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DIREITO DO TRABALHO I: PRINCÍPIOS

DIREITO DO TRABALHO I: PRINCÍPIOS


P R O F. M S C R O S E N I U R A S A N T O S

ATENÇÃO O ÍCONE IDENTIFICA AS ALTERAÇÕES DA LEI Nº 13.467/2017

1. CONCEITO E FUNÇÕES

Podemos dizer que os princípios são o DNA de determinado ramo jurídico. Os princípios
assim o DNA estão presentes no núcleo das normas e trazem toda a informação genética
normativa, armazenando e transmitindo a todas as regras deles derivadas. Os princípios conferem
certas características. Esta ideia está presente nas diversas definições doutrinárias
Para Miguel Reale:
[..] princípios são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a
compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de
novas normas. São verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por
serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de
caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis
(2003, p. 37)"
Delgado afirma que “princípio traduz, de maneira geral, a noção de proposições
fundamentais que se formam na consciência das pessoas e grupos sociais, a partir de certa
realidade, e que, após formadas, direcionam-se à compreensão, reprodução ou recriação dessa
realidade (2017, p.. 180)”.
Observa-se que os princípios possuem como elemento central a noção de que se espalham
no sistema jurídico, dando-lhe coerência. Conhecer os princioio sde determinado ramo é conhecer
sua alma, sua essência.
Desse modo, identificam-se três funções implementadas pelos princípios jurídicos:
a) Informadora: orientam o legislador, na formação da norma, sendo a base da criação de
novos preceitos legais;
b) Interpretativa: além de inspirar o legislador, os princípios auxiliam na interpretação e
aplicação das normas jurídicas que devem ser feita de acordo com os princípios. São
princípios que possibilitam a exata compreensão do alcance da normas;
c) Integradora: também atuam fonte supletiva do direito em caso de lacunas ou omissões
da lei. Deverão ser aplicados hipóteses em que não haja disposição específica para
disciplinar determinada tal situação. Nesse caso, os princípios constituem regras de
integração da norma jurídica, colmatando as lacunas existentes do ordenamento
jurídico, preenchendo so avzios normativos (CLT art. 8º).
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou
contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros
princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo
com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de
classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

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Com as alterações da Lei n. 13.467/2017, há uma alteração da matriz principiológica do


direito material do trabalho. Especialmente, as novas regras celetistas ao permitir que acordos
coletivos e, até mesmo, individuais prevaleçam sobre as normas legais impactam sobre os
princípios gerais do direito do trabalho até então considerados pela doutrina e jurisprudência.
A nova lei tende remodelar o Princípio geral da Proteção ao inserir um conjunto de regras
que buscam conferir maiores vantagens e proteção ao interesse do empregador que já tem maior
poder econômica e possui melhor condição socioeconômica..
A razão histórica do surgimento do Direito do Trabalho foi reequilibrar a desigualdade, a
partir da proteção estatal ao trabalhador, em regra, arte que se encontra em desvantagem
socioeconômica. O Direito do Trabalho se constituiu enquanto ramo autônomo pela finalidade
tutelar ou proteger o hipossuficiente na relação entre capital e trabalho. Através de normas
protetivas do trabalhador visa-se assegurar a igualdade material e não meramente formal de modo
a reequilibrar a desigualdade econômica e social existente entre as partes.

2. PRINCIPIOS ESPECIAIS DO DIRIETO DO TRABALHO

São princípios peculiares do direito individual do trabalho


 Princípio da proteção, stricto sensu;
• Princípio da primazia da realidade;
• Princípio da irrenunciabilidade ou indisponilidade;
• Princípio da continuidade;
• Princípio da inalterabilidade contratual lesiva;
• Princípio da intangibilidade ou irredutibilidade salarial.
Em sede doutrinária, muitos autores incluem como princípios do direito do trabalho o
principio da boa-fé, razoabilidade, da dignidade da pessoa humana. Todavia cabe ressaltar que
tais princípios não são exclusivos do Direito do Trabalho, mas sim princípios gerais do direito,
sendo aplicados a todos os ramos.

2.1 Princípio da proteção, tuitivo ou tutelar do hipossuficiente

O princípio da proteção possui duas acepções uma ampla e outra estrita. Em sentido amplo,
o principio da proteção constitui o fundamento geral do direito laboral, partindo da premissa de
que o trabalhador é a parte mais fraca da relação jurídica trabalhista (hipossuficiente) para
assegurar a isonomia.
Este princípio possui como propósito tentar corrigir desigualdades, criando uma
superioridade jurídica em favor do empregado diante da sua condição de hipossuficiente. A
doutrina “[...]aponta este princípio como o cardeal do Direito do Trabalho, por influir em toda a estrutura
e características próprias desse ramo jurídico especializado”(2017, p. 214).
Rezende destacada que:
Pode-se dizer que o princípio da proteção consiste na aplicação, ao Direito do Trabalho, do princípio
da igualdade em seu aspecto substancial, segundo o qual igualdade é tratar de forma igual os iguais
e de forma desigual os desiguais, na medida de suas desigualdades. (2016, p. 113).

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O princípio tuitivo, em sua acepção ampla, também se expressa na vedação constitucional


do retrocesso social, presente na regra do art. 7°, caput, da CF/1988 ao estabelecer que “São direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social”.
O STF já reconheceu o princípio do não retrocesso social em decisão proferida no Agravo em
Recurso Extraordinário nº 639.337 declarou:
O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que
sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. –
A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o
direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de
efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de
concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou
suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após haver
reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se
obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar –
mediante supressão total ou parcial – os direitos sociais já concretizados.
STF, 2ª Turma, rel. Min. Celso de Mello, ARE 639337, j. em 23/08/2011.
A Lei Maior ao eleger a dignidade da pessoa humana como um dos princípios fundamentais
(CF art. 1º, III), conferiu à proteção do ser humano hierarquia de valor supremo da nossa ordem
jurídica. A Constituição brasileira visa assegurar condições existenciais mínimas para uma vida
digna que permita o pleno desenvolvimento da personalidade dos cidadãos. Na condição de
trabalhador, a CF também tem como fundamento do estado brasileiro a valorização social do
trabalho humano (CF art 1º, IV).
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Estes valores constitucionais devem nortear a elaboração, interpretação e aplicação de toda
a legislação e repercutem especialmente no campo trabalhista, assegurando que o trabalho
humano não seja tratado como mera mercadoria, vilipendiando a dignidade do trabalhador.
Américo Plá Rodriguez (1993) ressalta que o princípio protetivo se divide em três vertentes,
dimensões ou subprincípios:
a) Princípio In Dubio pro Operarium;
b) Princípio da Condição mais benéfica ou da Cláusula mais Vantajosa;
c) Princípio da Norma mais favorável.
Assim pode-se conceber o princípio da proteção em sentido estrito como síntese deste três
subprincípios.

2.1.1 Princípio In Dubio pro Operarium

Este princípio orienta que em caso de dúvida quanto à interpretação de uma dada norma,
cabe aplicar, dentre as interpretações legais tecnicamente possíveis, aquela interpretação que
confira à norma sentido mais benéfico para a proteção do trabalhador.

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A aplicação do princípio in dubio pro operário somente ocorre quando determinada norma
de direito material comporta mais de uma interpretação, hipótese na qual deve prevalecer aquela
mais benéfica ao trabalhador desde que não afronte outras disposições do sistema jurídico.
Há divergência doutrinária quanto ao alcance deste princípio. Parte da doutrina sustenta a
aplicação no âmbito do direito processual do trabalho, todavia tem prevalecido na jurisprudência
o entendimento de que não se aplica o in dubio pro operarium na apreciação da prova.
Ementa: 1. AGRAVO DE INSTRUMENTO DIVERGÊNCIA. Demonstrada a divergência
jurisprudencial específica com a decisão regional, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento
para determinar o processamento do Recurso de Revista. 2. RECURSO DE REVISTA
AUSÊNCIA DE PROVA. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO OPERARIO .
INAPLICABILIDADE. O princípio in dubio pro operario indica que se na norma jurídica há
sentido dúbio, o julgador deverá adotar a interpretação mais benéfica ao operário, em
observância ao princípio da proteção legal do hipossuficiente, sendo, pois, de todo inaplicável
quando há insuficiência ou ausência de prova. Recurso de Revista que se conhece e a que se
dá provimento. TST - RECURSO DE REVISTA RR 264400720055070012 26440-
07.2005.5.07.0012 (TST)

2.1.2 Princípio da Condição mais Benéfica ou da Cláusula mais Vantajosa

Havendo DUAS OU MAIS as CONDIÇÕES OU VANTAGENS asseguradas no contrato


de trabalho ou no regulamento da empresa deverão ser asseguradas as mais favoráveis ao
trabalhador, não podendo ser reduzidas, suprimidas nem modificadas PARA PIOR, em regra,
somente se admite alterar para melhorar a condição do trabalhador.
Este princípio é expressão da garantia constitucional do direito adquirido, ressalvada
situações mais vantajosas para o trabalhador.

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2.1.3 Princípio da Norma mais Favorável

A aplicação da regra mais favorável ocorrerá quando ocorrer conflitos entre normas
trabalhistas quando, em regra, deverá prevalecer a norma que seja mais protetiva para o
trabalhador. Assim, devem estar presentes os seguintes pressupostos:
a) Pluralidade de normas jurídicas;
b) Validade das normas em confronto;
c) Aplicabilidade das normas concorrentes ao caso concreto;
Deste modo, em regra, não prevalece necessariamente, no Direito do Trabalho, o critério
hierárquico de aplicação das normas; isto é, existindo duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo
caso concreto, dever-se-á aplicar a que for mais favorável ao empregado, independentemente do
seu posicionamento na HIERARQUIA FORMAL das fontes trabalhistas.

ATENÇÃO: Após a Lei n. 13467/2017 com a inserção da regra


do negociado sobre o legislado (CLT art. 444 e 611-A) a
hierarquia das fontes trabalhistas é afetada uma vez que o acordo
individual dos empregados que percebam duas vezes ou mais o
teto previdenciário e bem como acordo coletivo e convenção
coletiva (firmado com o sindicato dos trabalhadores) prevalecerão
sobre a lei.

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Uma questão doutrinária fundamental é saber COMO DEFINIR QUAL A NORMA É


MAIS FAVORÁVEL. As seguintes correntes doutrinárias buscam dar uma solução
a) - Teoria da Acumulação: deverá ser aplicado o que for mais benéfico das duas ou
mais normas fracionando ou dividindo as normas.
b) - Conglobamento (Globalidade): será aplicada uma OU outra norma. Elas não
serão fracionadas. Será aplicada a mais benéfica, considerando a globalidade (o
todo) de suas cláusulas.
c) - Critério misto – corrente dominante - (Também chamado de Conglobamento
Orgânico / Por Institutos / Mitigado): serão fracionadas as duas ou mais normas,
considerando seus institutos ou matéria.

2.1.3.1 Distinção entre os princípios in dubio pro oeprarium, condição mais


benéfica e norma mais favorável/

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