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A ENUNCIAÇÃO EM UM TRECHO DE MATERIAL DIDÁTICO DA EAD:

Luciane Melli1

RESUMO:
A Educação a distância (EAD) é uma modalidade de ensino que possibilita a seus alunos
estarem fisicamente distanteS de um ambiente formal de ensino e aprendizagem. Ou
seja, há uma separação temporal ou espacial entre os atores do processo educacional. É
justamente por isso que os materiais escritos devem construir determinadas formas de
presença. Mas afinal, como são construídas as presenças das tarefas propostas em EaD?
Elas possibilitam um diálogo entre professor e aluno pedagógico ou não? Essa é a
pergunta que tentaremos responder nesse artigo.

Palavras-chave: EaD, discurso, interação, enunciação.

1- Os textos para EaD: aumentando distâncias:

Na EaD, a interação com o professor é indireta e tem que ser mediatizada por uma
combinação dos mais adequados suportes técnicos de comunicação, o que torna
esta modalidade de educação bem mais dependente da mediatização que a
educação convencional, de onde decorre a grande importância dos meios
tecnológicos.
(Belloni, 2009,p.54)

Como afirma a epígrafe, a Educação a distância (EAD) ao libertar o aluno da


presença física em sala de aula, procura amenizar essa ausência combinando diferentes
suportes técnicos de comunicação, tornando o ensino a distância extremamente
dependente das TIC´S2. Essa dependência, acreditamos, deve contribuir para o ensino a
distância ao invés de prejudicar o mesmo. Afinal, como afirma Belloni(2009, p.54)

A interação entre professor e o estudante ocorre de modo indireto no espaço (a


distância, descontígua) e no tempo (comunicação diferida, não simultânea) o que
acrescenta complexidade ao já bastante complexo processo de ensino e
aprendizagem na EaD. Nas análises e definições da EaD, como vimos, a ênfase é
colocada na descontiguidade (alunos dispersos, não podendo deslocar-se para
reunir-se), todavia é importante lembrar que o aspecto temporal, embora muitas
vezes negligenciado, é de extrema importância: o contato regular e eficiente, que
facilita uma interação satisfatória e propiciadora de segurança psicológica entre os
estudantes e a instituição “ensinante”, é crucial para a motivação do aluno,
condição indispensável para a aprendizagem autônoma. A rigor, os problemas
gerados pela separação no espaço (descontiguidade) podem ser mais facilmente
superados por sistemas eficientes de comunicação pessoal simultânea ou diferida
entre os estudantes, tutores e professores e entre os próprios alunos.

De acordo com a autora, os obstáculos gerados pela separação espacial podem


1 Luciane Melli é publicitária, Mestra em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, área de concentração Linguística e Semiótica, aluna da pós graduação em Metodologias
de Educação a distância da uniemail: lumelli.tutora.ead@gmail.com
2 Tecnologias da informação e comunicação.
ser facilmente resolvidos com a inserção de um sistema eficiente de comunicação
simultânea. Tal sistema, recebe contribuição tanto das TIC´S, como de relações
linguísticas entre enunciador( professor Ead, professor que produz material didático,
professor tutor e, também, ciberneticamente com o sistema: pensando no sistema como
uma série de exercícios e respostas programadas pelos profissionais da área de
informática, sabendo que as mesmas, foram idealizadas por um ou mais professores
tendo, as mesmas, gabaritos específicos. A figura do professor coletivo, como menciona
Belloni(2009, p. 79) :

“(...) as funções dos docentes vão separar-se e fazer parte de um processo


de planejamento e execução dividido no tempo e no espaço: as funções de
selecionar, organizar e transmitir o conhecimento, exercidas nas aulas
magistrais no ensino presencial, correspondem em EaD à preparação e
autoria das unidades curriculares ( cursos) e de textos que constituem a
base dos materiais pedagógicos realizados em diferentes suportes ( livro-
texto ou manual, programas de áudio, vídeo ou informática?); a função de
orientação e conselho do processo de aprendizagem passa a ser exercida
não mais em contatos pessoais e coletivos de sala de aula ou atendimento
individual, mas em atividades de tutoria a distância, em geral
individualizada, mediatizada através de diversos meios acessíveis..

Esses meios acessíveis mencionados pela autora acima, podem se compor de


sites, chats, avas, emails, fóruns, mensagens assíncronas, etc. No entanto, o que
acontece com o material didático produzido para essa modalidade de ensino? Como são
construídas as presenças nesses textos. Será que elas auxiliam ou prejudicam o
processo de ensino-aprendizagem? Belloni(2009,p.54-55) afirma:

A comunicação diferida, no entanto, entre os professores, responsáveis pela


concepção de cursos e material, e os alunos destinatários coloca problemas bem
mais difíceis de superar. A produção de um curso e seus materiais exige um longo
trabalho de preparação, planejamento, realização e distribuição, que pode afetar
negativamente as condições de estudo e a motivação do estudante (dificuldade de
acesso aos materiais, demora nas respostas sobre dúvidas ou avaliações
formativas). Para o professor, esta separação no tempo pode prejudicar seu
desempenho e a qualidade de seu trabalho, seja pelo desconhecimento das
necessidades do aluno, seja pela obsolescência ou impropriedade de currículos,
ou pela falta de retorno que lhe permita corrigir distorções.

Esse processo comunicacional pode gerar problemas, quando pensamos apenas


na produção de materiais e sua distribuição? Esses materiais, que por vezes são
prometidos no momento da matrícula como impressos, podem gerar problemas tanto de
distribuição quanto de discurso? Por experiência própria, como já trabalhamos em cursos
dessa modalidade, sabemos que por vezes alguns pólos acabam atrasando a entrega de
provas e avaliações do tipo. No entanto, pensando no discurso elaborado e distribuído
pela EaD, especificamente falando na pós em Metodologias e Gestão em EaD, iremos
verificar como é caracterizado esse discurso, ao menos, no que se refere a uma tarefa
imposta pelo programa. Pretendemos analisar tal atividade proposta na apostila da
professora Bressan(2011) em sua matéria intitulada:Metodologia e pesquisa científica, por
compreender que a análise total da mesma seria muito extensa e sem necessidade, visto
que estamos escrevendo um artigo, não uma dissertação sobre o tema.
O objetivo é entender como são construídas as interações entre enunciadores (no
caso professor elaborador / regras institucionais discursivas ) / enunciatários (alunos /
tutores à distância). Nesse texto, buscando compreender se tal edificação enunciativa é
marcada por uma certa objetividade científica imobilizadora, o que acaba por manter a
enunciação afastada do discurso, gerando um distanciamento entre autor e aluno, por
vezes do tutor à distância, graças a sua garantia de imparcialidade. Para isso,
utilizaremos as teorias da enunciação, como também alguns argumentos utilizados pela
semiótica francesa desenvolvida por Algirdas Julien Greimas.

2- A semiótica de Greimas e as teorias da enunciação numa análise de uma tarefa


da EaD:

A semiótica francesa começou a ser desenvolvida por volta de 1960 pelo lituano
Algirdas Julien Greimas. Greimas inspirou-se nas contribuições teóricas de diversos
autores, como: Ferdinand de Saussure 3, Louis Hjelmslev4, Vladimir Propp e Claude Lévi-
Strauss, e assim “deu vida” as bases da sua teoria semiótica 5.
3 Fiorin (2003a, p.58) afirma: “No período medieval, dizia-se que o signo era aliquid pro aliquo (alguma
coisa em lugar de outra). Essa definição mostra que o signo não é a realidade. Saussure vai precisar
bem esse fato, quando diz que o signo lingüístico não une um nome a uma coisa, mas um conceito a
uma imagem acústica. O que o mestre genebrino quer mostrar-nos é que o signo não é um conjunto de
sons, cujo significado são as coisas do mundo. O signo é a união de um conceito com uma imagem
acústica, que não é o som material, físico, mas a impressão psíquica dos sons, perceptível quando
pensamos numa palavra, mas não a falamos. O signo é uma entidade de duas faces, uma reclama a
outra, à maneira do verso e do anverso de uma folha de papel. Percebem-se duas faces, mas elas são
inseparáveis. Ao conceito Saussure chama de significado e à imagem acústica, significante. Não existe
significante sem significado; nem significado sem significante, pois o significante sempre evoca um
significado, enquanto o significado não existe fora dos sons que o veiculam”.
4 Hjelmslev (1975) desenvolveu as concepções saussurianas de signo (significado e significante) como
partes de planos de linguagem. O significante passou a ser chamado de plano de expressão e o
significado passou a ser denominado de plano de conteúdo. Assim, o autor postulou que cada um dos
planos de linguagem – conteúdo e expressão — possuíam não só uma forma, mas também uma
substância específica.
5Segundo Zilberberg (2006, p. 99): “A semiótica greimasiana toma para si o que gostaríamos de chamar as
quatro “grandes categorias”: expressão e conteúdo, de um lado, forma e substância, de outro. Essa
quaternidade delimita o campo epistemológico da semiótica: O par expressão–-conteúdo permite introduzir
a função semiótica e, em suma, o que se deve buscar, ou seja, a maneira pela qual a forma da expressão e
a do conteúdo junta-se, tornam-se co-presentes e, sobretudo, delimitam-se incessante e mutuamente. O par
forma—substância permite testar e avaliar o que foi encontrado, ou seja, precisamente essa identidade
entre a forma do conteúdo e a forma da expressão; essa concordância valida os resultados obtidos e
contribui para sua objetivação”.
No geral a semiótica passou por 3 períodos distintos, afinal, como enfatiza
Landowski (2005, p. 11 - 12):

(...), ao longo de meio século de existência, a semiótica estrutural chegou à


integração sucessiva — a semiotização — de três tipos de objetos. Passou-se,
em algumas décadas, de uma semiótica dos discursos enunciados a uma
semiótica das situações até chegar ao que hoje está tomando a forma de uma
semiótica da experiência sensível. Assim, tudo se desenrolou como se a
disciplina, inicialmente centrada em manifestações significantes afastadas do
“vivido”, tivesse tido por vocação voltar-se finalmente para o que se situa mais
próximo daquele plano. Embora esses deslocamentos da problemática e dos
níveis de realidade considerados pertinentes tivessem acarretado vários
remanejamentos no tocante aos métodos de análise, nem por isso produzira —
rupturas radicais no plano dos princípios teóricos fundamentais. Ao contrário, o
ponto de vista genérico projetado sobre os objetos de estudo se manteve
notadamente constante ao longo desse percurso. Essa permanência, em
profundidade, de um determinado “olhar semiótico” sobre a maneira pela qual os
discursos, a ação, o mundo, a vida fazem sentido, garante a identidade da
disciplina. E o que caracteriza esse olhar, é, antes de tudo, um modo particular de
abordar as formas do dado enquanto formas significantes, isto é, textuais (grifos
nossos).

Inovadora e multidisciplinar a semiótica permanece aberta às contribuições de


outras ciências como: a antropologia, as teorias da enunciação, a fenomenologia, a
retórica, as teorias educacionais e, muitas outras. Em cada momento de seu
desenvolvimento, ela encontrou um aspecto com que se preocupar, ou seja, um objeto de
estudo novo que exigia adaptação ou enriquecimento de seu instrumental teórico. Houve
um tempo em que a semiótica não se preocupava com questões como a das paixões, da
enunciação, do sensível.

Seu objeto de estudo é o texto, ou melhor, “um todo de sentido” entendido tanto
como objeto de significação quanto como objeto de comunicação. E é nessa perspectiva
de objeto de comunicação que iremos analisar. Na teoria francesa, existe a análise do
percurso gerativo de sentido que situa-se no âmbito do plano de conteúdo do texto. Sua
proposta analítica concebe um processo de produção do texto que vai do nível mais
simples e abstrato ao mais complexo e concreto. Esses níveis foram denominados,
respectivamente: fundamental, narrativo e discursivo. Todos eles apresentam
características semânticas e sintáticas que organizam a significação. Dessa maneira, para
explicar “o que o texto diz” e “como o diz”, a semiótica, inicialmente, desenvolveu
ferramentas que lhe possibilitassem examinar os procedimentos da organização textual e,
também, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto. Tal estrutura
de análise textual pode ser visualizada na figura abaixo:
6

Figura 01 - Texto (Plano de Conteúdo / Plano de Expressão) proposta por Hernandes (2006a)

A semiótica analisa a verdade do texto como uma construção, como uma rede de
relações. Com a articulação entre as relações encontradas no plano de conteúdo e no
plano de expressão podemos compreender o texto como “um todo de sentido”. Apenas a
nível de curiosidade, demonstraremos as principais características estudadas pela
semiótica em cada nível do percurso gerativo de sentido, o qual situa-se no âmbito do
plano de conteúdo do texto. Em princípio cada nível separadamente, o que dará uma
visão geral da forma como são concebidos os percursos e suas etapas. Faremos isso
para que nosso leitor não se “perca” nas análises. Contudo, iremos exaltar principalmente
as teorias da enunciação, ou melhor, o uso do discurso no método de ensino da EaD.

No nível das estruturas fundamentais é preciso determinar a oposição ou as


oposições semânticas mínimas sobre as quais se constroem os sentidos do texto. Tem-se
o mínimo de sentido a partir do qual o discurso se constrói: é o momento em que o
produtor (enunciador) do texto (enunciado) começa a engendrar o sentido. Cabe à
semântica fundamental o estudo da axiologia, que segundo Greimas e Courtes (1979, p.
37) é: “o modo de existência paradigmática dos valores”. Esclarecendo melhor, diante de
uma infinidade de valores, caberá ao enunciador escolher os que pretende desenvolver e
como enfatizá-los no texto. As categorias fundamentais determinam-se como positivas ou
eufóricas e negativas ou disfóricas.

A partir daí, explica-se o modo de existência da significação como uma estrutura


6 A figura 47 foi retirada da apostila formulada pelo professor Dr. Nilton Hernandes, quando ministrou a
disciplina “Semiótica, princípios e historicidade”, no Mestrado em Estudos de Linguagens (2006a).
elementar, ou seja, todas as relações encontradas no texto são, agora, pela sintaxe
fundamental sintetizadas no modelo do quadrado semiótico. De maneira resumida, no
nível das estruturas fundamentais, busca-se construir o mínimo de sentido que gera o
texto, o caminho que ele toma e as relações tímicas construídas em seu percurso. As
estruturas fundamentais, assim construídas, convertem-se em estruturas narrativas.

O segundo nível do percurso — ou narrativo, percorre as “historinhas” do texto.


Nessa instância, os elementos das oposições semânticas fundamentais são assumidos
como valores por um sujeito e circulam entre sujeitos e objetos. Para existir uma narrativa,
é necessário que um sujeito e um objeto mantenham-se em relação. Em semiótica, há
duas relações diferentes entre sujeito e objeto: a primeira é a de junção e a segunda é a
de transformação. Isso é entendido como enunciado elementar. É a sintaxe narrativa que
analisa as mudanças de estado sofridas pelos sujeitos como também os processos de
manipulação, aquisição de competência, performance e sanção. De acordo com Barros
(2005, p. 17):

A sintaxe narrativa deve ser pensada como um espetáculo que simula o fazer do
homem que transforma o mundo. Para entender a organização narrativa de um
texto, é preciso, portanto, descrever o espetáculo, determinar seus participantes e
o papel que representam na historiazinha simulada. A semiótica parte dessa visão
espetacular da sintaxe e propõe duas concepções complementares de narrativa:
narrativa como mudança de estados, operada pelo fazer transformador de um
sujeito que age no e sobre o mundo em busca de valores investidos nos objetos;
narrativa como sucessão de estabelecimentos e de rupturas de contratos entre um
destinador e um destinatário, de que decorrem a comunicação e os conflitos entre
sujeitos e a circulação de objetos. As estruturas narrativas simulam, por
conseguinte, tanto a história do homem em busca de valores ou à procura de
sentido quanto a dos contratos e dos conflitos que marcam os relacionamentos
humanos.

A semântica narrativa é responsável pelo estudo dos valores manifestados no


texto: os valores que, até então, existiam paradigmaticamente, são então estruturados
sintagmática e actancialmente. De acordo com Barros (2005, p.43-44):

No percurso gerativo, a semântica narrativa é o momento em que os elementos


semânticos são selecionados e relacionados com os sujeitos. Para isso, esses
elementos inscrevem-se como valores nos objetos, no interior dos enunciados de
estado. (...). As relações do sujeito com os valores podem ser modificadas por
determinações modais. (...). Do mesmo modo, a relação do sujeito com seu fazer
sofre qualificações modais. (...). A modalização dos enunciados de estado é
também denominada modalização do ser e atribui existência modal ao sujeito de
estado. A modalização dos enunciados do fazer é, por sua vez, responsável pela
competência modal do sujeito do fazer, por sua qualificação para a ação (...). Tanto
para a modalização do ser quanto para a do fazer, a semiótica prevê
essencialmente quatro modalidades: o querer, o dever, o poder e o saber.
Por fim, o nível discursivo analisa os aspectos mais superficiais do texto, com o
auxílio de suas próprias ferramentas sintática e semântica. Aqui a narrativa é assumida
pelo sujeito da enunciação. A semântica discursiva é responsável pelo estudo dos temas
e figuras e a sintaxe cuida dos contratos entre enunciadores e enunciatários. De acordo
com Fiorin (2005, p. 35) :

Quando se produz um enunciado, estabelece-se uma “convenção fiduciária” entre


enunciador e enunciatário, a qual, determina o estatuto veridictório do texto. O
acordo fiduciário apresenta dois aspectos:
a)como o texto deve ser considerado do ponto de vista da verdade e da realidade;
b) como devem ser entendidos os enunciados: da maneira como foram dito ou ao
contrário.
No que concerne ao primeiro aspecto, há procedimentos que determinam o
estatuto de verdade ou de mentira do texto, de realidade ou de ficção. Esses
procedimentos variam de cultura para cultura, de grupo social para grupo social.
(...) No que se refere ao segundo aspecto, há marcas discursivas que indicam se o
enunciado X deve ser interpretado como X ou como não-X. Se dizemos “Hoje
choveu tanto que inundou São Paulo”, queremos, normalmente, que este
enunciado X seja entendido como X. No entanto, quando Monteiro Lobato diz “A
excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar das crianças”, quer dizer que
esse enunciado X seja entendido como não-X. Assim, “excelente” deve ser
entendido como antífrase. Há, pois, dois tipos de contratos enunciativos: o de
identidade e o de contrariedade.

O discurso caracteriza-se por ser o nível mais superficial (mais próximo da


manifestação textual) do percurso gerativo: é o local onde as instâncias narrativas
transformam-se em discurso devido à ação do enunciador. Hernandes (2005, p. 235)
ressalta:

É o enunciador que enriquece a narrativa e a transforma em discurso, escolhendo


atores, tempo e espaço, temas e figuras, e depois as linguagens e recursos do
plano de expressão (gestos, música, sonoplastia, movimentação de câmera,
cenografia, edição).

Uma vez apresentado, de maneira geral, o ponto de vista teórico escolhido para
este trabalho, bem como uma síntese do seu desenvolvimento no percurso de construção
da disciplina, podemos passar para a análise propriamente dita.

3- A Enunciação no material didático da Ead:

Pensando na teoria semiótica e em sua relação com as teorias da enunciação,


resolvemos estudar o porque o material didático produzido para a Educação á distância, é
carregado de uma certa objetividade imparcial, a qual, pode acarretar numa “conversa de
mão única” entre professores e alunos na educação à distância. Dizemos isso, pensando
apenas no ponto do material didático, já que esse aluno tem diferentes professores
atuantes durante todo seu processo de aprendizagem.

Partindo do princípio que a Educação à distância se vale das TIC´s para tornar-se
uma modalidade de ensino totalmente dialógica e inovadora, seu material didático
também deve proporcionar essa sensação de presença constante para o estudante.

É por isso que verificaremos com o auxílio da semiótica e da teoria da enunciação,


como tal material “conversa” com o aluno EaD. Para essa análise, escolhemos alguns
trechos de uma aula da pós-graduação em : Metodologias e Gestão em EaD, da
universidade Anhanguera, da disciplina de: Metodologia da Pesquisa científica, de
Bressan (2011).

Antes de começar a análise propriamente dita, gostaria de lembrar o que nos diz
Barros ( 2005, p. 54):

“A semiótica examina as relações entre enunciação e discurso sob a forma das


diferente projeções da enunciação com as quais o discurso se fabrica. A enunciação
projeta, para fora de si, os actantes e as coordenadas espácio-temporais do
discurso, que não se confundem com o sujeito, o espaço e o tempo da enunciação.
Essa operação denomina-se de desembreagem e nela são utilizadas as categorias
da pessoa, do espaço e do tempo. Em outras palavras, o sujeito da enunciação faz
uma série de opções para projetar o discurso, tendo em vista os efeitos de sentido
que deseja produzir. Estudar as projeções da enunciação é, por conseguinte,
verificar quais são os procedimentos utilizados para constituir o discurso e quais os
efeitos de sentido fabricados pelos mecanismos escolhidos. Vejam-se, em primeiro
lugar, os efeitos de sentido que podem ser obtidos pelos diferentes recursos de
sintaxe do discurso e, em seguida, quais os procedimentos empregados. Partindo
do princípio de que todo discurso procura persuadir seu destinatário de que é
verdadeiro (ou falso), os mecanismos discursivos têm, em última análise,por
finalidade criar a ilusão de verdade. Há dois efeitos básicos produzidos pelos
discursos com a finalidade de convencerem de sua verdade, são o de proximidade
ou distanciamento da enunciação e o de realidade ou referente.

Observando a citação de Barros, podemos perceber que todo discurso busca ao se


utilizar da enunciação, criar pessoa, espaço e tempo com objetivo de valorizar certos
efeitos de sentido que procuram passar os aspectos de realidade no texto. Observem o
texto de Bressan (2011, p.

REGRAS PARA A REALIZAÇÃO DOS DESAFIOS DE


APRENDIZAGEM:
1. A disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica possui um Desafio de
Aprendizagem dividido em duas etapas. A primeira etapa é entregue pelo link
disponível na Aula 1.
2. O Desafio de Aprendizagem é uma atividade individual.
3. Não será mais aceita a entrega do DA em grupo.
4. Trabalhos idênticos ou resultantes de plágio receberão nota zero.
5. Serão considerados apenas os trabalhos entregues pelo Ambiente Virtual de
Aprendizagem até a data limite estabelecida.
6. Trabalhos enviados após o prazo não serão considerados.
7. O tutor usará o fórum para dar recados, respostas técnicas e acadêmicas ao
grupo. Para fornecer um feedback individual ao aluno, o canal usado será o campo
“Comentários” ao retornar as correções dos Desafios de Aprendizagem.
8. A primeira entrega do Desafio de Aprendizagem da disciplina de Metodologia da
Pesquisa Científica não terá nota computada no AVA. Somente a segunda
etapa terá nota lançada.

Vamos à análise, o texto de Bressan (2011), demonstra diferentes usos da terceira


pessoa para expressar a tarefa proposta aos alunos ( palavras como:entregue,
resultantes, enviados, entre outras) nos possibilitam ver a construção objetivamente do
enunciado.

O enunciador programa de pós-graduação quer passar a idéia da tarefa como uma


imposição, algo que não pode ser mudado nem dialogado com o professor. Sabemos que
por se tratar de uma tarefa, existem regras de execução. Contudo, percebemos que o
texto no geral, impõe essas regras de maneira pouco dialógica. Essa imposição por parte
do enunciador programa de pós graduação acaba por intimidar o enunciatário aluno, o
qual, poderia sentir dificuldades na entrega dos trabalhos no prazo estipulado e com a
qualidade necessária. Isso dificulta a conversa entre as duas partes, pois de acordo Fiorin
(2003, p. 163) :

Enunciador e enunciatário correspondem ao autor e leitor implicitos ou abstratos, ou


seja, à imagem do autor e à do leitor construídas pela obra. O enunciatário,como
filtro instância pressuposta no ato de enunciar, é também sujeito produtor do
discurso, pois o enunciador, ao produzir um enunciado, leva em conta o em conta o
enunciatário a quem ele se dirige.

Dessa forma, pensando nesses aspectos do discurso, podemos perceber que o


enunciador programa de pós-graduação não está conversando corretamente com o o
enunciatário aluno durante seu material didático. A utilização dos atos de fala em 3
pessoa afasta esse aluno do professor conteudista e também, por vezes, o distancia do
tutor. Esse tipo de enunciação objetiva acaba por atrapalhar o processo de ensino /
aprendizagem. Claro que, como já citamos anteriormente, o aluno ainda tem o contato
com o enunciatário tutor à distância. Mas, mesmo assim, acreditamos que o material
didático é primordial na interação entre professor / aluno no processo de aprendizagem,
mesmo que isso inclua as tarefas impostas.
Afinal, se pensarmos na educação presencial, sabemos que todos os seres
humanos podem ter problemas pessoais que atrapalham as entregas de trabalhos no
geral. Claro que, prazo é prazo, e o programa tem que ter prazos e buscar cumprí-los.
Mas, de qualquer forma, o material didático deve expor ao acadêmico que ele pode ter o
apoio da instituição.

4- Considerações finais:

Ao observar a análise da tarefa proposta por Bressan (2011), podemos perceber


que a objetividade utilizada em alguns trechos do material didático elaborado para a Ead
do curso de Metodologias e Gestão em Ead da Universidade Anhanguera pode
caracterizar um texto pouco dialógico do ponto de vista do enunciatário aluno. Vimos que,
o uso dos termos em 1 pessoa, acabam por criar um distanciamento indesejável,
principalmente quando pensamos na modalidade à distância. Afinal, pelos dados do
Censo (2010), os alunos a distância são em sua maioria compostos por pessoas com
idade média de 33 anos, ou seja alunos que, por vezes, estão desacostumados a estudar
sozinhos e tem certa dificuldade em interpretar textos.

Claro que, esses critérios não se aplicam a todos os alunos, mas buscaremos
identificar tal dificuldade em trabalhos futuros. Por enquanto, apenas podemos afirmar
que tal objetividade, acaba por distanciar o aluno não só apenas do material didático, mas
também do contato com o tutor a distância. Afinal, respostas e imposições rigorosas, sem
pensar na realidade de cada ser individualizado, pode ser prejudicial aos alunos em geral.

Portanto, sugerimos que os materiais didáticos produzidos para a Ead, levem em


consideração a dificuldade de alguns alunos, tanto no conceito que diz respeito à leitura,
como também à sua dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias. Como
professores tutores de um curso Ead, sabemos as conseqüências que essa falta de
conhecimento pode trazer aos acadêmicos e, por isso mesmo, nos preocupamos nas
táticas enunciativas de tal material didático.
REFERÊNCIAS:

BARROS, D. L. P. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Contexto, 2005.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. 5.ed. 1. Reimpressão – Campinas, SP:


Autores Associados, 2009( Coleção educação contemporânea).

BRESSAN, Maria Beatriz. Desafio de aprendizagem. Departamento de Extensão e


Pós-Graduação. Valinhos,SP: Anhanguera Educacional, 2011.

FIORIN, J.(2005). As astúcias da enunciação. 2º ed. São Paulo: Ática.

PETTERS, Otto. A Educação a distância em transição. São Leopoldo, RS: Unisinos,


2002.

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