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Entre casquinadas, vai fazendo


J\a}c_\kfZflXefƒf[\hl\ÊldXXe$ a descrição sincera dos seus des-
^’jk`X\dZ_`e\cfjRgf[\j\iT^iXe[`f$ aires. Aos 61 anos, tem dois filhos,
passou à justa em três inspecções
jXZfdfldkˆklcf[\afieXcË#kXcm\qj\aX que a morte lhe fez e o fígado, que
\jk\fj\lgf\kX#Xhl\c\hl\fgf[\i\Zfe$ já nos tinha apresentado gordo,
trá-lo como a um vaso de hortelã
Z`c`XiZfdXm\c_XXik\#Xhl\j\\mX[`X ao lado, ao qual parece sussurrar:
tem paciência, bicho. Vai mais um
[fjjXc‘\jgXiX[Xifflm`[fXffZXj`f$ copito? Vai. Nisto, o mundo surge-
eXcÊiflo`efc[fj[\jmfj[fdle[fË% -nos cruamente exposto, entre gol-
pes de rins, mas com o humor e a
traquinice do miúdo que sobrevi-
unca o viu mais gor- gicas». E a culpa lança ele às cos- ve com toda e tanta velhice de vol-

E
do? E não lhe soa se- tas do vinho, que o faz falar assim, ta, neste país que parece só estar
quer o nome? Não se com aquele arrasto ora doce, ora bom para velhos. Quanto à paisa-
penalize por isso, lei- acre. Fomos encontrá-lo por onde gem, está conforme, boa para mos-
tor. É fácil neste tem- pára, voltejando, «sem deuses do- cas... Num dos versos do seu novo
po ser-se a «pedra nos ou patrões», ali pelo centro livro também nos adianta: «Eu
com sangue no ouvido», sempre bairrista da Amadora, à porta de que sou Mosca tudo conheço
o mesmo triste veneno diário, o de um tasco, na palheta, na alegria porque a merda é um lugar sem
uns escribas que não aquecem de quem está com os seus. Mas de- fronteiras». O livro tem o título
nem arrefecem. Nunes da Rocha pois, falando com ele, atrás das As Moscas de Sileno – Zig et Zig
nem faz questão de ser notado: su- lentes, anima-se a íris, o olho vo- et Zag. São oito poemas, entre o
jeito discretíssimo, poeta lá com raz, raiado, e do desgaste, do cál- breve e o longo, num salto à vara
os seus botões... Mas, se formos cio sombrio que tritura o ar entre espantoso. Cabe tudo em trinta pá-
ver bem a coisa, os dele são os nos- as articulações, vai-se notando o ginas – uma plaquete, portanto –,
sos botões, e não é preciso muito lucro nos rabos atados das frases mas que desacato, que bulha nos
para, lendo-o, darmos por nós su- sucessivas, emendando, «com es- chama a vir em socorro de tantos
bitamente descamisados, a gabar- tilo e feérica contenção», esse dos seus lados, e que modo de sair
-lhe a competência para «cons- mesmo jeito que se lhe nota nos ao estalo, a pisar, morder, rindo de
truir uma astronomia com tor- versos, e pressente-se a safra de tudo. Foi o pretexto para esta con-
cicolo», entretecendo na cadência tanto ter a alma vomitada e reco- versa, com um poeta que há mui-
mastigada «indecências mitoló- mida às colherinhas. to despediu a pose, e sabe como a

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