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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

Propriedades física do solo

Dalvan José Reinert


e
José Miguel Reichert

Santa Maria, Maio de 2006


1 Propriedades físicas do solo

Os solos minerais são constituídos por uma mistura de partículas sólidas de natureza
mineral e orgânica, ar e água, formando um sistema trifásico, sólido, gasoso e líquido. As
partículas da fase sólida variam grandemente em tamanho, forma e composição química e a
sua combinação nas várias configurações possíveis forma a chamada matriz do solo.
Considerando o solo como um corpo natural organizado, portanto ocupando dado espaço, a
recíproca da matriz do solo forma a porosidade dos solos. Outro fator que interfere
diretamente na porosidade dos solos refere-se à maneira com que as partículas sólidas se
arranjam na formação dos solos.
Duas propriedades físicas, hierarquicamente mais importantes, referem-se a textura
do solo, que é definida pela distribuição de tamanho de partículas, e a estrutura do solo
definida pelo arranjamento das partículas em agregados. A porosidade do solo, por sua vez,
é responsável por um conjunto de fenômenos e desenvolve uma série de mecanismos de
importância na física de solos, tais como retenção e fluxo de água e ar, e, se analisada
conjuntamente com a matriz do solo, gera um grupo de outras propriedades físicas do solo
associadas às relações de massa e volume das fases do sistema solo. Não menos importante
são as propriedades associadas à reação mecânica do solo à aplicação de forças externas.
A física de solos estuda e define, qualitativa e quantitativamente, as propriedades
físicas, bem como sua medição, predição e controle, com o objetivo principal de entender
os mecanismos que governam a funcionalidade dos solos e seu papel na biosfera. A
importância prática de se entender o comportamento físico do solo está associada ao seu
uso e manejo apropriado, ou seja, orientar irrigação, drenagem, preparo e conservação de
solo e água.
A definição de um solo fisicamente ideal é difícil devido ao tipo e natureza das
variações físicas dos solos que ocorrem ao longo da profundidade do solo, na superfície da
paisagem e ao longo do tempo. Um exemplo clássico refere-se ao suprimento de água e ar
que variam continuamente junto com os ciclos de umedecimento e secagem, que ocorrem
com a alternância de chuva e estiagem. Um solo é considerado fisicamente ideal para o
crescimento de plantas quando apresenta boa retenção de água, bom arejamento, bom
suprimento de calor e pouca resistência ao crescimento radicular. Paralelamente, boa
estabilidade dos agregados e boa infiltração de água no solo são condições físicas
importantes para qualidade ambiental dos ecossistemas.
O conceito de um solo fisicamente ideal é complexo e carece de melhor definição
quantitativa. No entanto, já há indicação clara de uma série de valores quantitativos de
indicadores da qualidade física de um solo, seja valores ideais, críticos ou restritivos ao
crescimento de plantas ou na qualidade ambiental.

1.1 Textura do solo

A textura do solo é definida pela proporção relativa das classes de tamanho de


partículas de um solo. A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo define quatro classes de
tamanho de partículas menores do que 2 mm, usadas para a definição da classe de textura
dos solos:
Areia grossa – 2 a 0,2 mm ou 2000 a 200 µm
Areia fina – 0,2 a 0,05 mm ou 200 a 50 µm
Silte – 0,05 a 0,002 mm ou 50 a 2 µm
Argila – menor do que 2 µm
Desconsiderando a presença da matéria orgânica e de partículas maiores do que 2
mm no solo, o total de partículas de um solo é igual ao somatório da proporção de areia,
silte e argila, de maneira que um solo pode ter de 0 a 100% de areia, de silte e de argila. O
número possível de arranjamento resultante da combinação das proporções de classes de
partículas é muito grande, o que impulsionou o desenvolvimento de um sistema de
classificação gráfico e funcional para definição das classes de textura dos solos. O sistema
consta da sobreposição de três triângulos isósceles que representam a quantidade de argila,
silte e areia do solo (Figura 1).
A avaliação da textura é feita diretamente no campo e em laboratório. No campo, a
estimativa é baseada na sensação ao tato ao manusear uma amostra de solo. A areia
manifesta sensação de aspereza, o silte maciez e a argila maciez e plasticidade e
pegajosidade quando molhada. No laboratório, a amostra de solo é dispersa numa
suspensão e, por peneiramento e sedimentação, se determina exatamente a proporção de
areia, argila e por diferença a de silte.
Qual a classe textural de um solo com 35%

0
10
0
de argila, 32% de silte e 33% de areia? A
10

10
90
90
isolinha correspondente a 35% de argila
20

20
80
80
inicia no ponto correspondente a 35 na escala
Muito

30
30
da lateral esquerda do TT e se prolonga
70

70
Argiloso
paralela à base. A do silte inicia no ponto da
,%

40
40

Sil
60

60

te,
gila

50 Argila escala à direita e prolonga-se paralelamente à

50
50

%
50
Ar

Argila
Argila lateral esquerda do TT e a da areia inicia no
Siltosa
Arenosa

60
60 40
40

Franco
Franco
Argilo
ponto da escala da base do TT e prolonga-se
70 Franco Argiloso

70
30
30

Siltoso
Argilo paralela à lateral direita. A interseção das três
Arenoso
80

80
20

20
Franco Franco
linhas ocorrerá numa figura geométrica
Ar Franco Arenoso Siltoso
90 ei dentro do TT que corresponderá a classe
90
10

10
aF
ran Silte
ca
Areia
10
textural. No exemplo, a interseção das linhas
0

100 90
10 80
20 70
30 60
40 50
50 40
60 30
70 20
80 10
90 0 0
tracejadas indicam que a classe textural do
Areia, %
solo é Franco Argilosa
Figura 1 – Triângulo textural (TT) com as 13 classes texturais. Ao lado exemplo
explicativo de como obter a classe textural.

A natureza e a forma das partículas do solo foram elementos chaves para a


definição, que é empírica, das classes de tamanho de partículas e, juntamente com a
experiência prática, da delimitação das classes texturais no TT. Assim, as partículas de
areia e silte, especialmente nos solos do Brasil, são predominantemente de forma esférica e
composição mineralógica formada por quartzo, ao passo que as partículas de argila são de
formato laminar e compostas por minerais de argila (caulinita, ilita, montmorilonita,...) e
óxidos (de Fe, Al, ..). A classe textural é determinada pela distribuição do tamanho de
partículas e juntamente com o tipo de argila marcadamente afetam outras propriedades
físicas como a drenagem e a retenção de água, a aeração e a consistência dos solos.
Na tabela 1 são listadas algumas propriedades dos solos influenciadas pelo tamanho
das partículas dos solos.

Tabela 1 – Relação da textura do solo com algumas propriedades dos solos.


Solos arenosos Solos argilosos
Menor porosidade do solo Maior porosidade do solo
Menor micro e maior macroporosidade Maior micro e menor macroporosidade
Baixa retenção de água Alta retenção de água
Boa drenagem e aeração Drenagem lenta e pouco arejado (se pouco
agregados)
Menor densidade do solo Maior densidade do solo
Aquece rápido Aquece lentamente
Resiste à compactação Maior susceptibilidade à compactação
Baixa CTC Maior CTC
Mais lixiviável Menos lixiviável
Maior erosão Mais resistente à erosão
Coesão baixa, friável Coesão elevada, firme
Consistência friável quando úmido Consistência plástica e pegajosa quando
molhado
Fácil preparo mecânico Mais resistente ao preparo (pesado)
Matéria orgânica baixa e rápida Matéria orgânica média a alta e menor taxa
decomposição de decomposição

A classe textural de um solo é uma característica importante de um solo porque


varia muito pouco ao longo do tempo. A mudança somente ocorrerá se houver mudança da
composição do solo devido à erosão seletiva e/ou processos de intemperismo, que ocorrem
em escala de séculos a milênios. Portanto, o uso e o manejo do solo afetam muito pouco a
textura de um solo, implicando no fato que em nível de propriedade rural, em área com
classe textural similar, as variações da qualidade física estão associadas à variação de outras
propriedades físicas.

1.2. Estrutura do solo

A estrutura do solo refere-se ao agrupamento e organização das partículas do solo


em agregados e relaciona-se com a distribuição das partículas e agregados num volume de
solo. Considerando que o espaço poroso é de importância similar ao espaço sólido, a
estrutura do solo pode ser definida também pelo arranjamento de poros pequenos, médios e
grandes, com conseqüência da organização das partículas e agregados do solo. Esta última
definição aponta um dos principais e primário efeito da estrutura na qualidade dos solos.
A estrutura do solo, conceitualmente, não é um fator de crescimento das plantas ou
indicativo direto da qualidade ambiental. Porém, está relacionada indiretamente com
praticamente todos os fatores que agem sobre eles. O suprimento de água, a aeração, a
disponibilidade de nutrientes, a atividade microbiana e a penetração de raízes, dentre
outros, são afetados pela estrutura dos solos.
De acordo com a organização das partículas e do ambiente de formação muitos tipos
de agregados estruturais podem se formar. O tipo de agregado presente num solo
determina o tipo de estrutura do solo. Uma descrição geral desses tipos é apresentada a
seguir.
granular e grumosa – agregados arredondados formados predominantemente na superfície
do solo sob influência marcada da matéria orgânica e atividade microbiológica. Os grumos
apresentam poros visíveis. A sensação ao manusear o solo é de friabilidade, soltando-se
facilmente dos agregados vizinhos;
laminar – os agregados são de formato laminar e formados por influência do material de
origem ou em horizontes muito compactados;
prismática e colunar – os agregados formam-se em ambientes mal drenados e em
horizontes subsuperficiais com pequena influência da matéria orgânica. Normalmente são
agregados grandes e adensados. Quando o topo dos prismas são arredondados teremos a
estrutura colunar;
blocos angulares e subangulares – os agregados têm formato cubóide e formam-se em
ambientes moderadamente a bem drenados nos subsolos.
A variação do tipo de estrutura do solo é bastante usada na classificação de solos e
variam claramente quando varia o tipo de solo.

1.2.1 Gênese da estrutura de solo


Os mecanismos da formação da estrutura dos solos não são bem conhecidos; porém, sabe-
se que inicia com a formação dos solos e que, classicamente, dois fenômenos devem
ocorrer para haver a formação da estrutura dos solos como temos atualmente nos
ecossistemas. O primeiro refere-se à aproximação das partículas e o segundo à cimentação
ou estabilização os agregados. Na aproximação entre as partículas agem os seguintes
processos e fatores: floculação da argila e cátions trocáveis, desidratação do solo,
secamento localizado e pressão causados pelas raízes e organismos como minhocas
(coprólitos) e outros. Na estabilização dos agregados agem: quantidade e tipo de argila,
forças eletrostáticas (Van der Walls), matéria orgânica (polissacarídeos, ac. húmicos),
microrganismos pela ação mecânica (hifas de fungos) e produção de compostos orgânicos e
vegetação pela ação mecânica das raízes e fonte de material orgânico na superfície.
Um solo bem estruturado apresenta:
a) poros adequados para a entrada de ar e água no solo;
b) porosidade adequada para que a água se movimente através do solo, sendo disponível
para as culturas, assim como permita uma boa drenagem do solo;
c) porosidade adequada para o crescimento das culturas após a germinação das sementes,
permitindo que as raízes explorem um maior volume de solo em busca de ar, água e
nutrientes e;
d) resistência à erosão pela alta agregação.
A perda das condições adequadas e originais definem a degradação das condições
estruturais e são causadas principalmente por:
a) preparo intensivo e queima dos resíduos;
b) tráfego intenso de máquinas com umidade inadequada;
c) impacto da gota de chuva;
d) dispersão química dos colóides
e) inaptidão agrícola
As conseqüências da degradação são:
a) propriedades físicas afetadas - densidade e porosidade do solo, estabilidade dos
agregados, retenção e infiltração água ...;
b) camadas compactadas subsuperficiais;
c) resistência do solo à penetração;
d) erosão – sulcos ou laminar e;
e) crostas superficiais.
1.2.2. Avaliação da estrutura do solo
A avaliação direta da estrutura do solo é complexa e demanda de modernas
tecnologias tipo ressonância magnética, tomografia, etc., que ainda são de acesso limitado.
Porém, diretamente usa-se a descrição morfológica, que é qualitativa, para verificar a
estrutura do solo quanto ao tipo, tamanho e grau de desenvolvimento dos agregados. Essa
descrição distingue bem a estrutura quando consideradas grandes diferenças da condição
estrutural.
A avaliação quantitativa mais usada na avaliação da qualidade da condição
estrutural é de natureza indireta e mede outras propriedades físicas indiretamente
influenciadas pela estrutura do solo. A avaliação da estabilidade de agregados, densidade
do solo, porosidades e infiltração e retenção de água, considerando a classe textural,
indicam o estado atual da estrutura do solo. Esse tipo de avaliação é bastante usado para
medir-se a evolução da estrutura de um dado solo quando submetido a diferentes sistemas
de manejo.

1.3. Estabilidade de agregados


Expressa a resistência à desagregação que os agregados apresentam quando
submetidos a forças externas (ação implementos agrícolas e impacto gota chuva) ou forças
internas (compressão de ar, expansão/contração) que tendem a rompê-los. Mais
freqüentemente medida contra forças aplicadas pela água, é uma medição que tem estreita
relação com a habilidade de um solo resistir a erosão. Um dos métodos mais usados para
medir a estabilidade de agregados aplica forças de desintegração em uma amostra de
agregados grandes (4 mm) e mede posteriormente a distribuição de tamanho de agregados
resultantes. O tamanho médio e a proporção de tamanho são usados como índice de
estabilidade. Na figura 2 vemos que a estabilidade dos agregados é fortemente afetada pelo
cultivo, demonstrando a perda da estabilidade pelo uso de aração e gradagem para
instalação da cultura de milho. Com o retorno da não mobilização e aporte de cobertura de
solo pelo plantio direto, a estabilidade no solo arenoso foi restabelecida após 2 a 3 anos.
Figura 2 - Diâmetro médio de agregados (DMG) de um Argissolo Vermelho em plantio
direto contínuo e por dois anos ao preparo convencional.

A estabilidade é também fortemente afetada pela matéria orgânica do solo, através


da quantidade e de sua qualidade e, especialmente, por ser o agente cimentante mais
dependente do manejo de solo e plantas.

1.4 Densidade do solo (Ds)


Expressa a relação entre a quantidade de massa de solo seco por unidade de volume
do solo. No volume do solo é incluído o volume de sólidos e o de poros do solo.
Entretanto, havendo modificação do espaço poroso haverá alteração da Ds. O uso principal
da densidade do solo e como indicador da compactação, assim como medir alterações da
estrutura e porosidade do solo.
Os valores normais para solos arenosos variam de 1,2 a 1,9 g cm-3, enquanto solos
argilosos apresentam valores mais baixos, de 0,9 a 1.7 g cm-3. Valores de Ds associados ao
estado de compactação com alta probabilidade de oferecer riscos de restrição ao
crescimento radicular situam-se em torno de 1,65 g cm-3 para solos arenosos e 1,45 g cm-3
para solos argilosos.
A determinação da Ds é relativamente simples e baseia-se na coleta de uma amostra
de solos de volume conhecido e com estrutura preservada com técnicas diversas, incluindo
coleta de solo em cilindros, torrão ou feito diretamente no campo por escavação. Em todos
necessita-se medir o volume da amostra e quantificar quanto de solo seco tem-se no volume
coletado.
Os fatores que agem na variação das relações massa-volume do solo e na
pososidade afetam a Ds.
Densidade do solo, g cm-3
1,6 1,7 1,8 1,9
0 Solo: Argissolo Vermelho textura
superficial franco arenosa;
5
Círculos – solo sob plantio direto por 13
10 anos;
Profundidade, cm

Quadrado – plantio direto com duas


15
passadas de uma máquina de 10 000 kg;

20
Triângulo – plantio direto com quatro
passadas de uma máquina de 10 000 kg.
25
Fonte: Streck et al. 2003

30

Figura 3 – Modificação da densidade do solo pela compactação

1.5 Densidade de partículas (Dp)


Expressa a relação entre a quantidade de massa de solo seco por unidade de volume
de sólido do solo; portanto, não inclui a porosidade do solo e não varia com o manejo do
solo. Depende primariamente da composição química e composição mineralógica do solo.
Os componentes que predominam em solos minerais apresentam valores de Dp em
torno de 2,65 g cm-3, exceção quando tem teor de matéria orgânica ou óxidos de Fe e Al
altos. A matéria orgânica tem densidade específica de 0,9 a 1,3 g cm-3 e sua presença reduz
a Dp, ao contrário da presença de óxidos que aumenta a Dp.
O principal uso da Dp refere-se a cálculos de sedimentação de partículas em meio
líquido e estimativa da porosidade de uma solo quando se conhece a Ds.

1.6 Porosidade do solo (Pt)


O espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela água e ar compõem o
espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o volume de poros e o volume total
de um solo. É inversamente proporcional à Ds e de grande importância direta para o
crescimento de raízes e movimento de ar, água e solutos no solo. A textura e a estrutura dos
solos explicam em grande parte o tipo, tamanho, quantidade e continuidade dos poros.
Os tipos de poros estão associados à sua forma, que por sua vez tem relação direta
com sua origem. O tipo de poros mais característico são os de origem biológica, que são
arredondados e formados por morte e decomposição de raízes ou como resultado da
atividade de animais ou insetos do solo, como minhocas, térmitas, etc... Outro tipo de poros
apresenta forma irregular e de fenda formados por vários processos, tipo umedecimento e
secagem, pressão, etc... Poros arredondados tendem a ser mais contínuos e de direção
predominante normal a superfície, ao contrário das fendas no solo.
A classificação mais usual da porosidade refere-se à sua distribuição de tamanho. A
mais usual é a classificação da porosidade em duas classes: micro e macroporosidade. A
microporosidade é uma classe de tamanho de poros que, após ser saturada em água, a retém
contra a gravidade. Os macroporos, ao contrário, após serem saturados em água não a
retém, ou são esvaziados pela ação da gravidade. A funcionalidade desses poros fica
evidente quando se considera que os microporos são os responsáveis pela retenção e
armazenamento da água no solo e os macroporos responsáveis pela aeração e pela maior
contribuição na infiltração de água no solo.
A determinação da porosidade total (Pt) em laboratório é feita, principalmente, de
dois modos: 1) saturando-se uma amostra de solo e medindo-se o volume de água contido
e; 2) por cálculo conhecendo-se a Ds e a Dp (Figura 4)
Ms = massa de sólidos; Vt = volume total
Vs = volume de sólidos; Vp = volume de poros
Microporos Vol Sólidos Va = volume de água retido à –6 kPa
37.9 35.0
Solo de Ds = Ms/Vt; Dp = Ms/Vs
mato Pt % = (1-Ds/Dp) 100
Macroporos Microporosidade % = 100 Va/Vt
27.1
Macroporosidade = Pt – microporosidade

Microporos
40.7
Vol Sólidos
42.1 4 anos de
Microporos
40.2 Vol Sólidos 50 anos de
cultivo
47.0 cultivo

Macroporos
Macroporos
17.2
12.8

Figura 4 – Porosidades de um Latossolo argiloso (0 a 10 cm de profundidade) do planalto


Riograndense

A separação da porosidade total em micro e macroporos é feita em laboratório,


drenando-se a água dos macroporos usando uma sucção leve (-6kPa) em mesa de tensão ou
coluna de areia e medindo-se o volume de água que permanece na amostra, que é igual ao
volume de microporos. Conhecendo-se a Pt, calcula-se a macroporosidade por diferença.
Usando-se equação fundamental da capilaridade, o tamanho equivalente de poro à sucção
de 6 kPa é de 50 µm, sendo então o tamanho aproximado ao limite entre micro e
macroporos.
Em solos arenosos há predominância de macroporos, enquanto em solos argilosos a
tendência é predominar microporos. Nesse aspecto, a origem do tamanho de poros
relaciona-se ao tamanho de partículas e são considerados de natureza textural ou porosidade
textural. Quando as partículas se organizam em agregados, há a criação de poros no solo,
geralmente poros grandes entre agregados, sendo considerados porosidade estrutural. Esta
última é especialmente importante em solos argilosos onde os macroporos são formados
como conseqüência da estruturação.
Em solos argilosos bem estruturados como muitos latossolos do Planalto
Riograndense temos porosidade textural dentro dos agregados e estrutural entre agregados,
e nesses solos a macroporosidade é uma boa indicadora da condição estrutural ou física do
solo. A aeração dos solos refere-se à habilidade de um solo atender a demanda respiratório
da vida biológica do solo. Para isso, há necessidade de contínua troca de oxigênio e CO2
entre a atmosfera e o solo e, para que isso ocorra, é de grande importância a presença de
macroporos. Normalmente, considera-se que o espaço aéreo de 10 % de macroporos é
suficiente para arejar o solo e satisfazer a demanda respiratório no solo.

1.7 Consistência do solo


Descreve a resistência do solo em diferentes umidades contra pressão ou forças de
manipulação, ou refere-se à sensação de dureza, à facilidade de quebra ou à plasticidade e
pegajosidade de um solo em diferentes umidades ao ser manipulado pelas mãos. Sua
descrição morfológica é feita em três classes de umidade, seco, úmido e molhado,
manifestando, respectivamente, dureza, friabilidade e plasticidade e pegajosidade.
A variação da consistência com a umidade do solo é devido à influência da umidade
nas forças de adesão e coesão, como é demonstrado na figura 5.

Coesão
Adesão
Forças

Seco Úmido Molhado Saturado

Figura 5– Variação de forças associadas à consistência com a variação da umidade do solo.


O preparo e o tráfego do solo têm relação estreita com a consistência, pois afeta a
resistência do solo e, por conseguinte, sua compressibilidade, compactabilidade, capacidade
suporte e especialmente orientar manejo de solo em umidades ótimas de uso, exigindo
menor esforço para tração ou compactando menos por unidade de carga aplicada.
A consistência do varia muito de solo para solo e depende, especialmente, dos
seguintes fatores: textura, mineralogia, teor de matéria orgânica e da agregação do solo.
A mineralogia tem efeito marcante na consistência e na resposta do solo à mecanização.
Solos com o tipo de argilomineral 2:1 expansivas, como ocorre em solos escuros da
fronteira oeste do RS, são muito plásticos e pegajosos quando úmidos e muito duros
quando secos. A faixa de friabilidade, onde a umidade do solo é boa para manejo do solo é
muito pequena, exigindo maquinária mais potente e em maior número para trabalhar o solo.
O contrário se observa nos solos argilosos bem estruturados do Planalto Riograndense,
onde a mineralogia indica presença predominante de caulinita (argilomineral 1:1)
imprimindo ao solo ampla faixa de friabilidade, facilitando o manejo.
A resistência do solo tem estreita relação também com o estado de compactação do
solo e é freqüentemente usada para avaliar manejo de solos, visto que as raízes ao
crescerem, o fazem em espaços já existentes no solo ou têm que vencer a resistência para
abrir espaço ao seu crescimento. Quando a resistência do solo é maior que a pressão
celular, as raízes crescem na direção de menor resistência e mudam sua distribuição,
apresentando deformação do sistema radicular.

1.8 Relações solo-água


A água é necessária para cada se vivo e influencia de maneira direta ou indireta os
principais fenômenos e mecanismos que ocorrem nos solos. O intemperismo, os processos
de formação, atividade biológica, crescimento de plantas, assim como, poluição do lençol
freático recebem impacto direto do regime hídrico dos solos.
A água chega no solo através da chuva, infiltra, preenche a capacidade de
armazenamento no solo, é conduzida pelo solo para camadas mais profundas e alimenta o
lençol freático e aqüíferos. A fração que não penetra no solo, escoa alimentando
diretamente lagos, rios e oceano. A fração armazenada é em parte disponível para as
plantas, sendo absorvida e transpirada ao mesmo tempo e evapora diretamente do solo para
a atmosfera. As relações solo-água apresentadas neste texto estão associadas aos principais
processos que regem o ciclo da água na agricultura.

1.8.1 Retenção da água no solo


A água na forma líquida apresenta uma série de propriedades de fundamental
importância em seu comportamento no solo. A polaridade, pontes de hidrogênio e tensão
superficial da água fazem com que a água em sistemas porosos atinja estado de menor
energia livre e seja retida contra a gravidade, especialmente por capilaridade e também por
adsorção.
A equação fundamental da capilaridade estabelece que a força de retenção da água é
inversamente proporcional ao diâmetro do capilar multiplicado por uma constante derivada
das condições locais (gravidade local, Dp, temperatura). Se considerarmos o sistema poroso
do solo como um sistema capilar e com determinada área superficial entenderemos que a
água é retida no solo devido aos dois mecanismos: capilaridade e adsorção. A força capilar
explica a ascensão da água em vasos ou no campo, de baixo para cima contra a gravidade e
lateralmente quando a água é adicionada num ponto e aumenta a medida que o tamanho de
poro diminui. A medida que o solo seca diminui o volume de água retido até que a lâmina
de água fica restrita ‘a superfície das partículas, retida por efeito eletrostático ou por
adesão. Nestes dois processos de retenção, o maior volume de água e o mais disponível é
retido por efeito capilar e o volume menor e fortemente retido no solo é retido por
adsroção.
A textura e a estrutura do solo que definem a área superficial e a arquitetura do
sistema poroso são os principais fatores associados ao armazenamento e disponibilidade da
água nos solos, assim como, com a habilidade dos solos de deixar passar água na sua matriz
para camadas profundas do perfil do solo e da camada terrestre.
A quantidade de água retida por unidade de massa de sólido é definida como
umidade gravimétrica (Ug) e por unidade de volume do solo (Vt) é definida como umidade
volumétrica (Uv ou θ). Ambas podem ser expressas em termos unitários ou percentuais. A
medida da umidade é importante e de fácil execução, porém para a medição da Uv
necessita-se de coletar amostra com volume conhecido e estrutura preservada. Como a
umidade do solo é muito variável, o comum é medir-se a Ds e determinar a Ug,
transformando-a em Uv multiplicando-se pela Ds como segue: Uv = Ug x Ds.
Assim como a chuva, a quantidade de água armazenada em um solo é comumente
apresentada em termos de lâmina de água retida. Um solo que apresenta Uv=0,3 cm3 cm-3
de 0 a 50 cm de profundidade possui retida um lâmina de 150 mm de água armazenada,
calculada como segue:
Armazenamento, mm=Uv . espessura da camada = 0,3 cm3 cm-3 . 50 cm = 15 cm = 150 mm
Se considerarmos um hectare de área haverá 1 500 000 litros de água armazenado,
calculado como segue:
Armazenamento, litros ha-1 até 50 cm = 0,15 m . 10 000 m2 = 1 500 m3 = 1 500 000

A quantidade de água retida é um importante parâmetro do solo, porém não informa


sua disponibilidade ou a sua força de retenção. O movimento de massas na natureza se dá
de pontos de energia livre mais altos para pontos de energia mais baixa, e como no solo o
movimento de água é pequena a energia considerada é a potencial. Modernamente, no solo
estipulou-se medir o quanto de trabalho deve ser realizado numa quantidade de água para se
deslocar de um dado estado ao estado de referência. Três forças definem o total da energia
livre da água: 1) osmótica; 2) gravitacional e; 3) forças originadas pela matriz do solo. No
solo as concentrações de sais tendem a se igualar por difusão, sendo a diferença de energia
devido a forças osmóticas, predominantes no domínio solo-raiz, influindo pouco no
movimento e retenção da água. Na gravidade a energia potencial toma conotação de energia
de posição dentro do campo gravitacional, importante na definição do movimento de água e
deve ser computado para equacionamento de fluxo de água no solo. As forças originadas
pela matriz do solo, através dos fenômenos de adsorção e capilaridade, são as responsáveis
pelo potencial matricial, antigamente chamado de potencial capilar.
O total de energia por unidade de volume de água é definido como sendo o
potencial total expresso em termos de pressão (kPa, bar, cm de coluna de Hg ou água). O
principal componente do potencial total em solos não saturados é o potencial matricial,
responsável pela retenção de água contra a ação da gravidade e por isso ter sinal negativo e
chamado de tensão da água no solo. Pela equação da capilaridade temos que, quanto menor
o tamanho dos poros maior a força capilar e maior tem que ser a força para extrair a água
de dentro deste capilares. Deste modo um solo saturado ao secar os poros maiores são
esvaziados primeiro e a medida que a umidade do solo vai reduzindo, a energia livre é
menor e a água vai ficando mais fortemente retida. Assim na mesma posição gravitacional
e no mesmo solo ou horizonte a água de desloca de pontos mais úmidos para mais secos, no
entanto, quando a posição gravitacional não é a mesma não necessariamente a água se
move de pontos mais úmidos para mais secos.
Em laboratório constrói-se curvas relacionando umidade do solo e potencial
matricial denominado-as de curva de retenção de água no solo ou curva característica de
água no solo (Figura 6). No campo a medição do potencial matricial é feita por um
equipamento chamado de tensiômetro.

Figura 6 – Modelo conceitual de uma curva de retenção de água no solo

Um solo saturado apresenta toda sua porosidade cheia de água, que após drenado
em condições naturais, os macroporos são drenados e os microporos ficam preenchidos
com água. Neste estado o movimento descendente é pequeno e tradicionalmente considera-
se que o solo apresenta a sua máxima capacidade de armazenamento de água contra a
gravidade e considera-se a umidade deste estado como sendo a capacidade de campo (CC).
O potencial matricial da água no solo encontra-se na faixa de -10 a -33 kPa, dependendo da
textura e estruturação do solo. Ao contrário, a umidade onde as plantas murcham
permanentemente é chamada de ponto de murcha permanente (PMP) e apresenta potencial
matricial em torno de –1500 kPa. A diferença de umidade entre a CC e PMP nos indica a
faixa de água disponível de um solo, que pode ser dada em termos percentuais ou em
lâmina de água. Esta última é uma excelente indicadora da habilidade de um solo reter água
a ser utilizada pelas plantas. A textura, matéria orgânica e a agregação são os principais
fatores que afetam a disponibilidade de água para as plantas.

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