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Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Universidade de Coimbra
Mestrado Integrado em Psicologia
Psicologia Clínica e da Saúde
Intervenções Cognitivo-Comportamentais nas Perturbações Psicológicas e Saúde
2008/2009
Terapias Cognitivo-Comportamentais em Adultos II
4º Ano
Docentes: Mestre Daniel Rijo e Doutora Cristina Canavarro

Estratégias de Intervenção

Estratégias Experienciais/Emocionais

Focadas nas Estruturas Cognitivas

Inês Margarida Dórdio Dimas, n.º 20051745


Joana Micaela Rodrigues da Fonseca Santos, n.º 20051742
Joana Miguel de Seabra Correia Casqueira, n.º 20051741
Rafaela Jorge Rodrigues Fernandes, n.º 20041443
Resumo: No trabalho em questão, abordam-se estratégias de intervenção, nomeadamente
Estratégias Experienciais/Emocionais Focadas nas Estruturas Cognitivas. Em primeiro lugar, faz-se
uma pequena contextualização teórica, na qual se pretende demonstrar a origem destas técnicas. Após
a apresentação dos seus principais objectivos, são dados exemplos de técnicas experienciais: Imagerie
(Imaginação); Diálogo dos Esquemas; Catarse Emocional; Reviver Experiências da Infância;
Memórias Traumáticas; Diálogos Imaginários Com os Pais; Re-parentificação; Ruptura de Padrões; e
Escrever Cartas. Seguidamente, apresentam-se vários contextos de aplicação e alguns estudos de
eficácia sobre as mesmas. Por fim, tecem-se algumas conclusões e opiniões relativas à temática.

Palavras-chave: Terapias Cognitivo-Comportamentais; Estratégias de Intervenção; Técnicas


Experienciais/Emocionais; Estruturas Cognitivas; Imagerie.

Introdução
No âmbito da Unidade Curricular Terapias Cognitivo-Comportamentais em Adultos II, foi-nos
proposta a realização de um trabalho sobre estratégias de intervenção, mais propriamente Estratégias
Experienciais/Emocionais Focadas nas Estruturas Cognitivas.
No processo de intervenção, o planeamento, bem como a aplicação de estratégias e técnicas
específicas devem ser feitos de acordo com a psicopatologia específica dos doentes e da forma como
integram e utilizam as informações sobre eles próprios. É fulcral referir que os métodos que têm
sucesso com um doente num determinado momento podem não ter sucesso noutro momento. De facto,
os terapeutas devem ser capazes de esboçar planos de tratamento e seleccionar as técnicas mais úteis
ou improvisar outras. A aplicação mais eficaz das técnicas não depende apenas de uma
conceptualização clara do caso e do estabelecimento de uma relação terapêutica positiva, mas também
do talento do terapeuta. Deste modo, os terapeutas experientes sabem quando devem extrair
informações sensíveis, recuar se necessário e confrontar evitamentos, variando a sua linguagem, estilo
e modo de expressão. A flexibilidade dentro da sessão é importante e o terapeuta deve variar a sua
abordagem: ouvir activamente, focalizar e investigar, modelar novos estilos comportamentais. A arte
da terapia envolve o uso prudente do humor, das anedotas, das metáforas e da auto-revelação de
experiências por parte do terapeuta, assim como de técnicas cognitivas, comportamentais,
interpessoais e experienciais/emocionais. Todas as técnicas desempenham papéis complementares na
intervenção terapêutica, contudo, neste momento, vamos debruçarmo-nos apenas nas
experienciais/emocionais. Uma regra básica dessas técnicas consiste no facto de a mudança cognitiva
depender de um certo nível de experiência afectiva (Beck, Freeman, Davis et al., 2004/2005).

1. Contextualização Teórica: As aplicações clínicas da imagerie foram anotadas em finais do


século XIX por Janet, um clínico francês que, em Paris, usou uma técnica chamada da “substituição
imagética” em pacientes histéricos, para substituir imagens causadoras de stress para o doente por

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imagens que não lhe causassem qualquer sofrimento e ansiedade. Desde os anos 50 que a imagerie foi
utilizada pelos Comportamentalistas nos tratamentos da redução da ansiedade, baseados em modelos
de contra-condicionamento e de habituação (Long & Quevillon, 2009).
De acordo com Greenberg e Safran (1987), as terapias humanistas e experienciais receberam
também influências da perspectiva psicodinâmica, para além da comportamental acima mencionada.
Em ambas, o afecto é visto mais como um tipo de sistema de controlo que providencia feedback ao
organismo acerca das respostas que este dá às situações, e que o ajuda a adaptar-se a este
desenvolvimento. Através desta visão, o afecto não era conceptualizado originalmente em termos de
processamento da informação, mas sim como informação (Greenberg e Safran, 1987).
Na Terapia Centrada no Cliente, cujo precursor foi Carl Rogers, o conceito de “experienciação”
começou a ter um papel central. “Experiência” era definida como tudo aquilo que se passa com o
organismo, em qualquer momento, e que é potencialmente avaliado pela consciência. “Experienciar”
significa receber o impacto dos eventos sensoriais e fisiológicos que ocorrem no momento. Segundo
Rogers, o conceito de experiência, por parte do cliente, representa uma unidade vital do processo
terapêutico, sendo a base para a auto-compreensão e para o auto-conhecimento deste. O terapeuta
deverá adoptar uma postura empática e de “aceitação incondicional”, envolvendo-o num ambiente de
receptividade e não ameaçador, desempenhando um papel fundamental para auxiliar o sujeito na
mudança (Greenberg e Safran, 1987).
Outro importante contributo para as actuais Estratégias Experienciais foi a Terapia da Gestalt.
Nesta abordagem, apesar da experiência e a expressão do afecto serem entendidas como tendo um
papel relevante para a mudança, há pouca teoria sistemática sobre o seu papel neste processo. Apesar
de as ideias serem dispersas, autores como Perls, Hefferline e Goodman (1951 cit in Greenberg &
Safran, 1987) defendem que a emoção é constituída pela experienciação do organismo/ambiente sobre
o aspecto do valor. Esta perspectiva considera a emoção como um processo contínuo e um vital
regulador da acção. Não só energiza a acção, como também fornece a base da consciência do
organismo, no que toca ao que é ou não importante fazer. Na Gestalt, as emoções são vistas como uma
orientação biologicamente adaptativa do sistema que, continuamente, guia a acção adaptativa. De
acordo com a mesma, a emoção é considerada uma forma de cognição e, tal como esta última, é
falível. Através da experiência, as emoções podem ser desenvolvidas e diferenciadas quanto às
estruturas funcionais que as compõem (Greenberg e Safran, 1987).
A Terapia Cognitiva começou a enfatizar, a partir de 1985, experiências correctivas mais
activas, reconhecendo que a psicoterapia é uma forma de educação e que uma aprendizagem eficaz
requer o uso de vários procedimentos didácticos activos (Beck & Emery, 1985; Singer, 1974 cit in
Singer, 2006). Então, Beck & Emery (1985, cit in Singer, 2006) salientam o uso da imaginação
induzida (técnica experiencial/emocional), pois como há comportamentos manifestos mal-adaptativos
associados a determinadas imagens recorrentes, a identificação e modificação das mesmas será um
passo crucial no tratamento.

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Segundo Young (1999) as técnicas em questão têm uma base gestaltista e envolvem a activação
dos esquemas para que a mudança possa ocorrer. Assim, têm sido cada vez mais incorporadas na
Terapia Cognitiva nos últimos anos (Daldrup, Beutler, Engle & Greenberg, 1988; Safran & Segal,
1990 cit in Young, 2002) e são utilizadas para “trazer” as emoções do paciente em simultâneo com as
modificações cognitivas. Estas técnicas parecem ser as mais úteis das usadas na Terapia Focada nos
Esquemas, bem como as que mais modificam os esquemas subjacentes de uma forma que parece ser
mais eficaz do que as técnicas cognitivas isoladas (Young, 2002). Na referida terapia, o objectivo do
tratamento consiste em enfraquecer, o máximo possível, os esquemas precoces mal-adaptativos e
reforçar o lado sadio do sujeito. Neste contexto, o terapeuta desencadeia esquemas de uma forma
afectiva, não só durante a sessão, mas também fora dela. Deste modo, mediante a utilização de
técnicas experienciais com o objectivo de despoletar esquemas, o terapeuta pode testar os esquemas
hipotetizados (Young, 1994/2003). De acordo com Rijo (2000), os exercícios de imaginação
constituem, muitas vezes, uma forma de ultrapassar processos de evitamento e de obter acesso ao
esquema, permitindo a activação deste na consulta. Pode determinar-se que um esquema foi
desencadeado, quando se verifica um nível de afecto elevado. Quanto mais elevado este for, mais
primário, provavelmente, é o esquema. Os esquemas secundários, regra geral, possuem uma menor
carga emocional, podendo até nem ser desencadeados nesta fase (Young, 1994/2003).

2. Principais Objectivos: (1) fazer emergir as emoções associadas aos esquemas precoces mal-
adaptativos e (2) ajudar o doente a lidar com estas emoções e a conhecer parcialmente as necessidades
desconhecidas da infância. Para muitos dos pacientes, as técnicas experienciais parecem conduzir às
mais profundas mudanças (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

3. Exemplos de Técnicas Experienciais


3.1 Imagerie (Imaginação): A primeira técnica experiencial de avaliação é a imagerie. O
racional da mesma tem três fins: 1) identificar os esquemas que são mais centrais para o paciente; 2)
permitir aos pacientes experimentarem esquemas num nível afectivo; 3) ajudá-los a ligar as origens da
sua emocionalidade (esquemas da infância e adolescência) com problemas de vida actuais. Apresenta-
se um breve racional sobre a técnica aos pacientes, sendo-lhes explicado que o propósito da técnica é
permitir-lhes sentir os esquemas e compreender como é que estes surgiram na infância. Quando
utilizamos a imagerie, devem ser dadas apenas as instruções estritamente necessárias à produção de
imagens, uma vez que se pretende que estas sejam da autoria do doente, porém o terapeuta poderá dar
sugestões. Pretende-se capturar, da melhor forma possível, a experiência do doente, ou seja, as
imagens nucleares – aquelas associadas a emoções primárias como medo, raiva, vergonha e sofrimento
– que estejam ligadas a esquemas precoces mal-adaptativos do doente (Young, Klosko & Weishaar,
2003).

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Geralmente, o terapeuta instrui o paciente da seguinte forma: “Agora feche os olhos e deixe que
a imagem surja na sua mente. Não force a imagem; apenas deixe-a surgir e diga-me o que vê.” O
terapeuta pede ao doente que descreva o que vê sem recorrer a palavras ou pensamentos, mas mais do
que um mero observador, pretende-se que o doente viva a experiência. O terapeuta pode questioná-lo,
da seguinte forma: “O que está a ver?”; “O que está a ouvir?”; “Consegue ver-se na imagem?”; “Como
é a expressão da sua cara?” O terapeuta, também, irá explorar os pensamentos e emoções das restantes
“personagens”. O terapeuta termina a sessão pedindo ao paciente para abrir os olhos e pergunta-lhe,
por exemplo: “Como foi a experiência para si?”; “O que é que as imagens significaram para si?”;
“Quais foram os temas dessas imagens?” (Young, Klosko & Weishaar, 2003).
Tanto no início, como no término desta técnica, utilizamos a imagem de um lugar seguro, que se
revela especialmente importante para os pacientes frágeis e traumatizados. O terapeuta termina a
primeira sessão da imagerie fazendo com que o doente retorne ao lugar seguro e, depois, pede-lhe para
abrir os olhos (Young, Klosko & Weishaar, 2003).
Assim, o uso da imagerie pode ser usado para permitir ao doente reviver eventos traumáticos
passados, reestruturar a experiência e, consequentemente, as atitudes derivadas. Falar sobre um evento
traumático pode dar uma compreensão acerca da forma de ser do indivíduo (e.g., auto-conceito
negativo), mas não permite modificar essa imagem, pois, para isso suceder, é necessário recriar a
situação. Quando as interacções são trazidas à vida, a interpretação errónea é activada, juntamente com
o afecto, e pode ocorrer reestruturação cognitiva (Beck, Freeman, Davis et al., 2004/2005).
De acordo com Young (2002), as técnicas imagéticas estão entre as abordagens mais poderosas
para modificar esquemas. Enquanto, na fase de avaliação, os pacientes se focam em recordar e tolerar
a dor e desconforto provocados pelos esquemas, na fase de mudança, o terapeuta encoraja o paciente a
recordar uma imagem da vida real e modificá-la ao agir de uma maneira mais funcional. Assim, ao
paciente é pedido para visualizar a imagem da forma mais vívida possível e, no fim, este deve
descrever detalhes da situação dolorosa. Durante este procedimento, é dada particular atenção à
avaliação de sentimentos e pensamentos relevantes para a cena visualizada, sendo pedido no fim que a
pessoa responda com novas e saudáveis imagens de si própria (Young, 2002). Segundo Beck (1995), a
orientação imagética pode ajudar os pacientes a visualizarem uma experiência diferente daquela que
conhecem, o que mostra que uma interpretação diferente, ou uma experiência diferente, podem ser
possíveis, bem como o enfraquecimento do poder do esquema.
Beck e Emery (1985 cit in Beck, 1995) afirmam que muitos pacientes experienciam os
pensamentos automáticos não só como palavras não ditas na sua mente como também na forma de
imagens mentais. As dificuldades em identificar e em responder a imagens incómodas podem resultar
num sofrimento contínuo para o paciente, sendo que é importante que o terapeuta comece a educá-lo
sobre as imagens na primeira sessão (Beck, 1995). Para ensinar os pacientes a reconhecer e intervir
nas suas imagens incómodas, o terapeuta pode tentar obter uma imagem espontânea que o paciente
tenha tido ou induzir uma imagem na sessão. Muitas vezes, os pacientes não conseguem compreender

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o conceito quando o terapeuta fala em “imagem”, podendo ser úteis sinónimos como imagem mental,
fantasia ou memoria (Beck, 1995).
Alguns pacientes conseguem identificar imagens, mas não transmiti-las ao terapeuta por estas
serem gráficas e causarem sofrimento. Podem sentir-se relutantes em re-experienciar o sofrimento ou
terem medo que o terapeuta os veja perturbados. Se o terapeuta suspeitar deste cenário, deve
normalizar a experiência com imagens. Normalizar e ensinar o paciente acerca das imagens ajuda na
redução da ansiedade e encoraja a pessoa a acreditar que é capaz de identificar as imagens, bem como
de controlar o seu sofrimento. Os terapeutas devem ser diligentes ao ensinar os pacientes a identificar
as imagens, uma vez que a maior parte dos pacientes não tem consciência das imagens, e muitos
terapeutas desistem após algumas tentativas. Pode ser útil o terapeuta dar como pista a imagem visual
que lhe foi suscitada, quando o paciente descreveu a situação, bem como induzir uma imagem em
redor de um acontecimento menos ameaçador, caso o paciente continue com dificuldades em
identificar imagens espontâneas, ou ainda tentar que este se recorde de uma situação mais recente
(Beck, 1995).
De acordo com Beck (1995), após o terapeuta ter apurado que o paciente tem imagens
incómodas frequentes, deve ensinar-lhe diferentes formas de reagir a estas, usando um racional como
o seguinte: “Eu gostaria de trabalhar consigo diferentes coisas que pode fazer quando lhe surge uma
imagem incómoda. É difícil saber desde já qual a técnica que será mais útil, pelo que iremos tentar
várias nas próximas sessões. Está de acordo?” (Beck, 1995).
São várias as técnicas que os pacientes podem aprender para reagir ao seu sofrimento, sendo
muito importante que o paciente as pratique dentro e fora das sessões para que o seu uso seja eficaz.
Beck (1995) defende que a técnica de completar imagens é a mais útil e, portanto, deve ser a primeira
a ser ensinada. Esta pode ajudar o terapeuta e o paciente a conceptualizarem melhor o problema,
conduzir a uma reestruturação cognitiva da imagem e promover alívio. Neste âmbito, o terapeuta
encoraja o paciente a continuar a imaginar uma imagem espontânea, até que uma de duas coisas
ocorra: o problema é eventualmente resolvido e o paciente sente alívio ou o problema piora até se
tornar uma catástrofe, chegando a um ponto em que o terapeuta descobre o seu verdadeiro significado.
Após esta técnica, o terapeuta e o paciente podem induzir uma imagem de coping. Esta é outra técnica,
que consiste em orientar o paciente na imaginação de que está a lidar com a situação difícil que
imaginou. O diálogo prossegue até que o paciente lide com sucesso na situação que visualiza. O
terapeuta pode guiar o paciente no sentido de imaginar que está a utilizar as ferramentas que aprendeu
na terapia, como controlar a respiração ou dar auto-instruções em voz alta. Por vezes, completar uma
imagem é ineficaz, porque o paciente não pára de imaginar obstáculos e situações sofredoras sem um
fim à vista. Quando tal acontece, o terapeuta deve sugerir que o paciente se imagine num futuro
próximo (técnica de saltar à frente no tempo). Outra técnica consiste em ensinar o paciente a
identificar uma imagem e depois voltar a imaginá-la, mas com um fim diferente, podendo ser uma
mudança mais realista ou mais fantasiosa (modificar a imagem). Pode, também, ser útil o terapeuta

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ensinar o paciente a tratar a imagem como um pensamento automático verbal, através do
questionamento socrático. Geralmente, é preferível usar técnicas de forma imagética, quando lidamos
com imagens do que técnicas verbais, pois as imagens tendem a reagir melhor com intervenções
baseadas na imagética. Contudo, um paciente com imagens muito vívidas e dolorosas pode beneficiar
desta técnica (testar a imagem com a realidade). Quando o que o paciente imagina tem um resultado
claramente exagerado, embora não catastrófico, utiliza-se a repetição da imagem. O terapeuta pede ao
paciente que imagine continuamente a imagem original e que tenha atenção a se a imagem e o seu
nível de sofrimento muda. Alguns pacientes conseguem ver a imagem de forma cada vez mais realista
e com menos disforia (Beck, 1995).
As técnicas da substituição, paragem e distracção das imagens provocam um alívio rápido, mas
geralmente resultam em pouca ou nenhuma reestruturação cognitiva. A paragem de imagem é análoga
à paragem de pensamento (Davis, Eshelman & Mckay, 1988 cit in Beck, 1995) e pode ser utilizada
isoladamente ou seguida da substituição ou distracção de imagem. O paciente reconhece uma imagem
incómoda e depois tenta pará-la. Emparelhar imagética agradável com exercícios de relaxamento é
outra opção. Os pacientes sentem, frequentemente, alívio ao induzir uma imagem agradável quando o
seu sofrimento inicial é baixo ou moderado (Beck, 1995).
Ao ensinar ao paciente estratégias para lidar com imagens espontâneas, o terapeuta maximiza a
probabilidade deste as praticar. Beck (1995) sugere que o terapeuta pode induzir imagética como uma
ferramenta terapêutica, nomeadamente através do ensaio de técnicas de coping, em que o terapeuta
utiliza a técnica, durante a sessão, para ajudar o paciente a praticar mentalmente estratégias de coping.
Esta técnica difere do “coping na imagem”, porque aqui o terapeuta induz uma imagem para praticar
técnicas da Terapia Cognitiva. O distanciamento é uma técnica que reduz o sofrimento e ajuda o
paciente a ver o problema numa perspectiva maior. Esta técnica é similar à de “saltar à frente no
tempo”, contudo esta envolve anos e não minutos, horas ou dias. A redução da ameaça percebida
permite ao paciente ver uma determinada situação com uma avaliação mais realística da ameaça actual
(Beck, 1995).
Após conduzir a avaliação da imagerie e a conceptualização dos esquemas do doente, são
utilizadas técnicas, apresentadas de seguida, para combatê-los (mudança cognitiva), assim como é
examinada a sua evidência (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

3.2 Diálogo dos Esquemas: Com esta técnica, o paciente aprende a rejeitar os sentimentos
produzidos pelo esquema e a fortalecer aquilo que tem de saudável. O terapeuta ajuda o paciente a
confrontar o esquema, ao fornecer provas contraditórias que o refutam, sendo que o diálogo dos
esquemas ajuda o paciente a lutar contra os seus esquemas, e pode promover liberdade e auto-eficácia.
São necessárias duas cadeiras que representam duas personagens diferentes, que o paciente vai
alternando, sendo uma o esquema e a outra a voz racional e saudável. Normalmente, o paciente não
tem dificuldades em dar voz ao esquema, mas sim ao lado saudável, uma vez que o esquema está,

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frequentemente, enraizado e aceite. O terapeuta pode ter que orientar o lado saudável, pois no início o
paciente tem pouco material espontâneo para refutar o esquema. Uma variação desta técnica consiste
em colocar o paciente em confronto com uma pessoa que desempenhou um papel importante na sua
vida. Mais uma vez aqui, o mais fácil para o paciente é desempenhar o papel do menosprezador, e não
encontrar palavras para o refutar, podendo ser útil novamente a orientação do terapeuta. Outra
possibilidade é confrontar o modo de esquema saudável com o mal-adaptativo, representando cada
cadeira um deles para que a pessoa vá alternando entre os dois. Com a prática, os pacientes aprendem,
gradualmente, a assumir o papel da voz saudável e, automaticamente, contradizem a voz do esquema.
Quando o paciente o consegue fazer, a capacidade de ventilar sentimentos, e de rejeitar esquemas
oferece uma sensação de liberdade e emancipação, contribuindo para o desenvolvimento de uma
forma nova e mais saudável de pensar e sentir. Tal demonstra que a voz do esquema não é válida, mas
sim um vestígio mal-adaptativo da infância (Young, 2002).

3.3 Catarse Emocional: Os gestaltistas salientam a importância dos assuntos emocionais


inacabados e os pacientes crónicos têm, frequentemente, uma raiva e revolta não exprimida, bem como
assuntos dolorosos inconscientes e não resolvidos, baseados em experiências de vida precoces. Assim,
quando o terapeuta aborda estas questões, através da imagerie, role-play ou experiências de vida
actuais, e encoraja o paciente a expressar os sentimentos associados, os esquemas relacionados tendem
a modificar-se (Young, 1999).

3.4 Reviver Experiências da Infância: A técnica consiste em solicitar ao doente que fale sobre
lembranças e experiências perturbadoras do passado. Muitas vezes, recordar experiências da primeira
infância, por meio de imagens, gera um alto nível de afecto e presume-se que tais experiências servem
para desencadear o esquema (Young, 1994/2003). Esta técnica possibilita a compreensão das origens
dos padrões mal-adaptativos, amplificando a perspectiva e a objectividade. O role-play e o role-play
inverso de interacções significativas do passado podem mobilizar afectos e produzir a mudança de
esquemas ou crenças nucleares. Recriar situações “patogénicas” do período desenvolvimental,
possibilita a reestruturação de atitudes que se formaram nessa altura. Nesses casos, os pacientes
precisam de experienciar uma catarse emocional para modificar as suas crenças sólidas (Beck et al.,
1985 cit in Beck, Freeman, Davis et al., 2004/2005). Para testar a validade dos esquemas originados na
infância, tais crenças têm de ser trazidas à superfície. Reexperienciar o episódio facilita o
aparecimento das estruturas dominantes, tornando os esquemas mais acessíveis e possibilitando que o
doente os corrija (Beck, Freeman, Davis et al., 2004/2005).
De acordo com Young, Klosko e Weishaar (2003), o propósito da técnica é observar o afecto do
doente e os temas que emergem, de modo a identificarmos os esquemas e compreendermos as suas
origens. Depois de explorar uma imagem significativa da infância, o terapeuta pede ao paciente para
recordar uma imagem de uma situação actual ou de uma situação adulta em que tenha sentido o

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mesmo. Deste modo, o terapeuta forja a ligação directa entre a memória da infância e a vida adulta do
doente. Esta técnica ajuda tanto o terapeuta como o paciente a identificar e a sentir o núcleo dos
esquemas, compreender as suas origens na infância, e ligar estas origens aos problemas actuais do
doente (Young, Klosko & Weishaar, 2003).
Pode ser útil, também, pedir ao doente para fechar os olhos e criar uma imagem de si mesmo
com a sua família. A imagem que surge pode conduzir aos esquemas centrais (Young, 1994/2003). E,
ainda, outra variante pode ser pedir ao doente que imagine acontecimentos actuais, com o propósito de
discutir os acontecimentos perturbadores presentes na vida do doente. Ao pedir ao doente que discorra
acerca de acontecimentos que são inquietantes ou que despoletam sentimentos fortes, o terapeuta pode
obter informações sobre os esquemas (Young, 1994/2003).

3.5 Memórias Traumáticas: Esta técnica é diferente das outras técnicas de imagerie, uma vez
que a resistência do paciente é menos comum; o afecto gerado é mais extremo; o impacto psicológico
é mais severo; e as memórias são mais frequentemente bloqueadas. A técnica pretende fazer com que
o doente se liberte do afecto bloqueado associado à experiência traumática, e providenciar protecção e
conforto em relação à imagem que emergiu (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

3.6 Diálogos Imaginários Com os Pais: Pede-se ao paciente para fechar os olhos e imaginar o
pai ou a mãe. Após a obtenção de uma breve descrição acerca daquilo que eles se encontram a fazer, o
terapeuta sugere que o doente dialogue com os pais, dizendo, exactamente, o que deseja e o que sente.
Os pacientes podem alternar entre o papel de pais e o deles próprios, bem como o terapeuta pode fazer
de pais ou de paciente. É pedido ao doente que permaneça de olhos fechados, para não perder o
“realismo” obtido com a imagem. Ao representar aquilo que gostaria de ter respondido aos pais, o
doente, de uma forma geral, começa a modificar as suas crenças a respeito de si próprio. Quando os
pacientes fazem de si próprios, apercebem-se do papel dos pais na perpetuação de esquemas, e, ao se
defenderem, os seus esquemas começam a enfraquecer (Young, 1999, 1994/2003).

3.7 Re-parentificação: Existem três passos neste processo: 1) o terapeuta pede permissão para
entrar na imagem e falar directamente com a criança vulnerável: 2) o terapeuta re-parentifica a criança
vulnerável, isto é, utiliza um estilo de parentalidade diferente da dos seus pais, mais adaptativo; e, 3)
mais tarde, o paciente adulto saudável, modelado pelo terapeuta, re-parentifica a criança vulnerável. É
especialmente eficaz com pacientes com esquemas do domínio do distanciamento e rejeição
(Abandono/Instabilidade, Desconfiança/Abuso, Privação Emocional e Defeito/Vergonha) (Young,
Klosko & Weishaar, 2003).

3.8 Ruptura de Padrões: A imagerie para a ruptura de padrões auxilia o doente a trabalhar o
seu estilo de coping, a lidar com os seus evitamentos e comportamentos de compensação, e a descobrir

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novas formas e estratégias de relacionamento. Exemplificando, um doente com um esquema de
Fracasso imagina algo que por vezes evita, como pedir ao patrão para assinar um documento
importante. A imagerie ajuda estes pacientes a enfrentar os seus esquemas e a combatê-los (Young,
Klosko & Weishaar, 2003).

3.9 Escrever Cartas: Apresenta-se como trabalho de casa e consiste em pedir ao doente que
escreva cartas para os seus pais ou outros significativos, que o tenham magoado, quando este era
criança ou adolescente (Young, Klosko & Weishaar, 2003). Não há intenção de enviar, mas sim de
expressar sentimentos, sem inibição (Young, 1994/2003). O paciente traz as cartas para as sessões
subsequentes e lê-as alto para o terapeuta (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

4. Contextos de Aplicação: As técnicas experienciais são usadas no tratamento das


Perturbações da Personalidade (Beck, Freeman, Davis et al., 2004/2005), podendo ser utilizadas na
Terapia Focada nos Esquemas, na fase de avaliação ou na fase de mudança (Young, Klosko &
Weishaar, 2003). Young (2002) sugere, para cada esquema, as técnicas experienciais a usar com o
paciente: Abandono/Instabilidade Emocional - utilização de técnicas de imagerie para que doente re-
experiencie as memórias de um pai/mãe imprevisível, instável ou de um pai/mãe que morreu ou o
abandonou; exprimir raiva em relação ao pai/mãe instável; trabalhar a “criança interna” do doente, no
sentido de o ajudar a “tomar conta” da sua “criança” abandonada; Desconfiança/Abuso - recordar
memórias de abuso/humilhação; exprimir raiva, verbal e fisicamente, e enfrentar o agente abusador em
imaginação e encontrar um local seguro afastado do abusador; Privação Emocional - exprimir raiva e
dor em relação a pais privadores, em imaginação; pedir, em imaginação, que os pais satisfaçam as
necessidades emocionais do doente; Dependência Funcional/Incompetência - exprimir a raiva perante
os pais, utilizando a imaginação, por estes terem superprotegido o doente e lhe terem minado as
decisões; Vulnerabilidade - diálogo, em imaginação, com pais superprotectores e fóbicos; conseguir
perspectivar resultados seguros, quanto aos obstáculos do dia-a-dia; Emaranhamento/Eu
Subdesenvolvido - imaginar que se está a separar dos pais; estabelecer um diálogo entre as duas partes,
de modo a superar os obstáculos ao estabelecimento de uma identidade separada; Defeito/Vergonha -
ventilar a raiva perante pais críticos; e dialogar com o esquema crítico; Indesejabilidade
Social/Alienação - trabalhar, em imaginação, memórias de rejeição ou de alienação; expressar os seus
sentimentos perante o grupo; imaginar um grupo adulto acolhedor e aceitador; Fracasso - aceder a
memórias de pais, professores, etc., críticos que não constituíram fontes de apoio; comparações com
parentes ou expectativas irrealistas; e utilizar técnicas de imagerie para ultrapassar o evitamento de
situações de desempenho; Subjugação - expressar raiva e afirmar os seus direitos, através da
imaginação, perante pais controladores; Inibição Emocional - aceder e expressar, em imaginação,
emoções não reconhecidas: raiva, agressão, sexo, alegria, etc.; e dialogar com pai/mãe inibitivo(a);
Auto-sacrifício/Super-responsabilidade - avaliar o ressentimento, a propósito da privação emocional,

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assim como o desequilibro em relação aos pais, em imaginação; Padrões Excessivos/Rígidos - diálogo
com pais com expectativas elevadas; Negativismo/Pessimismo - diálogo com um pai negativista;
estabelecer um diálogo entre as partes negativas e positivas de si próprio; e avaliar possíveis perdas,
raiva ou privações; Grandiosidade - avaliar o lado vulnerável do doente: esquemas subjacentes; Auto-
controlo e Auto-disciplina insuficientes - explorar, através da imaginação, afectos e esquemas
nucleares subjacentes (Young, 1992).
O processamento emocional é bastante útil nas Perturbações da Ansiedade, sendo que as
experiências emocionais podem, frequentemente, ser modificadas, após a ocorrência dos
acontecimentos. O seu retorno vívido parece envolver o re-experienciamento das emoções, incluindo
detalhes da situação original. Este fenómeno é claramente exemplificado pela experiência comum do
re-experienciamento da dor que se segue à perda de alguém querido. As memórias da pessoa perdida
ligadas à tristeza sentida, na altura da perda, são alteradas pelo re-experienciamento emocional. Na
maior parte das vezes, a frequência e a intensidade emocionais diminuem, com o passar do tempo,
embora, quase sempre, a dor nunca chegue a desaparecer completamente (Safran & Greenberg, 1991).
As qualidades da imagerie podem exercer um papel importante para compreender e tratar a
PTSD (Bryant & Harvey, 1996; Laor et al., 1998; Laor et al., 1999; Stutman & Bliss, 1985 cit in Long
& Quevillon, 2009). Pode, também, ser utilizada eficazmente no tratamento de sofrimento não
resolvido ou traumático, bulimia nervosa, e imagens ou pensamentos perturbadores frequentes
(Edwards, 1990; Fidaleo et al., 1999; Melges & DeMaso, 1980; Ohanian, 2002; Rusch et al., 2000 cit
in Long & Quevillon, 2009).
A imagerie, também, é usada, frequentemente, como um componente do tratamento de
pesadelos, sendo aplicada, igualmente, para tratar traumas relacionados com os pesadelos (Davis &
Wright, 2005 cit in Long & Quevillon, 2009).
A abordagem da imagerie positiva tem uma extensa variedade de aplicações (Singer, 1974 cit.
in Singer, 2006). O procedimento em questão, também designado imagerie emotiva, envolve o uso de
imagens altamente agradáveis e relaxantes, para neutralizar a ansiedade. Imaginar estas cenas positivas
(tipicamente representações da natureza) pode reduzir a ansiedade nas confrontações da vida real,
podendo, tal-qualmente, utilizar-se o seu emparelhamento com estímulos ansiógenos. A abordagem
mais recente foi relatada por Singer (1974 cit. in Singer, 2006) e Lazarus (1981 cit. in Singer, 2006)
para ajudar na dessensibilização sistemática, no que concerne ao tratamento das fobias. Outras
utilizações da imagerie positiva incluem a redução da ansiedade dos recém-nascidos (Horan, 1973 cit.
in Singer, 2006), o alívio dos sintomas dos pacientes com úlcera péptica (Chappell & Stevenson, 1936
cit. in Singer, 2006), a redução da dor produzida em laboratório (Greene & Reyher, 1972 cit. in
Singer, 2006) e o alívio de sentimentos de depressão, em doentes com depressão severa (Schultz, 1978
cit. in Singer, 2006).
A técnica da imagerie implosiva ou inundação foi introduzida por Stampfl e Levis (1967 cit. in
Singer, 2006) e consiste numa aproximação intensiva e prolongada à situação fóbica, usando a

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imagerie. Supõe-se que o doente experiencie stress e ansiedade, sem o alívio comummente
proporcionado pelo evitamento ou fuga à situação. Considera-se que, com este método, a ansiedade
irá, gradualmente, diminuir, mais do que num procedimento de extinção. Assim, esta abordagem
fundamenta-se, igualmente, na teoria da aprendizagem (Singer, 2006).
É pertinente mencionar que a técnica da imagerie relaciona-se com outras técnicas, como a
sensibilização coberta ou condicionamento aversivo coberto, que envolve o uso de imagens
extremamente abjectas com cenas, nas quais uma pessoa está envolvida, num comportamento
desagradável. Exemplificando, um alcoólico pode imaginar que vai para tomar uma bebida e que, mal
bebe, vomita. Este procedimento foi aplicado de forma relativamente bem sucedida no tratamento de
desvios sexuais (Barlow, Leitenberg, & Agras, 1969 cit. in Singer, 2006), do alcoolismo (Ashem &
Donner, 1968 cit. in Singer, 2006), do comportamento compulsivo (Cautela, 1966 cit. in Singer, 2006)
e do tabagismo (Cautela, 1970c cit. in Singer, 2006). Também, os procedimentos de reforço coberto
envolvem o uso de imagens positivas e agradáveis, com vista a aumentar determinados
comportamentos. Um doente que tenha um défice de competências sociais, por exemplo, pode
imaginar-se a si próprio a ir a uma festa e a empenhar-se em vários comportamentos sociais. O método
da extinção coberta consiste em imaginar que os estímulos reforçadores, que mantêm o
comportamento mal-adaptativo, não ocorrem. Com os toxicodependentes, tal envolve imaginar que a
droga pesada não actua, após a injecção. O uso do custo de resposta coberto implica que o doente seja
instruído para imaginar a resposta, que tem de ser reduzida, seguida da perda imaginária de reforço
(e.g., “imagine que está prestes a beber algo alcoólico; agora, imagine que o seu carro novo foi
demolido.”). O método final do condicionamento coberto − o modelamento coberto – é revestido de
grande interesse. O procedimento inerente deriva da literatura da aprendizagem por modelamento ou
vicariante, especialmente do trabalho de Bandura (1986 cit. in Singer, 2006). Todavia, mais do que
observar um modelo, o doente, de facto, imagina um modelo a agir da forma que ele deseja
desenvolver. O modelamento coberto pode ser eficaz no tratamento do comportamento não-assertivo
na população clínica (Singer, 2006).
O modelo de Lang (1977 cit. in Singer, 2006), relacionado com o papel da imagerie na terapia,
foi aplicado no tratamento da emoção que constitui o medo. O autor pretendia que as imagens
pudessem ser analisadas em termos das suas proposições de estímulos e das suas proposições de
resposta. As proposições de estímulos são essencialmente descritivas de uma cena (e.g., uma cobra
preta a mover-se no solo). As proposições de resposta envolvem asserções acerca do comportamento
dos indivíduos na resposta a um estímulo. Estas podem envolver respostas verbais (“Eu grito”),
respostas comportamentais (“Eu fujo”), e respostas vegetativas (“O meu coração está aos pulos”). O
autor estabeleceu, assim, que são as proposições da resposta imaginada que detêm um papel central no
processo de medo. O tratamento deveria, nessa linha de conta, envolver a modificação das proposições
da resposta imaginada dos doentes (i.e., a forma mal-adaptativa como a pessoa, habitualmente,

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responde). Esta análise poderia ser aplicada a outros estados emocionais e problemas adicionais ao
medo (Lang, 1977 cit in Singer, 2006).
Segundo Singer (2006), os tratamentos de imagerie, em particular, podem servir para
incrementar expectativas positivas de auto-eficácia. Em muitos casos, os indivíduos desenvolveram
medos ou expectativas de insucesso, sem, de facto, terem experienciado directamente as situações-
alvo. Alguns métodos da imagerie (e.g., dessensibilização sistemática, modelação coberta),
frequentemente, ajudam a reduzir o afecto negativo associado às situações imaginadas e provêm à
pessoa o senso adicional de que possui competências de coping para usar no confronto com tais
situações. Por outro lado, parece também que a prática repetida de fantasias orientadas para o sucesso,
num tratamento baseado em imagerie, constitui uma forma particularmente directa de fortalecer as
expectativas de auto-eficácia (Singer, 2006).
A psicoterapia focada na expressão emocional pode ser mais benéfica para indivíduos que têm
problemas devidos à constrição emocional excessiva, manifestada na restrição do focus e da expressão
emocional. Presentemente, é aconselhada prudência, quanto ao uso deste tratamento com aqueles cuja
expressão da raiva é descontrolada. Os doentes podem ser ensinados, mediante a psicoterapia focada
na expressão emocional, a identificar a provocação ambiental apropriada da sua raiva, e a expressar
essa raiva, de forma controlada e segura. Os doentes descontrolados, frequentemente, não realizam tal
identificação (falta de focus) e, indiscriminadamente, descarregam a sua raiva em alvos indirectos
(pessoas inocentes) ou de forma inapropriada (abuso físico). Tais doentes podem beneficiar de
assistência na identificação do focus da sua raiva e na aprendizagem de modos seguros de expressão
emocional. Este tratamento tem efeitos positivos significativos no índice de mudança pessoal em
contexto penal (Schramski, Feldman, Harvey, & Holiman, 1986 cit. in Safran & Greenberg, 1991).
Por causa da ênfase deste tratamento no fracasso, quanto à resolução da raiva interpessoal, acredita-se
que a psicoterapia focada na expressão emocional poderá ser aplicada, de modo mais apropriado,
àqueles que conseguem identificar outros significativos com quem têm um fraco relacionamento, ou
com quem falharam, por causa de intimidação, medo, mágoa, raiva, entre outros (Daldrup et al., 1988
cit. in Safran & Greenberg, 1991).

5. Eficácia Empírica: Segundo Beck, Freeman, Davis et al. (2004/2005), as técnicas


experienciais constituem um dos instrumentos mais eficazes para tratar os Transtornos da
Personalidade.
Os estudos empíricos, que examinam a validade da imagerie na PTSD, sugerem que as
qualidades desta podem exercer um papel importante para compreender e tratar a perturbação (Bryant
& Harvey, 1996; Laor et al., 1998; Laor et al., 1999; Stutman & Bliss, 1985 cit in Long & Quevillon,
2009). A evidência destes estudos sugere que a imagerie com doentes com PTSD e sintomas de re-
experienciação do factor de stress traumático, seja mais eficaz do que noutros doentes, uma vez que
permite um melhor controlo dos sintomas fisiológicos associados ao trauma. Laor et al., (1999 cit in

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Long & Quevillon, 2009) relataram que esta evidência pode indicar que o baixo controlo da imagem
está associado com maior risco de psicopatologia, traços de perturbação da personalidade, e ansiedade.
Os estudos de caso e as descrições do uso da imagerie têm, também, salientado os bons
resultados obtidos por esta técnica, no tratamento de sofrimento não resolvido ou traumático, bulimia
nervosa e imagens ou pensamentos perturbadores frequentes (Edwards, 1990; Fidaleo et al., 1999;
Melges & DeMaso, 1980; Ohanian, 2002; Rusch et al., 2000 cit in Long & Quevillon, 2009).
No modelo de Lang (1977 cit in Singer, 2006), assume-se que a imagerie pode produzir um
bom resultado no medo, tendo as implicações clínicas desta teoria sido investigadas e suportadas
empiricamente (Singer, 2006).
A proposta de Meichenbaum (1978 cit. in Singer, 2006) aparenta ser promissora, quanto à
compreensão do papel da imagerie na terapia. Algumas predições específicas podem ser realizadas, a
partir do modelo. Por exemplo, o ensaio alargado de comportamentos de coping, na imagerie, constitui
uma técnica eficaz. De facto, uma investigação levada a cabo por Meichenbaum (1978 cit. in Singer,
2006), Sarason (1975 cit. in Singer, 2006) e Kazdin (1973 cit. in Singer, 2006) indica o valor especial
de uma pessoa se imaginar a si própria ou a uma pessoa-modelo, empenhando-se numa variedade de
esforços. A imaginação de passos concretos em relação à modificação de crenças ou no que concerne à
implementação do senso de controlo de uma pessoa é mais eficaz do que a imaginação ou verbalização
de um resultado positivo, sem os referidos trâmites de intervenção (Singer, 2006).
O método de imagerie positiva consiste no emparelhamento de relaxamento com cenas positivas
e cenas fóbicas receadas, e o método de imagerie dominante consiste na mudança das proposições da
resposta imaginada dos sujeitos, ao longo das linhas sugeridas por Lang (1977 cit in Singer, 2006). Os
resultados indicam que ambos os tratamentos são igualmente positivos, na redução da severidade dos
níveis específicos de sofrimento, e de outros pensamentos e comportamentos indesejados (Singer,
2006).
Num estudo realizado por Kazdin (1979 cit. in Singer, 2006), concluiu-se que os tratamentos de
modelação coberta incrementam as expectativas de auto-eficácia dos doentes não-assertivos.
Alterações nos níveis de auto-eficácia estavam, também, significativamente correlacionadas com a
melhoria nas medidas de assertividade comportamental e relacionadas com o self. Assim, o conceito
de auto-eficácia pode ser especialmente relevante na explicação de diversos tratamentos de imagerie
(Singer, 2006).
A imagerie possibilitou que outras técnicas se desenvolvessem, como a técnica de Wolpe (1958
cit. in Singer, 2006) da dessensibilização sistemática, que é a primeira terapia comportamental baseada
na imagerie. A popularidade desta abordagem é, provavelmente, devida à sua simplicidade. Os
componentes principais do procedimento envolvem apenas que se imagine uma sequência gradativa de
cenas contendo estímulos ansiógenos, enquanto profundamente relaxado. A larga expansão e o
sucesso contínuo do método em questão são evidentes, tendo por base muitos resultados de estudos
comprovados. De facto, mediante uma revisão dos resultados obtidos a partir das investigações de

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Smith e Glass (1977 cit. in Singer, 2006), conclui-se que as terapias comportamentais do tipo da
dessensibilização produziram médias de efeitos terapêuticos superiores às alcançadas em qualquer
outro tipo de psicoterapia. A utilidade da dessensibilização sistemática no tratamento do
comportamento fóbico é especialmente bem documentada. Apesar desta extensa evidência que suporta
a eficácia dos procedimentos, ainda se colocam questões como a do ingrediente crucial da
dessensibilização sistemática. Wilkins (1971 cit. in Singer, 2006), por sua vez, verificou que a
literatura referente à investigação parece indicar que o ingrediente mais significativo da
dessensibilização sistemática e tratamentos similares é o uso da imagerie por parte do doente (Singer,
2006).
Um estudo concretizado por Crits-Christoph e Singer (1983 cit. in Singer, 2006) documentou a
utilidade da imagerie positiva, não apenas na redução da ansiedade fóbica, mas também na redução do
nível geral de sofrimento e pensamentos indesejados.
Como já foi referido atrás, vários estudos levados a cabo por Kazdin (1974, 1975, 1976, 1979
cit. in Singer, 2006) mostraram que o modelamento coberto pode ser eficaz no tratamento do
comportamento não-assertivo na população clínica.
Um estudo demonstrou que a psicoterapia focada na expressão emocional tem efeitos positivos
significativos no índice de mudança pessoal em contexto penal (Schramski, Feldman, Harvey, &
Holiman, 1986 cit. in Safran & Greenberg, 1991). Apesar de ter sido demonstrado que os doentes
pouco controlados passam a sentir-se melhor, durante a psicoterapia experiencial, o seu
comportamento expresso pode aumentar (Calvert, Beutler, & Crago, 1988 cit. in Safran & Greenberg,
1991).
Nichols e Zax (1977 cit. in Safran & Greenberg, 1991) constataram que 7 de 11 estudos
análogos que pesquisaram demonstraram que a catarse emocional é benéfica. Bohart (1977 cit. in
Safran & Greenberg, 1991) e Bohart e Haskell (1978 cit. in Safran & Greenberg, 1991) verificaram
que e expressão das emoções, ao longo da intervenção cognitiva, constitui o resultado mais
significativo, no que concerne à psicoterapia (Safran & Greenberg, 1991).
Numa revisão compreensiva da investigação dos últimos 35 anos acerca da psicoterapia,
Orlinsky e Howard (1986 cit. in Safran & Greenberg, 1991) descobriram evidências que suportam o
valor das experiências de expressão emocional. Num raro estudo longitudinal, acerca da terapia da
expressão dos sentimentos, Pierce, Nichols e DuBrin (1983 cit. in Safran & Greenberg, 1991)
constataram que aqueles que não expressam os seus sentimentos não mudam, enquanto, ao contrário
daquilo que se poderia pensar, aqueles que mostram maior catarse não revelam, necessariamente, uma
maior mudança. O critério significativo para a mudança parece ser a expressão do forte conflito
previamente evitado ou de sentimentos inconscientes, acompanhada de uma compreensão cognitiva do
processo e de um incremento claro, acima da quantidade de expressão emocional da linha de base
(Safran & Greenberg, 1991).

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A literatura, geralmente, suporta a descoberta de que a inibição das emoções, em geral e,
especificamente, o acto de conter a raiva podem estar relacionados com o desenvolvimento de doenças
crónicas (Achterberg-Lawlis, 1982; Greer & Morris, 1981; Levey, Herberman, Maluish, Schlein, &
Lippman, 1985; Spergel, Erlich, & Glass, 1978 cit. in Safran & Greenberg, 1991). Como tal, é
recomendado por alguns autores que o tratamento de tais desordens inclua a expressão emocional
(Beutler, Engle, Oro-Beutler, Daldrup, & Meredith, 1986; Greenberg & Safran, 1987 cit. in Safran &
Greenberg, 1991).

Conclusão
Como pudemos observar, no que concerne às técnicas experienciais, existem várias
consideradas úteis para a alteração dos esquemas do doente, num nível emocional. A maioria delas
provém da Psicologia da Gestalt e muitas envolvem o desencadeamento dos esquemas na sessão, para
que se verifique uma mudança maior (Young, 1994/2003).
As técnicas emocionais encorajam o doente a experienciar e expressar os aspectos emocionais
do seu problema (Young, 1994/2003). A tarefa do terapeuta, quando trabalha experiencialmente,
consiste em produzir momentos de referência directa, de estar em contacto com a experiência sentida
(não a emoção, per se, mas algo mais amplo, sentido na sua totalidade, subjacente à emoção). As
instruções focadas e a reflexão acerca do significado daquilo que é sentido são cruciais (Safran &
Greenberg, 1991).
Apesar dos benefícios das Técnicas Experienciais, é possível destacar alguns aspectos, que se
podem constituir como obstáculos ao sucesso deste tipo de intervenção. De facto, alguns sujeitos
podem ter dificuldade em produzir imagens claras, referindo que aquilo que vêem é “vago”. Assim,
temos que nos certificar que o sujeito compreende o modelo e o racional que lhe demos sobre o seu
problema. É preciso explicar-lhe que os esquemas mudam mais facilmente, quando os pacientes
deixam ressurgir as suas experiências da infância em imagens. A medicação pode ser usada para
ajudar o doente a lidar com o afecto, mas há o perigo de o diminuir demasiado, de tal forma que deixa
de conseguir fazer os exercícios (Young, Klosko & Weishaar, 2003). Técnicas de relaxamento
constituem uma forma de, potencialmente, tornar as imagens mais vívidas. Solicitar aos doentes que
pratiquem as técnicas em questão, em casa, e que prestem atenção às suas fantasias espontâneas e
sonhos pode, tal-qualmente, estimular as competências de imagerie (Singer, 2006).
Por fim, recomenda-se que se faça mais investigação para testar a eficácia das técnicas
experienciais em mais perturbações mentais e, segundo Long e Quevillon (2009), explorar os
procedimentos específicos desta técnica contribuem para os ganhos terapêuticos na perturbação em
causa. Consideramos, também, essencial que haja um incremento de literatura específica sobre as
técnicas em questão, nomeadamente em Portugal, de forma a elucidar melhor os terapeutas na sua
utilização eficaz, para que os ganhos terapêuticos sejam bastante significativos.

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