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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
O presente resumo é uma reflexão teórica acerca das possibilidades entre Geografia e
Fenomenologia. Tal reflexão foi motivada durante o desenvolvimento da pesquisa de
mestrado “Geografia e Música: experiências com a Congada e Tambu em Rio Claro/SP”, que
está sendo realizada pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas – IGCE, da UNESP,
Campus de Rio Claro, sob orientação da profa. Dra. Bernadete Aparecida Caprioglio de
Castro com financiamento da Fundação de Amparo e Pesquisa do estado de São Paulo -
FAPESP.
A análise da experiência das manifestações culturais abordadas (Congada e Tambu)
se fez constantemente guiada pela postura fenomenológica. Tanto no processo empírico da
pesquisa, quanto no levantamento bibliográfico e na participação em eventos científicos se
percebeu as possibilidades da relação Geografia-Fenomenologia. Principalmente nas
apresentações orais em eventos, críticas negativistas feitas por renomados professores
acadêmicos no sentido de simplesmente negar a Fenomenologia enquanto
método/abordagem/filosofia aos estudos geográficos fizeram pois, sobretudo, impulsionar,
mais leituras e reflexões acerca.
São dessas “provocações” de maior compreensão do que vem a ser Fenomenologia
que esse resumo se origina. Provocações que impulsionam ir à frente, ler além dos clássicos,
ouvir atentamente as críticas dirigidas à Fenomenologia, imaginar horizontes, possibilidades.
Para tanto, discutir-se-á alguns autores que trabalham a temática.
A metodologia aqui seguida consiste no levantamento bibliográfico e o objetivo geral
do trabalho é, a partir desses referenciais teóricos, discutir possibilidades entre Geografia e
Fenomenologia, esta enquanto método e/ou abordagem, contextualizando a relação essencial
que converge nas escolhas de como conhecer o fenômeno na investigação do conhecimento e
da realidade do mundo.
2. MÉTODOS
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No método inaugurado por Husserl, “para modificar nossa relação com o mundo e
melhor extrair seu sentido”, consiste a razão pela qual a Fenomenologia não deve ser exposta
como um método estreitamente definido e, ainda menos, como um sistema filosófico
estruturado definitivamente. Ao citar a afirmação de Heidegger: “compreender a
Fenomenologia quer dizer: captar suas possibilidades”, Dartigues relaciona tempos e espaços
na Fenomenologia que, para ele, deve “descobrir em suas formas existentes a virtualidade de
eventuais formas futuras, deter-se menos nas obras acabadas que no movimento e na
inspiração que as animava, se, contudo, a inspiração não se esgotou nas obras que já
suscitou.” (DARTIGUES, 2008, p.145-147).
A Fenomenologia é encarada enquanto abordagem/enfoque/proposta filosófica pelos
geógrafos humanistas (CLAVAL, 2008; HOLZER, 1997; MARANDOLA, 2013) que
procuram uma concepção de mundo, na pretensão de relacionar o homem e seu ambiente ou,
mais genericamente o sujeito e o objeto, holisticamente, “fazendo uma ciência
fenomenológica que extraia das essências a sua matéria prima.” (HOLZER, 1997, p.77). Para
Holzer, a Fenomenologia procura levantar as experiências concretas do homem e encontrar
nestas experiências uma orientação que não as limite a uma simples sucessão.
O projeto da Fenomenologia é de reaproximar as ciências e nossas vidas, ações e
projetos, a partir das experiências ante-predicativas (anteriores aos conceitos e aos juízos), ou
seja, relativas à percepção do mundo e de seus objetos enquanto fundamentos dos conceitos
(MARTINS, 1984). Para chegar às essências a Fenomenologia procede as variações
imaginárias, que consiste em, no pensamento, fazer variar as características de um objeto ou
realidade até que se obtenha o que é invariável. As essências são tantas quantas forem as
significações que possamos produzir. A ciência das essências se refere à existência humana e
a nossas experiência do mundo. (HOLZER, 1997, p.78-79).
Quanto ao contexto da relação Geografia-Fenomenologia é Marandola quem bem
explica:
Na reaproximação da Geografia com as Humanidades, que eclodiu nos
Estados Unidos e Canadá nos anos 1970, a fenomenologia é pela primeira
vez incorporada de forma sistemática ao corpus geográfico, na condição de
uma filosofia capaz de atender a alguns destes anseios, inserindo questões
como mundo vivido, ou mundo da vida da filosofia husserliana
(Lebenswelt), a ideia de habitar (dwelling) da fenomenologia existencial de
Martin Heidegger e especialmente a ideia de experiência geográfica,
desdobramento das ideias anteriores e de princípios fenomenológicos
(LOWENTHAL, 1961; BUTTIMER, 1974; 1976; RELPH, 1977; 1985).
Todas essas ideias fenomenológicas conduziam os geógrafos a pensarem e
redesenharem a noção, ou essência de lugar, que se tornou o grande baluarte
desta renovação, com destaque à tese de doutorado de Edward Relph, de
1973, que se tornou o clássico “Place and placesslessness” (RELPH, 1976;
2010), e dois dos primeiros livros de Yi-Fu Tuan, “Topofilia” (1974) e
Espaço e lugar (1977).
Marandola cita ainda LYNCH, 1960; 2003; WHITE, 1964; DOWNS, 1970; DEL RIO;
OLIVEIRA, 1996 quanto aos estudos perceptivos que formavam outra via que fortalecia essa
tendência. E especialmente em M. Merleau-Ponty, a Fenomenologia aparece com
perspectivas psicológicas e/ou comportamentalistas e é, pois, deste ramo, que os geógrafos
resignificaram a paisagem, “como fundamental para entender a relação homem-meio a partir
da percepção geográfica e da construção dos valores e das atitudes num contexto histórico e
cultural (LOWENTHAL, 1975; 1978; MEINING, 1979).” (MARANDOLA, 2013, p.51).
Apontando-os como referenciais de grande importância para os estudos geográficos
com abordagem fenomenológica e de grande prestigio atualmente, Marandola (2013) destaca
Tuan em “Geography, phenomenology and the study of human nature” (1971), que identifica
na Fenomenologia as bases para sua interpretação clássica de lugar, diferenciando-o do
espaço pela sua dimensão experiencial e; Eric Dardel em seu tratado “O homem e a terra:
natureza da realidade geográfica” (2011), a primeira obra de uma Geografia fenomenológica
(original em francês de 1952). Há indícios significativos de que este livro foi uma das
sementes de todo o movimento humanista, embora não tenha sido citado sistematicamente.
Nessa reflexão, uma conclusão comum entre Entrikin (1976), Buttimer (1976) e Tuan
(1976) “era que a fenomenologia era mais útil como uma orientação, como uma postura, e que
ela teria limites muito claros, especialmente para a operacionalização de pesquisas empíricas.”
Entretanto, Marandola (2013) considera esta perspectiva superada por completo na atualidade.
E destaca como sendo significativos no Brasil até o final da década de 2000 trabalhos como
os de Werther Holzer (HOLZER, 1992; 1998), João Batista Ferreira de Mello (MELLO,
1991; 2000) e Solange Terezinha de Lima (LIMA, 1996), além das contribuições de SILVA,
(1986) e AMORIM FILHO (1987; 1999). (MARADOLA, 2013, p.54-55). Apesar de ainda
marginalizada, ao invés de uma subcorrente do pensamento geográfico, a Fenomenologia se
apresenta como esteio metodológico e epistemológico no tratamento de variadas temáticas:
O pensamento fenomenológico, seja na revisitação contínua aos grandes
filósofos, seja nas novas esteiras abertas pelos seus desdobramentos atuais (a
pós-estruturalista deleuziana, ou a pós-fenomenologia), mostra-se pertinente
e vigoroso para compreender as transformações na intimidade, na
corporeidade e nas relações espaciais e sociais, bem como nas novas
possibilidades de experiências espaciais que se descortinam diariamente
(MARANDOLA, 2013).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAUÍ, M. O pensamento. In: CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
Capítulo 6, pp.156 - 165.
CLAVAL, P. Uma, ou Algumas, Abordagem(ns) Cultural(is) na Geografia Humana? In:
SERPA, A. (org.) Espaços culturais: vivências, imaginações e representações. Salvador:
EDUFBA, 2008. pp.3-32.
DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. HOLZER, W. (trad.).
São Paulo: Perspectiva, 2011.
DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? 10.ed. São Paulo: Centauro, 2008.
ECO, U. Como se faz uma tese. 20.ed. São Paulo: Perspectiva, 2006.
HOLZER, W. Uma Discussão Fenomenológica sobre os Conceitos de Paisagem, Lugar,
Território e Meio Ambiente. In: Território, Rio de Janeiro, n.3, pp. 77-85, 1997.
MARANDOLA JR., E. Fenomenologia e pós-fenomenologia: alternâncias e projeções do
fazer geográfico humanista na geografia contemporânea. In: Geograficidade. V.3, n.2, pp.
49-64, 2013. ISSN 2238-0205.
MARTINS, J. Psicologia da Cognição. IN: MARTINS, J.; DICHTCHEKENIAN, M.F.S.F.B.
(org.), Temas fundamentais de fenomenologia. São Paulo: Editora Moraes, 1984. pp. 75-88.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
TÁPIA, L.E.R. Método em Fenomenologia. IN: MARTINS, J.; DICHTCHEKENIAN,
M.F.S.F.B. (org.), Temas fundamentais de fenomenologia. São Paulo: Editora Moraes,
1984. pp. 69-74.
TUAN, Y.F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Oliveira, L (trad.). São Paulo:
DIFEL, 1983.