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Caderno de versos

Não me faça passar fome se a noite não me satisfaz

Não me faça rezar sem saber para onde ir, gosto do gosto de carne queimada

Não me impeça de sair daqui o que morre sempre vem de dentro, a bala não mata por fora

Perfura o corpo, desfigura as células, arruína com o coração, despedaça os pulmões, perfura o
peito

Some sem deixar sinal, corre, mas destrói toda a potência, antecipa o mundo

Some sem saber porque, deixa o ser vivo, sem saber onde é sua casa, coroe internamente

Mata a potência, sem matar vontade, que morre após

Não há morte precoce, há o precoce que morre sem morte, morto sem vida

Sem vida vivo sem morte, esse morto que não viveu o seu mundo que é precoce

O morto que não morreu, morreu por morte natural, esse sim, sem morrer já estaria morto

Ao contrário de muitos outros cuja a morte é nada mais que satisfação sem destino, lograda ao
subjetivismo sego que não sabe para onde ir

A morte que nunca se engana que se deita sem saber o porquê o ser deixa a porta aberta, bate
no vidro e, sem apontar nenhuma arma, puxa suas mãos, nem sempre tão gentilmente, para
que através do frio dos céus nada mais se rompa por sua carne, tudo se desfaça

Então o corpo, já, não pouco, por pouco sem saber onde foi parar, já, não muito, morre,
morte! Sem entender, assim, o corpo sem propósito, sem destino certo, já não sabe porque ...

Morto.

Da cera não se faz uma casa, para a cera não se pede perdão, no o fogo não se queima
ataduras, na calculadora não se pede perdão

O juiz de mentira está preso dentre as bainhas de mielina, dentro do anencéfalo que tem um
cérebro corroído por macarrão

O cozido que se escapa da latitude antiga do barco ainda inatingível, a triste viagem em que
ondas gigantes viraram o barco que nem Mobi Dique foi capaz de capotar em pleno mar

Nada que seja antigo, do tempo das abelhas, nem nada que não seja plástico o suficiente para
não entornar em um domingo sujo, cujo o molho não me força a beber somente da pureza
dor, mais que a água cujo o sal penetra, suja, quase sem propósito, domesticamente, toda a
delicadeza
Versos 03/11/2018

Dedos vão a frente e encontram com a tela em branco

Trocando caricias entre eles, partem da mesma raiz,

dedos são mãos e mãos são dedos, tocando a sujeira do mundo

Todos são pares sujeitos a depreciação mesmo não acreditando em Deus.

Sem saber como crescem, saem do corpo e param no ar

Como projeções pouco articuladas que não se encaixam em nenhuma mão.

Não pertencem ao objetivismo, mas sim a dor.

Que transborda por todas as mãos que tentam para-la.

Expandindo-se, o ar e abre espaço para que o dedo corra. Preenchendo em parte a tela

Que se borra, mas a mancha não destoa, o branco sim, o sofrimento

Restabelece a ordem da totalidade, estende-se como os dedos,

sem mãos, e agarram toda a carne que tenta se levantar.

Sou um poço de sofrimento

Mas chupo a laranja até o bagaço

Uma borboleta me mordeu de leve

Fui contaminado pela loucura de voar

Sou um vetor na transmissão de diferentes cores

Alimento-me de flores e cago em pleno ar

Uma borboleta me mordeu de leve

Sinto-me confortável para encarar o céu, copular

Na aurora ver como sou, quantos primores

E depois de duas semanas, morrer sem nenhum porquê.

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