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Radamés B. MELO1, Felipe C. LIMA2, Giovanna M. MOURA3, Paulo G. B. SILVA4, Juliana O. GONDIM5, José J. S. MOREIRA-NETO5
1 - Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará; Mestrado em Cirurgia pela Universidade Federal do Ceará.
2 - Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará; Especialista em Ortodontia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.
3 - Graduanda em Odontologia da Universidade Federal do Ceará.
4 - Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará; Mestrado em Estomatologia pela Universidade Federal do Ceará.
5 - Doutorado em Ciências Odontológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Professor Adjunto da Universidade Federal do Ceará.
Pessoas usando
Teste do medo da criança: uniforme branco
Avaliação do estado emocional da criança: Teste de medo da O dentista faz limpeza
criança (Tabela 1): Child Fear Survey Schedule – Dental Subscale nos seus dentes
(CFSS-DS). 7,8 Este questionário é formado por 15 perguntas a cerca
de situações odontológicas ou hospitalares e uma escala de medo Escala Sons, Olhos, Movimentos:
referente a cada item. Foi aplicado verbalmente através da leitura Em relação ao grau de ansiedade, de dor e desconforto gerado
em voz alta, oferecendo oportunidade para que a criança se definis- durante os procedimentos, as crianças foram avaliadas de acordo
se de acordo com a escala. Foi aplicado antes da criança entrar na com três escalas: a primeira, SOM (SONS, OLHOS e MOVIMEN-
clínica, na sala de espera. A escala varia de acordo com o nível do TOS – Tabela 2);
medo, sendo dividido em cinco graus que vão de “nenhum medo”
a “com muito medo” e aos quais são aplicados escores de 1 a 5. Escala Analógica Visual:
No final, os escores foram somados sendo um mínimo de 15 e um A segunda, ESCALA ANALÓGICA VISUAL (EAV) – compos-
máximo de 75, que seguem a seguinte classificação: 15-32 “pouco ta por uma linha horizontal com 100mm de comprimento com as
medo”, 32-38 “certo medo”, acima de 38 “muito medo” identifica o seguintes frases: sem dor na região mais esquerda da linha e dor
indivíduo com medo odontológico. insuportável mais a direita da linha (Figura 1)11;
Batimentos cárdicos
Em relação aos batimentos cardíacos foi possível verificar
através da análise estatística que antes de a criança entrar no
consultório há diferença significativa entre os grupos, pois as
crianças que iriam realizar procedimentos invasivos apresen-
taram batimentos cardíacos mais acelerados, demonstrando
maiores níveis de medo e ansiedade. Nos outros tempos que
foram avaliados, ao sentar, durante e ao fim do atendimento não
houve uma diferença significativa entre os dois grupos, pois a
partir do momento em que há o contato do cirurgião-dentista
com o paciente pediátrico e se inicia o exame clínico e os proce-
Figura 2 - EAF (Escala Analógica Facial). dimentos há um grande nível ansiedade em ambos os grupos.
0 (0-4) 1 (0-2)
0 (0-4) 1 (0-3)
Figura 6 - Gráfico com valores das face assinaladas no início e após o procedimen-
to para cada paciente em procedimentos invasivos.
Figura 3 - Gráfico com grau de desconforto e conforto aferidos pela Escala SOM
em percentual nos procedimentos invasivos. Escala Analógica Facial
Em relação a escala analógica facial, os resultados demons-
Escala SOM tram o desconforto ou dor ocasionado pelo tratamento odonto-
Os resultados após a avaliação dos videos demonstram lógico em procedimentos invasivos(Figura 7), pois 10 pacientes
maiores achados relacionados a desconforto ou dor no grupo de relataram uma face de maior número, que demonstra maior tris-
teza, após o procedimento em comparação com a escala escolhi- do procedimento e depois do procedimento, não houve grandes
da antes do procedimento e 3 pacientes escolheram uma escala diferenças entres os dois grupos, indicando medo generalizado
que demonstra menor nível de tristeza após o procedimento em ao se iniciar o contato direto com o cirurgião-dentista.
comparação com a primeira escala escolhida. Enquanto que em No que diz respeito à comparação dos grupos com a Escala
procedimentos não invasivos, foi observado uma melhoria em re- Analógica Facial após o procedimento, não foi encontrada dife-
lação à face escolhida ao final do tratamento em 8 casos e somente rença, demonstrando que após o desconforto causado pelo ato
2 optaram por uma face com representação de maior tristeza. Os do atendimento, há semelhança entre os grupos. Houve diferença
demais pacientes da amostra mantiveram-se com a mesma face significativa, porém, entre os grupos, quanto à Escala Analógica
escolhida no inicio do tratamento, não sofrendo alteração no esta- Facial antes do atendimento, indicando que há desconforto e an-
do emocional por conta do tratamento odontológico. siedade variáveis prévios ao tratamento odontológico em pacien-
Estatisticamente, houve diferença entre os valores encontra- tes pediátricos, sugerindo que o medo enfrentado por crianças em
dos entre os grupos antes do procedimento, confirmando que o procedimentos invasivos e não invasivos, dependendo da técnica
paciente pediátrico demonstra ansiedade e medo ao saber que utilizada pelo cirurgião-dentista pode levar o atendimento a fluir
procedimento será realizado. Já após o procedimento, não há di- de maneira agradável e confortável para a criança, sendo encara-
ferença estatística entre os grupos. do como um momento divertido, em alguns casos, sem levar em
consideração a invasividade do procedimento que virá a seguir.
A avaliação da sensação de desconforto por meio da Escala
SOM e Escala Visual Analógica em nossa amostra demonstram
que não existe uma diferença comportamental importante mo-
tivada pelo desconforto do procedimento invasivo sendo obser-
vados no comportamento durante o atendimento e no relato da
sensação dolorosa, respectivamente nas escalas em procedimen-
tos invasivos quando comparado à procedimentos não invasivos.
O que demonstra a dificuldade na execução de qualquer pro-
cedimento odontológico em uma criança, pois quando se acredita
Figura 7 - Gráfico com valores das face assinaladas no início e após o procedimen- na possibilidade de passar por uma sensação de dor ou descon-
to para cada paciente em procedimentos não invasivos. forto, a criança passa a impedir e dificultar o atendimento. Há
um aumento da necessidade de envolver os pais no processo de
decisão/realização do tratamento. Pois, já no consultório odonto-
DISCUSSÃO lógico, a criança dependerá não só do preparo prévio efetuado
O medo e ansiedade são fatores inatos da defesa humana rela- pelos pais, como também da habilidade do odontopediatra e sua
cionados ao instinto de sobrevivência e conservação, promoven- equipe em manejá-la.²²
do um estado de alerta e perigo, sendo uma reação provida ou O medo e ansiedade ainda podem ser despertados pelo conta-
desprovida de conteúdo intelectual.15 to visual, como demonstraram Daniel et al.(2000) em uma pesqui-
Com relação ao perfil das crianças de nossa amostra, foi uti- sa que as crianças apontaram a carpule, baixa rotação, perfurador
lizado o questionário CFSS-DS, padrão ouro no que se refere de dique de borracha e isolamento absoluto como os instrumen-
medição de medo odontológico em crianças e adolescentes. 16 tais mais ameaçadores para as crianças, sendo demonstrado que
O referido questionário pode ser aplicado aos pais em conjunto os materiais odontológicos inerentes aos procedimentos são os
com a criança ou diretamente à criança, sendo em nosso estudo que mais geram medo e ansiedade nas crianças.23
aplicado diretamente à criança, com o objetivo de diminuir a in-
terferência dos pais nas respostas.17A avaliação da ansiedade e do CONCLUSÃO
medo antes do procedimento pelo questionário demonstrou que Tendo em vista os resultados apresentados na pesquisa, veri-
a amostra foi homogênea, relatando baixos níveis de medo e an- ficou-se que não há grande diferença entre procedimentos inva-
siedade para procedimentos odontológicos. Tendo como média sivos e procedimentos não invasivos do ponto de vista compor-
29,9 e 27,4 para procedimentos invasivos e não invasivos respec- tamental da criança, frente ao atendimento odontológico. Pois,
tivamente, ou seja, ambos abaixo de 38. Entretanto questionários nos parâmetros utilizados, como: Batimentos Cardíacos, Escala
com escores baixos, demonstrando pouco ou nenhum medo não Visual Analógica, Escala Analógica Facial Depois e Escala SOM,
devem ser ignorados, pois o medo é de difícil quantificação e um houve uma sensação de desconforto em ambos os procedimentos.
único item pode ser um fator desencadeador de medo e estresse
por parte da criança durante o atendimento odontológico.18 Percebe-se ainda a necessidade constante da utilização de
O monitoramento da freqüência cardíaca como mecanismo de técnicas de controle e condicionamento comportamental e psi-
verificação dos batimentos cardíacos é uma forma involuntária cológico no momento da realização do atendimento ao paciente
de avaliação de ansiedade e medo, pois, quando se tem esses sen- pediátrico, pois independentemente do procedimento, é notório
timentos, observa-se um aumento da frequência cardíaca.19 Foi que estes desenvolvem sentimentos como medo e ansiedade, fa-
observado nos resultados uma grande diferença estatística entre zendo-se necessária a busca por atualização neste tipo de aten-
os grupos no tempo de aferição antes de entrar na clínica, de- dimento, sendo indispensável que se preste atenção à opinião
monstrando uma variação no grau de ansiedade destes pacien- dos pais a respeito das diversas opções de técnicas oferecidas, e
tes. Já nos outros tempos de aferição, ao sentar na cadeira, antes dinamização do processo para que se diminua a ansiedade do
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Radamés Bezerra Melo
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