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Os rumos da Revolução
RONALD LEÓN
A
ssistimos ao maior enfrenta- rebeldes armados e a população em Sírio de Direitos Humanos (OSDH),
mento entre revolução e contra- geral, ações de claro caráter nazi-fas- mais de 38.000 pessoas morreram –
rrevolução em nível mundial, e cista, que vão desde bombardeios aéreos entre as quais 3.110 crianças – desde 15
o resultado desta luta impactará profun- e com artilharia pesada, que destroem ci- de março de 2011, quando começou a
damente o curso da situação internacio- dades inteiras, até ataques aéreos seleti- revolução, até o final de outubro de
nal, em particular o rumo das vos contra padarias ou postos de 2012. Somente entre agosto e outubro
revoluções no Norte da África e no gasolina em momentos de desesperada deste ano, 15.152 pessoas morreram e a
Oriente Médio. presença dos civis, bem como a utiliza- média de mortes por dia chegou a 165.
Conforme os meses passam, a situa- ção sistemática de grupos de assassinos Em meio a este banho de sangue, mais
ção se torna mais dramática e sangrenta. armados e pagos pela ditadura – os cha- de 360.000 pessoas fugiram do país para
O regime ditatorial de Bashar Al Assad, mados Shabiha –, que incursionam nos refugiar-se na Jordânia, Turquia, Líbano
que prometeu “viver e morrer na Síria”, bairros em disputa ou controlados pelos e Iraque, onde permanecem em condi-
está cometendo um genocídio contra o rebeldes para torturar, assassinar e estu- ções subumanas. Segundo o Centro
povo sírio, que se levantou em armas prar mulheres e crianças indiscriminada- para a Documentação de Violações na
para derrubá-lo. Presenciamos diaria- mente. Síria, há 32.478 presos políticos apodre-
mente a aplicação de horrorosos méto- Os números dos crimes de Al Assad cendo nas prisões de Al Assad, entre os
dos de extermínio em massa contra os são arrepiantes. Segundo o Observatório quais 806 são crianças1. O drama das
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crianças é reconhecido até pela ONU, o regime sírio não teria como se susten-
que, em um relatório recente, informa tar e continuar seus ataques genocidas.
sobre "casos de crianças a quem é ne-
gado acesso aos hospitais, meninos e me- O curso da guerra civil
ninas mortos nos bombardeios de seus O triunfo militar do campo rebelde en-
bairros ou submetidos a torturas, inclu- frenta um claro problema de armamento
sive à violência sexual". e de direção político-militar. O regime de
Al Assad, apesar de todos os avanços das
A economia síria devastada milícias rebeldes e do Exército da Síria
Antes de analisar o curso da guerra Livre (ESL), continua possuindo um
civil e sua dinâmica, é importante tratar- maior poder de fogo. Al Assad dispõe de
mos da situação econômica atual da um exército que sofre deserções, mas
Síria, após 20 meses do início da revolu- que mantém uma corrente de comando,
ção. além de artilharia pesada e uma força
O jornal libanês The Daily Star infor- aérea de respeito. É importante saber
Bashar Al Assad, ditador da Síria,
mou em 4 de agosto que, segundo o Ins- que o exército sírio sempre foi um dos
parece não ouvir a voz do seu povo.
tituto de Finanças Internacionais, o PIB mais fortes do Oriente Médio e é armado
da Síria cairá 14% em 2012, após uma sejam de U$S 1,1 bilhão, o equivalente diretamente pelo Irã e pela Rússia.
contração de 6% em 2011. Advertiu tam- a 18 dias de importações. A fim de dificultar as deserções, Al
bém que esta queda poderia superar os O jornal Syria Today anuncia que, se- Assad se vale das unidades de elite –
20% no fim deste ano, se a guerra civil gundo dados do governo, o desemprego como a terrível IV Divisão mecanizada,
continuar, o que é muito provável. chegou a 25%. Outras fontes falam em comandada por seu irmão mais novo,
Os principais indicadores econômicos mais de 30%, sem contar os subempre- Maher Al Assad – e, obviamente, dos
estão caindo. Os rendimentos do turismo gos. O índice oficial de pobreza está em mercenários e criminosos shabihas.
diminuíram de 11% do PIB em 2010 a 13%; sem dúvida a cifra é mais alta. A Além disso, nos últimos meses, suas
4% em 2011; em 2012 representarão só indústria síria, que em 2010 representou ações militares se baseiam fortemente
0,6% da economia síria. O investimento 23,7% do PIB, está destruída ou parali- nos ataques aéreos. Isso causa alta mor-
estrangeiro direto passará de U$S 1,5 bi- sada. Conforme reclamam os próprios talidade civil e faz com que os rebeldes
lhão em 2010 a U$S 100 milhões em empresários, a capacidade da produção não possam avançar e inclusive tenham
2012. O total da fuga de capitais entre industrial diminuiu mais de 60%. Em que abandonar certas posições, por ca-
março de 2011 e julho de 2012 representa Aleppo, capital econômica do país, mais recer de armamento antiaéreo ou anti-
21% do PIB. Devido à quase paralisação da metade das fábricas têxteis foram fe- tanques.
da economia, às sanções internacionais chadas, já que os mercados europeus Em toda guerra civil, o problema do
e à queda drástica da produção agrícola, estão praticamente fechados pelas san- armamento é um problema político de
existe escassez de todo tipo de alimentos ções internacionais. primeira importância. Os rebeldes, que
e bens de consumo. A inflação média em Esta é a conjuntura econômica na aumentam em número, não contam com
2012 é de 17%, contra 5,2% em 2011. qual se desenvolve a guerra civil. Por as armas necessárias para manter as po-
O déficit fiscal é de 14% do PIB, quase um lado, o conflito armado aumenta sições e avançar de forma decisiva. “Não
o dobro de 2011, quando ficou em 8%. todas as contradições sociais e a penúria precisamos de mais homens, precisamos
Por causa da guerra civil, as despesas do das massas, que lutam para derrubar Al de mais armas”, diz o comandante
governo aumentaram de forma descon- Assad e conquistar liberdades democrá- Ahmed Abu Ali, à frente de uma katiba
trolada e a arrecadação fiscal quase des- ticas, na perspectiva de melhorar sua (batalhão) de uma centena de milicianos
pareceu. É o caso, por exemplo, dos qualidade de vida, cada vez mais dete- que combate no bairro de Saladino, em
rendimentos provenientes das exporta- riorada pela tragédia social que se apro- Aleppo. Continua dizendo: “O mais difí-
ções de petróleo, que representavam até funda com a guerra civil. Por outro lado, cil que temos que enfrentar são os tan-
30% da arrecadação do governo. Há pre- é claro que a ditadura está ficando sem ques de combate T-82, contra os quais
visão de que as exportações de petróleo oxigênio econômico próprio para conti- nossos RPG são insuficientes”. E acres-
diminuam de 130 mil barris por dia em nuar sustentando sua guerra contra as centa: “Também os caças MiG e Sukhoi,
2011 a 100 mil em 2012. As exportações massas sírias. A situação de Al Assad, além dos franco-atiradores”. Abu Ali la-
de mercadorias em geral diminuíram com a produção em queda livre, com a menta-se também: “Temos franco-atira-
12% em 2011 e estima-se que neste ano maioria dos mercados fechados, com a dores, mas não temos rifles de precisão”,
cairão 20%. As importações também arrecadação fiscal no chão e quase sem e sentencia: “Não podemos controlar
terão queda de 21,5%, depois de uma reservas financeiras, é dramática, pois Aleppo a menos que tenhamos arma-
contração de 14,2% no ano passado. isso o debilita militarmente e faz sua mento pesado (…) Sem ter mais armas
As reservas em divisas da ditadura de base social e política oscilar, a tal ponto ainda não podemos imaginar o futuro”
Al Assad foram reduzidas de U$S 19,5 que crescem os setores burgueses que (El País, 11/8/2012).
bilhões (equivalente a 7,6 meses de im- começam a abandonar o barco de seu Até o momento, nenhum governo de-
portações de bens e serviços) em 2010 a regime. Isso chega ao ponto de que, se cidiu enviar armas pesadas aos rebeldes.
U$S 10,8 bilhões em 2011 (equivalente a não fosse pela ajuda econômica e militar Todas as potências imperialistas e gover-
4,4 meses de importações). Para o final que recebe de seus poucos aliados – nos como os do Egito ou da Líbia mos-
de 2012, estima-se que essas reservas Rússia, China, Irã, Venezuela e Cuba –, traram-se contrários a esta alternativa.
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Os combates se intensificaram tam- de civis que organizam o tráfego e con- entre si, é um fato muito progressivo.
bém na base militar de Taftanaz, de onde trolam a segurança, além de coordenar São a mais clara expressão da força da
o regime lança seus ataques contra toda serviços como os trabalhos municipais, revolução síria. É por isso que o regime
a província de Idlib. Em Deir Ezzor, na entre os quais a limpeza das ruas ou a se dedica a destruir essas zonas através
zona leste do país, os rebeldes anuncia- coleta do lixo”2. Há sistemas de adminis- dos bombardeios. Foi o caso, por exem-
ram ter tomado o campo de petróleo Al tração parecidos também em zonas ru- plo, do vilarejo de Kafarnubol, libertado
Ward. Em Hama, um atentado com rais, como Kajarjanaz, Binnish, Atma e em 1° de abril de 2011 e cruelmente
carro-bomba matou mais de 50 soldados Tal’ada. Há informações de que, de bombardeado pelos aviões de Al Assad
e políticos ligados a Al Assad em 5 de forma desigual, incipientes “redes” des- em 5 de novembro de 2012.
novembro. Outros combates e bombar- ses conselhos de milícias estão sendo
deios indiscriminados do regime aconte- constituídas.
cem em Daraa, Homs e Latakia. A existência, ainda que embrionária e As áreas controladas pelas forças
As ações das milícias do ESL desferem precária, de zonas libertadas e das in- rebeldes incluem regiões das cidades
golpes importantes no regime sírio, mas úmeras Tansiqiyyat na Síria, que aparen- mais importantes, como Aleppo, Hama
ainda carecem da força necessária para temente têm algum grau de coordenação e outras.
realizar uma ofensiva avassaladora e de-
cisiva. Entretanto, a profundidade da re-
volução é tal que se estabeleceu no país
TURQUIA
uma clara situação de duplo poder, cuja
maior expressão são os territórios liber-
tados pelas milícias.
O papel nefasto Arábia Saudita à cabeça – apresentem- exterior – das milícias que lutam no te-
do castro-chavismo se de forma cínica como os máximos de- rreno, dificultam o objetivo imperialista
Desde o início da revolução síria, a fensores da “democracia” e dos “direitos de controlar o processo. Aqui é preciso
maioria da esquerda mundial, sobretudo humanos” na Síria. entender que o CNS tem cada vez menos
o castro-chavismo, posicionou-se contra peso e autoridade política, pois seus
a insurreição das massas e em defesa do A política do imperialismo principais líderes estão fora do país e em
sanguinário ditador Al Assad, tal como e do CNS suas declarações aceitam conciliar com
apoiaram política e militarmente Kadafi O imperialismo, que carece de condi- representantes do regime. Com o ESL
na Líbia. Para esses setores, o que existe ções políticas para intervir militarmente, acontece o contrário: goza de ampla
na Síria não é uma revolução, mas uma manobra em todos os sentidos para con- confiança porque é a articulação que
contrarrevolução, na qual “mercenários” trolar e derrotar a revolução síria. Faz conduz as ações militares dentro da
ou “tropas do imperialismo” estariam tempo que Al Assad – apoiado pelo im- Síria. Mas é preciso ter claro que, inclu-
tentando derrubar Al Assad, suposto perialismo até o último momento possí- sive dentro do ESL, a cúpula, composta
líder anti-imperialista e antissionista. vel – demonstrou ser incapaz de cumprir por ex-altos oficiais do regime, dirigida
Hugo Chávez, reeleito recentemente esta tarefa, motivo pelo qual Washington pelo coronel Ryad Musa Al Assad a par-
presidente da Venezuela, afirmou pouco retirou sua "bênção" a ele. tir da Turquia, não tem uma autoridade
depois das eleições: “Como não apoiar o A exigência da saída de Al Assad, por inquestionável sobre as centenas de mi-
governo de Bashar Al Assad se é o go- parte do imperialismo, está a serviço de lícias e conselhos populares que estão
verno legítimo da Síria. Apoiar quem, os se reposicionar para controlar, derrotar e espalhados por toda a Síria. O ESL não é
terroristas?”3. Dito isso, ratificou seu abortar a revolução. O imperialismo foi um exército completamente centralizado
“apoio 100%” ao ditador sírio e acrescen- suficientemente hábil para abandonar e que possua uma cadeia de comando
tou: “Oxalá pudéssemos fazer!, mas o um barco que está afundando, e, agora, unificada, e sim uma espécie de frente
que um país como a Venezuela pode sua principal preocupação é como e com única e ampla que abarca todas as milí-
fazer?”, perguntou-se. Na verdade, Chá- quem encarar o curso da guerra civil e cias que dizem ser parte do ESL, mas
vez não apoia o genocida Assad só no uma possível queda de Al Assad, de que não necessariamente atuam sob as
discurso. Também é um dos países que forma que seus interesses estejam a ordens de sua cúpula.
lhe fornece o combustível usado nos tan- salvo. Nesse contexto, o imperialismo pre-
ques e aviões que assassinam o povo Assim, os EUA e toda a coalizão de cisa ter todas as garantias em relação à
sírio. imperialismos europeus e burguesias na- autoridade e à política do CNS. Por isso,
É preciso dizer as coisas como elas cionais árabes tentam uma saída política Hillary Clinton recentemente fez várias
são: o castro-chavismo está sendo cúm- que passe pela deposição de Al Assad, críticas dizendo que “o CNS não pode
plice das ações genocidas de Al Assad. mas que mantenha as bases essenciais mais ser considerado o líder visível da
Vale-se de seu peso e seu prestígio no de seu regime. Nesse sentido, propuse- oposição”, e exigindo que este se amplie
movimento social e na esquerda para co- ram, em reiteradas ocasiões, diversas e tente abarcar a maioria dos diferentes
locá-los contra uma revolução e ao lado fórmulas de "governos de transição", grupos de oposição, desde os comitês de
de uma ditadura sanguinária e pró-impe- que incluam a oposição e membros da coordenação locais, passando pelas mi-
rialista. Além disso, capitula aberta- atual ditadura. lícias e até as administrações das zonas
mente ao imperialismo que diz Entretanto, as divisões políticas dentro libertadas. Seu objetivo é claro: gerar
combater, pois entrega em suas mãos a da oposição síria, começando pela melhores condições para cooptar toda a
luta pelas liberdades democráticas e, enorme distância que separa o CNS – direção rebelde e abortar a revolução.
assim, possibilita que Obama, a União composto basicamente pela Irmandade Dito e feito. Cumprindo os desígnios
Europeia e a Liga Árabe – com Qatar e Muçulmana e por liberais exilados no de Washington, o CNS convocou uma
reunião em Doha (Qatar) na qual am-
As mulheres participam ativamente pliou seu número de membros e no-
das mobilizações contra o regime. meou como novo presidente George
Sabra, um antigo dirigente do Partido
Comunista, agora do Partido Popular De-
mocrático Sírio. No mesmo ato, com o
fim de constituir um governo transitório
que goze da total confiança do imperia-
lismo, ao estilo do que foi o Conselho
Nacional de Transição líbio, conforma-
ram um novo espaço aglutinador deno-
minado Coalizão Nacional de Forças da
Oposição e Rebeldes (CNFORS), que su-
pera os marcos do CNS.
A nova coalizão, que integrou mais se-
tores curdos, cristãos e alauítas na frente
política, elegeu como presidente o ati-
vista e religioso muçulmano Moaz al
Jatib. Suas primeiras declarações foram
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para pedir respaldo político do imperia- verno das classes exploradas sírias. Po-
lismo, e a França já declarou seu apoio. demos formular esta posição nas pala-
O CNS mantém um peso importante vras de ordem: Fora Assad, NÃO à
dentro da CNFORS, na qual terá 14 ca- intervenção imperialista!
deiras. Trabalhar pela política de um governo
A questão positiva é que os Comitês das classes exploradas sírias significa
de Coordenação Local (CCL) – a rede de concretamente lutar hoje pelo fortaleci-
ativistas locais – anunciaram sua retirada mento e pela centralização de todos os
do CNS, afirmando que, nessa reunião comitês de coordenação locais e dos con-
do Qatar, o CNS foi “incapaz de adotar selhos populares ou Tansiqiyyat que con-
um plano de reforma global para desen- trolam as zonas libertadas pela luta
volver um bom papel de representação armada. Somos a favor de ampliar, for-
política da revolução do povo sírio” (EFE, talecer e criar Tansiqiyyat em todas as
9/11). zonas que as milícias rebeldes conquis-
tarem e libertarem do poder da ditadura!
Uma política revolucionária Defendemos a eleição de delegados re-
para a Síria presentantes, eleitos democraticamente
Nossa posição e nossa política para a por bairros, cidades, províncias, fábricas
revolução síria parte de um apoio incon- e regimentos, para constituir os consel-
dicional ao levantamento das massas hos populares que administram as zonas
contra a ditadura de Al Assad. Conse- O cartaz pede a queda de Assad, libertadas! Estes são os embriões do
quentemente, nesta guerra civil posicio- bandeira majoritária do povo sírio poder operário e popular! Defendemos a
namo-nos no campo militar dos rebeldes em luta contra a ditadura assassina realização de Congressos regionais e na-
armados (o campo da revolução) contra cionais desses Conselhos Populares para
as tropas do regime sírio (o campo da o imperialismo. Essa posição, que se es- coordenar a luta militar e responder aos
contrarrevolução), independentemente forçam em apresentar como de "inde- problemas da administração das zonas
de que a direção política desse campo pendência de classe”, apesar de toda a libertadas! A luta deve ser por mais
militar seja burguesa ou pró-imperialista. fraseologia “esquerdista” com que ten- zonas libertadas e controladas pelos Tan-
Somente a partir desta definição de tam revesti-la, é criminosa em meio a siqiyyat até derrotar Al Assad, tomar o
onde está a revolução e onde está a con- uma guerra civil, pois, aplicada à reali- poder e instaurar o poder operário e so-
trarrevolução, e de lutar consequente- dade, só favorece a permanência de Al cialista. Todos são atos de uma mesma
mente ao lado do povo sírio contra o Assad. Terminam na mesma posição do obra: a revolução socialista.
tirano Al Assad, mantendo a todo o mo- castro-chavismo por outros meios. Somente lutando pelo fortalecimento e
mento a mais absoluta independência Alguns desses setores exigem, para pela centralização dos Tansiqiyyat, con-
política, será possível, por dentro dessa apoiar a revolução, que esta seja dirigida siderando-os como verdadeiros embriões
ampla unidade militar, disputar a direção pelo movimento operário e um partido de poder operário e popular, é que a gue-
desse campo militar com as direções bur- revolucionário. Mas colocar esta condi- rra civil poderá mudar de direção política
guesas e pró-imperialistas. ção significa não entender que o maior e militar. Mas tudo isso, insistimos, só
Na luta militar não somos neutros, obstáculo objetivo para que o movi- pode ser feito a partir da unidade militar
pois qualquer tipo de neutralidade – mento operário se desenvolva e para que com todos os setores que estejam dispos-
aberta ou disfarçada – equivale direta- se construa um partido revolucionário é tos e que tomem em armas para derrotar
mente a negar a revolução e dar apoio a própria existência da ditadura. Essa po- Al Assad. Qualquer posição “neutra” nos
objetivo à permanência de Al Assad. sição significa também fazer coro com o transformaria não só em propagandistas
Esta é a posição do PTS-FT e de outras stalinismo, que defende Al Assad em abstratos e estéreis, mas também em de-
organizações que se dizem trotskistas, nome do “perigo” do que virá depois. rrotistas reacionários que prestam ines-
que defendem “nem um nem outro” É fundamental o combate pela cons- timáveis serviços a Al Assad na
(nem Al Assad nem o campo rebelde), trução de uma direção política revolucio- “esquerda”.
com o argumento de que a direção re- nária para o campo militar rebelde, mas Parte desse combate para que a revo-
belde é burguesa e pró-imperialista e isso só pode ser feito se formos parte da lução derrube Al Assad e avance até o
que, por isso, a “rebelião” (pois nem se- luta para derrubar a ditadura assassina governo operário, camponês e popular
quer consideram que o que acontece na de Al Assad. Enquanto a classe trabalha- na Síria é a denúncia e o combate per-
Síria seja uma revolução) foi sequestrada dora não tiver a consciência e a força su- manente às direções burguesas, intrinse-
de antemão. Em meio a um brutal geno- ficiente para depor essas direções, camente pró-imperialistas e inimigas
cídio e a uma poderosa revolução, esses devemos obrigatoriamente disputar a di- irreconciliáveis dos interesses populares
“revolucionários” se satisfazem fazendo reção no âmbito de uma ampla unidade e do socialismo, como a direção do CNS,
comentários que confundem a realidade militar (não política), lutando e atirando a alta cúpula do ESL, a Irmandade Mu-
com suas aspirações e fazendo exigên- ao lado do povo contra o ditador geno- çulmana, e todos os grupos islâmicos ji-
cias de "garantias” ao próprio processo, cida. hadistas. Mas essa denúncia não pode
sem as quais não o apoiam e se limitam Nossa política é pela queda imediata e ser abstrata, deve ser feita a partir da luta
a criticar seus limites, deixando o ca- pela destruição completa do regime de revolucionária para derrotar o regime de
minho livre para as direções traidoras e Al Assad e pela instauração de um go- Al Assad.
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A esquerda está perante uma prova de Nossa resposta a essas questões é afir- armada do povo sírio será feita contra o
fogo. É preciso escolher um lado nesta mativa. Por isso, fazemos um chamado castro-chavismo e seus repetidores “es-
guerra civil, e qualquer organização que a todos os ativistas sindicais, sociais, de querdistas”, mas é necessário demons-
se defina como revolucionária deve se direitos humanos e à esquerda revolu- trar e fazer os lutadores sírios saberem
questionar: Estamos a favor da vitória cionária a cerrar fileiras em torno ao que existe uma esquerda revolucionária
militar das massas, que derrube a dita- apoio incondicional à revolução síria, le- e socialista que apoia a revolução síria.
dura genocida e pró-imperialista de Al vando adiante todo tipo de ações de so-
Assad, sim ou não? Estamos no mesmo lidariedade com o povo sírio armado,
campo militar das massas que disparam desde atos até campanhas financeiras
contra Al Assad, independentemente de para obter qualquer tipo de ajuda mate-
quem as dirija, mantendo nossa inde- rial. Ao mesmo tempo, é fundamental
pendência política para disputar a dire- exigir de todos os governos a ruptura 1. http://www.vdc-sy.org/
ção com os burgueses do CNS e a alta imediata de relações diplomáticas e co- 2. YARA, Nseir: Síria: os civis nas "zonas li-
cúpula do ESL e o imperialismo, sim ou merciais com o ditador Al Assad e o bertadas" dirigem seus assuntos sob a su-
não? Isso é central para determinar se envio de armas pesadas, comida e me- pervisão dos "militares", publicado em
uma organização de esquerda está a dicamentos para que sejam controlados 18/08/2012 no site “Traduções da revolução
favor do avanço da revolução ou, ao con- pelas milícias rebeldes. É claro que qual- síria”
trário, da contrarrevolução. quer ação de solidariedade com a luta 3. La Nación, Argentina, 10/10/2012
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