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Tidos como extintos, índios charrua


sobreviveram 'invisíveis' por
décadas e hoje lutam por melhores
condições de vida 10 Sem cubanos
Cidade de área rural só vai
Fernanda Wenzel - De Porto Alegre para a BBC News Brasil
ter médico 1 vez por semana
10/11/2018 16h57
189

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Caso foi denunciado
Infiltrada relata rotina de
Fernanda Wenzel/BBC News Brasil
trabalho em fábrica
chinesa: 'dormem em pé'
140

UOL Confere
Instituto de Previdência
de Minas não tem 540
conselheiros do PT 27

Analisou 186 países


Mundo está maior, mais
alto, mais gordo e difícil
de alimentar, diz estudo
15
Entrada da aldeia charrua Polidoro, em Porto Alegre

O primeiro desafio foi provar que ainda existiam. Por décadas, a história ensinou
INFORME PUBLICITÁRIO
que os índios charrua foram traídos e massacrados por colonizadores europeus
após anos de perseguição. Mostrar que a trajetória do grupo não acabou ali se De olho na Black Friday

tornou a grande luta de Acuab, primeira mulher cacica-geral do povo charrua no Rio Confira nossas dicas para evitar
uma cilada na hora das compras
Grande do Sul e a principal liderança da aldeia Polidoro, em Porto Alegre.

A história da etnia tinha um final conhecido: o confronto de Salsipuedes, em 1831.


O embate acabou se tornando um massacre oficial (planejado pelo governo
uruguaio) e desleal. Caciques foram convidados a discutir uma aliança contra o
Brasil, mas, desarmados, acabaram mortos, presos ou obrigados a trabalharem
para estancieiros. Até mães foram separadas de seus filhos. A herança cultural Você Manda
charrua, principalmente a língua, acabou se perdendo ao longo do tempo.

Ato de vandalismo destrói gravuras históricas sobre mito indígena em caverna do


Xingu
As freiras que, em vez de catequizar, defenderam cultura indígena e viram povo
'renascer'
Envie fotos, vídeos e relatos para o
WhatsApp do UOL Notícias
Mas essa narrativa também tem um recomeço, ainda que tortuoso e incógnito. A
trajetória descrita e reunida por Acuab mostra que parte da etnia conseguiu cruzar a
fronteira com o Brasil e se instalar na região das Missões, no noroeste gaúcho. A
invisibilidade social viria a se tornar a principal estratégia de sobrevivência.
Você viu?
A reconstrução oficial da história dos charrua começou em 2007. Na genealogia do
grupo, a que a reportagem teve acesso, o arqueólogo Sérgio Leite relata a surpresa
que teve ao ser apresentado por Acuab a um conjunto de peças (três pedaços de
rocha e duas boleadeiras) que só poderia pertencer aos charrua. O laudo dele abriu
caminho para o reconhecimento do grupo pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

"Eu só conhecia aquele tipo de material ao analisar evidências escavadas ou


presentes em acervos de museus. Segundo o que comumente se afirma, no Rio Rede anticorrupção Em fórum com Dilma
quer plano de e Kirchner, esquerda
Grande do Sul temos descendentes de guarani e de kaingang. Ora, ao identificar-se
combate ao crime latina ensaia
como um novo grupo, ficou claro para mim que algumas 'verdades' já bem
com governos eleitos autocrítica
estabelecidas estavam balançando", registrou Leite.

Mas como pode uma versão equivocada da história vigorar por tanto tempo? Uma
das principais hipóteses é apresentada por Sérgio Baptista da Silva, doutor em
antropologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Esse
grupo de Porto Alegre, da Polidoro, conta uma história bem interessante das formas
como eles faziam para se refugiar, para se esconder, para não aparecer, para se
tornar invisíveis." Médico desiste com Bolsonaro não
distância e acesso influenciou Temer a
Coletores errantes ruim, diz chefe de fazer cortes no SUS
secretários no PA para saúde mental
Os charrua historicamente habitaram a região dos pampas do Rio Grande do Sul,
do Uruguai e do sul da Argentina. Viviam em aldeias chamadas toldos, estruturas
rústicas adaptadas ao estilo de vida errante dessa etnia. Tradicionalmente, não
praticavam a agricultura e estavam sempre em busca de novos locais de caça e Especiais
pesca.

Com a chegada dos europeus ao continente americano, no século 17, teve início
uma série de confrontos que duraria mais de dois séculos. "Foi duríssimo. Óbvio
que os espanhóis e portugueses tinham uma vantagem bélica enorme. E os charrua
são muito aguerridos, não se deixavam vencer nunca, protegendo seu território",
explica Silva. A grande mudança ocorreu com o violento Salsipuedes, que passou à
história como a destruição da etnia.

"Talvez a questão mais surpreendente, e ao mesmo tempo a mais importante, do


grupo da Acuab seja mostrar grupos que acabaram escapando desses massacres,
se refugiaram nos fundos de grandes latifúndios, em regiões impróprias para
criação de gado, longe das sedes de estâncias, e lá se mantiveram", afirma Silva.

As perseguições não cessaram, a exemplo da infância de Acuab, no interior da Cientistas criam armadilha
cidade de São Miguel das Missões. Aos sete anos, já sabia subir nas árvores para para descobrir fonte de raios
escapar dos peões das fazendas. "Eles foram lá pra matar nós. Com arma de fogo,
pau e fogo", descreve a cacica, enquanto agita os braços para mostrar como ia se
agarrando de árvore em árvore. Hoje com 64 anos, Acuab mantém o porte robusto,
apesar da baixa estatura. Questionada como chegaram a Porto Alegre, responde:
"viemos rolando".

O caminho até a Aldeia Polidoro TOP 5 Mais lidas do dia


Eles começaram a "rolar" na década de 1960, quando a perseguição dos
fazendeiros se acentuou. Cerca de dez famílias fugiram dos campos para a cidade Aposta de Indaiatuba
de Santo Ângelo. Da época, a cacica lembra novos episódios de violência, a
exemplo da agressão sofrida pelo pai por rejeitar o casamento da filha, então com
1 (SP) leva sozinha R$
70 milhões da Mega-
Sena
12 anos, com um homem mais velho. "Eles tinham uma tabuinha com um pregão
desse tamanho na ponta. Foi com isso que deram nas costas do meu pai." Josias de Souza: De

O jeito foi continuar seguindo em direção ao Sul do Estado. No final da década de 2 repente, o Lula fortão
deu lugar ao
1960, o grupo chegou a Porto Alegre, onde se fixou em moradias precárias na fraquinho
região pobre do Morro da Cruz. Permaneceu ali por 40 anos, apesar dos frequentes
tiroteios associados a disputas do tráfico de drogas. Depois foram transferidos Palocci acusa Lula
provisoriamente pelo poder municipal para um galpão da prefeitura, onde ficariam 3 de interferir em
fundos de pensão
temporariamente. Acabaram permanecendo três anos naquele ambiente, que
Acuab descreve como insalubre.
Bolsonaro rebate
Em paralelo, foi ganhando força a luta pelo reconhecimento do povo charrua junto
aos órgãos públicos. A cacica, ainda desconfortável numa cidade grande, chegou a
4 indicado e diz que
médico brasileiro não
precisa de exame
viajar para Brasília, onde fugiu dos seguranças para chegar perto do então
presidente Lula. "Meu deus, o homem era guarnecido mesmo. Ele tava numa oca lá
"Venezuelano não é
em cima, tinha que subir aquela escada de concreto para chegar no Lula, e ainda
pra ajudar tinha uma cerca de ferro toda guarnecida ao redor do governo. E eu pulei 5 mercadoria para ser
devolvido", diz
aquilo ali guria, pulei sem medo nenhum". Bolsonaro

Mas a cacica conseguiu entregar um documento com o pedido de reconhecimento


de seu povo, que seria oficializado pela Funai em setembro de 2007. No ano
seguinte, a prefeitura transformou uma área de 8,6 hectares, na zona sul de Porto UOL Notícias
Alegre, em reserva indígena municipal. Ali nasceu a aldeia Polidoro, onde vivem Curtir Página 5,1 mi curtidas
nove famílias.
67 amigos curtiram isso
O grupo produz artesanato e cultiva frutas, legumes e raízes como mandioca. Parte
tem empregos fora da aldeia e outra vive de doações sob condições precárias de
moradia, em pequenas casas de madeira e chão batido. A única construção de
alvenaria ali é a sede da aldeia, remanescente de uma antiga fazenda.

Há dez anos, quandos os índios se instalaram no local, a prefeitura prometeu a SIGA O UOL NO YouTube
construção de nove casas. As obras de infraestrutura foram concluídas (abertura de
SIGA UOLNOTICIAS NO
estradas, água e saneamento), mas as casas ainda não saíram do papel. "Nos
pegamos muitas vezes vociferando: como nove casas a gente leva nove anos para
construir? Obviamente não é por falta de vontade", afirma o diretor do
Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre, Mário Marchesan.

Ele atribui a demora a entraves impostos pela legislação ambiental e à burocracia


do programa de financiamento escolhido inicialmente, o Minha Casa Minha Vida -
Entidades. Ainda na gestão anterior, a administração municipal decidiu fazer a obra
com recursos próprios, ao custo de R$ 1 milhão. A primeira construtora contratada
acabou falindo, e agora o departamento prepara uma nova licitação.

Há também iniciativas de apoio da sociedade civil. Um grupo de cinco jovens


arquitetos de Porto Alegre tenta angariar fundos para construir um centro cultural na
aldeia, adequado às celebrações da tribo e às frequentes visitas de estudantes de
escolas da capital gaúcha. "O desenvolvimento do projeto foi feito com a
participação dos indígenas, para que fosse condizente com a história e memória do
povo charrua", explica Carolina Bins Ely, uma das profissionais envolvidas. O grupo
criou uma página no Instagram (@aldeiapolidoro) para ajudar a atrair recursos para
a construção do centro cultural.

A luta dos charrua no Uruguai

A luta por reconhecimento e resgate da história do povo ocorre também fora do


Brasil. Mónica Michelena Diaz tinha 18 anos quando descobriu que era
descendente de charrua. Sua bisavó nascera em Sarandí del Yi, na região central
do Uruguai, onde vivia da caça e da pesca. "Minha mãe sempre tinha me ocultado
que éramos descendentes dos charrua por causa da discriminação. Dizia que era
para me proteger".

Ela começou a pesquisar tudo sobre seus antepassados e descobriu como a cultura
foi se perdendo pela perseguição dos espanhóis e a dispersão dos sobreviventes
pelas estâncias: "Separavam as crianças das mães. Com isso morreu a língua e
muitos costumes se perderam".

Em 2005, Mónica, que é assessora de assuntos indígenas da Unidade Étnico Racial


do Ministério de Relações Exteriores do Uruguai, ajudou a fundar o Conselho da
Nação Charrua (Conacha). O primeiro passo foi uma campanha de estímulo à
autoidentificação dos descendentes de charrua, com a inclusão da dimensão étnico-
racial no censo demográfico de 2011 (5% da população uruguaia declarou ter
ascendência indígena).

O Conacha pressiona o governo uruguaio a ratificar a Convenção 169 da


Organização Internacional do Trabalho, que trata do reconhecimento e proteção dos
povos indígenas, inclusive no que diz respeito ao direito à terra. Na América do Sul,
apenas o Uruguai e o Suriname não ratificaram a convenção.

Os descendentes também lutam para recuperar sua memória. No ano passado, o


Conacha criou uma escola itinerante para disseminar a cultura charrua, que
também oferece cursos online. "A luta é pelo reconhecimento pelo Estado, pela
retomada das terras e pela reconstrução da memória e da percepção como povo.
Somos uma comunidade em dispersão por conta de um genocídio e da
perseguição", define Mónica.

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COMENTÁRIOS 10

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TODOS MAIS CURTIDOS ESCOLHA DO EDITOR

antonioaureliocresta 3 semanas atrás

Cumprimentos à repórter Fernanda Wenzel belo belo trabalho. Quero que o trabalho tenha
dado início ao reconhecimento da descendência Charrua na nossa cultura.

Responder 7 Denunciar

Miguel Parede 3 semanas atrás

Reconhecer, preservar, respeitar e apoiar, é de suma importância a estes descendentes


charruas os verdadeiros donos desta terra. Espero que o poder público tome providências
urgentes, e que encontre um local adequado para eles preservarem seus costumes,
hábitos e tradiçoes.

Responder 6 Denunciar

Corbas Danilo 3 semanas atrás

Sensacional! Invisíveis para sobreviver, sinônimo de aguerrimento e domínio da arte de


montar cavalos não celados e da caça de sumais dos pampas. Vida longa aos Charruas!

Responder 3 Denunciar

Mavi55 3 semanas atrás

Vida longa guerreiros!!

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Augusto Netto 3 semanas atrás

Honra e glória à toda.nação indígena...à minha raiz KAPINAWA de Pernambuco...são os


donos verdadeiros da terra e a eles ela retornará!

Responder 2 Ver Respostas (2) Denunciar

Robert Mello Mello 2 semanas atrás

Isabel Esthe Maria Albanisa São meu povo Kapinawa, chegaram aqui no sul
de Pernambuco na grande seca de 1917. Tenho muito orgulho de ser
também um Kapinawa Pankarurus.......Salve a Jurema sagrada.

0 Denunciar

natalalbrecht 2 semanas atrás

Espera sentado

0 Denunciar

harristieta 3 semanas atrás

O governo uruguaio tem obrigação moral de pedir-lhes perdão e resgatá-los também,


principalmente porque os uruguaios se utilizam há décadas da expressão GARRA
CHARRUA nos campos de futebol quando sua seleção joga.

Responder 2 Ver Respostas (1) Denunciar

pedro pedro 2 semanas atrás

Mulher cacica ?? retundante nao?? Papai google disse : Cacica é uma comunidade
romena localizada no distrito de Suceava!! Quando contratarem espanhois para
escreverem textos em portugues expliquem a eles que em portugues nao EXISTE cacica,
generala, chefa, pilota e presidenta !!!!

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Mosca de Bar 2 semanas atrás

aí vem o bozo e fala que índios são preguiçosos.

Responder 1 Ver Respostas (1) Denunciar

Robert Mello Mello 2 semanas atrás

Sou neto de Kapinawa Pankarurus aqui de Pernambuco, esse povo não pode ser
esquecidos, são todos grandes guerreiros, tive oportunidades e sucesso na vida o mesmo
desejo a todos nossos irmãos, nossas demarcações é milenar é dos nossos irmãos.
Esteja aonde estiver nos 4 cantos do nosso Brasil.

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Ricardo Da Silva Mayer 3 semanas atrás

Tem um erro na reportagem. A conquista do território platino por europeus começou no


século 16 e não 17.

Responder 0 Denunciar

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