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Compromisso (ACT):
mais uma possibilidade
para a clínica comportamental
Copyright © desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2012.
Todos os direitos reservados
64 p
21cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4 ISBN 978 85 7918 036 1
2012
ESETec
I’ve lived a life that’s full
I’ve traveled each and every highway
[…] I faced it all and I stood tall
And did it my way
[…] I’ve loved, I’ve laughed and cried
I’ve had my fails, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing
To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh, no, no not me
I did it my way
Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 9
4 APLICAÇÕES ......................................................................................... 37
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 53
APÊNDICE A
GLOSSÁRIO EXPLICATIVO DE CONCEITOS DA ACT ........................ 59
8
1
INTRODUÇÃO
9
década de 50. A ausência de suporte empírico das intervenções utilizadas
até então motivou os terapeutas comportamentais a realizarem testes e
experimentos que comprovassem os princípios básicos do
comportamento. A obra de Pavlov na área do condicionamento respondente
foi fundamental para esse período histórico (VANDENBERGHE; SOUSA,
2006). A segunda geração da Terapia Comportamental nasce a partir das
limitações apresentadas pelos terapeutas de primeira onda no que tange
seus esforços para explicar e intervir sobre os eventos privados
(sentimentos, pensamentos, sensações etc.). Vermes, Zamignani e Mayer
(2010) apontam que a década de 1970 foi dominada pelo modelo cognitivo
racionalista, segundo o qual os processos psicológicos eram mediados
por sistemas subjacentes. Assim como a primeira onda da AC, a segunda
geração ficou marcada pelos seus êxitos no tratamento dos transtornos
de humor. Outra herança do modelo clássico da AC foi o foco na
eliminação de respostas problemáticas, disfuncionais ou mal adaptativas
enquanto meta clínica (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999).
Inúmeros autores intitulam os anos 80 e seus subsequentes de
Terceira Onda ou Terceira Geração da AC (FLETCHER; HAYES, no prelo2;
HAYES, 2004; PEREIRA; GUIMARÃES; GUEDES, no prelo 3;
VANDENBERGHE, 2007; VERMES; ZAMIGNANI; MEYER, 2010).
Caracterizado fundamentalmente pela busca de epistemologias alheias
ao mecanicismo e ao racionalismo, e pela eclosão das releituras
contextualistas do Behaviorismo Radical, o movimento terceira-ondista
compreende quatro modelos de intervenção clínica em seu núcleo, são
eles: a Psicoterapia Analítico Funcional, a Terapia Comportamental
Integrativa de Casais, a Terapia Comportamental Dialética e a Terapia de
Aceitação e Compromisso (VANDENBERGHE, 2007).
Harris (2008) aponta que, no bojo da terceira onda da análise do
comportamento, existe um ímpeto revolucionário que a imiscui nesse
2
Relational Frame Theory, Acceptance and Commitment Therapy, and a Functional Analytic
Definition of Mindfulness, de autoria de FLETCHER, L; HAYES, S. A ser publicado no Journal
of Rational Emotive and Cognitive Behavioral Therapy.
3
PEREIRA, C; GUIMARÃES, T; GUEDES, M. Eventos em Análise do Comportamento:
contribuição ao estudo da institucionalização da AC no Brasil. Disponível em <http://
www.abpmc.org.br/relatorio.pdf.
10
contexto de amplas modificações estruturais dos paradigmas científicos.
Uma vez que abandona o modelo racionalista característico dos terapeutas
cognitivo-comportamentais e supera o sistema compreensivo mecanicista
das respostas disfuncionais do modelo pavloviano clássico, os terapeutas
de terceira geração da AC inauguram um período fértil em produções
teóricas e comprovações empíricas da efetividade de suas intervenções.
Ainda assim, Hayes, Strosahl e Wilson (1999) alertam que foram
necessários mais de 20 anos para que a Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT) se transformasse em um modelo de intervenção
teoricamente consistente e filosoficamente bem embasado. Tendo em
vista que em 1986 já existiam estudos metodologicamente criteriosos
que comprovavam a eficácia do tratamento de indivíduos depressivos
com a ACT, e que o primeiro livro-texto só foi publicado em 1999, é de se
esperar que muito tenha sido produzido nessa área. Tal hipótese é
verdadeira caso o olhar do leitor seja fixado no território estadunidense. A
despeito dos incontáveis resultados positivos no tratamento de grupos
acometidos pelas mais diversas psicopatologias, salta aos olhos a carência
de trabalhos científicos sobre o tema nos mais respeitados bancos de
tese e revistas científicas de maior circulação no meio acadêmico nacional.
Harris (2006, p.3)4 afirma que “atualmente existe um vasto corpo de
dados empíricos que embasam a efetividade da ACT”. São notáveis os
resultados apresentados pela Terapia de Aceitação e Compromisso nos
tratamentos do exibicionismo (FUKAHORI, SILVEIRA; COSTA, 2005), da
depressão (DOUGHER; HACKBERT, 2003; KANTER, BARUCH; GAYNOR,
2006), da dependência de substâncias psicoativas (TWOHIG;
SHOENBERGER; HAYES, 2007; STOOTS, MASUDA; WILSON, 2009), da
dor crônica (TORCH; FOLLETTE, 2006), das psicoses (BACH, 2004) e
dos transtornos de ansiedade (ORSILLO et al., 2004). Existem ainda
estudos que apontam que a ACT chega a atingir índices de 50% de
redução na incidência de re-hospitalização de pacientes esquizofrênicos
com apenas quatro horas de intervenção (BACH; HAYES, 2002).
Tendo em vista que a literatura internacional aponta a ACT como
uma ferramenta clínica de muito valor e utilidade, se faz necessário um
trabalho que introduza o referido modelo no repertório terapêutico dos
4
Original em inglês, tradução nossa.
11
analistas do comportamento brasileiros. Pretendemos, neste livro,
apresentar a Terapia de Aceitação e Compromisso no que tange os seus
fundamentos filosóficos, pressupostos, e aplicações. Buscaremos, a partir
de uma criteriosa revisão da literatura, contextualizar a ACT no cenário da
terceira onda da análise do comportamento; elencar conceitos
fundamentais que embasam o modelo de intervenção; e identificar
possíveis cenários de aplicação da referida psicoterapia.
Esperamos que esta obra sirva de incentivo aos que difundem a
ciência do comportamento e auxilie na expansão do leque de tecnologias
comportamentais à disposição dos terapeutas brasileiros. As discussões
levantadas aqui não ambicionam esgotar o tema muito menos dar caráter
de verdade às conclusões extraídas dos dados encontrados. Afinal de
contas como ensinam Hayes, Strosahl e Wilson (1999, p.19) 5:
O critério de verdade do contextualismo é o sucesso. Análises são
verdadeiras apenas em termos do cumprimento de determinadas metas.
Desse modo, a verdade é sempre local e pragmática. A sua verdade
pode não ser a minha, porque podemos ter objetivos bastante diferentes.
5
Original em inglês, tradução nossa.
12
2
O MOVIMENTO HISTÓRICO DA TERAPIA
COMPORTAMENTAL
• Campo Filosófico:
Behaviorismo Conjunto de
Radical postulados. Descrição
de assunções e
padrões.
13
comportamento, compreendido como uma interação entre indivíduo e
ambiente, realiza esforços para entender, sistematizar dados, explicar,
descrever, prever, controlar e intervir no comportamento humano. O terceiro
e último nível desta pirâmide é constituído pela Terapia Comportamental
que pode ser compreendida como a aplicação direta das contribuições
teóricas da Análise do Comportamento. É uma modalidade de práticas e
tecnologias que busca, utilizando o conhecimento disponível sobre o
comportamento humano, transformar a realidade (ULIAN, 2007).
Ao contrário do que se geralmente veicula na literatura psicológica,
a psicoterapia de base comportamental tem passado por diversos períodos
de reestruturação (VERMES; ZAMIGNANI; MEYER, 2010). Há muito foi
ultrapassada a psicologia estímulo-resposta e seus métodos laboratoriais,
e nas últimas décadas foi apresentada à comunidade científica e aos
clientes uma clínica comportamental bastante reformulada. A terceira onda,
ou terceira geração, da Terapia Comportamental reinventou o setting
terapêutico e trouxe o indivíduo – tanto aquele que procura ajuda porque
sofre quanto aquele que sofre porque tenta, juntamente com o primeiro,
superar o sofrimento – para o centro do palco terapêutico.
A chamada Primeira Onda, ou primeira geração, da Terapia
Comportamental surgiu em 1913 com a publicação de Watson A psicologia
vista por um behaviorista (VERMES; ZAMIGNANI; MEYER, 2010). Tida
por muitos como o marco inicial da Terapia Comportamental, esta
publicação ficou conhecida como o “Manifesto Behaviorista”. O
behaviorismo watsoniano, ou clássico, foi marcado pela forte influência
de Pavlov. Outra característica desse momento foi a crença de que um
programa de pesquisa bem estruturado seria capaz de identificar ao menos
um estímulo incondicionado ou condicionado que antecedesse toda e
qualquer resposta. Segundo Vermes, Zamignani e Meyer (2010) esta forma
de atuar ficou conhecida por “psicologia S-R” ou psicologia do estímulo-
resposta e manteve-se como protagonista do movimento behaviorista até
os anos 40, momento no qual Skinner elucidou os mistérios do
comportamento operante (VANDENBERGHE, 2007).
Os anos 50 figuraram como o ápice da primeira geração da Terapia
Comportamental, o movimento que surgiu como uma tentativa de substituir
a Psicoterapia Existencial, entendida, pela comunidade científica, como
ineficaz e pouco embasada nos princípios empiristas, trouxe em seu bojo
14
as formulações de Wolpe sobre o processo de Inibição Recíproca que
são o cerne da técnica, ainda atual, de dessensibilização sistemática.
Seu foco era principalmente a eliminação de respostas inadequadas,
entretanto o condicionamento de respostas funcionais já aparecia, mesmo
que superficialmente, como objetivo terapêutico. Os terapeutas da primeira
onda carregavam, com muito empenho e honra, a bandeira do rigor
metodológico e definiram o laboratório como “terra sagrada”. Apesar dos
progressos obtidos na área das teorias do aprendizado a partir da
conceituação do comportamento operante, sua transposição para o
campo clínico não foi muito exitosa na época. Os terapeutas foram bastante
superficiais quanto à sua operacionalização, razão pela qual as técnicas
utilizadas nunca surtiam o efeito esperado e pareciam até mesmo inocentes
(VANDENBERGHE, 2007). Como exemplo disto têm-se o reforçamento
de sorrisos e verbalizações otimistas em pacientes deprimidos (COONS1
apud VANDENBERGHE, 2007) e a instalação de um programa de
economia de fichas para solucionar problemas relacionais entre casais
(STUART2 apud VANDENBERGHE, 2007).
Com o advento dos modelos cognitivos nos anos 70, que chegaram
a tomar para si a predominância do campo do tratamento da ansiedade
há muito dominado pelo comportamentalismo (VERMES; ZAMIGNANI;
MEYER, 2010), surge a Segunda Onda da Terapia Comportamental. Ao
manter o ideal empirista de ciência e sustentar, o rigor metodológico da
geração anterior, os “modificadores de comportamento” deixaram de lado
o interesse pelo desenvolvimento terapêutico e suas energias se voltaram
para os controles experimentais rigorosos e para uma tentativa de
transposição dos progressos obtidos no laboratório para o setting clínico.
Diante das dificuldades de compreender e explicar, principalmente os
comportamentos encobertos (emoções, fantasias, sonhos etc.), surge o
princípio cognitivo que reza que sentimentos e comportamentos
interpessoais são mediados pela cognição, estabelecendo-se então um
novo paradigma que contrastava com o proposto por Skinner.
1
COONS, W. Psychotherapy and verbal conditioning in behavior modification. Canadian
Psychologist , [S.l.], vol. 13, p. 3-29, 1972.
2
STUART, R. Operant-interpersonal treatment for marital discord. Journal of Consulting and
Clinical Psychology , [S.l.], vol.36, p.675-682, 1969.
15
Vandenberghe (2007) comenta ainda que esta situação terminou por gerar
muitas críticas de ordem paradigmática e epistemológica.
Os anos 80 foram destacados, na história do behaviorismo, como
um período de grande avanço na teoria comportamental (VERMES;
ZAMIGNANI; MEYER, 2010). A terceira geração da AC surge trazendo o
retorno à psicoterapia vivencial superando a mera aplicação de técnicas
como método de tratamento. As epistemologias não-lineares e pouco
ortodoxas como o construtivismo social e as releituras contextualistas do
behaviorismo radical assumiram posição central na agora chamada
Análise Clínica do Comportamento, rótulo que, segundo Vandenberghe
(2007), compreende fundamentalmente quatro modelos clínicos:
Psicoterapia Analítico Funcional (FAP), Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT), Terapia Comportamental Dialética (DBT) e Terapia
Comportamental Integrativa de Casal (ICBT).
A adoção da filosofia analítico funcional marcou profundamente o
modo de fazer clínica dos terapeutas comportamentais dessa geração. A
ênfase na vivência genuína e a grande relevância assumida pela relação
terapêutica fizeram com que a meta da psicoterapia se expandisse e a
construção de um repertório amplo e flexível para uma interação saudável
com o mundo fosse adotada como foco das intervenções (VERMES;
ZAMIGNANI; MEYER, 2010). A terceira onda da Terapia Comportamental
reduziu a importância das psicopatologias e aumentou o nível de atenção
para as formas particulares com que cada indivíduo vivencia o cotidiano.
Temáticas-tabu, anteriormente desconfortáveis para os terapeutas
comportamentais como emoções, motivação, comportamento verbal
(pensamentos, sentimentos e demais cognições) e o complexo mundo
das relações simbólicas, passaram, a partir da década de 80, a ser centrais
nas intervenções clínicas. Essa ampliação do leque de atuação dos
psicoterapeutas se deu, também, por conta da expansão do nível de
compreensão do comportamento humano. O modelo causal da origem
dos comportamentos e os três níveis de seleção comportamental
apontados por Skinner (2007a) passaram a ser mais bem explorados
uma vez que o entrelaçamento da cultura, enquanto contexto verbal/social,
com a filogênese e a ontogênese ficou mais claros a partir das
contribuições na área das metacontingências (MOREIRA; MARTONE;
TODOROV, 2005) e dos quadros relacionais (HAYES, 2004).
16
Essa complexa teia de relações, que gera como produto final as
formas pelas quais interagimos com o mundo, é chamada de repertório
comportamental (JÚNIOR; SOUZA, 2006). Como nunca será possível dois
indivíduos possuírem as mesmas experiências filo e ontogenéticas e
culturais, nunca existirão repertórios de comportamento idênticos, daí
então, surge a perspectiva skinneriana do caso único que prega o estudo
e consequente intervenção particular e individual para cada cliente
(SKINNER, 2007a). Uma das inúmeras contribuições de Kohlenberg e
Tsai (2010) para o avanço das tecnologias comportamentais na clínica
diz respeito a esta perspectiva de estabelecer relacionamentos intensos e
curativos com os clientes. A relação terapêutica, segundo os autores
citados, estabelece-se como um encontro muito distinto entre dois seres
humanos. Afastando-se da assunção de que a relação terapêutica é um
mero cenário, assume-se que ela pode ser vista como instrumento de
mudança comportamental. Uma vez que esta relação é uma interação
social, que apesar de suas particularidades reflete as características dos
relacionamentos estabelecidos pelos clientes no mundo fora do setting
clínico, deve-se utilizá-la como anteparo para os processos de
aprendizagem comportamental.
Vermes, Zamignani e Meyer (2010) apontam que todo
comportamento existe por um bom motivo, o que significa dizer que todo
comportamento traz algum benefício para o indivíduo. A terceira onda da
Terapia Comportamental instaurou como primeiro passo do terapeuta no
caminho para a mudança a descoberta de quais variáveis ambientais
foram responsáveis por instalar e quais são responsáveis por manter o
comportamento de interesse do cliente. Esse processo vem sendo
chamado com certa frequência de “análise funcional do comportamento”.
A despeito de tal informação, existem autores que discordam de tal
nomenclatura, e sugerem o termo “análise de contingências” como mais
adequado para intitular tal intervenção (ULIAN, 2007).
A terceira geração da Terapia Comportamental foi de encontro à
concepção absolutamente equivocada de que o behaviorismo e as
psicoterapias apoiadas nesse sustentáculo filosófico ignoram ou dão
pouco valor aos eventos internos do organismo, por exemplo, sentimentos
e sonhos – crença essa que tem origem numa compreensão parcial da
história dos movimentos da Terapia Comportamental (VERMES;
17
ZAMIGNANI; MEYER, 2010). Skinner (2007a) desde que iniciou suas
análises comportamentais percebeu que o mundo interno é tão importante
quanto o mundo diretamente observável, a única diferença entre eles está
situada na capacidade de acessar os eventos de interesse. Tanto os
encobertos ou internos quanto os comportamentos públicos ou observáveis
são produzidos pela interação do indivíduo com o ambiente, desse modo
a importância deles se equivale e o terapeuta deve dedicar esforços
similares para compreendê-los (BLACKLEDGE; HAYES, 2001).
Como exposto, as terapia comportamentais vêm sofrendo mudanças
significativas nas últimas décadas. A passagem das três gerações não foi
estanque ou eminentemente abrupta. Como todo processo histórico muitas
idas e vindas ocorreram e até hoje é possível encontrar terapeutas
comportamentais fazendo uso, muitas vezes com êxito, de técnicas
surgidas nos tempos de Watson (VERMES; ZAMIGNANI; MEYER, 2010).
É nesse contexto de mudança e renovação que nasce da pena de Steven
Hayes, a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Em consonância
com seus contemporâneos Kohlenberg, Tsai, Jacobson, Christensen e
Linehan, Hayes, psicólogo estadunidense ligado a Universidade de Reno
(Nevada), está revolucionando a Terapia Comportamental desde os anos
80. A seguir será desenvolvida uma exposição dos fundamentos filosóficos,
dos pressupostos teóricos, do modelo de psicopatologia e de algumas
técnicas clínicas da ACT com o intuito de difundir os conhecimentos
sobre o tema em território brasileiro, expandir o repertório clínico dos
terapeutas comportamentais do país e motivar novos estudos que
complementem a literatura.
18
3
TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO
19
a dor que essa vida, inevitavelmente, trará. Um dos focos do terapeuta da
ACT está na definição e esclarecimento de valores que possam dirigir o
cliente neste modo único de viver. Utilizando os princípios da aceitação e
do contato por inteiro com o momento presente busca-se reduzir o impacto
dos pensamentos intrusivos e sentimentos aversivos no comportamento
do indivíduo que procura tratamento.
Harris (2009, p. 33)2 aponta que a ACT é o “mais alto dos três andares
de uma fabulosa mansão”. Neste edifício metaforizado pelo autor, o segundo
andar seria povoado pela Teoria dos Quadros Relacionais, o primeiro
pela Análise Aplicada do Comportamento (ABA) e o terreno sobre o qual foi
erguido este “empreendimento imobiliário” seria composto pelo
Contextualismo Funcional (FC) (Fig. 2). Apesar de a imagem idealizada
pelo autor estar visivelmente enviesada, levando-se em consideração a
grandiosidade da adjetivação, a sua forma torna clara a robustez estrutural
construída pelos criadores da ACT. Como já exposto em seções anteriores
Hayes precisou de quase 20 anos para satisfazer-se com sua obra, esta
situação deu margem ao desenvolvimento de pesquisas de base e
construções teóricas que embasaram a prática clínica. Harris (2008)
aponta que a Terapia de Aceitação e Compromisso é passível de ser
ACT
RFT
ABA
2
Original em inglês, tradução nossa.
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aplicada apenas à nível técnico com grandes possibilidades de êxito
terapêutico, contudo Hayes, Strosahl e Wilson (1999) vão ao encontro do
primeiro autor quando concordam que a compreensão filosófica e teórica
das raízes da ACT abrem espaço para a inovação e variabilidade
interventiva.
3
Original em inglês, tradução nossa.
21
contextos. Dois questionamentos auxiliam nas análises embasadas no
FC: 1) Em que circunstâncias/contextos ocorre tal evento? e 2) O que se
consegue a partir desse evento? (HARRIS, 2006).
Dentro da concepção dessa base filosófica não há espaço para
nenhum tipo de reducionismo uma vez que a consideração holística do
contexto deve abranger todos os tipos de variáveis (biológicas, psicológicas
e culturais). Em decorrência de tal assunção o sentido de uma análise
que privilegie algum desses aspectos se perde. Outro postulado de raiz
filosófica que se faz muito presente nas intervenções dos terapeutas da
ACT diz respeito ao critério de verdade. O contextualismo funcional adota
como verdadeiro tudo aquilo que funciona para o cumprimento de uma
meta específica, postulado este que embasa o conceito workability 4,
livremente traduzido por nós para a língua portuguesa como utilidade. É
comum que em sessões clínicas os clientes da ACT sejam confrontados
com perguntas do tipo: “A que propósito serve essa atitude?”, ou ainda,
“Essa estratégia comportamental é realmente útil?” e frente às respostas
obtidas se assume o compromisso com a mudança e o desenvolvimento
de repertórios comportamentais mais ricos e flexíveis (HARRIS, 2006).
Uma análise contextualista funcional deve possuir: 1) precisão (deve
ser específica para um determinado fenômeno); 2) alcance (deve
descrever a extensão de uma gama de fenômenos); e 3) profundidade
(deve apresentar coerência entre os três níveis de seleção
comportamental) (HAYES, 2004). O objetivo de uma análise como a
descrita é, simultaneamente, prever e influenciar realidades. Uma vez que
o contexto é a única possibilidade de manipulação que se oferece ao
terapeuta, vale frisar o valor inestimável de uma acurada análise das
variáveis ambientais. A ACT herda do FC a especificidade interventiva ao
passo que, enquanto configura-se como aplicação clínica de uma filosofia
realista, rejeita terminantemente a ontologia. Sendo assim não é
considerada a essência dos eventos, a verdade não é julgada por sua
natureza e sim por sua utilidade (ou função) num determinado contexto.
Por conta de todas essas características citadas a ACT floresce num
4
A tradução literal do termo é trabalhabilidade, entretanto a tradução da sentença “it´s true if it
works.” (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999, p. 20) - é verdade se funciona – indica que é
mais adequado adotar o significante utilidade como correlato em língua portuguesa para o conceito.
22
terreno onde metas, que mais tarde ficam caracterizados como valores,
são indispensáveis (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999). A metáfora da
cadeira de três pernas é capaz de sintetizar adequadamente o desenho
filosófico do FC:
Imagine que alguma coisa aconteceu a esta cadeira, e então uma de
suas pernas saiu do local em que estava originalmente instalada. Você
descreveria esta cadeira como “quebrada”, ou “faltosa”, ou
“danificada”? Você a chamaria de “cadeira disfuncional”, ou então
“cadeira mal adaptativa”? Eu tenho feito essas perguntas a centenas
de terapeutas e eles sempre dizem “sim” à pelo menos uma delas. O
problema é que essa resposta instintiva – “Sim, existe algo errado,
faltoso, ou prejudicado nessa cadeira” – esquece de levar em
consideração todo o contexto da situação. Pensemos em pelo menos
três ou quatro contextos em que nós poderíamos dizer que essa cadeira
funciona efetivamente aos nossos propósitos: pregar uma peça em
alguém; criar uma exibição de arte com mobílias quebradas; demonstrar
problemas de design numa aula de construção de mobília [...] Em
todos esses contextos essa cadeira funciona muito efetivamente. Este
exemplo ilustra como o contextualismo funcional ganha o seu nome:
ele olha como as coisas funcionam em determinados contextos.
(HARRIS, 2009, p. 34-35) 5
5
Original em inglês, tradução nossa.
23
Segundo Hayes, Barnes-Holmes e Roche (2001) o núcleo da
linguagem e da cognição humana reside na habilidade de aprender a
derivar eventos sob controle contextual arbitrário. Dito de outra maneira,
os autores se referem à capacidade, exclusivamente humana, apresentada
após 14-16 meses de vida, de relacionar eventos e prescindir de instrução
direta para estabelecer novos aprendizados (HARRIS, 2009). A sentença
“relacionar eventos” se refere ao comportamento de organizar diferentes
experiências (tanto privadas, como sentimentos, sensações, memórias,
pensamentos, entre outras cognições, quanto públicas) que compartilham
algum tipo de função em conjuntos chamados quadros relacionais. Por
exemplo, a palavra “FOGO”, o som da palavra “FOGO”, a imagem de
chamas e a sensação aversiva causada pelo contato da pele com as
chamas podem ser eventos pertencentes a um mesmo quadro relacional
de um determinado indivíduo.
À capacidade de ampliar as redes relacionais através do
estabelecimento de novas relações dá-se o nome de derivação relacional.
Outra característica constituinte da cognição humana é a capacidade de
derivar relações a partir de propriedades não formais dos eventos (HAYES;
BARNES-HOLMES; ROCHE, 2001). O exemplo clássico para essa
propriedade é o controle arbitrário ao qual estão submetidas as moedas
de 5 e 10 centavos. Uma criança que está dando os primeiros passos no
aprendizado das relações financeiras deve afastar-se da lógica que aponta
o tamanho físico dos objetos como indicativo do seu valor. A criança deve
então aprender que a moeda de 10 centavos apesar de menor em tamanho
vale mais que a de 5 centavos. O valor aplicado ao evento não diz respeito
à propriedade física do objeto, mas sim ao que foi estabelecido pela
comunidade verbal como mais e menos valioso.
A RFT tem sido uma das áreas mais ativas em pesquisa básica da
última década e tem apresentado forte suporte empírico para seus
postulados (HAYES; BARNES-HOLMES; ROCHE, 2001). Nessas pesquisas
foram descobertas três propriedades fundamentais dos quadros relacionais
que serão detalhadas a seguir:
a) Bidirecionalidade: também denominada de implicação mútua,
esta propriedade acena para a possibilidade de que após uma instrução
direta do tipo A = B, um humano seja capaz de derivar a relação B = A.
Suponhamos que um indivíduo, com domínio exclusivo da língua
24
portuguesa, está pela primeira vez assistindo a uma aula de finlandês. A
primeira instrução que o professor lhe dá é que o conjunto de letras, ou
seja, a palavra sitruuna é equivalente em finlandês à palavra limão em
português. Mesmo sem ter sido ensinada a relação inversa (palavra limão
é equivalente a palavra sitruuna), o indivíduo frente ao questionamento
“Qual a palavra em finlandês para limão?” é capaz de responder com
convicção: sitruuna;
Limão = Sitrunna
Sitrunna = Limão Limão = Sitrunna
Sitrunna = Limão
25
Instrução Direta Derivação Quadro Relacional
26
relacional conforme compartilham algum tipo de propriedade. Desse
modo, é plausível especular o perigo do aprendizado e inclusão do evento
psicológico “Eu” numa cadeia de significantes como, por exemplo,
“depressão”, “doença” e “suicídio”. A RFT tem sido utilizada pelos
comportamentalistas para explicar uma série de eventos clínicos como,
por exemplo, a depressão, o preconceito, o auto-conceito, o misticismo,
entre outros (HAYES; BARNES-HOLMES; ROCHE, 2001). Na tentativa de
esclarecer a aplicabilidade da Teoria dos Quadros Relacionais no contexto
clínico, Harris (2006 , p.3) 6 propõe a análise do estabelecimento de um
quadro de ansiedade:
Para efeitos ilustrativos, imagine uma criança pequena que ouve que
ela está passeando num “BARCO”, e logo em seguida ela experiencia
um grande enjoo por conta do balanço das ondas (por condicionamento
respondente a palavra “BARCO” se torna um aversivo). Em uma aula
na escola, essa mesma criança aprende que um “Ferryboat” é uma
espécie de barco. Mais tarde então a criança ouve que irá viajar pela
primeira vez num “ferryboat”, ela então passa a demonstrar sinais de
ansiedade apesar de nunca ter experenciando uma viagem de
ferryboat. Esse efeito se baseia na aquisição de funções respondentes
de “barco” e na derivação relacional entre “barco” e “ferryboat”. Em
efeito a criança não precisa experimentar as possíveis consequências
aversivas de viajar num ferryboat em águas agitadas para mostrar
sinais de ansiedade.
Outra base teórica na qual se sustenta a ACT denomina-se Análise
Aplicada do Comportamento (ABA). A ABA pode ser compreendida como a
extensão interventiva da AC. Enquanto na Análise Experimental do
Comportamento os interesses do profissional estão dirigidos pelos seus
próprios valores, na análise aplicada do comportamento, segundo Ferster
(1979), ele é obrigado a se engajar em qualquer problema que o cliente
trouxer. Esta poderosa tecnologia intenciona a previsão e a influência
comportamental. Baseada na teoria de aprendizagem e nos princípios
comportamentais básicos exporta para a ACT, entre outras práticas, a
análise da tríplice contingência (HARRIS, 2009). Nesse sentido,
estabelece-se como ponto de partida para a mudança comportamental a
chamada análise ABC, na qual A refere-se aos antecedentes – o que inclui
6
Original em inglês, tradução nossa.
27
eventos privados, estados físicos e fatores ambientais -, o B à resposta em
estudo, e o C às consequências da ação.
Por estar no campo prático, ou seja, em contato direto com os
eventos de interesse dos analistas do comportamento, a ABA exerce uma
função primordial para o desenvolvimento da Ciência do Comportamento:
abastecer os pesquisadores e teóricos das áreas de experimentação e
filosofia com os problemas e desafios impostos pela realidade (HAYES;
STROSAHL; WILSON, 1999). E é nesse sentido que os terapeutas da ACT
têm trabalhado, há mais de 20 anos. O fomento às pesquisas de base, o
incentivo à criatividade nas tecnologias clínicas e a constante difusão do
conhecimento são as formas mais eficientes de se manter uma íntima
relação entre filosofia, teoria e prática.
7
KESSLER, R; McGONAGLE, K; ZHAO,S; NELSON, C; HUGHES, M; ESHLEMAN, S;
WITTCHEN, H; KENDLER, K. Life time and 12-month prevalence of DSM-III-R psychiatric
disorders in the United States: Results from the National Comorbity Study. Archives of General
Psychiatry, [S.l], vol. 51, p.8-19.
28
Predominância do passado conceitual e de
um futuro temido; baixo autoconhecimento
Falta de clareza de
Esquiva de
valores;
experiência
predominância da
influenciabilidade e
da esquiva de
Inflexibilidade situações
psicológica
Atrelamento ao eu-conceitual
Fonte: HAYES, S; PISTORELLO, J; BIGLAN, A. p.81-104, 2008
8
Vale ressaltar que, segundo Saban (2011), a ACT entende psicopatologia como comportamentos
que possuem componentes aversivos, o que exclui patologias de origem orgânica.
29
eventos privados. Pensamentos, sentimentos, memórias e sensações
fundem-se à identidade do indivíduo que, desse modo, passa a operar a
partir da realidade criada pela sua cognição, o que acarreta o afastamento
das respostas comportamentais dos antecedentes disponíveis no
ambiente na forma como se apresentam. Saban (2011, p.23) ensina que
“quando se identificam com seus eventos privados [...] as pessoas os levam
muito a sério e, consequentemente, sofrem além do necessário”. O
funcionamento comum da comunidade verbal ensina aos indivíduos a
buscar sentidos para o mundo debaixo da pele e criar coerência entre
eles, o problema apontado por Hayes, Strosahl e Wilson (1999) reside na
arbitrariedade com que isso é feito. Como resultado desse modo de
funcionar, surgem as relações em que sentimentos aparecem como
causas de comportamentos e consequentemente devem ser evitados, o
que obriga o indivíduo a lutar contra uma parte significativa de si mesmo.
As técnicas de desfusão cognitiva ou desliteralização visam corroer a
estreita relação verbal que, por aprendizado relacional, estabelece funções
para estímulos privados (HAYES et al., 2004). Através dos paradoxos,
metáforas, exercícios como os de mindfulness e a Repetição de Titchner
o indivíduo aprende a interagir de modo mais saudável com seus eventos
internos. O cliente aprende, então, que cognições são apenas
comportamentos que ocorrem no “aqui” e “agora”, e logo em seguida
serão precedidos dos por outros. Em prol de alcançar êxito, os terapeutas
da ACT devem ensinar seus clientes a perceberem as armadilhas da
linguagem e prepará-los para abandonar a luta contra seus eventos
privados (HARRIS, 2008).
30
vezes apenas em nível cognitivo) prejudica a conquista de reforçadores e
limita o campo operacional dos indivíduos. As técnicas de combate à
esquiva experiencial são englobadas por Hayes et al. (2004) no núcleo
Aceitação. Etimologicamente, o termo significa “aceitar o que é oferecido”,
a ACT promove tal atitude colocando o cliente em contato com os custos
do controle, fracassado, dos eventos privados. A persuasão verbal e os
insights intelectuais são evitados em favor de intervenções evocativas e
experienciais; nesse sentido o cliente aprende, a partir do contato direto
com as contingências ambientais naturais, que é possível, por mais
intensos que possam parecer, experienciar sentimentos, perceber
sensações corporais, identificar pensamentos e relembrar memórias sem
perigo. Hayes, Strosahl e Wilson (1999) apontam que comportamentos
que geralmente seriam evitados, por conta dos respondentes evocados
concomitantemente, numa terapia embasada na ACT, são perseguidos
no contexto da aceitação da ocorrência de tais respostas.
31
respeitem o timing dos seus clientes e apenas sugiram alternativas, nunca
imponham seus valores e crenças em forma de novas regras.
32
de mudança, como é o caso da experiência de psicoterapia. A partir de tal
constatação, Luoma, Hayes e Walser (2007) apontam que uma pessoa
pode ser consumida, metaforicamente por tais processos e nunca
aventurar-se a novos caminhos (valores) que garantam uma vida mais
profunda, com significado e vitalidade. Os autores afirmam que é como
se o indivíduo “sempre afiasse o machado, nunca conseguindo a chance
de colocá-lo em uso” (p.17, tradução nossa). A ACT concentra no núcleo
Ação Comprometida as estratégias de mudança elaboradas para combater
a inflexibilidade comportamental, tais como definir metas em áreas
específicas, adotar condutas, antecipar barreiras psicológicas, fazer e
manter compromissos (muitas vezes publicamente) de ação. Hayes et al.
(2004) listam a psicoeducação, resolução de problemas, tarefas
comportamentais, treinamento de habilidades e técnicas de exposição
como táticas de intervenção úteis para a reversão dos processos desse
núcleo patológico.
33
consciência, o que permite transformações de função de estímulo e
garante variabilidade comportamental.
9
Sucesso terapêutico deve ser compreendido como a habilidade de entrar em contato
conscientemente com o momento presente de modo a não julgar as experiências internas e
ssumir comportamentos pautados em valores que possam guiar o indivíduo para uma vida
intensa e com sentido (HAYES, 2004).
10
KABAT-ZINN, J. An outpatient program in behavioral medicine for chronic pain patients based
on practice of mindfulness meditation: Theoretical considerations and preliminary results. General
Hospital Psychiatry, [S.l.], vol. 4, 1982, p. 33-47.
34
Os exercícios de mindfulness utilizados pelos terapeutas da ACT
têm origem em práticas orientais de meditação e yoga. Os clientes são
convidados a executar tarefas formais simples como realizar desde uma
varredura completa do próprio corpo, identificando pontos de tensão e
diferenças de temperatura, até monitorar o fluxo de ar decorrente da sua
respiração durante suas atividades diárias. Enquanto a sociedade moderna
prega o “sentir-se bem” enfatizando o vocábulo “bem”, o mindfulness busca
enfatizar o “sentir-se” (VANDENBERGHE; SOUSA, 2006).
Em muitos aspectos, a própria definição de mindfulness chega a
confundir-se com a ACT. A valorização do contato direto com as
contingências, a redução do controle verbal, a promoção de um sentido
transcendente de self (eu-observador), o enfraquecimento da esquiva
experiencial, além da redução da reatividade cognitiva diante de mudanças
emocionais demonstram a congruência entre ambas. Apesar do
detalhamento epistemológico e do caráter eminentemente científico da
abordagem elaborada por Hayes, Strosahl e Wilson (1999), é possível
perceber claramente o encaixe exato entre a Terapia de Aceitação e
Compromisso e o mindfulness (CLASSENS, 2010). Numa seara mais
pragmática, Vandenberghe e Sousa (2006) propõem que os exercícios
de atenção plena, no contexto de uma psicoterapia embasada na ACT,
sejam responsáveis por: 1) reduzir a esquiva experiencial, principal fonte
de sofrimento humano; 2) eliminar o contexto de literalidade no qual
emoções e pensamentos controlam o comportamento, uma vez que são
tidos como objetos e reflexos do real; 3) destruir o contexto de avaliação
que diz respeito à tendência de categorizar experiências em boas/más,
gerando, como consequência direta, a evitação ou aproximação das
contingências que as produziram; 4) diminuírem o contexto de controle,
ou seja, a propensão à lutar contra eventos privados e forçar a regulação
emocional; 5) corroer o contexto de dar razões, que são tentativas de
buscar coerências e explicações para os problemas do cliente (“história”);
6) fomentar a elaboração de um nível transcendente de vivência do “eu”,
no qual o self é percebido como um contexto no qual ocorrem fenômenos
(pensamentos, sentimentos, sensações) passíveis de observação.
Os componentes do mindfulness – observar, descrever e participar
plenamente – são também citados por Saban (2011) como objetivos a
serem alcançados durante a psicoterapia pautada na ACT. A habilidade
35
de observar, segundo Vandenberghe e Sousa (2006), diz respeito a estar
atento a eventos, emoções e diversos aspectos do próprio comportamento,
a capacidade de descrever é entendida como a possibilidade de elaborar
um relato verbal eminentemente descritivo – não avaliativo ou explicativo
– do que foi anteriormente observado. E, por último, a capacidade de
participar plenamente refere-se à posição de agir de forma efetiva de
acordo com valores, deixando de lado julgamentos, avaliações e
categorizações contraproducentes.
Como visto, a prática do mindfulness em intervenções apoiadas no
modelo da Terapia de Aceitação e Compromisso se justifica a partir tanto
de questões conceituais quanto de objetivos terapêuticos. Apesar do
preconceito que vêm sofrendo, ACT e Mindfulness têm encontrado
sustentação empírica nas mais diversas áreas de aplicação (FLETCHER;
HAYES, no prelo). Além dos casos citados por Vandenberghe e Sousa
(2006) acrescenta-se ao debate o êxito terapêutico alcançado a partir da
aplicação de exercícios de mindfulness durante sessões de psicoterapia
em casos de transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-
compulsivo (BAER, 2003) e redução de incidência de re-hospitalização
em pacientes psicóticos (BACH; HAYES, 2002). Tomando como ponto de
partida o debate acerca da eficácia deste que é um dos elos fundamentais
da ACT serão discutidos em seguida os diferentes contextos em que foram
encontrados dados empíricos que dão sustentação ao modelo.
36
4
APLICAÇÕES
37
foi aplicada de modo efetivo. Vale elucidar que, por tratar-se de um dos
objetivos do presente trabalho, dar-se-á maior ênfase aos resultados
encontrados pelos autores, em detrimento da discussão dos aspectos
metodológicos das pesquisas.
O primeiro contexto de aplicação da ACT a ser discutido é também a
única pesquisa empírica sobre o tema encontrada na literatura nacional.
Os autores do referido texto tiveram como sujeito um indivíduo do sexo
masculino de 24 anos que frequentou 16 sessões clínicas em que a ACT foi
utilizada como modelo de tratamento psicológico para a queixa de
exibicionismo. No tratamento da parafilia através da aceitação de estados
do organismo e de emoções indesejáveis, Fukahori, Silveira e Costa (2005)
obtiveram, entre o primeiro dia de autoregistro e o sexagésimo quarto, uma
redução de 100% na taxa de respostas de exposição imprópria dos genitais
e masturbação (Graf. 1). Além deste efeito percebido nos comportamentos
públicos, no que tange os eventos privados, a frequência de pensamentos
relacionados ao exibicionismo reduziu consideravelmente, apesar de não
ter sido extinta da amostra comportamental. Os autores relatam ainda que
em contatos telefônicos realizados 4 e 12 meses após a última sessão de
tratamento foi relatado pelo cliente que as modificações comportamentais
6
5
4
Frequência
3
2
1
0
1º 10º 19º 28º 37º 46º 55º 64º
Ordenação dos dias de registro
Fonte: FUKAHORI; SILVEIRA; COSTA, 2005, p.74.
38
se mantiveram e o repertório comportamental adquirido nas sessões o
haviam direcionado para a conquista de uma relação amorosa estável e um
emprego satisfatório.
Numa pesquisa conduzida por Twohig, Shoenberger e Hayes (2007)
foi investigada a eficiência de uma versão abreviada da Terapia de
Aceitação e Compromisso no tratamento do abuso de maconha. Três
adultos que atendiam aos critérios de dependência da droga frequentaram
oito sessões semanais de 90 minutos cada e, com o utilização de
autoregistro e testes químicos randomizados, foi percebido que o consumo
de maconha atingiu o índice 0 em todos os participantes do estudo após
o período de tratamento (Graf. 2)1. Os autores indicam que o tratamento
do abuso de substâncias químicas com a ACT proporciona um ambiente
em que a sensação de necessidade incontrolável de consumir e
pensamentos acerca do uso podem ser experimentados sem que sejam
transformados em ação. Twohig, Shoenberger e Hayes apontam ainda
que a abordagem da ACT se diferencia da dos demais tratamentos por
Inalações por Dia
Dias
Fonte: TWOHIG, SHOENBERGER; HAYES, 2007, p.627.
1
Título original em inglês, tradução nossa.
39
não focar intervenções no controle ou extermínio dos eventos privados
que hipoteticamente controlariam as recaídas. Uma vez que a esquiva
experiencial e a fusão cognitiva são substituídas por comportamentos
dirigidos pelas contingências momentâneas o indivíduo aprende que ele
pode sentir intensamente o desejo pela maconha (aceitação); pensar
que não conseguirá viver sem a droga; e ainda assim continuar abstinente.
No follow-up da pesquisa após três meses, um indivíduo permanecia
abstinente e os outros dois haviam retomado o consumo, mas em
quantidades muito menores quando comparadas à linha de base do início
do tratamento.
Numa segunda pesquisa em que a ACT foi aplicada no contexto da
dependência de substâncias químicas, os autores concluíram que o
modelo de tratamento proposto não somente influenciou na redução da
frequência do consumo, alcançando a manutenção da abstinência no
follow-up de 1 ano, como também foi responsável pela queda do índice
relativo à inflexibilidade psicológica (STOTTS, MASUDA, WILSON, 2009).
Neste relato de programa de desintoxicação de Metadona, substância
substitutiva para o tratamento de dependência de heroína e outros
opiáceos, a ACT foi aplicada em 24 sessões semanais de 50 minutos em
um voluntário de 57 anos que se candidatou ao tratamento. O programa,
que foi dividido em duas fases que consistiam de um mês de estabilização
do consumo e cinco meses de redução gradual do uso de Metadona,
apresentou resultados bastante convincentes quanto à eficiência da terapia
na redução do nível de medo da desintoxicação e do consumo
propriamente dito (Graf. 3)2.
Stotts, Masuda e Wilson (2009) indicam que, atualmente, o programa
de Manutenção com Metadona (MM) é, apesar das críticas acerca das
questões éticas envolvidas na substituição das dependências, o tratamento
por excelência para a adicção em opiáceos. Apesar da sua reconhecida
eficiência, os autores listam os intensos sintomas relacionados às tentativas
de desintoxicação da Metadona durante o programa de MM, que vão
desde náusea, diarreia, e dor nos ossos à ansiedade, insônia e sofrimento
psicológico. Estratégias comportamentais como a dessensibilização
sistemática e o manejo de contingências têm apresentado resultados
2
Título original em inglês, tradução nossa.
40
Posologia de Metadona (mg)
Dias do Programa
Sintomas Subjetivos da Retirada
Dias do Programa
Medo da Desintoxicação
Dias do Programa
Inflexibilidade Psicológica
Dias do Programa
Fonte: STOTTS, MASUDA ; WILSON, 2009, p.12.
Gráfico 3 - Posologia da Metadona, experiências subjetivas na retirada dos opiáceos, o medo
da desintoxicação e inflexibilidade psicológica no decorrer do programa ACT na desintoxicação
de Metadona.
41
significativos para o processo de abandono da substância substitutiva,
entretanto, a ACT surge como alternativa promissora uma vez que ensina
os indivíduos a lidar de um modo diferenciado com o estresse decorrente
da redução do consumo (HAYES et al., 20043, apud STOTTS, MAUDA,
WILSON, 2010). A pesquisa aponta, ainda, que os intensos exercícios de
mindfulness, as estratégias de definição de valores e a mudança de
perspectiva proporcionada pela psicoterapia tiveram sua eficiência
comprovada por medições acuradas como o Inventário de Depressão de
Beck-II, testes laboratoriais de amostras de urina, além de outras medidas
psicométricas que pretendiam avaliar e confirmar os sintomas que
acompanharam o progresso do indivíduo até o alcance da abstinência
total.
Strosahl (2004) afirma que o modelo da ACT é útil também no
tratamento de indivíduos diagnosticados com transtorno de personalidade
borderline. A partir da estimativa de que entre 1 e 1,5% da população
apresentam transtornos de personalidade (LIVESLEY, 2001 4 apud
STROSAHL, 2004) e que esta estreita faixa nosográfica consome cerca
de 40% de todos os recursos disponíveis para a saúde mental (STROSAHL,
1991 5 apud STROSAHL, 2004) surge a necessidade de tecnologias
comportamentais capazes de unirem-se aos tratamentos tradicionais, com
especial ênfase a Terapia Comportamental Dialética (DBT), e minimizar
os efeitos do referido eixo de psicopatologias. No estudo apresentado por
Strosahl (2004), a eficácia da ACT foi testada a partir do resultado de um
programa de 12 sessões em grupo com um total de 60 pacientes. Naqueles
indivíduos que completaram a agenda estipulada pelos pesquisadores,
foi identificada uma queda acentuada nos índices de depressão além de
progressos significativos no que tange à conquista de objetivos de vida e
consecução de metas. O autor atesta, ainda, que o grande trunfo da ACT,
3
HAYES et al. Measuring experiential avoidance: A preliminary test of a working model. The
Psychological Record, [S.l.], vol.54, p.553-578, 2004.
4
LIVESLEY, W. Handbook of personality disorders: Theory, research and treatment. New York:
Guilford Press, 2001
5
STROSAHL, K. Treatment of the personality disordered patient. In: AUSTAD, C; BERMAN, W.
Psychotherapy in managed health care: The optimal use of time and resources. Washington DC:
American Psychological Association. 1991, p.185-201.
42
enquanto base terapêutica para indivíduos multiproblemáticos, rótulo,
segundo Strosahl (2004), mais adequado para pacientes bordelíneos, é a
atitude não avaliativa oriunda do pragmatismo que apoia tal modelo de
intervenção. Uma vez que as análises comportamentais são efetuadas a
partir da função das respostas, e não através da sua estética, o terapeuta
pode, doravante, modelar comportamentos que estejam de acordo com
as consequências e valores estipulados pelo indivíduo.
Foi encontrado, na literatura, um relato da aplicação da ACT em
contexto hospitalar. Robinson et al. (2004) atestam que o Modelo de Atenção
à Saúde da ACT (ACT-HC Model) tem se mostrado responsivo nos mais
diversos grupos de pacientes atendidos por profissionais dos serviços de
cuidado primário. Entre os maiores beneficiados de tratamentos que
englobam intervenções embasadas na ACT-HC Model estão os indivíduos
que apresentam como sintomas desordens somáticas, síndrome da fadiga
crônica, crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH), além dos acometido por doenças crônicas como o diabetes e a
epilepsia. Robinson e colaboradores (2004, p. 295) 6 afirmam que
o objetivo da ACT no contexto hospitalar é ajudar os pacientes a
implementar com sucesso comportamentos consistentes com seus
valores na presença de eventos privados aversivos disparados por
desconforto médico, condições crônicas e/ou elevado risco de morte.
Os autores apontam ainda que mais de 14% das queixas nos
atendimentos de cuidado básico envolvem desordens somatoformes que
se relacionam intimamente com tentativas de controle de sensações
corporais, emoções e pensamentos. Um dos casos que ilustra o relato é
de um garoto de 7 anos que apresentou quadro de insônia e dor abdominal
dissociado de base orgânica. Após uma série de intervenções, que incluíam
exercícios de mindfulness, o garoto foi ensinado a lidar de uma nova
maneira (aceitação) com suas sensações internas e inevitavelmente suas
queixas cessaram completamente. Outro exemplo dado por Robinson et
al. (2004) de aplicação da ACT em moldes hospitalares enfatiza o papel
do terapeuta na tarefa de reestruturar as concepções dos pacientes acerca
das crises de epilepsia e das variáveis que as desencadeiam. Segundo os
autores estratégias de intervenção consistentes com o modelo da ACT
6
Original em inglês, tradução nossa.
43
são capazes de aumentar a flexibilidade comportamental e reduzir a
probabilidade de ocorrência de crises.
No contexto do tratamento dos transtornos de ansiedade, a ACT
encontra fortes aliados. Gould, Otto e Pollack (19957 apud ORSILLO et al,
2004) identificaram que a CBT alcançou resultados positivos em 68-88%
dos casos de transtorno do pânico, e nos casos de transtorno ansiedade
social (fobia social) alcançou 89% de efetividade (HEIMBERG et al, 19988
apud ORSILLO et al., 2004). Ao lado dos tratamentos de exposição e dos
modelos de prevenção de resposta, a CBT é o estado-da-arte para controle
do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo
compulsivo (TOC), e juntos têm apresentado efeitos significativos que se
mantêm ou até progridem em follow-ups de 6-12 meses (BORKOVEC;
RUSCIO, 20019 apud ORSILLO et al., 2004). Orsillo e colaboradores (2004)
defendem que a ACT aparece como uma promessa significante nesse
contexto já que, como proposta integrativa, é em muitos momentos
consistente com a terapia de exposição. Os autores apontam que as
estratégias de intervenção da ACT objetivam o desmembramento de
núcleos patológicos coincidentes com as variáveis psicopatogênicas de
diversos transtornos de ansiedade, dentre eles o transtorno do pânico, o
TOC, o TAG, as fobias específicas e a fobia social. Casos citados por
Orsillo et al. (2004) – por exemplo Block e Wulfert (2002)10; Luciano e
7
GOULD, R; OTTO, M; POLLACK, M. A meta-analysis of treatment outcome for panic disorder.
Clinical Psychology Review, [S.l.], vol.15, p.819-844.
8
HEIMBERG, R; LIEBOWITZ, M; HOPE, D; SCHNEIER, F; HOLT, C; WELKOWITZ, L;
JUSTER, H; CAMPEAS, R; BRUCH, M; CLOITRE, M; FALLON, B; KLEIN, D. Cognitive
behavioral group therapy vs. phenelzine therapy for social phobia: 12-week outcome. Archives of
General Psychiatry, [S.l.], vol.55, p.1133-1141.
9
BORKOVEC, T; RUSCIO, A. Psychotherapy for generalized anxiety disorder. Journal of
Clinical Psychiatry, [S.l.], vol.62, 2001, p. 37-45.
10
BLOCK, J; WULFERT, E. Acceptance or change of private experiences: A comparative
analysis in college students with a fear of public speaking. In: ZETTLE, R. Recent outcome
research on Acceptance and Commitment Therapy (ACT) with anxiety disorders. Symposium
conducted at the 28th Annual Meeting of the Association for Behavior Analysis,Toronto, Ontario.
2002.
44
Gutierrez (2001) 11; e Zettle (2003)12 – demonstram a efetividade das
técnicas da ACT no tratamento da ansiedade através de abordagens
direcionadas para a redução do controle emocional, da esquiva
experiencial e da fusão cognitiva, bem como para o aumento do contato
com o momento presente, do descolamento do passado conceitual e da
percepção do self como um contexto.
No que tange o uso da ACT como medida terapêutica em casos de
depressão é notória a contribuição de Dougher e Hackbert (2003). Em
seu estudo os autores deram maior ênfase no quesito etiológico do
transtorno que acomete cerca de 2,2% da população masculina dos
Estados Unidos da América. Kanter, Baruch e Gaynor (2006) afirmam que,
por ter se tornado um diagnóstico tão comum, a depressão passou a ser
conhecida como a “gripe da doença mental”. Apesar de sua prevalência,
dos prejuízos sociais e econômicos desencadeados pela sua eclosão a
referida psicopatologia foi relativamente negligenciada pelos analistas do
comportamento por muitos anos. Como já foi dito anteriormente, Fukahori,
Silveira e Costa (2005) acenam para a boa relação entre farmacoterapia
e a ACT, Dougher e Hackbert (2003) vão ao encontro desta posição quando
confirmam os amplos efeitos benéficos da combinação entre as
modalidades terapêuticas nos casos de depressão. A eficácia de uma
versão seminal da ACT, chamada de distanciamento compreensivo, foi
testada primeiramente em uma amostra de 18 mulheres portadoras do
diagnóstico de transtorno depressivo maior. Zettle e Hayes (198613 apud
KANTER; BARUCH; GAYNOR, 2006) dividiram a amostra
randomicamente em três grupos que foram tratados pelo mesmo terapeuta,
entretanto através de técnicas diferentes: um grupo foi tratado a partir do
distanciamento compreensivo, outro a partir de terapia cognitiva sem
técnicas de distanciamento e o último foi tratado com terapia cognitiva
completa. Os autores compararam os resultados obtidos e concluíram
11
LUCIANO, C; GUTIERREZ, O. Anxiety and Acceptance and Commitment Therapy (ACT).
Análisis y Modificación de Conducta, [S.l.], vol. 27, 2001, p. 373-398.
12
ZETTLE, R. Acceptance and commitment therapy (ACT) versus systematic desensitization in
treatment of mathematics anxiety. Psychological Record, [S.l.], vol. 53, 2003, p. 197-215.
13
ZETTLE, R; HAYES, S. Dysfunctional control by client verbal behavior: The context of reason-
giving. The Analysis of Verbal Behavior. [S.l.], vol. 4, 1986, p. 30-38.
45
que as clientes que passaram pelo modelo seminal da ACT apresentaram
menor crença nos pensamentos depressivos e menos sintomas
depressivos no follow-up de dois meses. No caso clínico relatado por
Dougher e Hackbert (2003) uma cliente de 23 anos que buscou terapia
para depressão foi tratada a partir de uma combinação entre elementos
da Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) e da ACT. Os autores
confirmaram a aplicabilidade dos pressupostos da aceitação e do
compromisso no tratamento dos transtornos de humor tomando como
ponto de partida a remissão completa dos sintomas em não mais de 18
sessões de terapia individual, mesmo não tendo estabelecido este fim
como objetivo terapêutico.
Bach (2004) afirma que as psicoses de modo geral, em especial a
esquizofrenia, têm sido consideradas psicopatologias relativamente
difíceis de tratar. Apesar da grande variedade e da comprovada eficácia
dos psicofármacos disponíveis no mercado, muitos pacientes seguem
não-responsivos à este tipo de tratamento. Os dados de Breier et al. (199114
apud BACH, 2004) confirmam que cerca de 75% dos indivíduos que fazem
uso contínuo de anti-psicóticos permanecem experenciando alucinações
e delírios. Além de intervenções químicas medidas psicossociais tem sido
adotadas na tentativa de solucionar os problemas familiares, financeiros
e sociais decorrentes da prevalência das psicoses. Estratégias com ênfase
no treino de habilidades, solução de problemas, economia de fichas,
administração de medicação e reabilitação vocacional são amplamente
utilizadas nessas manobras terapêuticas. Bach (2004, p.208) 15 conclui
que:
Intervenções psicossociais com psicóticos são, apesar do seu valor,
lamentavelmente subdesenvolvidas. Medicamentos são úteis para
esses pacientes, entretanto, frequentemente eles não são o bastante. A
ACT provê um novo e poderoso modelo para este tipo de trabalho
que envolve radicalmente a aceitação, a validação, é não-hierárquico
e focado no comportamento. O modelo da ACT merece ser explorado
e avaliado por mais estudiosos que trabalhem com esses clientes.
14
BREIER, A; SCHREIBER, J; DYER, J; PICKAR, D. National Institute of Mental Health
longitudinal study of chronic schizophrenia: Prognosis and predictors of outcome. Archives of
General Psychiatry. [S.l.], vol. 48, 1991, p. 239-246.
15
Original em inglês, tradução nossa.
46
Tendo em vista que a maioria das pessoas que refere alucinações não
tem nenhum problema de saúde mental (TIEN, 199116 apud BACH, 2004),
pela perspectiva da ACT, a mera presença de sintomas psicóticos não se
constitui necessariamente no núcleo do problema clínico (BACH; HAYES,
2002). A atuação dos terapeutas da ACT neste tipo de psicopatologia se desloca
da análise dos conteúdos dos sintomas e dirige-se à função que estes
comportamentos exercem na vida dos pacientes. Bach (2004) informa que já
existem dados empíricos que sustentam a utilização da ACT em indivíduos
psicóticos. Em pesquisa conduzida pela mesma autora em companhia de
Hayes constatou-se que pacientes, sofrendo com alucinações e delírios,
expostos a 3 horas de intervenção pautada na ACT estavam 50% menos
propensos a episódios de re-hospitalização do que aqueles tratados apenas
com medicação e medidas psicossociais durante um follow-up de 4 meses.
Os dados do estudo demonstraram ainda declínio do nível de estresse na
presença dos sintomas, aumento na adesão ao tratamento farmacológico e
redução na crença dos conteúdos sintomáticos (BACH; HAYES, 2002).
Como exposto, estudiosos da ACT têm se empenhado na inserção
do modelo no rol de possibilidades para o tratamento das mais diversas
psicopatologias. Por conta da sua consistente base teórica e do amplo raio
de alcance das suas técnicas, a Terapia de Aceitação e Compromisso
pode ser aproveitada em uma infinidade de contextos, desde que se avalie
constantemente sua utilidade (HARRIS, 2009). Uma vez que não ataca
diretamente os sintomas, mas sim os mecanismos do controle verbal
ineficiente que os gestam, a ACT tende a estabelecer-se como uma
alternativa não aversiva (FUKAHORI; SILVEIRA; COSTA, 2005) capaz de
minimizar o sofrimento humano e aumentar a probabilidade de um indivíduo
viver uma vida plena e cheia de sentido. Esforços empíricos têm sido levados
a cabo intencionando dar sustentação científica para o modelo nos mais
diversos contextos, e tais investidas têm demonstrado que a ACT é tão ou
mais eficaz do que as terapias tradicionalmente utilizadas (HAYES, 2004).
Fletcher e Hayes (no prelo) defendem que o modelo está em franca
expansão, entretanto, como afirmam Hayes e Pistorello no prefácio da
obra de Saban (2011), são raros os trabalhos em língua portuguesa e
recentes os primeiros passos da ACT em território brasileiro.
16
TIEN, A. Distributions of Hallucinations in the population. Social Psychiatry and Psychiatric
Epidemiology, [S.l.], vol. 26, 1991, p. 287-292.
47
48
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
abruptos e estanques. As três gerações de analistas do comportamento
que se sucederam num intervalo de trinta anos conviveram, nem sempre
de modo pacífico, com idas e vindas de assunções e postulados (HAYES,
2004). A ACT, enquanto abordagem integrativa se beneficiou de
contribuições técnicas oriundas tanto dos “modificadores do
comportamento” quanto dos clássicos. O modelo é capaz então de
despontar como destaque das tecnologias de terceira onda da AC e
associar ao seu corpo teórico insumos dos períodos que o antecederam
ao passo que adota o paradigma operante como sustentáculo filosófico.
Sob aporte do contextualismo funcional a Terapia de Aceitação e
Compromisso leva para o setting terapêutico a discussão acerca do critério
de verdade e da função dos comportamentos. A utilidade (workability) das
ações dos indivíduos é analisada cuidadosamente e colocada em
confronto com os valores e metas estabelecidas pelos mesmos (HAYES;
STROSAHL; WILSON, 1999). Não somente a clareza e desenvolvimento
filosófico da ACT tornam-na um modelo reconhecido pela sua robustez e
consistência, Harris (2009) aponta que o suporte empírico provido pela
pesquisa básica na área da linguagem e cognição humana conduzida
pelos estudiosos da Teoria dos Quadros Relacionais foi bastante
significativo para que a ACT se colocasse pari passu do estado-da-arte
das intervenções em casos de depressão, TOC, TAG, transtorno da
personalidade borderline, entre outros.
A literatura conta com diversos estudos empíricos em que os
resultados apontam para uma similaridade, e até mesmo superioridade,
da ACT quando comparada aos tratamentos clássicos no tocante ao êxito
terapêutico. Fukahori, Silveira e Costa (2005) além de inaugurarem as
contribuições nacionais para desenvolvimento do modelo, concluem que
intervenções pautadas nos princípios da aceitação e do compromisso
são úteis no tratamento das parafilias. Já Bach (2004) expõe as conquistas
alcançadas por indivíduos com diagnóstico de psicose após curto período
de tratamento com ACT, além disso, sua contribuição expande-se no
momento em que aponta a entusiasmante interação entre o modelo e a
farmacologia e denuncia o subdesenvolvimento das intervenções
psicossociais utilizadas no cuidado desse grupo de pacientes. No contexto
dos transtornos de ansiedade Orsillo e colaboradores (2004) atestam que
a ACT apresenta resultados tão bons quanto a CBT, tratamento clássico
50
para os casos de TOC e TAG. Os autores creditam tamanho sucesso ao
princípio básico das terapias comportamentais de terceira ordem,
movimento de onde brota a ACT, que desloca o foco terapêutico da
remoção dos sintomas. As estratégias clínicas consistentes com o modelo
atacam principalmente os processos verbais que segundo Hayes, Strosahl
e Wilson (1999) geram os sintomas psicopatológicos.
Apesar da variedade de exemplos em que foram encontrados relatos
da aplicação da ACT em contexto clínico, o único ambiente diferente do
consultório em que se identificou o uso das técnicas da mesma foi na
instituição hospitalar. Robinson et al. (2004) apresentam os benefícios
que o ACT-HC Model pode conceder aos pacientes que chegam aos
serviços de cuidado primário com desordens somáticas, dores crônicas
e epilepsia. Tendo em vista que a dependência de substâncias químicas
é uma questão de bem-estar social, as investidas de Stotts, Masuda e
Wilson (2010), bem como as pesquisas conduzidas por Twohig,
Shoenberger e Hayes (2007), são exemplos de situações em que a ACT
pode ser utilizada como instrumento de saúde pública. Nestes trabalhos
os autores demonstraram a efetividade do modelo no tratamento de
indivíduos adictos a maconha e Metadona, respectivamente.
Paradoxalmente, os resultados apresentados pela ACT não têm sido
suficientes para que o modelo se fixe no campo dos tratamentos
comportamentais (HAYES, 2004). Fatores como a estranheza causada
pela utilização das técnicas de mindfulness e o esforço de Hayes, Strosahl
e Wilson (1999) em diluir a aversividade dos jargões técnicos tornando os
principais livros sobre a ACT acessíveis ao público não-especializado
devem ser considerados na análise de tal cenário. Classens (2010)
defende que, apesar de encaixarem-se perfeitamente, ACT e mindfulness
têm enfrentado preconceito e resistência por parte dos psicoterapeutas. A
funcionalidade da prática de exercícios de atenção plena foi comprovada
por Kabat-Zinn (19821, apud VANDENBERGHE; SOUSA, 2006) no princípio
da década de 90, entretanto, a cultura ocidental ainda não vê com bons
olhos a participação de práticas provenientes da yoga e das tradições
marciais orientais nas sessões de terapia.
1
KABAT-ZINN, J. An outpatient program in behavioral medicine for chronic pain patients based on
practice of mindfulness meditation: Theoretical considerations and preliminary results. General
Hospital Psychiatry, [S.l.], vol. 4, 1982, p. 33-47
51
Como ensina Saban (2011), a Terapia de Aceitação e Compromisso
irrompe a superfície do tradicionalismo e se apresenta como uma
alternativa viável para o cuidado psicológico dos indivíduos.
Concluímos que o atual quadro de desenvolvimento da Teoria dos
Quadros Relacionais e da Terapia de Aceitação e Compromisso permite-
nos afirmar que a ACT configura-se, como refere o subtítulo do presente
trabalho, em mais uma possibilidade para a clínica comportamental.
Fazemos, então, nossas as palavras de Hayes, Pistorello e Biglan (2008,
p.96-97):
Por serem calcadas em evidências, torna-se provável que a ACT e a
RFT, por um longo período de tempo, farão parte do cenário terapêutico,
inclusive em países de língua portuguesa. Assim, este artigo foi escrito
no intuito de despertar o interesse e um sério envolvimento de
profissionais e pesquisadores falantes do idioma para a presente terapia.
A amplitude que tal abordagem pode atingir na pesquisa aplicada e
básica dependerá não apenas da adequação de tais ideias, mas
também de sua capacidade de atrair pesquisadores e terapeutas em
todo o mundo, uma vez que a terapia representa um sistema aberto,
sendo que sua evolução depende de contribuições e desenvolvimentos
substanciais, e não de hierarquias.
52
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57
58
APÊNDICE A
59
Contexto ou Comunidade Verbal/Social: Conjunto de assunções,
paradigmas, pressupostos, estereótipos, regras e instruções característicos
de um determinado contexto que dirige o comportamento dos indivíduos.
A política do Apartheid na África do Sul entre 1948 e 1994 é um exemplo
abominável do controle exercido pela comunidade verbal.
60
Geralmente é altamente reforçado pela sociedade de acordo com a
sofisticação das respostas. Favorece o afastamento das vivências diretas
frente à mudança nas contingências. Ex.: “Eu estou dormindo demais
porque estou deprimido”.
61
amalgamamento entre o cliente e seus sintomas. Comportamento verbal
assume o controle das respostas do indivíduo gerando sofrimento.
62
Normalidade Destrutiva: Modelo de pensamento no qual se acredita
que os processos psicológicos ordinários são capazes de levar a
resultados destrutivos e disfuncionais. Apregoa que a origem do sofrimento
humano está calcada no uso corriqueiro da linguagem uma vez que a dita
normalidade psíquica é inalcançável.
63
um passo importante tendo em vista que favorece a percepção plena e
totalmente consciente dos comportamentos.
Teoria dos Quadros Relacionais (RFT): Raiz teórica que apoia a ACT.
É um programa de pesquisa básica em linguagem e cognição humana.
Surge para superar a aproximação de Skinner sobre o tema. Reza que o
núcleo da cognição humana é a habilidade de aprender a relacionar
eventos sob controle contextual arbitrário. Desse modo o indivíduo é capaz
de ampliar, por si só, seu repertório comportamental independentemente
de aprendizados diretos. A partir da influência arbitrária, ou seja, do contexto
verbal, são estabelecidas derivações relacionais entre eventos
psicológicos que passam a controlar o comportamento do indivíduo.
Existem três propriedades fundamentais dos quadros relacionais: 1)
Bidirecionalidade ou Implicação Mútua: Se o evento A é igual ao evento B
então o evento B é igual ao A (A=B então B=A); 2) Implicações
Combinatórias: Se o evento é A maior que o evento B e o evento é B igual
ao evento C então A é maior que C (A>B e B=C então A>C); 3) Transformação
da função do estímulo: Eventos derivados nos quadros relacionais adquirem
a função dos eventos primariamente aprendidos (Se A é melhor do que B
e B é igual a C então A é melhor do que C).
64