-Micro Kjeldahl 4500-NTK / APHA et al. (2012)
Nitrato (N-NO3- mg.L-1) Salicilato de Sódio RODIER (1975)
Nitrito (N-NO2- mg.L-1) Colorimétrico Diazotização 4500-NO2 B/APHA et al. (2012)
Fósforo e Frações (mg.L-1) Ácido Ascórbico 4500-P E./ APHA et al. (2012)
pH (-) Potenciométrico 4500 / APHA et al. (2012)
Ácidos Graxos Voláteis (mg.L-1) Kapp BUCHAUER (1998)
Alcalinidade Total (mg.L-1) Kapp BUCHAUER (1998)
Col.Termotolerantes (UFC/100mL) Membrana de filtração 9221B / APHA et al. (2012)
Tabela 1: Parâmetros analisados no acompanhamento do desempenho do reator, métodos e referências.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Remoção de Nitrogênio, Fósforo e Coliformes

Na Tabela 2 encontra-se os resultados médios, desvio padrão e eficiências do Reator de


Algas Imobilizadas em relação ao afluente (efluente do Reator Anaeróbio Híbrido).

Efluente do Reator Reator de Algas Remoção


Anaeróbio Híbrido Imobilizadas (%)
Amônia N-NH4+ (mg.L-1) 44,76 ± 7,14 3,48 ± 3,28 84,04
N-NTK (mg.L-1) 47,86 ± 7,16 16,37 ± 9,06 65,80
Nitrato N-NO3- (mg.L-1) - 4,94 ± 2,53 -
Nitrito N-NO2- (m.L-1) - 0,51 ± 0,33 -
pH (-) 8,09 ± 0,21 10,49 ± 0,77 -
Ácidos Graxos Voláteis (mg.L-1) 18,34 ± 23,73 0 -
Alcalinidade Total (mg.L-1) 358,11 ± 50,55 173,96 ± 99,46 51,42
Fósforo Total (mg.L-1) 3,41 ± 1,93 2,34 ± 2,30 31,33
Ortofosfato (mg.L-1) 4,41 ± 0,40 0,57 ± 0,47 87,07
Col. Termotolerantes (UFC/100ml) 1,68E+06 ± 1,06E+06 3,90E+02 ± 1,84E+02 99,98
Tabela 2: Resultados médios, desvio padrão e eficiências de remoção de nutrientes e coliformes
termotolerantes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 502


Nitrogênio

O comportamento do nitrogênio no RAH não diferiu de resultados obtidos em efluentes de


reatores tipo UASB convencionais, ocorreu amonificação que é o aumento da amônia, entretanto, as
formas mais oxidadas como nitrito e o nitrato apresentam-se em traços. O comportamento do
nitrogênio no RAI sucedeu de forma semelhante do que poderia se esperar em uma lagoa de alta
taxa, ocorrendo a volatilização da amônia. Na Tabela 2 estão representados os resultados tratados de
NTK para o efluente do RAH e do RAI, e da amônia respectivamente. Os resultados de NTK e
NH4+ para os efluentes do RAH e RAI apresentaram variação. Foi identificada uma remoção de
65% de NTK e de 84% de NH4+.
Os resultados obtidos para as análises de NO2- e NO3- apenas para o efluente do RAI, sendo
que o NO2- em todos os dados apresentou concentrações insignificativas, para o NO3- os resultados
foram baixos caracterizando que o processo de nitrificação foi pouco expressivo.

pH e alcalinidade

O pH depende da fotossíntese e da respiração, através das seguintes relações, na fotossíntese


há consumo de CO2 onde o íon bicarbonato (HCO3) do esgoto tende a formar OH- fazendo com que
o pH se eleve. Já no processo de respiração após utilizar o oxigênio ocorre a liberação de CO2 e o
íon bicarbonato (HCO3) do esgoto tende a formar íons H+ fazendo com que o pH reduza. O
equilíbrio do pH em sistemas com algas é altamente dependente das taxas fotossintéticas, podendo
atingir valores de pH iguais a 11 no horário de maior insolação, devido à conversão de íons H+
(CAVALCANTI, 2009).
Os valores de pH no efluente do reator híbrido não apresentaram grandes variações, fato este
repetido na concentração da alcalinidade total. Esse comportamento diferiu para o RAI que
apresentou variações de pH de 6,5 até valores acima de 11. Esses valores evidenciaram o processo
de fotossíntese, que caracterizou na elevação do pH, bem como, houve suave consumo de
alcalinidade nos momentos de ocorrência de nitrificação podendo ser observado na Tabela 2.

Fósforo e Ortofosfato

O fósforo presente nos esgotos é composto de fósforo orgânico e fosfatos, sendo que os
fosfatos são encontrados em maiores concentrações. Os principais mecanismos de remoção de
fósforo em lagoas de estabilização ocorre quando o fósforo é incorporado nos organismos como as
algas e bactérias e reparados no efluente final outra forma é por precipitação química devido à
elevação de pH, caracterizando a formação de sais de cálcio e magnésio, como a estruvita e
hidroxiapatita (VAN HAANDEL E LETTINGA, 1994; PICOT et al., 1991).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 503
A remoção de fósforo significativa pode ocorrer através da precipitação dos fosfatos em
condições de pH elevado, acima de 8. A eficiência do RAI na remoção de fósforo total e do
ortofosfato ficou em valores próximos a 31% e 87%, respectivamente. Na Tabela 2 estão
apresentados os resultados do para fósforo e ortofosfato.

Coliformes Termotolerantes

Do mesmo modo que as lagoas de estabilização, de forma geral, o RAI recebe as radiações
UVB (280-320 nm) e UVA (320-400nm), provenientes do sol, estão relacionadas ao decaimento de
organismos indicadores de contaminação, supostamente de organismos patogênicos (BOLTON et
al., 2011). Essas faixas de radiação agem diretamente nos microrganismos provocando danos no
DNA ou RNA do seu genoma.
A radiação solar não é unicamente a responsável pelo decaimento de microrganismo nesses
sistemas, o que torna necessário considerar a influência mútua entre a radiação e fatores como pH,
OD admitida nos estudos de Bolton et al. (2011). Altas intensidades de luz promovem elevada
atividade fotossintética, resultando em ambientes ricos em oxigênio dissolvido e a formação de
oxigênio singleto e superóxido, que são fórmulas muito reativas de oxigênio e provocam danos no
DNA, causando decaimento dos microrganismos (EL HAMOURI et al., 1994).
Na Tabela 2 encontra-se o comportamento do decaimento dos coliformes termotolerantes
representou um percentual de remoção em torno de 99,98%. Esse valor de eficiência é semelhante
ao encontrado em lagoas de polimento (MASCARENHAS et al., 2003).

CONCLUSÕES

Entende-se que o poliuretano mostrou ser um considerável meio suporte para imobilização
de algas, sendo possível remover de forma eficiente nutrientes e coliformes termotolerantes. Notou-
se o intenso processo de fotossíntese, a remoção da amônia se deu por volatilização e o processo de
nitrificação foi pouco expressivo pela pequena concentração de amônia e presença de pH elevado
caracterizando condições desfavoráveis as bactérias nitrificantes. Observou que a remoção de
fósforo foi considerado significativo, assim como a remoção de coliformes termotolerantes
atingindo remoções de 99,98%.

AGRADECIMENTOS

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela concessão


de bolsa de mestrado, ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq juntamente com a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP pelo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 504


financiamento do projeto e a Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgoto Sanitário -
EXTRABES vinculado a UEPB, que em parceria com o Grupo de Pesquisa em Saneamento
Ambiental - GPESA cedeu o espaço para esta pesquisa ser desenvolvida.

REFERÊNCIAS

APHA, AWWA, WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22th ed.
Washington, DC, 2012.

BOLTON, N.F; BUCHANAN, N.A.; CROMAR, N.J..; FALLOWFIELD, H.J.The disinfection


performance of a high rate algal pond (hrap) at kingston-on-murray, South Australia In: 9th IWA
Specialist Group Conference on WasteStabilisation Ponds, 2011, Adelaide. Proceeding.
Adelaide: IWA, 8p. 2011.

BUCHAUER, K. A comparison of two simple titration procedures to determine volatile fatty acids
in influents to waste-water and sludge treatment process. Water SA, v.24, n. 1, p. 49-56. 1998.

CAVALCANTI, P.F.F. Aplicação de reatores UASB e lagoa de polimento no tratamento de esgoto


doméstico. João Pessoa-PB, Gráfica Santa Marta; Universidade Federal de Campina Grande,
p.38. 2009.

CHERNICHARO, C.A.L. Reatores Anaeróbios: Princípios do Tratamento Biológico de Águas


Residuárias. 2ª ed, volume 5. Belo Horizonte – DESA –UFMG, 2007.

El HAMOURI, B.; KHALLAYOUNE, K.; BOUZOUBAA, N.; CHALABI, M. Highrate algal pond
performances in faecal coliforms and helminth egg removals. Water Science and Technology, v.
28, n. 1, p. 171-174, 1994.

FORESTI, E.; ZAIAT, M.; VALLERO, M. Anaerobic processes as the core technology for
sustainable domestic wastewater treatment: Consolidated applications, new trends, perspectives,
and challenges. Reviews in Environmental Science and Bio/Technology, 2006.

MARCON, A. E. Remoção de coliformes fecais com microalgas (Chlorella) imobilizadas em


matriz de Alginato de cálcio. 2005. Dissertação (Mestrado para obtenção do título de Mestre em
Engenharia Sanitária) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, 2005.

MASCARENHAS, L.C.A., VON SPERLING, M., CHERNICHARO, C. A. L., Avaliação do


desempenho de lagoas de polimento rasas, em série , para o pós - tratamento de
efluentes de reator UASB. Engenharia Sanitária e Ambiental.v. 9, n 1. p. 45-54, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 505


PICOT, B., HALOUANO, H.E., CASELLAS, C., MOERSIDIK, S., BONTOUX, J. Nutrient
removal by high rate pond system in a Mediterranean climate (France). Water Science
Technology, n. 23, p 1535-1541. 1991.

RODIER, J. L'analyse de l'eau: eaux naturelles, euax résiduales, eaux de mer. v.1, 5 ed. Dunod
(Ed.) Paris. p. 692, 1975.

SILVA, S. A. P. Biorremediação em águas residuais: Remoção de fósforo utilizando microalgaa


Chlorella vulgaris imobilizadas em meio de alginato de sódio. 2007. 72.f. Dissertação (Mestre
em Hidrobiologia) Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Portugal, 2007.

TONETTI, A. L.; CORAUCCI FILHO, B.; NICOLAU, C. E.; BARBOSA, M.; TONON, D.
Tratamento de esgoto e produção de água de reuso com o emprego de filtros de areia. Revista de
Engenharia Sanitária e Ambiental. v. 17, n. 3, p. 287-294, jul./set. 2012.

VAN HAANDEL, A. C. & LETTINGA, G. Tratamento de lodos. In: Tratamento anaeróbio de


esgotos, um manual para regiões de clima quente. Campina Grande, Paraíba, cap.6. 1994.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 506


USO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS NA AGRICULTURA: DISCUSSÃO SOBRE SUA
VIABILIDADE

Isabelle da Costa Wanderley ALENCAR


Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais (PPGRN) da UFCG
isawci@yahoo.com.br

Catarina de Oliveira BURITI


Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais (PPGRN) da UFCG
catburiti@hotmail.com

Laíse do Nascimento CABRAL


Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais (PPGRN) da UFCG
laise.ufcg.rn@gmail.com

José DANTAS NETO31


Professor do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN)
zedantas@deag.ufcg.edu.br

RESUMO
A escassez de água potável e de qualidade torna-se cada vez mais intensa em diferentes lugares do
mundo. O crescimento populacional e econômico, com a consequente elevação do consumo de
recursos hídricos, coloca em pauta a discussão em torno das possibilidades de reutilização da água,
sobretudo para a produção agrícola. Neste contexto, o presente trabalho se trata de uma revisão
bibliográfica que tem como objetivo analisar a viabilidade do reúso de água para a produção
agrícola, com garantia dos índices de qualidade recomendados para não oferecer riscos á saúde
humana e ao ambiente. Com base nas pesquisas analisadas, conclui-se que desde que haja adequada
gestão da utilização de águas residuárias na agricultura, nota-se que é possível aumentar a
produtividade das culturas em razão da quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas, assim
como evitar impactos sobre o solo com o uso indiscriminado de fertilizantes e até mesmo contribuir
para sua conservação e enriquecimento de sua composição.
Palavras-chave: reuso; recursos hídricos; agricultura.

ABSTRACT
The scarcity of freshwater and quality becomes ever more intense at different places in the world.
The population and economic growth, with the resulting increased consumption of water resources,
brings forth the discussion into the possibilities of reuse of water, especially for agricultural
production. In this connection, the present paper is a bibliographical review that aims to analyze the
viability of the water reuse for agricultural production, where you can guarantee the quality indices

31
Doutor em Agronomia pela UNESP

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 507


of recommended not posing any risks to human health or the environment. On the basis of analyzed
researches, it can be concluded that since provide adequate management of the utilization of
wastewaters in agriculture, it is noticed that it is possible to increase the productivity of crops on the
grounds of the amount of nutrients are available for the plants, so as avoid impacts on the soil with
the indiscriminate use of fertilizers or even contribute to its conservation and enrichment of its
composition.
Key words: reuse; water resources; agriculture.

INTRODUÇÃO

Nas regiões áridas e semiáridas, a água se tornou um fator limitante para o desenvolvimento
urbano, industrial e agrícola. Mesmo áreas com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes
para atender à demandas elevadas, experimentam conflitos de uso e sofrem restrições de consumo
que afetam o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida. Nessas condições, reuso e
conservação passou a serem as palavras chave em termos de gestão, em regiões com baixa
disponibilidade ou insuficiência de recursos hídricos (HESPANHOL, 2002).
A escassez de água potável e de qualidade torna-se cada vez mais intensa em diferentes
lugares do mundo. Dentre as principais razões que limitam o acesso a este recurso, destacam-se: a
poluição e degradação dos recursos hídricos pela ação antrópica, a falta de efetiva governabilidade
por parte dos gestores de políticas públicas, os conflitos entre diferentes grupos de interesses, as
variações climáticas, as formas tradicionais de gestão deste recurso natural e a ausência de
estratégias políticas viáveis para alcançar as comunidades remotas e dispersas que não têm acesso à
água potável.
No Brasil, não obstante, já dispormos de um aparato jurídico que promova os usos múltiplos
da água e a gestão democrática, participativa, integrada e descentralizada deste recurso natural (Lei
no 9.433/97), muitos ainda são os desafios inerentes à prática efetiva deste movo modelo decisório.
O reuso de água encontra, no Brasil, uma gama significativa de aplicações potenciais. O uso
de efluentes tratados na agricultura, nas áreas urbanas, particularmente, para fins não potáveis, no
atendimento da demanda industrial e na recarga artificial de aquíferos, se constitui em instrumento
poderoso para restaurar o equilíbrio entre oferta e demanda de água em diversas regiões brasileiras.
Cabe, entretanto, institucionalizar, regulamentar e promover o reuso de água no Brasil,
fazendo com que a prática se desenvolva de acordo com princípios técnicos adequados, seja
economicamente viável, socialmente aceita, e segura, em termos de preservação ambiental e de
proteção dos grupos de riscos envolvidos (HESPANHOL, op. cit., 2002).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 508


Por outro lado, o crescimento populacional e econômico, bem como a consequente elevação
do consumo de recursos hídricos coloca em pauta a discussão em torno das possibilidades de
reutilização da água, sobretudo para a produção agrícola. Neste contexto, o presente trabalho tem
como objetivo analisar a viabilidade do reuso de água para a produção agrícola, com garantia dos
índices de qualidade recomendados para não oferecer riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

REÚSO DE ÁGUA: POTENCIALIDADE E GESTÃO

Na agricultura, a disponibilidade de água é fundamental para a garantia do seu


desenvolvimento, haja vista que mesmo com a adoção das mais modernas e sofisticadas tecnologias
para aumentar a produtividade das áreas agrícolas, torna-se patente a dependência do acesso a este
recurso natural. Neste contexto, o uso de águas residuárias encontra-se em crescente valorização,
podendo ser utilizada na irrigação de diversas culturas, principalmente nas regiões semiáridas
caracterizadas pelas irregularidades climáticas e pela escassez de recursos hídricos. Todavia, apesar
de potencialmente benéfica, esta prática exige que se tenha conhecimento específico do grau de
perigo que podem representar à saúde e ao meio ambiente (BAUMGARTNER et. al., 2007). A
gestão cuidadosa do reuso de água requer uma atenção detalhada em todas as suas etapas, desde o
plantio até a colheita da cultura, sobretudo em relação à quantidade de nutrientes adicionados via
fertirrigação, bem como as quantidades de nutrientes requeridos pelas plantas (VALE et. al., 2013).
Estudos efetuados em diversos países demonstraram que a produtividade agrícola aumenta
significativamente em áreas fertirrigadas com águas residuárias, desde que estas sejam
adequadamente manejadas (Ibidem). Diversos autores afirmam a eficiência na produção de
diferentes culturas por meio da utilização de águas residuárias, com potencial para proporcionar, em
muitos casos, aumento do rendimento, evitar o uso de quantidades significativas de fertilizantes,
além de contribuir com uma maior concentração de nitrogênio e fósforo no solo
(BAUMGARTNER, op. cit.).
Deste modo, nota-se que a utilização de esgoto sanitário tratado como fonte de nutrientes
propicia benefícios ambientais, econômicos e sociais, sobretudo ao produtor rural que terá
condições de reduzir seus custos com aplicação de fertilizantes e, consequentemente, aumentar a
produtividade das culturas (VALE, op. cit.).
Para Batista et. al (2011), a utilização de esgoto doméstico na agricultura é uma alternativa
para o controle da poluição do sistema água-solo-atmosfera, disponibilização de água e fertilizantes
para as culturas e aumento da produção agrícola. Entretanto, para que isso possa se tornar uma
prática viável, é preciso aperfeiçoar as técnicas de tratamento, aplicação e manejo de esgoto
doméstico. No Brasil, o sistema de irrigação de viveiros mais usual é a microaspersão, sistema que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 509


gera grandes desperdícios em razão de fatores como vento, espaços vazios e má distribuição dos
aspersores em relação às mudas. A subirrigação contínua se mostra como alternativa para a
economia de água, assim como um sistema eficiente para um rápido e controlado desenvolvimento
das mudas, e vem sendo utilizada principalmente no manejo de mini e micro jardins clonais.
Visando ao aproveitamento de águas residuárias, este sistema se mostra ainda mais propício, pois
diminui a possibilidade de contaminação humana e do ambiente.

PESQUISAS COMPROVAM EFICIÊNCIA DO REÚSO DE ÁGUA PARA FINS AGRÍCOLAS

Segundo Augusto et. al. (2007), existem diferentes alternativas para a recuperação ou
tratamento de águas residuárias de origens doméstica, industrial ou agrícola, muitas delas
complexas e onerosas e outras simples e de baixo custo. Estudos realizados em outros países têm
demonstrado a eficiência do uso das águas residuárias na fertirrigação de culturas agrícolas, com a
obtenção de excelentes resultados, uma vez que geralmente são ricas em nutrientes. Estes autores
estudaram a viabilidade do uso de águas residuárias provenientes de um sistema biológico de
tratamento de esgotos domésticos como alternativa à fertirrigação convencional de viveiros
florestais, visando à produção de mudas de Eucalyptus grandis via subirrigação contínua. Os
resultados indicaram que a água residuária pode ser utilizada na fertirrigação de viveiros para a
produção do Eucalyptus grandis, pois todas as plantas cresceram sem deficiência ou toxidez
aparente. Entretanto, constatou-se que essas mudas necessitavam de um maior tempo no viveiro, em
comparação com as produzidas com fertilizantes minerais.
A irrigação com águas residuárias, principalmente em hortaliças, induz a uma preocupação
latente que é a contaminação por organismos patogênicos. A qualidade bacteriológica das hortaliças
irrigadas com águas residuárias com qualidade recomendada pela OMS (Organização Mundial de
Saúde) não oferece riscos à saúde pública. Baumgartner et. al. (2007) observaram o
desenvolvimento e a contaminação da cultura da alface, as alterações químicas ocorridas no solo e o
comportamento do sistema de irrigação usado na aplicação de águas residuárias provenientes de
atividades de piscicultura e de suinocultura, e concluíram que em um sistema de alface irrigada com
águas residuárias de lagoa de estabilização, em clima quente e seco, a interrupção da irrigação
garante a descontaminação das plantas e do solo no período de uma semana.
A partir dos resultados obtidos no mencionado estudo, pode-se afirmar que a aplicação de
águas residuárias diluídas não prejudicou o crescimento da cultura da alface americana,
corroborando que não houve diferença significativa no crescimento da alface, comparando a
adubação convencional e orgânica com vermicompostagem de resíduos agroindustriais. Nota-se
também que não houve diferença nas concentrações médias de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 510


magnésio, cobre, zinco, ferro e boro, na parte aérea da alface, submetida à irrigação com águas
residuárias, demonstrando novamente indicativo de que a aplicação de águas residuárias não
interfere na absorção de alguns nutrientes. A partir destes resultados, é possível confirmar que, após
pré-tratamento ou diluição, a reutilização das águas oferece quantidade de nutrientes suficiente para
o desenvolvimento de culturas.
Azevedo (2005), com o objetivo de avaliar técnicas para a aplicação de águas residuárias na
agricultura, proporcionando melhor reutilização de água, recurso natural atualmente escasso e muito
mal disponibilizado, utilizou-se da cultura de pepino (Cucumis sativus L.) em estufa, com oito
parcelas irrigadas com efluentes de tratamento de esgoto residencial e oito parcelas irrigadas com
água tratada, ambas abastecidas por sistema de irrigação subsuperficial, avaliando-se a produção
média por planta, a fertilidade do solo e a disposição de nutrientes na água do solo. Como resultado,
avaliou-se que as irrigadas com efluente apresentaram produção média total superior ao verificado
no tratamento de água distribuída, demonstrando a importância da utilização de efluente de esgoto
para o fornecimento de nutrientes e aumento de produtividade.
Num estudo sobre as alterações químicas provenientes do uso de água residuárias doméstica
na agricultura, Medeiros et al (2005) verificaram que a implantação do manejo com água
residuárias foi mais efetiva na melhoria da fertilidade do solo que o manejo convencional. Os
principais impactos positivos observados no solo em resposta à adoção do reuso de água foram:
aumento do pH, das concentrações de P e S disponível, K+, Ca2+, Mg2+ trocáveis, MO, N –total e
diminuição da acidez trocável e potencial e argila dispersa na água. Os impactos negativos
verificados foram: incremento nas concentrações de Na+ trocável, aumento da CE, RAS e PST.
Apesar do aumento da CE e da PST do solo no MR, não se constataram problemas de salinidade no
solo. Do ponto de vista ambiental, a disposição de água residuárias no solo pode vir como
alternativa para o seu tratamento, além de potencializar a produção de alimentos.
O uso de água residuárias de origem doméstica no cultivo do girassol no assentamento
milagres, Apodi-RN, tratada no decanto digestor apresentou remoções médias superiores a 80% das
características turbidez, coliformes totais e termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio
(DBO), demanda química de oxigênio (DQO), óleos e graxas e nitrato. No entanto, por se tratar de
tratamento em nível primário, os níveis populacionais elevados dos coliformes termotolerantes
indicam risco microbiológico da água residuárias quando utilizada para irrigação de cultivos
agrícolas. O tratamento com 50% de aplicação de água residuárias e 50% de água de tratamento foi
o mais recomendado para a produção de girassol no Semiárido em função dos menores níveis de
entupimento de emissores e dos bons indicadores biométricos (altura de planta e diâmetro de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 511


capítulo); e após 180 dias de armazenamento dos grãos de girassol não foi detectada a presença de
coliformes termotolerantes (COSTA, 2012).
Com relação ao efeito da aplicação de águas residuárias de suinocultura sobre os
componentes de produção do milho, Freitas et. al., (2004) verificaram que as aplicações de águas
residuárias bruta e peneirada aumentaram a produtividade de matéria verde, comparativamente à
aplicação de água, com valores médios de 45 e 46 t/há. 2. A aplicação de águas residuárias de
suinocultura aumentou os valores de altura de plantas, índice de espigas, altura de espigas e peso de
espigas do milho.

FORMAS POTENCIAIS DE REUSO DA ÁGUA

Através do ciclo hidrológico a água se constitui em um recurso renovável. Quando reciclada


através de sistemas naturais, é um recurso limpo e seguro que é, através da atividade antrópica,
deteriorada a níveis diferentes de poluição. Entretanto, uma vez poluída, a água pode ser recuperada
e reusada para fins benéficos diversos. A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reúso,
estabelecerão os níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados e
os custos de capital, operação e manutenção associados. As possibilidades e formas de reuso
dependem, evidentemente, de características, condições e fatores locais, tais como decisão política,
esquemas institucionais, disponibilidade técnica, fatores econômicos, sociais e culturais. A figura 1
apresenta, esquematicamente, os tipos básicos de usos potenciais de esgotos tratados, que podem ser
implementados, tanto em áreas urbanas como em áreas rurais (HESPANHOL, 1997; 2002).

Figura 1. Formas potenciais de reuso de água (HESPANHOL, 1997).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 512


Usos agrícolas

Face às grandes vazões envolvidas, (chegando a até 80% do uso consuntivo, em alguns
países), especial atenção deve ser atribuída ao reuso para fins agrícolas. No Brasil esta porcentagem
chega muito próxima a 70%, devendo merecer a atenção dos tomadores de decisão, quando forem
decididas as prioridades para reuso.
A agricultura depende, atualmente, de suprimento de água em um nível tal que a
sustentabilidade da produção de alimentos não poderá ser mantida, sem o desenvolvimento de
novas fontes de suprimento e a gestão adequada dos recursos hídricos convencionais. Esta condição
crítica é fundamentada no fato de que o aumento da produção, não pode mais ser efetuado através
da mera expansão de terra cultivada. Com poucas exceções, tais como áreas significativas do
Nordeste brasileiro (NEB), que vêm sendo recuperada para uso agrícola, a terra arável, em nível
mundial, se aproxima muito rapidamente de seus limites de expansão. A Índia já explorou
praticamente 100% de seus recursos de solo arável, enquanto que Bangladesh dispõe de apenas 3%
para expansão lateral. O Paquistão, as Filipinas e a Tailândia, ainda têm um potencial de expansão
de aproximadamente 20%. A taxa global de expansão de terra arável diminuiu de 0,4% durante a
década 1970-1979 para 0,2%, durante o período 1980-1987. Nos países em vias de
desenvolvimento e em estágio de industrialização acelerada, a taxa de crescimento também caiu de
0,7% para 0,4% (World Bank, 1990, FAO, 1987 e 1988). Durante as duas últimas décadas, o uso de
esgotos para irrigação de culturas aumentou, significativamente, devido aos seguintes fatores
(HESPANHOL, 1994).
 Dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas para irrigação;
 Custo elevado de fertilizantes;
 A segurança de que os riscos de saúde pública e impactos sobre o solo são mínimos, se as
precauções adequadas são efetivamente tomadas;
 Os custos elevados dos sistemas de tratamento, necessários para descarga de efluentes em
corpos receptores;
 A aceitação sociocultural da prática do reuso agrícola;
 O reconhecimento, pelos órgãos gestores de recursos hídricos, do valor intrínseco da prática.
A aplicação de esgotos no solo é uma forma efetiva de controle da poluição e uma
alternativa viável para aumentar a disponibilidade hídrica em regiões áridas e semiáridas. Os
maiores benefícios dessa forma de reuso, são os associados aos aspectos econômicos, ambientais e
de saúde pública.

Benefícios econômicos do reuso agrícola (FORERO, 1993; HESPANHOL, 2002)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 513


Os benefícios econômicos são auferidos graças ao aumento da área cultivada e ao aumento
da produtividade agrícola, os quais são mais significativos em áreas onde se depende apenas de
irrigação natural, proporcionada pelas águas de chuvas. Um exemplo notável de recuperação
econômica, associada à disponibilidade de esgotos para irrigação é o caso do Vale de Mesquital, no
México, onde a renda agrícola aumentou de quase zero no início do século, quando os esgotos da
cidade do México foram postos à disposição da região, até aproximadamente quatro milhões de
dólares americanos por hectare, em 1990.
Estudos efetuados em diversos países demonstraram que a produtividade agrícola aumenta
significativamente em sistemas de irrigação com esgotos adequadamente administrados. A Tabela 1
mostra os resultados experimentais efetuados em Nagpur, Índia, pelo Instituto Nacional de
Pesquisas de Engenharia Ambiental (NEERI), que investigou os efeitos da irrigação com esgotos,
sobre as culturas produzidas (SHENDE, 1985).

Tabela 1. Aumento da produtividade agrícola (ton/ha/ano) possibilitada pela irrigação com esgotos
domésticos (SHENDE, 1985).

Efluentes de sistemas convencionais de tratamento, tais como lodos ativados, têm uma
concentração típica de 15 mg/litro de N total e 3 mg/litro de P total, proporcionando, portanto, às
taxas usuais de irrigação em zonas semiáridas (aproximadamente dois metros por ano), uma
aplicação de N e P de 300 e 60 kg/ha/ano, respectivamente. Essa aplicação de nutrientes reduz,
substancialmente, ou mesmo elimina a necessidade do emprego de fertilizantes comerciais. Além
dos nutrientes (e dos micronutrientes, não disponíveis em fertilizantes sintéticos), a aplicação de
esgotos proporciona a adição de matéria orgânica, que age como um condicionador do solo,
aumentando a sua capacidade de reter água (WHO, 1989).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão sobre o potencial do reuso de águas advindas do esgoto doméstico é um dos


temas que se encontram na ordem do dia em razão dos possíveis benefícios que podem ser
propiciados. Com base na discussão apresentada neste trabalho, foi possível observar que o uso
planejado de águas residuárias pode ser uma estratégia viável por contribuir para o uso racional dos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 514


recursos hídricos e para a conservação do solo, em função de uma menor geração de efluentes. As
pesquisas acima apresentadas corroboram a viabilidade da utilização de águas residuárias para fins
agrícolas, entretanto, ressaltam a necessidade de uma adequada gestão, com foco na avaliação do
impacto sanitário – a fim de evitar graves problemas de saúde pública – e ambiental, especialmente
no que diz respeito aos efeitos negativos sobre o solo, sobretudo quanto à sodicidade, salinidade e
excesso de nutrientes.
Neste sentido, desde que haja uma adequada gestão da utilização de águas residuárias na
agricultura, nota-se que é possível aumentar a produtividade das culturas em razão da quantidade de
nutrientes disponíveis para as plantas, assim como evitar impactos sobre o solo com o uso
indiscriminado de fertilizantes e até mesmo contribuir para sua conservação e enriquecimento de
sua composição. Assim, diante das demonstrações dos benefícios ambientais e socioeconômicos do
reuso de águas, é fundamental avançar nas pesquisas sobre o potencial de reutilização da água
consumida pelas populações, a fim de contribuir para a conservação e a sustentabilidade hídrica,
bem como para a democratização do acesso, diminuição dos conflitos e promoção dos usos
múltiplos dos recursos hídricos pelos diversos segmentos da população.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, D.C.C. et al. Utilização de Águas Residuárias Provenientes do Tratamento Biológico


de Esgotos Domésticos da Produção de Mudas de Eucalyptus grandis Hill. Ex. Maiden1. In:
Revista Árvore. Viçosa-MG, v.31, n.4, 2007. p.745-751

AZEVEDO, Leonardo P. de; OLIVEIRA, Eduardo L. de. Efeitos da Aplicação de Efluente de


Tratamento de Esgoto na Fertilidade do Solo e Produtividade de Pepino sob Irrigação
Subsuperficial. In: Revista Engenharia Agrícola. Jaboticabal-SP, v.25, n.1, jan./abr. 2005.
p.253-263

BATISTA, Rafael Oliveira, et. al. Efeito das Características do Esgoto Doméstico na
Uniformidade de Aplicação de Sistemas de Irrigação por Gotejamento. In: Revista Caatinga.
Mossoró-RN, v. 24, n. 4, out.-dez., 2011. p. 137-144

BAUMGARTNER, Dirceu, et. al. Reúso de Águas Residuárias da Piscicultura e da Suinocultura


da Irrigação na Cultura da Alface. In: Revista Engenharia Agrícola. Jaboticabal-SP, v.27, n.1,
jan./abr. 2007. p. 152-163

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 515


COSTA, F.G.B. Uso de água residuária de origem doméstica no cultivo do girassol no
assentamento Milagres, Apodi-RN. 2012. Dissertação (Mestrado em Irrigação e Drenagem).
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Mossoró-RN, 2012. 92p.

FAO, (1987). World Agricultural Statistics. FAO Statistical Pocket Book, Food and Agricultural
Organization od the United Nations, Roma, Italy.

FAO, (1988). Production 1988, FAO Yearbook, vol.42, Food and Agricultural Organization of the
United Nations, Roma, Italy.

FORERO, R. S. (1993). Institutional, Economic and Socio-Cultural Considerations, in:


WHO/FAO/UNCHS/UNEP. Regional Workshop for the Americas on Health, Agriculture and
Environmental Aspects of Wastewater Use, 8-12 November 1993, Instituto Mexicano de
Tecnologia de Aguas (IMTA), Jiutepec, Mexico.

FREITAS, W.S; OLIVEIRA, R.A.; PINTO, F.A.; CECON, P.R.; GALVÃO, J.C.C. Efeito da
aplicação de águas residuárias de suinocultura sobre a produção do milho para silagem. In:
Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande-PB, v.8, n.1, 2004. p.
120-125.

HESPANHOL, I. (1994). Health and Technical Aspects of the Use of Wastewater in Agriculture
and Aquaculture, Chapter 10, in: Socioeconomic and Environmental Issues in Water Projects –
Selected Readings, Ed. Fritz Rodrigues, The Economic Developing Institute of the World Bank,
The World Health Organization.

HESPANHOL, I. (1997). Esgotos como Recurso Hídrico – Parte I: Dimensões Políticas,


Institucionais, Legais, Econômico-financeiras e Sócio-culturais, Engenharia, Instituto de
Engenharia de São Paulo, nº. 523, ano 55, São Paulo.

HESPANHOL, I. (2002). Potencial de Reuso de Água no Brasil: Agricultura, Indústria,


Municípios, Recarga de Aqüíferos. RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Volume 7
n.4 Out/Dez 2002, 75-95. USP – São Paulo - Artigo convidado. Aprovado em setembro.

MEDEIROS, S.S. et. al. Utilização de água residuária de origem doméstica na agricultura: Estudo
das alterações químicas. In: Revista Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental. Campina
Grande-PB, v.9, n.4, 2005. p. 603-612

SHENDE, G. B. (1985). Status of Wastewater Treatment and Agricultural Reuse with Special
Reference to Indian Experience and Research and Development Needs, in: M. B. Pescod and A.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 516


Arar, Eds., Proceedings of the FAO Seminar on the Treatment and Use of Sewage Effluents for
Irrigation, Nicosia, Cyprus, 7-9 October, Butterworths, London.

VALE, Hudson Salatiel Marques, et. al. Potencial de entupimento de um sistema de irrigação por
gotejamento operando com esgoto doméstico tratado. In: Water Resources and Irrigation
Management. UFRB; Insa. v.2, n.1, Jan-Apr, 2013. p. 63-70.

WORLD BANK/UNDP/ICID, (1990). Irrigation and Drainage Research – A Proposal for an


Internationally Supported Program to Enhance Research on Irrigation and Drainage
Technology in Developing Countries, vol.I, World Bank/UNDP in collaboration with ICID,
Washington, D. C.

WHO, (1989). Health Guidelines for the Use of Wastewater in Agriculture and Aquaculture,
Technical Report Series No. 778, Report of a Scientific Group Meeting, World Health
Organization, Geneva.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 517


DESEMPENHO DE REATOR ANAERÓBIO HÍBRIDO NA REMOÇÃO DE SULFETOS

Jéssyca de Freitas LIMA


Mestranda/UEPB
jessyca-11f@hotmail.com

Dayane de Andrade LIMA


Mestranda/UEPB
dayane_eld@hotmail.com

Luciana Leôncio Bertino CABRAL


Graduanda/UEPB
lllucianaleoncio@hotmail.com

Israel Nunes HENRIQUE


Professor Orientador/UFOPA
israelnunes@yahoo.com.br

RESUMO
O processo que ocorre em reatores anaeróbios denominado de sulfetogênese,é um processo
considerado indesejável devido aos vários problemas que ele acarreta com a produção de sulfetos,
causando: odores agressivos, corrosão, toxicidade, e diminuição da concentração de metano no
biogás. A presente pesquisa objetivou avaliar o desempenho de um reator Anaeróbio Híbrido –
RAH, quanto à concentração de sulfetos presente no efluente final. Foi utilizado um RAH, que é
composto por dois reatores sobrepostos: um reator UASB na parte inferior e um filtro anaeróbio na
parte superior, o mesmo foi operado em escala piloto (108 L) com adição extra de sulfato no esgoto
bruto. Ao se analisar os resultados obtidos é possível avaliar que na parte inferior (UASB) a
sulfetogênese ocorreu de forma efetiva, reduzindo o sulfato contido na água residuária a sulfeto e
posteriormente formando o sulfeto de hidrogênio (H2S). Na parte superior (Filtro) ocorreu a
formação de enxofre elementar e parte oxidada a sulfato, inibindo assim o mau cheiro de reatores
anaeróbio.
Palavras-chave: Reator Anaeróbio Híbrido, Sulfetogênese, Redução de Sulfato.

ABSTRACT
The process that occurs in anaerobic reactors known as sulfetogênese, is a process considered
undesirable due to various problems he carries with the production of sulfides, causing:harsh odors,
corrosion, toxicity, and decreased concentrations of methane in the biogas. The present research
aimed to evaluate the performance of a Hybrid anaerobic reactor-RAH, regarding the concentration
of sulfides present in the final effluent. We used a RAH, which is composed of two overlapping
reactors: a UASB reactor at the bottom and an anaerobic filter at the top, it was operated on a pilot
scale (108 L) with extra addition of sulfate in raw sewage. When analyzing the results obtained it is

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 518


possible to assess that at the bottom (UASB) the sulfetogênese effectively occurred, reducing the
sulfate contained in wastewater in sulphide and subsequently forming the hydrogen sulfide (H2S).
At the top (filter) the formation of elemental sulphur and oxidized part to sulfate, inhibiting so the
stench of anaerobic reactors.
Palavras-chave: Hybrid anaerobic reactor, Sulfetogênese, sulfate Reduction.

INTRODUÇÃO

O enxofre é um dos vários compostos presentes na água residuária, sendo um dos mais
importantes nutrientes para o metabolismo de microrganismos. Encontra-se na natureza em quatro
principais formas: sulfato (SO42-), sulfeto (H2S, HS-, S2-), enxofre elementar (S0) e compostos
orgânicos sulfídricos (R-SH). Segundo Zhang (2013) o sulfato é largamente encontrado nas águas
residuárias descarregadas por indústrias, tais como indústrias farmacêuticas, unidades químicas e na
produção de papel. Contudo, também é encontrado em águas de abastecimento e águas residuárias
domésticas oriundos das fezes em concentração média de 30±20 mgSO42-.L-1 (METCALF &
EDDY, 2003).
O mesmo está sendo constantemente modificado e transportado no meio ambiente, e muitas
dessas transformações podem causar transtornos. As alterações podem envolver reações de oxi-
redução química, podem ser associadas a processos biológicos, tais como redução assimilatória e
dissimilatória, e dessulfuração, ou também podem ocorrer espontaneamente (SILVA, 2000).
Segundo Chernicharo (2007) as tecnologias anaeróbias de tratamento de águas residuárias
têm ganhado cada vez mais popularidade devido as suas vantagens em relação ao tratamento
aeróbio, principalmente, pelo baixo custo de implantação e operação dessa tecnologia. Além disso,
o clima é um fator condicionante para esses sistemas, pois as bactérias anaeróbias trabalham melhor
em altas temperaturas. Dentre as diversas tecnologias anaeróbias, a que mais se sobressai é o Reator
Anaeróbio de Fluxo Ascendente com Manta de Lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket - UASB),
por possuir baixo custo de implantação e operação, baixo consumo de energia e baixa produção de
biomassa, comparado aos sistemas aeróbios.
Entretanto, esse reator possui algumas limitações ainda não solucionadas. Uma dessas
limitações é o gerenciamento de emissões gasosas, como o sulfeto de hidrogênio (H2S). Com a
presença de sulfato na águas residuárias, ocorre uma etapa diferenciada na digestão anaeróbia,
chamada de sulfetogênese, realizada pelas Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) ou sulforedutoras,
que reduzem o sulfato à sulfeto, que juntamente com hidrogênio forma Sulfeto de Hidrogênio (H2S)
que causa uma série de problemas, como toxicidade, corrosão, emissão de compostos odorantes,
entre outros.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 519


Aliando-se, portanto, a importância do tratamento de águas residuárias contendo compostos
de enxofre, a presente pesquisa objetivou avaliar o desempenho de um Reator Anaeróbio Híbrido,
quanto à concentração de sulfetos presente no efluente anaeróbio tratado.

MATERIAL E MÉTODOS

Sistema Experimental

O sistema experimental foi constituído de um Reator Anaeróbio Híbrido - RAH (Figura 1), o
mesmo possui na sua parte inferior um reator UASB, e na parte superior um Filtro Anaeróbio munido
de meio suporte. O meio suporte utilizado foi esponjas de poliuretano, por já serem referências como
meio suporte, ao qual se agrega grande quantidade de biofilme. Os parâmetros referentes ao RAH
estão apresentados na Tabela 1.

PARÂMETROS MEDIDAS DO RAH


Diâmetro 200 mm
Material Construtivo PVC
Altura 2m
Volume total 62 L
Volume útil 52 L
Volume do UASB 27 L
Volume do Filtro 25 L
Tempo de Detenção Hidráulica – UASB 6h
Tempo de Detenção Hidráulica – Filtro 5,5h
Vazão Efluente 108 L.d-1

Tabela 1: Parâmetros, dimensionamento e aspectos operacionais do RAH

A água residuária utilizada foi proveniente do interceptor leste do sistema de esgotamento


sanitário da cidade de Campina Grande – PB. O esgoto era transportado por canalizações para uma
caixa de areia e em seguida era conduzido a um tanque de equalização com capacidade volumétrica
de 200 L. Ao esgoto bruto foi incrementado uma dosagem de 50 mg.L-1 de sulfato. A fonte de
sulfato utilizada foi sulfato de sódio (Na2SO4).
A alimentação do sistema experimental foi realizada por bomba dosadora responsável pela
manutenção do fluxo contínuo, a mesma aconteceu de forma ascendente com a saída do efluente tratado
na parte superior após o filtro. Também na parte superior, havia um coletor de gás, para ser possível
obter as medições diárias do biogás produzido. As concentrações do inóculo em termos de sólidos
totais (ST) e sólidos voláteis totais (SVT) foram, respectivamente, de 48 gST.L-1 e 28 gSVT.L-1.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 520


Figura 1: Esquema e Foto do RAH

Métodos Analíticos

Foram realizadas semanalmente análises dos parâmetros físicos e químicos listados na


Tabela 2. Essas análises foram desempenhadas no afluente e no efluente do reator RAH,
possibilitando assim a verificação de eficiência de remoção dos mesmos.

VARIÁVEIS MÉTODOS ANALÍTICOS REFERÊNCIA


DQO* Titulométrico Refluxação Fechada Seção 5220 C. / APHA et al. (2012)
Sulfato Método Turbidimétrico Seção 4500 E. / APHA et al. (2012)
Sulfeto Método Iodométrico Seção 4500 B / APHA et al. (2012)
Enxofre Elementar Microscopia Eletrônica de Varredura -
pH Potenciométrico Seção 4500 / APHA et al. (2012)
Alcalinidade Kapp BUCHAUER (1998)
Sólidos Suspensos Totais Gravimétrico Seção 2540 D / APHA et al. (2012)
Sólidos Suspensos Voláteis Gravimétrico Seção 2540 E / APHA et al. (2012)
Sólidos Suspensos Fixos Gravimétrico Seção 2540 E / APHA et al. (2012)

Tabela 2: Parâmetros analisados no acompanhamento do desempenho dos reatores.


*DQO – Demanda Química de Oxigênio;

Os cátions e ânions presentes nas amostras foram determinados por Cromatografia de Íons,
em um equipamento Dionex – Thermo Scientific, modelo ICS – 1100. As amostras foram filtradas
em membrana de acetato de celulose 0,45 µm e em seguida em 0,22 µm, após a filtragem as
amostras foram diluídas e posteriormente analisadas no ICS - 1100.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 521


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Remoção de Sulfetos

Os gráficos apresentados na Figura 2ª é relativa à série histórica de sulfetos e sulfatos no


Reator Anaeróbio Híbrido (RAH).

B C

Figura 3: Monitoramento do A. Sulfato e Sulfeto, B. pH, C. Alcalinidade dentro do RAH.

Observando-se a Figura 2a é possível identificar que a concentração média de sulfato e


sulfeto no afluente é de 43,29±12,46 mgSO42-.L-1 e 7,99±7,96 mgS2-.L-1, respectivamente. Valores
de literatura apresentados por METCALF & EDDY (2003), mostram que esgotos tipicamente
domésticos contêm sulfato em concentrações que variam entre 20 e 50 mgSO42-.L-1. Durante o
processo de monitoramento ficou observado que a concentração de sulfeto no afluente teve
considerável aumento devido ao tanque de equalização ter ficado sem nenhum tipo de agitação por
um período de aproximadamente 12 dias, fazendo com que a sulfetogênese ocorresse antes mesmos
de chegar ao RAH.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 522


Analisando o comportamento de sulfetos (Figura 2a), verificou-se que a concentração no
efluente final do filtro indicou que ocorreu de forma efetiva o processo denominado sulfetogênese,
no qual as Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) reduziram o sulfato presente na água residuária à
sulfeto (71%), que ao se combinar com H+ forma sulfeto de hidrogênio (H2S), um gás
extremamente tóxico, corrosivo e de odor desagradável (SUBTIL, 2012). O efluente carregado de
sulfetos ao passar pelo filtro proporcionou a formação de sulfato, uma vez que, neste sistema havia
uma concentração aproximada de 0,1 mgO2.L-1. Julga-se pelo fato do reator ter sua extremidade
aberta, proporcionando uma leve oxigenação na parte superior do reator e, portanto, possibilitando a
oxidação de parte do enxofre. Por meio deste processo, a eficiência de remoção de sulfeto de foi de
94,45%.
Os valores do pH (Figura 2b e 2c) tanto para o esgoto bruto quanto para o efluente do RAH,
variou entre 7,5 e 8,5, com um desvio padrão menor que 0,30. Os valores da Alcalinidade Total
(mgCaCO3.L-1) possibilitaram explicar as variações de pH, devido a manutenção do processo de
tamponamento do sistema, demonstrando valores médios de 410 mgCaCO3.L-1.
A Figura 3 apresenta uma figura do enxofre elementar precipitado no efluente do filtro
anaeróbio, visualizado através do MEV (Microscopia Eletrônica de Varredura) com ampliação de
1.200 vezes. Através da análise de Difração de Raio – X (DRX) do enxofre elementar, foi possível
identificar que na amostra continha 100% de Enxofre.

Figura 3: Enxofre elementar

Remoção de Material Carbonáceo

A Figura 4a apresenta os valores da DQO bruta e filtrada referentes ao RAH,


compreendendo 21 determinações. Observa-se que o esgoto bruto manteve uma concentração média
de 336 e 179 mgO2.L-1 de DQO bruta e filtrada, respectivamente. Estes valores foram considerados
baixos para esgoto tipicamente doméstico. O RAH apresentou baixa eficiência na remoção de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 523


matéria orgânica, caracterizado pelo UASB que obteve 21 e 25% e o Filtro 55 e 48% para DQO
bruta e filtrada, respectivamente.
A remoção de sólidos totais pode ser observada na Figura 4b, totalizando eficiência de
remoção de 6% para o reator UASB e 18% de remoção no efluente final, sendo valores
considerados baixos. Essa caracterização fica bem acentuada pelo fato do esgoto ser armazenado
em tanque de equalização, e consequentemente, ter alterado as características do afluente, por
apresentar material particulado em baixas concentrações.

600

550 EB
UASB
500 FAN
450 EB.Filt.
UASB.Filt.
400
FAN.Filt.
350
-1
mg O2.L

300

250

200

150

100

50 A
0
EB UASB FAN EB.Filt. UASB.Filt. FAN.Filt.

1400 EB.ST
UASB.ST
1200 FAN.ST
EB.STV
UASB.STV
1000
FAN.STV

800
-1
mg.L

600

400

200
B
0
EB.ST UASB.ST FAN.ST EB.STV UASB.STV FAN.STV

Figura 24: A. DQObruta e DQOfiltrada, B. Sólidos Totais.

CONCLUSÕES

O reator RAH mostrou-se como alternativa de tratamento de baixo custo e eficiente em


termos de material carbonáceo.
O filtro acoplado ao reator UASB, além de remover parcela considerável de material
orgânico, indicou a oxidação do sulfeto produzido pelo reator UASB, proporcionando a diminuição
do sulfeto e consequente diminuição do odor característico de gás sulfídrico, que é um gás
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 524
extremamente mal cheiroso, sendo a principal fonte de reclamação pela população adjacente as
ETE‘s.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, a Estação Experimental de Tratamento


Biológico de Esgoto Sanitário – EXTRABES e a CAPES.

REFERÊNCIAS

APHA., 2012. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22a. ed.
Washington: American Public Health Association.

CHERNICHARO, C. A. L., 2007. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias.


Reatores Anaeróbios. 2ª ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental.
496 p.

METCALF e EDDY., 2003. Inc. Wastewater Engineering treatment Disposal Reuse. 4. ed.
NewYork, McGraw - Hill Book, 1815p.

SILVA, S. A; ARAÚJO, H. W. C.; OLIVEIRA, R, 2000. Reservatórios Profundos Tratando


Esgoto Doméstico bruto no Nordeste do Brasil: Ciclo Do Enxofre. XXVII congresso
Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais. Porto Alegre, ABES.

SUBTIL, E. L.; CASSINI, S. T. A.; GONÇALVES, R. F., 2012. Sulfate and dissolved sulfide
variation under low COD/Sulfate ratio in Up-flow Anaerobic Sludge Blanket (UASB) treating
domestic wastewater. Ambi-Agua, v. 7, n. 1, p. 130-139.

ZHANG, J., et al., 2013. Biological sulfate reduction in the acidogenic phase of anaerobic
digestion under dissimilatory Fe (III) e Reducing conditions. WATER RESEARCH, v. 47, p.
2033-2040.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 525


ANÁLISE SÓCIO-AMBIENTAL DO RIACHO CURIMATAÚ NO PERÍMETRO
URBANO DE SÃO JOSÉ DOS RAMOS/PB32

Joseline da Silva ALVES


Licenciada em Geografia UEPB
joseline.geo@gmail.com

Lanusse Salim Rocha TUMA


Prof. Dr. Depto. Geografia (UEPB)
lanussetuma@yahoo.com.br

Simone da SILVA
Licenciada em Geografia UEPB
simoneds86@gmail.com

Feliciana Laís Lima ALVES


Graduanda em Geografia UEPB
felicianalais@gmail.com

RESUMO
A água é um recurso natural essencial para a manutenção da vida no planeta, sendo utilizada no
consumo humano, industrial, na agricultura e pecuária, e como fonte para gerar energia, deixando
evidente a sua importância e a necessidade de preservação e o uso consciente deste potencial
hídrico. O riacho Curimataú está localizado no estado da Paraíba, tendo sua nascente no município
de Mogeiro e corta o território paraibano no sentido oeste-leste, indo desaguar no rio Paraíba no
Município de São Miguel de Taipu. O avanço da aglutinação humana, normalmente acompanhado
da ausência de infraestrutura, o desperdício da água por vazamentos, despejo de esgoto doméstico e
industrial sem o devido tratamento nos rios e riachos, tem levado ao desaparecimento da água em
condições apropriadas para o consumo humano e animal, além da diminuição da fauna e da flora
aquática, prejudicando todo um ecossistema, que antes se via em total equilíbrio. Além do
assoreamento causado pelo grande excedente de sedimentos que acumula no leito, oriundos da
ocupação desordenada de suas margens, há também o despejo dos efluentes domésticos que chegam
até o riacho originado de diversas águas servidas, na ausência do saneamento básico e fossas
sépticas, que transportam cargas orgânicas (resíduos e coliformes fecais etc.) e inorgânicas
(produtos químicos) que são intensificadores da degradação ambiental. Sendo assim, esta pesquisa
analisa os fatores que levam ao processo de degradação do riacho Curimataú, bem como seus
reflexos sobre a qualidade de vida da população circunvizinha, levando em consideração os

32
O presente trabalho é parte resultante da pesquisa monográfica, em nível de Graduação, apresentada no Departamento
de Geografia vinculado ao Centro de Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba, no ano de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 526


processos ambientais, históricos, econômicos, sociais que influenciam na dinâmica natural do
riacho e seus reflexos sobre as comunidades que dependem direta ou indiretamente de suas águas.
Palavras-chave: Degradação hídrica, riacho Curimataú, expansão urbana, poluição, esgoto
doméstico.

ABSTRACT
Water is essential for sustaining life on the planet natural resource being used in human, industrial,
agriculture and livestock consumption, and as a source for generating energy, making clear its
importance and the need for conservation and the wise use of water resources. Curimataú The creek
is located in the state of Paraíba, having its source in the municipality of Mogeiro and cuts the
Paraiba territory west to east, going emptying into the river Paraíba in São Miguel de Taipú. The
advancement of human bonding, often accompanied by lack of infrastructure, water wastage
through leaks, inappropriate use, discharge of domestic and industrial wastewater without proper
treatment into rivers and streams, has led to the disappearance of water in proper condition for
consumption human and animal, in addition to decreasing the aquatic flora and fauna, damaging an
entire ecosystem, which previously was seen in the total balance. Besides silting caused the large
surplus of sediment that reaches the bed, arising from the disordered occupation of its banks, there
is also the disposal of domestic wastewater that reaches the stream originated from various
wastewater in the absence of sewerage and septic tanks, transporting organic loads (human waste
and fecal coliforms etc.) and inorganic (chemicals, detergents and soaps) that are enhancers of
environmental degradation. Thus, the research aims to analyze the factors that lead to degradation
of the creek Curimataú process as well as its impact on the quality of life of the surrounding
population, taking into account the environmental, historical, economic, social processes that
influence the natural dynamics of creek and its effects on communities that depend directly or
indirectly from its waters.
Key-words: water degradation, stream Curimataú, urban sprawl, pollution, sewage.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural essencial para a manutenção da vida no planeta, sendo utilizada
no consumo humano, industrial, na agricultura e pecuária, e como fonte para gerar energia,
deixando evidente a sua importância e a necessidade de preservação e uso consciente.
O ser humano tem a necessidade de modificar o ambiente para melhorar suas condições de
vida, transformando de tal maneira o meio natural, que chega a causar interferências no fluxo de
energia e matéria levando a alterações no equilíbrio na dinâmica da natureza. Os malefícios
causados à natureza retornam negativamente sobre a sociedade, em forma de enchentes,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 527
deslizamentos de massa, salinização dos reservatórios subterrâneos, poluição das águas superficiais
e do solo e escassez hídrica (ROSS, 2009; UNESCO, 2012).
O avanço da aglutinação humana, normalmente acompanhado da ausência de infraestrutura,
desperdício da água por vazamentos, despejo de esgoto doméstico e industrial sem o devido
tratamento nos rios e riachos, tem levado ao desaparecimento da água em condições apropriadas
para o consumo humano e animal, além da diminuição da fauna e da flora aquática, prejudicando
todo um ecossistema, que antes se via em total equilíbrio.
As grandes pressões exercidas sobre os rios, no Brasil, provêm do crescimento demográfico
nas cidades, que na sua maioria não foi acompanhado pelo fornecimento de serviços urbanos
básicos, além de não disporem da implantação da política de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos e tratamento de efluentes domésticos (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012).
Outro fator preponderante é a ocupação irregular nas margens dos rios para ceder lugar para
habitações e áreas agricultáveis, que na maioria dos casos que se situam em áreas destinadas ao
escoamento das águas fluviais no período das cheias. Essa situação torna-se preocupante quando se
observa que boa parte dessas ocupações está nas imediações dos rios. O desmatamento das matas
ciliares tem contribuído com o transporte excessivo de sedimentos e resíduos sólidos que ao
chegarem aos canais, alteram a dinâmica fluvial dos mesmos.
A pesquisa se desenvolveu no riacho Curimataú, afluente da região do baixo curso da bacia
hidrográfica do Rio Paraíba.
O destino inadequado dos rejeitos provenientes das comunidades localizadas no curso do
riacho tem causado interferência na dinâmica natural desse canal hídrico, facilitando o
aparecimento de problemas como o assoreamento, provocados pela supressão da mata ciliar,
ocupação e uso das planícies fluviais, diminuição da qualidade da água, bem como a redução da
biodiversidade aquática, devido ao lançamento de resíduos sólidos e efluentes domésticos sobre seu
leito.

REFERENCIAL TEÓRICO

A maior parte do planeta é coberta por água, contudo, desse total 97,5% é salgada, e dos
2,5% de água doce encontram-se distribuídos nas calotas polares, nos reservatórios subterrâneos,
rios, lagos e reservatórios artificiais, contudo, apenas uma pequena parcela desse total encontra-se
dentro dos padrões de potabilidade para ser consumida pelo ser humano (KARMANN, 2009). No
entanto, o que se percebe é que, uma parcela significativa da população, tem a ilusória sensação que
a água disponível é inesgotável, principalmente em países que possuem grande potencial hídrico,
como é o caso do Brasil.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 528


De acordo com os dados do Geobrasil Recursos Hídricos (2007) devido a sua economia
bastante dinâmica e diversificada, crescente níveis de urbanização e forte demanda por energia,
entre outros fatores, o Brasil vem enfrentando um conjunto variado de pressões sobre os recursos
hídricos disponíveis. Essas pressões causam impactos sobre a oferta presente e futura de tais
recursos, bem como sobre sua qualidade e sua capacidade de prestação de serviços ambientais.
Com lançamentos de rejeitos, esgoto doméstico e industrial ou produtos químicos nos
corpos d‘água sem que seja realizado um processo de tratamento e recuperação de sua qualidade
hídrica, pode-se chegar a níveis críticos de contaminação, fazendo com que essa água perca sua
potabilidade e ao poucos, a reserva de água doce se tornará um recurso escasso.
Desse modo, Barros e Amim (2008) afirmam que:

Fica explícito que em se mantendo os atuais níveis de consumo e de degradação da água


esse recurso, antes abundante, passará a escasso e, em se tornando escasso, a sociedade terá
que optar entre continuar a caracterizá-la como um bem comum, do qual todos têm acesso
sem ter que recorrer a nenhuma forma de pagamento, ou, ao contrário, passará a valorá-lo
tornando-o um bem econômico, onde o mercado fica responsável por satisfazer a demanda.
(BARROS e AMIM, 2008, p. 79).

Segundo os autores fica claro que, para se evitar conviver com o uso limitado da água, só
restam duas alternativas: ou utilizam-se os recursos hídricos de forma consciente, evitando
desperdícios, bem como o lançamento de rejeitos domésticos e industriais sem tratamento
diretamente nos corpos hídricos, aprendendo a reaproveitar a água utilizada, ou então, deve-se
encarar a água, como um bem econômico, dotado de valor estipulado pelo mercado.
De acordo com Coelho Neto (2008), a água possui um fluxo superficial que tende a ter uma
rota preferencial e que contribui diretamente na definição dos mecanismos de erosão, transporte e
deposição de sedimentos dentro de uma bacia de drenagem. Esse processo de erosão e transporte de
sedimentos está intimamente relacionado com os fatores bióticos (fauna e flora), abióticos (clima,
solo, topografia etc.) e a ação humana. Qualquer alteração nesse sistema, por menor que seja, pode
ocasionar desequilíbrio em seu sistema hidrológico.
Os processos das ocupações humanas, em muitos casos, se desenvolveram próximos a
algum corpo hídrico, no intuito de aproveitar suas águas para atender as suas necessidades, tais
como: consumo humano, atividades domésticas e industriais, irrigação, lazer etc. Porém, o que se
observa é que a maior parte desses rios e outros corpos hídricos encontram-se contaminados ou em
processo contínuo de degradação.
De acordo com Guerra e Marçal (2010), o processo de urbanização tem ocasionado
inúmeros danos ao meio ambiente. Na implantação de ruas e avenidas, asfaltamento, estradas e
entre outras ações que visam o melhoramento das condições de vida da população, se faz necessária

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 529


à derrubada da vegetação nativa, o uso e compactação dos solos, surgimento de voçorocas e ravinas,
o assoreamento dos canais fluviais, além da contaminação das águas superficiais e subterrâneas.
Parte dos problemas ambientais que ocorrem nessas áreas estão ligadas a questões
socioeconômicas. Nas grandes cidades, principalmente, a população mais carente é obrigada a
construir suas casas em lugares inadequados e que na maioria das vezes oferecem riscos, como por
exemplo: encostas de morros e planícies marginais, podendo trazer danos tanto para a natureza,
quanto para a população que fica vulnerável a inúmeros problemas de saúde (BOTELHO e SILVA,
2010).
Para Ross (2001), o ser humano deve ter cuidado ao fazer qualquer ao tipo de alteração na
natureza, já que isso acarreta mudanças no equilíbrio do meio ambiente e que poderá vir a afetar,
principalmente a sociedade. A natureza possui técnicas de regeneração, contudo, mantendo-se esse
ritmo de interferência, chegar-se-á ao ponto de danos irreversíveis.

METODOLOGIA

Área De Estudo

O riacho Curimataú está localizado no estado da Paraíba, tendo sua nascente no município
de Mogeiro e corta o território paraibano no sentido oeste-leste. O curso deste riacho atravessa
também os territórios de Itabaiana, Gurinhém, São José dos Ramos, Sobrado e Pilar (sendo o
responsável pela delimitação física do território administrativo desses municípios), indo desaguar
no Rio Paraíba, 5 km após ter saído dos limites do município de Sobrado, em São Miguel de Taipu
(Figura 1)
O município de São José dos Ramos está inserido na mesorregião da Zona da Mata
paraibana e na microrregião de Sapé (AESA, 2013), totalizando uma população de 5.508 habitantes
e ocupada uma área territorial de aproximadamente 98, 232 km² (IBGE, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 530


Figura 1: Localização geográfica do riacho Curimataú.
Fonte: AESA (2013), Elaborado por Souza Filho (2014).

A área de estudo é constituída por rochas oriundas do Arqueano, mais especificamente do


Complexo Cabaceiras. A forma do relevo é do tipo suave ondulado, e a área está inserida no
Domínio Morfoestrutural da Depressão Sublitorânea (CPRM, 2005).
O clima predominante segundo Koppën é do tipo As‘ (quente úmido), com temperatura
média anual de 26º C, umidade relativa de 80%. A área encontra-se situada na faixa tropical do
hemisfério sul, apresenta uma vegetação de transição do Bioma Caatinga e da Mata Atlântica
(PARAÍBA, 2003).

Pesquisa De Campo

Santos (2004) defende a ideia de que para se conseguir fazer uma avaliação do nível das
transformações que ocorrem no ambiente, deve-se estar atento basicamente a 3 passos: identificar o
tipo dano e o agente causador, quantificar o dano, no intuído de mensurar qual foi o grau de
interferência gerado, e qualificar o impacto, e assim, elaborar indicadores que contribuam para uma
melhor gestão dos recursos naturais.
Com base nessas informações, o primeiro passo foi à visita ao campo, com o objetivo de
analisar a paisagem, as condições do riacho e verificar a existência de processos impactantes no
perímetro urbano do Município de São José dos Ramos. O segundo passo foi realizado com o
auxílio dos formulários de campo para a quantificação das informações colhidas durante a visita no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 531


local. O terceiro passo, deu-se à partir da sistematização desses dados à fim de reconhecer o nível
do processo degradativo, para então, propor alternativas para o convívio harmônico das
comunidades locais com o riacho.
Durante a pesquisa de campo foram aplicados 15 formulários estruturados com moradores
do Município de São José dos Ramos (região do alto curso). Os formulários continham 17 questões
fechadas, onde se perguntava a cerca da qualidade e da origem da água que consumiam no dia-a-
dia. Foram aplicados formulários com 5 homens e 10 mulheres chefes de família.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tendo por base as informações adquiridas com a aplicação dos formulários, a visita ao
campo e com a literatura pré-existente, foi possível observar que o riacho Curimataú vem passando
por um processo degradativo oriundo da ocupação irregular de suas margens, bem como a retirada
da mata ciliar em muitos pontos do seu curso, além do despejo de esgoto domiciliar, sem o devido
tratamento, e de resíduos sólidos (Figura 2).

Figura 2: Presença de resíduos sólidos no município de São José dos Ramos.


Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

O riacho Curimataú ao cortar o território dos municípios Paraibanos de Mogeiro, Itabaiana,


Gurinhém, São José dos Ramos Pilar, Sobrado, e São Miguel de Taipu, passa por duas áreas
urbanas: a primeira seria a cidade de São José dos Ramos, e a segunda, o Distrito de Curimataú que
pertence ao município de Pilar, porém a maior parte do seu curso encontra-se situado em áreas
rurais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 532


No que concerne às vizinhanças do riacho, nos trechos localizados em áreas rurais o mesmo
é cercado na sua maioria por pequenas propriedades rurais que praticam agricultura temporária e de
subsistência, como por exemplo, o cultivo da macaxeira, milho, batata, feijão, fava e o inhame,
destinados principalmente à alimentação familiar e o excedente da produção é vendida para
revendedores locais, no intuito de complementar a renda familiar. De acordo com o depoimento dos
agricultores, não há o uso de agrotóxicos nem de fertilizantes químicos na produção.
Mesmo com as interferências provocadas pelos moradores rurais nesses trechos, o riacho
apresenta-se em condições ambientais melhores do que as visualizadas em áreas urbanas. Percebe-
se um aumento no número de indivíduos da vegetação local, aparecendo de forma mais vasta do
que a encontrada no Distrito de Curimataú e São José dos Ramos.
Já nas áreas urbanas, o que se nota é que tanto no Distrito de Curimataú quanto na cidade de
São José dos Ramos o crescimento populacional da região levou a população a construir suas
moradias nos espaços que estão naturalmente destinados ao escoamento das águas fluviais.
Cunha e Guerra (2000) atentam para os transtornos gerados pela ocupação desordenada,
conjuntamente com as ―condições naturais de riscos‖. Esses dois fatores associados levam a
degradação ambiental que repercutem diretamente sobre as comunidades que ficam próximas
desses locais, causando prejuízos materiais, e em algumas vezes, de vidas humanas.
O aumento da população quando ocorre de maneira desordenada, tende a trazer prejuízos
tanto para os habitantes locais quanto para o ambiente. A população que vive às margens dos rios,
riachos e córregos, na maioria dos casos, ocupa uma área que é destinada ao escoamento das águas
fluviais no período das cheias. Esse fato torna-se preocupante quando se observa que boa parte das
ocupações retira a vegetação ciliar, que além de impedir que uma excessiva carga detrítica alcance
os leitos dos canais, também possa auxiliar no momento de picos das cheias, aumentando as
chances do volume de água se desviar do seu curso natural (VIEIRA e CUNHA, 2006).
Para Mendonça (2011) os avanços tecnológicos e científicos atuais, não permitem mais que
nos coloquemos como vítimas da natureza. Desde a descoberta do fogo que a nossa posição de
submissão foi se diluindo. Todo esse alarmismo só serve para tentar nos cegar perante o real
problema, que seria a falta de planejamento e de interesse em resolver esses problemas de ordem
ambiental e, sobretudo social.
No caso das áreas urbanas onde o riacho Curimataú passa, assim como em alguns pontos das
zonas rurais, a vegetação foi quase que completamente devastada, agora para dar lugar às casas, e
também pastos e plantações. Sem a proteção da mata ciliar e com o avanço de prática agropastoris,
o solo fica exposto facilitando o processo erosivo, e provoca o surgimento de bancos aluvionares,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 533


diminuindo o escoamento fluvial do riacho. É notável a presença desses bancos de sedimentos ao
longo de leito do riacho Curimataú (Figura 3).

Figura 3: Vista do processo degradativo no riacho Curimataú


Fonte: pesquisa de campo, 2014.

Além do assoreamento causado pelo grande excedente de sedimentos que chega ao leito,
oriundo da ocupação desordenada de suas margens,de acordo com os moradores há também o
despejo dos efluentes domésticos, que desaguam no riacho originados de diversas águas servidas,
decorrente da ausência de saneamento básico, como por exemplo, cargas orgânicas (resíduos e
coliformes fecais etc.) e inorgânicas (detergentes e sabões) que são intensificadores da degradação.
Segundo Tundisi e Tundisi (2008) quando os rios e riachos recebem despejo de esgoto
doméstico, tem-se como consequências o aumento do nitrogênio e fósforo. Com as condições
físicas e químicas alteradas e com a progressiva e lenta sedimentação ocorre o crescimento de
organismos fotoautotróficos nos ecossistemas aquáticos, ou seja, fitoplânctons e fotossintetizantes,
tais como perifíton, macrófitas aquáticas e bactérias. A interferência humana na vida aquática tem
produzindo imensas alterações na estrutura desses ecossistemas.
Na cidade de São José dos Ramos, mesmo com coleta de lixo acontecendo regularmente
todos os dias da semana, alguns moradores que vivem às margens do riacho lançam resíduos sólidos
e despejam as águas residuais sem o devido tratamento diretamente no riacho, degradando-o ainda
mais. Relatos afirmam que a situação começou a piorar nessa última década, proveniente,
principalmente com o avanço do crescimento urbano.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 534


A qualidade da água nas proximidades dessas áreas urbanas mostra-se visivelmente
imprópria para o consumo humano, apresentando muitas vezes, uma cor esverdeada e um odor
desagradável levando a 67% dos entrevistados afirmarem que não usam as águas do riacho para
nenhuma finalidade. Já em alguns trechos localizados nas áreas rurais nota-se um melhoramento nas
condições estéticas da água, isso permite que 33% dos moradores utilizem o riacho para a
realização de certas atividades, como a pesca e o banho recreativo nas águas do riacho.
A Funasa (2006) entende como saneamento básico um conjunto de ações socioeconômicas
que tem por prioridade garantir o estado de higidez da população urbana e rural através do
abastecimento de água potável, coleta e tratamento do esgoto, destinação adequada de resíduos
sólidos, líquidos e gasosos, controle de doenças, entre outras providências. A Funasa tendo por base
os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, segundo o qual a cada R$ 1,00 (um real) investido
em saneamento básico, economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) em gastos hospitalares.
No caso do município de São José dos Ramos, a população tem acesso à água encanada,
mas de acordo com depoimento dos moradores, a água que chega às residências é muito salobra,
servindo somente para a realização dos serviços domésticos. Os entrevistados afirmam que se veem
obrigados a comprar água para beber, a qual é retirada de um sítio da região.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, pode-se perceber que o riacho Curimataú está em um
crescente processo de degradação ambiental, gerado a partir das intervenções humanas que vem
ocorrendo em todo o seu curso, causado principalmente pela ocupação irregular de suas margens,
seja ela nas áreas rurais ou em áreas urbanas.
No caso das áreas urbanas, nas margens fluviais, locais onde deveria existir a vegetação
ciliar e onde é naturalmente o local destinado para o escoamento das águas nos períodos de cheia,
nota-se o aumento cada vez maior de residências, tendo como consequência, uma diminuição na
taxa de infiltração das águas pluviais, uma vez, que há uma impermeabilização do solo pela
construção civil e retirada das matas ciliares ao logo do riacho.
Com a aglutinação humana nessas áreas surge também o problema do lançamento de
resíduos sólidos das mais diversas origens, que vão desde sacolas plásticas e garrafas PET, até
restos de sofás e pneus usados, além do despejo do esgoto doméstico sem nenhum tipo de
tratamento diretamente nas águas do riacho. No caso do Distrito de Curimataú, a situação é
agravada pela falta de planejamento urbano, isso porque as casas foram construídas muito próximas
umas das outras, não sendo possível a construção de fossas sépticas adequadas, além da inexistência

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 535


de saneamento básico, onde a população resolveu canalizar o esgoto de suas casas diretamente para
o riacho Curimataú, piorando ainda mais a situação de suas águas.
Deve-se atentar ao fato de que toda essa problemática ambiental, reflete diretamente sobre a
qualidade de vida, já que é a sociedade a principal prejudicada com todo esse desequilíbrio da
dinâmica hídrica. Há, portando, a necessidade de se promover políticas públicas que deixem claro a
necessidade da preservação e do uso racional das águas do riacho, para isso é preciso que haja um
diálogo eficaz entre o poder público e a população.
Sugere-se o estabelecimento de limites no uso deste recurso do meio físico, para que seja
possível manter o equilíbrio natural do riacho Curimataú e um melhor meio de convivência entre os
ribeirinhos que, de um a forma ou de outra, utilizam as águas do riacho no seu cotidiano.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA EXECUTIVA DE GESTÃO DAS ÁGUAS DO ESTADO DA PARAÍBA-AESA.


Comitê da Bacia hidrográfica do rio Paraíba. Disponível em: aesa.pb.gov.br/comites/paraiba
Acesso em: 24/04/2013.

BARROS, F. G. N. AMIN, M. M. Água: um bem de valor econômico para o Brasil e para o mundo.
Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 2008,V. 04, n. 01,pp.75-108.

BOTELHO, R. G. M; SILVA, A. S. Bacia hidrográfica e a qualidade ambiental. In: VITTE, A. C.;


GUERRA, A. J. T. Reflexões sobre a geografia física no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2010. pp 153-188.

COELHO NETO, A, L. Hidrologia de encosta na interface com a geomorfologia. In: GUERRA, A,


J. T.; CUNHA, S. B. da. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 8ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, pp. 93-144.

CPRM, Companhia de Recursos Minerais. Diagnóstico do município de São José dos Ramos,
estado da Paraíba/ Organizado [por] João de Castro Mascarenhas, Breno Augusto Beltrão, Luiz
Carlos de Souza Junior, Franklin de Morais, Vanildo Almeida Mendes, Jorge Luiz Fortunato de
Miranda. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.

CUNHA, S. B. da. GUERRA, A, J. T. degradação ambiental. In: CUNHA, S. B. da.; GUERRA, A,


J. T (org.) Geomorfologia e meio ambiente. 4ª ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2000, pp. 337-
375.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 536


CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. A questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003, pp. 248.

FUNASA. Fundação Nacional da Saúde. Manual de saneamento. 4ª ed., 2006. pp. 408.

GEOBRASIL, Ministério do Meio Ambiente: recursos hídricos. Brasília: MMA, ANA, 2007, pp.
60.

GUERRA, A. J. T; MARÇAL, M. dos S. Geomorfologia ambiental. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2010, pp. 192.

MENDONÇA, F. de A. Geografia e meio ambiente. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2011, pp. 80.

MMA, Ministério de Meio Ambiente. Planos de gestão de resíduos sólidos: manual de orientação.
Brasília, 2012, pp. 156

ROSS, J. L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2001, pp. 84.

SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004,
pp. 71-106.

ROSS, J. L. S. Ecogeografia do Brasil: Subsídio para o planejamento ambiental. São Paulo: oficina
de Textos, 2009, pp. 205

PARAÍBA, Atlas do Estado da Paraíba: informação para a gestão do patrimônio natural.


FELICIANO, M. L. M.; MÉLO, R. B. (org.) João Pessoa: SEPLAM/IDEME, 2003.

TUNDISI, J. G; TUNDISI, T. M. Limnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008, pp.631.

UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Relatório
mundial das nações unidas sobre o desenvolvimento dos recursos hídricos 4. Brasília: 2012, pp.
17.

VIEIRA, T. V.;CUNHA, S. B. da. Mudanças na rede de drenagem urbana de Teresópolis (Rio de


Janeiro), In: CUNHA, S. B. da. GUERRA, A. J. T. (org.) Impactos ambientais urbanos no Brasil.
4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, pp. 111-142.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 537


ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE SANEAMENTO BÁSICO NO ESTADO DA PARAÍBA

Luzibênia Leal de OLIVEIRA


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UFCG
luzibenia@gmail.com

Erivaldo Moreira BARBOSA


Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UFCG
erifat@terra.com.br

Silvana Pontes de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Enfermagem da UFCG
silvana_pontes_8@hotmail.com

Rosenilda Dias da SILVA


Graduanda do Curso de Enfermagem da UFCG
rosenilda20092009@hotmail.com

RESUMO
Saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de
abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos,
drenagem e manejo das águas pluviais. O objetivo desta pesquisa foi analisar a situação de
saneamento básico no estado da Paraíba, durante a série histórica de 2008 a 2012. Desenvolvemos
uma pesquisa exploratória, documental, com abordagem quantitativa. Os dados foram obtidos no
Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Com o intuito de abarcar todo o estado da
Paraíba, analisamos informações dos 12 Núcleos Regionais de Saúde (NRS) existentes. No que se
refere aos principais resultados: o NRS I é o que apresenta o melhor percentual de acesso à água
pela rede pública; os NRSs e VII apresentaram os percentuais mais altos de lixo queimado e
enterrado; o NRS VI é o que apresenta o maior percentual de destino dos dejetos em esgoto; Os
NRSs I e III são os que apresentaram os maiores números de internações por DIP, enquanto o NRS
X é o que apresenta o menor valor.
Palavras-chave: Água potável; Resíduos domiciliares; Esgoto.

ABSTRACT
Sanitation is the set of services, infrastructure and operational facilities of water supply, sanitation,
urban sanitation, solid waste management, drainage and rainwater management. The objective of
this research was analyze the situation of sanitation in the state of Paraíba, for the time series 2008-
2012. We develop an exploratory, documentary research with a quantitative approach. The
information was obtained from the Department of Computer the SUS (DATASUS). In order to
cover the entire state of Paraíba, we analyzed information from 12 Regional Center for Health
(NRS) existing. Main results: The NRS I is what presents the best percentage of water services for

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 538


the public, and the NRS VII showed the highest percentages of waste burned and buried the NRS
VI is the one with the highest percentage of target waste in sewage; the NRSS the I and III are those
with the highest number of hospitalizations for DIP, while the NRS X is the one with the lowest
value.
Keywords: Drinking water; Household waste; Sewage.

INTRODUÇÃO

Oferecer água de qualidade, destinar corretamente os esgotos e gerenciar os resíduos sólidos


urbanos adequadamente, são ações fundamentais para a promoção da saúde e da qualidade de vida.
Para tal, faz-se necessário conhecer a situação de saneamento em que determinada população está
inserida, dessa forma, torna-se factível intervir com foco na realidade.
A Lei Ordinária n.º 11.445 de 05 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes básicas
nacionais para o saneamento, define saneamento básico como o conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais de: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais (BRASIL,
2007).
A demanda de água para as atividades humanas cresceu bastante, principalmente por causa
do aumento populacional, do maior consumo per capita e das atividades econômicas. Porém, cabe
destacar que o entendimento de que a água é um recurso finito e vulnerável é algo recente e essa
questão ainda não vem sendo tratada com a seriedade necessária (PHILLIPI JR; AGUIAR, 2005).
Também faz parte das ações de saneamento o cuidado com os dejetos, que de acordo com
Rizzo e Santos (2008) são os resíduos de alimentos, fezes e urina. Em relação aos dejetos, o grande
problema está na forma como está acontecendo a destinação final na maioria das cidades brasileiras,
uma vez que os mesmos estão sendo despejados nos cursos d‘água na forma ―in natura‖, ou seja,
esgoto sem nenhum tratamento.
Outra preocupação consiste na oferta de tratamento adequado aos resíduos, visto que, os
1.794 municípios distribuídos nos nove Estados da região Nordeste do Brasil tiveram, juntos, uma
geração de 50.045 toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) por dia, no ano de 2010, das
quais, 38.118 toneladas/dia foram coletadas. Em relação ao estado da Paraíba, no ano de 2010, sua
população era de 2.839.002 habitantes, os quais geravam 3.215 toneladas de RSU por dia, destas
foram apenas coletadas 2.601 toneladas/dia, tal fato revela um déficit de coleta de 614 toneladas/dia
(ABRELPE, 2010).
O referido artigo teve como objetivo analisar a situação de saneamento básico no estado da
Paraíba, durante a série histórica de 2008 a 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 539


METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa exploratória, transversal, documental,
com abordagem quantitativa; de modo a abarcar todo o estado da Paraíba. No universo do estudo
foram utilizadas as informações de saúde disponíveis no banco de dados on line do DATASUS
referentes às famílias cadastradas no Programa Saúde da Família (PSF) do Estado da Paraíba,
durante os anos de 2008 a 2012.
Os dados obtidos foram processados e analisados através do programa de computador Excel
2007 e do aplicativo TabWin; e discutidos à luz da literatura pertinente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O DATASUS oferece como forma de acesso às informações acerca do saneamento básico,


os dados agrupados pelos Núcleos Regionais de Saúde (NRS). Cabe ainda destacar que os números
e percentuais de famílias paraibanas pertencentes ao estudo, restringem-se as que são
acompanhadas pela Estratégia Saúde da Família.
Os Núcleos Regionais de Saúde (NRS) correspondem ao nível responsável pela gestão de
uma determinada região do Sistema Estadual de Vigilância em Saúde, atuando também na gerência
de ações estratégicas em nível estadual-regional, caracterizados no âmbito das Coordenadorias
Regionais de Saúde (CRS).
O estado da Paraíba dispõe de 12 NRS, cada um com sua sede, conforme descrição a seguir:
NRS I (João Pessoa); NRS II (Guarabira); NRS III (Campina Grande); NRS IV (Cuité); NRS V
(Monteiro); NRS VI (Patos); NRS VII (Itaporanga); NRS VIII (Catolé do Rocha); NRS IX
(Cajazeiras); NRS X (Sousa); NRS XI (Princesa Isabel) e NRS XII (Itabaiana).

Figura 1: Mapa do Estado da Paraíba com distribuição dos Núcleos Regionais de Saúde
FONTE: DATASUS/2013
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 540
Em relação aos resultados desta pesquisa para a questão do acesso à água pelas famílias
paraibanas, apresentamos os gráficos 1, 2 e 3.

100,0%

90,0%

Percentual do acesso a água pela rede pública por ano


80,0%

70,0%

60,0%

50,0%

40,0%

30,0%

20,0%

10,0%

0,0%
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII
2008 2009 2010 2011 2012 Núcleos Regionais de Saúde

Gráfico 1: Distribuição percentual do acesso à água pela rede pública por série histórica (2008 - 2012) e por
NRS
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 1 permite-nos visualizar a variação dos índices desta forma, de acesso à água,
considerada adequada. Nele observa-se que o NRS I é o que apresenta o melhor percentual em toda
a série histórica estudada, em contrapartida os NRSs IV e XII apresentaram os piores percentuais
dentre todos os outros, cabendo destacar que no NRS IV houve aumento discreto, porém de forma
progressiva ao longo dos anos. Já no NRS XII no ano de 2008 o percentual era de 52,6%,
aumentando para 55,9% em 2009, diminuindo para 52,8% em 2010, voltando a crescer em 2011 e
alcançando o índice de 58,1% em 2012.
Todos os meses, as cidades dos países em desenvolvimento recebem cinco milhões de novos
residentes, segundo dados das Nações Unidas. Não é, portanto, tarefa simples garantir o acesso à
água para todos, principalmente porque, além da necessidade de ampliação constante das
infraestruturas de abastecimento, lidamos com a pressão por novos mananciais, com conflitos já
existentes ou potenciais entre usuários de fontes comuns de água, com as fragilidades técnicas ou
operacionais das prestadoras de serviços de saneamento e com o comprometimento da qualidade
das águas, devido à poluição urbana. As incertezas climáticas e a sucessão de eventos críticos
extremos realçam ainda mais a gravidade do problema (ANDREU, [201-]).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 541


40,0%

35,0%

Percentual do acesso a água por Poço/Nascente por ano


30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII

2008 2009 2010 2011 2012 Núcleos Regionais de Saúde

Gráfico 2: Distribuição percentual do acesso à água por rede poço/nascente por série histórica (2008 - 2012)
e por NRSs.
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 2 apresenta a variação dos índices desta forma de acesso à água. No NRS IV é o
que apresenta o menor percentual em toda a série histórica estudada, em compensação os núcleos
IX, XI e XII apresentam percentuais que merecem atenção pelo alto valor. O NRS IX houve uma
aparente oscilação, resultando em declínio no ano de 2012, já no NRS XI no ano de 2008 o valor
era de 28,7%, aumentando para 29,0% em 2009, diminuindo para 25,4% em 2010, voltando a
crescer em 2011 e chegando a 28,0% em 2012.
No meio rural, as principais fontes de abastecimento de água são os poços rasos e nascentes,
fontes bastante susceptíveis à contaminação. A água de escoamento superficial, durante o período
de chuva, é o fator que mais contribui para a mudança da qualidade microbiológica da água.
(AMARAL, 2003).

40,0%

35,0%
Percentual do acesso a água por Outras formas por ano

30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

0,0%
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII
Núcleos Regionais de Saúde
2008 2009 2010 2011 2012

Gráfico 3: Distribuição percentual do acesso à água por outras formas, por série histórica (2008 - 2012) e por
NRSs.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 542


FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 3 revela o percentual do acesso à água por outras formas, como abastecimento por
cisternas e carros-pipa. Chama atenção o alto percentual dos NRSs III e IV. O NRS IV manteve
durante toda a série histórica os maiores percentuais dentre todos os outros NRSs, teve em 2008
36,9% aumentou os percentuais para 37,5% e 37,8% nos anos de 2009 e 2010 respectivamente,
depois diminui um pouco para 36,6% em 2012.
Segundo estudos produzidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
do Semiárido, sessenta dias após o encerramento do período de chuvas, 550 mil estabelecimentos
rurais da região ficam sem qualquer tipo de água para consumo humano ou animal. Nos momentos
de escassez de água, as famílias, sobretudo mulheres e crianças, empreendem longas caminhadas
para buscar água, carregando-a, na maioria das vezes, em latas sobre suas cabeças. Essa água
disponível costuma apresentar-se imprópria para o consumo, salobra ou contaminada por
microorganismos patogênicos (BRASIL, 2006).
No tocante aos resultados desta pesquisa para a questão do destino do lixo praticado pelas
famílias paraibanas, apresentamos os Gráficos 4, 5 e 6.

Figura 4: Distribuição percentual do lixo queimado e enterrado por série histórica (2008 - 2012) e por NRS
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 4 demonstra variação dos índices desta forma de destinação do lixo considerada
incorreta. Os NRSs IV e XII apresentaram os percentuais mais altos dentre todos os outros, cabendo
destacar que no NRS IV houve inclusive um aumento nos índices que em 2008 era de 24,6% e em
2012 foi de 25,8%. No NRS XII no ano 2008 o percentual era de 26,1%, subindo em 2009 para
26,9%, se manteve em 25,4% em 2010 e 2011 e caindo para 25,1% em 2012.
De acordo com Pereira (2008) a prática de queimar ou enterrar os resíduos reflete uma
problemática ainda maior, pois compromete o meio ambiente, quando emite através da queima
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 543
poluente como o dióxido de carbono no ar, provocando consequentemente agravos de ordem
ambiental e na saúde da população, a sobreposição de resíduos no solo contribuindo para a
formação do chorume, materiais lixiviados nos lençóis freáticos que contaminam o solo e a água,
além de contribuir para a poluição do ar com aumento da proliferação de enxofre e metano
contribuindo para chuva ácida, enfim ocasionando a destruição dos seres vivos do meio.

Gráfico 5: Distribuição percentual do lixo depositado a céu aberto por série histórica (2008 - 2012) e por
NRS
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 5 apresenta a variação dos índices desta outra forma de destinação do lixo. Nele
percebe-se que os NRSs VII, IX e XI apresentaram os percentuais mais altos dentre todos os outros,
todos apresentaram, em 2008, índice superior a 34 %, ou seja, mais que um terço dos resíduos
estava sendo lançado a céu aberto, forma esta completamente inadequada de destinação do lixo.
No NRS VII, em 2008, apresentou um percentual de 37,8% decrescendo progressivamente e
alcançando o percentual de 34,0% em 2012. Situação semelhante acontece com o NRS IX, que em
2008 apresentou um percentual de 34,1% e caindo para 25,5% em 2012. Já no NRS XI, em 2008
tinha um percentual de 36,2%, diminuindo no ano seguinte para 34,2% e em 2010, apresenta um
aumento para 35,3%, então sofrendo um decréscimo ano a ano chegando em 2012 com um índice
de 30,4%.
Dados do Instituto brasileiro de meio ambiente (IBAMA) indicam que a maior parte do lixo
coletado pelos serviços de coleta urbana na Paraíba não seguem o que preconiza a lei com menção
ao destino do lixo em locais apropriados e livres do convívio humano. Segundo o órgão, mais da
metade das cidades paraibanas jogam seus resíduos de formas irregulares. Os dejetos de 98% deles
são encaminhados para lixões a céu aberto ao invés de aterros sanitários (IBAMA, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 544


Gráfico 6: Distribuição percentual do lixo coletado por série histórica (2008 - 2012) e por NRS
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 6 apresenta revela o acesso das famílias paraibanas a destinação considerada


correta para os resíduos domésticos. É preocupante a situação dos NRSs VII, IX e XI, pois
apresentaram os piores índices na pesquisa. Os NRSs VII e IX em 2008 apresentavam índices de
55,0% e 53,5% respectivamente, então tiveram um crescimento destes valores até o ano de 2012,
chegando aos percentuais de 57,9% e 58,6% respectivamente. Já o NRS XI, em 2008 apresentava
um índice de 49,6% tendo um aumento para 51,0% no ano seguinte, caindo em 2010 para 50,1%,
para então voltar a subir, chegando ao valor de 54,5% em 2012.
Na Paraíba, estima-se que a maioria dos municípios destina os seus resíduos irregularmente.
Os dejetos de 98% dos municípios são encaminhados para lixões a céu aberto; apenas a região
metropolitana de João Pessoa possui aterros dentro das exigências ambientais (IBAMA, 2010).
Outra questão preocupante é a disposição inadequada do lixo doméstico nos centros urbanos
nas calçadas a espera da coleta diária que possibilita que espécies de diferentes animais vasculhem
esse material à procura de alimentos, na maioria das vezes espalhando resíduos de materiais
orgânicos nas ruas, nos centros urbanos, contaminando tais locais com a presença de animais como
ratos, aves, pombos e insetos, ocasionando a disseminação de doenças como leptospirose, dengue,
hepatites virais, e entre outras, causando, desse modo, problemas de ordem sanitária na população
(PAPINI, 2009).
No que diz respeito aos resultados desta pesquisa para a questão do destino dos dejetos que
as famílias paraibanas tem acesso, apresentamos os gráficos7, 8 e 9.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 545


Gráfico 7: Distribuição percentual da destinação dos dejetos em esgotos, por série histórica (2008 - 2012) e
por NRSs.
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 7 possibilita-nos visualizar a variação dos índices de destinação dos dejetos em


esgoto-forma considerada adequada. O NRS VI é o que apresenta o maior percentual em toda a
série histórica estudada, em compensação o núcleo XII apresenta percentual que merece atenção
pelo baixo valor. O NRS III houve um aparente crescimento do decorrer dos anos, resultando em
um percentual de 45,9% no ano de 2012.
Em áreas urbanas onde existe rede coletora, mas não se faz tratamento de esgotos, o
problema geralmente é afastado para pontos periféricos de lançamento. Embora a própria rede possa
constituir abrigo ou habitat para organismos perigosos como ratos e baratas, tem-se a impressão da
melhora ambiental, pois nas áreas servidas pela infraestrutura o homem acaba não entrando em
contato direto com os resíduos (PHILIPPI JR; AGUIAR, 2005).

Gráfico 8: Distribuição percentual da destinação dos dejetos em fossas, por série histórica (2008 - 2012) e
por NRSs.
FONTE: DATASUS/2013

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 546


O Gráfico 8 apresenta a variação do percentual da destinação dos dejetos em fossas. Nele
observa-se que os NRS I e XII são o que apresentam um dos maiores percentuais em toda a série
histórica estudada, em contrapartida os NRSs VI apresentam o menor percentual dentre todos os
outros, cabendo destacar que no NRS VI houve uma diminuição discreta ao logo dos anos.
De acordo com Leonel (2013) os tipos de fossas mais conhecidos são fossa negra, seca e
séptica. A fossa negra é aquela escavação sem nenhuma cobertura interna onde os resíduos caem no
terreno, ocasionando a infiltração e a decomposição no solo. A fossa seca é um compartimento feito
no solo, abaixo do vaso sanitário, na qual os resíduos são depositados. E por último, a fossa séptica
é um compartimento subterrâneo, onde acúmulos de esgotos ou de condomínios são digeridos por
micróbios, resultando em um líquido que deve ser dispensado em um sumidouro. Entre todos os
tipos mencionados de fossa, a séptica é a única forma correta de armazenar os resíduos.

Gráfico 9: Distribuição percentual da destinação dos dejetos a céu aberto, por série histórica (2008 - 2012) e
por NRSs.
FONTE: DATASUS/2013

O Gráfico 9 revela o percentual de destinação dos dejetos a céu aberto nos doze NRSs.
Destaca-se o baixo percentual do NRSs I. Os NRSs VII, XII mantiveram durante toda a série
histórica os maiores percentuais dentre todos os outros. Ambos apresentaram uma diminuição dos
percentuais ao longo dos anos, mas mesmo com essa redução eles se mantiveram em índices altos.
O NRS VII em 2008 apresentou 37,5% chegando a 33,3% e em 2012 e o NRS XII apresentou
36,8% chegando a 31,7%.
A inexistência de coleta e tratamento de esgoto cria um ambiente insalubre que favorece o
surgimento de doenças fatais. O poder destruidor do esgoto é surpreendente, tendo em vista sua
capacidade de atuar em todo o território nacional e de se infiltrar em todos os níveis da sociedade.
Os esgotos disponibilizados a céu aberto sem qualquer tratamento contaminam solos, rios,
mananciais e praias do país com impactos diretos à saúde da população (WONG, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 547


CONCLUSÕES

O acesso à água pela rede pública é o mais recomendado, porém ainda não se encontra
universalizado. No que se refere a área geográfica do Estado da Paraíba, merece especial atenção o
NRS III, o qual tem sua sede no município de Campina Grande, visto que 30% das famílias não
dispõem deste tipo de acesso.
Utilizar água oriunda de poços e nascentes é uma forma de acesso perigosa à saúde humana,
já que apresenta alto risco de contaminação, porém ainda é muito praticada em todo o território
paraibano.
A ineficiência no sistema de abastecimento de água pela rede pública obriga a população a
buscar outras fontes de acesso à água, a exemplo de barreiros utilizados também por animais, água
proveniente de carros pipa, dentre outros, colocando em risco sua saúde e a conservação do meio
ambiente.
A falta de saneamento básico está relacionada com o surgimento de várias doenças, as quais
interferem na qualidade de vida da população e até mesmo no desenvolvimento do país. Portanto, é
fundamental conhecer a realidade de saneamento de uma determinada região para elaborar políticas
de saúde pública e estratégias de prevenção/promoção de saúde com o objetivo de minimizar os
agravos à saúde.

REFERÊNCIAS

ABRELPE, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.


Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2010. São Paulo: Grappa editora e comunicação,
2010. Disponível em:
<http://www.wtert.com.br/home2010/arquivo/noticias_eventos/Panorama2010.pdf>. Acesso em:
12 Jun. 2014.

AMARAL, L. A. et al. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em propriedades
rurais. Rev. Saúde Pública[online]. 2003, vol.37, n.4, pp. 510-514. ISSN 0034-8910. Disponível
em: < http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102003000400017>
Acesso em: 10 de ago. 2014

ANDREU, V. Água para as Cidades Brasileiras. [201-]. Disponível em: <


http://arquivos.ana.gov.br/imprensa/artigos/20120430_%C3%81gua%20para%20as%20cidades
%20brasileiras_Vers%C3%A3o%20enviada%20para%20o%20Trigueiro%20(2).doc> Acesso
em: 28 set. de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 548


BRASIL, Tribunal de Contas da União. Relatório de avaliação de programa: Ação Construção de
Cisternas para Armazenamento de Água; Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação
de Programas de Governo, 2006. Disponível em:
<http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_governo/areas_atuaca
o/assistencia_social/cisternas_relatorio.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2012.

______. Lei Ordinária n.º 11.445 de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico; altera as leis nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979, 8.036 de 11 de maio de
1990, 8.666 de 21 de junho de 1993, 8.987 de 13 de fevereiro de 1995, revoga a Lei nº 6.528 de
11 de maio de 1978 e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil.
Brasília 08 jan 2007 retificado em 11 jan. 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm >. Acesso em: 24 de
ago. de 2014.

IBAMA, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis. Notícias Ambientais. João
Pessoa, 2010. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/publicadas/o-ibama-aponta-solucoes-
para-o-problema-ambiental-dos-lixoes-na-paraiba>. Acesso em 14 fev.2014.

LEONEL, L. Tipos de fossas. Goiânia: ABX, 2013. Disponível em:


<http://www.abxlimpafossaedesentupidora.com/2013/03/tipos-de-fossas.html>. Acesso em: 29
ago. 2014.

PAPINI, S: Vigilância em saúde ambiental: Uma nova área da ecologia. São Paulo: Atheneu, 2009.

PEREIRA, S. S. A problemática dos resíduos sólidos urbanos e os instrumentos de gestão do meio


ambiente na cidade de Campina Grande/PB. (2008). Rev. Âmbito Jurídico. Disponível em:
<http://www.ambito juridico.com. BR/site/index.
Php?N_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10535>. Acesso em13 mar. 2014.

PHILLIPI JR, A.; AGUIAR, A.O. Resíduos Sólidos: Características e Gerenciamento. In:
PHILLIPI JR, A.(Ed.). Saneamento saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento
sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005.p. 267-321. (Coleção Ambiental).

RIZZO, M.R.; SANTOS, M.G. Repensai a geração de lixo e dejetos. [?], 2008. Disponível em
<http://www.artigos.com/artigos/saude/saude-e-bem-estar/repensai-a-geracao-de-lixo-e-dejetos-
3002/artigo/>. Acesso em: 08 mai. 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 549


WONG, A. Esgoto a céu aberto: inimigo invisível - Correio do povo. São Paulo: Trata Brasil, 2012.
Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/esgoto-a-ceu-aberto-inimigo-invisivel-correio-do-
povo>. Acesso em: 29 ago. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 550


GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CEFET-MG - CAMPUS – CURVELO:
EVOLUÇÃO QUALI-QUANTITATIVA

Roberto Meireles GLÓRIA


Doutorando do Curso de Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Roberto@contagem.cefetmg.br

Clayton Angelo Silva COSTA


Professor CEFET-MG
Clayton2010@deii.cefetmg.br

Lee Robert Lucena GOMES


Graduando UNIFENN
leecvo@hotmail.com

Fernando Antonio Vieira RODRIGUES


Professor CEFET-MG
fernandovr@curvelo.cefetmg.br

RESUMO
Uma preocupação ambiental que vem crescendo, principalmente em países em desenvolvimento,
acompanhando o crescimento populacional, é a geração de resíduos sólidos. Aliado ao fato do
crescimento das populações, é observado o crescimento da taxa de geração de resíduos sólidos per
capita, à medida que aumenta-se o poder aquisitivo, e, associado à visão de que qualidade de vida
esteja relacionada ao consumo exagerado. O objetivo do presente estudo foi avaliar a quantidade e a
composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados no CEFET Minas Gerais - Campus Curvelo,
após a implantação do mesmo, de forma a possibilitar o correto gerenciamento e consolidar a coleta
seletiva. Na primeira amostragem ocorreu predominância de rejeito (35%) e alumínio (25%). O
Total de lixo gerado no Campus foi de 17 kg/dia. Já a taxa per capita de geração de resíduos no
período foi de aproximadamente 0,1 Kg/pessoa.dia. Este fato pode ser relacionado com a ausência
de coleta seletiva no Campus. Com relação à segunda amostra, destacou-se a presença de matéria
orgânica putrescível (75%) e de rejeito (20%). O total de resíduos sólidos gerado passou para 85,5
Kg/dia, já que o Campus Curvelo encontra-se em expansão. A taxa per capita de geração de
resíduos sólidos no referido período passou para aproximadamente 0,3 Kg/pessoa.dia. Na terceira,
quarta e quinta amostragens também se perceberam a predominância de resíduos orgânicos. Estes
resultados demonstram que com a implantação de um restaurante interno, aliado à implementação
de uma coleta seletiva parcial, houve contribuição para mudança na distribuição qualitativa e
quantitativa dos resíduos do Campus.
Palavras-Chave: Resíduos Sólidos, Coleta Seletiva, Matéria Orgânica e Composição Gravimétrica.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 551


ABSTRACT
An environmental concern that has been growing, especially in developing countries, with
population increase, is the generation of solid waste. Coupled with the fact that population growth is
observed growth rate of solid waste generation per capita, as it increases the purchasing power, and
associated with the view that quality of life is related to overconsumption. The aim of this study was
to evaluate the quantity and gravimetric composition of solid waste generated in CEFET Minas
Gerais - Campus Curvelo, after implantation of the same, in order to enable proper management and
consolidate the selective collection. The first sample showed a predominance of waste (35%) and
aluminum (25%). The Total waste generated on campus was 17 kg / day. The rate per capita waste
generation in the period was approximately 0.1 kg / person.day. This fact can be related to the
absence of selective collection at the Campus. With respect to the second sample, the highlight was
the presence of putrescible organic matter (75%) and waste (20%). The total solid waste generated
increased to 85.5 Kg / day, since the Campus Curvelo is expanding. The per capita rate of solid
waste generation in the period increased to approximately 0.3 kg / person.day. In the third, fourth
and fifth sampling also noted the predominance of organic waste. These results demonstrate that
with the implementation of an indoor restaurant, coupled with the implementation of a partial
selective collection, there was a contribution to change in the qualitative and quantitative
distribution of residues of the Campus.

INTRODUÇÃO

Uma grande preocupação ambiental que vem crescendo, principalmente em países em


desenvolvimento, acompanhando o crescimento da população, é a geração de resíduos sólidos
urbanos. Aliado ao fato do crescimento das populações, é observado o crescimento da taxa de
geração de resíduos sólidos per capta, à medida que aumenta-se o poder aquisitivo, e, associado à
visão de que qualidade de vida esteja relacionado ao consumo exagerado. Para Portilho (2005) essa
questão transcendeu as políticas ambientais para a dimensão de políticas de sustentabilidade, e o
foco do problema passa a ser como (os padrões) e quanto (os níveis) se usam os recursos naturais,
tornando-se uma questão de acesso, distribuição e justiça. Beck (1994) considera que a degradação
ambiental ocasionada pelo padrão de consumo e práticas insustentáveis promove lógicas destrutivas
que afetam a população e a sustentabilidade do planeta, e o desafio é reverter situações de risco que
a própria sociedade produz, modificando suas práticas. De fato esta geração crescente de resíduos
sólidos é uma grande preocupação, mas que pode ser minimizada com ações de gerenciamento,
desde a coleta até a correta destinação, como incineração com recuperação de energia, destinação a
aterros sanitários, reciclagem, reaproveitamento, entre outros.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 552


Um dos maiores desafios do século XXI é reduzir os milhões de toneladas de lixo que nossa
civilização produz diariamente. Existe um consenso de que a geração excessiva de resíduos sólidos
afeta a sustentabilidade urbana e que a sua redução depende de mudanças nos padrões de produção
e consumo da sociedade. A extração dos recursos naturais para a produção dos bens de consumo
encontra-se acima da capacidade de suporte do planeta, a produção crescente de resíduos sólidos
causa impactos no ambiente e na saúde, e o uso sustentável dos recursos naturais ainda é uma meta
distante (AGENDA 21, 1997; CONSUMERS INTERNATIONAL, 1998).
No Brasil a preocupação com o meio ambiente, e especificamente com a geração e correta
destinação de resíduos sólidos vem crescendo. Entretanto, apenas 451 (8,2%) municípios brasileiros
desenvolvem programas de coleta seletiva (Ribeiro e Besen, 2006). As primeiras iniciativas
organizadas de coleta seletiva no Brasil tiveram início em 1986. Destacam-se, a partir de 1990,
aquelas nas quais as administrações municipais estabeleceram parcerias com catadores organizados
em associações e cooperativas para a gestão e execução dos programas. Essas parcerias além de
reduzir o custo dos programas se tornaram um modelo de política pública de resíduos sólidos, com
inclusão social e geração de renda apoiada por entidades da sociedade civil (Ribeiro e Besen, 2006).
Neste sentido, programas de coleta seletiva veem sendo incentivados para fortalecer as
associações de catadores de recicláveis e, desta maneira, aumentar a própria taxa de reciclagem.
Como exemplo, o Decreto número 5940 publicado em 25 de outubro de 2006 institui a separação
dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal
direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores
de materiais recicláveis, e dá outras providências.
Nos países mais desenvolvidos, é maior a taxa global de reciclagem. Enquanto a Suécia, por
exemplo, recupera 43,6% do lixo gerado e os Estados Unidos recicla 32%, o índice no Brasil é de
12% e, na Colômbia e Argentina de apenas 5% (CEMPRE, 2010). Desta forma, apesar dos esforços
que vem sendo empregado no Brasil, pelos governos, ONG‘s, setor privado e sociedade civil, para a
resolução dos problemas relacionados ao saneamento, percebe-se que há muito ainda a ser feito.
Um dos problemas da falta de gerenciamento dos resíduos sólidos, principalmente no
tocante a coleta seletiva e à reciclagem, na perspectiva das comunidades de risco social, foi
evidenciada por alguns autores. Os catadores ao remexerem os resíduos vazados à procura de
materiais que possam ser comercializados ou servir de alimento, estão expostos a todos os tipos de
contaminação presentes naquele meio (Ferreira e Anjos, 2001). Os catadores, além de colocarem
em risco a sua própria saúde, servem de vetores para a propagação de doenças contraídas no contato
com estes resíduos (Cussiol et al., 2006).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 553


Neste sentido a coleta seletiva pode tomar um papel importante na sociedade, já que os
resíduos gerados nas cidades possuem potencial de venda e podem favorecer o aumento de renda de
pessoas que eventualmente estejam em situação de risco social. Para que os resíduos gerados nas
cidades tenham valor econômico de venda, eles primeiramente devem ser coletados, separados,
compactados e encaminhados à centros de comércio deste tipo de material. Portanto, o surgimento
de cooperativas de catadores de materiais recicláveis vem crescendo no Brasil, e desta forma
alavancando o crescimento da taxa de reciclagem no país. É fato que o aumento desta taxa de
reciclagem, além da questão do aumento da coleta seletiva, só é possível se houver mercado
consumidor, ou seja, indústrias ou artesãos que delam retornem ao ciclo produtivo. Neste sentido é
observado no Brasil um expressivo aumento de indústrias que beneficiam materiais recicláveis
previamente separados em cooperativas e em usinas de triagem.
Além do incentivo à coleta seletiva e reciclagem por meio de leis e regras expedidas pelos
governos, importante estudo do comportamento que levam, ou não, as pessoas a tomarem iniciativa
para a reciclagem se torna pertinente. Segundo Shean y Shei (1995), enfatizam que ainda que exista
um amplo consenso na literatura acerca da associação dos valores com as condutas pró-ambientais e
de reciclagem, o certo é que é necessário chamar a atenção para a falta de conhecimento acerca dos
valores, em geral, e dos valores ambientais, em particular (Synodinos, 1990). Ou seja, valores
previamente assimilados pelas pessoas a respeito das questões ambientais são fundamentais para
que haja predisposição à reciclagem. Ademais, resultados de estudos apontaram que a consciência
ecológica e a atitude frente às questões de reciclagem são determinantes indiretas da resposta à
reciclagem, pois influem outras variáveis internas do modelo, como as crenças sobre reciclagem e o
envolvimento, respectivamente (Meneses e Palácio, 2004).

OBJETIVO

O objetivo do presente estudo foi avaliar a quantidade e a composição gravimétrica dos


resíduos sólidos gerados no Campus Curvelo após a implantação do mesmo, de forma a possibilitar
o correto gerenciamento e consolidar a coleta seletiva. Desta forma, avalia-se a melhor forma de
destinação dos resíduos sólidos gerados no Campus, a partir do perfil de resíduos obtido, de forma a
cumprir a legislação.

METODOLOGIA

O total de lixo produzido durante um dia inteiro no CEFET-MG Campus Curvelo foi
agrupado, quantificado e realizado a sua composição gravimétrica. A segregação dos componentes
dos resíduos foi realizada em uma área isolada no Campus, utilizando-se EPI‘s (Equipamentos de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 554


Proteção Individual). Os resíduos foram segregados conforme o seguinte critério: -Fração Matéria
Orgânica: restos de preparo e sobra de alimentos – Frações resíduos potencialmente recicláveis:
Fração papel; Fração plástico; Fração alumínio; Fração papelão – Fração rejeito: resíduos não
recicláveis (papel higiênico, guardanapo engordurado, etc). No total foram realizados cinco
amostragens, denominadas de amostra 1 (realizada em agosto de 2011), amostra 2 (realizada em
dezembro de 2012), amostra 3 ( realizada em março de 2013) e amostra 4 ( realizada em abril de
2013) a amostra 5 ( realizada em abril de 2014). Cada amostra de resíduos sólidos foi coletada
durante um dia inteiro de funcionamento do Campus. O total de lixo coletado durante um dia foi
analisado ao todo, pois não houve a necessidade de realização do quarteamento do lixo, já que esta
amostra apresentava, relativamente, volume pouco elevado. Os dados coletados no levantamento
preliminar da geração de resíduos sólidos no Campus foi realizado em agosto de 2011, para a
amostra 1. Já a amostra 2, foi realizada em dezembro de 2012. As amostras 3 e 4 foram realizadas
em 2013. A amostra 5 foi realizada em 2014. Em 2011 o referido Campus contava com 6 turmas do
ensino médio contabilizando um total de 185 alunos. Já o número de funcionário era de 50 pessoas.
Contabilizando um universo de 235 pessoas, as quais efetivamente eram geradoras dos resíduos
sólidos do Campus. Em 2012 o Campus contava com 9 turmas do ensino médio e 1 turma do ensino
superior, contabilizando um total de 310 alunos. Já o número de funcionário era de 52 pessoas.
Contabilizando um universo de 362 pessoas. Ao longo de 2012 o Campus implantou um restaurante
para atender aos alunos, produzindo refeições no horário de almoço. Contribuindo desta forma para
a modificação dos hábitos dos alunos e funcionários. No início do ano de 2013 o Campus Curvelo
conta com 9 turmas de ensino médio e 1 turma de ensino superior contabilizando 278 alunos. O
número de funcionários é de 78. Portanto em 2013 o universo é da ordem de 356 pessoas. Em 2014
o Campus teve um aumento na sua população, com 99 funcionários e 435 alunos, contabilizando
assim 534 pessoas.
Devido ao fato do Campus estar em processo de expansão, observa-se a necessidade de
realização do monitoramento do perfil de resíduos gerados, atendendo a legislação vigente, e de
forma a viabilizar o encaminhamento dos resíduos, tendo em vista o potencial econômico, às
Cooperativas de Catadores, já que o volume de resíduos gerados no Campus após sua inauguração
do Campus foi muito baixo.
Com o objetivo de conhecer suas características qualitativas e quantitativas, o lixo produzido
durante um dia foi separado e pesado em grupos para ser realizado a sua composição gravimétrica.
Estes dados foram trabalhados e representados por meio de gráficos apresentados pelas figuras 1, 2,
3, 4, e 5.

RESULTADOS
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 555
O total de lixo gerado durante um dia no Campus Curvelo foi analisado e realizado a
composição gravimétrica para duas amostragens. O Total de lixo gerado, para a amostra 1, foi de 17
kg/dia, aproximadamente. A taxa per capta de geração de resíduos no período foi de
aproximadamente 0,1 Kg/pessoa.dia.
O destaque observado neste levantamento foi a presença significativa de alumínio nesta
amostra, que foi de 25%, como pode ser observado na figura 1. Valor este elevado ao se comparar
com valores apresentados na literatura. Segundo (CEMPRE, 2010), a composição da coleta seletiva
em termos da presença de Alumínio no Brasil, e também em cidades como Florianópolis, Campinas
e Porto Alegre, é de 1%. Deve-se ressaltar que a pesquisa citada foi realizada para os resíduos
domiciliares, diferentemente da presente pesquisa.
A fração de rejeitos encontrados nesta amostra, também apresentaram valores elevados, da
ordem de 35%. Neste sentido percebe-se, ao se fazer uma análise preliminar dos resultados, que a
falta de segregação, no âmbito da coleta seletiva, pode estar sendo fator influente, ao se considerar
um determinado material como rejeito, pelo fato de ocorrer a mistura dos diversos constituintes,
principalmente da matéria orgânica com os demais materiais. Tornando evidente a redução do
potencial de aproveitamento destes resíduos.
A composição da fração de matéria orgânica para a amostra 1 foi de 17%, sendo um valor
relativamente baixo, já que é observado valores usuais de 50% a 60% para resíduos domiciliares em
países em desenvolvimento.

Composição Gravimétrica
7% do Lixo
17%
25% M.O. P 3,0 kg
Rejeito 6,0 kg
35%
7% Plástico 1,0 kg

9% Papel 1,5 kg
Alumínio 4,5 kg

Figura 1: Percentual das frações quantitativas dos resíduos (amostra 1) e o peso relativo para
cada fração.

Já os resultados observados para a amostra 2 são apresentados na figura 2. Em 2012, com a


inauguração do restaurante no Campus, o aumento no número de alunos e a implantação parcial da
coleta seletiva foram fundamentais para a mudança na geração e distribuição dos resíduos no
Campus.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 556


O total de resíduos sólidos gerado no Campus, passou para 85,5 Kg/dia. E a taxa per capta
de geração de resíduos sólidos no referido período passou para aproximadamente 0,3 Kg/pessoa.dia.
O aumento da geração de resíduos sólidos no Campus não foi proporcional ao aumento do número
de pessoas ao longo do tempo, estes valores representaram aproximadamente, 500% e 50% de
aumento, respectivamente. A mudança de hábitos dos alunos e funcionários no Campus,
direcionada principalmente pela implantação do restaurante, foram cruciais para as mudanças
observadas. Já que se passou a produzir refeições, e resíduos, consequentemente. Tanto resíduos do
preparo das refeições, quanto resíduos do consumo das refeições.
Comparativamente, pode se observar que em relação ao crescimento da produção de
resíduos no Brasil, indicadores mostram que entre 1992 e 2000 a população cresceu em 16 %,
enquanto a geração de resíduos sólidos domiciliares cresceu em 49 %, ou seja, um índice três vezes
maior. A situação é agravada pelo fato de que a maior parte desses resíduos são dispostos
inadequadamente em vazadouros a céu aberto (comumente chamados no Brasil de lixões), e em
aterros que atendem parcialmente às normas de engenharia sanitária e ambiental (IBGE, 2001).
A fração de matéria orgânica saltou para 75%, totalizando 64 kg/dia. Devido aos motivos já
descritos anteriormente. Já a fração rejeito caiu para 19,5%, o que pode ser atribuído a implantação
parcial da coleta seletiva no restaurante. Já a fração alumínio passou para 1%, ficando mais
parecido com os resultados observados na literatura. Outro resultado relativamente baixo foi o
observado para a fração papel, apresentando valor de 1%. Tal fato pode ser explicado pelos esforços
em se reaproveitar internamente este material.

1%
Composição Gravimétrica do
1% Lixo
3,50%

19,50% M.O. P. 64 Kg
Rejeito 16,5 Kg
75% Plástico 3 Kg
Papel 1 kg
Alumínio 1 kg

Figura 2: Percentual das frações quantitativas dos resíduos (amostra 2) e o peso relativo para
cada fração.

O total de lixo gerado durante o dia da amostragem 3 foi de 88 kg. A taxa per capta de
geração de lixo para este período foi de 0,25 Kd/pessoa.dia. Do final de 2012 para o início de 2013
o total de pessoas e a geração de resíduos permaneceram aproximadamente constante, desta forma a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 557


taxa de geração de lixo também foi similar ao do final de 2012 (amostra 2). A distribuição
gravimétrica do lixo, neste período, se mostrou, da mesma maneira, similar ao da distribuição do
final de 2012, contando com grande maioria de matéria orgânica putrescível (67,4%), ainda
considerável porcentagem de rejeitos (23,2%) e baixas porcentagens das demais frações, das quais
papel (3,6%), plástico (3,4%), alumínio (1,1%) e papelão (1,3%).
Desta forma demonstra-se que o Campus Curvelo encontra-se em expansão e que a geração
de lixo vem acompanhando o crescimento do número de alunos e funcionários. Neste sentido,
devido ao fato de não ter entrado todas as turmas do curso superior, e aliado ao fato de haver a
possibilidade de ser implantados mais curso, tanto técnico subsequente, como cursos de nível
superior, há uma expectativa ainda maior do aumento de alunos e funcionários, e,
consequentemente, do aumento da geração de resíduos sólidos.

Composição Gravimétirca do Lixo


1,10% 1,30%
3,60%
3,40%
M.O. P. 59,3 Kg

23,20% Rejeito 20,4 Kg


Plástico 3 Kg
67,40%
Papel 3,2 Kg
Alumínio 1 Kg
Papelão 1,1 Kg

Figura 3: Percentual das frações quantitativas dos resíduos (amostra 3) e o peso relativo para
cada fração.

Já para a amostragem 4 o total de lixo gerado no Campus foi de 15,8 Kg/dia. Este valor
baixo, encontrado para a amostra 4, similar ao valor de lixo gerado no Campus em 2011, foi
observado devido ao fato do Campus Curvelo estar em período de férias escolares. Nestas
condições não é possível estabelecer uma taxa de geração de lixo no Campus, pois não se sabe ao
certo quantas pessoas permaneceram utilizando o referido Campus. Pelo fato do restaurante
continuar a funcionar durante este dia de coleta, mesmo o sendo para poucas pessoas, a fração
matéria orgânica putrescível continua como a maior fração, da ordem de 45%. Destaca-se um
aumento das porcentagens relativas de rejeito (32%) e de plástico (15,2%), já que o contingente de
alunos, que teoricamente consomem grande quantidade de papel, não está presente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 558


2,50% Composição Gravimétrica do
2,50% Lixo
2,50%
M.O. P. 7,1 Kg
15,20% 45,00%
Rejeito 5,1 Kg
Plástico 2,4 Kg
32,30% Papel 0,4 Kg
Alumínio 0,4 Kg
Papelão 0,4 Kg

Figura 4: Percentual das frações quantitativas dos resíduos (amostra 4) e o peso relativo para
cada fração.

A amostragem 5, demonstra um aumento de alguns parâmetros avaliados, comparado as


outras amostras. Mas devido ao crescimento da população do Campus, esperava-se um aumento
mais significativo, devido esta ter crescido 22,75%, desde a última amostragem. A fração orgânica
teve redução significativa, comparada a segunda amostragem, a qual foi encontrado o valor de 64kg
M.O.P, com uma população menor que a atual. Este fato significou uma redução de 59,4% da
M.O.P se comparado à segunda amostragem. A mudança de hábitos, devido aos incentivos ao não
desperdício da comida, foram alguns dos programas que proporcionaram essa mudança, e teve
impacto direto nos dados. Observa-se também que a fração plástico teve um grande aumento,
comparado, por exemplo, com a segunda e a terceira amostragem, onde seu valor chegou a 3kg, e,
têm-se agora o valor de 6,75kg. Ressalta-se que em 2014, teve início o funcionamento de uma
lanchonete no Campus, o que se aliena o aumento da quantidade da fração plástico. Esse aumento
nos dias atuais se da pelo alto consumo de produtos industrializados, o volume semanal de
alimentos difere bastante, sucos prontos para beber e refrigerantes acatam, no geral, uma tendência
no mesmo sentido (WALDMAN, 2010).

Composição Gravimétrica do
Lixo
6% 1% 1% M.O.P 26,08 Kg
15%
Rejeito 8,46 Kg
Plástico 6,75 Kg
19% 58% Papel 2,68 Kg
Alumínio 0,24 Kg
Papelão 0,58 Kg

Figura 5: Percentual das frações quantitativas dos resíduos (amostra 5) e o peso relativo para
cada fração.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 559


CONCLUSÕES

Portanto, a implantação da coleta seletiva parcial e o trabalho conjunto no contexto da


educação ambiental no Campus foram fundamentais não apenas para a efetivação das parcerias com
a associação de catadores, como também para otimização do processo de caracterização dos
resíduos gerados.
Os hábitos e a dinâmica do Campus foram cruciais para a mudança na geração e composição
dos resíduos ao longo do tempo. Percebe-se que com a implantação do restaurante houve um salto
na geração de resíduos, notadamente da matéria orgânica. E desta maneira o Campus hoje tem um
grande potencial para a produção de adubo orgânico a partir da utilização do processo de
compostagem, já que a única associação de catadores de materiais recicláveis da cidade ainda não
recebe este tipo de composto. Apesar da redução da fração M.O.P no início de 2014.
Conclui-se também que a partir da implantação parcial da coleta seletiva, houve influencia
na porcentagem da fração rejeito produzida no campus, devido ao fato de não haver mais contato
entre a matéria orgânica (sobras de alimentos) e os materiais potencialmente recicláveis.
Com o crescimento do Campus espera-se, no futuro, um aumento na geração de resíduos, o
que faz com que o cenário para aproveitamento dos resíduos se torne ainda mais atraente para
auxiliar as associações de catadores de materiais recicláveis.
O presente trabalho poderá contribuir para um melhor entendimento de como gerenciar os
resíduos no Campus Curvelo, poderá facilitar o processo de monitoramento dos resíduos e
possibilitará a estimativa da quantidade de resíduos recicláveis e passíveis de compostagem ao
longo do mês, de forma a promover o aumento da expectativa de lucros das entidades de reciclagem
no município de Curvelo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG pelo


apoio à publicação do presente trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. São Paulo:
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 1997.

BECK, U. Risk society. London: Sage Publications, 1994.

CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento integrado. 3a edição. São Paulo; 2010. 350p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 560


CONSUMERS INTERNATIONAL. Consumo sustentável: Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, Idec, 1998.

Cussiol NAM, Lange LC, Ferreira JA. Resíduos de serviços de saúde. In: Couto RC, Pedrosa TMG,
Nogueira JM, organizadores. Infecção hospitalar e outras complicações não-infecciosas da
doença: epidemiologia, controle e tratamento. 3a Ed. Rio de Janeiro: Medsi Editora; 2003. p.
369-406.

Cussiol, N. A. M., Rocha, G. H. T., Lange, L. C. (2006) Quantificação dos resíduos potencialmente
infectantes presentes nos resíduos sólidos urbanos da região sul de Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(6), 1183-1191.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de


Saneamento Básico – 1991. Rio de Janeiro, 1992.

Meneses, G. D., Palacio, A. B. (2004) La jerarquia de efectos clásica de alta involucración para La
comprensión de La conducta de reciclaje considerando los valores de lós consumidores. Revista
Internacional de Marketing Público y No Lucrativo, 1(1), 89-109.

PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto no 5940 de 25 de Outubro de 2006. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5940.htm . Acesso em: 05
de jan. 2013.

Ribeiro, H., Besen, G. R. (2007) Panorama da Coleta Seletiva no Brasil: Desafios e Perspectivas a
Partir de Três Estudos de Caso. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio
Ambiente. vol. 2, n. 4, PP. 1-18.

Shean, G. y Shei, T. (1995): The Values of Student Environmentalists. The Journal of Psychology,
vol. 129, nº 5, pp. 559-564.

Synodinos, N. (1990): Environmental Attitudes and Knowledge. A Comparison of Marketing and


Business Students with other Groups. Journal of Business Research, nº 20, pp. 161-170.

Waldman, M. (2010): Lixo Cenários e Desafios. Vol 1, PP 136.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 561


PÓS-TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO EM LAGOA DE POLIMENTO

Tales Abreu Tavares de SOUSA


Mestrando do PPGCTA/UEPB
mrtales@hotmail.com

Maria Virgínia da Conceição ALBUQUERQUE


Bolsista de DTI
virginia.albuquerque@yahoo.com.br

Valderi Duarte LEITE


Professor do DESA/UEPB
valderileite@uol.com.br

Wilton Silva LOPES


Professor do DESA/UEPB
wiltonuepb@gmail.com

RESUMO
A legislação vigente no Brasil determina parâmetros balizadores para a qualidade dos resíduos
líquidos lançados em corpos hídricos. Para tanto, a aplicação de reatores do tipo UASB seguido de
lagoa de polimento caracteriza um sistema capaz de substituir as convencionais lagoas de
estabilização no tratamento de esgotos sanitários, com um melhor custo-benefício. Apesar da alta
eficácia de reator UASB na remoção de material carbonáceo, o efluente produzido exige ainda um
pós-tratamento para remover DQO remanescente, nutrientes e organismos patogênicos. Os
constituintes citados podem ser removidos no pós-tratamento por lagoas de polimento, produzindo
efluente final com a qualidade sanitária e físico-química recomendada pela legislação vigente.
Assim sendo, o respectivo trabalho consistiu na utilização de lagoas de alta taxa como pós-
tratamento de efluentes do reator UASB, objetivando remover nutrientes e coliformes
termotolerantes. O compacto sistema obteve uma eficiência de remoção carbonácea superior a 80%,
essa eficiência é um pouco menor após as lagoas de polimento devido à sua produção algal. Estas
lagoas operam com um baixo TDH (5,83dias). A respeito da qualidade sanitária, somente após as
lagoas de alta taxa há uma expressiva eficiência de remoção dos coliformes termotolerantes
(99,98%), o que atende às determinações da World Health Organization (WHO, 2006) que
determina valores inferiores a 1,00e2 UFC.100mL-1 para irrigação irrestrita. Após o pós-tratamento
por lagoas as remoções dos nutrientes nitrogênio e fósforo no sistema foram expressivas, obtendo
eficiência de 85,94% para nitrogênio, 48,51% para fósforo total e 55,36% para ortofosfato.
Palavras–chave: esgoto doméstico; lagoa de polimento; indicadores de contaminação fecal.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 562


ABSTRACT
Brazilian current law sets minimum quality parameters for the wastewater thrown into water bodies.
However, the application of UASB reactors followed by polishing pond features a system capable
of replacing conventional stabilization ponds in wastewater treatment, with a better cost-benefit.
Despite the UASB reactor high efficiency in removing carbonaceous material, the effluent produced
still requires a post-treatment to remove remaining COD, nutrients and pathogens. The mentioned
constituents may be removed after polishing ponds treatment, producing final effluent that meets
the sanitary and physicochemical quality parameters required by law. Thus, the present paper
describes the use of high rate ponds as post-treatment of UASB reactor effluent, aiming to remove
nutrients and fecal coliform. The compact system obtained a carbonaceous removal efficiency
greater than 80%, however, this efficiency is slightly lower after the polishing pounds due to its
algal production. These ponds operates with a low THD (5,83dias). Regarding the sanitary quality,
only after the high rate ponds there is a significant removal efficiency of coliform organisms
(99.98%), agreeing with the resolutions of the World Health Organization (WHO, 2006) that
determines values below 1,00e2 UFC.100mL-1 for unrestricted irrigation. After the post-treatment
ponds the system removal of nitrogen and phosphorus nutrients were significant, obtaining an
efficiency of 85.94% for nitrogen, 48.51% for total phosphorus and 55.36% for orthophosphate.
Keywords: domestic sewage; polishing pond; indicators of fecal contamination.

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional, constatado pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2013)
e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), é um indício do acréscimo da
densidade demográfica. O aumento do número de habitantes por área implica em um crescimento
vertical dos centros urbanos quando está associado desenvolvimento, indicado pelos avanços na
ciência e tecnologia, nos aspectos de saúde pública, qualidade de vida, redução de taxa de
mortalidade, aumento da expectativa de vida, crescimento de poder aquisitivo, industrialização,
dentre outros. A alta densidade demográfica está associada à uma maior geração de resíduos por
área.
A ineficiência no sistema de captação e no tratamento dos esgotos domésticos pode ser
responsável pela contaminação e/ou poluição dos mananciais. Para tanto, o CONAMA (Nº
430/2011) estabelece padrões de lançamento, exigindo a adequação de todo e qualquer efluente
antes de sua disposição final aos corpos d‘água receptores, consequentemente reduzindo o
lançamento indiscriminado. Quando os custos de implantação, operação e manutenção de uma
complexa Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) se torna inviável para atender a demanda, surge

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 563


a necessidade de soluções mais simples, como os sistemas descentralizados, que pode ser adotado
por pequenas comunidades ou residenciais isoladas (PARTEN, 2010).
A autodepuração, que é um processo biológico natural tem sido otimizado para o tratamento
dos esgotos domésticos. O tratamento biológico das águas residuárias consiste na transformação da
matéria orgânica complexa em produtos finais estabilizados a exemplo de metano e dióxido de
carbono (METCALF E EDDY, 2003). O processo de expansão das tecnologias anaeróbias de
tratamento de águas residuárias teve como base as vantagens em relação ao tratamento aeróbio,
principalmente pelo baixo custo de implantação e operação, simplicidade operacional, baixa
produção de lodo excedente e lodo estabilizado, baixo requerimento de área e baixa necessidade de
nutrientes (FORESTI et al. 2006). Especificamente, o Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente com
Manta de Lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket - UASB) que tem um baixo tempo de detenção
hidráulica e uma eficiência de remoção superior aos 60%, se sobressaindo dentre as demais
tecnologias de tratamento.
Entretanto, o reator UASB possui algumas limitações para gerar efluentes dentro dos
padrões das legislações ambientais e assim despertando pesquisas acerca do pós-tratamento
(CHERNICHARO, 2007). Autores como Cavalcanti (2009) discutem o tratamento de esgotos por
reatores UASB, como substituição dos sistemas convencionais de lagoas de estabilização do tipo
anaeróbias, porém, surge a necessidade de utilizar lagoa de polimento para não mais remover
matéria orgânica e sim organismos patógenos e/ou nutrientes.
Para tanto, aliando-se a necessidade do pós-tratamento de águas residuárias por digestão
anaeróbia, a presente pesquisa objetivou avaliar o desempenho de pós tratamento do sistema
anaeróbio por lagoas de polimento, estudando entre duas lagoas de polimento, avaliando a
eficiência de remoção de nutrientes e a qualidade sanitária do efluente final.

MATERIAL E MÉTODOS

Localização do sistema experimental

O sistema experimental foi projetado, construído e monitorado nas dependências físicas da


Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgoto Sanitário (EXTRABES/UEPB),
laboratórios pertencentes à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), situados no Bairro do
Tambor na cidade de Campina Grande no estado da Paraíba, com coordenadas geográficas de 07º
13‘ 11‘‘S e 35º 52‘31‘‘W e altitude de 550 metros. Nessa área se localizava a antiga depurado da
Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (CAGEPA), passando o interceptor leste que era
responsável por tratar 70% de todo esgoto do município na década de 70.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 564


Procedimento experimental

Inicialmente o esgoto é captado do interceptor leste, por um conjunto motor-bomba, e sendo


disponibilizado em uma rede interna do laboratório. A cada duas horas é disponibilizado
automaticamente 50 litros para um sistema compacto composto por um reator UASB (A) de
capacidade volumétrica de 300L, um decantador secundário (B) de 100L, e um filtro aeróbio de
areia de fluxo intermitente (C) projetado para tratar 300 L.d-1, conforme ilustra a Figura 1.

FIGURA 1 – Imagem real do sistema experimental. Duas lagoas de polimento como pós-tratamento do
reator compacto composto de UASB e filtro de areia.

O reator UASB era operado em regime de batelada, alimentado a cada duas horas com 50
litros por ciclo (12 ciclos/dia), o que corresponde a uma vazão de 600 L.d-1. Subsequente ao reator
UASB estava o decantador secundário, também operado em batelada, do qual era bombeado a cada
4 horas 100 litros por duas eletrobombas, 50 litros cada, de mesmas especificações. A alimentação
das lagoas era realizada por essas duas eletrobombas de 3600 rpm, sendo que cada era responsável
por uma lagoa, bombeando 50L.ciclo-1 (6 ciclos/dia). A Tabela 1 descreve a configuração física e
operacional do sistema.

SISTEMA DE OPERAÇÃO UASB DECANTADOR FA LP1 LP2


Forma de operação Batelada Batelada Batelada Batelada Batelada
Altura (m) 1,8 0,36 0,9 0,175 0,175
2
Área (m ) 0,126 0,94 0,26 10 10
3
Volume (m ) 0,286 0,338 0,234 1,75 1,75
TDH (dia) 0,25 0,28 0,02 5,83 5,83
-1
Vazão (L.dia ) 600 300 300 300 300
*FA: Filtro de Areia; LP1: Lagoa de Polimento pós UASB; LP2: Lagoa de Polimento pós Filtro

Tabela 1 – Magnitude física e operacional do sistema.

A primeira lagoa de polimento (LP1) era alimentada com o efluente do decantador


secundário, sendo procedente de processo anaeróbio. A segunda lagoa de polimento (LP2) recebia o
mesmo efluente, pós-tratado em filtro de areia aeróbio de fluxo intermitente, e somente depois
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 565
vertido na LP2. Cada lagoa tem uma área de 10m2 (1x10m) e 17,5cm de lamina a uma vazão média
de 300L.d-1.

Procedimento analítico

Os parâmetros analíticos determinados durante as vinte e duas semanas de operação serviam


de acompanhamento de todo o sistema, podendo determinar a eficiência do sistema. Para tanto,
eram coletadas amostras em oito distintos pontos:
 A amostra inicial do esgoto bruto (EB), sendo este o afluente de todo os dois processos de
tratamento;
 A amostra somente anaeróbia após o reator compacto, UASB e decantador secundário,
responsável por alimentar uma das lagoas e identificado como efluente do UASB;
 Após o filtro intermitente de areia aeróbio (FA), do reator compacto de funcionamento em
batelada;
 O efluente da lagoa de polimento após o sistema compato (LP1);
 O efluente da lagoa de polimento após o filtro de areia aeróbio (LP2);
Para o embasamento científico do projeto, foi necessário adotar métodos de análise de
padrões conhecidos e validados para pesquisa científica, as determinações da alcalinidade e ácidos
graxos voláteis que são realizadas pelo método de Kapp (BUCHAUER, 1998), enquanto que, as
demais análises físico-químicas e de coliformes termotolerantes obedecem às recomendações
analíticas preconizadas pelo ―Standard methods for the examination of water and wastewater‖
(APHA, 2012). As análises de ovos de helmintos, clorofila e identificação planctónica seguem
métodos diferentes também validados e apresentados na Tabela 2. Na Tabela 04 são apresentados
os parâmetros analíticos utilizados e a descrição da metodologia adotada.

VARIÁVEIS MÉTODO REFERÊNCIAS


pH Utilização do método eletrométrico. APHA, 2012
Nitrogênio Amoniacal Utilização do método de digestão, destilação e
APHA, 2012
e NTK titulação.
Alcalinidade Total
Utilização do método titrimétrico. KAAP, 1998
(AT)
DQO Total e Filtrada Utilização do método colorimétrico do refluxo fechado. APHA, 2012
Utilização do método gravimétrico - Secagem a 103 ºC
Sólidos Totais e suas
até peso constante. As frações dos sólidos utilizando APHA, 2012
Frações
método gravimétrico - Ignição a 550 ºC.
Fósforo Total e Utilizando o método de digestão de persulfato seguido
APHA, 2012
Ortofosfato pelo método colorimétrico do ácido ascórbico.
Coliformes
Termotolerante Membranas de filtração APHA, 2012
(UFC/100mL
Tabela 2 – Parâmetros de caracterização físico, química e biológica utilizadas no tratamento de águas
residuárias.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 566


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 3 são apresentados magnitudes médias dos dados advindos das análises
decorrentes de 22 semanas de operação. São apresentados os valores das análises de DQO, do
fósforo e do ortofosfato, do Nitrogênio total e amoniacal, nitrito e nitrato, sólidos e suas frações e
coliformes termotolerantes como indicadores de patógenos. Também está expresso na Tabela 3
algumas eficiências de remoção, a exemplo da DQO, que obteve com o pré-tratamento no sistema
compacto uma eficiência média de remoção superior a 66% para o sistema anaeróbio, e superior a
80% até o filtro de areia. Porém na LP1 a remoção da DQO foi baixa, enquanto que na LP2 não
existiu remoção, pode-se identificar a geração de algas como a razão dessa diferença.

AFLUENTE EFLUENTES E EFICIÊNCIAS DE REMOÇÃO


Parâmetros EB UASB FA LP1 LP1 (%) LP2 LP2 (%)
DQOBruta
-1 485 207 88 163 21,26 122 -
(mg O2.L )
DQOFiltrada
-1 174 87 52 115 - 86 -
(mg O2.L )
Fósforo Total
-1 6,39 5,09 4,95 3,61 29,08 3,29 33,54
(mg P.L )
Ortofosfato
- -1 4,57 2,87 4,12 3,20 - 2,04 -
(mg P-PO4 .L )
N.T.Kjeldahl
-1 49,73 41,70 9,40 8,39 79,88 6,99 25,64
(mg N-NTK.L )
N. Amoniacal
+ -1 34,29 36,05 8,62 3,11 91,37 2,05 76,22
(mg N-NH4 .L )
Nitrito
- -1 - 0,03 0,32 0,04 - 1,01 -
(mg N-NO2 .L )
Nitrato
- -1 - 0,02 29,03 13,94 - 0,86 -
(mg N-NO3 .L )
Sólidos Totais
-1 1249 1053 1280 1248 - 1267 -
(mg.L )
Sólidos Totais
-1 434 303 426 324 - 270 -
Voláteis (mg.L )
Sólidos Suspensos
-1 246 74 60 54 - 27 -
Totais (mg.L )
Sólidos Suspensos
-1 201 63 62 45 - 25 -
Voláteis (mg.L )
pH 7,59 7,69 6,58 8,84 - 9,35 -
Alcalinidade Total
-1 356 378 102 296 129
(mg CaCO3.L )
Coliformes
6 6 4 3 2
Termotolerantes 4,98e 1,91e 7,13e 4,11e 99,78 7,60e 98,93
(UFC/100mL)
EB: esgoto bruto (afluente do sistema); E. UASB: efluente do reator UASB; FA: efluente do filtro intermitente de areia; LP1: efluente da
lagoa de polimento oriundo do UASB; LP2: efluente da lagoa de polimento oriundo da estação compacta.

Tabela 3 – Magnitudes médias.

A aplicação das lagoas de polimento, ao contrário do reator UASB que objetiva remover
matéria orgânica, tem como objetivo a qualidade sanitária com a remoção de possíveis patógenos e
nutrientes resultantes da ineficiente remoção desses indesejáveis constituintes pela digestão
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 567
anaeróbia. Os resultados, conforme apresentados na Tabela 3, demonstraram essa melhora na
qualidade sanitária com a eficiente remoção de coliformes termotolerantes com as lagoas. Apesar de
ambas as lagoas terem removido mais de 99,9% com um TDH inferior a 6 dias, somente a LP2, pós
filtragem, obteve valor inferior a 1,00e2.
Observa-se na Tabela 3 que as concentrações do nitrogênio Kjeldahl, e especificamente do
nitrogênio amoniacal, obtiveram um decaimento significativo, o que caracteriza a remoção de
91,37% e 76,22% do N-NH4+, respectivamente para as lagoas LP1 e LP2. A remoção do nitrogênio
amoniacal, uma das razões provavelmente deve ser a dessorção de amônia livre através da área
superficial das lagoas devido à um alto pH. No entanto, este mecanismo tem ainda que ser
confirmada, uma vez que é controverso na literatura (CAMARGO & MARA, 2007, VON
SPERLING et al., 2002).
Na Tabela 3, os valores médios do pH para EB e após o efluente do reator UASB
apresentaram pouca variação, caracterizando pH próximo do ideal para digestão anaeróbia, que tem
como referência ótima entre 7,0 e 7,2 para desenvolvimento de bactérias metanogênicas (BITTON,
2005). O pH do efluente da estação compacta se manteve na média de 6,58, o que pode ser
consequência da redução da alcalinidade já que para uma alta nitrificação expressa em nitrato
consome alcalinidade, resultado que se repete em estudos realizados por Andrade (2012). Em
ambas as lagoas o pH manteve-se com valores próximos de 9, segundo Metcalf e Eddy (2003), a
melhor faixa para o processo de nitrificação se encontra entre 7,2 e 9,0.

45,00
41,70
40,00
36,05
35,00

30,00
mgN/L

25,00

20,00
13,94
15,00

10,00 8,39

5,00 3,11
0,04
0,00
Eflunte UASB Efluente LP1
NTK Amonia Nitrito Nitrato

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 568


FIGURA 2 – Valores médios do nitrogênio total (kjeldhal) e suas frações dos efluentes do reator UASB e da
LP1.
Observa-se na Figura 2 que a LP1 foi eficiente na nitrificação. Fazendo-se um balanço de
massa expresso na forma de nitrogênio, verifica-se que o efluente do reator UASB (afluente da
lagoa) se manteve numa concentração de 41,7 mg N-NTK.L-1 (apenas traços de nitrato e nitrito) e o
efluente produzido na lagoa de polimento se manteve em uma concentração média de 22,37 mg N-
NTK.L-1 (8,39 mg N-NTK.L-1 + 0,04 mg N-NO2.L-1 + 13, 94 mg N-NO3.L-1), portanto a fração
desnitrificada e a fração perdida pela dessorção do nitrogênio amoniacal (19,33/41,7) foi de 46%.
Essa fração de 46% é predominante no mecanismo de remoção do nitrogênio na forma de N-NTK,
que dos 79,88% removido na LP1, pouco mais de 58% representa o removido e apenas 42% o foi
constatado no efluente da lagoa.
A concentração de nitrato maior que 10mg N-NO3.L-1 impossibilita o lançamento em corpo
de água (CONAMA, 2011), no entanto, o efluente pode ser aplicado para agricultura irrestrita,
conforme diretrizes apresentadas pela WHO (2006). Quando o destino final do efluente é ser
lançado em águas superficiais, a remoção de nutrientes é necessária para evitar o processo de
eutrofização. No entanto, quando o destino final do efluente é reuso agrícola, manter o nitrogênio
presente representa oferta de nutrientes, proporcionando uma economia em gastos com fertilizantes
industrializados.

pH / Alcalinidade
14,0 450

Alcalinidade Total - ALCt (mg CaCO3.L-1)


Potencial Hidrogênico - pH

13,0 400

12,0 350
300
11,0
250
10,0
200
9,0
150
8,0 100
7,0 50
6,0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Tempo (semana)

DS LP1 DS-A LP1-A

FIGURA 3 – Valores médios semanais da alcalinidade e do pH dos efluentes do reator UASB e da lagoa de
polimento 1 (LP1), durante o período de março a junho de 2014.

São apresentados na Figura 3 os valores médios semanais da alcalinidade e do pH dos


efluentes do reator UASB e da lagoa de polimento 1. Observa-se na Figura 3 que a alcalinidade do
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 569
afluente do reator UASB se manteve em uma média de 378 mgCaCO3/L, enquanto a alcaloinidade
de efluente da lagoa permaneceu na média de 272 mgCaCO3/L, significa portanto que, o consumo
médio de alcalinidade total foi maior de 100 mgCaCO3/L. Com base na Figura 2, a concentração de
N-NO3- durante o processo de nitrificação foi de 13,94 mg N-NO3/L. Portanto, tem-se (de 100mg
CaCO3/ 13,94 mg N-NO3) 7,6 mg CaCO3 por N-NO3, um valor muito próximo ao 7,14 teórico
calculado por van Haandel e van der Lubbe (2012).
Durante o processo de nitrificação, seguramente o consumo de alcalinidade não interferiu no
abaixamento do pH. Observa-se na Figura 3 que o pH subiu, o fato se deve a dois fatores: a) o
efluente oriundo do reator UASB apresenta boa capacidade de tamponamento garantindo o
consumo de alcalinidade praticamente estável (SOUSA e FORESTI, 1996); b) o consumo de CO2
durante o intenso metabolismo algal elevou o pH efluente.

Parâmetros microbiológicos

Na Figura 4 são apresentados os resultados dos parâmetros microbiológicos (coliformes


termotolerantes) do afluente, esgoto bruto que alimentava o sistema experimental 1, do efluente do
reator UASB, bem como do efluente do reator compacto (filtro de areia em regime de fluxo
intermitente), foram monitorados durante o período de março a junho de 2014.

1,00E+07 4,98E+06
1,91E+06
1,00E+06

7,13E+04
1,00E+05

1,00E+04 4,11E+03

7,60E+02
1,00E+03

1,00E+02

1,00E+01

1,00E+00
EB E. UASB FA LP1 LP2

FIGURA 4 – Concentrações de coliformes termotolerantes no esgoto bruto (EB), nos efluentes do UASB, do
filtro de areia (FA) e nos efluentes das lagoas de polimento, operadas com TDH de 5,8 dias.

De acordo com os dados apresentados na Figura 4, a concentração média de coliformes


termotolerantes presentes no esgoto bruto foi de 4,65 x106 UFC/ 100mL, Esses valores estão dentro

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 570


da faixa estabelecida por Metcalf & Eddy (2003) como típica para águas residuárias que varia entre
106 e 109UFC/100mL.
No efluente do reator UASB, a concentração dos coliformes manteve-se na mesma ordem de
grandeza. Esse efluente alimentava a lagoa de polimento (LP1) com tempo de detenção hidráulica
(TDH) de 5,8 dias. Observa-se que a concentração de coliformes termotolerantes nessa lagoa foi
superior a 103 UFC/ 100mL, portanto não atende as exigências valores microbiológicos sugeridos
pela Organização Mundial da Saúde WHO (2006) que é menor ou igual a 103 UFC/ 100mL.
Por outro lado, o efluente oriundo da lagoa de polimento (LP2) com TDH de 5,8 dias
continha concentrações de coliformes termotolerantes inferior 103 UFC/ 100mL. Portanto,
atendendo os valores microbiológicos sugeridos pela Organização Mundial da Saúde WHO (2006)
para uso de esgotos sanitários tratados para irrigação restrita.

CONCLUSÕES

Analisando os dados das lagoas, pode-se concluir que:


 O reator UASB removeu 57% de material carbonáceo expresso em DQO, enquanto que todo
o sistema compacto removeu 82%.
 A LP1 obteve uma maior eficiência de remoção dos coliformes termotolerantes que a LP2,
99,78% e 98,93% respectivamente. Porém, somente o efluente final da LP2, pré-tratado com
o filtro aeróbio de areia, que obteve qualidade sanitária para atender a preconização da
WHO (2006), que determina valores inferiores a 1,00E+02 UFC.mL-1 para irrigação irrestrita.
 No mecanismo de remoção de nitrogênio na LP1 (alimentada com efluente de reator UASB)
a nitrificação foi a remoção minoritária (80% de remoção N-NTK, sendo 42% nitrificado),
portanto a fração desnitrificada e a fração perdida pela dessorção foi predominante com 58%
para a LP1.
 A remoção de nitrogênio no caso da LP2 foi insignificante, pois apesar da remoção ao longo
do sistema da LP2 ter sido predominantemente pela nitrificação (89,9%), o responsável por
esse sucesso foi o filtro aeróbio de areia.
Conclui-se assim, que no que diz respeito à eficiência das lagoas quanto a remoção de
indicadores de contaminação fecal, é possível identificar bons resultados para um baixo TDH (5,83
dias). Bem como, para essas condições de operação das lagoas, o filtro de areia aeróbio pode ser
classificado como indispensável para garantir qualidade sanitária e físico-química aceitáveis para
irrigação irrestrita (WHO, 2006 CONAMA, 2011).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 571


REFERÊNCIAS

APHA, AWWA. WPCF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22
ed.Washington, DC. American Public Health Association. American Water Works Association,
Water Pollution control Federation, 2012.

BITTON, G. Wastewater Microbiology. 3 ed. John Wiley & Sons, Inc, 2005.

BRASIL. Resolução n.430 do CONAMA. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de


efluentes, complementa e altera a Resoluçãono 357, de 17 de março de 2005, do
ConselhoNacional do Meio Ambiente. Brasília-DF: CONAM, maio de 2011.

BUCHAUER, K. A comparison of two simple titration procedures to determine volatile fatty acids
in influents to waste-water and sludge treatment process. Water SA, v.24, n. 1, p. 49-56. 1998.

Camargo, M. A. V. & Mara, D. D. 2007 Nitrogen removal via ammonia volatilization in maturation
ponds. Water Sci. TECHNOL. Vol. 55, nº 11, pag. 87–92.

CAVALCANTI, P. F. F. Aplicação de Reatores UASB e Lagoas de Polimento no Tratamento de


Esgoto Doméstico. 1ª Edição, Gráfica Santa Marta. 172p. João Pessoa – PB, 2009.

CHERNICHARO, C.A.L. Reatores Anaeróbios: Princípios do Tratamento Biológico de Águas


Residuárias. 2ª ed, volume 5. Belo Horizonte - MG: SEGRAC. 2007.

FORESTI, E.; ZAIAT, M.; VALLERO, M. Anaerobic processes as the core technology for
sustainable domestic wastewater treatment: Consolidated applications, new trends, perspectives,
and challenges. Reviews in Environmental Science and Bio/Technology, 2006.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010 a), Censo 2010. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 10 de abril de 2013.

MAYO, A. W. Nitrogen mass balance in waste stabilization ponds at the University of Dar es
Salaam, Tanzania. African Journal of Environmental Science and Technology. v.7, n.8, p.836-
845. 2013.

METCALF E EDDY. Wasterwater Engineering: Treatment and reuse. 4 ed. New York, McGraw-
Hill International edition, 2003.

ONU (2013), Estudo de perspectiva populacional. < http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-


em-acao/a-onu-e-a-populacao-mundial/> Acessado em 10 de janeiro de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 572


PARK, J. B. K.; CRAGGS, R. J. Nutrient removal in wastewater treatment high rate algal ponds
with carbon dioxide addition Water. Sci. Technol. Vol. 63 nº 8, pag. 1758–1764. 2011.

PARTEN, S.M. Planning and installing sustainable onsite wastewater systems. McGraw Hill.
USA, pag. 412, 2010.

SOUSA, J. T. de, FORESTI, E.; Domestic sewage treatment in anupflow anaerobic sludge blanket
– sequencing batch reactor system. Water Sci. Technol. Vol. 33 nº 3, pag. 73–84. 1996.

VAN HANDEEL, A. C.; VAN DER LUBBE, J. G. M. Handbook of biological wastewater


treatment: design and optimisation of activated sludge systems. 2012.

VON SPERLING, M. Lagoas de estabilização. 2ª ed. (Impressão ampliada). Belo Horizonte:


UFMG/DESA, 2002.

WHO guidelines for the safe use of wastewater, excreta and greywater / World Health
Organization. Technical Report Series, World Health Organization, Geneva, Switzerland. 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 573


IMOBILIZAÇÃO DE MICROALGAS NO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

Tatiana Gomes de PONTES


Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental da UEPB
tatiana_tatianapontes@hotmail.com

André Luiz da SILVA


Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental da UEPB
andre.silvajp@gmail.com

Paula Mikacia Umbelino SILVA


Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental da UEPB
pmikacia@gmai.com

José Tavares de SOUSA


Doutor em Engenharia Civil
tavaresuepb@gmail.com

RESUMO
O tratamento biológico das águas residuárias com microalgas é uma alternativa no controle à
poluição e na geração de novos produtos. O esgoto sanitário sendo tratado por sistemas de
microalgas representa uma oportunidade de produção de bioenergia, uma vez que os nutrientes
necessários para o crescimento da biomassa algal estão presentes no esgoto. As microalgas
propiciam a remoção de nutrientes e microrganismos patogênicos presentes nas águas residuárias.
Entretanto, esse sistema apresenta limitação na colheita da biomassa de algas produzida no final do
processo. Neste cenário, a imobilização de microalgas é uma técnica de tratamento de efluentes que
facilita a colheita da biomassa algal, ele pode ser usado para a produção de bioprodutos e várias
formas de biocombustíveis, por exemplo, digestão anaeróbia para produção de biogás, a
transesterificação dos lipídeos para biodiesel, fermentação de carboidratos para bioetanol e
conversão de alta temperatura para o óleo combustível. Vários métodos para imobilização de algas
são apresentados no presente documento, o mais utilizado entre estes métodos é por meio de
materiais poliméricos sintéticos, tais como acrilamida, poliuretano, polivinilo e resinas ou derivados
de polímeros naturais como alginato,carragenina, agar, agarose.
Palavras-chaves: Águas Residuárias, Microalgas, Imobilização, Biocombustíveis, Bioprodutos.

ABSTRACT
The biological treatment of wastewater by microalgae is an alternative for pollution control and for
of new products generation. Since the required nutrients for algal biomass growth are present in the
sewer, the algae systems treatment for sewer represents an opportunity for bioenergy production.
The microalgae favor nutrients and pathogenic microorganisms removal from wastewater.
However, this system is limited in the harvest of algal biomass produced at the end of the process.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 574


In this scenario, the microalgae immobilization is a technique for effluent treatment that facilitates
the algal biomass harvest, it can be used for production of bioproducts and various pathways to
biofuels, for exemple anaerobic digestion to production biogas, transesterification of lipids to
biodiesiel, fermentation of carbohydrate to bioethanol and high temperature conversion to bio-crude
oil. Several methods for algae immobilization are presented in this paper, the most used among
these methods is through synthetic polymeric materials such as acrylamide, polyurethane, polyvinyl
and resins or derivatives of natural polymers such as alginate, carrageenan, agar, agarose.
Keywords: Wastewater, Microalgae , Immobilization, Biofuels, Bioproducts.

INTRODUÇÃO

A produção em grande escala de águas residuárias é uma consequência inevitável de todas


as sociedades contemporâneas. A maioria dos efluentes domésticos são prejudiciais para a
população humana e para o ambiente, logo devem ser tratados antes de lançados em córregos, lagos,
mares e superfícies de terra. Os efluentes secundários de estações de tratamento de águas residuais
contendo nutrientes, tais como fósforo e nitrogênio, são identificados como as principais causas que
levam à eutrofização das águas naturais (TREPANIER et al., 2002) e eliminação de efluentes
parcialmente tratadas é uma ameaça constante para a diminuição da água doce em escala global
(MONTAIGNER e ESSICK, 2002).
Durante as últimas décadas, problemas ambientais e a escassez de energia despertaram um
crescente interesse pelos processos biológicos de tratamento de águas residuárias. Estes tornaram-se
uma alternativa interessante no combate a poluição e na geração de novos produtos, uma vez que
esses processos utilizam-se do metabolismo microbiano para degradar e remover poluentes (GADD,
2009), bem como para transformar matérias primas gerando produtos menos nocivos ao meio
ambiente. Nesses processos, existe uma gama de microrganismos atuantes, como bactérias (CHEN
et al., 2009), fungos (AKAR e TUNALI, 2006) algas e microalgas (SARAVANAN et al., 2009).
As microalgas têm sido proposta como uma alternativa para o tratamento biológico para
remover nutrientes (MALLICK, 2002). Uma das limitações para o desenvolvimento dos sistemas de
tratamento de águas residuais baseados nas microalgas é a colheita da biomassa, no final do
processo de tratamento (RUIZ-MARIN et al., 2010). De acordo com o relatório de Davis et al.,
(2011), os custos de colheita de biomassa contribuem cerca de 21% dos custos totais de capital em
um sistema de lagoa aberta.
No contexto do uso das microalgas para o tratamento de resíduos líquidos tem-se como a
grande dificuldade na captação ou eliminação da enorme população de microalgas desenvolvida na
água após o tratamento. Isto envolve o alto custo e demorada filtração e centrifugação, que não são

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 575


técnicas aplicáveis para tratar efluentes de um à indústria com vazões diárias enormes. Até agora, a
imobilização parece ser uma das melhores técnicas para separar as microalgas de seu meio de
cultura no tratamento terciário de efluentes com algas (OLGUÍN, 2003). A imobilização das
microalgas é importante porque reduz o problema do crescimento da biomassa produzida por
microalgas suspensa em águas residuárias que geralmente são lançadas nos corpos hídricos.
Park et al. (2011) afirmam que a produção de microalgas, tendo o esgoto sanitário como
meio de cultivo, representa uma oportunidade de produção de bioenergia, uma vez que os nutrientes
para o crescimento da biomassa já estão presentes no meio. Além das diferentes formas de se obter
energia, a recuperação de fertilizantes faz com que o processo seja sustentável economicamente.
Este é um ponto de concordância entre muitos pesquisadores e estudos: para produção de
bioenergia, a biomassa deve ser aproveitada de forma integrada no âmbito do conceito de
biorrefinaria, ou seja, aproveitamento de energia, calor e produtos de valor agregado.
As possibilidades de se obter energia de água residuária são variadas como o aproveitamento
de biogás produzido em sistemas de tratamento. A produção de microalgas utilizando águas
residuárias como meio de cultivo surge no contexto das lagoas de alta taxa. Através da biomassa
nelas produzidas podem extrair lipídeos para geração de biodiesel, obter o bioetanol por
fermentação e gerar biogás a partir da sua digestão, entre outros (CRAGGS et al., 2012).

MICROALGAS

As microalgas são microrganismos que possuem grande potencialidade em área de atuação


biotecnológica devido a sua importância econômica, nutricional e ecológica (ANTELO et al.,
2010). Estão se mostrando uma opção eficiente para reduzir ou remover contaminantes de efluentes
devido à capacidade que possuem de desenvolvimento em meios que fornecem os elementos
constituintes das suas células, como o nitrogênio (N), fósforo (P), ferro e em alguns casos silício e
na mitigação de CO2 (CHISTI, 2007). Além disso, podem produzir energia renovável através da
sua biomassa algal contribuindo ainda mais com o controle da poluição do meio ambiente.
As microalgas podem ser organismos procariontes ou eucariontes, realizam fotossíntese e
estão entre os microrganismos vivos mais antigos. Elas crescem rapidamente em variados
ambientes, como em água doce, águas residuárias e ambiente marinho, assim como em ambientes
extremos, por exemplo, altas temperaturas (KALIN et al., 2005). Os tamanhos das microalgas
variam de micrômetros até milímetros e depende da espécie. Existem cerca de 200,000-800,000
espécies de algas, das quais cerca de 50.000 espécies foram descritas (RICHMOND, 2004). Várias
espécies produzem lípideos, carotenóides, antioxidantes, ácidos gordos, polímeros de enzima,
péptídeos, toxinas e esteróis (ABAD e TURON, 2012). A maioria desses microrganismos usam a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 576


energia da luz para produzir energia química por meio da fotossíntese com o ciclo de crescimento
natural de apenas alguns dias. Elas se desenvolvem em qualquer ambiente com a presença de
radiação solar e nutriente.
Desempenham um papel fundamental no funcionamento do sistema de lagoas de
estabilização no tratamento de esgotos, limitando a proliferação de coliformes e bactérias
patogênicas e removem nutrientes da água através de seu metabolismo e crescimento celular,
ocorrendo também a precipitação de sais de fósforo como estruvita e apatita. Entre as diversas
formas de microrganismos existentes nas lagoas de estabilização, as algas verdes (Chlorophyta), são
componentes significativos, especialmente as microalgas do gênero Chlorella sp. Através de seu
metabolismo, as algas atuam no funcionamento da lagoa de estabilização: aumentando a
concentração de oxigênio dissolvido (OD) através da fotossíntese, o qual é necessário à fisiologia
das bactérias aeróbias heterotróficas, consumindo o dióxido de carbono (CO₂) produzido pela
oxidação bacteriana da matéria orgânica, elevando o pH do meio e removendo nutrientes da água
através de seu crescimento celular.
As bactérias patogênicas, bem como, os coliformes termotolerantes, são removidas em
sistemas biológicos, principalmente pelo biofilme das algas e a irradiação solar. Isto ocorre através
de vários mecanismos, tais como temperatura ambiental alta, luz ultravioleta, foto-oxidação, altos
níveis de pH, lise e aderência à superfície celular das algas ( PEARSON, 1986).
Microrganismos fotossintetizantes, como microalgas pode usar poluentes como nutrientes
(N, P e K) e crescer de acordo com as condições ambientais, tais como luz, temperatura (geralmente
20-30 ° C), pH (em torno de 7,0), salinidade e CO2 (MAITY, 2014) e segundo o mesmo há várias
razões para o cultivo de microalgas em águas residuais, como o tratamento eficaz em termos de
custos, exigência de baixa energia, redução na formação de lodo e a produção de biomassa de algas
para a produção de biocombustíveis.
Pesquisadores consideram microalgas como meio tecnológico verde para remoção de
poluentes de águas residuais (SUBASHCHANDRABOSE et al., 2013; PARK et al., 2011) . Maity
(2014) demonstra no seu trabalho a remoção de poluentes orgânicos e inorgânicos (NO3- , NO2-,
NH4+, PO43-, CO2 , Cd, Zn, Ni, Co, Mn, Cu, Cr, U, Hg (II), Cd ( II), Pb (II), B, TBT (tributil-
estanho), fenóis e compostos). De acordo com o mesmo, a Chlorella spp., Ourococcus multisporus,
Nitzschia cf. pusilla, Chlamydomonas mexicana, S.oblíquo , C. vulgari, foram eficientes na
remoção de nitrogênio, fósforo e carbono inorgânico. A maior capacidade atingida C.mexicana para
a remoção de nitrogênio, fósforo e carbono inorgânico foram de 62%, 28% e 29%, respectivamente.
Aumentar o controle do ambiente de crescimento pode aumentar a produtividade, mas
envolve custos adicionais. Terra suficiente e água também devem estar disponíveis. O maior

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 577


desafio, no entanto, não se encontra na produção de cultura de algas, mas na colheita e
processamento a jusante do mesmo de uma maneira apropriada para a produção de produtos
biológicos (UDUMAN et al., 2010). Cada um dos desafios identificados acima assim como,
culturas em suspensão incluindo lagoas abertas e fechadas, reatores e culturas imobilizados,
sistemas e biofilmes em matriz imobilizada, são abordados no trabalho de Christenson e Sims
(2011), assim como os métodos de colheita.

IMOBILIZAÇÃO DE MICROALGAS

Uma célula imobilizada é definida como uma célula viva que, por meios naturais ou
artificiais, é impedido de se mover independentemente da sua localização inicial para todas as
partes de uma fase aquosa de um sistema (TAMPION e TAMPION, 1987). O conceito subjacente é
que microalgas imobilizadas em matrizes biológicas ou inertes podem ajudar os benefícios
biotecnológicos necessários a partir da cultura de massa de microalgas, seja um metabólito ou
remoção de poluentes específicos. Este conceito evoluiu a partir da natureza básica dos seus
componentes, as microalgas e da matriz de imobilização.
As técnicas clássicas de imobilização celular podem ser classificadas em naturais e
artificiais. As primeiras são as que incluem a formação de biofilmes e a adesão/adsorção microbiana
em suportes sintéticos ou naturais, o fenômeno ocorre espontaneamente por meio de interações
eletrostáticas. Já as artificiais são aquelas que incluem a encapsulação em matrizes como alginato
de cálcio ou uso de agentes ligantes, nesse caso as células são ligadas às matrizes por ligações
covalentes, utilizando-se agentes ligantes como glutaraldeído ou carbodimida. O mesmo autor cita
os seguintes tipos de imobilização celular: adsorção, ligação eletrostática e covalente,
engaiolamento em matriz porosa, floculação natural e artificial, microencapsulação interfacial e
contenção entre micromembranas. A encapsulação, ou mais apropriadamente, imobilização em
partículas, é um processo pelo qual células são retidas dentro de esferas poliméricas
semipermeáveis, sendo as células uniformemente distribuídas dentro delas. O método de
engaiolamento está baseado na inclusão artificial das células, que ficam inseridas em uma malha
rígida, ou semirrígida, que impede a difusão destas para o meio de cultivo (COVIZZI et al., 2007).
O método mais utilizado é a imobilização em polímeros, os microrganismos são
imobilizados (presa) viva no interior do polímero, porque os poros são mais pequenos do que os
microrganismos, ao passo que o fluido flui através dele e apoia o seu metabolismo e eventual
crescimento (COHEN, 2001). De acordo com de-Bashan (2010) os principais problemas usando
qualquer polímero são: eficiência do sistema de remoção de poluentes; o custo do polímero e custos
do processo de imobilização. Segundo o mesmo, o método de imobilização tem algumas vantagens

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 578


importantes tais como: concentrados de biomassa que pode ser utilizado como um produto
secundário, evita a filtração das águas residuais tratadas, tem uma alta resistência a compostos
tóxicos dentro do efluente tratado, pode imobilizar mais de um microrganismo e é simples de
aplicar por não profissionais.
Vários polímeros sintético (acrilamida, poliuretano, polivinilo, resinas) e derivados de
polímeros naturais de polissacáridos de algas (alginato, carragenina, agar, agarose), e quitosano são
usada experimentalmente. Independentemente dos polímeros utilizados, o material deve ser
hidrófila, permitindo que água residual se difunda para o talão. Os polímeros mais utilizados são os
polímeros alginato e carragena natural ( MORENO-GARRIDO, 2008) apesar de polímeros naturais
são menos estáveis em águas residuais de que polímeros sintéticos.
Na maioria dos casos, a imobilização é benéfico para os microrganismos encapsulados.
Além de efeitos positivos diretos, tais como evitar pastagem por zooplâncton agressivo (FAAFENG
et al., 1994) e redução da competição por nutrientes com outras espécies microbianas, foram
registradas várias melhorias no metabolismo, função e comportamento das microalgas. A
imobilização em alginato de microalgas ricas em hidrocarbonetos, Botryococcus braunii e
protuberante Botryococcus, rendeu um aumento significativo na clorofila, carotenóides, peso seco e
lipídios durante as fases de crescimento fixa, em comparação com células de vida livre. A
fotossíntese em ambas as espécies foi melhor, em relação a células livres (SINGH, 2003). A
imobilização em quitosana protegeu as paredes celulares de Synechococcus sp. contra a toxicidade
de NaOH. Células imobilizadas apresentaram melhor crescimento do que culturas de células livres
(AGUILAR-MAY et al., 2007).Foram descritos vários outros casos de melhoria no desempenho por
imobilização (MORENO-GARRIDO, 2008).
As algas Chlorellas têm sido relatadas sendo capazes de crescer em variedade de materiais
de apoio, como o poliestireno, papelão, tecido de polietileno e esponja bucha (JOHNSON e WEN,
2010). Estas são fixadas normalmente acompanhada com o biofilme bacteriano, que segrega
substâncias extracelulares e promovem a fixação das células de algas (SCHNURR et al., 2013).
Muitos exemplos sobre a capacidade de microalgas e cianobactérias imobilizadas para
remover nutrientes de águas residuais e servir como um agente no tratamento terciário de esgoto
estão disponíveis na literatura, que foram resumido e estão presentes na Tabela 1 (DE-BASHAN,
2010).
De acordo com o estudo desenvolvido por Zhang et al. (2008) foi isolado Scenedesmus sp.
de esgoto municipal, concentração de 2 x 10⁸ células/ mL, e posteriormente imobilizadas em
camadas de alginato de cálcio, para remover nutrientes (N e P) de efluentes secundários,
conseguiram remoção de NH4+ e PO₄³⁻ após 4 horas de tratamento, indicando portanto que essa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 579


espécie de microalga possui alta potencialidade na remoção de nutrientes. No entanto, o alginato é
vulnerável à presença de agentes quelantes presentes nas águas residuais, tais como fosfato e citrato,
que afetam a força da matriz do gel e podem se dissolve ( JIMENEZ-PEREZ et al., 2004).

Poluentes Material Imobilizante Espécies de Microalgas Referências


Chen (2003), de-Bashan et al.
Anabaena sp.; Anabaena doliolum;
(2002a,b, 2004, 2008),Hernandez
Clorella vulgaris; C.sorokiniana;
et al. (2009), Jeanfils et al. (1993),
Alginato Chlamydomonas reinhardtii;
Jeanfils and Thomas (1986), Lee et
Isochrysis galbana; Scenedesmus
al. (1995), Mallick and Rai (1993)
obliquus
and Vilchez and Vega (1994, 1995)
Nitrogênio
Phormidium
Gil and Serra (1993); Garbisu et al.
Polivinil, Poliuretano uncinatum;Phormidium laminosum;
(1991) and Urrutia et al. (1995)
ou espuma de polivinil S. obliquus

Papel-Filtro Trentepholia aurea Abe et al. (2003)

Hernandez et al. (2006, 2009),


Chlorella vulgaris; C. sorokiniana; Robinson (1995), Robinson et al.
Fósforo Alginato
C.emersonii (1988, 1989) and Robinson
andWilkinson (1994)

Chlamydomonas reinhardtii; Abdel Hameed (2007), de-Bashan


Chlorellavulgaris; C. sorokiniana;
et al. (2002b, 2004),Faafeng et al.
C. kessleri; C. emersonii;
Alginato (1994), Garbayo et al. (1996),
Chlorosarcinopsis sp.; Dunaliella
Jimenez-Perez et al. (2004), Kaya
salina; Euglena sp.; Macrochloris
et al. (1995, 1996), Kaya and
sp.; Nannochloris sp.; Picard (1995), Lau et al. (1997)
Cañizares et al. (1993, 1994),
Anabaena doliolum; Chlorella
Nitrogênio + Chevalier and de la Noüe
vulgaris; C. kessleri; Scenedesmus
Fósforo Caragenina (1985a,b), Lau et al. (1997,
obliquus; S. quadricauda; S. acutus;
1998a,b), Mallick and Rai (1994)
Spirulina maxima
and Travieso et al. (1996)

Anabaena doliolum; Chlorella


Aguilar-May and Sánchez-
vulgaris; Phormidium
Saavedra (2009), de la Noüeand
Quitosana sp.;Scenedesmus bicellularis;
Proulx (1988a,b), Fierro et al.
Scenedesmus sp.; S.
(2008)
obliquus;Synechococcus elongates

Espuma de poliuretano
de polivinilo e acetato Chlorella vulgaris; C. kessleri;
de polivinilo-sulfato. Scenedesmus quadricauda; Travieso et al. (1996) Sawayama et
As fibras de celulose Phormidium laminosum; Chlorella al. (1998) Shi et al. (2007)
micro e macro poroso vulgaris; Scenedesmus rubescens
tecido fibroso

Tabela 1- Remoção de nitrogênio e fósforo com algas imobilizadas. Fonte: Adaptado de Luz E. de-Bashan,
2010.

Gross et al. (2013) avaliou diferentes materiais para o crescimento de algas, um total de
dezesseis materiais foram testados quanto à sua capacidade de suportar o crescimento de algas,
incluindo gaze musselina, fibra de vidro, fibra de vidro revestido, tecido camurça, vermiculita,
microfibra, pano de camurça sintética, fibra de vidro, estopa, duto de algodão, veludo, tyvek, ácido

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 580


poli-láctico, ácido poli-láctico abrasivo, vinil nylon laminado e poliéster. A seleção dos materiais
baseou-se nos critérios que tem de serem baratos, durável, e fácil de produzir e / ou obter. Os
materiais foram avaliados com base em três critérios, incluindo o grau de ligação de células, a
durabilidade de material e custo de material. Verificou-se que a melhor fixação das células ocorreu
em fibra de vidro, pano de camurça e conduta de algodão. A fibra de vidro demonstrou bom
crescimento celular e durabilidade, mas era proibitivamente caro. Pano de camurça, também
demonstrou um bom crescimento, mas começaram a diminuir no prazo de 14 dias de incubação.
Segundo Gross e Wen (2014) ao longo do seu estudo de um ano foram registradas as
condições ambientais, incluindo a temperatura, horas de luz solar, radiação solar e radiação
fotossinteticamente ativa. Em geral, a produtividade de biomassa mostrou uma tendência positiva
com o tempo de verão e da temperatura. Estas relações positivas entre a produtividade de biomassa
e horas de luz do dia é devido ao aumento da fotossíntese atividade em maior duração da luz do dia
(SEYFABADI et al., 2010).

BIOCOMBUSTÍVEIS E BIOPRODUTOS DA BIOMASSA ALGAL

Microalgas foram identificadas como uma matéria-prima de biomassa promissora que pode
produzir variedade de combustíveis, alimento e produtos químicos. Embora, o biodiesel é o
combustível mais comum produzido a partir de microalgas, outros tipos de biocombustíveis
também podem ser produzido a partir destas, tais como álcool através da fermentação de hidratos de
carbono (WANG et al., 2011), através de digestão anaeróbica de biogás (GUNASEELAN, 1997) e
bio óleo de processamento termoquímico (YANG et al., 2004). Outros produtos de biomassa de
microalgas incluem fertilizantes (MULBRY et al., 2008) e alimentação de aquicultura
(HEMAISWARYA et al., 2010).
As algas podem fornecer mais biodiesel do que oleaginosas existentes, utilizando menos
água e terra. A biomassa de algas também pode ser transmitido para um digestor anaeróbico para
produção de metano (YEN e BRUNE, 2007) ou utilizado para produzir materiais bioplástico
(CHIELLINI et al., 2008). A biomassa residual destes processos pode, potencialmente, ser usado
como fertilizante, correção do solo, ou alimento para peixes e gado (ROESELERS et al., 2008).
Segundo Christenson e Sims (2011) a produção de biocombustíveis e bioprodutos utilizando
microalgas no tratamento de águas residuárias têm grandes vantagens para ambas as indústrias
Pittman et al. (2011) avaliou o potencial de produção de biocombustíveis de algas e
concluíram que, com base em tecnologias atuais, o cultivo para biocombustíveis, sem uso de água
residuária é improvável ser economicamente viável ou fornecer retorno de energia. Lundquist et al.
(2010) analisou vários cenários diferentes de tratamento de águas residuais à base de algas,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 581


juntamente com a produção de biocombustíveis e concluiu que apenas os casos que enfatizavam
tratamento de águas residuais foram capazes de produzir biocombustíveis de custos competitivos.
Eles concluíram que o resultado de curto prazo para a produção de biocombustíveis de algas em
grande escala não é favorável, sem tratamento de águas residuais, como o objetivo primário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As microalgas mostram-se eficientes na remoção de nutrientes e patógenos de águas


residuárias, pois elas aumentam a concentração de oxigênio através da fotossíntese que é necessário
ao metabolismo de bactérias aeróbias e consomem o dióxido de carbono produzido pela oxidação
da matéria orgânica elevando o pH do meio e removendo nutrientes da água através de seu
metabolismo e crescimento celular. Através da biorremediação elas diminuição ou eliminação os
contaminantes ambientais e liberam substâncias inertes. Estas precisam de luz solar para realizar a
fotossíntese e de nutrientes como nitrogênio e fósforo que estão presentes nas águas resíduárias ou
em efluentes de tratamentos anaeróbios.
Diversas técnicas de imobilização são disponíveis em uma variedade de suportes naturais e
sintéticos. A escolha do suporte, assim como a técnica depende do microrganismo, do substrato e
sua aplicação final. A aplicação de técnicas de imobilização de algas introduziu importantes
vantagens nos processos biológicos de tratamentos de águas residuárias, apresentando eficiência
significativa na remoção de contaminantes ambientais e produção de biomassa.
Os sistemas com algas imobilizadas apresentam uma alternativa viável para solucionar o
problema do elevado custo operacional da colheita da biomassa algal em escala real quando
dispersas no meio. Além disso, a biomassa algal colhida pode ser aproveitada para outros fins como
a produção de biocombustíveis ou bioprodutos.

REFERÊNCIAS

ABAD, S.; TURON, X. Valorization of biodiesel derived glycerol as a carbon source to obtain
added-value metabolites: focus on polyunsaturated fatty acids. Biotechnology Advances, v.30,
p.733-741, 2012.

AGUILAR-MAY, B.; SANCHEZ-SAAVEDRA, M.P.; LIZARDI, J.; VOLTOLINA, D. Growth of


Synechococcus sp. immobilized in chitosan with different times of contact with NaOH. J. Appl.
Phycol, v.19, p.181–183, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 582


AKAR, T.; TUNALI, S. Biosorption characteristics of Aspergillus flavus biomass for removal of
Pb(II) and Cu(II) ions from an aqueous solution. Bioresource Technology, v. 97, n. 15, p. 1780 -
1787, 2006.

ANTELO, F.S.; ANSCHAU, A.; COSTA, J.A.V.; KALIL, S.J. Extraction and Purification of
Cphycocyanin from Spirulina platensis in Conventional and Integrated Aqueous Two-Phase
Systems. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 21, n. 5, p. 921-926, 2010.

CHEN, X.; HU, S.; SHEN, C.; DOU, C.; SHI, J.; CHEN, Y. Interaction of Pseudomonas putida
CZ1 with clays and ability of the composite to immobilize copper and zinc from solution.
Bioresource Technology, v. 100, n. 1, p. 330-337, 2009.

CHIELLINI, E. et al. Biodegradable thermoplastic composites based on polyvinyl alcohol and


algae. Biomacromolecules, v. 9, p.1007–1013, 2008.

CHISTI, Y. Biodiesel from microalgae. Biotechnology Advances, v. 25, p. 294-306, 2007.

CHRISTENSON, L.; SIMS, R. Production and harvesting of microalgae for wastewater treatment,
biofuels, and bioproducts. Biotechnology Advances, v. 29, p. 686–702, 2011.

COHEN, Y. Biofiltration – the treatment of fluids by microorganisms immobilized into the filter
bedding material: a review. Bioresour. Technol., v.77, p.257–274, 2001.

COVIZZI, L. G.; GIESE, E. C.; GOMES, E.; DEKKER, R.F.H.; SILVA, R. Imobilização de
células microbianas e suas aplicações biotecnológicas. Semana: Ciências Exatas e
Tecnológicas, n. 2, p. 143 – 160. Londrina, jul./dez., 2007.
CRAGGS, R. J.; SUTHERLAND, D.; CAMPBELL, H. Hectare-scale demonstration of high
rate algal ponds for enhanced wastewater treatment and biofuel production. Journal of Applied
Phycology, n. 24, p. 329-337, 2012.

DAVIS, R.; ADEN, A.; PIENKOS, P. Techno-economic analysis of autotrophic microalgae for fuel
production. Appl. Energy, v. 88, p. 3524–3531, 2011.

DE-BASHAN, L.E.; BASHAN, Y. Immobilized microalgae for removing pollutants: Review of


practical aspects. Bioresource Technology, v. 101, p. 1611–1627, 2010.

FAAFENG, B.A.; VAN DONK, E.; KALLQVIST, S.T. In situ measurement of algal growth
potential in aquatic ecosystems by immobilized algae. J. Appl. Phycol., v. 6, p. 301–308, 1994.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 583


GADD, G.M. Biosorption: critical review of scientific rationale, environmental importance and
significance for pollution treatment. Journal of Chemical Technology & Biotechnology, v. 84, p.
13-28, 2009.

GROSS, M. et al. Development of a rotating algal biofilm growth system for attached microalgae
growth with in situ biomass harvest. Bioresource Technology, v. 150, p. 195-201, 2013.

GROSS, M.; WEN, Z. Yearlong evaluation of performance and durability of a pilot-scale


Revolving Algal Biofilm (RAB) cultivation system. Bioresource Technology, v. 171, p. 50-58,
2014.

GUNASEELAN, V. Anaerobic digestion of biomass for methane production: a review. Biomass


Bioenergy, v. 13, p. 83–114, 1997.

HEMAISWARYA, S. et al. Microalgae: a sustainable feed source for aquaculture. World J.


Microbiol. Biotechnol., v. 27, p. 1737–1746, 2010.

JIMENEZ-PEREZ, M.V. et al. Growth and nutrient removal in free and immobilized planktonic
green algae isolated from pig manure. Enzyme Microb. Technol., v. 34, p. 392–398, 2004.

JOHNSON, M.; WEN, Z. Development of an attached microalgal growth system for biofuel
production. Appl. Microbiol. Biotechnol., v. 85, p. 525–534, 2010.

KALIN, M. et al.The removal of uranium from mining waste water using algal/microbial biomass.
J Environ Radioact, v. 77 p. 78-151, 2005

LUNDQUIST, TJ, et al. A realistic technology and engineering assessment of algae biofuel
production. Berkeley, California: Energy Biosciences Institute; 2010.

MAITY, J.P. et al. Microalgae for third generation biofuel production, mitigation of greenhouse
gas emissions and wastewater treatment: Present and future perspectives - A mini review.
Energy, p. 1-10, 2014

MALLICK, N. Biotechnological potential of immobilized algae for wastewater N, P and metal


removal: a review. Biometals, v.15, p. 377–390, 2002.

MONTAIGNE, F.; ESSICK, P. Water pressure. Natl. Geogr. v. 202, p. 2–33, 2002.

MORENO-GARRIDO, I. Microalgae immobilization: Current techniques and uses. Bioresource


Technology, v. 99,.p.3949–3964, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 584


MULBRY, W.; KONDRAD, S.; BUYER, J.Treatment of dairy and swine manure effluents using
freshwater algae: fatty acid content and composition of algal biomass at different manure
loading rates. J. Appl. Phycol., v. 20, p. 1079–1085, 2008.

OLGUÍN, E.J. Phycoremediation: key issues for cost-effective nutrient removal processes.
Biotechnol. Adv., v. 22, p. 81–91, 2003.

PARK, J. B. K. E CRAGGS, R. J. Nutrient removal in wastewater treatment high rate algal ponds
with carbon dioxide addition. Water Science and Technology, v. 63, n. 8, p.1758-1764, 2011.

PARK, J.B. K.; CRAGGS, RJ.; SHILTON,AN. Wastewater treatment high rate algal ponds for
biofuel production. Bioresour Technol., v.102, p. 35-42, 2011.

PEARSON, H. W. Estimation of chlorophyll-a as a measure of algae biomass in waste stabilization


ponds. In Proceedings of the regional Seminar on the Waste Stabilization Pond Research, 3-7
March. Pan American Center for Sanitary Engineering and Environment Sciences, Lima, 1986.

PITTMAN, JK.; DEAN, AP.; OSUNDEKO, O. The potential of sustainable algal biofuel
production using wastewater resources. Bioresour Technol, v. 102, p. 17–25, 2011.

RICHMOND, A. Handbook of microalgal culture: biotechnology and applied phycology.


Blackwell Science Ltd, 2004.

ROESELERS, G. et al. Phototrophic biofilms and their potential applications. J Appl Phycol, v. 20,
p. 227–235, 2008.

RUIZ-MARIN, A.; MENDOZA-ESPINOSA, L.G.; STEPHENSON, T. Growth and nutrient


removal in free and immobilized green algae in batch and semi-continuous cultures treating real
wastewater. Bioresource Technology, v. 101, p. 58–64, 2010.

SARAVANAN, A.; BRINDHA, V.; MANIMEKALAI, R.; KRISHNAN, S. An evaluation of


chromium and zinc biosorption by a sea weed (Sargassum sp.) under optimized conditions.
Indian Journal of Science and Technology, v. 2, n. 1, p. 53-56, 2009.

SCHNURR, P.; ESPIE, G.; ALLEN, G. Algae biofilm growth and the potential to stimulate lipid
accumulation through nutrient starvation. Bioresour. Tech., v. 136, p. 337–344, 2013.

SEYFABADI, J.; RAMEZANPOUR, Z.; KHOEYI, A. Protein fatty acid and pigment content of
Chlorella vulgaris under different light regimes. J. Appl. Phycol., v. 23, p. 721–726, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 585


SINGH, Y. Photosynthetic activity, lipid and hydrocarbon production by alginate-immobilized cells
of Botryococcus in relation to growth phase. J. Microbiol. Biotechnol., v. 13, p. 687–691, 2003.

SUBASHCHANDRABOSE, SR.et al. Mixotrophic cyanobacteria and microalgae as distinctive


biological agents for organic pollutant degradation. Environ Int., v. 72, p. 51-59, 2013.

TAMPION, J.; TAMPION, M.D. Immobilized Cells: Principles and Applications. Cambridge
University Press, Cambridge, UK. 257 pp, 1987.

TREPANIER, C.; PARENT, S.; COMEAU, Y.; BOUVRETTE, J. Phosphorus budget as a water
quality management tool for closed aquatic mesocosms. Water Res., v. 36, p. 1007–1017, 2002.

UDUMAN,N. et al. Dewatering of microalgal cultures: a major bottleneck to algae-based fuels. J


Renew Sustain Energy, v. 2, 2010.

WANG, X.; LIU, X.; WANG, G. Two-stage hydrolysis of invasive algal feedstock for ethanol
fermentation. J. Integr. Plant Biol., v. 53, p. 246–252, 2011.

YANG, Y.; FENG, C.; INAMORI, Y.; MAEKAWA, T. Analysis of energy conversion
characteristics in liquefaction of microalgae. Resour. Conserv. Recycl., v. 43, p. 21–33, 2004.

YEN, HW.; BRUNE, DE. Anaerobic co-digestion of algal sludge and waste paper to produce
methane. Bioresour Technol, v.98, p.130–134, 2007.

ZHANG, E., WANG, B., WANG, Q., ZHANG, S., ZHAO, B., Ammonia–nitrogen and
orthophosphate removal by immobilized Scenedesmus sp. isolated from municipal wastewater
for potential use in tertiary treatment. Boresour Technology. v.99, p. 3787–3793, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 586


RESÍDUOS SEM TRATAMENTO E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E NO
MEIO AMBIENTE

Valdir Cesarino de SOUZA33


Doutorando em Recursos Naturais – UFCG
valdircdes@ig.com.br

Sandra Sereide Ferreira da SILVA


Doutoranda em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande
sandrasereide@yahoo.com.br

Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO


Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Recursos
Naturais da Universidade Federal de Campina Grande
angelaramalho@oi.com.br

José Romero Rodrigues de ANDRADE


Mestre em Recursos Naturais pela UFCG
romerorodrigues@hotmail.com

RESUMO
Na sociedade contemporânea os transtornos causados pelos resíduos sólidos tem se ampliado cada
vez mais, tendo como elemento definidor o processo produtivo tanto industrial como tecnológico.
Diante desse enfoque, este estudo tem como objetivo apresentar os principais impactos na saúde
humana e no meio ambiente, resultante da acomodação inadequada dos resíduos sólidos urbanos.
De acordo com o estudo, esse problema constitui uma questão sanitária grave na maioria dos
municípios brasileiros, que ainda utilizam vazadouros a céu aberto, ameaçando a habilidade de
auto-regeneração do sistema água-solo-ar, corroborando num grau de poluição e degradação
ambiental, prejudicial à vida, à saúde e à economia em geral. A população reage e cobra pelas vias
disponíveis, as contrapartidas, responsabilidades e mais eficiência dos seus gestores públicos. Face
ao exposto, faz-se necessário o emprego de novas formas de avaliação dos impactos ambientais.
Apoiar-se em métodos e ferramentas adequadas para assegurar a resolução de problemas de gestão
pública com mensurações periódicas de estudos de determinantes ambientais, sobretudo das
cidades, certamente auxiliará na redação de leis, como contribuirá na busca de metas e estratégias
duradouras para o meio ambiente.
Palavras-Chave: Resíduos Sólidos Urbanos. Saúde Humana. Meio Ambiente

ABSTRACT

33
Professor do Curso de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 587


In contemporary society the inconvenience caused by solid waste has increasingly expanded, with
the defining element of the production process as much industrial technology. Given this focus, this
study aims to present the main impacts on human health and the environment resulting from
inadequate accommodation of municipal solid waste. According to the study, this problem is a
serious health issue in most Brazilian cities, which still use the open dumps, threatening the ability
of self-regeneration of soil-water-air system, confirming a degree of pollution and environmental
degradation injurious to life, health and the economy in general. The population reacts and snake
through the channels available, the counterparts, more responsibilities and efficiency of their public
officials. Given the above, it is necessary to use new forms of environmental impact assessment.
Rely on methods and appropriate tools to ensure the resolution of problems of public management
with periodic measurements studies of environmental determinants, especially in cities, will
certainly help in drafting laws, as will the pursuit of goals, sustainable strategies for the
environment .
Keywords: Municipal Solid Waste. Human Health. Environment

INTRODUÇÃO

Desde a metade do Século XX até os nossos dias, as sociedades modernas vêm enfrentando
várias questões ambientais, como o aquecimento global, esgotamento dos recursos não renováveis,
poluição dos recursos hídricos, dentre outros. No entanto, em meio a esses múltiplos problemas, um
deles se destaca por sua amplitude: os resíduos sólidos. Mais usualmente cognominado de lixo, os
resíduos sólidos tem se destacado cada vez mais, tendo em vista que seus impactos negativos
ultrapassam as questões ambientais e têm implicações econômicas, sociais, políticas e institucionais
nas mais diversas áreas, inclusive na saúde humana.
Adentrando-se nesse cenário, em nenhuma outra etapa do desenvolvimento humano, como a
atual, gerou-se tanto lixo (resíduo) e, racionalmente prejudicou-se tanto a saúde das populações
humanas e o próprio meio ambiente. Não obstante a geração de resíduos provenientes das
atividades humanas faça parte da própria história do homem, é a partir da segunda metade do
Século XX, com os novos padrões de consumo da sociedade industrial, que essa realidade vem
crescendo em ritmo superior à capacidade de carga e absorção pela natureza. Aliado a isso, o
avanço tecnológico das últimas décadas, se, por um lado possibilitou conquistas no campo das
ciências, por outro, contribuiu para o aumento da diversidade de produtos com componentes e
materiais de difícil degradação e maior toxicidade.
Mucelin e Bellini (2009) enfatizam que o consumo cotidiano de produtos industrializados
tem sido responsável pela contínua produção de lixo. Nas cidades, a produção é de tal intensidade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 588


que não é possível conceber uma cidade sem considerar a problemática gerada pelos resíduos
sólidos, desde a etapa da geração até a disposição final. De forma enfática, os autores ainda
afirmam que é inevitável a crescente intensidade da geração de lixo nas cidades devido à cultura do
consumo.
Neste enfoque, a racionalidade econômica enfatiza que o aumento da quantidade de pessoas
no planeta justifica a obrigação de produzir-se cada vez mais, para com isso minimizar a pobreza
global, e que os possíveis riscos originados em virtude da modernização podem ser suplantados
pelo avanço da tecnologia.
Corroborando com esse enfoque, Grimberg e Blauth (1998) asseguram que o modo de vida
urbano é um fator decisivo da degradação ambiental e do comprometimento intensivo da qualidade
de vida que se procura resgatar por meio do consumo de bens e de uma parcela significativa de
novos objetos e produtos lançados no mercado para marcar as relações de poder e demarcar o
espaço do ter em contrapartida com os limites do ser.
Neste sentido, as consequências de uma postura desbravadora e consumista sobre o
ambiente podem ser catastróficas na medida em que o homem desafia os limites externos,
transformando a sua relação com o ambiente e pautando-se na tecnologia como ferramenta
primordial na busca de soluções para os problemas de escassez. Contextualizando-se a história do
homem no tempo, percebe-se que o crescimento populacional ocorrido nos últimos anos foi de
forma assustadora; prova disso é que a população que era de aproximadamente três bilhões pós
Segunda Guerra Mundial, atingiu a cifra de seis bilhões no ano 2000. Isso significa dizer que o
crescimento foi de três bilhões em menos de sessenta anos.
Contudo, não é a quantidade de pessoas e a precisão de suprir suas necessidades essenciais
que leva ao desenvolvimento. O contexto do crescimento foca-se cada vez mais na vertente de
produzir mais e diferentes produtos para atingir os mais diversificados públicos, visando abastecer
as necessidades criadas para alimentar a íntegra do consumo excessivo e a própria racionalidade do
desenvolvimento. Em virtude disso, os produtos tornam-se obsoletos em pouco tempo,
configurando-se dessa forma, em um dos problemas mais inquietantes da sociedade atual: os
resíduos sólidos urbanos.
Frente a essa percepção, Silva (2008) afirma que o que é divulgado pelos meios de
comunicação a respeito da questão ambiental envolvendo os resíduos sólidos é mínimo, do ponto de
vista que representa apenas parte das variáveis que contribuem com o desequilíbrio ambiental, que,
por conseguinte leva ao desequilíbrio da saúde das populações. Complementando esse pensamento,
Oliveira (2002) coloca que o enfrentamento do problema Lixo extrapola a simples eliminação dos
chamados lixões; visto que a crescente e exaustiva produção de resíduos sólidos pelas sociedades,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 589


especialmente as de maior poder aquisitivo se apresentam como um grande entrave ao
desenvolvimento sustentável, tendo em vista o estilo de vida consumista das pessoas, reforçado pela
acentuada urbanização, confirmando por sua vez um despertar de um grave problema de amplitude
planetária: o que fazer com tanto resíduo?
Em decorrência dessa constatação de complexidades e em busca de uma gestão apropriada
dos problemas ambientais decorrentes, aponta-se uma constante busca, por parte do Poder Público,
assim como da sociedade civil de um aperfeiçoamento do arcabouço legal-institucional, ainda que
nem sempre com resultado eficaz. Isto porque, as pressões causadas ao meio ambiente e,
especialmente, em razão de alterações também nas condições do estado dos recursos ambientais (ar,
água, solo, biodiversidade e ambiente construído) incidem efeitos diversos e, na maioria das vezes,
negativos, os quais afetam a saúde dos habitantes e influenciam de maneira significativa a qualidade
de vida da população no cotidiano das cidades.
De maneira geral, as pressões sobre o meio ambiente na cidade envolvem um amplo e
complicado conjunto de fatores de ordem econômica, social e política, representados pelas
dinâmicas socioeconômica, demográfica e de ocupação do território ao longo dos anos,
determinando dessa forma, as condições atuais de seus recursos ambientais e influenciando, por sua
vez o futuro e a sustentabilidade urbana.
Assim sendo, permite-se inferir, portanto, que o estado em que se encontra o meio ambiente
urbano, assim como os impactos socioambientais listados têm cobrado da sociedade o
comprometimento na formulação de diagnósticos da situação, implementação de planos, programas
e projetos direcionados a alcançarem à melhoria da qualidade de vida da população na cidade, como
resposta à conjuntura dessa situação. Diante deste enfoque, este estudo tem como objetivo
apresentar os principais impactos na saúde e no meio ambiente da disposição incorreta dos resíduos
sólidos urbanos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Resíduos Sólidos Urbanos

O ―termo resíduo sólido, quase sempre sinônimo de lixo, deriva do latim residuu‖ e quer
dizer sobra de substâncias, acrescido de sólido para se diferenciar de resíduos líquidos ou gasosos.
Habitualmente, o termo lixo, na linguagem corrente, é sinônimo de resíduo, contudo nas
discussões em nível técnico, recebe a denominação: Resíduo Sólido. Essa segunda designação
sugere um conceito mais técnico, e diz respeito a uma série de materiais e conceitos procedentes das
atividades humanas, que não poderiam tão somente ser referenciados por um termo comum e
depreciativo como lixo, que passa a ideia de algo inútil e inservível (GRIPI, 2006).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 590
No entendimento de Oliveira (2002), o termo lixo ou resíduo varia de acordo com a época e
o lugar e depende de determinantes econômicos, jurídicos, ambientais, sociais e tecnológicos. Nos
procedimentos produtivos industriais se emprega, em geral, resíduo, como significado de rejeito ou
refugo.
O IPT/CEMPRE (2000) considera resíduo sólido a sobra de qualquer atividade humana, seja
de origem doméstica, comercial, industrial, de serviços de saúde e da construção civil, nestes
incluídos os resíduos agrícolas, que representam grande inquietação, tendo em vista o descarte de
embalagens contendo substâncias perigosas.
Tecnicamente, a NBR10004/2004 (ABNT, 2004), conceitua Resíduo Sólido como:

[...] resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos que resultam da atividade da comunidade
de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Considera-se também, resíduo sólido os lodos provenientes de sistemas de tratamento de
água, aqueles gerados em equipamentos instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornam inviável o seu lançamento na rede
publica de esgotos ou corpos d‘água, ou exijam, para isso, soluções técnicas e
economicamente inviáveis, em face da melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004).

Independentemente da designação, o fato é que a temática envolvendo essas palavras se


destaca em nível global como uma das mais sérias realidades com as quais os seres humanos têm
convivido desde a época da Revolução Industrial, tendo em vista a cumulatividade dos danos
causados ao meio ambiente e as populações como um todo.
Em se tratando de resíduos, é importante considerar desde a sua origem, quando não é
descartado nas residências e locais de lazer ou trabalho, até o destino final. Isto porque durante
muito tempo a maioria das administrações públicas do Brasil, permitiu-se enganar pelos chamados
custos zeros dos lixões. Visivelmente, sempre foi mais barato descartar o lixo em qualquer vala,
distante dos centros urbanos e comumente próximos às periferias.
Com o passar dos anos, foi-se percebendo que o custo dessa disposição inadequada tornava-
se muito maior do que o que se imaginava; contaminação dos recursos hídricos, do solo, aumento
das desigualdades sociais, assim como as pesadas multas, de acordo com a legislação ambiental
vigente, dentre outros agravantes. Com isso, muitos municípios, notadamente, os maiores buscaram
alternativas para reverter tal situação, visto serem os maiores geradores bem como os que sofrem as
maiores fiscalizações e especulações dos órgãos de opinião pública. Já para os pequenos municípios
coube reproduzir os métodos utilizados pelos grandes, que nem sempre foram apropriados a sua
realidade espacial e econômica, ou simplesmente por serem pequenos continuaram a ignorarem o
problema.
Entretanto, a gestão ambiental tem sido apontada como uma área de grande valor para o
desenvolvimento da sociedade humana e para o gerenciamento dessa questão, especialmente, na

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 591


premissa de salvaguardar o meio ambiente, no aspecto de redução dos impactos ambientais
decorrentes das atividades humanas.

Lixão a céu aberto

Segundo dados de 2008 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -


IBGE, por meio da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, 99,96% dos municípios
brasileiros têm serviços de manejo de Resíduos Sólidos, mas 50,75% deles dispõem seus resíduos
em vazadouros; 22,54% em aterros controlados; 27,68% em aterros sanitários. Esses mesmos dados
apontam que 3,79% dos municípios têm unidade de compostagem de resíduos orgânicos; 11,56%
têm unidade de triagem de resíduos recicláveis; e 0,61% têm unidade de tratamento por incineração.
A prática desse descarte inadequado provoca sérias e danosas consequências à saúde pública e ao
meio ambiente e associa-se o lamentável quadro socioeconômico de um grande número de famílias
que, excluídas socialmente, sobrevivem dos "lixões de onde retiram os materiais recicláveis que
comercializam‖.
Ainda de acordo com pesquisa realizada pelo IBGE (2008), a maioria das regiões do Brasil
dá como destino final a disposição inadequada. Sendo as regiões Norte e Nordeste onde a situação é
mais expressiva negativamente, correspondendo a 56,4 % e 48,2 % respectivamente. Já a com
menor problema de disposição final é a Região Sudeste, na ordem de 9,7%, seguida da Região
Centro Oeste com 21,9% e da Região Sul com 25,7%.
Analisando-se os dados dos percentuais de destinação e/ou tratamento dos RSU no Brasil,
constatam-se com isso dois fatos interessantes; quanto menor o poder aquisitivo da população,
maior é o percentual de resíduo sólido disposto inadequadamente. Com isso, percebe-se que mais da
metade da população brasileira coloca seus resíduos em lixões a céu aberto, de forma imprópria,
proporcionando intensa agressão ao meio ambiente, tornando-se uma fonte potencial de poluição do
solo, da água e do ar.

Queima dos Resíduos dos Serviços de Saúde a céu aberto

Os RSS quando não acomodados de maneira correta, são potencialmente perigosos, tendo
em vista que os microrganismos presentes e não tratados são potentes fontes de contaminação da
saúde humana e ambiental, uma vez que sobrevivem por tempo considerável no interior do lixo
hospitalar.
Estão susceptíveis à infecção e contaminação hospitalar as pessoas que com algum tipo de
enfermidade entrar em contato com os resíduos dos serviços de saúde dispostos a céu aberto. No

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 592


quadro 1, são listados alguns micro-organismos bem como o tempo de sobrevivência quando
dispostos a céu aberto.

TEMPO DE
MICRORGANISMOS
SOBREVIVÊNCIA NO LIXO
PESQUISADOS
(EM DIAS)
Entamoeba histolytica 8 a 12
Leptospira interrogans 15 a 43
Larvas de verme 24 a 40
Salmonella typhi 29 a 70
Poliovírus 20 a 170
Mycobacterium tuberculosis 150 a 180
Ascaris lumbricoides (ovos) 2000 a 2500
Quadro 1. Micro-organismos e tempo de sobrevivência no lixo.
Fonte: Suberkeropp & Klub (1974).

Além dos micro-organismos listados, estudo realizado por Morel e Bertussi Filho, (1997)
identificaram diversos outros presentes na massa de resíduos de serviços de saúde, como
Coliformes, Salmonella typhi, Shigella sp., Pseudomonas sp., Streptococcus, Staphylococcus aureus
e Candida albicans. Além desses micro-organismos há a possibilidade também de sobrevivência de
vírus na massa de resíduos sólidos para pólio tipo I, hepatites A e B, influenza, vaccínia e vírus
entéricos. Por isso, quanto menor a quantidade de resíduos dos serviços de saúde jogados a céu
aberto, menor o impacto ambiental.
Na avaliação dos riscos potenciais dos resíduos de serviços de saúde (RSS), deve-se
considerar que os estabelecimentos de saúde vêm passando por uma considerável evolução no que
diz respeito ao desenvolvimento da ciência médica, com o incremento de novas tecnologias
incorporadas aos métodos de diagnósticos e tratamento. Resultado deste processo é a geração de
novos materiais, substâncias e equipamentos, com presença de componentes mais complexos e
muitas vezes mais perigosos para o homem que os manuseia, e ao meio ambiente que os recebe.
Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição das
políticas públicas pelos resíduos de serviços saúde (ANVISA, CONAMA) esses resíduos
representam um potencial de risco em duas situações: para a saúde ocupacional de quem manipula
esse tipo de resíduo, seja o pessoal ligado à assistência médica ou médico-veterinária, seja o pessoal
ligado ao setor de limpeza e manutenção e; para o meio ambiente, como decorrência da destinação
inadequada de qualquer tipo de resíduo, alterando as características do meio.
No que se refere ao risco no manejo dos RSS está principalmente vinculado aos acidentes
que ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos materiais pérfuro cortantes
sem utilização de proteção mecânica. Quanto aos riscos ao meio ambiente destaca-se o potencial de
contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas pelo lançamento de RSS em lixões ou
aterros controlados que também proporciona riscos aos catadores, principalmente por meio de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 593


lesões provocadas por materiais cortantes e/ou perfurantes, e por ingestão de alimentos
contaminados, ou aspiração de material particulado contaminado em suspensão.
E, finalmente, há o risco de contaminação do ar, dada quando os RSS são tratados pelo
processo de incineração descontrolado que emite poluentes para a atmosfera contendo, por
exemplo, dioxinas e furanos.

Os resíduos a céu aberto e as doenças relacionadas

Mencionar as doenças relacionadas aos resíduos sólidos urbanos é tarefa complexa, isto
porque muitos são os que correm risco, porém, a primeira população que deve ser considerada é
aquela que não dispõe de coleta domiciliar regular e que, ao se desfazer dos resíduos produzidos,
jogando-os no entorno da área em que habitam, passam a viver num meio ambiente arruinado em
virtude da presença de diversos vetores como fumaça, mau cheiro, transmissores de doenças,
animais que se alimentam dos restos numa convivência promíscua e insalubre no que se refere à
saúde.
Outra população sujeita à exposição dessa problemática é a de moradores do entorno dos
chamados lixões. Em geral, compõem esta população os segmentos mais necessitados da sociedade.
Todavia, dependendo das condições e localização das suas moradias, os riscos se alargam para as
populações próximas, nem sempre de baixa renda, seja pela abrangência dos efeitos do mau cheiro
e da fumaça, pela mobilidade dos vetores, bem como pela incursão de áreas avaliadas como mais
nobres, pelos resíduos arrastados pelas fortes chuvas, o que corrobora em condições favoráveis a
epidemias de leptospirose e dengue, por exemplo.
Entendendo-se que quanto maior o índice de doenças, maior a probabilidade de impactos
dos resíduos ao ambiente, permite-se considerar que diante do descrito, a principal dificuldade na
definição das populações exposta as implicações diretas ou indiretas do gerenciamento impróprio
dos resíduos sólidos urbanos consubstancia-se no fato de que os sistemas de informação e
monitoramento sobre saúde e meio ambiente não considerarem, em geral, o enfoque coletivo das
populações, não dispondo de dados epidemiológicos satisfatórios e confiáveis a respeito.
Em virtude disso, as pessoas que habitam no entorno de lixões sofrem de diversas doenças
ocasionadas (quadro 2) pela contaminação dos diversos tipos de resíduos, assim como pela poluição
do meio ambiente.

FORMAS DE
VETORES ENFERMIDADES
TRANSMISSÃO

Rato e pulga Mordida, urina, fezes e picada. Leptospirose

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 594


Amebíase, Giardíase Febre Tifóide,
Mosca Asas, patas, corpo, fezes e saliva.
Ascaridías e Cólera.
Malária, Febre Amarela, Dengue e
Mosquito Picada
Leishmaniose.

Barata Asas, patas, corpo e fezes Febre Tifóide, Cólera, Giardíase.

Gado e Porco Ingestão de carne contaminada Teníase

Cão e Gato Urina e fezes Toxoplasmose

Quadro 2. O Lixo e as Doenças.


Fonte: Manual de Saneamento – Funasa /MS 1999.

Além dos riscos elencados, outros que as populações que habitam no entorno dos lixões são
vulneráveis, refere-se aos resíduos advindos dos metais, como restos de tintas, solventes, aerossóis,
produtos de limpeza, lâmpadas fluorescentes, medicamentos vencidos, pilhas e outros que contêm
significativa quantidade de substâncias químicas nocivas a saúde dessas pessoas e ao meio
ambiente.
Diante desse enfoque, o Quadro 3 apresenta alguns exemplos de resíduos perigosos, que
devem ser dispostos apropriadamente visando evitar riscos ao homem e ao meio ambiente:

METAL
ONDE É ENCONTRADO EFEITOS
PESADO
Produtos farmacêuticos; Distúrbios renais; Lesões neurológicas; Efeitos mutagênicos;
Lâmpadas fluorescentes; Alterações do metabolismo Deficiência nos órgãos sensoriais
Mercúrio Interruptores; Pilhas e baterias; Irritabilidade; Insônia; Problemas renais; Cegueira, surdez e
Tintas; Fungicidas e Morte.
Termômetros.
Baterias e pilhas; Plásticos; Dores reumáticas; Distúrbios metabólicos; Osteoporose e
Cádmio
Pigmentos e Papéis. Disfunção renal.
Tintas; Impermeabilizantes; Perda de memória; Dor de cabeça; Anemia e Paralisia.
Chumbo Cerâmica; Vidro; Inseticidas e
Baterias.
Quadro 3. Principais Efeitos de Resíduos Perigosos na Saúde Humana.
Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e Compromisso Empresarial para a Reciclagem – Cempre
(2000).

As consequências da exposição prolongada do homem a essas substâncias ainda não são


universalmente conhecidas pela literatura. No entanto, o IDEC (2010) afirma que testes em animais
mostraram que os metais pesados causam sérias alterações no organismo, como o aparecimento de
câncer, deficiência do sistema nervoso e imunológico, distúrbios genéticos, dentre outros, que não
sendo adequadamente manejados, contaminam o solo, as águas e o ar.

Resíduos dispostos a céu aberto e poluição dos recursos hídricos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 595


Por poluição, compreenda-se a contaminação de recursos hídricos por substâncias que
podem ser classificadas como nocivas ou danosas aos organismos e plantas, bem com pelas
atividades antrópicas ocasionadas. Neste enfoque, possibilita-se afirmar que o lençol freático é
muito contaminado por produtos provenientes não só da agricultura, como do lixo que não tem sido
tratado de forma adequada pelos governantes e a sociedade em geral, Quanto melhor a qualidade
dos recursos hídricos, menor a propensão de impacto ambiental e mais favoravelmente é avaliada
esta variável.
Problemática universal, afeta globalmente todas as pessoas e nações, sendo as mais
prejudicadas as subdesenvolvidas e, portanto, as mais susceptíveis a falta de infraestrutura, como
saneamento básico, por exemplo, em que a ausência na maioria das cidades brasileiras, conduz a
uma situação conflitante e que demanda soluções urgentes e eficazes. São características de
poluição hídricas: presença nas águas de cheiro forte provocada pelas substâncias químicas;
presença de cores variadas, como amarelo, verde ou marrom e presença de gosto diferente por causa
das substâncias tóxicas.
Neste enfoque, possibilita-se afirmar que as substâncias que se misturam na água são
chamadas de agentes poluentes que ocasionam muito mal aos seres vivos. São agentes poluentes da
água: esgotos das cidades, eliminados em rios e mares; detritos domésticos, lançados em rios,
riachos, lagos, etc.; elementos sólidos, líquidos e gasosos; óleo e lixo que os navios lançam nos
mares.
Ressalte-se neste argumento não confundir água poluída com água contaminada, razão pela
qual se explica: água Contaminada é aquela que transmite doenças, pois além de conter micro-
organismos contem ainda restos de animais, larvas e ovos de vermes. Já a Água Poluída é aquela
que possui cheiro forte, cor bem escura, que alterou suas características naturais, isto é, deixou de
ser pura e saudável para os seres vivos.
Mencionadas essas características se percebe a seriedade da problemática ocasionada pela
poluição. Porém ainda se faz necessária frisar que na ótica econômica, a poluição da água é tida
como uma alteração da qualidade, que atinge o bem-estar do consumidor e diminui os lucros do
produtor, exigindo-se com isso melhorias nesses níveis de poluição. Num contexto ambiental, a
poluição da água afeta diretamente o meio ambiente e indiretamente o ser humano.
Como agente de transmissão de doenças, a poluição ocasiona sérios prejuízos à saúde do
homem, dentre as quais, a febre tifoide, cólera, disenteria, meningite e hepatite A e B.
A avaliação da qualidade da água de um corpo hídrico, no âmbito de sua área de drenagem,
é de fundamental importância para traçar diretrizes que visam a sua adequação frente aos requisitos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 596


de qualidade para usos específicos definidos nos processos de enquadramento estabelecidos na
Resolução CONAMA N. 357/2005 (CONAMA, 2005).
Sabendo-se que a água é um recurso natural de valor econômico, estratégico e social, além
de ser essencial para a existência e bem-estar do homem e a manutenção dos ecossistemas do
planeta; a destruição do meio ambiente agrupada à ocupação irracional sobre os mananciais, onde a
água brota, está transformando rios e reservatórios, estratégicos para a vida animal e vegetal, em
canais de detritos industriais e domésticos. Uma das causas mais graves para esse problema tem
sido a poluição provocada, principalmente, por lixo.
A poluição vai existir toda vez que resíduos (sólidos, líquidos ou gasosos) produzidos por
micro-organismos, ou lançados pelo homem na natureza, forem superior à capacidade de absorção
do meio ambiente, ocasionando alterações neste equilíbrio.
Neste contexto, permite-se afirmar que a poluição é principalmente produzida pelo homem e
está diretamente relacionada com os processos de industrialização e a consequente urbanização da
humanidade. Os agentes poluentes são os mais variáveis possíveis e são capazes de alterar a água, o
solo, o ar, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Problemática ambiental grave nos últimos anos, o destino do lixo tem sido foco de debate
em todos os setores das administrações públicas brasileiras, isto porque o amontoamento de
resíduos vem aumentando e provocando implicações cada vez mais catastróficas ao meio ambiente
e à saúde pública em todos os Estado brasileiros.
Pode-se afirmar que o lixo constitui questão sanitária grave na maioria dos municípios
brasileiros, que ainda utilizam vazadouros a céu aberto, visivelmente, sobrepujando ou ameaçando a
habilidade de auto-regeneração do sistema água-solo-ar, corroborando um grau de poluição e
degradação ambiental aglomerado, maléfico à vida, à saúde e à economia da população, que reage,
cobrando, pelas vias disponíveis, as contrapartidas devidas, além de mais responsabilidade e
eficiência dos gestores públicos.
Nesse sentido, tem-se como destaque a aprovação e consolidação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, que em sintonia com suas diretrizes, princípios, conceitos e abordagens
complementares por tecnologias ambientalmente saudáveis, prevenindo riscos e estabelecendo
indicadores de desempenho. É uma importante ferramenta de gestão para promover a conservação e
preservação ambiental, tendo em vista a possibilidade de estabelecer a integração de municípios na
gestão dos resíduos e responsabilizar toda a sociedade pela geração de lixo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 597


No que se referem aos resíduos dos serviços de saúde, estes ocupam um lugar de destaque,
neste estudo, pois merecem atenção especial em todas as suas fases de manejo (segregação,
condicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final) em decorrência
dos imediatos e graves riscos que podem oferecer, por apresentarem componentes químicos,
biológicos e radioativos. Sem tratamento e local correto para disposição, geralmente os resíduos dos
serviços de saúde são dispostos nos lixões a céu aberto, que na maioria das vezes permanece sem
ser queimado por completo, o que corrobora numa situação ambiental complexa e perigosa do
ponto de vista que esses resíduos são altamente contagiosos para a saúde humana.
É tarefa, tanto do Poder Público como da sociedade organizada, incitar debates que
conduzam à mudança de hábitos de consumo, sensibilizando-as aos problemas e reagindo
positivamente ao convite de participar de programas de melhoramento da qualidade ambiental, haja
vista que além de ressaltar seus valores e práticas, cabe ainda aos cidadãos a ação de pressionar
governos e empresariado na fixação de metas e estratégias para que, num horizonte pequeno,
garantir um protótipo de produção e consumo em que as condições de reprodução da vida na Terra
estejam asseveradas, com oportunidades equitativas para todos, num ambiente compensatório e
benéfico.
Ademais, medidas como coleta seletiva, implantação de aterro sanitário, extinção dos
chamados lixões, reciclagem, dentre outras são, sobretudo, medidas secundárias no contexto da
produção - consumo. Isto porque o maior problema está na origem da cadeia de valor, logo, os
geradores, que somos todos nós, devemos ser conscientes e ter em mente que é cogente diminuir o
consumo supérfluo, evitando desperdícios, separar o material reciclável na origem (residência,
indústria, comércio), reaproveitando os produtos ao máximo para que o exercício do consumo
consciencioso seja uma alternativa viável e eficaz. Para tanto, é de fundamental seriedade a tomada
de consciência de que os atuais níveis de consumo dos países industrializados não podem ser
conseguidos por todos os povos que habitam na Terra e, muito menos, pelas gerações futuras, sem
destruição do capital natural.
Neste enfoque, o adequado gerenciamento dos resíduos sólidos tem uma relação com o
processo de conscientização da população quanto aos padrões de consumo, da seriedade e do
reaproveitamento dos múltiplos materiais e da prática da coleta seletiva. Assim sendo e diante dos
desafios ambientais, faz-se necessário e imprescindível o emprego de novas formas de avaliação
dos impactos ambientais, podendo-se para tanto, apoiar-se em métodos e ferramentas para
assessorar na resolução de problemas de gestão e na exposição de resultados, em que a mensuração
periódica de determinantes ambientais das cidades pode auxiliar na preparação de leis, metas e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 598


estratégias de ações públicas, bem como no fortalecimento de organizações comunitárias e
ambientais e no aperfeiçoamento dos serviços públicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: resíduos sólidos. Classificação.
Rio de Janeiro – ABNT, 2004.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ministério do Meio Ambiente. "Dispõe sobre
o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências.‖,
Resolução 358, de 29/04/2005 - DOU 04/05/2005.

GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e sua História: Guia para as prefeituras brasileiras. Interciencia, 2a.
ed. Sao Paulo: 166 p., 2006.

GRIMBERG, E. (ORG); BLAUTH, P. (ORG) Coleta seletiva: reciclando materiais, reciclando


valores. n 31. São Paulo: Pólis, 1998.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008). Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/PB.pdf>. Acesso em: 02
Mar. 2013.

IDEC. Lixo. Disponível em: www.idec.org.br/biblioteca/mcs_lixo.pdf Acesso em 11/03/2010.

IPT/CEMPRE. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo, 2000.

MOREL, M.M.O.; BERTUSSI FILHO, L.A. Resisduos de serviços de saúde. In: RODRIGUES,
E.A.C. et. al. Infecções Hospitalares: prevenção e controle. São Paulo: Savier, 1997.

MUCELIN, Carlos Alberto, BELLINI, Marta.rbage and perceptible environmental impacts in


urban ecosystem. , Sociedade e Natureza. (Online), 2008, vol.20, no.1, ISSN 1982-4513.
Similarity: 0.395305. SciELO Brasil. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1982-45132008000100008&script= sci_arttext>. Acesso
em: 10 abr. 2009.

NBR10004/2004 ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: resíduos sólidos.
Classificação. Rio de Janeiro – ABNT, 2004.

OLIVEIRA. Artur Santos Dias de. Método para a viabilização da implantação de plano de
gerenciamento integrado de resíduos sólidos: o caso do município do Rio Grande – RS. Tese de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 599


Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de Produção. Florianópolis, abril de 2002.

SILVA, Heliana Vilela de Oliveira. O uso de indicadores ambientais para aumentar a efetividade
da gestão ambiental municipal [Rio de Janeiro] 2008 XVII, 359 p. 37,0 cm (COPPE, D.Sc.,
Planejamento Energético, 2008) Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ.

SUBERKEROPP, K.F.; KLUG, M.J. Microbiol Ecology. 1974, 1: 96-123

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 600


USO DA CASCA DA BANANA NATURAL NA REMOÇÃO DE CHUMBO PARA
REMEDIAÇÃO DE EFLUENTES AQUOSOS A PARTIR DO PROCESSO DE
ADSORÇÃO

Wanessa Alves MARTINS


Bacharel em Engenharia Ambiental
wanessa_ufcg@hotmail.com

Andréa Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA


Engenharia Química, Professora Doutora, Unidade Acadêmica de Ciências e Tecnologia
Ambiental, UFCG, Pombal, PB
andrea.maria@ufcg.edu.br

Carlos Eduardo Pereira de MORAIS


Aluno do Curso de Engenharia Ambiental, Unidade Acadêmica de Ciências e Tecnologia
Ambiental, UFCG, Pombal, PB
carlospereira.sjp@gmail.com

Uigno Jefsson de Sousa BISPO


Aluno do Curso de Engenharia Ambiental, Unidade Acadêmica de Ciências e Tecnologia
Ambiental, UFCG, Pombal, PB
wigno15@hotmail.com

RESUMO
Neste trabalho avaliou o potencial adsortivo da casca da banana na remoção de chumbo em
efluentes. Inicialmente foi preparado o adsorvente e adsorvato, em seguida as amostras foram
caracterizadas pelas técnicas FTIR, MEVe TG/DSC. Foram observados os grupos funcionais
presentes na casca da banana como a lignina, celulose e hemicelulose. Os melhores resultados de
adsorção ocorreram à 50 °C com aproximadamente 99,6%. Dessa forma foi possível concluir que a
casca da banana além de ser um bom adsorvente natural tem viabilidade para ser utilizado como
material alternativo pelo seu baixo custo, facilidade de manuseio e seletividade.
Palavras-Chave: adsorção, íon metálico, biossorção.

ABSTRACT
In this research, the potential adsorption of banana peel was evaluated for removal of ion lead in
wastewater. Initially was prepared the adsorbent and adsorbate, subsequently all samples were
characterized by techniques FTIR, MEV and TG/DSC. Functional groups present on banana peel
as lignin, cellulose and hemicellulose were observed. Adsorption best results occurred at 50 ° C
with approximately 99.6%. Thus it was concluded that the banana peel besides being a natural
adsorbent has good feasibility to be used as an alternative material for its low cost, ease of handling
and selectivity.
Keywords: adsorption, metal ion, biosorption.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 601
INTRODUÇÃO

A preservação do meio ambiente e de seus recursos naturais é necessário para a permanência


da vida em nosso planeta. Essa preservação está suportada em coluna como o não desperdício dos
bens naturais e a adequação da atividade humana no sentido de reduzir as quantidades de resíduos
gerados em seus processos produtivos. A atividade industrial é responsável por gerar um volume
significativo de resíduos contendo diversas espécies nocivas à saúde humana e ao ambiente.
Geralmente, esses resíduos são líquidos e necessitam de tratamento antes de serem despejados nos
corpos hídricos e/ou nos solos. Entre as espécies de maior importância toxicológica presentes nos
efluentes industriais estão os metais tóxicos. Esses poluentes não se degradam pela ação do tempo
sendo bioacumulados em organismos vivos, podendo causar graves danos à saúde humana
(VAGHETTI, 2009).
De acordo com as normas vigentes o lançamento de quaisquer resíduos só poderá acontecer
desde que atendam ás condições dispostas na resolução. Para que as indústrias possam atender as
normas estabelecidas pelas leis ambientais e minimizar os impactos gerados aos ecossistemas,
vários métodos de tratamento de efluentes podem ser empregados (THEODORO, 2010).
Um método versátil e eficaz na remoção de metais pesados tóxicos em solução aquosa é a
adsorção (SILVA, 1995; FOLEGALTI, 2004). Os adsorventes mais utilizados na remoção de vários
compostos orgânicos e íons metálicos são de alto custo e/ou de natureza impactante com relação ao
meio ambiente. Desta forma a busca de novos materiais alternativos de baixo custo, de fonte
renovável, de fácil manuseio, de alta eficiência e menor impacto ambiental quando descartados são
extremamente almejados (CRUZ, 2009).
Diante desta necessidade surgem os biossorventes originários de restos do setor
agroindustrial para remediação de efluentes contaminados solucionando ao mesmo tempo os
problemas de destinação dos resíduos agroindustriais e a redução de custos para a descontaminação
de efluentes carregados com íons metálicos tóxicos (VAGHETTI, 2009).
Desta forma o objetivo deste trabalho é avaliar o capacidade de adsorção da casca da banana
(musa ssp) in natura na remoção de chumbo em efluentes.

MATERIAL E MÉTODOS

Material e substâncias químicas

 Farinha da casca da banana (musa ssp) obtida na região de Pombal –PB;


 Nitrato divalente hidratado de chumbo (Merk) sem purificação prévia;
 Hidróxido de sódio (Merk)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 602


 Ácido Clorídrico (Merk)
 Nitrato de sódio (Carlos Erba)
 Cloreto de Sódio P.A. (Merk)
 Água deionizada

Parte Experimental – experimentos de adsorção

Adsorvato

A solução metálica de chumbo foi obtida através da dissolução do sal de nitrato de chumbo
em água deionizada. Fora preparado 1,0 dm3 da solução de nitrato de chumbo na concentração de
0,01 mol/dm3.

Adsorvente

O material adsorvente utilizado em todos os experimentos de adsorção foi à farinha da casca


da banana obtida na condição otimizada de secagem (65°C e 2,0 m s-1). Na temperatura de 65 °C
tem-se assegurado as propriedades da casca da banana evitando a perda de massa podendo ser
verificado na análise térmica. As cascas da banana foram coletadas na Indústria de Doce Campo
Verde localizada na cidade de Pombal - PB.
As cascas coletadas foram lavadas com água corrente e cortadas em pedaços de
aproximadamente 5 cm de comprimento. Em seguida o material foi posto para secar ao sol,
totalizando 20 horas e posteriormente transferido para estufa de secagem com circulação de ar com
temperatura de 65ºC, totalizando 24 horas. Após a secagem o material fora triturado em moinho de
facas e peneirado para obtenção de frações composta de partículas com tamanho entre 0,15 a 1,18
mm.

CARACTERIZAÇÃO

Espectroscopia de absorção na região do infravermelho

A espectroscopia no infravermelho buscou determinar as frequências de vibrações dos


grupos funcionais presentes na farinha da casca da banana na faixa de comprimento de onda de
4000 a 400 cm-1. A amostra do adsorvente foi previamente seca em estufa a 65 ± 2°C e analisada
com tamanha de partícula ≤ 0,15 mm. A análise foi realizada em espectrofotômetro infravermelho
com transformada de Fourier ((FTIR) da marca Bomem, modelo MB – 100). A aquisição dos
espectros foi feita com a resolução de 4 cm-1, com um número de 30 acumulações utilizando
pastilhas de KBr com 1% em massa da amostra.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 603


A partir do espectro no infravermelho obtido para a farinha da casca da banana pode-se
identificar a presença de bandas características de ligações de certos grupos funcionais presentes no
material. Como cada composto fornece uma banda em uma determinada frequência de onda, a
análise do espectro é realizada por comparação com dados tabelados, permitindo obter informações
estruturais da farinha da casca da banana.

Microscopia eletrônica de varredura

A análise foi realizada após a secagem da farinha da casca da banana em estufa 65±2°C. A
Microscopia Eletrônica de varredura permite a análise de superfície possibilitando a análise de
falhas e o mapeamento químico de superfícies.
As imagens de microscopia de varredura foram obtidas em microscópio eletrônico de
varredura após a metalização das amostras em ouro e paládio usando o microscópio JEOL T-300. A
microscopia eletrônica de varredura (MEV) buscou investigar a morfologia superficial da farinha da
casca de banana.

Análise termogravimétrica

A análise foi realizada após secagem da farinha da casca de banana em estufa 65 ±2 °C. A
farinha da casca da banana pura foi caracterizada por análise termogravimétrica. As curvas
termogravimétricas (TG) foram obtidas em uma termobalançada marca Du Pont 951, interfaciada
ao computador Du Pont, modelo 9900, sob razão de aquecimento programada em 10 K min -1, numa
atmosfera de nitrogênio na faixa de temperatura de 300 - 1239 K.
As técnicas termoanalíticas são métodos que permitem estabelecer a função entre
propriedades físicas e químicas de uma substância ou mistura em relação à temperatura ou tempo,
quando submetida a temperaturas controladas.
A análise termogravimétrica (TG/DSC) avalia a perda de massa de uma amostra em atmosfera
controlada em função da temperatura ou do tempo. Essa análise permite determinar a pureza e a
quantidade de água, fornecendo ainda informações sobre a estabilidade térmica, velocidade de
reação e composição da amostra.

Determinação das isotermas de troca iônica na farinha da casca da banana

Isoterma de Tempo

Utilizou-se o método de batelada para a obtenção da isoterma de tempo em meio aquoso a


fim de se fixar o tempo máximo de contato para maior adsorção do íon metálico. A isoterma fora
obtida pelo contato de 1g do sólido, medidas em balança analítica Shimadzu modelo AUY 220
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 604
sensibilidade 0,0001 g, suspensas em 20,0 cm3 da solução aquosa do íon metálico de 0,01 mol/dm3.
A suspensão a 298,15 K foi, então, mecanicamente agitada na incubadora tipo shaker da marca
SOLAB modelo SL 222 com rotação de 180rpm em tempos variados. Após os tempos pré-
estabelecidos, as suspensões foram filtradas e as alíquotas do sobrenadante foram removidas, com o
auxílio de uma pipeta, sendo a quantidade do cátion metálico determinados através do
espectrofotômetro de absorção atômica da marca GBC modelo 908 AA. Assim pode-se determinar
a quantidade de cátion trocado (Nf) por grama de farinha de casca de banana pela diferença entre a
quantidade de cátion inicial (Ni) e aquela presente após o equilíbrio (Ns) conforme a equação
abaixo.

(Ni  N s )
Nf 
m
Isoterma de concentração

Estabelecido o tempo da reação e dosagem do sólido, a influência da concentração do cátion


metálico foi avaliada, adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo, utilizando
concentrações crescentes do cátion metálico na faixa entre 10-3 a 10-2 mol.dm-3 em três temperaturas
27, 40 e 50 °C.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização das amostras

Análise por espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier

A capacidade de remoção de metais pela casca de banana depende da composição química


da sua superfície, onde alguns grupos funcionais ativos são responsáveis pela sorção. A Tabela 1
apresenta as atribuições das bandas características obtidas na faixa de 4000 a 400 cm-1 para a casca
da banana.

Frequência (cm-1) Grupos funcionais

3433,1 -OH, -NH


2927,7 -CH
2360,7 -CH
1654,3 -COO-, -C=O
1542,9 -COO-, C—C
1049,2 -C—O, -C—N, -P=O, -P—OH, P—O—C

Tabela 1- Frequência no infravermelho das bandas de alguns grupos funcionais presentes na casca de
banana. Fonte: Salvador, (2009).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 605
A espectroscopia no infravermelho das amostras da farinha da casca da banana encontra-se
apresentada na Figura 1. A análise visual dos espectros de FTIR permitiu a detecção de um
conjunto de variável de bandas espectrais de FTIR (15 a 20 bandas, 3000-600 ondas.cm-1) nas
amostras de farinha da casca de banana. Esse grande número de bandas no espectro sugere uma
natureza complexa de absorvente.
A análise do espectro na região do infravermelho do material FBN mostra diversos grupos
funcionais que sugerem a presença de celulose, lignina, ácido peptico, ácidos orgânicos pequenos,
ésteres amilícos e proteínas (CRUZ, 2009).
Observa-se também que o espectro de infravermelho revelou presença de bandas na região
de 3486 e 3286 cm-1 atribuídas a estiramentos vibracionais axiais dos grupos O-H característicos da
celulose, na região de 2967 e 2843 cm-1que podem ser atribuídas aos grupos CH-OH, -CH e –CH2
de grupos alifáticos característicos da estrutura da celulose e em 1730 cm-1é atribuída a vibração de
deformação axial de C=O de ácidos carboxílicos presentes na casca de banana (ácido péptico ou
-1
ácido cítrico) ou de ésteres. A banda intensa em 1641 cm pode ser atribuída a vibração de
estiramento do ânion -COO ou do grupo -C-O- de ésteres. A banda em 1104 cm-1 pode ser atribuída
-

ao estiramento ligado a grupos -S-OH ou -P=O. A banda em 884 cm-1 pode ser atribuída a
deformação de aminas.

Figura 1-Espectro de infravermelho da farinha da casca de banana.


Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

Análise termogravimétrica (TG)

A Figura 2 apresenta as curvas termogravimétricas (TG) e termogravimétricas derivadas


(DTG) para a farinha da casca da banana. Foi observada a ocorrência de três eventos principais. O
primeiro evento corresponde à perda de massa referente à perda da água absorvida do biomaterial
no intervalo de temperatura de 0 a 170 °C. No segundo evento ocorre à degradação da hemicelulose

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 606


e celulose, termicamente menos estáveis que a lignina e ocorre no intervalo de temperatura de 170 a
350°C. O terceiro evento corresponde à perda de massa com temperatura superior a 350°C, havendo
a quebra das ligações C-O e C-C, liberando CO e CO2, acima de 400 °C há a formação de uma
camada de grafite. Até 1500 C ocorre a liberação da água adsorvida, água estrutural e celulose entre
1500 e 2400 C, quebra das ligações C – O e C – C dentro do anel, liberando CO e CO2 entre 2400 e
4000 C acima de 400 0 C há a formação de uma camada de grafite (SOUSA et al, 2006).
Os eventos térmicos observados correspondem às perdas de massa indicadas nas curvas
TG/DTG e estão de acordo com aqueles apresentados na curva DSC nesta pode ser observado um
evento endotérmico entre 23 e 50°C, que começa haver a libertação de água de umidade. A partir de
50 °C observaram-se eventos caracteristicamente exotérmicos, onde ocorre a perda de toda a água
do biomaterial além do inicio da decomposição térmica do material que se complementa a partir de
400 0C.

Figura 2- Curvas das análises de TG e DSC da farinha da casca de banana.


Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

Tg com o Chumbo

A Figura 3 apresenta a análise termogravimétrica da casca da banana após o processo de


troca iônica. É possível observar que da mesma forma de identificou na casca da banana natural
com o chumbo, ocorreu três etapas de decomposição térmica, verificando que as curvas
termogravimétricas do material natural e do sólido com o cátion metálico apresentam perfis
semelhantes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 607


Figura 3-Curvas das análises de TG e DSC da farinha da casca de banana em contado com o Chumbo.
Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

Análise por microscopia eletrônica de varredura

As microscopias das amostras de farinha da casca da banana foram apresentadas na Figura 4.

Figura 4-Micrografia da farinha da casca de banana.


Fonte: Arquivo pessoal,2014.

Na figura acima foi ampliada 500 vezes, pode ser notada a estrutura fibrosa e irregular da
farinha da casca de banana natural (FBN) formando camadas sobrepostas de fibras, sendo possível
notar grãos menores agregados aos grupos maiores. A superfície irregular e a morfologia porosa
como podem ser vista na micrografia facilitam a adsorção de metais em solução aquosa, permitindo
uma boa remoção destes nas diferentes partes da FBN.
Para verificar a presença de íons de chumbo na farinha da casca de banana, após processo de
biossorção foram realizadas análises com o microscópio eletrônico de varredura (MEV), as
amostras apresentavam um tamanho de partícula de 250 mm. Pode-se observar uma ligeira redução
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 608
na quantidade de poros livres conforme observado figura 5, quando comparado a figura 4, isso se
deve a ocupação dos espaços porosos pela espécie metálica, o que induz que a farinha da casca de
banana, realmente tem bom potencial adsortivo para o metal pesquisado.

Figura 5- Micrografia da farinha da casca de banana em contato com o chumbo.


Fonte: Arquivo pessoal,2014.

Influência do tempo

A influência do tempo de contato entre o íon em solução e o adsorvente é de suma


importância para a eficiência do processo, sendo alcançado quando o sistema entra em equilíbrio.
Assim, o efeito do tempo de contato para a adsorção do íon Pb2+ na casca de banana pode ser
visualizada na Figura 6.
Observando a Figura referente à interação do sólido com o chumbo percebe-se que houve
uma rápida adsorção nos primeiro minutos, seguido por um gradual equilíbrio. Isso mostra que a
adsorção máxima para o Pb(II) ocorreu em 10 minutos e que quase não há retenção além desse
período. Assim, o tempo de reação de 10 minutos foi fixado como o tempo de equilíbrio ao longo
desse estudo.

Figura 6- Influência do tempo de contato na adsorção do chumbo pela farinha da casca de banana.
Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 609


Influência da concentração
Uma isoterma de adsorção mostra a relação de equilíbrio do adsorbato no adsorvente e na
solução em determinada temperatura e pressão. As isotermas de adsorção indicam como o
adsorvente efetivamente adsorverá a espécie de interesse, bem como apresentar uma estimativa
máxima da capacidade de adsorção.
Com o objetivo de conhecer a eficiência do adsorvente, foram determinadas as isotermas de
adsorção. Dessa forma, com o tempo de equilíbrio definido, foi possível construir essas isotermas e
calcular o percentual de cátion adsorvido pela casca da banana, em diferentes condições
operacionais. As isotermas de Pb (II) nas temperaturas 27, 40 e 50°C estão ilustrada na Figura 7.
Observou-se que as isotermas seguiram basicamente o mesmo comportamento crescente nas
três temperaturas estudadas. A capacidade máxima de adsorção de Pb (II) foi de aproximadamente
95,2; 98 e 99,6 % nas temperaturas de 27°C para T1, 40°C para T2 e 50 °C para T3,
respectivamente.
% de Remoção

T1
T2
T3

Concentração de Pb (mg L-1)

Figura 7-Isoterma de concentração do íon do chumbo com Ph 5.


Fonte:Arquivo pessoal,2014.

CONCLUSÃO

Nesse trabalho foram investigados os processos de troca iônica envolvendo a casca da


banana e o íon metálico Pb (II) em solução aquosa. Foi observado que diversos fatores
experimentais estão envolvidos neste processo de adsorção podendo destacar como fator primordial
o tempo de reação.
O tempo de 10 minutos para a remoção do Pb (II) foi escolhido por não apresentar uma
variação significativa após este tempo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 610


A caracterização da casca da banana foi realizada através do espectro no infravermelho
(FTIR), onde apresentou grupos funcionais comuns à celulose, hemicelulose e lignina presentes na
casca da banana.
A termogravimetria (TGA) e termogravimetria derivada (DTG) demonstraram a ocorrência
de três estágios de perda de massa relativos à umidade, hemicelulose e lignina.
A casca da banana demonstrou ser um bom adsorvente natural para o íon metálico
investigado com ótima capacidade de remoção do metal, se mostrando atrativo por se tratar de um
subproduto agroindustrial tendo em vista sua facilidade de manuseio, baixo custo e seletividade.
Portanto, este biossorvente pode ser utilizado como material alternativo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, M.A.R.F. da.,Utilização da casca de banana como biossorvente.2009. 74f. Dissertação


(Mestrado em Química dos Recursos naturais)-Universidade Estadual de Londrina, Londrina-
PR.

FOLEGATTI, M. I. S., et al. Banana processamento. Embrapa mandioca e fruticultura tropical,


2004. Disponível em:<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/Livro Banana
_Cap_13IDPA3643xufd.pdf>. Acesso em: 12 de Julho de 2014.

MOREIRA, D. R. Desenvolvimento de adsorventes naturais para tratamento de efluentes de


galvanoplastia. 2010,79f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia de Materiais),
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2010.

SALVADOR, G. Estudo da adsorção de cobre (II) usando como adsorvente pó da casca de coco
verde ativada com hidróxido de sódio.Universidade Federal De Santa Catarina, 2009. 40f.

SILVA, C. A. B. Produção de banana-passa: perfis agroindustriais. Viçosa:

Fundação Arthur Bernardes / Universidade Federal de Viçosa /Ministério da Agricultura do


Abastecimento e da Reforma Agrária, 1995.

SOUSA, E.; RAMBO, C.R.; MONTEDO, D.H.; OLIVEIRA, A.P.N. Vitrocerâmicas porosas do
sistema LZSA utilizando resíduos orgânicos como agentes formadores de poros. Exacta, v. 4, p.
289-296, 2006. Disponível em:
http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/exacta/exactav4n2/exactav4n2_3f04.pdf> acesso em
03/07/2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 611


THEODORO, P. S.,Utilização da eletrocoagulação no tratamento de efluentes da indústria
galvânica. 2010.112f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química)- Universidade Estadual
do Oeste do Paraná, Toledo – PR.

VAGHETTI,J.C.P., Utilização de Biossorvente para remediação de efluentes aquosos


contaminados com íons metálicos. 2009. 99f. Tese (Doutorado em Química)-Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 612


POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE REFRIGERAÇÃO DE
DESTILADOR DE ÁGUA LABORATORIAL

David Benner da SILVA


Graduando do Curso de Engenharia Civil da UFERSA
davidbenner1@hotmail.com

Solange Aparecida Goularte DOMBROSKI


Professora Adjunta da UFERSA
solangedombroski@ufersa.edu.br

RESUMO
Frente ao cenário de escassez hídrica, torna-se clara a importância do desenvolvimento de ações
visando a conservação de água. Entre as ações de conservação da água está o reuso, o qual
possibilita reaproveitar, para outros fins, a água já utilizada. Neste contexto, o presente trabalho teve
como objetivo geral avaliar o potencial de aproveitamento da água de refrigeração de um destilador
de água em uso em um laboratório da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O trabalho foi
desenvolvido em duas etapas: (i) medição do volume de água de refrigeração do destilador e do
respectivo volume produzido de água destilada e monitoramento físico-químico dos três fluxos de
água em questão (água de entrada, água descartada e água destilada) e (ii) proposição de uma
instalação para reuso da água de refrigeração. Foi observado que: o valor médio do volume de água
descartada (126,6 L/h) foi superior ao consumo de água (80 L/h) especificado tanto no catálogo
quanto no manual do usuário do equipamento; o valor médio de produção de água destilada (2,9
L/h) foi inferior à capacidade deste destilador (5 L/h) especificado no catálogo do equipamento; em
média, para cada litro produzido de água destilada foram gastos 44 L de água. Com base nos
parâmetros físico-químicos monitorados (temperatura, pH, CE, SDT, turbidez e cor aparente),
entende-se que a água de saída do destilador de água, após perda de calor, pode ser reusada para
lavagem de vidraria, limpeza em geral da edificação e rega de plantas. Para possibilitar o reuso da
água descartada do destilador de água estudado, é indicada uma instalação composta basicamente
por dois reservatórios (um inferior e outro superior) e um conjunto moto-bomba. A capacidade de
reservação projetada foi de 710 litros.
Palavras-chave: Uso racional de água. Reuso de água. Destilador de água. Instalação de reuso de
água de destilador.

ABSTRACT
Under a water scarcity scenario, it becomes clear the importance of developing actions aimed at
conserving water. Among the actions for water conservation, it is reuse, which enables the use of
the wastewater for other purposes. In this context, the present work had as a main objective to

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 613


evaluate the potential use of the cooling water from a water distiller in a Universidade Federal Rural
do Semi-Árido laboratory. Therefore, this study was conducted in two steps: (i) measuring the
volume of cooling water and distilled water, and physical-chemical monitoring of the three water
flows (input water, cooling water outlet (wastewater) and distilled water outlet) and (ii) proposing a
reuse installation for the cooling water. It was observed that: the mean volume of wastewater (126.6
L/h) was higher than that (80 L/h) specified in both the catalog and the equipment's user manual;
the average volume of distilled water produced (2.9 L/h) was lower than the capacity (5 L/h)
specified in the catalog; on average, for each liter of distilled water produced it was spent 44 liters
of water, which is higher than in other studies. Based on the monitored physico-chemical
parameters (temperature, pH, EC, TDS, turbidity and apparent color) the waste water, after heat
loss, can be reused for glassware washing, general cleaning of the building and irrigating. For the
wastewater reuse it is indicated an installation composed basically by two reservoirs (one higher
and one at ground level), and a water pump. The projected capacity of reservation was 710 liters.
Keywords: Rational use of water. Water reuse. Water distiller. Water distiller reuse facilities.

INTRODUÇÃO

Por outro lado, em algumas regiões do mundo vem se configurando cenários de escassez
hídrica, seja pela demanda crescente por água, seja pela deterioração da qualidade de mananciais de
água em função da poluição, o que, algumas vezes inviabiliza o aproveitamento de uma
determinada fonte de água. Para SABESP (2014), o alto crescimento das cidades, em decorrência
do êxodo rural, contribuiu para a água se tornar um recurso natural ainda mais escasso. Outras
contribuições para o quadro de escassez são a poluição dos recursos hídricos, ocasionando a
diminuição da qualidade da água para outros tipos de usos, e também o incremento na melhoria do
bem-estar da população que está diretamente relacionado com o aumento do consumo individual de
água, com o acréscimo de mais equipamentos domésticos (lava-louça, jatos d'água etc) que
necessitam de água para o funcionamento (SABESP, 2014).
A UN (2012, p.1) salientou que ―a retirada global de água de aquíferos e bacias
hidrográficas triplicou nos últimos 50 anos‖. Para este autor, o estresse hídrico está aumentando
rapidamente. Atualmente, 1,6 bilhão de pessoas vivem em região com escassez absoluta de água, e
possivelmente até 2025, dois terços da população mundial pode ser afetada por essa situação (UN,
2012).
MMA et al. (2007) ressaltaram a posição privilegiada do Brasil no mundo, em relação à
disponibilidade de recursos hídricos. A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de
cerca de 180 mil m³/s. Este valor corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade mundial

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 614


de recursos hídricos, que é de 1,5 milhões de m³/s (SHIKLOMANOV, 1988 apud MMA et al.,
2007). Entretanto, apesar do País possuir um dos maiores patrimônios hídricos do planeta, ainda
enfrenta problemas de escassez, pela má distribuição da água no seu território, considerando a
população em cada região (COSTA, 2010).
Sob diferentes perspectivas, torna-se clara a importância do desenvolvimento de ações
visando a conservação de água. Esta, por sua vez, pode ser atribuída às ações que favoreçam a
economia da água nos distintos sistemas de uso de água (sistemas públicos de abastecimento
humano de água, sistemas de irrigação, sistemas prediais de água, entre outros) e,
consequentemente, nos mananciais. Para Borges (2003), as ações de conservação podem ser de uso
racional de água e/ou a utilização de fontes alternativas. O uso racional da água envolve o combate
ao desperdício da água através de detecção e correção de vazamentos, uso de aparelhos
economizadores de água, sistemas de medição individualizada, entre outros (Ibid.). Quanto ao uso
de fontes alternativas, este significa buscar fontes diferentes ao sistema público de abastecimento,
como, por exemplo, a água da chuva, a água cinza, a água subterrânea, entre outras (Ibid.). Salienta-
se que alguns autores consideram que o uso racional da água pode incluir tanto o uso eficiente
quanto o uso de fontes alternativas de água (GONÇALVES; JORDÃO, 2006. CETESB, 2014).
Assim, uma forma de contribuir para a conservação de água é a prática de reuso, já que, a
água a ser reusada apresenta-se como uma fonte alternativa, possibilitando a minimização de
retirada de água dos mananciais. O reuso possibilita reaproveitar, para outros fins, a água já
utilizada. Segundo CETESB (2014), grandes volumes de água potável podem ser poupados pelo
reuso quando se utiliza água de qualidade inferior para atendimento das finalidades que podem
prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade.
No âmbito de laboratórios, diferentes equipamentos podem ser utilizados. Dentre estes,
alguns são considerados como agente de alto consumo de água, como por exemplo, equipamentos
purificadores de água, entre os quais estão os destiladores de água. De acordo com Nunes et al.
(2006), em um destilador de água, apenas uma pequena parte do montante de água se transforma em
água destilada, o resto é usado somente para o resfriamento, sendo totalmente descartado. Em
estudo desenvolvido por Marsaro e Guimarães (2007), as autoras observaram que para produzir 1
litro de água destilada, eram desperdiçados 21 litros de água.
Como medidas de racionalização, algumas universidades implantaram sistemas de
reutilização da água desperdiçada nos destiladores em laboratórios. Na Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) foi desenvolvido um sistema de reaproveitamento da água de refrigeração do
destilador estudado que consistia em levar a água para um reservatório localizado na parte externa
ao laboratório, a partir do qual, uma bomba de baixa potência elevava a água até a torneira para

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 615


assim ser reutilizada na lavagem de pipetas (MARSARO; GUIMARÃES, 2007). Para a
Universidade de São Paulo (USP), foram criadas algumas propostas de diminuição de perda de água
decorrente do processo de destilação (SILVA, 2004). Entre tais propostas, estava a denominada
Reciclador, um equipamento de fibra de vidro no qual a água é resfriada através de um sistema
equivalente a uma torre de resfriamento, em seguida, a água é armazenada em um reservatório e
depois é bombeada novamente para os destiladores, podendo acrescentar um filtro após o
bombeamento (SILVA, 2004). Marisco et al. (2014) verificaram que os efluentes de destiladores
podiam ser reutilizados nas próprias instalações dos laboratórios estudados.
Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo geral avaliar o potencial de
aproveitamento da água de refrigeração de um destilador de água em uso no Laboratório de
Saneamento da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), campus Mossoró.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) foi criada em 29 de julho de 2005


por meio da Lei n° 11.155 a partir da antiga Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM),
tendo como principal objetivo ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas do
conhecimento e promover atividades de extensão universitária (LUNARDI, et al., 2013). A
UFERSA, campus Mossoró, localiza-se no Km 47 da BR 110, na Avenida Francisco Mota, 572.
Bairro Presidente Costa e Silva, Mossoró, RN. Atualmente a UFERSA-Mossoró conta 21 cursos de
graduação (UFERSA, 2014a), dois cursos de especialiação (UFERSA, 2014b) e 12 programas de
pós-graduação (UFERSA, 2014c). No segundo semestre letivo de 2013, sua população total era de
6.515 pessoas entre professores efetivos (512 pessoas), professores substitutos e temporários (29
pessoas), técnicos administrativos (479 pessoas), alunos de graduação (4.664 pessoas) e de pós-
graduação (527 pessoas), trabalhadores de empresas terceirizadas (261 pessoas), trabalhadores do
restaurante universitário (12 pessoas), lanchonetes (11 pessoas), fotocopiadoras (8 pessoas) e da
Caixa Econômica Federal (12 pessoas).
O Laboratório de Saneamento da UFERSA-Mossoró no qual o presente estudo foi
desenvolvido, localiza-se no campus leste, no prédio Engenharias II. Atualmente, o mesmo é um
dos laboratórios de apoio ao ensino de conteúdos profissionalizantes do curso de Engenharia Civil
(UFERSA, 2012). A Figura 1 apresenta vistas do referido laboratório. A Figura 2 apresenta um
esquema de um destilador de água tipo Pilsen, da marca Marte, modelo MB 1005, que é um dos
equipamentos utilizados no Laboratório de Saneamento.
A partir de consultas ao Catálogo (MARTE, s.d. a) e ao manual do usuário (MARTE, s.d. b)
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 616
do destilador utilizado no Laboratório de Saneamento, foram observadas as seguintes
especificações: pureza da água abaixo de 5 µS; totalmente em inox; capacidade 5 L/h; consumo
3500W; tensão 220V; consumo de água aproximado de 80 L/h; corrente 16A; desligamento
automático na falta de água e resistência tubular em inox blindada.

Figura 1 - Vistas do Laboratório de Saneamento da UFERSA-Mossoró, em fevereiro de 2014

Figura 2 - Esquema do destilador de água utilizado no Laboratório de Saneamento da UFERSA-Mossoró


Legenda: 1. Entrada de água do nível; 2. Sensor de nível de água; 3. Saída de água do nível; 4. Saída de água
da cluna de condensação; 5. Chave liga-desliga; 6. Lâmpada piloto; 7. Entrada de água; 8. Bico coletor de
água destilada. Fonte: Marte (s.d. b).

Desenvolvimento da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas principais: (i) medição do volume de água de
refrigeração do destilador e do respectivo volume produzido de água destilada e monitoramento
físico-químico dos três fluxos de água em questão (água de entrada, água descartada e água
destilada) e (ii) proposição de uma possível instalação padrão para reuso da água de refrigeração do
destilador.
Durante a primeira etapa foram realizados sete monitoramentos, perfazendo um total de 18

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 617


medições (testes), três por dia, exceto no dia 08/08/13 (2 testes realizados) e no dia 24/01/14 (1 teste
executado). Em cada dia de monitoramento, com exceção dos dias 08/08/13 e 24/01/14, foram
feitas três coletas com intervalo de uma hora e meia entre as mesmas, sendo a primeira no momento
que iniciava a produção de água destilada.
Para medição dos volumes de água de refrigeração do destilador e de água destilada, o
procedimento adotado foi da seguinte forma:
(a) identificar a data da última limpeza do destilador;
(b) ligar o destilador e anotar o horário;
(c) coletar a água de saída do destilador para registrar o volume produzido antes do início da
destilação;
(d) anotar o horário de início da produção de água destilada;
(e) iniciar o recolhimento, simultaneamente, da água de saída do destilador e da água destilada,
utilizando uma bombona com capacidade de 10 litros e uma proveta com capacidade de 1
litro, respectivamente. Simultaneamente ao início da coleta, acionar o cronômetro, de forma
a relacionar os volumes medidos de água com o tempo. Os volumes foram recolhidos por
um período de 5 minutos;
(f) em cada dia de monitoramento, fazer três coletas com intervalo de 1,5h entre as mesmas,
sendo a primeira no momento que iniciar a produção de água destilada;
(g) realizar monitoramentos em 7 dias, perfazendo um total de 21 medições (devido a
imprevistos, no total foram realizadas 18 medições), 3 medições por dia de monitoramento;
(h) cm cada medição, coletar amostras da água de entrada do destilador, água descartada e água
destilada para análises físico-químicas de pH (método eletrométrico, Clesceri et al., 1998);
condutividade elétrica (CE, método laboratorial do condutivímetro, Clesceri et al., 1998);
temperatura (termômetro digital); cor aparente (método espectrofotométrico, Clesceri et al.,
1998); turbidez (método nefelométrico, Clesceri et al., 1998) e sólidos dissolvidos totais
(SDT, método indireto a partir dos valores de CE).
Quanto à proposição de uma possível instalação padrão para reuso da água de refrigeração
do destilador, o trabalho apresenta uma concepção simplificada identificando os componentes
básicos como: reservatórios de água, tubulações, conexões e conjunto moto-bomba.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do monitoramento do volume da água de saída do destilador (água descartada)


observaram-se valores entre 74,8 e 294L/h, cujo valor médio foi de 126,6L/h (Tabela 1). Este se
mostrou acima do consumo de água (80 L/h) especificado tanto no Catálogo (MARTE, s.d. a)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 618


quanto no manual do usuário (MARTE, s.d. b) do equipamento analisado. Quanto à produção de
água destilada, verificou-se um valor médio de 2,9 L/h, sendo a variação entre 1,8 e 4,6L/h. De
acordo com Marte (s.d. a), a capacidade deste destilador é de 5L/h, valor este, superior ao
verificado, tanto médio quanto máximo. Avaliando-se a relação do volume de água descartada por
volume de água destilada, o valor máximo verificado foi de 81L/L e o mínimo de 19L/L, cujo valor
médio resultou em 44L/L, ou seja, para cada litro produzido de água destilada foram gastos 44L de
água, em média. Este valor foi superior aos observados por Marsaro e Guimarães (2007), de 17 e 21
litros, para dois distintos equipamentos e também dos valores observados por Muller (2011), a qual
estimou que para se obter 1L de água destilada eram desperdiçados 25,12L de água potável.

Volumes produzidos
Volumes produzidos (L/h)
(mL/5 minutos)
Volume de água
descartada/
Tratamento estatístico
Água de saída Água de saída volume de destilada
Água destilada Água destilada
do destilador do destilador (L/L)

Maior valor 24.500 380 294 4,6 81


Menor valor 6.230 147 74,8 1,8 19
Média 10.553 245 126,6 2,9 44
Desvio padrão 5.783 78 69,4 0,9 17
Número de dados 18 18 18 18 18
Tabela 1 – Resumo das verificações dos volumes de água de refrigeração do destilador e respectivos
volumes produzidos de água destilada

Quanto à temperatura dos fluxos de água monitorados (Tabela 2), foram observados valores
médios de 30,7, 45,6 e 39,4 °C para a água de entrada, água descartada e água destilada,
respectivamente. Os dados indicaram uma temperatura média da água destilada, superior à
temperatura da água de alimentação do equipamento. Além disso, considerando a possibilidade de
reuso da água descartada, cabe mencionar que a temperatura relativamente alta (33,7 a 58,8 °C)
dificultaria sua utilização imediatamente após sua geração. Tal fato sugere a necessídade
possibilitar a perda de calor desta água para posterior reuso, o que pode ser obtido, armazenando-a
por um determinado período de tempo.

Temperatura (°C) pH

Tratamento
Água de Água Água Água de Água Água
estatístico Ar
entrada descartada destilada entrada descartada destilada

Maior valor 30 32,4 58,8 56,2 8,30 7,84 8,34


Menor valor 23 29,0 33,7 32,2 6,48 6,17 6,04
Média 25 30,7 45,6 39,4 7,20 6,96 7,03
Desvio padrão 2 1,1 7,2 6,9 0,56 0,47 0,67
Nº de dados 18 18 18 18 18 18 18
Tabela 2 – Resumo dos valores observados de temperatura e pH da água de entrada no destilador, água
descartada e água destilada

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 619


Com relação aos valores de pH, foram verificadas variações entre 6,48 e 8,30 para a água de
alimentação do destilador; 6,17 a 7,84 para o fluxo de saída do destilador (água descartada) e entre
6,04 a 8,34 para a água destilada. Os valores verificados de pH para os três fluxos de água
estudados estiveram dentro da faixa mencionada (6,0 a 9,5 no sistema de distribuição) pela Portaria
n° 2.914/2011 (BRASIL, 2011).
Com relação ao monitoramento de CE (Tabela 3), foram verificados valores médios de 514,
554 e 5,0 µS/cm para a água de entrada, água descartada e água destilada. Segundo Pádua e Ferreira
(2006) a determinação da CE permite estimar de forma rápida a concentração de STD na água. Em
termos de qualidade da água destilada, a CE é um parâmetro indicativo de boa qualidade ou não. De
acordo com Clesceri et al. (1998), um dos aspectos mais importantes de análises é a preparação da
denominada água reagente, a qual será usada no laboratório para preparação de soluções químicas e
análises de brancos. Ainda de acordo com os mesmos autores, a prepração de água reagente pode
ser através de destilação, osmose reversa, deionização, em diferentes combinações. Os valores de
CE de referência para água reagente com alta, média e baixa qualidade são (CLESCERI et al.,
1998): CE < 0,1µS/cm; CE < 1 µS/cm e CE = 10 µS/cm são, respectivamente. No presente estudo,
o menor valor CE verificado para a água destilada foi de 2 µS/cm, o que sugere que a água destilada
pelo equipamento estudado caracteriza-se por água reagente de baixa qualidade, com base em
Clesceri et al. (1998).
Quanto à concentração de SDT, o padrão organoléptico de potabilidade especificado pela
referida portaria se refere a um valor máximo permitido (VMP) 1000 mg/L. Assim, observa-se na
Tabela 3, que o referido valor de SDT não foi ultrapassado em nenhuma das medições realizadas
nos três fluxos de água do destilador estudado, muito embora, o reuso sugerido neste estudo seja
para fins não potáveis.

Condutividade elétrica (µS/cm) Sólidos dissolvidos totais (mg/L)

Tratamento
Água de Água Água Água de Água Água
estatístico
entrada descartada destilada entrada descartada destilada

Maior valor 614 676 37 308 336 20


Menor valor 482 507 2,0 202 250 2,0
Média 514 554 5,0 257 278 4,0
Desvio padrão 38 43 8,0 22 21 4,0
Nº de dados 18 18 18 18 18 18
Tabela 3 – Resumo dos valores observados de condutividade elétrica (CE) e sólidos dissolvidos totais (SDT)
da água de entrada, água descartada e água destilada

Com relação ao padrão organoléptico de potabilidade para turbidez, a Portaria n°


2.914/2011, especifica VMP de 5uT. Todos os valores verificados no presente estudo (Tabela 4)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 620


foram inferiores ao mencionado pela portaria. A cor da água examinada na saída do destilador
apresentou valor médio de 22 uH e variação de 9 a 65 uH estando acima do padrão estabelecido
pela Portaria n° 2.914/2011, que para a água ser considerada potável deve possuir a sua cor com no
máximo 15uH.

Turbidez (uT) Cor aparente (uH)

Tratamento
Água de Água Água Água de Água Água
estatístico
entrada descartada destilada entrada descartada destilada

Maior valor 0,99 1,29 1,52 86 65 33


Menor valor 0,17 0,15 0,17 3,0 9,0 7,0
Média 0,48 0,43 0,52 24 22 20
Desvio padrão 0,21 0,27 0,32 18 13 7,0
Nº de dados 18 18 18 18 18 18
Tabela 4 – Resumo dos valores observados de turbidez e cor aparente da água de entrada, água descartada e
água destilada

Para possibilitar o reuso da água descartada do destilador de água utilizado no Laboratório


de Saneamento da UFERSA-Mossoró, o presente estudo identificou a necessidade de uma
instalação composta basicamente por dois reservatórios e um conjunto moto-bomba (imagem
ilustrativa do projeto apresentada na Figura 3).
A água a ser reusada fluirá para o reservatório inferior por ação da gravidade. O
armazenamento neste reservatório possibilitará a perda de calor da água de saída do destilador,
facilitando seu posterior reuso direto. Este reservatório foi projetado com volume útil de 560 litros,
cujas dimensões úteis foram: largura = 1,0 m, profundidade = 0,7 m e altura = 0,8 m [(1,0 x 0,7 x
0,8) m = 0,56 m³]. Previu-se um reservatório construído em alvenaria tendo uma tampa de granito,
de fácil manuseio para limpeza do reservatório. Sobre a tampa do reservatório inferior estará
localizada um conjunto moto-bomba para fazer o recalque da água até o reservatório superior. Este
conjunto será acionado manualmente, de acordo com a geração de água de saída do destilador e
reuso da mesma. Sugere-se o uso de uma bomba centrífuga acionada por motor elétrico. O
reservatório superior tem duas funções básicas, o aumento da capacidade de reservação do sistema e
a elevação da pressão da água. Para este reservatório, sugeriru-se um modelo disponível no
mercado, construído em polietileno, com capacidade de 150 litros e cujo diâmetro permite que o
mesmo seja adequadamente instalado sobre a estrutura proposta conforme apresentado na Figura 3.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 621


Figura 3 – Imagem ilustrativa da vista frontal e lateral da instalação proposta para reuso da água de
refrigeração do destilador de água do Laboratório de Saneamento da UFERSA-Mossoró

CONCLUSÕES

A execução deste trabalho permitiu as seguintes conclusões relativas ao destilador de água


estudado, destilador utilizado no Laboratório de Saneamento da UFERSA-Mossoró: (a) o valor
médio do volume de água descartada (126,6 L/h) foi superior ao consumo de água (80 L/h)
especificado tanto no catálogo quanto no manual do usuário do equipamento analisado; (b)
verificou-se um valor médio de produção de água destilada (2,9 L/h) inferior à capacidade deste
destilador (5 L/h) especificado no catálogo do equipamento; (c) em média, para cada litro produzido
de água destilada foram gastos 44 L de água, sendo este gasto superior ao verificado em outros
estudos; (d) com base na portaria n° 2.914/2011, que dispõe sobre o padrão de potabilidade, os
valores de pH, SDT e turbidez da água de saída do destilador, estiveram dentro dos valores
recomendados pela portaria e o valor médio de cor aparente da referida água foi superior ao padrão
de potabilidade. A comparação com padrões de potabilidade foi apenas uma referência geral visto
que o país não dispõe de padrão de reuso, sendo que este estudo sugere o reuso para fins não
potáveis; (e) os valores de CE indicaram que a água destilada pelo equipamento estudado
caracteriza-se por água reagente de baixa qualidade; (f) de modo geral, no âmbito do Laboratório de
Saneamento da UFERSA-Mossoró e, com base nos parâmetros monitorados, entende-se que a água
de saída do destilador de água, após perda de calor, pode ser reusada para lavagem de vidraria,
limpeza em geral da edificação e rega de plantas.
Com relação a uma instalação para reuso de água, o presente estudo identificou que para
possibilitar o reuso da água descartada do destilador de água estudado, é necessária uma instalação
composta basicamente por dois reservatórios (um inferior e outro superior) e um conjunto moto-
bomba. A capacidade de reservação projetada foi de 710 litros, o que pode ser gerado pelo
destilador estudado em um intervalo de 6 horas. Ressalta-se que a instalação proposta para o reuso
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 622
de água de destilador seja complementada com um projeto hidráulico utilizando como referência a
NBR 5626, de modo a proporcionar o bom funcionamento de uma ou mais peças de utilização
previstas na concepção do projeto.

REFERÊNCIAS

BORGES, L. Z. Caracterização da água cinza para promoção da sustentabilidade dos recursos


hídricos. 103 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental). Pós-Graduação em
Engenharia de recursos Hídricos e Ambiental, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de


dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da
água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade

CLESCERI, L. S. GREENBERG, A. E.; EATON, A. D. (Eds.) Standard methods for the


examination of water and wastewater. 20 ed. Washington (DC): APHA, 1998.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). Águas superficias.


Reuso de água. CETESB, 2014. Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/%C3%81guas-Superficiais/39-Reuso-de-%C3%81gua>.
Acesso em 27 jul. 2014.

COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO (SABESP). Uso


racional da água. SABESP, 2014. Disponível em:
<http://www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=2&temp2=3&proj=sabesp&
pub=T&nome=Uso_Racional_Agua_Generico&db=&docid=0559F0B0B4127513832570D1006
527A2>. Acesso em 15 ago. 2014.

COSTA, R. H. P. G. Água: matéria-prima primordial à vida. In: TELLES, D. D‘A.; COSTA, R. H.


P. G. (Coord.). Reuso da água: conceitos, teorias e práticas. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2010.
Cap. 1, p. 1- 11.

GONÇALVES, R. F.; JORDÃO, E. P. Introdução. In: GONÇALVES, R. F. (Coordenador). Uso


racional da água em edificações. Rio de Janeiro: ABES, 2006. p. 1-28. Cap.1.

LUNARDI, D. G.; VARELLA, F. K. de O. M.; DOMBROSKI, S. A. G.; LUNARDI, V. de O.;


CARNEIRO, B. T. S.; ALMEIDA, N. R. A. de. Plano de gestão de logística sustentável da
UFERSA. Mossoró, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 623


MARISCO, L. V.; FERNANDES, V. C.; CAVAGNI, M. V.; FERNANDES, L.C.; FERNANDES,
J. C. Reúso de efluentes provenientes de aparelhos destiladores. Revista CIATEC – UPF, v. 6, n.
1, p. 37-47, 2014.

MARSARO, C. S. G.; GUIMARÃES, P. C. Avaliação da viabilidade de reutilização da água de


refrigeração dos destiladores para lavagem de pipetas. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS
HÍDRICOS DO NORTE E CENTRO-OESTE, I. Anais... Cuiabá, 2007.

MARTE. Marte Balanças e Aparelhos de Precisão LTDA. Catálogo Marte. 8. ed. S.1., s.d.
Disponível em: <http://www.marte.com.br/imgs/standby/catalogo.pdf>. Acesso em 12 Jan. 2014.
(MARTE, s.d. a).

______. Marte Balanças e Aparelhos de Precisão Ltda. Destilador de água tipo Pilsen. Manual do
usuário. S.1., s.d. (MARTE, s.d. b).

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA); AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA);


PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (PNUMA). GEO Brasil:
recursos hídricos: resumo executivo. Brasília: MMA; ANA, 2007.

MÜLLER, J. Qualidade microbiológica da água descartada por destiladores e seu potencial para
reuso. 2011. 58f. Monografia (Bacharel em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2011.

NUNES, S.; ILHA, M.; CELSO, G. B. L.; ROGGERS JR, A. Avaliação do potencial de reuso de
água em equipamento de análises clínicas. ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO
AMBIENTE CONSTRUÍDO, XI. Anais... Florianópolis, 2006.

SILVA, G. S. Programas permanentes de uso racional da água em campi universitários: o


programa de uso racional da água da Universidade de São Paulo. 2004. Dissertação (Mestrado
em Engenharia. Área de concentração: Engenharia de Construção Civil) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

UNITED NATIONS (UN). Departamento de Informação Pública das Nações Unidas. Rio+20. O
futuro que queremos. Fatos sobre água e saneamento. Rio de Janeiro: United Nations, 2012.
Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/agua.pdf>. Acesso em 26 fev. 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA). Acadêmico. Cursos.


Graduação. Cursos de graduação. Disponível em:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/cursos/graduacao>. Acesso em: 29 ago. 2014a.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 624


______. Acadêmico. Cursos. Pós-Graduação Lato Sensu. Cursos de especialização. Disponível em:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/cursos/especializacao>. Acesso em: 20 ago. 2014b.

______. Acadêmico. Cursos. Pós-Graduação Stricto Sensu. Programas de pós-graduação.


Disponível em: <http://www2.ufersa.edu.br/portal/cursos/posgraduacao>. Acesso em: 20 ago.
2014c.

______. Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas. Coordenação do Curso de


Graduação em Engenharia Civil. Projeto político-pedagógico do curso de engenharia civil.
Mossoró, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 625


FILTRAÇÃO DA URINA COM UM FILTRO CASEIRO COMO ALTERNATIVA PARA
SITUAÇÕES DE ESCASSEZ HÍDRICA

Nataly Regina Fonseca Carvalho de MEDEIROS


Curso Técnico em Análises Químicas da Uninassau
natalyreg@gmail.com

Marlene Salvina Fernandes da COSTA


Orientadora

RESUMO
O presente estudo visa a implementação de um filtro biológico caseiro conjuntamente com análises
de detecção dos níveis de ph e amônia em amostras de urina humana. A idéia central é a
viabilização do reuso de nossa urina para atividades rotineiras em situações de seca. Através do
filtro retiramos alguns componentes indesejáveis, de modo a propiciar um reaproveitamento da
água destes excretas.

ABSTRACT
The present study aims to implement a homemade bio filter in conjunction with analysis detection
of pH and ammonia levels in human urine samples .The central idea is the feasibility of reusing our
urine for routine activities in drought situations . Through the filter we remove some unwanted
components in order to promote a water reuse of this excreta.

INTRODUÇÃO

Atualmente vivemos a maior crise hídrica dos últimos 50 anos. Em março, de acordo com a
Organização Meteorológica Mundial (WMO ), o nordeste do Brasil vivenciou uma de suas maiores
secas. Em outubro de 2014 o sudeste sofreu uma grave crise, com esgotamento das águas que
abasteciam São Paulo e as regiões circunvizinhas.
Segundo a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira o estado vive uma seca ―fora da
curva‖, devido a padrões anômalos de falta d‘água na região.
No âmbito mundial a Austrália e Argentina vivenciaram um dos períodos mais quentes de
sua história e os oceanos estão aquecendo por ano a um ritmo maior do que em todo o período dos
anos 1900.
Em conflito com esse déficit o ser humano é constituído por cerca de 70% de água, logo sua
importância torna-se inegável.
Estes fatos corroboram para uma preocupação evidente com o gerenciamento e
reaproveitamento dos nossos recursos esgotáveis, em particular os hídricos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 626


A preocupação com estes fatos levou-nos a buscar alternativas para o reciclo de alguns
dejetos orgânicos que pudessem ser filtrados e reaproveitados para uso humano e animal. Neste
contexto há relatos de sobreviventes de situações de privação de água que dizem ter ingerido urina
nesse período.
Contudo é conhecido na literatura casos de intoxicação devido ao acúmulo de pequenas
doses de substâncias tóxicas presentes nesse excreta. (Rodriguez , 2007 ; Pontalti , 2011)
Deste modo uma investigação acerca de processos de filtração dessas substâncias poderia
levar á uma nova fonte aquosa para suprimento de demandas básicas em situações de escassez.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

O objetivo deste trabalho é a reutilização da água da urina humana, filtrando–a e avaliando


se estaria propícia ao consumo humano e animal. Abordando aspectos químico-biológicos
trataremos de forma concisa o processo de reciclo e utilização deste excreta e a possibilidade de
realizar o processo em outros seres também.
Há uma preocupação com a minimização dos custos para viabilizar este experimento em
larga escala.

Objetivos Específicos

- Construir um filtro biológico caseiro de baixo custo


- Analisar o pH e o teor de amônia presentes na solução de urina humana antes e após seu
reciclo
- Verificar aspectos visuais qualitativos do aspecto final da amostra
- Propor maiores análises para assegurar a confiabilidade da água filtrada
- Abordar conceitos relacionados ao ciclo do nitrogênio e toxicidade dos excretas
nitrogenados nos seres vivos

REVISÃO DE LITERATURA

Um adulto humano produz cerca de 1,4 litros de urina por dia e sua composição química
apresenta entre 2 a 5 % de ureia .Esta por sua vez entra no ciclo da ureia no nosso organismo e no
ciclo do nitrogênio , quando fora dele, conforme a reação abaixo(Almeida Vanessa, Bonafé Elton,
Stevanato Flávia, Souza Nilson, Visentainer Jeane, Matsushita Makoto, Visentainer Jesuí, 2006) .

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 627


Fig I – Reação de transformação da uréia em amônia

Em estudos anteriores foi relatado o uso de areia de sílica natural na remoção partículas de
amônia em água potável (Valentukeviciene, Rimeika, 2004).
Esta areia é utilizada comumente em filtros biológicos e usualmente para a filtração de
impurezas em águas impuras havendo amplos experimentos de construção deste na literatura
científica.
Tratando com filtro de carvão ativado águas residuais observaram-se reduções de até 74%
para DQO, 47% para DBO, 93% para cor, 90% para amônia (Castilhos Armando; Dalsasso
Ramon; Rohers Fabio -2010)
O princípio básico de funcionamento de um filtro caseiro, segundo o sítio do departamento
de química ambiental da USP (Universidade de São Paulo) é:

―A parte superior do filtro seleciona as sujeiras maiores, que vão deixando espaço para a
passagem das menores que vão sendo capturadas pelas camadas inferiores até chegarem ao
algodão, que mostra-se como finalizador da purificação. Na parte superior , encontram-se
as areias grossa e fina, responsáveis pela limpeza inicial da água e ,em seguida, tem-se o
carvão, que vem para complementar o trabalho feito na camada anterior. E, por fim, tem-se
o algodão, que barra as impurezas menores e age de uma forma bastante efetiva‖.

De modo a propiciar um maior crescimento de bactérias desnitrificantes pedras porosas


podem ser adicionadas, á exemplo de cascalhos, brita ou seixos.

METODOLOGIA

Empregou-se a construção de um filtro de água caseiro descrito a seguir. Em seguida foram


realizadas análises do teor de pH e de amônia antes e depois da filtragem.
Materiais:
- LabconTest amônia tóxica ( teste comprado em loja de aquário)
- LabconTest ph Tropical ( teste comprado em loja de aquário)
- Garrafa PET de 1 L
- Garrafa PET de 500 ml com bico de beber
- 100g de carvão ativado em pó

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 628


- 100 g de cascalhos de seixos (pedra pomes) comprados em loja de aquário (próprio para o
crescimento de bactérias degradadoras de nitritos, nitratos e amônia)
- 100g de areia fina
- conta-gotas
- 0,35 ml (ou 7 gotas ,cada uma contendo 0,5 ml ) de solução comprada em loja de aquário
contendo bactérias aeróbias e anaeróbias e facultativas de degradação de dejetos orgânicos e
nitrato da água .
- Recipiente longo (estilo pote de macarrão)
- Fita adesiva
- 40 cm de mangueira transparente
- Bomba de aquário com vazão de 150L/h - indicado substituição por uma com vazão de
10L/h para esta experiência ou diminuição da tensão
- Discos de algodão
- Filtro de café
- Arame
- 1230ml de urina
- Faca grande
- Fogão

Métodos

Inicialmente esquentou-se a faca na boca do fogão e cortou-se a garrafa pet de 1 L no bocal,


para poder colocar as partes do nosso filtro. Em seguida realizaram-se cortes transversais no fundo
da garrafa com o intuito de a água poder escoar.
Realizaram-se ainda furos na parte superior da garrafa pet dois de um lado dois no segmento
oposto da circunferência do bocal. Isto foi realizado também na parte cortada da tampa para
posteriormente poder-se unir com o arame esta àquela e termos a garrafa pet ―colada e inteira‖
novamente.
Antes disso começou-se a colocação dos materiais filtrantes dentro da garrafa. Colocou-se
no fundo os discos de algodão, seguido do carvão ativado (enrolado em dois filtros de café). Em
cima deste colocou-se a areia(com um filtro cortado de café embaixo) e acima as pedras de seixo.
Após realizado o procedimento de fechamento da garrafa descrito colocou-se uma outra com
o bocal em cima e de cabeça para baixo , realizando-se um furo em sua base para poder acoplar a
mangueira e em seguida vedou-se uma na outra com a fita colante.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 629


O intuito desta garrafa foi simplesmente retardar o fluxo de água que foi maior do que o
esperado -podendo e devendo esta etapa ser descartada caso utilize-se uma bomba de menor vazão.
Diminuiu-se ainda a tensão da fonte.
Em seguida acoplou-se a mangueira à bomba e esta foi colocada dentro do recipiente
alongado (em sua base).
O resultado foi à imagem abaixo:

Figura II – Filtro biológico montado

Durante 7 dias colocou-se uma gota da solução de bactérias ,com o auxílio do conta-gotas ,
por dia dentro do recipiente, já contendo 600 ml da urina. Foi necessário repor a quantidade devido
às taxas de evaporação e perdas desta no processo. Acrescentou-se em dias alternados 200 ml de
urina durante este período.
No sétimo dia não mais se acrescentou urina e na última colocação dos 200 ml, pegou-se 30
ml para realizar os testes de nível de amônia e ph. Colocou-se 15 ml em um frasco dosador (que
veio junto aos testes) de ph e segui-se o procedimento indicado no rótulo colocando-se os reagentes
e esperando-se 2 min.
Em seguida a cor observada foi amarelo claro, que na tabela que acompanhou o produto
indicou um ph em torno de 6,2 – ácido.
Logo após, fez-se o mesmo no teste de amônia, entretanto esperou-se por 3 min e a
coloração indicada comparativamente á tabela que veio ficou em um verde musgo, em torno de 6,5
ppm, convertendo para o valor de 0,020 ml à 28 graus Celsius (temperatura do dia da coleta e
análise).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 630


Após o período de 7 dias, esperou-se 72 horas com a amostra em filtragem e realizou-se
novamente os dois testes. O da amônia ficou em níveis quase nulos, enquanto o ph ficou em torno
de 6,8.
Recomenda-se, entretanto que seja filtrada por um tempo maior(7 dias) devido à variáveis
na concentração de amônia e local de filtração.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

―No solo o nitrogênio na forma de amônio (NH4+) ou amônia (NH3) é rapidamente


oxidado a nitrito através das bactérias dos gêneros Nitrossomonas e Nitrossococcus, o
nitrito por sua vez é rapidamente oxidado a nitrato pelas bactérias do gênero Nitrobacter,
sendo que o nitrato é a principal forma de nitrogênio encontrado no solo. O processo de
redução do nitrato a nitrito e este a amônia, gás nitrogênio ou oxido nítrico é chamado
denitrificação e ocorre em solos saturados com água ou realizado pelas bactérias do gênero
Pseudomonas que podem ser usadas para retirar nitrato e nitrito da água‖ (Meurer, 2004;
Pontalti Colombo, 2011).

A faixa de amônia encontrada é considerada tolerável para aquários, sendo o máximo


tolerado 0,55mg/L- o teor encontrado após a filtração ficou em quase zero.
Em animais que se alimentam com plantas com mais de 1% de nitratos ou que beberem água
com 1500 ppm de nitratos ocorre intoxicação aguda também sendo o ideal para seu uso em nosso
cotidiano um percentual quase nulo (Pontalti, 2011; Pereira, 2005; Rezende, 2002; Rodriguez,
2007).
O ph desejável para uso cotidiano é o básico ou levemente ácido, logo o teor encontrado foi
também aceitável – 6,8, levemente ácido.Qualitativamente a amostra antes amarelada e com forte
cheiro – odor característico da ureia, ficou com aspecto límpido e inodoro.
É importante, porém, considerar alguns aspectos tais como o local de realização do presente
experimento (sendo ventilado e com alguma incidência solar) e a concentração das amostras de
urina coletadas (que variam muito), além da área do recipiente e volume da urina. O tempo de
filtragem deve levar em consideração tais variantes, que não foram avaliadas.

CONCLUSÕES

De modo a ser possível seu consumo por humanos maiores análises físico-químicas
biológicas são necessárias, mas os resultados encontrados apontam para um possível uso da urina
em situações de seca para atividades rotineiras, sem considerar seu consumo.
A prática realizada apontou um caminho para o reuso de nossos dejetos e foi implantada á
baixo custo. Maiores empenhos são necessários de maneira a aumentar as possibilidades no uso
desta técnica tão simples e comum ás pessoas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 631


Os procedimentos a serem adotados em larga escala irão sofrer variação, para adequar as
técnicas utilizadas ao fluxo de matéria a ser reaproveitada. De modo a maximizar a quantidade de
produto a ser reutilizado poderíamos captar os dejetos líquidos de ruminantes também (em
comunidades agrícolas) , contudo novos testes necessitam ser feitos para assegurar a viabilidade e
segurança do processo.
Algumas possibilidades para o tratamento de bactérias provenientes de nosso sistema
excretor etc. são a filtragem em raios solares - filtro UV (Soares, 2004) - ou simplesmente a
ebulição do produto.
Além destas, outras técnicas podem e devem ser empregadas para assegurar uma possível
potabilidade deste excreta.

REFERÊNCIAS

Mazeikiene, A.; Valentukeviciene, M.; Rimeika, M.; Matuzevicius, A. B.; Dauknys, R. 2008.
Removal of nitrates and ammonium ions from water using natural sorbent zeolite (clinoptilolite),
Journal of Environmental Engineering and Landscape Management 16(3): 38-44

Valentukeviciene, M.; Rimeika, M. 2004. Quality improvement of potable water in the Baltic Sea
coastal area, Annals of Warsaw Agriculture University (SGGW), Land Reclamation 35: 99-106

Marina Valentukevičienė , 2008 ,Experimental research on removal of iron and ammonium

ions from groundwater by natural silica sand , geologija. 2008. Vol. 50. No. 3(63). P 201–205

Soares, Clarrissa – UFSC , 2004 ,Tratamento de Água Unifamiliar Através da Destilação Solar
Natural Utilizando água Salgada,salobra e doce contaminada

Bouatra S, Aziat F, Mandal R, Guo AC, Wilson MR, et al. (2013) The Human Urine
Metabolome. PLoS ONE 8(9): e73076. doi:10.1371/journal.pone.0073076

Seminário apresentado pela aluna PAULA VILLAMIL RODRÍGUEZ na disciplina


TRANSTORNOS METABÓLICOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS, no Programa de Pós-
Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no segundo
semestre de 2007.

Seminário apresentado pelo aluno GABRIEL COLOMBO PONTALTI- ―NITRITOS E NITRATOS:


VENENOS OU NUTRIENTES?‖ na disciplina de BIOQUÍMICA DO TECIDO ANIMAL, no
Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, no primeiro semestre de 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 632


Vanessa Vivian de Almeida, Elton Guntendorfer Bonafé, Flávia Braidotti Stevanato, Nilson
Evelázio de Souza, Jeane Eliete Laguila Visentainer, Makoto Matsushita e Jesuí Vergílio
Visentainer , Catalisando a Hidrólise da Ureia em Urina, Revista Química Nova na Escola,
número 28 , maio 2008

Hachul M , Ortiz V. Sistema Urinário ( Bases da Medicina Integrada ) 1ª. ed.- Rio de Janeiro:
Elsevier; 2009.

RESENDE A.V. Agricultura e qualidade da água: contaminação da água por nitrato. Editora
EMBRAPA, Planaltina, 2002

MEURER, E. J. Fundamentos de Química do Solo. 2º Edição, Editora UFRGS, Porto Alegre, 2004.

Lilian Paula Faria PEREIRA 1 e Cacilda Thais Janson MERCANTE, A AMÔNIA NOS SISTEMAS
DE CRIAÇÃO DE PEIXES E SEUS EFEITOS SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA. UMA
REVISÃO, B. Inst. Pesca, São Paulo, 2005

Acessos entre 02 de setembro de 2014 e 17 de outubro de 2014:

Pibid e o Ensino de Química. Publicado em 23 de outubro de 2012. Acesso em 17 de outubro de


21014. Disponível em: <http://quipibid.blogspot.com.br/2012/10/a-quimica-da-urina.html>

Universidade de São Paulo. São Paulo, Experimento e questões sobre tratamento de Água.
Disponível em: <http://www.usp.br/qambiental/tratamentoAguaExperimento.html>

http://gaiamovement.org/TextPage.asp?TxtID=347&SubMenuItemID=138&MenuItemID=55

http://www.naturaltec.com.br/Desinfeccao-Ultravioleta-UV-Agua.html

http://falandoaosmontes.blogspot.com.br/2013/02/filtro-de-agua-com-cascalho-ou-
brita.html#.VA3Qam1fmp5

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR76752-6014,00.html

http://naturaekos.com.br/blog/design-sustentavel/purificador-de-agua-a-base-de-sol/

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=890:
queimadas-no-brasil&catid=51:letra-q&Itemid=1

http://www.youtube.com/watch?v=JRq7x9SEt64

http://www.scienceinschool.org/print/957

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 633


http://www.scientificamerican.com/podcast/episode/gee-whiz-why-not-recycle-urine-for-12-01-16/

http://chemistry.about.com/od/biochemistry/f/What-Is-The-Chemical-Composition-Of-Urine.html

http://www.abq.org.br/cbq/trabalhos_aceitos_detalhes,5848.html

http://books.google.com.br/books?id=jIUlBJ4eeroC&pg=PA319&lpg=PA319&dq=teor+urease+se
mentes&source=bl&ots=7QteGHJBgU&sig=Tso7_Dfdgrm-Yc9Ce4m6_rbSS04&hl=pt-
BR&sa=X&ei=0HApVLnaNcW7ggSXyYDQDQ&ved=0CEEQ6AEwBg#v=onepage&q=teor%
20urease%20sementes&f=false

http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=11883@1

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-41522010000400011

http://www.hc-sc.gc.ca/ewh-semt/consult/_2012/ammonia-ammoniac/draft-ebauche-eng.php

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000500043

http://www.abq.org.br/cbq/2008/trabalhos/4/4-371-4759.html

PEDRO, Ângelo, site G1 Minas Gerais. Ministra do Meio Ambiente diz que Sudeste vive ―seca fora
da curva‖ Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2014/10/ministra-do-meio-
ambiente-diz-que-sudeste-vive-seca-fora-da-curva.html

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/03/nordeste-do-brasil-teve-pior-seca-dos-ultimos-50-
anos-em-2013-diz-relatorio.html

OLIVEIRA, Wanderlei. O Corpo Humano é Constituído de 70% de Água, ESPN, Publicado em 22


de março de 2012, acesso em 17 de outubro de 2014. Disponível em:
<http://espn.uol.com.br/post/247220_o-corpo-humano-e-constituido-de-70-de-agua>

Redação do Diário da Saúde, publicado em 10 de setembro de 2013. Cientistas desvendam


composição química do xixi. Arquivo disponível em:
<http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=composicao-quimica-urina-
humana&id=9154>

http://lamoreabio2.blogspot.com.br/2013/01/composicao-quimica-da-urina.html

http://www.ibb.unesp.br/Home/Graduacao/ProgramadeEducacaoTutorial-
PET/ProjetosFinalizados/PRINCIPIO_DE_FUNCIONAMENTO_DE_UM_FILTRO_DOMESTI
CO.pdf
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 634
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2011/03/tres-projetos-simples-e-baratos-para-transformar-
agua-suja-em-potavel.html

http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2014/11/na-amazonia-tecnologia-usa-raios-uv-e-sol-para-
purificar-agua-de-rios.html

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 635


IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELO DESCARTE DE REMÉDIOS NO LIXO
URBANO

Sergio Carlos dos Santos VIANA


Graduando do Curso de Gestão Ambiental da UNOPAR-Teresina
sergiocarlosdos@ig.com.br

Bartira Araújo da Silva VIANA


Orientadora. Professora doutora do DGH/ UFPI
bartira.araujo@ufpi.edu.br

RESUMO
Os medicamentos são um tipo de resíduo que apresenta um risco potencial à saúde pública e ao
meio ambiente, já que seus resíduos possuem alguns componentes químicos resistentes que podem
contaminar o solo e a água. Nesse sentido, esse estudo tem por objetivo geral analisar os impactos
ambientais decorrentes do descarte de remédios em locais inapropriados. A metodologia utilizada
no trabalho foi a pesquisa bibliográfica em textos e artigos científicos, principalmente em sítios da
internet. O trabalho justifica-se pela constatação de que apesar da possibilidade de reutilização dos
medicamentos, o descarte é praticado de forma inapropriada no Brasil. O presente estudo mostrou
que os medicamentos são considerados substâncias químicas que causam impactos ambientais
negativos. A população contribui nesse processo ao realizar o descarte de medicamentos de maneira
incorreta, afetando diretamente o ambiente, pois contribui para a poluição das águas fluviais e solos.
As áreas contaminadas urbanas são representadas pelos lixões e aterros controlados, causando
riscos à saúde humana e desvalorizando financeiramente os imóveis vizinhos. Assim, a articulação
entre governo e iniciativa privada, as implicações econômicas e a conscientização da população
aparecem como os principais pontos a serem trabalhados para viabilizar o novo modelo de gestão
de lixo produzido no país. Portanto, todos os segmentos da sociedade precisam fazer sua parte.
Palavras-chave: Impactos Ambientais. Resíduos Sólidos. Lixo Urbano.

ABSTRACT
The drugs are a type of waste that presents a potential public health and environmental risk, since
their residues have some tough chemicals that can contaminate soil and water. Thus, this study has
the objective to analyze the environmental impacts of disposal of medications in inappropriate
places. The methodology used this study was the literature research in texts and scientific papers,
mostly in websites. This research is justified by the fact that despite the possibility of reuse of
medicines, disposal practiced inappropriately in Brazil. The study showed that medications are
considered chemical substances that cause adverse environmental impacts. The population in this
process contributes to carry out the disposal of medicines improperly, directly affecting the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 636


environment; it contributes to pollution of river water and soil. The controlled dumps and landfills,
causing risks to human health and financially devaluing neighboring properties, represent
contaminated urban areas. Thus, the relationship between government and private enterprise, the
economic implications and public awareness appear as the main points to be worked out to enable
the new management of waste produced in the country. Therefore, all segments of society must do
their part.
Keyword: Environmental Impacts. Solid Waste. Urban Trash.

INTRODUÇÃO

O aumento da população, da expectativa de vida do ser humano e do consumo de


medicamentos, da propaganda em torno dos mesmos e da facilidade de aquisição tem contribuído
para o aumento do descarte de medicamentos em locais impróprios como pias, vasos sanitários, lixo
doméstico, gerando impactos ambientais aos rios e solos, assim como perigo à saúde dos seres
vivos. Esse fato decorre do vencimento dos prazos de validade dos medicamentos antes do seu
consumo.
Dessa forma, os medicamentos são um tipo de resíduo que apresentam um risco potencial à
saúde pública e ao meio ambiente, já que possuem alguns componentes químicos resistentes, que
podem contaminar o solo e a água. Nesse sentido, esse estudo tem por objetivo geral analisar os
impactos ambientais decorrentes do descarte de remédios em locais inapropriados. A metodologia
utilizada no trabalho foi a pesquisa bibliográfica em textos e artigos científicos, principalmente em
sítios da internet. O trabalho justifica-se pela constatação de que apesar da possibilidade de
reutilização dos medicamentos, o descarte é praticado de forma inapropriada no Brasil.

MEIO AMBIENTE E RESÍDUOS SÓLIDOS

Impactos ambientais: discussão conceitual

Impacto ambiental é considerado qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia, resultante das
atividades humanas, que afete direta ou indiretamente a saúde, a segurança o bem-estar da
população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente e a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986).
O objetivo de se estudar os impactos ambientais é, principalmente, o de avaliar as
consequências de algumas ações, a exemplo da destinação imprópria de resíduos sólidos no meio
ambiente, para que possa haver a prevenção da qualidade de determinado ambiente que poderá
sofrer a execução de certos projetos ou ações, ou logo após a implementação dos mesmos.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 637
Legislação sobre resíduos sólidos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece princípios, objetivos, diretrizes,


metas e ações, e importantes instrumentos, tais como este Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que
está em processo de construção e contemplará os diversos tipos de resíduos gerados, alternativas de
gestão e gerenciamento passíveis de implementação, bem como metas para diferentes cenários,
programas, projetos e ações correspondentes. (BRASIL, 2011).
O PNRS, conforme previsto na Lei 12.305/2010 tem vigência por prazo indeterminado e
horizonte de 20 (vinte) anos, com atualização a cada 04 (quatro) anos e contemplará o conteúdo
mínimo conforme segue:

I - diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos; II - proposição de cenários, incluindo


tendências internacionais e macroeconômicas; [...]; V - metas para a eliminação e
recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; [...]; X - normas e diretrizes para a
disposição final de rejeitos e, quando couber, de resíduos; [...]. (BRASIL, 2011, p.9).

É notório que a Lei nº 12.305/10, que institui a PNRS é bastante atual e contém instrumentos
importantes para permitir o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais problemas
ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos, pois a
mesma prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, a exemplo dos remédios, tendo como
proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar
o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos.
Essa Lei também institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos
fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo
dos resíduos sólidos urbanos. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos
lixões. Ela traz ganhos nas três esferas de poder, mas principalmente na instância municipal para
melhor gestão dos resíduos, ampliando a reciclagem e eliminando os lixões. (BRASIL, 2010a).
Porém, segundo Tolentino (2013, p.1), atualmente, cerca de 50% dos 5.565 municípios brasileiros
ainda encaminham os resíduos para lixões.
Discussões para implementação da logística reversa de resíduos de medicamentos por meio
do Grupo de Trabalho Temático de Medicamentos tem sido conduzidas pela Anvisa em todo
território brasileiro. Esse debate conta com a participação de representantes do setor farmacêutico,
órgãos de vigilância sanitária estaduais e municipais, órgãos do meio ambiente, entidades
profissionais e representantes da sociedade civil organizada, dentre outros. Nessas discussões
estabeleceu-se a necessidade de um acordo setorial, sendo que este é um instrumento inovador e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 638


democrático para implantação de políticas públicas e que pactua interesses e responsabilidade entre
governo e sociedade (ANVISA, 2012).
Dessa forma, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, contribuirá para
minimização da problemática do descarte de remédios a partir da implantação e operacionalização
dos sistemas de logística reversa para a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para
reaproveitamento no ciclo produtivo ou destinação final ambientalmente adequada.

Áreas contaminadas por descarte de remédios

O Decreto 7.404/2010 compreende o diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos,


cenários, metas, diretrizes e estratégias para o cumprimento das metas. (BRASIL, 2010b). No Art.
3o desse Decreto, estabelece-se alguns conceitos importantes para compreensão da problemática do
descarte de remédios no lixo:

II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou


irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos; [...] VII - destinação final ambientalmente
adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a
recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando
normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; VIII - disposição final
ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas
operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a
minimizar os impactos ambientais adversos; [...] (BRASIL, 2010b).

Dessa forma, as áreas contaminadas por descarte inadequado de resíduos de serviços de


saúde correspondem aos locais que contenham quantidades ou concentrações de quaisquer
substâncias ou resíduos em condições que causem ou possam causar danos à saúde humana, ao
meio ambiente ou a outro bem a proteger, que nela tenham sido depositados, acumulados,
armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural.
(BRASIL, 2012b).
Dentre os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) estão os resíduos especiais, que por suas
características necessitam de processos diferenciados em seu manejo, devido ao caráter infectante
de alguns de seus componentes, a grande heterogeneidade e substâncias tóxicas exigindo ou não
tratamento prévio à sua disposição final.
Esses resíduos especiais são constituídos por medicamentos vencidos, contaminados,
interditados ou resíduos químicos perigosos. Conforme a Cecom (2008, p. 12):

Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque, pois merecem atenção


especial em todas as suas fases de manejo (segregação, acondicionamento, armazenamento,
coleta, transporte, tratamento e disposição final) em decorrência dos imediatos e graves
riscos que podem oferecer aos indivíduos e ao meio ambiente, por apresentarem
componentes químicos, biológicos e radioativos. Dentre os componentes químicos
destacam-se as substâncias ou preparados químicos: tóxicos, corrosivos, inflamáveis,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 639
reativos, genotóxicos, mutagênicos; produtos mantidos sob pressão: gases, quimioterápicos,
pesticidas, solventes, ácido crômico, mercúrio de termômetros, substâncias para revelação
de radiografias, baterias usadas, etc. Dentre os componentes biológicos destacam-se os que
contêm agentes patogênicos que possam causar doenças.

Dessa forma, o descarte aleatório de medicamentos no lixo comum ou na rede pública de


esgoto tem como consequências a agressão ao meio ambiente, a contaminação da água, do solo e de
animais, além do risco à saúde de pessoas que possam reutilizá-los por acidente ou mesmo
intencionalmente.
A Resolução CONAMA n.º 5/1993, classifica os Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde
(RSSS) em diferentes grupos, ou seja:

Grupo A: Resíduos que apresentam risco potencial à saúde e ao meio ambiente devido a
presença de agentes biológicos, como por exemplo, sangue e derivados, resíduos de
laboratórios, de assistência ao paciente, materiais perfuro- cortantes, dentre outros. Não é
permitida a reciclagem de resíduos desse grupo ou de outros contaminados por estes; Grupo
B: Resíduos que apresentam risco potencial à saúde e ao meio ambiente devido às suas
características químicas. Por exemplo, os resíduos farmacêuticos, quimioterápicos e
soluções reagentes; Grupo C: Rejeitos radioativos, que contenham radionuclídeos em
quantidades superiores àquelas especificadas pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear
(CNEN); Grupo D: Resíduos Comuns, ou todos aqueles que não se enquadram nos tipos
anteriores e que não representam risco adicional à saúde pública (BRASIL, 1993 citado por
BRITO, 2000).

Vale lembrar que os medicamentos são caracterizados como Resíduos que apresentam risco
potencial à saúde e ao meio ambiente devido às suas características químicas. Os produtos químicos
podem reagir de forma violenta com outra substância química, inclusive com o oxigênio do ar ou
com a água, produzindo fenômenos físicos tais como calor, combustão ou explosão, ou então
produzindo uma substância tóxica. (FIO CRUZ, 2013).
Os medicamentos que apresentam risco químico e que devem ser descartados de maneira
especial são: Produtos hormonais e antimicrobianos; Citostáticos, antineoplásticos;
Imunossupressores; Digitálicos, Imunomoduladores e Anti-retrovirais; Medicamentos psicotrópicos
e entorpecentes, sujeitos ao controle da Portaria n. 344/98. Para estes medicamentos, a RDC 306/04
da ANVISA recomenda que devam ser levados à vigilância sanitária municipal. O ideal é que sejam
incinerados ou que sejam depositados em aterro sanitário de classe I (ANVISA, 2004).
Para os demais medicamentos que não pertencem aos grupos acima citados, recomenda-se
as seguintes formas de descarte: Para formas farmacêuticas líquidas: desprezar o líquido em esgoto
comum, de acordo com as normas ambientais de saneamento básico. O frasco pode ser desprezado
no lixo comum, preferencialmente para coleta seletiva. Para formas farmacêuticas sólidas: os
comprimidos e cápsulas devem ser retirados dos blísteres e devem ser desprezados em aterro
sanitário, ou incinerados. Idealmente, não devem ser jogados em lixo comum. As caixas e blísteres
vazios podem ser desprezados em lixo comum. Segundo a RDC 44/09,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 640


[...] fica permitido às farmácias e drogarias participar do programa de coleta de
medicamentos vencidos para descarte pela comunidade, tendo em vista a preservação da
saúde pública e a manutenção da qualidade do meio ambiente, considerando os princípios
da biossegurança para prevenir acidentes. No entanto, é facultativo para esses
estabelecimentos realizarem a coleta de produtos farmacêuticos vencidos e inutilizáveis
(ANVISA, 2009).

Quanto aos impactos negativos dos RSS ao meio ambiente destaca-se o potencial de
contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas pelo lançamento de RSS em lixões ou
aterros controlados que também proporciona riscos aos catadores, principalmente por meio de
lesões provocadas por materiais cortantes e/ou perfurantes, e por ingestão de alimentos
contaminados, ou aspiração de material particulado contaminado em suspensão (CECOM, 2008).
Também se deve enfatizar que os RSS são fontes potenciais de propagação de doenças e
apresentam um risco adicional aos trabalhadores dos serviços de saúde e a comunidade em geral,
quando gerenciados de forma inadequada. E, finalmente, há o risco de contaminação do ar, dada
quando os RSS são tratados pelo processo de incineração descontrolado que emite poluentes para a
atmosfera contendo, por exemplo, dioxinas e furanos.
Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em sub-superfície nos
diferentes compartimentos do ambiente, como por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas rochas,
nas águas subterrâneas. Os contaminantes podem ser transportados a partir desses meios,
propagando-se por diferentes vias, como o ar, o solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando
suas características naturais de qualidade e determinando impactos e/ou riscos sobre os bens a
proteger, localizados na própria área ou em seus arredores.
As vias de contaminação dos RSS, a exemplo dos remédios para os diferentes meios podem
ser a lixiviação do solo para a água subterrânea, absorção e adsorção dos contaminantes nas raízes
de plantas, verduras e legumes, escoamento superficial para a água superficial, inalação de vapores,
contato dermal com o solo e ingestão do mesmo por seres humanos e animais (BRASIL, 2012b).
Vale destacar que a ―prevenção da geração de resíduos deve ser considerada prioritária em
projetos e processos produtivos, baseada na análise do ciclo de vida dos produtos e na produção
limpa para buscar o desenvolvimento sustentável‖ (CECOM, 2008, p.4).
Dessa forma, o aumento dos resíduos reciclados e a diminuição dos resíduos comuns
resultam em aumento de vida útil dos aterros sanitários. Um impacto positivo ocorre ao gerar uma
maior quantidade de resíduos advindos da coleta seletiva, pois se criam oportunidades de emprego e
renda para comunidade através das cooperativas de materiais recicláveis.

Gestão de resíduos dos serviços de saúde do município de Teresina

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 641


O gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) no município de Teresina é
feito através de um conjunto de ações que tem seu início no manejo interno, onde é realizada uma
segregação adequada dentro das unidades de serviços de saúde, visando à redução do volume de
resíduos infectantes (PORTAL COELHO NETO, 2013).
O tratamento dos RSS é de extrema importância, pois consiste na descontaminação dos
resíduos através de meios químicos ou físicos que devem ser feitos em locais seguros. Em Teresina,
o processo de coleta é monitorado pela Sterlix Ambiental que tem licenciada uma unidade de
tratamento e transbordo para atendimento a todos os grupos de resíduos gerados na capital
piauiense.
A Lei federal 12.305/2010 que trata dos Resíduos Sólidos obriga a todo gerador desse
material a fazer não só a gestão completa dos seus resíduos como também a destinação correta. Os
Resíduos de Serviços de Saúde podem ser tratados por incineração, autoclavação ou micro-ondas,
que são tecnologias homologadas pela Anvisa (PORTAL COELHO NETO, 2013).
Com a implantação do gerenciamento adequado dos RSS na cidade, há a diminuição da
contaminação do meio ambiente e do trabalhador, já que as pessoas que manipulam os RSS têm sua
saúde exposta a riscos, uma vez que o manejo de forma incorreta pode levar a um aumento do
número de casos de infecções hospitalares.
Apesar de ocorrer o gerenciamento dos RSS em Teresina, as pesquisas não apontaram para a
existência de um tratamento especifico aos resíduos relacionados aos medicamentos de uso
doméstico. Estes continuam sendo descartados em locais impróprios como pias, vasos sanitários e
no lixo comum. Dessa forma, parte desses remédios é encaminhada diariamente para o aterro
controlado existente na cidade, contribuindo para contaminação do solo, das águas superficiais e
subterrâneas.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou que os medicamentos são considerados substâncias químicas que
causam impactos ambientais negativos. A população contribui nesse processo ao realizar o descarte
de medicamentos de maneira incorreta, afetando diretamente o ambiente, pois contribui para a
poluição das águas pluviais, fluviais e solos.
As áreas contaminadas urbanas são representadas pelos lixões e aterros sanitários causando
riscos à saúde humana e desvalorizando financeiramente os imóveis vizinhos. Assim, a articulação
entre governo e iniciativa privada, as implicações econômicas e a conscientização da população
aparecem como os principais pontos a serem trabalhados para viabilizar o novo modelo de gestão
de lixo produzido no país. Todos os segmentos da sociedade precisam fazer sua parte.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 642


Também existe a importância da responsabilidade pós-consumo, que envolve desde a
indústria até os consumidores, e da implantação da logística reversa, instrumento pelo qual as
empresas passam a ser responsáveis pela coleta dos produtos que fabricam. Portanto, deve haver a
conscientização com investimentos na cultura e na educação ambiental como uma forma de tornar a
gestão de resíduos sólidos mais eficaz, incluindo os medicamentos, especialmente de uso
doméstico.
A adequação à Política de Resíduos Sólidos no país tem priorizado um processo seguro e de
forma eficiente que visa a proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos
naturais e do meio ambiente. Porém o seu processo de implementação ocorre de forma lenta, apesar
da urgência da problemática do descarte de remédios nos lixões.
Porém, a implantação da coleta seletiva nas unidades receptoras dos RSS pode contribuir
para a diminuição dos resíduos que contaminam o ambiente, a exemplo dos medicamentos que
antes eram descartados no lixo comum e dispostos no aterro sanitário, determinando assim,
impactos positivos.
Efetuando a doação de medicamentos que não estão sendo utilizados, comprando
medicamentos fracionados, assim como criando postos de coleta de medicamentos vencidos, são
maneiras conscientes de descarte de remédios que podem contribuir para minimizar os impactos
causados ao ambiente.

REFERÊNCIAS

ANVISA e ABDI discutem descarte de resíduos de medicamentos. 2012. Disponível em:


http://www.blog.saude.gov.br/anvisa-e-abdi-discutem-descarte-de-residuos-de-medicamentos.
Acesso em: 28 abr. 2013.

ANVISA. Resolução da diretoria colegiada - RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009. Dispõe sobre
Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da
comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 ago. 2009. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/pdf/180809_rdc_44.pdf. Acesso em: 02 mai.
2013.

______. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004. Dispõe


sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 10 dez. 2004. Disponível em:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 643


http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ebe26a00474597429fb5df3fbc4c6735/RDC_306.pd
f?mod=ajperes. Acesso em: 02 mai. 2013.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Cidades sustentáveis: política nacional de resíduos


sólidos. 2012a. Disponível em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-
solidos/politica-nacional-de-residuos-solidos. Acesso em: 28 abr. 2013.

______. Ministério do Meio Ambiente. Cidades sustentáveis: áreas contaminadas. 2012b.


DISPONÍVEL EM: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/areas-
contaminadas. Acesso em: 28 abr. 2013.

______. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos: Versão Preliminar
para Consulta Pública. Brasília, 2011. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/253/_publicacao/253_publicacao02022012041757.pdf.
Acesso em: 28 abr. 2013.

______. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
Altera a lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da
União. Brasília, DF, 03 ago. 2010a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm. Acesso em: 28 abr.
2013.

______. Decreto 7404 de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de


2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da
Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas
de Logística Reversa, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 24 dez.
2010b.

______.Resolução CONAMA nº 001 de 23 de janeiro de 1986, que dispõe sobre definições, as


responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para o uso e implementação da
Avaliação de Impacto Ambiental. Diário Oficial da União Brasília, DF, 24 já. 1986.

BRITO, M. A. G. M. Considerações sobre resíduos sólidos de serviços saúde. Revista Eletrônica de


Enfermagem (online), Goiânia, v.2, n. 2, jul-dez. 2000. O Disponível em:
http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen.

CECOM. Amenizar o Impacto Ambiental Gerenciando os Resíduos. UNICAMP: São Paulo. 2008.

FIO CRUZ. Risco químico. 2013. Disponível em:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 644


http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/material11.htm. Acesso em: 02 mai. 2013.

PORTAL COELHO NETO. Após lei da gestão dos resíduos, Teresina tratou mais de 2 mil
toneladas de lixo hospitalar. 2013. Disponível em: http://www.portalcoelhoneto.com/apos-lei-
da-gestao-dos-residuos-teresina-tratou-mais-de-2-mil-toneladas-de-lixo-hospitalar.html. Acesso
em: 28 abr. 2013.

TOLENTINO, Lucas. Novo modelo de gestão do lixo. InforMMA. 2013. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/informma/item/9272-novo-modelo-de-gest%C3%A3o-do-lixo. Acesso
em: 28 abr. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 645


OS IMPACTOS CAUSADOS PELA DEPOSIÇÃO INADEQUADA DO LIXO: O CASO
DE SÃO FERNANDO-RN

Valfredo Pereira de ARAÚJO FILHO


Graduando do Curso de Geografia-Bacharelado da UFRN
vpgeografia@yahoo.com.br

Alzira Gabriela da SILVA


Orientadora da disciplina: Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no Semiárido
alziragabi@ufpa.br

RESUMO
Objetivou- se via condução deste estudo aborda sobre os impactos ao meio ambiente ocasionados
pelos lixões em áreas urbanas, neste caso, no município de São Fernando-RN. Como tema o caso
dos lixões nas áreas urbanas, e seus determinados impactos causados ao meio ambiente e seu
entorno. Abordamos impactos ambientais negativos ocasionados pelas maneiras de uso e costumes
e hábitos culturais da população, que são percebidas nas cidades do Brasil, como também a falta de
politicas publica voltada para a construção de aterros sanitários nos centro urbanos brasileiros.
Refletir sobre problemas ambientais em nossa sociedade, em especial os lixões, e seu destino,
pensar nas possíveis formas de reaproveitamento, abordamos ainda a pratica de educação ambiental
nas escolas públicas para uma compreensão da realidade e das responsabilidades da coletividade em
relação à vida pessoal de cada individuo enquanto ser social. E enfocar as questões ambientais
como foco principal e primordial nas discursões e trabalhos voltados para disciplinas especificas
que avaliem os problemas ocasionados pelo descoso de nossa sociedade, em geral. Foram
verificadas causas de impactos ambientais nas margens do riacho da serra, onde está localizado o
lixão da cidade de São Fernando-RN. Os manacias hídricos são de fundamental importância na
definição de cidades. Os rios são utilizados como corpos receptores de efluentes e ainda de lixos
que inadequadamente também é depositado nas margens e leitos. A poluição dos mananciais ocorre
de varias maneiras, nos centros urbanos, são utilizados como depósitos de lixos no local
inadequado. A realização desse trabalho se pauta em estudos bibliográficos e qualitativos nas
discursões de educação ambiental. Procuramos com esse estudo, buscar soluções simples com o
intuito de amenizar os graves problemas sociais ocasionados pelo lixão publico na cidade de São
Fernando-RN.
Palavras Chaves: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Direitos e Deveres, Politicas Publicas,
Contaminação das águas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 646


RESUMEN
El objetivo del este estudio se centra los impactos al medio ambiente causados por los vertederos
de las zonas urbanas, este caso, el municipio de São Fernando-RN. Temáticamente los vertederos
en áreas urbanas, y sus impactos específicos para el medio ambiente y su entorno. Nos dirigimos a
los impactos ambientales negativos causados por el uso de los modales, las costumbres, los hábitos
culturales de la población, que se perciben en las ciudades de Brasil, así como la falta de políticas
públicas orientadas la construcción de rellenos sanitarios en centros urbanos brasileños. Reflexionar
sobre los problemas ambientales de nuestra sociedad, especialmente los vertederos, su destino,
pensar en posibles formas de reutilizar, todavía enfoque práctico a la educación ambiental en las
escuelas públicas para la comprensión de la realidad y las responsabilidades de la comunidad en
relación con la vida personal cada individuo como ser social. Centrarse en cuestiones ambientales
como el foco principal, primaria en discursões, estudios relacionados con las disciplinas específicas
para evaluar los problemas causados por descoso de nuestra sociedad en general. Las causas de los
impactos ambientales se encuentran en las orillas del arroyo de la montaña, donde se encuentra
relleno sanitario en la ciudad de São Fernando-RN. Agua Manacias son de importancia fundamental
en la definición de las ciudades. Los ríos se utilizan como órganos de efluentes y residuos que aun
inadecuadamente también se depositan en los bancos, de recibir. A contaminación de las fuentes de
agua se produce de muchas maneras, en los centros urbanos, son utilizados como vertederos de
desechos en lugar inadecuado. La realización de este trabajo se alinea a los estudios bibliográficos,
cualitativos en discursões educación ambiental. Esperamos con este estudio, buscamos soluciones
simples a fin de mitigar los graves problemas sociales causados por vertedero público en la ciudad
de São Fernando-RN.
Palabras clave: ambiente, educación ambiental, derechos y deberes, la política pública, las fuentes
de contaminación.

INTRODUÇÃO

O lixo ao longo dos tempos vem sendo um problema do advento da sociedade moderna,
conhecida como a sociedade do desperdício, se tornando uma questão muito complexa desde as
dificuldades de coleta até o destino final. A pressão do homem é grande sobre a terra, é cada vez
maior para prejudicar a biodiversidade de espécies.
A falta de avaliação de impactos ambientais para a instalação de aterros sanitários contribui
e omite este grave problema ambiental. (FERREIRA, 2007). O combate às doenças causadas por
ele e destruição gradual do planeta.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 647


No município de São Fernando-RN, o lixo é simplesmente jogado no solo, sem qualquer
cuidado, formando o famoso lixo a céu aberto que é altamente prejudicial à saúde publica como ao
meio ambiente.
O lixo é um grande responsável por um dos mais graves problemas ambientais do nosso
tempo, e as consequências da disposição inadequada são varias tais como: contaminação do lençol
freático e do ar, assoreamentos dos mananciais, contaminação o solo, presença de vetores
causadores de doenças muitas vezes incuráveis, ocasionando vários problemas sociais.
A importância de um destino final adequado para o lixão produzido no município de São
Fernando-RN, é de suma importância para a população do mesmo, pois traz inúmeros benefícios á
população, como melhorias de qualidade de vida, saúde e diminuição dos impactos causados por ele
ao meio ambiente.
Com a pretensão de um destino final adequado, foram propostas ações como a construção de
um aterro sanitário e a recuperação da área impactada pelos constantes despejos de lixo no local e
em seus arredores.
De acordo com (Santos 2004): ‖Os impactos podem ser identificados a partir da seleção das
principais ações, processos ou atividades humanas, numa determinada área de estudo. Aumento da
geração de resíduos é um fenômeno diretamente relacionado com o crescimento populacional e
impactado por outros fatores intrínseco ao comportamento social.‖
O não tratamento dessa massa pode contribuir significativamente para a degradação da
biosfera, em detrimento da qualidade de vida em nosso planeta. Considerando a tendência futura
desses fatores básicos e suas implicações na produção e origem do lixo, podendo deduzir o conceito
de inexorabilidade do lixo, ou seja, podemos afirmar que o lixo urbano é inesgotável em vista de
sua origem.
O lixão da cidade de São Fernando está situado na zona norte da cidade, já na área rural do
município. É depositado a céu aberto e não há uma separação criteriosa de materiais recicláveis,
pois ainda não existe coleta seletiva na cidade e sem nenhum controle ambiental. Neste contesto as
substancias toxicas causam vários danos ao lençol freático, caracterizando agressividade ao meio
ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 648


Figura 01: Perímetro urbano do município de São Fernando

JUSTIFICATIVA

Este tema foi selecionado com o proposito de mostrar a relevância no que se refere à
preservação do meio ambiente, tendo vista a crescente produção de lixo nos dias atuais da
modernidade capitalista de consumo, causando danos gravíssimos e sérios impactos nos
ecossistemas, como a poluição dos mananciais, dos solos, do ar, provocando transtornos na
qualidade de vida da humanidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento desta atividade foi realizado no município de São Fernando-RN.


Inicialmente foram realizadas revisões bibliográficas por meio de livros, artigos científicos e
internet, etc. para levantar maiores informações sobre o tema abordado. Também foram realizadas
visitas ―in lócus‖ com o intuito de coletar dados no lixão, foram demarcados em 08 pontos distintos
com de 04 m² cada um deles, posteriormente foram realizadas observações e quantificado o material
coletado.
O resultado foi surpreendente, dentre os materiais, o de maior quantidade foi às sacolas
plásticas, entre 80 e 09% em cada quadrado selecionado. A delimitação da área dos pontos foi
realizada com o auxilio de uma trena. Foi também utilizada câmera fotográfica digital de marca
Aires, com 08 megapixels.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 649


Tivemos ainda o auxilio de GPS (Carmim entre legend com precisão de aproximadamente
6m) para delimitação com uma distancia de 10 metros entre cada um dos pontos, acima citados,
sendo realizada uma avaliação da quantidade, e tipo de lixo e marcas dos produtos, para, isso
delimitamos as áreas de 04 m².

Figura 02: deposito de lixo


Croqui de localização do lixão poluindo o córrego do açude

OBJETIVO GERAL

Identificar as causas e efeitos do lixão, e suas consequências para população, analisar como
a falta de um sistema adequado de deposição de lixo na cidade de São Fernando.
Analisar como os lixões são expostos nas cidades, e a falta de instrumentos apropriados na
coleta seletiva do lixo.
Procurar meios adequados para uma sensibilização ambiental para a população, e avaliar os
métodos incapazes, e falta de compromisso dos governantes com os problemas públicos.
Denunciar o descaso dos poderosos com a transparência politica, e procurar esclarecer os
grandes desafios da sociedade para uma vida melhor.

RESULTADOS

A pesquisa realizada na área do lixão da cidade de São Fernando tem o intuito de identificar
os danos causados pelos resíduos sólidos expostos a céu aberto, no ambiente, fazendo no possível à
identificação dos mesmos. Para se chegar ao resultado com mais precisão, foi delimitado a área em
08 pequenos pontos, distintos para realizar levantamento de dados, amostras do tipo de lixo exposto
no local, até podermos chegar a uma identificação.
A partir desses pontos, foi possível identificar que os principais resíduos encontrados foram:
plásticos, vidros, papelão, animais mortos, entre outros. Outro ponto que devemos ressaltar, é que a
maioria das sacolas plásticas encontradas, é proveniente do comercio, supermercados, lojas etc. Isso
foi possível graças à logomarca de marketing. Do comércio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 650


Material Tempo de decomposição
Vidro Indeterminado
Sacolas Plásticas Cerca de 100 anos
Pneus Indeterminado

Tabela 1: materiais e o tempo de decomposição no ambiente


Fonte: Luís Gustavo Magro Dionísio & Renata Barbosa Dionísio

Foto 01: Lixão


Fonte Do Autor

Foto 02: Lixão


Fonte Do Autor

Há varias maneiras de exposição final do lixo nas cidades brasileiras, elas refletem o
descompromisso dos gestores públicos quanto aos problemas ambientais causados pela
contaminação das aguas e mananciais. O despreparo técnico e a fata de recursos econômicos
disponíveis para esses fins, ocasionando as dificuldades para os municípios enfrentar o problema.
Nestes casos, os gestores promovem um destino final inadequado ao lixo.
Escondendo assim o problema dos olhos da população, enquanto faltam projetos políticos
para angariar recursos destinados para esse fim, como também a consolidação de uma politica seria
na maioria dos municípios, quando em muitos deles, há pratica dos mensalões nas prefeituras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento da população, a consequente expansão urbana e a ampliação do sistema


produtivo, o consumo exacerbado de produtos industrializados, têm contribuído muito no
agravamento das condições ambientais em todo o mundo, e na cidade de São Fernando/RN.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 651


No ambiente urbano, determinados impactos ambientais como poluição das aguas, do solo
nas periferias, nas cidades. É necessário repensar novos hábitos. A ocupação humana em ambientes
urbanos saudáveis requer do cidadão a condição de ser um agente atuante no processo de interação
com meio ambiente, estas formas de compreensão pressupõe que haja melhorias nas condições
ambientais e humanas. Assim modificando as formas e manutenção do lugar onde habita fixando
novos hábitos culturais mais saudáveis.

CONCLUSÃO

Embasado no que discutido e trabalhado no decorrer desta ação, chegamos à conclusão final
de que o lixo está causando vários impactos ambientais; tanto na área em que o mesmo é depositado
diretamente a céu aberto, quanto em uma parte significa da área em seu entorno.
Além disso, para que se possa reabilitar essa área é necessária à construção de um aterro
sanitário, como também fazer a recuperação da vegetação nativa, para que esse ecossistema esteja
equilibrado novamente. Os resíduos apresentados durante todo o trabalho mostra claramente que o
lixo hoje em dia é dos mais graves problemas que temos; para isso, devemos planejar e estudar
métodos que venham acarretar na diminuição dessa problemática do lixão.
Para finalizar essa explanação, fica claro que nos dias atuais, estatísticas afirmam que depois
do estilo de vida que as populações vivem, o meio ambiente é segundo fator em importância para
que um individuo ultrapasse os 65 anos de idade.
Ainda segundo Pavarini (1969), a qualidade de vida na velhice ganha um sentido amplo e
necessário, criando- se a necessidade de um olhar critico, que vai além de intervenções a respeito
das alterações do envelhecimento e de suas consequências, afim de proporcionar ao idoso bem estar
e maior capacidade funcional.

REFERÊNCIAS

OTT, Cestão publicas e praticas urbana para as cidades sustentáveis: a ética da legislação no meio
urbano aplicada às cidades com até 500 mil habitantes. Florianópolis 2004.

ANGELI, S at al, Comida no lixo. Folha do Meio Ambiente, Brasília, setembro de 2001.

BRANCO, Samuel M. O Meio Ambiente em debate, 29ª ed. São Paulo: Moderna, 1998.

Seguir esse padrão de referencias

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 652


PAVARINI, S. C. I. Dependência comportamental da velhice: uma analise dos cuidadados
prestados aos idoso institucionalazados. 1996. Tese (doutorado ) _ Faculdade de Educação,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP. 1996.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 653


ASPECTOS AMBIENTAIS EM POSTOS REVENDEDORES DE COMBUSTÍVEIS
(PRC) NA ATIVIDADE DE ABASTECIMENTO DE VEÍCULOS

Kalynne Borges de MEDEIROS


Controle Ambiental (IFRN)
kihborges3@gmail.com

Lean Mariama Barbosa da SILVA


Controle Ambiental (IFRN)
lean.mariama@hotmail.com

Robson Garcia da SILVA


Controle Ambiental (IFRN) - Orientador
robson.garcia@ifrn.edu.br

RESUMO
Os Postos Revendedores de Combustíveis (PRC) são encontrados nos mais diversos locais, como
centros urbanos, meios rurais e rodovias. As atividades dos PRC geram aspectos ambientais que
causam impactos com efetivo potencial poluidor ao meio ambiente. Neste sentido, o vigente
trabalho tem como objetivo apontar os principais aspectos ambientais dos PRC, na atividade de
abastecimento de veículos. Para tanto, a pesquisa é do tipo exploratória, a qual se recorreu a
levantamentos em meio eletrônico, bibliográfico e documental. Os resultados obtidos constataram
que a atividade de abastecimento de veículos pode gerar vinte e três aspectos ambientais, os quais
podem ser classificados, conforme suas características, em seis tipos principais. Portanto, percebe-
se o quanto esta atividade oferece riscos à saúde e ao meio ambiente e à medida que eleva-se a
quantidade de veículos, aumenta-se a demanda por abastecimento, o que intesifica a geração de
aspectos ambientais nos PRC.
Palavras -Chave: Aspectos ambientais; impactos ambientais; Postos Revendedores de Combustíveis
(PRC); abastecimento de veículos.

ABSTRACT
Fuel Resellers jobs (FRJ) are found in many different locations, such as urban centres, rural areas
and highways. The activities of FRJ have environmental aspects that generate impacts with
effective potential polluter of the environment. In this sense, the present work aims to point out the
main environmental issues of the FRJ, in the activity of vehicles supply. To this end, the research is
exploratory type, which resorted to withdrawals in electronic media, bibliographic and
documentary. The results found that the activity of supply vehicles can generate twenty-two
environmental aspects, which can be classified, according to their characteristics, in five main
types.On this basis, drew up a framework where are pointed out the major environmental aspects

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 654


into vehicle supply activity, classifying them according to their characteristics. The results found
that there are at least five major types of environmental aspects in the activity of vehicles supply.
Therefore, one realizes how much this activity offers risks to health and the environment and to
measure that raises the amount of vehicles, increases the demand for supplies, which intensifies the
generation of environmental aspects in the FRJ.
KEYWORDS: Environmental aspects; environmental impacts; Fuel Resellers jobs (FRJ); supply
vehicles.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os PRC ou postos de gasolina, como são popularmente chamados,
deixaram de exercer apenas a função de abastecer veículos, e passaram a agregar os mais variados
serviços, como a troca de óleo, lojas de conveniência, lava-jatos, entre outras funções.
As atividades realizadas pelos PRC começaram a ser consideradas como altamente
poluidoras por meio da Resolução CONAMA n° 273 de 29 de novembro de 2000. Este fato se dá,
conforme afirma Santos (2005), pelas características dos aspectos ambientais dessas atividades, as
quais geram impactos com efetivo potencial poluidor, além disso, ressalta-se que é uma atividade
encontrada nos mais diversos locais, como centros urbanos, meios rurais e rodovias.
Nessa perspectiva, surge a necessidade de fazer um estudo relacionado aos PRC,
precisamente na atividade de abastecimento de veículos, de modo a compreender essa problemática,
inicialmente, por meio da identificação dos principais aspectos ambientais que são gerados nesta
atividade.
Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo apontar os principais aspectos
ambientais de PRC, na atividade de abastecimento de veículos. Para tanto os procedimentos
metodológicos pautaram-se na pesquisa exploratória, à medida que tem como objetivo proporcionar
visão geral e aproximativa sobre o tema em tela (GIL, 2008) e foi desenvolvida por meio de
pesquisas em meio eletrônico e bibliográfico, sendo consultados artigos, dissertações e teses de
diversos autores. Além disso, foram realizadas pesquisas documentais por intermédio de consultas à
norma da ABNT, regulação do CONAMA e decreto estadual, de modo a aperfeiçoar a discussão
teórica.
Dentre as obras levantadas, foram lidas e discutidas àquelas que apresentavam os diferentes
aspectos ambientais em PRC, no contexto da atividade de abastecimento de veículos, que foram as
dos autores Santos (2005), Barros (2006), Souza (2009), Lorenzett et al. (2011) e Soares et al.
(2012). Em seguida, com base na leitura dos aspectos ambientais das obras dos autores citados,
elaborou-se um quadro (quadro 1) apontando os vinte e três aspectos ambientais mais citados por

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 655


esses autores na atividade de abastecimento de veículos de PRC e, após, foram classificados,
conforme suas características, em seis tipos principais.
Este trabalho é financiado pelo Programa de Formação de Recursos Humanos (PFRH) da
Petrobras, o qual está sendo desenvolvido como parte da pesquisa intitulada ―impactos ambientais
causados pelos postos de combustíveis: o caso dos postos de Natal/RN‖.

Postos Revendedores De Combustíveis (Prc) E Aspectos Ambientais: Breves Considerações


Conceituais

De acordo com a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 273,


de 29 de novembro de 2000, posto revendedor de combustível é

A Instalação onde se exerça a atividade de revenda varejista de combustíveis líquidos


derivados de petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos, dispondo de
equipamentos e sistemas para armazenamento de combustíveis automotivos e
equipamentos medidores (art. 2°, inciso I, p. 800).

O ramo de PRC, conforme assinala Santos (2005), pode ser dividido em duas categorias, de
acordo com sua função e com as atividades neles desenvolvidas: a de postos cidade e a de postos
estrada. O primeiro é mais voltado para atender às necessidades da população urbana, enquanto o
segundo é mais voltado a atender às necessidades dos viajantes e dos caminhoneiros.
Embora a resolução do CONAMA defina os PRC como supramencionado, Santos (2005, p.
74), pontua que as atividades mais frequentes em um PRC são as seguintes:
a) recebimento de produto via carros-tanques de combustíveis;
b) armazenamento dos combustíveis em tanques enterrados;
c) abastecimento dos veículos;
d) operação do sistema de drenagem oleosa segregada da fluvial;
e) troca de óleo lubrificante dos motores dos veículos;
f) lavagens de veículos;
g) operação da loja de conveniência / escritórios / arquivo morto.
Com relação ao conceito de aspecto ambiental, este pode ser entendido como um ―elemento
das atividades, produtos e/ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio
ambiente‖ (ABNT NBR ISO 14001/2004). Sánchez (2006) destaca que a norma ISO 14.001 sobre
gestão ambiental, desenvolvida em meados da década de 90, foi a precursora deste termo que, ao
longo dos últimos anos, vem sendo incorporado ao vocabulário ambiental das organizações públicas
e privadas.
Cabe aqui distinguir aspecto de impacto ambiental, o qual o primeiro é causa e o segundo a
sua consequência, ou seja, o aspecto é um mecanismo por meio do qual uma ação humana, aqui

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 656


entendida como atividades, produtos ou serviços, causa um impacto ambiental. Portanto, a emissão
de dióxido de carbono, a geração de resíduos sólidos, por exemplo, são aspectos e não impactos
ambientais. Impacto serão as alterações, positivas ou negativas, da qualidade ambiental que
resultam desses aspectos (SÁNCHEZ, 2006).
No que tange aos PRC, Lorenzett et al. (2011) afirma que os aspectos ambientais
evidenciam os elementos que surgem das atividades e dos processos desenvolvidos pelo postos,
que, por sua vez, se relacionam com o meio ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o aumento da demanda por combustíveis, consequentemente houve um aumento na


geração de aspectos ambientais nos PRC que, quando em grande escala e administrado de maneira
incorreta, tornam-se significativos, aumentando o risco de acidentes e contaminação do meio
ambiente. Tendo em vista isso, foi feito o quadro abaixo, elencando os principais aspectos
ambientais que os seis autores citados anteriormente abordaram em seus trabalhos acerca dos PRC,
além de classificá-los em seis tipos principais.

CLASSIFICAÇÃO
ASPECTOS AMBIENTAIS DOS ASPECTOS
AMBIENTAIS
Rupturas nas conexões dos tanques enterrados, linhas ou tubulações de Vazamento de
alta pressão mediante a operação diária de distribuição de combustível
combustível
líquido e gasoso.
Vazamento de
Vazamento de combustível líquido mediante a desconexão da válvula da
mangueira na bomba. combustível
Vazamento de
Jorro ou gotejamento de combustível líquido na Bomba de
Abastecimento de Veículos. combustível
Vazamento de
Pequeno vazamento do combustível líquido no abastecimento do
veículo. combustível
Vazamento de
Grande vazamento do combustível líquido no abastecimento do veículo.
combustível
Vazamento de
Vazamento no "Filtro Prensa" de combustível líquido (óleo diesel).
combustível
Vazamento de
Vazamento de Gás Natural Veicular (GNV) na conexão bico-veículo,
durante o abastecimento. combustível

Vazamento de GNV na tubulação do dispenser. Vazamento de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 657


combustível
Vazamento de
Vazamento de GNV mediante o deslocamento do dispenser.
combustível
Vazamento de
Vazamento de combustível líquido mediante ao abalroamento das
bombas. combustível
Vazamento de
Vazamento de GNV na mangueira do dispenser devido a falta de
manutenção durante a operação de abastecimento do veículo. combustível
Vazamento de
Vazamento de GNV no dispenser mediante a falha no funcionamento da
válvula de excesso de fluxo. combustível
Vazamento de
Falta de estanqueidade das bombas de abastecimento.
combustível

Geração de ruído de veículos, bombas de combustíveis e pessoas. Emissões atmosféricas


Emissão de Composto Orgânico Volátil (COV) na boca do Emissões atmosféricas
compartimento durante o abastecimento do veículo.
Emissão de COV na tubulação de respiro dos tanques enterrados Emissões atmosféricas
Geração de resíduos
Disposição inadequada de estopas , mantas absorventes e flanelas.
sólidos
Emissão de faíscas
Presença de Fonte de Ignição
elétricas
Consumo de
Consumo de combustíveis líquido (álcool, gasolina ou diesel) ou gasoso
(GNV). combustível
Pagamento do produto
Pagamento do combustível no PRC
e serviço
Pagamento do produto
Pagamento de tributos sobre os combustíveis.
e serviço
Pagamento do produto
Pagamento de salários aos frentistas.
e serviço

Quadro 1 – Aspectos ambientais na atividade de abastecimento de veículos nos postos revendedores de


combustíveis e suas classificações.
Fonte: elaborado pelos autores, adaptado de Santos (2005), Barros (2006), Souza (2009), Lorenzett et al.
(2011) e Soares et al. (2012).

A seguir apontam-se e discutem-se os seis tipos principais de aspectos ambientais, descritos


pelos autores já mencionados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 658


Vazamentos de combustíveis

A principal fonte potencial de poluição em um PRC é causada por vazamentos e derrames


de combustíveis, contaminando o solo e podendo contaminar o lençol freático e o ar com vapores
inflamáveis, em locais confinados, causando riscos à saúde pública e ao meio ambiente (BARROS,
2006).
Segundo a NR-20 (1978), ―Combustível líquido, é todo aquele que possua ponto de fulgor
igual ou superior a 70ºC (setenta graus centígrados) e inferior a 93,3ºC (noventa e três graus e três
décimos de graus centígrados)‖. Em um vazamento de gasolina, uma das principais preocupações é
a contaminação de aquíferos, os quais são fontes de abastecimento de água para consumo humano
(TEIXEIRA, 2008).
Por ser muito pouco solúvel em água, a gasolina derramada, contendo mais de 400
componentes químicos, inicialmente estará no subsolo como líquido de fase não aquosa (NAPL).
Em contato com a água subterrânea, a gasolina se dissolverá parcialmente. Os hidrocarbonetos
mono aromáticos: benzeno, tolueno e xilenos, chamados BTEX são os componentes presentes na
gasolina que possuem maior solubilidade em água, e, portanto, são os primeiros contaminantes a
atingir o lençol freático. Estes compostos são considerados substâncias perigosas por serem
depressoras do sistema nervoso central. O benzeno é comprovadamente carcinogênico podendo
causar leucemia (TEIXEIRA, 2008).
Além dos combustíveis líquidos, há os gases combustíveis, utilizados por motores de
combustão interna como o GNV. Segundo Melo (2005), esse gás é uma mistura de hidrocarbonetos
parafínicos leves, contendo predominantemente metano, etano, propano e outros componentes de
maior peso molecular. Ele apresenta baixo teor contaminante, porém em caso de vazamento pode
ocasionar interações perigosas com o meio ambiente. Falhas durante a fabricação e/ou instalação do
sistema que armazenará o gás, falta de manutenção do veiculo e do sistema de gás são motivos
pelos quais originam vazamentos. O gás, ao vazar, interage com o meio podendo ocasionar
explosões, incêndios e efeitos tóxicos (ZIMMERMANN, 2009).

Emissões atmosféricas

A emissão atmosférica é o lançamento na atmosfera de qualquer forma de matéria sólida,


líquida ou gasosa, ou de energia, efetuada por uma fonte potencialmente poluidora do ar
(PARANÁ, 2002).
A Resolução do CONAMA nº 03-90, conceitua poluente atmosférico como:

Toda e qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade,


concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos em

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 659


legislação, e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde,
inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à
segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade.

Os PRC podem ser fontes de poluição atmosférica tanto direta como indireta. A forma direta
é dada através do descarregamento de combustíveis e no ato de abastecimento de veículos. Já a
indireta se dá por emissões atmosféricas (geração de ruído) geradas por clientes, carros e as próprias
bombas de abastecimento, as quais causam poluição sonora (BARROS, 2006).
Quanto à geração de ruídos, a resolução nº 01-90 do CONAMA cita que esse aspecto
ambiental gerado em consequência de qualquer atividade industrial, comercial, social ou recreativa,
obedecerá, no interesse da saúde e do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes instituídos
de acordo com a mencionada resolução e com as normas da ABNT NBR 10.151:2000, praticando a
avaliação do ruído em áreas habitadas, tendendo ao conforto da comunidade (BRASIL, 1990).
Na atividade de abastecimento de veículos são geradas, também, as emissões de compostos
orgânicos voláteis (COV), o qual pode ser entendido, como todos os compostos contendo carbono
que participam de reações fotoquímicas na atmosfera com exceção do carbono elementar, metano,
etano, carbonatos, carbono ligado a metal, monóxido e dióxido de carbono (JUNQUEIRA et al.,
2005).
É importante o controle das emissões deste composto, como aponta Assunção (2001), haja
vista que são os principais componentes das reações químicas e físicas na atmosfera que formam o
ozônio e outros oxidantes fotoquímicos, causando o chamado smog Fotoquímico, que é a formação
de uma espécie de neblina composta por poluição, vapor de água e outros compostos.
As emissões de COV são causadas pela evaporação e/ou exaustão através dos topos dos
tanques de carga, e, no caso da atividade de abastecimento de veículos podem ser geradas na
entrada do compartimento durante o carregamento. Quando liberados em ambientes fechados,
provocam intoxicações, problemas respiratórios, irritação nos olhos, nariz e garganta, além do
potencial efeito cancerígeno (SALASAR, 2006). Na camada mais baixa da atmosfera (troposfera),
os COV sofrem reações fotoquímicas com óxidos de nitrogênio (NO e NO2) e formam o ozônio
troposférico, apresentando efeito tóxico para plantas e animais (SCHMIDT, 2011).

Geração de resíduos sólidos

Assim como qualquer outro tipo de atividade, o abastecimento de veículos, realizado por um
PRC, também pode gerar uma grande quantidade de resíduos sólidos. Estes podem ser classificados
como resíduos comuns, não inertes e perigosos e é necessário tomar cuidados especiais quanto à sua
destinação final, pois um grande problema enfrentado pela gestão de resíduos sólidos, no contexto
de postos de combustíveis, é o descarte incorreto de embalagens de óleo lubrificante.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 660


De acordo com Barros (2006), os resíduos perigosos e não inertes mais gerados em PRC
são: Óleo lubrificante usado; Panos, estopas e outros materiais contaminados com óleo e graxa;
Embalagens plásticas contaminadas e não contaminadas com resíduos oleosos; Embalagens de
metais ferrosos e não ferrosos; Materiais recicláveis comuns (papel, plástico, vidro e metal).
Para administrar corretamente os resíduos gerados, recomenda-se que grandes empresas
possuam um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) a fim de reduzir os custos com
manejo de resíduos por ela gerados e minimizar os impactos ambientais, o que além de trazer
benefícios econômicos e ambientais pode contribuir para o marketing ambiental da empresa.
Esse planejamento consiste em duas fases. A primeira, em determinar o que é gerado no
estabelecimento e, a segunda, em um plano, propriamente dito, para gerenciamento dos resíduos. O
objetivo do PGRS é, principalmente, reduzir a quantidade de lixo enviada ao aterro sanitário,
baseando-se nos 3R (reduzir, reutilizar e reciclar), para que, assim, seja possível aumentar a vida
útil dos aterros (BARROS, 2006).

Emissão de faíscas elétricas

O sistema de ignição de um automóvel é constituído por quatro partes principais: pela


bateria, que fornece a corrente elétrica; pela bobina, que eleva a tensão da corrente; pelo
distribuidor, que envia a corrente às velas no momento adequado e, finalmente, pelas velas, que
produzem as faíscas elétricas que inflamam a mistura contida nos cilindros (COSTA, 2002). Aonde
há gases dispersos, de acordo com Araújo e Cardoso (2010), há a ameaça de explosões e incêndios
por causa da emissão de faíscas elétricas.
Nesse sentido, esse aspecto ambiental pode ser gerado a partir da ignição presente nos
motores dos automóveis ou pela eletricidade estática de um aparelho celular ou qualquer outro
aparelho elétrico. As faíscas podem entrar em contato com os gases dispersos e causar incêndios nas
bombas de combustíveis e/ou de automóveis presentes no local, colocando em risco a vida das
pessoas que ali trabalham ou daquelas que estão abastecendo seus veículos.

Consumo de combustível

O consumo de combustível nos PRC causa a diminuição de recursos naturais, haja vista que
a gasolina, o diesel, o álcool, e o GNV são derivados de recursos extraídos do meio ambiente. A
gasolina, o diesel e o GNV provêm do petróleo, um recurso não renovável. Por outro lado, o álcool
provém de biomassa como a cana-de-açúcar ou milho, recursos naturais renováveis.
Diante do cenário atual de escassez de recursos naturais no nosso planeta que vem se
intensificando ao longo dos últimos anos, tornar-se urgente adotar as recomendações preconizadas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 661


no celebre relatório Bruntland lançado em 1987, as quais convergem para uma compatibilização
entre atender as necessidades humanas do presente sem comprometer as necessidades das futuras
gerações. Portanto, no contexto das matrizes energéticas, é necessário buscar inovações
tecnológicas que diminuam o consumo de energia e novas alternativas que priorizem as fontes
renováveis (CMMDA, 1987).
Sob a ótica de inovações tecnológicas uma das principais conquistas nos últimos anos é a
viabilização da exploração de grandes reservas de Gás Natural, matéria-prima para o GNV, visto
que este é considerado o menos poluente dos combustíveis fósseis. Experiências em países como
Brasil, Índia, Irã e Itália corroboram sua viabilidade como combustível veicular. Entretanto, além
dos custos para adaptação dos postos de combustíveis, as principais barreiras para sua disseminação
em outros países e maior utilização em detrimento ao petróleo estão ligadas ao seu transporte, pois a
construção de gasodutos demandam elevados investimentos e não permitem o comércio
transoceânico; e a sua concentração de reservas em poucos países, o que torna um mercado
extremamente sensível a riscos operacionais e geopolíticos (PIMENTEL, 2011).
Quanto às alternativas de fontes renováveis, no que concerne aos combustíveis automotivos,
os biocombustíveis como o álcool e biodiesel representam, nesta contemporaneidade, uma
alternativa capaz de substituir o petróleo.
O álcool é o principal biocombustível no mercado automotivo. Depois da crise dos anos 80,
quando houve uma queda no preço do petróleo e um aumento na cotação do açúcar, o início deste
século foi um período favorável ao seu crescimento global devido ao desenvolvimento e a venda de
carros com tecnologia flex-fuel (carros que consomem gasolina ou álcool), alto preço do petróleo e
o aumento do percentual de álcool misturado à gasolina (PIMENTEL, 2011).
O biodiesel é utilizado em motores a diesel e pode ser proveniente de óleos vegetais ou
gorduras animais. A produção de biodiesel é relativamente nova e a Europa se constitui como o
principal mercado consumidor. No Brasil, o Plano Nacional de Biodiesel, prevê que até 2013 seja
incluso o percentual mínimo de 5% de biodiesel ao óleo diesel vendido, além de incentivar a
produção de matérias-primas, como a soja, em pequenas propriedades do Norte e Nordeste
(PIMENTEL, 2011).

Pagamento do produto e serviço

O pagamento do produto e serviço, ou seja, o pagamento pelo combustível e pelo serviço


prestado pelo PRC, por meio do frentista, é um aspecto ambiental que causa impactos positivos
tanto para o PRC como também para toda a sociedade. Isso se dá porque o consumidor ao pagar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 662


pelo abastecimento do combustível contribui com os tributos sobre os combustíveis, pelo
pagamento dos salários aos frentistas e pelo lucro do PRC.
Atualmente incidem os seguintes tributos sobre os combustíveis: o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS), a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico
(CIDE) combustíveis, o Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social (COFINS), e o Imposto de Importação (MACIEL, 2011).
Portanto, em suma, os tributos são mecanismos de arrecadação utilizados pelo Estado e
esses que incidem sobre os combustíveis, possuem principalmente dois caracteres: o alocativo, ou
seja, quando determina opções de consumo coletivo como educação, saúde, lazer, saneamento,
transporte ou tudo aquilo que pode contribuir para o bem estar social; e o distributivo, quando
voltado para uma redistribuição de renda – proporcionalmente maior para os que detêm mais
recursos, baseado no padrão médio de consumo.
Quanto ao salário, Nascimento (2006) pontua que este se constitui como um conjunto de
percepções econômicas devidas pelo empregador ao empregado, que envolve não somente a
prestação de serviços, mas também os períodos em que estiver aguardando as ordens daquele, os
descansos remunerados, as interrupções do contrato de trabalho ou por força da lei. De um modo
geral, portanto, o pagamento de salários aos frentistas pode contribuir na manutenção de suas
necessidades básicas de alimentação, higiene, vestuário, habitação, transporte, dentre outras
necessidades.
Em relação aos lucros dos PRC, advindos do pagamento pelo abastecimento dos veículos ,
além de ajudar na manutenção desta atividade e dos empregos e incrementar renda aos
empreendedores, pode também, contribuir para a expansão de mercado dos PRC por meio da
instalação de novos empreendimentos, o que gera novas oportunidades de empregos em outras
regiões.

PARA NÃO CONCLUIR

Esta pesquisa ainda encontra-se em andamento. Por isso, apresenta uma breve abordagem
teórica para discussão dos aspectos ambientais nos PRC resultantes da atividade de abastecimento
de veículos. Neste contexto, percebe-se o quanto esta atividade oferece riscos à saúde e ao meio
ambiente e à medida que eleva-se a quantidade de veículos, aumenta-se a demanda por
abastecimento, o que intesifica a geração de aspectos ambientais nos PRC.
Em decorrência dos impactos ambientais provocados pelos PRC, promoveram-se leis,
decretos, resoluções e normas para proteção do meio ambiente, cuja análise da qualidade do solo,
do ar e dos recursos hídricos nas áreas de influência desse empreendimento são essencias para o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 663


monitoramento dos aspectos ambientais que geram impactos negativos, o que deve ser fiscalizado
pelos órgãos ambientais competentes. Quanto aos aspectos que geram impactos positivos percebe-
se que estes provêm pelo pagamento do produto e serviço, o qual está imbutido os tributos do
combustível, o salário dos frentistas e o lucro dos PRC, o que deve ser fiscalizado pelos órgaõs
tributários e trabalhistas para evitar sonegações de tributos e injustiças trabalhistas.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, V. M.; CARDOSO, F. F. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP –


Departamento de Engenharia de Construção Civil. Análise dos aspectos e impactos ambientais
dos canteiros de obras e suas correlações. Disponível em: <
http://www.pcc.usp.br/files/text/publications/BT_00544.pdf>. Acesso em: 27 set. 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma ISO 14.001:2004. Sistema de


Gestão Ambiental – Especificação e diretrizes para uso. São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://200.132.139.11/aulas/Agronegocio/A7%20%20Setimo%20Semestre/Gest%C3%A3o%2
0Ambiental/NORMA%20ISO%2014001.pdf>. Acesso em: 23 set. 2014.

ASSUNÇÃO, R. S. Avaliação das Emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (Vocs) em


operações de carga e descarga de derivados líquidos de petróleo. 2001. 33 f. TCC (Graduação)
- Curso de Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na Indústria,
Departamento de Hidráulica e Saneamento, Universidade Federal da Bahia - Escola Politécnica,
Salvador, 2003. Disponível em:
<http://www.teclim.ufba.br/site/material_online/monografias/mono_rogerio_s_de_assuncao.pdf
>. Acesso em: 26 set. 2014.

BARROS, P. E. D. Diagnóstico Ambiental para Postos de Abastecimento de Combustíveis –


DAPAC. 2006. 140 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciência e Tecnologia Ambiental,
Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2006.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 01,
de 8 de março de 1990. Dispõe sobre critérios de padrões de emissão de ruídos decorrentes de
quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda
política. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res0190.html>.
Acesso em: 26 set. 2014.

______. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Estabelece diretrizes
para o licenciamento ambiental de postos de combustíveis e serviços e dispõe sobre a prevenção

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 664


e controle da poluição. Resolução nº 273, 29 novembro 2000. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2000_273.pdf>.
Acesso em: 23 set. 2014.

______. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 20 - Líquidos combustíveis e inflamáveis. Brasília:


Ministério do Trabalho e Emprego, 2012. Disponível em: <
http://www.oficionet.com.br/arquivos_links/MinisterioTrabalhoEmprego/NR_20.pdf>. Acesso
em: 27 set. 2014.

CAVALCANTI, M. C. B. Análise dos tributos incidentes sobre os combustíveis automotivos no


Brasil. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação de Engenharia, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2006. Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/CapitalHumano/Arquivos/PRH21/Marcelo-Branco-
Cavalcanti_PRH21_UFRJ_M.pdf >. Acesso em: 13 out. 2014.

CASTELLANO E. G; CHAUDHRY F. H. (ed.). Desenvolvimento Sustentado: Problemas e


estratégias. São Carlos – SP. Editora EESC-USP, 2000.

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Sistema integrado de gestão para


prevenção, preparação e resposta aos acidentes com produtos químicos: manual de orientação.
São Paulo – SP, 2003.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMDA).


Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/12906958/Relatorio-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-Em-
Portugues>. Acesso em: 30 set. 2014.

COSTA, P. G. A Bíblia do carro. Disponível em:


<http://www.rastrum.com.br/dir_smb/manuais/automotivos/Mecanica%20Automotiva.PDF>.
Acesso em: 27 set. 2014.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Disponível em:
<https://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-pesquisa-
social.pdf>. Acesso em: 24 set. 2014.

JUNQUEIRA et al. Estudo sobre compostos orgânicos voláteis em Campinas- SP. 2005. In: VI
Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica, 2005, Campinas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 665


Anais...Campinas: VI Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica,
2005, 1 CD-ROM.

LORENZETT et al. Medidas de gestão ambiental adotadas em um posto de abastecimento de


combustíveis. Revista Gestão Industrial, v. 07, n. 03: p. 01-21. Ponta Grossa, PR, 2011.
Disponível em: <
http://revistas.utfpr.edu.br/pg/index.php/revistagi/article/viewFile/635/702>.Acesso em: 26 set.
2014.

MACIEL, M. S. Tributos incidentes sobre os combustíveis. Nota Técnica. Câmara dos Deputados.
Brasília. 2011. Disponível em: <
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&
ved=0CB0QFjAA&url=http%3A%2F%2Fbd.camara.leg.br%2Fbd%2Fbitstream%2Fhandle%2F
bdcamara%2F8426%2Ftributos_incidentes_maciel.pdf%3Fsequence%3D1&ei=iB09VKWlDsK
QNpWQgpAB&usg=AFQjCNE6cyE075Eac8ymYk9pfdploWvQjg&bvm=bv.77161500,d.eXY>
. Acesso em: 13 out. 2014.

MELO, D. C. M. Processos de separação da fração pesada do gás natural para aplicação em


motores de combustão interna. 2005. 67 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia
Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/capitalhumano/arquivos/prh14/daniel-cavalcanti-moura-de-
melo_prh14_ufrn_g.pdf>. Acesso em: 27 set. 2014.

NASCIMENTO, A. M. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2006.

PARANÁ (Estado). Decreto Estadual 6674. Curitiba – PR, 2002.

PIMENTEL, F.O fim da era do petróleo e a mudança do paradigma energético mundial:


perspectivas e desafios para a atuação diplomática brasileira. Fundação Alexandre de Gusmão.
Brasília :, 2011. 236 p. Disponível em: <
http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/522_O_fim_da_era_do_petroleo.pdf> Acesso
em: 13 out. 2014.

SALASAR, C. J. Estudo sobre emissão de compostos orgânicos voláteis (COVs) em tintas


imobiliárias a base de solvente e água. 2006. 83p. Dissertação (Mestrado em Química) -
Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 666


SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: oficina de
textos, 2006.

SANTOS, R. J. S. A Gestão Ambiental em Posto Revendedor de Combustíveis como Instrumento de


Prevenção de Passivos Ambientais. Universidade Federal Fluminense – UFF (Tese de
Mestrado). Niterói. 2005.

SCHMIDT et al. Riscos ambientais oriundos de compostos orgânicos voláteis e do efluente


produzido por silagens. In: JOBIM, C.C.; CECATO, U.; CANTO, M.W. SIMPÓSIO SOBRE
PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS, 4, 2011, Maringá.
Anais... Maringá: UEM, 2011. P. 251-270.

SOAREZ et al. Análise de impactos ambientais identificados nas atividades de um posto de


abastecimento de combustível: proposição de medidas mitigadoras. VII Simpósio de Engenharia
de Produção do Nordeste, Mossoró, 2012. Anais eletrônicos... Mossoró, UFERSA, 2012.
Disponível em: < http://www.seprone2012.com.br/sites/default/files/es14.pdf>. Acesso em: 26
set. 2014.

SOUZA, C. P. Avaliação e Valoração dos Impactos Ambientais no Processo de Operação de


Postos Revendedores de Combustíveis. Dissertação de Mestrado – Curso de Tecnologia de
Processos Químicos e Bioquímicos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. Disponível
em: < http://tpqb.eq.ufrj.br/download/impactos-ambientais-dos-postos-de-combustivel.pdf>.
Acesso em: 25 set. 2014.

TEIXEIRA, R. M. Postos de combustíveis: contaminação de aquíferos e solos por vazamento em


tanques subterrâneos. 2008. Disponível em: <http://www.cenedcursos.com.br/postos-de-
combustiveis-contaminacao-de-aquiferos.html>. Acesso em: 27 set. 2014.

VALLE, C. E. Como se Preparar para as Normas ISO 14.000. São Paulo - SP. Editora Pioneira,
2000.

ZIMMERMANN, A. T. Análise de Riscos de um Vazamento de Gás Natural em um


Gasoduto. 2009. 112 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Química, Departamento
de Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. Disponível
em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/92259/262421.pdf?sequence=1&isAllo
wed=y>. Acesso em: 27 set. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 667


A SERRAGEM COMO MATERIAL ADSORVENTE DO CORANTE AZUL DE
METILENO

Matheus Amorim SOARES


COLUN/UFMA
matheus_soares.10@hotmail.com

Antonio Camilo Correia MENDES FILHO


COLUN/UFMA
camilo.brasilkl@hotmail.com

Aníger Teresa Costa Aranha CHAVES


Orientadora. SEEDUC
anigeraranha@yahoo.com.br

RESUMO
Na sociedade em que vivemos, a poluição dos recursos hídricos está desenfreada e as consequências
já podem ser sentidas pelos seres vivos. Este trabalho tem como objetivo encontrar um meio de
tentar despoluir estes ambientes e foi no processo de adsorção que se encontrou uma alternativa
para essa problemática. O processo que acontece nessa pesquisa é a quimissorção, ou seja, o
processo ocorre por meio de ligações químicas fortes, normalmente covalentes, entre a serragem e o
corante azul de metileno. Após isso, se obtém uma água mais límpida com menos poluentes.
Palavras-chave: Adsorção, Serragem, Azul de metileno.

ABSTRACT
In the society we live in, the water pollution is rampant and the consequences can already be
experienced by living beings. This work aims to find a way to try to clean up these environments
and the adsorption process was found that an alternative to this problem. The process goes on in this
study is the chemisorption, i.e., the process occurs through normally strong covalent chemical
bonds between the wood shavings and methylene blue dye. After that, you get a more clear water,
hence less polluting.
Keywords: Adsorption , sawdust , Methylene Blue

INTRODUÇÃO

A dependência existente entre os seres vivos e a água é extrema, pois ela está presente em
todas as formas de vida. Porém, esse recurso vem sendo continuamente degradado e essa situação
se agrava com o mau planejamento urbano e pode comprometer diretamente a vida dos seres
humanos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 668


Um dos grandes problemas na atualidade é o lançamento de resíduos sem tratamento nos
recursos hídricos e alguns de difícil decomposição como o corante azul de metileno, que é um
corante sintético altamente poluente e muito usado em indústrias têxteis. Por conta disso, se tem
buscado formas de despoluir as águas, visando também a viabilidade econômica, para a preservação
do meio ambiente.
A adsorção é caracterizada pela capacidade de um sólido poroso reter as moléculas que
compõem uma mistura, havendo assim, a separação dos componentes poluentes da água. Esse
processo é de fácil aplicabilidade e o uso de sua técnica é interessante para despoluir ambientes
aquáticos e os materiais usados são de baixo custo.
Com toda essa situação, este trabalho tem o objetivo de observar e estudar a adsorção do
corante azul de metileno1 utilizando a serragem como material adsorvente.

Figura 1: Fórmula estrutural do corante azul de metileno.

PARTE EXPERIMENTAL

O presente trabalho foi desenvolvido pelos alunos do Ensino Médio do Colégio


Universitário – COLUN da Universidade Federal do Maranhão.

MATERIAIS UTILIZADOS

Os materiais utilizados nessa pesquisa foram: Balança analítica, balões, béqueres,


cronômetro, erlenmeyer, funis analíticos, papel de filtro, pipetas e recipientes para armazenar os
materiais pesados como podem ser vistos na Figura 2. A serragem foi desidratada numa estufa a
aproximadamente 70°C. O corante azul de metileno foi utilizado como adsorvato e foram
preparadas soluções tampões com pH‘s que variavam de 1 a 10.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 669


Figura 2: Materiais utilizados na pesquisa.

Figura 3: Serragem em pó.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 670


METODOLOGIA EMPREGADA

Primeiramente, pesou-se 0,200 g de serragem em diferentes frascos. Preparou-se as soluções


do corante azul de metileno pela adição de 0,4 mL da solução estoque em um balão de 10 mL,
completando-se o volume com a solução tampão com valores de pH entre 1 e 10. Após isso,
misturou-se as soluções dos corantes de pH fixos aos frascos com o material adsorvente (serragem),
mantendo essas misturas por um período de 24 h. Após esse período, filtrou-se a mistura e
submeteu-se o filtrado à análise comparativa com padrões de cores.
Na segunda etapa das pesquisas, foram feitas variações da massa do material (0,100 g, 0,200
g, 0,300 g, 0,400 g e 0,500 g) mantendo-se constante a concentração do corante. Esperou-se um
período de saturação do processo e, novamente, filtrou-se e submeteu-se à análise comparativa.
Estudos da variação da concentração do corante também foram realizados, mantendo-se
constante a massa do adsorvente. Foram realizadas cinco misturas com concentrações variando
entre 1x10–4 a 5x10–4 mol.L–1. Filtrou-se cada uma dessas misturas após um tempo previamente
estabelecido e comparou-se com os padrões.
Por último, trabalhou-se a adsorção do corante ao material variando-se o tempo de contato
entre adsorvente e adsorvato.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No uso da serragem como material adsorvente do corante azul de metileno, observou-se que
a adsorção teve melhor desempenho em meios mais ácidos entre pH‘s 1 e 6, e os demais não
obtiveram bom desempenho com o uso do material. Veja o gráfico apresentado na Figura 4.
Os demais estudos apresentados a seguir foram realizados em pH 1, onde a quantidade
adsorvida foi bastante significativa.
O método de análise do percentual de adsorção foi baseado nível de transparência do líquido
obtido após a filtragem da mistura, sendo que essa classificação teve como base os registros
fotográficos antes e após os processos adsortivos do corante na serragem, para cada pH. As Figuras
5 e 6 dão uma exata ideia de como se deu esses processos e como se deram os registros fotográficos
antes e após cada processo adsortivo.
A variação da massa do adsorvente não apresentou nenhuma alteração na quantidade de
corante adsorvida ao mesmo, visto que a porcentagem de adsorção esteve constante em 100%,
como pode ser observado no gráfico da Figura 7. Isso pode estar associado ao fato da serragem
possuir uma alta capacidade adsortiva mesmo em pequenas quantidades desse material.
O mesmo se observa no gráfico apresentado na Figura 8. Nesses dados, a concentração do
corante foi alterada, mantendo-se constante a massa da serragem, mas os resultados das variações

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 671


percentuais foram muito poucas para os cinco pontos estudados, ressaltando novamente a alta
capacidade adsortiva desse material para com o corante estudado.

Figura 4: Corante azul de metileno antes da adsorção. Concentração 1x10-4 mol.L-1.

Figura 5: Resultado obtido após adsorção.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 672


Adsorção do corante azul de metileno sobre o maravalho
100

80

60
% Adsorção

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

pH

Figura 6: Resultado da adsorção do corante sobre a serragem em função da variação de pH.

pH 1
100

80
% Adsorção

60

40

20

0
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

massa da serragem (g)

Figura 7: Variação de massa da serragem.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 673


pH 1
100

80
% Adsorção

60

40

20

0
-4 -4 -4 -4 -4
1,0x10 2,0x10 3,0x10 4,0x10 5,0x10
-1
Concentração do corante (mol.L )

Figura 8: Variação da concentração do corante.

O último parâmetro analisado nos processos adsortivos foi o tempo de contato entre
adsorvente e adsorvato. Nesse caso, percebe-se que o tempo de equilibro foi superior a 100 minutos,
isso no pH estudado e com a massa da serragem igual a 0,200 g e a concentração do corante igual a
1x10–4 mol.L–1.

100

80
% Adsorção

60

40

massa da serragem = 0,200 g


20 -4 -1
conc. do corante = 1x10 mol.L
pH = 1
0
0 50 100 150

tempo (min)

Figura 9. Adsorção do corante sobre a serragem em função da variação do tempo.

CONCLUSÕES

Este trabalho foi proposto com a intenção de buscar formas simples e batatas que pudessem
ser usadas no tratamento da água, em virtude da grande importância desse recurso. E a partir dos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 674
estudos realizados foi possível constatar que a serragem é um grande material adsorvente que e que
poderia ser facilmente aplicado na descontaminação de ambientes aquáticos.
A serragem, que atualmente tem pouca funcionalidade, poderia ser utilizada para o
tratamento dos ambientes aquáticos que estivessem poluídos com o corante azul de metileno. Dessa
forma o volume do lixo seria diminuído e essa serragem teria uma finalidade útil sendo usada no
tratamento da água.
Além disso, diante das propostas iniciais que tratavam sobre os objetivos do edital no qual
se enquadram o atual projeto, é perfeitamente possível concluir que os resultados quanto à formação
científica foram bastante satisfatórios, haja vista que houve um grande incentivo à vocação
científica do aluno selecionado. Também foi proporcionado ao bolsista a aprendizagem de técnicas
e métodos científicos, bem como estímulo ao desenvolvimento de sua criatividade. Além disso, o
estímulo ao pesquisador e ao estudante do ensino médio no processo de investigação científica,
otimizaram a capacidade e o enraizamento da pesquisa científica nessa modalidade de ensino
(médio) e no Colégio Universitário, desenvolvendo com isso um programa de educação científica e
tecnológica nesta Instituição de Ensino, além estimular o aumento da produção científica, refletindo
diretamente nos resultados de pesquisa da própria Universidade. Além disso, as atividades de
pesquisa desenvolvidas nesse período em nenhum momento conflitaram com as atividades
discentes do jovem pesquisador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRINI, G.; Recent developments in polysaccharide-based materials used as adsorbent in


wastewater treatment. Progress in Polym. Sci. 30: 38, 2005.

CRINI, G.; Non-conventional low-cost adsorbents for dye removal: a review. Biores. Technol. 97:
1061, 2006.

ATKINS, P.W.; Physical chemistry. 5th ed. Oxford: Oxford University Press, 1994. p. 985-1002.

ORTIZ, N.; Estudo da utilização de magnetita como material adsorvedor dos metais Cu2+, Pb2+,
Ni2+ e Cd2+ em solução. São Paulo, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, USP, 2000.
Tese de doutorado, 176 p.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Azul_de_metileno. Acessado em 13/10/2014

REIS, M. Química no cotidiano. Vol. 3, FTD, São Paulo, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 675


ENTRAVES DA ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO
BÁSICO: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM – CE

Themis Alves OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
themisalves@hotmail.com

Rayara Oliveira JACÓ


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
rayarajaco@hotmail.com

Reinaldo Fontes CAVALCANTE


Mestre em Tecnologia em Gestão Ambiental do IFCE
geraldobaracuhy@yahoo.com.br

RESUMO
A prestação ineficaz de saneamento básico compromete a qualidade ambiental e é extremamente
prejudicial à saúde, a segurança e ao bem-estar da população, de maneira que a garantia do acesso
de todos aos serviços que integram o saneamento, possibilitam à sociedade a redução da pobreza,
diminuição da mortalidade infantil, aumento da vida média do homem e redução do custo do
tratamento da água para abastecimento, uma vez que a prestação desses serviços reduz a poluição
ambiental. Portanto, o presente trabalho busca promover uma discussão sobre a implantação de
planejamentos municipais de saneamento, identificando os principais entraves na elaboração dos
Planos Municipais de Saneamento Básico para o Município de Quixeramobim localizado no Centro
da Macrorregião do Sertão Central do Ceará. Os pesquisadores utilizaram como metodologia a
coleta de dados e informações disponibilizados pelos gestores e entidades relacionados ao
saneamento básico do município, além desses dados e por meio de revisão de literatura, registros
fotográficos e visitas técnicas realizadas aos órgãos públicos municipais foram elaborados os
diagnósticos dos quatro componentes que integram os serviços de saneamento básico,
caracterizando assim as condições atuais de cada sistema, bem como do perfil socioeconômico da
população e as dificuldades de execução para cada um dos quatro setores de saneamento básico.
Propõe-se que, a fim de facilitar a implantação do Plano, todas as dificuldades elencadas no
trabalho sejam transpostas por meio da adoção de uma sequencia cronológica, prevista nas
metodologias avaliadas pelo trabalho, nas quais são apresentados os principais direcionamentos que
norteiam a elaboração do Plano.
Palavras - Chave: Saneamento Básico, Qualidade Ambiental, Plano Municipal de Saneamento
Básico.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 676


ABSTRACT
The ineffective provision of sanitation compromises to environmental quality and is extremely
harmful to health, safety and welfare the population, in a way that, ensuring access for all to
services that integrate sanitation, enable society to reduce poverty, reducing child mortality,
increased average life of man and reduce the cost of treating water for supply, because the
realization of these services reduces environmental pollution. Therefore, this paper aims to promote
a discussion about the implementation of municipal sanitation planning, identifying the main
obstacles in the development of Plans Municipal Sanitation for the City of Quixeramobim, located
in the center of the macro-region of Central hinterland of Ceará. Researchers utilized as a
methodology to collect data and information provided by managers and related entities sanitation of
the city, in addition to these data and through literature review, photographic records and technical
visits to municipal agencies diagnoses were elaborated of the four components that integrate basic
sanitation services, characterizing the current condition of each system as well as the socioeconomic
profile of the population and the difficulties of implementation for each of the four sectors of
sanitation. It is proposed that in order to facilitate the implementation of the Plan, all of the
difficulties listed in work are implemented through the adoption of a chronological sequence,
provided the methodologies evaluated the work, in which are presented the main directions that
guide the preparation of plan.
Key words: Basic Sanitation, Environmental Quality, Plans Municipal Sanitation.

INTRODUÇÃO

Os benefícios ambientais oriundos de um saneamento básico eficaz exercem influência


direta sobre a dinâmica dos ecossistemas, uma vez que a prestação desses serviços reduz a poluição
ambiental, que segundo a PNMA, afetam desfavoravelmente a biota e as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente. Assim, a poluição não controlada, devida à falta de saneamento, causa
diversos impactos ao meio ambiente e principalmente a qualidade de vida da população, como é o
caso da poluição do solo, contaminação dos corpos hídricos e redução da biodiversidade.
As problemáticas ambientais são melhores compreendidas através da observação do
conceito de Meio Ambiente disposto na Lei 6.938/81, que instituiu a Política Nacional de Meio
Ambiente - PNMA. Segundo o artigo 3º, parágrafo 1º dessa legislação, o termo Meio Ambiente é
definido como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
Nesse sentindo, a PNMA define Meio Ambiente num aspecto apenas natural, entretanto para
o entendimento da questão ambiental, deve-se visualizar o conceito de Meio Ambiente numa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 677


amplitude que abrange as atividades desempenhadas pela sociedade, que se organiza numa
dimensão econômica, social, cultural e política. Uma vez que, a atual problemática ambiental é
resultado da interação e do desequilíbrio entre o Meio Ambiente Natural e as ações da sociedade,
que provocam os vários impactos causados ao meio ambiente.
Além da falta de saneamento básico comprometer a qualidade ambiental, é também
extremamente prejudicial à saúde, a segurança e ao bem-estar da população, de maneira que a
garantia do acesso de todos aos serviços que integram o saneamento possibilitam à sociedade a
redução da pobreza, diminuição da mortalidade infantil, aumento da vida média do homem, redução
do custo do tratamento da água para abastecimento, controle da poluição das praias e dos locais de
recreação com o objetivo de promover o turismo, preservação da fauna aquática e a busca pelo
desenvolvimento sustentável (Trata Brasil, 2012). Entretanto, apesar de ser detentor de quase 13%
dos recursos hídricos do planeta, o Brasil possui praticamente 1/3 da população sem acesso a água
encanada, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (2012). De acordo com
os resultados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008, verificou-se a falta de rede
coletora de esgoto em 2495 municípios brasileiros, o que representava um contingente populacional
de, aproximadamente, 34,8 milhões de pessoas, em 2008. Logo, cerca de 20% da população
brasileira estava exposta ao risco de contrair doenças em decorrência da inexistência de rede
coletora de esgoto.
Nesse contexto, instrumentos muitos importantes para a universalização do acesso de todos
ao saneamento básico são as várias legislações relativas a esse assunto, entre as quais a mais
evidente é a Lei nº 11.445/07, que instituiu a Política Nacional do Saneamento Básico - PNSB.
Nessa legislação foi definido que os serviços de saneamento básico estão divididos em quatro
componentes, que são as infraestruturas e instalações de: abastecimento de água; esgotamento
sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais
urbanas. Além disso, a PNSB destaca-se por direcionar todas as ações de saneamento básico no
Brasil e, principalmente, por determinar que os municípios devem elaborar os Planos Municipais de
Saneamento, para receber investimentos do Governo Federal. A importância da elaboração dos
Planos Municipais é devido ao seu caráter legal, possuindo assim prazos máximos determinados de
entrega, de acordo com o Decreto nº 7.217 de 2010, que regulamenta a Lei nº 11.445/07.
Portanto, o presente trabalho busca promover uma discussão sobre a implantação de
planejamentos municipais de saneamento, identificando os principais entraves na elaboração dos
Planos Municipais de Saneamento Básico no Sertão Central Cearense, composto por 21 municípios.
Para tanto, o trabalho foi realizado no Município de Quixeramobim – CE, por estar localizado no
Centro da Macrorregião do Sertão Central do Ceará (IPECE, 2014), no qual foram levantadas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 678


informações relacionadas as dificuldades da atual gestão no que se refere aos mecanismos de
saneamento básico desenvolvidos no município, através de uma análise sobre o diagnóstico da
situação atual e das variáveis que dificultarão a elaboração do plano, afim de que sejam elencadas
as soluções necessárias, bem como as iniciativas viáveis que facilitarão esse processo de
planejamento.

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi aplicada ao município de Quixeramobim, que possui uma população
de 75.565 habitantes (IBGE, 2013) e encontra-se situado na Macrorregião Sertão Central do Estado
do Ceará, há aproximadamente 180 km da capital Fortaleza. Possui uma área de 3.275,84 km 2
(IBGE e IPECE, 2013) e está a 191,7 m de altitude. Suas coordenadas geográficas são 5º 11‘ 57‖ de
latitude e 39º 17‘ 34‖ de longitude, limitando-se com os municípios seguintes municípios: Quixadá,
Choro e Madalena ao Norte; Senador Pompeu ao Sul; Solonópole e Banabuiú ao Leste; Boa
Viagem e Pedra Branca a Oeste.
Os pesquisadores utilizaram como metodologia a coleta de dados e informações
disponibilizados pelos gestores e entidades relacionados ao saneamento básico do Município:
 Serviço Autônomo de Águas e Esgoto de Quixeramobim - SAAE, responsável pelo Sistema
de Abastecimento de Água e Esgoto do município;
 Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH, órgão do Governo de Estado do
Ceará incumbido pelo Gerenciamento Quantitativo e Qualitativo dos corpos hídricos da
região;
 Secretaria de Infraestrutura de Quixeramobim, integrante da prefeitura e responsável pelo
gerenciamento de resíduos sólidos, limpeza urbana e pelo sistema de drenagem e manejo de
águas pluviais.
Dessa forma, a partir da obtenção desses dados, realizadas por meio de revisão de literatura,
registros fotográficos e visitas técnicas realizadas aos órgãos públicos municipais, a Estação de
Tratamento de Água do SAAE e ao Aterro Sanitário de Quixeramobim, foram elaborados os
diagnósticos dos quatro componentes que integram os serviços de saneamento básico,
caracterizando assim as condições atuais de cada sistema, bem como do perfil socioeconômico da
população, ou seja, índice demográfico, IDHM, índices de mortalidade, longevidade e fecundidade,
estrutura etária da população, número de domicílios, renda per capita média, PIB, receitas e
despesas e as características ambientais da área em estudo, que foram hidrografia, clima, geologia e
vegetação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 679


Assim, por meio da análise dos diagnósticos e das dificuldades percebidas por meio das
visitas realizadas ao município, buscou-se identificar as melhores alternativas, planos de ações e as
etapas a serem seguidas para transpor os principais entraves na elaboração do Plano Municipal de
Saneamento Básico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características ambientais de uma região, como índice de evapotranspiração, precipitação


média anual, clima, geologia e vegetação, exercem uma forte influencia sobre a renovação de
reservas hídricas e da qualidade das águas. Nesse contexto, devido às dificuldades de garantir
segurança hídrica para população no Sertão Central Cearense, a caracterização ambiental dessa
região constitui-se um parâmetro de analise das dificuldades vivenciadas na região em estudo e, por
extensão, se releva como um entrave para a elaboração dos Planos Municipais de Saneamento
Básico. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), a
quadra chuvosa do Estado está compreendida entre os meses de fevereiro a maio e pelo terceiro ano
consecutivo o índice de chuva, nesses meses, ficou abaixo das médias histórica dos últimos 50 anos,
apresentando umas das piores estiagens observadas na região. No Sertão Central Cearense, a
precipitação média esperada era de 502,9 mm, para os quatro meses da estação chuvosa de 2014,
entretanto as precipitações acumuladas no Estado no período foram de 368,5 mm, o que representa
um déficit de 26,7%, abaixo da média. Nos anos anteriores, os índices para o Estado foram ainda
piores, com déficits de 37,7% em 2013 e 50,7% em 2012, o que configura o atual período de
estiagem.
Nesse contexto, a caracterização ambiental é visto como um entrave na elaboração dos
Planos Municipais de Saneamento Básico, devido às dificuldades enfrentadas pelos gestores e pela
população, ocasionadas pelo alto índice de evapotranspiração, baixa precipitação média anual e
grande irregularidade temporal e espacial das chuvas. O principal impacto da conjunção desses
fatores é a diminuição dos níveis de reservatório, pois a baixa recarga devido à precipitação abaixo
do esperado, associado a uma elevada taxa de evapotranspiração de 1500 mm - 2000 mm e aos
múltiplos usos da água pela população interferem na disponibilidade de água em boa qualidade e
suficiente quantidade.
O diagnóstico dos serviços e infraestrutura de saneamento básico de Quixeramobim obteve
diferentes resultados para cada um dos sistemas, enquanto o levantamento de dados e as visitas
técnicas permitiu observar entraves comuns para a elaboração do Plano Municipal de Saneamento
Básico.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 680


Destarte, o primeiro componente dos serviços de Saneamento a ser analisado foi o Sistema
de Abastecimento de Água, o qual foi projetado para atender a Sede de Quixeramobim, com uma
população urbana atendida de 44.893 habitantes (SNIS, 2013). Um desafio para implantação e
cumprimento do planejamento estratégico e prospectivo que serão adotados no Plano Municipal de
Saneamento Básico será a ampliação do abastecimento de água para zonas rurais, uma vez que a
população atualmente atendida é de 44.893 habitantes, enquanto a população total de
Quixeramobim é de 75.565 habitantes.
O Índice de Hidrometração das ligações ativas do Município de Quixeramobim é de
99,67%, num total de ligações totais de água de 19.821. Dentre essas ligações, 17.476 estão ativas e
17.419 são micromedida, que correspondem à quantidade de ligações ativas de água, providas de
hidrômetro, em pleno funcionamento. Uma medida que visa reduzir, progressivamente, as perdas de
água no sistema de abastecimento e que pode ser uma dificuldade na realização do Plano é a
realização conjunta do aumento do índice de hidrometração das ligações já ativas e daquelas que
serão implantadas com decorre do horizonte de tempo previsto pelo Plano Municipal de
Saneamento Básico.
A situação do esgotamento sanitário pode ser classificada como mediana, já que possui uma
cobertura de atendimento de 32,15%, de um total de 20.476 domicílios, segundo dados do IBGE
(2010). O corpo receptor dos efluentes pós-tratamento da ETE é o Rio Quixeramobim, em destaque
na Figura 01. A principal ação a ser executada, com relação ao Sistema de Esgotamento Sanitário, é
a ampliação da rede existente de tratamento de efluentes domésticos, por meio da construção de
mais Estações de Tratamento de Efluentes (ETE‘s), elevando o nível de cobertura da coleta de
esgoto, com o devido tratamento, realizando o devido monitoramento da eficiência das ETE e dos
corpos hídricos receptores a jusante dos efluentes tratados, como uma forma de avaliar a eficácia no
controle da poluição.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 681


Figura 01 – Rio Quixeramobim, ponto de lançamento do esgoto tratado.

O sistema de tratamento e disposição dos resíduos sólidos urbanos do município é realizado


através de serviços de limpeza urbana que incluem: coleta, transporte e destinação final dos
resíduos, além de outras atividades de limpeza como varrição, capina, serviços de poda de arvores e
limpeza de canais de drenagem, entre outros. Os serviços de coleta são realizados pela prefeitura,
sendo responsabilidade da secretaria de infraestrutura da cidade e não ocorre cobrança de qualquer
taxa pelos serviços.
O sistema de tratamento e disposição dos resíduos sólidos urbanos do município é realizado
através de serviços de limpeza urbana que incluem: coleta, transporte e destinação final dos
resíduos, além de outras atividades de limpeza como varrição, capina, serviços de poda de arvores e
limpeza de canais de drenagem, entre outros. Os serviços de coleta são realizados pela prefeitura,
sendo responsabilidade da secretaria de infraestrutura da cidade e não ocorre cobrança de qualquer
taxa pelos serviços.
Atualmente, os resíduos provenientes da coleta convencional são encaminhados ao Aterro
Controlado do município, localizado entre os municípios de Quixeramobim e Madalena, onde
ocorro o recobrimento dos resíduos. No entanto, o município enfrenta diversos problemas quanto ao
gerenciamento e ao manejo adequado dos resíduos sólidos, visto que não possui um local
ambientalmente adequado para a disposição dos resíduos, não possui nenhum plano ou projeto
relacionado à coleta seletiva, nem mesmo possui cooperativas de associações de catadores e, além
disso, foram encontrados, durante visitas ao município, pontos de deposito clandestinos de resíduos,
como demostrado pelas Figuras 02a e 02b.

a b

Figura 2a e 02b – Aterro Controlado do município durante o recobrimento dos resíduos e pontos de
disposição inadequada.

De acordo com o diagnóstico do Sistema de Limpeza Urbana e Manejo dos Resíduos


Sólidos, um dos principais entraves analisados está relacionado à universalização do atendimento às
comunidades locais, independentemente das dificuldades impostas atualmente pelas condições em
que se encontram e, sobretudo, percebeu-se a elevada necessidade de implantação de uma Unidade
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 682
Processadora de Resíduos Sólidos Urbanos, com capacidade para operacionalizar até 300 ton./dia,
em plena produção, que deveria ser composta de duas unidades de processamento, sendo uma para
os resíduos secos e outra para os resíduos úmidos, além da implementação de um sistema eficiente
de coleta seletiva e a difusão da educação ambiental para a população, uma vez que a divulgação e
conscientização da população sobre o serviço a ser implantado é condição de vital importância para
que o mesmo seja bem sucedido. Desta forma, os planos de trabalho e as metas a serem atingidas,
bem como todas as rotinas e responsabilidades da administração pública e da população deverão ser
amplamente divulgados.
No que se refere ao sistema de drenagem e manejo das águas pluviais, a principal
dificuldade na implantação do PMSB está no fato de o município apresentar inúmeros problemas
em decorrência da deficiência de estruturas físicas adequadas para microdrenagem, de maneira que
existem poucas construções direcionadas a drenagem das ruas, como bocas de lobos e bueiros, além
da falta de planejamento, topografia da área urbanizada, onde o relevo é predominantemente
inclinado e devido à disposição irregular de resíduos sólidos. Somado a isso, observou-se a elevada
importância da elaboração de um Plano Direto de Drenagem Urbana – PPDU para o município,
bem como o estabelecimento de mecanismos e instrumentos de controle da drenagem urbana e
poluição difusa. Outro fator essencial é a conservação do solo e o controle de erosão que são
essenciais, tanto para os usos da área urbana, como para a preservação da área rural.
Portanto, a drenagem urbana concentra as suas dificuldades no combate aos pontos críticos,
sujeitos a inundações, enchentes e alagamentos, produtos de uma urbanização desorganizada, com
altos índices de adensamento e de impermeabilização na região central, que concentra a maior parte
dos casos. Além disso, o monitoramento hidrológico precisa ser ampliado e a caracterização da
malha hídrica do Município e a atualização do mapa de uso e ocupação do solo devem ser
prioridade para a definição de medidas estruturais.
Além dos diagnósticos setoriais do sistema de saneamento básico do município, foram
analisadas as possíveis dificuldades para a implementação do Plano Municipal de Saneamento
Básico. Desse modo foi percebido pelos pesquisadores que é preciso haver uma maior integração
entre os quatro setores que compõem os serviços de saneamento em âmbito municipal, conforme
considera Lisboa (2013). Pois, em visitas as instituições de saneamento de Quixeramobim foram
notadas a falta de integração e a distancia de planejamento entre os quatro setores, o que dificulta a
elaboração conjunta do Plano. Para tanto, é necessário haver uma aproximação entre esses quatro
componentes, a fim de haver trocas de informação, para melhorar a eficiência e a qualidade do
processo de planejamento. Segundo o Guia para a elaboração de Planos Municipais de Saneamento
Básico (2011, p. 59):

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 683


Ao longo dos anos, em função da conjuntura política e econômica do país, privilegiaram-se
os sistemas de abastecimento de água (em grande escala) e de esgotos sanitários (em menor
grau) relegando a um segundo plano os investimentos em drenagem urbana e na coleta e
disposição final de resíduos sólidos.

Assim, esse obstáculo de falta de integração entre os setores deve ser vencido através do
diálogo entre a equipe técnica responsável e as instituições envolvidas na elaboração do Plano
Municipal de Saneamento. Além de ser necessária a conscientização por parte dos executores e da
sociedade, da importância dos quatro componentes de maneira conjunta, nos serviços de
saneamento básico.
Outro entrave comum é a limitação de profissionais experientes e qualificados tecnicamente
para elaboração dos planos municipais. Nota-se que há uma demanda pela contratação de pessoas
com capacidade para atuar em cargos de liderança e coordenação do plano, orientando quais
estudos e etapas dever ser seguidas, além de capacitar os setores e pessoas envolvidas. Ademais,
uma equipe técnica qualificada é importante para criação de uma metodologia própria para o
trabalho, facilitando a compilação das informações e a montagem do Plano.

CONCLUSÃO

Os entraves elencados foram relacionados às condições naturais da região, deficiências


percebidas pelos diagnósticos setoriais, condições técnicas de execução do trabalho e outros fatores
que devem ser identificados no decorrer da elaboração dos planos. Propõe-se que, a fim de facilitar
a implantação do Plano, todas essas dificuldades sejam transpostas por meio da adoção de uma
sequencia cronológica de trabalho, prevista na metodologia do Guia de Elaboração de PMSB do
Ministério das Cidades (2011) e do Termo de Referencia para elaboração de PMSB da FUNASA
(2012), nas quais são apresentados os principais direcionamentos que norteiam a elaboração do
Plano.
Entre as etapas básicas apresentadas por esses documentos, é importante destacar o
planejamento estratégico e prospectivo para estimar os cenários de evolução para os quatro sistemas
e, assim, determinar os objetivos esperados, para estabelecer metas de expansão da cobertura do
serviço e o planejamento de obras. Para tanto, será necessário desenvolver ações para o alcance das
metas, por meio de Programas e Projeto, os quais devem considerar horizontes de tempos
determinados, como em imediatos, curto, médio e longo prazo. Além disso, devem ser adotados
métodos de avaliação da execução do PMSB, a fim de monitorar o cumprimento dos objetivos
definidos.
Por fim, após o levantamento de todos os entraves da elaboração de Planos Municipais de
Saneamento Básico, notou-se que as condições econômicas de custo das obras e dos programas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 684


configuram-se como a principal dificuldade comum a todos os outros entraves, uma vez que, é
impossível que os órgãos do saneamento arquem com todos os custos. Assim, a participação e a
vontade publica para a realização do PMSB é de suma importância a fim de que ocorra a liberação
de recursos financeiros dos órgãos públicos. Logo, o tema abordado neste trabalho buscou
aprimorar a discussão sobre a implantação do Plano, de forma que sejam vencidas as dificuldades,
que são comuns aos municípios do Sertão Central.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FUNCEME. Chuvas na quadra chuvosa de 2014 ficaram 24% abaixo da média. 2014. Disponível
em: <http://www.funceme.br/index.php/listanoticias/361-chuvas-na-quadra-chuvosa-de-2014-
ficaram-24-abaixo-da-media>. Acesso em: 10 out. 2014

MINISTÉRIO DAS CIDADES. Guia para a elaboração de Planos Municipais de Saneamento


Básico - Brasília: Ministério das Cidades, 2011. 2ª edição. Disponível em<
http://www.capacidades.gov.br/biblioteca/detalhar/id/178/titulo/GUIA+PARA+ELABORACAO
+DE+PLANOS+MUNICIPAIS+DE+SANEAMENTO+BASICO>. Acesso em: 05 out. 2014.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Política Nacional de Saneamento Básico. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 jan. 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso em: 28
ago. 2014.

BRASIL. Termo de Referência para Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico e


Procedimentos Relativos ao Convênio de Cooperação Técnica e Financeira da Fundação
Nacional de Saúde-FUNASA/MS. Brasília: Ministério da Saúde/Fundação Nacional da Saúde
(FUNASA). Brasília, DF, 2012.

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1 set. 1981. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 28 ago. 2014.

LISBOA, S. S. et al. Desafios do planejamento municipal de saneamento básico em municípios de


pequeno porte: a percepção dos gestores. Revista de Engenharia Ambiental, Viçosa/MG, v.18
n.4, pag. 341-348, out/dez 2013.

TRATA BRASIL. Diagnóstico da situação dos Planos Municipais de Saneamento Básico e da


regulação dos serviços nas 100 maiores cidades brasileira. 2012. Disponível em: <

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 685


http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/diagnostico/estudo-completo.pdf>. Acesso em: 08
out. 2014.

IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Rio de Janeiro: 2008. 218 p. Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/
populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf>. Acesso em: 08 out. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 686


AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA SOLUÇÃO COAGULANTE DE Moringa oleifera
NO TRATAMENTO DA ÁGUA DO RIO APODI/MOSSORÓ PREPARADA EM
DIFERENTES INTERVALOS DE AGITAÇÃO

Allinny Luzia Alves CAVALCANTE


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
cavalcanteallinny@gmail.com

Jéssica Gonçalves FONSECA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
jessica.jgf@hotmail.com

Larissa Fernandes da SILVA


Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
lfernandes24a12@hotmail.com

Yáskara Fabíola de Monteiro Marques LEITE


Professora adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
Este estudo tem por objetivo avaliar a solução coagulante de sementes de Moringa oleifera, de
acordo com o seu método de preparo, no tratamento da água proveniente do rio Apodi/Mossoró,
referente ao seu padrão de potabilidade. A Moringa oleifera pode apresentar grande contribuição
para o tratamento da água, já que suas sementes podem ser utilizadas no processo de clarificação e
redução dos compostos passíveis de malefícios da mesma. O sistema de tratamento monitorado foi
ensaio em equipamento Jar test, utilizando 1,5 l das amostras de água. Foram adicionadas às
amostras, 0; 45; e 75 ml das soluções coagulantes preparadas em intervalos de tempo de 15 e 20
minutos de agitação, cada. As amostras foram realizadas em triplicata. As análises foram feitas em
intervalo de sedimentação de 24 horas, e os parâmetros avaliados foram a presença de nitrito (NO2)
e amônia (NH3), além do monitoramento da dureza total e do pH das amostras. O tratamento se
mostrou eficiente em igual proporção com o uso das duas soluções coagulantes preparadas, não
conseguindo manter no entanto, o teor de NH3 dentro do padrão de potabilidade estabelecido,
devido ao tipo e período de armazenamento da torta utilizada para o preparo das soluções.
Palavras-Chave: Moringa oleifera; solução coagulante; tratamento da água; padrão de potabilidade;
rioApodi/Mossoró.

ABSTRACT
This study aims to evaluate the coagulant solution of Moringa oleifera seeds, according to their
method of preparation, in the treatment of water from the Apodi/Mossoró river, referring to its

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 687


portability standards. The Moringa oleifera can present major contribution to the treatment of water,
since its seeds can be used in the clarification and reduction of compounds capable of harm in the
same process. The treatment system was monitored in the equipment Jar test, using 1,5 l of water
samples. Were added to the samples, 0; 45; and 75 ml of coagulant solutions prepared at intervals of
15 and 20 minutes of stirring, each. Samples were performed in triplicate. Analysis were made at
intervals of 24 hours of sedimentation, and the parameters evaluated were the presence of nitrite
(NO2) and ammonia (NH3), in addition to monitoring of total hardness and pH of the samples. The
treatment proved effective in equal proportion with the use of the two coagulants solutions
prepared, however failing to maintain the content of NH3 in the portability standard established,
due to the type and storage period of pie used to prepare the solutions.
Keywords: Moringa oleifera; coagulant solution; treatment of water; portability standards;
Apodi/Mossoró river.

INTRODUÇÃO

As águas superficiais contêm inúmeros compostos que precisam ser reduzidos durante o seu
processo de tratamento, que é normalmente feito com o uso de coagulantes químicos. Muitos desses
compostos estão associados às condições higiênico-sanitárias da água, e a diversos efeitos adversos
à saúde. Os coagulantes atuam promovendo a desestabilização de partículas no processo
denominado coagulação, e, após a coagulação ocorre a floculação, quando as partículas
desestabilizadas são submetidas a choques entre si, unindo-se umas às outras e formando flocos
passíveis de remoção por sedimentação e/ou filtração (DI BERNARDO & DANTAS, 2005;
LIBÂNIO, 2008). Nos dias atuais, o uso de coagulantes naturais têm sido objeto de estudo por
diversos pesquisadores, por serem mais acessíveis e de fácil manuseio, sendo seu uso indispensável
em regiões menos favorecidas e com carência de sistemas de tratamento de água. Dentre os
coagulantes naturais estudados, a Moringa oleifera é a espécie que atualmente apresenta maior
cultivo (ABALIWANO, GHEBREMICHAEL & AMY, 2008; ALO, ANYIM & ELOM, 2012).
A Moringa oleifera é uma planta pertencente à família Moringaceae, nativa do norte da
Índia e presente em vários países por sua fácil propagação e adaptação a solos pobres e longos
períodos de seca (SANTOS et al., 2011). Possui porte mediano, alcançando de 10 a 15 metros de
altura, suas folhas possuem um comprimento de 25 a 45 centímetros, as flores são de cor branca ou
bege com comprimento de 10 a 20 centímetros, e seu fruto é uma espécie de vagem com três faces e
um comprimento de 20 a 60 centímetros onde em seu interior se encontram as sementes (MOURA
et al., 2009). Ela é considerada uma das árvores cultivadas mais úteis para o ser humano, pois quase
todas as suas partes são ditas como sendo possuidoras de valor benéfico para o mesmo, desde

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 688


alimentar e medicinal, como folhas, frutos verdes, flores e sementes, até industrial como o óleo
extraído de suas sementes, que é utilizado na lubrificação de maquinarias delicadas (GALLÃO,
DAMASCENO & BRITO, 2006). Uma das partes principais da Moringa oleifera que apresenta
eficiência no processo de coagulação da água é sua semente, que segundo Ndabigengesere &
Narasiah (1996), não altera significativamente o pH da água após o tratamento e não causa
problemas de corrosão.
No Rio Grande do Norte, o rio Apodi/Mossoró possui importância grandiosa do ponto de
vista histórico, e, era utilizado para diversos usos, desde comerciais a consumo humano, no início
da povoação (OLIVEIRA & QUEIROZ, 2008). Atualmente, apresenta sinais claros de problemas
ecológicos, como poluição decorrente do lançamento de esgotos, diminuição da mata ciliar e
assoreamento. A poluição física é visivelmente identificada pela quantidade de material em
suspensão e a biológica comprova-se pela grande quantidade de vírus e bactérias patogênicas. Ainda
assim, grande parte da população ribeirinha, que não encontra outra forma de obtenção de água,
utilizam-se das águas contaminadas do rio que segundo Oliveira (2005), 2% deles utilizam-se da
água para beber, 3% para cozinhar, 29% para o banho e 32% pescam para vender e se alimentar dos
peixes. O Apodi/Mossoró, é o segundo maior rio do estado, com 210 km de trajeto, atendendo a 51
municípios, desde sua nascente em Luiz Gomes até a foz, entre Areia Branca e Grossos, onde o
clima predominante é tropical semiárido com uma precipitação pluviométrica de 400 a 600 mm
anuais.
Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a solução coagulante de
sementes de Moringa oleifera, de acordo com o seu método de preparo, no tratamento da água
proveniente do rio Apodi/Mossoró, referente ao seu padrão de potabilidade, promovendo deste
modo, um desenvolvimento mais limpo, através de uma água sem utilidade, em uma região tão
carente em recursos hídricos.

METODOLOGIA

Local de Coleta da Água

As amostras de água foram coletadas no ponto geográfico de latitude 5°11'17'' S e longitude


37°20'39'' W, localizado debaixo da ponte que corta o rio Apodi/Mossoró no trecho sentido centro,
perímetro urbano da cidade, local caracterizado pela alta concentração de material poluente em
suspensão.

Preparo das Soluções Coagulantes

Primeiramente, as sementes de Moringa oleifera foram descascadas e trituradas em mixer de


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 689
180 watts de potência. O material obtido foi levado ao forno micro-ondas por 2 minutos em
potência máxima para retirada da umidade, e ficou acondicionado em um dessecador.
Para uma maior eficiência das soluções coagulantes, fez-se necessário a extração do
conteúdo oleico das sementes em equipamento soxhlet, onde se usou hexano (C6H14) como solvente
orgânico extrator. A torta obtida após a extração do óleo foi utilizada como base para o preparo das
soluções.
As soluções coagulantes foram preparadas minutos antes dos ensaios, utilizando-se 6 g da
torta obtida anteriormente diluída em 300 ml de água pura ou destilada, agitando sempre, para a
extração do princípio ativo. O intervalo de agitação foi variado, sendo realizados intervalos de 15 e
20 minutos de agitação manual, resultando em duas soluções coagulantes com tempos diferentes de
preparo. Em seguida, as soluções foram filtradas em papel-filtro com porosidade de 7 μm (OKUDA
et al., 1999).

Ensaios de Tratabilidade

Para os ensaios de tratabilidade foi utilizado equipamento Jar test, que simula os
procedimentos realizados em uma Estação de Tratamento de Água – ETA. Foram colocados 1,5 l
das amostras de água nas cubas do equipamento, e em cada uma, foram adicionadas diferentes
concentrações (0; 45 e 75 ml) das duas soluções coagulantes preparadas, uma de cada vez, sendo
que para cada concentração de solução adicionada foram feitas três repetições, totalizando 18
ensaios. Os parâmetros hidráulicos adotados no uso do Jar test estão descritos na Tabela 1.

Gradiente de Gradiente de Tempo de


Tempo de Mistura Tempo de Mistura
Mistura Rápida Mistura Lenta Sedimentação
Rápida (min) Lenta (min)
(rpm) (rpm) (hrs)
3 100 15 50 24
Tabela 1 – Parâmetros hidráulicos dos ensaios para os dois tipos de soluções coagulantes.

As pás do equipamento foram posicionadas no interior das cubas, e o mesmo foi ligado,
respeitando os parâmetros hidráulicos mencionados, que segundo Valverde et al. (2013)
caracterizam-se como parâmetros de operação ótima na determinação das etapas de
coagulação/floculação no processo de tratamento das águas.
Para a determinação da eficiência das soluções coagulantes preparadas e das concentrações
utilizadas, os parâmetros verificados foram a presença de dois compostos de nitrogênio indicativos
de poluição, como nitrito (NO2) e amônia (NH3), que representam potencial de risco à saúde por
ocasionarem doenças graves no organismo, como a metemoglobinemia, e a formação de substâncias
cancerígenas (RAMOS, CAVALHEIRO & CAVALHEIRO, 2006) (ALABURDA & NISHIHARA,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 690


1998). Esses parâmetros foram verificados após o tempo de sedimentação de 24 horas com o uso de
reagentes e testes específicos da empresa Alfakits. A dureza total e o pH das amostras também
foram verificados, apenas para controle, em medidor portátil Kasvi e com o uso dos reagentes e
testes específicos da Alfakits, respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de serem submetidas ao tratamento com as soluções coagulantes de Moringa oleifera,


as amostras de água foram analisadas para determinação da quantidade de nitrito (NO2) e amônia
(NH3) dissolvidos, como também da dureza total e do pH das amostras, como mostra a Tabela 2.

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS VALORES


Teor de Amônia 3,642%
Teor de Nitrito 0,109%
Dureza Total 147 mg L-1 CaCO3
Potencial Hidrogeniônico (pH) 7,6
Tabela 2 – Valores obtidos nas amostras de água antes do tratamento com as soluções coagulantes.

Conforme mostra o Gráfico 1, o intervalo de agitação no preparo da solução coagulante que


obteve o melhor resultado na diminuição do teor de amônia foi de 15 minutos, obtendo o valor de
1,720% de NH3 dissolvidos na água tratada, com a concentração de 75 ml da solução, enquanto que
o intervalo de agitação de 20 minutos obteve o valor de 2,023% de NH3 dissolvidos na água tratada,
na mesma concentração. Na concentração de 45 ml, as soluções coagulantes preparadas nos dois
intervalos de tempo de agitação apresentaram o mesmo valor, de 2,833% de NH3 na água tratada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 691


Gráfico 1 – Resultados obtidos do uso das soluções coagulantes com diferentes intervalos de agitação nas
amostras de água equivalentes ao percentual de amônia.

O Gráfico 2 mostra que os resultados obtidos na diminuição do teor de nitrito apresentam-se


iguais para as soluções coagulantes preparadas nos dois intervalos de tempo de agitação, obtendo
valores de 0,055% de NO2 dissolvidos na água tratada com a concentração de 45 ml das soluções, e
de 0% de NO2 dissolvidos na água tratada com a concentração de 75 ml das soluções.

Gráfico 2 – Resultados obtidos do uso das soluções coagulantes com diferentes intervalos de agitação nas
amostras de água equivalentes ao percentual de nitrito.

A dureza total e o pH das amostras não sofreram alterações significativas, como descrito por
Ndabigengesere & Narasiah (1996), mantendo-se constantes nos valores de 148 mg L-1 CaCO3 e de
8,0 respectivamente, no tratamento com as duas soluções.
A portaria nº 518, de 25 de março de 2004 estabelece que os valores permitidos para o
padrão de potabilidade da água para os parâmetros de amônia e nitrito, não devem ultrapassar 1
mg/l e 1,5 mg/l respectivamente, e recomenda que, no sistema de distribuição, o pH da água seja
mantido na faixa de 6,0 a 9,5 (FUNASA, 2006). Como, para a análise dos teores de amônia e nitrito
foram utilizadas 5 ml das amostras de água, os valores obtidos na diminuição do teor de amônia não
se encontram dentro do padrão estabelecido, fato que pode ser justificado pela perda da eficiência
da torta de Moringa oleifera utilizada no preparo das soluções coagulantes devido ao
armazenamento da mesma, que como descrito por Cruz et al. (2010), pode ser realizado por mais ou
menos um mês em embalagens plásticas a temperatura ambiente, e para este trabalho, foi
armazenada por mais ou menos três meses em embalagem de vidro. De acordo com esse fato, e com
resultados obtidos em trabalhos anteriores, a solução coagulante a partir das sementes de Moringa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 692


oleifera pode vir a ser um eficiente tratamento para obtenção do padrão de potabilidade da água do
rio Apodi/Mossoró.

CONCLUSÃO

Após o término deste trabalho, pudemos concluir que ambas as soluções coagulantes (com
intervalo de agitação de 15 e 20 minutos) apresentaram resultados bastante semelhantes tanto na
diminuição do teor de amônia, 1,720% contra 2,023% respectivamente, bem como com relação à
diminuição do teor de nitrito, já que ambas obtiveram igual porcentagem de diminuição, de 0%.
Além disso, as duas soluções apresentaram resultados satisfatórios nos ensaios com o uso de 75 ml
das mesmas no tratamento da água, mostrando que maiores adições de solução coagulante para
tratamento da água obtém melhores resultados. Pretende-se em trabalhos futuros repetir esses
experimentos com coagulantes industrializados, e desta forma, comparar a eficiência de um
coagulante natural, sustentável, com outros já amplamente conhecidos, porém de elevado custo, o
que permitiria a substituição destes, pelo coagulante natural, de baixo custo, obtido com a semente
da moringa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DI BERNARDO, L.; DANTAS, A. D. B. Métodos e técnicas de tratamento de água. 2. ed. São


Carlos: RiMa, 2005. 792 p.

LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 2. ed. Campinas: Editora Átomo,


2008. 444 p.

ABALIWANO, J. K.; GHEBREMICHAEL, K. A.; AMY, G. L. Application of the purified Moringa


oleifera coagulant for surface water treatment. WaterMill Working Paper Series, n. 5, p. 1-19,
2008.

ALO, M. N.; ANYIM, C.; ELOM, M. Coagulation and antimicrobial activities of Moringa oleifera
seed storage at 3°C temperature in turbid water. Advances in Applied Science Research, v. 3, n.
2, p. 887-894, 2012.

SANTOS, W. R. et al. Estudo do tratamento e clarificação de água com torta de sementes de


Moringa oleifera Lam. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v. 13, n.
3, p. 295-299, 2011.

MOURA, A. S. et al. Caracterização físico-química da folha, flor e vagem da Moringa (Moringa


oleifera Lamarck). In: ENCONTRO NACIONAL DE MORINGA, 1., 2009, Aracaju. Anais…
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 693
Aracaju: ENAM, 2009.

GALLÃO, M. I.; DAMASCENO, L. F.; BRITO, E. S. Avaliação química e estrutural da semente


de Moringa. Revista Ciência Agronômica, v. 37, n. 1, p. 106-109, 2006.

NDABIGENGESERE, A.; NARASIAH, S. K. Influence of operating parameters on turbidity


removal by coagulation with Moringa oleifera seeds. Environmental Technology, v. 17, p. 1103-
1112, 1996.

OLIVEIRA, M. A.; QUEIROZ, R. A. C. A Poluição do Rio Mossoró (RN) e a Ação


Intervencionista do Ministério Público. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS, 4., 2008,
Brasília. Anais…, Brasília: Anppas, 2008.

OLIVEIRA, V. L. L. A realidade socioambiental do perímetro urbano do rio Mossoró. 2005. 163f.


Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, 2005.

OKUDA, T. et al. Improvement of extraction method of coagulation active components from


Moringa oleifera seed. Water Research, v. 31, p. 3373-3378, 1999.

VALVERDE, K. C. et al. Otimização dos parâmetros de mistura e sedimentação empregando a


combinação dos coagulantes Moringa oleifera Lam e Cloreto Férrico no tratamento de água
superficial. In: ENCONTRO PARANAENSE DE ENGENHARIA E CIÊNCIA, 3., 2013,
Toledo. Anais… Toledo: EPEC, 2013.

RAMOS, L. A.; CAVALHEIRO, C. C. S.; CAVALHEIRO, E. T. G. Determination of nitrite in


water using a flower extract. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 5, 2006.

ALABURDA, J.; NISHIHARA, L. Presença de compostos de nitrogênio em águas de poços.


Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 2, 1998.

FUNASA. Manual prático de análise de água. 2. ed. Brasília, DF, 2006. 146 p.

CRUZ, W. R. S. et al. Avaliação da atividade coagulante presente na torta de Moringa oleifera


Lam durante seu armazenamento. In: ENCONTRO NACIONAL DE MORINGA, 2., 2010,
Aracaju. Anais… Aracaju: ENAM, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 694


DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PROVENIENTE DA DISPOSIÇÃO FINAL DE
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE PRINCESA ISABEL/PB

Dalva Damiana Estevam da SILVA


Tecnóloga em Gestão Ambiental e Graduanda em Geografia - UEPB
dalvaestevamifpb@gmail.com

Jackson Epaminondas de SOUSA


Graduando do Curso de Engenharia de Produção – UFCG / Campus Sumé
Jackson.ep@hotmail.com

Ivanildo Costa da SILVA


Mestre em Geografia – UFPB
ivan13silva@yahoo.com.br

Fábio Remy de Assunção RIOS


Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais – UFCG
fabioremy@gmail.com

RESUMO
A partir da Revolução Industrial a geração de resíduos sólidos aumentou significativamente, se
tornando um problema, seja nas cidades de pequeno porte ou nas metrópoles a problemática é a
mesma, a disposição final. Um dos principais fatores para a ocorrência do aumento da geração de
resíduos é o consumismo exacerbado que tem feito com que as pessoas produzam cada vez mais
lixo. Isso é fruto das novas tecnologias e produtos, que despertam o desejo das pessoas, a
consequência disso é a produção de mais resíduos que são destinados no meio ambiente. Porém não
existe uma solução mágica que irá fazer com que os resíduos desapareçam, tão pouco, uma forma
de tratamento e disposição. O objetivo deste trabalho foi analisar a degradação ambiental
proveniente da disposição final de resíduos sólidos urbanos no município de Princesa Isabel/PB. A
metodologia utilizada envolveu pesquisa em periódicos especializados e livros para construção do
embasamento teórico e empírico. Foram ainda realizadas visitas in loco para registro fotográfico da
área do lixão. Sendo realizada ainda uma entrevista cuja finalidade foi à coleta de informações
sobre os catadores de resíduos sólidos recicláveis. No lixão é comum à presença de catadores que
coletam os resíduos para serem reciclados, além destes, mulheres e crianças também realizam o
trabalho de catação de resíduos. Após serem coletados os resíduos são vendidos a uma Cooperativa
na cidade. A disposição dos resíduos sólidos a céu aberto no lixão provoca uma série de impactos
ambientais, seja visual, estético e ambiental. A implantação do aterro sanitário seria a melhor
solução para a problemática da destinação final dos resíduos no município, bem como a
implantação da coleta seletiva e da educação ambiental.
Palavras Chave: Resíduos Sólidos, Aterro Sanitário, Lixão, Catadores, Meio Ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 695


ABSTRACT
From the Industrial Revolution to solid waste generation has increased significantly, becoming a
problem, either in small towns or in cities the problem is the same, the final disposition. One of the
main factors for the occurrence of increased waste generation is the exacerbated consumerism that
has caused people to produce more and more waste. This is the result of new technologies and
products that awaken the desire of the people, the result is the production of wastes that are destined
to the environment. But there is no magic solution that will make the waste disappear, just as a form
of treatment and disposal. The aim of this study was to analyze the environmental degradation
arising from the disposal of solid urban waste in the county of Princess Isabel / PB. The research
methodology involved in professional journals and books for construction of the theoretical and
empirical support. Were also conducted site visits to photographic record of the dump area. Being
still held an interview whose purpose was to collect information on the collectors of recyclable solid
waste. Dump is common in the presence of scavengers that collect waste for recycling, besides,
women and children also perform the work of scavenging waste. After being collected waste is sold
to a cooperative in the city. The disposal of solid in the open dump waste causes a number of
environmental impacts, whether visual, aesthetic and environmental. The implementation of the
landfill would be the best solution to the problem of disposal of waste in the city, as well as the
implementation of selective collection and environmental education.
Keywords: Solid Waste Landfill, Dump, Scavengers, Environment.

INTRODUÇÃO

Atualmente os resíduos sólidos urbanos são um problema principalmente no que diz respeito
a sua destinação final. Os resíduos sólidos são dispostos a céu aberto em lixões configurando-se em
um problema de grande proporção, impactando o meio ambiente. Segundo Braga et al., (2004, p.7)
―atualmente, o mundo vive em plena era do desequilíbrio, uma vez que os resíduos são gerados em
ritmo muito maior que a capacidade de reciclagem do meio‖.
O consumismo desenfreado contribui significativamente com a geração de resíduos. Neste
sentido, o lançamento de novas tecnologias e produtos novos desperta nas pessoas o desejo de ter
objetos novos, contribuindo para a geração de resíduos dispostos no meio ambiente. Porém, ―uma
vez que os resíduos realmente existem, não há solução mágica de tratamento e disposição‖
(ANTONIS, 2011).

A única forma de se dar destino final adequado aos resíduos sólidos é através de aterros,
sejam eles sanitários, controlados, com lixo triturado ou com lixo compactado. Todos os
demais processos ditos como de destinação final (usinas de reciclagem, de compostagem e
de incineração) são, na realidade, processos de tratamento ou beneficiamento do lixo, e não
prescindem de um aterro para a disposição de seus rejeitos (MONTEIRO, 2001).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 696


Apesar da conscientização e a divulgação dos conceitos de preservação ambiental, percebe-
se que existe muito a ser feito para que a população adquira hábitos sustentáveis. Para Ribeiro
(2011, p. 29) ―a humanidade vive um momento em que as questões ambientais são discutidas em
todas as esferas da sociedade, o que nunca tinha acontecido anteriormente em toda a história‖.
Dessa forma, os problemas ambientais vêm sendo amplamente divulgados, bem como seus
impactos na biota, o que tem feito à sociedade ir à busca de novas alternativas de utilização dos
recursos naturais, promovendo o desenvolvimento sustentável.
Leme, Martins e Brandão (2012, p. 9) afirmam que ―a preocupação com a preservação
ambiental e a busca pela sustentabilidade vêm se constituindo grandes desafios da humanidade e,
assim, conquistando a atenção dos mais diversos ambientes sociais e econômicos do planeta‖. Um
dos desafios para a humanidade é a questão do lixo, principalmente no que se refere à destinação
final.
No Brasil a grande maioria das cidades não possui aterro sanitário, assim o lixo é lançado
em lixões a céu aberto provocando uma série de impactos ambientais, visuais e estéticos. Sendo as
regiões Norte e Nordeste as mais desprovidas de saneamento básico. Nessas regiões o saneamento é
praticamente inexistente.
Conforme exposto, o município de Princesa Isabel, localizado no Estado da Paraíba não
dispõe de um aterro sanitário e por isso, destina os resíduos coletados na cidade e nos povoados a
céu aberto em um terreno baldio às margens da Rodovia PB 426, que liga o estado da Paraíba ao
Pernambuco.
Os resíduos sólidos quando dispostos no lixão a céu aberto provocam impactos ambientais
na água, no solo e no ar através do chorume e dos gases provenientes da decomposição do lixo,
provocando ainda impactos visuais na paisagem.

METODOLOGIA

Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica em periódicos especializados e livros


para construção do embasamento teórico e empírico. Realizou-se ainda visitas in loco com registro
fotográfico da área urbana e do Lixão, para identificar as formas de destinação final dos resíduos
sólidos.
Com a finalidade de coletar mais informações acerca da quantidade de resíduos sólidos
produzidos na cidade de Princesa Isabel e nos povoados foram realizadas visitas em alguns órgãos
públicos como: Secretaria de Obras e Secretaria de Meio Ambiente.
Foram ainda realizadas entrevistas com os catadores no lixão com a finalidade de coletar
informações sobre a quantidade de pessoas que realizam a coleta, idade e os motivos que os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 697


levaram a fazer a coleta de resíduos. Utilizou-se também o programa Paint para tratamento das
imagens.

RESULTADOS

Localização do município de Princesa Isabel/PB

O município de Princesa Isabel está localizado na região oeste do Estado da Paraíba,


limitando-se a Oeste com São José de Princesa e Manaíra, a Norte Nova Olinda, Pedra Branca e
Boa Ventura, a Leste Tavares e ao Sul com Flores em Pernambuco (Figura 1). O município possui
21.283 habitantes, com área de 368 km² (IBGE, 2010). A sede municipal apresenta uma altitude de
680m e coordenadas geográficas de 37° 59‘ 34‘‘ longitude Oeste e 07° 44‘ 13‘‘ de latitude Sul
(CPMR- SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL, 2005).

Figura 1 – Localização do Município de Princesa Isabel – PB. Fonte: CPRM (2005).

Degradação ambiental proveniente da disposição dos Resíduos Sólidos Urbanos no município de


Princesa Isabel/PB

A disposição de resíduos sólidos ao longo do tempo tornou-se um problema, sendo motivo


de preocupação em todos os seguimentos da sociedade. Essa preocupação é devido à intensa
produção de resíduos gerados pelas diversas atividades exercidas pelo homem. Sendo ―o aumento
da população e o consumo excessivo de matérias primas provenientes do meio ambiente, matérias
estas não renováveis que ocasionou o aumento da poluição pela deposição indevida de resíduos
sólidos na natureza‖ (SOUZA et al., 2012, p. 2).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 698


Neste sentido, a produção diária de lixo na cidade de Princesa Isabel e nos povoados é de 16
mil quilos/dia. Os resíduos coletados no município vão para o lixão que fica ao lado da Rodovia PB
426 na saída do município de Princesa Isabel no estado da Paraíba, cerca de 1 km da área urbana, na
divisa com o Povoado de Jericó no Pernambuco (Figura 2). A primeira vista pode-se observar de
forma direta o impacto visual que o lixão apresenta, sendo este apenas um dos inúmeros problemas
existentes.

Figura 2 – Lixão do município de Princesa Isabel. Fonte: Adaptado de Google Earth (2014).

Fadini e Fadini (2001, p. 2) define lixão como sendo ―uma mera disposição do lixo a céu
aberto, sem nenhum critério sanitário de proteção ao ambiente, que possibilita o pleno acesso de
vetores de doenças como moscas, mosquitos, baratas e ratos ao lixo‖. Os resíduos sólidos após
coletados são destinados ao lixão que fica próximo a residências, atraindo os animais domésticos da
área.
Esses animais podem transmitir inúmeras doenças aos seres humanos, sendo transmitidas
principalmente às pessoas que entrem em contato direto com o animal. Comumente verificam-se
animais como gatos e cachorros nestes ambientes (Figura 3).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 699


Figura 3 – Animais no lixão. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

Esses animais são atraídos pelos diversos resíduos orgânicos presentes no lixão, como:
carcaças de animais, alimentos em decomposição, dentre outros (Figura 4).

Figura 4 – Restos de carcaças de animais. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

O lixo ainda pode servir de abrigo para animais peçonhentos como cobras, ratos, baratas
dentre outros animais que também transmitem doenças. Esse tipo de disposição faz com que haja a
proliferação de vetores transmissores de doenças, os animais domésticos por sua vez são
reservatórios de doenças que são transmitidas aos seres humanos principalmente aos seus donos ou
as pessoas que tem contato com estes.

VETORES FORMAS DE TRASMISSÃO ENFERMIDADES


Rato e Pulga Mordida, urina, fezes e picada Leptospirose, peste bubônica, tifo murino
Mosca Asas, patas, corpo, fezes e saliva Febre tifóide, cólera, amebíase, disenteria,
giardíase, ascaridíase.
Mosquito Picada Malária, febre amarela, dengue e leishimaniose

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 700


Barata Asas, patas, corpo e fezes Febre tifóide, cólera, giardíase.
Gado e porco Ingestão de carne contaminada Teníase, cictcercose
Cão e gato Urina e fezes Toxoplasmose

Quadro 1- Enfermidades relacionadas aos resíduos sólidos, transmitidos por macro vetores.
Fonte: Adaptado da Funasa (2004) apud Reis e Ferreira (2008).

Dessa forma, os resíduos sólidos vêm sendo motivo de preocupação, principalmente no que
diz respeito à destinação final. O consumo desenfreado de produtos gerou e gera inúmeros resíduos
tais como: papel, sacolas plásticas, papelão, restos de comida, carcaça de animais etc., além desses
resíduos ainda tem-se os resíduos da construção e demolição (RCD), depositados também no lixão
(Figura 5).

Figura 5 – Resíduos da Construção e Demolição (RCD). Fonte: Irismar Mangueira (2014)

A disposição de lixo em ambientes inadequados polui tanto as águas superficiais, quanto as


subterrâneas, modificando a composição química, física e biológica da mesma, fazendo com que
esta não sirva para consumo humano ou para os usos múltiplos.
A poluição do solo também é um fator que merece atenção neste ambiente impactado, pois o
solo não terá serventia para a agricultura, devido às substâncias tóxicas produzidas pela
decomposição do lixo. Tem-se ainda a contaminação do solo e da água pelo chorume que é
produzido através da decomposição dos resíduos (Figura 6).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 701


Figura 6 – Solo e água poluídos com chorume. Fonte: Irismar Mangueira (2013).

O chorume é um líquido escuro, ―este efluente é caracterizado pela grande quantidade de


matéria orgânica (biodegradáveis e não biodegradáveis), de nitrogênio amoniacal, metais pesados e
sais clorados orgânicos e inorgânicos, sendo influenciado pela idade do aterro e os tipos de resíduos
nele presentes‖ (MOHAJERI et al., 2010 apud RIGO et al., 2013, p. 1).
Outro tipo de resíduo lançado no lixão é proveniente das granjas presentes no município de
Princesa Isabel (Figura 7).

Figura 7 – Resíduos provenientes das granjas. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

Esses resíduos geralmente são compostos por: penas de galinha, fezes, restos de ração e
animais mortos. Neste sentido, é preciso que haja um monitoramento dos ―resíduos aterrados, dos
líquidos e gases gerados, [...] para que sejam adotadas soluções viáveis e sustentáveis tanto do
ponto de vista ambiental e sanitário como socioeconômico para evitar os possíveis impactos
ambientais provocados pela disposição de resíduos‖ (MELO, 2000).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 702


Catadores de materiais recicláveis no lixão de Princesa Isabel/PB

Com a desativação dos lixões muitas famílias que retiram seu sustento desse ambiente
ficarão sem trabalho, sendo este um trabalho muito importante para o meio ambiente, pois é através
da coleta que as industriais reciclam os resíduos tais como: garrafas PET, latinhas de alumínio,
papelão, papel dentre outros.
Dessa forma, os lixões são o meio de trabalho de muitas pessoas que vivem da coleta de
resíduos neste ambiente. Os catadores não utilizam nenhum tipo de Equipamento de Proteção
Individual (EPI) para fazer a coleta dos resíduos no lixão, geralmente utilizam sandálias de dedos
(chinelas), não utilizam luvas, botas equipamentos básicos para se trabalhar nesse ambiente, se
expondo aos riscos, físicos, químicos, biológicos e ergonômicos.
Além disso, uma das esposas de um catador trabalha na coleta dos resíduos para ajudar na
renda familiar (Figura 8).

Figura 8 – Catadores no lixão de Princesa Isabel. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

As pessoas que trabalham coletando resíduos no lixão são ao todo cinco, estes realizam a
coleta de resíduos para ter uma renda ou para complementar à aposentadoria. A maioria dessas
pessoas trabalha na coleta de resíduos há anos.
Possuem uma faixa etária que varia entre 50 a 65 anos de idade. Dos cinco, três possuem
ensino fundamental incompleto e dois são analfabetos, sendo que dois dos catadores são ajudados
pelos filhos pequenos (Figura 9).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 703


Figura 9 – Crianças coletando resíduos no lixão. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

As crianças estudam na parte da manhã e ajudam os pais na coleta de resíduos, quando


voltam da escola.
Os resíduos coletados pelos catadores são vendidos a uma Usina de Reciclagem de Resíduos
Sólidos no município (Figura 10).

Figura 10 – Usina de Reciclagem de Resíduos Sólidos. Fonte: Irismar Mangueira (2014).

Na Usina de Reciclagem os resíduos são separados por cor e tipo, logo após são prensados e
transformados em fardos que serão enviados para empresas com sede no Recife que fazem a
reciclagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resíduos sólidos se tornaram um problema do ponto de vista social e ambiental,


impactando os recursos naturais e a saúde da população. Os lixões devido à variedade de resíduos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 704


que são destinados atraem diversos animais entre estes os domésticos como: cachorros, gatos,
dentre outros, podendo transmitir doenças provenientes desse ambiente para seus donos.
Além disso, o lixão é um local propício para o alojamento de animais peçonhentos como
cobras e escorpiões que podem provocar sérios danos à saúde podendo levar a morte seja animais
domesticados ou o próprio homem.
Os catadores de resíduos sólidos recicláveis trabalham com chinela, sem luvas, sem
máscaras, ou seja, não utilizam nenhum tipo de proteção para evitar doenças ou contato direto com
o lixo.
Os catadores buscam através da coleta uma fonte de renda para sustentar suas famílias ou
complementar a aposentadoria. Constatou-se que alguns catadores levam os filhos para ajudarem na
coleta. Espera-se com a extinção dos lixões e a implantação da coleta seletiva que haja melhoria nas
condições de trabalho dos catadores.
Com a lei 12.305 de 2 de agosto de 2010 espera-se que os aterros sanitários sejam
implantados em todos os municípios para que haja a diminuição dos impactos gerados ao meio
ambiente e a própria sociedade.

REFERÊNCIAS

ANTONIS, M. Avaliação da Viabilidade de um Cenário de Tratamento-Disposição de Resíduos


Sólidos em Desenvolvimento. Conexão Academia: A Revista Científica sobre Resíduos Sólidos,
São Paulo, v.1 setembro, 2011.

BRAGA, B; HESPANHOL, I; CONEJO, J. G. L; MIERZWA, J. C; BARROS, M. T. L;


SPENCER, M; PORTO, M; NUCCI, N; JULIANO, N; EIGER, S. Introdução à Engenharia
Ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. [S. l.: s. n], 2004.

CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água
subterrânea. Diagnóstico do município de Princesa Isabel. Recife. 2005. Disponível em <http://
www.cprm.gov.br/rehi/atlas/paraiba/relatorios/PRIN149.pdf> Acessado em: 15 out. 2014.
18h37min.

FADINI, P. S; FADINI, A. A. B. Lixo: Desafios e Compromissos. Química Nova na Escola


(Impresso), v. 1, p. 9-18, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População total paraibana.


Brasília: IBGE, 2010. Disponível em:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 705


<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_par
aiba.pdf>. Acesso em: 06 out. 2014.

LEME, P; MARTINS, J. L. G; BRANDÃO, D. Guia Prático para Minimização e Gerenciamento


de Resíduos Sólidos. São Carlos SP: USP Recicla: EESC-USP; CCSC-USP; SGA-USP, 2012.
80p. Disponível em:
<http://www.ifsc.usp.br/qualidade/imagens/stories/guia_us_recicla_digital.pdf> Acesso em: 05
out. 2014.

MELO, V. L. A. Estudos de referência para diagnóstico ambiental em aterros de resíduos sólidos.


In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE AMBIENTAL, 27, 2000. Anais... Fortaleza – CE,
2000.

MONTEIRO, J. H. P; FIGUEIREDO, C. E. M. F; MAGALHÃES, A. F; MELO, M. A. F; BRITO,


J. C. X; ALMEIDA, T. P. F; MANSUR, G. L. Manual de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001, 193 p. Disponível em:
<http://www.ibam.org.br/publique/media/manualRS.pdf> Acesso em: 12 out. 2014.

RIBEIRO, D. V. A Política Nacional de Resíduos Sólidos e Uso Indiscriminado de Resíduos


Sólidos pela Sociedade Brasileira. Conexão Academia: A Revista Científica sobre Resíduos
Sólidos, São Paulo, v.1 Setembro 2011.

RIGO, M. M; SOUZA, P. S. A; CERQUEIRA, A. A; FERREIRA, A. C; STEINER, V. M;


Marques, M. R. C; Pérez, D. V. Efeito das doses de chorume tratado por eletro-Fenton na
germinação de sementes de girassol olerífero Var. BRS 321 (Helianthus annuus L.). In: X
Congresso Nacional de Meio Ambiente, 2013, Poços de Caldas-MG. Não há qualidade de vida
com o ambiente em crise: Viver bem é o desafio, 2013.

SOUSA, J. E; SILVA, D. D. E; ALVES, D. F. S; OLIVEIRA, M. G. A experiência de uma Usina


de Reciclagem na cidade de Princesa Isabel-PB. In: 1º SEMINÁRIO CAMPINENSE DE
SAÚDE AMBIENTAL, 2012. Sustentabilidade um conceito que pode mudar sua vida. Campina
Grande. Anais... Campina Grande-PB, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 706


PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE RURAL PÉ DE
SERRA DE BARREIRAS, ICAPUÍ/CE

Dayane Suellen Cabral de MEDEIROS


Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
dayane_suellen@hotmail.com

Adrienne Katianna Reis da COSTA


Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
adrienne_nina@hotmail.com

Thais Silva TORQUATO


Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
thaysikpui@hotmail.com

Wendson Dantas de Araújo MEDEIROS


Professor do Departamento de Gestão Ambiental da UERN

RESUMO
Estudos de percepção ambiental são de suma importância no conhecimento das questões
ambientais, principalmente, em nível local, pois permitem compreender como as pessoas percebem
o ambiente em que vivem, os problemas ambientais e como se relacionam com eles, bem como
podem auxiliar em processos de planejamento e gestão ambiental locais. Neste trabalho, a questão
dos resíduos sólidos no meio rural é abordada tendo em vista os diversos problemas que causa ao
meio ambiente e à sociedade. Diferentemente do que se pensa, os resíduos sólidos são bastante
produzidos na zona rural, sendo um fator tão problemático, quanto nos centros urbanos, devido em
geral, à ausência de uma gestão eficiente dos resíduos no meio rural.. Nesse contexto, o presente
artigo tem como objetivo verificar a percepção ambiental dos moradores da comunidade rural Pé de
Serra de Barreiras, Icapuí-CE, sobre a questão dos resíduos sólidos domiciliares que eles produzem,
dos problemas associados ao lixo e sobre a responsabilidade acerca de tais problemas. De modo
geral, verificou-se que parte dos problemas gerados pelo lixo tem sua origem em práticas
inadequadas pela própria população que, muitas vezes, não se percebe como responsável por tais
práticas e que parte da solução está associada à necessidade de adoção de políticas públicas
específicas para os resíduos sólidos na zona rural.
Palavras-chaves: Resíduos sólidos; Gestão de resíduos sólidos; problemas ambientais.

ABSTRACT
Studies of environmental perception are highly important in the understanding of environmental
issues, especially at the local level, as it allows to understand how people perceive the environment
in which they live, environmental problems and how they relate with them, and can aid in the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 707


process of local planning and environmental management. In this work, the issue of solid waste in
rural areas is studied in view of the many problems it causes to the environment and society.
Otherwise of general thinking, solid waste are much produced in the countryside, being such a
problematic factor, as in the urban centers, because in general, the lack of an efficient waste
management in rural areas. In this context, this paper aims to determine the environmental
awareness of residents of the countryside community of Pé de Serra de Barreiras, Icapui-CE, on the
issue of solid waste they produce, the problems associated with waste and about the responsibility
about such problems. In general, it was found that part of the problems generated by the garbage
has its origin in improper practices by the population that often is not perceived as responsible for
such practices and that part of the solution is linked to the need to adopt public policies specific for
solid waste treatment in the countryside.
Keywords: solid waste; Solid waste management; environmental problems.

INTRODUÇÃO

A relação do homem com a natureza vem desde os primórdios da humanidade, onde a


espécie humana possuía uma relação mais harmônica com a mesma, de modo a usufruir de seus
recursos apenas para subsistência. Essa relação foi se intensificando pós-revolução industrial,
trazendo em seu seio diversos problemas ambientais, oriundos das novas atividades realizadas com
novas tecnologias. Nasceu dessa forma uma sociedade pautada numa economia capitalista, na qual
se busca, sobretudo, o crescimento econômico e a viabilização, cada vez mais, do desenvolvimento
de novas tecnologias, do modismo, da valorização do ―ter‖ e não do ―ser‖, da concorrência de
mercado, dentre outros fatores que alimentam o consumismo exagerado que, por conseguinte
intensifica a geração de resíduos sólidos, seja na cidade ou no campo.
Diferentemente do que se pensa, os resíduos sólidos são bastante produzidos na zona rural,
sendo um fator tão problemático quanto nos centros urbanos, devido em geral, não possuírem
sistema organizado de coleta de lixo. Geralmente, os resíduos tendem a ser descartados de maneira
inadequada e até mesmo acondicionados por muito tempo ao redor de moradias causando mal-estar
e doenças, afetando a saúde de crianças, jovens, adultos e idosos, além de degradar o meio ambiente
através da poluição do ar, do solo e das águas. Segundo Schroeder e Santos (2012) apud Dias e
Moraes (2001) a má disposição de resíduos é uma prática que se repete há décadas, sem que haja
medidas eficazes para impedir esse problema. Essa prática pode estar atrelada à forma como a
população percebe o meio em que vive e como se relaciona com o problema. Nessa perspectiva,
estudos de percepção ambiental podem assumir relevância nos processos de gestão dos resíduos
sólidos em áreas rurais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 708


Nesse contexto, o presente estudo aborda a percepção ambiental da população da
comunidade rural Pé de Serra de Barreiras, situada no município de Icapuí-CE, acerca da produção
e disposição dos resíduos sólidos domiciliares, com objetivo de contribuir para processos de gestão
mais adequados dos resíduos gerados na comunidade.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, sendo,


portanto, de caráter exploratório. Durante a pesquisa de campo, foram feitas observações diretas,
registros fotográficos e aplicação de formulários estruturados. Segundo Lakatos e Marconi (2008), o
formulário é um instrumento de suma importância para a pesquisa, pois permite o contato face a
face entre o pesquisador e o informante.
Ainda de acordo com Lakatos e Marconi (2008), o universo de uma pesquisa consiste no
conjunto de seres que possuem características em comum, enquanto a amostragem é uma parcela do
universo que o possa representar. Dessa forma, entre um universo de 61 famílias existentes na
comunidade, definiu-se uma amostragem de 30 famílias. Os domicílios estudados foram
intercalados, um sim outro não, caracterizando uma amostragem probabilística e aleatória
sistemática. Portanto a pesquisa realizada se caracteriza como qualitativa e quantitativa, por se
definir através da compreensão tanto da pesquisa bibliográfica, quanto da pesquisa de campo.

Percepção Ambiental

Percepção ambiental é a maneira como cada indivíduo sente o ambiente ao seu redor
valorizando-o em maior ou menor escala. Podendo ser definida como uma tomada de consciência
pelo homem sobre o ambiente em que está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo.

Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As
respostas ou manifestações são, portanto resultado das percepções, dos processos
cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as
manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam nossa conduta, na
maioria das vezes, inconscientemente. (SCHROEDER e SANTOS, 2001 apud
FAGGIONATO, 2007, p.16).

É, portanto, de fundamental importância uma melhor formação de profissionais que atendam


com eficácia à resolução dos problemas ambientais e que evidenciem esforços no sentido de
promover o desenvolvimento sustentável. Todos os fatos relacionados com a crise ambiental atual
foram produzindo uma mudança gradativa na sociedade e nas suas instituições. Mas dependendo de
como essas informações penetram nas percepções dos indivíduos e de como se refletem em suas
ações, as mudanças acabam sendo lentas e incompletas. Assim, em uma mesma organização social
podemos encontrar, convivendo lado a lado, posturas conservadoras, indiferentes, ou renovadoras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 709


Nesse contexto, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância. Por meio
dele é possível conhecer cada um dos grupos envolvidos, facilitando a realização de um trabalho
com bases locais, partindo da realidade do público alvo, para conhecer como os indivíduos
percebem o ambiente em que convivem, suas fontes de satisfação e insatisfação (SCHROEDER e
SANTOS, 2001 apud FAGGIONATO, 2007).

Resíduos Sólidos

Os resíduos sólidos advêm de vários setores sendo também classificados como: industriais,
urbanos, hospitalar, de portos, aeroportos, agrícolas, radioativos, entulho entre outros; que
consequentemente são produzidos pelo ser humano devido ao descarte de materiais que julgam sem
utilidade. Resíduo sólido é, no entanto todo o lixo que possui de alguma forma a possibilidade de
ser reutilizado, reaproveitado e reciclado, estabelecendo os três parâmetros da sustentabilidade.
Alguns desses resíduos são altamente contaminantes para o meio ambiente sendo de suma
importância a retirada deles do ambiente buscando formas de reaproveitamento desses materiais,
pois muitos levam décadas para serem decompostos na natureza. Segundo a Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), resíduos sólidos são definidos como:

Resíduos nos estados sólido e semissólidos, que resultam de atividades da comunidade de


origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços de variação.
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistema de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede
pública de esgotos em corpos d‘água[...] (NBR 10004, 2004, p.1).

Os resíduos sólidos produzidos nas residências da zona rural são bastante diversificados
onde podemos encontrar diversos tipos como: vidros, latas, plásticos, alumínios, papelão etc.,
tornando-se uma ameaça à natureza por ocasionar sérios problemas de poluição dos solos e das
águas, devido à inexistência ou ineficácia de políticas públicas direcionadas a gestão de resíduos
sólidos nas comunidades rurais.

As alterações ambientais geradas pela disposição inadequada dos resíduos domésticos em


pequenas comunidades ou na zona rural, apesar de serem de uma magnitude menor que
aquelas produzidas nos ―lixões‖ das grandes cidades, podem, também, constituir impactos
ambientais negativos, principalmente porque, muitas vezes, passam a ocupar um espaço
físico ainda não ocupado pelo homem, ao contrário do que ocorre nas cidades (COLLARES
et al. 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil dos entrevistados

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 710


Quanto ao gênero, 87% pertenciam ao sexo feminino, enquanto 13% ao masculino. Essa
maioria relacionada ao sexo feminino deve-se ao fato de que a maioria das mulheres fica em casa,
fazendo seus afazeres domiciliares ou cuidando dos filhos. No que se refere a faixa etária, a
população amostral mostrou-se heterogênea. Houve uma maior participação de pessoas entre 20 e
30 anos e entre 41 e 50 anos, correspondente a 37% e 23%, respectivamente. Quanto ao grau de
escolaridade, ficou bastante visível que a maioria das pessoas (40%) só tem o ensino fundamental
incompleto (Figura 1).

Analfabeto

13% 17% E.F.I

17% E.F.C

40% E.M.I
10%
E.M.C
3%
E.S.C.

Figura 1 – Grau de escolaridade


Legenda: E.F.I. - Ensino Fundamental Incompleto / E.F.C. – Ensino Fundamental Completo
E.M.I. – Ensino Médio Incompleto / E.M.C – Ensino Médio Completo / E.S.C. – Ensino Superior Completo
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Acredita-se que esse resultado esteja relacionado à necessidade de trabalhar cedo na roça
para ajudar a família, abandonando assim os estudos. Quanto ao tempo de residência na
comunidade, nota-se que 42% da população inquirida vive na comunidade entre um e dez anos.
Questionou-se aos entrevistados sobre suas profissões e registrou-se que 44% dos homens são
agricultores, justamente por morar na zona rural, fazendo da agricultura seu meio de vida. E em
segundo lugar vem as donas de casa, estas, mulheres dos agricultores, que cuidam apenas da casa e
dos filhos 39%. Os 17% restantes dos entrevistados se distribuem entre estudantes, marisqueiras,
serventes e auxiliar de produção. E quanto ao número de pessoas que moram nas residências, a
maioria abriga quatro pessoas.

Percepção sobre o ambiente da área de estudo

Com o intuito de investigar a percepção acerca da qualidade do ambiente da área de estudo,


indagou-se aos entrevistados sobre a existência de problemas ambientais na comunidade. 57%
afirmaram não existir problemas ambientais onde moram enquanto 43% disseram existir. Aos que
falaram existir problemas, perguntou-se quais seriam esses problemas, sendo o resultado mostrado

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 711


na figura 2. Ao serem indagados se mudariam alguma coisa no lugar, 60% responderam que sim e
40% que não. Entre os que responderam sim, a maior parte se referiu ao lixo nas ruas, como mostra
a figura 3.

Não soube
Lixo nas ruas responder
Estrada
6% 11% 11%
12%
Morar próximo Encostas
18% 47% de encostas 22%
28% Lixo nas ruas
Queimadas
23% 22% Melhorar a
vegetação
Não soube
Deixar de fazer
responder
queimadas
Figura 2 – Problemas evidenciados Figura 3 – O que poderia ser mudado no lugar
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013. Fonte: Pesquisa de Campo 2013.

Entre os problemas ambientais mencionados, percebe-se que muitos são provocados pela
própria população. Com o intuito de buscar compreender como os entrevistados percebem essa
situação, verificou-se que a grande maioria relata apenas o lixo como sendo um problema de sua
responsabilidade (figura 4). Isso se deve, talvez, ao baixo nível conscientização ambiental da
comunidade, que se atenta mais aos problemas que são fáceis de visualizar e que persistem no seu
cotidiano (por exemplo, no caso do lixo em comparação às queimadas, que são esporádicas).

Não soube
25%
responder

75% Porque
gera lixo

Figura 4 – Problemas ambientais causados pelas pessoas da comunidade


Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Percepção acerca do lixo:

Com vistas a compreender qual o tipo de lixo mais gerado pela população, perguntou-se
sobre o tipo de lixo gerado. Todos os entrevistados responderam que geram papel, plástico e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 712


lixo orgânico em suas casas, sendo que 18% citaram, ainda, vidro e 15%, metal (figura 5). Sobre
a destinação do lixo,53% dos moradores disseram que disponibilizam o lixo para coleta; 36%
utilizam o lixo orgânico para alimentação de animais e 11% queimam o lixo produzido (figura
6).

35 100% 100% 100%


30 Coleta do
Caminhão
25
20
36% Queimado
15
10 15% 18% 53%
5
Comida para
0 animais
11%

Figura 5 – Produção de lixo dos moradores Figura 6 – Destino de todo o lixo produzido nas
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013. casas
Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Foi perguntado se os entrevistados achavam que o lixo produzido em suas casas poderia
trazer algum tipo de prejuízo para eles ou para o meio ambiente, segundo as suas concepções. A
metade achava que sim e a outra metade que não. De acordo com todos os entrevistados a coleta do
lixo ocorre regularmente uma vez por semana, realizada pela prefeitura através de um caminhão. A
esse respeito, 23% dos entrevistados relataram que a coleta realizada apenas uma vez por semana é
ineficiente e ineficaz, visto que o lixo tende a se acumular, gerando mau cheiro e atraindo animais
soltos que espalham o lixo nas ruas, agravando o problema. Contudo, a maioria (77%) acredita que
o sistema de coleta é adequado (figura 7).

23%
Sim
Não
77%

Figura 7 – Opinião sobre se a coleta do lixo é adequada


Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 713


No que respeita à destinação correta do lixo, após a execução da coleta, 53% acham correta
a destinação para lixões, 21% para reciclagem, 26% para o aterro sanitário (figura 8).

Lixão

21%
Aterro
53% Sanitário
26%

Reciclagem

Figura 8 – Destinação correta para o lixo


Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Quanto à responsabilidade acerca do tratamento do lixo, 50% dos entrevistados responderam


ser da prefeitura; 34% acham que o lixo é de responsabilidade conjunta da prefeitura e da
comunidade; 13% pensam que é só da comunidade; e, 3% disseram que além da comunidade e da
prefeitura, o estado também é responsável. Constatou-se que apenas 13% reutilizam de alguma
forma o lixo que produzem, usando garrafas pet para guardar água na geladeira. Porém essa prática
não vem da consciência ambiental, mas sim pela questão financeira. Verificou-se a percepção dos
entrevistados quanto à existência de problemas ambientais causados pelo lixo na comunidade.
Registrou-se que 50% percebia a existência de algum tipo de problema em relação ao lixo e 50%
não percebia qualquer tipo de problema. Dentre os que perceberam problemas, a maioria apontou a
geração de entulho (58%), como mostra a figura 9. Também foram perguntadas quais soluções eles
dariam para os problemas gerados pelo lixo, sendo que as respostas podem ser vistas na Figura 10.

Não jogar lixo


4% 4% Entulho
nas ruas
Entope os 8%
15% boeiros Cada pessoa
17% cuidar do seu
Pragas
19% 58% lixo
17% 58%
Queimada A prefeitura
s deve limpar as
Mau ruas
cheiro Consientizar as
pessoas

Figura 9 – Problema gerados pelo lixo. Figura 10 - Possíveis soluções


Fonte: Pesquisa de Campo, 2013. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 714
Diante do exposto pode-se perceber que o problema do descarte de resíduos sólidos não é
um problema que afeta somente os centros urbanos, mas também o meio rural, o que pode ser até
mais problemático devido ao baixo grau de instrução e conhecimentos do assunto da população.
Dessa forma na comunidade rural estudada, foi possível perceber que os moradores tem certa
percepção de que o lixo gerado por eles pode trazer algum tipo de problema para si e para o meio
ambiente. Contudo, eles percebem que isso só pode ocorrer se o lixo estiver perto de suas casas, por
essa razão acredita-se que a melhor disposição final para os resíduos seja o lixão.
Foi constatado também que, apesar de existir coleta uma vez por semana, realizada pela
prefeitura a mesma se mostra ineficiente, gerando problemas ainda maiores como já citado
anteriormente. A problemática das queimadas não se mostra tão expressiva, pois as mesmas na
maioria das vezes são realizadas por pessoas que não moram na comunidade.
Acerca do que foi elencado e da percepção dos problemas citados, notou-se a importância e
a necessidade da implantação de políticas públicas no meio rural voltadas para o tratamento e
descarte de resíduos sólidos, de forma a amenizar os problemas ambientais. Bem como, implantar
programas de educação ambiental para que a população fique ciente dos problemas que o lixo traz,
além de uma coleta mais eficiente por parte do poder público municipal Faz-se necessário
sensibilizar os moradores e a sociedade em geral para que os problemas ocasionados pelo descarte
de resíduos no meio rural em locais inadequados, tais como: proximidades das residências, dos
mananciais, ou a céu aberto com o intuito de conter os avanços dos agentes poluentes produzidos
pelo homem nas comunidades rurais, que cada vez mais acelera os processos de degradação
ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do tema, resíduos sólidos na comunidade Pé de serra de Barreiras, foi possível


perceber que da necessidade de informação sobre os problemas e impactos ambientais decorrentes
dos resíduos gerados no meio rural, pois esse não é um problema que afeta somente os centros
urbanos.
A informação sobre a destinação adequada dos resíduos sólidos em comunidades rurais é um
tema que precisa ser implantado, mediante a realização de palestras e cursos que envolvam a
comunidade.
O gerenciamento dos resíduos sólidos é um termo que vem sendo debatido há um tempo,
tendo em vista prejuízos causados a sociedade, relacionando-se aos aspectos sociais, econômicos e
ambientais. A gestão dos resíduos no meio rural exige um processo de educação ambiental,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 715


possibilitando o conhecimento de técnicas e ações que possam auxiliar no reaproveitamento dos
resíduos gerados.
A coleta dos resíduos é vista de maneira positiva, porém torna-se necessário que seja
rotineira, evitando problemas derivados de resíduos acumulados por muitos dias. Conclui-se,
portanto, que o destino adequado dos resíduos sólidos está interligado com ações que visam
melhorias que contribuem para o ambiente limpo e consequentemente para uma melhoria da
qualidade de vida da população.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 10004. RESIDUOS SOLIDOS CLASSIFICAÇAO; Segunda Edição; 31.05.2004; valido
a partir de 30.11.2004. Disponível em
<http://www.aslaa.com.br/legislacoes/NBR%20n%2010004-2004.pdf > Acesso em Fevereiro de
2014.

KRELING, Mônica Tagliari. Aterro Sanitário da Extrema e Resíduos Sólidos Urbanos


Domiciliares: percepção dos moradores – Porto Alegre – Rio Grande do Sul. Programa de Pós
Graduação em Geografia. Dissertação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 2006, 203p.

MARCONI, M. de A. LAKATOS, E. M. Ciência e conhecimento cientifico. In. MARCONI, M. de


A. LAKATOS, E. M. Fundamentos da Metodologia Cientifica. 7. ed. São Paulo Atlas, 2010,
p.44-46.

PHILIPPI JR., Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet. Controle
Ambiental de Resíduos. In: PHILIPPI JR., Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA,
Gilda Collet. Curso de Gestão Ambiental. Barueri, SP: Manole, 2004.

SCHROEDER, Jéssica de Carvalho; SANTOS, Willian do Canto. Lixo e impactos ambientais: a


percepção ambiental no ecossistema urbano de Medianeira – Paraná. 2012. 53f. Monografia
(Tecnologia em Gestão Ambiental) Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Medianeira.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 716


RESÍDUOS SÓLIDOS: VISÃO DOS GESTORES E CATADORES DO MUNICÍPIO DE
JAGUARUANA-CE

Eduardo Pereira de OLIVEIRA


Graduando do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da FAFIDAM/UECE
edufla7@hotmail.com

Flávio José da SILVA JÚNIOR


Licenciado em Ciências Biológicas pela FAFIDAM/UECE
flavio_jr01@hotmail.com

Ana Raquel de Oliveira MANO


Professora do IFCE/Campus Tabuleiro do Norte/CE
raquel.mano@ifce.edu.br

Carlos Vangerre de Almeida MAIA


Professor Instituto Centec/CE
cvamaia@yahoo.com.br

RESUMO
Um dos maiores problemas que assola as administrações municipais no Brasil e no mundo,
sobretudo aquelas dos países em desenvolvimento é a destinação dos resíduos sólidos, pois quando
eliminados inadequadamente, contaminam os recursos naturais, afetando diretamente a saúde da
população. Desta forma o objetivo deste trabalho foi identificar a visão dos gestores e catadores
quanto a problemática dos resíduos sólidos na cidade de Jaguaruana/CE. Este trabalho foi
desenvolvido no período de junho a dezembro de 2013 e para coleta dos dados foram aplicadas
entrevistas ao responsável pelo departamento da Secretaria do Meio Ambiente gestor dos resíduos
sólidos no município, a coordenadora da empresa terceirizada responsável pela coleta e destinação
final dos resíduos sólidos no município e a um catador residente no lixão do município. Constatou-
se a partir da coleta dos dados que o município de Jaguaruana realmente não tem controle sobre a
disposição final correta dos resíduos gerados, além de não possuir políticas públicas que alertem
sobre os problemas causados devido a essa má disposição dos resíduos, pondo em risco a saúde
pública e do meio ambiente. Observou-se ainda que o lixão de Jaguaruana não apresenta controle
sanitário nem medidas que reduzam a contaminação ambiental daquele espaço. Com isso conclui-
se que a gestão dos resíduos sólidos em Jaguaruana/CE, de acordo com a visão dos gestores e
catadores, não trabalha aspectos sanitários e ambientais no que diz respeito a disposição adequada
dos resíduos sólidos no lixão, nem tal pouco uma política de conscientização da população ou de
amparo aos catadores que poderiam auxiliar significativamente no tratamento adequado dos
resíduos nesse município.
Palavras-chave: Gestão; Meio ambiente; Conservação; Lixão.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 717


ABSTRACT
One of the biggest problems plaguing the municipal administrations in Brazil and the world,
especially those of developing countries is the disposal of solid waste, because when disposed of
improperly, contaminate natural resources, directly affecting the health of the population. Thus the
aim of this study was to identify the vision of managers and collectors as the problem of solid waste
in the city of ‗Jaguaruana /CE‘. This work was developed in the period from June to December
2013 and interviews for data collection were applied to the head of the department of Department of
Environment manager of solid waste in the city, the coordinator of the third party responsible for
the collection and disposal of solid waste in the county and a resident of the county dump picker. It
was found from the data collection that the municipality of ‗Jaguaruana‘ really have no control over
the correct disposal of waste generated, and does not have public policies that warn about the
problems caused due to such poor waste disposal, endangering public and environmental health. It
was also observed that the landfill does not present ‗Jaguaruana‘ or sanitary control measures to
reduce the environmental contamination that space. Thus it is concluded that the management of
solid waste in ‗Jaguaruana/CE‘, according to the vision of managers and collectors, not work health
and environmental aspects regarding the proper disposal of solid waste in the landfill, or as little
political public awareness or assistance to those collectors that could significantly assist in the
proper treatment of waste in this county.
Keywords: Management; Environment; Conservation; Dump.

INTRODUÇÃO

Os Resíduos Sólidos (RS) podem ser definidos como todo material, substância, objeto ou
bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede,
se propõem a proceder ou estar obrigado a proceder, nos estados sólido e semissólido, bem como
gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviável em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).
O mau acondicionamento dos RS pode comprometer a qualidade do ambiente, por serem
fontes de compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados, entre outros. Sabe-se
ainda que a decomposição da matéria orgânica presente no lixo resulta na formação do chorume,
podendo formar gases tóxicos, asfixiantes e explosivos, que se acumulam no subsolo ou são
lançados na atmosfera (GOUVEIA; PRADO, 2010, p. 860).
Conforme Calijuri et al. (2007, p. 336), a disposição final do lixo em áreas impróprias e
executadas sem estudo detalhado do local provoca sérios problemas ambientais e sociais, como:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 718


poluição do solo (alterando suas características físico-químicas, representará uma séria ameaça à
saúde pública tornando-se ambiente propício ao desenvolvimento de transmissores de doenças,
além do visual degradante associado aos montes de lixo), poluição da água (alterando as
características do ambiente aquático, através da percolação do líquido gerado pela decomposição da
matéria orgânica presente no lixo, associado com as águas pluviais e nascentes existentes nos locais
de descarga dos resíduos), poluição do ar (provocando formação de gases naturais na massa de lixo,
pela decomposição dos resíduos com e sem a presença de oxigênio no meio, originando riscos de
migração de gás, explosões e até de doenças respiratórias, se em contato direto com os mesmos).
No Brasil a quase totalidade dos municípios dispõem seus RS em um espeço denominado
lixão, que de acordo com Medeiros et. al. (2009, p. 4) é o local em que os resíduos sólidos urbanos,
de todas as origens e naturezas, são simplesmente lançados, sem qualquer tipo ou modalidade de
controle sobre os resíduos ou sobre seus efluentes. Essa disposição inadequada desses resíduos além
de causar degradação direta do meio ambiente é visto pela população como falta de gestão e
preocupação com a saúde dos moradores e do meio onde se vive.
Mesmo sendo um ambiente de risco, os lixões continuam atraindo populações para o seu
entorno, onde, por muitas vezes, este é o ambiente de trabalho e de onde estas populações retiram
meios para sua própria subsistência, sendo denominados catadores de resíduos ou recicladores. De
acordo com Siqueira e Morais (2009), o perfil dos catadores pode ser definido a partir de três
agrupamentos: catadores de rua, catadores cooperados e catadores de lixão, que são fortemente
atingidos pela exclusão social, uma vez estão desvinculados de qualquer assistência e organização
da gestão pública. Cavalcante, Franco e Amorim (2007) afirmam que a atração de catadores aos
lixões é provocada especialmente pelo alto grau de empobrecimento e a ausência de perspectiva
laboral, consequência da falta de políticas públicas adequadas no amparo a população de baixa
renda em países em desenvolvimento.
Logo, este trabalho teve como objetivo identificar a visão de gestores e catadores quanto a
problemática dos resíduos sólidos no município de Jaguaruana/CE.

METODOLOGIA

O município de Jaguaruana insere-se na microrregião do Baixo Jaguaribe, interior do Ceará,


ocupando uma área de 867, 26 Km2, distando 180 km de Fortaleza, capital do Estado, e foi o objeto
de estudo deste trabalho. De acordo com IPECE (2004), limita-se ao Norte com os municípios de
Aracati e Itaiçaba, ao Sul com Quixeré, Russas e o estado do Rio Grande do Norte, ao Oeste com os
municípios de Palhano, Itaiçaba e Russas e ao Leste com o estado do Rio Grande do Norte e Aracati
(Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 719


Figura 1 – Localização do município de Jaguaruana/CE com municípios vizinhos (IPECE, 2004).

A produção de rede se constitui como a maior atividade econômica do município. Esse


produto feito há décadas é fonte de sobrevivência de muitas famílias que fazem da produção e
venda desse artigo sua única fonte de renda. A produção de redes de dormir no município de
Jaguaruana, exclusivamente artesanal, foi de importância econômica até o final da década de 1980.
Ressalta-se que do total de indústrias instaladas no município, 84,21% pertencem ao ramo têxtil.
A coleta dos dados se deu por meio de entrevistas não estruturadas ao diretor de
departamento socioambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Jaguaruana, o gerente operacional
da WF Ambiental (empresa responsável pela coleta dos resíduos sólidos no município) e a um
catador, residente no lixão de Jaguaruana. Antes da coleta dos dados em campo procedeu-se com a
revisão de literatura (junho e julho de 2013), enquanto a pesquisa de campo para coleta das
informações requeridas ocorreu em agosto de 2013. Logo após deu-se inicio a tabulação dos dados
levantados, e escrita do artigo (setembro e dezembro de 2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos dados obtidos por meio da entrevista com o diretor de departamento
socioambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Jaguaruana, pode-se coletar informações quanto
a situação do município em relação aos resíduos sólidos gerados e a destinação final destes. A
gestão dos resíduos sólidos em Jaguaruana é responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente, e
essa terceiriza o serviço de coleta de resíduos. A empresa terceirizada responsável é denominada
WF Ambiental e realiza o serviço de limpeza pública, que segundo a Política Nacional dos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 720


Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010) consiste na coleta, remoção e destino adequado dos resíduos,
remoção de podas, animais mortos e/ou feridos, varrição das vias públicas, ajardinamento de praças
e de jardins, conservação de monumentos, cemitérios e matadouros, pintura de meio-fio,
arborização, podagem e capinação, entre outros.
Em entrevista não estruturada com o gerente administrativa da WF Ambiental pode-se obter
um detalhamento maior quanto a organização da coleta dos resíduos no município avaliado, sendo
que essa coleta conta com três caminhões abertos para o recolhimento dos RS nos distritos e um
caminhão compactador para a coleta na sede. Já a coleta de entulho (principalmente materiais de
construção) é feita com um poli guindaste com seis containers, uma caçamba e uma mini
carregadeira MC85C. Deve-se ressaltar que a coleta do lixo na sede é realizada diariamente,
inclusive nos feriados, sendo três dias por semana em cada bairro e no centro a coleta é feita todos
os dias. Nos distritos essa coleta é feita uma vez por semana. Após a coleta os resíduos são
transportados por aproximadamente 18 km de distância da sede, depositados e soterrado em um
lixão na comunidade de Santa Luzia, na cidade de Jaguaruana.
De acordo com a antiga empresa coletora de resíduos EMPRESERV, esses detritos que vão
parar no lixão podem ser caracterizados da seguinte forma: 4,14% são compostos de plástico duro,
5,86% de plástico mole, 1,52% de metal, 4,80% de papel e papelão, 2,77% de trapos
(principalmente fios gerados na produção de redes nas fábricas da cidade), 31,25% de matéria
orgânica, 42,00% de material inerte (em sua maioria areia), 1,22% borracha, 3,88% material não
reciclável e 2,52% de vidro (Figura 2).

Figura 2 - Caracterização dos resíduos sólidos do município de Jaguaruana, CE, 2011. Fonte: EMPRESERV,
2009.

Foi realizada uma visita ao lixão municipal na comunidade de Santa Luzia, município de
Jaguaruana/CE, para constatação das condições ambientais e sanitárias daquele local onde se
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 721
acumulam os resíduos sólidos municipais. Bem como as condições de vida que são submetidos os
catadores que trabalham naquela área. Observou-se que os RS são dispostos a céu aberto e
propiciam a atração dos catadores de lixo: homens/mulheres/crianças. Esses procuram no lixão, sua
subsistência, e por vezes, a alimentação dos seus animais domésticos, ou mesmo, sua própria
alimentação, resultando assim em sérios problemas de saúde pública. De acordo com as
observações realizadas no lixão de Jaguaruana pode-se perceber ainda que algumas famílias retiram
de lá o seu sustento, sendo que alguns chegam a residir no local em condições precárias, tendo
como habitação barracas de lona e pano.
Constatou-se que à medida que o lixo é destinado ao lixão, pela empresa responsável, essas
famílias vão a campo em busca de materiais como: papel, caixas, garrafas PET‘ s, sacolas plásticas,
latinhas de alumínio, enfim tudo o que pode ser reaproveitado (Figura 3A). Após os RS serem
despejados no lixão os catadores procedem com a separação (Figura 3B) do que foi coletado
conforme o tipo de material e em seguida levam esse material até os atravessadores onde é vendido.
Evidenciou-se que acidentes de trabalho nesse tipo de ambiente geralmente acontecem em
decorrência da precarização e falta de condições adequadas de trabalho, traduzidos em ferimentos e
perdas de membros por atropelamentos e prensagem em equipamentos de compactação e veículos
automotores, além de mordidas de animais (cães, ratos) e picadas de insetos.

A B

Figura 3 - A: Catador recolhendo os resíduos recicláveis no lixão; B: Separação dos RS no lixão por
categorias para posterior venda. Jaguaruana/CE, 2014. Fonte: Arquivo pessoal.

Possibilidade de risco à saúde e qualidade de vida desses catadores refere-se também às


questões psicossociais, que segundo Gesser e Zeni (2004), a história de vida dos catadores de
materiais recicláveis é marcada pela vergonha, humilhação e exclusão social; sua ocupação é
sentida como sendo desqualificada e carente de reconhecimento pela sociedade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 722


Conforme dados coletados nas entrevistas não estruturadas aplicadas selecionou-se sete
perguntas em comum que foram trabalhadas com os três entrevistados para se identificar a visão
desses quanto a problemática dos RS no município de Jaguaruana/CE, Tabela 1.

1. Em sua opinião, o fato do lixão estar estabelecido na localidade de Santa Luzia é bom ou ruim?
Explique.
2. A presença do lixão pode afetar a saúde da população – principalmente da comunidade e dos
catadores – de alguma forma?
3. A presença do lixão pode afetar o meio ambiente de alguma forma? Quais as consequências?
4. Em sua opinião, o lixão traz algum benefício para a sociedade?
5. Tudo o que está no lixão não tem mais serventia?
6. A comunidade foi consultada ou informada da possibilidade da ida do lixão para o distrito de
Santa Luzia?
7. Qual alternativa de tratamento de lixo seria mais correta e economicamente viável para o
município de Jaguaruana?
Tabela1 - Perguntas aplicadas para o catador, o diretor de departamento da Secretaria de Meio Ambiente de
Jaguaruana/CE e o gerente operacional da empresa WF Ambiental, Jaguaruana/CE, 2013.

Na Tabela 2 abaixo, observa-se as opiniões dos três entrevistados envolvidos na gestão dos
resíduos sólidos em Jaguaruana sobre a localização do lixão de Santa Luzia. Segundo Bueno
Quirino et al. (2013, p. 12) ao instalar um lixão há que se levar em conta o substrato geológico bem
como o adensamento das redes de drenagem fluviais e extensão das encostas do relevo, como itens
fundamentais em sua localização.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora É maravilhoso, devido o lixão estar em perfeitas condições.
Diretor de Departamento Não é o ideal, pois o lixão deveria estar a uma distância de, no
Socioambiental mínimo, 30 km da cidade. A falta de conhecimento, de tecnologia
e de um terreno apropriado podem ter levado as gestões anteriores
a planejar sem visarem longo prazo quais as consequências futuras
aos distritos, próximos ao lixão, do deslocamento do lixo para
áreas abandonadas, sem um planejamento eficaz.
É bom, pois seria ruim a presença de algum morador da
Gerente Operacional circunvizinhança estabelecido no local. Somente alguns catadores
moram no lixão, de forma que não existe um risco direto a
população devido à distância de 18 km da sede da cidade e a cerca
de 2 km de Santa Luzia.
Tabela 2 – Visão dos entrevistados quanto à localização do lixão na localidade de Santa Luzia ser adequada,
Jaguaruana/CE, 2013.

A segunda pergunta aos gestores e ao catador que opinaram sobre os problemas causados a
saúde da população que vive no entorna dos lixões e aos próprios catadores, está exposta na Tabela
3. Percebe-se que todos os entrevistados acreditam nos riscos causados pelo lixão a saúde da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 723


população. O gerente operacional da empresa cita à falta de controle ambiental, pois com um lixão
estabelecido na localidade de Santa Luzia não há como controlar os danos causados por ele e,
assim, esses agravos podem prejudicar a saúde da população. De acordo com Cavalcante, Franco e
Amorim (2007, p. 213) a exposição da saúde humana e ambiental aos agentes da nossa partir dos
lixões ocorre de duas formas: pelo modo direto, quando há um contato estreito do organismo
humano com agentes patogênicos presentes no lixão, e pelo modo indireto, por meio da
amplificação de algum fator de risco, que age de forma descontrolada sobre o entorno e por três vias
principais, a saber: ao ocupacional, a ambiental e a alimentar.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Sim, devido aos riscos causados pelo lixo.
Diretor de Departamento Com certeza, devido à geração de chorume que pode se infiltrar e
Socioambiental atingir os lençóis freáticos, de forma que há uma contaminação
direta ou indireta do lençol freático da região local, e há a questão
das doenças que podem ser transmitidas. A própria gestão tem
conhecimento desses fatos.
Gerente Operacional Com certeza, devido à falta de controle ambiental.
Tabela 3 – Visão dos entrevistados quanto a localização do lixão poder afetar a saúde da população –
principalmente da comunidade e dos catadores – de alguma forma, Jaguaruana/CE, 2013.

A via ocupacional particulariza-se pela contaminação dos catadores, que manipulam


substâncias consideradas perigosas sem nenhuma proteção. Embora atinja uma parcela reduzida da
população, esta via manifesta a forma mais agressiva de contaminação (GONÇALVES, 2005). A
via ambiental caracteriza-se pela dispersão dos agentes contaminadores pelo ar, advindos da
putrefação de restos alimentares e de animais mortos, infestação do chorume1 nos corpos d‘água
superficiais ou infiltração no lençol freático em solos permeáveis e pela produção de gás metano em
virtude da decomposição dos resíduos ou proliferação de bactérias anaeróbias, o que, ―além de
contribuir para o efeito estufa (...), pode criar verdadeiras bombas‖ (LIMA; RIBEIRO, 2000, p. 53).
Por fim, há a via alimentar, caracterizada pela contaminação dos catadores ou residentes
próximos aos lixões em virtude da ingestão de restos de comida encontrados e de animais que
frequentam este espaço e se alimentam dos resíduos in natura em disputa com os humanos, Ao
interagirem com a cadeia alimentar, esses animais poderão transmitir doenças, tanto àqueles de sua
espécie como ao homem, elo final dessa cadeia (NUNES MAIA, 2002).
A terceira pergunta direcionada aos entrevistados, foi sobre os problemas causados pelo
lixão ao meio ambiente, e as respostas estão Tabela 4. De acordo com as respostas obtidas, nota-se
que o catador realça o dinheiro ganho no lixão, mas ainda assim reconhece que a poluição é um
problema. Segundo Santos e Rigotto (2009, p. 61) é inevitável dizer que os lixões,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 724


independentemente da cidade, causam poluição do ar, do solo e das águas superficiais e
subterrâneas.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Afeta, devido à poluição causada pelo lixo, mas o incentivo vem
do dinheiro recebido pelo trabalho suado.
Diretor de Departamento Afeta, não só a saúde da população como um todo, como também
Socioambiental o meio ambiente.
Gerente Operacional Afeta, diretamente o solo pela falta de proteção e compactação do
mesmo tornando-o impermeável.
Tabela 4 – Visão dos entrevistados quanto a influência e consequências do lixão sobre as condições
ambientais daquele local, Jaguaruana/CE, 2013.

A Tabela 5 contém a quarta pergunta aos entrevistados que expressam suas opiniões sobre
possíveis benefícios do lixão para a sociedade.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Não sei, mas pra mim o lucro com o a separação e venda do lixo é
o meu maior benefício.
Diretor de Departamento Não, o lixão não é o ideal para a sociedade, mas sim o aterro
Socioambiental sanitário ou o aterro controlado. Hoje o termo lixo não é mais
adequado na sociedade, pois ele gera renda tanto para o município
quanto para as pessoas, mas isso deve ser trabalhado em longo
prazo, pois os municípios ainda não estão preparados e precisam de
uma conscientização onde menos de 10% dos municípios do Ceará
tem aterros ou políticas de reciclagem, de forma que o município
de Jaguaruana está longe do ideal. Infelizmente o meio ambiente e
os problemas ambientais não são prioridade nas políticas públicas
municipais, estaduais e nem nacionais.
Gerente Operacional Não traz nenhum benefício, seja ele de caráter social ou ambiental.
Tabela 5 – Visão dos entrevistados quanto aos benefícios que lixão pode trazer para a sociedade,
Jaguaruana/CE, 2013.

Como esperado, o catador colocou a frente de seus valores o lucro recebido em seu trabalho no
lixão, desconhecendo possíveis benefícios do lixão para a sociedade, particularizando sua resposta.
A quinta pergunta feita aos entrevistados foi sobre a existência de utilidades para o lixo
contido no lixão, e as respostas estão contidas na Tabela 6. Destaca-se a mesma opinião entre os
entrevistados, onde o lixo tem serventia e isso vale para quase tudo que está no lixão. Vale ressaltar
a explicação dada pelo diretor de departamento socioambiental, dizendo que a maior parte do lixo é
de origem orgânica, mas na verdade a maior parte do lixo corresponde ao material inerte
(principalmente areia).

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Não, a maioria do lixo pode ser reaproveitada.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 725


Diretor de Departamento Não, pois a maior parte do lixo do município é de origem orgânica,
Socioambiental de forma que poderia ser utilizado como adubo, mas, há ausência
de uma política municipal de reciclagem e tratamento desse lixo.
Hoje Jaguaruana vê todo material que sai das residências e
comércios como lixo, mas já existe um pensamento de tratar esse
lixo como um material que possa ser reutilizado.
Gerente Operacional Não, já que os catadores estão frequentemente no lixão coletando
plásticos, papelão, frascos de vidro, latas, entre outros, e
revendendo-os para garantir sua subsistência.
Tabela 6 – Visão dos entrevistados quanto a utilidade dos resíduos sólidos encontrados no lixão,
Jaguaruana/CE, 2013.

A sexta pergunta indagou se a comunidade foi consultada ou informada da possibilidade da


ida do lixão para a comunidade, e as respostas estão na Tabela 7.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Não sei informar, pois não residia no lixão na época de sua vinda.
Diretor de Departamento Não sei informar, pois estive presente no processo de transferência
Socioambiental do lixão do antigo local para o atual. Mas os gestores das antigas
administrações fizeram esse deslocamento para atender
minimamente a políticas nacionais de reciclagem. Segundo bases
históricas, os gestores estavam querendo mesmo era afastar o lixão
da zona urbana, assim como aconteceu com o antigo local, sem
planejamento.
Gerente Operacional Não sei responder com exatidão pelo fato de não ter sido autora da
transferência do lixão.
Tabela 7 – Visão dos entrevistados quanto uma possível consulta popular informando sobreo deslocamento
do lixão para a comunidade de Santa Luzia, Jaguaruana/CE, 2013.

Como esperado todos os entrevistados não souberam responder a pergunta, pois a


transferência do lixão foi realizada nas gestões anteriores com a empresa coletora e destinadora dos
resíduos EMPRESERV e o prefeito da época era o Sr. José Augusto de Almeida. Inclusive o antigo
lixão era localizado no distrito de Jurema que é bem próximo da zona urbana da cidade.
Na Tabela 8 a sétima pergunta feita aos gestores e ao catador sobre qual alternativa de
tratamento de lixo eles achavam mais correta e economicamente viável para o município de
Jaguaruana. Analisando as respostas, nota-se a falta de conhecimento do catador sobre alternativas
melhores que o lixão. Com certeza ele respondeu a pergunta pensando no seu lucro obtido pela
separação e venda dos materiais do lixão, como foi feito em quase todas as perguntas.

ENTREVISTADOS PONTO DE VISTA


Catadora Somente o lixão resolve os problemas, estando em primeiro lugar.
Diretor de Departamento O ideal seria que tivesse um aterro que atendesse a todas as
Socioambiental exigências sanitárias e ambientais, trabalhando com as usinas de
transbordo para que chegue ao aterro somente aquilo que não pode
ser mais reutilizado. O município faz parte de um consórcio

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 726


conjunto com outras cidades que são: Itaiçaba, Russas, Icapuí e
Palhano; almejando fazer plano que talvez não seja o ideal, mas é a
possibilidade real, deslocando o lixo de todas essas cidades para
criar um aterro sanitário. Cada cidade estaria com uma usina de
transbordo, onde teria associações de catadores registradas
municipalmente onde estas associações retirariam todo o material
que poderia voltar para o ciclo produtivo, chegando ao aterro só
aquilo que não poderia estar no ciclo produtivo. Contudo, seria
uma política em longo prazo, sendo implantado inicialmente todo
um processo de reciclagem, de separação e de educação ambiental.
Gerente Operacional Deve ser feito inicialmente uma coleta seletiva para o município,
depois a diminuição do volume do lixo com auxílio de prensas,
existente na empresa, onde o lixo vai ser pesado, depois prensado e
acumulado até que possa ser vendido. E aliado a esse processo de
coleta seletiva, existe a construção de um aterro sanitário de
pequeno porte.
Tabela 8 – Visão dos entrevistados quanto as alternativas mais econômicas de tratamento do lixo,
Jaguaruana/CE, 2013.

Aspecto interessante a ser mencionado observado nos lixões é a não proliferação de vetores
de doença nas leiras, devido ao calor gerado no seu interior pelo processo de fermentação aeróbica,
que elimina as larvas depositadas e afugenta os roedores, além de evitar os odores da putrefação.
Outro ponto importante é o processo de separação realizado com os RS pelos catadores, pois
apresenta vantagens significativas em termos de produtividade em relação à catação selvagem no
lixão. Além disso, o uso de tecnologia adequada, com utilização de equipamentos simplificados e
mão de obra intensiva, vem apresentando, resultados alentadores em termos de economicidade e
qualidade do produto final. Quanto aos aspectos sociais, à vantagem da incorporação de catadores
ao mercado formal de trabalho não pode ser desprezada. Cada usina de 150t/dia cria cerca de 40
postos de trabalho direto. No que diz respeito à salubridade, a organização dos catadores em
cooperativas com aquisição de equipamentos favorece a esses o não contato direto com o lixo,
passando a trabalhar, protegidos, junto às esteiras.
Em Jaguaruana, percebe-se que os resíduos produzidos pela população são mal destinados,
indo para um local – o lixão – que não visa o bem estar social e do meio ambiente. Deste modo,
muito do que pode ser reaproveitado não o é. Assim, a solução para o problema da má destinação
dos resíduos sólidos, economicamente viável hoje ao município de Jaguaruana, será a criação de um
aterro sanitário em conjunto com os municípios circunvizinhos que são: Aracati, Itaiçaba, Palhano,
Russas e Icapuí. Com a criação do aterro reduziria muito o volume do lixo, pois tudo o que seria
destinado a ele é o que não poderia ser reciclado. Dessa forma, em conjunto com uma política de
reciclagem de materiais, o problema seria amenizado drasticamente não só para o município de
Jaguaruana, mas para as outras cidades do consórcio, sendo essa uma visão quase unânime dos
gestores, população e diretamente envolvidos com a questão dos RS.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 727
REFERÊNCIAS

BRASIL. Política Nacional de Resíduo Sólidos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 2 de agosto de 2010.

BUENO QUIRINO, Paola; BENTO DA ROCHA, Maria; MONTEIRO MOURA, Luana Mendes.
Paraíso das Águas... E o Lixo?. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 9, n.
4, 2014.

CALIJURI, Maria Lúcia; LOURES, Samuel Santana Paes; LUGÃO, Wilson Gandini; SANTIAGO,
Aníbal da Fonseca; SCHAEFER, Carlos Ernesto Gonçalves Reinald; ALVES, José Ernesto
Mattos. Identificação de Áreas Alternativas para Disposição de Resíduos Sólidos na Região do
Baixo Ribeira do Iguape, SP. Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, RJ, v. 12, p.
335-342, 2007.

CAVALCANTE, Sylvia; FRANCO, Márcio Flavio Amorim. Profissão perigo: percepção de risco
à saúde entre os catadores do Lixão do Jangurussu. Revista Mal Estar e Subjetividade, v. 7, n. 1,
p. 211-231, 2007.

GESSER, M.; ZENI, A. L. B. (2004). A educação como uma possibilidade de promover cidadania
aos catadores de materiais recicláveis. In Anais do 2º Congresso de Extensão Universitária.
Recuperado em 10 fevereiro de 2007, da http://www.ufmg.br/
congrext/Meio/area_de_meio_ambiente.html. Belo Horizonte, MG: FURB.

GOUVEIA, Nelson; PRADO, Rogerio Ruscitto do. Riscos à Saúde em Áreas Próximas a Aterros
de Resíduos Sólidos Urbanos. Revista de Saúde Pública (USP. Impresso), v. 44, p. 859-866,
2010.

GONÇALVES, R. Catadores de materiais recicláveis: Trabalhadores fundamentais na cadeia de


reciclagem do país. Serviço Social e Sociedade, 82 (65), 87-109, 2005.

IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Estatística e Geografia. Governo


do Estado do Ceará, 2004.

LIMA, S. C.; RIBEIRO, T. F. A coleta seletiva de lixo domiciliar: Estudos de casos. Caminhos de
Geografia, 2, 50-69, 2000.

MEDEIROS, Gerson Araújo de ; REIS, F. A. G. V. ; MENEZES, P. H. B. J. ; Santos, L.A..dos ;


NEVES, C.A.de O. ; NUNES, M.H.de M.; DAVI, E. ; ANSELMO, L.S.; Silva, A. Diagnóstico

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 728


do Aterro do Município de Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais, Brasil. Engenharia
Ambiental: pesquisa e tecnologia, v. 6, p. 003-015, 2009.

NUNES MAIA. M. F. (2002). A gestão de resíduos urbanos e suas limitações. Tecbahia-SSA, 17


(1), 120-122.

SANTOS, G. O.; RIGOTTO, R. M. Possíveis impactos sobre o ambiente e a saúde humana


decorrentes dos lixões inativos de Fortaleza (CE). Revista Saúde e Ambiente, v. 9, n. 2, p. 55-
62, 2009.

SIQUEIRA, Mônica Maria; MORAES, Maria Silvia de. Saúde coletiva, resíduos sólidos urbanos e
os catadores de lixo. Ciência & Saúde Coletiva, 14(6):2115-2122, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 729


CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO NO
SETOR DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Érica Alexandra Azevedo do NASCIMENTO


Graduanda do curso de gestão ambiental da UERN
ericanascimento15@hotmail.com

Maria Betânia Ribeiro TORRES


Cientista social e Professora do Curso de Gestão Ambiental da UERN
betaniatorres@gmail.com

Melissa Rafaela da Costa PIMENTA


Cientista social e Professora do Curso de Gestão Ambiental da UERN
melissarafaela@uern.br/melissapimenta@bol.com.br

Rodrigo Guimarães de CARVALHO


Geógrafo e Professor do Curso de Gestão Ambiental da UERN
rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
O setor de saneamento no Brasil passou por vários processos de mudanças durante as últimas
décadas. Muitos avanços foram alcançados inclusive no melhoramento da eficiência da distribuição
e do acesso sustentável a água de boa qualidade, porém o setor ainda pode ser avaliado como um
setor carente, principalmente em seu planejamento que é marcado por considerar uma área e
desconsiderar as demais. O presente artigo trata-se de um debate acerca de mudanças nas políticas
de saneamento no Brasil, enfatizando a área do esgotamento sanitário e as possíveis contribuições
da educação ambiental no planejamento e execução de políticas públicas de saneamento básico.
Palavras chave: Saneamento. Esgotamento Sanitário. Educação Ambiental.

ABSTRACT
The sector of sanitation in Brazil has been through several changes during the last decades. Many
advances were made including the improvement of distribution efficiency and the sustainable
access to good quality water, but the sector can still be assessed as a sector in need, mainly in its
planning which is known for considering an area and disregarding the others. The present paper it‘s
consisted of a debate on the changes in the policies of sanitation in Brazil, emphasizing the area of
sanitary sewer and the possible contributions of environmental education on the planning and
execution of basic sanitation public policies.
Keywords: Sanitation. Sanitary Sewer. Environmental Education.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 730


INTRODUÇÃO

O setor de saneamento no Brasil passou por vários processos de mudanças durante as


últimas décadas, dentre elas vale destacar a criação do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA)
em 1970, que ficou conhecido como um marco do saneamento brasileiro e representou inúmeras
mudanças no setor. Como também na Constituição Federal de 1988 as águas foram distribuídas
entre a união e os estados membros considerando que o domínio das águas é relevante para o estudo
do saneamento, e por fim vale destacar a aprovação da Lei 11.445 de 2007, que estabelece as
diretrizes do saneamento básico no país e pode ser considerado um grande processo de mudança no
setor. Muitos avanços foram alcançados durante as últimas décadas, inclusive no melhoramento da
eficiência da distribuição e do acesso sustentável a água de boa qualidade. Mesmo o setor de
saneamento tendo passado por inúmeras mudanças que vão do regresso ao progresso, ainda pode
ser avaliado como um setor carente, principalmente em seu planejamento que é marcado por
considerar uma área e desconsiderar as demais.
O presente artigo reflete de forma resumida como se incidiu os processos de mudanças no
saneamento no Brasil, enfatizando principalmente a área do esgotamento sanitário. Tendo como
objetivo trazer a proposta de incluir a educação ambiental no planejamento para o saneamento,
esperando que esta opere não somente nos atores que executem o planejamento do saneamento, mas
também na sociedade como um todo.

METODOLOGIA

A metodologia que conduz este trabalho foi realizada por meio de pesquisas bibliográficas,
que segundo Medeiros (2000), compreende-se por levantamentos de livros e revistas, nestes
havendo um interesse para a pesquisa realizada, assim trazendo novas informações sobre o assunto
pesquisado. As principais bibliografias consultadas foram: Da fragmentação à articulação: a política
nacional de saneamento e seu legado histórico (BRITO et al, 2012); Educação ambiental crítica: do
socioambientalismo às sociedades sustentáveis (LIMA, 2009) e Identidades da educação ambiental
brasileira (LAYRARGUES, 2004). Além disso, foram consultadas algumas legislações nacionais
que trata a respeito do tema abordado e por fim traz ainda alguns dados do último censo do IBGE
realizado em 2011 a respeito do saneamento no país.

Contextualização Do Saneamento No Brasil No Âmbito Do Esgotamento Sanitário

Pode se compreender que o setor de saneamento ambiental no Brasil, impõe um legado


histórico por meio de sua inércia e resiliência (BRITTO et al, 2012). O setor do saneamento era
campo de aspectos onde se sobressaía a visão da engenharia sanitária, onde as políticas públicas do
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 731
setor eram fragmentadas, assim causando problemas para o planejamento do saneamento, pois
deixava a almejar visões interdisciplinares, para que através da interdisciplinaridade, se pudesse
planejar melhores soluções para os vários setores que abrangem o saneamento ambiental, como a
distribuição de água, coleta de resíduos sólidos, esgotamento sanitário e drenagem urbana.
No âmbito do esgotamento sanitário salienta-se a falta de inserção do mesmo dentro do
PLANASA, criado em 1970, que tinha como meta o abastecimento de água nas regiões onde a
economia do país eram mais dinâmica, por exemplo, nas grandes capitais. O que era pra ser uma
solução, ou pelo menos uma estratégia relevante para elaborar o saneamento no país, empobreceu
outros setores, porém destaca-se aqui o setor do esgotamento sanitário, pois apesar do PLANASA
ter ficado conhecido como um grande marco do saneamento brasileiro, por outro lado,
desconsiderava um setor não menos importante que o abastecimento de água, sem pensar no
impacto que isso iria causar, uma vez que ao favorecer o abastecimento de água o número de
ampliação de ligações residenciais de água foi gerido pelo aumento na geração de esgotos não
coletados e lançados in natura no meio ambiente (BRITTO et al, 2012).
Na Constituição Federal de 1988 foi determinado que o domínio das águas fosse distribuído
entre a união e os estados membros. A constituição distribuiu entre os entes federativos
competências legislativas e político-administrativas referente às várias atividades que água do país
está envolvida e para chegar-se de forma coerente e ordenada a questão da competência para o
serviço de saneamento. A constituição concentrou na união as competências legislativas
relacionadas a água desde a criação do sistema de gerenciamento de recursos hídricos até as
diretrizes para o saneamento.
Com a aprovação da Lei 11.445 de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o
saneamento básico e para a política federal de saneamento básico, a edificação e o planejamento do
saneamento passaram a ser acatado como um modelo de gestão mais integrado e intersetorial, tendo
em vista que essa Lei vigente delibera amplamente o saneamento básico, integrando os serviços de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e tratamento de resíduos sólidos
(BRITTO et al, 2012).
Através da Lei de saneamento básico 11.445/2007, a legislação federal prevê a
universalização dos serviços de esgotamento sanitário, entretanto essa área do saneamento ainda
enfrenta rejeição da população e insuficiência técnica dos estados. Esse déficit em relação à
insuficiência técnica dos estados pode ter sido gerado desde a década de 80 e 90, pois como foi dito,
nesta época o PLANASA não priorizava o esgotamento sanitário, e com o seu fim na mesma época
os projetos que tinham objetivos de aperfeiçoar o setor de saneamento, ficaram incompletos, o que
agravou ainda mais o setor do esgotamento sanitário (BRITTO et al, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 732


Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2011,
mais de 70% dos municípios não têm política de saneamento; 48,7% não fiscalizam qualidade da
água. A estatística corresponde a 3.995 cidades que não respeitam a Política Nacional de
Saneamento Básico. Até o ano de 2011, a maioria (60,5%) das cidades brasileiras não tinha
acompanhamento quanto às licenças de esgotamento sanitário, além da drenagem e manejo de
águas pluviais urbanas e do abastecimento de água (IBGE, 2011).
Com essa reflexão fica claro que é preciso investir na ampliação do sistema de coleta e
tratamento de esgoto sanitário em níveis que se adeque ao sistema de abastecimento de água e
também a drenagem urbana, de maneira integrada e de acordo com a situação socioambiental em
cada região.
É de extrema importância pensar no esgotamento sanitário no planejamento do saneamento,
pois o que se percebe é que essa área do saneamento ainda tem um longo caminho a percorrer.
Preocupações com o sistema de esgotamento sanitário necessitam estar constantemente nas pautas
das políticas públicas, considerando que sua inexistência compromete o meio ambiente e a
qualidade de vida das pessoas, à medida que os resíduos são despejados in natura nos mananciais
em geral. O setor de esgotamento sanitário pode ser considerado um setor essencial para o
planejamento do saneamento, pois com o devido planejamento e execução nesse setor pode ocorrer
até melhorias nos demais setores.
Evidenciando que devido ao modelo de planejamento do saneamento básico, ocorreram
diversos impactos nos seus diversos setores, muitas vezes ações que eram feitas com intuito de
mitigar algum problema, acabavam agravando ainda mais, pois o planejamento do saneamento não
surpreendeu, porque não era realizado e operado de maneira integrada com os seus demais setores.
Com isso torna-se mais do que essencial pensar no saneamento ambiental pautado em políticas
setoriais, assim havendo interligação dos seus setores.

O Saneamento No Tocante Da Educação Ambiental

A educação ambiental se estabeleceu no Brasil como um campo complexo, plural e diverso,


formado por um conjunto de atores e setores sociais que direta ou indiretamente exerceram
influência em seus rumos (LIMA, 2009). Ela pode ser pensada e aproveitada também para o
segmento do saneamento ambiental.
O órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) no país é composto
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Educação (MEC) e é o responsável pelo
papel de coordenar o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). As referentes ações
destinam-se a PNEA a assegurar, no âmbito educativo, a consistência equilibrada das múltiplas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 733


dimensões da sustentabilidade – ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política –
ao desenvolvimento do País (BRASIL, 1999; 2005).
A Educação Ambiental dissemina o diálogo, como um passo particular do intercâmbio, da
participação e do controle social. Dessa forma, ela se torna uma ferramenta essencial na busca pela
sustentabilidade.
Em questões como o saneamento básico a educação ambiental pode atuar como um
elemento dinâmico transformador dos agentes responsáveis pelo planejamento do sistema de
saneamento integrado e também da sociedade. Um exemplo: a educação ambiental informal serviria
para se trabalhar com gestores que atuem diretamente na área do saneamento, amadurecendo o
conhecimento que favorecerá na elaboração do planejamento de saneamento, introduzindo a
importância das políticas setoriais, por exemplo, seria um grande benefício para a área do
saneamento.
Tomamos outro exemplo: o da educação ambiental transformadora, ela poderia se integrar
nesse planejamento segundo Loureiro (2004, p. 66) como:

Um elemento de transformação social, inspirada no fortalecimento dos sujeitos, no


exercício da cidadania, para a superação das formas de dominação capitalistas,
compreendendo o mundo em sua complexidade como um todo.

Na educação ambiental transformadora está inserido o método da dialética, esse método


consiste no diálogo crítico com outras abordagens do campo ambiental, partindo de uma visão
holística do mundo (LOUREIRO, 2004). Trazendo essa abordagem para o campo do saneamento,
percebe-se que ela pode ser essencial, já que o saneamento deve ser planejado integrando suas
diversas áreas, abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana,
onde também poderiam ser inseridas políticas públicas para cada esfera do saneamento, tornando
assim o planejamento do saneamento uma ação integrada, que leva em conta que suas várias esferas
estão diretamente inter-relacionadas.
No entanto, para a compreensão da questão ambiental, é formidável salientar o conceito de
meio ambiente adotado numa magnitude que vai além do seu aspecto físico ambiental,
considerando, contudo o conjunto das funções, formas, estruturas e processos espaciais urbanos,
reflexos da dinâmica da sociedade ao longo do tempo (SOUZA, 2002).
É de extrema importância pensar que, conforme Souza (2002, p. 43):

A análise do meio ambiente urbano não deve perder de vista a forma como a sociedade se
organiza em sua dimensão econômica, social, cultural, política e ideológica e as
contradições sociais do atual modelo de desenvolvimento da sociedade industrial, no
mundo contemporâneo. O processo de acumulação capitalista e as formas de produção e
consumo da e na cidade vêm acelerando as contradições entre o ambiental e o social nos
espaços urbanos. Ademais a dimensão ambiental deve estar inserida no debate sobre o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 734


espaço urbano, as práticas sociais e as territorialidades urbanas, na busca de entendimentos
desses processos, dos atores envolvidos, numa perspectiva de sustentabilidade.

A educação ambiental se concretiza como um instrumento capaz de formar cidadãos que


sejam capazes de visualizar o modo como o meio ambiente urbano se organiza com forma com a
sociedade e suas dimensões econômicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas.
A educação ambiental capacita o pleno exercício da cidadania, permite formar base
conceitual diversificada, de modo que permite a superação de obstáculos e utilização de forma
sustentável do meio ambiente. Mais adiante a educação ambiental implica conhecimentos
disciplinares múltiplos, que comportem uma visão integrada dos problemas e seu enfrentamento de
forma interdisciplinar (PELICIONI, 2005).
A Educação Ambiental deve atuar na transformação de valores nocivos que intensificam o
uso ofensivo dos bens comuns da humanidade. No entanto é necessário que ela seja uma educação
permanente e uma proposta de compartilhar saberes, ideias e práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor de saneamento no país passou por diversos processos de mudanças ao longo dos
anos, que não foram suficientes para alcançar o seu progresso total. Com isso pensou-se em trazer a
educação ambiental para o saneamento como elemento de transformação social e de mudanças de
valores. Esperando que esta atue não somente nos atores que executem o planejamento do
saneamento, mas também na sociedade como um todo. Espera-se que através da educação
ambiental o saneamento passe a ser operado de forma holística, integrada em suas diversas áreas,
trazendo assim um melhor resultado para seu planejamento e execução, por conseguinte causando
uma melhor qualidade de vida para sociedade, consequentemente beneficiando o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso
em: 10 jan. 2014.

BRASIL. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 10 jan. 2014.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento
básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990,
8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 735
de maio de 1978; e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso em: 10 jan.
2014.

BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental. 3. ed. Brasília: Ministério do Meio


Ambiente, 2005. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/pronea3.pdf>. Acesso em: 10
jan. 2014.

BRITTO, Ana Lucia Nogueira de Paiva; LIMA, Sonaly Cristina Rezende Borges de; HELLER, Léo;
CORDEIRO, Berenice de Souza. Da fragmentação à articulação: a política nacional de
saneamento e seu legado histórico. R. B. Estudos Urbanos e Regionais, v.14, n.1, maio, 2012. p.
65-83. Disponível em:<
http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/view/1906>. Acesso em: 10 jan.
2014.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas; Ministério do Planejamento, Orçamento e


Gestão; Ministério das Cidades. Atlas de Saneamento. Rio de Janeiro. 2011.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Educação ambiental crítica: do socioambientalismo às


sociedades sustentáveis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.1, jan./abr. 2009. p. 145-163.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v35n1/a10v35n1.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2014.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação ambiental transformadora. In:


LAYRARGUES, Philippe Pomier (Coord.). Identidades da educação ambiental brasileira.
Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2004. p. 65-84. Disponível em:<
http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/livro_ieab.pdf>. Acesso em: 10 jan.
2014.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 4 ed.
São Paulo: Atlas, 2000.

PELICIONI, Maria Cecilia Focesi. Educação ambiental: evolução e conceitos. In: PHILIPPI Jr.,
Arlindo. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável.
Barueri-SP: Manole, 2005. p. 587-622.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 736


SOUZA, Maria Salete de. Meio Ambiente Urbano e Saneamento Básico. Mercator. Revista de
Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002. Disponível em:<
http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/article/viewFile/194/160>. Acesso em: 10 jan.
2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 737


GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE GROSSOS/RN34

Iáskara Michelly de Medeiros SILVEIRA


Discente do curso de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
iaskarasilveira@hotmail.com

Ilton Araújo SOARES


Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte
iltonet@yahoo.com.br

Mayra Fernandes NOBRE


Professora do Departamento de Recursos Hídricos e Geologia Aplicada da Universidade Federal do
Piauí
mfnobre@gmail.com

Rodrigo Guimarães de CARVALHO


Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte
rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
A falta de um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos está entre os principais problemas
ambientais do Brasil, principalmente pela ausência de tratamento e disposição final incorreta de
grande parte dos resíduos gerados nos municípios, seja de pequeno, médio ou grande porte. Diante
deste contexto, os objetivos deste artigo são elaborar um diagnóstico do gerenciamento dos resíduos
sólidos domiciliares da zona urbana do município de Grossos/RN, investigar a percepção ambiental
dos moradores de Grossos a respeito do gerenciamento dos resíduos sólidos e levantar informações
acerca da destinação final dos resíduos da construção civil, pilhas, baterias e podas de árvores
oriundos das residências. Para a realização dos objetivos propostos a pesquisa foi dividida em três
etapas: pesquisa bibliográfica; etapa de campo para aplicação dos formulários, registro fotográfico e
observações in loco; e tabulação dos dados em gabinete através do software SPSS, gerando tabelas
e gráficos para posterior análise. Foi adotada uma amostragem de 216 formulários, correspondendo
a 10,13% do total de domicílios urbanos permanentes. A geração média per capita de resíduos
domiciliares em Grossos é de 0,93 kg/habitante/dia. O gerenciamento dos resíduos sólidos
domiciliares é falho, pois não há tratamento e todo lixo tem como destinação final um lixão a céu
aberto localizado próximo ao manguezal. As pilhas, baterias e entulhos de obras também não
recebem destinação adequada. Percebe-se então a necessidade de ações no sentido de realizar o
tratamento dos resíduos sólidos e dar uma destinação final adequada.
34
Este artigo é fruto do projeto de pesquisa e extensão ―Contribuições para o saneamento ambiental do município de
Grossos, RN: diagnóstico, mapeamento e capacitação‖ e contou com auxílio financeiro do Ministério das Cidades por
meio do Edital PROEXT/MEC/SESU/2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 738


Palavras- chave: Resíduos sólidos urbanos, Saneamento, Percepção ambiental, gestão ambiental
urbana.

ABSTRACT
The lack of proper management of solid waste is among the main environmental issues of Brazil,
mainly because of the absence of treatment and incorrect final disposal of most part of waste
originated in the municipalities, which can be small, medium or big in size. Facing this context, the
purposes of this paper are to make a diagnosis of the management of domestic solid waste from the
urban zone of the municipality of Grossos/RN, to investigate the environmental perception of the
people who live in Grossos in what concerns the management of solid waste and to assess
information on the final destination of civil construction waste, batteries and residency tree pruning.
For the performance of the proposed objectives, the research was divided into three phases:
bibliographical research; field phase, for the use of questionnaires, photo registration and
observations in loco; and the tabulation of data in computer case through the SPSS software,
generating tables and charts for further analysis. A sample of 216 questionnaires was adopted,
corresponding to 10.13% of the total of permanent urban residencies. The mean generation per
capita of domiciliary waste in Grossos is 0.93 kg/ inhabitant /day. The management of domiciliary
solid waste is flawed, because there is no treatment and all the trash has as its final destination an
open-air dump located near a mangrove. Batteries and rubbish from constructions also don‘t receive
proper destination. So it is clear the need for actions in what concerns the performance of solid
waste treatment and giving it a proper final destination.
Keywords: Urban solid waste, sanitation, environmental perception, urban environmental
management.

INTRODUÇÃO

O crescimento acelerado da população brasileira, principalmente após a segunda metade do


século passado, redefiniu a dinâmica urbana do país com o crescimento desordenado de cidades
que, com a ausência ou ineficiência dos processos de planejamento e gestão trouxeram a reboque
uma série de problemas socioambientais, como violência, desemprego, dentre outros. Na esfera
ambiental um dos principais problemas foi a falta de infraestrutura de saneamento ambiental.
Lima e Costa (2011) afirmam que o espaço urbano é um dos principais ambientes
responsáveis por sofrer impactos de ordem ambiental e social, uma vez que, oferece subsídios
necessários para a propagação do sistema capitalista, onde a lógica do desenvolvimento pressupõe o
consumo desenfreado de produtos cada vez mais sofisticados, que são facilmente descartados pelos
usuários, agravando o excedente de resíduos gerados.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 739
Nesse escopo, o gerenciamento de resíduos sólidos constituído pelas etapas de coleta,
transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada (Brasil, 2010), é
ponto que inspira cuidados devido ao aumento exponencial da geração de resíduos. Um dos
principais problemas do gerenciamento dos resíduos sólidos está na disposição final, onde de
acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 73,3% dos municípios brasileiros dão uma
destinação final inadequada aos seus resíduos sólidos (IBGE, 2008), apesar de a Lei nº 12.305/2010
– Política Nacional dos Resíduos Sólidos estabelecer até agosto de 2014 como prazo limite para que
os municípios passassem a dar uma destinação técnica, ambiental e sanitariamente adequada aos
resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
No Rio Grande do Norte existem apenas dois aterros sanitários, um no município de Ceará-
Mirim, na Região Metropolitana de Natal - RMN e que funciona de forma consorciada recebendo
os resíduos de parte dos municípios da RMN e outro em Mossoró, na região oeste do estado. Esses
dois aterros recebem aproximadamente 50% dos resíduos sólidos domiciliares do RN (RIO
GRANDE DO NORTE, 2012). Entretanto, aproximadamente 157 municípios, a grande maioria
com população total inferior a 15 mil habitantes, ainda continuam destinando seus resíduos sólidos
domiciliares para lixões a céu aberto, o que se configura num grave problema ambiental e de saúde
pública.
Em municípios de pequeno porte é comum que o lixo seja disposto em lixões a céu aberto
devido aos altos custos de construção e manutenção de um aterro sanitário, da necessidade de
extensas áreas para sua instalação, da oposição da população que vive no entorno da área que
frequentemente o associa a um lixão, desvalorização das terras próximas e aumento do tráfego de
caminhões nas proximidades que acaba danificando as rodovias do município (PAIVA, 2004).
A possível solução para essa problemática é a regionalização da gestão dos resíduos sólidos,
através da construção de aterros sanitários consorciados. O Plano Estadual de Gestão dos Resíduos
Sólidos do RN propõe a construção de mais cinco aterros, onde neste cenário 100% dos municípios
do estado passarão a dar uma destinação ambientalmente correta a seus resíduos (RIO GRANDE
DO NORTE, 2012). A proposta dos aterros consorciados também deve ser apreciada diante da
realidade financeira desses pequenos municípios, que não podem custear sozinhos a construção e
manutenção de aterros sanitários, por ser uma obra de engenharia que demanda um alto
investimento. De forma consorciada os custos são divididos e a implementação e operação podem
tornar-se viável economicamente. Entretanto, Braga e Ramos (2006, p. 162) alertam que ―O
planejamento estratégico regional de um sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos é
uma etapa crítica que, se não for elaborado de maneira apropriada, poderá levar à concepção de um
sistema de gerenciamento ineficiente‖.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 740


Até que essa proposta passe a se tornar algo real, esses lixões continuarão causando
impactos adversos ao meio ambiente. Nesse sentido, Barros e Fernandes (2011) afirmam que a
disposição inadequada dos resíduos sólidos causa poluição do ar, das águas, do solo e das florestas,
afetando a saúde humana e os ecossistemas limítrofes. Fagundes (2009) cita ainda a atração e
proliferação de patógenos e vetores. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental (ABES, 2006), o lixo disposto inadequadamente polui o solo, alterando-o de forma
física, química e biológica, constituindo-se assim, em um problema estético e, mais ainda, uma
ameaça à saúde pública. O lixo depositado serve de abrigo e alimentação pra inúmeros insetos e
animais, como ratos e baratas, além dos agentes patogênicos e bacteriológicos.
Ainda segundo a ABES (2006), todo gás gerado na decomposição desse lixo é um poluente
do ar. Os mais comumente emitidos em maiores quantidades são: monóxido de carbono (CO),
partículas de óxidos de enxofre (SOx), óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos (HC) além do
mau cheiro oriundo do metano (CH4).
A associação supracitada afirma ainda que as águas também são afetadas pelo lixo mal
depositado, em geral, na forma de aumento da turbidez, formação de bancos de lodo ou de
sedimentos inertes, nas variações do gradiente de temperatura, mudança de coloração das águas, da
formação decorrentes ácidas, bem como envenenamento de peixes, aves e outros animais, inclusive
o homem (ABES, 2006).
Diante deste contexto, os objetivos da pesquisa são: Elaborar um diagnóstico do
gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares da zona urbana do município de Grossos/RN,
investigar a percepção ambiental dos moradores de Grossos a respeito do gerenciamento dos
resíduos sólidos e levantar informações sobre o descarte e destinação final dos resíduos da
construção civil, pilhas, baterias e podas de árvores oriundos das residências.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa classifica-se como descritiva e quanti-qualitativa, pois busca através de


tabulação de dados e análise descrever os dados coletados em campo. Para a realização dos
objetivos propostos a pesquisa foi dividida em três etapas: pesquisa bibliográfica; etapa de campo
para aplicação dos formulários, registro fotográfico e observações in loco que ocorreu no mês de
setembro de 2013; e tabulação dos dados em gabinete através do software SPSS, gerando tabelas e
gráficos para posterior análise.
Para obtenção dos dados foi adotado como instrumento de coleta um formulário que foi
aplicado nas residências do perímetro urbano do município de Grossos. Para tanto, o tamanho da
amostra foi definido em função do número de domicílios da zona urbana. Esse dado foi obtido no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 741


IBGE Cidades e segundo tal a sede do município possui 2.131 domicílios particulares permanentes
(IBGE, 2010). O tamanho da amostra correspondeu a 10,13% do número de domicílios, totalizando
216 formulários aplicados. Na metodologia adotada o perímetro urbano foi segmentado em oito
subzonas para facilitar a logística de aplicação dos formulários e possibilitar futuramente uma
análise comparativa entre as áreas.

Obtenção dos dados quantitativos de resíduos sólidos gerados

Como as formas de destinar os resíduos para coleta eram diversificadas e em vasilhames que
consideravam em geral a unidade de litros, para obter-se o quantitativo de resíduos gerados em
quilos, foi considerado que cada litro de resíduo doméstico correspondia a meio quilo (0,5 kg) de
resíduo. Como a coleta ocorria a cada 48 horas o quantitativo obtido no formulário referia-se ao
acúmulo de dois dias de resíduo por residência. Isso posto, o quantitativo obtido no formulário era
dividido por dois e multiplicado por 0,5, sendo então convertido em kg/dia de resíduo gerado por
residência. Para obtenção da produção média per capita de resíduos dividiu-se a produção dia da
residência por 04 (média estimada de membros residentes por domicílio).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O município de Grossos está localizado na microrregião de Mossoró, na porção oeste do


estado do Rio Grande do Norte. Com uma população total de 9.393 habitantes (7039 residentes na
zona urbana e 2354 na zona rural) (IBGE, 2010), ocupa uma área de 126,45 km². O clima da região
é o semiárido com temperatura média anual de 27,3 °C e 69% de umidade relativa média anual. A
vegetação de maior presença na região é a caatinga hiperxerófila e manguezal, uma vez que, a
região encontra-se na foz do Rio Apodi - Mossoró (IDEMA, 2008).
A discussão dos resultados da pesquisa de campo descreve o diagnóstico do gerenciamento
dos resíduos sólidos na área urbana de Grossos. Primeiramente, buscou-se mensurar a geração de
resíduos por domicílio e per capita. Mediante os dados coletados acerca da quantidade de resíduo
(em sacos e baldes) que é destinada à coleta da prefeitura e da metodologia adotada foi possível
estimar uma média diária de geração de resíduo de 3,87 kg por domicílio e de 0,93 kg/habitante/dia.
A produção per capita de lixo na sede do município assemelha-se à média do estado que é de 0,96
kg/hab/dia (BARBOSA, 2013). Entretanto, Manual... (2001) afirma que no Brasil a geração per
capita para municípios de até 30 mil habitantes é de 0,5 kg/habitante/dia.
Para conhecer a composição dos resíduos domiciliares gerados, foi solicitado que os
entrevistados hierarquizassem os resíduos atendendo a uma ordem do mais gerado para o menos
produzido em seus domicílios. O plástico foi o resíduo apontado como aquele gerado com mais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 742


freqüência (gráfico 1). Esse dado não corrobora com a realidade da maioria dos municípios
brasileiros que tem a matéria orgânica com maior percentual na sua composição gravimétrica.

2,30%

16,20%

24,50% 57%

0,50%
Plástico Vidro Papel Organico Não Respondeu

Gráfico 1 - Resíduos gerados nos domicílios em ordem hierárquica de volume


Fonte: Pesquisa de campo

No município existe o serviço de coleta de resíduos sólidos instalado conforme afirmação da


maioria dos entrevistados (99%) e constatado em visitas de campo, embora não conste no banco de
dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento Básico – SNIS, nenhum dado
referente à resíduos sólidos do município (BRASIL, 2013). Quando perguntados sobre a frequência
da coleta de resíduos domiciliares a maioria dos entrevistados respondeu entre duas a três vezes por
semana, como mostra o gráfico 2 abaixo. De acordo com Manual... (2001) num país com clima
quente como o Brasil a frequência mínima da coleta deve ser de três vezes por semana. A
manutenção da regularidade da coleta sempre nos mesmos dias e horário é de fundamental
importância para que as pessoas coloquem sempre o lixo em frente aos imóveis no horário que o
veículo coletor irá passar.

Gráfico 2 - Percepção dos entrevistados sobre a frequência de coleta dos resíduos sólidos. Fonte: Pesquisa de
campo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 743


Quando indagados se os espaços públicos são mantidos limpos a comunidade denota estar
dividida uma vez que 50,9% afirmaram que eram mantidos limpos, segundo sua percepção, 41, 2%
afirmaram que não eram mantidos limpos e 7,9% não souberam responder.
Na percepção da maioria dos entrevistados (70,4%) os espaços públicos não dispõem de
lixeiras. Somente 23,1% afirmam ter lixeiras nesses espaços e 6,5% não souberam responder. Aos
que afirmaram ter lixeiras nos espaços públicos foi indagado se consideravam a quantidade das
mesmas suficiente e a maioria (13%) afirmou não ser.
Segundo a percepção da maioria dos entrevistados (85,2%) não há o serviço de varrição de
ruas. Dos que afirmaram ter esse serviço (12,5%) foi indagado sobre a frequência do mesmo,
predominando nas respostas a frequência de 3 vezes por semana (gráfico 3).

2,30% 2,30%

2,80%
5,10%

1 vez/sem. 2 vez/sem. 3 vez/sem. Não Soube Responder

Gráfico 3 - Frequência de ocorrência do serviço de varrição de ruas


Fonte: Pesquisa de campo.

Em relação forma de descartar os resíduos sólidos domiciliares, de acordo com os


entrevistados a melhor é a coleta pela Prefeitura (69,9%), sendo a coleta seletiva a segunda melhor
opção na percepção deles (19%). Deixar o lixo na calçada ainda figura como uma melhor opção
para 9,3% dos entrevistados e outras formas de descartar como queimar e destinar a terrenos baldios
foi a opção apontada por 0,9%. Os dados ora apresentados indicam a necessidade de ações que
elucidem, eduquem e sensibilizem a população do município sobre a problemática da geração e
descarte de resíduos. Ao ser indagado sobre a qualidade do serviço de coleta de resíduos a maioria
considera de boa qualidade (gráfico 4).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 744


2,30% 0,50% 8,30%
5,10%

28,70%
55,10%

Ótima Boa Regular Ruim Péssimo Não Respondeu

Gráfico 4 - Percepção dos entrevistados, sobre a qualidade do serviço de coleta de resíduos.


Fonte: Pesquisa de campo
A maioria dos entrevistados separa os resíduos sólidos domiciliares produzidos (79,2%) e
20,8% afirmaram não realizar essa prática. Para os que afirmaram separar (79,2%) foi questionado
sobre que critério considera na hora da segregação e (77,8%) afirmaram que separam lixo orgânico
do não orgânico, apenas 1,4 % adota o critério de reciclável e não reciclável. A maior parte dos
resíduos orgânicos segregado é destinada à alimentação dos animais (76,9%) e somente 0,9%, que
corresponde a dois entrevistados, afirmou destinar o mesmo para compostagem. No tocante à
destinação do resíduo não orgânico a maioria dos entrevistados afirmou destinar para a coleta da
regular da prefeitura. 7,9% dos entrevistados afirmaram que destinam os resíduos não orgânicos
para a coleta seletiva, entretanto não há um programa institucionalizado do governo municipal de
coleta seletiva (gráfico 5).

1,40% 0,90% 0,50%


2,30% Coleta da Prefeitura

8% Projeto de Coleta
Seletiva
Catadores

Reciclado

66,20% Reutilizado

Outros

Gráfico 5 - Destinação dos resíduos sólidos não orgânicos


Fonte: Pesquisa de campo

Com o intuito de diagnosticar o nível da informação dos munícipes acerca do descarte dos
resíduos domiciliares foi também questionado se estes conheciam a destinação final dos resíduos
após coletado pela prefeitura e a maioria afirmou ser o lixão, denotando assim, ter conhecimento
sobre a realidade. Salienta-se que 10,6% dos entrevistados (que corresponde a 23 pessoas)
afirmaram não conhecer esse destino (gráfico 6). Apesar de alguns não saberem, os resíduos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 745
domiciliares coletados em Grossos têm como destino um lixão a céu aberto que fica próximo ao
manguezal, aumentando ainda mais o potencial impactante da destinação inadequada dos resíduos
sólidos. No local alguns catadores sobrevivem da comercialização de materiais recicláveis que
separam do lixo. Constatou-se também que alguns entrevistados ainda preferem queimar os
resíduos sólidos gerados em seu domicílio mesmo havendo coleta pública, prática mais comum em
áreas rurais.

1,30%
4% Lixão
0,90% 10,60%
Aterro Sanitário

Queimado

85,20% Não Soube Responder

Outros

Gráfico 6 - Destinação do resíduo sólido após coletado no domicílio, segundo a percepção


dos entrevistados. Fonte: Pesquisa de campo

Quando indagados acerca da destinação de pilhas e baterias usadas quase a totalidade dos
entrevistados (93,1%) afirmaram destinar para o lixo comum, enquanto 6,5% afirmaram dar outras
destinações sem especificar e 0,5% disse vender ou trocar por produtos novos. De acordo com a
Política Nacional de Resíduos Sólidos os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
de pilhas e baterias são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa
(BRASIL, 2010). Já a Resolução 401/2008 do Conselho Nacional de Meio Ambiente determina que
os fabricantes nacionais e os importadores de pilhas e baterias devem apresentar ao órgão ambiental
competente um plano de gerenciamento que contemple a destinação ambientalmente adequada
desses produtos (BRASIL, 2008). Como essas determinações da legislação não são observadas, a
maioria da população acaba dando uma destinação final ambientalmente incorreta para pilhas e
baterias.
Quanto à destinação dos entulhos produzidos na residência 91,2% colocam na calçada para
ser coletado pela prefeitura. Em conversa informal com os funcionários da limpeza urbana do
município foi verificado que a prefeitura presta esse serviço bem como para a coleta de resíduos de
poda e corte de árvores. Ainda assim, 1,9% dos entrevistados afirmaram destinar o entulho para
terrenos baldios e 0,5% destina para os espaços públicos em geral. Vale ressaltar que 6,5% dos
entrevistados afirmaram não gerar esse tipo de resíduo. Dependendo do porte da obra esses resíduos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 746


devem ser depositados em contêineres metálicos de 4 ou 5 metros cúbicos que posteriormente
devem ter uma destinação adequada.
A destinação dos resíduos de poda e corte de árvores também apresenta um cenário
semelhante com 91,7% dos entrevistados destinando para a coleta específica da prefeitura, 0,9%
destinando aos terrenos baldios e 7,4% não geram esse tipo de resíduo. A maioria dos entrevistados
(62,5%) percebe a disposição de entulho ou resto de poda nos espaços públicos, porém quando
questionados sobre a frequência com que ocorria somente 37% manifestou-se e 25% afirmou que
ocorria diariamente ou semanalmente essa disposição nos espaços públicos.
Com o intuito de identificar alguma ação anterior de educação ambiental voltada para o
manejo adequado dos resíduos foi questionado se os entrevistados já haviam recebido alguma
orientação (independente do organismo, se ONG, Prefeitura, etc.) sobre reciclagem, separação de
resíduos e coleta seletiva. Apenas 19,9% afirmaram que sim, enquanto 80,1% disseram não ter
recebido nenhum tipo de orientação. Aos que responderam que já haviam recebido alguma
orientação foi perguntado por quem foi dada a mesma. As opções elencadas pelos entrevistados
encontram-se no gráfico 7. Quanto à opção ―outros‖, elencada por 5,1% dos entrevistados, não foi
especificado pelos entrevistados a informação.

4,20%
5,10%
0,90%

9,70%

Escola/SENAI/SEBRAE Universidade Prefeitura Outros

Gráfico 7 - Fonte da orientação já recebida pelos entrevistados sobre o manejo adequado de resíduos sólidos.
Fonte: Pesquisa de campo

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da realidade observada, ficou evidente que o município realiza apenas uma parte das
etapas de gerenciamento de resíduos sólidos que a Política Nacional de Resíduos Sólidos
recomenda, que são elas: coleta e transporte. As etapas de tratamento e destinação final adequada
não são realizadas, uma vez que, os resíduos gerados no município são descartados de forma
inadequada em um lixão a céu aberto, causando sérios impactos ao meio ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 747


A população local tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o tema, já que, 80,1% da
população nunca recebeu uma orientação sobre o manejo adequado dos resíduos e mais da metade
dos moradores classificam o sistema de coleta como ótimo e sem falhas. Sem informação, a
população perpetua o comportamento inadequado de descarte e não exige uma mudança da situação
atual na destinação final dada ao lixo, ficando assim, cada vez mais exposta aos problemas
ambientais e de saúde acarretados pelo descarte incorreto do lixo.
Seria importante uma ação de educação ambiental para sensibilizar e instruir a população
sobre a problemática, além do apoio e incentivo da prefeitura para retomada do projeto de
reciclagem, que garanta novas estratégias de minimização e reaproveitamento dos resíduos
descartados diariamente na cidade. Em relação à destinação final, espera-se que os consórcios
intermunicipais para a construção de aterros sanitários sejam implementados e com isso, o
município passe a dar uma destinação final adequada aos seus resíduos e desative o atual lixão.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL – ABES.


Resíduos sólidos urbanos: coleta e destino final. [Fortaleza]: [s. n.], 2006.

BARBOSA, V. Quanto lixo os Brasileiros geram por dia em cada Estado. São Paulo: INFO Exame
online. 2013.Apresenta notícias na área de tecnologias verdes.Disponível em:
<http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/quanto-lixo-os-brasileiros-geram-por-dia-
em-cada-estado.shtml>. Acesso em: 20 mar 2013.

BARROS, Fernando J. R. de; FERNANDES, Fernando. Sistema alternativo de coleta de resíduos


sólidos domiciliares em município de médio porte, visando incrementar a reciclagem de inertes e
facilitar a compostagem da fração orgânica: caso de Ibiporã - PR. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 26,. 2011, Porto Alegre.
Anais... Porto Alegre: EDUFRS, 2011. Disponível em:
<http://www.cabo.pe.gov.br/pners/CONTE%C3%9ADO%20DIGITAL/COLETA%20SELETIV
A/SISTEMA%20ALTERNATIVO%20DE%20COLETA.pdf>. Acesso em: 23 ago 2014.

BRAGA, Maria C. B.; RAMOS, Sonia I. P. Desenvolvimento de um modelo de banco de dados


para sistematização de programas de gerenciamento integrado de resíduos sólidos em serviços de
limpeza pública. Engenharia Sanitária Ambiental, Brasil. v.11, n. 2, p. 162-168, abr/jun 2006.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/esa/v11n2/30476.pdf>. Acesso em: 23 ago de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 748


BRASIL. Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010. Institui a Política nacional de resíduos Sólidos; altera
a lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, nº 147, p. 3, 03 de agosto de 2010.

BRASIL. Ministério das Cidades. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.


Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos-2012. Disponível em:
< http://www.snis.gov.br>. Acesso em: 20 mar 2013.

BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA n° 401, de 4


de novembro de 2008. Estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas
e baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu
gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2008_401.pdf> .
Acesso em: 23 ago 2014.

FAGUNDES, Diana da Cruz. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos em Tarumã e Teodoro


Sampaio – SP. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 21, n. 2, p. 159-179, ago, 2009. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/sn/v21n2/a11v21n2.pdf >. Acesso em 23 ago de 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, IBGE. Pesquisa Nacional de


Saneamento Básico, 2008. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf> Acesso em: 24 ago 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, IBGE. Cidades, 2010.


Disponível em: < http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240440>. Acesso
em: 23 ago 2014.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO ESTADO


DO RIO GRANDE DO NORTE, IDEMA. Perfil do seu município: Grossos. Natal: IDEMA,
2008.

LIMA, Gildeciana Maria de; COSTA, Franklin Roberto da. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos
Urbanos no Município de Rafael Fernandes-RN. GeoTemas, Pau dos Ferros, v. 1, n. 1, p. 91-
103, jan./jun., 2011.

MANUAL de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. IBAM: Rio de Janeiro, 2001.

PAIVA, Ivan Euler Pereira de. Aterro Sanitário em Município de Pequeno Porte: Estudo do
Potencial de Aplicação de Tecnologias Simplificadas na Região do Semiárido Baiano. 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 749


134f. Dissertação (Mestrado em engenharia ambiental urbana) - Universidade Federal da Bahia,
Salvador.

RIO GRANDE DO NORTE. Relatório Síntese – Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos do Rio Grande do Norte – PEGIRS/RN. Natal (RN): Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 750


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE CONTROLE AMBIENTAL DO AR NA CIDADE DO
NATAL-RN

Anália Cristina dos Santos FERREIRA


IFRN/RN - analiacristina.ferreira@hotmail.com

Igor Pinheiro de MEDEIROS


IFRN/RN - igorpin2@hotmail.com

Glaucia Moura da SILVA


IFRN/RN - glauciamouras@hotmail.com

Prof. Dra. Leci Martins Menezes REIS


IFRN/RN - leci.reis@ifrn.edu.br

RESUMO
Os processos industriais, a geração de energia, os veículos automotores, os desmatamentos e as
queimadas, dentre as atividades antrópicas, são consideradas por muitos estudiosos, sobre temática
controle ambiental do ar, como umas das maiores causadoras da disposição de substâncias
poluentes na atmosfera, tais como: dióxido de enxofre, monóxido de carbônico e dióxido de
nitrogênio. Na cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN), para muitos o controle
ambiental do ar, tem sido considerado de parcas prática, uma vez que o poluição atmosférica vem
apresentando índices cada vez maiores e sendo notada, principalmente, nos centros comerciais da
cidade, tais como a Ribeira, Cidade Alta e Alecrim (ALVES; ALVES; SILVA, 2009). A partir
desta problemática, justifica-se esse estudo com a possível contribuição para uma investigação
quanto ao desenvolvimento de trabalhos em prol da boa qualidade do ar natalense e demais espaços.
Esse artigo teve como objetivo geral realizar algumas reflexões do controle ambiental do ar, Natal-
RN, no ano de 2014. A metodologia que direcionou esse estudo foi por meio de pesquisa
bibliográfica (GIL, 2008) e diálogos com representantes da Secretária Municipal de Meio Ambiente
e Urbanismo (SEMURB). Como conclusão tem-se que o controle ambiental do ar tem sido muito
restrito e exíguo o que necessita receber maiores atenções tanto do poder público quanto de
pesquisa voltadas e temática controle ambiental do ar na cidade do Natal-RN.
Palavras-Chave: Meio ambiente; Poluição do ar; Controle ambiental do ar.

ABSTRACT
The industrial processes and those of energy generation, the automotive vehicles, deforestation and
e wild fires are - among the anthropogenic activities - are considered by many scholars, theme on
environmental control of air, as a major cause of the disposition of polluting substances in the
atmosphere, such as: sulfur dioxide, carbon monoxide and nitrogen dioxide. In the capital of Rio

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 751


Grande do Norte (RN), or many environmental control of the air has been considered practical
scarce, since the air pollution has been showing higher indication with time, as well as being noted,
mostly on the commercial centre of the city, such as Ribeira, Cidade Alta and Alecrim (ALVES;
ALVES; SILVA, 2009). From the problem stated, this study is justified with the possible
contribution to an investigation as to further the work of promoting good natalense air quality and
other spaces. This article aims to reflect upon the control of the air quality in Natal-RN, in 2014.
The methodology that guided this study was by means of literature (GIL, 2008) and dialogues with
representatives of Municipal Secretary of Environment and Urbanism (SEMURB). As a conclusion
has been that the environmental air control has been very restricted and cramped, which one need to
receive more attention from both the government as research oriented and thematic environmental
control of the air in the city of Natal-RN.
Keywords: Environment; Air pollution; Environmental air control.

INTRODUÇÃO

É notável que o controle ambiental do ar, no mundo, deveria estar atrelado desde o período
da Revolução industrial. Porém, apesar do constante crescimento da tecnologia e desenvolvimento
de políticas ambientais, a produção de gases poluentes do ar ainda é considerada muito elevada na
atualidade, isso pode ser verificado por meio de pesquisa que apontam países como Irã, Mongólia,
Índia e sudeste/sul do Brasil (WHO, 2013), com áreas comprometidas pela poluição do ar o que tem
impactados diversos espaços geográficos, por meio de altos índices de monóxido de carbono e de
dióxido de enxofre.
Autores como Assunção e Philippi Jr (2004) apontam que a relação entre os problemas
ambientais de agravos à saúde humana, tal como a ausência de controle ambiental do ar, tem se
expandido mediante o modelo de desenvolvimento na contemporaneidade. Visto que, alguns
estudos revelam que o monóxido de carbono é altamente tóxico quando combinado com a
hemoglobina do sangue, podendo ocupar o lugar do oxigênio e propiciar à morte por asfixia quando
inalado em grande quantidade; quando inalado em pequena quantidade, o mesmo pode originar
enfermidades crônicas, deficiências respiratórios ou circulatórios, dentre outras. Enquanto o dióxido
de enxofre, em baixas concentrações, pode estimular espasmos nos pulmões e, em altas
quantidades, pode acarretar o aparecimento de asma, bronquite e doenças alérgicas (MATOS,
2010).
Nesse cenário comprometedor devido a acentuada ausência de controle ambiental do ar e
por não haver ações de gestão na definição de parâmetros, de limites de controle do uso dos
recursos naturais, o desenvolvimento da sociedade vem ocorrendo desordenadamente, com parcos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 752


planejamento e à custa de níveis crescentes de poluição e degradação ambiental, o que poderá
comprometer, ainda mais, a melhoria de vida das populações urbanas (PHILIPPI, JR, 2005;
PELICIONI, 2005). Além disso, o que tem instigado alguns pesquisadores são os níveis de
degradação e os avanços de impactos negativos, significantes e comprometedores da qualidade dos
recursos naturais: ar, água, solo e vegetação, além da qualidade de vida nas regiões afetas no
entorno (PHILIPPI JR, 2005; BRAGA et al, 2005).
Esses efeitos da poluição do ar caracterizam-se tanto pela alteração de condições
consideradas normais como pelo aumento dos problemas já existentes e podem ocorrer nas esferas
local, regional e global. No Brasil, dentro desse contexto, mante-se em uma situação favorável,
visto que seu espaço geográfico, energético, é preenchido por hidrelétricas responsáveis pela
produção de energia elétrica que substituem as termoelétricas e usinas nucleares, instalações essas,
responsáveis pela produção de grande parte dos gases nocivos ao meio ambiente, entretanto deve
receber atenções de controle ambiental da flora, da fauna e de comunidades das áreas onde foram
construídas as hidrelétricas.
No entanto, o crescimento desenfreado e não planejado das cidades brasileiras deu-se espaço
aos problemas como, a presença de indústrias em áreas de habitação e concentração dessas áreas em
um espaço especifico, gerando conflito local e de alta intensidade de poluição do ar, como por
exemplo, a concentração excessiva de dióxido de enxofre (SERÔA; FERNANDES, 1994). Os
índices dessa poluição vêm aumentando, gradativamente, na capital do Rio Grande do Norte (RN)
e, portanto, já pode ser notada, principalmente, nos centros comerciais, tais como a Ribeira, Cidade
Alta e Alecrim, da cidade (ALVES; ALVES; SILVA, 2009). Isso, em sua maioria, pode ser advindo
da circulação e concentração de veículos trafegando, diariamente, nesses lugares.
A cidade do Natal-RN localiza-se no litoral do nordeste brasileiro, apresentando clima
tropical chuvoso (quente e úmido), mais conhecida como cidade do sol devido suas belezas naturais
dunares e climática como as brisas marítimas atuando o ano inteiro. Segundo dados do Laboratório
de Climatológica da UFRN (2014), a temperatura média anual é de 25,4 °C com uma temperatura
máxima e mínima, respectivamente, na média mensal de 30,3 °C e 24,1 °C, apresentando umidade
relativa do ar com uma média anual de 77%. Nesse contexto a pesquisa partiu da seguinte
indagação: como vem sendo realizado o controle da qualidade do ar na cidade do Natal-RN, em
2014?
Para delinear tal problema, este artigo teve como objetivo geral realizar algumas reflexões
do controle ambiental do ar, Natal-RN, no ano de 2014. A metodologia que deu embasamento a este
foi por meio de pesquisa bibliográfica, a qual de acordo com Gil (2008) é desenvolvida com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, em livros,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 753


periódicos e internet, e entrevista desenvolvida para responder aos questionamentos gerados no
estudo, aplicada à SEMURB, órgão responsável pela fiscalização e controle da qualidade do ar em
Natal-RN. Este estudo justifica-se ainda para o controle ambiental do ar o que poderá vir contribuir
à investigações, monitoramento e desenvolvimento de trabalhos em prol do controle ambiental do ar
em Natal-RN.
Este artigo está estruturado em quatro seções, A introdução contextualizando o problema,
objetivo, metodologia e estrutura do artigo; a fundamentação teórica apresentando algumas
definições sobre recursos naturais, seguido de reflexões sobre controle ambiental do do ar. Na seção
três é apresentado o diagnóstico de algumas reflexões da qualidade do ar da cidade em estudo,
introduzido pela caracterização da área, seguido propostas de controle da qualidade de ar, logo
após, na seção quatro, é exposta a consideração final do trabalho. Por fim as referências utilizadas
durante a construção do artigo.

Recursos Naturais

Os recursos naturais são conceituados como sendo ―aqueles cuja reprodução não pode ser
feita pela atividade humana. Podem ser usados ou geridos, mas não produzidos‖. (RICARDO;
ABRAMOVAY, 2002, p. 57). Já o autor Braga et al. (2005, p. 4) expõem que recurso natural ―é
qualquer insumo que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para a sua
manutenção‖.
Diante disso, pensa-se em recurso natural como algo útil para uso pessoal e comunitário.
Mas primeiramente deve-se saber quais os tipos de recursos e como utilizá-los de forma adequada,
para que o mesmo não torne-se ausente no planeta terra.
Existem dois tipos de recursos naturais: os renováveis e os não renováveis (Figura). Os não-
renováveis são aqueles que uma vez utilizados não se renovam, causando assim, escassez e
limitação. Um exemplo comum é o combustível fóssil que após sua utilização não pode mais ser
disponibilizado para uso. Já os renováveis, são aqueles que podem se renovar naturalmente no
decorrer do ciclo de vida do planeta. Como exemplos característicos tem-se a água, o ar, a biomassa
e a energia eólica. Dentro da classe dos não renováveis é possível identificar os minerais (fosforo,
cálcio, etc.) e os minerais energéticos (combustíveis fósseis e urânio). (BRAGA et al., 2005).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 754


Minerais
não-
energéticos
Fósforo,
Não- cálcio, etc.
renováveis Minerais
energéticos
Combustíveis
Recursos fósseis,
urano.
Água
Ar
Renováveis
Biomassa
Vento\\\

Figura 1 – Classificação dos recursos naturais


Fonte: Braga et al., 2005.

Os recursos naturais são indispensáveis para a vida dos seres humanos e para outros seres
vivos. E por descobrir que esta riqueza é esgotável foi depositada uma importância maior. Por tal
fato, deve-se preservar e fazer uso consciente desses recursos.
Para que o meio não fosse inteiramente destruído e com intuito de desacelerar sua destruição
foi-se pensando no uso sustentável, para preservar nossos recursos. Na ótica de Manzini e Vezzoli
(2005, p. 27) definem o conceito de sustentabilidade ambiental das condições sistêmicas tanto na escala
regional como planetário, que ―as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se
baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital
natural‖.
Para garantir um uso racional das riquezas naturais é necessária a conscientização da massa
populacional, para que todos tenham práticas sustentáveis. Para isso ocorrer é necessário um
sistema de educação ambiental. A supracitada deve ser considerada como um instrumento
pedagógico relevante, que alcance o âmbito internacional, e vise a conservação e melhoria do meio
ambiente (TAMAIO, 2002; IRINEU, 2002).
Com a conscientização da massa populacional sobre a importância dos recursos naturais,
aumentará o número de pessoas que conservará e racionalizará o uso destes. E, assim, será garantida
a conservação destes para as gerações futuras.

Controle Ambiental Do Ar

O controle ambiental do ar é entendido como ações de gestão e ou medidas que possam


promover monitoramento e parâmetro para limitar efeitos negativos a qualidade do ar oriunda de
atividades econômicas podem gerar impactos ambientais negativos e com isso interferirem na saúde
das populações humanas bem como os diversos ecossistemas (PHILIPPI JR, 2005).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 755


O controle ambiental do ar aborda diversos aspectos dentre os quais estão as ações de
vigilância das condições atmosféricas realizada seguindo parâmetros pré-determinados, objetivando
refrear a poluição do meio atmosférico (ANVISA, 2003).
No Brasil esforços para a realização do controle da qualidade do ar teve início em 1976,
quando o governo estabeleceu padrões para o monóxido de carbono, o dióxido de enxofre, as
partículas em suspensão e os oxidantes fotoquímicos. Todavia, através da CETESB e do IBAMA,
em 1986, foram promulgadas leis que abrangiam o controle da qualidade do ar, sendo criado o
Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) que a exemplo,
delimitou as emissões de gases poluentes nas vias do país (RANGEL; CARVALHO, 2003).
Barbieri (2004) observa que pós revolução industrial, com o aumento da produtividade, o
estimulo a exploração dos recursos naturais é cada vez mais tendenciosa. O autor destaca que
matérias, antes inexistentes, passam a integrar a natureza. Com um modelo de produção
tendenciosa, resíduos são gerados em detrimento dos recursos naturais e assim a poluição como
degradação do meio ambiente, prejudica a vida dos seres vivos, interferindo no ar, no solo e na
água.
A poluição do ar é um fenômeno recorrente, principalmente, da atividade humana em vários
aspectos, com, por exemplo, o aumento populacional, industrial e econômico de uma sociedade. O
nível de poluição do ar ou a qualidade do ar é medida pela quantificação das substâncias poluentes
presentes neste ar. Considera-se poluente do ar qualquer substância presente no ar e que pela sua
concentração possa tornar este ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-
estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da
propriedade e às atividades normais da comunidade (DERISIO, 2007)
Segundo Derisio (2007, p.105), os principais objetivos da avaliação da quantidade do ar são
o fornecimento de dados visando ativar ações de emergência, avaliar a qualidade do ar visando à
proteção da saúde e o bem-estar das pessoas, e por fim, acompanhar as tendências e mudanças na
qualidade do ar. Diante disso, várias formas, tais como leis e resoluções, visam ao combate dessa
poluição. Conforme a Lei n°997 no Art. 2 que dispõe sobre a prevenção e o controle da poluição do
meio ambiente fica proibido o lançamento ou a liberação de poluentes nas águas, no ar ou no solo
(SÃO PAULO, 1976).
Outra forma existente de controle do ar é o Programa Nacional de Controle de Qualidade do
Ar (PRONAR), o qual foi instituído pelo CONAMA, por meio da Resolução n° 005, I5 de junho de
1989, e que tem como proposito propiciar um bom desempenho econômico e social, restringindo os
níveis de poluentes atmosféricos, visando melhorar a qualidade do ar e atender aos padrões
estipulados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 756


Muito se tem discutido que na origem dos problemas de poluição do ar pode ser considerada
por meio de quatro etapas: a produção, a emissão, o transporte e a recepção de poluentes. Em cada
uma dessas etapas é possível intervir para reduzir os riscos da poluição e aplicar, na maioria dos
casos, métodos científicos e técnicos já conhecidos (DERISIO, 2007). Dentre estes métodos têm
sido considerados os seguintes:

• Planejamento territorial e zoneamento;


• Eliminação e minimização de poluentes;
• Diluição e mascaramento dos poluentes;
• Concentração dos poluentes na fonte para tratamento antes do lançamento;
• Equipamentos de controle dos poluentes.

Diagnosticando algumas reflexões da qualidade do ar de Natal-RN

O levantamento de dados compreendeu informações diversas. Gerando a possibilidade de


uma breve reflexão das condições do ar na cidade do Natal-RN.
A ausência do equipamento para a realização de inspeção e controle da qualidade do ar nas
ruas da cidade, objeto deste estudo, mostrou-se o maior problema identificado durante os diálogos
com representantes da SEMURB.
Em Natal-RN, por meio das respostas obtidas, problemas como as fontes geradoras de maior
incidência de ar poluentes e com o método de controle realizado pelo órgão entrevistado puderam
ser caracterizadas: pizzarias, padarias e churrasquinhos além da alta quantidade de veículos na
cidade são os maiores incidentes de poluentes na atmosfera da região em estudo e por meio do
embasamento legal os órgãos realizam ações mitigadoras e preventivas intervindo na ocorrência de
práticas relacionadas a poluição. Independe das atitudes tomadas os problemas ainda persistem
devido à ausência de um monitoramento real, atendo-se a apenas denúncias.
Oriundo do estudo pôde-se ainda determinar outras atribulações relacionadas ao controle do
ar, das quais estão a inexistência de um programa de conscientização sobre a poluição do ar com os
munícipes e ausência de um parâmetro de comparação da cidade para com o a situação nacional,
que contemplaria cidades modelo na gestão correta de poluentes.

Propostas De Algumas Práticas Controle Ambiental Do Ar

Esta proposta sinaliza algumas ações que poderá contribuir em mudanças de atitudes e de
gestão a melhoria no controle ambiental do ar, local.
No que diz respeito a ausência de equipamentos para o monitoramento da qualidade do ar,
sugerisse que seja feito um planejamento para a manutenção e aquisição de equipamentos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 757
contextualizados com a novas tecnologias. Para isso, aponta-se a importância de atualização do
planejamento periodicamente. Quanto a problemas relacionados as fontes geradoras de poluição em
Natal-RN, é necessário o desenvolvimento de uma consciência ambientalmente correta por parte
dos munícipes, gerada a partir de ações do governo em conjunto a população local para que assim
esse índice diminua consideravelmente.
O órgão ainda que apresente um sistema embasado na lei para a proteção ambiental há a
necessidade de um monitoramento e fiscalização continua, nas ruas, de poluições atmosféricas.
Quanto a isso, deve-se haver um investimento específico na área objetivando a formação de
profissionais competentes e capazes de combater as deficiências identificadas além de intensificar a
política de denúncias tornando o meio ainda mais eficiente no confronto à poluição.
Visto a atual situação, há uma extrema necessidade de situar a cidade do Natal em um
ranking a fim de determinar sua colocação quanto a outras cidades tendo como parâmetro o nível de
poluição do ar. O desenvolvimento de estudos incentivados por programas do governo já daria
espaço a um breve estudo da atual situação e quais são as principais prioridades sugeridas.
Considerando as proposições citadas, foi possível gerar um quadro (Quadro 1) contemplando os
problemas enfrentados em Natal-RN, as metas a serem alcançadas e ações que podem auxiliar os
objetivos citados

Problema Metas Ações


Ausência de Adquirir 100% dos Atualização do planejamento
equipamentos equipamentos necessários para o periodicamente e manutenção dos
controle da emissão de gases equipamentos
poluentes no ar
Fontes Reduzir a atuação de fontes Realização junto a poder público
geradoras de geradoras de poluição campanhas educativas à população
poluição Diminuir do índice de poluição Desenvolvimento de uma consciência
ambientalmente correta
Ausência de Formar profissionais capazes de Formação intensiva de capacitação
monitoramento combater as deficiências (FIC) por meio de parceria
e fiscalização na identificadas IFRN/CENAT e o poder público
cidade
Ausência de Intensificar a política de Divulgação por meio de campanhas
monitoramento denúncias tornando o meio ainda nos meios de comunicação, nas ruas e
e fiscalização mais eficiente no confronto à investimento específico na área pelo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 758


real na cidade poluição governo, por meio de parceria
IFRN/CENAT e o Órgão responsável
Ausência de um Determinar sua colocação Investigação por meio de parcerias
parâmetro de quanto a outras cidades tendo para pesquisas, IFRN/CENA com
comparação da como parâmetro o nível de programas do governo dando espaço a
cidade para com poluição do ar, legal um breve estudo da atual situação e
o a situação de quais são as principais prioridades
outras cidades local
modelo, no país

Quadro 01 – Sistematização para o controle ambiental do ar


Fonte: Os Autores (2014).

CONSIDERAÇÃO FINAL

Este estudo deverá promover certa reflexão aos cidadãos natalenses para que os mesmos
possam perceber a importância de desenvolver práticas de controle ambiental do ar para melhorias
da qualidade do ar de Natal-RN. Na realização da pesquisa foram utilizados métodos para que fosse
possível chegar ao objetivo, visto isso, nos utilizamos de pesquisas bibliográficas, consultas em
livros e periódicos, e uma entrevista aplicada à SEMURB, responsável pela fiscalização e qualidade
do ar de Natal-RN.
Mediante os resultados obtidos com a realização da entrevista, foi possível obter dados de
alta relevância que oportunizou a identificação de um dos problemas mais preocupantes, o órgão
entrevistado, responsável pelo controle da qualidade do ar da cidade, não contava com nenhum
instrumento para medir os índices de poluentes suspensos no ar. Como recomendação de novos
estudos, é interessante pesquisar algo a respeito dos poluentes encontrados no ar da cidade, e algo
relativo a classificação quanto a qualidade do ar, em âmbito nacional e até internacional.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, R. Construindo a ciência ambiental. São Paulo: Annablume, 2002.

ALVES, K.; ALVES, A.; SILVA, F. Poluição do ar e saúde nos principais centros comerciais da
cidade de Natal/RN. Holos, ano 25, v. 4, 2009.

ANVISA. Resolução nº 9/ 2003. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br>. Acesso em: 28 set.
2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 759


ASSUNÇÃO, J. V. de. Controle Ambiental do Ar. In: Philippi Jr A, Romero M.A., Bruna G.C.
Curso de Gestão Ambiental. Barueri, São Paulo, 2004. P. 101-119.

BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial. São Paulo: Saraiva, 2004.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável.


São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

CONAMA. Resolução n. 005/1989. Disponível em: < http://www.ambiente.sp.gov.br>. Acesso em:


13 set. 2014

DERISIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. São Paulo: Signus, 2007.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MANZINI, E., VEZZOLI, C. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos


ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2005.

MATOS, A.T. de. Poluição Ambiental: impactos no meio físico. MG:UFV, 2010.

PHILIPPI JR., A. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento


sustentável. Barueri, São Paulo: Manole, 2005.

PHILIPPI JR., A; PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole,


2005.

RANGEL, M.C e CARVALHO, M. F. A. Impacto dos catalisadores automotivos no controle da


qualidade do ar. Química Nova, Volume 26. No 2, 265-277, 2003, Salvador. BA

SÃO PAULO. Decreto nº 8.468/1976. Lei nº 997/1976. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br>.


Acesso em: 13 set. 2014.

TAMAIO, I. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação


ambiental. São Paulo: Annablume: WWF, 2002.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Laboratório de climatologia.


Disponível em: < http://www.ccet.ufrn.br>. Acesso em: 30 set. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 760


LOGÍSTICA REVERSA DE ÓLEO LUBRIFICANTE USADO OU CONTAMINADO

Ingrid Gabriele de SOUZA


Estudante do curso de Controle Ambiental do IFRN
ingridg.souza1@gmail.com

Mariana Segundo MEDEIROS


Estudante do curso de Controle Ambiental do IFRN
marianasegundomedeiros@hotmail.com

Madson Sousa LUIS


Estudante do curso de Controle Ambiental do IFRN
madson.luis.15@hotmail.com

Robson Garcia da SILVA


Docente do curso de Controle Ambiental do IFRN
robsontecnologo@yahoo.com.br

RESUMO
O óleo lubrificante é um dos insumos mais importantes no setor industrial e principalmente
automotivo, haja vista que essa substância é utilizada para lubrificar os componentes móveis dos
motores. O resíduo gerado por este insumo, ou seja, o óleo lubrificante usado ou contaminado, é
considerado perigoso e se lançado de maneira inadequada ao meio ambiente, pode causar impactos
prejudiciais àqueles que nele habitam. Neste contexto, a logística reversa surge como uma
ferramenta que visa à coleta e o reaproveitamento ou uma destinação final ambientalmente correta a
esses resíduos. Com base nisso, este artigo tem como finalidade discutir, teoricamente, acerca da
logística reversa aplicada ao óleo lubrificante usado ou contaminado. Para isso, a metodologia foi
baseada em pesquisa bibliográfica e documental a fim de obter informações e aprofundar-se acerca
do tema. Este estudo abordou, inicialmente, algumas considerações históricas e conceituais sobre a
logística e a logística reversa. Em seguida, discutiu-se sobre os óleos lubrificantes usados ou
contaminados, os quais foram levantados seus aspectos físicos, sua classificação e utilização e, por
fim, como se dá a sua logística reversa, bem como a legislação que a envolve e o processo de
rerrefinamento. Em suma, conclui-se que o fluxo reverso dos óleos lubrificantes usados ou
contaminados é importante para o meio ambiente, a saúde humana, e as empresas, uma vez que
esses resíduos podem ser transformados em insumos, voltando ao processo produtivo, evitando que
ocorra o despejo inadequado no meio ambiente, favorecendo a racionalização no consumo de óleo,
o que, consequentemente, contribui na redução da exploração de recursos naturais não renováveis
como o petróleo.
Palavras chave: Logística reversa; óleos lubrificantes usados ou contaminados; rerrefinamento

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 761


ABSTRACT
The lubricating oil is one of the most important inputs in the industrial and automotive sector
especially, considering that this substance is used to lubricate the moving parts of the engines. The
waste generated by this input, in other words, the lubricating oil used or contaminated, is considered
dangerous and if improperly released to the environment way, can cause detrimental impacts to
those who inhabit it. In this context, reverse logistics emerges as a tool that aims at collecting and
reusing end or environmentally correct disposal of these wastes. Based on this, this article aims to
discuss theoretically about reverse logistics applied to lubricating oil or contaminated. For this, the
methodology was based on bibliographical and documentary research in order to get information
and delve on the topic. This study initially addressed some historical and conceptual considerations
about the logistics and reverse logistics. Then be discussed about used or contaminated lubricating
oil, which its physical aspects, classification and use were raised and, finally, how is your reverse
logistics, as well as legislation that involves the process of rerrefinamento. In summary it is
concluded that the reverse flow of used or contaminated lubricating oil is important for the
environment, human health and companies, since such waste can be transformed into inputs, back
to the production process preventing inappropriate discharge occurs in the middle environment and
favoring the rationalization oil consumption which, in turn, helps in reducing the exploitation of
non-renewable natural resources such as petroleum.
Keywords: Reverse logistics; lubricating oil; rerrefinamento.

INTRODUÇÃO

O óleo lubrificante é um dos insumos mais importantes no setor industrial e principalmente


automotivo, haja vista que essa substância é utilizada para lubrificar os componentes móveis dos
motores. O resíduo gerado por este insumo, ou seja, o óleo lubrificante usado ou contaminado, é
considerado perigoso e se lançado de maneira inadequada ao meio ambiente, pode causar impactos
prejudiciais àqueles que nele habitam. Neste contexto, a logística reversa surge como uma
ferramenta que visa à coleta e o reaproveitamento ou uma destinação final ambientalmente correta a
esses resíduos.
As empresas têm buscado, na atualidade, a adoção de práticas sustentáveis a fim de se
tornarem mais competitivas, na medida em que almejam expansão de mercado. Neste cenário, é
imprescindível a otimização de seus processos produtivos adotando estratégias ambientais que,
além de contribuir com a mitigação de impactos ambientais, diminuem os custos de produção de um
produto ou serviço.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 762


Nesse sentido, surge como ferramenta de gestão da cadeia de suprimentos, a logística
reversa que, segundo Gomes e Ribeiro (2004, p.140) visa a eficiente execução da recuperação de
produtos usados ou com defeitos, tendo assim como principais objetivos reduzir, fazer o descarte
correto e gerenciar os resíduos tóxicos e não tóxicos. Além disso, com a promulgação da lei
12.305/2010, Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de óleo lubrificante são obrigados a estruturar e implementar sistemas
de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma
independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (BRASIL,
2010).
O óleo lubrificante usado ou contaminado é um dos resíduos contemplados,
compulsoriamente, no sistema de logística reversa na lei da PNRS. Por ter natureza não
biodegradável, quando não entra no fluxo reverso, passa dezenas de anos no ambiente até ser
decomposto, podendo alterar a qualidade das águas superficiais e lençóis freáticos, do solo e do ar,
além de causar danos à saúde humana.
Diante dessa problemática, este artigo tem como objetivo discutir, teoricamente, acerca da
logística reversa aplicada ao óleo lubrificante usado ou contaminado. Para tanto, a fim de cumprir
com tal objetivo o trabalho foi de natureza bibliográfica, que segundo Gil (2002, p.44) é
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos, sendo exigido em quase todos os estudos algum tipo de trabalho desse caráter. Com
isso, essa pesquisa contou com a realização de levantamentos de referências em sites da internet,
livros, artigos de revista e simpósio e de uma dissertação. Além disso, este trabalho realizou
pesquisa documental por meio da consulta de norma, lei e resolução. Todas essas pesquisas têm
como objetivo obter mais clareza e o maior número possível de informações acerca do tema em
questão.
Portanto, este artigo está estruturado em quatro seções, sendo expostas breves
considerações teóricas sobre a logística na seção 2, seguida pela apresentação da logística reversa e
suas duas áreas de atuação. Na seção 3 tem-se a aplicação da logística reversa ao óleo lubrificante
usado ou contaminado e, por fim, apresentam-se as considerações finais.
Este trabalho é financiado pelo Programa de Formação de Recursos Humanos (PFRH) da
Petrobras, o qual está sendo desenvolvido como parte da pesquisa intitulada ―Logística reversa
aplicada ao óleo lubrificante em postos de gasolina de Natal/RN‖.

A Logística E A Logística Reversa: Breves Considerações Históricas E Conceituais

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 763


Fleury et al. (2000) considera a Logística como sendo paradoxal, pois é uma das atividades
econômicas mais antigas e, ao mesmo tempo, um dos conceitos gerenciais mais modernos. O autor
relata que, ao abandonar o extrativismo, o homem iniciou a organização das atividades produtivas,
produção especializada com trocas de excedentes com outros produtores, possibilitando o
surgimento de três funções logísticas essenciais: o estoque, a armazenagem e o transporte. E é
moderna, segundo o mesmo autor, ao auxiliar as organizações a se adaptarem às mudanças
econômicas, proliferação dos produtos, menores ciclos de vida dos produtos, e maiores exigências
dos clientes, e ao utilizar as inovações tecnológicas visando gerenciar de maneira mais eficaz as
operações logísticas.
As indústrias manufatureiras começaram a usar os conhecimentos e as práticas logísticas,
aplicadas nos campos de batalhas, para disponibilizar suas mercadorias junto aos mercados
consumidores e, mais recentemente, com o intuito de planejar e executar de forma mais eficiente
suas atividades, disponibilizando serviços voltados a suprir as necessidades, desejos e expectativas
de seus clientes e consumidores.
Foi a partir da 2ª Guerra Mundial que o conceito e a prática da Logística desenvolveram-se
no ambiente organizacional. Novaes (2001, p. 36) atribui a este período pós-guerra como a primeira
de quatro fases evolutivas apresentadas pela Logística até os dias de hoje. E nas décadas de 1950 e
1960 a prática da Logística deslanchou-se.
A partir de 1990 surge a era da competitividade, baseada em uma economia globalizada,
cujo principal objetivo das organizações é a sobrevivência, levando a Logística a um período de
transformações profundas, tornando-se o diferencial adquirido pela alta administração (AZEVEDO,
1998). Novaes (2001, p.36) identifica uma 4ª fase neste processo evolutivo que vem passando a
Logística no ambiente empresarial. E durante esse processo evolutivo, dentre outras coisas,
passaram a ver a logística reversa como uma fonte importante de redução de perdas e foi verificado
também o aumento da preocupação com o meio ambiente, levando ao desenvolvimento de
operações de fluxo reverso (Logística Reversa) visando o recolhimento dos materiais e embalagens.
Dessa forma, concluiu-se que as atividades logísticas militares utilizadas na 2ª Guerra
Mundial influenciaram significativamente os conceitos logísticos que são utilizados atualmente. E
dentre os conceitos encontrados na pesquisa, um dos principais é o adotado pelo Conselho de
Administração Logística (Concil of Logistics Management, 1999), onde afirma que a logística é a
parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla o eficiente e efetivo
fluxo de estocagem de bens, serviços e informações relacionadas, do ponto de origem ao ponto de
consumo, visando atender aos requisitos dos consumidores (NOVAES, 2001 p. 36).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 764


No contexto da logística reversa, já nos anos 60, as empresas começaram a buscar um
método eficaz capaz de reduzir os custos e aumentar a lucratividade. Os clientes tornavam-se cada
vez mais exigentes e esperavam das empresas um retorno compatível às suas expectativas, o que
favoreceu o aumento da competitividade entre essas organizações (LEITE, 2003). E diante dessa
evolução nos negócios, quando os empresários tinham como principais objetivos oferecer serviços
ou produtos diferenciados aos seus clientes e manter seus posicionamentos competitivos no
mercado, a logística reversa tornou-se uma ferramenta essencial nesse âmbito, a qual garantia o
sucesso de uma organização. Porém, foi só nos anos 90 que novas abordagens foram adotadas e que
o conceito de logística reversa evoluiu estimulado pela preocupação dos consumidores com a
preservação ambiental (LEITE, 2003).
A partir desse período, as empresas passaram a ver a logística reversa como um meio de
reduzir perdas e, desta forma, essa ferramenta passou a ser utilizada em maior acuidade nos Estados
Unidos e Europa, países onde os conceitos e ferramentas clássicas de logística já eram mais
disseminados (LEITE, 2003). Mas foi só em 2008 que a logística reversa chegou ao Brasil com o
Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB) por sugestão de empresas atuando no país,
profissionais e acadêmicos, interessados em incrementar o conhecimento nos diversos segmentos
da logística reversa, melhorar suas práticas operacionais compartilhando e contribuindo com sua
propagação em nosso país e colocando lado a lado empresas ofertando e procurando serviços
especializados, tentando assim, seguir o exemplo dos países desenvolvidos (LEITE, 2003).
Na Lei 12.305/2010 da PNRS confere-se Logística Reversa como sendo:

Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de


ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos
sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

Lacerda (2002) define logística reversa como o método de planejamento, execução e


controle do fluxo de matérias- primas, estoque em processos e produtos no seu fim de vida, desde o
seu ponto de consumo até o seu ponto de origem, objetivando agregar ao produto um novo valor ou
descartá-lo corretamente. Leite (2003) ainda refere-se à Logística Reversa como:

Área da logística empresarial que planeja, controla o fluxo e as informações logísticas


correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios
ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valores
de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal, logístico, de
imagem corporativa, dentre outros.

Posto que foram citados conceitos da logística convencional e do seu sistema reverso, é
possível diferenciá-las quanto a estratégia de funcionamento. Pois, enquanto a logística
convencional se preocupa com o fluxo do produto da fábrica ao consumidor, a logística reversa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 765


visa, além disso, o retorno deste produto ao processo produtivo da empresa, afim de, por exemplo,
reciclá-lo. Por isso, pode-se considerar o reaproveitamento dos produtos descartados como o
estopim do processo de logística reversa. Afinal, o foco de atuação da logística reversa envolve a
reintrodução dos produtos ou materiais à cadeia de valor através do ciclo produtivo ou de negócios
e, portanto, um produto só é descartado em último caso (CHAVES e MARTINS, 2005).

O Óleo Lubrificante Usado Ou Contaminado: Breves Considerações Conceituais E A Técnica Do


Rerrefino

Segundo a ABNT (2004), em sua norma técnica NBR-10004, que trata da classificação de
Resíduos Sólidos, esses são conceituados de acordo com os seus possíveis impactos prejudiciais ao
meio ambiente e à saúde pública, é sinalizado também os resíduos que devem ter mais controle
quanto ao seu manuseio e sua destinação. Ainda de acordo com a norma, o óleo lubrificante usado
ou contaminado é classificado como resíduo perigoso (classe I), por possuir alta toxicidade. ―Os
óleos usados contêm produtos resultantes da deterioração parcial dos óleos em uso, tais como
compostos oxigenados (ácidos orgânicos e cetonas), compostos aromáticos polinucleares de
viscosidade elevada, resinas e lacas‖ (GUSMÃO et al, 2013).
Ainda de acordo com Gusmão et al. (2013), os óleos lubrificantes são compostos de óleos
básicos (minerais e sintéticos), hidrocarbonetos saturados e aromáticos, que são produzidos a partir
de petróleos especiais e aditivados. Os óleos básicos minerais podem ser obtidos diretamente do
processamento do petróleo bruto ou a partir do rerrefino dos óleos usados, que o processo de
reciclagem no qual o óleo lubrificante usado passa para seu reaproveitamento como óleo básico.
Durante o seu uso na lubrificação dos equipamentos, se produz a degradação termoxidativa
do óleo e essas condições oxidantes são provenientes do acúmulo de contaminantes resultantes do
desgaste do motor, fazendo-se necessária sua troca. Além disso, parte do óleo é queimada no
próprio motor, devendo ser reposto (CEMPRE, 2005 apud MAGALHÃES et al, 2005).
Na Resolução ANP nº18, de 18.6.2009 – RETIFICADA DOU 19.6.2009, no artigo 23, está
escrito:

O produtor de óleo lubrificante acabado fica obrigado a coletar ou a garantir a coleta de


óleo lubrificante usado ou contaminado na proporção do volume total de óleo lubrificante
acabado que comercializar, assim como destiná-lo para rerrefino ou qualquer outra
utilização licenciada por órgão ambiental competente, conforme art. 3o da Resolução
CONAMA no 362, de 23 de junho de 2005, ou legislação que venha a substituí-la.

Para classificar os óleos lubrificantes acabados, são considerados os óleos destinados às


seguintes finalidades (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E
BIOCOMBUSTÍVEIS, 2009):

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 766


a) motores do ciclo Otto ou Diesel;
b) engrenagem automotiva, diferencial e transmissões;
c) engrenagens em geral;
d) equipamentos agrícolas;
e) sistemas hidráulicos e turbinas;
f) compressores;
g) equipamentos pneumáticos, máquinas operatrizes e têxteis;
h) tratamento térmico;
i) óleo de corte integral com teor de óleo básico acima de 70%;
j) trocador de calor;
k) proteção temporária;
l) pulverização agrícola;
m) correntes de motosserra;
n) indústrias onde o óleo lubrificante integre o produto final ou o processo, não gerando resíduo;
o) estampagem;
p) motores de dois tempos;
q) sistemas selados que não exijam troca ou que impliquem perda total do óleo;
r) solúveis;
s) fabricação de óleos lubrificantes a base de asfalto; e
t) exportação, incluindo aqueles incorporados em máquinas e equipamentos destinados à
exportação.

Como sendo obrigatório o envio desse resíduo para a regeneração e recuperação, a técnica
recomendada e o método mais seguro ambientalmente para evitar a contaminação química pelo óleo
usado ou contaminado é o processo industrial de rerrefino. Conforme a Resolução 362/2005 do
CONAMA é a categoria de processos industriais de remoção de contaminantes, produtos de
degradação e aditivos dos óleos lubrificantes usados ou contaminados, conferindo aos mesmos,
características de óleos básicos, conforme legislação específica (BRASIL, 2005).
Ao promover o rerrefino desses óleos, uma empresa especializada reduz o uso de recursos
naturais não renováveis, ou seja, diminui a necessidade de extração de petróleo e reduz a
dependência de importação de derivados, evita a poluição que poderia ser gerada pelo descarte do
resíduo no meio ambiente, assegura a destinação adequada de um resíduo perigoso, fornece matéria
prima especificada para produção de óleo lubrificante acabado,
Os produtores e os importadores de óleo lubrificante acabado são responsáveis pela coleta
de todo óleo lubrificante usado ou contaminado, ou alternativamente, pelo correspondente custeio
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 767
da coleta efetivamente realizada, bem como sua destinação final adequada. Os Ministérios de Meio
Ambiente e de Minas e Energia, por sua vez, têm a atribuição de acompanhar, de acordo com as
suas competências legais, o cumprimento das metas mínimas de coleta de óleos lubrificantes
usados. Neste sentido, a portaria interministerial MME/MMA nº 59/2012, estabeleceu que os
agentes econômicos deverão atender aos percentuais mínimos de coleta de óleo lubrificante usado
ou contaminado, de acordo com as suas participações no mercado de óleo lubrificante acabado, por
região e país, conforme o quadro 1 abaixo:

Regiões
Ano Brasil
Nordeste Norte Centro-Oeste Sudeste Sul
2012 26% 26% 32% 42% 36% 36,9%
2013 28% 28% %%
33% 5555
42% 36% 37,4%
2014 30% 30% %%
34% 555
42% 37% 38,1%
2015 32% 31% %
35% %%
42% 37% 38,5%
Quadro 1: Atendimento dos percentuais mínimos de coleta de óleo lubrificante usado ou contaminado
Fonte: Portaria interministerial MME/MMA nº59 de 17 de fevereiro de 2012.

Porém, o ponto delicado de todo esse processo de rerrefino encontra-se na coleta. Segundo a
Resolução ANP nº18, de 18.6.2009 – RETIFICADA DOU 31.8.2009, art. 3º, a atividade de
produção de óleo lubrificante acabado somente poderá ser exercida por pessoa jurídica, constituída
sob as leis brasileiras, que possuir autorização da ANP. Entretanto, nem todas as empresas
conseguiram autorização da ANP para coletarem óleo lubrificante usado ou contaminado em todo
país. Sendo que para cumprir a legislação ambiental é necessário que a atividade de coleta atinja
todos os municípios do Brasil até esse ano de 2014, como está descrito na Lei 12.305/2010 da
PNRS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a logística reversa apresenta-se como um fator valoroso na destinação


correta do óleo usado ou contaminado, submetendo-o ao processo de rerrefino, que, em seguida,
voltará ao mercado consumidor. Dessa forma, esse resíduo perigoso transforma-se em insumo
retornando ao processo produtivo evitando-se que esse seja despejado de forma inadequada ao meio
ambiente e, consequentemente, prevenindo o surgimento de danos ambientais.
Ademais, a implantação de leis e as normas técnicas para coleta e a implementação do
rerrefino além de estabelecer quais agentes estariam habilitados a efetuar este processo, favorece a
racionalização no consumo deste insumo, visto que esse processo contribui na diminuição da
exploração de recursos naturais, nesse caso especifico de petróleo (um recurso não renovável), e
também na disseminação da logística reversa, por meio da coleta, tratamento e comercialização
desse óleo.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 768
Ressalta-se que as empresas devem conhecer e cumprir as leis e normativas sobre a logística
reversa desse resíduo de modo a evitar o seu descarte inadequado. Pelo contrário, sabe-se que esses
podem causar danos consideráveis ao meio ambiente. Portanto, torna-se fundamental que haja, além
da fiscalização pelo poder público, a necessidade de um programa de conscientização para despertar
um senso de responsabilidade e para que as fontes geradoras e os consumidores tornem-se
cúmplices e passem a conhecer os benefícios provenientes da destinação correta deste resíduo.
Destarte, reitera-se que este trabalho não pretende esgotar tal tema, o qual servirá como base
para a pesquisa que segue em andamento, a qual vem sendo desenvolvida há três meses e intitulada
―Logística reversa aplicada ao óleo lubrificante em postos de gasolina de Natal/RN‖.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Resolução


ANP Nº 18, de 31 de agosto de 2009. Estabelece os requisitos necessários à autorização para o
exercício da atividade de produção de óleo lubrificante acabado, e a sua regulação. Acesso em:
28 de set. 2014. Disponível em:
<http://nxt.anp.gov.br/nxt/gateway.dll/leg/resolucoes_anp/2009/junho/ranp%2018%20-
%202009.xml>.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR-10004: informação e


documentação: 2ª Edição. Resíduos Sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004. Disponível
em: <http://www.aslaa.com.br/legislacoes/NBR%20n%2010004-2004.pdf>. Acesso em: 28 de
set. 2014.

AZEVEDO, J. M. Identificação das necessidades de formação profissional do corretor de imóveis


a partir da percepção dos agentes do mercado imobiliário de Florianópolis. Dissertação
(Mestrado em engenharia de produção) – Curso de pós-graduação em engenharia de produção,
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1997.

BRASIL. Lei nº. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF: Senado
Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 28 de set. 2014.

BRASIL. Resolução CONAMA nº 362, de 23 de junho de 2005. Dispõe sobre o recolhimento,


coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. Diário Oficial da República

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 769


Federativa doBrasil n° 121, de 27 de junho de 2005. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res36205.xml>. Acesso em: 28 de set. 2014.

CEMPRE. São Paulo, 2005. Disponível em : <http://www.cempre.org.br> - Acesso em:


27/11/2005 apud MAGALHÃES, J.M; DONOSO, F.F; MELO, P.L.R. Re-refino no Brasil: A
reciclagem de óleos usados, 2005. Disponível em:
<http://www.ead.fea.usp.br/Semead/10semead/sistema/resultado/trabalhosPDF/584.pdf>.
Acesso em: 28 de set. 2014.

CHAVES, G. L. D.; MARTINS R. S. Diagnóstico da reversa na cadeia de suprimentos de


alimentos processados no oeste paranaense. In: VIII Simpósio de Administração da Produção
Logística e Operações Internacionais (SIMPOI), Anais, São Paulo: FGV, 2005. Acesso em: 28
set. 2014. Disponível em: <http://sober.org.br/palestra/2/699.pdf>.

FLEURY, P. F.; WANKE, P.; FIGUEIREDO, K. Logística empresarial: a perspectiva brasileira.


São Paulo: Atlas, 2000.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. Disponível em:
<http://www.academia.edu/4405328/GIL_Antonio_Carlos_COMO_ELABORAR_PROJETOS_
DE_PESQUISA_Copia>. Acesso em: 28 de set. 2014.

GOMES, C. F. S.; RIBEIRO, P. C. C. Gestão da cadeia de suprimentos integrada à tecnologia da


informação. São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2004. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=B06QoZ8jB8IC&pg=PR4&lpg=PR4&dq=Gest%C3%A3
o+da+cadeia+de+suprimentos+integrada+%C3%A0+tecnologia+da+informa%C3%A7%C3%A
3o.+S%C3%A3o+Paulo,+Pioneira+Thomson+Learning,+2004&source=bl&ots=Itf41jYJUH&si
g=2glMB7D5RBNn-plbaCHLlEXje-o&hl=pt-
BR&sa=X&ei=nAI1VPyhHsn3yQSS4oK4DQ&ved=0CCYQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false
>. Acesso em: 28 de set. 2014.

GUSMÃO, J. G. S.; FRAGA M. S.; DIAS, J. S. A logística reversa aplicada aos óleos lubrificantes
usados ou contaminados produzidos nos postos de combustíveis da cidade de Boa Vista-RR.
Caderno de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Boa vista, 2013. Disponível em:
<http://200.230.184.11/ojs/index.php/CCHAS/article/view/20/10>. Acesso em: 28 de set. 2014.

LACERDA, L. Logística Reversa: uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas


operacionais. Centro de Estudos em Logística, COPPEAD, UFRJ, 2002. Disponível em:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 770


<http://www.tfscomunicacao.com.br/imgs/sala_estudo/272_arquivo.pdf>. Acesso em: 28 de set.
2014.

LEITE, P. R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. 1. ed. São Paulo: Prentice Hall,
2003.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Constituição (2012). Portaria nº 59, de 17 de fevereiro de


2012. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP, no uso de suas
atribuições legais e regulamentares. Portaria. Disponível em:
<http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/legislacao/portaria_interminestral/Portaria_M
ME-MMA_n_59-2012.pdf>. Acesso em: 28 set. 2014.

NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro: Campus,


2001.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 771


OS ENTRAVES NA IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE

Reinaldo F. CAVALCANTE
Professor Pesquisador Instituto Federal do Ceará (IFCE) - Campus Quixadá

Jorge Alisson O. CUNHA


Discente do Instituto Federal do Ceará (IFCE) - Campus Quixadá

Felipe Douglas F. LOPES


Discente do Instituto Federal do Ceará (IFCE) - Campus Quixadá

Camila L. Bezerra CAVALCANTE


Discente do Instituto Federal do Ceará (IFCE) - Campus Quixadá

RESUMO
Este trabalho estabeleceu como enfoque principal, identificar os maiores desafios enfrentado para
implantação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), quando analisando as
escolas públicas do município de Quixadá. Foi aplicado um questionário contendo 04 perguntas
durante o período de 14 de fevereiro a 19 de maio com cerca de 250 pessoas entre alunos e
funcionários das referidas escolas. Permitindo a partir de o método aplicado, gerar um banco de
informações, onde seja possível identificar os principais entraves encontrados para a implantação do
PGRS e definir ações complementares voltadas a contribuição do plano. Com o desenvolvimento do
estudo foi identificado a presença de algumas dificuldades para a implantação como: a ausência ou
desconhecimento de políticas e programas ambientais específicos para a reflexão das questões
ambientais e deficiências na educação ambiental como fatores chave para a efetiva implantação e
operacionalização do PGRS em escolas públicas no município do Sertão Central Cearense de
Quixadá.
Palavras-Chave: PGRS, Resíduos Sólidos, Entraves, Educação Ambiental, Quixadá

ABSTRACT
This work has established the main focus, identify the biggest challenges faced to implement the
Plan for Solid Waste Management (SWMP), when analyzing the public schools from Quixadá. A
questionnaire containing 04 questions during the period February 14 to May 19 with about 250
people including students and employees of such schools was applied. Allowing from the method
used to generate a database of information where it is possible to identify the main obstacles faced
for the implementation of SWMP and define complementary actions aimed at contribution plan.
With the development of the study the presence of some difficulties in implementation as identified:
the absence or lack of specific environmental policies and programs for the reflection of

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 772


environmental issues and deficiencies in environmental education as key factors for effective
implementation and operation of the SWMP in public schools in the municipality of Ceará Sertão
Central Quixadá.
Key-Words: Educação Ambiental, Entraves, Pgrs, Resíduos Sólidos, Quixadá

INTRODUÇÃO

Os elevados índices de crescimento populacional mundial agregado a um modelo


desenvolvimentista onde o consumo é o motor propulsor do estilo de vida moderno da sociedade
trazem como consequência uma grande produção de rejeitos de natureza sólida líquida e gasosa.
Com o crescimento da produção destes rejeitos cresce também a preocupação com a mitigação dos
impactos ambientais que estes causam na dinâmica dos sistemas ecológicos onde são comumente
despejados (IPCC, 2001).
Os resíduos sólidos urbanos, chamados de (RSU), se constituem como um dos grandes
desafios ambientais nos últimos séculos, pois representam risco potencial de contaminação em
concomitância do solo da água e do ar, seja través da produção do chorume, líquido escuro com alta
concentração de carga orgânico e nutriente, ou pela liberação de substâncias tóxicas como, por
exemplo, os metais pesados e outros compostos persistentes. Diante deste cenário, eficientes
sistemas de gestão e destinação final dos resíduos sólidos urbanos ocupam uma posição estratégica
para o alcance do desenvolvimento dos grandes centros urbanos. (PECORA, GONZALEZ e
COELHO, 2010).
No Brasil a produção de resíduos sólidos é crescente com uma produção de
aproximadamente 181.288 toneladas de RSU/dia, no ano de 2012. O Nordeste do brasileiro é
responsável por cerca de 30% deste total, com uma produção estimada em 51.689 toneladas/dia de
RSU, das quais 77,43% foram devidamente coletados pelos serviços de limpeza pública. No
entanto, uma parte significativa desses resíduos é encaminhada aos chamados lixões, forma de
destinação final inadequada, se constituindo então como grandes depósitos a céu aberto sem as
devidas instalações necessárias para garantir a diminuição dos impactos ambientais ao solo a água e
ao ar, representando riscos a saúde pública e a sanidade de grandes áreas com reflexos econômicos,
sociais e ambientais. (ABRELPE, 2012).
Segundo Silva Filho e Queiroz (2009), cerca de 60 a 80% dos RSU poderiam ser
reutilizados e ou reinseridos nos processos produtivos, como matérias primas ou insumos para
novos produtos em diversos setores da economia, como no setor agrícola, energético, metalúrgico,
petroquímico etc. Estas atividades de reutilização representam significativo aumento na eficiência
da utilização dos recursos naturais no planeta, minimizando áreas de destinação inadequada dos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 773


resíduos sólidos urbanos, bem como o aumento de emprego e renda para uma grande quantidade de
pessoas com benefícios ambientais, econômicos e sociais.
A fim de viabilizar, operacionalizar e facilitar os processos de produção, coleta,
armazenamento, transporte e destinação final de resíduos sólidos, no ano de 2010 entrou em vigor
no Brasil à lei 12.305, instituída pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que traz em suas
principais linhas, conceitos como a logística reversa, os acordos setoriais, a coletas seletivas, a
inclusão social de catadores, a proibição dos lixões bem como a responsabilidades compartilhadas
para toda a cadeia de produção dos resíduos sólidos e estabelecendo assim a obrigatoriedade da
implementação do chamado PGRS (Programa de gerenciamento de resíduos sólidos) para todos os
estabelecimentos públicos e privados no país, reconhecendo a importância da separação,
reutilização, tratamento, redução e reciclagem diferenciados para os constituintes dos resíduos
sólidos urbanos brasileiros.
Porém, problemas na modificação de hábitos seculares, atrasos tecnológicos e uma
infraestrutura deficitária dificultam a efetivação e a consolidação de uma nova relação entre o
homem e a gestão dos resíduos sólidos, tornando o ambiente escolar um espaço fértil e um local
estratégico de extrema relevância para a construção de um novo cenário da gestão dos resíduos
sólidos urbanos no Brasil (MONTEIRO, 2001 e LOPES, 2002).
O município de Quixadá com coordenadas (4º 58' 17" S e 39º 00' 55" W ) abrange uma área
total de 2.019,82 km², está localizada no Sertão Central Cearense, e tem se destacado como um
importante polo educacional regional, atendendo estudantes desde a Educação Básica até a pós
graduação. Por conta disso, as atividades educacionais ocorridas no município reverberam em toda
a região do sertão central cearense, sendo uma importante forma de entrada para a cultura dos
PGRS‘s por toda a região central do estado do Ceará (IPECE, 2013).
Segundo Monteiro (2001) a escola se constitui como um instrumento de conscientização de
grande importância na formação de indivíduos capazes de entender e ser corresponsável pelo meio
ambiente no qual estão inseridos. É fundamental que a escola possa oferecer a seus educandos
ferramentas que possibilitem colocar em prática os conhecimentos multidisciplinares sobre a gestão
ambiental por meio da destinação correta de seus resíduos, servindo como base e exemplo a ser
seguido para toda a sociedade na qual o ambiente escolar exerce influencia. Dessa forma, o presente
trabalho objetiva realizar um estudo sobre os principais entraves que tem impossibilitado a
implantação e operacionalização do PGRS em sete escolas públicas do município de Quixadá.

METODOLOGIA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 774


A presente pesquisa foi realizada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará, campus-Quixadá como parte de uma atividade da prática profissional dos alunos do curso
técnico em Meio Ambiente do PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego) e do curso de bacharelado em Engenharia Ambiental e Sanitária. Para o estudo, foi
realizado um questionário no período de 14 de Novembro de 2013 a 19 de Fevereiro de 2014, onde
se buscava perceber aspectos relevantes sobre às dificultam relativas as implantações de um plano
de gerenciamento de resíduos sólidos (PGRS) nas escolas públicas de Quixadá parceiras do IFCE.
O questionário foi aplicado com um grupo amostral de aproximadamente 200 alunos e 50
funcionários das 7 escolas parceiras do programa com as seguintes perguntas:

1) Sua escola possui políticas, programas ou espaços que enfocam ou reforcem


especificamente as questões ambientais?
A) Sim B) Não C) Não Sei
2) Em sua escola, existem treinamentos e capacitações a fim de formar e informar a
professores, alunos e funcionários sobre as questões ambientais como o PGRS?
A) Sim muitas vezes; b) sim, algumas vezes B) raramente C) Não nunca
3) Você se sente motivado pelo ambiente escolar a adotar hábitos sustentáveis como a
participação no PGRS e na coleta seletiva?
A) Sim; B) Ás vezes; C) Raramente; D)Não.
4) Em sua opinião o que falta para efetiva implantação do PGRS?

Tabela 01: Quadro das questões utilizadas para elaborar o trabalho científico.

RESULTADO E DISCUSSÕES

Segundo os dados a partir da aplicação dos questionários nas Escolas parceiras do programa
obtivemos os seguintes resultados:

Sua escola possui políticas, programas ou espaços que enfocam especificamente as questões
ambientais?

Analisando o gráfico 1, observamos que aproximadamente 82% dos entrevistados


responderam que não existe ou desconhecem políticas, programas ou espaços no ambiente escolar
que enfocassem especificamente as questões ambientais o que revela um quadro preocupante no
que diz respeito a relevância do tema nestes ambientes e um fator limitante para a implantação
imediata do PGRS nos locais estudados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 775


50%
40%
30%
20%
10%
0%
SIM NÃO NÃO SEI

Gráfico 01- Conhecimento de Políticas e Programas ambientais nas escolas


Fonte: Autor (2014).

Em sua escola existem treinamentos e capacitações a fim de formar e informar a


professores, alunos e funcionários sobre as questões ambientais como o PGRS?

Ao analisarmos o gráfico 02 percebemos que existem treinamentos e capacitações


específicas para professores a alunos, porém com um nível de periodicidade bastante espaçado,
dificultando a consolidação de práticas ambientais nestes ambientes, indicando o reflexo da
ausência de políticas escolares voltadas para o trabalho das questões ambientais. Trazendo como
ponto de destaque para o êxito na implantação do PRGS nos espaços escolares das escolas
estudadas um procedimento de capacitações e seminários de forma periódica.

Treinamentos e Capacitações
4%
8% SIM,MUITAS VEZES
12%
SIM, ALGUMAS
VEZES
RARAMENTE
76%
NÃO NUNCA

Gráfico 02- Percentual de treinamentos e capacitações nos ambientes escolares


Fonte: Autor (2014)

Você se sente motivado pelo ambiente escolar a adotar hábitos sustentáveis como a
participação no PGRS e na coleta seletiva?

Ao observarmos o gráfico 03 abaixo, notamos que aproximadamente 82% dos entrevistados,


relatam uma falta de motivação no ambiente escolar, para adoção de hábitos sustentáveis, o que
revela um dado preocupante no que diz respeito à operacionalização do PGRS e traz como

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 776


necessidade a implantação desse programa com ênfase em trabalhos de modificação de hábitos para
motivar e induzir a adoção de práticas sustentáveis.

Motivação a Adoção de Hábitos Sustentáveis

8% 8%
10% SIM
ÁS VEZES
RARAMENTE
NÃO
74%

Gráfico 03 - Motivação a adoção de hábitos sustentáveis


Fonte: Autor (2014)

Em sua opinião o que falta para efetiva implantação de PGRS?

No gráfico 04, demostrado abaixo, foi possível observar a opinião dos alunos e funcionários
sobre a que eles atribuem como os principais entraves para a efetiva implantação do PGRS nas
escolas públicas, trazendo como resultado o empenho dos gestores 27% e a conscientização de
alunos e funcionários com 52%, sendo esses alarmados como os principais desafios a serem
ultrapassados pela equipe para a implantação, acompanhados de treinamentos específicos e recursos
financeiros. Estes resultados contribuem para as medida que possibilitam o direcionamento das
ações para a resolução da problemática sobre a implantação do PGRS, se concentrando basicamente
em esforços de conscientização, tendo a disciplina e atividades de educação ambiental agregados a
um esforço da equipe gestora da escola na operacionalização das atividades ambientais.

Visão de alunos e funcionários sobre os entraves


para a implantação do PGRS
4% 2% Mais Empenho dos Gestores

15% Maior conscientização de


27%
alunos e funcionários
Treinamentos específicos

52% Recursos financeiros

Outros

Gráfico 04: Visão dos alunos e funcionários sobre os entraves para a implantação do PRGS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 777


Fonte: Autor (2014)

Foi possível perceber ainda a ausência ou o desconhecimento por parte de alunos e


funcionários, da falta de políticas públicas municipais de incentivos a essas práticas sustentáveis nas
escolas municipais. A ausência desse diálogo entre escolas e poder público, traz como
consequências a falta de efetivação dessas ações no âmbito escolar, bem como a falta de estímulos
para treinamentos e capacitações no que tange a questões ambientes, como o PGRS (GHIANI et,
all).
De acordo com estudos similares realizadas no mesmo município, dessa vez voltado para
estudantes do ensino superior. Percebeu-se que o grau desconhecimentos sobre a problemática dos
resíduos sólidos é alarmante, chegando a um percentual de 74% dos estudantes entrevistados
relataram desconhecer sobre o assunto. Tornando sim necessário o incentivo de políticas
institucionais capazes de abordar a importância do assunto para os discentes, a fim de esclarecerem
e principalmente criarem opiniões formadas, modificando e fomentando a atitudes que possam nos
trazer como consequência uma população conscientemente e ambientalmente mais ativa. (CUNHA;
BARROS; CAVALCANTE, 2013).
Fato semelhante ocorreu nas escolas estudadas durante o aplicar do referido questionário,
onde se observou dúvidas e deficiências sobre o domínio e a propriedade dos entrevistados por
parte das definições, causas e consequências da falta de um gerenciamento correto dos resíduos,
bem como seus principais entraves e dimensões de impactos ambientais. Tornando necessário o
emprego de políticas e discussões institucionais voltadas para a gestão ambiental dessas escolas.
A ausência ou o desconhecimento dessas políticas e programas ambientais, ainda se refletem
na percepção e na desmotivação de alunos e funcionários na adoção e firmação de hábitos
sustentáveis. Estas variáveis são apontadas pela população estudada, como um dos principais
motivos para a não realização de programas como esse em escolas públicas. (GHIANI et, all).

CONCLUSÃO

Através desta pesquisa foi possível obter dados qualitativos significativos sobre os principais
entraves na implantação do programa de gerenciamento de resíduos sólidos nas sete escolas
monitoradas no município de Quixadá, Ceará. Entraves esses resumidos como a falta de uma
postura cultural sobre as temáticas ambientais, como a discussão e a habituação desses assuntos nas
disciplinas básicas como também no planejamento escolar, destacamos também a falta de empenho
dos gestores seguido de despreparo técnico no que tange à temática abordada, mostrando a
necessidade da intervenção do poder público ou das universidades para tentar transformar essa
realidade por meio de incentivos ou consultorias.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 778


Desta maneira, os grandes desafios para a implantação e operacionalização do PGRS em
escolas públicas do município de Quixadá se mostram como a ausência de políticas ambientais
escolares modificadoras de hábitos e culturas para as questões ambientais bem como a deficiência
de profissionais técnicos da área, a financeira e estrutural da escola, limitando a mesma de maiores
evoluções no que tange as problemáticas ambientais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos colaboradores pelo apoio, disponibilidade e incentivo na


elaboração do referido trabalho, em especial ao IFCE e as escolas públicas que participaram de
forma direta e indireta para a construção dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012. Disponível em:


<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2012.pdf>. Acessado em: 20 jun. 2014.

CUNHA, J. A. O; BARROS, T.V; CAVALCANTE, R. F. Educação ambiental para produção e


disposição dos resíduos domicíliares no instituto federal de educação, ciência e tecnologia do
Ceará-campus Quixadá. VIII Congresso Norte Nordeste de pesquisa e Inovação; Salvador,
Bahia 2013.

GHIANI. G; MANNI. A; MANNI. E; TORALDO, M. The impact of an efficient collection sites


location on the zoning phase in municipal solid waste management. November 2013. Science
direct, Waste Management. Italy- Maio de 2014.

IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change. Greenhouse Gas Inventory Reporting


Instructions – Guideline for National Greenhouse Gas Inventories. United Nations for
Environmental Program, The Organization for Economic Cooperation and Development and The
International Energy Agency. London, UK, 2001.

IPECE. Perfil Básico do Município – Quixadá, 2012. Disponível em:


<http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2012/Quixada.pdf>. Acesso em: 20
jun. 2014.

LOPES, I. V. O. Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL): guia de orientação. Rio de Janeiro:


Fundação Getúlio Vargas, 2002.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 779


MONTEIRO, José Henrique Penido et al. Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos
Sólidos. 15. ed. Rio de Janeiro: Ibam, 2001. 200 p. Coordenações técnica Victor Zular Zveibil.
Disponível em:<http://www.resol.com.br/cartilha4/manual.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2014.

PECORA, V; VELAZQUEZ, S. M. S. G; COELHO, S. T. Aproveitamento do biogás proveniente


de aterro sanitário para geração de energia elétrica em São Paulo - Estudo de Caso;In: VII
CBPE Congresso Brasileiro de Planejamento Energético; São Paulo, 2010.

SILVA FILHO, L. A; QUEIROZ, S. N. A trajetória da Indústria e do Emprego formal no


Ceará.1996/2006. In Anais do XI Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. ABET, Campinas
– SP, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 780


CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO E DE UM
EFLUENTE GERADO DE UMA INDÚSTRIA TÊXTIL

Saulo de Tarso da SILVA


Graduado do curso de Química Industrial da - UEPB
tarsosaulo22@gmail.com

Karen Alves XAVIER


Graduanda em Licenciatura em Química - UEPB
karenalvesx@hotmail.com

Joycyely Marytza de Araujo SOUZA


Mestranda em Engenharia Ambiental - UFRPE
jmarytza@yahoo.com.br

Gildevanio Nunes da SILVA


Graduando em Agroecologia – UEPB
gildevanio_uepb@hotamil.com

RESUMO
Com a globalização do mercado, muitas empresas procuraram se modernizar objetivando tornarem-
se mais competitivas, com o crescimento industrial os recursos naturais apresentam-se mais
escassos levando ao desenvolvimento de leis ambientais cada vez mais rígidas. Os custos
envolvidos com o uso dos recursos naturais têm levado as indústrias a buscarem alternativas a curto
e médio prazo para minimizarem estes custos, procurando reduzir os seus impactos ambientais. A
indústria têxtil caracteriza-se pela diversidade de processos utilizados e geração de altos volumes de
efluentes com alta carga poluidora. Neste contexto, o principal objetivo deste trabalho é a
caracterização da água de alimentação e do efluente gerado das etapas de preparação e tingimento,
visando aumentar a eficiência no uso de insumos, água e energia, através da minimização ou
reciclagem de efluentes gerados no processo produtivo da indústria têxtil. Foram determinados os
parâmetros: temperatura, pH, cloretos, dureza total, alcalinidade total, sólidos totais e matéria
orgânica determinada pela demanda química e bioquímica de oxigênio. Com base nos resultados
destas análises podemos pontuar há necessidade de tratamento da água de alimentação e do efluente
gerado, de uma indústria têxtil de pequeno porte da Cidade de Itaporanga-PB.
Palavras-chave: Globalização, impactos ambientais, água de alimentação, efluente e parâmetros.

ABSTRACT
With the globalization of the market, many companies sought to modernize aiming to become more
competitive, with industrial growth natural resources have become more scarce leading to the
development of environmental laws increasingly strict. The costs involved with the use of natural
resources have led industries to seek alternatives in the short and medium term to minimize these
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 781
costs, seeking to reduce their environmental impacts. The textile industry is characterized by the
diversity of processes used and generation of high volumes of wastewater with high pollutant load.
The main objective of this work is the characterization of the water supply and effluent of the stages
of preparation and dyeing, to increase efficiency in the use of raw materials, water and energy, by
minimizing or recycling of wastewater generated in the production process of textile industry.
Parameters were: temperature, pH, chlorides, total hardness, total alkalinity, total solids and organic
matter determined by chemical demand and biochemical oxygen. Where it was possible to observe
the need for water treatment and supply of effluent from a textile industry of small-Itaporanga PB.
Keywords: Globalization, environmental impacts, water supply, wastewater and parameters.

INTRODUÇÃO

Embora no Brasil possua 8% das reservas de água doce do planeta, 70% desta reserva
hídrica se concentram na Amazônia (PERES & ABRAÃO, 1998). A região Nordeste,
especialmente, tem sofrido por muitos anos pela falta de água.
Para produzir 1 tonelada de produto têxtil se consome de 200 a 270 toneladas de água. O
efluente gerado traz consigo uma alta carga poluidora, uma vez que cerca de 90% dos produtos
químicos utilizados no beneficiamento têxtil são eliminados após cumprirem seus objetivos (SILVA
FILHO, 1994). O programa de racionalização do uso da água e a reutilização de efluentes implica
em menor necessidade de captação dos mananciais, constituído-se, portanto, em uma estratégia
eficaz para a conservação dos recursos hídricos em seus aspectos qualitativos e quantitativos. Dessa
forma, procura-se aumentar a disponibilidade hídrica das regiões onde a água é escassa,
contribuindo para equacionar a disputa pelo uso deste recurso (JUNIOR, 2006).
As águas, para o preparo de soluções de lavagens de tecidos e de fibras, e soluções de
branqueamentos, devem ser abrandadas, e a preferência deve recair sobre as que apresentem dureza
zero (SANTOS FILHO, 1976). A água na indústria têxtil já está sendo avaliada como um
componente a mais nas planilhas de custos das empresas e não somente como um veículo no
processo de tingimento de custo irrisório; observa-se que as indústrias vêm buscando e investindo
em métodos que busque reutilizar a água dos processos indústrias de forma diretamente ou
indiretamente, procurando utilizar o mínimo de tratamento possível, a fim de viabilizar o reuso sem
afetar a qualidade do produto final ou aumentar excessivamente o custo do processo
(TWARDOKUS, 2004). Na indústria têxtil utiliza grandes quantidades de água em seu
processamento, e nas etapas finais de operações de beneficiamento do tecido. O consumo de água
depende do tipo de equipamento, da fibra processada e do procedimento utilizado. No processo
têxtil são geradas grandes quantidades de despejos altamente poluidores, contendo uma diversidade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 782


de matéria orgânica, com cor acentuada e compostos químicos tóxicos tanto ao homem quanto ao
meio ambiente. Os despejos gerados pela indústria têxtil variam à medida que os processos
tecnológicos vão evoluindo, e com a demanda do consumo de vários tipos de tecidos e cores.
Este estudo está baseado na caracterização do afluente e efluente de uma indústria de
pequeno porte, sediada na cidade de Itaporanga-PB, no período de 2013 a 2014. Composta de
malharia, tinturaria e confecção, que processa algodão, com produção mensal de 10 toneladas de
fio. A caracterização envolveu aspectos físico-químicos como temperatura, pH, alcalinidade,
cloretos, dureza total, sólidos totais.
O objetivo deste trabalho é a caracterização da água de alimentação e do efluente gerado das
etapas de preparação e tingimento, visando aumentar a eficiência no uso de insumos, água e
energia, através da minimização ou reciclagem de efluentes gerados no processo produtivo da
indústria têxtil.

METODOLOGIA

Esta pesquisa fez análise de caracterização da água de alimentação analise indústria têxtil
localizada no municipio de Itapornga – PB. No desenvolvimento deste trabalho foi necessária a
realização de um grande número de ensaios experimentais para a caracterização dos
afluentes/efluentes das etapas do processo produtivo da Indústria Têxtil. Análises quantitativas
foram realizadas para caracterizar tanto os parâmetros de qualidade na emissão final, como a
verificação dos parâmetros de tolerância da qualidade da água que alimenta o processo produtivo.
As amostras provem da água de alimentação e do efluente gerado da indústria, composta de
malharia e tinturaria que processa algodão. Neste estudo foram realizadas 5 coletas da água de
alimentação e do efluente. Todas as determinações foram feitas em triplicatas.
O presente trabalho foi dividido em duas etapas conforme o fluxograma da Figura 1, que
representa a estrutura metodológica, onde são mostrados os passos e a sequência utilizada para o
desenvolvimento deste estudo.

Caracterização dos parâmetros físico-químicas, da água que entra no processo.

Caracterização dos parâmetros físico-química do efluente gerado, pós-tratamento.

Figura 1 – Passos utilizados para o desenvolvimento das atividades

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 783


Coletas das amostras

A caracterização dos efluentes líquidos é composta por duas etapas. A primeira etapa
compreende o levantamento de dados, realizado através de coleta de dados em históricos de
produção, manuais de equipamentos e produtos químicos, entrevistas informais e observações no
processo. A segunda etapa corresponde aos resultados obtidos nas análises realizadas nas amostras
dos afluentes e dos efluentes.

Amostragem

O número de amostras coletadas antes e depois das operações de purga, pré alvejamento e
tingimento. Foi coletado o volume de 1,5 litros, em cada ponto de coleta. Todas as coletas foram
realizadas nas tubulações de descarga de efluentes e antes da água entra no processo.
Para armazenar as amostras, utilizaram-se recipientes de vidro limpos com solução
sulfocrômica, para eliminar quaisquer resíduos presentes no recipiente, que causariam alteração nos
resultados. O armazenamento das amostras foi feito de acordo com o Manual Prático de Análise de
Água da FUNASA, sob refrigeração a 4°C.

Procedimentos Experimentais

Cada amostra foi caracterizada de acordo com as seguintes análises:


 Sólidos Totais (ST)
Utilizou-se o Método Gravimétrico, que consiste no material que permanece na cápsula após
evaporação parcial da amostra e posterior secagem em estufa à temperatura escolhida, até massa
constante.
 pH
Foi determinado pelo método instrumental no qual se fez o uso de um pHmetro modelo
HANNA HI 221, o qual é previamente calibrado com soluções padrões de 4, 7 e 9, com finalidade
de determina se o pH da solução está acido, neutro e básico respectivamente.
 Temperatura
Essa medida foi realizada nos dias de coleta de dados, utilizou-se um termômetro de
mercúrio com escala de 0 a 100°C.
 Alcalinidade
Para se determinar a alcalinidade utilizou-se o método de volumetria de neutralização.
 Dureza Total
A determinação da dureza total foi realizada pelo método de volumetria de complexação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 784


 Cloretos
Na determinação de cloretos usou-se o método de Mohr.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Freitas (2002) a qualidade da água utilizada no processo têxtil possui limites de
tolerância e restrições que variam conforme o autor. A exigência rigorosa de qualidade não precisa
ser a mesma para todos os processos. Na Tabela 1, são apresentados os limites de tolerância que
caracterizam sua qualidade para utilização no processo têxtil.

Qualidade ou Substância Tolerância (mg/l) Qualidade ou Substância Tolerância(mg/l)

Sólidos suspensos <5 Sulfito <1


Cor < 5 (unidade PtCo) Cloreto <250
PH 7–9 Fosfato Sem limite
Acidez/Alcalinidade <100 como CaCO3 Oxigênio dissolvido Sem limite
Dureza < 70 como CaCO3 Dióxido de carbono < 50
Ferro < 0,3* Nitrito < 0,5
Manganês < 0,05 Cloro < 0,1
Cobre < 0,01 Amônia < 0,5
Chumbo e metais pesados < 0,01 Óleos, graxas, gorduras, 1,0
Alumínio < 0,25 Agentes sabões
de clareamento < 0,2
Fluorescente
Sílica < 10 Sólidos totais < 500

Tabela 1 - Limites de tolerância da qualidade da água para utilização nos processos têxteis

Caracterização da Água de Alimentação

A caracterização da água de alimentação na indústria foi realizada antes que ela entrasse no
processo de beneficiamento. Com o objetivo de estabelecer padrões de qualidade da água, conforme
apresentado na Tabela 2.

Parâmetro analisado Total


Sólidos Totais 3,79 mg/L
pH 7,45
Temperatura 31ºC
Alcalinidade (HCO3-1) 352 mg/L de CaCO3
DQO Não realizada
DBO Não realizada
Dureza Total 186,5 mg/L de CaCO3
Cloretos 184,6 mg/L de Cl-
Tabela 2. Apresenta o resultado das análises realizadas nessa etapa do processo.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 785
Esses resultados mostram que alguns parâmetros estão fora dos padrões citados por
FREITAS (2002), Tabela 1. Esta etapa é muito importante, pois ao determina esses parâmetros
podemos realizar o processo de acabamento com mais eficiência e diminuição de gastos com
produtos químicos, utilizados no alvejamento.
As determinações dos níveis de concentração das diversas frações de sólidos resultam em
um quadro geral da distribuição das partículas com relação ao tamanho (sólidos em suspensão e
dissolvidos) e com relação à natureza (fixos ou minerais e voláteis ou orgânicos). Com relação ao
abastecimento público de água, a portaria n° 36 do Ministério da Saúde estabelece como padrão de
potabilidade 1.000 mg/L de sólidos totais dissolvidos. Assim, quanto aos sólidos totais encontra-se
no padrão de potabilidade.
A influência do pH são diretos quando nos referimos a ecossistemas aquáticos e indiretos
quando a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais pesados. Outras condições
podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. Desta forma, as restrições de faixas de
pH entre 6-9. O que é o caso da água analisada, e são estabelecidas para as diversas classes de águas
naturais, tanto de acordo com a legislação federal (Resolução n° 20 do CONAMA).
A temperatura é muito importante em diversos estudos relacionados ao monitoramento da
qualidade de águas. Com o aumento da temperatura podemos prever algumas alterações como:
aumento da velocidade das reações, em particular as de natureza bioquímica de decomposição de
compostos orgânicos, diminuição da solubilidade de gases dissolvidos na água, em particular o
oxigênio, base para a decomposição aeróbia. Portanto água que entra no processo encontra-se na
sua normalidade.
A alcalinidade das águas associa-se à dureza, sendo responsável pela precipitação de
carbonatos principalmente em sistemas de águas quentes, provocando a formação de incrustações.
Com forme a tabela 1, esses dois parâmetros encontra-se fora dos padrões há serem utilizados na
indústria têxtil, sendo assim, a necessidade de um tratamento prévio antes de entra no processo.
Os cloretos provocam a corrosão em estruturas hidráulicas, como sabemos os processos
têxteis são utilizados maquinários que são de fácil corrosão e também influencia nas características
dos ecossistemas aquáticos, por provocar alterações na pressão osmótica em células de
microrganismos. Nessa etapa foi constada uma quantidade que se encontra dentro dos padrões de
potabilidade.

Caracterizações do Efluente

Visando obedecer às normas vigentes para lançamentos de efluentes industriais, realizou-se


um estudo de alguns parâmetros, de acordo com a Tabela 3.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 786


Parâmetros analisados Total
Sólidos Totais 393,1 mg/L
pH 8,59
Temperatura 45ºC
Alcalinidade em (CO3-2 e HCO3-1) 92 e 997,2 mg/L de CaCO3
DQO 395,4 mg/L
DBO 106,2 mg/L O2
Dureza Total 186,5 mg/L de CaCO3
Cloretos 913,77 mg/L de Cl-

Tabela 3. Parâmetros analisados e seus resultados

É possível observar que quase todos os parâmetros estão fora dos limites estabelecidos na
legislação, exceto o pH e sólidos totais. Com destaque para os cloretos, temperatura, DQO e DBO
que se encontra com valores bastantes elevados.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou a resolução n° 430, de 13 de maio de
2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes. Que determina que o pH
esteja entre 5 a 9 e temperatura inferior a 40 °C, sendo que a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na caracterização da água de alimentação, chamou-se atenção os altos níveis da dureza e


alcalinidade. Evidenciando, assim, um problema para indústria, pois esta água é utilizada em todos
os processos, inclusive em caldeiras. O que pode acarreta em um possível acidente devido à
formação de incrustações nas tubulações e equipamentos. Recomenda-se um tratamento prévio,
para correção desses dois parâmetros.
No aspecto ambiental a caracterização do efluente têxtil permitiu conhecer melhor sua carga
contaminante. As análises apresentaram um efluente com as seguintes características: Elevada
alcalinidade, altas temperaturas de despejo, grandes quantidades de cloretos e altos teores de DQO e
DBO.
De acordo com estas características, podemos dizer que as concentrações dos parâmetros
analisados, não encontram-se dentro dos limites estabelecidos pela legislação atual vigente
(CONAMA, 2011).
De modo geral, entre os parâmetros analisados, podemos verificar que a redução, ou mesmo
a eliminação da carga contaminante poderia ser facilmente obtida através da aplicação de práticas
simples de produção limpa.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 787
REFERÊNCIAS

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, Resolução N° 430, de 13 de


Maio de 2011.

FREITAS, K. R. Caracterização e Reuso de Efluentes do Processo de Beneficiamento da Indústria


Têxtil. 2002. 151f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Instituto de Química,
Universidade Federal de Santa Catarina.

JUNIOR, R. M. Reuso de água em industria metalúrgica rolamenteira – estudo de caso da SKF do


Brasil. 2006. Dissertação (Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária) Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

PERES, C. S.; ABRAHÃO, A. J. Características e Sistemas de Tratamento de Águas Residuais das


Indústrias Têxteis – Uma Primeira Abordagem. Química Têxtil, p. 22 – 39, 1998.

SANTOS FILHO, D. F. Tecnologia de Tratamento de água : água para indústria. Rio de Janeiro:
Almeida Neves, 1976.

SILVA FILHO, M. N. Produtos Químicos Utilizados na Indústria Têxtil e a questão ecológica.


Química Têxtil, São Paulo: ABQCT, (36), 11-16, 1994.

SILVA, S. A.; OLIVEIRA, R. Manual de Análise Físico-Químicas de Águas de Abastecimento e


Residuárias. 1. ed. Rio de Janeiro: Abes, 2006. p. 33-186.

TWARDOKUS, G.R. Reuso de Água no Processo de Tingimento da Indústria Têxtil. 135f.


Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química do
Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina, 135f. Florianópolis SC,
Dezembro de 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 788


CATADORES E DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO RIO GRANDE
DO NORTE

Lucas Cortez DANTAS


Graduando do Curso Técnico em Controle Ambiental do IFRN
lucas.cortez.dantas@hotmail.com

Fernanda Monicelli Câmara BRITO


Graduanda do Curso Técnico em Controle Ambiental do IFRN
monicellif@gmail.com

Sarah Emille Gomes da SILVA


Graduanda do Curso Técnico em Controle Ambiental do IFRN
sarah.emille@hotmail.com

Joel Medeiros BEZERRA


Orientador Professor-Pesquisador do IFRN
joel.bezerra@ifrn.edu.br

RESUMO
A deficiência na destinação final e gestão dos resíduos sólidos, além de todos os problemas
ambientais e de saúde, promovem problemas de cunho social, entre eles a inserção de trabalhadores
de forma inadequada nessas áreas, os catadores de lixo. Uma grande parcela desses catadores no
Brasil é formada por jovens menores de idade. Diante desta realidade, o presente artigo tem por
objetivo analisar a relação entre a quantidade de catadores e a destinação final dos resíduos, no
estado do Rio Grande do Norte. Para a realização da pesquisa foram utilizadas ferramentas de
geotecnologia com a elaboração de mapas, além da análise de correlação linear, os dados analisados
contemplam as variáveis agrupadas por município, sendo a destinação final, quantidade de
catadores e quantidade de catadores menores de 14 anos. Os principais resultados obtidos
demonstram que apenas cinco municípios do estado obedecem a lei quanto a destinação final dos
seus resíduos, além disto, é perceptível a relação direta existente entre a quantidade de habitantes e
a quantidade de catadores nos municípios mais desenvolvidos economicamente do estado.
Palavras - Chave: gerenciamento, geoprocessamento, controle ambiental

ABSTRACT
The wrong disposal and final management of solid waste, plus all the environmental and health
problems, also results in problems of a social nature, among them the inclusion of workers
inappropriately in these areas, the garbage pickers. A large portion of these pickers in Brazil is
formed by underage youths. Given this reality the present article aims to analyze the relationship
between the garbage pickers and the disposal of these wastes, in the state of Rio Grande do Norte,
For the research were used geotechnology with the preparation of maps beyond the linear
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 789
correlation analysis, the data analyzed include the variables grouped by municipalities, being the
final destination, number of pickers and number of underage collectors of 14 years . The main
results show that only five variables in the state obey the law in relation to the final destination of
their waste, beyond this, it is noticeable the correlation between the amount of the population and
the number of collectors on the most economically developed cities in the state.
Keywords: management, geoprocessing, enviromental control.

INTRODUÇÃO

A legislação brasileira define resíduos sólidos como: material, substância, objeto ou bem
descartado resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso, soluções técnicas ou economicamente
inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).
Existem diversas formas utilizadas para a destinação final de resíduos, entre elas, as mais
tradicionais no Brasil, são os lixões a céu aberto, os aterros controlados e os aterros sanitários.
Os lixões são depósitos de lixo a céu aberto, compreendendo uma área de disposição final de
resíduos sólidos de forma inadequada. Nesses locais, não existem nenhum controle quanto aos tipos
de resíduos depositados e quanto ao local de disposição. Resíduos de baixo potencial poluidor,
como os domiciliares e comerciais são depositados juntamente com os industriais e hospitalares,
resíduos com alto grau de poluição. Outro agravante é a presença constante de animais, nos lixões,
aumentando os índices de contaminações nesses locais.
Já os aterros controlados, são locais de disposição final de resíduos intermediários entre os
lixões e os aterros sanitários. Normalmente, eles são uma célula próxima ao lixão, que foi
remediada, ou seja, que recebeu cobertura de grama e argila. Esses sistemas diminuem os impactos
visuais e olfativos, além de evitar a proliferação de insetos e animais. Porém, não há
impermeabilização do solo nem sistema de tratamento do chorume, tornando também esses tipos de
aterros, em grandes potenciais poluidores (BROOKFIELD, 2012).
Enquanto, os aterros sanitários são equipamentos projetados para receber e tratar o lixo
produzido pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de engenharia, para reduzir ao
máximo os impactos causados ao meio ambiente. Atualmente é uma das técnicas mais seguras e de
mais baixo custo (CONDER, 2010).
Entre suas principais vantagens estão: implantações de drenagens eficazes, evitando
possíveis contaminações da água, do ar e do solo; vida útil superior a 10 anos; controle operacional,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 790


evitando gastos posteriores com meio ambiente; etapas acompanhadas por técnicos capacitados,
autossuficiências, como destinação final; baixos custos, além de não apresentar resíduos no final do
seu processo.
No Brasil a destinação de resíduos em lixões a céu aberto é uma prática antiga e comum na
grande maioria das cidades brasileiras. Além dos problemas já citados, existe um de âmbito social:
são milhares os brasileiros que trabalham nos lixões a céu aberto como catadores, sem o mínimo de
dignidade e reconhecimento, estando expostos a diversas formas de contaminações e acidentes.
De acordo com levantamento realizado no ano de 2013, pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), no Brasil, cerca de 400 mil pessoas trabalham como catadores de
resíduos sólidos. Se forem acrescentados todos os membros das famílias, esse número chega a 1,4
milhão de brasileiros que sobrevivem da catação de resíduos. A maioria dos catadores são jovens do
sexo masculino, autodeclarados negros ou pardos, com baixa escolaridade.
Com o intuito de resolver esses problemas, o Congresso Nacional aprovou, em agosto de
2010, uma lei instituindo uma política nacional para os resíduos; e o Ministério do Meio Ambiente,
determinou que os municípios teriam até agosto de 2014 para criar aterros sanitários e iniciar a
coleta seletiva. Mas, até outubro de 2013, apenas 10% dos municípios brasileiros tomaram
providências para a desativação dos lixões (IPEA, 2013).
Seguindo os dados nacionais, o estado do Rio Grande do Norte sofreu poucas alterações
após a instituição da política nacional para o gerenciamento dos resíduos sólidos. A grande maioria
de seus municípios continua a destinar os resíduos em lixões e contribuindo para a degradação
ambiental e social. Outro fator agravante é a quantidade de catadores que trabalham nesses locais
sem segurança, e muitos são crianças e adolescentes que, por diversos motivos, retiram seus
sustentos desses locais (LUCENA, 2014).
O crescimento das cidades tem sido uma constante, e acaba exigindo que os gestores cada
vez mais ampliem seus conhecimentos com um maior número de informações possíveis para
facilitar a gestão do território. Neste sentido, é importante o uso de técnicas que permitam uma
melhor visualização do território, tendo em vista que esta ferramenta auxilia os gestores nas
tomadas de decisões (MEDEIROS et al., 2012).
A possibilidade que se tem a partir da utilização do Sistema de Informação Geográfica
(SIG), em análises que contemplem aspectos de distribuição espacial da geração do lixo e
informações sobre a situação socioeconômica, densidade populacional e outras, abre a perspectiva
para a utilização desta ferramenta na definição e administração do gerenciamento desses resíduos,
além de auxiliar a tomada de decisões sobre os problemas ambientais e socioeconômicos dos
municípios (OLIVEIRA FILHO et al., 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 791


Esse artigo tem como objetivo analisar a relação existente entre a quantidade de catadores e
a destinação final dos resíduos produzidos nos municípios do estado do Rio Grande do Norte,
utilizando de ferramentas de geoprocessamento.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estado do Rio Grande do Norte (RN) é um dos 27 estados brasileiros, localizado na região
Nordeste, que faz fronteira com estados do Ceará, a oeste, Paraíba, a sul, e com o Oceano Atlântico
a norte e a leste (Figura 1).

Figura 1 – Localização geográfica do Estado do Rio Grande do Norte (Brasil).

Constituído por 167 municípios, que ao total possuem 52.811,047 km² de extensão, e se
dividem em quatro mesorregiões: Oeste Potiguar, Central Potiguar, Agreste Potiguar e Leste
Potiguar. Juntos possuem ao todo uma população de 3.168.027 habitantes (IBGE, 2010), o RN
possui, portanto, uma densidade demográfica de 59,99 hab/km².
Segundo a Secretaria do Estado de Planejamento e Finanças (SEPLAN), o Estado do RN
possui uma economia baseada em diferentes setores. Geralmente cada região tem seu eixo
econômico fundamentado a partir dos recursos naturais abundantes na mesma, tendo em vista que o
RN ainda depende da exploração desses recursos. O Produto Interno Bruto do Estado do ano de
2010 mostrou que 74,3% das atividades são de serviços, com a forte presença do comércio; 21,5%
são da indústria, em sua maioria presentes na Região Metropolitana, com destaque para as
atividades de construção civil e de transformação; e 4,2% do setor agropecuário, que se referem à
agricultura, pecuária, pesca e aquicultura.
Outras duas importantes atividades econômicas do Rio Grande do Norte são a exploração
dos recursos minerais, principalmente o petróleo, gás natural e sal marinho, e o turismo, devido aos
grandes atrativos naturais das cidades litorâneas, e outros segmentos também como turismo cultural,
de aventura, religioso e ecoturismo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 792


Coleta de dados

Todos os dados a serem analisados e discutidos neste trabalho foram retirados do banco de
dados do Sistema de Recuperação Automática do IBGE (SIDRA), atrelados a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (PNSB), e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS),
referentes aos anos de 2008 e 2011, respectivamente, pois relatam os dados públicos mais recentes
acessíveis. Vale ressaltar que foram utilizados apenas os dados comuns as duas plataformas de
banco de dados, totalizando 78 municípios.
Foram manuseados o banco de dados contemplando as variáveis agrupadas por município:
destinação final, quantidade de catadores de lixo na zona urbana, quantidade de catadores de lixo na
zona urbana-até 14 anos e população do município. Importante ressalvar que podem haver mais
catadores, pois foram constatados apenas os da zona urbana.

Construção de Mapas

Após o levantamento, das variáveis resultantes de dados censitários foram construídos os


mapas temáticos, utilizando da técnica de união (join) de tabelas externas a banco de dados, por
meio do SIG ArcGis 10.2 (ESRI, 2012), que consiste na utilização de um banco de dados
previamente preparado em tabela do Excel com uma coluna a servir de link, com a adição da
mesma ao shape consolidado (resíduo). Possibilitando a visualização da distribuição espacial dos
dados dos municípios e análise das variáveis escolhidas em mapas.
Os dados do tipo cadastral trabalhados e apresentados estão agrupados no nível de município
e todas as informações mostradas nas tabelas e mapas temáticos compõem-se do agrupamento de
vários setores censitários.

Análise Estatística

Foi efetuada a análise de correlação linear, a fim de verificar a ocorrência da dependência


dos valores de população por município com as variáveis independentes do banco de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos aportes teóricos e da pesquisa de dados secundários, os resultados deste trabalho
apontam um cenário em que foi percebível que apenas cinco municípios do RN obedecem à
legislação brasileira, Lei 12.305/2010, no tocante a destinação final para os resíduos sólidos, que
deve ser para os aterros sanitários, os quais são: Natal, Ceará-Mirim, Messias Targino, Mossoró e
Baraúna. Sendo os municípios que possuem aterro em suas sedes Ceará-Mirim e Mossoró.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 793


O Nordeste é a região que tem a maior quantidade de resíduos sem destinação adequada,
encaminhando diariamente 65% do lixo coletado para lixões ou aterros controlados (BARBOSA,
2013). No RN cinco municípios possuem aterros controlados, Tibau do Sul, São José de Mipibu,
Currais Novos, Areia Branca e Frutuoso Gomes, 68 municípios destinam seus resíduos para os
lixões e outros 89 não possuem registro de dados disponíveis junto aos órgãos públicos. Fazendo
com que dos 78 analisados, 73 destinem seus resíduos a lixões e aterros controlados,
aproximadamente 44% do estado, os quais apresentam destinação final inadequada.
Os municípios que destinam seus resíduos à aterros são geralmente aqueles que possuem a
maior população, o que pode ser comprovado pelo valor de correlação 0,53, que, ainda que não seja
alto, deve-se levar em consideração. Uma pessoa produz aproximadamente no RN 0,967 kg/dia
(BARBOSA, 2013), então quanto maior a população, mais resíduo sólido será gerado,
consequentemente mais impacto ambiental gerado e uma maior quantidade de pessoas afetadas por
estes. Portanto, nesses locais se faz necessário um crescente investimento em tecnologias para
gestão de resíduos sólidos, resultando na demanda da implantação de equipamentos de aterro
sanitário.
A continuidade dos lixões e a ausência de registros de diversos municípios evidenciam o
descaso do poder público na área de gerenciamento dos resíduos sólidos, o que pode afetar
diretamente a saúde e segurança da população, segundo Gonçalves et al (2013) são nesses
ambientes que se encontram os catadores.
Porém, tal fato diverge do cenário observado na Figura 2b e na Tabela 1, o número de
catadores e destinação final que apresenta valores de correlação de 0,74, indicando uma
dependência significativa, podendo-se verificar que as cidades que possuem lixões são as mesmas
que possuem a menor quantidade de catadores, enquanto, as cidades que possuem aterros sanitários
e controlados são as que apresentam o maior número de catadores.
O que possibilita compreender que a questão da existência dos catadores vai além da má
disposição final do lixo. Essa categoria surge como uma tentativa de fuga da marginalização que lhe
foi imposta pelo capitalismo, que não só com a coleta de lixo, mas de diversas formas tenta entrar
na sociedade, bem como buscar um meio digno de vida (SILVA et al., [20--]). Outra explicação
pode estar no fato de também existirem catadores nas ruas coletando resíduos das residências e nos
coletores distribuídos pela cidade. Ou seja, mesmo com a cidade destinando seus resíduos para
locais adequados a presença destes trabalhadores ainda existe.
Outra ligação que se pode fazer para a existência destes trabalhadores é a que está presente
no mapa da Figura 2b, podendo-se constatar que no Rio Grande do Norte a relação entre a
população total dos municípios e a quantidade de catadores existentes é diretamente proporcional

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 794


(Tabela 1), com valores de correlação 0,96, o que indica uma alta dependência. Em que os maiores
registros de catadores são encontrados nos municípios de Natal e Mossoró, os mais populosos do
estado e, consequentemente, os que possuem as maiores produções de resíduos sólidos (SIDRA,
2000).
Contudo, a Lei 12.305 proíbe a catação nas áreas de disposição final, divergindo do atual
cenário apresentado do RN, 25 municípios dos 78 escolhidos apresentam catadores, ou seja,
aproximadamente 15% do estado. Sendo estes trabalhadores uma parte da população
desprivilegiada que trabalham de forma insalubre, manipulando resíduos, sem proteção alguma, que
podem conter substâncias perigosas (GONÇALVES, 2013).
Riscos altos para adultos, o que se agrava quando levados para crianças que também
trabalham como catadores. Dos municípios analisados, ocorre a presença de catadores até 14 anos
em apenas três municípios do estado, sendo eles: São José de Mipibu, Lagoa Nova e Areia Branca.
De acordo com a legislação brasileira a Carta Magna utiliza as expressões ―criança‖, ―adolescente‖
no art. 227 e dispõe, no art.7º, XXXIII, a proibição de qualquer trabalho aos menores de 16 anos,
salvo nas condições de aprendiz aos 14 anos. Além de caracterizar um trabalho irregular quanto ao
ministério do trabalho.
É importante destacar que nos lixões brasileiros as crianças e adolescentes além de ficarem
sujeitos a acidentes e doenças, ficam também a mercê de outros graves problemas, tais como abuso
sexual, gravidez precoce e o uso de drogas. Grande parte das crianças em idade escolar nunca foi à
escola. Sendo o lixo sua sala de aula, seu parque de diversões, sua alimentação e sua fonte de renda
(CARNEIRO, 2010).

a)

Figura 2 – Distribuição espacial da destinação final dos resíduos sólidos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 795


Figura 3 – Quantidade de catadores e população

A Tabela 1 apresenta os valores de correlação linear das variáveis em estudo para os dados
dos municípios do Estado do Rio Grande do Norte.

Destinação População Quantidade de


Final Catadores
Destinação
1,00 0,53 0,74
Final
População 1,00 0,96
Quantidade
1,00
de Catadores

Tabela 1 – Matriz de correlação das variáveis em estudo.

Se compararmos os resultados, referentes ao Rio Grande do Norte (RN) obtidos neste


presente artigo, com outros estados adjacentes pode-se observar que no Ceará, em junho de 2013,
das 9.060 toneladas de lixo produzidas por dia, apenas 3.171 destas são enviadas para uma
destinação adequada, ou seja, apenas 35% dos resíduos produzidos são destinados de forma correta.
Além disto, este é o estado que possui a maior proporção de crianças e adolescentes exercendo a
atividade de catadores de lixo do Nordeste (Condor, 2013). Já na Paraíba, das 3.405 toneladas
coletadas apenas 852 tem um destino adequado. Segundo Luna (2013) a Paraíba é o quarto estado
do Nordeste em número de catadores, perdendo apenas para Bahia, Pernambuco e Ceará e o RN
vem logo após. Mesmo assim, podemos observar que o RN se encontra em melhor situação que
muitos estados de sua região (IPEA, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 796


CONCLUSÃO

Mediante a pesquisa bibliográfica e os dados coletados pode-se concluir que aqueles


municípios que destinam seus resíduos, no RN, aos aterros sanitários são aqueles que possuem
maior quantidade de catadores. Ou seja, mesmo com o município destinando seus resíduos aos
locais adequados, a presença destes trabalhadores ainda existe, pois ela está atrelada mais que ao
gerenciamento de resíduos, a existência dos catadores associa-se principalmente a outros fatores,
sendo eles sociais e populacionais.
A ferramenta de geoprocessamento auxiliou neste processo de análise e processamento dos
dados em estudo, por meio dela observou-se e analisou-se com clareza e facilidade os dados
fornecidos no SIDRA e no SNIS, além de conseguir estabelecer relações visíveis entre as variáveis
do estudo.
Pode-se concluir também que a falta de dados é um problema que precisa ser solucionado,
para que se possa fazer uma melhor análise e estudo das variáveis. Precisa-se também de um maior
investimento na área de gerenciamento de resíduos sólidos, já que apenas cinco municípios
destinam seus resíduos adequadamente, o interesse do governo precisa ser crescente.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, V. Quanto lixo os brasileiros geram por dia em cada estado. Disponível em:
<http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/fotonoticias/quanto-lixo-os-brasileiros-
geram-por-dia-em-cada-estado.shtml>. Acesso em: set 2014.

BRASIL. Constituição (2010). Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de


Resíduos Sólidos. Brasília.

CARNEIRO, C. A. M. Exploração do trabalho menor em lixões no Brasil. Disponível em:


<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7779>. Acesso em: set
2014.

CONDE, A. Ceará tem mais de 18 mil catadores de lixo vivendo com renda média de R$ 450, diz
estudo. Disponível em: <http://www.verdinha.com.br/noticias/2462/ceara-tem-mais-de-18-mil-
catadores-de-lixo-vivendo-com-menos-de-r-450/>. Acesso em: set 2014.

CONDER, Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia -. Manual de Operação de


Aterros Sanitários. Bahia: Vera Lúcia Santos Quadros, 2010. Color.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 797


Environmental Systems Research Institute (ESRI). ArcGIS Professional GIS for the desktop, versão
10.2, 2012. disponível em http://www.esri.com/software/arcgis/arcgis-for-desktop. Acesso em:
set 2014.

GONÇALVES, C. V.; Malafaia, G.; Castro, A. L. S.; Veiga, B. G. A. A Vida No Lixo: Um Estudo
De Caso Sobre Os Catadores De Materiais Recicláveis No Município De Ipameri, Go: Ipameri.
HOLOS: P. 238-250, abr. 2013

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio Grande do Norte. Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil. php?sigla=rn>. Acesso em: ago 2014.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Os que sobrevivem do lixo. Disponível


em:<http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2941%
3Acatid%3D28&Itemid=23> Acesso em: ago 2014.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de
Material Reciclável e Reutilizável. Disponível em:
<https://attachment.fbsbx.com/file_download.php?id=578247852304913&eid=ASvd8QXWy7D
J88ks1o34K5hhpsUEkVoHu1sKx9awjjnFnbTWklwpnbbNsAnI34Bi9OE&inline=1&ext=14120
86762&hash=ASunvLxhAOqn4bHk>. Acesso em: set 2014.

ISTITUTO BROOKFIEL. Entenda a diferença entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário.
2012. Disponível em: <http://blog.institutobrookfield.org.br/index.php/2012/08/entenda-a-
diferenca-entre-lixao-aterro-controlado-e-aterro-sanitario/>. Acesso em: set 2014.

LUCENA, R. Lixo do RN ainda sem destino. Disponível em:


<http://tribunadonorte.com.br/noticia/lixo-do-rn-ainda-sem-destino/289083>. Acesso em: set
2014.

LUNA, H. Paraíba tem mais de 10,4 mil catadores de lixo, 7,9% vivem em extrema probreza.
Disponível em:
<http://portalcorreio.uol.com.br/noticias/brasil/estatisticas/2013/08/22/NWS,228290,3,55,NOTI
CIAS,2190-PARAIBA-MIL-CATADORES-LIXO-VIVEM-EXTREMA-POBREZA.aspx>.
Acesso em: set 2014.

MEDEIROS, M. C. S.; SILVA, A. L.; FREITAS, J. P.; DAMASCENO, J. O uso de técnicas de


geoprocessamento e geoestatística como ferramenta para gestão municipal. Revista
Geoambiente On-line, n.18, p.39-62, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 798


Minisério do Meio Ambiente. LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em: set 2014.

OLIVEIRA FILHO, P. C.; PASCOAL JUNIOR, A.;. Análise de rotas de coleta de resíduos sólidos
domiciliares com uso de geoprocessamento. 2010. Universidade Estadual do Centro-oeste, Irati,
2010.

Secretaria de Estado do Planejamento e das Finanças. Perfil do RN. Disponível em:


<http://www.seplan.rn.gov.br/arquivos/download/PERFIL%20DO%20RN.pdf>. Acesso em: set
2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 799


DESODORIZAÇÃO DE EFLUENTE ANAERÓBIO UTILIZANDO MICROAERAÇÃO

Luciana Leôncio Bertino CABRAL


Graduanda/UEPB
lllucianaleoncio@hotmail.com

Jéssyca de Freitas LIMA


Mestranda/UEPB
jessyca-11f@hotmail.com

Dayane de Andrade LIMA


Mestranda/UEPB
dayane_eld@hotmail.com

José Tavares de SOUSA


Professor Orientador/UEPB
tavaresuepb@gmail.com

RESUMO
O processo que ocorre em reatores anaeróbios denominado de sulfetogênese, é um processo
considerado indesejável devido aos vários problemas que ele acarreta com a produção de sulfetos,
causando: odores agressivos, corrosão, toxicidade, e diminuição da concentração de metano no
biogás. A presente pesquisa objetivou avaliar o desempenho de reatores anaeróbios quanto à
concentração de sulfetos presente no efluente, no tratando de águas residuárias. Foram utilizados
dois reatores UASB um com a presença de oxidante (baixa concentração de oxigênio na manta de
lodo) e outro sem modificações para ser comparado. Ao se analisar os resultados é possível
identificar que a adição de oxigênio resultou na oxidação do H2S produzido no reator UASB a SO42-
obtendo uma concentração final no efluente de 33,51±6,69 mgSO42-.L-1 e 1,95±1,34 mgS2-.L-1,
inibindo o mau cheiro e os diversos problemas relacionados com a formação de sulfeto em reatores
anaeróbios. O UASB – Controle, obteve uma concentração de 4,60±2,87 mgS2-.L-1 e 18,82±10,42
mgSO42-.L-1.
Palavras-chave: Sulfato; Sulfeto; UASB.

ABSTRACT
The process that occurs in anaerobic reactors known as sulfetogênese, is a process considered
undesirable due to various problems he carries with the production of sulfides, causing:harsh odors,
corrosion, toxicity, and decreased concentrations of methane in the biogas. The present research
aimed to evaluate the performance of anaerobic reaores as to the concentration of sulfides present in
the effluent, the treated wastewater. Two UASB reactors were used with the presence of oxidants
(low oxygen concentration in sludge blanket) and another without modifications to be compared.
When analyzing the results it is possible to identify that the addition of oxygen resulted in oxidation

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 800


of sulfides in the UASB reactor produced the SO42- getting a final concentration in the effluent of
33.51±6.69 mgSO42-.L-1 and 1.95±1.34 mgS2-.L-1, inhibiting the stench and the various problems
related to the formation of sulfide on anaerobic reactors. The UASB-control, achieved a
concentration of 4.60±2.87 mgS2-.L-1 and 18.82±10.42 mgSO4-2.L-1.
Keywords: Sulfate; Sulfide; UASB.

INTRODUÇÃO

Na natureza o enxofre encontram-se em quatro formas principais: sulfato (SO42-), sulfeto


(H2S, HS-, S2-), enxofre elementar (S0) e compostos orgânicos sulfídricos (R-SH). O enxofre está
sendo constantemente transformado e transportado no meio ambiente, e muitas dessas
transformações podem causar transtornos. As alterações podem envolver reações de oxidação-
redução química ou podem ocorrer espontaneamente ou associadas a processos biológicos, tais
como redução assimilatória e dissimilatória, e dessulfuração. Outro processo biológico que ocorre é
a conversão do enxofre orgânico em inorgânico durante a biodegradação do material orgânico pelas
bactérias redutoras de sulfato (SUBTIL, 2012).
O sulfato é encontrado nas águas residuárias descarregadas por indústrias farmacêuticas,
unidades químicas e também na produção de papel (ZHANG, 2013). Valores entre 40 a 70 mgSO42-
.L-1 foram relatados em alguns trabalhos no tratamento anaeróbio de esgotos sanitários do Brasil e
da Colômbia. No entanto, em outras partes do mundo vários reatores UASB recentemente
construídos, tem encontrado problemas graves devido à presença de níveis muito alto de sulfato no
esgoto, como por exemplo no Egito, onde se encontra concentrações de 100-500 mgSO42-.L-1
(VAN HAANDEL E VAN DER LUBBE, 2012).
Os reatores UASB apresentam-se como uma alternativa bastante atrativa para o tratamento
de esgotos, no entanto, ainda apresentam algumas limitações não solucionadas completamente,
sendo uma delas o gerenciamento de emissões gasosas, como o sulfeto de hidrogênio (H2S)
(CHERNICHARO & STUETZ, 2008). Isso ocorre devido à redução de sulfato, uma vez que as
bactérias redutoras de sulfato (BRS) podem reduzir o sulfato a H2S por meio do processo redução
de sulfato dissimilatória, acarretando vários problemas, tais como: toxicidade, odores agressivos,
pode estimular a formação de ácido sulfúrico e provocando corrosão das superfícies do reator,
sendo elas feita em concreto ou em aço, provoca um efeito tóxico as bactérias metanogênicas,
deficiência na remoção da DQO efluente e diminuição da concentração de metano no biogás
(BUISMAN et al., 1991; LENS et al., 2000; CHERNICHARO 2007; SUBTIL et al., 2012;
JOSEPH et al., 2012; ZHANG et al., 2013; JIANG et al., 2013). O tipo de sulfeto depende do pH,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 801


se o mesmo está ácido o sulfeto será volátil como H2S, o HS- é a forma predominante a um pH
neutro, e S2- é a forma dominante em um pH alcalino (KOYDON, 2004).
A principal desvantagem de reatores anaeróbios é o odor caraterístico e desagradável que ele
produz. Segundo a NBR 9896/1993, o odor é definido como uma sensação que resulta da excitação
dos órgãos olfativos, é o ato de perceber um cheiro. A propriedade da substância que afeta ou
estimula o sentido do olfato é chamada de propriedade osmogênica ou propriedade odorante. Em
uma Estação de Tratamento de Água Residuária, os principais compostos odoríficos são
provenientes de uma mistura complexa de moléculas com enxofre (H2S, mercaptanas e outros
compostos reduzidos a base de enxofre), nitrogênio (NH3 e aminas), fenóis, aldeídos, álcoois,
ácidos orgânicos (MORALES, 2012). O gás sulfídrico (H2S) é considerado o principal composto
responsável pela percepção de odores em estações de tratamento de esgotos, principalmente pelo
fato de o sistema olfativo humano ser capaz de detectá-lo em baixas concentrações, cerca de 5 ppb
(LUPATINI, 2007; CARVALHO, 2013).
Aliando-se portanto a diversos problemas, a presente pesquisa objetivou avaliar a oxidação
por via aeróbia de espécies de enxofre em reator anaeróbio, do tipo UASB utilizando baixa aeração
na própria manta de lodo.

MATERIAL E MÉTODOS

Sistema Experimental

A investigação experimental consistiu na instalação e operação de dois Reatores Anaeróbios


de Fluxo Ascendente com Manta de Lodo (UASB) em escala experimental com características
distintas entre si.
Durante a pesquisa, os reatores foram operados, simultaneamente, e sob condições
ambientais idênticas. No primeiro reator UASB - O2 (Figura 1a) foi implantado uma micro aeração,
injetada por pulsos de ar com duração de um minuto a cada duas horas, com concentração
aproximada de 0,1 a 0,2 mg O2.L-1, com o intuito de oxidar o sulfeto de hidrogênio produzido pelo
reator UASB a sulfato e, consequentemente, a minimização do odor desagradável. O segundo reator
UASB – Controle (Figura 1b) com características de um reator UASB operado em condições
normais, predominando todos os grupos de bactérias anaeróbias, ele serve como referência para o
outro reator.
A água residuária utilizada era proveniente do interceptor leste do sistema de esgotamento
sanitário da cidade de Campina Grande – PB. O esgoto era transportado por canalizações para uma
caixa de areia e em seguida era conduzido a um tanque de equalização com capacidade volumétrica

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 802


de 200 L. Ao esgoto bruto foi incrementado uma dosagem de 50 mg SO42-.L-1, como fonte de
sulfato foi utilizado o sulfato de sódio (Na2SO4).
As concentrações do inóculo em termos de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis totais (SVT)
foram, respectivamente, de 48 gST.L-1 e 28 gSVT.L-1. As características e aspectos operacionais
dos dois reatores UASB estão apresentadas na Tabela 1.

Parâmetros Medidas dos reatores UASB


Volume útil (L) 4
Altura total (m) 0,64
Altura útil (m) 0,54
Diâmetro (mm) 100
Material Construtivo PVC
Tempo de detenção hidráulica (h) 8
Número de ciclos por dia 3
Vazão efluente (L/d) 12

Tabela 1: Parâmetros, dimensionamento e operação dos três reatores

Figura 1: Esquema e Foto do UASB (oxidante - O2) e UASB (Controle)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 803


Métodos Analíticos

Foram realizadas semanalmente análises dos parâmetros conforme apresentados na Tabela


2. Essas análises foram desempenhadas no afluente e nos efluentes dos reatores, possibilitando
assim a verificação de desempenho da eficiência de remoção dos mesmos.

Variáveis Métodos Analíticos Referência


Titulométrico Refluxação Seção 5220 C. / APHA et al. (2012)
DQO*
Fechada
Sulfato Método Turbidimétrico Seção 4500 E. / APHA et al. (2012)
Sulfeto Método Iodométrico Seção 4500 B / APHA et al. (2012)
pH Potenciométrico Seção 4500 / APHA et al. (2012)
Alcalinidade Kapp Seção BUCHAUER (1998)

Tabela 2: Parâmetros analisados no acompanhamento do desempenho dos reatores.


*DQO – Demanda Química de Oxigênio;

Os cátions e ânions presentes nas amostras, foram determinados por Cromatografia de Íons,
em equipamento Dionex – Thermo Scientific, modelo ICS – 1100. As amostras foram filtradas em
membrana de acetato de celulose 0,45 µm e em seguida em 0,22 µm, após a filtragem as amostras
foram diluídas e posteriormente analisadas no ICS - 1100.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O monitoramento do oxigênio injetado no reator UASB (oxidante – O2), ocorreu da seguinte


forma:
 Quantificação do total de litros de ar que entrava por dia no sistema, monitorado por um
gasômetro;
 Testes respirométricos para verificar a concentração de oxigênio dissolvido dentro do
sistema.
 A quantidade de ar que entrava era de 20 L-1.d (±7 L-1.d).
O teste respirométrico foi utilizado para identificar a quantidade de oxigênio dissolvido
(OD) que continha na manta de lodo. Foi identificado uma concentração de aproximadamente
0,1±0,05 mgO2.L-1 ao longo do dia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 804


Remoção de Sulfetos

A concentração dos íons SO42- e S2-, foram monitoradas no esgoto bruto afluente e nos
efluentes dos reatores UASB. Os resultados obtidos podem ser observados nos gráficos da Figura
2a e 2b.

B
Figura 2: A. Sulfeto, B. Sulfato

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 805


Fazendo-se relação das Figura 2a e 2b (sulfeto e sulfato), é possível identificar que o reator
UASB – O2, oxidou o sulfeto produzido a sulfato (10,84±2,23 mg S-SO42-.L-1) mantendo-o na
forma mais oxidada e, consequentemente, minimizando o mau cheiro e diversos problemas
relacionados com a formação de sulfeto em reatores anaeróbios. Observando o UASB – Controle,
identifica-se que o mesmo produziu efluente com uma concentração de sulfeto um pouco mais alta
(4,60±2,87 mg S-S2-.L-1) que o UASB – O2 com 1,95±1,34 mg S-S2-.L-1. O mesmo ainda obteve
uma concentração de 6,27±3,47 mg S-SO42-.L-1.
Na Figura 3a e 3b apresenta-se os valores do Potencial Hidrogeniônico e de alcalinidade
para o afluente e efluentes dos reatores UASB.

Figura 3: pH e Alcalinidade

Os valores de pH (Figura 3) tanto para o esgoto bruto quanto para os efluentes dos reatores,
foram próximos de 8,0 com desvio padrão menor que 0,30, sendo um valor apreciável. Os valores
desejados eram de 7,0 a 7,5, pois com valores abaixo de 6,5 e acima de 8,5 são inibitórios às
arqueas metanogênicas (VAN HAANDEL & MARAIS, 1999).
O controle do pH é muito importante quando se objetiva a remoção de sulfetos, pois o pH
em torno de 7,0, tende a representar 50% da concentração de íons na fase dissociada (HS-) e 50% na
forma não dissociada (H2S), forma esta mais tóxica (Chernicharo, 2007).

Remoção de Material Carbonáceo

Os valores das concentrações de DQOtotal e DQOfiltrada, afluente e efluente aos reatores


UASB são apresentadas na Figura 4a e 4b.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 806


A

B
Figura 4: A. DQObruta, B. DQOfiltrada.

As concentrações médias de DQOtotal e DQOfiltrada no afluente foram de 276±38 mgO2.L-1 e


164±24 mgO2.L-1, respectivamente. Por estas características, METCALF & EDDY (2003), avaliam
esse esgoto afluente como esgoto fraco. No efluente do UASB – O2 foram de 127±28 mgO2.L-1 e
88±25 mgO2.L-1, no UASB – Controle de 133±26 mgO2.L-1 e 94±23 mgO2.L-1. Efetivando uma
remoção de 54% e 46% para o UASB – O2 e 52% e 42% para o UASB – Controle em termos de
DQOtotal e DQOfiltrada, respectivamente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 807


CONCLUSÕES

A baixa aeração aplicada na manta de lodo do reator UASB produziu efeito positivo na
diminuição de sulfeto no efluente anaeróbio.
Os reatores obtiveram uma remoção de material carbonáceo em termos de DQO de 54%
para UASB – O2 e 52% para UASB – Controle.

Agradecimentos

A Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, a Estação Experimental de Tratamento


Biológico de Esgoto Sanitário – EXTRABES, a CAPES, CNPq e FINEP.

REFERÊNCIAS

APHA., 2012. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22a. ed.
Washington: American Public Health Association.

ABNT., 1993. NBR 9896: Glossário de Poluição das Águas. Rio de Janeiro, 94p.

BUISMAN, C. J. N., LETTINGA, G., PAASSCHENS, C. W. M. HABETS, L. H. A., 1991.


Biotechnological sulphide removal from efflents. Wal. Sci. Tech. Vol. 24. No. 3/4. p. 347-356.

CARVALHO, G. R., 2013. Toxicity of species of sulphur in anaerobic reactor treating domestic
wastewater. Revista AIDIS de Ingeniería y Ciencias Ambientales: Investigación, desarrollo y
práctica. v. 6, p. 29-41.

CHERNICHARO, C. A. L., 2007. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias.


Reatores Anaeróbios. 2ª ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental.
496 p.

CHERNICHARO, C. A. L.; STUETZ, R.M., 2008. Improving the disign and operation of UASB
reactors for treating domestic wastewater: Management of gaseous emissions. IX Taller y
Simposio Digestión Anaerobia, Ilha de Páscoa.

JIANG, G., et al, 2013. Dosing free nitrous acid for sulfide control in sewers: Results of field trials
in Australia. WATER RESEARCH, v. 47, p. 4331-4339.

JOSEPH. A. P., et al., 2012. Surface neutralization and H2S oxidation at early stages of sewer
corrosion: Influence of temperature, relative humidity and H2S concentration. WATER
RESEARCH. v. 46. p. 4235-4245.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 808


KOYDON, S., 2004. Contribution of sulfate-reducing bactéria in soil to degradation and retention
of COD and sulfate. Zur Erlangung desakademischen Grades eines Doktor-Ingenieur von der
Fakultat fur Bauingenieur-, Geo- und Umweltwissenschaften der Universitat Fridericiana zu
Karlsruhe (TH). Karlsruhe.

LENS P. N. L., SIPMA, J., HULSHOFF POL L. W., LETTINGA G., 2000. Effect of nitrate on
acetate degradation in sulfigogenic staged reactor. WATER RESEARCH, v.34, n.1. p. 31-42.

LUPATINI, G., et al., 2007. Monitoramento de odores de estação de tratamento de esgoto


anaeróbio em Quatro Barras/PR. In: 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, Anais... Belo Horizonte.

METCALF e EDDY., 2003. Inc. Wastewater Engineering treatment Disposal Reuse. 4. ed.
NewYork, McGraw - Hill Book, 1815p.

MORALES, M., et al., 2012. Biofiltration of hydrogen sulfide by Sulfolobus metallicus at high
temperatures. Water Science & Technology, vol. 66, p. 1958-1961.

SUBTIL, E. L.; CASSINI, S. T. A.; GONÇALVES, R. F., 2012. Sulfate and dissolved sulfide
variation under low COD/Sulfate ratio in Up-flow Anaerobic Sludge Blanket (UASB) treating
domestic wastewater. Ambi-Agua, v. 7, n. 1, p. 130-139.

VAN HAANDEL, A. C. & VAN DER LUBBE, J., 2012. Handbook biological wastewater
treatment, design and optimization of activate sludge systems. 2 ed. s.l.:IWA.

ZHANG, J., et al., 2013. Biological sulfate reduction in the acidogenic phase of anaerobic
digestion under dissimilatory Fe (III) e Reducing conditions. WATER RESEARCH, v. 47, p.
2033-2040.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 809


CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA CIDADE
DE GROSSOS - RN

Luiz Paulo Franco de OLIVEIRA


Discente do curso de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
luizzpaulof@hotmail.com

Mayra Fernandes NOBRE


Professora do Departamento de Recursos Hídricos e Geologia Aplicada da Universidade Federal do
Piauí
mfnobre@gmail.com

Rodrigo Guimarães de CARVALHO


Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte
rodrigo.ufc@gmail.com

Andreza Carina do Nascimento MESSIAS


Discente do curso de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
andrezacarina@hotmail.com

RESUMO
O saneamento básico é composto por um conjunto de fatores que proporcionam um meio saneado,
desdobrado em quatro eixos distintos interligados e sistemáticos, ou seja, os resultados obtidos em
determinado eixo refletirá nos resultados dos seguintes, sendo esses eixos: abastecimento de água,
esgotamento sanitário, drenagem e escoamento de águas pluviais e coleta, transporte e destinação
dos resíduos sólidos. Um dos desafios dos gestores públicos é prover o saneamento nos municípios
uma vez que um meio saneado promove saúde e qualidade de vida para os habitantes de uma
cidade. Embasado nessa problemática a presente pesquisa objetivou diagnosticar as condições do
sistema de esgotamento sanitário do perímetro urbano do município de Grossos-RN com o intuito
de avaliar o sistema principal adotado e suas implicações, bem como a percepção dos habitantes
acerca da importância do tema. Nos procedimentos metodológicos foram aplicados 216 formulários
em um número igual de residências e foi realizada uma entrevista com o gestor municipal
responsável pela temática. Foi verificado que o esgotamento sanitário do município está estruturado
em sistemas unitários sendo em sua grande maioria composto por uma fossa negra, bem como boa
parte dos efluentes das águas residuárias são lançadas a céu aberto. Foram identificados problemas
no planejamento, estruturação e organização da gestão municipal em relação ao saneamento básico.
Em virtude do cenário verificado é importante que a gestão pública municipal se detenha sobre a
temática com a efetiva elaboração e implantação de um Plano de Saneamento Básico para o
município em virtude do risco de contaminação dos recursos naturais.
Palavras-Chave: Saneamento Básico. Saúde Pública. Gestão Ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 810


ABSTRACT
The basic segment is composed by a group of factors that provide a sanitized place, unfolded in four
different axis linked and systematized, namely, the gotten results in determined axis reflect in the
other results from following ones, it being these axis: water supply, sanitary exhaustion, draining
and exhaustion of pluvial water and collect, transport and destination of solid waste. One of public
mangers‘ challenges is to provide the sanitation in the counties once that a middle sanitation
promotes health and life quality to the city habitants. Backed up in this problematic, the present
research objectified to diagnose sanitary exhaustion system conditions of the urban perimeter of the
county of Grossos – RN with the aim to evaluate the main adopted system and its implications, as
well as habitants perception about the theme importance. In the methodological procedures it was
applied 216 forms in an equal number of residences and it was accomplished an interview with the
municipal manager responsible by the theme. It was verified that the county sanitary exhausted is
structured in unitary systems being in their large majority composed by a black cesspool, as well as
good part of residual water effluents are thrown outdoors. It was identified problems in the
planning, structure and organization of the municipal management in relation to the basic sanitation.
In virtue of the checked scenery it is important that the municipal public management keeps itself
about the theme with the effective elaboration and implantation of a Plan of Basic Sanitation to the
county in virtue of the risk of contamination of natural resources.
Key-Words: Basic Sanitation, Public Health e Environmental Management.

INTRODUÇÃO

O modelo de produção capitalista instigou nas últimas décadas o surgimento de processos


como êxodo rural que dentre suas conseqüências promoveu o aumento da concentração de moradias
nos centros urbanos. Um dos problemas associados ao aumento dessa concentração reporta-se à
ausência de um sistema de saneamento ambiental adequado, provindo o meio ambiente e as pessoas
de segurança e saúde ambiental.
Segundo Cavalcanti (1996) esse modelo de crescimento urbano vem causando impacto na
capacidade que a sociedade tem para o atendimento de suas necessidades básicas, acarretando na
exposição de pessoas à riscos ambientais derivados, dentre outros, da ausência dos serviços de
saúde ambiental.
O saneamento ambiental compõe-se de um agregado de ações que buscam apresentar
maiores porcentagens de salubridade ambiental em um dado espaço geográfico, resultando em
melhoria para a população que ocupa a área em questão, sendo o mesmo composto por quatro eixos
(abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e drenagem) dependentes um do

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 811


outro. A incidência de doenças decorrentes da ausência ou inadequação de um sistema de
saneamento tem agravado o quadro epidemiológico no Brasil, evidenciando a significância do
saneamento ambiental como promotor da saúde pública. Porem para tal faz-se necessário a solução
dos problemas tecnológicos, políticos e gerenciais que tem dificultado a implantação do sistema nas
regiões mais carentes. (Fundação Nacional de Saúde-FUNASA, 2007).
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística-IBGE, 2008) o esgotamento sanitário é o eixo que apresenta a menor taxa de
implantação em relação aos serviços oferecidos pelo saneamento básico no país, os distritos que não
possuem um sistema de saneamento básico ou ambiental eficiente e que despejam os efluentes in
natura nos corpos d‘água naturais, afetam a qualidade da água usada para abastecimento e fins
similares.
Dentre os objetivos de um sistema de esgotamento sanitário pode-se destacar
principalmente: a destinação e tratamento correto dos efluentes, eliminação de pontos de
contaminação e poluição e atenuação dos custos aplicados nos tratamentos de doenças e de águas
contaminadas (LEAL, 2008 apud RIBEIRO e ROOKE, 2010).
As pequenas cidades Brasileiras em geral não são contempladas com políticas de subsídios à
implantação de sistemas de esgotamento sanitário e ainda têm-se cenários de sistemas de coleta e
acondicionamento de efluentes que geram riscos de contaminação aos recursos naturais (solo e
água).
Em virtude do acima exposto o presente trabalho objetivou diagnosticar as condições do
sistema de esgotamento sanitário do perímetro urbano do município de Grossos, localizado no
estado do Rio Grande do Norte e analisar as implicações ambientais associadas.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa desenvolveu-se no âmbito do projeto de pesquisa e extensão intitulado:


―Contribuições para o saneamento ambiental do município de Grossos, RN: diagnóstico,
mapeamento e capacitação‖. O projeto teve como coordenador o professor do curso de Gestão
Ambiental, Rodrigo Guimarães de Carvalho, apoio do Departamento de Gestão Ambiental e da Pró-
Reitoria de Extensão-PROEX – UERN, recebeu financiamento do Ministério das Cidades.
O procedimento metodológico métodos adotado para obtenção e análise dos dados foi
estruturado em três etapas: na primeira foi realizado um levantamento bibliográfico na literatura
pertinente; na segunda etapa foi realizada a coleta de dados em campo que ocorreu no mês de
setembro de 2013 mediante a aplicação sendo constituída da aplicação de um formulário

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 812


estruturado que foi aplicado em uma parcela amostral das residências do perímetro urbano do
município.
O tamanho da amostra foi definido em virtude do número de domicílios da área urbana de
Grosso. Esse dado foi obtido no IBGE Cidade (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE,
2010) e segundo tal a sede do município de Grossos, possui 2.131 domicílios particulares
permanentes. O tamanho da amostra correspondeu a 10,13% do número de domicílios da área
urbana, totalizando 216 formulários. A coleta dos dados ocorreu no mês de setembro de 2013.
A terceira etapa contemplou a inserção dos dados em ambiente computacional e geração de
produtos que melhor interligassem os mesmos bem como facilitassem a visualização. Para tal
função adotou-se o software SPSS e o Excel for Windows.

Caracterização da Área de Estudo

O município de Grossos está localizado no litoral setentrional do estado do RN, no Nordeste


do país, como mostra a figura (01). Precisamente nas coordenadas geográficas, latitude: 4º 58‘ 47‖
Sul e longitude: 37º 09‘ 17‖ Oeste. A área territorial é de 126.458 Km², população urbana em
habitantes é de 7.039 de um total de 9.393 habitantes e tem como base na economia a salicultura e a
carcinicultura.
Com Produto Interno Bruto – PIB de 17.165,43 reais no ano de 2011 e com 0,664 como
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM de 2010 e com 6.425 de pessoas residentes
alfabetizadas (IBGE, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 813


Figura 01 – Mapa de localização do Brasil, Rio Grande do Norte e Grossos, 2014.
Fonte: NESAT, 2014

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A apresentação dos resultados obtidos na pesquisa bem como a discussão está pautada nas
respostas obtidas nos formulários aplicados nos domicílios. Vale ressaltar que os entrevistados eram
esclarecidos sobre todas as opções de respostas bem como no que constituía cada uma para que
tivessem um embasamento ao responder. Para obter um diagnóstico do sistema de esgotamento
sanitário foram feitos os seguintes questionamento: destino das águas negras; tipo de fossas da
residência; destino das águas cinza oriundas do banheiro; destino das águas cinza de atividades de
higiene doméstica. Com o intuito de avaliar o risco de contaminação dos recursos naturais foi
indagado sobre: a freqüência de ocorrência de limpeza das fossas; distância mínima entre o poço de
captação de águas e a fossa. Para avaliar a percepção dos entrevistados acerca da problemática foi
indagado: se percebe o lançamento de efluentes, por parte da vizinhança, em vias públicas; o que
acha da instalação de um sistema de tratamento de esgoto no bairro em que reside.
O gráfico (01) retrata as opções de destinação das águas negras elencados pelos
entrevistados.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 814


100% 95,8%

80%
Fossa

60% Canal Pluvial

Sarjeta
40%
Quintal
20%

0,5% 1,9% 1,9%


0%

Gráfico 01 – Destino das águas negras no perímetro urbano de grossos, 2013.


Fonte: Dados extraídos de Carvalho, 2013.

Pelos dados apresentados observa-se que o destino de quase a totalidade dos fluidos das
residências é para a fossa.
Foi questionado então sobre o tipo de fossa da residência sendo constatado que um grande
percentual tem uma fossa do tipo negra, conforme se observa no gráfico (02). A fossa séptica, que
seria a opção recomendável quando tem-se um sistema isolado, apresenta um baixo percentual de
ocorrência (16,2%). O dado ―não se aplica‖ refere-se às residências que não tinham banheiro.

100%

80%
Fossa Negra
64,4%
60%
Fossa Séptica (fossa e
sumidouro)

40% Não sei/Não soube


responder

20% 16,2% 15,3% Não se aplica

4,2%
0%

Gráfico 02 – Tipos de fossa, predominante no perímetro urbano de Grossos, 2013.


Fonte: Dados extraídos de Carvalho, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 815


Vale ressaltar que ao serem apresentados às opções de resposta os entrevistados receberam
esclarecimentos sobre as características de cada tipo de sistema de acondicionamento para que
pudessem escolher uma opção que melhor retratasse o tipo de fossa que tinha na residência.
Segundo Nascimento (2012) apud Pereira (2004) a disposição de efluentes em fossas
rudimentares ou negras agride o meio ambiente como retrata em sua fala ―... os aquíferos vêm
sendo poluídos por efluentes provenientes de ambos, disso resultando a contaminação de pessoas e
animais que usam água subterrânea‖.
Lima et al (2011) abordam que a coleta, o tratamento e a emissão ambientalmente correta do
esgoto sanitário são importantes na evolução do cenário da saúde pública da cidade. Sabe-se que
muitas doenças estão associadas à poluição das águas, justificativa para o uso de quaisquer
ferramentas disponíveis para suprimi-la, não apenas por motivos ambientais, mas também por
razões de saúde pública.
Outra preocupação no tocante ao esgotamento sanitário é o destino das águas cinza
residenciais. O gráfico 3 expõe os resultados referentes às águas cinza oriundas do banheiro.

50%
45,4% Fossa
45%
40,7%
40% Canal Pluvial
35%
Sarjeta
30%

25%
Não sei/Não soube
20% responder

15% Lançada à céu aberto


e infiltrada no solo
10% 6,9%
3,7% Fossa Alternativa
5% 2,3%
0,9%
0%

Gráfico 03 – Destino das águas cinza dos banheiros, no perímetro urbano de Grossos, 2013.
Fonte: Dados extraídos de Carvalho, 2013.

Pelos dados acima se verifica que os fluidos originados de higiene pessoal possuem destinos
variados mas em sua maioria são destinados para fossa ou lançados a céu aberto e infiltrados no
solo. Foram observados também casos em que os fluidos vão para a sarjeta, para canais pluviais e
fossas alternativas, que somados chegam a 11.5%. Segundo os entrevistados essa fossa alternativa
seria uma fossa sem revestimento com o fundo coberto por brita, uma iniciativa da Prefeitura do
Município. Essa fossa seria independente da fossa de dejetos e teria como finalidade receber
somente as águas residuárias da residência.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 816
Foi também questionado sobre a destinação dos fluidos da lavagem de louça e roupa, o
gráfico (04) ilustra os resultados obtidos.

70% 68,1%
Fossa

60%
Canal pluvial
50%
Sarjeta
40%

30% Lançada à céu


23,1% aberto e infiltrada
no solo
20% Não soube
responder
10%
4,6% Fossa alternativa
2,8%
0,5% 0,9% (água servida)
0%

Gráfico 04 – Destino das águas cinzas derivadas da lavagem de louça e roupa do perímetro
urbano de Grossos, 2013.
Fonte: Dados extraídos de Carvalho, 2013.

Fernandes; Nobre (2013) diagnosticaram em uma pesquisa realizada na zona rural do


município de Areia Branca-RN, que 41% dos efluentes originados de atividades de lavagem de
louça e roupa, são destinados para regar plantas nos quintais domésticos. Em Grossos ocorre o
mesmo caso em maior proporção (68,1%). Vale salientar que detergentes em geral alteram a tensão
superficial da água e são considerados poluentes persistentes no meio ambiente.
Foi indagado acerca da ocorrência do procedimento esvaziamentos ou limpeza das fossas e
foi constatado que mais de três quartos, cerca de 79,2% dos entrevistados não fazem a limpeza das
fossas das suas residências, enquanto que apenas 13,9% ,uma porção pequena dos entrevistados
realiza esse procedimento.
Tal resultado indica que os fluidos depositados nas fossas estão sendo percolados no solo.
Tal informação associada ao elevado percentual de residências com fossas negras (rudimentares)
implica em uma provável contaminação do solo e do lençol freático.
Para Barcellos (2014), a poluição das águas por substâncias químicas é um fator de risco
para a saúde da sociedade. Dentre os principais contaminantes químicos estão os agrotóxicos,
metais pesados e compostos orgânicos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 817


Da pequena fração das pessoas que realizam a limpeza das fossas das suas residências, há
uma variação da frequência temporal em que a mesma é realizada, sendo que uma parcela dos
entrevistados não soube especificar a frequência e outras duas parcelas iguais de 4,2% relatam que
os esvaziamentos são realizados mensalmente e bimensalmente, e 12,5% das limpezas são
realizadas anualmente e a respeito do campo ―outros‖ obteve-se respostas vagas e que não são
consideráveis relevantes para a pesquisa, como por exemplos: feita um vez, feita duas vezes,
quando precisa, de dois em dois anos e de cinco em cinco anos.
Ressalta-se ainda que as empresas que realizam o serviço de limpeza das fossas não estão
cadastradas oficialmente na Prefeitura, não sendo, portanto o serviço fiscalizado o que implica
ainda na ausência de conhecimento e acompanhamento da destinação final do efluente das fossas.
Verçosa; Alves (2000), em uma pesquisa acerca do sistema de coleta de esgoto no município
de João Pessoa-PB verificaram ocorrências de vazamentos contaminantes das águas superficiais e
subterrâneas nas fossas sépticas do município, quando estas se encontravam cheias e sem a
adequada manutenção (esvaziamento).
Dos domicílios visitados durante a pesquisa, 24 possuíam poços para abastecimento humano
para usos diversos, como consumo e atividades de higiene pessoal. Nesses casos é importante obter
a distância entre o poço da residência e a fossa para avaliar o risco de contaminação da água que
está sendo utilizada.
Foi possível verificar que as distâncias que mais ocorreram durante a pesquisa (58,8%)
foram as de seis a dez metros (sendo esta preocupante) e de mais de dez metros. Constatou-se
também que há casos em que as distâncias são consideradas críticas como as de 1 a 5 metros.
Observa-se pelo acima exposto que a maioria dos poços não apresentam distância mínima das
fossas que atenda ao disposto na Norma ABNT-NBR Nº 7229:1993 que rege sobre o Projeto,
Construção e Operação de Sistemas de Tanques Sépticos, no item 5.1, distâncias mínimas, que
dispõe que tanques sépticos devem observar uma distância mínima horizontal de “ c) 15,0 m de
poços freáticos e de corpos de água de qualquer natureza.”.Mediante os dados acima verifica-se
que as distâncias relatadas retratam um cenário preocupante no tocante ao risco de contaminação do
lençol freático.
Com o intuito de avaliar a percepção dos moradores acerca da problemática indagou-se se já
haviam percebido o lançamento de efluentes na via pública por parte da vizinhança e 64,4% dos
entrevistados afirmaram não perceber se havia lançamento e 33,3% afirmam que percebem que
ocorre (2,3% dos entrevistados não souberam responder ao questionamento). Ressalta-se que
durante a coleta de dados em campo foi verificado pelos autores da pesquisa o lançamento de água
residuárias em via pública.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 818


Em relação à frequência da ocorrência do acontecimento mencionado acima, 60,9% dos
entrevistados que demonstraram perceber o fato afirmaram que o mesmo ocorre sempre, denotando
que tornou-se uma prática para alguns habitantes.
No tocante à percepção da população local sobre a importância e benefícios que um sistema
de esgotamento sanitário traria aos respectivos bairros visitados, 88,8 % dos entrevistados
consideram muito importante ou importante, denotando um cenário de percepção da problemática e
dos benefícios que a implantação de um sistema traria.
Portanto nota-se que a sociedade vem amadurecendo sua percepção acerca da importância
de manter o meio saneado e com o devido sistema de coleta e tratamento de efluentes, cooperando
na redução de vetores de doença de veiculação hídrica e risco de acidentes com o meio ambiente.
Fernandes; Nobre (2013) também constataram em sua pesquisa que a maioria dos
entrevistados percebia os riscos ambientais e de saúde pública associados à ausência de práticas
corretas no saneamento, porém se reportavam à falta de infraestrutura adequada para tal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível constatar que o esgotamento sanitário do perímetro urbano do município é


constituído por sistemas isolados, sendo na maioria dos casos constituídos unicamente por uma
fossa negra ou rudimentar.
Ressalta-se ainda que essas fossas negras apresentam pouca necessidade de esvaziamento o
que indica que o fluido está percolando no solo.
A maioria dos poços que se encontram nas residências não estão atendendo à distância
mínima (de segurança) em relação à fossa, estabelecida em Norma da ABNT.
Diante disso, pode-se afirmar que Grossos não possui um estado de segurança hídrica, pois
há risco de contaminação do solo e do lençol freático.
Um percentual substancial das águas residuárias é lançado a céu aberto sendo utilizado para
irrigação de quintais domésticos podendo implicar também em riscos de contaminação do solo por
detergentes.
Foi possível verificar que uma parcela da população denota perceber e incomodar-se com a
ausência de práticas corretas de saneamento bem como de uma infraestrutura de coleta e tratamento
de efluentes adequada. Foi possível verificar também uma ausência de informação por parte da
população do que seria um sistema de acondicionamento adequado dos efluentes, indicando a
necessidade de campanhas educativas na temática que objetivem elucidar a população local sobre o
que é saneamento e as implicações associadas á ausência de um meio saneado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 819


Os dados obtidos evidenciaram a necessidade de um trabalho conjunto entre a gestão pública
municipal e os habitantes da cidade no intuito de construir o Plano Municipal de Saneamento
Básico.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7229: Projeto, Construção e


Operação de Sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro, 1993.

BARCELLOS, Cristovam. (Coord.). Desenvolvimento de Indicadores para um sistema de


gerenciamento de informações sobre saneamento, água e agravos à saúde relacionados.
Disponível em:<
http://www.tratabrasil.org.br/novo_site/cms/templates/trata_brasil/util/pdf/Agua.pdf>. Acesso
em: 20 de março de 2014.

BRASIL. Fundação Nacional de Saúde: Manual de orientação para criação e organização de


autarquias municipais de água e esgoto. 2. ed. – Brasília: Funasa, 2003, 136 p.

BRASIL. Lei 11.445, 5 jan. 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera
as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de
junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978;
e dá outras providências. Publicado no DOU de 8.1.2007 e retificado no DOU de 11.1.2007.

CAVALCANTI, H.B. (coord). Relatórios de conferência das Nações Unidas sobre meioambiente e
desenvolvimento. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas, 1996.

FERNANDES, Isaura Raquel Dantas; NOBRE, Mayra Fernandes. A Percepção Ambiental Acerca
do Saneamento Ambiental no Assentamento Rural Garavelo, Areia Branca-RN. Areia Branca-
RN, 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, IBGE. Pesquisa Nacional de


Saneamento Básico, 2008. Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf>
acesso em 20 mar. de 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, IBGE. IBGE Cidades.Censo


Demográfico 2010. Disponível em:
<://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240440>. Acesso em: 18 de Jun.
2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 820


LIMA, Cíntia dos Santos; SOUSA, Maria José Janaína Ferreira; SILVA, Saulo Gomes da;
SOARES NETO, José Lopes. Diagnóstico do Esgotamento Sanitário da Cidade de Palmas – TO,
Faculdade Católica do Tocantins (FACTO), Tocantins, 2011. 12 p.

PEREIRA, R. S. Identificação e caracterização das fontes de poluição em sistemas hídricos. Revista


Eletrônica de Recursos Hídricos. IPH-UFRGS. V. 1, n. 1. P. 20-36. 2004. Disponível em:
<>>http://www.vetorial.net/~regissp/pol.pdf> Acessado em: 05 de abril de 2014.

RIBEIRO, Júlia Werneck; ROOKE, Juliana Maria Scoralick. Saneamento básico e sua relação com
o meio ambiente e a saúde pública. Juiz de Fora, 2010. Disponível em:
www.ufjf.br/analiseambiental/files/2009/11/TCC-SaneamentoeSaúde.pdf. Acesso em: 24 de set.
de 2014.

VERÇOSA, Lívia Fragoso de Melo; ALVES, Arilde Franco. As Condições Ambientais e Sanitárias
Vivenciadas Pelos Moradores de Mandacarú. João Pessoa – PB, 2000.Disponivel em: <
http://www.cnea.com.br/wp-content/uploads/2013/03/II-CNEA-Educa%C3%A7%C3%A3o-
Ambiental-responsabilidade-para-a conserva%C3%A7%C3%A3o-da-sociobiodiversidade-_-
Vol.2.pdf>Acessado em: 05 de abril de 2014.

NASCIMENTO. Deyved Leonam Guimarães, Análise e Avaliação das Formas de Disposição e


Afastamento do Esgotamento Sanitário no Município de Belém, Pará, Brasil. III Congresso
Brasileiro de Gestão Ambiental; 19 a 22/11/2012; Goiânia/GO.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 821


ANÁLISE DA COLETA SELETIVA DOS MUNICÍPIOS DE ARACAJU E JOÃO
PESSOA: UM PASSO PARA A GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS MUNICIPAIS

Aline Carolina da SILVA35


PPGEC/UFPE
alinesilva.ambiental@gmail.com

Claudia Coutinho NÓBREGA36


DECA/PPGCAM/UFPB
claudiacn@uol.com.br

Raíssa Barreto LINS37


DECA/UFPB
rah_barreto@hotmail.com

Camila de Mello SILVA38


DECA/UFPB
camilade_mello@hotmail.com

RESUMO
A Lei Federal Brasileira nº 12.305, de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), marco histórico na gestão ambiental do País, enfrenta grandes desafios na sua
implementação que necessitam de comprometimento entre os entes da federação brasileira para que
suas metas venham a ser alcançadas. Neste contexto, o estudo objetivou realizar um diagnóstico da
coleta seletiva municipal das capitais Aracaju (SE) e João Pessoa (PB), localizadas no nordeste
brasileiro, para o alcance da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O levantamento das
informações foi realizado de ordem primária e secundária, tendo como instrumentos de coleta, a
pesquisa de campo e formulário de entrevista aberta. Os resultados mostraram que os municípios
apresentam semelhanças quanto às perspectivas de elaboração de projetos para implementação da
referida Política, porém o alcance eficiente de projetos depende de estudos municipais verídicos
sobre a localidade e aprofundados sobre a temática. Os municípios necessitam também de melhorias
no processo de comunicação, esclarecimento e transparência quanto aos processos operacionais que

35
Tecnóloga em Saneamento Ambiental. Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental (PPGCAM/UFPB). Doutoranda
em Engenharia Civil. Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
– Recife (PE) - Brasil. Bolsista da Capes.
36
Engenheira Civil. Doutora em Recursos Naturais. Professora Associada II. Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) - João Pessoa (PB) – Brasil.
37
Graduanda em Engenharia Ambiental. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) - João Pessoa (PB) – Brasil.
38
Graduanda em Engenharia Ambiental. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) - João Pessoa (PB) – Brasil.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 822


envolvem a cadeia de resíduos sólidos, pois a ausência destes implica em baixa participação do
gerador na segregação dos resíduos.
Palavras-Chave: Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Planejamento de gestão municipal. Coleta
Seletiva. Nordeste brasileiro.

ABSTRACT
The Brazilian Federal Law No. 12.305, of August 2010, which created the National Solid Waste
Policy (PNRS), a milestone in the environmental management of the country faces major challenges
in its implementation that need of commitment among the entities of the Brazilian federation for
your goals will be achieved. In this context, the study aimed to perform a diagnosis of selective
collection of municipal capital Aracaju (SE) and João Pessoa (PB), capital of northeast Brazil, in
order to analyze the municipal planning as the management of municipal solid waste for the scope
of the National Solid Waste. The gathering of information was conducted primary and secondary
order, with the data collection instruments, field research and form an open interview. The results
showed that the municipalities are similarities about the prospects for development of projects for
implementation of that policy, but the effective range of projects depends on truthful municipal
studies on the location and depth on the subject. The municipalities also require improvements in
communication, clarification and transparency regarding the operational processes that involve the
chain of solid waste process because their absence implies low participation generator in waste
segregation.
Keywords: National Policy of Solid Waste. Planning of municipal management. Selective
Collection. Brazilian Northeast.

INTRODUÇÃO

A gestão de resíduos sólidos é um crescente desafio para a sociedade atual, especialmente


para a administração pública, em razão da quantidade e da diversidade de resíduos, do crescimento
populacional, do consumo, da expansão de áreas urbanas e da cultura histórica de aplicação de
recursos insuficientes para a gestão adequada.
Para Suocheng et alii. (2001) a comercialização dos resíduos é o ideal, e talvez um caminho
para a solução dos resíduos sólidos urbanos, sendo necessário o desenvolvimento de um sistema
comercial eficiente para explorar novas possibilidades de melhorias ambientais.
Assim, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010,
é um grande desafio para a gestão pública municipal em todo o País, pois dispõe sobre as diretrizes
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo as responsabilidades
dos geradores, do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 823
Para Agamuthu, Khidzir e Fausiah (2009), uma política de gestão de resíduos só pode ser
considerada eficaz quando os resíduos são geridos de forma consistente, isto porque a gestão dos
resíduos sólidos urbanos (GRSU) é complexa. Deve contemplar questões relacionadas ao ciclo de
vida do produto, ou seja, a minimização do uso dos recursos da natureza e a não geração dos
resíduos. Isto pode ser atingido com o combate ao desperdício, o incentivo à minimização e também
pela coleta seletiva, visando à salubridade local pela eficiência na prestação dos serviços.
A coleta seletiva foi definida na Lei Federal nº. 12.305/2010, como a ―coleta de resíduos
sólidos previamente separados de acordo com sua constituição e composição, devendo ser
implementada pelos municípios como forma de encaminhar as ações destinadas ao atendimento do
princípio da hierarquia na gestão de resíduos sólidos‖, dentre as quais se inclui a reciclagem.
De acordo com Demajorovic (2006) programas de coleta seletiva com modelo de gestão
participativa propiciam benefícios socioambientais e financeiros ao valorizar o trabalho do catador
gerando trabalho e renda, promovendo o resgate da cidadania, bem como ao desviar parcela de
resíduos dos aterros sanitários para a reciclagem.
Para Zaneti e Sá (2003) a separação dos materiais recicláveis cumpre um papel estratégico e
indispensável na gestão integrada de resíduos sólidos sob vários aspectos: estimula o hábito da
separação do resíduos sólido na fonte geradora para o seu aproveitamento, promove a educação
ambiental voltada para a redução do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda e melhora a
qualidade da matéria orgânica para a compostagem.
Complementando, Besen e Jacobi (2011) afirmam que não é possível, em especial nas
metrópoles brasileiras, avançar para uma gestão mais eficiente e sustentável sem que haja uma
cobrança socialmente justa pelos serviços prestados, assim como em outros serviços, como água,
esgoto e energia. Entende-se que a cobrança de uma taxa proporcional às quantidades geradas
também é um importante fator de conscientização e educação dos cidadãos para reduzir as
quantidades produzidas e o desperdício.
Neste contexto, a abordagem da gestão dos resíduos sólidos urbanos, com ênfase para coleta
seletiva dos municípios de Aracaju e João Pessoa, capitais, respectivamente, dos estados de
Sergipe/SE e da Paraíba/PB, considerando a Lei Federal nº 12.305/ 2010, vislumbrou contribuir, de
forma significativa, para o estudo da funcionalidade e da aplicabilidade da legislação no
planejamento da gestão de resíduos das capitais do nordeste brasileiro.
Os municípios, Aracaju e João Pessoa, foram escolhidos, inicialmente, pela possibilidade de
comparação entre eles devido às características semelhantes (como número de habitantes,
quantitativo de resíduos produzidos, ano de referência de início da coleta seletiva, entre outros),

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 824


porém com discrepância no gerenciamento de resíduos sólidos, especificamente na forma de
disposição final.

METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho desenvolveu-se uma pesquisa de campo com o objetivo de
obter dados qualitativos e quantitativos. Tais coletas foram feitas de forma primária e secundária
através de revisão bibliográfica, pesquisa documental, levantamento de dados, observação
participante e direta, tendo como instrumentos de coleta, pesquisa de campo e formulário de
entrevista aberta.
Os dados obtidos a partir de fontes primárias foram coletados durante visitas técnicas. Como
fontes secundárias, destaca-se a utilização de informações obtidas junto a instituições públicas,
privadas e do terceiro setor.
Os métodos de análise dos dados foram quantitativos e qualitativos, representados através de
estatística simples em gráficos, tabelas e quadros, como também, em forma de discurso indireto
inserido no texto dos resultados apresentados.
Os dados utilizados nas análises foram coletados no período de abril de 2012 a outubro de
2013.

Entrevistas

Como instrumento de coleta de dados foi formulado um roteiro de entrevista (formulário)


estruturado. Como um formulário, a entrevista é um roteiro de perguntas enunciadas pelo
entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do entrevistado (LAKATOS; MARCONI,
2001).
O roteiro para a realização das entrevistas foi elaborado de acordo com os dados necessários
para a investigação proposta pelo estudo. Para a realização das entrevistas, o projeto foi submetido
ao Conselho de Ética em Pesquisa – Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade
Federal da Paraíba (CEP/HULW/UFPB) e aprovado – parecer nº 261.019 (Anexo I).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Caracterização áreas de estudo

O município de Aracaju, capital do estado de Sergipe, possui 571.149 mil/habitantes,


distribuídos em uma área de 181,85 km² (IBGE, 2010). Sua sede apresenta densidade demográfica
aproximada de 3.138 hab/Km², distribuídos entre os 39 bairros existentes no município (VILLAR,
2010).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 825
No sistema urbano brasileiro, o município de Aracaju é considerado um centro
submetropolitano, estando sob a influência de Salvador, umas das metrópoles regionais do Nordeste
do Brasil.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), a economia
de Aracaju cresceu mais de 53% entre 2004 e 2010 e apresenta mais de 37% da riqueza gerada no
estado de Sergipe. É o município nordestino que apresentou maior crescimento de renda per capita
domiciliar, sendo esta, de acordo com o IBGE (2010) de R$ 875,00 ($ 364,45)39 nos últimos 10
anos e indicadores econômicos superiores à média nacional).
Já o município de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, também localizado na região
Nordeste, possui 723.515 habitantes, ocupando uma área aproximada de 211,5 Km2. A sede
municipal tem uma densidade demográfica 3.421,30 hab/km² (IBGE, 2010), dividido entre os seus
64 bairros com uma área bruta de 160,76 km² e 49,69 km² de área verde e preservação ambiental
(ONOFRE, 2011). O município tem como influência a metrópole Recife.
O município de João Pessoa registrou um PIB de R$ 7.661.219,00 ($ 3.190.977,97) e renda
per capita domiciliar de R$ 802,00 (IBGE, 2010). A receita do município no ano de 2010 (IBGE,
2010) totalizou em R$ 1.046.333.679,00 ($ 435.808.937,98) e as despesas R$ 831.054.489 ($
346.142.900,16).

Identificação dos serviços executados

Na entrevista realizada (Quadro 2) têm-se a identificação dos serviços executados nos


municípios. Nesta, inicia-se a complexidade da análise dos dados, pois se discute planejamento,
processo de decisão, funcionalidade da gestão aplicada, alcance de tal da gestão no município e
abrangência da cobertura municipal para a coleta seletiva.

Identificação do Serviço Prestado


Aracaju João Pessoa
Forma Atual de deposição de resíduos Aterro Sanitário Aterro Sanitário
Existência de consórcio Não Sim
Ano de desativação dos antigos lixões
2013 2003
municipais
PRAD antigos lixões Não Sim
Quantitativo de resíduos domiciliares
182.466 mil t 239.441 mil t
coletados ano 2012
Geração per capita de resíduos - em 0,87 kg.hab.dia 0,88 kg.hab.dia

39
Considerada cotação do dólar R$ 2,40 (dois reais e quarenta centavos), levantamento feito em janeiro de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 826


relação ao coletado domiciliar ano
2012
Cobrança de taxa municipal de coleta
Não Sim
de resíduos
Plano de Coleta Seletiva Não Não
Há Coleta Seletiva no município? Sim Sim
Quantitativo de bairros contemplados
16 20
pela coleta seletiva municipal

Abrangência da coleta seletiva no


41% 20%
município (% em relação aos bairros)
Abrangência coleta seletiva executada Depende de solicitação dos
100%
em cada bairro moradores
Ano de início do programa de coleta 2001, com funcionamento em
2000, com abrangência maior 2005
seletiva 2005
Existência de cooperativas Sim, 1 cooperativa 4 associações
Sim, todo suporte estrutural Sim, todo suporte estrutural
Suporte dado a(s) cooperativas
necessário para os serviços. necessário para os serviços.
Percentual da população municipal
Aproximadamente 30% Aproximadamente 30%
atendida com a coleta seletiva
Existência de programa de coleta de
Não Sim
eletroeletrônicos
% da coleta seletiva em relação a coleta
0,74% 1,21%
domiciliar

Quadro 2: Elementos de identificação dos serviços prestados dos municípios de Aracaju/SE e João
Pessoa/PB
Fonte: SILVA (2014).

No que se refere à cobrança de taxa para a execução dos serviços que englobam resíduos, o
município de João Pessoa/PB cobra uma taxa específica anual o serviço especificado. Já a capital de
Aracaju não executa tal cobrança, pois se embute, como na maioria dos municípios, no Imposto
Predial Territorial Urbano (IPTU). No entanto, o valor irrisório cobrado no município de João
Pessoa, conforme informações repassadas pelo gerente responsável, não cobre valor as despesas
municipais com o serviço.
O montante arrecadado com a cobrança da taxa de resíduos no município de João Pessoa
fica em torno de R$ 12 milhões/ano ($4.969.355,64) o que representa 1/7 dos custos municipais
com limpeza urbana, tendo em vista que os custos anuais do município com limpeza urbana são de
aproximadamente R$ 69 milhões ($28.573.794,93), segundo informações do gestor responsável.
Soma-se a esses fatores o alto índice de inadimplência da taxa de resíduos, mais de 50%.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 827
A Taxa de Coleta de Resíduos – TCR - é regulamentada pela Lei Complementar nº 16/98,
de 29 de dezembro de 1998. A TCR é cobrada tomando-se por base de cálculo a estimativa oficial
do custo total da coleta, transporte, destino final e administração de resíduos sólidos do exercício de
sua cobrança, e é dividida, para fixação de seu valor, por grupos de consumidores categorizados.
Evidencia-se que a ausência de tarifário para a geração de resíduos municipais, pode
representar um empecilho à sustentabilidade dos sistemas de resíduos sólidos, em face da limitação
orçamentária dos municípios para arcar com os custos de operação e manutenção desses sistemas.
A taxa de resíduos, constante na PNRS, pode ser vista como uma forma de estratégia na gestão
integrada de resíduos sólidos, atribuindo a esta gestão a possibilidade de tarifação individual como
pagamento pelo benefício do tratamento visando à proteção ambiental. Por outro lado, atrelar tarifas
ou taxas individuais para resíduos sólidos não será uma questão fácil de ser absorvida pela
população, principalmente por se tratar de resíduos sólidos e pela cultura de disposição irregular.
Quanto à geração per capita de resíduos em ambos os municípios têm-se aproximadamente
0,88 kg/hab.dia, levando-se em consideração os resíduos domiciliares coletados no ano de 2012.
Justifica-se a mesma per capita nos municípios porque mesmo apesar do município de João
Pessoa ter maior quantitativo de habitantes, Aracaju contempla maior renda per capta, sendo assim
proximidade nos valores obtidos.
Ressalta-se que o aumento no poder aquisitivo da população implica em crescente geração
de resíduos e este não apenas pelo crescimento populacional. A economia se tornou um indicador
dos resíduos sólidos urbanos.

Coleta Seletiva município de Aracaju/SE

Ponto de extrema importância para funcionalidade e aplicabilidade da gestão sustentável dos


resíduos nos municípios é a coleta seletiva de resíduos reaproveitáveis. Sendo assim, entende-se que
deve haver manejo para lidar com todos os materiais no fluxo de geração e descarte de resíduos, de
maneira ambientalmente efetiva, economicamente viável e socialmente aceitável (WHITE et. alii,
1995).
Os municípios estudados não possuem planos de gerenciamento para a coleta seletiva, o que
implica na ausência de estudos aprimorados a respeito da composição dos resíduos ali produzidos e
no conhecimento do mercado para o fluxo comercial dos resíduos passíveis de reciclagem,
gerenciamento operacional, alcance e cobertura municipal, assim como participação e adesão da
população e continuidade das ações.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 828


A coleta seletiva no município de Aracaju/SE ocorre, desde o ano de 2001, com
intensificação a partir do ano de 2003. Com a desativação do ―Lixão da Terra Dura‖, houve a
criação da Cooperativa de Catadores de Matérias Recicláveis (CARE).
A CARE foi instituída no âmbito do Projeto Lixo e Cidadania em Sergipe, coordenado pelo
Ministério Público de Sergipe, em parceria com o UNICEF, Universidade Federal de Sergipe,
Prefeitura de Aracaju e algumas empresas, no ano de 1999.
Atualmente, a CARE conta com 84 cooperados, que separam e selecionam o material
reciclável proveniente dos bairros, condomínios, órgão e empresas inseridos no sistema de coleta
seletiva implantado pela Prefeitura Municipal de Aracaju através da EMSURB (empresa
responsável pela limpeza urbana do município de Aracaju) e de doadores que mantém relação direta
com a cooperativa. Destaca-se que o valor da venda do material coletado é distribuído entre os
associados de acordo com a produção de cada um.
Ressalta-se que a coleta seletiva do município de Aracaju não dispõe de um plano
específico. No entanto, a prefeitura informou que a inserção dos bairros no programa não é feita por
acaso. Após um estudo técnico das áreas a serem implantadas no projeto, os moradores são
visitados por agentes ambientais e recebem orientação de como realizar a separação dos materiais e
da importância deste procedimento para o meio ambiente. Entretanto, não foram explicados quais
são os critérios de escolha de tais locais.
Segundo informações repassadas pela EMSURB, em entrevista, no ano de 2013,
aproximadamente 16 bairros (conjunto Bela Vista; bairro Cirurgia; conjuntos Beira Mar I e II;
bairro Ponto Novo; bairro Getúlio Vargas; bairro 13 de Julho; conjunto Inácio Barbosa; bairro São
José, bairro Jardim Esperança; loteamento Parque dos Coqueiros, Beira Rio; bairro Aeroporto;
Aruana; bairro Jabotiana; bairro Jardins; bairro Grageru; e bairro Siqueira Campos) eram
contemplados com o sistema de coleta seletiva, ou seja, cerca de 41% do município teria cobertura
de coleta seletiva, considerando-se o universo de 39 bairros. Porém, o caminhão de coleta da CARE
não percorre 100% do bairro, apenas nos locais onde já há mobilização ambiental e participação da
comunidade.
A coleta de resíduos passíveis de reciclagem teve um aumento na coleta a partir do ano de
2005, quando firmada parceria junto a Fundação Banco do Brasil, sendo o aumento de 100 t no ano
de 2004 para o ano de 2005, correspondendo a 563,28 t/ano em 2005.
Observa-se que a porcentagem do montante coletado durante os anos de existência do
projeto ainda é irrisória se comparado ao total coletado de resíduos no município, conforme
demonstrado no Gráfico 1 que mostra as porcentagens destinadas a coleta seletiva considerando o
volume domiciliar coletado no município. Através do Gráfico 1 pode-se visualizar a progressão do

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 829


resíduo coletado total no município, o que tende a ser benéfico para o sistema, o que não implica em
dizer que a coleta seletiva no capital Aracaju está ocorrendo de forma abrangente e satisfatória.

Porcentagem/Ano
0,4

0,3

0,2

0,1

0
2004 2006 2008 2010 2012 2014

Coleta Seletiva

Gráfico 1: Porcentagem de coleta seletiva no município de Aracaju no período de 2005 a 2012.


Fonte: SILVA (2014).

Observa-se no Gráfico 1, que entre os anos de 2005 e 2007, a coleta de recicláveis manteve-
se constante não havendo grandes variações. Já a partir de 2008 houve um aumento significativo
anual que pode ser justificado pela inserção dos agentes ambientais a partir de 2009 realizando
trabalho de conscientização quanto a segregação dos resíduos.
Quanto a característica desses resíduos coletados seletivamente, de acordo com o Plano de
Regionalização (2009) no estudo de gravimetria realizado no município de Aracaju, verifica-se que
há o predomínio de mais de 50% de matéria orgânica, em bairros residenciais e no centro,
alcançando 35,68%, seguido de papel (11,76%) e do plástico (10,42%).
Os dados de composição gravimétrica permitem a visualização da potencialidade do
município de Aracaju quanto ao aproveitamento de recicláveis e de material compostável, sendo
necessária vontade política, envolvimento da comunidade na reformulação da coleta seletiva, assim
como um plano que norteie como o projeto será executado e as metas a serem atingidas, além da
avaliação periódica dos serviços.
Em entrevista o coordenador responsável pela gestão de resíduos ressaltou que as
dificuldades da coleta seletiva giram em torno, além da participação popular, da falta de
organização dos cooperados, tendo em vista que muitos ainda relutam para não trabalharem
organizados. Para ele as cooperativas não são as soluções para o problema de resíduos no país.
Quanto aos programas de sensibilização ambiental, o município executa programas pontuais
para campanhas específicas, não havendo programas contínuos que venham a contribuir com a
redução dos resíduos a serem dispostos no aterro sanitário.

Coleta Seletiva município João Pessoa/PB

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 830


No município de João Pessoa, no mês de setembro de 2000, foi iniciado um Projeto Piloto
de Coleta Seletiva, abrangendo os bairros de Tambaú, Cabo Branco, Miramar e parte de Manaíra
(NÓBREGA, 2003).
Segundo Nóbrega (2003) o modelo de coleta seletiva adotado no município de João Pessoa
seguiu o modelo adotado na capital do estado de Minas Gerais (Belo Horizonte) e teve de ser
adequado às realidades da capital paraibana, servindo de base para decisões não só no aspecto sócio
ambiental mas também no tecnológico. Tal modelo usou como alicerce a consciência tecnológica,
qualificação dos recursos humanos, cidadania e participação popular.
Ressalta-se que na época de funcionamento do lixão do Roger, cerca de 500 pessoas
trabalhavam na catação dos resíduos dispostos no local. Através do projeto piloto da EMLUR
(autarquia responsável pela limpeza urbana no município), foram encaminhados parte desses
catadores para a formação da Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis
(ASTRAMARE).
Com o encerramento do Lixão do Roger, os catadores foram inseridos nos programas da
prefeitura. Uma parte ficou trabalhando no próprio Roger, que havia uma planta de coleta seletiva.
Outros foram encaminhados aos programas de coleta seletiva que foram implantados em vários
bairros do município até o final do ano de 2004 e outros ainda foram para a planta de coleta
seletiva, localizada antes da entrada do Aterro Sanitário Metropolitano de João Pessoa (EMLUR,
2002).
A partir de agosto de 2003, com a desativação do Lixão do Roger, os catadores que ainda se
encontravam trabalhando no lixão foram encaminhados para uma cooperativa e passaram a iniciar
os trabalhos no programa de recolhimento porta a porta implantado pela EMLUR, sendo a
comercialização dos materiais coletados revertidos para os catadores. A partir de então se iniciou o
programa de coleta seletiva porta a porta no município (BOVEA et. alii, 2012). Mas é importante
destacar que o programa obteve maior abrangência a partir do ano de 2005 quando o recolhimento
começou a abranger mais bairros do município.
Existem no município 6 núcleos de coleta que abrangem 20 bairros, sendo estes núcleos
distribuídos: 1 no aterro sanitário metropolitano, 1 no bairro do Bessa, 1 no bairro 13 de Maio, 1 no
bairro Cabo Branco, 1 no bairro Mangabeira, 1 bairro Jardim Cidade Universitário.
De acordo com os dados repassados pelo Engenheiro da EMLUR, aproximadamente 5,1%
da área municipal tem cobertura de coleta seletiva o que atinge cerca de 30% da população total. A
EMLUR prevê ainda mais 3 núcleos de coleta seletiva que serão instalados nos bairros Valentina,
Geisel e Boa Esperança o que irá possibilitar a cobertura de quase 50% dos bairros da capital dentro
do ano de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 831


Assim, analisando-se a produção de resíduos coletados seletivamente a partir de 2005, tendo
em vista o quantitativo considerável de núcleos em funcionamento e a base de dados repassadas
pela EMLUR, o total coletado registrado durante os 7 anos de análise do projeto foi de 20.287,96
toneladas.
O Gráfico 2 mostra as porcentagens destinadas a coleta seletiva considerando o volume
domiciliar coletado no município. Visualiza-se a brusca queda na coleta de resíduos coletados
seletivamente no ano de 2011.

Porcentagem/Ano
1,5

0,5

0
2004 2006 2008 2010 2012 2014

Coleta Seletiva

Gráfico 2: Porcentagem anual dos resíduos sólidos urbanos encaminhados para reciclagem
Fonte: SILVA (2014).

Para a redução brusca de resíduos coletados seletivamente no ano de 2011, verificado no


Gráfico 2, não há explicação plausível por parte da autarquia responsável. O que pode ter
acontecido, provavelmente, foi a falta de divulgação contínua do programa e a taxa redução da
adesão da população ao programa, consequentemente reduzindo a quantidade de material reciclável.
Verifica-se que os investimentos necessários na expansão e melhorias da coleta seletiva,
assim como as ações que vem sendo adotadas não satisfazem o novo modelo de gerenciamento,
necessário para se atingir as metas da PNRS.
Quanto aos projetos de educação ambiental no município de João Pessoa foi possível
observar ações significativas e alcançáveis que contribuem para sensibilização ambiental da
população, como também, para que haja maior segregação dos resíduos, o que beneficia a
reciclagem dos mesmos.
A avaliação quanto ao funcionamento e alcance dos 6 programas encontrados e que que
visam a educação ambiental, estão em fase de elaboração não sendo possível maiores discussões
também por não haver um banco de dados relacionado no município.
Os estudos mostraram a necessidade de melhorias e expansão nos serviços que envolvem a
cadeia da gestão de resíduos no município de João Pessoa/PB, pois se sabe que a administração dos
resíduos sólidos urbanos e as políticas governamentais devem vislumbrar simultaneamente todo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 832


processo de tratamento, como exemplo a compostagem, de maneira que possam ser reutilizados ou
aproveitados pelo sistema econômico, podendo-se assim se tornar um dos grandes aliados da gestão
sustentável para o município.
O cenário encontrado nos municípios retrata a realidade do país. É importante ressaltar que
não há uma estrutura de beneficiamento dos materiais recicláveis ou um estudo de mercado para a
venda destes, o que dificulta o escoamento dos materiais passíveis de reciclagem. Tal cenário talvez
seja motivado pela ausência de estudos condizentes com as realidades das localidades e
detalhamento do que é gerado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contatou-se que na capital João Pessoa as ações com vistas à melhoria e ao aumento da
produção dos resíduos segregados são mais efetivas e de maior investimento. A divisão por núcleos
permite que haja maior conscientização e participação popular, como também maior possibilidade
de inclusão social dos catadores. Porém, o percentual de segregados para reciclagem, considerando-
se a massa de resíduos coletados no município, ainda é irrisória necessitando de maiores
investimentos para expansão dos serviços e sensibilização popular.
Na capital Aracaju, verificou-se que o funcionamento da coleta seletiva ainda é incipiente,
necessitando de maior planejamento e investimentos no setor, de modo que possam ser alcançadas
melhorias significativas desde a coleta até a comercialização dos resíduos segregados. Além do que
se necessita de maior abrangência e participação comunitária em todos os processos de tomada de
decisões e ações.
Salienta-se que poucos estudos relacionados a problemática da coleta seletiva no município
de Aracaju foram encontrados, diferentemente da capital João Pessoa que possui diversos estudos
realizados pela Universidade Federal da Paraíba, que contribuíram para sintetização e análise dos
dados.
A ausência de comunicação, esclarecimento e transparência quanto aos processos
operacionais que envolvem a cadeia de resíduos sólidos implica em baixa participação e
compreensão do gerador refletindo diretamente na continuidade do manejo incorreto dos resíduos e
possibilidades mínimas de reversão do cenário de degradação oriunda dos impactos ocasionados por
estes.
Ressalta-se também que o alcance eficiente de projetos que envolvam a área de resíduos
depende de estudos municipais verídicos sobre a localidade e aprofundados sobre a temática. Os
municípios necessitam de dados contundentes a respeito da composição dos resíduos gerados.
Encontra-se estudos relacionados a composição gravimétrica dos resíduos de ambos municípios no

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 833


entanto, estes estão desatualizados para análises mais complexas. Sugere-se que sejam feitos novos
estudos e que estes, além de mais detalhados, estejam inseridos nos planos de resíduos de ambos
municípios.
Assim, além da massa reciclável gerada por tipo de resíduo serão possibilitados estudos
quanto à viabilidade econômica da coleta seletiva tendo em vista o potencial comercial de cada
resíduo, o ciclo de vida deles, como também o futuro potencial energético dos mesmos tão
discutidos nos dias de hoje. Dessa forma, eliminam-se, possivelmente, os atravessadores que
compõem o cenário de venda de recicláveis no Brasil, e possibilita-se que o sistema que envolve
toda cadeia de resíduos seja sustentado pela sua produção e aproveitamento.

BIBLIOGRAFIA

AGAMUTHU, P.; KHIDZIR, K.M.; FAUSIAH, S.H. (2009) Drivers of sustainable waste
management in Asia. Waste Management and Research, n. 27, p. 625-633.
BRASIL. Lei nº 12.305/2010, de agosto de 2010.Intitui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
Brasília: Diário Oficial da União, 2010. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em
05.08.10.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2010. Rio de
Janeiro, 2010. Rio de Janeiro, IBGE, 2010.
BESEN, G. R.; DIAS, S. M. Gestão pública sustentável de resíduos sólidos: uso de bases de dados
sociais e de indicadores de sustentabilidade. In: Revista Pegada Eletrônica, Presidente Prudente,
v. especial, pp. 112-134, 2011.
BOVEA, M. D.; NÓBREGA, C. C.; MORAES JUNIOR, FONSECA, E.; LIMA, J. D. Evolution of
environmental performance in waste management in joão pessoa-paraíba-brazil. In: Anais.. XVI
Congreso Internacional de Ingeniería de Proyectos Valencia, 11-13 de julho de 2012.
DEMAJOROVIC, J. O desafio da gestão compartilhada de resíduos sólidos face á lógica do
mercado. São Paulo, 2006.
JOÃO PESSOA/PB. Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana - EMLUR Relatório de
Atividades Anual. João Pessoa, 1998 - 2002.
NÓBREGA, C.C. Viabilidade Econômica, com Valoração Ambiental e Social, de Sistemas de
Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Domiciliares – Estudo de Caso: João Pessoa/PB. 2003.
176p. Tese (Doutorado Temático em Recursos Naturais) – Universidade Federal de Campina
Grande, Campina Grande.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 834


ONOFRE, F. L. Estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares. Dissertação de Mestrado
apresentada à Universidade Federal da Paraíba para a obtenção do grau de Mestre. João Pessoa –
Paraíba, 2011.
SILVA, A.C. Análise da gestão de resíduos sólidos urbanos em capitais do nordeste brasileiro: O
Caso de Aracaju/SE e João Pessoa/PB. 2014. 156p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Urbana e Ambiental) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB.
SUOCHENG, D., TONG, K.W., YUPING, W. (2001). Municipal solid waste management in
China: using commercial management to solve a growing problem. Utilities Policy 10 (1), pp. 7-
11*.
ZANETI, B. C. I.; SÁ, M. L. A educação ambiental como instrumento de mudança na concepção de
gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na preservação do meio ambiente. [2003]. Disponível
em:
<http:/www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/sociedade_do_conhecimento/Zaneti/
Mourão.pdf>. Acesso em: 27. mai. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 835


MODELO DIFERENCIADO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS PARA O MUNICIPIO DE QUIXADÁ/CE: IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS E PERSPECTIVA DE MANEJO SUSTENTÁVEL

Rayara Oliveira JACÓ


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
rayarajaco@hotmail.com

Helenamara Fonseca Sobrinho de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
helena_fonsec@hotmail.com

Beatriz Lopes e FIGUEREDO


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
beatrizlopesif@gmail.com

Reinaldo Fontes CAVALCANTE


Mestre em Tecnologia em Gestão Ambiental do IFCE
reinaldo.ifce@gmail.com

RESUMO
Este estudo tem o intuito de avaliar, através de visitas aos bairros e aos órgãos municipais de
Quixadá, a problemática dos resíduos sólidos no município, por meio de técnicas de qualificação e
quantificação dos resíduos sólidos urbanos, bem como analisar a atuação do Poder Público e o
diagnostico atual de gerenciamento dos resíduos e, principalmente, os impactos socioambientais
causados a população, a fim de se implantar um modelo de gerenciamento diferenciado para os
resíduos sólidos urbanos do município. A metodologia utilizada consistiu em determinar o perfil da
geração dos resíduos, através de um levantamento quantitativo dos resíduos sólidos urbanos gerados
e pela determinação da composição gravimétrica dos resíduos feita através do método do
quarteamento em 60 residências distribuídas em três bairros do município de Quixadá. Durante o
monitoramento do sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos nos bairros analisados, que
também se aplica aos demais bairros do munícipio, percebeu-se que tanto a coleta quanto o
transporte dos resíduos é feita de maneira ineficiente e está em desacordo com os padrões
estabelecidos pela Lei N° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e
somando‐se aos problemas de infraestrutura, pode-se destacar ainda, a falta de conscientização da
população que não se preocupada em gerar uma grande quantidade de resíduos. A gestão e a
disposição inadequada dos resíduos sólidos no município tem causado uma serie de impactos
socioambientais, tais como degradação do solo, comprometimento dos corpos d'água e mananciais,
intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar, catação em condições insalubres
nas ruas e nas áreas de disposição final.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 836


Palavras - chave: Resíduos sólidos, Gerenciamento diferenciado, Impactos socioambientais.

ABSTRACT
This study aims to evaluate, through visits to the neighborhoods and municipal organs of Quixada,
the problem of solid waste in the county, through of techniques of qualification and quantification
of solid waste, as well to evaluate the performance of the government and the current diagnosis of
management of waste and especially the social and environmental impacts to population, in order
to, implanting a model differentiated of management for municipal solid waste (MSW) of the city.
The methodology consisted in determining the profile of the generation of waste, through a
quantitative survey of MSW generated and by gravimetric determination of the composition of the
waste, made by the quartering method in 60 households distributed in three neighborhoods in the
city of Quixadá. During monitoring of the solid waste management system in the neighborhoods
analyzed, it was noticed that both the collection and the transport of waste is done inefficiently and
is in disagreement with the standards established by Law No. 12,305 / 2010, which established the
National Policy of Solid Waste and adding to infrastructure problems, you can also highlight the
lack of awareness of the population that is not concerned about generating a lot of waste. The
management and the inadequate disposal of solid waste in the city has caused a series of social and
environmental impacts such as soil degradation, compromising of water bodies and fountains,
intensifying floods, contributing to air pollution, unsanitary conditions in scavenging the streets and
disposal areas end.
Keywords: Solid waste, Differentiated management, Social and environmental impacts.

INTRODUÇÃO

A problemática da geração de resíduos sólidos tem se transformado em um dos maiores


problemas da sociedade atual, devido, sobretudo, aos elevados padrões de produção e consumo
ultimamente alcançados, que aliados às carências financeiras e tecnológicas apresentadas pelos
gestores municipais têm aumentado gradativamente a produção de resíduos sólidos de todas as
espécies.
Devido à manutenção das atividades naturais dos organismos e da constante busca do
homem por melhoria da sua condição de vida, essa geração de resíduos está totalmente
condicionada às suas necessidades, assim como está diretamente ligada à capacidade de consumo
do planeta que cresce a níveis exponenciais. Um dos maiores agravantes desse processo é o fato de
que grande parte destes resíduos poderiam ser reutilizados ou reinseridos no processo produtivo,
através da reciclagem dos materiais, por isso, o mau gerenciamento dos resíduos sólido tem se
constituído como o principal responsável pelos elevados índices de disposição inadequada dos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 837
resíduos sólidos urbanos, sendo feita, na sua maioria, em lixões a céu aberto, causando diversos
problemas econômicos, sociais e ambientais.
Existe uma dificuldade no Brasil a respeito de se obter informações confiáveis e detalhadas
sobre o tema resíduos sólidos, pois os dados existentes sobre o assunto são escassos, desatualizados
e conflitantes. Ainda assim, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a população brasileira é de
aproximadamente 190 milhões de habitantes, produzindo diariamente de 190 mil toneladas de
resíduos sólidos (Abrelpe, 2012), os quais, de acordo com a população dos municípios, em 63,6%
dos municípios brasileiros a disposição dos seus resíduos sólidos é feita em ―lixões‖, em 13,8% a
disposição é realizada em aterros sanitários e em 18,4% os resíduos são dispostos em aterros
controlados, que se caracteriza como uma forma de disposição inadequada, porém menos agressiva
do que a efetuada em lixões.
Os resíduos sólidos de origem urbana (RSU) que compreendem aqueles produzidos pelas
inúmeras atividades desenvolvidas em áreas com aglomerações humanas do município, abrangendo
resíduos de várias origens, como residencial, comercial, estabelecimentos de saúde, industriais,
limpeza pública, construção civil e os agrícolas têm se apresentado como uma das maiores
preocupações dos gestores municipais, por apresentarem valores de produção cada vez mais altos e
devido a falta de gerenciamento adequado, caracterizado por procedimentos irregulares de coleta,
transporte, tratamento e destinação final dos rejeitos, conferindo aos municípios problemas
ambientais e econômicos que impactos diretamente na população.
No que se refere aos aspectos socioambientais, o manejo inadequado dos resíduos sólidos
urbanos configuram grandes riscos à saúde dos profissionais de limpeza urbana e catadores de
materiais recicláveis, pois não se têm priorizado técnicas de prevenção e segurança do serviço. A
preocupação socioambiental envolvendo resíduos sólidos também deve ser considerada na
discussão logística, destacando-se, no primeiro caso, a importância das cooperativas de reciclagem
como atividade econômica para centenas de famílias e, no segundo, a importância de alternativas de
destinação, visando ao aproveitamento dos resíduos, transformado o que seria lixo em geração de
energia.
Portanto, o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos deve ser integrado, ou seja, deve
englobar etapas articuladas entre si, desde a não geração até a disposição final, com atividades
compatíveis com as dos demais sistemas do saneamento ambiental, sendo essencial a participação
ativa e cooperativa do primeiro, segundo e terceiro setor, respectivamente, governo, iniciativa
privada e sociedade civil organizada (ABES, 2003).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 838


Diante do exposto, este estudo tem enquanto relevância acadêmica e social, o intuito de
avaliar, através de visitas aos bairros e aos órgãos municipais de Quixadá, a problemática dos
resíduos sólidos no município, por meio de técnicas de qualificação e quantificação dos resíduos
sólidos urbanos produzidos diariamente pela população, bem como analisar a atuação do Poder
Público e o diagnostico atual de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos rejeitos e,
principalmente, os impactos socioambientais causados a população, devido à má gestão dos
resíduos, a fim de se implantar um modelo de gerenciamento diferenciado para os resíduos sólidos
urbanos do município.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada consistiu, inicialmente, em determinar o perfil da geração dos


resíduos, através um levando quantitativo dos resíduos sólidos urbanos gerados por meio da
realização de pesagens do lixo produzido diariamente por 60 residências distribuídas em três bairros
do município de Quixadá. Os bairros selecionados pelos pesquisadores foram Alto São Francisco,
Planalto Universitário e Campo Velho, sendo analisadas 20 residências em cada bairro. Os valores
das pesagens foram compilados para que se fosse estimada a quantidade de resíduo gerado por
pessoa a cada dia, através da média aritmética dos valores per capitas obtidos em cada residência.
Vale destacar que as características quali-quantitativas dos resíduos sólidos podem variar em função
de vários aspectos, como os sociais, econômicos, culturais, geográficos e climáticos (ABES, 2003).
A determinação da composição gravimétrica dos resíduos foi feita através do método do
quarteamento. Assim, essa metodologia analisou os percentuais de plástico duro – PET, plástico
mole, embalagens multicamadas, pano/trapo, papelão/papel, orgânico, metal e vidro dos resíduos de
origem domiciliar e comercial, normalmente dispostos no aterro controlado da cidade.
Na literatura são apresentados diferentes métodos para realizar a composição gravimétrica
dos resíduos sólidos, a maior parte com base no quarteamento da amostra, conforme a NBR
10007/ABNT (1987). O método utilizado nesta pesquisa baseou-se no descrito por Pessin et al.
(2002). Nesse método foi realizada a coleta dos resíduos de cada uma das 20 residências até que se
atingisse um total de 800 litros para cada bairro. Os resíduos coletados foram descarregados no
solo sobre uma lona plástica e iniciou-se a mistura e o quarteamento da amostra, ou seja, a divisão
em quatro partes do total de 800 litros de resíduos dispostos. Duas das partes obtidas pelo
quarteamento, e localizadas em posição diametralmente opostas foram descartadas e repetiu-se a
mistura e o quarteamento das partes restantes, obtendo-se uma amostra final de 200 litros ou de 100
kg. Quanto aos materiais, foram utilizados: luvas, máscaras, balança, tambores de 200l, sacos
plásticos, pá e lona preta de 40m².

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 839


Essa metodologia foi aplicada aos três bairros analisados pela pesquisa, na qual foi possível
a determinação de uma perspectiva da geração per capita diária e da composição gravimétrica dos
resíduos sólidos urbanos produzidos no munícipio de Quixadá, que está localizado no Sertão
Central Cearense, a 147 km da capital e que conta com uma população de 83.604 habitantes,
compreendendo uma área de 2.019,83 Km² (IBGE e IPECE, 2010).
Em seguida, avaliaram-se os métodos de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos
desenvolvidos no município. Nessa etapa foram realizadas visitas técnicas, em que foram analisados
os impactos socioambientais decorrentes da disposição ambiental dos resíduos sólidos, associando-
os ao tipo de resíduo disposto e a suas características. Outro ponto importante analisado durante a
pesquisa foi a atuação do Poder Público com relação à gestão dos resíduos sólidos para que se fosse
possível propor um modelo de gestão diferenciado de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos,
fazendo uma análise comparativa entre o modelo adotado no município e os modelos apresentados
em diversas literaturas para subsidiar uma proposta alternativa de modelo de gestão ou validar o
modelo atualmente adotado pelo município de Quixadá.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A classificação dos resíduos sólidos é de grande relevância para a escolha da estratégia de


gerenciamento mais viável e se baseia em determinadas características ou propriedade previamente
identificadas. A norma NBR 10004/87, trata da classificação de resíduos sólidos quanto a sua
periculosidade, ou seja, característica apresentada pelo resíduo em função de suas propriedades
físicas, químicas ou infectocontagiosas, que podem representar potencial de risco à saúde pública e
ao meio ambiente. De acordo com sua periculosidade os resíduos sólidos podem ser enquadrados
como resíduos perigosos, inertes ou não inertes.
A quantificação dos resíduos sólidos, obtido a partir das pesagens realizadas nos bairros,
foram representadas como no modelo da Tabela 1 a seguir, que se refere ao bairro Alto São
Francisco. Esta metodologia foi seguida para os demais bairros, na qual foram calculados os
percentuais de produção total diária pelo numero de pessoas por residência para se obter as médias
per capita diárias.

Quantidade total de Quantidade de


N° de pessoas
Residência resíduo sólidos resíduo sólido
por residência
gerado por dia (peso) per capita (peso)
1 2 620 g 310 g
2 6 4100 g 684 g
3 2 570 g 285 g
4 4 1600 g 400 g

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 840


5 2 590 g 295 g
6 2 780 g 390 g
7 3 2100 g 700 g
8 3 1900 g 634 g
9 2 520 g 260 g
10 4 1420 g 355 g
11 4 1840 g 460 g
12 3 980 g 327 g
13 2 590 g 295 g
14 2 760 g 380 g
15 3 960 g 320 g
16 2 820 g 410 g
17 3 1800 g 600 g
18 3 2000 g 667 g
19 4 3200 g 800 g
20 4 1900 g 475 g
Tabela 1 – Quantificação dos resíduos sólidos urbanos do bairro Alto São Francisco.

No caso do bairro Alto São Francisco a geração média per capita de resíduos por dia foi de
452,35 g de resíduos, já para o bairro Planalto Universitário foi de 855 g e para o bairro Campo
Velho foi de 641,2 g. Fazendo uma estimativa a partir dos dados obtidos nos três bairros analisados,
a média da geração per capita foi 649,5 g de resíduo por dia, o que totalizaria uma geração, em
média, de 54 toneladas de resíduos no município a cada mês.
Por meio do quarteamento fez-se o levantamento da composição gravimétrica dos resíduos
sólidos para bairros, obtendo os percentuais expressos nas Figuras 1, 2 e 3 a seguir:

Figura 01: Composição gravimétrica do bairro Alto São Francisco.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 841


Figura 02: Composição gravimétrica do bairro Planalto Universitário.

Figura 03: Composição gravimétrica do bairro Campo Velho.

Logo, de acordo com dados apresentados, a taxa de geração de material de origem orgânica
se apresentou como a mais elevada, seguida pela taxa de plástico, principalmente proveniente de
garrafas e recipientes de PET. Este fato se deve, sobretudo, ao perfil socioeconômico da população,
que, em sua maioria, recebem entre 1 a 2 salários mínimos e por se tratar de resíduos coletados de
fontes estritamente domiciliar.
Durante o monitoramento do sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos nos bairros
analisados, que também se aplica aos demais bairros do munícipio, percebeu-se que tanto a coleta
quanto o transporte dos resíduos é feita de maneira ineficiente e está em desacordo com os padrões
estabelecidos pela Lei N° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. O
acondicionamento dos resíduos é feito em um aterro controlado localizado nas proximidades da
cidade, o qual se encontra em estado de abandono e está cada vez mais próximo de alcançar sua
capacidade máxima de suporte, pois os resíduos que chegam ao aterro, que atualmente tem sido
operado como um lixão a céu aberto, não passam por nenhum sistema de tratamento ou coleta

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 842


seletiva, portanto, a destinação está sendo feita de maneira inadequada, visto que o rejeito deveria
ser o único material a ser depositado no aterro, isto é, aquele material que depois de esgotadas todas
as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final.
Somando‐se aos problemas de infraestrutura, pode-se destacar ainda, a falta de
conscientização da população que não se preocupada em gerar uma grande quantidade de resíduos,
que são comumente dispostos a céu aberto nos chamados lixões clandestinos, como terrenos baldios
e matas fechadas, o que tem contribuído muito para a proliferação de roedores e insetos
responsáveis pela propagação de doenças no local. Além disso, a população, em geral, dispõe de um
conhecimento limitado quanto às formas de tratamento e acondicionamento adequado do lixo, bem
como sobre as práticas de coleta seletiva e destinação final ambientalmente adequada, de modo que
poucas famílias fazem a separação do lixo ou reutilizam algum tipo de material. Portanto, esse fato
demonstra a importância da difusão da educação ambiental entre a população, visto que somente
desta maneira será possível que estes tenham a devida informação sobre o manejo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada à sua realidade local, podendo, dessa maneira,
possibilitar uma nova conduta sustentável na gestão dos resíduos gerados pela população.
A administração pública municipal tem a responsabilidade de gerenciar os resíduos sólidos,
desde a sua coleta até a sua disposição final, que deve ser ambientalmente segura, no entanto a falta
de recursos públicos e má gestão destes, assim como a falta de profissionais qualificados tem
impossibilitado a eficiência e a continuidade desse processo.
Paiva (2011, pag.16) aborda que o conceito de gestão de resíduos sólidos abrange atividades
referentes à tomada de decisões estratégicas com relação aos aspectos institucionais,
administrativos, operacionais, financeiros e ambientais, enfim à organização do setor para esse fim,
envolvendo políticas, instrumentos e meios. Assim, o gerenciamento deve ser um conjunto
articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração
municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar
e dispor o lixo de uma cidade.
Segundo o Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (2001, p. 8) o
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos é, em síntese, o envolvimento de diferentes
órgãos da administração pública e da sociedade civil com o propósito de realizar a limpeza urbana,
a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da população
e promovendo o asseio da cidade, levando em consideração as características das fontes de
produção, o volume e os tipos de resíduos – para a eles ser dado tratamento diferenciado e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 843


disposição final técnica e ambientalmente corretas –, as características sociais, culturais e
econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e urbanísticas locais.
Sob o ponto de vista ambiental, os lixões podem causar poluição das águas superficiais e
subterrâneas, devido à percolação do chorume, que é um líquido de cor preta altamente poluente,
formada da degradação da matéria orgânica não controlada (SERAFIM et al, 2003), poluição do
solo, como também, poluição atmosférica, em razão da emanação de gases como o metano e o gás
sulfídrico, havendo o risco de explosões por causa do acúmulo desses gases que são provenientes da
decomposição da matéria orgânica, fato que põe em risco a vida dos catadores.
A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos no município tem causado uma
serie de impactos socioambientais, tais como degradação do solo, comprometimento dos corpos
d'água e mananciais, intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar, catação em
condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final.
Destaca-se, ainda, que a má disposição dos resíduos sólidos em aterros controlados ou lixões
está ligado ao fato de que o mesmo acaba atraindo famílias que, por não terem aonde trabalhar e
morar fazem da catação do lixo um meio de sobrevivência e acabam por formar comunidades
próximas aos lixões, apresentando uma forma sub-humana de sobrevivência e causando inúmeros
problemas de saúde aos catadores e suas famílias. Um dos casos mais graves que podemos observar
neste aspecto, é a inserção do trabalho infantil nos lixões, pois muitas crianças abandonam a escola
para ajudar seus pais com as despesas da família (Calderoni, 2003).
Economicamente, a disposição final inadequada desses resíduos acaba por trazer prejuízos,
pois são jogados fora materiais que poderiam ser reutilizados e/ou reciclados como papel, vidro,
plástico e metal, o que acarreta em desperdício de energia, mão-de-obra e recursos minerais. De
acordo com Calderoni (2003), também é importante salientar que o Brasil deixa de ganhar pelo
menos R$ 4,6 bilhões todos os anos por não reciclar os resíduos produzidos por sua sociedade
consumista. Inserido nesse contexto, realizou-se o calculo de potencial reciclador do município, que
pôde ser percebido com base na quantidade de cada material reciclado produzido, multiplicado pela
população de cada bairro para se realizar uma estimativa do total, multiplicado pelo valor comercial
de cada material. O cálculo do potencial reciclador para os bairros estudados estão representados na
Tabela 2, a seguir.

Alto São Planalto


Materiais Campo velho
Francisco Universitário
Plástico duro
324,50 485,54 759,52
(PET)
Plástico mole 570,50 627,69 647,50

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 844


Vidro 269,08 269,08 107,91

Metal/Alumínio 247,50 448,35 331,95


Embalagem
187,20 267,22 204,35
multicamadas
Papel/Papelão 547,50 269,08 194,98
Total 2.146,28 2.366,96 2.246,21
Tabela 1 – Estimativa de lucro obtido a partir do calculo do potencial reciclador do bairros analisados.

Os resultados obtidos demostram que o município de Quixadá apresenta um elevado


potencial reciclador, podendo obter lucros em média de R$ 2.253,15 reais por dia para cada bairro,
o que daria em média R$ 67.594,50 reais por mês em cada bairro. Caso fossem relacionados os
demais bairros do município, totalizando 21 bairros, tomando com base a média de lucro obtida nos
bairros estudados, o lucro total do município seria em torno de 1.419.484,50 reais por mês, que
poderiam contribuir de maneira significativa para a melhoria da qualidade de vida da população,
configurando-se com um importante impacto socioambiental relacionado tanto com a poluição do
meio ambiente com materiais que poderiam estar sendo reinseridos na cadeia produtiva, como
também com o dinheiro que poderia estar sendo empregado para a manutenção do sistema de gestão
dos resíduos sólidos, geração de emprega e renda para os catadores e aumento da vida útil dos
aterros sanitários. Portanto, a não separação do lixo e a inexistência de coleta seletiva representam
os maiores entraves para o reaproveitamento destes materiais.
Por isso, o modelo diferenciado de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos para o
município de Quixadá visa, dentre outras ações, implantar um sistema eficiente de coleta seletiva de
maneira a separar os resíduos sólidos na sua origem em três categorias distintas: material orgânico,
materiais recicláveis e materiais não recicláveis ou rejeito, uma vez que ao separa-los ainda na fonte
geradora e coletados separadamente é possível aumentar o índice de materiais recicláveis e
compostáveis, obtendo-se ao final, produtos de melhor qualidade e aceitabilidade no mercado de
recicláveis, facilitando, dessa forma, o trabalho de catação dos catadores de materiais recicláveis,
que devem estar obrigatoriamente organizados em cooperativas de catadores apoiadas e amparadas
pela prefeitura do município, bem como lhes trará fonte de emprego e renda, sem prejuízo a sua
qualidade de vida e preservação do meio ambiente.
Vale ressaltar, que um dos pontos principais para garantir a eficácia desse sistema é através
da ampliação e otimização dos programas de reciclagem por meio da participação social, formação
de parcerias e desenvolvimento de campanhas educativas junto à população e aos órgãos públicos.

CONCLUSÃO

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 845


O manejo adequado dos resíduos é uma importante estratégia de preservação do meio
ambiente, assim como de promoção e proteção da saúde da população. Uma vez acondicionados em
aterros, os resíduos sólidos podem comprometer a qualidade do solo, da água e do ar e causar uma
série de impactos ambientais, econômicos e sociais, por serem fontes de compostos orgânicos
voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados.
A gestão sustentável dos resíduos sólidos impacta de maneira positiva tanto na manutenção
da qualidade ambiental da região como da saúde publica da população, pois a adoção de padrões de
produção e consumo sustentáveis e de gerenciamento adequado dos resíduos sólidos podem reduzir
significativamente os impactos ao ambiente e à saúde. Por isso, a minimização pode ser um dos
procedimentos que, ao focalizar, como ponto principal, a redução da quantidade e/ou da toxicidade
do resíduo na fonte geradora, permite abordar, de forma simultânea, a prevenção dos riscos
ambientais gerados pelos resíduos e o controle da poluição ambiental que os resíduos acarretam.
Além disso, para gerenciar os resíduos sólidos urbanos de uma cidade de forma integrada
deve-se compreender a importância da existência de um conjunto que estabeleça as políticas
públicas a serem seguidas pelos órgãos que realizam os serviços de limpeza pública e de destinação,
bem como e, sobretudo, dos impactos socioambientais sujeitos a população. Assim, ao se delimitar
o tema desta pesquisa e analisar a importância da implantação de um modelo diferenciado de
gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, levou-se em consideração a grande relevância em
compreender a representação social das pessoas que convivem diariamente com a problemática dos
resíduos sólidos do município, sendo estes os principais beneficiados pelos resultados do desta
pesquisa, que poderão ser utilizados para a melhoria da qualidade ambiental da região e a qualidade
de vida da população, por meio do desenvolvimento de programas que visem o gerenciamento
adequado dos resíduos sólidos urbanos, geração de emprego e renda através do incentivo as
associações de catadores, coleta seletiva, educação ambiental e manejo sustentável dos resíduos
sólidos urbanos.
Portanto, de acordo com os resultados discutidos, o município de Quixadá necessita da
implantação de um Plano Diferenciado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, visto que
apresenta inúmeros problemas relacionados à má gestão destes resíduos, como a falta de uma
unidade de processamento de resíduos sólidos, inadequado sistema de tratamento e disposição final,
ausência de programas de coleta seletiva e educação ambiental junto a população, entre outros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br>. Acesso em:


21 de set. de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 846


CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas, 1998

IPECE - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas do Ceará – Perfil Municipal. 2013.

JUNIOR, A.B.C.; Resíduos sólidos urbanos: aterro sustentável para municípios de pequeno porte.
Rio de Janeiro: ABES, RiMa, 2003. Pag. 14 a 20.

Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.


José Henrique Penido Monteiro [et al.]; coordenação técnica Victor Zular Zveibil. Rio de
Janeiro: IBAM, 2001.

MEDEIROS, P.A. et al. Geração de líquidos percolados em resíduos sólidos urbanos com cobertura
permeável. In: SIMPÓSIO ÍTALO-BRASILEIRO DE ENGENHERIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 6. ABES. Vitoria, 2002.

Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2012. São Paulo: Abrelpe, 2012.

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008. Disponível em:<


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf>.
Acesso em: 21 de set. de 2014.

PESSIN, N; DE CONTO, S. M.; QUISSINI, C. S. Diagnóstico preliminar da geração de resíduos


sólidos em sete municípios de pequeno porte da região do Vale do Caí, RS. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE QUALIDADE AMBIENTAL. 2002, Porto Alegre. Anais... Porto
Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2002.

SANTOS, M.C.L.; DIAS, S.L.F.G.; Resíduos sólidos urbanos e seus impactos sócio/organizadoras.
São Paulo: IEE-USP, 2012.

SERAFIM, Aline Camillo. et al. Chorume, Impactos Ambientais e Possibilidades de Tratamento.


III Fórum de Estudos Contábeis. Faculdades Integradas Claretianas. Rio Claro/ SP. 2003.
Disponível em: < http://www.ceset.unicamp.br/lte/Artigos/3fec2402.pdf>. Acesso em: 18 de set.
de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 847


RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: HERANÇA E DESAFIOS

Valdecir Albuquerque de FREITAS JUNIOR


Graduando do curso de Gestão Ambiental da UERN
valdecir_afj@hotmail.com

Maria Betânia Ribeiro TORRES


Cientista social, professora do Curso de Gestão Ambiental da UERN
betaniatorres@gmail.com

Melissa Rafaela da Costa PIMENTA


Cientista social, professora do Curso de Gestão Ambiental da UERN
melissarafaela@uern.br /melissapimenta@bol.com.br

Rodrigo Guimarães de CARVALHO


Geógrafo, professor do Curso de Gestão Ambiental da UERN
rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
O saneamento no Brasil passa por diversas dificuldades no que tange a uma integração das suas
dimensões: o abastecimento de água, a drenagem das águas, o esgotamento sanitário e os resíduos
sólidos. A herança das políticas tecnocêntricas e suas consequências para o gerenciamento
desarticulado dos resíduos sólidos incorrem no déficit dos serviços de saneamento básico no Brasil.
Os resíduos sólidos uma das dimensões do saneamento básico, entrou na agenda das políticas
públicas secundariamente, em relação ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário. Os
planos que nortearam as iniciativas do governo acerca do saneamento básico são questionáveis
quanto aos seus resultados concretos. É consenso entre estudiosos e técnicos da área a necessidade
de se buscar um gerenciamento integrado e intersetorial com outras políticas, articulado à
multidisciplinariedade nas tomadas de decisões. O presente artigo busca discutir e refletir a respeito
da relação dos resíduos sólidos e educação ambiental, na tentativa de buscar possíveis contribuições
de processos educativos para a implantação de políticas públicas de saneamento básico.
Palavras chave: Saneamento básico. Educação ambiental. Resíduos sólidos.

ABSTRACT
Sanitation in Brazil goes through several difficulties in what concerns an integration of its
dimensions: water supply, water drainage, sanitary sewer and solid waste. The heritage of
technocentric policies and its consequences for the disarticulated management of solid waste incur
into the deficit of basic sanitation services in Brazil. Solid waste, one of the basic sanitation
dimensions, entered the agenda of public policies secondarily comparing to water supply and
sanitary sewer. The plans that guided government initiatives concerning basic sanitation are
questionable in what concerns their concrete results. There is an agreement among researches and

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 848


technicians of the area about the need to search for an integrated and intersectoral management with
other policies, articulated with multidisciplinary on the decision making process. The present paper
aims to discuss and reflect about the relation between solid waste and environmental education, in
an effort to look for possible contributions of educative processes for the implantation of sanitation
public policies.
Keywords: Basic Sanitation. Environmental Education. Solid Waste.

INTRODUÇÃO

Ao se discutir sobre um breve histórico do saneamento básico no Brasil, percebe-se que tal
fato nos remete a herança de abordagens tecnocêntricas que têm dominado o palco do saneamento
no país. Apresenta-se diversas barreiras no que tange a uma política pública que integre o
abastecimento de água, a drenagem das águas, o esgotamento sanitário e os resíduos sólidos.
A questão dos resíduos sólidos, uma das dimensões do saneamento básico, tem se destacado
nos últimos anos devido ao aumento da quantidade significativa, podendo ser associado como
consequência do acelerado crescimento demográfico da população e do consumo. Dentro desse
contexto, entendemos que a educação ambiental pode ser uma estratégia pedagógica no sentido de
articular as questões sociais e ambientais que envolvem a problemática dos resíduos sólidos nas
cidades.
Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar as possíveis contribuições da educação
ambiental no sentido de buscar articulações entre as questões que envolvem o saneamento básico, a
economia, a técnica, o ambiental e o social.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada se deu através de pesquisas bibliográficas, que de acordo com


Medeiros (2000) compreende o levantamento através de livros e revistas, alavancando informações
e a compreensão acerca do assunto proposto.

O Saneamento Básico E O Lugar Dos Resíduos Sólidos

Com o início dos planos e da constituição do saneamento no Brasil, em meados da década


de 1970, o país passava por um acelerado crescimento econômico, com isso, as iniciativas em
saneamento foram para dar suporte à demanda populacional e ao crescimento desordenado. Com a
elevação do crescimento populacional surgiram problemas estruturais e ambientais. As políticas de
saneamento estavam envolvidas no aprimoramento das técnicas e na valoração dos recursos. O
desafio para uma sociedade sustentável era visto como algo não vigorante, impossibilitado na

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 849


época, em meados da década de 1970, já que outros assuntos eram considerados mais importantes.
Sobretudo pelo entendimento de que para o país se desenvolver era preciso se industrializar a todo
custo. O argumento utilizado naquele período era o de que o desafio das questões ambientais,
especificamente o da sustentabilidade, era visto como um atrativo apenas aos países ricos, aos quais
já haviam superadas as questões da pobreza, por exemplo.
A preocupação inicial das políticas públicas de saneamento no Brasil foi com o
abastecimento de água, só secundariamente foram formuladas políticas de gerenciamento dos
resíduos sólidos. De acordo com Demajorovic, Besen e Rathsam (2004) nos anos de 1970, o Plano
Nacional de Saneamento (PLANASA), enfatizou os investimentos na ampliação dos serviços de
água e coleta de esgoto, em detrimento de investimentos em resíduos sólidos.
Segundo Philippi Jr (2001) essa opção registrou como principal benefício levar água para
80% da população urbana durante a década de 1980. Resultado bem mais modesto foi alcançado
com relação ao esgotamento sanitário: apenas 35% do esgoto passou a ser coletado, destacando-se
ainda o fato de que, desse total, apenas uma parcela bastante reduzida vem sendo tratada antes do
descarte direto em córregos e rios (PHILIPPI JR, 2001).
Também afirmam os autores Demajorovic, Besen e Rathsam (2004, p. 3) que: ―Ao deixar a
questão de resíduos sólidos em segundo plano, os governos federal, estadual e municipal contribuíram para a
proliferação de lixões nas décadas de 1970 e 1980, paralelo ao intenso processo de urbanização vivido pelo
país.‖
Desse modo, os problemas socioambientais nesse período foram decorrentes também do
acelerado processo de urbanização e do crescimento da população. Com isso, a questão dos resíduos
sólidos entrou como temática nos debates sobre saneamento no país, na época após a criação do
Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). O PLANASA foi o norteador para as discussões de
saneamento no Brasil, devido, predominantemente, as questões econômicas, e também devido ao
acelerado crescimento populacional, que precisava dar sustentação. Em 1985, um dos marcos para a
discussão da temática dos resíduos sólidos foi à criação do Programa de Saneamento Integrado
(PROSANEAR). Ainda segundo Demajorovic, Besen e Rathsam (2004), o PROSANEAR busca
uma visão integrada com relação à água, o esgoto, à drenagem urbana e aos resíduos sólidos,
alavancando ainda mais a discussão acerca do acondicionamento e disposição final dos resíduos
sólidos.
Segundo Britto et al (2012) logo após o PLANASA, no primeiro mandato do presidente
Lula nos anos de 2003 a 2006 buscou-se a reorganização do setor de saneamento. No inicio,
segundo os autores, importantes avanços foram alcançados como a criação do Ministério das
Cidades, que colocou no mesmo plano as áreas de habitação, saneamento, programas urbanos,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 850


transportes e etc. Com a criação da lei 11.445 de 2007 foram definidas as diretrizes nacionais para a
prestação dos serviços de saneamento, que buscava a intersetorialidade das ações (BRASIL, 2007).
Na perspectiva da intersetorialidade o Programa Urbanização, Regularização e Integração de
Assentamentos Precários contemplavam iniciativas de abastecimento de água, esgotamento
sanitário e resíduos sólidos, contribuindo para o avanço da questão do lixo. Com a lei 11.445 o
saneamento básico foi definido a partir de quatro dimensões indissociáveis: os serviços de água,
esgoto, o manejo das águas pluviais urbanas e o manejo dos resíduos sólidos. Os esforços do
governo Lula em reformar o setor, por meio de organização de seu marco legal, com a abertura de
espaços participativos e da ampliação da oferta de recursos para a atividade caracteriza esse período
(BRITTO et al, 2012).
Ainda de acordo com Britto et al (2012) a elaboração do Plano Nacional de Saneamento
Básico (PLANSAB) foi construído com a definição de objetivos e metas nacionais e regionalizadas
de curto, médio e longos prazos. Valorizam-se no PLANSAB as medidas estruturantes, que são
medidas de suporte político e gerencial para a sustentabilidade nas prestações de serviços,
assegurando uma crescente eficiência, efetividade e sustentação financeira. Como afirmam estes
autores, às metas orientadoras do PLANSAB buscam a perenidade dos avanços institucionais da
política nacional de saneamento, estimulando a intersetorialidade das ações de saneamento básico
com as outras políticas como as de saúde, desenvolvimento urbano e regional, entre outras. Em
relação as suas contribuições para o setor de resíduos sólidos, o PLANSAB estimulou o
crescimento de investimentos públicos federais neste setor, conforme Britto et al (2012).
No ano de 2008 verifica-se a falta de rede coletora de esgoto em 2.495 municípios,
distribuídos pelas unidades da federação brasileira, com destaque para o estado de São Paulo, onde
apenas uma cidade não apresentava o serviço de esgotamento através de rede coletora (IBGE,
2011). Com relação aos domicílios com acesso à rede de esgoto houve aumento em relação ao ano
de 2000, que passou de 33,5% para 45,7% em 2008. Embora em 2008 o percentual de 68,8% do
esgoto coletado tivesse sido tratado no país, menos de um terço dos municípios, ou seja, 28,5% fez
o tratamento (IBGE, 2011). Segundo dados mais atualizados feitos pela Pesquisa de Informações
Básicas Municipais, a Munic, no ano de 2011, 3.995 cidades brasileiras não respeitaram a Lei
Nacional de Saneamento Básico, aprovada em 2007, por não possuírem uma política nacional de
saneamento básico (IBGE, 2012).
Com relação ao saneamento básico, especificamente no eixo de resíduos, apenas 33% dos
municípios brasileiros adotaram uma destinação adequada dos resíduos sólidos (IBGE, 2011).
Verifica-se que as regiões com maior desenvolvimento econômico tem um patamar de elevação na

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 851


produção de resíduos maior, se comparado as de menor desenvolvimento, devido ao aumento do
consumo.
Quanto a destinação dos resíduos sólidos, em 2008, 50,8% dos municípios brasileiros
destinavam seus resíduos em lixões, 22,5% em aterro controlado e 27,7% em aterros sanitários
(IBGE, 2011). Naquele ano eram produzidos no Brasil cerca de 183.488 toneladas de resíduos
sólidos domiciliares e/ou públicos por dia. A Região Sudeste apresenta o maior volume de resíduos
coletados ao dia, seguida pelas Regiões Nordeste e Sul. O fato do Sudeste apresentar um maior
volume de resíduos coletados por dia, se reflete na sua maior concentração populacional no país
(IBGE, 2011).
Com relação à disposição final dos resíduos a maneira mais adequada para o seu descarte é a
utilização do aterro sanitário. A região Norte possuía, em 2008, cerca de 50 municípios que faziam
destinação de resíduos sólidos em aterros sanitários, a região Nordeste cerca de 150 municípios,
Sudeste cerca de 640, região Sul possuindo uma maior quantidade de municípios com aterros
sanitários com mais de 800 e a região Centro-Oeste com cerca de 70 municípios (IBGE, 2011).
Aproximadamente 42% dos municípios brasileiros depositavam o lixo séptico (hospitalar) em
conjunto com os resíduos comuns, sobretudo nas Regiões Nordeste e Norte, enquanto os demais os
enviam para locais de tratamento ou aterros de segurança (IBGE, 2011).
Com relação a coleta seletiva, no ano de 2011, no último censo levantado pelo IBGE, dos
municípios do país 1.796 possuem programa, projeto ou ação de coleta seletiva de lixo em atividade
(IBGE, 2012). Por outro lado, 2.376 cidades continuam sem qualquer tipo de iniciativa relacionada
à coleta seletiva e 1.299 municípios possuem uma legislação municipal que trate da coleta seletiva
de lixo (IBGE, 2012).
Dando ênfase a região Nordeste com relação à quantidade e disposição dos resíduos
produzidos, nesta região, em 2008, 89,3% dos municípios depositaram seus resíduos em lixões
(IBGE, 2011). No ano de 2011, a região Nordeste brasileira, seguida pela Norte, eram as regiões
que possuíam um menor índice de municípios que não tinham programas ou iniciativas voltadas
para a coleta seletiva, com 1.118 e 282, respectivamente (IBGE, 2012).
Com relação ao Rio Grande do Norte (RN) conforme dados levantados pela Secretaria de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), em 2008 o destino final dos resíduos sólidos
urbanos em mais de 92,76% dos municípios do estado ocorre em lixões a céu aberto; 0,04% em
córregos e rios; 3,00% em aterros controlados; 4,20% em aterros sanitários e em apenas 2,84%
deles existem em unidades de triagem /reciclagem. O RN possui dois aterros sanitários localizados
nos municípios de Ceará-Mirim e Mossoró. O potiguar foi responsável pela geração de duas mil e
trezentas toneladas de lixo por dia, desse montante, 1.960 toneladas são coletadas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 852


De acordo com Brito (2009) no ano de 2009, 157 das 167 cidades potiguares não dão uma
destinação adequada ao lixo que produzem. Segundo ele ao todo 94,6% dos municípios não dão
uma destinação ambientalmente adequada aos seus resíduos.

A Educação Ambiental E Sociedade Sustentável

A Educação Ambiental (EA) no Brasil se constituiu a partir das décadas de 1970 e 1980,
como um campo de conhecimento e de atividade pedagógica e política, ―ela já nasceu como um
campo plural e diferenciado que reunia contribuições de diversas disciplinas científicas, matrizes
filosóficas, posições político-pedagógicas, atores e movimentos sociais‖ (LIMA, 2009, p. 147).
A educação ambiental surgiu como um desafio para a construção de sociedades sustentáveis.
Como uma forma de fazer os indivíduos e a coletividade tomar consciência do seu meio e de suas
atitudes, como também adquirir o conhecimento necessário para dar valor, fortalecer as habilidades
e o fazer agir para resolver os problemas sociais e ambientais. A educação ambiental tem papel de
contribuir para a formação de novos valores e atitudes com que se depara a sociedade
contemporânea diante da problemática socioambiental. A aliança entre a educação ambiental e o
saneamento é uma alternativa para a busca de uma sociedade sustentável.
Segundo Zaneti e Sá (2002) a busca excessiva pelos recursos naturais, bem como o
capitalismo exagerado é o fator responsável pela crise ambiental. É preciso reconhecer até onde a
natureza é capaz de suportar a demanda pelos seus recursos. O Estado deve exercer papel
importante na tomada de decisões e na efetivação das questões ambientais, definindo as bases das
políticas públicas adequadas à gestão ambiental. ―Neste sentido é preciso que, num sistema
democrático, o poder público se articule às forças organizadas da sociedade civil e promova espaços
de debate e negociação de interesses, visando à consolidação de princípios norteadores para
políticas públicas voltadas às questões socioambientais.‖(ZANETI; SÁ, 2002, p.3).
Ainda segundo Zaneti e Sá (2002) a participação das pessoas e das comunidades nas
políticas, quando existe de fato, é necessariamente educativa e propicia níveis cada vez mais
elevados de consciência e organicidade. As políticas públicas têm como papel articular, estabelecer
relações, entre as funções do estado junto à sociedade civil e promover a qualidade social das
pessoas e das comunidades através de programas e planos. A sua construção democrática é um
processo que envolve necessariamente a existência de espaços e redes de articulação entre o poder
público e a sociedade civil.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 853


Nesse sentido, a educação ambiental é um instrumento da gestão ambiental, propiciando a
participação comunitária e na formação de pensamento crítico e de busca de soluções dos
problemas ambientais decorrentes da geração dos resíduos sólidos.
A gestão integrada dos resíduos sólidos é um caminho para compreender as complexidades
da questão socioambiental e envolver a população e promover as melhores alternativas para o
sucesso da questão.
Assim:

A incorporação da dimensão participativa nas políticas públicas para o setor de resíduos


sólidos urbanos deve ser entendida não como simples busca da concordância da população
a modelos pré-definidos, mas como busca consequente de uma verdadeira
responsabilização de todos os atores envolvidos no processo de gestão. (ZANETI; SÁ,
2002, p.8).

Por fim, a ação participativa serve como um instrumento para busca de soluções e para a
sustentabilidade dos processos produtivos e sociais, tendo em visto que só é possível a sua
concretização com a plena capacidade organizativa, mobilizatória e comunicativa dos grupos
sociais e instituições, como também na mudança dos estilos de vida e integração das políticas
públicas. Ou seja, é preciso acima de tudo fazer com que todas as ações sejam plenamente
cumpridas e direta e indiretamente articuladas junto a todos os atores envolvidos com a questão dos
resíduos sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão do saneamento e dos resíduos sólidos no Brasil ainda é algo para ser solucionado.
É preciso a criação e, mais ainda, a efetivação de políticas e programas para que possam, junto com
a população, reverter à situação em que se encontram os resíduos e o esgotamento sanitário no país.
A crise ambiental impulsionada pelo acelerado crescimento da população trouxe a tona a
importância de ter uma sociedade sustentável.
Boa parte dos resíduos produzido no Brasil é disposta inadequadamente, ameaçando a
qualidade ambiental das regiões. É necessária a compreensão de todos e, principalmente, ações
realmente concretas por parte do governo, do mercado e demais setores da sociedade.
As ações participativas são uma solução para a crise em que se encontra o setor de resíduos
sólidos no país. Com ela as pessoas podem buscar a efetivação e a responsabilização dos atores
envolvidos.
Por fim a educação ambiental pode abrir as portas para interagir junto ao consciente das
ações das pessoas, ao entendimento das mesmas junto ao ambiente em que vive e na busca de
soluções dos problemas socioambientais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 854


REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o


saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio
de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no
6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso em: 10 jan.
2014.

BRITO, Acácio Sânzio de. Diagnóstico e avaliação das áreas de destino final dos resíduos sólidos
no estado do Rio Grande do Norte / Acácio Sânzio de Brito. – Natal, RN, 2009. Disponível em:
<http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/6/TDE-2010-11-26T054134Z-
3068/Publico/AcacioSB_DISSERT.pdf>. Acesso em: 10 de outubro de 2013.

BRITTO, Ana Lucia Nogueira de Paiva; LIMA, Sonaly Cristina Rezende Borges de; HELLER,
Léo; CORDEIRO, Berenice de Souza. Da fragmentação à articulação: a política nacional de
saneamento e seu legado histórico. R. B. Estudos Urbanos e Regionais, v.14, n.1, maio, 2012. p.
65-83. Disponível em:<
http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/view/1906>. Acesso em: 01 abr.
2013.

DEMAJOROVIC, Jacques; BESEN, Gina Rizpah; RATHSAM, Alexandre Arico. Os desafios da


gestão compartilhada de resíduos sólidos face à lógica do mercado. Anais... II Encontro da
Anppas, 2004, Indaiauba. I, 2004. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT11/jacuqes_demajorovic.pdf>.
Acesso em: 01 abr. 2013.

FERREIRA, Rodrigues Alex; CAMACHO, Gustavo Valera Ramiro; NETO, Queiroz Alcântara
Antônio. Avaliação e diagnóstico ambiental dos resíduos sólidos gerados no município de
mossoró/rn. GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v 2, n. 2, p. 55-67,
jul./dez., 2012. Disponível em:
<http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/viewFile/259/212>. Acesso em: 08 de
Outubro de 2013.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas; Ministério do Planejamento, Orçamento e


Gestão; Ministério das Cidades. Atlas de Saneamento. Rio de Janeiro. 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 855


IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas; Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão. Pesquisa de Informações Básicas Municipais: perfil dos municípios brasileiros 2011.
Rio de Janeiro. 2012. Disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Perfil_Municipios/2011/munic2011.pdf>. Acesso em: 14 de Julho de 2014.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Educação ambiental crítica: do socioambientalismo às


sociedades sustentáveis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.1, jan./abr. 2009. p. 145-163.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v35n1/a10v35n1.pdf>. Acesso em 01 abr. 2013.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação ambiental transformadora. In: LAYRARGUES,


Philippe Pomier (Coord.). Identidades da educação ambiental brasileira. Ministério do Meio
Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004. p.
65-84. Disponível em:< http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/livro_ieab.pdf>.
Acesso em 01 abr. 2013.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 4 ed.
São Paulo: Atlas, 2000.

PHILIPPI JR, Arlindo. “Lixo e Saneamento: 500 anos na região mais desenvolvida do país”. In:

Seminário Lixo e Cidadania: região do grande ABC: Consórcio Intermunicipal do Grande ABC,
2001. P. 22-27.

RIBEIRO, Helena; GUNTHER, Wanda Maria Risso. A integração entre a educação ambiental e o
saneamento ambiental como estratégia para a promoção da saúde e do meio ambiente
sustentado. Brasília; Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde; 2002. 8 p.
Disponível em: <www.bvsde.paho.org/bvsacd/cd26/fulltexts/0780.pdf>. Acesso em: 15 de julho
de 2013.

ROCHA, Marcelo Borges; SANTOS, Nathália de Paula; NAVARRO, Salgado Silvana. Educação
ambiental na gestão de resíduos sólidos: Concepções e práticas de estudantes do curso superior
de tecnologia em gestão ambiental. Ambiente e Educação. Vol.17(1), 2012, p.97-122.

ZANETI, Izabel Cristina Bruno Bacellar; SÁ, Lais Mourão. A educação ambiental como
instrumento de mudança na concepção de gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na
preservação do meio ambiente. Anais... Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/sociedade_do_conhecimento/Zaneti%2
0-%20Mourao.pdf> Acesso em 01 abr. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 856


DESEMPENHO DA CASCA DA BANANA COMO BIOSSORVENTE NATURAL NA
REMOÇÃO DE COBRE PARA REMEDIAÇÃO DE EFLUENTES AQUOSOS

Carlos Eduardo Pereira de MORAIS


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
carlospereira.sjp@gmail.com

Andréa Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA


Engenheira Química, Professora Doutora, Unidade Acadêmica de Ciências e Tecnologia
Ambiental, UFCG, Campina Grande, PB
andrea.maria@ufcg.edu.br

Wanessa Alves MARTINS


Engenheira Ambiental
wanessa_ufcg@hotmail.com

Zélia Soares de BRITO


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
zélia_cz@hotmail.com

RESUMO
A partir do rápido desenvolvimento das indústrias modernas, o meio ambiente vem enfrentando
mais contaminação, e entre os principais poluentes estão os íons de metais pesados, por isso, novas
técnicas de tratamento de efluentes se fazem necessárias, afim de que seja possível aliar baixo custo
à eficiência e à preservação ambiental. Dentre vários processos, o de adsorção tem se tornado muito
pesquisado para uso em efluentes contaminados por metais pesados. Este trabalho teve como
objetivo avaliar o potencial adsortivo da casca da banana (musa ssp) in natura na remoção de cobre
em efluentes. Inicialmente foi preparado o adsorvente e o adsorvato, em seguida as amostras foram
caracterizadas pelas técnicas FTIR, MEV e TG/DSC. Posteriormente, foram testadas na adsorção
do íon cobre. Foram observados os grupos funcionais presentes na casca da banana como a lignina,
celulose e hemicelulose. Os melhores resultados de adsorção ocorreram a 27°C com
aproximadamente 70 %. Dessa forma foi possível concluir que a casca da banana além de ser um
bom adsorvente natural tem viabilidade para ser utilizado como material alternativo pelo seu baixo
custo, facilidade de manuseio e seletividade.
Palavras-chave: Adsorção, Íon metálico, Biossorção.

ABSTRACT
With the rapid development of modern industries, the environment has faced more contamination,
of the main pollutants are heavy metal ions, so new techniques for wastewater treatment are
necessary, so that it is possible to combine low costs with efficiency and environmental
preservation. Among various processes, adsorption has become heavily researched for use in

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 857


wastewater contaminated with heavy metals. In this research, the potential adsorption of banana
peel was evaluated with adsorbent ion copper in wastewater. Initially was prepared the adsorbent
and adsorbate, subsequently all samples were characterized by techniques FTIR, MEV and
TG/DSC. Subsequently, they were tested ion adsorption copper. Functional groups present on
banana peel as lignin, cellulose and hemicellulose were observed. Adsorption best results occurred
at 27°C with approximately 70%. Thus it was concluded that the banana peel besides being a
natural adsorbent has good feasibility to be used as an alternative material for its low cost, ease of
handling and selectivity.
Keywords: Adsorption, metal ion, biosorption.

INTRODUÇÃO

Dentre os problemas mais graves relacionados à poluição ambiental está a contaminação da


água por efluentes industriais, com concentrações de metais pesados/tóxicos acima do estabelecido
pela legislação vigente. Essa concentração ao exceder o valor máximo permitido pode suceder
vários danos ao meio aquático e aos seres vivos. Sendo muito importante a utilização de processos
que visam minimizar esses danos (DOS SANTOS, 2013, apud ARIEF et al, 2008). Despejos de
efluentes industriais sólidos, líquidos ou gasosos, lançam cada vez mais metais pesados e tóxicos no
meio ambiente comprometendo a qualidade das águas, do ar, do solo e dos alimentos e,
consequentemente, ameaçando o equilíbrio e a estabilidade dos ecossistemas (YAMAMURA,
2009). Segundo Almeida Neto (2011), as águas superficiais são as que mais têm alterado sua
qualidade tendo em vista que estas recebem todos os tipos de poluentes e contaminantes.
Os metais pesados são altamente reativos do ponto de vista químico, o que explica a
dificuldade de encontrá-los em estado puro na natureza. Quando estes compostos são encontrados
no meio aquático, sua presença é atribuída às diversas atividades industriais (SALVADOR, 2009).
―De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) os metais que mais afetam a saúde são:
alumínio, cromo, manganês, ferro, cobalto, níquel, cobre, zinco, cádmio, mercúrio e chumbo‖
(SANTOS, 2013 apud ZAMBON, 2003). Segundo Salvador (2009) o cobre é um nutriente
essencial para o funcionamento de algumas enzimas no corpo humano, porém, sua necessidade
ocorre em pequenas quantidades (250 mg), assim, sua ingestão em quantidades elevadas passa a ser
prejudicial ao organismo. O efeito nocivo mais pronunciado do excesso de cobre é a doença de
Wilson, caracterizada pela falta de coordenação motora e deterioração mental progressiva. A
exposição em níveis superiores ao limite máximo, em curtos períodos, pode causar distúrbios
gastrointestinais e, em longos períodos, causa danos aos rins e ao fígado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 858


Visando atender a legislação sobre lançamento de efluentes, é necessário sua
descontaminação, essa pode ser feita por diferentes métodos, entre eles pode-se citar os processos
de troca iônica, adsorção por carvão ativado, separação por membrana, processos biológicos,
eletroquímicos além da neutralização por precipitação química (MOREIRA, 2010 apud
GAVALLAH e KILBERTUS, 1998).
Segundo Silveira (2001), os processos de adsorção merecem destaque por apresentar
características como forças químicas que envolvem ligações eletrostáticas ou compartilhamento de
elétrons, possibilidade de formação de ligações químicas entre valências livres, interação entre o
adsorvente e a espécie química adsorvida e atração das moléculas para centros ativo. O processo de
adsorção surge como uma técnica de grande significância para o tratamento de efluentes industriais
e/ou laboratoriais, principalmente devido à utilização de adsorventes naturais, onde estes, na
maioria das vezes, são obtidos de subprodutos da indústria ou da agricultura (BATISTA et al.,
2012). De acordo com Vaghetti, (2009), a crescente produção agrícola brasileira vem aumentando a
geração de resíduos agrícolas, estes na maioria das vezes são simplesmente descartados nos
ambientes aquíferos principalmente em rios, lagos, córregos. A utilização para esses resíduos
agrícolas, além de gerar novas riquezas ao país evita problemas de ordem ambiental. Por utilizar
resíduos que não possuem valor comercial ou possuem baixo valor agregado, a adsorção por
biossorventes vem cada vez mais sendo usada.
Os biossorventes de origem vegetal são constituídos basicamente por macromoléculas como
substâncias húmicas, lignina, celulose, hemicelulose e proteínas, as quais possuem sítios adsortivos,
tais como grupos carbonilas, carboxilas, aminas e hidroxilas, capazes de adsorverem as espécies
metálicas por processos de troca iônica ou de complexação (MIMURA, 2010 apud NGAH e
HANAFIAH, 2008).
Muitas pesquisas têm experimentado diferentes tipos de adsorventes, como casca de banana,
casca de arroz, serragem de madeira, casca de laranja, fibra de coco, entre outros (BATISTA et al.,
2012 apud NAMASIVAYAM et al. 2001). Boniolo (2008) destaca a casca da banana como uma
biomassa residual, não aproveitada pelas indústrias alimentícias, pois geralmente utiliza-se somente
a polpa descartando as cascas. Essas cascas quando descartadas entram em processo de
decomposição liberando mau cheiro e juntando vetores, surgindo à poluição e o impacto local. A
casca da banana é um material muito atrativo para adsorção de substâncias catiônicas devido à
presença de ácido péptico, ácidos orgânicos pequenos, lignina e proteínas (JESUS et al., 2011).
O uso da casca de banana como adsorvente vem ganhando destaque já que esta é uma
biomassa residual/industrial abundante. Apresenta-se como alternativa aos tratamentos
convencionais na remoção de metais pesados por possuir baixo ou nenhum custo atrelado,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 859


colaborando com o desenvolvimento sustentável uma vez que reduz o impacto ambiental de duas
formas: na primeira a biomassa residual que muitas vezes torna-se um poluente pelo acúmulo é
retirada do local onde é gerada ou depositada; e a segunda é que as águas residuais podem ser
tratadas por esta biomassa. Outro aspecto importante é a reutilização tanto da biomassa quanto dos
poluentes metálicos adsorvidos que podem ser recuperados por processos de dessorção,
(BONIOLO, 2008).

MATERIAL E MÉTODOS

Material e substâncias químicas


Farinha da casca de banana (musa SSP), obtidas da região de Pombal – PB;
Nitrato divalente hidratado de cobre (Merk) sem purificação prévia;
Hidróxido de sódio (Merk);
Ácido Clorídrico (Merk);
Nitrato de sódio (Carlos Erba);
Cloreto de Sódio P.A. (Merk);
Água deionizada.

PARTE EXPERIMENTAL

Experimentos de adsorção

Adsorbato

A solução metálica de cobre foi obtida através da dissolução do sal de nitrato de cobre em
água deionizada. Fora preparado 1,0 dm3 da solução de nitrato de cobre na concentração de 0,01
mol/dm3.

Adsorvente

O material adsorvente utilizado em todos os experimentos de adsorção, foi a casca da


banana obtido na condição otimizada de secagem (65°C e 2,0 m s-1). Na temperatura de 65 °C tem-
se assegurado as propriedades da casca da banana evitando a perda de massa podendo ser verificado
na análise térmica.
As cascas da banana foram coletadas na Indústria Campo Verde localizada na cidade de
Pombal-PB. As cascas coletadas foram lavadas com água corrente e cortadas em pedaços de
aproximadamente 5 cm de comprimento. Em seguida o material foi posto para secar por três dias ao
sol, totalizando 20 horas e posteriormente transferidas para estufa de secagem com circulação de ar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 860


com temperatura de 65ºC por 2 dias, totalizando 24 horas. Após a secagem o material fora triturado
em moinho de facas e peneirado para obtenção de frações composta de partículas com tamanho
entre 0,15 a 1,18 mm.

Caracterizações

Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho

A espectroscopia no infravermelho buscou determinar as frequências de vibrações dos


grupos funcionais presentes na casca da banana na faixa de comprimento de onda de 4000 a 400
cm-1. A amostra do adsorvente foi previamente seca em estufa a 65 ± 2°C e analisada com tamanho
de partícula ≤ 0,15 mm. A análise foi realizada em espectrofotômetro infravermelho com
transformada de Fourier (FTIR), da marca Bomem, modelo MB – 100. A aquisição dos espectros
foi feita com a resolução de 4 cm-1, com um número de 30 acumulações utilizando pastilhas de KBr
com 1% em massa da amostra.
A partir do espectro no infravermelho obtido para a casca da banana pode-se identificar a
presença de bandas características de ligações de certos grupos funcionais presentes no material.
Como cada composto fornece uma banda em uma determinada frequência de onda, a análise do
espectro é realizada por comparação com dados tabelados, permitindo obter informações estruturais
da farinha da casca de banana.

Microscopia Eletrônica de Varredura

A análise foi realizada após a secagem em estufa 65±2°C. A Microscopia Eletrônica de


varredura permite a análise de superfície possibilitando a análise de falhas e o mapeamento químico
de superfícies.
As imagens de microscopia de varredura foram obtidas em microscópio eletrônico de
varredura após a metalização das amostras em ouro e paládio usando o microscópio JEOL T-300. A
microscopia eletrônica de varredura (MEV) buscou investigar a morfologia superficial da farinha da
casca de banana.

Análise Termogravimétrica

A análise foi realizada após secagem em estufa 65 ±2 °C. A farinha da casca da banana pura
foi caracterizada por análise termogravimétrica. As curvas termogravimétricas (TG) foram obtidas
em uma termobalançada marca Du Pont 951, interfaciada ao computador Du Pont, modelo 9900,
sob razão de aquecimento programada em 10 K min-1, numa atmosfera de nitrogênio na faixa de
temperatura de 300- 1239 K.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 861
As técnicas termoanalíticas são métodos que permitem estabelecer a função entre
propriedades físicas e químicas de uma substância ou mistura em relação à temperatura ou tempo,
quando submetida a temperaturas controladas.
A análise termogravimétrica (TG/DSC) avalia a perda de massa de uma amostra em
atmosfera controlada em função da temperatura ou do tempo. Essa análise permite determinar a
pureza e a quantidade de água, fornecendo ainda informações sobre a estabilidade térmica,
velocidade de reação e composição da amostra.

Determinação das Isotermas de Troca Iônica na Farinha da Casca da Banana

Isoterma de Tempo

Utilizou-se o método de batelada para a obtenção da isoterma de tempo em meio aquoso a


fim de se fixar o tempo máximo de contato para maior adsorção do íon metálico. A isoterma fora
obtida pelo contato de 1g do sólido, medidas em balança analítica Shimadzu modelo AUY 220
sensibilidade 0,0001 g, suspensas em 20,0 cm3 da solução aquosa do íon metálico de0,01 mol/dm3.
A suspensão a 298,15 K foi, então, mecanicamente agitada em incubadora tipo shaker da marca
SOLAB modelo SL 222 com rotação de 180rpm em tempos variados. Após os tempos pré-
estabelecidos, as suspensões foram filtradas e as alíquotas do sobrenadante foram removidas, com o
auxílio de uma pipeta, sendo a quantidade do cátion metálico determinada através do
espectrofotômetro de absorção atômica da marca GBC modelo 908 AA. Assim pode-se determinar
a quantidade de cátion trocado (Nf) por grama de farinha de casca de banana pela diferença entre a
quantidade de cátion inicial (Ni) e aquela presente após o equilíbrio (Ns) conforme a equação 1.0.
( Ni  N s )
Nf 
m
Equação 1.0.

Isoterma de Concentração

Estabelecido o tempo da reação e dosagem do sólido, a influência da concentração do cátion


metálico foi avaliado, adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo, utilizando
concentrações crescentes do cátion metálico na faixa 10-3 a 10-2 mol dm-3 em três temperaturas 27,
40 e 50° C.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise por Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 862


A capacidade de remoção de metais pela farinha da casca de banana (FBN) depende da
composição química da sua superfície, onde alguns grupos funcionais ativos são responsáveis pela
sorção. A Tabela 1 apresenta as atribuições das bandas características obtidas na faixa de 4000 a
400 cm-1 para materiais de origem orgânica assim como a casca da banana.

Frequência (cm-1) Grupos funcionais


3433,1 -OH, -NH
2927,7 -CH
2360,7 -CH
1654,3 -COO-, -C=O
1542,9 -COO-, C—C
1049,2 -C—O, -C—N, -P=O, -P—OH, P—O—C

Tabela 1: Frequência no infravermelho das bandas de alguns grupos funcionais presentes na casca banana.
Fonte: Adaptado de Salvador, 2009.

A espectroscopia no infravermelho das amostras da farinha da casca da banana encontra-se


apresentada na Figura 1. A análise visual dos espectros de FTIR permitiu a detecção de um
conjunto de variáveis de bandas espectrais de FTIR (15 a 20 bandas, 3000-600 ondas cm-1)
compreendidas neste intervalo de comprimento de onda para as amostras de farinha da casca de
banana. Esse grande número de bandas no espectro sugere uma natureza complexa de absorvente.
De acordo com Cruz (2009) a análise do espectro na região do infravermelho do material
FBN sugere a presença de grupos funcionais como: celulose, lignina, ácido peptico, ácidos
orgânicos pequenos, ésteres amilícos e proteínas. Os dados obtidos no presente trabalho, motraram
comportamento semelhante aos resultados obtidos por Cruz (2009), com diferenças apenas na
intensidade dos picos.
Observa-se também que o espectro de infravermelho revelou presença de bandas na região
de 3486 e 3286 cm-1 atribuídas a estiramentos vibracionais axiais dos grupos O-H característicos da
celulose, na região de 2967 e 2843 cm-1 que podem ser atribuídas aos grupos CH-OH, -CH e –CH2
de grupos alifáticos característicos da estrutura da celulose e em 1730 cm-1 é atribuída a vibração de
deformação axial de C=O de ácidos carboxílicos presentes na casca de banana (ácido péptico ou
-1
ácido cítrico) ou de ésteres. A banda intensa em 1641 cm pode ser atribuída a vibração de
estiramento do ânion -COO- ou do grupo -C-O- de ésteres. A banda em 1104 cm-1 pode ser atribuída
ao estiramento ligado a grupos -S-OH ou -P=O. A banda em 884 cm-1 pode ser atribuída a
deformação de aminas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 863


IFTR(FBN) 100
90
908

Transmitância/u.a
1501
3001 80

2943 70
1647 1049 60
3437
50
40
3.600 2.800 2.000 1.200 400
Número de ondas/ cm-1

Figura 1 – Espectro de infravermelho da farinha da casca de banana


Fonte: arquivo pessoal

Análise Termogravimétrica (TG)

A Figura 2 apresenta as curvas termogravimétricas (TG) e termogravimétricas derivadas


(DTG) para a farinha da casca da banana. Foi observada a ocorrência de três eventos principais. O
primeiro evento corresponde à perda de massa referente à perda da água absorvida do biomaterial
no intervalo de temperatura de 0 a 170 °C. No segundo evento ocorre à degradação da hemicelulose
e celulose, termicamente menos estáveis que a lignina e ocorre no intervalo de temperatura de 170 a
350°C. O terceiro evento corresponde à perda de massa com temperatura superior a 350°C, havendo
a quebra das ligações C-O e C-C, liberando CO e CO2, acima de 400 °C há a formação de uma
camada de grafite. Até 1500 C ocorre a liberação da água adsorvida, água estrutural e celulose entre
1500 e 2400 C, quebra das ligações C – O e C – C dentro do anel, liberando CO e CO2 entre 2400 e
4000 C acima de 400 0 C há a formação de uma camada de grafite (SOUSA et al, 2006).
Os eventos térmicos observados correspondem às perdas de massa indicadas nas curvas
TG/DTG e estão de acordo com aqueles apresentados na curva DSC nesta pode ser observado um
evento endotérmico entre 23 e 50°C, que começa haver a libertação de água de umidade. A partir de
50 °C observaram-se eventos caracteristicamente exotérmicos, onde ocorre a perda de toda a água
do biomaterial além do inicio da decomposição térmica do material que se complementa a partir de
400 0C.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 864


Figura 2 – Curvas das análises TG/DSC da farinha da casca de banana.
Fonte: arquivo pessoal.

Tg com o Cobre

A Figura 3 apresenta a análise termogravimétrica da casca da banana após o processo de


troca iônica. É possível observar que da mesma forma se identificou na casca da banana com o
cobre, ocorreu três etapas de decomposição térmica, verificando que as curvas termogravimétricas
do material natural e do sólido com o cátion metálico apresentam perfis semelhantes.

Figura 3 - Curvas das análises TG/DSC da farinha da casca de banana quando em contato com o cobre
Fonte: Arquivo pessoal

Análise por Microscopia Eletrônica de Varredura

As microscopias das amostras de farinha da casca da banana natural foram realizadas com o
microscópio eletrônico de varredura (MEV), as amostras analisadas apresentavam um tamanho de
partícula de 250 mm. Na Figura 4 as micrografias A e B, ambas ampliadas 500 vezes, na
micrografia A pode ser notada a estrutura fibrosa e irregular da farinha da casca de banana natural

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 865


(FBN) formando camadas sobrepostas de fibras, sendo possível notar grãos menores agregados aos
grupos maiores. A superfície irregular e a morfologia porosa, como podem ser vista na micrografia
facilitam a adsorção de metais em solução aquosa, permitindo uma boa remoção destes nas
diferentes partes da FBN. Na micrografia B para verificar a presença de íons cobre na farinha da
casca de banana, após processo de biossorção. Pode-se observar uma ligeira redução na quantidade
de poros livres conforme pode ser observado, quando comparado as micrografias A e B da figura 4,
isso se deve a ocupação dos espaços porosos pelo metal, o que nos leva a crer que a FBN,
realmente tem bom potencial adsortivo para o metal pesquisado.

A B
Figuras 4 – Micrografia da farinha da casca de banana.
Fonte: Arquivo pessoal.

Influência do Tempo

A influência do tempo de contato entre o íon em solução e o adsorvente é de suma


importância para a eficiência do processo, pois, quando o sistema atinge o equilíbrio, a
concentração do adsorvato torna-se constante na solução. Assim, o efeito do tempo de contato para
a adsorção do íon Cu2+ na casca de banana pode ser visualizado na Figura 5. Observando a figura
referente à interação do sólido com o cobre, percebe-se que houve uma rápida adsorção nos
primeiro minutos, seguida por um gradual equilíbrio. Isso mostra que a adsorção máxima para o
Cu2+ ocorreu em 10 minutos e que quase não há variação de retenção além desse período. Assim, o
tempo de reação de 10 minutos foi fixado como o tempo de equilíbrio ao longo desse estudo.

0,0002
0,00015
Nf

0,0001
5E-05
0
0 20 40 60
tempo(m)
Figura 5 – Influência do tempo de contato na adsorção de Cu2+ pela farinha da casca de banana.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 866


Fonte: arquivo pessoal.

Influência da Concentração

Uma isoterma de adsorção mostra a relação de equilíbrio do adsorvato no adsorvente e na


solução em determinada temperatura e pressão. As isotermas de adsorção indicam como o
adsorvente efetivamente adsorverá a espécie de interesse, bem como apresentar uma estimativa
máxima da capacidade de adsorção.
Com o objetivo de conhecer a eficiência do adsorvente, foram determinadas as isotermas de
adsorção. Dessa forma, com o tempo de equilíbrio definido, foi possível construir essas isotermas e
calcular o percentual de cátion adsorvido pela casca da banana, em diferentes condições
operacionais. As isotermas de Cu2+ nas temperaturas 27, 40 e 50°C estão ilustradas na Figura 6.
Observou-se que as isotermas seguiram basicamente o mesmo comportamento crescente nas
três temperaturas estudadas, quanto maior a concentração melhor a adsorção. A capacidade máxima
de adsorção de cobre foi de aproximadamente 69,84; 44,57 e 40,93% nas temperaturas de 27, 40 e
50 °C, respectivamente.

70
60
50
% remoção

40 temperatura 27°
30
temperatura 40°
20
temperatura 50°C
10
0
0 0,005 0,01
Concentação

Figura 06: Isoterma de concentração do íon Cu2+ com pH 5,0 e tempo de contato de 10 minutos.
Fonte: Arquivo pessoal.

CONCLUSÃO

Nesse trabalho foram investigados os processos de troca iônica envolvendo a casca da


banana e o íon metálico cobre Cu2+ em solução aquosa. Foi observado que diversos fatores
experimentais estão envolvidos neste processo de adsorção podendo destacar como fator primordial
o tempo de reação.
O tempo de 10 minutos para a remoção do Cu2+ foi escolhido por não apresentar uma
variação significativa após este tempo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 867


A caracterização da casca da banana foi realizada através do espectro no infravermelho
(FTIR), onde apresentou grupos funcionais comuns à celulose, hemicelulose e lignina presentes na
casca da banana.
A termogravimetria (TG/DSC) demonstrou a ocorrência de três estágios de perda de massa
relativos à umidade, hemicelulose e lignina.
A casca da banana demonstrou ser um bom adsorvente natural para o íon metálico
investigado com ótima capacidade de remoção do metal, se mostrando atrativo por se tratar de um
subproduto agroindustrial tendo em vista sua facilidade de manuseio, baixo custo e seletividade.
Portanto, este biossorvente pode ser utilizado como material alternativo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA NETO, A. F. Caracterização e avaliação de argilas como adsorventes na remoção e


eluição de íons cobre e mercúrio em diferentes sistemas adsorventes. 2011. Tese doutorado,
Universidade Estadual de Campinas. 2011. 164f.

ARIEF, V. O. et al. Recent progress on biosorption of heavy metals from liquids using low cost
biosorbents: characterization, biosorption parameters and mechanism studies. Clean. 36. 12. p.
937 – 962. 2008.

BATISTA, T.S.; LIRA, T.K.B.; SOUZA, J.S.B.; BARROS, T.R.B.; LIMA,V.E. Remoção de
chumbo (ii) em efluentes utilizando diferentes biomassas adsorventes.Encontro Nacional de
Educação, Ciência e Tecnologia/UEPB.2012.10f.

BONIOLO, M.R. Biossorção de urânio nas cascas de banana. 2008. 107f. Dissertação (Mestrado
em Tecnologia Nuclear - Materiais), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares,
Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2008.

CRUZ, M.A.R. F. da. Utilização da casca de banana como biossorvente. 2009. 74f Dissertação
(Mestrado em Química dos Recursos naturais), Universidade Estadual de Londrina, Londrina –
PR, 2009.

DOS SANTOS, F. A. Desempenho e conformidade de biossorventes produzidos a partir de


resíduos florestais e sua aplicação no tratamento de cromo de efluente industrial de
galvanoplastia. 2013. 240fls. Tese (Doutorado em Engenharia e Tecnologia de Materiais).
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 868


GAVALLAH, L.; KILBERTUS, G. Recovery of metal ions through decontamination os synthetic
solutions and industrial effluents using modified barks. Journal of Geochemical Exploration, v.
62, p. 241-286, 1998.

JESUS, D.M.A.; ROCHA, J.F.; ALFAYA, A.A.F. Utilização da farinha da casca de banana na
remoção de corante têxtil em solução aquosa. In: 34ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE QUÍMICA, 2011, Florianópolis. Anais Florianópolis, Sociedade Brasileira de
Química (SBQ), 2011.

MOREIRA, D. R. Desenvolvimento de adsorventes naturais para tratamento de efluentes de


galvanoplastia. 2010,79f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia de Materiais),
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2010.

MIMURA, A. M. S.; VIEIRA, T. V. DE. A.; MARTELLI, P. B.; GORGULHO, H. de. F.;
Aplicação da casca de arroz na adsorção dos íons Cu2+, Al3+, Ni2+e Zn. São João del Rei, Quim.
Nova, Vol. 33, No. 6, 1279-1284, 2010

NAMASIVAYAM, C.; KUMAR, M.D.; SILVI, K.; BEGUM, R.A.; VANATH, T.; YAMUNA,
R.T. Waste’ coirpith- a potential biomass for the treatment of dyeing wastewaters. Biomass &
Energy, n. 21, p.477-483, 2001.

NGAH,W. S. W.; HANAFIAH,M.A.K.M.;Bioresour. Technol. 2008, 99, 3935.

SALVADOR, G. Estudo da adsorção de cobre (II) usando como adsorvente pó da casca de coco
verde ativada com hidróxido de sódio. Universidade Federal De Santa Catarina, 2009. 40f.

SANTOS, M. S. F. dos. Análise da ação da poligorsquita no tratamento de efluentes contaminados


por chumbo. 2013. 172f. Tese (Doutorado em Engenharia Química),Centro de Ciências e
Tecnologia, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande – PB, 2013.

SILVEIRA, S. V. Remoção de poluentes gasosos por adsorção – tratamento numérico. 2001. 118f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Química), Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis – SC, 2001.

SOUSA, E.; RAMBO, C.R.; MONTEDO, D.H.; OLIVEIRA, A.P.N. Vitrocerâmicas porosas do
sistema LZSA utilizando resíduos orgânicos como agentes formadores de poros. Exacta, v. 4, p.
289-296,2006. Disponível em:
http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/exacta/exactav4n2/exactav4n2_3f04.pdf> acesso em
03/07/2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 869


VAGHETTI, J. C. P. Utilização de biossorvente para remediação de efluentes aquosos
contaminados com íons metálicos. 2009. 84f. Tese (Doutorado em Química), Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 2009.

YAMAMURA, A.P.G.; Aplicação de nanotecnologia no meio ambiente: biossorvente magnético


na remoção de urânio. 2009, 117f. Dissertação (Mestrado em Ciências na Área de Tecnologia
Nuclear – Materiais), Instituto De Pesquisas Energéticas e Nucleares, Autarquia Associada à
Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2009.

ZAMBON, G.A.; Remoção de chumbo (Pb2+) utilizando zeólita natural clinoptilolita. 2003.
Originalmente apresentada como Dissertação de mestrado, Faculdade de Engenharia
Química/Universidade de Campinas, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 870


Biotecnologia e Melhoramento dos Recursos
Genéticos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 871


INFLUÊNCIA DO SUBSTRATO NA EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE
MANGABEIRA (Hancornia speciosa Gomes)

Kívia Soares de OLIVEIRA40


(DBEZ/UFRN)
kiviaoliv@yahoo.com.br

Magdi Ahmed Ibrahim ALOUFA41


(DBEZ/UFRN)
Magdi-aloufal@gmail.com

RESUMO
A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma espécie frutífera nativa do Nordeste e dos
tabuleiros costeiros, apresenta grande importância econômica, social e ambiental. O presente
trabalho teve como objetivo testar o efeito de diferentes substratos sobre a germinação de sementes
de mangabeira visando à produção de mudas como fonte de explantes para micropropagação in
vitro. Os estudos foram conduzidos em casa de vegetação do Laboratório de Biotecnologia de
Conservação de Espécies Nativas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os substratos
utilizados foram: T1- vermiculita; T2- vermiculita + composto orgânico (1:1); T3- areia lavada +
composto orgânico (1:1); T4- areia; T5- areia+ húmus (1:1); T6- vermiculita + areia (1:1); T7- areia+
areia barrada+ húmus (1:1:1). Para tanto, realizou-se um experimento com sete tratamentos e quatro
repetições com 100 sementes por tratamento. Foram analisadas as seguintes variáveis: porcentagem
de emergência, tempo médio de germinação e índice de velocidade de emergência. O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
significância. Observaram-se diferenças significativas para a porcentagem de emergência e IVE,
sendo T1 estatisticamente superior. Por outro lado, os valores de TMG não apresentaram diferença
significativa. Diante dos resultados, pôde-se concluir que o substrato vermiculita pode ser utilizado
para otimizar a germinação e emergência de plântulas de mangabeira.
Palavras-chave: Apocynaceae; Frutífera nativa; Germinação; Substratos.

ABSTRACT
Mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) is a native fruit species in the Northeast and coastal
plains, with large economic, social and environmental importance. This study aimed to test the
effect of different substrates on the germination of mangabeira to aim at producing seedlings as
source of explants for in vitro micropropagation. The study was carried out in the greenhouse of the

40
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
41
Orientador: Dr. Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 872


Laboratory of Biotechnology of Native Species Conservation at the Federal Rio Grande do Norte
University. The substrates used were: T1- vermiculite; T2- vermiculite + organic compound (1:1);
T3- washed sand + organic compound (1:1); T4- sand; T5- sand+ humus (1:1); T6- vermiculite +
sand; T7- sand + clay + humus (1:1:1). It was set up an experiment with seven treatments including
four repetitions with 100 seeds per treatment. The following variables were analyzed: percentage of
emergence, seedling emergence speed index and average time of germination. The experimental
design was completely randomized and the averages were compared by Tukey test at 5% of
significance. There were significant differences for the emergence percentage and the IVE, T1
being statistically superior. Moreover, the values did not differ significantly TMG. According to our
results, we can conclude that substrate vermiculite can be used to optimize germination and
seedling emergence of mangabeira.
Keywords: Apocynaceae; Native fruit tree; Germination; Substrates.

INTRODUÇÃO

A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), pertencente à família Apocynaceae, é uma


espécie nativa do cerrado e dos tabuleiros costeiros e apresenta grande potencial como planta
frutífera e como produtora de borracha (SOARES et al., 2007). É reconhecida pelo sabor de seus
frutos e dos inúmeros produtos alimentícios no qual podem ser empregados, que variam desde
sucos a sorvetes. O beneficiamento deste fruto pode gerar renda a inúmeras comunidades
extrativistas e desempenha importante papel sócio-econômico-cultural entre as populações
tradicionais que sobrevivem como catadores da mangaba (SILVA JÚNIOR, 2004).
No entanto, apesar das diversas potencialidades a espécie vem sofrendo grande pressão por
parte da intensa expansão imobiliária nas áreas remanescentes, desmatamento, plantios como cana-
de-açúcar, coqueiro e pastagens, o que vem contribuindo cada vez mais para sua extinção (SILVA,
2011).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 873


A

B C

Figura 01: Hancornia speciosa Gomes: (A) Árvore; (B) Folhas e flor; (C) Fruto. Fonte: Autor, 2014.

A espécie apresenta dificuldades de germinação, devido suas sementes ser recalcitrantes e a


polpa do fruto ter ação inibitória (GRICOLETTO, 1997). Geralmente a porcentagem de germinação
das sementes é baixa e a emergência e o desenvolvimento das mudas são lentos (LORENZI, 2002).
Além disso, esse tipo de propagação apresenta desvantagens, como longo período de imaturidade
das plantas e a variabilidade genética das progênies em desenvolvimento, quantidade e qualidade
dos frutos produzidos, além de outros caracteres agronômicos importantes na produção comercial
(PEREIRA et al., 2006).
Para contornar esta situação, a propagação vegetativa in vitro ou micropropagação constitui
uma excelente via de conservação para espécies como a mangabeira, pois contorna as condições
que comprometem a reprodução natural da planta e promove a multiplicação em grande escala dos
exemplares (ARAGÃO et al., 2011), que podem ser empregadas na formação de bancos de
germoplasma para futuras pesquisas, estudos de reposição de mata nativa e implantação de pomares
comerciais. Além disso, contribui para a viabilização da produção de plantas em uma velocidade
superior ao crescimento normal, de forma que um elevado número de plantas pode ser reproduzido
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 874
e com alta qualidade fitossanitária, independente da sazonalidade, sendo relevante do ponto de vista
comercial (PUJALS, 2006).
A escolha do substrato é fundamental para o sucesso na produção de mudas, pois apresenta
influencia no processo germinativo e desenvolvimento das plântulas, já que fatores como estrutura,
aeração, capacidade de retenção de água e grau de contaminação por patógenos podem variar
segundo o material utilizado (POPINIGS, 1977). Além disso, o substrato utilizado deve sempre
manter a proporção adequada entre a disponibilidade de água e a aeração, não podendo ser
umedecido em excesso para evitar que a película de água envolva completamente a semente,
restringindo a entrada e absorção de oxigênio (VILLAGOMEZ et al., 1979).
Dentre vários substratos avaliados, a vermiculita e a areia têm sido considerados de
excelente qualidade para a germinação de sementes, uma vez que apresentam menor contaminação
de microrganismos (BRASIL, 1992; FIGLIOLA et al.,1993).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a influência de
diferentes substratos sobre a germinação de sementes de mangabeira visando à produção de mudas
como fonte de explantes para micropropagação in vitro.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em casa de vegetação do Laboratório de Biotecnologia de


Conservação de Espécies Nativas, do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Centro de
Biociências, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, situada a 5o 50‘ 31'‘ latitude sul e 35º
12‘ 7‘‘ longitude Oeste, e altitude média de 50 m, no período de junho a julho de 2012.
As sementes utilizadas tiveram origem de frutos adquiridos em feira populares no município
de Natal/RN. As sementes de mangaba foram removidas dos frutos com auxílio de peneira e água
corrente. Logo após, tiveram o tegumento extraído manualmente e foram postas para secar a
temperatura ambiente por aproximadamente 1 hora.
A semeadura foi realizada no dia 05 de junho de 2013 em bandejas de isopor, com 100
células, e colocadas em casa vegetação, coberta com telado (50% de sombreamento). As sementes
permaneceram durante 30 dias em regime de rega diária. Os substratos utilizados foram: T1-
vermiculita (controle); T2- vermiculita + composto orgânico (1:1); T3- areia lavada + composto
orgânico (1:1); T4- areia; T5- areia+ húmus (1:1); T6- vermiculita + areia (1:1); T7- areia+ areia
barrada+ húmus (1:1:1). A análise estatística dos dados foi feita por delineamento experimental
inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições de 25 sementes, totalizando 100
sementes por cada tratamento.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 875


O experimento foi observado durante 40 dias, contados a partir da data de semeadura, sendo
considerada germinada a plântula com emissão do epicótilo. Os parâmetros avaliados foram:
porcentagem de emergência (%); índice de velocidade emergência (IVE), segundo Maguire (1962);
e tempo médio de germinação calculado de acordo com a fórmula proposta por Labouriau (1983).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância ANOVA, empregando-se o teste
F a 5% e para o contraste das médias utilizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade, pelo
programa ASSISTAT versão 7.6 beta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A germinação das sementes iniciou-se aos 21 dias, e foi acompanhada até os 40 dias após a
semeadura. De acordo com os resultados, constataram-se diferenças significativas entre os
substratos, quando se avaliou a porcentagem de germinação e o índice de velocidade de emergência,
exceto para o tempo médio de germinação (Tabela 1).
Com relação à taxa de emergência (Tabela 1) o substrato vermiculita (28%) foi
estatisticamente superior, seguido de T2 (14%). No entanto, areia+ areia barrada + húmus (2%)
apresentou o menor resultado, seguido por vermiculita + areia (3%) e areia+ húmus (4%).
Os resultados de germinação diferem dos encontrados por Soares et al. (2007), que ao
estudarem os substratos areia, areia + vermiculita e vermiculita na germinação da mangabeira, não
obtiveram diferença significativa nos percentuais de germinação, sendo a areia a apresentar o maior
valor (67%). Por outro lado, Silva et al. (2011) ao estudarem a germinação da mesma espécie nos
substratos areia lavada + Plantmax + solo (1:1:3); casca de arroz carbonizada + Plantmax + solo
(1:1:3); casca de arroz carbonizada + húmus de minhoca + solo (1:1:3); esterco bovino + Plantmax
+ solo (1:1:3) e esterco bovino + solo (2:3) obtiveram valores acima de 80%.
O valor de germinação para o substrato areia foi inferior ao encontrado por Nogueira et al.
(2003) em estudos com a mangabeira. Os autores ao testarem a germinação em diferentes
substratos, concluíram que o substrato areia autoclavada é o que proporciona maior porcentagem de
germinação e IVG dentre os substratos utilizados.
De acordo com os dados da Tabela 1, observa-se que a porcentagem de emergência foi
relativamente baixa para a espécie, isto é, atingiu o valor máximo de 28% no substrato vermiculita
(T1). Nesse sentido, embora os resultados deste estudo não tenham sido satisfatórios, já que
apresentou germinação abaixo de 50%, pode-se inferir que a vermiculita além de apresentar melhor
desempenho, é de fácil manuseio, inorgânica, neutra, leve e com boa capacidade de absorção e
retenção de água, razão pela qual vem sendo bastante utilizada para os testes com espécies florestais
(FIGLIOLIA et al., 1993).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 876


Os baixos índices de germinação neste estudo podem ter decorrido ao tempo de exposição
das sementes a temperatura ambiente, já que elas são extremamente recalcitrantes ficou sujeita a
perder sua viabilidade. Por outro lado, outro fator que pode ter influenciado a baixa germinabilidade
pode ter sido a retirada das sementes do fruto e seu beneficiamento, uma vez que os resíduos da
polpa do fruto sobre o tegumento influenciam negativamente na germinação da semente, o que pode
ser causado pela presença de substâncias inibidoras na polpa, sendo indispensável removê-los antes
de as sementes serem colocadas para germinar (TAVARES, 1960).

Substratos Emergência (%) IVE (dias-1) TMG (dias)


T1- Vermiculita 28 a 0,35 a 33,08 a

T2- Vermiculita + composto orgânico (1:1) 14 ab 0,10 ab 36,02 a


T3- Areia lavada + composto orgânico (1:1) 3b 0,03 ab 14,75 a
T4- Areia 11 b 0,10 ab 14,37 a
T5- Areia+ húmus (1:1) 4b 0, 06 ab 19,00 a
T6- Vermiculita + areia (1:1) 3b 0,01 b 19,00 a
T7- Areia+ areia barrada + húmus (1: 1:1) 2b 0,02 b 15,25 a
CV (%) 74,17 147,62 77,99
* Dados seguidos de mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente ao nível de 5% de significância pelo
teste Tukey.
Tabela 1. Valores médios para porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência e tempo
médio de germinação de sementes de Hancornia speciosa Gomes, submetidas a diferentes substratos,
Natal/RN, 2012.

Quanto ao tempo médio de germinação (TMG), os tratamentos foram estatisticamente


iguais, entretanto os que continha areia registrou os menores valores, diminuindo o tempo médio de
germinação das sementes e aumentando a sua uniformidade, provavelmente devido à porosidade
adequada proporcionada pela areia. Soares et al. (2007), em estudos com a mesma espécie, não
encontram diferenças significativas entre os substratos areia, areia + vermiculita e vermiculita.
Por outro lado, embora o substrato não tenha influenciado significativamente, o maior tempo
médio de germinação ocorreu nos substratos vermiculita + composto orgânico (36,02 dias) e
vermiculita (33,08 dias). Para Martins et al. (1999), quanto mais tempo as plântulas demorarem a
emergir do solo, mais vulneráveis estarão às condições adversas do meio.
As médias do índice de velocidade de emergência (IVE) diferiram significativamente entre
os substratos estudados, sendo que o menor valor, para esta variável, foi observado no substrato
vermiculita+ areia (0,01 dias). Os demais substratos utilizados apresentaram valores
estatisticamente iguais ou superiores, se comparados ao substrato vermiculita + areia (1:1). No
entanto, o maior índice de velocidade de emergência foi obtido pelo substrato vermiculita (0,35
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 877
dias), provavelmente, por ele reunir características físicas, como boa retenção de umidade, alta
porosidade e baixa densidade o que muitas vezes, proporciona maior facilidade para a plântula
emergir (DOUSSEAU et al., 2008). Estes resultados discordam de Ferreira et al. (2010), quando
avaliaram o efeito de diferentes substratos na germinação de sementes de biribá (Rollinia mucosa
(Jacq.) Baill), e observaram que os tratamentos com maior porcentagem de sementes germinadas foi
com o emprego de areia e vermiculita.
De modo geral, o substrato que favoreceu melhor vigor para as sementes de mangabeira foi
a vermiculita, no entanto apresentou maior tempo para germinar. Já o substrato areia barrada +
areia+ húmus foi o que levou menos tempo para germinar e obteve menor vigor para emergência de
plântulas. Isso pode ser justificado, como sugere Lewis e Clementes (1999), devido à argila
apresentar textura mais fina, ela retém maiores quantidades de água, assim permitindo menor
circulação de ar entre seus poros, e consequentemente, prejudicando a germinação das sementes.
Nesse sentido, pode-se inferir que o baixo vigor constatado em todos os substratos testados
comprova que a espécie germina lentamente, por um período de tempo relativamente longo (36
dias), indicando a necessidade de fazer novos testes para um melhor vigor na germinação.
Por outro lado, o baixo desempenho dos substratos que continham matéria orgânica sugere
conforme Andrade et al. (1999), que o incremento excessivo de matéria orgânica às mudas de
mangabeira pode favorecer o desenvolvimento de patógenos nas raízes, o que explicaria a baixa
transpiração das plântulas do substrato com mistura de areia, areia barrada e húmus.
Os resultados de IVE obtidos neste estudo foram inferiores aos encontrados por Silva et al.
(2011) em estudos com a mesma espécie. No entanto, para os substratos que continha areia em sua
composição corrobora com os autores ao inferirem que devido a areia ser um componente com alta
capacidade de drenagem, provavelmente não retendo a quantidade de água necessária para que se
iniciasse o processo germinativo, o que pode ter acarretado menor IVE. Além disso, os substratos
que continham areia também obtiveram menor porcentagem de emergência, o que pode está
relacionado ao IVE, pois a semente pode ter sofrido perda de umidade, enquanto não iniciava o
processo germinativo, e, sendo a mesma recalcitrante, ficou sujeita a perder sua viabilidade (SILVA
et al., 2011).

CONCLUSÃO

Neste estudo, constatou-se que os substratos analisados influenciam na germinação de


sementes de mangabeira. Para teste de germinação e emergência de plântulas desta espécie, sugere-
se utilizar a vermiculita.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 878


No entanto, estudos adicionais sobre o efeito de diferentes combinações de substrato em
sementes de H. speciosa Gomes deverão ser conduzidos para otimizar a produção de mudas ex vitro
e, dessa forma, contribuir cientificamente para o conhecimento da espécie e, também, a sua
manutenção.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, L. R. M.; JUNQUEIRA, N. T. V.; SILVA, J. A.; BARBOSA, D.; LEÃO, A. P.;
BARROS, L. H. Fertilização do substrato e inoculação de fungos micorrízicos arbusculares em
mudas de mangaba (Hancornia speciosa Gomes.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIA DO SOLO, 27, 1999, Brasília. Anais... Brasília: Embrapa Cerrados/ SBCS, 1999
(Disponível do CD-ROM).

ARAGÃO, Ana Katarina Oliveira; ALOUFA, Magdi Ahmed Ibrahim; COSTA, Igor do Amaral. O
efeito do BAP (6-BENZILAMINOPURINA) sobre a indução de brotos em explantes de Pau-
brasil. Cerne, Lavras, v. 17, n. 3, p. 339-345, jul./set. 2011.

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília,
DF: SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365 p.

DOUSSEAU, Sara; ALVARENGA, Amauri Alves de; ARANTES, Lúcio de Oliveira; OLIVEIRA,
Davi Melo de; NERY, Fernanda Carlota. Germinação de sementes de Tanchagem (Plantago
tomentosa Lam.): Influência da temperatura, luz e substrato. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 32, n. 2,
p. 438-443, mar./abr., 2008.

FERREIRA, Maria das Graças Rodrigues; SANTOS, Maurício Reginaldo Alves dos; SILVA, Edna
de Oliveira; GONÇALVES, Edilma Pereira; ALVES, Edna Ursulino; BRUNO, Riselane de
Lucena Alcântara. Emergência e crescimento inicial de plântulas de biribá (Rollinia mucosa
(Jacq.) Baill) (Annonaceae) em diferentes substratos. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.
31, n. 2, p. 373-380, abr./jun. 2010.

FIGLIOLA, M. B; OLIVEIRA, E. C.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M. Análise de sementes. In.


AGUIAR, I. B.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M., FIGLIOLA, M. B.(Eds.) Sementes florestais
tropicais. Brasília: DF: ABRATES, 1993, p. 137-174.

GRICOLETTO, E. R. Micropropagação de Hancornia speciosa Gomes (Mangabeira). Dissertação


de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Biologia Vegetal – Instituto de Ciências Biológicas,
UNB, Brasília, 1997.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 879


LABOURIAU, L. G. A germinação das sementes. Washington: OEA, 1983. 174 p.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do


Brasil. 3. ed., Nova Odessa: Plantarum, 2000. v. 1, 352 p.

MARTINS, C. C.; NAKAGAWA, J.; BOVI, M. L. Efeito da posição da semente no substrato e no


crescimento inicial das plântulas de palmito-vermelho (Euterpe espiritosantensis Fernandes –
Palmae). Revista Brasileira de Sementes, v. 21, n. 1, p.164-173, 1999.

MAGUIRE, J. D. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and
vigor. Crop Science, Madison, v. 2, n. 2, p. 176-177, 1962.

NOGUEIRA, R. J. M. C.; ALBUQUERQUE, M. B. D.; SILVA JUNIOR, J. F. Efeito do substrato


na emergência, crescimento e comportamento estomático em plântulas de mangabeira. Revista
Brasileira de Fruticultura, v. 25, n. 1, p. 15-18, 2003.

PEREIRA, A. V.; PEREIRA, E. B. C.; ARAÚJO, I. A. de; JUNQUEIRA, N. T. V. Propagação por


sementes. In: SILVA JÚNIOR, J. F.; LÉDO, A. da S. (Ed.). A cultura da mangaba. Brasília:
Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2006. p. 92-109.

POPINIGIS, F. Fisiologia de sementes. Brasília: ABEAS, 1977. 285p.

PUJALS, A. et al. Substrato alternativo ao xaxim [Diksonia sellowiama (PRESL.) Hook] para
aclimatização de plântulas de Encyclia randii (Barb. Rodr.) Porto & Brade(Ochidaceae). In:
XXI Semana da Biologia VIII Encontro Maringaense de Biologia, Universidade Estadual de
Maringá – UEM. Resumo... Maringá, Museu Dinâmico interdisciplinar da UEM, p. 38-39, 2006.

SILVA JUNIOR, J. F. A cultura da mangaba. Revista Brasileira de Fruticultura [online]. v. 26, n.1.
2004.

SILVA, Elisângela Aparecida da; OLIVEIRA, Alessandra Conceição de; MENDONÇA, Vander;
SOARES, Flávio Meneses. Substratos na produção de mudas de mangabeira em tubetes. Pesq.
Agropec. Trop., Goiânia, v. 41, n. 2, p. 279-285, abr./jun. 2011.

SILVA, Ana Veruska C. da; SANTOS, Allívia R. F. dos; WICKERT, Ester; SILVA JÚNIOR,
Josué F. da; COSTA, Tatiana S. Divergência genética entre acessos de mangabeira (Hancornia
speciosa Gomes). Revista Brasileira de Ciências Agrárias, UFRPE, Recife, PE, v.6, n.4, p.572-
578, out- dez, 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 880


SOARES, F. P.; PAIVA, R.; ALVARENGA, A. A. de; NOGUEIRA, R. C.; EMRICH, E. B.;
MARTINOTTO, C. Organogênese direta em explantes caulinares de mangabeira (Hancornia
speciosa Gomes). Ciênc. agrotec., Lavras, v. 31, n. 4, p. 1048-1053, jul./ago., 2007.

SOARES, Fernanda Pereira; PAIVA, Renato; CAMPOS, Ana Carolina Atala Lombelo; PORTO,
Jorge Marcelo Padovani; NOGUEIRA, Raírys Cravo; STEIN, Vanessa Cristina. Germinação de
Sementes de Mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) em Diferentes Substratos. Revista
Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 1180-1182, jul. 2007.

TAVARES, S. Estudos sobre germinação de semente de mangaba (Hancornia speciosa Gomes).


Arquivos do IPA, Recife, v. 5, p. 193- 199,1960.

VILLAGOMEZ, A.Y.; VILLASENOR, R.R. & SALINAS, M.J. R. 1979. Lineamento para el
funcionamiento de um laboratório de semillas. México, INIA. 128 p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 881


INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO CRESCIMENTO RADIAL E NA ATIVIDADE
DAS ENZIMAS TANINO ACIL HIDROLASE E FENOLOXIDASE EM MUCORALES
DO SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO

Káren Gercyane Oliveira BEZERRA


Pós-graduanda do Curso de Especialização em Educação Ambiental e Sustentabilidade no
Semiárido de Pernambuco
karengercyane@gmail.com

André Luiz Cabral Monteiro de Azevedo SANTIAGO


Professor Adjunto da Pós graduação em Biologia de Fungos da Universidade Federal de
Pernambuco
andrelcabral@msn.com

Luciana de Oliveira FRANCO


Professora Adjunta da área de microbiologia do departamento de biologia da Universidade Federal
de Pernambuco
lucianafranco@terra.com.br

RESUMO
Estudos foram realizados para avaliar qualitativamente a influência da temperatura no crescimento
radial e na atividade das enzimas tanase e fenoloxidase em 15 espécies de Mucorales isoladas de
regiões de clima semiárido em Pernambuco. Para a verificação das atividades enzimáticas foi
utilizado meio de cultura ágar Czapec acrescido dos ácidos tânico e gálico para os testes de
atividade da tanase e fenoloxidase, respectivamente. Em ambos os casos as placas foram incubadas
por 15 dias a 28, 37 e 45ºC. A formação de halos ao redor das colônias foi interpretada como
resultado positivo para as atividades enzimáticas. A influência da temperatura no crescimento radial
dos Mucorales foi avaliada pelo crescimento desses fungos em meio batata dextrose ágar. As placas
foram incubadas a 28, 37 e 45ºC e o diâmetro das colônias foi medido em duas direções
perpendiculares, após 24, 48, 72 e 96 horas do inóculo. Dentre os 15 Mucorales testados, 33,3%
apresentaram capacidade para decompor ácido tânico, dentre estes, Rhizopus arrhizus var. arrhizus
e Mucor prayagensis, degradaram ácido tânico nas três temperaturas de incubação. Em relação à
atividade da fenoloxidase, R. arrhizus var. arrhizus e M. prayagensis foram positivos para a
degradação do ácido gálico a 28ºC. Todos os Mucorales capazes de degradar os ácidos tânico e
fenólico apresentaram atividade positiva a 28°C. Todos os Mucorales testados cresceram a 28 e
37ºC, e 40% destes foram capazes de crescer a 45ºC, embora a maioria das espécies tenha crescido
melhor a 37ºC. Alguns espécimes apresentaram crescimento a 45°C no meio contendo ácido tânico,
ocorrendo o mesmo para o meio contendo ácido gálico.
Palavras-chave: Ácido tânico, Ácido fenólico, Mucoromycotina, Biotecnologia, Caatinga

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 882


ABSTRACT
Studies were carried out in order to qualitatively evaluate the activity of enzymes tannase and
phenoloxidase and the influence of different temperatures on the radial growth of 15 species of
Mucorales isolated from the semiarid areas in Pernambuco. To evaluate the tannase and
phenoloxidase activity, agar plates with Czapec plus tannic acid and gallic were respectively
utilized. The plates were incubated for 15 days at 28, 37 and 45 °C. The production of halos around
of colonies was interpreted as an enzyme activity. The influence of the temperature on the radial
growth of Mucorales was evaluated by growing these fungi in potato dextrose agar medium. The
plates were incubated at 28, 37 and 45 °C and the diameter of the colonies was measured in two
perpendicular directions after 24, 48, 72 and 96 hours from inoculation. Among the 15 tested
Mucorales 33.3% were able to decompose tannic acid and, among these, Rhizopus arrhizus var.
arrhizus and Mucor prayagensis degraded tannic acid in the three incubation temperatures.
Regarding the phenoloxidase activity, R. arrhizus var. arrhizus and M. prayagensis were positive
for the degradation of gallic acid at 28 ºC. All Mucorales witch degraded tannic acids and phenolic
showed positive activity at 28°C. Fifteen specimens of Mucorales grew at 28 and 37 °C and six taxa
were able to grow at 45°C, although most species development better at 37 °C. Some specimens
grew at 45 °C in medium containing tannic and gallic acids.
Key-words: Phenolic acid, Tannic acid, Zygomycetes, Biotechnology, Caatinga

INTRODUÇÃO

Os Mucorales são fungos pertencentes ao Subfilo Mucoromycotina (HIBBETT et al., 2007)


e possuem parede celular composta por quitina-quitosano, caracterizando-se pela produção de um
esporo sexual denominado zigósporo, formado pela fusão de dois gametângios. São
microrganismos em maioria mesófilos com crescimento ótimo entre 25 e 30°C (ALEXOPOULOS
et al., 1961). Alguns espécimes podem ser termofílicos ou termotolerantes, podendo crescer em
temperaturas de até 58°C (WEITZMAN et al., 1995), e muitos Mucorales têm recebido destaque
nos estudos de produção de enzimas com potencial biotecnológico (SANTIAGO & SOUZA-
MOTTA, 2006).
Embora haja maior interesse no estudo de enzimas de origem vegetal e animal, as de origem
microbiana apresentam características que são mais interessantes sob o ponto de vista de aplicação
industrial, pois são mais facilmente expressas em organismos de cultivo já estabelecido, possuem
menor custo de produção e podem ser produzidas em larga escala (GANDHI, 1997;
NASCIMENTO et al., 2014). Microrganismos extremófilos, por exemplo, são capazes de produzir
enzimas termorresistentes (HAKI & RAKSHIT, 2003) que oferecem vantagens na aplicação

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 883


industrial, visto que vários processos biotecnológicos são conduzidos em elevadas temperaturas
(PAUMA-FERNANDES et al., 2002).
A temperatura é um dos fatores abióticos mais importantes para o desenvolvimento do ciclo
biológico dos fungos, pois afeta seu crescimento micelial, a função das biomoléculas e a
manutenção das estruturas biológicas desses microrganismos (FERRON, 1978). A maioria dos
organismos conhecidos são mesofílicos, crescendo em temperaturas entre 5 e 35°C, com
temperaturas ótimas entre 25 e 30°C. Entretanto, a existência de ambientes geotérmicos permite a
seleção de microrganismos que resistem e/ou requerem altas temperaturas para sobreviver, e que
podem sintetizar enzimas termorresistentes. (SANTIAGO, 2004; GOMES, 2007).
A tanase é uma enzima extracelular induzível que pode ser obtida por fontes vegetais,
animais e por fungos e bactérias. Catalisa a reação de desesterificação de taninos gerando ácido
gálico e glicose. Vários microrganismos, especialmente fungos filamentosos, são conhecidos como
produtores desta enzima. A tanase possui várias aplicações, atuando nas indústrias de fabricação de
alimentos, cervejas, vinhos, cosméticos e remédios (BRADOO et al., 1996; BANERJEE & KAR,
2000).
A fenoloxidase é uma oxirredutase que é responsável pela oxidação de compostos fenólicos,
que estão entre os principais poluentes tóxicos descartados pelas indústrias. Microrganismos que
produzem essa enzima podem ser usados em processos de biorremediação de ambientes alterados,
reduzindo ou eliminando a toxicidade de compostos fenólicos (CONCEIÇÃO et al., 2005).
Apesar do elevado potencial de utilização biotecnológica da tanase e fenoloxidase, o alto
custo de produção destas enzimas tem dificultado o emprego das mesmas na biotecnologia
(GANDHI, 1997). Como alternativa, a produção microbiana pode ser considerada uma fonte
promissora para a obtenção destes catalisadores, uma vez que as enzimas produzidas por
microrganismos são mais estáveis e podem ser produzidas em elevadas quantidades e de maneira
contínua. Em adição, a termorresistência enzimática é considerada de grande relevância para a
sustentabilidade do uso destas substâncias. Nesse contexto, os objetivos desse trabalho são observar
o efeito de diferentes temperaturas no crescimento radial e na atividade da tanase e fenoloxidase em
Mucorales isolados de regiões de clima semiárido em Pernambuco.

METODOLOGIA

Microrganismos utilizados

Para este estudo foram utilizados 15 espécimes de Mucorales isolados de solos provenientes
dos municípios de Cabrobó, Belém de São Francisco e Triunfo, em Pernambuco, estocados na
Coleção de Culturas URM da Universidade Federal de Pernambuco.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 884
Efeitos da variação da temperatura no crescimento radial dos Mucorales

Para a análise do crescimento radial das colônias dos Mucorales nas três temperaturas,
discos de 7mm de diâmetro retirados de culturas crescidas em BDA (batata 140g, glucose 20g, ágar
16g, água destilada esterilizada 1000 mL, pH 6.0) foram inoculados no centro de placas de Petri de
9cm de diâmetro contendo 20mL do mesmo meio de cultura. As placas foram incubadas a 28, 37 e
45°C. O diâmetro das colônias foi medido em duas direções perpendiculares, após 24, 48, 72 e 96
horas do inóculo. Todos os experimentos foram realizados em triplicata.

Atividade tanásica dos Mucorales

A verificação da atividade da enzima tanino acil hidrolase dos Mucorales foi realizada de
acordo com Bradoo et al.(1996), em que fragmentos de cada espécime foram inoculados no centro
das placas de Petri contendo o meio ágar Czapek (sacarose 30g, nitrato de sódio 3g, fosfato
dipotássio 1g, sulfato de magnésio 5g, cloreto de potássio 0,5g, sulfato ferroso 0,01g, ágar 15g,
água destilada esterilizada 1000mL, pH 6.0) adicionado de ácido tânico (0,5%). As placas foram
incubadas por 15 dias a 28, 37 e 45ºC. A presença de halos translúcidos ao redor das colônias foi
interpretada como atividade enzimática positiva. Todos os experimentos foram realizados em
triplicata.

Atividade fenolítica dos Mucorales

Para detectar a atividade fenolítica, fragmentos de cada espécime foram inoculados no


centro das placas de Petri contendo 20mg do meio de ágar Czapek acrescido de ácido gálico (0,5%).
O material foi incubado a 28, 37 e 45ºC durante 15 dias. A presença de halos na cor âmbar,
característico da ―Reação de Bavendamm‖, em torno do micélio, foi interpretada como atividade
enzimática positiva. Na ―Reação de Bavendamm‖ o ácido fenólico (ácido 3,4,5-trihidroxibenzóico),
sob a ação das fenoloxidases fúngicas, forma quinonas que são identificadas pela formação de um
halo na cor âmbar em torno do micélio (DAVIDSON, et al.,1938; NOBLES, 1965). Todos os
experimentos foram realizados em triplicata.

Análise estatística

Para a comprovação da influência da temperatura no crescimento radial dos Mucorales foi


utilizada a Análise de Variância Binomial (ANOVA), de acordo com AIRES et al. (1998).

RESULTADOS

Efeitos da Temperatura no crescimento radial dos Mucorales


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 885
Dos 15 Mucorales testados, 100% cresceram nas temperaturas de 28º e 37ºC, enquanto 40%
apresentaram crescimento a 45ºC (Tabela. 1). Os Mucorales que melhor cresceram a 28ºC foram
Absidia cylindrospora var. cylindrospora, Apophysomyces elegans, Cunninghamella echinulata, C.
elegans, C. phaeospora, Mucor prayagensis, Rhizopus arrhizus var. arrhizus e R. stolonifer, todos
alcançando o diâmetro total da placa de Petri (9cm) nas primeiras 48 horas de incubação.
Fennellomyces heterothallicus e Lichtheimia hyalospora apresentaram menor crescimento a 28ºC,
crescendo 8,0 e 7,5cm, respectivamente, ao fim das 96h de incubação.
As espécies que apresentaram melhor crescimento a 37°C coincidem com as que cresceram
bem a 28ºC, atingindo o diâmetro total da placa após 48h. Entretanto, A. cylindrospora var.
cylindrospora, A. elegans, C. echinulata, C. elegans, C. phaeospora, M. prayagensis e R. arrhizus
var. arrhizus cresceram melhor nas primeiras 24h de incubação a 37ºC, em relação ao mesmo
período de tempo a 28ºC, e apenas Mucor luteus, M. subtilissimus e R. stolonifer, cresceram melhor
nas 24h iniciais a 28ºC.
Mucor hiemalis, M. subtilissimus e L. hyalospora apresentaram menor crescimento a 37ºC,
crescendo 3,0, 2,5 e 8,5cm, respectivamente, ao fim das 96h de incubação. A. elegans, C.
phaeospora, F. heterothallicus, L. corymbifera, R. microsporus var. chinensis e R. microsporus var.
microsporus apresentaram crescimento lento a 45°C, em comparação com as outras temperaturas e,
dentre essas, apenas R. microsporus var. chinensis e R. microsporus var. microsporus atingiram
9cm de diâmetro após 96h de incubação. A Análise de Variância Binomial mostrou que foram
significativas as diferenças de crescimento radial dos fungos em relação à elevação da temperatura
para todas as espécies analisadas (H= 23,3651; g. l. = 4; p = 0,0001<0,05).

28°C 37°C 45°C


Mucorales Tempo (horas) Tempo (horas) Tempo (horas)
24 48 72 96 24 48 72 96 24 48 72 96
Absidia cylindrospora var. cylindrospora
Hagem 8,0 9,0 9,0 9,0 8,5 9,0 9,0 9,0 - - - -
Apophysomyces elegans P.C. Misra, K.J.
Srivast. & Lata 4,3 9,0 9,0 9,0 7,0 9,0 9,0 9,0 - - 0,9 2,0
Cunninghamella echinulata (Thaxt.) Thaxt.
ex Blakeslee 7,3 9,0 9,0 9,0 7,5 9,0 9,0 9,0 - - - -
C. elegans Lendn. 5,5 9,0 9,0 9,0 8,0 9,0 9,0 9,0 - - - -
C. phaeospora Boedijn 7,5 9,0 9,0 9,0 8,5 9,0 9,0 9,0 - - 1,0 1,7
Fennellomyces heterothallicus P.C. Misra,
N.N. Gupta & Lata 2,0 4,6 6,8 8,0 2,8 5,8 7,7 9,0 - - 0,7 1,4
Lichtheimia hyalospora (Saito) Kerst. Hoffm.,
Walther & K. Voigt 2,0 3,1 5,8 7,5 2,3 4,4 6,8 8,5 - - - -
L. corymbifera (Cohn) Vuill. 3,0 7,0 9,0 9,0 3,5 7,0 9,0 9,0 - - 1,3 2,1
Mucor luteus Linnem. ex Wrzosek 2,7 5,2 7,9 9,0 1,5 2,3 2,7 3,0 - - - -

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 886


M. prayagensis B.S. Mehrotra & Nand ex
Schipper 6,0 9,0 9,0 9,0 8,5 9,0 9,0 9,0 - - - -
M. subtilissimus Oudem. 2,5 4,2 7,4 9,0 1,8 2,2 2,4 2,5 - - - -
Rhizopus arrhizus var. arrhizus A. Fisch. 6,2 9,0 9,0 9,0 7,5 9,0 9,0 9,0 - - - -
R. microsporus var. chinensis (Saito)
Schipper & Stalpers 4,0 7,0 9,0 9,0 5,5 8,5 9,0 9,0 4,5 6,3 8,1 9,0
R. microsporus var. microsporus Tiegh. 3,0 5,7 7,6 9,0 4,5 7,8 9,0 9,0 3,1 5,3 7,2 9,0
R. stolonifer Vuill. 8,0 9,0 9,0 9,0 7,5 9,0 9,0 9,0 - - - -

Tabela 1. Crescimento radial dos Mucorales em meio BDA após 24, 48, 72 e 96 horas de incubação a 28, 37
e 45ºC.
Legenda: (-) Ausência de crescimento

Atividade da Tanase e Fenoloxidase dos Mucorales

Dos 15 fungos testados, 13 apresentaram crescimento nos meios de cultura contendo ácido
tânico como fonte de carbono. Dentre estes, 5 espécies (33,3%) produziram halo. Mucor
prayagensis e R. arrhizus var. arrhizus degradaram o ácido tânico nas três temperaturas de
incubação. Cunninghamella echinulata apresentou atividade enzimática positiva a 28 e 37ºC.
Colônias de M. subtilissimus e R. microsporus var. microsporus formaram halos apenas a 28ºC. Em
relação à atividade da fenoloxidase, 12 Mucorales cresceram nos meios de cultura contendo ácido
gálico como fonte de carbono. Desses, apenas M. prayagensis e R. arrhizus var. arrhizus (13,3%)
apresentaram atividade enzimática positiva a 28ºC (Tabelas 2 e 3).

Atividade Enzimática
Mucorales Tanase Fenoloxidade
28ºC 37ºC 45ºC 28ºC 37ºC 45ºC
Absidia cylindrospora - - - - - -
Tabela 2. Atividade da
tanase e Apophysomyces elegans - - - - - - fenoloxidase
em Cunninghamella echinulata x x - - - - Mucorales
isolados do C. elegans - - - - - - semiárido
em Pernambuco.
Legenda: (-) C. phaeospora - - - - - - Ausência de
atividade Fennellomyces heterothallicus - - - - - -
Lichtheimia hyalospora - - - - - -
L. corymbifera - - - - - -
Mucor hiemalis f. luteus - - - - - -
M. prayagensis x x x x - -
M. subtilissimus x - - - - -
Rhizopus arrhizus var. arrhizus x x x x - -
R. microsporus var. chinensis - - - - - -
R. microsporus var. microsporus x - - - - -
R. stolonifer - - - - - -

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 887


Crescimento (cm/7dias)
Mucorales Ácido Tânico Ácido Gálico
28ºC 37ºC 45ºC 28ºC 37ºC 45ºC
Absidia cylindrospora 9,0 0,0 0,0 9,0 9,0 5,0
Apophysomyces elegans 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Cunninghamella echinulata 9,0 0,0 0,0 9,0 9,0 0,0
C. elegans 9,0 3,0 1,8 9,0 9,0 0,0
C. phaeospora 5,0 0,0 0,0 9,0 9,0 0,0
Fennellomyces heterothallicus 5,0 3,8 0,0 9,0 4,0 0,0
Lichtheimia hyalospora 2,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
L. corymbifera 4,5 0,0 0,0 9,0 9,0 0,0
Mucor hiemalis f. luteus 9,0 2,5 0,0 9,0 9,0 0,0
M. prayagensis 9,0 5,2 2,5 9,0 9,0 0,0
M. subtilissimus 9,0 3,6 2,1 9,0 9,0 0,0
Rhizopus arrhizus var. arrhizus 9,0 6,8 4,8 9,0 5,4 5,0
R. microsporus var. chinensis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
R. microsporus var. microsporus 5,0 0,0 0,0 9,0 9,0 6,0
R. stolonifer 9,0 7,2 2,5 9,0 9,0 0,0
Tabela 3. Crescimento radial dos Mucorales nos meios contendo os ácidos tânico e gálico.

DISCUSSÃO

Os resultados dos experimentos de crescimento radial dos 15 Mucorales mostraram que,


como o esperado, diferenças nas temperaturas de incubação afetam diretamente o crescimento
radial desses fungos. A maioria dos táxons (86,6%), nas primeiras 24h de incubação, cresceram
melhor a 37ºC do que nas outras temperaturas, indicando que, dentre as temperaturas testadas, 37ºC
é, possivelmente, a temperatura ótima de crescimento para estes fungos. Rhizopus stolonifer, nas
primeiras 24 horas, cresceu melhor a 28°C e M. hiemalis e M. subtilissimus foram as únicas
espécies que cresceram melhor a 28ºC após 96 horas de incubação, indicando ser esta a temperatura
ótima de crescimento para estes isolados.
É interessante salientar que, segundo Schipper (1978), M. subtilissimus não cresce a 37ºC,
diferente do observado nesse trabalho. O mesmo pode ser observado para R. stolonifer que, segundo
Schipper & Stalpers (1984), cresce e esporula entre 15 e 30°C e não cresce a 33°C. No presente
trabalho, os resultados comprovam o crescimento de R. stolonifer a 37°C. O fato dessas duas
espécies serem provenientes do semiárido pode explicar a capacidade das mesmas em crescerem a
37ºC, temperatura próxima da média para a Caatinga. Mehrotra & Nand (1976) reportaram o
crescimento e esporulação de M. prayagensis entre 10 e 40°C e ausência de crescimento a 5°C,
apoiando os dados aqui descritos.
Dentre as 15 espécies avaliadas neste trabalho, R. microsporus var. chinensis e R.
microsporus var. microsporus apresentaram crescimento a 45°C, sendo os únicos táxons a
atingirem o diâmetro total da placa após 96h de incubação, indicando serem espécies

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 888


termotolerantes. De acordo com Weitzman et al. (1995), alguns espécimes de Mucorales podem ser
termofílicos ou termotolerantes, podendo crescer em temperaturas de até 58°C. Um estudo
realizado por Han & Nout (2000), apontou 40°C como a temperatura ótima de crescimento para R.
microsporus var. microsporus e R. microsporus var. oligosporus em substrato sólido de
fermentação (SSF). De acordo com Schipper & Stalperns (1984), esses dois táxons crescem bem a
45°C, corroborando os resultados deste trabalho.
Apophysomyces elegans, C. phaeospora, F. heterothallicus e L. hyalospora também
cresceram a 45°C, mas não atingiram 9cm ao fim das 96h de incubação. Benny (2005) descreve a
faixa de crescimento de Absidia entre 12° e 37°C, com temperatura ótima entre 25 e 34°C. Neste
trabalho, Absidia cylindrospora var. cylindrospora obteve melhor crescimento a 37°C do que a
28°C, possivelmente pela procedência da espécie, isolada de Caatinga. Em relação ao F.
heterothalicus, Misra et al. (1979) relata o crescimento da espécie em temperaturas entre 25 e 30°C,
diferente do observado no presente trabalho, em que o isolado cresceu a 37 e 45°C.
Em pesquisa realizada por Santiago (2006), um isolado de C. elegans de estuário apresentou
melhor crescimento a 35°C do que em temperaturas mais baixas. Neste trabalho C. echinulata C.
elegans, C. phaeospora, tiveram suas melhores taxas de crescimento a 37°C. Lichtheimia
hyalospora e L. corymbifera cresceram bem a 37°C, e L. corymbifera obteve crescimento a 45°C.
Esses resultados são apoiados por Benny (2005), que relata que a faixa de crescimento de
Lichtheimia é de 20 a 53°C, com temperaturas ótimas entre 37 e 42°C. Ellys & Hesseltine (1966)
afirmam que L. hyalospora (como A. blakesleeana) cresce a 37°C, e L. corymbifera (como A.
corymbifera) apresenta excelente crescimento e esporulação a 37°C e bom crescimento e
esporulação a 42°C, corroborando com os resultados obtidos neste trabalho.
Foi visto que 13 das 15 espécies de Mucorales estudados cresceram no meio contendo ácido
tânico, dentre esses, cinco apresentaram a formação de halo para tanase durante o período de
incubação: C. echinulata, M. prayagensis, M. subtilissimus, R. arrhizus var. arrhizus e R.
microsporus var. microsporus. Hadi et al. (1994) mencionam R. arrhizus var. arrhizus (como R.
oryzae), como boa produtora de tanase, e Bradoo et al. (1996) descreveram Cunninghamella sp.
como produtora moderada de tanase. De acordo com Belmares et al. (2004), espécies de Mucor
também são boas produtoras de tanase, e em um estudo realizado por Cruz et al. (2013), A.
cylindropora apresentou atividade positiva para tanase em fermentação sólida, indicado a
importância dos Mucorales na produção dessa enzima. Dentre os Mucorales que degradaram ácido
tânico, M. subtilissimus e R. microsporus var. microsporus apresentaram atividade a 28°C; C.
echinulata, apresentou atividade a 37°C; M. prayagensis e R. arrhizus var. arrhizus conseguiram
degradar ácido tânico a 28, 37 e 45°C. Atenção especial deve ser dada às atividades enzimáticas a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 889


45°C, visto que enzimas produzidas nessas temperaturas podem apresentar termoestabilidade,
podendo ser utilizadas em diversos processos biotecnológicos (LIMA et al. 2014).
Com relação à atividade de fenoloxidase, 12 espécies apresentaram crescimento no meio de
ágar Czapec contendo ácido gálico e, dentre essas, apenas M. prayagensis e R. arrhizus var.
arrhizus apresentaram formação de halo a 28°C, indicando a capacidade de degradação do ácido
gálico. Corroborando os resultados desse trabalho, Gomes (2007) reportou atividade de
fenoloxidade negativa em M. hiemalis.
Interessante salientar que C. elegans, M. prayagensis, M. subtilissimus, R. arrhizus var.
arrhizus e R. stolonifer não cresceram a 45ºC, em meio de cultura BDA, embora tenham crescido,
nessa temperatura no meio de ágar Czapec contendo ácido tânico. Da mesma forma, A.
cylindrospora var. cylindrospora e R. arrhizus var. arrhizus não apresentam crescimento a 45ºC no
meio de cultura BDA, embora, cresçam nessa temperatura no meio ágar Czapec contendo ácido
fenólico.
Esse artigo relata a capacidade de alguns Mucorales em degradar os ácidos tânico e fenólico
em diferentes temperaturas. No entanto, estudos adicionais que quantifiquem e otimizem a
produção de tanase e fenoloxidase por Mucorales em escala industrial devem ser incentivados.
Além disso, estudos que corroborem a termotolerância dos Mucorales aqui estudados e a influência
dos meios de cultura para esse fator são de fundamental importância.

CONCLUSÕES GERAIS

De acordo com os resultados apresentados nesse trabalho, dentro das condições


experimentais estabelecidas, conclui-se que: A. cylindrospor var. cylindrospora, A. elegans, C.
echinulata, C. elegans, C. phaeospora, F. heterothallicus, L. hyalospora, L. corymbifera, M.
prayagensis, R. arrhizus var. arrhizus, R. microsporus var. chinensis e R. microsporus var.
microsporus crescem melhor a 37°C, enquanto que Mucor hiemalis, M. subtilissimus e R. stolonifer
crescem melhor a 28°C. A. elegans, C. phaeospora, F. heterothallicus, L. corymbifera, R.
microsporus var. chinensis e R. microsporus var. microsporus são termotolerantes.
C. echinulata, M. prayagensis, M. subtilissimus, R. arrhizus var. arrhizus e R. microsporus
var. microsporus são capazes de degradar o ácidos tânico e M. prayagensis e R. arrhizus var.
arrhizus apresentaram atividade positiva para o ácido fenólico a 28°C. C. echinulata, M.
prayagensis e R. arrhizus var. arrhizus apresentam atividade tânica a 37°C e M. prayagensis e R.
arrhizus var. arrhizus, apresentam atividade tânica as 45°C.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 890


ALEXOPOULOS, C. J; MIMS, C. W; BLACKWELL, M. Introductory Mycology. New York, Jonh
Wiley & Sons publishers. 1996, 868p.

AIRES, M; AYRES, Jr; AYRES, D. L; SANTOS, A. S. Biostat: aplicações estatísticas nas áreas
das Ciências Biológicas e Médicas. Sociedade Civil Mamiraua, Manaus. 1998, 193p.

BANERJEE, D; KAR, B. Biosynthesis of tannin acylhydrolase from tannin-rich forest residue


under different fermentation conditions. J. Ind. Microbiol. Biotechnol. 2000, 25: 29-38.

BELMARES, R; CONTRERAS-ESQUIVEL, J. C; RODRÍGUEZ-HERRERA, R; RAMÍREZ


CORONEL, A; AGUILAR, C. N. Microbial production of tannase: an enzyme with potential
use in food industry. Lebensm Wiss Technol, 2004, 37: 857-864.

BENNY, G. L. 2005. Zygomycetes. [Publicado na internet]. Disponível em:


<http://www.zygomycetes.org>. Acesso em 17 nov. 2010.

BRADOO, S; GUPTA, R; SAXENA, R. K. Screening of extracellular tannase-producing fungi:


development of a rapid and simple plate assay. J. Gen. Appl. Microbiol. 1996, 42: 325- 329.

CONCEIÇÃO, D. M, ANGELIS, D. A; BIDOIA, E. D; ANGELIS, D. F. Fungos filamentosos


isolados do rio Atibaia, SP e refinaria de petróleo biodegradadores de compostos fenólicos.
Arq. Inst. Biol., São Paulo. 2005, 72 (1): 99-106.

CRUZ, R; LIMA, J. S; FONSECA, J. C; FERNANDES, M. J. S; LIMA, D. M. M; DUDA, G. P;


MOREIRA, K. A; MOTTA, C. M. S. Diversity of Filamentous Fungi of Area from Brazilian
Caatinga and High-Level Tannase Production Using Mango (Mangifera indica L.) and Surinam
Cherry (Eugenia uniflora L.) Leaves Under SSF. Advances in Microbiology, 2013, 3, 52-60.
Publicação online em dezembro de 2013. (http://www.scirp.org/journal/aim)
<http://dx.doi.org/10.4236/aim.2013.38A009>.

DAVIDSON, R. W; CAMPBELL, W. A; & BLAISDELL, D. J. Differentiation of wood-decaying


fungi by their reactions on gallic or tannic acid medium. J. of Agric. Res. 1938, 57 (9): 683-685.

ELLIS, J. J; HESSELTINE, C. W. Species of Absidia with ovoid sporangiospores. II.


Sabouraudia.1966, 5: 59-77.

FERRON, P. Biological control of insects pest by entomogenous fungi. An. Ver. Entomol., Palo
Alto. 1978, 23: 409-442.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 891


GOMES, N. F. G. Diversidade e potencial biotecnólogico de fungos filamentosos isolados do
manguezal Barra das Jangadas, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. [tese] Recife (PE):
Universidade de Pernambuco, 2007. 114pp.

GUANDHI, N. N. Application of lipases. Jornal of the American Oil Chemist Society. 1997, 74(6):
621 643.

HADI, T. A; BANERJEE, R; BHATTARCHARYYA, B. C. Optimization of tannase biosynthesis


by a newly isolated Rhizopus oryzae. Bioprocess Eng. 1994 11: 239–24.

HAKI, G. D; RAKSHIT, S. K. Developments in industrially important thermostable enzymes: a


review. Bioresource Technology. 2003 [Publicado na Internet]. Disponível em:
<www.elsevier.com/bioresourcetechnology>. Acesso em 04 jun. 2010.

HAN, B. Z; NOUT, R. M. J. Efects of temperature, water activity and gas atmosphere on mycelial
growth of tempe fungi Rhizopus microsporus var. microsporus and R. microsporus var.
oligosporus. World Journal of Microbiology & Biotechnology. 2000, 16: 853-858.

HESSELTINE, C. W; ELLIS. Species of Absidia winth ovoid sporangiospores. I. Mycologia. 1966.


58: 761-785.

HIBBETT, D. S; BINDER M; BISCHOFF, J. F; BLACKWELL, M; CANNON, P. F; ERIKSSON, O.


E; HUHNDORF, S; JAMES, T; KIRK, P. M; LÜCKING, R; LUMBSCH, H.T; LUTZONI, F;
MATHENY, P. B; MCLAUGHLIN, D. J; POWELL, M. J; REDHEAD, S; SCHOCH, C. L;
SPATAFORA, J. W; STALPERS, J. A; VILGALYS, R; AIME, M. C; APTROO, T. A; BAUER, R;
BEGEROW, D; BENNY, G. L; CASTLEBURY, L. A; CROUS, P. W; DAI, Y. C; GAMS, W;
GEISER, D. M.; GRIFFITH, G. W; GUEIDAN, C; HAWKSWORTH, D. L; HESTMARK, G;
HOSAKA, K; HUMBER, R. A; HYDE, K. D; IRONSIDE, J. E; KÕLJALG, U; KURTZMAN, C.P;
LARSSON, K. H; LICHTWARDT, R; LONGCORE, J; MIADLIKOWSKA, J; MILLER, A;
MONCALVO, J. M; MOZLEY-STANDRIDGE, S; OBERWINKLER, F; PARMASTO, E; REEB,
V; ROGERS, J. D; ROUX, C; RYVARDEN, L; SAMPAIO, J. P; SCHÜßLER, A; SUGIYAMA, J;
THORN, R. G; TIBELL, L; UNTEREINER, W. A; WALKER, C; WANG, Z; WEI, R. A; WEISS,
M; WHITE, M. M; WINKA, K; YAO, Y. J; ZHANG, N. 2007. A higher-level phylogenetic
classification of the Fungi. Mycological Research. 2007, 3: 509-547.

LIMA, L. A; CRUZ FILHO, R. F; SANTOS, J. G; SILVA, W. C. Produção de Protease


colagenolítica por Bacillus stearothermophillus de solo amazônico. Acta Amazônica. vol. 44(4)
2014: 403 – 410.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 892


MEHROTRA, B. S; NAND. Mucor prayagensis B.S. Mehrotra & Nand in B. S. Mehrotra. Final
techn. Rep. (without Latin diagnosis). 1976, p. 31.

MISRA, P. C; GUPTA, N. N; LATA, K. A new species of Fennelomyces (Mucorales). Mycotaxon.


1979, 10 (1): 251-254.

NASCIMENTO, K. B. M; MARTINS, A. G. R.; TAKAKI, G. M. C; SILVA, C. A. A; OKADA, K.


Utilização de Resíduos Agroindustriais para Produção de Tanase por Aspergillus Sp Isolado do
Solo da Caatinga de Pernambuco, Brasil. e-xacta, Belo Horizonte, v. 7 n. 1, p. 95-103. 2014.
Editora UniBH. Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/.

NOBLES, M. K. Identification of cultures of wood-inhabiting hymenomycetes. Can. J. Bot.1965,


43: 1097-1139.

PALMA-FERNANDEZ, E. R, Gomes E, da Silva R. Folha Microbiol. 2002, 47: 685.

SANTIAGO, A. L. C. M. Efeitos da salinidade e da temperatura na germinação, no crescimento


radial e na morfologia de Cunninghamella elegans Lendner. [dissertação]. Recife (PE):
Universidade Federal de Pernambuco; 2004. 81pp.

SANTIAGO, A. L. C. M. A, SOUZA-MOTTA, C. M. Mucorales isolados do solo de mineração de


cobre e produção de amilase e inulinase. Acta Botânica Brasilica. 2006, 20 (3): 641-647.

SCHIPPER, M. A. A; STALPERS, J. A. A revision of the genus Rhizopus. II. The Rhizopus


microsporus – group. Studies in mycology. 1984, 25: 20-34.

SHIPPER, M. A. A. On certain species of Mucor With a key to all accepted species. Studies in
Mycology. 1978, 17: 1-53.

WEITZMAN, I; WHITTIER, S; MCKITRICK, J. C; DELLA-LATTA, P. Zygospore: The last


word in identification of rare and atypical zygomycetes isolated from animal specimens. Journal
of Clinical Microbiology. 1995, 33: 781-783.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 893


CINÉTICA DE SECAGEM DE SEMENTES DE JERIMUM CABOCLO

Raphaela Maceió da SILVA


Mestranda em Engenharia Agrícola (CTRN/UFCG)
maceiosilva@hotmail.com

Rodrigo Leite MOURA


Mestrando em Engenharia Agrícola (CTRN/UFCG)
mourarodrigoleite@yahoo.com.br

Ana Lúcia da SILVA


Professora/Mestre em Engenharia Agrícola (CTRN/UFCG)
analluds@hotmail.com

RESUMO
O processo de secagem é considerado um dos mais importantes para a conservação dos alimentos,
garantindo a qualidade do produto, minimizando perdas ocasionadas pelo alto teor de água nas
sementes. Neste contexto, objetivou-se neste trabalho estudar a cinética de secagem de sementes de
jerimum caboclo nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 ºC, ajustando modelos matemáticos aos dados
experimentais. Os frutos foram adquiridos na feira central de Campina Grande-PB e transportados
ao laboratório, onde foram higienizados e em seguida abertos para remoção das sementes, que
passaram por uma etapa de limpeza, de modo a eliminar o excesso de polpa, sendo em seguida,
submetidas à secagem em camada fina, em um secador experimental de leito fixo. A cinética de
secagem foi realizada pesando-se as amostras em intervalos de 5, 10, 20, 30 e 60 minutos. O
experimento foi realizado em triplicata, sendo as pesagens das sementes realizadas em balança
semianalítica. Foram determinados os teores de água inicial e final das sementes, onde a
porcentagem de teor de água foi calculada na base do peso úmido, aplicando-se a fórmula proposta
pelas Regras para Análise de Sementes. Diante dos resultados apresentados, constatou-se que as
curvas de secagem foram influenciadas pela temperatura, mostrando uma redução gradativa dos
tempos de secagem em função da utilização de temperaturas mais elevadas do ar de secagem. Todos
os modelos matemáticos avaliados apresentaram bom ajuste às curvas de secagem das sementes
estudadas, com R² superior a 96%. Os modelos Logarítmico e de Midilli et al. (2002), ajustaram-se
melhor aos dados experimentais com R² bem próximos de 100%.
Palavras–chave: Cucurbita spp, curvas de secagem, modelagem matemática.

ABSTRACT
The drying process is considered one of the most important for the conservation of food, ensuring
product quality, minimizing losses caused by the high water content in the seeds. In this context,
this work aimed to study the kinetics of drying ―Caboclo‖ pumpkin seeds at temperatures of 40, 50,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 894


60 and 70 °C by adjusting mathematical models to experimental data. The fruits were purchased in
the market-place of Campina Grande-PB and transported to the laboratory where they were cleaned
and then open to remove the seeds, which have undergone a cleaning step in order to remove excess
pulp, and then dried in thin layer in an experimental fixed bed dryer. The air drying was performed
by weighing the specimens at intervals of 5, 10, 20, 30 and 60 minutes. The experiment was
performed in triplicate, and the weighing of seeds held in weighing-machine. The contents of initial
and final seed water, where the percentage of water content was calculated on the basis of wet
weight, applying the formula proposed by the Rules for Testing Seeds. Given the results, it was
found that the drying curves were influenced by temperature, showing a gradual reduction in drying
times due to the use of higher temperatures of the drying air. All reviews mathematical models
showed good fit to the drying curves of the studied seeds, with R² greater than 96%. The models
Logarithmic and Midilli et al. (2002), were best fitted to the experimental data with R² very close to
100%.
Keywords: Cucurbita spp, drying curves, mathematical modeling.

INTRODUÇÃO

O Jerimum caboclo ou abóbora, termo popularmente chamado, pertence à família das


curcubitaceas, é nativo das Américas e sua importância esta relacionada ao valor alimentício e
versatilidade dos frutos. Os maiores produtores desta cultura concentram-se na região Nordeste,
agrupando também os maiores estados consumidores, como Pernambuco, Piauí, Maranhão e Bahia
(RAMOS et al., 2009).
O processo de secagem é considerado um dos mais importantes para a conservação dos
alimentos e apresenta como vantagens: a estabilidade dos componentes aromáticos a temperatura
ambiente por longos períodos de tempos; proteção contra a degradação enzimática e oxidativa;
economia de energia em virtude de não necessitar de refrigeração e a disponibilidade do produto
durante qualquer época do ano (PARK et al., 2001). Garantindo desta forma a qualidade do
produto, minimizando perdas muitas vezes ocasionadas pelo alto teor de água nas sementes, o que
ocasiona surgimento de micro-organismos patogênicos durante o período de armazenamento.
A água é removida das sementes, no processo de secagem, por meio da transferência de
calor e massa, o que facilita o transporte e o armazenamento destas. (ERTEKIN e YALDIZ, 2004).
Tendo em vista que a temperatura e a umidade relativa do ar influenciam na qualidade fisiológica
das sementes, podendo ocasionar danos muitas vezes incalculáveis para o produtor.
Para conservar a qualidade nutritiva, a aparência e a viabilidade das sementes faz-se
necessário remover a água livre, de forma que o produto permaneça em equilíbrio com o ar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 895


ambiente (FIOREZI, 2004). A taxa de secagem pode ser acelerada com o aumento da temperatura
do ar de secagem e/ou com o aumento do fluxo de ar que passa pelo produto por unidade de tempo.
A quantidade de ar utilizada para a secagem depende de vários fatores, como a umidade inicial do
produto e a espessura da camada (GOUVEIA et al., 2003).
Existe um grande número de modelos matemáticos disponíveis na literatura para predição
das curvas de secagem de alimentos e umas das maneiras de representar a secagem de produtos,
adaptada para a secagem de uma camada simples, foi desenvolvida por Page, onde uma
modificação empírica sobre a lei exponencial permite obter um método mais preciso para descrever
mudanças nos dados medidos, especialmente para o estágio inicial da secagem (AZZOUZ et al.,
1998).
Diante do exposto, este trabalho foi conduzido com o objetivo de estudar a cinética de
secagem de sementes de jerimum caboclo nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 ºC, ajustando
modelos matemáticos aos dados experimentais.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Secagem de Produtos Agrícolas do


Departamento de Engenharia Agrícola, do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). As sementes utilizadas foram provenientes de
jerimuns ―caboclos‖ adquiridos na feira central de Campina Grande-PB.
Os frutos foram transportados ao laboratório, onde foram higienizados e em seguida abertos
para remoção das sementes, após serem retiradas, as sementes passaram por uma etapa de limpeza,
de modo a eliminar o excesso de polpa, sendo em seguida, submetidas à secagem em camada fina
em um secador experimental de leito fixo (Figura 1), ajustado para operar nas temperaturas de 40,
50, 60 e 70°C. A cinética de secagem foi realizada pesando-se as amostras em intervalos de 5, 10,
20, 30 e 60 minutos. O experimento foi realizado em triplicata, sendo as pesagens das sementes
realizadas em balança semianalítica (Figura 2) até atingirem o equilíbrio (peso constante).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 896


Figura 1. Secador de leito fixo. Figura 2. Pesagem em balança
semianalítica.

Foram determinados os teores de água inicial e final das sementes, onde a porcentagem de
teor de água foi calculada com base no peso úmido aplicando-se a fórmula proposta pelas Regras
para Análise de Sementes (BRASIL, 2009) e o resultado final expresso pela média aritmética em
porcentagens das sub amostras, de acordo com a equação 1:

( )
( )

Onde:
P - peso inicial, peso do recipiente e sua tampa mais o peso dos grãos úmidos;
p - peso final, peso do recipiente e sua tampa mais o peso da semente seca;
t - tara, peso do recipiente com sua tampa.

As curvas de secagem foram obtidas pela conversão dos dados referentes à perda de água no
parâmetro adimensional denominado razão de teor de água (RX). Para a determinação da razão de
teor de água das sementes avaliadas, para as diferentes temperaturas de secagem, foi empregada a
equação 2:

( )

Em que:
RX – razão de teor de água (adimensional)
Xe - teor de água de equilíbrio (base seca)
Xbs - teor de água (base seca)
Xbs (inicial) - teor de água inicial (base seca)

Aos dados experimentais da secagem foram ajustados quatro modelos matemáticos,


frequentemente utilizados para representação da secagem de produtos agrícolas e que são
apresentados na Tabela 1.

Designação do Modelo Modelo


Logarítmico ( )
Page ( )
Henderson e Pabis ( )
Midilli et al.(2002) ( )

Tabela 1.Modelos matemáticos ajustados à cinética de secagem das sementes de jerimum.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 897


Onde:
t - tempo de secagem (min);
k - constante de secagem;
a, b, c e n - coeficientes dos modelos.

Para o ajuste dos modelos matemáticos aos dados experimentais, realizou-se análise de
regressão não linear, pelo método Quasi-Newton, empregando-se o programa computacional
STATISTICA 7.0. Os valores dos parâmetros foram estimados em função das variáveis
independentes, temperatura do ar de secagem e teor de água de equilíbrio da amostra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas Figuras 3 a 6 são apresentadas as curvas de secagem das sementes de jerimum


―caboclo‖, observadas durante o processo de secagem nas diferentes temperaturas, com ajustes
pelos modelos Logarítmico, de Page, de Henderson & Pabis, e de Midilli et al. (2002). Como
previsto, o tempo de secagem decresce com o aumento da temperatura do ar. Observa-se que as
curvas geradas a partir dos modelos Logarítmico e de Midilli et al. (2002), aproximam-se mais dos
pontos experimentais, que os demais modelos, constatado por meio do coeficiente de determinação
(R2).

Figura 3. Curvas de secagem de sementes de Figura 5. Curvas de secagem de sementes de


jerimum ―caboclo‖ (experimental e estimada) jerimum ―caboclo‖ (experimental e estimada)
nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 °C nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 °C
empregando o modelo Logarítmico. empregando o modelo de Henderson & Pabis.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 898


Figura 4. Curvas de secagem de sementes de Figura 6. Curvas de secagem de sementes de
jerimum ―caboclo‖ (experimental e estimada) jerimum ―caboclo‖ (experimental e estimada)
nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 °C nas temperaturas de 40, 50, 60 e 70 °C
empregando o modelo de Page. empregando o modelo de Midilli et al. (2002).

Equações Ajustadas e Parâmetros Estimados

Nas Tabelas 2 a 5 estão apresentadas as equações referentes aos modelos de regressão não
linear utilizados para predizer o fenômeno de secagem.

T (°C) Equações Ajustadas T (°C) Equações Ajustadas


40 y=(1,09375)*exp(-(0,001445)*x)+(-0,1915) 40 y=(0,921292)*exp(-(0,002074)*x)

50 y=(0,884895)*exp(- 50 y=(0,886052)*exp(-(0,009811)*x)
(0,009859)*x)+(0,00173)
60 y=(0,911623)*exp(-(0,014366)*x)
60 y=(0,897824)*exp(-
(0,015547)*x)+(0,025307) 70 y=(0,917627)*exp(-(0,035289)*x)

70 y=(,906475)*exp(-(,03864)*x)+(,02524) Tabela 4. Equações do modelo de Henderson &


Pabis ajustadas aos dados experimentais.
Tabela 2. Equações do modelo Logarítmico
ajustadas aos dados experimentais.
T(°C) Equações Ajustadas
40 y=(0,885054)*exp(-(0,706e-
T (°C) Equações Ajustadas 3)*x**(1,15027))+(-0,57e-4)*x
40 y=exp(-(0,004791)*x**(0,881846))
50 y=(0,917461)*exp(-
50 y=exp(-(0,02976)*x**(0,78792)) (0,01588)*x**(0,902418))+(-0,12e-4)*x

60 y=exp(-(0,040552)*x**(0,776582)) 60 y=(0,98887)*exp(-
(0,037379)*x**(0,793881))+(0,946e-5)*x
70 y=exp(-(0,095897)*x**(0,729578))
70 y=(1,00159)*exp(-
Tabela 3. Equações do modelo de Page ajustadas (0,095484)*x**(0,731997))+(0,115e-4)*x
aos dados experimentais.
Tabela 5. Equações do modelo de Midilli et al.
(2002) ajustadas aos dados experimentais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 899


Na Tabela 6 estão apresentados os parâmetros dos modelos ajustados com seus respectivos
coeficientes de determinação (R2) referentes ao ajuste da cinética de secagem das sementes de
jerimum em diferentes temperaturas. Dentre os modelos avaliados e conforme os resultados obtidos
para os coeficientes de determinação ajustados, as equações dos modelos Logarítmico e de Midilli
et al. (2002), foram as que melhor se ajustaram aos dados experimentais para descrever o processo
de secagem avaliado para a faixa de temperatura (40 a 70ºC). Observa-se que o valor de k no
modelo Logarítmico cresce de 0,0014 à temperatura de 40°C, para 0,0252 à temperatura de 70°C,
tendo seu parâmetro a uma variação de 1,0938 a 0,9065; respectivamente. No modelo de Midilli et
al. (2002), o valor de k cresce de 0,0007 à temperatura de 40°C, para 0,0955 à temperatura de 70°C,
tendo seus parâmetros a e b variação de 0,8851 a 1,0016; e -0,00006 a 0,00001; respectivamente.
Comportamento diferente é observado no modelo de Page, em que o valor de k varia de 0,0048 a
0,0959 nas temperaturas de 40 a 70°C; no modelo de Henderson & Pabis onde ocorre uma variação
de 0,0021 a 0,0353; com o parâmetro a variando de 0,8861 (na temperatura de 50 ºC) a 0,9213 (na
temperatura de 40 ºC).

Modelo Temp. (ºC) Parâmetro R² (%)


a b c k n
40 1,0938 - -0,1915 0,0014 - 99,43
Logarítmico 50 0,8849 - 0,0099 0,0017 - 99,31
60 0,8978 - 0,0155 0,0253 - 99,48
70 0,9065 - 0,0386 0,0252 - 98,99
40 - - - 0,0048 0,8818 96,78
Page 50 - - - 0,0298 0,7879 99,02
60 - - - 0,0406 0,7766 99,86
70 - - - 0,0959 0,7296 99,97
40 0,9213 - - 0,0021 - 98,47
Henderson &Pabis 50 0,8861 - - 0,0098 - 99,31
60 0,9116 - - 0,0144 - 99,23
70 0,9176 - - 0,0353 - 98,61
40 0,8851 -0,00006 - 0,0007 1,1503 99,45
Midilli et al. (2002) 50 0,9175 -0,00001 - 0,0159 0,9024 99,39
60 0,9889 0,00001 - 0,0374 0,7939 99,87
70 1,0016 0,00001 - 0,0955 0,7320 99,98

Tabela 6. Parâmetros dos diferentes modelos matemáticos, com seus respectivos coeficientes de
determinação (R2) referentes ao ajuste da cinética de secagem das sementes de jerimum ―caboclo‖ em
diferentes temperaturas.

Pode-se observar que todos os modelos apresentaram bom ajuste aos dados experimentais de
secagem, com R2 superior a 96%, constituindo uma representação satisfatória do fenômeno em
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 900
estudo, para todas as temperaturas avaliadas. Corrêa et al. (2007), Hacihafızoglu et al. (2008) e
Costa et al. (2011) verificaram coeficientes de determinação superiores a 99% ao estudarem a
secagem de grãos de feijão, arroz e sementes de crambe, respectivamente. Em relação ao parâmetro
k dos modelos pode-se observar que este aumenta, com o aumento da temperatura de secagem,
comportamento verificado também por Doymaz (2005), para a secagem em camada fina de feijão
verde a 50, 60 e 70 ºC, e por Corrêa et al. (2001) ao secarem milho-pipoca nas temperaturas de 40,
50 e 60 °C.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados apresentados, constatou-se que as curvas de secagem foram


influenciadas pela temperatura, mostrando uma redução gradativa dos tempos de secagem em
função da utilização de temperaturas mais elevadas do ar de secagem. Todos os modelos
matemáticos avaliados apresentaram bom ajuste às curvas de secagem das sementes estudadas, com
R2 superior a 96%. Os modelos Logarítmico e de Midilli et al. (2002), ajustaram-se melhor aos
dados experimentais com R2 bem próximos de 100%.

REFERÊNCIAS

AZZOUZ, S.; JOMAA, W.; BELGHITH, A. Drying kinect equation of single layer of grapes. In:
INTERNACIONAL DRYING SYMPOSIUM, 11.,1998, Halkidiki, Greece. Proceedings...
Greece: A. S. Mujumdar, 1998. v. B, p. 988-997.

BRASIL, Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria Nacional de defesa


Agropecuária. Regras para análise de sementes. Brasília, 2009. 365 p.

CORRÊA, P. C.; MACHADO, P. F.; ANDRADE, E. T. Cinética de secagem e qualidade de grãos


de milho-pipoca. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 25, n. 1, p. 134-142, 2001.

CORRÊA, P. C. et al. Modelagem matemática para a descrição do processo de secagem do feijão


(Phaseolus vulgaris L.) em camadas delgadas. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 27, n. 2, p.
501-510, 2007.

COSTA, L. M. et al. Coeficiente de difusão efetivo e modelagem matemática da secagem de


sementes de crambe. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande,
v. 15, n. 10, p.1089-1096, 2011.

DOYMAZ, I. Drying behaviour of green beans. Journal of Food Engineering, v. 69, n. 2, p. 161-
165, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 901


ERTEKIN, C., YALDIZ, O. Drying of eggplant and selection of a suitable thin layer drying model.
Journal of Food Engineering, v. 63, p. 34-39. 2004.

FIOREZI, R. Princípios da Secagem de Produtos Biológicos. João Pessoa: Editora


Universitária/UFPB. Cap. 3, p. 61-64. 2004.

GOUVEIA, J. P. G.; ALMEIDA, F. A. C.; FARIAS, E. S.; SILVA, M. M.; OLIVEIRA, J. D. S.;
RIBEIRO, L. F. C.; COSTA, H. T. V.; SOUSA, F. F. Curva de secagem da mamona (Ricinus
communis L). CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS
VEGETAIS E BIODÍESEL, 1., 2004, Varginha, Anais...Lavras, UFLA, 2004. p.15-17.

HACIHAFIZOGLU, O.; CIHAN, A.; KAHVECI, K. Mathematical modelling of drying of thin


layer rough rice. Food and Bio products Processing, v. 86, n. 4, p. 268-275, 2008.

LIRA-SAADE, R. L. Estudios taxonomicos y ecogeograficos de las cucurbitaceae


latinoamericanas de importancia económica. Rome: IPGRI, 1995. 281 p. (IPGRI. Systematic
and Ecogeographic Studies on Crop Genepools, 9).

MIDILLI, A.; KUCUK, H.; YAPAR, Z. A.New model for single-layer drying.Drying Technology,
v.20, p.1503-1513, 2002.

PARK, K. J.; MORENO, M. K.; BROD, F. P. R. Estudo da secagem de pêra Bartlett. Ciência e
Tecnologia de Alimentos, v.21, n.3, p.288-292, 2001.

RAMOS, S. R. R. Caracterização morfológica, multiplicação e documentação de germoplasma de


abóbora (C. moschata) de regiões do Nordeste Brasileiro. Petrolina: Embrapa Semi Árido,
1997. 47 p. Relatório parcial das atividades referente ao período de 02/01/96 a 05/09/97.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 902


INFLUÊNCIA DO PH NA FITOTOXICIDADE DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS
PROVENIENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA

Elisângela Maria da SILVA


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da UFCG
elisa_maria18@hotmail.com

Alessandra Santos SILVA


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia dos Materiais da UFCG
alessandrasantos11@gmail.com

Márcio Camargo de MELO


Professor (UFCG)
melomc90@gmail.com

Verusckha Escarião Dessoles MONTEIRO


Professora (UFCG)
veruschkamonteiro@hotmail.com

RESUMO
Os estabelecimentos de ensino, principalmente aqueles que funcionam em período integral,
contribuem para geração de uma quantidade significativa de resíduos sólidos orgânicos (RSO)
devidos a grande quantidade de refeições servidas durante o seu funcionamento, em que o potencial
tóxico desses resíduos pode estar associado à possibilidade de sua contaminação quando
descartados sem a devida segregação. Com base nesse contexto, o objetivo desse trabalho é
verificar a influência do pH na fitotoxicidade de RSO provenientes de uma escola pública da cidade
de Campina Grande - PB. Para a realização desse estudo, foi construído um biorreator de bancada
circular, em tubo de PVC, com volume de 0,028 m3 e dimensões de 0,90 m e 0,20 m de altura e de
diâmetro interno, respectivamente, preenchido com RSO provenientes do restaurante da Escola
Estadual de Ensino Médio Severino Cabral. As amostras foram coletadas a cada quinze dias para
realização das análises do pH e dos testes de fitotoxicidade, que foram realizados com sementes de
repolho (Brassica oleraceae). Os resultados obtidos indicaram que o pH do meio influenciou nos
índices de germinação e crescimento das sementes, sendo o crescimento mais sensível à
fitotoxicidade do meio. Concluiu-se que o pH apresentou características ácidas ao longo do tempo
de monitoramento, uma vez que os resíduos encontravam-se ainda na fase inicial de degradação, o
que poderia contribuir para fitotoxicidade dos RSO.
Palavras-chave: Bioindicadores; Toxicidade; Resíduos.

ABSTRACT
Education institutions, especially those who work full-time, contribute to generation of a significant
amount of organic solid waste (OSW) due to large amount of meals served during their operation,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 903
in which the toxic potential of these wastes may be associated with possibility of contamination
when discarded without adequate segregation. In this context, this work aims to investigate the
influence of pH on the phytotoxicity of OSW from a public school in the city of Campina Grande -
PB. To conduct this study, it was constructed a countertop circular bioreactor in PVC pipe, with a
volume of 0.028 m3 and dimensions of 0.90 m and 0.20 m in height and internal diameter,
respectively, filled with OSW from the restaurant of State High School Severino Cabral. Samples
were collected every fifteen days for performing the analysis of pH and phytotoxicity tests, which
were conducted with seeds of cabbage (Brassica oleracea). The results indicated that the pH of the
waste influenced the rates of germination and growth of seeds, being the seeds growth more
sensitive to medium phytotoxicity. It was concluded that pH presented acidic characteristics
throughout the monitoring time, since the residues still were in the initial stage of degradation,
which could contribute to phytotoxicity of OSW.
Keywords: Bioindicators; Toxicity; Waste.

INTRODUÇÃO

Os Resíduos Sólidos Orgânicos (RSO) constituem uma das principais parcelas dos Resíduos
Sólidos Urbanos (RSU), sendo esses os maiores responsáveis pelos impactos causados pela
destinação inadequadas dos resíduos sólidos visto que, em seus processos de decomposição geram
líquidos e gases poluentes que podem contaminar águas, ar e solo.
Por serem materiais de origem animal ou vegetal e de fácil degradação, suas características
são bem diversificadas, a exemplo de: animais mortos, podas de árvores, plantas, entre outros.
Contudo, sua mais importante fonte, nos RSU são os restos de alimentos provenientes das cozinhas.
Em estabelecimentos de ensino, principalmente aqueles que funcionam em período integral,
a quantidade de RSO gerados é considerada significativa, uma vez que diferentes refeições são
servidas, nestes locais, tais como: lanche da manhã, almoço e o lanche da tarde, fato que pode ser
confirmado, por meio dos estudos de composição gravimétrica realizados por Duarte (2014), neste
estabelecimento de ensino, que verificou teores de material orgânico de 61% em relação à massa
total de resíduos sólidos, mostrando com isso o grande potencial para geração de RSO que a escola
possui, aliado à possibilidade de contaminação desses resíduos devido à ausência de segregação na
fonte.
O estudo da fitotoxicidade dos RSO em sementes de repolho apresenta-se como uma
atividade de suma importância, podendo ser feita por meio de testes de fitotoxicidade, que verificam
o comportamento de plantas e/ou sementes frente a um ambiente contaminado. Segundo Chang et
al., (1992) a fitotoxicidade é um termo que normalmente está associado a substâncias

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 904


potencialmente tóxicas, como por exemplo, os metais pesados, que se acumulam nos tecidos das
plantas, afetando seu crescimento e desenvolvimento.
As sementes funcionam como bioindicadoras da fitotoxicidade e esta podem ser medida
pelo extrato de substratos de resíduos sobre os efeitos na germinação e no crescimento das raízes
das plântulas. Para a realização dos testes de fitotoxicidade existem vários tipos de sementes que
podem ser utilizadas, sendo as de repolho uma das mais recomendadas pela Agência de Proteção
Ambiental (USEPA, 1982). De acordo com Wang e Keturi (1990), os testes de germinação e
crescimento são bastante utilizados por se uma técnica simples, rápida, segura e reproduzível.
Diante disso, o objetivo desse trabalho é avaliar a influencia do pH na fitotoxicidade de
resíduos sólidos orgânicos, provenientes de uma escola pública da cidade de Campina Grande - PB.

METODOLOGIA

A realização desse trabalho ocorreu a partir do monitoramento dos resíduos sólidos


orgânicos presentes em um biorreator de bancada, construído pelo Grupo de Geotecnia Ambiental
(GGA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Sua concepção se deu a partir da
utilização de um tubo de Poli Cloreto de Vinila (PVC), possuindo volume de aproximadamente
0.028m3 e dimensões de 0.90 e 0.20m de altura e diâmetro interno, respectivamente, sendo dotado
de manômetro, válvula de segurança, torneira de biogás, registro de coleta e aberturas de saída e
alimentação, a fim de proporcionar o monitoramento e o entendimento do comportamento dos
resíduos ao longo do tempo (Figura 1).
O biorreator foi preenchido com RSO coletados do restaurante da Escola Estadual de Ensino
Médio Severino Cabral, localizada na cidade de Campina Grande - PB. Os resíduos recolhidos
foram separados em baldes plásticos e triturados para posterior enchimento do biorreator. Seu
monitoramento foi realizado de setembro de 2013 a março de 2014.

Figura 1. Desenho esquemático do biorreator de bancada


Fonte: Arquivo de pesquisa, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 905


O acompanhamento do comportamento dos RSO no biorreator foi feito por meio de coletas
de amostras em intervalos de 15 dias. Para realização da coleta, inicialmente promovia-se a agitação
manual dos resíduos, e em seguida, retirava-se a amostra por meio de uma torneira instalada na
parte inferior do biorreator, como mostra-se na Figura 2.

Figura 2. Coleta da amostra dos RSO no biorreator.


Fonte: Arquivo de pesquisa, 2013.

Após coletadas, as amostras foram encaminhadas para realização das análises de pH e


fitotoxicidade, conforme metodologias de Apha, (2012) e Tíquia e Hodgkiss, (1996),
respectivamente. O procedimento para os testes de fitotoxicidade consistiu em cultivar sementes de
repolho (Brassica oleraceae) em amostras de resíduos orgânicos coletadas no biorreator. Antes da
realização dos testes, os RSO passaram por um processo de diluição em água destilada para a
obtenção do extrato a ser analisado. Esse extrato resulta da diluição dos RSO em água destilada.
As sementes utilizadas nesta pesquisa foram adquiridas em casa de insumos agrícolas.
Inicialmente passaram por um processo de lavagem e desinfecção em solução de hipoclorito de
sódio (NaClO) e posteriormente, foram dispostas em placas de Petri,(Figura 3a) contendo papéis de
filtro. Os testes eram realizados em 3 repetições com 20 sementes cada um e para a amostra em
branco (controle), utilizou-se água destilada. Nas placas, adicionou-se 10 mL do extrato obtido no
biorreator e em seguida, feita a sua incubação em estufa de BOD por um período de 5 dias (120
horas) a temperatura de 20ºC.
Após o período de 5 dias, as sementes foram analisadas e observados os seus índices de
Germinação Relativa das Semente (GRS) e o Crescimento Relativo da Raiz (CRR) (Figuras 3b). As
Equações (1) e (2), são utilizadas para calcular o GRS e o CRR das sementes, respectivamente.

1) Germinação Relativa da Semente (GRS%)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 906


( ) Eq. (1)

2) Crescimento Relativo da Raiz (CRR%)


média do comprimento da raiz Eq. (2)
CRR( ) *100
média do comprimento da raiz do controle√crescimento da raiz do controle

(a) (b)

Figura 3. (a) Disposição das sementes nas placas de Petri. (b) Germinação e Crescimento das sementes.
Fonte: Arquivo de pesquisa, 2013.

RESULTADOS

Potencial Hidrogeniônico (pH)

A Figura 4, apresenta o comportamento do pH ao longo do monitoramento do biorreator


preenchido com material orgânico. Analisando-a pode ser observar que este parâmetro não
apresentou variação significativa ao longo do tempo.

6
5
4
pH

3
2
1
0
0 14 28 50 64 78 92 106 120 134 148 168
Tempo (dias)

Dado inicial pH

Figura 4. Comportamento do pH dos resíduos ao longo do tempo de monitoramento.


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 907
Inicialmente os resíduos apresentaram pH igual a 4,8 e após os 14 dias de monitoramento
houve uma redução para 3,6, tendendo este valor a representar certa constância ao longo do tempo,
com pH médio de 4,0. Essa característica ácida é proveniente do próprio processo de decomposição
dos resíduos na fase inicial de monitoramento que favorece a formação de ácidos.
Por se tratar de resíduos orgânicos, esse comportamento já era esperado em função das fases
de decomposição dos resíduos sólidos, que inicialmente apresentam-se ácidas, tendendo o pH
aumentar somente com sua estabilização ao longo do tempo. De acordo com Melo (2003), nesse
período inicial de degradação os resíduos sólidos apresentam características ácidas ocasionadas pela
queda brusca dos valores de pH em função à presença dos ácidos orgânicos e ao efeito das elevadas
concentrações de CO2.

Testes de fitotoxicidade

Os resultados dos testes de fitotoxicidade foram obtidos por meio da GRS e do CRR, feitos
com sementes de repolho, e estão apresentados nas Figuras 5 e 6. Para a obtenção dos resultados,
utilizou-se a percentagem dos índices de germinação e crescimento das sementes em relação ao
controle (prova em branco) conforme descritas nas Equações 1 e 2.

120
GRS (%)

80

40

0
0 14 28 64 78 92 134 168
Tempo (dias)
Dado inicial Repolho

Figura 5. GRS para as sementes de repolho.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 908


60

40
CRR (%)
20

0
0 14 28 64 78 92 134 168
Tempo (dias)
Dado inicial Repolho

Figura 6. CRR para as sementes de repolho.

Analisando as Figuras, pode-se observar que os índices de GRS (Figura 5) foram maiores
que os índices de CRR (Figura 6), fato que pode estar associado à própria fisiologia das sementes
que permite que essas utilizem para sua nutrição suas próprias reservas internas e somente na sua
ausência busquem nutrientes externos para seu desenvolvimento e consequente germinação. De
acordo com Silva (2012), os índices de germinação são maiores porque nesta fase do processo as
sementes são menos sensíveis aos fitotóxicos presentes no meio.
Em relação ao CRR, observado na Figura 6, percebe-se que as sementes apresentaram maior
vulnerabilidade ao crescimento. Esse fato que já era esperado, visto que essas sementes apresentam
pequenas reservas internas, sendo, portanto muito dependentes do meio externo, necessitando mais
rapidamente de fontes externas para nutrir-se. Logo, se o ambiente extrínseco apresentar substâncias
desfavoráveis, o crescimento das sementes fica comprometido.
Os resultados obtidos nesta pesquisa foram similares aos encontrados por Melo (2003),
Monteiro (2003), Lins (2005), Garcez (2009) e Silva (2012) que cultivaram sementes de repolho em
resíduos sólidos urbanos, obtendo índices de germinação maiores do que os índices de crescimento.
A avaliação da influência do pH sobre a fitotoxicidade das sementes mostra que as
condições ácidas podem contribuir para inibição e crescimento das sementes de repolho. De acordo
com Keihl (1998), essas características ácidas existentes, no início do processo de degradação,
podem ocasionar à formação de toxinas danosas as plantas, proporcionando fitotoxicidade em
função dos vários ácidos minerais e acéticos gerados nesta fase.

CONCLUSÕES

O estudo de resíduos sólidos em biorreator favoreceu o conhecimento dos processos de


degradação dos resíduos sólidos orgânicos;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 909


O pH apresentou características ácidas ao longo do tempo de monitoramento, por estes
apresenta-se ainda na fase inicial de monitoramento, contribuindo para a fitotoxicidade dos resíduos
sólidos orgânicos;
As sementes de repolho apresentaram crescimento mais discreto em relação à germinação,
sendo este mais influenciado pelas condições de toxidez do meio.

REFERÊNCIAS

APHA; AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 20 th
edition. Washington: APHA, 2012.

CHANG, A.C.; GRANTO, T.C.; PAGE, A.L. A methodology for establishing phytotoxicity criteria
for chromium, copper, nickel and zinc in agricultural land application of municipal sewage
sludges. Environmental Quality, v.21, p. 521-536, 1992.

DUARTE, K. L. S. INTERFERÊNCIAS DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS E OPERACIONAIS NAS


CONCENTRAÇÕES DE BIOGÁS EM BIORREATORES DE BANCADA COM RESÍDUOS
SÓLIDOS. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, 2014.

GARCEZ, L. R. Estudo dos Componentes Tóxicos em um Biorreator de Resíduos Sólidos Urbanos


da Cidade de Campina Grande – PB. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Campina Grande, 2009.

KIEHL, E. J. Manual de compostagem: Maturação e qualidade do composto. São Paulo:


Piracicaba, 1998.

LINS, M. C. M. Avaliação Microbiológica e Fitotóxica do Chorume da Estação de Tratamento do


Aterro da Muribeca – PE. Dissertação de Mestrado. UFPE. 2005.

MELO, M. C. Uma análise de recalques associada à biodegradação no aterro de resíduos sólidos


da Muribeca. 14 p. Dissertação (Mestrado em Ciência em Engenharia Civil), Centro de
Tecnologia e Geociências Universidade Federal de Pernambuco. 2003.

MONTEIRO, V.E.D. (2003) Análises Físicas, Químicas e Biológicas no Estudo do Comportamento


de Aterro da Muribeca. Tese de doutorado. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

SILVA, A. S. Avaliação da Toxicidade dos Resíduos Sólidos Urbanos da Cidade de Campina


Grande – PB. 139p. Dissertação (Mestre em Engenharia Civil e Ambiental) Universidade
Federal de Campina Grande – PB. 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 910


TÍQUIA, S.M.; N.F.Y; HODGKISS, I.J. Effects of Composting on Phytotoxicity of Spent Pig-
manure Sawdust Litter. Hong Kong. 1996.

WANG, W; KETURI, P.H. Comparative Seed Germination Tests Using Ten Plant Species for
Toxicity Assessment of a Metal Engraving Effluent Sample. Wat. Air Soil Pollut., 52, pp. 369-
376. 1990.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 911


OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SAPOTI (Achras sapota L.)
EM PÓ OBTIDO POR LIOFILIZAÇÃO

Emanuel Neto Alves de OLIVEIRA


Mestre em Engenharia Agrícola pela UFCG
emanuel.oliveira16@gmail.com

Antônio Gustavo Ferreira de CARVALHO


Técnico em Alimentos pelo IFRN - Pau dos Ferros
gustaavo.carvalho@hotmail.com

Dyego da Costa SANTOS


Mestre em Engenharia Agrícola pela UFCG
dyego.csantos@gmail.com

Ana Paula Trindade ROCHA


Doutora em Engenharia de Processos pela UFCG
ana_trindade@yahoo.com.br

RESUMO
A secagem de frutas tropicais para obtenção de produto em pó pode se constituir em mais uma
opção de renda para a agricultura familiar, uma vez que agrega valor ao fruto, além de
disponibilizá-lo em períodos em entressafra. Nesse sentido, objetivou-se obter sapoti em pó pelo
processo de secagem por liofilização utilizando-se maltodextrina como agente carreador e
caracterizar os produtos desidratados. Sapotis maduros foram despolpados manualmente para
obtenção da polpa, sendo esta adicionada de diferentes concentrações de maltodextrina (0, 10, 20 e
30%). As polpas formuladas foram congeladas em freezer doméstico a -18 °C por 24 horas e
desidratadas em liofilizador de bancada à temperatura de -40 °C e pressão de 0,12 mbar por 48
horas. As amostras desidratadas foram desintegradas para obtenção de pó e submetidas às análises
físico-químicas quanto aos parâmetros de umidade, atividade de água, cinzas, acidez titulável, pH,
ácido ascórbico, açúcares (totais, redutores e não redutores) e cor (luminosidade e intensidades de
vermelho e de amarelo). Verificou-se que o aumento da concentração de maltodextrina promoveu
redução na maioria dos parâmetros investigados, inclusive em termos nutricionais (ácido ascórbico
e açúcares totais e redutores). Entretanto os maiores conteúdos de maltodextrina favoreceram a
obtenção de produtos em pó com melhor qualidade em relação à facilidade de manipulação e
escoabilidade, além do potencial em reduzir gastos com transporte e estocagem, devido à redução
de água e de volume.
Palavras-chave: Achras sapota L., agricultura familiar, secagem, controle de qualidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 912


ABSTRACT
The drying of tropical fruits to obtain a powdered product may constitute another income option for
family farming, since it adds value to fruit, in addition to make it available in off-season periods. In
this sense, the objective was to obtain sapodilla powder by freeze-drying process using maltodextrin
as a carrier agent and characterize the dehydrated products. Mature sapodillas were pulped
manually for obtaining pulp, this being added of different concentrations of maltodextrin (0, 10, 20
and 30%). The produced pulps were frozen in a domestic freezer at -18 ° C for 24 hours and
dehydrated in bench top freeze dryer at -40 °C and a pressure of 0.12 mbar for 48 hours. The
dehydrated samples were crumbles to obtain powder and subjected to physicochemical analysis for
the parameters of moisture, water activity, ash, titratable acidity, pH, ascorbic acid, sugars (total,
reducing and non-reducing) and color (light and intensities of red and yellow). It was found that the
concentration of maltodextrin promoted reduction in the majority of the investigated parameters,
including nutritionally (ascorbic acid and total and reducing sugars). However the highest contents
of maltodextrin favored obtaining powder products with better quality, with relation to the ease of
handling and flowability, besides the potential to reduce transportation and storage costs, due to
reducing of water and volume.
Key words: Achras sapota L., family farming, drying, quality control.

INTRODUÇÃO

O sapoti (Achras sapota L.) é um fruto suculento e bastante doce, seu perfume pode ser
identificado com facilidade. Contém as vitaminas A, B1, B2, B5, e C, hidratos de carbono, cálcio,
fósforo, ferro e um valor calórico de cerca de 96 calorias em cada 100 g da fruta (COSTA et al.,
2000). No Brasil, não existem variedades bem definidas de sapoti, sendo os tipos diferenciados
entre si pela conformação da copa da planta e dos frutos, em ovalados, arredondados, oblongos,
entre outros. Entretanto, de forma geral, todos apresentam o mesmo sabor (ALVES et al., 2000). Os
frutos apresentaram uma ou mais sementes, com massa variando geralmente entre 75-200 g e
diamentro compreendido entre 5 a 9 cm (SIN et al., 2006). No Brasil, o maior consumo do sapoti é
in natura, mas, em outros países, como no México, este fruto é muito utilizado na indústria para a
fabricação de doces, refrescos, conservas, geléias e xaropes (MORAIS et al., 2006a).
A produção do sapotizeiro, geralmente, concentra-se em três meses do ano nos países
produtores (MORAIS et al., 2006a). Entretanto, no Nordeste brasileiro, as condições climáticas
adequadas para produção do sapotizeiro, associadas ao uso da fertirrigação, têm favorecido a
produção de frutos durante todo o ano e propiciado uma renda constante para os produtores
(MORAIS et al., 2006b). Os Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte vêm

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 913


destacando-se no cultivo do sapoti, devido, principalmente, aos crescentes incentivos para a
fruticultura irrigada e pela apreciação do fruto que alcança bons preços no mercado interno
(MENDONÇA et al., 2007).
Há uma grande preocupação entre produtores e atacadistas em manter a qualidade e
preservar as características nutricionais de frutas tropicais, apesar do rápido processo de senescência
(MORAIS et al., 2008). Nesse sentido, e pelo fato do sapoti ser um fruto climatério que amadurece
entre 8 a 10 dias após a colheita (MORAIS et al., 2006b), tornam-se necessários desenvolvimento
de processos que visem preserversar as caracrísticas sensoriais e nutricionais da fruta in natura.
Dentre os vários métodos que podem ser utilizados para extender a vida pós-colheita do sapoti, tem-
se a secagem por liofilização. Além de obter um produto produto com boa estabilidade e extensa
vida útil, a utilização do sapoti em pó em formulações de biscoitos, doces, barras de cereais, dentre
outros, poderá disponibilizar novos produtos à um mercado relativamente ansioso por novidade no
setor agroindusrial. Adicionalmente, o processo de obtenção do sapoti em pó agrerará valor ao fruto
in natura, podendo-se constituir em mais uma fonte de renda para a agricultura familiar, uma vez
que o produto poderá ser ofertado em períodos de entresafra, quando atinge maiores valores.
Nos últimos anos, com o surgimento de novas tecnologias e o aprimoramento de métodos de
secagem, a produção de frutas em pó cresceu. A secagem é um processo físico que consiste na
eliminação de água por evaporação, de modo a melhorar a conservação de um produto (FERREIRA
e CANDEIAS, 2005). Existem várias técnicas de secagem, dentre as quais citam-se as desidratações
ao sol, secador solar, estufa com circulação forçada de ar, spray-dryer, leite de jorro e liofilização.
Esta última é um processo de desidratação em condições de pressão e temperatura, tais que a água
previamente congelada, passa do estado sólido para o estado gasoso por sublimação. Como esse é
realizado a baixa temperatura e ausência de ar atmosférico, as características nutricionais e
sensoriais praticamente não se alteram (MENEZES et al., 2009).
Na literatura estão disponíveis inúmeras pesquisas envolvendo a liofilização de frutas, a
exemplo da graviola (CAVALCANTI-MATA et al., 2005), açaí (MENEZES et al., 2008), acerola
(MENEZES et al., 2009), ubaia (OLIVEIRA et al., 2010), manga (MOREIRA et al., 2013), mamão
(CANUTO et al., 2014), inclusive sapoti (OLIVEIRA et al., 2011). Todavia, a pesquisa citada
considerou a liofilização do sapoti sem adição de agentes carreadores, que auxiliam a secagem de
frutas melhorando a qualidade dos produtos liofilizados, tornando-se necessárias também pesquisas
que considerem a utilização desses agentes para obtenção do sapoti em pó. A utilização de
carreadores como a maltodextrina facilitam o manuseio do produto em pó, reduzindo a formação de
aglomerados e a higroscopicidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 914


Considerando-se o potencial do sapotizeiro como frutífera alternativa para a agroindústria e
agricultura familiar nordestina (MORAIS et al., 2006a), objetivou-se obter sapoti em pó pelo
processo de secagem por liofilização utilizando-se maltodextrina como agente carreador e
determinar as características físico-químicas dos produtos desidratados.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados frutos maduros de sapoti, safra 2013, adquiridos de pequenos produtores
no mercado varejista da cidade de Campina Grande, PB, e maltodextrina 20 DE (dextrose
equivalente). Os sapotis foram transportados e recepcionados no Laboratório de Armazenamento e
Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), na cidade de Campina Grande, onde foram lavados em água corrente para remoção de
resíduos de terra e outras sujidades aderidas à casca, higienizados em solução de hipoclorito de
sódio (100 ppm) por 15 minutos e despolpados manualmente. Inicialmente separaram-se, da porção
carnosa (polpa), as cascas e as sementes com utilização de facas e colheres de aço inoxidável. A
polpa carnosa foi desintegrada e homogeneizada em liquidificador doméstico por aproximadamente
1 minuto, envasada em sacos plásticos de polietileno e estocada em freezer horizontal na
temperatura de -18 °C até o início dos experimentos.
Para liofilização, a polpa de sapoti foi previamente descongelada em temperatura de
refrigeração (4°C) e manipulada de quatro formas para composição dos tratamentos: T0 (sem
adição de maltodextrina); T1 (adicionado de 10% de maltodextrina); T2 (adicionado de 20%
maltodextrina) e T3 (adicionado de 30% maltodextrina). As formulações foram homogeneizadas até
completa dissolução da maltodextrina e congeladas em formato cúbico (arestas com cerca de 1 cm)
em freezer doméstico a -18 ºC por 24 horas.
As polpas formuladas foram desidratadas em liofilizador de bancada da marca Christ,
modelo ALPHA 1-2 LDplus, que consiste de painel digital, bomba a vácuo, câmara de condensação
com válvula de dreno integrada, câmara de secagem em acrílico constando, na parte superior, de
manifold com oito torneiras de silicone para o encaixe de balões de vidro com sistema de alivio de
vácuo e, no interior da câmara de secagem, de um suporte em aço inoxidável para três bandejas.
Cerca de 200 g de amostra foram acondicionadas em balões de vidro de fundo redondo com
capacidade para 500 mL e liofilizadas na temperatura de -40 °C (pressão de 0,12 mbar) por 48
horas. Na sequência, as polpas desidratadas foram desintegradas manualmente com uso de
almofariz e pistilo para obtenção dos pós. Estes foram acondicionados em recipientes de vidro
providos de tampa metálica e revestidos externamente com folha de alumínio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 915


As análises físico-químicas das diferentes formulações de sapoti em pó foram realizadas em
triplicata no Laboratório de Análises Físico-Químicas (LAFQ) do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Pau dos Ferros, quanto aos
seguintes parâmetros: umidade, cinzas, acidez total titulável (ATT) em ácido cítrico, pH, açúcares
redutores em glicose, açúcares totais em glicose e açúcares não redutores em sacarose segundo
normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2008); ácido ascórbico segundo metodologia da AOAC
(1997) modificada por Benassi e Antunes (1998); atividade de água a 25 °C determinada em
aparelho medidor de atividade de água modelo Aqualab 4TE da marca Decagon Devices e
parâmetros de cor determinados em espectrofotômetro portátil MiniScan HunterLab XE Plus,
iluminante D65/10º no sistema de leitura CIELab utilizando-se, como padrões de calibração, uma
placa preta e outra branca com obtenção dos seguintes parâmetros: luminosidade (L*), em que L*
= 0 corresponde a preto e L* = 100 a branco; cromaticidade a* - transição da cor verde (-a*) para o
vermelho (+a*); cromaticidade b*- transição da cor azul (-b*) para a cor amarela (+b*).
O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com quatro
tratamentos e três repetições, utilizando-se o software Assistat versão 7,5 beta. Os dados foram
submetidos à análise de variância (ANOVA) e a comparação de médias foi feita pelo teste de Tukey
em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estão apresentados na Tabela 1 os resultados da caracterização físico-química das polpas de


sapoti em pó obtidas por liofilização. Todos os parâmetros analisados apresentaram efeito
significativo em nível de 1% de probabilidade, segundo o teste F, atestando que a adição de
maltodextrina na polpa de sapoti afetou as características físico-químicas dos produtos desidratados.
Verificou-se que o teor de umidade reduziu significativamente (p<0,05) à medida que se
aumentava a concentração de maltodextrina nas polpas formuladas, em que a amostra adicionada de
30% de agente carreador (T3) apresentou redução de mais de 50% de umidade em comparação com
a amostra controle (T0), melhorando dessa forma a escoabilidade do produto, além de facilitar sua
manipulação. Esses resultados estão relacionados ao maior conteúdo de sólidos totais da mistura
com maior concentração de maltodextrina, o que reduz a quantidade de água a ser evaporada,
acarretando dessa forma na diminuição da umidade do pó produzido (FERRARI et al., 2012). Do
ponto de vista econômico, essa redução pode atenuar gastos com transporte e estocagem. Os teores
de umidade das polpas de sapoti em pó variaram entre 6,34% (T3) a 13,21 (T0), estando próximo
aos valores reportados por Oliveira et al. (2010) em ubaia em pó (14,25%), Menezes et al. (2009)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 916


em acerola verde em pó (10,67 a 11,40%) e Oliveira et al. (2011) e Moreira et al. (2013) em manga
desidratada (3,14%), ambas obtidas por liofilização.

Umidade Atividade Cinzas Acidez Ácido ascórbico


Formulação pH
(%) de água (aw) (%) (%) (mg/100g)
a a a a d
T0 13,21 0,30 1,87 0,65 5,37 9,58a
T1 9,64b 0,26b 1,22b 0,55b 5,48c 7,59b
T2 7,26c 0,21c 1,15c 0,46c 5,63b 5,96c
T3 6,34d 0,17d 0,90d 0,43d 5,83a 5,91d
Média geral 9,11 0,24 1,29 0,52 5,58 7,26
F cal. 107,31** 1428,44** 1839,42** 28,39** 93,15** 25,49**
T0 – amostra sem adição de maltodextrina (controle); T1 - amostra adicionada de 10% de maltodextrina; T2 - amostra
adicionada de 20% de maltodextrina; T3 - amostra adicionada de 30% de maltodextrina; **Significativo ao nível de 1%
de probabilidade (p < 0,01); F cal. – F calculado. Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre
si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 1 – Caracterização físico-química das polpas de sapoti em pó obtidas por liofilização

A atividade de água reduziu significativamente (p<0,05) com o aumento da concentração de


maltodextrina, estando correlacionada, provavelmente, com a redução do teor de umidade com a
adição do agente carreador, o que também reduz a água disponível para o desenvolvimento de
microrganismos. Esses valores apresentaram-se abaixo de 0,60, que é a atividade de água limite
para o crescimento de qualquer microrganismo (FRANCO e LANDGRAF, 2008), garantindo dessa
forma segurança biológica durante a estocagem prolongada das polpas em pó produzidas, além de
reduzir atividades enzimáticas e deteriorativas. Observou-se atividade de água oscilando entre 0,17
e 0,30, estando próximo à faixa reportada por Caparino et al. (2012) em manga em pó obtida por
liofilização (0,17-0,18).
O conteúdo de cinzas apresentou-se superior a 1% em todas as polpas liofilizadas, com
exceção da amostra formulada com 30% de maltodextrina que apresentou teor de 0,90% (Tabela 1),
demonstrando a riqueza mineral dos produtos em pó. Esses resultados corroboram Menezes et al.
(2008), Oliveira et al. (2010) e Marques et al. (2012) que também reportaram elevados conteúdos
minerais em açaí, ubaia e cascas de jabuticaba liofilizados, respectivamente, ambos com valores
superiores a 1%. Constatou-se ainda que os valores de cinzas diminuíram significativamente
(p<0,05) com o aumento da concentração de maltodextrina, o que pode estar relacionado à diluição
dos minerais pela adição desse agente carreador, uma vez que é um polímero de glicose.
Assim como verificado para os minerais, a acidez titulável diminuiu significativamente
(p<0,05) com o aumento da maltodextrina, indicando haver diluição dos ácidos orgânicos da fruta
de origem ao serem formuladas, estando em acordo com Canuto et al. (2014) que constataram

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 917


redução da acidez titulável em mamão em pó obtido por liofilizado com o aumento da adição do
agente carreador. Os valores de acidez titulável das polpas liofilizadas oscilaram entre 0,43 a 0,65%
(Tabela 1), sendo próximos aos resultados de Cavalcanti-Mata et al. (2005) em graviola em pó
(0,85%) e Corrêa et al. (2011) em marolo desidratado (0,75%), ambos obtidos por liofilizado.
O pH apresentou relação inversamente proporcional em relação à acidez titulável, em que
quanto maior os valores de acidez menores foram os dados de pH (Tabela 1). Esse parâmetro variou
entre as formulações de 5,37 a 5,83, com diferença significativa (p<0,05) entre as amostras, estando
próximo ao pH reportado por Corrêa et al. (2011) em marolo liofilizado (5,34) e por Oliveira et al.
(2011) em polpa de sapoti em pó obtido por liofilização (5,58). Como esse parâmetro apresentou-se
superior a 4,5, que é o pH mínimo que desfavorece o crescimento do Clostridium botulinum, as
polpas em pó deste trabalho foram classificadas como de baixa acidez, ou seja, suscetíveis ao
desenvolvimento de microrganismos deteriorantes. Entretanto, deve-se considerar que os baixos
valores de atividade de água garantem estabilidade biológica durante uma possível estocagem.
Em relação ao ácido ascórbico, observou-se valores compreendidos entre 5,91 a 9,58
mg/100 g (Tabela 1), semelhantes ao conteúdo encontrado por Oliveira et al. (2011) em sapoti
liofilizado (9,84 mg/100 g). Devido aos baixos níveis de ácido ascórbico, os sapotis em pó do
presente estudo foram caracterizados como fontes deficientes de vitamina C, uma vez que a
ingestão diária recomendada (IDR) pelo Ministério da Saúde é de 45 mg (BRASIL, 2005). O
aumento da concentração da maltodextrina nas polpas formuladas promoveu redução significativa
no ácido ascórbico (p<0,05), estando em conformidade com Canuto et al. (2014), que também
observaram redução desses valores com a adição de maltodextrina.
Na Tabela 1 podem ser verificados os resultados da caracterização dos açúcares e da cor das
polpas de sapoti em pó obtidas por liofilização. Todos os parâmetros analisados apresentaram efeito
significativo em nível de 1% de probabilidade, segundo o teste F, atestando que a adição de
maltodextrina na polpa de sapoti afetou as características dos açúcares e coloração dos produtos
desidratados.
Os açúcares totais apresentaram valores compreendidos entre 38,98 a 43,44% (Tabela 2),
com diferença significativa (p<0,05) entre as formulações em pó, com esses teores diminuindo com
o aumento da concentração de maltodextrina, sendo semelhante ao comportamento reportado por
Canuto et al. (2014) que constataram redução dos açúcares totais em polpa de mamão liofilizada
adicionada de maltodextrina. Observou-se que este parâmetro reduziu cerca de 10% na polpa de
sapoti em pó formulada com 30% de agente carreador em comparação à amostra controle (sem
adição de maltodextrina), sendo essa redução inferior à perda de umidade entre as mesmas
amostras, que foi de mais de 50% (Tabela 1). Pelo fato do sapoti in natura apresentar teores de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 918


açúcares totais elevados, superiores a 10% (OLIVEIRA et al., 2011), era esperado concentrações
elevadas desses constituintes nos produtos desidratados. Como essas polpas foram adicionadas de
maltodextrina, que é o produto obtido a partir da hidrolise parcial do amido (carboidrato), era de se
esperar que a redução dos açúcares totais não seguisse a mesma sequência de queda de umidade,
uma vez que foram parcialmente balanceados pelo hidrato de carbono adicionado.

AT AR ANR Luminosidade Intensidade de Intensidade de


Formulação
(%) (%) (%) (L*) vermelho (+a*) amarelo (+b*)
T0 43,44a 38,37a 4,81d 59,28d 5,29a 29,46a
T1 40,42b 35,05b 5,10c 64,15c 3,90b 25,25b
T2 39,66c 32,80c 6,52b 69,75b 2,96c 21,71c
T3 38,98d 28,96d 9,51a 74,46a 2,32d 19,51d
Média geral 40,62 33,80 6,48 66,91 3,62 23,98
F cal. 26,19** 228,41** 178,49** 149580,76** 2935,60** 40559,52**
T0 – amostra sem adição de maltodextrina (controle); T1 - amostra adicionada de 10% de maltodextrina; T2 - amostra
adicionada de 20% de maltodextrina; T3 - amostra adicionada de 30% de maltodextrina; AT – Açúcares totais em
glicose; AR - Açucares redutores em glicose; ANR - Açucares não redutores em sacarose.; ); F cal. – F calculado.
**Significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < 0,01). Médias seguidas pela mesma letra não diferem
estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Tabela 2 – Caracterização dos açucares e da cor das polpas de sapoti em pó obtidas por liofilização

Em relação aos açúcares redutores (AR) e aos não redutores (ANR), observou-se
comportamentos distintos com a adição da maltodextrina. Em relação aos AR, houve redução
significativa (p<0,05) desses açúcares a medida que se aumentava a concentração de agente
carreador, com valores compreendidos entre 28,96 a 38,37% (Tabela 2). Esse comportamento
aproxima-se ao relatado por Canuto et al. (2014) em polpa de mamão liofilizada, onde os conteúdos
de AR reduziram significativamente com a adição de maltodextrina (redução de 36,13 a 26,38%).
Quanto aos ANR, estes aumentaram significativamente (p<0,05) com a adição da maltodextrina, o
que pode estar relacionado ao fato desse agente carreador apresentar elevada concentração de
polissacarídeos, uma vez que o processo de hidrólise do amido é parcial (CHRONAKIS, 1998). Os
teores de ANR oscilaram entre 4,81 a 9,51% (Tabela 2), encontrando-se coerentes com a literatura
que reporta que os ANR no sapoti perfazem um montante de quase 13% dos açúcares totais
(OLIVEIRA, 2011). Considerando-se o sapoti em pó sem adição de maltodextrina, os ANR foram
cerca de 11% em relação aos açúcares totais, semelhante à faixa relatada. Essa proporção aumentou
na formulação com 30% de maltodextrina, com os ANR apresentando conteúdo de cerca de 24%
dos açúcares totais, devido a adição do agente carreador.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 919


Os valores de luninosidade (L*) reduziram significativamente (p<0,05) com a adição da
maltodextrina, apresentando valores de 59,28 a 74,46 (Tabela 2), sendo inferiores a L* encontrada
por Corrêa et al. (2011) em marolo liofilizado (85,95) e superiores aos dados de L* reportados por
Moreira et al. (2013) Caparino et al. (2012) em mangas liofilizadas (52,20 e 43,74,
respectivamente). O aumento da claridade das polpas de sapoti liofilizadas com a adição de
maltodextrina é, provavelmente, devido ao fato do agente adicionado ser da cor branca, o que
aumentaria a capacidade dessas polpas em refletir a luz. As intensidades de vermelho (+a*) e de
amarelo (+b*) reduziram significativamente (p<0,05) com a adição da maltodextrina, com dados
variando de 5,29 a 2,32 (+a*) e 29,46 a 19,51 (+b*), o que pode estar relacionado à diluição de
pigmentos específicos responsáveis pela coloração do sapoti. Essas observações estão em acordo
com os resultados de Ferrari et al. (2012) que relataram redução de +a e +b* em amora-preta em pó
obtida por atomização, com o aumento do agente carreador.

CONCLUSÕES

O aumento da concentração de maltodextrina resultou em pós com menores teores de água,


atividade de água, cinzas, acidez titulável, ácido ascórbico, açúcares totais, açúcares redutores e
intensidades de vermelho e de amarelo. Apesar de serem detectadas reduções também em termos
nutricionais, os sapotis em pó obtidos com maior conteúdo de agente carreador apresentaram
melhor qualidade em relação à facilidade de manipulação e escoabilidade, além do potencial em
reduzir gastos com transporte e estocagem, devido à redução de massa e de volume.
A obtenção da polpa de sapoti em pó constitui-se em mais uma opção de renda para a
agricultura familiar, uma vez que agrega valor ao fruto, ao passo que disponibiliza a indústria de
produtos agroindustriais mais uma matéria-prima que pode ser incorporada em novos produtos.

REFERÊNCIAS

AOAC. Association of Official Analytical Chemists. Official Methods of Analysis. WILLIAMS, S.


(Ed.) 14th ed, Arlington: AOAC, 1997. 1041p.

ALVES, R. E.; FILGUIERAS, H. A. C.; MOURA, C. F. H. Caracterização de frutas nativas da


América Latina. v.9, Jaboticabal: UNESP/SBF, 2000. 66p.

BENASSI, M. T.; ANTUNES, A. J. A. Comparison of meta-phosphoric and oxalic acids as


extractant solutions for determination of vitamin C in selected vegetables. Arquivos de Biologia
e Tecnologia, São Paulo, v.31, n.4, p.507-503, 1998.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 920


BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº
269, de 22 de setembro de 2005. Dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre a Ingestão Diária
Recomendada (IDR) de Proteína, Vitaminas e Minerais. Diário Oficial da União, Brasília, 2005.

CANUTO, H. M. P.; AFONSO, M. R. A.; COSTA, J. M. C. Hygroscopic behavior of freeze-dried


papaya pulp powder with maltodextrina. Acta Scientiarum. Technology, Maringá, v.36, n.1,
p.179-185, 2014.

CAPARINO, O. A.; TANG, J.; NINDO, C. I.; SABLANI, S. S.; POWERS, J. R.; FELLMAN, J. K.
Effect of drying methods on the physical properties and microstructures of mango (Philippine
‗Carabao‘ var.) powder. Journal of Food Engineering, Oxford, v.111, n.1, p.135-148, 2012.

CAVALCANTI-MATA, M. E. R. M.; DUARTE, M. E. M.; ALSEMO, G. C. S.; RODRIGUES, E.;


GUEDES, M. A.; CAVALCANTI, A. S. R. R. M.; OLIVEIRA, C. C. A. Obtenção de graviola
em pó pelo processo de liofilização. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina
Grande, v.7, n.2, p.165-172, 2005.

CHRONAKIS, I. S. On the molecular characteristics, composition properties, and structural –


functional mechanisms of maltodextrins: A review. Critical Reviews in Food Science and
Nutrition, London, v.38, n.7, p.599-637, 1998.

CORRÊA, S. C.; CLERICI, M. T. P. S.; GARCIA, J. S.; FERREIRA, E. B.; EBERLIN, M. N.;
AZEVEDO, L. Evaluation of dehydrated marolo (Annona crassiflora) flour and carpels by
freeze-drying and convective hot-air drying. Food Research International, Davis, v.44, p.2385-
2390, 2011.

COSTA, M. L.; MENEZES, J. B.; PRAÇA, E. F.; OLIVEIRA, O. F. Algumas características do


fruto do sapotizeiro Itapirema-31 durante o desenvolvimento e o armazenamento. Revista
Caatinga, Mossoró, v.13, n.1/2 p.15-18, 2000.

FERRARI, C.C.; RIBEIRO, C.P.; AGUIRRE, J.M. Secagem por atomização de polpa de amora-
preta usando maltodextrina como agente carreador. Brazilian Journal of Food Technology,
Campinas, v.15, n.2, p.157-165, 2012.

FERREIRA, A.; CANDEIAS, M. Secagem solar de frutos e plantas aromáticas. Revista de Ciências
Agrárias, Belém, v.1, n.28, p.363-370, 2005.

FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. 2ª ed. São Paulo: Atheneu,
2008. 182p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 921


INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas, métodos químicos e físicos para análises de
alimentos. 4ª ed. 1ª ed. Digital, São Paulo: IAL, 2008. 1020p.

MARQUES, A. Y. C.; DRAGANO, N. R.; LENQUISTE, S. A.; BATISTA, A. G.; PALAZZO, C.


C.; MARÓSTICA JÚNIOR, M. R. Freeze-dried jaboticaba peel powder rich in anthocyanins did
not reduce weight gain and lipid content in mice and rats. Archivos Latinoamericanos de
Nutricion, Caracas, v.62, n.1, p.37-43, 2012.

MENDONÇA, V.; CORRÊA, F. L. O.; PIO, R.; RUFINI, J. C. M.; CARRIJO, E. P.; RAMOS, J. D.
Superfosfato simples e cloreto de potássio na formação de porta-enxerto de sapotizeiro
[Manilkara zapota (L.) Von Royen]. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.31, n.1, p.140-146,
2007.

MENEZES, A. R. V.; SILVA JUNIOR, A.; CRUZ, H. L. L.; ARAÚJO, D. R.; SAMPAIO, D. D.
Estudo comparativo do pó da acerola verde obtido em estufa por circulação de ar e por
liofilização. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.11, n.1, p.1-8,
2009.

MENEZES, E. M. S.; TORRES, A. T.; SRUR, A. U. S. Valor nutricional da polpa de açaí (Euterpe
oleracea Mart) liofilizada. Acta Amazônica, Manaus, v.38, n.2, p.311-316, 2008.

MORAIS, P. L. D.; LIMA, L. C. O.; ALVES, R. E.; ALVES, J. D.; ALVES, A. P.


Amadurecimento de sapoti (Manilkara zapota L.) submetido ao 1-metilciclopropeno. Revista
Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.28, n.3, p.369-373, 2006a.

MORAIS, P. L. D.; LIMA, L. C. O.; ALVES, R. E.; FILGUEIRAS, H. A. C.; ALMEIDA, S.A.
Alterações físicas, fisiológicas e químicas durante o armazenamento de duas cultivares de sapoti.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, p.549-554, 2006b.

MORAIS, P. L. D.; LIMA, L. C. O.; MIRANDA, M. R. A.; ALVES, J. D.; ALVES, R. E.; SILVA,
J. D. Enzyme activities and pectin breakdown of sapodilla submitted to 1-methylcyclopropene.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.43, n.1, p.15-20, 2008.

MOREIRA, T. B.; ROCHA, E. M. F. F.; AFONSO, M. R. A.; COSTA, J. M. C. Comportamento


das isotermas de adsorção do pó da polpa de manga liofilizada. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.17, n.10, p.1093-1098, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 922


OLIVEIRA, E. N. A.; SANTOS, D. C.; SOUSA, F. C.; MARTINS, J. N.; OLIVEIRA, S. P. A.
Obtenção de ubaia desidratada pelo processo de liofilização. Revista Brasileira de Tecnologia
Agroindustrial, Ponta Grossa, v.4, n.2, p.235-242, 2010.

OLIVEIRA, V. S.; AFONSO, M. R. A.; COSTA, J. M. C.; Caracterização físico-química e


comportamento higroscópico de sapoti liofilizado. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 42,
n. 2, p. 342-348, 2011.

SIN, H. N.; YUSOF, S.; HAMID, N. S. A.; RAHMAN, R. A. Optimization of enzymatic


clarification of sapodilla juice using response surface methodology. Journal of Food
Engineering, Oxford, v.73, n.4, p.313-319, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 923


ANÁLISE DA CINÉTICA DE SECAGEM EM CAMADA FINA DE POLPA DE MELÃO

Francinalva Cordeiro de SOUSA


CTRN/UFCG – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola - Doutoranda
francis_nalva@yahoo.com.br

Luzia Marcia de Melo SILVA


CTRN/UFCG – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola - Doutoranda
luziamarcia86@yahoo.com.br

Jarderlany Sousa NUNES


CTRN/UFCG – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola - Mestranda
jady_nunes@hotmail.com

Josivanda Palmeira GOMES


CTRN/UFCG – Professora Doutora Associada IV
josivanda@gmail.com

RESUMO
O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, contribuindo com uma grande parcela
nas exportações. O melão tem uma grande expressão econômica para a região semiárida do
Nordeste brasileiro. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se estudar a secagem
em camada fina de polpa de melão nas temperaturas de 50, 60 e 70°C em estufa com circulação
forçada de ar e velocidade do ar de 1 m/s¹. O teor de água inicial do melão foi de 94%. Para a
desidratação das polpas foi utilizado bandejas de aço inoxidável. O monitoramento da massa foi
feito regularmente em intervalo regulares de 10 em 10 minutos, até que as polpas atingissem o teor
de água de equilíbrio. Para a representação da cinética de secagem em camada fina foram
empregados os modelos matemáticos de Lewis, Henderson e Pabis, Page, Peleg e Wang & Sing, e
como critério de avaliação destes utilizou-se o coeficiente de determinação (R2) e o desvio
percentual médio (P). Mediante os resultados obtidos observou-se que o aumento da temperatura
diminuiu o tempo de secagem da polpa de melão. Na cinética de secagem obtida dos resultados
experimentais, dois períodos distintos foram identificados: um período em que as polpas secaram
em taxas constantes e um período decrescente. Os resultados indicaram que o modelo matemático
de Page (1949) foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais apresentando um melhor
desempenho.
Palavras – chave: secagem, melão pele de sapo, polpa de frutas.

ABSTRACT
Brazil is one of the three largest producers of fruit, contributing a large portion of exports. Melon
has a significant economic role for the semiarid region of northeastern Brazil. This work was
developed with the aim of studying the thin layer drying of melon pulp at temperatures of 50, 60

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 924


and 70 ° C in an oven with forced air circulation and air velocity of 1 m / s ¹. The initial water
content of the melons was 94%. For the dehydration of pulps was used stainless steel trays. The
monitoring of the mass was done regularly at regular interval of 10 to 10 minutes until the slurry
reached the equilibrium water content. To represent the drying kinetics of thin layer mathematical
models of Lewis, Henderson and Pabis, Page, Peleg, and Wang & Sing were employed, and as a
criterion for evaluating these used the coefficient of determination (R2) and the average percentage
deviation (P). From the results obtained it was observed that increasing the temperature decreased
drying time of the pulp of melon. In the drying kinetics of experimental results obtained, two
distinct periods have been identified: a period in which the pads were dried to constant rate and a
decreasing period. The results indicated that the mathematical model of Page (1949) was the best fit
to the experimental data showing a better performance.
Keywords: drying, skin sapo melon, fruit pulp.

INTRODUÇÃO

O melão (Cucumis melo L.) da família Cucurbitaceae é uma das holericolas de maior
importância na economia, contribuindo significativamente para a geração de emprego e renda,
sobretudo na região Nordeste. Essa cultura tem grande expressão econômica para a região semiárida
do Nordeste brasileiro, onde é cultivada com alto nível tecnológico e a produção é destinada
principalmente para exportação (SENHOR et al., 2009).
Além do Nordeste, no Rio Grande do Sul, local de introdução da cultura no país também
existe variedades tradicionais resultantes de inúmeros ciclos de seleção realizados durante gerações
por agricultores familiares (DELWING et al., 2007). O Rio Grande do Norte, sobretudo a região do
agro pólo Assu-Mossoró-Baraúna, tem se destacado como principal região produtora de melões do
país devido às condições edafoclimáticas e disponibilidade de água superficial e subterrânea
(GURGEL et al., 2008).
O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, contribuindo com uma grande
parcela nas exportações. A cultura do melão é considerada uma das culturas de maior importância
econômica e estratégica para a Região Nordeste do Brasil (BRAGA SOBRINHO et al., 2008).
Atualmente a indústria de alimentos desidratados constitui um setor muito importante dentro da
indústria alimentícia, em virtude, principalmente, da resistência dos consumidores ao uso de
conservantes químicos e pelo aumento da popularidade de produtos desidratados de rápido preparo
e de alta qualidade (RAMOS et al., 2008).
A desidratação de alimentos proporciona produtos compactos, fáceis de transportar e com
valor nutricional concentrado, já que neste processo a água é removida. A retirada da água, através

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 925


de secagem, é um método eficaz de controle de desenvolvimento microbiano, consequentemente,
apresenta estabilidade no armazenamento (PANI et al., 2008). Segundo VIEIRA et al., (2007) a
polpa processada na forma de pó apresenta fácil reconstituição em água, possibilidade de
formulação com outros produtos e baixa relação volume/massa, com consequente economia em
custos de embalagem e espaço de armazenamento.
A secagem é o processo mais utilizado para assegurar a qualidade e estabilidade de produtos
agrícolas após sua colheita. O principal objetivo é a redução do teor de água até níveis seguros que
permitam o armazenamento por determinado período de tempo. Com a redução do teor de água, a
atividade biológica e as mudanças químicas e físicas que ocorrem durante o armazenamento
também serão reduzidas (GONELLI, 2008).
A utilização de modelos matemáticos que consideram as características do sistema de
transferência de massa em alimentos é uma ferramenta cada vez mais explorada pelos
pesquisadores, sendo de grande utilidade para o cálculo do desenvolvimento eficiente de cada
análise, tendo em vista a melhoria no processamento, redução de perdas e aumento da qualidade do
produto final (DANTAS et al., 2011). São de fundamental importância os modelos matemáticos
empregados no processo de transferência de massa, tendo visto que as informações geradas são de
grande ajuda para o desenvolvimento de cada vez mais equipamentos e previsão do tempo de
secagem (SILVA et al., 2009). De acordo com FANG et al., (2009) o conhecimento do teor inicial e
final (equilíbrio) de água do material e da relação da água com a estrutura sólida e do transporte da
água do interior do material até a sua superfície possibilitam fundamentar o processo de secagem.
Objetivou-se neste trabalho descrever a cinética de secagem em camada fina da polpa de
Cucumis melo L nas temperaturas de 50, 60 e 70 °C e velocidade de 1,0 m/s¹.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido no Laboratório de Armazenamento e Processamento de


produtos Agrícolas (LAPPA), da Unidade Acadêmica do Departamento de Engenharia Agrícola,
Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG –
PB). Foram utilizadas como matéria-prima polpa de melão (Cucumis melo L), provenientes de
frutos comercializados do comercio local do município de Campina Grande. Os frutos foram
coletados quando apresentavam uma cor da casca variando do verde ao verde amarelado, sendo
colocados em sacos de polietileno e levados ao laboratório.
No laboratório, os frutos foram lavados em água corrente e imerso em solução de hipoclorito
de sódio com concentração de 50 ppm durante 15 minutos. Posteriormente, foram enxaguados em
água corrente para retirar o excesso da solução sanitizante. Para o despolpamento os frutos foram

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 926


cortados ao meio manualmente com facas de aço inoxidável para remoção da polpa e das sementes.
A seguir a polpa foi triturada e homogeneizada em um processador, acondicionada em sacos de
polietileno de baixa densidade e armazenadas em freezer vertical a 18 ºC até o momento da
realização dos experimentos.
As polpas embaladas foram posteriormente descongeladas e homogeneizadas para dar inicio
aos experimentos. Para o processo de secagem foi utilizado uma estufa com circulação forçada do
ar com temperatura e velocidade do ar controlada (40, 50, 60 e 70 ºC e 1 m s-1). A velocidade do ar
foi monitorada utilizando-se um anemômetro de pás rotativas modelo Thal-300 da Instrutherm, com
precisão de ± 3%, colocado na lateral da estufa, bem como o ajuste das temperaturas a serem
trabalhadas com termômetro digital.
O teor de água inicial e final foi determinado de acordo com BRASIL (2008) pelo método
padrão da estufa a 105 ± 3º C. As amostras com teor de água inicial de 94% (b.u) foram
desidratadas em camada fina, utilizando bandejas de aço inoxidável. Os experimentos foram
realizados em triplicata, e para o monitoramento da secagem as bandejas contendo as polpas eram
retiradas da estufa e as pesagens realizadas em balança semi-analítica digital Gehaka BG 200 até
obtenção do equilíbrio.
O teor de água de equilíbrio foi determinado através de pesagens consecutivas em intervalos
regulares até que as amostras atingissem o equilíbrio. Após a obtenção das massas, calculou-se o
teor de água em base úmida e seca e a razão de teor água para as amostras em cada temperatura e
intervalo de tempo.
As curvas de secagem foram obtidas pela conversão dos dados referentes à perda de água no
parâmetro adimensional razão de teor de água (RU). Para determinação da razão de teor de água da
polpa de melão para as diferentes condições de secagem foi utilizada a seguinte equação:

onde,
RU – razão de umidade (adimensional),
U - teor de umidade ―absoluta‖ (base seca),
Ue - teor de umidade de equilíbrio (base seca),
Uo - teor de umidade inicial (base seca).

Realizou-se a análise do processo de secagem em camada fina através da representação


gráfica dos dados experimentais da razão do teor de água em função do tempo de secagem, e
ajustaram-se os modelos semiteoricos de Lewis (Eq. 2), Henderson e Pabis (Eq.3), Page (Eq. 4),

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 927


Peleg (Eq. 5) e Wang & Sing (Eq. 6) a curva de secagem utilizando o programa Statistic 5.0 por
meio de regressão não linear, através do método Quase-Newton, conforme a Tabela 1.

Designação do modelo Equação Designação


Lewis (1921) ( ) (2)
Henderson & Pabis (1961) ( )

Page (1949) ( ) (4)

Peleg (1988) ( ) (5)

Wang e Sing (1978) (6)


t - tempo de secagem (min); k, - constantes de secagem; a, b, n - coeficientes dos modelos.
Tabela 1. Modelos matemáticos de regressão não linear, avaliados para predizer o fenômeno de
secagem de polpa de melão.

Como critério de avaliação da representatividade dos modelos adotou-se o coeficiente de


determinação (R2) e o desvio percentual médio (P) (Eq. 7), em que menores valores de P e maiores
valores de R2 indicam melhores ajustes.

|( )|
∑ ( )

em que:
P - desvio percentual médio, %
Xexp - valores obtidos experimentalmente
Xpred - valores preditos pelo modelo
n - número de dados experimentais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 estão representadas as curvas de cinéticas de secagem da polpa de melão


estimadas pelo modelo de Page (1949) nas temperaturas de 50, 60 e 70 ºC, na forma adimensional
de teor de água em função do tempo. Verifica-se o ajuste satisfatório do modelo aos valores
experimentais obtidos ao longo da secagem da polpa de melão.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 928


1,0

0,8 50 ºC

Razão do teor de água (adimensional)


60 ºC
70 ºC

0,6

0,4

0,2

0,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
T empo (min.)

Figura 1. Representação gráfica do modelo de Page (1949).

Verifica-se que as curvas de secagem foram influenciadas de maneira significativas pela


temperatura. Essa observação encontra-se de acordo com SANTOS et al., (2010) ao estudarem a
cinética e modelagem de secagem da carambola. O aumento da temperatura do ar de secagem faz
com que haja uma maior taxa de remoção de água da polpa, devido a um maior gradiente entre a
polpa e o ar, diminuindo o tempo necessário para reduzir o teor de água até o valor esperado.
Resultados semelhantes foram observados por MELO et al., (2013) ao estudarem a cinética de
secagem da polpa do fruto do mandacaru em camada de espuma, nas temperaturas de 70, 80 e 90 ºC
e SOUSA et al., (2011) ao determinarem a cinética de secagem da polpa de oiti em estufa com
circulação forçada de ar, nas temperaturas de 50, 60 e 70 ºC.
Observa-se que a perda do teor de água é mais rápida no inicio do processo, com tempos de
secagem de 20 h para a temperatura de 50 ºC, de 15 h para a temperatura de 60 ºC e de 10 h para a
temperatura de 70 ºC. Como observado, o tempo de secagem depende diretamente da temperatura.
Através da análise dos dados experimentais verifica-se, que o processo de secagem da polpa de
melão apresenta dois momentos distintos de secagem. Inicialmente se tem um período constante até
aproximadamente 80 minutos para todas as temperaturas em estudo, seguidos por um período
decrescente. Esses resultados encontram de acordo com os observados por LOURENÇO &
FINZER (2013) ao pesquisarem a secagem parcial do tomate cereja em secador de bandejas vibrada
com reciclo. PEREZ et al (2013) por sua vez observaram que no processo de secagem do cupuaçu
o período de taxa constante não ocorreu, somente a taxa decrescente foi observada.
O período constante é em função da existência do excesso de agua na superfície do produto.
Segundo LOURENÇO (2011) ao final desta fase no processo, a água superficial começa a ficar
escassa, sendo que esta diminuição da taxa de secagem ocorre devido a pequena velocidade de
difusão da água contida nos poros para superfície, o que diminui a taxa de secagem, proporcionando
uma fase variável e decrescente. De acordo com PENA & MENDONÇA (2009) esse

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 929


comportamento confirma que apenas pequena fração da água de constituição do resíduo se encontra
na forma livre e que a maior fração interage com os solutos (sólidos solúveis).
Para todas as temperaturas, a razão do teor de água reduziu rapidamente no inicio e,
posteriormente diminuiu gradativamente à medida que se aumentava o tempo de secagem. Esses
resultados estão de acordo com os encontrados por SANTOS et al., (2010) ao estudarem a cinética e
modelagem da secagem de carambola (Averrhoa carambola L.) em secador de bandeja nas
temperaturas de 50, 60 e 70 ºC e com fluxo de ar de 1,5 m.s-¹ e por FIORENTIN et al., (2010) ao
pesquisarem o comportamento cinético do bagaço de laranja em um secador convectivo, em uma
faixa de temperatura de 33 a 92 ºC com velocidade do ar constante de 1,3 5 m.s-¹.
Na Tabela 2 encontram-se os parâmetros estatísticos utilizados para comparação dos
modelos de secagem analisados nas diversas condições de secagem utilizadas no estudo.

Modelos Temperatura Coeficientes R²(%) P(%)


(ºC)
k a
Henderson & Pabis 50 0,004058 1,071892 98,54 35,3594
60 0,004563 1,068300 98,42 32,2749
70 0,007469 1,094758 98,37 31,0651
k
Lewis 50 0,003753 - 97,97 39,2627
60 0,004228 - 97,82 7,2161
70 0,006723 - 97,31 37,1008
k n
Page 50 0,000478 1,364523 99,77 7,0712
60 0,000698 1,326695 99,71 3,5545
70 0,000696 1,453998 99,92 5,0063
a b
Peleg 50 248,0174 0,712551 97,28 23,8215
60 241,6221 0,636916 98,15 5,2766
70 147,9651 0,658017 97,10 9,4280
a b
Wang & Singh 50 -0,00251 0,000001 98,49 36,2009
60 -0,00306 0,000002 99,60 21,9810
70 -0,00479 0,000006 98,99 25,8994

Tabela 2. Parâmetros estatísticos obtidos com o ajuste de diferentes modelos matemáticos da cinética de
secagem da polpa de melão.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 930


Conforme dados apresentados na Tabela 2, observa-se que todos os modelos apresentaram
bons ajustes aos dados experimentais, porém os resultados indicam que dentre os modelos avaliados
e conforme os resultados obtidos para os coeficientes de determinação e desvio percentual médio
ajustado, o modelo de Page (1949) foi o que melhor representou os dados experimentais para
descrever o processo de secagem da polpa de melão.
Resultados semelhantes foram observados por FERREIRA et al (2012) que realizando a
modelagem matemática da secagem em camada delgada de bagaço de uva fermentado nas
temperaturas de 50, 60, 70, 80 e 90 ºC, com a velocidade do ar de secagem de 1,0 m s ‑ 1
encontraram valores de R² para o modelo matemático de Page (1949) superiores a 0,99 e o desvio
percentual médio compreendido entre 5, 73 (70 ºC) E 10,08 (50ºC).
Esse resultado encontram-se de acordo com os encontrados por MENEZES et al., (2013) ao
analisarem a secagem convectiva em leito fixo do bagaço do maracujá-amarelo e ajustarem os
modelos matemáticos aos dados experimentais. PEREZ et al (2013) estudando a cinética de
secagem da polpa de cupuaçu pré-desidratada por imersão-impregnação pela secagem convencional
em estufa na temperatura de 65 ºC, verificou também que o modelo de Page (1949) representou
satisfatoriamente os dados de secagem.
Nota-se que todos os modelos apresentaram coeficiente de determinação superiores a 0,97%,
indicando segundo MANDANBA et al., (1996) uma representação satisfatória do processo de
secagem. Verificou-se, portanto que todos os modelos são apropriados para descrever os dados de
secagem da polpa de melão, levando em consideração que os valores do coeficiente de correlação
(R²) apresentaram valores iguais ou superiores a 0,97. No entanto MANDAMBA et al. (1996)
ressaltam que apenas o coeficiente de determinação não constitui um bom critério para a seleção de
modelos não lineares; logo, tornam-se necessárias avaliações de outros parâmetros para aumentar o
nível de confiança dos ajustes.
MACHADO et al., (2012) avaliaram a cinética de secagem do abacaxi pérola e o ajuste dos
dados utilizando o modelo de Page; SANTOS et al (2010) ajustaram os dados experimentais aos
modelos de Henderson e Pabis e ao de Page para cinética de secagem da carambola; FURTADO et
al., estudando a secagem da polpa de ceriguela em camada de espuma; DIONELLO (2009), em seu
estudo, avaliou os modelos de Page, Henderson e Pabis e Lewis, na predição da cinética de secagem
de abacaxi em fatias. Nesses estudos o modelo de Page (1949) apresentou excelentes coeficientes
de determinação.
Observa-se que para os modelos analisados o desvio percentual médio (P) no qual descreve
o desvio dos valores observados em relação à curva estimada por cada modelo apresenta uma
variação entre os modelos e as respectivas temperaturas de secagem em estudo. Contudo os valores

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 931


observados para Page (1949), para todas as temperaturas e o de Lewis (1921) e Peleg (1988)
respectivamente para a temperatura de 60 ºC apresentaram os menores valores de desvio percentual
médio (P). Segundo MOHAPATRA & RAO (2005) valores menores que 10%, são recomendados
para a seleção de modelos, indicando desta forma uma representação adequada do fenômeno. Ainda
de acordo com as Tabela 1 observa-se que o modelo de Page (1949) foi o único que apresentou
coeficientes de correlação e valores de desvio médio satisfatório para todas as condições testadas.
Analisando os parâmetros, verifica-se que com exceção do modelo de Wang & Singh a
constante k na qual representa as condições do efeito da secagem aumentou com a elevação da
temperatura do ar de secagem. Segundo MADAMBA et al. (1996) e BABALIS & BELESSIOTIS
(2004), a constante de secagem (k) pode ser utilizada como uma aproximação para caracterizar o
efeito da temperatura e está relacionada com a difusividade efetiva no processo de secagem para o
período decrescente, sendo a difusão líquida que controla o processo. Vale salientar que, no
processo de secagem durante qualquer fase de escoamento da água, os fatores externos, como a
temperatura, a umidade relativa e a pressão de vapor são os que mais influenciam, uma vez que a
saída de água do produto ocorre em função da diferença entre as características do ar de secagem e
do produto submetido ao processo.
Constata-se quanto aos parâmetros a e b que não houve comportamento padrão entre os
modelos com o aumento da temperatura. Com relação ao coeficiente n do modelo de Page (1949)
que segundo GONNELLI (2008) reflete a resistência interna do produto a secagem, não se
observou uma tendência definida dos seus valores com relação à temperatura do ar de secagem.
Resultados opostos foram encontrados por SOUSA et al. (2011); para a secagem de polpa de oiti;
AZOUBEL et al., (2010) e por SILVA et al., (2008) ao ajustarem este modelo as curvas de secagem
de fatias de banana e da polpa de tamarindo.
Segundo RESENDE et al. (2011) normalmente, com a elevação da temperatura, o valor de
n tende a diminuir, uma vez que há maior diferença entre a pressão de vapor do ar e do produto
biológico, promovendo maior remoção de água.
O fato de esse modelo ser e ainda possuir dois parâmetros ajustáveis (k e n) favorece um
melhor ajuste. Resultados semelhantes foram encontrados na cinética de secagem de abacaxi perola
em fatias por HOFSKY et al (2009). Para melhor visualização do comportamento da secagem, as
taxas de secagem foram calculadas em função do tempo (Figura 2).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 932


1,0

50º C
0,8 60 ºC
70 ºC

0,6

- dX*/dt
0,4

0,2

0,0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400


T empo (min)

Figura 2. Taxa de secagem do modelo de Page (1949).

O comportamento de secagem pode apresentar taxas de secagem constante e/ou decrescente.


Para produtos biológicos, o comportamento de secagem é, geralmente, decrescente (SANJINEZ-
ARGANDOÑA et al, 2011). Na Figura 2, observa-se, no geral, comportamento de taxa de secagem
decrescente. AZOUBEL et al. (2009), na secagem de caju com e sem pré-tratamento osmótico,
observaram também taxas de secagem decrescentes. No entanto FERREIRA et al (2012) ao
estudarem a modelagem matemática do bagaço de uva fermentado não observaram taxa de secagem
constante, indicando que todo o processo ocorreu com taxa decrescente. HOFSKY et al., (2009),
estudando a cinética de secagem de abacaxi pérola em fatias encontraram uma maior taxa de
secagem no início do processo de desidratação nas temperaturas de 50, 60 e 70 ºC.
Verifica-se normalmente nos estudos que as maiores temperaturas do ar de secagem
aumentam as taxas de secagem, isso ocorre devido o emprego de uma maior quantidade de calor
transferido para o material, no entanto é possível observar que a temperatura de 60 ºC apresentou
uma maior taxa de secagem quando relacionada à temperatura de 70 C. Observa-se também que a
partir de 300 minutos do processo de secagem as duas curvas se sobrepõem.
THUWAPANICHAYANAN et al. (2008) verificaram que a taxa de secagem em camada de
espuma da banana aumentou com o aumento da temperatura de secagem.
Além dos parâmetros estatísticos favoráveis obtidos com o modelo de Page (1949), este
modelo possibilita determinar expressões matemáticas para a taxa e o tempo de secagem conforme
é dado na Tabela 3.

Modelo Taxa de secagem Tempo de secagem

Page (1949) dX * / dt  abt b1 e  a t


b

t   ln X * / a 
1/ b

Tabela 3: Expressão da taxa e tempo de secagem, obtida para o modelo de Page (1949).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 933


Usando a expressão da Tabela 3 e os parâmetros apresentados na Tabela 2, a taxa e o tempo
de secagem foram determinados para o modelo de Page (1949), o qual representou melhor o
processo da secagem da polpa de (Cucumis melo L), cuja representação gráfica encontra-se na
Figura 2.

CONCLUSÃO

Com os resultados obtidos, para polpa de melão, pode-se concluir que:


O modelo matemático de Page (1949) foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais
apresentando um melhor desempenho.
O tempo de secagem reduziu de forma mais rápida com o aumento da temperatura do ar de
secagem.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GURGEL, M. T. GHEYI, H. R.; OLIVEIRA, F. H.; FERNANDES, P. D.; SILVA, F. V. Nutrição


de cultivares de meloeiro irrigadas com águas de baixa e alta salinidade. Caatinga, v.21, n.05, p
36-43, 2008.

SANTOS, C. T.; BONOMO, R. F.; CHAVES, M. A.; FORTAN, R. C. I.; BONOMO, P. Cinética e
modelagem da secagem de carambola (Averrhoa carambola L.) em secador de bandeja. Acta
Scientiarum Technology, v.32, n.3, p.309-313, 2010.

FIORENTIN, L. D.; MENON, B. T.; ALVES, J. A.; BARROS, S. T. D.; PEREIRA, N. C.;
MÓDENES, N. Determinação da cinética e das isotermas de secagem do bagaço da laranja. Acta
Scientiarum Technology, v.32, n.2, p.147-152, 2010.

DANTAS, L. A; MATA, M. E. R. M; DUARTE, M. E. M. Programa Computacional Dinâmico


para Simulação de Secagem de Grãos e Sementes de Milho. Revista Brasileira de Produtos
Agroindustriais, v.13, n.3, p.309-318, 2011.

SILVA, A. S. A; MELO, K. S; ALVES, N. M; FERNANDES, T. K. S; FARIAS, P. A. Cinética de


secagem em camada fina da banana maçã em secador de leito fixo. Revista Brasileira de
Produtos Agroindustriais, v.11, n.2, p.129-136, 2009.

HENDERSON, S. M.; Pabis, S. Grain drying theory. I. Temperature effect on drying coefficient.
Journal of Agriculture Engineering, v.6, n.3 p.169-174, 1961.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 934


LEWIS, W. K. The drying of solid materials. The Journal of Industrial and Engineering Chemistry,
v. 13, n. 05, p. 427-433, 1921.

PAGE, G. E. Factors influencing the maximum of air drying shelled corn in thin layer. 1949. Thesis
Dissertation (M.Sc.) – Purdue University, Indiana.

WANG, C. Y.; SINGH, R. P. Use of variable equilibrium moisture content in modeling rice drying.
Transaction of ASAE, v. 11, p. 668-672.

FURTADO, G. F.; SILVA, F. S.; PORTO, A. G.; SANTOS, P. Secagem de polpa de ceriguela pelo
método de camada de espuma. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, v. 12, n. 1, p 9-
14, 2010.

AZOUBEL, P. M., BAIMA, M. A. M., AMORIM, M. R., AND OLIVEIRA, S. S. B. Effect of


ultrasound on banana cv Pacovan drying kinetics. Journal of Food Engineering, v.97, p.194–
198, 2010.

AZOUBEL, P. M. et al. Effect of osmotic dehydration on the drying kinetics and quality of cashew
Apple. International Journal of Food Science and Technology, v. 44, n.9, p. 980-986, 2009.

PENA, R. S.; MENDONÇA, N. B. Estudo da secagem da fibra residual do maracujá. Revista


Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 2, n. 1, p. 1-13, 2008.

PENA, R. S.; MENDONÇA, N. B. SECAGEM EM CAMADA DELGADA DA FIBRA


RESIDUAL DO MARACUJÁ. Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos,
v. 27, n. 2, p. 257-270, 2009.

SANJINEZ-ARGANDOÑA, E. J.; BRANCO, I. G.; BITTENCOURT , T. U.; MUNHOZ, C. L.


Influência da geometria e da temperatura na cinética de secagem de tomate (Lycopersicum
esculentum). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.31, n.2, p.308-312, 2011.

LOURENÇO, G. A. Desidratação parcial de tomate cereja em secador de bandejas vibradas com


reciclo. 2011. 94f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Quimica – Universidade Federal de
Uberlandia – MG).

MADAMBA, P. S.; DRISCOLL, R. H.; BUCKLE, K. A. The thin layer drying characteristic of
garlic slices. Journal of Food Engineering, London, v. 29, n. 1, p. 75-97, 1996.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 935


MENEZES, M. L.; STRÖHER, A. P.; PEREIRA, N. C.; BARROS, S. T.D. análise da cinética e
ajustes de modelos matemáticos aos dados de secagem do bagaço do maracujá-amarelo.
Engevista, v.15, n.2, p.176-186, 2013.

PEREZ, L. G.; OLIVEIRA, F. M. N.; ANDRADE, J. S.; MOREIRA FILHO, M. Cinética de


secagem da polpa cupuaçu (Theobroma grandiflorum) pré desidratada por imersão-impregnação.
Revista Ciência Agronômica, v. 44, n. 1, p. 102-106, 2013.

LOURENÇO, G. A.; FINZER, J. R. D. Secagem parcial de tomate-cereja em secador de bandejas


vibradas com reciclo. Brazilian Journal of Food Technology, v.16, n.4, p.334-345, 2013.

MOHAPATRA, D.; RAO, P. S. A thin layer drying model of parboiled wheat. Journal of Food
Engineering, v.66, n.4, p.513-518, 2005.

FERREIRA, L. F. D.; PIROZI, M. R.; RAMOS, A. M..; PEREIRA, J. A. Modelagem matemática


da secagem em camada delgada de bagaço de uva fermentado. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v.47, n.6, p.855-862, 2012.

BABALIS, S. J.; BELESSIOTIS, V. G. Influence of the drying conditions on the drying constants
and moisture diffusivity during the thin-layer drying of figs. Journal of Food Engineering, v.65,
n.3, p.449-458, 2004.

GONELLI, A. L. D. Variação das propriedades físico-mecânicas e da qualidade da mamona


(Ricinus communis L.) durante a secagem e o armazenamento. 2008. 186 f. Tese (Doutorado em
Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

THUWAPANICHAYANAN, R.; PRACHAYAWARAKORNB, S.; SOPONRONNARIT, S.


Drying characteristics and quality of banana foam mat. Journal of Food Engineering, v.86, n.4,
p.573–583, 2008.

SILVA, A. S. S.; GURJÃO, K. C. O.; ALMEIDA, F. A. C.; BRUNO, R. L. A.; PEREIRA, W. E.


Desidratação da polpa de tamarindo pelo método de camada de espuma. Ciência e
Agrotecnologia, v. 32, n.6, p.1899-1905. 2008.

HOFSKY, V, A.; GOMES, J. P.; BARROS NETO, A. L.; SILVA, F. L. H.; ALMEIDA, F. A. C.
Cinética de secagem de abacaxi cv pérola em fatias. Revista Brasileira de Produtos
Agroindustriais, v.11, n.2, p.123-128, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 936


RAMOS, A.M.; QUINTERO, A.C.F.; FARAONI, A.S.; SOARES, N.F.F.; PEREIRA, J.A.M.
Efeito do tipo de embalagem e do tempo de armazenamento nas qualidades físico-química e
microbiológica de abacaxi desidratado. Alimentos e Nutrição, v.19, n.3, p. 259-269, 2008.

SANTOS, C. T.; BONOMO, R. F.; CHAVES, M. A.; FONTAN, R. C. I,; BONOMO. P. Cinética e
modelagem da secagem de carambola (Averrhoa carambola L.) em secador de bandeja. Acta
Scientiarum Technology, v.32, n.3, p.309-313, 2010.

PANI, P.; LEVA, A. A.; MAESTRELLI, A.; TORREGGIANI, D. Influence of an osmotic


pretreatment on structure-property relationships of air-dehydrated tomato slices. Journal of Food
Engineering. v. 86, p. 105–112, 2008.

FANG, S. Z.; WANG, Z. F.; HU, X. S. Hot air drying of whole fruit Chinese jujube (Zizyphus
jujuba Miller): thin layer mathematical modeling. International Journal of Food Science and
Technology, v. 44, n.9, p. 1818-1824, 2009.

VIEIRA, H.; FIGUEIREDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M. Isotermas de adsorção de umidade da


pitanga em pó. Revista de Biologia e ciências da terra, v.7, n.1, 2007.

MACHADO, A. M.; SOUZA, M. C.; JUNQUEIRA, M. S.; SARAIVA, S. H.; TEIXEIRA, L.J.Q.
cinéticas de secagem do abacaxi cv. Pérola. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, v.8, n.15; p. 2012.

DIONELLO, R.G. Secagem de fatias de abacaxi in natura e pré-desidratadas por imersão-


impregnação: cinética e avaliação de modelos. Ciência e Tecnologia de Alimentos. v. 1, n. 29, p.
232-240, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 937


PRINCIPAIS MEIOS NUTRITIVOS PARA MICROPROPAGAÇÃO DE TECA (Tectona
grandis): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Inaê Mariê de Araújo SILVA


Doutoranda em Ciência Florestal - UnB
inaemarie@hotmail.com

Flávio Siqueira D‘ÁVILA


Engenheiro Florestal - Companhia do Vale do Araguaia
fsdavilas@hotmail.com

Genilda Canuto AMARAL


Mestranda em Ciência Florestal - UnB
genildacanuto@gmail.com

Michael Willian Rocha de SOUZA


Graduando em Agronomia - UFVJM
michaelwillianrocha@gmail.com

RESUMO
A Tectona grandis L.f. configura-se como uma das espécies arbóreas mais valorizadas no mercado
florestal mundial. O principal meio de produção de mudas desta espécie é via semente, o qual
apresenta algumas limitações, como número reduzido de sementes produzidas por árvore,
germinação lenta e irregular e baixa longevidade em condições naturais de armazenamento. Neste
contexto, a micropropagação surge como uma alternativa promissora de propagação,
proporcionando a produção de grandes quantidades de plantas, com características selecionadas, em
curto período de tempo e espaço físico reduzido. À vista do exposto, objetivou-se produzir uma
revisão bibliográfica sobre os principais meios nutritivos utilizados em protocolos e trabalhos
diversos de micropropagação de teca, para assim subsidiar a realização de trabalhos futuros. De
acordo com os trabalhos revisados e consultados, o meio de cultura MS (Murashige e Skoog) tem
sido o mais utilizado para micropropagação de teca.
Palavras-chaves: teca, propagação in vitro, meio de cultura.

ABSTRACT
The Tectona grandis L. F. configures itself as one of the most valuable forest tree species in the
world market. The principal means of production of seedlings of this species is by seed, which has
some limitations, such as reduced number of seeds produced per tree, slow and irregular
germination and reduced longevity in natural storage conditions. In this context, the
micropropagation emerged as a promising alternative propagation by providing the production of
large quantities of plants, selected in a short period of time and reduced physical space features. In
view of the above, the objective was to produce a literature review on the main nutrient media and
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 938
protocols used in many studies of micropropagation of teak, thereby subsidizing future work.
According to the studies reviewed and revised, the MS medium (Murashige and Skoog) has been
the most used for micropropagation of teak.
Keywords: Teak, micropropagation, nutrient media.

INTRODUÇÃO

A Tectona grandis L. f., popularmente conhecida como teca, é uma árvore de grande porte,
pertencente à família Laminaceae, nativa de florestas tropicais de monção do Sudeste da Ásia
(Índia, Mianmar, Tailândia e Laos). Segundo Macedo et al. (2005) é uma planta de tronco retilíneo,
fácil de cultivar, pouco sujeita à pragas e doenças, muito resistente ao fogo e com madeira de
excelente qualidade. É considerada insuperável na construção naval, sendo também adequada para
todo tipo de construções, bem como para interiores luxuosos e mobiliário de alto valor
(LAMPRECHT, 1990), e por isso apresenta um alto valor madeireiro, sendo considerada uma das
espécies madeireiras mais valiosas do mundo (OLIVEIRA; ANGELI; STAPE, 2007; FOFANA et
al., 2009).
O aumento do consumo, decorrente da elevação do padrão de vida nos países do Sudeste
Asiático; a escassez de outras madeiras tropicais de qualidade e o mercado mundial e brasileiro, que
oferecem um grande potencial de consumo futuro são alguns dos fatores que têm contribuído para o
aumento progressivo da procura por madeira de teca (ANDRADE, 2010).
No Brasil, além dos plantios das espécies exóticas eucalipto e pinus, a teca vem se
destacando como uma das espécies mais promissoras para plantios na região Centro-oeste e Norte
do país (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS-
ABRAF, 2013). Tem sido objeto de florestamentos comerciais desde 1970, especialmente plantada
em Mato Grosso, na região do município de Cáceres, onde as condições edafoclimáticas são
semelhantes às dos países de origem da espécie (CÁCERES FLORESTAL S.A., 1997). No
momento, o reflorestamento com teca no Brasil surge como uma ótima opção de investimento, uma
vez que sua demanda se configura de forma mais significativa que a oferta (TECA, 2014). Segundo
a ABRAF (2010), a área de florestas plantadas com teca no Brasil atingiu, em 2009, estimados
65.240ha, enquanto em 2008 o total foi de 58.810ha, o que representa um crescimento de 10,9% na
área plantada desta espécie no país, indicando o interesse crescente por tal gênero florestal,
principalmente em função das expectativas de retorno financeiro em projetos com a mesma.
Atualmente, sua área plantada está estimada em 67.329ha, o que representa 0,4% do total da
produção de madeira em tora do país (ABRAF, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 939


O cultivo de T. grandis por estaquia e por sementes é largamente difundido nos trópicos do
mundo inteiro (YASODHA; SUMATHI; GURUMURTHI, 2004). Os plantios tradicionais de teca
são realizados pelo uso, principalmente, de mudas provenientes de propagação sexuada, por
intermédio de sementes de fontes não selecionadas, fato que envolve algumas limitações, como
reduzida quantidade de sementes produzidas por árvore e taxa de germinação baixa, variando de 20
a 25%, além da grande variabilidade no desenvolvimento e qualidade das plantas de indivíduos da
mesma progênie, formando plantios desuniformes (PALANISAMY; SUBRAMANIAN, 2001;
MONTEUUIS; MAITRE, 2007).
Como alternativa a propagação sexuada, a T. grandis pode ser propagada vegetativamente
por vários métodos, como mergulhia, estaquia, enxertia e micropropagação, também conhecido
como propagação in vitro, este último destacando-se dentre os demais, pois permite a produção de
grandes quantidades de mudas em curto intervalo de tempo, a partir de um único propágulo
vegetativo retirado de uma planta matriz (RAPOSO et al., 2010). Este método se caracteriza pela
propagação de plantas dentro de tubos de ensaios ou similares de vidro (por isso, o termo in vitro),
sob condições adequadas de assepsia, nutrição (meios de cultivo) e fatores ambientais (CID, 2001) e
tem se difundido nos últimos anos, com aplicações comprovadas em espécies florestais (XAVIER;
WENDLING; SILVA, 2009). A utilização de mudas micropropagadas para o estabelecimento de
plantios clonais é realidade na Índia, Laos e Tailândia (BALL; PANDEY; HIRA, 2000). Pesquisas
têm apresentado resultados promissores nas Américas, principalmente na Costa Rica, a qual possui
atualmente 25,6 mil hectares destinados a programas de reflorestamento e plantações florestais
(ABDELNOUR; MUÑOZ, 2005).
Apesar de ser uma das espécies madeireiras mais valiosas no mercado florestal mundial, a
teca ainda possui uma literatura escassa aliada a trabalhos pouco eficientes de cultura de tecidos
(TAMBARUSSI, 2009). Gupta e seus colaboradores iniciaram em 1977, na Índia, as pesquisas em
cultura de tecidos com teca, porém até os dias atuais os protocolos de micropropagação são pouco
eficientes ou mesmo quase inexistentes, não satisfazendo plenamente os requisitos para a aplicação
em escala comercial (GUPTA et al., 1980; FERMINO JUNIOR, 2009; ANDRADE, 2010). No
Brasil, informações tecnocientíficas sobre os sistemas de propagação vegetativa de teca,
principalmente sobre micropropagação são incipientes, senão quase que inexistentes com relação à
silvicultura da T. grandis ou estão sob o domínio de algumas empresas privadas (FERMINO
JUNIOR, 2009; ANDRADE, 2010).
O objetivo deste artigo, portanto, é fazer uma revisão bibliográfica sobre os principais meios
nutritivos utilizados em protocolos e trabalhos diversos de micropropagação de T. grandis, para
assim subsidiar a realização de trabalhos futuros.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 940


MEIOS NUTRITIVOS PARA MICROPROPAGAÇÃO DE Tectona grandis

Em termos conceituais são os meios nutritivos utilizados para a cultura de células, tecidos e
órgãos de plantas que irão fornecer as substâncias essenciais para o crescimento dos mesmos, além
de servirem como suporte físico e controlarem, em grande parte, o padrão de desenvolvimento do
material vegetal in vitro (CARVALHO; SILVA; MEDEIROS, 2006).
Os meios de cultura deverão suprir as demandas normais das plantas, já que as mesmas vias
bioquímicas e metabólicas básicas, que funcionam nas plantas, são conservadas nas células
cultivadas, embora alguns processos, como fotossíntese, possam ser inativados pelas condições de
cultivo e pelo estado de diferenciação das células (CALDAS; HARIDASAN; FERREIRA, 1998). O
sucesso de um sistema de micropropagação é amplamente dependente do meio de cultura, cuja
composição física e química é previamente definida por um balanço nutricional e hormonal
(CIRILLO; FERREIRA; LIMA, 2003).
Diferentes meios de cultura com diferentes composições têm sido utilizados, sendo
geralmente compostos por: água, macronutrientes e micronutrientes minerais, fontes de carbono
(carboidratos), vitaminas, mio-inositol, agentes solidificadores como ágar, reguladores de
crescimento, entre outros aditivos (GAMBORG; SHYLUK, 1981; AUGUSTO, 2001).
O pH é considerado um fator crítico do meio de cultura, o qual influencia a disponibilidade
de nutrientes, de fitoreguladores e o grau de solidificação do ágar (MURASHIGE, 1974;
GRATTAPAGLIA; MACHADO, 1990). Sendo ajustado, usualmente, em uma faixa que varia de
5,0 a 6,5 (PIERIK, 1987), para o desenvolvimento adequado da maioria das espécies; em níveis
inferiores a 4,5 e superiores a 7,0, geralmente ocorre paralisação do crescimento e do
desenvolvimento in vitro (JANSEN; CRONIN, 1953; MURASHIGE, 1974).
Uma ampla quantidade de meios de cultura é citada para a regeneração de espécies de
diferentes gêneros (THORPE; HARRY; KUMAR, 1991). Alguns desses meios foram
desenvolvidos especificamente para as necessidades da espécie estudada, como por exemplo, o
meio MS que foi desenvolvido para Nicotiana tabacum e o WPM (LLOYD; MCCOWN, 1980)
para plantas lenhosas, contudo, cada espécie responde de forma diferente aos diversos meios de
cultura já propostos (TAMBARUSSI, 2009).
Dentre as várias formulações dos meios de cultura o mais largamente difundido é o meio
idealizado por Murashige e Skoog, conhecido mundialmente como meio MS (CARVALHO;
SILVA; MEDEIROS, 2006). Este meio é mais utilizado para a cultura de Angiospermae e sua
formulação salina possui concentrações relativamente altas de macronutrientes e micronutrientes
(GEORGE, 1993). De acordo com Mantell, Matthews e Mckee (1994), Murashige e Skoog

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 941


aprimoraram os tipos existentes de meio de cultura de tecidos de plantas, de tal maneira que o meio
MS se tornou um dos mais largamente utilizados em trabalhos de cultura de tecidos.
Nos experimentos de regeneração de plantas in vitro de T. grandis o meio MS tem sido
amplamente utilizado, destacando-se quando comparado aos meios WPM e B5 (KUSHALKAR;
SHARON, 1996; TIWARI; TIWARI; SIRIL, 2002; RAMESH et al., 2003; BAGHEL; TIWARI;
TRIPATHI, 2008).
Vários autores relataram o uso do meio MS em trabalhos de micropropagação de teca
(KUSHALKAR; SHARON, 1996; GOSWAMI; KENG; TEO, 1999; MUMINOVA et al., 1999;
GRADAILLE et al., 2000; TIWARI; TIWARI; SIRIL, 2002; DAQUINTA et al., 2001; 2002;
RAMESH et al., 2003; ABDELNOUR; MUÑOZ, 2005; YASODHA; SUMATHI;
GURUMURTHI, 2005; CRUZ; RAMOS, 2007; GYVES; ROYANY; RUGINI, 2007; BAGHEL;
TIWARI; TRIPATHI, 2008; FERMINO JUNIOR, 2009; AKRAM; AFTAB, 2007; 2008; 2009;
ANDRADE, 2010; TAMBARUSSI, 2009; RAPOSO et al., 2010; KOZGAR; SHAHZAD; 2012;
QUIALA et al., 2012).
O uso do meio WPM na micropropagação de teca foi relatado por Kushalkar e Sharon
(1996), Muminova et al. (1999) e Ramesh et al. (2003). Enquanto, Ramesh et al. (2003) relataram o
uso do meio B5.
Yasodha, Sumathi e Gurumurthi (2005) testaram, para o estabelecimento de segmentos
nodais de teca, os meios de cultura MS e SH (SCHENK; HILDERBRANDT, 1972) com diferentes
concentrações de BAP, CIN e ágar, a saber: (MS1 – MS + 0,67µM BAP + 0,70µM CIN + 0,4%
ágar e MS2 - MS + 22,2µM BAP + 11,62µM CIN + 0,7% ágar) e SH (macronutrientes SH +
micronutrientes MS + 3% de sacarose + 1,48µM AIB + 4,40µM BAP + 0,7% de ágar). Estes
autores obtiveram os melhores resultados com o meio MS2, contrariando o protocolo de Devi,
Mukherjee e Gupta (1994) (meio MS com 22,2µM BA + 4,6µM CIN) o qual obteve brotos
malformados e vitrificados quando mantidos no mesmo meio por mais de 15 dias. Os demais meios
testados apresentaram limitações ao estabelecimento dos segmentos nodais, no MS1 ocorreu
vitrificação e no SH houve a formação de calos na base dos explantes.
Gyves, Royany e Rugini (2007) testando os meios de cultura MS e MS modificado (mMS),
esta última contendo metade da concentração de nitrato de amônio, observaram que o meio mMS
foi superior em relação ao MS em termos do número médio de brotos por explante.
Fermino Junior (2009) avaliando a influência dos meios de cultura MS e WPM com a adição
de BAP em diferentes concentrações, combinados com 0,1mg.L-1 de ANA (ácidonaftalenoacético) e
suplementados com 30g.L-1 de sacarose, e 6g.L-1 de ágar, na multiplicação de brotos de T. grandis,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 942


conclui que em sistema de meio semi-sólido, o meio de cultura WPM é mais eficiente na
multiplicação in vitro de brotos de teca.
Tambarussi (2009) testou três composições de macro e micronutrientes estabelecidas pelos
meios MS, meio de JADS e meio WPM na micropropagação de microplantas de teca in vitro. O
meio MS proporcionou o desenvolvimento de plântulas com altura média superior (8,0cm) em
relação às plântulas crescidas nos meios JADS e WPM, assim também como um número médio
maior de gemas internodais (4,0). O autor explicou estes dados, em função da diferença na
formulação de sais de cada meio de cultura. O MS é rico em nitrato de amônio e nitrato de potássio,
contendo três vezes a concentração presente em JADS e oito vezes maior que em WPM. Quando
comparado o JADS como o WPM, essa relação diminuiu, no entanto o WPM é constituído de uma
menor concentração total de nitrogênio, explicando o menor crescimento das plântulas. Nesse
estudo o MS foi o melhor confirmando estudos em teca e com outras espécies lenhosas
(KUSHALKAR; SHARON, 1996; TIWARI; TIWARI; SIRIL, 2002; RAMESH et al., 2003;
TAMBARUSSI, 2009).
Com relação aos reguladores de crescimento utilizados nos meios de cultura, há diversas
opções descritas para a teca; entre eles se destacam citocininas como: a cinetina (CIN), a 6-
benzilaminopurina ou 6-benziladenina (BAP ou BA), o tidiazuron (TDZ), a isopenteniladenina
(2iP); auxinas como: o ácido indolbutírico (AIB), o ácido 3-indolacético (AIA), o
ácidonaftalenoacético (ANA), e as giberelinas, como por exemplo o ácido giberélico (GA3). A
utilização destes compostos têm como objetivo principal suprir possíveis deficiências nos teores
endógenos de hormônio nos explantes isolados, além de estimular certas respostas como a
multiplicação da parte aérea ou a formação de raízes adventícias (GRATTAPAGLIA; MACHADO,
1998). O tipo e concentração dos reguladores vegetais no meio nutritivo são fatores determinantes
do crescimento e do padrão de desenvolvimento da maioria dos sistemas da cultura de tecidos
(CALDAS; HARIDASAN; FERREIRA, 1998; CASTRO; SENA; KLUGE, 2002).
Encontram-se vários trabalhos na literatura testando os efeitos diversos das diferentes
citocininas, auxinas e gibelerinas combinadas ou não, em diferentes concentrações e tempos de
imersão em T. grandis.
Tratando-se de fontes de carbono, componentes de importância considerável no processo de
cultura in vitro, uma vez que funcionam como fontes de energia e também reguladores osmóticos
do meio (FERRIE; PALMER; KELLER, 1995), a sacarose destaca-se como a mais citada para
propagação in vitro de teca e para várias outras espécies (GEORGE; SHERRINGTON, 1984).
Tambarussi (2009) ao avaliar o potencial de diferentes fontes de carbono (sacarose, maltose,
manitol, galactose, glicose e sorbitol) na regeneração de explantes de teca, confirmou a excelência

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 943


da sacarose como fonte de carbono em meios nutritivos, a qual proporcionou, seguida da glicose, a
maior taxa de regeneração. Resultado semelhante foi obtido por Fermino Junior (2009) ao analisar o
efeito de diferentes concentrações (0, 15, 30, 45 e 60g.L-1) de sacarose na multiplicação de
segmentos nodais de teca, o qual obteve o maior número de brotos regenerados com a utilização de
45g.L-1 de sacarose, e menor número de brotos na ausência de sacarose, indicando a necessidade de
utilização para T. grandis de uma concentração de sacarose no meio de cultura superior a 3%,
conforme os protocolos usuais para micropropagação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A T. grandis apesar de se configurar como uma das espécies madeireiras mais valiosas no
mercado florestal mundial, com grandes expectativas de retorno financeiro, ainda apresenta uma
escassez de resultados de pesquisas referentes à Silvicultura Clonal, mais especificamente a
propagação vegetativa via cultura de tecidos. Há um déficit de estudos mais detalhados em relação
às variáveis que influenciam cada etapa do processo de micropropagação desta espécie, no entanto,
tratando-se de meios de cultivo, os resultados deste estudo apontam a existência de um consenso
quanto à eficácia e estabelecimento do meio MS (Murashige e Skoog) para micropropagação de
teca. Embora, estudos comparativos com outros meios de cultivo são sempre ansiados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDELNOUR, A.; MUÑOZ, A. Micropropagación de teca (Tectona grandis L. f.). Kurú: Revista
Forestal, v.2, n.5, p.1-11, 2005.

AKRAM, M.; AFTAB, F. An efficient method for clonal propagation and in vitro establishment of
softwood shoots from epicormic buds of teak (Tectona grandis L.). Forestry Studies in China, v.
11, n.2, p.105-110, 2009.

AKRAM, M.; AFTAB, F. High frequency multiple shoot formation from nodal explants of teak
(Tectona grandis L.) induced by thidiazuron. Propagation of Ornamental Plants, v.8, p.72-75,
2008.

AKRAM, M.; AFTAB, F. In vitro micropropagation and rhizogenesis of teak (Tectona grandis L.).
Pakistan Journal of Biochemistry and Molecular Biology, v.40, p.125–128, 2007.

ANDRADE, W. F. Indução de rejuvenescimento de teca (Tectona grandis L. f.) através de enxertia


seriada e micropropagação. 2010. 76f. Dissertação (Doutorado em Ciências) – Universidade
Federal de São Paulo, Piracicaba, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 944


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS. Anuário
estatístico da ABRAF 2010: ano base 2009. Brasília: ABRAF, 2010. 140p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS. Anuário


estatístico da ABRAF 2009: ano base 2008. Brasília: ABRAF, 2013, 146p.

AUGUSTO, C. S. S. Micropropagação da amoreira-preta cv. Brazos. 2001. 115f. Dissertação


(Mestrado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001.

BAGHEL, R. S.; TIWARI, S.; TRIPATHI, M. K. Comparison of morphogenic and plant


regeneration ability of some explants of teak (Tectona grandis Linn. F.). Journal of Agricultural
Technology, v.4, n.2, p.125-136, 2008.

BALL, J. B.; PANDEY, D.; HIRA, I. S. Global overview of teak plantations. Teaknet publication,
v.3, p.11-33, 2000.

CÁCERES FLORESTAL S. A. Manual do reflorestamento da Teca. Cáceres: Cáceres Florestal S.


A., 1997. 30p.

CALDAS, L. S.; HARIDASAN, P.; FERREIRA, M. E. Meios nutritivos. In: TORRES, A. C.;
CALDAS, L. S.; BUSO, J. A. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília:
EMBRAPA-SPI/ EMBRAPA-CNPH, v.1, p.87-132, 1998.

CARVALHO, J. M. F. C.; SILVA, M.M.A.; MEDEIROS, M. J. L. Fatores inerentes à


micropropagação. Campina Grande: EMBRAPA Algodão, 2006. 28p. (EMBRAPA Algodão.
Documentos, 148).

CASTRO, P. R. C.; SENA, J. O. A.; KLUGE, R. A. Introdução à fisiologia do desenvolvimento


vegetal. Maringá: Eduem, 2002. 255p.

CID, L. P. B. A propagação in vitro de plantas. O que é isso? Cultura de tecidos vegetais – uma
ferramenta fundamental no estudo da biologia moderna de plantas. Biotecnologia Ciência e
Desenvolvimento, v.3, n.19, p.17-21, 2001.

CIRILLO, M. A.; FERREIRA, D. F.; LIMA, P. S. G. Uma alternativa para avaliar a eficiência de
meios de cultivo in vitro via modelo de regressão logística. Semina: Ciências Exatas e
Tecnológicas, v.24, p.101-110, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 945


CRUZ, N.; RAMOS, L. Micropropagación clonal In vitro de árboles seleccionados de Tectona
grandis L. (Teca). 2007. Disponível
em:<http://www.uteq.edu.ec/u_investigacion/biotecnologia/5.pdf>. Acesso em: 06 mai. 2011.

DAQUINTA, M.; RAMOS, L.; CAPOTE, I.; LEZCANO, Y.; RODRÍGUEZ, R.; TRINA, D.;
ESCALONA, M. Micropropagación de la teca (Tectona grandis L.). Comunicación técnica,
Revista Forestal Centroamericana, v.35, p.25-28, 2001.

DAQUINTA, M.; RAMOS, L.; CAPOTE, I.; LEZCANO, Y; RODRÍGUEZ, R.; ESCALONA, M.
Morfogénesis in vitro de Teca (Tectona grandis L.). Investigación agraria: Sistemas y Recursos
Forestales, v.11, n.1, p.137-144, 2002.

DEVI, Y. S.; MUKHERJEE, B. B.; GUPTA, S. Rapid cloning of elite teak (Tectona grandis) by in
vitro multiple shoot production. Indian Journal of Experimental Biology, v.32, p.668-671, 1994.

FERMINO JUNIOR, P. C. P. Morfogênese e fisiologia do desenvolvimento in vitro da espécie


florestal nativa da Amazônia Amburana acreana (Ducke) A. C. Smith e da espécie exótica
Tectona grandis L. 2009. 195f. Tese (Doutorado em Biotecnologia Agroflorestal) - Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, 2009.

FERRIE, A. M. R.; PALMER, C. E. KELLER, W. A. Haploid embryogenesis. In: THORPE, T. A.


(Ed.) In vitro Embryogenesis in Plants. Dordrecht: Kluwer Academic Publishes, p. 309-344,
1995.

FOFANA, I. J.; OFORI, D; POITEL, M; VERHAEGEN, D. Diversity and genetic struture of teak
(Tectona grandis L. f.) inits natural range using DNA microsatellite maskers. New Forests, n.37,
p. 175-195, 2009.

GAMBORG, O. L., SHYLUK, J. P. Nutrition, media and characteristics of plant celland tissue
cultures. In: THORPE, T. A. Plant tissue Culture: methods andapplications in agriculture. New
York: Academic Press, 1981. p.1-44.

GEORGE, E. F. Plant propagation by tissue culture: the technology. Great Britain: Exegetics
Limited, 1993. v.1. 547p.

GEORGE, E. F.; SHERRINGTON, P. D. Plant propagation by tissue culture. Eversley: Eastern


Press, 1984. 709p.

GOSWAMI, H.; KENG, C. L.; TEO, C. K. H. In vitro shoot multiplication of Tectona grandis, J.
Biosci. Penang, v.10, p. 47-54, 1999.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 946
GRADAILLE, D. M.; RAMOS, L.; LEZCANO, Y.; RODRIGUEZ, R.; ESCANOLA, M. Algunos
elementos en la micropropagación de la Teca. Biotecnologia Vegetal, v.1, p.39-44, 2000.

GRATTAPAGLIA, D.; MACHADO, M. A. Micropropagação. In: TORRES, A. C.; CALDAS, L.


S.; BUSO, J. A. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: EMBRAPA-
SPI/EMBRAPA-CNPH, 1998. p. 183-260.

GUPTA, P. K.; NADGIR, A. L.; MASCARENHAS, A. F.; JAGANNATHAN, V. Tissue culture of


forest trees: clonal multiplication of Tectona grandis L. (teak) by tissue culture. Plant Science
Letters, v.17, p.259-268, 1980.

GYVES, E. M.; ROYANI, J. I.; RUGINI, E. Efficient method of micropropagation and in vitro
rooting of teak (Tectona grandis L.) focusing on large-scale industrial plantations. Annals of
Forest Science, v.64, p.73-78, 2007.

JANSEN, L. L.; CRONIN, E. H. Halogeton on trial. Utah Farm and Home Science, v.14, p.38-39,
1953.

KOZGAR, M.I.; SHAHZAD, A. An improved protocol for micropropagation of teak tree (Tectona
grandis L.). Rend. Fis. Acc. Lincei, v.23, p.195-202, 2012.

KUSHALKAR, R.; SHARON, M. Direct and indirect somatic embryogenesis in teak (Tectona
grandis). Current Science, v.71, n.9, p. 712-715, 1996.

LAMPRECHT, H. Silvicultura nos Trópicos: Ecossistemas Florestais e Respectivas Espécies


Arbóreas - Possibilidades e Métodos de Aproveitamento Sustentado. tradução. Guilherme de
Almeida-Sedas e Gilberto Calcagnotto. Eachborn: GTZ, 1990. 332p.

LLOYD, G.; MCCOWN, B. Commercially feasible micropropagation of mountain laurel, Kalmia


latifolia, by use of shoot-tip culture. International Plant Propagation Society Proceedings, v.30,
p. 421-427, 1980.

MACEDO, R. L.; GOMES, J. E.; VENTURIM, N.; SALGADO, B. G. Desenvolvimento inicial de


Tectona grandis l. f. (teca) em diferentes espaçamentos no município de Paracatu, MG. Cerne,
v.11, p.61-69, 2005.

MANTELL, S. H.; MATTHEWS, J. A.; MCKEE, R. A. Princípios de biotecnologia em plantas:


uma introdução à engenharia genética em plantas. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de
Genética, 1994. 333p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 947


MONTEUUIS, O.; MAITRE, H. F. Advances in teak cloning. International Tropical Timber
Organization Tropical Forest update, v.17, n.3, p.13-15, 2007.

MUMINOVA, M.; NASRETDINOVA, M.; JATAEV, S. D.; ABDUKARIMOV, A. Somatic


embryogenesis from callus cultures of Teak (Tectona grandis L. f.) derived from leaf explants.
Asian Journal of Plant Sciences, v.2, p.184-187, 1999.

MURASHIGE, T. Plant propagation through tissue culture. Annual Review of Plant Physiology, v.
25, p.135-166, 1974.

MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tobacco
tissue cultures. Plant Physiology, v.15, p.473-497, 1962.

OLIVEIRA, L. C.; ANGELI, A.; STAPE, J. L. Teca é nova opção na indústria mundial. Revista da
Madeira, v.106, p.81-86, 2007.

PALANISAMY, K.; SUBRAMANIAN, K. Vegetative propagation of mature teak trees (Tectona


grandis L.). Silvae Genetica, v.50, n.5-6, p.188-191, 2001.

PIERIK, R. L. M. In vitro culture of higher plants. Dordrecht: M. Nyhoff, 1987. 344p.

QUIALA, E.; CANÃL, M.J.; MEIJÓN, M.; RODRÍGUEZ, R.; CHÁVEZ, M.; VALLEDOR, L.;
FERIA, M.; BARBÓN, R. Morphological and physiological responses of proliferating shoots of
teak to temporary immersion and BA treatments. Plant Cell Tiss Organ Cult, v.109, p. 223-234,
2012.

RAMESH, M.; UMATE, P.; VENUGOPAL RAO, K.; SADANANDAM, A. Micropropagation of


Terminalia bellirica roxb. - A sericulture and medicinal plant. Asian Journal of Plant Sciences,
v.2, n.136, p.184-187, 2003.

RAPOSO, A.; FERMINO JUNIOR, P. C. P.; TEIXEIRA, R. B.; PEREIRA, J. E. S. Produção de


mudas de teca por micropropagação. Circular Técnica, EMBRAPA, p. 1-8, dez 2010.

SCHENK, R. H.; HILDEBRANDT, A. C. Medium and techniques for inductionand growth of


monocotyledonous and dicotyledonous plant cell cultures. Canadian Journal of Botany, v.50,
p.199-204, 1972.

TAMBARUSSI, E. V. Desenvolvimento de metodologias biotecnológicas para micropropagação,


regeneração e transformaçãogenética de teca (Tectona grandis L. f) visando resistência a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 948


Hyblaea puera. 2009. 112f. Dissertação (Mestrado em Ciências biológicas) - Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 2009.

TECA. Disponível em: <http://www.ciflorestas.com.br/texto.php?p=teca>. Acesso em: 24 abr.


2014.

THORPE, T. A.; HARRY, I. S; KUMAR, P. P. Application of micropropagation to forestry. In:


DEBERGH, P. C.; ZIMMERMAN, R. H. Micropropagation: Technology an application.
Dordrecht: Academic Press, 1991. p.311-336.

TIWARI, S. K.; TIWARI, K. P.; SIRIL, E. A. An improved micropropagation protocol for teak.
Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v.71, p.1-6, 2002.

XAVIER, A; WENDLING, I.; SILVA, R. L. Silvicultura Clonal: Princípios e Técnicas. Viçosa:


UFV, 2009. 272p.

YASODHA, R.; SUMATHI, R.; GURUMURTHI, K. Improved micropropagation methods for


teak. Journal of Tropical Forest Science, v.17, n.1, p.63-75, 2005.

YASODHA, R.; SUMATHI, R.; GURUMURTHI, K. Micropropagation for quality production in


plantation forestry. Indian Journal of Biotechnology, v.3, n.2, p.159-170, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 949


SECAGEM DA POLPA DE RAMBUTAN EM CAMADA FINA

Luzia Marcia de Melo SILVA


CTRN/UFCG - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – Doutoranda
dluziamarcia@yahoo.com

Francinalva Cordeiro de SOUSA


CTRN/UFCG - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – Doutoranda
francis_nalva@yahoo.com.br

Deise Souza de CASTRO


CTRN/UFCG – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – Mestranda
deise_castro01@hotmail.com

Francisco de Assis Cardoso ALMEIDA


CTRN/UFCG – Professor Doutor Associado IV – Orientador
almeida.diassis@gmail.com

RESUMO
A fruticultura é uma área em constante desenvolvimento, especialmente no que se refere às novas
opções de cultivo, contribuindo para a expansão de produção e mercado, notadamente das frutíferas
exóticas, dentre as quais, o rambutan (Nephelium lappaceum L.), apresenta alto potencial de
mercado. Com o presente trabalho objetivou-se descrever a cinética de secagem em camada fina da
polpa de rambutan nas temperaturas de 50, 60 e 70 °C. A secagem foi realizada em estufa de
circulação de ar, sendo aplicados os modelos empíricos e semi-empíricos: Dois Termos (1974),
Henderson & Pabis (1961), Henderson & Pabis modificado (1999), Logarítmico (1999), Newton
(1921) e Page (1949), para descrição do comportamento da cinética de secagem. O critério de
avaliação utilizado foi o coeficiente de determinação e o desvio percentual médio sendo o modelo
de Page (1949) o que melhor se ajustou aos dados experimentais, seguidos dos modelos de
Logarítmico (1999) e Dois Termos (1974) em que os valores dos parâmetros das equações foram
estimados em função da temperatura e da velocidade do ar de secagem. Para o modelo de Page
(1949), foram obtidas expressões matemáticas para determinação da taxa de secagem.
Palavras chave: Nephelium lappaceum L.; cinética; taxa de secagem.

ABSTRACT
The fruit industry is an area under constant development, especially with regard to new cultivation
options, contributing to the expansion of production and the market, notably the exotic fruit, among
which, the rambutan (Nephelium lappaceum L.) , has high potential Marketplace. The present work
aimed to describe the drying kinetics of thin layer of pulp rambutan at temperatures of 50, 60 and
70 °C. Drying was carried out in greenhouse air circulation, empirical models being applied and
semi-empirical: Two Terms (1974), Henderson & Pabis (1961), Henderson and modified Pabis

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 950


(1999), Logarithmic (1999), Newton (1921) and Page (1949) for describing the behavior of the
drying kinetics . The evaluation criterion used was the coefficient of determination and the average
percentage deviation being the Page model (1949) the best fit to, followed by logarithmic models
(1999) and Two Terms (1974) experimental data in which the values of parameters of the equations
were estimated according to the temperature and velocity of the drying air. For the Page model
(1949), mathematical expressions for determining the rate and drying time were obtained.
Keywords: Nephelium lappaceum L.; kinetics; drying rate.

INTRODUÇÃO

A rambuteira (Nephelium lappaceum L.), família Sapindaceae, é originária da Malásia,


constituindo-se numa das mais importantes frutíferas tropicais cultivadas na Ásia. O rambutan é
produzido em panículas e classificado como drupa. Os frutos apresentam formato globoso a ovoide,
com tamanho variando de 3,0 a 8,0 cm de comprimento e de 2,5 a 5,0 cm de largura. A casca ou
pericarpo apresenta coloração variando de vermelho-escuro ao amarelo coberta com espículas
coloridas de tamanho variável. O peso do fruto varia de 20 a 60 g, sendo 30 a 58% de arilo, 40 a
60% de pericarpo (casca) e 4 a 9% de semente. O arilo é translúcido, branco a amarelo-claro, com
espessura entre 8 e 15 mm, cujo sabor pode variar de muito doce a distintamente ácido, sendo
também variáveis o conteúdo e a textura. O rambutan é consumido principalmente fresco, mas pode
ser também utilizado em forma de doce desidratado, compota e geleia (SACRAMENTO et al.,
2009).
Nos últimos anos, houve um incremento da exploração econômica de produtos e
subprodutos de algumas frutíferas específicas, atribuído à crescente preocupação do consumidor
com a relação entre dieta e saúde, além do interesse no cultivo de frutas exóticas impulsionado pelo
aumento da diversificação frutífera no Brasil, onde se encontra boas condições climáticas e solo
favorável para o cultivo de muitas espécies de frutas tropicais (YAHIA, 2010). No Brasil, o
rambutan é cultivado em pequenas áreas na Bahia, Pará e São Paulo, com excelente desempenho
em produção e qualidade de frutos, despontando como uma alternativa viável devido a sua
aceitação no mercado nacional e internacional. Os plantios de ambos os Estados foram formados
por meio de sementes, proporcionando grande variabilidade genética. Essa variabilidade pode
manifestar-se fenotipicamente através dos frutos em relação à coloração da casca, tamanho e peso
dos frutos, rendimento de arilo, acidez, pH, teor de sólidos solúveis da polpa e aderência do arilo à
semente (SACRAMENTO et al., 2009).
A maior oferta de rambutan ocorre durante os meses de maio, junho e julho, e o Estado da
Bahia é responsável pela quase totalidade dessa oferta, com pequena participação do Pará, no mês

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 951


de maio. O Estado de São Paulo, normalmente, fornece produto para comercialização no período de
setembro a abril, sendo observadas as maiores quantidades nos meses de setembro a dezembro, o
que ressalta o grande potencial paulista para a produção e comercialização dessa frutífera,
especialmente pelo fato de fornecer o produto em época de pequena oferta pela Bahia (ANDRADE
et al., 2009). A busca dos produtores por novas opções de cultivo, aliada ao crescente aumento na
procura por parte dos consumidores, faz da fruticultura uma área em constante desenvolvimento,
especialmente quanto a frutas exóticas, dentre elas, o rambutan, que apresenta alto potencial de
mercado (ANDRADE et al., 2008; ANDRADE et al., 2009).
A fim de ampliar a oferta e o consumo dessa fruta exótica, atingindo mercados de diferentes
regiões, deve-se considerar a aplicação de métodos de conservação que estendam a sua vida útil, ao
passo que também lhe agrega valor. Nesse contexto, a secagem é uma das técnicas de preservação
que pode ser utilizada para manter a qualidade pós-colheita do rambutan. De acordo com
MARTINAZZO et al. (2010) a secagem consiste na remoção de grande parte de água inicialmente
contida no produto logo após a maturidade fisiológica, para que promova longos períodos de
armazenamento, sem que ocorram perdas significativas durante o processo. Na fase pós-colheita de
frutos a secagem é utilizada visando preservar as qualidades organolépticas e nutricionais, bem
como reduzir a atividade biológica. A facilidade de transporte, armazenamento e manuseio de frutas
desidratadas também são fatores importantes que devem ser considerados, além da redução de
desperdícios e perdas pós-colheita, mantendo as propriedades sensoriais.
O estudo e a modelagem matemática tem despertado o interesse de vários pesquisadores
para os mais diversos produtos (FARIA et al., 2012). O emprego de modelos matemáticos, para
descrição do processo de secagem de frutos foi empregado por LAHSASNI et al. (2004) onde estes
autores utilizaram treze modelos para representação da secagem do figo da índia em camada fina e
por GOYAL et al. (2007) na secagem de ameixa, em que utilizaram seis modelos para o mesmo
procedimento de secagem. Desta forma o estudo e a modelagem matemática tem despertado o
interesse de vários pesquisadores para os mais diversos produtos (FARIA et al., 2012). Objetivou-
se, no presente trabalho, ajustar modelos matemáticos aos dados experimentais de secagem em
camada fina de polpa de rambutan (Nephelium lappaceum L.) em diferentes temperaturas e
determinar a taxa de secagem para o melhor modelo representativo do processo.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Armazenamento e Processamento de


Produtos Agrícolas (LAPPA), pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – PB).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 952


Utilizou-se como matéria-prima polpa extraída de frutos de rambutan (Figura 1)
provenientes dos mercados e feiras livres da cidade de Goiana localizada na Zona da Mata Norte de
Pernambuco (07° 33′ 39" S, 35° 00′ 10" O), no estádio de maturação comercial, com boa aparência
e coloração translúcida, variando do branco a amarelo-claro e, transportados devidamente
acondicionados em sacos plásticos estéreis.

Figura 1. Frutos de rambutan. Fonte: SILVA (2014).

Os frutos do rambutan foram recepcionados no laboratório, selecionados para remoção de


sujidades e eventuais frutos estragados, lavados em água corrente, sanitizados em solução de
hipoclorito de sódio a 50ppm por 15 minutos, enxaguados em água corrente e despolpados em
despolpadeira industrial de aço inoxidável (Laboremus- PAT/REG). Posteriormente a polpa foi
envasada em sacos de polietileno com capacidade para 500g, imersas em nitrogênio líquido a
temperatura de -196 ºC para congelamento rápido e em seguida estocada em freezer horizontal (-18
± 2 °C) até realização dos experimentos.
O descongelamento da polpa foi realizado em temperatura de refrigeração a 5 ºC antes do
início da secagem. A seguir a polpa foi acondicionada em placas de vidro, contendo cada placa
aproximadamente 100g de polpa, a qual foi uniformemente espalhada com espátulas de aço
inoxidável. O teor de água inicial foi determinado pelo método padrão da estufa a 105 ± 3 ºC e a
porcentagem calculada na base do peso úmido aplicando-se a fórmula proposta por BRASIL (2008)
e o resultado final expresso pela média aritmética em porcentagens das sub-amostras.
As amostras com teor de água inicial de 83% (b.u), foram secas em camada fina em uma
estufa com circulação forçada de ar, disponível na dependência do Laboratório de Secagem de
Produtos Agrícolas, ajustado para operar nas temperaturas de 50, 60 e 70°C. O experimento foi
realizado em triplicata, sendo as pesagens das polpas realizadas em balança semi-analítica até
obterem o seu equilíbrio. As curvas de secagem foram obtidas pela conversão dos dados referentes
à perda de água no parâmetro adimensional - razão de teor de água (RX), para as diferentes
condições de secagem da polpa de rambutan, mediante a seguinte equação:

( )

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 953


Onde:
RX= razão de teor de água (adimensional)
Xe= teor de água de equilíbrio em base seca
Xbs= teor de água em base seca
Xbs (inicial) = teor de água inicial em base seca

Os valores de RX observados para cada temperatura do ar de secagem foram analisados por


seis diferentes equações de regressão não linear, conforme a Tabela 1. Para o ajuste das equações
matemáticas aos dados experimentais, realizou-se análise de regressão pelo método Quasi-Newton,
empregando-se o programa computacional Statistic 5.0®.

Designação do modelo Modelo


( ) ( ) Dois Termos (HENDERSON, 1974) (2)
( ) Henderson & Pabis (HENDERSON & PABIS, 1961) (3)
( ) ( ) ( ) Henderson & Pabis Modificado (KARATHANOS, 1999) (4)
( ) Logarítmico (YAGCIOGLU et al., 1999) (5)
( ) Newton (LEWIS, 1921) (6)
( ) Page (PAGE, 1949) (7)
t - tempo de secagem (min); k, - constantes de secagem; a, b, c, n - coeficientes dos modelos.
Fonte: Silva (2014).
Tabela 1. Equações matemáticas de regressão não linear, avaliadas para predizer o fenômeno de secagem de
polpa de rambutan.

Os critérios usados para determinação do melhor ajuste das equações aos dados
experimentais foi o coeficiente de determinação (R2) e o desvio quadrático médio (DQM),
calculado pela equação:

∑( )
√ ( )

Onde:
DQM - desvio quadrático médio
RXpre - razão de teor de água predito
RXexp - razão de teor de água experimental
N - número de dados experimentais

A partir da escolha do melhor modelo dentre os aplicados, mostrados na Tabela 1, foram


determinadas expressões matemáticas para a taxa de secagem em função do tempo para um teor de
água adimensional de acordo com a seguinte expressão:

Expressão empírica Modelo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 954


Page (DIAMANTE et al., 2010) (9)

Tabela 2. Modelo empírico para descrever a taxa de secagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 3 está apresentado o resumo do ajuste e os parâmetros dos modelos por meio de
regressão não linear aos dados experimentais da secagem de polpa de rambutan em camada fina,
considerando as diferentes temperaturas de secagem.
Verifica-se que dentre os modelos empregados, o de Page (1949) foi o que melhor
representou os dados experimentais para predizer a cinética de secagem da polpa de rambutan, com
valores para R2, acima de 0,9979, para todas as temperaturas, embora se possa observar na Tabela
2, que as seis equações matemáticas se ajustaram muito bem aos dados experimentais das secagens,
com coeficientes de determinação superior a 0,9936. Comportamento similar foi observado por
MENEZES et al. (2013), que avaliando a modelagem matemática para descrição da cinética de
secagem do bagaço do maracujá-amarelo (P. edulis Sims) pelo método de secagem convectiva em
leito fixo, obtiveram valores de R2 superiores a 0,99 ao empregarem as equações matemáticas de
Page, Henderson & Pabis e Logarítmico. Já a superioridade do modelo de Logarítmico em relação
ao de Newton, pode ser explicado pela maior quantidade de parâmetros da equação.

Modelos T Parâmetros R² DQM


(ºC)
k n A b c
50 0,001216 - 0,057612 0,924209 - 0,9960 0,0000
Dois Termos 60 0,014620 - 0,507449 0,507433 - 0,9966 0,0003
70 0,018674 - 0,504967 0,505371 - 0,9986 0,0002
Henderson & 50 0,009772 - 0,964430 - - 0,9947 0,0018
Pabis 60 0,014620 - 1,014882 - - 0,9966 0,0003
70 0,018674 - 1,010339 - - 0,9986 0,0002
Henderson & 50 0,009772 - 0,321477 0,321477 0,321477 0,9947 0,0018
Pabis 60 0,014620 - 0,338294 0,338294 0,338294 0,9966 0,0003
Modificado 70 0,018674 - 0,336780 0,336780 0,336780 0,9986 0,0002
50 0,010490 - 0,952547 - 0,02225 0,9977 0,0000
Logarítmico 60 0,014487 - 1,016963 - -0,00334 0,9967 0,0000
70 0,018536 - 1,011890 - -0,00261 0,9986 0,0000
50 0,010257 - - - - 0,9936 0,0016
Newton 60 0,014368 - - - - 0,9965 0,0002
70 0,018452 - - - - 0,9985 0,0001
50 0,009595 1,094321 - - - 0,9983 0,0013
Page 60 0,014752 1,055630 - - - 0,9979 0,0000
70 0,016950 0,890280 - - - 0,9991 0,0002
Tabela 3. Parâmetros estatísticos, coeficientes de determinação (R2) e o desvio quadrático médio (DQM) dos
modelos de secagem nas diversas temperaturas.
Fonte: Silva (2014).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 955


Analisando-se o comportamento do modelo de Page constatou-se que o parâmetro k, que
representa a constante da taxa de secagem, aumentou com o acréscimo da temperatura, estando de
acordo com o comportamento verificado por SILVA et al. (2008) e por FIGUEIRÊDO et al. (2013)
ao ajustarem este modelo às curvas de secagem de polpa de tamarindo (Tamarindus indica L.) e de
mangaba (Hancornia speciosa), ambas pelo método foam-mat , respectivamente. Constata-se
também que à medida que o parâmetro K aumenta o n diminui, ambos, com o aumento da
temperatura. Comportamento similar foi verificado por KAYA et al. (2007) ao estudarem a
secagem de maçã (Malus domestica Borkh) , na velocidade de 0,2 m s-1, nas temperaturas de 35, 45
e 55 ºC. Tal comportamento também foi observado por MELO et al. (2013) ao estudarem a
secagem em camada de espuma da polpa do fruto do mandacaru (Cereus jamacaru), com a adição
de 2% de albumina e 2% de Super Liga Neutra, com tempo de batimento de 5 min, desidratada em
estufa com circulação de ar forçada, a 70; 80, e 90 °C, com três diferentes espessuras de camada de
espuma (0,5; 1,0 e 1,5 cm).
Na Figura 2, encontram-se representadas graficamente as curvas de secagem em camada
fina da polpa de rambutan para as temperaturas em estudo e velocidade do ar de secagem (1,0 m/s-
1
), com ajustes pela equação de Page (1949). Observa-se que as curvas geradas a partir desse
modelo matemático aproximam-se bem dos pontos experimentais, verificados, portanto, a partir dos
coeficientes de determinação.
Page (1949)

1,0
Razão de Teor de Água (adimensional)

0,8

0,6

0,4 Page (1949)

50 °C
60 °C
0,2
70 °C

0,0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400


Tempo (minutos)

Figura 2. Modelo de Page ajustado aos dados experimentais da secagem da polpa de rambutan.

Pode-se observar a influência da temperatura sobre as curvas de secagem da polpa de


rambutan. O aumento da temperatura do ar de secagem faz com que ocorra uma maior taxa de
remoção de água na polpa, comportamento este similar às observações realizadas por NUNES et al.
(2014), ao estudarem a cinética de secagem de polpa de jabuticaba (Myrciaria cauliflora Berg) pelo
método de camada fina. De acordo com FORMOSO et al. (2009) o efeito da temperatura se deve à
sua influência sobre o potencial de transferência de água do sólido para o ar de secagem, uma vez

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 956


que o aquecimento do ar a temperaturas mais elevadas implica na redução de sua umidade relativa,
afetando diretamente o potencial de transferência de massa.
Além dos indicadores estatísticos favoráveis obtidos com o modelo de Page (1949), este
modelo possibilita determinar expressões matemáticas para a taxa de secagem conforme
demonstrado na Tabela 4. A taxa de secagem é definida como a quantidade de umidade removida
em unidade de tempo a partir de um material seco por unidade da superfície de secagem. Ou seja, é
a derivada do teor de umidade total (X) pelo tempo (t) de secagem, dX/dt (AHMED, 2011).

Taxa de secagem Modelo


Page (DIAMANTE et al., 2010)

Tabela 4. Expressão da taxa e tempo de secagem obtida para predizer o modelo de Page (1949).

Empregando a expressão da Tabela 4 e os parâmetros apresentados na Tabela 3, a taxa de


secagem foi determinada para o modelo de Page (1949), o qual representou melhor o processo da
secagem da polpa de rambutan. A representação gráfica do processo pode ser observada na Figura
3.

1,0
50 ºC
60 ºC
70 ºC
0,8
- dX*/dt x 10 3 (min -1 )

0,6

0,4

0,2

0,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Tempo (minutos)

Figura 3. Taxa de secagem do modelo de Page (1949).

Analisando a Figura 3 pode-se observar a influência da temperatura sobre o tempo e


velocidade de secagem. O tempo necessário foi de 1320, 900 e 360 min para as temperaturas de 50,
60 e 70 ºC respectivamente, cujos resultados foram similares aos encontrados MADUREIRA et al.
(2011), estudando a cinética de secagem da polpa do figo-da-índia (Opuntia fícus-indica), nas
mesmas temperaturas em estudo e, superiores aos relatados por NUNES et al. (2014) para a
secagem da polpa de jabuticaba (Myrciaria cauliflora Berg) nas temperaturas de 50 e 60 ºC, que
foram respectivamente 1070 e 550 minutos e inferior para a temperatura de 70 ºC, com tempo de
estabilização de 430 minutos. Pode-se verificar que quanto mais elevada à temperatura, mais
rapidamente se processa a secagem. Estes resultados estão de acordo com os estudos realizados por

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 957


YI et al. (2012) estudando a cinética de secagem em camada fina e a modelagem matemática de
jujuba chinesa (Zizyphus jujuba Mill.).

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, para as condições em que foi realizado o trabalho,
concluiu-se que a cinética de secagem da polpa de rambutan decresce com o aumento da
temperatura do ar de secagem e que, dentre os modelos aplicados, a equação de Page (1949), com
apenas dois parâmetros de ajuste, foi à equação que melhor representou o processo, seguido das
equações de Logarítmico (1999) e Dois Termos (1974).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHMED, J. Drying of vegetables: principles and dryer design. Handbook of Vegetables and
Vegetable Processing. Sinha, N. K. Ed. Blackwell Publishing Ltd, 279-298, 2011.
ANDRADE, R. A.; LEMOS, E. G. M.; MARTINS, A. B. G.; PAULA, R. C.; PITTA JÚNIOR,
J. L. Caracterização morfológica e química de frutos de rambutan. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v. 34, n. 4, p. 958-963, 2008.

ANDRADE, R. A.; LEMOS, E. G. M.; MARTINS, A. B. G.; PAULA, R. C. Caracterização


morfológica de plantas de rambutan. Acta Scientiarum Agronomy, Maringá, v.31, n.4, p.613-
619, 2009.

FARIA, R. Q.; TEIXEIRA, I. R.; DEVILLA, I. A.; ASCHERI, D. P.R.; RESENDE, O. Cinética de
secagem de sementes de crambe. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v.16,
n.5, p.573–583, 2012.

FORMOSO, V. C.; DAMY, P. C.; TELIS, V. R. N. Secagem por ar quente e degradação de ácido
ascórbico em fatias de caqui. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, São José do
Rio Preto: UNESP, 2009.

FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.; MEDEIROS, J. Cinética de secagem em camada de


espuma da polpa de mangaba. In: VII CONGRESO IBÉRICO DE AGROINGENIERIA Y
CIENCIAS HORTÍCOLAS, Madrid, 2013.

GOYAL, R.K.; KINGSLY, A.R.P.; MANIKANTAN, M.R.; ILYAS, S.M. Mathematical modelling
of thin layer drying kinetics of plum in a tunnel dryer. Journal of Food Engineering, v. 79, n. 1,p.
176-180, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 958


HENDERSON, S.M.; PABIS, S. Grain drying theory: temperature effect on drying coefficient.
Journal of Agricultural Engineering Research, London, n.6, p.169-174, 1961.

HENDERSON, S.M. Progress in developing the thin layer drying equation. Transactions of the
ASAE, St. Joseph, v.17, p.1.167-1.168, 1974.

KARATHANOS, V.T. Determination of water content of dried fruits by drying kinetics. Journal of
Food Engineering, London, v.39, p.337-344, 1999.

KAYA, A.; AYDIN, O.; DEMIRTAS, C. Drying kinetics of red delicious apple. Biosystems
Engineering, v. 96, n. 4, p. 517–524, 2007.

LAHSASNI, S.; KOUHILA, M.; MAHROUZ, M.; IDLIMAM, A.; JAMALI, A. Thin layer
convective solar drying and mathematical modeling of prickly pear peel (Opuntia ficus indica).
Energy, v. 29, n. 2, p. 211-224, 2004.

LEWIS, W.K. 1921. The drying of solid materials. Journal Industrial Engineering, London, n.5,
p.427-433.

MADUREIRA, I. A.; FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.; SILVA FILHO, E. D.


Cinética de secagem da polpa do figo-da-índia. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais,
Campina Grande, v.13, n.Especial, p.345-354, 2011.

MARTINAZZO A. P.; MELO E. C.; CORRÊA P. C.; SANTOS R. H. S. Modelagem matemática e


parâmetros qualitativos da secagem de folhas de capim-limão [Cymbopogon citratus (DC.)
Stapf]. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.12, n.4, p.488-498, 2010.

MELO, K. S.; FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.; FERNANDES, T. K. S.; BEZERRA,


M. C. T. Secagem em camada de espuma da polpa do fruto do mandacaru: experimentação e
ajustes de modelos matemáticos. Revista Caatinga, Mossoró, v.26, n.2, p.10-17, 2013.

MENEZES, M. L.; STRÖHER, A. P.; PEREIRA, N. C.; BARROS, S. T. D. Análise da cinética e


ajustes de modelos matemáticos aos dados de secagem do bagaço do maracujá-amarelo.
Engevista, Niterói, v.15, n.2, p.176-186, 2013.

NUNES, J. S.; CASTRO, D. S.; MOREIRA, I. S.; SOUSA, F. C.; SILVA, W. P. Descrição da
cinética de secagem da polpa de jabuticaba usando modelos empíricos. Revista Verde de
Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, Mossoró, v.9, n.1, p.20-26, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 959


PAGE, G.E. Factors influencing the maximum rates of air drying shelled corn in thin layers. Thesis
(M.Sc.) – Purdue University, West Lafayette, 1949.

SACRAMENTO, C. K.; LUNA, J. V. U.; MULLER, C. H.; CARVALHO, J. E. U.


NASCIMENTO, W. M. O. Rambotã. In: SANTOS-SEREJO, J. A. et al. (Org.). Fruticultura
tropical: espécies nativas e exóticas. Brasília: EMBRAPA, 2009. p. 403-421.

SILVA, A.S.; GURJÃO, K.C.O.; ALMEIDA, F.A.C.; BRUNO, R.L.A. Desidratação da polpa de
tamarindo pelo método de camada de espuma. Ciência e Agrotecnologia, vol.32, n.6, p.1899-
1905, 2008.

YAGCIOGLU, A.; DEGIRMENCIOGLU, A.; CAGATAY, F. Drying characteristics of laurel


leaves under different conditions. In: INTERNATIONAL CONGRESS ON AGRICULTURAL
MECHANIZATION AND ENERGY, 1999, Adana: Faculty of Agriculture, Cukurova
University, p.565-569.

YAHIA, E. M. The Contribution of Fruit and Vegetable Consumption to Human Health. In: ROSA,
L.A.; ALVAREZ-PARRILLA, E.; GONZALEZ-AGUILARA; G.A. Fruit and vegetable
phytochemicals: chemistry, nutritional value and stability. Hoboken: Wiley-Blackwell, p.3-51,
2010.

YI, X-K.; WU, W-F.; ZHAN, Y-Q.; LI, J-X.; LUO, H-P. Thinlayer drying characteristics and
modeling of Chinese jujubes. Mathematical Problems in Engineering, p.1-18, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 960


ESTUDO TOXICOLÓGICO DO EXTRATO AQUOSO (―LEITE‖) DO AMENDOIM
FRENTE Á Artemia salina LEACH E ANÁLISE AGUDO EM RATOS WISTAR

Thárcia Kiara Beserra de OLIVEIRA42


UFCG/FCM-CG - tharcia_kiara@hotmail.com

Francisco de Assis Cardoso ALMEIDA43


UFCG - almeida.diassis@gmail.com

Isabella Barros ALMEIDA44


UFPB - bella_barros@hotmail.com

Maciel Araújo OLIVEIRA45


UEPB - macieldearaujo@hotmail.com

RESUMO
Sanidade e segurança alimentar são pontos que levantam interesses para a população, direito de
todos ao acesso regular e permanente a alimentação com qualidade e garantia quanto sua
toxicidade. Novos produtos surgem a cada ano e testes toxicológicos são necessários para que
posteriormente os produtos sejam lançados no mercado sem riscos para humanidade. Com este
estudo objetivou-se avaliar possíveis efeitos toxicológico do extrato aquoso (―leite‖) de amendoim,
frente à Artemia salina Leach e análise de toxidade aguda em ratos Wistar. Uma quantidade de 0,3
g de cistos de A. salina foram mantidos em água marinha sintética e incubados por 24-36 h, após a
eclosão, 10 náuplios foram coletados e tratados em tubos de ensaio contendo a solução do extrato
aquoso de amendoim 125 e 250 g L-1 em concentrações entre 50 e 1000 μg mL‫־‬¹ e um controle, a
leitura do número de sobreviventes e mortos foi realizada após 24 horas para a determinação da
dose letal média (DL50). Para analise de toxidade aguda foram utilizados 24 animais com doses de
2000 mg kg-1 via oral e observado por 14 dias, após esse período os animais foram eutanasiados e
coletado material para análise bioquímica. O extrato possuiu respectivamente 1845,94±206,20 ug
mL‫־‬¹ e 1913,56±146,10 ug mL‫־‬¹ indicando a não toxidade nas concentrações estudadas. Não foram
achados efeitos tóxicos para o teste agudo em ratos Wistar. Espera-se que este estudo possa servir
como fonte para outras pesquisas.
Palavras-chave: Amendoim; segurança alimentar; extrato aquoso; ratos.

42
Veterinária, Mestranda no Programa de Pós – Graduação de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de
Campina Grande – UFCG.
43
PhD, Professor Associado do Programa de Pós – Graduação de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de
Campina Grande – UFCG.
44
Enfermeira, Mestranda no Programa de Pós – Graduação da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
45
Graduando de Farmácia da Universidade Estadual de Campina Grande - UEPB

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 961


ABSTRACT
Health and food safety are points that raise concerns for the population , the right of all regular and
permanent access to food quality and assurance on their toxicity . New products come out every
year and toxicological tests are required for later products are launched in the market without risk to
humanity. This study aimed to evaluate the possible toxicological effects of water (―milk") , peanut
front of Artemia salina Leach extract and analysis of acute toxicity in rats . An amount of 0.3 g of
cysts of A. salina were maintained in synthetic seawater and incubated for 24-36 h after hatching,
10 nauplii were collected and treated in test tubes containing the solution of the aqueous extract of
groundnut 125 and 250 g L -1 at concentrations between 50 and 1000 mg ml -¹, and a control,
reading the number of surviving and dead after 24 hours was performed to determine the median
lethal dose (LD50) . To analyze the acute toxicity 24 animals were used at doses of 2000 mg kg - 1
orally and observed for 14 days, after this period the animals were euthanized and samples for
biochemical analysis . The extract possessed respectively 1845.94 ± 206.20 pg mL- ¹ and 1913.56 ±
146.10 pg mL- ¹ indicating no toxicity at the concentrations studied. Not toxic to the acute test in
rats effects were found. It is hoped that this study can serve as a source for further research.
Keywords: Peanut; food security; aqueous extract; mice.

INTRODUÇÃO

O amendoim é uma das oleaginosas mais produzidas em todo o mundo, com produção anual
de 29 mil toneladas, a China participa com 46,5% dessa produção e se destaca como pais que mais
produz em todo o mundo (SUN, SHIONG, 2014).
Pesquisas buscam alternativas para o uso de amendoim, visando à produção de extrato
aquoso de amendoim (leite de amendoim) com base no leite de soja, sendo mais uma produto a ser
oferecido para famílias de baixa renda, o qual de uma maneira simples o subproduto e gerado após a
trituração do grão in natura em água (ALBUQUERQUE et al., 2013, ALMEIDA et al., 2014).
A fim de estabelecer segurança alimentar para esse produto, ensaios utilizando
microcrustáceo (Artemia salina) e toxidade aguda em ratos Wistas são bastante aplicados antes de
ser apresentado para à população (NOLDIN et al., 2003). Esses ensaios são válidos, pois os efeitos
produzidos por um composto nos animais de laboratório são aplicáveis ao homem. Com base na
dose por unidade de superfície corporal, os efeitos tóxicos no homem estão consideravelmente nos
mesmos limites que os observados nos animais de laboratório, sendo possível descobrir possíveis
riscos nos humanos (KLASSEN et al., 200; AMARAL et al., 2007).
As intoxicações ocorrem quase sempre em razão de quantidades ou de concentrações
excessivas de determinadas plantas e extratos vegetais, do preparo e do uso inadequado. A

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 962


toxicidade aguda provoca uma resposta rápida num curto período de tempo (por convenção de
poucas horas ou poucos dias) para essa análise adota-se como roteiro o protocolo da Portaria SVS
N°116 (RUÍZ, 2005).
Com a visão de estudar e oferecer a população um produto que alem de oferecer efeitos
benéficos á saúde possa definido seus possíveis efeitos colaterais foi realizado estudos para
detecção de possível efeito tóxico do extrato aquoso de amendoim (―leite de amendoim‖). Foi
adotado duas das principais análises usadas em teste de toxicidade; aguda em ratos Wistar
(BRASIL, 2004) e Artemia salina Leash (MEYER et al., 1982). Com intuito de testar em vivo os
possíveis efeitos taxológicos do leite de amendoim, para que posteriormente esse produto seja
comercializado sem nenhum risco a população, as análises do leite em vivo foram criteriosas para
que nenhum dado passe despercebido.

MATERIAIS E MÉTODOS

Local da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em parceria do Laboratório de Armazenamento e


Processamento de Produtos Agrícolas - LAPPA da Universidade Federal de Campina Grande, com
o Núcleo de Investigação Experimental da Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande-PB
e o Laboratório de Ensaios Farmacológicos localizado no Complexo Integrado de Pesquisa Três
Marias no Campus I da Universidade Estadual da Paraíba.

Matéria-prima

Os grãos de amendoim (Arachis hypogaea L.), da york®, utilizadas nos experimentos


provieram de um supermercado localizado na cidade de Campina Grande, PB. Onde o mesmo foi
adquirido cinco dias antes do processamento do extrato e, estavam com características
organolépticas adequadas para o estudo.

Obtenção da substância teste

Para a elaboração do extrato aquoso de amendoim (leite de amendoim) utilizou uma


maquina desenvolvida no LAPPA, denominada DiaMilk (Figura 1). Todo o processo foi realizado
obedecendo a sequência recomendada por Almeida et al., (2014), onde após a retirada da pele do
grão os mesmo foram lavados em água corrente e em seguida foram triturados em processador em
água aquecida a 600C, foi obdecido 2 proporções para as análise tóxica frente a Artemia Salina a
proporção de 125g de amendoim para 1 litro de água e 250g para 1 litro de água. Posteriormente, o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 963


extrato sofreu branqueamento a temperatura de 980C por um tempo de 10 minutos finalizando o
processo.

Figura 1. Vaca mecânica DiaMilk (FONTE: Almeida et al. 2014)

Animais utilizados

Foram utilizados 24 ratos Wistar albinos (Rattus norvergicos) e microcrustáceos de Artemia


salina. No que se refere aos aspectos éticos este trabalho foi encaminhado e aprovado pela CEUA –
Comissão de Ética no Uso de Animais do Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento – CESED,
sob protocolo nº 0024/03092012.

Ensaio da toxicidade aguda com Artemia salina

Para a determinação preliminar da toxicidade aguda foi utilizado o método por Artemia
salina (Meyer et al., 1982). Uma quantidade de 0,3 g de cistos de A. salina foram mantidos em água
marinha sintética e incubados por 24-36 h sob iluminação artificial e temperatura de 22°C. Após a
eclosão, 10 náuplios foram coletados e tratados em tubos de ensaio contendo a solução do extrato
aquoso de amendoim 125 e 250 g L-1 em concentrações entre 50 e 1000 μg mL‫־‬¹ e um controle. As
culturas de A. salina foram incubadas a 22ºC, sendo realizada a leitura do número de sobreviventes
e mortos após 24 horas para a determinação da dose letal média (DL50). Foram consideradas larvas
mortas todas que não apresentavam qualquer movimento ativo em cerca de vinte segundos de
observação. O ensaio foi realizado em triplicata.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 964


Ensaio da toxicidade aguda com ratos Wistar

Foram utilizados 24 ratos Wistar albinos (Rattus norvergicos), machos e fêmeas com idade
média de 90 dias e peso variando entre 250 e 300 g. As substâncias administradas nos ratos foram
realizadas pelo método de gavagem, onde o grupo experimental recebeu 2000 mg kg-1 do leite de
amendoim e o grupo controle recebeu o mesmo volume de água destilada. Esses grupos foram
aleatoriamente distribuídos em quatro grupos conforme a Tabela 1.

GRUPOS QUANTIDADE SUBSTÂNCIA


Grupo Experimental Machos 6 animais Extrato aquoso de amendoim
-GEM 2000 mg kg-1
Grupo Controle Machos - 6 animais Água destilada
GCM
Grupo Experimental Fêmeas 6 animais Extrato aquoso de amendoim
- GEF 2000 mg kg-1
Grupo Controle Fêmeas - 6 animais Água destilada
GCF
Tabela 1: Divisão dos animais por grupos

Antes de iniciar o experimento os animais ficaram em jejum alimentar por 12hs mantendo
apenas água in libitum onde a mesma foi retirada 1h antes de iniciar os procedimentos. Após as
gavagens foi observado parâmetros do Sistema Nervoso Central – SNC e sistema nervoso
autônomo, além de outros parâmetros ligados a ação depressora do corpo nos animais em 30‘, 1, 2,
3 e 4hs (Tabela 2). Os animais foram pesados no 1º e 14º dia e diariamente medidos o consumo de
água e ração. No final do experimento foram coletado sangue para análises hematológicas e
bioquímicas, após a eutanásia os principais órgãos (coração, pulmão, fígado, baço e rins) dos
animais foram pesados.

Análise estatística

A análise do ensaio da toxicidade com Artemia salina, a DL50 ± desvio padrão, foi
realizada pelo método Probitos, utilizando o software STATPLUS® 2009, com 95% de intervalo de
confiança. Para a análise do ensaio da toxicidade aguda com ratos Wistar utilizou-se o programa
ASSISTAT 7.7, com valores expressos em média ± desvio padrão. As diferenças entre os grupos
machos/machos e fêmeas/fêmeas foram determinadas através da Análise de Variância (ANOVA) e
teste de Tukey a 5% de probabilidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 965


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ensaio da toxicidade com Artemia salina

Meyer et al. (1982) estabeleceram uma relação entre o grau de toxicidade e a dose letal
média, DL50, apresentada por substâncias bioativas e extratos de plantas em meio salino com
náuplios de A. salina, desde então, considera-se que quando são verificados valores abaixo de 500
μg mL-1 indica que o composto é tóxico, quando os valores de DL50 que variam entre 500 e 1000
de μg mL-1 denota-se moderada toxicidade e quando são encontrados valores acima de 1000 μg mL-
1
, estes, são considerados atóxicos. Baseada nessa relação, pode-se inferir que o leite de amendoim
125 e 250 g L-1 apresentou-se como atóxico por oferecer valor de DL50, respectivamente, de
1845,94±206,20 ug mL‫־‬¹e 1913,56±146,10 ug mL‫־‬¹ após 24 horas nas condições experimentais.
Tais dados toxicológicos, segundo Parra et al. (2001), podem ser correlacionados com testes de
toxicidade aguda oral em animais.

Ensaio da toxicidade aguda com ratos Wistar

No teste de toxidade aguda foram avaliados vários padrões comportamentais, entre os


animais do grupo controle e experimental. Não houve morte durante os 14 (quatorze) dias de
observação dos animais que receberam oralmente 2000 mg kg-1, portanto não foi possível
determinar a DL50 (SOUSA, et al. 2005), o que demonstra que o produto não possui efeito toxico
para concentração de 125 g L-1 (DISTASI, 1996). Não houve alterações significativamente
diferenciadas aos dos animais controle. No 1º parâmetro – estimulante, foram observado
hiperatividade, irritabilidade, agressividade, tremores, convulsões, piloereção e movimento de
vibrissas, os animais não apresentaram alterações diferenciais referentes ao grupo controle
(ANVISA, 2004; MARIZ, et, al. 2006; CRAVEIRO et, al. 2008). No 2° parâmetro – depressor, foi
observado em 30 min, um leve estado de sonolência nos animais do grupo experimental, porem,
esse estado pode está relacionado a saciedade alimentar, não podendo ser considerado sedação.
Relacionado ao Sistema Nervoso Autônomo, foram avaliado estado como diarréia,
constipação, defecação aumentada, lacrimejamento, micção, cianose, tono muscular e força para
agarra (Figura 2), de maneira geral não houve alterações significante diferente ao grupo controle.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 966


Figura 2: Teste de agarra em rato Wistar

A média final de peso do grupo macho que recebeu extrato foi de 375,16 ± 26,14 g e a do
grupo controle 379,166 ± 23,33 g, não tendo diferido estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade, possuindo *CV% = 9,74 (Tabela 2).

Grupo – Machos Peso (g)


Inicial Final
Controle 350,000 ± 26,30 379,166 ± 23,33
Extrato aquoso do amendoim 362,667 ± 21,17 375,167 ± 26,14
*CV%=Coeficiente de variação em %
Tabela 2 – Evolução dos pesos ponderal inicial e final dos grupos machos

Para análise de peso final das fêmeas, foi aplicado o mesmo teste utilizado nos machos, não
havendo diferença estatística entre si, possuindo CV% = 9,49 (Tabela 3).

Grupo – Fêmeas Peso (g)


Inicial Final
Controle 195,500 ± 22,10 211,000 ± 19,74
Extrato aquoso do amendoim 195,833 ± 17,74 214,000 ± 17,49

Tabela 3 – Evolução dos pesos ponderal inicial e final dos grupos fêmeas

Para o peso dos órgãos fígado, rim e baço não foi observado diferenças significativas entre a
média de peso desses órgãos, em que os animais do grupo controle e experimental receberam 2000
mg kg-1 de extrato aquoso do amendoim (Tabela 4).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 967


Peso do fígado Peso do rim Peso do baço
Absoluto (g)
Peso do baço Absoluto (g) Absoluto (g)
Relativo Relativo Relativo
GCM (n=6) 11,66 ± 3,08 ± 1,472 ± 0,388 ± 0,052 0,669 ± 0,176 ±
(g/100g) 0,58 0,47 (g/100g)
0,11 (g/100g)
0,071 0,028
Experimental 11,22 ± 3,00 ± 1,472 ± 0,392 ± 0,042 0,698 ± 0,185 ±
Macho (n=6) 0,26 0,16 0,04 0,038 0,020
Controle 7,41 ± 3,51 ± 1,031 ± 0,488 ± 0,042 0,534 ± 0,253 ±
Fêmea (n=6) 0,48 0,52 0,08 0,06 0,04
Experimental 7,21 ± 3,36 ± 1,065 ± 0,497 ± 0,042 0,588 ± 0,274 ±
Fêmea (n=6) 0,32 0,54 0,07 0,06 0,044
Tabela 4 - Valores médios do peso absoluto e relativo dos órgãos (fígado, rim e baço) dos animais machos e
fêmeas, controle e tratados com extrato aquoso do amendoim.

Para que o estudo tivesse maior grau de segurança e pudesse auxiliar no diagnostico de
diversas enfermidades, realizou-se avaliação bioquímica dos parâmetros sanguíneos TGO/TGP,
uréia e creatinas com o fim de se observar possíveis lesões no fígado e rim (Tabela 5 e 6).

Parâmetro Grupos - Machos


Controle Extr aquoso de Amendoim Referências*
TGO 113,33 ± 12,09 124 ± 22,18 39 -92
TGP 52,25 ± 23,9 42,25 ± 17,91 17 – 50
Colesterol mg/dL 34,75 ± 9,1 40,25 ± 9,98 46 – 92
Creatinina 0,565 ± 0,10 0,7 ± 0,26 -
Glicose 151,66 ± 38,8 136,33 ± 3,51 85 – 132
HDL 5,5 ± 2,3 5,5 ± 2,64 -
Triglicerídeo 138 ± 6,05 127,5 ± 28,1 -
Uréa 90,75 ± 2,06 80 ± 14,1 32 – 54
*Valores preconizados por Lapchik (2010)
Tabela 5 - Parâmetros sanguíneos de ratos Wistar machos, sem alterações significativas entre os grupos
(ANOVA seguido de Tukey, p ≥ 0,05) pelo tratamento com dose única (v.o.) do Extrato aquoso de
amendoim (2g kg-1).

AST/TGO (aspartato - aminotransferase) e ALT/TGP (alanina - aminotrasferase) são provas


que avaliam a função hepática. Os resultados indicam que não há diferença (machos) entre o grupo
que recebeu solução fisiológica e o grupo que recebeu extrato aquoso de amendoim na concentração
de 2000 mg kg-1. Qualquer aumento nos níveis de concentração dessas enzimas corroboram para
achados de hepatotoxicidade, como visto em Brandão et al., (2006) onde em análise em teste agudo
com extrato aquoso da folha de Piper methysticum observou um aumento de 52,6 u L-1 em relação
ao grupo controle, sendo um aumento significativo. Os níveis de colesterol entre os grupos teve
variação de 5,5 mg dL-1, porem esse valor torna-se irrisório quando comparado com valor de
referência.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 968


Parâmetro Grupos - Fêmeas
Controle Extrato aquoso de Amendoim Referências*
TGO 112,5 ± 7,77 106,5 ± 4,9 39 -92
TGP 57,1 ± 16,52 60,66 ± 27,03 17 – 50
Colesterol 37,1 ± 4,5 42,33 ± 6,02 46 – 92
Creatinina 0,75 ± 0,20 0,81 ± 0,18 -
Glicose 185,1± 7,07 197,1 ± 9,89 85 – 132
HDL 12,1 ± 4,5 13,1 ± 1,1 -
Triglicerídeo 153,6 ± 32,71 135,1 ± 18,1 -
Ureia 88,1 ± 10,1 92,1 ± 4,1 32 – 54
*Valores preconizados por Lapchik (2010)
Tabela 6 - Parâmetros sanguíneos de ratos Wistar fêmeas, sem alterações significativas entre os grupos
(ANOVA seguido de Tukey, p ≥ 0,05) pelo tratamento com dose única (v.o) do Extrato aquoso de amendoim
(2g kg-1).

Os valores de colesterol no grupo das fêmeas foram bastante semelhante ao grupo dos
machos com diferença de 5,23 mg dL-1 entre controle e experimental. Messias et al., (2010) em seu
estudo com análise toxicológico em fêmeas gestante mostra valores de colesterol superior ao
encontrado nesse estudo, o que pode ser justificado pelo tipo de alimentação oferecida aos animais.
Os valores de ureia e creatina não apresentaram diferença estatística entre os grupos, apesar dos
valores serem maiores para o grupo que consumiu o extrato aquoso de amendoim. Messias et al.,
(2010) encontraram valores inferiores aos desse estudo. Como os valores não apresentam diferença
entre os grupos, não é possível afirmar que lesões renais sejam observadas.
O consumo médio de ração entre os grupos estudados (Figura 3) apresentam similaridade
entre os valores (machos/machos, fêmeas/fêmeas) e, não foi observado em nenhum animal redução
de apetite diante a dieta.

Figura 3 – Consumo de alimento (média ± e.p.m.) entre ratos Wistar machos e fêmeas, sem e com extrato
aquoso de amendoim

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 969


CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que o extrato aquoso de amendoim na


proporção de 125g de amendoim para rendimento de 1 litro de extrato aquoso, não possui efeitos
tóxicos tanto em ensaio frente à Artemia Salina como também em testes agudos de toxidade. Não
foi observado alterações nos parâmetros bioquímicos em ratos Wistas quando comparados
intergrupos.
Recomenda-se aprofundar os estudos com novas dosagens utilizando metodologias de
avaliações crônica do extrato.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F. A. C; NETO, J. J. S. B; GOMES, J. P; ALVES, N. M. C; ALBUQUERQUE, E. M.


B. Leite de Amendoim: Produto Natural, in: Tecnologias Adaptadas para o Desenvolvimento
Sustentável do Semiárido Brasileiro. vol. 1, p 110-114, Campina Grande, 2014.

ALBUQUERQUE, E. M. B.; ALMEIDA, F. A. C.; ALVES, N. M. C.; GOMES, J. P.; Production


of ―peanut milk‖ based beverages enriched with umbu and guava pulps. Saudi Arabia. Journal of
the Saudi Society of Agricultural Sciences, v. 11, n. 4, 2012 – 2013.

AMARAL, F. M. M.; COUTINHO, D. F.; RIBEIRO, M. N. S. & OLIVEIRA, M. A. Avaliação da


qualidade de drogas vegetais comercializadas em São Luís/ Maranhão. Revista Brasileira de
Farmacognosia, 13(1): p. 27-30, 2003.

BRANDÃO, I. C; SUZUKI, M. S; CASAS, L. L; PETERS, V. M; Avaliação dos parâmetros


bioquímicos e hematológicos em ratos gestantes tratadas com extrato aquoso de Piper
Methysticum: Observações preliminares. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1,
n. 4, p. 18 - 22, 2009.

BRASIL, 2004 RESOLUÇÃO-RE Nº 90, DE 16 DE MARÇO DE 2004.

CRAVEIRO, A. C. S., CARVALHO, D. M. M., NUNES, R. S., FAKHOURI, R., RODRIGUES, S.


A., SILVA, F. T., Toxicidade aguda do extrato aquoso de folhas de Erythrina velutina em
animais experimentais. Revista Brasileira Farmacognosia. vol.18, João Pessoa, Dezembros,
2008.

DISTASI, L. C. Plantas Medicinais – arte e ciência: Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo:
Editora UNESP.1996.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 970


KLASSEN, C.O; WATKINS, J. B. Toxicologia, a ciência básica dos tóxicos de Casarett e doulls‘s.
5º ed. Editora McGraw-Hill de Portugal, ltda.2001.

LAPCHIK, V. B. V; MATTARAIA, V. G. M; KO. G. M. et, al. Cuidados e Manejo de Animais de


Laboratório. Editora Atheneu, p. 241 -243, São Paulo, 2010.

MARIZ, S. R; CERQUEIRA, G. S; ARAÚJO, W. C, et al. Estudo toxicológico agudo do extrato


etanólico de partes aéreas de Jatropha gossypiifolia L. em ratos. Revista Brasileira de
Farmacognologia, nº 16, jul/set. p 372 – 378, 2006.

MESSIAS, J. B; CARACIOLO, M. C. M; OLIVEIRA, I. M; MONTARROYOS, U. R; BASTOS, I.


V. G. A; GUERRA, M. O; SOUZA, I. A. Avaliação dos parâmetros hematológicos e
bioquímicos de ratas no segundo terço da gestação submetidas à ação do extrato metanólico de
Cereus jamacaru Cactaceae. Rev. Bras. Farmacogno. Brasil. n 20 vol (4): Ago./Set. 2010.

MEYER B. N, FERRIGNI N. R, PUTNAM J. E, JACOBSEN L. B, NICHOLS D.E,


MCLAUGHLIN J. L. Brine shrimp: A convenient general bioassay for active plant constituents.
Plantas Medicinais, vol. 45: p. 31-34, 1982.

NOLDIN, V. F; CECHINEL F. V; MONACHE, F. D. et al; Chemical composition and biological


activities of the leaves of Cynarascolymus L.(artichoke) cultivated in Brazil. Química Nova, São
Paulo, v.26, n.3, p.331-334, Maio/Jun, 2003.

PARRA, A.L; YHEBRA, R.S; SANDIÑAS, I.G; BUELA, L.I. Comparative study of the assay of
Artemiasalina L. and the estimate of the medium letal dose (LD50 value) in mice, to determine
oral acute toxicity of plant extracts. Phytomedicine, n. 8. p. 395-400, 2001.

PORTARIA Nº 116, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2009

RUIZ, A. L. T. G., MAGALHAES, E. G.,MAGALHAES, A. F., FARIAS, A. D., AMARAL ,M. C.


E., SERRANO, D. R., MAGALHAES, L. A. Avaliação da atividade tóxica em Artemia salina e
Biomphalaria glabrata de extratos de quatro espécies do gênero Eleocharis (Cyperaceae). Revista
Brasileira de Farmacognosia, Abr/Jun, 98-102, 2005.

SOUSA, P. J. C; ROCHA, J. C. S; PESSOA, A. M; ALVES, L. A. D; CARVALHO, J. C. T.


Estudo preliminar da atividade antiinflamatória de Bryophillum calycinum Salisb. Revista
Brasileira de Farmacognosia. Vol.15, n°1, João Pessoa, Jan/Mar. 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 971


SUN, Q., XIONG, C. S. L., Functional and pasting properties of pea starch and peanut protein
isolate blends, Contents lists available at Science Direct, Carbohydrate Polymers, vol. 101,
p.1134– 1139, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 972


INFLUÊNCIA DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA NA GERMINAÇÃO DE
SEMENTES DE Ormosia fastigiata TUL. (FABACEAE)

Wagner de Melo FERREIRA


Professor da Universidade Federal do Tocantins
wmelo@uft.edu.br

Marco Aurélio Alves SANTOS


Graduando do Curso de Ciências Biológicas da UFT
marcobio@uft.edu.br

Welloyane Páttila Barros de Souza GOMES


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UFT
welloyane_bio@hotmail.com

Andressa Cavalcante MEIRELES


Mestranda em Ecologia de Ecótonos da UFT
andres.cavalcante@hotmail.com

RESUMO
Ormosia fastigiata pertence à família Fabaceae cujas espécies geralmente apresentam sementes
com dormência física. A superação dessa dormência é imprescindível para que o processo
germinativo possa ocorrer e, assim mudas possam ser produzidas e utilizadas em programas de
recuperação de áreas degradadas. O objetivo desse trabalho foi avaliar a influencia da escarificação
mecânica na superação da dormência das sementes da referida espécie. Foram realizados 3
tratamentos com 4 repetições de 15 sementes cada, sendo eles: com ausência de escarificação,
escarificação unilateral e bilateral. Os resultados demonstraram que as sementes escarificadas
bilateralmente obtiveram maior valor de germinabilidade (50%), em comparação com as sementes
que sofreram escarificação unilateral (27,50%); as sementes não escarificadas não germinaram. Não
foram encontradas diferenças significativas para o tempo médio e para a sincronia de germinação.
Essa metodologia se mostrou eficiente para a quebra da dormência das sementes e para a
conseqüente produção de mudas da espécie.
Palavras-chaves: Cerrado, dormência física, germinação, Ormosia

ABSTRACT
Ormosia fastigiata belongs to the Fabaceae family whose species bear seeds that generally exhibit
seed coat dormancy. This type of dormancy needs to be overcome so that seeds are able to
germinate and plants can be produced and used in reforestation programs. This study aimed at
evaluating the effect of mechanical scarification on the dormancy-breaking of O. fastigiata seeds.
Seeds were subjected to three treatments: unilateral scarification, bilateral scarification and the
control treatment consisted of non-scarified seeds. The results revealed that bilateral scarification
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 973
provided a higher germination percentage (50%) when compared to the unilateral treatment
(27.5%). Non-scarified seeds did not germinate. Regarding the mean germination time and
synchrony no statistical differences were detected. The methodology described in this investigation
was effective for breaking seed coat dormancy and for the consequent production of plants of O.
fastigiata.
Keywords: Cerrado, germination, Ormosia, seed coat dormancy

INTRODUÇÃO

Apesar de sua grande diversidade o Cerrado vem sendo gradativamente ameaçado pelo
crescimento acelerado do Brasil nas últimas décadas. No Estado do Tocantins, com o avanço da
fronteira agropecuária, da expansão imobiliária e de empreendimentos hidroelétricos, grandes faixas
de vegetação remanescentes de Cerrado, até hoje pouco estudadas, vem sendo suprimidas para
atender a esse desenvolvimento (AZEVEDO, 2008). Assim torna-se necessário estudar e encontrar
formas para preservar e/ou recuperar essas áreas.
Dentre os vários métodos utilizados para recompor a vegetação em áreas antropizadas, o
plantio de mudas é um dos mais praticados. Para isso é necessário uma eficiente produção de
plantas, uma vez que a demanda por mudas de espécies florestais, especialmente as nativas, tem
sido crescente (SILVA; MORAIS, 2013). A lista de espécies com potencial para recomposição de
florestas e áreas degradadas é extensa e vem ganhando importância em programas de revegetação
(VIEIRA et al., 2001), entretanto, segundo Galvão e Profírio-da Silva (2005) muitas espécies
nativas não têm sido incluídas em plantios heterogêneos por causa das dificuldades para a produção
de mudas. Neste sentido a formação de mudas a partir sementes é a método mais adequado e
recomendado para a recomposição de áreas degradadas, pois garantem uma variabilidade genética
dos indivíduos a serem utilizados para essa finalidade. Por essa razão, é essencial entender os
fatores que regulam a germinação de sementes para que se possa realizar o manejo adequado de
áreas revegetadas ou de conservação (GARCIA; JACOBI; RIBEIRO, 2007). Esses autores
destacam também que a germinação das sementes é uma das etapas de extrema relevância no ciclo
de vida das plantas, a qual permite tanto a distribuição das espécies como sua abundância nas
comunidades vegetais ao longo do tempo.
A estrutura morfológica da semente é um dos fatores limitantes associados ao processo
germinativo. Dentre esses fatores, aqueles relacionados ao tegumento são de extrema importância
para a germinação. As sementes de Ormosia fastigiata, espécie objeto do presente estudo, apresenta
dormência física (tegumento rígido) o que dificulta a entrada de água e gases; essa característica é
bastante comum em espécies da família Fabaceae (PEREZ, 2004). A espécie O. fastigiata ,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 974


conhecida popularmente como olho-de-cabra, tem porte arbóreo e é endêmica do Brasil com
distribuição nas regiões nordeste, centro oeste, sudeste, sul e norte, incluindo o Estado do
Tocantins, onde ocorre em matas de galeria (MEDEIROS et al., 2012; GURSKI; DIAS; MATTOS,
2012; MEIRELES; CARDOSO, 2014). Embora essa espécie não esteja incluída na lista daquelas
ameaçadas de extinção, o aumento da destruição do seu habitat natural tem provocado uma
diminuição em suas populações naturais. Por essa razão, torna-se importante envidar esforços para
garantir sua inclusão em programas de recuperação de áreas degradadas.
O uso da escarificação mecânica em sementes com tegumento rígido tem se mostrado como
um método adequado para acelerar o processo germinativo, auxiliando na remoção parcial do
tegumento que aumenta a permeabilidade à água e a gases, a sensibilidade à luz e à temperatura, e a
remoção de inibidores, interferindo na atividade metabólica e, consequentemente, na quebra da
dormência física da semente (MARQUES; RODRIGUES, 2004). O método de escarificação
mecânica é bastante utilizado por pequenos agricultores e reflorestadores, visto que é uma opção
segura, de fácil manuseio e de baixo custo financeiro que resulta numa rápida e uniforme
germinação (SANTOS; MORAIS; MATOS, 2004).
Tendo em vista a importância de se acumular conhecimento sobre o processo germinativo de
espécies nativas de áreas de Cerrado e o fato de que não foram encontrados na literatura científica
artigos sobre a germinação de O. fastigiata, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da
escarificação mecânica na superação da dormência das sementes desta espécie com a finalidade de
se obter mudas que possam ser utilizadas em trabalhos de recomposição de áreas antropizadas.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em dezembro de 2013 na Seção de Propagação e


Desenvolvimento de Plantas de Cerrado (SPDPC), do Neamb (Núcleo de Estudos Ambientais),
pertencente à Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional. As sementes da
espécie O. fastigiata se encontravam armazenadas desde dezembro de 2001 e foram coletadas nesse
mesmo ano na mata ciliar ao longo do rio Formiga, no município de Ipueiras, Tocantins, área de
abrangência da Usina Hidroelétrica do Lajeado, antes do enchimento do lago. Um exemplar dessa
espécie está depositado no Herbário do Tocantins sob número HTO 3269.
Foram utilizados três tratamentos: 1) controle (ausência de escarificação); 2) escarificação
unilateral e 3) escarificação bilateral. A escarificação foi realizada com o auxilio de um esmeril
elétrico na região oposta ao hilo. Logo após, as sementes foram imersas em hipoclorito de sódio
comercial com uma gota de detergente durante 30 minutos. Em seguida realizaram-se duas lavagens
com água deionizada e autoclavada por 15 minutos cada. As sementes foram colocadas para

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 975


germinar em placas de Petri de 14 cm de diâmetro contendo 2 folhas de papel filtro (que serviram
como substrato) umedecidas com 20 mL de água deionizada e esterilizada em autoclave a 120°C e
105 kPa durante 15 minutos. As placas de Petri contendo as sementes foram mantidas em sala de
crescimento à temperatura de 26±1º C, com fotoperíodo de 16 horas por meio do uso de lâmpadas
fluorescentes que proporcionaram radiação fotossinteticamente ativa de 30-35 µmol. m-2. s-1. As
leituras foram realizadas a cada 24 horas durante o período de 24 dias. Foram adicionados 5 mL de
água deionizada e esterilizada em autoclave 8 e 16 dias após o início do experimento.
O critério utilizado para que as sementes fossem consideradas germinadas foi a emergência
da radícula (2 a 3 mm). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com
quatro repetições (placas de Petri contendo 15 sementes cada) por tratamento. Para verificar a
influência da escarificacão mecânica no processo de germinação utilizaram-se os seguintes
parâmetros: Germinabilidade (G), Tempo médio de germinação (TMG), e o Índice de sincronização
(IS), de acordo com Santana e Ranal (2004).
Os resultados foram submetidos à análise estatística por meio do programa BioEstat 5.0. Os
dados foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis e as médias foram comparadas pelo teste de
Dunn no nível de 5% de significância. Os resultados para germinabilidade foram transformados em
arco seno de suas raízes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A emergência das radículas das sementes de O. fastigiata ocorreu entre o 10º e o 20º dia
após a semeadura. Os valores médios dos parâmetros utilizados para avaliar o efeito da
escarificação mecânica na germinação dessa espécie estão expostos na Tabela 1.
No que se refere à germinabilidade observou-se que apenas as sementes escarificadas foram
capazes de germinar. Esse resultado corrobora o que foi afirmado por Perez (2004) para muitas das
espécies da família Fabaceae, ou seja, a presença de um tegumento rígido que dificulta ou impede,
em alguns casos, a germinação das sementes mesmo quando colocadas em condições ambientais
adequadas. A escarificação bilateral mostrou-se mais eficaz para o processo germinativo (50%) do
que a unilateral (27,5%). Embora esses dois níveis de escarificação tenham promovido o
rompimento dos tegumentos rígidos das sementes de O. fastigiata, a escarificação dupla
possivelmente proporcionou um maior fluxo de água para o interior da semente, como também
trocas gasosas mais expressivas, o que facilitou o processo germinativo, visto que esse nível de
escarificação favoreceu uma maior área de contato dos tecidos internos da semente com o meio
externo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 976


Tratamentos G (%) TMG (dias) IS (bits)

Controle (sem escarificação) 0,00 c

Escarificação unilateral 27,50 b 13,25 a 1,00 a


Escarificação bilateral 50,00 a 14,50 a 1,25 a

Tabela 1. Germinabilidade (G), Tempo Médio de Germinação (TMG) e Índice de Sincronização (IS) de
sementes de Ormosia fastigiata submetidas a diferentes níveis de escarificação mecânica. Valores seguidos
por letras iguais, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Dunn no nível de 5% de probabilidade.

Marques e Rodrigues (2004) e Figliolia e Crestana (1995), também verificaram que


sementes de O. arborea intactas não germinaram, enquanto que aquelas escarificadas
mecanicamente (em apenas uma região da semente, ou seja unilateralmente) apresentaram 99% e
95% de germinação, respectivamente. Esses autores afirmam que a escarificação mecânica é um
método simples e eficaz para a germinação das sementes daquela espécie, pois é capaz de promover
uma absorção mais rápida de água e, assim, uma germinação mais uniforme, tornando este método
eficiente para superação da dormência física. Lopes, Dias e Macedo (2006), ao realizarem
experimentos de germinação com a espécie O. nitida, obtiveram 94% de germinação com a
utilização da escarificação mecânica unilateral, embora 40% das sementes não escarificadas
também tenham germinado, o que demonstra que, possivelmente, os tegumentos das sementes dessa
espécie apresentem menor rigidez quando comparadas com as de O. fastigiata e O. arborea.
Resultados semelhantes foram encontrados por Melo et al. (2011) que relataram respostas
germinativas bem distintas para três espécies do gênero Parkia (Fabaceae) submetidas à
escarificação mecânica unilateral, com o uso de esmeril elétrico, quando comparadas com aquelas
do tratamento controle. As germinabilidades das sementes escarificadas de P. multijuga, P.
panurensis e P. velutina foram 100%, 91% e 88%, enquanto que daquelas não escarificadas foram
de 17%, 20% e 58%, respectivamente. Esses resultados evidenciam que os graus de
impermeabilidade à água e às trocas gasosas variam com as espécies, e mais especificamente
também confirmam a eficiência da escarificação para superar a impermeabilidade do tegumento de
espécies do gênero Ormosia, o que propicia um aumento no sucesso de sua propagação sexuada.
Embora a dormência seja um recurso que as espécies utilizam para impossibilitar que todas as
sementes germinem ao mesmo tempo, aumentando assim as chances de sobrevivência e
perpetuação dessas espécies em ambientes naturais (CARVALHO; NAKAGAWA, 1988), sua
quebra é extremamente importante em programas de recomposição de áreas degradadas.
Em relação à cinética do processo germinativo, aqui representada pelo o tempo médio de
germinação, verificou-se que não houve diferença estatística entre os níveis de escarificação
utilizados (13,25 e 14,50 dias para a escarificação unilateral e bilateral, respectivamente), embora a
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 977
unilateral tenham proporcionado uma germinação ligeiramente mais rápida. É possível que a
escarificação dupla tenha causado um aumento na síntese de substâncias fenólicas que retardam o
processo de embebição, mesmo sem afetar o processo global da germinação. Esse aumento pode ser
resultante de lesões nos tecidos embrionários e já foi observado em várias espécies vegetais
segundo Basqueira et al. (2011). Esses autores também especulam que esse fato tenha ocorrido em
O. arborea. Mews et al. (2012) estudando os efeitos de diferentes tratamentos pré-germinativos em
sementes de O. paraensis verificaram que o TMG de sementes escarificadas mecanicamente foi de
49 dias. Sementes de Parkia gigantocarpa, espécie pertencente à família Fabaceae, submetidas à
escarificação mecânica, obtiveram um TMG de 4,9 dias (Oliveira et al., 2012). Costa et al. (2011)
verificaram que o TMG de sementes de Canavalia rosea (Fabaceae) escarificadas mecanicamente
foi de 2,99 dias. Esses dados indicam que a velocidade de germinação de sementes escarificadas
mecanicamente varia amplamente entre as espécies e deve estar relacionado às características
genéticas e estruturais de suas sementes.
É possível quantificar a variação da germinação ao longo do tempo por meio de uma medida
denominada Índice de Sincronização. Na interpretação do índice, quanto menor for o seu valor mais
sincronizada será a germinação, independentemente do número total de sementes germinadas
(SANTANA; RANAL, 2004). No que se refere aos dados de sincronia, não foram verificadas
diferenças estatísticas entre os dois níveis de escarificação, embora a escarificação unilateral tenha
resultado num índice de sincronia ligeiramente menor, indicando uma germinação mais sincrônica.
Silva e Morais (2013), ao estudarem a germinação de O. arborea com a utilização de escarificação
mecânica unilateral, obtiveram um índice de sincronia igual a 2,0. Assim, percebe-se que no
presente estudo a germinação de O. fastigiata foi mais sincrônica do que aquela observada em O.
arborea. Em sementes de Parkia velutina, P. pamurensis e P. multijuga submetidas à escarificação
mecânica unilateral, os índices de sincornização foram 2,2, 1,7 e 2,3 respectivamente (Melo et al.,
2011). Embora essas cinco espécies pertençam a mesma família (Fabaceae), provavelmente, esta
diferença também seja em decorrência das diferentes características genéticas e estruturais das
sementes das diferentes espécies.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos no presente trabalho revelaram que a escarificação mecânica é um


método eficiente para acelerar a germinação de sementes de O. fastigiata. O melhor tratamento para
a germinação de suas sementes foi a escarificação bilateral, uma vez que proporcionou maior
germinabilidade e não diferiu estatisticamente em relação à escarificação unilateral no que diz

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 978


respeito ao tempo médio nem a sincronia de germinação. Essa metodologia se mostrou eficiente
para a quebra da dormência das sementes e para a conseqüente produção de mudas da espécie.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, M. I. R. Estrutura e restauração de cerradão em Palmas – TO e germinação de


sementes de Buchenavia tomentosa Eichler, Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne, Guazuma
ulmifolia Lam. E Enterolobium gummiferum (Mart.) J.F. Macbr. 2008. 139 p. Tese (Doutorado
em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, 2008.

BASQUEIRA, R. A.; PESSA, H.; LEAL, T. S.; MORAES, C. P. Superação de dormência em


Ormosia arborea (Fabaceae: Papilionoideae) pela utilização de dois métodos de escarificação
mecânica em diferentes pontos do tegumento. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.4,
n.3, p. 547-561, 2011.

CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 3ª ed.


Campinas: Fundação Cargill, 1988. 424p.

COSTA, T. S.; CEVOLANE, N. S.; FALQUETO, A. R.; AOYAMA, E. M. Superação de


dormência em sementes de Canavalia rosea (Sw) DC. (Fabaceae). Resumos ... Congresso
Brasileiro de Reflorestamento Ambiental, Guarapari – ES, 2011.

FIGLIOLIA, M. B; CRESTANA, C. S. M. Quebra da dormência em sementes de Ormosia


arborea(vell.) Arms (Leguminosae - Papilionoideae). Revista do Instituto Florestal, v. 7. n. 2, p.
259-265, 1995.

GALVÃO, A. P. M.; PORFÍRIO-DA-SILVA, V. Restauração florestal: fundamentos e estudos de


caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005. 144 p.

GARCIA, Q. S.; JACOBI, C. M.; RIBEIRO, B. A. Resposta germinativa de duas espécies de


Vellozia (Velloziaceae) dos campos rupestre de Minas Gerais, Brasil. Acta Botânica Brasílica. v.
21, n. 2, p. 451-456. 2007.

GURSKI, C.; DIAS, E. D.; MATTOS, E. A. Caracteres das sementes, plântulas e plantas jovens de
Ormosia arborea (Vell.) Harms e Ormosia fastigiata TUL. (Leguminosae - Papilionoideae).
Revista Árvore, v. 36, n. 1, p. 37-48, 2012.

LOPES, J. C.; DIAS, P. C.; MACEDO, C. M. P. Tratamentos para acelerar a germinação e reduzir
a deterioração de sementes de Ormosia nitida. Revista Árvore, v. 30, n. 2, p. 171-177, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 979


MARQUES, A. M.; RODRIGUES, T. J. Germinação de sementes de Ormosia arborea (Vell.)
Harms submetidas a diferentes tratamentos pré-germinativos. Científica, v. 32, n. 2, p. 141-146,
2004.

MEDEIROS, M.; WALTER, B. M. T; SILVA, G. P.; BEATRIZ MACHADO GOMES, B. M.;


LIMA, I. L. P.; SILVA, S. R.; MOSER, P.; OLIVEIRA, W. L.; CAVALCANTI, T. A. Vascular
Flora of the Tocantins River Middle Basin, Brazil. Check List , v. 08, n. 5, p. 852–885, 2012.

MEIRELES, J. E.; CARDOSO, D. B. O. S. Ormosia in Lista de Espécies da Flora do Brasil.


Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB29803>. Acesso em: 12 Set. 2014.

MELO, M. G. G; MENDONÇA, M. S.; NAZÁRIO, P.; MENDES, A. M. S. Superação de


dormência em sementes de três espécies de Parkia spp. Revista Brasileira de Sementes, v. 33, n
3, p. 533 - 542, 2011.

MEWS, C. L.; SILVÉRIO, D. V.; MEWS, H. A.; CURY, R. T. S. Efeito do substrato e de


diferentes tratamentos pré-germinativos na germinação de sementes de Tento – Ormosia
paraensis Ducke (Fabaceae). Biotemas, v. 25, n. 1, p. 11-16, 2012.

OLIVEIRA, A. K. M.; RIBEIRO, J. W. F.; PEREIRA, K. C. L.; RONDDON, E. V.; BECKER,T. J.


A.; BARBOSA, L. A. Superação de dormência em sementes de Parkia gigantocarpa (Fabaceae
– Mimosoidae). Ciência Florestal, v. 22, n. 3, p. 533-540, jul.-set, 2012

PEREZ, S. C. J. G. D. A. Envoltórios. In: A. FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. (Eds).


Germinação do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed, p. 125-134, 2004.

SANTANA, D. G.; RANAL, M. A. Análise da germinação - um enfoque estatístico. Brasília:


Editora UnB, 2004, 247 p.

SANTOS, T. O.; MORAIS, T. G. O.; MATOS, V. P. Escarificação mecânica em sementes de


Chichá (Sterculia foetida L.). Revista Árvore, v. 28 , n. 1, p. 1-6, 2004.

SILVA, A. L.; MORAIS, A. G. Biometry and dormancy breaking of Ormosia arborea seeds.
Communications in Plant Sciences, v. 02, n. 3-4, p. 105-107, 2013.

SILVA, A. L.; MORAIS, A. G. Influência de diferentes substratos no crescimento inicial de


Ormosia arborea (Vell.) Harms (Fabaceae). Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento
Sustentável, v. 08, n. 4, p. 22-27, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 980


VIEIRA, A. H.; MARTINS, E. P.; PEQUENO, P. L. L.; LOCATELLI, M.; SOUZA, M. G.
Técnicas de produção de sementes florestais. Porto Velho: Embrapa/CPAF, 2001. 4 p. (Circular
Técnica, 205).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 981


INDUÇÃO DE RESISTÊNCIA A DOENÇAS PÓS-COLHEITA

Wallace Edelky de Souza FREITAS


Doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará - UFC
wallaceedelke@hotmail.com

Maria Lucilania Bezerra ALMEIDA


Doutoranda em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará - UFC
lucilanialmeida@hotmail.com

Bruno França da Trindade LESSA


Doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará - UFC
brunoftl@yahoo.com.br

Antônio Francelino de OLIVEIRA FILHO


Doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará - UFC
eng-francelino@hotmail.com

RESUMO
As perdas provocadas por fitopatógenos apresentam significativo efeito na economia, sendo um dos
fatores responsáveis pelo afunilamento retardador do desenvolvimento das indústrias tanto de frutas
como de hortaliças. Com isso varias técnicas vem sendo desenvolvidas visando tanto à redução
dessas perdas e também garantir a segurança alimentar dos consumidores. Métodos físicos,
químicos e biológicos vêm sendo empregados, como também o controle alternativo por indução de
resistência que envolve a ativação de mecanismos de defesa existentes, esta ativação pode ser
obtida pelo tratamento com agentes bióticos ou abióticos. Sendo importante salientar que tentativas
de controle de doenças pós-colheita em frutas têm que ser feita desde o campo ate o consumidor
final, baseando-se em informações suficientes sobre os patógenos, senão podem levar a pouca ou
nenhuma redução do problema, bem como elevarem os custos sem um aumento substancial na
qualidade dos produtos.
Palavras – Chave: Biotecnologia, qualidade, fitopatologia, frutos e hortaliças

ABSTRACT
Losses caused by plant pathogens have significant effect on the economy, one of the factors
responsible for retarding the development of bottleneck of both fruits and vegetable industries. Thus
several techniques have been developed targeting both the reduction of these losses and also ensure
food safety for consumers. Physical, chemical and biological methods have been used, as well as an
alternative control for induction of resistance that involves the activation of existing defense
mechanisms, this activation can be achieved by treatment with biotic or abiotic agents. Is important
to note that attempts to control postharvest diseases in fruits have to be made from the field until the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 982


final consumer, based on sufficient information about the pathogens, but can lead to little or no
reduction of the problem, as well as raise costs without a substantial increase in product quality.
Keywords: Biotechnology, quality, phytopathology, fruits and vegetables

INTRODUÇÃO

Um dos principais fatores limitantes à exportação de frutos são as doenças pós-colheita,


principalmente as podridões. Na ausência de medidas de controle, a incidência pode chegar a mais
de 50%, em frutos após a colheita. As perdas provocadas por fitopatógenos apresentam significativo
efeito na economia, sendo um dos fatores responsáveis pelo afunilamento retardador do
desenvolvimento das indústrias tanto de frutas como de hortaliças. A rápida deterioração, acelerada
pela infecção fúngica, é fator que causa perda econômica e compromete a qualidade do produto
comercial.
Apesar da rápida expansão da agricultura brasileira, alguns segmentos da cadeia produtiva
são muito frágeis e pouco estudados, como é o caso da patologia pós-colheita. Os patógenos,
principalmente, os quiescente em pós-colheita, têm causado bastante transtorno aos atacadistas,
varejistas e principalmente aos importadores de frutos, podendo causar perdas drásticas (SOMMER,
2002).
O controle de doenças pós-colheita deve ser iniciado ainda no campo, na fase de
desenvolvimento dos frutos, para evitar a sua contaminação e posterior aparecimento de podridões
(RITZINGER, 2000). Para reduzir os prejuízos, métodos físicos, químicos e biológicos vêm sendo
empregados, visando o controle dessas doenças. Os métodos físicos e biológicos constituem-se em
alternativas viáveis e desejáveis em relação ao químico tradicional, principalmente em função de
não deixarem resíduos tóxicos nos frutos tratados. Ainda, o emprego dos chamados fungicidas
naturais aparece como mais uma opção ao uso dos fungicidas sintéticos, em termos de eficiência de
controle.
Outra forma de controle alternativo de doenças é a indução de resistência e envolve a
ativação de mecanismos de defesa existentes. Esta ativação pode ser obtida pelo tratamento com
agentes bióticos (como microrganismos viáveis ou inativados) ou abióticos. Moléculas de origem
biótica ou abiótica capazes de ativar/induzir qualquer resposta de defesa nas plantas ou frutos são
chamadas de eliciadores podendo, neste caso, atuarem como indutores de resistência.
Diante do exposto, essa revisão aborda diferentes formas de indução de resistência a
doenças pós-colheita, relacionando aos problemas das perdas, aspectos epidemiológicos e medidas
de controle que visam minimizar os danos ocasionados por doenças.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 983


O QUE SÃO INDUTORES DE RESISTÊNCIA A DOENÇAS?

São produtos que podem ser chamado de indutores ou eliciadores que agem estimulando a
produção de compostos do metabolismo secundário e proteínas relacionadas à patogênese,
responsáveis pela defesa natural dos vegetais, não só com relação aos patógenos, como também aos
insetos. Podem ser relacionados como produtos de ação indutora a proteína harpina e o acibenzolar-
S-metil (DURRANT; DONG, 2004).
Os indutores de resistência em vegetais podem ser classificados em bióticos e abióticos, de
acordo com seu modo de ação indutora. Indutores bióticos são organismos vivos, ou partes dos
mesmos, que desencadeiam processos de defesa, com ação sistemica ou localizados nos vegetais.
Os indutores abióticos podem ser moléculas sintéticas que mimetizam o sinal do Patolino, ativando
genes relacionados à defesa, aumento na produção de metabolitos secundários como compostos
fenólicos, fitoalexinas e o acido salicílico, ou ainda ferimentos, estresses por temperatura, radiação
UV ou salinidade (ATHAYDE SOBRINHO; FERREIRA; CAVALCANTI, 2005).
Dentre os indutores bióticos, podem-se citar a proteína harpina (QUI; CLAYTON, 2002a;
DANNER et al., 2008), a quitosana (HAHN, 1996; MAZARO et al., 2008), os extratos vegetais
e/ou microbianos (SANTOS et al., 2007; SILVA; PASCHOALATI; BEDENDO, 2007; YESIL-
CELIKTAS et al., 2007); dentre os abióticos, o acibenzolar-S-metil (ASM) (SILVA;
PASCHOLATI; BEDENDO, 2007; DANNER et al., 2008; MAZARO et al., 2008), kaolin
(TUBAJIKA et al., 2007), o silicato de potássio (CARRE-MISSIO et al., 2006), e o oxicloreto
nítrico (DIAS; RANGEL, 2007). Alguns desses eliciadores mimetizam o ataque de fitopatógenos, e
dessa forma desencadeiam uma cascata de sinais para indução de defesa (ZHANG et al., 2004).
Os elicitores de origem biótica são microrganismos como leveduras, bactérias, isolados não
patogênicos e componentes microbianos capazes de induzir reações de defesas em frutas (EL-
GHAOUTH et. al., 2003; OLIVEIRA et al., 2004). Alguns produtos contendo elicitores bióticos
estão disponíveis comercialmente no Brasil para uso em pós-colheita, tais como Aspire® (à base de
Candida oleophila Montrocher), Agro-Mos® (mananoligossacarídeo da parede da levedura
Saccharomyces cerevisae Meyen ex Hansen 1026) e MessengerTM (proteína harpinahrpN de
Erwinia amylovora (Burril) Wislow et al.), e são considerados indutores de resistência (DANTAS
et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2004).
A utilização de indutores abióticos como o ácido ß-aminobutírico (BABA), ácido jasmônico,
metil jasmonato, quitosana e o Acibenzolar-S-metil (ASM) tem sido eficiente em potencializar ou
manter a resistência natural dos produtos colhidos (OLIVEIRA et al., 2004). Frutas de mamoeiro
tratadas em pré e pós-colheita com ASM apresentaram maior deposição de lignina e maior atividade
de PR-proteínas (DANTAS et al, 2004). O estimulo da biossíntese de flavonóides e fitoalexinas e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 984


acúmulos de proteínas relacionadas à patogênese podem ser desencadeados pelo tratamento
térmico, com CO2 e utilização de baixas dosagens de radiação UV-C (BARKAI-GOLAN, 2001).

INDUÇÃO DE RESISTÊNCIA A DOENÇAS PÓS-COLHEITA

Em frutos maracujazeiro tratados com ASM, BABA e JM, pode-se observar que indutores
não conseguiram ativar as respostas fenotípicas de resistência, porem o ASM e JM mostraram uma
redução no crescimento inicial de Colletotrichum sp., mas não afetaram a germinação de conídios.
Muitos autores relatam que para o ASM se mostrar eficiente na indução de resistência a doenças
pós-colheita, o mesmo tem que ser aplicado antes da colheita (ALMEIDA; COELHO, 2006).
Camili at al., (2007), avaliando o controle de Botrytis cinerea em uva ‗Itália‘, utilizando a
submersão em quitosana, observaram que a solução de quitosana, nas concentrações de 1,5 e 2,0 %
(v/v), quando empregada após a inoculação com Botrytis cinerea, reduziu significativamente o
índice de doença, no entanto, quando os cachos foram tratados antes da inoculação, não houve
efeito significativo do tratamento sobre o desenvolvimento da doença. Nos ensaios in vitro, a
solução de quitosana, nas maiores concentrações, suprimiu o crescimento micelial do patógeno e
retardou a germinação dos conídios. Por outro lado Blum et al., (2007) ao trabalhar com frutos de
macieira dos cultivares ‗Fuji‘ e ‗Gala‘, observaram que os tratamentos das mesmas com diferentes
formulações de Fosfitos, foi eficiente na redução de incidência de mofo-azul nas maçãs, com as
formulações fosfito-K (0,75 a 1,5 mL.L-1) e fosfito-CaB (1,5 a 3,0 mL.L-1) sendo as mais eficientes,
mesmo quando comparado com o fungicida tradicional não mais comercializado benomil (150
mg.L-1).
O uso de tratamento hidrotérmico associado a indutores de resistências, mostrou-se eficiente
no manejo pós-colheita da antracnose em frutos de goiabeira, em que a menor severidade da doença
foi apresentado utilizando-se o Agro-Mos, e os tratamentos hidrotérmicos 47 e 50 °C independente
do uso de indutores propiciou menor incidência desta doença (PESSOA et al., 2007).
A irradiação UV-C é considerada uma alternativa importante no controle das podridões em
frutos, mas Bassetto et al., (2007), observaram que a exposição dos fungos a diferentes doses de
UV-C não foi eficaz no controle a podridão parda em pêssegos, apresentando apenas pequena
redução na podridão mole, quando aplicada em controle curativo.
A aplicação dos eliciadores à base de acibenzolar-S-metil e proteína harpina, em pós-
colheita de pêssegos, ativa mecanismos relacionados à resistência dos frutos a Monilinia fructicola,
podendo contribuir no manejo integrado da podridão parda em pêssegos, além de aumenta os teores
de proteínas totais, açúcares totais e redutores, fenóis totais e a atividade da fenilalanina amônia-
liase, que relaciona-se com a redução da área lesionada em pêssegos. Os eliciadores podem

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 985


contribuir no manejo integrado da podridão-parda, em pêssegos (DANNER et al., 2008). Indutores
de resistência a base extratos vegetais, e fungicidas no controle de Colletotrichum gloeosporioides
em mamão, apresentaram eficiência na redução de podridão peduncular do mamão, com o Bion
mostrando os melhores resultados, reduzindo assim as perdas pós-colheita (NASCIMENTO et al.,
(2008).
Moura et al., (2012), avaliando o potencial de produtos bióticos e abióticos como indutores
de resistência ao controle de podridão pós-colheita em manga, observaram que os eliciadores
testados Fosetyl-AL, Agromós, Fosfito de Cálcio, Fosfito de potássio (K30) e Acibenzolar-S-
Methyl, não foram eficientes no controle da podridão pós-colheita em manga.
Oliveira e nascimento (2009), ao avaliar a atividade de indutores de resistência abiótica em
abacaxi, verificaram que a utilização do indutor de resistência Ecolife, diminui a severidade da
podridão negra do abacaxizeiro, causada pelo fungo C. paradoxa. Já Toffano et al., (2012)
verificaram que o uso de indutores de resistência, como o flavedo (epicarpo) de Citrus aurantifolia
não demonstrou efeito potencial de indução de resistência em frutos de laranja Valencia.
Estudos mostram que a aplicação de quitosana no controle de doenças é batante eficiente,
como foi observado por (FELIPINE; DI PIERO, 2009), ao testar a aplicação de quitosana na
redução da severidade de podridão amarga em maçã, os mesmos verificaram que a suspensão de
quitosana apresenta efeito antibiótico contra o Colletotrichum acatatum, o causado da podridão
amarga da macieira e reduz a severidade das doenças nos frutos, o autor justifica-se que a eficiência
do produto pode estar relacionada a concentração e o pH do mesmo, sendo a concentração 10 g.L-1
a mais eficiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Torna-se importante o direcionamento de estudos que tenham como finalidade o


desenvolvimento de medidas de controle que minimizem o uso de agrotóxicos, adequando-se às
normas de controle ambiental, qualidade do produto e qualificação dos trabalhadores envolvidos na
cadeia produtiva. Somente com a adoção dessas medidas, como a indução de resistência, que devem
iniciar no campo e se estender até ao consumidor final, será possível atingir os parâmetros de
qualidade exigidos pelo mercado.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. C. C.; COÊLHO, R. S. B. Efeito de Indutores Químicos no Controle da Antracnose


do Maracujá Amarelo Pós-Colheita. Fitopatol. Bras. 31(3), maio - jun 2006

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 986


ATHAYDE SOBRINHO, C.; FERREIRA, P.T.; CAVALCANTI, L.S. Indutores abioticos. In:
CAVALCANTI, L.S.; DI PIERO, R.M.; CIA, P.; PASCHOLATI, S.F.; RESENDE, M.L.V.;
ROMEIRO, R.S. Inducao de Resistencia em Plantas a Patogenos e Insetos. Piracicaba: FEALQ,
2005. p. 51-80.

BARKAI-GOLAN, R. Postharvest Diseases of Fruits and Vegetables: Development and Control.


Amsterdan: Elsevier, 2001. 418p.

BASSETTO, E.; AMORIM, L.; BENATO, E. A.; GONÇALVES, F. P.; LOURENÇO, S. A.. Efeito
da Irradiação UV-C no Controle da Podridão Parda (Monilinia fructicola) e da Podridão Mole
(Rhizopus stolonifer) em Pós-Colheita de Pêssegos. Fitopatol. Bras. 32(5), set - out 2007

BLUM, L. E. B.; AMARANTE, C. V. T.; DEZANET, A.; LIMA, E. B.; HACK NETO, P.;
ÁVILA, R. D.; SIEGA , V. Fosfitos aplicados em pós-colheita reduzem o mofo-azul em maçãs
‗fuji‘ e ‗gala‘. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, v. 29, n. 2, p. 265-268, Agosto 2007

CAMILI, E. C.; BENATO, E. A.; PASCHOLATI, S. F.; CIA, P. Avaliação de quitosana, aplicada
em pós-colheita, na proteção de uva ‗Itália‘ contra Botrytis cinérea. Summa Phytopathol.,
Botucatu, v. 33, n. 3, p. 215-221, 2007

CARRE-MISSIO, V.; ZAMBOLIN, L.; REZENDE, D. C.; RODRIGUES, F. A.; COSTA, H.


Efeito protetor de silicato de potassio, acibenzolar-s-metil e fungicidas no controle da mancha de
Pestalotia (Pestalotia longisetula) do morangueiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FITOPATOLOGIA, 39., 2006, Salvador. Anais... Brasilia: sociedade Brasileira de Fitopatologia,
2006. v. 31, p. 270-270.

DANNER, M. A.; SASSO, S. A. Z.; MEDEIROS, J. G. S.; MARCHESE, J. A.; MAZARO, Sergio
Miguel. Inducao de resistencia a podridao-parda em pêssegos pelo uso de eliciadores em pos-
colheita. Pesquisa Agropecuaria Brasileira v. 43, n. 7, p. 793 799, 2008.

DANTAS, S. A. F. et al. Indutores de resistência na proteção do mamão contra podridões pós-


colheita. Summa Phytopathologica, Jaguariúna, v.30, p.305-309, 2004.

DIAS, G. B.; RANGEL, T. B. A. Inducao de resistencia em plantas: o papel do oxido nitrico.


Revista Capixaba de Ciencia e Tecnologia, n. 3, p. 1-8, 2007.

DURRANT, W.E.; DONG, X. Systemic Acquired Resistance. Annual Review of Phytopathology, v.


42, p. 185-209, 2004. PEGAR NA UFERSA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 987


EL-GHAOUTH, A.; WILSON, C. L.; WISNIEWSKI, M. Control of postharvest decay of apple
fruit with Candida saitoana and induction of defense responses. Phytopathology. Sant Paul, v.93,
p.344-348, 2003.

FELIPINI, R. B.; DI PIERO, R. M.. Redução da severidade da podridão‑amarga de maçã em


pós‑colheita pela imersão de frutos em quitosana. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.44, n.12,
p.1591-1597, dez. 2009

HAHN, M. G. Microbial elicitors and their receptors in plants. Annual Review of Phytopathology, v.
34, p. 387-412, 1996.

MAZARO, S. M. Inducao de resistencia a doencas em morangueiro pelo uso de elicitores. 2007.


105p. Tese (Doutorado em agronomia) - Universidade Federal do Parana, Curitiba, 2007.

MOURA, M. D. DA C. S.; PEIXOTO, A. R.; SOUZA, E. M.; MARTINS, R. DOS S.;


CAVALCANTI, L. S. Potencial de produtos bióticos e abióticos como indutores de resistência
no controle de podridões Pós-colheita em manga, no submédio são francisco. Revista Caatinga,
Mossoró, v. 25, n. 2, p. 44-49 mar.-jun., 2012

NASCIMENTO, L. C.; NERY, A. R.; RODRIGUES, L. N. Controle alternativo de Colletotrichum


gloeosporioides em mamoeiro. Acta Sci. Agron. Maringá, v. 30, n. 3, p. 313-319, 2008

OLIVEIRA, S. M. A.; DANTAS, S. A. F.; GURGEL, L. M. S. Indução de resistência em doenças


pós-colheita em frutas e hortaliças. Revisão Anual de Patologia de Plantas, Passo Fundo, v.12,
p.343-371, 2004.

PESSOA, W. R. L. S.; LOPES, A. de L.; COSTA, V. S. O.; OLIVEIRA, S. M. A. Efeito do


tratamento hidrotérmico associado a indutores de resistência no manejo da antracnose da goiaba
em pós-colheita. Caatinga (Mossoró,Brasil), v.20, n.3, p129.135, julho/setembro 2007

RITZINGER, C.H.S.P. et al. Mamão Fitossanidade. Cruz das almas, Ba: Embrapa mandioca e
fruticultura, 2000. 91 p. (Frutas do Brasil; 11).

SANTOS, F. S.; SOUZA, P. E.; RESENDE, M. L. V.; POZZA, E. A.; MIRANDA, J. C.; RIBEIRO
JUNIOR, P. M.; MANERBA, F. C. Efeito de extratos vegetais no progresso de doencas foliares
do cafeeiro organico. Fitopatologia Brasileira, v. 32, p. 59-63, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 988


SILVA, R. F.; PASCHOLATI, S. F.; BEDENDO, I. P. Inducao de resistencia em tomateiro por
extratos aquosos de Lentinula edodes e Agaricus blazei contra Ralstonia solanacearum.
Fitopatologia Brasileira, v. 32, n. 3, p. 189-196, 2007.

SOMMER, N.F.; Postharvest handling practices and postharvest diseases of fruit. Plant disease. v.
66, p. 357-364. 1982.

TOFFANO, L.; FISCHER, I. H.; BLUMER, S.; PASCHOLATI, S. F. Potencial do flavedo


(epicarpo) de Citrus aurantifolia cv. Tahiti no controle do bolor verde e da antracnose em citros.
Summa Phytopathol., Botucatu, v. 38, n. 1, p. 61-66, 2012

TUBAJIKA, K. M.; CIVEROLO, E. L.; PUTERKA, G. J.; HASHIM, J. M.; LUVISI, D. A. The
effects of kaolin, harpin, and imidacloprid on development of Pierce‘s disease in grape. Crop
Protection, v. 26, n. 2, p. 92-99, 2007. PEGAR NA UFERSA

YESIL-CELIKTAS, O.; NARTOPB, P.; GURELB, A.; BEDIRB, E.; VARDAR-SUKANB, F.


Determination of phenolic content and antioxidant activity of extracts obtained from Rosmarinus
officinalis‘ calli. Journal of Plant Physiology, v. 164, n. 11, p. 1536-1542, 2007. PEGAR NA
UFERSA

ZHANG, Z.; WANG, Y.; LI, J.; JI, R.; SHEN, G.; WANG, S.; ZHOU, X.; ZHENG, X. The role of
SA in the hypersensitive response and systemic acquired resistance induced by elicitor PB90
from Phytophthora boehmeriae. Physiological and Molecular Plant Pathology, v. 65, n. 1, p. 31-
38, 2004. PEGAR NA UFERSA

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 989


EFEITO DO SUBSTRATO NA GERMINAÇÃO DAS SEMENTES DE PITOMBA Talisia
esculenta (A.St.-Hil.) Radlk.

Aline B. Ribeiro dos SANTOS


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas UFRN
balineribeiro.22@gmail.com
Maria Da Guia Lima da SILVA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas UFRN
m.daguia.show@gmail.com
Magdi Ahmed Ibrahim ALOUFA
Dr. Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia UFRN
magdialoufal@gmail.com

RESUMO
A Talisia esculenta (A.St.-Hil.)Radlk., pertencente à família da Sapindaceae é originária do Brasil.
A árvore dessa espécie, popularmente conhecida como pitombeira, apresenta porte lenhoso, com
altura entre seis e doze metros e tronco entre 30 e 40 cm de diâmetro. A pitombeira tem preferência
por solos férteis, bem adubados e irrigados periodicamente. O estudo foi realizado na casa de
vegetação do Laboratório de Biotecnologia de Conservação de Espécies Nativas da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Os substratos utilizados foram: Húmus; areia barrada; areia e
vermiculita respectivamente T1, T2, T3 e T4. A análise estatística dos dados foi feita por
delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições de
25 sementes, totalizando 100 sementes por cada tratamento. Os parâmetros analisados foram
porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência e tempo médio de germinação,
comparado pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Com relação à taxa de germinação, a
porcentagem de emergência, o tratamento T4 (62%) apresentou o melhor resultado seguido de T3
(50%). Em relação ao índice de velocidade de emergência o substrato areia e vermiculita,
apresentaram maior velocidade de germinação. E para tempo médio de germinação os tratamentos
foram estatisticamente iguais, entretanto a vermiculita registrou o menor valor (8 dias), diminuindo
o tempo médio de germinação das sementes. De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que
o substrato analisado influencia na germinação da pitomba. No entanto, para teste de germinação,
sugere-se utilizar a vermiculita para otimizar a emergência e produção de plântulas dessa espécie
como fonte de explantes para trabalhos de micropropagação.
Palavras-chave: Plântulas; Teste de germinação; Cultura de tecidos.

ABSTRACT
The Talisia esculenta (A.St.-Hil.) Radlk. belonging to the Sapindaceae family is originally from
Brazil. The tree of this species, popularly known as pitombeira presents woody size, with height
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 990
between six and twelve meters and trunk between 30 and 40 cm in diameter. The pitombeira prefers
fertile soil, well fertilized and watered regularly. The study was conducted in the greenhouse of the
Biotechnology Laboratory for Conservation of Native Species Federal Rio Grande do Norte
University(LABCEN). The substrates used were: Humus; Barred sand; sand and vermiculite
respectively T1, T2, T3 and T4. Statistical analysis of data was done by completely randomized
design with four treatments and four replications of 25 seeds, totaling 100 seeds per treatment. The
parameters analyzed were the percentage of emergence, speed of emergence and mean germination
time compared by Tukey test at 5% of probability. Respecting the rate of germination, emergence
percentage, the treatment T4 (62%) showed the best results followed by T3 (50%). Regarding the
speed of emergence index, sand and vermiculite substrate showed higher germination rate. For
average time of germination, treatments were statistically equal, however vermiculite recorded the
lowest value (8 days), decreasing the average time of germination. According to the results, we
found out that the substrate influences pitomba in germination. However, for the germination test,
we suggeste the using of vermiculite to optimize production and seedling emergence of this species
as a source of explants for micropropagation research.
Keywords: Seedlings; Germination test; Tissue culture.

INTRODUÇÃO

A Talisia esculenta (A.St.-Hil.) Radlk., pertencente à família da Sapindaceae é originária do


Brasil (GUARIM NETO, 1996). A árvore dessa espécie, popularmente conhecida como pitombeira,
apresenta porte lenhoso, com altura entre seis e doze metros e tronco entre 30 e 40 cm de diâmetro.
A espécie é encontrada no interior da mata densa primária e também em formações secundárias,
mas sempre em várzeas aluviais e fundos de vales (LORENZI, 2000). Seu fruto é uma drupa
pequena, globosa, glabra, de casca amarelo acinzentada, dura e quebradiça, caroço grande e
oblongo, coberto de arilo branco, agridoce (GOMES, 2007).
Sua propagação é por via sexuada, através de sementes, as quais apresentam curta
longevidade, sendo necessária a semeadura logo após a extração dos frutos; é também considerada
recalcitrante, ou seja, a redução da umidade pode ocasionar danos, prejudicando sua viabilidade e
vigor, resultando até em sua morte (LORENZI, 2002).
A pitombeira tem preferência por solos férteis, bem adubados e irrigados periodicamente.
Deve ser cultivado a pleno sol, para melhor frutificação. A comercialização da pitomba é realizada
nas feiras livres, nos mercados nordestinos e nas festas populares (SOUTO FILHO, 1974).
A espécie tem grande valor ecológico e econômico, sendo os frutos e produtos derivados
muitos utilizados na culinária regional e indicada para o plantio em áreas degradadas, cuja madeira

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 991


é empregada para obras internas na construção civil (LORENZI, 2002). Apesar de sua grande
importância essa espécie é pouco estudada, existem poucas informações disponíveis na literatura
sobre sua germinação. Entretanto há a necessidade de se obter informações básicas sobre a
germinação, o cultivo e a potencialidade das espécies nativas, visando sua utilização para os mais
diversos fins (ARAÚJO NETO et al., 2003; ALVES et al., 2004; SMIDERLE; SOUSA, 2003).
O substrato influencia diretamente a germinação, em função de sua estrutura, aeração,
capacidade de retenção de água, propensão à infestação por patógenos, dentre outros, podendo
favorecer ou prejudicar a germinação das sementes. Constitui o suporte físico no qual a semente é
colocada e tem a função de manter as condições adequadas para a germinação e o desenvolvimento
das plântulas. Portanto, o tipo de substrato utilizado deve ser adequado às exigências fisiológicas de
germinação, tamanho e forma da semente (BRASIL, 2009), pois ele tem a função de suprir as
sementes de umidade e proporcionar condições adequadas à germinação delas e ao posterior
desenvolvimento das plântulas (FIGLIOLIA et al., 1993).
Diante desse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo testar o efeito de diferentes
substratos na germinação da pitomba com finalidade para obtenção de explantes para
micropropagação da espécie.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido em casa de vegetação do Laboratório de Biotecnologia de
Conservação de Espécies Nativas (LABCEN), do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia,
Centro de Biociências, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, situada a 5o 50‘ 31'‘
latitude sul e 35º 12‘ 7‘‘ longitude Oeste, e altitude média de 50 m, no período de julho a setembro
2014.
Os frutos maduros foram obtidos de árvore-matriz localizada no município de Macaíba do
Rio Grande do Norte, em junho de 2014. Os frutos foram despolpados manualmente logo após a
secagem das sementes foram selecionados aqueles visualmente sadios. As sementes não passaram
por tratamentos pré-germinativos.
A semeadura foi realizada no dia 09 de julho de 2014 em bandejas de isopor, com 100
células, e colocadas em casa vegetação, coberta com telado (50% de sombreamento). As sementes
permaneceram durante 30 dias em regime de rega diária. Os substratos utilizados foram: T1-
húmus; T2- areia barrada e T3- areia e T4 vermiculita (Figura 1). A temperatura média diária foi de
25ºC, média das máximas de 29o C e médias das mínimas de 23º C. A média diária de umidade
relativa do ar foi de 76 %.
A análise estatística dos dados foi feita por delineamento experimental inteiramente
casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições de 25 sementes, totalizando 100 sementes
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 992
por cada tratamento. Os parâmetros avaliados foram: porcentagem de emergência (%); Para a
avaliação da emergência total de plântulas em porcentagem, índice de velocidade de emergência
(IVE) e o tempo médio de germinação (TMG), foram feitas observações diárias durante trinta dias,
iniciando-se a partir do 25º dia após a semeadura, quando da emergência do hipocótilo sobre o
substrato.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, empregando-se o teste F a 5% e
para o contraste das médias utilizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade, pelo programa
ASSISTAT versão 7.6 beta.

RESULTADO E DISCUSSÃO
A germinação das sementes se iniciou aos 25 dias sendo acompanhados até os 55 dias após a
semeadura. Com relação à taxa de germinação, observa-se na tabela 1 que os substratos: húmus
(4%), areia barrada (39%), areia (50%) e vermiculita (62%), houve diferença significativa quando
compararam os substratos, constatado que na areia e na vermiculita proporcionaram as sementes
taxa elevadas de germinação (variando entre 50 e 62%). Também foi constatado que no substrato
húmus apresentou a menor porcentagem de germinação.
O substrato vermiculita, apresentou maior taxa de germinação, embora não tenha diferido
significativamente em relação à areia. A vermiculita é um substrato comumente utilizado para a
produção de mudas de espécies florestais e também poderia ser utilizada nos laboratórios de análise
de sementes para instalação do teste de germinação, por apresentar vantagens como: fácil obtenção,
viabilidade econômica, uniformidade na composição química e granulométrica, porosidade,
capacidade de retenção de água e baixa densidade (FIGLIOLIA; OLIVEIRA; PIÑA RODRIGUES,
1993; MARTINS; BOVI; SPIERING, 2009).
Em relação ao índice de velocidade de emergência (IVE) (tabela 1), as combinações ideais
testadas, os substratos vermiculita (3,9) e areia (2,3) proporcionaram às sementes índices maiores de
velocidade de germinação seguidos pelo areia barrada (1,1) e húmus (0,07).
Os tempos médios de germinação (TMG) (Tabela 1) observou-se que não houve diferença
significativa entre os substratos T1 (8,2 dias), T2 (16,7 dias) T3 (11dias) e T4 (8 dias). Os
resultados indicam que mesmo os substratos não tendo diferido entre si, a mistura da vermiculita
diminuiu o tempo de germinação das sementes, aumentando sua uniformidade. Quanto menor o
tempo médio mais vigorosa a amostra (RODRIGUES et al., 2007).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 993


Substrato Emergência (%) IVE (dias -1) TMG (dias)
Húmus 4a 0,07 a 8,2 a
Areia Barrada 39 a 1,10 a 16,77 a
Areia 50 a 2,38 a 11 a
Vermiculita 62 a 3,99 a 8a

CV (%) 30,50 68,17 49,79


* Dados seguidos de mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente ao nível de 5% de significância pelo
teste Tukey.
Tabela 1. Valores médios para porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência e tempo
médio de germinação de sementes de Talisia esculenta (A.St.-Hil) Radlk., submetidas a diferentes
substratos, Natal/RN, 2014.

Figura 1: Germinação de sementes da pitomba nos substratos: Húmus; Areia Barrada; Areia; Vermiculita,
respectivamente.

Os resultados para este trabalho vão de acordo com Coelho et al. (2010) em estudos com
sementes de M. pubescens St. Hil., em que o substrato terra-preta + vermiculita proporcionou
97,5% de emergência, embora não tenha diferido significativamente dos substratos terra preta
(77,5%), vermiculita (85%) e terra preta + areia (87,5%), enquanto a areia foi o pior substrato com
70% de emergência.
Pudemos observar neste trabalho coincidência com os estudos de Ochroma pyramidale
(Cav. ex Lam.) Urb., o menor tempo médio foi verificado no substrato vermiculita, segundo Alvino;
Rayol (2007), apresentando diferenças significativas em relação aos demais tratamentos, revelando
existir uma distribuição extensa da germinação no tempo e no espaço.
Quanto ao índice de velocidade de emergência neste trabalho ocorreu algo similar ao
observado por Coelho et al., (2010) em estudos com sementes de M. pubescens St. Hil., em que os
substratos areia, terra-preta e terra-preta + areia se destacaram. Certamente houve diferença na

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 994


velocidade de embebição das sementes entre os substratos influenciando a velocidade de
emergência.

CONCLUSÃO

Diante das avaliações realizadas, constatou-se que os substratos analisados não influenciam
na germinação de Talisia esculenta (A.St.-Hil) Radlk. No entanto, para teste de germinação dessa
espécie, sugere-se utilizar a vermiculita para otimizar a emergência e produção de plântulas como
fonte de explantes para trabalhos de micropropagação.

REFERÊNCIAS

ALVES, A.U., DORNELAS, C.S.M., BRUNO, R.L.A, ANDRADE, L.A. & ALVES, E.U.
Superação da dormência em sementes de Bauhinia divaricata L. Acta Botanica Brasilica, v.18,
p.871-879. 2004.

ALVINO, F. O.; RAYOL, B. P. Efeito de diferentes substratos na germinação de Ochroma


pyramidale (Cav. ex Lam.) Urb. (Bombacaceae). Ciência Florestal, Santa Maria, v. 17, n. 1, p.
71-75, 2007.

ARAÚJO NETO, J.C., AGUIAR, I.B. & FERREIRA, V.M. Efeito da temperatura e da luz na
germinação de sementes de Acacia polyphylla DC. Revista Brasileira de Botânica, v.26, p.249-
256, 2003.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária.


Regras para análise de sementes. Brasília, 2009. 399 p.

COELHO, M. F. B.; FILHO, J. C. S.; AZEVEDO, R. A. B.; DOMBROSKI, J. L. D.; MAIA, S. S.


S. Substrato para a emergência de plântulas de Magonia pubescens St. Hil. Revista Brasileira de
Ciências Agrárias, Recife, PE, v.5, n.1, p.80-84, 2010.

FIGLIOLIA, M. B.; OLIVEIRA, E. C.; PIÑA RODRIGUES, F. C. M. Análise de sementes. In:


AGUIAR, I. B.; PIÑA RODRIGUES, F. C. M.; FIGLIOLIA, M. B. (Ed.). Sementes florestais
tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p. 137-174.

GOMES, P. Fruticultura Brasileira, São Paulo: Nobel, 13. ed, 2007, 446 p.

GONÇALVES, A.L. Substratos para produção de mudas de plantasornamentais. In: MINAMI, K.


(Org.)Produção de mudas de alta qualidade em horticultura. São Paulo:Queiroz, T.A., 1995,
p.107-116.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 995


GUARIM NETO, G. Plantas medicinais do Estado de Mato Grosso. Brasília: Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior, 1996. 72 p.

LORENZI, H.. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas
do Brasil. Plantarum, 3.ed. São Paulo. 2000.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do


Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.

MARTINS, C. C.; BOVI, M. L. A.; SPIERING, S. H. Umedecimento do substrato na emergência e


vigor de plântulas de pupunheira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 31, n. 1, p.
224-230, 2009.

SMIDERLE, O.J. & SOUSA, R.C.P. Dormência em sementes de paricarana (Bowdichia


virgilioides Kunth - Fabaceae - Papilionidae). Revista Brasileira de Sementes, v.25, p.48-52,
2003.

SOUTO FILHO. Pitombeira: cultivo desorganizado. Recife: CEASA, 1974.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 996


RESPOSTAS MORFOFISIOLÓGICAS DAS PLANTAS AO DEFICIT HÍDRICO

Michael Willian Rocha de SOUZA


Graduando em Agronomia - UFVJM
michaelwillianrocha@gmail.com

Inaê Mariê de Araújo SILVA


Doutoranda em Ciência Florestal - UnB
inaemarie@hotmail.com

Marcelo Luiz de LAIA


Prof. Dr. Departamento de Eng. Florestal - UFVJM
marcelolaia@gmail.com

RESUMO
A produtividade das culturas varia consideravelmente e vários são os fatores que contribuem para
isso, com destaque para água, considerada o recurso mais limitante para a produtividade agrícola
mundial. A água, por desempenhar diversas funções com grande significância fisiológica na planta,
quando pouco disponível ou ausente, provoca danos drásticos no metabolismo do vegetal, incluindo
mudanças morfológicas (altura, diâmetro basal, biomassa total, área foliar, razão entre raiz e parte
aérea, razão entre área foliar e caule) e fisiológicas (eficiência no uso da água, potencial osmótico,
condutância estomática, taxa de crescimento, transpiração, fotossíntese, potencial hídrico foliar),
que variam em função da intensidade e duração do deficit, da espécie, do genótipo e do estádio de
desenvolvimento da planta. A compreensão de como o estresse hídrico influencia o comportamento
morfofisiológico dos vegetais é de grande relevância para garantir a expansão das diferentes
culturas agrícolas e florestais sob condições hídricas limitantes, favorecendo a seleção e o
desenvolvimento de materiais genéticos mais tolerantes a períodos prolongados de deficit hídrico.
Palavras-chaves: Falta d‘água, vegetais, morfofisiologia.

ABSTRACT
The crop yield varies considerably and there are several factors that contribute to it, especially
water, considered the most limiting resource for world agricultural productivity. Water, that
performing various important physiological significance functions in the plant, when little available
or absent, causes drastic damage in the plant metabolism, including morphological alterations
(height, basal diameter, total biomass, leaf area, roots and shoots ratio, leaf area and stem ratio) and
physiological adaptations (water use efficiency, osmotic potential, stomatal conductance, growth
rate, transpiration, photosynthesis, leaf water potential), which vary depending on the deficit
intensity and duration, plant species, genotype and developmental stage. Understanding how water
stress influences the morphophysiological behavior of vegetables is extremely important to ensure

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 997


the expansion of different agricultural and forestry crops under water-limiting conditions,
promoting the selection and development of more tolerant plant genotype to prolonged drought
periods.
Keywords: Water shortage, water scarcity , vegetables, morphophysiology.

INTRODUÇÃO

A produtividade das culturas varia consideravelmente e vários são os fatores que contribuem
para isso, entre eles, radiação solar, disponibilidade de água, temperatura e umidade do ar
(PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2002). Dentre esses fatores, a disponibilidade de água
merece destaque, uma vez que todos os processos fisiológicos das células vegetais são direta ou
indiretamente afetados pelo fornecimento de água, sendo considerada o principal constituinte dos
vegetais e o recurso mais limitante para a produtividade agrícola (TAIZ; ZAIGER, 2009). Logo,
uma pequena diminuição na disponibilidade de água no solo pode causar danos drásticos no
metabolismo da planta (HSIAO; ACEVEDO, 1974; LARCHER, 2006; TAIZ; ZAIGER, 2009),
afetando negativamente o seu crescimento, desenvolvimento e produtividade (SINCLAIR;
LUDLOW, 1986; SANTOS; CARLESSO, 1998; CHAVES; FLEXAS; PINHEIRO, 2009).
A água desempenha diversas funções com grande significância fisiológica na planta, como
por exemplo, afeta a viscosidade e a permeabilidade do protoplasma e a atividade das enzimas
envolvidas; afeta a divisão e o crescimento (expansão) celular; é reagente e produto da atividade
fotossintética; é fonte de elétrons, após a ativação da clorofila pela luz para produzir energia
química; é reagente básico nas reações de hidrólise e de ionização; é produto final da atividade
respiratória; é meio de transporte de solutos e gases; influi na turgescência; participa nos processos
de abertura e fechamento dos estômatos; atua na termorregulação e afeta a translocação de
assimilados (KRAMER; BOYER, 1995; CASTRO; KLUGE; PERES, 2005; MARENCO; LOPES,
2005; KERBAUY, 2008; TAIZ; ZAIGER, 2009; VIEIRA et al., 2010).
Na maioria das culturas, as respostas ao deficit hídrico são altamente complexas, dependem
da intensidade e duração do deficit, da espécie, do genótipo e do estádio de desenvolvimento da
planta (SANTOS; CARLESSO, 1998; PIMENTEL, 2004; RODRIGO, 2007; TAIZ; ZEIGER,
2009) e abrangem vários aspectos, incluindo mudanças morfológicas (altura, diâmetro basal,
biomassa total, área foliar, razão entre raiz e parte aérea, razão entre área foliar e caule e densidade
da área foliar) e mudanças fisiológicas (eficiência no uso da água, potencial osmótico, condutância
estomática, taxa de crescimento, transpiração, fotossíntese, potencial hídrico foliar) (LI; WANG,
2003; MERCHANT et al., 2007; COOPMAN et al., 2008; PEREIRA et al., 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 998


Sendo assim, compreender como o estresse hídrico influencia o comportamento
morfofisiológico dos vegetais é de grande relevância para garantir a expansão das culturas agrícolas
e florestais com menores riscos, favorecendo a seleção e o desenvolvimento de material genético
capaz de se estabelecer e de se desenvolver em condições de deficiência hídrica no solo.
Dentro dessa conjuntura, objetivou-se realizar uma revisão bibliográfica sobre as diferentes
respostas morfofisiológicas dos vegetais às condições hídricas limitantes.

RESPOSTAS MORFOFISIOLÓGICAS AO DEFICIT HÍDRICO

Segundo Taiz e Zeiger (2009), o deficit hídrico pode ser definido como todo o conteúdo de
água de um tecido ou célula que está abaixo do conteúdo de água mais alto exibido no estado de
maior hidratação. O seu efeito sobre o vegetal é muito variado e depende do genótipo, da duração,
da intensidade e do estádio de desenvolvimento da planta (KRAMER; BOYER, 1995; BRAY,
1997; SANTOS; CARLESSO, 1998; PIMENTEL, 2004; RODRIGO, 2007; TAIZ; ZEIGER, 2009).
Três mecanismos podem auxiliar a planta a resistir à deficiência hídrica: 1) retardo da
desidratação (adiamento da diminuição dos valores de potencial hídrico do protoplasma), o que
pode ser conseguido através do aperfeiçoamento da absorção de água (sistemas radiculares
dispersos e profundos) e da capacidade de condução de água (alargamento da área do sistema
vascular e redução da distância de transporte), pela redução da perda de água (folhas cutinizadas,
adequado controle estomático da transpiração) e pelo armazenamento de água (suculência); 2)
tolerância à desidratação (capacidade de manter suas funções mesmo sob potenciais hídricos
baixos), nesse caso específico, a planta depende fortemente de sua capacidade de ajuste osmótico
(mecanismo que facilita um gradiente osmótico favorável para manutenção do turgor da célula por
meio do acúmulo de solutos) (KOPPENAAL et al., 1991), associada a alterações na elasticidade da
parede celular e 3) escape à seca, que engloba espécies que programam o crescimento e reprodução,
de maneira que ambos ocorram em períodos com suficiente disponibilidade de água (LARCHER,
2006; TAIZ; ZEIGER, 2009).
Quando o deficit hídrico apresenta evolução lenta, o seu primeiro efeito biofísico
significante consiste na redução da turgescência celular, caracterizada pela diminuição do volume
celular, contração das células, afrouxamento das suas paredes e o consequente murchamento foliar.
Esse primeiro efeito compromete o crescimento da planta, uma vez que a diminuição do turgor afeta
diretamente a expansão foliar e alongamento das raízes e controla a abertura estomática necessária
para o influxo de CO2, requerido no processo fotossintético e no crescimento (GHOLZ, 1990;
LARCHER, 2006; TAIZ; ZEIGER, 2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 999


A redução da área foliar, por sua vez, diminui a transpiração, conservando um suprimento de
água limitado no solo por um período mais longo. Em contrapartida, há uma redução da
fotossíntese, já que a mesma é proporcional à área foliar. Quando comparado com a expansão foliar,
o crescimento do caule tem sido menos estudado, mas é bem provável que ele seja afetado pelas
mesmas forças que limitam o crescimento das folhas durante o estresse (TAIZ; ZEIGER, 2009).
Já o deficit hídrico moderado também afeta o desenvolvimento do sistema radicular. A razão
da biomassa de raízes para a parte aérea parece ser influenciada por um balanço funcional entre
absorção de água, pelas raízes, e fotossíntese, pela parte aérea, sendo este balanço funcional
modificado caso o suprimento hídrico decresça (TAIZ; ZEIGER, 2009). Reduções da expansão
foliar, altura e diâmetro, assim como modificações na relação raiz/parte aérea, com consequente
diminuição da biomassa total da planta, têm sido relatadas em diferentes espécies vegetais
submetidas a deficit hídrico (LI et al., 2000; LI; WANG, 2003; PEREIRA et al., 2006; PEREIRA et
al., 2010; SANTOS et al., 2012; FRAGA JÚNIOR et al., 2012; BRITO et al. 2013).
A água está intimamente ligada às trocas gasosas, tanto nos processos fotossintéticos, quanto
na própria regulação estomática. A condutância estomática caracteriza-se como o principal
mecanismo de controle das trocas gasosas nas plantas superiores. Por meio dos estômatos ocorre o
influxo de CO2, necessário ao processo fotossintético e ao crescimento, e o efluxo de água, por
meio da transpiração (LARCHER, 2006; TAIZ; ZEIGER, 2009;). Sob condições de baixa
disponibilidade de água, a redução da condutância estomática constitui uma das estratégias mais
comumente utilizada pelas plantas para manter a turgescência e para diminuir a taxa de transpiração
(HSIAO, 1973; REIS; REIS, 1997). Essa redução, embora represente uma vantagem imediata para
prevenir a desidratação dos tecidos, pode afetar diretamente o balanço de calor sensível sobre o
vegetal, aumentando a temperatura foliar, e a absorção de CO2, podendo levar à paralisação de
crescimento das plantas e à perda de produtividade (BRUNINI; CARDOSO, 1998; PIMENTEL,
2004; SOUZA, et al. 2004; LIBERATO et al., 2006).
Dessa maneira, o movimento estomático desempenha um papel crucial no controle do
equilíbrio entre a conservação da água pela planta e a taxa de assimilação de CO2 para produção de
carboidratos. Portanto, a compreensão de seu funcionamento pode ter um importante significado
prático (LIMA, 1996). Além da disponibilidade de água, a luz, umidade do ar, concentração de gás
carbônico, potencial hídrico foliar, temperatura, vento e hormônios influem, significativamente, na
condutância estomática (REICHARDT, 1985; MARENCO; LOPES, 2005; LARCHER, 2006;
KERBAUY, 2008; TAIZ; ZEIGER, 2009).
A transpiração pode ser considerada o processo mais dominante na relação água-planta,
exercendo uma importância crucial no balanço hídrico do vegetal, uma vez que é responsável pela

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1000


liberação de um grande volume de água, em torno de 95% de toda a água absorvida pela planta, o
que ocorre, principalmente, através dos estômatos (KRAMER; BOYER, 1995; KERBAUY, 2008).
A redução da transpiração é considerada um mecanismo que ajuda a diminuir o consumo de água
pelos vegetais (LARCHER, 2006). Segundo Pereira et al. (2006), sob condições idênticas,
diferenças na taxa de transpiração podem ser um indicativo de uma maior ou menor eficiência do
mecanismo estomático, implicando na economia de água pela planta.
A fotossíntese, por sua vez, é muito sensível à disponibilidade hídrica. O estresse hídrico
pode ocasionar redução da atividade fotossintética, tanto pelo fechamento dos estômatos, o que gera
decréscimos na assimilação de CO2 e suprime a formação e expansão foliar (TAIZ, ZEIGER,
2009), quanto por danos nos cloroplastos. Em condições de baixa disponibilidade hídrica, o controle
estomático tem sido apontado como principal limitante da fotossíntese (CHAVES, 1991; CORNIC,
2000; GRASSI; MAGNANI, 2005; PEEVA; CORNIC, 2009; TAIZ; ZEIGER, 2009; KEENAN;
SABATE; GRACIA, 2010).
Além dos efeitos estomáticos, o estresse hídrico afeta o processo fotossintético,
principalmente sob condições severas de deficit. Isso se dá mediante ajustes internos não-
estomáticos, os quais estão relacionados às perturbações nos processos fotoquímicos, com a redução
da capacidade fotossintética do Fotossistema II (FSII), mediante alterações no teor de clorofila e
redução no transporte de elétrons, que, por sua vez, afeta a formação de ATP e NADPH, e nos
processos bioquímicos, com a redução na eficiência carboxilativa e, ou, na quantidade e atividade
da RUBISCO e de outras enzimas do metabolismo fotossintético (FLEXA; MEDRANO, 2002;
CHAVES; MAROCO; PEREIRA, 2003; FLEXAS et al., 2004; CHAVES; FLEXAS; PINHEIRO,
2009; PINHEIRO; CHAVES, 2011). Nesse contexto, o teor de clorofila e a fluorescência da
clorofila a são importantes variáveis na identificação de danos causados por estresse hídrico, em
nível de cloroplastos.
Os pigmentos fotossintéticos estão estreitamente relacionados com estresses ambientais
(CARTER; KNAPP, 2001; XUE et al., 2011) e, estes estresses, estão associados, tipicamente, com
degradação de clorofilas e declínio na capacidade fotossintética (MARENCO; LOPES, 2005;
HATFIELD et al., 2008). Redução no teor de clorofila tem sido considerado uma reação comum a
deficit hídrico (GRZESIAK et al., 2007; EBRAHIMIYAN et al., 2013; HUANG et al., 2013),
assim como uma limitação direta ao processo fotossintético e, portanto, a produção primária da
planta (HUANG et al., 2013).
Já o estudo da fluorescência da clorofila a pode fornecer informações sobre alterações no
aparelho fotossintético em condições estressantes, permitindo analisar qualitativa e
quantitativamente a absorção e aproveitamento da energia luminosa através do FSII e possíveis

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1001


relações com a capacidade fotossintética (FARQUHAR; SHARKEY, 1982; PERCIVAL;
SHERIFFS, 2002; NETTO et al., 2005; RONG-HUA et al., 2006). A emissão da fluorescência
representa a quantidade de energia luminosa não utilizada pelo aparelho fotossintético e segundo
Krause e Weis (1991), modificações nos padrões de emissão significam presença de lesões no
aparelho fotossintético da planta. O principal parâmetro utilizado na avaliação dessas lesões ao
sistema fotossintético é a relação entre a fluorescência variável e a fluorescência máxima (Fv/Fm)
que é uma medida da eficiência intrínseca ou máxima do FSII, ou seja, a eficiência quântica de
todos os centros do FSII quando estão abertos. Valores entre 0,75 e 0,85 indicam que a planta
apresenta seu aparato fotossintético em perfeito estado. Mas, o declínio dessa relação é um
excelente indicador de dano fotoinibitório quando as plantas estão sujeitas a estresses ambientais,
incluindo o hídrico (BJÖRKMAN; POWLES, 1984; BOLHÀR-NORDENKAMPF et al., 1989).
Outra variável fisiológica importante a ser considerada em estudos das respostas das plantas
à disponibilidade hídrica é a eficiência no uso da água (EUA), denominada como a capacidade da
planta de limitar a perda de água e, ao mesmo tempo permitir absorção suficiente de CO2, expressa
pela razão entre a taxa fotossintética e a taxa de transpiração (KERBAUY, 2008). Segundo Larcher
(2006), a eficiência no uso da água é um parâmetro fisiológico que expressa quantitativamente o
comportamento momentâneo das trocas gasosas na folha, variando entre e dentro das espécies
vegetais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estresses abióticos, como o hídrico, reduzem significativamente a produtividade de


diferentes culturas ao redor do mundo, configurando-se como uma problemática não somente de
ordem agronômica, mas também de grande impacto no cenário socioeconômico. Logo, a melhor
compreensão das diferentes respostas metabólicas dos vegetais (crescimento, desenvolvimento e
produtividade) à falta d‘água é de considerável significância para a elaboração de estratégias que
minimizem os efeitos desse estresse, possibilitando a seleção e o desenvolvimento de materiais
genéticos mais tolerantes a períodos prolongados de deficit hídrico, bem como genótipos aptos a
serem cultivados em regiões mais áridas durante todo o ano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BJÖRKMAN, O.; POWLES, S. B. Inhibition of photosynthetic reactions under water stress:


interaction with light level. Planta, v.161, p.490-504, 1984.

BOLHÀR-NORDENKAMPF, H. R.; LONG, S. P.; BAKER, N. R.; ÖQUIST, G.; SCHREIDER,


U.; LECHNER E. G. Chlorophyll fluorescence as a probe of the photosynthetic competence of
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1002
leaves in the field: a review of current instrumentation. Functional Ecology, v.3, n.4, p.497-514,
1989.

BRAY, E. A. Plant responses to water deficit. Trends in Plant Science, v.2, n.2, p.48-54, 1997.

BRITO, M.E.B.; FILHO, G.D. de A.; WANDERLEY, J.A.C.; MELO, A.S. de.; COSTA, F.B. da;
FERREIRA, M.G.P. Crescimento, fisiologia e produção do milho doce sob estresse hídrico.
Bioscience Journal, v.29, n.5, p.1244-1254, 2013.

BRUNINI, O.; CARDOSO, M. Efeito do deficit hídrico do solo sobre o comportamento estomático
e potencial da água em mudas de seringueira. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.33, n.7,
p.1053-1060, 1998.

CARTER, G. A.; KNAPP, A. K. Leaf optical properties in higher plants: linking spectral
characteristics to stress and chlorophyll concentration. American Journal of Botany, v.88, p.
677-684, 2001.

CASTRO, P. R. C.; KLUGE, R.A.; PERES, L.E.P. Manual de Fisiologia Vegetal: teoria e prática.
Piracicaba: Editora Agronômica Ceres, 2005. v.1. 640 p.

CHAVES, M. M. Effects of water deficits on carbon assimilation. Journal of Experimental Botany,


v.42, n.1, p.1-16. 1991.

CHAVES, M. M.; FLEXAS, J.; PINHEIRO, C. Photosynthesis under drought and salt stress:
regulation mechanisms from whole plant to cell. Annals of Botany, v.103, n.4, p.551–560, 2009.

CHAVES, M. M.; MAROCO, J.; PEREIRA, J.S. Understanding plant response to drought-from
genes to the whole plant. Functional Plant Biology, v.30, p.239–264, 2003.

COOPMAN, R. E.; JARA, J. C.; BRAVO, L. A.; SÁEZ, K. L.; MELLA, G. R.; ESCOBAR, R.
Changes in morpho-physiological attributes of Eucalyptus globulus plants in response to
different drought hardening treatments. Electronic Journal of Biotechnology, v.11, n.2, p.1-10,
2008.

CORNIC, G. Drought stress inhibits photosynthesis by decreasing stomatal aperture — not by


affecting ATP synthesis. Trends in Plant Science, v.5, p.187-188, 2000.

EBRAHIMIYAN, M.; MAJIDI, M. M.; MIRLOHI, A.; NOROOZI, A. Physiological traits related
to drought tolerance in tall fescue. Euphytica, v.190, p.401–414, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1003


FARQUHAR, G. D.; SHARKEY, T. D. Stomatal conductance and photosynthesis. Annual Review
of Plant Physiology, v.33, p.317-345, 1982.

FLEXAS, J.; BOTA, J.; LORETO, F.; CORNIC, G.; SHARKEY, T. D. Diffusive and metabolic
limitations to photosynthesis under drought and salinity in C3 plants. Plant Biology, v.6, n.3,
p.269-279, 2004.

FLEXAS, J.; MEDRANO, H. Drought-inhibition of photosynthesis in C3 plants: stomatal and non-


stomatal limitations revisited. Annals of Botany, v.89, n.2, p.183-189, 2002.

FRAGA JÚNIOR, E.F.; MAURI, R.; LEAL, D.P.V.; BARBOSA, F. da S.; VELLAME, L.M.;
COELHO, R.D. Área foliar de citrus irrigado por gotejamento sob estresse hídrico contínuo e
intermitente. Irriga, Edição Especial, p. 83 - 96, 2012.

GHOLZ, H. L.; EWEL, K. C.; TESKEY, R. O. Water and forest productivity. Forest Ecological
Management, v.30, n.1-4, p.1-18, 1990.

GRASSI, G.; MAGNANI, F. Stomatal, mesophyll conductance and biochemical limitations to


photosynthesis as affected by drought and leaf ontogeny in ash and oak trees. Plant, Cell and
Environment, v.28, n.7, p.834–849, 2005.

GRZESIAK, M. T.; RZEPKA, A.; HURA, T.; HURA, K.; SKOCZOWSKI, A. Changes in
response to drought stress of triticale and maize genotypes differing in drought tolerance.
Photosynthetica, v.45, n.2, p.280-287, 2007.

HATFIELD, J. L.; GITELSON, A. A.; SCHEPERS, J. S.; WALTHALL, C. L. Application of


spectral remote sensing for agronomic decisions. Agronomy Journal, v.100 (Supplement), n.3, p.
117-131, 2008.

HUANG, C-J.; ZHAO, S-Y.; WANG, L-C.; ANJUM, S. A.; ZHANG, B.; CHEN, M.; WANG,
L.;YANG, Y. Alteration in yield, gas exchange and chlorophyll synthesis of ramie to
progressive drought stress. Journal of Food, Agriculture & Environment, v.11, n.1, p.302-305,
2013.

HSIAO, T. C. Plant responses to water stress. Annual Review of Plant Physiology, v.24, p. 519-570,
1973.

HSIAO, T. C.; ACEVEDO, E. Plant responses to water deficits, water-use efficiency, and drought
resistance. Agricultural Meteorology, v.14, n.1-2, p.59-84, 1974.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1004


KEENAN, T.; SABATE, S.; GRACIA, C. The importance of mesophyll conductance in regulating
forest ecosystem productivity during drought periods. Global Change Biology, v.16, p.1019–
1034, 2010.

KERBAUY, G. B. Fisiologia Vegetal. 2 ed. São Paulo: GUANABARA KOOGAN, 2008. 452p.

KOPPENAAL, R. S.; TSCHAPLINSKI, T. J.; COLOMBO, S. J. Carbohydrate accumulation and


turgor maintenance in seedling shoots and roots of two boreal conifers subjected to water stress.
Canadian Journal of Botany, v.69, n.11, p.2522-2528, 1991.

KRAMER, P. J.; BOYER, J. S. Water relations of plants and soils. San Diego: Academic Press,
1995. 495p. Disponível em: <
http://dspace.udel.edu:8080/dspace/handle/19716/2830?show=full>. Acesso em: 12 dez. 2012.

KRAUSE, H.; WEIS, E. Chlorophyll fluorescence and photosynthesis: The Basics. Annual Review
of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, v.42, p.313-349, 1991.

LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. São Carlos: RIMA, 2006. 531p.

LI, C.; BERNINGER, F.; KOSKELA, J.; SONNINEN, E. Drought responses of Eucalyptus
microtheca provenances depend on seasonality of rainfall in their place of origin. Australian
Journal of Plant Physiology, v.27, n.3, p.231-238, 2000.

LI, C.; WANG, K. Differences in drought responses of three contrasting Eucalyptus microtheca F.
Muell. populations. Forest Ecology and Management, v.179, n.1-3, p.377-385, 2003.

LIBERATO, M. A. R.; GONÇALVES, J. F. C.; CHEVREUIL, L. R.; NINA JÚNIOR, A. R.;


FERNANDES, A. V.; SANTOS JÚNIOR, U. M. Leaf water potential, gas exchange and
chlorophyll a fluorescence in acariquara seedlings (Minquartia guianensis Aubl.) under water
stress and recovery. Brazilian Journal of Plant Physiology, v.18, n.2, p.315-323, 2006.

LIMA, W. P. Impacto Ambiental do Eucalipto. São Paulo: EDUSP, 1996. 301p.

MARENCO, R. A.; LOPES, N. F. Fisiologia Vegetal: Fotossíntese, Respiração, Relações Hídricas


e Nutrição Mineral. Viçosa: UFV, 2005. 451p.

MERCHANT, A.; CALLISTER, A.; ARNDT, S.; TAUSZ, M.; ADAMS, M. Contrasting
physiological responses of six Eucalyptus species to water deficit. Annals of Botany, v.100, n.7,
p.1507-1515, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1005


NETTO, A. T.; CAMPOSTRINI, E.; OLIVEIRA, G. J.; BRESSAN-SMITH, R. E. Photosynthetic
pigments, nitrogen, chlorophyll a fluorescence and SPAD-502 readings in coffee leaves. Scientia
Horticulturae, v.104, p.199-209, 2005.

PEEVA, V.; CORNIC, G. Leaf photosynthesis of Haberlea rhodopensis before and during drought.
Environmental and Experimental Botany, v.65, n.2-3, p.310-318, 2009.

PERCIVAL, G. C.; SHERIFFS, C. N. Identification of drought tolerance woody perennials using


chlorophyll fluorescence. Journal of Arboriculture, v.28, n.5, p.215-223, 2002.

PEREIRA, A. R.; ANGELOCCI, L. R.; SENTELHAS, P. C. Agrometeorologia: fundamentos e


aplicações práticas. Guaíba: Agropecuária, 2002. 478p.

PEREIRA, M. R. R.; KLAR, A. E.; SILVA, M. R.; SOUZA, R. A; FONSECA, N. R.


Comportamento fisiológico e morfológico de clones de Eucalyptus urograndis submetidos a
diferentes níveis de água no solo. Irriga, v.11, n.4, p.518-531, 2006.

PEREIRA, M. R. R.; SOUZA, G. S. F. de; RODRIGUES, A. C. P.; MELHORANÇA FILHO, A.


L.; KLAR, A. E. Growth analysis of clone eucaliptus under hydric stress. Irriga, v.15, n.1, p.98-
110, 2010.

PIMENTEL, C. A relação da planta com a água. Seropédica: Edur, 2004. 191p.

PINHEIRO, C.; CHAVES, M. M. Photosynthesis and drought: can we make metabolic connections
from available data? Journal of Experimental Botany, v.62, n.3, p.869-882, 2011.

POWLES, S. B.; BJÖRKMAN, O. Photoinhibition of photosynthesis: effect on chlorophyll


fluorescence at 77 K in intact leaves and in chloroplast membranes of Nerium oleander. Planta,
v.156, n.97-107, 1982.

REICHARDT, K. A água: absorção e translocação. In: FERRI, M.G. Fisiologia vegetal 1. 2 ed. São
Paulo: E.P.U., 1985. p. 3-74.

REIS, G. G; REIS, M. G. F. Fisiologia da brotação de eucalipto com ênfase nas suas relações
hídricas. IPEF, v.11, n.30, p.9-22, 1997.

RODRIGO, V. H. L. Ecophysiological factors underpinning productivity of Hevea brasiliensis.


Brazilian Journal of Plant Physiology, v.19, n.4, p.245-255, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1006


RONG-HUA, L.; GUO, P. G.; MICHAEL, B.; STEFANIA, G.; SALVATORE, C. Evaluation of
chlorophyll content and fluorescence parameters as indicators of drought tolerance in barley.
Agricultural Science in China, v.5, n.10, p.751 -757, 2006.

SANTOS, D. dos; GUIMARÃES, V.F.; KLEIN, J.; FIOREZE, S.L.; MACEDO JÚNIOR, E.K.
Cultivares de trigo submetidas a deficit hídrico no início do florescimento, em casa de
vegetação. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol.16, n.8, p.836-842, 2012.

SANTOS, R. F.; CARLESSO, R. Deficit hídrico e os processos morfológico e fisiológico das


plantas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.2, n.3, p.287-294, 1998.

SINCLAIR, T. R.; LUDLOW, M. M. Influence of soil water supply on the plant water balance of
four tropical grain legumes. Australian Journal Plant Physiology, v.13, n.3, p.319-340, 1986.

SOUZA, R. P.; MACHADO, E. C.; SILVA, J. A. B.; LAGOA, A. M. M. A; SILVEIRA, J. A. G.


Photosynthetic gas exchange, chlorophyll fluorescence and some associated metabolic changes
in cowpea (Vigna unguiculata) during water stress and recovery. Environmental and
Experimental Botany, n.51, n.1, p.45-56, 2004.

TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 719p.

VIEIRA, E. L.; SOUZA, G. S.; SANTOS, A. R.; SANTOS SILVA, J. Manual de Fisiologia
Vegetal. São Luís: EDUFMA, 2010. 230p.

XUE, L. L.; ANJUM, S. A.; WANG, L. C.; SALEEM, M. F.; LIU, X. J.; IJAZ, M. F.; BILAL, M.
F. Influence of straw mulch on yield, chlorophyll contents, lipid peroxidation and antioxidant
enzymes activities of soybean under drought stress. Journal of Food, Agriculture &
Environment, v.9, n.2, p.699-704, 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1007


COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ESTERILIZAÇÃO DO MEIO NUTRITIVO
PARA CULTIVO DO MARACUJAZEIRO (Passiflora edulis F. flavicarpa DEGENER)

Antônia Maiara Marques do NASCIMENTO


Graduanda do curso de Ciências Biológicas da UFPB
maiara2011.marques@hotmail.com
Camilla Mendes PEDROZA
Laboratório de Biotecnologia Vegetal da UFPB
kmillamp@gmail.com
Mailson Monteiro do RÊGO
Professor Adjunto III do Departamento de Ciências Biológicas da UFPB
mailson@cca.ufpb.br
Elizanilda Ramalho do RÊGO
Professora Associado I do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais da UFPB
elizanilda@cca.ufpb.br

RESUMO
A cultura do maracujazeiro tem destaque medicinal, comercial e ornamental. A autoclavagem é
uma técnica bastante dispendiosa em termos de energia e, além disso, pode acarretar a perda de
componentes do meio de cultura, como a sacarose. Com isso, novas técnicas de esterilização estão
sendo estudadas para a redução de gastos e de danos ao meio nutritivo. O objetivo deste trabalho foi
comparar os tipos de esterilização química e física na cultura do maracujazeiro (Passiflora edulis
f.flavicarpa Degener) in vitro. Para tanto, foi montado um experimento com delineamento
inteiramente casualizado, constando de 7 tratamentos e 10 repetições. A esterilização do meio
nutritivo ½ MS foi realizada quimicamente (0,0 (controle positivo); 0,05; 0,15; 0,25; 0,35 e 0,45 %
de hipoclorito) e fisicamente por meio de autoclavagem (controle negativo). As sementes foram
desinfestadas e inoculadas sob assepsia total, em câmara de fluxo laminar. As variáveis analisadas
foram: contaminação, germinação e crescimento de plântula. Houve contaminação no controle
positivo e nos tratamentos 0,05 e 0,15% de hipoclorito. As concentrações de 0,25, 0,35 e 0,45% de
hipoclorito não diferiram do controle negativo, em relação à contaminação. As médias da
germinação não diferiram entre si. O crescimento de plântulas foi melhor observado no tratamento
que continha 0,45% de hipoclorito de sódio, sendo possível a substituição da autoclavagem do meio
por este tratamento.
Palavras-chaves: hipoclorito, autoclavagem, maracujazeiro

ABSTRACT
The passion fruit plant has highlighted as a medicinal, commercial and ornamental. The autoclaving
is a technique quite expensive in terms of energy and also can lead to loss of culture medium

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1008


components, such as sucrose. New techniques of sterilization are being studied to reduce costs and
damage to the nutrient medium. The objective of this study was to compare the types of chemical
sterilization and physical culture of passion fruit (Passiflora edulis f.flavicarpa Degener) in vitro.
Thus, an experiment was done in a completely randomized design, with 7 treatments and 10
replicates. Sterilization of the nutrient ½ MS was performed chemically (0.0 (positive control),
0.05, 0.15, 0.25, 0.35 and 0.45% sodium hypochlorite) and physically by autoclaving (negative
control). The seeds were sterilized and inoculated under aseptic laminar flow. The variables
analyzed were contamination, germination and seedlings growth. There was contamination in the
positive control and in the treatments 0.05 and 0.15% sodium hypochlorite. Concentrations of 0.25,
0.35 and 0.45% of sodium hypochlorite did not differ from negative control, in relation to
contamination. The germination did not differ among the treatments. The seedling growth was
better observed in the treatment with 0.45% sodium hypochlorite, being possible replacement of the
autoclaving by this treatment.
Keywords: hypochlorite, autoclaving, passion

INTRODUÇÃO

A cultura do maracujazeiro tem destaque medicinal, comercial e ornamental. A crescente


produção desta cultura no Brasil está relacionada aos avanços nas técnicas de plantio, sendo
garantida pela utilização dos frutos na produção de sucos e no consumo in natura (Rêgo, 2001). Na
escala de comercialização de fruteiras no Brasil, a cultura do maracujazeiro se destaca, devido as
suas condições tropicais e subtropicais que pode se expandir por todo o território do país (Narita,
2007).
Os estudos em cultura de tecidos possibilitam o desenvolvimento de plantas mais produtivas
e resistentes a doenças, sendo esta técnica empregada em diferentes etapas do desenvolvimento das
mesmas (Lombardi, 2003).
O aumento da produção de plantas em laboratórios está aderido às inúmeras vantagens que
esta técnica oferece como, por exemplo, a produção em larga escala em um curto espaço de tempo,
como também uma maior quantidade de plantas homogêneas. A utilização laboratorial para a
produção de plantas isenta de patógenos tem estimulado cada vez mais a demanda destas, tornando-
se mais rentável e de fácil deslocamento (Ribeiro, 2006). Entretanto, tem um custo muito elevado,
pois necessitam de instalações específicas e de energia elétrica. Por isso que novas técnicas vêm
sendo estudadas com a finalidade de diminuição destes custos, sendo uma delas a substituição da
esterilização física por uma de menor custo (Teixeira et al, 2008).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1009


A autoclavagem além de ser uma técnica bastante dispendiosa, pode acarretar a perda de
componentes do meio de cultura, como a sacarose, podendo resultar também na formação do
furfural, composto que pode ser tóxico aos tecidos (Ribeiro, 2006). Com isso, novas técnicas de
esterilização estão sendo estudadas para a redução de gastos e de danos ao meio nutritivo.
A utilização do forno de microondas para este fim não tem apresentado muito sucesso
quando se trata de esterilização de líquidos, devido à ebulição e transbordamento antes da completa
esterilização do meio (Teixeira et al, 2005).
A utilização do hipoclorito de sódio como esterilizante químico é observada na eliminação
de microrganismos patógenos ao ser humano (Ribeiro, 2006), como também como agente
esterilizante de vidrarias, materiais de laboratórios e na composição dos meios nutritivos, pois
apresenta um efeito biocida contra microrganismos. Entretanto, alterações biossintéticas no
metabolismo celular e a destruição dos fosfolipídios são causadas pela utilização do hipoclorito de
sódio (Estrela et al., 2002).
O presente trabalho teve como objetivo comparar a esterilização química e física dos meios
de cultura, observando a contaminação, germinação e crescimento de plântulas de maracujazeiro in
vitro.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Biotecnologia Vegetal do Centro de Ciências


Agrárias da UFPB, localizado na Rodovia BR 079, Km 12, Campus Universitário II, Areia-PB. O
material foi coletado na Horta do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da
UFPB. Para tanto, foi retirado todo o tegumento das sementes de maracujazeiro (Passiflora edulis f.
flavicarpa Deg.), em seguida foram desinfestadas em álcool a 70% por um minuto e posteriormente
em hipoclorito de sódio (NaOCl) por dez minutos e lavadas em água estéril. O meio utilizado foi o
MS ½ força (Murashige e Skoog, 1962) suplementado com 30g/L-1 de sacarose, 8g/L-1 de Agar,
5g/L-1 de carvão ativado e concentrações de 0,0; 0,5; 0,15; 0,25; 0,35; 0,45% de hipoclorito de
sódio, sendo o tratamento controle submetido à autoclave. A adição do NaOCl no meio ocorreu 15
minutos antes da verificação do pH 5,7, posteriormente verteu-se o Agar e fez-se a distribuição nos
tubos, com cerca de 10ml cada. Antes da preparação do meio, todo o material que seria utilizado foi
lavado em solução de 2,5% de hipoclorito de sódio, para evitar a contaminação.
As sementes foram inoculadas em tubos de ensaio (25 x 125mm) em uma capela de fluxo
laminar com assepsia total. Após a inoculação, os tubos foram transferidos para a sala de
crescimento sendo mantidos no escuro e sob temperatura de 26ºC por um período de 30 dias.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1010


As variáveis analisadas foram contaminação, germinação e crescimento de plântulas do
maracujazeiro. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado constando de
7 tratamentos com 10 repetições, sendo cada uma delas constituída tubo de 125 mm x 25 mm com
uma semente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de variância nos mostra que houve significância apenas para as variáveis
contaminação e crescimento de plântulas em relação aos tratamentos (Tabela 1).

Crescimento de
Fonte de variação (FV) GL Contaminação Germinação
plântulas
Tratamentos 6 0,2009* 0,0395ns 3,7647*
Resíduo 63 0,3105 0,0263 1,3868
Total 69
Média Geral 0,818 1,1655 1,6904
Coeficiente de variação
(%) 21,5425 13,934 69,6667

Tabela 1. Resumo da análise de variância do experimento com Passiflora edulis f. flavicarpa


Degener.

De acordo com a Tabela 2 pode-se observar que existem diferenças estatísticas entre os
tratamentos para as variáveis contaminação e crescimento. Para a variável contaminação, nota-se
que as médias dos tratamentos 1, 4, 5, 6 e 7 não diferem estatisticamente a nível de 5% de
probabilidade. Contudo, observa-se que os tratamentos com hipoclorito de sódio a partir de 0,05%
aparentemente tem efeito positivo sobre o crescimento das plântulas in vitro (Figura 1).

Médias1
Tratamentos Contaminação Germinação Crescimento
1 - Autoclave 0,7071b 1,2247a 1,4588ab
2 - Sem esterilização 1,0177a 1,1212a 0,9649b
3 - 0,05% NaOCl 0,9659a 1,1212a 1,3139ab
4 - 0,15% NaOCl 0,9141ab 1,1729a 2,1482ab
5 - 0,25% NaOCl 0,7071b 1,0694a 1,3841ab
6 - 0,35% NaOCl 0,7071b 1,2247a 1,7644b
7 - 0,45% NaOCl 0,7071b 1,2247a 2,7987a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1011


Tabela 2. Médias das variáveis analisadas no experimento com Passiflora edulis f.flavicarpa
Degener. 1/- Médias de dados transformados. Médias seguidas da mesma letra não diferem
estatisticamente ao nível de probabilidade (P> 0,05).

Figura 1. Germinação de sementes de maracujazeiro azedo in vitro sob diferentes tipos de esterilizações do
meio nutritivo. T1, controle (esterilização física); T2 a T7, diferentes concentrações de hipoclorito de sódio:
T2 - 0,0; T3 - 0,5; T4 - 0,15; T5 - 0,25; T6 - 0,35; e T7 - 0,45%.

Não houve diferenças entre os tratamentos em relação a variável germinação. A média do


tratamento 7 para crescimento destacou-se, sendo considerado o melhor tratamento desta análise,
onde as plântulas germinadas neste meio atingiram comprimento médio de 15 cm, o que resulta em
média 15 explantes de 1cm para subcultivos posteriores (Figura 2). Resultados similares foram
descritos por Ribeiro (2006) trabalhando com abacaxi, eucalipto e sequóia. O estímulo causado pela
presença do cloro nos meios de culturas esterilizados quimicamente, quando comparados aos meios
autoclavados, sobre o crescimento médio de plântulas de maracujazeiro azedo germinadas in vitro,
possivelmente seja devido ao fato de que o cloro em presença de compostos orgânicos forma com
estes compostos clorados que ficam retidos no meio (Meyer, 1994; Macedo et al., 2004) e
possivelmente, alguns desses compostos sejam responsáveis pela influência benéfica.
É sabido também que o cloro exerce função de quebra da molécula de água no processo da
fotossíntese (Taiz e Zeiger, 2004), e como esta função fisiológica é, em geral, praticamente nula em
culturas in vitro (George e Sherrington, 1984), é possível também supor que ai se encontre a
explicação, pelo menos em parte, para este comportamento benéfico do cloro adicionado ao meio de
cultura como solução esterilizante. Além do fato da essencialidade da ação cloro nas plantas ser
bem conhecida (Emmanuel et al., 2004).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1012


Figura 2. Plântula de maracujazeiro azedo germinada in vitro em meio esterilizado quimicamente, 30 dias
após a inoculação (15 cm).

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que a utilização de hipoclorito de
sódio a 0,45% no meio nutritivo, além de favorecer a não-contaminação das culturas, não prejudica
na germinação e auxilia no desenvolvimento de plântulas do maracujazeiro (Passiflora edulis f.
flavicarpa Degener).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EMMANUEL, E., KECK, G., BLANCHARD, J., VERMANDE, P., PERRODIN, Y. (2004)
Toxicological effects of disinfestation using sodium hypochlorite on aquatic organisms and its
contribution to AOX formation in hospital wastewater. Enviroment International. 30: 891 – 900.

ESTRELA, C., ESTRELA, C. R. A., BARBIN, E. L., SPANÓ. J. C. E., MARCHESAN, M. A.,
PÉRCORA, J. D. (2002) Mechanism of action of Sodium Hypochlorite. Baz. Dent. J. 13(2): 113-
117.

GEORGE, E. F., SHERRINGTON, P. D. (1984). Plant Propagation by tissue culture. Hand book
and Directory of Commercial Laboratories. England: Eastern Press.

LOMBARDI, S. P. Estudos anatômicos e fisiológicos da organogênese in vitro em Passiflora


cincinnata Mast. 2003. 60p. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, [2003].

MACEDO, J. A. B. (2004) Uso de derivados clorados orgânicos no processo de desinfecção de


água para abastecimento público. Anais do Congresso Brasileiro de Química. Fortaleza:
Sociedade Brasileira de química.

MEYER, S. T. (1994) O uso de cloro na desinfecção de águas, a formação de trihalometanos e os


riscos potenciais à saúde pública. Caderno de Saúde Pública, 10(1): 99-110.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1013


MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bioassays with tobacco
tissue cultures. Physiology Plantarum 15: 473– 497. 1962.

NARITA, N. Epidemiologia do “Cowpea aphid borne mosaic virus” (CABMV) em maracujazeiro


na Região produtora da Alta Paulista, SP. 2007. 54p. Tese (Doutorado em Agronomia) -
Universidade Estadual de Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, [2007].

RÊGO, M. M. Indução in vitro de haplóides e de poliplóides e de detecção molecular de alelos da


auto-imcompatibilidade em maracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg.). 2001. 75p. Tese
(Doutorado em Genética e Melhoramento) – Universidade Federal de Viçosa, [2001].

RIBEIRO, J. M. Comparação entre as técnicas de esterilização de meios de cultura de tecidos


vegetais com hipoclorito de sódio e por autoclavagem. 2006. 58p. Tese (Doutorado em Produção
Vegetal) - Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, Universidade Estadual do Norte
Fluminense, [2006].

TAIZ, L. ZEIGER, E. (2004) Fisiologia Vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Editora Artmed.

TEIXEIRA, S. L.; SOUSA, R. T. S., TEIXEIRA, M. T. (2004) Esterilização de meios nutritivos


para cultura de tecidos vegetais em forno de microondas. Rev. Ceres, 52(302): 499-507.

TEIXEIRA, S. L; RIBEIRO, J.M; TEIXEIRA, M.T. (2008) Utilização de hipoclorito de sódio na


esterilização de meio de cultura para multiplicação in vitro de Eucalyptus pellita L. Rev.
Ciência Florestal, 18(2), 185-191.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1014


CRESCIMENTO DE (Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook F. Ex S. Moore) EM
FUNÇÃO DE INTERVALOS DE APLICAÇÃO E CONCENTRAÇÕES DE
BIOFERTILIZANTE VIA FOLIAR

Antonio Lucieudo Gonçalves CAVALCANTE


Graduando em Engenharia Florestal, UFERSA
cieudo.eng@gmail.com
Weydson Nyllys Cavalcante RAULINO
Graduando em Engenharia Florestal, UFERSA
nylim.ce@hotmail.com

Luiz Leonardo FERREIRA


Doutorando em Fitotecnia, UFERSA
leoagrozoo@hotmail.com

Vania Christina Nascimento PORTO


Profª. Drª. Dorcente Adjunto III, UFERSA
vania@ufersa.edu.br

RESUMO
A espécie (Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. F. ex S. Moore) é da Família
Bignoniacea, ocorre em comunidades complexas na Região Amazônica, Nordeste, Centro-Oeste e
Sudeste, em diversas formações vegetacionais. A crescente demanda por mudas de espécies nativas,
para atender as necessidades da arborização urbana, restauração florestal, recuperação de áreas
degradadas e exploração madeireira requer esforços da pesquisa na busca na definição de métodos e
técnicas de produção de mudas com alto padrão e, com custos compatíveis com a realidade
brasileira. Os biofertilizantes tem se destacado na produção agrícola familiar, por serem de fácil
obtenção, com elevado potencial para favorecer a nutrição de plantas obtida basicamente a partir de
materiais orgânicos, através do processo de estabilização por meio aeróbios ou anaeróbios. O
experimento foi desenvolvido no período de dezembro a maio de 2014 em casa de vegetação no
Departamento de Ciências Ambientais, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA),
situado no município de Mossoró, RN. Utilizou-se DIC, em esquema fatorial 5x2, sendo o primeiro
fator equivalente a aplicação via foliar de biofertilizante (0, 7,5, 15,0, 22,5 e 30%) em dois
intervalos de aplicação (7 e 14 dias). Os devidos tratamentos foram dispostos em quatro repetições,
totalizando, assim quarenta unidades experimentais, contendo cada uma cinco plantas, das quais
três foram utilizadas na obtenção de dados. Aos 150 dias após a semeadura, as plantas foram
analisadas quanto aos seguintes parâmetros de crescimento: altura de planta (H), diâmetro do caule
(DC), número de folhas (NF), massa fresca radicular (MFR), massa fresca aérea (MFA), massa
fresca total (MFT), massa seca aérea (MSA), massa seca radicular (MSR) e massa seca total (MST).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1015


O uso de biofertilizante aplicado via foliar na concetração de 30% não proporcionou aumento nas
características biométricas avaliadas nas mudas de Tabebuia áurea.
Palavras-chave: Craibeira; Mudas nativas, Recuperação ambiental, Adubação organica.

ABSTRACT
The species (Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. F. ex S. Moore) is the Family
Bignoniacea occurs in complex communities in the Amazon, Northeast, Midwest and Southeast, in
different vegetation formations. The growing demand for seedlings of native species, to meet the
needs of urban forestry, forest restoration, reclamation and logging requires research efforts in
finding the definition of methods and techniques of production of seedlings with high standard and
with cost compatible with the Brazilian reality. Biofertilizers has excelled in produação family
farm, being easy to obtain, with high potential to foster plant nutrition obtained largely from organic
material through the process of stabilization by aerobic or anaerobic environment. The experiment
was conducted in the period from December to May 2014 in a greenhouse at the Department of
Environmental Sciences, Federal Rural University of Semi-Arid (UFERSA), located in the city of
Natal, RN. DIC was used in 5x2 factorial design, with the first factor equivalent to foliar application
of biofertilizers (0, 7.5, 15.0, 22.5 and 30%) in two ranges of application (7 and 14 days) . Proper
treatments were arranged in four replications, totaling just forty experimental units, each containing
five plants, three of which were used to obtain data. At 150 days after sowing, the plants were
analyzed for the following growth parameters: plant height (H), diameter (DC), number of leaves
(NL), root fresh weight (MFR), air fresh (MFA), total fresh matter (MFT), shoot dry mass (MSA),
root dry mass (RDM) and total dry mass (MST). The use of biofertilizers foliar application in the
averaged concentration of 30% did not improve the biometric characteristics evaluated in seedlings
of Tabebuia aura.
Keyword: Craibeira; Native plants, Environmental restoration, organic fertilization

INTRODUÇÃO
Recentemente, a preocupação mundial com relação à qualidade ambiental tem se mostrado
cada vez mais freqüente. Isso faz com que ocorra um aumento na demanda de serviços e produtos,
em especial a produção de mudas de espécies florestais para a recuperação de áreas degradadas por
meio da restauração florestal. Esta demanda crescente observada nos últimos anos, mostra a
necessidade do desenvolvimento de pesquisas que otimizem a produção de mudas, a baixo custo, e
com qualidade morfofisiológica capaz de atender aos objetivos dos plantios (LELES et al., 2006
citado por BOTELHO, 2011 ).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1016


A espécie (Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. F. ex S. Moore) é da Família
Bignoniacea, ocorre em comunidades complexas na Região Amazônica, Nordeste, Centro-Oeste e
Sudeste, em diversas formações vegetacionais, sendo popularmente conhecida por paratudo,
caraíba, ipê-do-cerrado, entre outros nomes regionais. Sua madeira tem valor econômico e é
utilizada para confecção de ferramentas, móveis e construção civil, entre outros usos, além de
empregada na arborização e paisagismo de jardins, ruas e parques (LORENZI, 1992; ALMEIDA et
al., 1998). Além da beleza cênica propiciada pela floração e composição estrutural dos paratudais, a
espécie é boa melífera e também é considerada uma planta medicinal (ALMEIDA et al., 1998;
LORENZI & ABREU MATOS, 2002).
A crescente demanda por mudas de espécies nativas, para atender as necessidades da
arborização urbana, restauração florestal, recuperação de áreas degradadas e exploração madeireira
requer esforços da pesquisa na busca na definição de métodos e técnicas de produção de mudas com
alto padrão e, com custos compatíveis com a realidade brasileira (GOMES, 2004 citado por
BOTELHO, 2011).
A qualidade das mudas é fator essencial para o sucesso de povoamentos florestais, motivo
pelo qual objetiva-se produzir mudas em grande quantidade e com qualidade superior. São muitos
os fatores que podem afetar a qualidade da muda, dentre eles a fertilização, sobre tudo com custos
reduzidos e sem oferecer danos ao meio ambiente.
Os biofertilizantes tem se destacado na produação agrícola familiar, por serem de fácil
obtenção, com elevado potencial para favorecer a nutrição de plantas obtida basicamente a partir de
materiais orgânicos, através processos de estabilização por meio aeróbios ou anaeróbios. Por ser
obtido através de fermentação com a participação de bactérias, leveduras e bacilos e, se usado de
forma correta, pode atuar como um protetor natural para as plantas, protegendo-as de doenças e
pragas sem causar danos ao ambiente e à saúde humana (SILVA et al., 2007).
A importância do biofertilizante se deve ao fato de este ter uma composição mineral diversa,
sendo assimilado mais rapidamente por estar na forma líquida (BARROS & LIBERALINO FILHO,
2008). O biofertilizante, produto final da fermentação da matéria orgânica, atua nutricionalmente
sobre o metabolismo vegetal, possui alta atividade microbiana e bioativa, sendo capaz de
proporcionar maior proteção e resistência à planta contra agentes externos, além de atuar na
ciclagem de nutrientes no solo e redução da acidez do solo (MEDEIROS et al., 2003).
Segundo Cavalcante et al. (2010), o biofertilizante contribuie para a melhoria da estrutura
física do solo, pois diminui as perdas elevadas de água do substrato por evaporação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1017


Diante do exposto, objetivou-se com o trabalho avaliar o crescimento de mudas de craibeira
submetidas a diferentes dosagens de biofertilizante puro diluído e aplicado via foliar sob intervalos
de aplicação.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no período de dezembro a maio de 2014 em casa de
vegetação no Departamento de Ciências Ambientais, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA), situado no município de Mossoró, RN (5°11‘S, 37°20‘W e 18 m). O clima da região,
na classificação de Köppen, é do tipo BSwh, (quente e seco), com precipitação pluviométrica
bastante irregular, média anual de 673,9 mm; temperatura média de 27°C e umidade relativa do ar
média de 68,9% (CARMO FILHO & OLIVEIRA, 1995).
Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 5x2, sendo o
primeiro fator equivalente a aplicação via foliar de biofertilizante (0, 7,5, 15,0, 22,5 e 30%) em
diferentes intervalos de aplicação (7 e 14 dias). Os devidos tratamentos foram dispostos em quatro
repetições, totalizando, assim quarenta unidades experimentais, contendo cada uma cinco plantas,
das quais três foram utilizadas na obtenção de dados.
As sementes foram coletadas em matrizes previamente selecionadas nas proximidades do
campuns da UFERSA em Mossoró.
O biofertilizante utilizado foi proveniente de um biodigestor modelo indiano localizado na
Escola Família Agrícola Dom Fragoso em Independência, CE. Utilizando como fonte de matéria-
prima, esterco fresco de bovinos. A produção do biofertilizante ocorreu aos 35 dias. Logo após
foram coado e armazenado em garrafas plásticas (Pet) mantida em abrigo arejado.
As mudas de T. aurea resultaram da semeadura de duas sementes sem tratamentos pré-
germinativo em sacos de polietileno preto com volume de 120 cm³. Após a germinação realizou-se
desbaste deixando apenas uma planta por saco.
A pulverização com a solução de biofertilizante foi realizada sempre no final da tarde, com
pulverizador manual com capacidade para um litro, sendo que a primeira puverização foi realizada
30 dias após a emergência das plantas.
Aos 150 dias após a semeadura, as plantas foram analisadas quanto aos seguintes parâmetros
de crescimento: altura de planta (H), diâmetro do caule (DC), número de folhas (NF), massa fresca
radicular (MFR), massa fresca aérea (MFA), massa fresca total (MFT), massa seca aérea (MSA),
massa seca radicular (MSR) e massa seca total (MST).
Para a variável H foi medida com auxílio de uma régua graduada, tomando como referência
a distância do coleto até a gema apical e os valores expressos em centímetros (cm). A determinação
do DC foi realizada com auxilio de um paquímetro digital, efetuando a leitura sempre com
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1018
referencia o coleto das mudas e os valores expressos em milímetros (mm). Para o NF definitivas foi
realizado a contagem, com resultados expressos em (unidade planta-1). As plantas foram colhidas e
subdivididas em raízes e parte aérea, lavadas em água, pesadas a parte a aérea e radicular em
balança analítica para determinação da MFA e MFR e pelo somatório determinou-se a MFT, em
seguida cada uma dessas partes foi acondicionada em saco de papel e colocada em estufa regulada a
65ºC por 48 horas. Depois de secas, foram pesadas em balança analítica com precisão de 0,01 g
para derteminação da MSA e MSR, pelo somatório das duas, calculou-se MST, e os dos expressos
em (g).
Os resultados foram submetidos à análise de variância, realizando-se a regressão polinomial
testando-se os modelos lineares, quadráticos e, sendo escolhidos os modelos significativos e que
apresentaram o maior valor de correlação com as medias, observando-se a significância do teste F.
As análises foram realizadas utilizando o programa estatístico Sistema para Análise de Variância -
SISVAR (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A analise estatística revelou que não houve diferença significativa para as variavel altura das
plantas (H), em função da concentração de biofertilizante aplicado via foliar em intervalos de 7 e 14
dias, tendo sido observado o valor médio de 30,30 e 30,01 cm de altura respectivamente para os
dois intervalos estudados (Figura1 A). Soares et al. (2014), pesquisando emergência e
desenvolvimento inicial de plântulas de cupuaçu em substrato enriquecido com biofertilizante
observaram que, para a altura da planta houve efeito significativo das doses de biofertilizante sendo
esta de ordem linear negativa, ou seja, conforme se aumentou a dose de biofertilizante houve
redução no crescimento em cm das plantas. Resultados semelhantes foram obtidos por Mesquita et
al. (2012), em trabalho desenvolvido com produção de mudas de nim sob irrigação suplementar
com águas salinas, biofertilizante e drenagem constaram que as mudas de nim tiveram altura
aumentada de 16,61 para até 38,28 cm, ambas as situações, em solo sem e com insumo orgânico.
Já para a variável diamentro de colo verificou-se que as concentrações estudadas não
proporcionou aumento dessa variável nos intervalos avaliados, a média geral encontrada foi de 7,44
e 7,06 mm senquencialmente para 7 e 14 dias (Figura B). Resultado diferentes foram obtidos por
Soares et al. (2014), que ao pesquisar a emergência e desenvolvimento inicial de plântulas de
cupuaçu em substrato enriquecido com biofertilizante, constataram que para DC, a regressão de
ordem quadrática foi significativa com a dose recomendada de 30 mL de biofertilizante. Diniz Neto
et al. (2014), em trabalho desenvolvido com mudas de oiticica (Licania rígida) irrigadas com águas
salinas no solo com biofertilizante bovino e potássio, verifiram que os DC nas plantas do solo com
biofertilizante bovino, mesmo não se ajustando a nenhum modelo de regressão em função da
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1019
salinidade das águas com média de 5,23 mm, foram significativamente superiores aos das plantas
do solo sem o insumo orgânico.
Para o numero de folhas verificou que também não houve efeito significativo, em
decorrencia da aplicação de biofertilizante, foram encontrados valores médios de 19,35 e 17,98
unidade de planta-1 para intervalos de 7 e 14 dias respectivamente (Figura C). Resultados
semelhantes foram encotrados por Lira et al. (2010), ao avaliarem a fitomassa de mudas de pinhão
manso (Jatropha curcas L.) sob diferentes dosagens de biofertilizante, onde observaram que as
plantas adubadas com crescentes dosagens de biofertlizante não apresentaram efeitos significativos.

80 18
70 A 16
B

Diâmetro de caule (mm)


Altura de planta (cm)

60 14
50 12
10
40
8
30
6
20 7ymédio = 30,30 7ymédio = 7,44
4
10 14ymédio = 30,01 2 14ymédio = 7,06
0 0
0 7,5 15 22,5 30 0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%) Doses de biofertilizante (%)

45
40 C
Número de folha (unid.)

35
30
25
20
15
10 7ymédio = 19,35
5 14ymédio = 17,98
0
0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%)

Figura 1: Altura de planta (A), diâmetro de caule (B) e número de folha (C) de mudas de Craibeira com
diferentes intervalos de aplicação em função de doses de urina de vaca via foliar. UFERSA, Mossoró, RN,
2014.

Para a variável (MFA) não foi verificado efeito em função da aplicaçã de biofertilizante via
foliar para intervalos de 7 e 14 dias, tendo sido observado o valor médio de 104,00 e 81,60 g (Figua
A). Benício et al. (2012) encontraram resultados diferentes ao pesquisar formação de mudas de
melancia (Citrullus lanatus) sob efeito dediferentes concentrações de biofertilizante, a MFA das
mudas de melancia apresentou comportamento linear positivo em função do aumento da
concentração de biofertilizante.
Já para a variavel MFR constatou-se que o intervalos de 7 dias proporcionou rendimento
superior ao intervalo de aplicação de 14 dias, observando que, o biofertilizante comportou-se como
fitotóxico para as plantas de T. aurea, a dose testemunha apresentou rendimento em MFR de 22,51
g enquanto que a maior concentração de biofertilizante aplicado proporcionou redimento apenas de
23,35 g, a concentração de 15% possibilitou rendimento em MFR de 38,28 g constatando um ganho

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1020


de 15,77 g, quando aplicado essa concetração em frequencia de 7 dias. Quando aplicado à
frequência de 14 dias a concetração que apresentou melhor rendimento em MFR foi de 11,79%,
obtendo 26,66 g, enquanto que a dose testemunha proporcionou ganho em 23,96 g e a maior
concentração 30% ocorreu perda de 3,73 g. Benício et al. (2012), no mesmo trabalho citado
anteriomente, encontrou resultado semelhante, verificando que para MFR o comportamento foi
significativo com resposta quadrática em função do aumento da concentração de biofertilizante,
onde a concentração de 4,04% de biofertilizante, possibilitou rendimento MFR de 565,62 mg.
Para a variável matéria fresca total (MFT) não foi verificado efeito em função da aplicação
de biofertilizante para os intervalos estudados, tendo sido observado o valores médio de 130,00 e
105,80 g para 7 e 14 dias respectivamente. Os mesmos autores verificaram que MFT das mudas de
melancia foi encontrado na concentraçãode 5,09%, correspondente a 1387,3 mg.

250 45
A Matéria fresca radicular (g) 40
B
Matéria fresca aérea (g)

200 35
30
150
25
20
100
15
7y = -0,0682x2 + 2,0741x + 22,5114, R² = 0,75**
7ymédio = 104,00 10
50 14y = -0,0194x2 + 0,4577x + 23,9590, R² = 0,70*
14ymédio = 81,60 5
0 0
0 7,5 15 22,5 30 0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%) Doses de biofertilizante (%)

300
C
250
Matéria fresca total (g)

200

150

100
7ymédio = 130,00
50
14ymédio = 105,80
0
0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%)

Figura 2: Matéria fresca aérea (A), radicular (B) e total (C) de mudas de Craibeira com diferentes intervalos
de aplicação em função de doses de urina de vaca via foliar. UFERSA, Mossoró, RN, 2014.

Para a variável matéria seca aérea (MSA) não foi verificado efeito em função da aplicação
de biofertilizante via foliar para intervalos de 7 dias, tendo sido encontrado o valor médio de 21,89
g. já para intervalos de 14 dias observou-se, que as plantas de T. aurea não responderam
significativamente com a aplicação de biofertilizante. A dose testemunha apresentou rendimento em
matéria seca aérea (MSA) de 24,37 g enquanto que a maior concentração de biofertilizante aplicado
proporcionou redimento apenas de 15,32 g, constatando perda de 9,05 g, ou seja, para cada unidade
de percentagem decresceu 0,30 g. Soares et al. (2014) encontrou resultados diferentes ao pesquisar
emergência e desenvolvimento inicial de plântulas de cupuaçu em substrato enriquecido com
biofertilizante, onde os autores observaram aumento na massa seca da parte aérea com a adição de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1021


biofertilizante no substrato sendo que a regressão quadrática foi significativa com a dose
recomendada de 23,5 mL de biofertilizante. Ramalho et al. (2010) trabalhando com biofertilizante
bovino na produção de mudas de cajueiro também obtiveram efeito quadrático para o aumento da
MSA.
Também não foi verificado efeito significativo para a variável matéria seca radicular (MSR)
em função da aplicação de biofertilizante, para os intervalos estudados de 7 e 14 dias, obtendo-se
valores médios de 5,74 e 5,22 g respectivamente. Soares et al. (2014), encontrou resultados
diferentes ao pesquisar emergência e desenvolvimento inicial de plântulas de cupuaçu em substrato
enriquecido com biofertilizante, onde os autores observaram aumento na MSR com a adição de
biofertilizante no substrato sendo que a regressão quadrática foi significativa.
Para a variável matéria seca total (MST) não foi verificado efeito em função da aplicação de
biofertilizante para o intervalo de 7 dias, tendo sido observado o valor médio de 5,74 g. já para
intervalos de 14 dias observou-se, efeito linear decrescente, mostrando que o fiobertilizante
comportou-se como fitotóxico para as plantas de T. aurea, a testemunha apresentou rendimento em
matéria seca total (MST) de 29,82 g enquanto que cocentração a 30% o valor observado foi de
20,34 g, constanto um decréscimo no redimento de 9,48 g, verificando perda de 0,32 g para cada
unidade de percentagem aplicada. Soares et al. (2014) encontrou resultados semelhantes ao
pesquisar emergência e desenvolvimento inicial de plântulas de cupuaçu em substrato enriquecido
com biofertilizante, onde os autores observaram redução na MST com a adição de biofertilizante no
substrato verificando que para MST houve efeito significativo das doses de biofertilizante, com a
dose recomendada de 23,37 mL de biofertilizante. Para a dose de 50 mL já houve redução no
acúmulo de massa seca total com 6,11% a menos que a testemunha.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1022


30 8
A 7
B

Massa seca radicular (g)


25
Massa seca aérea (g)

6
20 5
15 4
3
10
7ymédio = 21,89 2 7ymédio = 5,74
5 14y = -0,3017x + 24,3729, R² = 0,86** 1 14ymédio = 5,22
0 0
0 7,5 15 22,5 30 0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%) Doses de biofertilizante (%)

35
C
30
Massa seca total (g)

25
20
15
10
7ymédio = 5,74
5 14y = -0,3160x + 29,81,64 R² = 0,70**
0
0 7,5 15 22,5 30
Doses de biofertilizante (%)

Figura 3: Matéria seca aérea (A), radicular (B) e total (C) de mudas de Craibeira com diferentes intervalos de
aplicação em função de doses de urina de vaca via foliar. UFERSA, Mossoró, RN, 2014.

CONCLUSÕES

O uso de biofertilizante aplicado via foliar na concetração de 30% não proporcionou


aumento nas características biométricas avaliadas nas mudas de (Tabebuia aurea (Silva Manso)
Benth. & Hook. F. ex S. Moore).

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies vegetais
úteis. Planaltina: EMBRAPA – CPAC, 1998. 464p.

BARROS, L. E. O.; LIBERALINO FILHO, J. Composto orgânico sólido e em suspensão na cultura


do feijão-mungo-verde (Vigna radiatal, wilkzeck). Revista Verde, Mossoró, v.3, n.1, p.114-122,
2008.

DINIZ NETO, M. A.; SILVA, I. F.; CAVALCANTE, L. F. DINIZ, B. L. M. T.; SILVA, J. C. A.;
SILVA, E. C. Mudas de oiticica irrigadas com águas salinas no solo com biofertilizante bovino e
potássio. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, PB. v.18,
n.1, p.10-18, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1023


BENÍCIO, L. P. F.; LIMA, S. O.; SANTOS, V. M.; SOUSA, S. A. Frmação de mudas de melancia
(Citrullus lanatus) sob efeito de diferentes concentrações de biofertilizante. Revista Brasileira de
Agropecuária Sustentável (RBAS). v.2, n.2., p.51-59, Viçosa - MG, 2012.

BOTELHO, A. V. F. Influência de substratos e recipientes na qualidade das mudas de Tabebuia


aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f. Ex S.Moore. 2011. 49 f. Dissertação (Mestrado Ciências
Florestais) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, Recife, 2011.

CARMO FILHO, F.; OLIVEIRA, O. F. Mossoró: um município do semiárido nordestino,


caracterização climática e aspecto florístico. Mossoró: ESAM, 1995. 62p. (Coleção
Mossoroense, série B).

CAVALCANTE, L. F.; MONTESQUIEU DA SILVA VIEIRA, M. S.; AILTON FRANCISCO


DOS SANTOS, A. F. S.; OLIVEIRA, W. M.; NASCIMENTO, J. A. M. Água salina e esterco
bovino líquido na formação de mudas de goiabeira cultivar paluma. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v.32, n.1, p. 251-261, 2010.

FERREIRA, D. F. Sisvar: A computer statistical analysis system. Ciência e Agrotecnologia,


Lavras, v. 35, n.6, p.1039-1042, 2011.

LIRA, E. H. A.; FERREIRA, A. S.; SOUZA, J. T. A.; OLIVEIRA, S. J. C. Fitomassa de mudas de


pinhão manso (Jatropha curcas L) sob diferentes dosagens de biofertilizante. In: congresso
brasileiro de mamona, 4 & simpósio internacional de oleaginosas energéticas, 1, 2010, João
Pessoa. Inclusão Social e Energia: Anais... Campina grande: Embrapa Algodão, 2010. p. 700-
704.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do


Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992, v.1, 352 p.

LORENZI, H.; ABREU MATOS, F. J. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas.
Nova Odessa: Plantarum, 2002. 512 p.

MEDEIROS, M. B.; WANDERLEY, P. A.; FRANKLIN, F.; FERNANDES, F. S.; ALVES, G. R.;
DANTAS, P.; CORDÃO, R. P.; XAVIER, W. M. R.; LEAL NETO, J. S. Uso de biofertilizantes
líquidos no manejo ecológico de pragas agrícolas. In: Encontro temático meio ambiente e
educação ambiental da UFPB, 2., 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2003.

MESQUITA, F. O. L. F. CAVALCANTE, L. F.; DINIZ, B. L. M. T.; SOUTO, A. G. L.; LIMA


NETO, A. J; R. F. MEDEIROS, R. F. Produção de mudas de nim sob irrigação suplementar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1024


com águas salinas, biofertilizante e drenagem. In: Workshop Internacional de Inovações
Tecnológicas na Irrigação, V Winotech, Fortaleza, 2012.

RAMALHO, J.T.; ABRANTES, D. S.; HAFLE, O. M.; SANTOS, V. M.; ALVARENGA, C. F. S.;
LIMA FILHO, P.; FERREIRA-NETO, J.; QUEIROGA, R. A. Crescimento de mudas de
cajueirosob diferentes doses de biofertilizante de origem animal. In: Congresso Cearense de
Agroecologia, II., 2010, Juazeiro do Norte, CE. Anais... Juazeiro do Norte-CE, 2010.

SILVA, A. F.; COELHO, A. I. A.; RAMOS, J. B.; SANTANA, L. M. FRANÇA, C. R. R. S. In.


Resumo V CBA. Características químicas e aceitação de biofertilizante preparado e utilizado em
horta agreocológica do Semi-Árido Nordestino. Revista Brasileira de Agroecologia, Cruz Alta,
v.2 n.2, p.962-965, 2007.

SOARES, E. R.; BASEGGIO, E. A.; SENA, S. P.; PEREIRA, M. D. Emergência e


desenvolvimento inicial de plântulas de cupuaçu em substrato enriquecido com biofertilizante.
Revista Brasileira de Agroecologia Cruz Alta, v.9, n.1, p.176-184, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1025


COMPORTAMENTO PRODUTIVO DE GENÓTIPOS DE MILHO EM ALTA
DENSIDADE POPULACIONAL

Artur Pereira Vasconcelos de CARVALHO


Graduando do curso de Agronomia da UFAL
arturcarvalho.agro@gmail.com
Antônio Barbosa da SILVA JÚNIOR
Mestrando em Produção Vegetal – UFAL
antonio.barbosa@ceca.ufal.br
Jadson dos Santos TEIXEIRA
Graduando do curso de Agronomia da UFAL
jadonteixseira@gmail.com
Paulo Vanderlei FERREIRA
Docente do Curso de Agronomia da UFAL
paulovanderleiferreira@bol.com.br

RESUMO
O presente trabalho objetivou avaliar o comportamento produtivo de genótipos de milho (Zea mays
L.) em alta densidade populacional, visando o aumento da produtividade da cultura no Estado.
Foram avaliados 8 genótipos, dos quais cinco foram desenvolvidos pelo Setor de Melhoramento
Genético de Plantas do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas
(SMGP/CECA/UFAL): Alagoano, Branca, Nordestino, São Luiz e Viçosense; além de duas
variedades comerciais: BR 106 (Pé de Boi), desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), e a AL Bandeirante, desenvolvida pela CATI-SP; e a variedade crioula
alagoana: Jabotão. Foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados, com três
repetições. As variáveis avaliadas foram: Comprimento da Espiga Com Palha (CECP),
Comprimento da Espiga Sem Palha (CESP), Altura da Inserção da Primeira Espiga (AIPE),
Número de Fileiras de Grãos (NFG), Peso de Cem Grãos (PCG) e Produtividade (P). Os genótipos
AL Bandeirante, Branca, Jabotão, Viçosense, Nordestino e São Luís apresentaram ótimos
desempenhos para a maioria das variáveis estudadas, principalmente para a produtividade, com uma
média de 10.852,56 kg/ha.
Palavras-chave: Produtividade, genótipos, Zea mays L.

ABSTRACT
This study aimed to evaluate the productive behavior of maize genotypes (Zea mays L.) high
population density, aimed at increasing crop productivity in the State of Alagoas. 8 genotypes were
evaluated, five of which were developed by the Setor de Melhoramento Genético de Plantas the
Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Alagoas (SMGP/CECA/UFAL): Alagoano,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1026


Branca, Nordestino, São Luiz and Viçosense; and two commercial varieties: BR 106 (Pé de Boi),
developed by the Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), an AL Bandeirante,
developed by CATI-SP; and the variety alagoana Creole: Jabotão. The experimental design of
randomized blocks, with three replications. The variables evaluated were: Length of Spike With
Straw (CECP), Length of Spike Without Straw (CESP), Height Insertion of First Spike (AIPE),
Number of Rows of Grain (NFG), Hundred grain weight (PCG) and productivity (P). Genotypes
AL Bandeirante, Branca, Jabotão, Viçosense, Nordestino and São Luís presented excellent
performances for most of the variables studied, mainly for productivity, averaging 10.852,56 kg/ha.
Keywords: Productivity, genotypes, Zea mays L.

INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays L.) é uma planta da família Poaceae, originária da América Central,
sendo cultivada em praticamente todas as regiões do mundo, nos hemisférios norte e sul, em climas
úmidos e regiões secas. Trata-se de um alimento rico em carboidratos, considerado como
energético; é também fonte de óleo, fibras, vitaminas E, B1, B2 e ácido pantotênico, além de alguns
minerais, como o fósforo e o potássio (MATOS et al. 2006).
Por apresentar elevado valor nutritivo, o milho é uma das principais culturas cultivadas no
mundo, sendo utilizado tanto para a alimentação humana como animal. Além do seu uso como
fonte de alimento, o milho está sendo empregado, recentemente, para a produção de
biocombustível, o etanol (Ferreira et al., 2014). Contudo, o maior destino do milho é na produção
de ração para a avicultura, bovinocultura e a suinocultura, as quais são de grande importância
econômica, tanto no âmbito mundial, como nacional. Estima-se que este cereal responde por 70%
do volume utilizado na alimentação animal de aves, bovinos e suínos (DEMARCHI et al., 2011).
O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos e
da China. Na safra 2013/2014, o Brasil apresentou uma área plantada de 15,6 milhões de hectares,
obtendo uma estimativa de produtividade de 5.057 kg/ha e produção de 79.905,5 milhões de
toneladas. A produtividade do Nordeste Brasileiro se mantém abaixo da produtividade média
nacional, com 2.612 kg/ha, assim como, a do Estado de Alagoas, apresentando uma produtividade
de 887 kg/ha (CONAB, 2014).
O cultivo do milho no Estado Alagoas e em grande parte da Região Nordeste é pouco
tecnificado, onde é utilizado, basicamente, para o sustento de pequenas propriedades rurais através
de mão-de-obra dos próprios agricultores familiares, tendo assim, grande importância para essas
comunidades. Além disso, a cultura do milho é cultivável nas mais diversas regiões do Estado, pelo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1027


fato de ter uma fácil adaptação aos diferentes tipos de clima e solo de Alagoas (CUENCA et al.,
2005).
O rendimento de uma lavoura de milho é o resultado do potencial genético da variedade e
das condições edafoclimáticas do local de plantio, além do manejo da lavoura de modo geral, cujo
potencial da cultivar é responsável por 50% do rendimento final (Cruz et al., 2004). O aumento da
densidade populacional, decorrente da redução do espaçamento entre linhas, tem contribuído para o
aumento da produtividade da cultura (GROSS, 2005).
Com base nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de
oito genótipos de milho para produção de grãos em alta densidade populacional.

METODOLOGIA

O experimento foi conduzido no período de Dezembro de 2013 a Abril de 2014, na área


experimental do Setor de Melhoramento Genético de Plantas do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Alagoas (SMGP/CECA/UFAL), no município de Rio Largo – AL.
localizada a 9o 27‘de latitude sul e 35o27‘de longitude oeste e 127 m de altitude. A região apresenta
clima quente e úmido, totais pluviométricos anuais elevados (1.500 - 2.000 mm), com o período
chuvoso concentrado no outono-inverno, onde a precipitação equivale a 70% do total anual, e o
período seco na primavera–verão apresentando déficits hídricos elevados. A temperatura média e a
umidade relativa do ar são de 26ºC e 80%, respectivamente (SOUZA et al., 2004). O solo é
classificado como Latossolo Amarelo coeso argissólico, de textura franca arenosa (SANTOS et al.,
2006).
Foram avaliados oito genótipos de milho, sendo cinco desenvolvidos pelo Setor de
Melhoramento Genético de Plantas do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de
Alagoas (SMGP/CECA/UFAL): Alagoano, Branca, Nordestino, São Luiz e Viçosense; duas
variedades comerciais; uma desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA): BR 106 (Pé de Boi), a outra pela CATI-SP (AL Bandeirante); e uma variedade
crioula alagoana (Jabotão). Os genótipos foram plantados no espaçamento 0,8 m x 0,2 m, com 10
plantas por metro linear, apresentando uma densidade populacional de 125.000 plantas/ha.
Utilizou-se o delineamento experimental em blocos casualizados, com três repetições,
totalizando 24 parcelas experimentais. Cada parcela foi constituída de 4 linhas de 6 m de
comprimento com 2 plantas por cova, totalizando 60 plantas por linha e 240 plantas por parcela, a
considerada área útil, as duas fileiras centrais, descartando-se as duas primeiras covas de cada
extremidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1028


Antes da semeadura, foram retiradas amostras de solo da área experimental para análise
química do solo no Laboratório Central Analítica Ltda (Tabela 1). O preparo do solo foi efetuado
com uma aração e duas gradagens.

Tabela 1 - Análise química do solo da área experimental do SMGP/CECA/UFAL, antes da instalação do


experimento, Rio Largo - AL, 2013.

De acordo com os resultados obtidos na análise de solo não houve a necessidade de


calagem, como também, aplicação de Fósforo e Potássio, apenas realizou-se adubação nitrogenada,
com 50 Kg.ha-1 de Nitrogênio em fundação e 100 Kg.ha-1 de Nitrogênio em cobertura, sendo
dividida em duas aplicações uma aos 15 dias e outra aos 25 dias após o plantio, tendo como fonte de
Nitrogênio o fertilizante Ureia.
A semeadura foi realizada no dia 04 de dezembro de 2013, de forma manual, onde foram
distribuídas cinco sementes por cova espaçadas a 20 cm ao longo de cada sulco de 6 m. Após a
emergência das plântulas, procedeu-se o desbaste (15 dias após o plantio) permanecendo dez
plantas por metro linear (2 plantas/cova), estabelecendo assim, a densidade populacional proposta
(125.000 plantas.ha-1).
Durante a condução do experimento foram realizadas 2 ou 3 irrigações semanais deixando o
solo na capacidade de campo para suprir a necessidade da cultura de acordo com os dados
meteorológicos descritos na Tabela 2.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1029


Tabela 2 - Resumo mensal dos dados meteorológicos no município de Rio Largo - AL, 2013/2014. Fonte:
LARAS - UFAL (2014)

O controle de plantas daninhas foi realizado através de capina manual (enxada), com um
total de duas operações durante o ciclo da cultura (aos 15 e 30 dias).
O controle de pragas foi realizado através de cinco aplicações aos 15, 30, 45, 60, 75 dias
após a semeadura com 0,4 L.ha-1 do inseticida Decis© EC 25.u. Na aplicação foi utilizado
pulverizador manual costal com capacidade de 20L, pressão de 1atm e vazão de 0,2 Galões.
A colheita dos grãos foi realizada aos 120 dias após o plantio.
Foram estudadas as seguintes variáveis: Comprimento de Espigas Com Palha (CECP),
Comprimento da Espiga Sem Palha (CESP), Altura de Inserção da Primeira Espiga (AIPE),
Número de Fileiras de Grãos, Peso de Cem Grãos (PCG) e Produtividade (PR).
As análises estatísticas foram realizadas seguindo a recomendação de FERREIRA (2000),
onde foi feita análise de variância e teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o aplicativo
computacional SISVAR (FERREIRA, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 3 estão presentes os resultados das análises de variância do comportamento


produtivo de genótipos de milho em alta densidade populacional. Foi constatado que houve
diferença significativa a 1% de probabilidade pelo teste F entre os genótipos de milho para as
variáveis: Altura de Inserção de Primeira Espiga (AIPE), Número de Fileiras de Grãos (NFG) e
Peso de Cem Grãos (PCG); a variável Produtividade (PR) apresentou diferença significativa a 5%
de probabilidade pelo teste F, enquanto que as demais variáveis não apresentaram diferença
significativa a 5% de probabilidade pelo referido teste.
Segundo FERREIRA (2000), os coeficientes de variação apresentaram ótima precisão
experimental para todas as variáveis estudadas: CECP (7,14%), CESP (8,31%), AIPE (7,41%),
NFG (5%), PCG (6,54%) e PR (9,99%).

Tabela 3 – Valores e significância dos quadrados médios das análises de variância e coeficientes de variação
do comportamento produtivo de genótipos de milho em alta densidade populacional, Rio Largo – 2014.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1030
ns: Não Significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; **: Significativo a 1% de probabilidade pelo teste
F; *: Significativo a 5% de probabilidade pelo teste F.

Na Tabela 4 consta o desempenho médio do comportamento produtivo de genótipos de


milho em alta densidade populacional, para as seis variáveis, onde as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 4 – Desempenho médio do comportamento produtivo de genótipos de milho em alta densidade


populacional, Rio Largo - 2014.
Médias seguidas pela mesma letra, em cada coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. CECP: Comprimento da Espiga com Palha; CESP: Comprimento da Espiga Sem Palha;
AIPE: Altura de Inserção da Primeira Espiga NFG: Número de Fileiras de Grãos; PCG: Peso de Cem Grãos;
PR: Produtividade.

Não houve diferença significativa entre os genótipos avaliados apenas para as seguintes
variáveis: Comprimento da Espiga Com Palha (CECP) e Comprimento da Espiga Sem palha
(CESP), cujas médias gerais foram: 23,08cm e 14,49cm, respectivamente. O comprimento de
espigas tende a reduzir quando a densidade de plantas for maior, por conta, principalmente, de uma
maior competição por recursos essenciais à produção da cultura, influenciando dessa forma, no
número de grãos contidos na espiga e na visão do mercado consumidor, que dá preferência a
espigas de maior comprimento. Porém, valores inferiores de comprimento de espiga geralmente não
interferem negativamente na produtividade principalmente por conta de que nas maiores
densidades, o número de plantas é maior e consequentemente o número de espigas (MARCHÃO,
2005).
Com relação à altura de inserção da primeira espiga, a variedade crioula Jabotão apresentou
maior AIPE (1,71m), porém não diferiu estatisticamente dos genótipos: São Luís (1,48m),
Nordestino (1,46m), Alagoano (1,45m) e Branca (1,43m), enquanto a variedade comercial BR106
obteve a menor AIPE (1,10m), não diferindo estatisticamente dos genótipos Viçosense (1,29m) e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1031


AL Bandeirante (1,18m). Segundo MARCHÃO et al. (2005), observando a colheita mecanizada da
cultura do milho, foi constatado que as plantas que possuem altura de inserção da espiga maiores
que 1,0 metro, possibilitam as melhores colheitas. Todos os genótipos de milho avaliados
apresentaram AIPE acima de 1m. Em um sistema de plantio direto, com o uso de culturas
intercalares, uma maior AIPE ainda possibilita a colheita sem maiores danos às culturas intercalares
(MEROTTO JÚNIOR, 1997).
Quanto ao Número de Fileiras de Grãos (NFG), a variedade comercial AL Bandeirante
obteve maior NFG (13,15un.), não diferindo estatisticamente dos genótipos: Branca (11,96un.),
BR106 (11,84un.), Nordestino (11,65un.), São Luís (11,53un.) e Viçosense (11,49un.), já a
variedade crioula Jabotão obteve o menor NFG (10,08un.), mas não diferiu dos genótipos Alagoano
(11,39un.), Viçosense (11,49un.), São Luís (11,53un.) e Nordestino (11,65un.). Um maior número
de fileiras por espiga pode levar a uma maior produtividade de grãos. Bortolini et al. (2000),
avaliando diferentes doses e épocas de aplicação de N, verificou que o número de fileiras por espiga
foi o componente mais associado ao rendimento de grãos.
Com relação à variável PCG, o genótipo Jabotão apresentou maior PCG (32,42g), porém
não diferiu estatisticamente dos genótipos Branca (28,71g) e Nordestino (28,46g), enquanto que os
demais genótipos tiveram os menores PCG. Contudo, vale ressaltar, segundo PORTO et al. (2011),
que esta característica, isoladamente, não responde pelo aumento da produtividade. O peso ou
massa de grãos é uma característica bastante influenciada pela disponibilidade de nutrientes, pelo
potencial genético do genótipo, pelas condições climáticas durante o desenvolvimento da cultura,
em especial, durante os estádios de enchimento de grãos, sendo importantíssimo para a produção e
produtividade dessa cultura (SILVA, 2012).
Quanto à produtividade, o genótipo comercial, AL Bandeirante, tem uma maior PR
(12.314,94kg/ha), mas só diferiu estatisticamente dos genótipos BR 106 (8.865, 84 kg/ha) e
Alagoano (9044,91kg/ha). Verifica-se a produtividade média do genótipo mais produtivo (AL
Bandeirante- 12.314,94kg/ha) e a média de produtividade dos genótipos menos produtivos (BR106
e Alagoano – 8.955,37kg/ha) superou a média de Alagoas em 14 e 10 vezes, respectivamente. Da
mesma forma, a produtividade média do genótipo mais produtivo (AL Bandeirante) e a média dos
genótipos menos produtivos (BR 106 e Alagoano) superaram a média nacional 2,5 e 1,7 vezes,
respectivamente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1032


CONCLUSÃO

Os genótipos AL Bandeirante, Branca, Jabotão, Viçosense, Nordestino e São Luís


apresentaram ótimos desempenhos para a maioria das variáveis estudadas, principalmente para a
produtividade, com uma média de 10.852,56 kg/ha.

REFERÊNCIAS

MATOS, M.J.L.F.; TAVARES, S.A.; SANTOS, F.F.; MELO, M.F.; LANA, M.M. Milho verde.
2006. Disponível em:
<http://www.cnph.embrapa.br/paginas/dicas_ao_consumidor/milho_verde.htm>

CENTENO, J. A. S.; KISH, R. T. Recursos hídricos do estado de Alagoas. Maceió: Secretaria de


Planejamento Estadual de Meteorologia e Recursos Hídricos. 1994.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema brasileiro de classificação


de solos. Rio de Janeiro, 1999.
FERREIRA, R.A.; SOUZA, J.L.; TEODORO, I.; LYRA, G.B.; SOUZA, R.C.; ARAÚJO, R.A.
Eficiência do uso da radiação em cultivos de milho em Alagoas. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e ambiental. v.18, n.3, p. 322-328, 2014

DEMARCHI, M. Análise da conjuntaria agropecuária Safra 2011/2012 Milho. Estado do Paraná.


Secretaria de Agricultura e do Abastecimento, 2011.

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Acompanhamento da safra brasileira de grãos.


Safra 2013/1014. v. 1, n.12. Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso
em: 21 de ago. 2014, 22:32:04.

CUENCA, M. A.; NAZÁRIO, C.C.; MANDARINO, D.C. Características e evolução da cultura do


milho no Estado de Alagoas entre 1990 e 2003. p. 31. Embrapa Tabuleiros Costeiros. Aracaju,
2005. Disponível em http://<www.cpatc.embrapa.br> . Acesso em: 21 de ago. 2014, 23:22:10.

YAMADA, T.; ABDALLA, S.V. Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato
(POTAFOS). n. 113. p.2. Piracicaba-SP, 2006.

CRUZ, J. C.; PEREIRA FILHO, I, A.; CORREIA, L. A.; FALCÃO PERREIRA, F. T.; VERSIANI,
R. P. Milho. Cultivares. Embrapa Milho e Sorgo. Sistema de Produção, l. 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1033


GROSS, M. R. Adubação nitrogenada, densidade de semeadura e espaçamento de fileiras na
cultura do milho em sistema plantio direto. 68 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) -
Universidade Federal de Lavras, Lavras. 2005.

FANCELI, A.L. Estratégias de manejo para alta produtividade de milho. Associação Brasileira
para Pesquisa da Potassa e do Fosfato (POTAFOS). n. 113. p.2. Piracicaba-SP, 2006.

SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; OLIVEIRA, J.B.;
COELHO, M.R.; LUMBREBAS, J.F.; CUNHA, T.J.F. (eds.). Sistema brasileiro de
classificação de solos. 2ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 306p. 2006.

FERREIRA, P. V. Estatística experimental aplicada à agronomia. 3. ed. Maceió: EDUFAL, p.


420, 2000.

FERREIRA, D.F. Programa SISVAR: sistema de análise de variância, Versão 4,6 (Build 6,0),
Lavras, DEX/UFLA, 2003.

MARCHÃO, R. L. et al. Densidade de plantas e características agronômicas de híbridos de milho


sob espaçamento reduzido entre linhas. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v.35, n.2, p.
93-101, 2005.

MEROTTO JÚNIOR, A.; ALMEIDA, M.L.; FUCHS, O. Aumento no rendimento de grãos de


milho através do aumento da população de plantas. Ciência Rural, Santa Maria, v. 27, n.4, p
.549- 554, 1997.

BORTOLINI, C. G.; SILVA, P. R. F.; ARGENTA, G. Sistemas consorciados de aveia preta e


ervilhaca comum como cobertura de solo e seus efeitos na cultura do milho em
sucessão. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 24, p. 897-903. Campinas, 2000.

SANTOS, P.R. Desempenho de genótipos de milho submetidos a dois tipos de adubação no


município de Rio Largo Alagoas. 2012. p. 24-28. Trabalho de Conclusão de Curso –
Universidade Federal de Alagoas. Rio Largo, 2012.

SILVA, J.P. Desempenho de genótipos alagoanos de milho (Zea mays L.) em diferentes densidades
de semeadura. 2011. 52. F, Dissertação (Mestrado) – Agronomia: Produção Vegetal.
Universidade Federal de alagoas. Rio Largo, 2012.

PORTO, A. P. F. et al. Variedades de milho a diferentes espaçamentos no Planalto de Vitória da


Conquista. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v. 6, n. 02, p. 208-214, 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1034


CARACTERIZAÇÃO FLORAL EM POPULAÇÃO BASE DE PIMENTEIRAS
ORNAMENTAIS (Capsicum annuum L.)

Fernanda Carla Ferreira de PONTES


Centro de Ciências Agrárias, UFPB - Campus II Areia-PB
fernandacfpontes@hotmail.com
Mailson Monteiro do RÊGO
Centro de Ciências Agrárias, UFPB - Campus II Areia-PB
mailson@cca.ufpb.br
Angela Maria dos Santos PESSOA
Pós Graduanda em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba
pbalegna@gmail.com
Elizanilda Ramalho do RÊGO
Centro de Ciências Agrárias, UFPB - Campus II Areia-PB
elizanilda@cca.ufpb.br

RESUMO
As espécies do gênero Capsicum são cultivadas em todo mundo, sendo Capsicum annuum L. a
espécie mais cultivada demostrando a sua importância no mercado e como pimenteira ornamental.
Uma das formas mais acessíveis para avaliar a diversidade genética é com base na caracterização
botânica. Este trabalho teve como objetivo realizar a caracterização floral em população base de
pimenteira ornamental. O trabalho foi realizado no Laboratório de Biotecnologia Vegetal, do Centro
de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, utilizando-se 73 plantas da geração F2, onde
foram avaliadas cinco flores por planta caracterizadas utilizando 10 descritores qualitativos e 5
quantitativos. Os dados quantitativos foram submetidos à análise de variância e as médias foram
agrupadas pelo critério de Scott-Knott a 1% de probabilidade. As características tamanho da flor,
comprimento da corola, comprimento da antera e comprimento do filete apresentaram diferenças
significativas pelo teste F a 1% de significância, diferente do tamanho de pétalas que não houve
diferença significativa. Os coeficientes de variação variaram de 8.23% a 16.81. Foi observado grande
variabilidade para caracteres qualitativos em relação às cores e mancha da corola, como também da
cor da antera e ausência e presença de pigmentação do cálice, evidenciou que há variabilidade entre os
genótipos. A variabilidade dos caracteres florais entre os acessos estudados é importante para
subsidiar programa de melhoramento.
Palavras-chave: Estrutura floral, plantas ornamentais, melhoramento de plantas

ABSTRACT
Species of the genus Capsicum are cultivated worldwide, Capsicum annuum L. being the most
cultivated species demonstrating its importance in the market and as an ornamental pepper plant.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1035
One of the most affordable ways to assess genetic diversity is based on botanical characterization.
This work aimed to make a floral characterization based on ornamental pepper population. The
work was performed at the Laboratory of Plant Biotechnology, Center for Agricultural Sciences,
Federal University of Paraíba, using 73 plants of the F2 generation, where five flowers per plant
were characterized using 10 qualitative descriptors and 5 quantitative. Quantitative data were
subjected to analysis of variance and means were grouped by the Scott-Knott test at 1% probability.
The size characteristics of the flower, corolla length, anther length and length of the fillet
significantly different by F test at 1% significance, while the size of petals that there was no
significant difference. The coefficients of variation ranged from 8.23 to 16.81%. Large variability
for qualitative characters referring to the colors and stain the corolla, as well as the color of the
anther and the presence and absence of pigmentation of the cup was observed, showed that there is
variability among the genotypes. The variability of floral traits among accessions is important to
support the breeding program.
Keywords: Structure flower, ornamental plants, plant breeding

INTRODUÇÃO

O gênero Capsicum pertence à família Solanaceae, tribo Solaneae, subtribo Solanenae, são
constituído de cinco espécies domesticadas sendo a Bolívia o país de origem desse gênero (CASALI
& COUTO, 1984: ESHBAUGH, 1970).
As espécies consideradas domesticadas do gênero Capsicum são: Capsicum annuum L.,
Capsicum chinense Jacq., Capsicum frutescens L., Capsicum baccatum L. e Capsicum pubescens
Ruiz & Pav. Essas cinco espécies formam três complexos: o complexo C. annuum inclui três
espécies e suas formas botânicas C. annuum, C. chinense e C. frutescens, sendo este o complexo mais
amplamente distribuído nas Américas e no mundo; o complexo C. baccatum que consiste de pelo
menos três espécies, C. baccatum, C. praetermissum e C. tovarii e o complexo C. pubescens, formado
por C. pubescens Ruiz & Pav., C. cardenasii Heiser & Smith e C. eximium Hunz (ESHBAUGH,
1970; PICKERSGILL,1997; IBIZA et al., 2011).
As pimentas do gênero Capsicum são amplamente cultivadas no mundo, sendo utilizadas
como matéria-prima para a indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética (YAMAMOTO &
NAWATA, 2005; BENTO et al., 2007).
As diferentes espécies e variedades de pimentas podem ser discriminadas por características
morfológicas dos frutos e, principalmente, das flores (MOREIRA et al., 2006). As plantas de
Capsicum apresentam frutos do tipo baga (REIFSCHNEIDER, 2000) e flores hermafroditas com
número de pétalas variável, prevalecendo às pentâmeras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1036


A espécie C. annuum var. annuum apresenta flores solitárias, corola branca, anteras azuis,
ausência de manchas na corola e de constrição anular na junção do cálice com o pedicelo e a C.
annuum var. glabriusculum apresenta corola sem a presença de manchas, brancas com borda roxa ou
totalmente arroxeadas, além de anteras roxas (ULHOA, 2013).
A caracterização botânica e as avaliações agronômicas são normalmente as formas mais
acessíveis para avaliar a diversidade genética e seu potencial tem sido bastante utilizado nas
coleções de germoplasmas e programas de melhoramento (Rego et al., 2011). Assim, este trabalho
teve como objetivo realizar a caracterização floral em população base de pimenteira ornamental.

MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na casa de vegetação pertencente ao Laboratório de
Biotecnologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias na Universidade Federal da Paraíba (UFPB-
CCA), no município de Areia - PB.
Utilizou-se dois genitores de Capsicum annuum pertencentes ao Banco de Germoplasma de
Hortaliças do CCA-UFPB, os acessos UFPB 77.3 e UFPB 76 que foram cruzados para obtenção da
geração F1, sendo estas plantas, posteriormente, autofecundadas para obtenção da geração F2.
A semeadura foi realizada em bandejas de isopor (poliestireno) de 128 células preenchidas
com substrato comercial Plantmax® e, quando as plantas apresentaram cinco folhas definitivas foram
transplantadas para vaso de 900 ml contendo substrato comercial.
Para caracterização morfológica das flores foram utilizados descritores quantitativos e
qualitativos propostos pelo por International Plant Genetic Resources Institute - IPGRI (1995).
Os caracteres qualitativo avaliados foram: número de flores por axila (NFA); posição da flor
(PF); cor da corola (CC); cor da mancha da corola (CMC); forma da corola (FC); cor da antera (CA);
cor do filamento (CF); posição do estigma (PE); pigmento do cálice (PC); margem do cálice (MC) e
os dados quantitativos foram: número de pétalas (NP), comprimento da flor (CF), comprimento da
corola(CC), comprimento da antera (CA) e comprimento do filete (CF). Para a medição dos dados
quantitativos utilizou-se paquímetro digital.
Os dados qualitativos foram expressos em porcentagens e os quantitativos foram submetidos à
análise de variância e as médias agrupadas pelo critério de Scott-Knott a 1% de probabilidade. As
análises foram realizadas utilizando-se o programa computacional Genes (CRUZ, 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os descritores qualitativos forma da corola, posição da flor e margem do cálice foram


considerados monomórficos, ou seja, os acessos apresentam características semelhantes para essas
variáveis. Todos os acessos de C. annuum avaliados apresentaram flores de forma rotácea de posição
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1037
ereta e margem intermediária. Quanto ao número de flores por axila, todos os acessos apresentaram
variação, com uma, duas e três flores. Em pimenteira ornamental, quanto maior o número de flores
por planta, consequentemente, maior o numero de fruto, sendo um atrativo para o consumidor.
Segundo Rêgo et al. (2009), as pimenteiras ornamentais são plantas com alto valor estético.
Muitas delas têm porte compacto e atrativo, devido a cores de seus frutos que se destacam em meio a
folhagem, sendo assim apreciadas para uso decorativo (Rêgo et al., 2009).
Dos genótipos avaliados 72% apresentam pigmento do cálice e apenas 28% não apresenta
pigmentação (Figura 1A). Segundo Carvalho & Bianchetti (2004) a posição floral, a ausência ou
presença de mancha e o número de flores por axila, tem grande importância para taxonomia e
identificação das espécies.
Quanto a cor do filamento da antera variou de violeta (55%), branco (33%) e violeta claro
(12%) (Figura 1 B). A cor da antera dos genótipos avaliados foram branco (12%) e violeta (88%)
(Figura 1C). As amostras de flores apresentaram cor de corola heterogênea, variando de violeta
(26%), branco (33%), violeta com base branca (20%) e branco com margem violeta (21%) (Figura
1D), sendo algumas dessas corolas com coloração de mancha branco (46%) e outras não possuiam
mancha (54%) (Figura 1E). Rêgo et al. (2011), observaram grande variabildade para caracteres
qualitativos de C. annuum referentes às cores de flor, antera e filamento. Resultados semelhantes
foram relatados por Neitzke et al. (2008), que evidencioaram grande variabilidade genética nos
acessos de C. baccatum baseados em caracteres qualitativos com base no IPGRI (1995).

Figura 1. Caracteres qualitativos de flores em geração segregante (F2) de pimenteiras ornamentais (C.
annuum L.). A) PIDC = Pigmentação do Cálice; B) CFA = Cor do Filamento da Antera, CA = Cor da antera
e C) CCRL = Cor da Corola e CMC = Cor da Mancha da Corola.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1038


As anomalias mais frequentes encontradas nas flores de pimenteiras da geração F2 foram
número de pétalas e anteras, os quais variaram entre cinco (90%), seis (9%) e sete (1%) e de flores
com número de pétalas igual ao de antera, onde uma amostra apresentou seis pétalas e sete anteras.
Também houve variação nos acessos quanto ao tamanho dessas anteras, observando anteras menores
e/ou maiores que as demais em uma mesma planta (Figura 2).

Figura 2. Anomalias em flores em geração segregante de pimenteiras ornamentais (C. annuum L.). A) Flor
violeta sem mancha, antera e filamento violeta; B) flor violeta com mancha branca, antera e filamento
violeta, 6 pétalas e 6 anteras; C) Flor branca sem mancha, filamento e antera branca; D) anteras de tamanhos
diferentes em uma mesma flor/planta. Fotos: Pontes, F.C.F.

Pickersgill (1997) relatou que a caracterização morfológica de acessos de Capsicum tem


sido utilizada como a forma mais usual de estudar a variabilidade genética das pimenteiras, porém,
tem sido pouco explorada e ainda não foi esgotada. Desse modo, trabalhos baseados em
caracterização morfológica de pimenteiras assume grande importância, em relação ao uso deste
germoplasma em programas de melhoramento.
Houve diferenças significativas, pelo teste F a 1% de significância, para grande parte dos
descritores quantitativos avaliados, exceto para o número de pétalas. Os coeficientes de variação
(CV) do experimento variaram de 8.23% para o comprimento da corola a 16.81 para o comprimento
do filete (Tabela 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1039


As características tamanho de flor, comprimento da corola e comprimento do filete foram as
variáveis que apresentaram maior grau de heterogeneidade entre as genótipos avaliados, formando 5
classes distintas de acordo com o teste de Scott-Knott a 1% de probabilidade, seguidas de
comprimento da antera e número de pétalas com 4 e 1 classes, respectivamente. Rêgo et al. (2011)
obtiveram significância pelo teste F (P≤0,01) em população segregante de C. annuum L. para
características relacionadas a flor, a exemplo de comprimento da corola, largura da pétala,
comprimento da antera e comprimento do filete.
O genótipo 5, possui flores de maior tamanho e corolas grandes. Esse genótipo pode ser
selecionado para avançar gerações no programa de melhoramento, com o intuito de criar novas
variedades de pimenteiras com flores maiores.
Em relação ao número de pétalas, todos os genótipos estudados apresentaram
homogeneidade mostrando-se sempre iguais ao número de estames, sendo essas flores classificadas
morfologicamente como isostêmones. A morfologia floral é uma importante característica, uma vez
polinizadores (Frankie et al. 1983) interferindo diretamente na variabilidade entre as plantas.

F.V QM
Tamanho da flor Comp. da corola Comp. antera Comp. filete Nº de pétalas
Tratamento 0.1065** 0.0279** 0.1927** 0.2802** 0.1558 NS
CV (%) 8.3761 8.2348 8.8274 16.8100 6.9824
N° de grupos 5 5 4 5 1
1) 5 1) 5 1) 61, 64 1)2,5,6,7,8,11, 1)1,2,3,4,5,6,7,8,9,
2) 6, 8, 11, 12, 19, 2) 6, 8, 11,12, 19, 2) 14,20,28,33,34, 10,11,12,13,14,15,
21, 23, 25, 26, 27, 26, 27 9,14,17,19,20,42, 44,50,67,68,70 16,17,18,19,20,21,
33, 44, 57 3) 1, 2, 3, 4, 13, 43, 52 2)1,4,10,19,25,26, 22,23,24,25,26,27,
3) 2, 7, 13, 20, 33, 14, 15, 18, 3) 27,29,30,31,32,36, 28,29,30,31,32,33,
34, 37, 48, 49, 50, 20, 22, 23, 25, 33, 9,14,17,19,20,42, 41,43,45,46,48,49, 34,35,36,37,38,39,
53, 66, 68, 70 34, 44, 48, 49, 43,52 55,56,57,59,60,61, 40,41,42,43,44,45,
4) 1, 3, 4, 9,10, 14, 50, 53, 55, 57, 65, 4) 65,66,71,72 46,47,48,49,56,57,
15, 16, 17, 18, 22, 66, 67, 68,66, 1,2,3,4,5,6,7,8,12, 3)9,12,13,15,16,18 58,59,61,63,66,67,
28, 29, 30, 31, 35, 70, 72 13,15,18,21,22,24, ,21,22,23,35, 68,69,70,71,73,74,
36, 39, 41, 42, 43, 4) 7, 9, 10, 16, 17, 25, 37,38,40,42,51, 77,78,79,80,88,89,
Grupo de
Genótipos 45, 46, 52, 54, 56, 28, 29, 30, 27,29,32,30,34,35, 52,54,58,62,69 90,93,94,95,96,97,
58, 61, 64, 65, 67, 31, 32, 35, 36, 37, 37, 4)17,24,39,47 98
69, 72 39, 40, 41, 38,39,40,41,44,47, 5)53,63,64
5) 24, 32, 38, 40, 42, 43, 45, 46, 52, 48,
47, 51, 59, 60,62, 54, 58, 59, 50,51,54,55,56,57,
63, 71 60, 61, 64, 69 58,
5) 24, 38, 47, 51, 60,61,63,65,68,69,
62, 63, 71 70,
71,72
5) 10,16,23,26,28,
31,33,36,45,46,49,
53,62,67

Tabela 1. Resumo da análise de variância: quadrados médios (QM) e coeficiente de variação (CV%), para
cinco variáveis relacionadas à flor em geração segregante de pimenteiras ornamentais (Capsicum annuum
L.). CCA/UFPB, 2014.
**Significativo, em nível de 1% de probabilidade pelo teste F; ns Não significativo pelo teste F.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1040
CONCLUSÃO

Há variabilidade genética para a maioria dos caracteres florais na geração F2 de pimenteira


ornamental.
Esses resultados são de grande importância para subsidiar a condução de programas de
melhoramento genético de pimenteiras ornamentais, definindo o método mais apropriado a ser
utilizado, além da aplicação de práticas de manejo para a espécie.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTO, C. S.; SUDRE, C. P.; RODRIGUES, R.; RIVA, E. M.; PEREIRA, M. G. Descritores
qualitativos e multicategóricos na estimativa da variabilidade fenotípica entre acessos de pimentas.
2007. Scientia Agraria. v. 8, n. 2, p. 149-156.

CARVALHO, S.I.C & BIANCHETTI, L.B. Botânica. Embrapa Hortaliças. 2004

CASALI, V.W.D.; Couto F.A.A. Origem e botânica de Capsicum. 1984. Informe Agropecuário. Belo
Horizonte. 10: 113pp.

Cruz CD (2006) Programa Genes: Biometria. Viçosa, Editora UFV. p. 382.

ESHBAUGH, W.H. Biosystematic and evolutionary study of Capsicum baccatum (Solanaceae).


1970. Brittonia. 22: (1) 31-43p.

Frankie, G. W.; Harber, W. A.; Opler, P. A; Bawa, K. S. Characteristics andorganization of the


large bee pollination systems in the Costa Rican dry forest. In: C.E. Jones; R.J. Little (eds.).
Handbook of experimental pollination biology. 1983. New York: Van Nostrand Reinhold
Company Inc. p. 411-447.

IBIZA, V.P., BLANCA, J., CAÑIZARES, J., & NUEZ, F. Taxonomy and genetic diversity of
domesticated Capsicum species in the Andean region. Genetic Resources and Crop Evolution.
2011.286 – 291p.

IPGRI, AVRDC e CATIE. Descriptors for Capsicum (Capsicum spp). Roma: International Plant
Genetic Resources Institute, Asian Vegetable Research and Development Center, Centro
Agronômico Tropical de Investigación y Enseñanza, 1995. 51p.

MOREIRA GR; CALIMAN FRB; SILVA DJH; RIBEIRO CSC. Espécies e variedades de pimenta.
2006. Informe Agrocuário 27: 16-29.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1041


NEITZKE, R. S.; BARBIERI, R.L.; HEIDEN, G.; CASTRO, C. M. Divergência genética entre
variedades locais de Capsicum Baccatum utilizando caracteres multicategóricos. 2008. Revista
Magistra, Cruz das Almas-BA. 20:249-255.

PICKERSGILL, B. Genetic resources and breeding of Capsicum spp. Euphytica. 96:129 – 133p. 1997

REIFSCHNEIDER, F. J. B. (Org.) Capsicum: pimentas e pimentões no Brasil. 2000. Brasília:


Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia/Embrapa Hortaliças,.

RÊGO, E. R; RÊGO, M. M; SILVA, D. F; CORTEZ, R. M; SAPUCAY, M. J. L. C. ; SILVA, D.


R.; SILVA JUNIOR, S. J. Selection for leaf and plant size and longevity of ornamental peppers
(Capsicum spp.) grown in greenhouse condition. 2009. Acta Horticulturae 829: 371 – 375.

RÊGO, E.R.; NASCIMENTO, N.F.F.; NASCIMENTO, M.F.; SANTOS, R.M.; LEITE, P.S.S.;
FINGER, F.L. Caracterização fenotípica para caracteres de porte em família F2 de pimenteiras
ornamentais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Anais... Viçosa: ABH.
2909-2916. 2011.

SCOOT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster analysis method for grouping means in the analysis of
variance. 1974. Biometrics. Raleigh, v.30, n.3, p.507-512, Sept..

ULHOA, ARLYSSON BARROS. Caracterização morfoagronômica e molecular de linhagens de


pimenta do tipo jalapeño amarelo (Capsicum annuum var. annuum). 2013. 80p. Dissertação
(Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas) - Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro.

YAMAMOTO, S.; NAWATA, E. Capsicum frutescens L. in southeast and east Asia, and its
dispersal routes into Japan. 2005. Economic Botany. v. 59, n. 1, p. 18-28.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1042


AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE FEIJÃO AZUKI (Vigna angularis) EM
DIFERENTES ESPAÇAMENTOS NO MUNICÍPIOS DE RIO LARGO-AL

Jadson dos Santos TEIXEIRA


Graduando do Curso de Agronomia da UFAL
jadsonteixeira@gmail.com
Jackson da SILVA
Graduando do Curso de Agronomia da UFAL
needjackson@hotmail.com
Felipe dos Santos de OLIVEIRA
Graduando do Curso de Agronomia da UFAL
felipe.smc2011@gmail.com
João Gomes da COSTA
Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros
joao-gomes.costa@embrapa.br

RESUMO
A pesquisa foi desenvolvida na Área Experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal de Alagoas (CECA/UFAL), esse estudo teve por objetivo avaliar o desempenho de
genótipos de feijão azuki, em diferentes espaçamentos em Rio Largo Alagoas. Foram avaliados 6
tratamentos, constituídos pela combinação entre três espaçamento, 1: (0,3m X 0,2m), 2: (0,4m X
0,2m) e 3: (0,5m X 0,2m) e dois genótipos de feijão Azuki, genótipo 1: obtido comercialmente e
genótipo 2: obtido de agricultor familiar. A área foi dividida em quatro blocos com um total de 24
parcelas experimentais, cada parcela foi constituídas por 4 linhas de 5m de comprimento,
considerando-se como área útil para coleta dos dados as duas fileiras centrais, descartando-se as seis
primeiras e as seis últimas plantas de cada extremidade. O espaçamento entre linhas de 0,30 m
proporcionou uma maior produtividade quando comparado com os demais espaçamentos.
Palavras-chaves: Melhoramento Vegetal; Genótipos; Espaçamentos; Agricultura Familiar;
Produtividade.

ABSTRACT
The research was conducted at the Experimental Area of the Center for Agricultural Sciences,
Federal University of Alagoas (CECA / UFAL) This study aimed to evaluate the performance of
genotypes of beans at different spacings in Rio Largo Alagoas. (0.3m X 0.2m), 2: (0.4m X 0.2m)
and 3: (0.5m X 0.2m) and two genotypes 6 treatments resulting from the combination of three
spacing, 1 were evaluated Azuki bean, genotype 1: genotype obtained commercially and 2: obtained
from family farmers. The area was divided into four blocks with a total of 24 experimental plots,
each plot was formed by four lines of 5m long, considering how useful for data collection area the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1043


two central rows discarding the first six and the last six plants from each end. The spacing of 0.30 m
provided greater yield compared to other spacings.

Keywords: Plant Breeding; genotypes; spacings; Family Agriculture; Productivity.

INTRODUÇÃO
O feijão é cultivado em quase todos os países de clima tropical e subtropical, razão pela qual
assume enorme importância na alimentação humana devido, fundamentalmente, ao seu baixo custo
em relação aos produtos de origem animal (ALMEIDA et al., 2013). Portanto, o feijão representa a
principal fonte de proteínas das populações de baixa renda (MESQUITA et al., 2007). Devido a sua
riqueza em proteína, com aceitação nos mais diversos hábitos alimentares, o seu cultivo é
disseminado por todo o País (MESQUITA et al., 2007).
O gênero Vigna compreende cerca de 160 espécies, das quais somente sete são cultivadas,
dentre essas o feijão adzuki (Vigna angularis (Willd.) Ohwi & Ohashi) é de origem asiática sendo
muito cultivado e consumido na China, Japão e Coreia e foi trazido ao Brasil pelos japoneses
(ALMEIDA et al., 2013).
O feijão adzuki tem sido objeto de várias pesquisas devido às suas atividades biológicas tais
como: alimento adequado para pacientes diabéticos devido ao seu alto teor de fibras e teores de
proteína (LEE et al., 2004), por possuir elevado teor de fitoquímicos bioativos (YAO et al. 2012;
MARUYAMA et al. 2008) incluindo compostos fenólicos (LIN e LAI, 2006; ), efeito
hipoglicemiante (YAO et al., 2011; ).
De acordo com Vieira (2000), este tipo de feijão apresenta elevado potencial de cultivo por
agricultores familiares como opção de diversificação de culturas e geração de renda, pois alcança
preços de mercado superiores ao feijão-comum.
No Brasil são cultivadas várias espécies de feijão; entretanto, para efeito de regulamento
técnico, somente as espécies Phaseolus vulgaris (L.) e Vigna unguiculata (L.) Walp., feijão-comum
e feijão-caupi, respectivamente, são consideradas como feijão pelo MAPA (2008). Essas duas
espécies são as mais importantes social e economicamente no País, entretanto às condições
agroecológicas são propícias ao cultivo de outras espécies de feijão a exemplo do feijão azuki, que
exige condições agronômicas que o Brasil possui.
O nordeste vem suprindo a sua necessidade de consumo com oferta proveniente dos estados
do Ceara, Sergipe, Alagoas, Bahia e do agreste Pernambucano CONAB (2013), entretanto não se
tem registro da produção de feijão azuki nessa região, tendo em vista a falta de conhecimento por
parte dos agricultores dessa cultura, e também pela falta de politicas voltada para a diversificação
das culturas de subsistência.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1044


O feijão azuki é uma cultura que requer temperaturas entre 15 e 30 ºC durante o ciclo, e
tolera maiores taxas de precipitação que o feijão-comum (VIEIRA et al., 2000). Portanto, a maior
parte do território brasileiro tem potencial agronômico para produção de feijão azuki, sem falar no
preço diferenciado que o mesmo tem no mercado, mostrando grande possibilidade do agricultor
familiar obter maior retorno econômico em sua propriedade.
Dessa forma tendo em vista a falta de informações na literatura sobre o espaçamento do
feijão azuki, e a falta de conhecimento dos pequenos agricultores sobre essa cultura, esse estudo
teve por objetivo avaliar o desempenho de genótipos de feijão azuki, em diferentes espaçamentos
em Rio Largo-AL.

METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida na Área Experimental do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Alagoas (CECA/UFAL), localizado no Campus Delza Gitai, Br 104 norte,
km 85, Rio Largo – Alagoas, no ano de 2013. O solo local foi classificado como latossolo amarelo
coeso (Lax) (EMBRAPA, 1999). O Município está situado a uma latitude de 9°27‘S, longitude de
35°27‘W e uma altitude média de 127 m acima do nível do mar, com temperaturas médias:
máximas de 29°C e mínima de 21°C, e pluviosidade média anual de 1.267,7 mm (CENTENO e
KISHI, 1994).

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, no esquema fatorial (3 x 2)


com quatro repetições. Foram avaliados 6 tratamentos, constituídos pela combinação entre três
espaçamento, 1: (0,3m X 0,2m), 2: (0,4m X 0,2m) e 3: (0,5m X 0,2m) e dois genótipos de feijão
Azuki, genótipo 1: obtido comercialmente e genótipo 2: obtido de agricultor familiar. A área foi
dividida em quatro blocos com um total de 24 parcelas experimentais, cada parcela foi constituídas
por 4 linhas de 5m de comprimento, com 75 plantas por linha, totalizando uma área de 6m 2 para o
espaçamento de 0,3m x 0,2m; de 8m2 para o espaçamento de 0,4m x 0,2m, e de 10 m2 para o
espaçamento de 0,5 x 0,2; considerando-se como área útil para coleta dos dados as duas fileiras
centrais, descartando-se as seis primeiras e as seis últimas plantas de cada extremidade.

Antes da implantação do experimento, realizou-se análise química do solo (Tabela 1) no


Laboratório Central Analítica Ltda. O preparo do solo foi efetuado com uma gradagem e não foi
necessária a correção do solo. Por ocasião da semeadura foi realizada uma adubação química em
fundação com 50-74-28 kg.ha-1 de N, P e K, respectivamente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1045


Tabela 1: Análise química do solo da área experimental do CECA/UFAL. Rio Largo - AL, 2013.
A semeadura foi realizada no dia 02/06/2013, de forma manual, onde foram distribuídas 300
sementes por parcelas, onde a cada 0,20m foi distribuídas 3 sementes uniformemente e não foi feito
o desbaste, permanecendo 15 plantas por metro linear. O controle de plantas daninhas foi realizado
através de capinas manual (enxada), com um total de duas operações durante o ciclo da cultura. Não
foi necessário realizar o controle de pragas tendo em vista que a incidência de pragas ficou abaixo
dos danos econômicos.
Durante o ciclo da cultura foi realizada irrigação sempre que a cultura apresentou estresse
hídrico. Mesmo o experimento tendo sido implantado no período chuvoso, foi necessária irrigação
devido aos períodos de veranico.
A colheita do feijão azuki iniciou-se aos 78 dias e foi realizada em três etapas tendo em vista
a desuniformidade do amadurecimento das vagens. A primeira colheita foi realizada no dia 20 de
agosto de 2013 e as demais seguiram um intervalo de 7 dias sendo a ultima colheita realizada 92
dias após a semeadura. A colheita foi realizada coletando-se 126 plantas das duas fileiras centrais de
cada parcela, eliminando-se as 6 primeiras e as 6 ultimas em cada extremidade das linhas.
Os caracteres avaliados foram: 1- Comprimento de Vagens (CV) em cm, 2- Número de
Vagens por Planta (NVP) em unidade, 3- Peso de Vagens com Sementes (PVCS) em Kg.ha-1, 4-
Peso de Cem Grãos (PCG) em g, 5- Número de Sementes Por Vagens (NSV) em unidade, 6- Peso
da Casca (PC) em Kg.ha-1 e, 7- Produtividade (PROD.) em Kg.ha-1.
As analises de variância do ensaio disposto no delineamento em blocos ao acaso no esquema
fatorial (3 x 2), foram realizadas seguindo as recomendações de Ferreira (2000). As médias dos
caracteres avaliados foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando-se o
Aplicativo computacional SISVAR (FERREIRA, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise de variância (Tabela 02) mostram que de acordo com o teste F a 1%
de probabilidade houve diferença significativa entre os genótipos para as variáveis: Comprimento
de Vagem, Peso de Cem Grãos e Número de Sementes por Vagem. Já as variáveis Peso de Vagem
Com Sementes e Produtividade os genótipos apresentaram diferença significativa a 5% de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1046
probabilidade pelo teste F. Não houve diferença significativa para as demais variáveis. Com relação
ao efeito de espaçamentos observa-se diferença significativa a 1% de probabilidade para a variável
Peso de Vagem Com Sementes e a 5% para a variável Produtividade. A interação entre genótipos X
tipos de espaçamentos não apresentou diferença significativa pelo teste F a 5% de probabilidade
para as variáveis avaliadas.
As variáveis comprimento de vagem, peso de cem grãos e número de sementes por vagem
apresentaram ótima precisão experimental, com respectivos coeficientes de variação (CV) de
2,71%, 4,43%, e 3,02%. A variável número de vagem por planta apresentou boa precisão
experimental, com coeficiente de variação de 12,73%; a variável peso de vagem com sementes
apresentou uma regular precisão experimental de 19,49%. Resultados semelhantes ao encontrado
por Cardoso et al. (2006), que avaliando desempenho agronômico de feijão-caupi obteve coeficiente
de variação de 4,03% para comprimento de vagem, 2,65% para número de grãos por vagem e
6,38% para peso de cem grãos. Já para as variáveis peso das cascas e produção, os coeficientes de
variação foram de 34,98%, e 25,99%, respectivamente.

Tabela 2 - Resumo das análises de variância e coeficientes de variação para as variáveis avaliadas aos 92
dias após o plantio na influência de diferentes espaçamentos em dois genótipos de feijão azuki, Rio Largo-
AL, 2014.
ns: Não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. **: Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. *:
Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. CV: Comprimento de Vagens; NVP : Número de Vagens por Planta;
PVCS: Peso de Vagens com Sementes; PCG: Peso de Cem Grãos; NSV: Número de Sementes Por Vagens; PC: Peso da
Casca e PROD: Produtividade.

Na tabela 3 consta o desempenho de genótipos de feijão azuki em três espaçamentos entre


linhas no município de Rio Largo- AL para sete variáveis. Não houve efeito significativo para as
regressões a 5% de probabilidade pelo teste F para as seguintes variáveis: Comprimento de Vagem
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1047
(CV), Número de Vagem por Planta (NVP), Peso de Cem Grãos (PCG), Número de Sementes por
Vagem (NSV) e Peso da Casca (PC), cujas médias gerais foram: 11,364 cm, 9,203 unidades, 8,317
g, 8,382 unidades e 288.11 Kg.ha-1, respectivamente. Para as outras variáveis, houve diferença
significativa para a regressão linear pelo teste F entre os espaçamentos para as seguintes variáveis:
Peso de Vagem Com Sementes (PVCS), a 1% de probabilidade, e Produtividade (PROD), a 5% de
probabilidade. O espaçamento 0,30 m entre fileiras proporcionou um maior peso de vagem com
sementes (1077.80 Kg.ha-1), da mesma forma o mesmo espaçamento proporcionou uma maior
produção (743.50 Kg.ha-1).

Tabela 03 – Média das variáveis avaliadas de feijão azuki em três tipos de espaçamentos, Rio Largo-AL,
2014: Comprimento da Vagem (CV) em cm; Número de Vagem por Planta (NVP) em unidades; Peso de
Vagem Com Sementes (PVCS) em Kg.ha-1; Peso de Cem Grãos (PCG) em g; Número de Sementes por
Vagem (NSV) em Unidades; Peso da Casca (PC) em Kg.ha-1 e Produtividade (PROD) em Kg.ha-1.

O Peso de Vagem Com Sementes é representada pela equação Y=1576,20-1661,33X,


representando 96,59% dos casos em estudo, no qual a medida que o espaçamento entre linhas é
aumentada ocorre redução no PVCS (Figura 1), dessa forma o espaçamento de 0,30 m entre linhas
proporcionou maior peso de vagem com semente (1077.80 Kg.ha-1), os espaçamentos 0,40 e 0,50 m
entre linhas obtiveram médias respectivamente de 911.66 e 745.53 Kg.ha-1.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1048


Figura 1:Valores de Peso de Vagem Com Sementes (Kg.ha-1) no desempenho de feijão azuki em diferentes
espaçamentos, Rio Largo-AL, 2014.

A Produção é representada pela equação Y=1103,59-1200,30X, representado 97,72% dos


casos estudados, no qual a medida que o espaçamento entre linhas diminuem há um aumento na
produtividade (Figura 2), uma vez que quando reduzido o espaçamento entre as plantas há um
aumento na quantidade de plantas por hectare. Dessa forma o espaçamento 0,30 m entre linha
apresentou maior produtividade (743,50 Kg.ha-1), os espaçamentos 0,40 e 0,50 m apresentaram
médias respectivamente de 623,47 e 503,44 Kg.ha-1. Resultado semelhante encontrado por Cardoso
et al., (2006), que estudando o desempenho de feijão-caupi em função de espaçamento entre linhas
observo que o espaçamento de 50 cm entre fileiras apresentou, em média, produção relativa de
grãos superior em 2,9% e 7,8% às dos espaçamentos de 70 cm e 90 cm, respectivamente.

Figura 2:Valores da Produtividade de feijão azuki (Kg.ha-1) em diferentes espaçamentos, Rio Largo-AL,
2014.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1049
CONCLUSÃO

A produtividade de grãos diferiu estatisticamente entre os genótipos estudados, tendo o


genótipo 1 maior produtividade. Assim, podendo ser indicado para o município de Rio Largo.
O espaçamento entre linhas de 0,30 m proporcionou uma maior produtividade quando
comparado com os demais espaçamentos, tendo produtividade de 743,50 Kg.ha-1.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, D.P., RESENDE, O.M.U.C., COSTA, L.M., CORREA, P.C., ROCHA, A.C..
Influência da secagem na qualidade fisiológica do feijão adzuki. Revista Brasileira de Ciências
Agrárias [On-line] 2013, 8 ( ) : [Data de consulta: 23 / setembro / 2014] Disponível
em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=119027922022>ISSN 1981-1160.

MESQUITA, F. R.; CORRÊA, A. D.; ABREU, C. M. P. de.; LIMA, R. A. Z.; ABREU, A. F. B. de.
Linhagens de feijão (phaseolus vulgaris L.): composição química e digestibilidade protéica.
Ciência e Agrotecnologia, v. 31, p. 114-1121, 2007.

LEE, S.H.; CHUN, H.K.; PARK, H.J.; LEE, Y.S. Supplementary effect of the high dietary fiber rice
on blood glucose in diabetic KK-Ay mice. Korean J. Nutr. 2004, 37, 75–80.

YAO, Y., CHENG, X., WANG, L., WANG, S., REN, G. ―A determination of potential 𝛼-
glucosidase inhibitors from azuki beans (Vigna angularis),” International Journal of Molecular
Sciences, vol. 12, no. 10, pp. 6445–6451, 2011.

Yao, Y., Cheng, X.Z., Wang, S.H., Wang, L.X., Ren, G.X., 2012. Influence of altitudi-nal variation
on the antioxidant and antidiabetic potential of azuki bean (Vigna angularis). Int. J. Food Sci.
Nutr. 63 (1), 117–124.

LIN, P.Y.; LAI, H.M. Bioactive compounds in legumes and their germinated products. J.
Agric.Food Chem. 2006, 54, 3807–3814.

VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.; MOURA, W. M. Comportamento do feijão Azuki em diferentes


épocas de plantio em Coimbra e Viçosa, Minas Gerais. Revista Ceres, v. 47, p. 411-420, 2000.

CONAB- COMPANHINHA DE ABASTECIMETO. Terceiro Levantamento Dezembro/2013.


Disponível
http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_12_10_16_06_56_boletim_portugues_
dezembro_2013.pdf

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1050


CENTENO, J. A. S.; KISH, R. T. Recursos hídricos do estado de Alagoas. Maceió. Secretaria de
planejamento estadual de meteorologia e recursos hídricos. 1994. 41 p.

CRUSCIOL, C. A. C.; LIMA, E. D.; ANDREOTTI, M.; NAKAGAWA, J.; LEMOS, L. B.;
MARUBAYASHI, O. M. Efeito do Nitrogênio Sobre a Qualidade Fisiológica, Produtividade e
Características de Sementes de Feijão. Revista Brasileira de Sementes, vol. 25, n° 1, p. 108-115,
2003.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema brasileiro de classificação


de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA/CNPS, 1999, 412p.

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Feijão-Caupi (Produção,


Melhoramento Genético, Avanços e Desafios). Disponível
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/84470/1/feijao-caupi.pdf- Teresina, PI-
2011.

FERREIRA, D.F. Programa SISVAR: sistema de análise de variância, Versão 4,6 (Build 6,0),
Lavras, DEX/UFLA, 2003.

ITOH, T.; KITA, N.; KUROKAWA, Y.; KOBAYASHI, M.; HORIO, F.; FURUICHI, Y.
Suppressive effect of a hot water extract of adzuki beans (Vigna angularis) on hyperglycemia
after sucrose loading in mice and diabetic rats. Biosci. Biotechnol. Biochem. 2004, 68, 2421–
2416.

MARUYAMA, C., ARAKI, R., KAWAMURA, M. et al., “Azuki bean juice lowers serum
triglyceride concentrations in healthy young women,” Journal of Clinical Biochemistry and
Nutrition, vol. 43, no. 1, pp. 19–25, 2008.

SHIMADA, M. M.; ARF, O.; SÁ, M. E. Componentes do rendimento e desenvolvimento do


feijoeiro de porte ereto sob diferentes densidades populacionais. Bragantia, v. 59, n. 02, p. 181-
187, 2000.

CARDOSO, M.J.; RIBEIRO, V.Q. Desempenho agronômico do feijão-caupi, cv. Rouxinol, em


função de espaçamentos entre linhas e densidade de plantas sob regime de sequeiro. Revista
Ciências Agronômica, v.37, n.1, p.102-105, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1051


COMPARAÇÃO DA ATIVIDADE COAGULANTE DA SEMENTE DE Moriga
oleifera PROCESSADA POR DIFERENTES FORMAS COM UM COAGULANTE
QUÍMICO

Jéssica Gonçalves FONSECA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
jessica.jgf@hotmail.com
Raquel Bruna CHAVES
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
raquel_chavees@hotmail.com

Allinny Luzia Alves CAVALCANTE


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
cavalcanteallinny@gmail.com

Yáskara F. M. Marques LEITE


Professora adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo avaliar qual a melhor forma de processamento das sementes de
Moringa oleifera para a preparação de solução coagulante, utilizando como parâmetro a diminuição
da turbidez, bem como, comparar com o coagulante químico Sulfato de Alumínio. A torta das
sementes de Moringa oleifera, após a extração, mostra ter bons resultados na clarificação da água
usada no experimento que foi proveniente da Lagoa Caiçara, localizada no município de Russas-
CE. Para obtenção dos resultados, utilizou-se o equipamento Jar test, onde foram realizados ensaios
de coagulação/floculação, com as seguintes concentrações de solução coagulante: 0 mL, 45 mL e 75
mL, para todos os coagulantes utilizados (trituração por mixer, trituração em liquidificador e o
coagulante químico, sulfato de alumínio). As análises de turbidez foram realizadas após 2 horas de
sedimentação. O tratamento mostrou-se mais eficiente na concentração de 45 mL, para todos os
coagulantes, porém, as sementes que foram trituradas com o mixer, apresentaram uma maior
diminuição da turbidez quando comparada com a trituração feita em liquidificador, bem como,
quando comparada com o sulfato de alumínio.
Palavras-chave: Processamento de sementes; Moringa oleifera; turbidez; solução coagulante
natural; Lagoa Caiçara.

ABSTRACT
This work aims to evaluate how best to process the Moringa oleifera seeds for the preparation of
coagulant solution, using as a parameter the decreased of turbidity, as well as comparing with the
chemical coagulant aluminum sulfate. The pie seeds of Moringa oleifera, after extraction, shows

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1052


succeed at clarifying the water used in the experiment came from the Caiçara Lagoon, located in the
municipality of Russas-CE. To obtain the results, we used the Jar test equipment which tests for
coagulation/flocculation were performed with the following concentrations of coagulant solution: 0
mL, 45 mL and 75 mL to all coagulants used (trituration by mixer, trituration in a blender and the
chemical coagulant, aluminum sulfate). Turbidity analysis were performed after 2 hours for
sedimentation. The treatment was most effective at a concentration of 45 ml for all coagulants,
however, the seeds were triturated with a mixer, showed a greater reduction of turbidity as
compared with trituration done in a blender, and when compared to aluminum sulfate.
Keywords: Processing of seeds; Moringa oleifera; turbidity; natural coagulant solution; Caiçara
Lagoon.

INTRODUÇÃO

Quando coletada para uso doméstico, a água de mananciais superficiais pode conter
impurezas, particularmente na estação chuvosa, pois a água carrega sedimentos, partículas em
suspensão, dissolvidas e coloidais, além de micro-organismos e outros contaminantes passíveis de
causar danos à saúde humana. Desta forma, quando destinada ao consumo humano é conveniente
que se removam tais impurezas contidas na água, o que é feito normalmente em estações de
tratamento de água, utilizando-se coagulantes químicos.
O sulfato de alumínio destaca-se como o coagulante químico mais utilizado no Brasil, no
tratamento de água a ser distribuída à população, pela alta eficiência na remoção de sólidos em
suspensão e pelo relativo baixo custo. No entanto, esse sal torna-se caro para áreas mais afastadas
em função do custo do seu transporte, além de poder ocasionar problemas de saúde, em decorrência
do alumínio residual nas águas tratadas e dificultar a disposição final do lodo produzido nas
estações de tratamento. Além disso, a utilização de sais de alumínio apresenta outras desvantagens
tais como produção de grande volume de lodo, consumo da alcalinidade do meio, acarretando
custos adicionais com produtos químicos utilizados na correção do pH (SILVA et al., 2007).
O interesse por coagulantes naturais deve-se ao fato destes serem biodegradáveis e seguros
para a saúde humana (OKUDA et al., 2001). A utilização de coagulantes naturais, produzido no
local e com baixo custo financeiro, pode proporcionar atenuação nos problemas ligados ao consumo
de água não potável e despejos de águas residuárias, sem tratamento, em corpos hídricos receptores.
Uma planta que vem sendo pesquisada é a Moringa oleifera Lam pertencente à família
Moringaceae, que é composta apenas de um gênero (Moringa) e 14 espécies
(NDABIGENGESERE ET AL., 1995; JAHN, 1989; PISE E HALKUDE, 2012). Jahn (1989) e
Ndabigengesere et al. (1995) verificaram que o componente ativo desta semente é uma proteína

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1053


solúvel que atua como um polieletrólito catiônico natural durante o tratamento e causa a coagulação
da água turva. Desta forma, a utilização destas sementes é uma alternativa viável em substituição
aos sais metálicos, que são utilizados no tratamento de água no mundo todo (Sánchez-MARTÍN ET
AL., 2012).
A Lagoa Caiçara está localizada no município de Russas – Ceará, é uma área de
interferência urbana, vista pela população como um local cultural e de lazer, onde muitas pessoas
frequentam para realizar suas atividades físicas, está sendo alvo de grandes empreendimentos
imobiliários ao seu redor, aumentando a carga de poluição já existente devido à crescente
urbanização. O tratamento da água é importante para um desenvolvimento mais limpo, pois existem
moradores que fazem uso da água, bem como, praticam a pesca para alimentação, bem como agiria
como um fator de incentivo à conservação do Parque urbanizado da Lagoa Caiçara.
Desta forma, o presente estudo teve por objetivo avaliar diferentes formas de processamento
da semente de Moringa oleifera para a preparação da solução coagulante, utilizando como
parâmetro, um coagulante sintético, para a remoção da turbidez da água oriunda desta lagoa, tão
importante para a região.

METODOLOGIA

As amostras de água foram coletadas na Lagoa da Caiçara que esta localizada no município
de Russas – Ceará (4°56'17.8"S 37°58'57.3"W), ponto localizado próximo da avenida paralela à
lagoa, perímetro urbano da cidade. Após a coleta, as amostras foram armazenadas em garrafas de
polipropileno e conservadas em temperatura ambiente, variando entre 33ºC e 37ºC.
Para o preparo das soluções coagulantes, utilizaram-se duas formas de processamento das
sementes. Primeiramente, as sementes de Moringa oleifera foram descascadas, trituradas em mixer
de 180 watts de potência, sendo este o primeiro processamento e o segundo, triturados em
liquidificador. O material obtido foi levado ao forno micro-ondas por 2 minutos em potência
máxima para retirada da umidade e acondicionado em um dessecador. Utilizou-se como parâmetro
para eficácia da solução coagulante da moringa, o coagulante sintético Sulfato de alumínio.
Para uma maior eficiência das soluções coagulantes, fez-se necessário a extração do
conteúdo oleico das sementes utilizando o método por extração continua soxhlet, onde se usou
hexano como solvente. A torta obtida após a extração do óleo foi utilizada como base para o preparo
das soluções. As soluções coagulantes foram preparadas minutos antes dos ensaios, utilizando-se 6
g da torta obtida anteriormente diluída em 300 ml de água destilada, agitando sempre, para a
extração do princípio ativo. O tempo de agitação foi em um intervalo entre 15 e 20 minutos de
agitação manual. Em seguida, as soluções foram filtradas em papel-filtro com porosidade de 7 μm

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1054


(OKUDA et al., 1999).
Para o ensaio de coagulação/floculação foi utilizado equipamento Jar test, que simula os
procedimentos realizados em uma Estação de Tratamento de Água – ETA. Em cada cuba do
equipamento, foi adicionada 1,5 L das amostras de água e em cada uma, foram adicionadas
diferentes concentrações (0; 45 e 75 ml) das duas soluções coagulantes preparadas, bem como, do
coagulante sintético Sulfato de alumino, uma de cada vez, sendo que para cada concentração de
solução adicionada foram feitas três repetições, totalizando 27 amostras, divididas em 9 ensaios .
Segundo Valverde et al. (2013) os parâmetros de operação ótima na determinação das etapas de
coagulação/floculação no processo de tratamento das águas, tem como tempo de mistura rápida 3
minutos, sendo, gradiente de mistura rápida 100 rpm e, tempo de mistura lenta 15 minutos, com
gradiente de mistura rápida de 50 rpm e tempo de sedimentação de 2 horas. Após o tempo de
sedimentação, foi retirada 45 mL de cada cuba para realizar o teste de turbidez e assim, poder
determinar a eficiência da solução coagulante e das concentrações utilizadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante das analises realizadas de turbidez, pode-se obter resultados conforme mostra o
Gráfico 1. A água utilizada apresenta inicialmente um valor de turbidez 31,4 NTU no qual esse
valor relativamente alto é devido ao fato por se tratar de uma água sem fluxo continuo, ou seja, por
ser uma água parada, o que favorece o acumulo de resíduo domestico bem como o local servir de
escoamento das águas provenientes de chuvas escassas, no período da coleta das amostras.

Gráfico 1 - Valores de turbidez obtidos nas diferentes concentrações e formas de processamento da semente.

Percebe-se claramente pela análise dos dados do gráfico que, conforme descrito na
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1055
literatura, o extrato de sementes de Moringa oleifera realmente apresenta um efeito de coagulação
sobre o sistema particulado em suspensão, favorecendo uma redução significativa do parâmetro
turbidez. Onde a concentração de 45mL apresentou uma melhor remoção de turbidez, quando
comparada com a concentração de 75mL, visto que, para a remoção da turbidez na água em estudo,
não se faz necessário maiores concentrações. A queda da eficiência de remoção deste parâmetro,
quando aplicada uma maior concentração, pode ser explicada pelo aumento da carga orgânica, isto é
justificável, considerando que a moringa é uma oleaginosa muito rica em substâncias orgânicas, tais
como, óleo, proteína, gordura, vitaminas, etc. (RAMOS, 2005). A concentração de 45mL apresentou
resultados positivos para todas as soluções coagulantes, incluindo sobre o coagulante químico,
porém, se comparado individualmente a solução coagulante do processamento do mixer com a do
liquidificador, pode-se observar que o processamento em mixer apresentou uma melhor remoção,
da mesma forma, quando comparado com o sulfato de alumínio, um coagulante químico
amplamente usado para esta finalidade. A portaria nº 518, de 25 de março de 2004 estabelece que o
valor permitido para o padrão de portabilidade da água para turbidez deve ser 5 UT (FUNASA,
2006), o valor obtido na melhor concentração do mixer, sendo essa a concentração de 45 mL, não
está dentro do valor permitido, fato que pode ser justificável pela perda da eficiência da torta de
Moringa oleifera, onde segundo Cruz et al. (2010), a torta pode ser armazenada por
aproximadamente 30 dias em embalagens plásticas e, para esse trabalho, foi armazenada em
embalagens de vidro.
Levando em consideração apenas a concentração de 45 mL das três soluções coagulantes,
onde essa concentração, foi a que obteve uma melhor remoção da turbidez, podemos associar os
diferentes coagulantes ao pH, como pode-se observar os valores na tabela 1:

Água Bruta Sulfato de Moringa oleifera – Moringa oleifera –


Alumínio – Mixer (45 mL) Liquidificador (45 mL)
(45 mL)
pH 7,7 4,4 7,3 7,7

Tabela 1- Valores de pH obtidos nas soluções coagulantes com 45 mL.

De acordo com os valores de pH nas diferentes formas de processamento das sementes e do


coagulante químico, observa-se que o coagulante químico apresentou uma diminuição do pH
inicial, ou seja, do pH da água bruta, tornando-o ácido, um fato que deve ser levado em
consideração, visto que, uma água com pH 4,4 torna-se inapropriada para o uso e até mesmo
prejudicial para qualquer tipo de vida existente no corpo aquático, onde na portaria nº 518, de 25 de
março de 2004, recomenda que o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5 (FUNASA, 2006).
Trata-se, portanto, uma vantagem clara para a utilização de coagulante natural, pois como se pôde

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1056


ver na tabela 1, o pH nas duas formas de processamento permaneceram em valores iguais e/ou
aproximadamente aos do pH da água bruta.

CONCLUSÃO

Desta forma, como o objetivo desse trabalho era avaliar a melhor forma de processamento
das sementes, bem como, a melhor concentração na remoção de turbidez da água da Lagoa da
Caiçara, Russas-CE, podemos concluir que o processamento utilizando o mixer na concentração de
45 mL apresentou um melhor desempenho, até mesmo, que o coagulante químico que atualmente é
bastante utilizado para esse tipo de procedimento. Um coagulante natural da Moringa oleifera traz
consigo diversas vantagens, entre elas, uma alternativa para tratamento de água e efluente de forma
sustentável, visto que, toda a matéria prima da semente será utilizada, sem desperdício.
Pretendemos repetir esse experimento, agora analisando se o uso do coagulante obtido da torta de
semente da moringa conseguirá resultar em algum melhoramento ou não das propriedades de
potabilidade da água da Lagoa Caiçara, sempre comparando os resultados com o coagulante sulfato
de alumínio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OKUDA, T. et al. Improvement of extraction method of coagulation active components from


Moringa oleifera seed. Water Research, v. 31, p. 3373-3378, 1999.

VALVERDE, K. C. et al. Otimização dos parâmetros de mistura e sedimentação empregando a


combinação dos coagulantes Moringa oleifera Lam e Cloreto Férrico no tratamento de água
superficial. In: ENCONTRO PARANAENSE DE ENGENHARIA E CIÊNCIA, 3., 2013,
Toledo. Anais… Toledo: EPEC, 2013.

SILVA, M.E.R.; AQUINO, M.D.; SANTOS, A.B. Pós-tratamento de efluentes provenientes de


reatores anaeróbios tratando esgotos sanitários por coagulantes naturais e nãonaturais. Revista
Tecnologia, Fortaleza, v.28, n.2, p.178-190, dez. 2007.

OKUDA, T.; BAES, A.U.; NISHIJIMA, W.; OKADA, M. Coagulation mechanism of salt solution-
extracted active component in moringa oleifera seeds. Water Research, Oxford, v.35, n.3, p.830-
834, 2001.

NDABIGENGESERE, A.; NARASIAH, K. S.; TALBOT, B. G. (1995). Active agents and


mechanism of coagulation of turbid waters using Moringa oleifera. Water Research, 29 (2), pp.
703-710.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1057


JAHN, S. A. A. (1989). Monitored water coagulation with Moringa seeds in village households.
GTZ: Gate, (1/89), pp. 40-41.

PISE, C. P.; HALKUDE, D. S. A. (2012). Blend of natural and chemical coagulant for removal of
turbidity in water. International Journal of Civil Engineering and Technology, 3 (2), pp. 188-
197.

SÁNCHEZ-MARTÍN, J.; BELTRÁN-HEREDIA, J.; PERES, J. A. (2012). Improvement of the


flocculation process in water treatment by using Moringa oleifera seeds extract. Brazilian
Journal of Chemical Engineering, 29 (3), pp. 495-502. doi: 10.1590/S0104 66322012000300006.

RAMOS, R.O., 2005. Clarification of water with low turbulence and moderate color using seeds of
Moringa oleifera. State University of Campinas, Campinas-SP, Brazil. 276 pages. (Doctoral
Thesis; in Portuguese).

FUNASA. Manual prático de análise de água. 2. ed. Brasília, DF, 2006. 146 p.

CRUZ, W. R. S. et al. Avaliação da atividade coagulante presente na torta de Moringa oleifera


Lam durante seu armazenamento. In: ENCONTRO NACIONAL DE MORINGA, 2., 2010,
Aracaju. Anais… Aracaju: ENAM, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1058


GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Parkia platycephala Benth. EM FUNÇÃO DE
DIFERENTES TEMPERATURAS E SUBSTRATOS

Magnólia Martins ALVES


Mestranda em Agronomia, CCA-UFPB
magecologia@hotmail.com
Edna Ursulino ALVES
Profª. Associada, CCA-UFPB
ednaursulino@cca.ufpb.br
Luciana Rodrigues de ARAÚJO
Bolsista PNPD/CAPES, CCA-UFPB
lraraujo1@yahoo.com.br
Rosemere dos Santos SILVA
Mestranda em Agronomia, CCA-UFPB
rosyufpbio@hotmail.com

RESUMO
A faveira (Parkia platycephala Benth,) é uma espécie pertencente à família Fabaceae, semidecídua,
heliófita, que ocorre em formações secundárias e áreas abertas de terreno elevado do agreste
nordestino e campinas amazônicas, cuja árvore é recomendada para arborização paisagística. O
trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes, do Departamento de Fitotecnia e
Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, no
município de Areia - PB. O objetivo foi avaliar o efeito de diferentes temperaturas e substratos na
germinação de sementes de P. platycephala. Os tratamentos consistiram na combinação de três
substratos (areia, fibra de coco, papel e vermiculita) e seis temperaturas, as constantes de 25, 30 e
35 °C e alternadas de 20-30, 20-35 e 25-35°C, em delineamento foi inteiramente ao acaso. Para
avaliação do efeito dos tratamentos realizou-se testes de germinação e vigor (primeira contagem e
índice de velocidade de germinação - IVG). A temperatura constante de 35 °C proporcionou melhor
desempenho das sementes de Parkia platycephala quando se utilizou o substrato areia.
Palavras - chave: faveira, análise de sementes, espécie florestal, vigor.

ABSTRACT
The Faveira (Parkia platycephala Benth,) is a species belonging to the Fabaceae, semideciduous
heliophytic family that occurs in secondary formations and open areas of high ground in the
northeastern Amazon plains and rugged, the tree is recommended for landscape trees. The work was
performed at the Laboratory of Seed Analysis, Department of Plant and Environmental Sciences at
the Center for Agricultural Sciences, Federal University of Paraiba, Areia, PB. The objective was to
evaluate the effect of different temperature and substrate on seed germination of P. platycephala.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1059


The design was completely randomized in a factorial 4 x 6 (six temperatures and four substrates),
with four replicates of 25 seeds. Treatments were the combinations of three substrates (sand,
coconut fiber, paper and vermiculite) with six temperatures, constant 25, 30 and 35 ° C and
alternating 20-30, 20-35 and 25-35 ° C. The germination of seeds of Parkia platycephala
temperature of 35 ° C provided the best performance in sandy substrates, coconut fiber, paper and
vermiculite.
Key words: Faveira, analysis of seeds, forest species, vigor.

INTRODUÇÃO

A espécie Parkia platycephala Benth., pertencente a família é conhecida popularmente


como faveira, faveira-de-bolota, fava-de-bolota, visgueiro, fava-de-boi, sabiú, entre outros, com
ocorrência na região Nordeste do país, transição do cerrado ou da mata atlântica para a caatinga,
também nas campinas da região amazônica (LORENZI, 2009). O mesmo autor enfatizou que a
espécie tem potencial paisagístico, forrageiro, cujas vagens maduras constituem excelente fonte de
suplementação alimentar para todos os ruminantes, além de a madeira ser utilizada para caixotaria,
tabuados para divisões internas em pequenas construções, forros, confecção de brinquedos, bem
como para lenha e carvão.
O primeiro processo para obter informação sobre sementes de espécie florestais relaciona-se
com à germinação, a qual é influenciada por uma série de condições intrínsecas da semente e
extrínsecas ambientais, assim um dos fatores importantes é o substrato, que influencia a
porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação, resultando na obtenção de plântulas mais
vigorosas e na redução de gastos de produção (CARVALHO e NAKAGAWA, 2012).
Entretanto, as informações referentes ao teste de germinação de sementes de espécies
florestais brasileiras são necessárias para o conhecimento das condições ótimas para a germinação,
dentre os componentes desse teste, a temperatura tem efeito significativo na germinação,
controlando a intensidade e a velocidade desse processo (BEWLEY e BLACK, 1982).
A temperatura afeta a porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação e está
relacionada com os processos bioquímicos (CARVALHO e NAKAGAWA, 2012), sendo uma
temperatura considerada ótima quando ocorre o máximo de germinação, no menor tempo e,
máxima e mínima a germinação é muito baixa e/ou pode ocorrer à morte das sementes, assim a
faixa de 20 a 30 °C tem sido indicada como adequada para a germinação de grande número de
sementes de espécies subtropicais e tropicais (BORGES e RENA, 1993). O substrato também é de
fundamental importância, pois estes fatores variam entre as sementes de diferentes espécies,
influenciando no processo germinativo, uma vez que fatores como estrutura, aeração, capacidade de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1060


retenção de água, grau de infestação de patógenos, entre outros, podem favorecer ou prejudicar a
germinação das sementes (BRASIL, 2009).
Dessa forma o objetivo no presente estudo foi avaliar o efeito da temperatura e do substrato
na germinação de sementes de Parkia platycephala Benth.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da
Paraíba, em Areia - PB (6°58‘12‘‘e 35°42‘15‘‘W), cuja temperatura média anual da região está
entre 23-24 °C e precipitação anual de 1.400 mm. Os frutos P. platycephala foram colhidos
diretamente de árvores matrizes, no município de Areia e, após a colheita, foram levados para o
laboratório onde foram abertos manualmente para a obtenção das sementes, após esse
procedimento, avaliaram-se as seguintes características:

Teste de Germinação

Para cada tratamento foram utilizadas 100 sementes, divididas em quatro subamostras de 25,
sendo que para superação da dormência foi realizada escarificação mecânica oposta ao hilo, com
lixa d'água n°. 80, sendo as contagens do número de sementes germinadas realizadas dos três aos
oito dias após a semeadura, quando se verificou a estabilização da germinação. O critério utilizado
nas avaliações foi o de plântulas normais, ou seja, aquelas com as estruturas essenciais perfeitas
(BRASIL, 2009).
O teste foi conduzido em germinadores tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.)
regulados para as temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C e alternadas de 20-30, 20-35 e 25-
35°C. As sementes foram distribuídas entre os substratos areia, fibra de coco, papel e vermiculita
em caixas acrílicas transparentes (gerbox) com dimensões de 11 x 11 x 3,5 cm. Os substratos areia,
papel e vermiculita foram anteriormente esterilizados em autoclave por duas horas, à temperatura de
120 °C e adotou-se 60% da capacidade de retenção de umidade como padrão de umedecimento para
os substratos areia e vermiculita, enquanto o papel foi umedecido com quantidade de água
equivalente a 2,5 vezes a sua massa seca.

Primeira Contagem de Germinação

Conduzido conjuntamente com o teste de germinação, constando da contagem de plântulas


normais no terceiro dia após a semeadura, sendo os resultados expressos em porcentagem.

Índice de Velocidade de Germinação (Ivg)


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1061
Para sua determinação foram realizadas contagens diárias das plântulas normais, no mesmo
horário, do terceiro ao oitavo dias após a semeadura e, o índice foi calculado utilizando-se a fórmula
G1 G2 Gn
( IVG    ...  ) proposta por Maguire (1962), em que IVG = índice de velocidade de
N1 N2 Nn
germinação, G1, G2 e Gn = número de sementes germinadas na primeira, segunda até a última
contagem e N1, N2 e Nn = número de dias desde a primeira, segunda até a última contagem.

Delineamento Experimental e Análise Estatística

A análise de variância do experimento foi realizada segundo o delineamento experimental


inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 6 x 4 (temperaturas e
substratos), em quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as
médias agrupadas pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para todas as variáveis avaliadas houve efeito significativo da interação entre temperaturas e
substratos (Tabela 1), sendo observada as maiores porcentagens de germinação nas combinações
entre a temperatura de 30 °C e o substrato papel, temperatura constante de 35 °C em todos os
substratos utilizados, temperatura alternada de 20-30 °C nos substratos fibra de coco e vermiculita e
temperatura alternada de 20-35 °C nos substratos fibra de coco e papel.
A temperatura influencia a capacidade e a velocidade de germinação, por afetar
especialmente a velocidade de absorção de água e a reativação das atividades metabólicas,
fundamentais aos processos de mobilização de reservas e a retomada de crescimento da raiz
primária (BEWLEY e BLACK, 1994). As sementes têm a capacidade de germinar dentro de uma
determinada faixa de temperatura, característica para cada espécie, mas como em qualquer reação
química, existe uma temperatura ótima na qual o processo se realiza mais rápida e eficientemente,
variável entre as sementes das diferentes espécies (ARAÚJO NETO et al., 2003).
Em sementes de Dalbergia nigra Vell. Fr. All. foi constatado que as temperaturas constantes
de 20 e 30 °C, as alternadas de 20-30 e 20-35 °C e o substrato sobre vermiculita foram favoráveis
pelas melhores porcentagens de germinação (ANDRADE et al., 2006). Os resultados mais
satisfatórios com o substrato sobre papel (82,7%) indicaram que este proporcionou, de alguma
forma, vantagens germinativas às sementes de Cariniana estrellensis (Raddi) (KOPPER et al.,
2010). Em estudo realizado por Lima et al. (2011) com sementes de Caesalpinia pyramidalis Tul.
verificou-se que as temperaturas de 30, 20-30 e 20-35 °C no substrato areia proporcionaram
germinação superior àquelas obtidas nos substratos pó de coco e papel toalha.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1062


Temperaturas (°C)
Substratos
25 30 35 20-30 20-35 25-35

Areia 73 aB 73 bB 88 aA 88 bA 57 bC 68 cB

Fibra de coco 46 bD 85 aB 92 aA 94 aA 60 bC 93 aA

Papel 0 cC 89 aA 92 aA 90 bA 48 cB 87 aA

Vermiculita 71 aD 88 aB 96 aA 97 aA 73 aD 80 bC

C.V. (%) 6,10

Tabela 1. Germinação de sementes de Parkia platycephala submetidas a diferentes temperaturas e substratos.


Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem a 5% de
probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

Semelhantemente ao que ocorreu na germinação, constatou-se que a temperatura constante


de 35 °C, em todos os substratos, proporcionou maior expressão do vigor, avaliado pela primeira
contagem de germinação (Tabela 2). Também nas combinações entre as temperaturas constantes de
30 °C com o substrato fibra de coco e 20-30 °C nos substratos fibra de coco e vermiculita verificou-
se maiores porcentagens de germinação por ocasião da primeira contagem. Nas temperaturas
alternadas de 20-35 e 25-35 °C não houve germinação de sementes de Adenanthera pavonina L. em
nenhum dos substratos testados, areia, fibra de coco, papel e vermiculita, indicando que essa
alternância de temperatura provavelmente retardou a velocidade das reações bioquímicas que
regulam todo o processo metabólico da germinação (SOUZA et al., 2007).
Os resultados obtidos no teste de primeira contagem de germinação são relevantes na
determinação da qualidade fisiológica das sementes e, de acordo com Nakagawa (1999b), esse teste
muitas vezes expressa melhor o vigor do que o índice de velocidade de germinação, pois todas as
plântulas normais emergidas na ocasião da primeira contagem são consideradas as mais vigorosas.
Nas temperaturas constantes, a porcentagem e velocidade de germinação das sementes
foram maiores em comparação com as temperaturas alternadas, esse comportamento em ambos os
regimes de temperatura demonstra a tendência que as sementes dessa espécie têm de germinar em
pequenas clareiras, o que evidencia uma adaptação às flutuações térmicas naturais do ambiente, no
entanto, parecem ter maior capacidade de se adaptarem às condições de sub-bosque, nas quais
predominam amplitudes térmicas menores (SOUZA et al., 2007).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1063


Temperaturas (°C)
Substratos
25 30 35 20-30 20-35 25-35

Areia 56 aC 75 bB 95 aA 43 bD 30 bE 20 cF

Fibra de coco 3 cC 85 aA 92 aA 86 aA 8 dC 41 bB

Papel 0 cE 75 bC 92 aA 83 aB 76 aC 20 cD

Vermiculita 18 bD 75 bB 92 aA 89 aA 19 cD 56 aC

C.V. (%) 8,49

Tabela 2. Primeira contagem de germinação de sementes de Parkia platycephala submetidas a diferentes


temperaturas e substratos. Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não
diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

Pelos dados referentes ao índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes de P.


platycephala (Tabela 3) verifica que o maior valor ocorreu entre o substrato areia e a temperatura
constante de 35 °C, podendo explicar pelo fato de a temperatura influenciar a capacidade e
velocidade de germinação, por afetar especialmente a velocidade de absorção de água e a reativação
das reações metabólicas, fundamentais aos processos de mobilização de reservas e a retomada de
crescimento da raiz primária (BEWLEY e BLACK, 1994).
As sementes têm a capacidade de germinar dentro de uma determinada faixa de temperatura,
característica para cada espécie, mas como em qualquer reação química, existe uma temperatura
ótima na qual o processo se realiza mais rápida e eficientemente, variável entre as diferentes
espécies (ARAÚJO NETO et al., 2003). A exemplo do que ocorreu na porcentagem e primeira
contagem, os maiores índices de velocidade de germinação foram verificados na temperatura de 35
°C, sugerindo que para a germinação de sementes da espécie em estudo deve-se utilizar,
preferencialmente, temperatura constante de 35 °C. Guedes e Alves (2012) constataram que em
sementes de Chorisia glaziovii (O. Kuntze) ocorreu interação significativa entre o substrato areia e
a temperatura de 25 °C.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1064


Temperaturas (°C)
Substratos
25 30 35 20-30 20-35 25-35

Areia 3,75 aC 4,75 aB 6,00 aA 4,50 aB 2,62 aD 1,97 bE

Fibra de coco 1,50 bD 3,00 bB 4,50 bA 3,60 bB 2,30 aC 3,39 aB

Papel 0,00 cE 3,00 bB 4,00 bA 3,00 cB 1,75 bD 2,87 aB

Vermiculita 2,00 bC 3,50 bB 4,50 bA 3,99 aB 2,67 aC 2,29 bC

C.V.(%) 13,18

Tabela 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de Parkia platycephala submetidas a diferentes


temperaturas e substratos. Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não
diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

CONCLUSÃO

A temperatura constante de 35 °C proporcionou melhor desempenho das sementes de Parkia


platycephala quando se utilizou o substrato areia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, A.C.S.; PEREIRA, T.S.; FERNANDES, M.J.; CRUZ, A.P.M.; CARVALHO, A.S.R.
Substrato, temperatura de germinação e desenvolvimento pós-seminal de sementes de Dalbergia
nigra. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, n.3, p.517-523, 2006.

ARAÚJO NETO, J.C.; AGUIAR, I.B.; FERREIRA, V.M. Efeito da temperatura e da luz na
germinação de sementes de Acacia polyphylla DC. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo,
v.26, n.2, p.249-256. 2003.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes.


Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395p.

BEWLEY, J.D.; BLACK, M. Seeds: Physiology of development and germination. 2.ed. New York:
Plenum, 1994. 445p.

BORGES, E.E.L.; RENA, A.B. Germinação de sementes. In: AGUIAR, I.B.; PINÃ-RODRIGUES,
F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p.83-135.

CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 5.ed. Jaboticabal:


FUNEP, 2012. 590p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1065


GUEDES, R.S.; ALVES, E.U. Substratos e temperaturas para o teste de germinação de sementes de
Chorisia glaziovii (O. Kuntze). Revista Cerne, Lavras, v.17, n.4, p.525-531, 2011.

KOPPER, A.C.; MALAVASI, M.M.; MALAVASI, U.C. Influência da temperatura e do substrato


na germinação de sementes de Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze. Revista Brasileira de
Sementes, Lavras, v.32, n.2 p.160-165, 2010.

LIMA, C.R.; PACHECO, M.V.; BRUNO, R.L.A.; FERRARI, C.S.; BRAGA JÚNIOR, J.M.;
BEZERRA, A.K.D. Temperaturas e substratos na germinação de sementes de Caesalpinia
pyramidalis TUL. Revista Brasileira de Sementes, Londrina, v.33, n.2 p.216-222, 2011.

LOPES, J.C.; CAPUCHO, M.T.; MARTINS FILHO, S.; REPOSSI, P.A. Influência de temperatura,
substrato e luz na germinação de sementes de bertalha. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas,
v.27, n.2, p.18-24, 2005.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do


Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2009. 384p.

MAGUIRE, J.D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling emergence and
vigor. Crop Science, Madison, v.2, n.2, p.176-177, 1962.

NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados no desempenho das plântulas. In: KRZYZANOSKI,


F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (Ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes.
Londrina: ABRATES, 1999. p.2.1-2.24.

SOUZA, E.B.; PACHECO, M.V. MATOS, V.P.; FERREIRA, R.L.C. Germinação de sementes de
Adenanthera pavonina L. em função de diferentes temperaturas e substratos. Revista Árvore,
Viçosa, v.31, n.3, p.437-443, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1066


MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Samanea
tubulosa (BENTH.)

Maria de Lourdes dos Santos LIMA


Graduanda em Agronomia, CCA - UFPB
lourdestoy@gmail.com
Edna Ursulino ALVES
Profª. Adjunta, CCA - UFPB - PB
ednaursulino@cca.ufpb.br
Luciana Rodrigues de ARAÚJO
Bolsista PNPD/CAPES - CCA - UFPB
lraraujo1@yahoo.com.br
Magnólia Martins ALVES
Mestranda em Agronomia, CCA - UFPB
magecologia@hotmail.com

RESUMO
A espécie Samanea tubulosa, pertencente à família Fabaceae é uma leguminosa encontrada
especialmente em solos arenosos e bem drenados e é bastante utilizada no sombreamento para o
gado e melhora do pasto, além do aproveitamento de madeira. O objetivo dessa pesquisa foi
determinar o melhor método para superação da dormência de sementes de S. tubulosa, utilizando-se
os tratamentos: testemunha - sementes intactas, escarificação com lixa, escarificação com lixa +
embebição por 12 e 24 horas, imersão em H2SO4 por 5, 10, 15 e 20 min, imersão em água quente a
70, 80 e 90°C por 20 min e imersão em H2SO4 por 5, 10, 15 e 20 min + embebição por 12 e 24
horas. As sementes foram distribuídas sobre duas folhas de papel toalha e acondicionadas em um
germinador do tipo Biochemical Demand Oxigen (B.O.D.) em forma de rolos a temperatura
constante de 30 °C. O delineamento foi inteiramente casualisado com quatro repetições de 25
sementes/tratamento e para verificar o efeito dos tratamentos avaliou-se os testes de germinação e
vigor. A escarificação com lixa e a imersão em H2SO4 por 5, 10 e 15 min e por 15 min +
embebição/12 horas foram os tratamentos que proporcionaram os melhores resultados de
germinação e vigor de sementes de Samanea tubulosa.
Palavras – chave: bordão-de-velho, escarificação, ácido sulfúrico.

ABSTRAT
The Samanea tubulosa species belonging to the Fabaceae family is a legume found especially in
sandy, well drained soils and is widely used in shade for livestock and improved pasture, beyond
the use of wood. The objective of this research was to determine the best method for overcoming
dormancy of S. tubulosa, using treatments: control - intact seeds, scarification with sandpaper,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1067


sandpaper scarification + soaking for 12 and 24 hours by immersion in H2SO4 5, 10, 15 and 20
minutes, immersion in hot water at 70, 80 and 90 ° C for 20 minutes and immersion in H 2SO4 for 5,
10, 15 and 20 min + soaking for 12 and 24 hours water. The seeds were spread on two sheets of
paper towel and placed on a germination chamber type Biochemical Oxygen Demand (B.O.D) in
the form of rolls at constant temperature of 30 °C. The design was completely randomized with four
replications of 25 seeds / treatment and to verify the effect of the treatments was evaluated standard
germination and vigor. The sandpaper scarification and soaking in H2SO4 for 5, 10 and 15 min and
15 min soaking + / 12 hours were the treatments that provided the best results of germination and
vigor of Samanea tubulosa.
Key words: bordão-de-velho, scarification, sulfuric acid.

INTRODUÇÃO

A espécie Samanea tubulosa (Benth.) pertencente à família Fabaceae e popularmente


conhecida por samaneiro, sete-cascas, barba-de-velho, bordão-de-velho, farinha-seca, feijão-cru,
ingá-de-pobre, pau-de-cangaia e sete cascas, ocorre naturalmente nos biomas Amazônia, Caatinga,
Pantanal, em capoeiras e áreas abertas, sendo encontrada especialmente em solos arenosos e bem
drenados (CARVALHO, 2007). Assim como toda leguminosa, apresenta nódulos fixadores de
nitrogênio no solo e tem potencial para utilização em reflorestamento de área de reserva legal com
vistas ao aproveitamento da madeira, sombreamento do gado e melhora do pasto em torno das
árvores pela ciclagem de nutrientes (GONÇALVES, 2009).
A germinação de sementes maduras, quando ocorre sob condições ambientais adequadas, é
entendida como sendo o processo de reativação do crescimento do embrião, chegando ao ponto
mais elevado, isto é o rompimento do tegumento (FOWLER e BIANCHETTI, 2000). De acordo
com Carvalho e Nakagawa (2012) muitas espécies possuem sementes que, embora sendo viáveis e
tendo todas as condições normalmente consideradas adequadas, deixam de germinar; tais sementes
são denominadas dormentes e precisam de tratamentos especiais para germinar.
Para Oliveira et al. (2012) a dormência geralmente se mostra vantajosa para a sobrevivência
das espécies em condições naturais, já que distribui a germinação ao longo do tempo ou permite que
a germinação ocorra em condições favoráveis à sobrevivência das plântulas. Embora essa
intensidade variável da dormência aumente as chances de sobrevivência da espécie, ela representa
obstáculo ao estabelecimento de métodos padronizados para a superação da dormência, o que
dificulta a análise de sementes e a produção de mudas em viveiros florestais (BRANCALION et al.,
2011).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1068


O conhecimento das causas da dormência é de extrema importância para se obter o máximo
de germinação, principalmente das espécies florestais, germinação é a retomada do crescimento do
eixo embrionário, o processo germinativo também pode ser influenciado por fatores como
longevidade, viabilidade, condições climáticas durante a maturação, grau de injúria mecânica e
condições de armazenamento, bem como temperatura, oxigênio e disponibilidade de água
(CARVALHO e NAKAGAWA, 2012).
De acordo com Vieira e Fernandes (1997) entre as principais causas da dormência das
sementes, destacam-se o tegumento impermeável, embrião fisiologicamente imaturo ou rudimentar,
substâncias inibidoras e embrião dormente. Dessa forma, depois de identificada à causa da
dormência, diversos métodos podem ser empregados para superá-la, como a escarificação química
e, ou, mecânica, o choque térmico, a água quente, entre outros.
Como a maioria das espécies da família Fabaceae apresenta dormência em suas sementes
devido à impermeabilidade do tegumento, dessa forma este trabalho teve como objetivo determinar
o melhor método para superar a dormência de sementes de S. tubulosa.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em ambiente protegido pertencente ao Departamento de Fitotecnia e


Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, em Areia-
PB.
Os frutos de bordão de velho foram coletados em árvores matrizes localizadas no município
de Areia-PB e, levados ao Laboratório de Análise de Sementes, para serem beneficiados
manualmente para retirada das sementes, sendo logo após, submetidas aos tratamentos: testemunha
- sementes intactas, escarificação com lixa, escarificação com lixa + embebição por 12 e 24 horas,
imersão em H2SO4 por 5, 10, 15 e 20 min, imersão em água quente nas temperaturas de 70, 80 e
90°C por 20 min e imersão em H2SO4 por 5, 10, 15 e 20 min + embebição por 12 e 24 horas.
Na escarificação mecânica as sementes foram friccionadas manualmente em lixa d‘água n°
80 até desgaste visível do tegumento no lado oposto à micrópila e após os tratamentos avaliou-se os
testes descritos a seguir.

Teste de Germinação

Utilizou-se 100 sementes por tratamento, divididas em quatro repetições de 25, as quais
foram distribuídas sobre duas folhas de papel toalha e cobertas com terceira, sendo posteriormente
umedecidas com quantidade de água equivalente a 2,5 vezes a massa seca do papel e, em seguida
acondicionadas em um germinador do tipo Biochemical Demand Oxigen (B.O.D.) a temperatura

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1069


constante de 30°C. As contagens do número de sementes germinadas iniciaram-se no oitavo e
estenderam-se até o décimo oitavo dia após a semeadura e o critério de avaliação foi o de plântulas
normais que apresentavam as estruturas essenciais perfeitas (BRASIL, 2009), sendo os resultados
expressos em porcentagem.

Primeira Contagem de Germinação

Correspondente à porcentagem acumulada de plântulas normais, com valores registrados no


oitavo dia após o início do teste.

Índice de Velocidade de Germinação (Ivg)

Foram realizadas contagens diárias das plântulas normais, durante dezoito dias e o índice
calculado conforme a fórmula proposta por Maguire (1962).

O Delineamento Experimental e Análise Estatística

Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições de 25 sementes por


tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ausência de germinação de sementes que não foram submetidas a nenhum tratamento pré-
germinativo (Testemunha) confirma a ocorrência de dormência tegumentar nas sementes da espécie
em estudo, dessa forma confirma-se a hipótese de que estas exigem algum tipo de tratamento para
superar a dormência.
A maior porcentagem de germinação (Tabela 1) ocorreu nas sementes que foram submetidas
ao tratamento de escarificação com lixa, portanto, de acordo com Lorenzi (2009) o qual afirma que
as sementes de S. tubulosa necessitam de escarificação para superação de dormência. Alexandre et
al. (2009) estudando a espécie orelha-de-macaco (Enterolobium contortisiliquum) constatou que os
s melhores resultados foram observados quando as mesmas sofreram escarificação mecânica com
lixa não diferindo estatisticamente dos tratamentos com H2SO4 durante 10 minutos, escarificação
mecânica com lixa seguida de embebição em água durante 12 horas. Para Oliveira et al. (2012) os
métodos de escarificação química através da imersão em ácido sulfúrico por 30 e 40 minutos,
proporcionaram as maiores porcentagens de germinação em sementes de faveira. No entanto, Piveta
et al. (2010), trabalhando com Senna multijuga (L.C. Rich.) e utilizando imersão em água quente a
100 ºC, verificaram que este tipo de tratamento não é eficaz para superar a dormência das sementes,
pois houve redução da viabilidade e aumentou a porcentagem de sementes mortas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1070


Com relação ao vigor, avaliado pela primeira contagem de germinação, verificou-se que o
maior percentual (24%) foi obtido quando as sementes foram imersas em H2SO4 por 20 min +
embebição por 12 horas, no entanto, não houve germinação quando as mesmas foram submetidas
aos tratamentos com imersão em água quente a 70, 80 e 90 °C, imersão em H2SO4 por 5 min +
embebição/12h e por 10 min + embebição/24 h (Tabela 1). Segundo Castro et al. (2004) as
sementes quando imersas, podem sofrer danos irreversíveis no nível do sistema de membranas, o
que leva à lixiviação de conteúdos celulares, afetando negativamente a germinação.
Quanto ao índice de velocidade de germinação (Tabela 1) verificou-se que os tratamentos de
imersão em H2SO4 por 5, 10 e 15 min, como também por 15 min + embebição/12h, foram os mais
eficazes para avaliação do vigor das sementes de S. tubulosa, não havendo, portanto, diferença
significativa entre eles. Constatou-se ainda que não houve germinação quando as sementes foram
semeadas intactas, ou seja, não sofreram nenhum tratamento para superação de dormência. Guedes
et al. (2009) verificaram que o tratamento de imersão em ácido sulfúrico por 12 min. foi
responsável pelo máximo vigor das sementes de aroeira-do-sertão (Myracrodruo nurundeuva Fr.
All.). O índice de velocidade de germinação em sementes de Enterolobium contortisiliquum Mor.
foi maior no tratamento em que as sementes foram submetidas a escarificação com ácido sulfúrico
por 20 min atingindo 95 e 98% (SILVA et al., 2012).

Germinação Primeira contagem


Tratamentos IVG
__________%____________
Testemunha 8h 1f 0,00f
Escarificação com lixa 90a 4e 4,25b
Escarificação com lixa + emb./12h 77c 12c 4,90b
Escarificação com lixa + emb./24h 40f 14c 3,25c
Imersão em H2SO4/5 min 83b 8d 5,40a
Imersão em H2SO4/10 min 82b 9d 5,09a
Imersão em H2SO4/15 min 56e 14c 5,50a
Imersão em H2SO4/20 min 21g 5e 4,80b
Imersão em água quente a 70 °C 37f 0f 1,56e
Imersão em água quente a 80 °C 45f 0f 1,72e
Imersão em água quente a 90 °C 50h 0f 0,18f
Imersão em H2SO4/5 min + emb./12h 72c 0f 3,34c
Imersão em H2SO4/10 min + emb./12h 56e 20b 4,63b
Imersão em H2SO4/15 min + emb./12h 66d 20b 5,40a
Imersão em H2SO4/20 min + emb./12h 59e 24a 4,80b
Imersão em H2SO4/5 min + emb./24h 43f 5e 3,58c

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1071


Imersão em H2SO4/10 min + emb./24h 43f 0f 2,86d
Imersão em H2SO4/15 min + emb./ 24h 62d 6e 4,63b
Imersão em H2SO4/20 min + emb./24h 47f 2f 2,63d
CV (%) 8,27 7,75 15,24

Tabela 1. Germinação, primeira contagem e índice de velocidade de germinação de sementes de Samanea


tubulosa (Benth.) submetidas a diferentes tratamentos pré-germinativos. Médias seguidas de mesma letra, na
coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Scott Knott a 5% de significância.

CONCLUSÃO

A escarificação com lixa e a imersão em H2SO4 por 5, 10 e 15 min e por 15 min +


embebição/12 horas foram os tratamentos que proporcionaram os melhores resultados de
germinação e vigor de sementes de Samanea tubulosa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRE, R.S.; GONÇALVES, F.G.; ROCHA, A.P.; ARRUDA, M.P.; LEMES E.Q.
Tratamentos físicos e químicos na superação de dormência em sementes de Enterolobium
contortisiliquum (Vell.) Morong. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.4, n. 2, P.156-159,
2009.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes.


Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395p.

BRANCALION, P.H.S.; MONDO, V.H.V.; NOVEMBRE, A.D.L.C. Escarificação química para a


superação da dormência de sementes de saguaraji-vermelho (Colubrina glandulosa Perk. -
Rhamnaceae). Revista Árvore, v.35, n.1, p.119-124, 2011.

CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 5. ed.


Jaboticabal: Funep, 2012. 588 p.

CARVALHO. P.E.R. Bordão-de-Velho (Samanea tubulosa). Colombo: 2007. (Circular Técnica,


132).

CASTRO, R.D.; BRADFORD, K.J.; HILHOSRT, H.W.M. Embebição e reativação do


metabolismo. In: FERREIRA, A.G.; BORGHETI, F. Germinação: do básico ao aplicado. Porto
Alegre: Artmed, 2004. p.149-162.

FOWLER, J.A.P.; BIANCHETTI, A. Dormência em sementes florestais. Colombo: Embrapa


Florestas, (Embrapa Florestas, Documentos, 40). 27 p.2000.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1072


GONÇALVES, R.C. Substratos e fertilizantes de liberação controlada para a produção de mudas de
Samanea tubulosa (Benth.) Barneby & Grimes. Amazônia: Revista Ciência e Desenvolvimento,
v.4, n.8, 2009.

GUEDES, R.S.; ALVES, E.U.; GONÇALVES, E.P.; COLARES, P.N.Q.; MEDEIROS M.S.;
SILVA K.B. Tratamentos pré-germinativos em sementes de Myracrodruo nurundeuva FREIRE
ALLEMÃO. Revista Árvore, v.33, n.6, p.997-1003, 2009.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do


Brasil. vol 2. Editora Plantarum, Odessa, SP, 201 p. 2009.

MAGUIRE, J.D. Speeds of germination-aid selection and evaluation for seedling emergence and
vigor. Crop Science, v.2, p.176-177, 1962.

OLIVEIRA, L.M.; BRUNO R.L.A.; ALVES E.U.; SOUSA, DANIELLE, M.M.; ANDRADE A.P.
Tratamentos pré-germinativos em sementes de Samanea tubulosa Bentham -(Leguminoseae-
Mimosoideae). Revista Árvore, v.36, n.3, p.433-440, 2012.

PIVETA, G. MENEZES,V.O.; PEDROSO,D.C.; MUNIZ, Marlove F.B.; BLUME, E.;


WIELEWICKI, A.P. Superação de dormência na qualidade de sementes e mudas: influência na
produção de Senna multijuga (L. C. Rich.) Irwin & Barneby. Acta Amazonica, v. 40, n. 2, p.
281-288, 2010.

SILVA, A.C.F.; SILVEIRA, L.P.; NUNES, I.G.; SOUTO J.S. Superação de dormência de
Enterolobium contortisiliquum Mor. (Vell.) Morong. Revista Scientia Plena, v. 8, n. 4, p. 1-6,
2012.

VIEIRA, I. G.; FERNADES, G. D. Métodos de quebra de dormência de sementes. Piracicaba:


IPEF-LCF/ ESALQ/USP, 1997. (Informativo Sementes IPEF).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1073


VARIABILIDADE FENOTÍPICA ENTRE GENÓTIPOS DE PIMENTA (Capsicum spp.)

Michelle Gonçalves de CARVALHO


Graduanda em agronomia UFPB, Areia- PB, Brasil
carvalho.areia@hotmail.com

Cristine Agrine Pereira da SANTOS


Graduanda em agronomia - UFPB, Areia- PB, Brasil
cristineagrine.ps@hotmail.com

Elizanilda Ramalho do RÊGO46


Professor Associado da UFPB. Bolsista do CNPq/ Capes. Areia- PB, Brasil
elizanilda@cca.ufpb.br

Angela Maria dos Santos PESSOA


Programa de Pós-Graduação em Agronomia - UFPB, Areia- PB, Brasil
pbalegna@gmail.com

RESUMO
As pimentas são utilizadas na alimentação, temperos, medicina e algumas são utilizadas como
ornamentais, com o aumento da demanda no comércio de plantas ornamentais há necessidade de
novas cultivares. A caracterização e conservação dos recursos genéticos são importantes para a
conservação da variabilidade e disponibilidade de acessos para uso em programas de
melhoramento. Este trabalho teve como objetivo caracterizar híbridos interespecíficos pertencentes
ao banco de germoplasma de Capsicum da Universidade Federal da Paraíba, baseados em caracteres
qualitativos de planta e fruto.O experimento foi desenvolvido em campo na área do Laboratório de
Biotecnologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA-
UFPB), Areia – PB. Foram utilizadas sementes de seis acessos de pimenta pertencentes ao banco de
germoplasma do CCA-UFPB: (UFPB 02, UFPB 10, UFPB 13, UFPB 15, UFPB72, UFPB74).
Foram avaliados 18 caracteres qualitativos. Que foram: Planta: ciclo de vida, cor do caule, cor da
antocianina nodal , forma do caule, pubescência do caule, hábito de crescimento, densidade de
ramificação , cor da folha, forma de folha. Fruto: manchas antocianinas, cor do fruto em estágio
intermediário, cor do fruto maduro, forma do fruto, união fruto pedicelo, forma do ápice do
fruto,apêndice do fruto, epiderme do fruto, persistência fruto-pedicelo, persistência pedicelo-talo.
Observou-se variabilidade para os caracteres qualitativos avaliados. O hábito de crescimento
apresentou três classes onde a maioria dos genótipos possuía hábito de crescimento ereto, onde para
fins ornamentais são preferidas, por serem mais vistosas e manterem o equilíbrio entre as folhas e
os frutos. Os frutos tiveram bastante variação em ambos os estádios de maturação, a cor da folha é
uma das características determinante para o consumidor ao escolher comprar uma pimenteira

46
Doutora em genética e melhoramento pela UFV, Viçosa- MG

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1074


ornamental, juntamente com coloração do fruto e hábito de crescimento. Podendo ser utilizadas em
programas de melhoramento de Capsicum com finalidade ornamental.
Palavras-chave: Melhoramento genético, diversidade genética, caracteres qualitativo

ABSTRACT
Peppers are used in food, spices, medicine and some are used as ornamentals, with increasing
demand in the trade of ornamental plants no need for new cultivars. The characterization and
conservation of genetic resources are important for the conservation of the variability of access and
availability for use in breeding programs. This study aimed to characterize interspecific hybrids
belonging to the Capsicum germplasm bank of the Federal University of Paraíba, based on
qualitative plant traits and fruit .O field experiment was conducted in the Laboratory of Plant
Biotechnology Center Agricultural Sciences area Federal da Paraíba (CCA-UFPB), Sand - PB.
Seeds of six accessions of pepper belonging to the germplasm bank of CCA-UFPB were used:
(UFPB 02, UFPB 10, UFPB 13, UFPB 15, UFPB72, UFPB74). 18 qualitative traits were evaluated.
Were: plant: life cycle, stem color, anthocyanin color of nodal, stem form, stem pubescence, growth
habit, branching density, leaf color, leaf shape. Fruit: anthocyanin spots, fruit color at an
intermediate stage, the mature fruit color, fruit shape, fruit pedicel union, form the apex of the fruit,
the fruit appendix, the epidermis of the fruit, the fruit-pedicel persistence, persistence pedicel-stem.
Observed variability for quality traits evaluated. The growth habit presented three classes where
most genotypes had erect habit of growth, where for ornamental purposes are preferred because
they are more showy and maintain the balance between the leaves and fruit. The fruits have enough
variation in both stages of maturation, leaf color is a determinant of consumer characteristics when
choosing to buy an ornamental pepper, along with fruit color and growth habit. Can be used in
breeding programs Capsicum with ornamental purpose.
Keywords: genetic improvement, genetic diversity, qualitative characters

INTRODUÇÃO

As pimentas pertence ao gênero Capsicum sp., fazem parte da família Solanaceae e são
nativa da América, é comumente divididos em dois grupos, pungente e não-pungentes. Devido à
alta diversidade genética dentro desse gênero, o uso de germoplasma de pimenta tem sido utilizado
em programas de melhoramento (ZAYED et al., 2013; RÊGO et al., 2012).Qualquer espécie de
pimenteira, teoricamente, pode ser utilizada como planta ornamental, no entanto as espécies que
apresentam menor porte são as mais indicadas para o plantio em vasos, principalmente na
decoração de ambientes internos (Nascimento et al., 2009; Rêgo et al., 2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1075


Dessa forma com o aumento da demanda por plantas ornamentais, principalmente aquelas
cultivadas em vaso (Rego et al., 2010) o desenvolvimento de novas cultivares torna-se necessário
pois o comércio requer a oferta de novos materiais constantemente (Barroso et al., 2011).Com o
aumento do cultivo e comercialização de pimentas no país, tornaram-se necessários estudos que
visem o conhecimento da cultura e viabilizem metas como aumento da resistência a doenças, vida
de vaso, tolerância a ambientes adversos e transporte dentre outros fatores que influenciam a sua
produção (Oliveira et al., 2003; Rêgo et al., 2006).A caracterização de plantas é necessária para
uma seleção adequada de acessos que atendam as necessidades específicas de um programa de
melhoramento.
Para o gênero Capsicum, caracteres qualitativos como formato do fruto, cor do fruto imaturo
e maduro, textura da epiderme, são alguns dos caracteres importantes para o mercado consumidor
(Rêgo et al., 2011a; Sudré et al 2006).Portanto deve-se dar atenção aos estudos genéticos dos
caracteres morfoagronômicos, como forma de avaliar o potencial genético dos genitores de produzir
descendentes melhores e de aumentar a eficiência dos métodos de melhoramento (Nascimento et
al., 2011; Tavares et al., 1999; Marchesan, 2009).Considerando seu potencial ornamental, este
trabalho teve como objetivo caracterizar híbridos interespecíficos pertencentes ao banco de
germoplasma de Capsicum da Universidade Federal da Paraíba, baseados em caracteres qualitativos
de planta e fruto.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido em campo na área do Laboratório de Biotecnologia Vegetal


do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA-UFPB), Areia – PB.
Foram utilizadas sementes de seis acessos de pimenta pertencentes ao banco de germoplasma do
CCA-UFPB: (UFPB 02, UFPB 10, UFPB 13, UFPB 15, UFPB72, UFPB74).
As sementes foram semeadas em bandejas de isopor com 128 células utilizando-se substrato
comercial (Plantmax®) e 2 sementes por célula. Quando as plântulas apresentaram cinco folhas
definitivas foi realizado o transplante para o campo. A caracterização morfológica foi realizada
segundo descritores para Capsicum, estabelecidos pelo IPGRI (1995).
Foram avaliados 18 caracteres qualitativos. Que foram: Planta: ciclo de vida (CV) – anual,
bianual, perene; cor do caule (CDC) – verde, verde com estrias roxas, roxo; cor da antocianina
nodal (CAN) – verde, roxo claro, roxo, roxo escuro; forma do caule (FCL) – cilíndrico, anguloso,
chato; pubescência do caule (PCL) - esparsa (pouca pubescência), intermediária (média
pubescência), densa (muita pubescência); hábito de crescimento (HC) – prostrado, intermediário
(compacto), ereto; densidade de ramificação (DR) - esparsa (pouca ramificação), intermediária

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1076


(média ramificação), densa (muita ramificação); cor da folha (CDF) - verde clara, verde, verde
escura, roxa claro, roxa, variegado (verde e roxo), roxo escuro; forma de folha (FFL) – deltoide,
ovalada, lanceolada. Fruto: manchas antocianínicas (MA) - ausente, presente; cor do fruto em
estágio intermediário (CFRI) – amarelo, verde, amarelo esverdeado, laranja, laranja com marrom,
marrom claro, vermelho claro, vermelho, vermelho escuro, vermelho com roxo, preto; cor do fruto
maduro (CFRM) – amarelo, laranja, vermelho claro, vermelho, vermelho escuro; forma do fruto
(FFR) com base na secção transversal – alongado, arredondada, triangular; união fruto pedicelo
(UFP) – agudo, obtuso, truncado; forma do ápice do fruto (FAPF) – pontudo, truncado, afundado;
apêndice do fruto (AFR) - ausente, presente; epiderme do fruto (EF) – lisa, semi-rugosa, rugosa;
persistência fruto-pedicelo (PFP) - pouco persistente, intermediário, persistente; persistência
pedicelo-talo (PPT) - pouco persistente, intermediário, persistente.
Os dados foram obtidos a partir de nove observações realizadas em três plantas de cada
genótipo. Os dados foram sistematizados por meio da quantidade de variação fenotípica em
porcentagem, utilizando estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os genótipos apresentaram variabilidade em alguns caracteres qualitativos (Tabela 1). Para


cinco características avaliadas relacionadas à planta foram monomórficos ou seja apresenta uma
única forma, tais como: o ciclo de vida que foi anual, forma do caule que foi cilíndrica, pubescência
do caule e densidade de ramificação que foram Intermediária e cor da folha que foi verde, não
apresentando diferenças entre os genótipos. Rêgo et al. (2011b) afirma que, a cor da folha é uma das
características determinante para o consumidor ao escolher comprar uma pimenteira ornamental,
juntamente com coloração do fruto e hábito de crescimento. Para a característica cor do caule e
formato da folha (FFL) apresentaram duas classes fenotípicas. A mancha de antocianina no nó
(CAN) apresentou variação de verde para os acessos UFPB02, UFPB10, UFPB13, UFPB72 e
UFPB74, roxo para o acesso UFPB15. E de acordo com Barroso et al., 2011 para fins
ornamentais, plantas de habito de crescimento ereto são preferidas, por serem mais vistosas e
manterem o equilíbrio entre as folhas e os frutos, o hábito de crescimento (HC) apresentou três
classes onde a maioria dos genótipos possuía hábito de crescimento ereto (66,67%), prostrado
(16,67%) e intermediário (16,66%) (Figura 1).
Assim os genótipos UFPB02, UFPB10, UFPB13 e UFPB72 apresentaram HC ereto e
poderão ser selecionados em futuros programas de melhoramento com intuito de obter cultivares
com essa característica. Os descritores de frutos apresentaram variação entre os genótipos. Nos
genótipos avaliados 50% dos frutos apresentaram manchas antocianinas. De acordo com Büttow et

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1077


al. (2010), a elevada concentração de antocianina em folhas, hastes, flores e frutos imaturos confere
elevado potencial ornamental ao genótipo. A acumulação de antocianina em frutos imaturos é
determinada pela ação de genes adicionais (Wang e Bosland, 2006), dificultando o trabalho do
melhorista em selecionar genótipos que transmitirão essa característica para as gerações
subsequentes. Os frutos tiveram bastante variação em ambos os estádios de maturação para a
coloração dos frutos, no estádio intermediário os frutos foram verdes (33,33%), amarelo (16,67%),
laranja (33,33%) e verde com manchas roxas (16,67%), enquanto que no estádio maduro, estes
variaram entre vermelho para os genótipos UFPB 02, UFPB10 e UFPB15, laranja para os genótipos
UFPB72 e UFPB74 e amarelo para o UFPB13.
A maior parte dos frutos caracterizados apresentaram formato alongado (50%), exceto os
genótipos UFPB2, UFPB10 e UFPB13, que têm frutos triangular 16,67% e 33,33% em formato de
bloco. Para a característica persistência do fruto com pedicelo também foi variável, os genótipos
UFPB02, UFPB10 e UFPB74, foram persistentes, e poderão ser utilizadas como plantas doadoras
de genes no programa de melhoramento. Segundo Barroso et.al, 2011 a persistência do fruto com o
pedicelo é característica importante principalmente durante a comercialização para evitar a queda
precoce dos frutos. Quanto a característica união do fruto com o pedicelo foi truncada para genitor
UFPB13 e os demais possui forma aguda, Maluf et al.(1999) ressalta que esses fenótipos são
desejáveis por evitarem acúmulo de água durante as chuvas ou irrigação por aspersão, tornando-se
uma caracteristica desejavel para as pimenteiras.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos houve grande variabilidade para os caracteres


qualitativos analisados. Tendo sido identificados acessos de plantas compactas, com frutos eretos e
que se destacam com a folhagem, passando os mesmos por diversas cores durante o processo de
maturação, características estas que são determinantes na escolha do consumidor ao comprar uma
pimenteira ornamental. Podendo ser utilizadas em programas de melhoramento de Capsicum com
finalidade ornamental.

REFERENCIAS

BARROSO PA; RÊGO MM; RÊGO ER; NASCIMENTO MF; SOARES WS; NASCIMENTO KS.
2011. Caracterização de frutos F2 de pimenteiras ornamentais. In:CONGRESSO BRASILEIRO
DE OLERICULTURA, 51. Anais... Viçosa: ABH. 2967-2974.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1078


BÜTTOW, M.V.; BARBIERI, R.L.; NEITZKE, R.S.; HEIDEN, G.; CARVALHO, F.I.F.
Diversidade genética entre acessos de pimentas e pimentões da Embrapa Clima Temperado.
Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, p. 1264-1269, 2010.

IPGRI. 1995. Descriptores para Capsicum (Capsicum spp.). Roma: IPGRI. 51p.

MALUF, W.R.; BLANK, A.F.; GOMES, L.A.A. (1999). Teste precoce da capacidade
combinatória de linhagens de pimentão (Capsicum annuum l.) para características de fruto.
Ciência e Agrotecnologia, 23 (1): 152-160.

MARCHESAN, C. B.; MELO, A. M. T.; PATERNIANI, M. E. A. G. Z. Combining ability in sweet


pepper for resistance to powdery mildew. Horticultura Brasileira, V. 27, p. 189 - 195, 2009.

NASCIMENTO, N. F. F.; NASCIMENTO, M. F.; RÊGO, E. R.; RÊGO, M. M.; SILVA NETO, J.
J. 2011. Caracterização morfoagronomica em híbridos interespecíficos de pimenteiras
ornamentais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Anais.Viçosa: ABH.
2932-2939.

OLIVEIRA JG; CHIQUIERE TB; OLIVEIRA JÚNOOR LFG; BASTOS PA; BRESSANSMITH R.
2003. Resposta ao Estresse Hídrico em alguns Cultivares de Capsicum ssp.2° CONGRESSO
BRASILEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS, Centro de Convenções do
Descobrimento. Porto Seguro-BA.

RÊGO, E. R.; FINGER, F.L; CRUZ, C. D. e RÊGO, M.M. Caracterização, diversidade e


estimação de parâmetros genéticos em pimenteiras (Capsicum spp.). In: Encontro Nacional do
Agronegócio Pimentas (Capsicum spp.), 2, 2006. Anais.

RÊGO, E.R., RÊGO, M.M., FINGER, F.L., CRUZ, C.D., CASALI, V.W.D. (2009) A diallel study
of yield components and fruit quality in chilli pepper (Capsicum baccatum). Euphytica, 168:275-
287.

RÊGO ER; FINGER FL; RÊGO MM; NASCIMENTO NF; NASCIMENTO MF; SANTOS RMC.
2010. Programa de melhoramento de pimenteiras ornamentais da Universidade Federal da
Paraíba e Universidade Federal de Viçosa. Horticultura Brasileira. v. 28, n. 2 (Suplemento -
CD Rom).

RÊGO, ER; NASCIMENTO, NF; NASCIMENTO, MF; SANTOS, RM; LEITE, PS; FINGER, FL.
2011a. Caracterização fenotípica para caracteres de porte em família F2 de pimenteiras
ornamentais. Horticultura Brasileira 29: S2909-S2916 REGO ER; NASCIMENTO NF F;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1079


NASCIMENTO MF; REGO MM; FINGER FL. 2011b. Descritores Qualitativos Para Estimar a
Variabilidade Fenotipica Em PimenteiraOrnamental (Capsicum annuum). In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS, 6.

SUDRÉ C. P.; CRUZ, C. D.; RODRIGUES, R; RIVA, E. M.; AMARAL JÚNIOR, A. T; SILVA,
D. J. H.; PEREIRA, T. N. S. Variáveis multicategóricas na determinação da divergência
genética entre acessos de pimenta e pimentão. Horticultura Brasileira, v. 24, p. 88-93, 2006.

TAVARES, M.; MELO, A. M. T.; SCIVITTARO, W. B. Efeitos diretos e indiretos e correlações


canônicas para caracteres relacionados com a produção de pimentão. Bragantia, v.58, n .1, p.41
- 47. 1999.

ZAYED, M. S.; HASSANEIN, M. K. K.; ESA, N. H.; ABDALLAH, M. M. F. Productivity of


pepper crop (Capsicum annuum L.)as affected by organic fertilizer, soil solarization, and
endomycorrhizae. Annals of Agricultural Science, v.58, n. 2, p. 131-137, 2013.

WANG, D. and P.W. BOSLAND, 2006. The genes of Capsicum. HortSci., 41: 1169-1187.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1080


Genótipos CV CDC CAN FCL PCL HC DR CDF FFL
UFPB02 Anual Verde Verde Cilíndrico Intermediária Ereta Intermediária Verde Oval
UFPB10 Anual Verde Verde Cilíndrico Intermediária Ereta Intermediária Verde Oval
UFPB13 Anual Verde Verde Cilíndrico Intermediária Ereta Intermediária Verde Deltoide
UFPB15 Anual Verde Roxo Cilíndrico Intermediária Prostrada Intermediária Verde Deltoide
Claro
UFPB72 Anual Roxo Verde Cilíndrico Intermediária Ereta Intermediária Verde Oval
UFPB74 Anual Verde Verde Cilíndrico Intermediária Intermediária Intermediária Verde Deltoide
MA CFRI CFRM FFR UFP FAPF AFR EF PFP PPT
UFPB02 Presente Amarelo Vermelho Alongado Agudo Pontudo Presente Rugosa Fácil Fácil
UFPB10 Ausente Laranjado Vermelho Alongado Agudo Pontudo Ausente Rugosa Fácil Fácil
UFPB13 Ausente Verde Amarelo- Acampanulado Trucado Fundido Ausente Rugosa Fácil Fácil
UFPB15 Presente Laranjado Vermelho Triangular Truncado Romo Ausente Lisa Fácil Fácil
UFPB72 Presente Outros Amarelo Acampanulado Truncado Fundido Ausente Semirrugosa Intermediaria Fácil
Laranjado
UFPB74 Ausente Verde Amarelo Alongado Agudo Pontudo Ausente Rugosa Intermediaria Fácil
Laranjado

(CV) ciclo de vida; (CDC) cor do caule ;(CAN) cor antocianina nodal;(FCL) forma do caule;(PCL) pubescência do caule;(HC) habito de crescimento;(DR)
densidade de ramificação ;( CDF );cor da folha ;(FFL)forma da folha ;(MA) mancha antocianina;(CFRI) cor fruto intermediário;(CFRM) cor do fruto maduro;(FFR)
forma do fruto;(UFP )união fruto pedicelo;(FAPF) forma do ápice do fruto;(AFRF) apêndice do fruto ;(EF)epiderme do fruto;(PFP) persistência fruto
pedicelo;(PPT)persistência pedicelo talo(CV) lifecycle; (CDC) color of the stalk (CAN) nodal anthocyanin color; (FCL) form of the stalk (PCL) stem pubescence;
(HC) habit of growth; (DR) branching density (CDF); leaf color; (FFL) leaf shape; (MA) stain anthocyanin; (CFRI) color intermediate result; (CFRM) color of the
ripe fruit; (FFR) fruit shape; (UFP) union pedicel fruit; (FAPF) form the apex of the fruit; (AFRF) Appendix fruit; (EF) of the fruit epidermis; (PFP) persistent fruit
pedicel; (PPT) persistent pedicel stalk.
Tabela 1 – Descrição das características qualitativas de planta e fruto em genótipos de pimenteiras (Capsicum spp.). CCA – UFPB, Areia, 2014.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1081
Figura1. Caracteres qualitativos de habito de crescimento em Planta de Pimenta

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1082


SEMENTES DE FAVA (Phaseolus lunatus) SUBMETIDAS A TRATAMENTOS COM
ÓLEOS ESSENCIAIS

Mirelly Miguel PORCINO


Graduando do Curso de Agronomia da UFPB
mirellyagroufpb@hotmail.com
Marciano Costa NUNES
Graduando do Curso de Agronomia da UFPB
marcianocnunes@hotmail.com
Rommel dos Santos Siqueira GOMES
Mestrando em Agronomia
pratacca@gmail.com
Luciana Cordeiro do NASCIMENTO
Professora do Adjunto/ UFPB/CCA/Campus II
luciana.cordeiro@cca.ufpb.br

RESUMO
O Phaseolus lunatus L., conhecido popularmente como fava constitui uma das alternativas de renda
e alimentação para a população da região Nordeste do Brasil. O presente trabalho objetivou avaliar
a eficiência dos óleos essenciais de Caryophyllus aromaticus e Ocimum basilicum na redução da
incidência e controle de fungos associados as sementes P. lunatus e sua interferência na qualidade
fisiológica. O trabalho foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia, do Departamento de
Fitotecnia e Ciências Ambientais, pertencente à Universidade Federal da Paraíba. Utilizou-se 200
sementes de fava da variedade ‗orelha de vó‘ por tratamento. As sementes foram submetidas à
desinfestação em C2H6O a 70% por 30 segundos, NaClO a 1% durante 3 minutos e dupla lavagem
em ADE, e posteriormente embebidas nos referidos tratamentos contendo óleos essenciais de C.
aromaticus e O. basilicum, nas doses (0; 1; 1,5 e 2 mL·L-1ADE). O método utilizado para a
detecção e incidência de patógenos nas sementes tratadas, foi o de incubação em placa de Petri
contendo dupla camada de papel de filtro, e a avaliação da qualidade fisiológica das sementes foi
realizada em papel germitest, mantidas durante sete dias em temperatura de 25 ±2 ºC, sob
fotoperíodo constante de 8 horas de luz em câmara de BOD. O delineamento experimental utilizado
foi inteiramente casualizado com oito tratamentos constituído por: Dois tipos de óleos essenciais
(cravo-da-índia e manjericão) e quatro doses (0, 1, 1,5 e 2 mL.L-1 de ADE, e as médias comparadas
pelos testes de Tukey (p<0,05), tendo o modelo de regressão ajustado. Os óleos essenciais de cravo-
da-índia e manjericão inibiram o crescimento de fitopatógenos presente nas sementes de Phaseolus
lunatus; A dose de óleo 1,5 mL·L-1 do cravo-da-índia foi a mais eficiente no controle dos
fitopatógenos e não afetou na qualidade fisiológica da semente; A dose de óleo 2,0 mL·L-1 de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1083


manjericão apesar de proporcionar um melhor controle de fitopatógenos, interferiu na qualidade
fisiológica da semente.
Palavras-chave: Qualidade fisiológica, Sanidade, Caryophyllus aromaticus, Ocimum basilicum.

ABSTRACT
The Phaseolus lunatus L., popularly known as fava is an alternative income and food for the people
of Northeastern Brazil. This study aimed to evaluate the effectiveness of essential oils of Ocimum
basilicum aromaticus Caryophyllus and in reducing the incidence and control of fungi associated
with seeds P. lunatus and its interference with the physiological quality. The work was conducted in
the Laboratory of Phytopathology, Department of Plant and Environmental Sciences, belonging to
the Federal University of Paraíba. We used 200 seeds bean variety 'ear grandmother' for treatment.
Seeds were subjected to disinfestation C2H6O to 70% for 30 seconds to 1% NaClO for 3 minutes
and double washing in ADE, and then soaked in those treatments containing essential oils of O.
basilicum and C. aromaticus at doses (0 , 1, 1.5 and 2 ml • L-1ADE). The method used for the
detection and incidence of pathogens in treated seeds was the incubation in Petri dishes containing
double layer of filter paper, and the evaluation of seed quality was held in germitest role, held for
seven days at room temperature 25 ± 2 ° C under constant photoperiod of 8 hours of light BOD
chamber. The experimental design was completely randomized design with eight treatments
consisting of: Two types of essential oils (clove clove and basil) and four doses (0, 1, 1.5 and 2
mL.L ADE-1, and means were compared by Tukey test (p <0.05), with the regression model
adjusted. The essential oils of clove and basil India inhibited the growth of pathogens present in the
seeds of Phaseolus lunatus; A dose of 1.5 ml oil • L-1 clove India was the most effective in
controlling pathogens and did not affect the seed quality; A dose of 2.0 ml oil • L-1 basil while
providing better control of plant pathogens, interfere with the physiological seed quality.
Key words: physiological Calidad, cordura, Caryophyllus aromaticus, Ocimum basilicum.

INTRODUÇÃO

A fava (Phaseolus lunatus L.) é cultivada em todos os estados do Brasil, devido a sua
rusticidade que confere elevado potencial de produção, adaptação às mais diferentes condições
ambientais e alta diversidade genética. Sua principal importância está no uso como fonte alternativa
de proteína à população, que o consome sob a forma de grãos maduros ou verdes, diminuindo a
dependência quase exclusiva do feijão-comum e fonte de renda na agricultura familiar.
Dados mostram que em 2011 foram produzidas, no Brasil, 16.680 toneladas de grãos secos
de fava, numa área plantada de 37.223 ha, sendo a região Nordeste a maior responsável por essa

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1084


produção (IBGE 2012). Na Paraíba a fava é cultivada em quase todas as microrregiões e, com
produção de aproximadamente 2.826 t, numa área plantada de 12.147 ha (IBGE, 2013).
A presença de patógenos nas sementes, independentemente de sua transmissibilidade, pode
afetar o vigor e o rendimento em campo (ZORATO; HENNING, 2001; LUZ, 2003). Este efeito
mais pronunciado quando se trata de organismos que colonizam os tecidos embrionários das
sementes. Alguns estudos apontam que a obtenção de padrões fitossanitários tem sido dificultada
pela ausência de informações oriundas de pesquisa sobre a patogenicidade dos fungos associados às
sementes.
Algumas plantas medicinais devido à sua grande riqueza química possuem princípios ativos
microbiocidas, elas se tornam fontes potenciais de moléculas que podem ser empregadas na defesa
de plantas contra fitopatógenos (NASCIMENTO et al., 2013).
Trabalhos desenvolvidos com extrato bruto e óleo essencial, obtidos a partir de plantas
medicinais, têm indicado o potencial no controle de fitopatógenos em sementes, tanto por sua ação
fungistática direta, inibindo o crescimento micelial e a germinação de esporos, quanto pela indução
de fitoalexinas (CUNICO et al., 2003).
O presente trabalho objetivou avaliar a eficiência dos óleos essenciais de cravo-da-índia
(Caryophyllus aromaticus) e manjericão (Ocimum basilicum) na redução da incidência e controle
de fungos associados às sementes de Fava (Phaseolus lunatus) e sua interferência na qualidade
fisiológica.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Fitopatologia do Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais, pertencente à Universidade Federal da Paraíba. As sementes de
fava (Phaseolus lunatus L.) variedade ‗orelha de vó‘, utilizadas nos experimentos foram originadas
de campos de produção localizados na zona rural de Galante distrito de Campina Grande, Paraíba.
Teste de sanidade

Para a detecção de fungos presentes nas sementes adotou-se o método de incubação em papel
de filtro, em placa de Petri de 15 cm diâmetro contendo dupla camada de papel filtro, em que antes
foi umedecido ao volume de 2,5 o peso do papel, utilizando-se água destilada e esterilizada (ADE)
(BRASIL, 2009). Foram utilizadas 200 sementes de feijão-fava por tratamento, submetidas à
desinfestação em C2H6O 70% por 30 segundos, NaClO a 1% durante 2 minutos e dupla lavagem em
ADE, permanecendo-as sob temperatura ambiente para secagem. As sementes foram imersas em
solução constituídas pelos tratamentos: óleos essenciais de cravo-da-índia (Caryophyllus
aromaticus) e manjericão (Ocimum basilicum), nas doses de (0, 1, 1,5 e 2 mL.L-1 de ADE) e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1085


adicionas duas gotas de Tween 80 para o tratamento controle, distribuídas em dez repetições de
vinte sementes. As placas de Petri contendo as sementes foram mantidas por um período de sete
dias em temperatura de 25 ±2 ºC, sob fotoperíodo constante de 12 horas (BRASIL, 2009).

A identificação dos fungos associados às sementes foi realizada através de microscópico


estereoscópico (MENEZES, 2006). Já a incidência foi calculada por regra de três, tirando como
base a testemunha, sendo os resultados expressos em percentagem de incidência do número de
sementes infectadas, de acordo com a fórmula abaixo:

( )
( )

Qualidade fisiológica

Foram realizadas as avaliações de primeira contagem, germinação e índice de velocidade da


germinação das plântulas, utilizando-se quatro repetições de 50 sementes por tratamento, semeadas
em papel germitest umedecido com ADE com o equivalente a 2,5 vezes o peso do papel e colocadas
para germinar em câmara de B.O.D (Biochemical Oxygen Demand) em temperatura de 25 ºC, sob
fotoperíodo constante de 8 horas (BRASIL, 2009).
As avaliações foram realizadas do quinto ao nono dia, após a semeadura, considerando
plântulas normais aquelas que apresentaram sistema radicular com no mínimo 2 mm de
comprimento. Os resultados foram expressos em percentagem média de germinação (BRASIL,
2009).
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com oito tratamentos
constituído por dois tipos de óleos essenciais (cravo-da-índia e manjericão) e 4 doses (0, 1, 1,5 e 2
mL.L-1 de ADE). As médias foram comparadas pelos testes de Tukey (p<0,05), tendo o modelo de
regressão ajustado, em programa estatístico ASSISTAT® versão 7.7 beta (SILVA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a avaliação da porcentagem médias de incidência nas sementes de P.


lunatus, observou-se a presença dos seguintes patógenos: Aspergillus spp. (5,5%), Aspergillus niger
(6,0%), Fusarium sp. (4,0%), Penicillium sp. (4,2%) e Botrytis sp. (4,2%) (Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1086


Percentagem de incidência (%)
Figura 1. Porcentagem média geral da incidência dos fungos em sementes de fava (Phaseulos
lunatus L.), tratadas com óleos de Caryophyllus aromaticus e Ocimum basilicum em
diferentes concentrações.

As sementes tratadas com os óleos essenciais observou-se efeito significativo na redução da


incidência de fungos, verificando-se que os menores índices foi verificado na concentração de 1,0
mL·L-1 do óleo essencial de cravo-da-índia para Aspergillus spp. e Cladosporium sp. e na
concentração de 1,5 mL·L-1 para o controle do Fusarium sp. Já para o óleo essencial de manjericão
a concentração 1,0 mL, ocorreu a menor incidência de Aspergillus spp, e nas concentrações 1,5 e
2,0 mL·L-1 ocorreu redução de Cladosporium sp. e Fusarium sp. respectivamente nas sementes de
P. lunatus (Figura 2).
Costa et al., (2011) avaliando a inibição de fungos com óleo essencial de C. aromaticum, os
resultados inibitórios é provavelmente devido a grande porcentagem de eugenol contido nessa
espécie, tal composto fenólico é antisséptico e de ação fungistática já conhecida. Esses resultados
concordam com avaliação feita por Amaral e Bara (2005) referente à influência da atividade
antifúngica do óleo de cravo em concentrações de 0,1 a 0,5% sobre fitopatógenos presentes em
sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.).

Caryophyllus aromaticus 11
Ocimum basilicum
11 a a
% Incidência do Aspergillus spp.
% Incidência do Aspergillus spp.

9 9

ŷ = 10,145 - 11,745x + 4,7273x2 7 ŷ = 9,7273 - 13,727x + 5,6364x2


7 ab
R² = 0,9335 R² = 0,8396
ab
5 a 5 ab
ab
3 3
b

1 1

-1 0 0,5 1 1,5 2 -1 0 0,5 1 1,5 2


concentração (mL·L-1) concentração (mL·L-1)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1087


Ocimum basilicum
6
Caryophyllus aromaticus 6
a

% Incidência do Cladosporium sp.


a
% Incidência do Cladosporium sp.
5 5

4 4

ŷ = 5,0091 - 8,6091x + 3,5455x2 ŷ = 6,6061 - 9,2727x + 3,0303x2


3 3
R² = 0,9995 R² = 0,9879
ab
2 2

1 1
ab ab b b b
0 0
0 0,5 1 1,5 2 0 0,5 1 1,5 2
-1 -1
concentração (mL·L-1) concentração (mL·L-1)

8 Caryophyllus aromaticus 8
Ocimum basilicum
a a
7 7

% Incidência do Fusarium sp.


% Incidência do Fusarium sp.

6 6

5 5
ŷ = 6,5429 - 3,3714x
4 ŷ = 6,8636 - 8,8636x + 2,8182x2 4
ab R² = 0,9295
R² = 0,9398 3
3
ab
2 2
ab
b 1
1 ab b
0 0
0 0,5 1 1,5 2 0 0,5 1 1,5 2
-1 -1
concentração (mL·L-1) concentração (mL·L-1)
Figura 2. Porcentagem de incidência de Aspergillus spp. Clasdosporium sp. e Fusarium sp., em sementes de
fava (Phaseulos lunatus L.), tratadas com óleos de Caryophyllus aromaticus e Ocimum basilicum em
diferentes concentrações.

Dados semelhantes ao presente trabalho foi verificado por Flávio et al., (2014) quando
avaliaram a qualidade sanitária de sementes de Sorghum bicolor tratadas com óleo essencial de
Ocimum gratissimum, observou-se redução na infestação de Fusarium (29,2%) e Aspergillus spp.
(14,3%).
Silva et al., (2009) avaliando o efeito de extratos vegetais, verificou-se que o extrato de
manjericão proporcionou o menor redução de incidência sobre o fungo Fusarium oxysporum em sementes
de Vigna unguiculata.
Óleos essenciais Concentração (mL) PC GE IVG
Testemunha 0,0 21,3 ab 22,0 ab 11,9 ab
Cravo-da-india 1,0 22,8 ab 23,0 ab 11,6 ab
Cravo-da-india 1,5 23,8 a 23,8 a 12,8 a
Cravo-da-india 2,0 22,0 ab 22,3 ab 11,4 ab
Manjericão 1,0 22,5 a 23,8 ab 11,3 ab
Manjericão 1,5 21,3 ab 22,5 ab 11,7 ab
Manjericão 2,0 19,5 b 19,8 b 10,0 b
C.V - 10,42 10,57 12,76
DMS - 3,35 3,49 2,16
*Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Tabela 1. Porcentagem média da primeira contagem (CP), germinação (GE) e índice de velocidade da
germinação (IVG) das sementes de feijão-fava (Phasealus lunatus L.) variedade ‗orelha de vó‘, submetidas
a diferentes tratamentos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1088


Observou-se diferença estatística entre as concentrações, verificando que quando utilizou o
óleo essencial de cravo-da-índia na concentração 1,5 mL·L-1 apresentou as maiores médias para
todas as variáveis analisadas (Tabela 1). Já no tratamento com o óleo de manjericão na
concentração de 1,0 mL·L-1 apresentou os maiores valores em relação as demais concentrações.
Apesar da concentração de 2,0 mL·L-1 ter sido eficiente no controle de fungos em sementes de fava,
essa mesma concentração teve reflexo negativo sobre a qualidade fisiológica das sementes de P.
lunatus (Tabela 1).
No trabalho de Santos et al. (2011) foi constatado que o tratamento de sementes de fava
(Phasealus lunatus) com pó de cravo-da-índia, proporcionou os melhores resultados na qualidade
fisiológica.
Brito et al. (2010) ao submeterem sementes de espécies florestais do semiárido, ao
tratamento com óleo de manjericão (O. basilicum) nas concentrações de 0%; 0,5%; 1% e 2%,
observaram que o óleo de manjericão proporcionou uma redução na porcentagem de germinação à
medida que aumentava a sua concentração.
Gonçalves et al. (2003) ao tratarem sementes de feijão (Phaseolus vulgaris) com extrato de
cravo-da-índia nas concentrações de 1%; 5% e 10%, observaram que nas concentrações de 1% e
5%, a porcentagem de germinação foi melhor. O extrato de cravo-da-índia a 10% diminuiu o índice
de velocidade de germinação das sementes.

CONCLUSÃO

Os óleos essenciais de cravo-da-índia e manjericão inibiram o crescimento de fitopatógenos


presente nas sementes de Phaseolus lunatus;
A dose de óleo 1,5 mL·L-1 do cravo-da-índia foi a mais eficiente no controle dos
fitopatógenos e não afetou na qualidade fisiológica da semente.
A dose de óleo 2,0 mL·L-1 de manjericão apesar de proporcionar um melhor controle de
fitopatógenos, interferiu na qualidade fisiológica da semente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Manual de análise sanitária de sementes.


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária.
Brasília, DF: MAPA/ACS, 200 p.2009.

BRITO, N. M.; NASCIMENTO, L. C.; COELHO, M. S. E; FELIX, L. P. Efeitos de óleos


essenciais na germinação de sementes de Cereus jamacaru. Revista Brasileira de Ciências
Agrárias, v.5, n.2, p.207-211, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1089


COSTA, A.R.T. et al. Ação do óleo essencial de Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M. Perry
sobre as hifas de alguns fungos fitopatogênicos. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 13,
n.2, p.240-245, 2011.

CUNICO M. M., et. al. Estudo da atividade antifúngica de Ottonia martiana Miq., Piperaceae: um
teste in vivo. Visão Acadêmica. 2003, p. 92-82.

GONÇALVES, E. P.; ARAUJO, E.; ALVEZ, E. U.; COSTA, N. P. Tratamento químico e natural
sobre a qualidade fisiológica e sanitária em sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.)
armazenadas. Revista de Biociência, v.9, n.1, p.23-29, 2003.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento sistemático da produção


agrícola. Disponível em: <http:// www.sidra.ibge.gov.br> Acesso em 08 agosto. 2012.

LUZ, W.C., Combinação dos tratamentos biológico e químico de sementes de milho. Fitopatologia
Brasileira. p. 37-40. 2003.

MENEZES, M.; OLIVEIRA, S. M de Fungos fitopatôgenicos. Pernambuco: Imprensa Universitária


da UFRPE. 277 p. 2006.

NASCIMENTO, J.M., et al. Inibição do crescimento micelial de Cercospora calendulae Sacc. Por
extratos de plantas medicinais. Campinas: Revista. Brasileira de Plantas Medicinais, v.15, n.4,
p.751-756, 2013.

FLAVIO et. al. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de sorgo tratadas com extratos
aquosos e óleos essenciais. Londrina: Semina: Ciências Agrárias, v. 35, n. 1, p. 10-20, 2014.

SANTOS, D. et al. Produtividade e morfologia de vagens e sementes de variedades de fava no


estado da Paraíba. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v. 37, n. 10, p. 407-1412, 2011.

SILVA, F. de A. S. Programa computacional ASSISTAT – Assistência Estatística. Versão 7.5 beta.


Campina Grande: UFCG, 2011.

SILVA, A. J., Efeito de extratos vegetais no controle de Fusarium oxysporum f. sp tracheiphilum


em sementes de caupi. Lavras: Ciênc. Agrotec. v.33 n. 2. 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1090


EFEITO ALELOPÁTICO DA ALGAROBA (Prosopis juliflora) NA GERMINAÇÃO E
NO CRESCIMENTO DE PLANTAS

Rafael Ramos de MORAIS


Graduando do Curso de Agronomia/UFPB
leafarmorais@gmail.com
Dácio Jerônimo de ALMEIDA
Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB
Victor Júnior Lima FÉLIX
Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB
Begna Janine da Silva LIMA
Pós-Graduando em Ciência do Solo/UFPB

RESUMO
O manejo de plantas daninhas tem grande influência no aumento do custo de produção das culturas
agrícolas, por muitas vezes ultrapassando o desembolso no controle de pragas e doenças. Trabalhos
realizados para identificar a alelopatia, muitas vezes não revelam os compostos químicos, mas
podem detectar a interferência no crescimento e desenvolvimento das espécies-alvo, servindo como
indicativo de possíveis fontes de novos compostos com potencial ação biocida ou indutoras de
processos. Objetivou-se com esse estudo mensurar as modificações causadas pela adição de
resíduos de algaroba (Prosopis juliflora (Sw) DC.) na germinação e no crescimento de plântulas de
algodão, picão-preto e sorgo. O experimento foi conduzido em câmara de BOD, utilizando-se como
substrato papel germitest. Os tratamentos constaram da adição ao substrato de diferentes
concentrações (0; 25; 50; 75; 100%) do extrato aquoso de Prosopis juliflora. O extrato foi
elaborado após a imersão de 100g de folhas secas trituradas em 1000 ml de água, por um período de
24 horas. O produto resultante dessa operação foi o extrato com concentração de 100%, a partir
desse foram diluídas as demais concentrações. Avaliou-se a porcentagem de germinação, o índice
de velocidade de germinação e o comprimento radicular das plântulas. Concentrações a partir de
75% do extrato da algaroba reduziram significativamente a germinação das plantas de picão-preto e
sorgo. Por outro lado, plantas de algodão mostraram ser a espécie mais tolerante aos efeitos
alelopáticos da algaroba.
Palavras-chave: Aleloquímicos, BOD, taxa de germinação, velocidade de germinação.

ABSTRACT
The weed management has great influence on the increased cost of production of agricultural crops,
many times exceeding the outlay to control pests and diseases. Work carried out to identify
allelopathy often do not reveal the chemicals, but can detect interference in the growth and

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1091


development of the target species, serving as an indication of possible sources of new compounds
with potential biocide or inducing action processes. The objective of this study to measure the
changes caused by the addition of residues mesquite (Prosopis juliflora (Sw) DC.) On germination
and seedling growth of cotton, picão-preto and sorghum. The experiment was conducted in a BOD
chamber, using as substrate germitest paper. The treatments consisted of the addition of different
substrate concentrations (0, 25, 50, 75, 100%) of the aqueous extract of Prosopis juliflora. The
extract was prepared after soaking 100g of dried leaves crushed in 1000 ml of water for a period of
24 hours. The product resulting from this operation was to extract concentration of 100%, from that
other concentrations were diluted. We evaluated the percentage of germination, the rate of speed of
germination and root length of seedlings. Concentrations from 75% mesquite extract significantly
reduced the germination of plants picão-preto and sorghum. Moreover, the cotton plants were
shown to be more tolerant species to the allelopathic effects of mesquite.
Keywords: Allelochemicals, BOD, germination rate, speed germination.

INTRODUÇÃO

Nas comunidades vegetais, as plantas podem interagir de maneira positiva, negativa ou


neutra, porém é bastante comum que plantas vizinhas interajam de maneira negativa, de modo, que
a emergência e/ou, crescimento de uma seja inibido. De acordo com Weir et al. (2004) e
Albuquerque et al. (2011), em ambientes naturais determinadas espécies possuem a habilidade de
liberar para o ambiente, moléculas químicas com potencial inibitório ou estimulatório à outras
espécies. Este fenômeno de interferência química entre organismos é conhecido como alelopatia.
A alelopatia é um processo que distingue-se da competição, isso por que a segunda interação
envolve a redução ou supressão de algum fator ambiental necessário a outra planta no mesmo
ecossistema, tal como água, luz e nutrientes (REZENDE et al., 2003). Já as substâncias alelopáticas
podem ser inibidores da germinação e do crescimento, pois as mesmas interferem na
permeabilidade de membranas, na divisão celular, na ativação de enzimas e na produção de
hormônios nas plantas (FERREIRA e AQUILA, 2000). Porém, alguns autores demonstraram que
estes compostos podem atuar como promotores de crescimento (ALVES et al., 2004).
A Prosopis juliflora (Sw) DC, é uma árvore perenifólia, nativa dos desertos do Peru, com
altura de 7 a 10 metros, tronco tortuoso com casca pardo-avermelhada, escamosa e espessa. Essa
espécie foi introduzida no território brasileiro na década de 40 como alternativa à seca e a falta de
forragem no semiárido. No entanto, logo a espécie revelou um comportamento invasor nesta região,
onde em situações extremas impede o desenvolvimento da vegetação adjacente. Trabalhos
publicados por Pegado et al. (2006) e Andrade et al. (2008; 2009) também tem identificado o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1092


potencial invasivo desta espécie, com efeitos negativos sobre a fitodiversidade e a estrutura do
componente arbustivo da caatinga.
Existem evidências de que a algaroba utiliza-se da alelopatia para garantir sua introdução em
um novo ecossistema. Isto tem sido demonstrando em trabalhos realizados até em outros países
Elfadl e Luukkanen (2004), realizado no oeste do Sudão, e Shiferaw et al. (2004), no nordeste da
Etiópia. Porém pouco se sabe sobre se esse fenômeno é realmente decisivo no processo de invasão
biológica da caatinga ou sobre o grau de sensibilidade das espécies aos aleloquímicos
possivelmente liberados por esta espécie. Em experimentos executados por Melo Filho et al. (2011)
apresentaram a redução na germinação de sementes de gergelim (Sesamun indicum L.), com a
adição de resíduos foliares de algaroba. Ao mesmo passo, porém, houve um incremento no
desenvolvimento inicial de plântulas que receberam os resíduos.
Pelo exposto, o trabalho teve como objetivo mensurar as modificações causadas pela adição
do extrato aquoso de algaroba (Prosopis juliflora) na germinação e no crescimento inicial do
algodão, picão-preto e sorgo.

MATERIAL E MÉTODOS

Local do experimento

Os experimentos foram desenvolvidos em câmara BOD (Biochemical Demand of Oxigen)


do Laboratório de Ecologia Vegetal (LEV), Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do
Centro de Ciências Agrárias (CCA) – Campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
localizado no município de Areia- PB.
Para tal utilizou-se folhas de plantas adultas de Prosopis juliflora, como espécie doadora
(potencial fornecedora de aleloquímicos) e como espécies-alvo (aquelas que receberão os
aleloquímicos) algodão BRS 8H (Gossypium hirsutum), Sorgo (Sorghum bicolor), ambas obtidas da
unidade da EMPRAPA Algodão e o Picão-preto (Bidens pilosa) coletado no campus da
universidade.
Para a obtenção do pó das folhas de algaroba foi realizado o processo de secagem das folhas
frescas em estufa a 65°C com circulação forçada de ar, até o material atingir peso constante. Logo
em seguida, as folhas foram trituradas em moinho tipo Willye e acondicionadas em sacos plásticos
pretos para evitar a fotodegradação do material triturado.

Preparo do extrato aquoso

O método de preparo do extrato aquoso empregado foi o de extração fria, utilizando uma
proporção de 100g de folhas trituradas para 1L de água destilada. A mistura ficou em repouso por

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1093


um período de 24h a temperatura ambiente. Após esse período, seguiu-se uma filtração do extrato
com o auxílio de tecido de náilon (ALBUQUERQUE et al., 2011). Desse processo obteve-se o
extrato na concentração de 100%, a partir desse foram realizadas as diluições para as demais
concentrações.

Delineamento experimental

Os bioensaios seguiram um delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC), com


cinco repetições. Os tratamentos consistiram de cinco concentrações do extrato aquoso (0%, 25%,
50%, 75% e 100%), com quatro repetições. A unidade experimental composta de três folhas de
papel germitest, sendo duas abaixo e uma acima de 50 sementes das espécies-alvo, distribuídas de
forma equidistante. O papel foi umedecido respeitando-se 2,5 vezes o seu peso, com água destilada
ou extrato aquoso. Após isso os tratamentos foram acondicionados em caixa gerbox e colocados em
câmara BOD à temperatura de 25°C e fotoperíodo de 12 horas.
A leitura dos dados ocorreu com a contagem diária do número de plantas germinadas até a
estabilização, para a determinação da porcentagem de germinação final e índice de velocidade de
germinação (IVG), sendo consideradas germinadas todas as plântulas normais e que apresentaram
protrusão radicular de aproximadamente 0,2cm. Para o cálculo do IVG utilizou-se da equação
descrita por Maguire (1962) - IVG = G1/N1+ G2/N2 +...+Gn/Nn, em que: G1, G2 e Gn
representam o número de sementes normais germinadas até o enésimo dia. N1, N2 e Nn
representam o número de dias em que se avaliaram as germinações G1, G2 e Gn.
Ao final do período experimental, as plântulas foram cuidadosamente retiradas das bandejas
e com o auxílio de uma régua as mesmas submetidas à medição do sistema radicular.
Os dados foram submetidos a análises de variância e regressão polinomial. As análises
foram realizadas utilizando o software SAS/STAT 9.3 (SAS, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Algaroba × Algodão

O algodão apresentou comportamentos distintos em relação à aplicação dos extratos aquosos


de folhas de algaroba. Na variável germinação não apresentou alteração significativa, com a adição
do extrato. O efeito alelopático não precisa ser primordialmente negativo ou inibitório, pois
substâncias aleloquímicas, podem proporcionar respostas sinérgicas, diferindo entre as espécies. Em
estudo Lima e Moraes (2008) ao submeterem sementes de alface (Lactuca sativa cv. Grand Rapids)
e tomate (Solanum lycopersicum cv. Santa Clara) no extrato aquoso de Ipomoea fistulosa
observaram maior sensibilidade das sementes de alface na germinação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1094


O IVG teve redução significativa, com a aplicação do extrato, de forma que o algodão
mostrou isso a partir da concentração de extrato aquoso de algaroba 50%, evidenciando o potencial
alelopático da algaroba. Muitas vezes o efeito alelopático não se manifesta sobre a porcentagem de
germinação, mas sobre a velocidade de germinação das sementes que é um indicativo de capacidade
de emergência das plântulas. Este atraso tem um significado ecológico, pois plantas que germinam
mais lentamente podem apresentar tamanho reduzido e, em consequência, podem ser mais
suscetíveis a estresse e ter menor chance na competição intra e interespecífica por recursos do meio
(KAPPES et al., 2010).
Observado o comprimento do sistema radicular, o algodão apresentou um efeito interessante
que foi o incremento no tamanho do sistema radicular, o que leva a pensar que a espécie promoveu
esse desenvolvimento para buscar uma local onde não houvesse a presença dos aleloquímicos. Algo
semelhante encontrado por Souza et al. (2007) avaliando o desenvolvimento radicular do algodoeiro
em relação a localização do adubo, observou crescimento reduzido nos primeiros dias, porém houve
aumento compensatório a partir 15 dia após a emergência, atribuindo ao fato das raízes terem sido
estimuladas para saírem da zona crítica de salinidade do fertilizante. Portanto, se há redução do
crescimento da raiz e atraso do seu desenvolvimento, tais resultados são prejudiciais à planta e a sua
produtividade futura, pois a raiz é um órgão fundamental, responsável pela absorção de água e
nutrientes minerais. Quando esta parte da planta é afetada, consequentemente o crescimento e
desenvolvimento também serão afetados (BENINCASA, 2003).

80

60
ŷ = -0,0018x2 + 0,015x + 73,875
IVG (%)

40 R² = 0,9996**

20

0
0 25 50 75 100
Concentração do extrato (%)

100
y = 90,5
80
Germinação (%)

R² = #N/A
ŷ= 99,32
60

40

20

0
0 25 50 75 100
Concentração do extrato (%)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1095


8

Comprimento da radícula
7
6
5

(cm)
4 y = -0,0098x + 6,2463
R² = 0,1115**
3
2
1
0
0 25 50 75 100
Concentração do extrato (%)

FIGURA 1. Valores médios do Índice de velocidade de germinação, Germinação e o comprimento radicular


de plântulas de algodão submetidas à ação de diferentes concentrações de extratos de algaroba. **
significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < 01).

Algaroba × Picão-preto

As aplicações dos extratos aquosos das folhas de algaroba tiveram efeito alelopático
negativo nas variáveis avaliadas. O IVG foi a variável mais sensível no término do experimento
onde observou que a partir da concentração 50% houve significância nos resultados analisados. O
comprimento radicular e a germinação, ambas foram significativas a partir da concentração 75%
(Figura 2). A redução da velocidade de germinação implica apresentarem tamanho reduzido e assim
ficando mais susceptíveis a estresses como o hídrico e também o fato de diminuir a competição com
a cultura, pois com o crescimento lento da planta daninha a cultura tem a possibilidade de
estabelecer mais rápido na área. Getachew et al. (2012) estudou os efeitos alelopático invasivo da
Prosopis juliflora sobre a germinação de sementes e crescimento de plântulas Acacia nilotica (L.)
Willd., tortilis Acácia (Forssk.) Hayne, Cenchrus ciliaris L. e Enteropogon rupestris (JA Schmidt)
em diferentes tipos de habitats. Para tal estudo, folhas, casca e extratos aquosos da raiz de Prosopis
Juliflora nas proporções 0; 0,5; 0,8; 1; 2 e 6% foram preparados em seu estudo. A germinação e o
crescimento das sementes de A. nilotica e A. tortilis não foram afetada por todos os extratos aquosos
de diferentes partes de órgãos de Prosopis Juliflora, porém folhas e extratos das raizes em
concentrações superiores inibiram a germinação de C. ciliaris e E. rupestris.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1096


14
12
10
Ŷ = 10,36 - 10,838x + 0,0457x2

IVG (%)
8 R² = 0,93**
6
4
2
0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentração do extrato (%)

70
60
Ŷ = 57,971 - 8,7714x - 47,429x2
Germinação (%)

50 R² = 0,89**
40
30
20
10
0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentração do extrato (%)
3,5
Comprimento da radícula

3
Ŷ = 2,2544 + 1,2566x -3,3646x2
2,5 R² = 0,89**
2
(cm)

1,5
1
0,5
0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentração do extrato (%)

FIGURA 2. Valores médios do Índice de velocidade de germinação, Germinação e do comprimento


radicular de plântulas de Picão-preto submetidas à ação de diferentes concentrações de extratos de algaroba.
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < 01).

Algaroba x Sorgo

Os dados obtidos apontam que a espécie-alvo apresentou naturalmente baixos valores de


germinação no tratamento controle sob as condições experimentais adotadas. No entanto, ainda foi
possível detectar que o aumento da concentração do extrato aquoso de algaroba teve um efeito
inibitório sobre esta espécie. Observou-se que crescimento radicular, IVG e a germinação foram
afetados a partir do tratamento 50%, com queda de 70,08%, 70% e 50% respectivamente, também
chegando a 0% de sementes germinadas a partir do tratamento 75%.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1097


Melo Filho et al (2011) realizou estudos com resíduos foliares de algaroba sobre a
germinação e crescimento em gergelim onde observou – se que a presença do resíduo reduziu a
germinação em média de 77,3% para 11,1%. Trabalhando com o efeito de diferentes concentrações
de extratos aquosos das diferentes partes da algaroba, Noor (1995), encontrou resultados
semelhantes, onde os extratos das folhas de algaroba a partir da concentração de 50% apresentou
uma tendência à redução no percentual de germinação de Zea mays cv. EV1081.
1

0,8 Ŷ = 0,5823 - 1,0043x + 0,3943x2


R² = 0,96*
IVG (%)

0,6

0,4

0,2

0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentração (%)

7
6
5
Germinação (%)

y = -4,8x + 4,4
4 R² = 0,9*

3
2
1
0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentração (%)
2,5
Comprimento da radícula

2
Ŷ = 1,2069 - 2,2309x + 0,9829x2
R² = 0,98ns
1,5
(cm)

0,5

0
0% 25% 50% 75% 100%
Concentrações
FIGURA 3. Valores médios do Índice de velocidade de germinação, Germinação e do comprimento
radicular de plântulas de sorgo submetidas à ação de diferentes concentrações de extratos de algaroba. *
significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 05); ns não significativo (p > 05).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1098


CONCLUSÃO

Pode-se afirmar que em concentrações superiores a 75%, o extrato aquoso de algaroba


influencia negativamente a germinação e o crescimento inicial de plântulas de algodão, picão-preto
e sorgo. As plântulas do algodão apresentaram maior tolerância a esses aleloquímicos. Isso mostra
que os efeitos alelopáticos da algaroba variam com a espécie alvo e com a concentração do extrato
aplicado, podendo no futuro ser alvo de estudos de herbicidas naturais.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. B.; SANTOS, R. C.; LIMA, L.M.; MELO FILHO, P.A.; NOGUEIRA, R. J.
M. C.; CÂMARA, C. A. G.; RAMOS, A. R. Allelopathy, an alternative tool to improve cropping
systems. A review. Agronomy for Sustainable Development, v.30, p. 379-395, 2011.

ALVES, M.C.S.; MEDEIROS FILHO, S.; INNECCO, R.; TORRES, S.B. Alelopatia de extratos
voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 39, p.1083-1086, 2004.

ANDRADE, L. A., FABRICANTE, J. R.; DE OLIVEIRA, F. X. Invasão biológica por Prosopis


juliflora (Sw.) DC.: impactos sobre a diversidade e a estrutura do componente arbustivo-
arbóreo da caatinga no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Acta bot. bras, v.23, p.935-943,
2009.

ANDRADE, L.A.; FABRICANTE, J.R.; ALVES, A.S. Algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) DC.):
Impactos sobre a Fitodiversidade e Estrategias de Colonização em Área Invadida na Paraíba,
Brasil. Natureza & Conservação v.6, p.61-67, 2008.

BENINCASA, M. M. P. Análise de crescimento de plantas: Noções básicas. 2.ed. Jaboticabal:


FUNEP, 2003. 41p.

ELFADL, M.A.; LUUKKANEN, O. Effect of pruning on Prosopis julifl ora: considerations for
tropical dryland agroforestry. Journal of Arid Environments, v. 53, p.441-455, 2004.

FERREIRA, A.G; ÁQUILA, M.E.A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista
Brasileira Fisiologia Vegetal, v.12, p.175-204, 2000.

GETACHEW, S; DEMISSEW, S; WOLDEMARIAM,T. Allelopathic effects of the invasive


Prosopis juliflora (Sw.) DC. on selected native plant species in Middle Awash, Southern Afar
Rift of Ethiopia. Management of Biological Invasions,v.3, p.105–114, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1099


KAPPES, C.; COSTA ANDRADE, J. A. C.; HAGA, K. I.; FERREIRA, J. P.; ARF, M. V.
Geminação, Vigor de sementes e crescimento de plântulas de milho sob condições de déficit
hídrico. Scientia Agraria, v. 11, p.125-134, 2010.

LIMA, J. D.; MORAES, W. D. S. Potencial alelopático de Ipomoea fistulosa sobre a germinação


de alface e tomate. Acta Scientiarum. Agronomy, v.30, p.409-413, 2008.

MAGUIRE, J.D. Speed of germination-aid in selection and evolution for seedling emergence vigor.
Crop Science, v. 2, p.176-177, 1962.

MELO FILHO, M.A.O.; COSTA, J.R.C.; SANTOS, R. C.; ANDRADE, L. A.; ALBUQUERQUE,
M. B. Efeito dos resíduos foliares de algarobeira sobre a germinação e crescimento do
gergelim. In: X Congresso de Ecologia - I Simpósio de Sustentabilidade, São Lourenço - MG.
Anais do X Congresso de Ecologia - I Simpósio de Sustentabilidade. São Lourenço - MG, 2011.

NOOR, M.; SALAM, U.; KHAN, M.A. Allelopathic effects of Prosopis juliflora Swartz. Journal
of Arid Environments, 1995, 8p.

PEGADO, C. M. A.; ANDRADE, L. D.; FÉLIX, L. P.; PEREIRA, I. M. Efeitos da invasão


biológica de algaroba- Prosopis juliflora (Sw.) DC. sobre a composição e a estrutura do estrato
arbustivo-arbóreo da caatinga no Município de Monteiro, PB, Brasil. Acta Botanica Brasilica,
v.20, p.887-898, 2006.

REZENDE, C. DE P.; PINTO, J.C.; EVANGELISTA, A.R.; SANTOS, I. P. A. Alelopatia e suas


interações na formação e manejo de pastagens plantas forrageiras. Lavras: UFLA, 2003. p.18.
Boletim Agropecuário.

SAS. SAS/STAT 9.3 User‘s Guide. Cary, NC: SAS Institute Inc. 2011. 8621p.

SHIFERAW, H.; TEKETAY, D.; NEMOMISSA, S.; ASSEFA, F. Some biological characteristics
that Foster the invasion of Prosopis juliflora (Sw) D.C. at Middle Awash Rift Valley Area, north-
eastern Ethiopia. Journal of Arid Environments, v.58, p.135-154, 2004.

SOUZA, F. S.; FARINELLI, R.; ROSOLEM, C. A. Desenvolvimento radicular do algodoeiro em


resposta à localização do fertilizante. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, p.387-392,
2007.

WEIR T. L; PARK S. W; VIVANCO J. M. Biochemical and physiological mechanisms mediated


by allelochemicals. Current Opinion in plant Biology, v. 7, p. 472–479, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1100


Educação Ambiental no Mundo Globalizado

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1101


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A PRÁTICA DOCENTE EM ESCOLAS PÚBLICAS DA
REDE ESTADUAL DE ENSINO EM FORTALEZA - CEARÁ

Francisco de Assis Faustino de SOUSA47


Prof. de Geografia da Rede Estadual de Ensino - Ceará
assisfaustino@yahoo.com.br

RESUMO
A Educação Ambiental (EA) tem uma história quase oficial, que a relaciona com conferências
mundiais e com os movimentos sociais em todo o mundo. No Brasil, está previsto em lei e deve ser
oferecida pelas escolas em todos os níveis de ensino. A inclusão do tema meio ambiente na rotina
escolar, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), possibilitou atividades
interdisciplinares, transversais e inserção da temática no conteúdo de cada disciplina numa
perspectiva educativa quando analisa temas que permitam enfocar as relações entre a humanidade, o
meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificações. O interesse deste
trabalho foi estudar a prática pedagógica dos docentes em relação à EA desenvolvida nas escolas
públicas da rede estadual de ensino em Fortaleza - Ceará, no sentido de verificar sua contribuição
para a formação de consciência ambiental dos jovens de ensino básico. Para o desenvolvimento do
tema, foi realizada uma pesquisa em seis escolas, considerando quatro segmentos envolvidos na
pesquisa: coordenadores pedagógicos, professores coordenadores de área, professores e alunos;
averiguar qual a compreensão e perspectiva percebida por cada um destes segmentos e como se dão
as ações decorrentes da temática EA nas escolas pesquisadas. Comparando os resultados dos atores
envolvidos, percebemos uma relevante diferença na compreensão e concepção do processo de
entendimento sobre a temática meio ambiente. Para os professores, os temas ambientais são mais
específicos, enquanto os alunos tem uma visão dos temas mais global. De modo geral, as escolas
estão longe de desenvolverem projetos interdisciplinares com a temática EA; que a formação
continuada em EA é algo inoperante pela Secretaria de Educação e, quando existe, é por interesse
próprio do professor; os alunos continuam evidenciando que a EA é uma atuação concentrada nos
professores de ciências, geografia e biologia.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Ensino, Prática Docente.

RESUMEN
La Educación Ambiental (EA) tiene una historia casi oficial, que la relaciona con conferencias
mundiales y con los movimientos sociales en todo el mundo. En Brasil, está previsto en ley y debe
ser ofrecida por las escuelas en todos los niveles de enseñanza. La inclusión del tema medio

47
Mestre em Ciências da Educação - UNISAL - PY

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1102


ambiente en la rutina escolar, a través de los Parámetros Curriculares Nacionales (PCNs), posibilitó
actividades interdisciplinares, transversales e inserción de la temática en el contenido de cada
asignatura en una perspectiva educativa cuando analiza temas que permitan enfocar las relaciones
entre la humanidad, el medio natural y las relaciones sociales, sin dejar de lado sus especificaciones.
El interés de este trabajo fue estudiar la práctica pedagógica de los docentes en relación a la EA
desarrollada en las escuelas públicas de la red estadual de enseñanza en Fortaleza - Ceará, en el
sentido de verificar su contribución para la formación de consciencia ambiental de los jóvenes de la
enseñanza básica. Para el desarrollo del tema, fue realizada una investigación en seis escuelas,
considerando cuatro segmentos involucrados en ella: coordinadores pedagógicos, profesores
coordinadores de área, profesores y alumnos; averiguar cual la comprensión y perspectiva percibida
por cada uno de estos segmentos y como resultaron las acciones recorridas de la temática EA en las
escuelas investigadas. Comparando los resultados de los hechos involucrados, percibimos una
relevante diferencia en la comprensión y concepción del proceso de entendimiento sobre la temática
medio ambiente. Para los profesores, los temas ambientales son más específicos, mientras los
alumnos tienen una visión de los temas más global. En general, las escuelas están lejos de
desarrollaren proyectos interdisciplinares con la temática EA; que la formación continuada en EA
es algo inoperante por la Secretaria de Educación y, cuando hay, es por interés propio del profesor;
los alumnos continúan evidenciando que la EA es una actuación concentrada en los profesores de
ciencias, geografía y biología.
Palabras Claves: Educación Ambiental, Enseñanza, Práctica Docente.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção
de valores, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação
lúdica e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Neste sentido, contribui
para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente,
pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.
Conforme Reigota (2009, p. 15), a educação ambiental como educação política é, por
principio, questionadora das certezas absolutas e dogmáticas; é criativa, pois busca desenvolver
metodologias e temáticas que possibilitem descobertas e vivências; é inovadora, quando relaciona
os conteúdos e as temáticas ambientais com a vida cotidiana e estimula o diálogo de conhecimentos
científicos, ética e popular, e diferentes manifestações artísticas; e crítica muito crítica, em relação
aos discursos e as práticas que desconsideram a capacidade de discernimento e de intervenção das
pessoas e dos grupos independentes e distantes dos dogmas políticos, religiosos, culturais e sociais,
e da falta de ética.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1103
A Educação Ambiental ainda se encontra densamente relacionada com a Ecologia. Assim,
trabalha-se nas comunidades escolares com conteúdos programáticos complicados de serem
ministrados em sala de aula: demasiadamente ―cientificados‖ através de disciplinas. O advento e
integração da Educação Ambiental na escola só se tornarão possíveis fundamentados em ações
pontuais capazes de se adequarem, de forma sistêmica e racional, e atingirem os fins em relação às
demandas, por meio de contextos metodológicos de ensino.
Segundo Reigota (2009, p. 45), a educação Ambiental, como perspectiva educativa, pode
estar presente em todas as disciplinas quando analisa temas que permitam enfocar as relações entre
a humanidade e o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades.
Portanto, a introdução da educação ambiental na escola supõe uma modificação fundamental na
própria concepção de educação, provoca mesmo uma revolução pedagógica.
Apesar de ter documentos oficiais, como a Política Nacional de Educação Ambiental;
Conteúdos Programáticos e os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN‘s, que falam sobre a
temática, que são documentos importantes de referencia para a prática pedagógica dos professores e
onde se dar a formação dos docentes. E, no entanto, esta temática nem aparecem em muitas das
discussões em sala de aula, sendo tema de segunda categoria.
O objetivo geral do trabalho foi estudar a prática pedagógica dos docentes em relação à
educação ambiental desenvolvida nas escolas públicas da rede estadual de ensino em Fortaleza -
Ceará, no sentido de verificar sua contribuição para a formação de consciência ambiental dos jovens
de ensino básico.
Tendo em vista a opção metodológica de trabalhar com dados qualitativos, ou seja, com as
posições e opiniões dos atores sociais envolvidos no processo da pesquisa e, em particular o
conjunto da comunidade escolar (coordenadores escolares, professores coordenadores de áreas,
professores e alunos), foi realizada, a principio, uma pesquisa bibliográfica com discussão dos
conceitos básicos, levantamento de dados preliminares, coleta de dados junto às escolas
pesquisadas, material bibliográfico que trabalham com a temática, documentos como os PCN´s,
Livros didáticos, experiências exitosas de outras pesquisas, visando a uma análise do tema de
estudo, para, em seguida, realizar pesquisa de campo ―in loco‖ junto às escolas, professores e
alunos, onde foram feitas observação participante e entrevistas semiestruturadas.

METODOLOGIA

O principal interesse da pesquisa foi buscar a compreensão do olhar do professor sobre a sua
prática, o desempenho dos mesmos no que diz respeito ao tema de Educação Ambiental, a forma de
como os professores motivam os alunos para os assuntos referentes às questões ambientais, os
recursos e formas utilizadas para a avaliação do aprendizado dos alunos sobre Educação Ambiental,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1104
e também os recursos pedagógicos e metodológicos que estes professores utilizam para desenvolver
suas aulas.
O desenvolvimento da pesquisa envolveu as seguintes abordagens de análise quantitativa e
qualitativa. Segundo Minayo (1999), os dados quantitativos e qualitativos não se opõem, ao
contrário, se complementam, dentro de uma interação dinâmica que exclui qualquer dicotomia.
A princípio, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental a partir do registro
disponivel, decorrente de pesquisas anteriores. Utilizou-se de dados e categorias teóricas ja
trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. O material consultado na pesquisa
bibliográfica e documental abrangeu todo referencial já tornado público em relação ao tema em tela
como: registros em revistas e folhetos, livros, teses, documentos oficiais, sites da internet, bem
como outras fontes.
Além da pesquisa bibliográfica e documental foi utilizada a pesquisa de campo, onde foram
utilizados questionários semiestruturados com perguntas abertas e fechadas. Os atores inseridos na
pesquisa foram constituídos de quatro segmentos: Coordenadores Pedagógicos, Professores
Coordenadores de Área – PCA´s, Professores e Alunos do ensino fundamental e médio. Para a
coleta de dados, foi considerada uma amostra aleatória estratificada, considerando-se cada estrato
formado por professores de ambas as áreas de conhecimento e por alunos das séries de 8º ao 9º anos
e nas três séries do ensino médio, dispostas em seis escolas pesquisadas no município de Fortaleza.
Foram entrevistados 06 coordenadores escolares representando o núcleo gestor das Escolas,
06 Professores Coordenadores de Área (PCA´s), 24 professores, sendo 04 em cada escola (02 do
ensino fundamental e 02 do ensino médio) e 68 alunos de ambos os sexos.
As entrevistas foram elaboradas seguindo um roteiro que contemplava questões abertas e
fechadas, entre elas questões comuns para os quatro segmentos. Buscou-se a construção de um
olhar de totalidade, sustentado na interdisciplinaridade, pois foram contempladas as três áreas de
conhecimento: linguagens e códigos, ciências da natureza e matemática e ciências humanas. Desta
forma, comporta uma efetiva complexidade de atributos que é a interação de múltiplos
conhecimentos sobre o meio em que o homem vive e sobrevive.
Trabalhamos com um número amostral de professores que pudessem referendar a realidade
local. Os dados foram categorizados de acordo com análise temática de tal forma que pudessem
responder às questões formuladas na pesquisa.
A pesquisa utilizou o método comparativo descritivo, pois foram comparadas as escolas,
com vistas à contextualização das diferenças e similaridades entre as mesmas, através de uma
caracterização e descrição do lugar onde está inserida a mesma. Em cada escola foi feito contato
inicialmente por telefone com o núcleo gestor, explicando a proposta da pesquisa, solicitando a
realização do trabalho de investigação (aplicação de questionário e caracterização da escola).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1105
Quanto aos alunos, estes foram selecionados de forma aleatória em sala de aula, levando em
consideração sua modalidade de ensino. Pois deveriam ser entrevistados 10 em cada escola (05 do
ensino fundamental e 05 do ensino médio). Em todas as escolas houve interesse de alguns alunos
em participar da pesquisa respondendo o questionário, daí, em vez de 60 questionários, haver 68
entre os alunos pesquisados.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Os coordenadores pedagógicos entrevistados são profissionais que atuam na gestão da


escola e tem como função prestar assessoria aos diretores gerais na construção de um ambiente
democrático e participativo, com foco na qualidade dos processos ensino-aprendizagem da
comunidade escolar. Quanto á formação acadêmica destes coordenadores todos tem Ensino
Superior Completo, bem como curso de pós-graduação em nível de Especialização e Mestrado.
Segundo os coordenadores pedagógicos, a temática da educação ambiental na escola é
trabalhada de forma interdisciplinar, através de projetos pedagógicos anuais, tais como feira de
ciências e cultural. Como também atividades isoladas em cada disciplina, especificamente aquelas
com conteúdos voltadas para a temática.
Ainda, segundo os coordenadores pesquisados, nem todos os professores participam das
ações de Educação Ambiental na escola. Segundo os mesmos, a justificativa está na carga horária
pequena para planejamento, o qual atrapalha no desenvolvimento de projetos na escola. Percebe-se
que, é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra de fato na escola, quando as
práticas educativas sejam realizadas por toda comunidade escolar.
Com relação à formação continuada dos professores para atuarem com Educação Ambiental,
todos os coordenadores disseram que, ocasionalmente, acontece, e esta formação se dá através de
interesse pessoal dos professores. Implementar a Educação Ambiental nas escolas tem se mostrado
uma tarefa exaustiva. Existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na
implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já
existentes.
As escolas pesquisadas desenvolvem ou desenvolveram os seguintes projetos relacionados
com a temática educação ambiental: Coleta seletiva, caminhadas ecológico e diagnóstico
socioambiental da comunidade – através de pesquisa de campo. Apenas uma escola desenvolve um
projeto de construção de hortas. Com relação aos temas sociais contemporâneos, que são abordados
com mais freqüência pela escola, podemos citar: 1º) Paz e Superação da Violência, 2º) Meio
Ambiente, 3º) Saúde, 4º) Drogas e, 5º) Direitos Humanos. Enquanto que os conceitos/temas
ambientais e temas locais que a escola desenvolve em suas atividades as mais comuns foram: 1º)
Lixo e resíduos sólidos, 2º) Uso e conservação da diversidade biológica, 3º) Saúde e Higiene, 4º)
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1106
Aquecimento global e 5º) Água, Desmatamento, Poluição. Desta forma, a escola tem uma
participação ímpar no processo educativo com relação às questões ambientais emergentes.
Estes temas relacionados acima são trabalhados na escola através de palestras, projetos
interdisciplinares, discutindo com a comunidade local, inserindo estes temas nas áreas do
conhecimento das disciplinas e fazendo parceria com as instituições que cuidam diretamente destes
temas. Entre os principais parceiros da escola para a implementação de programas relacionados ao
Meio Ambiente estão Instituições Governamentais de Meio Ambiente, comunidade e Secretaria de
Educação. Em termos de participação da escola em eventos da temática meio ambiente, foram
citados os seguintes: Conferência Infanto-Juvenil para o Meio Ambiente e Rede local de Educação
Ambiental.
Dos 06 (seis) Professor Coordenador de Área (PCA´s) pesquisados, todas as áreas do
conhecimento foram contempladas, haja vista as disciplinas coordenadas pelos professores acima,
ou seja: Ciências da Natureza e Matemática (Matemática, Química, Física, Biologia), Ciências
Humanas (Geografia, História, Sociologia, Filosofia) e Linguagens e Códigos (Língua Portuguesa,
Línguas Estrangeiras: Inglês e Espanhol, Artes, Educação Física).
A temática da Educação Ambiental é trabalhada na escola como trabalhos interdisciplinares
e projetos pedagógicos anuais. Sendo que 80% dos professores não participam do processo de
discussão da temática de EA na escola. Para 20% dos professores entrevistados, consideram que a
Educação Ambiental, para sua efetiva implantação na escola é necessário de um processo contínuo
de aprendizagem, baseado no respeito de todas as formas de vida, afirmando valores e muitas ações
que contribuem para a formação social do homem e a preservação do meio ambiente.
Todos os PCA´s percebem que é possível construir projetos interdisciplinares com foco na
temática ambiental na escola, principalmente em momentos como gincana ecológica, semana do
meio ambiente, projeto de reciclagem etc. A inserção da temática Educação Ambiental na escola,
segundo os PCA´s acontecem de maneira interdisciplinar e efetiva. No entanto, é essencial uma
formação adequada e continua do profissional docente. Esta formação deve ser consistente com
conteúdo e metodologia que possibilite a melhoria do ensino. Esta formação não pode ser tratada
como um acúmulo de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e crítico sobre a
prática educativa.
Foram entrevistados os seguintes professores em suas diversas áreas de conhecimento:
Filosofia (1), Engenharia de Pesca (1), Física (2), Matemática (2), História (2), Pedagogia (4),
Biologia (3), Geografia (4) e Língua Portuguesa (5). Totalizando 24 (vinte e quatro) professores
entrevistados. Todos os 24 (vinte e quatro) entrevistados tem curso de nível Superior Completo,
entre estes 11 tem pós-graduação (especialização) nas mais diversas áreas do conhecimento
acadêmico.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1107
A temática Educação Ambiental é trabalhada em cada disciplina como: temas transversais,
trabalhos interdisciplinares e assuntos específicos em cada disciplina. No entanto, os professores
confirmaram que a EA, assim como os demais temas transversais, são trabalhados prioritariamente
em suas áreas de conhecimento específicas e em seus projetos pedagógicos, apesar de serem
denominados de interdisciplinares, se restringem a ações paliativas de coleta seletiva do lixo, horta,
semana do meio ambiente etc. Ou seja, na prática, de forma geral, os temas são desenvolvidos
dentro de uma tendência restrita.
Para 90% dos professores pesquisados, os mesmos não recebem nenhuma formação
continuada para atuarem com Educação Ambiental na escola. Somente 10% dos professores
recebem alguma formação e fazem por interesse pessoais, através de congressos, palestras e
participação em trabalhos formais em ONG´s e Universidades.
Ainda para os professores, a direção da escola apóia projetos e ações em educação ambiental
através de aulas de campo, debates e estudos, embora este apoio aconteça de forma esporádica e
pontual, em atividades desenvolvidas por um professor-coordenador que atua com a temática. Neste
sentido, a implementação efetiva da EA nas escolas, evidentemente, necessita de cooperação,
participação e autonomia dos atores envolvidos.
Para 33% dos professores, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará não dá nenhum
apoio relacionado com a temática de Educação Ambiental. Já, para 25% dos professores a
Secretaria de Educação promove palestras e cursos eventualmente sobre o tema e 21% disseram que
a Secretaria fornece material didático e paradidático sobre a temática nas escolas. As outras opções
somaram 21%, entre elas: que a Secretaria oferece transporte para eventos, serviços de alimentação
para professores durante os eventos e reconhece certificados de curso na área para ascensão
funcional.
Ao discutir Educação Ambiental com os alunos, os professores apresentam a educação
ambiental não como uma coisa isolada da educação geral. Pois, segundo os professores
entrevistados, a Educação Ambiental é mais que o ensino de ciências (biologia, química, física,
geografia, etc.) e ensino de ecologia, pois tem como objetivo ―mudança de atitudes, cuidado e
respeito dos sujeitos‖ com o ambiente.
Foram entrevistados 68 (sessenta e oito) alunos de ambos os sexos: masculino (25) e
feminino (43), da 8ª serie do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio, na faixa etária com
media entre 13 a 17 anos, objetivando captar as expectativas dos alunos com relação às questões
ambientais no seu cotidiano, tanto dentro como fora da escola.
De um modo geral, os alunos vêem a educação ambiental como um espaço de formação
sobre nosso planeta que deve preservar o meio ambiente, na qual devemos zelar para vivermos
saudáveis e conservar para os futuros seres. Portanto, a Educação Ambiental entra não somente
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1108
como uma passagem de informações, como ocorre geralmente com a Educação Tradicional, mas
também, na aplicação dessas informações como forma de mudança de comportamentos e atitudes
em relação aos problemas ambientais. Apesar dos graves problemas ambientais presentes e visíveis
no mundo hoje, observamos uma dissociação entre o conteúdo ensinado nas escolas e a realidade
local, com projetos também restritos à área espacial da escola, sem uma interação ativa com a
comunidade e com a família.
Para 67% dos alunos gostam de estudar conteúdos relacionados à EA, já que é tema da
atualidade e sempre envolve os mesmos. No entanto, podemos observar que, em todas as escolas, os
alunos indicaram, como principal motivo, se informar e aprender a defender a natureza. Além disso,
os alunos também incluíram a preservação do ambiente da escola e seu entorno. São nas disciplinas
de Ciências no Ensino Fundamental, Geografia no Ensino Fundamental e Médio e Biologia no
Ensino Médio que a temática Educação Ambiental é trabalhada e não uniformemente dimensionada
e trabalhada em todas as matérias.
Para os alunos, os assuntos mais relevantes que tratam de Educação Ambiental são os
seguintes: 1º) preservação/ conservação do meio ambiente, 2º) biodiversidade e ecossistema, 3º)
Direito ambiental, 4º) Aquecimento Global e, 5º) Uso de recursos renováveis e não renováveis.
Estes temas foram abordados em sua maioria: 1º na escola, 2° na televisão, 3º na internet; outros
alunos mencionaram jornal, rádio e livros, mas em pouca quantidade. Podemos observar que a
inserção dos meios de comunicação de massa, principalmente a TV, tem grande influência nas casas
e conversas dos jovens. Daí é possível compreender que a formação das pessoas não é mais uma
tarefa exclusiva da família e da escola, tampouco de pais e professores, mas é, também, dos meios
de comunicação social de massa (TV, Internet, rádio, etc.).
Para 79% dos alunos pesquisados disseram que a temática de Educação Ambiental na escola
é ensinado através de exercícios, principalmente com uso do livro didático e material como revistas,
jornais e filmes. Para 84% dos alunos entrevistados acham que sua casa faz parte do meio ambiente
e apresentaram os seguintes depoimentos: porque a gente precisa dele, porque fazemos parte dele e
não é uma coisa isolada, pois temos que cuidar do planeta para continuarmos vivendo nele, porque
o meio ambiente é praticamente nossa casa, nosso lar e nós queremos viver bem, a natureza é quem
nos dá tudo e sem ela não há vida.
Enquanto a participação dos alunos em algum programa de Educação Ambiental, 69% dos
entrevistados já participou de algum projeto ou evento. Sendo as mais comuns; aulas de campo,
projeto ―cuide do meio ambiente‖ do Ministério da Educação, projeto ―água, fonte de vida‖, peça de
teatro sobre o tema meio ambiente, semana cultural e feira de ciências.
Os alunos entrevistados percebem que a Educação Ambiental decorre de uma percepção
renovada de mundo; uma forma integral de ler a realidade e de atuar sobre ela. Portanto, a Educação
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1109
Ambiental é uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e
humanistas. Seu objetivo é assegurar a maneira de viver mais coerente com os ideais de uma
sociedade sustentável e democrática. Conduz a repensar velhas fórmulas e a propor ações concretas
para transformar a casa, a rua, o bairro, as comunidades. Os alunos entrevistados reconhecem que a
EA parte de um princípio de respeito à diversidade natural e cultural, que inclui a especificidade de
classe, de etnia e de gênero, e que a educação deve ser o portal para o desenvolvimento sustentável
e essa sustentabilidade é o novo paradigma do desenvolvimento econômico e social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Comparando os resultados obtidos na pesquisa de campo realizada neste trabalho, vale


reforçar a constatação de que há uma relevante diferença na compreensão e concepção do processo
de entendimento sobre a temática meio ambiente. Para os professores, os temas ambientais são mais
específicos, como por exemplo: a questão da água, lixo e resíduo sólidos, consumo, saúde e higiene,
poluição. Enquanto para os alunos os assuntos relacionados à questão ambiental tem uma visão
mais geral, como: preservação e conservação do meio ambiente, biodiversidade e ecossistemas,
direito ambiental, aquecimento global, uso de recursos renováveis e não renováveis.
Conforme revisão de literatura apresentada neste trabalho dissertativo concebe-se que a
Educação Ambiental não se baseia apenas na transmissão de conteúdos específicos, já que não
existe um conteúdo único, mas vários, dependendo das faixas etárias a que se destina e dos
contextos educativos em que se processam as atividades. O conteúdo mais indicado é aquele
originado do levantamento da problemática ambiental, vivida cotidianamente pelos alunos. Este
levantamento pode ser feito conjuntamente por alunos e professores. A Educação Ambiental não
prioriza a transmissão de conceitos específicos de nenhuma disciplina ou área de conhecimento. No
entanto, alguns conceitos básicos originados da biologia ou da geografia, como ecossistema, hábitat,
nicho ecológico, fotossíntese, cadeia alimentar, cadeia de energia, território, espaço etc., devem ser
construídos e compreendidos pelos alunos e não memorizados e repetidos automaticamente. O
conteúdo da Educação Ambiental procura possibilitar ao aluno as ligações entre a ciência e as
questões imediatas e gerais, nem sempre próximas geográfica e culturalmente.
Nossa pesquisa identificou pontos francos na pratica pedagógica dos professores e das
escolas e a inabilidade de se elaborar e desenvolver projetos com a temática Educação Ambiental.
Tanto para os professores, quanto para as escolas, a temática é trabalhada através de projetos
interdisciplinares. No entanto, a prática interdisciplinar fica restrita aos assuntos previstos pelo
conteúdo de cada matéria e aos projetos de Feira de Ciências, Semana do Meio Ambiente, Feira
Cultural, Coleta Seletiva etc., e não como uma possibilidade de pôr em prática projetos permanentes
e transformadores, numa visão ―interdisciplinar‖ dos problemas a serem enfrentados. Desta forma,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1110
percebemos que a prática interdisciplinar, propagada pela escola não é compreendida em toda a sua
amplitude, repetindo o padrão conservador, que limita a interação, autonomia e a ação dinâmica dos
envolvidos.
A inserção da Educação Ambiental no currículo, de forma interdisciplinar e contextualizada,
traz para o âmbito da escola a idéia de um trabalho que permite os saberes em sua complexidade.
Para atingir suas finalidades, as atividades de Educação Ambiental devem abordar causas e
conseqüências dos problemas ambientais, relacionando não só as responsabilidades individuais, mas
enfatizando o envolvimento direto do modelo de sociedade na produção desses problemas. Por
outro lado, é essencial mostrar que essa mesma sociedade é responsável pela busca das possíveis
soluções.
Observamos que a formação continuada dos professores para atuarem em Educação
Ambiental é oferecida com muitas fragilidades e lacunas pela Secretaria de Educação do Estado do
Ceará, pois, quando se detecta, a mesma é mais fortalecida quando ocorre através de interesse
próprio do professor. A conseqüência disto é a falta de motivação e comprometimento com os
temas transversais e, conseqüentemente , com a temática de Educação Ambiental. A falta de
interesse e motivação do professor em seu processo de formação, provavelmente, também, ocorre
pelo resultado da inadequação da inserção de práticas que tenham um caráter politizado no âmbito
escolar.
Verifica-se que a tendência à especialização por área curricular, também impede que os
professores se considerem habilitados a atuar em uma área que estes definem como restrita a outros
profissionais, cabendo-lhe somente a função de abordar superficialmente a temática em suas
disciplinas para cumprir com as orientações do MEC. Desta forma, como conseqüência da
fragmentação das disciplinas, os alunos continuam evidenciando que a EA é uma atuação
concentrada nos professores de Ciências, Geografia e Biologia.
Em nossa pesquisa, pudemos confirmar que a principal fonte de discussão sobre os
problemas ambientais continua sendo a escola, seguida pela mídia, não havendo muitas trocas entre
potenciais parceiros locais. Isso caracteriza o isolamento da escola e dos alunos do processo
coletivo de atuação junto às questões ambientais, limitando esta ação a eventos pontuais e
esporádicos, limitados também aos muros das escolas, bem como ao exercício do conhecimento
adquirido através de exercícios em sala de aula.
Quanto à ação e percepção dos professores sobre a temática da Educação Ambiental,
identificamos que estes ainda não apresentam um senso crítico apurado sobre o processo como um
todo. Atribui um valor positivo à formação continuada e a temática deste estudo, mas ainda não
conseguem traduzir para sua prática a diversidade e complexidade embutida no tema proposto,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1111


reproduzindo uma visão simplificada da Educação Ambiental. Principalmente, porque estes
professores não foram avaliados em sua prática e não adquiriram o senso crítico sobre sua prática.
Verifica-se que a temática de Educação Ambiental nas escolas de ensino básico do Estado
do Ceará, se encontra em um estágio insatisfatório, do que realmente deveria ser, já que a Educação
Ambiental tornou-se um assunto bastante abordado pelos sistemas de ensino, em virtude da
elaboração, em 1997, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) pelo Ministério da educação
(MEC) e da promulgação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n° 9795, de
27/04/1999), que, entre outros pontos, dispõe sobre a sua inserção no ensino formal, bem como
Congressos e Documentos Oficiais Norteadores, que tratam e orientam sobre o assunto. Ademais, o
próprio Estado tem um Programa de Educação Ambiental (PEACE), tendo uma de suas funções
ações de EA nas escolas públicas estaduais, no qual os professores da rede desconhecem o conteúdo
e até mesmo a existência do Programa.
É relevante mostrar através deste trabalho a importância e necessidade do tema meio
ambiente ser incluído no projeto pedagógico da escola como uma ferramenta permanente, indo além
dos temas transversais, e sim, permeando de maneira interdisciplinar e transversal as disciplinas
contempladas no currículo, aproveitando o conteúdo específico de cada área, de modo que se
consiga uma perspectiva de contribuição para uma melhor assimilação da relação entre a Educação
e a posição do homem dentro das interações ambientais, visando uma compreensão mais
globalizada das questões ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, S. A. Considerações gerais sobre a problemática ambiental. In: Educação Ambiental:


curso básico a distancia: documentos e legislação da educação ambiental. Brasília: MMA,
2001. BARROS, Maria L. T. Educação ambiental no cotidiano da sala de aula: um percurso
pelos anos iniciais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Parâmetros em Ação, Meio Ambiente na Escola: guia
do formador. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2001, 426 p.

CMMAD. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

DIAS, Genebaldo Freire. Iniciação à temática ambiental. 2ª ed. São Paulo: Global, 2002.

GONÇAVES, C. W. P. Os (des) caminhos do meio ambiente. 14ª Ed. São Paulo: Contexto, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1112


GUIMARÃES, Mauro. A dimensão da Educação Ambiental na Educação. Rio de Janeiro: Papirus,
2000. 107p.

GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. 13ª ed. Campinas, SP: Papirus,
2010 (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico).

LOUREIRO, Carlos F. B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania


ecológica e planetária. In: _______. (org), Educação ambiental: repensando o espaço da
cidadania. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

MATOS, Kelma S. L.; VIEIRA, Sofia L. de. Pesquisa educacional: o prazer de conhecer.
Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, UECE, 2001.

MINAYO, Maria. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis. RJ: Vozes, 1999.

MEDINA, N. M. Os desafios da formação de formadores para a Educação Ambiental. In: PHILIPPI


JR, Arlindo, M. PELICIONI, Cecília Focesi. Educação ambiental: desenvolvimento de cursos e
projetos. São Paulo: USP, 2002.

PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. 6ª ed. São Paulo: Cortez,
2007 (Coleção Questões da Nossa Época; v. 38).

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo:
Brasiliense, 2009.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável: problemas,


tendências e desafios. Fortaleza: Ed. UFC, 2009.

SANTO, Maria Elisângela do Espirito. Educação ambiental e formação docente: o saber ambiental
diante das novas competências em educação. In: Educação ambiental e sustentabilidade.
MATOS, Kelma S. A. Lopes (org). Fortaleza: Ed. UFC, 2009.

______, Educação ambiental na escola pública: o trabalho de docentes do ensino médio em


Maracanaú-Ce. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente (PRODEMA-UFC). Fortaleza, 2008.

SATO, Michele. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2003.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª ed. Ver. E atual. São Paulo:
Cortez, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1113


TRISTÃO, M. As dimensões e os desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento.
In: RUSCHEINSKY, A. et al. Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre, RS:
Ed. Artmed, 2004.

TRISTÃO, M. A Educação Ambiental na Formação de Professores. Redes e Saberes. São Paulo:


Annablume; Vitória: Facitec. 2004.

VALE, Francisca V. A. do. Educação ambiental formal nas escolas de ensino básico de Fortaleza.
In: Abrindo trilhas para os saberes: reflexões e experiências. SANTOS, Francisco K. S. dos.
(org.). Fortaleza: SEDUC, 2009 (Coletânea professor aprendiz).

VIEIRA, Paulo Henrique Freire. A crise sócio ambiental contemporânea – problema social e objeto
de pesquisa transdisciplinar. In: Introdução à problemática ambiental. Apostila do Curso de
Especialização em Gestão de Recursos Hídricos. UFSC, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1114


A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E O
CALENDÁRIO AMBIENTAL ESCOLAR

Julimar Pereira de FRANÇA


Professor de sociologia do IFRN
julimar.franca@ifrn.edu.br

RESUMO
Os problemas ambientais presentes em âmbito global são uma patente manifestação da crise da
civilização ocidental capitalista. Diante disso, somente uma grande mudança cultural,
proporcionada por uma educação pautada em valores socioambientais voltados para preservação do
planeta será capaz de mitigar os efeitos desta catástrofe ambiental e superar esse dilema da espécie
humana. Nesse sentido, o projeto calendário ambiental teve como objetivo, trabalhar por meio de
atividades didático-pedagógicas datas comemorativas voltadas para a educação ambiental; levar
conhecimentos sobre o meio ambiente e seus problemas à comunidade escolar e inserir de forma
multidisciplinar e contínua a educação ambiental no âmbito de algumas escolas de ensino
fundamental I do município de Areia Branca-RN. Os objetivos propostos inicialmente foram
alcançados. Visto que, os subsídios e atividades realizadas pela equipe técnica possibilitaram aos
professores trabalharem de forma interdisciplinar as datas comemorativas, estabelecendo um
diálogo entre as várias disciplinas do contexto escolar. O projeto, diferentemente de outras
atividades escolares voltadas para questão ambiental não foi uma atividade isolada, estanque, de
modo que durante todo o ano letivo a questão ambiental esteve presente no cotidiano de cada
escola, por meio das várias atividades realizadas.
Palavras-chave: Calendário, Ecológico, Educação, ambiental.

ABSTRACT
Environmental problems nowadays in the global scope are a right manifestation of the crisis of the
capitalist western civilization. Therefore, only a big cultural change, provided by a methodical
education in socio-environmental values directed to preservation of the planet will be able to
mitigate the effects of this environmental disaster and overcome this dilemma of the human species.
In this sense, the Environmental calendar project had as purpose to work through the didactic-
pedagogic commemorative dates activities focused on environmental education; to bring knowledge
about the environment and its problems to the school community and put in a multidisciplinary and
continuous way the environmental education in scope of some elementary schools of Areia Branca-
RN. The original objectives were achieved. Since, subsidies and activities carried out by the
technical team enabled to the teachers to work in an interdisciplinary way the commemorative
dates, establishing a dialog among the various disciplines of the school context. The project, unlike

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1115


other school activities focused on environmental issues, was not an isolated activity, tight, so that
during all the school year the environmental issue was present in the daily of each school, through
various activities.
Key-words: Calender, Ecological, Education, Environmental.

INTRODUÇÃO

A humanidade vive atualmente uma profunda crise civilizatória. A civilização ocidental


capitalista hegemônica globalmente apresenta fissuras e sinais de esgotamento em suas esferas
política, econômica, moral, das instituições, dos paradigmas etc., No entanto, a maior expressão
desta crise global é a questão ambiental que tem representado uma grande ameaça à sobrevivência
dos seres vivos e a própria perpetuação da espécie humana em âmbito planetário.
Na realidade, o padrão social do ocidente com sua ética antropocêntrica e seu paradigma de
relação sociedade/natureza tem se constituído no grande responsável por problemas como, o efeito
estufa, o desaparecimento da camada de ozônio, o aquecimento global, a extinção das espécies e um
conjunto de outros problemas que perturbam os ecossistemas planetários e toda a humanidade.
Diante disso, somente uma grande mudança cultural será capaz de mitigar os efeitos e
impedir a grave catástrofe ambiental que vem atingindo a humanidade. Está transformação só
ocorrerá realmente mediante a construção de novos valores sociais e civilizatórios voltados para a
preservação da natureza e afirmação de uma nova ética centrada no respeito aos seres vivos. Nesse
sentido, a educação ambiental é o instrumento capaz de promover a transformação cultural e a
superação da crise ambiental e civilizatória que vivemos. Mas a disseminação de uma educação
ambiental exige uma ruptura com toda a tradição paradigmática que fundamenta os modelos
socioeconômicos e pedagógicos vigentes.

A CRISE DOS PARADIGMAS CIENTÍFICO E ECONÔMICO TRADICIONAL

A Europa passou por grandes mudanças socioeconômicas entre os séculos XVI e XVIII.
Neste momento histórico sucumbiu a sociedade feudal e surgiu a ciência e a indústria moderna
transformando costumes, hábitos, tradições, modos de vida, visões de mundo e edificando um novo
modelo de sociedade.
Pensadores como o matemático francês Renê Descartes, o físico inglês Isaac Newton e o
astrônomo italiano Galileu Galilei deram grandes contribuições para a edificação da base científica
moderna. Estes estudiosos, com suas teorias, romperam com o modelo orgânico de Aristóteles que
concebia a natureza como algo vivo e, passaram a pensar a natureza como uma grande máquina,
como um relógio composto de pequenas peças que se combinam formando uma grande engrenagem
mecânica.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1116
Assim, na ótica da ciência moderna o homem deveria decompor esta grande máquina que
são os sistemas naturais para poder conhecê-la. Somente por meio do conhecimento científico
experimental é possível conhecer, dominar e transformar completamente a natureza em função dos
interesses materiais humanos. Para dominar a natureza e controlá-la o ser humano precisa ficar fora
dela é a partir desse pressuposto que surgiu a dualidade natureza/cultura, sujeito/objeto. O homem
deixou de ser mais uma espécie na natureza para se julgar o senhor absoluto dos recursos naturais.
O mundo passou a ser concebido a partir desta ética antropocêntrica que estimulou o
desenvolvimento ilimitado dos sistemas econômicos em detrimento dos ecossistemas. De acordo
com Grün (2009):

―A ética antropocêntrica está intimamente associada ao surgimento e a consolidação


daquilo que hoje chamamos paradigma mecanicista. Poderíamos dizer sem exagero
nenhum, que a ética antropocêntrica é como se fosse à consciência do mecanicismo. Tal
ética se afirma em consonância com a virada epistemológica caracterizada pelo abandono
da concepção organísmica da natureza em favor de uma concepção mecanicista‖ (GRÜN,
2009. p.27).

Para os pioneiros da ciência moderna todo o conhecimento sobre a natureza deveria ser
fragmentado e traduzido em linguagem matemática e em relações mecânicas de causa e efeito. Essa
fragmentação do conhecimento produziu a especialização científica e um conjunto de saberes
reducionistas que passaram a captar apenas alguns aspectos da totalidade e complexidade que são os
ecossistemas naturais.
Essa visão da natureza foi reforçada pela revolução técnica e industrial do século XVIII, que
absolutizou a ideologia da produção em massa e do crescimento econômico a qualquer custo.
Assim, a produção industrial em série e a noção de progresso como aumento da produção material e
crescimento econômico sem limites se tornaram finalidades últimas da atividade econômica. A
natureza tornou-se desse modo um mero fator de produção, um recurso econômico a ser explorado
infinitamente para produção de bens e serviços que deveriam satisfazer as infinitas necessidades
materiais humana. Para Camargo (2003), o estabelecimento de uma economia industrial urbana,
com base numa tecnologia altamente consumidora de energia e matéria-prima, radicalizou o
impacto do homem sobre a natureza.
Também no século XVIII, o advento da ciência econômica, ignorou o valor e a finitude dos
bens naturais e contribuiu enormemente para edificação da ideologia produtivista e do crescimento
econômico. Para Adam Smith e os precursores da economia moderna a natureza é um bem sem
valor, somente após sofrer a ação do trabalho humano e ser transformada em bens ou serviços é que
esta adquire valor de troca e importância econômica.
Todavia, na segunda metade do século XX, esses paradigmas científicos e socioeconômicos
apresentaram sinais de esgotamento. A fragmentação do conhecimento científico, as dualidades

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1117


sujeito/objeto, natureza/cultura e o crescimento econômico sem levar em consideração a capacidade
de carga do planeta conduziram a humanidade a uma grave crise ambiental fazendo emergir a
discussão sobre a construção de novos paradigmas e o papel da educação ambiental na solução da
crise sócio-ambiental vigente.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSCIÊNCIA DA CRISE AMBIENTAL E A EMERGÊNCIA


DE UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Até a década de 50, do século passado, a preocupação social com a preservação da natureza
era praticamente um assunto isolado apenas do interesse dos amantes da natureza e da comunidade
científica. Na década seguinte, a sociedade civil em geral começou a tomar consciência de que a o
planeta vivia uma crise ambiental e concomitantemente emergiu o discurso de que um dos
instrumentos para o enfrentamento da crise de degradação dos ecossistemas seria a educação
ambiental.
O grande marco introdutório da questão ambiental foi o livro primavera silenciosa publicado
em 1962 nos Estados Unidos, por Rachel Carson. Esta obra abordou os efeitos nefastos dos
agrotóxicos para agricultura e o meio ambiente em geral. Atingindo um grande público, Carson
alertou a sociedade para os problemas ambientais.
No final desta década, os movimentos de contra cultura também levantaram a bandeira da
questão ambiental. Questionando a cultura ocidental, criticavam os valores da sociedade moderna,
sobretudo o consumismo e defendiam o pacifismo e a preservação da natureza.
Nos anos 70, a questão ambiental chegou a esfera estatal e em 1972, ocorreu em Estocolmo
na Suécia, a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento humano. Nesta reunião que
discutiu os problemas ambientais em nível global, também se afirmou que a educação ambiental é
um elemento crítico capaz de educar os cidadãos para combater a crise ambiental (CAMARGO,
2003).
A crise do petróleo em 1973, que contribuiu para demonstrar a finitude dos recursos
naturais, também ampliou o consenso social sobre a necessidade de pensar alternativas para
superação dos dilemas ambientais.
Diante da importância que a educação ambiental passou a receber no contexto de discussão
da problemática ambiental. Em 1975, em Belgrado, na ex-Iugoslávia, a UNESCO organizou o I
encontro internacional de educação ambiental. Este evento contou com participação de 65 países e
foi responsável pela formulação de alguns princípios e orientações básicas que foram utilizados na
educação ambiental no mundo inteiro.
Em 1977, em Tbilisi (ex-URRS), ocorreu a conferência intergovernamental sobre educação
ambiental. Esta conferência foi um dos mais relevantes eventos em termos de discussão da
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1118
educação ambiental global. Em Tbilisi, estabeleceu-se o consenso de que a educação ambiental
deveria fundamentar novos valores e uma nova ética voltada para a sustentabilidade ecológica e
equidade social, além de contribuir para uma nova visão de mundo com base no diálogo entre os
saberes (TORRES et al., 2009)
Em 1979, aconteceu na Costa Rica, o seminário internacional de educação ambiental para
América Latina, que contribuiu para sistematização e divulgação de uma educação ambiental mais
focada na realidade socioeconômica local.
No final dos anos 70, a preocupação com questão ambiental chegou ao Brasil. Após a anistia
muitos exilados retornaram com ideias sobre preservação do meio ambiente com os quais os
brasileiros haviam tido contato na Europa. Grün (2009), afirma que,

―Inicialmente o ambientalismo não teve uma grande recepção no Brasil. Vítima de uma
concepção estreita e preconceituosa, as ideias sobre preservação ambiental foram
consideradas uma espécie de luxo. Um tipo de capricho ao qual poderiam se entregar os
países do primeiro mundo‖(GRÜN, 2009. p.18).

Nos anos 80, a opinião pública brasileira, se tornou mais sensível à problemática ambiental e
em 1981, foi criada a política nacional de meio ambiente e o sistema nacional de meio ambiente. A
educação ambiental foi considerada um instrumento de realização da política nacional.
Nesta década também surgiu à discussão sobre os espaços institucionais de educação
ambiental. Assim, em 1987 o conselho federal de educação decidiu sobre o caráter interdisciplinar
da questão ambiental e determinou a não inserção da educação ambiental como disciplina escolar
(Ruscheinsk, 2012).
A constituição federal de 1988, a primeira da história que trouxe um capítulo tratando do
meio ambiente, também destacou a função do poder público como promotor da educação ambiental
para preservação do meio ambiente em todos os níveis de ensino.
Na conferência sobre meio ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a maior já
realizada no gênero, a educação ambiental foi bastante discutida e sugeriu-se substituir o termo
educação ambiental por educação para um mundo sustentável, mas não houve consenso. Apesar
disso, um importante documento denominado ―tratado de educação ambiental para as sociedades
sustentáveis‖ foi um dos resultados desta conferência que contribuiu para o desenvolvimento da
educação ambiental em âmbito global.
No Brasil, o grande marco da institucionalização da educação ambiental, foi à publicação
dos Parâmetros curriculares nacionais (PCNs) em 1996, pelo ministério da educação. Este
documento colocou o meio ambiente como um tema transversal que deveria desse modo ser
abordado pelas diferentes disciplinas no contexto escolar, além de incorporar os saberes culturais
nessa dinâmica compreensiva da problemática ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1119


Além disso, com a criação da Política nacional de educação ambiental Brasileira em 1999.
As ações de educação ambiental deixaram de ser uma política de governo e passaram a ser uma
política de Estado estando presente no cotidiano da sociedade brasileira. De acordo com esta lei, ―o
princípio básico da educação ambiental é pensar o meio ambiente em sua totalidade considerando a
interdependência entre o meio natural, social e cultural‖ (BRASIL. LEI n° 9.795, de 27 de abril de
1999).
Na década seguinte, o grande desafio da educação ambiental no Brasil foi colocar em prática
as leis responsáveis pela legalização desta educação nos aspecto formal e informal e Apesar dos
avanços nesse processo de institucionalização da educação ambiental ainda há muito a ser
construído tendo em vista os desafios de romper com a pedagogia tradicional de base cartesiana-
newtoniana.

A EDUCAÇÃO TRADICIONAL E OS LIMITES E DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DE UMA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR

A implementação da educação ambiental no âmbito escolar se constitui numa tarefa árdua e


uma verdadeira revolução pedagógica e paradigmática. Assim, são incontáveis os desafios que
devem ser superados para se construir uma educação centrada na questão ambiental dentro do atual
sistema escolar.
Pois a educação na sociedade moderna, herdeira das revoluções do século XVIII, se
universalizou centrada na ética antropocêntrica cartesiana e disseminou os dualismos
natureza/cultura, sujeito/objeto, corpo/espírito, de modo que as próprias estruturas conceituais e
curriculares da educação atual se transformam em um empecilho a educação ambiental
(LOUREIRO, 2012).
De acordo com Grün (1996), não é possível realizar uma educação ambiental nas estruturas
conceituais cartesianas que caracterizam nossa educação. Pois, as estruturas conceituais do
currículo sugerem que o homem é referência única para todas as coisas existentes na terra. Inúmeras
expressões presentes nos livros e textos didáticos como: Animais nocivos, raízes e caules úteis ao
homem, importância dos recursos naturais para o homem reforçam a tese do antropocentrismo
presente no currículo escolar. Ademais, disciplinas como a física, a química e a economia ignoram a
importância do meio ambiente, como se este não fosse o local onde ocorrem os fenômenos físicos,
as reações químicas ou os processos econômicos que produzem os meios de existência responsáveis
pela perpetuação da espécie humana.
Assim, pela própria lógica curricular da escola moderna esta tem produzido poucos
resultados no sentido de mitigar os impactos ambientais provocados pelo atual modelo civilizatório.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1120


Na realidade a escola acaba atuando como reprodutora de uma ideologia e uma cultura predatória
ao meio ambiente que reforça a crise ambiental.
A educação atual também se baseia na especialização disciplinar cartesiana. Assim, o
conhecimento da realidade é totalmente fragmentado na organização curricular de nossas escolas.
Alguns aspectos da realidade são estudados por determinadas disciplinas que de forma isolada e
limitada procuram compreender o todo que é a realidade. Há em nosso sistema de ensino fronteiras
e limites intransponíveis entre as disciplinas que muitas vezes se dedicam a estudar a problemática
ambiental, de forma isolada.
Assim, a prática da interdisciplinaridade, essencial na educação ambiental se constitui em
outro grande obstáculo. Na verdade, a compreensão da complexidade presente no meio ambiente sé
é possível por meio um diálogo interdisciplinar entre os saberes. O conhecimento disciplinar
limitado não é capaz de formar uma geração que seja capaz de dar respostas a atual crise ambiental
e seus complexos desdobramentos. Embora, as orientações do ministério da educação, por meio dos
parâmetros curriculares nacionais (PCN), tenham deixado explicito a transversalidade da questão
ambiental. Isto também é deveras desafiante, visto que o diálogo entre os saberes não é uma prática
comum no ambiente escolar.
Para Leff (2010) Nenhuma ciência pode dá conta da questão ambiental. A disciplina só
apreende parte do real. O saber disciplinar torna-se impotente diante da complexidade ambiental.
No entanto, só é possível trabalhar a educação ambiental de verdade no contexto escolar se
esta estiver presente no projeto pedagógico e no currículo e no cotidiano escolar. Este também é um
grande empecilho existente em nossas escolas, pois a questão ambiental é trabalhada na maioria das
escolas por meio de projetos que acontecem em um determinado momento do ano letivo, de modo
que a descontinuidade prejudica a produção de resultados satisfatórios. Para romper com a cultura
predatória do meio ambiente a temática ambiental deve ser trabalhada de forma contínua e
permanente estando presente em todos os dias e em todos os espaços de convivência e
aprendizagem escolar.
Infelizmente nas escolas alguns projetos isolados são assumidos por uma disciplina que
geralmente tem mais afinidade com a questão ambiental ou então um único professor executa ações
fadadas ao fracasso, por não conseguir trabalhar de forma transversal e não representar os anseios
de toda escola, que permanece indiferente as ações executadas. Na verdade, a educação só
acontecerá de fato se for assumida como um projeto de toda comunidade escolar.

O CALENDÁRIO AMBIENTAL ESCOLAR

A ênfase nas datas comemorativas do calendário civil é um instrumento pedagógico presente


na educação brasileira. As escolas de ensino fundamental de diversas regiões do país trabalham em
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1121
seus currículos datas comemorativas objetivando resgatar fatos históricos relevantes e internalizar
valores e tradições sociais em crianças e adolescentes.
Assim, a equipe técnica da gerência executiva de gestão ambiental composta por um
Sociólogo e mestre em desenvolvimento, uma técnica em controle ambiental e um gestor ambiental,
elaborou no início do ano de 2011, o calendário ambiental escolar do município de Areia Branca.
Este projeto teve como objetivos: Trabalhar por meio de atividades didático-pedagógicas
datas comemorativas voltadas para a educação ambiental; levar conhecimentos sobre o meio
ambiente e seus problemas à comunidade escolar e inserir de forma multidisciplinar e contínua a
educação ambiental no âmbito das escolas de ensino fundamental I.
Por se tratar de uma experiência piloto o projeto foi idealizado para ser trabalhado com 08
escolas de ensino fundamental I da rede municipal de ensino, das zonas rural e urbana. Foi
escolhido este nível de ensino pelo fato do destaque das datas comemorativas estarem em seu
currículo e pela viabilidade de trabalhar as temáticas de forma multidisciplinar, visto que os
professores deste nível de ensino são polivalentes e trabalham com todas as disciplinas.

A execução do projeto seguiu a seguinte metodologia:

Inicialmente foram realizadas em cada escola reuniões com os docentes e a equipe


pedagógica das instituições convidadas a participarem do projeto. Na oportunidade foi apresentada
toda a metodologia de execução e todas as instituições visitadas aderiram voluntariamente à
proposta. Assim, os técnicos da gerência passaram a elaborar todo o material pedagógico composto
por filmes, cartilhas, dinâmicas, músicas e outros recursos didáticos que foram utilizados pelos
professores nas salas de aula.
Após o começo das aulas a partir do mês de março todas as escolas foram visitadas
novamente. Desta vez todos os docentes das 08 escolas receberam o material didático e o calendário
foi afixado nos murais escolares. Para facilitar o trabalho e manter a comunicação constante com as
escolas os subsídios eram levados às escolas bimestralmente, de modo que periodicamente foram
realizadas em cada escola reuniões com professores para avaliar a execução do projeto.
Além do trabalho realizado pelos professores em suas salas de aula, em cada data
comemorativa, algumas escolas planejavam atividades coletivas que envolviam todos os alunos de
cada turno escolar. Nas datas agendadas a gerência de gestão ambiental também realizava
atividades massivas envolvendo várias escolas e a comunidade em geral, estas atividades eram
divulgadas nos meios de comunicação local. As datas comemoradas no calendário ambiental foram
as seguintes:
Março:
01 – Dia do turismo ecológico

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1122


22 – Dia mundial da água
Abril:
22 – Dia do planeta terra
28 – Dia da caatinga
Maio:
02 – Dia do solo
22 – Dia internacional da biodiversidade
Junho:
01 a 05 – Semana do meio ambiente
Julho:
26 – Dia da proteção dos manguezais
Agosto:
27 – Dia da limpeza urbana
Setembro:
16 – Dia da proteção da camada de ozônio
18 – Dia da limpeza do litoral
21 – Dia da árvore
Outubro:
04 – Dia mundial dos animais
12 – Dia do mar
Novembro:
24 – Dia do rio

Dentre às atividades realizadas pela equipe da gerência de gestão ambiental dentro do calendário,
algumas mereceram destaque, tais como:

Dia do turismo ecológico, comemorado com uma visita de duas turmas de alunos da escola
municipal professora Geralda Cruz a área de proteção ambiental das dunas do Rosado, contando
com a presença de técnicos do IDEMA que ministraram uma palestra no Ecoposto da futura APA.
Dia mundial da água. Comemorado com um pedágio no centro da cidade e visita a todas as
escolas municipais com panfletagem nas salas de aula das escolas participantes do projeto.
Semana do meio ambiente (Figuras 1 e 2), realização de gincana, passeio ciclístico e dia de
convivência com alunos das escolas municipais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1123


Figuras 1 e 2 – Semana de meio ambiente

Dia da proteção dos manguezais. Visita às quatro principais salinas do município com
realização de palestras e plantio de mudas de manguezais (Figuras 3 e 4)

Figuras 3 e 4 – Plantio de mudas de manguezais nas salinas do município

Dia da limpeza urbana. Realização de teatro de mamulengos sobre a importância da coleta


seletiva e visita do mascote da coleta seletiva em todas as escolas.
Dia da limpeza do litoral. Realização de mutirão de limpeza (Figura 5) das praias com
alunos de duas escolas.

Figura 5 – Mutirão de limpeza

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1124


Dia da árvore. Plantio de mudas e realização de palestra sobre a importância da arborização
urbana nas escolas que não possuíam a frente arborizada
Dia do rio. Realização de aula passeio no Rio Ivipanim com alunos das escolas Vingt
Rosado, Valdeci Nunes e Aluísio Alves.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar dos desafios que são inerentes a qualquer atividade de educação ambiental a
implantação do calendário ecológico foi bastante exitosa. Pois os objetivos propostos inicialmente
foram alcançados. Visto que, os subsídios produzidos pela equipe técnica possibilitaram aos
professores trabalharem de forma interdisciplinar as datas comemorativas, estabelecendo um
diálogo entre as várias disciplinas do contexto escolar. O projeto, diferentemente de outras
atividades escolares voltadas para questão ambiental não foi uma atividade isolada, estanque, de
modo que durante todo o ano letivo a questão ambiental esteve presente no cotidiano de cada
escola, por meio das várias atividades.
Ademais, a ênfase em temáticas locais possibilitou aos educandos o conhecimento sobre
problemas ambientais que geralmente são ignorados quando se trabalha a questão em sala de aula.
Todavia, no ano seguinte, embora algumas escolas tenham solicitado a gerência à
continuidade do projeto, problemas de ordem material e técnicos inerentes ao poder público
municipal inviabilizaram a realização do projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNA, V. S. D. Como fazer educação ambiental. São Paulo: Paulus, 2001. (Pedagogia e
educação).

BRASIL. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999.

CAMARGO, A. L. de B. Desenvolvimento sustentável: Dimensões e desafios (Coleção Papirus


Educação). Campinas: Papirus, 2003.

GADOTTI, M. Educar para sustentabilidade. São Paulo: Editora e livraria instituto Paulo Freire,
2009. (Série unifreire: 2)

GRÜN, M. Ética e educação ambiental: A conexão necessária. 12. ed. Campinas-SP: Papirus,
1996. (Coleção magistério: Formação e trabalho pedagógico).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1125


JÚNIOR, L. A. F. Encontros e caminhos: Formação de educadores ambientais. Brasília: MMA.
Diretoria de educação ambiental, 2005.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez,


2012.

________, C. F. B. (org.). Sociedade e meio ambiente: A educação ambiental em debate. São


Paulo: Cortez, 2000.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009. (coleção primeiros
passos: 292).

RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA, E. V. da. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável:


Problemática, tendências e desafios. Fortaleza: Edições UFC, 2009.

RUSCHEINSKY, A. (org.). Educação ambiental: Múltiplas abordagens. 2. ed. Porto Alegre:


Penso, 2012.

SILVA, E. L; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 2. ed.


Florianópolis: Laboratório de ensino à distância da UFSC, 2001.

TORRES, M. B. R. et al. (org.). Teorias e práticas em educação ambiental. Mossoró: UERN, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1126


EDUCAÇÃO AMBIENTAL PROFUNDA – POSSIBILIDADES PARA O ENSINO
INTEGRADO

Patrícia Mendes CALIXTO


Profa. Doutora - IFSul – Câmpus Charqueadas
patriciacalixto@charqueadas.ifsul.edu.br

RESUMO
O artigo apresenta a análise de um trabalho realizado junto a estudantes do ensino integrado do
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense - Câmpus Charqueadas. O
objetivo foi identificar se há diferença na percepção sobre a questão ambiental entre os estudantes
ingressantes no câmpus e os que estão frequentando o último ano. Através de um trabalho cuja
metodologia foi qualitativa, foram avaliadas a escrita e a participação oral dos grupos durante a
execução das propostas nas aulas de Geografia. Observou-se que não há diferenças entre os dois
grupos no que tange os saberes ambientais. A maioria dos estudantes nunca participou de atividades
relacionadas a temática ambiental, nem durante o ensino fundamental. Também não souberam
reconhecer os principais líderes do movimento ambientalista do Brasil. Entretanto, a maioria dos
participantes indicou que a escola é o espaço adequado para trabalhar com esta temática. Ao se
identificar esses direcionamentos durante o trabalho, foi iniciado um trabalho extensionista junto a
educadores da região carbonífera, como forma de, indiretamente, contribuirmos com a formação do
sujeito ecológico.
Palavras – chave: educação ambiental; ensino médio integrado; geografia

ABSTRACT
The article presents the analysis of work done with students of integrated education Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense - Câmpus Charqueadas. The aim was
to identify whether there are differences in the perception of environmental issues among freshmen
students on campus and those who are attending the last year . Through a work whose methodology
was qualitative , were evaluated writing and oral participation of groups during the implementation
of the proposals in geography lessons. We observed no differences between the two groups
regarding environmental knowledge. Most students never participated in related environmental
issues, nor during elementary school activities. Also not able to recognize the main leaders of the
environmental movement in Brazil. However, most participants indicated that the school is
adequate space to work with this theme. By identifying these directions during work, started an
extension educators work together in the coal region, as a way of indirectly contribute to the
formation of the ecological self .
Keywords: environmental education; integrated high school ; geography

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1127


O CAMINHO PARA PRODUZIR ESSA ANÁLISE

Há algum tempo tenho refletido sobre os discursos educativos ambientais nos meios
acadêmicos, na mídia, e, sobretudo, na escola. Minha experiência e formação, que considero sólida
na Educação Ambiental, com origem lá na admiração pela professora e pesquisadora Dra. Judith
Cortesão nos anos noventa, leva-me a pensar que há alguma lacuna, algo que não está chegando
fortemente naqueles que passam pelas atividades denominadas de educativas ambientais.
As escolas, especialmente, as de ensino fundamental, amparados em orientações legais,
trabalham com práticas distintas ao longo do processo de formação cidadã, pelo menos, nos últimos
dez anos. Práticas essas que vagarosamente vem sendo modificadas pelos educadores que entendem
que esse processo é longo e necessário. Entretanto, perguntamo-nos por que efetivamente essas
mudanças ainda são vagarosas? Por que os processos educativos não atingem tão profundamente os
sujeitos em formação? A hipótese inicial é que estas atividades, muitas vezes desconexas, pontuais
e superficiais, não atingem seu principal propósito que é o de influenciar os sujeitos para reorientar
suas práticas não sustentáveis, as quais cotidianamente atravessam nossas mais distintas atividades.
Essa crítica atinge, sobretudo, o ensino médio, onde o foco é no conteúdo e nas práticas técnicas,
caso sua estrutura esteja alicerçada no ensino integrado.
Como educadora ambiental, desde 1998, quando efetivamente me identifiquei com a
temática, entendi que não era possível que continuássemos com as mesmas escolhas, com relação
aos diversos setores da vida: alimentação, transporte, educação, relações interpessoais, enfim, desde
aquela época debatíamos entre outros temas, também a necessidade de reorientar os fluxos de
desejo consumidor. Mas evidente, nada disso é novo, nos anos sessenta já fazia-se isso conforme
salientou Carson (2013).
Mas, o quê, enquanto estudantes, jovens e otimistas pensavam e porque buscávamos aqueles
que pensavam a natureza? Eu, particularmente, enquanto geógrafa pensava em ser multiplicadora da
ideia dos ambientes verdes, na preservação dos ambientes costeiros e dos animais da nossa região
(nasci e tenho minha formação acadêmica no sul do Brasil, mais especificamente em Rio Grande, o
que favoreceu minha convivência, não apenas com estudantes, mas com pesquisadores brasileiros e
estrangeiros que buscavam naquele meio, estratégias de salvar aquele ambiente frágil). Assim, fui
sendo construída e desconstruída academicamente.
Foi a partir deste cenário que enveredei inicialmente pelos trabalhos nas escolas de ensino
fundamental. Eu estava inserida em um grupo que acreditou naquele momento (e continua
acreditando) que o processo de sensibilização- conscientização precisa ser orientado desde a mais
tenra idade, de modo que cresçam compreendo a importância de cada ação empreendida no espaço.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1128


Neste sentido, considero a escola com um espaço muito importante onde esse trabalho possa ser
feito, conjuntamente com a família e outras instâncias sociais.
As experiências que tive nas escolas, mais diversas – estaduais, municipais, privadas e
ainda, de ensino fundamental e/ou médio apontavam para uma visão bastante reduzida sobre o que é
meio ambiente. Alguns trabalhos realizados naquele momento indicavam que independente do tipo
de escola ou do grau de instrução dos professores – especialistas ou não, as respostas para um
trabalho simples, como o que era ambiente apontava apenas para ambientes distantes do nosso,
como montanhas e florestas e, os principais problemas apontados estavam principalmente
relacionados as queimadas.
Bem, senão estávamos nem nas montanhas e bem longe das florestas, como explicar porque
aquelas crianças apontavam naquela direção? Será a influência da mídia, da família, da escola?
Àquela época apontamos a escola e a mídia como formadoras daquele padrão de pensamento
ambiental. Os principais trabalhos apontados pelas escolas sobre a questão ambiental era a
reciclagem, e, no entanto, isto nem apareceu nas respostas.
Entramos os anos dois mil e a pauta era o consumo. Entra na agenda questionamento sobre o
quanto e o porquê consumimos. Assim, foi difícil, novamente, pensar em qual direção ir, já que o
que era conhecido, não era, de certa forma, aceitável. Era relativamente recorrente a realização de
tarefas, como disse anteriormente, realizadas pelas escolas, sobretudo do ensino fundamental, as
quais eram pautadas nas gincanas que recolhiam materiais recicláveis e os trocavam por brindes.
As discussões continuaram avançando durante todos os anos dois mil e muitas atividades
são propostas não só para as agendas escolares, mas para as políticas públicas no que se refere a
reorientação sobre sustentabilidade para os municípios e estados brasileiros. Neste sentido, a
Política Nacional de Educação Ambiental traz uma valiosa contribuição para a inserção deste tema
nas escolas, prevendo que a Educação Ambiental como essencial e permanente na Educação
brasileira (PNEA, 1999).
Apesar disso, creio que nos últimos anos, houve uma redução considerável nos discursos
educativos ambientais, observo que as atividades, especialmente relacionadas a datas
comemorativas que sempre estiveram no centro das atividades educativas ambientais, estão
diminuídas. Afirmo isso, olhando para o meio no qual circulo. Também faço essa afirmação
baseada não em quantidade de trabalhos realizados, mas em relação adivulgação. Não se sabe o que
está sendo feito nas escolas, e as universidades trabalham para si mesmas. Um estudo realizado em
2006, em todo o Brasil, destacou que muitas escolas que dizem que fazem Educação Ambiental
apresentam práticas contraditórias (TRAJBER e MENDONÇA, 2006). Isto é, não separam o lixo, o
qual muitas vezes é queimado, só para citar um exemplo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1129


Neste cenário, meu trabalho nos últimos anos tem sido pautado na escola, especialmente a
de ensino médio integrado. Esta modalidade de ensino apresenta uma peculiaridade em relação ao
ensino médio tradicional, pois na modalidade integrado buscam os estudantes e seus familiares uma
formação que também apresente a eles outras opções, sobretudo, para o trabalho. Os estudantes são
jovens, com idades que variam entre os 14 e os 21 anos. São sujeitos em crescimento, em
constituição da sua formação cidadã e como percebi, através de outros trabalhos, criam expectativas
em relação a escola.
Além dessa frente junto aos estudantes do ensino integrado, encaro um outro desafio da
formação de professores, especialmente, através de ações extensionistas. Essas atividades tem
mostrado que a maioria dos docentes quer fazer do seu trabalho pedagógico um espaço de
movimento humano. Isto é, sabe que seu planejamento pode influenciar a vida de muitos, tem
consciência sobre não mudar as condições, mas sabem que podem representar a orientação para
alguns (CALIXTO e PINTO, 2009; CALIXTO, 2012).
Esses dois campos de atuação representam que há necessidade de direcionar os espaços de
debate para a mudança. Muitos pesquisadores apontam que a mudança necessária é a de paradigma
(SANTOS, 2000). Neste sentido, busca-se uma visão mais abrangente da vida, onde não apenas um
setor seja trabalhado. As ações educacionais alicerçadas no ideal ambientalista, permitindo a
formação de multiplicadores e educadores ambientais, conhecedores do seu local de origem,
trabalhando em ações locais voltadas à construção de sociedades sustentáveis. Este é um objetivo
concretizável, porém a longo prazo, tenho sido otimista neste sentido.
E como tenho trabalhado nesta direção? Busco pautar-me na seguinte questão: todas as
ações humanas ocorrem em um espaço físico. Sendo assim, compreender como o espaço expressa
essas relações é fundamental para que tenhamos uma visão mais complexa sobre a vida. Com isto
quero dizer que, não basta que pensemos apenas nas questões de políticas públicas, nem tão pouco
pensar apenas nas percepções ambientais de um grupo de pessoas, mas compreender como e porque
algumas ações ainda apresentam repercussões profundas no espaço.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PROFUNDA

Muito já se discutiu sobre a questão de usar o adjetivo ambiental para a Educação, que
talvez isso não fosse necessário por uma série de razões. E, como no meio disso ainda acrescentar
outro termo, o Profunda? Pois bem, a ideia de acrescentar o termo ―profunda‖ vem do entendimento
de que não é possível alcançarmos grandes êxitos nas atividades educativas ambientais se antes não
atingirmos o ser humano na sua essência. O êxito ao qual me refiro está no fato de que muitas
campanhas, muitos processos educativos não apresentam continuidade fora dos seus limites de
ação.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1130
A ideia de trabalhar educação ambiental profunda remete a necessidade de que toda ação
educativa ambiental precisa, antes, trabalhar, o ser humano, individualmente, mexer com ele,
promover mudanças internas. As mudanças internas passam por processos de sensibilização,
conscientização e, evidentemente, mudanças profundas no modo de olhar o mundo. Essa
perspectiva foi apresentada por Ribeiro (2011). A pesquisadora baseada nos preceitos do
pensamento complexo e dos sistemas auto organizados afirma que o ―investimento na alma
humana‖ (p.44) é fundamental para ―qualquer intervenção educacional‖.
No mesmo caminho, pensando sobre o olhar o mundo, sensibilizar para conceber todas as
relações possíveis neste espaço por nós ocupados, situando a contemporaneidade como este tempo
vivido. Entendendo que compreender, como muitos já divulgaram, que somos mais um neste
universo a compor o ambiente e não o elemento principal é preciso reorientar o paradigma de
pensamento.
Todas nossas ações, todos nossos empreendimentos precisam passar pelo raciocínio de que
uma ação ocorrida aqui interfere em outro processo ali. A questão aí envolvida é a visão míope que
temos sobre as relações que nos cercam que perpassam pela subjetividade, a economia, a política, a
cultura, a natureza, as relações territoriais e, por que não religiosas! As crenças contribuem para o
modo como olhamos os elementos que compõem o nosso espaço. Basta ver as relações indígenas
com seus espaços, os quais não separam o ambiente de si mesmos.
Precisamos repensar as atitudes para adequar os modos de ação, precisamos de fato, mudar,
não há outra relação possível de melhorar o mundo. E, é fundamental compreender o mundo atual,
como se apresenta, pela perspectiva da liquidez – conceito trabalhado pelo sociólogo Bauman
(2003), os modos de analisar o pensar e o agir, ou seja, compreender suas lógicas de operação,
permitindo colocarmos em evidência pontos relevantes no mundo contemporâneo, o qual é baseado
na superficialidade, no consumo e na artificialidade, permitirá planejar um novo mundo.
Apesar de acreditar que as mudanças profundas passam pela mobilização dos aspectos
internos do ser humanos, acredito que já tivemos grandes avanços na sociedade contemporânea. Há
ainda muitos casos de pessoas insensíveis, sem comprometimento, irresponsáveis, mas os bens
coletivos têm sido muito maiores. A quantidade de políticas públicas que visam a melhoria da
qualidade de vida humana são suficientemente adequadas para o que precisamos. No entanto,
esbarramos na incompetência ainda de muitas pessoas com pensamento individualista e lutando
apenas em causas próprias. Se tivessem suas energias voltadas para o sucesso de ações coletivas não
teríamos que discutir boa parte do que já foi realizado por outras mãos que trabalham pelo bem
comum.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1131


EXPERIÊNCIA JUNTO AO ENSINO MÉDIO INTEGRADO

Faço parte do grupo docente de um Instituto Federal, o denominado Sul-rio-grandense.


Neste câmpus, do qual faço parte, o de Charqueadas, oferece cursos na modalidade integrado
(ensino médio e disciplinas profissionalizantes), conforme aponta Ramos (2008) uma educação
nesta modalidade busca propiciar aos sujeitos acesso não apenas ao conhecimento, mas também a
possibilidade de escolhas para o trabalho.
Neste sentido, decidi investigar como estamos preparando os estudantes no que se refere a
questão ambiental. Através de atividades diversas analisei as principais concepções dos estudantes
dos cursos integrados do IFSul – Câmpus Charqueadas acerca do saber ambiental. Aqui foi tomado
como referencia o conceito de Saber Ambiental de Enrique Leff (2009). Para o autor, saber
ambiental refere-se a relação entre a natureza e a sociedade sob a perspectiva interdisciplinar, pois
ele entende que deste modo refletimos sobre os paradigmas científicos e realizamos uma nova
práxis, orientada pela sustentabilidade.
Assim no espaço pedagógico das aulas de Geografia abordei o tema ambiente para que eu
pudesse traçar um diagnóstico sobre o que pensam os estudantes do ensino integrado sobre a
questão ambiental. O trabalho foi realizado com alunos do primeiro e do quarto ano do curso de
mecatrônica. É importante ressaltar que tanto os estudantes do primeiro quanto do quarto ano estão
tendo pela primeira vez, dentro do IFSul – câmpus Charqueadas, aulas de geografia. Na grade
curricular anterior os estudantes tinham contato com a disciplina apenas no quarto ano. Desta
forma, apliquei as mesmas atividades aos dois grupos, as quais foram organizadas em três
momentos distintos. Primeiramente, os estudantes realizaram escritas relacionadas ao conceito de
lugar. Em seguida, após leitura de um texto e debate, solicitou-se aos estudantes que respondessem
a um questionário no qual constavam questões sobre: ambiente, se já haviam participado de eventos
cuja temática estava relacionada a questão ambiental, se tinham interesse nesse tema e, por fim, se
identificavam uma relação da escola com a questão ambiental. No terceiro momento, em conversa
informal, buscou-se identificar o conhecimento dos estudantes sobre as principais lideranças
ambientais no Brasil. Foram apresentadas imagens de três pessoas com representatividade no
campo ambiental: Judith Cortesão, José Lutzenberger e Chico Mendes. Por fim, fez-se uma
avaliação qualitativa dos resultados.
Os trabalhos revelaram que os estudantes independentemente do ano em que se encontram,
primeiro e quarto ano, não apresentam distinção em relação ao saber ambiental. Ficou evidente que
o conhecimento está relacionado ao que é repassado pela mídia e pela escola. Os próprios
estudantes relataram serem esses os dois canais principais de informações sobre essa questão. Na
primeira atividade os estudantes apresentaram dificuldade em identificar o seu lugar, a maioria

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1132


deles relacionou com a casa onde vivem. Na segunda atividade, os estudantes apresentaram uma
abordagem naturalística da abordagem ambiental, isto é, sociedade e natureza não se relacionam
diretamente e os elementos físicos são predominantes. Sobre a identificação dos ambientalistas,
apenas Chico Mendes foi reconhecido por alguns estudantes do quarto ano, os demais nunca
ouviram falar.
Os dados levantados foram preocupantes, especialmente se considerarmos que um grupo de
estudantes está saindo da escola em poucos meses e muito pouco poderá se fazer no que se refere a
sua formação ambiental. Espera-se que os estudantes que ingressem na universidade possam ter a
oportunidade de dar continuidade a esse processo de formação. No entanto, sabemos que as chances
são pequenas para quem partir diretamente para o exercício do trabalho.
Neste cenário, busquei informações junto a comunidade e nas escolas da região da qual
nossos estudantes são oriundos para saber como a questão ambiental era trabalhada. Observei um
forte interesse por parte de educadores em receber informações sobre a prática da educação
ambiental na escola. Sendo assim, há um ano venho oferecendo cursos de extensão sobre a temática
―Educação Ambiental na Escola‖ com o intuído de oferecer subsídios aos educadores. Desde o
início em março de 2013, até o presente momento já formamos cerca de trinta e quatro educadores.
No curso a abordo quatro temáticas que são: Princípios da Educação Ambiental, as Políticas
da Educação Ambiental para a escola, Interfaces da Educação Ambiental na escola e Projetos de
Educação Ambiental na Escola. É interessante observar que a maioria dos participantes gostaria de
contar com uma apostila ou um documento impresso em que pudessem consultar mais rapidamente
com atividades. No entanto, foram orientados a desenvolverem seus próprios materiais didáticos
consultando os inúmeros documentos disponíveis atualmente, inclusive aqueles compartilhados.
Assim, esperamos que de alguma forma estejamos contribuindo para a formação dos
estudantes, indiretamente, no ensino fundamental e no ensino integrado, de onde eles partem, por
vezes, para o exercício do trabalho.

UMA CONCLUSÃO PROVISÓRIA

Este trabalho continuará no próximo ano. Outras ações estão em andamento de modo que a
questão ambiental não fique restrita aos espaços destinados a disciplina de Geografia. Dentre essas
ações está a oferta de inúmeras atividades mensais através do Núcleo de Gestão Ambiental do
campus, como um concurso fotográfico. Também tem sido realizadas estudos do meio, com saídas
de campo para que o estudantes reconheçam as potencialidades, identifiquem os problemas e
reflitam sobre o espaço local. No mesmo sentido, temos proporcionado espaços para debate e
reflexão com colegas oriundos de outros espaços sejam estudantes ou pesquisadores, como os
realizados durante as mostras científicas ocorridas nos distintos campus do Instituto Federal Sul-
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1133
rio-grandense. Alguns estudantes tem participado de trabalhos de pesquisa e buscado participar de
eventos nos quais seus resultados são apresentados. Portanto, estão sendo oferecidos espaços de
diálogo, debate, descobertas e, principalmente, divulgação dos seus resultados.
Com relação ao trabalho extensionista junto aos docentes da região, devido a procura e,
especialmente, pela manifestação de continuidade, o projeto está iniciando sua terceira oferta. Além
disso, introduzimos uma disciplina denominada Educação Ambiental na Escola no Strito Senso em
Educação ofertado pelo Instituto a qual tem apresentado uma procura significativa.
Portanto, considero que as todas as oportunidades de formação tanto para estudantes quando
para docentes tem sido satisfatórias, de modo que a contribuição tem sido dada!

REFERENCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar,
2003.

BRASIL. LEI N° 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999.

CALIXTO, Patrícia Mendes. Estudo do meio: possibilidade de articulação entre a Geografia escolar
e a Educação Ambiental. 2012. 239. Tese ( Doutorado em Educação Ambiental). FURG, 2012.

CALIXTO, Patricia. Mendes ; PINTO, Carmem Lucia Lascano. A perspectiva educativa ambiental
na prática de educadores participantes de um curso de formação continuada. Revista Eletrônica
do Mestrado em Educação Ambiental, v. 22, p. 276-294, 2009

CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. Editora Gaia, 2013.

LEFF, Enrique. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Trad. Lúcia
Mathilde Endlich Orth. 7 ed: Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

RAMOS, Marise. Concepção do ensino médio integrado. 2008 (online).


<http://www.iiep.org.br/curriculo_integrado.pdf >. Acesso em julho de 2014.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência.


Cortez, 2000.

TRAJBER, Rachel e MENDONÇA, Patrícia Ramos (org). Educação na diversidade: o que fazem
as escolas que dizem que fazem educação ambiental – Brasília: Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1134


EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: UMA
REVISÃO DE LITERATURA

Ana Paula de Sousa ENÉAS


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido - PPGATS/UFERSA
yanlapaula@hotmail.com
Lilian Caporlíngua GIESTA
Prof.ª Dr.ª do Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido - PPGATS/UFERSA
ligiesta@gmail.com

RESUMO
Em decorrência do intenso crescimento econômico e populacional, o debate mundial em torno das
questões ambientais vem ocorrendo de maneira acentuada. A escassez dos recursos naturais e a
degradação do meio ambiente têm provocado na sociedade o pensar mais consciente diante da
emergência planetária. Nesse sentido, faz-se necessário repensar a importância de se trabalhar a
Educação Ambiental, uma vez que o seu potencial para transformar as concepções do ser humano,
enxergar a relação entre a sociedade e o ambiente, vem a ser fundamental para a construção de uma
sociedade mais comprometida com a qualidade ambiental, ou seja, uma sociedade sustentável.
Assim sendo, o presente artigo tem por objetivo discorrer sobre construções teóricas da educação
ambiental e os caminhos percorridos por esta no que se refere a sua inserção no ensino superior,
visando promover um debate sobre esta temática.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Ensino Superior; Revisão de Literatura; Legislação.

ABSTRACT
Due to the intense economic and population growth, the global debate on environmental issues is
occurring sharply. The scarcity of natural resources and environmental degradation have caused in
the society the thinking more conscious on the planetary emergency. In this sense, it is necessary to
rethink the importance of working environmental education, since its potential to transform the
conceptions of the human being, seeing the relationship between society and the environment,
comes to be fundamental for the construction of a more committed society to environmental quality,
in other words, a sustainable society. Therefore, this article aims to discuss theoretical constructs of
environmental education and the paths taken by this regarding their inclusion in higher education to
promote a debate on this subject.
Keywords: Environmental Education; Higher Education; Literature Review; Legislation.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1135


INTRODUÇÃO

Segundo Filho e Melo (2011, p. 87): ―a temática ambiental tem sido objeto de eventos
nacionais e internacionais e referência obrigatória nas campanhas políticas, além de contribuir para
a expansão do mercado de atividades muito lucrativas‖. Nessa direção, é possível destacar que a
superação de problemas emergentes, como a questão ambiental, exige mudanças profundas na
concepção de mundo, de natureza, de poder e de bem-estar, tendo por base a formação de novos
valores e novas atitudes.
Em decorrência do intenso crescimento econômico e populacional, o debate mundial em
torno das questões ambientais vem ocorrendo de maneira acentuada. A escassez dos recursos
naturais e a degradação do meio ambiente têm provocado na sociedade o pensar mais consciente
diante da emergência planetária.
Dessa forma, é necessário resgatar a noção de educação como um direito humano, capaz de
formar cidadãos críticos que assumam uma posição transformadora a fim de alcançar uma maior
justiça social e ambiental. Assim, a Educação Ambiental auxilia no debate sobre a incorporação da
temática ambiental e se coloca como um dos elementos fundamentais contra a crise ambiental atual.
A definição de Educação Ambiental, conforme a Política Nacional de Educação Ambiental:

os processos por meio dos quais, o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).

Diante desse contexto, Giesta (2009, p. 10) salienta que: ―Educação Ambiental visaria,
então, promover uma mudança de concepção das questões ambientais, em que cada indivíduo,
trabalhador ou grupo promova também mudança social‖. Nesse sentido faz-se necessário, repensar
a importância de se trabalhar a Educação Ambiental, uma vez que o seu potencial para transformar
as concepções do ser humano, enxergar a relação entre a sociedade e o ambiente, vem a ser
fundamental para a construção de uma sociedade mais comprometida com a qualidade ambiental,
ou seja, uma sociedade sustentável.
Portanto, a Educação Ambiental apresenta-se como um dos meios fundamentais na
percepção dos problemas ambientais e capaz de estimular a tomada de consciência que possibilita a
mudança de atitudes, além de viabilizar formação e capacitação.
Assim sendo, o presente artigo tem por objetivo discorrer sobre construções teóricas da
educação ambiental e os caminhos percorridos por esta no que se refere a sua inserção no ensino
superior, visando promover um debate sobre esta temática amplamente discutida e presente nas
conferências de cunho ambiental e estudos em todo o mundo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1136


MÉTODO

Para construção deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a qual, segundo
Marconi e Lakatos (2010), constitui um instrumento de pesquisa que abrange toda a bibliografia
pública em relação ao tema de estudo, com a finalidade de fundamentar o entendimento da temática
com a visão dos autores. Paralela à pesquisa bibliográfica, utilizou-se a pesquisa documental que,
de acordo com Severino (2007, p. 122) ―tem-se como fonte de documentos no sentido amplo, ou
seja, não só de documentos impressos, mas, sobretudo de outros tipos de documentos, tais como
jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais‖.
Sendo assim, utilizou-se a leitura das obras de autores como: Gonçalves (2004); Rodriguez e
Silva (2010); Reigota (2006); Tozzoni-Reis (2001); Barbieri e Silva (2011), entre outras
publicações que tratam da temática educação ambiental e a inserção desta no ensino superior, além
de aspectos referentes à legislação brasileira concernente ao assunto.
Para tanto, os resultados serão apresentados através de uma discussão teórica, sendo na
primeira seção um breve apanhado histórico das conferências sobre meio ambiente que tinham
como um dos seus objetivos a inclusão da dimensão ambiental na educação, e na segunda seção, a
educação ambiental nos sistemas educacionais, com enfoque em instituições de ensino superior.

DISCUSSÃO TEÓRICA

Um breve histórico da Educação Ambiental

Na busca por ampliar o conhecimento das questões pertinentes à educação ambiental é


necessário realizar a partir de uma revisão histórica, os aspectos gerais das principais conferências
ambientais que fundamentaram o tema em estudo.
A década de 1960 é marcada pela emergência das questões ambientais em um contexto
favorável ao período do pós-guerra, bem como pelo início das discussões mundiais envolvendo a
crise ambiental, tornando-se evidente que a problemática havia tomado maiores dimensões,
assumindo também, uma questão social, política e econômica. Portanto, tal fase é marcada pelo
crescimento de movimentos que não criticam apenas o modo desenfreado de produção, mas sim o
modo tradicional de vida (GONÇALVES, 2004).
Dentro deste período, no ano de 1962, a escritora Rachel Carson lançou o livro ―Primavera
Silenciosa‖, em que tratava dos problemas decorrentes do uso excessivo de pesticidas, uso
indiscriminado e descarte irregular das substâncias químicas no meio ambiente. Tal publicação
provocou o início de um amplo debate mundial que apontava para a urgente necessidade de
mudança na sociedade e o modo como o homem apropriava-se da natureza e dos recursos
(MARINHO, 2004).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1137
Outro ano que chama a atenção deste período histórico foi o de 1968, em que foi realizada
em Roma uma reunião envolvendo um grupo de cientistas e intelectuais que faziam parte do Clube
de Roma, e foi responsável por publicar estudo denominado ―Limites do Crescimento‖, que
afirmava em suas conclusões a insustentabilidade dos níveis de industrialização, poluição, produção
de alimentos e exploração dos recursos naturais, com vistas aos limites da capacidade de suporte
global face aos avanços industriais (BATISTA; ALBUQUERQUE, 2007). Em decorrência da
publicação dessa obra, a crescente preocupação ambiental toma um grande impulso no debate
mundial, e assim, no ano de 1972 a Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou a Conferência
Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, conhecida como Conferência de Estocolmo
(GONÇALVES, 2005).
A Conferência teve como frutos, o reconhecimento do problema ambiental, como também a
criação da Declaração de Estocolmo com o objetivo de descrever as responsabilidades e nortear as
políticas públicas referentes ao meio ambiente apoiadas ao Plano de Ação do Meio Ambiente,
composto por 109 recomendações, além de ser considerado um marco mundial (GURSKI et al.,
2012).
No contexto da educação ambiental, tal Declaração chamava a atenção dos governos para a
adoção de novas políticas públicas ambientais, entre elas, a criação de um Programa de Educação
Ambiental, com o propósito de educar o cidadão na compreensão dos problemas ambientais e,
consequentemente, no combate à crise ambiental no mundo (SOUZA, 2003).
Um tempo depois em 1975, a UNESCO, promoveu no seminário em Belgrado, um encontro
reunindo especialistas da área de educação e assuntos ligados ao meio ambiente. O grupo
responsável pelas pesquisas em Educação Ambiental da UNESCO enviou a 136 membros um
questionário aos especialistas em Educação Ambiental (EA) presentes no evento com o objetivo de
avaliar o desenvolvimento dos programas de EA. Os resultados do estudo apontaram a insuficiência
dos programas principalmente nos países em desenvolvimento, em que foi constatada a ausência de
projetos interdisciplinares (DACACHE, 2004).
No encontro, foi elaborado um documento norteador da Educação Ambiental, conhecido
mundialmente como Carta de Belgrado, discutida e assinada por representantes de 65 países que
culminou com a formulação de princípios e orientações práticas para a criação de um Programa
Internacional de Educação Ambiental, que segundo a Carta deveria ser contínua e interdisciplinar
(CAMPOS, 2006).
Em Tbilisi, na Geórgia, no ano de 1977, ocorreu a Primeira Conferência sobre Educação
Ambiental considerada o evento mais importante para a evolução do termo Educação Ambiental no
mundo. Tal conferência contribuiu para a definição dos objetivos, princípios, características e

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1138


recomendações estratégicas pertinentes aos Planos Nacional e Internacional, na qual as bases
conceituais e teóricas da EA foram estabelecidas e divulgadas (MARINHO, 2004).
Segundo Souza (2003 p. 36), na Conferência de Tbilisi, ―a Educação Ambiental foi definida
como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para resolução de
problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de uma participação
ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade‖.
A Segunda Conferência Internacional sobre Educação Ambiental aconteceu em 1987, em
Moscou, na ex-URSS, reunindo educadores ambientais de cem países, visando realizar uma
avaliação do desenvolvimento da Educação Ambiental desde a conferência de Tbilisi. Tal
conferência tinha como meta prioritária criar um plano de ação para a década de 1990, considerando
que no processo de conscientização percebeu-se um avanço em escala global, do papel da educação
na resolução dos problemas ambientais (MENDONÇA, 2004).
A Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), sob a
presidência de Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega, em 1987, publicou um dos
documentos mais importantes do tempo atual o Relatório Nosso Futuro Comum, também
denominado Relatório Brundtland, responsável pelas primeiras conceituações oficiais e
sistematizadas sobre o desenvolvimento sustentável. Este relatório define desenvolvimento
sustentável como ―aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades‖ (WCED, 1987, p. 54).
O Relatório Brundtland contêm informações no que se refere às questões sociais,
mencionando o uso e ocupação da terra, suprimento de água e abrigo, educação, saúde, e ainda,
ressalta a necessidade de descentralização de recursos financeiros e humanos, e a necessidade de
favorecimento do poder político em escala local (BARBOSA, 2008). O documento chamava a
atenção do mundo para a necessidade urgente de encontrar formas de desenvolvimento econômico
que se sustentem, sem a redução dos recursos naturais nem danos ao meio ambiente. Define
também, três princípios essenciais a serem cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção
ambiental e equidade social, sendo que para cumprir estas condições, são indispensáveis mudanças
tecnológicas e sociais (GONÇALVES, 2005).
Depois da Conferência de Brundtland, destaca-se a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, que representou um
marco histórico das relações internacionais no tocante aos temas de sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável. O evento reafirmou a importância da sustentabilidade ambiental e
aprovou um plano de ação denominado Agenda 21, documento no qual, foram assumidos acordos
entre os países participantes, ficando claro o compromisso de incorporarem em suas políticas
públicas os princípios que conduzem ao desenvolvimento sustentável (MARINHO, 2004).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1139
Durante a Rio 92, o Ministério da Educação produziu a Carta Brasileira para Educação
Ambiental, que dentre outros objetivos, reconheceu ser a Educação Ambiental um dos instrumentos
precursores da sustentabilidade e estratégia de sobrevivência do planeta, garantindo a melhoria da
qualidade ambiental (CADERNOS SECAD, 2007).
Em Tessalônica, na Grécia, no ano de 1997, a Unesco realizou a Conferência Internacional
sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade,
em que os temas colocados em pauta na Rio 92 foram reforçados. A proposta do evento chamou a
atenção para a necessidade de integralização das ações de EA, articulando os conceitos de ética e
sustentabilidade, além do incentivo as práticas interdisciplinares (CADERNOS SECAD, 2007).
Dez anos após a Conferência realizada no Rio de Janeiro, foi realizada a Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002, em Johannesburgo, também conhecida como
Rio+10. Durante o evento, alguns temas específicos foram tratados, entre eles, a água, energia,
saúde, agricultura, biodiversidade, manutenção dos ecossistemas e saneamento. A Educação de um
modo geral foi também discutida e incluída em um plano de recomendações contendo 153 itens
para o cumprimento da Agenda 21, porém não específicas para a Educação Ambiental (BARBIERI,
SILVA, 2011).
Uma das últimas conferências de destaque mundial relacionada à temática ambiental foi a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+20, evento realizado
pela ONU em junho de 2012, no Rio de Janeiro. Do evento culminou um documento intitulado ―O
futuro que queremos‖, contendo uma declaração de 49 páginas assinada pelos 188 países
participantes. Entre as declarações, foi reafirmada a responsabilidade na construção de uma
sociedade sustentável e firmar um compromisso no estabelecimento das Diretrizes Nacionais de
Educação Ambiental, que afirma que esta deve permear todos os níveis e modalidades de ensino
(VELASCO, 2013).
Na próxima seção, nos deteremos em discutir a inserção da educação ambiental em
instituições de ensino superior, bem como da apresentação de algumas especificidades presentes na
legislação brasileira referentes à temática.

Educação Ambiental em Instituições de Ensino Superior

Segundo Rodriguez e Silva (2010, p. 176), ―a Educação é um dos instrumentos mais


importantes da adaptação cultural, tendo um papel fundamental na construção do futuro, uma vez
que permite transmitir as características fundamentais da cultura, das técnicas e tecnologias vitais
para a sociedade‖.
Sobre a educação ambiental ser uma dimensão da educação, Tozzoni-Reis (2001 p. 42)
afirma que:
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1140
Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social,
que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a
natureza e com os outros seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade
humana, tornando-a mais plena de prática social e de ética ambiental.

A supracitada autora ressalta que a educação é uma atividade prática que exige uma
sistematização em sua metodologia, devendo se apropriar de um processo crítico de conhecimento,
qualidades e capacidades necessárias a uma ação transformadora do ambiente que no qual vivemos
(TOZZONI-REIS, 2001).
Durante a década de 1980, houve uma importante discussão nos meios educacionais a
respeito da inserção ou não da Educação Ambiental como disciplina a mais no currículo escolar.
Sobre isso, Reigota (2006, p.25) ―O Conselho Federal de Educação optou pela negativa, assumindo
as posições dos principais educadores ambientalistas brasileiros da época, que consideram a
educação ambiental como uma perspectiva de educação que deve permear todas as disciplinas‖.
No Brasil, a inserção da temática ambiental nos sistemas educacionais tem como ponto de
referência a Lei nº 6.938, estabelecendo a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que ―tem
por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana‖ (BRASIL, 1981, p. 1).
Em termos de legislação brasileira, o termo Educação Ambiental aparece pela primeira vez
em 1988, no artigo 225 da Constituição Federal e afirma que: ―todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações‖, evidenciando no parágrafo 1º, para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao poder público: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988).
A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída pela Lei nº 9.795, de 27 de
abril de 1999, já mencionada anteriormente, expressa seu conceito e princípios norteadores, traça os
objetivos, a forma de implementação no ensino formal e não-formal, além da responsabilidade e
competência na sua execução e regulamentação (TAVARES, 2009).
Na tentativa de reforçar os princípios da EA, o Ministério da Educação estabelece as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental que, conforme exigência legal a
Educação Ambiental deve estar presente em todas as etapas e modalidades de ensino. Em seu
Artigo 10 compete, portanto as Instituições de Educação Superior ―promover sua gestão e suas
ações de ensino, pesquisa e extensão orientadas pelos princípios e objetivos da Educação
Ambiental‖ (BRASIL, 2012, p. 3).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1141


Diante dos princípios e objetivos da Educação Ambiental, um aspecto relevante a ser
tratado, é a sua importância no desenvolvimento de diretrizes nas Instituições de Ensino Superior
(IES), visto que, estas contribuem no processo tecnológico, na preparação dos estudantes
universitários no fornecimento de informações e conhecimento que pode ser utilizado na construção
de uma sociedade sustentável e justa (TAUCHEN, BRANDLI, 2006).
Segundo Barbieri e Silva (2011), a Declaração de Talloires é um dos documentos mais
importantes sobre a educação ambiental nas IES, sendo específico na busca pelo modo de pensar
um novo modelo de desenvolvimento. Os autores ressaltam que, o documento assinado em 1990 é
constituído por dez macroações voltadas para o alcance do desenvolvimento sustentável, através do
comprometimento das universidades com educação, pesquisa, formulação de políticas e a relação
com temas da atualidade como população, meio ambiente e desenvolvimento, com o objetivo de
alcançar a sustentabilidade.
Quanto à inserção da Educação Ambiental nas universidades da América Latina, Silva
(2011, p. 118), salienta que:

A educação ambiental na América Latina foi introduzida nas universidades através da


realização do 1º Seminário sobre Universidade e Meio Ambiente na América Latina e no
Caribe, realizado na cidade de Bogotá na Colômbia, em 1985, que recomendou a
elaboração de um plano de ação regional de inclusão da temática ambiental no ensino
superior latino-americano.

O Programa Nacional de Educação Ambiental - ProNEA (2005) apresenta recomendações


mais específicas do papel das universidades no desenvolvimento da educação ambiental. Sugere
que as instituições de ensino compreendam em suas ações, estratégias a serem implementadas de
modo interdisciplinar com outras instituições sociais, além do ensino, pesquisa e extensão.
Ademais, o ProNEA valoriza o papel das IES no desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao
meio ambiente e a sua inter-relação com os atores sociais envolvidos nas pesquisas, ressaltando a
importância da educação ambiental como instrumento de tomada de decisão para os gestores
públicos locais.
No desafio de proporcionar uma formação crítica e inovadora para a sociedade, a educação
ambiental mediante um processo pedagógico, incentiva à construção de um senso crítico sobre a
necessidade da proteção ambiental e a mudança dos atuais padrões do modelo econômico. Para isso,
Rodrigues (2011 p. 95-96), ressalta que ―a educação ambiental tem um papel fundamental a nível
do processo de tomada de consciência da co-responsabilidade da coletividade na proteção ambiental
e, consequentemente contribui para uma maior participação a nível das decisões ambientais‖.
Complementar a essa visão do papel das universidades na formação de educadores
ambientais, Tozzoni-Reis (2001, p. 49) afirma que:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1142


A universidade, para o enfrentamento dos desafios sociais e políticos que hoje estão a ela
colocados, precisa enfrentar desafios paradigmáticos de transformação estrutural profunda,
terá que transformar o ensino, a pesquisa e a extensão pela construção radical da totalidade.
Nesse sentido, a formação dos educadores ambientais será pontuada pela ideia de que o
ambiente é cada vez mais, se considerarmos todo movimento de arranjos no capitalismo
internacional, um fenômeno social. Estudar a natureza é, cada vez mais, tomar decisões
histórico-científicas sobre a relação homem-natureza.

Com base nos enfoques abordados, soma-se a ideia de que pensar na formação de
educadores ambientais dentro das universidades significa referência de interdisciplinaridade com as
questões relativas aos campos político, social, econômico, pedagógico, ambiental, cultural e
científico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto, a Educação Ambiental apresenta-se como uma estratégia
fundamental na mudança de valores e comportamento, considerando o desenvolvimento sustentável
como agente integrador e processo emergente da manutenção dos sistemas ambientais,
socioeconômicos e culturais. Desse modo, a partir do que foi apresentado nesse estudo, novos temas
relacionados a esta linha de pesquisa poderão ser elaborados, contribuindo para a conscientização
ambiental.
Vale salientar que, o estudo conceitual aqui levantado traz apenas elementos iniciais da
discussão sobre a educação ambiental desenvolvida nas Instituições de Ensino Superior, sendo
possível concluir que futuros estudos devem ser realizados, a fim de que se contribuam na formação
de indivíduos e profissionais preparados e conscientes dos desafios do mercado e da sociedade em
geral, bem como no desenvolver de ações e projetos com vistas à sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, J.C; SILVA, D. Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental: uma trajetória


comum com muitos desafios. Revista de Administração Mackenzie, v. 12, n. 3, São Paulo,
mai./jun. 2011.

BARBOSA, G. S. O Desafio do desenvolvimento sustentável. Revista Visões, v.1, n. 4, Rio de


Janeiro, jan./jun. 2008.

BATISTA, I. H.; ALBUQUERQUE, C. C. de. Desenvolvimento Sustentável: novos rumos para a


humanidade. Aboré: Revista eletrônica. n. 3. 2007. ISSN 1980-6930.

BRASIL. Lei Nº 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial [da]

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1143


República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 18 set. 2014.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 set. 2014.
BRASIL. Lei Nº 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 abr. 1999. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 18 set. 2014.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Ministério da Educação. Programa Nacional de Educação


Ambiental. Brasília: MMA, 2005.

BRASIL. Resolução Nº 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação Ambiental. Diário Oficial da [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF, 2012. Disponível em: <
http://conferenciainfanto.mec.gov.br/images/pdf/diretrizes.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.

CADERNO SECAD. Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade. Brasília, DF: SECAD,


2007.

CAMPOS, R. A. A Educação Ambiental e a Formação do Educador Crítico: estudo de caso em


uma escola da rede pública. 2006. 110 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, 2006.

DACACHE, F. M. Uma Proposta de Educação Ambiental Utilizando o Lixo como Tema


Interdiscplinar. 2004. 80 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade
Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2004.

FILHO, V. B.; MELO, F. R. Educação Ambiental para a periferia. In: SEABRA, Giovanni (Org).
Educação Ambiental no Mundo Globalizado: uma ecologia de riscos, desafios e resistência. João
Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2011. cap. 5, p. 79-92.

GIESTA, L. C. Educação (Ambiental) e Gestão Ambiental nas Organizações: a importância de uma


abordagem inter/transdisciplinar. In: ENCONTRO NACIONAL E I ENCONTRO
INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE, 11., 2009,
Fortaleza, CE. Anais... Fortaleza, CE; [s.n.], 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1144


GONÇALVES, C. W. P. Os (Des)Caminhos do Meio Ambiente. 11. Ed. São Paulo: Contexto, 2004.

GONÇALVES, D. B. Desenvolvimento Sustentável: o desafio da presente geração. Revista Espaço


Acadêmico. ano 5, n. 51, ago. 2005.

GURSKI, B. C. et al. Conferência de Estocolmo: um marco na questão ambiental.


In: ENANGRAD, 23., 2012, Bento Gonçalves, RS. Anais... Bento Gonçalves, RS:
ENANGRAD, 2012.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo:


Scipione, 2010.

MARINHO, A. M.S. A Educação Ambiental e o Desafio da Interdisciplinaridade. 2004. 117 f.


Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo
Horizonte, MG, 2004.

MENDONÇA, P. R. Educação Ambiental como Política Pública: avaliação dos Parâmetros em


Ação – Meio Ambiente na Escola. 2004. 122 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Sustentável) – Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável, Brasília, DF,
2004.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006.

RODRIGUES, J. M. M; SILVA, E. V. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável:


problemática, tendências e desafios. 2. Ed. Fortaleza: Edições UFC, 2010.

RODRIGUES, M. G. Educação Ambiental e Sustentabilidade em Países Emergentes. In: SEABRA,


Giovanni (Org). Educação Ambiental no Mundo Globalizado: uma ecologia de riscos, desafios e
resistência. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2011. cap. 6, p. 93-102.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. São Paulo: Cortez,
2007.

SILVA, P. S. Ações Efetivas da Educação Ambiental na Prática Escolar. In: SEABRA, Giovanni
(Org). Educação Ambiental no Mundo Globalizado: uma ecologia de riscos, desafios e
resistência. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2011. Cap. 8, p. 113-124.

SOUZA, R. F. Uma experiência em Educação Ambiental: formação de valores socioambientais.

2003. 125 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1145


TAUCHEN, J.; BRANDLI, L. L. A Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: modelo
para implantação em campus universitário. Gestão & Produção, v. 13, n. 3, p. 503-515, 2006.

TAVARES, G. S. Estudo da Disciplinarização da Educação Ambiental em um Curso Superior de


Ciências Biológicas. 2009. 122 f. Dissertação (Mestrado em Educação Ambiental) –
Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2009.

TOZZONI-REIS, M. F. C. Educação Ambiental: referências teóricas no ensino superior. Interface –


Comunicação, Saúde, Educação, v. 5, n. 9, p. 33-50, 2001.

VELASCO, S. L. Anotações sobre a ―Rio + 20‖ e a educação ambiental ecomunitarista. Revista


Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, v. especial, março, 2013.

WCED. Report of the World Commission on Environment and Development: Our common future.
Oslo: Unated Nations, 1987.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1146


PROJETO VIVA O VERDE – EDUCANDO PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL

Virgínia Carla Fernandes de ARAÚJO48


Sub-Encarregada da Coleta Especial da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (URBANA)
virginia.carla@yahoo.com.br
Bruno Claytton Oliveira da SILVA49
Docente da UnP e Faculdade Estácio
brunoclaytton@yahoo.com.br

RESUMO
As discussões a cerca da temática ambiental, ao menos nas últimas duas décadas, tem tipo espaço
constante nos variados segmentos da sociedade e, por conseguinte, nas mídias hoje disponíveis. Os
métodos e técnicas desenvolvidos e aplicados ao controle e/ou mitigação dos inúmeros problemas
socioambientais atuais são variados. Uma relevante forma de enfrentamento de tais problemas está
relacionada ao desenvolvimento e socialização da Educação Ambiental entre jovens escolares.
Diante do exposto, o presente artigo visa apresentar os resultados obtidos com o desenvolvimento
do ‗Projeto Viva o Verde‘, aplicado em escolas da rede pública estadual. O projeto foi desenvolvido
no município do Natal-RN, onde se deu ênfase a implementação de ações que colocam em prática
os conhecimentos teóricos sobre o tema desenvolvidos, preliminarmente, em sala de aula. Além
disso, o projeto almejou contribuir para a expansão da educação ambiental nas comunidades
escolares e intensificar a importância da coleta seletiva realizada pela própria comunidade. Para
tanto, utilizou-se como estratégia metodológica a exposição da temática nas diversas disciplinas,
seguindo os princípios da interdisciplinaridade, de modo a despertar a atenção dos alunos para a
compreensão da importância da preservação e conservação socioambiental. Ademais, dentre as
práticas realizadas, as áreas ociosas da escola foram transformadas em áreas verdes, a partir do uso
responsável de materiais reutilizáveis; gerando na comunidade escolar, o sentimento de
responsabilidade pela conservação dos recursos naturais. Deste modo, a abordagem em curso
buscou fomentar o desenvolvimento de agentes multiplicadores das práticas de Educação
Ambiental preconizadas. Finalmente, a idéia básica do projeto foi proporcionar aos alunos o contato
com a temática socioambiental de maneira mais participativa, crítica e consciente, demonstrando
que é possível usufruir dos recursos naturais e, paralelo a isto, conservá-los.
Palavras-Chave: Meio Ambiente; Sustentabilidade; Educação Ambiental; Coleta Seletiva;
Implementação de Áreas Verdes.

48
Graduada em Administração (UnP). Especialista em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional (Faculdade
Estácio-RN).
49
Licenciado em Geografia (UFRN). Especialista em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido (IFRN). Mestre
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFRN).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1147


ABSTRACT
Discussions about the environmental theme, at least in the last two decades, has constant space in
varied segments of society type and therefore the media available today. The methods and
techniques developed and applied to control and / or mitigate the numerous socio-environmental
problems are varied. One important way of coping with such problems is related to the development
and socialization of Environmental Education among school youths. Given the above, this article
presents the results obtained with the development of 'Project Viva Verde', applied in state public
schools. The project was developed in the city of Natal-RN, where he emphasized the
implementation of actions that put into practice the theoretical knowledge on the subject developed,
preliminarily, in class. In addition, the project aspired to contribute to the expansion of
environmental education in school communities and enhance the importance of the selective
collection reality by the community itself. For both, it was used as a methodological strategy the
exposure of the subject in various disciplines, following the principles of interdisciplinary, in order
to arouse the attention of the students in understanding the importance of environmental
preservation and conservation. Also, among the practices carried out, the idle areas of the school
were turned into green areas, from the responsible use reusable materials; generating in the school
community, the feeling of responsibility for the conservation of natural resources. Thus, the current
approach sought to foster the development of multipliers of the practices performedEnvironmental
Education. Finally, the basic idea of the project was to provide students contact with the
socioenvironmental theme of more participatory, critical and conscious, demonstrating that it is
possible to make use of natural resources and, parallel to this, keep them.
Keywords: Environment; sustainability; Environmental Education; Selective Collection;
Implementation of Green Areas.

INTRODUÇÃO

O crescimento acelerado da população e o consumismo desenfreado, ambos associados aos


novos modelos de desenvolvimento do mundo globalizado, têm induzido as pessoas a consumirem
cada vez mais os diversos tipos de produtos. Esse consumo tem ocasionado consequências que são
bastante preocupantes, pois o descarte inadequado dos resíduos tem aumentado de forma
significativa à degradação do meio ambiente e acabam colocando em risco a integridade da
qualidade de vida da sociedade. Durante muitos anos, a preservação ambiental não teve a sua
devida importância e as organizações públicas não aplicavam muitos recursos nessa área, uma vez
que as prioridades sempre foram voltadas para outras áreas de atuação e o não comprometimento
por parte dos administradores públicos com essa preservação, acabou gerando uma série de
impactos negativos ao meio ambiente e, consequentemente, à saúde pública.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1148
A gestão pública tem um papel essencial na proteção ambiental, pois ela pode propiciar o
desenvolvimento e a ampliação de ações destinadas a esta área. Tais ações tornam-se ainda mais
eficazes com a elaboração de projetos governamentais direcionados a educação ambiental, pois,
atualmente, acredita-se que a expansão desse tipo específico de educação faz com que cidadãos
comuns sintam-se parte fundamental do processo de conservação do meio ambiente. Além disso,
possibilita que tais agentes compreendam que a qualidade de vida de toda a sociedade está
diretamente ligada a um meio ambiente equilibrado.
Ainda de acordo com Sorrentino, et al. (2005, p. 287) ―A educação ambiental, em
específico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política, no sentido de
contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita‖. A partir desta
passagem, percebe-se que a difusão da educação ambiental é uma necessidade nas comunidades
escolares, pois a partir do momento que os alunos tiverem o conhecimento sobre a importância da
preservação ambiental, esses começarão a atuar como defensores dos direitos humanos e da vida.
Torna-se assim evidente que a educação ambiental é um importante processo de construção
dos valores sociais de uma sociedade sustentável, sendo essencial à sadia qualidade de vida, pois
assim se terá em vista a redução e/ou extinção do consumo desenfreado, gerando o descarte
consciente dos resíduos originados pelo ser humano. Transformar hábitos e atitudes de uma
sociedade que possui uma cultura arraigada de valores e costumes mal formados não é uma tarefa
fácil de ser cumprida, mas quando se tem atos e projetos planejados de forma correta e realizados
com base e com recursos necessários, esses podem ser obtidos de forma eficiente e eficaz.
Nessa busca pela educação ambiental nas redes de ensino, a reutilização dos resíduos
gerados pela sociedade torna-se um fator crucial e a implantação da coleta seletiva nestas
comunidades acaba sendo uma ação fundamental para a minimização dos impactos negativos que
estes resíduos provocam ao meio ambiente e a saúde da sociedade. Por meio da coleta seletiva, a
gestão dos resíduos reverencia o fim social, pois consolida o reaproveitamento e a reciclagem de
materiais, gerando renda com inserção social por meio da participação dos catadores de materiais.
O propósito do projeto ‗Viva o Verde‘ é contribuir para a expansão da educação ambiental
nas comunidades escolares do município do Natal-RN e intensificar a importância da coleta
seletiva. Para que se atinjam os objetivos traçados, será necessário transformar áreas ociosas e sem
vida das escolas em espaços verdes com a utilização responsável de materiais reutilizáveis e
recicláveis, gerando assim, o sentimento de responsabilidade pela preservação ambiental em todas
as pessoas que compõe a escola. A implantação ativa da coleta seletiva se faz necessária para a
criação de multiplicadores das práticas de educação ambiental e para a internalização da
responsabilidade individual.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1149


Assim sendo, o projeto faz observância sobre os resíduos sólidos e as ações que visem
solucionar os problemas relacionados a esses, além de fazer referência à educação ambiental com
posição de destaque nos planos de gestão pública que tenham como objetivo central o
desenvolvimento sustentável e o bem comum.
Finalmente, o projeto objetiva difundir o conhecimento adquirido a partir das experiências
vividas nas comunidades escolares, uma vez que a absorção de novos princípios e valores irá
contribuir para a construção de sociedades sustentáveis nas suas diversas dimensões: social,
ambiental, política, econômica, ética e cultural. Com isso, espera-se que os impactos
socioambientais, causados pelas atividades antrópicas, e as responsabilidades humanas,relativas à
preservação e conservação ambiental, ficarão cada dia mais claras na visão dos escolares.

A Educação Ambiental nas Escolas

Diante dos inúmeros problemas socioambientais atuais, atitudes e ações que busquem
minimizar os efeitos de tal crise mundial precisam ser realizadas de forma urgente em diversas
escalas: global, regional e local. Para tanto, as ações devem ocorrer nas três escalas citadas,
principalmente a local, para que se possam conseguir resultados que venham beneficiar toda a
humanidade. Como instrumento básico, acredita-se que a educação pode atuar no sentido de
despertar a motivação e a sensibilidade das pessoas, portanto deve ser usada como instrumento que
possibilite o desenvolvimento sustentável (AGENDA 21, 2001).
De acordo com a UNESCO (2005, p. 44), ―Educação ambiental é uma disciplina bem
estabelecida que enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo,
preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente‖. Ou seja, a educação ambiental propicia
a participação das pessoas na busca pela defesa da qualidade de vida. Assim sendo, a educação
ambiental se torna imprescindível nas escolas uma vez que ela contribui para o processo de
formação das pessoas; como destaca Pontalti (2005, apud NARCIZO 2009, p. 88): “a escola é o
espaço social e o local onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização, iniciado em
casa, com seus familiares".
A Educação Ambiental, ao ser inserida no ambiente escolar por meio dos conteúdos e
oficinas de diversas disciplinas, poderá fazer com que as crianças, adolescentes e jovens
reconheçam o ambiente escolar como um lar, respeitando-o e preservando-o. Isso poderá contribuir
para que esses entendam que cuidar do meio ambiente deve fazer parte do cotidiano, sem distinção
entre rua, casa ou escola, pois o planeta é único e mantê-lo vivo depende da contribuição de todos.
Atualmente o Ministério da Educação exige que a Educação Ambiental seja trabalhada nas
escolas, mas independente disso, devemos ter a certeza que apenas por meio dela é que a sociedade
irá aprender e ensinar que nós não podemos, e nem temos o direito, de destruir o planeta e ainda,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1150
nos ajudará a ter a consciência de que temos o dever mantê-la para as futuras gerações de forma que
esses possam usufruir dos mesmos recursos aos quais fizemos uso. A própria Constituição
Brasileira dispõe no caput do seu artigo 225, sobre esse tema:

Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

São diversas as formas de se trabalhar a Educação ambiental nas escolas. Um dos


instrumentos norteadores para tal, presente na política educacional brasileira, são os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN‘s, 2002). Esses destacam que a interdisciplinaridade é indispensável à
temática ambiental, já que para que se possa ter uma melhor compreensão e internalização desse
tema é importante que seja feita a desfragmentação dos conteúdos e a reunião das informações
dentro de um mesmo contexto nas disciplinas diversas (NARCIZO, 2009).
De acordo com Sato (2003, p. 25):

Há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como


atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora de sala de aula, produção de
materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem
interdisciplinar entes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe aos
professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que
favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente
imediato, relacionado a exemplos de problemas ambientais atualizados.

O exposto mostra que a interdisciplinaridade pode ser evidenciada em projetos de Educação


Ambiental que sejam implementados nas escolas, pois esses ao serem desenvolvidos com a
participação ativa dos alunos provocarão o raciocínio e a criatividade desses, já que farão a união da
teoria com a prática através de atividades participativas e dinâmicas.
Buscando-se promover a implementação efetiva da Educação Ambiental nas escolas
Andrade (2000, apud NARCIZO 2009, p. 91 e 92) acredita que se deve optar ―por um processo de
implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado
adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração de autonomia dos atores
envolvidos‖. Ou seja, devem-se buscar projetos que gerem uma contínua reflexão que culmine na
mudança de mentalidade e que provoquem na comunidade escolar a ansiedade e o desejo de
estabelecer um futuro no qual as pessoas possam viver em equilíbrio com nossos semelhantes, com
o meio ambiente e com todos os seres vivos que nele vivem.
Torna-se evidente a importância da educação ambiental no planejamento estratégico das
escolas, visando o desenvolvimento sustentável, uma vez que a implementação de ações educativas
direcionadas a recuperação, proteção e melhoria sócio ambiental promovem a potencialização das
mudanças sociais e culturais e, consequentemente, a mudança do comportamento humano para que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1151


o cuidado com o planeta não seja apenas uma questão de consciência, mas sim, que seja um ato de
respeito e, principalmente, de cidadania.

Áreas Verdes

A criação de áreas verdes, nas comunidades escolares, é uma atividade de Educação


Ambiental que faz a comunidade atente mais para o ambiente no qual está inserida, possibilitando
assim, o compromisso socioambiental desses, que convertem o aprendizado das diferentes
disciplinas em algo mais significativo e, além disso, tornam o seu meio mais confortável.
A transformação de áreas ociosas e sem vida em áreas verdes promove em todos que
compõe a escola uma reflexão sobre a diferença entre o antes e o depois dessa mudança, uma vez
que os benefícios como melhoria da qualidade do ar no consumo de gás carbônico e na produção de
oxigênio, a redução das temperaturas e a harmonia da paisagem se evidenciam. As plantas oferecem
um conforto ambiental, já que interrompem, absorvem e refletem os raios solares. As áreas bem
arborizadas proporcionam temperaturas mais estáveis e deixam o ambiente mais fresco, além de
reterem materiais poluentes. As folhas das árvores aspiram gases tóxicos, como dióxido de carbono
e de enxofre. Os pássaros que são atraídos pelas plantas ajudam a espalhar sementes e auxiliam no
controle biológico dos insetos (LIMA e AMORIM, 2006).
Áreas verdes ajudam as pessoas a terem uma saúde física melhor já que essas podem
praticar atividades físicas ao ar livre. Os benefícios sociais obtidos com as áreas verdes também são
fáceis de serem identificados, pois esses espaços convidam as pessoas para momentos de descanso,
reflexão e lazer, contribuindo para a saúde mental das pessoas. Torna-se, com isso, uma
oportunidade de se ter convivência solidária entre a natureza e as pessoas, estabelecendo um
estreitamento entre elas com novos vínculos de relacionamentos. Ao mesmo tempo em que
usufruem do benefício dessas áreas, as pessoas começam a cuidar delas, pois o sentimento de
valorização e respeito aflora a cidadania (MEUNIER, 2008).
Estamos na era em que a educação para a cidadania significa a possibilidade de
sensibilização e motivação de todos que são co-responsáveis pela verdadeira defesa da qualidade de
vida do planeta, com isso a educação ambiental nas escolas se torna a peça transformadora das
pessoas que serão o futuro do nosso planeta. Portanto, a criação de áreas verdes no âmbito escolar,
além de melhorar a qualidade de vida dos envolvidos, diminui os transtornos causados pela
ociosidade desses. Além disso, a construção de áreas verdes serve como experiência de vida para
todos que compõe a comunidade escolar, tornando esses capazes de compreender e de praticar fora,
também, do ambiente escolar a importância da criação e preservação dessas áreas, tornando-se
agentes disseminadores das práticas ambientais na sociedade na qual está inserido.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1152


Reutilização de Materiais e a Coleta Seletiva

O crescimento desordenado das cidades e os novos padrões do consumo desenfreado


aumentaram gradualmente a produção de resíduos dos mais diversos tipos. Estudos mostram que
quando o volume de resíduos excede a capacidade de absorção do ambiente, seja este terrestre ou
aquático, geram-se graves impactos ambientais negativos, tornando-se uma ameaça à saúde pública,
visto que diversas doenças podem ser oriundas da má disposição dos resíduos sólidos. A
acumulação imprópria e a destinação inadequada dos resíduos sólidos podem, também, gerar a
poluição do solo, da água e do ar e ainda, causar a destruição ou degradação das paisagens.
(LOPES; NUNES, 2010).
Os resíduos sólidos são considerados hoje como um dos maiores poluentes ambientais, tanto
por causar grandes impactos negativos ao meio, quanto por representar uma das agressões mais
aparentes na cidade (poluição visual). Com isso, o reuso e a reciclagem dos resíduos, praticada com
na coleta seletiva, se tornam imprescindíveis à preservação do meio ambiente. Atualmente o planeta
vive sob a ameaça de exaustão dos recursos naturais não renováveis, evidenciando a necessidade da
reutilização e reciclagem dos materiais, que devem ser separados e recolhidos seguindo os moldes
pré-estabelecidos pelo sistema de coleta seletiva em vigor. Esse reaproveitamento dos resíduos
proporciona a não exploração de novas fontes de matérias-primas da natureza, uma vez que esses
serão reutilizados ou reciclados servindo como insumos para a fabricação de novos produtos,
voltando assim, para a cadeia produtiva e contribuindo para o desenvolvimento sustentável
(KOBARG, 2004).
A mudança de comportamento acontece quando as atitudes corretas são ensinadas na prática
e no cotidiano das pessoas, com isso a escola acaba tendo um papel muito importante já que ela
pode contribuir para a formação de cidadãos responsáveis. Ter a escola como referência das
práticas de reutilização de materiais e ver a sua participação efetiva na coleta seletiva ajuda as
pessoas que convivem no ambiente escolar a se tornarem mais conscientes já que ela dará sentido e
relevância à mudança de comportamento desses. Além disso, possibilita que essa tomada de
consciência se perpetue para as futuras gerações, sendo as ações ambientalmente corretas aplicadas
dentro e fora da escola.
Segundo Reigotta (1998, p. 47), ―a escola tem sido, historicamente, o espaço indicado para a
discussão e aprendizado de vários temas urgentes da atualidade, como resultado da sua importância
na formação dos cidadãos‖. Segundo o exposto, a escola traz em seu histórico a sua importância
para a criação de alunos formadores de opinião, pois é por meio dela que os a maioria dos contextos
da atualidade são transmitidos com base em pensamentos de estudiosos e debatidos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1153


A maioria das pessoas confunde reutilização de materiais com a reciclagem e a coleta
seletiva. Segundo Fonseca e Braga (2010, p. 146) ―O reuso consiste no aproveitamento do resíduo
sem transformação física ou físico-química‖. Portanto, o resíduo continua o mesmo, uma vez que
não sofre alteração física nem processamento complexo, sendo apenas limpo para ser utilizado
novamente independendo de ser para a mesma finalidade na qual foi criado ou não. Para Garcez
(2010, p. 14) ―a reciclagem é o termo utilizado para designar o reaproveitamento de materiais como
matéria-prima para um novo produto‖,ou seja, na reciclagem os resíduos são transformados em
insumo para a fabricação de um novo produto, evitando assim, que novos recursos sejam retirados
da natureza.
A Coleta Seletiva tem como objetivo fazer o recolhimento de materiais recicláveis que
devem ser separados na fonte geradora para que possam ser encaminhados para a reciclagem. A
prática da coleta seletiva proporciona um melhor aproveitamento dos resíduos gerando benefícios
ambientais, econômicos e políticos uma vez que permite a reciclagem de materiais que seriam
descartados, contribuindo para a redução da retirada de recursos da natureza, diminuindo o
consumo de energia, o desperdício, a poluição do ar, do solo e da água, além de minimizar os gastos
com a limpeza urbana e de gerar emprego e renda a pessoas de baixa renda (KUTNIKAS, 2009).
A reutilização de materiais e a implantação da coleta seletiva nas escolas devem ter como
objetivo a promoção de uma mudança de comportamento em todos que a compõe, mediante a
formação de cidadãos capazes de refletir e compreender que o desenvolvimento econômico precisa
estar atrelado à conservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida. Com isso, as
ações implantadas devem estar voltadas para minimização da problemática gerada pela má
disposição e destinação inadequada dos resíduos, fomentando assim, o comprometimento de todos
com a sustentabilidade ambiental.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Estudo

A implementação do projeto ocorreu em dezembro de 2012 na Escola Estadual Professor


Antônio Pinto de Medeiros, localizada na Rua Rio Paranapanema, S/N, Pitimbú, CEP: 59068-330 -
Natal-RN, que foi fundada em março de 1984, tendo assim, 30 anos de funcionamento. A referida
escola tem um total de 1.308 alunos, sendo o nível desseso fundamental II e Ensino Médio,
possuindo seu quadro de docentes composto por 42 professores. As disciplinas pertencentes à grade
curricular da escola são todas as exigidas pela matriz curricular pertencentes ao Estado do Rn,
fazendo ela parte do Programa ―Ensino Médio Inovador‖ do Governo Federalque diz:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1154


O Programa Ensino Médio Inovador – ProEMI, instituído pela Portaria nº 971, de 9 de
outubro de 2009, integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, como
estratégia do Governo Federal para induzir a reestruturação dos currículos do Ensino
Médio. O objetivo do ProEMI é apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas
curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, ampliando o tempo dos estudantes na
escola e buscando garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornem o
currículo mais dinâmico, atendendo também as expectativas dos estudantes do Ensino
Médio e às demandas da sociedade contemporânea (portal.mec.gov.br).

Com base nesse programa, as escolas oferecem Oficinas aos alunos visando proporcionar
oportunidades de aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos em sala de aula por meio de
experiências práticas. A referida escola oferece aos alunos uma ‗Oficina de Meio Ambiente e
Qualidade de Vida na Escola‘ que busca ampliar o conhecimento dos alunos sobre a preservação e
conservação do meio ambiente.

METODOLOGIA

O projeto foi estruturado pela idealizadora e contou com a ajuda da docente Ana Cynthia,
educadora da ‗Oficina de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola‘, para a aquisição de todo
o material necessário e divulgação. Antes de implementado, o projeto foi apresentado aos alunos da
‗Oficina de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola‘, do turno vespertino, por meio de
palestra de educação ambiental que abordou a importância da participação de todos na preservação
do meio ambiente para que haja continuidade da vida no planeta. Na semana da implementação,
todas as séries e turmas que compõe os turnos matutino, vespertino e noturno, tiveram palestra
sobre o projeto abrangendo sua finalidade e também obtiveram informações de como esse seria
realizado. Os alunos da oficina supracitada, além da palestra sobre o projeto tiveram instruções de
como iriam trabalhar com os instrutores antes, durante e depois de sua execução. Para que o projeto
fosse desenvolvido de forma eficiente e eficaz foi necessário valer-se de pesquisas bibliográficas e
análises de revistas e livros impressos e eletrônicos relacionados ao assunto. Todas as decisões que
foram tomadas durante a implementação do projeto estiveram de comum acordo entre todos os
envolvidos nela.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Educação Ambiental (EA) deve ser percebida como uma importante aliada do currículo
escolar já que busca a obtenção de um conhecimento integrado. Segundo Sato (2002, p. 24), a EA
―sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos
seres humanos‖. Sendo assim, as práticas da EA apresentam-se como uma peça fundamental na
vida escolar da sociedade como um todo.
O Projeto Viva o Verde foi criado com o intuito ressaltar a importância da gestão pública na
educação das crianças, dos adolescentes e jovens buscando evidenciar a necessidade de programas e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1155
projetos educacionais nas escolas do município do Natal-RN. Com isso, espera-se expandir a
educação ambiental para que possamos ter uma sociedade mais consciente e um planeta com um
presente e um futuro mais sustentável. Portanto, esse projeto surge como uma alternativa de pôr em
prática a teoria aprendida com a EA já que tem como objetivo buscar garantir as futuras gerações o
acesso aos recursos naturais e seus benefícios que são usufruídos pela geração atual, por meio do
estímulo dos alunos das escolas públicas a preservação do meio ambiente, criando assim,
multiplicadores das práticas de educação ambiental.
Como o projeto tem como uma de suas finalidades a reutilização de materiais recicláveis e
criação de áreas verdes foram projetadas três espaços verdes em locais antes ociosos da escola.
Dentro das áreas projetadas foram reutilizados pneus pintados, garrafas pet e grama esmeralda para
deixar o ambiente colorido e alegre. Mudas de plantas nativas também foram plantadas e
revigoradas para que os ambientes se tornassem mais naturais, tornando o ar mais puro.
Os alunos ajudaram desde a limpeza geral do espaço físico da escola, como varrição, pintura
de muro e retirada do lixo e entulhos, até a implementação propriamente dita das áreas. Os alunos
que fazem parte da ‗Oficina de Meio Ambiente e Qualidade de Vida‘ trabalharam duro junto à
equipe autoral do projeto em diversas atividades: enchendo garrafas, trabalhando com o cavador
para enterrar as garrafas e ciscador do tipo leque para retirada dos resíduos antes existentes. Todos
que compõe a escola envolveram-se na execução do projeto, cada um com sua forma e jeito de
contribuir. Houve também a aquisição de lixeiras próprias para a implementação da coleta seletiva,
possibilitando além da separação dos resíduos provenientes da própria escola, que os alunos possam
trazer os materiais recicláveis que tiverem em casa.

Figura 1: Jardim Arco Íris - ANTES Figura 2: Jardim Arco Íris – DEPOIS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1156


Figura 3: Pneus Bate Papo - ANTES Figura 4: Pneus Bate Papo – DEPOIS

Figura 5: Jardim Verde de PET– ANTES Figura 6: Jardim Verde de PET– DEPOIS

A escola apresentou os espaços verdes a todos os alunos, pais, empregados e as pessoas do


bairro na Mostra Cultural 2012, que ocorreu nos dias 13 e 14/12/2012, contando com a presença da
Secretária de Educação do Estado do Rio Grande do Norte, professora Betânia Leite Ramalho. Na
oportunidade, todos ficaram maravilhados com a ―nova‖ escola. Em uma entrevista ao quadro
Ecoar do Jornal 2ª Edição da TV Ponta Negra, vinculada no dia 17/12/2012, dois alunos que fazem
parte da ‗Oficina de Meio Ambiente e Qualidade de Vida‘ relataram que jamais imaginaram que a
escola iria se transformar naquele ambiente tão agradável, tão prazeroso e tão bonito. Alegaram
ainda, que iriam fazer de tudo para mantê-la sempre assim e que levariam essa experiência para
suas vidas fora da escola, pois todos merecem viver em ambientes como aquele, tendo a
oportunidade de desfrutar da natureza e dos recursos naturais com a beleza e magia que ela
proporciona inclusive seus filhos e netos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A globalização dos mercados e a alta competitividade geram a exploração abusiva dos


recursos naturais. É nessa perspectiva que emerge o papel da educação ambiental: construção da
conscientização das comunidades para que o desenvolvimento econômico aconteça de maneira
sustentável buscando a preservação e conservação do meio. Para isso, se torna imprescindível a
internalização das bases do desenvolvimento sustentável que visam à utilização de técnicas mais
equilibradas de exploração dos recursos, pautadas no uso racional desses.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1157


Percebe-se que a problemática ambiental está diretamente ligada a falta de compreensão e
consciência das pessoas, onde isso advém de uma cultura arraigada de maus hábitos oriundos de
uma grande deficiência da educação oferecida nas escolas. Por mais que avanços já sejam
percebidos em relação a outros períodos da história, as políticas públicas ainda deixam muito a
desejar no que diz respeito à mitigação dos problemas relacionados ao meio ambiente.
Sem dúvida, o arcabouço jurídico, que trata da temática ambiental, foi bastante ampliado
nos últimos 20 anos. Porém, a prática e/ou aplicação de tais instrumentos jurídicos ainda não
atingem os objetivos traçados devido a diversos fatores. Como conseqüência, as políticas acabam
por gerar resultados incipientes, quando comparados com àqueles projetos.
Para que a Educação Ambiental possa atingir o seu objetivo nas escolas é preciso que ela
seja aplicada como um processo de aprendizagem contínua, com atividades que consigam colocar a
teoria de sala de aula no cotidiano dos alunos, indo além do ensino formal. Assim, a educação
ambiental valorizará as várias formas de conhecimento formando, assim, cidadãos mais conscientes
e capazes de compreender as interações entre os fenômenos em escala local e global.
Finalmente, entendemos que a problemática ambiental não se restringe apenas a relação do
ser humano com a natureza. Na verdade ela passa por uma questão de reflexão sobre a relação das
atitudes e hábitos dos homens com o meio, uma vez que essas são decisivas para a manutenção e
melhoria da qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília, DF: Senado, 1988.

BRASIL. Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente -PNUMA. Disponível em:
<http://www.un.org/spanish/News>. Acesso em: 05 Jan. 2014.

BRASIL. Ensino Médio Inovador. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso


em: 08 Jan. 2014.

DAMASCENO, A. M; MERCADO, L. P. L; ABREU, Nitecy Gonçalves de (Orgs). Formando o


professor pesquisador do ensino médio. Maceió: EDUFAL, 2007.

FONSECA, V. M.; BRAGA, S. R. (Orgs). Entre o Ambiente e as Ciências Humanas: artigos


escolhidos e ideias compartilhadas. São Paulo: Biblioteca 24X7, 2010.

GARCEZ, L. C. Lixo. Coleção Planeta Saudável. 1. ed. São Paulo: Callis Ed., 2010.

KOBARG, L. C. Reciclagem. Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1158


KUTNIKAS, R. Entendendo a importância da coleta seletiva. 2009. Disponível em:
<http://www.meioambienteeetc.blogspot.com.br>. Acesso em: 09 Jan. 2014.

LIMA, V; AMORIM, M. C. C. T. importância das áreas verdes para a qualidade ambiental das
cidades. Revista Formação, nº 13, p.139 – 165. Disponível em:
<http://www.revista.fct.unesp.br>. Acesso em: 07 Jan. 2014.

LOPES, F. M; NUNES, A. N. Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à educação


ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis – GO.
Revista de Educação. Vol.13, Nº 15, 2010.

MEUNIER, I. Por que as áreas verdes são tão importantes para uma cidade. 2008. Disponível em:
<http://www.ufrpe.br>. Acesso em: 09 Jan. 2014.

NARCIZO, K. R. S. Uma análise sobre a importância de trabalhar educação ambiental nas escolas,
2009. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental - Programa de Pós-Graduação em
Educação Ambiental - Universidade Federal do Rio Grande – FURG.

OLIVEIRA, V. T. L. A importância das áreas verdes no ambiente escolar. 2012. Disponível em:
<http://www.saojosenaweb.wordpress.com>. Acesso em: 07 Jan. 2014.

PNUMA, Relatório do. Impactos das mudanças climáticas estão mais intensos e ocorrendo mais
rapidamente. 2009. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br>. Acesso em: 10 Jan. 2014.

REIGOTTA, M. Desafios à educação ambiental. In: Educação, meio ambiente e cidadania.


CASINO, F; JACOBI, P; OLIVEIRA, J. (org.). São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, 1998.

SANTOS, E. T. Educação ambiental na escola: conscientização da necessidade de proteção da


camada de ozônio. Universidade Federal de Santa Maria – RS, 2007.

SATO, M. Educação ambiental. São Carlos: Rima, 2002.

____________. Educação ambiental. São Paulo: Santos J. E, 2003.

SORRENTINO, M; TRAJBER, R; MENDONÇA, P; JUNIOR, L. A. F. Educação ambiental como


política pública. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005.
Disponível em:<http://www.scielo.br>. Acesso em: 05 Jan. 2014.

UNESCO. Década das nações unidas da educação para um desenvolvimento sustentável, 2005-
2014: documento final do esquema internacional de implementação. – Brasília: UNESCO, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1159


A REFLEXÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS NUMA ESCOLA DE PEDAGOGIA
DA ALTERNÂNCIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA INTERDISCIPLINAR
PARA ENSINO DOS CONTEÚDOS MATEMÁTICOS

Charles MOURA NETTO


Professor do curso de Pedagogia da FARESE
cmnetto@gmail.com
Sandra Maria GUISSO
Professora do curso de Pedagogia da FARESE
sguisso@gmail.com

RESUMO
Este trabalho propôs apresentar uma metodologia de ensino interdisciplinar dos conteúdos da
disciplina de matemática de forma contextualizada com problemas ambientais observados no
cotidiano dos alunos do 3º ano do ensino médio num escola do campo. O projeto foi aplicado em
uma escola do interior de Santa Maria de Jetibá-ES denominada Escola Família Agrícola, que é
adepta à Pedagogia da Alternância e trabalha práticas agrícolas com os alunos. Pode se observar
durante a execução do projeto, que os alunos se mostraram interessados por atividades
interdisciplinares, pois, de certa forma, esse tipo de abordagem os motivou pelo fato de ser
diferenciada do cotidiano e levar a reflexão e mudança de atitude.
Palavras-chave: Matemática, Interdisciplinaridade, Educação Ambiental.

ABSTRACT
This paper proposed to introduce an interdisciplinary teaching methodology of the contents of the
discipline of mathematics in a contextualized with environmental problems observed in the daily
life of the students of the third year of high school in a field school. The project was implemented in
a school in the interior of Santa Maria de Jetibá-ES, Agricultural Family, which is adept at
pedagogy of Alternation and works with students agricultural practices. It can be observed during
the execution of the project, the students were interested in interdisciplinary activities, because, in a
way, this kind of approach the motivated by the fact be differentiated from daily life and lead to
reflection and change in attitude.
Keywords: Mathematics, Interdisciplinary, Environmental Education.

INTRODUÇÃO

As preocupações com o meio ambiente vêm aumentando gradualmente com o passar dos
anos, em função de desequilíbrios gerados pelo uso inadequado dos recursos naturais. A
humanidade se encontra em momento ímpar de sua história, com inúmeras transformações que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1160


propiciam adequações também singulares. A velocidade das informações, a globalização, a
expansão do comercio internacional, o incremento da população mundial, o consumo desenfreado, a
desigualdade social são algumas dessas transformações que desencadeiam consequências
preocupantes para o equilíbrio do planeta Terra. Estes fatos requerem uma revisão dos valores
atitudinais no cotidiano da sociedade moderna. Esta revisão passa obrigatoriamente por vários
âmbitos da vida dos indivíduos e consequente aprendizagem. A aprendizagem ocorre de várias
formas e em vários espaços, não é somente a escola o espaço destinado à obtenção do
conhecimento, pois a vida cotidiana também ensina, porém o conhecimento escolar, quando bem
trabalhado e problematizado, é essencial para a formação do sujeito que irá fazer conexões com o
conhecimento e a vivência histórica. Proporciona a obtenção de novas ideias, novos objetivos,
novas formas de pensar, e novas propostas. A educação é um processo que se desenvolve lenta e
gradativamente, e para ser transformadora deve ser baseada em mudanças, pois, a transformação só
ocorre quando há uma prática de educação problematizadora e, sobretudo crítica, que permita ao
indivíduos se expressar e pensar por si só. Discussões sobre a problemática do meio ambiente são
feitas em vários estágios do desenvolvimento humano. Os problemas ambientais, desde sempre são
discutidos pela sociedade em convenções, reuniões, igrejas, templos e escolas, pois a degradação do
Planeta é um assunto que deve ser discutido e ponderado por todos os habitantes. Porém, se faz,
cada vez mais, necessária a discussão da temática meio ambiente na sala de aula, a partir da
Educação Básica, pois é na escola onde se formam cidadãos, onde se criam estruturas para a
formação de opiniões e comportamentos.
Neste sentido, este trabalho possui como tema o ensino da Matemática por meio da
resolução de problemas ambientais, propondo aos alunos uma forma diversificada e contextualizada
para estudar Matemática, conferindo valores às aulas, e proporcionando ao ensino tradicional uma
forma de construção de significados nas vidas dos alunos. Thiollent (2011) afirma que ―a escolha do
tema da pesquisa se dá por meio do interesse dos pesquisadores pela urgência do problema
observado.‖
A abordagem da Matemática com o tema meio ambiente pode tornar o ensino mais
enriquecido e eficaz, fazendo com que os alunos conheçam as razões para se preservar o meio
ambiente e percebam a grande importância de aprender Matemática e sua relação direta com várias
questões e problemas do cotidiano. O problema deste trabalho baseou na seguinte questão, como o
uso de atividades envolvendo problemas ambientais do cotidiano dos alunos pode contribuir para
uma aprendizagem mais significativa da Matemática?
As questões ambientais são uma ferramenta interessante para demonstrar como a
Matemática está presente em nossa vida, porém, meio ambiente não é o único tema a nos permitir
esta demonstração, porque a Matemática tem uma vasta aplicabilidade em várias situações, sendo
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1161
assim, a sensibilização sobre a problemática do meio ambiente pode ser feita juntamente ao ensino
da Matemática. D‘Ambrósio (2005) afirma que ―a Matemática pode ajudar na construção de uma
melhor qualidade de vida, e que o conhecimento matemático integrado ao cotidiano produz
contribuições mais significativas para a formação dos alunos.‖
O objetivo da pesquisa foi propor uma metodologia de ensino de alguns conteúdos da
disciplina Matemática que utilize os elementos da Educação Ambiental, desenvolvendo
conhecimentos com os alunos que possibilitem uma reflexão e consequente aquisição de valores e
atitudes em prol do meio ambiente.

DESENVOLVIMENTO

Foi escolhido para aplicar o projeto uma escola situada no interior da cidade de Santa Maria
de Jetibá, no estado do Espírito Santo denominada Escola Família Agrícola – MEPES, uma escola
de zona rural que adota a Pedagogia da Alternância, em uma turma do terceiro ano do ensino
médio. A escolha de escola do campo, distante 37 km da sede do município, deve-se em razão de
que essa escola trabalha com práticas de agricultura, os alunos são filhos de agricultores, e em
função disso, são confrontados com assuntos ambientais desde cedo. Em seu ambiente familiar
campesino, os alunos criam um lanço maior pelo meio ambiente do que em alunos de outras
instituições onde não há atividades práticas que envolvem questões ambientais como foco. Outro
fato importante, é que a instituição trabalha com pedagogia da alternância, onde os alunos ficam
uma semana em casa, e uma semana na escola, permite que os conceitos aprendidos durante a
semana em que permaneceram na escola possam ser colocados em prática na semana em que
estiverem em casa, mesclando gnoses e praxis. Essa prática de alternativa contribui para a
construção de objetivos que visam à aplicação de saberes no desenvolvimento de práticas capazes
de ocasionar várias mudanças cotidianas, com base no que se aprendeu.

Na Pedagogia da Alternância, o saber prático obtido junto à família, na execução das


tarefas e a teoria, obtida na escola durante a troca de experiências e absorção dos conteúdos
ensinados, se fundem. Assim, podem auxiliar a aprofundar a compreensão do que ocorre no
dia-a-dia, se amplia e se consolida, facilitando ao jovem alternar e valorizar aquilo que ele
faz e sabe (CALIARI, ALENCAR, AMÂNCIO, 2002, p.5).

No primeiro momento da aplicação do projeto fomos à instituição para conhecer a


metodologia utilizada pelo professor da disciplina matemática e em um aspecto geral avaliar e
registrar quais as maiores dificuldades encontradas por estes alunos na aprendizagem da disciplina.
Também foi analisada a estrutura, corpo discente, metodologias de ensino e Projeto Político
Pedagógico. Foi aplicado um questionário aos alunos para levantamento dos principais problemas
ambientais percebidos pelos discentes. A partir dos dados levantados e do ambiente escolar foi
elaborada uma metodologia de ensino da disciplina matemática que pudesse contemplar os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1162


conteúdos da Educação Ambiental, e os problemas mais recorrentes no cotidiano dos discentes.
Para a elaboração e escolha dos exercícios aplicados, foram levados em consideração alguns
aspectos tais como o conteúdo em que os alunos estavam estudando no momento, o fato de que eles
devem trabalhar o raciocínio lógico, que devem saber analisar e interpretar gráficos, e, sobretudo,
imprimir suas opiniões nas atividades propostas. Foram feitas doze intervenções em nove dias, em
algumas intervenções foram aplicados exercícios, algumas foram propostas atividades dialéticas
com estimulo para resolução de problemas ambientais locais e aulas de campo. As intervenções
foram aplicadas não apenas nas aulas de Matemática, mas também nos foi disponibilizado algumas
aulas de outras disciplinas para que fosse possível a aplicação do projeto e atingir os objetivos da
pesquisa. Tendo conhecimento da real situação dos alunos e do ambiente que os cercam fizemos
então uma análise dos principais problemas ambientais que estão presentes na vida desses alunos,
por meio de um debate com os mesmos, e a partir daí foi elaborada uma proposta de ensino da
Matemática que pôde contemplar os parâmetros da Educação Ambiental, e os problemas mais
recorrentes no cotidiano dos alunos. Elaboramos exercícios dentro dos conteúdos que o professor da
disciplina de Matemática estava ensinando, e também conteúdos que os alunos já haviam estudado,
para que não atrapalhássemos o andamento dos conteúdos e para que fosse seguida a proposta
curricular da escola. Por ser uma turma de 3º ano, a qual os alunos estavam inscritos para o Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM foi elaborado exercícios contextualizados no mesmo nível das
questões que o ENEM aborda, parte desses exercícios foram autoria própria e parte tirados dos
cadernos de questões do ENEM. Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema que nos
possibilitou melhor conhecer sobre Educação Ambiental, ensino da Matemática e Pedagogia da
Alternância, com ideias de autores como Paulo Freire, Isabel Carvalho, Reigota, Ubiratan
D‘Ambrósio, e Rogério Omar Calliari.
Na primeira intervenção foi realizada uma dinâmica sobre a importância da educação
ambiental e a inserção na sala de aula, utilizando a transversalidade. Foi utilizado, com os alunos,
uma dinâmica chamada Dinâmica de Educação Ambiental e Ecologia - Completar as frases, onde o
objetivo foi conscientizar os alunos e o professor sobre a preservação do meio ambiente,
promovendo a troca de ideias sobre questões ambientais através de uma brincadeira de completar
frases de improviso, e perceber as opiniões dos alunos sobre o tema.
A segunda intervenção foi iniciada com uma breve discussão sobre a produção e o
tratamento do lixo. Após este debate revisamos os conteúdos de porcentagem e regra de três.
Posteriormente, foi solicitado que os alunos sentassem em duplas e então foi aplicado uma lista de
exercícios xerocopiados contendo as informações esplanadas durante o debate, a proposta levar os
alunos a reflexão e ao debate sobre a quantidade de lixo que é produzida por uma pessoa e como
podemos transformar essa realidade com a mudança nos nossos hábitos e levar os alunos a
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1163
analisarem questões ambientais principalmente sobre a poluição e utilizarem a Matemática para
resolver os problemas.
Iniciando a terceira intervenção solicitamos para que os alunos formassem quatro grupos
para a realização das atividades propostas. O objetivo desta aula era analisar gráficos abordando
problemas e questões ambientais; Levar os alunos a refletirem sobre os problemas ambientais
enfrentados; exercitar o raciocínio lógico; exercitar a capacidade de resolução de problemas em um
determinado tempo; ampliar o conhecimento sobre aspectos já trabalhados anteriormente nas aulas
de matemática e desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo e promover a troca de
conhecimento entre os integrantes do grupo.
Na realização da quarta intervenção trabalhamos regra de três, envolvendo informações
sobre energia elétrica. Os objetivos da realização desta aula foram fazer com que os alunos
refletissem sobre a quantidade de energia gasta nas tarefas domésticas diárias, analisar as questões e
problemas ambientais aplicando os conhecimentos matemáticos pertinentes para responder as
questões e desenvolver o raciocínio lógico-matemático. Para a elaboração deste plano de aula, foi
considerado o fato de que muitas vezes, a energia elétrica é usada de forma abusiva, sem que a
gente perceba, e a nossa intenção com esses exercícios foi demonstrar aos alunos que pequenas
mudanças de hábito podem fazer com que a conta de energia saia mais barata no fim do mês, ao
mesmo tempo em que se possam preservar os recursos utilizados para a obtenção e fornecimento da
energia.
A quinta e sexta intervenções consistiram em trabalhar o conteúdo matemático porcentagem
e o consumo de energia elétrica como questão ambiental. Os objetivos das aulas foram: Mostrar aos
alunos que é possível estabelecer uma ação entre a Educação Ambiental e a Matemática ensinada,
tornando o processo de ensino-aprendizagem dessa ciência mais atraente e prazeroso; auxiliar os
alunos a compreender e analisar os problemas relacionados às questões ambientais e trabalhar com
os alunos a criação e interpretação de gráficos.
Dividimos a turma em quatro grupos e entregamos a eles uma reportagem sobre o consumo
de energia elétrica e o que o mau uso deste recurso pode causar ao meio ambiente, estas reportagens
foram lidas e discutidas entre os alunos de cada grupo. Após o debate interno dos grupos pedimos
que um grupo de cada vez lessem as respectivas reportagens para toda a turma e as considerações
que foram levantadas durante o debate, feito isso foi feita uma discussão com toda a turma. Após,
entregamos aos alunos uma conta de luz e uma lista de consumo de diferentes eletrodomésticos
(manipulados de acordo com o consumo total das contas de luz) a cada grupo onde pedimos que os
alunos calculassem a porcentagem do consumo de energia de cada eletrodoméstico com relação ao
consumo mensal de uma casa e a porcentagem do gasto mensal com relação ao gasto anual de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1164


energia. Com os percentuais calculados, os alunos confeccionaram gráficos que depois foram
comparados com os dos demais grupos.
Na realização da sétima intervenção foram trabalhados os conteúdos de Medidas de
Tendência Central e Medidas de dispersão, onde dividimos a sala em quatro grupos e pedimos que
eles saíssem da sala e medissem o diâmetro de no mínimo dez arvores com o auxilio do material
que disponibilizamos, ao voltarem para a sala distribuímos materiais para que os alunos
produzissem cartazes contendo os cálculos de Medida de tendência central: média, mediana, e
moda, utilizando os valores das medidas coletadas.
A aplicação da oitava intervenção consistiu em trabalhar com os alunos o uso e a economia
de água. Para a elaboração desta intervenção foi levado em conta o fato de que a escassez de água é
evidente em várias partes do planeta. Foi trabalhado o raciocínio lógico sem se ater somente a
fórmulas. Os exercícios desta aula envolviam raciocínio lógico, regra de três e medidas de
grandeza, dos quais já haviam sido trabalhados anteriormente .
Na nona e décima intervenção foi realizada uma gincana pedagógica com os alunos, para
estimular o raciocínio lógico, e para diferenciar a forma de intervenção. Com os alunos sentados em
duplas, distribuímos exercícios xerocopiados com quatro questões de diferentes problemas
ambientais. Após a correção dessas atividades propomos aos alunos uma atividade diferente.
Pedimos para que cada dupla escolhesse um problema ambiental dos que tinham nos exercícios e
fizessem uma pequena redação falando a respeito do que eles achavam que poderia ser uma
possível forma de redução de agressão à natureza. O objetivo era c que os alunos refletissem e
expandissem suas ideias sobre os problemas ambientais e as possíveis soluções, ou formas de
mitigar os impactos. Nas duas últimas intervenções uma disputa com perguntas que exigiram
raciocínio lógico e conhecimentos básicos de Matemática. Dividimos os alunos em quatro grupos os
quais nomeamos de grupo I, grupo II, grupo III, e grupo IIII. Foram distribuídas as perguntas
viradas para baixo, e quando os quatro grupos tinham as perguntas dávamos o sinal para que eles
pudessem começar a responder. O primeiro grupo a terminar tinha que sinalizar, para que não
houvesse dúvidas. Ao final de cada rodada a pergunta era corrigida no quadro e comentada por nós.
Ao final do jogo, distribuímos bombons como forma de recompensa para toda sala, e como foi esta
a última intervenção conversamos com os alunos sobre as intervenções anteriores onde os alunos
falaram que foram, sobretudo, construtivas para o ensino e aprendizado da disciplina de Matemática
e para a sensibilização sobre a Educação Ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1165


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho abordou como o uso de atividades matemáticas envolvendo


interdisciplinarmente o tema meio ambiente pode contribuir para a aprendizagem e propiciar os
alunos a reflexão sobre questões ambientais oferecendo ferramentas para uma mudança de hábitos.
Pode se observar durante a execução do projeto, que os alunos se mostraram interessados
por atividades interdisciplinares, pois, de certa forma, esse tipo de abordagem chamou a atenção
pelo fato de ser diferenciada do cotidiano. Pelo fato de a escola já trabalhar com a temática
ambiental, os debates foram mais interessantes, pois, os alunos foram levados a (re) pensar sobre o
assunto, e por já tem opiniões e sugestões sobre meio ambiente e problemas ambientais. Durante a
aplicação dos exercícios, os alunos não apresentaram grandes dificuldades com relação aos
conteúdos matemáticos, apresentaram dúvidas na resolução. Nem todos os exercícios exigiam uma
fórmula pronta, de uma forma geral os alunos estão condicionados a se ater ao uso de fórmulas
prontas, e em função disso apresentam dificuldades quando as questões exigem alguma forma de
raciocínio lógico e outros artifícios para encontrar a solução.
As intervenções em que foram propostos exercícios foram bastante produtivas, porém, os
alunos se mostraram mais motivados quando eram atividades de campo com coleta de dados e
posterior aplicabilidade de dados para reflexões. Produziram textos expondo suas opiniões a
respeito de temas ambientais, isso reforça a ideia de que o conhecimento deve ser construído pelo
aluno mediado pelo professor, pois, os alunos gostam de ser ouvidos, de exprimir suas opiniões, de
indagar, de buscar soluções. Ficou explícito que a questão ambiental pode e deve ser trabalhada no
contexto dos discentes e forma interdisciplinar, neste trabalho, especificamente com os conteúdos
matemáticos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC,1996.

CALIARI, Rogério O.; ALENCAR, Edgard; AMÂNCIO, Robson. Pedagogia da Alternância e


Desenvolvimento. Disponível em <http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/article/view/258>
vol.4, nº 2, 2002. Acesso em 18/11/13.

D‘AMBRÓSIO, U; Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. 2ª. ed. Belo


Horizonte: Autêntica, 2005.

CASCINO, F. Educação ambiental: princípios, histórias, formação de professores. São Paulo:


SENAC, 1999.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1166


FREIRE, P. Educação e mudança. 15ª Ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1979.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GIL, A. C; Como elaborar projetos de pesquisa. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2009.

MOREIRA, S. R; MESSEDER, J. C. Um estudo investigativo junto a professores da rede pública


de Nova Iguaçu. Rio de Janeiro, p. 2-9. Disponível em:
<http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/184.pdf>acesso em: 21 de out 2013.

REIGOTA, M. (org). Verde Cotidiano: O meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A,
1999.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18ªed. São Paulo: Cortez, 2011.

TOMAZ, V.S; DAVID, M.M.M.S. Interdisciplinaridade e aprendizagem da matemática em sala de


aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1167


INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BAIRRO DE PEIXINHOS-OLINDA-
PE: UM OLHAR SOBRE O RIO BEBERIBE

Margarida Patrícia da Silva OLIVEIRA


Mestranda em Educação - UPE
patriciaupe@hotmail.com
Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA
Profa. Drª. do Mestrado em Tecnologia Ambiental – ITEP/OS
e Mestrado em Educação - UPE
noliveira825@gmail.com

RESUMO
Nas últimas décadas, o debate sobre a questão ambiental ganhou uma extraordinária dimensão,
sendo perceptível o número de pessoas engajadas, de alguma forma, no seu trato uma vez que,
quando se fala em meio ambiente, não é em referência somente à natureza, mas em especial
canaliza-se ao socioeconômico, balizado pela pedagogia da educação ambiental, enfatizando
prioridades como o político, o ético e o moral. A pesquisa emerge da necessidade de estudos sobre
os recursos hídricos em razão da problemática da provável escassez da água e a poluição dos rios. É
salutar destacar que, das paisagens terrestres, os ambientes ribeirinhos são os mais utilizados para
vários fins e propósitos, muitas vezes de forma inadequada, tornando-os degradados. Nesse sentido
a pesquisa terá como lócus o curso inferior do Rio Beberibe, no bairro de Peixinhos, município de
Olinda- PE. O trabalho tem como objetivo analisar os impactos ambientais através da matriz de
identificação de impactos, LEOPOLD ( 1994) e Gómes (1994), modificado por Oliveira ( 1998) de
modo a sensibilizar a população a tornar o bairro de Peixinhos sustentável. Como conclusão o
trabalho possibilitou a necessidade que emerge em se adotar ações concretas para mitigar as
problemáticas ambientais existentes na área de estudo, sobretudo, com a inserção de inovações
pedagógicas. Os resultados aparecem de forma parcial, pois a pesquisa encontra-se em
desenvolvimento.
Palavras- chave: Poluição, Educação Ambiental, Degradação, População de excluídos, Pedagogia
do ensino.

ABSTRACT
In the last decades, the debate about environmental question took an extraordinary dimension with a
perceived number of engaged people, in some ways in its tract when we talk about environment, it
is not only to nature reference but especially it is connected to social-economic also marked by the
environmental education pedagogy emphasizing priorities such as politic, ethical and moral. The
research emerges the studies necessity about hydric resources in the reason of the probable
problematic, water scarcity and the rivers pollution. It is healthful to detach the earthy landscape,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1168
the riverain environment which is more used to varies intentions and purposes, and sometimes it
was inadequate, transforming them degraded. In this sense the study will have as locus the inferior
course of Beberibe River, in Peixinhos district, in Olinda‘s municipality-PE. This work has the
objective to analyze the environmental impacts through the matrix identification impacts,
LEOPOLD (1994) and Gómes(1994), modified by Oliveira (1998) to sensitize the population to
transform Peixinhos district sustainable. As a conclusion the work made possible the necessity to
emerge and adopt concrete actions to mitigate the environmental problems which are in the study
area mainly with the insertion of pedagogical innovations. The result appears in a partial way
because the research is still developing.
Key words: Pollution, Environmental Education, Degradation, Excluded Population, Teaching
Pedagogy.

INTRODUÇÃO

Será possível abordar o tema Degradação Ambiental e ainda sentir alegria?


Primordialmente, não são apenas catástrofes que se reportam à Educação Ambiental (EA); portanto,
a resposta é afirmativa, é possível exercer os objetivos da perspectiva educacional de forma
contente, como proferia o sábio Paulo Freire (1996, p. 72): ―Ensinar exige alegria e esperança. O
meu envolvimento com a prática educativa [...] jamais deixou de ser feito com alegria.‖
A humanidade em todo o seu processo evolutivo torna exploráveis os recursos naturais de
forma antropocêntrica sem considerar os limites de sustentabilidade. No entanto, a percepção de
que poderá vir a sofrer consequências negativas, em razão de um modelo capitalista que contempla
o consumo excessivo e o crescimento econômico em detrimento dos recursos ambientais, vem
sendo um meio de alerta às sociedades contemporâneas no sentido de frear certas ações e atrair a
humanidade a refletir sobre posturas direcionadas às essências de equilíbrio.
Todavia, a educação ambiental contribui para a ocorrência da interação homem- natureza
por meio de uma ação transformadora. É nessa perspectiva que a pesquisa volta-se a mitigar os
impactos negativos nas margens do rio Beberibe, bairro de Peixinhos, Olinda-PE.

A EA deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a


interdependência entre os diversos elementos que conformam o ambiente, com vistas a
utilizar racionalmente os recursos do meio, na satisfação material e espiritual (CA) da
sociedade, no presente e no futuro. (DIAS, 2004, p. 99).

Para atingir o objetivo proposto, o trabalho apresentar-se-á com estrutura em subtópicos. O


primeiro abordará as questões versando sobre a Pedagogia da práxis, o segundo sobre a educação
ambiental, com um breve histórico do conceito e sua evolução, e seu desencadear no Brasil. Por

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1169


fim, a caracterização da área objeto de estudo, o rio Beberibe, e o diagnóstico geoambiental do
bairro de Peixinhos.
Ao término, relatam-se as considerações finais acerca do trabalho, bem como algumas
análises do estágio atual de degradação da área.

REFERENCIAL TEÓRICO

Pedagogia da práxis

Nas últimas décadas, assistiu-se a grandes mudanças no cenário mundial no campo


socioeconômico, da ciência, da tecnologia, sobretudo no ambiental. Marcando esse cenário e
propondo meios para reduzir os impactos ambientais negativos, realizaram-se dois grandes eventos
sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, a Declaração de Estocolmo sobre o Meio
Ambiente Humano (NAÇÕES UNIDAS, 1972) e outra sediada no Rio de Janeiro, a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (NAÇÕES UNIDAS, 1992).
Foi por meio desses encontros que a comunidade percebeu que poderá viver momentos de
possibilidades; é nessa perspectiva que reluz a pedagogia da práxis, que, na concepção de Gadotti
(1998), é a teoria de uma prática pedagógica que procura não esconder o conflito, a contradição,
entendendo-os como inerentes à existência humana.
Pensar a Pedagogia da Práxis é inserir o ser humano, desde a infância até a fase adulta, na
reflexão sobre a transformação social e, por que não dizer, ambiental, uma vez que o trabalho versa
sobre a inserção da educação ambiental no espaço. O bairro, quase genericamente, compõe-se de
uma população de excluídos. Necessário se faz a educação por meio da pedagogia, vindo a
subsidiar a infância com as bases da educação e assim poder levá-los à inclusão na sociedade em
um mundo contemporâneo do bairro em questão. Deve-se canalizar a responsabilidade das políticas
públicas para que esse processo contamine os pares e possa atingir a essência da preservação do
baixo curso do rio Beberibe.

Para Paulo Freire, o diálogo não é só um encontro de dois sujeitos que buscam o
significado das coisas  o saber  mas um encontro que realiza na práxis-ação+reflexão ,
no engajamento, no compromisso com a transformação social. Dialogar não é trocar ideias.
O diálogo que não leva ação transformadora é puro verbalismo. (GADOTTI, 1998, p. 15).

Nesse sentido é salutar informar quão importante é tornar a comunidade esclarecida sobre os
problemas ambientais que se localizam no entorno da população, mas parecem estar distantes pela
falta de conhecimento do real, do sentimento de degradação desses ambientais que venham operar a
viabilidade de um ambiente protegido. Desse modo, por intermédio da comunidade, podendo
tornar-se viáveis ações plurais de transformação que façam jus à materialização da reflexão.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1170


Na comunidade escolar, é válido destacar que haja interação para sucessão da construção do
que se pretende almejar. Segundo as ideias proferidas por Freire (2014, p. 47), ―ensinar não é
transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção‖.
Por isso, é valoroso que, na prática desta pesquisa, se averigue o que a comunidade local
insere no discurso quanto ao que o ambiente lhe demonstra, para só então iniciar um diálogo sobre a
problemática local, com as possíveis mitigações por meio de oficinas e palestras.
É importante frisar que as pessoas são seres atuantes e, juntas, poderão provocar mudanças
positivas no campo ambiental. Como já dizia Freire (2014), o homem não é um ser isolado, ele
precisa relacionar-se socialmente; é a partir de então que se estabelece a reflexão para um mundo
em transformação, é nessa base que se faz imprescindível a mutação da comunidade das margens do
rio Beberibe, podendo, nessa visão transformadora, o ambiente da natureza e da sociedade ser
norteado por um equilíbrio salutar ao sistema de vida na comunidade.

Breve histórico da educação ambiental (EA)

Em consequência das transformações industriais e tecnológicas averiguadas no decorrer dos


anos, sentiu-se a necessidade de promover encontros de especialistas para discutir o rumo da
sociedade em consonância com o ambiente. Dentre eles, o escocês Patrick Geddes, biólogo
evolucionista, considerado o ―pai da educação ambiental‖, apresentava uma grande preocupação
com os efeitos que a primeira Revolução Industrial mostrava-se ao mundo, tendo-se iniciado na
Inglaterra. Geddes observava o processo desencadeador da urbanização e consequentemente os
perigos para o ambiente natural (DIAS, 2004).
Pelo desencadeamento da urbanização, ao longo das décadas, verificaram-se os sinais de
extinção das espécies, decorrentes da ação antropogênica, ação que contempla uma perspectiva de
maior lucro possível em curto espaço de tempo, ocasionando a perda da qualidade ambiental.
Na década de 1970, surgiram os eventos mais importantes sobre o meio ambiente. A
Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, segundo Dias (2004), com o
objetivo de determinar uma visão global e princípios comuns a fim de inspirar e orientar a
humanidade, deixando planejado o Seminário Internacional de Educação Ambiental, que se realizou
em Belgrado, em outubro de 1975; e, em outubro de 1977, a Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental, realizada em Tbilisi, Georgia, para discutir a respeito do conceito de EA. Das
ideias discutidas em Tbilisi:

A educação ambiental deve constituir-se em um processo permanente e contínuo;


desenvolver uma reflexão crítica e habilidades necessárias para a solução de problemas; ser
interdisciplinar e estimular o desenvolvimento de ações adequadas à manutenção da
qualidade de vida. (PELICIONI; PHILIPPI JÚNIOR, 2005, p. 558).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1171


Em uma visão geral, a definição de educação ambiental pode ser assim apreendida: ―A
educação ambiental seja um processo por meio do qual as pessoas apreendam como funciona o
ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade.‖
(DIAS, 2004, p. 100).
Será com o entendimento do indivíduo e, por que não dizer, da coletividade que irão
procurar e propor soluções pertinentes à melhoria ambiental.
O enfoque da Educação Ambiental no Brasil é tardiamente discutido, muito embora, mesmo
com a divulgação de unidades de conservação, não se tenha estrutura para seu funcionamento,
deixando-a apenas ―no papel‖.
No Brasil, a EA surgiu no período da ditadura militar com uma imagem de levar o país ao
crescimento econômico. Seguindo a mesma perspectiva, Dias faz alusão ao tema: ―O Brasil, imerso
no regime ditatorial, na ‗contramão‘ da tendência Internacional de preocupação com o ambiente,
mostrava ao mundo o projeto Carajás e a usina hidrelétrica de Tucuruí, iniciativas de alto potencial
de degradação ambiental.‖ (DIAS, 2004, p.78).
Nesse período as políticas que regiam no país não faziam restrição em poluir o ambiente; o
que almejavam era o crescimento econômico, a geração de empregos e expansão das indústrias que
se instalavam no país.

Essa atitude não será sem consequências e os resultados se farão sentir nos anos que virão
no Brasil. Que na época vivia sobre a ditadura militar o exemplo clássico é Cubatão, onde
devido a grande concentração de poluição química. Crianças morreram acéfalas... ou
desmatamento da Amazônia atingiu índices alarmantes colocando o tema na pauta dos
encontros entre os governos brasileiros e de outros países. (REIGOTA, 2009, p. 23-24).

Ainda em meio à ditadura militar, surgiu em 1981 a primeira conquista do movimento


ambientalista brasileiro. A Lei n.º 6938, de 31 de agosto de 1981 e homologada em 1983,
referenciava a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação (BRASIL, 1981). Contudo, o ambiente era visto apenas como pertencente às florestas, aos
mares e animais enquanto o homem ainda não era mencionado como um ser que atua e modifica o
ambiente em prol de si.
Nessa perspectiva de contribuir para o melhoramento ambiental, há um desencadear de
propostas, seja no âmbito social, seja no acadêmico.

O ProNEA representa um constante exercício de Transversalidade, criando espaços de


interlocução bilateral e múltipla para internalizar a educação ambiental no conjunto do
governo, contribuindo assim para a agenda transversal, que busca o diálogo entre as
políticas setoriais ambientais, educativas, econômicas, sociais e de infra-estrutura, de modo
a participar das decisões de investimentos desses setores e a monitorar e avaliar, sob a ótica
educacional de sustentabilidade, o impacto de tais políticas. (BRASIL, 2005, p. 33).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1172


A partir de então, criaram-se os Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1977, que fazem
referência ao meio ambiente como tema transversal. Em 1999, elaborou-se o Projeto Meio
Ambiente na Escola, promovido pelo Ministério da Educação (MEC), e em 2003, criou-se o Órgão
Gestor da Política Nacional de EA, participando o MEC e o Ministério do Meio Ambiente.
É salutar abordar, dentro desse tema, a maneira pela qual a comunidade de Peixinhos almeja
o desenvolvimento econômico, sem levar em consideração a capacidade de resiliência do
ecossistema da bacia hidrográfica do rio Beberibe, visto que o crescimento econômico caminha na
contramão da sustentabilidade, tornando-se uma forma perversa ao meio.

O esgotamento de recursos do sistema fluvial vem se dando exatamente porque em alguns


lugares o modelo de produção, que parece infinito, deu ‗certo‘. Desse modo, o
desenvolvimento e a sustentabilidade são aspectos contraditórios do processo. Onde deu
mais certo a produção de mais mercadorias é onde mais se destruiu a natureza.
(RODRIGUES, 1998, p. 135).

Pensar na sustentabilidade não apenas como simples significado de deixar um ambiente


saudável para as futuras gerações; é muito mais que isso, é pensá-lo como um sistema que integra a
vida no planeta, é possibilitar uma participação que manifeste as atitudes e os comportamentos do
cotidiano por um compromisso com a vida.

Caracterização da área de estudo: a bacia hidrográfica do rio Beberibe

A bacia hidrográfica do rio Beberibe, localizada no Estado de Pernambuco, tem sua nascente
no município de Camaragibe com o encontro de dois formadores, o rio Pacas e Araçá. Segundo a
Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH, 2014), abrange quatro municípios, parte do Recife,
Camaragibe, Olinda e Paulista, totalizando uma área de drenagem de 79 km²; apresenta dois
principais afluentes em sua margem direita, o rio Morno e o canal Vasco da Gama, que recebem o
rio Macacos e o Córrego do Euclides; à margem esquerda, o riacho do Abacaxi (Lava-Tripa) e o
canal da Malária.
No trecho pertencente a Peixinhos, o reflexo da degradação ao meio ambiente revela-se
nitidamente em decorrência da problemática ambiental. Nessa visão, a pesquisa volta-se a atenuar
os impactos nas margens do rio Beberibe, no bairro de Peixinhos, localizado entre as coordenadas
geográficas de latitude 8º0‘47.74‖ ao sul e de longitude 34º52‘34,58‖ a oeste de Greenwich
(Figura 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1173


Figura 1  Especulação imobiliária às margens do rio Beberibe
Fonte: Google Earth, 2014.

Convém destacar que as paisagens do sistema Beberibe, os ambientes ribeirinhos de


Peixinhos são os mais utilizados para vários fins e propósitos, geralmente de forma inadequada,
tornando-os degradados, com a presença de impermeabilização de suas paredes, depósitos de
resíduos sólidos e o processo de assoreamento (Figura 2). Quase sempre a comunidade que margeia
a área é uma população de baixa renda, por conseguinte, com baixo índice de escolaridade, não se
apercebendo, o que denota falta de educação da comunidade circundante quanto ao sistema fluvial.
Em consequência da imensa quantidade de resíduos, o rio Beberibe encontra-se atualmente
obstruído e assoreado, com ocupações irregulares nas margens, o que contribui para severas
alterações do sistema fluvial (Figura 3).

Figura: 2 Paredes impermeabilizadas e Figura 3: População de baixa renda,


deposição de resíduos. margeando o rio Beberibe.
Fonte: os autores, 2014. Fonte: os autores, 2014.

Diante desse olhar, a pesquisa busca avaliar os impactos ambientais no bairro supracitado e
contribuir para a sensibilização da população local; partindo da visão pedagógica, pode-se afirmar
que hoje ela é a mais prejudicada pelo desconhecimento e, na falta de alerta, o prejuízo deverá ser
maximizado para todos os sistemas de vida circundantes desse trecho da bacia do rio Beberibe.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1174


A situação física urbana e ambiental existe, em grande parte, é resultado de uma omissão
acumulada ao longo de décadas passadas: omissão no planejamento na fiscalização, de falta
de investimentos e da oferta de alternativas, que no passado eram ainda viáveis. (FIDEM,
2001, p. 3).

Na leitura da Resolução Conama n.º 1, de 23 de janeiro de 1986, artigo 1.º:

considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986).

Segundo a visão supracitada, os impactos afetam, direta ou indiretamente, a saúde, a


segurança, o bem-estar da comunidade e as atividades socioeconômicas; igualmente as condições
estéticas da paisagem e a qualidade dos recursos naturais. Na área da pesquisa, a vegetação vem
sendo substituída pela especulação imobiliária, sofrendo bastante desmatamento, aterros e
movimentação de terras, fato ratificado no bairro objeto de estudo, visualizando-se o desmonte da
paisagem, com a visão do real identificada.

Diagnóstico geoambiental do bairro de Peixinhos

A área da pesquisa caracteriza-se por um clima quente e úmido. A temperatura média anual
é de 27ºC chegando a uma amplitude térmica baixa de 5ºC; uma vez que sofre o efeito da
maritimidade, a pluviometria média anual chega a 2.422,4 mm (OLINDA, 2014). Em época de
vazante de seus tributários e do aumento do índice pluviométrico local, passa a receber um alto
percentual de resíduos sólidos carreados pela ação da gravidade das zonas dos morros circundantes
que chegam até o canal de drenagem, e muitas vezes vêm provocando áreas de inundação
intensificando o canal a infectar a área de vetores patogênicos, gerando problemas de saúde para a
comunidade (informação verbal).50
Peixinhos, o segundo maior bairro do município de Olinda, tem uma população residente de
36.133 habitantes, sendo 16.758 do sexo masculino e 19.375 para o sexo feminino de acordo com o
censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011).
O bairro objeto de estudo teve o nome originário em virtude da grande quantidade de peixes
que predominava no rio Beberibe, sendo, portanto um rio de alta piscosidade em épocas cuja água
era límpida, sem poluição. A população do bairro e dos bairros circunvizinhos (Casa Amarela e
Santo Amaro) utilizava os trechos do rio para pesca e lavagem de roupas, bem como as lavadeiras

50
Informações prestadas pela professora Niédja Maria Galvão Araújo e Oliveira.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1175


lavavam as roupas da patroa nessa área ribeirinha, o que as ajudavam na obtenção de recursos para
a subsistência de sua família.

Havia um rio maravilhoso de água cristalina. Ninguém sabia onde nascia, mas esse rio
dividia Recife e Olinda. Hoje nem os urubus querem pousar nele. É um lugar em que são
jogados adolescentes assassinados. Um rio tão esquecido quanto aqueles que vivem ao seu
redor... Todos conheciam os dos outros, mas dos peixinhos, não. Vinha gente pescar de
bairros do Recife, como Santo Amaro e Casa Amarela. Quando os pescadores se
encontravam, já combinavam: ‗vamos pescar no rio dos peixinhos‘. (SILVA, 2009, p. 13).

No concernente ao aspecto fitogeográfico, atenta-se a uma fisiografia plana com


significativa pressão urbana com residências e comércio. As edificações se contrastam com
moradias de infraestrutura insuficiente, como palafitas, casas de tábua ou até papelão, fator
contribuinte para a redução de espaços verdes na área tornando alta densidade construtiva com altas
temperaturas, região com pouca vegetação, de fluxo de veículos e forte presença de comércio, o que
propicia também um elevado fluxo e refluxo de pessoas.
Percebe-se, então, que a área apresenta uma perspectiva de crescimento que contempla o
atendimento às necessidades espontâneas de sua população, contudo sem atender aos ideais de uma
urbanização ordenada por falta de uma política de planejamento das políticas públicas, que não se
limita ao bairro alvo de estudo; em síntese, é uma urbanização desordenada para toda a zona
metropolitana do Recife.
No local, encontram-se esgotos expostos representando uma ameaça para a população com o
surgimento de vetores patogênicos. A maioria desse material converge para o rio Beberibe, muitas
vezes chegando a ser letal a indivíduos ribeirinhos.

METODOLOGIA

Para a elaboração do artigo, foi de importância detectar o problema por meio da observação
in loco em relação à degradação ambiental.
No concernente à metodologia, ter-se-á, como base de subsídio, a revista bibliográfica para
compor a fundamentação teórica necessária ao embasamento da pesquisa em pauta. Serão utilizadas
fotografias do local da representativa do real, ortofotocartas representando a evolução do
adensamento populacional e a forma de ocupação do solo, elementos complementados por imagem
do satélite Google Earth (2014). Será imprescindível o estudo de campo para perscrutar o
acompanhamento da degradação local por meio da observação direta, momento em que se fará o
contato com a população que agride e, ao mesmo tempo, é afetada, fato que constata a relação
sociedade-natureza.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1176


Para a aplicação metodológica, de forma imprescindível, haverá a participação efetiva de 35
alunos da Escola Monsenhor Fabrício, quando eles próprios farão parte do real, indicando as ações
e visualizando os fatores e elementos atingidos, finalizando com a identificação dos impactos.
Será realizada a coleta da água durante a estação das chuvas e secas, para análise química e
física, tornando o diagnóstico mais eficiente para as águas do rio Beberibe. Culminando com a
aplicação do método de identificação e avaliação dos impactos: materializada na avaliação
multicritério adaptada aos modelos matriciais de identificação de impactos de Gómez (1994) e
Leopold (1994) modificada por Oliveira (1998).
A metodologia citada será composta por quatro tabelas. Na primeira, abordar-se-ão as ações,
os fatores, elementos naturais (físico, biótico, perceptíveis e socioeconômicos) e os impactos; a
segunda trará a avaliação qualitativa e quantitativa dos impactos; na terceira, será realizada a matriz
de identificação dos impactos; na quarta e última tabela, a matriz de avaliação de impacto, que trará
a porcentagem de impactos positivos e negativos, Após a análise desses dados, pode-se concluir e
expandir as informações para a comunidade com a participação ativa dos alunos inseridos na
pesquisa. Para o último plano, seminários e oficinas serão realizados em escolas do bairro de
Peixinhos para que outros alunos possam vislumbrar a conscientização com vista à sustentabilidade.
Todavia, a metodologia exposta foi materializada parcialmente neste trabalho em face de se
encontrar em processo de desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização de revisão bibliográfica consorciada com a visita de campo com alunos


permitiu concluir que, nos dias atuais, a Educação Ambiental é a solução para monitorar e reduzir
os problemas socioambientais. Tais problemas têm sido alvo de discussões em encontros nacionais
e internacionais discorrendo sobre soluções para serem postas em prática no âmbito da educação
formal e não formal. No entanto, vale perguntar onde essa prática pedagógica efetivamente é
executada? Pois a construção de valores sociais, conhecimentos, atitudes, habilidades e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente é visualizada sem a prática de escala
local, dispensando a visão holística.
Este trabalho possibilitou concluir a necessidade que emerge em se adotar ações concretas
para mitigar as problemáticas ambientais existentes na área de estudo, sobretudo, com a inserção de
inovações pedagógicas.
Toda aprendizagem resulta em alguma mudança, seja ela no comportamento daquele que
aprende, seja no daquele que ensina. Por meio da compreensão, as práticas poderão refletir
mudanças. Mudanças essas importantes para a minimização dos impactos ambientais e da
degradação já percebidos na área objeto de estudo. Sendo assim, a Educação Ambiental será de fato
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1177
considerada um instrumento valioso das questões socioambientais que cumprem sua transformação
na relação do ser humano com o ambiente onde vive.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n.º 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 set. 1981.

______. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Educação Ambiental, ProNEA. 3.


ed. Brasília, 2005.

CONAMA. Resolução n.º 001/86, de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 fev. 1986, Seção 1, p. 2.548-2.549.

CPRH. Beberibe [2014]. Disponível em: <http://www.cprh.pe.gov.br/ARQUIVOS_ANEXO/

J_Relat12-BE.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.

FIDEM. Bacia do Beberibe: reabilitação urbana e ambiental. Síntese. Programa Prometrópole.


Recife, setembro de 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra,1996. (Coleção Leitura).

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 48. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2014.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. Prefácio de Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Instituto
Paulo Freire, 1998.

GÓMEZ OREA, Domingo. Evaluación de impacto ambiental: un instrumento preventivo para la


gestión ambiental. 2. ed. Madrid: Editorial Agrícola Espanõla, 1994.

IBGE. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios: resultados do


universo. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/

periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_populacao_domicilios.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1178


LEOPOLD, A. Matriz de Evaluación de Impactos. Curso de Maestría EIA. Módulo 7. Málaga:
Instituto de Investigaciónes Ecológicas, 1994. p. 57-58.

NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
1992, Rio de Janeiro, RJ. Declaração do Rio-ECO 92, 3 a 14 de junho de 1992. Rio de Janeiro,
1992.

______. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, 1., 1972. Estocolmo, ONU,
1972.

OLINDA. Prefeitura. Olinda em dados. A cidade, [2014]. Disponível em:

<http://www.olinda.pe.gov.br/a-cidade/olinda-em-dados>. Acesso em: 16 ago. 2014.

OLIVEIRA, Niédja. Problemas geomorfológico-ambientales de las restingas y mangles em


Pernambuco y Cuba. Tese (Doutoramento)  Instituto de Geografía Tropical, Academia de
Ciências de Cuba, Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente, La Habana, 1998.

PELICIONI, Maria Cecília Focesi; PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo. Educação ambiental e


sustentabilidade. Barueri, SP: Manole, 2005.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. Rev. e ampl.. São Paulo: Brasiliense, 2009.
(Coleção Primeiros Passos, v. 292).

RODRIGUES, Arlete Moysés. A utopia da cidade sustentável. Ambiente e Sociedade, ano 1, n. 2, p.


133-138, 1998.

SILVA, Zuleide de Paula. Peixinhos: um rio por onde navegam um povo e suas histórias. 2. ed.
Recife: Magis, 2009.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1179


OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE: UMA VISÃO
DESDE A DIMENSÃO DA ESPACIALIDADE E A TERRITORIALIDADE

José M.Mateo RODRIGUEZ


Facultad de Geografía, Universidad de La Habana, Cuba
Edson Vicente da SILVA
Departamento de Geografia, Universidade Federal de Ceara, Fortaleza, Brasil

RESUMO
A celebração da cúpula da "Rio mais 20" no Rio de Janeiro no ano de 2012 marcou a retomada da
concepção original de desenvolvimento sustentável aceita em 1992 na mesma cidade.(Naciones
Unidas, 2012) Os novos impulsos para a conquista da sustentabilidade estão atrelados à complicada
situação que o mundo vive na atualidade: conflitos geopolíticos na virada do mundo unipolar ao
mundo multipolar; guerras, crise econômica generalizada, doenças globais. Porém, grande parte da
civilização tem conscientizado a necessidade de mudar de maneira radical o rumo da sua relação
com a natureza. A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável têm se enraizado nos projetos
governamentais e nas organizações internacionais, e mais de forma empírica que conceitualmente
teorizada, tem levado as populações a conquistar projetos e formas que se encaminham pela bussola
da sustentabilidade. Mas existem desafios que precisam ser identificados na tentativa de tomar
providencias para desenhar ações que levem ao seu enfrentamento. Tomando como exemplo o
contexto da América Latina, principalmente Cuba, Brasil, México e Venezuela, o presente artigo
visa identificar esses desafios e refletir sobre a maneira que a civilização pode agir para construir
um novo patamar civilizatório: a sustentabilidade.

A SUSTENTABILIDADE COMO CONCEITO

Muito tem se escrito e debatido sobre a noção de sustentabilidade e sobre a concepção de


Desenvolvimento Sustentável, não só no âmbito acadêmico, mas também no mundo da
politica.(Boff,2012)Vamos tentar deixar um pouco de lado o debate e colocar qual a noção
assumida pelos autores.
A concepção de desenvolvimento sustentável é o resultado de uma longa e complexa
evolução conceitual do próprio conceito de desenvolvimento. (Mateo Rodríguez, 2012)Este
conceito começou ser interpretado não só como crescimento econômico, mas como uma melhor
organização e aproveitamento dos espaços e dos territórios, a qual está inserida a natureza ocupada,
assimilada e transformada pelas ações humanas. O desenvolvimento sustentável surgiu tentando
articular três dimensões: a econômica, a social e a ambiental. A dimensão ambiental busca entender
a natureza como a base do processo de desenvolvimento, pensando que tudo no planeta Terra tem

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1180


seu ponto de partida nela. A visão original é aquela que foi adotada na cúpula do Rio no ano de
1992, cuja concepção de desenvolvimento sustentável considera que a sustentabilidade ambiental
(da natureza) deve de ser priorizada, e que por isso a sustentabilidade econômica (das instituições
econômicas, das empresas e das atividades econômicas) e a social ( dos grupos socais, das culturas,
das comunidades) deve se adaptar ou se adequar às condições e às propriedades da natureza.
Tratava- se então de passar a uma visão de adaptação da vida humana a natureza, a suas
propriedades e leis, e abandonar a visão original de domínio de natureza.(NIJKAMP)
A sustentabilidade ambiental é dada por quatro momentos fundamentais (Preobrazhenskii, et
al, 1982):
 Colocar em valor a capacidade de reprodução dos recursos e serviços ambientais. As formas
de utilização da natureza devem garantir que não exista a degradação dos recursos e serviços
naturais. Ao contrário, os recursos e serviços devem se reproduzir, ou seja, devem conservar
as chamadas ―propriedades uteis‖. Portanto, não devem ser explorados além do seu patamar
de reprodução, ou seja, do nível ótimo a partir do qual o recurso tende a degradação ou ao
esgotamento. No caso dos recursos não renováveis, trata se de manter um estoque ou uma
reserva mínima que permita o funcionamento dos sistemas econômicos e sociais que
dependem dos recursos e serviços naturais.
 Estimular a capacidade de regeneração das condições ecológicas do meio. As formas de
ocupação, assimilação e apropriação do espaço natural devem dar condições adequadas de
habitat para a população humana, e essas condições não devem ser deterioradas, mas ao
contrário devem melhorar ou manter-se estáveis e duradoras.
 Manter a capacidade de permanência das propriedades do espaço natural. Deve-se
considerar cinco atributos sistêmicos: a estrutura, o funcionamento, a dinâmica e a evolução,
a capacidade produtiva e a auto regulação. Aceita-se o principio de que se o geo ou o
ecossistema tem uma estrutura ótima, um funcionamento estável, e uma tendência dinâmico-
evolutiva de estabilização, então a capacidade produtiva e a auto regulação (ou seja a
resiliência) vai ser a que naturalmente produz o sistema. Se é preciso melhorar ou
aperfeiçoar a capacidade produtiva e a capacidade de auto regulação, então e necessário
levar o sistema ao nível das propriedades estrutural-funcional e dinâmico-evolutivas que
possam assumir novas capacidades de produção e auto regulação, sem que haja a quebra da
capacidade de suporte do equilíbrio ecológico.
 A implementação da capacidade de suporte do equilíbrio ecológico dos territórios. Aqui as
propriedades do sistema têm que ser analisadas no seu contexto espacial abrangente e
complexo. É necessário entender como o sistema influi ou condiciona o equilíbrio do
sistema hierárquico superior (seja um bacia, uma região, ou um território).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1181
A sustentabilidade econômica deverá ter como propósito fundamental a eficiência e a
efetividade dos sistemas e entidades econômicos, do equilíbrio e da regeneração dos recursos
econômicos e das propriedades dos espaços econômicos. Mas para que se incorpore a
sustentabilidade ambiental no processo de desenvolvimento é preciso adequar esses objetivos
econômicos às características dos sistemas ambientais. De tal forma, as entidades econômicas
precisam se adaptar nas características dos sistemas ambientais envolvidos e identificar e eliminar
os limites de impacto, adequação aos ritmos, funções e troca de energia, matéria e informação dos
sistemas ambientais.
A sustentabilidade social, por sua vez, tem como objetivo a procura da eficácia dos sistemas
sociais, isto é, a regeneração das propriedades desses sistemas, do seu espaço e de sua infra
estrutura social. Aqui, é fundamental ter em conta os desejos, as necessidades e as expectativas dos
grupos sociais, o que em geral deve estar atrelado com a cultura da população, sua identidade, suas
percepções e sua capacidade de auto suporte. Sem dúvida, para se adequar a sustentabilidade essas
características dos sistemas sociais devem incorporar em seu comportamento as características da
sustentabilidade ambiental.
A busca de uma sustentabilidade do processo de desenvolvimento pregava
fundamentalmente a adequação da sustentabilidade econômica e social às características ambientais
e aos sistemas naturais do território envolvido para privilegiar os processos de adaptação e
adequação das atividades humanas à natureza, e não dominar os sistemas naturais. Para isso é
necessário(Rudskii y Sturman, 2007):
 A procura de uma sustentabilidade sensata, na qual os sistemas econômicos e sociais
respeitem e se adequem a capacidade de suporte dos sistemas naturais e às suas
características de estruturação e funcionamento.
 O uso de tecnológicas apropriadas capazes de se adaptar ao tamanho, as propriedades e aos
ritmos dos sistemas naturais envolvidos eliminado todo tipo de dano no processo de
utilização da natureza.
 O uso máximo possível dos recursos e sistemas naturais e ambientais, garantindo em sua
exploração a minimização dos danos ambientais de seu uso racional.
 A manutenção da capacidade de governabilidade, ou seja, a adequação entre a população e
os gestores utilizando-se de instrumentos de governança adequados a esse fim.
 O aumento do poder das populações locais garantindo sua capacidade de gerenciamento em
concordância com sua cultura e as características próprias do grupo social envolvido.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1182


O MODELO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO

A teoria e ideologia do desenvolvimento, herdeira da concepção sobre progresso, foi


formulada depois da Segunda Guerra Mundial. Através dos influxos do Plano Marshall e do
Tratado de Varsóvia a geopolítica ideológica colocou como horizonte e projeto de futuro o
desenvolvimento econômico, que era considerado como análogo ao crescimento econômico. Esse
modelo priorizava a economia e considerava o meio natural e social como externalidades. O
propósito era crescer economicamente, construir capitais físicos e técnicos à custa da natureza e da
sociedade.
Para esse modelo, a natureza era uma panela aonde se depositavam os recursos que
deveriam ser explorados de maneira intensiva. A natureza era homogeneizada, artificializada, e
virava uma fonte de bens e serviços. O espaço geográfico devia se desenhar geometricamente,
homogeneizando-se para alcançar a máxima exploração, e a minimização das distâncias e dos
custos espaciais.
Como resultado o padrão original da natureza com a sua estrutura que respondia ao
cumprimento de determinadas funções e que levava a um balanço entre entrada e saída de fluxos de
energia, matéria e informação era substituído por um padrão geométrico, no qual o fundamental era
atingir o máximo ganho econômico.
O estilo de vida próprio do modelo é caracterizado por um consumismo e exploração sem
limites dos recursos e serviços naturais e por um individualismo e desejo de obtenção de lucros e
ganhos máximos, sem ter em conta as propriedades e os limites dos sistemas ambientais, o que
levava a perda da renovação e capacidade de regeneração dos sistemas e dos recursos. Tratava-se de
um modelo depredador e anti natural, que com o aumento cada vez maior da entrada de energia e
insumos, passou a depender cada vez mais da tecnologia intensiva para a produção de bens e
serviços. O meio ecológico, preferivelmente urbano, crescia indefinidamente, e paralelamente se
sustentava na artificialização e na alta intensidade de insumos. O resultado é um padrão de
concentração enorme que leva a um habitat anti humano, à condições excessivas de estresse
ambiental e a uma enorme depredação da natureza na qual se encontra.
Tudo isso está levando a mudanças ambientais, principalmente de ordem climática, que
conduzem a um novo invariante climático capaz de levar todo o sistema a um novo patamar
funcional, a uma nova natureza, antropizada e suportada pela tecnologia.

OS DESAFIOS PARA A SUSTENTABILIDADE

Tendo em conta a situação de crise ambiental que o Sistema Terra experimenta na


atualidade e a situação catastrófica que tem levado a implantação do modelo de desenvolvimento

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1183


econômico nos últimos 50 anos, as Nações Unidas, juntamente da sociedade global organizada
considerou pertinente passar a um modelo de desenvolvimento sustentável, não como uma meta e
um objetivo final, mas como um processo de transição de um desenvolvimento onde impera o
domínio da natureza para um modelo de adaptação a natureza.
Sem dúvida, para levar a esse propósito os obstáculos são enormes. O sistema Terra,
encontra-se em um estado de desequilíbrio e alteração enorme e mais da metade das áreas dos
sistemas ambientais estão em estado critico ou catastrófico. Três cúpulas das Nações Unidas tem
tentado considerar o Desenvolvimento Sustentável, ainda que não exista um consenso generalizado
sobre como levar a cabo essa transição. Em geral para incorporar a sustentabilidade ambiental no
processo de desenvolvimento se pode falar nos seguintes desafios que consistiriam uma estratégia
global de proteção dos espaços, paisagens e sistemas naturais:
1.-A optimização dos espaços antropo naturais existentes para levá-los a espaços sustentáveis ou
culturalmente explorados.
2.-O cuidado, o reestabelecimento e a conservação dos espaços em estado natural ou semi
natural, levando-os a um regime de proteção exclusiva, pela criação de sistemas de áreas
protegidas que funcionem de maneira eficiente.
3.-O estabelecimento de sistemas de monitoramento do estado dos recursos e serviços naturais e
ambientais, tentando limitar sua exploração, para garantir sua capacidade de renovação, ou
no caso dos não renováveis para garantir um estoque de reserva que limite sua exploração.
4.-Atenção particular deve ser dada ao sistema das cidades estabelecendo limites ao seu
crescimento espacial, a sua degradação ambiental e a sua artificialização.
5.-Implementação de um sistema de monitoramento detalhado da degradação e do estado
ambiental dos sistemas, para elaborar planes de ordenamento ambiental e territorial que
considerem a manutenção e o restabelecimento do equilíbrio ecológico a nível local e
regional.

Para programar essa estratégia, é preciso ter em conta um conjunto de requisitos


relacionados com a sustentabilidade dos processos de desenvolvimento, o que implicaria (Mateo
Rodriguez, 2012):
1.- Na procura de fontes financeiras para garantir esse processo de transição;
2.- Na transferência tecnológica e criação das condições para a implementação de tecnologias
ambientalmente compatíveis, apropriadas e recicláveis;
3.- Na mudança radical da matriz econômica, eliminando as explorações que causam fortes
danos ambientais e ultrapassam de maneira significativa a capacidade de suporte ambiental
dos sistemas naturais;

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1184


4.- Na valorização de políticas produtivas ambientalmente sustentáveis mediante a redução da
assimétrica distribuição do uso da terra e dos padrões concentradores de uso;
5.- Na eliminação do consumo excessivo de recursos e serviços, e gradativamente da cultura do
consumismo;
6.- Na conservação da heterogeneidade cultural, procurando a incorporação de referencias
ambientais na cultura dos grupos sociais;
7.- No aumento de poder das populações locais e grupos sociais, para que possam ter um
metabolismo ativo e dinâmico com os recursos que exploram e utilizam e que construam
processos de apropriação solidaria e equitativa da natureza;
8.- Na promoção de uma mudança das mentalidades, levando a população a um conhecimento
do funcionamento dos sistemas ambientais, que conduza a uma percepção e a um
comportamento ambientalmente concebido. Tudo isso exigiria a implementação de
programas de educação ambiental para garantir processos de incorporação da
sustentabilidade ambiental nas práticas espaciais, sociais e culturais da população e dos
grupos sociais.
Em resumo, a temática ambiental não pode ser uma questão exclusiva dos ambientalistas e
dos especialistas. Como o meio ambiente é aquele espaço onde vivem e do qual dependem os seres
humanos, é preciso incluir a dimensão ambiental em todas as esferas da realidade. Isto não pode se
dar de maneira espontânea. Depende dos conhecimentos, da reflexão e da criação de uma
percepção, de uma consciência, de um comportamento, em síntese, de um imaginário ambiental.
Precisa-se de uma nova cultura simbólica, de uma nova espiritualidade. O caminho que queremos
seguir é longo e difícil, pois exige criatividade e uma nova ética de conhecimento que promova a
possibilidade de uma nova sociedade ambientalmente compatível.
Por outro lado, a construção dos cenários de sustentabilidade necessita do desenho de
processos de enfoques para a conquista da sustentabilidade, sem que sejam esquecidas a
espacialidade e a territorialidade. Isso significa que é preciso entender os diferentes níveis de
organização estrutural e funcional do planeta Terra, que são os suportes nos quais devem articular-
se os fatores de caráter social, econômico, politico e cultural que se unem para emergir a
sustentabilidade. Aqui é fundamental o potencial cognitivo e metodológico elaborado pela
Geografia em mais de 200 anos de vida acadêmica.

A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM CUBA

Como resultado da implementação desde o século XVII da plantação açucareira e da


continuação até os anos 90 dessa organização espacial anti ambiental no país, praticamente 60% do
país encontra-se em uma situação ambiental delicada (instável ou crítica).(Mateo Rodriguez, 2012)
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1185
Em síntese, o problema ambiental de Cuba é que os sistemas naturais existentes no país em
geral não podem funcionar como ponto de partida para a incorporação da sustentabilidade
ambiental no processo de desenvolvimento, ou seja, os mecanismos que conduzem à incorporação
da sustentabilidade ambiental aos processos de desenvolvimento não podem operar com efetividade
diferente da situação atual. Por conta desse impedimento, o ponto de partida deve se transformar de
maneira radical mediante um processo de ambientalização e ecologização geral. Nesse processo a
natureza deverá ser entendida de acordo com suas propriedades, e portanto a função de
produtividade e o produtivismo da economia deverá adequar-se e adaptar-se a lógica da natureza.
(Mateo Rodriguez, 2014)
Essa mudança no desenvolvimento ambiental, deverá levar-se a cabo em um contexto de
situações complicadas, entre as quais merecem ser mencionadas (Mateo Rodriguez y Rua de Cabo,
2013):
1.- O colapso da plantação açucareira;
2.-O novo modelo de desenvolvimento económico e social que o governo está implementando;
3.- O processo de incremento da autonomia dos territórios e de sua descentralização;
4.- O surgimento de novos sujeitos, atores e agentes sociais e econômicos.
5.-As mudanças ambientais e da organização espacial, incluindo as mudanças climáticas.
6.-A revitalização econômica.

Estes desafios só poderão assumir-se mediante a conformação de uma sociedade do


conhecimento, na qual a vontade e a iniciativa política considere os seus atributos como um
horizonte fundamental na formulação e na aplicabilidade das políticas de desenvolvimento.

CONSIDERACOES FINAIS

A luta pela conquista da sustentabilidade tem que levar em conta o contexto geopolítico
mundial. Uma nova ordem transnacional está se formando com duas claras tendências em forte
contraposição:
 A globalização que é direcionada pelas empresas transnacionais e os poderes ricos
hegemônicos que estandardiza os hábitos e as culturas, empobrece os povos, destrói os
saberes antigos, marginaliza a maioria da população e consome os recursos de maneira
desenfreada. (Antequera, 2007). Nesse contexto os Estados Unidos lutam por conservar o
poder uni polar.
 A nova configuração geopolítica mundial leva a uma transição, a um mundo multi polar, no
qual vão formando-se novos blocos de poder regional, mas que ainda não considera uma
dimensão ambiental da sustentabilidade, lutando por aumentar os ganhos econômicos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1186


Precisa-se de um programa de gestão ambiental planetária que estimule a transição da
sustentabilidade, onde o controle da coordenação das soluções globais seja dirigido à conquista da
sustentabilidade ambiental como o maior dos problemas globais na atualidade. O ideal para uma
nova ordem mundial ambiental seria a articulação sinérgica entre os diversos campos de poder a
nível regional, constituindo-se um modelo globalizado onde a solidariedade, a interação cultural e a
transição ecológica conduzam a um salto da evolução noosferica. (Antequera, 2007).
Essa nova ordem exigiria a incorporação da dimensão espacial no desenho de cenários
regionais e globais de Desenvolvimento Sustentável, como elemento protagonista na conquista da
sustentabilidade planetária.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTEQUERA, J.- Sostenibilidad ambiental y complejidad social ¿ dos caras de la misma


moneda?; Sostenible, Revista de la Cátedra UNESCO en Tecnología Desenvolupament
Sostenible, Dsequilibris i Canvi Global a la Universtiat Politécnica de Catalunya, Num.9, 2007,
pp.91 – 110

BOFF, L.- Sustentabilidade: o que e ,e o que não e., Editora Vozes,Rio de Janeiro, 2012, 214 pgs.

MATEO RODRÍGUEZ, J.M.- La dimensión espacial del desarrollo sostenible: una visión desde
América Latina., Editorial U.H., Editorial Científico Técnica, La Habana, 2012, 293 pgs.

MATEO RODRÍGUEZ,J.- As estratexias de desenvolemento impelemntadas en Cuba desde a


perspectiva da sostibilidade. Revista Tempo Exterior, editada pelo Instituto Galego de Analise e
Documentacion Internacional, Vol.XIII, 2014, No.18, ppl 105-118

MATEO RODRÍGUEZ,J., E V. DA SILVA..- Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.


Problemática, tendências e desafios; Edições UFC, Fortaleza, Brasil, 2009, 241 pgs.

MATEO RODRIGUEZ, J. y A. RUA DE CABO.- La cuestión territorial en Cuba., En: Saquet,


Marcos Aurelio.(org.)- Estudos territoriais na ciência geográfica., Outra Expressões, São Paulo,
2013, pp.31-46.

NACIONES UNIDAS.- Documento final de la Conferencia. Rio + 20. Conferencia de las Naciones
Unidas sobre el Desarrollo Sostenible.,Rio de Janeiro, Brasil,2012, 59 pgs.

NIJKAMP, P.- Regional sustainable development and natural resource use; World Bank Annual
Conference on Development Economics; Document CEPAL, Rev.1, Washington, D.C., 1991,
89 pgs.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1187


PREOBRAZHENSKII, V.S (Red. principal) ALEKSANDROVA,T.V., M.DANEVA,
G.HAASE,IA.DROSH.(Colegio de redacción) - Protección de los paisajes. Diccionario
interpretativo., (en ruso), Moscú, Editorial ―Progress‖, Moscú, 1982, 272 pgs.

RUDSKII,V.V., V.I.STURMAN.- Fundamentos de la utilización de la naturaleza., (en


ruso)Manual docente para estudiantes de CES., Moscú, Aspekt Press, 2007, 271 pgs.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1188


SENTIMENTOS E ATITUDES DOS AGENTES AMBIENTAIS A RESPEITO DE
TRABALHO, EXCLUSÃO, INCLUSÃO E NATUREZA

Sandra Maria GUISSO


Professora do curso de Pedagogia da FARESE
sguisso@gmail.com
Charles MOURA NETTO
Professor do curso de Pedagogia da FARESE
cmnetto@gmail.com

RESUMO
O estudo foi desenvolvido com agentes ambientais de quatro cidades da região serrana do Espírito
Santo. Os resultados mostraram que os agentes ambientais tem consciência de que seu trabalho faz
diferença na preservação ambiental, por outro lado, são pouco valorizados em suas atividades seja
financeiramente ou sob a forma de capacitação.
Palavras chave: Inclusão; Trabalho; Agentes ambientais; Exclusão.

ABSTRACT
The study was carried out with environmental agents from four cities in the mountainous region of
Espírito Santo. The results showed that environmental agents are aware that your work makes a
difference in environmental preservation, on the other hand, are underappreciated in their activities
is financially or in the form of training.
Keywords: Inclusion; Work; Environmental agents; Exclusion.

INTRODUÇÃO

As informações acerca das questões ambientais, normalmente, são veiculadas segundo


padrões científicos e destinam-se a um público que já as conhece em grande parte. É importante se
pensar em opções de divulgação que abordem as questões ambientais de forma a atingir todas as
pessoas e fazer com que desenvolvam uma visão crítica sobre o tema. Nesse contexto, Carvalho
(2001) argumenta que a educação ambiental popular é aquela que compreende o processo educativo
como um ato político e, portanto, de prática social de formação de cidadania, e que mais do que
mediar os conflitos entre os homens e a natureza ela busca entender as transformações das relações
dos diferentes grupos humanos com a natureza.
Para criar condições que propiciem às pessoas desenvolverem reflexões amadurecidas a
respeito da natureza é preciso levá-las à compreensão de que devem se perceber como fazendo parte
do que Capra (2006) chama de ecologia profunda, na qual homens e natureza são concebidos como
uma rede de fenômenos fundamentalmente interconectados e interdependentes

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1189


Hoje a dimensão ambiental envolve uma série de atores que são responsáveis por diferentes
níveis educativos, e esse diálogo entre os saberes é que poderá possibilitar o estabelecimento de
novas formas de relação entre os grupos humanos e a natureza.
A falta de iniciativa da sociedade frente às práticas que envolvem os problemas ambientais
se deu muito em razão da falta de informação das pessoas a respeito dessa questão. Hoje as
informações acerca dos problemas ambientais são transmitidas nos diversos meios de comunicação
alertando as pessoas sobre a necessidade da preservação ambiental e quanto o ambiente é
importante para a qualidade de vida das mesmas. A partir de então vemos o surgimento de novos
atores sociais, com consciência ética a respeito de suas ações.
É importante ressaltar que a sociedade informada adquire o poder de participar dos
processos decisórios em relação às necessidades dessa mesma sociedade, aí incluídas as questões
ambientais. A participação da sociedade implica fortalecer sua co-responsabilidade na fiscalização e
no controle das práticas de degradação ambiental. Essa sociedade participativa abre a possibilidade
de uma atuação plural no sentido de defesa dos direitos dos indivíduos e também se faz promotora
da inclusão social através do respeito ao ambiente comum das pessoas, abordando, por meio da
educação ambiental, problemas que acompanham o ambiente de trabalho, como segurança, ética,
valorização e compreensão dos direitos humanos. Nesse sentido de acordo com Jacobi (2003), a
problemática ambiental proporciona a reflexão sobre uma série de questões que nos afetam no dia-
a-dia.
Apresentado tal conjunto de informações vale destacar que há um grande contingente de
pessoas atuando em atividades ligadas à problemática ambiental para as quais não é exigido
escolaridade elevada, tais como coleta de lixo, limpeza urbana, esgotamento sanitário. São
atividades muitas vezes desenvolvidas de forma precária, como atividade de subsistência, ou como
atividade mal remunerada. Trabalhadores que atuam em tais atividades e em outras relacionadas
podem ser identificados como ―agentes ambientais‖, embora o uso de tal termo ainda não esteja
plenamente consolidado. Na revisão bibliográfica realizada, não foram localizadas investigações
cujo foco esteja nas concepções desses agentes ambientais sobre seu trabalho e sobre a articulação
dele com o meio ambiente.
Para analisar as entrevistas dos agentes ambientais das diferentes atividades estudadas foi
utilizada uma proposta da análise de conteúdo de Bardin (2011). De acordo com a autora a análise
de conteúdo ―É um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis em constante
aperfeiçoamento, que se aplicam a ‗discursos‘ (conteúdos e continentes) extremamente
diversificados‖ (BARDIN, 2011, p. 15). Nas análises a seguir os dados coletados através de
entrevistas semi estruturadas foram categorizados em três categorias: a) Trabalho; b) Exclusão
(preconceito) – Inclusão (oportunidade); e c) Trabalho e meio ambiente. Após definidas as
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1190
categorias optou-se por utilizar um quadro de análise em razão da quantidade de dados provenientes
das 57 entrevistas. Dessa forma, as ideias centrais de todos os entrevistados poderiam ser
consideradas. Nas análises que se seguem à apresentação dos quadros das categorias utilizou-se o
recurso de transcrever trechos das entrevistas para exemplificar a natureza das subcategorias que
surgiram a partir do que os entrevistados disseram.
Em relação à categoria Trabalho, foram utilizadas características do sentimento ou da
atitude decorrente da oportunidade de estar trabalhando nas várias funções que os entrevistados
desempenham.

SENTIMENTO/ATITUDE RELACIONADO À
OPORTUNIDADE DE ESTAR TRABALHANDO

De insatisfação
De dominação

De satisfação
De gratidão
Puramente

Dinheiro -
segurança
funcional

Receptor de lixo 1
Varrição 2 12 6 4
Esgoto 7
Coleta de lixo 4 3 1
Catador 2 2
Lixo hospitalar 1
Usina de reciclagem 6 1 1
Empresa de reciclagem 2
1
Entulho 1
Figura 01: Frequência de menções a sentimentos ou atitudes relativos ao fato de trabalhar com o meio
ambiente, conforme a atividade exercida.

No quadro ficou claro que a relação mais estreita estabelecida no trabalho está relacionada
ao dinheiro e/ou à segurança. Esses trabalhadores, em sua maioria, vieram da zona rural, tiveram
que deixar o local onde nasceram em busca de dinheiro para sustentar a família. Em razão disso, as
suas experiências com o trabalho foram de necessidade, angústia e de insegurança. Dessa forma,
não tiveram oportunidade de experimentar o trabalho como fonte de renovação, de pertença a um
grupo e de valorização. São sujeitos que viveram a experiência da exclusão, inclusive cultural, pois
se viram obrigados a deixar o ambiente em que cresceram por impossibilidade de ali
permanecerem. Atualmente estão empregados, o que é importante para a manutenção das
necessidades básicas, mas atuam em condições que não garantem sua dignidade como trabalhador,
em decorrência da forma como as atividades e as condições de trabalho oferecidas são tratadas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1191


pelos órgãos competentes, além de serem atividades encaradas pela sociedade com um viés de
exclusão. A realidade dos agentes vem ao encontro da concepção de Sawaia (2004, p. 08), que diz:

A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o
que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo, nem
sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande
maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram
para fora do econômico.

O fato de estarem empregados não lhes garante o suficiente para a manutenção das
necessidades básicas, já que a remuneração é quase sempre próxima do salário mínimo, ainda que
alguns tenham possibilidade de elevar sua renda assumindo hora extra, como é o caso de quem
recolhe o lixo e trabalha aos sábados. É importante ressaltar que o salário é um dos pontos a serem
avaliados no processo de valorização das atividades e consequentemente, dos trabalhadores. A
valorização de qualquer profissão faz-se necessária, e no caso das atividades relacionadas ao meio
ambiente, tema deste estudo, isso se dá quando os órgãos responsáveis têm gestores esclarecidos e
que entendem a importância desses serviços para a sociedade. Portanto, a valorização desses
profissionais precisa ser tratada como política pública, envolvendo gestores, sindicatos e servidores.
Em um estudo realizado por Porto e colaboradores (2004) com trabalhadores do lixo em
Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, sobre lixo, trabalho e saúde identificou-se que os
trabalhadores do aterro estavam na atividade do lixo após terem passado por uma infinidade de
profissões.
De acordo com Porto e colaboradores:

O desemprego foi o motivo mais marcante para a busca de uma ocupação no lixo.
Entretanto a necessidade de ‗ajudar em casa‘, complementando a renda dos familiares, foi
um motivo que mereceu destaque entre aqueles que começaram a trabalhar ainda crianças
(Porto et al., 2004, p. 1506).

Outro dado que ficou evidenciado é um sentimento de gratidão relacionado ao trabalho,


manifestado pelos entrevistados. Tal sentimento foi expressado, principalmente, por aqueles que
estão na atividade de varrição, na qual predominam as mulheres. Essas mulheres são mães que
vieram da roça, que sustentam a casa ou ajudam no sustento, que não têm estudo nem qualificação
profissional, e enxergaram nesta atividade a oportunidade de se inserirem no mercado de trabalho.
A gratidão é expressada em razão da oportunidade que esses trabalhadores (homens e
mulheres) enxergam através da atividade que estão exercendo, uma vez que associam o emprego
com a possibilidade de adquirirem poder de compra, de conseguir pagar as contas, de dar algo aos
filhos. A inserção destas possibilidades no cotidiano desses trabalhadores, ao mesmo tempo que são
positivas, cria uma barreira para o questionamento das necessidades inerentes ao exercício da
atividade que, independentemente de qual seja, precisa vir associada com dignidade e respeito, o
que acontece quando se tem políticas públicas eficientes e inclusivas. Há necessidade de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1192
compreensão de que para estes trabalhadores este momento, em que passam a exercer determinadas
atividades, está repleto de novidades, eles estão absorvendo novos conceitos que precisam ser
compreendidos, assim como novas relações estão sendo estabelecidas a partir das quais o sujeito vai
começar a compreender o seu novo lugar neste contexto. É isso que precisa acontecer com as
atividades destacadas neste estudo, os órgãos gestores precisam atentar para o municiamento desses
trabalhadores em relação a direitos, trabalho, dignidade, pois somente assim serão diminuídas as
distâncias entre quem serve e quem é servido.
Quanto mais a sociedade dispuser de informações que ajudem a entender a importância do
trabalho que os agentes ambientais exercem, e as implicações de tais atividades para a vida de
todos, a distância diminuirá. É necessário conhecer o outro, a função do outro, para entendê-lo e
respeitá-lo. Wanderley assim se manifestou sobre este processo:

A perspectiva de trabalho de combate à exclusão tem ainda, que promover níveis de


proteção que garantam o exercício da cidadania, possibilitando a autonomia da vida dos
cidadãos. Neste sentido, romper a relação entre a subordinação, a discriminação e a
subalternidade, brutais em nosso país, é um dos muitos desafios colocados
(WANDERLEY, 1999, p. 25 e 26).

TIPO DE SENTIMENTO RELATIVO À CATEGORIA EXCLUSÃO


(PRECONCEITO) E INCLUSÃO (OPORTUNIDADE)
O estudo dá oportunidades

resíduo sofre preconceito


Nunca teve oportunidade

Já sofreu preconceito
Esse trabalho é uma

Quem trabalha com


oportunidade

Receptor de lixo 1 1
Varrição 4 14 4 5 5
Esgoto 1 2 4 2
Coleta de lixo 2 3 3 4 2
Catador 4 4
Lixo hospitalar 1
Usina de reciclagem 8 4
Empresa de reciclagem 1 2
Entulho 1

Figura 02: Quadro de análise utilizado para estudar os sentimentos relativos à categoria exclusão
(preconceito) e inclusão (oportunidade).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1193


Os dados indicam que quando questionados sobre as possibilidades que tiveram na vida, os
agentes ambientais citam o trabalho atual como a oportunidade que não tiveram antes. É recorrente
em suas falas a menção à segurança por saber que ao final do mês serão remunerados por sua
atividade, mesmo que o montante a receber seja um salário mínimo. A maioria dos trabalhadores do
estudo exerciam anteriormente atividades relacionadas á agricultura, e sentiam muita dificuldade
por não conseguirem mensurar o quanto iriam receber, mesmo que muitas vezes recebessem mais
do que recebem atualmente. O trabalho na roça depende de ocorrências da natureza, da cotação dos
produtos. Os trabalhadores participantes do estudo eram pequenos agricultores que não tinham
como competir por melhores preços, tendo que vender sua produção localmente. Para esses
trabalhadores o fato de poderem contar com dinheiro certo no final do mês é uma experiência única,
que faz com que eles não atentem para as dificuldades encontradas no trabalho que realizam
atualmente. As falas reproduzidas abaixo indicam o quanto os agentes ambientais são gratos por
terem conseguido o trabalho atual.
Ao mesmo tempo que os trabalhadores são agradecidos por terem conseguido o emprego,
também vivenciam situações preconceituosas por parte da sociedade. Apesar de procurarem
demonstrar que ao serem abordados de forma preconceituosa não se importam, a forma e a
expressão como relatam essas vivências demonstram que essas situações são desagradáveis e, de
alguma forma, ficaram marcadas em sua memória de maneira negativa. Um exemplo foi o de uma
situação que aconteceu com um gari de uma das cidades pesquisadas, o qual foi agredido
verbalmente por um rapaz e todos falaram sobre o assunto, mostrando como ficaram indignados
com a situação, e, principalmente porque haviam relatado na secretaria de serviços urbanos e não
havia sido tomada qualquer providência. Eles esperavam alguma atitude por parte da secretaria,
esperavam que fosse feito algum tipo de relato à polícia local, usando o artigo 331 do código penal
sobre as penalidades para o desacato do funcionário público na realização de suas funções.
Essas situações levam a questionamentos a respeito do processo de inclusão social na
realidade brasileira, na qual há tradição de não valorização das habilidades e competências dos
trabalhadores que desempenham tarefas mais simples. Quando se diz que não há valorização se
quer dizer que é necessária a preocupação com as condições de trabalho desses agentes, de modo
que elas sejam dignas, que sua importância seja ressaltada para a sociedade ao ponto de se tornar
visível a ela como a exclusão afeta o desempenho das atividades profissionais, e que a eles sejam
concedidas condições de capacitação de forma similar à que é adotada com outros tipos de trabalho.
A capacitação nestas atividades contribuiria para a promoção de segurança emocional e financeira
desses trabalhadores. A falta de atenção e investimento em atividades como as retratadas no estudo,
pode levar à diminuição da procura por esses trabalhos, essenciais para a manutenção do bem estar
da sociedade, aumentando as filas daqueles que precisam de auxílios financeiros para sobreviver.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1194
Os programas de auxílio financeiro para pessoas de baixa renda, a princípio, incluem parte da
população que não tinha como manter as necessidades básicas, mas quando não estão aliados à
capacitação dessa população para o mercado de trabalho, aumenta a exclusão, gerando custos altos
para o país em termos da manutenção desses programas e também diminui a arrecadação pela falta
de mão de obra qualificada para ocupar as vagas do mercado de trabalho, gerando impacto negativo
no crescimento econômico e no desenvolvimento social. Véras (2004) destaca que o processo
transitório da exclusão para a inclusão resulta no excluído que não consegue ser incluído, já que
seus direitos estão comprometidos.
As condições de trabalho, como as instalações e equipamentos, sejam de execução ou de
segurança são os requisitos míninos para a realização de qualquer atividade, e no caso das
atividades exploradas no estudo, não é diferente. Abaixo podem ser vistas imagens dos ambientes
de trabalho de alguns sujeitos dessa pesquisa.
Em relação à precariedade no mundo do trabalho, Grecco (2010, p. 04) assim se manifesta:
A precariedade do mundo do trabalho é uma condição histórica ontológica da força de trabalho
como mercadoria. Desde que a força de trabalho se constituiu como mercadoria, o trabalho vivo
carrega o estigma da precariedade social. Se a precariedade é uma condição, a precarizacão é um
processo social de cunho histórico-político concreto, de natureza complexa, desigual e combinada,
que atinge o mundo do trabalho, e um atributo modal da precariedade.
Estudos tem identificado dois tipos de preconceito: o clássico e o novo. Como clássico
podemos entender manifestações hostis para com um determinado grupo e o novo que é o
preconceito velado, mas presente (PEREIRA, TORRES, & ALMEIDA, 2003).
Os agentes ambientais vivem os mais diferentes conflitos, mas o que afirmam é que, na
maioria das vezes, os conflitos são superados, pois estão no âmbito do grupo, ou seja, o grupo
absorve os conflitos surgidos do exterior e os resolve de alguma forma e com uma lógica própria.
Apesar de demonstrarem superação de situações conflituosas provocadas por agentes externos, o
mundo fora do grupo é o que mais acentua o sentimento de desvantagem, injustiça, incapacidade e
de falta de oportunidade. O trabalho constitui-se em uma referência desses sentimentos, como foi
evidenciado nos discursos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1195


CONCEPÇÕES RELATIVAS AO MEIO AMBIENTE
EVIDENCIADAS NAS ENTREVISTAS

importante preservar
O seu trabalho ajuda

está relacionado ao
O seu trabalho não
a preservar o meio

Visão negativa da
Visão positiva da
preservar o meio

o meio ambiente
Não acredita ser

relação ao meio

relação ao meio
meio ambiente

sociedade em

sociedade em
Importante

ambiente

ambiente

ambiente

ambiente
Receptor de lixo 2 1 1

Varrição 23 23 6 9

Esgoto 7 7 1 3

Coleta de lixo 8 8 1 3

Catador 4 4 4

Lixo hospitalar 1 1 1

Usina de reciclagem 8 8 1 6

Empresa de reciclagem 1 2 1 1 3

Entulho 1 1

Figura 03: Quadro de análise utilizado para indicar a relação entre modalidades de trabalho e percepção de
questões relativas ao meio ambiente.

Os dados acima indicam que grande parte dos entrevistados acreditam que o trabalho
realizado por eles contribui para a preservação ambiental e que os cuidados com o meio ambiente
são importantes. Durante as entrevistas eles foram questionados a respeito da fonte de informação
que tinham sobre meio ambiente, e dentro desse contexto foram perguntados a respeito da
contribuição dos cursos oferecidos pelas secretarias responsáveis pelas atividades exercidas por eles
ou se havia outra fonte de informação. Todos indicaram como fonte de informação a televisão. Em
relação aos cursos oferecidos nas secretarias, os participantes da pesquisa deixaram claro que as
secretarias não fornecem cursos, o que acontece em todos os municípios, nem como forma de
capacitação para a atividade exercida (fazendo o trabalhador aprender com outro trabalhador,
herdando os erros cometidos por ele), nem como informação adicional enfatizando a importância do
trabalho realizado por eles ao longo do ano, demonstrando a diferença e a importância, no
município, desse trabalho.
Os agentes ambientais têm a noção de que a atividade realizada por eles contribui para o
meio ambiente, apesar de alguns considerarem o que fazem pouco para a preservação ou
conservação ambiental. É importante ressaltar que as atitudes, sejam pequenas ou grandes, que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1196


tenham o intuito de transformação da relação de dominação estabelecida entre ser humano e
ambiente são válidas. Alguns agentes demonstraram que as atividades na área ambiental
proporcionaram um saber ambiental que no entender de Leff (2012, p. 31): ―O saber ambiental vai
se configurando em um espaço exterior ao círculo das ciências.‖
Abaixo aparecem algumas imagens ilustrando o saber ambiental na transformação do
resíduo em um novo produto, necessário, e que fornece renda para auxiliar nas necessidades da
família.

Figura 04: Ferramenta desenvolvida pelo agente ambiental para fabricar vassouras a partir de garrafas Pet.

Figura 05: Tiras de garrafa Pet para montagem das vassouras.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1197


As imagens mostram que além de utilizar como matéria prima algo que havia sido jogado
fora, o agente ambiental produziu uma ferramenta para realizar o trabalho de forma mais eficiente.
O exemplo da confecção das vassouras a partir da garrafa Pet leva à reflexão de que o saber
ambiental empenhado na construção das vassouras pode ser considerado racionalidade ambiental,
como propõe Leff (2012, p. 45):

A categoria racionalidade ambiental transforma-se, portanto, num conceito fundamental


para analisar a coerência dos princípios do ambientalismo em suas formações discursivas,
teóricas e ideológicas, a eficácia dos instrumentos de gestão ambiental e as estratégias do
movimento ambientalista, assim como a consistência das políticas públicas e as
transformações institucionais para alcançar os objetivos da sustentabilidade.

REFERENCIAS

Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

Capra, F. A teia da vida: uma nova concepção científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix,
2006.

Carvalho, I.C.M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental e
extensão rural. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, 2(2), 2001.

Grecco, F. S. Etnografia do trabalho e cotidiano dos trabalhadores coletores de materiais


recicláveis: um estudo sobre trabalho e vida dos trabalhadores da ACREPOM. VII Seminário
sobre trabalho, 2010.

Jacobi, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, 118, 189-205,


2003.

Leff, E. Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes.


São Paulo: Cortez, 2012.

Pereira, C., Torres, A.R.R., & Almeida, S.T. Um estudo do preconceito na perspectiva das
representações sociais: influência de um discurso justificador da discriminação no preconceito
racial. Psicologia, Reflexão e Crítica, 16(1), p. 95-107, 2003.

Porto, M. F. S., Juncá, D. C. M., Gonçalves, R. S., & Filhote, M. I. F. Lix trabalho e saúde: um
estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano no Rio de Janeiro. Brasil. Cad. Saúde
Pública, 20(6), 1503-1514, 2004.

Sawaia, B. Inclusão ou exclusão perversa? In: Sawaia (org.). As artimanhas da exclusão: análise
psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1198


Véras, M. (2004). Exclusão social: um problema brasileiro de 500 anos. In: Sawaia, B. (Org.). As
artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes,
2004.

Wanderley, M. B. Refletindo sobre a noção de exclusão. In: Sawaia, B. (Org.). As artimanhas da


exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1199


CONSTRUÇÃO DE HORTA VERTICAL NA ESCOLA ESTADUAL TENENTE
LUCENA: A POTENCIALIDADE DE UMA DIDÁTICA INTERDISCIPLINAR

Tayse de Souto SILVA


Especialista no Ensino de Ciências Naturais e Professora de Educação Básica do Estado da Paraíba
taysebiologia@gmail.com
Eduardo Rodrigues ARAÚJO
Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural e Pesquisador-bolsista do INSA (Instituto
Nacional do Semiárido)
eduaraujocg@gmail.com

RESUMO
A escola exerce grande influência na formação de hábitos alimentares. No entanto, geralmente as
questões nutricionais abordadas na escola se resumem à sala de aula e aos textos e atividades do
livro didático que, na maioria das vezes, oferecem um conteúdo descontextualizado, sendo
fundamental que a escola busque condições através de metodologias que promovam o processo
ensino-aprendizagem e a interdisciplinaridade dos conteúdos. O objetivo geral do projeto foi
ampliar os conhecimentos sobre agricultura familiar e alimentação saudável promovendo debates e
ações na escola que visem não só a sensibilização dos alunos sobre as questões acima abordadas,
como também, a adoção de práticas dentro da escola, com relação à merenda escolar, que
modifiquem e incentivem hábitos alimentares mais saudáveis e promovam a qualidade de vida da
comunidade escolar. A pesquisa aconteceu na escola estadual Tenente Lucena localizada no
município de João Pessoa e teve como amostra um total de trinta e nove alunos do 3º ano do ensino
médio. Os instrumentos de coleta de dados foram: construção de uma horta vertical, questionário
semiestruturado, palestras, exibição de vídeos, debates, construção de uma pirâmide alimentar e
cálculo do IMC (índice de massa corpórea). Com relação ao questionário observamos uma boa
aceitação da merenda produzida com os alimentos oriundos da agricultura familiar, porém, a
necessidade de mudanças de hábitos no que se refere às preferências alimentares e à prática de
atividades físicas. Na metodologia para construção da horta e demais atividades práticas foram
observada a participação ativa dos alunos e um interesse maior sobre os conteúdos curriculares
integrados ao tema gerador agricultura familiar, especialmente nas áreas de biologia, geografia e
matemática. O trabalho interdisciplinar permitiu que os alunos compreendessem a problemática
exposta através de uma visão holística, o que permitiu que o conhecimento fosse construído
coletivamente e de forma prazerosa.
Palavras-chaves: educação alimentar, merenda escolar, hábitos alimentares

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1200


ABSTRACT
The school has great influence in the formation of eating habits. However, generally the nutritional
issues of the school are limited to the classroom and to the texts and activities from the textbook
that, in most cases, offer a decontextualized content, it is essential that the school work it conditions
through methodologies that promote the process teaching-learning and interdisciplinary subject.
The overall objective of the project was to expand the knowledge about family farming and
promoting healthy eating in school debates and actions aimed at not only the awareness of students
about the issues raised above, as well as the adoption of practices within the school, in relation to
meals school, which modify and encourage healthier eating habits and promote the quality of life of
the school community. The research took place in Tenente Lucena state school located in the city of
João Pessoa and had sampled a total of 30 students of the 3rd year of high school. The instruments
for data collection were: building a vertical garden, semi-structured questionnaire, lectures, video
screenings, discussions, building a food pyramid and calculating the BMI (body mass index). With
the questionnaire we observed a good acceptance of meals produced with food from family
farming, however, need to change habits with regard to food preferences and physical activity. The
methodology for the construction of the garden and other practical activities noted the active
participation of students and an increased interest on all integrated into the theme generator family
farms, especially in the areas of biology, geography and math. Interdisciplinary work allowed the
students to understand the issues exposed through a holistic approach, which allowed knowledge
were collectively constructed and pleasurable way.
Keywords: nutritional education, school lunch, eating habits

INTRODUÇÃO

A alimentação desempenha um papel primordial durante todo o ciclo de vida dos indivíduos,
principalmente durante a fase escolar, pois requer uma demanda metabólica intensa para suprir
funções biológicas como atenção, disposição e concentração. Um aluno com fome não pode
cumprir com suas atividades normais, principalmente no que se refere à capacidade de
aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Como afirmam Moyses & Collares 51 (1997 apud
SAWAYA, 2006), a fome é a necessidade básica de alimento que, quando não satisfeita, diminui a
disponibilidade de qualquer ser humano para as atividades cotidianas e também para as atividades
intelectuais.

51
Moyses, M. A.; Collares, C. Desnutrição, fracasso escolar e merenda. In. Patto, M. H. (Org.) Introdução à psicologia
escolar. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,1997.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1201


Para Salgado (2005) um indivíduo submetido a restrições alimentares torna-se fraco,
irritadiço, desanimado, sem vontade de trabalhar, andar, pensar e realizar atividades que dependam
de esforço muscular e intelectual.
Percebe-se, então, a importância de uma merenda escolar de boa qualidade e de alto valor
nutricional. Para Sawaya (2006), a merenda pode, no entanto, resolver a ―fome do dia‖, ou seja, o
problema do estômago vazio, que compromete a capacidade de atenção e a disposição para
aprender de qualquer ser humano.
A escola exerce grande influência na formação de hábitos alimentares, visto que é nesse
ambiente que crianças, adolescentes e adultos permanecem por expressivo período de tempo diário.
No entanto, geralmente as questões nutricionais abordadas na escola se resumem à sala de aula e
aos textos e atividades do livro didático que, na maioria das vezes, oferecem um conteúdo
descontextualizado, não levando em consideração a cultura alimentar local, visto as particularidades
de cultivo agrícola de cada região.
Diante dessa realidade curricular é fundamental que a escola busque condições para uma
abordagem interdisciplinar dos conteúdos propiciando uma concretização maior de conceitos
relativos ao tema gerador da educação alimentar e subtemas como fisiologia vegetal, espécies
vegetais agrícolas, noções de espaço e medidas, qualidade da água, doenças humanas e distúrbios
alimentares, atividade física, sedentarismo, industrialização, entre outros que dialogam direta ou
indiretamente com o eixo temático principal.
É perceptível a importância que os serviços de alimentação disponíveis no ambiente escolar
deveriam assumir principalmente no que se refere ao fornecimento/origem, preparação,
comercialização de alimentos e refeições adequados do ponto de vista nutricional e sanitário.
De acordo com Tomita (2010), ―embora o homem tenha sempre se interessado pelo valor
nutritivo dos alimentos, a nutrição como ciência organizada só se desenvolveu nos últimos 50 anos,
e sua importância é mundialmente conhecida‖. Hoje já é possível um perfeito e completo
conhecimento das propriedades, bem como, técnicas de produção dos alimentos e como combiná-
los de forma saudável, levando-se em consideração idade, sexo, ocupação, condições de saúde,
clima e até mesmo situação geográfica.
É crescente a preocupação sobre o consumo de produtos saudáveis e livres de quaisquer
substâncias químicas sintéticas que prejudiquem a saúde e o meio ambiente, trazendo para o debate
a agricultura familiar que surge como forma de produção agrícola eficaz para a promoção da saúde
e desenvolvimento de práticas e hábitos sustentáveis com relação ao meio ambiente e à saúde do
corpo. Como afirma Fickert (2014) ―a agricultura familiar merece especial atenção pelo seu
significado para a saúde humana visto que é responsável por boa parte da produção de alimentos
básicos que chegam às nossas mesas‖.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1202
Segundo a EMBRAPA, (2014) ―em todas as refeições há pelo menos um produto
proveniente da Agricultura Familiar. Geradora de cerca de 70% dos alimentos que estão nas nossas
mesas e panelas, número que traduz a importância do segmento para a sociedade e para a segurança
alimentar, este ano de 2014, foi dedicado internacionalmente a ela‖.
Nesse contexto, merece destaque o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae),
presente na totalidade das escolas públicas do país como um serviço ao qual poderiam ser
incorporadas estratégias de intervenção, com vistas ao reconhecimento e consolidação de hábitos
alimentares saudáveis. Segundo o Ministério da Educação, com a aprovação da Lei nº 11.947, de 16
de junho de 2009, e da Resolução FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009, as escolas das redes
públicas de educação básica passaram a usar produtos da agricultura familiar nas refeições
oferecidas aos seus alunos. Agora, no mínimo 30% do valor enviado a estados, municípios e
Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para o Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE) devem ser utilizados obrigatoriamente na aquisição de gêneros
alimentícios provenientes da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural com dispensa de
licitação.
Ainda segundo o Ministério da Educação, para promover a conexão entre agricultura
familiar e alimentação escolar, é preciso observar os princípios e as diretrizes estabelecidos pelo
PNAE: alimentação saudável e adequada; universalidade do atendimento e direito a alimentação
escolar; participação da sociedade no controle social; inclusão da educação alimentar e nutricional
no processo de ensino e aprendizagem; desenvolvimento sustentável, que significa adquirir gêneros
alimentícios diversificados e produzidos localmente.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Tenente Lucena, em cumprimento às
exigências do PNAE, recebe os seguintes produtos oriundos da agricultura familiar: coentro, cebola,
tomate, cenoura, batata inglesa, beterraba, chuchu, batata doce, inhame, macaxeira, pimentão,
abacaxi, laranja, banana, mamão e ovo de galinha que são fornecidos pela Associação dos
produtores da agricultura familiar do Município de Santa Rita. Desta forma, a escola oferece
subsídios para uma alimentação mais saudável e diversificada e, além disso, com parte do
orçamento assegurado à agricultura familiar, contribui para o incentivo à produção agrícola local e a
disseminação de uma cultura alimentar tradicional em detrimento ao consumo de produtos
industrializados.
O cuidado com a alimentação constitui o primeiro passo para uma vida saudável, ao passo
que a agricultura familiar apresenta a melhor alternativa para atender tais necessidades, pois
―preserva os alimentos tradicionais, além de contribuir para uma alimentação balanceada e para
preservar a agrobiodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais‖ (FAO, 2014). A

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1203


agricultura familiar reproduz um modo de produção que tem como base a Agroecologia que
preserva a saúde da terra e dos que nela vivem.
A necessidade de maior coerência entre as teorias trabalhadas no currículo escolar e a vida
extraescolar do alunado tem se tornado um fator crucial na determinação dos projetos escolares e
nas metodologias adotadas em sala de aula. Desta forma, aplicar uma metodologia que promova
uma aprendizagem significativa através do despertar de potenciais, talentos, capacidade de
iniciativa e outras habilidades que proporcione maior eficiência no processo ensino-aprendizagem
contribuirá para a formação dessa nova geração de aprendizes e propiciará uma maior troca de
conhecimento entre os sujeitos envolvidos na busca de uma melhoria do desempenho escolar e da
qualidade de vida dos estudantes.
Nessa perspectiva este projeto teve como objetivo ampliar os conhecimentos sobre
agricultura familiar e alimentação saudável promovendo debates e ações na escola que visem não só
a sensibilização dos alunos sobre as questões acima abordadas, como também, a adoção de práticas
dentro da escola com relação à merenda escolar que modifiquem e incentivem hábitos alimentares
mais saudáveis e promovam a qualidade de vida da comunidade escolar.

METODOLOGIA

O projeto utiliza-se de um método participativa de pesquisa e está sendo realizado no


período de julho a dezembro de 2014, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Tenente
Lucena (EEEFMTL), localizada no Bairro dos Ipês no município de João Pessoa. A pesquisa teve
como amostra um total de trinta e nove alunos que cursam o 3º ano do ensino médio, com faixa
etária de 16 a 47 anos.
A metodologia aplicada teve como finalidade facilitar o processo ensino aprendizagem de
forma dinâmica e prazerosa; incentivar a aquisição de hábitos alimentares saudáveis; consolidar
parcerias e contatos com profissionais relacionados ao tema que contribuam para a construção do
conhecimento e enriquecimento do processo ensino-aprendizagem; estimular a participação ativa
dos alunos nas diversas atividades escolares; socializar decisões de ordem administrativas,
enaltecendo assim, uma gestão democrática; introduzir o sistema da horta na escola como um ganho
econômico e social para a comunidade escolar e verificar a aceitação da merenda escolar pelos
alunos, analisando e intervindo em seus hábitos e preferências alimentares.
Os instrumentos metodológicos utilizados foram:
 Palestras com as temáticas: agricultura familiar com o agrônomo Eduardo Rodrigues Araújo
sobre sua atuação na agroecologia, a agricultura familiar e a utilização de agrotóxicos na
produção dos alimentos; e palestra sobre nutrição com a nutricionista Cláudia Maia que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1204


abordou a importância de uma dieta alimentar adequada para a saúde do corpo e
desempenho escolar;
 Construção da horta vertical, onde os alunos foram divididos em grupo para o corte,
amarração das garrafas, preparação do substrato das garrafas, plantio das sementes de
coentro, cebolinha, salsa e rúcula e fixação na parede;
 Questionário semiestruturado que avaliou os hábitos alimentares familiares dos alunos, seus
hábitos alimentares na escola, suas considerações e preferências com relação à merenda
oferecida, seus conhecimento acerta da origem e/ou produção dos alimentos consumidos e o
consumo de produtos industrializados e/ou orgânicos em sua alimentação. Foi analisado
também, alguns aspectos dos hábitos dos alunos com relação a atividades físicas e saúde do
corpo.
 Exibição do documentário ―o veneno está na mesa 1 e 2‖ de Michel Tender, que abordam a
produção de alimentos, a contaminação dos mesmos pelos agrotóxicos e toda política que
envolve o agronegócio. Posteriormente, foi realizado um círculo de debates sobre o
agronegócio numa aula interdisciplinar com o professor de geografia da escola Edson
Rangel;
 Atividade lúdica para confecção de uma pirâmide alimentar de 2 metros para o estudo dos
principais nutrientes que compõem os alimentos, especificamente os presentes no cardápio
da merenda oferecida pela escola e a relação desses nutrientes com as suas funções
metabólicas para o corpo;
 Medição do IMC (índice de massa corpórea) dos alunos, onde os próprios alunos puderam
calcular seus índices com a ajuda da professora de Matemática da escola Selma Cristina.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise do questionário semiestruturado foi constatado que apenas 24,1% dos
alunos se alimentam regularmente, numa média de três em três horas, e que apenas 34,5% evita o
consumo de alimentos gordurosos e ricos em açúcar em suas casas. Destes, apenas 10,3% prefere o
uso de alimentos com indicação light ou diet e 55,3% consomem frutas, verduras e legumes com
frequência. Além disso, 85, 2% nunca observou a disponibilidade de produtos orgânicos para a
compra em supermercados. Esses resultados indicam que a adoção de uma alimentação saudável é
um desafio presente no cotidiano da sociedade atual e as respostas obtidas reforçam a não
priorização, por fatores diversos, dos hábitos alimentares saudáveis na vida dos alunos.
Nesse contexto ressaltamos a importância de uma orientação nutricional que proponha uma
elevação na qualidade de vida dos nossos alunos, principalmente no que se refere ao seu

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1205


desempenho escolar. Segundo Perondi (2010) a alimentação pode ser uma das influências para
dificuldades encontradas no processo ensino-aprendizagem, pois a ausência de nutrientes no
período escolar, que é o período de crescimento, pode promover um déficit no desenvolvimento
físico e cognitivo.
No que se refere à merenda escolar, o cardápio oferecido pela escola está descrito na tabela
1 abaixo. Conforme análise do questionário, apenas 13,8% não consomem os alimentos oferecidos
no cardápio, 48,3% o faz todos os dias e 37,9% às vezes. Essa tendência observada corrobora com
os resultados de Flávio et al. (2004) onde 72% consomem a merenda escolar, indicando uma boa
aceitação da mesma. Sobre se é atrativa e variada, 48,1% responderam que sim e 44,4%
responderam que às vezes. Observamos uma contradição nas respostas obtidas, pois dos que
consomem todos os dias, 44,4% afirmam que o cardápio não está de acordo com suas preferências
alimentares.
Conforme Danelon et al. (2006) as motivações que levam crianças e adolescentes a
deixarem de consumir determinado alimento, tais como as preferências alimentares norteadas pelo
paladar, a rejeição voluntária e preferências culturais constituem um dos principais problemas
relacionados à alimentação.

DIA DA SEMANA CARDÁPIO


Segunda-feira Iogurte com bolacha (doce e/ou salgada)
Terça-feira Pão com queijo e suco de frutas
Quarta-feira Arroz com frango ou Inhame com frango
Quinta-feira Cuscuz com ovo ou carne moída e suco de frutas
Sexta-feira Salada de frutas
Tabela 1: Cardápio oferecido na merenda da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Tenente Lucena.

Ainda segundo Danelon et al. (2006) as preferências alimentares dos mais jovens, que nem
sempre recaem sobre os alimentos considerados mais saudáveis, quer pelo paladar atrativo de outros
alimentos, quer por hábitos culturais, que aliado ao sedentarismo, têm provocado, segundo estudos
epidemiológicos, um crescimento da prevalência de obesidade entre esses indivíduos. Tal situação
pode gerar em médio prazo o aumento da probabilidade de riscos de doenças cardiovasculares,
hipertensão e outros transtornos de saúde.
O sedentarismo é outro ponto que merece destaque, tendo em vista que do total dos alunos
observados, 37,9% não praticam atividade física alguma e 55,2% não a praticam regularmente.
Além disso, 44,4% dos alunos questionados não costumam ir ao médico verificar suas taxas
metabólicas como glicemia, colesterol e triglicerídeos.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o cálculo do IMC (índice de massa
corpórea) como parâmetro para a avaliação do estado nutricional de jovens e adultos. Neste âmbito,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1206


de acordo com o levantamento do IMC dos alunos envolvidos no projeto, 31,6% estão acima do
peso e 18, 4% apresentam obesidade moderada, segundo análise comparativa baseada na tabela
fornecida pela Fundação Getúlio Vargas. Este dado pode ter relação com o excesso de alimentos
consumidos pelos alunos que são considerados como extraenergéticos a exemplo dos vendidos na
cantina da escola. São eles: biscoitos recheados, chocolates e doces, salgadinhos industrializados,
salgados fritos, sanduiches e refrigerantes.
Apesar de 62% dos alunos consumirem alimentos vendidos na cantina da escola, como
pipoca e salgados, produtos estes citados em 100% das respostas, uma parcela significativa de
35,3% citou que o alimento que menos lhes agrada na merenda escolar é a bolacha com iogurte que
constituem alimentos do mesmo grupo de alguns dos alimentos comprados na cantina. A
aceitabilidade desse tipo de alimentação está em contradição com as pesquisa de Flávio et al. (2004)
onde foi constatado que os cardápios que tiveram o seu índice de aceitabilidade adequado foram
principalmente os que serviram bebidas lácteas e biscoitos.
Fazendo uma reflexão dos dados, observa-se que as preferências alimentares variam de uma
região para outra, pois estão muito ligadas aos hábitos e cultura agrícola locais, apesar de nem
sempre um cardápio que ressalte o uso de alimentos regionais ser o mais incentivado na merenda
escolar. Conforme a análise do questionário 89,6% dos alunos consomem alimentos característicos
da região como: tapioca, comidas de milho, inhame, macaxeira, batata doce. No entanto, nem todos
esses alimentos estão presentes no cardápio da merenda escolar. Além disso, o hábito de consumir
produtos industrializados e/ou de alto valor calórico como os doces e frituras vendidos na cantina
nos reforça que a alimentação sofre grande influência das propagandas atrativas e da grande
variedade e oferta desses produtos no ambiente escolar e extraescolar.
Kazapi et al, (2001) sugerem que alguns fatores contribuem para o consumo de uma
alimentação inadequada, destacando a preferência por uma alimentação rápida (fast foods), cujo
consumo é estimulado pela mídia e o sedentarismo, resultado indireto do avanço tecnológico.
A melhor aceitação das refeições preparadas com alimentos oriundos da agricultura familiar
na merenda da escola, como o inhame com frango, a salada de frutas, o arroz com carne e o cuscuz
corroboram com a preferência de produtos regionais e com o desejo de uma alimentação mais
saudável, constatado também na questão subjetiva sobre como avaliam a construção da horta, onde
44,1% considerou positiva a introdução da horta, pois tornaria o lanche mais saudável e/ou
mostraram preocupação com sua alimentação.
No que se refere à construção da horta e demais atividades realizadas e descritas na
metodologia deste trabalho foi observado a participação ativa dos alunos, como também um
interesse especial sobre todos os conteúdos curriculares integrados ao tema gerador agricultura
familiar, especialmente na áreas de biologia, geografia e matemática. O trabalho interdisciplinar
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1207
permitiu que os alunos compreendessem a problemática exposta através de uma visão holística, o
que colaborou para que o conhecimento fosse construído coletivamente e de forma prazerosa e não
apenas centrado na transmissão de conteúdos pragmáticos.
Esta análise foi constatada na observação direta dos alunos durante a atividade da horta e nas
respostas subjetivas do questionário, onde 11,7% dos alunos citaram como ponto positivo o trabalho
em equipe e 17,6% ser bom o aprendizado sobre como cultivar plantas. A construção da horta
incentivou o exercício da cidadania, o trabalho coletivo, a capacidade de iniciativa dos alunos e o
prazer pelo desenvolvimento de atividades fora da sala de aula.
Desta forma todas as atividades desenvolvidas promoveram o processo ensino-
aprendizagem e uma formação humana integral dos alunos que, segundo Brasil (2013), se refere à
compreensão dos indivíduos em sua inteireza, isto é, a tomar os educandos em suas múltiplas
dimensões intelectual, afetiva, social, corpórea, com vistas a propiciar um itinerário formativo que
potencialize o desenvolvimento humano em sua plenitude, que se realiza pelo desenvolvimento da
autonomia intelectual e moral.
Conforme Morgado (2006),

―A horta inserida no ambiente escolar pode contribuir de forma significativa para a


formação integral do aluno, haja visto que o tema engloba diferentes áreas de conhecimento
e pode ser desenvolvido durante todo o processo de ensino aprendizagem, através de vastas
aplicações pedagógicas com situações reais, envolvendo educação ambiental e alimentar‖.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A verba destinada à compra de produtos da agricultura familiar no ano de 2013 na


E.E.E.F.M Tenente Lucena, segundo documentos apresentados pela direção da escola, ultrapassou o
limite mínimo estipulado pelo PNAE, o que nos levou a concluir, conforme reforçado também no
resultado positivo do questionário aplicado aos alunos sobre o consumo frequente da merenda, a
boa aceitação desses produtos na escola. No entanto, embora a porcentagem estipulada pelo PNAE
de 30% do orçamento seja a mínima exigida, concordamos que a participação dos alunos em ações
que visem diminuir gastos, a socialização das leis que regem a escola, a ampliação da oferta de
alimentos na merenda e o incentivo a participação de todos os envolvidos nas questões
administrativas da gestão, colaboram para uma melhor convivência e relacionamento entre todos os
segmentos da escola, desde a direção ao corpo discente, refletindo numa aprendizagem mais
significativa.
Para Brasil (2005) o estímulo à criação de hortas no ambiente escolar é importante porque a
criação de hortas seria uma experiência importante para o desenvolvimento da chamada "agricultura
urbana", praticada com êxito em vários países e referida como uma das ações estratégicas do
Programa Fome Zero, e também, porque as diferentes atividades envolvidas (preparação do terreno,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1208
plantio, cuidados com a planta, colheita e, depois, a preparação dos alimentos) poderiam
transformar as hortas em instrumentos pedagógicos, e possibilitariam o aumento no consumo de
frutas e hortaliças, o resgate dos hábitos regionais e locais, além da diminuição dos custos com a
compra desses produtos.
Diante da ótima aceitação do projeto na escola, tanto pelo corpo discente quanto docente da
escola, sugerimos a continuidade do projeto através da ampliação da horta, pois, a escola dispõe de
um espaço externo de 600 m2 que contribuirá de maneira mais significativa com a quantidade de
produtos que podem ser produzidos e oferecidos dentro da própria escola para o seu uso no preparo
da merenda. Este foi um dos pontos observados entre as respostas dos alunos no questionário que se
refere aos pontos negativos do trabalho, onde citaram que o mesmo deveria ser ampliado e/ou ser
realizado num espaço maior.
Segundo Weis et al (2004), em alguns estados brasileiros, essa prática tem atingido
resultados positivos, como o obtido em município do interior do Paraná, que economizou 85% do
recurso destinado à compra de frutas e verduras, após implantar hortas nas escolas
É válido salientar que todos os que compõem a comunidade escolar, incluindo alunos de
outros turnos, funcionários da cantina, da secretaria e demais professores, se envolveram e se
disponibilizaram no revezamento para os cuidados diários com a horta.
Concluímos que a discussão do tema proposto neste trabalho contribuiu para o incentivo a
inovações metodológicas na prática didática dos professores, bem como para a adoção de novas
práticas alimentares pelos alunos. Sendo assim, julgamos importante que a escola mostre através de
ações concretas, como a implantação da horta, como a teoria pode se tornar prática diária na vida
dos estudantes.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Cartilha sobre Alimentação escolar e Agricultura Familiar.


Disponível em: http://www.fnde.gov.br/arquivos/category/116-alimentacao-
escolar?download=7621:cartilha-alimentacao-escolar-e-agricultura-familiar > Acesso em 18 jul.
2014;

BRASIL, Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Alimentação e educação nutricional nas


escolas e creches. Brasília; 2005 [acesso 20 dez 2005]. Disponível em:
http://www.fomezero.gov.br/conferencia/Arquivos/Pdf/11-Alimentacao_ Educacao.pdf > Acesso
em: 05 de ago. 2014

BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I -


caderno III : o currículo do ensino médio, seu sujeito e o desafio da formação humana integral /
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1209
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [autores : Carlos Artexes Simões,
Monica Ribeiro da Silva]. – Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 2013.

DANELON, Maria Angélica Schievano; DANELON, Mariana Schievano & SILVA, Marina
Vieira. Serviços de alimentação destinados ao público escolar: análise da convivência do
Programa de Alimentação Escolar e das cantinas; Segurança Alimentar e Nutricional,
Campinas, 13(1): 85-94, 2006

EMBRAPA, Jornal interno Linha Aberta; Ano 20, Nº 849 de 16 /02 a 05/03/2014;

____ Folheto Ano Internacional da Agricultura Familiar – FAO, 2014.

FICKERT, Udo. Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado no Norte e Nordeste do Brasil -


Incremento do mercado orgânico no Brasil. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, DED 2004.

FLAVIO, Eliete Fernandes; BARCELOS, Maria de Fátima Píccolo; LIMA, Andrelisa Lina de.
Avaliação química e aceitação da merenda escolar de uma escola estadual de Lavras-MG.
Ciência Agrotecnologia, Lavras, v. 28, n. 4, Aug. 2004.

KAZAPI, Ileana M. e cols. Consumo de energia e macronutrientes por adolescentes de escolas


públicas e privadas. Revista de Nutrição. v. 14 supl.0. Campinas, 2001.

MORGADO, Fernanda da Silva. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência


do Projeto Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis (Trabalho de Conclusão do curso
de agronomia), UFSC, Florianópolis, 2006.

PERONDI, Bianca Brigantini de Souza. A influência da alimentação no desempenho escolar.


Monografia (Curso de Biologia Licenciado em Biologia no Programa Especial de Formações de
Docentes da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza– FGF), Terra Rica/PR, 2010

SAWAYA. Sandra Maria. Desnutrição e baixo rendimento escolar: contribuições críticas. Estudos
avançados; vol.20 no.58, São Paulo Sept./Dec. 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142006000300015&script=sci_arttext > Acesso
em 24 ago.2014 ;

TOMITA, Rúbia Yuri. Manual do corpo humano. 1ª edição, editora: RIDEL,2010;

WEIS, B.; WHITAKER, W.; CHAIM, NA.; BELIK, W. .Manual de gestão eficiente da merenda
escolar . Disponível em: http: //www. fomezero.org.br < Acesso em 25 ago 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1210


―PROJETO MATA VERDE‖: INICIATIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO
COLÉGIO IMPERATRIZ LEOPOLDINA, NO MUNICÍPIO GUARAPUAVA, PARANÁ

Luis Guillermo GRANADOS CORRALES


Mestrando em Agronomia, Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO-Guarapuava
lugraco14@hotmail.com
Luciano FARINHA WATZLAWICK
D. Sc. Prof. Pós-Graduação, Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO-Guarapuava
farinha@unicentro.br
Luciano EGEWART
Diretor Educacional do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina - Guarapuava
egewarth@agraria.com.br

RESUMO
Ao longo dos anos foi fornecida a discussão sobre a necessidade de implementar a educação
ambiental para construir uma série de valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências
orientadas para a conservação do meio ambiente. O Projeto Mata Verde, desenvolvido pelo Colégio
Imperatriz Dona Leopoldina, é um modelo de projeto educacional-ambiental com uma boa
estrutura, que busca a integração entre estudantes, professores e comunidade sobre questões
voltadas ao cuidado com o meio ambiente.
Deste modo, estudou-se a matriz curricular do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina, os relatórios
das atividades anuais do Projeto Mata Verde e vivenciou-se a metodologia de trabalho do Projeto,
com o objetivo de conhecer a estrutura-sistematização de Mata Verde, e conhecer seu alcance na
educação ambiental formal e não formal. Foram realizadas entrevistas nas cinco colônias
estabelecidas pelos imigrantes suábios (Vitória, Jordãozinho, Cachoeira, Socorro e Samambaia),
que formam o distrito de Entre Ríos do município de Guarapuava-Paraná, para analisar se a
comunidade percebe a integração das atividades do Projeto Mata Verde com a comunidade.
Evidenciou-se que as ações do Projeto Mata Verde têm influência na educação ambiental formal e
não formal, onde constata-se que a estrutura do Projeto é bem sistematizada e que 84,5% dos
entrevistados evidenciaram uma integração do Mata Verde com a comunidade dentro de um
parâmetro de mediano à alto nível de integração.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Projeto Mata Verde, Colégio Imperatriz Dona Leopoldina.

RESUMEN
A lo largo de los años fue fortalecida la discusión sobre la necesidad de implementar la educación
ambiental para construir una serie de valores sociales, conocimientos, actitudes y competencias
orientados para la conservación del medio ambiente. El Proyecto Mata Verde, desarrollado por el
Colegio Imperatriz Dona Leopoldina, es un modelo de proyecto educacional-ambiental con una

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1211


buena estructura, que busca la integración entre estudiantes, profesores y comunidad sobre
situaciones dirigidas al cuidado con el medio ambiente.
De este modo, se estudió la matriz curricular del Colegio Imperatriz Dona Leopoldina, los informes
de las actividades anuales del Proyecto Mata Verde y se vivenció la metodología de trabajo del
Proyecto, con el objetivo de conocer la estructura-sistematización de Mata Verde y conocer su
alcance en la educación ambiental formal y no formal. Fueron realizadas entrevistas en las cinco
colonias establecidas por los inmigrantes suábios (Vitória, Jordãozinho, Cachoeira, Socorro e
Samambaia), que forman el distrito de Entre Ríos del municipio de Guarapuava - Paraná, para
analizar si la comunidad percibe la integración de las actividades del Proyecto Mata Verde con la
comunidad. Se evidenció que las acciones del Proyecto Mata Verde tienen influencia en la
educación ambiental formal y no formal, donde se constata que la estructura del Proyecto es bien
sistematizada y que 84,5% de los entrevistados evidenciaron una integración de Mata Verde con la
comunidad dentro de un parámetro de mediano a alto nivel de integración.
Palabras-Claves: Educación Ambiental, Proyecto Mata Verde, Colegio Imperatriz Dona Leopoldina

OBJETIVO GERAL:

Divulgar a experiência do Projeto Mata Verde do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina


como um modelo de educação ambiental

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Pesquisar se o Projeto Mata Verde do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina tem influência
na área de educação ambiental formal e informal.
 Apresentar a estrutura do Projeto Mata Verde com as práticas ambientais desenvolvidas.
 Conhecer a visão da comunidade para o colégio, percebendo integração das práticas
ambientais do Projeto Mata Verde, entre a instituição de ensino e o distrito Entre Rios.

INTRODUÇÃO

Diferente de séculos passados, atualmente a população mundial presta atenção aos eixos
temáticos ambientais, e isso é evidenciado mais fortemente depois dos anos 60/70 pelas diferentes
reuniões (conferências, fóruns, convenções, etc) que foram feitas conversando sobre assuntos
ambientais (BRASIL, 2000).
Para Jacobi (2005), o debate internacional sobre mudanças significativas para solucionar os
problemas ambientais é feito na década de 1990, destacando a Conferência das Nações Unidas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1212


sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Rio 92 – local onde foi um momento importante
para a institucionalização da problemática ambiental.
Nesta conferencia internacional (Rio 92), os países participantes escreveram o documento
conhecido como Agenda 21, documento onde em seu capitulo 36, intitulado ―Promoção do Ensino‖,
a educação ambiental recebeu atenção redobrada, tendo ênfase na importância da educação
permanente sobre meio ambiente (CZAPSKI, 1988).
Propriamente no Brasil, a abordagem da educação ambiental tem reformas importantes na
década de 90, onde parece acentuar-se a preocupação com o ensino formal, através de políticas
específicas para a área da educação (PCNs), e o reconhecimento da educação ambiental como
política nacional (PNEA) (PADUA, S.M.; SÁ, L.M., 2002).
Segundo (IBAMA, s/d), o Brasil é um dos poucos países do mundo onde o processo de
educação ambiental tem uma estrutura organizacional sistematizada, mencionando duas leis, a
primeira escrita no inciso VI do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 que estabelece
―promover a EA em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente‖, depois tem a Lei 9795 de 1999 promulgada pela Presidência da República,
instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Depois menciona-se a criação do
Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que foi elaborado pela coordenação entre os
Ministérios do Meio Ambiente e da Educação.
Para Padua e SÁ (2002), a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) é uma lei que
dá reconhecimento formal e legitimidade ao concepto de educação ambiental, indicando que deve
estar presente, de forma articulada, no processo educativo nacional, em caráter formal e não-formal.
A PNEA, em sua seção II, introduz mediante o artigo 9o o conceito da Educação Ambiental
no Ensino Formal, a qual é desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino
públicas e privadas. No seu artigo 10, diz que a EA será desenvolvida como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis do ensino formal, mas não deve ser implantada
como disciplina específica no currículo de ensino. Na sua seção II, mediante o artigo 13, faz uma
abordagem sobre a Educação Ambiental Não-Formal, onde entendem-se as ações e práticas
educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, incentivando a
difusão, em espaços nobres, de programas, campanhas educativas, a participação de instituições de
ensino e de empresas ou organizações não governamentais na formulação e execução de programas
de educação ambiental (BRASIL, 1999).
Pode-se dizer, que todas estas mudanças estruturais mostram que a sensibilização da
importância de ter educação é uma etapa superada, e que agora, deve-se trabalhar nas estratégias de
implementação de esta educação ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1213


Uma pesquisa feita pela Coordenação Geral de Educação Ambiental (COEA) - mencionada
por (COORDENAÇÃO-GERAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2001), percebeu que a maioria
dos projetos destinados para abordar a educação ambiental no Ensino Fundamental, tem
deficiências estruturais para sua elaboração, onde se identifica a falta de clareza na formulação dos
objetivos, a falta de articulação entre todas as etapas do projeto, a ausência da previsão de avaliação
e a incoerência das estratégias em relação aos objetivos propostos. O informe complementa que:
―Os projetos possibilitam o envolvimento, a cooperação e a solidariedade entre alunos, professores
e comunidade para transformar a realidade por meio de ações‖.
RUPEA (2005), no mapeamento das práticas de EA desenvolvidas nas instituições de
educação superior (IES) brasileiras, elaborou o quadro um, onde sintetiza as ―dificuldades‖ na
implementação de programas de EA nas IES.

DIFICULDADES DETALHAMENTO
1.1. Rigidez da estrutura acadêmica
1.2 Resistências no meio acadêmico em reconhecer a EA
1. Rigidez no meio académico
como área do conhecimento
1.3. Falta de oportunidades para o diálogo
2.1. Falta de recursos financieros
2. Falta de recursos financeiros,
2.2. Falta de infra-estructura e de outras condições objetivas
infra-estrutura e pessoal
2.3. Falta de pessoal especializado
3. Falta de políticas públicas e 3.1. Falta de apoio e de políticas institucionais
institucionais 3.2. Falta de políticas públicas em EA para a universidade
4. Falta de preparo dos 4.1. Falta de clareza sobre a natureza da EA e de preparo para
profissionais para a prática da EA sua prática
5. Desconhecimento da legislação
sobre EA 5.1. Desconhecimento da legislação sobre EA
6. Falta de pesquisa,
sistematização e difusão das 6.1. Falta de pesquisa, sistematização e difusão das
experiências em EA experiências em EA
7. Falta de um arcabouço teórico e
metodológico 7.1. Falta de um arcabouço teórico e metodológico
8.1. Falta de motivação
8. Outras dificuldades 8.2. Desinteresse dos alunos
8.3. Descaso da sociedade civil
Quadro 1. Síntese das ―dificuldades‖ na implementação de programas de EA nas IES (RUPEA, 2005)

Não é necessário incorporar a temática ambiental dentro de uma disciplina curricular,


precisa-se do diálogo e incentivo entre as diversas áreas do saber, procurando envolver várias
instituições, técnicos e professores para investir basicamente em vivências por meio de trabalhos de
campo que deem oportunidade de conhecer e estudar os diversos ecossistemas e realidades
ambientais. Assim este conhecimento ganhado pela vivência vai gerar uma melhoria na qualidade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1214


das aulas do professor, pois o professor, ao conhecer e viver uma determinada situação concreta,
aprende e estuda a realidade (Secretaria de Educação Fundamental, 2001).
Diante do exposto, o presente trabalho vem ao encontro da necessidade de apresentar
modelos de projetos educacional-ambiental com uma boa estrutura, buscando uma integração
estudantes, professores e comunidade.

METODOLOGIA

Localização (Paraná-Guarapuava-Entre Rios)

O presente trabalho foi realizado na propriedade do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina,


instituição particular de ensino que oferece Educação Básica e Profissionalizante e possui como
diferenciais o ensino de Língua Alemã e a oferta de atividades extraclasse, que complementam a
formação cidadã e integral dos alunos através de trabalhos desenvolvidos no âmbito cultural, social
e ambiental.
O Colégio está localizado no distrito de Entre Rios, no município de Guarapuava – PR.
Guarapuava está localizada à uns 25°23'36,9" de latitude sul e 610 28‘ 06,2‖ de longitude oeste,
situa-se no Terceiro Planalto Paranaense, com uma altitude média de 1.120 metros, segundo
(Izidoro, 1976), apresentado na Figura um.
O Colégio Imperatriz Dona Leopoldina foi construído na Colônia Vitória, sendo parte das
cinco colônias (Vitória, Jordãozinho, Cachoeira, Socorro e Samambaia), estabelecidas pelos
colonos suábios (alemães), quando fundaram o distrito Entre Rios no ano 1951, segundo (TULIO et
al., 2012).

FIGURA 1. Localização da área de estudo, Colégio Imperatriz Dona Leopoldina,


distrito Entre Rios, no município de Guarapuava (PR) (ELFES, 1971).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1215


Local de Estudo (Colégio Imperatriz Dona Leopoldina)

O projeto Mata Verde é desenvolvido nas instalações do Colégio Imperatriz Dona


Leopoldina, o qual foi construído na colônia Vitória, sendo parte das cinco colônias (Vitória,
Jordãozinho, Cachoeira, Socorro e Samambaia), estabelecidas por los colonos suábios (alemãos),
quando fundaram o distrito Entre Rios no ano 1951, segundo (TULIO et al., 2012)

ESTUDO DE CAMPO

 Reuniões com o corpo diretivo e administrativo do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina,


para analisar a matriz curricular, enfocando-se na educação ambiental que incentiva a matriz
curricular.
 Levantamento das práticas ambientais desenvolvidas pelo Projeto Mata Verde do Colégio
Imperatriz Dona Leopoldina, apoiando-se nos relatórios das atividades anuais que o Projeto
apresenta.
 Realizar as entrevistas com a comunidade do distrito de Entre Rios.

SOBRE O PROJETO MATA VERDE

O Projeto Mata Verde do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina busca promover a educação
ambiental e um novo olhar dos educandos para a natureza, incentivando a preservação e o cuidado
do meio ambiente.
O projeto surgiu a partir da necessidade de uma conscientização mais arraigada dos alunos
sobre questões ambientais, tendo como alicerce a preservação e a valorização da natureza e,
consequentemente, da vida.
A educação ambiental e os meios de sustentabilidade são os principais focos educativos do
Mata Verde, que visa fortalecer constantemente os conceitos que tratam sobre as mudanças
culturais no uso dos recursos naturais, fornecendo subsídios para despertar nos jovens educandos
hábitos de cunho social e ambiental. Esse projeto teve início em 2006, e é constituído por três
segmentos, que são Compostagem, Boutique do Papel e Estufa. O projeto é coordenado pelos
professores Lía Mirian Morselli e Valério Tomaselli. Atualmente, as atividades do Mata Verde são
realizadas duas vezes por semana, no período da tarde, e o Projeto conta com o apoio da
Cooperativa Agrária Agroindustrial e Arysta Life Science.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro dois mostra a grande influência que tem o Projeto Mata Verde na educação
ambiental, tanto dos estudantes do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina, como também os esforços

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1216


deste Projeto em procurar uma sensibilização ambiental com a comunidade por meio da educação
informal.

INFLUÊNÇIA DO PROJETO MATA VERDE


Educação Ambiental Educação Ambiental Informal
Formal
 Currículo Acolhe visitas Comemorações de Divulgações –
Ensino Fundamental 6º e 7º Educacionais dias especiais Exposições
Ano, tem que cumprir - Grupo da 3a - Feira de Ciências - Faculdades
dentro das 5 aulas/semana idade de Entre - Dia do Meio Campo Real
de Ciências, 2 aulas / Rios Ambiente - Festival Winter
semana do Projeto Mata - Kindercenter - Dia da Escola Show; (Festa da
Verde (Atividades Aberta Cevada)
 Interdisciplinar extraclasse da - Dia da Árvore - SESC
3º Ano do Ensino Educação Infantil) - Festa dos 60 anos - Doações para o
Fundamental I (Disciplinas: - Curso técnico do de Entre Rios Hospital
Língua Portuguesa, Paraguai (2012) - Dia da Família Semmelweis
Educação Física, - Professores e (compostagem)
LEM – Alemão, alunos do
Curso Técnico em município de
Agropecuária Guarapuava
Projeto de Aprendizagem (2012); Dia
Nacional do
Campo Limpo
(2013).

Quadro 2. Influência do Projeto Mata Verde na Educação Ambiental Formal e Não~Formal do Colégio
Imperatriz Dona Leopoldina.

Tomando como base as definições de educação ambiental da Política Nacional de Educação


Ambiental (BRASIL, 1999), pode-se analisar que o Projeto Mata Verde tem influência na
designação de Educação Ambiental Formal, uma vez que, os estudantes de 6º. e 7º. ano, dentro de
suas obrigações curriculares, devem cumprir dentro das 5 aulas semanais de Ciências, 2 aulas no
Projeto Mata Verde. Além disso, o projeto tem a disposição de apoiar disciplinas, funcionando
como aula prática, procurando o diálogo e a integração entre distintas áreas do saber, adquirindo um
conhecimento melhor pela vivência nesse aprendizado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1217


O Projeto Mata Verde promove a Educação Ambiental não-Formal mencionada por
(BRASIL, 1999), por meio de sua constante atitude informativa, acolhendo visitas educacionais,
participando de atividades realizadas em datas comemorativas e participando em eventos de
instituições da comunidade, expondo as atividades de Educação Ambiental com a participação ativa
dos estudantes de 6º. e 7º. Anos, e de todos os voluntários do Ensino Fundamental I e II que
participam do Mata Verde.
O quadro três mostra a estrutura organizacional do Projeto Mata Verde, assim como as
atividades e produtos realizados, indicando seu material utilizado para a elaboração.

PROJETO MATA VERDE


Empresas Cooperativa AGRÁRIA
Patrocinadoras ARYSTA Live Cience
Subunidades do Professores Origem do Material Actividades e Produtos
Projeto Coordenadores Trabalhado realizados
-Abono Orgânico (leiras
Resíduos da natureza de compostagem)
COMPOSTAGEM que rodea a área verde -Adubação da horta
do Colégio (grimpas de escolar (Mandala)
Sr. Valério
pinheiros, folhas e -Reflorestamento
Tomaselli
galhos que caem das - Mudas de flores e
árvores, aparas de árvores nativas (Ipê-
ESTUFA
grama podada) Roxo, frutíferas, mini
cactos)
Papel de descarte da Papel reciclado com
secretaria do Colégio, diferentes cores e tons,
algumas folhas-flores- para diferentes
BOUTIQUE DO Sra. Lia
ramos secos com artesanias (bloquinhos,
PAPEL Morselli
potencial artístico cartões, presentes, etc),
vasos de PET para
estufa

Quadro 3. Estrutura y práticas ambientais do Projeto Mata Verde, Colégio Imperatriz Dona Leopoldina

Os relatórios das atividades do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina mostram que o Projeto
Mata Verde é composto por três unidades (Estufa, Compostagem e Boutique do Papel), que são
integradas e mostram uma boa sistematização e articulação entre seus componentes estruturais. Não
ter estas deficiências estruturais, faz diferença em relação à outros projetos de educação ambiental
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1218
realizados em instituições de Ensino Fundamental, mencionado por (COORDENAÇÃO-GERAL
DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2001).
Se compararmos o Projeto Mata Verde com o estudo da (RUPEA, 2005), que faz um
mapeamento de programas de educação ambiental nas universidades, pode-se dizer que o Mata
Verde além de ser um programa com influência nos níveis de Ensino Fundamental, não possui as
dificuldades apresentadas no estudo, já que não possui rigidez no meio acadêmico, uma vez que o
Projeto ganhou um espaço importante no currículo, o qual foi mencionado na discussão do quadro
dois.
Desse modo, pode-se mencionar que não há falta de recursos financeiros, pelo apoio das
empresas patrocinadoras e do próprio colégio, no incentivo da realização das atividades e aquisição
de materiais para os trabalhos. Não há deficiência de pessoal, porque há dois professores
coordenadores de cada subunidade do Projeto, que estão sempre procurando fazer divulgação de
suas experiências, e apresentam um dos aspectos mais importantes que é a motivação dos alunos em
participar do Projeto, uma vez que, além dos estudantes que devem cumprir carga horária, sempre
há participação de educandos voluntários que trabalham nesta proposta de Educação Ambiental.
Depois de fazer entrevistas em diferentes famílias das cinco colônias (Cachoeira,
Jordãozinho, Samambaia, Socorro e Vitória) que residem no distrito de Entre Rios, o Gráfico um
mostra a percepção que os moradores têm sobre a integração do Projeto Mata Verde com a
comunidade.
Pode-se analisar que, de maneira geral, a comunidade percebe uma boa integração do
Projeto Mata Verde, com uma somatória de 84,5% das respostas dizendo de mediana para muita
integração com a comunidade, sendo a opção de ―mediana integração‖ a mais votada, com 34,5%, e
a opção menos votada, com 6,9%, foi ―sem integração‖ do Projeto Mata Verde com a comunidade
Entre Rios.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1219


34,5%

29,3%

20,7%

8,6%
6,9%

Sem Pouca Mediana Bastante Muita


Nível de Integração

Grafico 1. Porcentagem de integração percebida nas práticas ambientais do Projeto Mata Verde com a
comunidade

CONCLUSÃO

As ações desenvolvidas pelo Projeto Mata Verde do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina
viabilizam uma influência formal e não formal na educação ambiental. Mata Verde é um programa
que se diferencia de outros, porque tem uma estrutura bem definida, procurando a
interdisciplinaridade com professores de outras áreas temáticas, diferentes da ambiental, e o mais
importante: é um Projeto que funciona, graças à motivação dos estudantes, com participação por
cumprimento curricular e historicamente apoiado por estudantes voluntários de Ensino Fundamental
I, II e Ensino Médio, nos horários extra classe.
Isto garante uma mudança de pensamento nas novas gerações sobre conceitos ecológicos O
Projeto Mata Verde tem a disposição constante de ensinar, procurando levar consciência ambiental
a todas as pessoas da comunidade, procurando gerar uma mudança positiva de pensamentos e
atitudes para o meio ambiente.

AGRADECIMIENTOS

Agradeço a todo o corpo administrativo e docente do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina,


pela gentileza e apoio para desenvolver este trabalho, pelo carinho e pelas brincadeiras das crianças
e jovens que fizeram o meu trabalho mais gratificante.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1220


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Educação. Textos da série Educação Ambiental do programa Salto para o
Futuro. Brasília: MEC, 2000.

BRASIL. Presidência da República. Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 22 ago. 2014.

COORDENAÇÃO-GERAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Conclusões de um diagnóstico


preliminar de projetos de Educação Ambiental nas escolas. Panorama da educação ambiental no
ensino fundamental. Brasília: MEC; SEF, 2001. p. 93-100.

CZAPSKI, S. A implantação da educação ambiental no Brasil: O grande encontro. 1. ed. Brasília:


MEC, 1998. p. 51-56.

ELFES, A. Suábios no Paraná. Curitiba, 1971, 115 p.

JACOBI, P.R. Educação Ambiental: O desafio da construção de um pensamento crítico, complexo


e reflexivo. Educação e Pesquisa, v. 31, p. 233-250, 2005.

IBAMA. Marco Referencial da Educação Ambiental: I - Bases Conceituais Legais. s/d. Disponível
em: http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas/marco-referencial.pdf>. Acesso em: 10 set. 2014

IZIDORO, H.F. Guarapuava: das Sesmarias a Itaipu. Entre Rios, 1976, 303 p.

PADUA, S.M.; SÁ, L.M. O. Papel da Educação Ambiental nas Mudanças Paradigmáticas da
Atualidade. Revista Paranaense de Desenvolvimento, v. 102, p. 71-83, 2002.

RUPEA. Mapeamento da Educação Ambiental em instituições Brasileiras de Educação Superior:


Elementos para discussão sobre políticas públicas. 2005. 156 f. Relatório Final.

Secretaria de Educação Fundamental. Panorama da educação ambiental no ensino fundamental.


Brasília : MEC : SEF, 2001, 149 p.

TULIO, I.R.; HAUPTMANN, J.W.; ESSERT, H. Guia Historico de Entre Rios. Appertk, 2012. 32
p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1221


EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PROJETO RIO MAMANGUAPE FASE II:
PROFESSORES SÃO CAPACITADOS EM EDUCAÇÃO NUTRICIONAL

Maria Zélia ARAÚJO52


Professora da Unesc Faculdades-FAC/CG
zelinha_araujo@hotmail.com
Maria da Conceição JERÔNIMO53
Coordenadora Geral do Projeto Rio Mamanguape Fase II
cecitajem@gmail.com
Maria José dos SANTOS54
Coordenadora da área de Projetos Produtivos do Projeto Rio Mamanguape Fase II
mjsquintino@yahoo.com

RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade apresentar uma proposta articulada entre secretários (as) de
educação, nutricionistas educacionais, educadores, gestores, coordenadores pedagógicos e
monitores do Programa Mais Educação da rede pública Municipal das áreas de nascentes do Rio
Mamanguape concernente a Educação Nutricional dos educandos em consonância com a Educação
Ambiental no processo ensino aprendizagem no ensino formal a construção de uma consciência
crítica a respeito das ações antrópicas e, assim, possa contemplar nas novas gerações cidadãos que
tenha como eixo principal a preservação e conservação do meio ambiente e da qualidade de vida.
Sabe-se que a Educação Ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, na qual se
propõe atingir todos os indivíduos na formação de cidadãos, através de um processo pedagógico
participativo permanente que procura não somente incutir no educando uma consciência crítica
sobre a problemática ambiental e alimentar, mas que eles compreendam como crítica a capacidade
de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais detectados no meio ambiente. O estudo
baseou-se numa abordagem teórica com enfoque descritivo-reflexivo, sobre o processo da
capacitação a partir da articulação realizada em cada Secretaria de Educação tendo como referencial
as leis a partir da Constituição Federal Brasileira sobre o cuidado com o meio ambiente. O foco da
capacitação estava inserido no tema transversal: Educação Ambiental, conforme preconiza o PCN,
proporcionando no processo de desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes um senso
critico no que se refere à qualidade de vida e a convivência com o semiárido. Com a capacitação foi
possível dar uma contribuição não somente de apresentar novas técnicas pedagógicas no que

52
Bacharel em Antropologia, Administração Pública e Empresa, Licenciada em Ciências Sociais e Mestre em
Sociologia pela UFPB, técnica da Coopacne.
53
Pedagoga, Historiadora e Geógrafa, Especialista em Gestão e Análise Ambiental, Formação do Educador e Educação
Inclusiva, técnica da Coopacne.
54
Engenheira Agrônoma, Especialista em Sensoriamento Remoto - Instituto de Pesquisa Espaciais–INPE, professora
aposentada da UFPB.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1222


concerne a temática educação nutricional, mas também proporcionar momentos de ações práticas
entre os participantes e eles poderem argui que se é possível galgar novos tempos em meio a
situações caóticas encontradas no cerne do que se tem feito não somente com a mãe natureza, mas
principalmente com a qualidade da alimentação inserida na merenda escolar, gerando a inclusão
social através do PNAE e do PAA e que nessas novas ações pedagógicas envolvem não somente
educadores(as) e alunos, mas também gestores, comunidade acadêmica e a comunidade de entorno
das escolas.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Educação Nutricional. Meio Ambiente; Educadores; Rede
Pública Municipal.

ABSTRACT
This paper aims to present an articulated between secretaries (as) education, educational
nutritionists, educators, managers, coordinators and monitors More Education Municipal public
areas of the headwaters of Rio Mamanguape Nutrition Education Program concerning the students
proposed in line with the Environmental Education in the learning process in formal education to
build a critical awareness of the human actions and thus can contemplate the new generation
citizens whose principal axis the preservation and conservation of the environment and quality of
life. It is known that Environmental Education is a comprehensive form of education, which
proposes to reach all individuals in the formation of citizens, through a continuing participatory
learning process that not only seeks to instill in the student a critical awareness of environmental
issues and food, but they understand how critical the ability to capture the genesis and evolution of
environmental problems detected in the environment. The study was based on a theoretical
approach with descriptive and reflective focus on the process of training from the joint held in each
Department of Education as referential laws from the Brazilian Federal Constitution on the care of
the environment. The focus of the training was inserted into the transversal theme: Environmental
Education, as recommended by the NCP, providing the cognitive development of children and
adolescents process a critical sense with regard to quality of life and coexistence with the semiarid
region. With the training could make a contribution not only to introduce new pedagogical
techniques regarding the theme nutrition education, but also provide moments of practical actions
between participants and they can let us reason together that you can climb new times amid chaotic
situations encountered the heart of what has been done not only with Mother Nature, but mainly
with the quality of food in school meals inserted, generating social inclusion through PNAE and
PAA and that these new pedagogical actions involve not only educators (as) and students, but also
managers, academic community and the surrounding community schools.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1223


Keywords: Environmental Education; Nutrition Education. Environment; educators; Municipal
Public Network.

INTRODUÇÃO

A construção deste estudo deu-se a partir da arguição entre Educação Ambiental e Educação
Nutricional, os sujeitos sociais só cuidam da qualidade dos alimentos quando se tem uma
consciência do que, realmente, é através do conhecimento que se tem da educação ambiental que se
busca a preservação e conservação do meio ambiente, pois se sabe que o planeta clama por socorro,
diante das ações antrópicas que tem deteriorado o mesmo, em todos os aspectos, principalmente, no
tocante a poluição da água, do solo e do ar no que se refere, por exemplo, ao uso de agrotóxico
quando se trata do processo produtivo na agricultura, independentemente deste ser de grande porte
ou ser de nível familiar.
Em se tratando da Educação Ambiental esta é uma temática que vem sendo arguida, a nível
mundial, desde 1945, época em que foram criadas as primeiras organizações internacionais
dedicadas à proteção da natureza. Entretanto, no Brasil, sua arguição data de meados da década de
1980. Como política nacional, só veio acontecer, em 1999, com a Lei nº. 9795/99, a qual foi
sancionada pelo Decreto nº. 4281/02, em junho de 2002.
Sabe-se que a própria legislação brasileira relacionada à Política Nacional de Educação
Ambiental mostra que a temática ambiental deve permear todo o processo de escolarização,
incluindo também o Ensino Superior desde a graduação até a pós-graduação.
Piazza, et al. (2006) apud Carvalho (2004) afirmaram que a Educação Ambiental se
constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe a atingir todos os cidadãos, através de
um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de
captar a gênese e a evolução de problemas ambientais detectados no meio ambiente.
Pode-se observar que esta conceituação ajuda a compreender que a natureza pode contribuir
de diversas maneiras no processo ensino aprendizagem no que concerne a construção da educação
formal, principalmente das crianças e adolescentes, que se encontram no processo de construção de
valores. Para tanto é de fundamental importância que se entenda que toda a matéria prima utilizada
no dia-a-dia pelos sujeitos sociais pode servir de contra partida para vários trabalhos voltados ao
processo de recuperação, preservação e conservação do meio ambiente. No entanto isto irá
acontecer quando os indivíduos são conscientes dos atos que realizam no espaço onde residem. Tais
fatos poderão acontecer a contento quando esses indivíduos têm como nexo a Educação Ambiental.
Segundo Loureiro (2002, p. 69) a Educação Ambiental pode ser entendida como uma práxis
educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1224
que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores
sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, a Educação Ambiental só tem a
contribuir quando vista como um dos meio que pode implementar o padrão civilizacional e
societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.
Nessa discussão é imprescindível citar Andrade (2008, p.17) apud Carvalho (2007) que
argumentaram que a Educação Ambiental ―fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas
para uma leitura do mundo do ponto de vista ambiental‖.
Além da arguição sobre a Educação Ambiental nesse estudo é fundamental que se
argumente também sobre a Educação Nutricional haja vista que ela é vista como a base quando se
trata da alimentação saudável e qualidade de vida.
De conformidade com Rodrigues e Roncada (2008, p.315) eles afirmaram que ―a
alimentação é, atualmente, origem de grande parte dos problemas socioambientais e de saúde‖.
Boog (1997, p. 6) discutindo sobre o assunto afirmou:
No livro ―Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e de suas doenças‖,
publicado em 1995, que a Educação Nutricional é apontada como estratégia de ação a ser
adotada prioritariamente em saúde pública para conter o avanço da prevalência de doenças
crônico-degenerativas.

A autora supracitada ainda enfatizou que:


No Brasil, o interesse pela Educação Nutricional surgiu nos anos quarentas, período em que
gozou de status privilegiado e era vista como um dos pilares dos programas
governamentais de proteção ao trabalhador. Ela nasceu com a perspectiva de ser uma
alavanca que determinaria mudanças significativas nas condições de alimentação da
população trabalhadora (BOOG, 1997, p. 6, apud CASTRO; PELIANO, 1985).

Ainda é importante frisar que, em Brasil (2012) tem-se uma arguição que enfoca que a
Educação Nutricional não apenas deve ser vista neste âmago, mas dizer que ela deve ser entendida
como Educação Alimentar e Nutricional (EAN) visto que tal percepção se configurou no processo
oscilatório entre as décadas de 40 a 70 e que foi retomado no inicio da década de 1990.
Dentro deste contexto foi afirmado por Brasil (2012, p. 6) que:
A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) alcançou um ponto importante de seu processo
de construção. Após ter percorrido um longo caminho, permeado por ―altos e baixos‖ e
depois de ter superado obstáculos no sentido de alcançar mudanças conceituais e práticas
significativas, atualmente a EAN se insere no âmbito das políticas públicas no contexto da
promoção da saúde e da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).

Nesse processo de construção do saber e sua divulgação foi argumentado que:


No Brasil, nas décadas de 40 a 70, o tema oscilou entre o status de ação pública até um
importante descrédito, por seu caráter muitas vezes discriminatório e de redução da
alimentação à sua dimensão biológica. O tema foi retomado no inicio dos anos 1990, a
partir de pesquisas realizadas no campo da saúde, que apontaram os hábitos alimentares
como um dos fatores determinantes para o aumento das doenças crônicas (BRASIL, 2012,
p.6).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1225


Além do que fora arguido, até este ponto, ainda vale frisar a questão da agricultura familiar
por se encontrar inserida no processo de inclusão social quando se trata de sua inserção no
Programa Nacional de Alimentação Escolar através da comercialização de sua produção, podendo
atender ao Programa de Aquisição de Alimentos, que designa que, no mínimo, 30% da merenda
escola poder ser adquirida da produção familiar.
Em se tratando da temática em apreço, no tocante ao processo produtivo da agricultura
familiar nas áreas que abrange as nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Mamanguape, a sua
inserção não se deu apenas como temática do tema transversal Meio Ambiente, como é designado
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas teve a inserção da mesma também pelo Projeto Rio
Mamanguape, que vem atuando desde 2005, indo até início de 2008, e tendo seu retorno, em 2010,
num segundo Projeto com o mesmo título e ambos patrocinados pela Petrobras através do Programa
Petrobras Ambiental. Hoje esse Projeto encontra-se na sua segunda fase, intitulado Projeto Rio
Mamanguape Fase II, sendo este patrocinado, também, pela Petrobras através do Programa
Petrobras Socioambiental e executado pela Cooperativa de Projetos Assistência Técnica
Capacitação do Nordeste Ltda. – Coopacne. A área de abrangência do referido Projeto Rio
Mamanguape Fase II compreendem os municípios de Alagoa Nova, Areial, Esperança, Lagoa Seca,
Matinhas, Montadas, Pocinhos e São Sebastião de Lagoa de Roça.
O referido Projeto tem como objetivo geral conservar e preservar as nascentes do Rio
Mamanguape, estimulando o desenvolvimento sustentável de sua área de abrangência tendo como
eixo o uso e manejo racional de recursos hídricos e a qualidade de vida da população ribeirinha e
como objetivo especifico da área de Educação Ambiental promover a educação ambiental, através
de capacitação para professores, ou seja, apoiar as escolas da rede pública municipal na produção da
Educação Ambiental das novas gerações e para convivência com o semiárido.
Neste trabalhou objetivou-se capacitar em educação nutricional, educadores/as da educação
infantil, ensino fundamental I e II, nutricionistas educacionais, gestores, coordenadores pedagógicos
e monitores do Programa Mais Educação dos oitos municípios que estão inseridos no Projeto Rio
Mamanguape Fase II para que se possa ir contemplando a concretização da qualidade de vida da
população ribeirinha.

METODOLOGIA

Metodologicamente na capacitação sobre Educação Nutricional realizada nos oito


municípios da área de abrangência do Projeto Rio Mamanguape Fase II encontra-se inserida na
tipologia exploratória, que segundo Gil (2008) proporciona maior familiaridade com o problema
(explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no
problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Esse
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1226
tipo de pesquisa apresenta uma tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do
pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno, para realização de uma pesquisa futura mais
precisa, ou modificar e clarificar conceitos e descritiva, que de acordo com Appolinário (2004, p.
153): é a ―Pesquisa na qual o pesquisador limita-se a descrever o fenômeno observado, sem inferir
relações de causalidade entre as variáveis estudadas‖.
O processo metodológico compreendeu de articulações por telefone, visitas as Secretarias de
Educação de cada município e o envio de um oficio a todos os secretários. No planejado propôs-se a
participação de professores, gestores, coordenadores pedagógicos e monitores do Programa Mais
Educação. A projeção era de 35 participantes por município.
Entretanto, em sete dos oito municípios contou com uma participação acima do proposto,
com exceção do município de São Sebastião de Lagoa de Roça. A seleção dos participantes foi feita
pelo (a) Secretário (a) de Educação de cada um dos municípios da área de abrangência do Projeto
Rio Mamanguape Fase II. Para o recebimento do certificado todos os participantes não poderiam
faltar, sendo acompanhado pelas listas de frequência.
A composição do conteúdo da capacitação compreendeu apostilhas, palestras, vídeos e
dinâmicas de grupo, elaboração de um Plano de Ação e a aplicação de uma avaliação contendo 12
perguntas, fechadas, sendo as oito primeiras perguntas referentes, diretamente, a capacitação, os
participantes poderiam escolher uma das respostas entre péssimo, fraco, médio, bom, excelente e
não se aplica. A pergunta nove referia-se a importância da capacitação no tocante a atividade
profissional exercida pelo participante e, nesse sentido ele poderia escolher entre a) excelente – de
grande importância, b) bom – complementou conhecimentos, c) regular, e d) ruim – nada
acrescentou. A pergunta 10 tratava da possibilidade dele acrescentar ou não novos procedimentos
em suas ações diárias, podendo escolher entre a) possibilitará a realização de procedimentos novos
em seu trabalho diário, b) possibilitará mais opções técnicas em procedimentos que já vinham sendo
realizados, e c) em nada contribuiu. A pergunta 11 tratava das informações teóricas sobre o tema da
capacitação, podendo responder a) excelentes, b) suficientes, e c) insuficientes. A pergunta 12
referiu-se ao processo metodológico da capacitação e o participante poderia escolher entre a)
excelente, b) boa, e c) deveria ser maior. Por fim, a 13 questão era aberta onde ele (a) poderia
apresentar sugestões, fazer suas críticas e acrescentar o que considerasse necessário para o bom
andamento das ações nas escolas dos oito municípios, que compreendem mais de 160 escolas.
A proposta das palestras proferidas era de se contar com a parceria de 50% em cada
município e 50% seriam os técnicos do Projeto Rio Mamanguape Fase II. Essa proposição seria de
contasse com o apoio dos seguintes profissionais: nutricionista da área da Educação, odontólogo,
técnico do Programa Saúde na Escola e o educador físico, por ser eles as pessoas que conhecem a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1227


realidade do município, além de puderem dar suas parcelas de contribuições, no processo prático do
Plano de Ação elaborado pelos representantes das diversas escolas presentes.
A carga horária foi de 20 horas, sendo 50% para a teoria e 50% para a prática. No final da
capacitação os participantes elaboraram um Plano de Ação a ser executado, tendo definido a data de
iniciar e a designação descrita, por cada grupo é que será por tempo indeterminado. Apesar de se ter
essa percepção também ficou definida a realização de uma culminância das ações do referido Plano
de Ação envolvendo educandos, educadores, gestores, em fim, toda comunidade escolar e a
sociedade civil organizada. Tinha-se a reflexão tanto da teoria como da prática, oportunizando os
participantes que tirassem as dúvidas e citassem experiências, gerando, assim, um momento de
troca de saberes.
O local da capacitação foi escolhido por cada um dos municípios utilizando-se de auditórios
existentes nos municípios, tanto para a teoria como para a prática. O material didático foi: data
show, apostilhas, vídeos e material demonstrativo doado pelo Projeto. O processo de interação e
integração entre os participantes deu-se através das práticas, dos momentos reflexivos e do
compartilhamento das experiências vividas por eles no seu dia a dia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a construção dos novos valores sobre a Educação Nutricional na educação formal para
professores/as do ensino fundamental I e II contou-se com 406 participantes entre eles tinhas-se a
participação de professores/as, gestores, coordenadores pedagógicos, monitores do Programa Mais
Educação da rede municipal das escolas dos municípios que compreendem a área do Projeto Rio
Mamanguape Fase II.
A identificação dos municípios, o local da realização das capacitações, os dias de cada
capacitação, o número de participantes, formando assim os dados quantitativos do artigo. Será feita
a leitura interpretativa dos resultados, bem como a sua representatividade com relação ao total de
participantes (Tabela 1). Esses dados serão apresentados através de gráficos utilizando-se o
Programa Microsoft Excel 2007.

DIAS DA Nº DE
MUNICÍPIOS LOCAL
CAPACITAÇÃO PARTICIPANTES

ALAGOA Centro Artesanal Deputado 16 e 17.07.2014 36


NOVA Raimundo Asfora

AREIAL CRES 24 e 25.07.2014 71

ESPERANÇA Salão Paroquial 29.04.2013 60

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1228


LAGOA Câmara Municipal 13 e 14.08.2014 55
SECA

MATINHAS Auditório da UBSF I 14 e 15.07.2014 36

MONTADAS Auditório da E. M. Erasmo de 11 e 22.08.2014 51


Araujo Sousa

POCINHOS Auditório da Secretaria de 01 e 02.08.2014 69


Educação

S. S. DE Auditório da Escola Pedro da Costa


LAGOA DE 26 e 28.07.2014 28
ROÇA

TOTAL - - 406
Tabela 1 – Identificação dos municípios, local, data da capacitação, números de participantes da capacitação
em Educação Nutricional da rede pública municipal dos municípios da área de abrangência do Projeto Rio
Mamanguape Fase II.
Fonte: As autoras (2014).

Pode-se verificar que o município que enviou mais participante foi Areial (71), o segundo
foi Pocinhos (69), o terceiro foi Esperança (60), o quarto foi Lagoa Seca (55). Os municípios de
Alagoa Nova e Matinhas enviaram 36 participantes e o único que enviou um número abaixo do
esperado foi São Sebastião de Lagoa de Roça (28). Entretanto, o total de participantes no processo
de capacitação em Educação Nutricional superou as expectativas dos técnicos da Coopacne,
executora da ação (Tabela 1).
Da capacitação obteve-se como resultado 55 Planos de Ação, compreendendo: horta escolar;
horta medicinal; alimentação saudável; educação nutricional na construção de cidadãos conscientes
e educados para consumir uma alimentação saudável envolvendo a comunidade escolar e de
entorno das escolas, a serem executados não somente em 2014, mas que se torne uma ação
permanente nas escolas, e, assim, possa contemplar a população infanto-juvenil, livre do excesso de
guloseimas que podem ser identificada com um dos provocadores do sobrepeso e obesidade nessa
faixa étaria.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1229


S.S. de Lagoa
de Roça
7%
Alagoa
Nova
9%
Pocinhos Areial
17% 17%

Montadas
13% Lagoa Seca
13%

Esperança
15%
Matinhas
9%

Gráfico 1 – Percentual de participantes por município na área de abrangência do Projeto Rio


Mamanguape Fase II
Fonte: dados da pesquisa.

Interpretando os dados do Gráfico 1 pode-se verificar que os maiores percentuais de


participantes foram os municípios de Areial e Pocinhos, com 17% cada um deles e o menor foi o de
São Sebastião de Lagoa de Roça com 7%. Intermediários estiveram Esperança com 15% , Montadas
e Lagoa Seca com 13%, Matinhas e Alagoa Nova com 9%.
Em se tratando da avaliação da capacitação, no que se refere ao tema os participantes
declararam que a capacitação foi excelente, isto em todos os municípios, o que pode ser observado
no Gráfico 2 em frequência e em percentual nos gráficos que representam os municípios.

50 47
44
45
40
33 32
35 29
30 25 24 Péssimo
25 19 19
20 Fraco
15 12
8 9 Médio
10 6 6 4
5 2 1 2 2 1 Bom
0
Excelente
Não se aplica
Não respondeu

Gráfico 2 – Frequência absoluta dos participantes que avaliaram o tema da capacitação por
município na área de abrangência do Projeto Rio Mamanguape Fase II
Fonte: dados da pesquisa.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1230


Médio
Não se aplicaAlagoa Nova 0%
Péssimo 0% Não
Fraco
0% respondeu
0%
0% Médio
Não
respondeu
Areial Fraco 2%
Bom Péssimo 0%
4%
20% Não se 0%
aplica
0%

Bom
37%
Excelente Excelente
80% 57%

Não Não se Lagoa Seca


Não se Péssimo Esperança Péssimo
aplica Médio
Fraco
Não
0% Médio respondeu 0% respondeu
aplica Fraco 0% 0%
0% Bom 0% 0%
0% 0% 11%
Bom
21%

Excelente
Excelente
79%
89%

Não se
aplica Péssimo
Matinhas
Não Fraco Não se Montadas
Não Médio
0% 0% Médio
respondeu 0% aplica Fraco
respondeu Péssimo 4%
0% 0% 0% 0%

Bom
27%
Bom
Excelente Excelente 41%
73% 55%

Não se
aplica São Sebastião de Lagoa de Roça Médio
0% Não 0%
Péssimo Fraco
Não respondeu
Pocinhos 0% 0%
respondeu Péssimo 0%
2%Não se Médio
0% Fraco
aplica 0% Bom
0%
0% 14%
Bom
12%

Excelente Excelente
86% 86%

Nos gráficos de cada um dos municípios pode-se verificar que, a maioria, dos participantes
da capacitação consideraram excelente o tema abordado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1231


40 38
35
35 32 32
30 25
25 23
19 19
20 17 16 16
15
15 10 Excelente
10 8
55 6
Bom
5
0 Regular
Ruim

Gráfico 3 – Frequência absoluta dos participantes no tocante a importância do tema da


capacitação para a sua atividade profissional por município na área de abrangência do Projeto
Rio Mamanguape Fase II
Fonte: dados da pesquisa.

Pode-se observar no Gráfico 3 que a maioria dos participantes de seis municípios afirmaram
que a capacitação foi excelente para a sua atividade profissional. Os participantes do município de
Areial afirmara que foi bom e apenas 6 participantes do município de Montadas disseram que foi
ruim.
Após as capacitações passaram a execução dos Planos de Ação e os resultados tem sido
excelentes por envolver toda comunidade acadêmica e, principalmente, as crianças, as quais
venham aprendendo a degustar alimentações saudáveis e tem reduzido o consumo das guloseimas
que não fazem bem a saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a capacitação de educadores (as), gestores, monitores do Programa Mais educação e


dos coordenadores pedagógicos dos oito municípios da área de abrangência conclui-se que foi dada
uma contribuição não somente de uma nova leitura na construção de valores no tocante aos hábitos
alimentares, mas também contribuiu na inserção de novas técnicas pedagógicas, além de
proporcionar também momentos de ações práticas entre os participantes e eles puderam argui que se
é possível, em meio a situações caóticas encontradas no cerne do que se tem feito para melhorar a
qualidade de vida do alunado também se cuidado da mãe natureza, através de mudanças no
processo produtivo da agricultura familiar e, assim, reduzido as ações antrópicas, gerando
mudanças a partir de práticas simples como a construção de hortas escolares e farmácias vivas entre
outras ações que cuidem bem dos sujeitos sociais envolvidos e também da natureza. Conclui-se

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1232


também que a ação pedagógica envolve não somente educadores (as) e alunos, mas também
gestores, a comunidade acadêmica e a comunidade de entorno das escolas.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, José Waldson Costa de. Sala Verde Projeto Velho Chico: Uma lição de vida. In:
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Coleciona Volume III/2008. Brasília-DF: Ministério do
Meio Ambiente, 2008. p. 17 - 18

APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do

conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2004.

BOOG, Maria Cristina Faber. Educação Nutricional: Passado, Presente, Futuro. R. Nutr.
PUCCAMP, Campinas, v.10, n.1, p. 5-19, jan./jun., 1997. Disponível em:
<http://www.faculdadeguararapes.edu.br/site/hotsites/biblioteca/educacaonutricional_passado-
presente-futuro59500.pdf>. Acesso em: 10 set. 2014.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos


parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: EC/SEF,
1997. 126p.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referência de


educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF: MDS; Secretaria
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 2012.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez,


2004.

CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. BRASIL. Ministério


da Educação & Ministério do Meio Ambiente. Formando COM-VIDA: Comissão de Meio
Ambiente e Qualidade de Vida na Escola. 2. ed. Brasília. 2007.

DECRETO Nº. 4281/02 de 25de junho de 2002. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm>. Acesso em: 23 set. 2014.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL. Disponível em:
<http://189.28.128.100/nutricao/docs/redenutri/6sistematizacao.pdf>. Acesso em: 10 set. 2014.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1233


LEI Nº. 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 23 set. 2014.

LOUREIRO, C. F. B. – Educação Ambiental e Movimentos Sociais na Construção da Cidadania


Ecológica e Planetária. - Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania / Calos
Frederico Bernardo Loureiro, Philippe Pomier Layrargues, Ronaldo Souza de Castro. (Orgs.). –
São Paulo: Cortez, 2002. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-revitalizacao-
do-alto-curso-do-rio-mamanguape-pb-uma-analise-socioambiental-a-partir-da-recuperacao-da-
mata-ciliar/77216/>. Acesso em: 16 out. 2012.

PO 002A - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA: VIVENDO A DIVERSIDADE NA


ESCOLA Artigo da UFPB. Disponível em: <http://www.dse.ufpb.br/ea/Masters/Artigo_1.pdf >.
Acesso em: 23 set. 2014.
RODRIGUES, Lívia Penna Firme. RONCADA, Maria José. Educação nutricional no Brasil:
evolução e descrição de proposta metodológica para escolas. Com. Ciências Saúde. v. 19, n. 4,
p.315-322. Disponível em:
<http://www.escs.edu.br/pesquisa/revista/2008Vol19_4art04educacaonutricional.pdf>. Acesso
em: 10 set. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1234


RECICLAGEM DE MATERIAS: PROPOSTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Rejane Maria Ferreira da SILVA


Mestranda da Pós-Graduação em Biologia de Fungos da UFPE
re.biologicas@mail.com
Amanda Correia de ALMEIDA
Mestranda da Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares da UFPE
mandacorreia2@gmail.com
Paulo Antônio PADOVAN
Professor Associado IV, Depto. Histologia e Embriologia/CCB/UFPE
papadovan@yahoo.com.br

RESUMO
A educação ambiental ganhou destaque após a obrigatoriedade em todos os níveis do ensino formal
da educação Brasileira, sendo possível, através dela, sensibilizar e capacitar a população em geral,
buscando desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de consciência sobre
a gravidade do assunto em tela. Diante disso, realizou-se um trabalho que teve como objetivos:
sensibilizar os alunos do ensino fundamental II das práticas ambientais com o lixo no ambiente
escolar e compreender sobre o tempo que os materiais levam para se decompor na natureza. Foram
escolhidos alunos da escola Municipal 3 de Agosto, situada no município de Vitória de Santo
Antão-PE, do 6° e 7° ano do ensino fundamental II. O trabalho foi desenvolvido em várias etapas:
exposição audiovisual do tema, construção de materiais educativos, exibição de vídeos,
documentários e imagens ilustrando a problemática ambiental. Através das atividades realizadas foi
possível observar o desenvolvimento da criatividade e do senso crítico dos alunos. O interesse,
dedicação e o envolvimento pelo trabalho executado, mostrou a capacidade que eles têm de mudar
os paradigmas da sociedade. Diante dos resultados, foi possível dizer que a educação ambiental é
fundamental para uma conscientização dos alunos em relação ao mundo em que vivem para que
possam ter cada vez mais qualidade de vida sem desrespeitar o meio ambiente.
Palavras chaves: meio ambiente; educação; lixo

ABSTRACT
Environmental education grew in importance after becoming a mandatory subject at all levels of
formal education in Brazil, being possible, through it, to provide training for the general population,
seeking to develop skills and methods that facilitate the process of awareness about the importance
of this subject. Considerig that, a field work was performed, aiming: to aware Elementary School
students about environmental practices regarding garbage in the school and to understand how
much time the materials takes to decay in nature. Students from the the 6th and 7th years of August
3 school, located in Vitória de Santo Antão-PE, were chosen. The work was developed in several

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1235


stages: audiovisual presentation of the subject, elaboration of educational materials, video
exhibition, documentaries and pictures illustrating the environmental question, etc. Through the
activities, it was observed the development of creativity and critical thinking of students. The
interest, dedication and involvement for the work performed showed that they have the ability to
change paradigms of society. Given the results, it was possible to state that environmental education
is fundamental to aware the students about the world they live in, so they can have more quality of
life without disrespecting the environment.
Keywords: environment; education; garbage

INTRODUÇÃO

De acordo com a lei n° 9.795 de 27 de abril de 1999 Art.1°, entende-se por educação
ambiental o processo em que o indivíduo constrói valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, essencial à qualidade de
vida e a sustentabilidade. A educação ambiental ganhou destaque com a promulgação da lei
supracitada, que instituiu uma política nacional de educação ambiental e por meio dela, foi
estabelecida a obrigatoriedade da educação ambiental em todos os níveis do ensino formal da
educação brasileira.
Tomando-se como referência o fato de que a maior parte da população brasileira vive em
cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo-se na crise
ambiental. O ritmo acelerado de crescimento populacional constitui um fator preocupante, quando
se leva em consideração a quantidade de resíduos produzido por pessoa (MEDEIROS et al., 2011).
Propor soluções ao problema do lixo é fundamental, tendo em vista, os aspectos sanitários, saúde,
ambientais, sociais, econômicos, ecológicos, pedagógicos, estéticos, político, entre outros.
A educação ambiental é uma ferramenta utilizada para sensibilizar e capacitar a população
em geral sobre os problemas ambientais, com ela, busca-se desenvolver técnicas e métodos que
facilitem o processo de tomada de consciência sobre a gravidade dos problemas ambientais
(MARCATTO, 2002).
Diante disso, o trabalho de conscientização em relação aos componentes recicláveis
constitui uma medida importante para a preservação do meio ambiente e dos recursos não
renováveis; nesse sentido, a escola tem a responsabilidade de dar suporte para o desenvolvimento
de uma educação ambiental de qualidade.
Este trabalho foi desenvolvido através da análise, observação geral e necessidade de manejo
com o lixo produzido no ambiente escolar e da responsabilidade do produtor no seu destino,
contrapondo-se a falta de incentivo na escola, de políticas que levem a conscientização.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1236


OBJETIVOS

Em vista da importância da problemática do lixo, o trabalho teve como objetivos sensibilizar


os alunos do ensino fundamental II das práticas ambientais com o lixo no ambiente escolar e
compreender sobre o tempo que os materiais levam para se decompor na natureza.

METODOLOGIA

Para concretização desse trabalho foram escolhidos alunos da escola Municipal 3 de agosto,
situada no município de Vitória de Santo Antão-PE, do 6° e 7° ano do ensino fundamental II. O
grupo foi caracterizado por 43 educandos com faixa etária de 11–16 anos. O trabalho foi realizado
em várias etapas: na primeira etapa, foi feito uma exposição audiovisual dos temas ―lixo, coleta
seletiva e educação ambiental no ambiente escolar‖ despertando o interesse do aluno sobre o tema.
Na segunda etapa, foi feito a construção de materiais educativos, jogos, brinquedos e lixeiras
de coleta seletiva; utilizando folhetos, painéis, tesouras, colas, folhas e materiais recicláveis. Na
terceira etapa, houve a exibição de vídeos, documentários e imagens, ilustrando as catástrofes e o
desrespeito do ser humano com o meio ambiente mediante as suas ações destacando a valorização e
importância dos 3R‘s (Reciclar, Reutilizar, Reduzir) que são ferramentas fundamentais para se
iniciar um trabalho e recuperar o que ainda não foi perdido. Quarta etapa, para finalizar, formou-se
um círculo na sala com todos os alunos e através de debates e dinâmicas discutiu-se sobre a
problemática do lixo, suas causas e consequências, ressaltando a importância da conscientização
ambiental e o que pode ser feito para minimizar esses danos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A proposta do trabalho foi mostrar aos alunos a importância de transformar o lixo em


materiais recicláveis para ter um ambiente mais saudável; desse modo, através das atividades
realizadas foi possível observar o desenvolvimento da criatividade, da imaginação e o senso crítico.
Também, resgatar a importância da própria brincadeira e ampliar as expectativas e o
entusiasmo do grupo, sensibilizando-os e fazendo com que repensem sobre suas próprias atitudes e
reconheçam a problemática do lixo como uma questão ambiental séria, que apesar de global, pode
ser minimizada com ações locais e individuais. Todas as atividades planejadas foram bem
sucedidas, os alunos participaram ativamente, motivados e interativos, conseguiram responder as
perguntas sem dificuldades e corretamente. MEDEIROS et al., 2011, enfatizaram que a escola tem
a responsabilidade de dar suporte para o desenvolvimento de uma educação ambiental de qualidade,
conduzindo os alunos a serem agentes ativos e não passivos, proporcionando uma conscientização
acerca do meio ambiente desde cedo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1237


O interesse, dedicação e o envolvimento dos alunos pelo trabalho executado, mostrou a
capacidade que eles têm de mudar os paradigmas da sociedade e as questões problemáticas da
atualidade com pequenos gestos. Desse modo, a educação ambiental dever ser vista enquanto um
processo permanente de aprendizagem, valorizando o conhecimento prévio do aluno (CARDOSO,
2001).
A educação ambiental tonou-se um componente fundamental nas ações educativas, quer nos
contextos formais ou informais, deve ser interdisciplinar, orientando para solução dos problemas
voltados para realidade local (DIAS, 2004). É importante que ocorra um processo participativo
permanente da escola, de maneira que não seja apenas e exclusivamente informativa, é
imprescindível a prática educativa, de modo a desenvolver e incutir uma consciência crítica do
aluno sobre a problemática ambiental.
Diante dos resultados, é possível dizer que a educação ambiental é fundamental para uma
conscientização dos alunos em relação ao mundo em que vivem para que possam ter cada vez mais
qualidade de vida sem desrespeitar o meio ambiente. A proposta também possibilitou a escola a ter
acesso a matérias utilizados na reciclagem ambiental. Faz-se necessária a articulação de ações
educativas, dos mesmos, gerando novos conceitos e valores sobre a natureza, contribuindo para a
preservação do meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
a Política Nacional de educacão ambiental e dá outras providências. 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 26/09/14.

CARDOSO, K. M. M. Educação ambiental nas escolas. Monografia apresentada ao curso de


licenciatura em Ciências Biológicas, na universidade de Brasília. Brasília, 2011.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9ª ed. São Paulo. Gaia, 2004.

MEDEIROS, M. C. S.; RIBEIRO, M. C. M.; FERREIRA, C. M. A. Educação ambiental nas


escolas públicas. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV 92, 2011.

MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Fundação Estadual do Meio


Ambiente, FEAM, Belo Horizonte: p:64, 2002.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1238


O PROJETO SEMEANDO SABERES DESENVOLVIDO NO COLÉGIO
UNIVERSITÁRIO COMO ALIADO NA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

José Alberto Pestana CHAVES


Professor do COLUN/UFMA
jose.alberto@ufma.br
José Angelo Cordeiro MENDONÇA
Professor do COLUN/UFMA
jsangelo@ig.com.br
José de Arimatéa ABREU
Professor do COLUN/UFMA
arydageo@hotmail.com
Ulisses Denache Vieira SOUZA
Professor do COLUN/UFMA
ulisses.denache@ufma.com

RESUMO
O projeto Semeando Saberes do Colégio Universitário-COLUN da Universidade Federal do
Maranhão tem desenvolvido ao longo desses quatro últimos anos (2011 a 2014) algumas ações
concretas relacionadas à difusão de boas práticas ambientais junto a toda comunidade acadêmica
tais como, exposição fotográfica de situações reais observadas no espaço da escola e que refletem a
falta de organização e de cuidados com a limpeza e o ambiente escolar; apresentação de palestras e
vídeos educativos, especialmente para o corpo discente, com foco na questão ambiental,
desenvolvimento de oficinas de fabricação de sabão a partir de óleo de fritura como forma de
reciclagem; sensibilização dos alunos através de encenações teatrais, apresentando personagens que
desenvolvem condutas ecologicamente corretas; aquisição de mudas para plantio e arborização do
entorno e dentro da escola, visando ornamentar o ambiente e eventos científicos, compostos de
palestras, minicursos, oficinas, e outras atividades enfocando a questão ambiental. Ressalta-se ainda
que a defesa do patrimônio escolar também está inserida nas propostas preteridas pelo projeto pois,
ao evitar a depredação do ambiente escolar, assim como o desperdício, também se deseja
desenvolver nos alunos o reconhecimento e a valorização dos bens patrimoniais. Portanto, é um
desejo de todos que fazem parte desse projeto que as ações já consolidadas até aqui sejam contínuas
e desenvolvidas a cada ano escolar, de tal forma que os resultados possam ser cada vez mais
expressivos e a preservação do ambiente seja de fato uma atitude concreta por parte daqueles que
constituem a comunidade do Colégio Universitário.
Palavras-chave: Meio ambiente; educação ambiental; preservação do patrimônio.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1239


ABSTRACT
Projeto Semeando Saberes of them Colégio Universitário - Universidade Federal do Maranhão has
developed over these past four years (2011-2014) some concrete actions related to the
dissemination of good environmental practices in the entire academic community such as
photographic exhibition of real situations observed on the school premises and reflect the lack of
organization and care and cleaning the school environment; presentation of lectures and educational
videos, especially for the student body, with a focus on environmental issues, development
workshops for the manufacture of soap from cooking oil as a form of recycling; awareness of
students through theatrical performances, featuring characters who develop environmentally correct
behavior; purchase of seedlings for planting and greening the environment and inside the school,
aiming to embellish the environment and scientific events, consisting of lectures, short courses,
workshops, and other activities focusing on environmental issues. It is noteworthy that the defense
of the school property is also included in the project proposals crowded therefore avoid the
depredation of the school environment, as well as waste, also want to develop in students the
recognition and appreciation of heritage assets. Therefore, it is a desire of all who are part of this
project that the actions already consolidated are continuous up here and developed every school
year, so that the results can be increasingly impressive and the preservation of the environment is in
fact an attitude concrete by those who make up the community of the University College.
Keywords: Environment; environmental education; heritage preservation.

INTRODUÇÃO

A questão ambiental é um tema que vem ganhando espaço na agenda social de debate, dado
o atual desequilíbrio ocasionado pela relação do homem com a natureza, expressos em verdadeiros
retratos do desrespeito aos recursos naturais.
Conforme aponta Effting [1], o ser humano tem estabelecido uma ‗equação desbalanceada‘
com a natureza, representada pelas ações de retirar, consumir e descartar, demonstrando que ―a
espécie humana tem dificuldade de estabelecer o seu limite de crescimento, assim como para
relacionar-se com outras espécies e com o planeta‖.
Entende-se aqui por questão ambiental tudo o que está relacionado à problemática do meio
ambiente, intensificada pelo desenfreado modelo de produção capitalista, atingindo de forma
desigual os diferentes setores da sociedade, sendo na visão de Santos [2] as classes trabalhadoras as
mais atingidas no que se refere aos seus direitos, dada a alta concentração de renda, propriedade e
poder.
Essa relação desenfreada com a natureza é perceptível em todos os espaços e mostra seus
reflexos também na escola, a exemplo da alta produção de lixo e das expressões do comportamento
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1240
consumista entre os alunos. Nesse sentido, a esta cabe a responsabilidade de promover uma
educação pautada na promoção da consciência ecológica e no consequente respeito ao meio
ambiente.
Conforme a Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, define-se educação ambiental como:
Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade [3].
Segundo a UNESCO, as finalidades desta educação para o ambiente foram determinadas
logo após a Conferência de Belgrado (1975) como sendo formar uma população mundial consciente
e preocupada com o ambiente e com os problemas com ele relacionados, uma população que tenha
conhecimento, competências, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhe
permitam trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais, e para
impedir que eles se repitam.
Enquanto espaço privilegiado para implementação de ações educativas que busquem
promover mudanças e adoção de práticas mais condizentes com a noção de cidadania, a escola deve
sensibilizar o aluno para a compreensão da realidade social e ambiental na qual se vive, despertando
para uma reflexão crítica acerca da problemática da questão ambiental. Esta perpassa pela questão
do consumo, previsto como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998 a ser
abordado nas escolas.
A defesa do patrimônio escolar se insere nessa proposta, ao evitar o desperdício e a
depredação do ambiente escolar, visando desenvolver nos alunos o reconhecimento e a valorização
dos bens patrimoniais, suscitando posturas e atitudes condizentes à construção de uma sociedade
mais justa e um ambiente mais saudável.
Ressalta-se que o patrimônio escolar é constituído por instalações físicas, equipamentos,
mobiliário e demais materiais usados na escola. ―Compõe a identidade e a imagem da escola e, por
isso, ele precisa estar sempre em ordem, sob pena de colocar em risco a segurança das pessoas e o
projeto pedagógico‖ [4]. Para tanto, é importante que a comunidade escolar esteja empenhada e se
sinta pertencente e responsável pela escola, vendo-a como um patrimônio de todos.
Compreende-se, portanto, que as ações desencadeadas neste trabalho pretendem de forma
interdisciplinar, iniciar o processo de conscientização dos alunos acerca da construção de um
mundo ecologicamente equilibrado e voltado para a defesa da cidadania, ao possibilitar uma
compreensão dos problemas existentes, da sua responsabilidade e do seu papel crítico como
cidadãos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1241


METODOLOGIA

O projeto Semeando Saberes se constitui como uma proposta interdisciplinar, envolvendo


técnicos administrativos e professores das áreas da Geografia, Química, Biologia e do Curso de
Meio Ambiente do Colégio Universitário.
Tem como público-alvo alunos dos Ensinos Fundamental, Médio e Técnico do Colégio
Universitário, mas também está direcionado para os demais docentes e técnicos que compõem a
comunidade acadêmica da escola.
O lançamento do projeto se deu no mês de março de 2011, e a partir daí vem desenvolvendo
uma série de ações de cunho ambiental envolvendo alunos, professores, técnicos e outras pessoas
que sentiram a necessidade de contribuir com a preservação ambiental. São as ações elencadas a
seguir as que mais obtiveram visibilidade durante esse período de atuação do Projeto Semeando
Saberes:

I. Apresentação do projeto e construção de regras de convivência e preservação do patrimônio


escolar nas turmas;
II. Estímulo à limpeza do espaço escolar com a aquisição de cestos de coleta seletiva de lixo;
III. Arborização do entorno da escola através do plantio de mudas visando ornamentar o
ambiente e reduzir os impactos ambientais produzidos pela poluição urbana;
IV. Realização de oficinas de reciclagem de papel e de óleo de fritura, incentivando para isso a
coleta desses materiais;
V. Campanha pela redução do consumo de papel, água e energia na escola e nos demais
espaços de convivência, pela fixação de placas e banners educativos;
VI. Realização dos eventos ―Semana do Meio Ambiente do Colégio Universitário‖, por quatro
anos consecutivos (incluindo este ano);
VII. Implantação e manutenção de uma horta nas dependências da escola;
VIII. Apresentação e divulgação do projeto na mídia e em congressos de divulgação científica em
níveis regional e nacional.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto teve como marco inicial, além de deixar registrado documentalmente as suas
propostas, objetivos e metodologia, a ideia de projetar uma logomarca própria como forma de fazer
reconhecer o projeto Semeando Saberes como um trabalho de conscientização ambiental e difusão
de boas maneiras de conservação do patrimônio e preservação do meio ambiente. A Figura 01
apresenta a logomarca elaborada como forma de identificação desse projeto dentro e fora do
Colégio Universitário.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1242
Todo o projeto escrito foi apresentado ao Conselho Diretor da Escola, órgão máximo de
deliberação e aprovação da Instituição, sendo o mesmo aprovado na oportunidade, e, na
oportunidade, receber muitos elogios quanto aos seus objetivos e metodologias a serem
desenvolvidas, haja vista que seria o primeiro trabalho a ser desenvolvido na escola com propostas
voltadas para a questão ambiental e com tamanha envergadura.

Figura 01: Logomarca do Projeto Semeando Saberes.

A partir de então o projeto começou a ser executado pela apresentação à comunidade


acadêmica, especialmente ao corpo discente da escola através de vídeos educativos e slides,
mostrando os principais objetivos e metas do projeto e a que ele se propunha. No mês de abril de
2011, por exemplo, foi apresentado aos alunos dos três segmentos da escola (fundamental, médio e
técnico), nos dois turnos de trabalho e durante o horário do intervalo diário de 20 minutos, um vídeo
chamando a atenção para a preservação da água, o consumo racional desse produto e o não
desperdício para as futuras gerações. Esse vídeo encontra-se disponível no site do youtube [5] e tem
como característica um argumento bastante forte e impactante para a emergente racionalização no
consumo desse líquido tão precioso.
Também nesse momento da apresentação, foi realizada uma exposição fotográfica de alguns
ambientes da escola (salas de aula, pátio, banheiros, etc.) da situação em que se encontravam esses
espaços durante a coleta das fotos. Alguns ambientes estavam desarrumados ou totalmente
inadequados para a permanência saudável e higiênica. Outros estavam sujos e com o lixo espalhado
pelo chão. Os banheiros mostrados nessa exposição apareciam com aspectos sem higiene e alguns
sanitários depredados. Este momento serviu para chamar a atenção dos alunos, principais usuários e
frequentadores desses espaços, para o sentido da preservação e conservação do espaço público.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1243


Vale lembrar que, já nessa etapa realizada, houve uma primeira chamada para que todos
pudessem assumir a responsabilidade de manter o ambiente preservado, evitando as degradações e
as situações que foram mostradas nas várias fotos registradas.
Passamos então para uma segunda etapa do projeto que consistia na apresentação dos
objetivos, etapas que deveriam ser cumpridas e busca de soluções ambientais viáveis em cada turma
dos três níveis de ensino (fundamental, médio e técnico). Foi um momento mais particular e mais
direto nas salas de aula, junto aos alunos e com um tempo de discussão maior em relação ao que
fora desenvolvido na etapa anterior. O que de fato convém frisar nessa etapa de apresentação e
socialização do projeto nas salas foi o momento em que houve a solicitação aos alunos da
participação e engajamento de todos nesse trabalho, no sentido de buscar soluções juntos, coletar as
melhores sugestões e definir metas a serem cumpridas dentro do Colégio Universitário, cientes de
que a consolidação desse trabalho seria uma responsabilidade de toda a comunidade acadêmica. As
propostas sugeridas pelos alunos e devidamente registradas foram transformadas na forma de painel
(exposto no pátio do colégio) e cartazes, numa forma de colocar efetivamente em prática aquilo que
se havia sugerido e que deveria ser lembrado a cada dia a partir do momento em que adentrasse na
Instituição.
Mudanças de atitudes e posturas, preservação ambiental, defesa do espaço público,
organização do espaço físico foram os temas abordados e sugeridos aos alunos e pelos alunos
durantes esses trabalhos nas turmas.
Paralelamente a isso, o projeto também contemplava a campanha de coleta de óleo
comestível usado em frituras para a fabricação de sabão em barra na própria escola. O objetivo
desse trabalho teve como foco a ideia de que seria possível produzir o sabão artesanalmente e de
maneira simples por alunos e professores, além é claro da sensibilização por parte de todos os
envolvidos quanto ao não descarte desse produto nos esgotos domésticos, o que configura um
problema ambiental, e o seu reaproveitamento para a fabricação de sabão. Para isso, foram
realizadas duas oficinas para viabilizar na prática a produção do sabão caseiro utilizando o óleo
comestível obtido através de campanha direta aos alunos do COLUN. A campanha teve um grande
sucesso, haja vista a grande quantidade de óleo coletada.
Outra oficina que alcançou um resultado bastante satisfatório esteve relacionada à
reciclagem de papel, cuja matéria prima foi arrecadada na própria Instituição através de campanha
desenvolvida durante o ano de 2012. Esta oficina foi direcionada particularmente aos docentes do
Colégio Universitário, especialmente aqueles que compõem o Projeto Semeando Saberes. As fotos
mostradas na Figura 02 dão uma noção de como se desenvolveram essas ações.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1244


Figura 02: Registro das oficinas desenvolvidas para a reciclagem de óleo e de papel.

Os itens II, III, V, VII e VIII apresentados como metas do Projeto que foram citados na
seção da Metodologia foram realizados de maneiras pontuais, ou seja, não foram sistematicamente
reproduzidos ao longo dos quatro anos de existência do Projeto, mas, não deixaram de serem
igualmente importantes como as demais ações já elencadas anteriormente. Essas ações das quais
referem-se os itens acima mencionados são exatamente aquelas que dizem respeito ao
desenvolvimento do estímulo à limpeza do espaço escolar, através da aquisição de cestos de coleta
seletiva de lixo; à arborização do entorno da escola pelo plantio de mudas visando a ornamentação
do ambiente e a redução dos impactos ambientais; também a campanha pela redução do consumo
de água e energia na escola, quando, naquela oportunidade, houve a fixação de placas e banners
educativos nas dependências (particularmente pátio, salas de aula e laboratório); a implantação e
manutenção de uma horta nas dependências da escola; e ainda apresentação e divulgação do projeto
na mídia e em congressos de divulgação científica a nível nacional. Em algumas dessas ações, o
Projeto Semeando Saberes contou com a participação importante dos alunos que assimilaram cada
momento desses como um processo de construção da importância da educação ambiental e os
princípios que regem a preservação e manutenção do ambiente. Além disso, sempre contou com o
efetivo apoio da gestão da escola (direção e coordenações), cedendo os espaços físicos, permitindo
a participação dos discentes e abrindo espaços para o Projeto em alguns fóruns de discussão
realizados durante esses anos letivos. Ressalta-se ainda que a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA foi sempre uma parceira,
especialmente no quesito financeiro, quanto ao desenvolvimento dessas ações.
As ações que de fato deram maior visibilidade ao Projeto durante esses anos de atuação, não
somente dentro da comunidade escolar, mas além dos muros da escola, foram as realizações dos
Eventos Científicos intitulados Semanas de Meio Ambiente. Neste ano de 2014, já estamos por
realizar ente os dias 22 e 26 de setembro a IV Semana de Meio Ambiente do Colégio Universitário,
como nas outras anteriores, sempre no segundo semestre do ano letivo.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1245


Em todas essas edições, sempre primamos pela educação ambiental e a divulgação das
práticas saudáveis de preservação e conservação do ambiente acima de tudo, além de estar sempre
despertando nos participantes atitudes que levem todos a viverem em harmonia, com saúde e em
perfeita sintonia em todos os lugares que estes se fizerem presentes. Tudo isso é implementado
através da programação da semana, que é planejada, discutida e idealizada previamente, através de
palestras, mesas redondas, mini cursos, oficinas, atividades culturais (dança, teatro, música), visitas
ecológicas.
A primeira semana, ocorrida entre os dias 19 a 23 de setembro de 2011, teve como tema
principal ―CONSTRUINDO PROPOSTAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DEFESA DO
PATRIMÔNIO ESCOLAR‖ e foi realizada através das seguintes ações: 03 Palestras, 04
Minicursos, 05 Oficinas, 02 Encenações Teatrais e, ao final, o plantio de algumas mudas na área
externa da escola.
Já a segunda semana planejada em 2012 deveria ocorrer no período de 17 a 21 de 2012,
porém, por problemas internos e políticos dentro da escola, só pudemos realizá-la entre os dias 10 a
14 de dezembro daquele ano. Não deixou de ser um enorme sucesso como atividade pedagógica e
científica para toda a comunidade escolar, pois tratamos de temas relacionados ao meio ambiente
municipal, haja vista que, naquele ano estávamos comemorando os 400 anos de fundação da cidade
de São Luís/MA, e, por isso, tivemos como tema central desse evento ―CONSERVANDO O
AMBIENTE PARA MAIS 400 ANOS DE HISTÓRIA‖. A programação se constituiu das seguintes
ações: 04 Palestras, 02 Oficinas, 02 Minicursos, 01 Mesa Redonda, o lançamento de livros com
temáticas ecológicas, além da exposição de obras de arte montadas a partir de sucatas e papeis
reciclados.
A terceira semana ocorreu no ano passado entre os dias 07 e 11 de outubro. Esse evento
abrangeu o maior número de ações dentro da programação planejada. Foram na verdade realizadas
09 Palestras, 03 Mini cursos, 13 Oficinas, 02 Mesas redondas, além de outras atividades ao longo de
toda a semana como a exposição de uma van/laboratório de análise de qualidade da água, ginástica
laboral em todos os dias antes do início da programação diária, exposição de um observatório
ambiental, apresentação de trabalhos dos alunos através de pôsteres, uma caminhada ecológica pela
Cidade Universitária, uma visita técnica a um projeto ambiental desenvolvido na ilha de São Luís e
também atividades culturais como a apresentação musical no primeiro dia do evento e uma
encenação teatral acontecida ao final da semana.
A III Semana de Meio Ambiente do COLUN teve como tema central ―MEIO AMBIENTE,
SAÚDE E TRABALHO‖, envolvendo os três níveis de ensino da escola (Fundamental, Médio e
Técnico), enfatizando os três cursos técnicos que são oferecidos pela Instituição: Técnico em Meio
Ambiente, Técnico em Enfermagem e Técnico em Administração, por isso o motivo do tema.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1246
Este último evento foi de fato o maior em relação aos demais anteriormente realizados, tanto
em termos de participação quanto nas ações desenvolvidas, sempre com o intuito inicial de que os
objetivos propostos em desenvolver e implementar boas práticas educacionais na escola foram
completamente alcançados e também na perspectiva de que a cada ano o evento se torne cada vez
maior e melhor na sua realização.
Este ano já estamos finalizando a programação para a IV Semana de Meio Ambiente, que
realizar-se-á na semana de 23 a 27 (segunda a sexta) de setembro e terá como tema central
―VALORIZANDO O SER: CORPO, SAÚDE E ÁGUA‖, enfatizando as relações entre o ser
humano e o meio ambiente, suas consequências e atitudes viáveis para a manutenção dos equilíbrios
ecológicos e salutares.
A novidade desse ano é que a Semana de Meio Ambiente ocorrerá concomitantemente com
a Mostra Científica 2014 da Área das Ciências da Natureza 2014, o que permitirá à escola como um
todo, a oportunidade de que seus alunos, inseridos em projetos de pesquisa, ensino ou de extensão
apresentem seus trabalhos desenvolvidos, especialmente na forma de pôsteres.

Figura 03: Banners utilizados na divulgação das Semanas de Meio Ambiente do COLUN.

Na Figura 03 estão apresentados os quatro banners confeccionados para divulgação desses


eventos nas dependências da escola e demais setores da Universidade Federal do Maranhão.
Convém salientar novamente que, em todos esses eventos realizados como em outras ações
do Projeto Semeando Saberes já citadas, obtivemos sempre o apoio financeiro da Fundação de
Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA,
através da submissão de projetos e aprovação dos mesmos, de acordo com as normas estabelecidas
por Editais lançados e destinados para fomento de eventos científicos, como é o caso das Semanas
de Meio Ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1247


CONCLUSÕES

O projeto Semeando Saberes tem como grande proposta, desde a sua concepção até a sua
implementação, introduzir dentro da rotina acadêmica do Colégio Universitário da UFMA novas
formas de despertar a consciência ambiental e por em prática condutas saudáveis e corretas de
preservação do meio ambiente e manutenção do patrimônio da escola. A difusão dessas ideias gera
um intenso trabalho de educação e socialização em toda a comunidade acadêmica, estendendo-se
para além dos muros da escola. Algumas ações pretendidas, dentro daquelas consideradas
relevantes para o desenvolvimento do projeto, já foram realizadas e outras ainda deverão ser
planejadas e colocadas em prática. Os resultados obtidos já começaram a aparecer ao longo desses
quatro anos; alguns de forma modesta, pela própria natureza da atividade desenvolvida, e outros
atenderam de maneira satisfatória e plenamente o que fora planejado nas propostas iniciais. Porém,
o que mais se ressalta como conclusão final deste trabalho até o presente momento é o fato que,
trabalhar com as questões ambientais em um local bastante diversificado como é a escola, requer
uma intensa conscientização e um tempo bem maior do que aquele estipulado para acontecer. Ou
seja, os resultados só começarão a aparecer, como de fato deve ocorrer em se tratando de meio
ambiente e de maneira plenamente satisfatória, daqui a 2, 5 ou 10 anos (resultados a médio e longo
prazos). É possível perceber que, no fechamento dos anos letivos, algumas metas e objetivos
traçados não alcançarão os resultados pretendidos. Por isso, é consenso daqueles que idealizaram o
Projeto Semeando Saberes que este projeto seja mantido nos próximos anos, seus objetivos centrais
não deixem de ser divulgados e que venha a surgir novas propostas ambientais para se melhorar a
cada ano transcorrido. Desejamos que sejam incorporados novos membros ao grupo para dar vigor
ao projeto a cada ano, de tal forma que as ações nunca retroajam, mas que sejam sempre
melhoradas, intensificadas e compreendidas como atitudes importantíssimas e vitais à manutenção
da vida no planeta Terra.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem de forma bastante especial à direção e coordenações do Colégio


Universitário da Universidade Federal do Maranhão pela colaboração e apoio durante a
implementação do projeto junto à sua comunidade acadêmica e também à Fundação de Amparo à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, pelo apoio
financeiro concedido, especialmente para a realização das quatro Semanas de Meio Ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1248


REFERÊNCIAS

EFFTING, Tânia Regina. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidades e Desafios. Pós-
Graduação ―Latu Sensu‖ em Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável. UNIOESTE.
Marechal Cândido Rondon. 2007.

SANTOS, Raquel. Serviço Social e Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 2007.

BRASIL. Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999. Brasília, 1999.

http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/manutencao-patrimonio-escolar-476183.
Acessado em 28 de março de 2011.

http://www.youtube.com/watch?v=5HMIKDOpKA0

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1249


PROBLEMAS AMBIENTAIS NO BAIRRO: REFLEXÃO A PARTIR DOS OLHARES DE
ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL II EM ESCOLAS PÚBLICAS DE JOÃO
PESSOA-PB

José Nildo Frutuoso de ARRUDA


Mestre em Geografia e graduando em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba
nildografia@gmail.com
Avany Lúcia DANTAS
Professora doutora do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba
avalucia@hotmail.com.br
Christianne Maria Moura REIS
Professora doutora do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba
cmm_reis@yahoo.com.br
Francisco Neidinaldo Frutuoso de ARRUDA
Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba
neidinaldo@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo diagnosticar a percepção ambiental dos estudantes do ensino
fundamental II em escolas públicas de João Pessoa. Buscou-se verificar como os estudantes
percebem os problemas ambientais existentes no bairro em que residem. Fizeram parte da pesquisa
370 educandos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Presidente Médici, e da
Escola Municipal de Ensino Fundamental Aruanda, localizadas no Bairro dos Bancários e no bairro
do Castelo Branco. Para levantamento e coleta de dados, realizou-se consultas a fontes e
documentos inicialmente, recorrendo-se à pesquisa bibliográfica no âmbito da reflexão teórica e a
pesquisa online por meio de acesso a banco de dados científicos com registros de dissertações,
teses, e artigos qualificados pela CAPES etc. Os resultados obtidos indicam uma insignificante
percepção dos educandos sobre os problemas ambientais nos bairros onde residem e estudam.
Palavras-chaves: Problemas ambientais; educandos; escola; bairro.

ABSTRACT
This study aimed to diagnose the environmental perception of elementary school students in public
schools in II John Person. We sought to determine how students perceive environmental problems
in the neighborhood in which they reside. They did part of search 370 students at the school of
elementary secondary education President Medici, and school municipal Aruanda, located in the
neighborhood the Castelo Branco.
To survey and data collection, held consultations to sources and documents initially, making use if
the literature in the context of theoretical reflection and research through online access to scientific

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1250


data with database records of dissertations, theses, and articles qualified by CAPES etc. The results
indicate an insignificant perception of students about environmental problems in the neighborhoods
where they live and they study.
Keywords: Environmental Problems; students; school; neighborhood.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais é perceptível quanto o planeta Terra está ameaçado, devido à poluição, ao
aumento da temperatura global, a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa, a extinção de
espécies, escassez de água dentre outros. No entanto, vale ressaltar que muitas destas alterações nos
ecossistemas do planeta tiveram ampla aceleração a partir da Revolução Industrial que ocorreu no
final do século XVIII e início do século XIX. Isto é, com o desenvolvimento dos aparatos técnicos,
a sociedade humana pôde extrair da natureza uma maior quantidade de recursos.
Vessentini (2002), concorda que foi a partir dessa Revolução que a natureza vem pouco a
pouco deixando de existir para dar lugar a um meio ambiente transformado, produzido de forma
mais generalizada pela racionalidade da modernidade imposta pela sociedade.
Neste sentido, a temática ambiental entra em foco assumindo lugar de destaque nos estudos,
pesquisas, eventos científicos e discussões políticas em nível nacional e internacional visando expor
a situação do país e do planeta na sua complexidade ambiental.
É nesta perspectiva que o diálogo de saberes emerge desencadeando eventos nacionais e
internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade com diversas pautas como nos casos do
Clube de Roma, Conferência de Estocolmo (1972), a Comissão de Brundtland (1983), a Rio 92
(1992), a Conferência Internacional sobre população e desenvolvimento e a Hábitat II (1996),
Congresso Internacional da UNESCO – PNUMA sobre Educação Ambiental e Formações
Ambientais realizado em Moscou. Neste foram analisadas as conquistas e as dificuldades na área da
EA e também foram estabelecidos os elementos para uma estratégia internacional de ação em
matérias de educação e formação ambientais para a década de 90.
No Brasil, em 1988, é promulgada a Constituição da República Federativa, que por sua vez
traz em um dos seus capítulos, o seguinte:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se o Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988 ).

Ainda no tocante a realidade brasileira, em 1989, é criado o Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Este órgão tem como atribuições a
preservação, conservação e controle dos recursos naturais renováveis em todo território federal,
como também a proteção à fauna e a flora do país e estimulando à Educação Ambiental nas suas

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1251


diferentes formas.
Em busca de mecanismos que possibilitassem um futuro social – ambiental com mais
segurança a ONU em 1992 realiza no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD. Entre alguns objetivos desta conferência estava o
de examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas após a conferência de
Estocolmo. Pretendia também identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas
referentes às principais questões ambientais.
Dentro desta política de repensar a situação do planeta, o Ministério da Educação e da
Cultura, divulga os novos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN‘s onde a dimensão ambiental é
incorporada como tema transversal nos currículos de ensino fundamental.
A partir daí ressalta-se a importância dos estudos da percepção ambiental como um elemento
fundamental nos diferentes níveis de educação da Escola Básica e também na formação de
educadores. Todavia é importante que os educandos percebam seu papel refletindo sobre suas
atitudes e comportamentos como agente de transformação diante da problemática ambiental,
preservando o meio ambiente, sua rua, sua escola, seu bairro, sua cidade dentre outras localidades.
Portanto, diante do exposto, a pesquisa em pauta optou por uma abordagem que considera a
relação educação escolar e suas prática de ensino sobre meio ambiente no sentido de conhecer o
papel que tem as escolas como instituições formadoras na conscientização e formação do educando
especialmente do ensino fundamental sobre os desafios ambientais urbanos da atualidade. Neste
contexto, a pesquisa teve como objetivo analisar a percepção dos estudantes do ensino fundamental
sobre meio ambiente e educação ambiental. Para tanto, verificou-se o conhecimento dos educandos
sobre os problemas ambientais dos bairros onde residem no entendimento de que formar o
educando não é apenas repassar conhecimentos, mas, orientá-los para temas relacionados a sua
vivência na sociedade.
Assim, a questão central da proposta consistiu em saber qual é a percepção dos educandos
sobre os problemas ambientais do bairro em que vivem?
Para subsidiar a pesquisa teoricamente foram analisados alguns estudos sobre o homem e o
meio ambiente, problemas ambientais urbanos e a percepção ambiental. Desse modo sintetiza-se
apenas algumas ideias que contribuem para subsidiar o estudo.

RELAÇÃO HOMEM VERSUS MEIO AMBIENTE

Até um certo tempo na história, o homem conseguia viver em ―harmonia‖ com o Meio
Ambiente, onde retirava dele apenas os recursos necessários para o seu sustento.
Visando esclarecer melhor essa relação do homem com o meio ambiente, Lima (1984, p. 32)
entende que:
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1252
O homem primitivo não provocava desequilíbrio apreciável sobre os processos metabólicos
e reprodutivos que regulavam o sistema de suporte da vida na Biosfera, uma vez que as
alterações provocadas eram numa escala que permitia a manutenção dos limites e
estabilidades da natureza.

Como observa-se no fragmento de texto, as interferências do Homem sobre o Meio


Ambiente tiveram uma maior intensificação a partir do aperfeiçoamento dos instrumentos de
trabalhos. Com estas novas ferramentas, o homem conseguiu ocupar cada vez os espaços e extrair
os recursos do mesmo. Isto é, ―o homem não só pode transformar e expandir o seu nicho, mas
também afetar os mecanismos do Sistema da Terra em maior ou menor grau, em maior ou menor
escala‖ (DREW (2005, p. 1).
A partir do momento em que o homem foi aperfeiçoando os seus instrumentos de trabalho
passou a atuar de maneira mais agressiva sobre o ambiente. Entretanto, o desenho ambiental requer
um equilíbrio entre as atividades humanas e o meio natural sendo uma relação intrínseca do homem
com o meio natural.
Este modelo de comportamento humano frente ao meio tem favorecido também para a perda
da qualidade de vida, degradação generalizada, enfim, a destruição do patrimônio ambiental (DIAS,
2002).
Finalmente essa discussão sobre a relação homem versus natureza vem acontecendo sempre
na medida em que o desenvolvimento não significa apenas crescimento econômico. É necessário
conservar o meio ambiente para a própria sobrevivência da humanidade no planeta Terra. Assim,
esta relação ocorrerá através de princípios da vida sustentável como: respeitar e cuidar da biosfera,
melhorar a qualidade da vida humana, conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra,
condições indispensáveis para o equilíbrio do homem com a natureza.

PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS

A problemática do urbano vem sendo objeto de estudos, discussões e pesquisas por diversos
ramos do conhecimento. Na presente abordagem, o foco está voltado para os problemas ambientais
do bairro. Com tal perspectiva, o interesse recai sobre a importância do estudo do meio ambiente
urbano e seus problemas através da educação escolar e suas práticas se estão ocorrendo conforme o
que orienta Pontuschka (2001, p.112): ―há de se pensar o ensino que forme o aluno do ponto de
vista reflexivo, flexível, crítico e criativo [...] para enfrentar as transformações cada vez mais
céleres que certamente virão‖.
Nesta concepção espera-se desenvolva seu papel de criar condições de buscar contornos e
formas organizativas, curriculares e pedagógicas no ensino, na luta pela formação em serviço dos
professores, na relação com a universidade, enfim, situar a escolarização no âmbito de abrir novos
sistemas de possibilidade à educação no ensino básico especialmente no fundamental (REGO,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1253


2011).
Por conseguinte, o estudo da realidade ambiental do educando nos centros urbanos e a
realidade ambiental dos locais onde residem e estudam são elementos que devem ser discutidos na
educação formal e informal. Assim sendo, é possível mudanças significativas de atitude e
pensamento, uma vez que o estudante pode observar criticamente, quais são os problemas
ambientais que convive no seu dia a dia. Enfim, trata-se do trabalho na escola com propostas
teórico-metodológicas de atividades em sala de aula e campo com os educandos, no entendimento
de que ―o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo
singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens"
(SAVIANI, 2005, p. 13).
Nesta perspectiva, ressalta-se a importância que tem a pedagogia crítica alinhada a saberes e
ações comprometidos com a emancipação do educando como uma alternativa ao processo de ensino
e aprendizagem. Esse processo deve estar articulado ao objeto da educação, visando à
transformação das relações sociais que são determinantes da prática social dos mesmos.

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Muitos foram os estudiosos que se debruçaram no estudo sobre a ―percepção‖, ou seja,


analisar a maneira pela qual os indivíduos percebiam o ambiente em que vivem. Para Tuan (1980,
p. 4) a percepção ―é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como atividade proposital,
na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou
são bloqueados‖.
Do ponto de vista da percepção na abordagem ambiental Macedo (2000), compreende como
sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente
em que está inserido aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. Dentro desta linha de
pensamento, Faggionato (2003), considera que cada indivíduo percebe, reage e responde
diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou manifestações são, portanto resultado
das percepções, dos processos cognitivos, do julgamento e das expectativas de cada indivíduo.
A partir destas ―concepções ambientais‖ tidas pelos indivíduos, podem ser desenvolvidas
atividades educativas de acordo com a realidade do grupo, visto que cada indivíduo percebe, reage
e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As manifestações decorrentes
resultam das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e
expectativas de cada pessoa (FERNANDES, 2014).
Desse modo, julga-se de suma importância o estudo da percepção ambiental como elemento
essencial para a compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, suas perspectivas,
expectativas, anseios, julgamentos satisfações, insatisfações e condutas.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1254
CONFIGURAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

A propositura da investigação em questão caracteriza-se por ser um estudo com abordagem


qualitativa. Silva (2007), afirma que os dados qualitativos permitem compreender o caráter
complexo e multidimensional dos fenômenos. Para tanto utilizou-se o método fenomenológico.
Sato (2001) mostra que este tipo de pesquisa orienta a investigação a partir das experiências de
vida, a memória e significações. Além disso, leva em consideração algumas concepções do
materialismo histórico dialético, que Lakatos (1991, p. 75) considera ―tanto a natureza quanto a
sociedade são compostos de objetos e fenômenos organicamente ligados entre si, dependente uns
dos outros‖.
A pesquisa empírica foi realizada nas Escolas da rede pública de ensino Fundamental e
Médio Presidente Médice e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Aruanda, ambas localizadas
no Bairro dos Bancários em João Pessoa PB.( Fig 1).
Os sujeitos que integraram o universo pesquisado constaram de 379 estudantes de 8 turmas,
de 6º a 9º ano do Ensino Fundamental, sendo 183 educandos da Escola Presidente Médice e 196 da
Escola Municipal Aruanda.
Para o processo de coleta de dados, realizou-se consultas a fontes e documentos
inicialmente, recorrendo-se à pesquisa bibliográfica no âmbito da reflexão teórica e a pesquisa
online por meio de acesso a banco de dados científicos com registros de dissertações, teses, e
artigos qualificados pela CAPES etc. Essas fontes e documentos foram explorados durante o
desenvolvimento da investigação, permitindo instrumentalizar os processos específicos da pesquisa
e para a consecução dos objetivos.
O instrumento de coleta dos dados de campo constou de um questionário modificado do
original de Corrêa (2002). Este é composto por catorze perguntas abertas e fechadas sobre os temas:
problemas ambientais ligado ao lixo, a poluição/esgotos, poluição do ar, barulho e violência,
desmatamento queimadas e extinção de animais, saneamento básico, desabamento de barreiras,
respostas desconexas e não respondeu.
Após a coleta dos dados, os mesmos foram classificados de forma sistemática através de
seleção (exame minucioso dos dados), codificação (técnica operacional de categorização) e
tabulação (disposição dos dados de forma a verificar as suas inter-relações). Após esse trabalho,
realizou-se a análise dos dados ou informações. Num primeiro momento, os dados de cada escola
foram trabalhados de forma individual, no entanto, adotou-se os mesmos procedimentos de
análises para elas. Para que fosse possível fazer esta tabulação necessitou-se utilizar ou criar
categorias no intuito de agrupar as respostas fornecidas pelos estudantes.
Nesta fase inicial das tabulações das respostas foi realizado de forma manual, onde

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1255


organizou-se todas as informações em tabelas e quadros. Na sequência foi realizada a análise e
discussão das informações e as correlações entre as concepções dos entrevistados com os
referenciais teóricos

MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS ESCOLAS

Figura 1. Localização das escolas envolvidas na pesquisa.


Mapa elaborado por: Júlio Morais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados apresentados são os achados da pesquisa sobre os problemas ambientais no


bairro onde os educandos residem e estudam. Em linhas gerais diagnosticou-se alguns
entendimentos dos educandos com relação aos problemas ambientais no bairro. Para tanto realizar-
se-á as análises e discussões por escolas para em seguida elaborar uma síntese comparativa entre os
resultados das escolas.

Escola Estadual Presidente Médice

De acordo com a tabela a seguir, observa-se que de um modo geral os educandos pontuaram
todas as respostas, levando-se a crer que estão tendo algum conhecimento sobre o tema no processo
educativo da escola, conforme demonstram os percentuais relativos ao 6º ano, 39,2% e no 9º ano,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1256


23,1%, sobre a presença do lixo no bairro fato este que demonstra consonância com os estudos de
Arruda e Guerra (2004). Sobre a poluição dos rios/esgotos, também o 6º ano e o 8º atingiram
respectivamente 21.6 % e 27.5%. Os demais percentuais deixam a desejar principalmente o 9º ano
que teve um percentual de 15.4%. Deveria essa turma ter um conhecimento mais significativo dos
problemas ambientais, uma vez que estão no último ano a caminho do ensino médio. De outra parte,
os problemas ambientais ligados à poluição do ar foram reconhecidos pelos alunos do 8º ano em
detrimento das outras turmas.
Os demais problemas ambientais tiveram percentuais insignificantes. Tal fato leva a crer que
o desconhecimento dos problemas ambientais ainda persiste nesta escola. Portanto em média, 70,5
% dos educando entrevistados percebem a existência de alguns problemas ambientais. Todavia, as
omissões demonstram que no processo ensino aprendizagem da escola não existe discussão sobre os
saberes locais dos estudantes, diante da dificuldade de se abrir para essa mudança de olhar. Pois
como visto, a percepção dos educandos quanto aos problemas ambientais do bairro onde residem
ainda estão ocultos numa discussão curricular como em práticas formais e informais de uma
educação ambiental capaz de promover sua formação cidadã numa sociedade estratificada que
requer a formação de educandos críticos comprometidos com o presente e um futuro sustentável.

Escola Aruanda

Em geral os educandos desta escola demonstraram pouca percepção sobre os problemas


ambientais do bairro. Apenas os educandos do 8º ano apresentaram percentuais de 28,3%
relacionados com problemas ligados à poluição dos rios/esgotos e 24,5% a poluição do ar. As
demais turmas não percebem os problemas ambientais diante dos insignificantes percentuais
colocados com relação aos outros problemas. Um aspecto que merece destaque diz respeito ao
problema relativo ao barulho e a violência que os educandos ignoraram. Acredita-se na
possibilidade de que existe no processo ensino aprendizagem da escola práticas educativas
resultantes do acolhimento do currículo que funciona como roteiro da ação na sala de aula, sem a
devida relação com a realidade socioambiental do educando.
Resta salientar o resultado das respostas desconexas que atestam realmente o
descompromisso da escola e dos educandos com as questões ligadas a contemporaneidade da
sociedade do conhecimento que exige habilidades e competências para lidar com as tendências
sociais, políticas, econômicas, legais, trabalhistas e tecnológicas. Perspectiva pensada por
Pontuschka (2001) para a formação do educando na atualidade.
Portanto, no tocante a preocupação dessa escola com os problemas ambientais, foi possível
detectar que em média as turmas demonstraram uma tênue percepção dos problemas ambientais
cujo percentual foi de 56,1%. Pode-se afirmar que esse debate precisa ser aprofundado na escola em
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1257
pauta por meio de mecanismos de discussão e tomada de decisão para restaurar um modo de
conhecimento que auxilie a estabelecer as relações entre escola e meio ambiente, entre as práticas
educativas e sua relação com o ambiente local e seus problema

Problemas ambientais no E.E.F.M. Presidente Médici % E.M.E.F. Aruanda %


bairro 6ª 7ª 8ª 9ª 6ª 7ª 8ª 9ª
X X

Ligado ao lixo 39,2 22,6 15,0 23,1 25,7 18,2 18,6 18,9 17,6 18,4
Ligado à poluição dos 21,6 15,1 27,5 15,4 19,7 9,1 6,8 28,3 13,7 14,8
rios / esgotos
Ligado à poluição do ar 7,8 9,4 22,5 5,1 10,9 12,1 5,1 24,5 17,6 14,8
Ligado ao barulho e - 1,9 5,0 - 1,6 - - - - -
violência
Ligado ao desmatamento, 1,9 3,8 12,5 5,1 5,5 6,1 8,5 5,7 7,8 7,1
queimadas e extinção de
animais
Ligado à falta de 5,9 5,7 - 2,6 3,8 - - 1,9 2,0 1,0
saneamento básico
Desabamento de barreiras 3,9 5,7 - 2,6 3,3 - 1,7 3,8 - 1,5
Respostas desconexas 3,9 1,9 - - 1,6 3,0 - - - 0,5
Não respondeu - - - 2,6 0,5 - - - - -
Fonte: Pesquisa de campo, 2010.
Tabela 1. Respostas dos estudantes quanto aos problemas ambientais no bairro em que residem.

Numa síntese comparativa entre os percentuais que atestaram as percepções dos estudantes
sobre os problemas ambientais e comparando os resultados entre as escolas, conclui-se que a Escola
Presidente Médice demonstrou refletir sobre a problemática ambiental em geral com enfoques e
possivelmente métodos interdisciplinares sobre o pensamento ambiental ao ponto de lograr nos
educandos as noções iniciais sobre os problemas urbanos ambientais. Apesar dos resultados não
serem robustos, pensa-se na possibilidade de uma renovação socioeducativa capaz de estabelecer
novas abordagens para o ensino na sua relação com a realidade do educando.
No que diz respeito à Escola Aruanda, os resultados não foram animadores. Isso significa
que possivelmente o processo ensino aprendizagem vem ocorrendo numa determinada direção,
produzindo resultados inesperados, frente a visão distorcida que o educando vem adquirindo na
escola. Pode-se supor que esta visão distorcida dos problemas ambientais, seja consequência da
atomização dos conteúdos ministrados de modo fragmentado, ou mesmo de sua ausência.
Portanto, com base nos resultados alcançados nas duas escolas e analisados com o apoio da
literatura, a percepção sobre os problemas ambientais do bairro pelos educandos que nele residem
comprovaram numa visão geral o baixo nível de referência e identificação dos educandos com os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1258


problemas ambientais urbanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados analisados ao longo da pesquisa, verificou-se que os estudantes
destacaram uma quantidade insignificante de problemas ambientais relacionados ao bairro em que
moram. Diante desta realidade se faz necessário considerando o traçado da pesquisa, definir
algumas considerações conclusivas. Com relação ao objetivo geral considera-se que este foi
atendido pela análise da percepção dos educandos sobre os problemas ambientais do bairro em que
residem. Como a ideia conclusiva foi diagnosticada uma miopia com relação aos estudos ambientais
em geral nas escolas e principalmente sobre os problemas ambientais. Todavia esse é um processo
dialético em que as necessidades dos estudantes sejam configuradas, e a maturidade do macro
processo educativo busque uma formação da cultura de institucionalização do conhecimento.
Finalmente encerra-se esta discussão com o reconhecimento de que este estudo venha a
contribuir para que as escolas enfrentem os desafios impostos pelo sistema educacional diante da
sistemática de ser tratado ou conduzido considerando a possibilidade da produção de novos
conhecimentos e saberes que permitam melhorar a educação. Nesta lógica, inaugurando um diálogo
entre a racionalidade econômica dominante e a construção de novas visões da educação baseada em
uma racionalidade ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABÍLIO, F. J. P.; GUERRA, R. A. (Org.). A questão ambiental no ensino de ciências e a formação


continuada de professores de ensino fundamental. João Pessoa: UFPB/ FUNAPE/LEAL, 2005.
130p.

ARRUDA, F. N. F. de.; GUERRA, R. A. T. O lixo e outras Problemáticas Ambientais Locais na


visão de Estudantes do Ensino Médio de uma escola pública de João Pessoa / Paraíba. In:
Congresso Nacional de Meio Ambiente, II., Salvador. 2004. p. 348- 349.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria de Educação


Fundamental, Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.p. 223.

CORRÊA, V. A. 2002. A Educação Ambiental na Escola: percepção e prática de alunos do


município de Novo Hamburgo. Disponível em: www.apoema.com.br. Acessado em: 25/09/2014.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 6. ed. São Paulo: Gaia, 2000. p. 15-149.

_________. Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana. São Paulo: Gaia, 2002. p. 15.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1259


DREW, D. Processos Interativos Homem – Meio Ambiente. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005, p. 1-2.

GUERRA, R. A.T.; ABÍLIO, F. J. P. Educação Ambiental na Escola Pública. João Pessoa: Fox,
2006. 234p.

LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1991. p. 75.

LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Tradução de


Lúcia de Mathilde Endlich Orth, Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p.287.

LIMA, M. J. A . Ecologia humana: realidade e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 20 - 32.

MACEDO, R. L. G.; MACEDO, S.B. ; ANDRETA.; N.V.V. Pesquisa de percepção ambiental para
o entendimento e direcionamento da conduta ecoturística em unidades de conservação.
Disponível em: http/: // www. physis.org. br / ecosic/ Artigos50. pdf. Acesso em: 15 de Junho de
2009.

PEDRINI, A. G. et al. Educação Ambiental, reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis:


Vozes, 1997. p. 20-21.

PONTUSCHKA, Nídia Nacid. Geografia, pesquisa e ensino. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri
(org Novo Caminho da Geografia. São Paulo: Contexto, 2001.

REGO, Teresa Cristina et al. Currículo e política educacional. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes,
2011.

ROOSEVELT S. FERNANDES et al. O uso da percepção ambiental como instrumento de gestão


em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. Disponível em:
www.redeceae.esalq.usp.br/noticias/percepção ambiental. Acesso dia 15 de Setembro de 2014.

SATO, M. Curso de Educação Ambiental. PRODEMA/ UEPB/ UFPB/ João Pessoa, 1999.

SAVIANI. Pedagogia histórico crítica. Campinas: Autores Associados, 2005.

SILVA, L. F. Como os estudantes do ensino fundamental de Cabedelo e João Pessoa veem o


Manguezal. Monografia apresentada ao curso de Biologia da UFPB em Maio de 2005. p. 29.

SILVA, M. P. Estratégias em Educação Ambiental, Campina Grande. UFPB/UEPB, 2000.


Dissertação de Mestrado. p. 45-81.

TUAN, Y. F. Topofilia. Um estudo da percepção Atitudes e Valores do Meio Ambiente. Trad. Lívia

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1260


de Oliveira. Rio de Janeiro: Difel, 1980. p. 4.

VESSENTINI, J. W. Sociedade & Espaço: Geografia Geral e do Brasil. 42ª ed. São Paulo, Editora
Ática, 2002. p. 297-299.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1261


ESTUDO DE CASO SOBRE A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA QUÍMICA VERDE

Joycyely Marytza de Araujo SOUZA FREITAS


Mestranda de Engenharia Ambiental da UFRPE
jmarytza@yahoo.com.br
Elvis Pantaleão FERREIRA
Mestrando de Engenharia Ambiental da UFRPE
epf150@hotmail.com
Gilberlândio Nunes SILVA
Professor da UEPB
gilberlandionunes@hotmail.com
Alexandre Serafim MOURA
Servidor da UFRPE
alexandremoura2001@yahoo.com.br

RESUMO
A Química Verde foi o tema responsável pelo desenvolvimento da pesquisa em questão. O estudo
teve como objetivo geral investigar o entendimento ambiental, de professores e estudantes do Lato
Sensu em Ciências Ambientais da Funeso, sobre a temática da Química Verde. Portanto a pesquisa
oferece aumento da divulgação e direcionamento das informações sobre o conceito da Química
Sustentável. Com a intenção proposta, o trabalho realizado é classificado como exploratório e
qualitativo caracterizado como estudo de caso. Realizado na Fundação de Ensino Superior de
Olinda (PE) com docentes e discentes da instituição, utilizou como técnica a aplicação de
questionário e para análise dos dados a execução de frequência relativa em percentual. Os
resultados da pesquisa revelam argumentos sobre períodos e eventos históricos, ideia sobre os
princípios da Química Verde. Assim é possível concluir que precisa dirigir o conhecimento dos
professores e estudantes para prioridade da sustentabilidade na Terra.
Palavras chaves: Química verde. Ciências Ambientais. Conhecimento. Ensino/Aprendizagem.

ABSTRACT
Green chemistry was the topic responsible for the development of the research in question. The
study had general objective investigate the environmental understanding of teachers and students
specialization in Environmental Sciences at Funeso, on the theme of Green Chemistry. Therefore
the research offers increased disclosure of information and guidance on the concept of Sustainable
Chemistry. With the proposal intention, the work is classified as exploratory and qualitative
characterized as a case study. Held at the Foundation of Higher Education of Olinda (PE) teachers
and students of the institution, the technique used was the questionnaire and for data analysis was
employed execution of relative frequency in percentage. The survey results reveal arguments about

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1262


historical events and periods, idea about the principles of Green Chemistry. Therefore is possible
conclude the need to drive knowledge of teachers and students as priority of sustainability on Earth.
Keywords: Green Chemistry. Environmental Sciences. Knowledge. Teaching/Apprenticeship.

INTRODUÇÃO

Com a ascensão dos impactos ambientais causados pelo homem, é considerado um desafio a
continuidade do progresso sem a redução dos malefícios produzido ao meio ambiente (PRADO,
2003). E a Química constantemente é associada a degradação e poluição ambiental. Principalmente
devido as atividades industriais que durante muitos anos contribuíram, com negligência, em relação
aos resíduos descartados sem tratamento adequado. E as políticas públicas que se impõe na
dialética, porém não aplicadas na prática.
Na década de 90, surge a preocupação em buscar alternativas que evite ou restrinja a
produção dos rejeitos e gases tóxicos produzidos pelas fábricas ainda no período de produção
(LENARDÃO; PRADO, 2003). Assim a linha de pesquisa desenvolvida começa a ser chamada de
Química Sustentável ou Química Verde, sendo o último termo adotado pela União Internacional de
Química Pura e Aplicada (IUPAC), afirma Nascimento (2005).
A Química Verde não se limita apenas à indústria, deve ser combinada à propagação do
conhecimento e às práticas científicas realizada nos laboratórios de estudo, que também produzem
resíduos descartados de forma inadequada. Além de tal pensamento demonstra influência
econômica graças à minimização de gastos com o armazenamento e tratamento de resíduos, a
descontaminação de ecossistemas e o pagamento de indenizações.
O Lato Sensu em Ciências Ambientais da Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso)
prioriza o ensino formal de qualidade e visa à formação completa como também a qualificação
profissional dos estudantes. O corpo docente da instituição é formado por Especialistas, Mestres e
Doutores na área ambiental de caráter multidisciplinar, ainda assim a Química não compõe a grade
curricular o que promove desconhecimento de aspectos da Ciência. Por ser uma temática recente e
diretamente aliada ao meio ambiente, qual será o nível de compreensão sobre Química Verde em
professores e estudantes da instituição citada?
Em suma, o trabalho sugere relatar o nível de compreensão da Química associada ao Meio
Ambiente dos discentes e docentes do Lato Sensu em Ciências Ambientais da Funeso.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica é a reflexão bibliográfica do estudo de autores que nortearam a


pesquisa. E para atrelar o Meio Ambiente à Química Verde foi necessário utilizar referências de
autores de áreas interdisciplinares.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1263
Histórico do Desenvolvimento da Química Verde

Durante as conferências e divulgações dos problemas ambientais mundiais, paralelamente a


comunidade científica e industrial tentava reparar anos de ações sem planejamento ambiental.
O primeiro passo foi marcado com a Canadian Chemical Producers Association (CCPA) que
foi a transmissora em 1984 do Programa de Atuação Responsável (Responsible Care) do qual a
principal intenção era produzir produtos químicos de modo seguro evitando atingir o meio ambiente
e a saúde da população (FARIAS; FÁVARO, 2011). Inicia-se o período de retratação da Química
com o meio ambiente, porém de forma lenta e sem direção definida dos estudos que irão ser
desenvolvidos.
No ano de 1985 o Conselho Internacional das Associações Químicas (ICCA) foi indicado
para orientar sobre uma atuação mais responsável das indústrias químicas. Foi incentivado,
portanto, os estudos e as análises para restringir os impactos ambientais no planeta (CARIOCA;
ALMEIDA, 2011). E sem atitudes práticas, o discurso foi prolongado até os anos 90.
Quando em 1991 os Estados Unidos implantam leis e programas. Através do órgão público
Environmental Protection Agency (EPA) nasce a lei de Prevenção à Poluição e do Instituto de
Prevenção à Poluição e Tóxicos (OPPT) teve início o programa ―Rotas Sintéticas Alternativas para
Prevenção de Poluição‖, que custeava pesquisas sobre precaução dos resíduos poluentes (FARIAS;
FÁVARO, 2011). Assim surge a denominação "Green Chemistry", no português Química Verde,
uma parte da ciência Química preocupada com os efeitos que a ciência ocasiona ao meio ambiente.
O nome "Green Chemistry" foi apontado pelo pesquisador Paul Anastas na década de 90 (BAZITO,
2008).
Dessa forma na Itália em 1993 foi determinado o Consórcio Universitário Química para o
Ambiente (INCA) onde foram agrupados vinte grupos acadêmicos de diferentes países que
relacionava a Química e o meio ambiente para discutir sobre produtos e etapas mais limpos, além
da precaução da poluição (LENARDÃO, 2003).
Em 1995 o governo dos Estados Unidos cria a gratificação ―The Presidential Green
Chemistry Challenge‖ (―PGCC‖) visando às inovações tecnológicas que diminuisse o rejeito dos
resíduos durante o processo de produção (LENARDÃO, 2003). Esse programa está em atuação até
o ano dessa pesquisa monográfica.
O ―Green Chemistry Institute‖ (GCI) foi concebido em 1997 e em setembro deste mesmo
ano a ―International Union for Pure and Applied Chemistry‖ (IUPAC) coordenou a primeira
conferência internacional em Química verde em Veneza (LENARDÃO, 2003).
A primeira revista periódica bimestral exclusivamente sobre a temática foi lançada em 1999,
intitulada "Green Chemistry" pela Royal Society of Chemistry (RSC) (BAZITO, 2008).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1264


No Brasil, associados da ABIQUIM movimentam-se, espelhados no desenvolvimento da
Química Verde no exterior, para implantação de um programa do governo federal sobre a
sustentabilidade industrial. No final dos anos noventa o grupo setorial do petróleo foi apoiado pelo
governo federal e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) para investigar as proposições
sobre o assunto (CARIOCA; ALMEIDA, 2011).
O ano de 2001 é marcado por várias publicações e eventos importantes para divulgação da
área da Química Verde mundialmente. A IUPAC foi promotora do Sub-Comitê Interdivisional de
―Green Chemistry‖ e do Workshop sobre Educação em ―Green Chemistry‖, que foi sucedido em
setembro. Na Universidade do Colorado (EUA) foi efetuada a Conferência CHEMRAWN XIV
(―The Chemical Research Applied To World Needs‖) como questão principal a procura por
produtos e métodos benignos ao ambiente (LENARDÃO, 2003).
Em Novembro de 2007, com o amparo institucional do Centro de Energias Alternativas e
Meio Ambiente (CENEA) foi concretizado o primeiro Workshop Internacional da Química Verde
em Fortaleza. Dentre as sugestões discutidas a de maior importância foi a elaboração da Rede
Brasileira de Química Verde (RBQV) incorporada com a Escola Brasileira de Química Verde
(EBQV), com objetivo de formar e fazer crescer o uso de recursos renováveis para produção de
energia e produtos químicos mais eficientes (CARIOCA; ALMEIDA, 2011).
Por fim no Ano Internacional da Química comemorado em 2011 de maneira universal, foi
completado vinte anos da implantação do programa ―Rotas Sintéticas Alternativas para Prevenção
de Poluição‖ (FARIAS; FÁVARO, 2011). Esse ano foi decisivo para reiterar a importância da
Química Verde como linha de pesquisa para o desenvolvimento e crescimento de práticas mais
sustentáveis para o planeta.

O Que é Química Verde e Suas Orientações

Mas afinal o que é Química Verde? A explicação do tema é necessária para evitar analogias
distorcidas, como a Química que explora a flora.
A Química Verde é a tradução do termo americano ―Green Chemistry‖, que também é
denominada como Química Ambiental e/ou Química para a Sustentabilidade (CARIOCA;
ALMEIDA, 2011; LENARDÃO, 2003).
Algumas definições significativas foram divulgadas sobre o que é Química Verde.
Segundo Blount (2003) no livro Green Chemistry: Theory and Pratice (Química Verde: tória
e prática) foi decretado por Paul T. Anastas e seu co-autor John C. Warner da seguinte forma:
―Química Verde consiste na utilização de um conjunto de princípios que reduzem ou eliminam o
uso ou a geração de substâncias perigosas durante o planejamento, manufatura e aplicação de
produtos químicos‖.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1265
De acordo com Nascimento (2005) outra exibição defendida pela Agência de Proteção
Ambiental (EPA) tem propósito explicito: ―Química Verde é o uso da química para prevenir a
poluição. Mais especificamente, é o planejamento de produtos e processos químicos que sejam
saudáveis ao meio ambiente‖.
Conforme Bazito (2008) a IUPAC esclarece que: "A Química Verde é a invenção,
desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a
geração de substâncias perigosas‖.
Embora as três determinações sejam diferentes existem o mesmo perfil que remete a
Química Verde ao grupo de pesquisa preocupado com o desenvolvimento de tecnologias e
processos causadores de poluição no meio ambiente.
Assim foi sugerido pela United States Environmental Protection Agency (USEPA) e
American Chemical Society (ACS) com finalidade indicar caminhos para as pesquisas em Química
Verde os 12 princípios, que são (BAZITO, 2008; LENARDÃO, 2003; PRADO, 2003):

1 - Prevenção: Impedir a formação de dejetos é mais prudente do que tratá-lo ou ―limpá-lo‖


depois de produzido.
2 - Economia de Átomos: Na manipulação de materiais sintéticos reunirem os átomos dos
reagentes nos produtos finais.

As reações mais eficientes são as de adição (incluindo Diels-Alder) e os rearranjos. Porém


as que merecem maior atenção por se ineficaz na economia dos átomos são as reações de
eliminação, substituição, compostos de Grignard, compostos de Wittig, entre outras.
A economia atômica pode ser calculada pela seguinte fórmula:

á
ô
ó

3 - Sínteses com compostos de menor toxicidade: Fazer a troca, quando possível, de


compostos com alta toxidade por compostos de menor toxicidade nas reações químicas. Um
exemplo dessa aplicação é a na reação de formação do policarbonato. O tradicional utiliza
fosfogênio na composição e o verde não emprega essa substância.
4 - Desenvolvimento de compostos seguros: Progredir na fabricação dos compostos
químicos que exerçam sua função, porém não sejam venenosos como é o caso do uso de inseticidas
naturais.
5 - Diminuição de solventes e auxiliares: Evitar quando possível uso de solventes e
auxiliares (exemplo: agentes de separação) ou usá-los quando for inofensivo durante o processo, ou
ainda substituir por solventes alternativos como a água e o dióxido de carbono supercrítico.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1266


6 - Busca pela Eficiência de Energia: Os procedimentos sintéticos devem ser manipulados
em pressão e temperatura ambientes, quando possível, como é o caso do Ácido poliaspártico. A fim
de minimizar o impacto econômico e ambiental provocado. Além do emprego de recursos
energéticos renováveis.
7 - Uso de Fontes Renováveis de Matéria-Prima: Adotar materiais de fontes renováveis e
reutilizar os produtos e subprodutos de processos químicos quando executável. Como a fabricação
do ácido adípico verde com a participação da bactéria Escherichia coli.
8 - Evitar a Formação de Derivados: Reduzir ou não utilizar derivatização (uso de reagentes
bloqueadores, de proteção ou desproteção, modificadores temporários), pois precisam de reagentes
adicionais que geram subprodutos que não pretende ter.
9 - Catálise: A utilização de catalisadores heterogêneos proporciona o reuso por várias
vezes, promovendo vantagens econômicas.
10 - Desenvolvimento de Compostos Degradáveis: Os compostos devem ter degradação
inofensiva ou não permaneçam no meio ambiente, como exemplo dos produtos biodegradáveis.
11 - Análise em Tempo Real para a Prevenção da Poluição: Os processos devem ser
propagados para evitar geração de poluentes.
12 - Química Segura para a Prevenção de Acidentes: As substâncias precisam ser
escolhidas visando diminuir acidentes em potencial, como explosões, vazamentos, contaminações,
incêndios e etc.

Dessa forma evidencia-se a indispensável mudança nos processos químicos na indústria,


bem como no meio acadêmico, ao passo que novas técnicas e estudos são bem vindos para uma
melhor eficiência da Química Verde.

METODOLOGIA

Para escolha do método e do procedimento da pesquisa, foi indispensável aprofundar-se em


assuntos de metodologia cientifica que relaciona à Química Verde ao público formador do Lato
Sensu em Ciências Ambientais, para que seja possível organizar, explorar, classificar e analisar, as
tarefas expandidas na pesquisa.

Classificação da Pesquisa

O trabalho realizado foi do tipo exploratório, de caráter qualitativo, caracterizando-se como


estudo de caso (AQUINO, 2010).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1267


Descrição do Ambiente de Estudo

O estudo foi executado na Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso), localizado no


bairro de Jardim Fragoso, na cidade de Olinda (PE) escolhido por promover o Lato Sensu em
Ciências Ambientais.

Universo, População e Amostra

A população foi formada por docentes e discentes da especialização em Ciências


Ambientais.
Inicialmente estiveram inclusos os professores e estudantes frequentadores do Lato Sensu
investigado do ano vigente. E estiveram exclusos todos que não pertenceram ou que não estiveram
dispostos a participarem ao conjunto citado.

Instrumentos da Pesquisa e Coleta de Dados

Como instrumento da pesquisa foi utilizado a técnica de questionário de múltiplas escolhas,


de forma padronizada, pessoal e formal, direcionado a conseguir informações sobre a Química
Verde e com o intuito de obter respostas informativas relacionadas aos objetivos da monografia.

Análise dos Dados

Embora o termo Química Verde fosse desconhecido por parte da população em estudo, o
questionário foi orientado a linha de pensamento que originou a denominação, com analogias e
termos simplificados facilitando assim o maior número de dados sobre o problema proposto.
A estatística descritiva foi utilizada para melhor compressão dos dados, na forma de
distribuição de frequência pontual e aplicação da frequência relativa em percentual, através da
fórmula:

Onde: fi% é a frequência relativa em percentual; Fi são as frequências absolutas e N:


tamanho da população (REIS, 1998).
Dessa forma, foi confrontado o nível de entendimento do conteúdo com as práticas adotadas
e aprendidas na instituição de ensino ambiente de estudo da monografia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1268


RESULTADOS E DISCUSSÕES

Devido a várias possibilidades e dimensões que o tema da pesquisa propõe, em alguns


momentos faz-se necessário rever trechos que a fundamentaram, para fins de esclarecimentos e
lembrança dos objetivos que a delinearam.
As apresentações das respostas dos docentes e discentes investigados foram descritas por
categorias para melhor compreensão da análise.
Com o propósito de minimizar e reparar os erros cometidos surge uma nova linha de
pesquisa que foi norteadora da Química tradicional por procedimentos mais limpos e conscientes.
Portanto foi investigado o que afinal seria Química Verde para os participantes da pesquisa.

discentes docentes

Química que explora a flora 10%


0,%
Ramo da Química que se preocupa com a flora mundial 40%
e os elementos químicos envolvidos 40%
Denominação para Química que desenvolve 20%
melhoramento na natureza 0%
Titulação para o planejamento de produtos e processos 30%
químicos que sejam benéficos ao meio ambiente 60%

Outro conceito 0%
0%

Gráfico 4 – O que é Química Verde


Fonte: FREITAS, 2012.

Os docentes e discentes demonstraram entendimento quanto ao termo Química Sustentável.


Foi registrado entre 60% dos mestres e 30% dos alunos questionados que significa a titulação para
um campo de estudo que se preocupa com a execução de produtos e processos benéficos ao meio
ambiente, o que de fato é enunciado pela Química Verde.
Embora foi exibido por 40% dos professores e 70% dos estudantes, imprecisão nas respostas
assinalando outras alternativas que não condizem com o assunto da Química Verde. E não houve
nenhum acréscimo de conceito, o que comprova limitação das concepções sobre a questão
principalmente por parte dos educandos.
Dentro desta perspectiva o público foi interrogado sobre os Princípios da Química
Sustentável. Para evitar desconhecimento do assunto ou direcionamento tendencioso nas
afirmações, foram utilizadas simplificação dos fundamentos com finalidade de examinar as noções
sobre o tópico. Portanto foi inquirido a cerca do que representa economia de átomos?

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1269


discentes docentes

Capitalização de estrutura atômica para fins 30%


tecnológicos 40%
Contenção de partículas diminutas dos elementos 10%
químicos

Reservas de partículas que constituem a matéria


20%
0%
Manipulação de materiais sintéticos que aglomere 40%
os átomos reagentes nos produtos finais 40%

Definição diferente
0%
0%

Gráfico 5 – Significação da economia de átomos


Fonte: FREITAS, 2012.

Dos dados obtidos 60% evidencia falta de clareza na opinião quando outras possibilidades
foram escolhidas, apesar de 40% dos docentes e discentes optarem pela definição correta sobre o
menor gasto de átomos. Esse princípio é importante, pois interfere diretamente nos ciclos biológicos
para manutenção e longevidade dos elementos químicos envolvidos, além da intenção de eficácia
tecnológica, buscando a preservação do meio ambiente e melhor qualidade de vida para as espécies.
Continuando as análises sobre os Princípios da Química Verde foi avaliado sobre a
denominação dos conceitos segurança de compostos, redução de produtos em excesso, produtos
degradáveis e sínteses de menor toxicidade no entendimento das pessoas.

discentes docentes

10%
Irreais, pois a Química não está preocupada com esses
procedimentos
0%

10%
Irreais, pois outras áreas é que desenvolve projetos
com essas características
0%
Provável que esteja em desenvolvimento no campo de 50%
estudo da Química, assim como na indústria e em
80%
projetos governamentais
30%
Autênticos, pois seriam novas extensões das Ciências
Biológicas e Biomedicina
20%

0%
0%
Nenhuma das proposições são satisfatórias

Gráfico 6 – Classificação das definições: segurança de compostos, redução de produtos em excesso, produtos
degradáveis e sínteses de menor toxicidade
Fonte: FREITAS, 2012.

O emprego do adjetivo ―provável‖ foi intencional uma vez que comprova a incerteza sobre o
desenvolvimento da Química Sustentável. No ponto de vista de 80% dos mestres e 50% dos

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1270


estudantes foi expressiva a dubiedade do parecer. Enquanto que pequenas frações deram preferência
a outras escolhas que não condizem com os processos citados e não foi sugerida outra orientação
pelos grupos pesquisados.
Para verificar o juízo sobre a área de conhecimento da atualidade que faz referência às
características como prevenção de resíduos, eficiência energética, utilização de matéria-prima
renovável, prevenção de acidentes e de poluição (restante dos doze princípios da Química Verde);
foi perguntado qual das ciências englobava essas propriedades e possuía explicação considerando
mais de uma preferência caso assinalado no questionário.

discentes docentes

Ciências Biológicas 30,88%


18,18%

Engenharia Florestal 23,04%


18,18%

Química 23,04%
27,27%

Geografia 23,04%
27,27%

Ciência diferente das apontadas 0%


9,1%

Gráfico 7 – Ciência que reúne as características de prevenção de resíduos, eficiência energética, utilização de
matéria-prima renovável, prevenção de acidentes e de poluição
Fonte: FREITAS, 2012.

Sabe-se que a interdisciplinaridade é um aspecto que engrandece e complementa as ciências.


Contudo através dos Princípios da Química Verde é incontestável não associar os atributos da
pergunta à Química atualmente, porém 30,88% dos alunos responderam que pertence às Ciências
Biológicas, enquanto houve empate com 27,27% por parte dos professores entre Química e
Geografia. O que não impede o envolvimento de projetos e ações multidisciplinares entre as áreas
citadas e selecionadas pelos participantes da pesquisa. E uma opção adicional que foi apontada
como áreas com as possíveis características foram Engenharia Ambiental e Engenharia Civil.

CONCLUSÃO

Embora a temática da Química Verde seja relativamente nova e em expansão, os docentes e


discentes da FUNESO relataram conhecimento sobre o assunto, apesar de não ser direcionado e não
afirmar convictamente em perguntas específicas.
A pesquisa aponta por meio da investigação que existem circunstâncias a serem melhoradas
como: a explanação de períodos e eventos históricos que relacionam a Química ao Meio ambiente,
o pronunciamento dos Princípios da Química Sustentável, debate das ações governamentais,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1271
industriais e acadêmicas sobre tecnologias e manejos químicos conscientes dos problemas
ambientais e agregação outras ciências ao currículo da especialização em Ciências Ambientais da
FUNESO.
A metodologia de ensino deve incluir possibilidades emancipatórias e de julgamento
benéfico para os educandos. Bem com os discentes precisam ter discernimento de procurar
informações além do que é proposto, sejam em eventos, publicações ou outros meios confiáveis.
A FUNESO deve manter a formação de qualidade e excelência profissional na área
ambiental. Como também continuar promovendo oportunidade da representação de diferentes
Ciências que inclua a questão ambiental como prioridade para sustentabilidade do planeta.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Italo de Souza. Como escrever artigos científicos: sem ―arrodeio‖ e sem medo da
ABNT. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BAZITO, Reinaldo Camino. Introdução à Química Verde. Escola de Química Verde, São Paulo,
jun. 2008. Disponível em: <www.usp.br/gpqa>. Acesso em: Acesso em: 25 jul. 2012.

BLOUNT, Estefanía. et al. (coords.). Industria como naturaleza: hacia la producción limpia. Madri
- ES: Catarata, 2003.

BRASIL. Comitê Nacional de Organização Rio+20. RIO +20 Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <
http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20>. Acesso em: 23 jul. 2012.

BUSCH, Daryle. Color Me Green. Scranton: Chemistry Engineer News, 2000.

CARIOCA, José Osvaldo Beserra; ALMEIDA, Maria de Fatima Ludovico de. Desenvolvimento da
Química Verde no Brasil. Revista de Química Industrial, Rio de Janeiro, a. 79, n. 730, jan. 2011.
Artigo de opinião, p. 3.

CPRH, Agência Estadual de Meio Ambiente. A instituição. Recife, PE, 2012. Disponível em:
<http://www.cprh.pe.gov.br/home/40025%3B55731%3B10%3B0%3B0.asp>. Acesso em 20 de
ago. de 2012.

FARIAS, Luciana A.; FÁVARO, Déborah I. T. Vinte Anos de Química Verde: Conquistas e
Desafios. Química Nova, São Paulo, v. 34, n. 6, mar. 2011. Assuntos Gerais, p. 1089-1093.

FREITAS, J. M. A. S. Arquivo Pessoal. 2012. Gráfico Monográfico.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1272


FUNESO. Projeto Político Pedagógico do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização
em: Ciências Ambientais. Olinda, [s.n.], 2009.

GOMES, D. V. Educação para o Consumo Ético e Sustentável. Revista Eletrônica do Mestrado em


Educação Ambiental – ISSN 1517-1256. Fundação Universidade Federal do Rio Grande, v. 16,
p. 18-31, jan. 2006. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol16/art02v16.pdf>.
Acesso em: 23 jul. 2012.

HIGI PLUS. A evolução da sustentabilidade no mundo. Higi plus, São Paulo, a. 5, n. 18, abr. 2012.
Sustentabilidade, p. 32-36.

LENARDÃO, Eder João. et al. "Green Chemistry": Os 12 princípios da Química Verde e sua
inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Química Nova, São Paulo, v. 26, n. 1, fev. 2003.
Seção Divulgação, p. 123-129.

MEIRELLES, Silvia Laureano. Química Verde: A indústria e seus impactos na indústria da


construção. 2009. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

NASCIMENTO, Adelina M. do. et al. Reciclagem de Lixo e Química Verde. Rio de Janeiro, 2005.
71 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Extensão de Formação Continuada de Professores de
Ciências e Matemática). Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: <http://www.ccmn.ufrj.br/curso/trabalhos/pdf/quimica-
trabalhos/quimica_meioambiente/quimicaeamb2.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2011.

PRADO, Alexandre G. S. Química Verde: os desafios da Química do novo milênio. Química Nova,
São Paulo, v. 26, n. 5, out. 2003. Seção Divulgação, p. 738-744.

PRIMACK, Richard B. RODRIGUES, Efraim. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001.

REIS, Elizabeth. Estatística descritiva. Lisboa: Silabo, ed. 4, 1998.

REYNAUD, J. M. Atores sociais: futuros exilados do planeta? Santa Catarina: UFSC, 2005.
Disponível em: <http://www.carbonobrasil.com/simplenews.htm?id=117410>. Acesso em: 23
jul. 2012.

ROLOFF, Franciani Becker. et al. A inserção da QV na abordagem de questões ambientais em


cursos de formação inicial de professores de Química. XV Encontro Nacional de Ensino de
Química, 2010, Brasília, DF. Anais eletrônicos... Brasília: UNB, 2010. Disponível em:
<http://www.xveneq2010.unb.br/resumos/R0544-1.pdf>. Acesso em: 23 de ago. de 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1273


SILVA, Flavia Martins da; LACERDA, Paulo Sérgio Bergo de; JONES JUNIOR; Joel.
Desenvolvimento Sustentável e Química Verde. Química Nova, São Paulo, v. 28, n. 1, jan. 2005.
Seção Divulgação, p. 103-110.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. Ciências Ambientais. São Paulo, SP: [s.n.], 2012.

VILELA JÚNIOR, Alcir; DEMAJOROVIC, Jacques (Orgs.). Modelos e ferramentas de Gestão


Ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: SENAC, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1274


ANÁLISE DA PRIMEIRA FASE DA IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS
SUSTENTÁVEIS NO IFAM, CAMPUS TABATINGA-AM

Railma Pereira MORAES


Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFLA
railmoraes@yahoo.com.br
José Aldo Alves PEREIRA
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFLA
j.aldo@dcf.ufla.br
Warley Augusto Caldas CARVALHO
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFLA
warleycaldas@dcf.ufla.br
Jaime Cavalcante ALVES
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM
jaimecavalcante@ifam.edu.br

RESUMO
Este trabalho apresenta dados da primeira fase análise sobre a implementação de práticas
sustentáveis. O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico da percepção da comunidade
acadêmica do IFAM Campus – Tabatinga, sobre a implantação de práticas sustentáveis, por meio da
aplicação de questionários. Esta ferramenta avaliou três práticas, com um mês de instalação, são
elas: coletores de copos descartáveis, coletor de resíduos orgânicos e adesivos sinalizando a
economia de energia elétrica e de água. Os resultados revelaram a disposição do público em
participar e sugerir. Porém, ainda é percebido que os problemas relacionados aos resíduos gerados
não são apenas físicos, químicos ou biológicos: são também comportamentais.
Palavras-Chave: Gestão Ambiental, IFAM, Resíduos Sólidos, Percepção.

ABSTRACT
This paper presents preliminary data analysis on the implementation of sustainable practices.
Aiming to make a diagnosis of the perception of the academic community of the IFAM Campus -
Tabatinga, we carried out the survey through questionnaires. This tool evaluated three practices,
with a month of installation, they are: collectors cups, collecting organic waste and adhesives
signaling saving electricity and water. The results showed the willingness of the public to
participate and suggest. However, it is still perceived that the problems related to wastes generated
are not just physical, chemical or biological: they are also behavioral.
Keywords: Environmental Management, IFAM, Solid Waste, Perception.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1275


INTRODUÇÃO

Desde a sua existência sobre a face da terra a espécie humana faz uso dos recursos naturais.
A revolução industrial acelerou o uso dos recursos naturais, com o agravamento dos problemas
ambientais, em virtude da produção em grande escala sem a preocupação com a sustentabilidade.
Epelbaum (2006) relata que os principais problemas ambientais surgiram na década de 1960 e
apresenta como exemplo a acidificação dos lagos suecos e a contaminação por pesticidas. Nas
décadas seguintes houve o agravamento de tais problemas, causados principalmente pela
industrialização e o aumento de agentes poluidores.
Segundo Philippi et al., (2012), a insustentabilidade não é só ecológica, mas também social.
Assim, a sociedade se organizou e, na década de 60, o tema Meio Ambiente foi abordado pela
primeira vez em um evento internacional – O Clube de Roma, cujo problema em destaque era a
poluição dos rios europeus. Posteriormente, outros debates disseminaram a preocupação e os
cuidados necessários para com o ambiente (MOREIRA, 2006). As discussões mostraram que era
preciso controlar e gerenciar as relações do homem com a natureza, resultando em uma série de
legislações específicas que visavam controlar a instalação de novas indústrias e estabelecer
exigências para as emissões poluentes das indústrias existentes. A importância para a sensibilização
quanto às questões ambientais foi fortalecida pela educação ambiental (KARATZOGLOU, 2012).
Leff (2006) acrescenta que gestão participativa, valorizando o estilo de vida e baseado nas
condições ecológicas são mais viáveis para gerir os recursos naturais. Houve ainda a divulgação de
conceitos como: impacto ambiental, controle de resíduos e gestão ambiental.
A gestão ambiental pode ser entendida como um conjunto de medidas e procedimentos que
permite identificar problemas ambientais gerados pelas atividades da instituição, e revendo sua
atuação, incorporando novas práticas capazes de reduzir ou eliminar danos ao meio ambiente.
(DIAS, 2006). No ambiente empresarial gestão ambiental é uma ferramenta bastante difundida.
Entretanto, no âmbito governamental ainda é pouco praticada. Para incentivar os órgãos públicos
federais a adotarem práticas sustentáveis, o governo estabeleceu por meio do decreto nº 5.940, de
25 de outubro de 2006, a obrigatoriedade de criar uma metodologia de gestão. Visando o
atendimento do decreto supracitado e também, para servir como instrumento de ensino durante
atividades práticas dos cursos oferecidos, fez-se necessário ao Instituto Federal de Educação do
Amazonas instalar um sistema de gestão para gerenciar os seus resíduos. Vale ressaltar que, as
práticas inadequadas de gestão de resíduos sólidos em escolas em países menos desenvolvidos,
constituem um dos principais fatores que levam ao declínio das condições de saúde ambiental
(ANA et al., 2011). O conhecimento e a compreensão sobre gestão ambiental para criação de uma

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1276


sociedade sustentável, mostram-se cada vez mais necessários serem desenvolvidos no setor
educacional formal (TAUCHEN; BRANDLI, 2006).
Neste contexto, o presente trabalho apresenta dados preliminares da análise sobre a
implementação de práticas sustentáveis que consistiram na discussão da sistemática e das técnicas
aplicadas durante a implantação do SGA- Sistema de Gestão Ambiental. Este trabalho objetivou
realizar um diagnóstico da percepção da comunidade acadêmica do IFAM Campus – Tabatinga –
AM, sobre a implantação de práticas sustentáveis. Conhecendo o motivos da adesão ou não às
práticas implantadas será possível melhorar a metodologia empregada, tornando-a atrativa ao
público, possibilitando assim, fornecer uma metodologia de gestão ambiental mais adequada à
realidade amazônica.

METODOLOGIA

Delimitou-se como área de estudo o Campus do IFAM, inserido no município de Tabatinga


- AM, que localiza-se à margem esquerda do Rio Solimões, fronteira com a Colômbia e o Peru, na
mesorregião Sudoeste Amazonense e microrregião do Alto Solimões. Sua área territorial é de
3.225,06 km2, que representam 0,2053 do Estado. O município está distante 1.105 km da capital,
em linha reta e a 1.607 milhas por vias fluviais, sendo o 7º município mais distante da capital.
Situa-se nas coordenadas 4°15‘ 09‖ de latitude sul e a 69° 5 6‘ 17‘ de longitude oeste.
Neste estudo, adotou-se a abordagem sistêmica (MORIN, 2001), considerando que a gestão
ambiental é um fato que não pode ser entendida isoladamente, abstraída das influências políticas,
econômicas, culturais e ecológicas, mas deve-se compreender a gestão a partir da interação destes
fatores, por meio de experiências voltadas à adoção de práticas sustentáveis. A pesquisa estruturou-
se como um estudo de caso, escolhido por permitir ressaltar as características principais do
fenômeno contextualizado no estudo. A aplicação do estudo de caso é adequada quando as
fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e essencialmente, quando se
pretende preservar as individualidades existentes no fenômeno (YIN, 2001).
O presente projeto foi realizado nas dependências do Instituto Federal de Educação Ciência
e Tecnologia, IFAM-Campus-Tabatinga, tendo como atores alunos, professores do corpo docente e
demais funcionários. Através do levantamento por meio de Questionários Rápidos Participativos
foram avaliadas três práticas, com um mês de instalação, são elas: coletores de copos descartáveis,
coletor de resíduos orgânicos e adesivos sinalizando a economia de energia elétrica e de água.
Diante da necessidade de esclarecer e sensibilizar o público sobre as responsabilidades
socioambientais de cada indivíduo e considerando que a informação é uma variável que determina o
comportamento das pessoas em relação ao meio ambiente. Foram realizadas palestras por
professores e pessoa responsáveis pela gestão ambiental do município, voltadas à comunidade
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1277
acadêmica, visando apresentar o projeto; outra meta da palestra foi solicitar a colaboração de todos,
por meio da adesão para as correta práticas nas atividades implantadas. Após a palestra foram
entregues questionários, que foram devolvidos e respondidos pelo público em um total de 48
questionários.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de questionários respondidos (48), 88% do público foi de alunos do IFAM (Figura
1). Tal fato pode ser explicado, considerando que a maior parte dos alunos do Campus,
aproximadamente 500 Alunos, frente aos outros grupos (servidores e colaboradores). Além do que,
as palestras da Semana de Meio Ambiente, evento no qual foi realizado o presente levantamento
tinha como público alvo os alunos do Instituto. Contudo, o número de servidores participando deste
evento foi menor do que o número total de servidores e colaboradores, fato que evidencia a
necessidade de se realizar atividades voltadas para os grupos de apoio ao IFAM, dentre os quais,
encontram-se os professores.

Figura 1 – Distribuição dos participantes da pesquisa, Tabatinga – AM, 2013.

Analisando a disponibilidade e o uso das três práticas implantadas, os entrevistados quando


questionados sobre a existência do porta-copos nas dependências do Instituto, 90% deles afirmaram
tê-los visto. Porém, resposta contrastante foi dada quando perguntados sobre o uso. Para esta
pergunta, apenas 23% afirmaram ter feito uso, por no mínimo uma vez (Figura 2). Resultado
Pequeno, grande justificado pelo elevado número de alunos que usaram o copo plástico, para
obterem o lanche líquido, exigência da Instituição.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1278


Figura 2 – Análise da percepção e do uso das três práticas implantadas, Tabatinga – AM, 2013.

A análise dos adesivos distribuídos nas salas de aula e nos banheiro, os quais ressaltavam a
necessidade de economia de água e energia, mostrou que 77% do público notou a presença destes
próximos aos interruptores das salas de aula e nas torneiras. Acompanhando este resultado, 81%
assinalaram que ter um lembrete, pode ajudar a tornar racional o uso de energia e de água. Para o
coletor de resíduos orgânicos, 36% afirmaram não tê-lo visto. Além do baixo índice de uso do
coletor, os participantes assumiram que nem sempre colocaram somente os resíduos orgânicos, isso
no coletor deste resíduo algumas vezes são depositados plásticos e papel. A localização e a
aquisição de coletor sem o pedal são apontadas como causas para o baixo uso dos coletores.
Em instituições públicas, onde o valor do recurso não é pago diretamente pelo usuário, ou
ainda este desconhece que é pagador de tais recurso, o consumo é maior que nas residências. Bonett
et al., (2002) em pesquisa realizada numa universidade localizada na região de Bordeaux– França,
verificou que o consumo de água per capita, foi mais elevado, quando comparado ao consumo
médio das grandes cidades. Estes aspectos deixam evidente que reconhecimento sobre a
importância dos recursos é fundamental para a redução de desperdício e que as instituições devem
fazer desta dificuldade oportunidade de sair do campo teórico para a prática (TAUCHEN;
BRANDLI, 2006).
A incorporando novas práticas capazes de reduzir ou eliminar danos ao meio ambiente,
prevista como objetivo da gestão ambiental (DIAS, 2006) depende fundamentalmente do
comprometimento de todos. É importante aprender, ouvir e participar dessa mudança de cultura em
relação a questões ambientais (RODRIGUES et al., 2008). Assim, a principal sugestão refere-se a
melhoria da distribuição dos coletores pelo campus do IFAM -Tabatinga, pois eles se encontram em
um único local. Quanto ao tamanho do receptor, também foi lembrado que as dimensões do coletor

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1279


de copos não eram ideais, pois havia a necessidade de pressionar o copo de 300 ml para que ele se
ajuste ao coletor. Também, dentre as respostas, foi lembrada a importância da colaboração de cada
um, mostrando a necessidade de internalizar em cada membro da comunidade acadêmica novos
valores e novas atitudes com relação ao ambiente que o indivíduo está inserido.
Para os adesivos, 24 % do público, aprovaram este instrumento e afirmaram ou que não
precisa haver mudanças neste quesito. Vale ressaltar que 32% sugeriram que o tamanho dos
adesivos deve ser aumentado, justificando que assim eles serão mais visíveis pelos usuários. Para
efetivação do uso dos coletores de resíduos orgânicos, 34% do público sugeriram u colocá-los em
local de maior visibilidade. Tal resultado, possivelmente, deve-se à localização do coletor, somente
próximo aos locais onde são realizadas as refeições. Houve a sugestão de distribuí-los nos
corredores. Outros 14 % enfatizaram para a necessidade de aumentar o número de cestos coletores e
melhorar a divulgação.
Em projeto similar Albuquerque et al. (2010) perceberam que deveriam propor e
desenvolver programas de educação e aprendizagem ambiental, com ênfase principalmente na
coleta seletiva, a qual contribuiria na correta destinação final de material descartado, visando
minimizar os impactos ambientais em prol do meio ambiente e da qualidade de vida da sociedade
de modo geral. De forma geral a realização de projetos como este, devem considerar atividades
continuas, visando o processo de aprendizagem participativo para beneficiar ambos os atores
envolvidos no processo e a comunidade externa, que podem estar interessada (KARATZOGLOU,
2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com estes resultados foi percebida a necessidade em se realizar atividades voltadas a todo o
corpo acadêmico do IFAM - Campus-Tabatinga. O público mostrou interesse em participar e fazer
sugestões para melhorar os três instrumentos implantados. Porém, ainda é percebido que os
problemas relacionados aos resíduos gerados não são apenas físicos, químicos ou biológicos: são
também comportamentais. A implantação das práticas sustentáveis trará benefícios econômicos,
ambientais e sociais, e a instituição deve fazer deste momento uma oportunidade de pesquisas e
treinamento para os alunos e servidores.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, B.L.; RIZZATTI, G. Jr. RIZZATTI, G.; SARMENTO, J. V. S.; TISSOT, L.


Gestão de resíduos sólidos na Universidade Federal de Santa Catarina: os programas
desenvolvidos pela coordenadoria de gestão ambiental. X Coloquio Internacional sobre Gestion

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1280


Universitaria em America del Sur. Disponível em: http://www.inpeau.ufsc.br/wp/wp-
content/BD_documentos/coloquio10.pdf. Acessado em: 09 de mai. de 2014.

ANA, G.R.E.E; OLORUNTOBA, E.O; SHENDELL, D; ELEMILE, O.O; BENJAMIN, O.R;


SRIDHAR, M.K.C. Solid waste management problems in secondary schools in Ibadan, Nigeria.
Journal of Environmental Health. v.74, n. 2, p. 24-28, 2011.

BONNET, J. F.; DEVEL, C.; FAUCHER, P.; ROTURIER, J. Analysis of electricity and water
enduses in university campuses: case-study of the University of Bordeaux in the framework of
the Ecocampus European Collaboration. Journal of Cleaner Production, v.10, n.1, p. 13–24,
2002.

BRASIL. Decreto Nº 5.940, de 25 de outubro de 2006. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5940.htm Acessado em:
18 de mar. 2014.

DIAS, G. F. Educação e Gestão Ambiental. São Paulo: Gaia, 2006.

EPELBAUM. Sistema de gestão ambiental. Modelos e ferramentas de gestão ambiental. P.116-146.


2006

KARATZOGLOU, B. An in-depth literature review of the evolving roles and contributions of


universities to Education for Sustainable Development. Journal of Cleaner Production. v.49, p.
44-53, 2013.

LEFF, E. Racionalidad ambiental y diálogo de saberes: sentidos y senderos de un futuro


sustentable. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 7, p. 13-40, Janeiro-Junho, 2006.

MARIANI, I. A. Avaliação da implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA) em empresa


do setor metal-mecânico. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Engenharia da
Produção – UFRG. p.103. 2002.

MORIN, E. Ciência com consciência. Trad.: Alexandre. M. D.; Dória, M. A. S. 5. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

MOREIRA, M. S. Estratégia e implantação do sistema de gestão ambiental – Modelo ISO 14000.


Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2006. 320 p.

PAPINI, S. Vigilância Em Saúde Ambiental - Uma Nova Área da Ecologia. 2.ed. São Paulo:
Atheneu, 2012. 206p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1281


RODRIGUES, J.F.; KÖPP, N.R.; LIMA, I.A.; REIS, D.R; OLIVEIRA, I. L. Implantação do
Sistema de Gestão Ambiental Segundo a NBR ISO 14001: uma pesquisa de campo em empresa
do ramo metalúrgico. Disponível em: http://www.4eetcg.uepg.br/oral/28_1.pdf. Acessado em:
09 de maio de 2014.

YIN, R.K. Estudo de caso – Planejamento e Métodos. Trad. Daniel Grassi. 3. Ed. – Porto Alegre:
Bookman, 2005. 212p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1282


A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇO NÃO FORMAL NO PROCESSO ENSINO -
APRENDIZAGEM COMO SUBSÍDIOS PARA O ENSINO DE BIOLOGIA

Larissa Lima de QUEIROZ


Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFAM
larissa.llq@gmail.com
Ana Lúcia Soares MACHADO
Doutora em Desenvolvimento Sustentável CDS- UnB
ana.machado@ifam.edu.br

RESUMO
A Educação Ambiental não formal surge como um processo intensificador de contato entre a
sociedade e a natureza. O conhecimento de suas inter-relações em busca de equilíbrio ocorre de
maneira que venha despertar a sensibilização da sociedade para a importância do estudo da vida. A
pesquisa refere-se a uma atividade de Educação Ambiental não formal, realizado com os alunos do
2º anodo ensino médio integrado ao técnico do IFAM – Campus Manaus Distrito Industrial –
CMDI e o Museu da Amazônia (MUSA), fruto de resultados parciais do trabalho de monografia
para conclusão de curso de graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto
Federal de Educação Ciências e Tecnologia – Campus Manaus Centro - IFAM/CMC. Teve como
objetivo analisar a Educação Ambiental não formal como facilitadora na disciplina de biologia, com
ênfase no estudo dos Artrópodes, utilizando o projeto Insetário do MUSA como uma alternativa
para que os alunos não só compreendam melhor o assunto, mas que também seja possível um
despertar para uma nova consciência ambiental em relação a esses animais e aos espaços em que
eles vivem. A estratégia metodológica desenvolvida em quatro etapas: elaboração do questionário, a
aplicação do pré-questionário, a realização das atividades prática no MUSA e a reaplicação do
questionário. Os resultados encontrados mostraram-se significativos na aprendizagem dos alunos,
pois a atividade proporcionou uma nova abordagem que possibilitou criar uma relação mais
próxima entre os alunos e o ensino da Biologia, que intensificou o contato entre os alunos e a
natureza e despertou sensibilização e novas atitudes em relação ao ambiente e aos organismos
estudados, de forma a desenvolver uma conduta mais consciente e sustentável.
Palavras-chave: Educação Ambiental Não Formal, Museu da Amazônia (MUSA). Artrópodes.
Educação Ambiental.

ABSTRACT
The Environmental Education in a ludic way emerges as a process to intensify the contact between
society and environment. The knowledge of the interrelationships to find the equilibrium occurs in a
way that will show to the society the importance of the study of life. This research refers to a ludic

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1283


way Environmental Education activity, conducted with students of the 2nd year of vocational
school at Campus Manaus Distrito Industrial - CMDI and the Museum of the Amazon (MUSA),
and was originated from the partial results of the undergraduate monograph in Biological Sciences
from the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia / Campus Manaus Centro - IFAM /
CMC. This work has as goal to analyze the ludic environmental education as a facilitator in the
discipline of biology, with emphasis on the study of Arthropods, using the MUSA Insectarium
project as an alternative for students to not only better understand about the issues, but it's also
possible to increase their a new conscience for the environmental in relation to the animals and to
the spaces where they live. The methodology applied is divided in four stages: the preparation of
the questionnaire, the application of the pre-questionnaire, the realization of practice activities in
MUSA and reapplication of the questionnaire. The results were significant in student learning
because the activity provided a new approach which enabled to create a closer relationship between
the students and the teaching of biology, which intensified the contact between the students and the
environment, improving new attitudes towards the environment and the organisms studied in order
to develop a more conscious and sustainable conduct.
Keywords: Environmental Non-Formal Education, Museum of the Amazon (MUSA).
Arthropods.Environmental education.

INTRODUÇÃO

A reflexão sobre o processo ensino-aprendizagem da disciplina de biologia no contexto


escolar tem sido ao longo dos anos, vista com um conteúdo extenso, abstrato e de difícil
compreensão por alunos de ensino técnico médio integrado, uma vez que eles têm como objetivo
final uma formação profissionalizante e tem maior interesse em disciplinas específicas ao curso. Na
tentativa em despertar e proporcionar uma nova maneira de aprender e que esta seja uma
aprendizagem significativa buscou-se uma articulação com a Educação Ambiental não formal.
A Educação Ambiental se constitui num processo de educação, que se propõe a atingir todos
os cidadãos, um processo pedagógico participativo permanente que procura formar um cidadão
socioambiental (MACHADO, 2012) desenvolvendo no educando uma consciência crítica sobre a
problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a
evolução de problemas ambientais.
Conforme a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795 de 1.999, o Art. 2 o.
apresenta a EA como ―Um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal.‖ No aspecto não formal, ibidem, BRASIL (1999), Art.13 entende-se que são
ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1284
fora do ambiente escolar. Dessa forma a EA não formal aliada ao ensino de biologia pode promover
o conhecimento e que estes possam ser internalizados pelos alunos, a partir de uma vivência em
espaço natural.
A Educação Ambiental não formal surge como um processo intensificador de contato entre a
sociedade e a natureza. O conhecimento de suas inter-relações em busca de equilíbrio de maneira
que venha despertar a sensibilização da sociedade para a importância do estudo da vida, bem como
dos sistemas que a envolve: o físico, biológico e social. Comumente destina-se a todos os
segmentos da sociedade, podendo ser mais focalizada e direcionada a determinados grupos. Embora
aconteça fora da escola, em parques, museus, Unidades de Conservação (UC‘s) e zoológicos,
mantém certos vínculos com o sistema escolar.
Este trabalho foi desenvolvido em parceria ao um Museu da Amazônia (MUSA) um museu
vivo e com o Jardim Botânico Adolpho Ducke de Manaus (JBADM) que juntos encontram-se em
uma unidade de conservação, a Reserva Florestal Adolpho Duke, que é uma área de floresta
amazônica primária de 100 km2, localizada próxima à cidade de Manaus, e pertencente ao Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
O MUSA foi fundado em janeiro de 2009 e junto com o Jardim tem por objetivo disseminar
o conhecimento cultural e científico, não só para os apreciadores da Amazônia, e moradores do
entorno, mas também para todos cidadãos. Seus principais atrativos são coleções botânica, torre de
observação, uma área de 3 km com trilhas interativas inseridas na área e exposições biológicas e
culturais que juntos são utilizados para realizar atividades com escolas e visitantes, dessa forma
promovendo o convívio na diversidade biológica.
Além dos seus principais atrativos são desenvolvidos projetos como o ―Projeto Insetário‖
que teve início em Abril de 2013, seu objetivo é divulgar a diversidade de artrópodes na área do
JBADM e formar uma inter-relação do meio natural com o social através de uma coleção in vivo de
insetos, miriápodes e aracnídeos, em um espaço de visitação para o público em geral, fazendo com
que as informações e os conhecimentos adquiridos assumam um papel relevante na formação de
uma nova consciência ambiental (QUEIROZ et. al., 2013).
O objetivo desta pesquisa foi analisar uma atividade de Educação Ambiental Não Formal
como facilitadora na disciplina de biologia, com ênfase no estudo dos Artrópodes, utilizando o
projeto Insetário do MUSA como uma alternativa para que os alunos não só compreendam melhor o
assunto, mas que também seja possível um despertar para uma nova consciência ambiental em
relação a esses animais e aos espaços em que eles vivem.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1285


METODOLOGIA DE PESQUISA

A pesquisa refere-se ao trabalho de monografia para conclusão de curso de graduação em


Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia –
Campus Manaus Centro - IFAM/CMC. Está sendo realizada pela metodologia da pesquisa-ação-
participativa e apresenta, neste artigo, resultados parciais que já permitiram uma reflexão e
discussão da temática.
Nesta pesquisa os objetos de estudo foram quatro turmas do 2º ano do ensino médio
integrado ao técnico do IFAM – Campus Manaus Distrito Industrial - CMDI, o projeto ―Insetário‖
no desenvolvimento e aplicação da aula de Artrópodes e o MUSA como espaço não formal
utilizado para facilitação do ensino da educação ambiental com ênfase no ensino do conteúdo de
Artrópodes.
Do ponto de vista teórico-metodológico é uma pesquisa de natureza qualitativa que segundo
GIL (2008) qualifica os dados, avalia a qualidade das informações e a percepção dos atores sociais.
A metodologia utilizada, a pesquisa-ação, de acordo com Tripp (2005) é uma estratégia
metodológica comumente usada em educação para aprimorar o ensino em decorrência do
aprendizado dos alunos, é um processo que percorre um ciclo: teve início com a identificação do
problema, o planejamento, sua implementação, seu monitoramento e a avaliação de sua eficácia, ou
seja, aprimora-se a pratica pela oscilação sistemática entre a investigação e a ação.
O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em uma relação direta entre a observação e a ação e
foi realizada em quatro etapas, cada uma com o objetivo de analisar percepções, participações,
conhecimentos existentes, conhecimentos adquiridos, ou seja, toda e qualquer tipo de informação
percebida durante a aplicação do trabalho. Abaixo segue a descrição das quatro etapas realizadas.
 1ª Etapa: Elaboração do questionário
 2ª Etapa: Pré-questionário – Conhecimentos prévios
 3ª Etapa: Atividade de educação ambiental em espaço não formal
 4ª Etapa: Pós-questionário – Conhecimentos adquiridos

1ª Etapa: Elaboração do Questionário

Foram formuladas nove questões que envolviam perguntas básicas sobre artrópodes e se
esses animais possuem alguma importância, tanto ecológica quanto econômica, com o fim de
avaliar o quanto os alunos sabem sobre o assunto, visto que é um assunto trabalhado durante o
ensino fundamental. As questões dividem-se em sete abertas e duas fechadas. De acordo com
Mattar (1999) as questões abertas possuem várias vantagens, entre elas a possibilidade de cobrir
pontos além das questões fechadas e ter menor poder de influência nos respondentes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1286


2ª Etapa: Conhecimentos Prévios

A segunda etapa foi a aplicação do questionário em todas as quatro turmas, antes que os
mesmos tivessem estudado o conteúdo Filo Artrópodes. Para a aplicação foi estabelecido um tempo
máximo de quinze minutos e os alunos não tiveram acesso a nenhum tipo de material para consulta.
3ª Etapa: Atividade de Educação Ambiental em Espaço não Formal
Com um intervalo de 14 dias, foi realizada terceira etapa, a atividade de educação ambiental
em espaço não formal no MUSA, e consistiu em dois momentos: primeiro percorrer duas trilhas
interpretativas na floresta, em horários alternados por turma, para que tivesse no máximo 25 alunos
em cada momento, as turmas foram acompanhadas por um professor e um monitor do Museu. A
trilha possui vários pontos onde os monitores geralmente param para dar algumas explicações e
mostrar curiosidades da floresta, porém nessa trilha o monitor foi instruído a explicar apenas o que
os alunos perguntassem, pois também seria analisado o nível de interesse pela trilha.
O segundo momento foi a atividade dentro do laboratório experimental de insetos onde foi
realizada uma aula interativa. Foram separados artrópodes de 11 ordens diferentes dentro das
Classes Arachnida, Insecta e Myriapoda.

4ª Etapa: Pós-Questionário

Por fim, a quarta e última etapa, aplicação do mesmo questionário, com o objetivo de avaliar
quais as implicações e avanços que a atividade de Educação Ambiental em espaços não formais
trouxe e proporcionou aos alunos.

RESULTADOS

O ensino de biologia em parceria com o processo da Educação Ambiental não formal vai
além da transmissão de conteúdo, altera o caráter informativo do ensino superando a percepção
tradicional de educação. De acordo com Guimarães (2007) é desejável que se propicie um
ambiente educativo de construção de novos conhecimentos e saberes, de forma que sejam
explorados os aspectos cognitivos e afetivos incentivando práticas sustentáveis. Foi observado entre
os resultados analisados a construção desse ambiente propício e receptivo entre os alunos.
Durante o desenvolvimento da pesquisa percebeu-se uma mudança significativa no nível de
interesse dos alunos, eles se mostraram mais curiosos e ansiosos, não só em relação aos organismos
estudado, mas também pelo ambiente em que o MUSA está inserido e o tipo de atividade que foi
realizada no local. A seguir estão expostos os resultados parciais obtidos a partir da segunda etapa
desenvolvida durante os momentos da pesquisa.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1287


2ª Etapa: Conhecimentos Prévios

Como dito anteriormente foram divididas questões de conhecimentos básicos sobre


artrópodes como suas classificações e estruturas, e questões de interesses ecológicos como a
importância desses organismos no ambiente e sobre a percepção dos alunos diante deles.
No geral houveram muitas questões que não foram respondidas, nas perguntas de
conhecimentos básicos sobre Artrópodes cerca de 43% dos alunos responderam de forma coerente,
porém todas as respostas estavam incompletas, mostrando que em algum momento da sua vida
estudantil houve informações em relação a esse assunto, mas que podem ter sido abordadas de
forma mais superficial ou não ter obtido êxito na aprendizagem.
Foi observado nas respostas que a grande maioria com uma média de 92% dos alunos
afirmaram que esses organismos não possuem nenhuma importância para o meio ambiente e que se
encontrassem algum deles em suas residências os matariam. Os alunos também atribuíram adjetivos
para os artrópodes e houve apenas algumas exceções onde os alunos atribuíram adjetivos positivos
em relação a eles.
Dessa forma os questionários mostraram a necessidade de trabalhar a educação ambiental
com os alunos em relação a esse Filo.

3ª Etapa: Atividade de Educação Ambiental em Espaço Não Formal

A atividade teve como objetivo levar os alunos para o Museu da Amazônia, um ambiente
diferente da sala de aula onde para este conteúdo, Artrópodes, é possível mostrar organismos vivos
e suas diversas interações em seu habitat natural, dessa forma buscando uma melhor alternativa para
que os alunos não só compreendam e conheçam melhor o assunto, mas que também seja possível
um despertar para uma nova consciência ambiental em relação a esses animais e aos espaços em
que eles vivem. Para avaliar o resultado da atividade foram feitas entrevistas com os professores e
os monitores que acompanharam os alunos durante as atividades.
No primeiro momento foi realizada a trilha na Reserva, uma área primaria da Floresta
Amazônica em que pode-se averiguar questões ambientais locais, em um ambiente que não faz
parte da realidade cotidiana dos mesmos. Lima (2006) destaca a importância de trazer a realidade as
questões locais para posteriormente ampliar as discussões para o regional, nacional e global, de
modo que primeiramente se estabeleça uma inter-relação do meio ambiente local seguindo para o
restante do planeta, possibilitando a compreensão do funcionamento dos ecossistemas naturais e
sociais a partir de sua própria realidade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1288


Ao entrevistar os professores e monitores pode-se encontrar declarações positivas em
relação a trilha, porém, o ambiente despertou interesse e curiosidade para um número reduzido de
alunos.

―Os alunos tiraram fotos de algumas inflorescências, de aranhas e encontraram um


sapinho no caminho e se mostraram curiosos em relação a alguns sons e nomes de
árvores.” (Depoimento do professor que acompanhou a primeira turma)

Na maioria das falas evidenciou-se a falta de interesse sobre o local e o desconforto dos
alunos que mostrou o quanto eles não estão familiarizados com o ambiente em que foram inseridos.

“No geral eles quase não fizeram perguntas, mesmo quando eu parava em lugares
estratégicos que geralmente os turistas e outros alunos gostam, eles mais reclamaram de
mosquito, calor, lama, medo de cair ou de encontrar algum animal perigoso, o básico de
toda pessoa que não está acostumada a entrar na floresta.” (Depoimento do monitor do
Museu que acompanhou duas turmas durante as trilhas)

No segundo momento os alunos puderam ver e interagir com as classes de Artrópodes


escolhidas (Figura 01), os animais vivos e soltos foram utilizados para demonstrar comportamento,
estruturas e desmistificar algumas ideias que os alunos tem em relação a esses organismos.

Fig. 01 – Classes utilizadas para a realização da atividade, (A) Classe Myriapoda, (B) Classe
Insecta e (C) Classe Arachnida.

As atividades realizadas dentro do laboratório experimental de insetos caracterizaram-se


como momentos informais de grande ganho de conhecimentos, experiências, socialização e
vivências pessoais. Foi possível notar que tudo era novidade, a cada novo animal mostrado muitos
alunos se surpreendiam, percebiam o quão pouco eles sabiam e muitos medos foram superados pelo
interesse em ter contato com os organismos. Durante a observação da atividade várias falas foram
percebidas onde os alunos tiveram interesses em saber do que os diferentes organismos se
alimentavam como se chamavam, para que serviam certas estruturas e expressaram seus
sentimentos em relação aquele momento, mostrando o quanto a proximidade e interação direta que
os estudantes tiveram com aqueles animais foram significativas na formação de uma opinião em
relação a eles.

“Professora que lindo isso é uma aranha mesmo? Nunca tinha visto! Posso pegar? Posso
levar pra casa?” (Fala de uma das estudantes do 2º ano)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1289


“Eu sempre achei que o Louva-a-deus comia folhas porque ele é todo verde, então essas
garrinhas servem para segurar os outros bichos?” (Fala de um dos estudantes do 2º ano)

4ª Etapa: Pós-Questionário

No pós-questionário poucas respostas ficaram em branco, 73% dos alunos deram respostas
coerentes e mais elaboradas em relação as questões mais especificas mostrando que foi obtido
conhecimento.
Em relação aos organismos 81% apontaram que possuem importância e nas explicações
responderam e deram exemplos utilizando o que aprenderam das atividades realizadas no
laboratório do espaço do Museu. Foi possível notar uma mudança significativa na opinião dos
estudantes em relação a esses animais pelo número de adjetivos positivos atribuídos a eles e quando
foram novamente questionados sobre o que fariam se encontrassem algum desses organismos em
suas casas cerca de 52% responderam que os levariam para um lugar mais apropriado como um
jardim ou uma área mais próxima com plantas.
A pesquisa conseguiu integrar o MUSA e o IFAM, construindo uma relação favorável entre
o conhecimento e o saber, quanto a importância dos Artrópodes para a floresta Amazônica e da
mesma para o ambiente, assim, a Educação Ambiental não formal poderá ser uma possibilidade de
reduzir o distanciamento de alunos de ensino técnico integrado em áreas tecnológicas com as
questões socioambientais que os cercam, Leff (2001) afirma que para isso um dos maiores desafios
é formular uma EA que seja inovadora tanto em nível formal como não formal, acima de tudo
voltado para a transformação social. Dessa forma, a alternativa utilizada contribuiu para a melhoria
da qualidade no processo de ensino-aprendizagem e permitiu uma nova visão sobre o ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada permitiu a implantação de um ensino mais atual e que se mostrou


significativo na aprendizagem dos alunos, o ensino em espaços não formais intensificou o contato
entre os alunos e a natureza e despertou uma sensibilização em relação ao ambiente e aos
organismos estudados. Foi possível perceber que durante as trilhas quando não houve estimulo e
nem explicações o ambiente não passava de um local ruim com lama e mosquitos, o local só se
tornou agradável e de importância quando passou a ser significativo, por meio das explicações e
estímulos e quando começou a fazer sentido de que era muito mais do que mato e insetos.
Nos pós-questionários notou-se o ganho de conhecimento que a atividade proporcionou para
os alunos, pois para eles essa nova abordagem mostrou-se mais estimulante e criou uma relação
mais próxima entre os alunos e os objetos estudados dentro da Biologia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1290


A partir de um ensino de Biologia mais contextualizado e voltado para atividades práticas
em parceria com a Educação Ambiental deixará de ser algo distante da realidade dos alunos e a
aprendizagem ocorrerá de forma significativa. É possível afirmar que este tipo de atividade precisa
ser continuado para que os resultados possam promover transformação nos indivíduos e esses
possam mudar seus valores, hábitos e atitudes, na formação de uma sociedade mais sustentável.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Política Nacional de Educação
Ambiental, 1999.

GIL, Antonio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª. ed., São Paulo: Atlas, 2008.

GUIMARÃES, Mauro. Educação ambiental: participação para além dos muros da escola. In:
Vamos cuidar do Brasil : conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Coordenação:
Soraia Silva de Mello, Rachel Trajber. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de
Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental :
UNESCO, 2007.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.

LIMA A. 2006. Refletindo sobre educação ambiental não-formal. REVISTA COM SCIENTIA,
Universidade Federal do Paraná, 2006.

MACHADO, Ana Lucia S. Educação Ambiental para Gestão Sustentável da Água: Estudo de caso
do Igarapé do Mindu – Manaus, AM. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento
Sustentável. UnB. 2012.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento, execução e anásile, 2ª. Ed.


São Paulo: Atlas, 1999, v.2.

TRIPP. David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Rev.Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3,
p. 443-466, set./dez. 2005.

QUEIROZ, L. L; NASCIMENTO, M. A. S; MIRANDA, G. F. G & SILVA, V. G.Criação de


Artrópodes no Jardim Botânico Adolpho Ducke de Manaus – Am.Congresso Norte Nordeste de
Pesquisa e Inovação, Salvador, 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1291


―UMA FLOR EM MEIO A MUITOS ESPINHOS‖: A IMPORTÂNCIA DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO ENSINO DAS GEOCIÊNCIAS

Abimael Esdras Carvalho de Moura LIRA


Estudante do curso Técnico Subsequente em Geologia do IFRN
aecmoura@gmail.com
Rafaela Teixeira de BRITO
Estudante do curso Técnico Subsequente em Geologia do IFRN
rafinha_21_19@hotmail.com
Anna Paula Lima COSTA
Doutora em Geociências pela UNESP

RESUMO
Nos últimos anos percebe-se o progressivo desenvolvimento de discussões que tenham em vista a
promoção das chamadas políticas sustentáveis. Vale ressaltar que a mineração se configura como a
primeira atividade de degradação ao meio ambiente em termos numéricos. Nesse sentido,
percebemos a necessidade de se emergirem, no âmbito educacional, discussões que visem promover
não somente debates, como também uma prática profissional efetiva e consciente acerca de tais
questionamentos. Para isso, a presente pesquisa se configura como de cunho qualitativo, a medida
em que a metodologia adotada foi a pesquisa e a revisão bibliográfica. A partir disso, objetiva-se
com este trabalho discutir a importância da inserção de uma disciplina na grade curricular do curso
técnico em Geologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte, nas modalidades integrado e subsequente, que promovam o desenvolvimento de uma
perspectiva sustentável na pesquisa, gestão, exploração e beneficiamento dos recursos minerais.
Concluímos que, a educação representa o espaço privilegiado para a construção de um processo de
conscientização, que a médio e longo prazo, trará para a sociedade a partir da atuação dos
estudantes, enquanto profissionais da área de geociências, uma nova percepção de sustentabilidade
quanto ao manejo dos recursos naturais.
Palavras-Chaves: Geologia; Desenvolvimento Sustentável; Recursos Naturais; Educação.

RESUMÉN
En los últimos años podemos ver el desarrollo progresivo de las discusiones encaminadas a la
promoción de las llamadas políticas sostenibles. Es de destacar que la minería se configura como la
primera actividad de la degradación al medio ambiente en términos de números. En este sentido,
nos damos cuenta de la necesidad que surja en el contexto educativo, las discusiones destinadas a
promover no sólo los debates, así como una efectiva y consciente acerca de tales cuestionar la
práctica profesional. Para ello, la presente investigación se configura como un estudio cualitativo, el

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1292


grado en que la metodología fue la investigación y la revisión de la literatura. De esto, el objetivo de
este trabajo es discutir la importancia de la inclusión de una asignatura en el plan de estudios de la
carrera técnica en Geología del Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología de Rio Grande
do Norte, en arreglos integrados y posteriores que promueven desarrollo de una perspectiva
sostenible en la investigación, la gestión, la explotación y tratamiento de minerales. Llegamos a la
conclusión de que la educación es el lugar privilegiado para la construcción de un proceso de
conciencia de que el espacio, traerán el mediano y largo plazo para la sociedad de las actividades de
los estudiantes como profesionales en las ciencias de la tierra, una nueva percepción de la
sostenibilidad como la gestión de los recursos naturales.
Palabras-Clave: Geología, Desarrollo Sostenible, Recursos Naturales, Educación.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos percebe-se o progressivo desenvolvimento de discussões que tenham em


vista a promoção das chamadas políticas sustentáveis. Nesse sentido, o cenário econômico se
responsabiliza por ser o centro de tais polêmicas, a medida em que nele se exibem várias
divergências quanto aos rumos que o progresso financeiro assumirá diante da preservação
ambiental, vista por muitos como um verdadeiro empecilho, banalizando, sobremaneira, as
proporções negativas que esta percepção trará ao futuro da sociedade.
A sociedade contemporânea tem se mostrado deveras agravante no âmbito planetário, se
comparada com as sociedades passadas. Atualmente se mostra insustentável, se analisados os
inúmeros fatores como, por exemplo, o crescimento populacional acelerado, o esgotamento de
recursos naturais e aceleração do aquecimento global.
Contudo, percebemos a necessidade de se emergirem, no âmbito educacional, discussões
que visem promover não somente debates, como também uma prática profissional efetiva e
consciente acerca de tais questionamentos.
Assim, a área de formação de profissionais que estão envolvidos diretamente com a
pesquisa, a gestão, a exploração e o beneficiamento dos recursos naturais se configura enquanto o
espaço privilegiado para a implementação dos debates acerca da sustentabilidade no manejo
daqueles recursos.
Nesta perspectiva, o presente trabalho vem a propor a inserção na grade curricular do curso
técnico em Geologia, nas modalidades integrada e subsequente, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, a inserção de uma disciplina que aborde questões
ambientais no processo de formação cognitiva dos estudantes, não somente de maneira
generalizada, mas também com conscientização dos alunos, em relação ao desenvolvimento
sustentável. Visando uma prática profissional mais consciente no âmbito das relações
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1293
socioambientais.
Além disso, que esses mesmos estudantes possam ser capazes de perceber os impactos
ambientais, à luz das atividades de exploração mineral, desenvolvendo proposta de recuperação das
áreas degradadas, percebendo que a essência do desenvolvimento sustentável é o processo de
transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento ecológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial
presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas.
Desse modo, o conceito de desenvolvimento sustentável interliga o que é para ser
desenvolvido com o que é para ser sustentado. O debate em torno do desenvolvimento sustentável
traz consigo a complexidade da interação homem-natureza (Camargo, 2012).
Buscando refletir a conscientização ambiental em uma abordagem interdisciplinar,
estaremos discutindo o desenvolvimento sustentável, procurando enfatizá-lo na formação técnica
dos estudantes de geociências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte.
Todavia, as atividades de extração e beneficiamento mineral são estritamente necessárias
para o desenvolvimento de vários setores da economia e, com isso, dos próprios números dos
índices de desenvolvimento social.
Isso pode ser constatado a medida em que regiões industriais o número de empregos
ofertados a população da localidade é, substantivamente, maior em relação aos locais em que
apenas se tem os programas governamentais como motores da economia.
Exemplo disso é o Seridó, no Estado do Rio Grande do Norte, região com o terceiro maior
índice de desenvolvimento humano (IDH), caracterizada pela extração e produção mineral, em larga
escala de vários recursos naturais, que vão desde a tradicional scheelita, passando pela argila até o
feldspato.
Porém, a região do Seridó também se constitui como o espaço onde a deterioração ambiental
é fator preponderante no processo de desertificação. A medida que a exploração de recursos naturais
se dão as expensas do desmatamento da flora da região, e com isso dainstinção da fauna local.
Visto tudo isso, assinalamos para a importância de políticas públicas mais rigorosas e atentas
a questão ambiental. É assim que a discussão sobre a legislação ambiental deve subsidiar a
importância desse debate na sociedade. Sendo a escola a grade responsável pela socialização desses
conhecimentos.
Ao fim e ao cabo, a partir das discussões teóricas, estaremos expondo nosso ponto de vista,
enquanto estudantes daquela instituição, sobre a imprescindibilidade da inserção da educação
ambiental na grade curricular do curso técnico em Geologia, tanto na modalidade integrada, quanto
subsequente, a fim de que os alunos possam adquirir uma prática profissional mais consciente e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1294
atrelada a discussões de nível mundial, no âmbito das relações socioambientais e que possa ser
capaz de perceber os possíveis impactos ambientais como um agravante ao próprio
desenvolvimento de suas profissões. Vale ressaltar que a mineração se configura como a primeira
atividade de degradação ao meio ambiente em termos numéricos, seguido pela agricultura, algo que
torna os demais processos ou atividades insignificantes daquele ponto de vista. Nesse sentido,
buscamos apresentar propostas teóricas e metodológicas que possam ser compreendidas com o
desenvolvimento do aprendizado e um processo de conscientização dos alunos sobre o meio
ambiente, em que eles possam compreender este espaço como o lócus no qual e em que se
desenvolvem as relações do homem com a natureza.

Política Econômica e Sustentabilidade

Tendo em vista influenciar nos diversos mecanismos que, juntos, formam a economia de um
país, a política econômica traduz as preocupações que um governo tem quanto a produção, a
circulação, a distribuição e o consumo, tanto de bens quanto de serviços. Ao passo que, além disso,
é possível traduzir, por meio da política econômica, os vários aspectos que orientam os discursos e
as atividades governamentais em suas formas de ver e entender outros problemas relacionados a
esfera econômica, como também ao próprio bem-estar da sociedade.
Dentre esses problemas, a política ambiental se apresenta como uma das questões que
carecem de mais atenção por parte do governo. Ao passo que, a urgência nessa discussão fomentará
um processo de conscientização social no tocante ao manejo dos recursos naturais.
Apesar de subordinadas a economia, as medidas econômicas também se engajam em um
âmbito social, no sentido de que determina quais dos segmentos da sociedade serão comtempladas
pela ação política do Estado. Não obstante, tais medidas serão concebidas como variáveis, de país
para país, bem como da natureza dessa riqueza econômica, a depender também da pressão exercida
por grupos sociais que estão nas malhas desse regime como, por exemplo, os sindicatos e as
instituições científicas que corroboram, ou não, com as ações econômicas frente a questão da
sustentabilidade e da preservação ambiental e cultural.
Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável é um assunto bastante discutido atualmente,
porém pouco conhecido. Este tema é bastante associado as questões ambientais, principalmente no
que diz respeito a preservação dos recursos naturais como modo de manter um equilíbrio apropriado
no sentido ecológico. O conceito de sustentabilidade é bastante amplo, e a questão ambiental é
apenas um de seus alicerces.
A organização CATALISA (Rede de Cooperação para a Sustentabilidade), define
sustentabilidade nos seguintes termos:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1295


―[...] o Desenvolvimento Sustentável [é] um modelo econômico, político, social, cultural e
ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades‖ (CATALISA,
2010).

Nesse sentido, o desenvolvimento econômico que prime pela sustentabilidade como item
fundamental da discussão, acaba por determinar uma preocupação exacerbada com o futuro ao
passo que, tendo em vista suprir as diversas demandas presentes, sugere a extrema necessidade de
consumo baseado no equilíbrio. Algo diverge sobremaneira nas sociedades atuais.
Desse modo, as sociedades mundiais, assim como a hodierna sociedade brasileira, tem se
caracterizado por um consumo desenfreado que gera uma grande quantidade de materiais que são
descartados, mas que, devido, ressaltamos novamente, a carência de políticas públicas efetivas para
com as questões ambientais, tende a ser desperdiçados e, grosso modo, jogados a mercê do homem
e em detrimento a própria natureza.
E nessa perspectiva, se faz extremamente necessárias discussões que promovam a
conscientização da população de um modo geral e como as empresas, muitas delas, ainda não são
responsabilizadas pela coleta do material que produzem, dando um fim mais adequado, inclusive o
materialde caráter radioativo, a educação transforma-se na principal via por onde tais mudanças
seriam canalizadas para o conhecimento da sociedade.
Em uma compreensão literalmente econômica, sustentabilidade é a busca pelo equilíbrio
entre a utilização dos recursos naturais e a formação de riqueza. Acerca disso, o economista Ademar
Ribeiro apresenta que:

―No esquema analítico convencional, o que seria uma economia da sustentabilidade é visto
como um problema, em última instância, de alocação intertemporal de recursos entre
consumo e investimento por agentes econômicos racionais, cujas motivações são
fundamentalmente maximizadoras de utilidade‖ (ROMEIRO, p. 2, 2001).

Tal concepção vai de frente com a ideia de sustentabilidade, no sentido de que coloca a
economia como a necessidade primeira do progresso material de uma sociedade, em detrimento da
própria dimensão humana que a reveste.
A dimensão humana discutida aquiperfaz outro espaço de embates, quer seja, o
distanciamento das ciências humanas em relação aos temas de debate ambiental, que durante
bastante tempo fora dominado pelas ciências biológicas e, em um segundo momento, pelas ciências
exatas. Isto traduz as disputas por espaços que as próprias ciências desencadeiam no tocante a
dimensionar ou ampliar as suas possibilidades quanto à delimitação de seus objetos de estudo.
Cabe-nos então destacar que o papel das ciências humanas frente à discussão da
sustentabilidade ambiental pode ser entendido ao ponto que somente a partir de uma compreensão
efetiva quanto às transformações nos hábitos de se relacionar consigo, com o outro e com a
natureza, ou seja, mudanças implementadas no desenvolvimento de suas atividadesprodutivas e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1296
afetivas, resultou em outras formas de lidar com a natureza, a base de seu trabalho e do fator de
sociabilidade que, com isso, gerou no agravamento dos problemas ambientais, os quais a Terra
enfrenta hoje.
Contudo, a definição de como enfrentar os vários problemas ambientais que se abatem nas
sociedades modernas, tanto a nível local ou regional, quanto nacional e internacional, são definidas
a partir da legislação, onde o Estado traduz a sua percepção sobre a temática, definindo prioridades
eafastando questões desnecessárias aos objetivos políticos e econômicos, passemos ao próximo
tópico de discussão ao caso específico brasileiro.

Entre a Teoria e a Prática: analisando a legislação ambiental brasileira

A legislação ambiental brasileira, encontra-se inserida em uma conjuntura internacional


agente e ao mesmo tempo objeto detransformações determinadas pela condição de dependência
sobrevinda da globalização, cada estratégia jurídica nacional evolui dentro de seu próprio ritmo,
segundo suas necessidades sociais, econômicas, culturais e ambientais as mais urgentes.
A Constituição da República Federativa do Brasil decreta vários artigos que tratam da
questão ambiental, dentre os quais destacamos (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL, 1988):
Capitulo VI – Do Meio Ambiente
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade
o dever de defendê-los para as presentes e futuras gerações.
2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
3° - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente a obrigação de
reparar os danos causados.
A legislação brasileira é uma das mais avançadas na temática ambiental. Porém, o que se
percebe na prática é a falta de efetividade da mesma, uma vez em que a degradação ambiental
continua em escala cada vez mais crescente.
Muitos problemas ambientais podem ser apontados para com a falta de efetividade da
legislação ambiental, sendo a mais importante para nós a falta de consciência ambiental dos
cidadãos. Por isso a educação ambiental é arte para que os objetivos fundamentais dessa legislação,
qual seja, a preservação ambiental, possam ser alcançados.
A imprescindibilidade socioeconômica nascente, crescente e variável no interior das
sociedades tornaram disponível o entendimento de que o respeito universal e efetivo da natureza e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1297
dos recursos naturais era condição indispensável para a sustentabilidade do desenvolvimento.
No exercício atual de seu avanço no Brasil, não restam dúvidas quanto ao fato de o direito
ambiental, que interage com vários ramos do direito, ser uma disciplina jurídica autônoma. O
estabelecimento de leis e regulamentos e a formulação de mecanismos e estratégias ambientais no
plano interno, bem como a adoção de tratados em matéria de proteção ao meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável no plano internacional, confirmam essa afirmação.
A determinação do nível de adequação da legislação brasileira aos princípios internacionais
da Convenção sobre Diversidade Biológica dar-se-á a partir do estudo crucial de materiais jurídicos
constitucionais, nos níveis federal, estadual e do Distrito Federal, que, de maneira direta ou
indiretamente, promovam a conservação da biodiversidade e o uso sustentáveldos recursos naturais.
A dedicação aplicada atualmente na luta contra a erosão da diversidade biológica depende
do equilíbrio de interesses econômicos entre os diversos fatores sociais. Estão comprometidos nesse
desafio tanto os estados, as empresas públicas e privadas quanto os indivíduos.
É relevante esclarecer-se que em qualquer momento na Convenção é utilizado o conceito
‗patrimônio comum da humanidade‘ em menção à biodiversidade, apesar de a expressão
‗patrimônio‘ enviar à ideia de avaliação econômica, que alterna por completo o instrumento
multilateral.
Para certos teóricos preocupados com o destino dos elementos naturais globais, os recursos
naturais constituem, de fato, um patrimônio comum da humanidade.

“Uma faca de dois gumes”: a exploração mineral e a degradação do meio ambiente

Durante o processo de extração dos bens minerais da crosta terrestre, automaticamente,


gera-se uma alteração bastante profunda. Essas alterações, provenientes da atividade mineral,
podem provocar maior ou menor impacto, conforme os fatores geográficos, o método de lavra
utilizado e o tipo de minério extraído.
A exploração mineral é uma atividade de extrema importância para a economia do país, e
atua de maneira decisiva para o desenvolvimento da sociedade em seus mais diversos setores
produtivos. Ela é a base da formação da cadeia produtiva, que vai desde a extração de minérios até
os produtos industrializados e, na medida em que as cidades crescem, aumentam-se as demandas
por infraestrutura e serviços (SILVA, 2010).
Porém, os inúmeros impactos ambientais causados pelas atividades de mineração, atrelados
à competição pelo uso e ocupação do solo, acarretam em conflitos socioambientais, onde, em sua
grande maioria, são motivados pela ausência de políticas públicas, que tenham conhecimento da
diversidade dos interesses envolvidos.
A mineração, evidentemente, causa um impacto ambiental considerável. Ela altera
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1298
demasiadamente a área de exploração e as áreas vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéril e
de rejeito. Além do mais, quando temos a presença de substâncias químicas nocivas na fase de
beneficiamento do minério, isto pode significar um problema sério do ponto de vista ambiental.
De acordo com a CPRM (2002), os principais problemas ambientais provenientes da
extração mineral podem ser englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar,
poluição sonora, subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos.
Quanto à poluição das águas provocada pela mineração, a maior parte das empresas de
mineração no Brasil provoca poluição por lama. A poluição por compostos químicos solúveis,
também existe e pode ser localmente grave, mas é mais difícil de ocorrer. As minerações de ferro,
de calcário, de granito, de areia,de argila, da bauxita, de manganês, de cassiterita, de diamante e
várias outras, provocam em geral poluição das águas apenas por lama.
Segundo IBAMA (2006), a mineração em áreas urbanas é um dos fatores responsáveis pela
degradação do subsolo. Atualmente, junto às grandes metrópoles brasileiras, é comum a existência
de enormes áreas degradadas, resultante das atividades de extração de argila, areia e brita.
De acordo com BACCI (2006), os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às
diversas fases de exploração dos bens minerais, como à abertura da cava, (retirada da vegetação,
escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local), ao uso de explosivos no
desmonte de rocha (sobre pressão atmosférica, vibração do terreno, ultra lançamento de fragmentos,
fumos, gases, poeira, ruído), ao transporte e beneficiamento do minério (geração de poeira e ruído),
afetando os meios como água, solo e ar, além da população local.
Ainda de acordo com Bacci (2006), os fatores geológicos ligados à localização natural da
jazida e ao grande volume das reservas, proporcionando longa vida útil aos empreendimentos, são
fatores rígidos e imutáveis que impedem a mudança das áreas de extração. Neste contexto, é
imprescindível a atuação das políticas públicas, como uma ferramenta na gestão do planejamento
urbano, pois na ausência destas, ocorre a ocupação humana e o crescimento urbano em direção ás
áreas periféricas e próximas às jazidas de minério, originando um quadro crescente de conflitos
entre as empresas que exploram minério e a população do seu entorno.
Visto o contexto de correlação de causa e efeito entre o desmonte de rochas na atividade
mineral e o advento de consequências socioambientais, o presente trabalho objetiva conduzir um
estudo de impactos ambientais, com o intuito de proporcionar uma visão mais acurada sobre os
impactos sociais deleprovenientes. Com isso, objetiva-se, ainda, estimular os conhecimentos sobre
como amenizar os efeitos e problemas provenientes da exploração de minérios, e gerando assim,
uma conscientização de que é necessária a prática do desenvolvimento sustentável principalmente
nos cursos de formação técnicana área de geociências, questão que abordaremos no tópico seguinte,
pois estas lidam diretamente com a pesquisa, exploração e beneficiamento dos recursos naturais que
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1299
impactam a natureza duplamente.

Ausência Constatada: a falta de preocupação com os problemas ambientais nos cursos de


formação técnica em Geologia do IFRN

O curso técnico subsequente em Geologia do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência


e Tecnologia do Rio Grande do Norte) possui sua grade curricular estruturada de forma coesa com o
perfil profissional que a mesma tem em vista formar. Contudo, deixa a desejar quanto aos aspectos
sociais, que são postos na apresentação do Projeto Político e Pedagógico (PPP) do curso, no que se
refere à concepçãode um indivíduo cidadão. Pois, na apresentação do PPP a proposta curricular se
configuracomo,

―[...] baseada nos fundamentos filosóficos da prática educativa numa perspectiva


progressista e transformadora, nos princípios norteadores da modalidade da educação
profissional e tecnológica brasileira, explicitados na LDB nº 9.394/96 e atualizada pela Lei
nº 11.741/08, bem como, nas resoluções e decretos que normatizam a Educação
Profissional técnica de Nível Médio do sistema educacional brasileiro e demais referenciais
curriculares pertinentes a essa oferta‖ (PPP DO CURSO DE GEOLOGIA, p. 5, 2012) .

Os objetivos da pedagogia progressista seguem no sentido de acarretar que o aluno


questione os conceitos transmitidos pela instituição escolar. Essa contingência das apresentações
econômicas, sociais e ambientais é imprescindível para uma considerável e real transformação da
educação ambiental brasileira. E com isto, torna-se evidente que, se quisermos que o país avance
em relação a educação ambiental, cabe-nos a tarefa de reafirmar a escola como um espaço de acesso
ao espaço de produção cultural, intelectual e conscientização ambiental.
Levando em consideração que o indivíduo como o ser que constrói sua própria história, cabe
então, as atividades de ensino, metodologias, nas quais, o centro do processo é o professor, e o
aluno o sujeito de seu aprendizado. De modo que, os interesses e problemáticas inseridas no
cotidiano dos alunos, dentro desta perspectiva, devem constituir a conscientização sobre a
sustentabilidade.
Portanto, é uma das tarefas do educador explicitar as problemáticas sobre a preservação
ambiental, de modo a gerar um novo modo de enxergar e agir com mais responsabilidade no que se
diz respeito ao manejo dos recursos naturais.
Todavia, essa prática educativa caracterizada por uma linha de pensamento ―progressista e
transformadora requer que otrabalho pedagógico deva-se concentrar nas realidades das vidas sociais
mais imediatas. O conhecimento da realidade é produzido a partir das experiências em sala de aula
dos indivíduos e suas trajetórias pessoais, que estão inseridas no contexto mais amplo da sociedade,
aonde se desenrolam e se atrelam discussões de várias naturezas, inclusive a ambiental. E seria
através da educação ambiental que, apresentada em uma disciplina autônoma, podendo ter ou não

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1300


caráter optativo, mas que valesse para a integração curricular do curso técnico, promover-se-ia a
conscientização, baseando-se nos interesses pessoais do aluno pelas questões da preservação
ambiental, do desenvolvimento sustentável e da ideia deeconomia solidária, de forma coletiva,
motivada pelo desejo de transformação da realidade social.

Vislumbrando Novos Horizontes Para o Ensino das Geociências: a inserção de diretrizes


ambientais no currículo escolar de formação de técnicos em geologia do IFRN

A inserção de novas diretrizes ambientais na grade curricular do curso técnico em Geologia,


nas modalidades integrada e subsequente, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte, tem como objetivo o aprendizado e a conscientização dos alunos sobre o
meio ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização sustentável dos recursos naturais. Os
estudantes da área de geociências devem tomar consciência do seu meio ambiente, e adquirirem
conhecimentos, competência, bagagem e determinação que os tornem capazes de buscar soluções
para os problemas ambientais, presentes e futuros. A educação ambiental é um elemento
indispensável para a formação de profissionais que lidam diretamente com o meio ambiente.
É necessário uma educação ambiental com ênfase interdisciplinar que promova uma nova
postura dos profissionais frente aos problemas ambientais. E essa reflexão precisa ser aprofundada,
visto que, as gerações futuras, dependem de um desenvolvimento sustentável (SOARES et. al
2001).

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização deste estudo encontra-se fundamentada em


(PRODANOV et. al. 2013), e segundo este, quanto aos objetivos, esta pesquisa é classificada como
pesquisa de cunho exploratório. Do ponto de vista da natureza das fontes utilizadas, esta pesquisa é
classificada como pesquisa bibliográfica.

Quanto à abordagem, tal pesquisa se classifica como pesquisa qualitativa. Como


procedimentos de pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico, o qual serviu para
fortalecer o conhecimento acerca do tema investigado. O levantamento bibliográfico é uma fonte
secundária, pois, engloba toda a bibliografia já publicada tanto na comunicação escrita quanto na
oral. Tal levantamento foi desenvolvido com base nos seguintes procedimentos: buscas em sites
especializados como, por exemplo, Scielo e Google Acadêmico, os quais tiveram como objetivo a
procura de artigos científicos, teses, dissertações entre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1301


Ao fim e ao cabo, percebe-se que uma prática educacional que esteja concatenada as
demandas da realidade estão, de fato inseridas, no âmago de uma ideia progressista e
transformadora da realidade, na medida em que extrapola a dimensão do papel e se coaduna com
ações afirmativas de reflexão e ação social.
Nesse ínterim, percebe-se a necessidade de disciplinas que sejam capazes de articular as
teorias biológicas e exatas que tratam das mudanças e problemas ambientais, a percepção das
ciências humanas, no sentido de que partindo da compreensão das mutações operadas nas maneiras
de ser, agir e se relacionar da sociedade e da forma como está se constrói, tendo o trabalho como
base eaonde se opera a relação homem-natureza, será possível atenuarmos os avanços de tais
problemas.
Enfim, vale salientar também, que o processo de formação educacional de técnicos na área
de geociências, ao privilegiar as discussões sobre sustentabilidade, se apresenta como a maneira
mais rápida e eficiente de se incutir na mentalidade de empresas públicas e/ou privadas e de
universidades, para onde aqueles profissionais posteriormente acorrerão, a importância de se
compreender o meio ambiente enquanto suporte físico e material das atividades humanas devido à
imprescindibilidade dos recursos naturais, em que somente o planejamento e a perspectiva de
futuro, auxiliadas por uma filosofia do equilíbrio, garantiram a posteridade o direito a própria vida.

REFERÊNCIAS

BACCI, Denise de La Corte; LANDIM, Paulo Milton Barbosa; ESTON, Sérgio Médici de.
Aspectos e impactos ambientais de pedreira em área urbana. Rem: Rev. Esc. Minas. Ouro Preto,
v. 59, n. 1, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 15 Out 2014. CAMARGO,
Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento sustentável: Dimensões e desafios/Ana Luiza de Brasil
Camargo. – 6ª ed. – Campinas, São Paulo, 2012.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Capitulo VI – Do Meio


Ambiente. Art. 225. 1998. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/con1988_05.10.1988/art_225_.shtm. Acesso
em: 16 Out 2014.

CRPM. Perspectivas do Meio Ambiente do Brasil – Uso do Subsolo. MME - Ministério de Minas e
Energia, 2002. Disponível em www.cprm.gov.br. Acesso em 15 Out. 2014.

IBAMA. O estado dos subsolos. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. 2006. Disponível em: http://www2.ibama.gov.br/~geobr/Livro/cap2/subsolos.pdf.
Acesso em: 15 Out. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1302


PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. MÉTODOLOGIA DO TRABALHO
CIENTIFÍCO: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª Ed. Rio Grande do
Sul. 2013.

ROMEIRO, Ademar Ribeiro.Economia ou economia política da sustentabilidade? Texto para


discussão. Instituto de Economia (IE)/UNICAMP. n.102. Set. 2001.

SILVA, J. A. L. Uma discussão sobre desertificação: caso do município de Pedra Lavrada-PB.


TCC - Graduação em Geografia. Universidade Estadual da Paraíba, 2010, p. 68.

SOARES et.al. Saúde e qualidade de vida do ser humano no contexto da interdisciplinaridade da


Educação Ambiental. No. 38 - 05/12/2011. Disponível em
<http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1143> Acesso em 08 de outubro de 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1303


PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE MOSSORÓ / RN

Camilla Siqueira da FONSÊCA


Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
camillasfsf_@hotmail.com
Bruna Raquel Torquato PINHO
Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
bruna.rtp@hotmail.com
Maria Betânia Ribeiro TORRES
Docente do Departamento de Gestão Ambiental da UERN
betaniatorres@gmail.com

RESUMO
A busca incessante pelo desenvolvimento econômico vem causando vários problemas para o
equilíbrio ambiental, afetando os ecossistemas e comprometendo a qualidade de vida da população
em geral, e trazendo o foco da questão ambiental para debate social. A partir dessa preocupação
ambiental, a Educação Ambiental (EA) surge como uma das alternativas que busca transformar a
educação tradicional nos eixos políticos, sociais, culturais e econômicos, no sentido de mostrar a
importância da conservação ambiental e de novas relações sociedade-ambiente. O objetivo deste
artigo é identificar a percepção de estudantes acerca das práticas de educação ambiental nas escolas
para mudanças de atitudes e comportamento na relação sociedade-ambiente. A pesquisa classifica-
se como quantitativa de natureza descritiva, de cunho exploratório e investigativo e como técnicas
de pesquisa foram utilizadas pesquisa bibliográfica, questionários semiestruturados e observações in
loco. Como resultados foi identificado o perfil do aluno, as percepções dos estudantes sobre a
escola em que estudam, quais as atividades de Educação Ambiental são desenvolvidas e as
mudanças de atitudes e comportamento decorrentes das práticas de Educação Ambiental.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Relação Sociedade-ambiente. Percepção Ambiental. Habitus
Socioambiental.

ABSTRACT
The relentless pursuit of economic development has caused many problems for the environmental
balance, affecting ecosystems and compromising the quality of life of the general population, and
bringing the focus of the environmental issue for social debate. From this environmental concern,
environmental education emerges as a means of education that seeks to transform traditional
education reaching political, social, cultural and economic hubs in order to show the importance of
environmental conservation and the relationship between society and environment. The purpose of
this article is to identify the perceptions of students about environmental education practices in

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1304


schools to changes in attitudes and behavior in the relationship between society and
environment. The research is classified as quantitative, descriptive, exploratory and investigative,
and techniques bibliographic weew used, semi-structured questionnaires and in loco observations.
As a result the student's profile was identified, the students' perceptions about the school in which
studies, which the Environmental Education activities are developed and the resulting changes in
attitudes and behavior in the practice of Environmental Education.
Keywords: Environmental Education. Society-environment relationship. Environmental perception.
Socio habitus.

INTRODUÇÃO

Com a Revolução Industrial, a sociedade passou a ver os seus recursos naturais como
matéria-prima para o desenvolvimento econômico, ocorrendo desta forma uma intensa exploração,
ameaçando a biodiversidade e o equilíbrio do meio ambiente. A partir desse processo devastador,
surgiram preocupações com a busca pelo desenvolvimento sustentável e para a criação de práticas
de conservação e preservação ambiental, aliadas à qualidade de vida humana.
Para Leff (1999, apud TORRES, 2013), a questão ambiental confronta a racionalidade
moderna orientada para fins preestabelecidos, à hegemonia da razão econômica e tecnológica do
mundo para construir uma nova racionalidade que integre a razão e os valores, a natureza e a
cultura. Assim Leff trama a sua proposta de racionalidade ambiental, tecendo diversos elementos
que conformam a conduta humana, não apenas na sua objetividade, mas também na subjetividade,
sobretudo evidenciando aspectos que envolvem valores não utilitaristas da relação sociedade-
natureza (TORRES, 2013).
Uma das alternativas encontradas para promover o desenvolvimento sustentável é a
Educação Ambiental (EA), pois segundo a lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a
Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, trata-se de um processo
em que o individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes
e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Sendo um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
A EA, então segundo Sato (2004), deve buscar sua eterna recriação, avaliando seu próprio
caminho na direção da convivência coletiva e da relação da sociedade diante do mundo. Ou seja,
avaliando a si próprio na busca da identidade individual (ser humano), buscando uma área de
aprendizagem coletiva da alteridade (sociedade) e, desta justaposição, construindo uma relação com
o mundo.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1305
O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa ―Educação ambiental e habitus
socioambiental: um estudo das relações sociedade-ambiente em escolas públicas de Mossoró-RN‖
(PIBIC UERN/Iniciação Científica). E teve como objetivo identificar a percepção de estudantes
acerca das práticas de educação ambiental nas escolas para mudanças de atitudes e comportamentos
na relação sociedade-ambiente.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi quantitativa de natureza descritiva simples, o trabalho foi feito
em três fases: na primeira, foi feita a revisão de literatura, com enfoque na definição de habitus de
Pierre Bourdieu, a concepção de habitus socioambientais de Sérgio Luiz P. Silva e o sofrimento
ambiental e a espera tratada por Javier Auyero, com o intuito de explicar as relações
socioambientais, a criação de um novo habitus voltado para as questões socioambientais e a espera
e o sofrimento ambiental desses alunos de escolas públicas, decorrente das condições do ambiente
escolar e das práticas de ensino desenvolvidas nas escolas municipais de Mossoró. A segunda fase
foi a realização da pesquisa de campo, com a aplicação de 191 questionários com os alunos do 9º
ano de nove escolas da rede Municipal de ensino de Mossoró, durante o período de 03 de Dezembro
de 2013 á 27 de Fevereiro de 2014.
Após o levantamento dos dados acerca da percepção dos estudantes sobre as mudanças de
atitudes e comportamento em decorrência de práticas de Educação Ambiental, foi realizada a
terceira fase da pesquisa, o tratamento dos dados no SPSS 16 TRIAL, para a apresentação dos
resultados e discussões finais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Escolas Pesquisadas

A pesquisa foi realizada em nove (9) escolas, oito (8) em área urbana e uma (1) na área
rural, todas pertencentes ao Núcleo de Educação Ambiental (NEA)55. A quantidade de questionários
aplicados reflete o número de alunos de uma sala de aula do 9º ano de cada escola pesquisada
(Tabela 1).

55
NEA – Programa de atuação social em constante construção, que privilegia o uso da Informação Educativa
em todas as suas formas e meios, baseado no conceito de Ecologia do biólogo Haeckel, em 1866, como o ―estudo
da casa maior que é o Planeta Terra‖, para trabalhar a integridade humana e retomar a noção de respeito a todas as
formas de vida. Ver: IBAMA- Supes/DF, Núcleo de Educação Ambiental – NEA. Disponível em:
<www.ibama.gov.br/setores-ibama-df/nucleo-de-educacao-ambiental-nea>. Acesso em: 28 jul. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1306


ESCOLAS PESQUISADAS Nº DE ENTREVISTADOS
1. Escola Municipal Dinarte Mariz 25
2. Escola Municipal Alcides Manoel de Medeiros 22
3. Escola Municipal Celina Guimarães 31
4. Escola Municipal Heloisa Leão de Moura 06
5. Escola Municipal Vereador José Bernardo 23
6. Escola Municipal Marineide Pereira da Cunha 32
7. Escola Municipal Evangélico Leôncio José Santana 26
8. Escola Municipal Francisco de Assis Batista 07
9. Escola Municipal José Benjamim 19
TOTAL 191
Tabela 1- Escolas Pesquisadas/Nº de entrevistados. Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

Perfil do Aluno Pesquisado

Dos 191 entrevistados, com idade entre 12 e 19 anos, 59% são do sexo feminino e 41% do
sexo masculino (Gráfico 1).

41%
Masculino
59% Feminino

Gráfico 1- Sexo dos entrevistados. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.

Percepções Sobre a Escola que Estuda

Bonifácio e Abílio (2010) tratam sobre a percepção como um termo que tradicionalmente é
entendido como sinônimo de conhecimento, porém refere-se a nossas interpretações de mundo. Para
Addison (2003) a percepção é um processo psicológico e o conhecimento é um processo
epistemológico, sendo desta forma, expressões distintas; para Souto (2003) percepção é o ato de
captar os diferentes tipos de estímulos do ambiente, com o auxílio dos órgãos dos sentidos. Com
base na noção de habitus de Bourdieu (2001), entendemos que a percepção envolve um conjunto de
fatores que compõem a trajetória individual e social dos indivíduos. O habitus é, portanto, um
sistema de disposições, modos de perceber, de sentir, de fazer e de pensar, que nos levam a agir de
determinada forma em uma circunstância dada (THIRY-CHERQUES, 2006).
Como veremos no Gráfico 2, 49,7% dos entrevistados responderam que gostam muito da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1307


escola que estuda, enquanto que 2,6% considera que a escola não é boa o suficiente, ou seja, para
uma pequena parte, a escola não é um ambiente confortável e que lhe proporcione aprendizagens
interessantes, que prenda a sua atenção e o faça se sentir a vontade para que aja uma interação com
o processo de aprendizagem.

95
100 91

49,7
50 47,6 Entrevistados
Porcentagem
0 5 2,6
Gosto muito
Gosto mais ou menos
Não gosto
Gráfico 2- Percepções dos alunos sobre sua escola. Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

Deste modo ao questionarmos o que os alunos mais gostam, o que menos gostam e o que
mudariam para que suas escolas ficassem melhor, baseado em dados da pesquisa identificarmos que
37,2% gostam mais dos funcionários e amigos da escola, e percebemos a importância da relação
entre o ser individual e o mundo social para que o aluno possua uma boa relação cultural e
ambiental com o meio em que vive, tendo em vista que 21,5% dos alunos relatam como um
problema o pouco tempo existente na escola para essa interação com os amigos, para a troca de
informações e conhecimento
Para 20,9% e 36,6% dos entrevistados, o espaço escolar carece de melhorias e mudanças. O
que demonstra a falta de estrutura física apropriada e que possibilite aos alunos um ambiente
adequado para a aprendizagem. Tendo visto que a qualidade do ambiente em que se está inserido
pode alterar o nível de aprendizagem, de interesse e motivação do aluno com a escola. Para Auyero
(2011) isso se caracteriza como sofrimento ambiental, sendo este termo o relato do fato de que o
pobre não possui as mesmas oportunidades e não encontra um ambiente escolar de qualidade e
motivador para a sua trajetória escolar.

Atividades de Educação Ambiental Desenvolvidas na Escola

No Gráfico abaixo, 84,3% dos entrevistados afirmam que sua escola desenvolve atividades
de educação ambiental, porém, o que se pode notar é que no instante da aplicação do questionário
muitos dos alunos não sabiam do que se tratava a EA e qual o seu real intuito, desconhecendo que a
EA é o ensino que busca desenvolver novas práticas sociais com relação ao meio ambiente, no
sentido de mostrar ao aluno a importância da conservação ambiental e da relação sociedade-
ambiente, para a construção do desenvolvimento sustentável.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1308


16%
Sim

84% Não

Gráfico 3- Afirmam se as escolas desenvolvem EA. Fonte: Pesquisa de Campo, 2013-2014.

Entretanto ao serem questionados sobre o que entende por educação ambiental e o que o
entende por meio ambiente, baseado em dados da pesquisa, 57,6% entende a Educação Ambiental
como sendo, restrito e somente, um ensino sobre a preservação do meio ambiente, e 22,0%, acredita
ser a aprendizagem sobre a natureza, e 35,6% entende meio ambiente como sendo a natureza,
abrangendo a fauna e a flora. O que nos faz notar que infelizmente o aluno não está familiarizado
com o assunto, desta forma impossibilitando o conhecimento da problemática ambiental, de como
surgiu esse problema e como este poderá lhe afetar, sendo de suma necessidade a familiarização
entre aluno e meio ambiente natural e artificial.
Para que seja possível essa sensibilização do aluno sobre o meio ambiente, é necessária a
construção da percepção ambiental, que surge do ato de perceber o ambiente que se está inserido,
aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. Porém, cada indivíduo percebe, reage e responde
diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí
decorrentes são resultado das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos,
julgamentos e expectativas de cada pessoa. (FERNANDES, 2004)
Nas escolas essa construção pode acontecer através de atividades simples e divertidas, onde
o aluno possa interagir de modo a aprender e a colocar sua identidade no ambiente construindo sua
percepção ambiental, com brincadeiras, oficinas e aulas de campo, onde eles descubram coisas
novas e atraentes sobre o meio em que ele vive e o meio em que ele visita.
Na Tabela 2, apresentamos os temas mais desenvolvidos nas escolas, segundo os alunos.

PRINCIPAIS TEMAS %
Água 46,6%
Lixo, Reciclagem e Reutilização 28,8%
Saúde e Nutrição 16,6%
Tabela 2 - Os principais temas desenvolvidos nas práticas de EA das escolas, segundo os entrevistados*.
Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.
*Esta tabela não totaliza 100%, apresenta os resultados referentes à frequência das respostas.

Para tanto, conforme observamos a água é o tema mais frequente nas práticas de Educação
Ambiental nas escolas pesquisadas. O fato do município de Mossoró está situado na região do

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1309


semiárido, com chuvas escassas e irregulares, concentradas somente nos primeiros meses do ano, e
temperaturas elevada, o que facilita a o processo de evaporação, o uso e o manejo da água requer
cuidados para combater o desperdício. Em segundo lugar, o lixo, relacionado ao processo de
reciclagem e a reutilização, é também um tema recorrente nas escolas. E, em terceiro lugar, o tema
saúde e nutrição. Neste aspecto, observamos que as escolas estão incluindo a preocupação com o
ser humano, sua qualidade de vida e seu bem-estar, como um fator importante da problemática
ambiental.

Educação Ambiental e Mudanças de Comportamento e Atitudes

Carvalho (2008) afirma que comportamento é a orientação comportamental, que foi


incorporada ao individuo, possibilitando o acesso a informações coerentes, para que sejam tomadas
decisões lógicas. Já as atitudes são predisposições para que o indivíduo atue de tal forma, podendo
assim ser preditiva do comportamento, o que pode acarretar diferentes modos de compreensão do
ato educativo, como no caso da EA que há muitas atividades e programas que operam de acordo
com uma orientação para a mudança de comportamento de agressão ao meio ambiente para
comportamentos de preservação e condutas responsáveis. Segundo 72% dos entrevistados, as
atividades de Educação Ambiental mudaram o seu comportamento diante do meio ambiente.

59 60
60
50 51
40 30,9 31,4
30 26,7
20
10 12 Entrevistados
0 6,3 9
4,7 Porcentagem
Não
Aprendeu a Não poluir e
respondeu Economia
cuidar e não jogar de água e Muitas
reciclar lixo no chão coisas
energia

Gráfico 4 - Mudanças ocorridas a partir das atividades de Educação Ambiental, segundo os entrevistados.
Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

E como podemos observar, o Gráfico 4, mostra que 31,4% mudaram seus comportamentos a
partir das atividades de Educação Ambiental desenvolvidas pela sua escola, buscando cuidar do
meio ambiente e aprendendo a importância de reciclar os resíduos sólidos. Observamos que muitos
afirmaram que as mudanças foram atingidas com as atividades postas em prática. Estas mudanças
supostamente surgiram das mudanças de percepção, de juízo, de apreciação e de ação, que segundo
Bourdieu (2001), acontece através de ações posteriores e que interferem nas práticas no modo de
vida social.
Na Tabela 3, os entrevistados responderam as melhorias que aconteceram nas escolas, a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1310


partir da Educação Ambiental.

MUDANÇAS SIM NÃO TOTAL


Houve melhoria no ambiente físico da escola 81% 19% 100%
Os alunos ficaram mais sensíveis à conservação do patrimônio da escola 81% 19% 100%
Há menos lixo na escola 48% 52% 100%
Há menos desperdício de água, luz e papel 60% 40% 100%
Os alunos dialogam mais 40% 60% 100%
Maior participação dos alunos nas aulas 64% 36% 100%
Melhoria nas relações entre alunos 64% 36% 100%
Melhoria nas relações entre alunos e professores 74% 26% 100%
Melhoria nas relações entre alunos e funcionários 62% 38% 100%
Maior número de trabalho de EA apresentados em feiras culturais ou de 64% 36% 100%
ciências
Atitudes mais solidárias no dia-a-dia das suas vidas 70% 30% 100%
As aulas são mais dinâmicas 54% 46% 100%
Tabela 3- Mudanças na escola em decorrência das práticas da EA. Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

Como vimos na tabela acima os alunos afirmaram que a Educação Ambiental promoveu
diversas melhorias no ambiente escolar, na produção de resíduos sólidos e na conservação da
estrutura escolar. Dentro desse contexto de mudanças, podemos notar a preocupação ambiental do
aluno como ser social. E estas práticas ou conhecimentos disponíveis em forma de cultura
concretizada, ligando a perspectiva natural e humana, e facilitando a construção de uma relação
com o desenvolvimento do mundo e a criação do seu ethos, estar contribuindo para a geração de um
habitus socioambiental (SILVA, 2006).
A educação ambiental contextualizada no cotidiano das escolas é um dos princípios da lei de
número 9.795 de 27 de abril de 1999. E de acordo com as respostas avaliadas, 68% dos
entrevistados afirmaram que suas escolas realizam aulas de campo. Essas aulas são realizadas com
maior frequência no próprio município (Rio Mossoró, no Aterro Sanitário e no assentamento rural a
Maísa. Aulas de campo fora da cidade, são raras, e os entrevistados citaram os municípios de
Martins e Portalegre (RN) acerca de 120 km de distância de Mossoró.
A prática de aulas de campo é uma etapa crucial para a EA, pois facilita na aprendizagem do
aluno, na sua relação com o meio ambiente e com o problema existente, ajudando para que ele
entenda de melhor forma as teorias e os processos que são lhes passado dentro de sala de aula,
reestabelecendo a ligação entre homem e natureza, há algum tempo quebrada. Neste sentido,
Moscovici (1977, apud REIS; BELLINI, 2011) defende a ideia de que natureza e sociedade não são
dois pares opostos, não devem ser pensados como uma oposição. Afirma que, sobretudo desde o
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1311
século XVIII, todo o nosso entendimento da natureza e da sociedade tem sido estruturado como
polos opostos e irreconciliáveis. É justamente contra esta perspectiva dicotômica e separadora, que
Moscovici se insurge, conforme Reis e Bellini (2011).

―Numa época em que a questão é mais a de defender a natureza contra o homem do que o
homem contra a natureza‖ é preciso estar atento e repensar esta dicotomia. Tanto mais que
―tudo que nos incita a por fim à visão de uma natureza não humana e de um homem não
natural‖. (MOSCOVICI,1977, apud REIS; BELLINI, 2011, p. 07).

Partindo-se do pressuposto de que na base da problemática ambiental está à relação homem


e natureza, sociedade humana-natureza, a estreita ligação do aluno com o meio natural, é essencial
para o entendimento da necessidade dessa relação entre ambos, sendo possível a afirmação que um
elemento pode possuir tanto ao meio artificial, como a meio natural. Onde o aluno deve se conhecer
e conhecer o meio em que está inserido para que possa aprender sobre a realidade ambiental de um
modo que ajude no fortalecimento dessa ligação.
Para Morin (2003), o conhecimento pertinente é aquele capaz de situar qualquer informação
no seu contexto e, se possível, no conjunto em que está inscrita. Para esse autor, o conhecimento
progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas, principalmente, pela capacidade
de contextualizar e englobar, ou seja, vale mais uma cabeça bem-feita que bem cheia. Ressalta,
ainda, que a percepção do local e do global pode fortalecer a relação de solidariedade entre os
cidadãos/cidadãs e a cidade.
Na perspectiva da EA contextualizada, esta pesquisa verificou que um pouco mais de 50%
das escolas desenvolvem o tema rio Mossoró, segundo os entrevistados (GRÁFICO 5). Ainda neste
tema no Gráfico 6, para 42,0% dos entrevistados, os estudos sobre o Rio Mossoró mudou a sua
maneira de vê-lo.

Gráfico 5- O tema rio Mossoró é desenvolvido Gráfico 6- Os estudos sobre o rio Mossoró mudou
nas escolas. a maneira do aluno vê-lo.
Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014. Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

E baseado nessas respostas adquiridas pela pesquisa de campo, 71,2% dos entrevistados
afirmam que antes de estudar e conhecer mais sobre o Rio Mossoró, a visão que tinha sobre o ele,
era que estava muito poluído e 2,6%, vê o rio igual ao que é visto atualmente (poluído). Já a maioria
dos alunos, responsável por 34,6%, não soube responder ou não respondeu como observa o Rio

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1312


após ter estudado sobre ele, porém 31,9%, afirma que mesmo após estuda-lo, o Rio Mossoró
continua sendo visto como muito poluído.
Ao serem questionados sobre que histórias conhecem a respeito do Rio Mossoró, 55% dos
entrevistados não souberam responder ou afirmaram não conhecer; 19,4% sabem que o rio é muito
poluído e para 19,4%, o rio era limpo e as pessoas usavam de modo errado, e 2,1% conhecem as
histórias das grandes inundações em épocas de chuva (GRÁFICO 7).

120
100 105
80
60 37 37
40 19,4 19,4 55,0
20 4
0 2,1 8 4,2 Entrevistados
Era limpo e Que é Porcentagem
as pessoas Que Importante Não soube
poluído inundava a para a
usavam responder
cidade população ou não
conhece

Gráfico 7- As histórias que os alunos conhecem a respeito do Rio Mossoró.


Fonte: Pesquisa de campo, 2013-2014.

CONCLUSÃO

Os resultados apresentados nesta pesquisa permite-nos afirmar que os ambientes das escolas
investigadas necessitam de investimentos tanto no aspecto físico, quanto no de ensino e
aprendizagem.
Segundo a pesquisa a metade dos entrevistados gostam da escola e a outra metade não gosta.
Quanto ao que mais gostam na escola, as respostas recaem nas relações sociais – gostam mais dos
funcionários e amigos; dos ensinamentos e das aulas de campo; e gostam menos do pouco tempo, do
intervalo, da merenda e da estrutura física da escola. Diante disso, o que mudariam na escola se assim
fosse; teve destaque a estrutura física das escolas.
No que diz respeito as atividade de Educação Ambiental realizadas na escola, uma grande
maioria dos entrevistados afirmam que sua escola desenvolve a EA, que segundo os mesmos, é o
ensinamento sobre a preservação do meio ambiente, sendo este à natureza, abrangendo a sua fauna e
flora. Afirmando ainda que estes ensinamentos são responsáveis por mudanças em seus
comportamentos.
Com relação aos assuntos mais desenvolvidos em sala de aula que decorrem da EA, foram
apontados como principais temas abordados, a preocupação das escolas com relação ao consumo
inadequado da água; a problemática com a poluição causada pela grande geração de resíduos sólidos
e seu descarte inadequado, ensinando-os a reciclar e a reutilizar; e a saúde e nutrição, como ponto
fundamental para uma boa qualidade de vida, inserindo a preocupação com o homem como parte das
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1313
questões ambientais. Os dois primeiros temas mais tratados em sala também são as principais
mudanças de comportamento apontadas pelos entrevistados.
Notamos também que foi apontado que a Educação Ambiental promoveu diversas melhorias
no ambiente escolar, nas relações sociais e na conservação da estrutura escolar, o que nos expõe que
a orientação comportamental está sendo inserida no aluno e trazendo bons resultados.
Quanto à contextualização da EA no cotidiano, mais da metade dos respondentes apontam
que as escolas desenvolvem aulas de campo, nas proximidades do Município de Mossoró, o que
facilita na aprendizagem do aluno, na sua relação com o meio ambiente e com o problema existente,
ajudando-o a entender melhor as teorias repassadas em sala.
Por fim, metade dos entrevistados asseguram que o tema rio Mossoró é desenvolvido na sua
escola, porém para a maioria, o estudo sobre o rio, não mudou sua maneira de vê e percebê-lo,
fazendo-os notar o rio com a mesma concepção que antes (muito poluído). E quando questionados
sobre que histórias conhecem a respeito do Rio Mossoró, mais da metade não souberam responder
ou afirmaram não conhecer, quanto aos que responderam, a maioria, sabiam que o rio era/é muito
poluído e que essa poluição aconteceu devido a ação antrópica.

REFERÊNCIAS

AUYERO, Javier. Vidas e Política das Pessoas Pobres: as coisas que um etnógrafo político sabe (e
não sabe) após 15 anos de trabalho de campo. Sociologias. Porto Alegre, 2011, p. 126-164.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/sociologias/article/view/24531>. Acesso em: 21 set. 2013.

BONIFÁCIO, Kallyne Machado; ABÍLIO, Francisco José Pegado. Percepção Ambiental dos
educandos de escola públicas - caso bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, Paraíba. REDE-
Revista Eletrônica do Prodema. Fortaleza. Vol. 5. n.2. p. 32-49. 2010. Disponível em: <
http://www.revistarede.ufc.br/revista/index.php/rede/article/viewFile/72/28>. Acesso em 21 jul.
2014.

BOURDIEU, Pierre. O ser social, o tempo e o sentido da existência. In: Meditações Pascalianas.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. Disponível em: <
http://pt.scribd.com/doc/64857887/BOURDIEU-Pierre-Meditacoes-Pascalianas>. Acesso em: 14
ago. 2013.

BRASIL. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/lei9795.pdf>. Acesso em: 05
jul. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1314


CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Atitude, comportamento e ação política: elementos para
pensar a formação ecológica. In: CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental:
a formação do sujeito ecológico. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2008. pág. 175-191.

FERNANDES, Roosevelt S. et al. Uso da Percepção Ambiental Como Instrumento de Gestão em


Aplicações Ligadas às Áreas Educacional, Social e Ambiental. In: II Enconttro da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 2004, Indaiatuba. II Encontro
da ANPPAS, 2004. Disponível em:
<http://www.redeceas.esalq.usp.br/noticias/Percepcao_Ambiental.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.

MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá
Jacobina. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. Disponível em:
<http://www.uesb.br/labtece/artigos/A%20Cabe%C3%A7a%20Bem-feita.pdf>. Acesso em: 26
jul. 2014.

REIS, Sebastiana Lindaura de Arruda; BELLINI, Marta. Representações sociais: teoria,


procedimentos metodológicos e educação ambiental. 2011. 11f. Acta Scientiarum. Human and
Social Sciences. Maringá, v. 33, n. 2, p. 149-159, 2011. Disponível em: <
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/viewFile/10256/pdf>
Acesso em: 15 set. 2013.

SATO, Michèle. Educação Ambiental. São Carlos: Editora Rima, 2004.

SILVA, Sérgio Luiz P. Habitus sócio-ambiental: Elementos de compreensão da representação


ambiental. Política e Trabalho. Revista de Ciências Sociais. 2006, p. 225-237. Disponível em: <
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&v
ed=0CBwQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.biblionline.ufpb.br%2Fojs%2Findex.php%2Fpol
iticaetrabalho%2Farticle%2Fdownload%2F6747%2F4186&ei=Sc7XU-
bUGOXNsQSEsoKYBw&usg=AFQjCNFKOws-
Pi5JL9xhvJ6dlOgP7_FlbQ&bvm=bv.71778758,d.cWc>. Acesso em: 20 ago. 2014.

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Pierre Bordieu: a teoria na prática. Revista de


Administração Pública, n. 40, p. 27-56, 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n1/v40n1a03.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2014.

TORRES, Maria Betânia R. As cidades, os rios e as escolas: um estudo das práticas de educação
ambiental nas cidades de Natal e Mossoró-RN. 2013. 227 f. Tese (Doutorado em Ciências

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1315


Sociais) - Programa de Pós-graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
2001.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1316


ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO PARA AS TARTARUGAS MARINHAS –
PRODUÇÃO DE FERRAMENTAS DIDÁTICAS E AÇÕES EDUCATIVAS NO
LITORAL DE PERNAMBUCO

Daliana Thaisa Maria Teles de Oliveira SOUZA


Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFRPE
daliana.teles@hotmail.com
Arley Cândido da SILVA
Presidente da ONG Ecoassociados
ecoassociados@bol.com.br
Ednilza Maranhão dos SANTOS
Doutora em Psicobiologia Departamento de Biologia/UFRPE
ednilzamaranhao@gmail.com

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo identificar atores e instituições que realizam trabalho de
conservação das tartarugas marinhas no estado de Pernambuco, com a finalidade de ajudar e/ou
contribuir com a instrumentalização pedagógica nas atividades de educação ambiental (EA).Com
base nos levantamentos secundários, foi possível registrar apenas uma ONG (Organização Não
Governamental) chamada de Ecoassociados que realiza ações de EA. Ao conhecer a instituição e a
realidade local, foi feito um intenso trabalho junto a Escola do município e crianças da comunidade
local, utilizando assim como espaço educacional a sede da própria ONG. Concomitantemente foram
planejadas e confeccionadas ferramentas para auxiliar nas atividades/ações de EA. Posteriormente,
durantes os dias 20 e 26 de maio/2014 foi realizado atividades diretamente ligadas a Educação
Ambiental com escolares. Um total de sete turmas do 4º ano e 123 alunos participou das atividades.
Essas foram divididas em quatro etapas que contou com apresentação das espécies, músicas,
brincadeiras, banners explicativos e exposição das peças anatômicas, tudo envolvendo tartarugas,
além da observação direta dos animais/filhotes vivos. Os alunos representaram o que aprenderam
através de desenhos o que foi importante também na avaliação dessas ações. De uma maneira geral,
eles ficaram encantados em participar, principalmente durante a visualização dos animais vivos.
Nas representações os conteúdos que chamaram mais a atenção deles foram a reprodução, as
diferenças entre as espécies e a conservação, essa última sendo evidenciadas com desenhos de
placas e frases de proteção do ambiente marinho e praias. Por fim cada aluno levou para casa um
livreto contendo, de forma interativa, as informações aprendidas.
Palavra chave: Testudines, Educação Ambiental, Crianças

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1317


ABSTRACT
This article aims at identifying actors and institutions that perform the work of conservation of sea
turtles in the state of Pernambuco, with the aim of helping and / or contribute to the pedagogical
exploitation in environmental education activities (EA) based on surveys .Com side, it was only
possible to register an NGO (Non Governmental Organization) called Ecoassociados that performs
actions of EA. By knowing the institution and local realities, intensive work has been done with the
municipality and the school children from the local community, using educational space as the
headquarters of the NGO itself. Concomitantly were planned and prepared tools to assist in the
activities / actions of EA. Later, during the years 20 and 26 may / 2014 was carried out activities
directly related to Environmental Education with school. A total of seven classes of 4th year and
123 students participated in the activities. These were divided into four stages which included
presentation of the species, songs, games, banners and explanatory exposition of anatomical parts,
all involving turtles, as well as direct observation of animals / live young. Students represented their
learning through drawings what was also important in the evaluation of these actions. In general,
they were delighted to participate, especially when viewing live animals. Representations in content
that caught their attention most were playing, the differences between species and conservation, the
latter being evidenced with drawings of plates and phrases protection of the marine environment
and beaches. Finally each student took home a booklet containing, interactively, the information
learned.
Keyword: Testudines, Environmental Education, Children

INTRODUÇÃO

As tartarugas marinhas estão entre os animais mais antigos do planeta, com a sua origem há
mais de 150 milhões de anos, que nidificam em pontos estratégicos na nossa costa e contribuem
para manutenção da cadeia trófica marinha, sendo agentes bioindicadores e biocontroladores,
todavia correm risco extinção. São animais migratórios, passando a vida toda no mar e saindo
apenas da água para desovar (Epperly & Frazier, 2000). Atualmente, as principais ameaças para a
sobrevivência destes animais têm sido o aumento do uso das artes de pesca e as alterações do meio
(Wetheralletal,1993). A captura incidental por equipamentos de pesca prejudica a sobrevivência dos
mesmos, podendo provocar a morte por afogamento, mutilações ou ingestão de anzóis (Pupoetal,
2006), atingindo principalmente a população de juvenis (Sales et al., 2008).
As tartarugas marinhas são ―répteis‖ que estão distribuídos, principalmente, nas faixas
tropical e subtropical do planeta. Existem sete espécies no mundo, das quais cinco ocorrem no
litoral brasileiro e quatro dessas ocorrem no Estado de Pernambuco Caretta caretta (Linnaeus,
1758), Chelonia mydas (Linnaeus, 1758), Lepidochelys olivácea (Eschscholtz, 1829) e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1318
Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766) (Reptile-Database, 2008), sejam registros reprodutivos,
ou não reprodutivos (Moura et al., 2011). Nos últimos anos, essas espécies vêm sofrendo sérias
ameaças, principalmente com o desenvolvimento das atividades econômicas e a consequente
exploração dos recursos naturais, levaram o homem a utilizar o ambiente de forma indiscriminada.
O crescimento desordenado e a ocupação irregular e destruição das áreas naturais de nidificação são
fatores que afetam direto e indiretamente a nidificação de tartarugas marinhas, havendo a
necessidade de uma intervenção e sensibilização para esse fato.
No decorrer dos anos, o conhecimento sobre o meio ambiente vem mudando e muita atenção
tem sido dada a conservação das tartarugas marinhas. Esse problema ambiental deixou de ser
discutido apenas em Universidades, mas passou a ser uma questão de toda a sociedade, sendo a
educação ambiental necessária principalmente nas áreas de nidificação (Seabra, 2013).
Uma das ações mais importante para conservação das tartarugas é a educação ambiental,
principalmente quando envolvendo escolas, crianças e adolescentes que residem próximo às áreas
de nidificação (Tamar, 2006). Entre os exemplos notórios de intervenção com (E.A) podemos citar
o Projeto Tamar, que de acordo com a portaria nº 186/90, no artigo 4º, vem desenvolvendo
programas de conscientização ambiental, adaptados às realidades regionais e manejos de tartarugas
marinhas (Suassuna, 2004).
Em decorrência da ausência de trabalhos que fortaleçam a área de meio ambiente, e
juntamente com a desordenação e degradação ambiental das praias, foi pensado em ações que
possibilitasse o conhecimento da situação das tartarugas no litoral de Pernambuco com a finalidade
de reconhecer e auxiliar atores ou instituições que desenvolvem ações conservacionistas e
educativas, com o objetivo de fortalecer e/ou auxiliar as atividades pedagógicas, valorizando os
saberes locais sobre as tartarugas marinhas.

METODOLOGIA

Área de estudo

A área de estudo localiza-se no município do Ipojuca (08°24‘25‖S; 35°03‘45‖W), a cerca de


40 km ao sul do Recife, capital do estado de Pernambuco, Brasil (Fig. 01 A-B). Apresenta 32 km de
área litorânea, sendo que em 12 km são registrados desovas de tartarugas marinhas. Nessa área a
cerca de uma década a Organização não Governamental Ecoassociados (Fig. 01 C), vem
monitorando atividades de nidificação de Tartarugas Marinhas. A área de praia onde as tartarugas
nidificam, possui grande pressão antrópica, é caracterizado por apresentar construções desordenadas
ao longo da orla, elevado índice turístico e alta exploração de turismo devido à beleza natural
composta por corais e águas claras (Cesar, 2007).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1319


Figura 01. Área de localização da ONG Ecoassociados. A – Mapa do Brasil, B – Mapa de Pernambuco com
destaque para Ipojuca, C - Sede da ONG Ecoassociados em Porto de Galinhas.
Fonte: http://commons.wikimedia.org e Ecoassociados.

A ONG Ecoassociados desde sua fundação exerce trabalhos com a conservação das
tartarugas marinhas que desovam na localidade. Realizam o trabalho de monitoramento noturno e
acompanha as desovas até o momento da eclosão dos neonatos. Localiza-se na Praia de Porto de
Galinhas, a qual é considerada uma das melhores do nordeste, pois apresenta recifes que servem de
substrato para o desenvolvimento de corais e algas que são usadas na alimentação das tartarugas
marinhas. A Ecoassociados conta com uma sede em Porto de Galinhas, onde possui um acervo de
peças morfológicas externas e internas das tartarugas marinhas que fazem parte do museu, conta
também com um salão para exposição das peças e local para realização de palestras, sua área
externa é bem ampla o que possibilita a realização de atividades.
Possuindo vários tipos de atividades econômicas, a qual algumas fazem uso dos recursos
naturais existentes na localidade. Sua população composta por jangadeiros, buggueiros, pescadores,
pessoas que atuam na rede hoteleira local, refinaria e estaleiro, tornam a educação ambiental cada
vez mais necessária nessa região.

Delineamento das atividades

Ao identificar a ONG-Ecoassociados como instituição referência na conservação de


tartarugas marinhas no estado de Pernambuco, foi feito o acompanhamento e participação nas suas
atividades de monitoramento e educação ambiental, como também o reconhecimento da
comunidade local. Posteriormente um levantamento sobre atividades lúdicas envolvendo as
tartarugas foi feita através de buscas na internet, além de atividades criadas nesse projeto.
Concomitantemente essas atividades eram repensadas, com o objetivo de estarem totalmente

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1320


relacionada a realidade local de Porto de Galinhas. Foi utilizado nas atividades materiais como
papel branco, lápis de cera, data show e aparelho de som.
Foi feito o levantamento do número de escolas existentes na região, e encontramos apenas
duas que fazem parte da rede publica e são relativamente próximas as áreas de nidificação. Optou-
se por trabalhar, inicialmente, com a Escola Drº Manoel Luiz Cavalcanti Uchoa, a qual as crianças
que estudam lá a maioria são filhos de jangadeiros, buggueiros, pescadores e moradores locais que
tem sua renda familiar gerada através de atividades ligadas a praia com uso de recursos naturais.
Posteriormente foram planejadas as atividades, além da confecção das ferramentas, como vídeos
interativos, organização das peças, banners e brincadeiras,.
As atividades foram divididas em quatro etapas e realizadas durante os dias 20 e 26 de
maio/2014. A primeira etapa foi a apresentação e atividades dialogadas com as crianças (Fig 02 A)
que teve como recursos exposição de imagens e som, como tema: Conhecendo melhor as tartarugas
marinhas de Porto de Galinhas – PE, a apresentação abordou a vida (habitat, reprodução,
alimentação), espécies, ameaças, importância, e histórico da ONG-Ecoassociados. Uma
apresentação rica em imagens, tentando aproximar o máximo possível da realidade. A atividade
consistiu em explicação das imagens e perguntas, provocando assim um debate entre as crianças.
Como encerramento foi utilizado um vídeo com uma música da coleção Habitantes do fundo do
mar (Fig. 03) o mesmo retratava a vida das tartarugas marinhas desde nascimento, até seu
crescimento e retorno a praia que nasceu para realizar a sua desova.
Na segunda etapa foram desenvolvidas atividades práticas como observações das peças que
compõe o museu da ONG Ecoassociados (Fig. 02 B) de algumas espécies de tartarugas marinhas,
como por exemplo, cascos das espécies Eretmochelys imbricata, Chelonia mydas, Lepdochelys
olivacea e Caretta caretta, ovos que não eclodiram, crânios das quatros espécies citadas
anteriormente, filhotes e ovos acondicionados em potes, cascas de ovos, estrutura interna de uma
nadadeira e materiais biológicos. Essa etapa tinha como objetivo expor as características da
morfologia externa desses animais.
Na terceira etapa foi feita uma roda e proposto aos alunos a produção de desenhos (Fig. 02
C), onde os alunos iriam retratar o que aprenderam durante aquele momento de atividades, foi
entregue a cada um uma folha de oficio A3 e lápis de colorir de madeira e cera, durante a atividade
buscou-se a fixação dos assuntos abordados anteriormente.
Na quarta etapa os alunos se dirigiram até a parte externa do projeto onde observaram alguns
filhotes vivos de tartarugas marinhas (Fig. 02 D), que estavam em processo de reabilitação, durante
esse momento algumas duvidas surgiram e as mesmas foram esclarecidas, após, os alunos se
dirigiram novamente para o salão, foi feita uma avaliação e sondagem na verificação de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1321


aprendizagem dos mesmo, finalizando eles receberam uma cartilha de atividades para fazerem em
casa que teve como conteúdo as tartarugas marinhas.

Figura 02 – Etapas das Atividades aplicadas nos dias 20 e 26 de maio de 2014. A – Palestra, B – Observação
das peças anatômicas do museu, C – Produção de desenhos com base no conteúdo que foi abordado, D –
Observação dos animais vivos que estavam em reabilitação. Fonte: Ecoassociados 2014

Figura 03 - O presente vídeo trás imagens do ambiente marinho que a tartaruga vive e retrata o seu ciclo de
vida, desde seu nascimento, passando por todas as ameaças até chegar na sua fase adulta e retornar a praia
que nasceu para realizar sua desova. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=FIrXerL1z-c

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de sete turmas do 4º ano participou das atividades realizadas nos dias 20 e 26 de
maio/2014 totalizando assim 123 alunos, moradores da comunidade local e entornos da Escola
Municipal Drº Luiz Cavalcanti Manoel Uchoa. Os alunos tinham idade entre 9 e 14 anos. As
atividades tiveram inicio no horário da manhã às 8:00 h e se estenderam até às 10:30h e a tarde das
14:00 às 16:30 . No dia 20 de maio recebemos uma turmas no turno da manhã e 2 turmas no turno

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1322


da tarde, bastante participativas e interessadas. No dia 26 de maio, recebemos 2 turmas de manhã e
2 turmas a tarde, foi uma quantidade bem maior de alunos, porém bem participativos.
De um modo geral eles foram bem atentos as explicações, participando bastante e realizando
diversas perguntas, entre elas destacam-se as referentes ao cuidado parental, período de incubação
dos ovos, principais animais predadores de tartarugas marinhas e a origem dos nomes populares. A
cada nova imagem eles ficavam mais atentos e entusiasmados, principalmente no momento onde as
ameaças foram evidenciadas. Os alunos participaram também através de depoimentos de algumas
situações já presenciada pelo os mesmos envolvendo tartarugas. Ao falar sobre o trabalho
desenvolvido pelo Projeto Ecoassociados, alguns alunos já conheciam e inclusive já presenciaram
algumas das ações da ONG em campo, como soltura de filhotes e resgate de animais debilitados.
Finalizando com vídeo e música sobre as tartarugas marinhas, os alunos participaram bastante,
todos ficando em pé, cantando a música e relacionando com o que aprenderam durante a palestra.
 Letra da música abordada no vídeo:

Tá,tá,tá Mas nasceu na terra


Tá,tá,tá,tá Num buraco na praia
TARTARUGA Todo cheio de areia
Tá,tá Ela nada tão bem
Tá,tá,tá,tá Nas correntes do mar
TARTARUGA... Já nadou quase o mundo inteiro
Ela mora no mar Tem histórias, pra contar

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=FIrXerL1z-c – Acessado em: 06/07/2014

Os alunos demonstraram bastante curiosidade ao chegar perto das peças anatômicas, sempre
questionando se as mesmas eram verdadeiras, como exemplo, sobre o tamanho real dos cascos,
onde foram coletadas, morfologia dos filhotes e coloração. Deu pra perceber que eles lembravam
sobre o que tinha sido falado durante a palestra, fazendo alguma relação com o dia a dia deles.Os
mesmos ficaram bem a vontade para desenhar e colorir, sempre buscando características próprias
para diferenciação das espécies, querendo reproduzir as imagens da apresentação e das peças do
museu, em cada desenho foi possível perceber o que mais ficou marcado em cada um deles, no
entanto foi o conteúdo Características e Reprodução que mais foi representado nos desenhos
(Tab.01).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1323


DESENHO TURMA CARACTERÍSTICA DO
DESENHO

4º ano ―E‖ Mostra as 5 espécies de tartarugas


marinhas que existem no Brasil.

4 ano ―G‖ Retratação das quatro espécies que


ocorrem em Pernambuco.

4º ano ―F‖ Tartaruga em seu Habitat natural.

4º ano ―A‖ Ciclo de vida. Desova, ação da


ONG Ecoassociados isolado e
marcando o ninho para realizar o
seu monitoramento.

4º ano ―B‖ Ciclo de vida. Eclosão dos ovos,


caminhada das tartarugas até o
mar.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1324


4º ano ―D‖ Ciclo de vida. Tartaruga realizando
a desova na praia.

4º ano ―A‖ Tartaruga de Pente, retornando ao


mar.

Tabela 01. Representação de alguns desenhos feitos por crianças da Escola Municipal Drº Luiz Manoel
Cavalcanti Uchoa em Porto de Galinhas, Ipojuca/PE 20e 26 de maio de 2014.

Durante a observação dos animais vivos (Fig. 04), os alunos ficaram totalmente
deslumbrados, foi ressaltado que a espécie a Eretmochelys imbricata, conhecida como Tartaruga de
Pente é a que mais desova no litoral de Ipojuca e a que está mais ameaçada, classificada de acordo
com a IUCN (2012) como criticamente ameaçada de extinção.

Figura 04 - Observação de animais vivos, filhotes de Eretmochelys imbricata, que estavam em processo de
reabilitação para melhor e depois ser soltos no seu habitat natural, Ecoassociados, Porto de Galinhas, PE.
Fonte: Ecoassociados.

Quanto às representações através dos desenhos foram possíveis evidenciar que os assuntos
em destaque foram a reprodução e o cuidado em proteger as tartarugas. No final ao receber a
cartilha os alunos ficaram bem entusiasmados a fazer as atividades propostas pela cartilha, que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1325


foram distribuídas para todos e a partir daí vários alunos já saíram cantando a musica completa.
Para (Ceccon,2008), é preciso fazer com que os alunos entrem em contato com os elementos
naturais, pois quando as experiências educativas assemelham-se às situações reais em que os alunos
participam, mais fácil se tornará a concretização do aprendizado.
Assim após a conclusão das atividades os alunos puderam refletir e correlacionar sobre os
problemas ambientais e o futuro do nosso planeta, e ter uma visão mais abrangente sobre a
importância de preservar e cuidar do ambiente e dos animais.Concomitantemente foram instigados
a se tornarem parceiros do Projeto Ecoassociados, fazendo sua parte avisando a equipe sobre
alguma ocorrência, não jogando lixo no chão sempre mantendo a praia limpa, ajudando assim na
conservação das tartarugas marinhas. A educação sozinha não muda o mundo, mas pode influenciar
na mudança de hábitos das pessoas (Teles 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental é de grande importância para a mudança de hábitos das pessoas,


através dela pode-se proporcionar novas atitudes que beneficie o meio ambiente e a sociedade. Esse
trabalho deve ser continuo e renovado.
Essa educação influência diretamente o modo de viver da sociedade, desenvolvendo os
hábitos de responsabilidade, de respeito com os homens e com os outros componentes da natureza,
preservando de forma consciente os recursos naturais e respeitando os ciclos de renovação e
reciclagem natural (Funicelli e Stori, 2008).
A experiência vivenciada durante a realização das atividades na Ecoassociados em Porto de
Galinhas foi de grande importância e significância. O espaço deve ser adicionado como rota eco
educativa no calendário educacional das escolas, tornando-se um espaço referência no trabalho de
educação ambiental e conservação principalmente das espécies marinhas que estão ameaçadas. É
necessária uma organização pedagógica mais efetiva, porém o projeto ainda precisa de mais
parceiros que possam dar esse suporte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CECCON, S. Dinâmicas de grupo como ferramentas didático-pedagógicas para ensino médio de


biologia. VIII Congresso Nacional de Educação, Formação de professores, 2008.
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdfPCN Meio Ambiente. Acesso em:
25/09/2014, 19:52h

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1326


CESAR, B. C. A. Avaliação da temporada de desova das tartarugas-de-pente (Eretmochelys
imbricata), evidências de poluição luminosa e perda de habitat em Ipojuca, PE. 2007. 48p.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.

EPPERLY, S.; FRAZIER, J. 2000.Resolutions of the Members of the 20th, Annual Symposium on
Sea Turtle Biology and Conservation Marine Turtle Newsletter88: 22-26.

FUNICELLIi, A. C. dos; STORI, N. Desafios Frente ao Processo Educativo: Considerações


Gerais. Revista Educação, v.3, n.1, p.35-43, 2008.

International Union for Conservation of Nature - IUCN 2012.Red List of Threatened Species.
Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/apps/redlist/details/8005/0>. Acesso em:
25.09.2014.

PUPO, M. M.; SOTO, J.M.R.; HANAZAKI, N. (2006) – Captura incidental de tartarugas


marinhas na pesca artesanal da Ilha de Santa Catarina, SC. Biotemas (ISSN: 0103 – 1643),
19(4):63-72, Florianópolis, SC, Brasil. Disponível em:
http://www.biotemas.ufsc.br/volumes/pdf/volume194/p63a72.pdf

SALES, G.; GIFFONI, B. B.; BARATA, P. C. R. (2008) – Incidental catch of sea turtles by the
Brazilian pelagic longline fishery. Journal of the Marine Biological Associationof the United
Kingdom, 88(4):853-864. doi: 10.1017/ S0025315408000441.

SUASSUNA, D. A Educação Ambiental e o Projeto Tamar. Ambiente e Educação, Rio Grande


Revista de Educação Ambiental, v.9, n.1, p. 55-67, 2004.

SEABRA, G. Educação Ambiental, conceitos e aplicações. 2013. Editora UFPB, João Pessoa-PB.

TAMAR, 2006. As tartarugas marinhas no Brasil: estado da arte. Projeto Tamar- Ibama, 155 p.

TELES, A. M. O. A dimensão subjetiva na educação ambiental. Revista Brasileira de Educação


Ambiental, v.5,n.1,p.55-61,2010.

WETHERALL, J. A.; BALAZS, G. H.; TOKUNAGA, R. A.; YOUNG, M. Y. Y. (1993) – By


catches of marine turtles in North Pacific high-seas driftnet fisheries and impacts on the stocks.
International North Pacific Fisheries Commission Bulletin(0074-7157), 53(3):519-538,
Vancouver, Canadá. Disponível em:
http://www.npafc.org/new/inpfc/INPFC%20Bulletin/Bull%20No.53/Bulletin53(II).pdf

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1327


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO GEOPARK ARARIPE: UMA ANÁLISE DAS AÇÕES E
PROJETOS DESENVOLVIDOS

Fernanda dos Santos OLIVEIRA56


Graduanda em Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri
fernadabarbalha@gmail.com
Lazaro Ranieri de MACEDO57
Pós Graduado em Educação Física
Maria Neuma Clemente GALVÃO58
Doutora em Educação, Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do
Cariri

RESUMO
O presente trabalho faz um registro sobre o que é um geoparque, sua importância e apresenta o
Geopark Araripe, localizado no Cariri Cearense, conceituando e mostrando o trabalho de Educação
Ambiental (E.A) que está sendo desenvolvido nessa região. O que podemos chamar de geoparque é
um território com limites definidos que possui um patrimônio de grande valor científico, cultural,
religioso, ambiental, arqueológico, geológico e paleontológico. O Geopark Araripe está localizado
ao sul do Estado do Ceará a aproximadamente 530 km da capital Fortaleza, região plena de
curiosidades da natureza, habitada por um povo cordial e alegre, com uma cultura ímpar de cores e
sabores. Este possui ainda um notável patrimônio geológico ao qual está aliado a um trabalho de E.
A nas escolas e comunidades das cidades que o compõem. O objetivo das ações deste setor é
fortalecer a sustentabilidade regional baseada em atividades de geoconservação, geoeducação e
geoturismo. Esse artigo teve a finalidade de registrar, descrever e analisar os projetos desenvolvidos
na área supracitada do Geopark Araripe. A metodologia teve como base a pesquisa qualitativa e
participante. Os resultados parciais mostram que o setor da E.A do Geopark Araripe vem
desenvolvendo junto a professores, estudantes e comunidade em geral deste território ações
educativas que tem possibilitado uma aprendizagem significativa e prazerosa. O intenso trabalho
realizado por meio do projeto ―Geopark nas Escolas‖ se caracteriza por ações como palestras,
oficinas e apresentações de vídeos que proporcionam essa formação pedagógica e de cidadania de
modo conjunto. Há também a ―Colônia de Férias‖, nas proximidades dos geossítios, que são
constituídas por atividades das oficinas de réplicas de fósseis e de bonecos com reaproveitamento
de material. A comunidade é atendida pelo projeto ―Geopark na Comunidade‖.
Palavras-chave: Geopark Araripe, Educação Ambiental, Formação, Educação.

56
Estagiária do Geopark Araripe
57
Educador Ambiental do Geopark Araripe
58
Orientadora e Coordenadora de Educação Ambiental do Geopark Araripe

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1328


ABSTRACT
This paper registers information about what a geopark is and about its importance and presents the
Geopark Araripe, located in Cariri, Ceará. Besides, it conceptualizes and presents the
Environmental Education (E.E.) work which is being developed in this region. What we call
"geopark" is a territory with defined boundaries that has a patrimony of great scientific,
cultural, religious, environmental, archeologic, geologic and paleontological value. Geopark
Araripe is located in the south region of Ceará state, approximately 530 km from the capital
Fortaleza. This region is full of curiosities about nature, inhabitated by cordial and joyful people,
with a particular culture of colors and flavors. This geopark has a notable geological patrimony
wich is combinated with an E.E.'s work in the schools and communities from the cities which
compose it. The aim of this sector's actions is to strenghthen the regional sustainability based in
geoconservation, geoeducation and geoturism activities. The aim of this article is to register,
describe and analyse the projects developed in the mentioned area of Geopark Araripe. The
methodology has as a basis, the qualitative and participant research.The partial results shows that
the E.E's sector of Geopark Araripe is developing, with teachers, students and the whole community
in this territory, educative actions which have been allowing a joyful and significative learning.
The intense work developed by the project " Geopark in the schools" is characterized by actions
such as lectures, workshops and video presentations which provide this pedagogical formation and
citizenship. There is also the "Vacation Camping", next to the geosites, which are constituted by
workshops of fossils replica and dolls made with the material reutilization. The community is
attended for the project "Geopark in the Community".
Keywords: Geopark Araripe, Environmental Education, Education, Education.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz um registro do que é um geoparque sua importância e sobre o


Geopark Araripe (G.A) no Cariri Cearense, conceituando e mostrando o trabalho de Educação
Ambiental (E.A) que está sendo desenvolvido nessa região.
O que podemos chamar de geoparque é um território com limites definidos, o qual possui
um patrimônio de grande valor cientifico, cultural, religioso, ambiental, arqueológico, geológico e
paleontológico. Nesse território está localizado um determinado números de sítios geológicos e
paleontológicos, selecionados de acordo com a sua importância e características para a história da
terra. O Geopark Araripe está localizado ao sul do Ceará a aproximadamente 530 km da capital
Fortaleza. Essa é uma região plena de curiosidades da natureza, habitada por um povo cordial e
alegre, com uma cultura ímpar de cores e sabores. O local possui ainda um notável patrimônio

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1329


geológico aliado a um trabalho de E.A nas escolas e comunidades, o qual fortalece as noções de
sustentabilidade regional, baseadas em atividades de geoconservação, geoeducação e geoturismo.
Os municípios pertencentes ao G.A e seus respectivos geossítos são Juazeiro do Norte
(geossítio Colina do Horto), Missão Velha (geossítios Cachoeira de Missão Velha e Floresta
Petrificada do Cariri), Crato (geossítio Batateira), Nova Olinda (geossítio Pedra Cariri e Ponte de
Pedra), Santana do Cariri (geossítio Parque dos Pterossauros e Pontal de Santa Cruz), Barbalha
(geossítio Riacho do Meio).
Na região que é composta por estes municípios são desenvolvidas atividades relacionadas à
E.A, tais como cursos de formação pedagógica sobre o G.A, que são ministrados aos professores e
gestores. Há também palestras, minicursos, oficinas de réplicas de fósseis, teatro de bonecos,
brinquedos, biojóias, livros de panos , produção de sabão artesanal, exposições, cujo público alvo
inclui, além dos professores e gestores, os alunos e habitantes das comunidades desses municípios.
Os projetos ―Colônia de férias‖, ―Geopark na Comunidade‖, ―Geopark nas Escolas‖, além
das blitz ambientais voltadas para crianças, jovens e adultos em diferentes ambientes também são
ações criadas pelo setor da E.A. Este conta ainda com um Centro de Interpretação e Educação
Ambiental (CIEA), aberto para a recepção de alunos de escolas, universidades e população em
geral, promovendo o conhecimento sobre história da terra, do meio ambiente e da cultura. O CIEA
funciona com exposições permanentes e de vídeos, incluindo oficinas (as citadas no parágrafo
anterior) que são ofertadas às escolas que agendam previamente definindo as características do
público alvo.
Diante deste cenário, os três autores deste trabalho, respectivamente atuando como bolsista
estagiária, técnico da E.A e a coordenadora desta instituição no setor de E.A, percebendo a
necessidade de se criar registros escritos que reunissem todas as ações e projetos desenvolvidos na
área da educação ambiental do Geopark Araripe. Isso é importante, porque mostra a trajetória das
ações desenvolvidas na área da E.A, proporcionando aos professores, estudiosos, comunidade e
estagiários, um fazer educativo, com registro dos conteúdos aqui trabalhados, dados dos números de
visitantes e público atingido com as ações deste setor. A finalidade se justifica por si mesma:
 Aprofundar em relação aos registros dos resultados alcançados pelo Geopak Araripe no
tocante a população atingida no decorrer de seus projetos especialmente em 2012 e 2013;
 Registrar as ações desenvolvidas pela equipe da E.A;
 Analisar como acontece a E.A no Geopark Araripe.
A metodologia teve como base a pesquisa qualitativa e participante, segundo Lüdke (1986,
p.18,) ―é o que se desenvolve numa situação natural; é rico em dados descritivos, tem um plano
aberto e flexível focalizando a realidade de forma contextualizada‖.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1330


AÇÕES E PROJETOS

Nos últimos quatro anos a equipe da E.A tem desenvolvido projetos e ações de educação
formal e informal, em parcerias com as instituições de educação do território do G.A,
proporcionando o conhecimento relacionado aos temas desse geoparque para a sociedade.
Os objetivos estratégicos do Geopark Araripe são:
 Contribuir na disseminação dos conhecimentos em relação à E.A para a população em geral,
sobre seu território;
 Contribuir para a formação da equipe da E.A do G.A, além dos professores, gestores e
alunos do território, incentivando-os a serem agentes multiplicadores;
 Promover a interação da comunidade com o Geopark Araripe, acolhendo demandas e
estimulando novas iniciativas;
 Integrar, reforçar e dinamizar o trabalho em redes socioeducativas;
 Promover um espaço aberto para novas práticas pedagógicas, fortalecendo e criando centros
de interpretação e educação ambiental no território. Assim como elaborando programas e
ações de educação arqueológica, museológica, patrimonial e em geociências;
 Colaborar na produção de material didático-pedagógico;
 Dinamizar a relação dos projetos de extensão e pesquisa que envolve o G.A;
 Incentivar projetos e pesquisas acadêmicas aplicadas e relacionadas às temáticas do G.A; e,
 Promover capacitações internas com a equipe de trabalho dos demais setores do G.A.
A E.A realiza oficinas com temas voltados para a educação ambiental na busca de construir
junto aos educadores e educandos do território do G.A, ações educativas que possibilitem a
aprendizagem significativa e prazerosa. Dentre os principais objetivos destas ações, está a inserção
do educando no processo de ensino-aprendizagem de forma ativa e participativa, com uso de
materiais que despertem sua curiosidade e criatividade, proporcionando, dessa forma, a construção
efetiva de conhecimentos ambientais.
As oficinas, por exemplo, tem o intuito de despertar no educando, nos professores e na
comunidade em geral, a importância do G.A e a construção de uma educação ambiental que
possibilite a mudança de hábitos. Além de relacionar pequenas atitudes do dia-a-dia com a
sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida.
Na elaboração da proposta dessas oficinas, foi priorizada essa preocupação de desenvolver
um trabalho dentro de uma linha pedagógica que insere o estudante de forma reflexiva e
participativa no processo e contextualização do conteúdo sistematizado com a realidade vivenciada
no dia a dia.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1331


Esse trabalho é dividido em três momentos (independente do tipo de Oficina ofertado): no
primeiro, realizamos uma contextualização entre a relação dos objetos a serem construídos e os
conteúdos ambientais e das diversas áreas de ensino que envolvem o tema geral de modo
interdisciplinar; no segundo momento, ensinamos a construção dos objetos, trabalhando as
habilidades e criatividade; e, no terceiro momento, a apresentação dos objetos utilizando-os como
instrumentos de ensino na construção da relação sustentável do homem com os espaços de seus
diversos ambientes.
O processo de desenvolvimento de cada oficina ocorre da seguinte maneira:

Oficina de Réplica de Fósseis

A oficina de réplicas de fósseis inicia-se mostrando a importância de preservar os fósseis da


Chapada do Araripe, destacando a função das réplicas no combate ao tráfico dos mesmos. Estes são
peças que registram milhões de anos de valiosas informações sobre a formação geológica da Terra e
a evolução da vida no planeta.
Sobre as condições que propulsionaram o surgimento dos fósseis, faz-se necessário lembrar
que

A bacia do Araripe é um lugar diferenciado, quando se trata de paleontologia, por que


existe um grande número de exemplares fósseis, na casa dos bilhões. Esse lago antigo
apresentava todas as condições para a formação de fósseis, na época em que a região era
formada por um conjunto de lagos, geralmente interligados, ou um grande lago sob
influência marinha. Nesse ambiente aquoso, aconteciam eventualmente variações
ambientais, como variação da temperatura da água ou da salinidade. Essas variações
causavam a morte da maioria dos seres que estavam nesse ambiente, até mesmo dos que se
alimentavam de cadáveres. Quando os cadáveres caíam no fundo do lago, eram cobertos
pela precipitação do carbonato de cálcio, uma substância semelhante à cal, mudando a sua
composição química e preservando-os até os dias de hoje. (SARAIVA 2011. p. 42-43).

Retornando às etapas da Oficina de Réplicas, após as devidas explicações sobre os fósseis,


prepara-se a massa constituída de água, gesso e um pouco de pó xadrez para dar a cor característica
do calcário laminado. Em seguida, colocamos a massa nas formas e verificamos se não ficaram
bolhas de ar na mesma. Depois de alguns minutos retira-se o gesso já no formato desejado e leva-se
ao sol para secar. Quando seco, é o momento de iniciar-se o processo de pintura da peça, sempre
verificando se a cor está de acordo com a do fóssil original que dele foi feito uma forma de silicone
para ser a base da constituição desta réplica. Ao secar a tinta, passa-se verniz para dar brilho e já
seco, coloca-se a etiqueta de identificação no verso da réplica. Para finalizar, isolamos com plástico
filme para proteger a peça.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1332


Oficina de Teatro de Bonecos

Na Oficina de Teatro de Bonecos as crianças, jovens ou adultos constroem seus próprios


personagens utilizando materiais recicláveis. Quando concluem, usam a imaginação para produzir
histórias, a partir de temas como, água, animais, queimadas, ar, solo, aves, entre outros temas
ligados ao Meio Ambiente.
A Oficina é iniciada falando sobre a história do Teatro de Bonecos e em seguida ressaltam-
se as várias maneiras que podem ser utilizadas para contar histórias e divulgar o G.A através desses
personagens criados. A composição desses bonecos inclui o uso da garrafa pet e os mesmos são
feitos dessa forma: Pegamos uma garrafa pet pequena e a revestimos com jornal com a ajuda de
cola. Logo após secar, pode-se então pintar de uma cor similar à pele humana. Com papel higiênico
amassado e modelado, fazemos a boca, nariz e olhos e, em seguida, pinta-se a peça. Com a lã
confeccionam-se os cabelos, finalizando a cabeça. Com o tecido e cola, criamos o corpo do boneco
através de uma roupinha. Em seguida, com papelão fazem-se as mãos dos bonecos, que são
pregadas na roupa. Depois, ensinamos o uso do palco e das cenas teatrais na prática.
Com a Oficina de reutilização de materiais recicláveis e artes (brinquedos) procuramos
sensibilizar as crianças a cerca da problemática dos resíduos sólidos no território do G.A. Em
seguida inicia-se a prática descrita no parágrafo anterior, quando as crianças conhecem os diversos
tipos de materiais e serem usados com sua criatividade para confeccionar outros objetos,
proporcionando o desenvolvimento de habilidades e novos meios de convivência com o meio
ambiente. A esse tipo de despertar de criatividade com os materiais reutilizáveis, a garrafa pet, por
exemplo, os outros objetos que podem ser criados são: jarros, enfeites, borboletas, tartarugas etc.
Muitos objetos podem surgir como novidades nessas oficinas, depende apenas da criatividade de
cada um.
Após criar o objeto, cada criança utiliza tinta guanche para colorir à sua a vontade a obra de
sua criação.

Oficina de Biojóias

A Oficina de Biojóias se caracteriza por peças produzidas a partir de recursos naturais como:
pedras, cascas, resinas, madeiras, frutas, sementes, metais e outros. São peças atóxicas, antialérgicas
e encontradas na natureza, que dão formas a colares, pulseiras, brincos, cintos, anéis e customizam
sandálias..
A produção de biojóias tem contribuído com a causa ecológica, quanto extraídas com
consciência, além de contribuir com a causa social a partir da geração de renda.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1333


Oficina de Livro de Pano

O livro de pano é mais um recurso didático pedagógico que busca promover uma melhor
aprendizagem e inclusão das pessoas com necessidades especiais. Para a sua confecção é necessário
primeiro fazer a escolha do tema e desenhar o que deve ter no livro e o que se pretende abordar.
O esboço é feito num papel, onde são feitos rabiscos a lápis do que será colocado nas
páginas do livro. Toda sua produção é realizada à mão, de maneira artesanal, através de imagem de
alto relevo, usando como ferramenta que permite um melhor entendimento das pessoas através do
tato olfato e até mesmo paladar.
Os temas podem ser os mais diversos, histórias infantis, cores, ações ligadas ao meio
ambiente e que envolvam as temáticas abordadas no G.A.

Oficina de Sabão Artesanal

Para evitar o descarte do óleo de cozinha de maneira indevida, que polui e prejudica a
natureza, a Oficina de Sabão Artesanal aposta na reciclagem, conscientizando a população a
diminuir a quantidade de óleo descartado no meio ambiente.
Com 500 ml de água, 01litro de óleo de cozinha (coado), 01 litro de álcool, 250g de soda
cáustica, detergente, sabão em pó, bacia plástica, colher longa de madeira, forma para se colocar o
sabão, máscara e luvas, começa-se a produção deste material de limpeza.
Levemente, adicionam-se todos os ingredientes na ordem cronológica descrita acima e deve-
se tomar cuidado com o vapor que sobe na hora de colocar a soda cáustica. Em seguida, mexe-se
a mistura por aproximadamente 20 minutos e se coloca a mesma na fôrma para secar,
aproximadamente de 12 à 24 horas. Após esse período, vira-se a forma em uma superfície lisa e
corta-se em pedaços o bloco resultante deste trabalho.
Tendo apresentadas as Oficinas promovidas pelo setor da E.A do G.A faz-se necessário
relatar sobre os projetos desenvolvidos que, respectivamente, são:

a) Projeto ―Colônia de Férias‖

O projeto ―Colônia de Férias‖, do Geopark Araripe promove a integração de crianças com a


natureza de forma prazerosa e educativa. São desenvolvidas atividades lúdicas sensibilizando as
crianças para interagir com os parques e a floresta e suas interfaces com a cidade que a cerca. São
exploradas através de diversas atividades, incluindo trilhas, as oficinas citadas anteriormente,
brincadeiras, contação de histórias, jogos, piqueniques, banhos de bica, observação de pássaros
entre outros. É mais uma ação utilizada para sensibilizar as crianças sobre a importância da

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1334


preservação e conservação ambiental e um meio de divulgar os principais objetivos do Geopark
Araripe.
Os passeios, visitas de campo têm como objetivo conhecer um pouquinho sobre a Floresta
Nacional do Araripe (FLONA), que fica no território do Geopark Araripe, suas águas, suas árvores,
suas aves, através da observação de pássaros e animais e sua história. Saber da história e
importância dela em nossas vidas e para vida do planeta. Além disso, os jogos, as brincadeiras e
passeios são para as crianças aproveitarem as belezas desta área para bons momentos de lazer
educativo.

b) Projeto Geopark nas Escolas

A E.A nas Escolas desenvolve processos e práticas educativas em ações integradas com as
escolas do entorno do G.A, incluindo o Geopark e seus recursos naturais como extensão das
próprias escolas. Nas visitas realizadas são apresentados os vídeos ―Lugar onde nasce o dia e
―Língua de Tamanduá‖. Também são feitas palestras sobre educação ambiental e sobre o Geopark
Araripe, além das oficinas pedagógicas ofertadas pela instituição.

c) Projeto Geopark na Comunidade

Esse projeto envolve a população local em ações efetivas de suporte às atividades do G.A,
respeitando as vocações naturais de cada participante, oportunizando e proporcionando atividades
educativas permanentes, que integre cultura, ciência e esporte, consolidando esse geoparque como
opção múltipla de lazer aos vizinhos dos geossítios com vídeos e trilhas.
Os cursos de formação para os Gestores e Professores do território do G.A contemplam
capacitação na área ambiental, história, legislação, cultura, a divulgação do G.A e a socialização de
experiências com a comunidade.
As palestras da E.A oportunizam a abertura de um diálogo com a comunidade e a escola
acerca das temáticas ambientais.
Há que se relatar também sobre a produção da ―Cartilha de Educação Ambiental‖. Entregue
nos colégios desde o início deste projeto do Geopark com a comunidade. Este material incentiva o
hábito pela leitura e estimula estudos sobre a temática G.A com as questões ambientais.
Ao longo desses dois anos, a E.A tanto participou quanto organizou Feiras Culturais e
Exposições, sempre com o objetivo de divulgar o G.A em todas suas áreas, apresentar os diversos
trabalhos desenvolvidos nesse território e fazerem conhecidas as potencialidades da região.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1335


d) Projeto Geopark nas Escolas

O projeto ―Geopark nas Escolas‖ é desenvolvido em todos os municípios do território do


Geopark Araripe e no Museu de Paleontologia da URCA, Santana do Cariri. O mesmo integra as
escolas dos municípios com o Museu de Paleontologia e Geopark Araripe. Essa integração
proporciona aos alunos e aos professores o conhecimento in loco sobre as potencialidades
paleontológicas da região do Cariri.

e) O Centro de Interpretação e Educação Ambiental

O CIEA tem a função de contribuir para a formação de crianças, jovens e adultos,


comprometidas com a vida do planeta. Por isso, neste espaço propõe-se trabalhar com ética e
formação de valores, no conhecimento em geral, desenvolvendo ainda mais as habilidades dos
cidadãos em constante formação que passam por ali.
O objetivo principal do CIEA é trabalhar atividades lúdicas que proporcionem diversão e
conhecimentos sobre Geopark Araripe nas áreas de geoeducação, geoturismo e geoconservação,
construindo novos hábitos de inter-relação das crianças com o meio ambiente. De maneira
específica, o propósito do CIEA é desenvolver cursos de formação continuada, oficinas, dinâmicas,
gincanas, brincadeiras e jogos com o intuito de ir colaborando para com o conhecimento das
mesmas em relação ao meio ambiente; divulgando e promovendo as potencialidades do Geopark
Araripe de forma divertida e atrativa; Outro propósito é promover passeios e aulas de campo,
buscando a interação das crianças com a biodiversidade da chapada do Araripe e a importância da
conservação ambiental, formando agentes multiplicadores de educação ambiental.
Nessa perspectiva o receptivo de Turistas e Visitantes na Sede do G.A. e no CIEA da cidade
do Crato e de Missão Velha divulga o Geopark Araripe de maneira didática, apresentando os
trabalhos realizados pelos bolsistas, coordenadores e por toda a equipe do G.A.
Em síntese, no período de Outubro de 2012 a Outubro de 2013, a equipe de E.A do Geopark
Araripe, com base nos objetivos estratégicos e nas ações e projetos descritos anteriormente e ainda
visando à divulgação do Geopark Araripe, nos municípios que constituem o território do Geopark,
realizando diversas atividades, participando de vários eventos na região do Cariri. As atividades de
participação e promoção das referidas ações se ampliaram do Estado do Ceará a outros Estados da
Federação, sempre com o intuito de divulgar o trabalho do G.A, num processo de construção
coletiva, respeitando a cultura, a identidade e a História do povo local, regional e nacional.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1336


ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS ATIVIDADES

1% 1% Oficinas
0%
5% Réplicas 104
Materias Recicláveis 44
21% Teatro de Bonecos 43
51% Biojóias 10
21%
Sabão 2
Livro de Pano 1

Gráfico 1: Oficinas realizadas de Outubro de 2012 a Outubro de 2013

Com base no gráfico acima, o setor de E.A ofereceu 07 oficinas: réplica de fósseis, de
materiais recicláveis, teatro de bonecos, biojóias, sabão, livro de pano e grafite. Foram
desenvolvidas 204 durante o período de um ano, sendo a de réplicas de fósseis a mais realizada com
104, representando, portanto, 51% das oficinas realizadas.
Em seguida temos a de materiais recicláveis e teatro de bonecos, uma 44 e outra com 43
oficinas realizadas, deste modo percebemos que ambas totalizam 42%. Estas três oficinas
mencionadas anteriormente são mais desenvolvidas devido o custo financeiro ser mais baixo em
relação às demais como também por ser um excelente meio pedagógico para compreensão dos
assuntos abordados nas oficinas.
A oficina de biojóias aparece com 10, correspondendo 5%, um dos principais fatores para
que isto aconteça é o custo financeiro. As oficinas de sabão, do livro de pano e de grafite aparecem
respectivamente com 2, 1, 1 totalizando 3%. Estas foram introduzidas recentemente e está em
processo de organização. Outro fator é que o custo financeiro dificulta a realização das mesmas.
Deste modo sabendo que em média atendemos 25 participantes por oficina e realizamos
204, obtivemos um público de aproximadamente 5.100 pessoas atendidas no período de um ano.
Esse gráfico é um demonstrativo do quanto tem sido feito pela divulgação desse patrimônio
nacional que é o Geopark Araripe e é relevante destacar que ainda precisamos de mais apoio e de
novas parcerias para ampliarmos esse trabalho.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1337


40
30
20
34
10 26 20
11 10 10 6 5 5 5
0 4 3

ATIVIDADES

Gráfico 2: Atividades realizadas de Outubro de 2012 a Outubro de 2013

Observamos neste gráfico as atividades que vêm sendo desenvolvidas ou acompanhadas


pelo setor de E.A. O mesmo mostra o intenso trabalho que vem sendo feito nas escolas, basta
olharmos o grande número de atividades que envolvem as mesmas.
A comunidade também está sendo atendida, quando realizamos o ―Geopark na
Comunidade‖ e as ―Colônias de Férias‖ in loco e nas proximidades dos geossítios.
Avaliamos positivamente a participação e realização de reuniões, bem como o
desenvolvimento de capacitações e palestras. Temos ainda um número de produções científicas
significativas que posteriormente serão ampliadas. Podemos destacar também a realização e
participação em Eventos Científicos que contribuem para disseminação dos trabalhos que têm sido
desenvolvidos.
Com uma média de público de 35 a 50 participantes atendidos por estas atividades, temos
aproximadamente 3.360 pessoas que compuseram o público alvo desse trabalho, que se
desenvolveu no período de um ano. Muito está sendo feito, contudo estamos buscando novos apoio
e parcerias para desenvolver ainda mais estas e novas atividades no território do G.A.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto visualizamos um trabalho de preservação e conservação, que vem
sendo desenvolvido através de ações pertinentes, capazes de envolver a comunidade e obter
resultados significativos. As temáticas abordadas nas ações e projetos instigam uma mudança de
opiniões por parte das pessoas envolvidas neste processo. As comunidades são muito importantes
na realização das ações, pois há um engajamento da população que nela reside contribuindo para o
bom desenvolvimento do trabalho. Avaliamos positivamente os resultados que vem sendo
adquiridos.
Durante este período foram atendidas aproximadamente 8.760 pessoas nas atividades e
projetos desenvolvidos, no entanto ressaltamos a preocupação e a necessidade de projetarmos mais
ações que envolvam um número maior de participantes, fortalecendo os projetos já existentes,
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1338
firmando novas parcerias e buscando fomentar um trabalho de educação ambiental que envolva as
comunidades e as instituições pertencentes ao território do Geopark Araripe.

REFERENCIAS

BRASIL, Lei Nº 9795/1999 - Lei de Educação Ambiental - "Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências" - Data da
legislação: 27/04/1999 - Publicação DOU, de 28/04/1999.

CEARÁ, Planejamento Estratégico do Geopark Araripe, Julho de 2013.

LÜDKE, Menga e ANDRÉ, M. E.D.A. Pesquisa em educação: Abordagem Qualitativa. São Paulo:
EPU, 1986.

SARAIVA in CEARÁ. Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente – CONPAM. Educação


Ambiental. Ceará: Fortaleza, 2010/2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1339


EDUCAÇÃO ESCOLAR DIFERENCIADA EM COMUNIDADE INDÍGENA: A
PERCEPÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL DA ALDEIA INDÍGENA KANINDÉ
DE ARATUBA – CEARÁ

Gysselle Franco FREITAS


Aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
gyssellefranco16@hotmail.com
Anna Érika Ferreira LIMA
Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
annaerika@gmail.com
Márcia Maria Leal de MEDEIROS
Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
mleal@ifce.edu.br

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo, discutir os problemas e questões enfrentados pelos
moradores indígenas Kanindé sobre educação e o desenvolvimento local da aldeia por meio da
mesma, além de discutir a história da comunidade indígena, a posse da terra e suas conquistas com
relação à educação. Assim, a pesquisa faz um resgate da luta pela terra e legitimação da identidade
Kanindé, sendo realizada pesquisa do tipo participante que de acordo com Fals Borda (1983, p. 43)
e a pesquisa que responde especialmente às necessidades de populações que compreendem
operários, camponeses, agricultores e índios - as classes mais carentes nas estruturas sociais
contemporâneas – levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. É a
metodologia que procura incentivar o desenvolvimento autônomo (autoconfiante) a partir das bases
e uma relativa independência do exterior, por meio de observações de como essas questões são
trabalhadas na escola, bem como o papel do professor indígena como elemento dinamizador e
interlocutor de uma nova realidade, que busca relacionar a vida dos alunos com a cultura, as
tradições e crenças locais a qual estão inseridos, obtendo por meio de relatos a real relação das
conquistas por meio da educação, considerando o fato que a instalação de uma escola indígena,
promove um fortalecimento da legitimação da terra.
Palavras-chave: Terras Indígenas, educação escolar indígena, conquistas.

ABSTRACT
This paper aims to discuss the problems and issues faced by indigenous residents Kanindé on
education and local development of the village through the same, besides discussing the history of
indigenous community land tenure and achievements with regard to education . Thus, research
rescues the struggle for land and legitimizing identity Kanindé, research participant type being held
that according to Fals Borda (1983, p. 43) and especially the research that responds to the needs of
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1340
populations that comprise workers peasants, farmers and indigenous people - the poorest classes in
contemporary social structures - taking into account their aspirations and potential of knowing and
acting. It is a methodology that seeks to encourage autonomous development (self-reliant) from the
bases and relative independence from the outside, through observations of how these issues are
worked in the school as well as the role of indigenous teacher as a facilitator and listener element of
a new reality, which seeks to relate to students' lives and culture, local traditions and beliefs which
are entered, getting through reports the actual relationship of achievements through education,
considering the fact that the installation of an indigenous school, promotes strengthening the
legitimacy of the land.
Keywords: Indigenous lands, indigenous education, achievements.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como principal finalidade, discutir os problemas e questões


enfrentados pelos moradores indígenas Kanindé sobre educação e o desenvolvimento local da aldeia
por meio da mesma, além de discutir a história da comunidade indígena, a posse da terra e suas
conquistas com relação à educação.
A valorização dos povos indígenas no Ceará atualmente perpassa por grandes dificuldades
no que diz respeito ao desenvolvimento das comunidades e o reconhecimento desses povos. Uma
das provas dessa assertiva é a questão da demarcação de terras que em virtude dos trâmites
burocráticos, tais terras acabam sendo cada vez mais destruídas pelos posseiros que vivem aos
arredores, pois o fato das terras ainda não estarem demarcadas os índios não tem autoridade sobre
as mesmas, ficando assim incapazes de impedir o desmatamento, o uso ilegal das mesmas, questões
essas simples que acabam desestruturando a dinâmica da aldeia indígena.
De acordo com Faria (2007), para os povos indígenas, a primeira condição para a
sobrevivência física e cultural é a demarcação de suas terras. Isso porque o território é a base da
subsistência econômica, social e cultural dessas organizações sociais, sendo, portanto a terra, o
recurso primário de sobrevivência e identificação. Vale ressaltar que o auto reconhecimento se
materializa como um elemento dinamizador para sua legitimação.
A metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho foi à pesquisa participante, onde
se teve oportunidade de, através de visitas de campo, observar o dia-a-dia da comunidade, conversar
com alguns dos seus membros, realizar entrevistas semi-estruturadas com atores locais. Como foco
da pesquisa, utilizou-se como amostragem a Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio
Manoel Francisco dos Santos, onde foram realizadas quatro entrevistas com gestores e professores
tendo como foco principal o posicionamento da comunidade diante dos conflitos de terra, papel da
escola no resgate da cultura e o lidar com a terra.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1341
TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO LOCAL INDÍGENA

Ao se desconsiderar as formas próprias com que distintos grupos indígenas expressam sua
lógica territorial no espaço que ocupam, corre-se sério risco de se limitar a extensão das relações
territoriais a produção e às tarefas de subsistência. Se tais relações forem descritas somente a partir
da hipotética adaptação cultural a nichos ecológicos, todo o rico acervo das diferentes formas de
territorialização indígena estará restrito à simples demarcação de terras para fins de produção
(GALLOIS, 2005 apud PAREDES, 2008, p. 50).
Mas ao falar de terra e território temos a ideia de que a terra indígena se refere ao processo
jurídico junto ao estado e o conceito de território é justamente a construção da identidade e a
vivência em comunidade, a qual esta determina a necessidade de encontrar meios para a delimitação
da terra, pois é através dessa terra que se consegue sobreviver. É onde os povos indígenas plantam,
caçam e colhem o alimento para a sua sobrevivência. Além de através dessa terra ocorrerem as lutas
pela legitimidade desses povos configurando o seu território, o qual é o locus para a materialização
da história de muitos povos indígenas que passaram grande parte de suas vidas trabalhando para um
―dono‖ de uma terra, enfrentando dificuldades, por vezes servindo de escravos e pagando por um
preço que não era correto pagar, trabalhando dias e noites para obter a sobrevivência de suas
famílias.

[...] eu como mais novo, eu já vem duma luta, que eu nasci e me criei ali, mas eu briguei
por uma luta da nossa comunidade, que foi sobre a terra, chorei, briguei, lutei, pela terra, é
que não a, que não é aquela terra que nois mora, foi uma terra conquistada que a minha
briga não vem tanto por aquilo que os meus pais já fazia parte, a minha briga foi por uma
terra que a gente conquistou aqui, que foi 375 hectare de terra né, e é a Terra da Gia por que
quando nois viemos, dali p/ cá, eu vem duma famia que o meu Pai, de nove homi e duas
mulher sabe, e ai a briga começou por isso porque quando nois cheguemos aqui dentro dos
Fernandes, nois era tudo jovem sabe já e ai só foi seguido pela famia uma capoeira oito
quilo de milho, oito quilo de mie pra nove homi trabalhar, cê sabe que não é nada, ai vei a
conquista da terra né, ai a gente tinha essa terra lá, e tinha umas pessoa que dizia que era
dono da terra lá, e a gente começou a arrendar pra gente trabalhar lá, uns mais velho aqui já
arrendava terra, só que os mais velho eles não tinham sabedoria que aquela terra era uma
terra que não tinha dono, não tinha documento de terra, ai o que, que eles faziam diziam
que eram dono da terra, arredava a terra e a gente trabalhava lá e pagava aquele renda pra
eles de milho, de fava e de feijão quando dava a gente pagava, saiu várias carradas de
milho, várias carradas de feijão né, e era um terra muito boa, tudo dava lá e saia né e a
gente veio naquela confusão de lá pra cá pagando renda, pagando renda [...].(Sr. J. M.
Entrevista realizada em 08 de fevereiro de 2014).

É público que a maior parte dos grupos indígenas brasileiros, perderam grandes extensões de
seus territórios, fragmentados em porções que são reivindicadas e delimitadas num infindável
processo divisório, que provoca novas reivindicações, embasadas no princípio constitucional que
reafirma os ―direitos originários‖ dos índios sobre suas terras, havendo ou não sua demarcação
(GALLOIS, 2005 apud PAREDES, 2008, p. 49). Segundo o Cacique da Aldeia dos Índios
Kanindés o processo de demarcação da terra passa por muitas etapas as quais ele cita em sua fala:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1342


[...] é o andamento da terra, já foi realizado o levantamento geográfico, uma limitação né,
foi feito já três processos né, a gente tá esperando a demarcação né, a demarcação já é mais
forte já né, isso já era pra ter sido demarcado a muito tempo, até que enfim vem se
amornando, amornando, ainda não foi demarcado a nossa área, já foi reconhecida, limitada,
e esses processos que eu já disse pra trás tudim, e ai o que tá acontecendo que nóis tamo
esperando qualquer momento ela ser demarcada né, demarcada não sei se vocês já sabe né,
ela é muito mais forte que as outras tudim, porque depois da demarcação, quando eles
botam os travessão, as placa, as coisa tudim e ainda vai ter o que, vai ter a saída, a saída do
não índio né, porque não fica, os não índio não fica na terra, num é a gente que tira, porque
quem não se assume como índio elas são tirada do território que os índio vivi nele né, pois
é daí quando eles tiro, primeiro são tirado os bicho né, porque todo esses possero, é tirado
os possero, é tirado os bicho pra fora e depois dos bichos também ainda vem a mologação
né, a mologação ai já é do presidente né pronto a fica a terra já, do jeito que os índio é pra
dominar a terra né, a gente quiser, por hora, por hora ainda tem uns possero, que ainda tiro
pau, ainda tiro uma pedra, ainda caça dentro da área, tudo isso tem que já num acontecer
[...]. (Sr. J. M. P. Entrevista realizada em 08 de fevereiro de 2014)59.

Assim percebe-se claramente que o território de um grupo indígena representa além da


demarcação de terras, a busca pelas memórias coletivas principalmente das pessoas que
acompanharam todo processo de conquista da terra, onde a partir de tais memórias se constroem a
identidade cultural deste povo, através da relação do grupo com o lugar onde vive. Para as
sociedades indígenas ―o território grupal está ligado a uma história cultural‖, onde ―cada sítio de
aldeia está, historicamente, vinculado aos seus habitantes, de modo que o passar do tempo não
apaga o conhecimento dos movimentos do grupo, desde que se mantenha viva a história dos
ancestrais‖ (RAMOS, 1986, p. 19 – 20 apud PAREDES, 2008, p. 50).
Nessa perspectiva, o território é o lugar onde se vivencia a inter-relação entre os seres
humanos, a natureza e a sobrenatureza. O conceito de território para as comunidades indígenas tem
como apoio ―a vida social ligada a um sistema de crenças e conhecimentos‖. O território, portanto,
não é apenas um recurso natural, mas também um ―recurso sociocultural‖ (RAMOS, 1986, p. 19 –
20 apud PAREDES, 2008, p. 51).
As memórias coletivas são de relevante importância para as comunidades, pois elas trilham
a cultura local, sendo repassadas de geração a geração, mesmo que os costumes mudem com o
tempo, por fatores externos que acabam influenciando diretamente o modo de vida das pessoas,
principalmente na vida dos jovens que hoje não vivenciam mais a vida na mata, em contato direto
com animais e a natureza, sendo esse contato de extrema importância para que a cultura não se
perca e a identidade daquele povo perdure por mais tempo.
As histórias devem ser contadas e recontadas pelas pessoas idosas da comunidade e ouvidas
com muita atenção pelos filhos e netos destas pessoas que estão nascendo em um mundo totalmente
diferente, mas que devem saber o quanto os valores, os costumes e a identidade de seu povo são

59
Optou-se por manter a linguagem do entrevistado com vistas a preservar seu modo de se comunicar, pois de acordo
com ALMEIDA (2006, p. 23) apud LIMA (2008 p. 31) ―[...] de falar pela boca do outro, ‗dando voz aos esquecidos‘;
fundamentalmente porque eles têm voz, mas de fazer chegar a outros ‗círculos‘ essa voz, assumindo os equívocos que
essa ‗tradução‘ impõe‖ (ALMEIDA, 2006, p. 23).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1343


importantes para a sua identificação cultural. Tais circunstâncias têm ativado e reativado lutas
sociais pelo território ou lutas de territorialização, onde estas são, segundo Costa (2006), ―[...] um
processo de domínio (político-econômico) e/ou de apropriação (simbólico-cultural) do espaço pelos
grupos humanos‖ e aquele pode ser compreendido como um espaço de identificação social, onde
um grupo cria suas redes de relação sociais e com o meio natural, desenvolvendo também suas
atividades cotidianas (habitar, circular, trabalhar etc.) e suas simbologias (referenciais religiosos,
mitos, costumes, outros).
As sociedades indígenas entendem que há uma “interligação orgânica entre o mundo
natural, o sobrenatural e a organização social” (DIEGUES & ARRUDA, 2001, p.32). Suas teorias
sobre os movimentos ―do” e ―no cosmo” explicitam como esses diversos níveis se articulam e
interagem. Conforme Giannini (1992, p. 145), na visão de mundo dessas comunidades, “natureza e
sociedade representam uma oposição que se inter-relaciona através de metáforas e símbolos, mitos
e cerimoniais e mesmo comportamentos dos mais cotidianos...”. Pessoas, plantas e animais, fazem
parte do mesmo mundo, diferenciando-se dos primeiros, em muitos casos, apenas “pela diversidade
de aparências e pela falta de linguagem”, podendo, inclusive, em alguns casos, seres humanos
transformarem-se em animais e vice-versa (DIEGUES & ARRUDA, 2001, p. 32; e CARNEIRO,
1987, p. 56).
Ao relatar sobre uma comunidade indígena é necessário entender o todo que está em volta
da comunidade, pois índios são totalmente ligados à natureza e isso é o que os torna fortes em lutas,
em crenças e tradições. Estes fazem com que os seres que estão ao seu redor usem suas forças em
prol de um objetivo comum da comunidade. Assim lidar com índio e com comunidades indígenas é
ao mesmo tempo lidar com a natureza que está ao nosso redor e que nós que nos consideramos não
índios não a valorizamos e acabamos por utilizá-la de maneira inadequada, diferente dos índios que
tem a natureza como sua ―mãe‖ e cuidam dela pensando sempre nas futuras gerações que estão por
vir.

A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

A educação escolar indígena teve início no Brasil durante a colonização, porém como um
tipo de atividade escolar civilizatória, que através de discursos e ações diferenciadas perpetuou-se
até o final da década de 1970, muitas vezes atrelado a movimentos religiosos que procuravam
apagar as formas de representação cultural indígena no confronto com nossa cultura (CAMARGO;
ALBURQUERQUE, 2003).
Baseado no contexto acima a educação escolar para índios veio, inicialmente, como uma
maneira de catequização e de enquadrar os índios em uma cultura desconhecida para estes grupos
sociais; na verdade baseada em outros princípios e saberes o que resultou significativamente na
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1344
perda de muitas tradições, onde hoje as comunidades indígenas estão em uma busca contínua pelo
resgate de suas identidades, que se encontram ainda em processo de descobertas em diversas
aldeias.
E para que o resgate de tal identidade possa acontecer, as crenças e tradições devem ser
repassadas de gerações e gerações pelos chamados ―guardiões da memória‖, os detentores do saber,
por terem vivenciado o tempo passado em meio a uma cultura diferenciada. E também por meio de
pesquisas constantes realizadas nas matas onde se trabalhava os pais e avós dos jovens que hoje
estão em busca dessa identidade quase esquecida e acabada.
Ao falar da busca pela identidade e os meios de encontrar a mesma, o Cacique Sotero da
Aldeia Indígena Kanindé em entrevista 60 relata sobre as experiências e algumas atividades que
demonstram a proposta museológica indígena em consonância com a proposta pedagógica da escola
diferenciada Kanindé:

[...] aqui é a experiência de nossa comunidade. Tem gato maracajá, camaleão, peba, mão-
de-onça, Tejo, pé-de-veado, nosso artesanato em madeira de imburana. Aqui é um fuso da
minha tia, couro de jirita, coruja, inxuí de abelha que dá mel. A gente derruba na mata e
come o mel. Bolsa de palha de carnaúba, o casco de um tatu. Aqui as nossas vestes, que nós
usa nos ritual. Vamos fazer uma representação, que o povo gosta sempre de chamar a gente,
a sociedade... Também na escola com as crianças‖. Em 1995, nós fomos numa reunião lá
no Maracanaú, eu e meu irmão. Tá bem aí a história, foi a primeira história nossa, tá bem
aqui nesse retrato. Era uma reunião indígena, passamos três dias lá. Quando nós cheguemo
aqui aí nós trouxemos a história, quem era nós, nós ouvimos a história dos outros e se
lembramos da nossa, que quando nós era novo nossos pais contava. Nós ganhava os matos,
matando passarinho, comendo o figo dele, comendo ele cru, a gente chegava tarde em casa,
aí ele dizia ―o que vocês estavam fazendo, vocês são índios mesmo!‖(...) Eu me lembro que
meu avô tinha medo de falar na história indígena porque dizia que o branco matava o índio,
minha mãe e meu pai passaram isso pra mim. Até agora o meu pai, já com 80 anos, quando
eu saía pros encontros lá fora, ele dizia: ―Sotero tu tem cuidado com isso aí porque o povo
matava os índios e vocês tão se declarando os índios, aí eles vão matar. Vocês são índios
mas fiquem calados.‖ Mas ser uma coisa e ficar calado, né... Aí eu fui e pensei: o museu
são histórias, aí fui arrumando as primeiras pecinhas. Pra mim o museu, são histórias, é só
coisa feia, mas é uma coisa da cultura da gente. Eu comecei com estas peças, que era o que
a gente trabalhava, o machado, a foice. Aí fui vendo que a caça é uma cultura. O que a
gente faz de artesanato também [...]. (IN: GOMES & VIEIRA NETO, 2009, p. 91).(Relato
do Cacique Sotero).

De acordo com Colaço (2000), percebe-se que para se chegarem às leis de educação
indígena foram vivenciadas várias etapas para que houvesse um reconhecimento da cultura,
costumes e modos de vida dos povos indígenas, sendo que ao longo desse processo muitos desses
costumes foram se perdendo com a influência de outros povos que invadiram as terras as quais
habitavam apenas povos indígenas, com isso essas conquistas foram ocorrendo ao longo do tempo e
até hoje ainda existe resistência de pessoas que são índios e se consideram não índios, não
assumindo sua identidade cultural, baseado nisso, o Cacique Sotero da Aldeia Indígena Kanindé
ressalta:

60
(IN: GOMES & VIEIRA NETO, 2009, p. 91). (relato de cacique Sotero).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1345


[...] hoje dentro do território eu tenho complemento é uma vez associação que tem algum
contato com a FUNAI e a FUNASA é o nosso território aqui seja uma casa dessa aqui uma
sala dessa ela tem nosso território tá em 1700 hectare de terra é com os índio dentro e não
índio dentro né,nois temos uns 5 posseiro dentro da aldeia né,nois temo na faixa duns 90
não índio dentro tem 1001 índio já cadastrado já tem muito mais disso mais de 1500 índio
aqui dentro da aldeia né e agente concluir o processo né que esse processo não depende só
da aldeia depende do governo federal que ele tem reabilitação dentro desse território da
gente mesmo que tenha esses posseiro dentro, não índio dentro, ele num pode fazer
qualquer outra atividade, ele num pode concluir um prédio escolar, eles num pode concluir
uma estrada que ia fazer eles num pode concluir, tirar pedra dentro fazer caivão é tirar areia
de dentro daquele território (Sr. J. M. P. Entrevista realizada em 08 de fevereiro de 2014).

[...] a gente trabalha, faz o curso Com base no depoimento do Cacique percebe-se que ao não
assumir a própria identidade os chamados não índios deixam de obter vários direitos que são
concedidos ao grupo que assumiu suas origens, isso faz com que haja conflitos, e que a comunidade
fique um pouco enfraquecida por fatores internos de próprio reconhecimento étnico, o que torna
para a Aldeia um ponto a ser trabalhado principalmente dentro da escola, para que as crianças e
jovens cresçam e se assumam como índios e continuem lutando pelos direitos da comunidade como
um todo.
Ao se falar em formação de professores indígenas percebe-se um grande avanço no que diz
respeito aos cursos de ensino superior ofertados aos professores de Aldeias Indígenas. Para explanar
com mais clareza, a professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I da Escola Indígena
Kanindé de Aratuba, fala em entrevista com detalhes como acontece o processo de formação dos
professores da Aldeia:

específico em letras, em português, matemática, gestão e tem outra que me falha a memória
agora, mas é dentro da escola tá até sendo desenvolvido junto do fundamental menor essa
área, que é espiritualidade... desde o ano passado e este ano a gente tá trabalhando duas
partes né, em que a gente trabalha alguns professores trabalham o português, a matemática,
ciências né e a história e a geografia e outros professores dentro da mesma semana, dois
dias na semana ele trabalha a espiritualidade, as crenças né, ai os professores que trabalham
com português, matemática eles voltam muito pra questão convencional mas não deixa de
lado a questão étnica da comunidade né, porque você trabalha o convencional mas você
tem que puxar um pouco também pra área indígena principalmente com o convencional
menor e a educação infantil né, porque desdo berço a criança tem que lindar com essas
formas de tratamento porque ainda hoje a gente sofre muito preconceito ainda nessa
questão que muitos acham que a escola indígena não tem a capacidade de desenvolver boas
atividades né, e através de conhecimento novo e esse curso que a gente faz a gente mostra
que a gente tem conhecimento e tem disponibilidade para trabalhar dentro da comunidade
[...]. (Sra. E. P. L., Professora a 10 anos da Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e
Médio Manoel Francisco dos Santos. Entrevista realizada em 23 de março de 2014).

Diante do fortalecimento das organizações de apoio à causa indígena e dos dispositivos


legais, um dos assuntos que tem recebido reconhecimento, apoio, estudos, reflexões críticas e
propostas de mudanças na forma de agir, é a Educação Indígena com suas bases pautadas num
processo próprio da etnia, voltada à defesa e respeito pela integridade cultural desses povos, ao
mesmo tempo em que garante o conhecimento da sociedade (PALADINO, 2001), e, orienta para a
conservação da natureza no processo de respeito entre o índio e o ambiente no qual esse vive. No

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1346


projeto político pedagógico da escola foram organizados encontros, documentos e leis em prol de
uma educação diferenciada61 para os povos indígenas, a qual respeite o universo sociocultural das
etnias, assim como um dos pilares muito importante para o desenvolvimento da comunidade local, o
projeto político pedagógico 62 da escola ressalta as principais diferenças da escola diferenciada
indígena Kanindé:
A Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel Francisco dos Santos, é
vista em alguns momentos como maneira de para suprir as necessidades relacionadas à comunidade
e ao povo indígena Kanindé de Aratuba diante da sociedade envolvente. E ao mesmo tempo porque
é uma escola que vem trazendo novos caminhos para os alunos indígenas, produzindo uma
realidade igual entre todos. Uma escola que se diferencia em muitos aspectos:
1º - Visa tornar o aluno crítico e consciente de seu papel diante da sociedade e conhecer sua
própria cultura.
2º - Os aspectos metodológicos são específicos da própria escola indígena.
3º - A Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel Francisco dos Santos
como parte integrante da comunidade, toma decisões com a participação de todos os índios,
4º - É intercultural
5º - Especifica e diferenciada.
Ao longo dos anos a educação indígena vem se intensificando na comunidade e a escola tem
contribuído para as conquistas pela terra, saúde, agricultura e o meio ambiente, proporcionando
contribuições para envolvimento com a sociedade envolvida. E a partir desses aspectos que a
comunidade foi sendo reconhecida como indígena por outros povos, pela sociedade e
principalmente pelo governo federal. Em que passaram a ter autonomia e segurança de lutar pelos
seus direitos.
De acordo com o projeto político pedagógico da escola pode-se observar a grande diferença
existente entre a maneira como a escola vê quem está em seu entorno, e o quanto esses agentes
externos influenciam diretamente o desenvolvimento educacional da Aldeia. A partir do momento
que a escola tem como objetivo desenvolver o senso crítico dos alunos, executa uma habilidade
primordial na vida desses educandos, pois os mesmos irão saber julgar e defender os objetivos pelo
qual a aldeia a que pertencem está buscando, baseado em conhecimentos adquiridos na escola e na
vivência em comunidade com lideranças e agentes importantes dentro e fora da mesma.

61
A educação diferenciada é aquela destinada a populações que não compartilham dos códigos culturais dominantes,
são fatores de desvio e, portanto, requerem pedagogias ―especiais‖ para conduzi-las a condutas ―adequadas‖ (FILHO,
1988, apud PALADINO, 2001).
62
PPP da Escola Diferenciada Indígena Manoel Francisco dos Santos, Aratuba – Ceará, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1347


OS KANINDÉS DE ARATUBA - CEARÁ – AS LUTAS E DESCOBERTAS

A Aldeia dos Índios Kanindés, situada no município de Aratuba, localizada a 130 km da


capital Fortaleza, abriga parte dos índios da etnia Kanindé, no qual se dividiu entre serra e sertão,
sendo espaço de moradia as aldeias dos Fernandes (―serra‖), Balança (―pé-da-serra‖) e Gameleira
(―sertão‖). No qual esses três espaços de moradia foram se dividindo e se desenvolvendo de acordo
como as famílias foram habitando o local, nos dias atuais a comunidade de Fernandes na serra é o
espaço onde estão morando as lideranças da comunidade, bem como é tratada como sede da Aldeia
Indígena Kanindé, lugar também onde se localiza a Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos
(Figura 1).

Foto 1: Fachada da Escola indígena Kanindé de Aratuba.


Freitas, 2014

―Descobrimento‖ (ou descoberta) é uma categoria usada em escala temporal que classifica o
momento em que a população do sítio Fernandes assumiu a identificação indígena, em 1995. De
sítio à aldeia Fernandes.
A categoria demarca uma ruptura com outras identificações sociais (trabalhadores
sindicalistas, agentes pastorais, comunidade rural etc.) para inaugurar uma identificação étnica
(povo Kanindé), utilizada sempre como discurso sobre a coletividade (―A gente começou a se
descobrir‖, ―Da gente ser indígena‖), o que denota que a ―descoberta‖ é significada como uma
escolha coletiva de parte do grupo familiar, que foi crescendo aos poucos. Esta categoria conecta-se
a dois episódios significados como importantes narrativas sobre o início do movimento indígena na
aldeia Fernandes: uma reunião, em 1995, e o conflito com os trabalhadores rurais da fazenda
Alegre, em 1996 (Gomes, 2012).
A história Kanindé tem como parte integrante um processo que adquiriu significados
imediatos – a conquista da terra da Gia – e simbólicos, a construção social da etnicidade Kanindé. A
participação do Cacique Sotero e do seu irmão Cícero que também é considerado um dos líderes da
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1348
aldeia, na 2ª Assembleia dos povos indígenas no Ceará, efetuou-se uma articulação fundamental
para o fortalecimento e reconhecimento do movimento indígena nascente. A associação entre o
―descobrimento‖ e estes dois fatos constitui importante ―ponto de amarração‖ (MONTENEGRO,
2003) para a compreensão da construção social da memória indígena.
A partir desse momento, passaram a vivenciar um criativo processo de reelaboração cultural,
alvo de intensas disputas simbólicas entre diferentes representações sobre o passado e o modo de se
organizar no presente, nas condutas individuais e coletivas, na relação com o Estado e nas práticas
religiosas e ritualísticas, só para citar alguns campos de tensão mais evidentes. Uma questão
decisiva seria, cada vez mais, afirmar ou negar o projeto de um movimento étnico, se posicionando
perante ele. A partir desse momento começam a ser realizadas reuniões para a organização e as
pesquisas que resultaram no colecionamento de importantes documentos sobre a trajetória dos
Kanindé históricos e da população da aldeia Fernandes (GOMES, 2012).
Para que essas descobertas se tornassem completas e compartilhadas com outros povos, foi
enviada ao Cacique Sotero uma carta, convidando para a II Assembleia dos povos indígenas no
Ceará que tratava [...].

CARTA CONVITE - II ASSEMBLÉIA DOS POVOS INDÍGENAS DO CEARÁ


Pitaguary, Genipapo-Canidé, Kariri, Tapeba, Tabajara, Tremembé, Potiguara de Monte
Nebo, Tremembé e outros. Queremos convidar vocês para se fazer presente na II
Assembléia Indígena no dias 27 e 28 de Outubro deste ano de 95, na cidade de Maracanaú.
Depois da bonita experiência que tivemos em Poranga, de onde falamos de nós mesmo e do
profundo conhecimento que tivemos uns dos outros, das nossas histórias, de nosso medo,
da noss coragem e força, é que resolvemos novamente voltar a se encontrar e ver o que
mudou. (...). Nossa Assembléia será na serra do Pitaguary, o lugar é muito bonito, tem
muito de nós, é nossa terra, nosso chão. 63

A partir dessa assembleia começou o processo de identificação como povo Kanindé.


Segundo Cacique Sotero, ―A Maria Amélia 64 mandou uma carta pra mim e o Ciço ir para uma
reunião (...) queria que nois tivesse lá junto com eles (...)‖. Ao chegarem lá, até então não sabiam do
que se tratava, então perceberam que ―(...) era uma reunião de índio (...), eles falavam da história
indígena, histórias de outras comunidades, até chegar na história dos Maracanaús (os
Pitaguary)‖.Cacique Sotero é enfático em afirmar a importância, no despertar para uma nova
identificação, do fato de tomarem contato com os relatos dos outros povos neste encontro,

63
Carta Convite da II Assembleia dos Povos Indígenas do Ceará. 1995.
64
Missionária indigenista Maria Amélia Leite, trabalhava com os Tremembé e conhecia os Kanindé de longa data. Sua
relação com o povo dos Fernandes remonta ao final da década de 1960. Ela morou em Aratuba entre 1967 e 1977, no
contexto da ditadura militar brasileira. Se envolveu no movimento indigenista no Ceará após 1986. Foi responsável pela
mediação entre a população do sítio Fernandes e o movimento indígena, sendo a responsável pelo envio da carta-
convite para Sotero, convidando-o para ir à 2ª assembleia indígena estadual. A Amit (Associação Missão Tremenbé)
assessorou os Kanindé nos seus primeiros anos de mobilização e tem importante papel na formação do acervo
documental e arquivístico do MK, principalmente o material hemerográfico e bibliográfico sobre os Canindé no século
XVIII (GOMES, 2012).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1349


relacionando-os a ―(...) uma história que nós tinha tombem aqui na nossa comunidade‖ (Entrevista
realizada por Gomes, 2012).
Após essa assembleia o povo Kanindé se assumiu como índio e desde então iniciou-se uma
luta pelo reconhecimento indígena e com isso veio a pelos direitos, no qual queriam saúde e
educação de qualidade prioritariamente, segundo Sotero,

―Aquele dia a gente teve a coragem de se declarar como indígena. Lá mesmo contemos
quem era nosso povo, quem era nossos avós e quem somos nóis. Nóis somos indígenas, né‖
(Entrevista com Sr. José Maria Pereira realizada por Gomes, 2012).

Assim, a partir desse dia foram compartilhados sentimentos, histórias antigas, tanto com
outros povos indígenas de outras tribos, e na própria comunidade, pois após essas descobertas foram
realizadas reuniões locais com o povo indígena Kanindé para discutir e também tratar a questão
organizacional da Aldeia, pois todos a partir daquele momento sempre iriam agir e lutar de maneira
coletiva, com isso ao chegarem da assembleia convocaram uma reunião para contar o que tinha sido
discutido durante esta assembleia.
Portanto, com toda essa trajetória de redescoberta o povo Kanindé continua em busca dos
direitos da aldeia indígena, no que tange a posse da terra (que ainda se encontra em período de
espera para a demarcação), a questão da educação no qual os líderes da comunidade continuam
buscando por uma educação de qualidade, e mais recente por um sistema de saúde que atenda o
povo Kanindé, com isso além de lutar para manter a identidade viva, repassando para os mais
jovens sua cultura, as lideranças buscam a aquisição de um posto de saúde para a comunidade, que
nos dias atuais se dirige a sede de Aratuba para buscar atendimento médico ou depende
mensalmente da visita dos agentes de saúde e enfermeiros locais.
Contudo, percebe-se que os índios do Ceará ainda buscam por direitos mínimos, bem como
o povo de toda a nação brasileira e estes muitas vezes são tachados como mentirosos por serem
descentes de índios e hoje estarem contando suas histórias, seu passado e vivências na comunidade
que residem até os dias atuais.

A VISÃO DO NÚCLEO GESTOR DA ESCOLA INDÍGENA KANINDÉ DE ARATUBA –


DESENVOLVIMENTO LOCAL POR MEIO DA EDUCAÇÃO

[...] enxergar um mundo diferente, enxergar numa árvore uma grande força espiritual, em
tirar o sapato no chão e pisar na terra e sentir a energia que sai dali, sentir a força dos
encantados no momento dos rituais, no momento de oração [...] 65

No desenvolvimento dessa pesquisa que conta um pouco da trajetória da Aldeia Indígena


Kanindé de Aratuba, foram realizadas cinco entrevistas, dentre elas com as lideranças da aldeia, que
65
Entrevista realizada com E. G. S – Diretor atual da Escola diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel
Francisco dos Santos, (Freitas, 2014)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1350


são chamadas pelo povo da comunidade como ―guardiões da memória‖, com os professores da
escola indígena e com o diretor da escola que participam desde o início da luta em busca por uma
educação de qualidade para a Aldeia Indígena. O primeiro professor indígena entrevistado relatou a
trajetória e o surgimento da luta do povo Kanindé com relação à Educação, à maneira como as
crianças começaram a ser ensinadas; a luta por um espaço adequado para que acontecesse a
formação de crianças e jovens, a carência de professores que pudessem lecionar as aulas para aquele
povo. (Figura 2).

[...] de acordo com o tempo começa também a necessidade de se ter professores aqui na
comunidade, e foi aí onde nasce também os primeiros professores indígenas Kanindé que
foram o professor Suzanilton e a professora Terezinha Barroso que nascem dentro de uma
luta do movimento indígena no Ceará, realmente pra adentrarem dentro da conquista da
educação escolar para conjuntamente com os órgãos estaduais daquele ano que trabalhavam
com a educação escolar indígena[...].(Professor, S. S. Entrevista realizada em 23 de março
de 2014).

Foto 2: Grupo de professores da escola indígena Kanindé de Aratuba.


Freitas, 2014

O mesmo também relata a questão dos conflitos que ocorriam naquele tempo com relação ao
reconhecimento das populações indígenas, segundo Suzenalson (2014):

[...] era uma época onde tinha muitos conflitos não só dentro das comunidades, mas
também do próprio estado em não reconhecer as populações indígenas não só a nossa, mas
também outras do estado que naquele momento era onde os povos indígenas viam se
renascendo porque entre as décadas de 1970 e 1980 os povos indígenas permaneceram
calados e é na década de 1985 pra chegar na era dos 1990 ai os povos começaram a se
ressurgir e é dessa formação de 1990 pra 1995 que esse povo Kanindé também nasce nesse
movimento, no movimento indígena e principalmente na questão da educação e uma das
principais formações que tinha era a formação dos educadores que iam trabalhar dentro da
comunidade, essa é a primeira resistência que a gente encontra por parte do estado, dele
está formando os professores indígenas não só Kanindé naquela época, mas também outros
professores do estado que também é dai onde nasce o movimento da educação no estado ai
começa as organizações indígenas se articularem umas com as outras começa a serem
formadas as assembleias indígenas do estado também que era pra discutir qual o papel das
comunidades indígenas perante os órgãos que trabalhavam com a questão não só da
educação mas territorial, da saúde da auto sustentabilidade e outros focos que nascem ai
nessa formação, e a educação né [...].(Professor, S. S. Entrevista realizada em 23 de março
de 2014).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1351


Com o tempo o povo Kanindé começou a acordar e lutar pelos direitos indígenas com
relação a educação foi neste momento que a formação de professores também foi sendo articulada e
foi desde então que nasceu a proposta por um espaço físico maior onde a comunidade pudesse
ampliar o conhecimento e atingir todo o povo Kanindé, Suzenalson explica em entrevista que:

[...] a educação escolar indígena do povo Kanindé começa a abrangi toda a comunidade e
dai onde nasce a proposta de uma escola nova que é essa escola aqui, que ela nasce no ano
de 2005 pra 2006 a gente consegue esse espaço conjuntamente com o estado e o estado já
começa a se alertar pra reconhecer as comunidades indígenas no Ceará novamente nesse
processo de construção, e ele começa a construir as escolas das comunidades indígenas
dentro das comunidades e é ai onde a gente ganha esse espaço e a gente começa a trabalhar
de uma forma mais ampla e eficaz dentro da própria comunidade e a gente tem uma escola
dessa né com a formação de professores, formação dos alunos, a participação das lideranças
a participação da comunidade [...]. (Professor, S. S. Entrevista realizada em 23 de março de
2014).

Após a ampliação da escola tanto nas questões físicas e em número de alunos, começou-se a
pensar no papel da escola dentro da aldeia, e a partir daí a mesma começou a se reunir para discutir,
o papel da escola e o que ela representa além da definição de outros rumos para a comunidade,
segundo Suzenalson (2014):

[...] dentro desse processo e a gente começa a se alertar pra saber qual o papel da escola,
que a escola estava crescendo a visão dos índios também e estava envolvendo o povo
dentro da comunidade que nós precisávamos saber qual era o rumo que essa escola ia dar
não só pra comunidade, mas pros índios também que estudavam aqui dentro da comunidade
e é ai onde a gente senta pra criar o projeto pedagógico da escola e é nesse momento ai que
a gente reúne todo o corpo docente da escola, as lideranças, os pais dos alunos e ai a gente
começa a discutir qual é a educação escolar indígena que o povo Kanindé quer que essa
escola passe pras futuras gerações e é ai onde nasce essa relação entre o estado,
conversando sobre a formação da cultura que é muito importante que nos achamos dentro
da comunidade essa questão principalmente da formação da identidade, do resgate da
cultura e também na formação dos alunos a conhecimento gerais dos conhecimentos
científicos, começamos uma formação e ao longo do anos que a educação do povo Kanindé
vem crescendo com a formação dos meninos dentro da escola e já começa a envolver outros
setores dentro da escola como o museu Kanindé que tem a participação da formação dos
meninos na cultura, nos intercâmbios que se faz pra conhecer outras experiências de outras
comunidades [...]. (S. S., Professor a 10 anos da Escola Diferenciada de Ensino
Fundamental e Médio Manoel Francisco dos Santos, 2014).

Além da visão do professor S. S com relação a questões ligadas a trajetória de implantação


da escola indígena, o diretor Elenilson Kanindé relata em entrevista o seu papel como educador e
pai segundo ele:

[...] meu papel na comunidade hoje é fazer todo o gerenciamento pedagógico direcionado
de maneira bem focada no crescimento da comunidade, mas direcionada ao crescimento
intelectual da aldeia né, o meu papel dentro da escola é fazer com que, seja bem claro o que
diz respeito por em prática o pensamento do Pajé, do Cacique sobre é, a criação e a
sustentabilidade, sobretudo da soberania do povo, então o meu papel principal dentro da
Escola Manuel Francisco dos Santos, escola na qual eu sou diretor é manter a identidade do
povo né, focado, sobretudo no resgate sócio – histórico e cultural do povo indígena
Kanindé, pra que os pequenosnão percam né esse, essa vontade de ainda viverem e sentir o
encantado, diz buscar ainda na mata, buscar na terra a força, tirar de lá o alimento, mas
também de fazer com que essas pessoas elas se formem né dentro dos parâmetros normais
de uma escola normal, porque o intuito maior da escola indígena hoje, da escola indígena

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1352


Manuel Francisco dos Santos é criar uma elite intelectual índia dentro da comunidadeque
venham a se formar futuramente e garantir, sobretudo que seja preservado os direitos dos
povos indígenas no Brasil, mas de maneira bem específica a luta do povo Kanindé, que um
povo diferente, que pensa diferente [...]. (Elenilson Kanindé, Diretor da Escola
Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel Francisco dos Santos, 2014).

Ao falar do ―encantado‖ ele quis, sobretudo enfatizar as questões ligadas à cultura local, a
qual não deve se perder independente do caminho que as crianças e os jovens possam seguir, onde o
intuito principal da escola é fazer com que esses jovens possam trabalhar na própria comunidade e
queiram continuar lutando por melhorias para a mesma, criando assim essa ―elite intelectual‖, que
venha a garantir o desenvolvimento da comunidade.
No decorrer da entrevista com o diretor ele ainda ressaltou a importância de interligar os
dois mundos, o dos indígenas e dos não indígenas, onde ele fala, que se faz necessário buscar outras
entidades de ensino, para que ocorra entre os povos uma troca de conhecimentos e os dois possam
através dessa parceria, alargar os horizontes da educação e do conhecimento. Segundo Elenilson
Kanindé:

[...] o meu papel dentro da escola hoje, é garantir que esses dois mundos, o mundo indígena
ainda esteja presente dentro da vida da comunidade e também que seja preservado esses
saberes que não são indígenas, que as lideranças acham fundamental hoje para o
crescimento e sustentabilidade de tudo isso que a gente tem hoje [...]. (Elenilson Kanindé,
Diretor da Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel Francisco dos
Santos, 2014).

Com isso percebe-se que a comunidade permite trocas de experiências, ao mesmo tempo em
que quer aprender novas técnicas de cultivo, e de utilização total de alimentos, permitindo assim
que outros povos de culturas diferentes, adquiram conhecimentos por meio de depoimentos, repasse
de crenças, ensinamentos, através de pessoas com mais vivência dentro da comunidade, histórias
vividas somente por idosos e que até hoje norteiam seu modo de vida permitindo que seja repassado
para outras gerações, a maneira de enxergar variadas situações que permeiam a vida.
Ao falar sobre o objetivo da Escola Indígena Kanindé a respeito da formação dos alunos e
professores o diretor Elenilson Kanindé, diz que:

[..] grande intuito da escola né, a escola hoje ela não ver mais, a escola só como um espaço
de fortalecimento da cultura né, os alunos hoje entende na pedagogia de formação da
escola, a gente já entende as lideranças já entende sobretudo que esses alunos tem que sair
da aldeia pra se formarem lá, pra vim pra dentro da comunidade pra dá continuidade ao
trabalho né das lideranças que estão indo embora, que os encantados estão levando, até
porque eles entendem que essa luta hoje não é mais uma luta braçal, é uma luta sobretudo
política, é uma luta formativa sobretudo capacitar ma elite intelectual dentro da comunidade
que venha garantir a sustentabilidade, o respeito né, pelas leis que regulamentam e
asseguram toda as comunidades indígenas, sobretudo que tratam do respeito aos modos de
vivência, as culturas desses povos, o modo de alimento desse povo que a sociedade normal
vem engolindo isso a cada momento a cada dia [...]. (Elenilson Kanindé, Diretor da Escola
Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Manoel Francisco dos Santos, 2014).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1353


Contudo, ao falar em educação na escola indígena, atualmente não se busca somente mostrar
a cultura e os modos de vida, mas sim entrar em contato com outros mundos, conhecer outras
realidades e conseguir fazer intercâmbio com outras instituições, nas quais possibilitam ao povo
Kanindé, obter conhecimentos novos e está junto ao seu povo entendendo sobretudo além da
questão da comunidade, mas também o mundo e suas mudanças fora da realidade da escola, pois
em meio a este mundo globalizado, muitos sãos os valores, os costumes que também entram em
mudança juntamente com os atores da tal mudança, assim é necessário se ter uma mente aberta,
para novo, bem como não deixar de valorizar o antigo, como os valores repassados, o significado do
que é realmente importante para a vida e principalmente para a questão da sustentabilidade da
aldeia por meio da educação e do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão indígena no país perpassa por grandes transformações no que diz respeito ao
direito e a conquistas que os índios tem diante da sociedade, visto que mesmo em passos lentos,
mas por meio de grandes lutas estes estão conseguindo seus direitos principalmente com relação a
educação e saúde.
Na presente pesquisa buscou-se ressaltar a educação diferenciada indígena Kanindé como
maneira de promover um fortalecimento da legitimação da terra, dando forças para o alto
reconhecimento da aldeia em pesquisa. De acordo com o Art. 231, parágrafo 1º da Constituição
Federal terra indígena são aquelas tradicionalmente ocupadas por índios e por eles habitada sem
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação
dos recursos ambientais necessários ao seu bem estar, e às necessárias à sua reprodução física
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições (BRASIL, 200)
Tal debate está diretamente vinculado ao desenvolvimento do povo indígena Kanindé,
considerando ainda o fato de que os jovens e crianças sejam atores de desenvolvimento e
crescimento do saber indígena em conjunto com o saber científico adquirido na escola, conseguindo
trazer para a aldeia espaços para o melhor desenvolvimento da comunidade e melhores condições
de vida, como é o caso da maneira como eles trabalham durante os meses dentro da aldeia em
conjunto com as famílias e os jovens estudantes da Escola Indígena, segundo o PPP da Escola
Diferenciada Manuel Francisco dos Santos66.

[...] é destinado como tarefa diária do aluno e da família, garantir que a carga horária de 20
horas semanais de aula seja preservada, garantindo desta forma a realização por completo
das atividades escolares. Os tutores ficaram na escola para receber os alunos nos casos de
dúvidas nas atividades e quando solicitado ir à casa do mesmo para esclarecer para o pai

66
PPP da Escola Diferenciada Indígena Manoel Francisco dos Santos, Aratuba – Ceará, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1354


como deveram prosseguir na realização do estudo, e os tutores quando no espaço escolar
irão organizar as produções dos alunos para proporcionar subsidio pedagógico e fonte de
pesquisa. Com isso pretendemos está despertando nos alunos Habilidades para
comunicação falada e escrita na língua portuguesa. Conhecer e valorizar a história dos
velhos da aldeia. Aproximar os pais da escola e Resgate cultural [...].

Envolver a comunidade escolar e local para os Índios Kanindés é primordial no processo de


definição do projeto político pedagógico e em qualquer situação no qual irá atingir a comunidade
como um todo. Para a construção desse projeto foram convocadas as lideranças da Escola,
lideranças da comunidade ―guardiões da memória‖, corpo administrativo da escola, professores,
representantes de pais e alunos, e por meio de encontros, são ouvidos objetivando a melhoria da
qualidade dos serviços prestados à comunidade com base na realidade escolar. Foi preciso entender
que o Projeto Político Pedagógico da escola é como uma reflexão de seu cotidiano.
Segundo o professor Suzenalson Kanindé (2014) o PPP da Escola Diferenciada Manoel
Francisco dos Santos é um projeto que se renovará constantemente, na teoria e na prática, sempre
buscando novas ideias, propostas e realizações, rompendo com suas formas hierárquicas, mas
baseando-se no respeito, na autonomia e na responsabilidade. E por meio deste mostrar o que é
aplicado na escola que o torna um diferencial e um maior desenvolvimento da aldeia.
Portanto, além da posse das terras, veio à conquista pela saúde e a educação, no qual esta
última foi objeto principal desta pesquisa onde apontou-se que mesmo cada povo tendo sua história,
sua forma de contato com outros índios e não-índios, sua organização social, econômica e política,
suas concepções de vida, morte, tempo, espaço e natureza. Esses povos hoje formam uma elite
intelectual dentro das aldeias, para que essa elite possa, sobretudo buscar melhorias para os povos
indígenas, por meio de lutas com o governo e por meio dos dois conhecimentos, tanto os
tradicionais como os técnicos, também chamados de ―saberes dos brancos‖, em que os estes se
inter-relacionam em prol das melhorias locais para os indígenas ainda existentes.
Para tanto a escola que os índios querem no Brasil, é uma escola comunitária conduzida pela
comunidade indígena, com autonomia na organização do currículo, do calendário e da
administração, ao mesmo tempo em que intercultural, bilíngue ou multilíngue, que valorize a
diversidade cultural e linguística e promova entre os povos o intercâmbio de experiências
socioculturais, linguísticas e históricas. Sendo além de tudo específica e diferenciada concebida e
planejada de acordo com as aspirações de cada povo, aldeia ou comunidade indígena.

REFERÊNCIAS

CAMARGO, D. M. P.; ALBUQUERQUE, J. G., Projeto Pedagógico Xavante: tensões e rupturas


na intensidade da construção curricular. Cad. CEDES v23 n.61 Campinas dez. 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1355


CARNEIRO, R. O uso do solo e classificação da floresta (Kuikúro). In: RIBEIRO, Berta (Coord.).
Suma etnológica brasileira. Etnobiologia. 2 ed. S.1.; s.n., 1987. p. 47-56, v. 1.

COSTA, R. H. da, 1958 - O mito da desterritorialização: do ―fim dos territórios‖ à


multiterritorialidade. 2a.ed. – Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2006. 400p.

COLAÇO, Thaís Luzia. “Incapacidade” indígena: tutela religiosa e violação do direito guarani nas
missões jesuíticas. Curitiba: Juruá, 2000.

DIEGUES, A. C. S. & ARRUDA, R. S. V. (org.). Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.


Brasília: MMA. São Paulo : USP, 2001

FARIA, I. Ecoturismo indígena como princípio de autonomia e afirmação cultural. In: SEBRA. G.
(Org.) Turismo de base local: identidade cultural e desenvolvimento regional. João Pessoa: Ed.
Universitária/ UFPB, 2007. p.287-308.

FALS BORDA, Orlando. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o papel
da ciência na participação popular: In: BRANDÃO, C. R. (Org.). Pesquisa participante. São
Paulo: Brasiliense, 1983. Retirei de Gil.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2012.

GALLOIS, Dominique. Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades? In: FANY, Ricardo (Org.).
Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São
Paulo: Instituto Socioambiental, 2008, p. 37-41.

GIANNINI, I. V. Os índios e suas relações com a natureza. In: GRUPIONI, Luis Donisete Benzi
(org.). Índios do Brasil. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.

GOMES, Alexandre Oliveira. Aquilo é uma coisa de índio: objetos, memória e etnicidade entre os
Kanindé do Ceará. Recife, 2012.

MONTENEGRO, Antônio Torres. História Oral e Memória. A cultura popular revisitada. São
Paulo: Contexto, 2003.

RUSSO, Renato. Índios. (música). 2009.

PAREDES, A. B. P. A Educação Ambiental em Comunidade Indígena Terena: a percepção de


alunos e professores visando o desenvolvimento local na Aldeia Lagoinha Distrito de Taunay -
Aquidauana – MS Universidade Católica, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1356


PALADINO, M. Educação Escolar Indígena no Brasil Contemporâneo: entre a "Revitalização
Cultural" e a "Desintegração do Modo de Ser Tradicional". 2001 Paper Disponível em:
http://www.rizoma.ufsc.br/antigo/semint/trabalhos%202/Mariana%20Paladino.UFRJ.doc.
Acesso em: 05 nov. 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1357


UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FEIRA DE CIÊNCIAS E A
SIGNIFICANCIA DO LIXO (DA GERAÇÃO À DESTINAÇÃO)

Ingrid Cândido de Oliveira BARBOSA


Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas IFAM
ingridcandido.bio@gmail.com
Janari Ruy Negreiros da SILVA
Docente do Curso de Licenciatura em Ciências biológicas IFAM
macuxi13@hotmail.com
Ana Lucia Soares MACHADO
Docente do Curso de Licenciatura em Ciências biológicas IFAM
ana.machado@ifam.edu.br

RESUMO
O estatuto da educação ambiental deve constituir-se para o ambiente escolar como fundamento para
a preservação da vida no planeta. É importante começá-la, no presente, pelas crianças e jovens, pois
são o futuro. A escola como uma organização social que produz conhecimento e forma o ser social,
deve cumprir o papel de conscientização sobre os problemas ambientais e materializar pressupostos
para amenizá-los e evitá-los. Diante de tal quadro, o presente texto foi concebido para contribuir
com a questão, principalmente, por se tratar do bioma amazônico. Para isso, foi elaborada uma feira
de ciências com o tema: boa utilização do lixo. Os alunos se dividiram em três turmas onde, cada
grupo ficou responsável pela produção e apresentação de trabalhos relacionados à temática
ambiental, juntamente com subtemas. Como resultado, a feira de ciências proporcionou aos alunos,
seu envolvimento direto e ativo no processo de planejamento e organização, os discentes se
envolveram em atividades no decorrer da feira, mostrando bom desempenho coletivo.
Palavras-chave: Feira de ciências, lixo, educação ambiental, ensino fundamental.

ABSTRACT
Environmental education nowadays is of fundamental importance in regard to the environmental
preservation of our planet. It is important to begin with the children and young people as the future
of the planet are they, the school as an organization that brings together information and imparts
knowledge to students , should fulfill the role of awareness on environmental issues and make clear
how to avoid or mitigate them them. The methodology used was the development of a science fair
with the theme: good utilization of waste. Students were divided into three groups where each group
was responsible for the production and presentation related to the theme of the Fair along with some
related subthemes work. As a result the science fair gave students direct and active involvement in
the planning and organization of the same process, students engaged in their activities during the
fair, through a good collective performance

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1358


Key-words: Science fair, waste, environmental education, elementary education.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental nos dias atuais é de fundamental importância na preservação da vida


no planeta. Tal pressuposto é importante começar pelas crianças e jovens no contexto escolar, pois
essa como organização produtora de conhecimento, deve cumprir o papel de sensibilizar seus
agentes educativos sobre a gravidade dos problemas ambientais e proceder com alternativas
metodológicas para amenizá-los ou evitá-los.
A escola de ensino fundamental Professor Cunha Melo, localizada no Centro da cidade de
Manaus-AM, foi escolhida para a materialização dos objetivos deste trabalho, por ser uma escola
onde muitos discentes estão inseridos em uma realidade social precária, advindos de bairros
vizinhos menos privilegiados, desprovidos de vários serviços públicos. Tendo em vista a realidade
já comentada, o presente trabalho assumiu como objetivo apresentar a Feira de Ciência como forma
de despertar o interesse dos discentes do 6° ano do ensino fundamental para a importância do
tratamento da educação ambiental para a transformação social a partir da escola.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

A educação formal exerce o papel de preparar o educando a apreender o mundo, a aprender


a respeitar o próximo, a natureza, enfim a vida, pois por meio da educação se aprende a ser ético,
humano, a viver em grupo e a lutar pelo seu bem e dos demais. A educação é um dos principais
caminhos para a proteção da natureza.
Naturalmente somos levados a compreender melhor as coisas quando vivenciamos a prática,
e isso nos faz entender que a melhor maneira de ensinar o aluno aprender é quando o mesmo passa
a ter contato diretamente com objeto de estudo, o que pode ser exposto de forma didática por meio
de uma Feira de Ciências que trabalhe a temática em questão.
De acordo com Lima (2008), as Feiras de Ciências compreendem instrumentos que
despertam a curiosidade e o interesse dos alunos, permitindo troca e ampliação de aprendizagem.
Afirma que as Feiras são fundamentais como mobilizadoras de produção científica, uma vez que a
expectativa em expor um trabalho de sua autoria, promove nos alunos compromisso com a
qualidade do conhecimento trabalhado.
Dentre os objetivos de uma Feira de Ciências destacam-se: incentivar a atividade científica;
estimular planejamento e execução de projetos próprios; despertar conhecimento científico em
expectativa de bem comunitário; e proporcionar experiências significativas no campo de difusão de
conhecimento e intercâmbio de informações. (op. Cit., 2000).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1359


Dentre as características desejáveis evidenciadas pelos trabalhos expostos numa Feira de
Ciências, merecem menção, conforme Gonçalves (2008) e Hartmann e Zimmermann (2009): o
caráter investigativo, a criatividade, a relevância e a precisão científica. Desta forma, a produção de
conhecimento é permeada pela investigação, pelo uso de materiais alternativos, pela coerência com
os problemas e objetivos levantados e pela importância que os trabalhos apresentam para a
comunidade. Partindo desta premissa surgem as questões ambientais, como aporte, a serem
discutidas em ambiente escolar, no intuito de fomentar no aluno desenvolvimento crítico frente às
questões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas ligadas aos temas ambientais. O lixo é,
indubitavelmente, um elemento com tal potencial, e precisa ser abordado em sala de aula; sua
geração, seu destino, sua ação danosa, sua redução e até mesmo a não produção. O ator escolar
precisa ser desafiado a pensar sobre o assunto, pois este é um tema atual e presente em todo e
qualquer contexto. Com base nessas questões, a escola estadual Senador Cunha Melo promoveu no
mês de setembro de 2012, uma Feira de Ciências voltada para a sensibilização sobre a produção de
lixo, visto que o aluno necessita refletir sobre as possibilidades de tratamento adequado do lixo,
muitas vezes, gerado na escola pelos mesmos no decorrer do dia. Conforme Vieira (2004), a luta
pela preservação do meio ambiente está diretamente relacionada, dentre outras questões, com o
gerenciamento inadequado de materiais residuários, como o lixo.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado na Escola Estadual Senador Cunha Melo localizada na
cidade de Manaus, participaram da atividade três turmas do 6° ano, sendo um total de setenta e
cinco (75) discentes. A metodologia utilizada teve como fundamento uma ação educativa e
participativa, buscando envolver os estudantes em todas as etapas do processo – do planejamento à
execução. Dessa forma, houve planejamento juntamente com os professores de ciências acerca das
atividades a serem desenvolvidas, a partir do tema da Feira: ―Boa utilização do lixo‖. A etapa
seguinte correspondeu à apresentação do projeto da Feira para as turmas, destacando-se que todo o
processo de planejamento, organização e realização do evento estaria sob sua responsabilidade,
porém, com orientação dos professores de ciências.
Os alunos foram organizados em 15 grupos de 5 cada, onde cada um ficou responsável por
um tipo de atividade como: pesquisa do tema, ornamentação da sala, apresentação do tema,
confecção de matérias para exposição. Cada grupo ficou responsável pela produção e apresentação
de trabalhos relacionados à temática da Feira e seus respectivos subtemas.
Os subtemas definidos foram os seguintes: O que é lixo; Doenças transmitidas por meio do
lixo, tipos de lixo e seleção é a solução.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1360


Para cada um dos subtemas, a partir de uma orientação inicial, foi definida uma proposta de
ação a ser desenvolvida durante a realização da feira. Diante disso, cada grupo se envolveu em suas
respectivas atividades, organizaram a forma de exposição e apresentação do subtema que lhes foi
proposto, juntamente com o auxilio do professor.
Para elaboração e execução dos subtemas, cada um dos grupos foi orientado a realizar:
I. Produção de materiais correspondentes ao subtema definido para o grupo, de maneira que
se tornasse possível um aprendizado dinâmico e ativo. O tipo de material produzido variou entre:
cartazes, modelos, maquetes, caixas de lixo feitas de papelão, faixas etc. Soares (2003) recomenda o
emprego de estratégias desse tipo para dinamizar o processo de aprendizagem dos alunos.
II. Auxílio textual: Os alunos que iriam expor o trabalho de forma oral contaram com o
suporte de textos sobre a fundamentação teórica acerca do tema, objetivos e materiais utilizados nas
apresentações, além do processo de produção, bem como sua utilização.
III. Socialização: Momento de culminância onde o resultado final dos miniprojetos –
materiais seria exposto no âmbito da escola, para a comunidade adjacente que também poderia
participar da feira, acompanhando o desempenho de seus filhos.
Ao longo de todo esse processo de construção e das ações desenvolvidas, aconteceram
reuniões de orientação entre os professores e os grupos, além de reuniões entre os alunos das três
turmas, com vistas a garantir a interdisciplinaridade e a articulação teoria/prática pretendidas.
O evento foi realizado no mês de setembro, utilizando as salas de aula, a biblioteca também
foi utilizada para possíveis pesquisas e confecções de materiais sob a supervisão de estagiários da
escola. Os referidos espaços foram ambientados de acordo com o subtema dos trabalhos
apresentados, e as salas ficaram abertas para visitação nos turnos da manhã e tarde.

RESULTADOS E DISCUSÕES

A realização da Feira de Ciências pode ser descrita e analisada tomando-se por base três
momentos: Planejamento, organização e realização. E, é a partir dessa perspectiva que
apresentaremos os resultados da experiência vivenciada.
As etapas de planejamento e organização, dizem respeito à fase em que os alunos se
envolveram em suas respectivas atividades, por meio de um bom desempenho coletivo para a
realização da feira. A execução destas etapas foi de fundamental importância para que fossem
estabelecidas algumas metas, como por exemplo, levar informações sobre coleta seletiva e como
separar o lixo adequadamente evitando assim possíveis problemas de saúde. Outra meta
estabelecida foi como seriam feitos os materiais como lixeiras e produtos reciclados para a
exposição onde os próprios alunos confeccionaram. Também houve a elaboração de panfletos
contendo informações sobre coleta seletiva.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1361
Como resultado cada turma elaborou de que forma iria expor seu subtema para a escola. As
turmas optaram por desenvolver suas palestras no decorrer da feira da seguinte forma:

- Subtema ―o que é lixo?‖: Uma bancada contendo objetos em desuso e que não serviam
mais, como chiclete, jornal velho, papelão, vidro quebrado etc., além de cartazes feitos com fotos
do entorno da escola e do bairro. À medida que os visitantes entravam nas salas de exposição, os
previamente selecionados para discursar sobre a temática se apresentavam e abordavam questões
teóricas, sobre o conceito de lixo e como o mesmo era visto com frequência no nosso cotidiano, em
rua, rios e igarapés.
- Subtema ―doenças transmitidas pelo contato com lixo‖: Houve a produção de um jogo em
forma de tabuleiro pela turma contendo questões acerca da dengue, quem entrava na sala e quisesse
poderiam brincar, além disso, também houve confecção de cartazes e os alunos ornamentaram a
sala com garrafas pet, alguns pneus de bicicleta e recipientes que acumulam água parada como latas
enferrujadas.
- Subtema ―tipos de lixo‖: Bancada contendo pequenas amostras de tipos variados de lixos
recicláveis e não recicláveis.
- Subtema ―seleção é a solução‖: Os alunos confeccionaram cestas de papelão pra explicar
quais os tipos de lixos recicláveis, bem como identificar em que lixeira depositar cada resíduo de
acordo com sua composição. As lixeiras tinham as cores típicas de cada material como: azul para
papel; amarelo para vidro; vermelho para plástico etc. (Figura 1 A e B).
O envolvimento direto e ativo dos alunos no processo de planejamento e organização da
feira pretendeu despertar-lhes a consciência da necessidade de um esforço coletivo para organização
de um evento dessa natureza, mas principalmente fazê-los refletir e vivenciar a importância do
planejamento no processo educativo.
A partir dos trabalhos apresentados, pode-se considerar que o objetivo foi alcançado, uma
vez que em sua maioria, os mesmos faziam reflexões que apontavam para despertá-lo da
consciência para o enfrentamento do problema do lixo, não somente no ambiente escolar, mas em
suas próprias casas.
A diversidade de material produzido despertou a atenção do público para a programação,
possibilitando-lhes acesso a informações, metodologias e recursos diversificados. Entre os recursos
e materiais que mais se destacaram, podemos citar o jogo sobre a dengue e os materiais decorativos
confeccionados com sucata.
Os jogos são reconhecidamente importantes pelo seu caráter motivador e prazeroso para
alunos e professores, e pela sua capacidade de reforçar efetivamente aspectos importantes da
aprendizagem (WARD et.al., 2010). No caso específico dos jogos produzidos para a feira, soma-se

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1362


o sentido dado ao material empregado, como sucata, o qual possibilitou a abordagem da temática
ambiental, a partir da inserção de princípios como: Tratamento adequado do lixo e seus
desdobramentos negativos ao meio natural.
As reflexões sobre a questão do reaproveitamento de material, também marcou a
apresentação dos materiais decorativos, tanto direcionados para o ambiente escolar, quanto para o
ambiente comunitário (Figura 2 A e B).
Acreditamos que tais reflexões possam contribuir, em especial, para o alcance de pelo
menos uma das diretrizes do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, que seria o de promover a compreensão das causas do consumismo, e‘
agir para a transformação do sistema que o sustenta, assim como internalizar a questão ambiental
como valor ético avaliação de nossa conduta cidadã (REBEA, 1992).

Figura 1: A) alunos confeccionando as cestas de lixo B) Cestas prontas e expostas pelos alunos na feira.

Figura 2: A) alunos se apresentando B) Jogo de tabuleiro sobre a dengue

CONCLUSÃO

Com a realização da feira de ciências na Escola Estadual Senador Cunha Melo, os objetivos
inicialmente propostos foram alcançados. As informações referentes à coleta seletiva de lixo,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1363


reciclagem e o problema do lixo foram levadas aos alunos, assim como também sensibilizá-los a
respeito da responsabilidade de cada um no meio em que estão inseridos apartir dos pressupostos da
educação ambiental.
Esse trabalho proporcionou a busca da compreensão de como trabalhar educação ambiental
por meio de feiras de ciências dentro da escola colocando os alunos frente a conceitos, valores,
atitudes, posturas, éticas, e, principalmente a mudança de comportamento em relação ao meio
ambiente, despertando-os para um compromisso com a preservação do meio em que vive.
Acreditamos que ao proporcionar aos alunos oportunidade de socializar seus conhecimentos,
bem como resultados de pesquisas, a atividade, possibilitou a vivência de um dos procedimentos
considerados fundamentais para a compreensão da ciência, que seria o de comunicar a informação,
posto que a capacidade de argumentar, redescrever e comunicar os próprios conhecimentos, é, no
mínimo, tão importante quanto os próprios conhecimentos, na medida em que o ato de explicar se
torna também uma fonte contínua de novas aprendizagens (POZO E CRESPO,2009).

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONÇALVES, T. V. O. Feiras de ciências e formação de professores. In: PAVÃO, A. C.;


FREITAS, D. Quanta ciência há no ensino de ciências. São Carlos: EduFSCar, 2008.

HARTMANN, A.M.; ZIMMERMANN, E. Feira de Ciências: a interdisplinaridade e a


contextualização em produções de estudantes de Ensino Médio. Encontro Nacional de Pesquisa
em Educação em Ciências, vol. 07, Florianópolis, 2009. P. 1-12.

LIMA, M. E. C. Feiras de ciências: o prazer de produzir e comunicar. In: PAVÃO, A. C.;


FREITAS, D. Quanta ciência há no ensino de ciências. São Carlos: EduFSCar, 2008.

POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento


cotidiano ao conhecimento científico. Tradução Naila Freitas. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

REDE BRASILEIRA DE EA (REBEA). Tratado de Educação Ambiental para Sociedades


Sustentáveis e Global, 1992. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/tratado.pdf. Acesso em
27/04/2014.

VIEIRA, D.P.; COMIS, R; CHIVA, E.Q. & QUEROL, M.M. (2004). Atividades de Educação
Ambiental visando a melhoria da qualidade de vida da população do Centro de Educação
Ambiental Nova Esperança, (CEANE), Vila Nova Esperança, Uruguaiana, RS, mediante o

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1364


manejo dos resíduos domiciliares (Resultados Parciais). Educação Ambiental em Ação. No. 11.
Disponível em http://www.revistaea.arvore.com.br/index.php

WARD, H. et. al. Ensino de Ciências. Tradução de Ronaldo Cataldo Costa. 2 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1365


O ETHOS NO GEOSSÍTIO COLINA DO HORTO: DA CARACTERIZAÇÃO
GEOMORFOLÓGICA E CULTURAL PARA A ANÁLISE DO DISCURSO
IDENTITÁRIO FEMININO

Maria Nubia de Almeida TAVARES67


Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade Regional do Cariri
nubiatavares_tavares@hotmail.com
Yara Mabele Rodrigues da SILVA68
Graduanda do Curso de Bacharel em Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri
yara.mabele.rodrigues@hotmail.com
GianeTaeko Mori RODELLA69
Professora de Letras da Universidade Regional do Cariri
gianetaeko@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho é fruto de resultados parciais de uma pesquisa sobre a constituição da
identidade feminina nos geossítios do Geopark Araripe (G.A). A mesma ainda está em andamento e
para esta análise foi escolhido o geossítio ―Colina do Horto‖, localizado em Juazeiro do Norte,
estado do Ceará. Esse geossítio é um dos nove que compõe o território do G.A. Esse local peculiar é
caracterizado pelas crenças, tradições religiosas voltadas à devoção ao Padre Cícero, tido como
milagreiro e protetor dos nordestinos, e pelas inúmeras romarias que ocorrem com mais ênfase nos
―dias santos‖ e com número menor de devotos durante o ano. Através da metodologia de análise
baseada em dados quantitativos descritivos com observação direta constituída de observação em
equipe, observação sistêmica e entrevistas focalizadas, o instrumento coletor de dados foram
entrevistas com perguntas diretas, com estímulo temático em torno dos assuntos ―família‖,
―religião‖ e ―tradição‖.Investigou-se nos trechos transcritos de uma entrevista em particular que
constituiu o corpus para esta abordagem, a seleção de lexemas presentes nas falas da entrevistada,
que contribui para formação do ethos feminino neste local. A ferramenta utilizada para essa análise
foi a da semiótica discursiva, na abordagem que faz sobre a constituição identitária do sujeito,
através dos símbolos e valores abstraídos em seu discurso e que são concretizados por intermédio
da fala. Partiu-se, portanto, dos seguintes pressupostos: a) que o pensamento humano é basicamente
social e público e, b) que os símbolos religiosos e/ou culturais são partes indispensáveis desse
mecanismo.Procurou-se investigar, nessa perspectiva, os lexemas associados às VIRTUDES e às

67
Estagiaria do Geopark Araripe
68
Estagiaria do Geopark Araripe
69
Professora orientadora; Mestre em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo; Pesquisadora e
Colaboradora do Geopark Araripe.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1366


DESVIRTUDES manifestadas na fala da entrevistada, para identificar os valores associados a essa
construção identitária feminina.
Palavras-chaves: Identitário Feminino; Geossítio Colina do Horto; Semiótica Discursiva.

ABSTRACT
This paper is the result of the partial results of a research about the constitution of the feminine
identity in the GeoparkAraripe'sgeosites (G.A.). This research is still in course and to this analysis,
it was chosen the geosite "Colina do Horto", located in Juazeiro do Norte, Ceará state. This geosite
is one of the nine geosites which form the G.A.'s territory. This peculiar place is characterized by
beliefs, religious traditions turned to the devotionto Padre Cicero, known as miracle-worker and
protector of the northeasterns and by the several pilgrimages that occur withmore emphasis in "holy
days" and with a smaller number of devouts during the year. Through the analysis methodology
based in quantitative and descriptive data with direct observation constituted of group observation,
systemic observation and focused interviews, the instruments used to colect data were interviews
with direct questions, with thematic stimulus turned to the issues "family", "religion" and
"tradition". It was investigated on the transcripted excerpts of one particular interview that
constituted the corpus to this approach, the selection of lexemes included in the respondent's
speech,which contributes to the formation of the feminine ethos in that place. The tool used to this
analysis was the discoursivesemiotics, in the approach about the subjects' identity constitution,
through the symbols and values abstracted in his/herdiscourse and are materialised through the
speech. The following assumptions were made: a) the human thought is basicallysocial and public
and b) the religious and/or cultural symbols are indispensable parts of this mechanism. It was
sought toinvestigate, in this perspective, the lexemes associated to the VIRTUES and NON-
VIRTUES manifested in the respondent'sspeech, in order to identify the values associated to this
feminine identity construction.
Keywords: Feminine Identity; GeoparkColina do Horto; Discoursive Semiotics

INTRODUÇÃO

O Geopark Araripe está localizado ao sul nordestino do Estado do Ceará, na cidade de


Crato, no território da Bacia Sedimentar do Araripe. Abrange uma área de 3.441 km²,
predominando seis cidades cearenses, são elas: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Nova Olinda,
Missão Velha e Santana do Cariri, onde estão distribuídos os nove Geossítios deste território. Este
projeto é apoiado pela UNESCO e foi criado no ano de 2006 através de iniciativas do Governo do
Estado do Ceará em parceria com a Universidade Regional do Cariri- URCA.
Segundo a UNESCO, o Geopark se define por ser:

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1367


(...) um território com limites bem definidos que tem uma área suficientemente grande para
que sirva ao desenvolvimento econômico local. Compreende certo número de sítios
associados ao patrimônio geológico de importância cientifica especial, beleza ou raridade,
representativo de uma área de sua história geológica, eventos ou processos. Além disto, um
Geopark deve ter valor ecológico, arqueológico, histórico ou cultural. (UNESCO, 2005.)

Desse modo, é um território que promove a Geoconservação, a Educação Ambiental e o


desenvolvimento econômico da localidade, atrelado ao projeto do Geoturismo, oportunizando
visitações aos locais. Dentro desse território está compreendido o geossítio de maior importância
que serviu de base para o desenvolvimento desse trabalho. O Geossítio Colina do Horto,localizado
na Cidade de Juazeiro do Norte. Este que é caracterizado pelos aspectos econômicos, cultural e,
principalmente, religioso.
A cidade de Juazeiro do Norte, conhecida como a terra do Padre CíceroRomão Batista, está
localizada ao Sul do Estado do Ceará na região Nordeste e possui uma área territorial de 248.832
km², suportando uma demanda demográfica de 263.704 pessoas. Em linha reta, Juazeiro se
distancia da capital de Fortaleza por 396,0 km. Possui clima quente semiárido e tropical e quente
semiárido brando, sua estação chuvosa é variada, sua temperatura média é de 24° a 26°C.Seu relevo
é formado pela Chapada do Araripe e Depressões Sertanejas, solos aluviais e podzólico vermelho –
amarelo.Apresenta vegetação da floresta caduciforme espinhosa e por fim da caracterização
geológica,sobre o abastecimento de água, a principal fonte é a bacia hidrográfica do Rio Salgado.
Dentro dessa cidade está localizada a ―Colina do Horto‖, se distanciando apenas 3 km do
centro da cidade. É o ponto mais alto do município, pois tem uma vista topográfica privilegiada das
cidades que a ―contornam‖: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e da Bacia Sedimentar do Araripe.
A colina é formada por rochas do embasamento Cristalino da bacia sedimentar do Araripe, possui
cerca de 650 milhões de anos de formação.
O local anteriormente é conhecido como ícone da fé e da cultura Nordestina. A estátua do
Padre Cícero foi construída no ano de 1969, após 35 anos da sua morte e possui 27 metros de altura.
Este memorial atrai milhares de romeiros todos os anos de todas as idades.
A cidade de Juazeiro do Norte é a maior do território compreendido pelo Geopark Araripe.
A cidade atrai pessoas de todos os lugares do nordeste devido à devoção ao mencionado Padre
Cícero, popularmente "Padim Padre Cícero", grande figura histórica, política e religiosa. Durante
todo o ano, centenas de romeiros frequentam o local e já se tornaram parte constituinte da cultura
dali. As romarias fazem do Juazeiro do Norte o terceiro maior pólo de peregrinação do país. Na
cidade há uma variedade de atrativos principalmente religioso-culturais.
O principal ponto de visitação no Geossítio Colina do Horto (além da estátua doPe. Cícero)
é o Museu Vivo, o Santo Sepulcro e a Muralha da Sedição de 1914.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1368


Representando a cultura juazeirense há o artesanato produzido por pessoas que, em sua
maioria, vieram de vários estados nordestinos com o propósito de afixar residência ao redor da
estátua do Padre. A produção é caracterizadapelas miniaturas da estátua do―Padin‖ em estilo
Barroco, em cores, esculpida em madeira ou trabalhada no gesso.Nas produções de imagens
também se pode encontrar outros santos católicos ou de outras religiões: de Nossa Senhora da
Aparecida aos Orixás.
O centro cultural que representa a arte sacra é composto pela Associação dos Artesãos da
Mãe das Dores, pelo Mercado Central e o Centro de Mestre Noza. Essa arte se estende na produção
dos cordéis e xilogravuras, tudo fruto da criatividade do artista local, que retrata a realidade
juazerense de um jeito peculiar.
Nesse contexto de grande destaque cultural e religioso foi despertado o interesse para as
temáticas feministas relacionadas à forma de inserção da mulher na sociedade de Juazeiro do Norte.
O principal foco foi avisão sobre a mulher, por ser aparentemente caracterizada pela Igreja Católica,
através do destaque para alguns comportamentos definidos como VIRTUDES e outros como
DESVIRTUDES.
Dentre as chamadas ―VIRTUDES‖ estãoasexpressõessintáticasou de lexemas que giram em
torno dos campos semânticos do: cuidado com o próximo, generosidade e maternidade.
Caracterizações que parecem fazer parte natural do senso ideológico comum do local. E,
relacionadas às DESVIRTUDES, as expressões que as referenciam são: prepotência, arrogância e
desonestidade. Expressões estas que podem estar explícitas ou apenas negadas por elementos
linguísticos de omissão. Nesse último caso, entrariam em evidência os aspectos que afirmam a
NÃO VIRTUDE.
Nessa perspectiva vale antecipar dois importantes pontos para a reflexão: um sobre o papel
da mulher engajada na sociedade e,outro, sobre seu vínculo aos comportamentos das VIRTUDES e
DESVIRTUDES enquanto parâmetros para as relações sociais.
Tais parâmetros podem ser entendidos como mecanismos de controle.Eestes, dentro do
aspecto cultural e religioso que define o espaço onde a pesquisa foi feita,fazem surgir os seguintes
pressupostos: a) que o pensamento humano é basicamente social e público e, b) que os símbolos
religiosos e/ou culturais são partes indispensáveis desse mecanismo.
De acordo com Geertz, os símbolos para o indivíduo tem sempre um propósito:

(...) O indivíduo particular enquanto vive, ele se utiliza deles, ou de alguns deles, às vezes
deliberadamente e com cuidado, na maioria das vezes espontaneamente e com facilidade,
mas sempre com o propósito: para fazer uma construção dos acontecimentos através dos
quais ele vive, para auto-orientar-se no "curso corrente das coisas experimentadas".
(Geertz, 1978, p. 57.)

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1369


Os símbolos sagrados contribuem para sintetizar o ethosde um povo. O ethos dentro da
prática religiosa confirma-se pelo fato de ser a visão de mundo daquele povo, tornado-se assim
emocionalmente convincente por ser apresentada num ―estado‖ de coisas verdadeiras. Essa mesma
concepção de ethos pode ser observada numa célula de análise menor, no âmbito do sujeito
idealizado numa prática discursiva, abordagem que será retomada ainda neste artigo de modo mais
detalhado.
A mulher que vive e convive neste espaço da Colina do Horto encontra-se inserida nesse
emaranhado simbólico de referência da obediência.Esse modelo feminino parece ser
repassadodiscursivamente pela Igreja Católica desde os remotos tempos da Idade Média,
consolidando-se, desde então, nos sermões e nas cobranças sociais externas feitas a essegênero.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo geral, identificar o (s) papel (éis)
da mulher do Geossítio Colina do Horto, através da oralidade.E,especificamente, analisar o gênero
feminino dentro dos aspectos culturais e religiosos, partindo da observação da fala, através de uma
entrevista em particular, quanto à aproximação sintática das expressões que remetem às
VIRTUDES e às DESVIRTUDES mencionadas anteriormente.As ferramentas linguísticas
utilizadas para análise foram as da Semiótica Discursiva.
A observação da fala, na presente abordagem, parte do princípio de que é esta manifestação
humana que concretiza pensamentos individuais e reflete pensamentos coletivos. Portanto, é o meio
pelo qual se acessa o pensamento público referido nos pressupostos da análise.
A pesquisaestá sendo desenvolvida através de métodos quantitativos descritivos com
observação diretaconstituída de observação em equipe, observação sistêmica e entrevistas
focalizadas.
O corpus selecionado para a análise foi constituído pela transcrição uma entrevista
resultante desta pesquisa que contém seus resultados parciais:afala da ―beata‖ mais velha do local.
Essa entrevista foi concedida e transcrita em agosto de 2014
A partir da seleção do corpusa observação deteve-se nos principais trechos da entrevistaque
abordou os temas: família, religião e tradição.

SUJEITO, DISCURSO, IDENTIDADE E O ETHOS

Na obra ―Astúcias da Enunciação‖ (FIORIN, 2005), afirma-se que a atividade discursiva ou


ato da enunciação deve ser considerado sob a perspectiva de matizes descritiva. Citando
Landowski, o autor afirma que a enunciação é o ato pelo qual o sujeito faz ser o sentido, e o
enunciado, o objeto cujo sentido faz ser o sujeito. Em outras palavras, ―fazer ser é a própria
definição de ato. Observe-se que o sujeito, que, por um ato, gera o sentido, é criado pelo enunciado.
Trata-se, pois, de uma entidade semiótica‖ (Landowski, apud Fiorin, 2005, p. 31).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1370
A ―entidade semiótica‖ a qual se refere Fiorin não é composta propriamente pelo indivíduo
―carne e osso‖ em si, mas pelas camadas significativas que formam seu discurso (manifestado pela
sua fala), que transparecem sua ideologia, sua crença, seu modo de ―fazer ser‖ o sentido das coisas.
Mais adiante, na mesma obra, o autor aborda a definição da ―pessoa demarcada‖, ou
actorialização como um dos componentes da discursivização. Para o linguista, baseado em
Benveniste em estudo do clássico ―Estrutura das relações de pessoa no verbo‖ (1966), as três
pessoas, para as quais os verbos se flexionam, não gozam do mesmo estatuto. Segundo ele,

O fato de termos formas distintas para as chamadas primeira e segunda pessoas do plural
mostra que não há nelas uma simples pluralização, enquanto na terceira pessoa isso ocorre.
(...) Embora haja um vós pluralizado, nós e vós são antes pessoas simplificadas.
Os significados das pessoas são:
 eu: quem fala, eu é quem diz eu;
 tu: aquele com quem se fala, aquele a quem o eu diz tu, que por esse fato se torna o
interlocutor;
 ele: substituto pronominal de um grupo nominal, de que tira a referência, actante do
enunciado, aquele de que eu e tu falam;
 nós: não é a multiplicação de objetos dêiticos, mas a junção de um eu com um não-eu;
 vós: há o vósplural de tu (dêitico) e o vós em que ao tu se juntam ele ou eles; (FIORIN,
2005, p. 60)

Em outras palavras, uma das características que marca a constituição identitária de um


sujeito por via de seu discurso é esta relação entre o eu e o tu manifestada em sua enunciação (no
caso dessa pesquisa, na transcrição da fala). Os atos de fala que revelam essa relação enunciativa
constroem a imagem idealizada do sujeito.

Essa imagem constrói-se, à maneira do ethos aristotélico (I, 135a). O ethosse explicita no
enunciado, mas na enunciação. Quando um jovem diz eu sou contra as normas de nossa
ordem social, está explicitando uma imagem sua no enunciado. Isso não serve de prova, não
leva à construção do ethos. O caráter de pessoa rebelde constrói-se na maneira como se
veste, como age, como fala, que lexemas escolhe etc. À medida que ela vai construindo o
texto de sua vida, vai dizendo estou contra a atual ordem social. A enunciação não é da
ordem do inefável. Por conseguinte, o ethosexplicita-se na enunciação enunciada, ou seja,
nas marcas da enunciação deixadas no enunciado. Portanto, a análise do ethosdo
enunciador nada tem do psicologismo que, muitas vezes, pretende in- filtrar-se nos estudos
discursivos. Trata-se de apreender um sujeito construído pelo discurso e não uma
subjetividade que seria a fonte de onde emanaria o enunciado, de um psiquismo
responsável pelo discurso. O ethos é uma imagem do autor, não é o autor real; é um autor
discursivo, um autor implícito. (FIORIN, 2007, p. 29 e 30)

Outras características que fazem parte da cena enunciativa contribuem para o


reconhecimento desseethos do sujeito idealizado. A polifonia é um exemplo que compõe o ethos
com contribuição mais no nível da superfície. Para FIORIN (2005, p. 62) ―a questão da polifonia
concerne ao fato de que várias vozes se apresentam no interior de um discurso. Essas vozes
parecem objetivadas ou não.‖.
Nessa perspectiva de apresentação das bases teóricas, faz-se necessário partir, então, para a
análise das transcrições da fala já mencionadas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1371


E NO BATE-PAPO: O DISCURSO

A entrevistada que aqui será chamada de Entrevistada Y (EY) faz parte da Comunidade do
Geossítio Colina do Horto desde criança.

A EY contou que seus pais vieram a pé de Campina Grande, Estado da Paraíba, quando ela
era ainda muito ―miúda‖, que tiveram essa ideia, movidos pela fé na fama dos milagres atribuídos
ao Padre Cícero. E quando chegaram ao Juazeiro, o ―Padin‖ já havia falecido fazia dois anos.
No entanto, resolveram fixar moradia ali mesmo na Colina do Horto. E desse modo, a EY,
conhecida também como a mais velha beata do local, foi criada pela família e pelos padres e demais
beatas que viviam a trabalhar para receber os inúmeros romeiros que se multiplicaram após a morte
do Santo Padre.
Segundo a EY, seus pais faleceram quando ela era ainda muito jovem e, por isso, começou
logo a ajudar nos afazeres domésticos da casa paroquial, a recepcionar os romeiros, cortar seus
cabelos, auxiliá-los no asseio após as longas jornadas de peregrinação. Desde então, nunca mais foi
embora e tem orgulho de dizer que atualmente, aos 90 anos, é mãe de todos os romeiros e que já fez
fotos com vários artistas muito famosos.
A legenda para identificar entrevistada e entrevistadora nas transcrições a seguir é:
Entrevistadora: 1 e Entrevistada: 2. E foram preservadas as características naturais e prosódicas do
ato comunicativo tais como as pausas longas (...), retomadas e interrupções (/) e variantes
sociolinguísticas. Na frente de algumas transcrições optou-se por colocar explicações necessárias
entre colchetes {}.
Na abordagemdos temas ―família‖, ―religião‖ e ―tradição‖, sua fala foi a que segue na
transcrição a seguir:

Família

1=(...) a senhora já foi casada?


2= Não nunca mim casei (...)
1= Nunca se casou... E também nunca namorou?
2= Há.../
1= Ai já é outras historias né? [risos]
2= é... as moças que diz que nunca namorou é mentirosa, [risos] Todas elas têm que tê um
paquera.
1= hanram
2= eu tive logo dois paquera/Rarai...!! [risos]
1= Teve dois paquera foi? [risos]
2= é eu só cunvesosurrindo, é artista é tudo se vier aqui termina tudo bolando de surri.
1= sim... ( )
2= agora eu sou mãe, pera ai,
1= Vamos lá...

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1372


2= eu sô mãe e vó e tia e madia de todos os romeiros e turistas!! {madrinha}
1= de TODOS os romeiros e turistas?
2= É. Que gosta de chamar de ―vó‖, de ―minha mãe‖, ―eu tenho que ver minha mãe‖... se ela fosse
feia que nem eu ela era alejada, eles saem morrendo de surrrir, nega, nega veia, neguinha, Lú, Lulu
é assim meu nome. {referindo-se orgulhosa aos nomes carinhosos que recebe dos turistas, romeiros
e demais habitantes que frequentam esse geossítiono dia-a-dia}

Religião

1= e... A senhora se considera católica praticante mesmo?


2= Engraçado, ser um católico é sempre fácil, né? Aqui e acolá ele sempre dá um erro. Mas eu
considero a creia em Jesus até morrer/ atéé morrer é num buraco enterrando e eu dizendo é Jesus,
Jesus, Jesus...
1= Então a senhora se considera católica?
2=Justamente eu sou da Igreja católica, olhe
1= hum..
2= ó agora eu num ando dizendo, ei eiei.. eu tenho o ―teço‖ aqui, mais num rezo, eu rezo o meu
teço/
1= o seu terço!
2=É! e que veio lá de Roma!
1= é mesmo?
2=Eu rezo as novenas de São José toda noite e pra todo mundo que vem, todo mundo que vem essa
novena é uma graça eu dou o povo e o povo alcança graça, acreditam em mim/
1= é meeesmo?
2= eu sou do coração de Jesus, sou associada, de nossa senhora auxiliadora sou associada o que é
que eu quero mais? Eu sou de dentro da igreja!
1=Então a senhora não teve nenhum filho da barriga, mas todos os outros que vêm aqui são seus
filhos, né?
2=É!Tudo é meu filho. Beija a cabeça tem um maior carinho, eu tenhu os artistas tudim que vem
aqui/
1= é mesmo?
2=Padre, bispo, doutor, tudo tá comigo no retrato. {referindo-se às fotos que tem dela com essas
pessoas que ela considera importantes}

Tradição

1= Dona ...? {nome omitido para preservar a privacidade conforme termo acordado com a
entrevistada}
2=Diz!
1=Qual que é a importância das beatas aqui na colina do horto?
2=olha povo mi chama de beata,
1= hum...
2=Os artistas, tudo:―a beata, a beata, a beata‖ e eu digo pra todo mundo/O padre às vezes chega mi
chama de beata e eu digo ―eu não sou beata‖, apenas eu sou uma velha que vive aqui na casa
grande, recebo todo mundo, mais beata eu num sô não, que a beata, a religiosa tem que dá seus
voto.
1= Aaaahh!!A beata é aquela que faz seus votos?
2=É!As freras {freiras}
1=As freiras!!
2=Páde {padre}, tudo tem que dá seus voto e tê testemunha e eu num dei voto pra ninguém, o meu
voto é do nosso senhor, de ficávéia batendo aqui, de ficátrabaiando/trabaiei muito!Pronto!Eu num
tenho dom de beata de jeito nenhum! Já disse a você o que é que eu tenho, a fita do coração de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1373
Jesus, sou irmã, sou da irmandade de Nossa Senhora Auxiliadora...agora tá pensando que eu
cumpro? Eu num cumpro não/,
1= [risos]
2= Eu num cumpro não, porque eu num posso mais ir lá! {lá= local aonde a irmandade se reúne}
1=Aaham...pra cumpri tem que ir lá?
2=É! Agora meu nome tá escrito lá espichado.
1=Na irmandade é?
2=Hãn?
1=Na irmandade é?
2=Lá!Quando dá o ―tempo‖{referindo-se às condições financeiras} do coração de Jesus eu pago, da
Maria Auxiliadora eu num pago, pago mais eu nunca mais fui lá, mas quando eu morrê tem um
buraco pra eu lá, um buraco.
1=Ahhh...entendi!
Na fala da EY, quando abordado o tema ―Família‖, as expressões sintáticas: ―moças que diz
que nunca namorou é mentirosa‖; ―todas elas têm que tê um paquera‖; e, ―eu tive logo dois
paquera‖, apontam para o tratamento da questão ―namoro‖, com naturalidade. E não apresenta
resquícios de opressão ou de relação desse comportamento humano com aDESVIRTUDE, como era
esperado a partir das reflexões e observações que motivaram a construção do pressuposto da
análise. Em seguida, como reforço dessa atitude que ela expõe tão ―natural‖, a entrevistada garante
ser mãe de todos os romeiros: ―agora eu sou mãe, pera ai‖; ―Eu sô mãe e vó e tia e madia de todos
os romeiros e turistas!!‖; ―Que gosta de chamar de ―vó‖, de ―minha mãe‖, ―eu tenho que ver minha
mãe‖...‖.
Em outras palavras, o sentimento de ―maternidade pública‖ reforça o aspecto positivo da
VIRTUDE. Sentimento este que é supervalorizado quando, já na abordagem sobre religião, ela
volta a dizer que ―(...) Tudo é meu filho. Beija a cabeça tem um maior carinho, eu tenhu os artistas
tudim que vem aqui (...) Padre, bispo, doutor, tudo tá comigo no retrato.‖ Os elementos valorais que
se associam às figuras públicas de relevância social, tais como os elementos valorais atrelados ao
Padre, ao Bispo, ao Doutor, revelam em sua fala essa supervalorização semântica da VIRTUDE,
que inclusive, é, para si, uma constatação comprovada externamente, pelo ―outro‖.
Na abordagem do tema ―Religião‖, as expressões: ―ser um católico é sempre fácil, né?‖;―eu
considero a creia {fé} em Jesus até morrer/ atéé morrer é num buraco enterrando e eu dizendo é
Jesus, Jesus, Jesus...‖; ―agora eu num ando dizendo, ei eiei.. eu tenho o ―teço‖ aqui, mais num rezo,
eu rezo o meu teço/‖; ―Eu rezo as novenas de São José toda noite e pra todo mundo que vem, todo
mundo que vem essa novena é uma graça eu dou o povo e o povo alcança graça, acreditam em
mim/‖; ―eu sou do coração de Jesus, sou associada, de nossa senhora auxiliadora sou associada o
que é que eu quero mais? Eu sou de dentro da igreja!‖, apontam para: representações discursivas
que se associam aos elementos semânticos da VIRTUDE. Ela se garante discursivamente como uma
mulher de VIRTUDE através dos lexemas: ―rezo as novenas‖, ―eu dou o povo e o povo alcança a
graça, acreditam em mim‖, ―sou associada do coração de Jesus (...) o que é que eu quero mais?‖.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1374
Mesmo enquanto diz que não se exibe como alguém que professa sua fé católica através da reza do
terço: ―eu num ando dizendo, ei eiei... eu tenho o ‗teço‘‖, os elementos do campo semântico da
VIRTUDE são reforçados pela negação de uma ação que reforça um aspecto positivo desse campo
semântico. Dizendo de outro modo, a generosidade explicitada pelo ato de rezar as novenas e o
povo alcançar as graças, chega a supervalorizar o citado aspecto positivo da VIRTUDE.
Sobre a abordagem temática da Tradição, neste caso em especial, o assunto se desdobra do
outro tema, o da Religião.
As expressões que devem ser destacadas em suas palavras são: ―olha o povo mi chama de
beata (...) O padre às vezes chega mi chama de beata e eu digo ‗eu não sou beata‘, apenas eu sou
uma velha que vive aqui na casa grande, recebo todo mundo, mais beata eu num sô não, que a
beata, a religiosa tem que dá seus voto‖; ―Páde {padre}, tudo tem que dá seus voto e tê testemunha
e eu num dei voto pra ninguém, o meu voto é do nosso senhor, de ficávéia batendo aqui, de
ficátrabaiando (...)Eu num tenho dom de beata de jeito nenhum! Já disse a você o que é que eu
tenho, a fita do coração de Jesus, sou irmã, sou da irmandade de Nossa Senhora Auxiliadora...‖. Ser
considerada ―beata‖ pelos outros não é uma VIRTUDE que EY reconhece para si. Nesse ponto, a
negação dessa associação feita aela (ser considerada beata) revela o reconhecimento de valores que
devem ser atrelados à VIRTUDE, sob seu ponto de vista, mas que não cabe a si, apenas a sujeitos
que cumprem o papel de ―fazer ser‖, que é o voto. Em termos semióticos de base estrutural da
análise, a NÃO VIRTUDE equivaleria a aceitar a condição de beata, sem fazer os votos para isso.
Em termos semióticos da base estrutural dessa análise, pode-se encontrar as oposições entre
os elementos da VIRTUDE x DESVIRTUDE x NÃO VIRTUDE70.
Outro trecho a ser analisado é aquele em que após ter afirmado categoricamente que é da
Igreja, a EY diz que não cumpre mais os rituais de uma católica praticante que é, inclusive
associada à irmandade. Em suas palavras: ―agora tá pensando que eu cumpro? Eu num cumpro não/
(...) Eu num cumpro não, porque eu num posso mais ir lá! {lá= local aonde a irmandade se reúne}‖;
―Lá!Quando dá o ―tempo‖{referindo-se às condições financeiras} do coração de Jesus eu pago, da
Maria Auxiliadora eu num pago, pago mais eu nunca mais fui lá, mas quando eu morrê tem um
buraco pra eu lá, um buraco‖.
Nesse caso, o ―não fazer‖ (não praticar a religião neste quesito) afirma novamente os
aspectos semânticos relacionados a NÃO VIRTUDE.

70
Conferir modelos de análise da Semiótica de Algirdas Julien Greimas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1375


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo geral, identificar o(s) papel(éis)
da mulher do Geossítio Colina do Horto, através da oralidade. E, especificamente, analisar o gênero
feminino dentro dos aspectos culturais e religiosos, partindo da observação da fala quanto à
aproximação sintática das expressões que remetem, semanticamente, às VIRTUDES e às
DESVIRTUDES.
No entanto, no decorrer da análise semiótica discursiva da transcrição da entrevista feita
com a EY, descobriu-se outros valores semânticos discursivos que atrelavam a outro elemento de
base: o da NÃO VIRTUDE. Essa constatação faz refletir sobre a identificação dos valores da
VERDADE e da NÃO VERDADE que podem ser encontrados num aprofundamento analítico
maior. Nessa perspectiva, a VERDADE de ser beata seria fazer os votos. E a NÃO VERDADE que
a EY é beata está refletida nas afirmações externas, de outros indivíduos.
Além disso, o pressuposto apresentado no início sobre o pensamento do indivíduo ser
público e social ainda não foi constatado somente com esta análise. No corpus analisado o que se
esperava da fala da EY, no que diz respeito a valores que revelam um pensar coletivo, não foi
evidenciado. Prova disso são os elementos linguísticos apresentados em sua fala que atrelam a não
conjunção com os valores de SER beata, valores estes que são atribuídos pelos ―outros‖ a ela.
Quanto aos simbolismos que garantem efetivamente sua constatação social de Católica
praticante, ficaram evidentes quando a EY se referiu às novenas que faz, ao terço que reza e às
graças que os outros alcançam por intermédio de sua interseção. Num nível de análise discursivo
mais abstrato, a aceitação e carinho geral dos romeiros, artistas, doutores e padres expressados na
fala da EY representam sua super-aceitação. Nesse aspecto, o gênero feminino representado por
esta entrevistada parece ser ―merecedor‖ dessa supervalorização porque cumpre os ―pré-requisitos‖
dos valores associados às VIRTUDES.
Desse modo, pode-se afirmar, a priorique uma característica importante que contribui para a
formação do ethos feminino na Colina do Horto parece estar presente nesse estudo de caso: no
contexto da prática religiosa, em seu complexo social ―doutrinário‖, encontra-se uma considerada
beata, que afirma valores das VIRTUDES e reconhece aqueles que se associam às NÃO
VIRTUDES. Fato que contribui positivamente para a identificação de um sujeito inserido numa
representação discursiva maior e que contribui para a manutenção dessa. Tal representação
discursiva maior, nesse caso, é o discurso da Igreja Católica.
Concluindo, faz-se importante divulgar que o Geossítio Colina do Horto não é apenas o
detalhamento geomorfológico apresentado na introdução e que tem sido foco das pesquisas da
geomorfologia, paleontologia e disciplinas afins nessa região. A Colina do Horto também conta

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1376


uma história desde suas entranhas: a das mulheres que são responsáveis pela preservação das
práticas religiosas e manutenção das tradições familiares.Seja em atos da fala ou em atitudes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FIORIN, José Luiz. As Astúcias da Enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo.2ª.ed. São
Paulo: Ática, 2005.

FIORIN, José Luiz. Dossiê:o sujeito na semiótica narrativa e discursiva. Revista Todas as Letras J,
volume 9, n. 1, 2007, p. 24-31.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zarah, 1978.

UNESCO. International Network of Geoparks, 2005. Disponível em:


http://www.unesco.org/science/earthsciences/geoparks/geoparks.htm. Acesso em: 10 de
setembro de 2014.

IPECE. Manual Básico Municipal. 2013. Juazeiro do Norte. Disponível em:


http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2013/Juazeiro_do_Norte.pdf. Acesso
em: 10 de setembro de 2014

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1377


ANÁLISE DA PERCEPÇÃO CRÍTICA DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS
RELATIVO AOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS71

Rafaela Braz de MELO


Graduanda do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas - URCA
rafaelabrazdemelo@hotmail.com
Janete Sousa BEZERRA
Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - URCA
janete.s.b@hotmail.com
Magaly Lima MOTA
Professora Mestre do Departamento de Ciências Biológicas - URCA
magaly_lm@yahoo.com.br

RESUMO
Nos últimos anos tem-se vivenciado preocupantes agravamentos dos problemas socioambientais.
São realizados e elaborados freqüentemente muitos debates e programas para a melhoria da situação
do meio ambiente, porém há muito a ser feito e a escola pode ter uma contribuição significativa
para amenização desses problemas. Dessa forma, neste trabalho objetivou-se desenvolver a
percepção crítica de alunos de duas escolas públicas do estado do Ceará para os problemas
socioambientais, procurando deixar evidente o que os mesmos podem fazer para redução desses
problemas. Foram aplicados questionários abertos, onde os estudantes puderam expor seus
argumentos em relação aos problemas ambientais e a importância da reciclagem. Constatou-se que
havia falta de informações por parte dos alunos em relação à temática, uma vez que muitos
apresentaram respostas equivocadas. Com a realização das palestras e oficinas notou-se que houve
uma melhoria na forma de exposição dos argumentos e dúvidas em relação à problemática. Diante
disso, percebe-se que é de suma importância que a escola adote a prática de fazer palestras e
promover debates com os alunos em relação ao meio ambiente de forma geral, pois só com a
formação de cidadãos críticos é que teremos a sociedade que almejamos.
Palavras-chave: meio ambiente, escola, problemas socioambientais.

ABSTRACT
In the last years, we have faced several social and environmental problems. Meetings and programs
to discuss the situation of environment are frequent, but much more necessary, being the school one
of the most important source to contribute with the solution of these problems. By this way, the aim
of this work was develop the critic point-of-view of the students from two public schools at the
Ceará state about social and environmental problems, seeking demonstrate their role in the solution

71
Política Nacional de Educação Ambiental—Lei nº 9795/1999, Art 1º.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1378


of these ones. Was realized a survey with the students, exposing in this forms their opinions about
these issues and the recycling strategies. Was observed a severe lack of informations about these
themes. With the use of speeches and oficines, a better response was observed related to the
arguments and problems about the environment. Is a very important question the involvement of the
school by the implementation of meetings and summits with the students about the social and
environmental problems, due the fact that only with more conscient citizens, we will have our
desirable society.
Keywords: environment, school, social and environmental problems

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o meio ambiente tem recebido um tratamento diferenciado nos debates
sobre o futuro do planeta. Atualmente há uma preocupação da mídia em divulgar matérias
relacionadas aos problemas ambientais, uma vez que esses estão se agravando de forma alarmante.
Poucos duvidam da necessidade de preservação do ambiente natural ou da promoção do
desenvolvimento sustentável, e todos são unânimes na afirmação de que a Educação Ambiental é
uma estratégia eficaz para a emergência de uma nova consciência, pautada nas necessidades
ambientais (BAGNOLO, 2010)
O aumento do aquecimento global terrestre, em razão do aumento de consumo de
combustíveis fósseis na produção de aço, cimento, energia termoelétrica e queimadas de biomassas,
causou severos danos à camada de ozônio, com severos impactos na saúde das populações afetadas
por câncer da pele. A crescente escassez de água potável: com uma demanda crescente em
conseqüência do aumento da população mundial, do desenvolvimento industrial e da agricultura
irrigada, verifica-se uma oferta limitada de água potável distribuída de forma muito desigual
(RATTNER, 2009).
Fonseca e Oliveira (2011) afirmam que precisamos aderir mudanças para a melhoria do
meio ambiente, e essas só são conseguidas a partir de uma perspectiva crítica, pois só a partir daí
conseguiremos entender a dimensão das questões ambientais e tomar algum posicionamento em
relação as mesmas. Nesse contexto, a escola se torna uma mediadora dos problemas
socioambientais com a formação de cidadãos críticos e mais responsáveis com o ambiente em que
estão inseridos.
A escola tem função primordial quando se trata de preservação do meio ambiente, uma vez
que os nossos alunos serão os futuros responsáveis pelo nosso país. Sabendo disso, neste trabalho
objetivou-se analisar a percepção crítica de alunos do ensino público fundamental em relação ao
meio ambiente e deixá-los cientes dos problemas socioambientais, tendo a preocupação de mostrar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1379


medidas que podem ser adotadas pelos mesmos para ajudar na amenização desses crescentes
problemas.

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente foi desenvolvida uma pesquisa exploratória, onde ―Exploratória é uma pesquisa
cuja finalidade é descortinar o tema, reunir informações gerais a respeito do objeto‖ (RODRIGUES,
2007 apud SANTOS et al, 2011 ), se caracterizando também como pesquisa de campo.
Para obtenção de informações prévias, foram utilizadas fontes de referências como livros,
publicações na mídia impressa e na mídia digital e observações nos espaços próximos a Escola.
Por conseguinte, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com questionários
constituídos por perguntas subjetivas, aplicados aos estudantes antes mesmo de serem realizadas as
palestras e oficinas, a fim de constatar o conhecimento dos mesmos sobre variados temas
relacionados ao meio ambiente. As entrevistas aconteceram em janeiro/2013, nas escolas públicas
de ensino infantil e fundamental Rosa Tavares Leite e José Ferreira de Meneses, à primeira situada
na cidade de Abaiara - CE e a segunda em Juazeiro do Norte-CE, cuja amostra constituiu-se de 80
alunos do 6º ano.
As palestras foram ministradas com o auxílio dos professores da disciplina de ciências,
tendo como temáticas principais: Os problemas ambientais; Sustentabilidade; Reciclagem; O que o
lixo pode causar ao meio ambiente e Precisamos cuidar da água.
Nas oficinas visou-se a maior interação entre os estudantes, sendo muito produtivas, uma
vez que os aprendizes tinham a preocupação de transformar o lixo em objetos utilizáveis,
preocupando-se com o material gasto para a realização de tais finalidades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos questionários permitiu constatar que: quando foram indagados em relação ao
destino do lixo em suas casas, 68% dos estudantes ressaltaram que era coletado pelo saneamento
básico, apenas 12% afirmaram da possibilidade de reciclagem. É evidente que a coleta do lixo pelo
saneamento básico é uma das formas mais eficazes de diminuir a quantidade de lixo nas ruas (ver
Tabela 1).
Os entrevistados mostraram que possuem certo conhecimento do conceito de
sustentabilidade, pois 74% relataram que a mesmas seria a reutilização de recursos para a
preservação da natureza, mas verificou-se que alguns ainda não detinham nenhum tipo de definição
para sustentabilidade, uma vez que 12% não responderam a essa pergunta (ver Tabela 1).
Torresi et al (2010) afirma que o termo sustentabilidade abriga um conjunto de paradigmas
para o uso dos recursos que visam atender as necessidades humanas. Sendo esta definição cunhada
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1380
em 1987 no Relatório Brundtland da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabeleceu que
desenvolvimento sustentável é aquele que ―satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades‖. Dentro da questão
ambiental (água, ar, solo, florestas e oceanos), ou seja, tudo que nos cerca precisa de cuidados
especiais para que continue existindo.
Para os discentes as causas da poluição se devem devido à grande quantidade de lixo nos
rios e esgotos (32%), como também a grande quantidade de lixo nas ruas e queimadas (32%). O
desmatamento das árvores e poluição como sendo os problemas ambientais, representou 59%. De
fato, o lixo é um dos problemas mais comuns na atualidade, porém a poluição não se limita apenas
aos resíduos sólidos e queimadas, há outros fatores a serem considerados como a emissão de gases
estufa pelos automóveis e indústrias, contaminação das águas, dentre outras (ver Tabela 1).
Para Santos (2007) a ação do homem tem levado à poluição do ar; destruído a camada de
ozônio e tem reduzido a capacidade de captação de CO2 pela eliminação de áreas verdes e
degradação da flora dos oceanos, resultando assim em alterações climáticas como o aquecimento
global, alterações pluviométricas, secas, aumento da freqüência de catástrofes, além dos efeitos
diretos na saúde, sendo assim o desgaste ambiental só tende a aumentar (ver Tabela 1).
Na concepção dos educandos, os problemas ambientais que precisam de uma solução mais
rápida seriam os relacionados à poluição da água e desmatamento da natureza (45%). Relataram
também que todos os problemas relacionados ao meio ambiente precisam ser resolvidos com
urgência (25%). Nesse contexto, o desgaste do meio ambiente precisa de soluções breves, pois
implica na melhor qualidade da vida no nosso planeta (ver Tabela 1).

P R.1 R.2 R.3 R.4

1. Na sua casa o que fazem Reciclado Jogado na rua Coletado para Outros
com o lixo? 12% 4% saneamento básico 16%
68%
2. O que você entende por Uso de Reutilização de Meio de sustentar a Não respondeu
sustentabilidade? energias não recursos para a economia mundial 12%
renováveis preservação da 10%
4% natureza
74%
3. Quais são as causas da Lixo nos rios e Queimadas Lixo nas ruas e Não respondeu
poluição? esgotos provocadas pelo ser queimadas 8%
32% humano 32%
28%

4. O que são problemas Desgaste da Destruição do planeta Desmatamento das Não respondeu
socioambientais? natureza 8% árvores e poluição 10%
23% 59%

5. Quais são os problemas A camada de Poluição do ar Poluição da água e Todos


socioambientais que ozônio 22% desmatamento da 25%
precisam ser resolvidos mais 8% natureza
rapidamente? 45%

Tabela. 1. Perguntas realizadas aos alunos relacionadas aos problemas socioambientais. P= Pergunta
R=Resposta.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1381
Com relação à reciclagem, os dados mais importantes relatados pelos aprendizes foram que
seu conceito é a transformação de materiais inutilizáveis em utilizáveis (52%) e que a prática da
reciclagem é importante para melhorar a qualidade de vida no nosso planeta (38%), além de evitar o
acúmulo de lixo nas ruas (31%). A grande parte já havia realizado reciclagem, por ser divertido
(46%) e como uma forma de ajudar o planeta (35%), mesmo os que responderam que não tinham
esse hábito, relataram que utilizavam a garrafa pet em suas casas, fosse como recipiente para água
(48%) ou para armazenar grãos (24%). Sendo assim, observa-se que muitos alunos acreditam na
importância e na eficácia da reciclagem como uma das alternativas para amenizar os problemas
ambientais (ver Tabela 2).
Segundo Gouveia (2012), p.1505 ―Iniciativas para a redução da quantidade de material
descartado em aterros, como a coleta seletiva para posterior reciclagem, ainda caminham
lentamente‖.
Quase a totalidade dos alunos (90%) mostrou que tinham o interesse de aprender mais sobre
os problemas socioeconômicos, mas uma minoria ainda ficou indecisa (6%). É de suma importância
o debate de tais temáticas no âmbito escolar a fim de desenvolver a conscientização dos alunos para
a contribuição da formação do cidadão crítico e participativo (ver Tabela 2).
Ribeiro (2010) afirma que a questão ambiental é fundamental à existência humana, sendo
preciso insistir nos cuidados com a mesma, já que ela possui uma dimensão territorial implícita e os
recursos estão dispersos pela superfície terrestre.

P R. 1 R. 2 R.3 R.4
1.Na sua Transformação de Usar objetos de Reaproveitar materiais Meio de economizar
concepção, o que é materiais plástico velhos para para gerar novos 20%
reciclagem? inutilizáveis em outras finalidades. produtos.
utilizáveis. 9% 19%
52%
3. Você já realizou Sim. É divertido. Sim. Ajuda o Não. Falta de Não. Não sei fazer
reciclagem? Se 46% planeta. oportunidade. 9%.
NÃO, por quê? 35% 10%

3. O que fazem É jogada no lixo. Usada como Usada como Usada para
com a garrafa pet 12% recipiente para recipiente para armazenamento de
na sua casa? água. plantas. grãos.
48% 16% 24%
4. Qual a Evitar o acúmulo Gerar empregos. Melhora a qualidade Diminuir os
importância da de lixo nas ruas. 8% de vida no nosso problemas
reciclagem? 31% planeta. ambientais.
38% 23%
5.Você pretende Pretende Acho que sim. Não Não sei responder.
aprender mais 90% 6% 0% 4%
sobre os problemas
socioeconômicos?
Tabela 2. Perguntas relacionadas à reciclagem.

É necessário captar e analisar os procedimentos que vem sendo tomados em sala de aula no
ensino de educação ambiental, e que vão caracterizando e influenciando no futuro de cada um.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1382
Sendo assim, a educação ambiental merece uma característica única que é a de informar e educar de
forma crítica, construtiva e significativa (VIRGENS, 2011)
Como se pode observar na análise dos questionários os estudantes estavam desinformados
sobre as questões socioambientais. Com o desenvolvimento das palestras notou-se que houve uma
melhoria na forma de expor seus argumentos e dúvidas. As oficinas tiveram um papel importante na
fixação das informações e práticas que os estudantes podem utilizar para a melhoria do ambiente
em que estão inseridos.

CONCLUSÃO

Através de metodologia abrangente e renovadora, é possível proporcionar mudanças em


todos os aspectos da aprendizagem dos alunos, seja ela crítica, motivadora ou até mesmo
revolucionária.
Portanto, os resultados comprovam a viabilidade e relevância da concretização de debates e
oficinas ligados as problemáticas ambientais na escola, uma vez que capacita os alunos a
entenderem o que está acontecendo com o meio ambiente e se posicionarem de forma crítica e
responsável.

REFERÊNCIAS

BAGNOLO, Carolina Messora. Empresariado e ambiente: algumas considerações sobre a educação


ambiental no espaço escolar. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru , v. 16, n. 2, 2010 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
73132010000200009&lng=en&nrm=iso>. access
on 20 Aug. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132010000200009.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros


curriculares nacionais: meio ambiente e saúde. 3. ed. Brasília: MEC/SEF, 2001. v. 9.

FONSECA, Fabíola Simões Rodrigues da; OLIVEIRA, Leandro Gonçalves. Concepções de meio
ambiente dos educadores ambientais do Zoológico de Goiânia: implicações nas atividades e
contribuições para a formação do sujeito ecológico?. Educ. rev., Curitiba, n. 41, Sept. 2011
. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
40602011000300015&lng=en&nrm=iso>. access
on 03 June 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602011000300015.

GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo


sustentável com inclusão social. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 17, n. 6, June 2012 .

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1383


Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232012000600014&lng=en&nrm=iso>. Accessado em
20 Aug. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012000600014.

RATTNER, Henrique. Meio ambiente, saúde e desenvolvimento sustentável. Ciênc. saúde


coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 6, Dec. 2009 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232009000600002&lng=en&nrm=iso>. access
on 03 June 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000600002.

RIBEIRO, Wagner Costa. Teorias socioambientais: em busca de uma nova sociedade. Estud.
av., São Paulo, v. 24, n. 68, 2010 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142010000100003&lng=en&nrm=iso>. access
on 07 Aug. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000100003.

SANTOS, P. T. A. et al . Lixo e reciclagem como tema motivador no ensino de química.Eclet.


Quím., São Paulo, v. 36, n. 1, 2011 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
46702011000100006&lng=en&nrm=iso>. access
on 29 July 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-46702011000100006.

SANTOS, Ubiratan de Paula. Poluição, aquecimento global e repercussões na saúde.Rev. Assoc.


Med. Bras., São Paulo , v. 53, n. 3, June 2007 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
42302007000300004&lng=en&nrm=iso>. access
on 20 Aug. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302007000300004.

TORRESI, Susana I. Córdoba de; PARDINI, Vera L.; FERREIRA, Vitor F.. O que é
sustentabilidade?. Quím. Nova, São Paulo , v. 33, n. 1, 2010 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
40422010000100001&lng=en&nrm=iso>. access
on 19 Aug. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422010000100001.

VIRGENS, Rute de Almeida. A educação ambiental no ambiente escolar. 2011. xi, 17 f., il.
Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas)-Consórcio Setentrional de Educação a
Distância, Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Goiás, Brasília, 2011.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1384


O LORAX – EM BUSCA DA TRÚFULA PERDIDA: VÍDEO COMO FERRAMENTA
PEDAGÓGICA E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL

Vanessa do Nascimento BARBOSA


Graduanda em Bacharelado em Ciências Biológicas da UFRPE
vanessa.nascimentob@hotmail.com
Edivania do Nascimento PEREIRA
Mestranda em ecologia da UFRPE
edivania_nascimento@hotmail.com
Ednilza Maranhão dos SANTOS
Professora Drª Adjunto III do Departamento de Biologia da UFRPE
ednilzamaranhão@yahoo.com

RESUMO
Vários recursos didáticos são utilizados por educadores visando auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem nas escolas, dentre eles podemos destacar o vídeo. Esse recurso é considerado uma
ferramenta pedagógica que auxilia o educando a refletir sobre determinados temas, bem como
facilitar o entendimento de conceitos. O objetivo desse trabalho foi apresentar uma analise critica
educacional voltada para áreas de educação ambiental, com ênfase na botânica, sobre o filme ―O
Lorax- em busca da trúfula perdida‖, representado através das respostas de educandos do ensino
superior do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Foi realizado no período de janeiro/2013 à abril/ 2014 em três etapas: (i)exibição do
filme; (ii)aplicação do questionário, contendo 20 questões e (iii) socialização dialogada.A análise de
dados ocorreu de forma qualitativa e quantitativa através dométodo de evocação de palavras.Foram
analisados 51 questionários. A fotossíntesefoio mais citado,23% afirmaram que poderiam ser
trabalhados em sala de aula, tendo o filme como auxilio didático. 25destacaram a germinação sobre
as experiências possíveis de serem replicadas em sala de aula; 49 entrevistados concordam que o
filme pode ser aplicado a qualquer turma. Se o conteúdo educativo e didático encontra-se integrado,
95%, responderam que sim, e se permite abordagens interdisciplinar, 98%concordaram;Quanto se o
vídeo pode ser utilizado no processo de sensibilização ambiental, 99% responderam que sim e 94%
evidenciaram a importância no processo ensino-aprendizagem, com base na ludicidade.Com isso,
percebe-se que o filme ―O Lorax – Em busca da trúfula perdida‖, se mostra uma ferramenta eficaz
no processo ensino-aprendizagem, bem como impulsiona o espectador a refletir sobre as questões
ambientais, sendo um excelente recurso didático, auxiliando na construção do conhecimento, a
cerca dos assuntos de botânica, como também um instrumento de sensibilização ambiental.
Palavras-chave: Educação ambiental, educação formal, ensino da botânica, filme.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1385


ABSTRACT
Many didactic resources are used by educators aiming to help the teaching-learning process in
schools, of which we can highlight videos. This resource is considered a pedagogical tool that helps
students to reflect about certain themes, as well as facilitate a concept‘s understanding. The article‘s
objective is to present an educational critical analysis aimed at the field of environmental education,
with emphasis in botany, about the movie ―O Lorax – em busca da trúfula perdida‖, represented
through the answers from students of the undergraduate course of Licenciatura em Ciências
Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. The study took place from January/2013 to
April/2014 and consisted of three steps: (i) relating to the movie‘s exhibition; (ii) the application of
a questionnaire that had 10 questions about the movie (iii) a socialized dialogue about the movie.
The data analysis happened with a quantitative and qualitative approach. In the quantitative, the
spoken word method was used. 51 questionnaires were analyzed. When asked about the possible
scheduled content that could have been used as a didactic help in the field of botany based on the
movie, photosynthesis was the most cited 53%; about the likelihood of the video bringing
simulation of possible experiences that could be used in class, 96% said yes, portraying
germination; if the movie can be applied to any class, 49% said yes. If the educational and didactic
content are integrated, 95%, said yes, and if it allows an interdisciplinary approach, only two
students said no; and if the video can be used in the environmental awareness process, 99% said yes
and 94% highlighted the importance of the teaching-learning process, based on playfulness. With
this, it can be noticed that the movie ―O Lorax- em busca da trúfula perdida‖, shows itself as a tool
in the teaching-learning process, as well as propelling the viewer to reflect about environmental
issues, being an excellent didactic resource, helping to build knowledge, about botanic issues as
well as a tool of environmental awareness.
Key words: environmental education, formal education, botany teaching, movie.

INTRODUÇÃO

O vídeo é uma ferramenta pedagógica que pode auxiliar o educando a refletir sobre os
assuntos abordados em sala de aula pelo educador, Moran (1994) comenta que servetambém para
aproximar o ambiente educacional das relações cotidianas. Para Moraes & Torre (2004), as
estratégias de ensino devem favorecer uma aprendizagem que integre vários estudos: imaginação,
intuição, colaboração e impactos emocionais auxiliando assim no processoensino-aprendizagem.
Moran (2007) explica que as tecnologias são pontes que abrem a sala de aula para o mundo.
Assim, os vídeos podem e devem ser utilizadoscomo ferramenta pedagógica,visando assim uma
educaçãotransformadora e que priorize a formação para a cidadania (GOMES, 2008). Desta forma
esta tecnologiaeducacional pode ser usadacom o objetivo de sensibilizar para uma determinada
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1386
problemática, dentre elas podemos destacar a degradação ambiental, a destruição das florestas e o
consumismo.
Diante da intensificação da utilização dos recursos naturais faz-se necessário sensibilizar a
população para a necessidade da preservação/conservação ambiental, com o objetivo de diminuir o
esgotamento dos recursos naturais e diminuição da qualidade de vida, alertando sobre os danos
causados pelo consumismo, que além de alimentar um sistema econômico que gera desigualdade
social, é responsável pela produção excessiva de lixo, poluição, perda de biodiversidade e
consequentementedegradação da vida (MARTELL,1994).
Uma das ações que podem ser intensificadas para a sensibilização e mudança de valores a
respeitos dos assuntos ambientais é a educação ambiental. Segundo Sato (2003) a educação
ambiental propõe valores e ações com o objetivo de contribuir com a mudança social humana e a
preservação ecológica, além de estimular aformação de sociedades mais justas e ecologicamente
equilibradas.
Diante disso os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) definiram que a educação
ambiental deve ser trabalhada em sala de aula de forma transversal e interdisciplinar, o PCN meio
ambiente retrata a educação como um elementoindispensável para a transformação da consciência
ambiental, retratando também, que é importante que o professor trabalhe com o objetivo de
desenvolver, nos alunos, uma posturacrítica diante da realidade, de informações e valores
veiculados pela mídia e daqueles trazidos decasa. Nota-se que esse tipo de direcionamento não é
trabalhado com o conteúdo quando envolve a botânica no ensino básico. De uma maneira geral
trabalhar o conteúdo vegetal e suas relações ainda necessita de mais interação e o gostar de
apreender sobre esses organismos, evidenciando a importância e os serviços que esses seres
oferecem ao meio ambiente (SILVA, 2008).
Diante da grande diversidade de vídeos e filmes que retrata a temática ambiental podemos
destacar o filme ―O Lorax - em busca da trúfula perdida de Chris Renaud (2012)‖, do qual aborda a
história de Ted, um garoto que vive em uma cidadeartificial. Com o objetivode trazer uma árvore
natural para a garota por quem é apaixonado, ele conhece Umave-zildo, uma estranha e mal-
humorada criatura determinada a proteger a natureza, detentor da ultima semente de árvore
existente, sendo este o culpado pela destruição da natureza,devido a sua ganância e consumismo
exagerado. Ted tenta convencer Umavez-ildo a doar a única semente para plantar em sua cidade
artificial, a partir daí inicia-se sua aventura e desafios para manter a natureza viva.
Com o objetivo de instrumentalizar o ensino e ao mesmo tempo sensibilizar e despertar uma
reflexão sobre a importância dos recursos vegetais na natureza, esse trabalho teve como
direcionamento apresentar uma analise critica a partir de uma avaliação feita por futuros docentes

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1387


do curso de Licenciatura em Ciência Biológicas da UFRPE, de um filme ―O Lorax- em busca da
trúfula perdida‖.

METODOLOGIA

Coleta de Dados

A coleta de dados ocorreu na Universidade Federal Rural de Pernambuco, na cidade do


Recife, Estado de Pernambuco, durante os meses de janeiro de 2013 à abril de 2014, em quatro
turmas da disciplina prática de biologia vegetal. Para esse estudotrês etapas foram importantes, a
primeira etapa durou cerca de, 90 minutos, relacionado à exibição do filme; a segunda etapa
constou na aplicação de um questionário e a terceira em uma socialização com diálogos abertos
sobre o tema principal do filme, o que totalizou em esforço de quatro aulas, cada uma com 60
minutos para cada turma.
De inicio foi solicitado aos educandos do 5° período do curso de licenciatura plena em
ciências biológicas um convite a assistirem o vídeo O Lorax- Em busca da trúfula perdida, posterior
ao filme foi aplicado um questionário semiestruturado, composto por 20 perguntas abertas voltadas
para educação ambiental e educação formal (ensino da botânica).

Analise de Dados

A análise de dados ocorreu de forma qualitativa e quantitativa. Para o método quantitativo


utilizou-se o método de evocação de palavras com objetivo de obter dados, a partir da relação oral
ou escrita, de um determinado número de palavras, as quais estejam relacionadas a uma expressão
indutora identificando os elementos relacionados ao objeto da pesquisa quepoderiam ser perdidos
nas análises dos conteúdos discursivos formais. Após coletadas, tais expressões/palavras foram
classificadas em categoriassemânticas, desprezando-se as consideradas pouco significativas
(VERGARA, 2006). Posteriormente, os dados foram inseridos em tabelas do Software Excel 2010 e
posteriormente realizada analise quali-quantitativa.

RESULTADOS & DISCUSSÃO

Foram analisados 51 questionários, aplicados em quatro turmas do 5° período do curso de


Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UFRPE. Sobre as questões relacionadas ao ensino, o
vídeo foi bem aceito pelos educandos e futuros docentes. Foi evidenciada pelos alunos a
importância da utilização do vídeo na sala de aula como recurso didático relevante para auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem, o que ficou confirmadoatravés das respostas do questionário,
bem como na socialização final após a exibição do filme. Essa aceitação também foi encontrada por

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1388


Vicentini e Domingues (2008) do qual constataram que 66% dos professoresutilizam filmes como
um recurso adicional didático em suas aulas.
Ao perguntar aos educandos sobre os possíveis conteúdos pedagógicos que poderiam ser
trabalhados na educação básica, tendo o filme como ferramenta didática na área de botânica, foram
citados: fotossíntese, respiração celular, cadeia trófica, anatomia e fisiologia vegetal, ecologia
vegetal, diversidade vegetal, germinação e nível trófico, sendo fotossíntese com maior citação 23%
(Figura 1). Esse percentual, tendo a fotossíntese como destaque, talvez esteja relacionado a algumas
cenas do filme que os educando tenham julgado marcante, relacionada à importância das florestas
na manutenção do oxigênio, o fato de comercializar ―ar puro‖ e a venda do oxigênio em garrafas
(Figura 2), tenham chamado atenção dos mesmos, evidenciado também em uma das frases dos
entrevistados ao perguntar qual curiosidade o filme desperta? O mesmo comenta ―o fato da
comercialização do ar puro, já que é um recurso, um serviço, oferecido de graça pelas árvores.‖

Figura 1. Porcentagem referente a pergunta quais os temas e conteúdos que podem


ser trabalhados na área do ensino da botânica.

Figura 2. Cena do filme O Lorax- Em busca da trúfula perdida, mostrando a


comercialização do oxigênio.

Sobre a pergunta se o vídeo traz simulação de experiências possíveis de serem replicadas em


sala de aula, 95% disseram que sim, retratando a germinação como a experiência mais citada entre
eles (n= 25) (Figura 3), alguns entrevistados retratam que esse experimento pode ser atrelado

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1389


também ao ensino da fotossíntese e respiração, essa cena é retratada quando a ultima semente é
plantada (Figura 4). Medeiros et al. (2009), comentam a dificuldade que os alunos têm de
compreender temas como germinação e fotossíntese, e aplicando a experiência da germinação com
feijão (esta citada por alguns dos entrevistados), retrata que após a experiência os alunos
compreenderam os assuntos destacados. As autoras também comentam sobre a necessidade no
sentido de planejar, organizar e aplicar atividades pedagógicas mais apropriadas que favoreçam o
processo de ensino e aprendizagem no ensino da botânica. Alguns entrevistados comentaram que
além do tema germinação pode ser abordados também temas sobre desmatamento e o tempo que
uma planta leva para germinar e crescer ―através desse experimento, pode tratar com os alunos o
tempo que leva uma planta para crescer, demonstrando que ela não cresce do dia para a noite e
quando desmatamos é muito demorado até que ela cresça‖ (fala de um dos entrevistados).

Figura 3. Porcentagem referente a pergunta: O vídeo traz simulação de


experiências possível de serem replicadas em sala de aula ou que exigiriam muito
tempo de recursos.

Figura 4. . Cena do filme O Lorax- Em busca da trúfula perdida, plantando a ultima


semente da trúfula na ―cidade de plástico‖.

Se o filme pode ser aplicado a qualquer turma, 49 alunos responderam que sim, tendo o
ensino fundamental I e II, o mais adequado para esse tipo de linguagem, os educandos, retratam que
por ser um filme de animação o ciclo fundamental é o mais indicado, porém 34 comentam que
também podem ser utilizado nos níveis médio e superior, cabendo ao educador, fazer a mediação do
conhecimento entre o filme e o conteúdo aplicado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1390


Quando interrogados se o conteúdo educativo e didático encontra-se integrado,
95%responderam que sim, e se permite abordagens interdisciplinar, apenas dois educandos
responderam que não, os demais informaram que sim, destacando que o filme pode ser abordado
também nas disciplinas de sociologia, filosofia, português, matemática, física e química, uma vez
que ele aborda questões de ética, economia, poesia, e processos químicos, físicos e biológicos, ao
retratar sobre questões ambientais, porém a biologia foi a mais citada com 22% (Figura 5).
Goldman (1979) destaca a importância da utilização de recurso de modos interdisciplinar o mesmo
comenta que um olhar interdisciplinarsobre a realidade permite que entendamosmelhor a relação
entre seu todo e as partes que a constituem, auxiliando no processo ensino-aprendizagem.

Figura 5. Porcentagem sobre a pergunta: Em relação ao tema, o filme permite


abordagens múltiplas, interdisciplinares?

Ao perguntar se o vídeo pode ser utilizado no processo de sensibilização ambiental, 99%


responderam que sim, citando temas transversais, como: Consumismo, aquecimento global,
sustentabilidade, cidadania, ética, manejo de flora, desigualdade social, industrialização, impactos
ambientais, interação homem-natureza, desmatamento, saneamento básico, educação alimentar,
poluição do ar e dos mananciais, extinção e conservação da natureza, destes, o que obteve mais
citações foram consumismo, conservação da natureza e desmatamento. Nos PCNs (1997) temas
transversais são importantes de serem trabalhados na escola reforçando que a educação para a
cidadania requer, que questões sociais sejam apresentadas para aprendizagem e reflexão dos alunos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1391


Quando indagados sobre qual a mensagem do vídeo, a maioria respondeu que estava
relacionado a preservação da natureza e consumismo com 48 e 8 citações respectivamente. Se o
vídeo traz para sala de aula realidades distante dos alunos, 37 responderam que não, destacando que
o filme retrata a situação atual dos educandos, como o aumento do consumismo, poluição e a
diminuição das florestas. Esta resposta é reforçada, quando questionados se o filme retrata
informações do cotidiano, onde 100% responderam que sim, sendo desmatamento e consumismo as
mais citadas.
No terceiro momento onde os alunos se colocaram avaliando o filme, em um contexto geral,
principalmente quando se perguntava sobre a mensagem que o filme queria passar para as pessoas,
94% evidenciaram a importância no processo ensino-aprendizagem, com base na ludicidade.
Todavia apenas metade dos alunos conseguiu decifrar a mensagem do filme, muitos se reportaram
para as questões ambientais como não ser consumista, que todos devem cuidar do ar e proteger a
natureza, mas não conseguiram enxergar ou destacar a importância que devem ter e podem fazer
para diminuir os impactos que o meio ambiente, principalmente no que se refere na manutenção das
florestas, bem como qual o seu papel nesse processo como professor e cidadão no seu cenário atual.
Em uma das cenas do filme o Lorax deixa uma frase em uma placa: ―A menos que você não se
importe de montão nada vai melhorar, não vai não‖ que alguns alunos nem se lembravam durante a
aula dialogada, mais outros, cerca de 50% perceberame relataram que essa frase estava relacionada
a ―esperança, a mudança de atitude e o compromisso de mudança para um bem comum‖.
Nesse contexto e com base nos PCNs fica evidente que a escola deve ser um espaço de
reflexão e também de ação, esse filme poderá auxiliar nesse processo. Santos & Noro (2013)
observou que os filmes/vídeos podem também ser utilizados como atividade prévia extraclasse e
que os alunosdemonstram, maior disposição para o debate, corroborando com o presente estudo e
também com Toman & Rak (2000) e Timm et al.(2004) onde afirmam que o filme é um excelente
complemento de um conteúdo pedagógico e que tem importância por ser uma forma desensibilizar
o aluno para o tema escolhido.
Por fim, o professor deve instigar o aluno a ser crítico e participativo perante a sociedade e
os problemas ambientais que são mais próximos, olhando para o seu contexto diário e fazendo
relações como meio, o professor deve assumir seu papel de agente transformador
(VASCONCELLOS 2003; LÍBÂNEO, 2003). Destacando assim o pressuposto de O‘Sullivan
(2004) do qual aposta em uma visão educacional na perspectiva transformadora, holística, onde a
discussão sobre um ―novo processo de encantamento ou reencantamento‖, vislumbra uma nova
visão de mundo, em que os processos são vistos como um todo, sem emendas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1392


CONCLUSÃO

O vídeo ―O Lorax‖ – Em busca da trúfula perdida, é uma ferramenta eficaz no processo


ensino-aprendizagem, bem como nas questões sócio ambiental, sendo um excelente recurso
didático, auxiliando na construção do conhecimento, a cerca dos assuntos de botânica. O filme por
sua vez também desperta uma visão crítica permitindo que o aluno faça uma auto reflexão pela
vivencia cotidiana dos assuntos abordados, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem da
biologia e permitindo uma socialização com diálogos abertos sobre os diversos temas relacionados
ao vídeo, todavia o professor é uma peça importante como mediador desse processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

GOLDMAN, L. Dialética e cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

GOMES, L.F. Vídeos Didáticos: uma proposta de critérios para análise. Rev. bras. Est. pedag.,
Brasília, v. 89, n. 223, p. 477-492. 2008.

LIBÂNEO, J. Adeus Professor, Adeus Professora? Novas exigências profissionais e profissão


docente. São Paulo: Cortez, 2003.

MARTELL, L. Ecology and Society: an introduction. Cambridge, Polity Press, 1994.

MEDEIROS, S. C. S.; COSTA, M. F. B.; LEMOS, E. S. O ensino e a aprendizagem dos temas


fotossíntese e respiração: práticas pedagógicas baseadas na aprendizagem significativa. Revista
Electrónica de Enseñanza de lasCiencias Vol.8 Nº3. 2009.

MORAES, M.C. & TORRE, S. Senti pensar: Fundamentos e práticas para reencantar a educação.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.

MORAN, J. M. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento. Revista


Brasileira de Comunicação. São Paulo. v.07. p.36- 49.1994.

_______. Desafios na Comunicação Pessoal. 3ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2007

O´SULLIVAN, E. Aprendizagem Transformadora: uma visão educacional para o século XXI. São
Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2004.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Introdução aos parâmetros curriculares


nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 126p.1997.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1393


SANTOS, S.N. & NORO, A. O uso de filmes como recurso pedagógico no ensino de
neurofarmacologia. Interface: comunicação saúde educação. 2013.

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos, Rima, 2003.

SILVA, P. G. P. O ensino da Botânica no nível fundamental: um enfoque nos procedimentos


metodológicos. 146 f. Dissertação (Programa de pós-graduação em educação para a ciência),
Universidade Estadual Paulista, Bauru. 2008.

TIMM, M.I.; ZARO, M. A.; SCHNAID, F.; CABRAL, P. A.; THADDEU,R. C.Tecnologia
educacional: apoio à representação do professor de Ciência e Tecnologia e instrumento de
estudo para o aluno. RENOTE Nov. Tecnol.Educ., v.2, n.2, p.1-10, 2004.

TOMAN, S.; RAK,C. The use of cinema in thecounselor education


curriculum:strategiesandoutcomes. Couns. Educ. Superv., v.40, n.2, p.105-14, 2000.

VASCONCELLOS, C.S. Para Onde Vai o Professor? Regaste do Professor como Sujeito de
Transformação. São Paulo: Libertad, 2003.

VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

VICENTINI,G. W. & DOMINGUES,M. J. C. S. O uso do vídeo como recurso didático e educativo


em sala de aula. In: XIX ENANGRAD, 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1394


UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS EM
FLORIANO - PI

Wanderson Benigno dos SANTOS


Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UESPI
dynho-dhyn@hotmail.com
Francisca Maria de Moraes NASCIMENTO
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UESPI
franciscamaria321@gmail.com
Daniel César Menêses de CARVALHO72
Professor do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UESPI
danielcesarpi@gmail.com

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo identificar o modo como é trabalhada a questão da Educação
Ambiental nas escolas públicas no município de Floriano, localizada no estado do Piauí, buscando
também verificar os problemas ambientais e conferir se há alguma relação à conservação do meio
ambiente. As pesquisas foram feitas em escolas de turmas do ensino fundamental maior com o
propósito de averiguar se há preocupação por parte das escolas com o meio ambiente, e assim
observar como são feitas as atividades para a conscientização de alunos, docentes e funcionários em
geral. Os resultados evidenciaram que apesar da importância do estudo da educação ambiental, essa
ainda continua sendo pouco explorada no âmbito escolar. Assim, salienta-se a introdução de
atividades educativas voltadas ao meio ambiente como palestras e atividades práticas inseridas
diretamente no projeto politico pedagógico da escola.
Palavras-chave: Floriano. Educação Ambiental. Meio Ambiente.

RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo identificar el modo de cómo es trabajada la cuestión de la
educación ambiental en las escuelas públicas en la ciudad de Floriano, en el estado de Piauí,
buscando también comprobar los problemas ambientales y para comprobar si existe alguna relación
con la conservación del medio ambiente. La investigación se llevó a cabo en las escuelas primarias
con el fin de conocer si existe preocupación por las escuelas con el medio ambiente, y por lo tanto
observar cómo se hacen las actividades para el conocimiento de los estudiantes, profesores y
personal en general. Los resultados mostraron que a pesar de la importancia del estudio de la
educación ambiental, esto sigue siendo poco explorado en las escuelas. Por lo tanto, hacemos
hincapié en la introducción de actividades educativas orientadas al medio ambiente, tales como

72
Orientador e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1395


conferencias y actividades prácticas insertados directamente em proyecto político pedagógico em la
escuela.
Palabras clave: Floriano. Educación Ambiental. Medio Ambiente.

INTRODUÇÃO

O planeta vem passando por várias transformações ao longo dos anos em decorrência de
atividades antrópicas que provocam grandes desastres ambientais. Sabe-se que o meio ambiente
oferece tanto aos seres vivos subsídios essenciais para a sobrevivência e o desenvolvimento, pois a
sociedade não se mantém se não houver ar puro, solo produtivo, clima agradável e principalmente
água potável, que permita uma melhor qualidade de vida nos mais variados aspectos.
Dessa forma, como instrumento para preservação ambiental, a sociedade tem leis que regem
a forma de agir com o meio ambiente. Nesse contexto, tem-se como base a Educação Ambiental
(EA) como um conjunto de valores que devemos adquirir através do processo de ensino-
aprendizagem. Diante desse fato surge a preocupação de como é trabalhada a questão ambiental
nas escolas públicas.
Entende-se por EA os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade
(BRASIL, 1999).
A EA está provocando debates acerca do modo de como é realizada e traz consigo reflexões
envolvendo a importância de se trabalhar nas escolas públicas. Nesse aspecto, é indispensável que
haja uma harmonia entre as atividades humanas e a natureza, de maneira que não se pode prescindir
a análise dos determinantes do processo educacional, o papel dos diversos atores envolvidos e as
formas de associação social que ampliam a capacidade das práticas de um novo incremento, numa
perspectiva que priorize o destaque na educação ambiental escolar.
A Educação Ambiental, de acordo com Dias (1994), se caracteriza por incorporar as
dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas, o que significa que ao tratar
de qualquer problema ambiental, devem-se considerar todas as dimensões. Com base no que foi dito
pelo autor, observa-se que é um problema onde abrange todos os setores no que diz respeito ao
meio ambiente. É dever do cidadão portar uma boa conduta e um comportamento onde possibilite a
construção de um mundo cada vez melhor para que haja conexões proporcionando boas práticas
socioambientais.
Nesse aspecto, as escolas devem incentivar as crianças a praticarem ações sustentáveis,
exercendo assim um papel fundamental para orientar o conhecimento ambiental desde a base, para
que o aluno, no decorrer de seu desenvolvimento, internalize desde cedo as atitudes que garantam a
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1396
conservação do meio, tornando-os futuros instrutores para a nova geração, para que haja
consciência e sensibilidade ao adotarem habilidades relativas no uso das novas tecnologias e nos
diferentes níveis de modalidade de ensino, havendo uma dimensão visando incorporações voltadas
às experiências, valores e determinação do ser humano.
Tendo como base que a escola, através de todos os seus elementos, é de fundamental
importância para a sociedade e pela sua mudança, nota-se que para ter uma visão mais profunda
sobre educação ambiental é necessário que haja uma tentativa de mudanças no convívio da
sociedade com a natureza.
Segundo Capra (2003) uma das alternativas para a inclusão da temática ambiental no meio
escolar é a aprendizagem em forma de projetos. Essa é uma oportunidade com a qual se visa obter
uma concessão ao estabelecer o contato com o novo entendimento do processo de aprendizagem.
Isso inspira a necessidade de novas estratégias de ensino mais adaptadas, e tornando evidentemente
a importância de um saber incorporado, valorizando o conhecimento contextual, no qual os
materiais didáticos sejam vistos como meios a serviço de um objeto no qual permeia as outras
disciplinas já estabelecidas, mostrando a realidade escolar e o estudo de problemas do meio
ambiente no cotidiano.
Em 1977 ocorreu um grande marco que foi a Conferência Intergovernamental de Tbilisi, na
Geórgia, a respeito da Educação Ambiental no mundo, contando como parceiros a UNESCO e o
plano do Meio Ambiente da ONU, o PNUMA através deste empate, a questão era para definir
estratégias de como seriam adotadas medidas de conservação ambiental, onde foi instituído que o
processo educativo deveria ser conduzido para a decisão dos problemas concretos do meio
ambiente, através da interdisciplinaridade e, de comunicação ativa e responsável de cada pessoa e
da sociedade.
É nessa perspectiva que se tem como objetivo averiguar os problemas ambientais e como
funcionam as práticas de educação ambiental nas escolas públicas do município de Floriano, Estado
do Piauí, propondo alertar aos educadores a relevância de qual a melhor forma de conscientizar os
alunos sobre a conservação do meio ambiente.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento do estudo sobre a Educação Ambiental nas escolas públicas de


Floriano-PI (Figura 1) foi adotado primeiramente um levantamento de dados bibliográficos como,
livros, artigos e manuais, sobre a referida temática.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1397


Figura 1: Localização de Floriano – PI
Fonte: IBGE, 2014.

Por conseguinte, com base nesse levantamento, foi feita uma pesquisa qualitativa nas
escolas públicas; dessa maneira, foi lançado mecanismos criteriosos como questionários, relatos e
entrevistas com Secretários de Educação e Meio Ambiente, professores e coordenadores,
possibilitando também observações em três escolas estaduais e três municipais, procurando saber a
situação dos acervos pedagógicos, a formação dos docentes, quais os recursos didáticos usados para
a Educação Ambiental, sé há projetos em fase de iniciação ou em andamento e como o uso da
tecnologia beneficia para o aprendizado do aluno e quais fatores contribuem para a inserção da
Educação Ambiental nas escolas, dentre outras.
Para a compreensão dessa dinâmica da Educação Ambiental nas escolas do município de
Floriano-PI foi apresentado aos já citados participantes da comunidade escolar um pequeno
questionário que abordava, de forma sucinta, sobre as principais dúvidas de manejo ambiental
nestas instituições de ensino.
As questões visavam definir como anda a conscientização de estudantes, professores e
comunidade em geral sobre o seu nível de entendimento quanto a utilização correta do meio
ambiente e principalmente de seus recursos. Os principais questionamentos visavam ao tratamento
dado ao lixo nas escolas, o uso racional da água, o cultivo de plantas e árvores e a adequação de
todas essas ações no ambiente escolar. O proposito é integrar a escola com a natureza,
harmonizando-as em um só ambiente. Pois se entende que os estudantes são uma ferramenta
importantíssima no contexto de disseminar tais conhecimentos em casa e na sociedade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1398


Sabe-se que há uma carência de se trabalhar Educação Ambiental nas escolas. Nesse
contexto enfatizam-se as turmas de ensino fundamental devido ao fato das práticas de EA serem
mais bem analisadas e compreendidas e por esses alunos terem um senso crítico mais aprimorado e
logo depois poder transmitir esse conhecimento de forma clara e objetiva para as gerações futuras.
Dai a importância de tais conhecimentos serem discutidos e trabalhados nos mais variados anos do
Ensino Fundamental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Educação Ambiental (EA) é um termo que acabou sendo divulgado ao longo do tempo, pois
presenciamos que apesar do destaque, os resultados obtidos ficaram muito abaixo do que
prometeram os relatos. Ou seja, atualmente há ainda muitos educadores que tem a teoria como base
da conscientização da EA. Entretanto, tem- se que trabalhar em conjunto tanto na teoria como na
prática para que haja resultados satisfatórios.

O ensino interdisciplinar no campo ambiental implica na construção de novos saberes,


técnicas e conhecimentos e a sua incorporação como conteúdos integrados no processo de
formação. Ele requer um processo de auto formação e a formação coletiva da equipe de
professores, quanto à troca sobre diversas temáticas ambientais, de elaboração de
estratégias docentes e definições de novas estruturas curriculares (LEFF,2001,p.116).

Em conformidade com Leff (2001), é preciso que haja uma maior preparação para os
profissionais da educação onde os mesmos devem transmitir o assunto de maneira esclarecedora e
objetiva para os discentes, colocando em pauta o seu conceito, importância e uma busca para a
melhor alternativa de reeducar.
No decorrer da pesquisa foram investigadas as varias nuances no ambiente escolar, tendo em
vista que foi obtido resultados preocupantes em relação ao uso da temática na sala de aula e também
verificou-se que os educadores tratam a implementação das atividades como um fator secundário e
não necessário.
Foi constatado que os professores e os coordenadores entrevistados, que declararam não
realizar trabalhos a respeito da EA, não tiveram Ensino Superior completo ou não tem nenhuma
habilidade em comum relacionada ao tema proposto, Alguns educadores dizem trabalhar a questão
da EA no âmbito escolar, mas fica evidente que esta questão está sendo esquecida por algumas
escolas da rede pública (tanto Estaduais quanto Municipais).
Segundo a Secretaria do Meio Ambiente (SEMAN), não há recursos financeiros para que
haja conscientização e preservação do meio ambiente nos locais de ensino, pois eles apenas
realizam palestras e debates acerca de se obter um bom resultado. Sendo assim, não há nenhuma
dificuldade em repassar o assunto para a comunidade escolar, tendo como melhor forma de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1399


conscientização as escolas entraram em consenso e buscam aperfeiçoar os alunos, tirando-os da
teoria e levando-os para a prática, só que a realidade é totalmente contraria.
Há sem dúvidas uma grande necessidade da disseminação da EA, pois é preciso que haja
avanço no processo de construção de um mundo melhor, é necessário que a comunidade trabalhe
em conjunto, pois é da qualidade que se obtém bons resultados.
A Tabela 1 apresenta o resultado das entrevistas diretas nas escolas públicas municipais e
estaduais visitadas:

ESCOLA REDE PROBLEMA APRESENTADO JUSTIFICATIVA


Presença de resíduos sólidos (Lixo e
A escola não pretende dar ênfase no
A poluição do espaço escolar).
momento, pois tem outras prioridades.
Estadual Falta de Arborização, Acumulo de lixo, A escola está com um projeto chamado
B
Erosão do solo. Pedagogia Ambiental.
A escola não se pronunciou a respeito do
C Vegetação (envolvendo o desmatamento).
caso.
A escola não se pronunciou a respeito do
D Rede de esgotos a céu aberto.
caso.
Funcionários estão com recursos para
E Municipal Horta Escolar danificada.
solucionar o problema.
Desperdício de água nos bebedouros,
F A escola está em fase de manutenção.
Esgotos a céu aberto.
Tabela 1: de problemas ambientais encontrados nas escolas entrevistadas no município de Floriano-Piauí
Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

Como pode ser observado na Tabela 1, todas as seis escolas entrevistadas passam por
problemas ambientais, perfazendo uma amostragem no procedimento de avaliação não sendo de
grande diferença se faz parte da rede estadual ou municipal. O fato é que, por mais evidente que
sejam os problemas das escolas investigadas também há de se ressaltar que foram observados
aspectos positivos, como criação de projetos, feiras ambientais, dentre outros. A Figura 2 retrata
uma horta desenvolvida dentro de uma das escolas visitadas:

Figura 2: Horta desenvolvida na escola E.


Fonte: Os Autores, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1400


Segundo relatos feitos com dez alunos das escolas A e D, foi constatado que o sistema de
ensino dá mais ênfase para as disciplinas de Português e Matemática, deixando assim a EA para
outras disciplinas, como Ciências e Geografia, caso totalmente oposto sobre o que relatou os
professores e os coordenadores das instituições. O que se advoga é uma descentralização dos
sistemas questionados, pois mesmo logo após as entrevistas as escolas A e D não se pronunciaram
sobre a questão das grandes quantidades de lixo e a falta de saneamento básico em torno do local.
Inclusive no entendimento de Leff (2001), compreender o ambiente não é resultado de uma
simples reestruturação sistêmica de conhecimentos, mas de uma mudança de paradigmas e
ideologias movidos pela problemática ambiental e social que os impulsiona.
Além disso, ele diz que essa problemática é estruturada em três pilares (LEFF, 2001, p.236):
1. Os limites do crescimento e a construção de um novo paradigma de produção sustentável.
2. A fragmentação do conhecimento e a emergência da teoria de sistemas e do pensamento da
complexidade.
3. O questionamento da concentração do poder do Estado e do mercado, e a reivindicação de
democracia, equidade, justiça, participação e autonomia, da parte da cidadania.

Sendo assim, é de fundamental importância mostrar a necessidade da união que há entre


Educação Ambiental ligada aos mais variáveis aspectos da realidade humana. Pois existe uma
miríade de problemas ambientais encontrados que precisam ser solucionados por meio de aquisição
de práticas e exercícios educativos indispensáveis nas diversificadas formas de compreensão dos
mecanismos complexos de uma correlação econômica, política social, e ecológica.
Quando questionados quais fatores contribuem para inserção da EA na escola, somente duas
dessas tiveram respostas concretas, em pronunciamento as escolas B e F tem como grande fator o
trabalho em equipe como, por exemplo, criação de grupos em salas de aula para criar projetos com
a finalidade de se preservar o ambiente no local de estudo como a criação de lixeiros para coleta
seletiva de cada material separado de acordo com sua classificação como os vidros, metais,
plásticos e papeis. Além da criação de eventos como feira de ciências que também ajuda na
conscientização do educando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo indicam que a EA apresenta certa dificuldade em ser relacionada
aos princípios da integralidade a um caráter permanente e continuo, pois se deve estar sempre
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades da educação sendo ela dentro ou
fora da escola. Esta dificuldade é tratada na forma como algumas escolas adotam o sistema de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1401


ensino tradicional, onde muitas vezes a tentativa de implementar ações e técnicas ambientais está
ligada a um contexto de estudantes passivos, espectadores e receptores de conhecimento.
Podemos averiguar que a EA não é trabalhada como deveria ser, de acordo com os PCN‘s e
com a Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999, isso pelo ao fato de muitas das instituições não serem
incentivadas e nem estarem habilitadas para realizar ou desenvolver qualquer atividade. Por outro
lado não oferecem requisitos adequados para o desenvolvimento de trabalhos relacionados à
temática do meio ambiente.
Assim, é de suma importância a existência de uma ambientalização em termos didáticos
com a necessidade de abranger dentro do contexto socioambiental, a garantia do caráter continua e a
permanência do sistema educacional. Contudo, foi constatado que a educação ambiental é
trabalhada de maneira informal com gravíssimos problemas, tendo em vista uma relação de
possibilidades incorporadas em suas praticas para a melhoria no processo de ensino, vinculando
articulações na forma de aprendizagem, tanto no coletivo como no individual.
Em suma, é necessário haver uma grande preocupação com as praticas de Educação
Ambiental no âmbito escolar, apresentando-se uma discussão universal; porém verifica-se que
faltam muitos instrumentos e projetos com o intuito de incentivar a aprendizagem dos alunos e para
uma compreensão melhor do tema abordado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei 9795/99. Brasília, 1999.

CAPRA, F. Alfabetização Ecológica: O Desafio para a Educação do Século 21. In: TRIGUEIRO,
A. (coord.) Meio Ambiente no Século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas
áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.

LEFF, E. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável. In: REIGOTA, M. Verde cotidiano:


O meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&, 2001.p. 111-129.

______. 2001. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 3ª ed. Vozes,
Petrópolis: 343 p

UNESCO (org.). Educação Ambiental, as Grandes Orientações da Conferência Internacional de


Tbilisi. Paris,[s.n],1980.75.p Revisão da tradução: Norma Guimarães Azeredo, Vitória. A B.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1402


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SANITÁRIA PELO BEM ESTAR HUMANO E ANIMAL

Alfredo Rosas de LIMA JÚNIOR


Graduando em Agroecologia, CCAA/UEPB
alfredojuniorx@ig.com.br

Ana Carolina BEZERRA


Graduanda em Agroecologia, CCAA/UEPB

Luana da Silva BARBOSA


Graduanda em Agroecologia, CCAA/UEPB

Camila Firmino de AZEVEDO


Professora Dra. do Departamento de Agroecologia e Agropecuária, CCAA/UEPB

RESUMO
A companhia dos animais domésticos produz efeitos psicológicos, fisiológicos e sociais que são
benéficos para os seres humanos, mas muitas pessoas não os tratam da forma correta, reduzindo a
qualidade e expectativa de vida dos mesmos. Há grande deficiência de trabalhos em educação
sanitária e ambiental, principalmente em comunidades carentes. Diante do exposto, foram
realizadas ações de educação sanitária e ambiental na comunidade da Vila Florestal em Lagoa
Seca/PB, com o intuito de promover melhoria do bem estar e saúde dos humanos e animais.
Inicialmente foram aplicados questionários sobre o tema durante visitas domiciliares, com o intuito
de traçar um perfil da população atendida e nortear as ações educativas. Em seguida, foi realizada
uma palestra na associação de moradores da comunidade e distribuídos panfletos educativos, que
abordavam o tema saúde humana e animal e prevenção de zoonoses. Além disso, dados de
acidentes com mordeduras de cães e gatos foram solicitados em órgãos públicos de saúde do
município. Na palestra realizada, foram abordados conceitos de bem estar animal, guarda
responsável, castração, higiene, zoonoses, entre outras; com o intuito de informar a população sobre
o estabelecimento de uma melhor relação com seus animais domésticos. A maioria dos moradores
da comunidade tem cães e/ou gatos em casa, mas não possuem conhecimento sobre zoonoses e suas
formas de prevenção; ressaltando assim a importância de divulgar tais informações. Os casos de
acidentes com mordeduras no munícipio de Lagoa Seca/PB vêm crescendo a cada ano e a tendência
é aumentar, assim como a transmissão de zoonoses, caso não haja programas educativos que
conscientizem a população. Tais ações educativas podem contribuir para uma melhoria significativa
da saúde humana e animal no município.
Palavras-chave: Zoonoses, mordeduras, cães e gatos, saúde pública, prevenção.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1403


ABSTRACT
The pets produces physiological, psychological and social effects that are beneficial to humans, but
many people do not the treat them the right way, reducing their life quality and expectancy of the
same. There is a great deficiency of jobs in health and environmental education, particularly in
deprived communities. Given the above, actions of sanitary and environmental education in the Vila
Florestal community in Lagoa Seca/PB were performed, in order to promote improved welfare and
health of humans and animals. Initially questionnaires on the topic during home visits were applied,
in order to draw a profile of the population served and guide the educational activities. Then, a
lecture was held in residents association of community and distributed educational pamphlets, that
addressed the theme human and animal health and the zoonoses prevention. In addition, accident
data with dogs and cats bites were solicited in municipality public health departments. In the
lecture, concepts of animal welfare, responsible guard, castration, hygiene, zoonoses, among others,
were addressed; in order to inform the population about establishing a better relationship with their
pets. The majority of community residents have dogs and/or cats at home, but have no knowledge
about zoonoses and its prevention; thus highlighting the importance of disclosing such information.
Cases of accidents with bites in Lagoa Seca/PB municipality have been growing every year and the
trend is increasing, as is the zoonoses transmission, if there is no educational programs to aware the
population. These educational activities can contribute to a significant improvement of human and
animal health in the municipality.
Key-words: Zoonoses, bites, cats and dogs, public health, prevention.

INTRODUÇÃO

A companhia dos animais domésticos produz diversos efeitos benéficos em seres humanos,
dentre eles os efeitos psicológicos (diminuição da depressão, estresse e ansiedade), fisiológicos
(redução da pressão arterial e frequência cardíaca, além do aumento da expectativa de vida e do
estímulo para realização de atividades saudáveis) e sociais (aumento da socialização de criminosos,
idosos, deficientes físicos e mentais e melhoria no aprendizado e socialização de crianças) têm
importância conhecida (SANTANA e OLIVEIRA, 2006).
Porém, grande parte da população não oferece os cuidados e tratamentos adequados aos seus
animais, seja por negligência, falta de informação ou até mesmo crueldade. Deste fato, resultam
inúmeros problemas que afetam tanto seres humanos como animais, tais como abandono dos
mesmos nas ruas (SOTO et al., 2006), causando aumento do número de acidentes de trânsito e
zoonoses (SCHOENDORFER, 2001); redução da qualidade e expectativa de vida dos animais;
além das crias indesejadas, que aumentam ainda mais a superpopulação e o abandono
(BORTOLOTI e D‘AGOSTINHO, 2007); tornando de extrema relevância os programas de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1404
educação sanitária e ambiental com a finalidade de reduzir esses problemas.
Em vários países, a exemplo do Brasil, a questão do sofrimento de cães e gatos devido ao
desconhecimento ou à inobservância da guarda responsável torna-se relevante, devido ao número de
animais envolvidos. A estratégia de captura e extermínio como método de controle populacional de
cães significou décadas de sofrimento adicional para animais de rua e semi-domiciliados
(MOLENTO, 2007). Esta abordagem, reconhecidamente ineficaz, vem sendo substituída por
alternativas coerentes com as recomendações de diminuição da taxa de renovação da população de
cães e gatos, através de programas de esterilização cirúrgica (MATOS, 2012).
Limbert et al. (2009) ressaltam ainda que a deficiência dos programas públicos de educação
sanitária e ambiental dificulta a percepção e entendimento, especialmente em comunidades
carentes, dos riscos à saúde a que estas pessoas e animais estão expostos. Com o intuito de
minimizar estes problemas, Magalhães et al. (2008) apontam a necessidade de desenvolver a
compreensão de guarda responsável de animais de estimação como um pré-requisito para assegurar
que os animais de companhia recebam os cuidados indispensáveis ao seu bem estar e daqueles com
quem convivem; e ainda que a não assimilação deste conceito contribui para o aumento da
população de cães e gatos e do risco de transmissão de doenças.
Dessa forma, conhecer o perfil de proprietários de animais pode ser de grande valia para os
profissionais da área, incluindo médicos veterinários, especialistas em saúde pública, entre outros; a
fim de que se possam adotar estratégias para divulgar a guarda responsável, o bem estar animal e a
relação destes conceitos com a transmissão das zoonoses, minimizando o abandono e os maus tratos
de cães e gatos (SILVA et al., 2009) e consequentemente promovendo melhorias na saúde pública.
Para tal, tornam-se essenciais as campanhas de conscientização da população através de ações de
educação sanitária e ambiental, estabelecendo o ser humano como parte essencial no processo de
melhoria da qualidade de vida dos animais e da saúde da população.
Diante do exposto, objetivou-se promover a melhoria do bem estar e saúde de seres
humanos e animais de companhia através da educação sanitária e ambiental na comunidade da Vila
Florestal em Lagoa Seca/PB.

METODOLOGIA

Para traçar o perfil das famílias residentes na Vila Florestal de Lagoa Seca/PB em relação à
transmissão de zoonoses e aos cuidados destinados aos animais de companhia, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas através da aplicação de questionários sócio comportamentais e
epidemiológicos durante visitas domiciliares, que abordaram questões relevantes para o
conhecimento da forma que os entrevistados tratam e se relacionam com os animais domésticos.
Nestas avaliações, foi dada ênfase às questões relativas às doenças dos animais e prevenção de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1405
zoonoses.
Além do levantamento realizado com a população em relação aos casos de zoonoses
ocorridos na comunidade e da opinião dos entrevistados em relação ao tema, também foram
solicitados dados reais dos casos de mordeduras, em órgãos públicos de saúde municipal, ocorridos
e no município de Lagoa Seca/PB, onde a Vila Florestal está inserida.
A equipe não se limitou em simplesmente aplicar os questionários, pois durante as
entrevistas, trabalhou com informações básicas em educação sanitária e ambiental para o bem estar
homem-animal, na medida em que procurou esclarecer as dúvidas da população em relação à
guarda responsável e transmissão de zoonoses. Para auxiliar esse processo também foram realizadas
uma palestra na Associação de Moradores da Comunidade e, além disso, foram produzidos e
distribuídos guias de orientação (panfletos educativos) sobre prevenção de zoonoses, bem estar e
cuidados básicos de animais de companhia (Figura 1).

Figura 1. Panfletos educativos sobre prevenção de zoonoses, bem estar e cuidados básicos.

Nas ações educativas foi utilizada metodologia participativa com a integração da equipe
com a comunidade abordando questões relativas à guarda responsável, hábitos de higiene e
preservação da saúde dos animais. Nesse processo, também foi feita a conscientização sobre os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1406


benefícios da esterilização de animais de companhia como uma forma indireta de prevenção de
doenças e de melhoria da saúde pública.
O procedimento amostral visou obter um número de pessoas entrevistadas que fosse
representativo da população residente na Vila Florestal de Lago Seca/PB e os dados coletados
durante a aplicação dos questionários foram analisados a partir de análise estatística descritiva
mediante determinação das frequências percentuais observadas nas categorias das variáveis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As entrevistas com a população foram realizadas durante visitas domiciliares, com 100
famílias. Na oportunidade foram entrevistados 21 homens e 79 mulheres, sendo que destes 50% são
solteiros, 45% são casados e 5% são viúvos. No que se refere à escolaridade, 8% são analfabetos,
9% são analfabetos funcionais, 39% cursaram o Ensino Fundamental I, 24% cursaram o Ensino
Fundamental II, 19%, o ensino médio e apenas 1% cursou o ensino superior. A renda mensal da
maioria dos entrevistados não passa de um salário mínimo (89%) e levando em consideração o
índice de potencial de consumo 2013, a maiorias dos entrevistados então dentro das classes D e E.
Das 100 casas visitadas, 68 possuíam animais e 32 casas, não. Sendo que dos 68
entrevistados que possuem animais, 54,41% possuem cães, 10,29% possuem gatos, 30,88%
possuem as duas espécies e 4,41% possuem outros animais; perfazendo um total de 170 animais
(cães e gatos) na comunidade. A predominância de cães nas famílias da comunidade também já foi
observada por meio de várias outras pesquisas realizadas em outras cidades brasileiras, a exemplo
de Botucatu/SP (LANGONI, 2011), Garça/SP (PINHEIRO JÚNIOR, 2006), Dourados/MS
(LIMBERT et al., 2009), Ibiúna/SP (SOTO et al., 2006) e Teresina/PI (SILVA et al., 2009).
Ao serem indagados sobre o conhecimento em relação às zoonoses (Figura 2), 69%
afirmaram que sabiam que os animais podem transmitir doenças e 31% dos entrevistados falaram
que animais não transmitem doenças. Aos que sabiam que animais podem transmitir doença, foi
perguntado qual tipo de doença podiam transmitir, 1% respondeu cansaço, 4% coceira, 17% sarna,
7% não lembra, 6% verme, 28% raiva, 2% bactéria, 16% calazar, 1% tosse, 1% impinge, 2% asma,
3% carrapato, 1% pulga, 1% alergia, 1% toxoplasmose, 1% gripe, 1% leishmaniose.
Também foi perguntado se algum familiar já adquiriu zoonose (Figura 2), 10% falaram que
sim e 90% que não. Dos que responderam sim, 3% citaram impigem, 1% verme, 1% febre, 1% dor
de cabeça, 1% sarna, 1% coceira e 1% leishmaniose. Posteriormente os entrevistados foram
questionados sobre o que os mesmos acham que pode ser feito para evitar a transmissão de
zoonoses; destes, 15% responderam cuidar, 9% vacinar, 13% limpeza, 10% amarrar para não sair de
casa, 3% remédio, 1% matar, 2% banho, 4% não sabem, 4% evitar o contato, 1% lugar para eles
morar, 1% não andar sem sandálias, 1% visitas sanitárias do município, 1% reservar um canto da
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1407
casa para o animal, 1% vermifugação, 1% não criar animais, 1% recolher animais de rua.

Você acha que os animais Quais as doenças você acha que os animais
podem transmitir doenças? podem transmitir?
30
20
50 10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
1. Cansaço, 2. coceira, 3. sarna, 4. não lembro, 5. verme, 6. raiva, 7.
0 bactéria, 8.calazar, 9. tosse, 10. impinge, 11. asma, 12. carrapato, 13.
Sim Não pulga, 14. alergia, 15. texoplasmose, 16. gripe, 17. leishmaniose B
A

Você acha que alguém de sua Qual (is) doença (s) seu familiar adquiriu?
familia já adquiriu alguma doença 4
de animal? 2
100
0
50 1 2 3 4 5 6 7
0 1. impinge, 2. verme, 3. febre, 4. dor de cabeça, 5.
Sim Não C sarna, 6. coceira, 7. leishmaniose D

O que você acha que pode ser feito para evitar essas doenças?
16

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
1. cuidar, 2. vacinar, 3. limpeza, 4. amarrar para não entrar em casa, 5. remédio, 6. matar, 7. banho, 8. não sabe, 9.
evitar contato, 10. lugar para eles morar, 11. não andar sem sandálias, 12. visitas sanitárias do município, 13.
reservar um canto da ca E

Figura 2. Dados em relação às zoonoses de animais de companhia presentes na comunidade da Vila Florestal
em Lagoa Seca/PB. A. Você acha que os animais podem transmitir doenças? B. Quais as doenças você acha
que os animais podem transmitir? C. Você acha que alguém de sua família já adquiriu alguma doença de
animal? D. Qual (is) doença (s) seu familiar adquiriu? E. O que você acha que pode ser feito para evitar essas
doenças.

Em relação aos casos de mordedura ocorridos no município de lagoa seca, foi observado que
nos anos de 2012 um número considerável de 33 pessoas, foram mordidas por seus animais de
estimação. Já em 2013 o número de pessoas mordidas aumentou em relação a 2012, chegando a 66
pessoas mordidas durante todo o ano. E nos primeiros meses de 2014, 31 pessoas já haviam sido
mordidas por cães e gatos no município de Lagoa Seca/PB. As mordeduras causadas por cães são
objeto de grande preocupação devido possibilidade de Transmissão de zoonoses, como a raiva, de
desenvolvimento de infecções secundárias, de sequelas físicas e psicológicas, entre outras (PLAUT
et al., 1996). Estes acidentes constituem, portanto grave problema para a comunidade, para outros
animais e para a saúde pública (MUNDIM, 2005; SCHABBACH,2004). Além disso, os custos
econômicos e sociais direcionados ao tratamento médico dos acidentados são elevados, consumindo
recursos que poderiam ser investidos em programas de promoção à saúde que beneficiariam um
grande número de pessoas (CHANG et al., 1997; OVERALL e LOVE, 2001). Os acidentes
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1408
humanos causados por animais, principalmente os cães, ocorrem numa frequência bastante elevada
no Brasil (DEL CIAMPO et al., 2000).

Mordeduras
100

50

0
2012 2013 2014

Figura 3. Dados de mordeduras por cães e gatos ocorridos na cidade de Lagoa Seca/PB nos anos de 2012,
2013 e 2014.

Levando-se em consideração os 68% dos entrevistados, percebe-se que pouco mais de 17%
já levou seu animal ao veterinário, 11,76% já levou em algum momento e 70,58% nunca visitaram o
veterinário com seu animal. Quando questionados sobre o motivo da visita ao veterinário, os
entrevistados deram as seguintes respostas: doença, envenenamento, tosse, infecção urinária e
virose. Em estudo realizado em Teresina/PI, foi observado que a maioria (75,3%) das pessoas
também nunca levou o cão ao médico veterinário (Silva et al., 2009).

Visitas ao veterinário Motivo da visita


80
4
60
40 2
20
0
0
1 2 3 4 5
Nunca Sim Sim 1. doença, 2. envenenamento, 3. tosse, 4. infecção
eventualmente periodicamente urinária, 5. virose B
A
Figura 4. Dados relativos a visitas ao veterinário dos animais de companhia presentes na comunidade da Vila
Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Visitas ao veterinário B. Motivo da visita.

Quando questionados se em algum momento os animais já teria sido vermifugados, 44,12%


responderam que sim e 55,88% responderam que não. Posteriormente foi perguntado quem indicou
o vermífugo, dos entrevistados que responderam sim (44,12%), 26,66% relataram que foi indicado
pelo agente de saúde, 20% amigo ou algum familiar, 13,33% vendedor e 40% pelo veterinário.
Ao serem perguntados sobre a vacinação, os que são tutores (68%) responderam que já
vacinaram seu animal; sendo que 54,47% vacinam anualmente contra raiva durante as campanhas
do governo. 16,17% vacinaram apenas uma ou duas vezes, 1,47% vacinam contra a raiva no
veterinário, 1,47% vacinam com a antiviral e 29,41%, disseram que nunca vacinaram seu animal.
No âmbito da vacinação, especialmente a antirrábica, esta tem de ser ampla e acessível para
a população, com a promoção, pelo Estado, de amplas campanhas educacionais na mídia e nas
escolas, tratando da necessidade de se vacinar o animal, aproveitando-se da ocasião para efetivar a

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1409


educação para a guarda responsável, visando erradicar as zoonoses e elevar o bem estar animal e
humano; além de tornar-se obrigatória e gratuita a vacina contra a raiva (SILVANO et al., 2010).

Seu animal toma vermífugo? Seu animal ja tomou vacina?


60 60

40 40

20 20
0 0
1 2 3 4 1 2 3 4 5
1. Apenas quando tem verme, 2. 1. Contra raiva(campanha do governo), 2. Já tomou 1 ou 2
Sim/periodicamente, 3. Nunca, 4. Tomou uma vez A vezes, 3. Nunca, 4. Contra raiva ( veterinário), 5. Antiviral
B
Figura 5. Dados em relação à vermifugação e vacinação dos animais de companhia presentes na comunidade
da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Seu animal toma vermífugo? B. Seu animal já tomou vacina?

Sobre castração, foi perguntado a todos os tutores (68%) se o animal era castrado (Figura 6);
8,2% falaram que sim, 91,17% falaram que não. Sendo lançada a sugestão de castrar ou não castrar,
54% falaram que não castraria e 46% que castraria. Posteriormente foi perguntado o motivo de
terem respondido que castrariam ou não. Aos que responderam sim, foram obtidos os seguintes
dados: 18% castrariam para não ter filhotes, 2% para que os animais não saíssem tanto de casa, 6%
não tem opinião formada, 9% castrariam para evitar abandono de animais, 1% acha que seria
melhor, 1% castraria para evitar a fome e 1% para evitar sofrimento. Dos que responderam que não
castraria, 7% falaram que não tem coragem, 3% porque o animal toma injeção anticoncepcional,
3% porque quer a reprodução, 2% acham que é maltrato, 1% acha falta de caráter e 2% temem a
morte dos animais. Considerando todos os entrevistados, foi indagado se a castração seria boa ou
ruim no ponto de vista dos mesmos, 49% acham boa, 41% ruim e 10% não tem opinião formada.
No estudo Feito em Botucatu – SP por Langoni et al.(2011), 26% dos animais eram
castrados. Dentre estes, 73% eram cães e 27% gatos. É importante ressaltar que, do total de cães,
29% eram castrados e, do total de gatos, 58,3% eram castrados, demonstrando uma maior
preocupação dos proprietários de gatos com relação à castração. O que diferiu estatisticamente do
nosso estudo.
Um outro fator relevante no contexto de bem-estar animal e guarda responsável é o controle
populacional de cães e gatos. Ações efetivas como o registro e identificação, controle da
reprodução, educação e legislações pertinentes, recolhimento seletivo e ações específicas para
animais comunitários foram recomendadas pela primeira vez por um órgão estadual público no
Brasil em 2005, bem como o manejo etológico em todas as ações (BARROS et al., 2009).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1410


Seu animal é castrado? Você castraria? Você acha que a castração é
100 100 boa ou ruim?
100
50 50 50

0 0 0
sim Não A Sim Não B Boa Ruim Não Sabe C

Figura 6. Dados em relacionado à castração de animais de companhia presentes na comunidade da Vila


Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Seu animal é castrado? B. Você castraria? C. Você acha que a castração é
boa ou ruim?

Entre todos os entrevistados, 92% respondeu que nunca tinham abandonado um animal e 8%
afirmaram que em algum momento já tinha abandonado (Figura 7). Quanto aos motivos pelos quais
os entrevistados não abandonariam 6% entrevistados responderam por que gosta de animais, 3%
que não tem coragem, 1% respondeu que os animais são a alegria da casa, 1% respondeu que não
abandonaria para o animal não passar fome nas ruas e 1% porque é uma vida.
Quando perguntados se existia muito animais abandonados em sua rua, 74% responderam
que sim e 26% responderam que não. Levando-se em consideração os 74% que responderam sim,
quando foram questionados se esses animais abandonados já tiveram donos, 87,83 responderam que
sim e 12,16% responderam que não. E com relação a alguém ajudar esses animais, 74,32% dos
entrevistados responderem que alguém da rua ajuda e 25,67 responderam que não.
Segundo o Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: com Pena - detenção, de três meses a um ano, e
multa. Como consequência do abandono, a densidade populacional de animais errantes,
vulgarmente denominados ―vira-latas‖, alcança números incalculáveis nas ruas das grandes cidades.
Um dos principais problemas oriundos da superpopulação desses animais decorre de os mesmos
estarem expostos a todo tipo de doenças, intempéries e perigos, sendo vítimas de várias zoonoses,
doenças carenciais e mutilações, constituindo um sério problema de saúde pública. Essa
problemática é agravada em virtude do acelerado grau de reprodução e proliferação desses animais
(SANTANA et al., 2004).

Você Já abandonou algum Motivo de não abandonar


10
animal?
100
5

50 0
1 2 3 4 5
0 1. gosta de animais, 2. não tem coragem, 3. são a alegria
Sim Não A da casa, 4. para não passar fome, 5. porque é uma vida B

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1411


Na sua rua existem Esses animais já Alguém da rua os
animais abandonados? foram de alguém? ajuda?
90 90
90

60 60 60

30 30 30

0 0 0
Sim Não C sim Não D Sim Não E
Figura 7. Dados em relacionado ao abandono de animais de companhia presentes na comunidade da Vila
Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Você já abandonou algum animal? B. Motivos de não abandonar. C. Na sua
rua existem animais abandonados? D. Esses animais já foram de alguém? E. Alguém da rua ajuda?

Na palestra realizada na associação de moradores da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB,


foram trabalhadas questões referentes principalmente aos conceitos de bem estar animal, senciência,
guarda responsável, castração, vacinação, vermifugação, higiene, zoonoses, preservação da
dignidade e saúde dos animais. Estas ações proporcionaram aos moradores da comunidade
informações acerca da saúde e de como a população pode estabelecer uma melhor relação com seu
animal doméstico. Observou-se também que para uma grande parte dos participantes da palestra o
tema abordado era uma novidade, causando assim uma grande interação por parte do público. Dessa
forma, notou-se que estas ações proporcionaram mudanças de perspectiva e grande interação em
relação ao assunto bem estar animal, com interesse crescente na comunidade.
Para Limberti et al., 2009 as atividades de educação em medicina veterinária preventiva em
comunidades carentes são essenciais para a conscientização quanto aos cuidados básicos com os
animais, a educação sanitária, as zoonoses e a posse responsável, pois tratam de temas pouco
debatidos e divulgados pelos serviços de saúde pública e órgãos competentes.
A Organização Mundial de Saúde e o Ministério da saúde também defendem que os
trabalhos de educação sanitária constituem ferramentas essenciais para o controle das zoonoses,
bem com, para Oliveira et al., (2008), faz-se necessária a conscientização da população através da
educação ambiental, quanto aos riscos de transmissão de zoonoses e sobre guarda responsável,
especialmente para crianças e jovens, por estes serem disseminadoras de conhecimento, repassando
para os pais e outros adultos o aprendizado obtido.

CONCLUSÕES

A maioria dos moradores da comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB tem cães e/ou
gatos em casa, porém os mesmos não têm o conhecimento necessário sobre zoonoses e suas formas
de prevenção; ressaltando assim a importância de divulgar tais informações. Os casos de acidentes
com mordeduras no munícipio de Lagoa Seca/PB vêm crescendo a cada ano e a tendência é
aumentar, assim como a transmissão de zoonoses, caso não haja programas educativos que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1412


conscientizem a população. Tais ações educativas podem contribuir para uma melhoria significativa
da saúde humana e animal no município.

REFERÊNCIAS

BARROS, M.B.S.et al. Conscientização e sensibilização dos transeuntes do Campus Dois irmãos da
Universidade Federal Rural de Pernambuco sobre guarda responsável de animais. In: Anais da 9ª
Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão e Anais da 6ª Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia. Recife. Recife: JEPEX; 2009.

BORTOLOTI, R., D‘AGOSTINO, R. G. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de


animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontingência. Revista Brasileira de
Análise do Comportamento. v. 3, n. 1, p. 17-28, 2007.

CHANG, Y. et al. Dog bite incidence in the city of Pittsburgh: a capture-recapture approach.
American Journal of Public Health, v.87, p.1703-5, 1997.

DEL CIAMPO, L.A.et al. Acidentes de Mordeduras de cães na infância. Revista de Saúde Pública,
v.34, n.4, p.411-412, 2000.

LANGONI, H. et al. Conhecimento da população de Botucatu-SP sobre guarda responsável de cães


e gatos. Veterinária e Zootecnia. v. 18, n. 2, p. 297-305, 2011.

LIMBERT, B. N. P. Estudo da tríade: educação sanitária, posse responsável e bem-estar animal em


animais de companhia em comunidade de baixa renda. Anuário da Produção de Iniciação
Científica Discente da Anhanguera. v. 12, n. 13, p. 99-108, 2009.

MAGALHÃES, F. J. R. et al. Ações para promover o controle populacional e sanitário de cães e


gatos em Fernando de Noronha, PE. In. I Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal,
2008, Recife. Anais do I CBBBA. Recife: CFMV, 2008.

MATOS, L.G. Quando a ―ajuda é animalitária‖: um estudo antropológico sobre sensibilidades e


moralidades envolvidas no cuidado e proteção de animais abandonados a partir de Porto
Alegre/RS. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). UFRS, Porto Alegre, 2012.

MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: qual é a novidade? Acta Scientiae Veterinariae. V. 35, supl.
2, p. 224-226, 2007.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1413


MUNDIM, A.P.M. Exposição à raiva humana no município de Cuiabá-MT: Epidemiologia e
avaliação das medidas preventivas. 2005. 108p. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)-
Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá.

OLIVEIRA, E.A. et al. Educação de crianças para um convívio pacífico com morcegos e
prevenção da Raiva no município de Guaraqueçaba – Paraná – Brasil. Universidade Federal do
Paraná.

OVERALL, K.L.; LOVE, M. Dog bites to humans – demography, epidemiology, injury, and risk.
Journal of the American Veterinary Medical Association, v.28, n.12, p.1923-1934, 2001.

PINHEIRO JÚNIOR, O. A. et al. Posse responsável de cães e gatos no município de Garça/SP.

Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. N. 3, v. 6, p. 1-4, 2006.

PLAUT, M.; et al. Health hazards to humans associated with domestic pets. Annual Review in
Public Health, v.17, p.221-245, 1996.

SANTANA, L.R.; OLIVEIRA, T.P. Guarda responsável e dignidade dos animais. Revista Brasileira
de Direito dos Animais, v. 1, n. 1, p. 207-230, 2006.

SANTANA, H.J. de. Abolicionismo Animal. Revista de Direito Ambiental. n. 6, p.85-109, 2004.

SCHABBACH, C.H. Agressões por cães em Rio Grande – RS: Um estudo da classificação por
situação de domicílio. Porto Alegre-RS; 2004. [Monografia Especialização – Departamento de
Medicina Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul].

SCHOENDORFER, L. M. P. Interação homem-animal de estimação na cidade de São Paulo: o


manejo inadequado e as consequências em saúde pública. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2001. 82 p. Dissertações (Mestrado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, 2001.

SILVA, F. A. N. et al. Posse responsável de cães no bairro Buenos Aires na cidade de Teresina (PI).
Ars. Veterinária, v. 25, n.1, p. 014-017, 2009.

SILVANO, D. et. al. Divulgação dos princípios da guarda responsável: Uma vertente possível no
trabalho de pesquisa a campo, Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 09, n. 09, p. 64 –
86.

SOTO, F. R. M., et al. Motivos do abandono de cães domiciliados para eutanásia no serviço de
controle de zoonoses do município de Ibiúna, SP, Brasil. Veterinária e Zootecnia, v. 14, n. 1, p.
100-106, 2006.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1414


MELHORIA DO BEM ESTAR E SAÚDE ANIMAL EM LAGOA SECA/PB ATRAVÉS
DA EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL

Ana Carolina BEZERRA


Graduanda em Agroecologia, CCAA/UEPB
carol_bezerra@yahoo.com.br
Alfredo Rosas de LIMA JUNIOR
Graduando em Agroecologia, CCAA/UEPB
Benedito Marinho da COSTA NETO
Professor da Faculdade Mauricio de Nassau, Campus-Campina Grande
Camila Firmino de AZEVEDO
Professora Dra. do Departamento de Agroecologia e Agropecuária, CCAA/UEPB

RESUMO
O uso de animais no tratamento de diferentes tipos de deficiência é cada vez mais recorrente e esse
fato ocorre porque os animais são dotados de senciência. Sendo assim, os mesmos precisam de
cuidados adequados de vacinação, vermifugação, alimentação, castração, higiene, segurança,
conforto. Dessa forma, objetivou-se traçar um perfil das famílias da Vila Florestal de Lagoa
Seca/PB em relação ao bem estar animal, a fim de se obter informações de como as pessoas tratam
e relaciona-se com os animais de companhia. Para tal, foram realizadas entrevistas com 100
famílias da Vila Florestal de Lagoa Seca/PB, ocasião na qual foram passadas para população
informações básicas em educação socioambiental para o bem estar animal. Na oportunidade
também foram distribuídos panfletos de orientação para os moradores da comunidade, afim de que
algumas dúvidas fossem esclarecidas em relação à guarda responsável. Tendo em vista que o Centro
de Ciências Agrárias e Ambientais da UEPB (Campus II) localiza-se ao lado da Vila Florestal e
existem alguns cães que vivem no local, foi feita uma palestra sobre bem estar de animais de
companhia e guarda-responsável para a comunidade acadêmica deste campus, onde foi lançada uma
campanha para arrecadação de fundos para realizar a esterilização de alguns animais com risco
potencial de reprodução. Os moradores da comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB
desconhecem aspectos importantes relativos à guarda responsável e de manejo dos animais de
companhia. A pesquisa fornece dados importantes que podem servir de subsídio para futuras ações
pelo bem estar e saúde animal e, além disso, torna evidente a necessidade de ações educativas sobre
guarda responsável, prevenção de doenças e também a necessidade de um serviço público
veterinário para toda a população, contribuindo assim para a saúde pública local.
Palavras-chave: guarda responsável; animais de companhia; comunidades carentes|

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1415


ABSTRACT
The use of animals in treatment of disability different types is the more common and this fact
happens because the animals are endowed with sentience. Therefore, they need proper care,
vaccination, worming, feeding, neutering, hygiene, safety, comfort. Thus, the objective was to draw
a families profile from Lagoa Seca/PB Vila Florestal in relation to animal welfare, in order to obtain
information on how people treat and relates to pets. To this end, were performed interviews with
100 families from Lagoa Seca/PB Vila Florestal, occasion on which were passed to the population
basic information on environmental education for the welfare of animals. On the opportunity,
guidance leaflets were also distributed to the residents of the community, so that some doubts were
clarified in relation to responsible ownership. Given that the Center for Agricultural and
Environmental Sciences of UEPB (Campus II) is located side to Vila Florestal and there are some
dogs who live locally, there was a lecture on the welfare of pets and responsible management for
academic community of this campus, which launched a campaign to raise funds to carry the
sterilization of animals with potential of reproduction. Residents of Vila Florestal community in
Lagoa Seca/PB unaware of important aspects of pets responsible management. The research also
provides important data that can serve as a basis for future actions for animal welfare and health and
moreover, makes clear the need for educational initiatives on responsible custody, disease
prevention and the need for a public veterinary service for all population, thereby contributing to the
local public health.
Key-words: responsible management; pets; poor communities.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, principalmente nas sociedades consideradas mais desenvolvidas, os


animais têm sido utilizados como auxiliares para minorar alguns efeitos de diversos tipos de
deficiência e problemas de saúde associados a fatores emocionais em humanos. Este fato ocorre,
especialmente, porque os animais possuem um conjunto de qualidades particulares, de onde se
destaca ‗o amor incondicional e espontâneo que manifestam em relação ao ser humano‘ (BECK e
KATCHER, 1996) e além disso, têm a capacidade de fazer o ser humano sentir-se amado,
respeitado, aceito, seguro e digno de atenção (GARCIA et al., 2008). O reconhecimento de que a
interação com animais torna os indivíduos mais motivados para interagir, comunicar, expressar
necessidades, informações e sentimentos deu origem à utilização de animais de estimação para a
promoção da saúde (LIMA e SOUSA, 2004; BUSSOTTI et al., 2005; CARVALHO et al., 2011),
porém é necessário que os seres humanos promovam o bem estar dos seus animais, fornecendo
condições físicas e psicológicas adequadas.
O bem estar animal é um termo de uso corrente e seu significado geralmente não é preciso.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1416
Porém, uma definição muito aceita é o conceito criado pelo professor John Webster e adotado pelo
Farm Animal Welfare Council (FAWC), que tem como base as cinco liberdades dos animais: a
liberdade fisiológica (ausência de fome e de sede), a liberdade ambiental (edificações adaptadas), a
liberdade sanitária (ausência de doenças e de fraturas), a liberdade comportamental (possibilidade
de exprimir comportamentos normais) e a liberdade psicológica (ausência de medo e de ansiedade)
(GRANDIN e JHONSON, 2010). Estas definições estão estritamente relacionadas com a prática da
guarda responsável, que se dá com cuidados adequados de vacinação, vermifugação, alimentação,
castração, higiene, segurança, conforto, entre outros (LIMBERT et al., 2009; LANGONI et al.,
2011).
Entre os agravos provocados pela falta de um manejo adequado dos animais, estão sérias
doenças que podem ser transmitidas ao homem como a raiva, a leishmaniose e a toxoplasmose, a
proliferação de parasitas como pulgas, carrapatos e sarna, agressões, acidentes de trânsito, poluição
por dejetos, poluição sonora e outras perturbações (WHO, 1990). Segundo Santana e Oliveira
(2006), são por estes motivos que a promoção do bem estar animal, da guarda responsável e da
prevenção de doenças estão intimamente relacionadas com a saúde pública.
Pessoas informadas podem funcionar como difusoras de temas como zoonoses e bem estar
animal em suas residências e comunidades, sendo capazes de atuar de forma relevante (UCHOA et
al., 2004). Dessa forma, torna-se evidente a importância de trabalhos educativos com a finalidade de
difundir os princípios da guarda responsável e assim, melhorar o bem estar e a qualidade de vida
dos animais de companhia e dos seres humanos, além de proporcionar melhorias no âmbito da
saúde pública.
Diante do exposto objetivou-se traçar um perfil das famílias da Vila Florestal de Lagoa
Seca/PB em relação ao bem estar animal, a fim de se obter informações de como as pessoas tratam
e relaciona-se com os animais de companhia, além disso, promover uma mudança de atitude da
comunidade frente à preocupação com os animais de estimação, motivando-as a buscar soluções
concretas dentro das suas realidades.

METODOLOGIA

Para a realização das atividades referentes ao projeto, foram realizadas entrevistas com 100
famílias da Vila Florestal de Lagoa Seca/PB em relação ao bem estar dos seus animais de
companhia, através da aplicação de questionários semiestruturados durante visitas domiciliares.
A equipe não se limitou em simplesmente aplicar os questionários, pois durante as
entrevistas, foram passadas informações básicas em educação socioambiental para o bem estar
animal, na medida em que se procurou esclarecer as dúvidas da população em relação à guarda
responsável. Para tal, foram produzidos panfletos de orientação para serem trabalhados e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1417
discutidos com a comunidade.
Nas ações educativas também foram abordadas questões relativas aos hábitos de higiene,
respeito aos animais e preservação da dignidade, saúde e vida dos mesmos.
Como a Vila Florestal está localizada no entorno do Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais (CCAA) da UEPB (Campus II), muitos animais da comunidade entram na instituição
e, como também ocorre em várias universidades brasileiras, alguns desses animais passaram a
permanecer apenas nas dependências do CCAA. Desse modo, vendo-se a necessidade de um
trabalho educativo, também foi feita uma palestra sobre bem estar de animais de companhia e
guarda responsável para alunos, funcionários e professores do curso de Bacharelado em
Agroecologia e Técnico em Agropecuária deste campus.
Na ocasião foi lançada uma campanha para arrecadação de fundos para realizar a
esterilização das cadelas que vivem no campus, sendo que foram esterilizadas cinco cadelas
adultas. No dia da esterilização de cada cadela, foi dado banho e feita à higienização das mesmas
pelos alunos participantes do projeto. Ressalta-se que no segundo semestre de 2012 duas dessas
cadelas adultas tiveram crias, resultando em 15 filhotes, fato que motivou ainda mais o trabalho
educativo e a esterilização das mesmas. Todos os 15 filhotes foram adotados, sendo que quatro
fêmeas também foram esterilizadas através da campanha realizada no campus.

RESULTADOS E DISCURSÃO

Nas práticas educativas socioambientais realizadas com crianças, adolescentes e adultos


durante as visitas domiciliares, foram trabalhadas questões referentes principalmente aos conceitos
de senciência e bem estar animal, guarda responsável, preservação da dignidade e saúde dos
animais e benefícios da esterilização. Nota-se que estas ações proporcionaram mudanças de
perspectiva e grande interação em relação ao assunto bem estar animal, com interesse crescente na
comunidade.
As entrevistas com a população foram realizadas durante visitas domiciliares na comunidade
da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB, com 100 famílias. Na oportunidade foram entrevistados 21
homens e 79 mulheres, sendo que destes 50% são solteiros, 45% são casados e 5% são viúvos. No
que se refere à escolaridade dos entrevistados, 8% são analfabetos, 9% são analfabetos funcionais
(escrevem apenas o nome), 39% cursaram o Ensino Fundamental I, 24% cursaram o Ensino
Fundamental II, 19%, o ensino médio e apenas 1% dos entrevistados cursaram o ensino superior. A
renda mensal da maioria dos entrevistados não passa de um salário mínimo (89%) e levando em
consideração o índice de potencial de consumo 2013, a maiorias dos entrevistados então dentro das
classes D e E.
A relação da escolaridade e renda familiar com a guarda de animais de companhia também
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1418
já foi avaliada em outras pesquisas. Langoni et al. (2011) observou que os níveis de escolaridade
predominantes entre os entrevistados em Botucatu/SP foram fundamental e médio, totalizando
78,6%. Martins (2009) verificou que da população que tinha animais domésticos na cidade de
Pinhais/PR, 46,46% apresentava renda familiar de até dois salários mínimos, e 32,02% de dois a
quatro salários mínimos.
Das 100 casas visitadas, 68 possuíam animais e 32 casas, não. Sendo que dos 68
entrevistados que possuem animais, 37 (54,41%) possuem cães, 7 (10,29%) possuem gatos, 21
(30,88%) possuem as duas espécies (cão e gato) e 3 (4,41%) possuem outros animais (Figura 1);
perfazendo um total de 170 animais (81 fêmeas e 89 machos na comunidade, entre cães e gatos). É
importante mencionar que este número refere-se aos animais da comunidade que apresentam
proprietários e não reflete o número total de animais, já que além destes existem aqueles que são
errantes e sua guarda não é considerada por nenhuma pessoa ou família da Vila Florestal.

Espécies Sexo - cão Sexo - gato


100 100 100

50 50 50

0 0 0
Cachorro Gato As duas Outros Fêmea Macho Fêmea Macho
espécies A B C
Figura 1. Animais de companhia presentes na comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB.
A. Espécies. B. Sexo dos cães. C. Sexo dos gatos.

Em relação à forma de aquisição dos animais (Figura 2), dos 68% dos entrevistados que
afirmaram possuir animais, 54,41% declararam que ganharam de algum parente ou vizinho;
19,11%, que adotaram da rua, 10,29%, que adotaram de pessoas ou de ONGs; 2,94%, que
compraram o animal; e 13,23% responderam mais de uma opção. Na grande maioria das vezes, no
momento em que foram adquiridos, estes eram filhotes (60,29%) ou adultos (20,58%). Dentre os
motivos que levaram as pessoas a adquirirem os animais de companhia, gostar de animais
(48,52%), segurança (10,29%) e para as crianças da família brincarem (1,47%) estão entre os mais
mencionados.
De acordo estudo realizado com 242 famílias em Garça/SP por Pinheiro Júnior e
colaboradores (2006), dentre os gatos observados, 36% foram obtidos para companhia e 64% para
outra finalidade; segundo informações destes proprietários, 96% dos gatos recebem atenção de seus
proprietários e apenas 4%, não. Já com relação aos cães, a maioria foi obtida para companhia
(63,89%), para guarda (21,67%) e para outros motivos (14,44%).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1419


Como adquiriu seu animal? Motivo de ter adquirido
60 40
40 30
20
20
10
0 0
1 2 3 4 5 Gosta de Herança Segurança Para Doação Teve pena
1.comprei,2 ganhei,3 adotei (rua),4 adotei de
pessoas ou ONG,5 Pessoas que responderam animais criança
mais de uma opção brincar B
A
Figura 2. Forma de aquisição dos animais de companhia na comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB.
A. Como adquiriu seu animal? B. Fase da vida no momento da aquisição.

Quando questionados a respeito dos cuidados tomados com seus animais sobre a
alimentação, 41,17% falou que alimenta seu animal com comida caseira; 22,05%, apenas com
ração; e 36,76%, com ração e comida caseira. E em relação ao banho dos animais, 39,70%
respondeu que dá banho semanalmente, 27,94% quinzenalmente, 7,35% mensalmente e 10,29%
raramente. Os dados observados relativos à alimentação não diferiram significativamente de estudo
feito por Langoni et al. (2011) em Botucatu/SP, no qual identificou que dentre os entrevistados,
28,3% relataram fornecer tanto comida caseira quanto ração; já 41,4% afirmaram alimentar seus
animais com um tipo de alimento, sendo que 17% destes forneciam comida caseira e 83%, apenas
ração. Em relação à higiene, os mesmos autores observaram que 43,3% das pessoas entrevistadas
recorrem à prática de banhos semanais e 28,3%, com frequência mensal; os demais não higienizam
seus animais. Esses dados diferem do que foi observado nesta pesquisa, em que de forma geral,
grande parte dos proprietários não tem o hábito de dar banho nos seus animais.
É importante considerar que uma alimentação saudável e hábitos de higiene são
extremamente importantes para manter a saúde do animal, reduzindo assim o risco de transmissão
das doenças conhecidas como zoonoses, tanto para outros animais como para os seres humanos
(SAÚDE, 2003; BROOM e MOLENTO, 2004; SANTANA e OLIVEIRA, 2006).

Alimentação do animal Banho


50
60 40
40 30
20
20 10
0 0
Comida caseira Ração Ração e comida 1 2 3 4 5
caseira 1. quinzenal, 2. não dar banho, 3. semanal, 4. mensal, 5. raro
A B
Figura 5. Cuidados com os animais de companhia na comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB.
A. Alimentação do animal B. Banho e higienização.

Quando o assunto foi adoção (Figura 6), entre os entrevistados que tem animais, 44,11%
responderam que adotariam um animal, 54,41% não adotariam e 1,47% talvez. Considerando os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1420


entrevistados que responderam sim, 40% adotariam cachorro, 20%, gato, e 40%, as duas espécies. E
quando estes foram perguntados sobre a razão de se adotar um animal, todos os entrevistados
responderam que adotariam porque gostam. Dos que responderam não (54,41%), 2% entrevistados
responderam que não tem como cuidar, 1% já tem muitos, 2% falaram que não adorariam porque dá
trabalho, 2% não adotariam porque não gosta de animais, 1% não adotaria agora, 1% não adotaria
para que os animais não entrem em contato com os filhos e 1% não adotaria porque já tem.
A adoção de cães abandonados e/ou não resgatados pelos seus proprietários, nos canis de
entidades de proteção animal e prefeituras, tem sido muito estimulada por entidades governamentais
e não governamentais, no final do século XX e início do século XXI (SOTO, 2003).

Você adotaria um animal? Qual o animal adotaria?


60 60
40 40
20 20
0 0
sim Não Talvez A Cachorro Gato Os dois B
Figura 6. Dados em relação à adoção de animais de companhia presentes na comunidade da Vila Florestal em
Lagoa Seca/PB. A. Você adotaria um animal? B. Qual animal adotaria?

Dos 68% dos entrevistados, quando questionados se em algum momento seus animais
tinham dado cria, 29,41% respondeu que sim e 70, 58% respondeu que não (Figura 7). E no intuito
de avaliar qual destino das crias destes animais, os mesmos foram indagados sobre o que fizeram
com os filhotes, destes 4 entrevistados responderam que deixaram na própria casa, 3 responderam
que os filhotes tinham morrido, 6 afirmaram que tinham encaminhado os filhotes para adoção e 1
entrevistado respondeu que tinha abandonado os filhotes no lixão. Essas crias poderiam ser evitadas
através da esterilização cirúrgica e dessa forma ser reduzido a superpopulação e o consequente
abandono dos animais (BORTOLOTI e D‘AGOSTINHO, 2007), como preconizado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) (SAÚDE, 2003). A OMS considera ineficientes as
atividades isoladas de recolhimento preconiza as ações para conter a falta de responsabilidade do
ser humano quanto à guarda dos animais (WHO, 1990).e eliminação de cães e gatos como
finalidade de controle populacional e, além disso,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1421


Seu animal já deu cria? O que você fez com os filhotes?
100 10

50
0
1 2 3 4
0
Sim Não 1. ficou na minha casa, 2. morreram, 3. doação, 4. abandonou no lixão
A B
Figura 7. Dados em relacionado às crias de animais de companhia presentes na comunidade da Vila Florestal
em Lagoa Seca/PB. A. Seu animal já deu cria? B. O que você fez com os filhotes?

Entre todos os entrevistados, 92% respondeu que nunca tinham abandonado um animal e 8%
afirmaram que já havia abandonado (Figura 8). Quanto aos motivos pelos quais os entrevistados
não abandonariam 6% entrevistados responderam por que gosta de animais, 3% que não tem
coragem, 1% respondeu que os animais são a alegria da casa, 1% respondeu que não abandonaria
para o animal não passar fome nas ruas e 1% porque é uma vida. Quando perguntados se existia
muito animais abandonados em sua rua, 74% responderam que sim e 26% responderam que não.
Levando-se em consideração os 74% que responderam sim, quando foram questionados se esses
animais abandonados já tiveram donos, 87,83 responderam que sim e 12,16% responderam que não.
Segundo o Art. 32. da Lei Federal de Crimes Ambientais abandonar, praticar ato de abuso,
maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é
crime, passível de pena (detenção de três meses a um ano e multa). Como consequência do
abandono, a densidade populacional de animais errantes, alcança números incalculáveis nas ruas
das grandes cidades. Um dos principais problemas oriundos da superpopulação desses animais
decorre de os mesmos estarem expostos a todo tipo de doenças, intempéries e perigos, sendo
vítimas de várias zoonoses, doenças carenciais e mutilações, constituindo um sério problema de
saúde pública. Essa problemática é agravada em virtude do acelerado grau de reprodução e
proliferação desses animais (SANTANA et al., 2004), que poderia ser evitada com programas de
esterilização em massa, por parte do poder público (GARCIA et al., 2008).

Você Já abandonou algum Motivo de não abandonar


animal? 10
100
75 5
50
25 0
1 2 3 4 5
0 1. gosta de animais, 2. não tem coragem, 3. são a alegria da casa, 4. para
Sim Não não passar fome, 5. porque é uma vida B
A
Figura 8. Dados em relacionado ao abandono de animais de companhia presentes na comunidade da Vila
Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Você já abandonou algum animal? B. Motivos de não abandonar.

Quando questionados sobre a prática da eutanásia (Figura 9), 29% afirmaram que

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1422


praticariam a eutanásia e 71% dos entrevistados, não. E quanto aos motivos que levariam ou não os
donos a praticar a eutanásia, 10% entrevistados disseram que deixariam morrer naturalmente, 16%
não tinha coragem, 2% abandonariam seu animal, 10% entrevistados responderam que praticariam a
eutanásia para o animal não sofre tanto, 1% respondeu que ficar doente é pior, 1% respondeu que
dependia da doença do animal, 2% responderam só se não tivesse mais jeito algum, 1% respondeu
que só se fosse rápido e 2% entrevistados não expressaram opinião.

Você eutanasiaria seu animal? Motivo


80 20

60 10
40
0
20 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1. deixava morrer naturalmente, 2. não tem coragem, 3. soltava, 4. para não
0 sofrer, 5. ficar doente é pior, 6. depende da doença, 7. não tem opinião, 8. só
Sim Não se não tiver mais jeito, 9. só se for rápido B
Figura 9. Dados em relacionado ao abandono de animais de companhia presentes na comunidade da Vila
Florestal em Lagoa Seca/PB. A. Você eutanasiaria seu animal? B. Motivo.

Confirmando o que foi observado nesta pesquisa, na qual a grande maioria dos entrevistados
demonstrou-se contra a eutanásia, Rowan (1994) afirma que a eutanásia de cães com saúde é
inaceitável numa sociedade que busca animais de companhia; como segundo aspecto, considera a
eutanásia um foco central de uma sociedade consumista que vê o animal como objeto descartável.
Beaver et al. (2001) explica que o termo eutanásia, oriundo do grego, significa morte boa e quando
necessária, deve ocorrer com um mínimo de sofrimento possível, tanto para o animal, quanto para a
pessoa que a executa.
No trabalho educativo realizado no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da UEPB
observou-se claramente um grande envolvimento, principalmente por parte dos alunos; não apenas
dos participantes do projeto, mas de grande parte do corpo discente deste Centro. No total foram
esterilizadas cinco cadelas adultas que vivem no Campus e quatro cadelas adolescentes que foram
adotadas (Figura 10), resultando em enorme benefício para as mesmas, para o CCAA e para os
adotantes, devido ao controle populacional.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1423


Figura 10. Alguns dos animais monitorados, castrados, vermifugados, vacinados e adotados.

O controle populacional de cães tem grande importância, no aspecto sanitário de


contaminação ambiental e transmissão de zoonoses, além disso, cães errantes representam risco em
relação a acidentes automobilísticos e ainda em relação a agressão devido a brigas entre eles, ou por
disputas territoriais, podendo transmitir enfermidades para outros, e também representarem um
risco para a segurança da população (DIAS et al., 2004). Sacks et al. (1996) afirma que cidades que
não possuem programas eficientes para o controle da população animal registram três vezes mais
mordeduras por cães do que naquelas que possuem programas já implantados, pois a esterilização
leva a uma mudança comportamental no animal.

CONCLUSÕES

De forma geral, os moradores da comunidade da Vila Florestal em Lagoa Seca/PB


desconhecem aspectos importantes relativos à guarda responsável e de manejo dos animais de
companhia. A pesquisa também fornece dados importantes que podem servir de subsídio para
futuras ações pelo bem estar e saúde animal e, além disso, torna evidente a necessidade de ações
educativas sobre guarda responsável, prevenção de doenças e também a necessidade de um serviço
público veterinário para toda a população, contribuindo assim para a saúde pública local.

REFERÊNCIAS

BEAVER, V. B. et al. Panel on euthanasia. Journal of the American Veterinary Medical Association,

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1424


v. 218, n. 5, p. 34, Mar. 2001.

BECK, A.; KATCHER, A. Between Pets And People: The Importance of Animal Companionship.
West Lafayette: Purdue University Press, 1996.

BORTOLOTI, R., D‘AGOSTINO, R. G. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de


animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontingência. Revista Brasileira De
Análise Do Comportamento. v. 3, n. 1, p. 17-28, 2007.

BROOM, D. M.; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas –


revisão. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.

BUSSOTTI, E. A. Assistência individualizada: ―Posso trazer meu cachorro?‖. Revista da Escola de


Enfermagem da USP, v. 39, n. 2, p. 195-201, 2005.

CARVALHO, C. F. et al. Uso da atividade assistida por animais na melhora da qualidade de vida de
idosos institucionalizados. Em Extensão. v. 10, n. 2, p. 149-155, 2011.

GARCIA, R. C. M. et al. Controle populacional de cães e gatos. Ciência Veterinária Tropical, v. 11,
p.106-110, 2008.

DIAS, R. A.; GARCIA, R. C.; SILVA, D. F.; AMAKU, M.; NETO, J. S. F.; FERREIRA, F.
Estimativa das populações canina e felina domiciliadas em zona urbana do estado de São Paulo.
Revista de Saúde Pública, v. 4, n. 38, p.565 – 570, 2004.

GRANDIN, T.; JOHNSON, C. O bem-estar dos animais: proposta de uma vida melhor para todos
os bichos. São Paulo: Rocco, p. 334, 2010.

LANGONI, H. et al. Conhecimento da população de Botucatu-SP sobre guarda responsável de cães


e gatos. Veterinária e Zootecnia. v. 18, n. 2, p. 297-305, 2011.

LIMA, M.; SOUSA, L. A Influência Positiva dos Animais de Ajuda Social. Interacções, n. 6, p.
156-174, 2004.

LIMBERT, B. N. P. Estudo da tríade: educação sanitária, posse responsável e bem-estar animal em


animais de companhia em comunidade de baixa renda. Anuário da Produção de Iniciação
Científica Discente da Anhanguera. v. 12, n. 13, p. 99-108, 2009.

MARTINS, C.M. Relação entre a posse de cães e gatos com padrão sócio-econômico e com a
presença de crianças nas residências no município de Pinhais-PR. In: Anais do 17º Evento de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1425


Iniciação Científica da Universidade Federal do Paraná; 2009, Curitiba. Curitiba: EVINCI;
2009.

PINHEIRO JÚNIOR, O.A. et. Posse responsável de cães e gatos no município de Garça/SP. Revista
Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. N. 3, v. 6, p. 1-4, 2006.

ROWAN, N. A. Companion animal demographics and unwanted animals in the United States.
Anthrozoös, v. 5, n. 4, p. 222-225, Apr. 1994.

SACKS, J. J.; LOCKWOOD, R.; HORNREICH, J.; SATTIN, R. W. Fatal dog attacks, 1989-1994.
Pediatrics, v. 97, n. 6 Pt 1, p. 891–895, 1996.

SANTANA, H.J. Abolicionismo Animal. Revista de Direito Ambiental. n.6. p.85-109, out-dez,
2004.

SANTANA, L.R.; OLIVEIRA, T.P. Guarda responsável e dignidade dos animais. Revista Brasileira
de Direito dos Animais, v. 1, n. 1, p. 207-230, 2006.

SAÚDE, Organização Pan-Americana da. Reunião Latino-americana de Especialistas em Posse


Responsável de Animais de Companhia e Controle de Populações Caninas; Rio de Janeiro:
WSPA; 2003.

SOTO, F. R. M., et al. Motivos do abandono de cães domiciliados para eutanásia no serviço de
controle de zoonoses do município de Ibiúna, SP, Brasil. Veterinária e Zootecnia, v. 14, n. 1, p.
100-106, 2006.

UCHOA, C. M. A. et al. Educação em saúde: ensinando a leishmaniose tegumentar americana.


Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 4, p. 935-941, 2004.

WHO. (1990). World Health Organization. Guidelinesor dog population management. Geneva:
WHO/ WSPA.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1426


JUVENTUDE, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA: TECENDO
REDES NO QUILOMBO DA SERRA DO EVARISTO – BATURITÉ/CE

Deborah Moreira PINTO


Graduanda do Curso Tecnológico de Gastronomia do IFCE-Campus Baturité
debi.m.pinto@hotmail.com
Anna Erika Ferreira LIMA73
Professora do IFCE e Orientadora
annaerikaufc@yahoo.com.br
Roberta Rocha de ARAÚJO
Graduanda do Curso Tecnológico de Gastronomia do IFCE-Campus Baturité
robertarocha7@hotmail.com
Ezequiel Andrew Ângelo Barroso VIEIRA
Graduando do Curso Tecnológico de Hotelaria do IFCE-Campus Baturité
andrewangelo21@hotmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental (EA) é uma ferramenta básica da gestão ambiental e como tal deve propor
estratégias pedagógicas de resgate dos elos afetivos da comunidade com seu espaço de vida, no
intuito de criar uma cultura enraizada em valores éticos capazes de mediar e transformar as relações
entre a sociedade e a natureza. Nesse contexto, o Projeto de Extensão ora apresentado objetiva
contribuir com a ampliação e o aprofundamento de debates na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Quinze de Novembro do quilombo da Serra do Evaristo – Baturité/Ceará, onde estão
sendo atendidas 48 crianças de 12 a 15 anos em oficinas entorno da temática socioambiental,
através da formação e fortalecimento de uma Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida
(COM-VIDA), construindo assim um ambiente comunitário favorável às iniciativas que valorizem
o protagonismo juvenil e o processo de democracia participativa junto ao Poder Público. Para tanto,
utilizamos a EA como forma de sensibilizar e esclarecer aos jovens participantes sobre as questões
que perpassam a relação do homem com meio ambiente em aspectos como economia, sociedade,
cultura, natureza e política, na tentativa de refletir sobre quem somos e como cuidamos do lugar
onde vivemos.
Palavras-chaves: Gestão Ambiental, Tecendo Redes, COM-VIDA.

ABSTRACT
The Ambient Education (AE) is a tool basic of management ambient and certain must suggest
strategies educative of ransom of the community‘s links affective with your space of life, in the
pretension to create a culture rooted in valors ethic able to mediate and transform the relations

73
Doutoranda UFC e Bolsista PROAPP

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1427


between the society and the nature. In the context, the Project of Extension now introduced
objectify to contribute with the amplification and the sinking of debates in the Municipality School
of Fundamental Education Fifteen of November of the Quilombo da Serra do Evaristo –
Baturité/Ceará, in wich are being attended 48 childs of 12 to 15 old in workshops upset of the
thematic environmental, across of the formation and fortification of a Middle Ambient and Quality
of Life Comission (COM-LIFE), building a community ambient favorable for the initiatives that
valorize the young protagonist and the process of democracy participative together at the Public
Power. For much, we utilize the AE like way of render sensitive and clear for the young participles
about the questions that pass by the relation of man with middle ambient in aspects like economy,
society, culture, nature and politic, in the tentative of reflect about who we are and like we care of
the place where we live.
Keywords: Environmental Management, Weaving Networks, COM-VIDA.

INTRODUÇÃO

Em 2003 a Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada pelo


Ministério da Educação e pelo Ministério do Meio Ambiente, mobilizou as escolas em todo Brasil
quando deu voz para que eles pudessem opinar sobre as diretrizes de como cuidar do país.
Envolver e mobilizar a juventude nas discussões relacionadas às questões ambientais é um
dos maiores desafios da atualidade. Um dos objetivos do Programa Nacional de Educação
Ambiental (ProNEA) é ―promover processos de educação ambiental voltados para valores
humanistas, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências que contribuam para a
participação cidadã na construção de sociedades sustentáveis.‖ além de ―fomentar processos de
formação continuada em educação ambiental, formal e não formal, dando condições para a atuação
nos diversos setores da sociedade.‖ e também ―criar espaços de debates das realidades locais para o
desenvolvimento de mecanismos de articulação social, fortalecendo as práticas comunitárias
sustentáveis e garantido a participação da população nos processos decisórios sobre a gestão dos
recursos ambientais.‖
De acordo com a cartilha do MEC,

Em uma comunidade sustentável, as pessoas cuidam das relações que estabelecem com os
outros, com a natureza e com lugares onde vivem. Essa comunidade aprende, pensa e age
para construir o seu presente e o seu futuro com criatividade, liberdade e repeito às
diferenças. (MMA/MEC, 2007)

Formar mediadores sociais e participantes ativos é de relevante importância para


transformarmos nossa realidade e sociedade, essa é a missão do projeto Tecendo Redes. Formar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1428


uma COM-VIDA74 na Escola Quinze de Novembro do quilombo da Serra do Evaristo visa muito
mais que meramente aplicar conceitos ambientais, o seu intuito é formar jovens críticos e
multiplicadores, líderes atuantes em sua comunidade.
A integração entre os núcleos de estudos, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFCE – Campus Baturité), o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI)
e o Laboratório de Estudos Agrários e Territoriais (LEAT – Geografia – UFC) com a Comunidade
Quilombola da Serra do Evaristo, integra e propaga conhecimento visto que a educação não se
restringe apenas a sala de aula e a escola. Nesse sentindo, o Tecendo Redes é fruto desse trabalho
cooperativo.
Segundo Machado (1997), o avanço em direção à construção do conhecimento é uma tarefa
difícil e somente pode ser realizada a partir de esforços e correndo riscos, uma vez que identificar e
produzir conhecimento constituem operações delicadas, nas quais estão sempre presentes grandes,
reais e potenciais fantasmas que costumam assombrar aqueles que mergulham em busca do saber,
colocando-o em permanente discussão e questionamento. Constituir um conhecimento acerca da
EA, por meio de uma atividade de extensão não foi uma ação simples.
O nome do Projeto por si já representa a proposta da equipe que traz a proposta de Tecer
Redes de conhecimento no âmago do título. E aqui afirmamos que em relação ao conceito de rede
podemos, baseados em Santos (1996), defini-lo a partir de duas dimensões que para ciência
Geográfica são complementares. A primeira trata da sua forma, a sua materialidade. Nesse aspecto,
Curien; Gensollen (1985, p.50-51) assinalam que a rede é toda infraestrutura, que permitindo o
transporte de matéria, de energia ou de informação, se inscreve sobre um território onde se
caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão,
seus nós de bifurcação ou de comunicação. Por outro lado, a segunda dimensão trata de seu
conteúdo, de sua essência. Assim, a rede ―é também social e política, pelas pessoas, mensagens,
valores que a frequentam. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos
sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração.‖ (SANTOS, 1996, p.209).
Não estaríamos, assim, proporcionando a formação de redes entre a comunidade tradicional
do quilombo da Serra do Evaristo e as Instituições de Ensino Superior (IES) do IFCE – Campus
Baturité e do Departamento de Geografia da UFC? Essas redes sociais de construção de uma
educação transformadoras se colocam para além da sala de aula tanto para os jovens do quilombo,
quanto para os jovens das referidas IES.

74
As COM-VIDAs surgiram a partir de uma reivindicação dos jovens delegados participantes da 1ª conferência
Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada em Brasília no ano de 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1429


A proposta de uma educação transformadora, difundido por Paulo Freire, é a essência da
educação moderna, onde existe a participação de todos na aquisição do conhecimento. Não há mais
unilateralidade. O que construímos hoje em dia é uma educação participativa onde todos os atores
sociais adquirem e compartilham conhecimento.
Todo o processo de elaboração do conteúdo programático aplicado na comunidade foi
cuidadosamente pensado em reuniões sistemáticas semanais levando em consideração o público
alvo: crianças do quinto até o oitavo ano do Ensino Fundamental II, ambos os sexos e diferentes
religiões. Quarenta e oito crianças fazem parte atualmente do projeto, definidas pela comunidade.
As oficinas, no total de dezenove (19), foram programadas para serem aplicadas
semanalmente, todas envolvidas com a temática ambiental, iniciadas em 04 de setembro de 2014 e
com programação até 12 de dezembro de 2014. Vale ressaltar que paralelo a essas atividades, os
bolsistas de extensão, pesquisa e voluntários do Campus Baturité têm participado de oficinas de
formação em EA, fotografia, Agroecologia e Cartografia Social.
Esperamos ao longo dos meses formar e preparar cidadãos para um pensamento crítico e
atuantes, que se configurem como sujeitos e não partícipes dos processos. A estimulação para a
consciência ecológica consiste no conhecimento e na compreensão de que é necessário cuidar da
natureza e conservá-la.
Como cita Pelicioni; Philippi Junior (2005) ―a reflexão crítica deve gerar a práxis, isto é,
ação-reflexão-ação; e a educação ambiental, ao formar para a cidadania ativa e igualitária‖ e
completa, ―vai preparar homens e mulheres para exigir direitos e cumprir deveres, para a
participação social e para a representatividade, de modo a contribuir e influenciar a formulação de
políticas públicas e a construção de uma cultura de democracia.‖. (p.7)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA

Durante muito tempo, o homem vem constantemente demonstrando, através de um intenso


comportamento destrutivo, uma incompatibilidade com o meio onde vive. No Brasil, a Constituição
Federal Brasileira (1988) prevê, em seu Artigo 225, parágrafo primeiro e inciso VI, a necessidade
de ‗‘promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para
a preservação do meio ambiente‘‘.
Para a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art. 1º, Educação
Ambiental (EA) são ―[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.‖, e no Art. 2º da referida Lei, Educação Ambiental é tratada como ―[...] um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1430
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-
formal.‖
Não podemos manter uma visão simplista sobre a Educação Ambiental. Sobre esse tema,
Luzzi (2005) pontua:

[...] a EA não pode ser reduzida a uma simples visão ecologista, naturalista ou conservadora
sem perder legitimidade social, por uma simples questão ética, e sem perder sua coerência,
porque a resolução dos problemas socioambientais anteriormente apresentados se localiza
no campo político e social, na superação da pobreza, na desaparição do analfabetismo, na
geração de oportunidades, na participação ativa dos cidadãos. (p.398).

Tentar travar o avanço das cidades apenas com o apelo ecológico seria um processo
complexo pelo sistema o qual estamos inseridos. A EA precisa despertar uma reflexão sobre o
modelo de desenvolvimento econômico vigente, este cravado em valores não sustentáveis, nada
éticos, sem justiça social e solidariedade e onde a cooperação não é estimulada. Nesse caso, a EA
deverá ajudar a estabelecer uma relação entre os seres vivos e um ecossistema equilibrado e suas
consequências quando eles não estabelecem uma harmonia.
A escolha por Baturité, e em específico pela Comunidade Quilombola da Serra do
Evaristo75, não foi em vão e tampouco apenas com vistas a usá-la para exemplificar conceitos já
difundidos na nossa sociedade. A escolha se deu mediante a observação de alguns problemas
ambientais identificados a partir de um questionário socioeconômico aplicado junto a 5% das
famílias remanescentes de escravos, onde problemas como o lixo, a escassez de água, a degradação
do solo pelo plantio de bananeiras e o difícil acesso foram elementos que nos estimularam nesta
escolha.
Vale ressaltar que de acordo com Souza (2011)

A serra de Baturité constitui um dos mais importantes enclaves de mata úmida do Ceará.
Representa um ambiente de exceção do bioma da caatinga e (...) têm implicações positivas
que motivam o adensamento demográfico e potencializam a pressão sobre a base dos
recursos naturais. (p.19).

O autor ainda destaca alguns dos problemas que vem ocorrendo na serra de Baturité:

Dentre os muitos problemas ambientais ali configurados, cabe destaque aos seguintes:
desmatamentos irregulares e sem obediência à legislação pertinente; degradação da
biodiversidade; turismo predatório; erosão dos solos; degradação de nascentes fluviais com
ressecamento de fontes e olhos d‘água; represamentos irregulares e desvios dos corpos
hídricos superficiais; poluição dos solos e dos recursos hídricos; degradação do patrimônio
natural; desequilíbrio ecológico e proliferação de doenças; queimadas; caça predatória.
Dentre outros. (SOUZA, 2011, p.19).

75
A Comunidade Quilombola da Serra do Evaristo é uma das comunidades tradicionais existentes do Ceará,
reconhecida pela Fundação Cultural Palmares e com processo de reconhecimento junto ao Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1431


Tal citação coaduna com os elementos levantados pelas famílias pesquisadas. Ademais, a
observação do cultivo de uma monocultura de banana, localizada nas encostas da comunidade
Quilombola da Serra do Evaristo, qual está acometida pela escassez de água, foi um dos motivos
que levaram ao início do projeto Tecendo Redes e a formação de uma Comissão de Meio Ambiente
e Qualidade de Vida (COM-VIDA) na Escola Municipal Quinze de Novembro.
Segundo Lima et all (2009) o projeto Tecendo Redes ―procura construir redes de debate e
ações específicas entre diversos grupos escolares, com o objetivo de proporcionar uma melhor
qualidade de vida para todos.‖ (2009, p.154). Para a autora, ―As COM-VIDAs formadas por
intermédio do Tecendo Redes representam grupos importantes dentro do cotidiano escolar, visto
que estas comissões têm um papel fundamental de transformar com atitudes simples o ambiente
local.‖ (2009, p.151).
O projeto visa como principal objetivo, a implementação da Agenda 2176 na comunidade e a
formação jovens multiplicadores. Segundo Azevedo (2013), a EA procura,

desenvolver uma prática de educação ambiental pautada numa perspectiva investigativa,


dialógica e voltada aos interesses da comunidade local, acreditando que a promoção da
valorização do meio sociocultural dos alunos desencadearia mudanças em outras dimensões
de suas vidas. (p.261).

Essas mudanças podem ser refletidas diretamente em sua qualidade de vida, e aqui
ressaltamos que dentre as abordagens classificatórias dos estudos sobre qualidade de vida (DAY;
JANKEY, 1996), que seriam a econômica, a psicológica, biomédica e geral ou holística. Dentre
estas, optamos por trabalhar com a última, onde essas abordagens gerais ou holísticas baseiam-se na
premissa segundo a qual o conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta uma
organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa de acordo
com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar.
Características como valores, inteligência, interesses são importantes de serem considerados. Além
disso, qualidade de vida é um aspecto fundamental para se ter uma boa saúde e não o contrário
(RENWICK; BROWN, 1996).

FORMAÇÃO DA COM-VIDA

A formação de COM-VIDAs consiste em uma ferramenta para disseminar os conceitos


socioambientais em uma comunidade. Segundo Lima et all (2009):

76
A Agenda 21 é um plano de ação aprovado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro. Na Agenda 21 estão definidos os compromissos que 179
países assinaram e assumiram de construir um novo modelo de desenvolvimento que resulte em melhor qualidade de
vida para a humanidade e que seja econômica social e ambientalmente sustentável.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1432


[...] utilizamos a Educação Ambiental (EA) com o intuito de formar e fortalecer grupos e
conselhos de discussão ambiental dentro de escolas públicas municipais e estaduais do
Estado do Ceará. Dentre esses grupos temos, especificamente, as COM-VIDAs que são
constituídas por alunos do ensino fundamental, professores, funcionários e comunidade do
entorno das escolas. (2009, p.149).

Em junho de 2014 foram iniciadas as articulações junto à Gestão da Escola Municipal de


Ensino Fundamental Quinze de Novembro do quilombo da Serra do Evaristo. As lideranças do
quilombo tiveram um papel fundamental nesse processo. Para Evandro Clementino Ferreira,
liderança do quilombo da Serra do Evaristo (Entrevista realizada em setembro de 2014), sobre o
Projeto Tecendo Redes,

Acredito que o projeto tem contribuído bastante na integração das crianças a reflexão sobre
a própria realidade local da comunidade tem favorecido com que os meninos inclusive
possam falar mais, desenvolver a oralidade, mas também essa reflexão sobre a realidade,
tem sido bastante positiva na nossa avaliação enquanto comunidade enquanto escola...Eu
acho um pontapé inicial esse trabalho que está sendo feito. Não tenho dúvida que todo o
trabalho, a proposta e metodologia adotada, não tenho dúvida de que isso ficará alguma
coisa na memória dela, na consciência e que isso vai implicar numa mudança, numa visão
de comunidade, de escola de mundo diferente, fazendo com que ela possa, inclusive, ser um
adulto diferente. (Evandro Clementino Ferreira, liderança do quilombo da Serra do
Evaristo, Entrevista realizada em set de 2014).

Ocorreram duas reuniões que antecederam o início das atividades. Um encontro em 10 de


julho de 2014, onde estiveram presentes 15 pessoas; que consistiu na aproximação da comunidade,
onde foram sinalizadas as propostas de trabalho e tomado como encaminhamento a apresentação do
projeto às lideranças e a gestão da escola. Esta segunda reunião ocorreu no dia 08 de agosto de 2014
para 23 pessoas em um encontro realizado na Escola do Quilombo. Na ocasião, ocorreu à aprovação
do projeto por parte da comunidade, e a gestão da escola concedeu-nos às sextas-feiras para a
realização das oficinas com 48 crianças, perfil definido pelos que estavam presentes, considerando a
idade de 12 a 15 anos e os estudantes do turno da tarde.
Destarte frisar que o processo de construção metodológica do projeto de extensão versou
não apenas pela formação de um grupo de estudos que se reúne semanalmente no Núcleo de
Estudos Afro-brasileiros e indígenas (NEABI - Campus Baturité) para discussão da temática
ambiental, mas também são planejadas as oficinas para os alunos do quilombo e definidas as
formações para os bolsistas e voluntários envolvidos. Atualmente são três bolsistas PROEXT-IFCE,
dois bolsistas PIBIC-IFCE, uma bolsista PROAPP-IFCE e dois voluntários que fazem parte da
equipe que constitui o Projeto Tecendo Redes. Abaixo seguem os cursos e oficinas aplicadas e as
que estão planejadas para preparação dos trabalhos junto ao quilombo, com vistas a auxiliar na
construção do projeto de extensão e na formação acadêmica dos alunos (Quadro 1).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1433


CARGA
OFICINA/CURSO LOCAL DATA
HORÁRIA
01 Fotografia para Iniciantes Campus Baturité 4h/a 23/07/2014
02 Agroecologia – Parte I Neabi 8h/a 12/09/2014
03 Cartografia Social – Parte I (Formação) LABOCART-UFC 4 h/a 16/09/2014
04 Orientações de Pesquisa LEAT-UFC 2 h/a 16/09/2014
05 Mapas Mentais Neabi 2 h/a 18/09/2014
06 Cartografia Social – Parte II (Formação) Campus Baturité 4 h/a 27/09/2014
07 Cartografia Social – Parte III (Diagnóstico) Quilombo 4 h/a 27/09/2014
08 Cartografia Social – Parte III (Mapeamento) Quilombo 4 h/a Out/2014
09 Agroecologia – Parte II Quilombo 8 h/a Até Dez/2014
10 Gastronomia Afrobrasileira Neabi 8 h/a Até Dez/2014
Quadro 1: Oficinas e Cursos de formação para a equipe
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Entendemos que as práticas educacionais só seriam possíveis se exercitadas e possibilitadas


ao grupo, principalmente por se tratarem de áreas tão diversas que não têm a questão ambiental
como pauta principal para formação dos estudantes. Essas práticas foram essenciais para abrir um
caminho para concretização do que Franco (2012) chama de pesquisa-ação participativa para
formação da COM-VIDA e é importante frisar que ―um projeto de pesquisa-ação participante
(PAP) não se dá a priori, mas se realiza no processo, nas situações concretas nas quais os
pesquisadores estão envolvidos‖ (FRANCO, 2012, p.73, grifo do autor). As referidas oficinas e
cursos vão subsidiar uma formação para que essa PAP seja concretizada.

Um processo de produção de conhecimentos, investigativo, educativo, participativo,


permanentemente interativo, comunicativo; que pesquisa no campo e com os atores
participantes, as hipóteses, os problemas locais, as necessidades, as potencialidades, as
prioridades de temas e os planos de intervenções. (FRANCO, 2012, p.73).

É um processo de interação permanente que ocorre não apenas no momento das oficinas
ministradas para as crianças quilombolas, mas quando dialogamos com os pais, participamos de
reuniões com as lideranças, propomos novas ações, a exemplo do desenvolvimento da cartografia
social da comunidade, ou ainda da catalogação dos alimentos tradicionais produzidos no quilombo e
mesmo no levantamento dos alimentos enquanto cura, os quais possuem um modo próprio de serem
elaborados. Ou seja, a pesquisa-ação intervém em situações reais e não em situações de laboratório.
Após a fase de apresentação, informação e sensibilização junto à escola, foram iniciadas
reuniões de planejamento e as atividades de formações dos bolsistas envolvidos que culminaram na
elaboração da proposta de Agenda de Atividades no Quilombo (Quadro2):

OFICINA / CURSO DATA SITUAÇÃO


o Atividade Quebra-gelo: Caixa de apresentação e Apresentação da equipe
o Introdução sobre a Agenda 21 (conceito, objetivo e importância)
o Atividade sobre o entendimento coletivo de meio-ambiente (início sobre Interpretação
01 socioambiental) 04/09 Realizada
o Oficina Pedras no Caminho
o Oficina Arvore dos sonhos
o Oficina Muro das Lamentações
02 o Atividade Quebra Gelo: Caixa Surpresa (Batata Quente) 12/09 Realizada

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1434


o Aula: Importância do Ar
o Vídeo sobre a importância do ar e sobre fotossíntese
o Vídeo sobre as queimadas
o Oficina: Oficina Caça aos bichos
o Atividade quebra gelo: Uma palavra de encorajamento
03 o Aula: Sobre a importância da preservação da memória da Comunidade 19/09 Realizada
o Oficina Mapas Locais e Baú de Recordações
o Atividade Quebra Gelo: Telefone sem fio
o Aula: Introdução sobre Lixo, desperdício, consumo consciente, reaproveitamento e
04 26/09 Realizada
compostagem.
o Oficina sobre 3 Rs e confecção de cartazes sobre o tema.
o Aula sobre lixo: resíduos sólidos, reciclagem, tipos de materiais, coleta seletiva, lixo
eletrônico.
05 o Oficina Resíduos sólidos: cada coisa em seu lugar 10/10 Realizada
o Oficina Coleta e seleção de lixo e do lixo eletrônico
o Oficina brinquedo é coisa séria: a sucata inventa tudo
o Atividade quebra gelo
o Aula: Água e sua importância.
06 o Vídeos sobre o desperdício, problemas atuais de falta de água, poluição da água e suas 17/10 Programado
consequências, entre outras
o Oficina Porque da escassez de água?
o Atividade quebra gelo
07 o Aula: Ecossistema e sua importância, conservação e preservação. 31/10 Programado
o Oficina Terrário
o Atividade quebra gelo
o Aula: Vídeos sobre os benefícios do consumo de frutas, reflexão sobre as frutas
cultivadas na comunidade e oportunamente realizar alguma atividade envolvendo a
utilização de alguma fruta regional.
08 07/11 Programado
o Aula: Desperdício excessivo dos dias atuais e o reaproveitamento das sobras que
iriam para o lixo.
o Oficina sobre Reaproveitamento de alimentos com a preparação de uma receita
usando produtos cultivados regionalmente.
o Atividade quebra gelo
o Aula: Conteúdo sobre práticas sustentáveis, consumo consciente e alimentação
09 14/11 Programado
saudável.
o Oficina Construindo uma Horta
o Atividade quebra gelo
10 o Oficina de fortalecimento da Com-vida – Trabalhando estratégias de liderança, 21/11 Programado
buscando desenvolver a autonomia e a criatividade dos educandos.
o Atividade quebra gelo
o Aula: Importância das mídias na propagação do conhecimento estimulando-os na
capacidade de expressão e melhorando a compreensão dos conteúdos até o momento
11 28/11 Programado
ministrados.
o Oficina de Educomunicação. Criação de uma página no Facebook e de um Blog com
textos autorais.
o Atividade quebra gelo
o Oficina Passeio no futuro
o Aula: vídeos e matérias jornalísticas atuais sobre as consequências das degradações
do meio ambiente e sobre um possível futuro sombrio caso não haja uma mudança de
12 05/12 Programado
postura social.
o Abertura de debate após a exibição para mostrar que o futuro não é tão futuro e sim
nosso presente.
o Oficina Batalha Naval Gigante
o Atividade quebra gelo
o Oficina Serra do Evaristo pra sempre
o Interpretação Socioambiental (Novo olhar)
13 12/12 Programado
o Alimentar o jornal mural com as atividades até o momento.
o Finalização da construção da Agenda 21
o Oficina de fotografia
Quadro 2: Agenda de Oficinas planejadas
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1435


Por onde já caminhamos...

Na nossa primeira aula aplicamos as oficinas Muro das Lamentações, Árvore dos sonhos e
Pedras no Caminho. A primeira oficina consistia em colocarmos no papel os principais problemas
ecológicos da comunidade. Após a construção do muro, montamos nossa Árvore dos sonhos, onde a
proposta era ―dar vida‖ a nossa árvore com os anseios de como seria a comunidade ideal. Por último
pedimos para que as crianças descrevessem os possíveis empecilhos, os possíveis problemas que
impediriam a concretização dos sonhos descritos na árvore. Intitulamos essa última oficina de
Pedras no Caminho.
Após esse primeiro contato, estivemos presentes na comunidade por mais quatro semanas, e
as atividades subsequentes foram efetivamente voltadas para a Educação Ambiental e para a
abordagem dos problemas locais identificados nas primeiras oficinas. Um dos problemas
mencionados foi o do excessivo número de queimadas. No nosso segundo encontro, explicamos a
importância do ar, como as queimadas prejudicam sua qualidade, os prejuízos que causam no solo e
os possíveis transtornos a biodiversidade da fauna local.
Nossa terceira aula foi sobre o resgate da memória e da cultura da comunidade. Mostramos
que toda a história só é possível se a preservarmos. Sugerimos na aula anterior que cada aluno
trouxesse um artigo que descrevesse um pouco sobre a história da comunidade e tais artigos foram
apresentados nesse encontro. No mesmo dia aplicamos a oficina Mapas Locais, baseada na
formação de um mapa da comunidade pela visão das crianças,
Destinamos o quarto e o quinto encontro para debater sobre o problema do lixo. Temas
como desperdício, consumo consciente, reaproveitamento, reciclagem, tipos de materiais, coleta
seletiva, lixo eletrônico, resíduos sólidos e compostagem foram abordados nessas duas aulas.
Simulação de coleta seletiva, confecção de cartazes com a temática dos 3Rs (reciclar, reutilizar e
reduzir) e a confecção de brinquedos utilizando o que seria descartado no lixo foram as oficinas
escolhidas e aplicadas nesses dois encontros.
Vale ressaltar que antes de iniciar qualquer atividade do dia, antes da aplicação dos
conteúdos programáticos, procuramos realizar atividades que buscam quebrar o gelo inicial e assim
promover uma melhor interatividade da equipe com a turma. A escolha dessas atividades é sempre
pautada na formação pessoal e social das crianças como, por exemplo, liderança, diversidade,
convivência, tomada de decisão, interação, trabalho em grupo entre outras.
Como já mencionamos, o maior desafio do projeto é desenvolver novos valores no que se
refere a Educação Ambiental. As aulas e as oficinas são pensadas nesse novo modelo de educação,
uma educação transformadora.

PARA NÃO CONCLUIR...


TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1436
As COM-VIDAS formadas através do projeto Tecendo Redes tem a finalidade de levar para
a escola um instrumento do processo educacional extremamente importante para a formação de
cidadãos cada vez mais conscientes dentro da sociedade.
A proposta de trabalho não é de sobreposição de conhecimentos e sim de troca, respeitando
a cultura da comunidade quilombola, uma vez que todas as atividades são pensadas e discutidas
com a gestão da escola e com lideranças. Fazer com que o aluno e a comunidade reflitam sobre suas
ações e atitudes e criar o senso crítico dentro da comunidade são pontos chaves na realização deste
projeto.
Os resultados preliminares do projeto, que está no seu terceiro mês, permite-nos perceber a
mudança de postura da comunidade diante das problemáticas apresentada ora pela equipe
multidisciplinar, ora pelos próprios moradores, alunos e lideranças. Em uma reunião com as
lideranças no último dia vinte sete de setembro de 2014 onde está sendo construída a cartografia
social do quilombo.
Esperamos que até o final do projeto consigamos colabora com a construção de um grupo de
jovens que pense a questão ambiental do quilombo promovendo ações de conservação ambiental
que seja despertado o sentimento liderança que ultrapasse as paredes da escola, do quilombo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5


de outubro de 1988. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.Acesso em 12 de setembro
de 2014.

BRASIL. Lei n. 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>.Acesso em 12 de setembro de 2014.

BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA). 3ª ed, Brasília: MMA/MEC,


2005. Disponível em <
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/pronea3.pdf>. Acesso em 02 de
setembro de 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e


Diversidade. Formando Com-vida Comissão do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola:
Construindo Agenda 21 na Escola. Disponível em

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1437


<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/comvida.pdf>. Acesso em 10
de setembro de 2014

AZEVEDO, Carla Juny Soares. EA para a Sustentabilidade Ambiental e Social: Mediando o


Diálogo entre Escola e Comunidade. In: Matos, K.S.A.L. (org). Educação Ambiental e
Sustentabilidade IV. Fortaleza: Edições UFC, 2013.

DAY, H.; JANKEY, S.G. Lessons from the literature: toward a holistic model of quality of life. In:
RENWICK, R.; BROWN, I.; NAGLER, M. (Eds.). Quality of life in health promotion and
rehabilitation: conceptual approaches, issues and applications. Thousand Oaks: Sage, 1996.

FRANCO, M.I.G.C. EA e Pesquisa – Ação Participante: O fortalecimento de práticas de


Cooperação e Participação. SP: Annablume, 2012.

LIMA, Anna Erika Ferreira, et all. Tecendo Redes – O caminho de um projeto de Educação
Ambiental junto a 20 escolas do Ceará. In: Matos, K.S.L. (org). Educação Ambiental e
Sustentabilidade. Fortaleza: Edições UFC, 2009.

MACHADO, Mônica Sampaio. Geografia e Epistemologia: um passeio pelos conceitos de espaço,


território e territorialidade. In: Geo UERJ. Revista do Departamento de Geografia, Rio de
Janeiro, n. 1, p. 17-32 jan. 1997.

MALHEIROS, Tadeu Fabrício, et all. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Barueri, SP:


Manole, 2005.

RENWICK, R.; BROWN, I. The center for health promotion’s conceptual approach to quality of fi
fe. In: RENWICK, R.; BROWN, I.; NAGLER, M. (Eds.). Quality of life in health promotion and
rehabilitation: conceptual approaches, issues and applications. Thousand Oaks: Sage, 1996.
p.75-86.

SANTOS, M. A natureza do espaço – Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Ed. Hucitec,
SP. 1996.

SOUZA, Marcos José Nogueira de, et all. Serra de Baturité: Uma Visão Integrada das Questões
Ambientais. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1438


EXPERIÊNCIA ECOLÓGICA NO CCHSA – BANANEIRAS, PB

Josefa Jussara Rego da SILVA


Licenciando em Ciências Agrárias - UFPB/CCHSA
jussara-rego@hotmail.com
Divalmar Costa LIMA
Licenciando em Ciências Agrárias - UFPB/CCHSA
dclfera2012@hotmail.com
Gilvaneide Alves de AZEREDO
Professora Orientadora - UFPB/CCHSA/DA
azeredogil@yahoo.com.br
Vênia Camelo de SOUZA
Professora Colaboradora - UFPB/CCHSA/DCBS
venia_camelo@hotmail.com

RESUMO
As espécies nativas trazem benefícios aos centros urbanos, como adaptação, atração da avifauna e
propagação de espécies. Seu conhecimento é importante para desenvolver estratégias de
conservação e aproveitamento racional dos recursos naturais. Este trabalho tem como finalidade a
coleta de sementes de várias espécies nativas presentes no fragmento florestal ―Brejo de Altitude‖
existente no Campus III da UFPB/Bananeiras, PB, produção de mudas e a sua posterior distribuição
no Campus e nas comunidades escolares dos municípios de Bananeiras e Solânea. O trabalho foi
conduzido no Viveiro de Produção de Mudas do CCHSA/Bananeiras, a partir de maio de 2013. As
sementes de várias espécies (coaçú, madeira nova, oiti e saboneteira) foram coletadas no fragmento
florestal e, após coleta as mesmas foram beneficiadas. Foram utilizados sacos plásticos de
polietileno preto, contendo substrato com terra + esterco bovino na proporção 3:1. Para algumas
espécies, foi feita a repicagem e para outras, a semeadura foi diretamente nos saquinhos. As mudas
produzidas foram de Triplaris surinamensis, Licania tomentosa, Pterogyne nitens e Sapindus
saponaria. Houve durante alguns eventos a distribuição dessas mudas, visando à conscientização da
comunidade acadêmica e técnica da Instituição em relação à preservação do meio ambiente.
Conclui-se que a coleta de sementes de várias espécies nativas foi efetuada com a consequente
produção de mudas em viveiro e distribuição na comunidade. Mudas de oiti, coaçú, madeira nova e
saboneteira foram produzidas e distribuídas no Campus bem como plantadas no próprio Campus,
visando a recuperação de áreas degradadas.
Palavras-chave: Ecologia; Plantio; Conscientização.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1439


ABSTRACT
Native species provide benefits to urban centers such as adaptation, attraction of avifauna and
species propagation. The knowledge about these species is important to develop strategies for
conservation and rational utilization of natural resources. This work aims to collect seeds of several
native species in the forest fragment of ―Brejo de Altitude‖ in the Campus III of UFPB/Bananeiras,
PB; seedling production and its subsequent distribution in the Campus and in schools in the
municipalities of Bananeiras and Solânea. The study was conducted in the Nursery Seedling
Production of CCHSA/Bananeiras, from May 2013. The seeds of some species (coaçú, oiti and
saboneteira) were collected in the forest fragment and afterward they were conditioned. Black
polyethylene plastic bags containing substrate with soil and cattle manure in the ratio 3:1 were used.
For some species we made nursery lifting and for others the sowing was made directly in the bags.
The seedlings produced were: Triplaris surinamensis, Licania tomentosa, Pterogyne nitens and
Sapindus saponaria. During some events the seedlings were distributed among the people, to raise
the academic and technical community awareness regarding the preservation of the environment.
We conclude that the collection of seeds of various native species was made with the consequent
production of seedlings in the nursery and seedlings distribution in the community.
Keywords: Ecology; Planting; Ponscientization.

INTRODUÇÃO

Os Brejos de Altitudes Nordestinos são áreas que apresentam microclimas dissociantes do


contexto onde estão inseridos (semiárido). Essa umidade que caracteriza o Brejo de Altitude está
associada ao efeito orográfico, planaltos e chapadas entre 600 e 1.100 m de altitude, que aumenta os
níveis de pluviosidade e diminuem as temperaturas, o que forma ―ilhas‖ de microclima diferenciado
(BARBOSA et al., 2004).
De acordo com Viana e Pinheiro (1998) a fragmentação florestal se apresenta como uma
poderosa problemática, pois pode ocasionar alterações na composição florística e faunística,
resultando em isolamentos de populações e até extinção de espécies. Pesquisas botânicas nos
remanescentes florestais da Paraíba, particularmente no que se refere à reprodução das espécies
vegetais, são importantes. Estes estudos são imprescindíveis para orientar técnica e cientificamente
ações preservacionistas, conservacionistas e de manejo florestal sustentado, a serem implantadas
futuramente no Estado (BARBOSA et al., 2004).
Uma das principais decisões que a humanidade tem que tomar atualmente versa sobre a
qualidade de vida entre as gerações. Pensar nas gerações futuras, de pronto, não parece algo tão
improvável se não fosse a grande mudança que a sociedade moderna teria que assumir: a mudança
de seu estilo de vida. Imbricados numa rede onde a qualidade de vida é medida pelo poder de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1440
consumo, os recursos naturais para suprir toda essa demanda pela qualidade são irrevogavelmente
degradados, tornam-se cada vez mais escassos e seus resíduos se acumulam no meio ambiente
(ALENCAR et al., 2013).
A Educação ambiental para sustentabilidade é responsável por despertar a consciência
ecológica e deve indicar que o crescimento industrial, técnico e urbano descontrolado tende não só a
destruir toda a vida nos ecossistemas locais, mas também degradar a biosfera e, por fim, ameaçar a
vida em si mesma, incluindo a humana, a qual faz parte da biosfera, ensinando também que a
ameaça mortífera é de natureza planetária, e sendo assim a consciência ecológica é uma
componente da nova consciência planetária (SOUZA, 2011).
Portanto, o tema transversal ―Meio Ambiente na Escola‖, configurado como Educação
Ambiental, estimula-nos a adotar um olhar mais globalizante sobre questões complexas com as
quais convivemos em nossa cidade, em nosso país e no mundo e, ainda, nos faz refletir sobre nosso
comportamento diante do próximo e da natureza (NEHME e BERNARDES, 2011).
Neste sentido, temos a seguinte reflexão, onde é que começa o nosso meio ambiente? Na
nossa cidade, no nosso bairro, na nossa casa, no nosso quarto, no nosso corpo? Os alimentos que
consumimos são produzidos a partir de plantas e animais, todos os produtos que utilizamos na
organização de nossas atividades são extraídos originalmente de áreas naturais. Automóveis,
computadores, móveis, produtos de uso geral; enfim uma infinidade de objetos de consumo é
sempre um pedacinho da natureza transformada e até mesmo a energia elétrica, imprescindível para
nós, é produzida a partir de elementos naturais, então, a natureza está muito mais perto do que
imaginamos (Souza, 2011). Os recursos naturais, água e alimentos, por serem finitos requerem a
constante atenção do homem para sua conservação e a crescente necessidade desses recursos,
devido ao crescimento populacional, exige cada vez mais esforços no sentido de aumentar a
produção sem provocar o esgotamento do solo e, principalmente, dos recursos hídricos. Dessa
forma, são imperativas ações de toda sociedade, a fim de conscientizar os cidadãos de suas
responsabilidades com o meio ambiente Germano e Germano (2005).
As espécies nativas, além de benefícios aos centros urbanos, como adaptação, atração da
avifauna e propagação de espécies, beneficia também a preservação das mesmas por meio de uma
ornamentação de vias somando-se as utilidades e conservação, bem como, desperta a população
para a importância da flora nativa (DIAS e COSTA, 2008; MACIEL et al., 2008).
Os fragmentos florestais hoje restantes no Brasil se encontram em tamanhos, formas e
números variados, e assumem fundamental importância para a perenidade do Bioma Atlântico no
Brasil (ZAU, 1998).
Diversas espécies distintas podem ser encontradas neste fragmento do Campus III a exemplo
do angico (Anadenanthera colubrina), timbaúva (Enterolobium contortisiliquum), coaçú (Triplaris
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1441
surinamensis), madeira nova (Pterogyne nitens), saboneteira (Sapindus saponaria), dentre outras.
De uma maneira geral, pode-se dizer que são espécies indicadas para recomposição de áreas
degradadas, reflorestamentos mistos e também para a arborização urbana, por não possuir raízes
profundas que danificam os calçamentos (LORENZI, 2009, CARVALHO, 1994, ROSA et al,
2000).
O conhecimento da flora nativa é, portanto, de vital importância não apenas como uma
forma de realizar o levantamento da biodiversidade, mas, sobretudo, para desenvolver estratégias de
conservação e aproveitamento racional dos recursos naturais.
Há muita carência de conhecimentos em relação a produção de mudas de espécies florestais
nativas. Muitas espécies não germinam, mesmo quando colocadas sob condições favoráveis. Vale
também salientar que é de extrema importância desenvolver trabalhos voltados para a preservação
de uma mata nativa. Para isso, é preciso conhecer o seu potencial de produção, as espécies presentes
na floresta e desenvolver estudos, visando a sua perpetuação.
Toda a população ao redor de um fragmento florestal deve ter a consciência do real valor
que uma mata possui e dos benefícios que a mesma nos proporciona, uma vez preservada. É cada
vez mais evidente a necessidade da participação popular em processos que busquem valorizar o
ambiente e inverter a lógica do desenvolvimento acompanhado de degradação ambiental. A
produção de mudas e o plantio de árvores podem ser o início de um longo caminho em busca de
uma reflexão que estimule as pessoas a se envolverem e a se engajarem em novas iniciativas e
práticas que melhorem a qualidade do ambiente em que vivemos.
O projeto de Extensão ―Viveiro e produção de mudas no Bioma Mata Atlântica em
Bananeiras, PB‖, surgiu como proposta para sensibilizar os alunos das escolas municipais desse
município, sobre a importância de se preservar o meio ambiente. A degradação ambiental tem
gerado muitas dúvidas quanto ao destino do nosso planeta e do homem – necessitando, para isso, de
mudanças urgentes em termos de concepção, valores e consciência ecológica. Considerando que o
papel da Universidade é abrir caminhos e oportunidades a comunidade, construindo e divulgando os
saberes por ela produzidos e sendo a Extensão um processo interdisciplinar, educativo, cultural,
científico e político que promove a interação transformadora entre a universidade e outros setores
da sociedade, este projeto surge como uma necessidade real de aproximar a comunidade escolar do
município com a Universidade num trabalho de Educação Ambiental, tendo em vista a presença de
um fragmento florestal dentro do Campus, fragmento este que precisa ser preservado.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivos produzir mudas de espécies nativas
existentes no fragmento florestal existente no Campus III, Bananeiras; e distribuir mudas, visando a
recuperação de áreas degradadas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1442


MATERIAL E MÉTODOS

As atividades aqui descritas fizeram parte de um projeto de extensão intitulado ―Viveiro e


produção de mudas no Bioma Mata Atlântica em Bananeiras, PB‖ desenvolvido no Viveiro de
Produção de Mudas do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA) – UFPB. Este
projeto foi dividido em várias etapas, dentre elas, pode-se destacar diversas visitas ao fragmento
florestal existente no próprio Campus, caracterizado como Brejo de Altitude que, devido à elevada
altitude, cria todas as condições necessárias ao desenvolvimento de uma flora que reúne tanto
características da Mata Atlântica quanto da Caatinga. Durante essas visitas quinzenais ou mensais,
era feito o monitoramento das espécies que estavam frutificando e posteriormente a coleta das
sementes no chão ou nas árvores, com a utilização de um podão de 6m (árvores de grande porte).
Após coleta, era feito o beneficiamento das sementes em laboratório.
Foram produzidas mudas de diferentes espécies: coaçú (Triplaris surinamensis L.). Estas
foram semeadas em bandejas contendo areia lavada e, posteriormente, após 30 dias após
emergência, se fez a repicagem para sacos de polietileno preto contendo terra + esterco bovino na
proporção 3:1. Mudas de madeira nova (Pterogyne nitens) também foram produzidas, utilizando-se
a mesma combinação do substrato anterior. Além dessas, foram produzidas mudas de Sapindus
saponaria (saboneteira) e oiti (Licania tomentosa). Todos esses frutos foram coletados no próprio
Campus.
No viveiro (Figura 1) foi efetuado o peneiramento de substratos e matéria orgânica (esterco);
homogeneização e preparo de substratos para produção de mudas; enchimento de recipientes,
semeadura; acompanhamento do desenvolvimento das mudas; irrigação, tratos culturais e
avaliações de altura, diâmetro de caule e número de folhas, etc.
A semeadura era feita diretamente em sacos plásticos de polietileno preto em diferentes
dimensões, dependendo da espécie, contendo diferentes combinações de terra + matéria orgânica
(esterco ou húmus de minhoca) ou em bandejas plásticas, contendo o substrato areia lavada, para
posterior repicagem.

Figura 1. Peneiramento de substrato, enchimento dos recipientes para a produção de mudas de espécies
nativas no Viveiro de Produção de Mudas do CCHSA, Bananeiras.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1443
Após transplantio ou semeadura direta nos recipientes plásticos, foi feita semanalmente a
limpeza (retirada de plantas daninhas) ao redor da área onde encontravam-se os recipientes e no
próprio recipiente, evitando, dessa forma, a competição com as plantas daninhas.
É importante salientar que, dependendo da espécie florestal, as sementes por apresentarem
dificuldade em germinar (dormência), passaram por processos de quebra de dormência; outras
foram submetidas ao armazenamento sob condições ambientais, visando verificar o período em que
as sementes podem permanecer viáveis ou não, porque dependendo da condição em que elas são
guardadas, isto pode comprometer a sua qualidade.
As sementes de oiti, por exemplo, foram coletadas em diferentes estádios de maturação e
armazenadas em sacos de plástico de cor transparente, por diferentes períodos: zero, 30, 60 e 90
dias, sob condições ambientais. Após cada período de armazenamento, as mesmas foram retiradas
dos sacos, e levadas ao Laboratório de Solos da UFPB, para determinação do teor de água; como
também para serem semeadas em bandejas, contendo areia lavada. A emergência das plântulas era
acompanhada diariamente, bem como a rega e a limpeza das plantas daninhas. Posteriormente, foi a
repicagem das plântulas para sacos de polietileno preto de maior dimensão, por ter rápido
desenvolvimento.
Todas as mudas produzidas permaneceram no viveiro por um período de aproximadamente
seis meses até a sua distribuição posteriori nas escolas ou na comunidade universitária. No caso da
saboneteira (Sapindus saponaria L.), foi verificada a dureza da sua casca. Neste caso, foram feitos
vários tratamentos pré-germinativos, visando superar a dormência das sementes.
Com relação às sementes de madeira nova, estas foram plantadas diretamente em bandejas
contendo areia lavada, porém sem efetuar nenhum tratamento pré-germinativo. Como poucas
sementes germinaram devido a dormência tegumentar que elas apresentaram (se desconhecia tal
fato), foi conduzido novamente um ensaio, e dessa vez, efetuando como tratamento, a escarificação
física, utilizando a lixa, visando acelerar e uniformizar a germinação das sementes.
É importante ressaltar que, logo após a semeadura, seja em bandejas ou em recipientes
plásticos, as leituras e a irrigação dos recipientes foram feitas diariamente no viveiro, fazendo-se o
acompanhamento diário de todo o processo de germinação e o desenvolvimento da muda.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As mudas produzidas foram das espécies: coaçu (Triplaris surinamensis), oiti (Licania
tomentosa), madeira nova (Pterogyne nitens) e saboneteira (Sapindus saponaria).
No dia do Meio Ambiente (05/06/2013), por exemplo, houve a distribuição de mudas das
mais variadas espécies, visando a conscientização da comunidade acadêmica e técnica da
Instituição em relação à preservação do meio ambiente. Durante o período da manhã, membros da
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1444
equipe da Coordenação do Meio Ambiente e discentes do campus se dividiram em dois grupos:
parte ficou na entrada do Campus, via Solânea e parte, via Bananeiras. A intenção era atingir o
máximo número de pessoas que entravam em seu interior. Para cada condutor que entrava, lhe era
dado uma muda de alguma espécie nativa, conscientizando-o e ressaltando a importância de se
plantar uma árvore. Na segunda etapa deste trabalho, vão ser ministradas palestras nas escolas do
município de Bananeiras com posterior distribuição de mudas. O que se deseja atingir com essa
conscientização ambiental e distribuição de mudas pode ser resumido em dois pontos básicos:
valorizar as espécies deste Bioma tão carente de estudos e/ou pesquisas científicas e, sobretudo,
despertar na comunidade o interesse pela preservação ambiental e cultivo de árvores, fazendo com
que a mesma enxergue que, sem elas, o ambiente, a nossa sobrevivência e o futuro nosso e das
próximas gerações, estarão comprometidos.
Foram produzidas no Viveiro de Produção de Mudas, aproximadamente, 700 mudas das
espécies citadas. No caso das espécies coaçú e oiti, em torno de 100, por conta da limitação de
sementes.
Além dessas atividades já descritas, é importante ressaltar a realização de um evento
marcante que ocorreu no Campus III da UFPB que foi a EXPOTEC/2013 (Figura 2) onde na
ocasião foi ministrado um mini curso ―Produção de mudas florestais nativas‖ no dia 24 de Outubro
2013, abordando-se os seguinte temas: coleta de sementes de espécies nativas, beneficiamento,
semeadura direta em recipientes, transplantio, acompanhamento do desenvolvimento das mudas,
irrigação, tratos culturais, etc.
Além desse minicurso, foi também efetuado o plantio destas mudas no Bosque do Futuro,
localizado na chã do Campus (Figura 3). A finalidade é recuperar tais áreas, uma vez que a espécie
nativa tem esse potencial de recuperação do solo.

Figura 2. Mini-Curso ―Produção de mudas de espécies nativas‖ ministrado no CCHSA-EXPOTEC/2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1445


Figura 3. Plantio de mudas de espécies nativas‖ no Campus III, CCHSA da UFPB.

No CCA em Areia, no evento de Iniciação Científica e Extensão da UFPB, foi realizada uma
oficina intitulada ―Produção de Mudas Nativas no Bioma Mata Atlântica‖ (Figuras 4 e 5), onde na
ocasião, ao término da oficina, foram distribuídas mudas para todos os participantes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1446


Figura 4. Mini-Curso ―Produção de mudas de espécies nativas‖ no CCA, AREIA no evento de Iniciação
Científica/ 2013.

Figura 5. Mini-Curso ―Produção de mudas de espécies nativas‖ no CCA, AREIA no evento de Iniciação
Científica/ 2013.

CONCLUSÕES

A atividade de produção de mudas envolveu a comunidade do CCHSA, trazendo benefícios


ao Campus, com o plantio de árvores no Bosque do Futuro;
Houve uma aproximação dos discentes do Campus da UFPB a partir do minicurso e oficinas
realizadas sobre Produção de Mudas de Espécies Nativas, contribuindo de forma significativa na
formação destes.
As mudas produzidas a partir deste projeto foram distribuídas para a comunidade na Expotec
e no Dia do Meio Ambiente, com o propósito de conscientizar a população da importância de se
cultivar uma árvore.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. S. (Org). Silvicultura para técnicos agrícolas. Departamento de Agropecuária,


UFPB/CAVN – Campus de Bananeiras. 2012.

GONÇALVES, J. L. de M.; STAPE, J. L. (editores). Conservação e cultivo de solos para


plantações florestais. Piracicaba : IPEF, 2002. 498p.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1447


BARBOSA, M. R. V.; AGRA, M. F.; SAMPAIO, E. V. S. B.; CUNHA, J. P.; ANDRADE, L. A.
Diversidade florística da Mata do Pau-Ferro. Areia, Paraíba. In: PÔRTO, K. C.; CABRAL, J. J.
P.; TABARELLI, M. (Ed.). Brejos de altitude em Pernambuco e Paraíba: história natural,
ecologia e conservação. Brasília – DF, Ministério do Meio Ambiente – MMA, Série
Biodiversidade 9, 2004. p.111-122.

CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais,


potencialidades e uso da madeira. Brasília, DF: Embrapa Colombo, CNPF, 1994.

DIAS, J.; COSTA, D. Sugestões de Espécies Arbóreas Nativas Ocorrentes no Sul do Estado do
Paraná para Fins Ornamentais. In: ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E MOSTRA
DE PÓS – GRADUAÇÃO, 8, 2008. Paraná. Anais... FAFUV, 2008.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação de plantas arbóreas do Brasil. Nova


Odessa: Instituto Plantarum, 2009. p. 201.

MACIEL, J. L.; COGNATO, B. B.; BOFILL, C. M. et al. Educação Ambiental como ferramenta
para a manutenção da arborização urbana de Porto Alegre - RS. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, Manaus. Anais...: SBAU, 2008.

ROSA, L. dos S.; SOUSA, R. J.; COSTA, A. P. Germinação de sementes de Triplaris surinamensis
Chan (Tachi Preto da Varzea) provenientes de frutos com diferentes graus de maturação. In:
CONGRESSO E EXPOSIÇAO INTERNACIONAL SOBRE FLORESTA, 6., 2000, Porto
Seguro. Anais... Rio de Janeiro: Institute Ambiental Biosfera, 2000. p. 134-135.

TRISTÃO, M. As dimensões e os desafios da Educação Ambiental na sociedade do Conhecimento,


In: RUSCHEINSKY, A. (org.). Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre-RS:
Artmed. 2002. 183p.

ZAU, A. S. Fragmentação da Mata Atlântica: aspectos teóricos. Floresta e Ambiente, Rio de


Janeiro, v.1, n. 5, p. 160-170, 1998.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1448


DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ENFOQUE PARA A EDUCAÇÃO
BÁSICA

Joycy Francely Sampaio dos SANTOS


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
joycy.sampaio22@gmail.com
José Weverton Almeida BEZERRA
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da URCA
weverton_liceu@hotmail.com
Sebastiana Micaela Amorim LEMOS
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
micaela_lemos@hotmail.com
Francisco Assis Bezerra da CUNHA
Professor do Departamento de Ciências Biológicas da URCA
cunha.urca@gmail.com

RESUMO
Constantemente o ser humano evolui em sua forma de se adaptar ao meio em que vive, constrói
estradas, casas, muda o curso das águas e transforma a queda das mesmas em energia, para sua
melhor comodidade. Acontece que o planeta Terra já exibe as marcas de tantas alterações, e cobra
de nós ações para reverter os impactos que causamos, pois é comum observar desequilíbrios nos
biomas por exploração indevida. É bem verdade quando muitos filósofos e pensadores dizem que a
melhor formar de mudarmos situações é o caminho da educação, e que ela transforma as pessoas e
ensina novas formas de viver e crescer no mundo que nos rodeia. A Educação Ambiental (EA) tem
como uma de suas principais metas modificarem os hábitos e pensamentos humanos para que
possamos contribuir para a preservação da natureza para a garantia de uma boa qualidade de vida
para todos, até mesmo das gerações futuras. O presente estudo busca discutir e analisar as
contribuições e avanços da EA, além de identificar propostas educacionais em defesa do meio
ambiente. Através da leitura de diversos trabalhos relacionados ao tema, podemos observar a
evolução da disseminação da EA e de como ela tem ajudado a colaborar com a formação de
cidadãos conscientes, e dispostos a contribuir para um futuro melhor. Percebemos que muito ainda
deve ser feito, mas é gratificante notar significativas mudanças e medidas criativas e eficazes que
vem acontecendo com o passar dos anos, e que a cada vez mais a sociedade vem adotando uma vida
sustentável e ecologicamente correta.
Palavras-chaves: Educação; Meio Ambiente; Preservação.

ABSTRACT
Humans constantly evolves in its form to adapt to the environment they live in, build roads, houses,
changes the course of the water and turns the fall of the same energy, for better convenience. It

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1449


turns out that the Earth already displays the marks of many changes, and we snake action to reverse
our impacts are, it is common to observe imbalances biomes by improper exploitation. It is true
when many philosophers and thinkers say that the best form of changing situations is the way of
education, and she transforms people and teaches new ways of living and growing in the world
around us. Environmental Education (EE) has as one of its main goals modify the human habits and
thoughts so that we can contribute to the preservation of nature to guarantee a good quality of life
for everyone, even for future generations. This study aims to discuss and analyze the contributions
and advances from EA, and identify educational proposals in defense of the environment. By
reading several works related to the theme, we can observe the evolution of the spread of EA and
how it has helped contribute to the formation of conscious citizens, and willing to contribute to a
better future. We realize that much remains to be done, but it is gratifying to note significant
changes and creative and effective action has been happening over the years, and increasingly
society is adopting a sustainable and environmentally friendly life.
Keywords: Education; Environment; Preservation.

INTRODUÇÃO

Diante dos desafios impostos a sociedade moderna advindas da globalização e fácil notar no
âmbito desse processo as principais consequências, do consumo exagerado ocasionando por uma
grande produção de resíduos, que caracteriza um dos principais problemas ambientais, além da
derrubada de arvores, caça proibida, tráficos de animais, poluição do ar e da água entre muitos
outros. Portilho (2005) resalta bem, quando diz que o planeta está chegando num ponto cada vez
mais crítico, observando-se que não pode ser mantida a lógica prevalecente de aumento constante
do consumo, sendo possível facilmente verificar os seus impactos no plano ecológico global.
Para reverter esse quadro de agressão ambiental, varias discussões foram feitas, e o ser
humano percebeu a necessidade de repensar seu modelo estratégico de crescimento econômico e
desenvolvimento social, e decidiu criar meios de diminuir e controlar a exploração não planejada de
seus recursos ambientais. Pedrine (2001) afirma que, leis foram criadas, punições para aqueles que
não seguiram as regras foram adotadas, mas estas medidas não foram suficientes, então foi
resolvido que essas mudanças deveriam ser associadas a processos educativos para produzir pessoas
conscientes de seus deveres e direitos coletivos.

A questão ambiental, por outro lado, agrega à realidade contemporânea um caráter


inovador: por sua capacidade de relacionar realidades até então, aparentemente desligadas;
de mostrar a universalidade - embora com variações regionais- dos problemas
socioambientais contemporâneos e por alertar para a necessidade de se promover mudanças
efetivas que garantam a continuidade e a qualidade da vida no longo prazo. (LIMA,1999).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1450


Nesse contexto surgi a Educação Ambiental, derivada do uso inadequado de bens de cunho
coletivo. Em torno disso, muitos eventos para fortalecer a EA foram realizados, entre eles: a
Conferencia da Organização das Nações Unidas em Estocolmo1972, Conferencia de Belgrado,
Conferencia de Tbilisi na Georgia 1977, Conferencia de Moscou 1987 e a Conferencia do Rio de
Janeiro. Esses eventos contribuíram de forma inovadora e inteligente para impulsionar melhorias e
novas ideias para resolver as questões ambientais. ―A Conferencia de Moscou ocorrida em 1987,
apontou varias metas, como indicar um plano de ação para a década de 90, desenvolvimento de um
modelo curricular e de recursos instrucionais, além da capacitação de docentes e licenciados em EA
e outras ações efetivas para o melhor crescimento da Educação Ambiental‖. (PEDRINE, 2001) É
certo que os impactos ambientais são cada vez mais vistos ao nosso entorno e que a mudança de
hábitos é uma das chaves para a preservação ambiental. ― Esse é o papel da escola: democratizar o
saber, sistematizar o conhecimento e construir com o aluno esquemas que o possibilitem crescer de
forma inteira e harmoniosa na relação com a vida, com as pessoas e com o mundo‖(CUNHA et al,
1995). Sabe-se que nestas instituições tanto públicas como privadas, professores de várias
disciplinas diferentes tem dado aulas usado como ênfase o dia a dia, e como é possível salvar a
natureza com gestos simples, reaproveitando objetos que seriam descartados. Porém, é perceptível
que os passos para mudança de comportamento para adotar uma vida mais consciente são
demorados, mas não impossíveis de se tornarem realidade.
Mesmo com tanta forma de apoio e com o uso de programas sociais envolvidos, ainda tem
sido um desafio grandioso para os docentes compartilhar com a sociedade escolar conhecimentos
que ajudariam reverter à situação dos impactos ambientais, por se tratar de um problema além de
social contém também uma importância econômica e cultural. Quando temos a ideia de
preservação, pensamos em atuar por meio do controle de resíduos, reflorestamento, transporte
coletivo e reeducação ambiental, mas acontece que habitamos em um mundo que o consumismo
tem sido à base de vida por muitos anos.
Então podemos compreender que os problemas ambientais em que nos deparamos a todo
momento, podem ser resolvidos através de ensinamentos educacionais e se utilizando de exemplos
diários . Os professores devem usar o cotidiano para incentivar a mudança de comportamento, o
corpo escolar como todo deve fornecer incentivos tanto para os discentes como para os docentes e
os alunos precisam estar dispostos a adotar um modo de vida sustentável, compartilhando com a
sociedade o que foi aprendido no ambiente escolar.

Compreende-se que a Educação Ambiental prepara o cidadão para que este questione o
modelo de desenvolvimento implantado em seu Município, avalie sua qualidade de vida,
reflita sobre seu papel na sua comunidade e sobre seus hábitos e atitudes. A EA procura
instrumentalizá-lo para que construa uma relação mais harmônica entre o meio natural e o
meio sócio-cultural. O cidadão educando vai educar seus filhos e netos e o processo não

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1451


cessa enquanto não cessar a experiência humana sobre o planeta Terra. (CUNHA et al,
1995).

Mais especificamente, o presente estudo tem por objeto verificar e discutir avanços obtidos
pela Educação Ambiental com relação as suas contribuições e realizações acerca das mudanças de
hábitos, pensamentos, ações, contribuições e realizações, além de resultados alcançados por meio da
educação, buscando possíveis propostas educacionais dirigidas ao meio ambiente,que contribuíram
de forma positiva na preservação de todas as riquezas naturais.

METODOLOGIA

O trabalho constitui-se de um estudo qualitativo por meio de uma revisão literária de artigos
de anos anteriores sobre a Educação Ambiental, visando observar o desenvolvimento da mesma e o
crescimento de suas contribuições educacionais quanto ambientais, além de identificar novas e
ideias ou conceitos sobre o tema citado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil reconhece que: ―Todos tem
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder e coletividade o poder de
defende-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. Para assegurar a efetividade
desse direito, incumbe ao Poder Público: Promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio
Ambiente.‖(CUNHA et al, 1995).

No que diz respeito a problemática ambiental, Lemos e Higuchi (2011) cita que ,em
particular a ocupação desordenada de espaços naturais, a falta de cuidado com recursos hídricos, os
desmatamentos e queimadas de florestas nativas que culminam com a perda da biodiversidade, as
dificuldades na aplicação de políticas públicas para o saneamento, a vulnerabilidade de fontes de
energia nuclear e outros tantos descalabros da sociedade contemporânea expressam acima de tudo
uma crise social. ―Além disso, a exploração crescente dos recursos naturais de maneira excessiva
coloca em risco as condições físicas de vida na Terra na medida em que a economia capitalista
exige um nível e um tipo de produção e consumo que são ambientalmente insustentáveis.‖
(Portilho, 2005). ―É fato que um quarto da população mundial que vive nos países desenvolvidos
demanda nada menos do que três quartos dos recursos naturais do planeta, restringindo assim a
capacidade dos países em desenvolvimento para aumentar de forma sustentável seus níveis de bem
estar.‖ (Portilho, 2005). Comprovando a questão do consumo exagerado por alguns e a fala de uma
distribuição de recursos de forma igualitária e correta ecologicamente.
Tendo tudo isso como fato verídico, possivelmente por anos as questões ambientais serão
debatidas a fio, pensamentos iguais e diferentes se entrelaçam para a busca de medidas efetivas de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1452


preservação ambiental. De acordo com Portilho (2005), a partir da combinação de fatores, um
conjunto de atores relevantes se agrega ao processo de incluir cada vez mais atores e de estimular à
corresponsabilidade dos indivíduos comuns, dadas as características das suas práticas cotidianas
para atenuar ou agravar a crise ambiental. Assim, começam a se multiplicar e disseminar práticas
individuais conscientes, bem informadas e preocupadas com a problemática ambiental. Nessa ideia
se fixa a utilização da EA para facilitar a mudança de consciência nos alunos tornando-os seres
capazes de ajudar com grandes ou pequenos feitos, porque o que é deveras importante é que todos
possam contribuir para um futuro promissor e para um planeta mais saudável. Essas palavras se
encaixam bem com relação à opinião de Lima (1999), que sugere que a opção de articular a
educação e o meio ambiente se deve a uma série de motivos associados. Figura, em primeiro lugar,
a importância da educação enquanto instrumento privilegiado de humanização, socialização e
direcionamento social.
Mas apesar de tanta urgência nessa questão de cunho ambiental, devemos ressaltar que a
educação passar por vários problemas, escolas com estruturas deterioradas, falta de professores,
salários baixos e investimento e apoio escassos, esses são fatores cada vez mais visíveis que de
forma geral atrasam o crescimento de todo pais. Tomando as sábias palavras de Freire (1996),
podemos ver que um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós no Brasil,
historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de cansados, cair no indiferentismo
fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços. ―Não há o que fazer‖. É o discurso
acomodado que não podemos aceitar. Cabe aos professores lutar por seus direitos de boas condições
de trabalho, e para uma escola mais digna para todos. Porque se a educação transforma as pessoas,
através dessas mesmas podemos salvar o mundo de continuar padecendo por nossos próprios erros.

Tendo como ponto de partida de que a Educação busca formar cidadãos conscientes,
capazes de reivindicar e lutar por uma melhor qualidade de vida, inclusive fazendo valer
seu direito de acesso aos bens e serviços públicos, acredita-se que, a parti da elaboração e
implementação de um projeto político-pedagógico que além dos conteúdos exigidos da
educação básica, contemple também, de forma interdisciplinar, as questões referentes à
Educação Ambiental, a escola venha, com está ação, a se construir em mecanismo eficiente
para que se tenha, mesmo a médio e longo prazos, um meio ambiente equilibrado (CUNHA
et al, 1995).

Através de meios educativos podemos encontrar soluções efetivas e novas ideais que
ajudaram a reverter boa parte dos problemas ambientais, é claro que sabemos que as escolas travam
diariamente dezenas de batalhas em busca de melhorias e formas de possibilitar melhor aprendizado
a seus alunos, mas estamos certos que a educação é a forma mais correta de efetivar mudanças de
hábitos, levantar novas questões e formar pessoas integras e capazes de contribuir com o
compromisso ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1453


De certo modo, considerar a Educação Ambiental unicamente à preservação/conservação
da fauna e da flora é negar ao homem o direito a vida. Esquece-se da dimensão natural do
homem ao separa-lo da natureza (por considera-la com degrada) colocando como
prioridade das políticas, a natureza composta unicamente da fauna e da flora. Não significa
com isso querer reduzir o homem à perspectiva meramente natural, mas apontar também o
processo de depredação da natureza e do homem (relações de espoliação) como outra
dimensão do processo de acumulação de riqueza da nossa sociedade. O tratamento de um
pelo tratamento de outro. Discutir meio ambiente, portanto, não significa assumir a
bandeira do verde, mas refletir sobre as condições de vida existentes na cidade e no meio
rural, as quais são historicamente determinadas ( CUNHA et al,1995).
De certo modo a EA pode ser utilizada como uma ponte, que uniria a humanidade com a
natureza não só em uma relação desastrosa de exploração, mas de certa forma em uma
relação de dependência e de equilíbrio,onde ambas as partes se beneficiassem. A produção
do novo é uma das características mais marcantes do trabalho efetuado pelo Homo sapiens,
pois sempre que este se realiza é estabelecido o movimento (dialético) permanência-supe-
ração. Ao transformar a natureza, o indivíduo transforma a si mesmo e à sociedade
(LESSA, 2001).

Nos últimos anos, houve alguns avanços na forma de pensar e agir. ―O grande desafio é de
influenciar e modificar o pensamento das pessoas em relação ao consumo.‖ (PORTILHO, 2005). É
um fato de que boa parte de tudo que precisamos para manter nossa sobrevivência vem da natureza,
como recursos alimentícios, médicos e tantos outros. Mas o que acontece é o problema do mau uso
e da extração obsessiva, que movimenta a economia de poucos e que por varias vez falta para
benefício de muitos. Portilho (2005) também aborda que um quarto da população mundial que vive
nos países desenvolvidos demanda nada menos do que três quartos dos recursos naturais do planeta,
restringindo assim a capacidade dos países em desenvolvimento para aumentar de forma sustentável
seus níveis de bem estar. A educação ambiental pode ajudar a mudar esses casos, empregando nas
escolas tanto públicas como privadas a ideia de vida e consumo sustentável priorizando o bem estar
de toda a sociedade e natureza. Tomando como apoio as palavras de Cunha et al (1995), a EA tem
como principais finalidades proporcionar, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os
conhecimentos, o sentido dos valores, as atitudes, o interesse ativo e as ações necessárias para
proteger e melhorar o meio ambiente, além de induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos
grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente.

Alguns autores afirmam que o compromisso ambiental é representado pelas ações


decorrentes do reconhecimento das limitações da natureza e aplicações de medidas que
perpassem o cuidado com a vida e o meio em que ela se desenvolve numa articulação
interdependente de responsabilidades individuais e coletivas (BOFF, 1999; LEFF, 2001,
2003; CAMARGO, CAPOBIANO e OLIVEIRA, 2004).
Acredita-se que a ação educativa inicia um trabalho de sensibilização da sociedade,
possibilita-lhe a compreensão das questões e problemas ambientais e aparenta-lhe para
identificar e propor diretrizes que apontem para o estudo e compreensão dessas questões e
para a superação dos problemas (CUNHA et al, 1995).

Através da educação podemos modificar pensamentos, apontar soluções e construir novas


possibilidades, por ela é possível amplificar caminhos e criar conceitos, e quando a associamos ao
ambiente não visamos só a preservação do mesmo, mas a busca por melhorar a condição de vida da
sociedade e garantir boas condições para as gerações futuras.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1454
A EA se propõe a construir não apenas um novo homem para um novo tempo, porque o
indivíduo só não muda a realidade, como ―uma andorinha só, não faz verão‖. A educação
ambiental procura construir uma nova cultura, uma nova sociedade que deverá responder
satisfatoriamente a desafios imensos como a fome, a miséria, a injustiça social a poluição
ambiental, o esgotamento dos recursos naturais, a superpopulação, dentre muitos outros
(CUNHA et al, 1995).
Pode-se e deve-se romper a camisa - de - força da fragmentação do conhecimento. A
educação ambiental é interdisciplinar e necessita da cooperação da matemática para
quantificar; como da língua para qualificar, da história para situar no tempo e da geografia
para situar no espaço; das ciências físicas e biológicas para entender os fenômenos naturais;
da educação artística como da religião para construir uma ética eco-social; da pedagogia
para encontrar os métodos e as técnicas mais adequadas à realidade da escola, visando à
maximização da eficiência e da eficácia no processo de construção do conhecimento, bem
como na mudança de hábitos e atitudes (CUNHA et al, 1995).

―Ao confinar a educação ambiental quase exclusivamente ao ensino de biologia, acaba por
reduzir a abordagem necessariamente complexa, multifacetada, ética e política das questões
ambientais aos seus aspectos biológicos (GRÜN, 1996)‖. Deve-se retirar a ideia de que as questões
ambientais devem ser somente referidas as ciências biológicas, por observar que todas as disciplinas
escolares podem dar sua contribuição para a preservação ambiental, garantindo a formação de um
novo cidadão cada vez mais familiarizado como os problemas que o cercam e disposto a resolve-
los. Estimulando a interdisciplinaridade, podemos disseminar com muito mais êxito as mudanças de
hábitos e opiniões a cerca do tema, tornando ainda possível reverter o prejuízo que criamos.
O caminho para mudança ainda é longo e cheio de complicações, a educação é de longe o
meio mais efetivo para induzir a tomada de decisões e transformações. Percebe-se que muito foi
mudado e que vários passos foram efetivados contribuindo positivamente nessa luta de preservação
ambiental, mas há muito a ser feito. Portilho (2005) diz que o termo sociedade sustentável começa a
assumir uma visibilidade, e amplia o espectro de atores que consideram que suas ações passam a
fazer parte de um repertório compartilhado por aqueles que veem na mudança de comportamentos e
escolhas a possibilidade de interferir na qualidade do meio ambiente. Já Lima (1999) Parte da
premissa básica de que a educação e a problemática ambiental são, antes de tudo, questões políticas
que envolvem valores, interesses e concepções de mundo divergentes, e que podem assumir
direções mais conservadoras ou libertadoras.

CONCLUSÃO

Entre tantas opiniões enriquecedoras de fato, é extremamente claro perceber que inserir
questões eticamente ecológicas e transformadoras nesta sociedade em que vivemos é uma tarefa
difícil, mas não impossível. Os professores tem o poder de indicar rumos e de tocar seus alunos por
meio da educação, e através de ensinamentos que inspiram mudança de concepções e opiniões.
Vários passos foram dados para preservação ambiental desde a criação da EA até agora, mas há

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1455


bastantes ações a serem realizadas e metas a serem alcançadas. A Educação Ambiental trás com ela
a oportunidade de seguir transformando o passado, corrigindo o presente e garantindo o futuro.

REFERÊNCIAS

BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

CAMARGO, A.; CAPOBIANO, J. P. R.; OLIVEIRA, J. A. P. (Org.). Meio Ambiente Brasil –


avanços e obstáculos pós-Rio-92. 2 ed. rev. São Paulo: Estação Liberdade: Instituto
Socioambiental.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004.

CUNHA, F.A; BRITO, W; ARAÚJO,A; LEAL,G.B. Baturité, vida que te quero verde. Fortaleza:
Secretaria de Educação do Estado do Ceará, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 25 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GRÜN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas, SP: Papirus,1996.

LEFF, H. Saber Ambiental. Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2001.

LEFF, H. (Coord.). A complexidade ambiental. Tradução de Eliete Wolff. São Paulo: Cortez, 2003.

LEMOS, S. M.; HIGUCHI, M. I. G. Compromisso socioambiental e vulnerabilidade. Campinas:


Ambiente & Sociedade, 2011.

LESSA, S. Lukács e a ontologia: uma introdução. 5 ed. São Paulo, 2001.

LIMA, G. C. Questão ambiental e educação: contribuições para o debate. Campinas: Ambiente &
Sociedade, 1999.

LOUREIRO, C. F. B; CUNHA, C.C. Educação ambiental e gestão participativa de unidades de


conservação: elementos para se pensar a sustentabilidade democrática. Campinas: Ambiente &
Sociedade, 2007.

PEDRINE, A. G. (org.); SILVEIRA, D.L; DE PAULA, J.C; VASCONCELLOS, H. S. R;


CASTRO, R. S. Educação Ambiental:reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis: Vozes,
2001.

PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1456


OS ENTRAVES DA MULTISSERIAÇÃO NAS ESCOLAS FAUSTO ANDRADE DE
SOUSA E SEBASTIÃO DE SOUSA SANTIAGO EM RIACHO DOS CAVALOS-PB

Luana Ribeiro de ANDRADE


Graduanda do Curso de Ciências Agrárias da UEPB
luanaandrad@outlook.com
Francisco das Chagas de ANDRADE
Especialista em Fundamentos da Educação - UEPB
profrancisco@hotmail.com
Evandro Franklin de MESQUITA
Prof. D. Sc. Depto. de Agrárias e Exatas da UEPB
elmesquita4@uepb.edu.br
Anailson de Sousa ALVES
Doutorando em Manejo de Solo e Água - UFERSA
anailson_agro@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho versa sobre o ensino multisseriado nas escolas Fausto Andrade de Sousa e Sebastião
de Sousa Santiago nas Comunidades Volta e Assobio, município de Riacho dos Cavalos -PB.
Objetivou-se nesta pesquisa analisar e interpretar as classes multisseriadas nessas escolas Fausto
Andrade de Sousa e Sebastião de Sousa Santiago e os entraves de ensino e aprendizagem da
linguagem escrita e leitura nas séries iniciais. A pesquisa foi realizada com 4 professores e 16
alunos nas duas escolas, sendo entrevistados dois alunos de cada série, em ambas escolas. O
instrumento de trabalho consistiu em dois questionários com 23 e17 questões abertas e fechadas,
baseadas no objeto do trabalho, realizadas com professores e alunos, respectivamente. O
procedimento de análise de dados se baseou na abordagem da análise do conteúdo. A partir dos
resultados, pode-se concluir que os professores apresentam formação superior completa na área de
licenciatura, mas falta qualificação profissional para atuarem em classes multisseriadas, na maioria,
trabalham um período, são funcionários temporários com atuação de 1 a 5 anos em classes
multisseriadas. Constatou-se também um elevado índice de insucesso escolar, tais como os exames,
as reprovações, os abandonos da escolaridade e os atrasos. Em relação aos desafios relatados ao
alfabetizar crianças, foram encontrados dois aspectos importantes: o calendário escolar e projeto
político pedagógico que seguem os mesmos parâmetros das escolas urbanas, desconsiderando as
peculiaridades de cada comunidade. No entanto, observou-se a busca de utilização de diversos
recursos didáticos e uma grande motivação, por parte de professores e alunos para melhoria da
aprendizagem nessas escolas, apesar de todos os impasses a serem superados.
Palavras-chave: Qualidade de ensino, classe multisseriada, escola rural.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1457


ABSTRACT
This work of multigrade teaching in schools Fausto de Sousa Andrade and Sebastião Santiago de
Sousa in the Communities Volta e Assobio, municipality of the Riacho dos Cavalos-PB. The
objective of this research was to analyze and interpret the multigrade classes in these schools Fausto
Andrade de Sousa and Sebastião de Sousa Santiago and barriers to teaching and learning of written
language and reading in the early grades. The survey was conducted with 4 teachers and 16 students
at the two schools were interviewed two students from each grade in both schools. The working
instrument consisted of two questionnaires with 23 e17 open and closed questions, based on the
object of the work with teachers and students, respectively. The procedure for data analysis was
based on the content analysis approach. From the results, we can conclude that teachers have a
university degree in the field of training, but lack professional skills to work in multigrade classes
mostly work one period, temporary employees are acting 1-5 Years classes multigrade. We also
observed a high rate of school failure, such as exams, reproof, schooling dropouts and delays.
Regarding challenges reported to alphabetize children, two important aspects were found: the
school calendar and political pedagogical project that follow the same parameters of urban schools,
disregarding the peculiarities of each community. However, there was a search using a variety of
teaching resources and a great motivation on the part of teachers and students to improve learning in
these schools, despite all the impasses to overcome.
Keywords: Quality of education, multisseriate class, rural school.

INTRODUÇÃO

Classes multisseriadas são aquelas turmas nas quais um mesmo professor atende a diferentes
séries do Ensino Fundamental (OZELAME, 2010, p. 55). Nesse sentido, podemos ter, em uma
mesma sala de aula, turmas de 1º ao 5º anos, tendo aulas em um mesmo espaço e tempo. Ao
falarmos de escolas multisseriadas, devemos lembrar que este tipo de ensino é comum em escolas
rurais nordestinas.
A história da educação do campo, principalmente a história da zona rural de Riacho dos
Cavalos-PB representa um campo empírico rico e ainda pouco explorado. Os estudos sobre a
história da educação rural no Brasil, inclusive em Riacho dos Cavalos, constituem uma área de
investigação que ainda se situa-se ―marginalidade‖, priorizando determinados grupos e ignorando
outros, deixando à sombra grandes zonas das práticas pedagógicas e dos atores sociais (produtores
rurais), referindo-se a ênfase nos estudos sobre o espaço rural. Nessas escolas o calendário escolar e
o projeto político pedagógico seguem as mesmas orientações das escolas rurais.
O projeto político pedagógico (PPP) das escolas multisseriadas e o papel da educação do
campo na mesorregião de Catolé do Rocha-PB precisam ser vinculados à diversidade de sujeitos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1458
que vivem no meio rural da região, aos seus diferentes saberes, culturas, tradições, suas histórias;
condições de trabalho, de saúde e de educação que vivenciam; aliado ao conhecimento de
ecossistemas tão diferentes em termos de paisagem, clima, vegetação, animais, que conferem à
região semiárida. Todas essas situações têm nos colocado os seguintes desafios:
 Como pensar a educação multisseriada e a escola do campo de nosso próprio lugar?
 Que currículo e propostas educativas apresentar que tenham a nossa cara, o nosso jeito de
ser, de sentir, de agir e de viver no clima semiárido?
A situação precária das escolas rurais da mesorregião de Catolé do Rocha, incluindo o
município de Riacho dos Cavalos-PB, torna‐se injustificável frente à manutenção de uma escola
pública no campo sem as mínimas condições adequadas de infraestrutura, materiais e livros
didáticos, formação de professores e conhecimentos curriculares reorientados pouco sintonizados
com a lógica ambiental, cultural e produtiva da região semiárida do Nordeste brasileiro, fato
confirmado por Hage e Barros (2010, p. 353), quando afirmam que o esforço no sentido de
concretizar nossas intencionalidades nos remete à necessidade de refletir sobre o clima semiárido, e
também, discutir sobre a seriação e como essa política se materializa na escola do campo. Estas
constatações assemelham-se a Cavalcante (2010), ao referir-se que a educação do campo ainda
carece de mais estudos que possam desvendar os rumos das suas escolas frente ao universo das
políticas públicas educacionais ―do campo‖.
Lopes e Bezerra Neto (2013, p. 78) afirmam que:

A multisseriação ou multissérie pode ser caracterizada pela reunião em um mesmo


ambiente pedagógico e, sobretudo, em uma mesma sala de aula de diferentes séries
ou anos letivos sob a responsabilidade docente de um único educador. O que pode
chegar geralmente ao agrupamento discente de até cinco grupos diferentes de
alunos que em quantidades e faixas etárias diversas que poder ir da educação
infantil à 4a série ou 5o ano.

No mesmo sentido, Hage e Barros (2010, p. 353) afirmam que os sujeitos em geral
consideram as escolas multisseriadas como ―um mal necessário‖, identificando pontos positivos e
negativos em relação a sua existência, e isso interfere diretamente na ação educativa por eles
vivenciada. Os aspectos positivos referem-se ao fato dos estudantes terem acesso à escolarização no
próprio local em que vivem e serem estimulados a apoiarem‐se mutuamente na aprendizagem, a
partir da convivência mais próxima estabelecida entre estudantes de várias séries. As posições que
expressam uma concepção de insatisfação com relação à multissérie, por sua vez, consideram a
existência dessas escolas um ―problema‖ que prejudica o processo de aprendizagem.
Diante do exposto, para justificar nosso trabalho, apresentamos vários aspectos negativos do
modelo multisseriado no processo de ensino-aprendizagem, nas escolas municipais Fausto Andrade

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1459


de Sousa e Sebastião de Sousa Santiago e que, de certa forma, contribuem para declínio das escolas
rurais locais, quanto à possibilidade de assegurarem uma ação educativa de qualidade:
 Precariedade de infraestrutura: é uma das características mais atuantes nas escolas rurais
locais, onde a população atendida nas escolas não atinge o número de alunos matriculados
por série, exigido pela secretaria de educação para formar uma turma.
 Ementas que não atendem a realidade do campo: Os professores enfrentam dificuldades no
processo de ensino-aprendizado, por trabalhar com muitas séries de diferentes faixas etárias.
 Sobrecarga de trabalho dos professores: Nas duas escolas, os professores atuam em
múltiplas séries concomitantemente, do nível 4 até o 5° ano em uma mesma sala de aula.
 Trabalho pedagógico: Os professores locais são unidocentes e realizam um planejamento
pedagógico solitário, em face do isolamento que vivenciam e do pouco preparo para lidar
com heterogeneidade de séries e idades, ritmo de aprendizagem, dentre outros que aparecem
com muita frequência nessas escolas.
 Falta de acompanhamento pedagógico das secretarias de educação municipais e estaduais:
Os professores, pais e integrantes das comunidades envolvidas carecem de apoio das
secretarias municipais e estaduais de educação e ressaltam prioridade das escolas urbanas
em comparação às escolas rurais em relação ao acompanhamento pedagógico e à formação
dos docentes.
Diante do exposto, objetivou-se nesta pesquisa analisar e interpretar as classes
multisseriadas nas escolas municipais Fausto Andrade de Sousa e Sebastião de Sousa Santiago e os
entraves de ensino e aprendizagem da linguagem escrita e leitura nas séries iniciais.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado no período de 06 de dezembro de 2013 a 07 de março de 2014 nas


Escolas Fausto Andrade de Sousa e Sebastião de Sousa Santiago nas comunidades Volta e Assobio,
município de Riacho dos Cavalos-PB, no qual a organização do ensino em classes multisseriadas se
mantém até os dias atuais.
O município de Riacho dos Cavalos-PB localiza-se na região alta do sertão paraibano, há
uma distância aproximadamente de 470 km da capital paraibana. Possui cerca de 8.314 habitantes
(IBGE, 2010), sendo que deste total 65% (5.404 habitantes) residem na zona rural do município.
Desta maneira, é fácil concluir que a maior parte da renda do município advém da agricultura,
sendo esta a principal atividade econômica da cidade.
O presente estudo baseou-se em dois questionários com 23 e 17 perguntas objetivas e
subjetivas, baseadas na metodologia de Cardoso Júnior (2009), que foram respondidos com

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1460


professores e alunos, respectivamente, sem identificação dos mesmos, das referidas escolas
acercadas características de ensino-aprendizagem, enfocando práticas de ensino e aprendizagem da
linguagem, dificuldades e perspectivas de atuar em classes multisseriadas, e o nível de aprendizado
dos alunos, sendo analisados qualitativo e quantitativo. Foram entrevistados dois alunos por serie de
cada escola, totalizando oito alunos e dois professores por escola. No total foram entrevistados 16
alunos e 4 professores.
As questões objetivas serviram para identificar como professores e alunos pensam e
percebem a educação rural em classes multisseriadas nas séries iniciais.
As questões subjetivas delimitaram o campo das variáveis. Para Cardoso Júnior (2009, p.
78), são importantes para se visualizar um formato quantitativo, sintético e estruturado do perfil e
da realidade dos professores e alunos que fazem parte do processo multisseriado nas séries iniciais.
O espaço físico das escolas é pequeno, contando, no máximo, com duas salas de aula. Não
há quadra de esportes para o desenvolvimento de atividades recreativas, nem biblioteca, havendo
somente os ―cantinhos de leitura‖, mas há necessidade de acervo de livros.
A seleção das duas escolas justifica-se por se situarem em diferentes eixos, propiciando,
assim, uma análise mais consistente da realidade efetiva no sistema multisseriado.
A seguir, está a descrição sucinta das escolas participantes da pesquisa:
 Escola Municipal Fausto Andrade de Sousa: duas salas de aula, dois banheiros, uma área de
lazer, uma cantina e uma cozinha.
 Escola Municipal Sebastião de Sousa Santiago: uma sala de aula, dois banheiros, uma
cantina, cozinha e uma área de lazer.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Rendimento Escolar, Distorção de Idade Série e Analfabetismo

Entre 2004 a 2013, foi observado uma redução no número de alunos por série,
independentemente da escola, segundo informações da direção das escolas, isto ocorreu por causa
do grande êxodo ocorrido no município de Riacho dos Cavalos, na última década (Figura 1). Como
fator de agravamento deste contexto, as Escolas Sebastião de Sousa Santiago e Fausto de Sousa
adotam o sistema multisseriado com cinco séries em uma mesma sala de aula com um total de até
22 alunos, nos últimos cinco anos. As referidas escolas contam com a presença de um único
professor (unidocência), que tem a incumbência de ensinar a todos os alunos, cada um em seu nível
escolar pelo turno da manhã.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1461


A B

Figura 1. Alunos matriculados por série em sistema multisseriado nas escolas Sebastião de Sousa Santiago
(A) e Fausto Andrade de Sousa (B), município de Riacho dos Cavalos.

O conceito de rendimento escolar que aqui se emprega corresponde à capacidade das


escolas, em sistema multisseriado, em diplomar os seus alunos em cinco anos, ou seja, o número de
anos previstos para a conclusão do 1º ano ao 5º ano nas escolas de campo no município de Riacho
dos Cavalos.
Quanto ao rendimento escolar no período de 2004 a 2013, as escolas municipais Fausto
Andrade de Sousa e Sebastião de Sousa Santiago apresentam uma heterogeneidade muito grande,
forados padrões de uma educação de campo de qualidade (Figura 2). Esclarecendo que medir o
rendimento escolar dos alunos nas escolas de campo não é o mesmo que medir o rendimento ou a
eficiência global de uma escola urbana, é esclarecer que este indicador nos dá uma informação
preciosa acerca da capacidade do sistema multisseriado, com as características que lhe são próprias.
Este baixo rendimento escolar pode estar relacionado à ausência de um lugar para a voz dos sujeitos
(pais, alunos, comunidade rural) na edificação dos projetos e currículos de uma escola de campo.
Isto significa que a educação de campo é uma imitação daquela efetivada nas zonas urbanas, onde
modelos, planos, conteúdos, atividades são meramente copiados, numa situação total de
distanciamento entre o real e o sujeito que aprende.
O insucesso escolar não é utilizado apenas como um indicador para este fenômeno, mas
também vários indicadores, tais como os exames, as reprovações, os abandonos da escolaridade e os
atrasos. Este baixo rendimento escolar pode estar relacionado à presença de materiais didáticos
insuficientes e muitas vezes descontextualizados, à fragmentação do trabalho do professor devido a
sobrecarga de funções que lhes são atribuídas, à falta de uma acompanhamento pedagógico regular,
à elaboração de mais políticas públicas direcionadas à multissérie, à inserção de programas
descontextualizados à realidade da escola multisseriada de campo de cada região, à falta de uma
participação efetiva dos pais na vida escolar de seus filhos e à necessidade de melhorias nas
condições de trabalho dos professores, que são desafios em turmas multisserias das no município de

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1462


Riacho dos Cavalos. Resultados obtidos de Oliveira e Santos (2013) mostram que a implantação de
políticas públicas adequadas à realidade rural diminuiu os índices de repetência e evasão escolar em
classes multisseriadas, fato ocorrido com a implantação do Programa Escola Ativa - PEA no
Município de Chapadinha – MA.
Fato também confirmado por Cardoso Júnior (2009, p.40), que constatou insucesso escolar
nas escolas de campo do Breje no período de 2001 a 2005 em sistema multisseriado.
Os resultados mostram alto índice de insucesso escolar; entende-se por insucesso escolar as
taxas de reprovação e abandono dos alunos. De acordo com os resultados, o primeiro, segundo,
terceiro e quarto anos apresentaram um percentual alto de insucesso ao longo dos nove anos, porém
o quinto ano apresentou melhor índice de desempenho escolar, possivelmente devido aos alunos já
estarem alfabetizados, bem como o desejo de estudar na zona urbana. A reprovação, em ambas as
escolas, é maior no período de 2004 a 2008, no entanto, apresentou altos índices ao longo dos nove
anos avaliados, possivelmente pelo insucesso na aquisição de conhecimentos básicos para uma
educação de qualidade: leitura, escrita ou por questões práticas como ausência de sala pelos alunos,
muitas vezes devido ao trabalho que eles exercem com suas famílias na agricultura familiar. No
mesmo sentido, Cardoso e Silva (2009, p.5) apontam que o insucesso escolar em classes
multisseriadas está nas condições em que educandos e educadores passam a lidar em prol da
efetivação de projetos de ensino, pois os educadores muitas vezes teimam em reproduzir naqueles
espaços de ensino-aprendizagem os modelos e lógicas perversas de um ensino uniformizante,
urbano e permeado por ideologias antagônicas e contraditórias com relação às identidades das
comunidades rurais.
O insucesso escolar em classes multisseriadas, segundo Hage e Barros (2010, p.7) é
motivado em grande medida pela dificuldade de apropriação da leitura e da escrita por parte dos
estudantes.

A B

Figura 2. Abandono dos alunos por turma em sistema multisseriado nas escolas Sebastião de Sousa Santiago
(A) e Fausto Andrade de Sousa (B), município de Riacho dos Cavalos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1463


No primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto anos, os dados variaram de 17% a 100% de
aprovação entre os anos no sistema multisseriado. Esses índices mostram um baixo rendimento
escolar em relação à reprovação e ao abandono. Esses resultados também demonstram uma
diminuição do insucesso escolar a partir de 2008 (Figura 3). Dessa forma, através do levantamento
feito pela pesquisa, notou-se que a maioria dos alunos tem escassos recursos pessoais e suas
famílias não possuem condições necessárias para fornecer grande apoio. De maneira geral, existe a
falta de recursos das famílias, ou recursos extremamente limitados, uma vez que, aos sujeitos do
campo, vêm sendo delegadas políticas públicas ineficazes ou impróprias à sua realidade.

A B

Figura 3. Aprovação dos alunos por série em sistema multisseriado nas escolas Sebastião de Sousa Santiago
(A) e Fausto Andrade de Sousa (B), município de Riacho dos Cavalos.

Outro importante parâmetro a ser considerado em relação ao rendimento escolar é a variável


distorção idade-série. Tendo base como INEP, nota-se que a escola Sebastião de Sousa Santiago
apresentou maior percentual de distorção de idade-série em 2007 a 2012 em comparação à Escola
Fausto Andrade Sousa (Figura 4). Entende-se por distorção idade/série a porcentagem de alunos
defasados dois anos ou mais de atraso escolar. Para Soares e Sátyro (2008, p. 8), quanto maior a
distorção, pior é o desempenho escolar. O cálculo da distorção idade-série é realizado a partir de
dados coletados no Censo Escolar. O Censo é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), com a colaboração das secretarias estaduais e
municipais de Educação e com a participação de todas as escolas públicas e privadas do país.
Nesta perspectiva, observa-se um agravante da distorção idade-série na trajetória do ensino
escolar fundamental das referidas escolas, com defasagem entre 33% e 13% no 5º ano, no ano de
2012, fato já confirmado pelo baixo rendimento escolar. Também se observa ao longo do tempo
uma diminuição significativa na distorção idade-série.
Algumas variáveis podem indicar tanto o baixo rendimento escolar como a distorção idade-
série dos alunos que frequentam as referidas escolas no município de Riacho dos Cavalos, como,
por exemplo, as atividades rurais e, recentemente, uma das maiores secas que atingiu o sertão
paraibano no ano de 2012, obrigando muitas famílias a abandonarem suas casas e buscar

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1464


sobrevivência em outros lugares, bem como a falta de políticas adequadas à realidade nordestina.
Fato também confirmado por Cardoso (2009), na região Brevense, pelos mesmos motivos.

Figura 4. Distorção idade série da 1º ao 5o nas escolas Fausto de Andrade (__) e Sebastião ( _ _
_) nos anos de 2007 a 2012.

Calendário Escolar

Os professores colaboradores deste estudo apresentaram compreensões e posturas


contraditórias ao planejamento do calendário escolar, ordenamento estratégico do projeto político
pedagógico das escolas, o que pode ser ilustrado pelo excerto:
Escola Sebastião de Sousa Santiago:
Professora 1: ―Não mudaria o calendário escolar, pois já estar adequado para nossa escola‖
Professora 2: ―Eu mudaria o calendário escolar da minha escola de acordo com o período de
inverno, pois nesta época ocorre maior abandono porque os filhos ajudam aos pais nos trabalhos de
campo‖.
Escola Fausto Andrade de Sousa:
Professor 1: ―Eu mudaria o calendário escolar da minha escola de acordo com o período de plantio,
ou seja, o inverno, pois, percebo maior evasão nesta época, haja vista que os alunos auxiliam os pais
na agricultura‖.
Professor 2: ―Não mudaria o calendário escolar, pois percebo que meus alunos estão adaptados ao
modelo proposto‖
Fatores importantes na elaboração do calendário escolar anual das referidas escolas são
ignorados, tais como: espaço, tempo e sujeito social específico do campo, pois no período de
inverno muitas das crianças deixam de frequentar as aulas para auxiliar o trabalho dos pais na
agricultura.
A não observância dessas especificidades locais tem contribuído para o abandono e a
reprovação, gerando baixo rendimento escolar, como mencionado anteriormente. Sendo assim, a
educação escolar do campo rural na mesorregião de Catolé do Rocha-PB está baseada em currículo

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1465


escolar urbano, erroneamente, igualando o meio rural ao urbano, desconsiderando os conhecimentos
locais, extremamente importantes para uma educação de campo de qualidade.

Formação Docente

Atualmente são quatro professores lecionando nas referidas escolas, sendo dois professores
para cada escola. Todos apresentam formação superior completa e optaram por cursos de
Licenciatura em Pedagogia, Ciências Agrárias e/ou Letras. A formação do professor é fundamental
para que se concretize uma prática educacional fundamentada no compromisso socioeducativo. Os
dados revelam boa formação docente dos professores, mas devido ao baixo rendimento escolar
talvez seja necessário capacitações para os mesmos a fim de que possam melhor trabalharem classe
multisseriada.
No entanto, cabe questionar até que ponto esses cursos têm oferecido formação que
contribua com as práticas desses profissionais, sobretudo em classe multisseriada.
A análise quantitativa dos dados revelou que 75% dos pesquisados são professores
temporários e 25%, efetivos. Esta situação contribui para uma fragilidade do processo de ensino-
aprendizagem, pois os professores assinam contratos temporários que não asseguram sua carreira de
professor nas escolas, havendo com freqüência rotatividade de professores. No mesmo pensamento,
Marinho (2008, p, 111) diz que a contratação de professores efetivos contribui efetivamente para
consolidação da carreira profissional, proporcionando melhor rendimento escolar e o poder público
pode investir na formação continuada dos professores.
Outro dado interessante diz respeito ao tempo de serviço dos professores nas duas escolas.
Constatou-se que 50% dos professores possuem de 5 a 10 anos de ensino; 25% possuem de 1 a 5
anos e 25% mais de 10 anos de carreira profissional em classe multisseriada. São, assim,
professores que se encontram em diversas fases de desenvolvimento de suas carreiras e certamente
estão adquirindo experiências, provenientes da prática de ensino multisseriado. Trabalhos
conduzidos por Marinho (2008) detectaram que o maior tempo de serviço dos professores da escola
rural de Viçosa foi de11 a 15 anos de atuação profissional.
No que se refere ao período de trabalho docente, constata-se que 75% dos professores
trabalham um período e 25% os dois períodos. A atenção à carga horária é fundamental, pois,
quanto mais o professor vivenciar as relações dentro da escola, melhor compreenderá o seu
contexto e se relacionará mais afetivamente com os seus alunos e a comunidade. Tal fato pode vir a
comprometer a qualidade do ensino ofertado nas classes multisseriadas nas referidas escolas, haja
vista que apenas 25% residem na comunidade e 75% moram na cidade de Riacho dos Cavalos,
exercendo outras funções para complementar suas rendas familiares. Estes resultados divergem das

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1466


constatações de Queiroz (2006), ao observar que 92% dos professores trabalham os dois períodos
em escolas que adotam o sistema multisseriado na zona rural de Teresina - PI.

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da pesquisa, evidenciou-se não haver, nas escolas Fausto Andrade de Sousa e
Sebastião de Sousa Santiago, qualquer política pública, programa ou projeto político pedagógico
que atendessem às especificidades da modalidade de ensino multisseriado.
As condições de trabalho nessas escolas não se afastam muito da realidade das escolas rurais
brasileiras sobre a educação do meio rural, poiso calendário escolar e o projeto político pedagógico
ainda são baseados nas escolas urbanas, desconsiderando as peculiaridades do meio rural, ou seja,
ainda não se pensa nas particularidades da escola rural.
Se realmente pretende-se que as referidas escolas contribuam com a valorização do meio
rural com espaço de vida digna, deveriam ser implementadas políticas de assistência técnico-
pedagógica, formação e valorização profissional, mas essas devem ser acopladas a políticas
públicas voltadas à realidade local, calendário escolar e projeto político pedagógico que atendam às
especificidades do meio rural, além de qualificação profissional em classes multisseriadas.
A concepção do espaço rural da dificuldade e isolamento é perceptível entre os professores e
alunos, quando esses analisaram o trabalho nessas escolas, o que sinaliza a necessidade de
mudanças no calendário, no projeto político pedagógico e adoção de medidas públicas com vistas
ao incentivo à docência no meio rural, particularmente em sistema multisseriado.
Os professores possuem formação superior completa, mas necessitam de formação
continuada que permita melhor entendimento do sistema multisseriado, bem como da origem social
das famílias.
Conclui-se que não é possível falar de um tipo de escola rural que adota o sistema
multisseriado traçando um perfil único dessas escolas no meio rural, uma vez que cada município
apresenta suas especificidades rurais.

REFERÊNCAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO FILHO, W. S. Alfabetização na educação do campo: relatos de professores de classes


multisseriadas da Ilha de Marajó. 2009. 148 f. Dissertação (Mestrado em Educação: Psicologia
da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

CARDOSO, J. M. O. C.; SILVA, G.F.R. Escola rural e multisseriação: reflexões, tensões


formativas e metodológicas para o ensino da geografia. In: ENCONTRO NACIONAL DE

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1467


PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA, 10,2009, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre:
ENPEG, 2009, p. 1-11.

CAVALCANTE, L. O. H. Das políticas ao cotidiano: entraves e possibilidades para a educação do


campo alcançar as escolas no rural. Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em
Educação, Rio de Janeiro, v. 18, n. 68, p. 549-564, jul./set. 2010.

HAGE, S. A. M.; BARROS, O.F. Currículo e educação do campo na Amazônia: referências para o
debate sobre a multisseriação na escola do campo. Revista Espaço do Currículo, João Pessoa,
v.3, n.1, p.348-362, 2010.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Disponível em:
<http://www.censo2010.ibge.gov.br>.

LOPES, W. J. F.; BEZERRA NETO, L. A multisseriação frente à profissionalidade docente na


educação do campo. Revista HISTEDBR, Campinas, nº 50, p. 77-89, mai/2013. Edição Especial.

MARINHO, C. M. Um estudo exploratório sobre a escola rural em Viçosa-MG: Saberes e práticas


docentes. 2008. 125 p. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) -Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, 2008

OLIVEIRA, N. A.; SANTOS, R.A. As Classes Multisseriadas e o Programa Escola Ativa: índices
educacionais no município de Chapadinha – MA. Revista Ciências Humanas, V. 6, N. 1, p. 144-
161, jan.jun./2013

OZELAME, G. R. Aprendizagem docente: o desenvolvimento profissional de professores de


classes rurais multisseriadas. 2010. 133 f. Dissertação (Mestrado em Educação: Saberes e
desenvolvimento profissional) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010.

QUEIROZ, M. M. A. Projeto escola ativa: os desafios de ensinar ciências naturais em classes


multisseriadas da zona rural de Teresina Piauí. 2006. 195 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2006.

SOARES, S.; SÁTYRO, N. O Impacto da Infraestrutura Escolar na Taxa de Distorção Idade-Série


das Escolas Brasileiras de Ensino Fundamental – 1998 a 2005. Brasil: Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 22p., 2008.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1468


O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA
CONSCIENTIZADORA PARA ALUNOS DO MUNICÍPIO DE LAGOA SECA, PB

Marília Martins NASCIMENTO


UEPB - martinsmarilia97@gmail.com
Katilânia Estevam da SILVA
UEPB - katilaniaestevam@gmail.com
Ana Lúcia do Nascimento ALVES
UEPB - analucia@gmail.com
Suenildo Jósemo Costa OLIVEIRA
UEPB suenildo@ccaa.uepb.edu.br

RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmão Damião
localizado no município de Lagoa Seca-PB, e tem por objetivo avaliar o nível de conhecimento
ambiental dos alunos do 9º ano do ensino fundamental em contrapartida as práticas pedagógicas. A
educação ambiental é um instrumento de extrema importância para gerar mudanças nos conceitos e
ações, tanto individuais quanto coletivas. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário que a escola
se disponha a desenvolver trabalhos voltados à formação de princípios que assegurem a
sustentabilidade. A metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória e a explicativa uma vez que
analisou-se o fenômeno estudado. Foram feitos levantamentos através de perguntas a respeito do
assunto abordado, utilizando-se de um questionário aplicado a 35 discentes, com perguntas
objetivas e subjetivas. Depois da aplicação do questionário, deu-se sequência a fase da análise dos
dados obtidos durante a pesquisa. Foi observado que uma grande maioria, entende o Meio
Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial, grande parte destes, vêem
o meio ambiente apenas como meio em que vivemos. Este fato nada mais é do que uma resposta
dos alunos, perante as práticas pedagógicas utilizadas e o descompasso dos professores perante o
assunto. Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a Educação Ambiental é uma das
ferramentas de orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente a essa problemática.
Foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema, falta de um projeto político
pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz envolvendo todas as disciplinas.
Evidenciado o material colhido, recomenda-se que seja revisto o plano de educação ambiental da
escola junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalidade da educação ambiental.
Palavras-chave: Educação ambiental, interação socioambiental, intervenção antrópica.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1469


ABSTRACT
This work was developed in Municipal Elementary School Irmão Damião located in the
municipality of Lagoa Seca-PB, and aims to assess the level of environmental knowledge of
students in 9th grade of elementary school in return pedagogical practices. Environmental education
is an instrument of extreme importance to generate changes in concepts and actions, both individual
and collective. However, for this to occur, it is necessary that the school is willing to develop
projects aimed at training principles that ensure sustainability. The methodology used was
exploratory and explanatory once analyzed the phenomenon studied. Withdrawals were made
through questions about the subject discussed, using a questionnaire administered to 35 students,
with objective and subjective questions. After the questionnaire, there was the following step of
analysis of the data obtained during the research. It was observed that a large majority, understands
the environment as something important out of their existential context, most of these however,
look at the environment just as the environment in which we live. This fact is nothing more than a
student response before the pedagogical practices of teachers and the gap before it. This factor is
quite alarming, considering that environmental education is one of guidance tools for awareness of
individuals against this problem. It was observed that even with the encouragement of the school by
theme, lack of a political pedagogical project that addresses the issue of efficiently and effectively
involving all disciplines. Evidenced the harvested material, it is recommended that the plan be
revised environmental education school with teachers, emphasizing the importance of
mainstreaming environmental education.
Keywords: environmental education, environmental interaction, human intervention.

INTRODUÇÃO

Nosso planeta vem sendo deteriorado dia após dia, pelas ações antrópicas, tendo passado por
drásticas transformações. Para MININI (2000), a Educação Ambiental se faz necessária para que
tenhamos uma compreensão ampla em relação ao nosso ambiente. Um dos grandes desafios é
alertar a sociedade quanto aos riscos causados por ela mesma. Tendo como perspectiva, a tentativa
de compreender e se relacionar com o ambiente (TREVISOL, 2004), uma vez que uma boa parte da
população não consegue compreender essa correlação (DONELLA,1997).
De acordo com Aresi e Manica (2010) a educação ambiental é um instrumento de extrema
importância para gerar mudanças nos conceitos e ações, tanto individuais quanto coletivas. Assim,
quando Lipai et. Al.(2007), cita a Lei nº 6.938, de 31.8.1981, que institui a Política Nacional de
Meio Ambiente, exprime, em seu artigo 2º, inciso X, a necessidade de promover a "educação
ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la
para participação ativa na defesa do meio ambiente‖, tenta promover a importância dos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1470
estabelecimentos de ensino como agentes repassadores do conhecimento crítico e interventor para
mudanças no agir responsável para com o meio ambiente.
Além disso, de acordo com Constituição Federal de 1988 atribuiu-se ao Estado o dever de
―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente‖ (art. 225, §1º, inciso VI), determinando que todos os cidadãos
brasileiros, tenham o direito ao acesso à educação ambiental (LIPAI et al, 2007).
Entretanto, para que isso ocorra também é necessário que as escolas se disponham a
desenvolver trabalhos voltados à formação desses princípios (ARESI e MANICA, 2010)
assegurando assim a sustentabilidade (TREVISOL, 2004).
Dentro de toda problemática apontada, e da importância da preservação ambiental referidas no
artigo 225 da constituição brasileira, este trabalho teve como principal objetivo avaliar o nível de
consciência ambiental dos alunos em contrapartida as praticas pedagógicas utilizadas pelos
professores do ensino fundamental II no município de Lagoa Seca, PB.

METODOLOGIA

A pesquisa a campo foi feita, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmão Damião
localizado no município de Lagoa Seca-PB, o qual esta situado na Região Metropolitana de
Campina Grande, estado da Paraíba. Sua população em 2011 foi estimada pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) em 26.034 habitantes, distribuídos em 109 km² de área. Uma
parte significativa da população reside na zona rural. A densidade média da população é de 236,97
hab./km² a quinta maior do estado. Seu clima é o tropical úmido, com temperatura média anual em
torno de 22°C, sendo a mínima de 14°C e a máxima de 33°C. A cidade é limitada pelos municípios
de Campina Grande, Massaranduba, Matinhas, São Sebastião de Lagoa de Roça, Montadas,
Puxinanã e Esperança.
Aplicou-se no trabalho a pesquisa do tipo exploratória, pois se levantou informações sobre o
objeto de estudo (Educação Ambiental nas escolas públicas do centro de Lagoa Seca, PB.).
Também utilizou a pesquisa do tipo explicativa uma vez que analisou o fenômeno estudado, os seus
―porquês‖ e seus determinantes. Empregou-se o questionário com os docentes, onde constavam 10
perguntas: sendo 5 objetivas e 5 subjetivas. Este tipo de estudo visa à obtenção de informações
sobre as características, ações, percepções de determinado grupo de pessoas, indicado como
representante de uma população alvo, por meio de instrumentos de pesquisa, normalmente um
questionário.
Com relação aos alunos, a população de amostragem foi composta por 35 alunos do 9º ano da
turma do ensino fundamental II. O questionário de avaliação dos alunos constou primeiramente de
questões relativas à identificação do entrevistado (sexo, idade e série.). Em seguida foram inseridas
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1471
quatro perguntas abertas (SILVA & COUTINHO, s/d) (1- O que é Meio Ambiente para você? 2-
Como estão os rios de nosso município? 3- Você faz parte do Meio Ambiente? 4-Qual sua
contribuição para melhorar o meio ambiente?) seguindo a metodologia baseada na interação
socioambiental proposta por Lopes (1997), onde o mesmo prevê a possibilidade de avaliar os níveis
de consciência de uma sociedade através de práticas contemplativas e comunicativas, que devem
expressar os mais profundos pensamentos humanos na interação com seu meio.
A avaliação destas perguntas abertas do questionário foi realizada da seguinte maneira:
Valor 0: questionário que em momento algum expressou qualquer relação com a idéia
principal do tema, ou aquele que deixou claro que o aluno não demonstrou o mínimo interesse pelas
questões propostas, deixando-as sem reposta, por exemplo.
Valor 1: resposta que demonstraram que o aluno possui um entendi;mento vago dos assuntos
tratados, ou seja, ele usa palavras chaves mas não consegue expressar claramente a sua idéia de
meio ambiente, não se inserido neste contexto.
Valor 2: resposta que demonstraram ter uma visão já melhor formada sobre o conceito de
Meio Ambiente, mas ainda não percebem a importância do mesmo para a continuidade da vida e
não se inserem na composição deste meio.
Valor 3: resposta que alem de apresentar uma opinião formada sobre o que e meio ambiente,
na grande maioria correta e adequada para a capacidade de sua faixa etária, compreende que faz
parte do meio ambiente e que uma agressão ao Meio será uma agressão a ele próprio.
Valor 4: questionário que supera as idéias básicas sobre meio ambiente entre outros jovens
com a sua faixa etária, ele mostra-se muito interessado com os problemas ambientais do mundo,
alem disso propõe maneiras de melhorar a qualidade no meio onde vive através de praticas simples
mas importantes na coletividade, dando a idéia de sustentabilidade.
A escolha do questionário se deu pela objetividade das perguntas, o que ajudou a obter os
dados estatísticos com maior precisão. Além disso, vale ressaltar que o anonimato dos informantes,
no caso os alunos e professores, foram preservados. Antes de iniciar a aplicação do questionário,
salientou-se o quanto era importante à colaboração deles, e que era primordial a sinceridade no
preenchimento do mesmo. O questionário de avaliação dos alunos constou primeiramente de
questões relativas a identificação do entrevistado (sexo, idade e série). Em seguida foram inseridas
cinco questões abertas (1- O que é meio Ambiente para você? 2-Como estão os rios do nosso
município? 3- Você faz parte do meio ambiente? 4- Qual a sua contribuição para melhorar o meio
ambiente? 5- Qual a importância da reciclagem de produtos oriundos do lixo doméstico?).
Após o recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados na planilha do Excel e
elaborados os gráfico para analise das abordagens quantitativas e qualitativas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1472


RESULTADOS

Depois da aplicação do questionário, deu-se sequência a fase da análise dos dados obtidos
durante a pesquisa. Atribuindo-se graficamente em termos quantitativos os resultados das respostas
do questionário.
Portanto, foram analisados os seguintes indicadores de desempenho: a escola analisada não
aborda a Educação Ambiental de forma significativa; também não desenvolve um programa
satisfatório sobre o meio ambiente.
Analisou-se a escola conjuntamente para termos uma visão mais clara da temática ambiental
em questão e para obter uma melhor comparação dos dados:

Você faz parte do meio ambiente?

11%

89%

Faz parte Não faz parte

Figura 1- Você faz parte do meio ambiente?

A Figura 1 mostra que o resultado obtido com uma turma do 9º ano, na qual 89% afirmam
fazer parte do meio ambiente e 11% não confirmam fazerem parte do meio ambiente. Isto indica
que a conscientização sobre a responsabilidade com o meio ambiente é evidente para estes alunos; o
material de apoio didático aliado à mídia tem possibilitado a formação cidadã.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1473


Qual meio de comunicação os alunos utilizam
para obterem informações sobre o meio
ambiente?

39% 32%

24%

5%

internet tv jornal escola

Figura 2- Qual meio ambiente de comunicação os alunos utilizam para obterem informações sobre o meio
ambiente?

A Figura 2 observa-se que 39% dos alunos utilizam a escola para meio de comunicação,
32% prefere a internet, 24% a televisão e apenas 5% citam o jornal como meio de comunicação.
Este resultado ressalta que a escola é a maior responsável pela informação sobre a temática
ambiental, embora que, a internet e a televisão sejam exemplos de outras fontes bastante utilizadas
às mesmas não conseguiram superar a sala de aula, um dos motivos apontados pelos discentes são a
utilização da internet para acesso as redes sociais e a televisão para fins de entretenimento. Apesar
do jornal impresso também seja uma excelente fonte de informação, ainda não existe uma cultura
estabelecida do uso desse meio de comunicação.

Você se sente incomodado pelos problemas


ambientais?
11%
8%

81%

sim não indiferente

Figura 3- Você se sente incomodado pelos problemas ambientais?

A Figura 3 mostra que 81% dos entrevistados sentem-se incomodados pelos problemas do
meio ambiente, 11% não se incomodam e 8% são indiferentes ao assunto. Esses dados evidenciam
que a importância da temática ambiental ao serem abordados nas escolas, proporcionando a
formação de uma consciência para o uso racional dos recursos naturais; onde a escassez ou
fornecimento incompleto destes recursos quando utilizados de forma inadequada não só prejudicam
a pessoa mais ao toda coletividade.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1474
Qual seu interesse pela temática
ambiental?

34%

66%

Grande Pouco

Figura 4- Qual seu interesse pela temática ambiental?

Analisando-se a Figura 4 percebe-se que as questões ambientais exercem influência na vida


cotidiana, pois 66% dos alunos mostraram-se interessados pela temática ambiental. Isto demonstra a
o alcance que os temas transversais discutidos em sala de aula vêm alcançando, contribuindo para
uma maior responsabilidade para com os recursos naturais. No entanto, 34% dos entrevistados
ainda não despertaram para a ação de cidadania para com o meio ambiente.

Existem problemas ambientais no seu


municipio?
6%

94%

sim não

Figura 5- Existem problemas ambientais no seu município?

Na Figura 5 observa-se que 94% dos entrevistados afirmam existir problemas ambientais em
seu município, enquanto que apenas 6% disseram não terem conhecimento do tema questionado.
Embora essa temática seja constantemente discutida em todas as esferas da sociedade, ainda há um
grande percentual de problemas no município, ressaltando-se o problema com os resíduos sólidos
urbanos e a contaminação dos mananciais d‘águas.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1475


Em seu cotidiano você considera que
pratica alguma ação que cause algum
dano ao meio ambiente?
29%

71%

sim não

Figura 6- Em seu cotidiano você considera que pratica alguma ação que cause
algum dano ao meio ambiente?

De acordo com a Figura 6, percebe-se que um grande número de alunos entrevistados


afirmam não praticarem agravo ao meio ambiente, representado por 71%, enquanto que 29% não
jugam contribuir para danos ao mesmo. Embora, estes alunos saibam sobre a importância de
preservar o meio ambiente, no entanto, a busca por melhor qualidade de vida os leva a utilizar-se de
recursos que afetam diretamente a natureza, não existindo portanto, a aceitação de que os simples
atos praticados por eles, desde o consumo de produtos com embalagens até o uso dos recursos
hídricos sem a adequação do tempo/quantidade, os levam a enxergarem os problemas apenas nos
noticiários e não em seus próprios atos.

Você busca informação sobre o meio


ambiente?
26%

74%

sim não

Figura 7- Você busca informação sobre o meio ambiente?

A Figura 7 demonstra que 74% dos alunos declaram buscar informações e apenas 26% não
buscam nenhum tipo de informações referente ao meio ambiente. A preocupação por questões
ambientais tem levado a procura de informações de como está o estado atual do meio em que
vivemos e quais as conseqüências que poderão afetar o nosso modo de vida. Com a socialização do
conhecimento através das redes sociais, as questões ambientais têm permanecido em constante
interesse por parte da sociedade.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1476


Como estão os rios do municipio de Lagoa
Seca?

15%

85%

Poluidos Secos

Figura 8- Como estão os rios do município de Lagoa Seca?

De acordo com os dados obtidos, a Figura 8 mostra que 85% dos entrevistados relatam que
os rios do seu município encontram-se totalmente poluídos e 15% acreditam que os rios estão secos.
No entanto, sabe-se que a maioria dos participantes não tem um amplo conhecimento dos recursos
hídricos da sua região, apenas as informações são passadas de uma para outra pessoa e no final tem-
se uma conclusão do que se comenta e não do que se vive em loco.

CONCLUSÃO

Nota-se com esta pesquisa que a participação dos alunos no que diz respeito à temática
ambiental não é uniforme, ainda que esta seja incentivada pela escola e muito debatida e discutida
em âmbito nacional. Também foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema, falta
de um projeto político pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz envolvendo
todas as disciplinas.
Foi observado que uma grande maioria, entende o Meio Ambiente como algo importante,
porém fora do seu contexto existencial, grande parte destes, vêem o meio ambiente apenas como
meio em que vivemos. Este fato nada mais é do que uma resposta dos alunos, perante as práticas
pedagógicas utilizadas e o descompasso dos professores perante o assunto.
Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a Educação Ambiental é uma das
ferramentas de orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente a essa problemática.
Parte do alunado entrevistado já estará saindo do nível fundamental para o nível médio, ou seja,
estão sendo formados jovens inconscientes e indiferentes a este tema que como sabemos é de
grande importância para o futuro da humanidade.
Evidenciado o material colhido, recomenda-se que seja revisto o plano de educação
ambiental da escola junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalidade da
educação ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1477


Também é importante que as famílias destes jovens e toda a comunidade sejam envolvidas
nos projetos de Educação Ambiental criado pela escola, pois este é um assunto de interesse de
todos, e a educação das crianças e jovens só pode ser firmada se esta estiver presente em todo
ambiente de convivência social do mesmo.

BIBLIOGRAFIA

ARESI, D.; MANICA, K. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. Pesquisa
de Iniciação Científica. Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Chapecó - SC, 2010.

DONELLA, M. "Conceitos para se fazer Educação Ambiental" - Secretaria do Meio Ambiente,


1997

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa Populacional 2011 Estimativa


Populacional 2011. (01 de julho de 2011). Página visitada em 10 de setembro de 2014.

LIPAI, E. M.; LAYRARGUES, P. P.; PEDRO, V. V. Educação ambiental na escola: tá na lei. Cap.
1. In: Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Ministério
da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente,
Departamento de Educação Ambiental: UNESCO. Brasília, 2007.

MININI, apud DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental – Princípios e práticas. São Paulo,
Gaia, 1992.

TREVISOL, J. V. A educação ambiental numa sociedade de risco global. In: TAGLIEBER, J. E.;
GUERRA, A. F. S. Pesquisa em educação ambiental: pensamentos e reflexões de pesquisadores
em educação ambiental. I Colóquio de Pesquisadores em Educação Ambiental. Pelotas:
Ed.Universitária/UFPel, 2004.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1478


O CONCEITO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOB A ÓTICA DE PROFESSORES DO
MUNICÍPIO DE SÃO BENTO, PARAÍBA

Rafael Francisco Lopes SILVA


Graduando do curso de Ciências Biológicas da UFCG
rafaeluacb@gmail.com
Francione Gomes SILVA
Graduando do curso de Ciências Biológicas da UFCG
cionesb@hotmail.com
Risoneide Henriques da SILVA
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da UFCG
risoneidebiologa@gmail.com
Edevaldo da SILVA
Professor adjunto da UFCG
edevaldos@yahoo.com.br

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar as concepções de professores do ensino público do município
de São Bento, mesorregião do sertão da Paraíba, sobre o que é a Educação Ambiental e a relação
desse conceito com o tempo de serviço público desses professores. A pesquisa foi realizada em três
escolas da rede pública, sendo uma estadual e duas municipais. Uma amostra de 22 professores
participou voluntariamente da pesquisa. Os dados foram obtidos através da aplicação da pergunta
discursiva ―o que é Educação Ambiental?‖ Além das variáveis de classificação: sexo, idade, tempo
de ensino público. As respostas para a pergunta sobre o conceito de Educação Ambiental foram
analisadas segundo a frequência de termos-chaves mais recorrentes. As variáveis de classificação
foram analisadas por meio da estatística descritiva. Dos professores entrevistados, 10 (45,5%)
foram do gênero masculino e 12 (54,5%) foram do gênero feminino. A idade variou entre 20 e 51
anos e o tempo de ensino no serviço público variou entre 08 meses e 30 anos. O tempo de ensino
público influenciou nos tipos de resposta apresentadas. Aproximadamente a metade dos professores
entrevistados 45,5%, n= 10 não responderam ou possuem uma visão limitada do que é Educação
Ambiental. 54,5% (12) demonstrou possuir algum conhecimento sobre a questão abordada. Esses
resultados revelam a necessidade de buscar medidas urgentes no que tange uma melhor qualificação
dos professores da rede pública de ensino, a se tratar de Educação Ambiental.
Palavras-chave: Docentes; Ensino Público; Educação Ambiental.

ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the conceptions of public school teachers in the municipality
of São Bento, mesoregion interior of Paraíba, on what is the environmental education and the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1479


relationship of this concept with the public service time of these teachers. The survey was
conducted in three public schools, being a State and two municipalities. A sample of 22
teachers participated voluntarily in the research. The data were obtained through the application
of the discursive question "what is environmental education?" In addition to
the classification variables: sex, age, time of public education. The answers to the
question about the concept of environmental education were analyzed according to the
frequency of key terms more applicants. Classification variables were analyzed through descriptive
statistics. Of the teachers interviewed, 10 (45,5%) were male and 12 (54,5%) were of the female
gender. The age ranged between 20 and 51 years and teaching time in public service ranged from 08
months and 30 years. The time of public education has influenced the types of reply
submitted. Approximately half of of the teachers 45.5%, n = 10 not answered or have a limited
vision of what is environmental education. 54.5% (12) demonstrated own some knowledge about
the issue. These results reveal the need to seek urgent measures concerning a better qualification
of teachers of public schools, the case of environmental education.
Keywords: Teachers; Public Education; Environmental Education.

INTRODUÇÃO

Educação Ambiental proporciona a construção de valores sociais, conhecimentos, ações e


estratégias individuais ou coletivamente em prol da conservação do meio ambiente e do bem
comum a todos, essencial a uma saudável qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Ela deve trabalhar com duas dimensões básicas do saber, estimular as habilidades de cada um e
preparar esse indivíduo socialmente para práticas coletivas em busca da cidadania ambiental
(HIGUCHI; AZEVEDO, 2004).
Modelos de desenvolvimento e padrões não-sustentáveis de produção e consumo,
principalmente em países desenvolvidos, ameaçam e pressionam o meio ambiente em todas suas
vertentes frágeis (UNESCO, 2005).
A problemática ambiental atinge de maneira gradativa e por vezes imperceptível a curto
prazo, a medida que vivenciamos uma expansão social e urbana sem que haja uma preparação
adequada e sustentável para esse acontecimento. Essa situação espelha a realidade mundial ao
tempo que preocupa profissionais e defensores do desenvolvimento sustentável.
No Brasil, a Educação Ambiental ganhou notoriedade com a promulgação da Lei 9.795, de
27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que por meio
desta, foi tida como indispensável no cenário educacional nacional de todos os níveis formais e não-
formais.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1480


Para Jacobi (2004), esse modelo de educação aponta para propostas pedagógicas voltadas
para a conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade
de avaliação e participação das pessoas a serem educadas. Ele afirma também, que a relação entre
meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador.
Pelicione (1998) acredita ser objetivo da Educação Ambiental, se tornar filosofia de vida,
além de, criar uma consciência cidadã que leve a utilização de práticas adequadas ambientalmente e
investimento em recursos e processos ecológicos.
Para uma maior contribuição na formação da cidadania, a Educação Ambiental carece mais
de atitudes e formação de valores, do que apenas informações e conceitos, visto que a atuação direta
de cidadãos conscientes torna-se uma das únicas alternativas viáveis para reverter o quadro da
problemática ambiental (ZANELLA, 2012).
Os professores assumem um papel essencial no impulso a transformações de uma educação
que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade, como parte de um
processo coletivo (JACOBI, 2004).
A inserção da Educação Ambiental dentro de uma perspectiva crítica ocorre na medida em
que o professor assume uma postura reflexiva. Isto potencializa entendê-la como uma prática
político-pedagógica, tornando possível a motivação e sensibilização das pessoas para transformar as
diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação
da responsabilidade socioambiental (JACOBI, 2005).
Cuba (2010) defende a ideia de que a Educação Ambiental deve ser vista e tratada
cientificamente no âmbito escolar, atuando separadamente das outras disciplinas, já que muitas
vezes é esquecida, devido ao fato dos alunos ficarem presos aos conteúdos que lhes são
estabelecidos e que na maioria das vezes são tão complexos que os mesmos não conseguem
concluí-los até o fim do ano letivo, e muitos professores não se sentem na obrigação de abordarem
este tema, embora seja de extrema importância.
É necessário que se pense em políticas públicas voltadas à formação de professores que
atuem em relação à concepção crítica e emancipatória da Educação Ambiental. Através de uma
fundamentação teórica e prática baseadas no diálogo, respeito à diversidade e ao saber popular,
assim, poderemos construir importantes ações para uma escola que fuja ao tradicional e,
principalmente, consciente de seu papel ligando conceitos sociais e ambientais (FURTADO, 2009).
A atuação dos professores deve estender-se para além dos conteúdos programados em sala
de aula. Sua função, além de professor, é ser educador e multiplicador de ideias. A escola de
educação básica, de ensino médio ou superior, deve obrigatoriamente levar o aluno a ter algum
contato para com atividades práticas e/ou teóricas de Educação Ambiental.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1481


Projetos desenvolvidos nessa área são úteis no sentido de esclarecer ao estudante sobre os
benefícios da conscientização e a preservação do meio ambiente, podendo ser trabalhado nas
escolas da educação básica transversalizando aos demais conteúdos curriculares (FREITAS FILHO
et al., 2014).
A escola deve ser participativa e colaboradora, tanto em aspectos estruturais, com suportes
técnicos que propiciem aos alunos uma boa prática de estudo, quanto em aspectos metodológicos e
pedagógicos por parte dos profissionais. Sem essa carência educacional, a relação professor-aluno
se estreitará de maneira acadêmica e humanística, facilitando a aprendizagem do discente.
Quando abordada em sala de aula, nem sempre há o cuidado em inseri-la no contexto das
outras disciplinas básicas. A Educação Ambiental deve ser oferecida de forma a se interligar aos
demais conteúdos estudados (OLIVEIRA, 2014). ―A educação básica unida à Educação Ambiental
é a ―fórmula mágica‖ para que tenhamos pessoas mais conscientes das reações de suas atitudes e
―cuidadoras‖ do meio ambiente‖ (KAYSER; SILVA, 2014).
O objetivo deste trabalho foi avaliar as concepções de professores do ensino público do
município de São Bento, Paraíba, Brasil sobre o que é a Educação Ambiental e a relação desse
conceito com o tempo de serviço público desses professores.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa tem caráter descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa e


quantitativa. Foi realizada em três escolas da rede publica, sendo duas municipais: Escola
Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Dr. Jarques Lúcio da Silva, Escola
Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Maria Dulce dos Santos e uma estadual, a
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Silveira Guimarães. Todas localizam-se no
município de São Bento, situado na Mesorregião do Sertão Paraibano e Microrregião de Catolé do
Rocha, Paraíba.
Uma amostra de 22 professores participou voluntariamente da pesquisa. Os dados foram
obtidos através da aplicação da pergunta discursiva ―o que é Educação Ambiental?‖ Além das
variáveis de classificação: sexo, idade, tempo de ensino público.
As respostas para a pergunta sobre o conceito de Educação Ambiental foram analisadas
segundo a frequência de termos-chave mais recorrentes. As variáveis de classificação foram
analisadas por meio da estatística descritiva.
Todos os professores participantes foram informados sobre a importância de sua
colaboração e estão cientes também de que o esse estudo está de acordo com a resolução nº
196/2012 do conselho nacional de saúde que rege sobre a ética da pesquisa envolvendo seres
humanos direta ou indiretamente assegurando a garantia de que a privacidade do sujeito da pesquisa
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1482
será preservada com todos os direitos sobre os princípios éticos como beneficência, respeito e
justiça (BRASIL, 1996).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os professores entrevistados, 10 (45,5%) foram do gênero masculino e 12 (54,5%) do


gênero feminino. A idade variou entre 20 e 51 anos. O tempo de ensino no serviço público também
variou muito, entre 08 meses e 30 anos de ensino.
Nota-se que, dos termos-chaves citados entre os entrevistados, o mais frequentemente
utilizado foi ―preservar o ambiente‖ com 22,7% do total. Esse acontecimento deixa explicita a
prevalência de uma visão mais tradicional e generalista do termo trabalhado.

Termos-chaves fa fr
Conscientizar  preservar o ambiente 5 22,7
Conscientizar  uso consciente dos recursos naturais 2 9,1
Educar  Promover harmonia homem-natureza 3 13,6
Educar  uso consciente dos recursos nautarais 2 9,1
Não respondido ou com respostas equivocadas 4 18,2
Visão limitada de Educação Ambiental 6 27,3
Tabela 1- Frequências absoluta (fa) e relativa (fr, em% ) dos termos-chaves que refletem o conceito sobre
Educação Ambiental segundo os professores entrevistados

TERMOS RESPOSTA
1. É conscientizar as pessoas sobre a preservação e conservação do ambiente
2. Uma forma de conscientizar para que cada um possa participar das melhorias
do meio ambiente
CP
3. Conscientizar as pessoas na defesa do meio ambiente
4. É a conscientização que o indivíduo deve ter a respeito de como preservar o
planeta em que vivemos
1. É o meio onde se desenvolve a concientização para os recursos que
melhorem o meio ambiente. Método esse que contribui para o bem do planeta
CR
2. É a consciência que se tem sobre os problemas que atingem o meio
ambiente e as formas de preservação dos mesmos
1. É o ensino de práticas educativas de como agir nos ambientes nos quais são
ER vivenciados
2. Maneira de passar para as pessoas a forma certa de tratar o meio ambiente
1. Educar o indivíduo para uma ação consciente com o meio ambiente através
de práticas sustentáveis
EC 2. É o ensino voltado para a abordagem de como utilizar os recursos naturais
com consciência
1. É o comportamento social ou relação da sociedade com o meio ambiente, ou
seja, suas ações para com o mesmo
2. É uma educação feita com base na sustentabilidade
NR 3. É o cuidaddo que devemos ter com o meio ambiente, sendo consciente e
pensando nas gerações futuras
4. Consiste na mediação de conhecimentos que envolve o meio ambiente, o
espaço social e a atuação do homem nesse meio
1. Cuidar do meio ambiente e suas implicações
VL
2. É conscientaizar a população sobre o meio em que vive
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1483
3. É conscientizar os alunos para não disperdiçar água e colocar o lixo no lixo
4. Transmissão de informações sobre o meio ambiente
5. É você ser consciente e não degradar o meio ambiente
6. Não agredir o ambiente
Tabela 2 – Respostas de alguns dos professores entrevistados agrupadas segundo seus termos-chaves.
C  P: Conscientizar para preservar o ambiente; C  R Conscientizar para uso consciente dos
recursos naturais; E  R: Educar para promover harmonia homem-natureza; E  C: Educar para o
uso consciente dos recursos naturais; NR: Não respondido ou com respostas equivocadas; VL: Visão
limitada de Educação Ambiental.

Essa forma de conceituar revela uma visão egocêntrica dos professores, limitando a
Educação Ambiental à percepção que a natureza deve ser algo que não deve ser respeitada,
preservada, mas não inclui o homem como um ser participante do meio ambiente.
Foi observado que 18,2% dos professores entrevistados não responderam ou responderam
equivocadamente e 27,3% tem uma visão limitada do que é Educação Ambiental. Então
provavelmente se, esses professores que apresentam limitações ou não sabem bem o que é
Educação Ambiental vierem a trabalhar com seus alunos essa temática, não saberão medir esse
conhecimento adequadamente, podendo passar essa visão limitada e/ou equivocada sobre Educação
Ambiental.
A falta de domínio de alguns conteúdos associado à insegurança do professor é um ponto
importante e aparentemente muito relacionado com a resistência e o provável desinteresse por
novos temas, especialmente aqueles ligados a questões ambientais. Muitos ainda pensam que o
professor tem que dominar todos os assuntos, perante seus alunos e, também, perante os colegas de
profissão, porém, isso não é verdade, e quando os assuntos fogem ao conteúdo formal da disciplina,
muitos professores geralmente preferem não se manifestar a admitir que desconhecem ou conhecem
pouco sobre o tema (BIZERRIL; FARIA, 2001).
De acordo com o Plano Nacional de Educação Ambiental (PNEA), o conceito de Educação
Ambiental é definido como:

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).

Somente 13,6% (03) dos professores entrevistados (Educar Promover harmonia homem-
natureza, responderam de forma mais satisfatória e generalista que o conceito exige. Outros 40,9%
(09) responderam de forma parcialmente satisfatória por não incluir todos os aspectos que a
Educação Ambiental abrange.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1484


30

Tempo de ensino público (anos)


25

20

15

10

0
C -> P C -> R E -> R E -> C NR VL
Classificação da resposta

Figura 1 – Comparação da média de tempo de ensino público (ano) dos professores


entrevistados com o tipo de resposta para o conceito de Educação Ambiental.

A Figura 1 evidencia que o tempo de ensino público influenciou nos tipos de resposta
apresentadas. Aquelas não satisfatórias vieram daqueles com menos de 5 e mais de 20 anos de
ensino, o que deixa claro que, a pouca experiência e a possível desatualização dos professores que
lecionam a mais tempo são fatores que influenciam diretamente na carência e equívocos
conceituais. Foram observadas respostas mais completas e com pouca variação contextual por parte
daqueles que estão entre 7 e 15 anos no ensino público, o que demonstra uma maior preocupação
por parte desses em serem capazes de passar pro alunado o que é Educação Ambiental.

CONCLUSÕES

Os professores da rede pública de ensino do município de São Bento-PB, que participaram


da entrevista revelaram possuir, em sua maioria, algum conhecimento sobre o conceito de Educação
Ambiental, entretanto, poucos responderam de forma mais satisfatória e ampla como o conceito
exige. Uma parcela significativa desses docentes demonstrou total falta de conhecimento sobre o
assunto, motivo para que medidas urgentes sejam elaboradas para uma melhor qualificação desses
profissionais. A carência conceitual acerca da Educação Ambiental é evidente nas escolas
analisadas.
Esses resultados reiteram a necessidade de haver mais fomento para a realização de projetos
e cursos de capacitação docente sobre o conceito e aplicação da Educação Ambiental em sala de
aula.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1485


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIZERRIL, M. X. A; FARIA, D. S. Percepção de professores sobre a Educação Ambiental no


ensino fundamental. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 82, n. 200/201/202, p. 57-69,
2001.

BRASIL, Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em


Pesquisa – CONEP. Resolução nº 196/1996. Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Brasília,
1996. 24 p.

BRASIL, Congresso Nacional, Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação
ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
Brasília: Congresso Nacional 1999.

CAVALCANTI, J. N. A. Educação Ambiental: Conceitos, Legislação, Decretos e Resoluções


pertinente e a formação continuada de professores em educação ambiental na Paraíba. Revista
Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 30, n. 1, p. 71-82, 2013.

CUBA, M. A. Educação ambiental nas escolas. Revista de Educação, Cultura e Comunicação


Social, v. 1, n. 2, p. 23-31, 2010.

FREITAS FILHO, J. R; SILVA, L. P; FREITAS, J. J. R; FREITAS, J. C. R; Educação Ambiental:


Um Olhar dos Estudantes da Educação Básica Sobre o Meio Ambiente

. Revista Eletrônica de Educação Ambiental em Ação, Rio Claro-SP, v. 8, n. 49, 2014. Disponível
em < http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1869&class=25>. Acessado em 14/09/2014

FURTADO, J. D. Os caminhos da Educação Ambiental nos espaços formais de ensino-


aprendizagem: qual o papel da política nacional de Educação Ambiental?. Revista Eletrônica do
Mestrado em Educação Ambiental em Ação, Rio Grande, v.22. 2009.

HIGUCHI, M. I. G & AZEVEDO, G. C. Educação como processo na construção da cidadania


ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Brasília, 2004.

JACOBI, P. Educação e meio ambiente – transformando as práticas. Revista Brasileira de


Educação Ambiental, Brasília, 2004.

JACOBI, P. R. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo


e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1486


KAYSER, A. M & SILVA, M. A. Educação ambiental um novo paradigma na formação
educacional contemporânea. Revista Eletrônica de Educação Ambiental em Ação, Rio Claro-SP,
v. 7, n. 45, 2013. Disponível em <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1579&class=02>
. Acessado em 14/09/2014.

OLIVEIRA, S. P; FONSECA, M. R. B; TEIXEIRA, T. R; XAVIER, L. G. S; REZENDE, C. F &


GALLÃO, M. I. Educação Ambiental na Escola: Uma ferramenta de aprendizado mútuo.
Revista Eletrônica de Educação Ambiental em Ação, Rio Claro-SP, v. 12, n. 46, 2014.
Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1704&class=02>. Acessado em
14/09/2014

PELICIONE, M. C. F. Educação ambiental, qualidade de vida e Sustentabilidade. Saúde e


Sociedade, v. 7, n. 2, p. 19-31, 1998.

UNESCO. Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-
2014: documento final do esquema internacional de implementação. Brasília : UNESCO, 2005.

120p.

ZANELLA, L. A Questão Ambiental na Visão de Biólogos em Formação Continuada. Revista


Brasileira de Educação Ambiental, Rio Grande, v. 7, n. 2, p.37-43, 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1487


PRÁTICAS DE BOTÂNICA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE BANANEIRAS, PB

Raoni Fernandes da SILVA


Licenciando em Ciências Agrárias - UFPB/CCHSA
raoni_diniz@hotmail.com
Laís Araujo da SILVA
Licenciando em Ciências Agrárias - UFPB/CCHSA
lais-girl--@hotmail.com
Gilvaneide Alves de AZEREDO
Professora Orientadora - UFPB/CCHSA/DA
azeredogil@yahoo.com.br
Vênia Camelo de SOUZA
Professora Colaboradora - UFPB/CCHSA/DCBS
venia_camelo@hotmail.com

RESUMO
As dificuldades em se ensinar e, consequentemente, em se aprender botânica, tornam a ―Cegueira
Botânica‖ mais evidente, tanto entre os estudantes quanto professores. A aquisição do
conhecimento em Botânica é prejudicada não somente pela falta de estímulo em observar e interagir
com as plantas, como também pela precariedade de equipamentos, métodos e tecnologias que
possam ajudar no aprendizado. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivenciada em duas
escolas municipais de Bananeiras sobre a importância do ensino da Botânica e do que ela representa
para as nossas vidas. Este trabalho fez parte do Projeto Prolicen/UFPB/2013 e foi desenvolvido na
Escola Municipal de Ensino Fundamental ―Emília de Oliveira Neves‖ e na Escola Municipal de
Ensino Fundamental ―Coutinho de Medeiros‖. O projeto foi desenvolvido com duas turmas (6°
ano), com 20 alunos em cada, na primeira escola; e na segunda, uma só turma compreendendo
alunos do 4° e 5° anos, totalizando em torno de 15 alunos. Foram trabalhados de forma teórico-
prática os seguintes módulos: importância dos vegetais; raiz; caule; folha, flor, frutos e sementes.
Conclui-se que as aulas práticas de botânica introduzidas nas escolas municipais de Bananeiras são
cruciais para o entendimento de diversos conceitos na área de Biologia Vegetal, permitindo um
maior envolvimento e interesse do corpo discente pela área em questão.
Palavras-chave: Biologia Vegetal, Ensino-aprendizagem, Ensino fundamental.

ABSTRACT
The difficulties of teaching and, consequently, in learning Botany, make "Blindness Botany" more
evident among both students and teachers. The acquisition of knowledge in Botany is hampered not
only by the lack of stimulus to observe and interact with the plants, but also by poor equipment,
methods and technologies that can assist the learning process. The aim of this study is to report the

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1488


experience, in two municipal elementary schools in Bananeiras – PB on the importance of teaching
Botany and what it represents for our lives. This work was part of the Project Prolicen/UFPB/2013
and it was developed in the Municipal Elementary School "Emilia de Oliveira Neves" and
Municipal Elementary School "Coutinho de Medeiros". In the first school the project was
developed with two classes from 6th grade, with 20 students in each, in the second one the project
involved one class with students from the 4th and 5th grades, totaling around 15 students. The
importance of plants; root; stem; leaf, flower, fruit and seed were studied in a practical way. We
concluded that the theoretical botany classes associated with the practice introduced in public
schools in the municipality of Bananeiras are crucial to the understanding of various concepts in the
area of Plant Biology, allowing greater involvement and interest of students for the area in question.
Keywords: Plant biology; Teaching-learning; Elementary school

INTRODUÇÃO

O ensino de Botânica, atualmente, é marcado por diversos problemas e tem sido alvo de
preocupação de vários pesquisadores. Entre os problemas mais evidentes, está a falta de interesse
por parte dos estudantes por esse conteúdo. Apesar de muitos motivos serem apontados para tal
desinteresse o ponto fundamental parece ser a relação que nós seres humanos temos com as plantas,
ou melhor, com a falta de relação que temos com elas. O fato desses seres não interagirem
diretamente com o homem e serem estáticos, ao contrário dos animais, pode justificar o
distanciamento dos estudantes (MENEZES et al., 2009).
A falta de interesse dos alunos pelas aulas de Ciências, aonde a Botânica está inserida, é
algo muito comum. Isso pode ser atribuído ao fato dos professores primarem por uma prática
tradicional, sem relacionar o conteúdo abordado com o cotidiano dos alunos. As aulas práticas
podem ser uma alternativa para superar esse desafio, pois permitem ao aluno significar o que está
sendo ensinado, assim como relacioná-lo com o cotidiano (LIMA et al., 2013).
Sabe-se que muitos professores fogem das aulas de botânica, relegando-as ao final da
programação do ano letivo, por medo e insegurança em falar do assunto. Uma das maiores
reclamações é a dificuldade em desenvolver atividades práticas que despertem a curiosidade do
aluno e mostrem a utilidade daquele conhecimento no seu dia-a-dia (SANTOS et al., 2008).
Uma das críticas que se coloca ao ensino de biologia voltada para a botânica é que ele tem
sido realizado de forma memorística e fragmentada. A aprendizagem, considerando esta
abordagem, é transformada em uma coleção de nomes difíceis a serem memorizados, segundo
Selles e Ferreira (2005). A abordagem dos conteúdos biológicos sem a devida contextualização
proporciona certa dificuldade na aprendizagem de conceitos centrais da biologia
(MEGLHIORATTI et al, 2009).
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1489
Muitos estudantes vêem a botânica como uma lista de nomes científicos e de palavras fora
da sua realidade, tornando as aulas pouco motivadoras. Diante disso, faz-se necessário desenvolver
trabalhos que visem incentivar os alunos das escolas fundamentais do município de Bananeiras de
forma que eles despertem o interesse pela área vegetal e que vejam na Botânica algo prazeroso de
ser estudado e vivenciado no seu dia-a-dia.
As dificuldades em se ensinar e, consequentemente, em se aprender botânica, tornam a
―Cegueira Botânica‖ mais evidente, tanto entre os estudantes quanto professores. A aquisição do
conhecimento em Botânica é prejudicada não somente pela falta de estímulo em observar e interagir
com as plantas, como também pela precariedade de equipamentos, métodos e tecnologias que
possam ajudar no aprendizado (ARRUDA e LABURÚ, 1996; CECCANTINI, 2006).
Um aspecto importante, mencionado por Figueiredo et al. (2012) diz o seguinte: para o
aprimoramento do ensino da botânica é necessário desenvolver estratégias educativas a partir dos
conhecimentos trazidos pelos alunos e por suas comunidades de origem, para torná-lo mais
significativo e eficaz do que o saber científico desvinculado da realidade do indivíduo. Além disso,
o saber puramente científico normalmente é privilégio de poucos e não tem tanta relevância ou
significado para a sociedade como um todo.
Esses autores, na busca de soluções para os problemas levantados pelos professores de
Botânica, de que esta área possui muitas terminologias e com isso se distancia da realidade do
aluno, desenvolveram uma estratégia para o estudo das flores no curso de Ciências Biológicas, por
meio de uma abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade. A estratégia utilizada constou de
pesquisa bibliográfica, elaboração e apresentação em grupos dos diversos trabalhos propostos sobre
o tema: ―O estudo de flores numa abordagem ecológica, evolutiva, sócio-cultural e econômica.‖
Constataram que os problemas do ensino de Botânica nos níveis fundamental e médio são os
mesmos relatados anteriormente pelos professores. A partir dessas constatações, utilizou-se como
estratégia uma abordagem morfofuncional, com aulas teóricas e práticas, sobre flores em ambiente
antrópico e natural, favorecendo uma melhor relação e integração dos alunos com o estudo de
Botânica. Ao final desses trabalhos, os alunos relataram que as estratégias utilizadas possibilitaram
o aprendizado de uma maneira mais eficaz e prazerosa, contribuindo para o desenvolvimento de um
novo perfil na formação dos futuros professores de biologia.
Pinto e Silva (2009), por sua vez, desenvolveram um trabalho, no sentido de avaliar a
importância das práticas no processo de ensino-aprendizagem com enfoque nos conteúdos de
briófitas, pteridófitas, angiospermas e gimnospermas, observaram que as aulas práticas ajudaram no
processo de aprendizagem, despertando o interesse dos alunos e aguçando a curiosidade, tornando-
os mais participativos nas aulas, e proporcionando para a grande maioria a primeira visita a o
laboratório de biologia. Mesmo sendo importante para o aprendizado a aula teórica, esta soa de
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1490
forma desanimadora, principalmente na disciplina de botânica, onde, por serem fixos no ambiente,
os vegetais parecem não ter vida, passando despercebidos. Com as aulas práticas tudo parece mais
real deixando os alunos que participam da prática mais investigativos, curiosos, e com sentimento
de satisfação ao adquirirem o conhecimento.
A partir de materiais simples, sem o uso de equipamentos sofisticados, este trabalho teve por
objetivo levar às escolas do município de Bananeiras, uma forma de ensinar a botânica adotando
aulas teórico-práticas em sala de aula, de forma que os alunos, além de visualizarem partes de
plantas, apalpassem e conhecessem mais de perto os órgãos que constituem o vegetal.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho é parte do projeto Prolicen desenvolvido a partir do mês de agosto/2013 em


duas escolas municipais de Bananeiras, PB. A primeira, denominada Escola Municipal de Ensino
Fundamental ―Emília de Oliveira Neves‖ e a outra, Escola Municipal de Ensino Fundamental
―Coutinho de Medeiros‖. O projeto foi desenvolvido com duas turmas (6° ano), com 20 alunos em
cada, na primeira escola; e na segunda, uma só turma compreendendo alunos do 4° e 5° anos,
totalizando em torno de 15 alunos. As ações foram realizadas semanalmente, porém a cada 15 dias,
em cada escola. Foram trabalhados os seguintes módulos: importância dos vegetais; raiz; caule;
folha, flor, frutos e sementes. As intervenções didático-pedagógicas foram desenvolvidas através de
uma exposição teórica do assunto de forma breve e, em seguida, a aula prática, como um meio de os
alunos fixarem melhor o conteúdo abordado, incentivando-os e despertando-os sobre a necessidade
de compreender a importância dos vegetais para a nossa sobrevivência, contribuindo na sua
formação acadêmica e como cidadão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

a) Aula Introdutória

Na primeira aula, considerada introdutória, foi feita uma apresentação dos bolsistas bem
como dos alunos e, em seguida, uma explanação sobre o projeto a ser desenvolvido durante o ano
de 2013 nas Unidades Escolares. Em seguida, foi aplicado um questionário a fim de coletar
informações sobre os conhecimentos trazidos pelos alunos sobre o valor das plantas para a vida
deles e do que é importante para a vida das plantas. Em seguida, foi feito um debate, discutindo-se
as respostas de cada aluno (sem fazer identificação do aluno) com intervenções por parte dos
bolsistas e voluntários presentes.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1491


b) Aula Raiz

Esta aula foi iniciada com algumas indagações para os educandos, como por exemplo:
Vocês já ouviram falar sobre a raiz das plantas? Ela serve para que? Nesse momento, a maioria
relatou que já ouviu falar sobre a raiz, e que esta serve para sustentar as plantas. Foi explicada
detalhadamente cada parte da raiz, sua função e utilidades para as plantas. Desenhou-se uma raiz no
quadro preto e os alunos foram convidados a irem ao quadro para identificar cada parte da raiz.
As impressões que ficaram após o desenvolvimento da aula, segundo o bolsista prolicen,
foram ótimas, observando-se a participação dos alunos nas discussões realizadas, tendo-se, enfim,
um bom rendimento (Figura 1).
―Resposta obtida por um dos alunos quando se perguntou sobre a raiz:‖ ela serve para
segurar a planta na terra”(Aluno 6ºano).

Figura 1. Aula sobre raiz na Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio


Coutinho de Medeiros-Bananeiras-Paraíba.

c) Aula Caule

A cada início de aula, indagações eram feitas aos educandos, como por exemplo: O que
vocês entendem por caule? E ele serve para que? Por que o caule é importante? Nesse momento, a
minoria relatou o que seria. Foram apresentadas figuras (imagens) de diversos tipos de caules
existentes na natureza. A partir da apresentação das imagens, foi iniciado um diálogo com os
discentes sobre o que acharam dos diferentes tipos de caule apresentados, debatendo-se, com os

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1492


estudantes sobre a importância do caule como condutor de nutrientes para os diversos órgãos
vegetais,
Após o término da aula, observou-se que o desenvolvimento da aula foi ótima, os alunos
participaram das discussões a partir da exibição das imagens, realizando-se um bom debate em
termos de atividades propostas. Percebeu-se que as imagens dos diferentes tipos de caule existentes
no Brasil eram desconhecidos para os educandos (Figura 2).

Figura 2. Aula sobre raiz, caule e folha na Escola Municipal de Ensino


Fundamental Antônio Coutinho de Medeiros- Bananeiras, Paraíba.

―Resposta dos alunos em relação às indagações feitas sobre o caule‖: muitos disseram que
―não sabiam para que servia e alguns citaram que servia apenas para madeira (alunos do 6º Ano).

d) Aula Folha

A aula foi iniciada também com indagações para os discentes, como: o que significa a folha
para vocês? Que funções elas possuem? O que é fotossíntese? A fotossíntese está associada com as
folhas? Foi apresentado um slide sobre as folhas, suas partes e suas funções. Foram coletadas
folhas simples e folhas compostas, as quais foram coletadas pelo bolsista e levadas aos alunos, onde
na ocasião foi sugerida a ideia de se produzir uma colagem em cartolina com essas folhas (tipo um
―herbário‖). Os alunos participaram da aula com entusiasmo e ao término da colagem, a cartolina
(painel) ficou afixado em sala de aula (Figura 3).
―Resposta obtida por alunos quando indagados sobre o órgão vegetal ―folha‖: Serve para
fazer sombra e para fazer chá. Não souberam responder o que era fotossíntese. (Alunos do 6º
Ano).
Foi perceptível a interação dos alunos na execução da atividade proposta durante a
condução da aula sobre as folhas. Durante a colagem de diversos tipos de folha na cartolina, os
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1493
alunos interagiam e discutiam as diversas partes da folha, o que pode-se afirmar o alcance dos
objetivos propostos, pois os discentes conseguiram representar através do ―herbário‖ os
conhecimentos que foram repassados durante a aula ministrada.
As aulas de ciências na escola representam uma grande oportunidade para os alunos de
trabalharem em grupo, com oportunidades para com partilharem ideias, refinarem seu vocabulário e
cooperarem entre si nas atividades práticas colaborativas, sendo que pesquisas mostram que alunos
que trabalham juntos aprendem mais do que quando atuam sós. Isso pode ser aproveitado pelos
professores de botânica para despertarem o interesse dos seus alunos o quanto antes (SILVA e
LOPES, 2014).

Figura 3. Aula sobre folha na Escola Municipal de Ensino Fundamental Emilia de


Oliveira Neves - Bananeiras/Paraíba.

e) Aula Flor

Dialogou-se com os discentes sobre a percepção destes em relação a flor. Foram levados aos
alunos das Unidades Escolares diversas flores do maracujá (Figura 2); a mesma foi dissecada,
identificando-se as suas devidas partes, comentando-se também sobre as suas principais funções e
utilidades. Foi solicitado aos educandos que fizessem um pequeno resumo no caderno sobre o
órgão floral do maracujá e suas partes, destacando a parte que mais lhe chamou a atenção durante a
dissecação.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1494


―Resposta do aluno quando indagado sobre o órgão floral‖: ―Serve apenas para deixar o
ambiente mais bonito”. Quando comentamos que a flor era responsável pela reprodução - eles
ficaram curiosos (Alunos do 5º ano).

Figura 4. Aula sobre flor na Escola Municipal de Ensino Fundamental Emilia de


Oliveira Neves - Bananeiras-Paraíba.

A impressão que se teve nesta aula foi a de um maior interesse dos alunos ao dissecarem a
flor, bem como quando foi mencionado pelo bolsista e voluntário sobre o papel da flor no processo
de polinização, fecundação e perpetuação das espécies vegetais.

f) Frutos e Sementes

Esta aula foi ministrada no Laboratório de Tecnologia de Sementes do CCHSA. Os


discentes tiveram a oportunidade de conhecer o laboratório e as atividades nele desenvolvidas. Na
ocasião, os discentes conheceram o fruto do angico (Anadenanthera colubrina) e fizeram o
beneficiamento. Após beneficiamento, os estudantes fizeram uma seleção das sementes puras,
retirando-se as impurezas ali presentes. Em seguida, procederam ao teste de germinação, em papel
germitest, acondicionando os rolos em BOD regulada a 25°C (Figura 5).
Aulas práticas de morfologia vegetal desenvolvidas por Cordeiro et al. (2013) em uma
Escola Municipal Professora Geni Giordano em Iporã PR, com turmas do quinto ano, concluíram
que os resultados obtidos foram bastante positivos, pois os alunos mostraram maior interesse, no
decorrer das atividades constatando-se um aumento em torno de 30% do percentual obtido no inicio
do projeto. Concluíram que a realização do projeto ajudou na fixação dos conteúdos de morfologia
vegetal e no aprendizado dos alunos.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1495


Figura 5. Discentes da Escola Antônio Coutinho de Medeiros realizando o beneficiamento do angico e o
teste de germinação em ―papel germitest‖, no Laboratório de Tecnologia de Sementes do CCHSA.

O desenvolvimento deste projeto teve um grande significado: vivenciar e compartilhar


experiências com os discentes e docentes das Escolas com muita alegria. Este trabalho
proporcionou, ao bolsista e ao voluntário, oportunidades de crescimento, de autonomia, e uma
maior consciência sobre a formação da cidadania, através dos debates e discussões geradas em sala
de aula. No início de sua execução, os discentes resistiam em participar das discussões; era como se
tivessem medo de se expressarem, ou até mesmo vergonha, e alguns até se negavam em realizar as
atividades propostas, dizendo que não sabiam fazer e que iriam fazer tudo errado. Essa nova
maneira de ensino-aprendizagem ―questionamentos associados imediatamente à prática‖ provocou
um encantamento e um maior interesse por parte dos educandos, que tiveram a oportunidade de
aprender de maneira mais leve e agradável (tocando, vendo, apalpando), e não um ―aprender apenas
na teoria‖, como algo distante da vida do educando. As imagens e partes de plantas que foram
levadas a sala de aula despertaram a atenção dos mesmos, aguçando ainda mais a sua curiosidade.
Essa constatação permitiu que novas estratégias fossem adotadas daqui para frente no sentido de
melhorar ainda mais a integração entre alunos bem como uma maior interação entre alunos x
conteúdo a ser ainda abordado, melhorando, dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem.

CONCLUSÃO

As aulas teórico-práticas de Botânica introduzidas nas escolas municipais de Bananeiras


foram cruciais para o entendimento de diversos conceitos na área de Biologia Vegetal, permitindo
um maior envolvimento e interesse do corpo discente pela área em questão.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, S. M.; LABURÚ, C. E. Considerações sobre a função do experimento no ensino de


Ciências. Pesquisa em Ensino de Ciências e Matemáticas, v.5, n.14, p.24, 1996.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1496


CECCANTINI, G. Os tecidos vegetais têm três dimensões. Revista Brasileira de Botânica, v.29,
n.2, p.335-337, 2006.

CORDEIRO, J.; KUPAS, F.; PESSATTO, J.; STEFANELLO, S. Práticas de morfologia vegetal
para o ensino fundamental. Seminário de Extensão Universitária da Região Sul, 31,
Florianópolis, SC, 2013.

FIGUEIREDO, J. A.; COUTINHO, F. A.; AMARAL, F. C. O ensino de botânica em uma


abordagem ciência, tecnologia e sociedade. Seminário Hispano Brasileiro, 2. Anais... - CTS, p.
488-498, 2012.

LIMA, J. H.; SIQUEIRA, A. P. P de.; COSTA, S. A utilização de aulas práticas no ensino de


ciências: um desafio para os professores. Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do
Sul Catarinense, 2, p. 486-495, 2013.

MEGLHIORATTI, F. A.; BRANDO, F. R.; ANDRADE, M. A. B. S.; CALDEIRA, A. M. A. A


interação conceitual no ensino de biologia: uma proposta hierárquica de organização do
conhecimento biológico. In: CALDEIRA, A.M.A.; NABUCO, E.S.N. (org). Introdução a
didática. São Paulo: Escrituras. p. 189-205. 2009.

MENEZES, L. C de.; SOUZA, V. C. de.; NICOMEDES, M. P.; SILVA, N. A. da.; QUIRINO, M.


R.; OLIVEIRA, A. G. de.; ANDRADE, R. R. D. de.; SANTOS, B. A. C. dos. Iniciativas para o
aprendizado de botânica no ensino médio. UFPB, Pró Reitoria de Graduação, Encontro de
Iniciação à Docência, 11, 2009.

PINTO, A. V.; SILVA, C. da C. Importância das aulas práticas na disciplina de botânica.


Cascavel, RS (Trabalho de Conclusão de Curso), 2009.

SANTOS, D. Y. A.; CHOW, F.; FURLAN, C. M. Educação Básica: A Botânica no cotidiano. São
Paulo: Universidade de São Paulo, Fundo de Cultura e Extensão: Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, 2008.124p. il. – (Projeto de Cultura e
Extensão).

SELLES, S. E.; FERREIRA M. S. Disciplina escolar biologia: entre a retórica unificadora e as


questões sociais. In: MARANDINO, M.; FERREIRA, M. S.; AMORIM, A. C.; SELLES, S. E.
(org). Ensino de biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff. Pp. 50-62. 2005.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1497


SILVA, J. N.; LOPES, N. P. G. Botânica no Ensino Fundamental: diagnósticos de dificuldades no
ensino e da percepção e representação da biodiversidade vegetal por estudantes. Revista
Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v.13, n.2, p.115-136, 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1498


DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL

Raquel Bruna CHAVES


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
raquel_chavees@hotmail.com
Jéssica Gonçalves FONSECA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UERN
jessica.jgf@hotmail.com
Larissa Fernandes da SILVA
Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
lfernandes24a12@hotmail.com
Yáskara Fabíola de Monteiro Marques LEITE
Professora Adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho objetivou a adoção de práticas educativas para crianças de 4° ano do ensino
fundamental da Escola Estadual Tertuliano Ayres, localizada no município de Mossoró/RN. As
práticas desenvolvidas foram gincanas e oficinas voltadas para reciclagem e reutilização de
materiais, a princípio os alunos assistiram a uma palestra para tomarem conhecimento de questões
ambientais como o lixo, as consequências de sua destinação incorreta e por fim uma abordagem
sobre coleta seletiva, como reciclar, reduzir e reutilizar. Para obtenção dos resultados a respeito da
aprendizagem dos alunos, questionários foram aplicados e repetidos em períodos de realização das
práticas, assim a correção desses, demonstrou um aumento no nível de compreensão relacionado à
interação das crianças nas gincanas e oficinas.
Palavras-chave: Educação ambiental; reciclagem; reutilizar; materiais; sensibilização.

ABSTRACT
The present work aimed the adoption of educational practices for children 4th grade of elementary
school Tertuliano Ayres State School, located in the municipality of Mossoró/RN. The practices
were developed competitions and workshops geared towards recycling and reusing materials, at
first, the students attended a lecture to become aware of environmental issues such as waste, the
consequences of their incorrect disposal and ultimately an approach on selective waste collection,
how recycle, reduce and reuse. To obtain results about the students' learning, questionnaires were
administered and repeated in periods in which the practices are made, so the correction of these
showed an increase in the level of understanding related to the interaction of the children in the
competitions and workshops.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1499


Keywords: Environmental education; recycling; reuse; materials; awareness.

INTRODUÇÃO

Na Era Moderna, com o advento do processo de industrialização, o desenvolvimento da


sociedade capitalista e a explosão do crescimento populacional mudaram a configuração da
presença humana no planeta e de sua apropriação de recursos naturais (EL-DEIR et al., 2009). Basta
refletir um pouco para perceber os impactos no ambiente em decorrência disso, infelizmente a
humanidade tornou-se consumista e ―cega‖ para entender que os problemas ambientais são
consequências dos atos do próprio homem ao longo de muito tempo.
Ou, ainda mais aprofundada a discussão colocada por McCay e Acheson (1987), quando
ressalta a questão dos comuns, onde todos acabam por sofrer as consequências de um ato de um
grupo. Nas questões socioambientais emergentes, um pensar global precisa tomar lugar do
individualismo pseudomoderno. É de suprema necessidade que, para o ser humano coexistir com a
natureza, ocorram mudanças diretas e indiretas de filosofia de vida, de práticas no cotidiano mais
sustentáveis e, até mesmo, uma mudança no modelo político, econômico, social e, principalmente
ambiental, de sociedade e que tenham o principal objetivo de preservar os recursos naturais ainda
existentes para as presentes e futuras gerações. Essa assertiva está alinhada à visão do Relatório de
Brundtland, da Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMA, 1991), que
preconiza que a sustentabilidade vislumbra suprir as necessidades da geração presente sem afetar a
habilidade das gerações futuras de suprir as suas. Com isso, tem-se a consciência da necessidade de
preservar o meio ambiente, pois a espécie humana está fortemente relacionada a este, dependendo
dele para sobreviver.
Para lidar com as questões ambientais é preciso mudar a forma de lidar com o ambiente,
sendo necessário o desenvolvimento de uma nova concepção do papel do homem em sua relação
com o entorno. Esse processo demanda um investimento em educação ambiental (CARVALHO,
2012; EL-DEIR, 2012). Leonardi (1999) define educação ambiental como processos educativos que
têm por objetivo contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto realização individual
e comunitária e para a autogestão política e econômica, com o objetivo de promover a melhoria do
meio ambiente e da qualidade de vida. E, mais adiante, ―a educação ambiental tem sido vinculada à
formação da cidadania e à reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos,
necessários para a continuidade da vida no planeta‖.
A acelerada destruição dos recursos naturais do Planeta Terra compromete a
sustentabilidade da relação homem-natureza. Nesse sentido, no que tange a resíduos sólidos, adota-
se o conceito dos 3R, que serve para produzir mudanças impeditivas da degradação ambiental:
Reduzir, diminuindo a quantidade de lixo produzido; Reutilizar, descobrindo novas utilidades aos
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1500
materiais considerados inúteis; Reciclar, no sentido de dar ―nova vida‖ aos materiais. São maneiras
dinâmicas de despertar a consciência quanto ao sentimento de pertencimento à nossa terra e
preservação ambiental (SILVA et al, 2012). A reciclagem, nesse contexto, torna-se de fundamental
importância, sendo uma das formas de minimização dos resíduos que seguirão para a destinação
final, especialmente se tratando de resíduos domésticos. O processo de reciclagem exige menor
quantidade de recursos naturais do que o processo industrial da matéria minimiza gastos com a
energia e diminui a quantidade de resíduos que seriam dispostos nos lixões (SILVA et al, 2012).
Então como forma de sensibilização, a temática dos 3R deve ser inserida na educação
ambiental do ensino fundamental utilizando de atividades criativas que possam ser de interesse as
crianças e que contribuam para sua aprendizagem, pois essas precisam ser preparadas
conscientemente para com o ambiente em que vivem, tomando atitudes simples no cotidiano e que
dessa maneira as próximas gerações venham incorporadas em seus costumes ações sustentáveis.
Nesse sentido, o presente trabalho apresenta uma das experiências de educação ambiental
em forma de gincana com oficina, realizada com as crianças do 4º ano fundamental da Escola
Estadual Tertuliano Ayres, com a finalidade de buscar melhor compreensão e aprendizagem dos
alunos através da interação deles no desenvolvimento de práticas educativas.

METODOLOGIA

Local de estudo

O trabalho de educação ambiental foi realizado para alunos de 4° ano de duas salas
identificadas como A e B, da Escola Estadual Tertuliano Ayres, localizada no município de
Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte.

Palestra

Inicialmente, foi realizada uma palestra (Figura 1A), no dia 08 de outubro de 2013 em cada
uma das salas citadas, com um total de 51 crianças, onde foram abordados temas como o lixo, as
consequências de sua destinação incorreta e por fim sobre coleta seletiva, como reciclar, reduzir e
reutilizar.

Questionários

No final da palestra foi distribuído um questionário para cada aluno, com 10 perguntas
abordando assuntos citados na palestra, como por exemplo: O que você entende por meio ambiente?
Quais problemas o lixo pode causar quando jogado na rua? O que significa reciclar?. Após seu
preenchimento foram devolvidos aos palestrantes, esses formulários foram corrigidos e repetidos ao

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1501


final da realização da 3°gincana, o que permitiu a análise do resultado do trabalho se melhorou ou
não a conscientização dos alunos.

Gincana 1- Reciclagem do papel / Oficina 1- Reutilização do papel

A 1ª gincana foi proposta para os alunos como forma de competição entre as duas salas (A e
B), no qual eles tiveram um prazo de um mês para coletar o papel reciclável. Então foi realizada no
dia 07 de novembro de 2013 a pesagem de material realmente em desuso por parte dos participantes
e a partir do resultado foi determinada a sala vencedora, pela maior arrecadação (Figura 1B).
A oficina de reutilização do papel foi realizada no dia 09 de novembro do mesmo ano, que
contou com a participação de aproximadamente 22 crianças, ressaltando que foi utilizado o próprio
material coletado por eles. Nesta fase, as crianças foram convidadas a participar do
desenvolvimento de brinquedos e conhecer de forma descontraída e lúdica, as utilidades dos
materiais recicláveis do cotidiano (Figura 1C). Antes desta atividade, foram expostas várias formas
de reutilização do papel, e foi combinado que para a turma vencedora, seriam entregues um objeto
obtido a partir da reciclagem do papel, escolhido pelos próprios alunos (Figura 1D). Buscou-se
desta forma, destacar para o público presente a importância da redução, reutilização e reciclagem
dos materiais que geralmente são destinados ao lixo, colaborando para a formação de cidadãos com
uma maior sensibilidade do ponto de vista ecológico e social, com o intuito de demonstrar os
benefícios do reaproveitamento de materiais e incentivar a criatividade e a responsabilidade
socioambiental.

Gincana 2- Coleta de óleo de cozinha / Oficina 2- Reutilização do óleo

A gincana da coleta seletiva do óleo e a oficina foram realizadas no dia 26 de fevereiro de


2014 que contou com a participação de aproximadamente 35 crianças. Os alunos coletaram o óleo
de fritura em garrafas pet durante um mês, em suas residências e / ou comunidade (Figura 2A). O
desenvolvimento da oficina objetivou mostrá-los como fazer sabão caseiro a partir do óleo coletado
e enfatizando as consequências do lançamento do óleo no solo e no ralo da pia (Figura 2B). Os
alunos receberam brindes, sendo estes sabões produzidos com o óleo arrecadado e feitos em
forminhas com temas infantis (Figura 2C).

Gincana 3- Reciclagem de garrafa pet / Construção da Horta didática

Para a 3° gincana os alunos também tiveram um mês para coletar as garrafas e no dia 27 de
junho de 2014 foi realizada a contagem das mesmas. As garrafas pet após coleta foram utilizadas na
construção de uma horta didática em pallet (Figura 2D), esta foi construída na casa de vegetação da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e plantadas sementes de legumes, com a finalidade
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1502
de mostrar para as crianças por meio de uma visita uma forma de reutilização simples das garrafas
que podem ser feita em suas casas, bem como os vegetais seriam usados no preparo dos alimentos
para as crianças na cozinha da própria escola.

Figura 01 – Momentos diversos durante a execução da palestra até a entrega do brinde, sendo: A) Momento
da palestra, B) coleta do papel, C) oficina para confecção do brinde e D) entrega do brinde.

Figura 02-A) Coleta do óleo de cozinha, B) Oficina para produção de sabão caseiro, C) Brindes (sabão)
feitos a partir do óleo coletado pelos os alunos, D) Horta didática.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1503


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a aplicação dos questionários após a palestra e as gincanas, pudemos avaliar a


compreensão dos alunos participantes sobre o assunto abordado. Os resultados podem ser
observados na tabela a seguir:

1° APLICAÇÃO 2° APLICAÇÃO
QUESTIONÁRIO
(APÓS PALESTRA) (APÓS 3a GINCANA)
PERGUNTAS ACERTOS ERROS ACERTOS ERROS
1-Destinação correta do lixo. 61% 39% 71% 29%
2-Quais problemas em jogar 78% 22% 93%
o lixo na rua/solo. 7%
3-Destinação correta do lixo 43% 57% 61%
orgânico. 39%
4-O que significa reciclar? 45% 55% 71% 29%

Tabela 1. Resultados do questionário aplicado após a palestra e repetido após a 3a gincana.

As gincanas provocaram a competitividade entre os alunos do 4°ano A e 4°ano B, assim


como a coletividade do trabalho em grupo, principalmente, mostraram-se determinados e puderam
sensibilizar suas famílias e pessoas do bairro onde moram a ajudarem na coleta dos materiais.
Percebeu-se que a gincana do óleo trouxe maior impacto positivo devido os pais das crianças
coletarem diariamente o óleo residual de fritura, evitando o descarte incorreto e possíveis impactos
ao meio ambiente, além do incentivo a coleta seletiva.
Na execução da primeira oficina, foi incorporado o material reciclável papel. Buscou-se
aguçar o estímulo, desde a infância, do comprometimento com o meio ambiente e com os resíduos
que são gerados pelas atividades de cada dia nas residências. Além disso, incentivou-se a
criatividade, a habilidade e a coordenação motora das crianças na confecção do prêmio, que foi
distribuído para os alunos da sala ganhadora, mas que permitiu, pela realização da mesma, que os
alunos da sala perdedora aprendessem a sua confecção.
Pode-se observar o nível de compreensão dos alunos no decorrer do trabalho na escola, no
qual após a 2° aplicação do questionário houve um aumento de 16,5% de acertos na primeira, 19%
na segunda, 42% na terceira e 58% na quarta pergunta, respectivamente. Isso se deve ao reforço do
assunto nas atividades realizadas após a palestra, quando as gincanas e a oficinas puderam
contribuir de forma prática e divertida na conscientização ambiental das crianças. Cabe ainda
ressaltar a mudança de atitudes dos alunos observados pelos professores, como desperdiçar menos
papel dos cadernos e jogarem o lixo corretamente nos baldes coloridos da coleta seletiva que ficam
distribuídos na escola.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1504


CONCLUSÃO
A busca de sensibilizar os alunos das consequências da poluição do lixo e educá-los
apresentando soluções viáveis como a coleta seletiva e reciclagem, só se tornaram mais
compreensíveis quando foram realizadas práticas educativas aliadas ao modelo teórico (palestra),
comprovado pela repetição dos questionários que mostraram bons resultados de aprendizagem
sobre os temas discutidos em sala de aula. Portanto as atividades gincanas e oficinas contribuíram
positivamente no ensino, por possibilitar os alunos a fazerem na prática a coleta de materiais para a
reciclagem e visualizarem formas de reutilização desses.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, E. Representações sociais e práticas cotidianas de trabalhadores e Trabalhadoras


do lixo – a experiência do centro comunitário Santa Terezinha. In: CURY, 2003. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal do Ceará – UFC, 2004. 14 p. Disponível em:
<http://www.prodema.ufc.br/dissertacoes/104.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2012.

CNUMA - Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Nosso Futuro Comum. São Paulo:
Fundação Getúlio Vargas, 1991.

EL-DEIR, S. G.; NEUMANN-LEITÃO, S.; MARANHÃO, A. C. da F. de A. A questão ambiental


como tema transdisciplinar. IN: NEUMANN-LEITÃO, S.; EL-DEIR, S. G. Educação
ambiental: teoria e práticas. Recife: Instituto Brasileiro Pro-cidadania, 10 – 57p. 2009.

LEONARDI, M. L. A. A educação ambiental como um dos instrumentos de superação da


insustentabilidade da sociedade atual In: Meio Ambiente, desenvolvimento sustentável e
políticas públicas. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 391-408.

MCCAY, B. J.; ACHESON, J. A. (ed.). The Question of the Commons. Tucson: University of
Arizona Press, 1987.

SILVA, G. D., PAZ, Y. M., ROCHA, C. M. C. , JACOB, A. L.; EL-DEIR, S.G. Desenvolvimento
de Ações de Responsabilidade Socioambiental Universitária no Semiárido Nordestino. 3rd.
International Worksop advance in Clean Production. São Paulo, 2011. 8p.

SILVA, J. I. S.; GOMES, A. D.; CATÃO, M. J. D.; DINIZ, L. L. et al. Reduzir, Reutilizar e
Reciclar – Proposta de Educação Ambiental para o Brejo Paraibano. II Congresso Brasileiro de
Extensão Universitária. Anais do II Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. 2004.
Disponível em: < https://www.ufmg.br/congrext/>. Acesso em: 09 ago. 2012.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1505


CARAVANA DO MEIO AMBIENTE: SOCIALIZANDO A PRESERVAÇÃO DOS
RECURSOS AMBIENTAIS EM ESCOLA DO BREJO PARAIBANO

Rodrigo Garcia Silva NASCIMENTO


Graduando em Licenciatura em Ciências Agrarias CCHSA/UFPB
rodrigo_garciasilva@hotmail.com
Belísia Lúcia Moreira Toscano DINIZ
Professora orientadora CCHSA/UFPB
belisia.diniz@gmail.com
Alian Cássio Pereira CAVALCANTE
Graduando em Licenciatura em Ciências Agrarias CCHSA/UFPB
cassio.alian216@gmail.com
Antônio Gledson do NASCIMENTO
Graduando em Licenciatura em Ciências Agrarias CCHSA/UFPB
antonio_gledson@yahoo.com.br

RESUMO
A educação ambiental pode ser aplicada de diversas formas, mas com as finalidades de construir
valores sociais, conhecimentos, habilidades e atitudes para a conservação dos recursos ambientais.
Portanto, o objetivo do trabalho foi socializar a preservação dos recursos ambientais através de
aulas discursivas sobre o meio ambiente, desenvolvendo o senso crítico dos estudantes sobre a
conservação dos recursos ambientais. O trabalho foi desenvolvido através do Projeto do Prolicen:
Caravana do Sistema Ar-Água-Solo-Planta pelas Escolas Públicas do Polo da Borborema com
Auxílio da Experimentoteca. Os discentes cursavam o 6º ano ―A‖ e ―B‖ do ensino fundamental na
Escola Municipal Emília de Oliveira Neves, localizada na cidade de Bananeiras-PB. Os
questionários foram aplicados aos alunos após as aulas, abordando questões relacionadas a
economia de água potável e o seu uso doméstico e pessoal; quem seria o principal responsável pela
contaminação dos recursos ambientais a exemplo do solo; a importância das plantas para o meio
ambiente e como a poluição da água, ar e solo prejudicam o planeta. No final de cada aula foi
aplicado um questionário individual com a finalidade de verificar a assimilação dos conteúdos pelos
estudantes. Constatou-se que houve um aumento do conhecimento através da participação nas aulas
discursivas, contribuindo com o desenvolvimento do censo crítico, bem como, foi constatado a
preocupação dos mesmos com a conservação do meio ambiente. Este fato contribui muito, visto que
estas crianças serão as gerações futuras do planeta.
Palavras-chave: Educação ambiental, Espaço escolarizado, Recursos naturais

ABSTRACT

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1506


Environmental education can be applied in various ways, but for the purposes of building social
values, knowledge, skills and attitudes to the conservation of environmental resources. Therefore,
the objective was to socialize the preservation of environmental resources through discursive
lessons about the environment, developing critical thinking of students about conservation of
environmental resources. The work was developed through Project Prolicen: Caravan System Air-
Water-Soil-Plant through Public Schools from Borborema assisted the experimental support. The
students were attending the 6th grade "A" and "B" of the elementary school at the Municipal School
of Emilia Oliveira Neves, located in Bananeiras-PB. The questionnaires were administered to
students after classes, addressing issues related to drinking water and saving your home and
personal use; who would be primarily responsible for the contamination of environmental resources
like the soil; the importance of plants to the environment and how pollution of water, air and soil
damage the planet. At the end of each lesson an individual questionnaire for the purpose of
verifying the assimilation of content by students was applied. It was found that there was an
increase of knowledge through participation in classroom discourse, contributing to the
development of critical census, and was found to concern themselves with the preservation of the
environment. This fact helps a lot, because these children are the future generations of the world.
Keywords: Environmental education, Schooled Space, Natural resources

INTRODUÇÃO

De acordo com Wojciechowski (2006), a educação ambiental surge como uma necessidade
das sociedades contemporâneas, uma vez que as questões socioambientais têm sido cada vez mais
discutidas e abordadas, em decorrência da gravidade da degradação do meio natural e social. De
acordo com a autora a sistematização destas discussões nas instituições de ensino é uma maneira de
oportunizar, aos professores e educandos, uma reflexão crítica da realidade a qual pertencem, desde
o nível local ao global.
Desde muito tempo o homem reconheceu o solo como um elemento fundamental para sua
sobrevivência. Os solos e o estudo dos mesmo tiveram sua importância reconhecida a muito tempo,
quando o homem parou de buscar seu alimento na natureza através da coleta, da caça e da pesca e
passou a utilizado com fins produtivo, deixando assim de ser nômade (MEURER, 2010).
Com o passar do tempo foram desenvolvidas duas formas fundamentais para o estudo de
solo, sendo elas a pedologia e a edafologia. Segundo Castro (2002), a parte da Ciência do Solo que
trata da origem, morfologia, distribuição, mapeamento e classificação dos solos é chamada de
Pedologia. Logo a Edafologia (do grego ―edaphos‖ que significa solo ou terra) é o estudo do solo,
do ponto de vista dos vegetais superiores. O Edafologista é um profissional mais prático pois
considera as diversas propriedades do solo, sempre as relacionando com a produção vegetal e
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1507
animal, visa a produção de alimentos e de fibras, mas ao mesmo tempo precisa ser um cientista para
estabelecer as razões da variação da produtividade dos solos, e descobrir os meios para manter e
melhorar essa produtividade.
O solo é um componente complexo, vivo, dinâmico e em transformação do agroecossistema.
Já em um sentido mais amplo refere-se àquela porção da crosta da terra onde as plantas estão
fixadas (GLIESSMAN, 2009). Mais especificamente o solo é aquela camada superficial da terra,
misturada com organismos vivos e os produtos de suas atividades metabólicas e de decomposição
(ODUM, 1969).
A Educação Ambiental voltada para a escassez dos recursos hídricos é de extrema
importância, visto que conforme dados da UNESCO, o Brasil é o país mais rico do mundo em
recursos hídricos com 6,2 bilhões de metros cúbicos de água doce, 17% do total disponível no
planeta (ROCHA, 2009). Ela é o elemento necessário para todas as atividades produtivas, e parte
fundamental do desenvolvimento das civilizações. É denominado ―recurso hídrico‖ quando referida
como bem de viabilidade econômica.
A água é de fundamental importância para a vida de todas as espécies. Aproximadamente
80% de nosso organismo é composto por água. Boa parte dos pesquisadores concorda que a
ingestão de água tratada é um dos mais importantes fatores para a conservação da saúde, sendo
considerada o solvente universal, auxiliando na prevenção das doenças (cálculo renal, infecção de
urina) e proteção do organismo contra o envelhecimento.
A partir de meados do século XVIII, com a Revolução Industrial, aumentou muito a
poluição do ar. A queima do carvão mineral despejava na atmosfera das cidades industriais
europeias, toneladas de poluentes. A partir deste momento, o ser humano teve que conviver com o
ar poluído e com todos os prejuízos advindos deste "progresso". Atualmente, quase todas as grandes
cidades do mundo sofrem os efeitos daninhos da poluição do ar. Cidades como São Paulo, Tóquio,
Nova Iorque e Cidade do México estão na lista das mais poluídas do mundo.
As plantas, também chamadas de vegetais, são seres vivos, já que nascem, crescem e
morrem. Além disso, possuem capacidade de reprodução, ou seja: de dar origem a novas plantas.
Vegetais podem ser encontrados no solo (terrestres), na água (aquáticos), ou presos nos galhos de
outras plantas ou em cercas (aéreos). Quanto ao tipo de clima, podem ser encontrados desde em
desertos até em regiões do planeta ricas em gelo.
Partes de plantas são utilizadas pelo homem com fins como construção de objetos com a
madeira (retirada do tronco das árvores) e a fabricação de papel e de remédios. Além disso, plantas
inteiras ou suas flores são usadas para embelezar jardins, canteiros e praças. Assim, faz-se
necessário à busca de uma nova reflexão no processo educativo, onde o agente escolar passe a
vivenciar essas transformações de forma a beneficiar suas ações podendo buscar novas formas
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1508
didáticas e metodológicas de promoção do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem com
isso ser colocado como mero expectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas um
instrumento de enfoque motivador desse processo.
A escola deve despertar a conscientização ambiental das crianças, para que elas venham a
ser os multiplicadores da preservação e conservação dos recursos ambientais, promovendo hábitos
de reflexão conscientes. Atualmente a quantidade de água é suficiente para atender toda a
população, porém o que se torna um problema é o uso exagerado e inconsciente desse recurso, pois
no futuro pode acabar e não ter como ser desfrutado pelas futuras gerações (CAVALCANTE et al.,
2013).
A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para formação de
cidadãos conscientes, prontos para atuarem de modo comprometido em suas realidades
socioambientais. Para isso, é necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com
formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos que levem à
conscientização sobre a importância do Meio Ambiente (BRASIL, 1996). Ademais, Roeder (2003)
diz que a qualidade de vida está influenciada pelo ambiente, e este engloba relações sociais,
culturais, biológicas e ecológicas, formando, assim, um contexto com o ser humano, o qual há a
possibilidade de tanto o homem quanto o ambiente serem modificados ou transformados.
Uma soberania menos egoísta dos Estados e mais solidária no aspecto ambiental, com a
incorporação de sistemas mais efetivos de cooperação entre Estados, em face das exigências de
preservação ambiental‖ é fato evidentemente necessário (LEITE, 2002, p. 169).
Como nos ensina Diegues (2004), a sociedade através de atos conscientes de preservação
deve saber que a terra não pertence ao homem, mas sim, este pertence à terra.
Portanto o objetivo do trabalho foi socializar a preservação dos recursos ambientais através
de aulas discursivas sobre o meio ambiente, desenvolvendo o senso crítico dos estudantes sobre o
sistema ar-água-solo-planta.

MATÉRIAL E METADOS

O trabalho foi desenvolvido por meio do Projeto: Caravana do Sistema Ar-Água-Solo-Planta


pelas Escolas Públicas do Polo da Borborema com Auxílio da Experimentoteca. Esse material foi
cedido ao Programa de Licenciatura (PROLICEN) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Campus III/Bananeiras-PB, pela Universidade de São Paulo (USP). Sendo desenvolvido através de
aulas teórico-práticas acompanhadas de exercícios no final de cada aula para verificação da
assimilação dos conteúdos. O trabalho foi desenvolvido com estudantes do 6º ano ―A‖ e ―B‖ do
ensino fundamental na Escola Municipal Emília de Oliveira Neves, localizada na cidade de
Bananeiras-PB.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1509
O trabalho foi desenvolvido através de questionários aplicados aos discentes, contendo 10
questões somente objetivas, sobre os recursos ambientais do planeta. Segundo Parasuraman (1991),
um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para gerar os dados necessários para
se atingir os objetivos do projeto. Embora o mesmo autor afirme que nem todos os projetos de
pesquisa utilizam essa forma de instrumento de coleta de dados, o questionário é muito importante
na pesquisa científica, especialmente nas ciências sociais.
Os questionários foram aplicados aos alunos após as aulas, abordando questões relacionadas
a economia de água potável e o seu uso doméstico e pessoal; quem seria o principal responsável
pela contaminação dos recursos ambientais a exemplo do solo; a importância das plantas para o
meio ambiente e como a poluição da água, ar e solo prejudicam o planeta. No final de cada aula foi
aplicado um questionário individual com a finalidade de verificar a assimilação dos conteúdos pelos
estudantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sobre a preocupação dos educandos sobre a economia da água (Figura 1) 44% dos discentes,
mostraram-se estar preocupados, e agindo sobre este tema. Porém esse indício, é menor do que
aqueles que responderam que se preocupavam ―um pouco‖ com 56%, podendo verificar neste caso
a falta de incentivo através da educação ambiental.

Sempre Nunca Um pouco

44%

56%

0%

Figura 1: Você se preocupa em economizar água?

Em trabalho realizado Tussi & Nishijima (2011) na Escola Municipal Bom Pastor no
município de Panambi-RS, os estudantes também apresentaram questionamentos que ajudam na
economia da água no cotidiano da sociedade na busca pela preservação da vida e dos recursos
ambientais existentes no meio ambiente.
Na Figura 2, os estudantes quando perguntados sobre a contaminação do solo pelo homem,
foram praticamente unânimes, onde 96% responderam que o homem contamina o solo, e 4% que
não. O crescimento da população humana e sua concentração em núcleos urbanos aumentam a
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1510
demanda de alimentos e outros produtos derivados da agricultura, com maior geração de resíduos,
contaminação dos recursos solo e água e redução da biodiversidade, além da falta de planejamento e
controle na ocupação do solo no processo de expansão das áreas agrícolas e das cidades.
Considerando o aumento da população e consequentemente uma maior poluição dos
recursos ambientais, através da produção e acúmulo de lixo desordenado e exposto diretamente ao
meio ambiente, esgotos sanitários lançados diretamente na natureza e o uso indiscriminado de
agrotóxicos na agricultura (SILVA et al., 2013). Por isso busca-se nos dias atuais produzir com
sustentabilidade através da agricultura sustentável que é um estilo de agricultura de base ecológica
que atendam a requisitos de solidariedade entre as gerações atuais e destas para com as futuras
gerações, o que alguns autores chamam de uma ―ética da solidariedade‖ (BARROS et al., 2012).

Sim Não Nunca

0%

4%

96%

Figura 2: O solo é contaminado pelo o homem?

As plantas são responsáveis por remover aproximadamente 5% do fósforo e 5 a 10% do


nitrogênio aplicados nos alagados construídos. Podem também promover a oxigenação do meio
filtrante, visto que podem liberar oxigênio para os rizomas e raízes por meio de aerênquimas. O
fluxo do gás nas plantas é direcionado por processos de difusão e/ou fluxos intensos de convecção
induzidos por regiões de alta e baixa pressão de O2. O oxigênio transportado e que não é consumido
durante a respiração celular das raízes e rizomas é difundido constantemente para a rizosfera
(STOTTMEISTER et al., 2003).
Observa-se na Figura 3, que os discentes têm o conhecimento que a planta ajuda a diminuir
a poluição do planeta, onde 76% responderam corretamente a pergunta, 20% responderam
desmatamento e 4% alimento. Podendo assim, observar o conhecimento dos mesmos, que em sua
grande parte já obtém noção muito importante para a sociedade futura.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1511


Poluição Desmartamento Alimento

4%
20%

76%

Figura 3: O que as plantas ajudam a diminuir no planeta?

Onde as plantas retiram os nutrientes dissolvidos e outros poluentes da água, usando-os para
produzir biomassa vegetal adicional. Os nutrientes e poluentes movem-se pelo corpo da planta
sendo conduzidos a órgãos de armazenamento subterrâneos. Quando as plantas senescem, esses
compostos são depositados nos sedimentos do fundo e no próprio meio filtrante (DORNELAS,
2008).
Essa concentração industrial engendra problemas de poluição do ar e da água, gerando
situações de graves riscos à saúde da população, sobretudo para as famílias mais pobres que passam
a residir exatamente nos lugares mais poluídos. Desse modo, os efeitos da degradação ambiental
não são distribuídos igualmente pelo conjunto da população (GONÇALVES, 1995). Conforme
constata-se na Figura 4, os estudantes responderam com 88%, que a poluição prejudica a terra,
sabendo eles que os recursos naturais são de tamanho importância para a população mundial. Porém
ainda existe alunos que responderam que a poluição não prejudica a terra com 12% dos alunos.

Sim Não Nunca

0%
12%

88%

Figura 4: A poluição da água, ar, solo e plantas prejudicam o planeta?

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1512


Assim podemos constatar que os alunos, ainda com pouca idade já tem a noção do que causa
a poluição a terra, e com isso formando mentes críticas e conscientes sobre a preservação ambiental.
Buscando a adoção de práticas mais amigáveis com a natureza, transformações e novos
comportamentos. Diante disso, não podemos deixar de inserir a educação ambiental quando falamos
em agroecologia, pois ambas surgem da necessidade de mudanças, adoção de novos estilos de vida
que tragam melhor qualidade de vida, conservação da biodiversidade e geração de trabalho, em um
sistema econômico mais justo (CRIVELLARO, et al. 2008).
Relacionado a água quando perguntando sobre a economia da mesma, 68% dos estudantes
responderam sim que buscam economiza-la, outros 20% responderam não, e 12% responderam de
vez em quando (Figura 5). Assim foi constatado nos discentes, que os mesmos têm a noção básica
sobre preservação da água.

Sim Não de vez em quando

12%

20%

68%

Figura 5: Ao utilizar água você busca economiza-la?

Em trabalho realizado Cavalcante et al. (2013) quando indagados se a água potável pode
acabar, os educandos afirmam que sim, por isso deve-se preservar independente da atividade que
esteja realizando com a mesma. Confirmando assim que educação ambiental é muito importante
para a sociedade, principalmente para as novas gerações, por serem o futuro do planeta.

CONCLUSÕES

Neste trabalho incentivou-se a importância da preservação dos recursos ambientais,


constatando-se que os educandos estão preocupados com a conservação do mesmo. Este fato
contribui muito com a conservação destes recursos, pois as crianças serão as gerações futuras do
planeta.

REFERÊNCIAS

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1513


BARROS, L. C. de. DAMBROS, G.; MACHADO, D. T. M. Agroecologia na escola:
desenvolvimento de atividades agroecológicas na rede pública de ensino de Cachoeira do Sul,
RS. Revista Monografias Ambientais, v. 5, n. 5, p. 1032 – 1037, 2012.

BRASIL. Lei Nº 9394 de 20 de dezembro de 1996.Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em:
13 set. 2014, 10:55:50.

CAVALCANTE, A. C. P.; DINIZ, B. L. M. T.; SILVA, A. G. da. CAVALCANTE, A. P.


Preservação dos recursos ambientais água e solo: promovendo a sensibilização ambiental na
escola João Paulo II, Bananeiras-PB. Revista Monografias Ambientais, v. 13, n. 13, p. 2851 -
2856, 2013.

CASTRO, B. A. C., Caracterização Geotécnica de Solos da Região Central de Minas Gerais para
Aplicação em Obras Rodoviárias, Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro,
Brasil 2002.

CRIVELLARO, C. V. L; CASTELL, C. H. G. P; SILVEIRA, I. M. L; SILVA, K. G; CARVALHO,


R. V; GROSSKOPF, T. A. C. Agroecologia: um caminho amigável de conservação da natureza
e valorização da vida. Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental – NEMA. Rio Grande:
NEMA, 2008.

DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 2004.

DORNELAS, F. L. Avaliação do desempenho de wetlands horizontais subsuperficiais como pós-


tratamento de efluentes de reatores UASB. 2008. 115p. Dissertação (Mestrado em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
Gerais. 2008.

GLIESSMAN, S. R., Agroecologia: processos ecológicos em agriculturas sustentável, 4 em. Porto


Alegre: ed Universidade/ UFRGS, 2009.

GONÇALVES, J. L. M. Efeito do cultivo mínimo sobre a fertilidade do solo e ciclagem de


nutrientes. In: SEMINÁRIO SOBRE CULTIVO MÍNIMO DO SOLO EM FLORESTAS, 1.,
1995, Curitiba. Anais... Piracicaba: CNPFloresta, IPEF, UNESP, SIF, FUPEF, 1995. p. 43-62.

LEITE, J. R. M.; AYALA, P. A. Direito ambiental na sociedade de riscos. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2002.
LEPSECH, I. F., Solos - formação e conservação, 2 ed. São Paulo, 1977, p. 7/8.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1514


MEURER, E. J.,Fundamentos de química do solo, 4 ed. Porto Alegre, MG, 2010, p. 11.

ODUM, E. P. The strategy of ecosystem development.Science, v. 164, 1969, p. 170.

PARASURAMAN, A. Marketing research. 2. ed.Addison WesleyPublishing Company, 1991.

ROCHA, Julio Cesar. ROSA, Andre Henrique. CARDOSO, Arnaldo Alves. - Introdução à química
ambiental. - 2. ed, Porto Alegre; Bookmam, 2009.

ROEDER, Maika Arno. Atividade física, saúde mental e qualidade de vida. Rio de Janeiro: Shape,
2003.

SILVA, F. L. R. A educação ambiental nos cursos de licenciatura do estado de São Paulo. Revista
Universidade Guarulhos. Vol. VI, fev, p. 19-28, 2001.
SILVA, A. G. da.; SILVA, M. J. R. da.; CAVALCANTE, A. C. P.; DINIZ, B. L. M. T. de.
Educação ambiental e a agroecologia: uma prática inovadora no processo educativo no
educandário aprendendo a aprender, Bananeiras – PB. Revista Monografias Ambientais, v. 13,
n. 13, p. 2818 - 2827, 2013.

STOTTMEISTER, U.; WIEßNER, A.; KUSCHK, P.; KAPPELMEYER, U.; KÄSTNER, M.;
BEDERSKI, O.; MÜLLER, R.A.; MOORMANN, H. Effects of plants and microorganisms in
constructed wetlands for wastewater treatment. Biotechnology Advances, v.22, n.1–2, p. 93-117,
2003.

TUSSI, D. E. K.; NISHIJIMA, T. Educação ambiental no ensino público formal e a sensibilização


para o valor e importância da água. Revista Monografias Ambientais. v.4, n.4, p. 758-772,
2011.

WOJCIECHOWSKI, T. Projetos de Educação Ambiental no Primeiro e no Segundo Ciclo do


Ensino Fundamental: Problemas Socioambientais no Entorno de Escolas municipais de
Curitiba, Dissertação Programa de Pós-Graduação em Educação Setor de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande, Curitiba: 2006.

ZIMBACK, C. R. L., Formação dos solos, Botucatu, São Paulo, 2003.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1515


CONTRIBUIÇÃO DA SEMANA DO MEIO AMBIENTE NA PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: ATUAÇÃO DO PIBID/BIOLOGIA
NO COLÉGIO ESTADUAL WILSON GONÇALVES, CRATO – CE

Sebastiana Micaela Amorim LEMOS


Graduanda do curso de Ciências Biológicas da URCA
micaela_lemos@hotmail.com
Maria das graças de SOUZA
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da URCA
gracinhag1@hotmail.com
Rivânia Silva ALVES
Professora do Colégio Estadual Wilson Gonçalves
rivaniasalves@hotmail.com
Hênio do Nascimento MELO JÚNIOR
Professor do Departamento de Ciências Biológicas da URCA
heniolimnologia@yahoo.com.br

RESUMO
A semana do meio ambiente no Colégio Estadual Wilson Gonçalves, realizada pelos bolsistas do
PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) do curso de Ciência Biológicas
da Universidade Regional do Cariri – URCA, teve o intuito de incentivar a conscientização
ambiental dos discentes na busca pela formação crítico-social dos mesmos e despertar a percepção
ambiental dos alunos promovendo mudanças na prática de atitudes e valores no meio ambiente em
que vivem. Através de questões sobre o meio ambiente, em especial, a reciclagem e a reutilização,
adquirido maior conhecimento sobre a área, desenvolvendo cada vez mais a aprendizagem e a
formação de alunos críticos, conhecedores da atualidade em que vivem e formuladores de soluções
para os problemas sobre o meio ambiente. O método utilizado, neste trabalho, foi à pesquisa-ação,
de forma qualitativa elaborando um estudo através de livros, pesquisas publicadas em sites e artigos
científicos e quantitativa na análise dos questionários respondidos pelos alunos do ensino médio
aplicados antes e após a semana do meio ambiente na escola. Este trabalho envolveu alunos das três
séries do ensino médio da referida escola dos turnos da manhã e tarde. Foram realizadas atividades
práticas e teóricas sobre o tema meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Os resultados foram
esclarecedores demostrando que cada vez mais a escola deve envolver os alunos nas questões
ambientais, enfatizando a problematização na busca por formação de alunos com uma consciência
reflexiva.
Palavras-chave: Educação ambiental. Conscientização. Escola. Percepção ambiental.

ABSTRACT

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1516


The environment week in State College Wilson Gonçalves, performed by fellows PIBID
(Scholarship Program Initiation to Teaching) Course of Biological Science University Regional
Cariri - URCA, aimed to encourage environmental awareness of students in search for critical-
social training to them and raise environmental awareness of students promoting changes in
attitudes and practice of values in the environment in which they live. Through issues on the
environment, in particular the recycling and reuse, acquired greater knowledge about the area,
developing increasingly learning and the formation of critical students, connoisseurs of today in
which they live and policy solutions to the problems on the environment. The method used in this
work was to action research qualitatively elaborating a study through books, published research on
websites and articles in scientific and quantitative analysis of questionnaires filled out by high
school students applied before and after the middle of the week environment at school. This
involved students from three high school of that school the morning and afternoon. Theoretical and
practical on the topic environment and sustainable development activities were carried out. The
results were enlightening increasingly demonstrating that the school should involve students in
environmental issues, emphasizing the problematic search for the education of students with a
reflective consciousness.
Keywords: Environmental Education. Awareness. School. Environmental perception.

INTRODUÇÃO

Diante dos impactos ambientais tão discutidos atualmente vê-se a necessidade de alertamos
acerca desse fato mobilizando-nos sobre o problema e buscando medidas que possam amenizá-lo,
logo para divulgar tal problema nada mais importante que através da educação ambiental.

A Lei nº 9 795/ 1999 que entrou em vigor em 27 de abril de 1999 entende que a educação
ambiental é essencial e precisa estar no processo educativo e também no engajamento da
sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. Por meio de relações
cotidianas práticas, questionadoras, crítica e inovadora, visando o bem comum, pensando
nas resoluções de problemas globais e agindo localmente em busca de alternativas para
toda a humanidade. (MOURA; PACIFICO, 2010).

A presença da educação ambiental na escola ainda é muito recente, observa-se que há


necessidade de uma evolução em relação aos temas transversais, pois a educação é um sistema
aberto ao meio sócio-cultural-político-econômico, isto é, cada vez mais exige-se conhecimento
sobre os temas transversais buscando relacioná-lo aos conteúdos aplicados em sala de aula.

O surgimento desse novo saber permite a construção de uma nova racionalidade ambiental
fundada na produtividade ecológica (e não no produtivismo economicista) e na hibridização
cultural, reconstruindo conhecimentos, saberes e práticas a partir da crítica da racionalidade
formal e instrumental da civilização moderna. (FIGUEIRÓ, 2011).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1517


A escola nesse contexto tem um papel fundamental pelo fato de ser um meio de divulgação
que abrange uma ampla diversidade de representações sociais com modos de vida distintos, porém
que interagem no mesmo espaço, ampliando a percepção ambiental dos alunos formando cidadãos
conscientes e críticos diante das situações que os rodeiam.

[...] a escola é o espaço social e local onde o aluno dará sequência ao seu processo de
socialização. O que nele se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a
sociedade deseja e aprova comportamentos ambientalmente ―corretos‖ devem ser
aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de
cidadãos responsáveis. (RODRIGUES; FEIXO, 2009).

Apesar da importância em divulgar a educação ambiental no meio escolar, esse tema ainda é
muito pouco discutido sendo evidenciado pela escola como disciplina extra curricular e divulgado
apenas em semana de meio ambiente, quando é realizada nas escolas, através de palestras, por
exemplo, quanto mais o assunto abordado fazer parte da realidade do aluno melhor será seu
desenvolvimento na aprendizagem.

Apesar dos quase vinte e quatro anos percorridos, desde a promulgação da Carta
Constitucional de 1988, percebemos que os movimentos transformadores, no sentido de
incorporar a EA e CTS nas práticas escolares, dão-se a passos lentos na Educação Básica. O
que ainda se observa são propostas pontuais, desarticuladas, reforçando a memorização, a
transmissão de conhecimentos prontos e acabados, de forma fragmentada. (Machado, P. F.
L; et al; 2012).

Observa-se que existe dificuldade em adicionar a educação ambiental no currículo escolar,


pois refere-se a um tema transversal que necessita da interdisciplinaridade e de um tempo de
dedicação na abordagem do tema, assim esse tema tão importante é tratado apenas como disciplina
extra classe de forma resumida e passageira.

Dessa forma, pode se dizer que apesar dos desafios e dificuldades enfrentados na educação,
desenvolver a educação ambiental na escola, significa ampliar o entendimento acerca do
que é o meio ambiente, no entanto para que isso ocorra, é necessário o engajamento de
todos que se envolvem no processo educacional para que de fato se obtenha resultados
positivos. [...] (ZAMPEZE; STROHSCHOEN, 2013).

O aprendizado sobre a educação ambiental construído na escola, no que diz respeito a


preservação e valorização do meio ambiente, mesmo que superficiais, é responsável pela formação
e desenvolvimento de cidadãos preocupados com o meio ambiente e com mudanças em sua
realidade. Essas atividades pedagógicas interagem o aluno em seu cotidiano e através da
interdisciplinaridade interliga o meio natural e social.

A escola deve ser o espaço de análise e de descoberta de novas possibilidades de vida, onde
através de atividades específicas o professor leva os estudantes a perceber o mundo
complexo em que vive e identifique as ideologias circundantes no discurso presente em
distintos espaços sociais no qual circula. (SILVA; CALIXTO, 2013).

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1518


Diante da necessidade da realização de atividades pedagógicas voltadas a educação
ambiental os bolsistas do PIBID/Biologia/URCA realizaram a semana do meio ambiente no
Colégio Estadual Wilson Gonçalves, município de Crato, Ceará, no intuito de contribuir no
processo de ensino-aprendizagem dos alunos e para o exercício da cidadania estimulando a ação e
percepção sobre as questões ambientais, além de promover mudanças práticas de valores e atitudes
quanto ao meio em que vivem, conscientizando-os sobre a importância da educação ambiental na
escola.

[...] o ensino sobre o meio ambiente deve contribuir principalmente para o exercício da
cidadania, estimulando a ação transformadora, além de buscar aprofundar os
conhecimentos sobre as questões ambientais de melhores tecnologias, estimular as
mudanças de comportamentos e a construção de novos valores éticos menos
antropocêntricos [...] (BERNA, 2007).

Sendo assim, o presente artigo tem como finalidade avaliar a importância da inserção da
educação ambiental na prática pedagógica, investigando dentro do âmbito escolar a influência da
educação ambiental como um dos mecanismos de formação de cidadãos ecologicamente
conscientes diante da sociedade de consumo em que vivemos.

METODOLOGIA

O trabalho trata-se de uma pesquisa-ação de cunho qualitativo e quantitativo, realizada no


Colégio Estadual Wilson Gonçalves localizada no município de Crato no estado do Ceará.
A semana do meio ambiente foi realizada na escola no mês de maio de 2014, nos dias 19, 20
e 21 nos turnos da manhã e tarde no contra turno das aulas dos alunos das três series do ensino
médio.
Os minicursos desenvolvidos no evento foram: a reciclagem do papel; a reutilização do óleo
de cozinha e o muro ecológico. No primeiro momento foi realizado atividade teórica sobre o tema
meio ambiente e desenvolvimento sustentável e no segundo momento a realização das atividades
práticas dos minicursos.
Para avaliar o desempenho do trabalho realizado no colégio foi aplicado um questionário
direcionado aos alunos antes e após a semana do meio ambiente na escola. As perguntas de ambos
os questionários eram todas objetivas cujas alternativas eram sim ou não.
O primeiro questionário, representado pela figura 1, composto de dez perguntas, aplicado
antes da semana do meio ambiente foram respondidos por alunos de ambos os sexos de todas as
séries do ensino médio dos turnos da manhã e da tarde que demonstraram interesse em participar do
evento. O segundo questionário, representado pela figura 2, contendo seis perguntas, foi aplicado
após a realização da semana do meio ambiente e foram respondidos apenas pelos que realmente
participaram da semana do meio ambiente na escola.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1519


O primeiro questionário foi respondido por 94 alunos, cujas perguntas estavam voltadas ao
conhecimento dos alunos sobre educação ambiental, preservação ambiental, consciência ambiental,
reciclagem e reutilização, se conheciam os termos e se já realizaram práticas abordando reciclagem
e reutilização de materiais. O segundo questionário foi respondido por 37 alunos, as perguntas
abordavam os temas sobre a contribuição da semana do meio ambiente na ampliação da percepção
ambiental dos alunos, a ampliação dos conhecimentos dos alunos através da realização das oficinas
da reciclagem do papel, da reutilização do óleo e a decoração do muro da escola com plantas
ornamentais e saber principalmente a importância que a semana do meio ambiente teve em relação
ao conhecimento dos alunos e se gostariam que o tema fosse abordado mais vezes na escola.

Figura 1: Questionário aplicado antes da Semana do Meio Ambiente.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1520


Figura 2: Questionário aplicado após a Semana de Meio Ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Logo após a realização das atividades os questionários foram analisados e discutidos,


embora apresente um resultado satisfatório o número de alunos que fizeram a inscrição para
participarem da semana do meio ambiente é bem maior que a quantidade de alunos que realmente
participaram dos minicursos, pela não obrigatoriedade de presença e por ter sido desenvolvido no
contra turno.
Os resultados dos questionários foram organizados em forma de tabelas representado a
porcentagem de alunos de acordo com as respostas. A tabela 1 representa o resultado do
questionário aplicado antes da semana do meio ambiente na escola, a maioria das respostas
refletiram positivamente. A tabela 2 representa os resultados do questionário aplicado após a
semana do meio ambiente.
Na tabela 1, em relação ao conhecimento dos alunos sobre educação ambiental é
considerado importante pela maioria, cerca de 90%, já ouviram falar do tema, assim como
considerar importante discutir sobre preservação ambiental enfatizada por todos os entrevistados.
TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1521
O arcabouço epistemológico do qual derivam as vertentes conservacionistas e
interacionistas da educação Ambiental, de um modo ou de outro, reafirmam a condição
científica do campo de conhecimento, situando a relação sujeito-objeto coerentemente com
as principais concepções de ciência e revela uma migração importante da concepção
empírica para a concepção construtivista. (CLAUDINO, 2013).

Em relação a consciência ambiental dos alunos nas atividades do dia a dia foi representado
por 86% das respostas mostrando que a escola possui alunos conscientes sobre os problemas
ambientais e preocupados em conservar o meio ambiente.
Para Huss e Anjos, 2013, O aluno, como qualquer outro cidadão, tem a necessidade de
adotar práticas que preservem o ambiente para as presentes e futuras gerações.

1º Você já ouviu falar em E. A.? Responderam sim Responderam não Sem resposta
90% 10% 0%
2º Consideras importante falar de
preservação ambiental? 100% 0% 0%
3º Você tem consciência ambiental?
86% 14% 0%
4º Você sabe o que é reciclagem? 98% 2% 0%
5º Você já fez reciclagem? 45% 55% 0%
6º Já ouviu falar em reutilização de
matérias? 93% 7% 0%
7º Você reutiliza algum material? 54% 46% 0%
8º A escola aborda o tema sobre meio
ambiente? 79% 19% 2%
9º A escola pratica E. A.? 50% 49% 1%
10º A escola desenvolve práticas de E.
A.? 100% 0% 0%
Tabela 1: Resultados do questionário aplicado antes da semana do meio ambiente realizada no
Colégio Estadual Wilson Gonçalves.

As formas sustentáveis aplicadas ao dia a dia são vistas satisfatoriamente pela maioria dos
alunos, que apesar de alguns nunca terem praticado atividades ligadas a esse tema, como a
reciclagem e reutilização. No entanto, alguns alunos informaram que utilizam algum tipo de
material reciclado e/ou reutilizado em casa.
De acordo com as respostas dos alunos a escola retrata muito bem o tema sobre educação
ambiental, realizando práticas e incentivando a formação de cidadãos conscientes de suas práticas e
de seu convívio no meio ambiente.

A escola que educa através de todos os seus espaços é uma escola que mobiliza toda a sua
estrutura para a condução de fazeres pedagógicos que se ampliam dos espaços de sala de
aula e adentram a alma da escola, desde a forma como os alunos são recebidos no portão de
entrada até a forma como cuida dos resíduos produzidos em seu interior. (SILVA, 2007).

1º A semana do meio ambiente contribuiu em sua Responderam sim Responderam não


percepção ambiental? 100% 0%

2º Foi importante a realização as oficinas? 100% 0%


3º As oficinas contribuíram em seus
conhecimentos sobre conservação ambiental? 100% 0%

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1522


4º Foi importante a realização da reciclagem e
reutilização nas oficinas? 100% 0%
5º A semana do meio ambiente ampliou seus
conhecimentos sobre temas ambientais? 97% 3%
6º Gostaria que fosse desenvolvida mais
atividades sobre meio ambiente? 100% 0%
Tabela 2: Resultados do questionário aplicado após da semana do meio ambiente realizada no
Colégio Estadual Wilson Gonçalves.

De acordo com os alunos participantes a semana do meio ambiente teve resultados positivos,
todos que participaram demostraram que o evento contribuiu quanto a melhoria da percepção
ambiental, ampliando os conhecimentos sobre sustentabilidade, assim como outros temas
ambientais (Tabela 2).

É necessário que se forme uma consciência transformadora e crítica sobre os que nos é
imposto para que possa motivar e construir a mesma nos alunos, onde é necessário
quebraram uma grande barreira que é construída, a todo momento, pelo sistema econômico
em qual estamos inseridos. [...] (SEABRA, et al, 2013).

Todos os participantes afirmaram que a realização das oficinas foi de grande importância
para o conhecimento cientifico dos temas abordados como a reciclagem e a reutilização despertando
o interesse pelo meio ambiente assim como pela sua conservação mudando o comportamento e o
pensamento crítico dos alunos.

A experiência de criar e implementar uma metodologia educacional para fins de


preservação do meio ambiente revelou, sobretudo, cenário e vivencias riquíssimas de
aprendizado sobre a docência e sobre os diferentes tipos de interações que podem existem
entre pesquisadores, educadores, alunos e comunidades como um todo. Interações essas que
promoveram mudanças de comportamento diante da vida, do cotidiano. (BONOTTO,
2009).

Todos os alunos que responderam ao questionário afirmaram que os bolsistas do


PIBID/Biologia devem continuar as atividades sobre educação ambiental e demais temas que
envolvam o meio ambiente pela grande contribuição dada aos alunos ampliando seus
conhecimentos sobre o tema.

Quando o aluno participa diretamente do seu trabalho ambiental ele acaba se envolvendo de
tal maneira que o seu comportamento e a sua visão mudam cada vez mais com o meio
ambiente. (SANTOS; SANTOS, 2014).

CONCLUSÃO

Foi possível observar que a atividade contribuiu para o desenvolvimento de cidadãos


preocupados com a sociedade em que vivem. O trabalho de educar ambientalmente proporcionou
mudanças de conceitos, concepções e atitudes do educando e do educador que são os principais
agentes multiplicadores de saberes, produzindo competências e habilidades sobre o assunto
abordado.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1523


Foi de grande importância trabalhar esse tema na escola, especialmente, pelo engajamento
dos alunos aos temas ambientais. Tanto os estudantes como os professores externaram o anseio de
que outras atividades relacionadas ao tema estejam cada vez mais presentes no ambiente escolar
pela proporção significativa do conhecimento e pelos pontos positivos construídos e enfatizados.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. A. B.; KNOREK, R. O desenvolvimento regional sob a ótica da sustentabilidade: uma


reflexão sobre a economia e o meio ambiente. Ágora: Revista de Divulgação Científica. No. 2, v.
17. 2010.

ANDERSON POLLI, A.; SIGNORINI, T. A inserção da educação ambiental na prática


pedagógica. Ambiente e Educação. No. 2, v. 17. 2012.

BAGNOLO, C. M. Empresariado e ambiente: algumas considerações sobre a educação ambiental


no espaço escolar. Ciência e Educação. No. 2, v. 16. 2010.

BERNA, V. S. D. Como fazer Educação Ambiental. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2007.

BONOTTO, D. M. B. A abordagem local e global da educação ambiental nas séries iniciais do


ensino fundamental a partir de uma pesquisa colaborativa. Revista Brasileira de Educação. No.
4. Cuiabá. 2009.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9 795. Política Nacional de Educação Ambiental. Diário
Oficial. 27 de abril de 1999.

BRONDANI, C. J.; HENZEL, M. E. Análise sobre a conscientização ambiental em escolas da rede


municipal de ensino. Revista Brasileira de Educação. V. 5. 2010.

CLAUDINO, O. R. Educação Ambiental como prática de ensino: intercurso institucional e


conceitual. Educação Ambiental: conceitos e aplicações. João Pessoa: UFPB, 2013.

FIGUEIRÓ, A. S. A educação ambiental em tempos de globalização da natureza. V. 6. 2011.

GAMA, L. U.; BORGES, A. A. da. Educação ambiental no ensino fundamental: A experiência de


uma escola municipal em Uberlândia (MG). Revista Brasileira de Educação. V. 5. 2010.

HUSS, E. de A.; ANJOS, B. de J. dos; Reflexões acerca da educação ambiental. REVISTA


ELETRÔNICA PRO-DOCÊNCIA/UEL. No. 5, v. 1, jul-dez. 2013.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1524


JÚNIOR, A. F. N.; GONÇALVES, L. V. Oficina de jogos pedagógicos de ensino de ecologia e
educação ambiental como estratégia de ensino na formação de professores. Revista Práxis. No.
9, ano V, junho. 2013.

LIMA, M. K., et al. Consciência ambiental e integração comunitária. XI Congresso Nacional de


Educação EDUCERE. Curitiba. 2013.

MOURA, S. de P. R.; PACIFICO, E. da S. N. O que os professores precisam saber sobre a


educação ambiental e a formação do sujeito ecológico? REVISTA EDUCAÇÃO e
MUDANÇA. No. 23. 2013.

SANTOS, A. G. M. dos; SANTOS, M. do C. M. dos; Práticas de educação ambiental com alunos


do ensino fundamental na escola Maria Menina em Alagoa Grande – PB. Educação Ambiental
em Ação. No. 47, ano XII, março-maio. 2014.

SEABRA, L. A. F.; et al. A utilização do filme “dersu uzala” na formação de professores para a
construção de uma visão crítica da educação ambiental. IX Fórum Ambiental da Alta Paulista.
No. 6, v. 9. 2013.

SILVA, E. L. da; CALIXTO, P. M. Educação ambiental na escola: curso de formação para


professores. Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar – VI MICTI.
Camboriú, SC. 2013.

SILVA, M. L. da. A Escola Bosque e suas estruturas educadoras – uma casa de educação
ambiental. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em Educação Ambiental na escola.
Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio
Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

STENDER, C. A.; et al. Educação ambiental e reaproveitamento de materiais recicláveis no


colégio estadual Vila Guaíra. Anais do 1º Encontro PIBID/UEM. Maringá. 2012.

AMPEZE, M.; STROHSCHOEN, A. A. G. Educação ambiental nas escolas de educação básica do


município de Guaporé/RS. Educação Ambiental em Ação. No. 47, ano XII, março-maio. 2014.

TERRA  Saúde Ambiental e Soberania Alimentar ISBN: 978-85-68066-10-2 1525

Você também pode gostar