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Tema e modelos de redação:

Os Limites do Humor

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Tema e modelos de redação: Os Limites do Humor

Redação exemplar: Há limites para o humor?

Modelo 1: Não há limites para o humor

Em 2015, o satírico jornal francês, Charlie Hebdo, famoso pelas suas críticas ácidas
sobre o Islamismo, sofreu um atentado em que três extremistas islâmicos mataram o
diretor do jornal e alguns dos cartunistas. Esse fato gerou indignação em grande parte
da população mundial, que manifestou sua solidariedade ao jornal por meio da hashtag
“Je suis Charlie” – “Eu sou Charlie”, em português, nas redes sociais. Diante desse
cenário, é válido refletir: deve haver limites para o humor ou vale tudo em nome da
liberdade de expressão?

Primeiramente, é necessário destacar que a problemática relacionada ao humor não


deve ser reduzida aos humoristas em si, mas sim a uma sociedade com preconceitos
enraizados. Segundo Aristóteles, a tragédia é a mímesis de uma camada considerada
superior, enquanto a comédia é a representação de um segmento tratado como
inferior. Assim, fica claro que o humor é uma alegoria das mazelas sociais e não
representa, necessariamente, o pensamento do humorista, sendo este apenas o
veículo de representação desses estigmas. Além disso, devemos considerar que o
gênero humorístico está atrelado a um sistema de compra e venda e, por isso, se há
humor “politicamente incorreto”, é porque existe público que aprova essa vertente.

Ademais, é imprescindível enfatizar que a liberdade de expressão é um direito de todo


cidadão brasileiro, assegurado pela Constituição Federal e previsto no Artigo 19 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Destarte, fica claro que os limites para o
humor não devem ser impostos em forma de censura, pois nenhum indivíduo pode ser
impedido de se expressar. Por outro prisma, apesar do direito à liberdade de expressão,
a pessoa deve estar passível às consequências, como foi o polêmico caso do humorista
Rafinha Bastos, que foi processado pela cantora Vanessa Camargo, após referir-se a ela
de maneira ofensiva no programa de humor “CQC”.

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Fica evidente, portanto, que, diante de um cenário em que o humor atira sem
refletir sobre as consequências desse tiro, é necessário pensar em medidas que não
desarmem – que seria uma forma de censura, mas que eduque a sociedade a fim de
promover mudanças na indústria humorística. Dessa forma, o Ministério da Educação,
junto ao Ministério da Cultura, deve promover campanhas e palestras, nas escolas,
sobre a questão das minorias para que, desde cedo, os jovens adquiram consciência
em relação ao que é engraçado e o que fere a integridade de terceiros. Assim, o Brasil
caminhará em direção a um gênero mais democrático sem retroceder à censura.

Modelo 2: Sim, há

“Nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles acham ridículo”,
a citação do autor romântico alemão do século XVIII, Goethe, pode ser facilmente
trazida para a atualidade, no que se refere à temática do riso. No cenário hodierno,
apesar de ser perceptível o espaço conquistado pelas minorias, essa luta ainda persiste
dentro de um dos maiores reflexos da sociedade: o humor; fato que coloca em debate
a dualidade presente entre a liberdade de expressão e o direito do outro.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que a história do humor vem de uma alegoria
sobre os grupos sociais desfavorecidos. Desde a monarquia, em que se tinha o bobo da
corte como contratado para fazer o rei gargalhar, ainda hoje o riso é um mecanismo de
compra e venda. Nesse aspecto, pode-se citar que a liberdade de expressão sempre
foi estabelecida por quem usufrui desse bem, reforçando ainda mais estereótipos à
margem social. Um exemplo dessa forma de estimular preconceito pode ser visto
através da capa recente da revista francesa Charlie Hebdo, retratando a hipótese de
que, se o menino Aylan Kurdi, refugiado morto à beira mar, tivesse chegado à Europa,
iria se tornar, apenas, um agressor sexual, subentendendo que essa característica seja
marcante de um determinado grupo social.

Por outro lado, vê-se hoje uma “mudança de papéis”. Cada vez mais é dado direitos aos
marginalizados socialmente, o que culmina para uma reflexão sobre essa “liberdade

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de expressão no meio humorístico”. Como reflete a cartunista Laerte no documentário


“O riso dos outros”, “sempre vai haver alguém ofendido quando se faz uma piada. A
questão é como a gente negocia essa ofensa historicamente” e, quanto à história,
apesar de não haver políticas públicas efetivas para assegurar às ofensas veladas em
humor, as minorias adquiriram o poder da fala, tanto quanto a força para repudiar piadas
ofensivas e caricatas, mesmo ainda prevalecendo na sociedade como um reflexo do
pensamento em comum, culturalmente preconceituoso.

Desse modo, pode-se compreender que o limite do humor não é delimitado por
quem a produz, mas sim por quem usufrui desse objeto de entretenimento, sendo
uma análise da cultura de um povo. No entanto, mudanças são necessárias para que
haja uma maior reflexão sobre piadas e comédias com cunho ofensivo, ou que firam a
integridade de um indivíduo. Políticas efetivas, então, como a elaboração de uma lei
que combata abuso do humor em relação aos direitos humanos, como descrito no
artigo 5º da constituição, deve ser feita pelo sistema legislativo; além disso, as escolas
devem instituir, por meio de palestras com alunos e pais, a nocividade de piadas
ofensivas, promovendo a análise sobre esse hábito cultural. Somente assim haverá o
entendimento de que a liberdade para o riso deixa de existir ao passo que o direito de
alguém é ultrapassado.

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