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A Bauhaus faz
100 anos, viva
a Bauhaus!
Alemanha
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Semana de lazer
Mais sugestões em lazer.publico.pt
Homenagens em
fronteiras, jardins
e selos, para saborear
até ao caroço.
Sílvia Pereira
FUGAS N.º 973 Foto de capa: LOOK Bildagentur der Fotografen FICHA TÉCNICA Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa
Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima
e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes
Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, 270, Bloco A, 3.º 4050-318 Porto.
Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
Alemanha
a De um lado um complexo de dorf, a capital deste estado alemão, - a Bauhaus, uma escola de artes,
edifícios técnico, com requisitos fica com outro cartão-de-visita deste design e arquitectura criada por
bem definidos e feito à medida das arquitecto que haveria de se mudar Gropius há precisamente 100 anos
exigências de uma fábrica de têx- para os Estados Unidos em 1938 pa- e que queria combinar as propostas
teis, sobretudo sedas, no começo ra fugir à crise económica e a Hitler das vanguardas com o saber fazer
do século XX. Do outro, duas casas e que é mais celebrado como autor tradicional, procurando transferir a
de família com um arrojo que ainda do Pavilhão de Barcelona (1928-29), excelência do produto manufactura-
hoje impressiona, pensadas para um do Edifício Seagram (um arranha- do para a produção industrial graças
estilo de vida novo, ainda que não céus de aço e vidro em Nova Iorque, a uma série de inovações tecnoló-
isento de uma boa dose de conser- completado em 1958), do Crown gicas, contando com artistas como
vadorismo. A uni-las dois proprie- Hall (sede da Faculdade de Arqui- Paul Klee e Vassily Kandinsky no seu
tários com dinheiro, os industriais tectura do Instituto de Tecnologia quadro de professores.
Hermann Lange e Josef Esters, e um de Chicago, 1950-56) ou da National “Mies pensava a arquitectura em galerias (a primeira em 1955, a públicos, mas também nos particu-
homem que viria a transformar-se Gallery de Berlim (1962-68). Um car- em todo o seu ambiente, em tudo segunda em 1981, ambas doadas à lares, teve períodos de grande pros-
numa das referências absolutas da tão-de-visita singular numa carreira o que a envolvia, não apenas no cidade pelas famílias dos dois em- peridade.
arquitectura e do design do século que começa ainda antes da Primeira papel. Pensava-a na relação com presários). “É por isso que estamos Fechadas para renovação até me-
XX, sinónimo, como Le Corbusier Guerra - cria o seu próprio atelier a maneira de viver das pessoas a aqui [Casa Lange] frente a esta jane- ados de Março, reabrem a 17 com
ou Walter Gropius, do movimento em 1912 - e que está centrado em quem se destinava, com a nature- la enorme e sentimos que o jardim o projecto Alternatives for Living.
moderno - Mies van der Rohe (1886- três projectos onde estão já conden- za, que é para ele importantíssima”, entra na sala e até se sentaria nos Plans for Haus Lange and Haus Es-
1969). sados muitos dos princípios orien- diz Sabine Sander-Fell, historiado- sofás se eles ainda aqui estivessem.” ters, uma exposição destinada a re-
Quem hoje visita a Fábrica Ver- tadores da obra revolucionária des- ra de arte e consultora do Museu As duas villas ficam num bairro visitar as suas origens e organizada
seidag e as Casas Lange e Esters em te homem que ficará para sempre de Arte de Krefeld (Kunstmuseen de moradias com espaços exteriores para integrar o programa do cente-
Krefeld, uma cidade da Renânia do associado a um dos mais arrojados Krefeld), cuja equipa programa es- desafogados, perto do centro des- nário da Bauhaus, que tem dezenas
Norte-Vestfália a 30km de Düssel- projectos pedagógicos do século XX tas duas casas hoje transformadas ta cidade que, nota-se nos edifícios e dezenas de actividades espalhadas
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FLORIAN MONHEIM/BILDARCHIV-MONHEIM/ARCAIDIMAGES
por todo o país. Krefeld não podia pavilhão da Alemanha na Exposição promisso entre vontades e, por isso, que não abdica - o espaço do es- na Casa Esters mantêm o tamanho,
ficar de fora desta festa, já que é a Internacional de Barcelona [1929], há paredes amovíveis que permitem critório, reservado aos homens; mas o plano de vidro não é uno, está
segunda cidade da Alemanha, de- onde é muito mais radical na linha criar áreas maiores quando é preci- uma sala para a mulher rece- dividido por caixilhos. “Estas casas
pois de Berlim, com mais obras de do espaço livre. É claro que são edifí- so dar uma festa, mas também ou- ber.”, complementa Sander-Fell. são dois volumes cúbicos aparen-
Ludwig Mies van der Rohe, lembra a cios com objectivos diferentes, mas tras mais pequenas, como o escritó- Da rua vê-se bem que as duas temente muito simples, ao estilo
directora do museu, Katia Baudin. E aqui trabalhava para dois clientes rio de Lange, com grandes janelas casas formam um conjunto harmo- da Bauhaus, em que a cobertura de
isto sem contar com as que não che- que não o deixaram fazer exacta- viradas para a rua, ou a “sala das nioso, ainda que preservem a sua tijolo vermelho escuro, acastanha-
garam a sair do papel (como o Clube mente como queria”, acrescenta. senhoras”, recatadamente voltada autonomia. Lá dentro são diferentes do, funciona como uma pele sobre
de Golfe e os escritórios da fábrica Mies queria menos paredes e mais para o jardim. na disposição e até nalgumas solu- a estrutura de aço”, sintetiza a his-
que ficou conhecida como Versei- vidro, Lange e Esters espaços mais “Lange é mais arrojado do que ções técnicas. Na Casa Lange, por toriadora, chamando a atenção para
dag). “Mies faz estas casas pratica- pequenos e com porta. O que aca- Esters, mais moderno, mas é tam- exemplo, as enormes janelas são de os espaços amplos e comunicantes,
mente ao mesmo tempo que faz o bou por ser construído é um com- bém conservador. Há coisas de um vidro só, como numa montra; concebidos para circular. “Ca- c
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Alemanha
FLORIAN MONHEIM/BILDARCHIV-MONHEIM/ARCAIDIMAGES
da uma destas casas é, no conceito, A Verseidag é nina de Berlim, em 1927, para a qual
um misto de vila tradicional, clás- a única fábrica criaram o Café Veludo e Seda, Mies
sica, e de arquitectura industrial. que Mies van der Rohe desenhou puxadores
Um misto de espaços mais abertos van der Rohe de porta e roupeiros, candeeiros e
e de outros mais contidos. Parecem tem no seu sofás, mesas extensíveis e elegantes
absolutamente contemporâneas e portfólio. Foi escrivaninhas.
têm 90 anos.” feita a pedido
A marca de Mies está claramente dos mesmos A única fábrica de Mies
lá, na simplicidade das formas, na industriais que
atenção aos detalhes, na qualida- lhe encomen- Lange e Esters eram adeptos do
de do espaço. Embora sejam refe- daram as villas trabalho da Bauhaus, dos artistas
ridas com frequência como obras na cidade: e arquitectos modernos e de Mies
do universo da Bauhaus, as mora- Herman em particular. Convidam-no para
dias familiares dos dois industriais Lange (casa desenhar as suas casas e a fábrica
incluem-se numa corrente mais nas páginas em Krefeld antes mesmo de ele vir
abrangente que surge em 1923 na anteriores) a assumir por um breve período
Alemanha da República de Weimar e Josef Esters (1930-1933) a direcção da mítica es-
(e que morre quando ela cai) como cola alemã que fechou por pressão
reacção aos excessos emotivos do do regime nazi.
expressionismo e que se estende à Os dois industriais contratavam
pintura, à escultura, à música, à li- professores e alunos da Bauhaus pa-
teratura e, claro, à arquitectura - a ra desenhar padrões para os tecidos
Nova Objectividade. Os princípios que depois produziam na fábrica
que defende - há nela um lado mais concebida pelo arquitecto alemão,
optimista próprio de um período um edifício que só há poucos anos
de pós-guerra, uma confiança nos começou a receber a atenção que
avanços da tecnologia aplicados à merece.
indústria, uma esperança no envol- A fábrica que ficou conhecida co-
vimento do colectivo na resolução mo Verseidag começou a ser dese-
de problemas sociais - são também nhada por volta de 1931 para a com-
postos em prática, talvez até de um panhia Vereinigte Seidenfabriken
modo mais radical, na Bauhaus. AG, que funcionava como um con-
Ambas defendem, no que à arqui- glomerado da indústria da seda na
tectura diz respeito, o espaço livre região, fundado nos anos 1920 por
e a ordem. Lange e Esters, dois amigos que já
“Nova Objectividade e Bauhaus trabalhavam no ramo, juntando as
confundem-se para os não espe- suas famílias a outras com poder - os
cialistas, misturam-se. É claro Kniffler e os Oetker.
que o rótulo da Bauhaus é sempre
mais forte por isso há uma tenta- “Aqui se vê ou Sol LeWitt, percebe de imediato
o quanto o arquitecto trabalhou o
rio - as que os clientes já tinham e as
que Mies desenhou em colaboração
Krefeld foi um dos mais importan-
tes centros para o têxtil alemão. No
ção de o colar. Mas tanto numa
como noutra é de moderno que como construído e a envolvente de forma
integrada.
com Lilly Reich (1885-1947), uma ar-
quitecta e designer alemã com quem
século XVIII, a aristocracia, os mem-
bros do alto clero e até os monarcas
estamos a falar”, diz a directo- As villas parecem estar colocadas manteve uma relação profissional e faziam compras na cidade, que se
ra do Museu de Arte de Krefeld. a arquitectura sobre um plinto, como se fossem es- pessoal durante 13 anos, até se mu- mantém apetecível, com cafés que
culturas, algo que certamente terá dar para os Estados Unidos (Reich convidam nas praças e jardins.
O jardim como quarto de Mies agradado a Lange, que veio a ser um
dos maiores coleccionadores de arte
foi a directora artística da participa-
ção alemã na feira de 1929 e foi ela
Hoje o complexo fabril criado por
Lange e Esters tem o nome de Lu-
Quem hoje passeia por estas duas
casas erguidas entre 1928 e 1930 -
é carregada da Alemanha do seu tempo, parti-
cularmente atento às vanguardas
quem colaborou na concepção, por
exemplo, da célebre Cadeira Barce-
dwig Mies van der Rohe Business
Park. Parte dos seus edifícios espera
os trabalhos começaram com um
dia de diferença e segundo o dese-
de detalhes alemã e francesa. “Nas traseiras, os
jardins, feitos em terraços, estão
lona MR90, uma das peças mais icó-
nicas da galáxia Mies).
ainda uma requalificação e a restan-
te, já remodelada, serve de sede a
nho de Mies, cuja primeira versão
é de 1927 - e pelos seus jardins com
de desenho e num plano dois metros abaixo do
das casas, o que dá ainda mais desta-
Já não há pinturas de Picasso, Lé-
ger ou Braque nas paredes, já não
pequenas e médias empresas que tra-
balham em tecnologia ou design.
grandes relvados, maravilhosos car-
valhos e esculturas contemporâne-
de construção”, que aos volumes construídos. Mies
parece desenhar cada terraço como
há livros arrumados nas estantes
discretas nem tapetes orientais no
Daniel Lohmann, arquitecto e
professor de História de Arquitec-
as de artistas como Richard Serra,
adicionadas ao conjunto graças ao
diz Daniel um quarto lá fora”, explica Sabine
Sander-Fell.
chão, mas é tentador imaginar co-
mo seria viver ali. Com Lilly Reich
tura na Universidade de Colónia, e
Norbert Hanenberg, professor de
programa de exposições e encomen-
das site specific do museu em que Lohmann Nas salas e quartos da Casa Lange
havia arte moderna e sul-americana
a seu lado, à semelhança do que
acontecera já na Die Mode der Da-
Design e Construção na Universida-
de de Ciências Aplicadas em Gießen,
já participaram também Yves Klein e uma mistura de peças de mobiliá- me, uma exposição de moda femi- têm vindo a estudar a fábrica c
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Alemanha
muitos roteiros
no os avanços da tecnologia e da
indústria, é claro, mas os charu-
tos que fumava e os elegantes fa-
tos que vestia eram feitos à mão.
Krefeld é uma cidade que sempre
soube, como ele, dar valor ao traba-
lho manual e que nos últimos anos a Nasceu no pós-Primeira Guerra Bauhaus permanece intocada. En-
tem vindo a investir na recuperação como resposta a um expressionis- quanto escola criada pelo arquitec-
da obra do mais influente dos arqui- mo em decadência num mundo to Walter Gropius a 1 de Abril de
tectos alemães do século XX. Nela em transformação e a precisar, 1919, com artistas como Paul Klee,
há uma fábrica e duas villas que nos naturalmente, de optimismo e de Josef Albers e László Moholy-Nagy
falam de Mies van der Rohe e que, ordem. Propunha-se cruzar as ar- entre os seus professores, durou
este ano, falam também da Bauhaus tes, combinar a tecnologia com o apenas 14 anos — a chegada dos na-
e de (quase) tudo o que quis a arqui- saber fazer tradicional, contaminar zis ao poder em 1933 ditaram-lhe o
tectura moderna. a indústria com a qualidade do pro- fim —, mas como sinónimo do mo- bre a arte, a arquitectura, o design, A Alemanha está a celebrá-la em
duto feito por mãos experientes e derno perpetuou-se. O seu gesto de a fotografia e as artes performativas dezenas de exposições, espectácu-
A Fugas viajou a convite atentas ao detalhe. Passaram 100 ruptura, o novo modo de vida que passaram a ser referências difíceis los e roteiros especiais, com para-
do Turismo Alemão anos e a aura experimentalista da propunha e o olhar que lançou so- de contornar. gem obrigatória nas cidades c
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Alemanha
DR
A Bauhaus também
se dança
O Museu LWL, em Münster, associa-
se ao centenário com uma exposi-
ção (A Bauhaus e a América. Expe-
riências com Luz e Movimento) e um
espectáculo que propõem, até 3 de
Março, colocar o foco sobre os ar-
tistas e arquitectos que, depois de
encerrada a escola em 1933, em vir-
tude da pressão sobre ela exercida
pelos nacional-socialistas no poder,
se exilaram nos Estados Unidos, on-
de continuaram a trabalhar.
Pegando no palco como labora-
tório e território fértil para o cruza-
mento de artes e saberes que está
na génese da Bauhaus, a equipa do
museu foi à procura de obras na
A mina mais bonita dança, na performance ou no ci-
do mundo nema em que o experimentalismo Para salvar as palavras
Entre os roteiros da arquitectu-
tenha tornado evidente a influên-
cia dos artistas e dos princípios da do esquecimento Tento salvar
ra moderna que o Turismo Ale- escola alemã nos EUA. Uma influ- do esquecimento
mão promove neste centenário da ência que, a partir dos anos 1950, e do uso indevido
Bauhaus, há vários edifícios ou con- faz o caminho inverso e se impõe algumas palavras
juntos classificados como patrimó- na produção europeia, escrevem os da língua portuguesa
nio mundial. Aqui destacamos dois: curadores desta exposição que con-
a Mina de Carvão de Zollverein, em ta com empréstimos de importan-
Essen, construída entre 1926 e 1932 tes museus internacionais, como o
e hoje transformada num complexo Centro Georges Pompidou (Paris) e
com museus, galerias e espaços de a Tate Modern (Londres), e que in-
conferência e concertos; e a Fábrica clui trabalhos de Josef Albers, Lász-
Fagus (1911-1913), em Alfeld, que há ló Moholy-Nagy, Robert Rauschen-
mais de 100 anos produz formas e berg, Barbara Morgan, John Cage,
moldes para sapatos. James Turrell, Merce Cunningham,
A mina, construída com a efi- Lucinda Childs e, claro, Oskar Sch-
ciência em mente e usando os lemmer, o homem a quem se deve
equipamentos mais evoluídos do o Ballet Triádico.
arranque do século XX, é sempre MESH (2 e 3 de Fevereiro; 9 e 10
apresentada como a mais bonita do de Março), uma criação da dupla
mundo graças ao Poço 12, aberto de coreógrafos Matthias Markstein/
em 1932. Funcionou até 1986 e é Isaac Spencer e da cenógrafa Nora
hoje um centro de cultura e lazer, Maria Bräuer, associa-se à exposi-
com intervenções do arquitecto ção para explorar o impacto que a
holandês Rem Koolhaas. A fábrica Bauhaus teve na dança moderna
onde ainda trabalham 350 pessoas, americana. p3.publico.pt/palavradeaurelio
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Protagonista
FOTOS: NUNO FERREIRA SANTOS
integrada na freguesia de Santa entusiasma são as lendas, os ditos
Mara Gonçalves Maria Maior. Era “o antigo Colégio
dos Meninos Órfãos”, fundado por
populares e os mistérios sobre
a capital. Mas tem de refrear as
?
a Quantas vezes caminhamos D. Catarina em meados do século pesquisas por uns tempos. “Ando
pelas ruas sem repararmos nas XVI para “acolher 30 meninos de muito atarefada com a escola.” Resposta rápida
fachadas que flanqueiam o passeio, rua e dar-lhes formação religiosa Aos 59 anos, Helena frequenta o Conte-nos uma história
sem nos perguntarmos pelas suas para servirem, mais tarde, como segundo ano da licenciatura em de infância.
histórias e porquês? Helena Aguiar missionários além-mar”. Pintura, na Faculdade de Belas Já foi há tanto tempo! [Ri-se]
nunca foi assim. Talvez por ter Uma das visitas guiadas que Artes. O que “queria mesmo” era Vivíamos na Mouraria e o castelo
nascido e crescido na Mouraria, Helena fez naquele primeiro Verão estudar História, mas o processo de São Jorge era o meu parque
“bairro maldito de Lisboa” mas do “Conta-me Histórias, Lisboa” de inscrição revelou-se demasiado infantil. Íamos para lá apanhar
“muito antigo”, Helena sempre passou por ali. Mas cedo desistiu burocrático. Avançou para pintura, pinhões e depois vínhamos a
andou de olhos colados aos de organizar passeios. “De repente, área em que tinha concluído o 12.º casa para parti-los e comê-los,
pormenores esculpidos nos o grupo começou a crescer e já ano. “Desde sempre que pintei com as mãos todas sujas. E
edifícios, a querer saber o que andava nas 20 pessoas, tornava-se um bocadinho, mas os afazeres brincávamos aos reis, rainhas
eram. Intrigavam-lhe os palácios, muito cansativo”, diz para justificar também não deixam.” e princesas. Púnhamo-nos em
“aquelas portas todas do castelo o cancelamento dos percursos Quando era mais nova, Helena cima dos canhões e eram os
de São Jorge”, a igreja “lá ao com a chegada do Inverno. “Não queria ir estudar para o liceu nossos cavalos.
lado”, sempre fechada. “Até a voltei a fazer mas a qualquer mas acabou por fazer o curso de Conte-nos uma lenda de Lisboa.
junta de freguesia era num sítio altura posso retomar.” Até porque comercial - “ainda sou do tempo Pode ser o dito “fazer tijolo”?
muito bonito e eu achava aquilo agora os conhecimentos sobre em que tinha de fazer o que a Depois do terramoto de 1755,
muito estranho. Como é que uma Lisboa “já começam a ser um mãe e o pai mandavam”. Toda a teve de fazer-se tijolo à pressa
junta de freguesia podia estar bocadinho mais”. E porque, se vida trabalhou em contabilidade. para a reconstrução [de Lisboa]
instalada num edifício assim? E eu há coisa que lhe crispa a voz, são Concluiu o ensino secundário à e esse tijolo era feito entre a
perguntava em miúda e ninguém guias e turistas. “Deviam pô-los noite mas, “divorciada e com uma Mouraria e o Intendente, onde
sabia”, recorda. a saber um bocadinho mais de filha”, não podia dar-se ao luxo de era a zona das olarias. Há pouco
A idade foi avançando e a História, porque Lisboa não é só deixar o emprego para ter aulas tempo descobriram que havia lá
curiosidade multiplicava as dúvidas pastéis de Belém e Jerónimos”, durante o dia. “Agora depois de um cemitério. No meio daquele
sem que conseguisse descobrir critica. “Estamos aqui há 5000 velha deu-me para isto, podia ser barro haveria, por isso, muitos
as respostas. Até que, numa anos e é por mérito próprio, há para pior”, graceja. ossinhos pequeninos. De modo
feira do livro, Helena encontrou que mostrar uma certa dignidade.” Um fóssil, a “bíblia dos É em frente à Faculdade de que as nossas casas pombalinas,
em promoção o Dicionário da Lisboa, defende, “não é uma olisipógrafos” e alguns Belas Artes que nos sentamos além do tijolo, têm muito
História de Lisboa, um “monstro Disneylândia”. dos trabalhos feitos na a conversar, antes de as aulas defunto enfiado na parede. [Ri-
enorme”, considerado “a bíblia Na Mouraria da infância, onde licenciatura em Pintura começarem. E sobre o edifício se] Por isso é que ainda hoje
dos olisipógrafos”. De repente, parecia que todos se chamavam de fachada amarela há “tanto se diz quando alguém morre:
preenchia o vazio que tantas Manuel - “Era muito engraçado se dá a conhecer, mais azo se dá a para contar” que Helena tem um “Coitado, esse já está a fazer
perguntas tinham deixado durante porque era o senhor Manuel que desapareçam”, comenta, ao dossier repleto com tudo aquilo tijolo”.
a infância. Os prédios ganhavam das bananas, o da mercearia, o lembrar-se dos painéis de azulejos que tem conseguido encontrar. Conte-nos a história
finalmente vida, com muitos sapateiro. Só num dos talhos havia que foram sendo retirados de Era ali o antigo Convento de São de um lisboeta.
enredos, lendas e personagens um senhor Onofre”, ri-se -, as fachadas e nichos ao longo dos Francisco, fundado antes de Lisboa O barão de Quintela,
históricas. Nunca mais parou. Atrás portas não se trancavam, o castelo anos. ser capital do país, há mais de 800 conde de Farrobo, era uma
de um livro vinha sempre outro, de São Jorge servia de palco às Às vezes, os nomes das anos. O edifício ainda guarda “uma pessoa inteligentíssima,
mais os artigos de jornais e de brincadeiras e só quando a vizinha personagens ou dos palácios cisterna, única em Lisboa, que se extraordinária em termos
revistas, guardados em dossiers. já não dava conta do recado é que não lhe saem à primeira, mas as pensa ser uma das poucas coisas de empreendedorismo e de
Foi para dar arrumo a tudo o se chamava o médico. Agora, “são histórias sucedem-se, recheadas de que restam do início da construção negócios e muito dedicado às
que tinha acumulado ao longo só hostels”, compara. “Continua pormenores. “Vamos lá ver se me do convento”. “Com a extinção das artes. Foi um dos fundadores
dos anos que criou a “Conta-me a ser bairro, mas já não há aquela lembro de tudo. Acho que a página ordens religiosas, aqui se juntaram dos teatros de São Carlos e do
Histórias, Lisboa”. A página no interacção.” já sabe mais do que eu”, ri-se. O as obras de arte dos outros Thalia. E gostava tanto de música
Facebook começou como um A atitude dos alfacinhas também entusiasmo nunca desarma. Entre mosteiros e conventos para não e de desenvolver a capacidade
“arquivozinho”, seguido por mudou nos últimos anos. “Antes um cigarro e outro, vai desfiando serem saqueados”, conta ainda. artística nas outras pessoas
“meia dúzia de amigos e família”. as pessoas eram muito simpáticas sempre mais um conto, uma Foi esse acervo, acrescenta, que que criou uma orquestra com
Quatro anos depois, soma mais comigo. Eu batia-lhes à porta particularidade sobre um edifício, deu origem, em parte, ao Museu os empregados da casa. Era
de mil publicações e quase 23 a perguntar se me deixavam o novelo biográfico de uma figura Nacional de Arte Antiga. uma pessoa extraordinária, com
mil seguidores. O espírito do entrar para ver alguma coisa que histórica. “Vou-me apaixonando Por mais que se acumulem os uma cultura fora do normal, e a
projecto continua o mesmo: eu sabia que lá havia e diziam pelos segredos que Lisboa guarda”, trabalhos da faculdade - e as boas gente só fala dele por causa das
divulgar aquilo que Helena tem sempre que sim. Agora já não é resume às tantas. Nisso a cidade notas, assegura orgulhosa -, Helena grandes festas que dava, de dia
aprendido sobre Lisboa, com assim.” Os pátios estão trancados, não é avarenta: “A gente abre um confessa que anda “sempre a ler e dias, e que deram origem à
muitos pormenores que “a maior os restaurantes apinhados, os buraco no chão para arranjar um é coisas sobre Lisboa”. Disse-lhe expressão “farrobodó”.
parte das pessoas não conhece lisboetas desconfiados. Aqueles cano e encontra coisas romanas, um dia o professor de História
nem sabe onde ir procurar”. pormenores interessantes mas muralhas, esqueletos.” Há sempre de Arte: “Só se ama aquilo que se
Como a história do edifício onde mais escondidos acabam por ficar mais para saber e descobrir. “É conhece”. E, para Helena, não há
ficava a tal junta de freguesia, apenas para segredo de alguns. interessantíssimo.” paixão maior do que a cidade onde
do Socorro, entretanto extinta e “Até porque, às vezes, quanto mais Ultimamente, aquilo que mais a nasceu.
Helena Aguiar
A contadora de histórias sobre a História de Lisboa
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A montanha
é uma força
maior que nos
gela e fascina
a Não vale a pena resistir, o filme e Fanny, o casal amigo das persona- Mas as paisagens são em tudo se- luvas, casaco fechado até ao queixo relação em crise, nós subimos na
não nos sai da cabeça. À janela, o ce- gens principais de Força Maior, a ca- melhantes. As panorâmicas geladas, e aí vamos nós, do quente da sala tensão do medo de quem esquia
nário vai-se transfigurando como sli- minho do mesmo destino: um resort o branco que se impõe a todos os dos cacifos ao frio soalheiro, meia pela primeira vez. De manhã, dois
des a passar ao ritmo da sonolência: em plenos Alpes franceses. sentidos, o silêncio opaco, como dúzia de passos são suficientes pa- dedos de neve chegavam para en-
pequenas vilas charmosas com as Não haverá avalanches (só pensa- se a neve fosse capaz de sugar até ra chegarmos aos graus negativos contrões e quedas. Agora querem
suas igrejas de pináculo, chalets de remos nelas quando passarmos por o mínimo ruído, o contraste que (as temperaturas mínimas hão-de que descemos aquela colina toda -
telhado inclinado, um lago imenso. uma placa de aviso numa curva da se pressente entre o quente cá de bater os -11ºC). Logo ali, um túnel minúscula, ridícula, até nos porem
As encostas ainda sobem negras, ro- estrada - não que seja comum, mas dentro e o frio lá de fora. O esqui, o com passadeira rolante e o filme a uns esquis e pedirem para deslizar-
chosas, mas lá ao fundo já se anun- a probabilidade não é zero) nem te- esqui, o esqui. voltar-nos à memória. Se na pelícu- mos por ali abaixo, Mont Blanc da
ciam alguns picos nevados. É como remos discussões profundas sobre a Pranchas nos pés, botas grossas la de Ruben Östlund a lentidão do nossa inexperiência e, confessemos,
se fôssemos no autocarro com Matt ética do instinto de sobrevivência. que nos apertam os ossos, capacete, trajecto alimenta a tensão de uma fraca aptidão.
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MANUEL ROBERTO
Sobem rios
de teleféricos
para depois
descerem,
em grupos
coloridos,
dezenas de
esquiadores
DR
mento e imersão em água salgada, um outro pormenor: há diferenças queijo também. Bourg Saint Maurice
para começarem a ganhar aquela de sabor entre os queijos produzi- Partimos, com os olhos lavados ITÁLIA
crosta característica. Vão depois dos no Verão e aqueles produzidos em branco, a imaginar se reconhe-
para a cave, onde nos encontramos no Inverno. Os primeiros são “mais ceríamos estas montanhas daqui
agora. Corredores e corredores de macios e frutados”, os de Inverno a uns meses, quando quase tudo Mónaco
prateleiras de queijos enormes, “mais secos”; fruto da alimentação o que agora vemos tiver derretido ESPANHA
redondos e achatados, que outro do gado nas diferentes estações. No em verdes, flores e riachos, com bo- Andorra Mar Mediterrâneo
funcionário da fábrica, empoleira- Verão, a neve cede e as montanhas vinos plácidos onde agora descem
do numa empilhadora, vai virando transformam-se em prados fron- esquiadores a alta velocidade. 105 km
à mão. Entre cinco meses a um ano, dosos. “As vacas saem em Junho e Córsega
cerca de 21 mil queijos são virados, depois vão subindo por fases, a ca- A Fugas viajou a convite
salgados e esfregados manualmente da dois ou três dias, até atingirem o do Club Med
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Passeio
Arcos de Valdevez,
uma porta para
o barroco e para
o Alto Minho
não abunda, mas a qualidade tem momentos tão, as minhas bodas de ouro foram
aqui, conheço bem a igreja. Mas há
pos não consegue conter a sua sur-
presa.
interessantes. Como na Igreja do Espírito Santo, quatro anos que não entrava aqui...
Nuno Soares é o interlocutor - e
- E foi à sacristia?
- Olhe, também mandei rezar aqui
feita Centro de Interpretação do Barroco. não podia ser melhor. Afinal, o ar-
queólogo, chefe da Divisão de Desen-
uma missa pela minha mãe e fui lá
pagar. Era bonita, até o disse ao pa-
A Igreja do Espírito
Santo é sede do
Centro Interpretativo
do Barroco;
na foto principal,
a Igreja Matriz
i
Rota do Barroco
A Rota do Barroco foi concebida
para ser realizada de forma
autónoma, por isso o melhor
é descarregar a aplicação
(disponível para Android e iOS):
O Barroco no Alto Minho. O
que não dispensa da passagem
pela casa de partida, o Centro
Interpretativo do Barroco -
Igreja do Espírito Santo, no
Jardim dos Centenários, em
Arcos de Valdevez. Também
no jardim vale a pena visitar
a Casa das Artes, antiga
Casa do Terreiro, construída
na segunda metade do século
XVIII e mantendo muitas
das características da
arquitectura civil barroca
do Norte de Portugal.
ra, apenas este, podemos dizer que testante, não surpreende que seja - A 2 de Fevereiro há bênção do (servido pela bonança do ouro brasi- tros três ecrãs, mais pequenos, cada
é uma porta para o barroco no Alto nos edifícios religiosos que o barro- bispo, leiro); contudo, este de que falamos qual fazendo o enquadramento do
Minho. Afinal, este CIB é também a co marca mais o “gosto” da época. como dona Ester já sabe. Mas este é virtual, um holograma, Asinhas de barroco em três vertentes (sempre
primeira das “estações do tempo” São igrejas, capelas e santuários a que é provavelmente um dos mais seu nome. acompanhadas por cronograma, por
que a Comunidade Intermunicipal grande maioria dos 40 pontos de icónicos representantes da arte bar- E já iremos a ele, a imagem de mar- vezes com elementos multimédia): a
(CIM) do Alto Minho está a promo- visita identificados para esta Rota roca no Alto Minho adoptou quase ca desta igreja-centro-interpretativo sociedade e o pensamento, a cultu-
ver para promover e dinamizar o do Barroco do Alto Minho (possível completamente a nova roupa de cen- que está servida da tecnologia mais ra e a arte e o próprio monumento
património histórico e cultural da embrião para uma rota para o Norte tro interpretativo e de espaço cultu- recente para nos levar ao passado. É onde nos encontramos, imóvel de
região - dez concelhos, dez estações do país), muitos deles produto do ral (a inauguração, a 15 de Dezembro, ela que nos pode levar por toda a rota interesse público.
(ou seja, centros interpretativos), afã de várias confrarias que se fo- contou com um concerto de piano - literalmente, fazendo uso da app ou Para explorar a igreja do Espírito
dez percursos de visita. ram instalando na zona - sobra quase do maestro Rui Massena - “a acús- de QR Codes, que permitem a qual- Santo, quem chega tem à sua dispo-
Em Arcos de Valdevez, a porta uma mão cheia de casas senhoriais tica é extraordinária”, nota Nuno quer visitante lançar-se no território sição tablets (25) e óculos de realida-
cronológica abre-se para o barro- numa região muito ligada a elas (a Soares - e outros momentos já estão com “guia”; ou virtualmente, no ecrã de aumentada (HoloLens, dois pares
co “não pela quantidade, mas pela antiga nobreza portuguesa tem ra- programados). As “homilias” agora gigante que quase nos recebe. Mapa apenas, “são caríssimos”, cinco mil
qualidade”, sublinha Nuno Soares ízes profundas nesta região Entre- são de história e o “sacerdote” é um interactivo, podemos descobrir to- euros cada) que vão debitando o
(ainda que a quantidade não seja Douro-e-Minho). putto, um “anjinho barroco” - mais dos os pontos aqui, ler uma nota in- conteúdo de forma moderada e su-
displicente: este é o maior concelho Entremos, então, na Igreja do Espí- apropriado não poderia ser, eles es- trodutória, abrir para mais informa- cinta. Com um ou outro, os círculos
da região). E, sendo este um estilo rito Santo feita CIB - ainda se mantêm tão por todo o lado, na decoração, ção, ver fotografias (incluindo 360º) dourados no chão marcam o X: é daí
artístico que surgiu nos países cató- três momentos religiosos por ano, talha dourada abundante como mar- e as direcções, saber a distância e o que podemos apontar o tablet ou o
licos como resposta à reforma pro- que em 2019 serão quatro, ca do esplendor barroco português tempo de viagem. Do outro lado, ou- nosso olhar (se estamos com os c
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Passeio
Igrejas, capelas
e santuários
constituem
a maioria
dos pontos
da Rota
do Barroco
do Alto Minho
óculos) para os vários elementos da num nicho por cima do arcaz de pau
igreja que vão surgir com um pon- preto, do lado oposto ao que resta
to branco e deixar que o Asinhas das cadeiras do cabido, trazidas do
se aproxime de nós e descreva o coro alto - o espaldar é tratado como
que vemos (que também surge em se fora um biombo, com arte chinoi-
texto). Uma das experiências mais se retratando cenas frívolas (namo-
interessantes é ver o retábulo-mor rados, caçadores), numa moldura
erguer-se diante dos nossos olhos, onde os putti abundam - eles estão
peça a peça, mas dona Ester igno- por todo o lado, não só na realidade
ra a sugestão de Nuno Soares para aumentada.
experimentar. Nem os funcionários
da Edigma, a empresa responsável Igreja Matriz
pela tecnologia, que circulam ora de
tablet ora de óculos fazendo updates Quase cem anos separam a Igreja
ao sistema, lhe suscitam curiosidade. do Espírito Santo e a Matriz (São
Está sem tempo, diz, mas não resiste Salvador), quase lado a lado - en-
a comparações. tre elas, o Jardim dos Centenários,
- A [Igreja] matriz é bonita, mas uma varanda sobre o rio, a praia
não tão bonita... Bem, cada uma tem fluvial e, na outra margem, o So-
o seu encanto, a sua beleza. lar do Requeijo (não está na rota,
Vamos descobri-lo na Rota do Bar- mas poderia estar: neste momen-
roco que não sai de Arcos de Valde- to, aguarda a sua conversão num
vez, “onde Portugal se fez”, diz o slo- hotel boutique). De origem medie-
gan da vila. Quatro igrejas, um solar val, a Matriz sofreu obras ao lon-
e a porta aberta para o resto do Alto go de várias décadas até o final do
Minho - barroco. século XVIII, quando o barroco já
se aproximava do seu final, o gran-
Igreja do Espírito Santo de bang que foi o rococó. Este está
plasmado no templo, nas capelas
Fixemo-nos, então, finalmente laterais, sobretudo na do Calvário,
“apenas” na beleza da Igreja do do lado da Epístola. Concentrado
Espírito Santo, concluída em 1681 de talha dourada, que começa na
(mas com a frontaria neoclássica do abóbada de caixotão, explode no
século XIX), considerada um dos altar, uma peça apenas, feito de co-
tesouros do barroco português, bri- res de arte portuguesa barroca. O elegante, os altares devidamente or- cheio de curvas e ilusões. “É um dos lunas torças (espiraladas, a simular
lhante no branco das suas paredes. restauro das peças foi minimalista, namentados, mas é o retábulo-mor melhores a nível nacional”, conta Nu- movimento e dramatismo tão caros
Há uma certa austeridade que não “tirar lixo, limpar bichos, estabili- que concentra, inevitavelmente, a no Soares. E é raro ter chegado até ao barroco) que emolduram o sa-
esperávamos num templo barroco, zar”, nada foi acrescentado - sur- atenção no templo de apenas uma hoje quase intocado. “Em toda a es- crário, ele próprio com miniaturas
acentuada pelo granito que debrua preendemo-nos com as pinturas, nave encabeçada pela capela-mor trutura houve apenas uma modifica- das mesmas colunas, profusão de
interior e exterior, mas percebere- cores vivas: “Ninguém as tinha to- (uma torre sineira ergue-se adossa- ção, na zona do sacrário”, continua, anjos, folhas, cachos, num borda-
mos que é o melhor cenário para cado, são pintadas directamente da à fachada principal), exemplo da “o original tinha um Pentecostes tri- do intrincado - que se apazigua na
fazer resplandecer a talha doura- na madeira. Os artistas são locais, tradição arquitectónica maneirista dimensional”. Este pode ser visto na Última Ceia esculpida no frontal de
da, que reveste retábulos, altares são básicas, populares, mas muito (a transição entre o Renascimento sacristia (uma intensidade ingénua altar, ricamente pintada.
e púlpitos, e as pinturas - entre es- bonitas”, nota Nuno Soares. e o Barroco): imponência dourada nas figuras onde o Espírito Santo é Esta capela é também especial vis-
tes, alguns dos melhores exempla- Os púlpitos são de uma majestade em trabalho escultórico meândrico, representado como línguas de fogo), ta do exterior, para onde abre um
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Na página ao lado,
Igreja da Lapa; à esquerda
e em baixo, Igreja
da Misericórdia; à direita,
Igreja do Espírito Santo
Livros
DR
leitores, os segredos de alguns dos
pratos mais populares, das caldeira-
das dos pescadores (cada uma com
a sua particularidade), às sopas de
peixe, massadas, papas de milho,
guisados, passando pela canja de
conquilhas, o grão guisado com ba-
calhau ou os carapaus alimados.
Num dos capítulos aprendemos
sobre as artes da pesca, ouvindo,
entre muitos outros, Manuel Maria
Preto explicar que “a pesca tem o
seu preceito, aquilo vai da isca e de
saber iscar”. Se se enterra a isca toda
no anzol “ele não pesca, porque não
bandeia”. Além disso, é preciso saber
preparar um isco, como o do choco
congelado com anis, que é assim por-
que “o peixe gosta de doce”.
Há, como não podia deixar de
ser, um capítulo dedicado apenas
à pesca do atum e à importância
que este animal tem desde sem-
pre para o Algarve. Nele se fala das
campanhas e do que era a vida nu-
ma armação de atum. E, sempre
guiados por Maria Manuel e pelas
muitas pessoas com as quais ela se
cruza (são 36 testemunhos recolhi-
dos sobretudo junto a algarvios), va-
mos pelas lotas e pelos mercados
para perceber como se comercia-
liza hoje o peixe. “Aí, na fronteira
entre o mar e a terra, os mercados
fervilham de pessoas, de peixes e o
mar faz-se presente” e, escreve, é
através da observação dos merca-
dos que “percebemos melhor que o
Hotel da Fábrica
FOTOS: DR
i
Hotel da Fábrica
Quinta de Santa Clara
6260-162 Manteigas
Tel.: 275 982 420
E-mail: hoteldafabrica@hotmail.com
Preços: a partir de 85 euros
Paragem Serradalto cluir a visita às actuais instalações cial da marca que já conta com lojas
Rua 1.º de Maio da Ecolã, certificada como unidade próprias em Lisboa e no Porto. É a
6260-101 Manteigas produtiva artesanal. partir da unidade de Manteigas que
Tel.: 275 981 151 No seu interior, irá descobrir co- fazem a fiação, tecelagem e a produ-
mo se produzem as mantas, peças ção final (corte e costura) de cada
Ecolã de vestuário e acessórios da mar- peça de vestuário ou acessório que
Amieiros Verdes ca, num processo que começa lo- segue para vários pontos do país e
6260-028 Manteigas go na fase da tosquia. Acontece em também para além-fronteiras.
Tel.: 275 981 653 Abril ou Maio, e de cada ovelha sa~o Os artigos em burel vão estando
extrai?dos cerca de seis quilos de lã. cada vez mais na moda, mas mui-
“Depois, vai para lavar e perde em tos desconhecerão que este tecido,
média 50% do peso”, conta João Cla- 100% la~ de ovelha, “é usado des-
ra, proprietário da marca. É ele o de a Idade Média pelos pastores”,
rosto da terceira geração da unidade aponta João Clara. O que o torna
industrial criada em 1925 e a aposta, tão especial? Uma seque^ncia de
garante, continua a centrar-se num operac?o~es especi?ficas no pro-
processo produtivo tradicional. E cesso de fabrico. “A la~, apo?s ter
com uma base ecológica e susten- sido tosquiada, lavada, fiada, urdi-
tável. “O tear mais moderno que te- da no o?rga~o e tecida no tear, e?
bolo caseiro, fruta, iogurtes, café, gem linfática, passando pela biodi- Se o tempo não permitir gran- mos aqui é dos anos 60 [do século pisada numa ma?quina designada
chá, sem esquecer essas delícias da nâmica (cabeça), com preços a partir des passeios de carro ou a pé, tem passado]”, realça, apontando para por pisa~o, que bate e escalda a la~
Estrela: queijo da serra, requeijão e de 25 euros e até um máximo de 50 sempre a (boa) opção de aproveitar as máquinas dos anos 1930 ali insta- transformando o tecido em burel,
compotas caseiras. euros. Um conjunto de opções espe- o centro de Manteigas, vila que in- ladas (e ainda em funcionamento). tornando-o mais apertado, resisten-
À espera dos hóspedes está tam- cialmente recomendado a quem faz tegra a rede Aldeias de Montanha, Trabalham ali 22 pessoas, sendo te e impermea?vel”, desvenddam os
bém uma piscina interior aquecida, questão de aproveitar uma viagem e onde pode degustar alguns dos de realçar “o interesse que alguns responsáveis da marca.
sauna e um espaço de massagens. até à serra da Estrela para palmilhar melhores sabores da Estrela e tes- jovens estão a demonstrar por esta
A lista de tratamentos vai desde as os seus trilhos de natureza ou para temunhar o acolhimento das suas indústria”, destaca, por seu turno, A Fugas esteve alojada
massagens de relaxamento à drena- praticar desportos de neve. gentes. O roteiro deve também in- António Costa, da direcção comer- a convite do Hotel da Fábrica
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Porto Antigo
A felicidade
pode saber
a anho assado
no forno
no enquadramento único da
Crítica confluência dos rios que há uns
anos foi criado o Hotel Porto
Antigo. A piscina sobre as águas da
José Augusto Moreira baía, o ancoradouro para barcos
de recreio e o amplo terraço com
Num enquadramento laranjeiras e limoeiros que lhes
está adjacente são chamarizes mais
único e inesquecível,
que suficiente.
apetece pedir um pouco É neste enquadramento que
mais da culinária está o restaurante da unidade
e produtos da região hoteleira, paredes de vidro
e ampla sala em ambiente
a Pode-se recorrer ao barco, que romântico e informal. À sala Serpa
há um ancoradouro próprio, mas Pinto, como foi designada, acresce
o normal é serpentear encosta em tempo quente o convidativo
abaixo até ao nível das águas terraço. A decoração elegante
para se chegar a Porto Antigo, prima pela sobriedade, tudo
no concelho de Cinfães. É aí que em tons claros para absorver e
as águas revoltas do Bestança se potenciar a luminosidade e o
amansam no Douro, formando reflexo das águas que entram pelas
uma ampla e serena baía que vidraças.
se alonga depois em direcção Mesas cobertas com mantel em
à barragem de Carrapatelo. O algodão, serviço de louças e copos
rio Douro é por aqui (como em igualmente elegantes e sóbrios e
muitos outros trechos) um cenário adequados à função. Há um menu
de encantamento. Um enorme diário que procura reflectir a oferta
espelho a reflectir os humores do de mercado e de temporada e uma
universo, as cores da natureza, o carta fixa que às receitas regionais
céu, as nuvens e o brilho do sol. junta propostas mais fora da caixa.
Apetece ficar sem tempo! Massas e mariscos sobretudo,
Porto Antigo é, como o nome aquilo que muitas vezes se associa
indica, um ancestral aglomerado a inspiração mediterrânica. A regra
de casas, um lugar onde o tempo é que aos domingos seja proposto
ensinou as gentes e os animais um almoço buffet.
a conviver com o nível da água. O anho e o cabrito assados
E foi a partir de um centenário no forno são as especialidades
casarão de granito implantado regionais por excelência, mas
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Restaurante Porto Antigo
Hotel Porto Antigo
Rua do Cais, 675
4690-423 Porto Antigo,
Cinfães,
Tel.: 255 56150 / 913 021 734
www.hotelportoantigo.com/
www.facebook.com/
HotelPortoAntigo
Aberto todos os dias
Estacionamento
e ancoradouro próprios
também a lampreia à bordalesa origem, genuínos, e apurados de O anho excessivo, como era, parece mesmo assim com propostas
para a temporada que agora se sabor, incluindo as tripas, mesmo assado (foto à previdente que a presença do sensatas que procuram abarcar a
inicia, os bacalhaus ou a carne que prejudicadas por terem sido esquerda) condimento seja descrita na lista oferta por todas as regiões. Pelo
arouquesa constam da oferta servidas frias. é um dos ou prevenida pelo serviço. lugar, e porque estamos no coração
regular do restaurante. Da carta, sensações pratos A felicidade chegou mesmo da região da casta Avesso, mais
Como propostas do dia, a contraditórias com o “Linguini imperdíveis à mesa com o “Anho assado no duas ou três propostas a juntar à
“sugestão do chefe” limitava-se nero com mexilhões” (12,90€), que saem forno” (12,90€). Assadeira em dupla da carta parecem ajustadas e
por ocasião da visita da Fugas a um numa cativante apresentação e da cozinha barro composta com pedacinhos justificarem-se.
creme de legumes (2,50€); tábua confecção culinária exemplar, mas de Paula de costelas, barriga, lombo e coxa Com um serviço cordial e
regional (4,50€) como entrada; com o complemento dos bivalves a Espanhol do infante caprino com a gordura simpático e num enquadramento
esparguete à bolonhesa (8,90); expor em demasia o longo tempo ainda a regurgitar. Batatinhas único e inesquecível, também
paelha à Porto Antigo (12,90); e de congelação e a resistir de forma louras e impregnadas da gordura pelo anho assado no forno bem
anho assado no forno (12,90). elástica à mastigação. Uma pena, saborosa que se soltava das carnes, se recomenda a viagem até este
Preços para doses individuais e a já que a massa, cozida no ponto e o complemento do arroz de paraíso na margem esquerda do
duplicar por cada outro comensal. correcto, untuosa e com tomate forno seco e impregnado pela Douro. Mas sabe a pouco, quando
A par da “trilogia de sobremesas” seco, estava uma delícia. mesma gordura. A essência do se tem um cenário, condições e
(4,50€), também uma intrusa De muito bom trato culinário lugar absorvida em sabor e aromas envolvente tão inspiradores.
“francesinha à Porto Antigo” também os “Nacos de bacalhau únicos e inesquecíveis, num trato Quanto à cozinha, a chef Paula
(4,50€). com arroz caldoso” (12,50€), com culinário deveras exemplar. Espanhol mostra competência
Convidativa a “tábua regional” os cortes (três) do lombo alto fritos Valente também a “Trilogia de e um claro domínio das artes
(4,50€), com chouriça sanguínea, em polme, secos, crocantes e a sobremesas” (4,50€), com tarte de culinárias, mas é também evidente
rissol de carne, bolinho de deixarem-se decompor em lascas nata, torta de laranja e bavaroise o fosso de qualidade quando
bacalhau, alheira (tudo em húmidas e saborosas. Arroz com de ananás. Todas muito bem na mesa estão os produtos de
porções mínimas), e ainda fatia de molho de tomate compacto e executadas, mas mesmo assim origem local ou os que vêm de
presunto com cubos de melão e sabor intenso, com o acrescento com destaque para elegância e outras paragens. E esta é (ainda)
uma tigelinha de tripas com feijão. de pimento verde e condimento consistência da torta de laranja. mais uma razão a apontar para
Com excepção do bolinho (flácido de cominhos que acabavam por Tal como o menu, também a um assumir pleno da vocação de
e sensaborão), produtos de boa dominar sabor e aromas. Sendo carta de vinhos é contida, mas cozinha regional.
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Vinhos
MARTIN HENRIK
ao bolso de umas quantas famílias
Elogio do vinho e empresas, muitas com sede e
casa em Lisboa.
É o país que temos. O
mesmo país que paga colossais
imparidades da banca sem
resmungar muito. O caso da Caixa
Geral de Depósitos é de criar
úlceras no estômago, de tanta
revolta, porque muitos dos que
Pedro Garcias não pagaram os empréstimos,
obrigando os restantes
a Todo o governo que se preze (o portugueses a subvencioná-
actual, os anteriores e certamente los, continuam por aí a exibir
os futuros) elege a dinamização empresas e uma vida de luxo. A
do interior como um dos grandes um cidadão que deixe de pagar
desígnios nacionais. Não há um empréstimo de 30 ou 40 mil
campanha eleitoral que esqueça euros é-lhe logo penhorada a casa e
o assunto e não há mandato que todos os bens que tiver; a Berardos,
não comece com promessas Finos e outros que tais, aceitam-se
de grandes investimentos nas descontos exorbitantes nas dívidas.
regiões desfavorecidas. Incautos, O que é que esta crónica tem a
até mesmo os melhores e mais ver com vinho? Nada e tudo. Tudo
credíveis jornalistas acreditam que porque para podermos enfrentar
“agora é que vai ser”. e conviver com tanta miséria
Os anos vão passando e o país precisamos de uma boa dose de
continua a adornar para o litoral, anestesia - e o vinho é um dos
enquanto a “província” se vai não convence ninguém. Não mapa dos pagamentos feitos no melhores anestésicos que existem.
esvaziando e envelhecendo. Tenho somos nós que andamos sempre a ano passado pelo Instituto de E depois porque alguns dos
um primo transmontano que reage pedir mais convergência e coesão Financiamento da Agricultura empresários que nos obrigaram
bem a isto, questionando assim a à União Europeia? Quanto mais e Pescas. São números que a colocar dinheiro na CGD, no
corte: “Estorvamos? Vejam lá, se investirmos no litoral, mais gente dizem respeito a subsídios e ex-BES, no Banif e no BPN são
estivermos a mais pedimos a outro
país que fique connosco!”.
vamos atrair para lá. Ou seja,
esvaziamos ainda mais o interior
apoios ao investimento. Sabem
qual foi o segundo distrito que Alguns dos conhecidos produtores de vinho,
a quem continuamos a prestar
Recentemente, António Costa e o
seu ministro mais descaradamente
e aumentamos os problemas
das grandes cidades, obrigando,
mais dinheiro recebeu? Lisboa,
pois claro. Foram 136 milhões empresários vassalagem e a avaliar os seus
“extraordinários” vinhos.
propagandístico, Pedro Marques, depois, a mais investimentos para de euros. Só Beja recebeu um Como é possível que Joe Berardo
apresentaram na Assembleia da os resolver. Por outro lado, com pouco mais: 151,6 milhões. Em que nos tenha prejudicado tanto o banco
República o Programa Nacional menos gente no interior, torna- terceiro lugar surge Évora, com público e continue a ser dono da
de Investimentos para a próxima
década. No total, são cerca de
se fácil justificar o encerramento
de serviços públicos, e sem
118,5 milhões de euros. Em
contrapartida, com muitos mais
obrigaram Aliança e a desfrutar do Palácio
da Bacalhôa? Por que razão a CGD
20 mil milhões de euros que
o Estado se propõe gastar em
serviços públicos só mesmo os
mais teimosos quererão ficar no
agricultores, Viseu recebeu 57,8
milhões de euros, Vila Real 73
a colocar não toma possa desses activos? E
podia dizer o mesmo de Joaquim
infraestruturas até 2030. Mas já
foram ver no mapa os lugares
interior. É um ciclo vicioso que
nunca mais acabará.
milhões, Guarda 60 milhões,
Castelo Branco 50 milhões e
dinheiro Coimbra, da Dão Sul, que deixou
uma dívida enorme no BPN, ou de
onde vai ser investido todo esse
dinheiro? Tirando um ou outro
Confesso que, genericamente,
até simpatizo com a geringonça.
Bragança 93 milhões de euros.
O grosso do dinheiro recebido
na CGD, Manuel Fino, outro da lista negra
da CGD e que continua a brincar
projecto, a esmagadora maioria
dos investimentos concentra-se ao
Quando o actual Governo
criou a Unidade de Missão
por Lisboa diz respeito ao
chamado Pedido Único, que
no ex-BES, aos vinhos no Alentejo. Não
estará na hora de quem escreve
longo do litoral. Uma década que
deveria ser de convergência vai
para a Valorização do Interior
ainda acreditei que pudesse
engloba vários subsídios de
apoio à exploração e também
no Banif sobre vinhos ter um assomo de
dignidade e começar a olhar para
acentuar ainda mais a divergência
territorial do país. Como é que este
mudar alguma coisa. Mas já se
percebeu que o legado vai ser
ao pagamento de direitos
adquiridos. São apoios que e no BPN são esses produtores com o mesmo
espírito crítico de quem olha
programa não mereceu uma onda
de indignação no país? Como é
igualmente um desastre. Reduzir
as portagens numa ou noutra
beneficiam, sobretudo, as
explorações maiores, com conhecidos para um qualquer criminoso,
denunciando-os ou ignorando-os?
possível que os deputados eleitos
nos círculos do interior - pelo
estrada não passa de um placebo.
Para se perceber melhor a
impacto visível nas zonas de
latifúndio alentejano - daí que produtores Se continuarmos a ir às provas
da Bacalhôa e a escrever sobre os
menos estes - continuem calados?
A teoria de que os investimentos
imparável divergência territorial
do país e a forma como o
os milhões recebidos por Évora
e Beja, dois distritos do interior, de vinho seus vinhos, não estaremos a ser
cúmplices de Joe Berardo? Com o
devem privilegiar os lugares onde dinheiro público é aplicado, devam ser relativizados, uma vez dinheiro dos outros, quem é que
há mais gente e mais negócios já não há nada como olhar para o que o grosso do dinheiro só chega não faz bons vinhos?
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Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os
seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas - Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, Bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
96 Quando 92 94
Quinta dos Carvalhais
Único 2015
mostra o seu Mirabilis Grande Reserva
Branco 2017
Ex-aequo 2015
Quinta do Monte d’Oiro,
Sogrape, Avintes
Castas: Touriga Nacional
melhor, Quinta Nova de Nossa Senhora
do Carmo, Covas do Douro
Freixial de Cima
Graduação: 13,5% vol
(88%), Alfrocheiro (6%),
outras castas (6%) o Dão é único Graduação: 14% vol
Região: Douro
Região: Lisboa
Preço: 56€
Graduação: 14,5% vol Preço: 42€
Região: Dão a Na viragem do século XIX para O lançamento de um ex-
Preço: 80€ o século XX, a região do Dão não Nem sempre se sabe por onde aequo é por definição um
existia no mapa dos grandes vinhos começar com este branco. acontecimento. Por ser um vinho
de Portugal. Excepto para os espe- Talvez o melhor seja primeiro de escassa produção. Por ser o
cialistas como Cincinato da Costa, olhar o todo, esquecer as partes topo de gama do Monte d’Oiro
que no seu Portugal Vinícola consi- e constatar que em causa está da família Bento dos Santos. E
derava o Dão como “uma das regiões um vinho de irresistível prazer. por ser sempre um vinho de uma
privilegiadas em todo o país, pelas Pela atractividade do aroma, classe inconfundível. Resultado
condições especiais do seu clima e com fruta generosa, notas de de um lote de Syrah com 25%
dos seus terrenos” que dão origem ervas secas e um preciso toque de Touriga Nacional, este tinto
a vinhos “em tudo semelhantes aos resinoso da madeira a dar impressiona pela precisão,
bons vinhos de Borgonha”. Eram vi- complexidade. Pelas sensações pelo apuramento do seu perfil
nhos, escreveu Cincinato, “capitosos que deixa na boca, onde o seu clássico e pela extraordinária
e aromáticos, de longa vida e segura volume, a sua fruta, acidez vocação gastronómica. O seu
Proposta conservação”, que “se podem pôr a e mineralidade deixam um tanino polido, a especiaria
da semana par das melhores lavras da Cote d’Or, rasto de grande intensidade e no final de prova torna-o já
tão preciosas, tão completas são as frescura. Proveniente de vinhas muito atraente, mas este é um
suas qualidades.” Vale a pena pro- velhas dos planaltos durienses, daqueles vinhos que precisa de
var o Único de Carvalhais e perceber o Mirabilis é uma experiência mais alguns anos para mostrar o
como estas palavras estão actuais. irrecusável. M.C. que é: um belíssimo vinho. M.C.
Quando o Dão mostra o seu me-
lhor, é praticamente inigualável.
Porque se complexidade aromáti-
ca, tanino de qualidade, volume de
boca ou complexidade são atributos
que se encontram em muitas regi- 92 93
ões nacionais, nenhuma como o Dão
consegue exibir elegância em estado
puro. É isso que este Único mani- Cartuxa Branco Paulo Laureano
festa. A originalidade aromática da de Curtimenta 2016 Alfrocheiro 2015
Touriga do Dão destaca-se pela sua Fundação Eugénio de Almeida Paulo Laureano Vinus
harmonia. A polidez do tanino e o Évora Vidigueira
seu volume de boca proporcionam Castas: Arinto, Roupeiro, Castas: Alfrocheiro
uma prova intensa e longa. A fruta Fernão Pires, Trincadeira Graduação: 14,5%
vermelha, as notas florais, as espe- das Pratas e Malvasia Rei Região: Alentejo
ciarias e um ligeiro toque de menta Graduação: 13,5% vol Preço: 18,50€
obrigam-nos a mastigar o vinho pa- Região: Alentejo
ra melhor o saborear. Todas estas Preço: 39€
componentes se conjugam, se equi-
libram e complementam. Sendo sem
dúvida um grande vinho criado por Lote de campo de uma vinha A casta Alfrocheiro tem o
Beatriz Cabral de Almeida, o Único velha com castas como seu solar no Dão, mas é uma
é também um vinho com a alma, o Arinto, Roupeiro, Fernão Pires, variedade que encaixa bem
carácter e a originalidade do Dão. Trincadeira das Pratas e Malvasia no Alentejo, onde tem vinho
Depois de 2005 e 2009, o Único Rei. Depois de esmagadas a ganhar importância. Precisa
regressa com a colheita de 2015 (5746 levemente, as uvas fermentaram de calor e de bastante trabalho
garrafas). Toda a enologia, desde a se- com curtimenta completa (com na vinha para amadurecer
lecção das uvas ao trabalho do lagar películas e graínhas) em inox sem problemas, mas origina
ou à escolha e evolução em madeira durante 29 dias. É um branco com vinhos admiráveis, cheios de
se focaram na produção de um topo notas de frutos secos e um pouco fruta suculenta, garra tânica
de gama. Não foi em vão — o resulta- de mel. Maduro, tem uma textura e frescura ácida. É o caso
do é magnífico. O Único é um tinto untuosa e alguma rugosidade deste Paulo Laureano, um tinto
que não deixa ninguém indiferen- tânica, que lhe dá austeridade, potente e pungente, que deixa
te. Tão bom que dá um enorme pra- graça e até amplitude, marca na boca e na memória.
zer até sem comida. Mais uma mão compensando a acidez baixa. Muito bom. P.G.
cheia de anos na garrafa e este tinto Pede comidas mais gordas
ficará ainda mais aprimorado. M.C. e salgadas. Um belo branco. P.G.
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é um palco
tanto um bar quanto uma casa de Nascidas na vila de Pataias, cres- proporem eventos tão diversificados
artistas e uma galeria de arte. Eis o ceram entre a Marinha Grande e a quanto o público que atraem. Todos
Zénite Bar Galeria, que quer ser um Nazaré, e a ligação de ambas às artes os meses mudam a exposição da ga-
espaço de partilha, tanto artística, aconteceu muito por culpa do avô, leria e a semana passa-se com algu-
d1b54813-c458-4ef9-b12b-d84dc1d069ef