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Poesia

O poeta José Paulo Paes diz em seu livro É isso ali: "A poesia não é mais do que uma brincadeira com as palavras. Nessa brincadeira,
cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma
surpresa. Se não tiver, não é poesia: é papo furado."

Poesia é um termo que vem do grego. No sentido original, poiesis é "a atividade de
produção artística", "a atividade de criar ou de fazer". De acordo com essa definição,
haverá poesia sempre que, criando ou fazendo coisas, somos dominados pelo
sentimento do belo, sempre que nos comovermos com lugares, pessoas e objetos. A
poesia, portanto, pode estar nos lugares, nos objetos e nas pessoas. Assim, não só os
poemas, mas uma paisagem, uma pintura, uma foto, uma dança, um gesto, um conto,
por exemplo, podem estar carregados de poesia. Poema é uma palavra que vem do
latim poema, que significava 'poema, composição em verso; companhia de atores,
comédia, peça teatral', e do gr. poíéma 'o que se faz, obra, manual; criação do espírito,
invenção'. Poema é poesia que se organiza com palavras.

Emergência

(…) Quem faz um poema abre uma janela.


Para onde vou, de onde vim? Respira, tu que estás numa cela abafada,
Não sei se me acho ou me extravio esse ar que entra por ela.
(…) Por isso é que os poemas têm ritmo —
Não será a saída apenas um desvio para que possas profundamente respirar.
E o caminho o verdadeiro fim? Quem faz um poema salva um afogado.

Antonio Cicero Mário Quintana

Canção do Exílio Canção do Exílio Outra Canção do Exílio


Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem macieiras da Califórnia Minha terra tem Palmeiras,
Onde canta o Sabiá; onde cantam gaturanos de Veneza. Corinthians e outros times
As aves que aqui gorjeiam, Os poetas da minha terra De copas exuberantes
são pretos que vivem em torres de ametista, Que ocultam muitos crimes.
Não gorjeiam como lá.
os sargentos do exército são monistas, cubistas, As aves que aqui revoam
Nosso céu tem mais estrelas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações. São corvos do nunca mais,
Nossas várzeas têm mais flores,
A gente não pode dormir A povoar nossa noite
Nossos bosques têm mais vida, com os oradores e os pernilongos. Com duros olhos de açoite
Nossa vida mais amores. Os sururus em família têm por testemunha a Que os anos esquecem jamais.
Em cismar, sozinho, à noite, [Gioconda Em cismar sozinho, ao relento,
Mais prazer eu encontro lá; Eu morro sufocado Sob um céu poluído, sem estrelas,
Minha terra tem palmeiras, em terra estrangeira. Nenhum prazer encontro eu cá;
Onde canta o Sabiá. Nossas flores são mais bonitas Porque me lembro do tempo

(…) nossas frutas mais gostosas Em que livre na campina


mas custam cem mil réis a dúzia. Pulsava meu coração, voava,
Não permita Deus que eu morra,
Ai quem me dera chupar uma carambola de Como livre sabiá; ciscando
Sem que eu volte para lá;
[verdade Nas capoeiras, cantando
Sem que desfrute os primores
e ouvir um sabiá com certidão de idade! Nos matagais, onde hoje a morte
Que não encontro por cá; Tem mais flores, nossa vida
Sem que ainda aviste as palmeiras, Murilo Mendes Mais terrores, noturnos,
Onde canta o Sabiá.” De mil suores fatais.
(...)
Gonçalves Dias Eduardo Alves da Costa
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda1


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda2
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

1. calhas de roda: em Portugal, quer dizer trilhos


2. comboio de corda: em Portugal, quer dizer trem de brinquedo

“Vi ontem um bicho Poeminho do contra


Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos. Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Quando achava alguma coisa, Eles passarão…
Não examinava nem cheirava: Eu passarinho!
Engolia com voracidade.
Mário Quintana
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”

O Bicho, de Manuel Bandeira

“João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.”

Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade

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