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Diferenças entre responsabilidade pelo fato e

pelo vício de produtos e serviços

Fato do produto ou do serviço (art. 12 A 17):


É o mesmo que acidente de consumo. Haverá fato do produto ou do serviço
sempre que o defeito, além de atingir a incolumidade econômica do
consumidor, atinge sua incolumidade física ou psíquica. Nesse caso, haverá
danos à saúde física ou psicológica do consumidor. Em outras palavras, o
defeito exorbita a esfera do bem de consumo, passando a atingir o
consumidor, que poderá ser o próprio adquirente do bem - consumidor padrão
ou stander – art. 2º do CDC - ou terceiros atingidos pelo acidente de
consumo, que, para os fins de proteção do CDC, são equiparados àquele -
consumidores por equiparação bystander – art. 17 do CDC.
Exemplos de fato do produto: aqueles famosos casos dos telefones
celulares cujas baterias explodiam, causando queimaduras no consumidor; o
automóvel cujos freios não funcionam, ocasionando um acidente e ferindo o
consumidor; um ventilador cuja hélice se solta, ferindo o consumidor; um
refrigerante contaminado por larvas ou um alimento estragado que venha a
causar intoxicação etc.
Exemplos de fato do serviço: uma dedetização cuja aplicação de veneno
seja feita em dosagem acima do recomendado, causando intoxicação no
consumidor; um serviço de pintura realizado com tinta tóxica, igualmente
causando intoxicação; uma instalação de kit-gás em automóvel, que venha a
provocar um incêndio no veículo etc.
É importante memorizar: o fato do produto ou do serviço deve desencadear
um dano que extrapola a órbita do próprio produto ou serviço. Sem a
ocorrência desse pressuposto da responsabilidade civil, inexistirá o dever de
indenizar.
Prazo para arguir responsabilidade por fato do produto ou do serviço: É
prescricional, pois diz respeito a uma pretensão a ser deduzida em juízo. No
caso, o prazo é de 5 (cinco) anos, iniciando-se sua contagem a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria, consoante disposto no
art. 27 do CDC. Vejamos:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano
e de sua autoria.
OBS: A ocorrência de um acidente de consumo (fato do produto ou do
serviço) é pressuposto para a aplicação da prescrição quinquenal, pois a
responsabilidade por fato do produto ou do serviço - arts. 12 e 14 do CDC -
reclama a ocorrência de riscos à saúde ou segurança do consumidor ou de
terceiros, isto é, responsabilidade por risco ou ofensa à sua incolumidade
física e/ou psíquica. Sendo assim, pode haver responsabilidade civil oriunda
de uma relação de consumo sem que haja, todavia, a incidência do
art. 27 do CDC. É o caso, por exemplo, de danos decorrentes de
inadimplemento contratual. Repare que, neste caso, não haverá ofensa à
incolumidade física ou psíquica do consumidor, mas o descumprimento do
contrato pode ser capaz de gerar efeitos extapatrimoniais, isto é, danos
morais.
Ilustrando, imagine o caso de um consumidor que perde um voo em
decorrência de ato da cia. Aérea, e por isso deixa de fechar um negócio
importante na cidade de destino. Nesse caso, com base na teoria do diálogo
das fontes, apesar de se tratar de relação de consumo, o prazo prescricional
aplicável ao caso será o do CC/2002 (3 anos), pois não se trata de acidente
de consumo. Outros bons exemplos são a negativa de cobertura por parte
dos seguros de assistência à saúde (planos de saúde) e a interrupção de
serviços essenciais como o fornecimento de água, energia elétrica e telefonia,
com inegável potencial ofensivo aos direitos da personalidade.
A esse respeito, vale transcrever o Enunciado nº 411, aprovado na V Jornada
de Direito Civil – CJF/STJ, com o seguinte teor:
“Art. 186. O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando
envolver valor fundamental protegido pela Constituição Federal de 1988.”

VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO:


Haverá vício quando o “defeito” atingir meramente a incolumidade econômica
do consumidor, causando-lhe tão somente um prejuízo patrimonial. Nesse
caso, o problema é intrínseco ao bem de consumo.
Exemplos de vício do produto: uma TV nova que não funciona; um
automóvel 0 Km cujo motor vem a fundir; um computador cujo HD não
armazena os dados, um fogão novo cuja pintura descasca etc.
Exemplos de vício do serviço: dedetização que não mata ou afasta insetos;
película automotiva mal fixada, que vem a descascar; conserto mal executado
de um celular, que faz com que o aparelho não funcione etc.
É importante memorizar: no caso de vício do produto ou do serviço, não há
danos à saúde física ou psicológica do consumidor. O prejuízo é meramente
patrimonial, atingindo somente o próprio produto ou serviço.
Prazo para reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação: É
decadencial (o direito caduca), diferenciando-se, assim, da pretensão, que
prescreve. Os prazos estão no art. 26 do CDC, sendo de 30 (trinta) dias em
se tratando de produto ou serviço não durável, e de 90 (noventa) dias, no
caso de produto ou serviço durável. Vejamos:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação
caduca em: I – trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos não duráveis; II – noventa dias, tratando-se de fornecimento de
serviço e de produtos duráveis. § 1º Inicia-se a contagem do prazo
decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução
dos serviços. § 2º Obstam a decadência: I – a reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca; II – (Vetado). III – a instauração de inquérito civil, até seu
encerramento.
Exemplos de produtos duráveis: televisores, celulares, automóveis,
computadores etc. Repare que são bens de consumo cuja vida útil possui um
prazo de duração razoável. Assim, o produto não se consome imediatamente.
Exemplos de produtos não duráveis: gêneros alimentícios, produtos de
higiene pessoal (shampoo, condicionador, creme dental, papel higiênico,
produtos de beleza etc.). Note que são produtos cujo consumo importa em
destruição imediata da substância ou, no máximo, em lapso temporal muito
pequeno.
Exemplos de serviços duráveis: uma dedetização com prazo de duração de
seis meses; a reforma de um imóvel; a pintura de uma casa; serviço de
assistência técnica em eletroeletrônicos etc. Nesses casos, espera-se que o
serviço surta efeito por um prazo razoável, que se estenda por meses ou até
anos.
Exemplos de serviços não duráveis: serviços de transporte; cortes de
cabelo e manicure; lavagem de um carro; faxinas; contratação de um pacote
turístico etc. Repare que nessas hipóteses os efeitos do serviço perduram por
um prazo bem mais curto.
Em resumo, a durabilidade do serviço está relacionada à expectativa da sua
utilidade para o consumidor.

SUJEITOS RESPONSÁVEIS POR FATO DO PRODUTO OU DO


SERVIÇO:
Em se tratando de fato do produto ou do serviço, é importante que o
candidato se atente para um detalhe: quando o CDC, indistintamente, usar a
expressão FORNECEDOR, para determinar a responsabilidade desse sujeito
da relação jurídica de consumo, quer dizer que todos que contribuírem para a
causação do dano serão solidariamente responsabilizados. Nesses casos, a
responsabilidade será sempre solidária.
FABRICANTE, PRODUTOR, CONSTRUTOR, IMPORTADOR – Quando
o CDC especificar o sujeito (ou sujeitos), significa que estará atribuindo
responsabilidade a pessoas específicas. Nesses casos, somente estas
pessoas responderão solidariamente.
É o que ocorre na responsabilidade por fato do produto e do serviço. A
solidariedade se dá somente entre as pessoas expressamente elencadas no
caput do art. 12 do CDC. Vejamos:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
COMERCIANTE – Quanto ao comerciante, sua responsabilidade, em
princípio, será condicionada à ocorrência de situações específicas, pois esse
sujeito não consta do rol do art. 12, como visto. Sua responsabilidade por fato
do produto e do serviço está no art. 13. Confiram:
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo
anterior, quando:
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser
identificados;
II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,
construtor ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Sendo assim, somente na ocorrência de algumas (ou todas) as hipóteses
descritas nos incisos acima é que o comerciante será solidariamente
responsável.

SUJEITOS RESPONSÁVEIS POR VÍCIO DO PRODUTO OU DO


SERVIÇO (ART. 18 A 25):
Considerando o que acabamos de ver no caso de fato do produto e do
serviço, notem que na responsabilidade por vício o legislador consumerista
utiliza o vocábulo FORNECEDORES, no caput do art. 18 do CDC, e
dispositivos subsequentes:
Assim, o que deve ser memorizado é: em se tratando de vícios, todos os
fornecedores (inclusive o comerciante) responderão solidariamente, já que o
código não faz qualquer diferenciação entre fornecedores nessa situação.

OBS: O § 5º do art. 18 e o § 2º do art. 19 podem gerar alguma confusão, pois


tratam da figura do fornecedor imediato. No primeiro caso, aparentemente,
poder-se-ia cogitar sobre sua responsabilidade exclusiva, como de fato
entendem alguns doutrinadores. Contudo, não é essa a melhor interpretação,
pois o objetivo da norma, segundo Cláudia Lima Marques, é proteger
amplamente os interesses do consumidor, na medida em que este,
desconhecendo o produtor, terá como opção voltar-se contra o fornecedor
imediato, que geralmente é o comerciante. Porém, a solidariedade prevalece,
a teor do que expressamente dispõe o caput do art. 18. Já no caso do art. 19,
essa exclusividade existe, pois consta de expressa disposição.

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