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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Parâmetros Geotécnicos das Argilas Marinhas da Região do Porto


de Santos
Diego Gazolli Yanez
Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, gazolli@gmail.com

Profa. Dra. Heloisa Helena Silva Gonçalves


Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, helesilv@usp.br

RESUMO: O trabalho trata dos parâmetros geotécnicos das argilas marinhas de Santos encontradas
na região portuária, e das possíveis diferenças com os parâmetros determinados e publicados na
literatura técnica para região da orla, com prédios inclinados. Foram analisadas sondagens e ensaios
in situ de diversas localidades da região portuária, ao longo da margem direita. Os ensaios foram
realizados e cedidos pelas empresas projetistas da iniciativa privada atuantes na região e, portanto
contemplam as profundidades de interesse destes projetistas, à época dos ensaios. Principalmente
foi analisado o perfil geotécnico na região portuária em comparação com o da orla e a resistência
não-drenada das argilas.

PALAVRAS-CHAVE: Argilas Marinhas, Porto de Santos.

1 INTRODUÇÃO estas argilas possuem valores de resistência


não-drenada relativamente altos.
Santos é o mais importante dos nove Neste artigo será realizada uma análise de
municípios que integram a região da Baixada diversos dados coletados da argila marinha da
Santista, pois nele está instalado o maior porto região portuária, fornecidos por empresas que
da América Latina. Durante a última década, ali atuam, comparando-os aos disponíveis na
com o incremento do movimento portuário e o literatura técnica e aos dados da região dos
aumento do calado dos navios que nele prédios inclinados da cidade.
aportam, surgiu a necessidade de aprofundar o
estuário de Santos. Este aumento do calado tem
sido realizado em pontos diversos, variando a 2 MATERIAIS E MÉTODOS
profundidade, em função da urgência das
companhias que atuam no Porto. Outras obras Ao longo do período de pesquisa foram
também são realizadas na região do porto, como gentilmente cedidos por diversas empresas
construção de novos armazéns para granéis ou atuantes na região os mais diversos ensaios
implantação de maiores áreas para estocagem geotécnicos da área portuária, distribuídos pela
de contêineres, entre outras. Para a elaboração margem direita do Porto de Santos. As regiões
destes projetos é necessário que haja eficiente destes ensaios e as principais regiões citadas
investigação geotécnica dos solos da região. nesta pesquisa estão ilustradas na Figura 1.
O subsolo na região do porto é formado por Por se tratar de ensaios realizados pela
um aterro de aproximadamente 11m sobre uma iniciativa privada estas caracterizações
camada de argila marinha de grande espessura. geotécnicas possuem limitações acadêmicas. Os
Em alguns pontos esta camada é intercalada por dados levantados focam para as obras em
camadas de areia fina argilosa. A camada de projeto e, portanto, nem sempre foram
argila marinha de Santos é muito compressível, realizadas sondagens até grandes profundidades
sendo responsável direta dos elevados recalques ou ensaios de laboratório com amostras
que ocorrem em diversos edifícios construídos indeformadas.
com fundações diretas rasas na cidade. No
entanto, ao contrário do que se poderia inferir,

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adotado em cartas geográficas e projetos de uso


geral. No caso específico do Porto de Santos
existe outro referencial de cota zero,
estabelecido pela CODESP (Companhia Docas
do Estado de São Paulo). As relações entre os
diversos referenciais de cota zero estão
ilustradas na Figura 2. As sondagens foram,
portanto, padronizadas através do valor de
profundidade 0 referente à cota – 4,28m
CODESP. Diferente do data vertical do IBGE,
as cotas DHN e CODESP são positivas abaixo
do nível do mar, confundido-se com as
Figura 1. Localização dos ensaios, numeradas, e profundidades em alguns registros.
principais regiões citadas no artigo. Fonte: Google Earth Os ensaios de sondagem de cada região
foram analisados e agrupados para análise dos
De forma geral estes ensaios visavam obras perfis geotécnicos característicos, e
de aumento de calado (estabilidade geral do cais posteriormente somados para prover um perfil
com a alteração da cota de fundo do canal) e de geotécnico para o estuário santista como um
operação de mais contêineres empilhados ou todo. Através da correta relação entre cotas foi
novos armazéns de carga. Sendo assim, os possível adicionar os perfis geotécnicos
parâmetros de maior interesse para estas determinados nesta pesquisa ao perfil
empresas projetistas foram perfis geotécnicos geotécnico disponível na literatura técnica para
até 30m de profundidade e ensaios de palheta região da orla da praia, de prédios inclinados.
nas profundidades próximas ao calado do canal, Os parâmetros geotécnicos dos ensaios de
entre 14 e 16m de profundidade em relação ao caracterização foram agrupados conforme sua
cais. natureza e determinados como média de valores
Relação entre referenciais de cota zero ou intervalo de valores, para grandes variações,
Cais existentes e comparados aos valores tabelados pela
literatura técnica para as argilas marinhas de
SFL (Sedimentos Fluvio-Lagunares).

2.1 Origem dos depósitos quaternários


4,280m (Projeto)

Zero I.G.C. e IBGE

Na literatura técnica está discutida a formação


1,526m

geológica dos solos do litoral brasileiro,


Zero D.H.N. – Marinha
(1981)Variável especialmente as argilas marinhas do litoral
0,719m

paulista.
Zero CODESP
A Transgressão Cananéia (Pleistoceno) e a
Maré mínima em 12/03/1940 Transgressão Santos (Holocento) foram as duas
Figura 2. Relação entre vários níveis de referência (data ingressões do mar em direção ao continente que
verticais) e o zero hidrográfico da CODESP
(ALFREDINI, 2005)
deram origem aos dois principais tipos
diferentes de sedimentos: as Argilas
Os ensaios foram então agrupados por Transicionais (AT) e os Sedimentos Flúvio-
região, tipos de ensaio e por lado (lado terra ou Lagunares (SFL).
lado mar), para análise. Nota-se cuidado Entre 100.000 e 120.000 anos, em ambiente
especial para uniformizar os referenciais de cota misto continental-marinho, foram depositadas
dos ensaios. É costume de projetos portuários a as Argilas Transicionais. Este material se
utilização do referencial de cota zero apresenta argiloso ou arenoso na sua base, e
estabelecido pela Marinha Brasileira, diferente arenoso no seu topo. A última glaciação, 15.000
do estabelecido pelo IBGE (Instituto Brasileiro anos atrás, abaixou o nível do mar 130m em
de Geografia e Estatística), normalmente relação ao nível atual, provocando intenso

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processo erosivo e forte sobre-adensamento nos


sedimentos argilosos da Formação Cananéia. Onde é a tensão efetiva antes da
Os Sedimento Flúvio-Lagunares, por sua oscilação negativa do nível do mar ; é o
vez, foram formados nos últimos 7.000 anos,
peso específico da água; é o tempo
por sedimentação em lagunas e baías. Eles
foram formados pelo retrabalhamento das areias necessário para terminar a consolidação
e argilas da Formação Cananéia. As Argilas primária, determinado como 1 ano para a
SFL são levemente sobre-adensadas, devido a região; e é o tempo de envelhecimento
oscilações negativas do nível do mar. adotado como 150 anos.
As argilas de Mangue são encontradas Através da tensão de razão de pré-
superficialmente, de baixíssima resistência. Este adensamento e tensão efetiva é possível
solo ainda está em formação e é denominado determinar o intervalo da coesão de projeto à
como “aluvião moderno”. partir da correlação da Equação 3, de
Os sedimentos quaternários apresentam Jamiolkowski e Ladd.
características semelhantes, e muitas vezes pode
ser difícil classificá-los. (3)
A literatura técnica discute, em certos
momentos, a presença de AT abaixo dos 20 a
25 m de profundidade na região da Alemoa. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Estas camadas de ATs aparentam serem mais
uniformes e homogêneas quando comparadas a 3.1 Caracterização dos solos do estuário
outros sedimentos. A presença de folhas santista
carbonizadas e nódulos de areia quase pura
[...] parecem serem algumas marcas distintivas A maioria dos ensaios analisados neste trabalho
das ATs.” (MASSAD, 1994, grifo nosso). foi realizada no limiar da separação entre o cais
e o canal do estuário, hora de um lado, hora do
2.2 Sobre-adensamento das argilas de SFL outro. Sendo assim, é natural notarmos a
(1,3 ≤ RSA ≤ 2) diferença entre os parâmetros de cada lado.
Os primeiros metros explorados pelas
Os diversos artigos da literatura técnica sondagens indicam um aterro heterogêneo ao
apresentam como propriedade das argilas de longo de toda região portuária. Em geral este
SFL um leve sobre-adensamento, variando a aterro é composto de silte arenoso com
tensão de pré-adensamento entre 1,3 a 2 vezes a pedregulhos de rocha, fofo a pouco compacto,
tensão efetiva, devido ao rebaixamento de nível cinza esverdeado, variando para aterro de areia
do mar ocorrido há 4.000 anos, que variou de 2 fina, com pedregulhos, também fofa a pouco
a 3m (2m em média). Para considerar esta compacta, cinza escura. O número de golpes
hipótese Massad (1985) propoem a utilização varia muito, normalmente de valores abaixo de
da Equação 1: 7. Esta camada tende a se estender até a cota do
fundo do canal do estuário. Os profissionais
(1) atuantes da área relatam que os aterros foram
realizados para expansão da área portuária, com
Os casos de argilas SFL muito sobre- o lançamento de solo através de furos no cais.
adensadas são atribuídos a ação de dunas. A Este aterro não teria sido compactado para
tensão de pré-adensamento gerada pelos efeitos evitar esforços nas estacas pranchas de
simultâneos da oscilação negativa do nível do contenção do cais.
mar e do efeito de “aging” (envelhecimento das Nos próximos metros apresenta-se argila
argilas) é estimada usando a Equação 2 siltosa marinha de SFL, com matéria orgânica,
(PÉREZ; MASSAD, 1996): muito mole à mole, cinza escura. Sua
resistência em golpes varia em geral de 0 a 5.
(2) As descrições das sondagens relatam presença
de matéria orgânica, lentes milimétricas

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esparsas de areia e fragmentos de conchas. Esta arenoso compacto, cinza e branco. Sua
camada pode ter menos de 5m, como no lado resistência é crescente, ultrapassando os 40
mar do TECONDI até 30m de espessura sob o golpes aos 50m de profundidade. As demais
TEAÇU. regiões não foram exploradas até esta
A região portuária apresenta uma camada de profundidade.
areia fina argilosa, fofa a medianamente
compacta, cinza escura, em diversas 3.2 Parâmetros geotécnicos
profundidades. Nota-se a forte presença nas
regiões do Armazém 35 - LIBRA e do As argilas marinhas descritas nas sondagens
TECONDI. Sua resistência SPT varia, em geral, disponibilizadas apresentaram SPT sempre
de 5 a 15 golpes. menor que 5, muitas vezes variando somente
As camadas de argila SFL e de areia fina entre 0 e 2, independente da profundidade; suas
citadas acima se intercalam na região do características geotécnicas estão apresentadas
TECONDI e do Armazém 35 - LIBRA. Na na Tabela 1. determinado pelo ensaio, nem os
região do TEAÇU não foi constatada esta índices de compressão ( ) e recompressão
característica, pois as sondagens não ( ).
ultrapassam os 40m de profundidade.
Após os 40m de profundidade, no
TECONDI, há a presença de solo residual, silte

Tabela 1. Quadro-resumo dos parâmetros geotécnicos das argilas marinhas do Porto de Santos e comparação com
valores da literatura técnica

TEAÇU Saboó / TECONDI Edifício


Macuco 2
1 Argilas SFL Núncio
(Libra35) Lado Mar Lado Terra Lado Mar Lado Terra 3
Malzoni
Prof. (m) 16 – 26 14 – 30 12 – 30 14 – 25 13 – 25 ≤ 50 16
SPT ≤5 ≤5 ≤5 ≤5 ≤5 0–4 1–4
w (%) – 70 – 80 60 – 110 – – 75 – 150 60 – 69
LL (%) – 70 – 100 60 – 140 40 – 50 35 – 80 40 – 150 –
LP (%) – 30 – 50 20 – 50 15 – 30 20 – 35 – –
IP (%) – 30 – 60 30 – 90 10 – 40 15 – 45 20 – 90 –
nat (kN/m³) – 15,25 15,50 – 16,20 13,5 – 16,3 15,5
s (kN/m³) – 26,75 27,40 – – 26,6 26,8
d (kN/m³) – 8,80 9,00 – – – –
e0 – 1,92 – 2,09 1,53 – 2,41 1,16 – 1,65 – 2,00 – 4,00 –
4
Su (kPa) VT 40 – 100 20 – 100 20 – 100 10 – 140 20 – 90 10 – 60 72 5
σa’ (kPa) – – – – – 30 – 200 –
RSA – – – – – 1,3 – 2,0 1,15 – 1,3
0,33 – 0,51
Cc / (1 + e0) – – – – – 0,31 – 0,38
(0,43)
Cr / Cc (%) – – – – – 8 – 12 6 – 11
Su / σa’ – – – – – 0,28 –

1 Não foram disponibilizados ensaios de caracterização da região do terminal Libra 35 (Macuco).


2 Segundo Massad, 1994.
3 Segundo Gonçalves, 2002.
4 Ensaios de palheta natural (Vane Test – VT).
5 Ensaio de resistência adensado não-drenado - CU (Compressed undrained).

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Terra 31,4 + 5,2.z 0,851


TEAÇU
3.3 Correlações de resistência não-drenada Mar 37,0 + 4,5.z 0,593
dos ensaios de palheta Terra 42,0 + 3,7.z 0,556
TECON
Mar 25,6 + 8,7.z 0,717
Terra 38,5 + 4,4.z 0,810
Conforme discutido anteriormente, os diversos Porto*
Mar 43,7 + 5,0.z 0,655
ensaios de palheta (Vane Test) realizados in situ * Média de todos os pontos analisados
nas camadas de argila, foram agrupados para
determinação de correlações. Para as Para efeito de comparação as correlações
correlações determinadas foi utilizado o publicadas pela literatura técnica para
coeficiente de Pearson (r) para análise resistência não-drenada das argilas do porto de
qualitativa da correlação linear dos dados. Santos foram agrupadas no quadro-resumo da
Todas as correlações determinadas Tabela 4.
obtiveram índice entre moderadas e fortes
(0,5 < r < 1), conforme Tabela 3. No entanto, a Tabela 4. Correlações publicadas na literatura técnica
correlação de melhor resultado, para o Macuco, Região Su (kPa) (VT) Autor
lado mar, foi estabelecida com apenas 4 pontos Macuco 26 + 2,4.z Teixeira, 1988
Saboó 32 + 2,0.z Teixeira, 1988
e apresenta crescimento exagerado e
Alemoa 13 + 2,0.z 0,556
improvável quando comparado com os dados
das regiões adjacentes. Ao todo foram
Os resultados obtidos nos ensaios analisados
analisados mais de 250 ensaios.
foram plotados junto com os pontos que os
Tabela 3. Coeficientes de Pearson para as correlações dos
determinaram e são exibidos na Figura 3. É
ensaios de palheta importante notar que as correlações estão
Região Lado Su (kPa) (VT) r relacionadas com o topo da camada de argila,
Terra   portanto z é a distância do topo da camada de
Macuco
Mar 39,0 + 22,0.z 0,910 argila até o ponto do ensaio.

Porto - Todos os Ensaios


Su (kPa)
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0

Lado Terra
c = 38,5 + 4,4.z (kPa)
10
Geral
c = 42,2 + 4,9.z (kPa)
Profundidade (m)

15

20

25

Lado Mar
30 c = 43,7 + 5,0.z (kPa)

35

Figura 3. Correlações das médias de todos os pontos para a região portuária


mar foi superior a resistência do lado terra, ao
Nota-se que em alguns pontos a resistência contrário do que nos leva a concluir a intuição
ao cisalhamento das argilas marinhas do lado sobre a natureza dessas argilas. Na média de

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todos os pontos, as argilas marinhas do lado fator de Bjerrum são comparados aos estimados
terra possuem maior resistência ao cisalhamento pelos cálculos de RSA determinada pelas ações
nas camadas iniciais, mas o acréscimo de combinadas do abaixamento do nível do mar e
resistência com a profundidade é maior do lado do adensamento secundário são apresentados na
mar. As duas retas médias se interceptam por Tabela 6.
volta dos 25m de profundidade.
Somente do lado mar foram encontrados Tabela 6. Comparação entre resistência não-drenada
pontos com resistência não-drenada superior à obtida pela equação Jamiolkowski e Ladd e os valores
corrigidos dos ensaios de palheta natural
100kPa, e somente no TECONDI. De forma – (kPa)
Prof.
geral, todos os locais de ensaio apresentaram Região Lado
(m) Calculado VT
resistência de até 100kPa, acima dos 60kPa Terra 22,0 29,8 – 53,3 62,6
determinados por Massad (1994) para os TEAÇU
Mar 22,0 12,0 – 21,4 56,6
intervalos de resistência das argilas SFL. Terra 19,0 24,5 – 34,8 67,4
Saboó
As correlações estabelecidas por Teixeira Mar 19,0 12,7 – 16,6 62,2
(1988), para argilas de SFL com RSA maior ou
igual a 2, em regiões próximas a estudada, Os resultados obtidos indicam que a
resultam em valores de coesão pouco inferiores resistência não-drenada de projeto pela equação
aos obtidos pelas correlações propostas nesta de Jamiolkowski e Ladd é muito inferior aos
pesquisa. valores determinados nos ensaios de palheta. Há
duas hipóteses a serem consideradas: a argila
3.4 Análise da resistência não-drenada a poderia ter RSA maior ou igual a 2, e portanto a
partir de correlações tensão de pré-adensamento não poderia ser
calculada utilizando a Equação 2 proposta por
Infelizmente não houve ensaios de adensamento Pérez, que se aplica para argilas sobre-
satisfatórios para realizar uma análise da adensadas somente pela variação do nível do
relação entre a resistência não drenada com a mar; ou que a Equação 3, com estas constantes,
tensão de pré-adensamento, comumente não se aplicam para este solo.
realizada na Mecânica dos Solos. No entanto,
conhecendo o histórico geológico das argilas de 3.5 Perfil geotécnico determinado
SFL e a Equação 1, 2 e 3, determina-se o
intervalo de valores para a tensão de pré- Através da análise das diversas sondagens da
adensamento na camada de argila da região região determinou-se um perfil geotécnico para
portuária. a região portuária, assim como o estabelecido
O parâmetro foi calculado de acordo para a região da orla da praia traçado por
com o índice de vazios dos trechos estudados, Teixeira (1994) e adaptado por Massad (2003) e
com 0,03 e . A por Dias M. (2008).
determinação de está apresentada na O perfil geotécnico do estuário do lado mar e
Tabela 5Erro! Fonte de referência não lado terra estão apresentados na Figura 4 e
encontrada.. Figura 5 respectivamente. Não foi encontrada,
em nenhuma das sondagens analisadas, a
Tabela 5. Determinação de presença de argilas com SPT > 5, não tendo se
Região identificado a presença da camada de argilas
TEAÇU 2,000 1,05 0,03 0,03 transicionais (AT), o que não exclui a
Saboó 1,345 0,82 0,03 0,04 possibilidade da presença destas, uma vez que
as sondagens foram pouco profundas na maior
Os valores da coesão de projeto das argilas parte das regiões analisadas.
marinhas, determinadas pelos ensaios de
palheta natural e devidamente corrigidos pelo

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ORLA DE SANTOS ESTUÁRIO DE SANTOS


Faixa crítica

Libra 35
Itararé

TECON
TEAÇU
Balsa
Ilha Porchat
São Canal 1 2 3 4 5 6 7
Vicente
0
AREIA FINA
10
GNAISSE ARGILA MARINHA MOLE (SFL) (?)
20 AREIA FINA
GNAISSE AREIA FINA
(?) AREIA FINA ARGILA MARINHA MOLE (SFL)
30 (?)
AREIA FINA
ARGILA MARINHA (AT) (?)
40 SOLO RESIDUAL

AREIA FINA E MÉDIA (AT)


RIJA?
50
SOL (?)
GNAISSE OR
ESI
D UA
60 L
SEDIMENTOS CONTINENTAIS ?
SOLO RESIDUAL ?
70 (?)

80
Figura 4. Perfil geotécnico da orla santista e do estuário – lado Mar – Adaptado de Teixeira (1994) por Massad (2003)
por Dias M. (2008), complementado

ORLA DE SANTOS ESTUÁRIO DE SANTOS


Faixa crítica

Libra 35
Itararé

TECON
TEAÇU
Balsa

Ilha Porchat
São Canal 1 2 3 4 5 6 7
Vicente
0 ATERRO DE SILTE ARENOSO COM PEDREGULHOS
AREIA FINA
AREIA FINA
(?) (?)
10
GNAISSE ARGILA MARINHA MOLE (SFL)
20 ARGILA MARINHA MOLE (SFL) AREIA FINA
GNAISSE
(?) AREIA FINA
30 (?) (?)
ARGILA MARINHA (AT) AREIA FINA
40 SOLO RESIDUAL
(?)
AREIA FINA E MÉDIA (AT)
RIJA?
50
SOL (?)
GNAISSE OR
ESI
D UA
60 L
SEDIMENTOS CONTINENTAIS ?
SOLO RESIDUAL ?
70 (?)

80
Figura 5. Perfil geotécnico da orla santista e do estuário – lado Terra – Adaptado de Teixeira (1994) por Massad (2003)
por Dias M. (2008), complementado

de vazios indicam que são efetivamente


4 CONCLUSÕES camadas de SFL.
As argilas marinhas estudadas neste trabalho
Este trabalho pôde dar início ao traçado de apresentaram valores de resistência não-drenada
perfil geotécnico que contemple a região acima dos determinados para região da orla
portuária de Santos, de enorme importância santista, e também para os determinados para as
econômica e pouco discutida pela literatura argilas SFL no geral. No entanto, apresentaram
técnica. sempre SPT < 5, e índice de vazios em torno de
Foram analisadas camadas de argilas moles, 2, característicos das argilas SFL. Nota-se que
de SPT abaixo de 3, com descrição de nódulos as argilas marinhas estudadas apresentaram-se,
de areia. Esta descrição é comumente associada em geral, muito siltosas e arenosas, e que os
às argilas AT, porém seu valor de SPT e índice solos arenosos sempre apresentavam descrição
de areia fina argilosa.

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Não é incomum a apresentação de ensaios e de campo gentilmente cedidos.


com resultados impróprios, hora pela
dificuldade da coleta de amostras indeformadas,
hora pela interferência do meio, como, por REFERÊNCIAS
exemplo, a resistência não-drenada apresentar
valores pontuais excessivamente altos, Alfredini, P. (2005). Obras e Gestão de Portos e Costas:
justificados pela grande presença de conchas A Técnica Aliada ao Enfoque Logístico e Ambiental,
Edgar Blucher, São Paulo.
nas argilas do lado mar e região aterrada. Bjerrum, L. (1972) Embankment on soft ground, Conf. on
Em alguns pontos a coesão das argilas do Performance of Earth and Earth Supported
lado mar apresenta-se maior que do lado terra. Structures, ASCE, Vol. 2, p. 1-45.
Analisados todos os pontos da região portuária Dias, M. S. (2008) Cidade de Santos: Comparação entre
percebe-se a tendência de acréscimo de as propriedades geotécnicas do subsolo de alguns
trechos da orla de Santos, 6º SEFE, Vol. 2, p. 331 -
resistência com a profundidade maior do lado 342.
mar que do lado terra, que apresenta valores Gonçalves, H. H. S. e Oliveira, N. J. (2002), Parâmetros
médios de resistência não drenada inicias mais Geotécnicos das Argilas de Santos, 12º Congresso
altos. AMBS, Vol. 1, p. 467 - 476.
O estudo teórico da RSA das argilas Gonçalves, H. H. S. e Pérez, F. S. (1997), A comparion
between Cα/Cc obtained through parametric studies
marinhas, pelos efeitos combinados de and laboratory tests, Proceedings of the fourteenth
rebaixamento do nível do mar de 2m e pelo International Conference on Soil Mechanics and
adensamento secundário, e conseqüente análise Foundation Engineering, Hamburg, p. 111 - 112.
da resistência não-drenada de projeto apresenta Massad, F. (1994), Propriedades dos sedimentos
confirmação da classificação geológica das marinhos, Solos do Litoral de São Paulo, São Paulo,
p. 99 - 128.
argilas como SFL. Massad, F. (1986), Reinterpretação de sondagens SPT na
Por fim, foram apresentados valores de Baixada Santista, à luz dos novos conhecimentos
coesão variando de 10 a 140kPa, contra 10 a sobre origem geológica dos sedimentos quaternários,
60kPa determinados pela literatura técnica. As 8º Congresso ABMS, Vol. 2, p. 129.
correlações determinadas neste trabalho são Massad, F. e Pérez, F. S. (1996), O envelhecimento e sua
influência no sobre-adensamento das argilas marinhas
apresentadas a seguir: Quaternárias de Santos.
Pinto C. S. (1992), Primeira Conferência Pacheco Silva:
Lado Terra: su = 38,5 + 4,4.z (kPa) Tópicos da contribuição de Pacheco Silva e
Lado Mar: su = 43,7 + 5,0.z (kPa) Considerações sobre a resistência não drenada das
argilas, Solos e Rochas, São Paulo, p. 49 - 87.
Teixeira, A. H. (1994), Fundações Rasas na Baixada
Santista, Solos do Litoral de São Paulo, São Paulo, p.
AGRADECIMENTOS 137 - 154.

À Maffei Engenharia pelos ensaios laboratoriais

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