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Licenciatura em Arqueologia
Unidade Curricular: Arqueologia da Expansão Portuguesa
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Índice
1. Introdução .............................................................................................................. 4
1.1. Metodologia ....................................................................................................... 5
2. A Mouraria de Lisboa e o Largo das Olarias......................................................... 7
2.1. Contexto Histórico-Geográfico .......................................................................... 7
2.2. O Caso de Estudo na Mouraria ........................................................................ 15
3.4.1. Fabricos e Formas ......................................................................................... 15
3.4.2.1. As Taças ..................................................................................................... 17
3.4.2.2. Os Pratos .................................................................................................... 24
3.4.2.3. Outros ......................................................................................................... 29
3.4.3. Motivos Decorativos e seus Paralelos ...................................................... 31
3.4.4. Quantificação Geral .................................................................................. 36
3.5. Interpretação dos Dados ................................................................................... 39
4. Conclusão ............................................................................................................ 43
5. Bibliografia .......................................................................................................... 44
1. Introdução
No âmbito da unidade curricular de Arqueologia da Expansão Portuguesa, foi nos
colocado o desafio de realizar um estudo sobre materiais provenientes das escavações
realizadas em 2016, no Largo das Olarias nº19 a 23 e na Travessa do Jordão nº1 a 15, na
Mouraria de Lisboa, atualmente no centro histórico da freguesia de Santa Maria Maior.
Esta intervenção teve como objetivo minimizar o impacto sobre o património, devido ao
projeto de alteração promovido pela empresa de investimento imobiliário Sustentoasis
S.A. (A.A.V.V., 2017, :1731)
Nesta intervenção descobriu-se uma olaria que continha quatro fornos que, devido ao
espólio, atestavam uma produção entre os séculos XVI e XVII. Dentro do espólio
recolhido, foi analisada a coleção de faiança que não foi alvo de uma segunda cozedura,
ou seja, não passou pelo processo final de vitrificação. É muito caraterística a constante
libertação de pó por parte destas peças, o que não facilitou o processo de colagem, visto
que muitas não podiam ser consolidadas com a fita enquanto secavam.
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1.1. Metodologia
Para a realização deste projeto, no dia 29 de setembro de 2018, em contexto de
compensação de aula, o grupo esteve presente em laboratório a expor os fragmentos
provenientes da escavação por unidade estratigráfica.
Com consenso dos elementos do grupo, escolhemos trabalhar a faiança coberta com
um pó branco e vestígios de decoração a azul, o que evidenciava a falta de uma segunda
cozedura das peças, de forma a que o esmalte vitrificasse. Em variados dias, os membros
do grupo deslocaram-se ao laboratório a fim de continuar a separação dos fragmentos e
efetuar colagens das peças. Esta foi a primeira fase do trabalho.
Por fim, este trabalho encontra-se escrito sobre égide do Novo Acordo Ortográfico e
referenciado/citado de acordo com a Norma Portuguesa.
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2. A Mouraria de Lisboa e o Largo das Olarias
2.1. Contexto Histórico-Geográfico
A Mouraria localiza-se na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa (A.A.V.V.,
2017, :1731). Esta é designada no século XII como Arrabalde dos Mouros após a
reconquista da cidade em 1147 por D. Afonso Henriques. Este concede em 1170 o foral
à comunidade islâmica que se instala no sopé da vertente Norte da colina do Castelo,
desenvolvendo-se ao longo do vale formado pelas colinas do Castelo, da Graça e de S.
Gens. Este era um espaço segregado e periférico da restante cidade, como acontece em
Portugal com a formação de outras mourarias (Figura 1) (SEBASTIAN, 2010, :210).
Apesar das populações islâmicas serem uma das camadas sociais mais desfavorecidas,
eram apreciadas pela sua capacidade artesanal (tecelões de tapetes e os oleiros), dando
lhe algum reconhecimento social (ALMEIDA, 2016, :40). A atividade oleira deste novo
núcleo muçulmano deve ter sido desde sempre um ofício de eleição nesta comunidade
devido à sua reconhecida tradição. Já no foral concedido a Lisboa em 1179 por D. Afonso
Henriques observamos as olarias a serem isentas do pagamento da décima (SEBASTIAN,
2010, :210-211). No Foral dos Mouros Forros de Lisboa, Almada e Alcácer de 1170, foi-
lhes garantida tolerância religiosa, poder de eleger o seus oficiais e proteção do rei. Isto
tornara-os servos do mesmo, possibilitando a coleta de impostos e terem de cumprir
serviços concelhios, algo que estavam isentos desde a conquista (OLIVEIRA e VIANA,
1993, :192; ALMEIDA, 2016, :37).
Durante o século XIII verifica-se um rápido crescimento urbano. Este espaço teria
duas mesquitas de bairro, a Mesquita Grande e a Mesquita Pequena. Estes espaços
públicos eram restritos aos habitantes da comunidade para rituais religiosos como o
Hamam (banhos públicos), a Madrasa (escola onde se ensinava o Corão aos jovens)
(BARROS, 2008-2010, :125), entre outros (Figura 2). Também possuía o bulício
comercial, que iria desde a Rua Direita da Mouraria até à rua do Benformoso (importante
centro oleiro). Este era um espaço fechado com quatro portas de acesso. As ruas eram
estreitas e com becos e não linear ou aberto à circulação. Isto mostra um planeamento
desregulado tipicamente islâmico, possuindo duas ruas direitas que seriam as vias
principais (ALMEIDA, 2016, ;43, 46-47; MOYA e BATISTA, 2017, :142; OLIVEIRA
e VIANA, 1993, :194).
Durante o século XIV, o Mestre de Avis ordena que as portas das Mourarias
fechassem ao toque das trindades (pôr do sol) (OLIVEIRA e VIANA, 1993, :192). Novas
obrigações internas foram impostas a cada islâmico para com a população, na qurba de
1471, revendo-se a estipendio pago ao Iman e do porteiro as esteiras da mesquita e a
manutenção dos muros que rodeavam a Mouraria (BARROS, 2008-2010, :128). Contudo,
existiam negócios entre cristãos e islâmicos sobre produtos como o azeite e cerâmica. É
na Rua de Benformoso (conhecida como Rua de Benfica) que se verifica a referência de
trabalho em atelieres de olaria por parte de moçárabes e cristãos que ali se fixavam
(ALMEIDA, 2016, :39). As famílias nobres, instalaram-se no arrabalde novo, em casas
senhoriais, em lotes maiores e ruas mais largas. (MOYA e BATISTA, 2017, :142). Já no
século XV regista-se um aumento da população devido à vinda de populações islâmicas
de todo o país e de cristãos do Sul, formando um Arrabalde Novo. Esta expansão fora de
muros da Mouraria original teria sido no início por razões comerciais, com a fixação
sobretudo de olarias junto a um dos principais eixos de entrada e saída da cidade. Também
se observa cada vez uma maior residência cristã ao longo da Rua dos Lagares, das Olarias
e chegando à Porta de S. Vicente (SEBASTIAN, 2010, :210).
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Dados Geográficos e Geológicos
Na Nova Carta Geológica de Portugal da LNEG os terrenos desta região do Concelho
de Lisboa são compostos na sua maioria por arenitos, conglomerados, biocalcarenitos,
siltitos e argilitos, sendo estes depósitos de tipo marinho formados durante o Miocénico
(Figura 4) (RIBEIRO e BENTO, 2010).
Para podermos falar das olarias devemos indicar onde se localizam os barros, matéria-
prima destra produção. A localização dos barreiros iria definir a localização das olarias
(tal como a proximidade a uma fonte de água). Os oleiros raramente mudavam a origem
do barro que compravam, pois, barros diferentes implicam técnicas de tratamento
distintas que podiam trazer prejuízos para a produção. Logo se sabemos a origem do barro
e a percentagem dos seus componentes (quartzos, micas, feldspatos…), podemos indicar
proveniência das peças em qualquer contexto arqueológico, permitindo saber os circuitos
comerciais destas cerâmicas. A cidade de Lisboa tem, devido à sua expansão, uma vasta
documentação sobre a existência de barreiros. Esta matéria-prima seria recolhida nas
zonas ribanceiras do Tejo e nos terrenos agrícolas próximos das olarias (SEBASTIAN,
2010, :202-203).
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Intervenção Arqueológica
A intervenção arqueológica no conjunto de olarias localizadas no Largo das Olarias
nº 19 a 23 e Travessa do Jordão nº 1 a 15 teve como objetivo minimizar o impacto sobre
o património. Devido ao projeto de alteração promovido pela empresa de investimento
imobiliário Sustentoasis S.A. (A.A.V.V., 2017, :1731).
Neste trabalho iremos tratar as faianças em chacota com vestígios de esmalte das
camadas 1154 e 1156 que estavam contidas dentro do forno 2 (cuja unidade estratigráfica
era a 1162). No entanto, nesta intervenção foram detetados quatro fornos de produção
oleira. Estes trabalharam entre os séculos XVI e XVII. Eram todos feitos de tijolo, argila
cozida misturada com cerâmica doméstica não vidrada (fragmentos de caixa refratária,
que era usada no fabrico de produção de faiança). Os fornos eram de dupla câmara, que
permitia que a combustão fosse feita na parte inferior da mesma, onde eram cozidas as
peças, separados por grelhas assentes em arcos, que permitem a passagem de calor e o
controlo da temperatura. Esta tipologia de fornos vem desde a Antiguidade Tardia, e são
retomados, mais tarde, no período de domínio Islâmico na Península Ibérica. No entanto
podemos definir que os fornos circulares da Mouraria predominam face aos fornos de
planta quadrangulares islâmicos. Nas paredes do forno é possível observar os negativos
do arranque dos arcos que suportavam a grelha, rematada pela câmara de cozedura. As
câmaras de combustão e de cozedura tinham forma circular e o fundo era semicircular. A
grelha era constituída por tijolos, podendo ter uma forma circular, subcircular,
quadrangular ou retangular. O corredor de acesso à câmara era revestido parcialmente de
uma argila esverdeada (A.A.V.V., 2017, :1732).
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Estas estruturas foram encontradas maioritariamente no substrato geológico. Do seu
interior foi recolhido um vasto conjunto de materiais cerâmicos, incluindo suportes e
desperdícios da produção, tanto de faiança como de cerâmica de barro vermelho sem
vidrado, surgindo escassas peças revestidas com vidrados plumbíferos (A.A.V.V., 2017,
:1732).
Pode-se afirmar, que no contexto das produções de faiança, podemos encontrar uma
evolução estrutural dos fornos, que acompanha as pequenas estruturas medievais
circulares e os grandes fornos quadrangulares de época moderna. (A.A.V.V., 2017, :1732)
Claro que a coleção em estudo não se restringe apenas a estas tipologias, sendo
que encontramos outros fragmentos (apenas 5) que representam outros tipos de peças que,
apesar de não afetarem a contagem geral deste acervo, foram alvo de nossa análise, tal
como as tampas de caixas, pegas ou asas e gargalos.
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3.4.2.1. As Taças
As taças Tipo A e
B respetivamente,
com vista a partir
da base. É possível
verificar a
caraterística
distinta das paredes
modeladas entre os
dois casos. (Jéssica
Monteiro, 2018)
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A taça de Tipo C é exemplificada pela peça de número de inventário
LOL16SD11SE2[1156]-8. Apresenta um bordo ligeiramente extrovertido e uma seção
semicircular, cujo diâmetro ronda os 15,5 cm e os 16 cm. O seu corpo apresenta paredes
mais direitas com um suave arredondamento perto da sua base e são consideravelmente
mais espessas que as duas prévias (cerca de 0,5 cm de espessura). Assenta sobre um pé
de anel que ronda os 0,5 cm e cujo diâmetro ronda os 11,5 cm e os 12 cm. De altura, estes
tipos de taças rondam os 6 centímetros. É então uma taça de dimensões e forma
completamente distintas das já apresentadas, sendo que os diâmetros do bordo e fundo
são superiores (ou mais largos) apesar de apresentar exatamente a mesma altura que as
restantes.
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As taças Tipo C, D e E,
com perspetiva a partir do
topo da peça e a partir das
laterais, respetivamente.
(Jéssica Monteiro, 2018;
Inês Henriques, 2019)
A taça que identificamos como Tipo F é representada pela peça de número de
inventário LOL16SD11SE2[1156]-24. Esta taça não apresenta um perfil completo,
registando-se a ausência de bordo, daí ser impossível descrever esta seção da taça. As
suas paredes são completamente lisas, arredondadas e de considerável espessura (cerca
de 0,5 cm). A peça assenta sobre um pé de anel baixo (cerca de 0,3 cm de altura), cujo
diâmetro ronda os 13,5 cm e os 14 cm. É impossível determinar a altura total da peça.
Podemos determinar que é uma peça de dimensões superiores às restantes apresentadas,
pelo menos pelo fundo assim o consideramos, apesar de servir a mesma função.
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As taças Tipo F e G. Na
primeira verifica-se a
inexistência de bordo
enquanto que na segunda
verifica-se a presença de
modelação nas paredes.
(Jéssica Monteiro, 2018)
3.4.2.2. Os Pratos
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O prato que identificamos como Tipo 3 é exemplificado pela peça de número de
inventário LOL16SD11SE2[1156]-23 e LOL16SD11SE2[1154]-47 (fragmentos que
colam entre unidades estratigráficas). É um prato de bordo arredondado e pouco
extrovertido, cujo diâmetro ronda os 16 cm e os 16,5 cm. O seu corpo apresenta uma
caldeira redonda que conduz à base do mesmo e as suas paredes são mais finas dentro dos
parâmetros desta coleção (cerca de 0,4 cm). Assenta sobre um pé de anel baixo (cerca de
0,3 cm) e cujo diâmetro ronda os 6,5 cm e os 7 cm. De altura, estes tipos de pratos rondam
os 2,5 centímetros. Dentro desta coleção, este prato apresenta as menores dimensões,
aproximando-se muito mais do que consideramos atualmente um pires. Este pequeno
prato apresenta uma pasta acinzentada.
Os pratos Tipo 1, 2 e 3, na
sua perspetiva a partir do
topo. (Jéssica Monteiro,
2018; Inês Henriques, 2019)
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O prato que identificamos como Tipo 4 é exemplificado pela peça de número de
inventário LOL16SD11SE2[1156]-19 e LOL16SD11SE2[1154]-30 (dois fragmentos
que colam entre unidades estratigráficas). É um prato de bordo arredondado e pouco
extrovertido, cujo diâmetro ronda os 21,5 cm e os 22 cm. O seu corpo é caraterístico pela
caldeira bem pronunciada que conduz ao fundo da peça e as paredes são ligeiramente
espessas (cerca de 0,6 cm). Assenta sobre um pé de anel baixo (cerca de 0,2 cm de altura)
e cujo diâmetro ronda os 12,5 cm e os 13 cm. De altura, estes pratos rondam os 3,5
centímetros. É, à semelhança do primeiro prato apresentado, uma peça de dimensões
médias face às outras.
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3.4.2.3. Outros
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A peça de número de inventário LOL16SD11SE2[1156]-32 corresponde a uma
asa de um possível jarro pequeno. A sua pasta é congruente com a tipologia das anteriores.
Encontra-se revestida de esmalte branco sem decoração a azul. Possui uma altura de 2,8
centímetros e uma espessura de 1 centímetro.
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O fragmento de número de inventário LOL16SD11SE2[1156]-29 é um fundo de
um prato indeterminado. Apresenta esmalte e decoração a azul, neste caso com motivos
geométricos. Os seus paralelos podem ser encontrados na Casa do Infante no Porto e no
Museu de Vila Franca de Xira.
Na tipologia de taças observamos que o maior valor obtido relativo aos bordos é
de 22.4%, correspondente às taças de Tipo A e o menor valor obtido é de 0.15%,
correspondente às taças de Tipo G. Relativo aos fundos, o maior valor observado é de
7.13%, correspondente ao Tipo A e o menor valor observado é de 0.15%, correspondente
ao Tipo B, tendo em conta que os Tipos C, D e G não apresentam fragmentos de fundos.
Na tipologia de pratos observamos que o maior valor obtido relativo aos bordos é
de 4.85%, correspondente ao tipo indeterminado e o menor valor obtido é de 0.15%,
correspondente aos pratos de Tipo 2. Relativo aos fundos, o maior valor observado é de
9.25%, correspondente ao tipo indeterminado e o menor valor observado é de 0.30%,
correspondente ao Tipo 1. Os Tipos 3 e 5 não apresentam fragmentos de fundos.
Com estes dados podemos afirmar que, as taças de Tipo A predominam em relação
aos outros tipos, tanto ao nível dos bordos, como dos fundos. E, em relação aos pratos, o
tipo indeterminado é que se salienta mais, tanto ao nível dos bordos, como dos fundos,
seguindo-se do Tipo 4, com valores de 2.12% e 1.51%, respetivamente.
É ainda possível analisar que dentro das taças e pratos, o valor total de bordos e
fundos corresponde a cerca de 61.4%, relativo ao número total geral de fragmentos em
estudo.
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Taças [1154]
Bordo 58 1 1 3 3 2 1 2
Bojo 71 1 - - - 1 1 4
Fundo 15 1 - - - 2 - 7
Perfil - - - - - - 2 -
Total 176
Pratos [1154]
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Indeterminados
Bordo 2 - - 3 5 16
Bojo 1 - 2 3 - 8
Fundo - 3 - 4 - 28
Perfil - - - 1 1 -
Total 77
Taças [1156]
Bordo 90 6 1 3 3 2 - 2
Bojo 109 6 - - 1 4 4 17
Fundo 32 - - - 4 2 - 7
Perfil 1 1 1 1 1 - - -
Total 298
Pratos [1156]
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Indeterminados
Bordo 7 1 4 11 3 16
Bojo 1 1 - 4 - 12
Fundo 2 - - 6 - 33
Perfil 3 1 1 1 1 -
Total 108
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3.5. Interpretação dos Dados
Este acervo que acabamos de analisar insere-se num contexto de continuidade de
produção oleira caraterística da Mouraria de Lisboa. Os oleiros (entre outros artífices)
muçulmanos, moçárabes e cristãos eram valorizados pela comunidade em geral no que
concerne aos seus dotes artesanais. Com a demanda por cerâmica tipo porcelana chinesa
a baixo custo, a faiança portuguesa conheceu uma produção abundante para abastecer não
só Portugal, mas também a Europa e espaços de expansão.
Apesar de a sua produção se ter iniciado em meados do século XVI, será no XVII
que encontra a sua maior expressão e influências orientais. Esta imitará com sucesso
formas e a decoração chinesa, sendo vendida a um preço mais acessível às populações.
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A nível decorativo as peças de influência oriental, são peças com as abas divididas
em cartelas, no interior das quais são desenhadas flores, como os crisântemos e frutas,
como pêssegos, distintas das peças mais estilizadas do período seguinte. São raros os
estilos decorativos dos aranhões. A nível de influência de decorações, da europeia
observa-se as primeiras tentativas de imitação das penas de pavão. Este estilo é comum
nas produções italianas, mas os oleiros portugueses devem-se ter influenciado pelas
produções espanholas (sobretudo de Talavera). Das produções de influência espanholas
surgem as pequenas espirais dentro de cartelas pseudo-geométricas (CASIMIRO, 2013,
:355-356). Segundo estes dados podemos aferir que parte das taças e pratos que foram
analisados encaixam nesta descrição. Contudo, não há no nosso contexto peças que usem
a decoração do tipo penas de pavão. Outro aspeto são as decorações presentes no nosso
estudo serem bastante estilizadas algo mais típico do período seguinte das faianças
portuguesas.
Na nossa opinião, estas peças devem ser de um período compreendido entre 1635
e 1660, descriminado por Tânia Casimiro como o «a época da explosão criativa da
Faiança Portuguesa». As peças têm decoração como: riscas verticais e horizontais,
decorações vegetalistas, elementos das famílias de espirais, os aranhões. Os elementos
como crisântemos, que aparecem neste período não estão presentes no nosso universo de
estudo (CASIMIRO, 2013, :358). É preciso referir que apesar da maioria das peças que
analisámos estão muito fragmentadas e a sua decoração desapareceu ou está impercetível.
É possível que estas terão tido reproduções de paisagens com animais (coelhos aves cães,
entre outros) e o seu habitat natural, copiando modelos chineses de meados do século
XVI. Ou elementos figurativos, de um coração alado envolvido em motivos vegetalistas,
sendo esta uma temática recorrente na faiança portuguesa do século XVII. Estas peças
com este tipo de decoração aparecem no nosso contexto (A.A.V.V.; 1738; 2017).
Portanto, resumindo estas ideias, será no referido Período II, de 1570 a 1610, que
se admite uma decoração de influências exógenas, nomeadamente orientais, prováveis até
de imitar porcelana chinesa. No Período III, compreendido entre 1610 e 1635 que, para
além da forma predominante ser pratos e taças, é o momento em que mais fielmente é
copiado o modelo oriental. Por fim, no Período IV, de 1635 até 1660, nota-se um
acréscimo da produção nos centros produtores, de forma a abastecer tanto Portugal como
colónias e parceiros comerciais, no entanto, em detrimento da qualidade, nomeadamente
no que respeita a pastas e esmaltes. (CASIMIRO, 2013, :355-356, :358)
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4. Conclusão
Este universo em estudo proveniente do Largo das Olarias na Mouraria de Lisboa
atesta uma produção cerâmica que comprova uma continuidade no espaço e tempo. Os
oleiros muçulmanos eram valorizados pela sua destreza e talento no que concerne o
artesanato. Logo, facilmente se adaptaram a novas realidades, especialmente a pastas,
formas, produção de esmalte e pintura a azul de cobalto e a uma cozedura de vitrificação.
Estes dados evidenciam uma preferência por certas formas (especialmente nas
taças) para a produção. No entanto, estas peças não passaram pelo processo final, a
cozedura de vitrificação, sendo que acabaram por ser descartadas para dentro de um forno
de maneira a entulhá-lo. Damos então algumas hipóteses para as peças não passarem pelo
último estágio de produção, como por exemplo: exagero ou insuficiência do esmalte nas
superfícies, problemas com a constituição do mesmo ou então, falhas no processo
decorativo. Tais problemas terão impossibilitado a continuação do processo.
A.A.V.V. – Evidências de Produção Oleira nos Séculos XVI e XVII no Largo das Olarias,
Mouraria (Lisboa). – Arqueologia em Portugal. 2017 – Estado da Questão. Lisboa:
Associação dos Arqueólogos Portugueses. 2017. Pp.1731-1749
ALMEIDA, Ana Rita Elias – Mouraria: História e Forma Urbana. – Lisboa: FA. Tese
de Dissertação de Mestrado. 2016.
CASIMIRO, Manuel Tânia; SEQUEIRA, João - Faiança Portuguesa dos Séculos XVI-
XVIII. Cira-Arqueologia V. 2016-2017.Pp.260- 273
44
RIBEIRO, Maria Luísa; BENTO dos Santos, Telmo – A nova Carta Geológica de
Portugal à escala 1:1.000.000 e a importância da cartografia geológica de base
[diapositivos]. Portugal Tecnológico 2010, Lisboa, 24 de Setembro de 2010.