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A Desigualdade Social No Ambiente Escolar - Concepcoes e Possibilidades PDF
A Desigualdade Social No Ambiente Escolar - Concepcoes e Possibilidades PDF
Resumo:
O presente artigo é o resultado de um trabalho desenvolvido pelas acadêmicas do curso de Pedagogia
da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), na disciplina de Sociologia da Educação.
Embasados por autores que já discorreram sobre o tema, dentro do campo da sociologia e educação.
O texto tem como principal objetivo de refletir sobre o posicionamento dos professores frente às
demonstrações de desigualdade social nas salas de aula, tendo em vista o discurso de igualdade
presente na atualidade e o papel da educação neste contexto. Embasado teoricamente e
metodologicamente pela abordagem crítica-dialética, utilizou como instrumento de pesquisa
questionários a professores de anos iniciais do Ensino Fundamental, de uma escola localizada em um
município do Estado do Paraná, a fim de verificar o posicionamento dos mesmos frente a
desigualdade social na sala de aula.
Palavras chave: Desigualdade social, escola, reprodução e igualdade.
Abstract
This article is the result of work carried out by the Faculty of Education Academic State University
Midwest (UNICENTRO), in the discipline of Sociology of Education. Grounded by authors who have
discoursed on the subject within the field of sociology and education. The text's main objective is to
reflect on the positioning of teachers against the statements of social inequality in classrooms, in view
of the discourse of equality present today and the role of education in this context. Grounded
theoretically and methodologically by critical-dialectical approach, used as a research tool
questionnaires to teachers in the early years of elementary school, a school located in a municipality
of the State of Paraná, in order to check the positioning ourselves ahead of social inequality in the
room classroom..
Key-words: Inequality, school, play and equality.
1 Introdução
Frente a esta hipótese, cabe nos refletir sobre a desigualdade social e seus reflexos no
ambiente escolar, analisando os discursos dominantes na atualidade e investigando de que
maneira a escola vem enfrentando os problemas sociais. Verificando como os professores de
ano iniciais percebem a desigualdade social na sala de aula e de que maneira trabalham a
possibilidade de não exclusão.
Visto que a escola é uma instituição determinada socialmente, que faz parte de uma
contradição econômica presente na sociedade capitalista, na qual esta instituição pode
trabalhar em defesa, combate ou legitimação dos interesses de uma classe dominante,
possuindo um papel significativo na formação da consciência de sujeitos capazes de
reproduzir ou transformar a realidade social e econômica. É necessário refletirmos sobre esta
instituição dentro de seus limites e suas possibilidades perante a realidade social e analisarmos
a visão que os educadores adotam frente a desigualdade presente na sala de aula.
Dessa forma, tendo a obra de Marx como ponto de partida, podemos considerar que as
desigualdades existem em decorrência da maneira em que é organizado o trabalho no modo
de produção capitalista que é baseado na propriedade privada dos meios de produção, uma
vez que, a riqueza produzida pelos proletários através da venda de sua força de trabalho, em
troca do salário é propriedade dos donos dos meios de produção (burguesia) que através da
mais-valia aumenta seu capital.
Dessa forma, podemos constatar que o acúmulo de riqueza não é de posse de quem a
produz, ou seja, da grande massa trabalhadora, mas esta sobrevive da venda de sua mão-obra
através do salário. Esta grande exclusão da classe operária dos benefícios do que se produz,
gera a supressão desta classe ao acesso das mercadorias produzidas e sobretudo gera a
desigualdade econômica, uma vez que o capital pertence a minoria da população (donos da
propriedade privada).
[...] À medida que o homem trabalha para satisfazer suas necessidades, o homem se
organiza de tal forma que pode criar, ao mesmo tempo que necessidades e condições
de vida cada vez mais sofisticadas para alguns, condições de vida e, portanto,
necessidades cada vez mais “simples” para outros. (...) nas sociedades capitalistas
em que para alguns homens ocorre um refinamento das necessidades e, para outros,
ocorre a brutalização. Finalmente, esse movimento expressará sempre as condições
objetivas de um determinado, momento histórico e, nesta medida, as contradições
presentes neste momento. (ANDERY; MICHELEITO; SÉRGIO, 1999, p.407)
Muitas vezes, nos deparamos com políticas sociais, que atribuem uma característica
redistributivista como solução da desigualdade. De acordo com Behring (1998, p.24): “É
irrealizável todo o conjunto de “soluções” para a questão da desigualdade, que remetem
apenas a esferas da distribuição e do consumo, diga-se da circulação, quando a chave do
problema está na produção”.
A desigualdade social é uma realidade inegável, embora muitas vezes passa que
despercebido aos olhos da maioria da sociedade devido a naturalização desses fatos
produzidos socialmente. Esta naturalização é fruto de um olhar normalizador, que passa a
perceber duras realidades como normal, tornando-o natural. Gentili (2003) faz uma analogia
para explicar os conceitos de “normalidade” e “anormalidade”, usando de exemplo a seguinte
situação:
A segunda falácia apontada por Paro (1999, p.08) diz respeito ao equívoco que se
comete quando associamos a falta de ascensão social com a utilização da escola:
A terceira falácia, esta atrelada a ideia de que o sistema produtivo necessita cada vez
mais de um maior número de mão de obra especializada, com formação cada vez melhor e
atualizada:
Dessa forma, podemos compreender que a instituição escolar não tem o poder de
abarcar os problemas da sociedade atual e muito menos, acabar com a desigualdade social. O
que se percebe na atualidade é a justificativa de que a escola é um ambiente de democrático,
no qual se faz a justiça por meio de mecanismos de igualdade.
Contudo, o que vemos muitas vezes são perspectivas de uma escola heroica, como se
fosse um local distante das injustiças do capitalismo e produtora de uma liberdade de
pensamentos, longe de censura, longe da desigualdade, de injustiça. No entanto, esta liberdade
fica condicionada e restrita a uma ordem social voltada aos interesses do capital. Essa
liberdade, se é que poderia se chamar liberdade, pode ser executada se não fugir do mando do
capital, essa liberdade é controlada, é manipulada, e institucionalizada de uma forma que não
abale a estrutura do sistema capitalista.
Cabe nos questionar de que forma que a escola vem assumindo este compromisso tão
idealizado de ambiente “salvificador” atualmente e em que medida o discurso de igualdade
vem contribuir, ou não, para a reprodução e legitimação da desigualdade social.
Quando acreditamos que a escola meritocrática é uma escola justa, estamos supondo
que a sociedade oferece condições iguais a todos e que todos podem desfrutar e levar uma
vida bem sucedida se aproveitar as oportunidades que a escola proporciona. De acordo com
Dubet (2004, p. 541): “as sociedades democráticas escolheram convictamente o mérito como
um princípio essencial de justiça: a escola é justa porque cada um pode obter sucesso nela em
função de seu trabalho e de suas qualidades”.
3 Metodologia
Caso 2: aluno oriundo de família pobre, cuja única renda fixa advém do programa
bolsa família, mãe e pai analfabetos, trabalham por dia quando há serviço. Nunca saiu de sua
cidade. No primeiro dia de aula, apresenta-se sem asseio corporal, com roupas velhas e
descalço, o aluno não tem material escolar completo.
Em sequencia pedia-se aos profissionais que descrevessem como agiam diante destes
dois casos no que se referia a:
a) Acolhida inicial (como você visualiza esse aluno pela primeira vez);
b) Processo de ensino/aprendizagem;
d) Avaliação;
e) Tarefas escolares;
f) Acompanhamento familiar;
No discurso assumido por estes profissionais se evidencia que o primeiro olhar destes
para estas crianças vem a contemplar a condição financeira como pré-requisito para
aprendizagem, e que também a condição financeira é pré-requisito para interesse da família
pelo aluno na escola. Ressalta-se que apenas um profissional atentou par o fato de que os pais
do caso um teriam menos tempo para participar da vida escolar de seu filho.
E o autor prossegue:
Só será possível afirmar que há direito à educação quando todos e todas, sem
distinção de classe, gênero, raça, origem étnica, língua materna, condições físicas ou
orientação sexual, puderem viver em uma sociedade na qual o conhecimento é um
bem comum. Por isso, não existe direito à educação quando a “qualidade” da escola
é um atributo disponível somente para aqueles que têm dinheiro para pagar por ele.
Qualidade para poucos não é qualidade, é privilégio. E o privilégio é diametralmente
oposto aos princípios que fundamentam uma sociedade democrática. (GENTILI,
2008, p. 48).
Considerando estas questões torna-se fácil entender certos tratamentos que ocorrem
nas relações escolares, sendo as que consideram alunos e professores, pais e professores e
Estado e professores. Sempre relações de dominados e dominantes, obediência sem discussão
e autoridade que não aceita ser questionada.
Na sequencia da pesquisa, se observou que cem por cento dos professores acreditam
que há necessidade de adaptar os conteúdos no que se refere ao processo de ensino e
aprendizagem e as tarefas escolares, entretanto, estes profissionais colocaram que esta
necessidade surge pela “bagagem cultural” que estes alunos trazem de casa. Ainda se
observou que sempre o “caso dois” era visto como aquele que precisaria de ajuda.
Pierre Bourdieu entende esta “bagagem cultural” como o capital cultural que um aluno
apresenta ao chegar à escola. Para o autor, a relação estabelecida entre educação e capital
cultural consiste num princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital
econômico. Esta situação decorre por que o sistema escolar considera suas seleções de acordo
com a manutenção de uma ordem social preexistente, ou seja, dividindo alunos de acordo com
o seu capital cultural. Considera-se ainda que este capital cultural seja herdado das relações
culturais estabelecidas entre os familiares. Assim, se os pais não tiveram uma formação
acadêmica, seu capital cultural transmitido terá menor consistência que aqueles que cursaram
universidades. Entretanto ao observar-se o restrito número de pessoas de origem humilde que
terminam um curso superior em contrapartida aos filhos da elite que adentram nesses locais,
se evidencia que o capital cultural, também está voltado para o capital econômico.
Esta situação foi percebida na pesquisa quando todos os profissionais declararam que
realizam a avaliação, o acompanhamento familiar e estabelecessem a relação entre professor e
aluno de forma igualitária aos dois casos. Esclareceram que independente de qualquer coisa
precisam que estes alunos sejam considerados como iguais.
Consideramos este discurso maravilhoso, porém, estes alunos não são iguais e, avalia-
los da mesma forma, realizar uma relação entre professor e aluno nesse sentido e acompanhar
as famílias do mesmo modo, apenas será suficiente para que este aluno fracasse na escola,
abandonando aquilo que poderia ser o ponto de sua emancipação diante de uma sociedade que
exclui, enquanto afirma estar incluindo.
Nas salas de aula brasileiras o acesso a todos foi permitido, mais a permanência não
está garantida da mesma forma. Através desta pesquisa se evidenciou que em uma escola do
Paraná, a desigualdade social é diariamente reproduzida nas relações que ocorrem entre
professores e alunos. E infelizmente, não apenas nesta escola. O discurso elaborado pelo
Estado de oferecer condições de igualdade se perpetua nas escolas, onde acaba por excluir
aqueles que mais precisariam do saber.
Espera-se que este estudo venha a se configurar como ponto de partida para outros que
investiguem a reprodução da desigualdade social na escola e, que possam buscar através
destas breves reflexões, alternativas para desestabelecer estes conceitos que se encontram no
sistema escolar.
Referências
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