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DA CORRESPONDÊNCIA
ENTRE COMER E RELATAR
DE CRIANÇAS E ADULTOS*
E
studos empregando diferentes técnicas de inquérito alimentar indicam a subesti-
mação nos relatos de consumo, tanto em homens quanto em mulheres adultas; a
subestimação é encontrada especialmente entre indivíduos obesos e, principalmente,
entre mulheres (DRUMMOND,1998).
O comportamento verbal, segundo Skinner (1957), é um comportamento operan-
te, sendo este desenvolvido e mantido por reforçamento mediado por outros. Um exemplo é
o comportamento verbal de relatar. O relato é um comportamento emitido por um falante
que está sob controle de estímulos discriminativos públicos ou privados.
O comportamento de comer também é um operante, neste caso um operante não
verbal. O comer dentro ou fora dos limites necessários fisiologicamente é um comportamento
MÉTODO
Participantes
Os participantes foram oito crianças de ambos os sexos, com idades de dez e onze
anos, sendo quatro crianças com peso adequado ou abaixo da média para sua idade (percentil
entre 0,3 e 25,1) e quatro obesas (percentil entre 96,7 e 98,1). Também participaram adultos
de ambos os sexos, com idades variando entre dezoito e cinqüenta anos, sendo quatro com
peso adequado para sua idade (Índice de Massa Corpórea – IMC- entre 20, 5 e 25, 6) e qua-
tro com peso acima da média para sua idade (IMC entre 27, 7 à 38, 7). Crianças e adultos
com peso normal ou abaixo da média pertenceram ao grupo de não obesos e os participantes
com sobrepeso ou obesidade ao grupo de obesos
Material
As sessões aconteceram nas salas de uma escola estadual. Foi utilizada uma filmado-
ra, uma folha de registro do consumo de alimentos de cada participante e de seu relato verbal
em cada fase experimental.
Na sala de alimentação, havia cinco mesas de 60x70 centímetros, que foram agru-
padas para colocar os alimentos. A filmadora foi alocada filmadora nessa sala e ficava pouco
exposta para dificultar a visão pelos participantes. Na sala de relatar, havia seis cadeiras e uma
mesa para auxiliar o experimentador no momento de anotar as informações dos relatos dos
participantes.
Foi colocado à disposição dos participantes seis categorias de alimentos: laticínios
(leite, iogurte queijo), doces (bombom, doce de leite e cocada), salgados (pizza, coxinha e
pastel), frutas (maçã, laranja e mamão), bebidas (coca-cola, suco de laranja e água) e secos
(batinha, Skinny e bolacha).
Sendo assim, a cada sessão eram dispostos seis alimentos, cada um de uma categoria
para que a criança pudesse comer. Eram colocadas na frente de cada alimento uma ficha com
o nome do alimento.
Foi utilizado, também, uma balança, fita métrica, tripé, lápis, papel, fichas redon-
das e coloridas e os alimentos, que eram dispostos em copos e pratos descartáveis.
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Procedimento
Este estudo foi iniciado após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob có-
digo 0023.0.168.000-08.
As sessões foram realizadas em média três vezes por semana, eram conduzidas pelo
experimentador que registrava os alimentos consumidos em uma ficha. Consistiam em dois
períodos, o de alimentar e o de relatar. No primeiro período, o de alimentar, os participantes
eram trazidos pelo experimentador das salas de aula para a sala onde os alimentos eram colo-
cados sobre as oito mesas (colocadas juntas) de fácil acesso para os participantes.
A instrução oferecida para as crianças e adultos foi: “Você poderá comer o que quiser
e poderá sair quando quiser, ou até eu dizer que o tempo acabou e te chamar”. O período de
comer terminava, quando a criança/adulto ingeria o terceiro alimento e o experimentador in-
terrompia o período de comer dizendo: “o seu tempo acabou, por favor pare de comer e você
pode sair da sala”, ou quando a criança/adulto saia da sala antes de comer o terceiro alimento.
Foi recomendado aos participantes que ficassem privados de alimentos por duas
horas, ou seja, ao chegarem à escola, não comessem nada até o momento do experimento.
Contudo, não há garantias de que eles seguiram esta regra.
Logo que o participante entrava na sala onde estavam dispostos os alimentos e a fil-
madora, o experimentador ficava atrás de uma estante na mesma sala, onde estava o notebook
conectado a câmera e observava o que a criança/adulto comia. Quando o terceiro alimento
era ingerido o experimentador encerrava o período de comer.
No período de relatar, era solicitado ao participante que fosse para o fim do corredor
onde era solicitado que relatasse sozinho ou acompanhado, de acordo com a fase do experimen-
to. O experimentador perguntava aos participantes se comeu cada alimento. A liberação dos
reforços era modificada de acordo com as fases experimentais.
Fichas foram entregues de acordo com as contingências estabelecidas em cada fase
do experimento. Cada ficha tinha valor equivalente a R$: 0,10 e os participantes poderiam
trocar o valor que tinha por, no caso dos adultos, dinheiro e no caso de crianças um brinde
(brinquedos). Como tinham brindes de diferentes valores eles poderiam optar por acumular
fichas e “comprar’ brinquedos superiores, com maior valor. Também foram utilizados refor-
ços sociais (i.e, balanço de cabeça, “muito bem”, “ótimo” “isto mesmo”, “muito bom”, etc.).
Esta fase do experimento era composta de quatro sessões idênticas à fase anterior,
com exceção de que os relatos eram realizados em grupos de participantes.
Nessa fase, cada sessão de relato era realizada em dois grupos, cada subgrupo com
quatro participantes sendo composto por indivíduos com IMC adequado e com IMC ina-
dequado para sua idade. Cada participante entrava individualmente para comer, e após o
período de comer saia da sala e esperava no final do corredor até que os quatro participantes
do grupo terminassem o período de comer para então relatarem.
Foram colocadas quatro cadeiras no final do corredor, o experimentador sentava de
um lado da mesa e as crianças do outro lado da mesa, de modo que todas as crianças forma-
vam um semicírculo do lado aposto da mesa em que o experimentador estava.
Então, os participantes eram entrevistados da esquerda para a direita e recebiam as
fichas e conseqüências de aprovação verbal.
Essa fase teve o mesmo delineamento da fase anterior, mas o grupo formado para
o momento do relato era homogêneo, ou seja, quatro participantes com IMC adequado ou
abaixo do peso formavam um grupo e quatro com IMC acima da média outro grupo.
Essa fase teve o mesmo delineamento da fase anterior, mas o grupo formado para o
momento do relato era homogêneo.
Essa fase também teve o mesmo delineamento da fase anterior, mas o grupo forma-
do para o momento do relato era heterogêneo.
O procedimento realizado nesta fase final era idêntico à linha de base inicial, em
que qualquer resposta do participante, correspondente ou não correspondente, não influen-
ciava no número de fichas. O participante recebia as fichas de modo não contingente ao tipo
de relato, e as trocava por brindes ou dinheiro.
RESULTADOS
Observa-se que entre os grupos de crianças obesas e não obesas encontramos não
correspondência e correspondência entre o comer e relatar nos dois grupos. No grupo de
crianças obesas encontramos um número maior de participantes que emitiram respostas
não correspondentes.
A análise estatística descritiva demonstrou que o Grupo A apresentou maior cor-
respondência na fase 7 de Reforço de Correspondência em Grupo Heterogêneo com média
3,81 de relatos correspondentes e desvio padrão de 1. A fase de menor correspondência foi
a Linha de Base I com média 3,04 de relatos correspondentes e desvio padrão de 0,5. No
Grupo B observa-se que a fase de maior correspondência foi a Linha de Base II com média 4
e desvio padrão de 0,7 e a de menor correspondência foi a Linha de Base I. O grupo B apre-
sentou na média de correspondência maior que o grupo A.
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Nos grupos A e B foram observadas respostas não correspondentes por superesti-
mação, do total de 13 não correspondências 8 foram por superestimação, ou seja, não comer
e relatar ter comido determinado alimento.
Figura 2: Relatos correspondentes e não correspondentes dos adultos obesos e não obesas por sessão
Nota: Quadrados brancos indicam o relatar, quadrados cinza indicam o comer e quadrados negros indicam a não
correspondência.
CONCLUSÃO
Abstract: this study investigate the effects of reinforcement on verbal reports of eating behavior
and its correspondence or not to eating of four obese children and four with normal BMI or un-
derweighed and of four overweighed or obese adults and four with normal BMI. Results showed
correspondence between eating and verbal reports both in obese and non obese children and adults.
Referências