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19/02/2019 Racismo(s) | Opinião | PÚBLICO

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OPINIÃO

Racismo(s)
Recuso-me a ser apontado, tal como os meus descendentes até à eternidade,
como sendo detentor de uma culpa pessoal ou geracional que não me cabe.
Pedro Jordão
6 de Fevereiro de 2018, 6:23

Confesso que considero o racismo algo tão irracional e estúpido que


tenho até dificuldade em compreender o raciocínio dos racistas.
Por outro lado, tenho dificuldade em olhar o mundo e constatar
tanta hipocrisia e tantos preconceitos estereotipados sobre esta
matéria.

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Em 2001, a ONU promoveu a maior alguma reunião mundial


alguma vez realizada sobre o problema do racismo. Durante uma
semana países de todo o mundo reuniram-se na África do Sul para
discutir esta questão. O resultado foi uma discussão mínima e
marginal sobre o racismo e um gigantesco aproveitamento político
de grupos de países que se antagonizaram em planos muito
distintos deste. A desonestidade dos políticos mundiais pareceu
estar ao nível da sua impressionante impreparação.

Os países árabes impuseram a inclusão, no documento final da


conferência, da condenação de Israel como entidade
intrinsecamente racista, por considerarem que o sionismo é
equivalente a racismo. Sublinhe-se que o sionismo é o movimento
que defende que o povo judeu, disperso pelo mundo por
perseguições sistemáticas ao longo de séculos, possa retornar à sua
terra natal, que veio a tornar-se no atual Estado de Israel. Não cabe
neste artigo analisar (o que já fiz anteriormente em muitos locais) o
problema israelo-palestiniano, que decorre de culpas e erros
mútuos, mas é fundamental considerar uma patética aberração
conceptual a tentativa de classificar o sionismo como racismo. Os
dois conceitos não possuem qualquer proximidade. O racismo
passou a ser um conceito instrumentalizado.

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Perante essa imposição dos países árabes, os Estados Unidos e


Israel abandonaram a conferência e a União Europeia ameaçou
fazer o mesmo. A África do Sul de Nelson Mandela, com uma
compostura que em minha opinião foi a mais elevada entre todos
os participantes, condenou essa tese dos países árabes e tentou, tal
como a União Europeia, negociar um acordo que salvasse a
iniciativa do colapso total. Mandela condenou quer o anti-
islamismo quer o anti-semitismo, num documento que os países
árabes radicalmente rejeitaram.

Contudo, talvez mais interessante que analisar essa conferência


propriamente dita seja refletir sobre os interesses que se jogam nos
bastidores.

A escravatura pelas potências ocidentais foi abolida há cerca de 160


anos. Como ocidental lamento o que ocorreu, mesmo no contexto
dos valores e das sensibilidades da época, que eram muito
diferentes das sensibilidades contemporâneas. Sinto-me chocado.
Mas recuso-me a ser apontado, tal como os meus descendentes até
à eternidade, como sendo detentor de uma culpa pessoal ou
geracional que não me cabe. Por outro lado, enquanto alguns países
equacionam a escravatura de há alguns séculos, parecem fingir
ignorar que a escravatura continua a existir e é quase toda exercida
por comunidades das nações em desenvolvimento sobre outras das
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SOCIEDADE DIREITOS HUMANOS RACISMO ESCRAVATURA ÁFRICA


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