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Resumo
Abstract
The present article is about the contraposition between distributism and materialism, considered inside
the thougth of Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). The clash between capitalism and communism
unveils itself as superficial and sterile because both social-economic theories are materialists. So,
distributism is not a third way, but a real opponent of capitalism and communism, denouncing the
materialist character of both perspectives. All this points will be shown considering Chesterton´s
Philosophy: the Orthodoxy.
Introdução
Gilberth Keith Chesterton foi um intelectual inglês cuja produção nos remonta
à primeira metade do século XX. Convertido ao catolicismo tardiamente, Chesterton,
desde muito antes de seu ingresso à Igreja de Roma, já estava convencido de que a
verdade se encontrava na imutável doutrina católica, o que ele entendeu por bem
chamar de Ortodoxia. Desse modo, antes mesmo de seu batismo, já passara a fazer
1 Advogado, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professor da
Faculdade Estácio de Sá de Vitória (FESV) e da Faculdade Novo Milênio.
2 Escritor e intelectual britânico, autor de diversas obras, dentre elas O Estado servil, um clássico da
literatura distributista, amigo pessoal de Chesterton, juntamente com quem defendeu o sistema
alternativo ao materialismo vigente até os tempos atuais.
3 Segundo o Catecismo da Igreja Católica (285), os adeptos do materialismo “não aceitam nenhuma
origem transcendente do mundo, vendo neste o mero jogo de uma matéria que teria existido sempre.”
Portanto, o materialismo pensa toda a realidade a partir da matéria: todas as outras dimensões da
realidade são baseadas e dependem da dimensão material. Um dos maiores expoentes do
materialismo é Karl Marx, ao conceber a realidade a partir do materialismo-histórico dialético. Seu
materialismo fica evidenciado também nas categorias de superestrutura e infraestrutura, sendo
aquela completamente determinada por esta. Tal doutrina é condenada pela Igreja Católica, o que dá
ensejo ao embate promovido por Chesterton em defesa da Ortodoxia.
Se Deus, como pode ser homem? Se homem, como pode ser Deus? Este
paradoxo fundamental é o traço essencial de nosso Senhor Jesus Cristo, o que fica
evidenciado no título de outro livro de Chesterton, O Homem eterno: se é homem,
como pode ser eterno? Se eterno, como pode ser homem? “Porque a Deus nada é
impossível” (Lc I, 37).
5 O Tribunal da Razão é uma figura e uma expressão usada por Immanuel Kant, eminente filósofo da
modernidade.
6 Disponível em https://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-
xi_enc_19370319_divini-redemptoris.html
que me orgulharia se pudesse salvar alguém.” Como dito, trata-se de uma projeção
da alma do louco para a dimensão estatal-institucional.
No seu livro Ortodoxia, obra sobre sua filosofia primeira, Chesterton nos
apresenta aquilo que ele chamou de armadilha para os lógicos. Nunca é demais
recordar que o homem lógico para o pensamento paradoxal de Chesterton é
sinônimo de homem louco: “A experiência nos demonstra que o doido é,
comumente, um lógico e, frequentemente, um lógico bem sucedido.”
(CHESTERTON, 2013, p.43).
O ateu, por outro lado, fica restrito à dimensão racional, imanente, não
estando autorizado a acreditar no transcendente, mas apenas no material, aferível
pela razão. Em síntese, o cristão pode admitir a dimensão material da realidade,
mas o ateu não pode admitir a espiritual. Dessa forma, o cristianismo é uma
perspectiva mais ampla do que o materialismo:
7 O ateu é apresentado por Chesterton no mesmo estado de loucura que o materialista e o lógico.
O Distributismo
Por outro lado, seria lícito perguntar se não haveria, então, medidas estatais a
serem tomadas no distributismo?! Se logo acima afirmamos que o Estado não
poderia estar à frente da revolução distributista, pois isso de certa forma nos
manteria no âmbito da engenharia social materialista, então seria lícito descartar por
completo o Estado e as medidas de cunho legislativo, por exemplo?
9 Entenda-se por produção cultural toda a produção espiritual, abstraindo do fato de que, para Marx,
a produção legislativa também é superestrutural. Exatamente por isso que usamos a expressão “de
certa forma” mais acima.
Com a pena afiada em seu melhor estilo, Chesterton afirma o caráter comunal
da vida nos monastérios. No entanto, na sociedade medieval, a qual ele se refere na
citação, os monastérios ocupavam um espaço proporcional dentro do corpo social
visto como um todo. Mais uma vez, o problema não está na vida comunal, mas sim
em tornar absoluto esse modo de organização para toda a sociedade, o que seria
homogeneizá-la como quer a doutrina comunista/materialista: “O que afirmamos é
que meramente nacionalizar todas as terras é como meramente tornar todas as
pessoas monges”. (CHESTERTON, 2016, p.54).
Dessa forma, a Igreja, por meio da Ortodoxia, conseguiu criar uma nova
forma de equilíbrio, ou mesmo, de proporção. Só é possível equilibrar coisas
distintas, ao contrário do desequilíbrio próprio da loucura. Dessa maneira, à luz da
Ortodoxia, e somente à luz dela, podemos entender a proposta do Estado
distributista: no equilíbrio proporcional entre coisas, pessoas, vocações, modo de
organização social completamente diferentes entre si, entretanto coexistentes.
florido vai plantar muitas flores, mas na devida proporção, de modo a não plantar
flores, por exemplo, no muro de sua casa. Tal homem:
Sabe a coisa principal que está tentando atingir; mas, não sendo um
completo palerma, não julga poder atingi-la em todos os lugares,
exatamente no mesmo nível, ou de modo igualmente não misturado com
coisas de outro tipo. (CHESTERTON, 2016, p.55).
11 Uma nota de rodapé se faz necessária para evitar qualquer equívoco do leitor neste ponto. A
pergunta “como algo pode ser o que é e comportar em si o seu contrário?” de forma alguma pode ser
remetida a uma dialética do tipo hegeliana. Isso porque, para Hegel, as coisas são o que são
comportando em si o seu contrário (tese e antítese). No entanto, em lugar de um movimento antitético
como aquele proposto por Hegel, Chesterton em sua Ortodoxia essencialmente paradoxal mantem e
intensifica cada um dos elementos antagônicos. A diferença central entre a dialética hegeliana e o
paradoxo chestertoniano está exatamente no fato de que aquela busca pôr fim à contradição em uma
síntese homogeneizante, sendo que este, por sua vez, mantém a contradição. Isso pode ser visto
justamente na figura de Jesus Cristo: ao se fazer Homem, não deixou de ser Deus, sendo ambos,
Deus e Homem, ao mesmo tempo - o Homem Eterno.
Conclusão
Referências
Submetido em 2017-05-18.
Publicado em 2018-01-09.