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Socorro Michels PDF
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2012
DEMOCRACIA E ORGANIZAÇÃO
NOS PARTIDOS POLÍTICOS:
REVISITANDO OS MICROFUNDAMENTOS DE MICHELS
RESUMO
O objetivo deste artigo é resgatar os pressupostos da tese de Robert Michels a respeito da dinâmica
organizacional dos partidos políticos marcada por duas tendências supostamente antagônicas: a propen-
são à concentração de poderes nas mãos de uma oligarquia, de um lado, e, de outro, a aspiração por
participação por parte dos demais membros do partido. Um segundo objetivo é verificar como estudiosos do
fenômeno partidário vinculados à perspectiva organizacional contemporânea avaliaram a validade dos
conceitos de Michels e os prognósticos deste autor sobre a democracia em seus estudos.
PALAVRAS-CHAVE: Robert Michels; partidos políticos; organização partidária; oligarquia; participa-
ção.
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como uma concentração de poder ilegítimo nas mente uma oposição constitucional para, depois,
mãos de uma elite entrincheirada [...] que lança fazerem parte do próprio aparato estatal.
mão de seu poder organizacional para impedir
O processo de aburguesamento significa que
qualquer oposição interna à sua autoridade. Para
os líderes necessariamente abandonam os “reais”
Michels, nos termos originais da lei férrea da
interesses dos demais membros do partido. Da
oligarquia, o problema da ilegitimidade do poder é
mesma forma, a coletividade pode ser seduzida
o uso da organização pelos seus líderes de forma
pelo Estado ou por seus próprios líderes a renun-
a buscar objetivos novos, rejeitados pelos demais;
ciarem objetivos revolucionários, mas, ao fazê-
já para Leach, mais importante do que a redefinição
lo, de acordo com Michels, ela trai seus próprios
dos fins da organização pelos dirigentes é como
interesses a longo prazo. Independen-temente da
se estabelece o poder (ou a influência) deles.
forma como analisamos, Michels assume a
Considerando isto, os tipos de ilegitimidade do
posição de que o interesse dos líderes partidários
poder seriam três: (1) a ilegitimidade das pessoas,
e dos burocratas são, por definição, burgueses e,
que exercem o poder, mas não teriam recebido
portanto, estão em constante conflito com os da
um mandato para fazê-lo; (2) a ilegitimidade da
coletividade.
jurisdição, que ocorre quando mesmo pessoas
dotadas de um mandato legitimamente obtido Na segunda fase do processo de oligarqui-
excedem o âmbito daquilo que lhes é lícito fazer; zação, Michels defende que a organização, neces-
e (3) a ilegitimidade dos meios, quando o poder é sariamente, continuará a se desenvolver, tornando-
exercido de uma forma não sancionada pelo grupo se gradualmente menos democrática e mais oligár-
[...]” (COUTO, 2010, p. 8). quica. Dois tipos de fatores poderiam encorajar
os líderes a agirem como oligárquicos. O primeiro
Para chegar a esses argumentos, Michels
diz respeito aos efeitos psicológicos do exercício
descreve o processo de oligarquização em duas
do poder e ao eixo analítico a que Michels recorre
fases. A primeira diz respeito às origens da liderança
para explicar sua “lei férrea da oligarquia”.
e do desenvolvimento da maioria dos partidos,
enquanto a segunda busca mostrar como esses De acordo com seu argumento, ao lado das
dirigentes devem se desenvolver, tornando-se cada transformações que o próprio exercício de suas
vez mais distantes dos demais membros do partido responsabilidades impõe à elite dirigente, como a
e, portanto, mais oligárquicos. consciência do poder e a crença excessiva na
grandeza pessoal, entra em jogo a necessidade que
Para Michels, esse modelo começaria com uma
a base de filiados sente por orientação, a rigidez
organização baseada na democracia direta, cujo
dos grupos e a relativa indiferença da maioria dos
processo de transformação dar-se-ia à medida que
membros partidários pela prática efetiva da
o partido começasse a enfrentar problemas com
democracia. Dessa maneira, a coletividade acabaria
o crescimento do seu tamanho, redundando na
entregando-se a uma oligarquia, com o objetivo
necessidade de especialização e na divisão do
de manter as instituições políticas funcionando.
trabalho intrapartidário, dando origem a formas
de delegação e representação. Esses militantes, por O segundo fator diz respeito aos efeitos de
sua vez, evoluiriam para a formação de uma minoria incentivos seletivos, como o status, os benefícios
dirigente mais permanente, impedindo que financeiros e outros a que os líderes partidários
houvesse renovação das direções do aparato teriam acesso por meio de suas ações e políticas.
organizacional. Dessa maneira, aos poucos a Quanto maiores esses recursos seletivos mais
centralização administrativa evitaria as iniciativas rapidamente acabariam por levar ao aburgue-
provenientes dos demais membros da coletividade. samento dos líderes dos partidos socialistas, o que,
Em consequência, argumentaria Michels, a por sua vez, afetaria os processos decisórios do
democracia direta nas organizações políticas aparato partidário, cada vez mais controlados por
deixaria de exercer-se, pois não haveria mais a uma elite oligárquica4. Michels também discute
participação de todos na direção desses orga-
nismos. Essa mudança acarretaria, segundo o
autor, um outro problema crucial para os partidos 4 Ao contrário dessa tendência à oligarquia, Michels ob-
socialistas: eles, antes revolucionários, ficariam servaria que, naqueles contextos com status e remuneração
aburguesados ao se acomodarem à lógica do baixos, a liderança tenderia a ser idealista e não oportunis-
regime democrático liberal, tornando-se inicial- ta.
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as técnicas mobilizadas pelos líderes para manter política dirigente e a coletividade de uma
seu domínio sobre as áreas vitais de um partido, organização partidária, outro elemento que
entre as quais estariam a manipulação de suas contribuiria para isso, segundo Michels, seria o
finanças, o controle sobre a imprensa partidária, a poder centralizador do partido operário, que
utilização de uma base de poder extrapartidária repousaria sobre os mesmos fundamentos do
(como previsto por membros do poder Legislativo) Estado: autoridade e disciplina. Organizado como
e a “tática de renúncia”. um governo em miniatura, essa estrutura seria fatal
para sua existência enquanto partido revolucio-
Nessas condições, a democracia nos grandes
nário.
partidos políticos, segundo Michels, não teria
chances de prevalecer, pois a vida partidária seria Outro problema que adviria da organização
dominada pelo antagonismo permanente entre duas dirigida segundo princípios burocráticos seria a
grandes tendências: a ininterrupta concentração mudança dos fins originais, os quais passariam a
de poderes no aparato organizacional pela elite arregimentar o maior número possível de
oligárquica e a aspiração de participação pela membros. Daí que a luta pelas ideias perderia
coletividade, que cada vez mais se afastaria dos importância no seio do partido, passando aos
processos decisórios. poucos a ser concebida como um obstáculo à
realização dos seus fins e, por isso, deveria ser
Mas como Michels define um partido político
evitada por todos os meios possíveis. E essa
moderno? Para ele seria “uma organização
tendência, para Michels, seria reforçada pelo
metódica das massas eleitorais”. Um partido é
caráter parlamentar do partido democrático, pois
visto como sendo essencialmente baseado em seus
a entrada na disputa eleitoral exigiria cada vez o
princípios e doutrinas, pois, para Michels, uma
maior número de votos possível5.
organização partidária não é uma unidade social
nem uma unidade econômica. No caso do partido Finalmente, quais seriam, segundo Michels, as
socialista, ele é concebido como um agregado condições para alcançar a democracia nos
político que procuraria alistar ao mesmo tempo partidos? Para ele seria necessário começar a
membros e eleitores, apresentando um interesse construir um novo modelo, que levasse em conta
vital em ganhar sempre mais votos e novas tanto o aspecto do voluntarismo dos membros,
adesões. quanto o fato de que a organização partidária é
afetada pelas demais instituições políticas do Estado
Entre os elementos que fariam parte da
e por suas relações com outros partidos
composição de uma organização partidária,
Michels ressalta a importância do programa. Para III. SOBRE A POSSIBILIDADE DA DEMOCRA-
ele, este programa partidário deve enunciar os CIA INTRAPARTIDÁRIA
princípios norteadores das ações dos seus
O estatuto teórico de Sociologia dos partidos
membros e seguidores. Contudo, argumenta que
políticos deve-se, em grande medida, aos
esse programa poderia até ser a expressão teórica
problemas que esse estudo suscita, contribuindo
dos interesses de uma determinada classe, mas
para estimular, desde sua publicação, em 1911,
esse fato não deveria restringir as suas adesões a
intenso debate sobre a relação entre democracia e
nenhuma classe social específica.
organização, particularmente em organismos
Ele argumenta que à medida que um partido, como os sindicatos e partidos políticos, e as
mesmo o partido operário, se tornasse uma suposições apontadas por Michels, entre as quais,
organização complexa, agregando adeptos de a tendência inelutável à centralização e à buro-
diferentes segmentos sociais, ele não se cratização das organizações de massa6.
identificaria necessariamente com a totalidade dos
membros filiados, e menos ainda com uma única
classe social. O partido moderno acabaria 5 Na década de 1980, essas transformações nos partidos
tornando-se, em consequência, um fim em si socialistas foram retomadas e amplamente discutidas por
mesmo, organizando-se ao redor de propósitos e Adam Przeworski (1989), John Sprague (1986) e Claus
interesses próprios, o que resultaria na separação Offe (1984).
entre elite dirigente e a classe que representa. 6 De início, como já era previsível, a obra de Michels teve
maior repercussão entre socialistas e teóricos preocupados
Em termos do distanciamento entre a classe com os rumos dos movimentos relacionados à classe ope-
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saber o que é uma organização para identificarmos organização caracterizada pelo facto de uma parte
qual é a intenção dela em manter a especialização das atividades que a compõe, a saber, as atividades
de funções e as pessoas que realizam essa intenção. que têm o maior grau de autoridade (que tem sido
Para ele, seguindo Weber, é preciso identificar qual chamadas de atividades de ‘liderança’ ou
é a especialização própria da organização analisada ‘executiva’), estão livres do controle do restante
e qual a persistência ou continuidade no tempo dessa das atividades organizacionais” (idem, p. 779).
caraterística. Esse aspecto ainda permitiria verificar
De acordo com Cassinelli, a noção-chave nessa
que algumas organizações são de curta duração.
definição é a de liberdade de controle, mas explica
Cassinelli chega ao seguinte conceito de
que não significa que os líderes possam ignorar
organização, visando a superar essa deficiência do
completamente as ações e os desejos dos demais
trabalho de Michels: “Uma organização é um grupo
membros da organização. Guiando-se por uma
de atividades humanas ordenadas por um sistema
abordagem estruturalista, ele defende que essas
de funções especializadas; um subgrupo dessas
atividades serão sempre orientadas, pelo menos
atividades tem como objetivo a manutenção dessa
em certa medida, por considerações a respeito das
ordem ou de uma ordem muito semelhante a essa”
reações dos liderados. Em outras palavras,
(idem, p. 777).
liberdade de controle significa que as atividades
Já no que diz respeito à elaboração do conceito executivas não são restritas pelas atividades
de oligarquia, Cassinelli discute dois aspectos subordinadas no que diz respeito ao seu conteúdo
desenvolvidos por Michels. O primeiro é o de que positivo e direção. É neste sentido que as atividades
as pessoas que detêm posições de autoridade dentro executivas da classe dirigente estariam livres de
de uma organização não são controladas por aqueles controle em uma oligarquia. As atividades
que detêm posições subsidiárias. Já o segundo subordinadas não direcionam a forma (ou mesmo
aspecto está relacionado à suposição micheliana de o propósito) das atividades executivas, pois elas
que as pessoas em posições de autoridade teriam apenas uma influência “negativa” ou
perseguiriam seus próprios interesses, ignorando “restritiva”.
os interesses da coletividade, o que redundaria na
Medding (1970), outro importante estudioso
exploração da maioria pela minoria dirigente.
da obra de Michels, discute questão chave para
Cassinelli ressalta duas objeções a essa dimensão.
este artigo. Ele parte das seguintes questões gerais:
Para ele, primeiramente, seria impossível determinar
dada a impossibilidade da democracia direta, é
o que constitui os “interesses” dos líderes e da
inevitável o tipo da oligarquia de Michels? Quanto
coletividade antecipadamente, porque uma teoria
pode haver de participação em organizações
objetiva do interesse exige que as pessoas definam
complexas, quanta influência e poder podem ser
seus interesses e não que lhes sejam impostos. Em
exercidos pela coletividade sobre as decisões?
segundo lugar, Cassinelli rejeita tanto a afirmação
de que a organização leva necessariamente à Para Midding, Michels equivocou-se em suas
exploração quanto a declaração de que conduz à interpretações sobre a natureza do poder da
conflitos de interesse, embora neste último caso liderança partidária. Isso porque para ele, Michels
possa até ocorrer em relação a alguns dos padrões não levou em conta as limitações do poder das
identificados. elites dirigentes, que derivariam da estrutura do
partido político como uma organização. Medding
Em consequência desses aspectos, Cassinell,
argumenta, contudo, que sua discussão se aplica
identifica no trabalho de Michels um problema de
apenas aos partidos políticos que operam dentro
terminologia e uma questão de relação lógica, os
de um contexto democrático, no qual a
quais deveriam ser resolvidos. Explica Cassinelli,
concorrência para obter o poder se dá entre grupos
que Michels usa o termo “oligarquia” para se referir
organizados. A principal característica distintiva
à “minoria dominante”, isto é, a um grupo de
desses partidos é que eles seriam organizações
dirigentes. Mas, para ele, seria mais razoável usar
mais abertas e envolvidas em maximizar o apoio
a palavra “oligarcas” para designar essas pessoas,
do público interno às políticas e aos líderes.
e reservar “oligarquia” como o nome de uma
Argumenta ainda que, à medida que esse tipo de
organização que tem determinadas características,
partido precisa de amplo apoio de novos filiados,
isto é, uma organização que possui oligarcas. Daí
ele tende a ser altamente adaptável, resultando na
que a definição do conceito de oligarquia adotada
necessidade de realizar mudanças sociais e
por Cassinelli é a seguinte: “Uma oligarquia é uma
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concessões políticas com o propósito de absorver com base no consenso. Nesse sentido, há dois
novos membros. Nessa condições, segundo aspectos importantes do conceito de poder que
Midding, o controle oligárquico, conforme defende devem se manifestar dentro dos partidos. O
Michels, seria muito difícil de ser alcançado. primeiro, inspirado no trabalho de Friedrich
(1963), está relacionado a ideia de que se o
Se, por sua vez, o partido permanecer mais
propósito da ação partidária requer cooperação de
preocupado com a manutenção da homogeneidade
vários membros, então o poder dos dirigentes vai
social, pureza doutrinária ou seletividade de
repousar na capacidade deles de liderar no sentido
membros, ele seria menos adaptável àquele
de garantir o bem desejado. Já o segundo aspecto,
ambiente competitivo e, em consequência, o
mais próximo da noção parsoniana de poder, se
controle oligárquico teria maior probabilidade de
refere aos elementos coletivos de poder, à
se estabelecer. Em outras palavras, para Midding,
capacidade de expandir a quantidade de poder em
determinadas características dos partidos, como
um sistema em oposição ao conceito de soma zero
voluntariedade associativa e a busca do poder nas
de uma quantidade fixa de poder que é disputada
democracia representativas liberais, as quais
e distribuída em meio à resistência. Isso ocorreria
resultam na necessidade de amplo recrutamento
porque o poder consensual é baseado na
de filiação partidária e até mesmo em maior apoio
cooperação, ou seja, quanto maior o grau de
do público em geral, combinar-se-iam para reduzir
cooperação, maior a expansão do poder no
a possibilidade de oligarquização na relação líder-
sistema. Midding ressalta, portanto, a natureza dual
seguidor e, ao mesmo tempo, para aumentar o
do poder: se por um lado, o poder coercitivo inclui
poder e o controle dos seguidores sobre os líderes.
além da ameaça ou do uso de violência física, da
Essa tese alternativa de Midding à “lei férrea ameaça de sanções materiais e psicológicas e
da oligarquia”, de Michels, foi desenvolvida com privações, e até mesmo o simples medo de sua
base em três pressupostos básicos da teoria perda. Por outro lado, o poder consensual,
micheliana. A primeira categoria analítica discutida originado na habilidade e necessidade do líder de
é o conceito de poder. De acordo com Midding, ganhar a cooperação dos demais integrantes do
na análise de poder de Michels, os interesses de partido, é o poder sustentado por acordos. Sendo
líderes e seguidores das associações complexas assim, à medida que os líderes demonstram
(entre as quais os partidos) são necessariamente capacidade de conseguir a cooperação de seus
diametralmente opostos e, ademais, o poder é seguidores, seu poder crescerá muito. Todavia,
monopolizado por um pequeno grupo coeso de quando esses mesmos dirigentes não obtiverem o
dirigentes que impõe a sua vontade sobre a acordo e cooperação de seus seguidores, o seu
coletividade. Assume-se, ainda, que o exercício poder será limitado. Isso ocorre porque essa forma
do poder implica necessariamente uma situação de poder é baseada na necessidade e no desejo de
coercitiva ou de conflito em que a vontade de um alcançar um consenso. Para isso, meios
ator ou demais membros do grupo é ignorada, normativos de obter obediência irão por si só,
frustrada ou manipulada pela liderança partidária. muitas vezes, ser suficientes para alcançar esse
Essa visão, para o autor, é inadequada na análise objetivo. Assim, em uma situação considerada
das relações de poder em partidos políticos ideal, as decisões políticas do partido serão tomadas
competitivos baseados em recrutamento político após todas as alternativas terem sido consideradas,
livre e empenhado em maximizar o apoio do com grupos concorrentes e indivíduos
público em geral. Por isso ele sugere uma definição comprometidos internamente ao menos em parte
mais ampla de poder, adotando a conotação com o propósito de maximizar acordos que
weberiana, segundo a qual é “a chance que um contemplem os diversos interesses envolvidos
homem ou um grupo de homens tem para realizar naquelas questões políticas conflituosas.
a sua vontade mesmo com a resistência de outros
Além disso, para Midding, tanto o poder
que estão participando da ação”.
consensual quanto o coercitivo atuariam
De acordo com a explicação de Midding, a restringindo influências. Em outras palavras, o
ênfase de Michels em situações de conflito acabou poder consensual, quando operando em seu
levando-o a se preocupar com a base do poder aspecto negativo, que é a massa dos filiados
coercitivo e a negligenciar outros aspectos recusando a concordar com uma proposta política,
importantes do poder, como, por exemplo, aquele ou a sua rejeição à iniciativa política, exerceria um
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elaborada por Blau (1964), Panebianco definiu o qual a institucionalização do partido provocaria a
poder como sendo relacional, assimétrico mas substituição dos seus fins oficiais pela
recíproco. Em outras palavras, o poder manifestar- sobrevivência da organização. Para Panebianco,
se-ia numa relação de troca desigual, em que um no entanto, nas organizações institucionalizadas
ator ganha mais do que o outro, contudo, o poder haveria um processo de articulação dos fins por
nunca é absoluto, mas é limitado pela própria meio dos quais os objetivos oficiais seriam
natureza da interação. Em contrate com a tese de adaptados às exigências e transformações
Michels da “lei férrea da oligarquia”, portanto, organizativas. Essa noção tem implicações
Panebianco defende que a relação de poder entre fundamentais para a compreensão das
os dirigentes e a coletividade deve ser concebida transformações ocorridas nos partidos socialistas,
como uma relação de troca desigual, na qual os como o SPD alemão, examinado por Michels.
dirigentes ganham mais que os seguidores, Segundo Panebianco (2005, p. 32), na história
contudo devem dar algo em troca. A eficácia desses partidos a diferença entre a práxis
dessas trocas, por sua vez, depende do grau de reformista e a linguagem revolucionária seria
controle que os diferentes agentes têm sobre as compreendida corretamente se tivesse sido
chamadas “zonas de incerteza organizativa”, ou interpretada como um processo de articulação dos
seja, os recursos organizativos de poder cujo fins, uma vez que, para ele: “[...] a meta originária
controle permite que determinados atores (a revolução, o socialismo) é constantemente
desequilibrem o poder a seu favor: a competência, reafirmada porque dela depende a identidade
a gestão das relações com o ambiente, as coletiva do movimento; por outro lado, as
comunicações internas, as regras formais, o estratégias eleitas, pragmáticas e reformistas,
financiamento da organização e o recrutamento garantem a estabilidade organizativa sem, contudo,
(idem, p. 66). Essa noção implica afirmar que, tirar muita credibilidade da tese de que se está
embora os dirigentes controlem as principais zonas sempre ‘trabalhando’ para a obtenção dos objetivos
de incerteza, todo ator partidário controla recursos oficiais. De fato, a práxis reformista quotidiana é
que podem ser empregados nos jogos de poder. sempre justificada com a tese segundo a qual as
Isso ocorreria mesmo com segmentos da base reformas não estão em contraste com, mas
partidária que poderiam, em última instância, representam uma passagem intermediária no
apoiar uma elite minoritária ou até mesmo caminho do socialismo” (idem, p. 32-33).
abandonar o partido. Por isso, para Panebianco, é
Em resumo, desde que Michels elaborou a sua
preciso identificar o conteúdo da relação de troca
famosa “lei férrea da oligarquia” surgiu imensa
para definir o poder na organização. Nesse sentido,
literatura destinada a indicar provas a favor ou
ele ressalta a importância da análise da distribuição
contra quaisquerde suas teses. Embora neste artigo
dos incentivos pelos dirigentes aos filiados em
tenham sido discutidos apenas alguns desses
troca de participação, sejam eles coletivos (de
últimos estudiosos, é possível verificar que aqueles
identidade), sejam seletivos (material e de status).
que concordam com a “lei férrea” argumentam,
Como podemos notar, portanto, para utilizando-se da longa permanência de
Panebianco o controle dos recursos de poder determinados atores no controle de muitos
organizativo dificilmente será monopolizado apenas partidos, da sua capacidade de manipular os
por um grupo interno, como defendia Michels ao congressos gerais e outras instâncias partidárias
discutir a oligarquização organizativa. Ao contrário por meio de técnicas plebiscitárias, entre outras
dessa lógica dicotômica, a premissa de Panebianco formas. Já os que negam sua validade geralmente
é a de que a coalizão dominante será formada defendem o argumento de que numa associação
justamente pelos agentes que souberem controlar voluntária para os dirigentes governarem com
melhor as “zonas de incerteza”, o que nos permite razoável estabilidade teriam que necessariamente
supor que haveria maiores chances de diversos levar em consideração a vontade da coletividade.
grupos comporem a coalizão dominante e, assim, Ademais, esses estudiosos defendem que se
participarem do processo decisório do partido. verificaria, na maior parte dos casos, um acordo
substancial entre os vários membros do partido
Um último ponto a ser discutido nesta parte
sobre as questões políticas conflituosas.
do artigo, com o propósito de identificar aspectos
no trabalho de Panebianco que o distancia do de Nos estudos mais recentes, a “democracia”
Michels, diz respeito à tese micheliana segundo a ou a sua ausência são buscadas, normalmente, na
maneira pela qual são tomadas as decisões sobre
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a seleção dos candidatos aos cargos públicos o primeiro (divisão do trabalho, especialização e a
eletivos. indispensabilidade técnica da liderança) seria
consideravelmente mais importante.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do estudo do SPD, Michels buscou
Na tentativa de compreender a natureza
demonstrar que as organizações do partido, até
complexa das relações de poder dentro dos
que fossem formalmente organizadas de acordo
partidos políticos de sua época, Michels, em
com um modelo de democracia interna, não
Sociologia dos partidos políticos, formulou uma
poderiam evitar ser dominadas e controladas por
das teses clássicas que vem desde então motivando
uma elite irresponsável. O corolário é que a lei
importante debate sobre os problemas enfrentados
férrea deveria se aplicar a todos os partidos
pelas organizações representativas no que tange,
políticos que tivessem pouca ou nenhuma
especialmente, a como o poder é distribuído no
preocupação com a democracia intrapartidária.
seu interior, como se reproduz, como se modificam
Além disso, essa lei teria uma abrangência que
essas relações de poder e com quais conseqüências
envolveria não somente os partidos numa
organizativas.
democracia de massa, mas também todas as
A partir desse estudo seminal de Michels, este organizações grandes e complexas.
artigo teve como principal objetivo resgatar os
O que é mais importante reconhecer neste
pressupostos da tese micheliana a respeito da
artigo é a relevância de sua teoria para uma das
suposta inevitável dinâmica organizacional dos
questões cruciais no mundo contemporâneo no
partidos políticos marcada por duas tendências
que tange à relação entre partido e democracia de
antagônicas: a propensão à concentração de
massas. Afinal até que ponto os partidos políticos
poderes nas mãos de uma oligarquia e a aspiração
devem ser vistos como obstáculos ou a própria
de participação pela coletividade. Um segundo
antítese da democracia? A conceituação de Michels
objetivo foi verificar como estudiosos do
de “democracia” é bastante ambígua, como
fenômeno partidário vinculados à perspectiva
também é a sua resposta para essa pergunta. No
organizacional contemporânea avaliaram os
entanto, se a democracia interna do partido é uma
conceitos de Michels em seus estudos.
precondição para a democracia ou se a lei férrea
Como vimos, a teoria política elitista de Michels da oligarquia deve se aplicar também à organização
enfatiza que o poder de uma elite repousaria sobre do próprio Estado, Michels sugere que deveríamos
suas habilidades organizacionais. Por isso, para ser pessimistas quanto às chances plenas da
ele, cada organização produziria sua elite. Esse fato, realização da democracia. No entanto, como o
mais que uma regularidade observada próprio Michels argumenta, depois Duverger
empiricamente, seria, em termos epistemológicos, (1954) e mesmo Weber (1967 [1918]) em a
uma “lei da natureza”. Em outras palavras, em Política como vocação, as formas iniciais dos
qualquer grande organização a liderança partidos se reduziam a pequenos grupos de
inexoravelmente se tornaria uma necessidade. A notáveis e que, somente com a introdução da
natureza de qualquer organização seria tal que as democracia de massas foi produzido um novo tipo
atividades de liderança ficariam livres de controle de partido com uma organização forte e
e nunca poderiam ser totalmente responsabilizadas permanente. Isto teria sido facilitado pela psicologia
por aqueles membros que ocupariam posições dos filiados e a autoridade carismática do líder do
subsidiárias dentro da organização. Assim, partido, redundando em “máquinas” que tinham
enquanto a organização seria inevitável em tomado uma forma plebiscitária e estavam sendo
contextos como as sociedades complexas e dominadas por uma elite política ou um único líder.
democracias de massas, qualquer aparato
É importante enfatizar ainda, seguindo Weber,
organizacional que atingisse determinado tamanho
que as formas modernas de organização partidária,
e certo grau de complexidade também,
originadas com a democratização dos direitos
inevitavelmente, produziria uma situação de
políticos, incentivaram o desenvolvimento de um
dominação de líderes sobre seus seguidores, com
aparato organizacional de associações aparente-
a oligarquizarão como consequência. Também foi
mente democrático, o que contrasta com os velhos
visto que, dos dois conjuntos mais amplos de
tipos de partido criados na Europa Ocidental.
mecanismos causais que produziriam o processo
Embora Weber apresente poucas dúvidas sobre
de oligarquização, isto é, o técnico e o psicológico,
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as implicações dessa evolução para o sistema democracia é, ela também, um tesouro que
político, também deve ser notado que a sua ninguém nunca poderá trazer à luz. Mas
interpretação da relação entre a liderança política continuando as investigações e pesquisando
e a democracia é muito otimista. Sendo assim, incessantemente para encontrar o desconhecido,
enquanto para Ostrogorski e Michels a ausência não deixaremos de realizar um trabalho útil e
de democracia interna nos partidos minaria todo fecundo pela democracia” (MICHELS, 1982, p.
o sistema democrático, na análise weberiana, uma 241).
liderança forte e responsável politicamente seria
Contudo, a maioria de seus contemporâneos
uma necessidade para o bom funcionamento da
reconhece que as instituições políticas em um
democracia. Isto seria assim porque, a menos que
contexto de democracia de massas, quando
o partido fosse controlado por uma forte liderança
passasse a predominar a noção de partido como
política, a burocracia poderia, em virtude da
intermediário necessário entre os cidadãos e o
eficiência de sua organização, facilmente obter
Estado, tornar-se-iam fundamentais para o
uma posição política predominante e se tornar o
funcionamento e a governabilidade na democracia
grupo governante de fato, sem prestar contas ao
liberal. Com as transformações e crise em curso
público. Nesse sentido, os dirigentes políticos
nos partidos europeus de meados do século XX
responsáveis por princípios seriam, portanto,
em diante, decorrentes, por um lado, de mudanças
necessários para garantir os funcionários
ambientais relacionadas ao sistema de
burocráticos na “administração imparcial” dos
estratificação social e, por outro lado, de mudança
partidos, sem, contudo, envolver-se em política.
de tipo tecnológico, vinculada à reestruturação da
Em suma, de acordo com as reflexões de comunicação política a partir dos efeitos dos meios
Michels acerca dos partidos políticos iniciais, de comunicação de massa e, principalmente, da
emergentes na virada do século XX, a ausência televisão, vêm contribuindo para os partidos se
de democracia interna nesses organismos teria organizarem com base no modelo profissional-
sérias implicações sobre a própria existência do eleitoral, conforme tipologia formulada por
regime democrático. Como ele mesmo afirma: “A Panebianco (2005, p. 518).
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for empirical research and theoretical reflection. This article revisits Robert Michels’ major contribution
in search of greater conceptual clarity and usefulness for empirical research. Through Michel’s
concept we are able to suggest a model of institutional analysis that enables us to identify and explain
processes of oligarchization of specific social and political organizations, understanding their institutional
logic in such a way as to understand how organized collective life frequently operates in ways that
run against the grain of the legitimation that particular collectivities bound to the oligarchy consider
valid.
KEYWORDS: Oligarchy; Oligarchization; Robert Michels; Political Organizations; Political
Representation.
* * *
DECADES OF MICHELS: CONTEXTUAL FRAMES AND “EXPIRATION DATES” OF THE
IRON LAW
André Marenco and Maria Izabel Noll
The central argument behind this paper is that there is an “ expiration date” for the effects of the iron
law of oligarchies, a proposal that Robert Michels coined in his 1911 book, Political Parties. In the
first section, we sketch out the social and institutional bases that served as a propitious context for
turning the European socialist parties of the early twentieth century into oligarchical parties: the
expansion of suffrage and the integration of candidates without property or high income into electoral
competition, combining electoral reform with the substitution of majority vote for proportional
representation. This was accompanied by shifting the making and organizing of candidate lists to the
hands of party leadership. In the second section, we seek to provide some nuance to Robert Michels’
somber prognosis on party organization, considering the factors that contribute to a greater or lesser
delegation of internal power to party leaders.
KEYWORDS: Robert Michels; Iron Law of Oligarchy; Democracy; Political Parties; Party
Organization.
* * *
MICHELS’ IRON LAW AND PLURALISM: DEMOCRACY IN COLD WAR TIMES
Ingrid Sarti
This article revisits the theory of party organization by questioning the impossibility of democracy
within parties, as enunciated by Robert Michels’ notion of “the iron law of oligarchy”. The debate is
placed within the context of the ideological disputes of liberal thought during the Cold War. I seek to
make differences between conceptions of party clear and take up the socialist dilemma of mass
participation in modern representation. I attempt to demonstrate the importance of political parties as
a form of public emancipation in contemporary society.
KEYWORDS: Representation; Political Parties; Democracy; Socialism; Robert Michels.
* * *
DEMOCRACY AND ORGANIZATION WITHIN POLITICAL PARTIES: REVISITING THE
MICRO-BASIS OF MICHELS’ WORK
Maria do Socorro Sousa Braga
My goal here is to return to the premises of Robert Michels’ thesis on the organizational dynamics of
political parties, marked by two supposedly antagonistic tendencies: the propensity toward the
concentration of powers in the hands of an oligarchy, on the one hand, and desires for participation
on the part of other party members, on the other. I also look at how scholars of the political party
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phenomenon tied to contemporary organizational perspectives evaluate Michels’ concepts and the
prognosis for democracy that emerges from his studies.
KEYWORDS: Robert Michels; Political Parties; Political Party Organization; Oligarchy;
Participation.
* * *
SPEECH TO THE ELECTORS OF BRISTOL
Edmund Burke
Within Political Theory, this speech presents Edmund Burke’s conception of political representation,
that is, the relations between elected representatives and their electors. Burke rejected the mandate
of the imperative type in which representatives heed only local demands and proposals coming from
electors, which they then reproduce within parliament. This would make them more akin to
spokespersons with the right to vote than to politicians seeking the common good through rational
debate with other politicians. In contrast to that model of representation, Burke proposes what today
we refer to as “representative mandate” in which representatives are acquainted with local demands
yet, without neglecting them, seek to join other representatives in composing general policies. The
underlying rationale is that representatives together make up a parliament meant to serve the nation
as a whole rather than one locale or another; thus, they should formulate policies that take the whole
country into account.
KEYWORDS: Representation; Imperative Mandate; Representative Mandate; Election;
Representatives; Electors; Edmund Burke.
* * *
THE POLITICAL ECONOMY OF THE CHINESE ECONOMIC MODEL: STATE, MARKET
AND MAJOR CHALLENGES
Alexandre Queiroz Guimarães
This article explores certain characteristics of the Chinese model starting from its institutional
particularity, the relationship between state and market. The success of the Chinese miracle is
related to the liberalization of market forces, but it is also indebted to the role of the Developmental
State, which played an important role in the strengthening of productive and technological capacity.
However, lack of dividing lines between State and market also implies particular difficulties, manifested
through the excessive intervention of the party and deficiencies in the financial and property rights
systems. On the one hand, the economy is benefited by the strength of the State and the measures
that have been adopted to bolster its international position. On the other hand, there are tensions
between a more complex economy and a very specific institutional structure. Another point to be
explored lies in the efforts that have been adopted to strengthen industrial and technological capacities,
inquiring into the efficacy of industrial policy at the present stage of capitalism. Finally, the article
looks at other challenges of the Chinese model, including those of the social arena, discussing how
they have been faced.
KEYWORDS: China; Institutions; Development; Developmental State; Political Economy.
* * *
THE LEGISLATURE AND TRADE POLICY: APPROVAL OF THE FTA WITH THE U.S.
WITHIN LATIN AMERICAN LEGISLATURES
Pedro Feliú Ribeiro
This article analyzes how three South American legislatures (Chile, Colombia and Peru) voted
regarding the ratification of the Free Trade Agreement with the United States. My central question
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