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É correto o pastorada feminino?

Pergunta:

Você considera o pastorado feminino correto? (Tadeu Benedito – São Paulo/SP –


04/08/2015)

Resposta:

Olá, Tadeu, a paz de Cristo.

Eu considero sim. Há muita base bíblica para o ministério pastoral feminino.


Os que são contra o são por causa deste texto em que Paulo escreve:

“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher
ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (1ª
Timóteo 2:11-12)

No entanto, qualquer estudioso da Bíblia que tenha um conhecimento mais


amplo do conteúdo geral do Novo Testamento entende que Paulo não estava
falando de todas as mulheres, nem de todos os lugares, muito menos de todas
as épocas. Isso porque na Bíblia é muito evidente mulheres
cristãs ensinando, inclusive ensinando para homens. Tal é o caso, por
exemplo, de Priscila, que doutrinou Apolo junto a seu marido:

“Logo, Apolo começou a falar corajosamente na sinagoga. Quando Priscila e Áquila o


ouviram, convidaram-no para ir à sua casa e lhe explicaram com mais exatidão o
caminho de Deus” (Atos 18:26)

Note que o escritor inspirado não diz que apenas Áquila (o homem) ensinou
Apolo, mas que Priscila e Áquila o ensinaram. Priscila não apenas é
mencionada ensinando ativamente, como também é citada por primeiro,
antes mesmo de seu marido Áquila!

O outro texto usado pelos que são contra o ministério pastoral feminino é o de
1ª Coríntios 14:44-45, que diz:
“Permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes
permaneçam em submissão, como diz a lei. Se quiserem aprender alguma coisa, que
perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja”(1ª
Coríntios 14:34-35)

Mais uma vez, será que este texto deve ser aplicado a todas as mulheres, de
todos os lugares, em todas as épocas? É claro que não. O próprio apóstolo
Paulo, naquela mesma carta, disse que as mulheres poderiam profetizar na
igreja, e se podem profetizar, é óbvio que não tem que ficar em “silêncio”! O
apóstolo afirma:

“Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a sua cabeça; e toda
mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é
como se a tivesse rapada” (1ª Coríntios 11:4-5)

Note que Paulo não disse que a mulher não pode profetizar, e sim que ela não
podia profetizar sem o véu (porque naquela época apenas as prostitutas da
cidade de Corinto não usavam o véu, e Paulo não queria criar assemelhação
entre as mulheres cristãs e as prostitutas, obviamente). O bom senso nos leva
a concluir que, com o véu (i.e, com decência e comportadamente) a mulher
podia profetizar na igreja. Caso semelhante a este se encontra em Atos 21:9,
que diz que Filipe “tinha quatro filhas virgens, que profetizavam” (At.21:9). Será
que essas quatro filhas profetizavam dentro de casa, para as quatro paredes?
É claro que não. A profecia é voltada para a edificação da igreja, no ambiente
de culto:

“Quem fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica a igreja” (1ª
Coríntios 14:4)

A maioria dos estudiosos sérios concorda que em 1ª Coríntios 14:34-35 Paulo


não estava falando as mulheres em geral, mas sim às esposas recém-
convertidas que não conheciam muita coisa sobre o evangelho e por isso
ficavam perguntando em voz alta as coisas aos seus maridos, atrapalhando o
prosseguimento natural do culto. Então Paulo exorta as mulheres a não
atrapalharem o prosseguimento do culto, para ficarem em silêncio enquanto o
pregador fala e para levarem essas questões para dentro de casa, porque
assim não iria atrapalhar ninguém. Vale lembrar que a mesma palavra grega
usada no texto traduzida por “mulheres” (gune) também é a mesma que
significa “esposas”, no grego. O grego bíblico (koiné) não tinha palavra que
distinguisse “mulher” de “esposa” (como temos hoje em nosso idioma), e por
isso essa identificação depende sempre do contexto, que neste caso favorece
muito mais o segundo caso, uma vez que fala sobre “marido” e “casa”.

O ministério pastoral feminino é ainda mais claro à luz de 1ª Timóteo 3, texto


em que Paulo fala sobre o dever e as regras referentes aos bispos e diáconos
homens, e logo em seguida, no verso 11, é dito que ”as
mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e confiáveis em
tudo” (1Tm.3:11). Esse “igualmente” deixa claro que aquelas regras
relacionadas ao ministério não se relacionavam apenas com os homens,
mas igualmente com as mulheres. E se o mesmo se aplica por extensão às
mulheres, então as mulheres também estavam inseridas nos cargos
ministeriais da Igreja.

A Bíblia fala ainda de uma diaconisa chamada Febe:

“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é diaconisa da igreja de Cêncris” (Romanos


16:1)

E de um casal de apóstolos com os nomes de Andrônico (o homem) e Júnias (a


mulher):

“Saúdem Andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São
notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim” (Romanos 16:7)

Os que são contra o ministério pastoral feminino geralmente argumentam no


primeiro texto que Febe era apenas uma “serva” e não uma “diaconisa”. No
entanto, a palavra grega utilizada no texto é diakonos, a mesma utilizada nos
textos que falam de diáconos homens, com a diferença de que aqui o termo
está no feminino. Isso mostra o preconceito exegético que alguns têm contra
a clareza do texto bíblico: quando a palavra é aplicada a um homem, se
refere a um ministério eclesiástico; no entanto, se a mesma palavra é
aplicada a uma mulher, não se refere a nada. Eles já eliminam de antemão
qualquer possibilidade de favorecimento ao ministério pastoral feminino, e
fazendo isso incorrem em grave caso de eisegese, o que é realmente
lamentável.
Quanto ao segundo texto, a objeção mais comum é que Júnias era “um
homem”, o que bate de frente com toda a literatura grega antiga,
que sempre citou o nome Júnias como sendo um nome feminino. Tais
objeções fracas apenas demonstram como nossos oponentes são tendenciosos
na interpretação dos textos que não lhes convém, além de ignorar a nossa
refutação à interpretação deles no que se refere aos textos tradicionalmente
utilizados por eles.

Por fim, o maior argumento em favor do ministério de ensino feminino, a meu


ver, é a sua utilidade. A Bíblia não proíbe nada que não possa ser
objetivamente declarado errado pelo simples bom senso. Observe, por
exemplo, as restrições que Paulo faz em relação ao bispo homem:

“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio,
prudente, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho,
nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar
bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se
alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?
Não pode ser recém-convertido, para que não se ensoberbeça e caia na mesma
condenação em que caiu o diabo. Também deve ter boa reputação perante os de fora,
para que não caia em descrédito nem na cilada do diabo” (1ª Timóteo 3:2-7)

Por que ele proíbe que tenha mais de uma mulher? Porque isso seria
promíscuo. Por que ele prescreve que seja “sóbrio, prudente, respeitável e
hospitaleiro”? Porque o bispo precisa ter caráter. Por que ele proíbe que seja
apegado ao vinho? Porque a maior vergonha do mundo seria ver um bispo
bêbado. Por que ele proíbe que o bispo seja violento? Porque ele tem que ser
exemplo aos demais. Por que ele proíbe que seja apegado ao dinheiro? Porque
o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Por que ele prescreve que o
bispo tem que cuidar bem da sua família? Porque “se alguém não sabe
governar sua própria família, não poderá cuidar da igreja de Deus”. Por que
não podia ser recém-convertido? Para que “não se ensoberbeça e caia na
mesma condenação do diabo”.

Perceba que tudo o que Paulo proíbe tem uma lógica. Ele não proíbe “por
proibir”, ele proíbe porque aquelas coisas podem realmente fazer muito mal
ao evangelho. Ele não proibia nada sem razão alguma, sem que a proibição
tivesse uma utilidade ou finalidade clara. Então perguntamos: qual é essa
utilidade ou finalidade em proibir a ordenação feminina? As mulheres não
sabem pregar? Isso não é verdade. Priscila pregava tão bem que ensinava a
Apolo (At.18:26), e ainda hoje há muitas mulheres que pregam bem melhor do
que muitos homens. Mulheres são “inferiores” aos homens? Também não.
Ambos são criados à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:27) e são um em
Cristo Jesus (Gl.3:28). É pecado ser mulher? Também não, evidentemente.

Simplesmente não há nenhuma razão lógica ou coerente para se proibir a


ordenação feminina ao ministério, senão um tradicionalismo oco e sem
sentido, que atrasa o avanço do evangelho ao coibir a ação de pessoas
capacitadas a fazerem parte da“seara do Senhor” (Lc.10:2), se elas são do sexo
feminino. A obra do Senhor já carece de obreiros, e eles ainda descartam de
antemão metade deles. Ou o apóstolo Paulo estava proibindo algo sem
nenhuma razão satisfatória o suficiente, ou então ele não estava condenando
o ministério feminino (o que é claramente o mais provável, para onde aponta
as evidências). Portanto, em minha análise, as igrejas evangélicas que
permitem o ministério feminino estão com a razão neste lado do debate.

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