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GENIALMENTE LOUCO ERICK MORAIS
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Genialmente Louco

BATMAN E CORINGA PELOS OLHOS


DE NIETZSCHE
PUBLICADO EM SOCIEDADE POR ERICK MORAIS

Se o mundo é uma tragédia devemos apenas rir ou tentar


melhorá-lo? O Batman e o Coringa representam esses dois polos
e você o que prefere: ser uma pessoa cheia de memórias com
dificuldade de rir ou alguém que ri o tempo inteiro, mas não
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O que são memórias? Lembranças do passado que volta e meia de mulheres
famosas e
tomam o nosso pensamento? Devaneios de mentes delirantes? influentes
Marcas deixadas as quais não conseguimos nos livrar? Acredito que
SAIBA COMO ESCREVER NA OBVIOUS
há inúmeras possibilidades, uma vez que se trata de uma ideia muito
complexa e que não raras vezes nos causa tormento.

A análise dos personagens Batman e Coringa nos garante um


bálsamo de conhecimento acerca da nossa relação com a memória e
o esquecimento, sobretudo, quando essa análise é feita sob uma
perspectiva nietzschiana.

Para o filósofo alemão, as memórias fazem com que os homens


fiquem presos a acontecimentos passados, isto é, a um campo
inacessível, pois chega a ser um chavão a ideia de que não podemos
mudar o passado. Sendo assim, os indivíduos que guardam
memórias são propensos a criar promessas, as quais devem ser o
vínculo presente que garante ligação ao passado.

Esses indivíduos possuem uma relação simbiótica com o passado, de


tal modo que vivem em uma contínua ruminância das suas
memórias, e, portanto, não conseguem satisfazer-se, rir, com o
presente. Contudo, Nietzsche entende a capacidade do homem fazer
promessas um problema, pois o seu cumprimento (ou tentativa)
seria uma contradição a sua própria natureza.

“Criar um animal que pode fazer promessas – não é esta a tarefa


paradoxal que a natureza se impôs, com relação ao homem?
Não é este o verdadeiro problema do homem?... O fato de que
este problema esteja em grande parte resolvido deve parecer
ainda mais notável para quem sabe apreciar plenamente a força
que atua de modo contrário, a do esquecimento”.

Os indivíduos apegados às memórias têm dificuldade em digerir


situações vivenciadas no passado e prosseguir. No mínimo, suas
vidas são mais dificultosas, pois se sentem com encargos a cumprir
e, logo, não possuem tempo para diversão.

O Batman encontra-se nesse polo. O homem morcego como todo o


seu ar sombrio, causador de medo, não consegue se livrar da
imagem do pequeno Bruce que perde os pais e se vê inconsolável e
impotente diante da força incontrolável da morte. Essa memória
dolorosa torna-se a raiz da sua promessa de livrar Gotham do mal
que levou seus pais.

“Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que


não cessa de causar dor fica na memória.”

Entretanto, sabemos que o cumprimento de tal promessa não é fácil


e, assim, Bruce deve dedicar integralmente seu tempo a um forte
treinamento físico e mental. Numa cidade que é o palco do crime e
da corrupção, só há um meio de não fracassar a promessa que
fizera, a saber, ser incorruptível, ou seja, ter uma moral inabalável.
Ao cometer qualquer ato que o corrompa, Bruce acredita que
passaria do limite, pois uma vez tornando-se corruptível, afastar-se-
ia da promessa e, consequentemente, das memórias e de seus pais.

O esquecimento por outro lado, é visto como condição necessária ao


riso, pois é preciso esvaziar-se de todo o trágico que as memórias
possuem, para que se crie a possibilidade da leveza. Ou seja, o riso e
o esquecimento caminham juntos, digo mais, um não existe sem o
outro. Pelo menos é assim que Nietzsche entende:

“[...] logo se vê que não poderia haver felicidade, jovialidade,


esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento.”

O esquecimento age como um desintoxicador que leva todas as


impurezas e cria espaço para o novo. Esse indivíduo incapaz de
guardar memórias é o Coringa. Para ele é muito mais interessante
ser um eterno construir-se, uma infinidade de personas, uma
caricatura preocupada apenas em ri da tragédia que é o mundo.

Ri do mundo, porque o debocha, ridiculariza o homem com as suas


regras morais, as quais não servem para nada, pois a sua vontade de
expandir-se não permite ser incorruptível como o Batman. Como
não guarda rancor, vê o mundo como o espetáculo no qual é a
atração principal. Para o Coringa as memórias são impedimentos ao
riso, uma vez que

“Lembrar é perigoso... eu vejo o passado como um lugar cheio de


ansiedade. O “pretérito imperfeito”, como você chamaria. Ah,
ah, ah, ah! As memórias são traiçoeiras! Num momento, você
está perdido num carnaval de prazeres, com o aroma da
infância, os neons da puberdade... No outro, elas te levam a
lugares onde a escuridão e o frio trazem à tona coisas que você
gostaria de esquecer!”

O entendimento do Coringa sobre a natureza humana é o que o


torna um personagem tão peculiar e profundo, pois ele nos coloca o
tempo inteiro contra a parede, fazendo-nos refletir, pois se o mundo
é uma tragédia, por que se preocupar tanto com ele, guardando
memórias e fazendo promessas? Por que não apenas se divertir? E
nada mais prazeroso do que não ter memórias para se apegar –
mais que isso – ser algo novo todos os dias.

A visão do esquecimento como positiva para Nietzsche, consiste na


sua análise do homem e na sua incapacidade de fazer o bem, pois o
homem não se destaca pela generosidade. Desse modo, agarrar-se
ao passado, às memórias e fazer delas a raiz de promessas na qual
se busca a paz e a justiça em um mundo corrompido chega a ser
cômico. Por isso a luta do Batman é uma luta sem fim, não há como
restaurar o que não quer ser restaurado.

No fim das contas, o homem morcego sabe que a sua promessa é


inatingível em sua totalidade, contudo, as suas memórias marcadas
pela dor, regozijam-se nas lembranças dos seus pais, que eram
pessoas boas. Esse fato lhe traz esperança; esperança de que
existam pessoas capazes de fazer o bem. O seu apego à memória
relaciona-se a confiança que ainda possui no homem, na
moralidade, na capacidade de fazer o bem.

O Coringa por outro lado, se vê como um agente do caos, outros


momentos como o próprio caos, pois o homem é um caos
ambulante. A vida é vazia de sentido, de modo que é um erro passar
por ela de modo tão duro, buscando corrigir problemas intrínsecos à
existência da vida.

“Veja, as morais deles, o código deles... é uma piada ruim, caída


ao primeiro sinal de problema. Eles apenas são bons na medida
em que o mundo os permite ser. Eu te mostro: quando as fichas
caírem, essas “pessoas civilizadas” irão comer umas às outras.
Veja! Eu não sou um monstro! Eu apenas estou a frente da
curva.”

Assim como Nietzsche, o Coringa entende o mundo como algo


totalmente sem sentido, e vê no homem sua precariedade. A ordem
e a justiça são extremamente frágeis e contraditórias. De fato,
quando olhamos sob esse prisma, percebemos como a crueldade do
homem o faz cometer atrocidades que fogem ao real; como a
individualidade (agravada no mundo contemporâneo) transforma os
homens em bestas.

O Coringa enxerga no mundo um espetáculo e ele é na grande


maioria das vezes um espetáculo, em que uns fingem para os outros,
sustentando uma rede de mentiras. Tudo isso acontece pela
fragilidade da existência humana? O palhaço assassino acredita que
sim. Para ele a existência é vazia e sem sentido, e como tentam dar-
lhe um sentido, torna-se uma piada ruim, mas, ainda que seja uma
piada ruim, por que não rir?

“Se eu vou ter um passado, prefiro que seja de múltipla escolha!


Ah, ah, ah! Mas meu ponto é... meu ponto é... eu fiquei louco.
Quando vi que piada de mau gosto era este mundo, preferi ficar
louco. Eu admito! E você? Você não é nenhum burro, não é
imbecil! Só precisa ver a realidade. Sabe quantas vezes
estivemos perto da terceira guerra mundial? Sabe? Sabe o que
disparou a última grande guerra? Uma discussão sobre quantos
postes telegráficos a Alemanha devia aos seus credores de
guerra! Postes telegráficos! Ah, ah, ah, ah, ah! É tudo uma piada!
Tudo pelo que as pessoas lutam e dão valor não passa de uma
monstruosa e insensata anedota! Então, porque você não vê o
lado engraçado? Porque não está rindo?”

O mundo para o Coringa é ridículo, isto é, digno do riso; e somente


os que esquecem podem rir, afirma Nietzsche. O homem morcego
não possui a capacidade do esquecimento, ou seja, é um devoto das
memórias, apegado ao passado, que busca em seus devaneios um
meio de manter-se lúcido diante do mundo cruel e irracional que
vivemos. Para tanto não ri, pois rindo, esqueceria a promessa de
fazer de Gotham um lugar melhor.

Entregar-se ao caos que é o mundo é a saída mais fácil. Em muitos


casos parece ser até a única saída, pois manter a sanidade em um
mundo caótico não é tarefa simples. Pelo contrário, requer esforço,
dedicação e esperança, mesmo que esta esteja no passado, nas
lembranças, guardada na estante de um quarto dos fundos, com
poeira e coisas que fazem mal, nos fazem tossir e perder o fôlego,
mas que lembram pessoas importantes e sentimentos fortes, como
o amor.

Condenar os que sucumbiram ao riso? Acho que não, afinal também


precisamos rir e, portanto, esquecer; entretanto, os laços são
construídos pelas memórias. Ainda que fiquemos mais fracos com
elas, precisamos delas para nos ligar ao outro. Bruce se lembra dos
pais para proteger e tentar levar o bem comum a Gotham e esse é
seu calcanhar de Aquiles, explorado severamente pelo seu antípoda
Coringa.
A sua fragilidade, contudo, não o impede de tentar cumprir a
promessa que fez aos pais. Nietzsche e o Coringa estão corretos ao
afirmar que a vida é uma grande tragédia digna de risos, mas isso
não impede que transformemos a tragédia em comédia. Gotham
está em cada um de nós, de modo que só há duas escolhas: ser um
Coringa, sem personalidade, sem memórias e sentimentos; ou um
homem comum (o Batman não tem superpoderes) que busca
através dos seus atos contribuir para um mundo melhor. Isto é, ser a
diferença que quer ver no mundo.

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ERICK MORAIS
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Nome

Edson Carlos
− ⚑
3 anos atrás
Uma leitura para ler e reler,profunda reflexão !
△ ▽ Responder

Edson Carlos
− ⚑
3 anos atrás
Muito bom o texto ! Parabéns ! :)
△ ▽ Responder

Erick Morais > Edson Carlos



Erick Morais > Edson Carlos
− ⚑
3 anos atrás
Muito obrigado!
△ ▽ Responder

Jéssica Vilas Boas


− ⚑
3 anos atrás

Caramba, genial!!! Batman e Coringa são, de longe, os únicos 'herói x vilão' no qual
simpatizo. Justamente pelo fato de o Batman não ter poderes. Interpreto o Coringa
mais como uma representação da consciência de Bruce, algo como o racional,
enquanto o Batman representa o emocional... Enfim, o teu texto está incrível!
△ ▽ Responder

Erick Morais > Jéssica Vilas Boas


− ⚑
3 anos atrás
Muito obrigado! É uma interpretação possível, entre tantas, afinal os personagens
são muito complexos e, por isso mesmo, fantásticos.
△ ▽ Responder

Maria Almeida
− ⚑
3 anos atrás
Erick Morais com todo respeito seu texto é fod.....Parabéns.
△ ▽ Responder

Erick Morais > Maria Almeida


3 anos atrás
− ⚑

Com todo respeito Maria Almeida, muito obrigado!


△ ▽ Responder

William Felipe Zacarias


− ⚑
3 anos atrás
Cara, muito bom =D
△ ▽ Responder

Erick Morais > William Felipe Zacarias


− ⚑
3 anos atrás
Muito obrigado!
△ ▽ Responder

Marcel Camargo
3 anos atrás
− ⚑

Gostei pacas :)
△ ▽ Responder

Erick Morais > Marcel Camargo


3 anos atrás
− ⚑

Obrigado Marcel!
△ ▽ Responder

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