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ISBN 978-85-352-7936-8
ISBN (versão digital) 978-85-352-7937-5
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de
digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, s olicitamos a comunicação ao nosso
Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou
bens, originados do uso desta publicação.
S588g
Silveira, Alexandre Di Miceli da
Governança corporativa: o essencial para líderes / Alexandre Di Miceli da Silveira.
- 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.
23 cm.
ISBN 978-85-352-7936-8
1. Governança corporativa. 2. Administração de empresas. I. Título.
14-12683 CDD: 658.4
CDU: 005.5
Agradecimentos
Este livro é resultado das interações e aprendizados com inúmeras pessoas e dezenas
de organizações ao longo de mais de uma década dedicada à governança corporativa.
Em primeiro lugar, gostaria de expressar minha gratidão aos amigos Caetano Altafin
Cunha, Edison Simoni da Silva, Rafael Vieira Teixeira e Rafael Liza Santos, os quais se
dispuseram a ler os originais deste livro e a proporcionar contribuições valiosas para seu
aprimoramento.
Agradeço também às pessoas com as quais tive o prazer de desenvolver trabalhos de
consultoria em parceria ao longo dos anos, com destaque para Sandra Guerra e João Laudo
de Camargo, bem como aos executivos e conselheiros das dezenas de organizações que
me propiciaram experiências ricas e uma compreensão in loco da complexa temática da
governança empresarial.
Em especial, agradeço e dedico esta obra para minha querida esposa Angela. Além do
incentivo inicial e apoio diário, sem os quais este livro não teria sido gerado, Angela atuou
intensamente em todas as etapas, como revisora, editora e debatedora (não poupando
críticas!) de todo o conteúdo. Mais correto seria dizer que esta obra é resultado de nosso
esforço conjunto e indissociável.
A missão maior do líder é fazer com que sua organização tenha sucesso ao longo
do tempo de forma sustentável. Para isso, é importante que as pessoas pratiquem a boa
governança para valer no seu dia a dia. Mas, o que isso quer dizer?
De forma simples, a boa governança significa criar um ambiente no qual as pessoas
desejem voluntariamente cumprir as regras estabelecidas e tomar decisões no melhor in-
teresse coletivo de longo prazo. Para os públicos externos – tais como acionistas distantes
da gestão diária, credores e comunidade em geral – significa, também, propiciar a devida
transparência sobre o negócio em suas várias dimensões, incluindo aspectos financeiros
e não financeiros. Cabe às lideranças empresariais – principalmente altos executivos,
conselheiros e empreendedores – fazer isso acontecer.
O objetivo deste livro é ajudá-lo, por meio de uma abordagem objetiva e prática, a
liderar sua organização na jornada rumo aos mais elevados padrões de governança. Ele
foi escrito não apenas para as companhias de capital aberto, mas – principalmente –
para as empresas de capital fechado, interessadas em aprimorar seu modelo e práticas de
governança. A metodologia apresentada pode ser facilmente adaptada para outros tipos
de entidades, tais como cooperativas, fundações e aquelas sem fins lucrativos. O texto é
um convite, portanto, para você refletir, de forma estruturada, sobre como melhorar sua
organização, independentemente de seu porte e forma jurídica. Afinal de contas, todas
as organizações humanas precisam ser bem governadas.
Com este objetivo em mente, o livro é dividido em cinco capítulos. O primeiro,
“Por que a governança corporativa é um tema-chave para minha organização?”, fornece
argumentos a fim de convencer você e as demais lideranças que o tema deve ser encarado
como algo prioritário para o sucesso da sua organização. Para isso, são apresentados exem-
plos não apenas de como a boa governança pode agregar valor ao negócio, mas também
de como a ausência de bons padrões de gestão pode levar a colapsos e grandes prejuízos
empresariais e sociais.
Uma vez convencidos sobre a relevância do tema, os dois capítulos seguintes propor-
cionam um aprofundamento conceitual sob diferentes perspectivas.
O segundo capítulo apresenta uma visão inovadora sobre o tema: enquanto a maioria
dos textos tradicionais se concentra em formalismos e tecnicalidades do sistema de
governança – tais como a necessidade de implantação de órgãos como comitês, áreas de
controle, políticas e outros regramentos –, esse enfatiza que o fator humano é o grande
desafio para alcançar a boa governança empresarial. Isto porque as empresas são contextos
sociais nos quais é preciso fomentar um comportamento orientado a boas decisões e ao
cumprimento das regras. Como resultado, são abordados, de forma prática, temas como
xvi
Todas as organizações – com ou sem fins lucrativos – possuem sua estrutura de poder
e forma de direcionamento. Elas podem ser mais autocráticas, centralizadas e dependentes
de pessoas específicas, ou mais democráticas, descentralizadas e institucionalizadas. Podem
possuir regras e processos decisórios mais formalizados, ou serem mais informais. Algumas
podem ser mais orientadas a atitudes éticas e ao cumprimento das regras, enquanto outras
desenvolvem uma cultura na qual os resultados financeiros se sobrepõem aos meios –
mesmo que ilícitos ou antiéticos – para se obtê-los.
A combinação de diferentes características de governança é interminável. A questão
central é que, diferentemente de um mero modismo gerencial ou de um tema técnico que
as empresas podem ou não optar por implantar, todas as organizações, necessariamente,
2
terão sua forma própria de governo, que pode ou não ser resultado de um processo
de reflexão estruturada de seus líderes.
O que chamamos de “governança corporativa” diz respeito a um conjunto de
práticas de negócio alicerçadas sobre princípios comuns que foram desenvolvidas
em todo o mundo a partir do início da década de 1990.1 A discussão sobre o tema
se inicia, portanto, a partir dos sólidos princípios que desde o início nortearam o
movimento em prol da boa governança.2
E quais são esses princípios? No Brasil, o IBGC – Instituto Brasileiro de Gover-
nança Corporativa, organização de referência sobre o tema criada em 1995 – elenca
quatro em seu Código de Melhores Práticas: transparência, prestação de contas,
equidade e responsabilidade corporativa.3 Além do código nacional, documentos
internacionais4 discorrem sobre outros preceitos basilares de boa governança. De
forma agregada, esses documentos elencam 10 grandes princípios globais de boa
governança aplicáveis a qualquer tipo de empresa ou organização:
Princípio global
# de governança Esse princípio diz respeito a:
Divulgação aberta, honesta e tempestiva das informações materiais
Transparência financeiras e não financeiras do negócio aos públicos interno e externo.
e integridade Entre os aspectos não financeiros, destacam-se aqueles relativos
1
das informações ao modelo de governança, estrutura de propriedade, principais
prestadas políticas e diretrizes, perspectivas estratégicas, sistemas de incentivos,
avaliação de desempenho, impactos socioambientais etc.
Prestação de Vontade dos administradores de apresentar os resultados de sua
contas voluntária e gestão e os elementos que fundamentaram as principais decisões
2 responsabilização tomadas, bem como de assumir a responsabilidade pelas ações e
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
3
Princípio global
# de governança Esse princípio diz respeito a:
Conscientização de que a informalidade é um inimigo da boa
governança e de que controle e supervisão independentes
são elementos essenciais. É necessário desenhar os processos e
Respeito às estabelecer as regras a serem cumpridas antes, durante e depois
formalidades, das reuniões dos órgãos de governança.
6 controles e
supervisão Entre os controles contidos neste princípio, destacam-se aqueles
independentes relacionados à gestão formal dos riscos do negócio, o compliance
e as auditorias. Essas áreas e responsáveis devem contar com toda
a independência e os recursos humanos, financeiros e tecnológicos
necessários.
Necessidade de que os membros da cúpula organizacional,
notadamente conselheiros e diretores, se comportem com
Tom e integridade e apliquem elevados padrões éticos e de conduta nas
comportamento suas decisões, liderando pelo exemplo.
7
ético das
lideranças É preciso promover, incessantemente, os valores da organização
por meio de ações de aculturamento e atitudes concretas, como a
Crítica do autor:
Trata-se de uma visão errada que não leva à geração de valor intrínseco
para o negócio e seus acionistas de longo prazo.
Na verdade, é o cumprimento do “espírito” dos princípios apresentados
– mesmo que por diferentes práticas de governança apropriadas às peculiari-
dades de cada organização – que agrega valor às companhias, bem como gera
um ambiente empresarial mais sadio, com efeitos positivos para a atração de
investimentos e o desenvolvimento do país.
5
Objetivos
centrais da boa
governança Reflexões a serem feitas pelas lideranças da organização
j Nossos órgãos-chave de governança – conselho de administração,
comitês e diretoria – possuem papéis, composição e funcionamento bem
definidos e vêm funcionando conforme o desejado?
j Estou satisfeito com nosso processo decisório em relação à agilidade, nível
1. Aprimorar
de centralização das decisões, responsabilização pelas decisões tomadas
continuamente
e conformidade com as leis?
o processo
j Possuímos um fluxo de informações e interfaces adequado entre os órgãos?
decisório a fim
j Há contrapesos independentes, eficazes e com autoridade necessária em
de assegurar
nosso processo decisório?
decisões no
j Nosso sistema de remuneração é adequado?
melhor interesse
j Há um plano de sucessão formal de nossas lideranças?
de longo prazo
j Temos um ambiente meritocrático? As pessoas o percebem desta forma?
da organização
j Nossos órgãos de governança se autoavaliam formalmente e
periodicamente?
j Temos um programa de aculturamento em relação ao nosso modelo de
governança?
j Temos uma noção clara dos principais riscos a que estamos sujeitos,
incluindo sua probabilidade de ocorrência e impacto potencial? Eles são
gerenciados por meio de uma estrutura formal, com envolvimento das
principais lideranças?
j Temos políticas formais em relação aos principais temas que podem afetar
nosso negócio?
j Estou satisfeito com nossos controles internos e confortável com a precisão
nossa transparência?
j Temos bons canais de comunicação com nossos acionistas, clientes e
3. Proporcionar
outros stakeholders chave?
elevada
j Nosso website e relatório anual estão sempre atualizados e ricos em informações?
transparência
j Possuímos ações concretas no campo socioambiental?
para os
j Procuramos publicar informações de governança, sustentabilidade e
públicos interno
socioambientais de forma integrada em linha com diretrizes internacionais,
e externo
tais como o GRI (Global Reporting Initiative)?7
j Realizamos encontros periódicos com representantes de nossos principais
públicos de interesse?
j Nossos administradores possuem acesso a um portal interno que lhes permite
(Continua)
7
Objetivos
centrais da boa
governança Reflexões a serem feitas pelas lideranças da organização
j Procuramos estimular ao máximo a participação dos acionistas nas assembleias?
j Preparamos um manual de assembleia8 e realizamos convocações com
antecedência mínima de 30 dias?
j Viabilizamos o voto de nossos acionistas por meio de procurações ou voto
a distância?
4. Promover
j Temos uma área de relacionamento com investidores? Temos evidências
o exercício
de que os investidores estão satisfeitos com ela?
efetivo dos
j Procuramos entender, de forma proativa, as demandas dos investidores?
direitos de
j Procuramos ativamente resolver quaisquer problemas com nossos
todos os sócios
acionistas antes de chegarem à esfera judicial?
j Nossos conselheiros têm prestado contas diretamente para nossos
8
Figura 1.1 – Criação da agenda de governança da organização.
9
Como se pode observar, cada forma de controle acionário suscita questões es-
pecíficas de governança a serem endereçadas. Você e as demais lideranças devem,
portanto, refletir e responder não apenas àquelas grandes questões apresentadas na
seção anterior, mas também às questões específicas apresentadas nesta seção, tendo
em vista a realidade de sua organização.
Após tantas perguntas e reflexões necessárias, deve-se reconhecer que a boa
governança exige, de fato, um investimento substancial de tempo e de recursos
financeiros por parte das lideranças, bem como sua abertura para a mudança em
relação ao status quo, o que pode levar, inclusive, à redução do poder absoluto das
Governança corporativa: o essencial para líderes
O objetivo maior de qualquer líder é criar valor de forma sistemática para seu
negócio. Em outras palavras, fazer com que suas perspectivas de longo prazo sejam
cada vez melhores ao longo do tempo. Uma questão central, portanto, é avaliar se os
investimentos em governança corporativa realmente contribuem para este objetivo.
13
Centenas de estudos foram realizados, nas últimas duas décadas, buscando res-
ponder essa questão. A maioria dos trabalhos constata uma forte relação positiva
entre a adoção de práticas recomendadas de governança e indicadores de valor
comumente empregados pelo mercado. Em outras palavras, observa-se que as em-
presas com práticas superiores de governança tendem a ser negociadas a um prêmio
em relação aos seus pares.16
Uma das abordagens mais utilizadas nesses trabalhos é a atribuição de uma
“nota” de governança com base na adesão da companhia a determinadas práticas
recomendadas. Em geral, essas notas se baseiam em diferentes dimensões de gover-
nança, tais como: conselho de administração, direitos dos acionistas, transparência
das informações, políticas corporativas etc. Na sequência, relaciona-se a nota obtida
pelas empresas com medidas de valor relativo, de forma a investigar se há uma
eventual relação positiva entre ambos. A tabela a seguir apresenta os resultados de
alguns dos inúmeros estudos realizados em todo o mundo nos últimos anos com
base nessa abordagem geral:
15
Companhias
# Estudo analisadas Principal conclusão
“Corporate Attributes,
Corporate Governance Forte relação positiva entre governança
Quality, and the Value corporativa e valor: aumento da
154 companhias
of Public Brazilian capitalização de mercado entre 85% e
1 listadas brasileiras
Companies” 100% para uma empresa que conseguisse
em 2002.
evoluir da pior para a melhor nota de
Silveira, Barros e Famá governança da amostra.
(2006).
uma empresa “média” do mercado, isto é, para aquela que apresenta indicadores de
rentabilidade, endividamento etc., não muito diferente das demais.
Entretanto, há um valor fundamental da boa governança que não é coberto
por esses trabalhos, mas que é essencial para os acionistas e demais stakeholders de
qualquer empresa. Trata-se da criação de um sistema organizacional que evite o
surgimento de escândalos associados a problemas de governança, de forma a as-
segurar a perenidade da companhia. A próxima seção analisa esta questão em detalhe.
17
18
Como não se recordar dos problemas ocorridos nos últimos anos com diver-
sas empresas estrangeiras – a exemplo de Societé Générale, Lehman Brothers,
Satyam, Siemens, AIG e Olympus – e brasileiras – como Agrenco, Sadia, Ara-
cruz, Banco Panamericano, Banco Cruzeiro do Sul, HRT e OGX?
Voltando um pouco mais no tempo, é impossível esquecer casos emblemáti-
cos do início da década de 2000 envolvendo companhias como Enron, World-
com, Royal Ahold, Tyco, Parmalat e Banco Santos. A Tabela 1.9 elenca um
conjunto de grandes companhias nacionais e estrangeiras que sofreram graves
problemas de governança20 ao longo da última década.
Apesar das especificidades inerentes a cada um dos problemas de governança
vividos pelas organizações acima, um exame aprofundado permite identificar causas
comuns que os propiciaram. Elas podem ser classificadas em três grupos: causas
fundamentais, mediadoras e imediatas.
O primeiro diz respeito às causas fundamentais, isto é, aquelas que representam
a raiz dos problemas por envolver a estrutura de comando das empresas e seu
monitoramento externo. Cinco se destacam: excesso de concentração de poder,
conselho de administração ineficaz, passividade dos investidores, falhas dos cha-
mados “guardiões” de governança (auditorias, agências de rating, analistas de ações
etc.) e regulação deficiente. A Tabela 1.10 as descreve em detalhes.
Três anos depois, a companhia pagou multas de US$1,6 bilhão aos reguladores
norte-americano e alemão em função do pagamento de propinas estimadas em
US$1,4 bilhão para governos de todo o mundo entre 2001 e 2008 em troca da
obtenção de contratos.
Governança corporativa: o essencial para líderes
A figura acima, elaborada com base na análise dos diversos escândalos de go-
vernança da última década em todo o mundo, revela a anatomia de um desastre
corporativo. Os fatores externos e internos muitas vezes se reforçam, criando um
círculo vicioso que infelizmente leva a uma substancial destruição de valor para os
acionistas e a impactos negativos severos para os stakeholders, incluindo as comu-
nidades onde atuam.
Em última instância, os colapsos empresariais são sempre decorrentes de
decisões ruins ou do descumprimento das regras, algo que decorre não apenas de
falhas nos mecanismos formais de governança – como conselho de administração,
comitês e áreas de controle –, mas também do fracasso das lideranças na criação
de um contexto social em suas organizações que induza certos comportamentos
desejados.
24
A raiz do problema está na forma como o tema foi percebido pela grande
maioria das companhias, investidores e acadêmicos de todo o mundo. Tendo
por base trabalhos de economistas ortodoxos elaborados sob a perspectiva da
chamada “teoria do agente-principal”,1 a governança corporativa foi reduzida a
um “conjunto de mecanismos de incentivo e controle que visam a fazer com que
os agentes (administradores) tomem decisões no melhor interesse dos principais
(conjunto de acionistas)”.
Essa literatura tradicional transmitiu a ideia de que a mera implantação de
estruturas de incentivo (remuneração variável, avaliação de desempenho etc.) e
de controle (áreas de gestão de risco, compliance, controles internos, auditorias,
conselhos com independentes etc.) seria suficiente para que as empresas se
tornassem bem governadas. Como consequência, o debate sobre o tema pas-
sou a gravitar estritamente ao redor de como implantar esses mecanismos nas
empresas.
Embora esses mecanismos sejam elementos importantes de um bom sistema
de governança, algo a ser detalhado no capítulo seguinte, a implantação de es-
truturas de incentivo e controle não é suficiente para assegurar empresas de fato
bem governadas.
Na verdade, elas podem ser até mesmo utilizadas apenas para transmitir aos
públicos externos a impressão de que a empresa possui boas práticas, sem que
isso de fato se traduza em um bom governo da organização no seu dia a dia. Isso
explica, entre outras coisas, os escândalos ocorridos com companhias que apa-
rentemente haviam adotado práticas de governança alinhadas às recomendações
de mercado.
Essa visão tradicional da governança corporativa – cujo cerne deriva da ideia
Governança corporativa: o essencial para líderes
A boa governança para valer começa pela compreensão dos três motivos centrais
que levam as pessoas – em sua atuação como colaboradores, executivos, conselheiros
ou acionistas – a, muitas vezes, não tomarem as melhores decisões possíveis para o
negócio e a não cumprirem as regras.
(Continua)
30
França –
AFEP-MEDEF Code
“17. Ética do administrador: O administrador tem a obrigação de
de Gouvernement
informar o Conselho de quaisquer conflitos de interesses – mesmo que
d’Entreprise des
potencial –, devendo se abster de votar sobre a matéria em questão.”
Sociétés Cotées
(2008)
“85. O presidente do conselho de administração deve gerenciar os
conflitos de interesses. Ele deve solicitar aos conselheiros sujeitos a
África do Sul – King interesses conflitantes que se abstenham das discussões e decisões
Committee on relativas a essas matérias, a não ser que sejam solicitados a fornecer
Governance Code of alguma informação específica, situação na qual não devem fazer
Governance parte da decisão do órgão.”
Principles for South “Princípio 9.1: Os conselheiros devem divulgar quaisquer potenciais
Africa (2009) conflitos de interesse, incluindo sua natureza em relação a tal
matéria. A divulgação deve ser feita imediatamente após ciência
do conflito.”
(Continua)
32
Fonte: Harvey, A., Kirk, U., Denfield, G., Montague, P. 2010. Monetary Favors and Their
Influence on Neural Responses and Revealed Preference.
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
33
aos da organização.
Em outras palavras, parte-se do pressuposto que os executivos “sabem” quais
são as melhores decisões de negócios a serem tomadas, porém precisam de um
conjunto de mecanismos de incentivo (ex.: sistema de remuneração) e de controle
(ex.: auditorias) para que não optem por outros cursos de ação em função de seus
interesses particulares.
Entretanto, mesmo que as situações, envolvendo conflitos de interesses, sejam
resolvidas e que os executivos sejam altamente qualificados, a boa governança possui
ainda outro valor potencial: ela assegura a criação de um sistema de “pesos e con-
trapesos” que diminui a chance de que decisões erradas sejam tomadas devido aos
chamados “vieses cognitivos” aos quais todos nós, atuando individualmente ou em
grupos, estamos sujeitos.
Para entender essa afirmação em sua plenitude, é necessário entrarmos um pouco
no campo da psicologia aplicada às decisões econômicas.
35
(Continua)
39
Problema potencial
# Viés Descrição para a governança empresarial
Tendência a subestimar
Excesso de investimentos;
riscos (otimismo) e
Otimismo, excesso Aquisições mais caras;
a superestimar as
1 de confiança ou
perspectivas de resultados
(Continua)
42
Problema potencial
# Viés Descrição para a governança empresarial
(Continua)
43
Problema potencial
# Viés Descrição para a governança empresarial
Ter ciência dos vieses aos quais estamos sujeitos permite aos líderes se poli-
ciarem e aprimorarem seus processos decisórios. Como os vieses decorrem de
uma percepção distorcida da realidade, a melhor forma de mitigar seus impactos
negativos é criar um sistema de contrapesos efetivo na organização, que assegure
que as decisões relevantes passem por um crivo independente, qualificado e
bem informado, o que melhorará em última instância a qualidade das decisões
tomadas.5
45
A maioria das empresas já tem certa ciência dos potenciais impactos negativos
decorrentes das visões unilaterais dos indivíduos. Como resultado, as principais
decisões corporativas são em geral tomadas coletivamente, por meio de órgãos como
conselho, diretoria, comitês ou grupos de trabalho.
O problema, entretanto, é que esses órgãos nem sempre funcionam como
deveriam. Quando um dos membros possui muito mais conhecimento prévio
sobre o tema ou poder sobre os demais, por exemplo, os grupos tendem a ser
monopolizados, fazendo com que decisões, em tese colegiadas, passem a refletir as
visões individuais de determinados indivíduos. A tabela a seguir descreve os três
motivos principais que tendem a fazer com que os grupos decisórios não funcionem
a contento nas empresas:
Tabela 2.6 – Por que os órgãos de governança nem sempre funcionam como
deveriam?
Uma solução simples que pode ajudar os órgãos de governança a melhorar subs-
tancialmente sua efetividade é formalizar o papel do “advogado do diabo” para as
matérias mais relevantes.
O termo faz referência ao papel de “advocatus diaboli”, cargo formalmente criado pela
igreja católica, em 1587, com o objetivo de aumentar a credibilidade do seu processo
de canonização, bastante desacreditado à época. A pessoa designada tinha como função
avaliar com ceticismo os candidatos à canonização, elaborando argumentos contrários
ao processo por meio de questionamentos da conduta pessoal dos potenciais santos e
da identificação de fraudes nos eventuais milagres a eles atribuídos. A ideia parece ter
funcionado muito bem. Basta dizer que, após a extinção do cargo pelo papa João Paulo II,
em 1983, até o final do século XX, cerca de 500 pessoas foram canonizadas, cinco vezes
mais do que as 98 canonizadas por todos os seus predecessores nos 80 anos anteriores!
47
Em terceiro lugar, o papel de advogado do diabo deve ser usado apenas para as
matérias mais relevantes e complexas, principalmente aquelas nas quais parece haver
unanimidade, sem maiores contendas dentro do grupo.
Deve-se, portanto, evitar sua utilização frequente para matérias rotineiras. Para
assuntos extremamente complexos, pode-se inclusive constituir um comitê ad hoc
com essa finalidade, em vez de pessoas isoladas.
Independência intelectual e boa estatura profissional são dois atributos impor-
tantes para o perfil de um bom advogado do diabo. Em relação às atividades, as
pessoas designadas para essa tarefa devem procurar:
Acima de tudo, o advogado do diabo deve se ver (e ser visto pelos colegas)
como um assessor com a missão de ajudar a melhorar a decisão final, e não como
crítico gratuito das pessoas e propostas apresentadas. Ele tem de exercer seu papel
Governança corporativa: o essencial para líderes
Esta técnica é especialmente útil quando se deve escolher entre diferentes cursos
de ação possíveis ou quando é necessária uma solução criativa para um determinado
problema. Ela é dividida em cinco etapas:
49
A técnica dos seis chapéus pensantes parte de uma abordagem diferente das
técnicas anteriores. Em geral, para chegarmos a uma decisão coletiva, lançamos
mão do pensamento confrontador ou adversário. Se, por exemplo, “A” e “B” têm
opiniões diferentes em um grupo, ambos tentam criticar e invalidar os argumentos
do outro para, assim, obter o apoio dos demais membros.
O método dos seis chapéus pensantes se baseia em uma abordagem diferente,
denominada “pensamento lateral”. Nela, um problema é dividido em seus diferentes
aspectos, fazendo com que todos pensem simultaneamente a partir dos mesmos pon-
tos de vista. A abordagem, portanto, faz com que “A” e “B” analisem em conjunto
diferentes facetas de um problema, em vez de procurarem atacar os argumentos
contrários ou, pior, se atacar mutuamente.
No método, os membros devem, metaforicamente, colocar – todos ao mesmo
tempo e sequencialmente – chapéus com cores simbólicas que correspondem aos seis
diferentes aspectos de nosso pensamento: otimismo, pessimismo, facticidade, criativi-
(Continua)
52
Representa os sentimentos e
intuições sobre uma determinada
proposta. Quando usam este
chapéu, os membros devem
Como me sinto em relação a
Vermelho Emoções analisar o problema a partir de
essa proposta?
suas reações viscerais e emoções,
compartilhando seu apreço,
temor, afeto e palpites sem
qualquer justificativa racional.
Concentra-se na criação de
novas possibilidades, alternativas
e ideias à proposta vigente
ou ao problema em questão.
Ao colocarem esse chapéu,
Quais são as novas
os membros devem se sentir
alternativas ou ideias “fora
Verde Criatividade à vontade para expressarem
da caixa” para resolver esse
pensamentos abstratos e dúvidas
problema?
genéricas, sem recebimento
de críticas. É o momento de
maior oportunidade para o
desenvolvimento de soluções
criativas.
É usado para gerenciar todo o
processo, devendo ser colocado
apenas pelo moderador da
reunião. Trata-se do mecanismo
de controle que assegura que
as diretrizes do método serão
seguidas e os objetivos da reunião
alcançados. Possui liberdade
para indicar a sequência dos
chapéus a serem utilizados. Como O método foi executado
exemplo, ao perceber que a corretamente?
Governança corporativa: o essencial para líderes
Azul Controle
reunião entrou em um momento Os objetivos da reunião foram
de baixa intensidade, devido atendidos?
à ausência de ideias, pode
redirecionar o grupo para usar o
chapéu verde. Quando perceber
que são necessários planos de
contingência, pode demandar o
chapéu preto etc. Ao final, deve
assegurar que o grupo chegue a
uma conclusão objetiva sobre o
problema em questão.
A técnica dos seis chapéus pensantes começa e termina pelo moderador, o qual,
diferentemente dos demais membros, permanece “com o chapéu azul” o tempo
todo, de forma a assegurar que o processo seja executado corretamente.
53
Cada chapéu pode ser usado por um tempo indeterminado. A exceção ocorre
com o chapéu vermelho, que deve ser usado por poucos segundos de forma
de capturar a reação instintiva ou visceral do grupo, e não um julgamento es-
truturado.
A sequência de chapéus a serem usados depende do tema abordado e das ca-
racterísticas dos participantes. Cada chapéu pode ser usado quantas vezes forem
consideradas necessárias. Apesar de não haver sequência única, existem algumas
mais populares. O exemplo a seguir descreve uma sequência usual.
O moderador abre a discussão solicitando que todos utilizem, metaforicamente,
o chapéu branco. Isso permite que todos fiquem nivelados em relação às informa-
ções objetivas existentes, desenvolvendo-se uma visão compartilhada da questão.
Uma vez que o problema tenha sido bem definido e as informações apresentadas,
utiliza-se o chapéu vermelho, para que, então, os participantes possam expressar
seus sentimentos sobre a questão.
Na sequência, usa-se o chapéu verde, a fim de fomentar a elaboração de alter-
nativas para resolver o problema ou para melhorar a proposta em avaliação. Após
Além de melhorar a qualidade das decisões tomadas na alta gestão, a boa gover-
nança possui outro objetivo central: criar um ambiente no qual as pessoas desejem
voluntariamente cumprir as regras. Logo, um aspecto chave para qualquer líder é
entender, em profundidade, o que leva as pessoas a descumprir as políticas e normas
de suas organizações.
A abordagem tradicional sobre o assunto é simplista. Basicamente, ela parte do
pressuposto de que as pessoas tendem a burlar as regras caso o ganho decorrente da
atitude desonesta se mostre superior ao seu “custo”, computado pela probabilidade
de ser pego multiplicada pela penalidade potencial. Em outras palavras, parte-se da
premissa de que as pessoas analisam racionalmente e a todo instante se vale a pena
atuar dentro das regras, optando então por cumpri-las ou não.
Diversos estudos recentes, baseados em experimentos com seres humanos,
mostram que essa é uma visão extremamente limitada, senão totalmente errada.
55
então as pessoas deveriam passar a afirmar ter resolvido um número ainda maior
de matrizes, haja vista que o benefício da ação desonesta havia aumentando,
enquanto seu custo teria ficado no mesmo patamar da variante anterior. O que
aconteceu?
Basicamente, os resultados se mantiveram inalterados. Na verdade, observou-se
inclusive uma ligeira redução do número de matrizes “corretas” para o grupo final
que recebeu US$10, com a média geral decrescendo para pouco menos que 6
matrizes.
De acordo com os pesquisadores, isso ocorreu porque, ao receberem US$10
por matriz correta, tornou-se mais difícil para as pessoas mentir e, ao mesmo
tempo, continuar a manter seu senso de integridade. Em resumo, tornou-se um
comportamento mais difícil de ignorar ou racionalizar.
Outros trabalhos simularam atividades tipicamente propensas a alguma desones-
tidade, tais como o preenchimento de formulários de viagens ou declarações de
imposto de renda. Ao final, os pesquisadores concluíram que as pessoas em geral se
57
# Fator Explicação
O desgaste devido ao estresse, falta de sono etc.
1 Exaustão mental
aumenta a chance das pessoas burlar as regras.
As ações desonestas são mais fáceis de justificar
quando vistas como forma de compensação por
2 Sentimento de vingança
pessoas que se sentem prejudicadas ou injustiçadas
pela organização.
Cometer pequenos atos ilegais – como utilizar
Atos ilegais cometidos
3 produtos falsificados11 – aumenta a chance das
previamente
pessoas agirem desonestamente.
Há uma vasta literatura que demonstra, portanto, que o ganho econômico pes-
soal e a probabilidade de ser penalizado influenciam muito menos o comportamento
humano do que poder-se-ia esperar.
Como resultado, a abordagem tradicional adotada pelas empresas para a ques-
tão dos controles internos – em geral baseada no aumento do monitoramento e
das penalidades potenciais como únicos elementos para evitar comportamentos
indesejados – deve ser revista pelas principais lideranças, passando a levar, em
consideração, os fatores psicológicos que podem aumentar a chance das pessoas
descumprirem as políticas da organização.
58
Os seres humanos nem sempre agem de acordo com a premissa do homo econo-
micus. Ao contrário, não são raras as situações do cotidiano, por exemplo, em que
as pessoas sacrificam seu tempo, dinheiro ou conhecimento para ajudar os outros,
bem como deixam de burlar regras quando isso lhes poderia conferir vantagens. O
homo economicus não agiria assim.
Na verdade, centenas de experimentos recentes realizados com pessoas em
situações reais têm demonstrado, de forma surpreendente que, na maior parte
do tempo, temos uma tendência a agir de forma cooperativa e visando ao me-
lhor resultado coletivo. A busca incessante e exclusiva pelo melhor resultado
individual, algo preconizado pela visão tradicional, tende a ser mais uma
exceção quase que patológica do que uma regra do comportamento humano.
Três experimentos, aplicados em diferentes países ao longo dos últimos anos,
corroboram essa afirmação: o “jogo da confiança”, o “jogo do ultimato” e o “jogo do
ditador”. Todos esses trabalhos, apresentados no quadro abaixo, envolvem voluntários
estranhos entre si, colocados em salas diferentes de forma a não terem qualquer contato.
59
Além da forte evidência de que a maioria das pessoas prefere cooperar e partilhar
parte de seus ganhos, alguns estudos recentes no campo da neurociência mostram
que as pessoas inclusive sentem prazer ao fazer isso. Logo, as pesquisas têm revelado
um comportamento orientado para o próximo, que decorre do que nossa consciência
acredita ser “justo” socialmente. A ideia de que nos comportamos como homo
economicus, portanto, pode ser útil para alguns modelos teóricos, porém é limitada
e frequentemente incorreta quando confrontada com a realidade.
De forma interessante para a temática da governança, esses trabalhos mostram
ainda que o peso da consciência nas decisões varia em função das circunstâncias,
bem como que as pessoas podem ter um comportamento mais orientado para o
grupo, caso seja criado um contexto social adequado. Tudo depende de termos nossa
consciência “ativada”.
Os experimentos mostram que existem três fatores principais relacionados ao
contexto social que ativam a consciência das pessoas, induzindo a um comporta-
mento mais cooperativo e orientado para o interesse coletivo:
pisar no pescoço de alguém para alcançar minha meta e dobrar minha remune-
ração, pode ter certeza que eu faria isso. Era assim que as pessoas trabalhavam lá.”
Na prática, o PRC se tornou viciado. Visando a obter boas avaliações,
muitos executivos começaram a produzir lucros fictícios e a fazer acordos
com pares em função de relações pessoais para obtenção de boas notas. Ao
invés de meritocracia, o processo de avaliação criou um ambiente politizado
e com excessiva competição interna, beirando a paranoia em algumas áreas.
O desfecho da Enron é conhecido por todos: a companhia foi à falência
em 2001, após a descoberta de várias operações engenhosas para inflacionar
os resultados e, com isso, permitir o alcance das metas e o exercício de opções
de ações milionárias por seus executivos.
Fonte: McLEAN, Bethany, ELKIND, Peter. 2004. The Smartest Guys in the Room: The Amazing
Rise and Scandalous Fall of Enron. Penguin Books. 440p.
63
(Continua)
64
Os casos Enron e Sears deixam claro como o foco excessivo na competição in-
terna entre colaboradores e executivos pode gerar sérios efeitos colaterais negativos.
Além de criar um ambiente interno paranoico, esses exemplos causaram enorme
destruição de valor para os acionistas e stakeholders dessas companhias.
Em grande medida, o foco na competição em detrimento da cooperação –
atualmente muito comum nas organizações – deriva de um entendimento errado
das lideranças em relação ao conceito de seleção natural proposto por Darwin.
Para alguns líderes, a promoção da competição interna seria a forma de assegurar o
melhor resultado para o negócio, já que, em tese, levaria à “sobrevivência dos mais
65
“There can be no doubt that the tribe including many members who are always ready
to give aid to each other, and to sacrifice themselves for the common good, would be
victorious over other tribes. And this would be natural selection.”17
Charles Darwin. The Descent of Man, 1871.
É necessário ter uma visão mais ampla da boa governança, que tenha como
objetivo criar um contexto organizacional no qual as pessoas desejem de fato agir
no melhor interesse de longo prazo da organização. Nessa nova abordagem, os
mecanismos de incentivo e controle tradicionais continuam a ser importantes, porém
não devem ser aceitos como suficientes para assegurar empresas bem governadas.
Como resultado, você e as demais lideranças devem procurar incessantemente:19
O resultado desse processo serão empresas mais bem governadas, isto é, aquelas
cujas decisões são tomadas no seu melhor interesse de longo prazo e nas quais as
pessoas cumprem as regras e se comportam de forma ética, com impactos positivos
para toda a comunidade.
A consideração explícita dos aspectos humanos e psicológicos, como força
relevante para a boa governança, deve, em última instância, mudar a forma como
o tema é percebido pela maioria das pessoas.
Governança corporativa deve passar a ser vista como um conceito multidimensio-
nal, cujo atendimento pleno depende do contexto social criado por suas lideranças,
da efetividade dos mecanismos de incentivo e controle implantados e das práticas
adotadas para com seus acionistas e demais stakeholders.
O experimento de Milgram
extrema intensidade”, deveria emitir grunhidos agonizantes de dor. Aos 405V, finalmen-
te, quando a legenda da máquina apontava “potencialmente letal”, o ator deveria parar
de responder. Neste momento, o “cientista” deveria dizer ao voluntário que a ausência
de respostas deveria ser interpretada como resposta errada, solicitando a continuidade
dos choques. Aos 450V, carga elétrica máxima e mortal, o estudo seria interrompido.
Caso o voluntário manifestasse interesse em deixar o experimento, o “cientista”
deveria incitá-lo a prosseguir por meio de quatro frases, nesta ordem: i) “por favor,
continue”; ii) “o experimento requer que você continue”; iii) “é absolutamente essen-
cial que você continue”; e, iv) “você não possui outra escolha, você deve ir adiante”.
Se o voluntário continuasse a manifestar o interesse em deixar o experimento, o
teste era então interrompido.
Antes de realizar a pesquisa, Milgram acreditava que o nível de obediência nos
Estados Unidos – um país com tradição democrática e de maior questionamento –
seria substancialmente inferior ao que poderia ser obtido na Alemanha ou em outros
países que, a seu ver, tinham maior herança autoritária. Ele submeteu o esboço do
projeto de pesquisa a diversos psicólogos. Todos acreditavam que os voluntários
Implicações do experimento
para a governança corporativa
ser maior do que aquele decorrente da baixa lealdade das pessoas a fim de maximizar
seu ganho pessoal, alvo de praticamente toda a literatura sobre o tema.
No caso dos conselhos, é possível que conselheiros sintam certo sentimento
positivo decorrente da lealdade para com o líder da empresa, muitas vezes com
décadas no comando da organização. É possível também que diversos escândalos
empresariais como Enron, Parmalat etc. se devam, ao menos em parte, à lealdade
excessiva de conselheiros encantados com CEOs e empreendedores que representavam
uma liderança carismática e inquestionável. Nessas situações, os conselheiros podem
simplesmente ter confiado suas decisões nas mãos do líder inconteste – muitas vezes
talentoso e teatral. Afinal, a quem deve haver maior sentimento de lealdade: a um
indivíduo próximo e que se dedica integralmente à organização ou a um ente abstrato
e anônimo chamado acionista que – em tese – aparece uma vez ao ano nas assem-
bleias gerais? Embora a Lei prescreva o dever de lealdade para com a companhia, os
aspectos humanos inatos e a pressão pela lealdade ao grupo podem levar as pessoas
a aceitarem caminhos catastróficos para a organização.
71
exercer seu livre arbítrio. Com isso, visões dissonantes não seriam recebidas como atos de
“deslealdade” para com o líder empresarial. Reforça-se também a necessidade de maior
proximidade entre conselheiros e acionistas, via assembleias ou encontros regulares. Na
medida em que os conselheiros percebessem o “acionista” como um ente menos abstrato e
anônimo, passariam a ter uma propensão maior a levar em consideração seus interesses (de
forma similar à redução da obediência quando os voluntários ficavam próximos do ator).
Em relação à discordância entre pares, reforça-se a necessidade de uma proporção
maior de conselheiros de fato independentes, levando em consideração não apenas
eventuais laços financeiros, mas principalmente potenciais laços pessoais com
executivos e controladores.
Finalmente, tem-se a questão central da presença de uma liderança inde-
pendente no conselho que sirva de contrapeso ao líder da empresa. Esta figura
poderia representar uma autoridade rival positiva, induzindo a debates mais
ricos e críticos.
Os experimentos de Milgram mostram como a governança corporativa deve ser
vista não apenas como um conjunto de mecanismos para aumentar a lealdade das
pessoas para com a organização, como também para evitar os problemas decorrentes
da lealdade excessiva a figuras poderosas nas organizações.
Governança corporativa: o essencial para líderes
Capítulo 3
Quais são os elementos centrais
de um bom modelo de governança?
resultados obtidos. Aos executivos, por sua vez, cabe identificar as oportunidades
de negócios e – uma vez submetidas ao crivo do conselho – implantá-las. A figura
a seguir descreve o papel do conselho de administração no processo decisório da
alta gestão.
O papel do conselho, dentro das boas práticas de governança, vai muito além
das exigências legais. No Brasil, o órgão era percebido inicialmente como um fórum
de discussão de questões frouxamente definidas como “estratégicas”. Já no exterior,
notadamente nos países anglo-saxões, enfatizava-se o monitoramento dos executivos
como grande atribuição do conselho. Como o passar dos anos, o papel do conse-
lho ampliou-se em todo o mundo, passando a contemplar duas outras dimensões
relevantes – a qualidade das informações divulgadas para os públicos externos e a
formulação e cumprimento das políticas corporativas.
Governança corporativa: o essencial para líderes
Deve-se destacar, entretanto, que a ausência de vínculos formais com a gestão e com
os controladores não assegura, necessariamente, uma postura independente do conse-
lheiro. Ao menos três outros aspectos devem ser levados em consideração para avaliar
sua independência de fato: a) o tempo no cargo como “conselheiro independente”;
82
Comitê de
Nomeação e Coordenar o processo de seleção de conselheiros independentes,
Governança incluindo avaliação de potenciais candidatos;
Corporativa Zelar pelo cumprimento do código de ética e conduta, de forma a
assegurar que o negócio seja conduzido em conformidade com as leis
aplicáveis;
Acompanhar as atividades do canal de denúncias; e,
Zelar pela adoção das boas práticas de governança na organização,
analisando a eficácia de seus processos e possibilidades de melhoria.
Avaliar e aprimorar continuamente as práticas de gestão de riscos,
incluindo aqueles de natureza estratégica, operacional e de mercado;
Analisar, em conjunto com a Diretoria, os diversos tipos de riscos aos
quais a organização está exposta e os procedimentos adotados a fim
de minimizá-los;
Comitê de Risco
Supervisionar as atividades de compliance em relação aos riscos-críticos
identificados; e,
Avaliar os sistemas de controles internos relacionados aos aspectos
financeiros, contábeis, legais, operacionais, de mercado, ambientais
e de sucessão.
gerenciais;
e) Elaborar planos de sucessão para o corpo executivo;
f ) Administrar o nível de risco aceitável do negócio estabelecido pelo conselho,
identificando, mensurando e gerenciando os riscos, aos quais a empresa está
exposta;
g) Propor e implementar sistema de controles internos e de informação que
assegurem adequada confiabilidade de gestão, incluindo políticas e limites
de alçada;
h) Assegurar que as atividades empresariais sejam conduzidas de forma ética e
dentro da lei;
i) Respeitar as diretrizes de governança corporativa e as políticas corporativas,
assim como monitorar sua observância em toda a organização; e,
j) Prestar contas ao conselho de administração e à assembleia de acionistas ou
sócios.
87
O velho adágio diz que “sem risco, não há retorno”. Como qualquer decisão com
consequências futuras envolve incertezas, todas as empresas estão continuamente
expostas aos mais diferentes tipos de riscos.29
O objetivo das lideranças não deve, portanto, ser a eliminação dos riscos, mas sim
a criação de um processo interno que permita administrar as incertezas do ambiente
empresarial. Ao tomar ciência dos riscos aos quais a organização está sujeita e do
seu potencial impacto, a alta gestão passará a se concentrar não apenas na geração
95
riscos, aos quais a sociedade está exposta, e definição das medidas para sua mitigação –
que está cumprindo um de seus papéis fundamentais. Trata-se, portanto, de uma
filosofia de gestão com foco explícito na administração integrada dos diferentes riscos
aos quais a empresa está sujeita.
o nível de volatilidade que a empresa estará disposta a aceitar nos seus indicadores
de desempenho.
Esta etapa inicial, fundamental para o sucesso da gestão de riscos, deve ser
resultado de um debate profundo e estruturado entre as principais lideranças. Nele,
devem ser feitas perguntas do tipo:
Que nível de risco estamos dispostos a aceitar na busca por nossos objetivos?
Nossos acionistas querem um negócio de alto risco e alto retorno ou preferem
um negócio mais conservador, com fluxos de caixa mais estáveis?
Como desejamos ser percebidos pelo mercado em relação aos riscos de nosso
negócio, inclusive em relação ao risco de crédito?
Quanta volatilidade estamos dispostos a aceitar no nosso lucro líquido, incluindo
os impactos sobre o pagamento de dividendos?
Estamos preparados para aceitar prejuízos financeiros pontuais mais vul-
tosos?
97
(Continua)
98
O processo de identificação dos riscos aos quais a empresa está sujeita pode ser
feito por meio de entrevistas, questionários, seminários e análise de eventos pas-
sados.
de riscos
utilizados para a gestão dos riscos; e) os limites para as operações com derivativos
e outros instrumentos de administração dos riscos; f ) a classificação dos riscos e a
matriz de riscos da empresa; g) os parâmetros para avaliação do desempenho da
área de gestão de riscos; h) a forma de reporte periódico da área e suas interfaces
com diretoria e conselho; i) os mecanismos a fim de assegurar o aculturamento
interno e a revisão periódica dos processos de gestão de riscos. É fundamental que
o conselho não apenas aprove essa política, mas que supervisione ativamente seu
cumprimento pela diretoria.
A gestão de riscos deve ser entendida como uma reponsabilidade de cada execu-
tivo da empresa, e não apenas da área dedicada ao tema. Cabe ao gestor de riscos,
na verdade, proporcionar expertise sobre o tema e assegurar que a agenda da gestão
de riscos está sendo levada adiante de forma estruturada pela organização. Não
cabe unicamente a ele, naturalmente, administrar os riscos do negócio. Para que
todos se sintam responsáveis pela administração dos riscos, é necessário ir além
das atividades de aculturamento. Idealmente, questões relativas à gestão de riscos
devem ser atreladas à avaliação de desempenho dos executivos, com impactos sobre
sua remuneração e perspectivas de promoção de carreira. Isso pode ser feito, por
exemplo, por meio da criação de indicadores de retorno ajustado ao risco, ou pela
avaliação da conformidade do executivo em relação ao grau de apetite e tolerância
a risco definido.
riscos no mercado), deve-se deliberar sobre outros aspectos, tais como os níveis
de acesso, período de retenção dos documentos etc.
Outro aspecto importante é determinar a forma de auditoria ou due diligence
independente da política e das práticas de gestão de riscos. Nesse caso, o objetivo
é verificar se os procedimentos estão sendo cumpridos, se as pessoas estão de fato
cientes das questões relacionadas ao risco nas suas unidades, e se os riscos estão den-
tro dos limites de tolerância definidos pelas políticas da empresa. Adicionalmente,
a matriz de riscos da empresa pode ser utilizada como um elemento na definição
do plano da auditoria interna, levando a uma auditoria com foco nos riscos críticos
da organização.
Controles Internos
(Continua)
109
Deve-se destacar que todos os executivos e colaboradores são responsáveis pela qua-
lidade dos controles internos da organização. Cabe a cada um gerar as informações
utilizadas nos sistemas de controles e atuar para que os controles funcionem de forma
efetiva. Em caso de descumprimento dos procedimentos e políticas estabelecidas,
todos são responsáveis por comunicar os problemas imediatamente para as áreas
competentes.
# Etapa Descrição
Seleção das regulamentações externas a serem
Identificação dos principais cumpridas pelo programa de compliance. Exemplo:
1
regramentos aplicáveis. normas do Bacen e CVM, Lei Sarbanes-Oxley, Lei
12.846/2013 (anticorrupção) etc.
Criação ou ajuste das diretrizes e políticas. Inclui
desde a criação de documentos abrangentes – tais
como código de ética e política para contribuições
políticas – até políticas com exemplos de atitudes
esperadas em situações do cotidiano – tais como
regras para relacionamento com agentes públicos
Elaboração das diretrizes, e consultores de negócio.
2
políticas e normas internas. É fundamental que as regras sejam criadas em
linguagem simples e de forma customizada à
realidade da organização. Ademais, as regras
devem ser bem construídas, isto é, integradas ao
processo diário de trabalho dos colaboradores e sem
burocracias desnecessárias (que tendem a levar ao
seu descumprimento).
(Continua)
112
# Etapa Descrição
Criação de mecanismos para reporte de violações
por funcionários e outras partes interessadas. O canal
deve assegurar a proteção dos denunciantes, bem
Criação de canal de denúncias como investigações independentes das denúncias.
para reporte de violações
6 Deve-se também estruturar uma ouvidoria
por funcionários e outros
stakeholders. independente a fim de receber sugestões e críticas
dos clientes, bem como criar mecanismos a fim de
divulgar, voluntariamente, aos reguladores eventuais,
não conformidades relevantes identificadas.
Monitoramento periódico e Realização de auditorias e due diligence de
7 independente das práticas compliance independentes, principalmente nas
adotadas. atividades consideradas como de maior risco.
Registro e armazenamento da documentação
referente às atividades de compliance, tais como
treinamentos, atas de reuniões do comitê de
compliance, denúncias, investigações, auditorias,
Documentação de todas as punições etc.
8
atividades de compliance.
Inclui também o gerenciamento de todas as normas e
políticas em um repositório central que permita rápido
envio aos envolvidos em caso de atualização de
normas, políticas ou regulamentos.
Integração de questões relativas ao compliance
no processo de avaliação de desempenho dos
executivos, com impactos potenciais sobre a
remuneração e promoção na carreira. Como exemplo,
Incorporação do compliance
9 pode-se definir que eventuais não conformidades
na avaliação dos executivos.
relevantes podem resultar em um fator de desconto
na remuneração, ou mesmo inviabilizar a ascensão
organizacional por determinado período, ainda que o
executivo tenha alcançado suas metas financeiras.
Elaboração de relatórios baseados em medidas
objetivas a fim de permitir que a diretoria e
conselho monitorem o desempenho do programa
Governança corporativa: o essencial para líderes
Deve-se destacar, entretanto, que pouco valerá o investimento nas dez etapas acima
se as empresas interpretarem o compliance como um conjunto de regramentos frios e
distantes do dia a dia, a serem mantidos sob cuidado de escalões inferiores. A chave
para o sucesso, na verdade, é implantar uma cultura de confiança e integridade com
o engajamento direto da alta gestão, notadamente do diretor-presidente e demais
lideranças.
113
(Continua)
118
Dimensão 6: transparência.
(Continua)
124
A tabela anterior exemplifica como o indicador objetivo de governança pode ser uti-
lizado como ferramenta de autoavaliação. A coluna 3 contém o número de questões de
cada dimensão de análise. A coluna 4 descreve a pontuação aferida pela organização em
cada dimensão. A coluna 5 descreve a pontuação máxima possível em cada dimensão.
As lideranças podem optar por estabelecer pesos diferentes para as questões em função
da relevância percebida de cada questão ou tópico (Ex.: pesos 3, 2 e 1 para as questões
de alta, média e baixa relevância, respectivamente). Neste caso, a pontuação máxima
(coluna 5) se tornaria diferente do número de questões por dimensão (coluna 3).
Por outro lado, caso opte-se por atribuir o mesmo peso às questões (todas valendo 1
ponto), então os valores da coluna 5 serão idênticos aos da coluna 3.
A coluna 6 (resultado da divisão da coluna 4 pela coluna 3), indica o grau de
conformidade da organização em relação a cada dimensão, enquanto a coluna 7
apresenta o mesmo resultado em uma nota de 0 a 10. A coluna 8 descreve o ali-
nhamento da empresa de forma qualitativa, com base nas seguintes faixas:
j 0 a 2 – alinhamento muito baixo
j 2,01 a 4 – alinhamento baixo
Aprofundamento do conhecimento
sobre a governança na organização
(Continua)
129
A reflexão das lideranças sobre as questões acima gerará um conjunto rico de in-
formações, o que propiciará uma avaliação correta dos pontos críticos de governança
de sua organização. É importante destacar que o objetivo desse processo não é con-
trapor de forma explícita visões individuais, mas sim identificar, de forma agregada,
os pontos de consenso e de dissonância na organização.
Tendo em vista a relevância e sensibilidade dos temas abordados, é fundamental
que o processo seja conduzido por uma pessoa com elevada senioridade, maturidade,
independência intelectual e ausência de agenda pessoal específica na organização.
131
A classificação das lacunas de governança nos quatro quadrantes deve ser feita
após devida reflexão e debate entre as lideranças, já que servirá para definir o nível
de priorização das mudanças a serem implantadas na organização.
Trata-se também de um processo de análise comparada entre as lacunas iden-
tificadas, já que o objetivo é alocar um número razoável de iniciativas dentro de
cada um dos quadrantes. Afinal, o exercício se tornaria de pouca utilidade caso,
por exemplo, as lideranças classificassem 95% das lacunas como de “alto benefício
e alto custo” para a organização.
A agenda de governança, produto final desse exercício, será resultado direto
da matriz acima. Nela, deverão ser definidas as novas práticas a serem adotadas, o
processo de implantação, prazos e os responsáveis por cada iniciativa.
Reunião Prévia
Além disso, é importante que os representantes dos acionistas nas reuniões prévias
não sejam os próprios conselheiros da empresa, já que é necessário separar a atuação
como representante de acionistas – muitas vezes com um mandato específico a ser
cumprido – da atuação como administrador da companhia – que inclui a responsa-
bilidade legal de colocar o interesse coletivo da entidade sempre em primeiro lugar.
# Tema Conteúdo
Definição da missão do conselho na organização, tais como: o
equilíbrio dos interesses de todos os stakeholders, a criação sustentável
1 Missão
de valor de longo prazo, a proteção do patrimônio de todos os
acionistas etc.
Descrição do número de membros, prazo do mandato, número
mínimo de conselheiros independentes, critérios mínimos de
diversidade a serem atendidos, restrições aplicáveis para o exercício
2 Composição
do cargo (Ex.: número máximo de outros conselhos a serem
ocupados simultaneamente, impossibilidade de eleição para a
diretoria etc.).
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
137
# Tema Conteúdo
Descrição dos deveres a serem observados pelos conselheiros, em
complemento àqueles previstos em Lei, incluindo a necessidade de:
Comparecer às reuniões, previamente preparados, e delas participar
Deveres dos ativamente;
4
conselheiros
Manter reserva sobre toda e qualquer informação sigilosa da
organização;
Zelar pela adoção das boas práticas de governança.
Descrição das vedações dos conselheiros de administração, incluindo
proibição de:
Vedações aos Receber vantagens de terceiros em razão do exercício do cargo;
5
Conselheiros Usar oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão
de seu cargo; e,
Omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia.
Presidente do Apresentação do rol de atribuições do presidente do conselho (vide
6
Conselho item 3.2. para exemplo completo).
Substituição Definição da regra em caso de vacância do cargo de presidente do
8
dos Membros conselho, ou de ausência ou impedimento de qualquer conselheiro.
Definição do procedimento a ser observado pelos novos conselheiros a
Ingresso
fim de se familiarizarem plenamente com a organização. Pode incluir o
Tabela 4.5 – Estrutura proposta para o regimento interno dos demais órgãos
Governança corporativa: o essencial para líderes
de governança
É importante definir regras claras para a distribuição dos resultados aos acionis-
tas. Além de proporcionar maior previsibilidade a investidores e gestores, a definição
de uma política de dividendos diminui a chance de conflitos entre acionistas com
diferentes necessidades de caixa. Isso pode ocorrer não apenas em companhias
abertas, mas também com empresas familiares de capital fechado nas quais exis-
tam acionistas da família fora da gestão diária. A tabela a seguir descreve os temas
contemplados em uma política de distribuição de resultados.
# Tema Conteúdo
A companhia pode decidir distribuir dividendos
de acordo com o mínimo legal7 ou estabelecer
Parâmetro utilizado para outro parâmetro, como, por exemplo, um valor
1
definição do montante mínimo equivalente a um determinado
percentual do seu fluxo de caixa operacional
do período.
Definição da frequência de pagamentos (Ex.:
Frequência dos
2 anual, semestral etc.), bem como a forma
pagamentos
de desembolso.
(Continua)
140
# Tema Conteúdo
Forma de distribuição Definição se a distribuição será feita sob a forma
3
dos resultados de dividendos e/ou juros sobre capital próprio.
Descrição do processo para definição da destinação
de resultados.
Em geral, envolve uma proposta inicial da
diretoria, definição dos termos da proposta da
Processo e instâncias
administração pelo conselho e aprovação final
4 responsáveis pela
pelos acionistas.
proposição
Critérios como o planejamento estratégico da empresa,
planos de investimento, e a manutenção de seu equilíbrio
financeiro devem ser levados em consideração pela
administração.
Podem-se incluir ressalvas à política aprovada,
tais como a possibilidade da companhia de
declarar dividendos e/ou juros sobre capital
5 Ressalvas próprio inferiores ao mínimo estabelecido, quando
exigido por cláusulas restritivas em contratos
junto a credores ou por ocorrência de cenário
que ameace a saúde financeira da empresa.
A política para transações com partes relacionadas visa a assegurar que as de
cisões – especialmente aquelas envolvendo potencial conflito de interesses – sejam
tomadas com base em parâmetros de mercado e no melhor interesse de longo prazo
da organização. A tabela a seguir descreve os temas usualmente contemplados em
uma política desta natureza.
# Tema Conteúdo
Definição da empresa para a expressão “partes
relacionadas”, tendo em vista as previsões legais. Entre os
principais exemplos de partes relacionadas, destacam-se
as empresas que respondem ao mesmo controle societário,
Definição de “partes
1 que possuem administradores comuns, ou pertencentes
relacionadas”
aos acionistas controladores. Incluem-se também, como
transações com partes relacionadas, as operações
realizadas diretamente com executivos, administradores e
acionistas controladores, incluindo seus familiares.
(Continua)
141
# Tema Conteúdo
Esclarecimento do que a organização entende como uma
situação envolvendo conflito de interesses. Como exemplo,
podem ser considerados potenciais conflitos de interesse as
situações nas quais os objetivos pessoais dos tomadores de
Definição de “situações
decisão possam, por qualquer razão, não estar alinhados
2 envolvendo conflito de
aos objetivos da empresa em determinadas matérias. É
interesses”
importante ainda deixar claro, na política, que a situação
de conflito de interesses é uma situação anterior à decisão,
existindo mesmo que não haja atos impróprios decorrentes
da atuação do indivíduo conflitado.
Estabelecimento das regras a serem observadas uma vez
constatadas matérias envolvendo partes relacionadas ou
interesses conflitantes.
Regras e procedimentos a
3 Além de determinar que essas operações sejam realizadas
serem seguidos
em condições de mercado, faz-se necessário descrever
o procedimento a ser observado pelos indivíduos
considerados conflitados na matéria em questão.
Órgão responsável
Definição dos órgãos responsáveis pela análise e
pela aprovação das
4 aprovação das transações com partes relacionadas e
transações com partes
outras matérias evolvendo conflito de interesses.
relacionadas
# Tópico Conteúdo
Apresentação visual do modelo de governança
Modelo de governança
1 vigente na empresa, incluindo órgãos, papéis e
corporativa
interfaces.
Descrição das principais práticas de governança
Principais práticas de adotadas pela empresa em relação a aspectos como:
2
governança conselho de administração, comitês, áreas de controle
etc.
Descrição do processo de avaliação de desempenho
dos principais elementos de governança da empresa,
3 Avaliação de desempenho
incluindo: conselho de administração, diretoria,
diretor-presidente e comitês.
Transações com partes Descrição da forma como a organização lida com as
4 relacionadas e conflitos de matérias que envolvem partes relacionadas ou outras
interesse deliberações sujeitas a conflitos de interesses.
Exposição da forma pela qual a organização identifica,
5 Gestão de Riscos avalia e mitiga os principais riscos aos quais está sujeita,
incluindo a estrutura organizacional envolvida.
Apresentação dos principais elementos do programa
Compliance e Controles de compliance da empresa, incluindo a forma
6
Internos pela qual os controles internos são avaliados
periodicamente.
Descrição sucinta dos principais aspectos do Código
de Ética e Conduta da organização, incluindo a
7 Código de Ética e Conduta
forma pela qual a alta gestão procura assegurar sua
disseminação e cumprimento.
Apresentação dos canais existentes para recebimento
Canal de Denúncias e
8 de denúncias internas ou externas, reclamações e
Ouvidoria
sugestões de clientes.
Explicação sobre a forma de revisão das diretrizes,
Atualização das práticas de
9 políticas e práticas de governança, incluindo seus
Governança
responsáveis.
Governança corporativa: o essencial para líderes
1. Foco estratégico;
2. Motivação, envolvimento e alinhamento de interesses;
3. Postura independente;
4. Funcionamento das reuniões;
149
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O conselho é assertivo na fixação das diretrizes
1
estratégicas do negócio.
O conselho analisa periodicamente as principais
2 ameaças e oportunidades externas da empresa,
incluindo aquelas de médio e longo prazos.
O conselho supervisiona ativamente as práticas de
3
gestão de riscos.
O conselho monitora a efetividade do sistema de
4
controles internos.
O conselho avalia sistematicamente e com profundidade
5
o trabalho dos auditores internos e independentes.
O conselho verifica o cumprimento das principais
6
políticas da empresa.
O conselho avalia, em profundidade e de forma
7 estruturada, o desempenho do diretor-presidente,
incluindo aspectos não financeiros.
O conselho discute adequadamente o plano de
8 sucessão para as posições-chave da empresa,
incluindo a sucessão do diretor-presidente.
O conselho reavalia periodicamente o alinhamento das
9 práticas de governança da empresa com as práticas
recomendadas pelo mercado.
O conselho consegue discutir todos os temas de sua
10
competência ao longo do ano.
150
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O grau de dedicação (tempo disponível) dos
1 conselheiros para o desempenho de suas
responsabilidades é adequado.
Os conselheiros se preparam adequadamente para
2 as reuniões. (Todos leem o material enviado com
antecedência).
O nível de absenteísmo nas reuniões é muito baixo. (Em
3
geral, todos os conselheiros estão presentes).
Os conselheiros demonstram interesse nos debates e
4
análise das matérias submetidas à deliberação.
Os conselheiros procuram acompanhar a organização
5 e os principais desdobramentos de seu mercado entre
as reuniões.
Todos os conselheiros aportam conhecimentos e
6
experiências valiosas.
O sistema de incentivos (remuneração ou outras formas
7
de benefícios) concedido aos conselheiros é adequado.
Além das reuniões, os conselheiros se reúnem
8 informalmente em outras ocasiões de forma a
promover integração e coesão entre si.
Os conselheiros procuram ativamente realizar contatos
9
externos que possam ajudar a organização.
Os conselheiros procuram se desenvolver
10 profissionalmente a fim de aprimorar sua atuação no
conselho.
Governança corporativa: o essencial para líderes
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
Há uma separação clara entre os papéis do conselho
1 e da diretoria, com alçadas e limites de atuação bem
definidos.
As expectativas e dúvidas do conselho são
2 comunicadas de maneira aberta e construtiva ao
diretor-presidente.
O conselho debate de forma franca com o
3 diretor-presidente os resultados de sua avaliação de
desempenho.
(Continua)
151
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O conselho analisa os resultados da avaliação de
4 desempenho dos membros da diretoria executiva
conduzida pelo diretor-presidente.
Os conselheiros colocam os interesses da empresa
5 sempre em primeiro lugar em suas análises e
posicionamentos.
Os debates têm sempre o foco em agregar valor à
6
organização.
O clima no conselho incentiva o pensamento crítico e
7
o debate, com espaço para dissonâncias.
O conselho toma decisões difíceis quando necessário,
8 mesmo que sejam contrárias aos interesses de
executivos e de alguns acionistas isoladamente.
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
Pelo menos 50% do tempo das reuniões é gasto com
1 debates sobre questões de maior impacto, e não com
apresentações de executivos ou terceiros.
As apresentações realizadas são objetivas e com a
2
profundidade adequada.
3 Os temas são debatidos de forma estruturada.
4 Todos os conselheiros procuram contribuir nos debates.
As reuniões estimulam a participação de todos os
5
conselheiros.
Os debates são feitos em um bom nível, com espaço
6
para dissonâncias e posicionamentos críticos.
As reuniões do conselho ocorrem com uma frequência
7
adequada.
8 A pauta das reuniões é cumprida à risca.
9 As atas são elaboradas em tempo adequado.
10 Há um retorno adequado das pendências das reuniões.
152
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
1 O conselho possui um número adequado de membros.
2 O conselho possui uma diversidade de gênero adequada.
O conselho possui uma diversidade de experiências
3
profissionais adequada.
Há diversidade adequada de formações acadêmicas
4
e expertise técnica.
O conselho possui uma diversidade adequada de
5
idade e tempo no cargo de seus membros.
Há uma renovação adequada e planejada dos
6
membros ao longo dos anos.
O conselho apresenta uma mescla adequada de
7
experiências profissionais e formações acadêmicas.
A cordialidade e o respeito predominam nas relações
8
entre os conselheiros.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
Governança corporativa: o essencial para líderes
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O conselho possui os comitês necessários para seu
1
funcionamento adequado.
Os comitês se reportam ao conselho com frequência
2
apropriada.
Há um bom nível de esclarecimento acerca das
3
atividades e principais conclusões dos comitês.
O comitê de auditoria possui uma composição
4
adequada.
O comitê de auditoria se reúne com frequência
5
adequada.
O comitê de auditoria tem agregado valor para
6
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão:
Informo-me sobre os temas da pauta e leio os
1.1
documentos disponibilizados antes das reuniões.
1.2 Participo de todas as reuniões, com raras exceções.
Chego pontualmente às reuniões e sempre fico até o
1.3
final.
Dedico tempo adequado ao conselho de
1.4
administração.
Demonstro disposição em conhecer mais a fundo a
1.5 empresa, inclusive com disponibilidade para visitas às
operações e outras atividades.
Levo meu cargo de conselheiro bastante a sério
1.6 e trabalho continuamente para melhorar meu
desempenho no cargo.
Procuro acompanhar ativamente as notícias que
1.7
envolvem direta ou indiretamente a organização.
1.8 Tenho agregado valor ao conselho.
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
Governança corporativa: o essencial para líderes
# Questão:
Expresso minhas visões pessoais sobre os temas a serem
2.1
deliberados de forma justificada e independente.
Procuro agregar outras visões aos temas da pauta,
2.2 trazendo novas ideias sobre os temas a serem
debatidos.
Respeito o tempo de fala dos outros conselheiros e
2.3
exponho minhas ideias sem monopolizar o debate.
Quando necessário, sou firme em manter minha visão
2.4
pessoal sobre o tema, não resistindo a pressões de outros.
Quando mantenho minha visão divergente da maioria
2.5 após os debates, faço constar em ata o registro de
meu voto dissonante.
Mantenho o foco na reunião, sem me deixar distrair por
2.6
e-mails, telefonemas, acesso à internet etc.
2.7 Sou independente de acionistas específicos.
2.8 Sou independente dos executivos.
155
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão:
Sou capaz de trabalhar bem com os outros
3.1
conselheiros e com os membros do corpo executivo.
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão:
Sou capaz de analisar, em profundidade, os planos de
4.1 orçamento de capital e suas implicações de médio e
longo prazos.
(Continua)
156
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão:
Sou capaz de analisar a fundo os planos para novos
4.5
produtos, serviços e tecnologias da companhia.
Você considera que sua dedicação de tempo tem sido suficiente para o pleno
exercício do cargo? Quanto tempo você acredita que seria o ideal?
Você se considera independente de interesses específicos de determinados acio-
nistas e dos executivos? Seus pontos de vista têm refletido esta independência?
Você tem lidado adequadamente com situações envolvendo conflito de
interesses?
Você se sente plenamente atualizado em relação às exigências do cargo e do
momento atual da empresa?
157
Capítulo 5 Como avaliar periodicamente a governança de minha organização?
158
Governança corporativa: o essencial para líderes
Tabela 5.4 – Modelo para avaliação individual dos conselheiros por seus pares
Os resultados da avaliação individual podem ser analisados de duas formas com- 159
plementares. Uma opção é comparar a nota média do conselheiro em cada dimensão
— obtida a partir dos conceitos atribuídos por seus pares — com a pontuação média dos
demais colegas. Isso permite a ele ou ela visualizar as áreas em que se sobressai e aquelas em
que apresenta deficiência. A figura a seguir ilustra como isso pode ser feito graficamente.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
Governança corporativa: o essencial para líderes
# O Presidente do Conselho:
Age de forma independente de qualquer acionista
1
específico.
5 É ético.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# O Presidente do conselho:
1 Define uma pauta adequada.
Procura assegurar que o conselho receba informações
3
de boa qualidade.
Assegura que as informações sejam enviadas com a
4
devida antecedência.
5 Gerencia bem o tempo durante as reuniões.
Procura encerrar rapidamente debates sobre questões
6
menores.
Encoraja o debate aberto e franco entre os
7
conselheiros.
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# O Presidente do conselho:
1 Possui uma boa relação com os demais conselheiros.
Possui uma boa relação de trabalho com o
2
diretor-presidente.
Quando necessário, tece críticas construtivas ao
3
diretor-presidente.
(Continua)
162
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# O Presidente do conselho:
Não se envolve excessivamente com a gestão e
4
questões operacionais.
Trabalha para assegurar uma boa relação entre
5
conselho e diretoria.
Possui uma boa relação com os acionistas da
6
empresa.
Possui uma boa relação com outros
7
stakeholders-chave da organização.
Ajuda a organização por meio de sua rede de
8
contatos pessoais.
Contribui para promover uma imagem pública positiva
9
da empresa.
É muito respeitado e percebido como liderança no
10
ambiente empresarial.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# O Presidente do conselho:
Governança corporativa: o essencial para líderes
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# O Presidente do Conselho:
1 Dedica tempo suficiente ao cargo.
Tendo em vista seu papel central como líder da organização e como elo entre a
gestão diária e o conselho, é essencial que o diretor-presidente passe por um processo
abrangente de avaliação que vá muito além do alcance de metas financeiras.
Além de contribuir para uma boa prestação de contas aos acionistas, a avaliação
do diretor-presidente proporcionará, ao conselho, elementos mais objetivos para
a definição de sua remuneração variável, bem como para sua manutenção ou não
no cargo. Para o executivo, o processo de avaliação permitirá identificar áreas para
aprimoramento pessoal e lacunas no seu estilo de gestão, contribuindo para sua
evolução profissional.
A avaliação do diretor-presidente deve ser realizada anualmente pelo conse-
lho ou por um comitê específico do órgão, em geral o de recursos humanos ou
de governança corporativa, quando existentes. O responsável pela condução do
processo pode ser o presidente do conselho, um conselheiro independente (no caso
do diretor-presidente ser o próprio presidente do conselho), ou o coordenador do
comitê do conselho responsável pela avaliação.
Além dos aspectos objetivos, como o alcance das metas quantitativas (financeiras,
operacionais e estratégicas) definidas para o período, o processo de avaliação do
diretor-presidente deve contemplar elementos subjetivos associados a aspectos
como a qualidade da comunicação, comportamento ético, estilo de liderança,
confiabilidade, comprometimento, espírito de equipe, expertise, relacionamento
com o conselho, subordinados e stakeholders etc.
Atualmente, o processo de avaliação do diretor-presidente ainda está longe de
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
165
Cada dimensão pode ser composta por diversas questões. Para cada uma delas,
os conselheiros devem atribuir uma nota de 1 a 10 ao diretor-presidente com base
nos seguintes parâmetros: 9 ou 10: excelente – o desempenho é claramente notável,
supera amplamente as expectativas; 7 ou 8: muito bom – o desempenho em geral
atende ou supera as expectativas; 5 ou 6: satisfatório – o desempenho é adequado,
atende às expectativas; 3 ou 4: precisa melhorar – o desempenho deixa de atender
a algumas expectativas relevantes; e, 1 ou 2: inaceitável – o desempenho é muito
abaixo do nível aceitável.
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Possui um estilo de trabalho
1
aberto a críticas construtivas.
Atua com espírito de equipe
2
e de forma cooperativa.
Consegue criar um ambiente
3 com elevada motivação e
lealdade na organização.
Possui bom relacionamento
4 com os demais diretores e é
muito respeitado por eles.
(Continua)
167
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 1: Estilo de liderança
e dedicação
Demonstra iniciativa,
entusiasmo e persistência
5 necessária para alcançar
as metas estratégicas da
organização.
Proporciona o direcionamento
6 adequado e uma liderança
efetiva à organização.
Valoriza as pessoas e
7 demonstra preocupação
genuína com seu bem-estar.
Delega tarefas e
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Coloca as pessoas certas nas
1
posições certas.
Vem preparando,
adequadamente,
2
pessoas para ocupar as
posições-chave da empresa.
Vem desenvolvendo um processo
3
estruturado para sua sucessão.
(Continua)
168
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 2: Gestão de pessoas
e sucessão
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 3: Relacionamento
com o conselho de administração
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Possui um bom
relacionamento de trabalho
1
com o conselho de
administração.
Atua de forma cooperativa e
2 demonstra vontade de prestar
contas ao conselho.
(Continua)
169
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
expectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 3: Relacionamento
com o conselho de administração
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
xpectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 4: Relacionamento
com stakeholders e representatividade
institucional
e
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Possui boa relação com os
clientes e fornecedores-chave
1
e parceiros de negócio da
empresa.
(Continua)
170
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
expectativas
xpectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 4: Relacionamento
com stakeholders e representatividade
institucional
e
Possui boa relação com
reguladores e outros
2
representantes do poder
público.
Comunica-se
adequadamente com
5 a mídia, representantes
da comunidade e outros
stakeholders relevantes.
Consegue lidar
adequadamente com
Governança corporativa: o essencial para líderes
as questões de relações
7
públicas, particularmente
temas delicados envolvendo
a empresa.
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
xpectativas
xpectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 5: Visão estratégica
e capacidade decisória
e
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Possui visão estratégica e
1 direcionamento claro para o
futuro da empresa.
Consegue pensar em
estratégias inovadoras e
2 criativas para enfrentar os
desafios estratégicos da
empresa.
Toma decisões no
momento certo (não é nem
Consegue transmitir,
adequadamente, a estratégia
6
da empresa para os escalões
inferiores.
É fundamental na
identificação das ameaças
7
e oportunidades externas da
empresa.
Compreende a importância
estratégica das áreas de
8
controle e aloca recursos
adequados a elas.
Demonstra criatividade e
capacidade de inovação em
10
relação ao lançamento de
novos produtos e serviços.
172
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
xpectativas
xpectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 6: Gestão diária
e alcance das metas estratégicas
e
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Monitora o orçamento e os
indicadores operacionais de
1
forma a assegurar o alcance
das metas definidas.
Procura assegurar que as
estratégias da empresa e das
2
unidades de negócio estejam
sendo bem executadas.
Consegue converter os
objetivos estratégicos em
3 planos de negócio factíveis
de forma a proporcionar o
sucesso da organização.
Proporciona conforto ao
conselho em relação à
4
qualidade dos controles
internos da empresa.
Proporciona conforto ao
conselho em relação à
5
qualidade das práticas de
gestão de riscos.
Administra bem o dia a dia
6
do negócio.
Governança corporativa: o essencial para líderes
das expectativas
Não é possível
Muito abaixo
Muito acima
expectativas
xpectativas
xpectativas
Abaixo das
Acima das
Atende às
Dimensão 7: Ética, integridade
e cumprimento das leis e normas
e
# O diretor-presidente: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Age de forma consistente
1 com integridade e adesão
aos valores da organização.
Promove elevados padrões
2 de ética e integridade na
organização.
Cria um ambiente
organizacional que atrai
3 pessoas não apenas
talentosas, mas que possuem
(Continua)
175
identificados.
Outra possibilidade é o preenchimento dos questionários disponibilizados
pelo diretor-presidente como um mecanismo de autoavaliação. Neste caso, deve-se
comparar a visão coletiva dos conselheiros em relação ao diretor-presidente com
a opinião do executivo sobre si mesmo. Isso pode ser feito visualmente, de forma
similar ao gráfico para avaliação individual dos conselheiros ilustrado na Figura 5.2.
não apenas funcionem de acordo com determinados regramentos, mas que também
consigam criar um ambiente propício ao desenvolvimento de debates aprofundados
que levem a decisões ricas e colegiadas.
O modelo de avaliação, disponibilizado a seguir, abrange cinco dimensões de
análise: 1) características gerais do órgão; 2) qualidade do processo decisório; 3)
funcionamento das reuniões; 4) autoavaliação de cada membro e 5) coordenação. Ele
pode ser utilizado tanto para a diretoria executiva quanto para os comitês de gestão.
Para fins de simplificação, as questões foram construídas utilizando os comitês de
gestão como objeto de análise.5
Os resultados finais da avaliação dos comitês de gestão devem ser apresentados
para a diretoria executiva para ciência e identificação de pontos de melhoria. Assim
como no caso da avaliação do conselho, recomenda-se que as afirmações a seguir
sejam acompanhadas de espaço para comentários qualitativos por parte dos res-
pondentes.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
# Questão totalmente
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O processo decisório do comitê é bem estruturado e
1
de fácil entendimento.
As reuniões estimulam a participação de todos os
2
membros do comitê.
Os membros contribuem com o debate trazendo
3 informações novas ou relevantes sobre os temas a
serem discutidos.
Os debates sobre as matérias da pauta têm bom nível
4
técnico e conceitual.
Os debates são abertos, francos e transparentes, com
5
espaço para dissonâncias e posicionamentos críticos.
Os membros do comitê respeitam a ordem da fala
6 de cada um para que todos possam comunicar suas
visões sobre o tema.
O tempo é bem distribuído entre os membros, evitando
7
monopólio da fala por alguns.
A deliberação do comitê ocorre após a manifestação
8 individual e o posicionamento de todos os seus
membros, ocorrendo de forma colegiada.
Os votos dos membros do comitê expressam sua
9 convicção fundamentada, sem interesses pessoais ou
subjetivos.
As decisões tomadas pelo comitê são úteis e agregam
10
valor à empresa.
Governança corporativa: o essencial para líderes
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
Os membros se preparam adequadamente para as
1
reuniões.
2 Os membros do comitê têm sido assíduos às reuniões.
A participação de representantes no lugar dos
3
membros oficiais é rara.
(Continua)
179
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O material de suporte das reuniões tem a
4 profundidade adequada para a tomada de decisão
e é enviado com a antecedência devida.
As apresentações realizadas no âmbito do comitê são
5
claras, sucintas e têm a profundidade adequada.
O tempo de reunião do comitê é utilizado de forma
6
eficiente.
Circula-se lista de presença durante a reunião para
7 identificar a presença dos membros, bem como de
convidados excepcionais.
As atas são precisas e elaboradas imediatamente após
8
o término da reunião ou em até 3 (três) dias úteis.
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
1 Eu participo assiduamente das reuniões.
Eu me informo sobre os temas da pauta e leio os
2
documentos disponibilizados antes das reuniões.
Eu procuro agregar outras visões aos temas da
3 pauta, trazendo novas ideias sobre os temas a serem
debatidos.
Eu expresso minhas visões pessoais sobre os temas a
4
serem deliberados de forma justificada.
Eu demonstro interesse nos debates e contribuo
5 efetivamente na análise das matérias submetidas à
deliberação.
(Continua)
180
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
6 Eu dedico tempo adequado ao comitê.
Eu sinto que há liberdade para falar, mesmo que tenha
7 visões diferentes de pessoas com nível hierárquico
superior ao meu.
Eu respeito o tempo de fala dos outros membros do
8
comitê e evito monopolizar demais o debate.
9 Eu sinto que há respeito pelas minhas ideias.
10 Eu sinto que tenho agregado valor ao comitê.
Dimensão 5: coordenação.
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O coordenador conduz adequadamente as reuniões,
assegurando tempo adequado a todos os itens da
1
pauta e privilegiando questões mais relevantes para
a organização.
O coordenador incentiva a manifestação dos
2 membros sobre a pauta das reuniões, aceitando
sugestões de temas.
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
181
4 – Concordo
5 – Concordo
1 – Discordo
2 – Discordo
3 – Neutro
totalmente
totalmente
# Questão
O coordenador informa aos demais membros do
9 comitê o andamento das pendências de decisões
tomadas.
O coordenador exerce um papel valioso na liderança
10
do comitê.
gestão.
(Continua)
184
Aspecto 5: independência.
# Questão Sim Não Comentários
A auditoria possui boa reputação no mercado,
1 sem casos recentes de problemas relevantes de
governança em sociedades por eles auditadas?
Existe um relacionamento adequado entre os
2 auditores e os executivos da empresa – os gestores
não exercem influência sobre os auditores?
Os auditores são capazes e independentes
3 para levantar questões que poderiam refletir
negativamente na gestão?
Os auditores realizaram qualquer serviço de
consultoria significativo durante o período da
4
auditoria? (Caso positivo, especificar no campo
comentários).
Governança corporativa: o essencial para líderes
a) A governança corporativa deve ser vista como um tema prioritário para o sucesso de
qualquer organização:
Independentemente do porte, finalidade ou tipo jurídico, todas as organizações
possuem uma estrutura de poder e precisam ser bem governadas. Logo, a gover-
nança corporativa é um tema a ser priorizado por todas as empresas que procuram
aumentar as chances de sobrevivência e sucesso no longo prazo, e não apenas por
companhias de grande porte ou de capital aberto.
188
Observações finais
Referências
Capítulo 1
CHEN, Kevin, CHEN, Zhihong, & WEI, John 2009. Legal Protection of Inves-
tors, Corporate Governance, and the Cost of Equity Capital. Journal of Corporate
Finance: 15. 273-289.
CLSA Group. 2012. Corporate Governance Watch 2012. Disponível em: <https://
www.clsa.com/pdf.cfm?link=/assets/files/reports/CLSA-CG-Watch-2010.pdf>.
Acesso em 08/04/2014.
SILVEIRA, Alexandre Di Miceli, BARROS, Lucas Ayres B. C., & FAMÁ, Rubens
2006. Atributos corporativos, qualidade da governança corporativa e valor das
companhias abertas no Brasil. Revista Brasileira de Finanças. 4 (1): 1-30 Disponível
em: <http://ssrn.com/abstract=923310>. Acesso em 08/04/2014.
193
SILVEIRA, Alexandre Di Miceli, & DIAS, Jr., Armando. 2010. What is the impact
of bad governance practices in a concentrated ownership environment? International
Journal of Disclosure and Governance. 7: 70-91.
Capítulo 2
JENSEN, Michael, & MECKLING, William 1976. Theory of the firm: managerial
behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics. 3.
305-360.
JENSEN, Michael 2001. A theory of the firm: governance, residual claims, and
organizational forms 1. ed. Harvard University Press, 320 p .
Conflito de interesses:
HARVEY, Ann H., KIRK, Ulrich, Denfield, GEORGE H., & MONTAGUE, P.
Read 2010. Monetary Favors and Their Influence on Neural Responses and Revealed
Preference. The Journal of Neuroscience. 30 (28): 9597-9602.
SCHWARTZ, J., LUCE, M. F., & Ariely, D. 2011. Are Consumers Too Trusting?
The Effects of Relationships with Expert Advisers. Journal of Marketing Research.
48. S163-S174.
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