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Info 594 STJ PDF
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ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas demais verbas recebidas
por tais profissionais.
DIREITO CIVIL
VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução
para a pessoa física.
CONTRATO DE SEGURO
Embriaguez ao volante e agravamento do risco.
DIREITOS AUTORAIS
Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com permissão do proprietário, mas sem
autorização do autor do projeto.
Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais.
POSSE
Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência
no local?
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por
deficiente físico.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco.
DIVÓRCIO
Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha.
FRAUDE À EXECUÇÃO
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução
para a pessoa física.
DIREITO TRIBUTÁRIO
ARROLAMENTO FISCAL
Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco.
IMPOSTO DE RENDA
Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado para pagamento de
parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente
PIS/PASEP E COFINS
Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS.
Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas integram a base de
cálculo do PIS/PASEP e COFINS.
CONTRIBUIÇÕES
Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PENSÃO POR MORTE
Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de cessação do vínculo do
participante com o ente federado patrocinador.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira
e nas demais verbas recebidas por tais profissionais
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional
nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo
determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais
vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas
nas legislações locais.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso
repetitivo) (Info 594).
Cerca de dois anos depois, foi editada a Lei nº 11.738/2008 regulamentando o art. 206, VIII, da CF/88 e
fixando o piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação básica, sendo esse o
valor mínimo a ser observado pela União, pelos Estados, o Distrito Federal e os Municípios quando da
fixação do vencimento inicial das carreiras.
Confira o que diz a Lei nº 11.738/2008:
Art. 1º Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público
da educação básica a que se refere a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.
Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica
será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na
modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional.
§ 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação
básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais.
§ 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham
as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração,
planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das
unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima
determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional.
(...)
Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado,
anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.
Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo
percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino
fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.
Desse modo, o piso salarial é o valor mínimo que os professores da rede pública, em início de carreira,
devem receber. A quantia é atualizada anualmente. Esses profissionais devem ter formação em magistério
em nível médio (ou antigo “curso normal”) e carga horária de trabalho de 40h semanais, e atuar em
estabelecimentos públicos de ensino na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio.
ADI 4167
Os Governadores de alguns Estados ingressaram com uma ADI no STF contra a Lei nº 11.738/2008
afirmando, dentre outros argumentos, que a mencionada lei seria desproporcional e não teria amparo
orçamentário. A ação foi julgada improcedente, tendo o acórdão sido vazado nos seguintes termos:
(...) 2. É constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com
base no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas
gerais relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como
mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como
Modulação dos efeitos da ADI: Lei nº 11.738/2008 só produziu efeitos a partir de 27/04/2011
Antes do julgamento da ADI, a Lei nº 11.738/2008 estava suspensa por força de uma decisão liminar. Em
razão disso, o STF, ao declará-la inconstitucional, decidiu fazer a modulação temporal dos efeitos,
declarando que o pagamento do piso do magistério como vencimento básico inicial da carreira, nos
moldes como estabelecido na Lei nº 11.738/2008, deveria ser aplicável somente a partir de 27/04/2011
(data do julgamento do mérito da ADI):
(...) A Lei 11.738/2008 passou a ser aplicável a partir de 27.04.2011, data do julgamento de mérito desta
ação direta de inconstitucionalidade e em que declarada a constitucionalidade do piso dos professores da
educação básica. Aplicação do art. 27 da Lei 9.868/2001. (...)
STF. Plenário. ADI 4167 ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/02/2013.
Além disso, na maioria dos Estados e Municípios, a carreira do magistério é dividida em classes. Assim,
temos professores em início de carreira que recebem vencimentos básicos menores que os das classes
mais elevadas, segundo um Plano de Carreira. Exemplo hipotético: Professor classe 3 recebe R$ 500,00 de
vencimento básico; Professor classe 2, R$ 1.000,00; Professor classe 1, R$ 1.500,00.
Ao ser implementado o piso salarial mínimo, os vencimentos dos professores nos Estados e Municípios
aumentaram. Isso porque o piso fixado pela lei nacional foi maior, em regra, do que o vencimento básico
que era previsto nas leis locais. Esse aumento provocado pela lei nacional do piso salarial restringe-se
apenas ao vencimento básico ou possui reflexos também nas demais verbas recebidas? Ex: no Estado “X”,
o vencimento básico era R$ 500,00. Suponhamos que o piso nacional foi fixado em R$ 1.000,00. Logo, para
os professores do Estado “X” que recebiam vencimento básico houve um aumento de 100%. Esse
percentual de aumento irá refletir sobre as demais parcelas que compõem a remuneração dos
professores, ou seja, o Estado “X” também terá que aumentar 100% das gratificações e adicionais que os
professores recebem?
Outra pergunta: esse aumento abrange todos os integrantes da carreira ou fica restrito aos professores
que recebem o vencimento inicial básico? Ex: entrou em vigor o teto nacional fixando o valor mínimo de
R$ 1.000,00. O Professor classe 3, que tinha vencimento básico de R$ 500,00 terá agora que receber R$
1.000,00, ou seja, um aumento de 100%. Os professores das demais classes terão direito a esse aumento,
mesmo que já recebam vencimento acima do piso nacional?
A resposta para as perguntas acima é NÃO.
Valor atual
Em 2017, o piso salarial nacional dos professores sofreu um reajuste de 7,64% em relação ao valor que era
previsto em 2016. Com isso, o vencimento inicial dos professores da educação básica da rede pública
passou de R$ 2.135,64 para R$ 2.298,80. Lembrando mais uma vez: se o Professor já recebe R$ 3.000,00,
por exemplo, ele não terá direito a 7,64% de aumento. Da mesma forma, este percentual de aumento não
terá impacto nas demais verbas recebidas pelos professores, salvo se a legislação estadual/municipal
assim determinar.
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5
Somente os professores têm direito a este piso?
NÃO. A Lei n. 11.738/2008 regulamenta o piso salarial profissional nacional para “os profissionais do
magistério público da educação básica”.
A lei diz que essa categoria compreende, além daqueles que desempenham as atividades de docência,
como os professores, também “os profissionais que atuam no suporte pedagógico à docência, exercendo
atividades de direção, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais,
exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades,
com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional”
(art. 2º, § 2º da Lei).
Dessa forma, o piso salarial nacional deve ser o vencimento inicial para professores, diretores,
coordenadores, inspetores, supervisores, orientadores e planejadores escolares em início de carreira, com
formação em magistério ou normal e carga horária de 40 horas semanais.
Segundo entendimento majoritário, a merendeira, o auxiliar administrativo e outros profissionais que
trabalham na escola, mas não no suporte pedagógico, não possuem direito ao piso salarial.
DIREITO CIVIL
Importante!!!
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
proposta em face da pessoa jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?
Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova
regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data
da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte
cuja personalidade se pretende desconsiderar.
CONTRATO DE SEGURO
Embriaguez ao volante e agravamento do risco
Importante!!!
No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização
securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
• Em regra: NÃO.
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar
que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.
No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização
securitária quando o causador do sinistro foi terceiro condutor (preposto da empresa segurada) que
estava em estado de embriaguez?
Em regra: NÃO.
Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o
acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.
Ônus da prova
Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir daí surge a presunção de que
houve o agravamento do risco e a indenização não será, em princípio, devida.
Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.
Se não conseguir provar isso, perderá o direito à indenização.
E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o seguro?
A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado
na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e
prepostos). Isso porque o agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo
quanto a culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever de escolha
adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o segurado não escolhe de forma
correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza adequadamente, incide em culpa.
O segurado deve se portar e tomar todos os máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso
se chama de princípio do absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar,
de forma desarrazoada, o risco contratual.
Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo
segurado para alguém dirigir.
Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele que contratou o seguro não
serve como argumento para que a indenização deixe de ser paga. Como explica a doutrina:
"(...) não fosse assim e admitido o entendimento acima exposto, bastaria ao proprietário do
veículo nunca conduzi-lo, fazendo sempre uso do subterfúgio de registrar o bem em nome de
terceiro, de esposa, de filhos, pois se imunizaria frente às consequências contratuais do mau uso
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está
afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois,
imprescritível (insuscetível de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).
Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não poderia ser
considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é uma empresa pública federal
(pessoa jurídica de direito privado).
No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele pertencente à
pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço público, quando este bem estiver
vinculado à prestação dessa atividade. Nesse sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito
Administrativo. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 391.
Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF reconheceu que os bens
dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis:
Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a
execução deve observar o regime de precatórios.
STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27/10/2009.
Especificamente quanto à Caixa Econômica Federal, o Decreto-Lei 759⁄69, que autorizou sua instituição,
estabelece como uma de suas finalidades a de “operar no setor habitacional, como sociedade de crédito
imobiliário e principal agente do Banco Nacional de Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a
aquisição de sua casa própria, especialmente pelas classes de menor renda da população” (art. 2º, alínea “c”).
Inclusive, o Estatuto da instituição financeira prevê, dentre os objetivos: “atuar como agente financeiro
dos programas oficiais de habitação e saneamento e como principal órgão de execução da política
habitacional e de saneamento do Governo federal, e operar como sociedade de crédito imobiliário para
promover o acesso à moradia, especialmente para a população de menor renda” (art. 5º, XII, do Anexo
aprovado pela Lei 7.973⁄2013).
Daí porque a Caixa Econômica Federal é referida na Lei 4.380/64 – que trata dos contratos imobiliários de
interesse social – como um dos agentes intermediadores da intervenção do Governo Federal no setor
habitacional (art. 2º, III), integrando o Sistema Financeiro de Habitação (art. 8º, III).
O Sistema Financeiro de Habitação, por sua vez, compõe a política nacional de habitação e planejamento
territorial do governo federal e visa “a facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria ou
moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população” (arts. 1º e 8º, caput), de modo a
concretizar o direito fundamental à moradia.
A Caixa Econômica Federal integra o Sistema Financeiro de Habitação, que, por sua vez, compõe a política
nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa a facilitar e promover a
construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da
população, de modo a concretizar o direito fundamental à moradia.
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Assim, apesar de ser uma empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, a Caixa
Econômica Federal, ao atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e órgão de
execução da política habitacional, presta serviço público, de relevante função social, regulamentado por
normas especiais previstas na Lei nº 4.380/64.
Logo, o imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à prestação de serviço
público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).
Obs: no caso concreto, também não estavam presentes os requisitos da usucapião, mas o objetivo
principal desta explicação era demonstrar que o imóvel em questão era considerado bem público.
DIREITOS AUTORAIS
Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial
com permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto
A questão chegou até o STJ? Neste caso concreto, Luiz tem direito à indenização?
SIM. Vamos entender os principais aspectos da decisão.
O autor do projeto possui direitos autorais sobre a obra já pronta? O arquiteto que projetou a fachada
do imóvel goza de direitos autorais em relação a essa fachada?
SIM. A edificação construída é a materialização em meio físico do projeto arquitetônico. Logo, o autor do
projeto goza de direitos autorais sobre isso, já que o art. 7º, X, da Lei fala que o projeto é protegido
enquanto obra intelectual, não importando o suporte em que ele esteja expresso. Isso significa que o
projeto possui proteção enquanto está no papel, mas também quando já se encontra pronto.
É de se concluir, portanto, que a proteção ao direito autoral, no caso, do arquiteto, abrange tanto o
projeto e o esboço, como a obra em si, materializada na construção edificada.
Quando o arquiteto celebrou contrato com o proprietário do imóvel para que ele fizesse o projeto, pode-
se dizer que ele transmitiu os direitos autorais sobre o projeto? Luiz, ao ser pago pelo projeto, transmitiu
seus direitos autorais a João?
NÃO. O contrato celebrado entre o arquiteto e o encomendante do projeto arquitetônico, proprietário do
imóvel em que a obra veio a se materializar, não tem o condão de transmitir a este, por si, os direitos do
autor.
Os direitos morais e patrimoniais sobre a obra pertencem exclusivamente ao seu autor. A Lei nº 9.610/98,
em seu art. 27, afirma, inclusive, serem inalienáveis e irrenunciáveis os direitos morais sobre a obra.
Permite-se, assim, a transferência apenas dos direitos autorais de natureza patrimonial, em sua totalidade
ou em parte, e a título singular ou universal (ou seja, para determinada modalidade de utilização da obra
ou para todas aquelas previstas no art. 29), a depender dos expressos termos avençados.
Desse modo, a extensão dos direitos autorais (de natureza patrimonial) a serem transferidos deverá estar
devidamente delimitada no contrato de licenciamento, concessão, cessão ou outro admitido em lei,
adotando-se, como norte hermenêutico, sempre uma interpretação restritiva (art. 4º) e, via de
consequência, favorável ao criador da obra intelectual.
Assim, quando a pessoa encomenda um projeto arquitetônico, isso não significa que lhe estejam sendo
transmitidos os direitos autorais do autor do projeto, salvo expressa disposição nesse sentido no contrato.
O art. 37 da Lei n. 9.610/98 é claro nesse sentido:
Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos
direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei.
Adquirente poderá utilizar o projeto para as finalidades relacionadas com a sua aquisição
O adquirente do projeto terá o direito de materializar a obra arquitetônica em uma construção, ou seja,
terá o direito de construir aquele projeto.
Além disso, poderá utilizar o projeto para finalidades relacionadas com a sua aquisição. Ex: poderá tirar
fotos de sua casa, postá-las em redes sociais etc, mesmo sem autorização do autor. Outras formas de
utilização da obra que não intrínsecas à finalidade de aquisição dependerão, necessariamente, de sua
autorização. Isso é analisado no caso concreto.
Utilização da imagem da fachada não está relacionada diretamente com as finalidades da aquisição
O proprietário da edificação, pelo simples fato de ter adquirido o projeto, não possui o direito de utilizá-lo,
em forma de imagem, para fins comerciais. Nesse sentido:
“O arquiteto, quando contratado para criar um projeto, implicitamente já autorizou a edificação do
As fotografias da fachada do imóvel foram tiradas da rua (logradouro público). Isso interfere no direito
do arquiteto? Pelo fato de terem sido tiradas da rua, é possível sua utilização sem autorização?
NÃO. Sobre o tema, a Lei de Direitos Autorais afirma:
Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas
livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais.
Resumindo:
O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros
públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz
jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de
sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido
aquiescência do proprietário da obra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Importante!!!
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como
encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme
interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98.
Assim, ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização,
caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594).
A questão jurídica é, portanto, a seguinte: a pessoa jurídica pode ser titular de direito autoral?
SIM.
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na
relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme interpretação do art. 11, parágrafo
único, da Lei nº 9.610/98.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594).
É necessário que se faça uma distinção entre dois institutos parecidos, mas diferentes, da Lei dos Direitos
Autorais. São eles: a autoria e a titularidade.
POSSE
Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias
para defender a sua permanência no local?
Importante!!!
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO:
não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos
possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro
PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos
possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a
disputa será relativa à posse.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
Posse
Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade (art. 1.196). Isto é, para se ter posse, basta o exercício de um dos atributos do
domínio, sendo possuidor quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da propriedade,
seja ele proprietário ou não.
Bem público ocupado por particular e disputa possessória entre dois particulares
A posição acima exposta possui uma exceção: se dois particulares estão litigando sobre a ocupação de um
bem público, o STJ passou a entender que, neste caso, é possível que, entre eles, sejam propostas ações
possessórias (reintegração, manutenção, interdito proibitório).
Assim, para o entendimento atual do STJ, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de
invasor de terra pública desde que contra outros particulares.
Existem decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
Duas situações
Importante destacar mais uma vez que são duas situações que devem ter tratamentos diferentes:
1) particular invade imóvel público e deseja 2) particular invade imóvel público e deseja proteção
proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: possessória em face de outro PARTICULAR:
Não terá direito à proteção possessória. Terá direito, em tese, à proteção possessória.
Não poderá exercer interditos possessórios É possível o manejo de interditos possessórios em
porque, perante o Poder Público, ele exerce mera litígio entre particulares sobre bem público
detenção. dominical, pois entre ambos a disputa será relativa
à posse.
A interpretação que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o
reconhecimento da usucapião nos bens públicos (Súmula 340 do STF; arts. 183, § 3º e 192 da CF/88; art.
102 do CC), permitindo se concluir que, apenas um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - é que será
limitado, devendo ser mantida, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo
particular. Em outras palavras, se o particular estiver litigando contra outro particular, pode-se reconhecer
a posse de um deles sobre o bem público. No entanto, esta "posse" nunca dará direito à usucapião.
Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas mãos do Estado,
mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre particulares, a relação será
eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens do patrimônio disponível do Estado, despojados
de destinação pública, será plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social.
Conclui-se, portanto, que "a disputa entre particulares, relativa a bem público, também não impede o
manejo e utilização dos interditos possessórios, até porque o reconhecimento da natureza pública do bem
confere a titularidade dominial ao poder público, mantendo incólume sua posição de titular"; desta feita,
"os particulares terão apenas a detenção em relação ao Poder Público, mas como os vícios da posse são
relativos, entre os contendores, a disputa será relativa à posse, pois entre ambos não terá cabimento a
exceção, por tratar-se de res extra commercium. Este argumento caberá ao ente estatal e não aos
particulares" (ARAUJO, Fábio Caldas de. Posse. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 263).
Voltando ao exemplo dado. O argumento invocado pelo Distrito Federal não poderá ser acolhido e o juiz
decidirá qual dos dois particulares têm a posse: João ou Pedro. No entanto, se o DF ajuizar uma ação
possessória contra João, este poderá invocar que tinha a posse e pedir indenização ou a retenção das
benfeitorias realizadas no local?
NÃO. Isso porque, conforme vimos acima, se o litígio for contra o Poder Público, a ocupação de área
pública pelo particular será considerada mera detenção, que não gera direitos de indenização ou retenção,
não havendo proteção possessória ao particular, neste caso.
Assim, o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção
possessória.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos
instalados no carro para permitir a direção por deficiente físico
Importante!!!
Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com
aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los
quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de João e foi entregue ao Banco.
Pedido para retirada dos aparelhos para direção por deficiente físico
O DL 911/69 prevê que, após a execução da liminar, ou seja, depois da apreensão do bem, o devedor tem
a possibilidade de apresentar uma resposta (uma espécie de contestação).
Em sua resposta, João informou o seguinte: realmente estou devendo e não tenho condições de continuar
a pagar as prestações. Pode ficar com o carro. No entanto, depois que eu celebrei o contrato com o banco
e comprei o veículo eu instalei nele aparelhos de adaptação para condução do carro por pessoas com
deficiência. Isso porque eu possuo deficiência física (sou cadeirante) e precisava instalar esses aparelhos
para conseguir dirigir. Esses aparelhos (acelerador e freio para mãos) não vêm com o veículo e eu quero
retirá-los para utilizar em outro carro quando eu for comprar.
O banco contra-argumentou afirmando que estes aparelhos são bens acessórios e que os acessórios
seguem a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). Assim, como a posse e a propriedade do
veículo (bem principal) consolidou-se em nome da instituição financeira, ela também adquiriu os bens
acessórios que estão no carro.
Voltando ao exemplo
No caso concreto, há um bem principal (automóvel) e existem as pertenças, que são os aparelhos de
adaptação para direção por deficiente físico. Por serem pertenças, não se aplica a elas o princípio da
gravitação jurídica, mas sim a regra do art. 94 do CC acima transcrito. Relembrando: as pertenças, em
regra, não seguem o destino do bem principal a que se vinculam.
O carro, tem "vida" absolutamente independente dos aparelhos de aceleração e frenagem manuais. Estes
equipamentos são acoplados tão somente para viabilizar a direção por condutor com condições físicas
especiais. Se retirados tais aparelhos, o veículo continua sendo veículo, ou seja, não perde a sua função.
Ao contrário, ao retirar tais equipamentos, o carro irá recuperar a sua originalidade, isto é, a forma como é
vendido de fábrica.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco
Mas o banco não tem nenhuma relação jurídica com o adquirente. Mesmo assim ele é parte legítima
para a ação e tem o dever de levantar a garantia?
SIM. O princípio da função social do contrato, além de produzir efeitos entre as partes, alcança também
terceiros, especialmente como neste caso em que há uma evidente conexão entre a alienação fiduciária
em garantia e o contrato de compra e venda de unidade imobiliária, de modo que essa interconexão entre
os contratos não pode ser ignorada pelas partes.
Trata-se da eficácia transubjetiva da função social do contrato.
O princípio da função social do contrato impõe deveres de conduta às partes contratantes, inclusive em
relação a terceiros com interesse na relação negocial entre eles celebrada.
No caso concreto, ao menos um desses deveres (o de informação) não veio a ser cumprido, por culpa da
construtora e por negligência do banco, impondo-se a ineficácia do gravame perante o terceiro adquirente
do imóvel.
De outra parte, sob o prisma da boa-fé objetiva, observa-se que o banco faltou com o dever de
cooperação, pois, mesmo depois de saber que as unidades habitacionais estavam quitadas, recusou-se a
substituir a garantia.
Não se quer dizer, com isso, que o banco tenha a obrigação de substituir garantias que lhe tenham sido
prestadas, mas apenas que, no caso dos autos, era exigível a substituição, pois o próprio banco foi
negligente ao aceitar como garantia unidades habitacionais quitadas.
Conclui-se, portanto, com fundamento nos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva,
que, no caso concreto, a alienação fiduciária em garantia é ineficaz em relação ao autor da demanda,
adquirente da unidade habitacional.
DIVÓRCIO
Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão
deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três caminhos
(Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075):
nos próprios autos da ação de divórcio;
em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família);
por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007).
Mancomunhão
Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens do patrimônio comum, eles
continuarão mantendo uma relação jurídica em torno desses bens.
A doutrina afirma que, neste caso, surge um estado de “mancomunhão” (também chamado de
“condomínio de mão única ou fechada”).
Mancomunhão não é o mesmo que condomínio. No condomínio as pessoas são proprietárias de “partes
ideais” do bem, podendo aliená-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais, pois o que se
constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada, e que dá acesso a ambos ex-
cônjuges, à totalidade dos bens.
Veja o que diz a doutrina:
“Os bens não partilhados após a separação ou divórcio, pertencem ao casal, semelhante ao que
ocorre com a herança, entretanto, nenhum deles pode alienar ou gravar seus direitos na
comunhão antes da partilha, sendo ineficaz a cessão, posto que o direito à propriedade e posse é
indivisível, ficando os bens numa situação que a doutrina denomina de estado de mancomunhão.
Não raras vezes, entretanto, quando os bens estão identificados na ação de separação ou divórcio,
são partilhados na fração ideal de 50% (cinquenta por cento) para cada um, em razão da meação,
importa em estado de condomínio entre o casal e não mais estado de mancomunhão. Tratando-se
de condomínio, pode qualquer um dos cônjuges alienar ou gravar seus direitos, observando a
preferência do outro, podendo ainda requerer a extinção por ação de divisão ou alienação judicial,
não se cogitando a nova partilha e dispensando a abertura de inventário.” (CARVALHO, Dimas
Messias de. Direito de Família. 2ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 211/212).
Voltando ao exemplo:
Em 2017, ou seja, 2 anos após o divórcio, o casal resolveu fazer a partilha dos bens, com destaque para as
cotas sociais do hospital.
Como eram casados no regime da comunhão parcial, Maria terá direito à metade dos bens adquiridos
onerosamente durante o relacionamento.
Assim, Maria terá direito à metade das cotas sociais que pertencem a João. O ex-casal concordou que
Maria receberá o equivalente das cotas sociais em dinheiro, de forma que ela não entrará na sociedade.
A dúvida que surgiu, no entanto, foi quanto ao valor das cotas. Isso porque de 2013 até 2017 o hospital
teve uma enorme valorização, passando a ser a principal referência médica da cidade. Em outras palavras,
nestes quatro anos o hospital se tornou muito mais valioso.
Na hora de pagar Maria, o valor das cotas deve coincidir com o seu valor histórico da data da ruptura do
relacionamento (2013) ou deverá ser fixado com base na sua avaliação atual (2017)? Em outras
palavras, considera-se o valor da data do divórcio (em que houve o acordo prévio sobre os bens) ou do
momento da partilha?
Embora Maria não ostente a condição de sócia da referida empresa, existia, no caso, uma copropriedade
decorrente do regime de comunhão parcial de bens e esta situação perdurou mesmo após o divórcio
(quando surgiu a mancomunhão).
Durante quatro anos, Maria, embora detentora de metade das cotas, ou de sua expressão venal, viu seu
patrimônio imobilizado, ser utilizado pelo ex-cônjuge para alavancar, em retroalimentação, o crescimento
da sociedade empresária.
Nesse período, Maria se atrelou, por força da copropriedade que exercia sobre as cotas com seu ex-
cônjuge, à sorte da sociedade, tanto assim, que se essa sociedade tivesse falido, ela teria tido prejuízo e
não teria mais nenhum patrimônio a partilhar.
Então, não se pode privar a ex-esposa dos resultados positivos decorrentes do sucesso da sociedade, sob
pena de gerar um enriquecimento sem causa para o ex-marido.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J
do CPC/1973 deverá ser contado em dobro
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser
contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares
condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do
Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos.
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte
vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a
ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser
aplicado o prazo em dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC 2015 (art. 475-J do CPC 1973), é contado a partir de
quando?
Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da
sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.
Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor.
A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC 2015:
Art. 513 (...)
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos;
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver
procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento.
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado
de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274.
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da
sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento
encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no
§ 3º deste artigo.
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo de 15 dias do art. 475-J do CPC 1973 será
contado em dobro, ou seja, será de 30 dias?
A 4ª Turma do STJ decidiu que sim:
Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado
em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.
A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares condições
enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do Estado, que
enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos.
A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte vencida, que
deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a ausência de
cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser aplicado o prazo em
dobro nesta situação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016.
FRAUDE À EXECUÇÃO
Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica
e do redirecionamento da execução para a pessoa física
Importante!!!
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
proposta em face da pessoa jurídica.
Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante o curso
deste processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o
juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da
execução contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à
execução; isso porque, quando ele vendeu o bem, ainda não tinha sido citado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
FRAUDE À EXECUÇÃO
Conceito
Fraude à execução consiste no ato do devedor de alienar ou gravar com ônus real (ex.: dar em hipoteca)
um bem que lhe pertence, em uma das situações previstas nos incisos do art. 792 do CPC.
A fraude contra a execução, além de causar prejuízo ao credor, configura ato atentatório à dignidade da
Justiça (art. 774, I, do CPC).
Se o devedor alienou ou gravou com ônus real determinado bem praticando fraude à execução, esse bem
continua respondendo pela dívida e poderá ser executado (poderá ser expropriado pelo credor) (art. 790,
V, do CPC).
É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que o executado
tenha sido citado?
Em regra, NÃO. Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que a alienação ou oneração
tenham acontecido após o devedor ter sido citado. Isso porque, para que haja fraude, é necessário que o
devedor soubesse que estava sendo executado quando alienou ou onerou o bem. Quando o devedor é
citado, existe a certeza de que, a partir daquele momento, ele tem consciência da existência do processo.
Logo, se o devedor vender ou onerar o bem depois de a execução ter sido ajuizada, mas antes de ele ser
citado, em regra, não haverá fraude à execução.
Por que se falou “em regra”? É possível que se reconheça a fraude à execução se o devedor vendeu ou
onerou o bem mesmo antes de ser citado?
SIM. Existe uma situação em que será possível reconhecer a fraude à execução quando o devedor alienou
Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27
ou onerou o bem após o ajuizamento, mas antes de ser citado. Isso ocorre quando o exequente fez a
averbação da execução nos registros públicos:
Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação
das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros
bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.
Esse artigo permite que o exequente faça a averbação do ajuizamento da execução em registro público de
bens sujeitos à penhora ou arresto.
Explicando em simples palavras:
Logo após dar entrada na execução, o credor pode obter uma certidão no fórum declarando que ele
ajuizou uma execução contra Fulano (devedor) cobrando determinada quantia.
Em seguida, o exequente vai até os registros públicos onde possa haver bens do devedor lá registrados
(exs.: registro de imóveis, DETRAN, registro de embarcações na capitania dos portos) e pede para que
seja feita a averbação (uma espécie de anotação/observação feita no registro) da existência dessa
execução contra o proprietário daquele bem.
Assim, se alguém for consultar a situação daquele bem, haverá uma averbação (anotação) de que
existe uma execução contra o proprietário.
Essa providência serve como um aviso ao devedor e um alerta para a pessoa que eventualmente
quiser adquirir a coisa, já que eles, ao consultarem a situação do bem, saberão que existe uma
execução contra o alienante e que aquele bem não pode ser vendido, sob pena de se caracterizar a
fraude à execução.
Se o devedor alienar ou onerar o bem após o credor ter feito a averbação, essa alienação ou oneração é
ineficaz (não produz efeitos) porque haverá uma presunção absoluta de que ocorreu fraude à execução.
Leia o restante do art. 828 do CPC, que tem muitas informações importantes sobre o tema:
Art. 828 (...)
§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações
efetivadas.
§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará,
no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados.
§ 3º O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente
não o faça no prazo.
§ 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação.
§ 5º O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos
termos do § 2º indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados.
Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou
oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução?
NÃO. Basta que o credor lesado apresente uma petição ao juízo onde tramita a execução pedindo que seja
reconhecida a fraude à execução e declarada a ineficácia do ato de disposição (alienação ou oneração).
Atenção: o ato praticado em fraude à execução é um ato válido, mas ineficaz perante o credor
(reconhecida a fraude à execução, o juiz decretará a ineficácia da alienação).
2) Se o bem adquirido pelo terceiro não era sujeito a registro (não existe um registro público onde seja
anotada a sua propriedade e alterações. Exs: um quadro, uma joia etc.). Nesta hipótese, o terceiro
adquirente é quem terá o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a
exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem
(art. 792, § 2º, do CPC/2015). Se não provar, será reconhecida a fraude à execução e ele perderá o bem.
Sobre o tema, se você faz concursos para cartórios, é importante também conhecer a redação do art. 54
da Lei nº 13.097/20015:
Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir ou modificar direitos reais sobre
Obs: importante esclarecer que a correta interpretação do art. 792, § 2º, do CPC/2015 é objeto de
polêmica na doutrina, não havendo uma posição ainda segura sobre o tema. As conclusões acima ainda
não foram examinadas pelo STJ. Em provas de concurso, penso que durante um bom tempo deverão
cobrar a redação literal do art. 792, § 2º, do CPC/2015.
O que é o registro da penhora? É o mesmo que a averbação do art. 828 que vimos acima?
NÃO. O registro da penhora é uma coisa e a averbação do art. 828 do CPC é outra completamente diversa.
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente,
na satisfação do crédito executado.
A penhora ocorre depois que já existe execução em curso e o executado já foi citado e não pagou.
Após ser realizada a penhora, o exequente, para se resguardar ainda mais, pode pegar na Secretaria da
Vara onde tramita a execução uma certidão de inteiro teor narrando que foi realizada a penhora sobre
determinado bem. Após, de posse dessa certidão, ele poderá ir até o cartório de registro de imóveis e
pedir que seja feita a averbação da penhora. Isso está previsto no art. 844 do CPC.
Caso faça a averbação, ela irá gerar uma presunção absoluta de que todas as pessoas sabem que esse bem
está penhorado. Logo, se alguém adquirir o bem, tal pessoa será considerada terceiro de má-fé e essa
venda não será eficaz.
Em outras palavras, o terceiro, mesmo tendo pago o preço, perderá a coisa porque adquiriu bem cuja
penhora estava registrada.
Obs: penso que as teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também
agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015.
Contraditório prévio
Outra importante novidade do CPC/2015 e que será explorada nas provas está na obrigatoriedade de
oportunizar contraditório ao terceiro adquirente antes que seja declarada a fraude à execução. Esta
previsão, que não existia no Código passado, foi expressamente inserida nos seguintes termos:
Art. 792 (...)
§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser,
poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.
Analisando um caso concreto ocorrido sob a égide do CPC/1973, o STJ aceitou o argumento do
exequente? Houve fraude à execução nesta hipótese?
NÃO. Isso porque a alienação feita pelo sócio ocorreu antes que ele fosse citado como requerido na
execução. Desse modo, o sócio se desfez do bem antes que houvesse contra ele um processo de execução.
Assim decidiu o STJ:
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação
válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face
da pessoa jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Segundo entendeu o Tribunal, para a configuração de fraude à execução, deve haver uma ação judicial
contra o próprio devedor, demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. Não basta que haja uma ação
proposta contra a sociedade empresária da qual ele é sócio.
Somente com a superveniência da desconstituição da personalidade da pessoa jurídica é que o sócio da
empresa (João) foi transformado em corresponsável pelo débito que era originalmente apenas da empresa.
Assim, ao tempo da alienação do imóvel, o sócio da empresa não era devedor e, nessa condição, tinha livre
Desse modo, pela redação do CPC/2015, os efeitos da desconsideração deverão retroagir à data em que a
pessoa jurídica foi citada. Neste caso, adotando-se a literalidade do dispositivo, o entendimento acima
exposto teria que ser alterado agora.
Vale ressaltar, contudo, que esta regra ofende claramente a boa-fé dos terceiros adquirentes que não
teriam, em tese, obrigação de saber que a pessoa que está alienando o bem é sócio de uma empresa, que
a pessoa jurídica está sendo executada e que, no futuro, poderá ter a personalidade jurídica
desconsiderada para atingir o patrimônio daquele sócio. Enfim, são conjecturas e cautelas muito grandes
que se mostram irrazoáveis de serem impostas ao terceiro. Pela nova regra do art. 792, § 3º, o ato de
comprar bens de um sócio de sociedade empresária passa a ser um negócio muito arriscado, ainda que
contra ele (pessoa física) não haja nenhuma ação judicial em curso.
Importante lembrar que o STJ possui uma sólida tradição de proteger a boa-fé dos terceiros adquirentes,
de forma que é necessário aguardar para sabermos como o Tribunal irá interpretar o dispositivo acima e
se criará algum outro requisito para julgar ineficaz a alienação realizada. A doutrina majoritária critica esta
previsão e fornece algumas interpretações para que o dispositivo não seja aplicado textualmente.
Mas atenção! Em provas de concurso, a redação literal do art. 792, § 3º será exaustivamente cobrada nas
provas, devendo ser assinalada como correta.
Uma última observação: desconsideração inversa (ou invertida) da personalidade jurídica é aquela na qual
o juiz autoriza que os bens da pessoa jurídica sejam utilizados para pagar as dívidas dos sócios. Em se
tratando de desconsideração inversa, o art. 792, § 3º deverá ser entendido assim: primeiro haverá a
citação da pessoa física, que está sendo executada; depois, o juiz faz a desconsideração e determina a
citação da pessoa jurídica; logo, os efeitos da fraude à execução irão retroagir para a data da primeira
citação (da pessoa física).
Importante!!!
A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação
possessória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Interditos possessórios:
Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios):
a) ação de reintegração de posse;
b) ação de manutenção de posse;
c) interdito proibitório.
Regulamentação:
O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 560 a 566 do CPC/2015.
Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos arts. 560 a 566
do CPC/2015 (Seção II).
Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento comum.
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste
Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo,
o caráter possessório.
Antes de o autor ajuizar a ação de reintegração de posse é necessário que ele notifique
extrajudicialmente o invasor para que ele saia do imóvel? Ex: João tinha um terreno que foi esbulhado
por Pedro; antes de João propor a ação de reintegração, ele deverá enviar notificação extrajudicial para
o esbulhador?
NÃO.
A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória de que
trata o art. 560 do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de periculum in mora
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 1.367).
Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação
Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, deverá designar uma
audiência para que o autor justifique previamente o que alegou na petição inicial.
O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a presença dos
requisitos necessários à concessão da liminar.
Essa audiência é chamada de “audiência de justificação prévia”.
Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade absoluta do
processo?
NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC/1973 (art.
562 do CPC/2015), para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse.
Segundo entendeu o STJ, o termo “citação” foi utilizado de forma imprópria no art. 928 do CPC/1973 (art.
562 do CPC/2015), na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim
para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação.
Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça, apenas fazer
perguntas.
Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar (parágrafo único do
art. 930 do CPC/1973) (parágrafo único do art. 564 do CPC/2015).
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de
reintegração.
Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento.
Contestação
Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5
(cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da
intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.
PRISÃO
Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao
tráfico, mas já desfeita, pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão
No caso concreto, ficou demonstrado que o réu atuava apenas na lavagem de dinheiro, não tendo
nenhuma atuação direta no tráfico de drogas propriamente dito. Assim, somando-se a essa situação
particular o fato de que os integrantes da organização criminosa responsáveis diretamente pelo tráfico
encontram-se presos, o que implica a impossibilidade da organização continuar a atuar, o STJ entendeu
que era possível a aplicação de outras cautelares que não a prisão.
Diante disso, o STJ revogou a prisão preventiva e impôs ao acusado duas medidas cautelares:
a) obrigação de comparecer no Juízo em que tramita a ação penal nos prazos e nas condições a serem
fixados pelo juiz (art. 319, I, do CPP);
b) proibição de manter contato, por qualquer meio, com os demais investigados (art. 319, III, do CPP).
DIREITO TRIBUTÁRIO
ARROLAMENTO FISCAL
Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco
A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação
ao órgão fazendário.
A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas
simplesmente que exista a comunicação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).
Arrolamento fiscal
Quando o contribuinte estiver devendo mais que R$ 2 milhões em tributos e este montante da dívida superar
30% do seu patrimônio, o Fisco poderá fazer o arrolamento dos bens e direitos que pertencem a esse sujeito
passivo. Isso é conhecido como arrolamento fiscal e está previsto no art. 64 da Lei nº 9.532/97:
Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo
sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu
patrimônio conhecido.
(...)
§ 2º Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor constante da
última declaração de rendimentos apresentada.
Para você entender melhor, o arrolamento fiscal é como se fosse um inventário, ou seja, uma descrição
dos bens do contribuinte feita pelo Fisco com o objetivo de monitorar o patrimônio do devedor e, assim,
evitar que ele se desfaça dos bens que poderão servir para o pagamento da dívida.
Trata-se de uma medida acautelatória que visa assegurar a realização do crédito fiscal, impedindo que o
contribuinte/devedor venda, onere ou transfira, a qualquer título, os bens e direitos arrolados, sem que o
Fisco seja notificado. Tem como finalidade, proporcionar ao Fisco o acompanhamento da evolução
patrimonial, sendo que os bens continuam na propriedade do contribuinte/devedor.
Vale ressaltar que o arrolamento fiscal poderá abranger, inclusive, o bem de família considerando que tal
providência não configura constrição ao direito de posse ou de propriedade e, portanto, não ofende a
No âmbito federal, o arrolamento de bens é disciplinado pela IN RFB n.º 1565/2015, sendo o
procedimento realizado pelo Auditor Fiscal da Receita Federal, que lavrará um “Termo de Arrolamento de
Bens e Direitos” listando os bens que pertencem ao devedor e os seus respectivos valores.
Se tiver sido feito o arrolamento fiscal do patrimônio de um sujeito passivo, isso significa dizer que ele
estará impedido de vender seus bens? Para que o sujeito passivo venda seus bens, terá que obter a
autorização da Administração Tributária?
NÃO. Mesmo tendo sido feito o arrolamento fiscal, o sujeito passivo poderá alienar seus bens.
O arrolamento fiscal produz um cadastro em favor do Fisco, destinado apenas a viabilizar o
acompanhamento da evolução patrimonial do sujeito passivo da obrigação tributária. O contribuinte
permanece, contudo, no pleno gozo dos atributos da propriedade, tanto que os bens arrolados, por não se
vincularem à satisfação do crédito tributário, podem ser transferidos, alienados ou onerados,
independentemente da concordância da autoridade fazendária (STJ AgRg no AREsp. 289.805/SC).
A lei exige, no entanto, uma providência: que essa alienação seja comunicada ao Fisco.
Essa comunicação exigida pela lei deverá ser antes ou depois da alienação? Em outras palavras, o
sujeito passivo precisa notificar o Fisco antes de alienar os bens?
NÃO. Esta notificação é posterior. Segundo decidiu o STJ:
A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas
simplesmente que exista a comunicação.
Assim, a alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação
ao órgão fazendário.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).
O que acontece caso o sujeito passivo aliene os bens que foram objeto de arrolamento fiscal e não
comunique este fato ao órgão fazendário?
Se o contribuinte alienar, onerar ou transferir os bens ou direitos arrolados sem fazer a comunicação ao
órgão fazendário, então, neste caso, a Fazenda Pública ficará autorizada a requerer ao juiz medida cautelar
fiscal contra o sujeito passivo (art. 64, § 4º).
A medida cautelar fiscal é disciplinada pela Lei nº 8.397/92.
IMPOSTO DE RENDA
Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado
para pagamento de parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente
A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel
prevista no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial
com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à
prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante.
A restrição estabelecida no art. 2º, §11, I, da Instrução Normativa-SRF n. 599/2005 é ilegal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.469.478-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 25/10/2016 (Info 594).
Ex: João comprou seu apartamento por R$ 300 mil; dois anos depois, vendeu este imóvel por R$ 400 mil,
tendo “lucrado” R$ 100 mil com o negócio. Diz-se que seu ganho de capital foi de R$ 100 mil. Em princípio,
João teria que pagar imposto de renda sobre esse ganho de capital. Ocorre que o art. 39 acima transcrito
garante uma isenção do imposto caso ele utilize este valor recebido para adquirir outro imóvel residencial.
A restrição imposta pela instrução normativa da Receita Federal torna a aplicação do art. 39 da Lei n.º
11.196/2005 quase que impossível. A grande maioria das aquisições imobiliárias das pessoas físicas é feita
mediante contratos de financiamento de longo prazo (até trinta anos). Isso porque o mais comum é que as
pessoas não tenham liquidez para adquirir um imóvel à vista.
Além disso, pessoa física geralmente adquire o "segundo imóvel" ainda "na planta" (em construção), o que
dificulta a alienação anterior do "primeiro imóvel", já que é necessário ter onde morar. A regra então é
que a aquisição do "segundo imóvel" se dê antes da alienação do "primeiro imóvel".
Ademais, se você observar a redação do art. 39, verá que ele exige apenas a aplicação do "produto da
venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País". Não existe uma exigência do momento em
que deve ocorrer esta aquisição. Não há qualquer registro na Lei de que as aquisições de que ela fala
sejam somente aquelas cujos contratos ocorreram depois da venda do primeiro imóvel residencial.
Aliás, a lei nem poderia dizer isso, pois, como já descrevemos, destoaria da realidade do mercado
imobiliário para pessoas físicas que se faz com contratos a prazo, financiamentos, e o início da aquisição
do segundo imóvel antes mesmo da realização da venda do primeiro.
Dessa forma, com base nos argumentos acima, o STJ entendeu que o art. 2º, §11, I, da Instrução
Normativa-SRF nº 599⁄2005 é ilegal.
PIS/PASEP E COFINS
Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS
O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento,
submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante
também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
Obs: o STF possui um precedente em sentido contrário: RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 8/10/2014 (Info 762).
Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”, instituídas pela
União. Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP.
PIS/PASEP
O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:
PIS: Programa de Integração Social.
PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.
O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser
denominados de PIS/PASEP.
Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas
no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil.
COFINS
Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.
A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de
sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003).
É possível a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos
Inicialmente, cumpre deixar registrado que o ordenamento jurídico pátrio permite, em regra, a incidência
de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a
incidência de tributo sobre tributo ou imposto sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal
expressa em sentido contrário, não havendo aí nenhuma violação, a priori, ao princípio da capacidade
contributiva.
No caso, não existe qualquer vedação de se incluir o valor pago a título de ICMS na base de cálculo do
PIS/PASEP e COFINS.
Valor pago a título de ICMS inclui-se no conceito de “total das receitas auferidas”
As Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 estabeleceram que a base de cálculo da Contribuição para o
PIS/PASEP e COFINS é “o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica”.
O valor correspondente ao ICMS suportado faticamente pelo consumidor (contribuinte de fato), mas
recolhido aos cofres públicos pela empresa (contribuinte de direito), inclui-se no conceito de “total de
receitas” para fins de incidência da Contribuição para o PIS e COFINS.
O fato de constar em nota fiscal informação no sentido de que o valor com o qual arcará o destinatário do
serviço compreende quantia correspondente ao valor do ICMS não torna o consumidor contribuinte desse
tributo a ponto de se acolher a tese da empresa. Admitir essa tese seria o mesmo que considerar o
consumidor como sujeito passivo de direito do tributo (contribuinte de direito) do ICMS e a empresa seria
apenas um "substituto tributário", cuja função seria apenas a de recolher aos cofres públicos a exação
devida por terceiro, no caso o consumidor. Ocorre que isso não encontra amparo na legislação, pois o
consumidor não é contribuinte do ICMS.
O consumidor pode até, na prática, suportar o valor do tributo, já que a empresa "embute" no preço do
serviço o valor que ela irá pagar de ICMS. No entanto, isso não transforma o adquirente da mercadoria no
contribuinte de direito do ICMS. A lei prevê que o sujeito passivo deste tributo é a empresa que
comercializa as mercadorias.
A hipótese não se confunde, portanto, com aquela em que se tem a chamada responsabilidade tributária
por substituição, em que determinada entidade, por força de lei, figura no polo passivo de uma relação
jurídico-tributária obrigacional, cuja prestação (o dever) consiste em reter o tributo devido pelo
substituído para, posteriormente, repassar a quantia correspondente aos cofres públicos. Se fosse essa
O julgado acima proferido contou com a participação de inúmeros Ministros que atualmente estão
aposentados. Logo, ele não reflete, necessariamente, a posição atual da Corte. Os especialistas apontam
que o STF deverá decidir de forma diferente ao julgar o RE 835.818/PR, que está aguardando apreciação
pelo Plenário com repercussão geral reconhecida.
Em concursos públicos, deve-se atentar para a redação do enunciado.
PIS/PASEP E COFINS
Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para
outras pessoas jurídicas integram a base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS
O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o
faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao
PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para
outra pessoa jurídica.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
Lei nº 9.718/98
A Lei nº 9.718/98, dentre outros assuntos, tratou sobre a contribuição para o PIS/PASEP e COFINS.
Esta Lei previu que as contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS seriam calculadas com base no
faturamento da pessoa jurídica (art. 2º, caput).
Segundo o art. 3º, caput, faturamento seria igual a receita bruta.
Assim, pela Lei nº 9.718/98, a base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS seria a receita bruta.
Assim que a Lei nº 9.718/98 entrou em vigor, as empresas, com o objetivo de reduzir o valor que pagavam
de contribuições, tentaram excluir da base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS “os valores que,
computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica”, com base neste inciso III.
Ocorre que o Fisco não aceitou, argumentando que as empresas somente poderiam ser beneficiadas com
a referida exclusão depois que o Poder Executivo expedisse o regulamento da Lei. Assim, a Fazenda
Nacional sustentou a tese de que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 seria uma norma de eficácia
limitada, não produzindo efeitos antes da regulamentação infralegal.
Como a regulamentação ainda não havia sido editada, não seria possível aplicar o dispositivo em questão.
MP 2.158-35
As empresas, que aguardavam ansiosamente a regulamentação, tiveram uma surpresa desagradável: em
vez de fazer isso, o Presidente da República editou a MP 2.158-35 revogando o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº
9.718/98.
O que isso representa?
Significa dizer que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 foi “morto” antes de se “levantar”, ou seja, foi
revogado antes de começar a produzir efeitos.
Segundo decidiu o STJ, a restrição legislativa do art. 3º, § 2º, III ao conceito de faturamento não teve
eficácia no mundo jurídico, já que dependia de regulamentação administrativa e, antes da publicação
dessa regulamentação, foi revogado pela MP 2.158-35, de 2001.
Logo, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica,
integram sim o conceito de receita bruta (faturamento) e devem ser incluídos na base de cálculo do
PIS/PASEP e COFINS.
Em sede de recurso repetitivo, o raciocínio acima foi sintetizado na seguinte tese:
O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento
e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS,
os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).
CONTRIBUIÇÕES
Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial
O art. 2º, II, do DL 1.146/70 dispõe expressamente que a cooperativa que exerça atividade de
indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a
folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados.
Assim, em regra, não há permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou
CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para
Vale ressaltar que esta contribuição destinada ao INCRA possui a natureza jurídica de contribuição
interventiva no domínio econômico, encontrando sua fonte de legitimidade no art. 149 da CF/88.
A contribuição destinada ao INCRA é também classificada como sendo uma espécie das "contribuições devidas
a terceiros", sendo cobrada pela Receita Federal, nos termos dos arts. 2º e 3º da Lei nº 11.457/2007:
Art. 2º Além das competências atribuídas pela legislação vigente à Secretaria da Receita Federal, cabe à
Secretaria da Receita Federal do Brasil planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas a
tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das contribuições sociais previstas nas
alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e das
contribuições instituídas a título de substituição.
Art. 3º As atribuições de que trata o art. 2º desta Lei se estendem às contribuições devidas a terceiros,
assim entendidas outras entidades e fundos, na forma da legislação em vigor, aplicando-se em relação a
essas contribuições, no que couber, as disposições desta Lei.
(...)
§ 6º Equiparam-se a contribuições de terceiros, para fins desta Lei, as destinadas ao Fundo Aeroviário - FA,
à Diretoria de Portos e Costas do Comando da Marinha - DPC e ao Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária - INCRA e a do salário-educação.
Tese da empresa
A "Leite Bom" veio, então, com o seguinte argumento:
Nossa empresa é dividida em duas. Temos a empresa matriz (indústria de laticínios - CNPJ:
XX.XXX.XXX/0002-56) e uma filial (escritório administrativo - CNPJ: YY.YYY.YYY/0001-75).
A única exceção em que seria possível a cobrança de alíquotas diferenciadas seria no caso de a "empresa
realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante" (art. 581, § 1º, da
CLT). Este, contudo, não é o caso da "Leite Bom", considerando que a única atividade econômica que ela
exerce é a de indústria de laticínios, sendo o escritório apenas atividade-meio para o objetivo final que é a
industrialização de laticínios.
Importante mencionar, ainda, que o STJ já afirmou, em sede de recurso especial repetitivo (REsp
1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.5.2013), que a filial é uma
espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa
jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa
condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando
personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade
empresária.
O raciocínio do SAT, contudo, não pode ser aplicado para a contribuição ao INCRA.
O conceito de "atividade preponderante" utilizado para as contribuições devidas a terceiros previstas no
art. 3º, da Lei nº 11.457/2007, como a do INCRA, difere do conceito utilizado para a contribuição ao SAT.
A definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT está relacionada ao número de segurados
empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a
atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial, este utilizado como
parâmetro para o conceito de "atividade preponderante" das contribuições devidas a terceiros.
A contribuição ao SAT está diretamente relacionada com o risco que cada empregado sofre, razão pela
qual existe motivo para a diferenciação de acordo com a matriz ou filial.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por
morte em razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro
papel de genitores.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.859-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/11/2016 (Info 594).
Independe de carência
Uma das principais características da pensão por morte é que se trata de um benefício que não depende
de carência para ser concedido (art. 26, I, da Lei nº 8.213/91). Exemplos de outros benefícios
previdenciários que também prescindem de carência: auxílio-reclusão, auxílio-acidente e salário-família.
DEPENDENTES
O que são os dependentes para fins previdenciários?
Os dependentes são pessoas que, embora não contribuindo para a seguridade social, podem vir a receber
benefícios previdenciários, em virtude de terem uma relação de afeto (cônjuge/companheiro) ou
parentesco com o segurado.
É o segurado quem escolhe quem são seus dependentes para fins previdenciários?
NÃO. A relação dos dependentes é definida pela legislação previdenciária. Assim, não é o segurado quem
os indica. É a própria lei que já prevê taxativamente quem tem direito de ser considerado dependente (art.
16 da Lei nº 8.213/91).
Classes de dependentes:
A Lei divide os dependentes em três classes:
1ª CLASSE a) Cônjuge Para que recebam os benefícios
b) Companheiro (hétero ou homoafetivo) previdenciários, os membros da 1ª
c) Filho menor de 21 anos, desde que não tenha classe NÃO precisam provar que
sido emancipado; eram dependentes economicamente
d) Filho inválido (não importa a idade); do segurado (a dependência
e) Filho com deficiência intelectual ou mental ou econômica é presumida pela lei).
deficiência grave (não importa a idade).
2ª CLASSE Pais do segurado. Para que recebam os benefícios
3ª CLASSE a) Irmão menor de 21 anos, desde que não tenha previdenciários, os membros da 2ª e
sido emancipado; 3ª classes PRECISAM provar que
b) Irmão inválido (não importa a idade); eram dependentes economicamente
c) Irmão com deficiência intelectual ou mental ou do segurado.
deficiência grave (não importa a idade).
Como vimos acima, o benefício pensão por morte é devido aos dependentes do segurado, elencados no
art. 16 da Lei 8.213/91. Confira:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do
segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de
21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que
tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
Realmente, os avós não constam neste rol. Veja no inciso II que a lei limita a pensão por morte aos “pais”,
não estendendo este benefício para outros ascendentes.
Vale ressaltar que este rol do art. 16 é considerado TAXATIVO.
Mas por que, então, o STJ reconheceu aos avós, neste caso concreto, o direito de receberem a pensão
por morte?
Porque os avós do falecido, na verdade, desempenharam o papel substitutivo de seus pais desde que ele
tinha dois anos de idade.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de
cessação do vínculo do participante com o ente federado patrocinador
Previdência complementar
Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro,
aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
O Poder Público (administração direta e indireta) pode ser patrocinador de plano de previdência privada?
SIM. Existem alguns entes públicos, em especial entidades, que também oferecem plano de previdência
privada complementar aos seus servidores/empregados. Neste caso, este ente público é que será o
patrocinador.
A Lei Complementar nº 108/2001, inclusive, traz as regras que regem as entidades fechadas de
previdência complementar mantidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.
Exemplos de entidades de previdência privada criadas por entidades administrativas para atender seus
empregados: Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Postalis (Correios).
Regulamento ou estatuto
As regras sobre o plano de previdência privada estão previstas em um ato chamado de “regulamento” ou
“estatuto”. Vale ressaltar, no entanto, que é indispensável que sejam observadas as disposições da
legislação que rege o tema.
Vedação expressa
O art. 3º, I, da LC 108/2001 exige, expressamente, o término do vínculo com o patrocinador para a
concessão do benefício. Confira:
Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os planos de benefícios das entidades de que trata esta Lei
Complementar atenderão às seguintes regras:
I – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o
patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada; e
A LC 108 foi editada em 2001. Se o participante ingressou no plano de previdência complementar antes
de 2001 e for pedir sua aposentadoria agora, terá que se submeter a essa regra do art. 3º, I, acima
transcrita? A LC 108/2001 aplica-se aos pedidos de benefício feitos agora, mesmo que o participante
tenha entrado antes de sua vigência?
SIM. Não há ilegalidade na exigência de cessação do vínculo empregatício do participante com o
patrocinador para a concessão da aposentadoria complementar, mesmo que o plano de benefícios tenha
sido instituído antes da LC 108/2001 (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 560.639/SE, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 16/06/2015).
O participante deverá respeitar a legislação vigente no momento em que preencheu os requisitos para a
concessão do benefício. Assim, se ele preencheu os requisitos para a aposentadoria em 2017, deverá
cumprir a legislação vigente nesta data, não importando quando ingressou no plano e previdência.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério
público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação
do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a
carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas
determinações estiverem previstas nas legislações locais. ( )
2) No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária
se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
3) Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador
do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado
demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. ( )
4) O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação é suscetível de
usucapião. ( )
5) O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros públicos,
integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz jus ao
ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra,
com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência
do proprietário da obra. ( )
6) Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na relação
contratual não pode ser titular dos direitos autorais, sendo este um atributo exclusivo da pessoa física. ( )
7) (PGM-Campinas 2016 FCC) Caio estabeleceu-se, com animus domini, em praça pública abandonada pelo
Município. Decorridos mais de 20 anos, sem oposição das pessoas que frequentavam o local, requereu fosse
declarada usucapida a área. Tal praça constitui bem
A) de uso comum do povo, suscetível de usucapião, em caso de abandono pelo poder público.
B) de uso especial, insuscetível de usucapião, assim como os de uso comum do povo e os dominicais.
C) dominical, suscetível de usucapião, ainda que conserve tal qualificação.
D) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, diferentemente dos bens de uso especial e dos
dominicais.
E) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, assim como os de uso especial e os dominicais.
16) (Juiz Federal TRF1 - prova oral). Diferencie bens acessórios de pertenças.
17) A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento imobiliário,
mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres contratuais da
informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente. ( )
18) Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-
cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido
acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial. ( )
19) Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação
da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. ( )
20) Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá
opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. ( )
21) (Promotor MP/SP 2015) Segundo entendimento sumulado do STJ, o reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. ( )
22) A notificação prévia dos ocupantes é essencial para a propositura da ação possessória. ( )
23) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, no litígio coletivo pela posse do imóvel, quando o
esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há menos de ano e dia, será obrigatória a
designação de audiência de mediação para exame da medida liminar, a ser realizada em até trinta dias. ( )
24) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital
dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação
de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. ( )
25) A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal depende de prévia notificação ao órgão
fazendário. ( )
26) A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no
art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar,
Gabarito
1. C 2. - 3. C 4. E 5. C 6. E 7. Letra E 8. - 9. C 10. C
11.E 12.C 13.C 14.C 15.Letra C 16.- 17.C 18.C 19.C 20.C
21.C 22.E 23.E 24.C 25.E 26.C 27.C 28.C 29.E 30.C