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Profª Orientadora
Ma. Silvia Brandão Cuenca Stipp
UNIFEV - Centro Universitário de Votuporanga
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Paulo e Margareth, que mais uma vez me cobriram com
carinho e proteção. Obrigada, pai, pelas inúmeras vezes que me levou a Votuporanga aos
sábados de manhã enquanto eu descansava no banco de trás do carro. Obrigada, mãe, por todo
o cuidado que teve comigo no momento em que eu mais precisei. O seu carinho e proteção
foram essenciais para a minha recuperação. Ao meu irmão, à minha cunhada Daniela e aos
meus sobrinhos, Eduardo e Giovana.
Ao Daniel Araújo (in memoriam) que nos deixou muito cedo. Del, fazer esse
trabalho sem a sua companhia foi mais difícil. Embora você não esteja mais entre nós no plano
material, o seu sorriso e a sua vontade de viver permanecem intensos na memória e no coração
de todos os que tiveram a honra de conhecê-lo. Saudades.
Ao professor e amigo, Plínio Volponi, por todos os conselhos, boas conversas,
pela companhia, pelo carinho. Obrigada por ser um exemplo para minha vida acadêmica.
À minha orientadora, professora Silvia Brandão Cuenca Stipp, por ter
aceitado orientar este trabalho. Sem dúvidas, suas contribuições foram essenciais para a
produção deste estudo. Motivo de minha admiração e respeito.
Aos amigos da pós-graduação Luis Fernando Moreto, Thais Rodrigues e Lúcia
Helena pela companhia durante essa jornada de dois anos. Em especial, à Mayra Barbosa Souza
pela amizade e companheirismo.
Aos professores e funcionários da pós-graduação da UNIFEV. Aos
professores, Edson Garcia Bogas e Santiago Naliato Garcia, pela valiosa contribuição à minha
vida acadêmica.
À equipe da Pró Mídia Comunicação: Déia, Henri, Fernando, Sibele, Ana,
Naiara, Jonatas e Alison por torcerem pelas minhas conquistas e suportarem as olheiras e o mau
humor de cada dia após extensas noites de estudo.
À diretora da Pública, Natália Viana, por ter aceito ser entrevistada e contribuir
com esta pesquisa.
Muito Obrigada!
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RESUMO
ABSTRACT
In Brazil, it is observed the multiplication of independent media vehicles that come with the
goal of bringing a new approach to journalistic coverage. Besides the search for differentiated
themes, these vehicles are dedicated to experimentation of alternative practices of journalism
and new narratives. Without the ideological moorings of traditional media features, independent
journalism practiced on the Internet comes opting for the practice of in-depth reporting, with
the use of elements of the literary journalism as immersion resource. This work aims to look
under the use of convergence between the journalistic and literary narratives in the stories of
the chapter Carajás, of the series Amazônia Pública (Public Amazon) produced by Pública -
reporting and investigative journalism agency. These reports deal with the impacts brought by
Vale do Rio Doce Company to the city of Marabá, PA due to the extraction of iron ore. The
research brings a case study and analysis of the reports, as well as a reflection of the practice of
independent journalism on the Internet and the new narratives practiced by such vehicles as the
use of a humanized and investigative text.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 DA PRENSA AO JORNALISMO 3.0 ................................................................................. 15
1.1 O jornalismo 3.0 ............................................................................................................... 21
2 JORNALISMO INDEPENDENTE ................................................................................ 25
2.1 Laboratórios de novas práticas de jornalismo investigativo ............................................ 27
3 A PÚBLICA: QUANDO O JORNALISMO EM PROFUNDIDADE É VIÁVEL NA
INTERNET ............................................................................................................................. 30
3.1 Amazônia Pública: um dossiê das mazelas trazidas à floresta pelo progresso ................. 33
4 JORNALISMO LITERÁRIO OU NARRATIVO: DOS JORNAIS AO HIPERTEXTO... 36
4.1 Do papel às páginas do hipertexto: o jornalismo literário na Internet ............................... 43
5 O JORNALISMO LITERÁRIO NA SÉRIE AMAZÔNIA PÚBLICA ............................... 45
5.1 Análise das reportagens do capítulo Carajás ..................................................................... 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 56
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 58
APÊNDICE ............................................................................................................................. 61
ANEXOS
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INTRODUÇÃO
decida o que é ou não notícia, como será narrada e em qual plataforma. Desse modo, o papel
dos gatekeepers1 é posto em xeque quando o assunto é jornalismo colaborativo.
Para Lévy (2011), essas mudanças consistem em uma revolução digital que
está intimamente ligada ao processo de convergência midiática.
1
Hohlfeldt apud Wolf: Gatekeepers (porteiro) – filtros ideológicos da informação. Teoria do Newsmaking.
2
Creative commons: licença que permite o compartilhamento e cópia de obras criativas com menos restrições. (Fonte:
Wikipédia).
3
Catarse: primeira plataforma de financiamento coletivo do Brasil. (Fonte: www.catarse.org.br).
14
Quando Bordenave (2003) disse que “a grande árvore já começou a lançar seus
brotos à procura das estrelas”, ele se referia aos satélites, que foram um marco na história da
16
Antes de ser desativada em 1990, a Arpanet foi sucedida por várias redes
privatizadas, entre elas a Usenet, criada a partir de um fórum online para discussões sobre
assuntos de informática e as BBSs que, hoje, conhecemos como redes sociais.
No mesmo ano, com a criação da www (world wide web), a Internet começou
a ser popularizada na sociedade. Para esse feito, o hipertexto, ou seja, a linguagem da rede foi
um dos principais responsáveis pela explosão pública da Internet.
Entende-se como hipertexto o conjunto dos conteúdos que fazem parte da
Internet. A amplitude de espaço disponibilizado pela rede permite o uso de várias linguagens
em uma única plataforma e a possibilidade de maior interação com o leitor, uma vez que a
informação está a um click do usuário.
Segundo Lévy, “Uma vez impresso, o material conserva certa estabilidade”
(2011, p. 55). Dessa forma, o leitor é conduzido pelos efeitos de sentido que a mídia impressa
deseja causar. Já no hipertexto, o usuário é ativo no processo de leitura, podendo controlar o
nível de exploração e contextualização de conteúdo que ele deseja ter ao procurar determinado
assunto.
Para Cebrián (1998), a criação do hipertexto foi o que propiciou a explosão
pública da Internet.
4
Podcast: Arquivo de áudio digital, geralmente em formato de MP3, publicado por meio da plataforma Podcasting
na Internet. (Fonte: Wikipédia).
20
caracterizada pela produção de conteúdo específico para a plataforma digital, convergência das
mídias e início de maior participação do receptor.
A priori, os blogs foram utilizados como diários online para a publicação de
conteúdos autorais. Para Malini e Antoun, “Entre 97 a 99, o código narrativo predominante nos
blogs era uma espécie de dicas sobre o que há de mais interessante na Internet” (2013, p. 118).
No entanto, não demorou muito para que esse gênero começasse a ser utilizado
no jornalismo. Como estratégia de adaptação ao Jornalismo 2.0, muitos jornais impressos
inseriram em seus portais de notícias blogs de colunistas e links específicos para que os
internautas interajam com o conteúdo. Jornais como O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo
apostaram na utilização de vídeos e podcasts como diferentes atrativos.
No jornalismo 2.0, as barreiras entre emissor e receptor começaram a ser
quebradas com pequenas manifestações colaborativas. Nesse aspecto, o receptor não é visto
apenas como um destinatário de informação, mas sim como usuário. Os blogs e a inserção de
espaços para comentários em sites e portais noticiosos proporcionaram ao leitor maior chance
de interatividade com o conteúdo: blogs com a possibilidade de produção independente de posts
pelos usuários – postagens essas que, em alguns casos, começaram a pautar a mídia; e os
comentários incluíram o receptor no processo, ou seja, “deu voz” ao usuário.
Para Mielniczuk (2001) apud Bardoel e Deuze (2000):
Isto pode acontecer de diversas maneiras, entre elas, pela troca de e-mails entre
leitores e jornalistas; através da disponibilização da opinião dos leitores, como é feito
em sites que abrigam fóruns de discussões; através de chats com jornalistas. Porém,
os autores não contemplam a perspectiva da interatividade da própria notícia, ou seja,
a navegação pelo hipertexto que, conforme Machado (1997), constitui também uma
situação interativa. (MIELNICZUK, 2001, p.3).
5
Informação on-line disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ombudsman/cargo.shtml>. Acessado em
01 set. 2014, às 23h36.
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arquitetura rizomática, ou seja, sem uma hierarquia rígida, os papéis entre emissor e receptor
confundem-se quando falamos em jornalismo colaborativo. Portanto, somos exponencialmente
emissores e receptores ao mesmo tempo.
Porta-voz das novas tecnologias nos estudos contemporâneos da escola
francesa de comunicação, Pierre Lévy, na obra Cibercultura já falava em “morte do emissor”.
De acordo com o autor, “Quando todos são emissores, não há mais emissor. Emissor-receptor,
o internauta está fora da massa. A comunicação sai do estigma da manipulação para entrar na
utopia da mediação.” (SILVA, 2012, p. 176).
Desse modo, o receptor não é mais passivo do controle dos Meios de
Comunicação de Massa como única fonte de informação, cultura e entretenimento. A tecnologia
permite ao usuário liberdade e “poder” para expressar-se, criar e disponibilizar conteúdo.
O resultado é que, no fim das contas, ninguém mais é dono, artesão ou operador do
lead, do newsmaking ou dos newsvalues. Todos os fatos podem se transformar em
leads e qualquer pessoa pode iniciar um processo de newsmaking. Para completar, é
possível que um grupo de cidadãos comuns passe a julgar e a decidir o que vale e o
que não vale virar notícia. A ciência do jornalismo foi, assim, transcodificada pela
sociedade, que assumiu o compartilhamento genético de sua própria realidade. Nisso,
23
Com a internet, entretanto, emerge uma outra lógica – e aqui está a diferença
significativa -, que desloca para o receptor grande parte do poder pautar os
acontecimentos. Na verdade, o novo medium transforma o antigo receptor passivo
(assim como já também antigo receptor ativo) em usuário ativo, ao pôr à sua
disposição uma caixa de “ferramentas” editoriais, que inclui páginas, portais, correio
eletrônico, lista de discussão (na terminologia corrente: blogs, podcasts, softwares
6
Artigo publicado em
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed744_jornalismo_cidadao_assume_controle_do_lead>. Acessado
em:12 jul. 2014, às 1h15.
24
sociais, wikis, etc), possibilitando a programação de conteúdos que, até agora, tem
sido a transmissão audiovisual e conversas em tempo real por meio de canais
específicos, além de mensageiros instantâneos. (SODRÉ, 2012, p.101).
[...] nesse novo cenário de mídia, publicar significa que existem muito mais meios de
comunicação social e que o “assunto do momento” não é apenas produto da rotina
produtiva das instituições da notícia (imprensa), mas gerado pela mistura de veículos
formais, coletivos informais e indivíduos, que fazem provocar a emergência não
somente de novas formas de espalhar, de modo colaborativo, as notícias, mas,
sobretudo de contá-las. (MALINI; ANTOUN, 2013, p.216).
2 JORNALISMO INDEPENDENTE
Por sua natureza, todo jornalismo deveria ser considerado uma prática
investigativa. Cabe ao jornalista a busca pelas notícias relevantes por meio de levantamento,
apuração e checagem das informações. No entanto, a práxis “investigativa” da atividade
jornalística vem sendo infiltrada por agentes externos das redações, entre eles estão as pautas
vindas de órgãos oficiais, assessorias de imprensa e empresas.
Segundo Hunter (2013, p. 10): “A cobertura investigativa, em contraste,
depende de materiais reunidos ou gerados a partir da própria iniciativa do (a) repórter (e por
isso ela é frequentemente chamada de “cobertura empreendida” - em inglês, “enterprise
reporting”.
No entanto, o trabalho do jornalismo investigativo não se resume apenas às
pautas levantadas pelos repórteres. As denúncias que chegam aos jornalistas também servem
como ponto de partida para uma investigação jornalística. Portanto, como afirma Lopes (2003),
é da natureza do jornalismo investigativo encontrar respostas para as perguntas que ainda não
foram respondidas. Os fatos de interesse público são os principais alvos dos jornalistas
investigativos.
Comumente, as investigações são mediadas por meio das grandes reportagens
que podem ser veiculadas nos veículos eletrônicos, como a televisão, e no impresso, em jornais
e revistas especializadas. Todavia, com a difusão da mídia independente, o jornalismo
investigativo tem ganhado espaço nas teias do hipertexto na Internet.
Fonte: www.midiaindependente.org
7
Informação retirada do site <http://www.midiaindependente.org>. Acessado em: 15 ago. 2014, às 23h36.
29
Veículo País
Pública Brasil
El Puercoespin Argentina
Animal Político México
CIPER Chile
Confidencial Nicarágua
El Faro El Salvador
IDL - Reporteros Peru
LaSillaVaría Colômbia
Plazapública Guatemala
The Clinic Chile
Fonte: www.apublica.org
8
Crowdfunding- Sistema de Financiamento Coletivo, no qual o leitor financia um projeto de reportagem doando
qualquer quantia. (Fonte: Wikipédia).
32
Os projetos são enviados ao Catarse por realizadores de diversas áreas sendo que cada
um deles é completamente responsável pelo seu projeto. Eles gastam um bom tempo
preparando um vídeo campanha, bolando recompensas atrativas para oferecer aos
apoiadores, pensando no orçamento do projeto e em como comunicá-lo para o
público. Após essa etapa, o Catarse faz uma breve seleção. Quando o projeto é
aprovado, ele é aberto para a captação e os realizadores compartilham sua ideia para
o mundo. (CATARSE – www.catarse.me.pt).
Fonte: http://www.catarse.me/pt
33
3.1 Amazônia Pública: um dossiê das mazelas trazidas à floresta pelo progresso
de mineração em Marabá (PA), na bacia do Rio Tapajós e em Porto Velho, nas hidrelétricas do
Rio Madeira.
A série de reportagens é dividida em três capítulos - Carajás, Madeira e
Tapajós. Trata em 17 reportagens o contexto de desenvolvimento dos projetos implantados na
Amazônia, envolvendo a atuação de empresas, as negociações políticas e os impactos dos
investimentos no meio ambiente e na vida da sociedade civil.
O capítulo Carajás é voltado para a investigação dos planos da Companhia
Vale do Rio Doce para ampliar a extração do minério de ferro. A reportagem revela os impactos
que a empresa traz para o meio ambiente, como o desmatamento, atropelamento de animais e
as condições sociais da população que se submete ao trabalho escravo nas carvoarias. Este
capítulo também se dedica à contextualização do processo produtivo do metal que traz
desenvolvimento para o país, mas ao mesmo tempo é responsável por danos à natureza e
exploração do trabalho humano.
Com cenário na região de Rondônia e Porto Velho, o capítulo Madeira aborda
os impactos trazidos pela construção de hidrelétricas no Rio Madeira. O projeto faz parte do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Nas reportagens, a
Pública conta as interferências que as obras trouxeram para o meio ambiente, economia e
população. Entre os relatos estão casos de remoção de ribeirinhos e pescadores que dependiam
do rio para o sustento, a falta de infraestrutura de segurança e educação. Na corrida para a
finalização das obras, os trabalhadores também arriscam as suas vidas sofrendo acidentes de
trabalho.
Já o terceiro capítulo Tapajós é dedicado ao relato da luta de comunidades
indígenas contra a construção de duas usinas hidrelétricas pelo Governo Federal. As
reportagens demonstram a falta de diálogo entre a população e os projetos de desenvolvimento
que podem trazer impactos irreversíveis na vida dos moradores que vivem às margens do
Tapajós.
Em síntese, a expedição pelas principais regiões da Amazônia buscou retratar
o cenário do progresso que anda na contramão do desenvolvimento e ouvir as vozes da
população afetada pelos projetos de expansão. Ao ler as reportagens que compõem a série, o
leitor é convidado a fazer parte dos conflitos dos moradores por meio das narrativas construídas
através dos relatos, das pesquisas e da presença in loco e a imersão dos repórteres nas
comunidades visitadas.
35
Nesse aspecto, destaca-se a busca por uma narrativa humanizada, que visa
muito mais do que apresentar fatos. O jornalismo em profundidade praticado na
contemporaneidade busca fazer com que o leitor entenda o acontecimento em sua
complexidade, dotando-o de uma elucidação que aborde as causas, os efeitos e as
consequências.
No entanto, a construção da complexidade se dá a partir da estruturação
textual organizada pelo jornalista, que, a partir de uma narrativa, organiza os retalhos de
informação em um tecido homogêneo.
Um dado incontestável que registro na trajetória das últimas décadas: a arte de narrar
acrescentou sentidos mais sutis à arte de tecer o presente. Uma definição simples é
aquela que entende a narrativa como uma das respostas humanas diante do caos.
Dotada da capacidade de produzir sentidos, ao narrar o mundo, a inteligência humana
organiza o caos em um cosmos. (MEDINA, 1942, p. 47, grifos do autor).
híbridas em três fases: de 1631 a 1789, na Pré-História do Jornalismo e de 1789 a 1900, entre
o Primeiro e Segundo Jornalismo.
De acordo com Lima (2014), até o fim do século XIX, o jornalismo não era
considerado um produto destinado às massas populares, mas apenas às elites constituídas por
políticos, intelectuais e a camada mais rica da população. No entanto, a industrialização também
começou a afetar a atividade jornalística. Essas transformações tiveram início nos Estados
Unidos e, depois, foram adotadas pela imprensa brasileira.
Nesse contexto, empresários da comunicação perceberam que tudo isso gerava uma
oportunidade de negócios. A oportunidade estava em produzir jornais, mas em larga
escala, buscando aumentar o número de leitores. Além de continuar a atender às elites,
perceberam que os jornais precisavam fazer o que hoje nós chamaríamos de expandir
mercado. Isto é, chegar também às camadas mais populares. Para tanto, necessitariam
baratear o preço dos jornais ao máximo. Para conseguir isso, precisariam de grandes
tiragens - ou seja, produzir exemplares de uma mesma edição em larga escala -, pois
quanto menos exemplares são produzidos na gráfica, mais cara a produção. E, para
grandes tiragens, seria fundamental chegar ao grande público. Para isso, por sua vez,
seria necessário simplificar a linguagem, de modo que todos entendessem, pois a
massa popular não tinha o mesmo nível de educação escolar que as elites. (LIMA,
2014, p. 34).
A ideia era dar a descrição objetiva completa, mais alguma coisa que os leitores
sempre tiveram de procurar em romances e contos: especificamente, a vida subjetiva
ou emocional dos personagens. Por isso foi tão irônico quando os velhos guardiães
tanto do jornalismo como da literatura começaram a atacar esse Novo Jornalismo
como “impressionista”. As coisas mais importantes que se tentava em termos de
41
técnica dependiam de uma profundidade de informação que nunca havia sido exigida
do trabalho jornalístico. (WOLFE, 2005, p. 38).
Fonte: realidaderevista.blogspot.com
Lançada em abril de 1966 pela editora Abril, a publicação nasce com a vocação de
retratar em suas páginas o Brasil real, um país que atravessava um processo de
industrialização e urbanização que, de resto, só serviam para “amplificar problemas e
agruras nunca solucionadas” [...]. Trata-se sobretudo, de uma publicação aberta a toda
sorte de experimentações estéticas de uma turma de profissionais ávida por aplicar no
país as técnicas que invejava de seus pares americanos. (FALCIONE, 1999, p. 75).
[...] tal relação íntima entre jornalismo e literatura não se fez gratuitamente. Para a
maioria dos críticos da literatura produzida na década de 1970, o “clima” de jornal na
literatura da época foi determinado, num sentido mais geral, pela ditadura militar. De
fato, ainda que vigente desde 1964, a ditadura brasileira só viria a revelar o seu lado
mais repressor na passagem da década de 1960 para a de 1970, com o bem conhecido
Ato Institucional nº 5, o qual transformou definitivamente a “ditablanda” em regime
de terror. (COSSON, 2001, p. 15).
Nos últimos anos, o jornalismo impresso vem reduzindo cada vez mais os
espaços para as reportagens. Para que alguns jornais consigam cobrir todas as despesas de sua
produção, foram aumentados os espaços para os anunciantes. Com essa redução, as reportagens
aprofundadas limitam-se às edições de domingo, quando os jornais vêm com um número maior
de páginas.
Mais uma vez, o fator comercial implica na cobertura jornalística. Em tempos
de “crise no impresso” com o fechamento de jornais e demissão massiva de jornalistas, os
jornais ainda permanecem na estratégia de “competir” com a Internet, publicando no dia
seguinte os fatos que ocorreram no dia anterior. Em questões de imediatismo, a Internet acaba
ganhando do impresso.
Como nas fases anteriores do jornalismo, há jornalistas que têm o objetivo de
romper as barreiras impostas pelas empresas jornalísticas, nas quais, a produção noticiosa
muitas vezes está entrelaçada com interesses comerciais. Em muitos casos, esses fatores
interferem no que se torna ou não notícia. Nesse contexto, a Internet tem sido utilizada como
uma nova alternativa para os jornalistas que buscam trazer uma abordagem diferenciada da
mídia tradicional. O diferencial encontra-se principalmente no texto que utiliza recursos da
literatura, responsáveis por dar vida e voz aos socialmente excluídos por meio de uma narrativa
que apresenta cenários, consciências e causam inúmeros efeitos de sentido no leitor.
Este é o caso do texto da jornalista e escritora Eliane Brum, ex-colunista da
revista Época e que atualmente escreve para a edição online do jornal El País. A autora também
já publicou seis livros (Meus desacontecimentos, A menina quebrada, Uma duas, O olho da
rua, A vida que ninguém vê, e O avesso da lenda). Além das obras já publicadas, Eliane mantém
um site www.desacontecimentos.com, onde todas os seus artigos e reportagens podem ser
acessados.
44
Marabá é a porta de entrada da Amazônia que aparece nos cadernos de Economia dos
jornais, não nos de Turismo. Essa é a primeira lição para não se decepcionar com a
paisagem do hotel, ao lado do aeroporto, em plena rodovia Transamazônica. Entre
postos de gasolina e serrarias, à margem da estrada, meia dúzia de hotéis oferecem ar
condicionado, internet e um serviço feito por jovens simples metidos em uniformes
“internacionais”, que chocam no verão amazônico. A chuva que nos recebeu na manhã
de 14 de julho, foi a última da temporada, e tardia. (PÚBLICA, 2012).
O jornalismo literário prefere esse modo de narrar porque seu compromisso implícito
com o leitor é dar-lhe não apenas a informação sobre alguma coisa. É fazer com que
o leitor passe pela experiência sensorial, simbólica, de entrar naquele mundo
específico que a matéria retrata. Enquanto o sumário apela mais para o raciocínio
lógico, a cena procura também despertar a visão, a audição, o olfato, o tato, o paladar
do leitor. (LIMA, 2014, p. 15).
47
A Pública faz um jornalismo que é de baixo para cima. A gente ouve as comunidades,
dá prioridade a ouvir a população que está sendo afetada para entender de fato qual é
a situação que está acontecendo e daí buscar os fatores envolvidos. Fazemos uma
extensa checagem documental, de fatos, buscando ouvir o máximo de fontes. Nós não
fazemos notícias, mas sim uma história com começo, meio e fim com bastante
contexto. Dedicamos muito tempo para a produção de uma reportagem. Para fazer
uma reportagem da Pública, o repórter demora no mínimo um mês para concluí-la.
(VIANA, 2014).
para a Vale. Em meio às histórias de Tonhão, a jornalista Marina Amaral descreve o cenário
“desolador” que se tornou a comunidade do Racha Placa onde o agricultor morava. Novamente,
por meio do recurso de construção de cena, o leitor pode sentir e “ver” a tristeza que o lugar
representa.
À nossa volta, o cenário agora é desolador. Todas as casas que abrigaram escola e
comércio foram demolidas, e os restos pairam fantasmagóricos na paisagem tropical.
“Eles chamam a gente de posseiro, mas tudo isso aqui é terra da União, que eles
ocupam também”, ressalta Tonhão.
Por isso, as 49 famílias que resistiram ao assédio da companhia resolveram lutar. Com
a ajuda de um advogado da Comissão Pastoral da Terra, conseguiram que a empresa
comprasse uma área de 340 alqueires para reassentá-los e garantisse dois anos de
salário mínimo mensal de indenização para as famílias que perderam as roças e há três
anos aguardam a transferência para a nova área.
“É isso que mata a gente, ficar vendo a vila acabar, o mato crescer esbagaçando as
casas, a muriçoca tomar conta enquanto espera mudar”, diz Manelão, um senhor
simpático de olhos puros que não sabe viver sem enxada na mão. “E foi uma perda
para toda a região, as crianças agora têm que andar 14 quilômetros para ir à escola, o
trabalhador rural não tem onde comprar o que precisa”, lamenta. “Eles dizem que nós
estamos interrompendo o progresso. Vamos ver...”. (PÚBLICA, 2012).
autuada nove vezes pelo Ibama entre 2005 e 2009 por infrações ambientais em áreas protegidas.
A Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, ou Lei de Acesso à Informação “regulamenta o
direito, previsto na Constituição, de qualquer pessoa solicitar e receber dos órgãos e entidades
públicos, de todos os entes e Poderes, informações públicas por eles produzidas ou
custodiadas9”.
A pesquisa em dados e documentos são duas características rotineiramente
utilizadas na produção de uma reportagem de profundidade. Na narrativa, esses recursos
conferem complemento à matéria e, em alguns casos, autenticidade à apuração jornalística.
Dados oficiais demonstrando nove autuações do Ibama à Vale em um período de cinco anos
“atestam” os impactos que a exploração do minério de ferro causam à floresta.
No entanto, os dados e as versões não são suficientes para a produção de uma
reportagem em profundidade. A presença do repórter in loco evita possíveis “manipulações” de
informação por parte das assessorias de imprensa.
9
Informação retirada de <http://www.acessoainformacao.gov.br/perguntas-frequentes-2/aspectos-gerais-da-
lei#1>. Acessado em 16 .ago. 2015, às 00h58.
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madeira suspensa na imensa cratera cor de chocolate – a mais nova e mais produtiva
–, parecem de brinquedo as escavadeiras de 80 toneladas de peso e as pás
carregadeiras que trabalham dentro da cava, assim como os caminhões de 8 metros de
altura com capacidade para transportar 400 toneladas de terra.
No fundo do vale fica a barragem de resíduos da mineração em um dos braços do rio
Parauapebas; embora esses resíduos não sejam tóxicos (como ocorre no caso da
mineração do cobre), assoreiam o rio. A barragem reduz a sedimentação, mas provoca
uma interferência significativa nos cursos d’agua e em seu entorno, principalmente na
época das chuvas. “A mineração tem um grande efeito no sistema hídrico, porque,
além de usar muita água no beneficiamento do minério (que depois será bombeada
para o rio e contida pela barragem), para minerar você tem que drenar as jazidas, que
são um aquífero poderoso”, destaca o gestor da Flona. Comunidades rurais visitadas
pela Pública, como a Vila Bom Jesus e a Vila Planalto, queixam-se de enchentes que
inundam as casas e matam os animais desde a implantação de uma mina de cobre – a
Mina do Sossego – em 2004, do lado de Canãa dos Carajás. (PÚBLICA, 2012 – grifos
do autor).
Uma vez que os fatos passam a interessar, muito mais que opiniões, o jornalismo vai
se imbuindo cada vez mais da atitude de verificação dos acontecimentos em estado
bruto in loco. É preciso ir à cata deles, testemunhá-los, para produzir notícias que
excitem e saciem o apetite das massas urbanas. (BULHÕES, 2007, p. 23).
Deste modo, a presença do repórter no local dos fatos e o seu posterior relato
funcionam como extensões dos olhos do leitor.
As investigações sobre a Vale seguem na terceira reportagem da série: Por
que a Vale foi eleita a pior empresa do mundo?, na qual a Pública aborda as divergências entre
a imagem que a companhia deseja passar e a que realmente ela representa no país. Em seu 70º
aniversário, a empresa recebeu o prêmio de pior empresa do mundo, proposto pelos
movimentos sociais da Amazônia.
Segundo os relatos da equipe de reportagem da Pública, existe um conflito na
região do Carajás entre os que defendem a Vale como uma realização de desenvolvimento para
o país e pelos movimentos sociais que contestam os impactos causados pela empresa. A
52
pergunta que permeia a reportagem começa a ter a sua resposta formulada por uma breve
contextualização histórica do motivo para os protestos contra a empresa:
A articulação que se opõe à Vale, como se vê, tem tudo a ver com a Estrada de Ferro
Carajás (EFC). Foi em 1984 que o último presidente da ditadura militar, João
Figueiredo, inaugurou a ferrovia, ao presenciar a partida da primeira carga de minério
de ferro no maior trem do mundo – hoje com 330 vagões em média – pela linha que
segue das minas de Carajás, no Pará, até o Porto de Ponta Madeira, em Itaqui (MA),
em 892 quilômetros de trilhos.
Ali, um volume de minério de ferro de alto teor, com valor médio de US$ 380 mil por
dia – valores de 2011, é embarcado nos navios para abastecer os mercados
internacionais. “O minério de ferro de Carajás construiu mais da metade de Xangai”,
celebra mais uma voz anônima, de um brasileiro, no filme premiado. O valor
embarcado diariamente já está devidamente dispensado de uma série de impostos,
graças à Lei Kandir, vigente desde 1996. (PÚBLICA, 2012).
de Ferro Carajás, que viabiliza as viagens do “maior trem do mundo”. Além dos impactos
ambientais, o trem é responsável por uma série de atropelamentos, pois o maquinista não pode
parar. Com o projeto de expansão da produção do minério de ferro, a extensão da ferrovia será
aumentada juntamente com as viagens desse trem.
Por meio de relatos de moradores e com base em pesquisas documentais, a
reportagem da Pública consegue responder o porquê de a Vale ter sido eleita a pior empresa do
mundo pelos movimentos sociais da Amazônia.
O jornalismo praticado pela agência Pública tem entre as suas características
a busca por denúncias, assim como todo veículo independente pautado no jornalismo
investigativo. Entre os seus eixos de investigação está a categoria Direitos Humanos, que é o
tema da quarta reportagem “Sujos de carvão”, na qual a equipe de repórteres acompanharam a
Polícia Federal na ação de resgate de jovens explorados pelo trabalho escravo em uma carvoaria
em Açailândia, MA.
Para apresentar ao leitor as condições sub-humanas em que os jovens viviam,
a jornalista Marina Amaral recorreu aos relatórios do Ministério do Trabalho que fornecem os
detalhes do dia a dia dos trabalhadores nas carvoarias.
[...]os meninos penduravam as redes sob uma cobertura de palha sem paredes e
dormiam imersos na fumaça dos fornos. Não havia água potável – eles bebiam dos
baldes que usavam para controlar a temperatura dos fornos, o que os obrigava a
realizar turnos de vigília depois de jornadas de trabalho braçal que ultrapassavam 12
horas. As refeições eram preparadas por eles no mesmo local, e não havia alimentos
em condição adequada para o consumo. (PÚBLICA, 2012).
Antonio dos Santos Gomes, 21 anos, o Tonho, é o único que parece confiante em falar
sobre o episódio. Jônatah Cruz de Souza, 19 anos, concorda em gravar a entrevista,
mas demora a participar da conversa. O terceiro – um rapaz com problemas de dicção
– não quer sequer revelar o nome.
Combinamos não tirar fotografias. Para quebrar o gelo, pergunto sobre a vida de
Tonho.
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Ele é o mais velho de sete irmãos, nasceu “perto de Imperatriz”, a 90 quilômetros dali,
e estudou em Açailândia até a 6ª série. Aos 10, passou a ajudar o pai no trabalho braçal
nas fazendas e, aos 12, passou a trabalhar também sozinho, como servente de pedreiro.
No esquema de Valdecio, era ele o mais rápido para “bater tora” – arrancar os troncos,
tocos e roçar a juquira para deixar o pasto limpo para o fazendeiro. Depois enchiam o
caminhão com a madeira cortada por Amadônio, que às vezes os ajudava. Chegavam
ao assentamento no fim da tarde, depois de 10, 11 horas de trabalho. Aí descarregavam
a madeira e enchiam os fornos – eram quatro dias para encher os seis que estavam em
uso.
“Encher forno é ligeiro, bater tora é o mais ruim. Era só madeira nativa, tinha tão
pesada, que precisava de quatro pessoas pra carregar”, conta Tonho.
À noite, eles se revezavam para cuidar dos fornos. “Tem que vigiar, jogar água e, se
começa a pegar fogo, tem que apagar e tirar o carvão com o garfo porque senão perde
tudo”.
Pergunto sobre o calor e a fumaça, e os três dão risada.
“Eu sentia um pouquinho de respirar aquela fumaça preta, a garganta, um calor do
caramba”, diz Jônatah, levemente irônico.
Pergunto se eles sabiam que aquele trabalho era considerado análogo à escravidão.
A resposta de Tonho vem rápida.
“Era normal, a gente ia ganhar R$ 652. Foi o pai dele que me chamou, disse que lá
era bom”, revela, apontando para Jônatah, que olha para o chão por alguns segundos
e confirma a informação, balançando a cabeça.
E quando chegou a fiscalização, o que vocês pensaram? – emendo.
“Nós tava no barraco os três, fazendo a janta”, conta Jônatah. “Ouvimos o carro
chegando. ‘Bora correr, bora correr’, eu disse pra Tonho. ‘Não, fica parado’, ele disse.
Quando o homem veio, perguntou: ‘você sabe quem nós somos?’ E eu: ‘o Ibama’. E
ele, ‘Não, nós somos do Ministério do Trabalho’”.
“Eles consideram isso trabalho escravo, a gente nem sabia”, continua Tonho.“A
mulher do ministério disse que a gente vivia em péssimas condições de…, como se
diz?”
“Ah, na sujeira”, resume Jônata de olho no pai que se aproxima. “Eu não vou mais
pra lá, vou caçar um emprego em uma firma”, declara.
Todos se levantam para saber da decisão da procuradora. Antes, Jônatah diz ao
gravador: “Cada um tinha sua tarefa, o Valdecio era o dono. Meu pai dirigia o
caminhão, dormia no barraco com a gente quando tava queimando muito carvão, e aí
era ele que acordava de madrugada, pra ver se precisava molhar. Era o pai que fazia
isso. Ele é trabalhador”, disse, encarando-me ao final com seus olhos puxados muito
sérios. (PÚBLICA, 2012).
Como dá para perceber, a cena tem uma natureza visual. Em lugar de contar
indiretamente que aconteceu, mostra. Mais do que simplesmente passar uma
informação, a cena procura colocar o leitor dentro do acontecimento. Busca fazer com
que o leitor viva um pouco, pelo menos, o que o repórter presenciou. Reproduz o
clima de como as coisas aconteceram, tem um dinamismo próprio. O que acontece
tem movimento, as pessoas são retratadas com vivacidade. (LIMA, 2014, p. 15).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CATARSE. www.catarse.org.br
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede - a era da informação. 10 ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2003.
COSTA, Cristiane. Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904 a 2004. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
FALCIONE, Gabriel. O Conto - reportagem de João Antônio. In: Biblioteca entre livros. 11
ed. São Paulo: Duetto, 1999.
FILHO, Ciro Marcondes. Jornalismo e comunicação: a saga dos cães perdidos. 2 ed. São
Paulo: Hacker Editores, 2002.
GOMES, Felipe Sáles; COSTA, Klenio Veiga; BATISTA, Renato Lourenço. Jornalismo
narrativo - eficiência e viabilidade na mídia impressa. Rio de janeiro: UNIFLU, 2004.
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LIMA, Edvado Pereira. Páginas ampliadas. 4 ed. São Paulo: Manole, 2009.
MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano. 2 ed. São Paulo:
Summus, 2003.
MESQUITA, Rodrigo Lara. O futuro, 19 anos depois. In: Revista de Jornalismo ESPM.
8ed. São Paulo: ESPM, 2014.
PÚBLICA. www.apublica.org.br
SODRÉ, Muniz. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis:
Vozes, 2012.
TARGINO, Maria das Graças. Jornalismo cidadão informa ou deforma? Brasília: Unesco,
2009.
WOLFE, Tom. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
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APÊNDICE
Andresa: Natália, a série Amazônia Pública pode ser considerada o primeiro projeto de
grandes reportagens da agência Pública?
Natália: A gente só faz grandes reportagens. Podemos dizer que foi o primeiro grande projeto
da agência. Foi até então o projeto mais longo e aprofundado de investigação que a gente fez.
Andresa: Por que a Amazônia foi escolhida para ser tema de uma reportagem tão
aprofundada?
Natália: A Amazônia é um dos eixos investigativos da agência Pública. A Pública tem quatro
eixos investigativos: ditadura, mega-investimentos na Amazônia, Copa do Mundo e Direitos
Humanos. A Amazônia vem passando por uma fase de muitos investimentos públicos e
privados. São investimentos muito grandes que pretendem mudar a cara da região
economicamente, por meio da expansão e criação de um pólo produtor de matérias primas.
Esse processo não estava sendo muito bem coberto pela mídia, então, por isso, decidimos que
a Amazônia deveria ser tema deste projeto.
Andresa: Quais os desafios encontrados para fazer uma série de reportagens como essa?
Natália: Os desafios são muitos, mas o maior deles é começar. É difícil organizar o modelo de
produção que privilegia esse modelo de jornalismo. Ele exige muito foco, muito trabalho que
é diferente. O jornalismo investigativo é diferente de um jornalismo de notícias e outras
variedades que existem por aí. Cada reportagem tem o seu desafio. Na Amazônia, por exemplo,
a falta de transparência dos poderes públicos foram os principais desafios. As empresas
também se negaram a dar informações para os jornalistas. Esse é um desafio muito grande.
Andresa: Qual foi o objetivo ao publicar a série Amazônia Pública em várias plataformas?
Natália: Fizemos uma pesquisa muito rica. Essa segunda fase do projeto teve o objetivo de
disponibilizar esse material para os diversos públicos.