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propriedades da rocha praticamente in situ, tendo sido perturbada somente pela

execução do furo. Dessa forma, a perfilagem é uma ferramenta promissora na


aquisição de parâmetros geomecânicos, podendo complementar os métodos
tradicionais, dando mais agilidade na classificação de maciços.

2.3.1 Estimativa de resistência a compressão uniaxial por meio de perfilagem

A resistência da rocha é um dos parâmetros mais difíceis de se estimar utilizando


propriedades geofísicas. Isso ocorre devido ao fato de que as propriedades medidas
na perfilagem não apresentam correlação direta com a resistência à compressão.
Apesar disso, inúmeros pesquisadores já conseguiram definir correlações empíricas
que produzem resultados satisfatórios envolvendo diversas propriedades conforme a
tabela abaixo.

Propriedade Autor
Militzer (1973),
Velocidade sônica (Vp) McNally 1987
Oyler et al., 2007
Sharma and Singh (2008)
Butel (2014)
Rao et al., (2015)
Porosidade (𝜑) Vernik et al., (1993)
Edlmann et al., (1998)
Módulo elásticos (E, M, G, K) e Ohomi (1981)
Moos et al., (1999)
densidade Lima et al., (2016)
Impedância acústica Frederick et al (2014)
Propriedades combinadas Sharma et al., (2010);
Ersoy & Kanik, (2012)

2.3.1.1 Velocidade sônica


Uma das propriedades mais estudadas para a determinação de resistência da
rocha na mineração é a velocidade sônica. Embora seja uma correlação considerada
empírica, diversos autores têm encontrado equações confiáveis para seus ambientes
geológicos, ou seja, com R2≥0,7 o qual é aceitável do para esse tipo de estimativa
(OYLER et al.,2008a). A Figura 30 mostra um exemplo de correlação UCS x Vp.
Figura 30: Exemplo de correlação entre resistência a compressão uniaxial e tempo de transito
de onda (OYLER et al.,2008b).

Rao et al (2015) ainda ressalta como correlações como essa tem sido importante
para design de minas de carvão australianas, pois através dessa informação é
possível plotar perfis de resistência de rocha (Figura 31), assim como estimar
resistências em qualquer furo destrutivo.

Figura 31: Perfil de resistência de rocha gerado a partir de dados de velocidade de onda sônica
(RAO et al., 2015).
Como as correlações apresentam uma dispersão nos resultados, há tentativas
de se delimitar as causas de erro e a retirada de dados com base em algum critério.
Nesse contexto, muitos autores têm desenvolvidos correlações para suas regiões e
também para litologias específicas com o objetivo de melhorar a resposta obtida.
Segundo Butel (2014) não há consenso entre os autores se cada localidade geológica
necessita da sua própria correlação, ou se poderia ser feita por litologia. Sendo essas
as duas vertentes de pensamento. A conclusão que Butel (2014) chegou é que tanto
as rochas de uma localidade para a outra variam, assim como a mesma litologia de
um lugar para outro, sendo assim, deve-se usar as equações com cuidado.

Apesar disso, comparando com os demorados e onerosos ensaios de


laboratório, essas estimativas são ótimas ferramentas para se obter um conhecimento
geotécnico do maciço com mais agilidade, ainda quem com uma precisão inferior.

2.3.1.2 Módulos elásticos e densidade


Outra maneira de se estimar a competência da rocha é pelas medidas de
módulos de Young (E), módulo de cisalhamento (G), módulo compressional (M),
volumétrico (K) e coeficiente de Poisson através dos dados fornecidos pela sonda
sônica, e suas relações matemáticas (tópico 2.2.7.2).

Todos esses módulos elásticos estão relacionados com o comportamento da


rocha, portanto, se eles forem baixos ao mesmo tempo que o módulo de Poisson é
alto, indicará que a rocha apresenta baixa competência, e vice-versa. Os módulos se
relacionam com a resistência da rocha, pois são indicativos da facilidade ou
dificuldade dela se deformar, o que em geral está relacionado com a sua resistência
Reyer & Philipp (2014).

Lima et al., (2016) realizou medições de em diversas rochas fazendo correlações


entre os módulos elásticos e a resistência a compressão uniaxial. Também foram
feitas correlações da densidade, porosidade e velocidade com a resistência da rocha
conforme a figura abaixo. Os testes foram feitos em 30 amostras em escala
laboratorial, resultando em correlações razoáveis.
2.3.1.3 Porosidade
A porosidade está relacionada de forma indireta com a resistência da rocha,
sendo essa uma propriedade bastante explorada nos reservatórios de petróleo, por
serem rochas porosas. Esse parâmetro pode ser medido por sondas sônicas, de
densidade ou de nêutron. Edlmann et al., (1998) realizou várias correlações
envolvendo porosidade, das quais encontrou resultados significativos. Suas
pesquisas foram voltadas para poços de petróleo. Em suas pesquisas a autora
correlacionou porosidade com UCS, ângulo de atrito e módulos volumétricos. Todos
com coeficiente de correlação em torno de 0,7, o que fornece uma boa referência par
estimativas geomecânicas nesse tipo de ambiente.

2.3.1.4 Impedância acústica


A impedância acústica é obtida como uma relação direta da amplitude da onda
do ATV que é refletida na parede do furo. Como a intensidade desse sinal tem relação
com os módulos elásticos, essa intensidade pode ser correlacionada empiricamente
com a resistência da rocha. Frederick et al (2014) fez uma correlação para calcular a
resistência estimada, mas para efeitos práticos ele classificou a resistência de acordo
com o índice Quality Strength Index (QSI) que varia de 1-5, o que gera um valor global
para cada trecho de rocha analisado.

2.3.1.5 Propriedades combinadas


Embora todas as propriedades da rocha estejam ligadas à resistência e a
influenciem de uma forma ou de outra, nem sempre a variação de um fator vai
influenciar a resistência na mesma proporção, por isso avaliar suas propriedades em
conjunto pode trazer mais segurança às estimativas (SHARMA et al., 2010; ERSOY
& KANIK, 2012). Entre as propriedades mais correlacionadas com a resistência da
rocha, as que ganham mais destaque são a velocidade e onda sônica e a porosidade
(TUGRUL & ZARIF, 1999), por isso considerá-las juntas assim como adicionar outras
pode melhorar as correlações obtidas.

Ersoy & Kanik, (2012), por exemplo, consideraram diversos fatores que
influenciam a resistência da rocha como a velocidade de onda sônica, porosidade
aparente, densidade, percentual de umidade e absorção de água. Eles conseguiram
estabelecer uma correlação melhor ao testar diferentes valores para a influência de
cada uma dessas propriedades, na qual a velocidade teve influência de 45% e a
porosidade de 33%, os demais componentes contribuíram com menos de 10%.

2.3.2 Descrição geológica

As litologias que compõem o maciço podem ser identificadas com o optical


televiewer através de uma interpretação visual. Outras sondas também podem
complementar e auxiliar nesse processo, as quais contribuiriam delimitar a provável
litologia em caso de dúvida na inspeção visual.

Schepers (2001) utilizou uma combinação de sondas para identificar litologias


de forma automática. Ele combinou sondas de gama natural, densidade, sônica e
acústica, identificando a litologia automaticamente com o uso de um algoritmo (Figura
32)

Figura 32: Comparação da descrição geológica (primeira coluna) com a estimativa feita a partir
de resultados de perfilagem.

2.3.3 Medidas de parâmetros de descontinuidade

Dos métodos de perfilagem, os mais adequados para identificar


descontinuidades e avaliar suas características são os das sondas acústicas e optical
televiewer. Nas últimas décadas estas sondas têm sido cada vez mais utilizadas como
fonte complementar de dados na identificação de estruturas, descontinuidades e suas
orientações (de FREDRICK et al, 2014). Além disso, seu uso pode ser empregado
tanto em furos testemunhados quanto os destrutivos.
2.3.3.1 Presença, mergulho e orientação de descontinuidades
Tanto o optical televiewer quanto a sonda de imagem acústica são eficientes
para a identificação de descontinuidades. E como a perfilagem é orientada, é possível
também identificar o ângulo de mergulho e o azimute de cada junta.

Assim como é feita a contagem de fraturas em um testemunho para o cálculo de


frequência de fraturas e de RQD, também é realizado a partir das imagens obtidas
pelas sondas. Nesse sentido, a perfilagem tem vantagem sobre o método tradicional
por poder identificar quais são as zonas altamente fraturadas, o que acaba não sendo
possível ser feito com precisão em testemunhos de sondagem (de FREDRICK et al,
2014). Por outro lado, ao analisar as imagens obtidas e comparar com os testemunhos
de um mesmo local, nota-se que os testemunhos apresentam fraturas que não
existiam no maciço, as quais são atribuídas ao processo de sondagem ou a
manipulação dos testemunhos (BAILLOT, R. T. et al., 2002). Por esse motivo, deve-
se atentar para a diferença de resultados que se obtém ao classificar o maciço por
testemunhos virtuais, pois estes sempre apresentam uma classificação superior à feita
com base nos testemunhos de sondagem.

Os métodos OTV e ATV também fornecem informações de mergulho e


orientação de cada estrutura, as quais podem ser utilizadas posteriormente para
rigorosa análise cinemática. A presença de mergulho pode ser verificada pela
ocorrência de um desenho em forma de senóide na imagem gerada, ou diretamente
no furo virtualmente recomposto. O ângulo e a direção são calculados por programas
de interpretação baseados nas coordenadas lidas ao longo da descontinuidade,
conforme Figura 33.

Figura 33: a) Furo virtualmente reconstituído mostrando medidas de mergulho, espessura e


posição das coordenadas marcadas. b) Coordenadas consideradas para os cálculos. (LI et al, 2013)

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