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HOMERO SANTOS
Ministro do TCU
,373
Nesta altura, passo, imediatamente, ao tema principal escolhido, salientan-
do, desde logo, que, em matéria de negócios públicos, o mandamento cardeal
é a licitação, como instrumento de moralidade administrativa e meio pelo
qual o Poder Público deve selecionar, sem favoritismo e corrupção, seus forne-
cedores e contratantes, para execução de obras, serviços, compras, alienações,
concessões, locações e demais negócios jurídicos, à luz do mandamento consti-
tucional e da norma consubstanciada no diploma de lei específico, para todos
os entes estatais e paraestatais.
Ninguém duvida que todos os casos denunciados, noticiados e apurados,
seja pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal, seja pelo próprio
TCU, de contratações sem a prévia licitação, reflitam a crise de moralidade
por que passa a Administração Pública, enfim, o Estado brasileiro.
Daí dizer-se que o combate à corrupção deve começar pela moralização dos
procedimentos licitatórios e contratuais no Setor Público.
Adverte Raul Armando Mendes (in Comentários ao Estatuto das Licitações
e Contratos Administrativos, Ed. Saraiva, 1991, p. 10/11):
"O governo honesto é exercido pelo administrador probo, ou seja, aquele
que o conduz dentro dos mais rígidos postulados do interesse público. A atual
Constituição fala em moralidade administrativa, que como probidade diz res-
peito ao desempenho do administrador com honestidade, honra e retidão. A
moralidade ou probidade administrativa devem estar em todos os escalões de
governo, desde o mais humilde dos servidores até o próprio Presidente da RI!-
pública, passando por seus ministros, etc.
(. .. )
A legislação brasileira é farta em normas punitivas contra quem descum-
pre o seu dever de moralidade à causa pública, mas, infelizmente, vê-se um
sem-número de ações atentatórias, sem que os responsáveis sejam punidos, em-
bora se alardeie a abertura de rigorosos inquéritos, sindicâncias, processos pe-
nais, etc.".
Aliás, nas palavras de Dom Eugênio Sales, "o mal se apresenta de formas
variadas e sutis. A corrupção é uma enfermidade que exige medidas drásticas
e de aplicação contínua, para modificar arraigados costumes em nossa socieda-
de. O malbaratamento das verbas é das falhas mais generalizadas entre nós"
(in O Globo, de 09.03.91, p. 12).
Na esfera da Administração Pública, o princípio da moralidade adminis-
trativa, expressamente consagrado no art. 37 da Constituição Federal, assume
foros de relevância auspiciosa, diante de inúmeros outros dispositivos constitu-
cionais, que consideram:
a) crime de responsabilidade do Presidente da República - atentar con-
tra a "probidade na administração" (art. 85, V);
374
b) os atos de improbidade administrativa dos servidores capazes de oca-
siúnar a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo-
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal própria (art. 37, § 49 );
c) cabível a ação popular para anulação de ato lesivo à moralidade admi-
nistrativa (art. 59, LXXIII).
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ção ao instrumento convocatório, julgamento objetivo e os que lhe sâo corre-
latos, e conceituar de forma clara a notória especialização (art. 12, parágrafo
únicc), conseguiu, dentre tantas outras inovações:
a) Fixar as modalidades de licitação (art. 29 ): Convite, Tomada de Pre-
ços, Concorrência, Concurso e Leilão, fora das quais não poderá criar, em nor-
ma inferior, novas espécies; e
b) Enumerar os diversos tipos de exceção à regra constitucional de licita-
ção como numerus clausus, Dispensada (arts. 15, I e 11, 15, § 19 e 21, §
39 ); Dispensável (art. 22); Inexigível (arts. 23 e 23, § 29 ) e Vedada (art.
23, § 19 ).
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a 1egalidade nas reiaç&s administrativas, tuteia a iguaidade nas postuiaçâes e
coloca atuante o princípio da moralidade (cf. Manoel de Oliveira Franco So-
brinho, Contratos Administrativos, Ed. 1981, p. 283).
Por outro lado, a Administração Pública, consoante o disposto no art. 37
da Constituição Federal, deve ser desempenhada com a observância de quatro
princípios básicos: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade e Igualdade.
Todos esses princípios estão interligados aos negócios da Administração e,
conseqüentemente, às celebrações de contratos de que o Poder Público venha
a fazer parte.
Portanto, como evidenciado no "Relatório e Parecer Prévio sobre as Con-
tas do Governo da República - 1990", a regra geral é a da licitação. As
dispensas e inexigências deveriam ser exceções.
O Decreto-lei nQ 2.300/86 expressamente discrimina os casos em que são
permitidas as contratações sem licitação:
I - Licitação Dispensada (art. 15, I e 11): a dispensa, no processo de
alienação, é motivada pela própria natureza do negócio;
11 - Licitação Dispensável (art. 22): não é uma imposição da lei, sendo
apenas facultada ao administrador;
111 - Licitação Inexigível (art. 23 e 23, § 2'?): quando a regra é não
licitar. ou seja, por inviabilidade de competição;
IV - Licitação Vedada ou Proibida (art. 23, § l Q): quando, a juízo
do Presidente da República, houver comprometimento da segurança nacional.
Tais hipóteses devem ser entendidas como numerus clausus, não se admi-
tindo que o administrador, responsável pelo processo de licitação, possa am-
pliar ou modificar, a seu critério, os casos de dispensa e inexigibilidade de
licitação, previstos nos arts. 22 e 23 do Decreto-lei nQ 2.300/86 (cf. Decisões
do TCU: Anexo 11 - Ata 28/90; Anexo I - Ata 39/90; Anexo IV -
Ata 39/90; Anexo IV - Ata 42/90; Anexo XII - Ata 43/90; Anexo VIII
- Ata 44/90; Anexo VII - Ata 45/90).
Isso quer dizer que a licitação só será dispensada ou inexigível nos casos
expressamente previstos na legislação pertinente - até pelo princípio da boa
hermenêutica de que as regras de exceção interpretam-se restritivamente.
Vale, aqui, destacar os entendimentos já sufragados, segundo os quais as
exceções autorizadas por lei não devem ser consideradas obrigatórias, de modo
que ou são adotadas com as necessárias cautelas e comedimentos (TC-Ol1.590/
87-4, Anexo 111 da Ata nQ 78/87 - Sessão de 20.10.87; TC-Ol1.393/88-2,
Anexo da Ata nQ 53/88 - Sessão de 13. 10.88), ou tidas como procedi-
mentos excepcionais, pelos quais o administrador pode ou não autorizar o pro-
cesso licitatório, dependendo sempre do que for mais do interesse público
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(cf. Raul Armando Mendes, Comentdrios ao Estatuto das Licitações e Contra-
tos Administrativos, Ed. Saraiva, 1991, p. 66).
A propósito, ainda sobre a não obrigatoriedade da dispensa e inexigêncla
de licitação, escreve o citado autor:
"Num governo comprometido com a moralidade e a modernidade admi-
nistrativas, seus responsáveis devem realizar a licitação, ainda que seja possível
afastá-la quando configurar qualquer caso de dispensa ou inexigibilidade, por-
que mesmo nessas situações a seleção torna-se praticável." ( ... )
Por outro lado, já advertia o eminente Ministro Ivan Luz (TC-011.590/
87-4, Anexo lU, da Ata nQ 78/87 - D.O. de 23-11-87), que:
"As exceções devem ser adotadas com muita cautela para que não pro-
lifere a corrupção estimulada pelas preferências imotivadas."
Em excelente artigo ("A licitação à luz do Decreto-1ei federal nQ 2.300/
86", Rev. TC-Pará, nQ 28/87) a Conselheira Eva Andersen Pinheiro escla-
rece que:
"O princípio da licitação representa exigência superior da própria mord-
lidade administrativa e, como tal, a sua dispensa deverá ocorrer excepcional-
mente em casos expressamente especificados em lei, respeitando sempre o inte-
resse público."
Como é sabido, uma das propostas inseridas no seu trabalho sobre as
Contas do Governo foi sobre a fiscalização e controle das licitações no âm-
bito da Administração Pública, com especial atenção para os casos de dispensa
e inexigibilidade (cf. Sessão de 18.06.1991 - D.O. nQ 137, de 18.07.91).
Naquela oportunidade, depois de constatar que o montante das despesas
realizadas pelo Governo sem licitação foi de Cr$ 1,2 trilhão, enquanto os
valores licitados foram da ordem de apenas Cr$ 87,5 bilhões, manifestei-me no
sentido de que os princípios consagrados na Nova Carta Magna, dentre os
quais o da moralidade e da publicidade, remetem e fundamentam uma nova
proposta de controle, pelas próprias implicações jurídicas, contábeis, financei-
ras e orçamentárias que encerram os atos e despesas decorrentes das licitações
e contratações públicas.
Com maior razão, depois de ter sido expedido o Decreto nQ 30, de 7 de
fevereiro de 1991, que, ao regulamentar disposições do Decreto-lei nQ 2.300/
86, assim estabeleceu:
"Art. 2Q OS casos de dispensa e inexigibilidade de licitação serão au-
tuados em processo administrativo próprio, do qual constarão os elementos
necessários à demonstração da hipótese incidente, bem assim a documentação
relativa aos atos praticados pelas autoridades administrativas competentes."
Ademais, a dispensa de licitação ou sua inexigibilidade deverá ser neces-
sariamente justificada, dentro de três (3) dias, em comunicação feita à auto-
ridade superior para efeito de ratificação, responsabilizando-se o funcionário
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qUé a ordenou, caso a dispensa nâo esteja enquadrada nas exigências legaís
constantes no art. 24 do Decreto-lei 2.300/86 (Decisões do TCU: Anexo 11
- Ata 28/90; Anexo I - Ata 39/90; Anexo IV - Ata 48/90) .
Dentro dessa perspectiva, todos esses processos, à exceção daqueles ba-
seados no disposto nos incisos I e 11 do art. 22 do Decreto-lei 2.300/86, deve-
riam ser encaminhados, obrigatoriamente, aos órgãos jurídicos (Consultoria Jurí-
dica) e de controle interno (CISET), respectivamente, para exame e pronun-
ciamento, para que, logo em seguida, cópias de tais instrumentos, depois de
colhidas as manifestações dos citados órgãos, fossem remetidos ao TCU, salvo
situações excepcionais e devidamente justificadas pelo dirigente.
Na verdade, o fato de haver lei autorizando expressamente a dispensa ou
inexigência, dentre as várias possibilidades que se oferecem ao talante da Admi-
nistração, não significa que o ato ou contrato dela decorrente deixe de me-
recer o controle de sua legalidade.
Dispõe o art. 79 do Decreto-lei n9 2.300/86:
"O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos
regidos por este Decreto-lei será feito pelo Tribunal de Contas da União, na
forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da Administra-
ção responsáveis pela demonstração da legalidade e regularidade da despesa
e execução, nos termos da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle
interno nesta previsto.
§ 19 Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica - po-
derá representar ao Tribunal de Contas contra irregularidades na aplicação
deste Decreto-lei, para fins do disposto neste artigo.
§ 29 O Tribunal de Contas da União, no exercício de sua competência
de controle da administração financeira e orçamentária (prevista na Consti-
tuição), poderá expedir instruções complementares, reguladoras dos procedi-
mentos licitatórios e dos contratos administrativos."
Por sua vez, a nova ordem jurídico-constitucional, estabelecida pela Carta
Política de 05.10.1988, assim se fixou (art. 71, incisos IX, X e XI, e § 19 ):
"O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com
o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(... )
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando
a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos
apurados.
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(. .. )
§ 19 No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente
pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as
medidas cabíveis."
Se todas essas previsões legais e constitucionais não fossem bastantes,
poder·se-ia aduzir ainda que as licitações se enquadram na área de orçamento,
despesa e gestão patrimonial e financeira de natureza pública. Isto é, o Esta-
tuto Jurídico das Licitações e Contratos Administrativos (Decreto-Iei n9 2.300/
86, com as alterações dos Decretos-leis n9 s 2.348/87 e 2.360/87) contém
matéria relativa às finanças públicas.
Outrossim, como salienta o Prof. Rui Barbosa Nogueira, a licitação e os
contratos são "meios de realização da Receita e Despesa Pública, integrando-
se, necessariamente, na execução orçamentária" (RDA 85/186), ou, como pre-
leciona Hely Lopes Meirelles, "acarretam despesas para a Administração e alte-
ração patrimonial de seus bens e valores" (cf. Licitações e Contrato Adminis-
trativo, p. 18).
Ao meu pensar, a ação do TCU no campo das licitações e contratos se
ampara no próprio texto constitucional. Se assim não fosse, não haveria ra-
zão de ter sido especificada a competência de o TCU sustar, pelo exercício
de uma ação preventiva, a prática de ato que considere ilegal ou irregular,
consumado ou não, mesmo que se encontre em execução ou na iminência de
ser executado, bem como de realizar o controle simultâneo e concomitante,
mediante inspeções e auditorias, das várias fases dos atos de gestão finan-
ceira, orçamentária, contábil, patrimonial e operacional que envolvam recursos,
bens, valores e obrigações por parte da Administração Pública.
Diante dessa sistemática, evidenciada na Lei Maior do País, o TCU, quando
sustar algum ato considerado ilegal, comunicará a decisão à Câmara dos Depu-
tados e ao Senado Federal (art. 71, inciso X), sendo que, com relação aos
contratos (§ 19 do art. 71), a sustação caberá diretamente ao Congresso
Nacional. Na hipótese de inércia dos Poderes Legislativo e Executivo (§ 29
do citado dispositivo) é que a matéria será devolvida ao Tribunal decidir
a respeito, ou seja, decorridos os 90 dias, sem iniciativa daqueles Poderes,
cessa a competência deles, passando automaticamente tal atribuição ao TCU,
a partir do 91 9 dia. A regra, ora aventada, por si só constitui uma impor-
tante inovação, uma vez que no sistema constitucional anterior, se o Poder
Legislativo não deliberasse sobre a impugnação do Tribunal, no prazo de 30
dias, a decisão tornava-se insubsistente.
Nesse sentido, somente a experiência que advirá de cada apreciação, cada
processo, cada licitação, notadamente as dispensas e inexigibilidades, é que po-
derá instrumentalizar o TCU no desempenho desse controle, impedindo e apu-
rando irregularidades, abusos e escândalos, que têm acontecido por ocasião
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dos contratos celebrados através de obscuros processos licitatórios, os quais vêm
sendo condenados pelo TCU, através das seguintes iniciativas:
a) diante de despesas indevidas de licitação que gerem prejuízos instaura-
se Tomada de Contas Especial (Decisão de 07.12.89 - TC-OI0.189/88-2,
Anexo IV, Ata n9 59/89 - D.O. de 10.01.90; Decisão de 26.03.91
TC-012.591/89-0, Anexo IX, Ata n9 11/91 - D.O. de 30.04.91);
b) diante de ilegalidade nos procedimentos licitatórios e contratuais de-
termina a Anulação, para o exato cumprimento da lei, na forma prevista na
Constituição e no art. 39 do Decreto-lei n9 2.300/86, com a redação dada
pelo Decreto-Iei n9 2.348, de 1987 (Decisão de 15.09.87, TC-005.424/87-9,
Anexo IV, Ata n9 67/87 - D.O. de 19.10.87).
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Com efeito, tem-se verificado ao longo de toda essa expenencla fiscaliza-
dora que os contratos, quase sempre, já se acham, parcial ou integralmente,
executados e pagos, notadamente nas constatações feitas em processos de Ins-
peções e de Prestação de Contas Anuais.
Ora, quando isso ocorre, toma-se letra morta o disposto no art. 71, § 19
c/c o art. 70, IX, X e XI da Constituição, que autoriza a sustação do ato
impugnado, inclusive do respectivo contrato.
Em recente assentada, o Plenário do TCU, na Sessão de 08.10.91 (TC-
019.708/90-4 - Decisão n9 242/91 - Anexo I, Ata 46/91 - D.O. de
22. 10. 91), deliberou "nos termos do inciso IX do art. 71 da Constituição
Federal, fixar o prazo de 72 (setenta e duas) horas para que o responsável
pelo Instituto Nacional da Alimentação e Nutrição adotasse as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, em relação aos contratos n9s 13/91,
14/91 e 15/91, publicados no D.O.V. de 09.07.91, p. 13.440, providências
essas consistentes na imediata anulação dos referidos contratos, por terem sido
assinados com base em licitação já expirada, infringindo conseqüentemente os
arts. 29 e 47 do D.L. n9 2.300/86".
A propósito de tal deliberação, o eminente Relator, Ministro Carlos Átila
Álvares da Silva, esclareceu que não se configurava conflito de competência
com o Congresso Nacional, "pois não se está determinando a sustação do
contrato - esta sim, competência privativa do Congresso".
Considerações Finais
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naquela assentada) sugerir as medidas concretas e imediatas em relação aos
atos e fatos ocorridos no exercício de 1990, conforme inclusive reafirmado na
Sessão de 21.08.91 (Decisão nl? 131/91 - TC-014.262/91-6 - Ata nl? 39/91).
A garantia que toda Sociedade deseja e exige no sentido de que a Lei,
o Interesse Público e a Probidade Administrativa prevalecem nas relações admi-
nistrativas decorrentes das licitações e contratações na Administração Pública
é o desafio que se apresenta.
E, nessa oportunidade, cabe aqui lembrar mais uma vez as palavras de
João Féder (ob. cit., p. 24):
"O Tribunal de Contas não é uma instituição perfeita, mas, ao contrário
do que muitos imaginam, também não é uma instituição ingênua. O Tribunal
de Contas não apenas domina a matéria como conhece os fatos; sabe até mesmo
quando na administração pública alguém age de boa-fé e, por isso, pode in-
clusive ser tolerante, mas não se deixa enganar; o Tribunal de Contas, sabe,
sim, que num procedimento condenável, porque tem origem na própria máfia,
os empreiteiros de obras e fornecedores de serviços ou mercadorias ao estado,
por vezes, fazem arregalo e se acumpliciam ao se apresentarem nas chamadas
de licitações para, desse modo, auferirem maior vantagem, prática essa que,
talvez, só neste momento esteja sendo denunciada publicamente, mas que, nem
por isso, está longe de ser exterminada; sabe inclusive que Thomaz Car1yle
declarou, há muito tempo, que 'com os números se consegue demonstrar tudo'
e que esse tudo tanto pode significar uma grande verdade ou uma grande
mentira e, assim o sabendo, cumpre com descortino a sua missão. Mas o faz
com discrição, consciente de que sua ação se deve desenvolver com prudên-
cia, muito embora não deixe, a não ser excepcionalmente, de ser uma ação
pública.-
Como se viu, o controle das licitações e contratos públicos precisa ser
efetivo. 1! claro que não se estaria pregando o retorno ou restabelecimento do
sistema de verificação prévia. Ao contrário, o que se espera é que esse con-
trole seja imediato e "concomitantemente ao seu desenvolvimento, e sobre ele
decidir tempestivamente, com pleno conhecimento de causa" (Decisão de
24.0.91-TC-001.867/91-1, Anexo XV, Ata nl? 17/91-D.O. de 20.05.91),
de molde a alcançar o ato no instante de sua formação, exercendo-o, pelo me-
nos, logo após a sua realização, de forma que os abusos e irregularidades pos-
sam ser apurados, tolhidos e obstados a tempo.
Todos sabem que o Controle Externo do TCU não se esgota, e nem poderia,
pura e simplesmente, no exame dos processos de contas e concessões, bem
assim dos relatórios de auditorias, inspeções e levantamentos, como também
nas denúncias, representações e consultas. Outros encargos vêm se institucio·
nalizando, de maneira regular, atos concernentes a Privatizações. Por isso mes-
383
mo, acredito, numa visão pessoal e particular, que, muito em breve, deverão
as Cortes de Contas de todo o País passar a contar com unidades técnicas,
no caso do TCU - Inspetorias Gerais de Controle Externo, especializadas em
examinar casos, processos, denúncias e escândalos relacionados com Licitações
e Contratos Administrativos.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores.
Estou certo de que, após a leitura deste trabalho, os senhores ouvintes esta-
rão acordes em que muito mais precisa ser dito, estudado e realizado. Mas, no
momento, contribuo com essas considerações e observações, que, espero, pos-
sam balizar novas ilações a respeito do tema aqui abordado.
Muito obrigado.
Maceió-AL, em 6 de dezembro de 1991.
Homero Santos - Ministro do TCU.
Modalidades de Licitação
384
5) Leilão: é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para
a venda de bens inservíveis para a Administração ou de produtos legalmente
apreendidos, a quem oferecer maior lance, igualou superior ao da avaliação,
podendo ser cometido a leiloeiro oficial (leilão comum) ou a servidor desig-
nado pela Administração (leilão administrativo).
Valores Limites estabelecidos pela Portaria n9 1.658, de 7 de ou-
tubro de 1991, da Secretaria de Administração Federal - D.O. de 8
seguinte.
AP~NDICE
385
IH da Ata 35/90, Anexo V da Ata 37/90, Anexo I da Ata 39/90, Anexo VIII
da Ata 44/90, Anexo VIII da Ata 45/90);
d) previsão da obrigatoriedade e prazos mínimos de antecedência da pu-
blicidade da licitação (art. 32, § 59, do Decreto-Lei 2.300/86, e Decisões do
Teu: Anexo II da Ata 28/90, Anexo IV da Ata 48/90);
d.1) 30 dias para concorrência e concurso, contados da primeira publi-
cação do edital;
d.2) 15 dias para tomada de preços e leilão, a contar da primeira pu-
blicação do edital; e
d.3) 3 dias úteis para convite;
e) obrigatoriedade de publicação resumida, no DOU, dos contratos fir-
mados, seja qual for o seu valor ou a modalidade de licitação adotada, com a
indicação do prazo para esse fim (v. art. 39, c/c o art. 51, § 19, do Decreto-Lei
2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo IV da Ata 64/88, Anexo II da Ata
28/90, Anexo I da Ata 39/90, Anexo IX da Ata 41/90, Anexo VIII da
Ata 33/90, Anexo 111 da Ata 35/90, Anexo V da Ata 37/90, Anexo XII
da Ata 43/90, Anexo VIII da Ata 44/90, Anexo VIII da Ata 45/90, Anexo
IV da Ata 48/90).
3.86
g) indicação, nos casos em que estiver prevista a revogação ou anu-
lação do certame, das hipóteses em que esses atos podem ser praticados -
a revogação só é cabível por interesse público, enquanto a anulação só tem
lugar por ilegalidade (v. arts. 39 , 41 e 86 do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões
do Teu: Anexo I da Ata 39/90, Anexo IX da Ata 41/90, Anexo VIII da Ata
44/90) ;
h) permissão para interposição de recurso contra atos de habilitação ou
inabilitação, julgamento das propostas, anulação, revogação de licitação, inde-
ferimento de pedido de inscrição em registro cadastral, sua alteração ou can-
celamento, e rescisão de contrato (v. arts. 75, inciso I, do Decreto-Lei 2.300/86
e Decisões do Teu: Anexo I da Ata 39/90, Anexo V da Ata 37/90, Anexo
IV da Ata 48/90);
i) referência às penalidades aplicáveis nas hipóteses de descumprimento
de obrigações assumidas por contratados, importando a não inclusão de tal
dispositivo na possibilidade de tratamento diferenciado para com os licitantes
(v. arts. 39 , 73 e 86 do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo XII
da Ata 43/90, Anexo V da Ata 37/90, Anexo IV da Ata 48/90);
j) indicação dos casos em que é cabível a rescisão unilateral do con-
trato (v. art. 69, inciso I, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo
VIII da Ata 33/90).
387
(v. arts. 39 , 21, 22, 85, parágrafo único, e 87 do Decreto-Lei 2.300/86 e De-
cisões do TCU: Anexo IV da Ata 48/90);
d) limites distintos para os casos de obras e serviços de engenharia, e
de compras e outros serviços (v. arts. 39 , 21, 22 e seus incisos I e 11 do De-
creto-Lei 2.300/86 e Decisões do TCU: Anexo I da Ata 48/90).
388
trataçâo - a entidade deve, nesses casos, fixar prazo para que os licitantes
apresentem novas propostas livres das causas que motivaram a desclassifi-
cação (v. art. 38, parágrafo único, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do TeU:
Anexo IX da Ata 41/90);
g) possibilidade de desclassificação por motivo relacionado com a capa-
cidade jurídica, condição técnica, idoneidade financeira e regularidade fiscal,
após ultrapassada a fase de habilitação, salvo em razão de fatores superve-
nientes ou só conhecidos após o julgamento (v. art. 35, § 5Ç , do Decreto-Lei
2.300/86 e Decisões do TeU: Anexo I da Ata 39/90);
h) permissão para a adoção da modalidade de Convite nos casos em que
o número de fornecedores for maior que um e menor ou igual a três, inde-
pendentemente do valor estimado da contratação (v. Anexo I da Ata 39/90);
i) restrição ao direito de recurso a que alude o art. 75 do Decreto-Lei
2.300/86, discrepando do estabelecido no art. 86 da mesma norma (Decisões
do Teu: Anexo 11 da Ata 28/90, Anexo VIII da Ata 45/90, Anexo IV da Ata
48/90) ;
j) possibilidade de alteração de contrato no caso de "inviabilidade de exe-
cução nos termos originalmente contratados" (art. 55 do Decreto-Lei 2.300/86
e Decisões do Teu: Anexo IV da Ata 48/90);
1) permissão para cessão total ou parcial de contrato a terceiros, sem res-
salvar que essa hipótese só terá lugar se admitida no edital e no instrumento
contratual (art. 68, inciso VI, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisão do Teu:
Anexo IV da Ata 48/90).
389
c) amptiação das hip6teses de dispensa e/ou de inexigibiiidade de licita-
ção previstas nos arts. 22 e 23 do Decreto-Lei 2.300/86, em desacordo com o
disposto no art. 86 do citado Decreto-Lei (Decisões do Teu: Anexo 11 da Ata
28/90, Anexo I da Ata 39/90, Anexo IV da Ata 42/90, Anexo XII da Ata 43/90,
Anexo VIII da Ata 44/90, Anexo VIII da Ata 45/90, Anexo IV da Ata 48/90);
d) permissão de dispensa de licitação com base em necessidade e con-
veniência administrativa na contratação direta, para complementação de obra,
serviço ou fornecimento anterior, sem a devida fixação do limite referido no
inciso V do art. 22 do Decreto-Lei 2.300/86 (v. arts. 22, inciso V, e 86 do
Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo XII da Ata 43, Anexo VIII
da Ata 44/90, Anexo IV da Ata 48/90);
e) permissão para celebração de contrato com cláusula de prorrogação
sucessiva de sua vigência, sem definição do tempo máximo dessa extensão, pro-
piciando fuga ao processo licita tório (v. art. 'l!? do Decreto-Lei 2.300/86 e De-
cisões do Teu: Anexo VIII da Ata 11/85, Anexo XII da Ata 43/90).
390
2.1.2 - Relativas ao princípio do julgamento objetivo:
a) estabelecimento de critérios objetivos para julgamento das propostas (v.
arts. 39 e 32, inciso VII, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo
VIII da Ata 33/90);
b) critérios de desempate ou de outro desfecho objetivo que deva me-
recer a licitação, no caso de apresentação de propostas de igual valor para o
mesmo lote ou item e coincidentes com a oferta vencedora (art. 32, inciso
VII, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo VIII da Ata 44/90).
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g) restrição ao direito de interposição de recurso pót pãrte dos Heítart-
tes (Anexo VIII da Ata 33/90).
1. Dos Editais
1.1 - Devem constar dos editais, entre outras indicações fixadas no art. 32
do Decreto-Lei 2.300/86, elementos tais como:
a) prazos e condições para a assinatura do contrato ou retirada do ins-
trumento, sua execução e entrega do objeto, sanções para os casos de inadim·
plemento, bem como as condições de pagamento e, quando for o caso, de
reajuste de preços (v. art. 32 do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do TCU:
Anexo V da Ata 36/90);
b) fixação dos critérios de julgamento das propostas (v. art. 32, inciso
VII, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do TCU: Anexo IH da Ata 35/90) .
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t) dispositivo possibilitando a alteração das quantidades a serem contrà-
tadas além do permitido ou sem fixar os limites para tal (v. art. 55, § 1°,
do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisão do Teu: Anexo V da Ata 36/90);
g) disposição possibilitando a revogação ou anulação do processo lici-
tatório, salvo por motivo de interesse público ou por ilegalidade, respecti-
vamente (v. art. 39 do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisão do Teu: Anexo V
da Ata 36/90);
h) atribuição à Comissão de licitação de poderes para rejeitar qualquer
proposta, permitindo a ampliação das hipóteses de desclassüicação previstas no
Decreto-Lei 2.300/86 (v. art. 38, incisos I e 11, do mesmo Decreto-Lei e De-
cisões do Teu: Anexo V da Ata 36/90);
i) possibilidade de adjudicação a qualquer outra firma interessada, no
caso de haver recusa de fornecimento pelo único licitante que acudir ao cer-
tame (v. arts. 39 e 75, I, letra c, do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu:
Anexo V da Ata 36/90);
j) dispositivos restringindo o direito de recurso contra os atos da Admi-
nistração, como por exemplo nos casos de alteração das quantidades a serem
contratadas e de anulação ou revogação do processo licitatório (v. art. 75
do Decreto-Lei 2.300/86 e Decisões do Teu: Anexo V da Ata 36/90);
1) obrigação de apresentação de garantia pela contratada sem a fixação
do limite de tal exigência (v. art. 46, § 'lQ, do Decreto-Lei 2.300/86 e Deci-
sões do Teu: Anexo IH da Ata 35/90).
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