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Informativo comentado:

Informativo 600-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
 Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a entidade que promoveu
o concurso (e não contra a instituição contratada).

SERVIDORES PÚBLICOS
 Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de provimento judicial
precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada.
 O valor do abono de permanência deverá ser levado em consideração na conversão da licença-prêmio em pecúnia.

DIREITO CIVIL
DIREITOS DE AUTOR
 Ideias e indicações de bibliografia não gozam de proteção dos direitos de autor.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA


 OSCIP não pode ajuizar ação de busca e apreensão do DL 911/69.

DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL


 Prazo para anular partilha de bens em dissolução de união estável por vício de consentimento é de 4 anos.

DIREITO DO CONSUMIDOR
CONCEITO DE CONSUMIDOR
 Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos.
 Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários é considerado consumidor.
 Se o consumidor beneficiário de contrato de participação financeira cede seus direitos, a cessionária não será
considerada consumidora.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA
 Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do mérito.

ASTREINTES
 É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, para isso, é indispensável que o recurso
tenha sido conhecido.

AÇÃO RESCISÓRIA
 Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973 com base em julgados que não sejam
de observância obrigatória.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


EXECUÇÃO
 O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele seja objeto de adjudicação decretada
em outro processo.

DIREITO TRIBUTÁRIO
PIS E COFINS
 Incide PIS e COFINS sobre o percentual repassado pela empresa de transporte à empresa rodoviária que vende as
passagens.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
RECEBIMENTO DOS VALORES PREVIDENCIÁRIOS
 O valor não recebido em vida pelo segurado deverá ser pago aos seus dependentes previdenciários e, na falta deles,
aos seus sucessores na forma do Código Civil.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO
Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a
entidade que promoveu o concurso (e não contra a instituição contratada)

Importante!!!
Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em
razão da subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital –
a legitimidade passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame.
Ex: o Estado do ES abriu concurso para agente penitenciário. O CESPE foi contratado para
realizar as provas. João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas, tendo
sido, contudo, reprovado no exame psicotécnico. Diante disso, João quer ajuizar ação
ordinária questionando os critérios de avaliação do exame psicotécnico previstos no edital
sob o argumento de que eles eram subjetivos. Essa ação terá que ser proposta contra o Estado
do ES (e não contra o CESPE).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Estado do Espírito Santo abriu concurso para agente penitenciário.
O CESPE (atualmente CEBRASPE) foi contratado para realizar as provas.
João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido, contudo, reprovado no
exame psicotécnico.
Diante disso, João quer ajuizar ação ordinária questionando os critérios de avaliação do exame
psicotécnico previstos no edital sob o argumento de que eles eram subjetivos.

Surgiu, no entanto, a seguinte dúvida: esta ação deverá ser proposta contra o Estado do Espírito Santo
(entidade responsável pela elaboração do certame) ou contra o CESPE (entidade contratada para
executar o concurso e que aplicou o teste psicotécnico)?
Contra o Estado do Espírito Santo (entidade responsável pela elaboração do certame).

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em razão da
subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital – a legitimidade
passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Em ação ordinária na qual se discute a exclusão de candidato em concurso público, a legitimidade passiva
é da entidade responsável pela realização, regulamentação e organização do certame que, no caso, é o
Estado do Espírito Santo.
Além disso, a causa de pedir da ação proposta pelo candidato está relacionada a atuação do órgão
responsável pela elaboração do edital, alegando-se subjetividade nos critérios de avaliação do exame
psicotécnico, não se enquadrando nas hipóteses de atuação da banca examinadora.

SERVIDORES PÚBLICOS
Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de
provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada

Importante!!!
Se o candidato tomou posse por força de decisão judicial precária e esta, posteriormente, é
revogada, ele perderá o cargo, mesmo que já o esteja ocupando há muitos anos. Não se aplica,
ao caso, a teoria do fato consumado. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
A situação será diferente se ele se aposentou antes do processo chegar ao fim.
Imagine que o candidato tomou posse no cargo por força de decisão judicial precária.
Passaram-se vários anos e ele, após cumprir todos os requisitos, aposentou neste cargo por
tempo de contribuição. Após a aposentadoria, a decisão que o amparou foi reformada. Neste
caso, não haverá a cassação de sua aposentadoria.
Nas palavras do STJ: quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias
e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de
contribuição durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação
posterior da segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não
pode ocasionar a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/2/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João prestou concurso para o cargo de agente de polícia e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido,
contudo, reprovado no exame físico.
O candidato propôs mandado de segurança questionando o teste físico.
O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse de João, o que ocorreu em 2002.
Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor.
Em 2017, o Tribunal, ao julgar a apelação, entendeu que o teste físico realizado não continha nenhum
vício. Em virtude disso, reformou a sentença. Houve trânsito em julgado.

Neste caso, João poderá permanecer no cargo com base na teoria do fato consumado, considerando que
ele já exercia a função há muitos anos?

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


NÃO. Segundo a Teoria do Fato Consumado, as situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo,
amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança
jurídica e da estabilidade das relações sociais (STJ. REsp 709.934/RJ).
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e,
após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída,
para que não haja insegurança jurídica.
Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.
A Teoria do Fato Consumado não é admitida pela jurisprudência no caso de posse em cargo público por
força de decisão judicial provisória.
O STF já até afirmou isso em sede de recurso extraordinário com repercussão geral:
Não é compatível com o regime constitucional de acesso aos cargos públicos a manutenção no cargo,
sob fundamento de fato consumado, de candidato não aprovado que nele tomou posse em decorrência
de execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza precária,
supervenientemente revogado ou modificado. Igualmente incabível, em casos tais, invocar o princípio
da segurança jurídica ou o da proteção da confiança legítima.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica
a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em
concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual
do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois
conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por
força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).

O STJ possui o mesmo entendimento:


(...) Esta Corte já pacificou o entendimento de que candidatos que acabam por participar das demais
etapas do certame por força de decisões judiciais passíveis de reforma, não têm direito adquirido à
nomeação definitiva, uma vez que não se pode perpetuar uma situação precária. Como cediço, o
candidato continua na disputa por uma vaga, consciente de que sua situação ainda encontra-se pendente
de julgamento, ou seja, com o iminente risco de reversão. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 474.423/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 04/04/2017.

E se o servidor já tivesse se aposentado? Vamos imaginar o seguinte exemplo:


Pedro prestou concurso para o cargo de agente de polícia e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido,
contudo, reprovado no exame físico.
O candidato propôs mandado de segurança questionando o teste físico.
O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse de Pedro, o que ocorreu em 2002.
Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor.
Houve recurso da Fazenda Pública.
Em 2016, antes que o recurso fosse julgado, Pedro se aposentou, por tempo de contribuição, no cargo de
agente de polícia.
Em 2017, o Tribunal, ao julgar a apelação, entendeu que o teste físico realizado não continha nenhum
vício. Em virtude disso, reformou a sentença. Houve trânsito em julgado.

Neste caso, Pedro, que já está aposentado, perderá a sua aposentadoria?


NÃO.
Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se aposentou,
antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse exercício

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4


e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que inicialmente permitira
ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/2/2017 (Info 600).

Se o impetrante ainda estivesse exercendo o cargo na ativa quando transitou em julgado o mandado de
segurança, então, neste caso, ele deveria ser afastado do serviço público, aplicando-se o entendimento
do STF que não admite, em tais casos, a teoria do fato consumado (RE 608482/RN).

Vínculo previdenciário consolidou-se


No entanto, neste segundo caso, a situação é diferente, porque o impetrante já estava aposentado quando
veio a decisão desfavorável. Assim, embora o vínculo de trabalho fosse precário, o autor da ação pagou
mensalmente as contribuições previdenciárias e completou todos os requisitos necessários para a
aposentadoria, de forma que o vínculo previdenciário foi consolidado.

Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo


A Lei dos Servidores Públicos federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos
dos demais entes, preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses:
a) demissão do servidor público (art. 134); e
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º).

Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese.

SERVIDORES PÚBLICOS
O valor do abono de permanência deverá ser levado em
consideração na conversão da licença-prêmio em pecúnia

O abono de permanência insere-se no conceito de remuneração do cargo efetivo, de forma a


compor a base de cálculo da licença-prêmio não gozada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

O que é a chamada “licença-prêmio”?


Licença-prêmio é um benefício segundo o qual o servidor público, após 5 anos de exercício da função, tem
direito a 3 meses de licença remunerada.
Ex: João é servidor público e a lei que rege a sua carreira prevê a existência da licença-prêmio. João entrou
em exercício em 2010. Em 2015, ele adquiriu o direito à licença-prêmio. Isso significa que ele poderá ficar
3 meses sem trabalhar, recebendo normalmente sua remuneração. Em 2020, ele irá novamente adquirir
o direito de gozar mais um período de licença-prêmio. Em 2025 mais outro e assim por diante.
Os servidores públicos federais tiveram direito à licença-prêmio até 1997 quando foi, então, editada a Lei
nº 9.527/97, que alterou a redação do art. 87 da Lei nº 8.112/90, acabando com esse benefício.
A maioria das legislações dos Estados e Municípios, contudo, ainda prevê a licença-prêmio para os
servidores públicos estaduais e municipais.
Veja o exemplo do Estatuto dos Servidores Públicos de São Paulo:
Art. 209. O funcionário terá direito, como prêmio de assiduidade, à licença de 90 (noventa) dias
em cada período de 5 (cinco) anos de exercício ininterrupto, em que não haja sofrido qualquer
penalidade administrativa.

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Conversão da licença-prêmio em pecúnia
Algumas leis preveem que se o servidor público falecer sem ter gozado a sua licença-prêmio, esses três
meses a que ele teria direito deverão ser convertidos em pecúnia (dinheiro) e esse valor será pago aos
beneficiários do servidor público. Isso é previsto, por exemplo, na LC 75/93 (Estatuto dos membros do
Ministério Público da União):
Art. 222. Conceder-se-á aos membros do Ministério Público da União licença:
(...)
III - prêmio por tempo de serviço;
(...)
§ 3º A licença prevista no inciso III será devida após cada quinquênio ininterrupto de exercício,
pelo prazo de três meses, observadas as seguintes condições:
a) será convertida em pecúnia em favor dos beneficiários do membro do Ministério Público da
União falecido, que não a tiver gozado;

Outras leis permitem que o próprio servidor público receba em pecúnia o valor dos 3 meses da licença-
prêmio caso ele não tenha conseguido gozar esse descanso em virtude da necessidade da Administração
Pública de que ele continuasse trabalhando. É o caso, por exemplo, do Estatuto dos Servidores Públicos
do Estado de Goiás:
Art. 248-A. Os períodos de licença-prêmio não usufruídos pelo servidor, quando em atividade, não
poderão ser convertidos em pecúnia, exceto na hipótese de indeferimento do pedido de gozo em
razão de necessidade do serviço público.

Base de cálculo da conversão da licença-prêmio em pecúnia


Pois bem, como vimos acima, em algumas situações, o servidor não goza os 3 meses de descanso da
licença-prêmio e, por essa razão, ele ou seus herdeiros (em caso de falecimento) deverão ser indenizados
pelo fato de o servidor não ter aproveitado esse período. Em tais situações, ocorre a chamada conversão
da licença-prêmio em pecúnia.
Na prática, isso significa que se paga ao servidor 3 meses a mais de remuneração. Em vez de ganhar 3
meses de descanso, recebe-se o valor equivalente a 3 meses de remuneração.
Curiosidade: como se trata de verba indenizatória, sobre esse valor não há pagamento de imposto de
renda (súmula 136-STJ) nem de contribuição previdenciária. Em outras palavras, a pessoa recebe 3 meses
de remuneração bruta.

Abono de permanência
Para o Governo, é desvantajoso quando o servidor público se aposenta. Isso porque, além de pagar a
aposentadoria, ele terá que contratar outro servidor para desempenhar o cargo do que se aposentou.
Desse modo, para o Poder Público é interessante incentivar que o servidor permaneça na ativa mesmo
que já tenha "tempo" para se aposentar.
Pensando nisso, a EC 41/2003 instituiu o chamado "abono de permanência".
O abono de permanência é um incentivo financeiro pago ao servidor que, mesmo já tendo preenchido os
requisitos para se aposentar com proventos integrais, decide adiar a jubilação e continuar trabalhando.
O instituto está previsto no § 19 do art. 40 da CF/88:
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentadoria
voluntária estabelecidas no § 1º, III, "a", e que opte por permanecer em atividade fará jus a um
abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as
exigências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído pela EC 41/2003)

Imagine que determinado servidor público está recebendo abono de permanência. Ele completa mais
um período de licença-prêmio, mas, em virtude de excesso de serviço, não goza do descanso. A
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Administração Pública autoriza, então, que a licença-prêmio seja convertida em pecúnia. A dúvida que
havia é a seguinte: o valor que o servidor está recebendo a título de abono de permanência será também
incluído no cálculo da remuneração para fins de pagamento da indenização?
SIM.
O abono de permanência insere-se no conceito de remuneração do cargo efetivo, de forma a compor a
base de cálculo da licença-prêmio não gozada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

A licença-prêmio não gozada e, portanto, convertida em pecúnia, tem como base de cálculo a
remuneração do cargo efetivo.
O abono de permanência é uma vantagem pecuniária permanente, pois essa contraprestação se incorpora
ao patrimônio jurídico do servidor de forma irreversível ao ocorrer a reunião das condições para a
aposentadoria, associada à continuidade do labor. Não é, portanto, possível atribuir eventualidade ao
pagamento da citada vantagem, pois somente com o implemento da aposentadoria ela cessará.
Assim, o abono de permanência integra o conceito de remuneração do servidor e, portanto, deverá
também ser considerado no momento da conversão da licença-prêmio em pecúnia.

DIREITO CIVIL

DIREITOS DE AUTOR
Ideias e indicações de bibliografia não gozam de proteção dos direitos de autor

As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de dissertação de
mestrado não estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor.
Ex: determinada pessoa fez uma dissertação de mestrado envolvendo literatura de vampiros;
algum tempo depois, a Faculdade criou uma disciplina na pós-graduação envolvendo esta
temática e utilizando parte da bibliografia mencionada na dissertação. Embora o texto de sua
dissertação e das suas conferências realizadas em eventos acadêmicos esteja protegido pela
Lei de Direitos Autorais, as ideias que lhe serviram de base, bem como a bibliografia de que se
valeu para a realização da pesquisa não estão abrangidas pela proteção aos direitos de autor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.528.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Maria fez mestrado na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina e a sua dissertação
foi a respeito das obras literárias que retravam histórias envolvendo vampiros.
Além disso, ela também apresentou este tema em diversos congressos, palestras e seminários de literatura.
Algum tempo depois a referida Faculdade criou uma disciplina na pós-graduação destinada a examinar a
história literária dos vampiros.
Vale ressaltar que Maria não participou da criação da referida disciplina e, quando soube, ficou chateada
por entender que isso foi fruto de plágio da pesquisa por ela realizada para a elaboração de sua dissertação
de mestrado na mesma instituição.
Diante disso, ela ajuizou ação de indenização contra a UFSC.
Na demanda, a autora demonstrou que os objetivos, a abordagem e a bibliografia da disciplina eram
extremamente semelhantes aos de sua pesquisa, o que tornaria evidente a ocorrência de plágio.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7


A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com o pedido da autora? Neste caso, deve ser paga
indenização por violação aos direitos de autor?
NÃO.
As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de dissertação de mestrado
não estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.528.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Direitos de autor
Plágio é uma forma leiga de se denominar a violação dos direitos de autor.
Os chamados “direitos de autor” estão garantidos pela Constituição Federal e a sua proteção se encontra
detalhada na Lei nº 9.610/98, mais conhecida como Lei de Direitos Autorais.

A dissertação de mestrado e a apresentação de palestras estão protegidas como “direitos de autor”?


SIM. Elas se encontram previstas nos incisos I e II do art. 7º da Lei nº 9.610/98:
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais
como:
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;

A dissertação se enquadra no gênero “obras científicas” e as palestras no conceito de “conferências”.

Portanto, não há dúvidas de que a dissertação da autora, bem como as apresentações realizadas em
eventos científicos, estão devidamente protegidas à luz do direito autoral.
Deve-se averiguar, porém, em que extensão se dá essa proteção.

Proteção não abrange ideias


O inciso I do art. 7º sinaliza que as obras literárias e científicas gozam de proteção apenas quanto ao seu
texto.
Ademais, o art. 8º expressamente exclui do âmbito de proteção dos direitos autorais as ideias:
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei:
I - as ideias, (...)

Assim, se, por um lado, as obras são protegidas, por outro, as ideias nelas contidas não gozam da mesma
proteção.
Isso se justifica pela própria finalidade dos direitos autorais, que é a de servir de incentivo à produção
artística, científica e cultural, fomentando o desenvolvimento da cultura.
O ordenamento protege apenas e tão somente a forma de expressão utilizada na obra, e não a ideia nela
contida, que se encontra em domínio público e pode ser por todos utilizada.
Se ideias fossem apropriáveis por aquele que primeiro as tivesse, haveria, sem dúvida, um engessamento
das artes e das ciências, cujo desenvolvimento dependeria, sempre, da autorização de quem previamente
detivesse os direitos àquela ideia, o que não se coaduna com a finalidade própria da proteção da
propriedade intelectual e tampouco com os objetivos da República elencados na Constituição Federal.
Portanto, embora os textos da dissertação e da apresentação da autora gozem, de fato, da proteção dos
direitos autorais, a ideia que teve para sua pesquisa - a análise da construção da figura dos vampiros com
base em obras literárias ao longo do tempo - não pode ser por ela apropriada.

O § 3º do art. 7º da Lei nº 9.610/98 reforça essa conclusão:

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Art. 7º (...)
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não
abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os
demais campos da propriedade imaterial.

Referida norma tem por finalidade justamente impedir o que pretende a autora: a tentativa de
monopolizar um ramo científico ou enfoque técnico sob o pretexto de proteção a direitos de autor.
Conclui-se, assim, que os direitos autorais de que goza a autora não têm a extensão que ela pretende, de
modo que, não tendo havido a transcrição literal de seu trabalho, ou a cópia de trechos literários ou
artísticos nele eventualmente constantes, não há falar em ofensa a seus direitos.

Existe outro precedente recente do STJ no mesmo sentido:


(...) 3. O art. 8º da Lei nº 9.610/98 veda, de forma taxativa, a proteção como direitos autorais de ideias,
métodos, planos ou regras para realizar negócios. Nessa linha, o fato de uma idéia ser materializada não
a torna automaticamente passível de proteção autoral. Um plano, estratégia, método de negócio, ainda
que posto em prática, não é o que o direito do autor visa proteger. Assim, não merece proteção autoral
ideias/métodos/planos para otimização de comercialização de títulos de capitalização destinados à
aquisição de motos. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1418524/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2014.

E a bibliografia?
Quanto à bibliografia de sua pesquisa, pode-se aplicar, por analogia, o inciso XIII do art. 7º da Lei nº
9.610/98:
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais
como:
(...)
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras
obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual.

Essa proteção não abarca, contudo, os dados ou materiais em si mesmos. É o que diz o § 2º do art. 7º da Lei:
Art. 7º (...)
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se
entende sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou
materiais contidos nas obras.

Sendo assim, ainda que se entenda que a bibliografia de seu trabalho também goza da proteção como
direito autoral, ela não pode pretender impedir a utilização das obras ali constantes, que por ela também
foram consultadas, na disciplina criada no programa de pós-graduação da Faculdade de Letras da
Universidade de Santa Catarina, uma vez que aqueles livros não pertencem a ela.
No meio acadêmico e científico, as pesquisas se desenvolvem normalmente a partir da revisão
bibliográfica de pesquisas prévias, que indicam caminhos já percorridos dentro de um campo específico
do conhecimento, não sendo necessário reinventar diariamente a roda.
Pelo contrário, o compartilhamento de informações científicas no meio acadêmico mostra-se não apenas
útil, mas necessário, sendo benéfico para a instituição de ensino e pesquisa, para os pesquisadores e para
a sociedade como um todo.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
OSCIP não pode ajuizar ação de busca e apreensão do DL 911/69

Caso o mutuário de um contrato de alienação fiduciária se torne inadimplente, a instituição


financeira mutuante poderá ingressar com busca e apreensão do bem, sendo essa uma ação
especial e muito célere, prevista no Decreto-Lei nº 911/69.
A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao Programa
Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser classificada ou
equiparada à instituição financeira, carecendo, portanto, de legitimidade ativa para requerer
busca e apreensão de bens com fulcro no Decreto-Lei nº 911/69.
O procedimento judicial de busca e apreensão previsto no DL 911/69 é um instrumento
exclusivo das instituições financeiras lato sensu ou das pessoas jurídicas de direito público
titulares de créditos fiscais e previdenciários.
A OSCIP não se insere no conceito de instituição financeira nem pode ser a ela equiparada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.071-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

Conceito de alienação fiduciária


“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança,
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método, 2012, p. 565).

Regramento
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento
bancário com garantia de alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma
subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à
disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código
naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o credor quando o credor fiduciário for
bens IMÓVEIS
fiduciário for instituição pessoa natural ou jurídica (sem
financeira ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei nº 9.514/97
Decreto-Lei nº 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

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Alienação fiduciária de automóveis
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69.
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco
“X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária.
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do
empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio.
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel
é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e
o automóvel passa a pertencer a Antônio.

Imaginemos que Antônio financiou o veículo em 48 prestações. Após pagar 35 parcelas, ele ficou
desempregado e não conseguiu arcar com as demais prestações. O que acontece em caso de
inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)?
Havendo mora por parte do mutuário, deverá ser adotado o procedimento previsto no DL 911/69:

1) Notificação do devedor
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito,
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de
busca e apreensão (Súmula 72-STJ).

2) Ajuizamento da ação de busca e apreensão


Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.

3) Concessão da liminar
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69).

4) Inserção de restrições sobre o veículo


O § 9º do art. 3º do DL 911/69 estipula que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de veículo, deverá
inserir uma restrição judicial na base de dados do Renavam.
Renavam significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um banco de dados que
funciona como um registro de todos os veículos existentes no Brasil. Cada veículo recebe um número
identificador que é chamado de “código renavam” e lá são registradas todas as informações sobre a “vida”
do automóvel, desde o momento da sua fabricação ou importação, passando pelo emplacamento,
mudanças de proprietário, alterações em sua cor e características, até o instante em que o veículo sai de
circulação.

5) Apreensão do bem
O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão, deverá entregar o bem e
seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º).

6) Possibilidade de pagamento integral da dívida


No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar
a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial,
hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69).

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7) Resposta
No prazo de 15 dias, o devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação).
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da
dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição.
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas
contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso
justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

8) Venda do bem
Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário) poderá
vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra
medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do DL
911/69).
O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar os débitos do
devedor para com o credor e também para custear as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida.
Se, após o pagamento da dívida, ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao
devedor.

9) Sentença
Após todo esse procedimento, o juiz profere a sentença.
Contra essa decisão cabe apelação, apenas no efeito devolutivo.

Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética:


João precisava comprar um fogão industrial, mas não tinha dinheiro suficiente.
Em virtude disso, celebrou com a “Instituição Comunitária de Crédito ABC” um contrato de financiamento
com garantia de alienação fiduciária.
Assim, a ABC emprestou R$ 30 mil a João para ele comprar o fogão industrial. Como garantia do
pagamento do mútuo, a propriedade resolúvel do fogão ficou com a ABC e a posse direta com João, que
ficou usando o bem em suas atividades.
João assumiu o compromisso de pagar a dívida em 60 meses.
Vale ressaltar que a ABC é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), ligada ao
Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado – PNMPO.
Após a 30ª parcela, João tornou-se inadimplente.
Diante disso, a ABC ajuizou, pela sistemática do DL 911/69, ação de busca e apreensão do bem ofertado
em garantia.

A ação proposta terá êxito?


NÃO. O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito por ilegitimidade ativa ad causam, nos
termos do art. 485, VI, do CPC, porque a ABC (autora) não tem legitimidade para requerer busca e
apreensão de bens com fulcro no DL 911/69.

Quem é legitimado para propor esta ação?


O art. 8º-A prevê que o procedimento judicial de busca e apreensão previsto no DL 911/69 aplica-se
exclusivamente às seguintes hipóteses:
(i) operações do mercado financeiro e de capitais; e
(ii) garantia de débitos fiscais ou previdenciários.

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Assim, a retomada de bens pelo procedimento célere do DL 911/69 é instrumento exclusivo das
instituições financeiras e das sociedades com elas equiparadas.

E quem são as instituições financeiras?


De acordo com os arts. 17 e 18 da Lei nº 4.595/64, são instituições financeiras...
- as pessoas jurídicas públicas e privadas que,
- mediante prévia autorização do Banco Central,
- tenham como atividade principal ou acessória
- a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
- em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

Atividades financeiras são vedadas para OSCIPs


As OSCIPs são reguladas pela Lei nº 9.790/99. Esta Lei proíbe que sejam qualificadas como OSCIPs “as
organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema financeiro nacional” (art.
2º, XIII).
Assim, em nosso exemplo, a ABC não pode ser considerada como instituição financeira, pois seu
funcionamento não foi autorizado pelo Banco Central e o regime legal das OSCPs proíbe que ela realize
atividades creditícias vinculadas ao sistema financeiro nacional.

Não pode ser equiparada à instituição financeira


A ABC também não pode ser equiparada à instituição financeira com base na Lei nº 10.194/2001.
Esta Lei afirmou que seriam equiparadas à instituição financeira as sociedades de crédito ao
microempreendedor e à empresa de pequeno porte.
Essas sociedades de crédito, contudo, têm a sua constituição, organização e funcionamento disciplinados
pelo Conselho Monetário Nacional e sujeitam-se à fiscalização do Banco Central.
A Lei nº 10.194/2001 em nenhum momento fala sobre as OSCIPs que, como já vimos, são regidas por lei
própria (Lei nº 9.790/99).

Desse modo, sendo a autora uma OSCIP, não se insere no conceito de instituição financeira nem pode ser
ela equiparada, devendo, portanto, ser reconhecida a sua ilegitimidade para ajuizar a busca e apreensão
regulada pelo DL 911/69.

Resumindo:
A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao Programa Nacional de
Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser classificada ou equiparada à instituição
financeira, carecendo, portanto, de legitimidade ativa para requerer busca e apreensão de bens com
fulcro no Decreto-Lei nº 911/69.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.071-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

E qual instrumento processual poderia ser utilizado pela OSCIP neste caso?
Ação de reintegração de posse.

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DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL
Prazo para anular partilha de bens em dissolução de união estável
por vício de consentimento é de 4 anos

É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável,
por vício de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil.
Cuidado:
 Prazo para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano.
 Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união estável: 4 anos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João e Maria viviam em união estável há muitos anos.
Maria descobriu, contudo, que João estava tendo uma relação extraconjugal e, por isso, decidiu pôr fim
ao relacionamento.
Em abril de 2016, João e Maria foram até um cartório (Tabelionato de Notas) e ali fizeram uma escritura
pública de dissolução de união estável com partilha de bens.
Em junho 2017, Maria ajuizou ação contra João pedindo a anulação da partilha de bens realizada, sob o
argumento de que foi coagida a aceitar a divisão feita, extremamente desvantajosa a ela, porque o réu
teria ameaçado a autora e seus familiares.
João contestou a demanda alegando que houve decadência considerando que o prazo para se anular a
partilha é de 1 ano, nos termos do art. 2.027, parágrafo único, do Código Civil e do art. 657, parágrafo
único, I, do CPC:
Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos.
Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha.

Art. 657. A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário
ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial
ou intervenção de incapaz, observado o disposto no § 4º do art. 966.
Parágrafo único. O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse prazo:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessou;

O argumento do réu deverá ser aceito?


NÃO.
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício
de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info 600).

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

E o art. 2.027 do CC e o art. 657 do CPC?


O prazo previsto no art. 2.027, parágrafo único, do CC e no art. 657, parágrafo único, do CPC é aplicado
apenas para a nulidade de partilha feita em inventário, e não para a partilha decorrente de dissolução de
união estável. Assim, o prazo decadencial de 01 ano é específico para a anulação da partilha do direito
sucessório (ou seja, em caso de morte), não devendo essa regra ser estendida para as demais espécies de
partilha amigável, como aquela decorrente do fim da união estável.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR
Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte de


mercadorias vinculado a contrato de compra e venda de insumos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A empresa “AUTOTEC” comprou insumos de uma empresa chinesa e contratou a transportadora
“TRANSLOG” para trazê-los de Shangai (China) para Curitiba (Brasil), via área.
Ocorre que houve extravio dos referidos insumos, não tendo chegado ao Brasil.
Diante disso, a empresa “AUTOTEC” ajuizou ação de indenização contra a “TRANSLOG” pedindo a
aplicação das regras do CDC ao caso, sob o argumento de que haveria relação de consumo.

O pedido da empresa “AUTOTEC” deverá ser aceito?


NÃO. Não é possível reconhecer a caracterização de relação de consumo no contrato de transporte de
mercadoria celebrado no caso concreto.
O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em seu art. 2º, ao estatuir que “consumidor é toda
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatária final”.
A nota característica dessa definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica) como
destinatária final de um produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora.
A condição de destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação estabelecida pelo
legislador para a fixação do conceito de consumidor e, consequentemente, para a própria incidência do
CDC como lei especial.
Há necessidade, assim, de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o elemento teleológico
dessa definição.
Considera-se destinatário final aquele que, no ato de consumir, retira o bem do mercado.
A jurisprudência, posteriormente, evoluiu para admitir uma certa mitigação da teoria finalista na hipótese
em que, embora não verificada a condição de destinatário final, constata-se a vulnerabilidade do
consumidor profissional ante o fornecedor.
Nesse sentido, confira o seguinte julgado que evidencia a posição atual do STJ acerca da matéria:
(...) 1. É relação de consumo a estabelecida entre o caminhoneiro que reclama de defeito de fabricação
do caminhão adquirido e a empresa vendedora do veículo, quando reconhecida a vulnerabilidade do autor
perante a ré. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 426.563/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/06/2014.

No caso em tela, não se aplica a referida mitigação da teoria finalista, pois a empresa autora da demanda
sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a empresa demandada.
Com efeito, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a contratante do serviço de transporte
de carga é destinatária final fática e econômica desse serviço.
Contudo, uma vez que a carga transportada é insumo, o contrato celebrado para o transporte desse
insumo fica vinculado a essa destinação, não havendo necessidade de se perquirir acerca da destinação
econômica do serviço de transporte.

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CONCEITO DE CONSUMIDOR
Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores
e títulos mobiliários é considerado consumidor

Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a
atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional,
o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários.
Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse
operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa
corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A relação entre João e a corretora é
uma relação de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse operações
financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa corretora para investir seu
dinheiro na Bolsa de Valores.
A “Dinheiro S.A” é, portanto, uma empresa que presta o serviço de corretagem de valores e títulos
mobiliários.
João sentiu-se lesado em algumas operações realizadas pela corretora e, por isso, ajuizou ação de
indenização contra a empresa.
Na ação, o autor pediu que fosse reconhecida a relação jurídica como sendo consumerista e que fossem
aplicadas as regras do CDC.
A corretora contestou a demanda afirmando, entre outros argumentos, que João não poderia ser
considerado consumidor uma vez que:
a) O contrato firmado envolve investimentos de valores altíssimos; e
b) O autor é pessoa extremamente esclarecida, tendo elevado nível de escolaridade.

Esta relação jurídica entre João e a corretora é uma relação de consumo? O magistrado, ao julgar a
causa, deverá aplicar o Código de Defesa do Consumidor?
SIM.
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender
necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, o serviço de
corretagem de valores e títulos mobiliários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600).

Conceito de consumidor
O CDC possui três dispositivos que trazem definições sobre quem seja consumidor:
Art. 2º Art. 17 Art. 29
Conceito geral Toda e qualquer vítima de fato Para fins de práticas comerciais
do produto e do serviço e de proteção contratual
Art. 2º Consumidor é toda Art. 17. Para os efeitos desta Art. 29. Para os fins deste
pessoa física ou jurídica que Seção, equiparam-se aos Capítulo e do seguinte,
adquire ou utiliza produto ou consumidores todas as vítimas equiparam-se aos consumidores
serviço como destinatário final. do evento. todas as pessoas determináveis
Parágrafo único. Equipara-se a ou não, expostas às práticas nele
consumidor a coletividade de Tem-se aqui a figura do previstas.
pessoas, ainda que bystander (espectador).
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16
indetermináveis, que haja O art. 29 refere-se a dois
intervindo nas relações de Exemplo: se um avião cai em um capítulos:
consumo. bairro residencial e causa danos Capítulo V - Das Práticas
aos seus moradores, estes serão Comerciais
considerados consumidores por Capítulo VI - Proteção contratual
equiparação (bystanders), mesmo
não sendo passageiros ou terem
qualquer tipo de contrato com a
companhia aérea.

Teoria finalista
Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º do CDC deve ser interpretado de forma restritiva e
que deve ser considerado destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou
serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como
aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto,
o preço final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy Andrighi).
Para ser considerada uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido com
finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade negocial).
Essa é a aplicação da concepção finalista.

Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada


Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência do STJ
também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a
aplicabilidade do CDC nas relações entre os adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente
utilizando os bens ou serviços para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta
vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada.
Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade de se admitir que,
em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o produto ou serviço como destinatária final,
possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade.
Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012.
Portanto, saber se um destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito de consumidor
é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica estabelecida é marcada pela vulnerabilidade
daquele (pessoa física ou jurídica), que adquire ou contrata produto ou serviço diante do seu fornecedor
(Min. Villas Bôas Cueva).

A corretagem de valor e títulos mobiliários consiste em prestação de serviços


A corretagem de valores e títulos mobiliários é uma atividade exercida na Bolsa de Valores, sendo
regulamentada pelas Leis 4.728/65, 6.385/76, 6.404/76, 7.913/89, 7.940/89, 8.178/91, além de diversos
atos normativos infralegais.
Apesar de sofrer uma série de restrições e intensa fiscalização, a atividade de corretagem de títulos e
valores mobiliários continua sendo um serviço que é prestado a um consumidor final.

Alto valor do contrato não descaracteriza relação de consumo


João é consumidor no contrato que firmou com a corretora, uma vez que é considerado destinatário final
do serviço prestado pela empresa.
Aplica-se, portanto, a teoria finalista.

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O fato de ter sido alto o valor do contrato e dos investimentos realizados não retira do contratante a sua
condição de consumidor. O CDC é aplicável tanto ao comércio popular quanto ao consumo de alto padrão.

Alto grau de escolaridade do contratante não retira sua condição de consumidor


Não é cabível retirar a condição de consumidor de uma determinada pessoa em razão de ele ter maior
nível de escolaridade ou de discernimento, se comparado com a média da população.
Mesmo tendo maior escolaridade ou discernimento, o autor continua sendo vulnerável frente à empresa.
Além disso, no caso em tela está sendo aplicada a teoria finalista (e não a teoria finalista mitigada, na qual
há análise a respeito da vulnerabilidade do consumidor).

CONCEITO DE CONSUMIDOR
Se o consumidor beneficiário de contrato de participação financeira
cede seus direitos, a cessionária não será considerada consumidora

A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do


contrato de participação financeira.
Ex: João firmou contrato de participação financeira com a empresa de telefonia. João cedeu os
direitos creditícios decorrentes do contrato para uma empresa privada especializada em
comprar créditos, com deságio. A empresa cessionária, ao ajuizar demanda contra a
companhia telefônica pedindo os direitos decorrentes deste contrato, não poderá invocar o
CDC. As condições personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/3/2017 (Info 600).

Sistema TELEBRÁS
Antes da privatização, quem explorava os serviços de telefonia no Brasil era a União, por meio de empresas
estatais integrantes do chamado sistema TELEBRÁS.
A TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S.A.) era uma empresa estatal pertencente à União, sendo
responsável por coordenar e controlar outras empresas estatais que atuavam nos Estados prestando os
serviços telefônicos.
Assim, a TELEBRÁS era uma espécie de holding que abrangia inúmeras outras empresas estatais, como a
TELEBRASÍLIA (que prestava os serviços de telecomunicações no Distrito Federal), a TELECEARÁ (Ceará), a
TELEMIG (Minas Gerais), a TELERJ (Rio de Janeiro), a TELESP (São Paulo), a TELAMAZON (Amazonas) etc.
Os serviços que atualmente são prestados pela TIM, VIVO, CLARO etc. eram desempenhados por essas
empresas estatais.
Em 1998, as empresas que compunham o sistema TELEBRÁS foram vendidas em leilão internacional para
empresas privadas, a chamada "privatização".

Serviços de telefonia antes da privatização


Antes da privatização, o serviço de telefonia era muito ruim, caro e a área de abrangência era pequena.
Para poder ter direito ao serviço de telefonia, o consumidor tinha que comprar uma linha. Para isso, ele
pagava antecipadamente e entrava em uma lista de espera que poderia durar meses até chegar a sua vez.
Além disso, como na época não havia recursos públicos suficientes para a expansão da rede, as empresas
de telefonia obrigavam os usuários dos serviços a serem seus financiadores.
Assim, o consumidor, para ter direito de adquirir o uso de um terminal telefônico, tinha que assinar um
contrato de adesão por meio do qual era obrigado a comprar ações da empresa de telefonia. Em outras
palavras, para ter acesso ao serviço de telefonia, o usuário tinha que adquirir uma participação acionária
na companhia. Por isso, você já deve ter ouvido algumas pessoas mais antigas falarem que tinham ações
da TELERJ, da TELESP etc.

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Contratos de participação financeira
Dessa forma, as pessoas interessadas em ter uma linha de telefone eram obrigadas a assinar um contrato
com as empresas de telefonia, por meio do qual pagavam um valor a título de participação financeira,
passando a ter acesso a um terminal telefônico e, além disso, ganhavam o direito de receber determinado
número de ações da companhia.
Para se ter uma ideia de como isso era caro, algumas pessoas faziam financiamento bancário para
poderem obter dinheiro para comprar uma linha telefônica.

Recebimento das ações


Ocorre que, muitas vezes, o usuário fazia o contrato com a companhia, recebia o direito de usar a linha
telefônica, mas não recebia na hora as ações a que teria direito. Tais ações somente eram entregues algum
tempo depois e o cálculo do número de ações a que teria direito o usuário era feito unilateralmente pelas
empresas de telefonia com base em um valor patrimonial da ação (VPA) futuro.
A prática revelou que muitas vezes o cálculo realizado pelas companhias estava errado e, por isso, muitos
contratantes do serviço de telefonia acabaram recebendo uma quantidade menor de ações do que teriam
realmente direito.

Demanda por complementação de ações de empresas de telefonia


Diante do cenário acima narrado, diversas pessoas que adquiriram ações das companhias telefônicas e
receberam menos do que seria devido ingressaram com demandas judiciais pedindo a complementação
das ações.
Dessa forma, quando você ouvir falar em "demanda por complementação de ações da empresa de
telefonia", nada mais é do que a demanda judicial proposta pela pessoa que pagou para ter direito a um
determinado número de ações da companhia telefônica, mas, apesar disso, recebeu menos do que seria
devido. Por isso, a pessoa ingressa com o processo judicial pedindo a complementação das ações ou,
subsidiariamente, o recebimento de indenização por perdas e danos.

Aplicação do CDC
O STJ entende que demandas propostas com o objetivo de fazer cumprir os contratos de participação
financeira são regidas pelo CDC. Em outras palavras, quando o usuário ingressa com demanda por
complementação de ações de empresa de telefonia, ele poderá invocar as regras protetivas do CDC.
Isso se justifica porque tais demandas estão diretamente relacionadas com serviço de telefonia.
O interessado, para ter acesso ao serviço público de telefonia, tinha que obrigatoriamente se tornar
acionista da respectiva concessionária. Nesse sentido, justifica-se que a proteção ao consumidor se
estenda ao contrato como um todo, tanto no que concerne à prestação de serviços telefônicos quanto à
retribuição em ações, pois a condição de acionista era imposta ao consumidor. Confira precedente:
(...) 1. A jurisprudência do STJ é firme em reconhecer a existência de relação de consumo nos contratos
para aquisição de linha telefônica com cláusula de investimento em ações, haja vista que o contrato de
participação financeira está atrelado diretamente aos serviços de telefonia. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1266388/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013.

Sucessoras da Telebrás
Vale ressaltar que, com a privatização ocorrida em 1998, a responsabilidade pela complementação das
ações de telefonia passou para as empresas privadas que ganharam o leilão e assumiram a prestação dos
serviços (exs: OI, Brasil Telecom, TIM etc.), considerando que elas são sucessoras da Telebrás.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:
João firmou contrato de participação financeira com a CRT (Companhia Riograndense de
Telecomunicações). João é chamado aí de “promitente-assinante”.
Posteriormente, a CRT foi privatizada e vendida para a OI.
João tinha direito de receber a complementação de suas ações, mas estava agoniado e não queria esperar.
Por isso, fez um contrato de cessão de seus direitos para uma empresa privada especializada em comprar
créditos, com deságio. Assim, a empresa (cessionária) pagou um determinado valor para João (cedente) e
ficou com os direitos relativos ao contrato de participação financeira.
A empresa cessionária ajuizou, então, ação ordinária contra a OI S.A., na qual a autora afirma ser
cessionária do contrato de participação financeira e requer a emissão da diferença de ações a serem
subscritas com base no contrato.
Na ação, a empresa pediu que fossem aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor sob o
argumento de que o cedente (João) era consumidor e, portanto, ela assumiu o crédito com a mesma
natureza.

O argumento da empresa deve ser acolhido? O cessionário de contrato de participação financeira


mantém a condição de consumidor do promitente-assinante?
NÃO.
A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do contrato de
participação financeira.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/3/2017 (Info 600).

Os contratos de participação financeira têm natureza híbrida, englobando dentro deles duas relações
jurídicas autônomas:
a) A prestação do serviço telefônico entre o usuário e a empresa de telefonia (o direito de o usuário
utilizar os serviços telefônicos); e
b) a emissão de ações da companhia em favor do usuário (que passa a ser acionista).

No caso analisado, a linha telefônica permaneceu com o promitente-assinante (João), sendo transferida
para a empresa cessionária apenas a segunda relação jurídica, ou seja, os valores mobiliários (ações).
É certo que a jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que o CDC é aplicável às ações que têm como
objeto o cumprimento de contratos de participação financeira, pois diretamente atrelados ao serviço de
telefonia. No entanto, no presente caso, a autora é uma empresa especializa em comprar créditos, sendo
cessionária de milhares de contratos de participação financeira. Não há vulnerabilidade ou
hipossuficiência do cessionário. Ademais, o pedido da demanda é apenas relacionado com as ações, não
havendo qualquer discussão sobre o uso dos serviços de telefonia (isso sim é que configura a prestação
dos serviços).
Além disso, a cessão está resumida à integralidade dos direitos creditícios decorrentes do contrato de
participação financeira. Trata-se, portanto, de cessão de crédito e não de cessão de posição contratual,
pois não há cessão da inteira posição no ajuste.
Por fim, vale ressaltar que as condições personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário.
Logo, a condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere ao cessionário do contrato de
participação financeira.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA
Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do mérito

Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do
objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual
dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas e
dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as partes.
Ex: João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular, onde colocaram
um stent no paciente. Inicialmente, o plano de saúde de João recusou-se a pagar ao hospital os
valores despendidos com o stent. Diante disso, o hospital ingressou com ação cobrando este
valor de João. Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de reconsideração ao
plano de saúde, que foi acolhido e, assim, o convênio transferiu espontaneamente o dinheiro
do tratamento ao hospital. Neste caso, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução do
mérito por perda superveniente do interesse de agir e condenar as duas partes ao pagamento
das custas e dos honorários advocatícios divididos entre elas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular.
Dois dias depois, foi colocado um stent no paciente.
O plano de saúde de João pagou ao hospital todas as despesas com a internação, recusando-se, contudo,
a arcar com os custos do stent alegando que não estaria incluído na cobertura.
Diante disso, o hospital ingressou com a ação de cobrança contra João pedindo o pagamento de R$ 30 mil
relativos à colocação do stent.
João apresentou contestação e o processo já estava concluso para sentença.
Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de reconsideração ao plano de saúde, que foi
acolhido e, assim, o convênio transferiu espontaneamente o dinheiro do tratamento ao hospital.
O hospital peticionou ao juiz informando a situação e, em razão disso, o magistrado extinguiu o processo
sem resolução do mérito por perda superveniente do interesse de agir (art. 485, VI, do CPC/2015).
Até aí, tudo bem. O ponto polêmico veio agora: na sentença, o juiz condenou o réu (João) ao pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa.
O réu recorreu argumentando que houve verdadeira desistência do autor (hospital), que requereu a
extinção do processo sem resolução do mérito, tendo em vista o pagamento do débito pelo plano de
saúde. Além disso, argumentou que a decisão do plano de quitar o débito não pode lhe prejudicar, não
tendo sido ele (réu) quem deu causa ao processo.

Afinal de contas, quem deverá pagar as custas e honorários advocatícios: o autor ou o réu?
Os dois, divididos.
Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do objeto da
ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual dos litigantes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas e dos honorários advocatícios
deve ser rateado entre as partes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/3/2017 (Info 600).

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


Segundo a jurisprudência do STJ, sendo o processo extinto sem resolução do mérito, cabe ao juiz
investigar, sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à extinção do processo sem
julgamento de mérito ou qual das partes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado.
No presente caso, a extinção do feito não foi causada por ato das partes, mas sim por ato de terceiro, que
efetuou o pagamento do valor devido. Desse modo, é impossível dizer qual dos litigantes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado.
Assim, na situação em tela, é inviável imputar a uma ou a outra parte a responsabilidade pelos ônus
sucumbenciais, mostrando-se adequado que cada uma das partes suporte os encargos relativos aos
honorários advocatícios e às custas processuais, rateando o quantum estabelecido pela sentença.
Vale ressaltar que o plano de saúde é considerado “terceiro” porque não participava da relação processual.

ASTREINTES
É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto,
para isso, é indispensável que o recurso tenha sido conhecido

O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão
é suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Astreintes
A multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537 do CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de
conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja
suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do
preceito.

Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de pressionar o devedor a
cumprir:
 uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
 uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.

Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa “XX” entregasse para
a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob pena de multa diária de R$ 16 mil reais.
Essa multa é chamada de astreinte.

Principais características da multa cominatória (astreinte)


 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte em virtude de ser
semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é
chamado.
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação. Trata-se de
uma técnica judicial de coerção indireta.
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito processual.
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos.
 Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de execução.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


 Apesar de no dia-a-dia ser comum ouvirmos a expressão “multa diária”, essa multa pode ser
estipulada também em meses, anos ou até em horas. O CPC 2015, corrigindo essa questão, não fala
mais em “multa diária”, utilizando simplesmente a palavra “multa”.
 O valor da multa deve ser revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das astreintes é a
pessoa que seria beneficiada com a conduta que deveria ter sido cumprida (STJ REsp 949.509-RS / art.
537, § 2º do CPC 2015). Geralmente, as astreintes foram impostas para que o réu cumprisse
determinada conduta, de forma que a multa será revertida em favor do autor. No entanto, é possível
imaginar alguma situação na qual, durante o processo, o juiz imponha uma obrigação ao autor sob
pena de multa. Neste caso, o beneficiário das astreintes seria o réu.
 A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da
multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor
da multa ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.

É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública?


SIM. É perfeitamente possível ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória
(astreintes) contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de fazer (STJ. 2ª Turma.
REsp 1654994/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/04/2017).

Pode ser imposta multa ao agente público pelo descumprimento da obrigação de fazer?
Depende. Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é possível, por ofensa aos princípios
do contraditório e da ampla defesa. Confira:
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos do
Governo do Rio Grande do Norte, foi condenado, ante sua responsabilidade pessoal, pela Corte de origem
ao pagamento de astreintes devido ao não cumprimento imediato de determinação judicial no bojo de
mandado de segurança do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada.
(...)
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes responsáveis pelo
cumprimento das determinações judiciais, em particular quando eles foram parte na ação. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2014.

(...) o agente público não pode ser pessoalmente condenado ao pagamento de astreintes se não figurou
como parte na relação processual em que imposta a cominação, sob pena de afronta ao direito
constitucional de ampla defesa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1433805/SE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/06/2014.

É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu valor?
SIM. É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, possa limitar o
valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do exequente. Essa possibilidade está
prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa
vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para
o descumprimento.

Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz coisa julgada.
Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa. Confira:

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa julgada,
sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser cominada,
alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso
repetitivo) (Info 539).

Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado, será possível a
modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que se tornou imutável foi a obrigação
reconhecida na sentença, mas não a multa. Em outras palavras, o que fez coisa julgada foi a obrigação,
sendo a multa apenas uma forma executiva de cumpri-la.

Como é analisado se o valor da multa é excessivo?


Para saber se a multa é excessiva, deve-se analisar o seu valor no momento de sua fixação em comparação
com o valor da obrigação principal. Assim, no momento em que a multa é estipulada, o seu valor não pode
ser superior ao da obrigação principal. Isso porque não é razoável que o acessório (multa) seja maior que
o principal. No entanto, se, no instante em que a multa é fixada, o seu valor é bem abaixo da quantia
principal, mas o devedor demora muito para cumprir a determinação, podemos considerar que, neste
caso, a multa não é excessiva, podendo ser cobrada mesmo que, após longo tempo de atraso, ela já esteja
maior que a obrigação principal.
Assim, é possível imaginar situações em que o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante
superior ao da obrigação principal.
A apuração da razoabilidade e da proporcionalidade do valor da multa diária deve ser verificada no
momento de sua fixação em cotejo com o valor da obrigação principal. Com efeito, a redução do montante
total a título de astreinte, quando superior ao valor da obrigação principal, acaba por prestigiar a conduta
de recalcitrância do devedor em cumprir as decisões judiciais, bem como estimula a interposição de
recursos com esse fim, em total desprestígio da atividade jurisdicional das instâncias ordinárias. Em suma,
deve-se ter em conta o valor da multa diária inicialmente fixada e não o montante total alcançado em
razão da demora no cumprimento da decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do
devedor em cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória superior ao montante
da obrigação principal. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
em 5/5/2015 (Info 562).

O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em
julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela
provisória de urgência?
Sim, é possível. Neste caso, o devedor da multa será obrigado a depositar o valor em juízo. Caso não faça
voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação (ex: penhora on line). No entanto, o
credor não poderá levantar imediatamente a quantia.
O valor da multa permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após o
trânsito em julgado da sentença favorável a ele.

Veja o dispositivo do CPC/2015 que trata sobre o tema:


Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em
juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte.
(Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem seja intimado.
Como é feita esta intimação?
CPC/1973 CPC/2015
Havia a seguinte distinção: Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção. O devedor será
• Obrigação de pagar quantia intimado na forma do art. 513, § 2º:
certa: a intimação era feita na
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos
pessoa do advogado. autos;
• Obrigação de fazer, não fazer
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela
e entregar coisa: a intimação Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos
deveria ser pessoal. autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver
Súmula 410-STJ: A prévia procurador constituído nos autos;
intimação pessoal do devedor IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na
constitui condição necessária fase de conhecimento.
para a cobrança de multa pelo
descumprimento da obrigação A Súmula 410 do STJ está superada.
de fazer ou não fazer. Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1202.

Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética:
João foi condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à obrigação principal
e R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes.
A sentença transitou em julgado.
O credor iniciou o cumprimento de sentença.
João (devedor), após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo apresentado impugnação ao
cumprimento de sentença.
Na impugnação, ele alegou que o valor da multa era excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do
art. 537, § 1º, I, do CPC/2015.
O juiz julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução.
João interpôs apelação contra esta decisão do magistrado.
Agiu corretamente o devedor?
NÃO. O recurso cabível contra a decisão que julga a impugnação ao cumprimento de sentença é o seguinte:
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz não extinguiu a execução: cabe agravo de instrumento.
 Se na decisão que julgou a impugnação o juiz extinguiu a execução: cabe apelação.
No caso concreto, o magistrado julgou improcedente a impugnação e não extinguiu a fase executiva. Logo,
João deveria ter interposto agravo de instrumento.

O Tribunal poderia, com base no princípio da fungibilidade, receber a apelação interposta como se fosse
agravo de instrumento?
(...) A decisão que resolve a impugnação sem por fim à execução desafia o recurso de agravo de
instrumento, caracterizando erro grosseiro a interposição de apelação, (...)
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 209.349/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 28/3/2016.

O que aconteceu quando a apelação chegou ao Tribunal?


O Tribunal negou seguimento (não conheceu) à apelação, sob o fundamento de que se tratava de recurso
incabível na espécie. No entanto, de ofício, reduziu o valor da multa executada para R$ 100 mil.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


Agiu corretamente o Tribunal?
NÃO.
O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão é
suscitada em recurso de apelação não conhecido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

Como vimos acima, é certo que a decisão que fixa a multa cominatória não faz coisa julgada, podendo ser
modificada a qualquer tempo. Assim, é possível a modificação do valor da multa até mesmo de ofício, a
qualquer tempo, inclusive na fase de execução.
Isso, contudo, não quer dizer que o órgão julgador está autorizado a conhecer de ofício do tema em
recurso que não tenha nem sequer ultrapassado a instância de conhecimento, isto é, que não tenha sido
nem mesmo admitido.
No caso concreto, a apelação era incabível, o que significa que ele não poderia ter sido conhecido. Se o
recurso não foi conhecido, conclui-se que não foi aberta a jurisdição recursal, razão pela qual era
impossível que o Tribunal tivesse emitido qualquer pronunciamento sobre o mérito da questão, ainda que
de ofício.
Dizer que determinada questão pode ser conhecida de ofício significa reconhecer que o juiz pode decidi-
la independentemente de pedido, mas há de haver um momento processual adequado para tanto.
Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
(...) 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões de ordem pública, sem que isso implique
julgamento extra petita ou reformatio in pejus. Precedentes do STJ.
5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra guarida, consoante prescreve o art. 257 do RI/STJ.
É necessário, porém, que a instância recursal seja aberta, o que ocorre quando o apelo preenche todos os
requisitos de admissibilidade. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.218.791/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/9/2011.

Assim, o valor da multa não poderia ter sido reduzido já que a apelação não foi conhecida.

AÇÃO RESCISÓRIA
Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973
com base em julgados que não sejam de observância obrigatória

Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é cabível propositura
da ação rescisória com base em julgados que não sejam de observância obrigatória.
Não há como autorizar a propositura de ação rescisória - medida judicial excepcionalíssima -
com base em julgados que não sejam de observância obrigatória, sob pena de se atribuir
eficácia vinculante a acórdão que, por lei, não o possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.722-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600).
Obs: prevalece que a Súmula 343 do STF não está mais válida tendo em vista a previsão contida no
art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC/2015.

Observação
O presente julgado foi decidido com base no CPC/1973. Irei explicá-lo segundo o Código passado e, ao
final, informarei como o tema ficará com o CPC/2015.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


Rescisória por violação à literal disposição de lei
O art. 485 do CPC/1973 previa as hipóteses em que a ação rescisória era cabível.
O inciso V afirmava que era cabível a ação rescisória quando a sentença de mérito transitada em julgado
tivesse violado literal disposição de lei:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
V — violar literal disposição de lei;

Súmula 343 do STF


Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente diferentes, inclusive dentro de um
único Tribunal.
Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei nº 8.112/90 confere
determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez, interpreta o dispositivo de forma oposta
e entende que a Lei não dá esse direito.
O juiz “A” decidiu com base na interpretação dada pela 1ª Turma do STJ e esta sentença transitou em julgado.
Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu entendimento, curvando-se à posição da 2ª Turma.
Nesse caso, seria possível ajuizar ação rescisória contra a sentença proferida pelo juiz “A” alegando que
ela violou literal disposição do art. XX Lei nº 8.112/90?
NÃO. A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado
havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da lei, não se pode dizer que a decisão
proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está expresso na súmula 343 do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.

O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência sobre um mesmo
preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando que não se pode
qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como ofensiva ao teor literal
da norma interpretada. Trata-se da chamada “doutrina da tolerância da razoável interpretação da norma”
(Voto do Ministro Teori Zavascki no RE 590809/RS).

Relativização da Súmula 343-STF


A Min. Nancy Andrighi afirma que, em alguns casos, a jurisprudência do STJ admite a “relativização” da
Súmula 343-STF.
Para a Ministra, uma situação de relativização da súmula seria o caso em que, na época em que foi
proferido o acórdão, a divergência já havia cessado e, mesmo assim, o julgado foi em sentido contrário à
jurisprudência dominante.

Exemplificando o que seria, para a Ministra, um caso de “relativização” da súmula


Um acórdão do TJMT reconheceu que o índice de correção monetária a ser aplicado em determinada
situação deveria ser o BNTf. Esse acórdão transitou em julgado em 2002.
Na época, havia divergência nos Tribunais sobre o indexador a ser aplicado, se seria o BNTf ou o INPC.
Tal divergência somente veio a ser pacificada pelo STJ em abril de 2003, quando o STJ afirmou que seria
aplicado o INPC.
Logo, não cabia ação rescisória contra esse julgado do TJMT, com base no art. 485, V, do CPC/1973,
considerando que o acórdão foi prolatado em 2002, ou seja, ANTES da pacificação da jurisprudência em
sentido contrário. Aplica-se, portanto, o raciocínio da Súmula 343 do STF.
Agora vejamos o contrário: se o acórdão do TJMT tivesse sido proferido em 2004, ou seja, APÓS a
pacificação, nesse caso seria cabível a ação rescisória. Não se aplicaria a Súmula 343 do STF.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


Requisito adicional para permitir a ação rescisória: que o acórdão paradigma do STJ tenha eficácia
vinculante
Para a Ministra, mesmo nos casos em que se admite a não aplicação da Súmula 343-STF, somente será
permitida a propositura da ação rescisória com base no art. 485, V, do CPC/1973 se o entendimento do
STJ que foi desrespeitado tiver sido proferido em um acórdão com eficácia vinculante.
Voltando ao exemplo dado: em abril de 2003, o STJ decidiu que o índice de correção monetária a ser
aplicado deveria ser o INPC.
Em 2004, o TJMT decide que o índice de correção monetária deveria ser o BNTf, ou seja, decidiu em
sentido contrário ao STJ. Esse acórdão do TJMT transitou em julgado.
Somente caberá ação rescisória contra o acórdão do TJMT se a decisão do STJ que pacificou o tema em
2003 tiver eficácia vinculante.

Quando a decisão do STJ tem eficácia vinculante?


No CPC/1973, possuem eficácia vinculante apenas os recursos especiais decididos pelo STJ sob a
sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C);
No CPC/2015, possuem eficácia vinculante:
 os acórdãos proferidos pelo STJ em incidente de assunção de competência
 os acórdãos proferidos pelo STJ em recurso especial repetitivo e
 a orientação do plenário ou do órgão especial do STJ (art. 927).

Assim, levando em conta este raciocínio, somente caberia ação rescisória contra o acórdão proferido pelo
TJMT se a decisão do STJ de 2003 tivesse sido prolatada em recurso especial repetitivo.

Tema era controvertido e foi pacificado. CABE AÇÃO RESCISÓRIA?


Se o acórdão contrário à jurisprudência Se o acórdão contrário à jurisprudência do STJ foi prolatado
do STJ foi prolatado ANTES da APÓS a pacificação: CABE a ação rescisória.
pacificação: NÃO cabe ação rescisória. Não se aplica a Súmula 343 do STF.
Aplica-se a Súmula 343 do STF. A pacificação pelo STJ deve ter ocorrido pela prolação de
julgado de observância obrigatória (vinculante).

CPC/2015
A maioria da doutrina afirma que a Súmula 343 do STF não está mais válida, tendo em vista a previsão
contida no art. 966, V, § 5º e no art. 525, § 15 do CPC 2015:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
V - violar manifestamente norma jurídica;
(...)
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão
baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que
não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão
decisório que lhe deu fundamento.

Art. 525 (...)


§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
(...)
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda,
caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.

Fredie Didier defende que a Súmula 343-STF continua válida em uma hipótese (letra “a” abaixo):
"a) Divergência na interpretação do Direito entre Tribunais, sem que existisse, ao tempo da prolação da
decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o tema: não há direito à
rescisão, pois não se configura a manifesta violação de norma jurídica. Aplica-se o n. 343 da súmula do
STF.
b) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, sem que existisse, ao tempo da prolação da
decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ (art. 927, CPC) sobre o tema; após o trânsito
em julgado, sobrevém precedente obrigatório do tribunal superior: observado o prazo da ação rescisória,
há direito à rescisão, com base nesse novo precedente, para concretizar o princípio da unidade do Direito
e a igualdade. Note que o § 15 do art. 525, examinado mais à frente, reforça a tese de que cabe ação
rescisória para fazer prevalecer posicionamento de tribunal superior formado após a coisa julgada.
c) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao tempo da prolação da decisão
rescindenda, precedente vinculante do STF ou do STJ sobre o tema: se a decisão rescindenda contrariar o
precedente vinculante, há direito à rescisão, pois se configura a manifesta violação de norma jurídica.
Violam-se, a um só tempo, a norma do precedente e a norma que decorre do art. 927, CPC.
d) Divergência na interpretação do Direito entre tribunais, havendo, ao mesmo tempo da prolação da
decisão rescindenda, precedente vinculante do STF ou STJ; após o trânsito em julgado, sobrevém novo
precedente de tribunal superior, alterando o seu entendimento: não há direito à rescisão, fundado nesse
novo precedente, tendo em vista a segurança jurídica, tal como decidido pelo STF, no RE n. 590.809, rel.
Min. Marco Aurélio, j. em 22.10.2014." (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito
Processual Civil. Vol. 3., 13ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p. 495-496).

EXECUÇÃO
O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede
que ele seja objeto de adjudicação decretada em outro processo

A indisponibilidade de bens do executado deferida em ação civil pública não impede a


adjudicação de um determinado bem ao credor que executa o devedor comum com substrato
em título executivo judicial.
Ex: o MP ajuizou ACP contra a empresa “X”. O juiz determinou a indisponibilidade de todos os
bens da requerida. Alguns meses depois, João ajuizou ação de indenização contra a mesma
empresa. A sentença julgou o pedido procedente, condenando a requerida ao pagamento de
R$ 100 mil. O juiz determinou a penhora de um imóvel pertencente à devedora. João gostou
do bem penhorado e requereu a sua adjudicação, nos termos do art. 876 do CPC. O fato de este
bem estar indisponível não impede a adjudicação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.493.067-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

O que acontece com o bem penhorado?


Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:
a) adjudicado;
b) alienado;
c) concedido em usufruto ao exequente.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a “expropriação”, conforme
previsto no art. 825 do CPC/2015:
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.

Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se houver
interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a adjudicação,
deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III).

Adjudicação (inciso I)
A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou imóvel) é transferida para o
exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma de pagamento da dívida que está
sendo cobrada em juízo.
O instituto encontra-se previsto no art. 876 do CPC/2015, cujo caput estabelece:
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer que lhe
sejam adjudicados os bens penhorados.

O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também podem
adjudicar. Veja:
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos
credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo companheiro,
pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a empresa “X” pedindo o pagamento de indenização
em favor de diversos consumidores que foram lesados.
O juiz determinou a indisponibilidade de todos os bens da requerida.
Alguns meses depois, João ajuizou ação de indenização contra a mesma empresa. A sentença julgou o
pedido procedente, condenando a requerida ao pagamento de R$ 100 mil.
O credor iniciou o cumprimento de sentença e, como não houve pagamento espontâneo, o juiz
determinou a penhora de um imóvel (uma sala comercial) pertencente à devedora para pagamento da
dívida.
João gostou do bem penhorado e requereu a sua adjudicação, ou seja, pediu para ficar com ele como
pagamento da dívida, nos termos do art. 876 do CPC.
O juiz da execução indeferiu o pedido de adjudicação sob o argumento de que a sala comercial estava
incluída no rol de bens cuja indisponibilidade foi decretada no processo da ação civil pública. Logo, não
poderia haver a adjudicação.

Agiu corretamente o juiz da execução? O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem impede
que ele seja objeto de adjudicação decretada em outro processo?
NÃO.
A indisponibilidade de bens do executado deferida em ação civil pública não impede a adjudicação de
um determinado bem ao credor que executa o devedor comum com substrato em título executivo
judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.493.067-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30


Indisponibilidade de bens
De acordo com o art. 789 do CPC/2015, o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,
com seu patrimônio, equivalente ao conjunto de todos os seus bens, presentes ou futuros, excetuadas
apenas as restrições previstas em lei.
Se o devedor não adimplir espontaneamente com as prestações a que se sujeitou, a atuação do Estado é
necessária para compeli-lo a satisfazer o direito de crédito de um determinado credor previsto em um
título executivo.
A fim de evitar que essa atividade estatal seja infrutífera, o que ocorrerá se o patrimônio do devedor for
insuficiente para satisfazer integralmente o crédito do exequente, o ordenamento jurídico prevê meios de
remediar e precaver essa situação, evitando que o executado se desfaça de seus bens.
A indisponibilidade de bens do devedor é uma dessas medidas destinadas à garantia da satisfação de uma
dívida.
Trata-se de cautelar inominada, deferida com substrato no poder geral de cautela do juiz, por meio da
qual é resguardado o resultado prático de uma ação pela restrição ao direito do devedor de dispor sobre
a integralidade do seu patrimônio, sem, contudo, privá-lo definitivamente do domínio.
Por se tratar de cautelar atípica, os requisitos para seu deferimento são genéricos, consistentes na
plausibilidade jurídica do direito em jogo no processo principal (fumus boni iuris) e no fundado receio de
dano grave e de difícil reparação que possa ocorrer antes da solução definitiva da lide (periculum in mora).
“A indisponibilidade implica a nulidade de eventual alienação do bem” (STJ. 4ª Turma. REsp 487.921/SP,
DJe 02/05/2013).

A indisponibilidade não impede a expropriação estatal


Por se tratar de atuação coativa do Estado, a adjudicação não pode ser impedida pela cautelar atípica de
indisponibilidade de bens, a qual atua sobre o poder do devedor de dispor sobre seu patrimônio.
Ademais, não havendo um direito de preferência especial de um outro credor sobre um bem determinado
do devedor, a adjudicação não pode ser obstruída pela indisponibilidade, que não impõe a um bem
específico a situação de inalienabilidade ou impenhorabilidade, afastando sua sujeição à execução.
Caso contrário, se a indisponibilidade impedisse a penhora ou a expropriação do bem do patrimônio do
devedor, o réu com bens indisponíveis receberia uma proteção especial e, se ele conseguisse extinguir a
ação que decretou a indisponibilidade, teria conseguido manter o patrimônio livre das execuções que
sofreu, em prejuízo dos seus credores, que não têm nenhuma com o outro processo.

DIREITO TRIBUTÁRIO
PIS E COFINS
Incide PIS e COFINS sobre o percentual repassado pela
empresa de transporte à empresa rodoviária que vende as passagens

Incide a contribuição ao PIS e COFINS sobre o valor do percentual repassado pelas empresas
de transporte de passageiros às empresas rodoviárias.
Ex: a “Viação Segura Ltda.” é uma empresa que realiza transporte intermunicipal de
passageiros. Ela vende suas passagens por meio da uma empresa rodoviária. Em troca, a
empresa rodoviária retém 10% do valor das passagens para si. Esse valor que a empresa
rodoviária retém continua sendo considerado como faturamento da empresa de transporte e,
por isso, deve ser incluído na base de cálculo do PIS e COFINS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.441.457-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/3/2017 (Info 600).

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”.
Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP.

PIS/PASEP
O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:
 PIS: Programa de Integração Social.
 PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.
O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser
denominados de PIS/PASEP.
Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas
no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil.

COFINS
Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.
A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de
sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003).

Faturamento
No julgamento do RE 585.235/MG, o STF definiu que faturamento é a receita bruta das vendas de
mercadorias e da prestação de serviços de qualquer natureza, ou seja, a soma das receitas oriundas do
exercício das atividades empresariais.

Imagine a seguinte situação hipotética:


A “Viação Segura Ltda.” é uma empresa que realiza transporte intermunicipal de passageiros. Ela vende suas
passagens por meio da uma empresa rodoviária, para a qual destina um percentual de 10% desta receita.
No momento em que a empresa rodoviária vende as passagens aos usuários, ela já retém esses 10% para si.
Assim, como a passagem custa R$ 5,00, a empresa rodoviária fica com R$ 0,50, repassando R$ 4,50 para
a “Viação Segura Ltda.”

A “Viação Segura Ltda” terá que pagar PIS e COFINS sobre o seu faturamento. A dúvida que surge é a
seguinte: essa contribuição incidirá sobre o valor total da passagem (R$ 5,00) ou apenas sobre o valor
que efetivamente é repassado para a empresa de transporte (R$ 4,50)? O valor que fica com a empresa
rodoviária também irá compor a base de cálculo do PIS e COFINS?
SIM. A contribuição para o PIS e COFINS incidirá sobre o valor total das passagens vendidas, incluindo a
quantia que fica com a empresa rodoviária. Assim decidiu o STJ:
Incide a contribuição ao PIS e COFINS sobre o valor do percentual repassado pelas empresas de
transporte de passageiros às empresas rodoviárias.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.441.457-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/3/2017 (Info 600).

O faturamento da empresa de transporte é composto pelo valor integral da venda das passagens, nele
incluído a quantia que é retida pela empresa rodoviária. Esse valor que é descontado pela empresa
rodoviária é fruto da receita proveniente da prestação de serviços de transporte.
O fundamento determinante para esta conclusão está no fato de que o contrato firmado pela pessoa
jurídica contribuinte não pode ter a força de retirar da base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e
COFINS parcela de seu faturamento ou receita a pretexto de haver retenção desses valores pela outra
parte contratante antes do seu ingresso no caixa da empresa contribuinte.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


O contrato não tem essa força, conforme prevê o art. 123, do CTN:
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade
pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal
do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.

Assim, não é legítimo suprimir uma etapa econômica, mediante contrato, como forma de descaracterizar
a obtenção de faturamento, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS.

E a empresa rodoviária, pagará PIS e COFINS sobre o valor retido?


SIM. A empresa rodoviária também pagará PIS e COFINS com base em seu faturamento e no conceito de
faturamento inclui-se o valor que ela reteve da passagem.
Assim, incidirá PIS e COFINS sobre os R$ 0,50 de cada passagem.

Mas não haverá bis in idem, então? Isso porque a empresa de transporte pagará PIS e COFINS sobre R$
5,00 e a empresa rodoviária pagará sobre os R$ 0,50...
NÃO. Não há bis in idem porque as contribuições incidem sobre etapas econômicas diferentes e sobre
contribuintes diversos.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
RECEBIMENTO DOS VALORES PREVIDENCIÁRIOS
O valor não recebido em vida pelo segurado deverá ser pago aos seus dependentes
previdenciários e, na falta deles, aos seus sucessores na forma do Código Civil

Os valores previdenciários não recebidos pelo segurado em vida, mesmo que reconhecidos
apenas judicialmente, devem ser pagos, prioritariamente, aos dependentes habilitados à pensão
por morte, para só então, na falta destes, serem pagos aos demais sucessores na forma da lei civil.
Ex: João era aposentado do INSS. Ele ajuizou ação alegando que sua aposentadoria foi
concedida em valor menor do que seria devido e, portanto, pediu a revisão de seu benefício e
o recebimento dos valores retroativos que deixaram de ser pagos a ele ao longo dos anos. O
pedido foi julgado procedente em 1ª instância, condenando o INSS a revisar a aposentadoria
do autor desde a data de sua concessão e a pagar-lhe R$ 40 mil de parcelas atrasadas. O INSS
recorreu contra a sentença. Antes que o recurso fosse julgado, João faleceu. Os dependentes
previdenciários de João terão direito de receber os valores. Somente se não houver
dependentes é que esse valor será pago aos herdeiros do falecido.
Isso se deve à regra do art. 112 da Lei nº 8.213/91, que deve ser aplicada tanto no âmbito
administrativo como no judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.596.774-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João era aposentado do INSS.
Ele ajuizou ação alegando que sua aposentadoria foi concedida em valor menor do que seria devido e,
portanto, pediu a revisão de seu benefício e o recebimento dos valores retroativos que deixaram de ser
pagos a ele ao longo dos anos.
O pedido foi julgado procedente em 1ª instância, condenando o INSS a revisar a aposentadoria do autor
desde a data de sua concessão e a pagar-lhe R$ 40 mil de parcelas atrasadas.
O INSS recorreu contra a sentença.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


Antes que o recurso fosse julgado, João faleceu.
Diante disso, houve dois pedidos de habilitação:
a) um feito por Maria, esposa supérstite, viúva de João;
b) outro realizado por Hugo (25 anos) e Luís (23 anos), filhos de João, fruto do primeiro casamento.

O que deverá ser feito neste caso? Quem terá direito de se habilitar no processo e receber o valor da
condenação? Todos os três, por serem herdeiros de João, poderão ser habilitados?
NÃO.
Os valores previdenciários não recebidos pelo segurado em vida, mesmo que reconhecidos apenas
judicialmente, devem ser pagos, prioritariamente, aos dependentes habilitados à pensão por morte,
para só então, na falta destes, serem pagos aos demais sucessores na forma da lei civil.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.596.774-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

Ordem de pagamento dos valores que pertenciam ao segurado falecido


Quando o segurado do RGPS (INSS) morre e existem valores que deveriam ter sido dados a ele em vida,
tal quantia será agora paga para as seguintes pessoas:
1) em primeiro lugar, quem terá direito de receber são os seus dependentes previdenciários, ou seja, as
pessoas que forem habilitadas à pensão por morte;
2) se não houver dependentes, essa quantia deverá ser paga aos sucessores do segurado falecido,
segundo as regras do Código Civil.

Isso está previsto no art. 112 da Lei nº 8.213/91:


Art. 112. O valor não recebido em vida pelo segurado só será pago aos seus dependentes
habilitados à pensão por morte ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil,
independentemente de inventário ou arrolamento.

A regra do art. 112 aplica-se tanto para recebimentos na via administrativa como também na esfera judicial?
SIM. Essa regra aplica-se tanto no âmbito administrativo como no judicial.
Essa norma tem por objetivo proporcionar maior celeridade aos pagamentos dos valores de prestações
previdenciárias não recebidas em vida pelo segurado, diante do seu caráter alimentar, atenuando os
rigores da lei civil para dispensar a abertura de inventário pelos pensionistas e, na falta deles, pelos demais
sucessores do falecido.
Desse modo, em razão dos princípios que regem o Direito Previdenciário e levando-se em conta que o art.
112 não restringe, não se pode aplicar esse dispositivo apenas para a esfera administrativa.
Assim, os valores previdenciários não entram no espólio e ficam excluídos da competência do Juízo das
Sucessões. Nesse sentido:
(...) o artigo consagra verdadeira exclusão do ingresso dos valores no espólio e introduz regra
procedimental e processual específica que afasta a competência do Juízo de Sucessões, conferindo
legitimação ativa ao herdeiro ou dependente para, em nome próprio e em ação própria, postular o
pagamento das parcelas. De lado outro, a tese de que o mencionado artigo somente teria aplicação em
sede administrativa não parece, salvo melhor juízo, procedente. (...)
STJ. 5ª Turma. REsp 603.246/AL, Min. Rel. José Arnaldo da Fonseca, julgado em 12/04/2005.

Assim, em razão de o art. 112 da Lei nº 8.213/91 ser aplicável também ao âmbito judicial, os valores
previdenciários não recebidos pelo segurado em vida, devem ser pagos, prioritariamente, aos
dependentes habilitados à pensão por morte, para só então, na falta desses, serem pagos aos demais
sucessores na forma da lei civil.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


Quem são os dependentes do segurado?
A relação dos dependentes é definida pelo art. 16 da Lei nº 8.213/91, sendo eles divididos em três classes:
1ª CLASSE a) Cônjuge Para que recebam os benefícios
b) Companheiro (hétero ou homoafetivo) previdenciários, os membros da 1ª
c) Filho menor de 21 anos, desde que não tenha classe NÃO precisam provar que
sido emancipado; eram dependentes economicamente
d) Filho inválido (não importa a idade); do segurado (a dependência
e) Filho com deficiência intelectual ou mental ou econômica é presumida pela lei).
deficiência grave (não importa a idade).
2ª CLASSE Pais do segurado. Para que recebam os benefícios
3ª CLASSE a) Irmão menor de 21 anos, desde que não tenha previdenciários, os membros da 2ª e
sido emancipado; 3ª classes PRECISAM provar que
b) Irmão inválido (não importa a idade); eram dependentes economicamente
c) Irmão com deficiência intelectual ou mental ou do segurado.
deficiência grave (não importa a idade).

E quem são os “sucessores na forma da lei civil”?


Encontram-se previstos no art. 1.829 do Código Civil:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido
no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único);
ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Voltando ao caso concreto:


Maria, na condição de cônjuge, é dependente previdenciária de João.
Hugo e Luís, por serem maiores de 21 anos e não terem deficiência, não são considerados como
dependentes. Desse modo, apenas Maria poderá se habilitar e receber a quantia a que teria direito João
se ainda estivesse vivo.

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em razão da
subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital – a legitimidade
passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame. ( )
2) (Promotor MPDFT 2015) A teoria do fato consumado é amplamente adotada no Direito Administrativo,
sobretudo em matéria de concursos públicos, a par de proteger a confiança legítima e a segurança
jurídica, ambas garantias fundamentais dos candidatos. ( )
3) Não é compatível com o regime constitucional de acesso aos cargos públicos a manutenção no cargo,
sob fundamento de fato consumado, de candidato não aprovado que nele tomou posse em decorrência
de execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza precária,
supervenientemente revogado ou modificado. Igualmente incabível, em casos tais, invocar o princípio
da segurança jurídica ou o da proteção da confiança legítima. ( )

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35


4) Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se aposentou,
antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse exercício
e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que inicialmente permitira
ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a cassação da aposentadoria. ( )
5) (Juiz TJ/RN 2013 CESPE - adaptada) É devido imposto de renda no pagamento de licença-prêmio não
gozada por necessidade do serviço. ( )
6) As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de dissertação de mestrado
estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor. ( )
7) (Defensor DPE-MA 2015 FCC) Bruno adquiriu um veículo mediante contrato de alienação fiduciária, em
300 parcelas no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Bruno pagou pontualmente as parcelas até
que, faltando apenas seis prestações para o adimplemento, não teve condições de realizar o pagamento.
Diante da impontualidade de Bruno, a instituição financeira ajuizou ação de busca e apreensão do
veículo. Na condição de defensor público atuando em favor de Bruno, para defendê-lo neste pedido de
busca e apreensão, é correta a alegação de abuso do direito por parte da instituição financeira por
aplicação da vedação legal de busca e apreensão em alienação fiduciária. ( )
8) (Juiz Substituto TJDFT 2015 CESPE) Maria adquiriu um carro em determinada concessionária, por meio
de contrato de mútuo bancário com instituição financeira. Conforme estabelecido no contrato, o carro
foi dado em garantia por alienação fiduciária. Após sucessivos atrasos no pagamento das prestações, o
banco ajuizou ação para a retomada do automóvel, com pedido liminar de busca e apreensão do bem
que, no entanto, não foi localizado. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
A) Maria passou a ser considerada proprietária fiduciária do carro no momento da assinatura do
contrato, independentemente do registro desse instrumento na repartição competente para o
licenciamento.
B) Por ter ingressado judicialmente com ação cautelar de busca e apreensão do bem alienado
fiduciariamente, o banco deverá ajuizar ação principal no prazo máximo de trinta dias.
C) Maria poderá se valer do instrumento da purga da mora, efetivando o depósito das parcelas em
aberto, mais juros moratórios, correção monetária e honorários advocatícios, o que ensejará a revogação
da liminar.
D) Como o bem não foi localizado, o credor poderá postular judicialmente a conversão do pedido de
busca e apreensão em ação de depósito.
E) Na situação em apreço, o contrato de alienação fiduciária configura um contrato meio de garantia de
cumprimento do contrato de mútuo bancário.

9) (Juiz TJ/SE 2015 FCC) Considere as proposições abaixo, a respeito da busca e apreensão por alienação
fiduciária, considerando contrato firmado na vigência da Lei no 10.931/2004, que alterou o Decreto-lei
no 911/1969.
I. A busca e apreensão por alienação fiduciária constitui procedimento incidental ou preparatório de ação
para cobrança da dívida, que, se não intentada no prazo de 30 dias da efetivação da liminar, implica
extinção do processo sem resolução do mérito.
II. A notificação extrajudicial realizada e entregue no endereço do devedor, por via postal e com aviso de
recebimento, é válida quando realizada por Cartório de Títulos e Documentos de outra Comarca, mesmo
que não seja aquele do domicílio do devedor.
III. Compete ao devedor, no prazo de 5 dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão,
pagar a integralidade da dívida − entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo
credor na inicial −, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação
fiduciária.
IV. A parte poderá apresentar resposta escrita, no prazo de 15 dias da execução da liminar, ainda que
tenha pago a integralidade da dívida.

Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


De acordo com a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, é correto o que se afirma
APENAS em
A) I, II e III.
B) III e IV.
C) I e II.
D) II, III e IV.
E) I e IV.

10) A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao Programa Nacional de
Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser classificada ou equiparada à instituição
financeira, carecendo, portanto, de legitimidade ativa para requerer busca e apreensão de bens com
fulcro no Decreto-Lei nº 911/69. ( )
11) É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício
de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. ( )
12) Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte de mercadorias vinculado
a contrato de compra e venda de insumos. ( )
13) (Defensor DPE-MA 2015 FCC) Duas vizinhas que trabalhavam como costureiras resolveram juntar
esforços e constituir uma microempresa para atuar no ramo. Finalizadas as formalidades legais e
juridicamente constituída a sociedade empresária, adquiriram duas máquinas de costura de uma grande
multinacional, que não funcionam adequadamente. Com base nessas circunstâncias e na atual
jurisprudência do STJ, é correto afirmar que se aplica o CDC ao caso, adotando-se a teoria finalista
mitigada, que, em situações excepcionais, em que a parte, pessoa física ou jurídica, embora não seja
propriamente a destinatária final do produto ou do serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade.
( )
14) Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender
necessidades próprias, e as sociedades que prestam de forma habitual e profissional o serviço de
corretagem de valores e títulos mobiliários. ( )
15) (Juiz TJ/RN 2013 CESPE) O ordenamento jurídico brasileiro não contempla proteção à figura do
bystander, cujo conceito foi desenvolvido pelo direito norte-americano. ( )
16) (Promotor MP/AC 2014 CESPE) Considere que a queda de um avião de empresa aérea nacional, em via
pública, cause a morte de centenas de pessoas, entre passageiros da aeronave e moradores do local do
acidente. Nessa situação hipotética, de acordo com as normas do CDC e o entendimento do STJ, as
vítimas moradoras das casas atingidas pela queda do avião são consideradas consumidores por
equiparação, ou bystanders. ( )
17) (DPE/ES 2009 CESPE) Considerando que um avião comercial tenha caído em área residencial brasileira,
os passageiros (consumidores do serviço) que foram atingidos pelo evento danoso — acidente de
consumo — são denominados bystanders. ( )
18) A condição de consumidor do promitente-assinante transfere-se aos cessionários do contrato de
participação financeira. ( )
19) Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do objeto da ação
em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual dos litigantes seria
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas e dos honorários advocatícios
deve ser rateado entre as partes. ( )
20) O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão é suscitada
em recurso de apelação não conhecido. ( )
21) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) O princípio dispositivo aplica-se às tutelas específicas de adimplemento das
obrigações de fazer e não fazer, o que, segundo o STJ, impede o juiz de arbitrar astreintes de ofício nesses
casos. ( )

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22) (Juiz TJPB 2015 CESPE) É obrigatório ao juiz fixar astreintes no caso de o devedor não cumprir
determinação judicial como forma de garantir a efetividade do título judicial. ( )
23) (Juiz TJPB 2015 CESPE) É vedada a fixação de astreintes contra pessoa jurídica de direito público. ( )
24) (Promotor MPE SC 2016 banca própria) No que se refere às astreintes, não havendo limite máximo de
valor para a multa, tomando-se em conta sua natureza jurídica, reconhece o Superior Tribunal de Justiça
ser lícito ao magistrado, de ofício ou a requerimento das partes, alterar o montante a qualquer tempo,
inclusive na fase de execução, quando modificada a situação para a qual foi imposta. ( )
25) A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada. ( )
26) A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando violar manifestamente norma
jurídica. ( )
27) A indisponibilidade de bens do executado deferida em ação civil pública não impede a adjudicação de
um determinado bem ao credor que executa o devedor comum com substrato em título executivo
judicial. ( )
28) Incide a contribuição ao PIS e COFINS sobre o valor do percentual repassado pelas empresas de
transporte de passageiros às empresas rodoviárias. ( )
29) Os valores previdenciários não recebidos pelo segurado em vida, mesmo que reconhecidos apenas
judicialmente, devem ser pagos, prioritariamente, aos dependentes habilitados à pensão por morte, para
só então, na falta destes, serem pagos aos demais sucessores na forma da lei civil. ( )
30) O valor não recebido em vida pelo segurado só será pago aos seus dependentes habilitados à pensão por
morte ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil, independentemente de inventário ou
arrolamento. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. E 6. E 7. E 8. Letra E 9. Letra D 10. C
11. C 12. E 13. C 14. C 15. E 16. C 17. E 18. E 19. C 20. C
21. E 22. E 23. E 24. C 25. C 26. C 27. C 28. C 29. C 30. C

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