Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Faculdade de Letras
2002
3
Necrópoles Romanas do Território Português
Í ndice
0. Introdução 5
4. O mobiliário funerário 75
5. Considerações finais 89
7. Bibliografia 175
0. Introdução
Partimos para este trabalho com a consciência do esforço que nos esperava. Talvez a área
estudada peque pelo exagero da sua dimensão. Este factor foi ponderado dado o esforço ingente
que pressupunha. No entanto, decidimos que merecia o melhor do nosso esforço. Apesar das
limitações que apresenta, pensamos que conseguimos atingir os objectivos principais. Não temos
a pretensão de apresentar um trabalho definitivo sobre o tema. A falta de dados em muitas
regiões do território português torna-o provisório e a própria interligação deste tema com toda
arqueologia romana do território português impede a realização de estudos definitivos. O subsolo
e as problemáticas levantadas encarregam-se de tornar o tema interessante e aberto a novas
reflexões.
Este trabalho tem como objectivo o estudo dos vestígios funerários romanos descobertos no
actual território português. A área adoptada prende-se com a facilidade de trabalhar com a
bibliografia em língua portuguesa. Procurava-se estudar a realidade dos fenómenos funerários
romanos nesta área do Império Romano.
O trabalho não aborda vestígios funerários originais, isto é, informações que nunca foram
objecto de publicação. Existem algumas excepções a esta situação mas o seu número reduzido
não altera de forma substancial o conhecimento que temos sobre este assunto. Com este trabalho
procura-se efectuar uma análise crítica dos vestígios encontrados em Portugal até ao momento
presente e que mereceram alguma forma de publicação. Com esse objectivo, compulsamos toda
a bibliografia existente sobre o assunto.
Procuramos essencialmente retirar todas as informações relacionadas com as práticas
funerárias, nomeadamente, as estruturas dos enterramentos, a presença / ausência de mobiliário
funerário e as cronologias das necrópoles ou das sepulturas.
Em virtude da adopção desta perspectiva não são analisadas as epígrafes funerárias. Estes
vestígios arqueológicos constituem um manancial de informações que precisa de uma abordagem
diferenciada, que pensamos não caber neste trabalho. Apenas utilizamos estas fontes quando foi
necessário datar alguns enterramentos, directamente relacionados com estelas ou cipos
funerários.
Abrimos outra excepção para estudar as tampas de sepultura que adoptam a forma de uma
cupa. Embora este tipo de sepultura tenha uma leitura social, o nosso ponto de partida foi a
análise da estrutura arqueológica. É evidente que é efectuada uma leitura sociológica deste tipo
de enterramento mas não são exploradas as informações existentes nas epígrafes.
6
Necrópoles Romanas do Território Português
Noutro capítulo desta dissertação é efectuada uma tentativa de sistematização dos tipos de
sepulturas descobertas em território português. Esta tentativa foi guiada pela diferenciação da
prática funerária, pelo tipo de depósito efectuado e pela própria estrutura do enterramento.
Sem desenvolver elementos que merecem abordagem própria no capítulo respectivo, refira-
se que os enterramentos foram divididos consoante o tratamento dado ao corpo do defunto. A
primeira grande diferença radica na incineração do cadáver ou na sua inumação. Ao nível da
incineração, procurou-se estabelecer as diferenças existentes entre a deposição primária e a
deposição secundária das cinzas. Cada sepultura é integrada numa categoria ou subcategoria
relacionada com a forma que a sepultura adquire e o material utilizado na sua construção. A
ausência de material de revestimento também é um critério de distinção válido.
Também fizemos questão de abordar os enterramentos que tem estrutura arquitectónica.
Doutra forma não se poderia completar uma tentativa de sistematização desta ordem. No entanto,
deve-se realçar a falta de informação existente sobre este tipo de vestígios arqueológicos. A sua
raridade em território português é agravada pela falta de trabalhos sobre o assunto.
O mobiliário funerário é abordado na sua relação com a prática funerária. Não se faz uma
abordagem centrada neste material (cerâmica, vidros, moedas, lucernas e outros objectos). Só
nos interessam enquanto elementos que nos podem revelar outras dimensões da própria prática
7
Necrópoles Romanas do Território Português
funerária, tanto ao nível da intencionalidade existente na sua presença / ausência como elemento
fundamental para determinar a cronologia dos enterramentos.
A abordagem de todos os aspectos referidos tem sempre em atenção a sua distribuição pelo
território português e a própria inserção cronológica. Todos estes elementos integram esta
abordagem que procura discernir as mudanças ao longo de cinco séculos de história.
Por fim, gostávamos de abordar a questão das práticas e dos rituais funerários e dos conceitos
que estão subjacentes. Neste trabalho abordam-se essencialmente elementos que fazem parte de
um ritual, do qual apenas conhecemos a prática funerária.
Os ritos funerários são uma associação de uma prática funerária e de uma crença 1. O gesto
funerário pode ser reconstituído porque deixa vestígios materiais que são recuperados através da
escavação das sepulturas e de outros vestígios funerários. A crença, que se manifestaria sob a
forma de um discurso, oração ou um conjunto de manifestações que acompanhavam a prática
funerária, não deixou qualquer traço.
É com base nesta definição que E. Crubézy2 diz que os arqueólogos apenas falam de práticas
funerárias. A natureza dos vestígios arqueológicos apenas lhes permite detectar e reconstituir a
actividade desenrolada sobre os mortos e em volta deles. Apenas o gesto funerário que leva à
criação de um vestígio pode ser recuperado pelo arqueólogo.
Por vezes, no texto aparece o conceito de ritual funerário. Não pretendemos lançar
elementos de confusão na distinção atrás efectuada. A sua utilização está relacionada com a
própria utilização deste termo na linguagem própria da arqueologia. Nesta ciência é comum
aparecer este conceito aplicado apenas à forma de tratamento do cadáver. É apenas nesse sentido
que o utilizamos.
Tal como já foi acima referido, a arqueologia descobre vestígios materiais dos rituais. A
escavação arqueológica permite a descoberta de determinados momentos do ritual, cujo
significado, por vezes, não se consegue atingir. O arqueólogo tem acesso à materialização desses
momentos precisos dos rituais. Estes estão relacionados essencialmente com a sepultura e tudo o
que se encontra no seu interior. Portanto, será mais correcto falar em práticas funerárias dado que
só diferenciamos esta vertente do ritual que se materializa na sepultura.
1
Conferir as noções de rito funerário e prática funerária que apareceram no volume colectivo sobre arqueologia
funerária (Crubézy et al. 2000).
8
Necrópoles Romanas do Território Português
utilizá-los. Quando não são conhecidos foram, obviamente, usados os topónimos modernos dos
locais. Os próprios termos usados procuram seguir a convenção habitual dentro da arqueologia
da época romana. Os materiais romanos de construção e cobertura são referidos pela sua
designação. Apenas em algumas descrições são usados os termos portugueses porque é dessa
forma que são designados nas publicações consultadas.
Não quero terminar este pequeno capítulo introdutório sem deixar aqui uma nota do meu
reconhecimento e agradecimento pela orientação prestada pelo Professor Doutor Carlos Alberto
Brochado de Almeida, que esteve sempre disponível para tirar todas as dúvidas que foram
surgindo e prestou todo o apoio necessário durante a elaboração desta dissertação.
Penso também não ser desajustado deixar aqui bem expresso o meu reconhecimento em
relação ao António Silva, Manuela Ribeiro, Sandra Barbosa, Teresa Ribeiro e Fabiana Gomes
pelo apoio, incentivo e confiança manifestados ao longo dos últimos três anos.
2
Cf. Crubézy 2000, 14-15.
9
Necrópoles Romanas do Território Português
Iniciamos este trabalho realizando uma breve análise das obras e artigos publicados em
Portugal sobre esta problemática. Não se pretende efectuar uma abordagem aprofundada sobre as
obras e artigos que se debruçam sobre os vestígios funerários romanos e as próprias teorias
arqueológicas que os enformam. Tema interessante que não será, no entanto, desenvolvido nesta
dissertação. A nossa análise prende-se essencialmente com a qualidade dos dados recolhidos por
sucessivas gerações de investigadores que são, em muitos casos, as únicas informações que
possuímos sobre os vestígios funerários de algumas regiões do nosso país.
Esta nossa breve análise inicia-se pelos trabalhos publicados na segunda metade do século
XIX. Neste período começam a aparecer, com uma certa abundância, artigos que noticiam o
aparecimento de sepulturas isoladas ou de conjuntos funerários mais ou menos extensos. Estes
artigos são geralmente curtos, cingindo-se a uma descrição sumária dos vestígios. Fazem
referência à forma da sepultura, ao material utilizado na sua construção e ao material funerário
dela retirado. Muitos destes artigos são publicados n‟ O Arqueólogo Português, Portugália,
Revista de Guimarães e outros periódicos que abordavam questões relacionadas com a
arqueologia. São trabalhos de qualidade diversificada com abordagens que partem da simples
constatação de vestígios de sepulturas romanas até à sua descrição. Revelam-se importantes por
assinalarem a descoberta, na maior parte das vezes casual, de enterramentos da época romana
que entretanto foram destruídos.
Na viragem daquele século apareceram também alguns artigos que procuram fazer
inventários de colecções de vestígios arqueológicos existentes em museus nacionais e
municipais. Através destes inventários ficamos a saber, por vezes, o local onde apareceram
algumas sepulturas da época romana.
Merece uma menção o esforço empreendido para recuperar a memória nacional que levou P.
Azevedo3 a analisar as Memórias Paroquiais de 1758, com o intuito de recuperar informações
sobre vestígios arqueológicos. Estes artigos foram publicados n‟ O Arqueólogo Português.
A par destes artigos, que não levantam problemáticas sobre o fenómeno funerário romano,
aparecem alguns trabalhos que dão uma visão de conjunto destes vestígios. Encontram-se nesta
situação As Religiões da Lusitânia de Leite de Vasconcellos, alguns artigos de Estácio da Veiga,
Santos Rocha, R. Severo, J. Fortes e F. Alves Pereira.
Os trabalhos de Estácio da Veiga são importantes devido às descrições que apresenta das
necrópoles e sepulturas romanas encontradas nas regiões do país que estudou. Falamos,
3
Azevedo 1896, 1897a, 1897b, 1898, 1907 e 1911.
10
Necrópoles Romanas do Território Português
4
Veiga 1891.
5
Veiga 1879.
6
Veiga 1880.
7
Rocha 1895.
8
Rocha 1896.
9
Severo 1908a; 1908b; 1908c.
10
Fortes 1908d.
11
Severo 1908c.
11
Necrópoles Romanas do Território Português
- O espólio
A) Objectos de barro comum
B) Objectos de metal
III – Considerações gerais
Nota-se, por este esquema de trabalho, uma preocupação em apresentar de uma forma
sistemática os vestígios, destacando a estruturação das sepulturas, a descrição do espólio e, por
fim, o estabelecimento de uma cronologia fundada nos objectos retirados da estação
arqueológica. Estes autores, no entanto, não apresentam uma leitura estratigráfica dos vestígios.
Leite de Vasconcellos, figura incontornável da arqueologia portuguesa da época, apresenta
inúmeros artigos onde dá conta da descoberta de vestígios funerários, um pouco por todo o país.
Mais tarde, no terceiro volume das Religiões da Lusitânia12, faz uma tentativa de sistematização
das práticas funerárias romanas. A sua síntese segue uma diferenciação baseada no rito.
Apresenta uma tipologia das sepulturas, debruçando-se sobre as formas mais comuns que
aquelas adquirem. Destaca também os monumentos funerários com estrutura arquitectónica. Não
faz uma descrição exaustiva, demonstrando essencialmente interesse em integrar os vestígios no
respectivo ritual funerário.
Por fim, uma referência especial a Félix Alves Pereira que dedicou alguns dos seus artigos
aos vestígios funerários romanos. Destaco o artigo publicado nos volumes de 1904 e 1905 d‟ O
Arqueólogo Português sobre os vestígios romanos de Viana do Alentejo13. Neste artigo, o autor
procurou descrever as estruturas funerários encontradas e o seu espólio mas também
problematizou a identificação das sepulturas da época romana. Apercebendo-se da confusão que
existia na identificação das sepulturas tardo-romanas e alto-medievais, nomedamente daquelas
que não apresentam mobiliário funerário, propôs então uma cronologia alto-medieval para as
sepulturas trapezoidais14.
Nas décadas seguintes não se verificou uma alteração significativa deste panorama. Continua
a publicar-se um número razoável de artigos sobre o aparecimento de sepulturas e necrópoles da
época romana. A metodologia continua a ser a mesma: descrição dos vestígios de uma forma
genérica, destacando-se os objectos encontrados no interior das sepulturas.
Por volta de meados do século XX destacam-se os artigos publicados por Abel Viana e seus
colaboradores, que incidem principalmente sobre as necrópoles do Alto Alentejo. O seu labor de
arqueólogo incidiu sobre este tipo de vestígios arqueológicos, procurando, por vezes, ensaiar
uma sistematização dos vestígios das necrópoles da região de Elvas.
12
Vasconcellos 1913, 369-393.
13
Pereira 1904 e 1905. Embora publicado em dois números distintos, constituem o mesmo artigo.
12
Necrópoles Romanas do Território Português
Apesar da riqueza das necrópoles estudadas, não existe uma diferença qualitativa
relativamente ao período anterior. Continuam a faltar estudos baseados em dados estratigráficos,
a maior parte das informações são descontextualizadas e o principal critério para apresentação
dos vestígios adoptado continuam a ser as peças excepcionais do mobiliário funerário.
14
Pereira 1905, 17-19.
15
Ferreira-Andrade 1966; Alarcão-Alarcão 1966a.
16
Alarcão 1974b.
17
Almeida, C. A. F. 1974; Soeiro 1984,
18
Viegas et al. 1981.
19
Fernandes 1985a.
20
Frade-Caetano 1985, 1991.
21
Almeida-Abreu 1987.
22
Martins-Delgado 1989-1990.
23
Lopes-Boiça 1993.
24
Dias 1993-1994.
25
Lobato 1995.
26
Pinto 1996 e 1998. Esta necrópole foi originalmente publicada numa dissertação de mestrado apresentada por G.
Pinto, em 1996. A publicação dos dados saiu na revista Cadernos do Museu, em 1998.
27
Portela 1998.
13
Necrópoles Romanas do Território Português
espólio arqueológico encontrado em cada uma delas. Este espólio é estudado e classificado,
tornando-se um elemento de datação de cada uma das sepulturas28.
Em todos estes estudos, procura-se apresentar uma leitura cronológica dos dados,
devidamente alicerçada no mobiliário funerário encontrado. A discussão científica sobre os
rituais funerários e a sua cronologia baseia-se em dados concretos retirados das escavações
arqueológicas. Procura-se abandonar um debate fundamentado apenas em generalidades e
direccioná-lo para as realidades detectadas em escavações criteriosas e exaustivas.
Muito fica por referir sobre estes aspectos. Gostaríamos apenas de referir a existência de
muitas dissertações, artigos e inventários que são de grande importância. A consulta desta
bibliografia foi fundamental para a realização deste trabalho. Não a citámos para não tornar este
trabalho fastidioso, rementendo o leitor para a bibliografia apresentada no final desta dissertação.
28
Muitas vezes o mobiliário funerário não permite a datação de cada sepultura, no entanto, os investigadores
procuram sempre datar cada sepultura. Apresentam desta forma datações bastante aproximadas da realização do
enterramento.
14
Necrópoles Romanas do Território Português
15
Necrópoles Romanas do Território Português
29
Alarcão 1988a, 76-77.
30
Alarcão 1988a; 1990b, 359-382.
16
Necrópoles Romanas do Território Português
Na nossa análise, abordaremos os vestígios dos diferentes espaços urbanos de norte para
sul.
31
Le Roux 1975, 155; Tranoy 1981, 328.
32
Martins 1991-1992, 177.
33
Alarcão 1988.
34
M. Martins e M. Delgado (1989-1990) publicaram um trabalho indispensável sobre os dados obtido nas
escavações mais recentes das necrópoles de Braga. Fizeram uma sistematização das tipologias das sepulturas, a
cronologia dos enterramentos e integraram informações resultantes de descobertas ocaisonais.
35
Martins – Delgado 1989-1990, 84.
36
Martins – Delgado 1989-1990, 155 e 158.
17
Necrópoles Romanas do Território Português
ocupação poderá ter unido os dois espaços. Estas suposições precisam, no entanto, de novos
dados que permitam a sua confirmação37.
A análise do material votivo que acompanhava as sepulturas permitiu verificar a possível
existência de uma diferenciação social dos espaços funerários. Para M. Martins e M. Delgado as
necrópoles de Maximinos e do Campo da Vinha seriam locais de sepultura dos habitantes mais
pobres38. Os mais ricos seriam sepultados na necrópole da Via XVII, onde se encontram as
sepulturas mais cuidadas39. No entanto, é preciso ser cauteloso no estabelecimento de uma
diferenciação social dos espaços funerários devido ao carácter fragmentário dos vestígios
funerários, factor que limita este tipo de leituras. Quanto ao espólio, é rico nos primeiros séculos
da nossa era mas vai desaparecendo no Baixo Império.
Nesta mesma necrópole foram escavadas dezenas de sepulturas bem estruturadas com
tijolos e tegulae mas sem qualquer material votivo. A localização deste núcleo, longe das
sepulturas mais antigas, indica que o espaço foi sendo ocupado ao longo da Via XVII, cada vez
mais longe dos limites da cidade. Os vestígios mais antigos estão junto dos limites orientais da
cidade. Estes são constituídos por incinerações. As sepulturas de inumação aparecem em áreas
cada vez mais longínqua desses limites. No Largo de Senhora – a – Branca apareceram, no início
do século XX, sepulturas de inumação estruturadas com lajes de mármore40. Este núcleo
funerário, já distante, do limite da área urbana podia ser utilizado no período tardo – romano.
Devemos, no entanto, realçar a dificuldade em situar cronologicamente este tipo de vestígios que
podem ser situados num período de transição entre o mundo antigo e o mundo medieval.
Embora não existam dados que permitam confirmar este aspecto, parece-nos que as
sepulturas mais antigas ocupam o espaço mais perto da cidade e a ocupação dos espaços de
maior visibilidade provoca um desenvolvimento da necrópole para junto dos terrenos mais
distantes da cidade, mas próximos da via. No Baixo Império, aquele espaço poderia estar repleto
de sepulturas.
Uma outra necrópole estava situada junto da via que liga Bracara Augusta a Emerita
Augusta, junto do limite sul da cidade. Nesta necrópole também apareceram vestígios de
sepulturas de incineração e inumação com uma cronologia que se estende desde o início da nossa
era até ao século III d.C.41.
37
Martins – Delgado 1989-1990, 158.
38
Martins – Delgado 1989-1990, 87.
39
Martins – Delgado 1989-1990, 146.
40
Vasconcellos 1918c, 360.
41
Martins – Delgado 1989-1990, 155.
18
Necrópoles Romanas do Território Português
Podemos ver esta cidade romana como um paradigma na distribuição dos espaços
funerários. Estes vão aparecendo, logo no início da fundação da cidade, junto de todas as
principais saídas, separadas do mundo dos vivos, mas em locais de boa visibilidade.
2.1.1.2. Tongobriga
As escavações sistemáticas de Tongobriga, localizada no Freixo (Marco de Canaveses),
iniciaram-se em 1980 e permitiram a descoberta de diversas zonas da cidade. Entre os quais se
destaca a zona do fórum e as termas. A área urbana devia exceder os 3 ha42.
Em Tongobriga, a necrópole conhecida está situada junto à via romana que sai em
direcção a Sul43. Não é possível estabelecer a relação com os limites da área urbana devido ao
insuficiente conhecimento da área da cidade, cuja investigação, apesar de contar já muitos anos,
ainda está longe de revelar o traçado aproximado da área urbana. No entanto, não parecem restar
dúvidas que estamos perante o suburbium da cidade.
Os primeiros vestígios sepulcrais surgiram no final do século XIX. Naquela altura
apareceram sepulturas de forma circular, abertas no solo, e uma sepultura revestida com
tegulae44. Estas sepulturas continham vasos cerâmicos com restos de ossos. Mais tarde, em 1927,
apareceu outra sepultura estruturada com tegulae.
Recentemente, em escavações dirigidas por Lino Dias45, foram encontradas sepulturas de
incineração abertas no afloramento granítico. Algumas aproveitavam o espaço existente no
granito para as cinzas e colocar as oferendas funerárias, outras eram fossas abertas no solo sem
qualquer elemento estruturador. Este espaço tinha sepulturas tardias. Estes dados revelam poucas
informações sobre os espaços funerários desta cidade, cuja maior parte terá sido destruída ou
ainda se encontra por escavar.
42
Alarcão 1988b, 28.
43
Dias 1995, 190-211.
44
Vasconcellos 1900, 32.
45
Dias 1995, 190-211.
46
Alarcão 1988b, 6.
19
Necrópoles Romanas do Território Português
Chaves, Paulo Amaral47 propôs o Alta da Petisqueira como lugar onde estaria sediada a
necrópole romana da cidade48. Esta proposta baseou-se no aparecimento de epígrafes funerárias
no referido lugar49. Pensamos que é um indicador que pode induzir em erro devido ao constante
reaproveitamento das estelas funerárias nas construções de períodos posteriores. No entanto,
devemos realçar a sua utilização como critério de definição da localização das necrópoles.
Numa dissertação de mestrado sobre este mesmo espaço, Ricardo Teixeira apresenta
também uma hipótese sobre a localização de duas necrópoles50. Segue a hipótese de Paulo
Amaral quanto à localização de uma necrópole no Alto da Petisqueira, junto a uma via que
ligava esta cidade a Bracara Augusta. Mais uma vez é o aparecimento de lápides funerárias que o
leva a tirar esta conclusão51. A outra ficaria na outra margem do rio Tâmega na bifurcação de
duas vias romanas. Todas estas hipóteses baseavam-se em vestígios circunstanciais. Nunca tinha
aparecido uma sepultura da época romana na área urbana de Chaves.
Recentemente, apareceram os primeiros vestígios sepulcrais em duas áreas da actual
cidade de Chaves52: Jardim do Tabulado e Largo General Silveira. Portanto, pelos menos duas
necrópoles ficariam situadas nestes locais. Eventualmente poderiam existir outras áreas
funerárias mas só o prosseguimento de investigações na cidade de Chaves poderá confirmar este
facto.
47
A dissertação intitulada «O povoamento romano no vale superior do Tâmega» foi defendida na Faculdade de
Letras do Porto em 1993.
48
Amaral 1993, 20
49
Nesta obra de P. Amaral aparece com o n.º 35 do catálogo A.
50
Teixeira 1995.
51
Teixeira 1995, 126-127.
52
Agradecemos estas informações ao Sr. Dr. Sérgio Carneiro, arqueólogo da Câmara de Chaves que gentilmente
nos referiu a localização destes dados ainda por publicar.
53
Soeiro 1998, 15 e 17.
54
Nestes dados seguimos a obra de Teresa Soeiro que descreve os principais vestígios funerários encontrados junto
do povoado de Monte Mozinho (1982, 293-299).
20
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.5. Viseu
Relativamente a esta civitas não conhecemos a topografia da cidade nem existe um
conhecimento aproximado da sua implantação. Jorge Alarcão propôs uma planta para a cidade
tendo em conta os poucos vestígios que existem sobre o urbanismo da mesma60. Além de traçar a
implantação da muralha romana, apresenta a localização de três necrópoles desta cidade (Fig. 4).
55
Soeiro 1984, 293-294.
56
Soeiro 1984, 297-298.
57
Soeiro 1984, 298.
58
Almeida C.A.F. 1974, 36.
59
Almeida C.A.F. 1974, 36
60
Alarcão 1992.
21
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.6. Aeminium
A civitas romana ocuparia a zona velha de Coimbra, na qual existem diversos vestígios
romanos. O mais importante será um criptopórtico construído com o objectivo de criar uma
plataforma onde assentaria parte do forum.
Jorge Alarcão65 refere que a necrópole devia estar situada junto de uma das vias de
saída da cidade, actualmente na encosta de São Bento e do Jardim Botânico. Não aparecem
enterramentos nesta área. Este investigador propõe esta localização devido ao aparecimento de
epígrafes funerárias no pano da muralha virado para esta vertente. Já dissemos que a localização
das estelas funerárias em construções de épocas posteriores poderá falsear a localização espacial
dos espaços funerários. No entanto, para esta cidade não temos mais vestígios funerários e é o
único indicador da localização da necrópole romana.
61
Alves 1975, 440.
62
Jorge Alarcão (1992, 85) lança duas hipóteses: a necrópole instalou-se sobre um edifício abandonado ou os
elementos de construção foram retirados do espaço interior da muralha para a construção de algum templo cristão
naquela área.
63
Cruz 1986, 149.
64
Alarcão 1992, 84.
22
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.7. Conimbriga
Desde o século passado que têm aparecido vestígios de enterramentos no suburbium
desta cidade romana. Os primeiros vestígios de enterramentos apareceram em 1906, em local
situado cerca de 500 metros a este da muralha de Conimbriga66. Apenas apareceram vestígios de
cinco túmulos: quatro revestidos e cobertos com lajes de calcário; o outro era um sepulcro feito
com uma pedra de calcário67. Os quatro primeiros enterramentos continham ossadas humanas e
um deles continha um recipiente de vidro. Estes vestígios permitem o estabelecimento de uma
cronologia romana para o enterramento mas não existem dados que nos dêem uma melhor
precisão cronológica destes vestígios funerários.
Mais tarde foram encontrados enterramentos em local abandonado após a construção da
nova muralha no período tardo-romano. A necrópole ocupa duas casas abandonadas. Uma
sepultura encontrada neste local contém moedas do final do século IV e princípio do século V 68.
A retracção do espaço urbano terá levado a uma mudança do próprio espaço dos mortos.
Em obra recente, Jorge Alarcão diz-nos que a necrópole estaria situada na estrada
Aeminium mas não apresenta dados arqueológicos que nos permitam verificar tal conclusão69.
Estes vestígios estariam situados nas duas vias privilegiadas de acesso ao espaço urbano romana:
a via para Aeminium e na via para Sellium.
Apesar destas pequenas notas sobre Conimbriga, importa realçar a falta de dados que nos
permitam conhecer os espaços dos mortos, certamente muito mais extensos do que estes ínfimos
vestígios permitem supor.
2.1.1.8. Idanha-a-Velha
Idanha-a-Velha foi sede de civitas em época romana. Não se conhece o nome latino
desta cidade mas poderá ser Igaeditania70. Em todo o caso, o território administrado a partir
desta cidade era conhecido por Civitas Igaeditanorum. Está rodeada por uma muralha de
cronologia duvidosa. Jorge Alarcão71 avança como hipótese a construção no Baixo Império e
posterior remodelação em época medieval.
65
Alarcão 1988b, 95.
66
Alarcão et al. 1979, 239.
67
Nesta descrição utilizamos os dados relativos a este assunto fornecidos pelo artigo de A. Gonçalves, publicado em
1908.
68
Alarcão et al. 1979, 241.
69
Alarcão s/d, 96.
70
Alarcão 1988b, 74.
71
Alarcão 1988b, 74.
23
Necrópoles Romanas do Território Português
As necrópoles estão situadas no exterior deste espaço amuralhado. Uma das necrópoles
está situada no espaço exterior à muralha, junto da via que segue para norte. J. Baptista, em
recente obra de carta arqueológica, assinala três locais72, próximos uns dos outros, com vestígios
sepulcrais. Estes deviam espalhar-se pelo espaço a norte da muralha, em ambos os lados da via
que ligava esta cidade a Bracara Augusta, conclusão possível devido à detecção de vestígios no
lugar da Tapada da Eira.
Na década de cinquenta este espaço foi objecto de intervenção por Fernando de
Almeida (1958)73 e em 1988 foi sujeita a nova intervenção, desta vez de emergência74. Na
primeira intervenção apareceram 35 sepulturas com diversas tipologias e estruturadas com
tegulae, tijolos e pedras. Nenhuma delas apresentava mobiliário funerário, facto que levou os
autores da intervenção a colocar a hipótese de se tratar de uma necrópole visigótica75. A
intervenção de 1988 vem desfazer as dúvidas sobre a utilização em época romana deste espaço
sepulcral. Se algumas dúvidas permanecem sobre os enterramentos postos a descoberto por
Fernando de Almeida, o mesmo não acontece sobre as novas descobertas que indicam a
utilização deste espaço no primeiro século da nossa era.
Na sequência desta intervenção apareceram duas sepulturas de incineração, abertas no
solo. Estas sepulturas continham cerâmica comum e várias peças de sigillata hispânica que
Côrte – Real, responsável pela escavação, atribui aos finais do século I e inícios do II d.C.76
No Chão da Escola apareceu, em 195577, uma sepultura coberta com uma laje de granito
que cobria uma sepultura estruturada com tijolos. Junto da sepultura estava uma estela funerária.
Outros vestígios de sepulturas apareceram nas obras de abertura de fundações da escola primária.
A sul do espaço amuralhado, na Rua do Cabeço, apareceram, em Setembro de 1955,
três sepulturas78. Nas sepulturas apareceram pregos em ferro, um jarro de barro vermelho e um
prato da época de Augusto.
Portanto, de acordo com os vestígios encontrados, podemos propor a existência de duas
necrópoles (Fig. 5). A mais extensa situada a norte do recinto amuralhado e ocupando todo o
espaço confinante com o mesmo, nos dois lados da via que ligava Emerita Augusta a Bracara
72
J. Baptista (1998) assinala vestígios funerários em Chão do Espírito Santo II, Chãozinho do Espírito Santo e Chão
dos Lamegueiros. As estações de Tapada da Eira e do Chão da Escola poderão pertencer a este vasto espaço
sepulcral.
73
Os resultados desta intervenção foram publicados por F. Almeida e O. V. Ferreira (1958).
74
Côrte-Real 1996.
75
Almeida – Ferreira 1958, 222.
76
Côrte-Real 1996, 28.
77
Baptista 1998, 41-42.
78
Almeida – Ferreira 1957.
24
Necrópoles Romanas do Território Português
Augusta. A outra necrópole estaria situada a sul da cidade, junto da curva do rio Ponsul,
ocupando o espaço a partir da muralha.
2.1.1.9. Olisipo
Felicitas Iulia Olisipo é uma cidade romana que obteve o estatuto de municipium. A
área urbana estaria situado nas encostas voltadas a sul e a ocidente da colina onde está situado o
castelo de São Jorge.
O conhecimento sobre as necrópoles desta cidade é muito reduzido. Conhecem-se
muitas inscrições funerárias na área urbana mas a sua dispersão poderá ser o indicador que não
estão in situ. Na figura 6 aparece uma proposta de localização das necrópoles e de outros
vestígios romanos.
Na Praça da Figueira existia uma necrópole composta por sepulturas de incineração e
algumas de inumação. Esta necrópole foi destruída por sucessivas intervenções efectuadas no
local. O material recolhido neste local indica uma ocupação entre a primeira metade do século I
d.C. e o século III d.C.79. Seria uma grande necrópole destinada aos habitantes da cidade e
encontrava-se situada numa das principais saídas da cidade, a via que ligava esta cidade a
Scallabis. Esta necrópole continuaria pelo espaço ocupado actualmente pelo Largo de São
Domingos e pela Calçada do Garcia, onde foram encontrados vestígios de incinerações e
inumações. Na Calçada do Garcia foram encontrados vestígios de um columbarium80.
Uma grande concentração de inscrições funerárias junto do Largo de Santo António da
Sé levou alguns autores a colocar a hipótese de uma segunda necrópole nesta zona da cidade,
junto à muralha romana81. A confirmar-se esta hipótese, esta necrópole estava situada entre o
limite da cidade romana e o suburbium virado para o rio Tejo, onde existiam actividades
industriais.
Recentemente, foi assinalada outra necrópole no limite oriental da cidade romana. Esta
necrópole estaria situada junto da Rua dos Remédios, junto de uma via que seguiria o rio Tejo,
em direcção a norte82.
Junto desta via, apareceram também sepulturas na Travessa de Lázaro Leitão e urnas na
Calçada do Garcia83. Alguns destes vestígios encontravam-se já na zona suburbana envolvente
da cidade e poderiam pertencer a villae suburbanas.
79
Heleno 1965.
80
Leite 1987, 84.
81
Alarcão 1988, 125; Silva, A. V. 1944b, 54-55.
82
Bugalhão-Carvalho s/d, 2.
83
Leite 1987, 84.
25
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.10. Caetobriga
Setúbal é identificada com a Caetobriga dos romanos. O estado actual da investigação
não nos permite traçar os limites precisos da cidade romana. Os achados dispersos e em
pequenas áreas não permite o conhecimento aprofundado do urbanismo desta área.
Apenas se conhece uma necrópole que estaria situada no limite oriental da povoação
romana (Fig. 7). Surgiu durante as obras de abertura do túnel do caminho – de – ferro Palhais –
Fontainhas. Estas obras puseram a descoberta uma necrópole de inumação com mobiliário votivo
que foi datado entre os séculos II e IV d.C.84. Não sabemos se estaria situado junto de uma via
que ligaria esta cidade a Olisipo e a Salacia. Este material foi publicado Carlos T. da Silva. A
escassez de vestígios arqueológicos impede-nos de referir outros elementos sobre a utilização de
espaços funerários nesta cidade romana da foz do Sado.
2.1.1.11. Salacia
Foi importante cidade romana que terá continuado o povoamento pré-romano. Floresceu
como porto fluvial de onde sairiam as produções locais e regionais. Era também ponto de
paragem da via que ligava Olisipo a Ebora85.
Conhecem-se três necrópoles que serviam o espaço urbano: Olival do Senhor dos
Mártires / Azinhaga do Senhor dos Mártires, São Francisco e Bairro do Crespo (Fig. 8). A
primeira começou a ser utilizada na Idade do Ferro com ricas sepulturas que apresentavam
escaravelhos egípcios e vasos gregos. Este espaço funerário continuou a ser utilizado durante os
dois primeiros séculos da nossa era. Houve portanto uma continuidade na utilização do espaço
funerário e não se verificou uma mudança ao nível das práticas funerárias desta população.
No período romano verifica-se uma expansão do espaço ocupado pela necrópole que
passou a ocupar uma área anexa, conhecida nos dias de hoje por Azinhaga do Senhor dos
Mártires. Neste local foram encontradas várias dezenas de sepulturas de incineração e uma
epígrafe funerária do século I d.C.86. Esta necrópole estava situada junto da via romana que
ligava esta cidade a Olisipo.
84
Carlos Tavares da Silva (1966, 577) atribui esta cronologia ao mobiliário votivo retirado desta necrópole.
85
Alarcão 1988b, 132.
86
Faria 1998, 27-28.
26
Necrópoles Romanas do Território Português
Na zona sudeste da cidade actual, no Bairro do Crespo, existe outra necrópole da época
romana. Estava situada junto da estrada que seguia em direcção a Pax Iulia. Desta necrópole
apenas foram escavadas duas sepulturas de inumação, datadas dos finais do século III d.C.87.
Outras sepulturas foram destruídas ao longo do tempo.
A necrópole de São Francisco dos Frades estava situada junto da via romana que ligava
a Ebora. Os primeiros vestígios foram descobertos em 1989 que resultaram no aparecimento de
cinco urnas cinerárias, recipientes de vidro, cerâmica campaniense e sigillata itálica. Estes
enterramentos também são dos primeiros séculos da nossa era88.
Nesta cidade romana, as necrópoles ocupam áreas periféricas confinantes com o espaço
urbano. De salientar a concentração dos vestígios nos primeiros séculos da nossa era e a escassez
de sepulturas de inumação.
2.1.1.12. Tróia
Jorge Alarcão89 considera Tróia um importante centro romano situado na foz do rio
Sado. Surgido, provavelmente, no século I d.C., ganhou importância devido à existência de
actividades industriais ligadas à preparação de “garum” e conservas de peixe. No século XIX
foram encontradas cetárias que se estendiam por quatro quilómetros90. Toda a actividade desta
localidade estaria centrada na pesca intensiva e no posterior processamento do mesmo.
O desenvolvimento do centro urbano estaria ligado a estas actividades o que explicaria a
muito provável inexistência de edifícios públicos de carácter político – administrativo. M.
Maciel Justino considera que Tróia surgiu em torno das actividades industriais, situação que
influencia a própria organização do espaço urbano91. Os espaços habitacionais convivem com os
espaços industriais. No entanto, não se conhece com rigor a extensão desta área urbana, apesar
das diversas escavações aí efectuadas desde o século XVIII. A própria organização interna deste
centro urbano ainda permanece envolta em muitas dúvidas. A transgressão marítima terá
provocado o desaparecimento de algumas partes da área urbana, tornando difícil a compreensão
da sua organização. Parte da cidade também estará coberta pelas areias.
Esta área urbana possui vestígios funerários desde o século I d.C. Apareceram vestígios
de incineração e inumação, com diversas tipologias. De destacar a própria utilização das cetárias
abandonadas para proceder à inumação de defuntos92.
87
Faria 1998, 27.
88
Faria 1998, 27.
89
Alarcão 1988b, 128-129.
90
Alarcão 1988b, 129.
91
Justino 1996, 194.
92
Justino 1996, 199-201.
27
Necrópoles Romanas do Território Português
A sudeste da capela existe uma necrópole datada dos séculos IV ou V d.C. Tem
sepulturas do tipo “mensae”, isto é, cobertas por um maciço de alvenaria semicircular ou
rectangular no qual se cava um “assento” em forma de meio círculo.
Um “columbariam” e um cemitério de inumação estavam inseridos em plena área
industrial93. Jorge Alarcão considera esta situação muito irregular que não seguiria o urbanismo
romano. Esta situação poder-se-á explicar pelo carácter industrial deste povoado, situação que o
furtaria ao cumprimento das rígidas regras de implantação das áreas tumulares. A implantação
tardia deste cemitério também poderia ser um indício de menor vigilância na aplicação daquelas
regras por influência do cristianismo.
Todas estas hipóteses são arriscadas devido ao carácter fragmentário das informações
relativas a Tróia. Para deslindarmos este problema seria necessário conhecer a cronologia
aproximada das estruturas funerárias e das estruturas industriais que as envolvem. O carácter
industrial desta área urbana poderia ter provocado o surgimento de uma área urbana com uma
organização singular. Esta hipótese é muito arriscada face à carência de informações sobre o
urbanismo desta cidade.
A própria dificuldade no estabelecimento da cronologia da ocupação das áreas
descobertas limita a retirada de conclusões. Não podemos excluir a implantação das estruturas
funerárias numa época de abandono de algumas áreas habitacionais.
2.1.1.13. Ebora
Para esta cidade também não se conhecem muitos vestígios funerários. A muralha
encontra-se conservada em muitos locais mas não são referidos vestígios funerários na sua
proximidade. Os únicos vestígios foram encontrados, na segunda metade do século XIX, a cerca
de 600 metros da Porta de Raimundo94. Neste local foram encontradas duas sepulturas junto dos
vestígios da via romana que ligava a Pax Iulia. Estas sepulturas tinham uma caixa formada por
tijolos sobrepostos e apresentavam oferendas funerárias. Estes parcos dados mostram-nos a
escassez de informações sobre o fenómeno funerário romano na cidade Ebora Liberalitas Iulia.
Mesmo a distância em relação à muralha pode levar-nos a questionar a natureza desta necrópole.
Poderia ser uma necrópole de uma villa suburbana.
93
Alarcão1988b, 130.
94
Pereira 1891, 9-10.
28
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.14. Vipasca
Vipasca seria um vicus cujo crescimento estaria ligado à exploração das minas de cobre,
prata e ouro aí existentes. Estava situada na Civitas Pax Iulia mas tinha uma administração
autónoma95. A povoação romana estava situada no lugar da Valdoca. Nesta zona deviam estar
concentrados os edifícios públicos e estabelecimentos comerciais e industriais. A escavação
deste local não forneceu grandes dados sobre esta área urbana96.
Junto deste local foi escavada a necrópole, que estaria situada a norte da povoação, numa
encosta de pendor suave (Fig. 10). Apesar da grande quantidade de sepulturas escavadas apenas
é conhecida uma lápide funerária e duas urnas com inscrições grafitadas. Esta necrópole
continha sepulturas de incineração e inumação, sendo a maior parte de incineração. A análise do
material efectuada por Adília e Jorge Alarcão permitiu estabelecer uma utilização do espaço
sepulcral entre os inícios do primeiro século da nossa era e a segunda metade do século III
d.C.97. Esta necrópole devia estar situada junto da via que ligava esta povoação mineira a
Olisipo.
Mais uma vez estamos perante um número reduzido de enterramentos para uma povoação
com um carácter urbano. Embora se tratem de cerca de 500 sepulturas, continuamos a ter um
número baixo para uma povoação com uma população de dimensão razoável, um longo período
de ocupação e, provavelmente, com uma elevada mortalidade, provocada pela actividade
mineira98.
2.1.1.15. Moura
Estão referenciados bastantes vestígios funerários nos arredores da cidade de Moura. Na
sua abordagem sobre a ocupação romana em Moura, Jorge Alarcão99 faz uma proposta sobre a
localização das necrópoles romanas (Fig. 11). Parte do pressuposto que a cidade romana não
seria maior que a cidade actual. A primeira necrópole estaria situada junto da saída da estrada
romana e direcção a Pax Iulia, na zona ocidental da cidade. Neste local apareceram vestígios de
sepulturas. Os vestígios aparecidos em São Sebastião pertenceriam, segundo Jorge Alarcão100, à
mesma necrópole que se espalharia pelos dos lados da referida via.
95
Alarcão 1988b, 175-178.
96
Alarcão 1988b, 176.
97
Alarcão – Alarcão 1966a, 7-8.
98
Adília e Jorge Alarcão colocam a hipótese do abandono deste povoação no século III devido à instabilidade
provocada pelas invasões bárbaras de 260 d.C. (1966a, 8).
99
Alarcão 1990a.
100
Alarcão 1990a, 32-33.
29
Necrópoles Romanas do Território Português
Este autor coloca a outra necrópole na zona oriental da cidade, na via que liga a Arucci101.
Nesta área não foram encontrados vestígios sepulcrais. O autor baseia a sua proposta no
aparecimento de duas aras funerárias. Na nossa opinião, tal proposta necessita ainda de
confirmação dado que se baseia em dois vestígios funerários que poderiam não estar in situ, tal
como acontece frequentemente com a maior parte das lápides e aras funerárias.
Fragoso de Lima refere o aparecimento de vestígios de sepulturas no Matadouro102, na
parte sul do suburbium da cidade. Junto destes vestígios apareceram também elementos que
poderão estar relacionados com uma vivenda ou umas termas públicas. Não se conhecem casos
de necrópoles urbanos junto de edifícios públicos ou vivendas privadas103. Neste caso o
problema será a localização exacto destes vestígios arqueológicos e a própria delimitação da
cidade. No entanto, não nos causaria estranheza a implantação de um espaço funerário junto de
edifícios públicos ou privados, desde que situados no exterior do limite da área urbana da cidade.
Aparecem ainda vestígios no Bairro da Salúquia e no Olival de Miguel Pinto que Jorge
Alarcão coloca já claramente no exterior da área urbano e que corresponderiam a necrópoles de
villae suburbanas ou de pequenos habitats periféricos104.
Segundo a proposta de Jorge Alarcão, os espaços funerários utilizados pelos habitantes da
cidade estariam situados junto das vias romanas, nos limites Oeste, Sul e Este da cidade romana.
101
Alarcão 1990a, 32-33.
102
Lima 1981, 23-24, 403.
103
Alarcão 1990a, 33-34.
104
Alarcão 1990a, 34-35.
105
Alarcão 1988b, 197.
106
Alarcão 1988b, 197.
30
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.16. Myrtilis
Em Mértola foram encontrados dois espaços funerários com vestígios da época romana,
ambos situados junto das vias que ligavam esta cidade a Pax Iulia (Fig. 13). Um destes espaços
já é conhecido desde o século XIX, quando as cheias de 1876 puseram a descoberto, junto da
ermida de S. Sebastião, sepulturas da época romana. Estácio da Veiga apresentou estes primeiros
vestígios numa obra sobre as antiguidades de Mértola112.
Esta necrópole estava situada junto do rio, numa variante da via de Myrtilis a Pax Iulia.
Estácio da Veiga descreve o aparecimento de sepulturas cobertas de lajes de mármore e de
sepulturas circulares abertas no solo contendo uma urna cinerária. Não apresenta descrição das
sepulturas, dado que não foi sujeito a escavações.
Em Outubro de 1991, escavações efectuadas neste local puseram a descoberto quase duas
centenas de sepulturas de inumação. Não apresentavam mobiliário funerário assinalável. Esta
107
Citado por Leite de Vasconcellos (1896b, 175).
108
Situado junto da Igreja de N. Senhora Ao-Pé-da-Cruz, junto da estrada da circunvalação.
109
Sá 1905.
110
Vasconcellos 1895c.
111
Vasconcellos 1902b, 247-248.
112
Veiga 1880, 22-23 e 31-33.
31
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1.1.17. Lacobriga
Lacobriga foi o centro urbano mais importante do ocidente algarvio mas ainda se
desconhece o seu estatuto administrativo117. A sua origem estará ligada ao Monte Molião, local
113
Nas escavações realizadas recentemente não foram encontradas sepulturas de incineração (cf. Lopes – Boiça
1993, 19).
114
Vasconcellos 1899-1900b, 242-243.
115
Muitas sepulturas romanas tardias não apresentam mobiliário funerário e a sua estrutura é muito similar às
sepulturas posteriores. Estes elementos tornam difícil precisar o período cronológico de muitas sepulturas.
116
Macias 1993, 54.
117
Mantas 1997, 288-289.
32
Necrópoles Romanas do Território Português
118
original da povoação pré-romana e dos primeiros tempos da ocupação romana. V. G. Mantas
considera que a povoação ter-se-ão estendido para o local actualmente ocupado pela cidade de
Lagos, onde se teria desenvolvido um núcleo portuário. A falta de escavações sistemáticas
impede-nos o conhecimento da organização urbanística deste aglomerado.
No Monte Molião apareceu, no século XIX, uma necrópole com sepulturas que
utilizavam os rituais de incineração e inumação119. Apareceram vestígios de incinerações feitas
em bustum e sepulturas com urnas. No mesmo espaço apareceram sepulturas de inumação com
cobertura de tegulae em forma de telhado de duas águas. M. L. Santos atribui a este espaço uma
utilização que começa no século I d.C. e prolonga-se até ao século III120.
Na actual área urbana de Lagos têm aparecido vestígios de sepulturas da época romana.
Apareceram vestígios no Paúl, Jardim e noutros locais da freguesia de Lagos. No entanto, a sua
descoberta casual, seguida quase sempre de destruição sem escavações científicas, não
permitiram um conhecimento aprofundado do fenómeno funerário nem o estabelecimento de
uma relação com a área urbana.
2.1.1.18. Balsa
Balsa foi sede de civitas durante a dominação romana. Estava situada junto à beira-mar
de forma a aproveitar o comércio marítimo. Esta área urbana está muito mal conhecida, apesar
das primeiras escavações se terem iniciado na segunda metade do século XIX. No entanto, estas
incidiram sobre duas necrópoles, algumas cetárias e um edifício121 e nunca envolveram um
programa sistemático para conhecer com profundidade esta cidade. Em consequência deste facto,
não se conhece a extensão do perímetro urbano desta cidade da época romana.
O material arqueológico retirado desta cidade não forneceu material pré-romano. J.
Nolen considera que Balsa terá sido fundada por emigrantes itálicos e veteranos que a
implantaram sobre um possível povoado indígena122.
Das necrópoles proveio a maior parte dos vestígios arqueológicos conhecidos. Uma está
situada 300 metros a norte da Quinta das Antas e a outra está a oriente, na Quinta do Arroio.
Como não se conhece o urbanismo da cidade, podemos pelo menos traçar, com uma certa
aproximação, o limites norte e oriental desta cidade romana.
Da Quinta das Antas foram retirados vestígios de incinerações e de inumações123. As
sepulturas de incineração são maioritárias. Tinham a forma de uma caixa ou eram cistas de
118
Mantas 1997, 288.
119
Santos 1971, 349-373.
120
Santos 1971, 352.
121
Nolen 1997, 330.
33
Necrópoles Romanas do Território Português
chunbo, onde eram colocadas as cinzas. Estas sepulturas de inumação tinham uma forma
rectangular, com a caixa formada por tijolos sobrepostos e a cobertura em foram de telhado de
duas águas. Algumas sepulturas tinham moedas do século I d.C.124. Segundo M. L. Santos, esta
necrópole apresentava vestígios dos séculos I e II d.C.125.
Na necrópole da Quinta do Arroio foram escavadas várias centenas de sepulturas126.
Nesta necrópole foram encontradas sepulturas de incineração e inumação. Se seguisse a
implantação normal dos espaços funerários urbanos estaria situada junto da via que ligava Balsa
a Baesuris. Esta necrópole teria sido utilizada entre os séculos II e IV d.C.127. As sepulturas
apresentavam diversas formas.
A necrópole situada a norte estaria talvez ligada a uma via secundaria que ligaria Balsa à
estrada principal entre Ossonoba e Arandis. Existem outros vestígios que já estariam no
suburbium da cidade romana128.
2.1.1.19. Ossonoba
Nesta cidade existem vários espaços funerários dispostos em volta da área urbana.
Vasco G. Mantas129 apresenta a localização de quatro necrópoles que existiam em volta da
cidade romana (Fig. 14).
A mais importante seria a do Bairro Letes, que estaria no entroncamento de duas vias
romanas: uma em direcção a Arandis e uma outra, que sairia desta, em direcção a Balsa. Seria a
necrópole mais utilizada pelos habitantes de Ossonoba e ocuparia uma vasta área. Os primeiros
vestígios descobertos nesta necrópole remontam ao final do século XIX. As obras de
urbanização do local levaram ao aparecimento posterior de diversos enterramentos. Os vestígios
apareceram em muitas ruas deste bairro: D. João de Castro, João Lúcio, Almeida Garrett,
Mouzinho de Albuquerque, entre outras. Os vestígios encontrados na Rua das Alcaçarias
poderão estar relacionados com esta necrópole130.
A necrópole da Horta do Ferragial estaria já a alguma distância da área urbana que o
autor acima referido interpreta como uma necrópole pertencente a uma villa suburbana. No
122
Nolen 1997, 328.
123
Vasconcellos 1913, 374-375; Santos 234-236 e 291-292.
124
Vasconcellos (1913, 374) menciona duas moedas: uma de Cláudio I e outra de Tibério.
125
Santos 1971, 236.
126
Santos 1972, 321-326.
127
Santos 1972, 326.
128
Está nesta situação a necrópole de Pedras D‟El-Rei.
129
Mantas 1997, 297-299.
130
T. Gamito (1992, 118) considera que estamos perante uma necrópole familiar próxima da necrópole do Bairro
Letes. Para nós a proximidade não exclui a hipótese de se tratar um núcleo daquela necrópole, mesmo que exista
algum tipo de agrupamento familiar.
34
Necrópoles Romanas do Território Português
entanto, a sua posição junto do litoral, não muito distante da área de crescimento da cidade
romana, leva-nos a não excluir a hipótese de se tratar de uma necrópole utilizada pela população
da cidade.
A necrópole da Escola, situada junto da via que seguia para Lacobriga, seria já uma
necrópole de uma villa suburbana. A sua distância em relação ao centro urbano leva o autor a
referir esta hipótese, que consideramos a mais válida. A outra necrópole, por se encontrar junto
da muralha romana, violando o espaço urbano, é considerada paleocristã, teria sido utilizada já
em período de modificação das práticas funerárias.
Muitas zonas urbanas não foram abordadas neste capítulo devido à falta de elementos,
sinal evidente do trabalho de investigação que falta empreender para termos uma imagem geral
dos espaços funerários das zonas urbanas.
131
Ocorre-nos a situação da necrópole de Santo André, em Montargil (Monforte), cujo habitat não é conhecido
apesar dos esforços dos investigadores para detectar a sua presença (Viegas et al. 1981).
35
Necrópoles Romanas do Território Português
132
Galliou 1989, 24-25.
133
Pinto 1998.
134
Pinto 1998, 188-189.
135
Não devemos esquecer que algumas áreas urbanas nos deram um número reduzido de enterramentos. Esta nota
serve para lembrar que o número de enterramentos não é critério suficiente para qualificar os habitats como área
urbana.
136
Fabião et al. 1998, 200-202.
137
1967, 24.
138
1989, 25.
36
Necrópoles Romanas do Território Português
mais distanciada139. Foi estabelecida na outra margem de um pequeno ribeiro onde seriam
sepultados os serviçais.
Nas grandes villae esta situação poderia acontecer ao próprio nível da estrutura funerária
utilizada. Uma necrópole constituída por sepulturas abertas no solo natural para o pessoal da
exploração agrícola e mausoléus para os proprietários. Estes estariam em espaço nobre, contíguo
à própria pars urbana da villa, enquanto a necrópole estaria ligeiramente afastada das diferentes
construções existentes na villa.
Na necrópole da Pombais (Marvão), foi possível identificar a villa que usaria este espaço
funerário140. Na Lage do Ouro (Crato), a necrópole estava situada num lugar mais elevado, a
oriente da villa romana141. Existiria alguma intencionalidade na escolha do local da necrópole?
De momentos não podemos responder a esta questão nem a outras devido à falta de dados.
Em relação às necrópoles das oficinas artesanais a situação poderá ser diferente. Em
Porto dos Cacos, Alcochete, foi encontrada uma necrópole situada a cerca de 100 metros da área
oficinal142. Está situada num pequeno cabeço a nordeste da oficina de olaria e é constituída por
37 sepulturas, das quais foram escavadas 24. As informações até agora publicadas revelam
aspectos curiosos que necessitam de confirmação. Importava saber a razão da existência de
muros junto das sepulturas 31, 37 e 16143. O responsável pelos trabalhos de escavação não lhe
atribui qualquer funcionalidade mas a continuação da escavação poderá ser importante para
conhecer a relação da necrópole com o espaço oficinal144. Poderemos estar perante uma
necrópole que ocupa o espaço imediatamente contíguo à área oficinal, revelando pouco cuidado
na separação do mundo dos mortos em relação ao dos vivos. Outra hipótese que poderemos
colocar estará relacionada com a diferenciação do espaço dentro da própria necrópole. Neste
caso, não podemos deixar de recordar que a sepultura 37, situada junto do muro, revela uma
construção mais cuidada. Estamos perante um sinal de diferenciação social dentro do espaço
funerário? Esta questão é, neste momento, difícil de resolver perante a insuficiência dos dados.
Em relação a este tema, o aspecto mais relevante é a falta de informações e dados que
permitam o lançamento de novas hipóteses devidamente fundamentadas.
139
Hauschild 1984.
140
Fernandes 1985a, 101.
141
Frade-Caetano 1985, 133.
142
Os primeiros resultados da escavação desta necrópole foram publicados A. Sabrosa (1996).
143
Sabrosa 1996, 288-289
144
Sabrosa 1996, 283.
37
Necrópoles Romanas do Território Português
1.2.1. Introdução
145
Galliou 1989, 26.
146
Scheid 1998, 67.
147
Toynbee 1971, 74.
38
Necrópoles Romanas do Território Português
Este pequeno capítulo pretende abordar a organização dos espaços funerários e a própria
disposição dos enterramentos e outros elementos funerários. Sempre que possível, tentar
reconhecer agrupamentos, recintos ou parcelas dentro do espaço mais vasto da necrópole.
Mais uma vez, estamos perante obstáculos surgidos devido ao pequeno número de
necrópoles escavadas em área. A reduzida área escavada e o número pouco relevante de
enterramentos não permitem a análise da ocupação do espaço num período de tempo muito
longo. Os próprios vestígios remetem-nos para cronologias enganadoras.
Nas áreas urbanas as necrópoles ocupavam os espaços junto das vias. Os primeiros
enterramentos eram realizados junto da via, em ambos os lados da mesma. Estamos perante uma
questão de visibilidade das sepulturas ou dos mausoléus. Seriam estes os locais mais disputados
pelas populações. O crescimento demográfico tornaria a competição por estes locais mais feroz e
provavelmente remeteria as sepulturas das populações das classes populares, sem poder
económico, para os locais mais recônditos, já longe das vias principais.
Para muitas áreas do Império conhecem-se concessões atribuídas para ocupação do
espaço junto das vias. No território português não são conhecidas muitas inscrições que
indiquem o tamanho das mesmas. O exercício de delimitação das concessões também não é
viável devido à falta de informações provenientes das escavações das necrópoles urbanas.
Uma inscrição funerária de Olisipo apresenta as medidas de um espaço funerário. Este
espaço tinha in fronte XXX pedes e in agro XX pedes148. O espaço teria uma área de 54 m2149.
Como era habitual nas diferentes regiões do Império, a medida in fronte é maior que a medida in
agro dado que está junto da via e, dessa forma, dá melhor acesso às sepulturas ou monumentos
funerários. É um espaço bastante razoável mas é o único dado que possuímos sobre o tamanho
das concessões existentes.
Junto da cidade de Collippo também apareceu uma inscrição funerária que atribui um
locus sepulturae a um membro da elite local150. Estas duas inscrições demonstram-nos a
existência de concessões destinadas ao uso funerário. No entanto, ainda não foi possível
reconhecer no terreno estas concessões. Também não possuímos dados para outras regiões do
país.
A maior parte das necrópoles apresentam enterramentos que não violam sepulturas
anteriores. Estamos a falar das necrópoles da zona de Elvas, da necrópole da Lage do Ouro
148
Rodriguez Neila (1991) analisou a inscrição CIL, II, 216, originária de Lisboa.
149
Os cálculos são do autor acima referido que apresenta um valor de cerca de 30 cm para o pé romano (1991, 63).
150
CIL, II, 339. Cf. o artigo do mesmo autor que analisa a concessão de Locus sepulturae na Península Ibérica.
39
Necrópoles Romanas do Território Português
(Crato) (Fig. 15), do Alto da Vela em Gulpilhares (Fig. 18), Achada de S. Sebastião (Mértola)
(Fig. 19), da necrópole da Via XVII em Bracara e dos enterramentos tardo-romanos de Idanha-a-
Velha. São muitos os exemplos de espaços funerários onde se verifica um respeito pelos espaços
sepulcral. Nestas necrópoles os espaços das sepulturas são claramente delimitados. Mesmo
quando a ocupação do espaço funerário não é uniforme, as sepulturas estão claramente separadas
umas das outras. Verifica-se a existência de núcleos de sepulturas com orientações diferentes
mas nunca existe violação do espaço de cada uma.
Como contraste, temos alguns espaços onde alguns enterramentos violam enterramentos
anteriores, desrespeitando o locus religiosus. Na necrópole dos Montes Novos (Croca, Penafiel)
muitos enterramentos, contendo moedas do século IV, foram feitos sobre enterramentos
anteriores, alguns deles com apenas algumas dezenas de anos de diferença (Fig. 20). Esta
situação foi detectada por Gilda Pinto que refere também a falta de um alinhamento ordenado
por parte das sepulturas151. Na utilização de um espaço funerário com sepulturas constituídas por
covachos escavados no solo base, sem elementos delimitadores, é possível que se tenha
verificado um esquecimento sobre a localização de alguns enterramentos. Mas não podemos
considerar essa hipótese quando falamos de sepulturas abertas com uma pequena diferença de
anos. Nesta situação poderemos pôr a hipótese de um relaxamento das práticas funerárias, que
deixou de ser vigilante perante a inviolabilidade do lugar da sepultura.
Na única necrópole conhecida de Tongobriga (Freixo, Marco de Canaveses), em algumas
sepulturas de cronologia mais tardia, verificou-se a violação do espaço de enterramento152. As
sepulturas mais recentes foram abertas sobre sepulturas anteriores. De notar que estas sepulturas
são bastantes pobres. A pobreza do enterramento, visível nas oferendas funerárias presentes,
poderá reflectir a posição social do defunto.
Na necrópole da Marateca (Lagos) também parece ter-se verificado a violação das
sepulturas anteriores, dado que apareceram ossos e outros vestígios em camadas superficiais,
provavelmente resultantes da abertura de novos enterramentos153.
Na necrópole da Valdoca (Aljustrel) (Fig. 16) esta situação não está confirmada mas a
presença de enterramentos muito próximos uns dos outros poderá indicar a violação do espaço
sepulcral154.
Outro aspecto a considerar nesta análise é a reutilização das sepulturas. Temos vestígios
de reutilização nas necrópoles de inumação do Sol Avesso (Oeiras)155, Herdade da Camuja
151
Pinto 1998, 189.
152
Dias 1993-1994, 122-123
153
Rocha 1896, 68-69.
154
Conferir a planta publicada (Est. II) por O. V. Ferreira e R. Andrade (1966).
40
Necrópoles Romanas do Território Português
155
Matos 1969, 192.
156
Viana 1950, 313-315.
157
Duarte 1996.
158
Rocha 1903b, 596-598.
159
Santos 1972, 267.
160
A. L. Santos (1997, 400) refere a presença de esqueletos de dois indivíduos em cinco das sepulturas escavadas.
161
Severo 1908a, 112.
162
Viana 1950, 314.
163
Santos 1972, 267.
164
Severo 1908a, 112.
165
Viana 1950, 314.
41
Necrópoles Romanas do Território Português
166
Rocha 1895, 192.
167
Este núcleo funerário está integrado na necrópole da Via XVII (Delgado et al. 1987, 180).
168
Fortes 1908b, 255.
42
Necrópoles Romanas do Território Português
169
Lobato 1995, 35.
170
Os grupos A e B apresentam de facto alguma identidade dado que estão circunscritos a um espaço determinado
mas o mesmo não acontece com os outros grupos. O grupo C ocupa mesmo quase todo o espaço da necrópole
(Lobato 1995, 35 e Est. IV).
171
Ferreira – Andrade 1966, 4.
172
Gamito 1992, 118.
173
I. Morris (1994, 156) refere 180 000 lápides funerárias na parte ocidental do Império Romano.
43
Necrópoles Romanas do Território Português
das fontes de informação mais ricas da arqueologia e história do Império mas raramente aparece
integrada no contexto arqueológico inicial, como elemento fundamental do espaço funerário
romano. Esta situação, muito frequente no actual território português, limita a nossa análise em
relação a este aspecto particular das necrópoles romanas.
Parece-nos evidente que uma das formas mais utilizadas para a sinalização das sepulturas era
a colocação de lápides funerárias no topo das sepulturas. Mas a análise dos dados sugere-nos que
muitas sepulturas nunca tiveram uma estela funerária. Sabe-se que não é a única forma de
sinalização dos espaços funerários mas, devido à sua abundância nas zonas urbanas, a sua
utilização devia ser mais comum. São poucas as sepulturas encontradas com lápides funerárias
junto a um dos seus topos. Na necrópole da Rua das Alcaçarias (Faro) uma das sepulturas tinha
no topo uma lápide funerária174 (Fig. 22).
Esta preocupação em assinalar o local da sepultura tanto se verifica na cidade como nas
zonas rurais. Os materiais utilizados estão adequados à disponibilidade local. Na necrópole de
Monte Mozinho apareceu uma estela funerária em granito (Fig. 25). Na necrópole tardia de
Alvariça (Espiunca, Arouca) cada sepultura teria uma lápide funerária em xisto implantada num
dos topos175 (Fig. 26). Algumas das estelas seriam anepígrafas o que não deixa de ser um sinal da
preocupação dos contemporâneos em assinalarem o local da sepultura, mesmo que a lápide não
possuísse qualquer inscrição funerária.
Também aparecem lápides funerárias com epígrafes funerárias dedicadas a dois indivíduos.
Na Quinta do Marim (Olhão) apareceram estelas funerárias nesta situação. A parte inferior não
se encontrava trabalhada, sinal que esta parte ficaria enterrada (Fig.21)176.
Outro tipo de sepultura de grande visibilidade seria aquelas cuja cobertura revestia a forma
de cupa. Existem muitos exemplos deste tipo de sepultura, concentrados principalmente junto de
Lisboa e no Alentejo. As de Lisboa têm as faces lisas e uma inscrição funerária num dos topos.
Apareceram, no entanto, cupae anepígrafas177 (Fig. 24). No Alentejo a tampa tem uns elementos
decorativos imitando a forma das pipas (Fig. 23). A inscrição está no dorso das cupae. Este tipo
de sepultura seria bem visível no espaço funerário. A cupa assentava sobre uma caixa de tijolos
que estaria quase toda enterrada no subsolo. Este tipo de cobertura aparece quase sempre em
sepulturas de incineração, com datas que vão do século I ao III d.C.
Aparecem também cipos funerários que estariam situados junto das sepulturas. J. L. de
Vasconcellos refere o aparecimento, em Beja, de um cipo de funerário junto de uma sepultura
174
Gamito 1992, 105.
175
Silva – Ribeiro (no prelo).
176
Rocha 1895, 198-199; Encarnação 1984, 94-95.
44
Necrópoles Romanas do Território Português
completa178. Era um cipo de mármore e aquele autor refere o seu aparecimento junto da
sepultura. Estaria a sinalizar a sepultura em causa.
Thomaz Pires, no seu catálogo do Museu de Elvas, refere a existência de um cipo funerário
de calcário encontrado, em 1897, «no topo de duas sepulturas de lages brutas à profundidade de
meio metro»179. Tudo indica também que estaria a sinalizar uma das sepulturas encontradas na
mesma ocasião.
Em São Pedro (Porto de Mós) apareceu um monumento funerário original que se destinava a
sinalizar as sepulturas de três indivíduos180. Tinha a forma de um prisma rectangular e o topo
trabalhado de forma a apresentar uma espécie de telhado. Tinha três face trabalhadas e na frente
um nicho e apenas apresentava um epitáfio numa das faces. J. B. Moreira e J. Encarnação181
consideram que este monumento realiza a junção entre dois tipos de monumentos funerários: a
urna em forma de casa e a estela, neste caso colectiva.
Agora gostaríamos de discutir algumas questões sobre as sepulturas que não apresentam
qualquer tipo de lápide ou sinalização. Não nos podemos esquecer que alguns dos exemplos
referidos poderiam ter alguma sinalização que acabou por desaparecer. Mas vamos ultrapassar
esta questão e vamos discutir a sua visibilidade das sepulturas que não apresentariam qualquer
tipo de estela ou cipo funerário.
Na literatura arqueológica, com excepção dos monumentos funerários com estrutura
arquitectónica, assume-se quase sempre o enterramento da estrutura funerária. A sepultura seria
aberta no subsolo, construiriam a estrutura e após a deposição do cadáver ou das cinzas, esta
seria coberta com terra. Na maior das vezes aparece referida a cobertura ou a falta dela mas
nunca se coloca a hipótese de estarmos perante a parte visível da sepultura, pelos menos durante
o período da sua utilização.
Na necrópole da Via XVII de Bracara Augusta apareceu uma sepultura que apresentava um
murete de pedra disposto no sentido do comprimento. Esta estrutura foi detectada pelos
arqueólogos e poderá ser uma forma de tornar visível a sepultura182. No Largo do Colégio
(Porto), em sepultura que os investigadores responsáveis pela escavação consideram tardo-
177
J. L. de Vasconcellos (1902b, 241-243) refere o aparecimento na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa, de uma
cupa de mármore que não estaria no seu lugar original. J. L. de Vasconcellos considera-a proveniente do Alentejo.
178
Vasconcellos 1902b, 247-248.
179
Pires 1902, 213.
180
Moreira-Encarnação 1988, 6.
181
Moreira-Encarnação 1988, 7.
182
Martins – Delgado 1989-1990, 145.
45
Necrópoles Romanas do Território Português
romana, apareceu também uma estrutura em forma de pequeno muro que protege a sepultura
propriamente dita183. Esta tinha uma cobertura em forma de telhado de duas águas.
Na já referida necrópole de Bracara Augusta apareceu uma sepultura de incineração coberta
com lajes (Fig. 27) que poderiam estar visíveis184. Esta hipótese poderá não ser de fácil resolução
devido à dificuldade em detectar o solo da necrópole, no entanto, temos de a considerar possível.
Muitas são as necrópoles que apresentam sepulturas deste tipo. Numa sepultura de
incineração de Marialva, a cobertura era feita com um tijolo com uma inscrição epigráfica 185.
Estaria coberta ou seria a parte visível da sepultura? A sua visibilidade poderia tornar a sepultura
mais frágil, vulnerável à violação mas a sua cobertura colocaria questões ainda mais intrigantes.
Qual seria a intenção do construtor da sepultura em cobrir a dedicatória? Inclinamo-nos para a
visibilidade da epígrafe funerária e para a própria visibilidade da cobertura.
Na mesma situação encontrar-se-iam as sepulturas construídas com placas de mármore, das
quais temos exemplos em Chão de São Lourenço (Monsanto)186 e em diversos locais do
Alentejo. A utilização deste material indica uma maior preocupação com a qualidade da
construção da sepultura. A própria colocação de uma placa de mármore na cobertura da sepultura
poderá estar relacionado com alguma fenómeno de visibilidade social. Seria estranho que estas
sepulturas, que evidenciam uma qualidade de construção superior à generalidade das restantes
sepulturas, fossem completamente coberta. Mais uma vez pensamos que a cobertura em
mármore seria a parte visível da sepultura.
As sepulturas com cobertura constituída por fiadas de tegulae e imbrices teriam certamente a
parte superior da sepultura visível. É essa a opinião de Abel Viana que, ao descrever a sepultura
7 da necrópole do Bairro Letes, refere que a última fiada da caixa de tijolos devia ficar acima do
nível do solo187. Nestas condições toda a cobertura de tegulae e imbrices estaria visível.
A própria sepultura n.º 6 da Rua das Alcaçarias seria da mesma tipologia da anterior,
apresentando também uma cobertura de tegulae formando uma secção triangular188.
Conhecemos outros exemplos para Beja189 e Lisboa190 onde a cobertura, constituída por
tegulae e imbrices formando uma espécie de telhado com secção triangular, estaria sempre
visível. A sepultura de Beja apresenta-se com a forma de uma caixa revestida com placas de
mármore (Fig. 28). O fundo e a cobertura também são constituídos com este material. Sobre a
183
Varela-Cleto 2001,
184
Delgado 1984.
185
Rodrigues 1961, 23-24.
186
Almeida – Ferreira 1956, 420-422.
187
Viana 1951, 158.
188
Gamito 1992, 106.
189
Sa 1905, 12.
190
Esta sepultura apareceu na necrópole de Poço de Cortes (Silva 1944a).
46
Necrópoles Romanas do Território Português
placa de mármore da cobertura foram colocados os lateres, formando uma espécie de telhado191.
Na nossa opinião foi o abandono da necrópole e a posterior deposição de material nestes espaços
que cobriu completamente a sepultura, dando-lhe a forma que o arqueólogo encontrou.
Temos de reconhecer que são poucos os dados que possuímos sobre a sinalização dos
enterramentos. Sabemos que as estelas funerárias colocadas num dos topos das sepulturas eram
uma das formas mais utilizadas de sinalização do enterramento. Os cipos funerários colocados
junto das sepulturas eram outra das formas de sinalizar os enterramentos.
Consideramos que parte das sepulturas, mesmo não tendo outro elemento identificador, era
reconhecível pela parte superior da sua cobertura, que ficaria sempre visível. Nesta situação
encontram-se as sepulturas cuja cobertura era em forma de cupa, as sepulturas com cobertura
constituída por lajes de mármore, as sepulturas com uma espécie de telhado constituído por
sobreposição de tegulae e imbrices. Também somos da opinião que as sepulturas com lajes
muito provavelmente deixariam a parte superior descoberta.
As sepulturas com cobertura em forma de cupa são sinalizadas pela própria cupa e pela
inscrição que esta tinha no dorso ou num dos topos. As outras não tinham inscrição mas a
própria estrutura descoberta da sepultura mostrava a sua implantação no espaço da necrópole.
Esta era, sem dúvida, a sua forma de sinalização.
191
B. Sá (1905, 168) refere-se à cobertura dizendo que era constituída por «cinco ordens de grossas tejoleiras».
47
Necrópoles Romanas do Território Português
2.1. Incinerações
192
E. Crubézy (2000, 23 e 27) segue esta diferenciação ao nível das tipologias das práticas funerárias. É um facto
detectado pela própria escavação que não pressupõe o conhecimento do ritual funerário. Trata-se apenas da distinção
entre depósitos primários e secundários.
193
Estas categorias baseiam-se na própria diferenciação entre depósitos primários e secundários dos restos mortais
do defunto (Crubézy 2000, 23). L. Tranoy aplica esta tipologia para os vestígios de incinerações encontrados em
França (2000, 133-134).
48
Necrópoles Romanas do Território Português
corpo é cremado e reduzido à sua mais ínfima forma e volume e posteriormente é colocado num
segundo local, dentro de uma urna, que servirá de sepultura definitiva do indivíduo.
Nas incinerações primárias o local da cremação do defunto servia de morada final para
os seus restos mortais. O solo já era arranjado pelo fossor de forma a que no final da cremação os
restos fossem cobertos pelas terras envolventes. Junto das cinzas eram colocados a urna (quando
existia) e o espólio votivo em honra do defunto.
Não existe propriamente diferenciação entre o local de cremação do corpo e o local de
deposição das cinzas resultantes da cremação. É uma incineração em bustum.
3.1.1.2. Ustrina
O ustrinum é o local onde os corpos são cremados. Este local tanto pode revestir a forma
de uma estrutura como tratar-se dum local, sem qualquer elemento construído, onde se fazem as
cremações do cadáver. L. Tranoy chamou a atenção para a existência em França de muitos
ustrina sem qualquer estrutura, cuja identificação é possível apenas pela observação do solo 194.
As piras funerárias seriam levantadas directamente sobre o solo, sem qualquer estrutura
permanente.
Em Augusta Emerita, não são conhecidas estruturas permanentes que serviriam de
ustrina. J. Molano Brias e M. Alvarado Gonzalo apenas referem o aparecimento de fossas
abertas no solo195. Em Portugal deve-se também prestar atenção a estes vestígios. As
investigações têm de incidir sobre todos os vestígios deixados no solo, principalmente os mais
ténues que nos poderão dar indicações muito precisas sobre as práticas funerárias. No entanto, as
informações que possuímos sobre este assunto são escassas e pouco esclarecedoras.
Em Portugal, não se conhecem muito vestígios que podem ser definidos como ustrina.
Vamos referir os dados conhecidos para as necrópoles de Cancelhô, Souselo (Cinfães), Santo
André, Montargil (Ponte de Sôr), Lage de Ouro (Crato), Herdade da Chaminé (Elvas) e
194
L. Tranoy (2000, 139-140) fala em vestígios de rubefacção deixados no solo pelas temperaturas elevadas
atingidas no local onde a pira funerária repousa sobre o solo.
195
Molano Brias – Alvarado Gonzalo 1994, 333.
49
Necrópoles Romanas do Território Português
necrópole n.º 4 da Herdade do Padrãozinho (Vila Viçosa). Vamos analisar estes dados de forma
a definir com mais exactidão a sua finalidade.
Existem também alguns vestígios de difícil interpretação que poderão tratar-se de ustrina.
Em Cancelhô, Souselo (Cinfães) apareceu um covacho aberto no solo contendo fragmentos de
ossos, carvões e cinzas196. L. Pinho e A. Pereira referem que se trata de um local de cremação.
Pela descrição dos autores, trata-se de um ustrinum onde se efectuou a cremação do cadáver,
cujas cinzas foram sepultadas numa caixa de lajes de granito.
Na necrópole de Santo André (Montargil), J. R. Viegas definiu dois grupos de sepulturas
que constituíam covas abertas no solo apresentando no seu interior cinzas197. Um dos
enterramentos possuía dois metros de comprimento por um de largura. Tinha uma camada
espessa de cinzas no fundo198. Parece-nos que estamos perante vestígios de cremação em ustrina.
Aqui não aparecem grandes quantidades de fragmentos de ossos, o que indica o cuidado posto na
sua recolha para posterior deposição em urna. Esta situação verifica-se em enterramentos
constituídos por cinzas sem espólio e com espólio.
Pensamos que os vestígios detectados em Santo André (Montargil) são efectivamente
locais de cremação de cadáveres, aquilo que designamos por ustrina. A falta de mobiliário
funerário intacto nestes locais leva-nos a concluir que estamos perante locais de cremação de
cadáveres. Se fosse uma incineração em fossa devia ter junto das cinzas o espólio votivo em
condições razoáveis de conservação.
Na Lage do Ouro (Crato) são individualizadas sepulturas que os autores consideram
cinzeiros. Helena Frade e José C. Caetano descrevem estes cinzeiros da seguinte forma:
«Grandes aglomerados de cinzas, ossos calcinados, fragmentos cerâmicos e pregos queimados.
Tinham forma oval, com aproximadamente 220 cmX 150 cm e 20 cm de espessura. Estes cinzeiros
estavam colocados sobre o saibro, sem cova e sem ligação aparente com qualquer das sepulturas
próximas»199.
Na nossa opinião poderão ser vestígios de ustrina, dado que não apresentam mobiliário
funerário. Os autores não são desta opinião, classificam-nos como cinzeiros mas não dizem qual
é a finalidade desta estrutura funerária200.
Por fim, referimos algumas informações sobre estes espaços referidas por Abel Viana. A
pequena notícia publicada por Abel Viana é sobre a necrópole da Herdade da Chaminé
196
Pinho – Pereira 1997, 30.
197
Viegas et al. 1981, 14. Num dos cinzeiros (C2) a cova estava delimitada por pedras de pequenas dimensões e as
cinzas atingiam espessuras entre os 8 e os 15 cm.
198
Viegas et al. 1981, 15.
199
Frade-Caetano 1985, 135.
50
Necrópoles Romanas do Território Português
3.1.1.3. Sepulturas
200
No mesmo trabalho, consideram que um dos problemas a resolver é a localização dos ustrina (Frade-Caetano
1985, 137).
201
Viana 1953, 240.
202
Viana 1953, 240.
203
Viana-Deus 1955a, 40.
204
Viana-Deus 1958, 143-144. Ver a planta publicada neste trabalho.
205
Almeida-Abreu 1987.
206
Brochado de Almeida e A. Abreu (1987) consideram que se verificaram incinerações em bustum. As
incinerações eram feitas umas sobre as outras.
51
Necrópoles Romanas do Território Português
207
É a sepultura n.º 5 (Dias 1993-1994, 123).
208
Soeiro 1984, 298.
209
Ainda apareceu um fragmento de outra peça de cerâmica comum que T. Soeiro não tem a certeza de pertencer ao
conjunto de oferendas funerárias desta sepultura (1984, 298).
210
No nosso inventário esta necrópole está situada no local de Tapada da Eira (Idanha-a-Velha).
211
Côrte-Real 1996, 23-28.
212
Côrte-Real 1996, 26.
213
Fabião et al. 1998, 214.
52
Necrópoles Romanas do Território Português
fragmentos de ossos. Todos estes indícios levam-nos a concluir que se poderá tratar de uma
cremação em bustum.
No entanto, a sepultura, alvo de um revolvimento de terras, não estava intacta. Os
vestígios espalhavam-se por uma área ampla e poderia, em última instância, tratar-se-ia de uma
deposição secundária dos restos da cremação. Esta é uma das áreas mais destruídas da necrópole,
facto que obriga a uma análise cuidada dos vestígios e a conclusões cautelosas.
Na sepultura 9 desta necrópole foram encontrados vestígios de cinzas, carvões e
esquírolas de osso. Sobre estes vestígios foram encontrados dois recipientes de cerâmica
comum214. Esta sepultura estava estruturada com pedras e fragmentos de cerâmicas de cobertura.
Podemos estar perante uma sepultura idêntica à sepultura 3 mas o estado dos vestígios obriga-
nos a ser cauteloso. Pode ser uma incineração secundária.
Na necrópole da Horta das Pinas (Elvas), Abel Viana refere o aparecimento de sepulturas
cuja incineração foi efectuada sobre as covas abertas no solo215. Refere que tinham sido
recolhidas as cinzas e o que tinha restado da cremação foi «varrido» para o interior da cova. É a
única informação que possuímos sobre estas sepulturas.
Abel Viana refere o aparecimento de pregos em, pelo menos, vinte e quatro covachos216.
Não nos fornece mais informações sobre as sepulturas de forma a sabermos se estamos perante
incinerações em bustum. O autor referido adianta-nos que estes pregos de grandes dimensões
serviriam para fixar a pira funerária217. Mas continuamos sem certezas sobre o tipo de prática
funerária.
Na necrópole n.º 4 da Herdade do padrãozinho (Vila Viçosa), apareceu uma sepultura
com mais de 1,50 m de comprimento que poderá ser uma cremação em bustum. Abel Viana e A.
Dias Deus não a identificam como tal mas a descrição da sepultura deixa aberta essa
possibilidade218. Apresenta grande quantidade de cerâmica e recipientes de vidro fragmentados,
provavelmente resultantes da cremação.
Na necrópole de Santo André (Montargil), J. R. Viegas definiu um grupo de sepulturas
que constituíam covas abertas no solo totalmente repletas de cinzas219. Algumas destas
sepulturas apresentavam dimensões razoáveis e oferendas funerárias. Parece-nos que estamos
214
Esta sepultura não forneceu vestígios de pregos (Fabião et al. 1998, 208).
215
Viana 1953, 240.
216
Viana 1953, 244.
217
Viana 1953, 244.
218
Sepultura 22 (Viana-Deus 1955a, 43).
219
Num dos cinzeiros (C2) a cova estava delimitada por pedras de pequenas dimensões e as cinzas atingiam
espessuras entre os 8 e os 15 cm (Viegas et al. 1981, 14).
53
Necrópoles Romanas do Território Português
Em termos globais todas as incinerações primárias são feitas em covas abertas no solo
natural. A dimensão das mesmas deve ser ajustada ao tamanho da pira funerária. Este elemento é
importante para definir o tipo de incineração. A quantidade de cinzas não é elemento suficiente
220
Refiro-me especialmente à sepultura F 4 que tem 165 cm por 103 cm (Viegas et al. 1981, 19). Este enterramento
apresentava, no seu interior, além das cinzas, ossos calcinados e pedaços de carvão.
221
Viegas (1981, 15-20) inseriu as sepulturas no mesmo grupo, tendo definido como critério a presença de cinzas e
de oferendas funerárias.
222
Rocha 1895, 294.
223
Rocha 1895, 327.
224
Ferreira – Andrade 1966, 4.
54
Necrópoles Romanas do Território Português
para definir uma cremação em bustum, dado que um pequeno covacho pode estar repleto de
cinzas mas ser apenas o local onde foram depositadas as cinzas recolhidos do ustrinum.
O mobiliário funerário era depositado sobre as cinzas. Todo este conjunto era
posteriormente coberto com as terras que estavam em volta. Alguma dessa terra deve ter sido
retirada da cova.
Estes vestígios espalham-se um pouco por todo o país. A pequena quantidade de dados
não se deve a um ritual minoritário. A falta de dados pode resultar de descobertas ocasionais que
não foram acompanhadas por escavações sistemáticas, situação que poderá ter provocado a perda
de informações essenciais.
A própria distribuição cronológica é muito lata. Temos incinerações primárias desde os
primeiros séculos da nossa era até ao século IV (Tongobriga). No entanto, os dados parecem
apontar uma maior permanência destas práticas funerárias no Noroeste. Os elementos mais
tardios pertencem a necrópoles situadas no Noroeste, nomeadamente em Cancelhô (Cinfães) e
Tongobriga (Marco de Canaveses). Talvez seja um indicador de uma romanização mais tardia e
uma maior distância em relação aos centros difusores de inovações. Neste caso, trata-se duma
prática funerária cujo abandono não ocorre simultaneamente no território português.
A. Covachos
Este tipo de sepultura constitui a forma mais simples que uma incineração secundária
pode adquirir. A sua simplicidade tornou-a muito comum por todo o território. Quase todas as
necrópoles com incinerações tinham este tipo de sepultura.
As cinzas são colocadas no fundo da cova aberta no solo natural ou são separadas, indo
os ossos para uma urna e o resto da pira para o fundo da cova. Geralmente, as oferendas
funerárias são colocadas sobre as cinzas, no centro da cova. Este tipo de sepulturas pode adoptar
a forma de um “covacho” de forma circular aberto no solo ou uma forma sub-rectangular com os
cantos arredondados.
Vamos apenas descrever algumas sepulturas deste tipo dado que a sua simplicidade levar-
nos-ia a repetir de forma fastidiosa o mesmo tipo de enterramento.
Este tipo de sepulturas pode adoptar duas formas maioritárias. A primeira é constituída
por sepulturas com forma rectangular ou sub-rectangular, com dimensões variadas. Este aspecto
56
Necrópoles Romanas do Território Português
merece ser realçado devido aparecimento de sepulturas de reduzidas dimensões e outras com
grandes dimensões. Em Montes Novos (Croca, Penafiel) (Fig. 31) aparecem sepulturas de
reduzidas dimensões que não ultrapassam um metro de comprimento225. Na necrópole de Rorigo
Velho (Trofa), apresentam medidas aproximadas para todas. Também estas não ultrapassavam
um metro de comprimento226. O mesmo acontece nas necrópoles de Santo André (Ponte de Sôr)
e de Lage do Ouro (Crato). Todas estas sepulturas são de reduzidas dimensões, raramente
ultrapassando um metro de comprimento por cinquenta a setenta centímetros de largura.
Aparecem também sepulturas de comprimento próximo dos dois metros. Uma das
primeiras referências sobre sepulturas deste dimensão referem-se à necrópole escavada na
freguesia de Lomba (Amarante). José Fortes menciona uma informação oral que refere o
aparecimento de sepulturas com essa dimensão, contendo mobiliário funerário227. Na Lage do
Ouro (Crato) encontraram-se muitas sepulturas com dimensões aproximadas dos dois metros.
Também continham mobiliário funerário depositado no seu interior, junto das cinzas recolhidas
da cremação.
Utilizamos estes exemplos para ilustrar as diferentes sepulturas encontradas que seguiam
esta configuração. Além das necrópoles mencionadas, existem sepulturas deste tipo em
Tongobriga (Marco de Canaveses) e Monte Novo do Castelinho (Almodôvar).
O segundo tipo de sepulturas tem uma configuração circular ou elíptica. Em Tongobriga,
J. L de Vasconcellos noticiava, em 1900, o aparecimento de “sepulturas de forma circular, de
pequeno diâmetro, abertas no solo, a pequena profundidade”228. Também na necrópole surgida
na Lomba (Amarante), J. Fortes descreve a escavação de covas circulares 229. Tal como em
Tongobriga, estas covas continham cinzas, a urna com ossos e outro mobiliário funerário (Fig.
30).
Mais recentemente, na necrópole da Lage do Ouro é descrito o aparecimento de
sepulturas ovais230. Algumas tinham ossos e carvões, além do mobiliário funerário, enquanto
uma não apresentava qualquer vestígio orgânico e outra não tinha mobiliário funerário.
Em outras necrópoles a informação é muito genérica, não permitindo o conhecimento
detalhado e exacto das sepulturas. Muitas vezes a bibliografia sobre esta temática cita fontes
orais que não são muito precisas. Falamos, concretamente, de Cruz, Mouriz (Paredes)231,
225
Apresentam estas dimensões as sepulturas 45 e 48 desta necrópole (Pinto 1998, 205 e 206).
226
Cruz 1940, 214.
227
Fortes 1908d, 254.
228
Vasconcellos 1899-1900a, 32.
229
Fortes 1908d, 253-254.
230
Só foram encontradas três sepulturas com esta forma (I 37.5, I 37.8 e L 38.2), com dimensões muito variadas.
Uma delas atinge quase os dois metros na secção de maior comprimento (Frade – Caetano 1991, 44-46).
231
Soeiro 1988-1989, 110.
57
Necrópoles Romanas do Território Português
B – Covas abertas no solo sem qualquer revestimento lateral e cobertas com material de
cobertura.
B1 – Cova aberta no solo coberta por duas tegulae formando uma espécie de telhado de duas
águas.
Este tipo de sepultura foi observado nas necrópoles da Horta das Pinas (Elvas)237 e da
Herdade do Padrãozinho (Vila Viçosa)238 (Fig. 32). Nesta necrópole a maior parte destas
sepulturas não apresentava oferendas funerárias. No entanto, algumas tinham o mobiliário
funerário colocado sobre as cinzas.
B2 – Cova aberta no solo coberta por tegulae formando uma espécie de telhado de duas
águas.
Este tipo de sepultura é diferente da anterior, dado que apresenta maiores dimensões.
Também aparece na necrópole da Herdade do Padrãozinho239 (Fig. 33). Não tem o fundo
revestido. A cova apresenta o fundo com cinzas, sobre as quais foram colocadas as oferendas
funerárias.
232
Pinto, J. M. 1990-1991,
233
Gonçalves 1989, 472.
234
Alarcão 1974b; Ferreira – Andrade 1966.
235
Viana 1953, 241.
236
Martins-Delgado 1989-1990, 156.
237
Viana 1953, 240.
238
Viana-Deus 1955a, 36.
239
Viana-Deus 1955a, 36.
240
Viana 1953, 240.
58
Necrópoles Romanas do Território Português
Herdade do Padrãozinho (Vila Viçosa) (Fig. 34) também aparecem sepulturas com esta forma241.
Aparece outro tipo de sepultura que apenas contém cinzas e ao lado uma cova, também coberta,
com o mobiliário funerário242.
C2 – Com caixa de lateres, formando uma fiada, coberta com o mesmo material ou com lajes
de pedra.
Na necrópole da Rodovia (Braga) apareceu uma sepultura que apresentava uma caixa
formada por lateres sobrepostos em camadas e o fundo de tegulae247. Não apresentava cobertura.
Também aparecem sepulturas com caixa rectangular formada por fiada de lateres, coberta
com lajes de granito ou calcário. Temos exemplares deste tipo de sepulturas em Braga
(necrópole da Via XVII)248 (Fig. 37), Constância249, Beja250 e numa necrópole de Balsa251.
241
Viana-Deus 1955a, 36.
242
Viana-Deus 1955a, 36-37.
243
Martins-Delgado 1989-1990, 155.
244
Viana-Deus 1955a, 36.
245
Viana-Deus 1955a, 39.
246
Vasconcellos 1902a.
247
Martins-Delgado 1989-1990, 154.
248
Delgado 1984; Martins-Delgado 1989-90, 143.
249
Alarcão-Alarcão 1966b.
250
Viana 1947, 13-14.
251
Mascarenhas 1978, 20-24.
59
Necrópoles Romanas do Território Português
A cobertura deste tipo de sepultura é geralmente constituído por um monólito com uma
forma semicircular. Este tipo de sepultura é muito comum no Alentejo (Fig. 38). A maior das
descobertas referem apenas o aparecimento de cupae. São poucas as descrições das caixas sobre
as quais assentavam estes monólitos em forma de pipa. A caixa tinha uma forma rectangular e as
paredes eram constituídas por fiadas de lateres. Na zona de Cascais também aparecem muitas
coberturas deste tipo mas nenhuma foi encontrada sobre a caixa da sepultura. A face destas
cupae são lisas e a epígrafe funerária foi efectuada num dos topos (Fig. 39). A estas cupae foi
atribuída uma cronologia que compreende os séculos I, II e III d.C.252.
Em Tróia apareceram sepulturas com cobertura em cupae de opus caementicium253. Deste
local também provieram cupae em pedra.
Em Marialva (Meda), apareceu uma sepultura sub-rectangular com forma de caixa, coberta
por uma inscrição efectuada numa placa de argila254. A descrição não permite conhecer a
natureza da caixa. É difícil, face a estes dados, inserir a sepultura num subgrupo desta tipologia.
252
Encarnação atribuiu uma cupa proveniente de Beja à segunda metade do século I d.C. (Encarnação 1984, 347-
348).
253
Maciel 1996, 199.
254
Rodrigues 1961, 23.
255
Viana-Deus 1955a, 36.
256
Fabião et al. 1998, 208.
60
Necrópoles Romanas do Território Português
F – Urnas
Existem em Portugal alguns vestígios de contentores de diversos materiais que serviram
para a deposição secundária de cinzas e das oferendas funerárias. O contexto da sua descoberta
permanece envolto em muitas dúvidas, situação que nos levou a tratá-los em categoria própria.
257
Ferreira – Andrade 1966, 5.
258
Pina 1930, 106.
259
Pina 1930, 100-101.
260
Viana 1953, 240.
261
Dias 1993-1994, 114-120.
262
Silva-Ribeiro (no prelo).
263
Pinto, JM 1990-91, 151.
264
Diogo 1983.
61
Necrópoles Romanas do Território Português
Tinha uma tampa que fechava a urna e apresentava decoração na face principal (Fig. 42 e 43).
Apresenta epígrafes nas faces esquerda e direita da urna265. Esta urna destinava-se aguardar as
cinzas de dois indivíduos. Dias Diogo atribui a esta urna uma data dentro dos dois primeiros
terços do século I d.C.266.
Existe outra do mesmo tipo encontrada em Lisboa. Esta foi publicada por Luís Chaves que
dá como local da sua proveniência a Calçada da Ajuda, em Lisboa267. Leite de Vasconcellos
apresenta de forma sumária uma urna cinerária de grés, proveniente de Mértola268.
F2 – Urnas de chumbo
Estas urnas de chumbo têm pequenas dimensões e serviriam para guardar os fragmentos de
ossos, as cinzas e por vezes alguma oferenda funerária269. No entanto, permanecem muitas
dúvidas sobre a sua deposição na sepultura. Leite de Vasconcellos, referindo uma proveniente da
Quinta das Antas (Tavira)270, avança com a hipótese de estas urnas de chumbo terem sido
depositadas em sepulturas com caixa de pedra.
Também não sabemos o contexto da deposição das urnas encontradas na Praça da Figueira,
em Lisboa271. Apareceu um outro Donas (Fundão) com cerca de um metro de comprimento mas
não sabemos se é uma incineração272. Poderá ser uma inumação infantil.
G – Mausoléus (Columbarium)
Este tipo de deposição secundária dos restos mortais (cinzas) origina a criação de mausoléus
com nichos destinados à colocação das urnas cinerárias. No território português são poucos os
vestígios de mausoléus tipo columbarium (Fig. 46). Existem referências para o Cerro da Vila
(Loulé), Milreu (Estói, Faro), Tróia (Grândola), Paiço (Guilhabreu, Vila do Conde) e Val de
Tenda (Monsanto, Idanha – a – Nova).
Em Cerro da Vila, o mausoléu devia ter a forma de um pequeno templo 273 (Fig. 44). Ainda é
possível ver a estrutura sobre a qual estava erguida o mausoléu. No interior deste existia uma
câmara, aproximadamente rectangular, onde eram colocadas as urnas com as cinzas (Fig. 45).
265
Diogo 1983, 866-867.
266
Diogo 1983, 868.
267
Chaves 1934.
268
Vasconcellos 1913, 375-376.
269
O exemplar referido por Leite de Vasconcellos (1913, 375) tem 36 cm de comprimento (medidas internas).
270
Vasconcellos 1913, 375. Este autor refere a dimensão de mais duas urnas de chumbo provenientes de Alcácer do
Sal e de Torre d‟ Ares.
271
Heleno 1965, 307.
272
P. Galliou (1989, 52-54) descreve os caixões de chumbo descobertos na Bretanha mas insere-os dentro do rito da
inumação.
273
Seguimos a descrição efectuada por J. L. Matos (1984-1988).
62
Necrópoles Romanas do Território Português
Tinha dez nichos, forrados e divididos por grandes lateres. O acesso a este columbarium devia
fazer-se por uma abertura no topo. Estava tapada com lajes de pedra.
Também no Algarve, em Milreu, Estói (Faro) apareceram dois mausoléus274. Um destes é um
mausoléu com columbarium. Este estava inserido numa estrutura rectangular com 10 metros de
comprimento, 5 de largura e dois metros de altura. T. Hauschild considerou esta estrutura como
uma espécie de pódio de um mausoléu com forma de templo275. A câmara tinha uma forma
rectangular e estava coberta com uma abóbada. O acesso a esta câmara fazia-se através de uma
abertura existente na abóbada. No interior existiam dez nichos para colocar as urnas cinerárias.
Este investigador atribui este mausoléu ao século I ou II d.C.
Em Tróia, as escavações realizadas no local, no século XIX, puseram a descoberto um
columbarium. Marques da Costa refere a sua forma rectangular, com nichos nas paredes para
colocar as urnas cinerárias276.
Leite de Vasconcellos descreveu uma estrutura existente em Val da Tenda (Monsanto,
Idanha – a – Nova) que seria também um columbarium277. O edifício tinha uma forma circular e
abobadada, com uma porta baixa. No interior encontrou uma prateleira de lajes que Leite de
Vasconcellos interpretou como o local onde seriam colocadas as urnas.
Em Paiço (Guilhabreu, Vila do Conde) foi descoberta uma estrutura com planta circular,
cobertura abobadada, com três nichos de cada lado278. A forma deste edifício e a existência de
nichos levou à sua interpretação como columbarium.
Embora todas estas estruturas tivessem como objectivo a deposição de urnas cinerárias, a sua
forma parece diferente. Temos estruturas rectangulares onde foi inserida uma câmara que
funcionaria como local de posição das urnas. Os dois últimos vestígios referidos têm, por sua
vez, uma planta circular com os nichos para colocar as urnas. No caso de Val da Tenda, fala-se
apenas de uma prateleira onde seriam colocadas as urnas.
274
Hauschild 1984, 99.
275
Hauschild 1984, 99.
276
Costa 1929, 318.
277
Vasconcellos 1917
63
Necrópoles Romanas do Território Português
2.2. Inumações
3.2.1. Introdução
O rito inumatório nunca desapareceu dos costumes funerários romanos. A prática da
incineração tornou-se generalizada. A integração de populações com práticas funerárias baseadas
na incineração, tornou este procedimento generalizado na parte ocidental do Império durante
alguns séculos. No entanto, a inumação permaneceu sempre como uma prática funerária
conhecida pelas populações. Como exemplo paradigmático da permanência desta prática
funerária temos a inumação das crianças.
O corpo do defunto podia ser colocado na sepultura dentro de um caixão de madeira ou
simplesmente amortalhado. Este tipo de acondicionamento do corpo não deixa muitos vestígios
mas a ausência de pregos ou de madeira, indicará a possível utilização da mortalha. Como é
evidente, a presença de caixões de madeira é visível pela presença de pregos nos cantos da
sepultura ou impressões muito ténues da madeira no registo arqueológico.
Para definir os diferentes tipos de sepulturas vamos utilizar os mesmos critérios apresentados
anteriormente, quando analisamos as incinerações secundárias.
Mais uma vez vamos utilizar como critério principal a presença / ausência de elementos
construtivos a revestir a sepultura é um bom critério arqueométrico. Neste âmbito as sepulturas
adquirem uma configuração diversificada devido ao formato / tamanho das mesmas e ao material
utilizado na sua construção. Nesta dimensão consideramos material de diferentes proveniências:
- material pétreo, nomeadamente, granitos, xistos, calcários e mármores;
- material de construção, no qual se englobam os diferentes tipos de lateres;
- material de cobertura, muito utilizado na estruturação de sepulturas, tanto as tegulae
como os imbrices.
278
Alarcão 1988
64
Necrópoles Romanas do Território Português
279
Cardoso et al. 2000, 9.
280
Rocha 1903b, 598.
281
Nesta necrópole algumas sepulturas apresentavam um rebordo intencionalmente aberto no momento da abertura
da sepultura. Serviam como local de assentamento das lajes. Lopes – Boiça 1993, 20-21.
282
Ferreira – Andrade 1966, 3.
283
Santos 1997, 400.
284
Sabrosa 1996, 285
285
Santos et al. 1996, 231.
286
Cardoso et al. 2000, 9.
287
Sabrosa 1996, 286.
66
Necrópoles Romanas do Território Português
Em Braga apareceram sepulturas com caixas formadas por lateres. O fundo destas sepulturas
estava revestido com o mesmo material e as tampas também tinham lateres colocados na
horizontal288. Na necrópole da Achada de S. Sebastião (Mértola) apareceram sepulturas com
caixa de lateres mas a cobertura era feita com lajes de xisto289. No Poço de Cortes (Lisboa)
apareceu uma sepultura deste tipo com uma cobertura constituída por lateres colocados
horizontalmente, com argamassa290 (Fig. 51). Na Horta do Bispo (Évora)291, em Tróia
(Carvalhal, Grândola)292 e na Senhora de Aires (Viana do Alentejo)293 também apareceram
sepulturas deste tipo.
A diferença dentro deste grupo de sepulturas coloca-se ao nível do revestimento do fundo e
da cobertura. Algumas sepulturas não apresentam qualquer material para revestimento do fundo.
A cobertura, além dos lateres, também pode ser de tegulae e de lajes de pedra.
É no Algarve que encontramos mais exemplos de sepulturas com cobertura de tegulae. Na
necrópole do Bairro Letes, Abel Viana escavou uma sepultura deste tipo. Apresentava o fundo
revestido de tegulae e a cobertura constituída por duas filas do mesmo material294. Uma das
paredes laterais tinha um espaço para colocar uma lucerna.
Na Rua das Alcaçarias, também em Faro, em data mais recente, foi escavada uma sepultura
idêntica295.
Também existem exemplos de sepulturas com caixas deste tipo com coberturas de material
pétreo. Em Tróia, apareceu uma com tampa de mármore296. Sem dúvida uma sepultura de
construção mais cuidada. Com coberturas mais frustes estão as sepulturas encontradas em
Braga297, Idanha-a-Velha298, Retorta (Boliqueime, Loulé)299 e Dona Menga (Luz, Tavira)300.
Todas apresentam coberturas constituídas por lajes de pedra. Dentre estas realce-se a última
referida, dado que apresenta uma caixa cuidada, com um espaço numa das paredes laterais para
colocar uma oferenda funerária (Fig. 50). No entanto, a sua cobertura é de lajes de calcário 301.
Sobre esta tinha um coval forrado com tegulae e um tumulus de terra. Esta inumação
provavelmente resulta de uma fusão de modelos funerários de proveniências diversas.
288
Martins – Delgado 1989-90, 144.
289
Lopes – Boiça 1993, 21.
290
Vieira 1944, 40.
291
Pereira 1890.
292
Silva 1966, 262.
293
Pereira 1904, 286.
294
Viana 1951, 154-156.
295
Gamito 1992, 106-107.
296
Silva 1966, 262.
297
Martins – Delgado 1989-90, 144.
298
Baptista 1998, 44.
299
Azevedo 1970, 120.
300
Mendes 1999, 218-219.
67
Necrópoles Romanas do Território Português
301
Mendes 1999, 218-219.
302
Lobato 1995, 36.
303
Rocha 1903b, 596.
304
Silva 1966, 262.
305
Faria – Ferreira 1988, 29.
306
Almeida – Ferreira 1958.
307
Rocha 1903a, 816.
308
Viana 1950, 301.
309
Martins – Delgado 1989-90, 144.
310
Lobato 1995, 38.
68
Necrópoles Romanas do Território Português
311
Pires 1896.
312
Faria-Ferreira 1988, 29.
313
Sabrosa 1996, 285.
314
Almeida – Ferreira 1958.
69
Necrópoles Romanas do Território Português
315
Matos 1969, 192.
316
Lopes-Boiça 1993,
317
Almeida, C.A.F. 1974, 36-41.
318
Lobato 1995, 36.
319
Girão 1923-1924, 249.
320
Rocha 1895, 193.
321
Cruz 1948, 333.
322
Almeida-Ferreira 1956, 222.
323
Matos 1969, 194.
324
Serrão 1974, 130.
325
Fernandes 1985b.
326
Viana-Deus 1955a, 59.
327
Viana 1950, 301.
328
Viana 1950, 306-307.
329
Viana 1950, 313-314.
330
Viana-Deus 1955a, 33.
70
Necrópoles Romanas do Território Português
apresentavam sepulturas similares mas a descrição incompleta leva-nos a não incluí-las nesta
lista.
Outras sepulturas não foram incluídas em nenhum dos três subgrupos devido ao carácter
impreciso das descrições existentes na bibliografia consultada.
331
Conhecemos exemplos na Herdade da Terrugem, Elvas (Viana 1950, 301), em Beja (Vasconcellos 1896, 54; Sa
1905, 168) e Senhora de Aires, Viana do Alentejo (Pereira 1909, 284-285).
332
Sá 1905.
333
Gonçalves 1908, 296.
71
Necrópoles Romanas do Território Português
D – Sepulturas em ânfora
Apenas existe uma referência ao aparecimento deste tipo de sepulturas de inumação na
necrópole de Tróia. Apenas é referido muito vagamente a utilização de ânforas tipo Beltran 56
na inumação de indívíduos339. É uma forma de atribuir uma forma de “caixa” à sepultura, é um
revestimento. De qualquer das formas deve-se realçar a pobreza de tal enterramento.
E – Sarcófagos
Incluem-se nesta categoria as sepulturas constituídas por blocos monolíticos que
serviram para fazer uma sepultura. São claramente sepulturas utilizadas pelas elites. É uma
forma de ostentação social. Estas sepulturas destinavam-se a colocar em locais bem destacados,
onde estivessem visíveis. A riqueza do defunto e da sua família reflectem-se na sepultura
escolhida para local de deposição do cadáver.
Embora tenhamos incluído esta categoria, os vestígios são escassos e alguns de rito
funerário pouco claro. Garcia y Bellido associa-os ao rito inumatório e aos grupos sociais mais
334
Martins – Delgado 1989-90, 144.
335
Ferreira – Andrade 1966, 5.
336
Santos 1997, 400.
337
Silva 1966, 573.
338
Lobato 1995, 38.
339
Baltasar 1982.
72
Necrópoles Romanas do Território Português
340
Carvalhaes 1903; Garcia Y Bellido 1949, 233-234; Maciel 1996, 135-139.
341
Garcia Y Bellido 1949, 241-242; Maciel 1996, 137-139.
342
Garcia Y Bellido 1949, 263-264; Maciel 1996, 140-143.
343
Garcia y Bellido 1949, 274-275; Maciel 1996, 126-128.
344
Garcia Y Bellido dá conta da notícia de descoberta deste sarcófago, quando terão aparecido alguns recipientes
cerâmicos classificados como urnas cinerárias. Garcia Y Bellido 1949, 264-267; Maciel 1996, 151-154.
345
Maciel 1996, 160-164. Este autor estudou o fragmento de tampa que apareceu nas escavações de 1968 e 1969,
dirigidas por Fernando de Almeida e J. L. Matos.
346
Remetemos o leitor para a bibliografia citada nas notas anteriores.
347
Maciel 1996, 162.
348
Gonçalves 1908.
349
Pires 1902.
350
Alarcão 1988b, 158.
351
Alarcão 1984b.
352
Alarcão 1988b, 130.
73
Necrópoles Romanas do Território Português
situa-se entre os meados do século II d.C. e meados do século V d.C.353. Na Península Ibérica, os
exemplares conhecidos não têm uma cronologia muito definida, em torno dos séculos IV e V354.
Estas estruturas estavam junto de sepulturas de inumação ou por cima destas sepulturas.
Jorge Alarcão diz que «a inumação podia fazer-se em caixão de tégulas ou tijolos. Algumas
vezes, porém, as mensae recobrem grupos de sarcófagos de pedra.»355 Por esta descrição vemos
que este tipo de monumento é uma combinação de uma sepultura de inumação com uma
estrutura arquitectónica que lhe dá grande visibilidade.
353
Alarcão 1984b, 92.
354
J. Alarcão (1984b, 93) apresenta algumas reflexões sobre a adopção deste tipo de monumento. Dada a falta de
novas informações sobre este assunto, penso não ser necessário repetir argumentos referidos por este autor.
355
Alarcão 1984b, 92.
74
Necrópoles Romanas do Território Português
75
Necrópoles Romanas do Território Português
4. Mobiliário funerário
4.1. Introdução
As sepulturas sempre foram muito «apreciadas» entre os arqueólogos devido aos objectos
recuperados do seu interior. Apresentavam sempre grandes quantidades de mobiliário funerário
em bom estado de conservação, óptimo para o estudo da cultura material desta época. Ao mesmo
tempo, constituíam uma parte importante dos vestígios das práticas funerárias.
Neste capítulo vamos estudar aspectos muito simples do mobiliário funerário presente nas
sepulturas. Não vamos fazer nenhuma reavaliação crítica das cronologias do material, assunto
que ultrapassa os objectivos da dissertação. Seria por si só o assunto principal de qualquer
dissertação. Incidiremos principalmente sobre a presença ou ausência de determinados objectos
nos enterramentos, separando, mais uma vez, as práticas funerárias diferenciadas.
4.2. Incinerações
4.2.1. Incinerações primárias
Abordamos primeiro as incinerações primárias. Neste tipo de incinerações devemos,
antes de prosseguirmos, distinguir entre os objectos inteiros e aqueles que foram encontrados
fragmentados, a maior parte dos quais incompletos. Esta distinção é importante porque revela-
nos dois momentos essenciais da prática funerária da incineração.
A bibliografia muitas vezes não é muito esclarecedora quanto a este aspecto. Os artigos
publicados nas últimas décadas já apresentam uma descrição completa de cada uma das
sepulturas, pormenorizando o mobiliário funerário encontrado e todo o outro espólio detectado.
Mas nem sempre foi assim. Durante muitas décadas, não houve a preocupação de isolar os
oferendas em bom estado de conservação e os fragmentos de diversos objectos, descurando uma
informação valiosa. A fragmentação dos objectos não está apenas relacionada com condições de
deposição e formação dos estratos arqueológicos e a própria violação das sepulturas devido às
actividades humanas. A própria prática funerária romana origina a formação de diferentes tipos
de vestígios.
Nas incinerações primárias encontram-se, por vezes, vestígios de objectos fragmentados,
essencialmente pedaços de cerâmica e fragmentos de vidro. São os vestígios dos objectos
colocados na pira funerária e que se quebraram durante todo o processo de cremação do corpo do
defunto.
76
Necrópoles Romanas do Território Português
P. Galliou refere que neste momento do ritual funerário, os familiares e amigos destroem os
objectos pessoais mais estimados pelo defunto356. Estes objectos seriam atirados para a pira
funerária, acção que provocaria sua destruição. A própria cerâmica encontrada fragmentada
poderia ter resultado da destruição destes objectos após a refeição ritual357.
É com base nestas hipóteses que podemos explicar a presença de fragmentos de sigillata
hispânica e de recipientes de vidro na necrópole de Gondomil (Valença) 358, os vários fragmentos
de vidro recolhidos na Tapada da Eira (Idanha-a-Velha)359 ou os fragmentos recolhidos na Lage
do Ouro (Crato)360. Na necrópole de Santo André361 aparecem muitas peças de cerâmica que
apresentam sinais de terem sido submetidas ao fogo da pira funerária. Na necrópole do
Padrãozinho (Vila Viçosa), Abel Viana e Dias Deus referem o aparecimento de mobiliário
funerário que já estava quebrado quando foi colocado sobre as cinzas362.
Estes vestígios possivelmente resultariam de recipientes quebrados na pira funerária ou sobre
a pira, no caso daqueles que não se encontram queimados. Muitos outros fragmentos encontrados
em incinerações secundárias poderiam ter vindo da pira funerária, misturados com as cinzas.
Mas as informações provenientes da bibliografia consultada não permitem conclusões seguras.
Na maior parte das vezes não conseguimos saber se a fragmentação das peças se deve à acção
das práticas funerárias ou à violação das sepulturas.
Nos poucos vestígios que podem ser definidos como incinerações primárias, o mobiliário
funerário é constituído por vários objectos. Encontram-se frequentemente objectos cerâmicos
colocados sobre as cinzas da cremação. São encontrados vários tipos de recipientes. Além das
urnas onde eram colocadas as cinzas, aparecem formas destinadas a guardar líquidos e alimentos,
porventura associadas à refeição cerimonial, levada a cabo pelos familiares e amigos do defunto.
Os vidros podem estar associados aos objectos pessoais, estimados pelo defunto, como à
necessidade de reduzir o odor da cremação, no caso dos unguentários que continham substâncias
perfumadas363.
Os recipientes cerâmicos assumem a forma de tigelas, copos, pratos, púcaros e bilhas. A
cerâmica comum é muito mais frequente mas, por vezes, são colocadas peças de terra sigillata.
356
Galliou 1989, 42.
357
Galliou 1989, 45.
358
Nesta necrópole os vestígios de terra sigillata e uma parte dos vestígios de vidros foram encontrados
fragmentados (Almeida-Abreu 1987, 201-202 e 214-215).
359
Na sepultura 1foram encontrados in situ vários fragmentos de um recipiente de vidro (Côrte-Real 1996, 24).
360
Frade-Caetano 1985, 135.
361
Viegas et al. 1981, 28.
362
Viana-Deus 1955a, 36.
363
Galliou 1989.
77
Necrópoles Romanas do Território Português
364
Côrte-Real 1996, 24-27.
365
Soeiro 1984, 298.
366
Dias 1993-1994, 125-126.
367
Almeida-Abreu 1987, 221.
368
Soeiro 1984, 298.
369
Fabião et al. 1998, 214.
370
Rocha 1895, 329.
371
Soeiro 1984, 298.
372
Rocha 1895, 329.
78
Necrópoles Romanas do Território Português
português. Podem não constituir a maior parte do mobiliário funerário mas estão quase sempre
presentes.
A cerâmica comum é muito mais frequente. Aparece praticamente em todas as sepulturas
que apresentavam mobiliário funerário. As formas não constituem uma excepção relativamente
àquilo que foi dito sobre as incinerações primárias. São as formas de transportar líquidos ou de ir
à mesa que estão mais presentes. Além da urna que contém as cinzas, encontram-se nas
sepulturas outros recipientes em número variável. São muito numerosos na necrópole de Santo
André, onde algumas sepulturas têm 24 peças de cerâmica comum ou fina 373. Em Valbeirô (C.
Paiva), sete sepulturas apresentavam mobiliário funerário constituído essencialmente por
cerâmica comum. Estas sepulturas tinham, no total, 29 peças de cerâmica comum374.
No entanto, em muitos locais as sepulturas apresentavam poucas peças de cerâmica. Em
muitos lugares apenas se faz referência ao aparecimento de urnas cinerárias. Não sabemos se
existe alguma confusão na identificação das peças cerâmicas. Na necrópole de Torre das Arcas
(Elvas), em 79 sepulturas apenas foram encontrados 82 recipientes de cerâmica comum375.
Algumas sepulturas não apresentavam qualquer recipiente, no entanto, dá uma média baixa de
peças por sepultura. O curioso é a existência de necrópoles próximas com um grande número de
peças cerâmicas. Na necrópole da Horta das Pinas foram encontradas mais de 200 peças
cerâmicas (cerâmica comum e terra sigillata) em 61 sepulturas376. Na Herdade de Santo André
encontraram-se mais de 300 peças distribuídas por 52 sepulturas377.
Mesmo tendo em conta esta variabilidade na composição do mobiliário funerário das
sepulturas, parece frequente o aparecimento de sepulturas compostas por várias peças cerâmicas.
A variabilidade poderá estar relacionada com as condições sócio-económicas de cada
comunidade. Esta parte do ritual parace ter sido assimilada pelas populações autóctones mas o
seu nível económico terá influenciado a sua realização.
Em algumas sepulturas, a terra sigillata e a cerâmica de paredes finas é colocada no
interior da sepultura. Esta cerâmica é muito mais rara, mesmo nas necrópoles que apresentam um
elevado número de oferendas funerárias. A terra sigillata aparece em sepulturas de diferentes
áreas do território estudado mas são mais frequentes a sul do Maciço Central. A norte desta área,
também encontramos alguns vestígios, mas são muito mais raros.
373
O enterramento G3 da necrópole de Santo André apresenta um mobiliário funerário muito numeroso constituído
por recipientes de cerâmica comum e de terra sigillata (Viegas et al. 1981, 163-165).
374
Dias 1993-1994, 115-120.
375
Viana-Deus 1955a, 247.
376
Viana-Deus 1955a, 247.
377
Viegas et al. 1981, 137-171.
79
Necrópoles Romanas do Território Português
Vidros
Os recipientes de vidro encontram-se com alguma frequência nas sepulturas de
incineração. A seguir às peças de cerâmica são a oferenda funerária mais comum. No entanto, a
sua presença não é muito elevado. Com isto pretendo dizer que existem 41 necrópoles de
incineração que apresentam vestígios de peças de vidro mas a quantidade de peças ou
fragmentos de vidro presentes em cada uma delas não é muito elevado.
Nas sepulturas encontram-se peças das mais variadas formas. Aparecem garrafas, frascos,
unguentários, boiões, taças e copos. Os mais frequentes são os unguentários, que aparecem em
sepulturas situadas em áreas diversas do território português. Estes objectos poderão também
estar ligados à esfera feminina, tal como acontece com as pulseiras ou colares.
Deve salientar-se algumas sepulturas que se destacam pela riqueza das oferendas em
vidro. Uma das sepulturas encontradas no Largo Carlos Amarante apresentava quatro
unguentários e uma taça de vidro, além diversos objectos pessoais em ouro, três alfinetes de
cabelo em osso e recipientes de cerâmica comum378. Esta sepultura é claramente feminina. Na
Herdade da Carvalhal (Constância) uma sepultura continha sete recipientes de vidro (garrafas,
taças, boião, unguentário e urna)379 e no Pombalinho (Santarém) apresentava também sete
recipientes de vidro (três garrafas, dois boiões e dois unguentários)380. Estas três sepulturas são
claramente excepcionais. Na maior parte das sepulturas aparece apenas uma peça de vidro. Esta
oferenda funerária está também claramente ligada a meios com algum desafogo sócio-
económico.
Moedas
A analise do mobiliário funerário das sepulturas de incineração leva-nos a concluir pela
presença pouco expressiva das moedas. Encontrámos moedas em incinerações atribuídas ao
Alto Império e ao Baixo Império. No entanto, a sua presença dentro de cada necrópole não é
muito significativa. Como se pode ver pelo quadro, os valores mais elevados são atingidos por
necrópoles situadas no norte de Portugal. Montes Novos, Tongobriga, Valbeirô, Maximinos e
Lage do Ouro atingem valores acima de 20 %. Devemos também salientar as necrópoles da
região de Elvas que apresentam números muito baixos. Esta situação é comum a todo o território
estudado. Estaremos perante um facto derivado das condições em que foram efectuadas a maior
parte das descobertas, na sua grande maioria acidentais e sem um acompanhamento arqueológico
adequado? Esta hipótese explicará a falta de moedas em algumas necrópoles mas não pode ser
378
Delgado 1984,
379
Alarcão-Alarcão 1966b.
80
Necrópoles Romanas do Território Português
aplicado às necrópoles escavadas nos últimos anos. Nas necrópoles da Lage do Ouro e da
Herdade de Santo André a falta de moedas em muitas sepulturas é claramente intencional e terá
outra explicação. Neste caso, a pobreza do meio talvez explique a falta de recursos para colocar
uma moeda na sepultura do defunto. Poderemos também colocar a hipótese de a assimilação do
ritual funerário não incluir todos os aspectos presentes nos rituais romanos.
P. Galliou constatou também a sua raridade nas sepulturas do Noroeste de França381. Para
este autor esta situação deve-se a ideias diferentes presentes nas práticas funerárias desses povos
que não terão assimilado todos os costumes romanos382.
Outro aspecto a salientar é o reduzido número de moedas por sepultura. Na maior parte dos
casos, cada sepultura apresenta apenas uma moeda. Podemos ver esta situação nas necrópoles de
Maximinos, Lage do Ouro, Herdade de Santo André ou em Montes Novos. Numa sepultura
encontrada no Largo Carlos Amarante (Braga)383, no meio de um espólio funerário muito rico
constituído por vários objectos de adorno em ouro e recipientes de vidro, apenas foi encontrada
uma moeda de Cláudio I. Seria o óbolo para Caronte, objecto colocado junto das cinzas que se
espalhavam pela sepultura.
Existem, no entanto, excepções a esta regra. Em Valbeirô384, uma sepultura apresentava
cinco moedas do século I e III d.C. Estas moedas estavam colocadas sobre um prato pertencente
ao mobiliário funerário da sepultura. Na necrópole de Tongobriga, a sepultura 12 apresentava 7
380
Alarcão 1969.
381
Galliou 1989, 46-47.
382
Galliou 1989, 46.
383
Delgado 1984, 181-184.
384
Dias 1993-1994, 118.
81
Necrópoles Romanas do Território Português
moedas do século IV d.C.385. São sepulturas dos séculos III ou IV que porventura acompanharão
uma tendência que é comum às sepulturas de inumação tardo-romanas.
As nossas conclusões não são perturbadas pela falta de algumas informações que merecem
uma breve referência. Refiro-me às moedas descobertas nas necrópoles da Quinta das Antas e da
Quinta do Arroio, ambas em Tavira. Nesta necrópole são identificadas 26 moedas mas não é
referida a sua proveniência concreta. Esta necrópole tinha um grande número de sepulturas de
incineração e de inumação e esta falta de informações impede-nos de atribuir a sua utilização a
uma prática funerária determinada. Na Quinta das Antas as moedas não são identificadas. Esta
situação impede-nos de utilizar estes dados.
Lucernas
A lucernas é outro dos elementos presentes no mobiliário funerário das sepulturas. Este
objecto estará relacionado com a luz necessário aos espíritos dos mortos para iluminar as
trevas386. Aparecem em sepulturas espalhadas por todo o território estudado. Mas não é um
objecto muito comum, apenas a detectamos em 22 necrópoles ou sepulturas do território
português. Os vestígios estão mais concentrados na parte sul deste território, embora apareçam
vestígios nas necrópoles de Bracara Augusta, na necrópole de Bustelo (Penafiel) e na Quinta da
Leveira (Meda).
Aparece geralmente uma lucerna por sepultura. Mas na Herdade da Barrosinha (Alcácer do
Sal) apareceram três lucernas na mesma sepultura387. Estava integrada numa sepultura que foi
atribuída ao século III d.C.388. Não sabemos se existe algum significado especial atribuído a este
facto, dado que a sepultura foi atribuída a um cirurgião. No Monte dos Irmãos (Montargil),
dentro de uma urna apareceu uma lucerna de bronze envolvida num pedaço de tecido389.
Objectos pessoais
Englobamos nesta categoria todos os objectos colocados nas sepulturas que seriam pertença
do defunto. É verdade que muitos recipientes de vidro estariam nesta categoria mas já foram
abordados separadamente. Dentro desta categoria incluímos as jóias, os objectos de adorno para
colocar na roupa, as armas e os próprios instrumentos de trabalho.
385
Dias 1993-1994, 130.
386
Galliou 1989, 47.
387
Sousa-Sepúlveda 1997, 113-117.
388
Sousa-Sepúlveda 1997, 103.
389
Nolen 1981, 183.
82
Necrópoles Romanas do Território Português
Os objectos de adorno mais comuns são os anéis e as fibulas. Estes objectos estão geralmente
ligados aos gostos femininos. Apresentam-se em diversos materiais. Não são muito abundantes e
a presença de objectos valiosos está relacionado com os estratos sociais mais elevados.
No Largo Carlos Amarante (Braga), a sepultura tinha um anel, um aro, um brinco, duas
contas de colar, tudo em ouro, e três alfinetes de cabelo em ossos revestidos em folha de ouro390.
Estes objectos pessoais e certamente sentimentais foram depositados nas cinzas da sepultura.
Em São Lourenço (Monsanto), no interior da sepultura foi encontrado um diadema, um
brinco e um anel em ouro391. No interior também foi encontrada uma estatueta. Noutros locais
aparecem pulseiras, anéis de metal ou de vidro, fragmentos de espelhos ou até mesmo de stilus
em ferro. São objectos inseparáveis para os defuntos, para os quais deviam ter um valor
sentimental elevado, acompanhando-os também no momento da morte.
Gostavamos também de salientar a presença de outros objectos nas sepulturas. As armas
aparecem em algumas, permitindo talvez ver nestes enterramentos sepulturas masculinas. Não
são objectos muito frequentes. Na Horta das Pinas (Elvas) apareceu um formão de ferro392, na
Torre das Arcas, no mesmo concelho, foram descobertos vários instrumentos de trabalho 393 e na
Lage do Ouro (Crato) diversos objectos ligados às profissões de pedreiro, carpinteiro, lenhador
ou agricultor394.
Na Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) foram depositados quatro instrumentos de
cirurgião395. Serão os instrumentos da propriedade do defunto, provavelmente necessários à sua
actividade. O mundo dos vivos parece acompanhar o defunto no momento da sua morte. Para
alguns, os objectos do quotidiano, ligado às suas actividades profissionais, acompanham-nos
para o mundo dos mortos.
4.3. Inumações
Vamos efectuar a mesma análise do mobiliário funerário presente nas sepulturas de
inumação. Embora estas existam em maior quantidade, verifica-se uma diminuição das oferendas
presentes. São muitas as sepulturas que não apresentam espólio, situação que dificulta a própria
datação das sepulturas. Detecta-se uma tendência de empobrecimento das sepulturas que provoca
uma diminuição do número de objectos funerários.
390
Delgado 1984, 183.
391
Almeida-Ferreira 1956, 419.
392
Viana-Deus 1955a, 245-246.
393
Viana-Deus 1955a, 245-246.
394
Frade-Caetano 1991, 52.
395
Sousa-Sepúlveda 1997, 117-119.
83
Necrópoles Romanas do Território Português
Cerâmica
A cerâmica é a oferenda funerárias mais frequente nas sepulturas de inumação. O seu número
não é uniforme, variando de uma unidade até dez. Os números mais frequentes são os
intermediários (quatro a seis). Em Montes Novos (Penafiel), numa necrópole tardia, aparecem
frequentemente quatro ou cinco recipientes cerâmicos em cada sepultura. No entanto, existem os
casos em que este número é claramente superado. Na sepultura 67 apareceram dez recipientes de
cerâmica comum396. Em Gulpilhares (V. N. de Gaia), algumas sepulturas apresentam sete
recipientes cerâmicos.
Em muitas necrópoles tardo-romanas, são frequentes as sepulturas com pouca cerâmica. Na
Herdade dos Pombais (Marvão) ou nas necrópoles de Braga, as oferendas funerários resumem-
se, por vezes, a uma única peça.
Tal como nas incinerações, as peças de cerâmica comum são as mais frequentes. Encontram-
se quase sempre os recipientes de uso corrente, preparados para o transporte e conservação de
alimentos ou para a sua preparação e consumo. Falamos de pratos, tigelas, potes, púcaros,
copos, jarros e bilhas.
Aparecem também outros tipos de cerâmica, nomeadamente Terra Sigillata. No entanto, a
sua quantidade é muito mais reduzida. As referências são por vezes vagas, referindo
genericamente o aparecimento de fragmentos ou vasos de terra sigillata. A maior parte dos
vestígios referem-se a formas tardias de sigillata.
Vidros
Os recipientes de vidro continuam a aparecer nas sepulturas. A maior parte das sepulturas
apresenta apenas uma peça de vidro. Os conjuntos excepcionais praticamente deixam de existir.
Como excepção temos a sepultura da Rua das Alcaçarias (Faro) que continha vestígios de quatro
peças (unguentário, prato, copo e base de garrafa). Os unguentários continuam a ser as peças de
vidro mais comuns. Aparecem ainda copos, taças, garrafas e algumas peças menos comuns,
como uma anforeta e um frasco.
84
Necrópoles Romanas do Território Português
Moedas
As moedas são muito mais comuns nas sepulturas de inumação. É verdade que existem mais
vestígios de inumações do que incinerações. É, no entanto, evidente o aparecimento de maiores
quantidades de moedas. Esta situação é bem evidente nas sepulturas mais tardias, onde a sua
presença é frequente.
No entanto, o quadro atrás traçado não se verifica em muitos vestígios. Aparece ainda uma
moeda em cada sepultura, mostrando uma possível continuidade do ritual presente nas
incinerações. Seria, como já dissemos, o óbolo para Caronte. É uma prática que se verifica em
muitas necrópoles de todo o território estudado. Na necrópole da Herdade dos Pombais
(Marvão), inserida no período tardo-romano, apareceram várias moedas, mas tinha sido
depositada apenas uma em cada sepultura397. Na necrópole de Porto dos Cacos (Alcochete) a
regra é a deposição de uma moeda em cada sepultura; apenas uma sepultura apresentava quatro
moedas398. Os exemplos de sepulturas contendo apenas uma moeda espalham-se um pouco por
todo o território estudado.
De salientar uma sepultura escavada na necrópole do Cerro da Vila (Loulé), onde uma moeda
do século IV foi colocada no interior da boca de um indivíduo399. Na maior parte das sepulturas
encontradas as moedas são colocadas numa parte central, provavelmente próximas das mãos.
Em algumas sepulturas, a presença de grandes quantidades de moedas é indício de uma
alteração do valor das oferendas funerários dentro do próprio ritual. Esta constatação verifica-se
em sepulturas localizadas no Noroeste do território português. Em Maximinos (Braga), uma
sepultura continha treze moedas da segunda metade do século III400. Em Vila Verde (Vila do
Conde) apareceram dezasseis moedas de bronze dentro de um prato401. Exemplo mais
paradigmático desta situação verifica-se na necrópole tardo-romana de Montes Novos (Penafiel),
onde existem muitas sepulturas com grande quantidade de moedas. Refiro, como exemplos mais
expressivos, as sepulturas 63 e 67 que contêm, respectivamente, setenta e nove e sessenta e duas
moedas de bronze402. Estas moedas acompanham outras oferendas constituídas por cerâmica
comum. Nesta necrópole mais de cinquenta por cento das sepulturas contêm moedas 403. De
salientar ainda o pouco desgaste que as moedas encontradas nesta necrópole evidenciavam.
396
Pinto 1998, 210-211.
397
Fernandes 1985, 101.
398
Sabrosa 1996, 299.
399
Santos 1997, 400.
400
Martins-Delgado 1989-1990, 80.
401
Severo 1908c, 427.
402
Pinto 1998, 209 e 210-211.
403
Este número inclui todas as sepulturas da necrópole, inclusive as de incineração (Pinto 1998, 191). Nesta
necrópole foram descobertas cerca de 1000 moedas.
85
Necrópoles Romanas do Território Português
Parece-nos que as moedas assumem aqui um valor simbólico diferente. Já não estamos perante a
moeda que era colocada na sepultura como o óbolo para Caronte.
Lucernas
As lucernas são outro objecto que continua a fazer a sua aparição nas sepulturas de
inumação. São cada vez mais raras e aparecem num número reduzido de enterramentos. Temos
geralmente notícias do aparecimento de lucernas no interior das sepulturas mas poucas vezes é
referida a sua localização.
A maior parte das lucernas são de cerâmica mas também foi encontrada uma lucerna de
bronze numa sepultura da Rua das Alcaçarias, em Faro. Na mesma sepultura foi depositada uma
lucerna de cerâmica404.
Objectos pessoais
Embora os objectos pessoais continuem a aparecer nas sepulturas de inumação, são cada vez
menos expressivos, em quantidades reduzidas e com objectos pouco valiosos. Tal como
tínhamos referido para as incinerações, continuam a aparecer objectos ligados à esfera feminina,
nomeadamente anéis, brincos, contas de vidro, entre outros objectos. São, no entanto, oferendas
pouco expressivas constituídas quase sempre por um objecto. Apenas verificámos um conjunto
excepcional que apareceu na Rua da Alcaçarias, em Faro. Este conjunto era constituído por
brincos, colar de ouro, alfinetes em osso e placa de vidro circular, provavelmente um espelho405.
Nesta mesma sepultura apareceu uma lâmpada feita em bronze406. É uma lâmpada para
suspensão que ainda apresentava a corrente destinada a esse efeito. O espólio excepcional desta
sepultura pode estar ligado à sua inserção num contexto urbano mais próspero. De referir ainda
que a sepultura foi inserida num período que medeia entre a segunda metade do século II e o
Século III407.
Em algumas sepulturas, aparecem objectos pessoais mais ligados aos indivíduos do sexo
masculino. Refiro-me especialmente às espadas e lanças. Na sepultura encontrada em Dona
Menga (Tavira), a espada estava depositada com uma pedra de amolar408. A espada é similar às
germânicas e a própria inumação poderá corresponder a um indivíduo proveniente deum grupo
404
Gamito 1992, 107.
405
Gamito 1992, 107.
406
Gamito 1992, 111.
407
Gamito 1992, 99.
86
Necrópoles Romanas do Território Português
social ou cultural com práticas funerárias distintas. D. Mendes coloca a hipótese de estarmos
perante um indivíduo de origem germânica409.
Na necrópole de Porto dos Cacos (Alcochete), algumas sepulturas apresentam um grande
número de objectos de metal410. A sepultura 16 continha uma fivela, um machado, um punhal e
uma roçadoira. A sepultura 15 continha três pontas de lança e a sepultura 32 outras duas.
Outros objectos poderiam ser integrados nesta categoria mas decidimos não o fazer devido às
dificuldades em determinar, com segurança, a prática funerária das sepulturas onde foram
encontrados.
408
Mendes 1999, 215.
409
Mendes 1999, 223.
410
Sabrosa 1996, 299.
411
Soeiro 1998, 31.
412
Côrte-Real 1996,
413
Dias 1993-1994, 125-126.
414
Viegas et al. 1981, 19.
415
Rocha 1895, 291-292.
87
Necrópoles Romanas do Território Português
solo (Fig. 31). Na Lage do Ouro (Crato) e na Lomba (Amarante) (Fig. 30), o mobiliário funerário
foi colocado sobre as cinzas. Estas cobrem o fundo das covas abertas no solo.
Na necrópole de Valbeirô (Castelo de Paiva) as sepulturas estão estruturadas com lajes de
xisto. O mobiliário funerário estava colocado sobre o fundo da sepultura junto às paredes laterais
da mesma. Nas sepulturas com muito mobiliário funerário, as oferendas ocupam praticamente
toda a sepultura (Fig. 41). Esta disposição também parece ter-se verificado na necrópole de
Espiunca (Arouca)416.
Esta preferência pela colocação do mobiliário funerário junto das paredes laterais dos
edifícios parece verificar-se em outras necrópoles. Numa sepultura descoberta no Largo Carlos
Amarante, em Braga, as cinzas cobriam o fundo da sepultura e as oferendas funerárias tinham
sido colocadas sobre estas, mas estavam distribuídas junto das paredes da sepultura417.
416
Silva-Ribeiro (no prelo),
417
Delgado 1984,
418
Pinto 1998, 239.
419
Pinto 1998, 239.
420
Como exemplo podemos referir a sepultura 78 que forneceu um abundante espólio funerário (Pinto 1998, 213 e
238).
88
Necrópoles Romanas do Território Português
sido colocados diversos objectos: alfinetes de toucado acondicionados numa bolsa, duas moedas
de bronze, uma lucerna de bronze e uma lucerna de barro421.
Na necrópole do Cerro da Vila (Loulé) também se encontram sepulturas com o mobiliário
disposto num dos topos das sepulturas422. Este disposição das oferendas, como já referimos, é a
mais comum. Pensamos que este factor deve-se essencialmente à disposição do corpo no interior
da sepultura que condiciona a colocação das oferendas funerárias.
421
A bolsa devia ser de material perecível visto que não foi encontrada. Esta informação foi retirada da observação
dos alfinetes todos juntos (Gamito 1992, 107).
89
Necrópoles Romanas do Território Português
5. Considerações finais
Nesta parte final do trabalho vamos levantar algumas questões relacionadas com as
necrópoles e enterramentos romanos, nomeadamente a sua disseminação espacial e os rituais
adoptados. Devemos antes de mais salientar as insuficiências do quadro lavrado. Quando
olhamos para o inventário, podemos ser tentados a pensar que a quantidade implicaria uma maior
qualidade dos dados existentes sobre o fenómeno funerário romano. Mas tal facto anda longe da
verdade dado que este estudo lida com cerca de cinco séculos de História. Perante esta amplitude
cronológica, temos de concluir que faltam muitos dados para conseguirmos esboçar um quadro
aproximado da realidade.
Apesar das muitas escavações realizadas nas últimas décadas, faltam vestígios funerários em
muitas áreas urbanas do período romano. Muitas estão perdidas por centenas de anos de
ocupação continuada do solo, durante as quais o Homem interveio no solo, transformando-o e
destruindo vestígios do passado. Muitas áreas rurais também não têm vestígios funerários,
nomeadamente enterramentos. Neste caso, a falta de dados não se deve apenas à destruição das
áreas funerárias. A «invisibilidade» dos enterramentos torna difícil a sua detecção, escondendo-
os dos olhos curiosos dos próprios arqueólogos.
A incineração está presente um pouco por todo o território estudado. Algumas áreas não
apresentam vestígios mas tal facto poderá estar relacionado com a falta de prospecção ou devido
às contingências próprias dos vestígios de enterramentos. Lembramos a sua «invisibilidade»
actual e a descoberta fortuita da maior parte das necrópoles, situação que distorce o
conhecimento do fenómeno.
As incinerações aparecem no território português desde os primeiros tempos da dominação
romana. Não se terá verificado uma transformação ao nível do tratamento dado ao corpo do
defunto. A incineração já era praticada em todo o território português. Existem vestígios de
sepulturas com cinzas, ossos e recipientes cerâmicos como oferendas funerárias no Noroeste do
território português423. Também no Sul do território português se encontram abundantes
vestígios de sepulturas de incineração da IIª Idade do Ferro424. Podemos apresentar como
exemplo a necrópole da Herdade da Chaminé (Elvas) que apresenta mais de duzentas
incinerações datadas dos finais do século V a.C. até ao século I a.C. Junto destas sepulturas foi
efectuado um enterramento do Alto Império425. Na necrópole da Atafona (Almodôvar), também
422
Santos 1997, 400-401.
423
Silva-Gomes 1994, 96.
424
Silva-Gomes 1994, 175-176.
425
Alarcão-Alarcão 1967, 3.
90
Necrópoles Romanas do Território Português
utilizada durante a IIª Idade do Ferro, apareceu uma sepultura de incineração do século II d.C.426
Por estes exemplos se pode ver que o tratamento dado ao corpo do defunto permanece e em
alguns locais o espaço funerário continua em utilização. Ressalve-se aqui uma diferença no
Noroeste do território português. Aqui as sepulturas estavam localizadas junto do espaço
habitado, parecia não existir a separação espacial entre o mundo dos vivos e os locais de
enterramento427.
A maior parte dos vestígios de sepulturas de incineração concentra-se no Alto Império mas
temos alguns vestígios importantes que foram atribuídos ao século IV. No entanto, estas
incinerações tardias concentram-se no Noroeste, sinal da perduração desta prática funerária nesta
região. Temos vestígios tardios nas necrópoles de Maximinos (Braga), Montes Novos (Penafiel),
Tongobriga, Valbeirô (Castelo de Paiva), Espiunca (Arouca) e Cancelhô (Cinfães). Em todos
estes locais apareceram sepulturas dos finais do século III e do século IV. Mesmo numa
necrópole urbana como Maximinos (Braga) apareceu uma sepultura com moedas da segunda
metade do século III428. Fora deste região, os vestígios mais antigas pertencem à necrópole da
Lage do Ouro (Crato), onde a incineração ainda era praticada no século III d.C. Face a estes
dados, poderemos dizer que a incineração perdura no Noroeste até um período bastante tardio da
dominação romana, facto revelador de um maior conservadorismo ao nível das práticas
funerárias, provavelmente relacionadas com uma romanização mais tardia e o seu afastamento
em relação às principais correntes de inovação cultural provenientes do mundo urbano romano.
As incinerações não apresentam um padrão uniforme no território português. A distinção faz-
se ao nível da deposição das cinzas. As incinerações em bustum, resultado da deposição primária
das cinzas, não são muito frequentes e aparecem essencialmente nos primeiros séculos da nossa
era. No entanto, em Tongobriga, Lino Dias identificou uma sepultura em bustum que foi
atribuída ao século IV429. Pelos dados analisados, parece-nos que esta prática não terá sido muito
comum e está concentrada principalmente nos necrópoles do Alto Império. Situação também
verificada na Gália, onde este tipo de enterramento é mais frequente no século I d.C., tornando-
se cada vez mais raro a partir dessa data430.
As sepulturas com incinerações secundárias existem praticamente em todas as necrópoles de
incineração estudadas. Devia ser a prática mais comum das populações que incineravam os seus
defuntos. Apresentam formas muito diversificadas relacionadas com o contexto sócio-económico
426
Beirão 1986, 29.
427
Silva-Gomes 1994, 96.
428
Martins-Delgado 1989-1990, 85. A sepultura 22 possuía várias moedas da segunda metade do século III mas
aquelas autoras determinaram uma cronologia mais tardia, prevendo a própria circulação daquelas moedas.
429
Dias 1993-1994, 134.
430
Tranoy 2000, 139.
91
Necrópoles Romanas do Território Português
Durante os dois primeiros séculos da nossa era a inumação praticamente desaparece em todo
a parte ocidental do Império Romano, dando lugar à incineração. São conhecidas algumas
inumações, sinal da sua persistência em grupos restritos. A inumação começa a instalar-se no
território português no século II. As sepulturas do Bairro Letes e da Rua das Alcaçarias (Faro)
são atribuídas ao século II d.C. Não é de estranhar a difusão deste rito funerário numa região
mais urbanizada do território e em contacto com a capital do Império. Esta tendência acompanha
431
Encarnação 1984, 825-826; Molano Brías-Alvarado Gonzalo 1994, 334.
92
Necrópoles Romanas do Território Português
as práticas funerárias existentes na parte ocidental do Império432. Ian Morris considera que esta
prática espalha-se em Itália a partir da segunda metade do século II d.C.433.
Existem algumas sepulturas que apresentam moedas do século I d.C. Foram encontradas
moedas do século I em sepulturas de Casais de Lexim (Mafra)434, Porto dos Cacos
(Alcochete)435, Bairro Letes (Faro)436 e Cerro do Lorvão (Lagos)437. Em Porto dos Cacos uma
sepultura apresentava uma moeda de Cláudio I, situação muito contrastante com o restante
espólio. A. Sabrosa considera que a necrópole foi utilizada entre o século III e o V, apenas esta
sepultura não se enquadra dentro desta cronologia438. No Bairro Letes apareceram, em duas
sepulturas diferentes, moedas do século I d.C.439 Estas moedas colocam um problema sobre a
real datação destas sepulturas. Estaremos perante moedas com um grande período de uso que
foram depositadas na sepultura em época muito posterior ou serão sepulturas de inumação muito
antigas? Neste momento não podemos responder a esta questão dado que não conhecemos o
período de circulação dessas moedas. Nunca poderemos, no entanto, afastar a hipótese destas
sepulturas serem de facto de época muito antiga, possivelmente relacionadas com a inumação de
indivíduos provenientes da parte oriental do Império, onde este rito foi sempre maioritário no
período em questão440. No entanto, também é possível outra explicação, relativizando um pouco
a importância das moedas como elemento de datação. Neste caso as sepulturas seriam mais
tardias e as moedas terão circulado durante muito tempo antes de serem depositadas nas
sepulturas.
As sepulturas do Morgado de Dona Menga (Tavira) e da Rua das Alcaçarias (Faro) são
seguramente dos vestígios mais antigos da prática da inumação. A primeira foi atribuída ao
século II d.C.441 e as sepulturas da Rua das Alcaçarias foram atribuídas a um período
compreendido entre a segunda metade do século II e o século III d.C.442. Esta cronologia é
concordante com os dados avançados para as necrópoles de Emerita Augusta. Nesta cidade, a
inumação terá sido introduzida no século II da nossa era443.
432
Morris 1994, 56.
433
Morris 1994,56.
434
Estácio da Veiga (1879, 35) descreve o aparecimento de um meio bronze de Tibério.
435
Sabrosa 1996, 287 e 298.
436
Viana 1951, 159.
437
Santos 1971, 323.
438
Sabrosa 1996, 287.
439
São moedas de bronze. Uma de Tibério e outra não foi identificada (Viana 1951, 159).
440
Morris 1994, 52-53.
441
Mendes 1999, 222-223.
442
Gamito 1992, 118.
443
Molano Brías-Alvarado Gonzalo 1994, 346.
93
Necrópoles Romanas do Território Português
444
Martins-Delgado 1989-1990, 85. Neste necrópole as sepulturas de incineração 1 e 8 foram atribuídas aos finais
do século III e a sepultura 22, de inumação, foi atribuída aos primeiros anos do século IV d.C.
445
Pinto 1998, 221. Esta sepultura tinha uma moeda de bronze de 360-368 d.C.
446
Molano Brías-Alvarado Gonzalo 1994, 346.
447
Tranoy 2000, 129.
448
Cleary 1992, 32.
94
Necrópoles Romanas do Território Português
da Rua das Alcaçarias apresenta mobiliário funerário rico450. O mesmo acontece numa das
sepulturas do Bairro Letes451. Estas sepulturas são verdadeiras excepções dado que apresentam
oferendas funerárias variadas. A maior parte das necrópoles de inumação apresentam oferendas
funerárias mais vulgares. As oferendas mais comuns são as peças de cerâmica comum,
nomeadamente as peças de servir e ir ao lume. Algumas apresentam vestígios de uso.
Salvaguardando este empobrecimento do mobiliário funerário, continua-se a depositar oferendas
funerárias relacionadas com a refeição ritual, apesar do tratamento dado ao corpo ser diferente.
Podemos referir como exemplo ilustrativo uma das sepulturas de Monte Mozinho (Penafiel),
datada do século IV, construída de forma muito cuidada452. A caixa rectangular era constituída
por pedras com face, o fundo estava revestido com duas grandes lousas. Num dos lados, foi
construída, a meia altura, uma pequena prateleira revestida de pedra e aberta. Esta prateleira
tinha um copo de vidro, dois pratos e uma tigela. São oferendas relacionadas com a refeição
ritual453. É verdade que não sabemos quais os gestos, orações ou significados rituais que são
atribuídos a estes objectos mas a sua semelhança com o quadro verificado nas incinerações
impede-nos de defender uma mudança brusca no ritual funerário454.
Realçamos novamente as necrópoles romanas encontradas no Noroeste do actual território
português. Em Valbeirô (Castelo de Paiva), Tongobriga e Alvariça (Arouca) as oferendas
funerárias são constituídas essencialmente por cerâmica comum e algumas moedas. Nas
sepulturas de inumação de Montes Novos (Penafiel) e Monte Mozinho (Penafiel) também
apresentam mobiliário funerário constituído por cerâmica comum e moedas. Neste aspecto
registe-se uma diferença assinalável: em algumas sepulturas são depositadas dezenas de
moedas455. Neste aspecto concreto deve-se ter verificado uma mudança do significado das
moedas no contexto do ritual funerário.
As formas que as sepulturas assumem estão mais uma vez relacionadas essencialmente com
o estatuto sócio-económico do defunto. Não se pode dizer que o rito inumatório desvalorize o
local onde se coloca o corpo do defunto. Apesar do empobrecimento das sepulturas, cada vez
mais simples e contendo um mobiliário funerário cada vez mais pobre e uniforme, ainda há lugar
para alguma ostentação social. Aparecem os sarcófagos de mármore com decoração nas faces
449
Galliou 1989, 74.
450
Sepultura n.º 6 da necrópole encontrada nesta rua (Gamito 1991, 108-114).
451
Trata-se da sepultura n.º 7 (Viana 1951, 154-158).
452
Soeiro 1984, 298.
453
T. Soeiro refere que as oferendas podem ser renovadas em datas especiais, procedendo-se ao levantamento da
cobertura da prateleira.
454
Veja-se a introdução e a nota , onde já se abordou esta problemática do conhecimento dos rituais funerários
através dos seus vestígios materiais.
455
Na necrópole de Montes Novos algumas sepulturas apresentavam 62 moedas (S101 e S67) e 79 moedas de
bronze (S63) (Pinto 1998, 209, 210 e 217-218).
95
Necrópoles Romanas do Território Português
laterais e nas próprias tampas. Os sarcófagos conhecidos para o território português são de um
período posterior ao final do século II, relacionados com a própria introdução da inumação.
Foram encontrados em áreas mais inseridas nos contactos com o mundo mediterrânico, de
romanização mais precoce. São claramente destinados aos estratos sociais mais elevados visto
que implicam o gasto de verbas vultuosas. Um dos sarcófagos não é uma obra local, tendo, por
isso, sido importado para este fim456.
As sepulturas tipo mensa também pode ser integradas nesta categoria. Embora procedentes
do Norte de África, representam modelos de ostentação integrados nos próprios rituais
funerários.
Esta uniformização das sepulturas e do espólio funerário processa-se de forma muito lenta. A
difusão do Cristianismo vai acelerar esta uniformização mas vai introduzir outro tipo de
diferenciação. A posição da sepultura torna-se verdadeiramente importante, nomeadamente a sua
distância em relação ao espaço sagrado do templo. Os vestígios actuais mostram-nos que esta
situação torna-se importante no período de transição para a Alta Idade Média. Nesta época o
tumulatio ad sanctos é o critério mais valorizado457. Mas esta transformação não é imediata,
decorrerá durante dezenas ou mesmo centenas de anos. Os espaços funerários continuam no
exterior dos espaços urbanos. Veja-se a localização do cemitério paleocristão de Mértola, situado
no exterior do espaço urbano. Neste aspecto, as práticas paleocristãs continuam as práticas
romanas. A construção de basílicas junto das sepulturas dos mártires e dos primeiros cristãos
alterará definitivamente esta regra, influenciando a própria ocupação do espaço dos vivos 458.
Esta transformação, motivada pelo Cristianismo, ditará a regra nos 1500 anos seguintes.
456
O sarcófago encontrado no Monte da Azinheira (Reguengos) foi importado de Roma (Maciel 1996, 152).
457
Barroca 1987, 10.
458
Barroca 1987, 10.
96
Necrópoles Romanas do Território Português
6. Catálogo dos Vestígios Funerários da Época Romana:
Necrópoles e Sepulturas
Nota Prévia
Serve esta pequena nota para a apresentar o modelo utilizado neste inventário. Embora a
maior parte dos catálogos e inventários de vestígios arqueológicos adoptem uma apresentação
respeitando uma ordem geográfica, do norte para o sul e do litoral para o interior, decidimos
adoptar outro modelo.
Os vestígios foram diferenciados, foi atribuída uma ficha diferente a todos os vestígios de
necrópoles ou de sepulturas isoladas. Em casos excepcionais, quando existem referências para
lugares muito próximos e verificam-se dificuldades em distinguir as áreas arqueológicas, foi
decidido inclui-los na mesma ficha. As fichas foram ordenados por ordem alfabética dos
distritos. Dentro de cada distrito, foram também ordenados da mesma forma por concelhos,
freguesias e lugares. Adoptamos este critério para facilitar a consulta do inventário. É a forma
mais intuitiva e permite um rápido acesso a cada ficha.
A bibliografia foi colocada por ordem de publicação. Em primeiro lugar são colocadas as
referências mais antigas e todas as outras são colocadas de acordo com este critério. Estão
citadas da forma mais simples e abreviada, remetendo para a bibliografia geral desta dissertação.
Não são citados todos os trabalhos sobre cada uma das necrópoles. Naquelas com uma
bibliografia extensa decidiu-se citar apenas as mais importantes, nomeadamente aquelas que
descrevem os vestígios funerários. Nas necrópoles com poucas informações decidiu-se citar
todas as referências, dado que as informações são tão escassas que foi considerada a melhor
solução.
A descrição de cada necrópole procura ser sucinta, alargando-se em pormenores naquelas
que apresentam dados com qualidade. De uma forma geral, a descrição procura coligir as
principais informações sobre a cronologia dos enterramentos, as práticas funerárias, a tipologia
das sepulturas e o mobiliário funerário presente.
Temos consciência das limitações deste inventário, nomeadamente o seu carácter
provisório. Alguns vestígios funerários não estarão presentes mas da nossa parte procuramos
inserir todos os vestígios de necrópoles e enterramentos que pudessem estar relacionados com o
mundo romano.
98
Necrópoles Romanas do Território Português
Mais uma vez lembrámos que não inserimos as epígrafes funerárias, por não se enquadrar
dentro do estudo efectuado. Algumas vezes são referenciadas neste catálogo para permitir a
datação de alguns vestígios arqueológicos.
Terão aparecido moedas cujo paradeiro é Bibliografia – Gonçalves 1984; Gonçalves 1989,
desconhecido. No entanto, uma moeda chegou a ser 472-479; Silva, A. 1994, 93 (n.º 10).
identificada como um antoniniano de Galieno.
Os vestígios encontrados nesta necrópole datam dos N.º 009
séculos IV e V. Distrito – Aveiro
Bibliografia – Simões Júnior 1959, 7-97; Brandão Concelho – Castelo de Paiva
1962, 313-318; Encarnação 1984, 203-211; Brandão Freguesia – Santa Maria Sardoura
1987, 107-113; Alarcão 1988b, 91, 3/34; Silva, A. Lugar – Valbeirô
1994, 90 (n.º 05); Silva-Ribeiro (no prelo). Esta necrópole foi descoberta quando se procedia ao
alargamento de um caminho. Antes da intervenção
N.º 006 arqueológica foram destruídas cerca de 30 sepulturas
Distrito – Aveiro constituídas por caixas em xisto (Dias 1993-1994,
Concelho – Castelo de Paiva 114). A intervenção arqueológica incidiu sobre sete
Freguesia – Raiva sepulturas que não tinham sido afectadas pelas obras.
Lugar – Folgoso, Picoto As sepulturas eram rectangulares, estruturadas com
Neste local foram encontradas, na década de quarenta xisto e cobertas com placas do mesmo material. O
do século passado, duas sepulturas estruturadas com ritual utilizado é a incineração. Quase todas as
lajes de xisto, uma estela funerária, um anel de metal sepulturas apresentavam mobiliário funerário
e uma moeda (irreconhecível). Foram ainda constituído por cerâmica comum romana. Duas
encontrados fragmentos de cerâmica comum que sepulturas continham moedas. Lino Dias (1993-1994,
poderiam pertencer a uma urna cinerária. A. Silva 133) propõe uma utilização confinada ao século IV
(1994, 92) propõe uma cronologia tardia, século IV. d.C.
Face aos vestígios funerários da região, esta Bibliografia – Alarcão 1988b, 90 (3/15); Dias 1993-
cronologia é bastante plausível. 1994, 113-121 (n.º 12); Silva, A. 1994, 93-94 (n.º
Bibliografia – Aguiar 1944; Silva, A. 1994, 92 ( n.º 12); Silva et al. 1996, 97 (n.º 43).
09).
N.º 010
N.º 007 Distrito – Aveiro
Distrito – Aveiro Concelho – Castelo de Paiva
Concelho – Castelo de Paiva Freguesia – Santa Maria Sardoura
Freguesia – Real Lugar – Vales
Lugar – Paulinhos A cronologia e o ritual utilizado nesta necrópole não
Esta necrópole foi descoberta quando se procedia à foi determinado. As sepulturas estavam estruturadas e
abertura de um caminho. Foi destruída nesse cobertas com lajes de xisto, seguindo uma tradição de
momento. O espólio funerário está na posse de um carácter regional. As sepulturas parecem seguir
particular e não foi estudado. De uma sepultura ficou modelo idêntico ao utilizado na necrópole de
uma tampa de xisto. Na Carta Arqueológica de Valbeirô. Do interior das sepulturas foram retirados
Castelo de Paiva (Silva et al. 1996, 93) esta necrópole 22 recipientes de cerâmica comum romana.
é referida como uma necrópole de incineração. Se as Bibliografia – Pinho 1947; Silva, A. 1994, 93 (n.º
sepulturas forem estruturadas com lajes de xisto, 11).
podemos estar perante uma necrópole idêntica à de
Espiunca. N.º 011
Bibliografia – Silva et al. 1996, 93 (n.º 39). Distrito – Aveiro
Concelho – Castelo de Paiva
N.º 008 Freguesia – São Martinho de Sardoura
Distrito – Aveiro Lugar – Valdemides, Cruz da Carreira
Concelho – Castelo de Paiva Era uma necrópole de incineração da qual foram
Freguesia – Santa Maria Sardoura retirados restos de ossos, pregos, cerâmicas, uma
Lugar – Campo da Torre colher e quatro fíbulas em ómega. Não se conhece o
Esta necrópole foi descoberta nas primeiras décadas formato das sepulturas.
do século XX. Foi sumariamente estudada por Serpa Bibliografia – Almeida 1975; Freire 1986; Alarcão
Pinto que deixou apontamentos sobre a mesma, 1988b, 90 (3/14); Silva A. 1994, 94 (n.º 13); Silva et
posteriormente publicados por A. H. Gonçalves al. 1996, 98 (n.º 44).
(1984 e 1989). As sepulturas, cujo ritual se
desconhece, estavam cobertas por lousa e / ou N.º 012
tegulae. Destas sepulturas foram retirados 12 Distrito – Aveiro
recipientes cerâmicos e 15 moedas de bronze dos Concelho – Ovar
séculos III e IV. Foram encontrados ossos mas não se Freguesia – Esmoriz
refere o estado em que estavam, indicador importante Lugar – Chão do Grilo
para deduzir o ritual funerário. Estes enterramentos Em 1931, num local de extracção de saibro,
datam do século IV d.C. apareceram várias sepulturas de inumação que foram
analisadas por Serpa Pinto (Gonçalves 1989). Serpa
100
Necrópoles Romanas do Território Português
perante vestígios já situados no suburbium desta Bibliografia – Ribeiro 1966-1967, 382-385; Alarcão
cidade. 1988b, 179 (7/51).
Bibliografia – Lima 1988, 67; Alarcão 1990a, 35.
N.º 052
N.º 048 Distrito – Beja
Distrito – Beja Concelho – Ourique
Concelho – Moura Freguesia – Panóias
Freguesia – Santo Aleixo da Restauração Lugar – Panóias
Lugar – Safarejinho J. L. Vasconcellos menciona o aparecimento de uma
No século XVIII apareceram vestígios de um sepultura de incineração, constituída por um covacho
enterramento com 10 ou 11 recipientes de vidro e aberto no solo. Este autor datou a sepultura do século
alguns de cerâmica. Refere-se a existência de cinzas I d.C.
que poderão indicar a presença de uma incineração. Bibliografia – Vasconcellos 1913, 373.
Bibliografia – Alarcão 1988b, 195 (8/126); Alarcão
1990a, 37. N.º 053
Distrito – Beja
Concelho – Serpa
N.º 049 Freguesia – Pias
Distrito – Beja Lugar – Monte da Capela
Concelho – Moura Na Informação Arqueológica aparece uma referência
Freguesia – Sobral da Adiça muito vaga à existência neste local de uma necrópole
Lugar – Carapinhais romana. Não é apresentada qualquer descrição destes
M. Saa faz uma referência vaga ao aparecimento de vestígios.
sepulturas da época romana. Bibliografia – IA 1979, 16; Alarcão 1988b, 195
Bibliografia – Saa 1963, 306; Alarcão 1988b, 195 (8/109).
(8/121).
N.º 054
N.º 050 Distrito – Beja
Distrito – Beja Concelho – Serpa
Concelho – Odemira Freguesia – Vale de Vargo
Freguesia – Relíquias Lugar – Belmeque
Lugar – Relíquias M. Saa faz uma referência muito vaga ao
Neste local foram destruídas duas sepulturas. Do aparecimento de uma necrópole da época romana.
interior das sepulturas foram retirados fragmentos de Bibliografia – Saa 1963, 276; Alarcão 1988b, 195
ossos humanos, fragmentos de uma urna e de um (8/116).
recipiente de vidro. As sepulturas deviam ser de
incineração. N.º 055
Bibliografia – Viana – Ribeiro 1956, 140; Alarcão Distrito – Beja
1988b, 179 (7/41). Concelho – Vidigueira
Freguesia – Pedrógão
N.º 051 Lugar – Marmelar
Distrito – Beja Jorge Alarcão refere o aparecimento de sepulturas de
Concelho – Ourique inumação, estruturadas com pedras, tijolos e
Freguesia – Ourique mármores. A falta de elementos impede a datação
Lugar – Monte Coito desta necrópole, que poderá ser alto medieval.
F. Ribeiro (1966-1967) descreve o aparecimento de Bibliografia – Alarcão 1988b, 191 (8/31).
quatro sepulturas estruturadas com xisto. Uma delas
já estava destruída por uma estrada. Duas destas N.º 056
sepulturas apresentavam as paredes formadas com Distrito – Beja
lajes de xisto colocadas horizontalmente. O fundo Concelho – Vidigueira
aparentemente não possuía revestimento e a cobertura Freguesia – Pedrógão
devia ser feita com lajes de xisto. O espólio funerário Lugar – Monte da Casa Branca
era pobre, constituído por fragmentos de cerâmica Aparecimento de uma necrópole de inumação cujas
comum. A sepultura 3 apresentava um «phalus de sepulturas continham um recipiente cerâmico à
barro» (Ribeiro 1966-1967, 384). Por sua vez, a cabeceira. Jorge Alarcão refere que, perante estes
sepultura 2 continha fragmentos de osso e possíveis dados, é impossível determinar a cronologia da
restos de carvão (Ribeiro 1966-1967, 383). O autor mesma: tanto poderá ser tardo-romana como alto
considera as sepulturas de cronologia romana devido medieval.
às formas da cerâmica e às técnicas de construção Bibliografia – Alarcão 1988b, 191-192 (8/36).
utilizadas (Ribeiro 1966-1967, 385). Não apresenta
cronologia de utilização das sepulturas nem N.º 057
estabelece a prática funerária utilizada. Distrito – Beja
106
Necrópoles Romanas do Território Português
Almeida menciona-a no seu inventário das estações Bibliografia – Martins 1990, 78 (n.º 48); Almeida,
arqueológicas do concelho de Barcelos mas não a CAB 1996, vol. III, 258-264 (n.º 45).
detectou.
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. III, 77-78 Nº 070
(n.º 23). Distrito – Braga
Concelho – Barcelos
N.º 066 Freguesia – Quintiães
Distrito – Braga Lugar – Santa Marinha
Concelho – Barcelos Neste local apareceram vestígios funerários de
Freguesia –Faria cronologia muito incerta. A descoberta da sepultura
Lugar – Assento foi noticiada por T. da Fonseca. Brochado de
As informações sobre esta necrópole provêm de T. da Almeida não encontrou vestígios de enterramentos.
Fonseca (1948) que descreve o aparecimento, em Bibliografia – Fonseca 1948, 347; Almeida, CAB
volta da igreja de Faria, de sepulturas estruturadas 1996, vol. III, 118-120 (n.º 55).
com tijolos (tegulae?) e, acompanhando estes
achados, vasos, pratos e bilhas, objectos normalmente N.º 071
associados a sepulturas da época romana. Distrito – Braga
Bibliografia – Fonseca 1948, 160; Alarcão 1988b, 13 Concelho – Barcelos
(1/226); Martins 1990, 74-75 (n.º 34); Almeida, CAB Freguesia – Rio Covo (Santa Eulália)
1996, vol. III, 242-243 (n.º 34). Lugar – Quinta da Costa
Brochado de Almeida faz uma referência ao
N.º 067 aparecimento e destruição de caixas rectangulares
Distrito – Braga estruturadas com tijolos compridos. Poder-se-á tratar
Concelho – Barcelos de sepulturas da época romana.
Freguesia – Fornelos Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. III, 284 (n.º
Lugar – Agra da Vila; Boavista 59).
A presença de uma necrópole não está confirmada. O
aparecimento de tijolos, tegulae e restos de N.º 072
construções terá levado M. Martins (1990, 75) a Distrito – Braga
sugerir a existência de uma necrópole associada a um Concelho – Barcelos
habitat da época romana. Brochado de Almeida não Freguesia – Vila Cova
menciona a presença de enterramentos. No seu Lugar – Paço
inventário aparece referida a presença de fornos Junto de vestígios de uma villa romana apareceram
cerâmicos. Talvez a presença de abundantes vestígios duas sepulturas estruturadas com tegulae,
de material de construção tenha provocado uma má apresentando uma secção triangular.
interpretação dos vestígios arqueológicos por parte de Bibliografia – Fonseca 1948, 255-256; Almeida,
M. Martins. CAB 1996, vol. III, 145 (n.º 77).
Bibliografia – Fonseca 1948, 167; Martins 1990, 75
(n.º 37); Almeida, CAB 1996, vol. III, 246-247 (n.º N.º 073
34). Distrito – Braga
Concelho – Barcelos
N.º 068 Freguesia – Vila Cova
Distrito – Braga Lugar – São Salvador do Banho
Concelho – Barcelos Foram descobertas sepulturas estruturadas com
Freguesia – Góios tegulae e covachos cavados no solo. Não se sabe a
Lugar – Assento forma das sepulturas constituídas por tegulae. Do
A presença de enterramentos da época romana deve- interior destas sepulturas foi retirado material votivo
se a T. da Fonseca que refere o aparecimento de uma constituído por dois recipientes de cerâmica comum e
caixa de tijolo completamente fechada. uma anforeta de vidro. Estas peças são atribuídas ao
Bibliografia – Fonseca 1948, 199; Almeida, CAB período tardo-romano.
1996, vol. III, 249-250 (n.º 39). Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. III, 137-142
(n.º 75).
N.º 069
Distrito – Braga N.º 074
Concelho – Barcelos Distrito – Braga
Freguesia – Monte de Fralães / Chavão / Silveiros Concelho – Barcelos
Lugar – Monte da Saia Freguesia – Vila Frescaínha – S. Martinho
M. Martins e Brochado de Almeida mencionam o Lugar – Igreja Velha
aparecimento de uma sepultura estruturada com M. Martins refere a existência de tegulae nesta área.
tegulae, adoptando a forma de um telhado de duas A autora coloca a hipótese de se estar perante uma
águas. A sepultura está reconstituída no Museu Pio necrópole. Esta suposição deve basear-se apenas no
XII, em Braga. aparecimento de tegulae, material de construção
108
Necrópoles Romanas do Território Português
bastante utilizado na estruturação de sepulturas da inicia no primeiro século da nossa era e prolonga-se
época romana. Brochado de Almeida é da mesma até ao princípio do século IV. Aquelas autoras
opinião, referindo no entanto que não está (Martins-Delgado 1989-90, 84-85) definiram quatro
comprovada a época dos enterramentos. Segundo este fases de utilização. As primeiras três fases, que
autor poderão ser alto – medievais. revelaram apenas incinerações, prolongam-se até ao
Bibliografia – Martins 1990, 78 (n.º 44); Almeida, final do século III. A quarta fase estaria ligada à
CAB 1996, vol. III, 135-136 (n.º 72). inumação e da qual apenas é conhecida uma sepultura
(Martins-Delgado 1989-90, 84). Nesta necrópole
N.º 075 foram encontradas vários tipos de sepulturas: covas
Distrito – Braga com cinzas, incinerações em cova aberta no solo e
Concelho – Barcelos inumações em cova aberta no solo. Apareceu também
Freguesia – Ucha uma sepultura em cova com ânfora, possivelmente
Lugar – São Romão da Ucha uma incineração (Martins-Delgado 1989-90, 86).
A classificação deste achado como necrópole deve-se O mobiliário funerário é relativamente pobre. É
ao aparecimento de restos de cerâmica, tijolos e constituído por cerâmica comum, vidros, lucernas e
tegulae da época romana. Também não se conhece o moedas do século III d.C.
local exacto onde apareceram estes vestígios. Bibliografia – Martins – Delgado 1989-90, 49-87.
Brochado de Almeida descreve vestígios da época
romana mas não refere a presença de vestígios de
enterramentos. N.º 079
Bibliografia – Fonseca 1948, 397; Martins 1990, 79 Distrito – Braga
(n.º 50); Almeida, CAB 1996, vol. III, 128-129 (n.º Concelho – Braga
66). Freguesia – São João do Souto
Lugar – Campo da Vinha
N.º 076 As sepulturas foram descobertas no ponto de
Distrito – Braga encontro entre a Rua Alferes Ferreira com a Praça
Concelho – Braga Conde Agrolongo. Não se consegue definir com
Freguesia – Dume exactidão a área desta necrópole que poderia ser
Lugar – Carquemije muito vasta dado o afastamento entre os vestígios
Numa escavação de emergência, efectuada em 1982, acima referidos e o limite norte da cidade que andaria
apareceram três sepulturas estruturadas com pedras e junto da Sé Catedral de Braga. Estaria situada junto
sem qualquer espólio. da Via XIX que ligaria Bracara Augusta a Lucus
Bibliografia – Martins 1990, 83 (n.º 57). Augusta por Limia.
Os vestígios resumem-se a seis sepulturas
N.º 077 descobertas em 1953 e quatro inscrições que provêm
Distrito – Braga desta área. As sepulturas eram rectangulares e
Concelho – Braga apresentavam uma orientação NE – SO. Duas eram
Freguesia – Gualtar formadas por uma caixa de tijoleira e as outras quatro
Lugar – Igreja eram formadas por lajes de granito cobertas com
Junto da igreja de Gualtar apareceram, no início do tampas do mesmo material. A base era formada por
século XX, grande quantidade de fragmentos de tijolos. Uma das sepulturas de caixa de tijoleira
tijolos e tegulae. As duas lápides funerárias existentes continha ossos e cal. Talvez seja uma sepultura de
na igreja levaram M. Martins (1990, 84) a classificar inumação.
o sítio como necrópole associada a um habitat. M. Martins e M. Delgado (1989-1990, 158) propõem
Bibliografia – Martins 1990, 84 (n.º 61). uma cronologia que vai da segunda metade do século
I até ao século III d.C. No entanto, não deixam de
N.º 078 apresentar estas datas com muitas reservas dado que
Distrito – Braga não existem vestígios em quantidade e qualidade que
Concelho – Braga permitam estabelecer uma cronologia fiável desta
Freguesia – Maximinos necrópole.
Lugar – Maximinos Bibliografia – Martins – Delgado 1989-90, 155 e 158.
Esta necrópole estava situada na zona Oeste da
cidade romana. As obras de urbanização levaram à N.º 080
descoberta de 44 sepulturas que foram analisadas por Distrito – Braga
M. Martins e M. Delgado (1989-90), na sua obra Concelho – Braga
sobre as necrópoles de Bracara Augusta. A maior Freguesia – São João do Souto
parte dos descobrimentos foram fruto de escavações Lugar – Campo da Vinha (Via Nova / Via XVIII)
de emergência a partir dos anos 70. No entanto, os Esta necrópole foi descoberta na sequência de
primeiros vestígios são bastante anteriores. Nesta trabalhos de salvamento realizados em 1994 e 1995.
necrópole foram encontrados vestígios de inumações Ainda não foram publicados os materiais retirados
e incinerações. Os vestígios funerários encontrados deste local. As sepulturas de incineração foram
até à data revelaram um período de utilização que se descobertas numa área a NE do Campo da Vinha.
109
Necrópoles Romanas do Território Português
Uma das sepulturas constituía uma pequena caixa Lugar – Largo de Senhora-a-Branca
formada por tegulae. No seu interior tinha uma Leite de Vasconcellos menciona o aparecimento,
lucerna de cerâmica vidrada. Esta necrópole poderia junto da igreja da Senhora-a-Branca, de sepulturas
estar situada junto da saída da Via XVIII, estruturadas com placas de mármore. Não se sabe se
constituindo um núcleo sepulcral independente. Não seriam romanas ou visigóticas.
podemos, no entanto, rejeitar a hipótese de fazer parte Bibliografia – Vasconcellos 1918c, 360; Martins-
da grande necrópole situada a norte da cidade, cujo Delgado 1989-1990, 89.
núcleo principal estaria junto do Campo da Vinha.
Bibliografia – Informação retirada do site Geira. N.º 084
Distrito – Braga
N.º 081 Concelho – Esposende
Distrito – Braga Freguesia – Esposende
Concelho – Braga Lugar – Rua 1º de Dezembro
Freguesia – São José São Lázaro No século XIX apareceram algumas sepulturas
Lugar – Avenida da Liberdade / Rua do Raio contendo recipientes cerâmicos (Almeida, CAB
(Necrópole da Via XVII) 1996, IV, 27). Brochado de Almeida considera que a
Esta necrópole está situada no suburbium oriental da descrição do espólio funerário não permite o
cidade, junto da via que liga Bracara Augusta a estabelecimento de uma cronologia para estes
Aquae Flaviae. Espalhava-se por uma área muito achados.
extensa dado que foram encontrados vestígios de Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. IV, 27-28
enterramentos no Largo Carlos Amarante, no edifício (n.º 14).
dos CTT, na Rua do Raio, na Avenida da Liberdade e
na Cangosta da Palha. N.º 085
Nesta necrópole foram descobertas algumas Distrito – Braga
sepulturas de incineração e dezenas de inumações. A Concelho – Esposende
cronologia abrange um período muito longo que vai Freguesia – Fão
desde a segunda metade do século I até ao século IV Lugar – Cordas / Barreira
(Martins – Delgado 1989-1990, 146). O mobiliário Obras de construção civil destruíram sepulturas de
funerário é rico numa das incinerações da segunda inumação. Estas eram totalmente construídas com
metade do século II e pobre ou mesmo inexistente tegulae. Uma das sepulturas tinha um formato
nas inumações. rectangular e era constituída por pedaços de tegulae.
As sepulturas apresentavam uma gama variada de Brochado de Almeida (1996, IV, 28) pensa que se
formas que vão desde sepulturas em cova sem tratava de uma sepultura infantil, provavelmente de
revestimento até a sepulturas revestidas com material um recém-nascido. Não se conhece o número de
de construção e cobertura que adoptam várias formas. enterramentos surgidos nesta necrópole bem como a
Bibliografia – Delgado 1984; Martins – Delgado cronologia da mesma.
1989-90, 88-147. Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. IV, 28-29
(n.º 15).
N.º 082
Distrito – Braga N.º 086
Concelho – Braga Distrito – Braga
Freguesia – São José São Lázaro Concelho – Esposende
Lugar – Rodovia Freguesia – Fonte Boa
Este espaço funerário estava situado na zona sul da Lugar – Outeiro dos Picoutos
cidade romana, provavelmente junto da via que Neste local apareceu uma sepultura que continha
ligava Bracara Augusta a Emerita Augusta. Foi recipientes cerâmicos e moedas. Uma das moedas era
utilizada entre os séculos I / II e o século III d.C. de Maxêncio. Estamos, portanto, perante uma
Nesta necrópole foram descobertas sepulturas de sepultura do final do século III, inícios do século IV
incineração e inumação. Foram encontrados vestígios d.C.
de incinerações em cova, uma incineração com Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. IV, 29-30
ânfora, uma sepultura aberta no solo natural, e (n.º 16).
sepulturas construídas com tijoleiras, tijolos e
tegulae. N.º 087
Desta sepulturas foi retirado algum mobiliário Distrito – Braga
funerário, constituído por recipientes de cerâmica Concelho – Esposende
comum romana. Freguesia – Vila Chã
Bibliografia – Martins – Delgado 1989-90, 148-155. Lugar – Covelos
Neste local apareceu uma necrópole tardo-romana.
N.º 083 As sepulturas eram feitas com tijoleira, adoptando um
Distrito – Braga possível formato rectangular. Foi destruída quando se
Concelho – Braga procedeu à plantação de uma vinha.
Freguesia – São Vítor
110
Necrópoles Romanas do Território Português
com carvão. Só foi retirado um grande recipiente vestígios de incineração e inumação. Também têm
cerâmico. A descrição poderá indicar a descoberta de aparecido moedas e lápides funerárias.
uma necrópole de incineração mas é estranha a Bibliografia – Marcos 1998, 40.
aparente falta de oferendas funerárias. As parcas
informações sobre estes vestígios arqueológicos não N.º 108
permitem a retirada de conclusões seguras sobre este Distrito – Bragança
local. Concelho – Miranda do Douro
Bibliografia – Sarmento 1904, 9. Freguesia – Malhadas
Lugar – Malhadas
D. Marcos situa neste local uma necrópole da época
Bragança romana, no entanto, não apresenta qualquer
informação sobre o aparecimento de enterramentos.
N.º 104 No local têm aparecido lápides funerárias, facto que
Distrito – Bragança levou aquele autor a classificá-lo como necrópole.
Concelho – Alfândega da Fé Bibliografia – Marcos 1998, 42.
Freguesia – Vilarelhos
Lugar – Castro dos Anúncios N.º 109
Neste local apareceram várias sepulturas que Distrito – Bragança
apresentam uma cronologia indeterminada. Algumas Concelho – Miranda do Douro
sepulturas estavam estruturadas com lajes colocadas Freguesia – Picote
de cutelo, revestimento também muito comum nas Lugar – Picote
sepulturas medievais. No local foi encontrada uma Neste local não têm aparecido vestígios de
inscrição funerário e J. Alarcão continua a situar enterramentos, no entanto, D. Marcos situa neste
neste local uma necrópole romana de inumação. local uma necrópole da época romana devido à
Bibliografia – Anselmo 1978; Santos Júnior 1980; descoberta de lápides funerárias.
Alarcão 1988b, 44 (2/106). Bibliografia – Marcos 1998, 47-48.
(Almeida – Ferreira 1958, 222). No entanto, não sepulturas, junto de vestígios de uma povoação.
deixam de colocar a hipótese de se tratar de uma Fernando de Almeida e Veiga Ferreira (1956) fazem
necrópole visigótica dado que não tem mobiliário referência a quatro túmulos romanos mas apenas um
funerário (Almeida-Ferreira 1958, 222). é inequivocamente de época romana. Três são de
Recentemente, em escavações de emergência, granito e o outro é de mármore. Os primeiros são alto
apareceram duas sepulturas de incineração. Destas medievais e este deve ser romano. Este sarcófago
foram retiradas peças de terra sigillata, cerâmica estaria coberto com tegulae.
comum, vidros e grandes quantidades de ossos. Eram Uma sepultura continha oferendas funerárias
covachos cavados na rocha-base que continham, diversificadas: três lucernas, grande quantidade de
depositados no fundo, os restos da cremação em cerâmica comum, um diadema de ouro, um brinco e
bustum dos corpos, sobre os quais estavam colocados um anel de ouro, uma estatueta representando uma
os recipientes cerâmicos pertencentes ao mobiliário figura feminina e duas moedas de ouro. Era uma
funerário (Côrte-Real 1996, 24-25). Uma das sepultura muto rica que os autores dataram do século
sepulturas continha dois imbrices na vertical que I d.C. (Almeida – Ferreira 1956, 423-424).
continha cinzas e, segundo este autor, constituiria Bibliografia – Vasconcellos 1917, 299-300; Almeida
uma espécie de urna (Côrte-Real 1996, 26). A análise – Ferreira 1956, 411-419; Alarcão 1988b, 73 (4/436).
da sigillata hispânica retirada destas sepulturas
permitiu o estabelecimento de uma cronologia Nº 135
aproximada para a sua utilização: finais do século I e Distrito – Castelo Branco
princípio do século II d.C. (Côrte-Real 1996, 28). Concelho – Idanha-a-Nova
Bibliografia – Almeida – Ferreira 1958; Côrte Real Freguesia – Monsanto
1996; Baptista 1998, 45. Lugar – Val da Tenda
Leite de Vasconcellos descreve vestígios que poderão
Nº 132 corresponder a um «columbarium». A descrição
Distrito – Castelo Branco efectuada por este investigador é muito sucinta. O
Concelho – Idanha-a-Nova edifício tinha uma base circular e o acesso fazia-se
Freguesia – Medelim por uma porta baixa. As paredes eram feitas de
Lugar – Medelim pedras irregulares, ligadas por argamassa. «Dentro,
Neste local foi descoberta uma sepultura com em toda a volta, há uma prateleira alta, de lajes, a
mobiliário funerário variado: lucernas, objectos de qual não podia servir de assento». Para Leite de
ferro, recipientes de vidro e terra sigillata. Não se Vasconcellos podia ser a prateleira onde eram
conhece a cronologia nem a prática funerária colocadas as urnas cinerárias.
utilizada. Bibliografia – Vasconcellos 1917, 305-306; Alarcão
Bibliografia – Silva, J. 1982, 41; Alarcão 1988b, 73 1988b, 73 (4/438).
(4/437).
Nº 136
Nº 133 Distrito – Castelo Branco
Distrito – Castelo Branco Concelho – Idanha-a-Nova
Concelho – Idanha-a-Nova Freguesia – Toulões
Freguesia – Monfortinho ou Salvaterra de Lugar – Toulões
Lugar – Batanada Neste local foi descoberta uma sepultura que
Neste local foi descoberta uma necrópole de continha um recipiente cerâmico. Dentro deste
inumação, da qual terão sido destruídas cerca de estavam depositadas seis moedas de cobre
trinta sepulturas. J. P. Campos diz que teriam uma republicanas.
forma rectangular, cobertas com pedras. Adianta Bibliografia – Proença 1910, 15; Alarcão 1988b, 75
ainda o facto de conterem ossadas humanas, algumas (4/466).
delas com indícios de reutilização. No interior notou
a presença de tijolos à cabeceira, onde assentaria a Nº 137
cabeça. Também teriam lajes com inscrições. No Distrito – Castelo Branco
interior das sepulturas também apareceram diversos Concelho – Penamacor
objectos: fíbulas, moedas, esporas e cerâmica. Não Freguesia – Aldeia do Bispo
foi apresentada qualquer datação para esta necrópole. Lugar – Lameira Larga
Bibliografia – Campos 1959, 249-250; Alarcão Neste local apareceu uma sepultura romana do século
1988b, 75 (4/467). I d.C. contendo mobiliário funerário muito rico. As
oferendas funerárias estavam dentro de um caixão de
Nº 134 chumbo, que media cerca de um metro de
Distrito – Castelo Branco comprimento. No interior desta foram encontrados os
Concelho – Idanha-a-Nova seguintes objectos: três vasos de prata, uma pátera em
Freguesia – Monsanto prata, um prato circular em prata, um unguentário de
Lugar – São Lourenço vidro, um vaso de vidro, uma lucerna e um recipiente
A primeira referência foi efectuada por Leite de de cerâmica comum.
Vasconcellos que menciona o aparecimento de
116
Necrópoles Romanas do Território Português
ferro que, segundo aquele investigador, serviria para J. L. Vasconcellos datou esta necrópole do século I
segurar a tampa. ou II d.C.
Bibliografia – Vasconcellos 1916, 160-161; Alarcão Bibliografia – Vasconcellos 1913, 371; Ferreira 1969,
1988b, 160 (6/292); Calado 1993, 92 (n.º 18). 171, 173; Alarcão 1978, 101-112; Encarnação 1984,
535; Alarcão 1988b, 158; Calado 1993, 37 (nº 3).
N.º 166
Distrito – Évora N.º 171
Concelho – Alandroal Distrito – Évora
Freguesia – Alandroal Concelho – Alandroal
Lugar – Herdade de Alcalate Freguesia – Capelins
Leite de Vasconcellos menciona o aparecimento de Lugar – Covil
uma inscrição romana e de várias sepulturas. M. Calado menciona uma informação oral não
Efectuou escavações no local mas não publicou os confirmada que situa neste local uma necrópole
resultados. romana.
Bibliografia – Vasconcellos 1916, 174-175; Alarcão Bibliografia – Calado 1993, 101 (nº 11).
1988b, 158.
N.º 172
N.º 167 Distrito – Évora
Distrito – Évora Concelho – Alandroal
Concelho – Alandroal Freguesia – Juromenha
Freguesia – Alandroal Lugar – Juromenha
Lugar – Horta do Lourenço Alcaide Neste local apareceu uma necrópole e vidros do
M. Calado menciona uma informação oral não século I d.C. Os vidros foram analisados mais tarde
confirmada que situa neste local uma necrópole por J. e A. Alarcão (1967). Estes vidros deviam ser
romana. provenientes da necrópole.
Bibliografia – Calado 1993, 91 (nº 7 e 8). Bibliografia – Viana 1961, 32 e 44; Alarcão –
Alarcão 1967, 5, 23, 26 e 27; Nolen 1985, 13;
N.º 168 Alarcão 1988b, 158 (6/273); Calado 1993, 32 (nº 35).
Distrito – Évora
Concelho – Alandroal N.º 173
Freguesia – Alandroal Distrito – Évora
Lugar – Mota Concelho – Alandroal
M. Calado menciona uma informação oral não Freguesia – Juromenha
confirmada que situa neste local uma necrópole Lugar – Mimosas
romana. M. Calado menciona uma informação oral não
Bibliografia – Calado 1993, 59 (n.º 4). confirmada que situa neste local uma necrópole
romana ou posterior.
N.º 169 Bibliografia – Calado 1993, 31 (nº 28).
Distrito – Évora
Concelho – Alandroal N.º 174
Freguesia – Alandroal Distrito – Évora
Lugar – Outeiro dos Defuntos Concelho – Alandroal
M. Calado refere a destruição de sepulturas durante a Freguesia – Juromenha
abertura de uma estrada. Insere-as, com reticências, Lugar – Monte da Cardeira
no período romano. Abel Viana e Dias Deus referem o aparecimento de
Bibliografia – Calado 1993, 101 (nº 4). uma necrópole de incineração neste local. Para estes
autores a necrópole é da Idade do Ferro.
N.º 170 Mais tarde, J. Alarcão e A. Alarcão (1967, 2)
Distrito – Évora estudaram alguns recipientes de vidro provenientes
Concelho – Alandroal de Juromenha. Mencionam esta necrópole e uma
Freguesia – Alandroal outra junto da Escola da mesma freguesia. Os vidros
Lugar – Rouca não são separados quanto à sua procedência devido à
Mencionada pela primeira vez por J. L. Vasconcellos, falta de informações. Os vidros analisados, datados
o seu mobiliário funerário foi estudado mais tarde por do primeiro século da nossa era, não podem,
diversos investigadores. J. L. Vasconcellos descreve portanto, ser atribuídos com segurança a esta
vários tipos de sepulturas de incineração, com necrópole.
orientação Norte – Sul. Segundo este autor existiam No entanto, o púcaro de cerâmica comum estudado
covas abertas no solo, sepulturas com paredes por J. S. Nolen (1985a, 238), datado da segunda
formando uma caixa de pedras dispostas metade do século I – inícios do século II d.C., é um
horizontalmente e com caixa formada por lajes elemento bastante seguro da prática da incineração já
dispostas na vertical. no Alto Império.
120
Necrópoles Romanas do Território Português
Bibliografia – Viana – Deus 1958, 140-142, 193; M. Calado menciona uma informação oral não
Alarcão – Alarcão 1967, 2, 3, 5, 22-23 e 27; Nolen confirmada que situa neste local uma necrópole
1985a, 238; Alarcão 1988b, 158 (6/251). romana.
Bibliografia – Calado 1993, 87 (nº 11).
N.º 175
Distrito – Évora N.º 181
Concelho – Alandroal Distrito – Évora
Freguesia – Juromenha Concelho – Arraiolos
Lugar – Tenazes Freguesia – Arraiolos
M. Calado menciona uma informação oral não De lugar desconhecido, nos arredores desta vila, foi
confirmada que situa neste local uma necrópole retirado um sarcófago.
romana. Bibliografia – Alarcão 1988b, 158 (6/254).
Bibliografia – Calado 1993, 30 (n.º 23).
N.º 182
N.º 176 Distrito – Évora
Distrito – Évora Concelho – Arraiolos
Concelho – Alandroal Freguesia – Arraiolos
Freguesia – Santiago Maior Lugar – Herdade dos Colos
Lugar – Vila Sara Silva e Perdigão mencionam o aparecimento de uma
M. Calado menciona uma informação oral não tampa de sepultura em forma de cupa de proveniência
confirmada que situa neste local uma necrópole desconhecida. Aqueles investigadores pensam que
romana. terá vindo da Herdade de Colos.
Bibliografia – Calado 1993, 119 (nº 4). Bibliografia – Silva – Perdigão 1998, 73.
Bibliografia – Vasconcellos 1913, 377-378; Alarcão Freguesia – Évora (Sé ou São Pedro) ?
1978, 102 e 108; Alarcão 1988b, 158 (6/258). Lugar – Arredores (lugar desconhecido)
Nos arredores de Évora apareceu um sarcófago de
N.º 186 mármore que que terá pertencido a um mausoléu de
Distrito – Évora uma villa suburbana.
Concelho – Borba Garcia y Bellido considera-o uma imitação local de
Freguesia – Borba (São Bartolomeu) modelos externos. Este autor atribui-o aos finais do
Lugar – Herdade dos Queimados século II e começos do III d.C. M. J. Maciel também
Thomaz Pires menciona um recipiente cerâmico estudou este sarcófago.
existente no Museu de Elvas que tinha vindo de uma Bibliografia – Garcia y Bellido 1949, 274-275;
sepultura feita de tegulae, encontrada em 1898. Maciel 1996, 126-128.
Bibliografia – Pires 1902, 219; Alarcão 1988b, 157,
(6/241). N.º 191
Distrito – Évora
N.º 187 Concelho – Évora
Distrito – Évora Freguesia – Évora (Sé ou São Pedro)
Concelho – Estremoz Lugar – Horta do Bispo
Freguesia – Estremoz (Santa Maria ou Santo André) A cerca de 600 metros de umas das entradas da
Lugar – Senhora dos Mártires cidade (Porta do Raimundo), foram encontradas duas
Estes autores fazem uma referência muito vaga ao sepulturas e vestígios da via romana. As caixas destas
aparecimento de sepulturas e inscrições da época sepulturas eram formadas por tijolos sobrepostos. No
romana. Não apresentam qualquer descrição das interior foram encontrados doze recipientes
sepulturas. cerâmicos e um unguentário de vidro. Não se sabe o
Bibliografia – Almeida – Ferreira 1967, 47; Alarcão ritual utilizado nem a cronologia das sepulturas. Não
1988b, 155,(6/208). se sabe se pertenceria a uma das necrópoles da
cidade.
N.º 188 Bibliografia – Pereira 1890, 40-41; Pereira 1891, 9-
Distrito – Évora 10; Alarcão 1988b, 160 (6/299).
Concelho – Estremoz
Freguesia – Estremoz (Santa Maria) N.º 192
Lugar – Casas do Canal Distrito – Évora
Esta sepultura de inumação foi localizada, pela Concelho – Évora
primeira vez, em 1965 durante a realização de Freguesia – Nª Srª da Boa Fé
trabalhos de florestação da área. A tampa e parte da Lugar – Herdade do Ligeiro
estrutura foi retirada nesse ano e nos anos L. Castro refere o aparecimento de uma lucerna
subsequentes. Em 1992 a sepultura foi escavada com proveniente de uma sepultura. O autor datou a
metodologia científica e veio a revelar a presença de lucerna, atribuindo-a ao final do século II ou ao
ossadas humanas pertencentes a dois indivíduos. A século III d.C. Não apresenta qualquer descrição da
inumação do segundo indivíduo fez-se após a sepultura.
deslocação para os lados da sepultura dos ossos do Bibliografia – Castro 1960, 282, 290-291; Alarcão
indivíduo inumado em primeiro lugar. Estamos 1988b, 160 (6/293).
perante um caso evidente de reutilização do espaço
funerário na época romana. N.º 193
Bibliografia – Duarte 1996. Distrito – Évora
Concelho – Évora
N.º 189 Freguesia – Nossa Senhora de Machede
Distrito – Évora Lugar – Herdade de Bencafede
Concelho – Estremoz Em notícia aparecida em O Arqueólogo Português,
Freguesia – Santo Estevão C. Pires (1896) refere a descoberta de uma necrópole
Lugar – Silveirona de época romana. Esta era constituída por sepulturas
Necrópole escavada por M. Heleno cujos resultados estruturadas com tijolos que continham ossadas
nunca foram alvo de publicação. J. Encarnação humanas. No interior das sepulturas apareceu diverso
(1984) estudou a epigrafia e J. Alarcão analisou um material funerário: dois unguentários, um prato de
copo de vidro (1978, 104). A epigrafia é vidro, lucernas, duas argolas de ferro, um «anulus»
maioritariamente do Alto Impéro. de cobre ou bronze e diversos objectos de cerâmica.
Bibliografia – Alarcão 1978, 103-104; Encarnação Pela descrição dos achados, pensamos que estamos
1984, 531-532, 537-538 e 549-550; Alarcão 1988b, perante uma necrópole que utiliza o ritual funerário
155 (6/202). da inumação. Não é possível determinar a cronologia
dos enterramentos.
N.º 190 Bibliografia – Pires 1896.
Distrito – Évora
Concelho – Évora N.º 194
122
Necrópoles Romanas do Território Português
N.º 222
126
Necrópoles Romanas do Território Português
Num local da área urbana de Lagoa apareceu uma M. L. Santos menciona o aparecimento de sepulturas
sepultura romana. Do seu interior foi retirado um romanas. Não adianta outras informações sobre esta
anel. necrópole.
Bibliografia – Santos 1972, 127; Gomes – Gomes Bibliografia – Santos 1971, 401-402; Alarcão 1988b,
1988, 67; Alarcão 1988b, 182 (7/118); Marques 181 (7/96).
1992, 77.
N.º 230
N.º 225 Distrito – Faro
Distrito – Faro Concelho – Lagos
Concelho – Lagoa Freguesia – Bensafrim
Freguesia – Lagoa Lugar – Fonte Velha
Lugar – Poço Partido Esta necrópole já é conhecida desde Estácio da
Neste local apareceram sepulturas de inumação Veiga. Este investigador explorou dezasseis
estruturadas com lajes. Referida no Levantamento sepulturas de incineração. Mais tarde, Santos Rocha
Arqueológico de Lagoa, foi atribuída, pelos autores retirou de um local próximo dezasseis urnas
desta obra, ao período romano. cinerárias. As sepulturas exploradas por estes
Bibliografia – Gomes et al. 1995, 69. arqueólogos continham abundante mobiliário
funerário. Foram encontrados diversos recipientes de
N.º 226 cerâmica, fragmentos de vasos de vidro, uma ponta
Distrito – Faro de lança, fragmentos de outra e uma moeda. Esta
Concelho – Lagoa necrópole deverá ser do Alto Império.
Freguesia – Porches Bibliografia – Rocha 1895, 202 e 327-337; Santos
Lugar – Porches Velho 1971, 329-348; Alarcão 1988b, 181 (7/90).
Existem referências muito vagas sobre a destruição
de sepulturas romanas. Não se conhece o seu ritual N.º 231
nem a cronologia. Distrito – Faro
Bibliografia – Santos 1978, 128; Alarcão 1988b, 184 Concelho – Lagos
(7/150); Marques 1992, 81, 82; Gomes et al. 1995, Freguesia – Lagos (São Sebastião)
82. Lugar – Casteleja
Abel Viana e os seus colaboradores mencionam o
N.º 227 aparecimento de sepulturas romanas nesta localidade.
Distrito – Faro Não temos outras informações sobre esta necrópole.
Concelho – Lagos Bibliografia – Santos 1971, 403; Alarcão 1988b, 183
Freguesia – Bensafrim (7/133).
Lugar – Álamo
As principais informações sobre esta necrópole N.º 232
provêm de M. L. Santos. Esta autora atribui a Santos Distrito – Faro
Rocha a escavação de uma vasta área desta necrópole Concelho – Lagos
de incineração. Segundo a mesma autora, muitos Freguesia – Lagos (São Sebastião)
anos depois Abel Viana e seus colaboradores Lugar – Cerro das Amendoeiras
descobriram, em local próximo, uma sepultura de M. L. Santos faz uma referência genérica ao
incineração que continha dois recipientes de terra aparecimento, neste local, de sepulturas da época
sigillata. romana.
Bibliografia – Santos 1971, 324-325; Alarcão 1988b, Bibliografia – Santos 1971, 402; Alarcão 1988b, 183
181 (7/85). (7/137).
A Carta Arqueológica de Portugal situa neste local Neste local foi encontrada uma necrópole tardo-
uma sepultura cavada na rocha, com cronologia romana ou alto-medieval. A cerâmica foi considerada
duvidosa. A tipologia deste tipo de sepultura já do período visigótico.
geralmente remete para o período medieval. Bibliografia – Santos 1972, 87; Alarcão 1988b, 184;
Bibliografia – Marques 1992, 42. Gomes – Gomes 1988, 99; Marques 1992, 151,
tumulus é original, podendo estar relacionada com As sepulturas de inumação, que assumiam diversas
costumes funerários originários doutra região. formas, continham ossadas, com o crânio colocado
Bibliografia – Santos 1972, 301-302; Alarcão 1988b, sobre uma tegula. Em algumas destas sepulturas foi
208 (8/314); Marques 1995, 153; Mendes 1999. encontrado mobiliário funerário diversificado. Foram
encontradas sepulturas formadas com tijolos e
N.º 283 tegulae, assumindo a forma de um telhado de duas
Distrito – Faro águas, sepulturas com caixa de tijolos, com fundo e
Concelho – Tavira cobertura do mesmo material, uma sepultura coberta
Freguesia – Luz com uma grande laje e sepulturas planas com quatro
Lugar – Quinta das Antas tijolos. A descrição não permite a visualização da
Esta necrópole estava situada a norte da cidade formas destes dois tipos de sepulturas.
romana de Balsa. Era constituída por sepulturas de O mobiliário funerário não aparece discriminado por
incineração e inumação. As sepulturas de incineração tipo de sepultura. Não sabemos se o mobiliário
são claramente maioritárias. Estas sepulturas tinham aparece em sepulturas de inumação ou incineração.
a forma de uma caixa ou eram cistas de chumbo, M. L. Santos menciona os diferentes objectos
rectangulares ou troncocónicas, onde eram guardadas encontrados: fragmentos de terra sigillata, lucernas,
as cinzas. M. L. Santos refere quarenta e três urnas cinerárias, unguentários, objectos de metal,
exemplares destas incinerações. alfinetes de marfim e vinte e seis moedas (Adriano,
J. F. Mascarenhas descreve o aparecimento de uma Trajano, Marco Aurélio, Faustino Júnior). Esta
sepultura mas não precisa a localização desta necrópole terá sido utilizada entre os séculos II e IV
sepultura (Mascarenhas 1978, 20), que poderá ser d.C.
proveniente de qualquer sepultura da cidade de Balsa. Bibliografia – Santos 1972, 321-326; Encarnação
Neste seu trabalho sobre Balsa descreve uma 1984, 123, 139, 141; Alarcão 1988b, 208 (8/317);
sepultura de incineração com uma formato peculiar. Marques 1995, 153.
Tem uma forma rectangular, as paredes são
construídas por fiadas de tijolos. Em cada um dos N.º 285
cantos da mesma, Mascarenhas reconheceu «uma Distrito – Faro
espécie de nichos de tijolos, para a colocação das Concelho – Tavira
cinzas dos mortos, certamente da mesma familía» Freguesia – Luz
(Mascarenhas 1978, 20). Estava coberta com pedras e Lugar – Quinta do Pinheiro
tijolos. Sobre esta sepultura encontrou vestígios de Neste local apareceu uma necrópole da qual foram
cinzas e tijolos queimados. No interior da sepultura, retirados vários objectos. Foram recolhidos
apenas um dos nichos continha cinzas, junto das recipientes de cerâmica e um balsamário em bronze
quais estava depositado um recipiente de vidro. O com a forma de um busto de um pequeno fauno. Não
autor considera que a taça é do século I d.C. sabemos a forma das sepulturas, o ritual utilizado e a
(Mascarenhas 1978, 22-23). cronologia da necrópole. Para Garcia y Bellido
M. L. Santos descreve algumas sepulturas de (1949, 457) o balsamário de bronze seria do séc. II
inumação. Estas tinham caixas de tijolo, cobertas d.C.
com tegulae ou lajes. Algumas tinham a forma de um Bibliografia – Garcia y Bellido 1949, 457-457;
telhado de duas águas. Santos 1972, 302-303; Alarcão 1988b, 209 (8/319);
O mobiliário funerário retirado é bastante Marques 1995, 153.
diversificado: cerâmica, vidros, objectos de metal,
jóias e moedas. N.º 286
M. L. Santos propôs uma cronologia de utilização da Distrito – Faro
necrópole em torno dos séculos I e II d.C. Concelho – Tavira
Bibliografia – Santos 1971, 234-236, 291-292; Freguesia – Santo Estevão
Mascarenhas 1978, 20-24; Alarcão 1988b, 208-209 Lugar – Paúl
(8/318). Uma necrópole da qual foram retirados vários
objectos votivos. Foram retirados os seguintes
N.º 284 objectos: uma lucerna, quatro recipientes cerâmicos,
Distrito – Faro um prato de vidro, dois objectos em bronze, dois
Concelho – Tavira anéis em bronze e uma moeda de Cláudio II. A
Freguesia – Luz necrópole foi utilizada no século III d.C. Não se
Lugar – Quinta do Arroio conhece o ritual funerário utilizado nesta necrópole.
Neste local apareceram vestígios de uma necrópole Bibliografia – Santos 1972, 297-299; Alarcão 1988b,
de incineração e inumação. Esta necrópole foi 205 (8/277); Marques 1995, 133.
explorada por Teixeira Aragão em 1868. Deste local
também foram retiradas algumas inscrições N.º 287
funerárias. Distrito – Faro
As sepulturas de incineração eram constituídas por Concelho – Tavira
urnas cinerárias, dentro das quais foram depositadas Freguesia – Luz
cinzas, ossos e mobiliário funerário. Lugar – Pedras d‟ El Rei
134
Necrópoles Romanas do Território Português
Junto de importantes vestígios da época romana Neste local foi destruída uma necrópole romana. Nas
(mosaicos e termas) apareceu uma necrópole de sepulturas apareceram moedas e outros objectos.
inumação. A princípio foram descobertas doze Não é referido o ritual utilizado nem é apresentada
sepulturas distribuídas por dois tipos. Algumas qualquer proposta de cronologia.
tinham a caixa rectangular formada por tijolos e a Bibliografia – Viana 1955, 49; Santos 1972, 344;
cobertura constituída por tegulae. Outras tinham a Alarcão 1988b, 206 (8/295); Marques 1995, 173.
cobertura com a forma de um telhado de duas águas.
As sepulturas não tinham material a revestir o fundo
e apresentavam uma orientação Este – Oeste. Uma
sepultura tinha um vão na parede lateral, junto do
Guarda
crânio, onde tinham sido colocados dois recipientes
cerâmicos (Santos 1972, 309). N.º 292
Posteriormente apareceram sepulturas abertas no solo Distrito – Guarda
arenoso, sem qualquer revestimento. Concelho – Almeida
O mobiliário funerário recuperado era reduzido, Freguesia – Parada
constituído por cerâmica comum. Não foi proposta Lugar – Parada
uma cronologia para esta necrópole. Jorge Alarcão faz uma breve referência à descoberta
Bibliografia – Viana 1952; Santos 1972, 308-309; de uma lápide funerária sobre uma sepultura
Alarcão 1988b, 208 (8/315); Marques 1995, 157. estruturada com tijolos. Não se conhece o ritual
funerário.
N.º 288 Bibliografia – Teles 1985, n.º 61; Alarcão 1988b, 64
Distrito – Faro (4/272).
Concelho – Tavira
Freguesia – Tavira (Santiago) N.º 293
Lugar – Quinta do Trindade Distrito – Guarda
Junto de um local rico em vestígios romanos, Concelho – Guarda
apareceu também uma necrópole. A referência a esta Freguesia – Guarda
necrópole é muito vaga e aparece essencialmente Lugar – Guarda
devido à descoberta de inscrições funerárias. Foi descoberta, em 1957, na sequência de obras de
Bibliografia – Santos 1972, 326-332; Alarcão 1988b, urbanização da área da Sé e do Liceu, uma sepultura
208 (8/312); Marques 1995, 149. de incineração com recipientes cerâmicos e um
unguentário de vidro. A. V. Rodrigues refere que esta
N.º 289 sepultura tinha a forma de uma cista. Os recipientes
Distrito – Faro cerâmicos são tardios.
Concelho – Vila do Bispo Bibliografia – Rodrigues 1977, 34; Alarcão 1988b,
Freguesia – Budens 64 (4/264).
Lugar – Cerro das Alfarrobeiras
M. L. Santos faz uma referência muito vaga ao N.º 294
aparecimento de uma necrópole de inumação. Esta Distrito – Guarda
foi detectada por Estácio da Veiga. Concelho – Meda
Bibliografia – Santos 1971, 322; Alarcão 1988b, 183 Freguesia – Marialva
(7/130). Lugar – Quinta da Leveira
Necrópole de incineração descoberta quando se
N.º 290 procedia à plantação de uma vinha. No local apareceu
Distrito – Faro grande quantidade de tegulae que devia pertencer às
Concelho – Vila Real de Santo António sepulturas. Destas foram retirados «vasos cinerários,
Freguesia – Vila Nova de Cancela fragmentos cerâmicos, perfumadores e lacrimogénios
Lugar – Horta em vidro» (Rodrigues 1961, 22-23). Embora a notícia
Neste local apareceu uma necrópole de inumação que da descoberta da necrópole não se alongue em
não forneceu mobiliário funerário. As sepulturas aspectos descritivos não deixa de referir um achado
eram formadas por placas de calcário e cobertas com bastante singular. Falamos do aparecimento de uma
tegulae, formando um telhado de duas águas. No inscrição num tijolo com as seguintes dimensões: 0,6
interior das sepulturas foram encontradas ossadas m X 0,5 m X 0,06 m. Segundo o autor estaria
humanas. «colocada horizontalmente fechando uma cista em
Bibliografia – Santos 1972, 343; Alarcão 1988b, 206 caixa, no interior da qual se encontraram vasos
(8/293); Marques 1995, 165. cinerários» (Rodrigues 1961, 23). Na necrópole foi
encontrada uma lucerna e três pontas de lança. A esta
N.º 291 necrópole foi atribuída uma cronologia em torno dos
Distrito – Faro séculos II e III d.C.
Concelho – Vila Real de Santo António Bibliografia – Rodrigues 1961; Alarcão 1988b, 55.
Freguesia – Vila Nova de Cacela
Lugar – Quinta da Fidalga
135
Necrópoles Romanas do Território Português
Bibliografia – Barbosa 1970, 27; IA 1979, 24; indivíduos, indício da reutilização das sepulturas. Foi
Alarcão 1988b, 118 (5/141). encontrado algum mobiliário funerário: recipientes
cerâmicos, jóias e uma espada. G. Cardoso não
N.º 312 apresenta uma cronologia precisa, apenas refere uma
Distrito – Lisboa datação genérica nos períodos romano e visigótico. A
Concelho – Alenquer orientação Norte – Sul, aliado à presença de
Freguesia – Alenquer (Santo Estevão) mobiliário funerário, poderá indicar uma cronologia
Lugar – Quinta do Bravo romana para parte dos enterramentos.
Neste local existiam sepulturas romanas que Bibliografia – Oliveira 1889-92, 92, 105-110; Rocha
pertenciam a uma grande necrópole. E. Barbosa 1896a, 75; Vasconcellos 1913, 586 e 587; Almeida
refere que esta área funerária era a continuação da 1962; Cardoso 1991, 45-46.
necrópole do lugar de Paredes.
Bibliografia – Barbosa 1970, 27-28; Alarcão 1988b, N.º 317
118 (5/140). Distrito – Lisboa
Concelho – Cascais
N.º 313 Freguesia – Alcabideche
Distrito – Lisboa Lugar – Alcoitão
Concelho – Alenquer Neste local apareceram duas sepulturas de inumação
Freguesia – Alenquer (Triana) com a caixa formada por esteios de calcário. G.
Lugar – Quinta das Sete Pedras Cardoso situa estas sepulturas no período romano ou
Neste local foram descobertas sepulturas de no visigótico.
incineração e de inumação. E. Barbosa, com base nas Bibliografia – Alarcão 1988b, 123; Cardoso 1991, 41.
informações de H. Cabaço, considera estes vestígios
uma continuação da necrópole descoberta no lugar de N.º 318
Paredes. Distrito – Lisboa
Bibliografia – Barbosa 1970, 27; Alarcão 1988b, 118 Concelho – Cascais
(5/139). Freguesia – Alcabideche
Lugar – Alcoitão (Centro de Reabilitação)
N.º 314 Neste local apareceu uma necrópole com trinta e
Distrito – Lisboa quatro sepulturas de inumação, revestidas com lajes
Concelho – Alenquer de calcário. Apresentavam uma orientação Este –
Freguesia – Cabanas de Torres Oeste. Várias sepulturas continham ossadas de mais
Lugar – Cabanas de Torres do que um indivíduo. O mobiliário funerário
M. Saa faz uma referência vaga ao aparecimento de recuperado era constituído por brincos de bronze,
sepulturas, contendo recipientes cerâmicos, lucernas anéis de bronze e dois pequenos recipientes
e moedas. cerâmicos. Mais uma vez, torna-se difícil situar estas
Bibliografia – Saa 1959, 75, nota 1; Alarcão 1988b, sepulturas no período tardo-romano ou visigótico.
117 (5/109). Bibliografia – Vasconcellos 1913, 586 e 587;
Cardoso 1991, 41.
N.º 315
Distrito – Lisboa N.º 319
Concelho – Alenquer Distrito – Lisboa
Freguesia – Carregado Concelho – Cascais
Lugar – Quinta da Marquesa Freguesia – Alcabideche
E. Barbosa menciona o aparecimento de vestígios de Lugar – Manique
uma necrópole romana neste local. Este facto já tinha G. Cardoso faz uma referência ao aparecimento de
sido mencionado por M. Saa. Não são adiantadas sepulturas de inumação de forma oblonga, mais
outras informações sobre esta estação arqueológica. estreitas de um dos lados. Apresentava uma
Bibliografia – Saa 1959, 65; Barbosa 1970, 28; orientação Este – Oeste. A forma dos túmulos
Alarcão 1988b, 118. aproxima-os das sepulturas trapezoidais medievais.
Aquele autor não precisa a época das sepulturas,
N.º 316 inserindo-as no período romano ou no visigótico.
Distrito – Lisboa Bibliografia – Cardoso 1991, 35.
Concelho – Cascais
Freguesia – Alcabideche N.º 320
Lugar – Abuxarda Distrito – Lisboa
Mais uma vez apareceram sepulturas de inumação Concelho – Cascais
cuja caixa era constituída por lajes de calcário. Freguesia – Alcabideche
Algumas tinham paredes laterais constituídas por Lugar – Murches
tijolos. Algumas sepulturas apresentavam uma Neste local apareceram sepulturas de inumação com
orientação Este – Oeste e quatro Norte – Sul. caixa constituída por lajes de calcário. Algumas
Continham ossadas humanas pertencentes a vários sepulturas foram reutilizadas várias vezes. Uma das
138
Necrópoles Romanas do Território Português
votivas e uma estela com inscrição que, segundo Leite de Vasconcellos menciona a descoberta de
Vieira da Silva, serviria para tapar um sarcófago ou vestígios de construções, ossadas humanas e duas
um columbário (Silva 1944a, 39). inscrições romanas. Ana C. Leite faz uma breve
No exterior, foi encontrada uma urna de calcário e referência ao aparecimento de urnas na Calçada do
uma sepultura de tijolo e alvenaria. O fundo desta Garcia. Não apresenta qualquer descrição dos
estava revestido de tegulae ou tijolos, as paredes vestígios.
eram de alvenaria e a cobertura de cinco fiadas de Bibliografia – Vasconcellos 1899-1900c, 283.
tegulae para formar uma espécie de telhado. A
orientação desta sepultura era E – O. Havia outras N.º 342
sepulturas que foram destruídas pelas obras de Distrito – Lisboa
abertura da avenida (Silva 1944a, 40). Com as Concelho – Lisboa
informações obtidas, Vieira da Silva considera que se Freguesia – São Vicente de Fora
está perante um monumento funerário pré-histórico Lugar – Calçada do Cardeal
reaproveitado no período romano (Silva 1944a, 41). Ana C. Leite faz uma breve referência ao
Não apresenta informações sobre práticas funerárias aparecimento de um columbarium na Calçada do
nem qualquer cronologia aproximada dos achados. Cardeal. Não apresenta qualquer descrição dos
Bibliografia – Silva 1944a, 37-41; Silva 1944b, 269- vestígios.
278; Alarcão 1988b, 122 (5/244). Bibliografia – Leite 1987, 84.
d.C. e século V d.C.), uma argola de bronze e uma aparecido uma urna cinerária. Esta sepultura estava
possível ponta de lança. A cronologia desta necrópole estruturada com lateres e o fundo revestido com uma
permanece muito duvidosa devido ao aparecimento argamassa de barro e cal. No mesmo local foram
de uma moeda de Tibério. Estácio da Veiga considera recolhidos vestígios osteológicos, um fragmento de
possível a existência de inumações no primeiro terra sigillata e peso de tear.
século da nossa era. Sem pôr em causa a utilização da Bibliografia – Gandra 1996, 98.
inumação no início do Império, parece-nos que esta
necrópole será mais tardia. Mesmo em relação às N.º 350
próprias sepulturas, não existem grandes diferenças Distrito – Lisboa
na estrutura das mesmas. Concelho – Oeiras
Bibliografia – Veiga 1879, 33-37; Saa 1960, 29; Freguesia – Oeiras
Alarcão 1988b, 120 (5/205). Lugar – Junção do Bem
Necrópole romana de onde provêm duas lápides
N.º 347 romanas. Os autores não descrevem enterramentos
Distrito – Lisboa nem mencionam o aparecimento de espólio funerário
Concelho – Mafra mas, no entanto, consideram que estamos perante
Freguesia – Mafra uma necrópole.
Lugar – Carrilhas Bibliografia – Cardoso – Cardoso 1993, 80 (n.º 59).
Estácio da Veiga noticiou a destruição de uma
necrópole que teria mais de cinquenta sepulturas. As N.º 351
informações referidas por este autor provêm dos Distrito – Lisboa
trabalhadores que a encontraram. As sepulturas Concelho – Oeiras
estavam alinhadas no sentido Este – Oeste e estavam Freguesia – Oeiras
escavadas no solo. Não possuíam caixas de Lugar – Sol Avesso
revestimento e apenas algumas tinham o fundo Foi descoberta uma necrópole com enterramentos de
revestido com tijolos. Uma estava coberta com uma inumação. Apenas foram escavadas três sepulturas
lje de grandes dimensões. que continham vários objectos votivos. Uma
Apareceram sepulturas de incineração e inumação. sepultura tinha as paredes laterais constituídas por
No interior das sepulturas foram encontrados lateres e fundo revestido com o mesmo material. A
recipientes cerâmicos, lucernas e unguentários. outra sepultura intacta tinha as paredes constituídas
Apareceram ainda dois anéis. As sepulturas de por lajes e estava coberta com grandes lajes. De
incineração continham urnas. Numa sepultura de destacar o aparecimento de uma lucerna e uma taça
inumação um cadáver apresentava uma moeda na de terra sigillata clara C.
mão. Bibliografia – Matos 1969; Alarcão 1988b, 123;
Bibliografia – Veiga 1879, 42-43; Saa 1960, 29; Cardoso – Cardoso 1993, 72-74 (n.º 45).
Alarcão 1988b, 118 (5/153); Gandra 1996, 98.
N.º 352
N.º 348 Distrito – Lisboa
Distrito – Lisboa Concelho – Oeiras
Concelho – Mafra Freguesia – Paço de Arcos
Freguesia – Mafra Lugar – Laveiras
Lugar – Igreja de Santo André Embora os autores da Carta Arqueológica de Oeiras
Estácio da Veiga descreveu a descoberta de um não apresentem nenhuma descrição de enterramentos
enterramento de incineração, encontrado junto da e mobiliário funerário, a existência de duas lápides
igreja de Santo André. No interior da sepultura funerárias é, para os referidos autores, indício da
apareceram «cinzas amontoadas, ossos calcinados, existência de uma necrópole na Avenida Conselheiro
pequenos carvões, conchas de moluscos marítimos, Ferreira Lobo.
fragmentos de um vaso de argila» (Veiga 1879, 38). Bibliografia – Cardoso – Cardoso 1993, 88-89 (n.º
A urna estava estava coberta por uma laje de 75).
pequenas dimensões. Não se conhece uma datação
para este enterramento. Não sabemos se seria um N.º 353
núcleo da necrópole encontrada no lugar de Carrilhas, Distrito – Lisboa
situada na mesma freguesia. Concelho – Sintra
Bibliografia – Veiga 1879, 38-39; Gandra 1996, 101. Freguesia – São João das Lampas
Lugar – Ermidas
N.º 349 Neste local apareceu uma necrópole de duvidosa
Distrito – Lisboa cronologia romana.
Concelho – Mafra Bibliografia – Pereira 1914, 333; Alarcão 1988b, 119
Freguesia – Santo Isidoro (5/180).
Lugar – Carrasqueira
M. Gandra situa neste local uma necrópole romana de N.º 354
incineração e inumação. Numa das sepulturas terá Distrito – Lisboa
142
Necrópoles Romanas do Território Português
O mobiliário funerário é muito abundante. Foram Thomaz Pires refere o aparecimento de um sarcófago
encontradas peças de cerâmica comum, terra de mármore que assentaria sobre duas colunas.
sigillata, cerâmicas de paredes finas, lucernas, Bibliografia – Pires 1902, 212; Alarcão 1988b, 157
recipientes de vidro e objectos metálicos, incluindo (6/229).
alguns elementos de adorno.
O mobiliário funerário retirado desta necrópole vai N.º 385
do século I aos inícios do III d.C. Distrito – Portalegre
Bibliografia – Viana – Deus 1950, 236-242; Viana – Concelho – Elvas
Deus 1953, 70; Deus et al. 1955, 569-570; Viana Freguesia – Caia e São Pedro
1955, 551-552; Viana – Deus 1956, 138-141; Nolen Lugar – Papulos
1985a; Alarcão 1988b, 157 (6/249); Sepúlveda- Em 1897, quando se procedia à reconstrução de uma
Carvalho 1998, 244. estrada, foram encontradas várias sepulturas. Foi
encontrado um cipo funerário que estava no topo de
N.º 381 sepulturas estruturadas com lajes. Foi encontrado
Distrito – Portalegre espólio funerário mas não são reveladas as condições
Concelho – Elvas do achado. É referido o aparecimento de dois anéis de
Freguesia – Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso cobre ou bronze, dentes e ossos humanos e um prego
Lugar – São Rafael de ferro.
Neste local apareceram vestígios de uma necrópole Bibliografia – Pires 1902, 213, 218, 220 e 223;
de inumação. Encarnação 1984, 659-660; Alarcão 1988b, 156.
Bibliografia – Deus et al. 1955, 573; Alarcão 1988b,
158 (6/250). N.º 386
Distrito – Portalegre
N.º 382 Concelho – Elvas
Distrito – Portalegre Freguesia – Santa Eulália ou São Vicente e Ventosa
Concelho – Elvas Lugar – Herdade de Vila Cova
Freguesia – Barbacena Neste local foi encontrada uma sepultura de
Lugar – Herdade da Fontalva incineração estruturada com alvenaria. No seu
Esta estação arqueológica apenas recebeu algumas interior foi encontrado um fragmento de um
curtas referências. A. Paço e O. V. Ferreira, em recipiente cerâmico e cinza.
pequeno artigo publicado em 1951, estudaram uma Bibliografia – Vasconcellos 1896, 4; Pires 1902, 220;
lucerna que fazia parte do mobiliário funerário de Alarcão 1988b, 154 (6/185).
uma sepultura deste local. Referem ainda o
aparecimento, na mesma sepultura, de moedas do N.º 387
Baixo Império, cerâmica comum, terra sigillata e Distrito – Portalegre
recipientes de vidro. Apontam uma cronologia em Concelho – Elvas
torno do século IV. Não indicam prática funerária Freguesia – São Brás e São Lourenço
utilizada. Lugar – Horta da Serra
Recentemente, E. Sepúlveda e A. Carvalho (1998, Apareceu uma necrópole de incineração com pelo
261) estudaram uma taça fragmentada de cerâmica de menos quinze sepulturas.
paredes finas, à qual atribuiram uma datação da J. S. Nolen estudou a cerâmica comum desta
segunda metade do século I d.C. necrópole que se encontra no Museu de Vila Viçosa.
Bibliografia – Paço – Ferreira 1951; Ferreira et alii Esta cerâmica é maioritariamente do Alto Império.
1957, 112; Sepúlveda-Carvalho 1998, 244-246. Bibliografia – Deus et al. 1955, 574; Nolen 1985, 13;
Alarcão 1988b, 156 (6/224).
N.º 383
Distrito – Portalegre N.º 388
Concelho – Elvas Distrito – Portalegre
Freguesia – Caia e São Pedro Concelho – Elvas
Lugar – Herdade da Alfarófia Freguesia – São Brás e São Lourenço
Nesta localidade apareceu uma sepultura de alvenaria Lugar – Torre das Arcas
coberta com três pedras. No interior foi descoberto Necrópole de incineração cuja primeira referência
um recipiente cerâmico. Não se conhece o ritual remonta a 1897. Foi escavada mais tarde por A.
funerário. Viana e Dias Deus. Foram escavadas 79 sepulturas de
Bibliografia – Vasconcellos 1896, 3; Pires 1902, 221; incineração e inumação. 45 eram de inumação e 16
Alarcão 1988b, 157 (6/232). de incineração. Para 18 sepulturas não foi possível
determinar a prática funerária utilizada. As sepulturas
N.º 384 eram formadas por tegulae, lateres e algumas tinham
Distrito – Portalegre lajes. No interior destas sepulturas foram encontrados
Concelho – Elvas recipientes de cerâmica comum, três recipientes de
Freguesia – Caia e São Pedro vidro, lucernas, duas moedas de bronze e diverso
Lugar – Herdade de Botafogo
146
Necrópoles Romanas do Território Português
material metálico. 22 sepulturas não tinham qualquer Junto de vestígios de uma villa romana, foram
material votivo. descobertas, em 1946, várias sepulturas de inumação.
Abel Viana não estabeleceu uma cronologia muito Algumas tinham um formato trapezoidal. A descrição
precisa para a utilização desta necrópole. O único de Abel Viana não discrimina bem as sepulturas de
recipiente de vidro estudado por J. Alarcão e A. época romana das sepulturas de época visigótica. O
Alarcão (1967, 2) data do século I d.C. aparecimento de moedas romanas em duas sepulturas
J. S. Nolen (1985a, 155) estudou a cerâmica comum permite-nos pensar que estamos perante
de algumas sepulturas e sitou a sua utilização nos enterramentos romanos. As sepulturas eram
séculos II e III d.C. Face a estes dados temos de construídas com tegulae (fundo, paredes e cobertura),
admitir uma utilização desta necrópole entre o século com lajes de xisto ou lajes de mármore. Neste caso,
I e o século III d.C. esta sepultura possuía três varões de ferro para
Bibliografia – Pires 1902, 218; Viana 1953; Viana – sustentar a cobertura (Viana 1950, 301). Este tipo de
Deus 1955b; Alarcão – Alarcão 1967, 2; Alarcão – sepultura aparece em época romana. De acordo com
Ponte 1976, 73; Nolen 1985a, 150-155; Alarcão Abel Viana, quase todas as sepulturas possuíam as
1988b, 156 (6/225). ossadas de dois ou mais indivíduos, sinal da
reutilização das sepulturas (Viana 1950, 301). Junto
N.º 389 das sepulturas apareceu um edifício construído com
Distrito – Portalegre blocos de granito, de funcionalidade desconhecida.
Concelho – Elvas Noutro local de Terrugem, António Dias Deus (Viana
Freguesia – São Vicente e Ventosa 1950, 304) descobriu outro sepultura. Esta era de
Lugar – Horta das Pinas incineração e tratava-se de uma mera cova aberta no
Foi escavada em 1950 por Abel Viana e António D. solo sem qualquer material de construção, contendo
Deus. cinzas e recipientes de cerâmica. Será outra sepultura
Durante os trabalhos foram identificadas 61 de época romana?
sepulturas de incineração que correspondiam apenas Bibliografia – Viana 1950, 300-304; Alarcão 1988b,
a uma parte da necrópole. 156 (6/217).
As sepulturas escavadas dividiam-se em dois grupos:
- covachos escavados no solo, contendo cerâmica, N.º 392
outros objectos pessoais e cinzas, coberto com Distrito – Portalegre
algumas pedras de pequena dimensão; Concelho – Elvas
- sepulturas estruturados por lajes ou tegulae, tanto Freguesia – Vila Boim
nos limites laterais como na cobertura. Lugar – Herdade da Camugem
O espólio é constituído por peças de cerâmica Em 1949 apareceram três sepulturas de inumação.
comum, terra sigillata, cerâmica de paredes finas, Nas suas estruturas estas sepulturas utilizavam lajes
vidros fíbulas e fivelas de bronze e outros objectos de calcário branco. Uma das sepulturas tinha uma
metálicos e de adorno. caixa formada por pequenas lajes assentadas
A. Viana considerou que a utilização da necrópole foi horizontalmente. Outra sepultura tinha na sua
efectuada nos séculos I e II d.C, cronologia apoiada estrutura lápides funerárias reutilizadas.
pelo estudo das peças de vidro destra necrópole Todas as sepulturas tinham uma orientação Este –
(Alarcão – Alarcão 1967, 3). Oeste e apenas continham ossadas humanas. Não
Bibliografia – Viana - Deus 1950, 242-244; Viana - tinham mobiliário funerário. Não se conhece a
Deus 1953; 70-71; Viana 1953, 238, 239 e 241; Deus cronologia destas sepulturas.
et al: 1955, 570; Viana 1955, 552-553; Viana - Deus Bibliografia – Viana 1950, 313-315; Encarnação
1958, 143-154, 177-190; Alarcão – Alarcão 1967, 2- 1984, 650, 655-656 e 660; Alarcão 1988b, 156
3; Alarcão 1968, 28-29; Nolen 1985a; Alarcão (6/218).
1988b, 154 (6/192).
N.º 393
N.º 390 Distrito – Portalegre
Distrito – Portalegre Concelho – Elvas
Concelho – Elvas Freguesia – Vila Fernando
Freguesia – São Vicente e Ventosa Lugar – Alcaparinha
Lugar – Monte de São Pedro Abel Viana menciona o aparecimento de três
Thomaz Pires refere o aparecimento de sarcófagos. sepulturas da época romana situados junto de um
Não refere o ritual funerário. monumento megalítico. No interior de uma das
Bibliografia – Pires 1901, 234; Saa 1956, 197; sepulturas encontrou dois brincos de bronze. Este
Alarcão 1988b, 154 (6/189). autor nada mais acrescenta sobre estas sepulturas.
Bibliografia – Viana 1950, 293; Alarcão 1988b, 156
N.º 391 (6/213).
Distrito – Portalegre
Concelho – Elvas N.º 394
Freguesia – Terrugem Distrito – Portalegre
Lugar – Herdade da Terrugem Concelho – Elvas
147
Necrópoles Romanas do Território Português
Neste local apareceu uma necrópole tardo-romana ou entre 1973 e 1975. Todos os enterramentos foram
visigótica, sobre a qual não existem muitas efectuados em covas ou covachos abertos no solo
informações. natural, sem qualquer tipo de revestimento.
Bibliografia – Vasconcellos 1929, 200; Heleno 1962, Foram escavados cerca de meia centena de
314; Alarcão 1988, 151. enterramentos que continham, na sua maioria,
mobiliário funerário diversificado. Esta era
N.º 399 constituído por recipientes de terra sigillata hispânica
Distrito – Portalegre e sudgálica, cerâmica de paredes de finas, cerâmica
Concelho – Monforte comum, alguns recipientes de vidro, duas moedas e
Freguesia – Vaiamonte uma lucerna.
Lugar – Herdade do Reguengo A utilização da necrópole foi estabelecida no período
M. Heleno referiu pela primeira vez a existência de compreendido entre a segunda metade do século I e o
duas necrópoles neste local (Heleno 1962, 314). Esta primeiro quartel do século II da nossa era (Viegas et
necrópole de incineração foi escavada por este autor al. 1981, 127).
que nunca publicou os resultados das suas Bibliografia – Viegas et al. 1981; Alarcão 1988b, 118
investigações. O mobiliário funerário proveniente (5/147).
desta necrópole foi posteriormente publicado por J.
Caeiro e J. Alarcão. As sepulturas continham uma N.º 403
grande quantidade de peças votivas, constituído por Distrito – Portalegre
sigillata hispânica, paredes finas e cerâmica comum. Concelho – Ponte de Sôr
A análise deste material permitiu datar algumas Freguesia – Montargil
sepulturas do final do século I e do século II da nossa Lugar – Monte dos Irmãos
era. Durante a realização de trabalhos agrícolas foi
Bibliografia – Heleno 1962, 314; Caeiro 1977a, 139- encontrada uma urna cinerária. Esta continha vários
144; Caeiro 1977b, 227-241; Caeiro 1978, 203-210; objectos votivos. Ao lado da urna foi enterrada uma
Caeiro 1979, 113-120; Alarcão 1984, 173; Alarcão lucerna de bronze envolta num pano. Este mobiliário
1988b, 151 (6/143). funerário foi estudado por J. S. Nolen.
Este achado foi datado da segunda metade do século I
N.º 400 d.C.
Distrito – Portalegre Bibliografia – Nolen 1981; Alarcão 1988b, 118
Concelho – Monforte (5/148).
Freguesia – Vaiamonte
Lugar – Torre de Palma
Numa pequena nota inserida no artigo sobre esta villa
romana, M. Heleno (1962, 314) refere sucintamente a
Porto
existência, perto da basílica, de um espaço funerário
com enterramentos de incineração e inumação. N.º 404
Refere ainda o abundante mobiliário funerário Distrito – Porto
retirado deste local. No entanto, não apresenta Concelho – Amarante
qualquer cronologia para a utilização desta necrópole. Freguesia – Cepelos
Bibliografia – Heleno 1962, 314. Lugar – Cepelos
Neste local apareceu um número indeterminado de
N.º 401 sepulturas, contendo cerâmica comum e fragmentos
Distrito – Portalegre de ânfora. Foi referenciado pela primeira vez por
Concelho – Ponte de Sôr Helena Portela.
Freguesia – Galveias Bibliografia – Portela 1998, 9 (n.º 5).
Lugar – Galveias
Leite de Vasconcellos menciona o aparecimento de N.º 405
uma sepultura romana que continha oferendas Distrito – Porto
funerárias. Não adianta mais informações sobre esta Concelho – Amarante
sepultura. Freguesia – Freixo de Cima
Bibliografia – Vasconcellos 1912, 288; Alarcão Lugar – Campinho do Muro
1988b, 149 (6/114). Não se conhece o número de sepulturas desta
necrópole. As oferendas funerárias eram constituídas
N.º 402 por cerâmica comum. Foi referenciado pela primeira
Distrito – Portalegre vez por Helena Portela.
Concelho – Ponte de Sôr Bibliografia – Portela 1998, 8-9 (n.º 4).
Freguesia – Montargil
Lugar – Herdade de Santo André N.º 406
Esta necrópole de incineração foi descoberta em Distrito – Porto
1973, na sequência de trabalhos agrícolas. A Concelho – Amarante
escavação foi efectuada no período compreendido
149
Necrópoles Romanas do Território Português
Helena Portela regista esta necrópole como uma Esta necrópole foi escavada por José Fortes e José
necrópole de inumação, cujo espólio era constituído Pinho no início do século XX. Destas escavações não
por cerâmica comum. Também foram recolhidos resultou nenhuma publicação específica, facto que
pregos. Aquela investigadora atribui a sua utilização dificulta a interpretação dos achados. No entanto, J.
aos séculos IV ou V d.C. Fortes referiu que se tratava de uma necrópole que
Bibliografia – Marques et al. 1990; Dias 1993-1994, continha os dois rituais usados no mundo romano
110 (n.º3); Portela 1998, 14-15 (n.º 10). (incineração e inumação). O espólio funerário foi
estudado por A. Amaral (1988-89) e é constituído
N.º 414 exclusivamente por cerâmica comum romana. Esta
Distrito – Porto autora situa a necrópole no mesmo âmbito
Concelho – Amarante cronológico das necrópoles romanas desta região:
Freguesia – Sanche séculos III e IV da nossa era (Amaral 1988-89, 114).
Lugar – Sanche Bibliografia – Amaral 1988-89; Portela 1998, 11-12
Não é possível determinar o número de sepulturas (n.º 8).
encontrado nesta necrópole. O mobiliário funerário é
constituído por cerâmica comum romana. H. Portela
indica que o tipo de enterramento é similar ao da N.º 419
necrópole da Lomba, do mesmo concelho. Estamos, Distrito – Porto
portanto, perante uma necrópole de incineração. Concelho – Amarante
Bibliografia – Portela 1998, 16-17 (nº 13). Freguesia – Vila Caíz
Lugar – Vilarinho
N.º 415 J. Fortes (1908c) noticia o aparecimento da necrópole
Distrito – Porto que se deveu à construção do caminho-de-ferro. Este
Concelho – Amarante investigador refere o aparecimento de «inhumações,
Freguesia – São Gonçalo mais ou menos superficialmente abertas no salão,
Lugar – Barral sem revestimento interno, nem tampas, de planta
Neste local foi descoberta uma necrópole de aproximadamente rectangular (Fortes 1908c, 477).
incineração. As sepulturas, em número desconhecido, No interior foram encontrados alguns vasos de
eram covas abertas no solo natural. O mobiliário cerâmica comum. Perante estes dados parece-nos que
funerário era constituído por cerâmica comum se tratam de sepulturas de inumação, apesar das
romana. informações do autor não provirem de observação
Bibliografia – Portela 1998, 6-7 (n.º 2). directa. Face a tudo isto, torna-se difícil de
compreender a razão que terá levado L. Dias (1993-
N.º 416 1994, 110) a referir que estamos perante sepulturas
Distrito – Porto de incineração, quando nada aponta nesse sentido.
Concelho – Amarante Esta necrópole terá sido utilizada nos séculos III / IV
Freguesia – São Gonçalo d.C.
Lugar – Calçada da Misericórdia Bibliografia – Fortes 1908c, 477; Soeiro 1984, 39;
J. Fortes refere o aparecimento de uma sepultura de Alarcão 1988b, 24 (1/420); Dias 1993-1994 (n.º 5);
incineração com a forma de uma cova aberta no solo. Pinto 1996, 304 (n.º 01); Portela 1998, 19 (n.º 15).
No seu interior estavam depositados três recipientes
cerâmicos. N.º 420
Bibliografia – Fortes 1908b, 255; Portela 1998, 7-8 Distrito – Porto
(n.º 3). Concelho – Baião
Freguesia – Ancede
N.º 417 Lugar – Ermêlo (Igreja Velha)
Distrito – Porto Desta necrópole conhecem-se quatro sepulturas. Duas
Concelho – Amarante sepulturas estavam vazias e as outras duas estavam
Freguesia – São Simão estruturadas com pedras pequenas e continham
Lugar – Chã da Portela ossadas humanas. Não apresentavam mobiliário
Neste local apareceu uma necrópole de inumação funerário. Esta necrópole é do período tardo-romano.
com um número desconhecido de sepulturas. O Bibliografia – Vasconcellos 1908, 669-672; Barroca
mobiliário funerário era constituído por cerâmica 1984, 118; Dias 1993-1994 (n.º 11).
comum. Apareceram também três pregos de ferro.
Bibliografia – Portela 1998, 10 (n.º 6). N.º 421
Distrito – Porto
N.º 418 Concelho – Baião
Distrito – Porto Freguesia – Frende
Concelho – Amarante Lugar – Castelo
Freguesia – Telões Neste local apareceram três pedras esculturadas que
Lugar – Laboriz poderiam pertencer a um monumento funerário
(Almeida, CAF 1975, 32). Ferreira de Almeida
151
Necrópoles Romanas do Território Português
pensou tratar-se um «mausoléu tipo torre ou Nesta necrópole foram descobertas cinco sepulturas
corucheu». Mais tarde serão feitos enterramentos que de inumação, estruturadas com tijolos. Uma das
aquele autor atribui à época paleocristã. sepulturas, dada a sua dimensão, devia conter uma
Bibliografia – Vasconcellos 1913, 474-477; Almeida, inumação infantil.
CAF 1975; Barroca 1984, 118; Alarcão 1988b, 29 Bibliografia – Vasconcellos 1887, 178-179; Brandão
(1/439). 1960, 486-487; Barroca 1984, 117; Alarcão 1988b,
29 (1/489).
N.º 422
Distrito – Porto N.º 426
Concelho – Baião Distrito – Porto
Freguesia – Ovil Concelho – Felgueiras
Lugar – Giesta Freguesia – Airães
Neste local apareceu uma necrópole da qual se Lugar – Monte Outeiro
conhecem apenas dois recipientes de cerâmica Um jornal local noticiou, em 1983, o aparecimento de
comum romana. sepulturas de tijolo. Poderão ser de cronologia
Bibliografia – Barroca 1984, 117; Alarcão 1988b, 29 romana.
(1/486). Bibliografia – Notícias de Felgueiras, 28-07-83.
encontrados três recipientes cerâmicos e uma peça de Necrópole romana referenciada por C. A. F. Almeida,
vidro. sobre a qual não existem muitas informações.
Não conhecemos o ritual funerário, nem a sua Bibliografia – Almeida 1969, 42.
cronologia.
Bibliografia – Severo 1908a; Severo 1908b; Alarcão N.º 433
1988b, 24, 1/400. Distrito – Porto
Concelho – Maia
N.º 430 Freguesia – Vermoim
Distrito – Porto Lugar – Agra da Portela
Concelho – Lousada Esta necrópole foi referenciada por C. A. F. Almeida
Freguesia – Caíde de Rei que não apresentou muitas informações sobre a
Lugar – Vila Verde mesma.
J. A. Vieira, no final do século XIX, fez uma Bibliografia – Almeida 1969, 42; Alarcão 1988b, 23
referência muito vaga ao aparecimento de sepulturas. (1/396).
No mesmo local foram encontrados capitéis e
objectos de cerâmica, daí a possível cronologia N.º 434
romana dos enterramentos. Distrito – Porto
Bibliografia – Vieira 1887, 364; Alarcão 1988b, 24 Concelho – Maia
(1/412). Freguesia – Vila Nova da Telha
Lugar – Bicas
N.º 431 Neste local apareceu uma necrópole com cerca de dez
Distrito – Porto sepulturas do século IV ou V d.C.
Concelho – Maia Bibliografia – Almeida 1969, 42; Alarcão 1988b, 23
Freguesia – Gemunde (1/392).
Lugar – Forca
Esta necrópole foi encontrada na década de 40 do N.º 435
século XX (Almeida 1988, 114). A necrópole está Distrito – Porto
situada a poucas centenas de metros do castro de Concelho – Marco de Canaveses
Santo Ovídio em Avioso e junto da via romana que Freguesia – Alpendurada
ligava Olisipo a Bracara Augusta (Almeida 1988, Lugar – Fraga – Feira Nova
115). Não se conhece o habitat ligado a esta Necrópole de incineração da qual foi retirado
necrópole. O material funerário foi publicado, em mobiliário funerário constituído por vasos de
1988, por A. J. Almeida que apresenta um conjunto cerâmica comum. J. L. Vasconcellos descreveu as
de considerações sobre esta necrópole. sepulturas de pequenas dimensões que eram
Considera que a necrópole teria enterramentos constituídas por caixas feitas de lajes de pedra e
derivados de incinerações e inumações. No momento cobertas com uma laje do mesmo material. Tinham
da descoberta «teriam aparecido bastantes cinzas e uma forma rectangular. Uma sepultura continha uma
carvões, num determinado local» (Almeida 1988, moeda do século IV.
120) e alguns recipientes apresentam fuligem Parece haver uma confusão na identificação desta
resultante da incineração. Como não encontrou necrópole. J. Alarcão (1988b, 90) refere outra
material de construção, considera que as inumações necrópole na freguesia de Penha Longa mas deve
seriam feitas em sepulturas abertas na rocha, referir-se a esta necrópole.
vulgarmente conhecidos por covachos (Almeida Bibliografia – Vasconcellos 1908, 669-672;
1988, 120). O espólio funerário é constituído por Vasconcellos 1913, 370-372; Alarcão 1988b, 28
cerâmica comum. (1/480); Dias 1993-1994, 112 (n.º 10).
O autor atrás referido não se inclina-se para uma
cronologia precisa da necrópole devido à falta de N.º 436
elementos facilmente datáveis. As duas lucernas que Distrito – Porto
coloca na segunda metade do século I d.C. (Almeida Concelho – Marco de Canaveses
1988, 121) não permitem uma datação muito precisa Freguesia – Ariz
e a própria utilização de incineração não permite a Lugar – São Tiago de Arados
inclusão num grande período histórico. A incineração António Cruz (1948) publica um manuscrito que
no Noroeste perdurou até ao Baixo Império e tal facto menciona o aparecimento de uma necrópole no
impede a sua utilização como critério cronológico. século XVIII. No manuscrito vem explicitamente a
Bibliografia – Almeida 1988. referência à descoberta de «muitas covas, feitas ao
modo de sepulturas, e que nellas se acharão diversos
N.º 432 vasos de barro vermelho, de varios feitios, e alguns
Distrito – Porto pregos» (Cruz 1948, 333). Refere também a
Concelho – Maia descoberta de duas moedas de Constante e
Freguesia – Gueifães Constâncio. Estas dez ou doze sepulturas estavam
Lugar – Quelha Funda estruturadas com lajes de pedra e cobertas pelo
153
Necrópoles Romanas do Território Português
Lugar – Quinta da Boa Vista Bibliografia – Soeiro 1980, 85; Dias 1993-1994 (n.º
Neste local foram descobertas sepulturas de 4); Dias 1995, 272; Pinto 1996; Pinto 1998.
inumação, contendo diverso espólio funerário. Este
encontra-se depositado em diversos museus. Do N.º 469
interior das sepulturas foram retirados recipientes Distrito – Porto
cerâmicos, um anel, moedas, pregos e ossos. Entre a Concelho – Penafiel
cerâmica destaca-se um prato de sigillata hispânica e Freguesia – Duas Igrejas
cerâmica cinzenta fina, que T. Soeiro atribuiu aos Lugar – Antas
finais do século I ou ao II d.C. A ter em conta estes Nesta localidade foram encontradas duas necrópoles
dados temos inumações muito precoces nesta região distanciadas 200 metros. Não se sabe se se tratam de
do Império. Por outro lado, a mesma autora cita uma vestígios da mesma ou duas necrópoles. Os primeiros
informação de 1918 que refere o aparecimento de vestígios compreendiam sepulturas de inumação, de
«duas vasilhas cheias de terra e carvões», na mesma diversas formas, contendo mobiliário funerário
freguesia. Será outro núcleo da mesma necrópole? variado. Estavam cobertas com lajes de pedra.
Em caso afirmativo, teríamos uma necrópole com Refere-se a presença de tábuas de madeira mas não se
enterramentos de incineração e inumação. esclarece a sua funcionalidade.
Bibliografia – Soeiro 1984, 77 e 79; Pinto 1996, 307- Os outros vestígios apareceram mais tarde e eram
308 (n.º 11). constituídos por sepulturas rectangulares com
mobiliário funerário diversificado. Nesta necrópole
N.º 467 foram encontradas moedas do século IV. Temos,
Distrito – Porto portanto, uma utilização tardia de uma das necrópoles
Concelho – Penafiel de Antas.
Freguesia – Capela Bibliografia – Soeiro 1984, 89-95; Alarcão 1988b, 28
Lugar – Igreja (1/474); Pinto 1996, 308-309 (n.º 13).
Na sequência da realização de obras apareceu uma
necrópole com sepulturas, contendo recipientes N.º 470
cerâmicos e moedas. Esta informação foi recolhida Distrito – Porto
por T. Soeiro que considera estarmos perante Concelho – Penafiel
sepulturas de inumação. Não é possível determinar a Freguesia – Entre-os-Rios
cronologia destes enterramentos. Lugar – Eja
Bibliografia – Soeiro 1984, 104; Alarcão 1988b, 90 T. Soeiro menciona uma informação, do início do
(3/2); Pinto 1996, 310-311 (n.º 20). século XX, que refere a descoberta, na encosta da
Cividade de Eja, de tegulae, recipientes cerâmicos e
N.º 468 lucernas. Aquela autora pensa estar-se perante uma
Distrito – Porto necrópole que serviria o povoado. Não existem mais
Concelho – Penafiel informações sobre estes vestígios.
Freguesia – Croca Bibliografia – Soeiro 1984, 77; Pinto 1996, 311 (n.º
Lugar – Montes Novos 23).
Necrópole descoberta acidentalmente em 1987 pelo
proprietário do terreno onde se encontrava, foi N.º 471
seguidamente escavada por equipa dirigida por G. Distrito – Porto
Pinto. É uma das necrópoles mais bem estudadas do Concelho – Penafiel
norte de Portugal e cuja publicação seguiu método Freguesia – Galegos
científico e criterioso. Lugar – Bairro
A escavação revelou uma área sepulcral extensa T. Soeiro menciona o aparecimento de um recipiente
constituída por 139 sepulturas, que utilizam os rituais cerâmico proveniente de um contexto funerário.
da incineração e inumação. Os enterramentos Coloca a hipótese de se tratar de enterramentos
resultantes das incinerações são muitos minoritários e pertencentes à necrópole referida no número
são simples covachos escavados no solo. As seguinte, situada na mesma freguesia. Não existem
inumações são fossas rectangulares abertas no solo outras informações sobre estes vestígios.
base, algumas destas apresentam vestígios de Bibliografia – Soeiro 1984, 98.
utilização de caixões de madeira.
O mobiliário funerário é constituído essencialmente N.º 472
por cerâmica comum romana. Existem ainda alguns Distrito – Porto
objectos de adorno, vidros, terra sigillata e cerâmica Concelho – Penafiel
fina cinzenta. De realçar, no entanto, a abundância de Freguesia – Galegos
moedas, maioritariamente do século IV. Lugar – Igreja
A análise deste mobiliário funerário levou G. Pinto a Neste local foram descobertas sepulturas,
propor uma cronologia de utilização deste espaço nos desconhecendo-se o número de enterramentos, o tipo,
séculos III e IV. No entanto, existem alguns vestígios o ritual e a própria cronologia. Destas sepulturas
que indicam uma possível utilização no período alto- conhecem-se dois recipientes cerâmicos. Também
imperial. continham moedas, entretanto desaparecidas.
158
Necrópoles Romanas do Território Português
Bibliografia – Soeiro 1984, 98; Pinto 1996, 309 (n.º aparecimento de abundante mobiliário funerário. Os
15). poucos conhecimentos concretos sobre os
enterramentos desta necrópole resultaram das
N.º 473 escavações realizadas por Carlos Alberto Ferreira de
Distrito – Porto Almeida, em 1974 e 1975.
Concelho – Penafiel Tem sepulturas de incineração, praticadas entre o
Freguesia – Irívo século I d.C. até meados do século III. A inumação
Lugar – Candaídos apresenta vestígios datados de meados do século IV.
T. Soeiro menciona o aparecimento de uma necrópole A incineração parece ser feita em covas abertas no
de incineração neste local. As informações, solo, onde são colocadas as cinzas e as oferendas
recolhidas por aquela investigadora, referem o votivas. Também se conhece uma incineração
aparecimento de recipientes cerâmicos sem qualquer primárias, datada de meados do século III d.C.
elemento de protecção nas sepulturas. Não é possível As inumações conhecidas eram feitas em sepulturas
determinar a cronologia de utilização da necrópole. estruturadas com pedras e outros materiais, onde o
Bibliografia – Soeiro 1984, 100; Pinto 1996, 309-310 corpo do defunto era depositado acondicionado num
(n.º 16). caixão de madeira. No interior, acompanhavam o
defunto moedas e recipientes cerâmicos. O mobiliário
N.º 474 funerário conhecido é constituído por mais de uma
Distrito – Porto centena de recipientes cerâmicos (sigillata hispânica,
Concelho – Penafiel cinzenta fina e cerâmica comum romana), lucernas,
Freguesia – Lagares recipientes de vidro e alguns objectos de metal.
Lugar – Agra de Ordins Bibliografia – Soeiro 1984, 293-299; Alarcão 1988b,
Neste local apareceu uma sepultura com mobiliário 27 (1/466); Pinto 1996, 306-307 (n.º 08); Soeiro
funerário constituído por cerâmica. Não se conhece o 1998, 31-32.
ritual funerário utilizado nesta sepultura. A cerâmica
foi estudada por T. Soeiro. N.º 478
Bibliografia – Soeiro 1984, 104; Alarcão 1988b, 27 Distrito – Porto
(1/468); Pinto 1996, 310 (n.º 18). Concelho – Penafiel
Freguesia – Paço de Sousa
N.º 475 Lugar – As Campas, Casal do Ouro
Distrito – Porto Necrópole descoberta em 1991 quando se procedia ao
Concelho – Penafiel alargamento de um caminho. Estas obras destruíram
Freguesia – Lagares várias sepulturas. Trabalhos posteriores revelaram a
Lugar – Presa dos Vasos presença de sete sepulturas (Soeiro 1992-93, 282).
Junto da base de um povoado castrejo, apareceu uma Estas tinham um formato rectangular e foram abertas
necrópole. Esta informação foi recolhida por T. no saibro. Do seu interior foram retirados dez
Soerio. Não existem outras informações sobre esta recipientes de cerâmia comum romana, muito
necrópole. frequente nas necrópoles tardo-romanas. Não foi
Bibliografia – Soeiro 1984, 104; Alarcão 1988b, 27 possível determinar a prática funerária utilizada.
(1/469); Pinto 1996, 310 (n.º 19). Bibliografia – Soeiro 1992-93; Pinto 1996, 312-313
(n.º 26).
N.º 476
Distrito – Porto N.º 479
Concelho – Penafiel Distrito – Porto
Freguesia – Marecos Concelho – Penafiel
Lugar – Castro de Marecos Freguesia – Paço de Sousa
T. Soeiro faz uma referência vaga à possível Lugar – Cortinhas de Trago
existência de uma necrópole junto do castro de T. Soeiro (1993-94, 285-286) refere uma informação
Marecos. Desta necrópole teria vindo um púcaro de oral sobre o aparecimento de uma necrópole em
cerâmica cinzenta fina. Não existem outras 1931. O alargamento de um caminho pôs a
informações sobre estes vestígios arqueológicos. descoberto sepulturas abertas no solo, dentro das
Bibliografia – Soeiro 1984, 96. quais se encontraram recipientes cerâmicos,
possivelmente cerâmica comum romana.
N.º 477 Bibliografia – Soeiro 1992-93; Pinto 1996, 313 (n.º
Distrito – Porto 27).
Concelho – Penafiel
Freguesia – Oldrões N.º 480
Lugar – Mozinho Distrito – Porto
A necrópole estava situada num local a Norte do Concelho – Penafiel
povoado, no espaço exterior contíguo à última linha Freguesia – Paço de Sousa
de muralhas. Parecia ser bastante extensa. Foi sujeita Lugar – Covelo
a muitas intervenções de curiosos que provocaram o
159
Necrópoles Romanas do Território Português
T. Soeiro refere o aparecimento de uma necrópole, da Bibliografia – Soeiro 1984, 54-55; Alarcão 1988b, 28
qual foram retirados recipientes cerâmicos. (1/477); Pinto 1996, 306 (n.º 07).
Actualmente, encontra-se uma tigela no Museu de
Penafiel. Não se conhece a forma das sepulturas, o N.º 485
ritual funerário nem a cronologia de utilização da Distrito – Porto
necrópole. Concelho – Penafiel
Bibliografia – Soeiro 1984, 100; Alarcão 1988b, 26 Freguesia – Santa Marta
(1/463); Pinto 1996, 310 (n.º 12). Lugar – Estrada
Esta necrópole fica situada numa área a nordeste do
N.º 481 castro de Santa Marta. As sepulturas eram
Distrito – Porto constituídas por caixas grandes, contendo vasos
Concelho – Penafiel cerâmicos e moedas. O material retirado destas
Freguesia – Paredes sepulturas é constituído por cerâmica comum,
Lugar – Giesta ou Tapada de Barreiros sigillata clara D, moedas de Cláudio II, Galieno e de
Esta necrópole de incineração, conhecida desde o Constantino I. Também foram retiradas tachas em
início do século XX, forneceu mobiliário funerário ferro. Estas sepulturas de inumação são tardias.
constituído por cerâmica comum. Os últimos Bibliografia – Soeiro 1984, 85-86; Pinto 1996, 308
vestígios encontrados eram constituídos por (n.º 12).
enterramentos sem qualquer material estruturador,
contendo recipientes cerâmicos e alguns carvões. T. N.º 486
Soeiro estudou a cerâmica e considera que esta não Distrito – Porto
pode ser do século I d.C nem poderá ser tardia. Concelho – Penafiel
Bibliografia – Soeiro 1984, 64; Alarcão 1988b, 27 Freguesia – Santiago de Subarrifana
(1/471); Pinto 1996, 307 (n.º 09). Lugar – Outeiro
Os vestígios arqueológicos foram descobertos em
N.º 482 1965. O espólio é composto por cerâmica comum e
Distrito – Porto por uma moeda em bronze de Constantino I, datada
Concelho – Penafiel de fins de 312-313 d.C.
Freguesia – Pinheiro Os trabalhos realizados após a descoberta dos
Lugar – Outeiro de Dino vestígios detectaram uma sepultura de inumação com
Junto de um castro romanizado apareceu uma formato rectangular, medindo 1,94 m X 0,76 m.
necrópole de incineração. Esta está situada no espaço Estava orientado no sentido Nascente-Poente e as
imediatamente a seguir à última muralha. Os paredes eram constituídas por pedra miuda.
enterramentos deviam ser covas abertas no solo onde Foram atribuídos a este enterramento seis recipientes
foram colocados os recipientes cerâmicos. Estes eram cerâmicos.
constituídos por cerâmica comum, cuja cronologia Bibliografia – Soeiro 1987.
não foi determinada por T. Soeiro.
Bibliografia – Soeiro 1984, 60 e 64; Alarcão 1988b, N.º 487
27-28 (1/472); Pinto 1996, 311 (n.º 21). Distrito – Porto
Concelho – Penafiel
N.º 483 Freguesia – São Martinho de Recezinhos
Distrito – Porto Lugar – Quinta do Castro
Concelho – Penafiel T. Soeiro menciona o aparecimento, na primeira
Freguesia – Rans metade do século XX, de uma necrópole de
Lugar – Pedreira incineração. As sepulturas seriam covas abertas no
T. Soeiro menciona, de forma vaga, a possível solo sem qualquer material estruturador ou de
existência de uma necrópole neste local, de onde teria protecção, onde eram depositados os recipientes
saído um prato. cerâmicos. Aquela investigadora estudou quatro
Bibliografia – Soeiro 1984, 96; Alarcão 1988b, 26 recipientes, depositados no Museu de Penafiel, aos
(1/459); Pinto 1996, 309 (n.º 14). quais atribuiu uma datação em torno dos finais do
século I ou do II d.C.
N.º 484 Bibliografia – Soeiro 1984, 44-46; Pinto 1996, 305
Distrito – Porto (n.º 05).
Concelho – Penafiel
Freguesia – Rio de Moinhos N.º 488
Lugar – Codes Distrito – Porto
Neste local apareceu uma necrópole de inumação. Os Concelho – Penafiel
vestígios foram destruídos sem qualquer observação Freguesia – São Vicente do Pinheiro
especializada, pelo que não é possível determinar a Lugar – Termas de São Vicente
forma das sepulturas. Destas foram retirados A cerca de 100 metros das termas romanas foi
recipientes de vidro e pequenos bronzes do século IV. encontrada uma necrópole. Não se conhece o ritual
funerário utilizado, o formato das sepulturas ou a
160
Necrópoles Romanas do Território Português
cronologia da sua utilização. Das sepulturas teriam que permitem a inserção cronológica no período
sido retirados recipientes cerâmicos e lucernas, romano.
entretanto perdidos. Bibliografia – Sarmento 1999, 414.
Bibliografia – Soeiro 1984, 75; Alarcão 1988b, 28
(1/473); Pinto 1996, 307 (n.º 10). N.º 493
Distrito – Porto
N.º 489 Concelho – Santo Tirso
Distrito – Porto Freguesia – Sequeiró
Concelho – Penafiel Lugar – Portinhos
Freguesia – Valpedre Nos seus apontamentos sobre as viagens de
Lugar – Mesão Frio prospecção, Martins Sarmento refere o aparecimento
Numa pequena nota do seu trabalho, T. Soeiro (1984) de uma sepultura no lugar de Portinhos. A sepultura
menciona um informação vaga sobre o aparecimento de inumação tinha uma caixa de tijolo e estava
de uma necrópole, destruída quando se procedia à coberta com duas lajes de xisto. Não faz referência a
abertura de um caminho. qualquer oferenda funerária. Nas redondezas era
Bibliografia – Soeiro 1984, 103. possível encontrar outros vestígios romanos. Para
Martins Sarmento este enterramento deverá ser
N.º 490 atribuído ao período medieval.
Distrito – Porto Bibliografia – Sarmento 1999, 353.
Concelho – Porto
Freguesia – Sé N.º 494
Lugar – Largo do Colégio, 9-12 Distrito – Porto
Em escavações recentes realizadas num edificío Concelho – Trofa
situado neste Largo, apareceu uma sepultura de Freguesia – Muro
inumação coberta com tegulae, com a forma de um Lugar – São Cristóvão do Muro
telhado de duas vertentes. A cobertura era fechada Neste local apareceu, no início do século XX, uma
com imbrices. No interior encontraram os vestígios necrópole de incineração. Esta descoberta apenas foi
ósseos de um indivíduo do sexo feminino. Em volta assinalada pelo registo da aquisição, pelo Museu de
da sepultura existia um pequeno muro que, segundo Etnologia, de oferendas funerárias, constituídas por
J. Varela e J. Cleto, servia para assinalar o local de cerâmica, provenientes deste local.
enterramento e proteger a sepultura. Bibliografia – O Archeologo Português, 10, 1905,
Os investigadores responsáveis pela escavação 381; Alarcão 1988b, 19 (1/352)
consideram-na de cronologia romana., do período
tardio. Apontam uma cronologia entre o início do N.º 495
século IV e meados do século V. Distrito – Porto
Bibliografia – Varela – Cleto 2001, 11-12 e 35-36. Concelho – Trofa
Freguesia – Santiago de Bougado
N.º 491 Lugar – Bairros
Distrito – Porto Neste local apareceu uma sepultura com duas peças
Concelho – Póvoa de Varzim de ouro. Não se conhecem outras informações sobre
Freguesia – Beiriz esta necrópole.
Lugar – Alto da Vinha Bibliografia – Almeida CAF 1969, 44; Alarcão
J. M. Gomes menciona a descoberta de um cipo, uma 1988b, 19 (1/345).
ara epigrafada e cinco sepulturas estruturadas com
tijolo. Estes vestígios permitem situar, neste local, N.º 496
uma necrópole romana com rito e cronologia Distrito – Porto
desconhecidas. Concelho – Trofa
Bibliografia – Gomes 1996, 61-62. Freguesia – Santiago de Bougado
Lugar – Rorigo Velho
N.º 492 Em 1939 foi descoberta uma necrópole que, segundo
Distrito – Porto o autor da publicação, se encontrava a curta distância
Concelho – Santo Tirso da via romana e associada a outros vestígios
Freguesia – Negrelos (São Mamede) arqueológicos, nomeadamente mós manuais, tegulae
Lugar – Portelas e algumas moedas (Cruz 1940, 211-212).
Nos seus apontamentos sobre as viagens de Foram encontradas oito sepulturas de incineração.
prospecção, Martins Sarmento refere o aparecimento Algumas sepulturas foram destruídas pelos trabalhos
de sepulturas no lugar das Portelas, junto da casa da de arroteamento (Cruz 1940, 212). Pela descrição
Laje. A destruição das sepulturas não foi presenciada feita na época estamos perante sepulturas cavadas no
pelo arqueólogo que recebeu a informação por solo que revelaram no seu interior mobiliário
intermédio de um morador e proprietário que funerário que «assentava em escórias de fogo» (Cruz
descobriu a referida necrópole, quando arroteava o 1940, 212). Este era constituído por cerâmica comum
terreno. Também apareceram recipientes cerâmicos, e terra sigillata com diversas formas, fragmentos de
161
Necrópoles Romanas do Território Português
calcário. O interior tinha cinzas que indicam que este Em 1976, apareceu uma sepultura aberta na rocha de
enterramento continha os elementos provenientes de base, coberta por tegulae ligadas por argamassa.
uma incineração. No mesmo local foi encontrada uma Junto deste existe outro enterramento coberto por
estela funerária. Perto deste local foi também tegulae disposta em telhado de duas águas. A
encontrada uma cupa em mármore. primeira sepultura apresentava material funerário que
Bibliografia – Alarcão 1988b, 132 (5/348); Faria sugerem uma cronologia dos séculos IV / V d.C. A
1998, 35. proximidade destes vestígios dos referidos na ficha
anterior poderá ser o indício da existência de uma
N.º 539 necrópole mais vasta associada a um povoado
Distrito – Setúbal desconhecido.
Concelho – Alcácer do Sal Bibliografia – Santos et alii 1996, 231.
Freguesia – Torrão
Lugar – Penedo Minhoto N.º 542
Foram descobertas, em 1986, duas sepulturas de Distrito – Setúbal
inumação que continham três peças de cerâmica Concelho – Almada
comum romana, nomeadamente, dois púcaros e um Freguesia – Caparica
pratel. Foram destruídas no momento da descoberta. Lugar – Quinta da Torre
As sepulturas estavam revestidas por tegulae e Neste local foram observadas sepulturas de inumação
lateres colocados de cutelo, não possuindo cobertura com caixa e cobertura em tijoleira. Não foi
nem fundo. No seu interior estavam algumas ossadas recuperado mobiliário funerário. Os vestígios foram
humanas. Os autores do estudo material (Faria – destruídos por obras de construção civil.
Ferreira 1988) não avançam com qualquer cronologia Bibliografia – Santos et alii 1996, 230-231.
devido ao escasso mobiliário funerário encontrado
(Faria – Ferreira 1988, 35). N.º 543
Bibliografia – Faria – Ferreira 1988, 29-35; Faria Distrito – Setúbal
1998, 38. Concelho – Grândola
Freguesia – Carvalhal
N.º 540 Lugar – Tróia
Distrito – Setúbal As primeiras referências a vestígios funerários nesta
Concelho – Alcochete estação remontam aos séculos XVIII e XIX. No
Freguesia – Alcochete entanto, apesar dos diversos trabalhos de escavação aí
Lugar – Porto dos Cacos levados a cabo, nunca foi objecto de publicação
Necrópole constituída por 37 enterramentos, dos sistemática. Neste local apareceram vestígios de
quais foram escavados 24 (Sabrosa 1996, 283). A sepulturas de incineração e inumação. Apareceram
escavação decorreu a partir de 1985 e pôs a enterramentos em ânfora. Leite de Vasconcellos
descoberto a necrópole do complexo oficinal de descreveu uma sepultura de incineração pequena com
olaria situado no mesmo local. Os enterramentos uma caixa em tijolos. Sobre esta estava colocada uma
escavados indicam a utilização deste espaço sepulcral lápide funerária. Foi descoberto ainda um
entre o século III e o início do V (Sabrosa 1996, 287). columbarium e sepulturas tardias tipo mensa.
Todos os enterramentos utilizam o ritual da Algumas das cetárias foram utilizados, após o seu
inumação. As sepulturas não têm uma orientação abandono, como sepulturas de inumação. As ânforas
uniforme: a maior parte apresenta uma orientação também foram utilizadas com a mesma finalidade.
«Norte – Sul , com a cabeceira a Sul e o espólio Nos anos 60 do século passado foi descoberto um
funerário geralmente depositado no extremo oposto» fragmento de tampa de sarcófago, com cenas de caça,
(Sabrosa 1986, 287) e um grupo de três sepulturas viagem e banquete. M. J. Maciel considera-o
têm uma orientação Este-Oeste. proveniente da zona de Roma. Segundo este autor
A maior parte das sepulturas utiliza tegulae e datará do século IV.
tijoleiras para estuturar o espaço do enterramento, Os vestígios funerários encontrados neste local
sendo cobertas por telhados de duas águas. Destaca- cobrem todo o período imperial.
se uma sepultura que apresenta uma construção mais Bibliografia – Vasconcellos 1913, 370-371; Almeida
cuidada com paredes de tijoleira ou pedras, coberta – Paixão 1978; Baltasar 1982, 22; Alarcão 1988b,
com tijoleira disposta em falsa cúpula. A. Sabrosa 130 (5/320); Maciel 1996, 160-164 e 193-256.
pensa que esta sepultura terá apresentado uma
cobertura constituída por uma camada de opus N.º 544
signinum (Sabrosa 1996, 286-287). Distrito – Setúbal
Bibliografia – Sabrosa 1996. Concelho – Grândola
Freguesia – Grândola
N.º 541 Lugar – Lugar desconhecido
Distrito – Setúbal Abel Viana refere o aparecimento, em 1953, numa
Concelho – Almada herdade próxima de Grândola, de uma sepultura
Freguesia – Caparica romana, contendo objectos em ouro. Adianta ainda
Lugar – Quinta do Outeiro que foram levados para o então Museu de Etnologia.
167
Necrópoles Romanas do Território Português
Distrito – Setúbal
Concelho – Seixal
Viana do Castelo
Freguesia – Arrentela
Lugar – Quinta de São João N.º 557
Neste local apareceram sepulturas cobertas com Distrito – Viana do Castelo
tijolos, debaixo dos quais se encontravam os Concelho – Arcos de Valdevez
esqueletos, com a cabeça para norte. C. Silva e M. Freguesia – Padreiro (Salvador)
Cabrita propõem uma cronologia alto imperial: Lugar – Tavarez
séculos I e II d.C. Neste local apareceu uma necrópole de inumação
Bibliografia – Silva – Cabrita 1964, 26-27. com vinte sepulturas. Algumas tinham uma forma
quase trapezoidal e eram constituídas por paredes
N.º 554 com pequenas pedras. Uma das sepulturas era feita de
Distrito – Setúbal tegulae e tinha a forma de um telhado de duas águas.
Concelho – Sesimbra Apenas foi encontrado uma pequeno recipiente
Freguesia – Castelo cerâmico. A forma das sepulturas e a falta de
Lugar – Calhariz (Vale da Palha) mobiliário funerário apontam para um momento de
Neste local apareceram cinco sepulturas de duvidosa transição para o período alto-medieval ou já dentro
cronologia romana. As sepulturas eram constituídas deste período.
por lajes de calcário. Uma das sepulturas continha um Bibliografia – Brito 1933, 83-92; Alarcão 1988b, 4
esqueleto e uma taça. Alguns dos frgmentos (1/80).
cerâmicos parecem filiar-se na cerâmica proto-
histórica. E. C Serrão refere uma informação oral N.º 558
sobre o aparecimento de um recipente de vidro em Distrito – Viana do Castelo
um dos sepulcros. Estes elementos não permitem Concelho – Arcos de Valdevez
datar com rigor estes vestígios funerários. Freguesia – Prozelo
Bibliografia – Silva – Cabrita 1964, 27; Serrão 1974. Lugar – Pelourinhos
F. Alves Pereira faz uma pequena descrição de uma
N.º 555 sepultura aberta no solo com as paredes formadas por
Distrito – Setúbal tegulae colocadas de cutelo. O pavimento não
Concelho – Setúbal apresentava revestimento e a cobertura era
Freguesia – São Lourenço constituída por fragmentos de lateres. O interior da
Lugar – Painel das Almas sepultura não apresentava qualquer oferenda
Em meados do século XIX foram encontradas funerária.
sepulturas romanas, contendo recipientes cerâmicos. Bibliografia – Pereira 1923-1924, 273-274; Alarcão
Não se conhece a estrutura das sepulturas, as práticas 1988b, 3 (1/47).
funerárias nem a sua cronologia.
Bibliografia – Rasteiro 1897, 5; Silva – Cabrita 1964, N.º 559
20; Alarcão 1988b, 127 (5/294). Distrito – Viana do Castelo
Concelho – Monção
N.º 556 Freguesia – Mazedo
Distrito – Setúbal Lugar – Cortes
Concelho – Setúbal Neste local apareceu uma necrópole de inumação,
Freguesia – Setúbal escavada por J. A. Maia Marques. Este necrópole
Lugar – São Sebastião devia ser tardia, embora não apresente elementos
Necrópole descoberta no momento da abertura do seguros que permitam a sua datação. Foram
tunel ferroviário de Palhais – Fontaínhas. No descobertas seis sepulturas de diversas tipologias.
seguimento destas obras foram descobertas várias Destacam-se as sepulturas com telhado de duas
sepulturas estruturadas com tijolos ou tegulae. A vertentes e as sepulturas rectangulares estruturadas
orientação predominante era E – O e o ritual referido com tegulae e pedras. Não foram encontradas
por Silva (1966, 573) é a inumação. Do seu interior oferendas funerárias, apenas apareceram quatro
foram retirados ossos humanos, pregos, cerâmica pregos numa sepultura, possivelmente usados num
comum romana, 3 lucernas, um recipiente de vidro caixão de madeira.
(poculum), um fragmento de unguentarium de vidro, Bibliografia – Marques 1984, 90; Alarcão 1988b, 2,
um fragmento de estilete em osso, uma colher de 1/8.
bronze, dois anéis do mesmo material e uma haste de
ferro muito dobrada. Estes materiais foram datados N.º 560
nos séculos II e IV d.C., o que mostra um grande Distrito – Viana do Castelo
período de utilização da necrópole. Concelho – Paredes de Coura
Bibliografia – Silva 1966; Alarcão 1988b, 128. Freguesia – Ferreira
Lugar – Moimenta
169
Necrópoles Romanas do Território Português
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 147-149 triangular (secção triangular?). Este autor pensa que
(n.º 76). se trata de enterramentos tardios, talvez suévicos.
Mas a tipologia da sepultura não é indicativa deste
N.º 569 facto, já que as sepulturas formando um telhado de
Distrito – Viana do Castelo duas vertentes aparecem também em contextos
Concelho – Ponte de Lima romanos.
Freguesia – Fornelos Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 193-194
Lugar – Quinta do Outeiro (n.º 110).
Na sequência da realização de trabalhos agrícolas
apareceram vestígios de duas sepulturas. O fundo das N.º 574
sepulturas devia ser constituído por «tijolos» e as Distrito – Viana do Castelo
paredes laterais eram formadas por pedras colocadas Concelho – Ponte de Lima
na vertical. Não possuíam cobertura. No interior de Freguesia – Moreira de Lima
uma sepultura apareceu uma camada de cinzas Lugar – Madorna
(Almeida, CAB 1996, I, 158). Podemos estar perante Brochado de Almeida (1996, I, 195-196) descreve o
uma sepultura de incineração. aparecimento, junto de um habitat da época romana,
Bibliografia – Almeida, Cab 1996, vol. I, 158- 159 de recipientes cerâmicos partidos que, segundo este
(n.º 83). autor, poderiam pertencer a uma necrópole.
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 195-196
N.º 570 (n.º 113).
Distrito – Viana do Castelo
Concelho – Ponte de Lima N.º 575
Freguesia – Friastelas Distrito – Viana do Castelo
Lugar – Pacinho Concelho – Ponte de Lima
Brochado de Almeida (1996, I, 172-173) refere o Freguesia – Rebordões (Santa Maria)
aparecimento de uma necrópole mas nada adianta Lugar – Paços
sobre os vestígios encontrados e sobre a sua O aparecimento de tegulae inteiras e cerâmica
cronologia. comum romana, alguma dela intacta, leva Brochado
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 172-173 de Almeida (1996, I, 203) a considerar provável a
(n.º 91). existência de uma necrópole da época romana neste
local.
N.º 571 Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 203 (n.º
Distrito – Viana do Castelo 121).
Concelho – Ponte de Lima
Freguesia – Friastelas N.º 576
Lugar – Salamonde Distrito – Viana do Castelo
Brochado de Almeida (1996, I, 171) refere o Concelho – Ponte de Lima
aparecimento de sepulturas estruturadas com tegulae. Freguesia – Rebordões (Souto)
Apareceram também fragmentos de cerâmica comum Lugar – Igreja
e de terra sigillata hispânica tardia. Brochado de Almeida (1996, I) refere que existiu
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 170-171 uma necrópole no local onde se ergueu o edifício da
(n.º 89). escola primária. Não apresenta qualquer descrição
dos vestígios.
N.º 572 Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, n.º 124,
Distrito – Viana do Castelo
Concelho – Ponte de Lima N.º 577
Freguesia – Moreira de Lima Distrito – Viana do Castelo
Lugar – Boudilhão Concelho – Ponte de Lima
Brochado de Almeida refere o aparecimento, em Freguesia – Refojos do Lima
1982, de uma sepultura estruturada com tegulae. Não Lugar – Santa Eulália
adianta mais informações sobre esta sepultura. Neste local apareceram tegulae inteiras que Brochado
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 192-193 de Almeida (1996, I, 219) considera provenientes de
(n.º 109). sepulturas.
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 217-219
N.º 573 (n.º 133).
Distrito – Viana do Castelo
Concelho – Ponte de Lima N.º 578
Freguesia – Moreira de Lima Distrito – Viana do Castelo
Lugar – Canadelo Concelho – Ponte de Lima
No seu inventário das estações deste concelho, Freguesia – Refojos do Lima
Brochado de Almeida (1996, I, 194) refere o Lugar – São Gião
aparecimento, em 1954, de uma sepultura com forma
171
Necrópoles Romanas do Território Português
Neste local apareceu uma necrópole, detectada pela O mobiliário funerário retirado desta necrópole é
primeira vez por Alves Pereira. Não é feita uma relativamente pobre. É constituído principalmente por
descrição dos vestígios. cerâmica comum romana. Apareceram também
Bibliografia – Pereira 1927-1929, 4; Alarcão 1988b, fragmentos de sigillata hispânica, recipientes de
4 (1/71); Almeida, CAB 1996, vol. I, 214-215 (n.º vidro e uma fíbula.
131). Os autores desta escavação propuseram uma
cronologia em torno do último quartel do século I e
N.º 579 os princípios do II d.C. (Almeida-Abreu 1987, 220),
Distrito – Viana do Castelo dado que consideram que as cremações ocorreram
Concelho – Ponte de Lima num período bem delimitado cronologicamente.
Freguesia – Vilar das Almas Bibliografia – Almeida – Abreu 1987; Almeida C. A.
Lugar – Quinta do Casal B. 1996, vol. VI, 36-42 (n.º 16).
Em 1984, o arroteamento de um terreno baldio
destruiu as estruturas de um edifício e a respectiva N.º 582
necrópole (Almeida, CAB 1996, I, 252). Não se Distrito – Viana do Castelo
conhece o número de sepulturas destruídas, a sua Concelho – Viana do Castelo
tipologia e as práticas funerárias. Brochado de Freguesia – Castelo de Neiva
Almeida (1996, I, 252) menciona seis recipientes Lugar – Moldes
cerâmicos que terão vindo da necrópole e serão de Brochado de Almeida (1996, I, 75) refere uma
época tardia. necrópole situada a norte de um povoado castrejo.
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 252-254 Não apresenta qualquer descrição sobre esta
(n.º 156). necrópole.
Bibliografia – Almeida CAB 1996, vol. II, 70-75 (n.º
N.º 580 28).
Distrito – Viana do Castelo
Concelho – Ponte de Lima N.º 583
Freguesia – Vitorino das Donas Distrito – Viana do Castelo
Lugar – Almuinhas / Aldeia Concelho – Viana do Castelo
As primeiras notícias foram transmitidas por Pinho Freguesia – Geraz do Lima (Santa Maria)
Leal que refere o aparecimento de sepulturas feitas Lugar – Igreja
com tijolos. Mais recentemente, em 1974, apareceu Brochado de Almeida situa neste local uma necrópole
uma sepultura com o fundo constituído por tegulae e do Baixo Império. Foi descoberta uma sepultura
as paredes de pedra. No interior foi encontrado um constuída com tegulae, adoptando a forma de um
recipiente cerâmico. Esta sepultura de inumação foi telhado de duas águas.
utilizada no período tardo-romano. Bibliografia – Almida, CAB 996, vol. III, 148-152
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. I, 260-261 (n.º 73).
(n.º 159).
N.º 584
N.º 581 Distrito – Viana do Castelo
Distrito – Viana do Castelo Concelho – Viana do Castelo
Concelho – Valença Freguesia – Lanheses
Freguesia – Gondomil Lugar – Cividade
Lugar – Crasto / Cruz Sob esta designação, Brochado de Almeida (1996, II,
Os primeiros vestígios desta necrópole de incineração 95-101) apresenta duas necrópoles que estariam
surgiram na sequência de trabalhos de construção situadas junto do povoado castrejo. No lugar do
civil. No decurso desses trabalhos apareceram três Outeiro apareceram três sepulturas com formato
recipientes cerâmicos intactos. Esta necrópole está trapezoidal, contendo dois recipientes cerâmicos.
situada junto de um pequeno povoado fortificado. No Aquele autor atribui, com reservas, estas sepulturas
decurso dos trabalhos de escavação arqueológica ao período tardo-romano.
surgiram vestígios de vinte cremações, mas não fica Noutro local, situado a poente do povoado, terão
claro quantos indivíduos terão sido cremados naquele aparecido objectos de barro que poderão ter vindo de
local. sepulturas (Almeida CAB 1996, II, 100).
As cremações eram feitas no próprio local do Bibliografia – Almeida CAB 1996, vol. II, 95-101
enterramento (Almeida – Abreu 1987, 197), in (n.º 40).
bustum. Estes autores fazem uma descrição das
práticas funerárias praticadas nesta necrópole N.º 585
(Almeida-Abreu 1987, 200-201): sobre a fossa aberta Distrito – Viana do Castelo
no local era levantada uma pira funerária; sobre esta Concelho – Viana do Castelo
era colocada um caixão de madeira contendo o corpo Freguesia – Lanheses
do defunto. As cinzas resultantes desta cremação, Lugar – Roupeiras
sobre os quais era colocado o recipiente votivo, eram Em 1907, apareceu uma necrópole constituída por
cobertas com terra. doze sepulturas. Estas estavam estruturadas com
172
Necrópoles Romanas do Território Português
tijolos, tegulae ou tijoleira. Não existem mais A sepultura mais pequena era construída da mesma
informações sobre esta necrópole. forma e contina uma lucerna e dois recipientes
Bibliografia – Almeida CAB 1996, Vol. II, 101-102 cerâmicos.
(n.º 41). Esta necrópole está situada junto de um habitat
romano.
N.º 586 Bibliografia – Botelho 1897, 69-72; Alarcão 1988b,
Distrito – Viana do Castelo 15 (1/273).
Concelho – Vila Nova de Cerveira
Freguesia – Lobelhe N.º 590
Lugar – Louredo Distrito – Vila Real
Brochado de Almeida (1996, V, 33) refere uma Concelho – Sabrosa
notícia que descreve o aparecimento de caixas Freguesia – Provesende
formadas por tijolos. Trata-se certamente de Lugar – Relva
sepulturas, no entanto, de cronologia indeterminada. Esta necrópole já é conhecida desde o século XIX,
Bibliografia – Almeida, CAB 1996, vol. V, 33-34 (n.º quando foram destruídas as primeiras oito ou nove
13). sepulturas.
As sepulturas de inumação eram rectangulares,
constituídas por lajes de xisto. Na cabeceira, algumas
sepulturas tinham estelas decoradas. Do interior das
Vila Real sepulturas foram retiradas cinco recipientes de
cerâmica comum romana. Esta necrópole foi
N.º 587 destruída nos anos cinquenta.
Distrito – Vila Real Bibliografia – Alves 1936-38, 315-325; Alarcão
Concelho – Chaves 1988b, 25 (1/440); Gonçalves 1992-93, 201-204.
Freguesia – Eiras
Lugar – Jardim do Tabulado N.º 591
Esta necrópole apareceu no seguimento de trabalhos Distrito – Vila Real
de emergência efectuados na pensão Jaime, dirigidos Concelho – Valpaços
por uma equipa da Ethnos. Freguesia – Água Revés e Crasto
Bibliografia – Informação gentilmente cedida pelo Lugar – Água Revés
Dr. Sérgio Carneiro da Câmara Municipal de Chaves. Neste local apareceu uma estela funerária e existem
referências ao aparecimento de ossadas e moedas.
N.º 588 Ricardo Teixeira (1996) refere a existência de
Distrito – Vila Real fragmentos de tegulae e imbrices neste local,
Concelho – Chaves evidência suficiciente para este autor e Sande Lemos
Freguesia – Santa Maria Maior considerarem a existência neste local de uma
Lugar – Largo General Silveira necrópole.
Necrópole que apareceu no decorrer de escavações de Bibliografia – Lemos 1993, Iib, 502-504 (n.º 851);
emergência dirigidas pelo Dr. Sérgio Carneiro. Teixeira 1996, 111-112 (n.º 804).
Bibliografia – Informação gentilmente cedida pelo
Dr. Sérgio Carneiro da Câmara Municipal de Chaves. N.º 592
Distrito – Vila Real
N.º 589 Concelho – Valpaços
Distrito – Vila Real Freguesia – Valpaços
Concelho – Mondim de Basto Lugar – Valpaços
Freguesia – Atei Na década de 30 do século passado apareceram duas
Lugar – No sopé do monte da Senhora da Graça lucernas e um recipiente de cerâmica comum,
No final do século XIX apareceram duas sepulturas provenientes de um contexto funerário. Sande Lemos
que utilizavam os tijolos e as "tegulae" como material (Lemos 1993) datou as peças do período Alto
de construção. De acordo com Henrique Botelho Imperial. Não refere as práticas funerárias utilizadas.
(1897), a sepultura maior media 2,8 m de Bibliografia – Lemos 1993, Iib, 560-561, n.º 918;
comprimento. Teixeira 1996, 111, n.º 802.
"Três tijolos no fundo da sepultura com entalhes e
rebordos lateraes, a que se uniam inteiramente dos N.º 593
lados outros tres tijolos de (cada lado) com saliencias Distrito – Vila Real
e entalhes oppostos, e um na cabeceira e outro na Concelho – Vila Pouca de Aguiar
extremidade (pés), unidos no angulo formado pelos Freguesia – Tresminas
tijolos lateraes na parte média e superior pelas telhas, Lugar – Lugar desconhecido
formavam uma sepultura..."(Botelho 1897, 71). Leite de Vasconcellos publicou três lápides funerárias
A sepultura maior tinha uma lucerna, dois recipientes provenientes desta freguesia que apareceram em
de argila, uma ponta de espada e a sua bainha. obras de abertura de uma estrada. Nas mesmas obras
apareceram unguentários e recipientes de cerâmica.
173
Necrópoles Romanas do Território Português
Os primeiros vestígios desta necrópole apareceram no Bibliografia – Figueiredo 1953, 32; Alarcão 1988b,
século XIX. A. Alves, em artigo publicado em 1975, 58 (4/144).
noticia o aparecimento de vestígios pertencentes a
esta necrópole, situada na antiga Quinta do Cerrado.
Este autor apresenta uma descrição sumária de quatro
sepulturas. Refere que eram formadas por «tegulae de
rebordo». Neste mesmo local teria aparecido uma PROVENIÊNCIA DESCONHECIDA
lápide funerária (Alves 1975, 443). Não apresenta
qualquer cronologia nem estabelece a prática
funerária utilizada. N.º 604
Bibliografia – Alves 1975; Cruz 1986, 149; Alarcão Região de Proveniência - Beiras
1992, 85 Dias Diogo publicou uma urna cinerário de calcário
com a face principal decorada. Tinha uma tampa que
N.º 602 tapava o compartimento interior. Apresentava duas
Distrito – Viseu inscrições funerárias: uma na face esquerda e a outra
Concelho – Viseu na face oposta. Este autor atribui-a ao século I da
Freguesia – Viseu nossa era.
Lugar – São Miguel Bibliografia – Diogo 1983.
Na imprensa regional apareceu uma notícia sobre a
descoberta de uma sepultura de possível cronologia
romana. Neste local têm aparecido vestígios
funerários. Este espaço funerário também foi
utilizado na Idade Média.
Bibliografia – Voz das Beiras, 27-01-83; Alarcão
1992, 84.
N.º 603
Distrito – Viseu
Concelho – Vouzela
Freguesia – Queirã
Lugar – Carvalhal do Estanho
Figueiredo menciona a descoberta, neste local, de
uma necrópole com pelo menos 24 sepulturas. Estas
estavam estruturadas com lajes de pedras ou
«tijolos». Continham recipientes cerâmicos.
175
Necrópoles Romanas do Território Português
BIBLIOGRAFIA