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RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO

Condições de Trabalho e Vida do


Professorado de Educação Física na Rede
Estadual de Ensino em Pelotas-RS

Grupo de Pesquisa
Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Física

Pelotas, março de 2018


Educação Física no Ensino Médio 2
SUMÁRIO

1. Apresentação............................................................ 04
2. Introdução................................................................. 06
3. Metodologia.............................................................. 09
4. Análise de Resultados.............................................. 12
4.1 Trabalho e Formação................................... 12
4.2 Condições de Trabalho Docente..................18
4.3 Saúde e Qualidade de Vida......................... 29
4.4 Organização do Trabalho Pedagógico.........33
4.5 Engajamento Político................................... 37
5. Considerações Finais............................................... 41
6. Referências...............................................................43

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1. APRESENTAÇÃO

Tendo como referência a análise crítica da realidade e das relações entre


trabalho e capital, particularmente na área da Educação, esta pesquisa advém
do acúmulo teórico do grupo de estudos “Organização do Trabalho Pedagógico
da Educação Física”, constituído por estudantes  e docentes vinculados à
graduação em Educação Física (EF) e à linha de pesquisa “Formação
Profissional e Prática Pedagógica” do Programa de Pós-Graduação da Escola
Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF/UFPel).
Investigamos o trabalho docente da EF na Rede Pública Estadual de
ensino do Rio Grande do Sul (RS), na cidade de Pelotas. O objetivo da pesquisa
foi compreender a realidade da vida e do trabalho do professorado na rede
estadual a partir da perspectiva dos trabalhadores e das trabalhadoras da
educação, especificamente da EF que atuam nesta rede. A particularidade do
Ensino Médio (EM), como recorte da pesquisa, é decorrente de dois fatores
principais:
a) de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), a oferta do EM é prerrogativa obrigatória dos entes federativos
estaduais, portanto, no RS é responsabilidade do governo estadual a oferta
desta etapa da Educação Básica. Inclusive, nos últimos anos, os governos
tem diminuído cada vez mais a oferta de vagas na rede estadual para o
Ensino Fundamental, delegando esta responsabilidade para os municípios.
Portanto, o maior número de docentes na rede estadual encontra-se atuando
no EM e o maior número de escolas estaduais oferecem vagas somente
nesta etapa, portanto a abrangência em relação ao número de docentes e
escolas é mais significativo para a investigação;
b) o aprofundamento da crise do capital e seus rebatimentos no Brasil, nos
últimos anos, tem sido acompanhado de mudanças importantes nas políticas
educacionais com caráter de formação de mão de obra adequada à realidade
do mercado de trabalho em crise. Estas mudanças tem sido mais focadas no
EM através da perspectiva da formação técnica e profissional, e diversas

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medidas têm sido adotadas, tanto pelos governos estaduais como federal,
para modificar a estrutura curricular e concepção do EM nas escolas.
Através da elaboração de um questionário denominado “Enquete
Docente”, respondido por 26 docentes que atuam em 18 escolas estaduais de
EM da cidade de Pelotas-RS (de um total de 23), conseguimos obter
informações que nos levam a compreender com maior profundidade a realidade
do professorado frente à este período de crise política, econômica e social. Os
resultados à que chegamos estão expressos nos capítulos subsequentes e estes
apontam questões que devem ser enfrentadas pelo poder público e a sociedade
em geral caso se tenha preocupações em melhorar a qualidade do ensino e da
formação das próximas gerações.
Esta investigação foi realizada pela equipe de estudantes de graduação e
pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) vinculados ao grupo de
estudos e que dedicaram-se ao longo dos anos de 2016 e 2017 à
desenvolverem esta pesquisa e contribuir para os resultados a que chegamos.
Todo o projeto foi executado sem nenhum apoio financeiro de qualquer natureza
e todas as atividades, à exceção do trabalho de campo, foram desenvolvidas na
ESEF/UFPel. Portanto, garantindo o caráter público da pesquisa e a produção
de conhecimento comprometida e com relevância social.

Equipe executora
Coordenador do projeto:
Prof. Dr Giovanni Frizzo (UFPel)
Pesquisadores e pesquisadoras:
Prof. Ms Ivan Bremm de Oliveira
Prof. Ms Francisco de Oliveira
Profª Alessa Oliveira Jorge de Castro
Profª Angélica Vilela Lessa
Prof. Igor Lacerda
Profª. Martina Burch
Prof. Leonardo Lemos Silveira


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2. INTRODUÇÃO

A restruturação produtiva e as transformações no mundo do trabalho das


últimas décadas, especialmente originadas pela maior interação entre meios
tecnológicos e a esfera de produção, tem sido acompanhadas também de
mudanças de paradigmas na formação escolar. Exemplo destas modificações é
a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em curso que
pretende estabelecer parâmetros de formação articulada nacionalmente e
também a recente aprovação da Reforma do Ensino Médio que aprofunda a
concepção mercadológica para a formação escolar. Tais processos de mudanças
no currículo do EM tem tido ressonância na rede estadual de ensino do RS.
Ainda no ano de 2011, o Governo do Estado divulgou um documento-base que
intitulou “Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação
Profissional Integrada ao Ensino Médio – 2011-2014”, tratou-se de uma proposta
de reestruturação curricular do EM para “desenvolver um projeto educacional
que atenda às necessidades do mundo do trabalho, mas que tenha na sua
centralidade o indivíduo, a partir de uma proposta de formação integral” (RIO
GRANDE DO SUL, 2011, p.8).
Este documento tem por objetivo uma mudança estrutural que coloque o
Ensino Médio para além da continuidade do Ensino Fundamental: “um Ensino
Médio que contemple a qualificação, a articulação com o mundo do trabalho e
práticas produtivas, com responsabilidade e com qualidade cidadã” (RIO
GRANDE DO SUL, 2011, p. 4). A ideia é de um Ensino Médio Politécnico, que
tenha como base a dimensão da politecnia, formada na articulação das áreas de
conhecimento e suas tecnologias com os eixos: cultura, ciência, tecnologia e
trabalho enquanto princípio educativo. E a Educação Profissional Integrada ao
Ensino Médio “se configura como aquisição de princípios que regem a vida
social e constroem, na contemporaneidade, os sistemas produtivos” (RIO
GRANDE DO SUL, 2011, p. 4).
Desde a implantação do Ensino Médio Politécnico no RS surgiram
diversas dúvidas por parte do professorado e estudantes perante a nova
estrutura curricular. A proposta trouxe certa insegurança por apresentar uma

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série de dificuldades em sua implementação que se iniciou em 2012. Diante
disto, emergiu a importância e a necessidade de pesquisar e compreender as
relações entre as mudanças do mundo do trabalho e a organização do trabalho
pedagógico no Ensino Médio Politécnico no RS, tendo como lócus de
investigação as escolas estaduais do município de Pelotas-RS.
Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi compreender a realidade
do trabalho docente na rede estadual de ensino a partir da perspectiva dos
trabalhadores e das trabalhadoras da educação, especificamente do
professorado de Educação Física que atuam no Ensino Médio desta rede. A
intenção maior da investigação foi, a partir dos resultados, apontar elementos
que possam ser utilizados como ferramentas para a compreensão da realidade e
também para enfrentar os problemas oriundos dessa realidade.
Para desenvolver tal investigação, definiu-se como central a análise da
realidade do trabalho docente e pedagógico nas escolas estaduais partindo dos
conceitos da categoria trabalho. A categoria ontológica do trabalho, como
atividade humana produtiva da existência, e sua dimensão histórica, manifestada
a partir da relação entre capital e trabalho, constitui-se um conjunto de relações
que configuram o Mundo do Trabalho, originando um campo investigativo que
supera por incorporação as análises centradas exclusivamente nas relações do
mercado de trabalho. Isto é, há uma considerável limitação em pensar as
relações de trabalho docente somente na esfera do mercado, pois este se
configura como um espaço de compra e venda da mercadoria força de trabalho,
mercadoria esta que é propriedade do trabalhador nas relações de
assalariamento, relação própria do modo de produção capitalista. Portanto, o
limite se estabelece a partir da constatação de que o trabalho é produtor da
própria existência do ser humano, mediação deste com a natureza e com os
demais homens e mulheres, não podendo ser reduzido à uma mercadoria
(embora no sistema sócio-metabólico do capital, esta atividade humana é
subsumida ao capital e tornada meio de produção de capital).
Ao apontar o trabalho enquanto categoria fundante do ser social e de sua
centralidade no desenvolvimento da sociedade, onde os diferentes modelos de
produção até então experimentados pela humanidade estabelecem as bases
para a reprodução de sua forma de organização, buscamos entender os

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fundamentos da formação humana e como esta se manifesta no atual período
histórico. De maneira geral, a educação se consolida na incumbência de atender
as demandas apresentadas pela esfera produtiva, formando um determinado
tipo de ser humano necessário à lógica do mercado. Especificamente,
intentamos compreender como se relaciona trabalho e educação na forma
escolar atual e suas manifestações na organização do trabalho docente que
impacta na vida do trabalhador e da trabalhadora em educação.
Nosso ponto de partida é o trabalho compreendido como mediação de
primeira ordem no processo de produção da existência e objetivação da vida
humana. A dimensão ontológica do trabalho é, assim, o ponto de partida para a
produção de conhecimento e de cultura pela humanidade. No entanto, a
produção da existência adquire caráter histórico relativo ao modo de produção
em que a existência é produzida. O trabalho docente, portanto, é uma prática
social que expressa, dentro das suas possibilidades objetivas, as determinações
políticas e ideológicas dominantes em uma sociedade ou, por contradição, busca
a explicitação da superação destas determinações. Como particularidade da
forma trabalho, o trabalho docente estabelece relações distintas de outras
possibilidades quando o produto da atividade é consumido no ato de produção,
diferente do trabalho de um operário na fábrica, por exemplo. Na forma de
assalariamento própria do sistema do capital, também o trabalho docente se
distingue do trabalho produtivo que produz diretamente mais-valia, pois a
caracterização do professorado vinculado ao serviço público não estabelece
centralmente a produção de lucratividade ou mais-valia como elemento basilar
de sua atividade.
O trabalho docente, portanto, se define na atividade da instituição escolar
mediada entre os sujeitos - estudantes e professorado - e o conhecimento -
como produto do trabalho desenvolvido na escola. O professorado ao
desenvolver o seu trabalho é parte da classe trabalhadora assalariada cujas
consequências da forma capitalista também são sentidas por esta categoria
profissional. Consequências não somente na atividade educativa como também
nas condições objetivas e subjetivas de vida, impactando na sua formação, na
saúde, qualidade de vida etc.

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3. METODOLOGIA

Como procedimento metodológico da pesquisa, foi elaborado um


questionário intitulado “Enquete Docente” composto por 59 questões de múltipla
escolha e questões abertas, divididas em 6 categorias: a) trabalho e formação;
b) condições de trabalho docente; c) saúde e qualidade de vida; d) organização
do trabalho pedagógico; e) engajamento político; f) questões gerais.
A Enquete Docente foi respondida por docentes das escolas estaduais da
cidade de Pelotas-RS que trabalham ou trabalharam no Ensino Médio desde o
ano de implementação da nova proposta curricular (2011). Com este recorte,
participaram da pesquisa 26 docentes que atuam em 18 escolas estaduais de
EM da cidade de Pelotas-RS de um total de 23 escolas existentes no âmbito da
5ª Coordenadoria Regional de Ensino (5ª CRE) do RS1, sendo 20 localizadas na
Zona Urbana e 03 na Zona Rural. Destas escolas, uma não tem EF por se tratar
de escola de nível técnico profissionalizante de nível subsequente e as 4 escolas
restantes não tivemos retorno do questionário ou foi negada a participação pelo
professorado.
Consideramos que os resultados são significativos pelo percentual de
82% de escolas envolvidas, sendo 15 de Zona Urbana e 3 de Zona Rural,
portanto com uma abrangência relevante para os objetivos propostos. Em
relação ao número de participantes, é difícil identificar o número total de
docentes que atuam no EM em virtude da rotatividade elevada existente na rede
estadual, tanto no sentido de ingresso e exoneração de professores e
professoras quanto do âmbito de atuação dos docentes (alguns docentes
trabalham no Ensino Fundamental em determinados momentos e depois no EM
em outros). Fizeram parte da investigação o número máximo de docentes que
responderam à Enquete Docente, sem eliminação de nenhum questionário.
Todos os participantes do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para que suas informações pudessem ser utilizadas na compilação
das informações.

1 Segundo dados disponibilizados pela a 5ª CRE do Estado do RS

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Todas as informações coletadas passaram por análise estatística e de
conteúdo, portanto analisadas através de métodos quantitativos e qualitativos, e
constituíram as categorias empíricas que permitiram compreender com
profundidade o trabalho docente da EF no EM da rede estadual de ensino.
A caracterização geral de participantes da pesquisa em relação à dados
de cunho sócio-demográficos, são:

Tabela 1: Dados sócio-demográficos do professorado

Gênero n %
Masculino 9 35%
Feminino 17 65%
Estado civil
Casado 12 46%
Solteiro 6 23%
outros 8 31%
Filhos
Sim 18 69%
Não 7 27%
NR* 1 4%
Idade (anos)
Até 30 3 12%
31 a 40 8 31%
41 a 50 6 23%
51 a 60 7 27%
Acima de 60 2 8%
Total 26 100%

*NR= Não Respondeu


Fonte: Elaborado pelos autores, 2017

O professorado de EF da Rede Estadual de Ensino, na cidade de Pelotas,


que atua no EM é composto em sua maioria por mulheres (65%), casadas
(46%), com filhos (69%) e com pequena prevalência de idade entre 31 a 40 anos

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(31%), sendo o mais novo com 27 anos e o de maior idade 64 anos. Destaca-se
ainda o baixo percentual de docentes com idade até 30 anos (12%), período em
que se tem maior prevalência do término do curso de formação inicial de
professores de EF. Possivelmente, o baixo número de docentes com esta faixa
etária na rede estadual se deva pelos vários anos em que não houve concurso
público para a Rede Estadual de Ensino, portanto, os docentes que compõem a
categoria já ingressaram a mais tempo e já tem idade acima de 30 anos.

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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 TRABALHO E FORMAÇÃO

A tabela abaixo indica a caracterização do professorado no tocante à


formação inicial e continuada.

Tabela 2: Formação do professorado


IES Formação Inicial n %
Pública 23 88%
Privada 3 12%
Tempo de Formado (anos)
Até 10 10 38%
11 a 20 4 15%
21 a 30 6 23%
31 a 40 5 19%
NR* 1 4%
Titulação**
Graduação 5 19%
Especialização 12 46%
Mestrado 9 35%
Formação Continuada
Ótima 6 23%
Boa 11 42%
Regular 4 15%
Péssima 2 8%
NR 3 12%
Total 26 100%

*NR= Não Respondeu


**No período da pesquisa 02 professoras estavam cursando especialização, 01 professora
estava cursando mestrado e 02 professores cursando Doutorado.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017

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A ampla maioria (88%) fez a graduação de Licenciatura em Educação
Física em Universidades Públicas. A maior parte com tempo de formados de 10
anos (38%), sendo o formado a menos tempo há 5 anos e com maior tempo, 38
anos. Mais da metade do professorado (54%) participou de grupo de pesquisa
ou extensão durante a graduação. Em relação à titulação, 81% possui pós-
graduação em nível de Especialização (46%) ou em nível de mestrado (35%).
Questionados se consideravam que sua formação inicial fora suficiente
para desenvolver seu trabalho pedagógico com qualidade na escola, metade do
professorado considerou que foi suficiente para desenvolver seu trabalho
pedagógico de qualidade na escola:

“Porque me deu o suporte inicial e conhecimentos básicos para


atuar e agir nas escolas que trabalhei” (P2).

“Pelos ótimos professores no curso de Educação Física, pela


prática em projetos de extensão e estágios” (P6).

Outra metade considera que não foi suficiente ou só em parte, pois:

“Muito superficial, faltou a realidade escolar” (P23).

“Porque a graduação não propiciou conhecimento em algumas


áreas da educação física, visto que é um curso mais teórico.
Também não propiciou conhecimento de como lidar com os
principais problemas que enfrento na escola pública como falta de
materiais” (P22).

“Porque a [xxx] ministrava aulas sem o menor conhecimento da


realidade da escola pública” (P14).

“Deu a base, mas não foi o suficiente. Infelizmente a realidade


escolar é muito diferente do contexto em que o contexto em que o
aluno de EF que as aulas deveriam ser planejadas (P21).

Sobre as atividades de Formação Continuada ofertadas pela Rede


Estadual, mostraram satisfeitos 65% dos docentes. E, apesar de haver incentivo
da equipe diretiva para atividades de formação continuada, quando ofertadas, o
professorado informou os seguintes fatores limitantes para participação: a carga

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horária elevada e a falta de tempo, os salários baixos, e a não oferta de cursos
de Formação Continuada, conforme indicado abaixo por alguns fragmentos:

“Não me foi proporcionada estas atividades, e os professores da


rede estadual em geral estão com suas cargas horárias lotadas
em sala de aula” (P1).

“O horário de trabalho coincide com o horário de formação, pois


trabalho em outra rede de ensino” (P2).

“Não há oferecimento de formações, em algumas, por fora, por


falta de recursos, e falta de interesse no tema” (P23).

“Não há oferta de formação continuada no estado. Participei


apenas de uma que foi ofertada pela rede municipal que foi aberta
10 vagas ao estado. Portanto, a maior limitação é a não
oferta” (P25).

Na tabela 3, estão outros elementos acerca do trabalho docente.

Tabela 3: Caracterização trabalho


Vínculo Rede Estadual n %
Concurso 22 85%
Contrato 3 11%
Concurso e contrato 1 4%
Tempo atuação Rede Estadual (anos)
Até 10 12 46%
11 à 20 6 23%
21 à 30 7 27%
Acima 30 1 4%
Tempo Geral Docência (anos)
Até 10 11 42%
11 à 20 5 19%
21 à 30 4 15%
Acima 30 6 23%
Níveis que atua
Somente Ensino Médio 6 23%
Ensino Médio e outros 20 77%
Disciplinas que atua
Somente EF 24 92%
Outras (Ensino Religioso) 2 8%
Total 26 100%
Fonte: elaborado pelos autores, 2017

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Ao analisarmos a tabela 3 constatamos que o concurso público é a
principal vinculação do professorado com a rede estadual (85%), a maior parte
da categoria está a menos de 10 anos na rede (46%), sendo o mais recente de 7
meses até o docente com 34 anos de magistério. O tempo geral de docência
também ficou em 10 anos (42%) porém notamos o aumento da proporção de
docentes com mais de 30 anos de docência, que passou de 4% somente na
rede estadual para 23% de experiência docente em outros espaços. Isto deve-se
possivelmente a alguns professores já encontrarem-se aposentados em outras
redes de ensino, além de já estarem atuando antes da realização de concurso
público na rede estadual.
Os dados da tabela 3 nos mostram ainda que apenas 23% do
professorado atua exclusivamente no EM, os demais atuam em outros níveis
como Anos Finais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos na
rede estadual e Anos iniciais, Educação Especial e Educação Infantil em outras
redes.
Em relação a outras disciplinas que poderiam estar ou terem ministrado,
apenas 2 docentes (8%) responderam que ministram ou ministraram aulas de
Ensino Religioso além de EF.
A configuração da jornada de trabalho do professorado é apresentada no
quadro abaixo.

Quadro1: Regime de trabalho professorado EF da Rede Estadual e outros

Acima de
Regime de Trabalho Até 20h* 21h à 40h** 40h
Regime de Trabalho Rede Estadual 13 (50%) 11 (42%) 2 (8%)
Regime Rede Estadual e outras 9 (36%) 12 (48%) 4 (16%)
Regime de trabalho total*** 8 (31%) 10 (38%) 8 (31%)

*Dos professores que atualmente trabalham 20h, 03 possuem outras 20h de aposentadoria e; 01
possui 40h de aposentadoria
** Dos professores que atualmente trabalham 40h, um professor possui 20h de aposentadoria;
***foram citadas outras atividades: 10h com vendas, 30h em academia, 20h em comércio e 5h
como Personal Trainner
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017

Educação Física no Ensino Médio 15


De acordo com os dados do quadro 1, metade do professorado trabalha
até 20h na Rede Estadual, e buscam em outras redes de ensino
complementação para seus turnos e salários; 48% dos docentes possuem
jornada entre 21h a 40h se contabilizarmos a carga horária de outras redes de
ensino concomitantes. Ao somarmos ainda a carga horária de outras fontes de
renda ou vínculos empregatícios, temos um aumento considerável de
professores que trabalham acima de 40h, passando de 8% somente na rede
estadual para 31% totalizando todas as fontes de renda, inclusive com um
docente chegando a 62h de jornada de trabalho semanal. Ou seja, 69% da
categoria docente tem jornada de trabalho de 40h ou mais.
A carga horária de trabalho na docência, em geral, resume-se ao tempo
de aulas, reuniões, preparação de aulas, correção de trabalhos, avaliações etc,
porém, outra parte importante do tempo destinado para o trabalho docente está
o tempo de deslocamento da residência até a escola ou às escolas em vista que
diversos docentes trabalham em mais de uma escola.
Assim, os docentes foram convidados a responder sobre o tempo diário
utilizado para deslocamento até o trabalho, tanto de ida como de volta ao final da
jornada. Foi apontado que 31% leva até 29min para deslocamento; outros 31%
levam de 30min a 49min; 38% levam 50min ou mais para realizar este
deslocamento.

Gráfico 1: tempo de deslocamento para o trabalho

31%
38%

31%

até 29min 30 – 49min 50min ou mais

Educação Física no Ensino Médio 16


Neste tempo de deslocamento, os docentes indicaram a utilização de
mais de um meio de transporte até a escola ou escolas em que trabalham.
Alguns docentes apontaram mais de um meio de transporte, portanto apontamos
a utilização de cada meio por parte do professorado: a utilização de carro ou
moto foi apontada por 69% dos docentes; ônibus foi indicado por 27%; bicicleta
indicada em 8%; táxi 4%; e 12% se deslocam à pé para o trabalho.
A carga horária prevista para planejamento, avaliação, reuniões
pedagógicas e outras atividades, é considerada pouca ou insuficiente pela
maioria dos docentes (62%), o que atrapalha a organização de seu trabalho e a
qualidade das aulas de EF, pois não conseguem prepará-las adequadamente,
conforme relatam abaixo:

“Acontece que em 60h/a fica muito prejudicado esse planejamento,


pois é muita correria” (P20).

“Planejamento no lar (ou seja, por minha conta) sem carga


horária” (P5).

“Uma hora, uma vez por semana. Não considero suficiente” (P4).

Em relação ao trabalho da EF ser ou não organizado em conjunto com


demais docentes da área ou outras disciplinas, obtivemos 14 respostas (54%)
dela ser organizada com outros pares, seja com a área da linguagem (8), ou
outros professores de EF (5) ou somente com a direção e a coordenação
pedagógica (1). Como a disciplina de EF pertence à área de Linguagens e suas
tecnologias, sua organização se dá com as demais disciplinas desta área, e em
escolas com mais de um docente de EF busca-se o diálogo entre os mesmos
para assuntos mais específicos (espaço físico e material), porém quase metade
(46%) informou que a EF não é organizada em conjunto com outras disciplinas.

Educação Física no Ensino Médio 17


4.2 CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE

Em relação à remuneração do professorado na rede estadual de ensino,


ao serem perguntados sobre a faixa salarial em que encontram-se foram
elencadas opções levando em consideração o salário mínimo nacional de R$
788,00 (valor oficial nacional de 2015, ano referência para o início da coleta de
informações). Nas respostas, 31% apontou um salário que está entre 2 e 3
salários mínimos, outros 31% dos professores se encontram na faixa de 1 e 2
salários mínimos, 19% recebem entre 3 e 4 salários e 19% responderam receber
entre 4 e 5 salários mínimos.

Gráfico 2: remuneração média tomando como referência o salário mínimo


nacional de 2015 (R$ 788,00)

19%

31%

19%

31%

2 e 3 Salários 1 e 2 Salários 3 e 4 Salários 4 e 5 Salários

A partir das respostas, foi possível observar que a grande maioria dos
docentes se encontra nas faixas salariais de até 3 salários mínimos perfazendo
um total de 62% da categoria, o restante - 38% - está dividido entre as faixas
salariais de 3 a 5 salários mínimos. Levando em consideração a Lei do Piso
Salarial Profissional Nacional para os Profissionais do Magistério Público da
Educação Básica (Lei 11738/2008), que anualmente reajusta o valor do piso
salarial e aponta para 2018 o valor de R$ 2455,52, identifica-se que 62% da
categoria docente tem remuneração abaixo do piso nacional. A parte da
categoria que percebe remuneração acima do piso nacional são docentes que

Educação Física no Ensino Médio 18


estão no magistério estadual a mais tempo e, portanto, ascenderam na carreira
mais vezes recebendo, assim, valores nominais acima do piso.
Importante destacar que a Lei nacional do piso salarial do magistério não
é opcional para gestores públicos, todas as esferas da administração pública que
ofertam níveis e modalidades da Educação Básica deve cumprir com a lei
nacional. No caso do RS, desde que a Lei foi aprovada nenhum dos governos
(Yeda Crusius - PSDB; Tarso Genro - PT; José Ivo Sartori - PMDB) cumpriu com
a legislação e, através do seu sindicato, a categoria docente tem realizado
diversas mobilizações para que os governos cumpram com a Lei.
Nas respostas à pergunta sobre o piso nacional do magistério não ser
cumprido no Estado do RS, os docentes demonstraram-se bastante insatisfeitos
em todas as respostas. Palavras como “péssimo”, “ridículo”, “desrespeito” e
“descaso” foram citadas, demonstrando a indignação do professorado. O
fragmento da resposta abaixo é expressão do que pensam os docentes:

“Desrespeito e descaso com um direito que determina o que é


justo que se pague a um professor por 40 horas de trabalho,
governos desastrosos e mal sucedidos que não priorizam a
educação como forma de desenvolvimento, que não priorizam
nada, nem educação, nem saúde e nem segurança. O governo
não cumpre nem determinações judiciais; a única avaliação que
faço é desesperança, indignação e tristeza” (P17).

Nas palavras deste docente, observamos a desvalorização, não somente


do magistério mas também sobre outras formas de trabalho no serviço público
como saúde e segurança. O docente além de enfrentar a desvalorização de seu
trabalho e a carga horária de trabalho não remunerada, enfrenta também a falta
de segurança e saúde pública de qualidade, que irá interferir em seu trabalho.
Outro professor, questiona:

“Não entendo porque as leis só funcionam para alguns; por que o


Governo não cumpre a lei e nada acontece?” (P3).

Educação Física no Ensino Médio 19


Desde o início da gestão do Governador José Ivo Sartori (PMDB), o
magistério estadual está convivendo com o parcelamento de salários e não
pagamento de seus direitos como 13º, férias etc. Dos 26 professores, 56%
afirmaram que o parcelamento dos salários torna o trabalho desmotivante, outros
cinco professores (19%) apontam que tal ação desqualifica o trabalho docente,
bem como um grande desrespeito com o servidor, como lembrado por outros
dois professores (8%).
Além do impacto direto no trabalho docente, quatro professores (15%)
apontaram que tal atitude também prejudica o lado material, visto que dificulta o
acesso à verbas que seriam destinadas para este fim.
Apenas dois professores (8%) relataram que os parcelamentos pouco ou
nada afetaram em seus trabalhos, visto que, por estarem em início de carreira, o
parcelamento não havia chegado até seus salários ou, quando chegou, foi uma
vez ou duas.
Essas questões nos apontam problemas graves, pois o professorado
desmotivado também acaba por desmotivar os estudantes. Além de prejudicar
diretamente o sistema educacional, ocasiona diversos efeitos em outros pontos
da economia, visto que esses trabalhadores perdem sua estabilidade financeira.
Fora que trabalham sem esperança de uma melhora no sistema público de
ensino, visualizando cada vez mais a precarização do mesmo.
Na avaliação do Plano de Carreira do magistério estadual no RS, a
Enquete Docente questionou, através das alternativas: “ótimo”, “bom”, “regular”,
“ruim” ou “péssimo”, o que pensam os docentes. Dos 26 docentes que
responderam à Enquete, 31% considera uma condição péssima do plano de
carreira; 27% consideram bom; 19% consideram ruim, 19% identificam como
regular e 4% considera ótimo. A partir do gráfico abaixo, podemos observar que
a metade da categoria docente (50%) avalia como péssimo/ruim o plano de
carreira e 31% avalia como bom/ótimo.

Educação Física no Ensino Médio 20


Gráfico 3: avaliação do Plano de Carreira docente
4%

Péssima
Ruim
Regular
Bom
31% Ótimo
27%

19% 19%

Em relação às condições gerais de trabalho docente, ao serem


perguntados sobre qual a média de estudantes nas turmas em que ministram
suas aulas, obtivemos uma resposta média de 30 à 35 estudantes por turma,
58% das respostas.
De acordo com a legislação vigente, não há definição ou parâmetro
relativo à número máximo de estudantes em cada etapa da Educação Básica. A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/1996), estabelece no
artigo 25 que: “será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar
relação adequada entre o número de alunos e o professor, a carga horária e as
condições materiais do estabelecimento” (BRASIL, 1996), também ficando a
critério do respectivo sistema de ensino, observar as condições/características
regionais e locais para desenvolver formas de atender este artigo. No RS, o
Conselho Estadual de Educação (CEED-RS) emitiu o Parecer 1.400/2002, em
que recomenda até 25 estudantes no 1º ano do Ensino Fundamental; do 2º ao 4º
ano até 30 estudantes e do 5º ao 8º ano até 35 estudantes.
Independente destas orientações do CEED-RS, observou-se um
descontentamento sobre este número de estudantes, 58% dos docentes
responderam que o número de estudantes em suas turmas não é adequado para
a garantia de qualidade da educação, ou seja, a grande quantidade de

Educação Física no Ensino Médio 21


estudantes influencia negativamente no aprendizado, o que remete a um ponto
de precarização do trabalho docente em vista que a quantidade de estudantes
dificulta a organização do trabalho pedagógico. Podemos observar tal aspecto
no fragmento da seguinte resposta:

“Em virtude de não termos material suficiente para


trabalharmos com esta quantidade de alunos, o método de
ensino acaba sendo o global, dificultando a qualidade do
aprendizado” (P13).

Para 34% do professorado, a quantidade de estudantes em suas turmas


é adequada para uma boa qualidade de aprendizagem e 8% dos docentes não
souberam opinar. Um destes docentes que não soube opinar respondeu:

“Nem sei! Já nos acostumamos com isso” (P1).

O que nos apresenta uma possível descrença com possíveis melhorias


das condições de trabalho e que pode ter naturalizado esta condicionante que
não a percebe como uma forma de precarização que dificulta seu trabalho e o
aprendizado dos estudantes.
Sobre a quantidade de trabalhadores e trabalhadoras em cada escola
(docentes e funcionários), enquanto 42% considera regular, 31% considera
pouco ou muito pouco e 27% considera bom (nenhum docente considerou
“ótimo” o número de trabalhadores na escola). Portanto, é possível afirmar que
aproximadamente 1/3 da categoria avalia positivamente o número de
trabalhadores e ou 1/3 avalia negativamente, possivelmente em razão de
desiguais disponibilidades de trabalhadores para cada escola o que torna a
percepção do professorado também diferenciada.

Educação Física no Ensino Médio 22


Gráfico 4: quantidade de docentes e funcionários disponíveis na

23% Regular
Bom
Pouco
Muito Pouco
42%

8%

27%

Em relação à infraestrutura, os docentes foram questionados se a escola


em que trabalham possuía ou não determinadas infraestruturas próprias para o
trabalho pedagógico e, posteriormente, responderam acerca da qualidade ou
condições de tais espaços. Portanto, o quadro abaixo demonstra as respostas
em relação à infraestrutura, se possui e se é adequada

Quadro 2: Infraestrutura das escolas


INFRAESTRUTURA Possui adequada
salas de aula 100% 66%
biblioteca 88% 61%
laboratórios 58% 40%
sala de informática 77% 40%
cozinha 100% 50%
refeitório 96% 52%
banheiros 96% 40%
sala de professores 96% 60%
vestiários 23% 50%
secretaria 100% 50%
horta 19% 80%
quadra de esportes 92% 37%
ginásio 31% 62%
sala multimídia 58% 53%
estacionamento 69% 28%
Fonte: elaborado pelos autores, 2017

Educação Física no Ensino Médio 23


Sala de aula, secretaria e cozinha são estruturas que estão presentes em
todas as escolas, ainda que não sejam totalmente adequadas às necessidades
pedagógicas e de atendimento de acordo com o professorado. Chama a atenção
que menos da metade do professorado respondeu que as escolas em que
trabalham possuem ginásio esportivo, vestiário e horta; e pouco mais da metade
das escolas possuem laboratórios, sala de informática, sala multimídia e
estacionamento. Pelas respostas do professorado também se observa que,
embora as escolas possuam determinadas estruturas, as condições em que se
encontram não são totalmente adequadas, especialmente os laboratórios, sala
de informática, banheiros, quadra de esportes e estacionamento em que menos
da metade das respostas consideraram adequadas.
Os espaços que são principalmente utilizados pelos docentes da EF nas
escolas foram avaliados de forma negativa tanto no sentido da escola não
possuir, como também a qualidade destas estruturas. Apenas 31% dos docentes
informaram ter ginásio esportivo em suas escolas e somente 23% responderam
que as escolas possuem vestiários. Destacamos que apenas duas escolas têm
ginásio esportivo no município de Pelotas. Embora 92% das escolas tenham
quadras esportivas, 63% destas não estão em condições adequadas para as
atividades desenvolvidas nas aulas de EF.
Na avaliação dos docentes acerca dos espaços e instalações utilizados
para as aulas de EF, a maioria dos professores (69%) respondeu que as
instalações não são adequadas. Constam em suas respostas reclamações sobre
as condições das quadras esportivas, que estão em estado de deterioração, com
buracos, sem tabelas para a prática do basquete, pavilhões sem parquet e/ou
sem cobertura etc. Algumas respostas dos professores mostram o descaso com
a manutenção das escolas, podemos observar em seus relatos diversos
problemas de infraestrutura que prejudicam o desenvolvimento das aulas, o
docente P1 relata o seguinte: “temos apenas uma quadra de cimento
necessitando de algumas reformas. Quando chove alaga e não temos onde dar
aula”, seguido do docente P15 que explica, igualmente ao P1 que em dias de

Educação Física no Ensino Médio 24


chuva as aulas de EF não podem ser na quadra, pois “em dia de chuva não tem
como dar aula na quadra, não possui tabelas de basquete, mal pintada.”
As respostas que avaliam positivamente as condições de infraestrutura
foram 19% dos docentes. O P10 afirmou que a escola onde trabalha tem um
ginásio de esportes e que esta realidade só é igual em mais uma das escolas da
rede estadual, como podemos observar em seu relato: “temos ginásio de
esportes e esta é uma realidade que ‘apenas’ nossa escola e outra possuem”.
Outro docente explica que já havia trabalhado em escolas que não tinham as
condições necessárias para a realização das aulas de EF, porém a escola onde
trabalha agora possui, ele relata que: “Se for fazer um comparativo com outras
escolas do estado sim, já trabalhei em escolas em que a quadra era chão batido,
minha escola tem quadra coberta com tábua corrida, vestiários e banheiros
limpos” (P17). Observa-se neste relato que alguns docentes possuem
conhecimento das condições das escolas estaduais e que nem todas possuem
condições favoráveis para o trabalho pedagógico da EF.
Outros 12% responderam que a infraestrutura, segundo eles, se
encontravam boas, razoáveis e mais ou menos. Dos motivos apontados,
aparecem falta de cobertura da quadra esportiva ou em condições precárias e
estruturas que carecem de manutenção. Mesmo os docentes que não
esboçaram opiniões centradas no sim ou no não, podemos visualizar que tinham
reclamações sobre a estrutura das escolas onde trabalham, como o relato do
professor P3: “temos quadra de esportes, mas todas elas em condições
precárias (com buracos, sem tabelas, falta de parquet no pavilhão)”. Desta
maneira, este professor é ciente da realidade estrutural que envolve de seu
trabalho. O que faz refletir que muitas vezes os docentes de EF têm que se
adaptar a espaços que não seriam próprios para uma atividade anteriormente
planejada, fazendo com que os docentes improvisem ou adaptem-se à espaços
precários para as aulas de EF.
Outro ponto, importante para o desenvolvimentos das aulas de EF são as
condições dos materiais, assim, foi questionado aos docentes sobre os materiais
disponíveis para as aulas de EF. Nesta questão, 33% afirmou que os materiais
disponíveis são bons, seguido de 26% que indicou regular, 22% afirma que é
pouca, 11% consideram muito bons e apenas 8% consideram ótimo. Portanto,

Educação Física no Ensino Médio 25


praticamente a metade dos docentes avalia positivamente os materiais
disponíveis para a EF e a outra metade avalia negativamente.

Gráfico 5: materiais disponíveis para a Educação Física

11%
22%
8%

26% 33%

Muito bom Ótimo Bom Regular Pouco

Sobre equipamentos de segurança do trabalho, como extintores de


incêndio, saídas de emergência, atendimento de urgência e outros, a grande
maioria dos docentes (81%) afirmou que as escolas praticamente não possuem
equipamentos de segurança. Em sua maioria, as escolas possuem extintores de
incêndio, em alguns casos estão vazios ou com validade vencida. Uma resposta
que chamou atenção foi de um dos docentes (P18), que afirmou que no início de
seu ingresso na rede estadual existiam até mesmo consultórios médicos e
odontológicos que atendia a comunidade escolar, porém foram fechados ao
longo dos anos.
Ao serem questionados acerca da avaliação geral das condições de
trabalho docente na rede estadual, o professorado avaliou negativamente em
sua grande maioria, perfazendo um total de aproximadamente 70%. As
respostas deste grupo apontam indicadores de precarização como os salários
defasados e atrasados, falta condições de forma geral das escolas, falta de
docentes, monitores, bibliotecários, entre outros funcionários, falta de materiais e
espaço (infraestrutura) físico, desestímulo, estudantes descomprometidos e
família ausente. O docente P25 relata algumas das reclamações recorrentes dos
demais:

Educação Física no Ensino Médio 26


“Péssimas. Na escola onde trabalho, não há estrutura, os
materiais são escassos, além dos salários estarem parcelados
há 22 meses, sem nenhum reajuste, enfim, está muito ruim de
trabalhar no magistério estadual”. Este mesmo docente faz
uma análise ainda mais aprofundada da questão ao afirmar:
“na minha opinião, toda essa precarização que está ocorrendo
na rede pública, e não só no estado, é feita de forma
proposital. A ideia é precarizar para poder privatizar” (P25).

Os docentes que avaliam positivamente são 16%. Um dos docentes (P8),


explica que considera dar uma aula boa nas condições em que a escola se
encontra, porém aponta ser necessário que estudantes e docentes tivessem
condições melhores de estrutura. Uma das docentes (P26) explica que as
condições regulares, pelo baixo salário e material destinado a EF, também o
trabalho mal desenvolvido pelo professor de EF faz com que a disciplina não
seja valorizada. Dos professores que consideram boas as condições de trabalho,
apenas um (P17) justificou, este explica que apesar da carga horária e dos
salários, acredita que a escola onde trabalha tem um ambiente bom, e afirma
que tem autonomia e aplicabilidade em seu trabalho docente.
Ao serem questionados sobre a forma que a precarização do trabalho
docente influencia na qualidade do ensino, praticamente a totalidade das
respostas apontaram para a influência negativa da precarização na qualidade do
trabalho, podendo ser divididos em três aspectos centrais:
a) condições de infraestrutura: falta de recursos, materiais e equipamentos;
b) condições de trabalho: jornada exaustiva (60h), pouco tempo para estudo,
desvalorização salarial e aumento da desigualdade;
c) saúde mental: desmotivação, desgaste, sobrecarga, solidão e impotência.
Ainda assim, se pudessem voltar no tempo, a ampla maioria dos docentes
optaria novamente pela docência em EF, tal como apontado no gráfico abaixo:

Educação Física no Ensino Médio 27


Gráfico 6: opção pela docência

8%

23%

69%

Não sei Não Sim

Ao mesmo tempo em que a compreensão geral do professorado identifica


que a docência na rede estadual é desvalorizada e precarizada por contas das
políticas educacionais implementadas pelos governos, tais questões não são
necessariamente motivos que levem a ampla maioria (69%) à repensar a sua
profissão no sentido de não optar pela docência.
As razões pelas quais optariam novamente pela docência tem aspectos
relativos à questões emocionais de vocação, sentir-se útil ou gostar do que faz; e
também questões sociais caracterizadas tanto pela função social da educação
com as possibilidades de transformação da realidade como a especificidade da
área da EF em relação ao ensino de aspectos da qualidade de vida e motivação
através do movimento.
Chama a atenção que 23% dos entrevistados apontem uma realidade
dura do magistério estadual que leva ao abandono da docência, inclusive em
conflito com os desejos de permanecer, mas inviabilizado pelas condições
objetivas da profissão. A seguinte resposta é bastante expressiva neste sentido:

“Eu não estou feliz nessa profissão da maneira como a


educação é lidada no Brasil de forma geral. E isso abrange
muito mais do que a questão salarial: o trabalho docente em si
esta muito desvalorizado no Brasil” (P22).

Educação Física no Ensino Médio 28


4.3 SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

Ao serem perguntados se já tinham vivenciado ou conheciam algum


colega que havia sofrido assédio moral, discriminação, exclusão, assédio sexual,
agressão verbal ou agressão física, 38% do professorado afirmou que já
sofreram ou sabem de algum colega que sofreu assédio moral; discriminação foi
indicado por 23%; 23% exclusão; 19% preconceito; 27% agressão física; 15%
assédio sexual e agressão verbal que foi apontada por 62%. Apenas 12% das
respostas não indicaram nenhuma das alternativas. Observa-se, portanto, que a
categoria docente convive com diversas formas de opressão e relações abusivas
no trabalho, em especial agressões verbais nas relações com os estudantes e
assédio moral na relação com colegas, equipes diretivas e responsáveis pela
administração pública.
A maioria dos docentes, 77%, percebem que a sua saúde está boa, muito
boa ou ótima; 23% acreditam que a sua saúde está razoável ou ruim.

Gráfico 7: percepção de saúde docente

23%

77%

Ótima; muito boa; boa Razoável; Ruim; Péssima

Porém, ao serem questionados se já sentiram algum tipo de problemas de


saúde física ou mental em decorrência do trabalho, 69% afirmou que sim e 31%
não. Ou seja, ao mesmo tempo em que os docentes percebem sua saúde como
positiva, também identificam que já tiveram problemas de saúde física ou mental
em decorrência do trabalho. Das ocorrências, os professores relataram
problemas emocionais, estresse, dor de garganta, nas costas, musculares e

Educação Física no Ensino Médio 29


outras lesões. Algumas situações do trabalho que afetam a saúde física e mental
dos docentes foram relatadas, como: docentes que levam materiais próprios
para as escolas em que trabalham tendo que fazer o transporte destes; ministrar
aulas para mais de uma turma ao mesmo tempo no pátio da escola; exposição
ao clima (calor, frio, chuva, umidade); dentre outras situações.

Gráfico 8: indicação de problemas de saúde física e/ou mental em decorrência


do trabalho

31%

69%

Não Sim

Problemas de saúde em decorrência do trabalho docente também se


identifica quando 46% dos docentes, quase a metade, utilizam algum tipo de
medicamento como remédios para ansiedade e depressão, anti-inflamatórios,
antidepressivos, reguladores de pressão arterial, entre outros. A outra metade da
categoria, 50%, respondeu que não está utilizando medicamento neste
momento. Os 4% faltantes não responderam a esta questão. Considera-se que é
um percentual elevado da categoria que utiliza medicamentos em decorrência de
condições de trabalho precárias e do adoecimento.
Os problemas emocionais ou mentais que os docentes apresentam
constantemente foram citados nas seguintes proporções: cansaço= 46%;
estresse= 42%; desmotivação= 42%; desânimo= 38%; esgotamento= 31%;
ansiedade= 27%; irritabilidade= 19%; dificuldade de relaxar= 19%; insônia e/ou
rouquidão= 12%; depressão= 8%. Outro docente respondeu “medo do futuro”. E
23% dos docentes não apresentaram nenhum dos problemas relacionados à
questão

Educação Física no Ensino Médio 30


Na questão anteriormente citada acerca da percepção de saúde, a
maioria da categoria avalia positivamente sua saúde, porém nas questões
posteriores apresentaram diversos aspectos que indicam problemas de saúde
mental e/ou física, ou seja, embora tenham adoecido, tomem diversos tipos de
medicamentos e identifiquem problemas já sentidos em decorrência do trabalho
na rede estadual de ensino, os docentes percebem positivamente sua saúde.
Praticamente a totalidade do professorado (96%) indicou que consegue
se alimentar adequadamente, no mínimo 3 vezes ao dia. Apenas 1 docente
relatou que não e justificou por motivos particulares.
Entendendo o tempo livre como elemento importante para a compreensão
da saúde, os docentes foram questionados sobre as atividades que realizam fora
do ambiente do trabalho em que foram elencadas 13 opções de respostas
fechadas e uma aberta, nas quais os docentes puderam assinalar tantas quantas
quisessem. Dessa forma, as atividades realizadas no tempo livre foram assim
apontadas: esportes = 62%; filmes e TV = 58%; passeios = 54%; descanso =
46%; cinema = 46%; leitura = 42%; viagens = 35%; festas = 31%; cursos = 31%;
prolongamento do trabalho = 15%; atividades religiosas = 12%; nenhum
assinalou a opção teatro. E 23% dos docentes afirmaram que realizam outras
atividades, relacionadas à práticas corporais (pilates, caminhadas, torneios
esportivos), outra afirmou terem um segundo trabalho (fisioterapeuta), apenas
uma relatou ter envolvimento com o sindicato nas horas livres.
A satisfação no trabalho também foi perguntada ao professorado, 77%
apontou que o maior motivo de satisfação profissional tem a ver com o
aprendizado e reconhecimento do trabalho por parte dos estudantes, bem como
da oportunidade de contribuir com a formação dos jovens. Em menor proporção,
os demais docentes indicam que o reconhecimento do trabalho por parte da
comunidade escolar, dos colegas e famílias, da alegria de trabalhar e o prazer
proporcionado são os motivos de satisfação profissional.
Já os motivos de insatisfação profissional podem ser compreendidos nos
percentuais seguintes: 53% das respostas citaram a questão da desvalorização
salarial (baixa remuneração) como motivo maior de insatisfação profissional;
23% apontaram a falta de condições de trabalho e infraestrutura, bem como
carência de materiais; 24% indicou que os maiores motivos de insatisfação se

Educação Física no Ensino Médio 31


refere à questões de descaso e desrespeito ao professorado em relação ao seu
trabalho, tanto por parte do governo, como por parte de estudantes e
comunidade escolar.

Educação Física no Ensino Médio 32


4.4 ORGANIZAÇÃO DO TABALHO PEDAGÓGICO

Outra das categorias da Enquete Docente se referiu à organização do


trabalho pedagógico, cujos temas questionados tratavam do projeto pedagógico
da escola, planejamento de ensino, conteúdos, metodologia de ensino, objetivos
e avaliação.
Sobre o Projeto Pedagógico da escola ser atualizado anualmente de
acordo com a realidade da escola e com a participação da comunidade, 19
professores (73%) afirmaram que esta atualização é feita nas reuniões
pedagógicas, seja ao inicio do ano ou no decorrer dele. Apenas quatro
professores (15%) relataram que a organização deste documento se dá, ou
poderia (se necessário fosse) se dar, em conjunto com a comunidade, porém
ressaltam que, mesmo sem este momento, a realidade na qual a escola está
inserida é considerada quando organizam o projeto.
Cinco professores (19%) relataram nunca terem participado da elaboração
ou organização do projeto pedagógico, alguns por terem ingressado na escola
com o ano letivo em andamento (11,5%) e outros por tal documento ser anterior
ao ingresso na escola e nunca ter sido atualizado (8%).
Sendo assim, podemos observar que a grande maioria dos projetos
pedagógicos são elaborados ou atualizados em reuniões pedagógicas, ou seja,
apenas com a participação dos professores, não incluindo a comunidade nesse
momento. Outro dado preocupante é o fato de encontrarmos 19% dos
professores que nunca participaram da elaboração ou atualização deste
documento, seja por ingressar após esse momento ou mesmo por esse
momento nunca ter acontecido após sua entrada na escola.
Em relação ao perfil do egresso que a escola deve formar, 18
características diferentes foram citadas. Formar estudantes com senso crítico
apurado foi a que mais se destacou, sendo citada por 13 professores (50%). Em
seguida, lembrado por 8 professores (31%), se encontra tornar o estudante um
cidadão capaz, preparado para a vida. Tornar o estudante um sujeito
participativo aparece na sequência, sendo citado seis vezes (23%); um sujeito
autônomo, logo depois com cinco citações (19%); e logo em seguida, ambos
com quatro citações (15%), um sujeito responsável e com ideias próprias.

Educação Física no Ensino Médio 33


Também foram citados por dois professores cada característica (8%): sujeito
ético, honesto/de valores, íntegro, conhecedor de seus direitos, saudável, feliz,
com projeto de vida; sujeito pronto para o mercado, preparado para o ensino
superior, curioso e pró-ativo, também foram citados por um professor (3%) cada
característica.
O que se destaca é que todas as falas foram similares, visto que a maioria
dos professores citou mais de uma característica e teve falas próximas do que
os outros professores disseram; ou, mesmo quando diferentes características
foram citadas, eram muito similares umas das outras, mostrando que a visão de
cidadão que os professores pensam que a escola deve formar para o futuro é do
cidadão preparado para enfrentar a vida e o mundo do trabalho, sendo
responsável e participativo, bem como um cidadão crítico e autônomo.
Quanto ao objetivo principal da EF na formação dos estudantes, 17
objetivos diferentes surgiram. A maioria dos professores (65%) relatou que o
principal objetivo da EF é fazer com que os estudantes gostem de atividades
físicas. Logo em seguida, com cinco citações cada (19%), encontramos quatro
objetivos diferentes: a busca por saúde, desenvolver o lado sócio afetivo,
promover qualidade de vida e ampliar a cultura corporal, proporcionando o
máximo de vivências de práticas corporais e esportivas. Com três citações
(11,5%), tornar o estudante alguém com valores, conhecedor de seus direitos e
deveres também foi lembrado pelos professores como objetivo da EF. Após isso,
com duas citações cada (8%), temos: auxiliar no desenvolvimento motor e
desenvolvimento/união da mente e do corpo. Ainda, com uma citação cada (3%),
há professores que veem como objetivo da educação física desenvolver uma
recreação esportiva, fazer com que no futuro os alunos aproveitem seu tempo de
lazer, promover a participação, desenvolver a cidadania, tornar cidadãos críticos,
resgatar das drogas e do mundo do crime, produzir sujeitos mais autônomos e
sujeitos que se movimentem.
Verificamos que os professores consideram questões ligadas à saúde
como os principais objetivos da EF, como praticar e gostar e atividade física e
desenvolver qualidade de vida a partir disto; mas também questões ligadas à
personalidade do aluno, como torná-lo um cidadão mais crítico, autônomo e com
valores.

Educação Física no Ensino Médio 34


Sobre quais seriam os conteúdos principais abordados nas aulas de EF, o
esporte apareceu como predominante, sendo lembrado por 21 (81%) dos 26
professores. Dentre os esportes citados, o futsal vem primeiro (31%), em
seguida o voleibol (23%), o handebol (15%) e o basquetebol (11,5%). O
punhobol também surgiu entre as modalidades citadas, uma vez, assim como o
slackline e o atletismo (3%).
Os termos “saúde” e “qualidade de vida” foram aproximados e, assim,
citados 11 vezes (42%), sendo, após os conteúdos esportivos, o mais trabalhado
pelos professores nas suas aulas. Em seguida temos atividade física (junto de
prática corporal) citados por sete professores (27%); jogos cooperativos,
recreativos e/ou intelectuais citados por seis professores (23%). As ginásticas
(19%), as danças (11,5%) e as lutas (3%) também foram lembradas como
principais conteúdos das aulas de educação física desses professores. Também
foram lembrados por dois professores (8%) cada como conteúdo da educação
física, o treinamento físico e/ou funcional. Após isso, citado por um professor
cada (3%), temos o sedentarismo, fontes de energia, capacidades físicas,
sexualidade, doping, HIIT, medidas antropométricas, doenças, postura, sistemas
muscular e ósseo, e assuntos como o que acontece no mundo.
Tal análise nos mostra como o esporte, e principalmente o futsal, é
conteúdo predominante nas aulas de EF escolar. O aparecimento de assuntos
(teóricos) como qualidade de vida e saúde, também chamam a atenção por
terem sido citados por vários professores.
Quanto ao envolvimento dos estudantes no planejamento das aulas, a
grande maioria dos professores disse que não planeja em conjunto. Dos 26
professores, 19 (73%) não planejam em conjunto com os estudantes, apenas 7
(27%) o fazem.
Desses professores que não planejam com o alunos, alguns justificaram a
imaturidade dos estudantes como um dos motivos, outros justificaram como não
sendo função deles e outros porque o planejamento é feito antes de as aulas
iniciarem. Daqueles professores que disseram que incluem os alunos, alguns
justificaram como importante trazer os mesmos para essas discussões para
aumentar seu interesse na EF.

Educação Física no Ensino Médio 35


Como forma de avaliação mais citada pelos professores, 20 vezes ao todo
(77%), se encontra a participação direta nas aulas. E em seguida temos provas e
trabalhos teóricos, citados por 15 professores (58%). A frequência e o
comportamento foram citados seis vezes cada (23%); e cinco professores (19%)
relataram que avaliam sua aulas a partir de observações do andamento das
mesmas, outros quatro (15%) disseram ser através do interesse dos alunos e
por testes práticos (mas que não exigiam performance). Com três citações
(11,5%), os professores disseram que avaliam também a utilização de roupa
adequada para a prática da EF e ter cuidado com o material e com o espaço da
escola. A pontualidade, o relacionamento entre os colegas, o desenvolvimento
das atividades e a auto-avaliação foram citados por dois professores (8%) cada,
além do esforço e por objetivos traçados, que foram lembrados por um professor
(3%) cada método.
Sobre o projeto Ensino Médio Politécnico, três professores não
responderam a pergunta. Outros três professores disseram não se aplicar nas
escolas onde trabalham, e outros quatro professores não tem opinião formada
sobre o assunto.
Dos 16 professores que responderam, 27% acredita que a implementação
do ensino politécnico foi algo positivo, que trouxe melhorias para as aulas; por
outro lado, outros 27% relataram que foi ruim, que a forma de avaliação não
favoreceu a EF e a frequência se encontrava menor, visto que mais estudantes
conseguiam ser dispensados das aulas. Ainda, um professor (3%) disse que,
dessa forma, favorecia a EF ter maior autonomia, ao mesmo tempo em que
outro professor (3%) dizia que acabava por reduzir a qualidade da EF.
Tais respostas nos mostram grande diferença entra a opinião desses 26
professores, tanto positiva quanto negativamente. Também nos mostra que o
programa pode ou não ter sido implementado em todas as escolas ou, quando
implementado, pouco influenciou nas aulas de EF.

Educação Física no Ensino Médio 36


4.4 ENGAJAMENTO POLÍTICO

Na Enquete Docente, uma das categorias de respostas se referiu à


questão de engajamento político. Ou seja, a relação que cada docente de EF no
EM tem com as ações políticas da categoria docente, seja em relação ao seu
sindicato, à suas iniciativas pessoais ou mesmo em relação à comunidade
escolar.
Ao serem perguntados sobre a participação em manifestações, greves e
atos políticos, 50% respondeu que se envolvem em tais atividades, enquanto
42% respondeu não participar; 8% respondeu que participa às vezes.

Gráfico 9: participação em atos políticos

8%

50%
42%

Sim Não Às vezes

Para além da participação, a metade do professorado envolvida nas


ações políticas justifica com elementos sobre a necessidade da luta para a
conquista de direitos, especialmente a defesa da educação pública. Tais como
apresentados pelos seguintes fragmentos de respostas:

“Porque acho importante lutar por uma educação de qualidade


e respeito ao servidor” (P15).

“Acredito que é a única forma de manifestar nossa


insatisfação com o governo que trata de forma desrespeitosa
nossa categoria, já que não chama para o diálogo, é através
da greve. Não existe evolução sem luta” (P17).

Educação Física no Ensino Médio 37


Uma parte importante dos docentes (42%) não tem se envolvido com as
ações políticas da categoria, por um lado em decorrência da descrença ou
desesperança de que a situação possa mudar através das lutas políticas e, por
outro lado, também indicado por algumas respostas que apontam para a
dificuldade de participar de ações políticas em decorrência de tarefas
domésticas, falta de dinheiro ou por conta de jornadas de trabalho em outras
redes de ensino
Em relação à vinculação a organização políticas, sindicatos e movimentos
sociais, um pouco mais da metade dos entrevistados (54%) não são
sindicalizados no CPERS-Sindicato. Para além do sindicato, também temos três
docentes (14%) que são filiados a partidos políticos e 1 professor sindicalizado
por outra categoria profissional. O total de docentes sindicalizados no CPERS-
Sindicato é de 46%.
Embora aproximadamente a metade do professorado participante da
pesquisa seja sindicalizado no CPERS-Sindicato, apenas 35% participa das
assembleias e demais atividades do sindicato; e a ampla maioria do
professorado de EF não tem se caracterizado por participar da gestão do
sindicato, apenas 8% dos colaboradores já tiveram esta experiência ao longo de
sua carreira profissional
Também são bastante divididas as opiniões do professorado em relação
ao que pensam sobre o sindicato e sua importância para a categoria docente. As
manifestações positivas sobre a avaliação da relação do sindicato com o
professorado é de 42%, enquanto as negativas somam 46%; não responderam
ou não sabiam, 12%. Importante relacionar com as respostas anteriores de que
somente a metade dos docentes são sindicalizados e, portanto, tem vínculo
orgânico com a entidade. É possível afirmar que estes dados positivos e
negativos estejam relacionados com o fato de serem sindicalizados ou não.

Educação Física no Ensino Médio 38


Gráfico 10: avaliação sobre o sindicato dos docentes do Estado do RS

12%

42%

46%

Positivo Negativo Não sabe

As manifestações positivas se referem à atuação e compreensão do


sindicato como o espaço de construção das lutas e conquistas da categoria. Tais
como os seguintes fragmentos:

“Tudo que conseguimos tem a ver com a luta da classe


reunida, sozinhos não conseguimos nada” (P4);

“É a forma de unirmos nossas forças e enfrentarmos esses


governos autoritários” (P18)

Enquanto as manifestações negativas referem-se mais diretamente às


gestões do sindicato em que apontam-se críticas no sentido da vinculação
política dos dirigentes sindicais à pautas que extrapolam os interesses da
categoria, tais como expressos na seguinte resposta:

“Não vejo nenhuma relação custo-benefícios. São pessoas


filiadas a determinado partido político agindo como cabos
eleitorais” (P14).

Um aspecto interessante encontrado nas respostas é que alguns


docentes demonstram-se preocupados com as dificuldades enfrentadas na
conjuntura política da atualidade e que se desdobra no sentido que o sindicato
tem para a categoria, como podemos observar nos seguintes trechos:

Educação Física no Ensino Médio 39


“Bastante preocupado com as questões, mas sem força devido
aos constantes ataques do governo e retaliações” (P10).

“O Sindicato somos todos nós, não adianta dizer: ‘o Cpers não faz
nada’. E o que nós fazemos?” (P20).

“Na minha opinião é elementar, é através do sindicato que os


professores conseguem ter acesso ao governo e reivindicar seus
direitos. Mas, eu sei de muitos professores que não acreditam na
licitude do sindicato e estão desacreditados na luta” (P25).

Ao serem perguntados acerca da relação da sua escola com a


comunidade em que a mesma está inserida, mais da metade das respostas
(58%) apontam para aspectos positivos da relação entre a escola e a
comunidade, embora destaquem mais como participação de famílias em
reuniões chamadas pela escola e que a instituição é aberta ao diálogo, não
necessariamente é apontado o envolvimento da comunidade na construção de
projetos político-pedagógicos, processos avaliativos, organização escolar etc.

Gráfico 11: relação da escola com a comunidade em que está inserida

8%
Positiva
23% Negativa
Regular
Não sabe
58%
11%

Educação Física no Ensino Médio 40


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento desta investigação alcançou dados sobre a realidade


do trabalho docente da EF na Rede Estadual de Ensino do RS, na cidade de
Pelotas, que permite uma considerável compreensão acerca dos elementos que
constituem o fazer docente, tanto no sentido das dificuldades como também dos
desafios que a carreira profissional atravessa ao longo de sua trajetória.
Dentre estes elementos, se destaca as questões relativas a extensa
jornada de trabalho do professorado que, além das horas destinadas ao vínculo
com o serviço público estadual, também é acompanhada do trabalho em outras
redes de ensino, em escolas privadas ou em outros setores da economia
inclusive fora da área da EF. As condições infraestruturais, salariais e do plano
de carreira são aspectos que interferem negativamente nas condições objetivas
de vida do professorado e ocasiona, dentre outras questões, em adoecimento
docente. Aproximadamente a metade do professorado já utilizou medicamentos
em razão de adoecimento decorrente do trabalho.
Na organização do trabalho pedagógico, foi possível identificar a
predominância dos conteúdos esportivos nas aulas de EF, especialmente o
Futsal. Aspectos relativos à promoção da saúde e benefícios da prática regular
de atividades física também foram mencionados como conteúdos das aulas. Em
relação ao par objetivos-avaliação, o prazer pela prática de atividades física e o
gosto pelo esporte são os principais objetivos da EF segundo o professorado.
Assim como, nos processos avaliativos predomina a avaliação pela participação
em aula e entrega dos trabalhos teóricos.
Em relação ao engajamento político da categoria, os resultados foram
bastante divididos: metade do professorado é sindicalizada e participa de uma
forma ou de outra das lutas da categoria, enquanto a outra metade não é
sindicalizada e não se envolve (por diferentes razões) nas decisões coletivas da
categoria.
O desenvolvimento dessa coleta de dados e decorrente investigação
científica trouxe significativos resultados. A utilização da Enquete Docente
permitiu a participação de um expressivo número de docentes que atuam no EM

Educação Física no Ensino Médio 41


da Rede Estadual de Ensino do RS na cidade de Pelotas-RS e pode servir para
futuras investigações em outras redes de ensino ou em outros municípios,
buscando verificar as tendências e dissonâncias entre os resultados a que
chegamos.
Por fim, agradecemos a participação dos docentes que contribuíram nas
respostas e também à 5ª CRE que autorizou a realização da pesquisa,
esperamos que estes resultados possam servir para repensar as políticas
públicas na área educacional e nas relações de trabalho dos servidores públicos
estaduais, em especial à categoria docente.

Educação Física no Ensino Médio 42


6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional. Lei 9394/1996 de 20 de dezembro de 1996.

RIO GRANDE DO SUL. Proposta pedagógica para o ensino médio


politécnico e educação profissional integrada ao ensino médio (2011-2014).
Novembro de 2011. Disponível em: www.educacao.rs.gov.br. Acesso: fevereiro
de 2016.

RIO GRANDE DO SUL. CEED-RS. Estabelece normas para a oferta do


Ensino Fundamental no Sistema Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul.
Parecer 1400/2002 de 11 de dezembro de 2002.

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