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FACULDADE DE FILOSOFIA
Paulo Pinto
Braga
Julho de 2009
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 2
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 3
Agradecimentos
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 4
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 5
Índice
1. Introdução .................................................................................................................................................... 7
2. O Estilo Gótico ................................................................................................................................... 9
2.1. Entre a Antiguidade e o Renascimento ............................................................................................ 9
2.2. Da Cidade nasce o Gótico........................................................................................................................... 10
2.3. Uma Nova Estética do Cristianismo ................................................................................................. 10
2.4. Principais Características Arquitectónicas ............................................................................... 11
2.5. O Gótico em Portugal .................................................................................................................................... 14
3. Igreja de Nossa Senhora da Oliveira ................................................................................. 16
3.1. Breve Enquadramento Histórico ........................................................................................................ 16
3.2. Cronologia das Obras no Edifício ....................................................................................................... 18
3.3. Exterior..................................................................................................................................................................... 20
3.3.1. Fachada ...................................................................................................................................................................... 20
3.3.2. Torre ............................................................................................................................................................................. 21
3.3.2. Portal ................................................................................................................................ 24
3.3.3. Janelão-Retábulo ............................................................................................................. 27
3.3.4. Outros Elementos Exteriores........................................................................................... 33
3.3.5. Padrão do Salado ............................................................................................................ 35
3.3.6. Claustro ............................................................................................................................ 38
3.4. Interior............................................................................................................................. 43
3.4.1. Naves ................................................................................................................................ 43
3.4.2 Capela Mor ...................................................................................................................... 60
3.4.3. Capelas Laterais .............................................................................................................. 65
3.4.4. Transepto .......................................................................................................................... 69
3.4.5. Sacristia ............................................................................................................................ 70
3.4.6. Coro Alto .......................................................................................................................... 73
4. Colecção de Ourivesaria ....................................................................................................... 75
5. Conclusão ............................................................................................................................................ 83
6. Bibliografia ....................................................................................................................................... 85
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 6
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 7
1. Introdução
motivo, divide-se este trabalho em duas grandes áreas temáticas. A primeira parte
procurará dar uma panorâmica geral do estilo gótico, com especial incidência para as
edificações do género em Portugal. A segunda, introduzirá o monumento em estudo.
Apesar do principal objectivo se centrar na descrição arquitectónica do monumento,
parece-me importante incorrer nalguns dos aspectos históricos que poderão ajudar na
compreensão do seu processo evolutivo, bem como realçar a importância de factores
mesológicos, ou seja, a inevitável ligação entre cultura e meio. Essa incursão histórica
será feita num capítulo específico – “Breve Enquadramento Histórico” – bem como ao
longo das diversas partes do monumento e sempre que tal o justifique. Apresentar-se-ão
os epítetos arquitectónicos da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, bem como as
imprescindíveis referências aos principais objectos de ourivesaria pertencentes ao seu
espólio, hoje preservados no acervo do Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães. Para a
execução deste trabalho procurei munir-me de uma bibliografia que, não sendo
excessiva e dispersa, me fornecesse dados suficientes para garantir o mais possível a
fidedignidade das informações apresentadas. A herança de mais de oito séculos de
história, de que a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é portadora, faz com que
proliferem vários estudos documentais, nem sempre coincidentes, que tornam o meu
propósito uma tarefa sensível. No entanto, e apesar do risco inerente a uma incursão
desta natureza, as remissões que serão feitas proporcionarão um análise mais
pormenorizada de tais fontes.
As dificuldades inerentes a um trabalho que deverá fazer jus a um património que
importa realçar são um desafio que abracei com especial motivação. A permanente
valorização pessoal, integrada num sentido de objectividade e rigor, fazem deste estudo
uma oportunidade para sedimentar os conhecimentos adquiridos ao longo de um
processo de aprendizagem que se revelou enriquecedor e merecedor de posteriores
desenvolvimentos. As diferentes áreas de interesse que são despertadas por este estudo
são, de per se, razão suficiente para que este projecto académico seja, à partida, uma
aposta ganha. O imenso património de que dispomos em Portugal faz do estudo da
História da Arte um permanente desafio em busca da nossa identidade, da nossa cultura
e das inúmeras realizações de notável beleza.
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2. O Estilo Gótico
dei Goti”1 – não sem que sobre ela se deposite um sentido pejorativo. Era uma forma de
arte considerada indesejada e rude, levando quer Filarete2, quer Vasari3, no século XV, a
considerá-la “[...] essencialmente uma expressão artística ‘bárbara’” (Pereira, 2009: 11).
Vasari vai mais longe: “Foram estes godos os introdutores das abóbadas de cruzaria, e
inundaram a Itália com as suas malditas traficâncias [...]“ (Vasari cit. por Pereira, 2009:
obscurantismo associado à “Idade das Trevas”, denominação pela qual ficou conhecida.
forma decisiva, o interesse pelas origens culturais nacionais que fará Goethe falar de
Dentro do sistema cultural urbano, a arquitetura tem uma figura disciplinar complexa e
não muito diferente da figura da língua: é uma disciplina autônoma mas, ao mesmo
tempo, constitutiva e expressiva de todo o sistema. Também por essa razão, querendo-se
dar da arquitetura uma definição coerente com as coisas que faz e de que se ocupa, é
preciso dizer que ela forma um só todo com a cidade, de modo que tudo que não funciona
na cidade reflete, em última análise, os defeitos da cultura arquitetônica ou revela sua
incapacidade de preencher suas funções institucionais” (Argan, 1989: 243).
2.3. Uma Nova Estética do Cristianismo
As características do estilo gótico não podem ser dissociadas de uma visão que se
funda no neoplatonismo e na tríade do pensamento escolástico de S. Tomás de Aquino:
integridade, proporção e clareza. As necessidades de clarificação ideológica conduzem a
uma dialéctica entre perfectio prima e perfectio secunda, e à “luz” que evidencia a razão e
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6 Apesar de alguns teóricos verem no gótico uma total ruptura com o estilo que o antecede, o românico.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 12
ou cinco naves, transepto e absides (correspondendo cada uma delas a uma nave). Casos
há em que os templos – habitualmente quando possuem cinco naves – apresentam
capelas absidais ou absidíolos. Outra característica, herdada das igrejas de peregrinação
românicas, é a existência da charola ou deambulatório, espaço que rodeia a abside,
permitindo a aproximação dos crentes com o divino. Embora o cruzeiro seja raro no
gótico, pode ser visto em algumas catedrais francesas, espanholas e inglesas. A estrutura
interna dos templos góticos é evidenciada pelas suas fachadas. Nelas, cada nave encontra
correspondência num pórtico que dá continuidade ao legado românico, apresentando
tímpanos historiados. As torres, normalmente duas, são rectangulares e podem terminar
em flechas agudas poligonais (coruchéus). A divisão vertical do sistema interior em três
áreas (arcada, trifório e clerestório) é também uma das suas características. As paredes
desmultiplicam-se em andares que contribuem para que a luz seja uma omnipresença,
dando corpo à teosofia dominante. “Um estilo arquitectónico, como o gótico, é um
sistema e como tal, os tipos de planta e as formas de organização do espaço, dos alçados
e das coberturas que adopta estão necessariamente inter-relacionados entre si e
conectados com os restantes elementos de construção” (Almeida & Barroca, 2002: 23). A
nova planta gótica ajusta-se às necessidades de altura, luz e integridade.
Abóbadas e arcos: A abóbada ogival de cruzaria resulta da intersecção de duas
abóbadas da mesma altura, cortadas em duas diagonais. Nas diagonais concentram-se as
resistências das secções triangulares resultantes. O arco ogival desempenha um papel
importante na solução tecnológica que tornou possível toda a verticalidade do gótico. Na
sua articulação com a abóbada de nervuras cruzadas, permite o crescimento em altura
das coberturas. Este tipo de arco – diagonal de reforço – confere maior resistência à
abóbada que, através das suas nervuras, descarrega o peso vertical estático para os
pilares. Este facto possibilitou a utilização de paredes menos espessas, uma vez
libertadas da enorme força exercida pelas antigas abóbadas de canhão utilizadas no
românico. O arco de volta perfeita românico cede o seu lugar ao arco quebrado – ou
apontado – formado por dois segmentos de circunferência com centros diferentes. Não
raras vezes, a denominação deste arco é confundida com a de arco ogival, o que não
corresponde à realidade, pois confunde um tipo de arco com a sua função. O arcobotante
– ou aviajado – é erguido na parte exterior do edifício para apoiar as paredes e
descarregar o peso das abóbadas para o sistema de botaréus (contrafortes) que, no
gótico, estão agora afastados das paredes do templo. O sistema de descarga constituído
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 13
pelos arcobotantes e pelos botaréus funciona como uma alavanca que suporta as cargas
laterais. Por vezes, um contraforte pode terminar com pináculo, como forma de reforçar
a sua resistência, aliando a função estrutural à decorativa. Um outro elemento
arquitectónico, a arquivolta, é essencialmente decorativo, servindo para emoldurar uma
abertura em arco. É geralmente aplicado em portais de entrada (pórticos). São
elementos concêntricos em recuo (escalonados), decorados com ornatos geométricos ou
esculturas.
Pilares e capitéis: Os pilares eram inicialmente constituídos por uma coluna
grossa sobre a qual assentava o feixe de colunelos oriundos das nervuras da nave. O pilar
sofre uma transformação provocada pela multiplicação dos nervos da abóbada. Se, no
início, as colunas conservavam a sua secção circular, à medida que o estilo evolui
tornam-se mais finas e apontadas. “Os pilares tornaram-se compostos ou polistilos,
agrupando diversas colunas, colunelos ou pilaretes. Estes elementos recebem a descarga
do peso das coberturas através das nervuras” (Pereira, 2009: 13). Os capitéis,
inicialmente, recordam capitéis coríntios. São decorados com temas fitomórficos,
tornando-se gradualmente mais naturalistas e historiados. O conceito unificador da
nervura leva a que o capitel se funda com o pilar (capitel corrido), esvaziando a razão
técnica e formal da sua existência.
Janelas e rosáceas: A deslocação do peso das abóbadas para os arcobotantes vai
permitir que amplas janelas sejam rasgadas nas paredes. Desaparecem as frestas
afuniladas e estreitas até então utilizadas. As janelas no gótico são amplas,
transformando um templo numa galeria envidraçada. As frestas das paredes, agora de
maior dimensão, albergam amplos janelões preenchidos com vitrais. A fiada de janelas
altas, que dá origem ao clerestório, remonta à época das basílicas românicas. As janelas
são as responsáveis pela enorme luminosidade dos templos góticos. A rosácea, que serve
de janela no período românico, beneficia dos efeitos da distribuição do peso pelas
abóbadas e contrafortes conseguida no gótico, podendo, desta forma, aumentar
consideravelmente as suas dimensões. A sua decoração é feita ao estilo das pétalas de
uma rosa – daí o seu nome – e é formada por uma grelha de pedra com motivos
ornamentais ou geométricos.
2.5. O Gótico em Portugal
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O gótico clássico que a historiografia da arte contempla nas catedrais francesas,
germânicas e britânicas, não se encontra em Portugal. As características portuguesas
apontam para uma transição gradual entre o românico e o gótico, que é introduzida
através do despojamento da arte cisterciense. A este facto não é alheia a personalidade
modal da cultura peninsular:
Em Portugal, como em Espanha, a arquitectura romana prolongou-se durante o século
XIII, tanto mais as suas proporções e a sua austeridade estavam de acordo como a
sensibilidade nacional, mais propensas as expressões de força e de simplicidade em
detrimento dos refinamentos da mística das formas. (Santos, 1953: 6 [trad. livre nossa]).
Ainda de acordo com Reynaldo dos Santos, “a nossa linguagem plástica era ainda
românica” (Santos, 1953: 6 [trad. livre nossa]). Não tendo em conta a precoce excepção
do mosteiro de Alcobaça7, o gótico introduz-se em Portugal através de “tímidas soluções
tecnológicas ou decorativas inseridas em monumentos de gosto ‘antigo’ ou românico”
(Pereira, 2009: 15). O século XIII assiste à construção de igrejas românicas que possuem
arcos de volta quebrada e elementos estruturais típicos do gótico, no que Paulo Pereira
identifica como o “protogótico” (Pereira, 2009). Neste conceito, vislumbra-se a ideia de
um estilo resultante de uma evolução do românico. Embora a tese não recolha
unanimidade, Portugal é uma boa base de sustentação desta teoria. Um exemplo desta
“miscigenação de estilos” pode encontrar-se na Igreja de S. Pedro de Rates, Póvoa de
Varzim, ou num monumento que prepara a entrada do gótico em Portugal –
caracterizado como pertencendo à família do românico cisterciense –, a Igreja de S. João
de Tarouca, em Lamego. De facto, apenas o mosteiro de Alcobaça e, dois séculos depois, o
Convento da Batalha se mostram capazes de apresentar o estilo ogival como uma
característica marcadamente gótica. Entre a precocidade de Alcobaça e a influência
inglesa no gótico da Batalha, regista-se uma evolução do gótico nacional que ocorre de
meados do século XIII até final do século XIV (Santos, 1953).
O desenvolvimento económico, a exemplo do que se passou nos restantes países
europeus, foi o responsável pelo aparecimento e posterior evolução do gótico em
7 O mosteiro cisterciense de Alcobaça (1178) é uma excepção. O facto do seu plano ser proveniente de
Clairvaux faz com que se situe fora da evolução da arquitectura nacional (Santos, 1953).
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É desta escola que emergem os responsáveis por obras em todo o país, como é o caso da
reforma joanina da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, obra do mestre
de pedraria espanhol João Garcia de Toledo (Santos, 1953).
8 Mumadona Dias (c. 900 - 968) foi condessa de Portugal no século X durante o primeiro condado
Portucalense. Filha do conde Diogo Fernandes e da condessa Onega Lucides, era tia do rei Ramiro II de
Leão e bisneta de Vímara Peres. Célebre, rica e mulher mais poderosa no Noroeste da península Ibérica
[...] Mumadona. Wikipédia, a enciclopédia livre. Recuperado em 2009, Junho 27, de
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mumadona_Dias
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Os mosteiro dúplices são mosteiros para religiosos e religiosas. Viriam a ser proibidos nos concílios de
1074 e 1075 pelo Papa Gregório VII.
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É possível que a Colegiada tenha sido criada em 1110, pelo Conde D. Henrique, como sugere um
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 17
A nova instituição herdou os bens e a localização do antigo mosteiro, mas passou a ter
uma estrutura diferente, convertendo-se numa igreja servida por uma assembleia de
clérigos – os cónegos – cuja principal função residia no canto ou reza em comum das
horas canónicas, no coro, e na celebração solene da Eucaristia. A Colegiada era dirigida
por um prior, e a reunião dos cónegos constituía o cabido (Santos, 2007: 15).
Por essa altura, a igreja era conhecida pelo nome de Igreja de Santa Maria de
Guimarães. Era um templo românico de pequenas proporções, em tudo semelhante às
pequenas igrejas da mesma época que existiam por todo o noroeste do país. Segundo
reza a lenda, uma oliveira que tinha sido plantada na praça maior, já ressequida, terá sido
reverdecida pela sombra do padrão gótico que cobria um cruzeiro – o Padrão do Salado –
, fazendo com que a partir dessa data prevaleça a denominação de Igreja de Santa Maria
da Oliveira e, depois, de Nossa Senhora da Oliveira.
Durante toda a Idade Média, foi este um dos mais concorridos e afamados centros
de peregrinação em Portugal. A Padroeira do Reino, a Virgem Santa Maria, era aqui
venerada. Os Reis de Portugal sempre defenderam e concederam privilégios à sua igreja.
Vale a pena ler o que escreveu Manuela de Alcântara Santos, no livro Igreja de Nossa
Senhora da Oliveira, sobre a Colegiada:
É impossível traçar, de forma abreviada, a história de uma venerável instituição que existe
há quase nove séculos e que, além disso, teve projecção no plano eclesiástico, litúrgico,
económico, cultural e artístico. A sua vida confunde-se com a vida da cidade, e acompanha
de perto a própria história de Portugal. A sua antiguidade, a riqueza das suas alfaias e a
preciosidade das relíquias que conservava, justificaram que, no século XVII, tenha
recebido o título de insigne (Santos, 2007: 16).
documento que menciona um Pedro Bispo, cónego da igreja de Guimarães (DGEMN, 1981).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 18
que a Colegiada gozava em tempos medievais era o de estar isenta de jurisdição dos
Arcebispos de Braga. Mas os abusos e as grandes perturbações a que deu lugar,
determinaram Bonifácio VIII a derrogá-lo, pela Bula Ad Romanos Pontífices, dada em
Roma, a 13 de Julho de 1303” (DGEMN, 1981: 13-14). É a partir do século XIX que
começa um período de enormes dificuldades. Primeiro com as invasões francesas que
lhe subtraíram a prata. Depois com a instabilidade e insegurança das lutas liberais.
A Igreja de Nossa Senhora da Oliveira sofreu várias remodelações e
transformações. A mais marcante, sem dúvida, consistiu na remodelação levada a cabo
por ordem de D. João I, em 1387, na sequência de um voto que o monarca fizera à Virgem
da Oliveira, pouco antes da vitória em Aljubarrota. Hoje, após as últimas obras
realizadas, podemos ver restituídos alguns dos traços dessa reforma que o tempo foi
apagando, fazendo do gótico joanino o estilo que mais alto fala a quem entra no templo.
A Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é, desde 16 de Junho de 1910, classificada por
decreto como monumento nacional.
3.1. Cronologia das Obras no Edifício
O aspecto actual da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é o resultado de várias
intervenções realizadas ao longo de vários séculos. Desde os traços românicos do século
XII até aos dias de hoje, este templo foi objecto de significativas alterações. A
preocupação em preservar o que resulta da última reconstrução, efectuada no século XX,
é sinónimo da importância que o património arquitectónico representa para a cultura e
história da cidade. Não são de prever, no imediato, quaisquer outras modificações que
não as simples obras de conservação e manutenção. Procuraremos dar a conhecer, nas
linhas que se seguem, o essencial das remodelações que o monumento sofreu.
Pouco resta do que foi o edifício românico da então Igreja de Santa Maria de
Guimarães e que veio substituir a primitiva construção de estilo bizantino do Mosteiro
de Mumadona. São evidentes as marcas de sucessivas remodelações que foram
integrando elementos de outros estilos, não sem que se tenha levantado controvérsia em
relação a algumas dessas intervenções. Da feição gótica, resultante da reconstrução do
século XIV, apenas restam, e no essencial, a fachada, as três naves e as duas capelas
colaterais. Ao que parece, e segundo fontes documentais, a reforma gótica terá sido
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 19
operada em duas épocas distintas (Santos, 2007). Da primeira época, pensa-se restar o
portal escalonado e as três naves. Da segunda, a cabeceira da igreja e o janelão-retábulo
da frontaria. Terá sido na segunda fase, cerca de 1387, que intervém o mestre de
pedraria João Garcia de Toledo, artista que aprendera com os melhores mestres da arte
gótica no estaleiro da Batalha. A sagração da igreja dá-se em 1401, com a presença de D.
João I, mas os trabalhos prolongar-se-ão pelas primeiras décadas do século XV. A torre
sineira quadrangular, de paredes grossas e com três pisos, é de estilo manuelino, o que
pode ser comprovado através da análise das janelas e arestas exteriores. Foi construída
cerca de 1513-1515, em substituição da velha torre medieval. A capela-mor, obra
suportada pelo mecenato de D. Pedro II, é de arquitectura clássica e foi reedificada entre
1677 e 1682. Da mesma época, século XVII, são a porta lateral norte, a sacristia e a
capela de Santa Verónica. Mais tarde, no século XVIII, no priorado de D. Domingos de
Portugal e Gama, a capela-mor sofre novas transformações. Cerca de 1770-1772, é
construído um camarim, na retaguarda da tribuna, para vestir a Senhora e guardar as
roupas que lhe pertenciam. Este acrescento implicará a invasão do claustro e o
desmoronamento de várias colunas, facto que provocou a oposição dos cónegos (Santos,
2007). É também desta altura a remodelação do retábulo em talha dourada do altar-
mor. Em 1830, inicia-se a reforma neoclássica que terminará em 1838. Esta reforma
contará com a incompreensão dos contemporâneos românticos, entre os quais
Alexandre Herculano (Santos, 2007). São desta fase os estuques das capelas maior e
colaterais, as grades do presbitério, os quatro altares do corpo da igreja e o orgão ibérico
de tubos do coro alto. A última intervenção de considerável monta operou-se entre 1967
e 1973, sendo da responsabilidade da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais. São arrancados grande parte dos estuques e da talha neoclássicos que
revestiam o interior do templo, com o objectivo claro de deixar à vista o granito das
paredes e as colunas de origem medieval. Toda a construção medieval é de granito, com
excepção da cobertura de madeira e telha e de alguns elementos decorativos da fachada
feitos em calcário. Desde 1910 que a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é monumento
nacional.
3.3. Exterior
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3.3.1. Fachada
A fachada da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira (Cf. Fig. 1), o corpo ocidental do
monumento, anuncia um estrutura de três naves do tipo basilical. O estilo predominante
é o gótico, o que se comprova pelas marcas deixadas pelo portal (gótico clássico) e pelo
janelão-retábulo ( gótico flamejante). É uma fachada peculiar, cuja simetria do conjunto é
desfeita pela torre manuelina avançada. Em primeiro plano, à direita, pode ver-se o
Padrão do Salado, monumento comemorativo da vitória do reino de Portugal, Castela e
Aragão sobre as tropas muçulmanas, na Batalha do Salado.
Fig. 1 – Fachada da Igreja de N. S. da Oliveira e Padrão do Salado11
3.3.2. Torre
11
Recuperado em 2009, Julho 4, de
http://www.fotothing.com/photos/cad/cadb3a63cab7a1c826835bb5b006261e_246.jpg
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 21
Na sua frontaria encontra-se uma janela manuelina (Cf. Fig. 3), “[...] encimada por um
escudo esquartelado de Pinheiros, Lacerdas, Pereiras e Lobos, com a inscrição. Estas
armas mandou aqui pôr / D. Diogo Pinheiro admi / nistrador desta capela” (DGEMN,
1981: 27). As armas repetem-se a meia altura. A torre é divida em três andares,
separados por frisos, e termina numa cúpula ameada com merlões de fantasia (Cf. Fig.
4). A zona sineira é obra do mestre pedreiro Manuel dos Santos. O relógio foi colocado
em 1744. Possui ainda duas gárgulas zoomórficas (Cf. Fig. 5) e as arestas decoradas ao
estilo manuelino. Em tempos, junto à torre, para poente, existia um tanque com três
bicas de excelente água.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 22
Fig. 3 – Janela Manuelina encimada pelo escudo dos Pinheiros
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Fig. 4 – Cúpula ameada da torre
Fig. 5 – Pormenor de uma das gárgulas zoomórfica
3.3.3. Portal
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Fig. 6 – Portal
Fig. 8 – Pormenor da parte lateral esquerda do portal
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Fig. 9 – Pormenor da parte lateral direita do portal
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3.3.3. Janelão-Retábulo
“Da elegante janela gótica, rasgada sobre esta porta – a porta principal, em pau ferro, com
a data Anno 1727, em algarismos e letras de metal amarelo – e hoje inutilizada por
enchimento grosseiro de granito, resta ainda a moldura vasada em pedra de Ançã e
profusamente ornada de festões, baldaquinos, estatuetas e bustos em duas ordens. Na
primeira, principiando pelo lado direito, há seis bustos, cada um com seu livro aberto,
lendo-se no frade dominico, em caracteres iguais ao da descrição em mármore, Santa...
deev predicamus. No livro segundo, Santvs: Santvs: Santvs: Dominvs. No livro terceiro,
Santvs: Santvs: Santvs: Dns Devs. Nos livros quarto e quinto, Santvs: Santvs: Santvs:
Dominvs. No livro sexto (frade franciscano). Sante: Francisce: vidi: Dominvm: in: lino +. –
Na segunda ordem tem seis estatuetas, uma das quais sustenta nas mãos uma fita com
estas palavras da saudação: - Ave Gratia Plena Dominvs Tecvm. Esta janela tem a toda a
largura, voltada para o interior da igreja, uma grande estátua jacente esculturada em
pedra de Ançã, com barba comprida e gorro na cabeça que recosta na mão esquerda
sobre dupla almofada onde ainda se lê em pequenos caracteres góticos:... eivs acendet et
reqvie (sic). Provavelmente esta estátua esteve voltada para a rua antes do bárbaro
enchimento da janela, pertencendo à Árvore de Jessé que com seus ramos formasse o
caixilho da vidraça. Ficava assim perfeitamente de harmonia com o estilo do terceiro
período ogival ou gótico flamejante...” (Belino citado por DGEMN, 1981: 25-26 [aspas do
autor]).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 28
A estátua jacente da figura bíblica que serviu de base à composição foi encontrada no
coro alto. Actualmente, pode ser admirada no Museu de Alberto Sampaio (Cf. Fig. 11).
Fig. 11 – Estátua jacente de Jessé
No lado esquerdo do plano inferior do frontão encontram-se o Anjo da
Anunciação, S. Tiago e S. Pedro (Cf. Fig. 12). No lado direito, S. Paulo, S. João e, em
simetria com o Anjo, a figura da Virgem (Cf. Fig. 13). A parte superior é preenchida com
bustos de dois frades e quatro anjos que seguram livros com hinos de louvor a Deus. Nas
arquivoltas cimeiras, uma das quais ornamentada por círculos entrelaçados, pequenos
anjos sobre mísulas completam o coro celestial (Cf. Fig. 15). Nos cunhais do frontão, de
ambos os lados, alternam o escudo de S. Jorge e as armas de D. João I (Portugal-Avis). As
armas do Rei D. João I estão também presentes na lápide comemorativa do início das
obras joaninas, cuja cópia se conserva ao lado do portal (Cf. Fig. 20).
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Fig. 12 – Parte inferior esquerda do frontão
Fig. 13 – Parte inferior direita do frontão
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Fig. 14 – Pormenor da parte inferior esquerda do frontão gótico flamejante
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Fig. 15 – Parte superior do frontão
Fig. 16 – Pormenor da parte superior do frontão
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Primitivamente, ainda antes de lhe serem colocados dois óculos, terá tido este
frontão um arrendado espelho, como conta J. A. de Almeida, em 1866, no seu Diccionário
abreviado:
“... no lugar do arrendado espelho, que provavelmente se acharia deteriorado, levantaram
de pedraria lisa com uns mesquinhos óculos envidraçados. Pois aquela janela merecia
bem, não só que a não deturpassem com remendos de moderna e prosaica arquitectura,
mas que se fizesse um esforço, um sacrifício até, para que fosse restaurada, restituindo-
lhe toda a graça e beleza primitiva [...]” (Almeida cit. por DGEMN, 1981: 24-25 [aspas do
autor]).
Fig. 17 – Fachada da Igreja da Oliveira com os óculos envidraçados no frontão12
12
Fotografia digitalizada de DGEMN (1981).
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Fig. 18 – Porta do alçado norte Fig. 19 – Contraforte do alçado sul
Fig. 20 – Cópia da lápide comemorativa do início das obras joaninas
“A impossibilidade de ler a parte final da inscrição, não permite conhecer a data em que
se conclui a obra, sabendo-se apenas, por outros documentos, que ainda não estava
acabada em 1413” (DGEMN, 1981: 12).
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Fig. 24 – Vista sul do Padrão do Salado
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3.3.6. Claustro
13
Imagem digitalizada de Rosas (1997).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 39
Fig. 27 – Vista da quadra e galeria sul
É também sabido, através de carta régia de 1333, que nas galerias do claustro se
desenrolavam reuniões civis e se assinavam contratos.
As questões em torno da datação deste claustro têm suscitado algumas questões.
A sua classificação como românico, de meados do século XIII, parece encontrar em
posteriores restauros alguma contradição. Pensa-se ser o seu arranjo actual do século
XVI. Vejamos o que diz, em 1620, Pedro Mesquita, cónego da Colegiada, no Livro de
Lembranças (...) de Nossa Senhora da Oliveira:
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 40
Dom Diogo Pinheiro Prior de Guimarães e bispo do funchal, foi filho do doutor Pedro
Esteves, e de sua molher dona Isabel pinheira: Este fez as crastas e a torre dos sinos desta
igreja e a capella do dito seu pai e mai que esta debaixo da dita torre em tempo delrei
Dom Manuel (Rosas, 1997: 261).
Em 1692, o padre Torcato Peixoto de Azevedo corrobora a informação:
[...] D. Diogo Pinheiro, commendatario do mosteiro de Carvoeiro, e de S. Simão da
Junqueira, dos cónegos regrantes, prelado de Thomar, e primeiro bispo do Funchal, o qual
acabou de levantar a torre dos sinos desta igreja, que seu pai o doutor Pedro Esteves
Gonçalves Cogominho tinha principiado e fez o claustro: foi confirmado bispo por Leão X
em 1514 (Rosas, 1997: 261).
Esta reconstrução, levada a cabo por D. Diogo Pinheiro, terá sido objecto de um
estudo elaborado por António Augusto Gonçalves quando, em 1895, visita o claustro da
Colegiada com a finalidade de recolher elementos que lhe permitam um rigoroso
restauro da Sé-Velha de Coimbra:
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 41
Guimarães
10 de Julho 95
Claustro da Collegiada de Guimarães
Em estylo romanico. Porem nem todos os capiteis são de edificação primitiva; antes
parece que muitos e muitos foram renovados em tempo de D. Manoel. Quasi que ate diria
que tudo é do tempo de D. Manoel isto é, os capiteis e columnas, apparecendo em alguns a
intenção de imitar capiteis romanicos [...]
N’uma segunda visita:
Positivamente toda a construção é manoelina. Sem sombra de duvida para mim. Posso
sustentar com segurança esta opinião. Se é certo que se da como assente que o claustro é
romanico, é necessario desfazer este erro. As arcadas são inteiramente manoelinas, de
cintro pleno. É vulgar o cintro pleno no manoelino. Dentro da propria igreja da collegiada
lá está um exemplo; o arco principal do nartex, ou galilé (?) da sé de Braga (Rosas, 1997:
262-263).
O facto de António Augusto Gonçalves leccionar na Escola Livre de Artes do Desenho, em
Coimbra, faz deste depoimento um documento credível. As obras a que se referem estes
documentos escritos deverão ser datadas entre as duas primeiras décadas do século XV.
Os capitéis, datados do século XVI, são de tipo almofada, inspirados em capitéis
românicos coríntios, jónicos e compósitos. Segundo A. A. Gonçalves, aos elementos de
gosto românico foram acrescentados outros de estilo manuelino, como é exemplo o tipo
de capitel que apresenta os caulículos unidos (Cf. Fig. 29).
O cesto de acentuada volumetria relativamente
ao fuste, o desenho e a técnica utilizada são
outras características próprias do manuelino.
Fig. 29 – Capitel de gosto manuelino
Fig. 30 – Capitéis da galeria sul Fig. 31 – Pormenor dos capitéis da galeria oriental
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 42
Do primitivo claustro, do século XIII, resta uma marca importante e que revela,
provavelmente, a feição mudéjar da sua arquitectura: a porta da sala do capítulo (Cf. Fig.
32) com o seu arco ultrapassado.
Fig. 32 – Porta da Sala do Capítulo (Galeria oriental)
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 43
3.4. Interior
3.4.1. Naves
O aspecto interior da actual Igreja de Nossa Senhora da Oliveira resulta de uma
intervenção efectuada na segunda metade do século XX. Desde essa data, os estuques e a
talha neoclássicos (Cf. Fig. 34) dão lugar ao aspecto gótico da reforma joanina.
Interiormente, a igreja é dividida em três naves, cuja delimitação é feita através
de arcos formeiros quebrados, assentes sobre pilares cruciformes com colunas
adossadas. Os capitéis apresentam decoração fitomórfica e antropormófica, com cabeças
e bustos de orantes. A nave central é a mais alta e os tectos são em madeira. A
iluminação do espaço interior é obtida através das janelas maineladas do clerestório e de
duas grandes janelas em cada um dos topos do transepto. A luz, proveniente do alto,
chega já difusa ao nível inferior, o que transmite uma atmosfera de serenidade ao
conjunto.
Fig. 33 – Aspecto geral das três naves da igreja
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 44
Fig. 34 – Aspecto geral da igreja com estuques e talha neoclássicos
Cada uma das naves do templo possui uma capela. Ao centro, na nave central, a
capela-mor. Na nave colateral esquerda, a Capela de Jesus e, na nave colateral direita, a
Capela do Santíssimo Sacramento. Curioso será conhecermos a mais antiga descrição da
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, da autoria do Padre Torcato Peixoto de Azevedo, nas
Memórias ressuscitadas da antiga Guimarães, escritas em 1692, mas só publicadas em
1845:
“E’ a igreja da Real Colegiada de Santa Maria de Guimarães de três naves, e não tem de
comprido do adro e porta principal até o arco que divide a capela mor, mais de 49 passos,
e a capela ficou mui limitada e assim o esteve até o ano de 1610 (sic. aliás 1670) em que o
Príncipe D. Pedro a mandou fazer de novo toda de abóboda de pedra apainelada, e no
painel do meio estão esculpidas suas armas [...]” (Azevedo citado por DGEMN, 1981: 20
[aspas do autor]).
Ainda segundo o Padre Torcato de Azevedo, em cada uma das frestas das vidraças havia
armas de el-rei D. João I e da rainha sua mulher, D. Filipa de Lencastre (Santos, 2007). As
obras que D. Pedro II, em 1670, mandou realizar alteraram substancialmente o aspecto
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 45
da igreja deixado pela reconstrução joanina, o que só veio a ser parcialmente recuperado
aquando as mais recentes obras de restauro.
Bem resguardado dos olhares menos atentos está um verdadeiro tesouro: “No
travejamento do transepto e da nave central, lá bem no alto, inacessível à vista dos fiéis,
guarda-se um verdadeiro tesouro – uma série de frisos pintados sobre madeira,
contemporâneos da intervenção dos fins do século XIV” (Santos, 2007: 30). São pinturas
que representam passos da vida da Virgem, cenas militares e civis, emblemas heráldicos,
decorações vegetalistas e bestiários simbólicos (Cf. Fig. 35 a 40)14. Uma planta com a
localização dos elementos pintados pode ser consultada na figura 41.
Fig. 35 – Pormenores das pinturas da linha 21
Fig. 36 – Pormenores das pinturas da linha 12
14
Todas as figuras das pinturas do travejamento foram digitalizadas de DGEMN (1981).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 46
Fig. 37 – Pormenores das pinturas da linha 23
Fig. 38 – Pormenores das pinturas da linha 26
Fig. 39 – Pormenores das pinturas do friso G
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 47
Fig. 40 – Pormenores das pinturas do friso C 1
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 48
Fig. 41 – Planta com a localização dos elementos pintados (DGEMN, 1981).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 49
A nave colateral norte (Cf. Fig. 41) pode ser percorrida entrando na igreja pelo
lado esquerdo.
Fig. 41 – Aspecto da nave colateral norte
Logo à entrada, no interior da torre sineira, encontra-se o mausoléu do Dr. Pedro Esteves
e de D. Isabel (Cf. Fig. 42 e 43). No centro, cercados por grades de ferro, os túmulos
gémeos apresentam-se em mau estado de conservação. À cabeceira, uma imagem de
Nossa Senhora da Piedade, sob um baldaquino e moldura gótica bilobada. A abóbada de
nervuras, de função decorativa, está assente sobre mísulas.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 50
Fig. 42 – Túmulo de D. Diogo Pinheiro e D. Isabel Fig. 43 – Pormenor da abóbada
Continuando pela esquerda, damos com um pequeno vão da porta lateral norte, onde se
encontra o túmulo de uma vimaranense nobre, Inês de Guimarães, da família dos
Valadares (1634). Mais à direita, num espaço aberto na parede, a capela baptismal
apresenta restos de azulejos seiscentistas e uma pia barroca (Cf. Fig. 44).
“Na pia baptismal que antes viera para aqui, trazida pelo Dom Prior D. Diogo Lobo da
Silveira, da igreja de S. Miguel do Castelo, dizem fora baptizado D. Afonso Henrique, pelo
que nela se mandou gravar a inscrição: ‘Nesta pia foi baptizado El Rei D. Afonso Henriques
pelo Arcebispo S. Giraldo no ano de 1106’” (DGEMN, 1981: 31-32 [aspas do autor]).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 51
Segundo o arqueólogo vimaranense Mário Cardoso, esta tradição não tem fundamento:
Esta tradição, como acentua o ilustre arqueólogo vimaranense, senhor coronel Mário
Cardoso, não tem fundamento. A primeira menção documental, confirmada pela
arquitectura do monumento, à igreja de S. Miguel do Castelo, é de 1216, e quando Afonso
Henriques nasceu – em 1111, segundo Herculano, Erdman e outros – já S. Giraldo havia
falecido (em 1108), cf. Mário Cardoso, A propósito do Centenário da cidade de Guimarães e
do Milenário da sua existência histórica, notas 30 e 31 (DGEMN, 1981: 32).
Fig. 44 – À esquerda, o túmulo de Inês de Guimarães. À direita, a pia baptismal.
Fig. 45 – Pormenor da pia baptismal e dos azulejos seiscentistas
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 52
Em cada uma das naves colaterais é possível admirar dois belos altares, “[...]
memória mais visível das obras do século XIX, com madeiras lacadas de branco pérola e
motivos ornamentais de talha dourada ao gosto neoclássico” (Santos, 2007: 33).
Antigamente, no lugar dos altares, existiam capelas salientes para o exterior que os
cónegos, guiados pela simetria clássica, resolveram uniformizar e chegar à frente. Na
nave esquerda (norte), o primeiro altar é o do Espírito Santo, também conhecido por
altar da Santíssima Trindade (Cf. Fig. 46).
É um altar neoclássico, com
um painel alusivo ao seu
orago, da autoria de
Joaquim Rafael, professor
da Academia de Belas Artes
de Lisboa (autor de todos
os quatro painéis dos
altares entre 1846-49).
Uma Visitação de 1538
falava deste altar.
Fig. 46 – Altar do Espírito Santo
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 53
Fig. 47 – Painel do Espírito Santo
A data provável deste painel é 1846. Pintado com óleo sobre tela, mede 286 cm de altura
e 140 cm de largura. Ao centro da imagem está Cristo pregado na cruz, que se ergue
sobre a Terra. Atrás, Deus Pai, vestindo uma túnica roxa, segura nos braços da cruz. Na
parte superior, ao centro, encontra-se a pomba do Espírito Santo ladeada por quatro
querubins. Na parte inferior, seis serafins, com aspecto triste, rodeiam os pés da cruz.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 54
O segundo altar da nave colateral norte, o altar de S. Nicolau (Cf. Fig. 48), é em
tudo semelhante ao anterior. Nas suas traseiras existiu em tempos, virada para o
exterior, a capela de S. Nicolau, que viria a desaparecer com as obras de restauro de
meados do século XX. “Era toda abobadada de pedra, apainelada, e tinha no arco a
inscrição: ‘Esta Capela mandaram fazer os estudantes / desta vila no ano do Senhor de
1663’” (DGEMN, 1981: 32 [aspas do autor]). Contudo, no dia 6 de Dezembro de 1998, foi
solenemente inaugurada a reconstrução da Capela de S. Nicolau, concretizando assim a
Irmandade de S. Nicolau – presidida pelo juiz Dr. António Emílio – um anseio de longa
data. Num texto do Padre Armando Luís de Freitas, publicado no jornal Conquistador, em
11 de Dezembro de 1998, pode ler-se15:
Reabilita-se assim a memória dos
académicos de antanho na devoção a São
Nicolau, hoje bem expressa e perfeitamente
visível na pedra encastoada à ilharga da
porta. E quem quiser observar o reverso, até
aqui desconhecido, depois de transpor o
gradeamento protector, penetrando na
Capela, poderá ler a epígrafe:
MÃDARÃO FA
ZER OS ESTV
DANTES DE
.VOMA.RA...
NDO
Fig. 48 – Altar de S. Nicolau
Fig. 49 – Painel de S. Nicolau
A data provável deste painel é 1846. Pintado com óleo sobre tela, mede 286 cm de altura
e 140 cm de largura. S. Nicolau encontra-se a descer um degrau. Os seus paramentos são
de bispo. Tem ao peito uma cruz de ouro e dá esmola a um mendigo, que lhe estende um
saco vermelho. Por trás, duas personagens. A mais próxima veste uma dalmática e tem
nas mãos um prato. No chão, em primeiro plano, está um bordão e um prato de barro.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 56
A nave colateral sul (Cf. Fig. 50) apresenta os restantes dois altares: o altar de
Santa Ana (Cf. Fig. 51) e o altar de Nossa Senhora da Conceição (Cf. Fig. 52). Quem entra
na igreja pelo lado direito, o primeiro altar que encontra é o de Santa Ana. A Capela que
outrora existia foi instituída por João Lopes da Ramada, da invocação de Santa Catarina
Mártir (DGEMN, 1981). Ao que parece, foi posteriormente denominada como Capela de
Santa Ana. Através de análise documental conclui-se que seriam distintas ou teriam
ambas as invocações, “porque uma visitação de 10 de Maio de 1555 fala da capela de
Sant’Ana, e outra de 3 de Outubro do ano seguinte, manda ao administrador da capela de
Santa Catarina, que trate de reparar o seu retábulo” (DGEMN, 1981: 33).
Fig. 50 – Nave lateral sul Fig. 51 – Altar de Santa Ana
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 57
Fig. 52 – Painel de Santa Ana
A data provável deste painel é 1846. Pintado com óleo sobre tela, mede 286 cm de altura
e 140 cm de largura. Santa Ana está sentada e virada ¾ à direita. No seu colo está a
Virgem ainda criança. Ambas seguram um livro. Do lado direito, virado para a esquerda,
está S. Joaquim. Na parte inferior esquerda da pintura encontra-se um vaso cinzento. Na
parte superior, quatro querubins com filacteras.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 58
O quarto altar é o de Nossa Senhora da Conceição: “o altar é igual aos demais das
naves da igreja, e na tela, pintura de Joaquim Rafael também, tem um letreiro que diz:
‘Cynodo / celebrado na Santa Sé de Braga / 14 de Junho de 1646’ [...]” (DGEMN, 1981: 33).
A Capela de Nossa Senhora da Conceição, que a exemplo das restantes capelas dos
altares já não existe, foi fundada no claustro, com comunicação para a igreja, cerca de
1545-47, por Pedro Cardoso do Amaral, Senhor da Casa do Paço de Nespereira, e por sua
mulher D. Isabel de Carvalho. O altar foi privilegiado por Gregório XIII, em 19 de Abril de
1582 (DGEMN, 1981).
Fig. 53 – Altar de Nossa Senhora da Conceição
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 59
Fig. 54 – Painel de Nossa Senhora da Conceição
A data provável deste painel é 1846. Pintado com óleo sobre tela, mede 286 cm de altura
e 140 cm de largura. Nossa Senhora da Conceição está de pé, sobre uma nuvem. Está
vestida com túnica branca, manto e véu azuis e calçada com sandálias. Tem as mãos
cruzadas no peito. Rodeiam-na nove querubins. Na parte inferior estão dois anjos a seus
pés, e cada um segura numa cartela.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 60
Fig. 55 – Capela Mor
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 61
Fig. 56 – Altar-Mor
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 62
Fig. 57 – Imagem de N. S. da Oliveira Fig. 58 – Pormenor das colunas
O gosto neoclássico predomina nas seis janelas que iluminam a Capela Mor e
pode apreciar-se nas grades, estuques e varandins. O cadeiral dos cónegos (Cf. Fig. 61),
obra de Gaspar dos Reis (1688), possuí máscaras nas misericórdias (DGEMN, 1981).
Fig. 59 – Pormenor de uma das janelas Fig. 60 – Pormenor da parede lateral direita
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 63
Fig. 61 – Cadeiral dos cónegos
Fig. 62 – S. Dâmaso Papa
Fig. 63 – S. Torcato
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 65
Parece ser esta a Capela do Senhor Jesus, que se fazia em 1538, dada ao Cónego Diogo de
Mesquita pelo Duque D. Fernando de Bragança, e instituída em cabeça de morgado por ele
e por Fernão de Mesquita, o velho. Pertenceu à casa dos condes de Vila Pouca (DGEMN,
1981: 29).
Fig. 64 – Capela do Coração de Jesus
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 66
Fig. 65 – Capela do Santíssimo Sacramento
Segundo uma visitação de 9 de Outubro de 1537, a capela ainda não estaria construída
por essa data, pois é determinado que o Santíssimo seja colocado no altar-mor até à sua
conclusão. Tal como a Capela do Coração de Jesus, o seu altar e decoração são
neoclássicos, destacando-se o famoso Sacrário indo-português (Cf. Fig. 66), feito em
prata. Segundo consta, foi executado pelos ourives locais Jerónimo Lopes Moreira e
Francisco Cardoso de Macedo, de 1711 a 1725 (Santos, 2007). A sua decoração releva de
um simbolismo eucarístico: as colunas torsas são recobertas com cachos e pâmpanos, as
portas, lavradas a cinzel, representam episódios bíblicos da Queda do Maná e da
Parábola das Bodas. No cimo, um medalhão com o Cordeiro Pascal (Agnus Dei), em jeito
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 67
Fig. 66 – Sacrário de prata
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 68
Fig. 67 – Pormenor do Sacrário de prata
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 69
3.4.4. Transepto
À entrada da Capela Mor, fazendo ângulo com o transepto, pode ver-se um grande
Cristo Crucificado. No topo norte (Cf. Fig. 68), uma enorme janela ilumina o templo. Do
mesmo lado, mais à esquerda, situa-se a porta de acesso à Capela das Confissões e à
Sacristia. No topo sul, uma janela idêntica reforça a iluminação (Cf. Fig. 69). Os arcos
quebrados do transepto contrastam com os arcos de volta inteira das três capelas da
cabeceira.
Fig. 68 – Transepto (topo norte) Fig. 69 – Transepto (topo sul)
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 70
3.4.5. Sacristia
A sacristia (Cf. Fig. 70), um amplo espaço datado do século XVII, recebeu uma
renovação decorativa oitocentista. São dessa data os espaldares com espelhos
incorporados, assim como os armários. Em 1686, foi construída uma capela dedicada a
Santa Verónica (Cf. Fig. 71). Segundo Gaspar Estaço, Cónego de Guimarães, um
pergaminho da Colegiada, hoje na Torre do Tombo, datado de II dos Idus de Maio, Era de
1333 (A. D. 1295), menciona que Paio Domingues, Prior de Guimarães, terá trazido de
Roma uma cópia do verdadeiro retrato de Nossa Senhora, por S. Lucas, e que terá
servido para efectuar a pintura da Senhora (Cf. Fig. 72) (DGEMN, 1981). Daí o termo
Verónica, que deriva da expressão latina verum ícone, que significa “imagem verdadeira”.
A Capela de Santa Verónica, onde se encontra essa pintura, é toda revestida com azulejos
seiscentistas (Cf. Fig. 73). Também do século XVII datam os arcazes e armários. Os
quatro espelhos são neoclássicos. Existem ainda duas pequenas imagens setecentistas
de S. Pedro e de S. João Baptista.
Fig. 70 – Sacristia
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 71
Fig. 71 – Capela de Santa Verónica
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 72
Fig. 72 – Pintura da Senhora Fig. 73 – Pormenor dos azulejos
Entre a porta de acesso à nave colateral norte e a sacristia, refira-se a existência
de uma capela que se denomina Capela das Confissões (Cf. Fig. 74). Nela estão colocados
bancos para que os fiéis possam aguardar a sua vez, e vários confessionários em
madeira.
Fig. 74 – Capela das Confissões
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 73
Fig. 75 – Aspecto geral do Coro Alto
Trata-se de um orgão ibérico, com trompeteria horizontal disposta em leque. A talha
branca e dourada da caixa é neoclássica, coadunando-se com o revestimento interior do
templo à época.
Fig. 76 – Orgão Ibérico
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 74
Fig. 78 – Parte frontal do orgão
Fig. 77 – Pormenor da caixa e tubos
A música sempre foi parte essencial dos actos litúrgicos. Chegou a existir, na época
moderna, uma capela de música com mestre de capela permanente.
Nas costas do orgão, onde antes estava a grande janela com a Árvore de Jessé,
existia uma estátua jacente arrancada dessa jóia desaparecida da arquitectura gótica e
que se encontra no Museu de Alberto Sampaio (Cf. infra Fig. 11). Acede-se ao coro alto
através de uma escada de pedra da parte do Evangelho, dando igualmente serventia para
a torre dos sinos.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 75
4. Colecção de Ourivesaria
16
Todas as imagens de ourivesaria foram cedidas pelo Museu de Alberto Sampaio e devidamente
autorizada a sua utilização.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 76
designado por frontal de altar, é, incontestavelmente, uma das esculturas medievais mais
importantes do património artístico português.
Fig. 79 – Tríptico (a. 1350 mm; l. 1750 mm)
Fig. 80 – Pormenor da Natividade
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 77
No volante esquerdo (Cf. Fig. 81), o painel é divido em dois registos. No nível superior, “A
Anunciação”, Nossa Senhora é representada de pé com uma jarra de acucenas em
primeiro plano. O anjo com asas salientes suporta uma filactera entre as mãos. No nível
inferior, “A Apresentação no Templo”, Nossa Senhora segura o Menino sobre um altar.
Sob o arco esquerdo, a profetiza Ana com um cajado e uma cesta nas mãos.
Fig. 81 – Pormenor do volante esquerdo (esquerda: nível superior; direita: nível inferior)
No volante direito (Cf. Fig. 82), de estrutura idêntica ao volante oposto, representa-se, no
nível superior, a “Anunciação aos Pastores”. Uma lindíssima cena bucólica onde se vê
representado o solo, um rebanho e uma árvore. O pastor colocado à esquerda toca uma
gaita de foles, enquanto o outro, segurando um cajado, recebe a mensagem do anjo. No
nível inferior, encontra-se a “Epifania”, com os três reis magos que se dirigem para o
presépio com as oferendas. Um deles já se encontra prostrado perante o Menino.
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 78
Fig. 82 – Pormenor do volante direito (esquerda: nível superior; direita: nível inferior)
Este tríptico foi estudado em pormenor por Maria Emília Amaral Teixeira, na sua obra
Revisão de um problema: O tríptico de prata do Museu de Alberto Sampaio: “A principal
tese que esta historiadora pretendeu comprovar foi a origem nacional do retábulo
contrapondo à tese castelhana17 “ (Santos & Silva, 1998: 54). Após esta investigação, a
conclusão apresentada pela autora foi a seguinte: “É assunto que merece ponderada
apreciação e envolve pormenores da análise estética que não cabem no âmbito destes
apontamentos e justifica um outro trabalho” (Teixeira cit. por Santos & Silva, 1998: 54).
Mas o primeiro estudioso desta oferta de D. João I terá sido o cónego Gaspar Estaço. Em
1625, na obra Várias Antiguidades de Portugal, o cónego refere que o retábulo terá sido
mandado fazer pelo Mestre de Avis, com a prata que ofereceu a Nossa Senhora da
Oliveira.
Segundo esta tese, este altar fez parte dos bens da capela de D. João I de Castela, que ficaram em Portugal
17
depois da derrota das suas tropas em Aljubarrota (Santos & Silva, 1998).
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 79
Além do tríptico de D. João I, destacamos outras peças, como o cofre-relicário (Cf. Fig.
83), de 1419, feito em prata dourada, repuxada e cinzelada. Possui uma base rectangular
com tampa de cinco faces. É decorado nos lados com motivos vegetalistas e com o brasão
de armas dos Cunhas adossado em placas com esmalte. As faces principais estão
decoradas com a inscrição de caracteres góticos.
Fig. 83 – Cofre-Relicário (a. 187 mm: l. 260 mm; p 120 mm; Peso: 2292,5 g)
Outra peça notável que pode ser apreciada no Museu de Alberto Sampaio é um cálice (Cf.
Fig. 84) datado do século XII (1187), feito em prata dourada, cinzelada e repuxada. Este
cálice é uma das peças mais antigas do acervo argentário de Guimarães.
Fig. 84 – Cálice (a. 165 mm: d. 155 mm; Peso: 545,5 g)
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 80
A imagem de Nossa Senhora da Oliveira (Cf. Fig. 85) é de finais do século XIV. Feita em
prata dourada, relevada, cinzelada, esmaltada e pintada, tem 464 mm de altura, 190 mm
de largura e pesa 3586,5 g. A imagem segue os modelos da escultura portuguesa de
então, concretamente a da região de Coimbra.
Fig. 85 – Imagem de Nossa Senhora da Oliveira
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 81
Outra notável peça de ourivesaria, uma Custódia de estilo manuelino (Cf. Fig. 86), data
de 1534. É feita em prata dourada, mede 788 mm de altura, 1355 mm de largura e pesa
5723 g. Está apoiada numa base polilobada assente em esferas que alternam com dois
cavalos marinhos e dois leões. Esta importante obra de ourivesaria manuelina foi doada
à Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães pelo cónego Gonçalo Anes.
Fig. 86 – Custódia
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 82
Finalizamos esta pequena mostra das peças de ourivesaria do espólio do Museu de
Alberto Sampaio com um cruz processional (Cf. Fig. 87). Data de 1547 e é feita de prata
branca e dourada, relevada, fundida e cinzelada. Tem de altura 1545 mm, de largura
1740 mm e pesa 16248 g. Apresenta três níveis distintos. No nível inferior, em ambos os
lados, destacam-se as figuras de Moisés e David. Nas seis faces, em nichos, surgem baixos
relevos que representam a Paixão de Cristo. No segundo nível, Cristo, a Virgem, Salomé e
o profeta Daniel. No último, a Pièta, a Ressurreição e os Evangelistas. É considerada uma
das obras primas da ourivesaria manuelina. Foi feita pelo ourives João Rodrigues, a
mando do Cardeal D. Henrique.
Fig. 87 – Cruz Processional
Igreja de Nossa Senhora da Oliveira 83
5. Conclusão
O objectivo deste trabalho, como de resto a sua índole o postula, foi o de
proporcionar uma visão geral e o mais abrangente possível das características
arquitectónicas da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, dar a conhecer
algumas das peças de ourivesaria do seu vasto espólio e, não menos importante, tentar
compreender a sua evolução como edifício à luz de factos históricos. Este exercício
académico revelou-se de extrema importância para uma tomada de consciência, até aqui
adormecida, sobre a riqueza do nosso património cultural e artístico. Sobressai a certeza
de estarmos perante um dos monumentos religiosos de maior importância para a cidade
de Guimarães, bem como para toda a arte em Portugal. Através de leituras direccionadas
para os fins a atingir e de contactos na primeira pessoa, pude constatar a grandeza que a
história confere a este monumento nacional de notável riqueza.
Não é menos verdade – o que se constata através de uma observação cuidada –
que a proliferação de vários estilos na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Oliveira qualifica este templo como extremamente adequado ao âmbito do programa da
unidade curricular de História da Arte em Portugal. Um programa que foi capaz de
despertar o interesse por um estudo mais aprofundado e que se reflectiu no entusiasmo
em que me vi envolvido desde o início da investigação. De um modo um pouco
aristotélico, poder-se-á dizer que, ao mesmo tempo que se abre uma porta em direcção
ao saber, se colocam a nu as fragilidades do nosso conhecimento. Terá sido este um
primeiro passo em direcção à valorização do nosso património, por vezes tão mal
tratado e ignorado.
A par do estudo do monumento, pude aprofundar os conhecimentos históricos
sobre a cidade de Guimarães, compreender a forma como se desenvolveu o seu burgo e
entender os porquês de rivalidades antigas. Este facto constitui-se como uma vertente
gratificante e enriquecedora. Compreender a arquitectura é também compreender os
factores que contribuem para o seu desenvolvimento. Pude igualmente interiorizar a
enorme importância que as ordens religiosas desempenharam no desenvolvimento
artístico em Portugal, nomeadamente através da construção de templos que se
mostraram autênticos núcleos de saber e de desenvolvimento.
A vasta história da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães produz
um vasto conjunto de documentação que poderá servir de fonte importante para uma
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