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Manual Prático para Oficiais de Justiça

A reparação dos acidentes de


trabalho
CFFJ - 2012

Direção-geral da Administração da Justiça


Todas as referências legislativas usadas neste texto, sem menção contrária, referem-se à Lei n.º
98/2009, de 4 de setembro que regulamenta o regime de reparação de acidentes de trabalho e
de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e reintegração profissionais, nos termos do
artigo 284.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro.

2
A REPARAÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO1

“A reparação é o ato ou conjunto de ações pelos


quais se visa a restauração ou recomposição de um dano
ou prejuízo, causado pela lesão de um direito subjetivo,
de forma a reconstituir a situação anterior à lesão.
O direito à reparação pertence aos trabalhadores
sinistrados e seus familiares e tem caráter imperativo,
isto é, não se trata de um direito cuja efetivação esteja
na disponibilidade dos seus titulares.
A obrigação de reparar compete às «pessoas
singulares ou coletivas de direito privado e de direito
público não abrangidas por legislação especial,
relativamente aos trabalhadores ao seu serviço».
Alegre, Carlos.Acidentes de Trabalho e Doenças
Profissionais, Almedina

O acidente de trabalho pode determinar incapacidade temporária ou permanente para o


trabalho por parte da(o) sinistrada(o).

A assistência médica, a hospitalização, a hospedagem e os transportes, a indemnização


em capital e a pensão por incapacidade e os subsídios são prestações destinadas a compensar
a(o) sinistrada(o) pela perda ou redução da sua capacidade de trabalho ou de ganho
resultante de acidente de trabalho.

A incapacidade temporária pode ser parcial ou absoluta.


A indemnização por incapacidade temporária para o trabalho destina-se a compensar a(o)
sinistrada(o), durante um período de tempo limitado, pela perda ou redução da capacidade
de trabalho ou de ganho resultante de acidente de trabalho.

A incapacidade permanente pode ser parcial, absoluta para o trabalho habitual ou


absoluta para todo e qualquer trabalho.

A incapacidade temporária converte-se em permanente decorridos que sejam 18 meses


consecutivos, devendo a(o) perita(o) médica(o) do tribunal reavaliar o respetivo grau de
incapacidade.
Verificando-se que à/ao sinistrada(o) está a ser prestado o tratamento clínico necessário,
o Ministério Público pode prorrogar o prazo fixado no número anterior, até ao máximo de 30
meses, a requerimento da entidade responsável e ou da(o) sinistrada(o).

1
Aplicável aos acidentes de trabalho ocorridos a partir de 1 de janeiro de 2010 – art.º 188.º

3
O direito à reparação compreende as seguintes prestações:

Em espécie: prestações de natureza médica, cirúrgica, farmacêutica, hospitalar e


quaisquer outras, seja qual for a sua forma, desde que necessárias e adequadas ao
restabelecimento do estado de saúde e da capacidade de trabalho ou de ganho da(o)
sinistrada(o) e à sua recuperação para a vida ativa, tais como:
- A assistência médica e cirúrgica, geral ou especializada, incluindo todos os elementos de
diagnóstico e de tratamento que forem necessários, bem como as visitas domiciliárias;
- A assistência medicamentosa e farmacêutica;
- Os cuidados de enfermagem;
- A hospitalização e os tratamentos termais;
- A hospedagem;
- Os transportes para observação, tratamento ou comparência a atos judiciais;
- O fornecimento de ajudas técnicas e outros dispositivos técnicos de compensação das
limitações funcionais, bem como a sua renovação e reparação;
- Os serviços de reabilitação e reintegração profissional e social, incluindo a adaptação do
posto do trabalho;
- Os serviços de reabilitação médica ou funcional para a vida ativa;
- Apoio psicoterapêutico, sempre que necessário, à família da(o) sinistrada(o).

Em dinheiro: indemnizações, pensões, prestações e subsídios, tais como:


- A indemnização por incapacidade temporária para o trabalho;
- A pensão provisória;
- A indemnização em capital e pensão por incapacidade permanente para o trabalho;
- O subsídio por situação de elevada incapacidade permanente;
- O subsídio por morte;
- O subsídio por despesas de funeral;
- A pensão por morte;
- A prestação suplementar para assistência de terceira pessoa;
- O subsídio para readaptação de habitação;
- O subsídio para a frequência de ações no âmbito da reabilitação profissional necessárias e
adequadas à reintegração da(o) sinistrada(o) no mercado de trabalho que é cumulável com
algumas das prestações anteriores, não podendo no seu conjunto ultrapassar, mensalmente, o
montante equivalente a seis vezes o valor de 1,1 do indexante de apoios sociais (IAS)2 sendo,
por conseguinte, atualizado anualmente na mesma percentagem em que o for o IAS (art.º
54.º, n.º 4).

2
Para 2012 o IAS é de 419,22 €. O IAS foi instituído pela Lei n.º 53-B/2006, de 29 de dezembro e
atualizado pelas Portarias n.ºs 9/2008, de 3 de janeiro (IAS/2008), 1514/2008, de 24 de dezembro
(IAS/2009), Dec. Lei n.º 323/2009, de 24 de dezembro (IAS/2010), e Leis n.ºs 55-A/2010, de 31 de
dezembro - Aprova o Orçamento do Estado para 2011 - Suspende o regime de atualização do IAS e 64-
B/2011, de 30 de dezembro - Aprova o Orçamento de Estado para 2012 - Suspende o regime de
atualização do IAS.

4
Por outro lado, a(o) sinistrada(o) tem direito ao fornecimento ou ao pagamento de
transportes e estadia3, que devem obedecer às condições de comodidade impostas pela
natureza da lesão ou da doença. Este fornecimento ou o seu pagamento abrangem as
deslocações e permanência necessárias à observação e tratamento e as exigidas pela
comparência a atos judiciais, salvo, quanto a estas, se for consequência de pedido que venha
a ser julgado improcedente.
A(O) sinistrada(o) utilizará os transportes coletivos, salvo não os havendo ou se outro for
mais indicado pela urgência do tratamento, por determinação da(o) médica(o) assistente ou
por outras razões ponderosas atendíveis.
O pagamento de transporte é, igualmente, extensivo à/ao beneficiária(o) legal da(o)
sinistrada(o) sempre que for exigida a sua comparência em tribunal e em exames necessários
à determinação da sua incapacidade.

A indemnização por incapacidade temporária e a pensão por morte e por incapacidade


permanente, absoluta ou parcial, são calculadas com base na retribuição anual ilíquida
normalmente devida à/ao sinistrada(o), à data do acidente.

Entende-se por retribuição anual o produto de 12 vezes a retribuição mensal acrescida


dos subsídios de Natal e de férias e outras prestações anuais a que a(o) sinistrada(o) tenha
direito com caráter de regularidade.

Retribuição mensal são todas as prestações recebidas com caráter de regularidade que
não se destinem a compensar a(o) sinistrada(o) por custos aleatórios.

Em nenhum caso a retribuição pode ser inferior à que resulte da lei ou de instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho.

A indemnização em capital, o subsídio por situação de elevada incapacidade permanente,


os subsídios por morte e despesas de funeral e o subsídio para readaptação de habitação são
prestações de atribuição única.

O valor de referência para o cálculo das prestações é o IAS (indexante dos apoios sociais,
criado pela Lei n.º 53/2006, de 29 de Dezembro).

3
Quando a(o) sinistrada(o) for menor de 16 anos ou quando a natureza da lesão ou da doença ou outras
circunstâncias especiais o exigirem, o direito a transporte e estada é extensivo à pessoa que a(o)
acompanhar.

5
FÓRMULAS PARA O CÁLCULO DE PENSÕES E DE INDEMNIZAÇÕES

A - PRESTAÇÕES POR INCAPACIDADE

Se do acidente resultar redução na capacidade de trabalho ou ganho da(o) sinistrada(o),


esta(e) terá direito às seguintes prestações:

1. NAS INCAPACIDADES PERMANENTES:

A pensão por incapacidade permanente é fixada em montante anual e começa a


vencer-se no dia seguinte ao da alta da(o) sinistrada(o).

Sem prejuízo do disposto no Código de Processo do Trabalho, pode ser estabelecida uma
pensão provisória por incapacidade permanente entre o dia seguinte ao da alta e o momento
de fixação da pensão definitiva.
A pensão provisória destina-se a garantir uma proteção atempada e adequada nos casos
de incapacidade permanente sempre que haja razões determinantes do retardamento da
atribuição das prestações.

A pensão provisória por incapacidade permanente inferior a 30 % é atribuída pela


entidade responsável e calculada nos termos da al. c) do n.º 3 do art.º 48.º, com base na
incapacidade definida pela(o) médica(o) assistente e na retribuição garantida.

A pensão provisória por incapacidade permanente igual ou superior a 30 % é atribuída


pela entidade responsável, sendo de montante igual ao valor mensal da indemnização
prevista na alínea e) do n.º 3 do artigo 48.º, tendo por base a incapacidade definida pela(o)
médica(o) assistente e a retribuição garantida.

Prestação suplementar para assistência a terceira pessoa

A prestação suplementar da pensão destina-se a compensar os encargos com assistência


de terceira pessoa em face da situação de dependência em que se encontre ou venha a
encontrar a(o) sinistrada(o) por incapacidade permanente para o trabalho, em consequência
de lesão resultante de acidente.
Esta prestação suplementar é fixada em montante mensal e tem como limite máximo o
valor de 1,1 do IAS4 e é atualizada anualmente na mesma percentagem em que o for o IAS.

4
Atualmente € 460,22.

6
Na incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho - (I.P.A. tqt):

Por incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho – pensão anual e
vitalícia igual a 80 % da retribuição, acrescida de 10 % desta por cada pessoa a cargo5, até ao
limite da retribuição;

Pensão anual = retribuição anual x 80 % (acrescida de 10 % por cada pessoa a cargo6)

Subsídios:

Subsídio por situações de elevada incapacidade permanente = 12 x 1,1 IAS


Subsídio readaptação da habitação = até 12 x 1,1 IAS7
Subsídio por assistência por terceira pessoa = 1,1 IAS por mês

Na incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual - (I.P.A. th)

Por incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual - pensão anual e vitalícia
compreendida entre 50 % e 70 % da retribuição, conforme a maior ou menor capacidade
funcional residual para o exercício de outra profissão compatível;

Pensão anual = retribuição anual x entre 50 % e 70 % x IPP


Subsídio por situações de elevada incapacidade permanente = entre 70 % a 100 % de 12 X
1,1 IAS
Subsídio readaptação da habitação = até 12 X 1,1 IAS8
Subsídio por reabilitação = 1,1 IAS9

Na incapacidade permanente parcial (I.P.P.) igual ou superior a 30 %:

Por incapacidade permanente parcial - pensão anual e vitalícia correspondente a 70 % da


redução sofrida na capacidade geral de ganho ou capital de remição da pensão.
A incapacidade permanente parcial igual ou superior a 70 % confere ao beneficiário o
direito a um subsídio correspondente ao produto entre 12 vezes o valor de 1,1 IAS 10 e o grau
de incapacidade fixado.

Pensão anual = retribuição anual x 70 % x IPP


Capital de remição(parte remível) = retribuição anual x 70 % x IPP x taxa aplicavel
Subsídio por situações de elevada incapacidade permanente (se maior do que 70 %) = entre 70
% a 100 % (consoante a IPP) de 12 X 1,1 IAS

5
Pessoa a cargo vd. art.º 49.º
6
Até ao limite da retribuição.
7
Ou limite das despesas efetuadas
8
Idem
9
Idem
10
Idem

7
Subsídio por reabilitação = 1,1 IAS11

Na incapacidade permanente parcial (I.P.P.) inferior a 30 %:

Por incapacidade permanente parcial - pensão anual e vitalícia correspondente a 70 % da


redução sofrida na capacidade geral de ganho ou capital de remição da pensão.

Pensão anual = retribuição anual x 70 % x IPP (se não for remível)


Capital de remição = retribuição anual x 70 % x IPP x taxa aplicavel
Subsídio por reabilitação = 1,1 IAS12

2. NAS INCAPACIDADES TEMPORÁRIAS:

A indemnização por incapacidade temporária é devida enquanto a(o) sinistrada(o) estiver


em regime de tratamento ambulatório ou de reabilitação profissional.

A indemnização por incapacidade temporária é paga em relação a todos os dias, incluindo


os de descanso e feriados, e começa a vencer-se no dia seguinte ao do acidente sendo paga
mensalmente.

Na incapacidade temporária superior a 30 dias é paga a parte proporcional


correspondente aos subsídios de férias e de Natal, determinada em função da percentagem da
prestação prevista nas alíneas d) e e) do n.º 3 do artigo 48.º

Na incapacidade temporária absoluta - (I.T.A.):

Por incapacidade temporária absoluta - indemnização diária igual a 70 % da retribuição


nos primeiros 12 meses e de 75 % no período subsequente;

Menos de 12 meses: Indemnização diária = Retribuição diária × 70 %


Mais de 12 meses: Indemnização diária = Retribuição diária × 75 %
Mais de 30 dias: Acresce proporcionais dos subsídios de férias e de Natal

11
Idem
12
Idem

8
Na incapacidade temporária parcial - (I.T.P.):

Por incapacidade temporária parcial - indemnização diária igual a 70 % da redução sofrida


na capacidade geral de ganho.

Indemnização diária = Retribuição diária × 70 % × IPP


Mais de 30 dias: Acresce proporcionais dos subsídios de férias e de Natal

B - PENSÕES POR MORTE

A pensão por morte, incluindo a devida a nascituro13, é fixada em montante anual e


vence-se a partir do dia seguinte ao do falecimento da(o) sinistrada(o) e cumula-se com
quaisquer outras.

Nestes casos, a pensão é devida aos seguintes familiares e equiparados da(o)


sinistrada(o): cônjuge ou pessoa que com ele vivia em união de facto; ex-cônjuge ou cônjuge
judicialmente separado à data da morte da(o) sinistrada(o) e com direito a alimentos;
filha(o)s, ainda que nascituros, e a(o)s adoptada(o)s, à data da morte da(o) sinistrada(o), se
estiverem nas condições previstas no n.º 1 do artigo 60.º; ascendentes que, à data da morte
da(o) sinistrada(o), se encontrem nas condições previstas na alínea d) do n.º 1 do artigo 49.º;
outra(o)s parentes sucessíveis que, à data da morte da(o) sinistrada(o), com ela(e) vivam em
comunhão de mesa e habitação e se encontrem nas condições previstas no n.º 1 do artigo
60.º.

A(O) enteada(o) da(o) sinistrada(o) é equiparada(o) a filha(o) o desde que este estivesse
obrigada(o) à prestação de alimentos. Por outro lado, é considerada pessoa que vivia em
união de facto aquela que preencha os requisitos do art.º 2020.º do Código Civil14.

Se do acidente resultar a morte, as pensões anuais serão as seguintes:

À/Ao cônjuge ou a pessoa que com ele vivia em união de facto - 30 % da retribuição da(o)
sinistrada(o) até perfazer a idade de reforma por velhice e 40 % a partir daquela idade ou da
verificação de deficiência ou doença crónica que afete sensivelmente a sua capacidade para o
trabalho;

1. Até perfazer a idade de reforma por velhice:

13
Segundo o Prof. José de Oliveira Ascensão, nascituro é a pessoa ainda não nascida mas que pode
nascer de progenitor ou progenitores definidos.
14
Extrato do art.º 2020.º do CC – União de Facto: “1. Aquele que, no momento da morte de pessoa não
casada ou separada judicialmente de pessoas e bens, vivia com ela há mais de dois anos em condições
análogas às dos cônjuges …”.

9
Pensão anual = Retribuição anual × 30 %

2. A partir da idade de reforma ou da verificação de deficiência ou doença crónica:

Pensão anual = Retribuição anual × 40 %

À/Ao ex-cônjuge ou cônjuge judicialmente separada(o) e com direito a alimentos – a


pensão estabelecida na alínea anterior e nos mesmos termos, até ao limite do montante dos
alimentos fixados judicialmente.

Pensão anual = à anterior, não podendo ultrapassar o montante dos alimentos


fixados judicialmente

À/Aos filha(o)s:

1. Se não forem órfãos de pai e mãe:

Se do acidente resultar a morte, têm direito à pensão a(o)s filha(s) que se encontrem nas
seguintes condições: idade inferior a 18 anos; entre os 18 e os 22 anos, enquanto
frequentarem o ensino secundário ou curso equiparado; entre os 18 e os 25 anos, enquanto
frequentarem curso de nível superior ou equiparado e sem limite de idade, quando
afetada(o)s por deficiência ou doença crónica que afete sensivelmente a sua capacidade para
o trabalho.

O montante da pensão da(o)s filha(o)s é de 20 % da retribuição da(o) sinistrada(o) se for


apenas um, 40 % se forem dois, 50 % se forem três ou mais, recebendo o dobro destes
montantes, até ao limite de 80 % da retribuição da(o) sinistrada(o), se forem órfã(o)s de pai e
mãe.

1 filha(o): ....................... Pensão anual = Retribuição anual × 20 %

2 filha(o)s: ...................... Pensão anual = Retribuição anual × 40 %

3 ou mais filha(o)s:............ Pensão anual = Retribuição anual × 50 %

2. Se forem órfãos de pai e mãe:

1 filha(o): ....................... Pensão anual = Retribuição anual × 40 %

2 ou mais filha(o)s............. Pensão anual = Retribuição anual × 80 %

À/Aos ascendentes e outra(o)s parentes sucessíveis:

10
Se do acidente resultar a morte da(o) sinistrada(o), o montante da pensão da(o)s
ascendentes e quaisquer parentes sucessíveis é, para cada, de 10 % da retribuição da(o)
sinistrada(o), não podendo o total das pensões exceder 30 % desta.
Na falta da(o)s anteriores beneficiária(o)s, a(o)s ascendentes que, à data da morte do
sinistrado, tenham rendimentos individuais de valor mensal inferior ao valor da pensão social
ou que conjuntamente com os do seu cônjuge ou de pessoa que com ele viva em união de
facto não exceda o dobro deste valor, ou outros parentes sucessíveis que, à data da morte do
sinistrado, com ele vivam em comunhão de mesa e habitação recebem, cada um(a), 15 % da
retribuição da(o) sinistrada(o), até perfazerem a idade de reforma por velhice, e 20 % a partir
desta idade ou no caso de deficiência ou doença crónica que afete sensivelmente a sua
capacidade para o trabalho. Todavia, o total das pensões previstas no número anterior não
pode exceder 80 % da retribuição da(o) sinistrada(o), procedendo-se a rateio, se necessário.

C – SUBSÍDIOS

1. SUBSIDIOS POR MORTE

O subsídio por morte destina-se a compensar os encargos decorrentes do falecimento


da(o) sinistrada(o).

O subsídio por morte é igual a 12 vezes o valor de 1,1 IAS à data da morte, sendo
atribuído: metade ao cônjuge, ex-cônjuge, cônjuge separado judicialmente ou à pessoa que
com a(o) sinistrada(o) vivia em união de facto e metade às/aos filha(o)s que tiverem direito a
pensão ou por inteiro ao cônjuge, ex-cônjuge, cônjuge separado judicialmente ou à pessoa
que com a(o) sinistrada(o) vivia em união de facto ou aos filhos quando concorrerem
isoladamente.

O subsídio a atribuir ao ex-cônjuge e ao cônjuge separado judicialmente depende de


esta(e) ter direito a alimentos da(o) sinistrada(o), não podendo exceder 12 vezes a pensão
mensal que estiver a receber. O subsídio por morte não é devido se a(o) sinistrada(o) não
deixar beneficiária(o)s descendentes.

2. SUBSIDIOS POR DESPESAS DE FUNERAL

O subsídio por despesas de funeral destina-se a compensar as despesas efetuadas com o


funeral da(o) sinistrada(o) sendo igual ao montante das despesas efetuadas com o mesmo,
com o limite de quatro vezes o valor de 1,1 IAS, aumentado para o dobro se houver
trasladação15.

15
Transporte de restos mortais de uma pessoa, de uma sepultura para outra.

11
O direito ao subsídio por despesas de funeral pode ser reconhecido a pessoas distintas dos
familiares e equiparados da(o) sinistrada(o) tendo a ele direito quem comprovadamente tiver
efetuado o pagamento das despesas.

O prazo para requerer o subsídio por despesas de funeral é de um ano a partir da


realização da respetiva despesa.

3. SUBSÍDIO POR SITUAÇÕES DE ELEVADA INCAPACIDADE PERMANENTE

Este subsídio destina-se a compensar a(o) sinistrada(o), com incapacidade permanente


absoluta ou incapacidade permanente parcial igual ou superior a 70 %, pela perda ou elevada
redução permanente da sua capacidade de trabalho ou de ganho resultante de acidente de
trabalho.

A incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho confere à/ao


sinistrada(o) o direito a um subsídio igual a 12 vezes o valor de 1,1 do IAS.

A incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual confere à/ao beneficiária(o)


direito a um subsídio a fixar entre 70 % e 100 % de 12 vezes o valor de 1,1 do IAS, tendo em
conta a capacidade funcional residual para o exercício de outra profissão compatível.

A incapacidade permanente parcial igual ou superior a 70 % confere à/ao beneficiária(o) o


direito a um subsídio correspondente ao produto entre 12 vezes o valor de 1,1 do IAS vezes o
grau de incapacidade concretamente fixado à/ao sinistrada(o).

Para este efeito, o valor do IAS corresponde ao que estiver em vigor à data do acidente.

Nos casos em que se verifique cumulação de incapacidades, serve de base à ponderação o


grau de incapacidade global fixado nos termos legais.

4. SUBSÍDIO PARA READAPTAÇÃO DE HABITAÇÃO

O subsídio para readaptação de habitação destina-se, tal como o nome indica, ao


pagamento de despesas com a readaptação da habitação da(o) sinistrada(o) por incapacidade
permanente para o trabalho que dela necessite, em função da sua incapacidade. A/O
sinistrada(o) tem direito ao pagamento das despesas suportadas com a readaptação de
habitação, até ao limite de 12 vezes o valor de 1,1 IAS em vigor à data do acidente.

SUBSÍDIO PARA FREQUÊNCIA DE AÇÕES DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL

Este subsídio destina-se ao pagamento de despesas com ações que tenham por objetivo a
reintegração da(o) sinistrada(o) no mercado de trabalho e restabelecer as aptidões e

12
capacidades profissionais da(o) sinistrada(o) sempre que a gravidade das lesões ou outras
circunstâncias especiais o justifiquem.

A atribuição deste subsídio depende de a(o) sinistrada(o) reunir, cumulativamente, as


seguintes condições: ter capacidade remanescente adequada ao desempenho da profissão a
que se referem as ações de reabilitação profissional; ter direito a indemnização ou pensão por
incapacidade resultante do acidente de trabalho ou doença profissional; ter requerido a
frequência de ação ou curso ou aceite proposta do IEFP ou de outra instituição por este
certificada e obter parecer favorável da(o) perita(o) médica(o) responsável pela avaliação e
determinação da incapacidade.

O montante do subsídio corresponde ao montante das despesas efetuadas com a


frequência do mesmo, sem prejuízo, caso se trate de ação ou curso organizado por entidade
diversa do IEFP, do limite do valor mensal correspondente ao valor de 1,1 IAS.

Este subsídio é devido a partir da data do início efetivo da frequência da ação de


formação, não podendo a sua duração, seguida ou interpolada, ser superior a 36 meses, salvo
em situações excecionais devidamente fundamentadas.

Encontra-se prevista a possibilidade de cumulação deste subsídio profissional com a


indemnização por incapacidade temporária para o trabalho, a pensão provisória, a
indemnização em capital e pensão por incapacidade permanente para o trabalho e com o
subsídio para readaptação de habitação, não podendo, porém, no seu conjunto ultrapassar
mensalmente o equivalente a 6 vezes o valor de 1,1 do IAS.

NOTAS:

1 - Deficiência ou doença crónica da(o) beneficiária(o) legal: Para os fins previstos nos artigos
59.º, 60.º e 61.º, considera-se com capacidade para o trabalho sensivelmente afetada a(o)
beneficiária(o) legal da(o) sinistrada(o) que sofra de deficiência ou doença crónica que lhe
reduza definitivamente a sua capacidade geral de ganho em mais de 75 %.

2 - Se não houver beneficiária(o)s com direito a pensão, reverte para o Fundo de Acidentes de
Trabalho uma importância igual ao triplo da retribuição anual.

3 - As pensões por morte são cumuláveis, mas o seu total não pode exceder 80 % da
retribuição da(o) sinistrada(o).

4 - Se as pensões referidas nos artigos 59.º a 61.º excederem 80 % da retribuição da(o)


sinistrada(o), são sujeitas a rateio, enquanto esse montante se mostrar excedido.

13
5 - Se durante o período em que a pensão for devida às/aos filha(o)s qualquer um deles ficar
órfão de pai e mãe, a respetiva pensão é aumentada para o dobro, até ao limite máximo de
80 % da retribuição da(o) sinistrada(o).

6 - As pensões da(o)s filha(o)s da(o) sinistrada(o) são, em cada mês, as correspondentes ao


número dos que têm direito a pensão nesse mês.

D - AGRAVAMENTO DA RESPONSABILIDADE - ATUAÇÃO CULPOSA DO EMPREGADOR

Quando o acidente tiver sido provocado pela(o) empregador(a), seu representante ou


entidade por aquela(e) contratada e por empresa utilizadora de mão-de-obra, ou resultar de
falta de observação, por aqueles, das regras sobre segurança e saúde no trabalho, a
responsabilidade individual ou solidária pela indemnização abrange a totalidade dos
prejuízos, patrimoniais e não patrimoniais, sofridos pela(o) trabalhador(a) e seus familiares,
nos termos gerais.

É devida ainda uma pensão anual ou indemnização diária, destinada a reparar a


redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte, fixada segundo as regras
seguintes:

a) Nos casos de incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho, ou


incapacidade temporária absoluta, e de morte, igual à retribuição;

b) Nos casos de incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual,


compreendida entre 70 % e 100 % da retribuição, conforme a maior ou menor capacidade
funcional residual para o exercício de outra profissão compatível;

c) Nos casos de incapacidade parcial, permanente ou temporária, tendo por base a


redução da capacidade resultante do acidente.

No caso de morte, a pensão prevista no número anterior é repartida pelos


beneficiários da(o) sinistrada(o), de acordo com as proporções previstas nos artigos 59.º a 61.º

CÁLCULO DO CAPITAL DE REMIÇÃO

“A remição consiste numa forma de reparação, em que, em vez de ser paga uma
pensão anual e vitalícia, é calculado um determinado capital indemnizatório, que vai ser
pago de uma só vez à/ao sinistrada(o)”16.

16
In Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, 2.ª Edição, Almedina, Carlos Alegre

14
A remição, porém, não prejudica o direito às prestações em espécie, a revisão da
prestação, a atualização da pensão remanescente17 no caso de remição parcial bem como, em
caso de falecimento da(o) sinistrada(o), os direito atribuídos às/aos respetiva(o)s
beneficiária(o)s legais.

O cálculo do capital de remição é da competência da secretaria judicial.

O capital de remição é o produto da pensão anual por uma taxa correspondente


à idade do sinistrado.

Poderá perguntar-se se, no processo, deverá a secretaria abrir “Vista” ou “Conclusão”.


Pensamos que qualquer das duas hipóteses é admissível, uma vez o M.º P.º vai não só verificar
o cálculo, mas também ordenar as diligências necessárias à entrega do capital, designando
data para um ato ao qual vai presidir.

A pensão poderá ser fixada:

1 – No auto de conciliação, devidamente homologado, caso tenha havido acordo na


fase conciliatória (art.º 114.º do CPT);

2 – Na decisão ou sentença final proferidas pelo juiz, na fase contenciosa (art.ºs 140.º,
n.ºs 1 e 2 e 135.º do CPT.

Neste caso haverá, porém, que aguardar o trânsito em julgado, para que a secretaria
possa proceder ao cálculo.

Assim e uma vez que a taxa depende da idade da(o) beneficiária(o), para a elaboração
do respetivo cálculo são necessários os seguintes elementos: pensão anual, idade do
sinistrado e taxa correspondente.

Vejamos cada um deles:

1. Pensão anual

Está fixada, no auto de conciliação ou na decisão proferida pelo juiz.

2. Idade do sinistrado

Para saber a idade da(o) sinistrada(o), precisamos necessariamente de duas datas: a data
do seu nascimento e a data a que se refere o cálculo. Ou, pondo a questão de outro modo: a
idade que a(o) sinistrada(o) tinha quando … ?

17
Ou, segundo alguns autores, da pensão que não pode ser remida

15
A data do nascimento consta necessariamente do processo, mormente da certidão de
nascimento que foi requisitada à respetiva Conservatória;
Quanto à data a que se refere o cálculo, ela dependerá de a pensão ser ou não
obrigatoriamente remível.

2.1. Se a pensão for obrigatoriamente remível, uma vez que a(o) sinistrada(o) (ou
beneficiária(o)) não chega, de facto, a receber nenhuma pensão, haverá que considerar a sua
idade na data em que aquela começaria a vencer-se, ou seja, no
dia seguinte à data da alta definitiva ou da morte, por força do disposto na última parte do
n.º 1 do art.º 75.º;

2.2. Se a pensão não for obrigatoriamente remível, quer dizer que a remição foi
requerida e admitida pelo juiz depois de ouvidos o Ministério Público e a parte não
requerente (n.º 1 do art.º 148.º CPT). Assim sendo, deveremos considerar a idade da(o)
sinistrada(o) na data em que aquele magistrado autorizou o pedido de remição, sendo certo
que, até essa data, o sinistrado tem direito a receber os proporcionais da sua pensão anual.

Em resumo: para efeitos do cálculo do capital de remição, haverá que considerar a idade
que a(o) sinistrada(o) tinha no dia seguinte ao da alta definitiva (se a pensão for
obrigatoriamente remível – ponto 2.1.) ou a idade que o sinistrado tinha na data em que o
juiz deferiu o pedido de remição (no caso de esta ter sido requerida – ponto 2.2.).

3. Taxas aplicáveis

Apesar de a lei prever que as bases técnicas e as tabelas práticas são aprovadas por
decreto-lei, enquanto este não for promulgado, mantém-se em vigor a Portaria n.º 11/2000,
de 13 de janeiro.

Assim sendo, para encontrar a taxa (correspondente à idade), há que consultar a tabela
que a cada caso for aplicável.

Note-se que, na aplicação daquelas tabelas, deverá tomar-se a idade correspondente ao


aniversário mais próximo da data a que se refere o cálculo, ou seja, se tiverem já decorrido
mais de seis meses desde o último aniversário, considera-se o aniversário seguinte. Assim, e
como exemplo, se o pensionista tiver 37 anos e mais de seis meses, considera-se a taxa da
tabela correspondente a 38 anos.

Sendo a remição, como já vimos, a conversão em capital de uma pensão anual e vitalícia,
é natural que, em igualdade de circunstâncias quanto ao montante da pensão de um(a)
determinada(o) sinistrada(o), seja tanto menor o capital de remição quanto maior for a sua
idade.

16
Assim, na tabela prática aplicável às/aos sinistrada(o)s, conforme a idade destes vai
aumentando, vai a respetiva taxa diminuindo.

A - REMIÇÃO OBRIGATÓRIA

Vejamos agora um exemplo de como poderá ser feito, no processo, um cálculo de capital
de remição de uma pensão de € 740,84, devida a partir de 15 de fevereiro de 2012, e fixada
em 20 de março do mesmo ano a um(a) determinada(o) sinistrada(o), nascida(o) no dia 03 de
agosto de 1974.

CÁLCULO DO CAPITAL DE REMIÇÃO

Pensão anual............................................... € 740,84


IPP ………………………………………………………………………… 7%
Data do nascimento...................................... 03 de agosto de 1974
Data a que se refere o cálculo ......................... 15 de fevereiro de 2012
Idade a considerar........................................ 38 anos
Taxa aplicável ............................................ 15,866

€ 740,84 x 15,866 = € 11 754,17

Capital de remição: onze mil setecentos e cinquenta e quatro euros e dezassete cêntimos, a
cargo d.......

(Data e assinatura)

NOTAS:

1.ª - A pensão em causa, no montante de € 740,84, é obrigatoriamente remível, nos termos


do art.º 75.º, n.º 1, uma vez que a incapacidade permanente parcial é inferior a 30 % e o
valor da pensão anual é inferior a € 2.910,00 (seis vezes a remuneração mínima mensal
garantida (RMMG) à data da alta: € 485,00 x 6 = € 2.910,00);

2.ª – Sendo a pensão obrigatoriamente remível, a data a que se refere o cálculo é o dia
seguinte à data da alta (ou da morte) (art.º 75.º, n.º 2, o que significa que, no caso em
apreço, à/ao sinistrada(o) teria sido dada alta pela seguradora no dia 14 de fevereiro de
2012.

3.ª – Embora a(o) sinistrada(o), à data a que se refere o cálculo (15 de fevereiro de 2012)
tenha ainda 37 anos de idade, há que considerar a idade correspondente ao 38.º aniversário,
por este ser o mais próximo – de facto, decorreram já mais de 6 meses desde que completou
os 37 anos.

17
4.ª – Sugere-se a expressão “data a que se refere o cálculo” e não “data do cálculo” utilizada
por vezes em alguns tribunais. É que esta última poderá induzir em erro, por não ser, de
facto, a data em que o cálculo é efetuado (este é datado e assinado pela(o) Oficial de
Justiça) mas sim a data que se deve considerar para efeitos do cálculo.

5.ª – Os elementos que constam do exemplo acima são os necessários e suficientes para que
se possa proceder ao cálculo do capital de remição e, consequentemente, para que o M.º P.º,
nos termos do n.º 4 do art.º 148.º do CPT, o possa verificar.

6.ª - Outra novidade é a referência à IPP do sinistrado. É que atualmente a remição


obrigatória está limitada ao facto de a IPP ser inferior a 30 % não sendo, então, possível a
remição de pensão de um sinistrado com uma IPP inferior a 30 % que seja superior a 6 vezes a
RMMG18.

7.ª – Se houver mais do que uma entidade responsável pelo pagamento da pensão, as suas
responsabilidades estarão necessariamente estabelecidas previamente, pelo que há que
calcular o montante total do capital e aplicar, depois, e para cada um dos responsáveis, as
respetivas proporções.

8.ª – O resultado do cálculo deve ser arredondado nos termos gerais. Assim e no exemplo em
questão, sendo o resultado do cálculo € 11 754,167, deverá o mesmo ser arredondado para €
11 754,17.

B - REMIÇÕES PARCIAIS

A seguir se alinham algumas notas, que esperamos tenham utilidade para o cálculo de
remições parciais.

Para que uma determinada pensão anual e vitalícia possa ser parcialmente remida tem
necessariamente que respeitar, cumulativamente, os seguintes requisitos:

a) Ser de montante superior a seis vezes a remuneração mínima mensal garantida (RMMG)
à data da autorização da pensão; e

b) A incapacidade ser igual ou superior a 30 % ou a pensão anual vitalícia do beneficiário


legal.

c) a requerimento do sinistrado ou beneficiário legal.

18
Se assim for levanta-se a questão sobre se esta pensão, não sendo remível, será objeto de
atualização anual? Da leitura do n.º 2 do art.º 82.º parece que a resposta seria negativa …
Deixaremos esta questão para o prudente juízo do magistrado.

18
E isto porque basta que um destes requisitos não se verifique para que não seja possível a
remição da pensão.
Uma pensão anual e vitalícia, com aquelas características, pode ser parcialmente
remida, a requerimento, desde que respeite os limites que veremos a seguir.

Se assim for:

1. Uma parte dessa pensão é transformada em capital;

2. A parte restante (pensão sobrante) mantém a natureza de pensão anual, ficando a ser
paga à/ao sinistrada(o) (ou beneficiária(o)) nos termos do art.º 72.º.

O n.º 2 do art.º 75.º estabelece limites tanto para a pensão sobrante (al. a)) como para o
capital resultante da remição (al. b)), nos seguintes termos:

a) A pensão sobrante não pode ser inferior a seis vezes a remuneração mínima mensal
garantida em vigor à data da autorização da remissão (6 x RMMG);

b) O capital de remição não pode ser superior ao que resultaria da remição de uma
pensão daquela(e) sinistrada(o) se calculada com base numa incapacidade de 30 %.

Sendo a remição parcial requerida pela(o) sinistrada(o) (ou pela(o) beneficiária(o) legal),
é natural que esta(e) pretenda que o respetivo capital seja o maior possível, dentro dos
condicionalismos que a lei impõe.

É esta realmente, na prática, a situação mais comum.

Vejamos então como proceder para maximizar o capital de remição de uma pensão
parcialmente remível.

Para que a parte da pensão anual a remir seja o maior possível, a pensão sobrante (a
parte não remível da pensão) deverá ser o menor possível.

Como não pode ser inferior a seis vezes a RMMG à data da autorização da remição, vamos
considerar este valor mínimo como a parte não remível da pensão.

Assim, dividimos a pensão anual em duas partes, da seguinte forma:

1 - O valor mínimo não remível = 6 x RMMG;


2 - A parte excedente, ou seja, a diferença entre a pensão anual e esse valor = pensão
anual – 6 x RMMG.

19
Para facilitar vamos chamar P6 ao valor mínimo referido em 1 e PExced à parte
excedente a esse valor, referida em 2.

Então:

P6 = 6 x RMMG
PExced = Pensão anual – P6

Porém, nem sempre a PExced pode ser remida na totalidade, uma vez que o n.º 2, al. b),
do art.º 75.º impõe como limite para o capital de remição (parcial) o montante que resultaria
da remição de uma pensão daquela(e) sinistrada(o) se calculada com base numa incapacidade
de 30 %.

Teremos então que calcular essa hipotética pensão, a que vamos chamar P30:

P30 = Retribuição anual x 0,70 x 0,30

Obtido o valor de P30 há que compará-lo com o valor de PExced, uma vez que será
sempre o menor deles que vai servir de base ao cálculo do capital de remição.

Assim:

Se PExced for inferior ou igual a P30, significa que PExced pode ser totalmente remida,
uma vez que o capital resultante da remição dessa parte da pensão não seria superior ao que
resultaria da remição de P30.

O cálculo do capital de remição é então efetuado com base no valor de PExced, ficando o
sinistrado a receber, como pensão sobrante, o mínimo permitido pela al. a) do n.º 2 do art.º
75.º –, ou seja, o P6:

Pensão sobrante = P6 = 6 x RMM

Por outro lado, se PExced for superior a P30, significa que PExced não pode ser
totalmente remida, uma vez que capital resultante da remição dessa parte da pensão seria
superior ao que resultaria da remição de P30.

O cálculo do capital de remição é então efetuado com base no valor de P30, ficando a(o)
sinistrada(o) a receber, como pensão sobrante, um valor superior ao mínimo exigido (P6). De
facto, a este valor mínimo acresce a diferença entre PExced e P30.

Mas nem sequer teremos que fazer estes cálculos, uma vez que a pensão sobrante mais
não é do que a diferença entre a pensão anual total e a parte desta pensão que foi objeto de

20
remição. Como foi sobre o valor de P30 que incidiu a remição, o sinistrado ficará a receber,
como pensão sobrante:

Pensão sobrante = Pensão anual - P30

Em esquema:
PENSÃO ANUAL (parcialmente remível)
PExced = Pensão anual – P6 (não remível na totalidade)

P6 = 6 x RMM
P30 (valor remível) Pensão sobrante

Vejamos agora dois exemplos práticos:

CÁLCULO DO CAPITAL DE REMIÇÃO

EXEMPLO 1:
- Retribuição anual:................................................. € 14 000,00
- Incapacidade (IPP):................................................ 35%
- Idade para efeitos do cálculo..................................... 40 anos
- Taxa da tabela prática (Portaria 11/2000):..................... 15,550

Pensão anual = € 14 000,00 x 0,70 x 0,35 = € 3 430,00


P6 (no ano 2012) = € 485,00 x 6 = € 2 910,00
PExced = € 3 430,00 – € 2 910,00 = € 520,00
P30 = € 14 000,00 x 0,70 x 0,30 = € 2 940,00

Comparando os valores de PExced e de P30, verificamos que PExced é o menor deles.


Assim, é com base no valor de PExced que vamos calcular o capital de remição:

Capital de remição (parcial) = € 520,00 x 15,550 = € 8.086,00

Em resumo, o sinistrado teria direito:

1. Ao capital de remição no montante de € 8.086,00;


2. À pensão anual e vitalícia de € 2 910,00.

EXEMPLO 2: (difere do exemplo 1 apenas quanto à IPP, que é agora de 65%)

- Retribuição anual:................................................ € 14 000,00


- Incapacidade (IPP):............................................... 65%

21
- Idade para efeitos do cálculo.................................... 40 anos
- Taxa da tabela prática (Portaria 11/2000): ................... 5,550

Pensão anual = € 14 000,00 x 0,70 x 0,65 = € 6 370,00


P6 (no ano 2012) = € 485,00 x 6 = € 2 910,00
PExced = € 6 370,00 – € 2 910,00 = € 3.460,00
P30 = € 14 000,00 x 0,70 x 0,30 = € 2 940,00

Comparando os valores de PExced e de P30, verificamos que, ao contrário do exemplo


anterior, é agora P30 o menor deles.

Assim, é com base no valor de P30 que vamos calcular o capital de remição:

Capital de remição (parcial) = € 2 940,00 x 15,550 = € 45 717,0019

A pensão sobrante, neste caso e como já vimos atrás, é:

PSob = Pensão anual – P30, ou seja, € 6 370,00 – € 2 940,00 = € 3 430,00

Em resumo, o sinistrado teria direito:

1. Ao capital de remição no montante de € 45 717,00;


2. À pensão anual e vitalícia de € 3 430,00.

Como atrás se deixou dito, estes cálculos (exemplos 1 e 2) foram feitos na perspetiva de
maximizar o capital de remição a receber pela(o) sinistrada(o).

Nada impede, porém, que seja requerida a remição de uma qualquer parte da pensão,
desde que sejam respeitados os limites impostos pelas al.s a ) e b) do
n.º 2 do art.º 75º.

OUTRAS HIPÓTESES:

1.º

- Retribuição anual:................................................ € 28 000,00


- Incapacidade (IPP):............................................... 25%
- Idade para efeitos do cálculo.................................. 40 anos

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Sem prejuízo de outro entendimento por parte do respetivo magistrado dado que há autores que
referem que a pensão parcialmente remível não poderá ser superior ao limite previsto na al. a) do n.º 1
do art.º 75.º, ou seja, a parte da pensão a remir teria de se conter (em 2012) nos € 2.910,00 (6x RMMG)
ficando como parte sobrante a diferença entre a pensão anual e a parte remida.

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- Taxa da tabela prática (Portaria 11/2000): ................ 15,550

Pensão anual = € 28 000,00 x 0,70 x 0,25 = € 4 900,00


P6 (no ano 2012) = € 485,00 x 6 = € 2 910,00
PExced = € 4 900,00 – € 2 910,00 = € 1 990,00
P30 = € 4 900,00 x 0,70 x 0,30 = € 1 029,00

Esta pensão será remível?

A resposta é necessariamente negativa. Esta pensão não é nem obrigatoriamente


remível, porque a pensão anual é superior a 6 x RMMG (€ 2 910,00) – falta o pressuposto do
n.º 1 do art.º 75, nem é parcialmente remível, dado que a IPP é inferior a 30 % - não
preenchendo os requisitos do n.º 2 do art. º 75.º.

2.º

- Retribuição anual:................................................ € 7 000,00


- Incapacidade (IPP):.............................................. 35%
- Idade para efeitos do cálculo.................................. 40 anos
- Taxa da tabela prática (Portaria 11/2000): ................ 15,550

Pensão anual = € 7 000,00 x 0,70 x 0,35 = € 1 715,00


P6 (no ano 2012) = € 485,00 x 6 = € 2 910,00
PExced = € 1 715,00 – € 2 910,00 = - € 1 195,00 (valor negativo)
P30 = € 1 715,00 x 0,70 x 0,30 = € 360,15

Esta pensão será remível?

A resposta é também necessariamente negativa. Esta pensão não é nem


obrigatoriamente remível, desde logo porque a IPP é superior a 30 % – falta um dos
pressupostos do n.º 1 do art.º 75, nem é parcialmente remível porque apesar da IPP ser
superior a 30 %, a diferença entre a pensão anual e a P6 é inferior ao que corresponde à
pensão anual sobrante - não preenchendo assim o requisito da al. a) do n.º 2 do art. º 75.º.

23
Coleção “Manual Prático para Oficiais de Justiça”

Autor:

Centro de Formação de Funcionários de Justiça

Titulo:

“A reparação dos acidentes de trabalho”

Coordenação técnico-pedagógica:

José Cabido

Coleção pedagógica:

Centro de Formação de Funcionários de Justiça

1.ª edição

Junho de 2012

Direção-geral da Administração da Justiça


Centro de Formação dos Funcionários de Justiça
Av. D. João II, n.º 1.08.01 D/E – piso 10.º, 1994-097 Lisboa, PORTUGAL
TEL + 351 21 790 64 21 Fax + 351 21 154 51 02 EMAIL cfoj@mj.pt
http://e-learning.mj.pt/dgaj - www.dgaj.mj.pt 24

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