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Timothy Keller: O Evangelho não é uma coisa simples.

O segundo capítulo de Center Church, ainda dentro da seção da Teologia do Evangelho, vai
tratar da complexidade do evangelho.

A Bíblia não tem um esboço único para o evangelho.

Paulo diz em Gl. 1:18, para não se pregar outro evangelho. Em 1Co 15:11, ele diz que sua
pregação é a mesma dos apóstolos. Seria impossível afirmar que há um falso evangelho e um
evangelho igual ao de Pedro se não houvesse um consenso a respeito do evangelho. Contudo,
é óbvio que há muitas formas expressas sobre o que o evangelho significa.

Os evangelhos sinóticos falam sobre o evangelho no conceito de reino, enquanto que em João,
há uma ênfase sobre a vida eterna. Os temos não são sinônimos, os sinóticos usam reino
porque tem uma orientação a respeito do futuro enquanto João enfatiza aspectos individuais e
internos do reino. O que se vê que tanto os sinóticos como João estão descrevendo aspectos
complementares, individuais e coletivos, de nossa salvação.

Em Paulo, há uma diferença, que está mais centrado no conceito de justificação.

Há uma contradição? Não, em Jesus, Deus substitui em si mesmo a nós, em nosso favor, ele
paga o débito (Mc 10:45, Jo 12:20-36, 1Tm 2:6), derrota os poderes malignos (Cl.2:15, 1Jo 3:8),
leva a maldição e a ira divina (Mt 27:45, Gl 3:13) e assegura para nós a salvação pela graça, não
por nossas obras (Ef 2:8,2Tm 1:9) e se torna para nós um exemplo (1Tm 1:16, Hb 12:2, 1Pe
2:21). O coração dos escritos é a redenção pela substituição.

O evangelho deve estar amarrado a linha histórica da Bíblia e seus temas.

Deve ser feita uma leitura sincrônica e diacrônica.

A primeira é chamada de método da teologia sistemática, que tende a lidar com a bíblia de
maneira tópica, o que a Bíblia diz sobre Deus, pecado, Espírito Santo, etc. Este método é
sensível a unidade bíblica, é muito útil para a pergunta, o que devo fazer para ser salvo?
Ler a bíblia diacronicamente é ler sua narrativa, buscando o método histórico redentivo, que
lida com as escrituras historicamente. Organiza a bíblia por estágios históricos; A bíblia é vista
como Deus criando o mundo, a queda do homem, Deus reentrando na história para criar um
novo povo para si mesmo e sobre a nova criação que surgirá deste mundo caído. O método
discerne a história da redenção de Deus como também temas bíblicos como pacto, reino,
santuário que ocorrem em cada estágio da história até seu climax em Jesus.

Não há motivos que um método contradiga o outro, Keller diz que usando ambos fazemos
justiça aos fato de que a Bíblia é tanto divinamente irrepreensível e providencialmente
humana.

Keller adverte que se usarmos o método da teologia sistemática sem o segundo, podemos cair
numa teologia racionalista, legalista e individualista. Se usarmos o método histórico
rendentivo sem nos atentarmos ao sistema, podemos cair num método que adora histórias e
comunidade, mas que não tem clareza sobre o que é lei e o que é graça, o que é verdade e o
que é heresia.

A seguir, dá alguns exemplos destes temas bíblicos:

O exílio e a volta ao lar.

O lar segundo a bíblia é um lugar onde a vida floresce totalmente, é um lugar de descanso, de
shalom. A história da raça humana é uma história de exílio e anseio por voltar para casa. A
morte e doença distorceram a boa criação física de Deus. A sociedade é uma Babel com
egoísmo, auto-exaltação e orgulho. Exploração e violência arruinaram a comunidade humana.
O mundo como hoje existe não é o nosso verdadeiro lar.

Algumas questões tais como voltamos ao nosso lar? Como o mundo pode ser restaurado?
Como a decadência e a morte podem ser vencidas?

O evangelho responde que Jesus deixou seu verdadeiro lar (Fp. 2:6-7) e nasceu longe de casa
num lugar onde não tinha onde reclinar a cabeça e foi crucificado fora dos portões da cidade,
num sinal de seu exílio e rejeição (Hb 13:11-12). Tomou o nosso lugar e experimentou o exílio
que a raça humana merecia. Quando ressurgiu da morte, se tornou uma antecipação daquilo
que irá acontecer conosco. Ele irá reconciliar todas as coisas (Cl 1:16-20) e irá refazer o mundo
(Ap. 21:1).
Alguns temas relacionados ao lar/exílio:

Descanso e sabath- o peado nos deixou sem descanso. Como podemos entrar no descanso de
Deus?

Justiça e Shalom: a fábrica do mundo está quebrada. Como nós podemos restaurar a shalom?

Trindade e Comunidade: Nós fomos feitos para uma comunidade pessoal e interdependente
com Deus e seu povo porque refletimos o Deus trino. Como nós podemos ser parte desta
comunidade?

A criação foi feita como lugar de descano e paz. O pecado resultou em auto-centrismo e
destruiu a paz. Israel foi exilada no Egito, e depois, na Babilônia. Jesus, o rejeitado, mas
ressuscitado Senhor, que quebra o poder da morte. A restauração é a cidade-jardim de Deus.

A aliança e seu cumprimento.

A criação foi feita para ser uma aliança de amor em relacionamento com Deus. O pecado
resultou na infidelidade, causando a maldição de Deus e sua ira. Israel foi chamada para ser
fiel, mas foi infiel. E Jesus é o servo sofredor mas o novo senhor da aliança, que tomou sobre
si a maldição do pecado. A grande restauração serão as bodas do Cordeiro.

Alguns temas relacionados a Yahveh e a aliança:

Justiça e nudez: nós experimentamos vergonha e culpa. Como nossos pecados podem ser
cobertos?

Casamento e fidelidade: Ansiamos por um verdadeiro amor e intimidade. Como podemos


encontrar isto?

Presença e santuário: Nós fomos feitos para florescer na presença de Deus. Como podemos
nos posicionar para isto?

O Reino e sua vinda.


Fomos criados para o reino de Deus e seu reinado. O pecado gerou idolatria, causando
escravidão. Israel ansiava por um verdadeiro rei e juiz. Jesus é o verdadeiro reino que retorna,
aquele que nos liberta do mundo, da carne e do maligno. A grande restauração é a verdadeira
liberdade debaixo do reinado de Deus.

Temas relacionados:

Imagem e aparência: Amar a Deus sobretudo é o único caminho para verdadeiramente amar
qualquer outra coisa e se tornar verdadeiro de verdade e livre - 2Co 4:4, Cl 1:15.

Idolatria e liberdade: servir a Deus é a única maneira de sermos livres.

Sabedoria e Palavra: submissão à Palavra de Deus é o caminho da sabedoria.

Estes temas enfatizam a linha histórica da bíblia:

O que Deus quer de nós - criação.

O que aconteceu conosco e o que está errado com o mundo - queda.

O que Deus fez em Jesus para colocar as coisas no lugar- redenção.

Como a história se transformará no fim - restauração.

O evangelho precisa ser contextualizado.

O evangelho não é uma coisa simples, sabemos isto da riqueza e da profundidade dos temas
bíblicos e também que a natureza humana é complexa e variada. O evangelho tem uma
versatilidade sobrenatural para direcionar-se às esperanças particulares, aos medos e os
ídolos de cada cultura e cada pessoa. Isto nos leva a necessidade de contextualização.

Veja o exemplo de Paulo:

em Atos 13, fala com os gentis. Em Atos 14, fala com os pagãos não educados e em Atos 17, se
dirige aos filósofos e educados pagãos.
O evangelho é tão rico que pode ser comunicado em uma forma que se encaixa a cada
situação. É uma mensagem singular, mas não é uma mensagem simplista.

http://allenvaz.blogspot.com.br/2013/01/timothy-keller-o-evangelho-nao-e-uma.html

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