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Resumo
Palavras-chave:Adolescente.Atosinfracionais.Instituição.Escuta.Reincidência.
Introdução
REINCIDÊNCIA INFRACIONAL
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O CIA foi criado em Belo Horizonte por meio da Resolução-Conjunta nº 68, de 2 de setembro de 2008, em
consonância com a normativa do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), que visa ao efetivo
atendimento ao adolescente. O CIA possui uma equipe interinstitucional composta por Juízes de Direito,
Promotores de Justiça, Defensores Públicos, Delegados de Polícia e funcionários da Subsecretaria de Estado
de Atendimento as Medidas Socioeducativas (SUASE) e da Prefeitura Municipal.
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Ato infracional é conceituado no ECA (BRASIL, 1990), no art. 103, como conduta descrita como crime
ou contravenção penal.
REINCIDÊNCIA INFRACIONAL
1668; 26%
Não reincidentes
Reincidentes
4763; 74%
Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande número
de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de
tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada (GOFFMAN, 2005, p. 11).
O ‘exercício’ é a técnica por excelência pela qual se impõe aos corpos tarefas
ao mesmo tempo repetitivas, diferentes e graduadas. Já não visa à salvação da
O autor expressa que toda instituição total pode ser vista como um
mar morto, no qual aparecem pequenas ilhas de atividades vivas e atraentes.
Narra que essas atividades podem ajudar o indivíduo a suportar a tensão
psicológica que acontece com relação ao seu eu. Contudo, na insuficiência de
tais atividades, pode-se encontrar um importante efeito de privação das ins-
tituições totais. Ainda salienta o papel que o outro pode ocupar na definição
de um terceiro, quando pontua: “a interpelação sociológica mais simples do
indivíduo e do seu eu é que ele é para si mesmo aquilo que seu lugar numa or-
ganização o define que seja” (GOFFMAN, 2005, p. 258). Observa-se, então,
o potencial da fala do outro ao colocar o sujeito em determinada posição, de
onde o mesmo assim responde como tal.
Por fim, entende-se que não são os muros que dizem da capacidade
de uma instituição, porque nesse caso a sanção não apresenta apenas caráter
punitivo. Por vezes, por se pensar em algo que é “total”, esquece-se do fator
“parte”. Dentro de uma unidade socioeducativa, por exemplo, a dificul-
dade de se “parar no caso” pode fazer com que o “o caso pare a unidade”.
Observa-se também nesse ponto a necessidade de uma “parada institucional”
diante de seus preceitos, para que, assim, possa romper com a ideologia to-
talitária e autoritária, saindo de um modelo de contenção para um modelo
de compreensão, uma vez que o saber real auxilia na humanização e não
na discriminação.
escutá-lo, nem perceber suas condições de vida. Finaliza dizendo que se deve
sair do lugar daquele que “detém o saber sobre o melhor para o adolescente”.
A autora discorre que os mesmos adolescentes que atuam, desde
crianças, já expressavam suas demandas ao Estado, com relação às suas di-
versas reivindicações: vagas em creches, escolas, cestas básicas, saúde, lazer,
dentre outros. Diante de suas demandas, estes sempre tentaram sua inscrição
na rede social, no entanto, sempre “caindo fora dela”. Sobre isso Barros-
Brisset salienta:
A idéia de começarmos pela fala compulsiva, onde os ouvidos são apenas es-
timuladores, excitadores da oralidade, significa seguramente que nossa atenção
está mal dirigida quando ouvimos. A todo instante encontramos no nosso co-
tidiano exemplos de uma audição mal educada, incapaz de beneficiar a quem
nos fala. Devido à imprudência do ouvinte, aquele que fala acaba não sendo
compreendido (PEDROSA, p. 12).
de uma pessoa que fala não se pode ter ainda boa escuta. É preciso ir além.
A verdadeira escuta passa pelos sentidos, é mais do que ficar em silêncio, mas
é atitude global do corpo. Escutar é se abrir, é entender um olhar, é observar
um gesto, é entender também o não dito que muitas vezes grita além de toda
e qualquer pronúncia oral.
Tem-se constantemente a ideia de que reincidir seria apenas a prá-
tica de atos infracionais que violam a lei. Mas a escuta apurada pode lançar
também uma questão: reincidir não poderia ser também o fato de sempre
estar ocupando o mesmo lugar na vida? Nesse ponto, pode-se entender que
as estratégias para um bom trabalho vêm também quando se escuta não os
ideais estipulados por terceiros, mas acima de tudo o entendimento de uma
realidade ainda “desencontrada”, e muitas vezes desamparada, em clamor de
alguma audição que realmente esteja aberta a ouvir, e não a “tagarelar”.
Atualmente, nas instituições, pode estar acontecendo a “reincidência
de uma não escuta”, ou talvez de uma “sempre igual escuta”, ou, ainda, de
uma “formulação própria para a vida do outro”. Torna-se urgente a per-
cepção de uma reincidência institucional na tentativa de que se guardem as
falas precipitadas, as ideias já preconcebidas e os conceitos elaborados, para
se começar a entender o significado real da palavra escutar. Conforme salienta
Pedrosa (2007, p. 12), “ouvir e reter o discurso do outro é abrir vazios de si-
lêncio, voltar-se para a fala do outro. Ouvir é essencialmente cuidar e indicar
a direção da melhoria existencial de quem fala, algo que requer estudo de si”.
Conclusão
Referências
Recebido em 21/09/2011
Aprovado em 26/01/2012