Você está na página 1de 8

III - A Revolta Histórica (p.

131)

- A revolta histórica é a consequência lógica da revolta metafísica. Ela pode ser entendida como o esforço
sanguinário para afirmar o homem diante daquilo que ele nega.

- O revoltado recusa Deus e, inevitavelmente, se volta para o histórico.

- O movimento de revolta é restrito (depoimento incoerente), pois é centrado no movimento que leva da
experiência individual à ideia.

- Já a revolução é a inserção da ideia na experiência histórica. Ainda não houve revolução na história, só
poderá haver uma, a revolução definitiva. Se ela ocorresse uma única vez, não haveria história.

- Quanto maior a revolução, maior o comprometimento de guerra que ela implica.

- A revolta não pressupõe obrigatoriamente uma participação política, a revolução sim, uma vez que na
primeira há somente um compromisso sem a solução dos fatos. Em contrapartida, a revolução tenta moldar o
mundo em um arcabouço teórico.

- A revolta pode até matar homens, mas a revolução mata ao mesmo tempo homens e princípios. (p.132) A
revolução está inevitavelmente ligada ao assassinato.

- Enquanto a revolução definitiva não chega, a história do homem é a soma de suas revoltas sucessivas.

- O movimento revolucionário do séc. XX, tendo chegado às consequências extremas de sua lógica, exige,
de armas na mão, a totalidade histórica. Ele deifica a espécie humana, e adota o ideal do super-homem, a fim
de garantir a salvação de todos.), alavancados por uma identidade formulada a partir da razão e da vontade
de poder.

- A revolução, mesmo a que se pretende materialista, é uma cruzada metafísica desmesurada.

Mas a totalidade buscada pela revolução é a unidade?

- Camus vai tentar analisar essa questão encontrando, em alguns fatos revolucionários (Revolução Francesa,
Niilismo na Rússia do séc. XIX) os temas da revolta metafísica. (p.134)

- Se a história da revolta metafísica começava com Sade, no plano histórico ela tem início com os regicidas
(seus contemporâneos), que atacam a encarnação divina sem ousar matar o princípio eterno.

- 1793: acaba o tempo da revolta e começa o tempo revolucionário (p.137).

Os Regicidas

- 1789 é o ponto de partida dos tempos modernos, uma vez que nesse ano os revoltados quiseram derrubar o
princípio divino e fazer com que entrassem para a história a força de negação e de revolta presente nas
batalhas intelectuais nos últimos séculos.

- Para Michelet, há dois personagens na epopeia revolucionária: O Cristianismo e A Revolução.


- Não há como a Monarquia atender a um princípio de justiça absoluto (distribui sua assistência como quiser,
e não é cabível um recurso contra ela). A graça está acima da justiça.

- Danton: “Não queremos condenar o rei, queremos matá-lo”. (ao negar Deus, é preciso matar o rei).

- O rei morre em nome do contrato social. (formulado por Hobbes, Locke e Rousseau[1712-1778]) Segundo
este último, os indivíduos entram em acordo para a proteção de seus direitos, que devem ser preservados
pelo Estado, que representa a vontade geral (diferente da vontade de todos).

- O contrato social passa a ser O Novo Evangelho (p.141), pois é um catecismo, com linguagem dogmática
que alicerça uma nova religião cujo Deus é a razão.

- A partir do contrato social, os povos se criam sozinhos antes de criares os reis, o povo é soberano.

- A vontade geral torna-se a expressão da razão universal, e daí nasce o novo Deus. (p.142). Palavras que
mais se encontram no contrato social: “absoluto”, “sagrado” e “inviolável”. A lei é um mandamento
sagrado, e os cadafalsos são os altares da nova religião.

- 1789 marca o início do reinado da “humanidade santa” e de “Nosso Senhor o gênero humano”.

A Execução do Rei

- Saint-Just introduz na história as ideias de Rousseau. (Louis Antoine Léon de Saint-Just, 1767-1794) votou
a favor da condenação do rei, com um discurso eloquente evolvendo essa questão, grande orador, defensor
da política do Terror, é julgado e executado pela comissão termidoriana.

- Para mostrar que o povo é a verdade eterna, o rei tem que ser denunciado como o crime eterno. (p.145)

- Os cidadãos são soberanos, invioláveis e sagrados, só podendo sofrer coerção da lei, a qual expressa sua
vontade comum.

- Luís é o blasfemador dessa vontade onipotente, pois não é cidadão e não participa da divindade
representada pelo povo (quem controla essa vontade é a assembleia)

- Saint-Just: “É necessário vingar o assassinato do povo com a morte do rei”.

21 de janeiro de 1793: assassinato de Luís XVI, ponto de partida da história contemporânea. Simboliza a
dessacralização dessa história e a desencarnação do deus cristão.

“A Religião da Virtude” (p.148)

- Para Jules Michelet a revolução é purgatorial, pois representa uma época que lança-se cegamente em
busca de uma nova luz, de uma nova felicidade e da face do verdadeiro Deus.

- Morto o rei, o povo irá expressar uma verdade universal. As condutas serão comandadas por princípios
eternos: “Verdade, Justiça e Razão”. A República é virtude.

- A Revolução francesa inaugura os tempos modernos e a era da moral formal. (p.150).


- Como as leis não fazem reinar a concórdia, surgem as facções (blasfemas e criminosas). A lei pura de
Saint-Just não tinha levado em conta que a lei, em sua essência, está fadada à transgressão. (p.152).

O Terror (p.152)

- Saint-Just ansiava pela unidade da pátria através da revolta. “Patriota é todo aquele que apoia a república
no geral, quem quer que a combata no detalhe é um traidor”.

- Saint-Just criminaliza as facções (tanto aristocráticas quanto republicanas), fazendo do cadafalso, antigo
símbolo da repressão, depurar a república.

- O exemplo de Saint-Just demonstra que a revolta, quando é desregrada, oscila da aniquilação à destruição
de si próprio.

- A sacralização da lei torna-se falha, pois ela só é legítima desde que represente a Lei da Razão Universal.
Porém sua justificativa se perde se o homem não for naturalmente bom (choque entre ideologia e psicologia)
p.159.

- A lei torna-se tirânica. Se a lei é provisória, ela é feita para ser transgredida ou imposta. Se a tirania da lei
não é justificada, a revolta é privada de uma moral concreta, e essa revolta cortada de suas raízes está
presente no séc. XX.

- A Revolução Russa dá continuidade à revolta do séc. XIX, pois intenta fazer da terra o reino em que o
homem será Deus.

- Negando toda moral, as revoluções do séc. XX buscam a unidade do gênero humano através de guerras e
crimes (abrange tanto direita como esquerda, promove a unidade do mundo através da religião do homem).

Os Deicídios (p.161) Camus trabalhará mais com o livro Fenomenologia do Espírito (1807)

-Jacobinos (revolucionários extremos), tem origem pequeno-burguesa, ideologia baseada no racionalismo e


centralização política nos poderes do Estado. Promovem a política do terror.

- O pensamento alemão continua a obra da revolução francesa (principalmente Hegel [1770-1830]),


substituindo a abstrata noção da razão universal pelo ambíguo “universal concreto” (p.161).

- A razão, que até então pairava acima dos fenômenos históricos, é incorporada ao fluxo dos acontecimentos,
das quais ela é a explicação e também recebe um corpo, uma forma. (p.162).

- Hegel racionaliza até o irracional (p.162). A verdade, a razão e justiça passam a encarnar o devir do mundo
(p.162).

- Para Camu, tal defesa da razão não é mais do que uma paixão inflexível. Essa razão se torna devir e
conquista, funcionando como um cálculo em função dos resultados, e não dos princípios.

- No séc. XIX, as disciplinas ganham um movimento contínuo, distanciando-se da fixidez do séc. XVIII.

- A partir da dialética da filosofia alemã, muda-se a concepção do homem. Ela não é mais uma estrutura
terminada, e sim uma aventura da qual pode ser em parte criador. (p.163).
- Com Napoleão e Hegel, começa a época da eficácia. Até Napoleão, os homens descobriram o espaço do
universo. A partir dele, descobrirão o tempo do mundo e do futuro. Em decorrência de tal mudança, o
espírito revoltado se transforma.

- De Hegel, os revolucionários do séc. XX tiraram o arsenal que destruiu definitivamente os princípios


formais da virtude (história sem transcendência).

- A história (o impuro), vai tornar-se regra, e a terra deserta (em que Deus e a virtude foram aniquilados),
estará entregue à força nua que decidirá se o homem é ou não divino. Entra-se na mentira e na violência,
como se entra na religião, do mesmo modo patético (p.164).

- Hegel era a favor das facções, ao contrário de Saint-Just. “A facção é o prelúdio do espírito”.

- As ideologias contemporâneas aprenderam com Hegel a pensar o mundo com base na dialética de
domínio/servidão. Só a relação senhor/escravo e, sendo assim, só há lei da força.

- Se Nietzsche e Hegel servem de álibis para tiranos, isso não condena toda sua filosofia, mas deixa a
suspeita de que aspectos de seus pensamentos levam a terríveis confins. (p.165).

- Para Hegel, o homem é essencialmente autoconsciência. O homem é a criatura que, para afirmar sua
existência e sua diferença, nega. (p.166).

- O que distingue a autoconsciência do mundo natural é o desejo que pode sentir em relação ao mundo.
(p.167. autoconsciência = desejo)

- Ao agir, a autoconsciência destrói para fazer nascer a realidade espiritual da consciência.

- Consumir a natureza inconsciente não é estar consciente, o desejo da consciência tem que estar dirigido a
outra forma de desejo, a autoconsciência se satisfaz com outra forma de autoconsciência.

- O homem só se sente reconhecido se o for pelos outros homens, são os outros que nos engendram. Só
recebemos um valor humano, superior ao valor animal, na sociedade (p.167).

- As relações humanas fundamentais são assim relações de puro prestígio, delineando uma luta perpétua pelo
reconhecimento de um ser humano pelo outro (p.167).

- A história do homem é, em sua essência, imperialista. É uma longa luta até a morte pela conquista do
prestígio universal e do poder absoluto. (p.168).

- A luta pela vida só irá cessar com o reconhecimento de todos por todos, o que marcará o fim da história.
Isso a torna uma tragédia implacável e absurda, pois cada consciência, para existir, exige a aniquilação de
outra consciência. Porém, essa disposição é paradoxal, uma vez que, com a consciência aniquilada do outro,
não há reconhecimento. A filosofia do parecer está em seu limite.

- A consciência humana, para alçar-se acima do instinto, deve colocar sua vida em jogo. “Morra e torne-se
o que você é” = lema de Hegel (destrói a transcendência dos princípios) (p.168). Hegel propõe que a
consciência que se resigna para não morrer é a do escravo, e a independente é a do senhor. O que se
denomina história é a sequência dos longos esforços dos escravos para obter a liberdade real. (o marxismo-
lenismo vai retirar daí o ideal do soldado-operário) p.170.
- Para Hegel, os séculos XIX e XX tentaram viver sem transcendência. (p.172). O Estado se torna o Destino.
Involuntariamente, dá oriem a um niilista que identifica o seu suicídio com o assassinato filosófico (daí,
nascem os terroristas).

- Subjugar Deus é o mesmo que destruir a transcendência que mantinha no poder os antigos senhores. Sendo
assim, prepara-se os tempos do homem-rei. (p.174). Tal pensamento está nas origens do mundo
contemporâneo: os filhos de Hegel escolheram matar e escravizar e ocupam a frente do palco, em nome de
uma revolta desviada de sua verdade (p.177).

Terrorismo Individual

- A Rússia é um país que se exalta na meditação, ao invés de se acalmar. Como é um país sem tradição
filosófica, vai adotar a ideologia alemã e levá-la aos extremos do sacrifício e da destruição. A Rússia
apodera-se do pensamento alemão e encarna, com o sangue, suas consequências.

- Toda história do terrorismo russo pode ser resumida à luta de um punhado de intelectuais contra a tirania,
diante do povo silencioso. (p.179)

- Na França, o idealismo alemão encontra o pensamento já estabelecido do socialismo libertário, tendo que
com ele se equilibrar. Na Rússia, esse pensamento conquista o meio intelectual sem barreiras.

- A juventude russa derrama seu arrebatamento sobre as ideias mortas dos alemães, vivendo-as
autenticamente.

A Renúncia à Virtude (p.180)

- 1820 – dezembristas – Bielinski = não consegue aceitar o sofrimento do outro e não deseja o absoluto da
razão, e sim a plenitude da existência. (fala de Bielinski p.182). Nele, voltam a despontar todos os temas da
revolta metafísica.

- Para Bielinski, é necessário destruir a realidade para afirmar o que ele é, não para colaborar com ela (não
pode aceitar a história como ela ocorre). Retoma o individualismo social sob o ângulo da transgressão,
recusando os valores transcendentais (p.183). Também representa a transição entre os fidalgos idealistas de
1825 e estudantes “nadistas” de 1860.

Três Possessos (p.183)

Os Possessos - Dostoievski – Stepan (pai de Pyotr) Nikolai Stavrogin, belo e terrível, Ivan Shatov (o
sacrificado). Lisaveta, noita de Stavrogin.

Niilismo de 1860 – Pais e Filhos (Bazarov), o personagem é o modelo niilista que Pisarev toma como
modelo (Raskolnikov tb é um modelo).

- Dimitri Pisarev (1840-1868) – sua definição de niilista p.184

- Para ele, os valores estéticos são decadentes, e os pragmáticos devem ser exaltados. “Eu preferiria ser um
sapateiro russo a um Rafael russo.” Um par de botas é mais útil do que Shakeaspeare.
- Tornou-se socialista e uma grande influência sobre Lênin.

-2º possuído – Mikhail Bakunim (1814-11876) – volta a introduzir na ação revoltada temas da revolução
romântica (retorna a figura de Satã, revoltado contra a criação). Ele defende o homem que, sem doutrina e
sem princípios, luta por um ideal de liberdade pura. (p.188). “A paixão pela destruição é uma paixão
criadora”.-

- A sociedade que ele acaba definindo para o futuro é ditatorial. Sendo assim, ele também contribui para o
estado lenista.

- Sergey Nechayev (1847-1882), filho de um garçom e pedreiro, desde cedo internalizou ressentimentos em
relação à nobreza. Considerava-se discípulo de Robespierre e Saint-Just, e pregava que é legítimo usar de
violência política para promover a revolução. Inspiração para Pyotr Stepanovich.

- Com ele, pela 1ª vez, a revolução vai separar-se explicitamente do amor e da amizade. Para ele, o amor não
tinha a força, a paciência e o trabalho do negativo.

- A revolução passa a ser mais importante do que aqueles a que ela queria salvar. A violência pode se voltar
contra todos em nome de uma ideia abstrata (a revolução é o único valor). Ele também propõe uma
hierarquização do grupo revolucionário, sendo que os que estão na base podem ser considerados
descartáveis.

- Prega também que é necessário que o governo revolucionário adote medidas repressivas.

- O assassinato de Ivanov, que tinha dúvidas sobre o comitê central e por isso foi morto, (que descordou dele
em relação à distribuição da propaganda subversiva e foi estrangulado e baleado, tendo o corpo atirado em
um lago. Ivanov é morto em uma emboscada, Nechayev mata-o sem nunca ter matado nenhum tirano)
inspirou Os Possessos (p.193).

- Para Camus, isso denota que, quando a revolução torna-se o único valor, não há mais direitos, apenas
deveres. (p.193).

- A intelligensia subervesiva e revolucionária não consegue atrair e integrar o povo, e, por isso consagra-se
o terrorismo individual, o qual inaugura uma onda de assassinatos que prosseguirão até 1905.

“Os Assassinos Delicados” (p.195)

- O terrorismo russo, que tem início em 1878, expande-se para toda Europa.

- O Niilismo termina no terrorismo, uma vez que o futuro torna-se a única transcendência do homem sem
Deus (p.197).

- Os terroristas querem criar uma Igreja de onde brotará um dia o novo Deus.

- Os terroristas russos (da geração de 1905), que não hesitavam em colocar sua vida em jogo, tinham
imensos escrúpulos com a vida dos outros. Eram os “assassinos delicados”, que acreditavam que a violência
era necessária e indesculpável. (p.200). Eles aceitava morrer para pagar as vidas que tiraram.
- Depois de 1905, os terroristas não vão aceitar morrer para expurgar o seu crime, e consentirão em se
preservar ao máximo para servir a revolução. Aceitarão a culpabilidade total.

- Com o marxismo-lenismo, encerra-se um ciclo do movimento de revolta. Esta, cortada de suas verdadeiras
raízes, infiel ao homem porque submissa à história, pretende escravizar o universo inteiro. (p.206).

- A divinização do homem por si próprio rompe o limite da revolta, desembocando no caminho da tática e do
terror, de onde a história ainda não saiu. (p.207)

Revolta e Arte (p.291)

- A arte é também esses movimento que exalta e nega ao mesmo tempo. “Nenhum artista tolera o real”; dizia
Nietzshe.

- No plano da arte, a revolta deixa-se observar aqui, fora da história, em estado puro, em sua complicação
primitiva.

- Os revoltados filosóficos e políticos exilam a arte e a beleza. Para Rousseau, a arte é uma corrupção que a
sociedade acrescentou à natureza. Para Saint-Just, a razão era personificada pela virtude, e não pela beleza.
Para Marx, a arte expressa os valores privilegiados da classe dominante.

- Ainda assim, revolta e arte são conceitos com bastante proximidade. Em toda revolta há um
questionamento da realidade e a exigência metafísica da unidade, com isso, é fabricado um universo de
substituição. A revolta é fabricante de universos, e a arte também o é. A exigência da revolta é, em parte,
uma exigência estética.

- Revolta e arte pressupõe mundos fechados em que o homem pode, finalmente, reinar e conhecer. (p.294)

- Para Van Gogh “Cada vez mais acredito que Deus não pode ser julgado neste mundo. É um estudo
mal-acabado dele.” Todo artista tenta refazer esse estudo, dando-lhe o estilo que lhe falta, fixando uma
visão do mundo.

- Para criar a beleza, o artista deve ao mesmo tempo recusar o real e exaltar alguns de seus aspectos. A arte
nos conduzirá às origens da revolta, pois tenta dar forma a um valor que se refugia no devir perpétuo mas
que o artista pressente e quer arrebatar à história.

Romance e Revolta

O romance é um gênero que se desenvolve no cerne do que pode ser chamado de literatura de dissidência,
que é uma marca dos tempos modernos.

- Paralelamente ao movimento crítico e revolucionário, o romance nasce também no tempo do espírito da


revolta, e traduz, no plano estético, a mesma ambição.

- O Ocidente, em suas grandes criações, não se limita a reproduzir o cotidiano, ele se propõe, sem cessar,
grandes imagens que o excitam e lança-se à sua procura.

Ver Balzac p.298


- O gosto pela evasão não basta para explicar a gravidade indiscutível do mundo romanesco. O apego ao
romance estaria na contradição em que o homem recusa o mundo como ele é, porém não deseja fugir dele.

- Como a vida é uma forma aberta, sem estilo, e daí resulta um desenho irracional que pretende dar à vida a
forma que ela não tem. Por conseguinte, o romance é esse universo em que a ação encontra sua forma, em
que as palavras finais são pronunciadas, os seres entregues aos seres, toda a vida passa a ter a cara do
destino. O mundo romanesco não é mais que a correção deste nosso mundo, segundo o destino
profundo do homem. (p.302)

- O romance fabrica o destino sobre medida. Nele, instaura-se um mundo em que o sofrimento pode durar
até a morte, as paixões nunca são distraídas, os seres ficam entregues à ideia fixa e estão sempre presente uns
para os outros. (concorrência à criação)

- O romance é antes de tudo um exercício de inteligência a serviço de uma sensibilidade nostálgica ou


revoltada. (p.304) (Melville, Balzac, Dostoievski e Tolstoi).

- Nesse sentido, o romance do séc. XX não é tão bem-sucedido.

- Proust é muito bem sucedido na criação de um mundo fechado e insubstituível, que pertence só a ele e
marca sua vitória sobre a transitoriedade das coisas e sobre a morte. Proust dá significação a um mundo no
próprio nível de dilaceramento. Conseguiu extrair, unicamente pelos caminhos da lembrança e da
inteligência, os símbolos vibrantes da unidade humana.

- Proust demonstra que a arte do romance refaz a própria criação tal como ela nos é imposta e tal como é
recusada. Sendo assim, representa uma revolta criadora.

Você também pode gostar