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e Mais CaCos
de Vidro
o que fazer CoM eles?
Guia Arqueológico
de Classificação e Análise
Prof.Dr.
Paulo Fernando Bava
de Camargo
(DARQ; PROARQ/ UFS)
Prof.Dr.
Paulo Eduardo
Zanettini
(ZANETTINI ARQUEOLOGIA)
Fábrica Santa Marina, São Paulo, SP: embalagem de vasilhames com palha,
c.1920 (Capri, 1926)
Sumário
1. URGENTE: VIDROS! 7
1.1. Um longo caminho a percorrer 8
1.2. De Murano à Santa Marina 10
1.3. Ainda urgente: vidros! 11
5. ESTUDOS DE CASO 79
5.1. Ficha de análise e sua aplicação 79
5.2. Museu da Energia, Itu, SP 79
5.3. Um ‘lixão’ da segunda metade do século XX. Sítio Villa Branca,
Jacareí, SP 83
5.4. Parque Estadual de Canudos, BA 93
6. BIBLIOGRAFIA 97
8. ANEXOS 112
1. URGENTE: VIDROS!
1 Luis Cláudio P. Symanski (1998a) aplicou com sucesso a fórmula de Stanley South
aos artefatos vítreos exumados do quintal do solar Lopo Gonçalves, em Porto Alegre, explo-
rando no artigo também aspectos relacionados aos padrões de higiene e saúde dos ocupan-
tes da residência do século XIX. O mesmo autor, junto com S. Osório publicou, na Revista de
Arqueologia da SAB (1996) um instigante trabalho sobre reciclagem de artefatos de vidro
em sítios arqueológicos de Porto Alegre, constituindo a primeira referência do gênero na
literatura arqueológica brasileira. Marcos André T. Souza vinha reunindo e organizando, havia
alguns anos, referências bibliográicas, fontes primárias textuais e iconográicas sobre o tema.
Forneceu-nos, em 1999, dados para esta pesquisa, além de uma bibliograia comentada, a
qual inserimos como anexo.
bre o nosso passado. Talvez agora, às vésperas de mais um encontro
bianual da SAB, fosse o momento de, novamente, arqueólogos de
todo o Brasil trocarem experiências a respeito do tema.
Marcas de ponteis
Os artíices do vidro munidos de ponteis aixados aos fundos dos va-
silhames podiam realizar a inalização e reforço dos gargalos. Ao tér-
mino dessa operação, a garrafa era liberada do pontel, restando no
fundo do recipiente traços da incisão/ colagem do instrumento dei-
xados pelos resíduos do ponto de contato do pontel com o recipien-
te. Esses bastões, de acordo com os estudos citados anteriormente,
podiam ser feitos ou com madeira, ou com vidro, ou com metal, sen-
do os metálicos aqueles que possivelmente legaram as marcas mais
recorrentes nas bases de garrafas encontradas em todo o território
Figura 8a: gargalo feito com a Figura 8b: gargalo feito com a
técnica applied inish (peça nº técnica tooled inish (peça nº
3972, Quadra 090, São Paulo). 2301, Quadra 090, São Paulo).
Marcas de moldes
A delimitação temporal do uso de moldes é bastante complexa, le-
vando os autores especializados a entrar em conlito. Segundo Lor-
rain (1968), o molde inteiriço ou único teria sido largamente usado
entre 1790 e 1810. Os outros dois tipos – molde duplo e triplo – te-
riam surgido por volta de 1810, sendo utilizados concomitantemente
até 1840/ 50, quando o triplo cai em desuso. Já o duplo teria perma-
necido em uso até o im da produção manual.
Sherene Baugher-Perlin (1988), por sua vez, coloca que os moldes in-
teiriços teriam sido utilizados desde ins do século XVII até meados
do século XIX; os duplos, de 1750 até 1880; e os triplos, de 1820 até
1860/ 70. Essa periodização nos parecia a mais adequada para analisar
o caso brasileiro. Entretanto, com as observações realizadas ao longo
dos anos, percebermos que o estabelecimento de cronologias exatas
para o início e abandono de tecnologias e técnicas é bastante mais
complexo do que parecia àquelas autoras! Não só no caso da produ-
ção vidreira nacional ou na produção europeia, mas também para
a vidraria norte-americana encontramos muitos casos de produção
‘manual’ convivendo com a ‘mecânica’. De qualquer maneira, muito do
vidro consumido aqui, ainda nas primeiras décadas do século XX, era
produzido manualmente, tanto nas vidrarias nacionais, quanto nas da
Europa, de forma que as cronologias norte-americanas têm que ser
muito bem ponderadas para seu uso nos contextos brasileiros.
Os moldes inteiriços – que poderiam ser apenas cilindros vazados nas
duas pontas ou fechados em apenas uma delas (tal como um copo)
– praticamente não deixavam marcas nos objetos, gerando dúvidas
com relação à sua identiicação, uma vez que se assemelham àqueles
artefatos elaborados livremente, sem molde, sendo apenas mais si-
métricos nas formas. A única marca que poderia persistir é aquela
decorrente do preenchimento total do molde. Nesse caso uma linha
horizontal é distinguível por todo o diâmetro da junção do corpo
com os ombros (Bauguer-Perlin, 1988, p. 262). Essa marca também
é encontrada nas garrafas feitas com moldes trifásicos (Figs. 9 a e b).
3.1. Primórdios
Produção
Tendo jazidas de areia em abundância, madeira para aquecer os for-
nos (sendo que suas cinzas forneceriam a potassa e a soda) e cal a
vontade, os fabricantes dependiam apenas da terra refratária vinda
do exterior. Mas esta última, utilizada para a confecção dos cadinhos
nos quais seriam misturadas e derretidas as matérias-primas, era um
dos insumos essenciais. Somente esses potes, confeccionados com
esse material especial, suportariam as altas temperaturas dos fornos
e, mesmo assim, eles precisavam ser substituídos a cada oito semanas
porque também se transformavam em vidro. Seu custo de reposição
era alto, sendo que sua confecção demorava pelo menos oito meses.
Grande parte das tentativas fracassadas, no século XIX, devem-se a
esse fator (Polak, 1997, p. 8).
Mão de obra
Ao longo de toda a história da indústria vidreira no Brasil, necessi-
tou-se de mão de obra estrangeira, ou para alavancar a produção, ou
para aperfeiçoá-la.
Mas nesse primeiro momento, conhecimento estrangeiro não era si-
nônimo de introdução de técnicas de ponta na produção nacional.
A revolução industrial e seu modo de produção seriado e em larga
escala, somado ao desenvolvimento dos meios de transporte impul-
sionados pelo vapor, proporcionaram um aumento considerável no
poder de produção e de distribuição das mercadorias de alguns pou-
cos países. Com preços mais competitivos e maior poder de distribui-
ção, os vidros ingleses, e depois os norte-americanos dominaram os
mercados mundiais, eliminando a possibilidade de sobrevivência de
manufaturas regionais. Países que não conseguiram reorganizar suas
manufaturas rapidamente dentro do modelo capitalista industrial
contemporâneo, tais como Portugal, Itália, Espanha e França, tiveram
boa parte de seus estabelecimentos fechados. Luis Felipe Alencastro
aponta que as manufaturas portuguesas, no inal do século XVIII e
início do XIX foram bastante prejudicadas pela concorrência dos pro-
dutos estrangeiros (principalmente ingleses), o que fez com que elas
perdessem importantes mercados e fechassem suas portas. Sem em-
prego, operários especializados e artesãos escolheram a imigração
temporária para o Brasil durante as primeiras décadas do século XIX
(1988, p. 35). Dentre eles encontraremos vidreiros que vieram tentar
a vida no Ultramar17.
Esses mestres europeus realmente traziam um conhecimento novo
para o Brasil, mas que era ultrapassado em relação às técnicas de pro-
dução em larga escala, o que não quer dizer que esse pessoal não pu-
desse produzir peças de qualidade. Aliás, essa era a única escapatória
para a sobrevivência no mercado. Quando não se dispunha de meios
para se produzir e distribuir mercadorias em grande quantidade,
apelava-se à capacidade artística individual, o que em parte explica
a diversidade de objetos fabricados pelas manufaturas nacionais na
Exposição de 1861 (Figura 19).
Figura 19 – Tipos de objetos de vidro fabricados pela indústria brasi-
leira na década de 1860.
17 Em 1819, Jacinto dos Santos, oicial que veio da fábrica da Marinha Grande, Leiria,
Portugal, instala uma manufatura vidreira no Rio, mas esta não foi adiante. Dois anos depois,
Francisco Xavier da Fonseca, sócio da fábrica de vidros cristalinos e vidraças Nogueira e Filho
e Cia, de Lisboa, registra pedido de abertura de manufatura (21/03 de 1821). No entanto, esta
empreitada também fracassa (Sandroni, 1989, p. 50).
Em 1861, no Rio de Janeiro, a Exposição Nacional mostrou em que
nível estava a produção brasileira de vidraria, manufaturada por em-
presas tais como Bento Pupo de Moraes e Cia.; Castro Leite e Cia.;
Castro Paes e Cia. (praia Formosa, Rio de Janeiro – posteriormente re-
nomeada como Fábrica São Domingos); São Roque (Rio de Janeiro);
Bela Vista (Angra dos Reis, RJ); Augusto da Rocha Fragoso (Petrópolis,
RJ) e Bernasconi (espelhos), além de outras em São Paulo e na Bahia.
Vários tipos de objetos de vidro eram confeccionados, revelando que
a indústria nacional estava conseguindo produzir tanta variedade
quanto a estrangeira. Apesar disso, nenhuma peça de vidro foi esco-
lhida para representar o Brasil na Exposição Universal, ao contrário de
alguns chapéus nacionais (Recordações, 1977, p. 111), os produtos
manufaturados de melhor qualidade que eram produzidos no terri-
tório nacional, àquela época (Luz, 1975).
Com a expansão do mercado e aumento da imigração, viriam ao
Brasil mais vidreiros estrangeiros, esses já com um saber fazer menos
defasado e que trabalhariam lado a lado com os estrangeiros já ra-
dicados e seus aprendizes brasileiros, ambos detentores de técnicas
tradicionais.
Técnicas e tecnologias
Garrafas e frascos eram confeccionados pelo sopro humano, ou livre,
ou com o auxílio de moldes inteiriços que davam forma aos corpos
desses recipientes, proporcionando maior uniformidade. O uso de
moldes duplos ou trifásicos ainda não pôde ser apurado. É provável
que eles só tenham aparecido a partir do momento em que se torna-
ram necessários recipientes com volumes absolutamente bem dei-
nidos e/ ou formas diversiicadas.
O pontel foi largamente utilizado, mais tarde cedendo espaço à garra
de ixação (snap-case), muito embora ainda não tenhamos informa-
ções suicientes para determinar a época de adoção desse instru-
mento no Brasil – concomitantemente ao seu desenvolvimento (por
volta das décadas de 1850/60), ou mais tardiamente. O mesmo se
aplica à utilização de ferramentas para a confecção de gargalos.
Nos períodos seguintes, essas técnicas de produção estarão lado a
lado com as máquinas semiautomáticas e automáticas. Uma das ca-
racterísticas da produção nacional, até hoje, é a sobrevivência de téc-
nicas ultrapassadas juntamente com as de ponta. A título de exem-
plo, em Salto, no interior de São Paulo, uma fábrica molda faróis para
automóveis em máquinas semiautomáticas, isso em plena era da au-
tomação total da indústria vidreira18. Segundo o mesmo informante,
no Sul do país ainda existiam fábricas que produziam garrafões para
vinho com máquinas semiautomáticas.
Com a abundância de madeira, não era necessária a utilização de
carvão nos fornos (o que já ocorria na Inglaterra desde o século XVII
(Frank, 1982)). No entanto, as temperaturas obtidas com lenha eram
inferiores às conseguidas com o emprego de carvão, o que não pro-
porcionava um bom derretimento e mistura dos ingredientes, conse-
quentemente gerando produtos de qualidade inferior.
Não temos certeza da aplicação de fornos de têmpera nestas primiti-
vas manufaturas e o emprego de fornos regenerativos está descarta-
do, até o próximo período.
18 Depoimento, por telefone, do Sr. Benedito Stucchi, de Itu, criador da referida má-
quina (1999).
comerciais, também não havia assimilado por completo essas novas
técnicas. A igura exibe o funcionamento de uma vidraria portuguesa
em ins do século XIX, produzindo garrafas ainda com moldes inteiri-
ços para o corpo e um forno de fogo direto (Figura 20).
Figura 20 – “Ilustração de algumas etapas e equipamentos da produ-
ção vidreira portuguesa.
Distribuição e consumo
Vários autores colocam que, numa época em que a maior parte das
inovações tecnológicas não revertia diretamente para um aumento
de produção, foi o desenvolvimento do transporte impulsionado por
vapor, tanto na água quanto na terra, o fator primordial para o desen-
volvimento da indústria vidreira. O Brasil não constituía exceção, ten-
do o comércio sido favorecido imensamente a partir da década de
20 Citando apenas os trabalhos mais recentes (à época da versão de 2005 deste texto),
foram encontrados alguns exemplares: no sitio Mackenzie, localizado por ocasião do Diag-
nóstico Arqueológico para a Linha Amarela (4) do Metrô (2004); no sítio Vergueiro, localizado
por ocasião do Diagnóstico Arqueológico para a Linha Verde (2) do Metrô (2004); e no sítio
Instituto Bom Pastor, no bairro do Ipiranga (2004-2005). Os dois primeiros trabalhos foram
realizados pela empresa Documento e o último pela Zanettini.
21 Nesta nova versão (2016) mantivemos o caráter “evolutivo” do texto, pois modiicar
sua estrutura seria produzir um trabalho completamente diferente. Apesar dessa confessa
limitação teórico-metodológica original, o texto continua servindo para enxergarmos os ves-
tígios vítreos com olhos mais críticos e para que busquemos extrair mais informações deles.
1860 quando da implantação das primeiras linhas férreas. No entan-
to, outros fatores, de caráter regional vieram a aumentar a demanda
de recipientes de vidro.
Além da questão do transporte, a partir da década de 1850 a predo-
minância da monocultura cafeeira gerou a necessidade do transpor-
te de gêneros de subsistência por longas distâncias.
Em parte do centro-sul do país, com todos os recursos econômicos
voltados à produção e exportação de café, a própria subsistência se
via ameaçada pelos efeitos da monocultura. Como o comércio com
o café produzia um excedente econômico extraordinário, tudo po-
deria ser importado, a não ser os itens que fossem muito volumosos
para serem transportados por navio e que fossem passíveis de serem
produzidos localmente, tais como tijolos e garrafas de vidro, apesar
desses objetos volumosos também terem sido importados, num pri-
meiro momento.
Dentro do sistema produtivo de monocultura para exportação, os
recipientes de vidro passaram a ser importantíssimos para a distri-
buição dos gêneros alimentícios. O vinho, por exemplo, chegava aos
portos em tonéis. Para ser distribuído, era acondicionado em garra-
fas, quando não raro acabava sendo “batizado” com aguardente e
alguns produtos químicos. Segundo Frédéric Mauro, esse tipo de fal-
siicação ocorria principalmente no Rio de Janeiro e na Bahia (1991,
p. 242). Dessas localidades parte do vinho era levado para o interior,
onde o consumo de bebidas alcoólicas era bastante mais acentuado
do que nas cidades litorâneas.
Esse fenômeno do abastecimento já havia sido observado nos EUA
por ocasião da descoberta de ouro no Oeste daquele país. Como a
região só se dedicava à exploração aurífera, todo o alimento tinha
que vir da costa Leste, ou de outros países. Para aguentar a longa via-
gem, os produtos tinham que ser processados e acondicionados em
recipientes de folha-de-Flandres ou de vidro (Lorrain, 1968).
Por um outro lado, a riqueza gerada pelo café acelerou o processo de
expansão de algumas cidades, apesar delas não terem estrutura para
comportar um aumento populacional tão rápido. O resultado foi o
desenvolvimento de meios urbanos carentes de condições de higie-
ne básicas, tornando-os focos de doenças. Somando-se esse fator à
importação do hábito europeu de se consumir panaceias para a pre-
venção de doenças e para o bom funcionamento do organismo (isso
desde a abertura dos portos, no início do século), o resultado é um
largo consumo de remédios. Quando não vinham engarrafados do
exterior, chegavam em tonéis. Nas boticas, eles eram distribuídos em
frascos menores, indispensáveis para a dispersão desses produtos.
O vinho moscatel, por exemplo, chegava em tonéis, posteriormente
sendo acondicionado em frascos facetados – embora muitas vezes
ele já viesse envasado, da França, em frascos de vidro transparente
ou cristal (Deveza, 1976, p. 36; Sandroni, 1989, p. 45).
Também podemos atribuir às guerras um papel importante na ex-
pansão do consumo de produtos envasados. A necessidade de abas-
tecer as tropas em regiões longínquas fez com que muitos alimentos
ou bebidas fossem processados e estocados em latas ou vidros e são
nessas ocasiões em que a pesquisa e a aplicação de novos métodos
se intensiicam22. A guerra com o Paraguai (1864-1870), um conlito
de quase seis anos, além de ter movimentado grandes quantidades
de provisões para os campos de batalha, produziu um signiicante
incremento nas indústrias brasileiras, inclusive na do vidro23.
Outro fator importante para distribuição de vidros foi a criação de
Matérias-primas
A madeira, ainda disponível em grande quantidade, continuou a
ser utilizada como combustível em vidrarias de pequeno porte. Nas
grandes indústrias tais como a Santa Marina (1892) e a CISPER (1917),
possuidoras de fornos avançados, o uso do carvão mineral e do co-
que era regra geral, abandonada somente nos períodos de guerra.
Durante a Primeira e a Segunda Guerra icou inviável a importação
de certas matérias-primas, o que prejudicou a continuidade da pro-
dução e a quantidade de mercadorias confeccionadas24. No entanto,
foram nesses momentos de crise em que as fábricas partiram para a
diversiicação da produção: sobretudo na Segunda Guerra Mundial,
certos recipientes que antes eram importados, principalmente aque-
les para remédios, passaram a ser fabricados em território nacional
para atender à demanda de fábricas que não mais conseguiam com-
prá-los fora do país25. O Brasil, do início do conlito até 1942, chegou
mesmo a exportar vidro (Brandão, 1996, p. 72).
Mão de obra
Embora já houvesse brasileiros treinados na fabricação do vidro, a
mão-de-obra estrangeira continuou a ser empregada, em parte por
necessidade, em parte por preconceito. De qualquer forma, a desi-
gualdade de condições de trabalho era patente: em 1901 ocorre uma
greve na Santa Marina devido à disparidade dos salários dos brasilei-
ros e dos estrangeiros (os últimos ganhavam mais) (Brandão, 1996, p.
59). Por esse incidente é de se imaginar que brasileiros e imigrantes
executassem os mesmos trabalhos, com resultados muito próximos,
mas com pagamentos distintos, fato que justiicaria o confronto.
Com o tempo apenas os engenheiros especializados, portadores de
novos conhecimentos, e os administradores de empresas passaram
a vir do exterior, deixando o serviço pesado para o pessoal da terra
já treinado e, principalmente, para as máquinas semiautomáticas e
automáticas.
MANUAL
APPERT; HENRIVAUX (1894)
MECÂNICA
MANUAL
MECÂNICA
DAMOUR (1929-1936)
MECÂNICA SEMI-AUTOMÁTICA
MECÂNICA AUTOMÁTICA
BARY; HERBERT (1941) MECÂNICA AUTOMÁTICA
Distribuição e consumo
Assim como em outros países, foi o aperfeiçoamento das redes de
transporte que impulsionou a expansão do consumo do vidro. O
incremento da malha ferroviária e a criação da rede de estradas de
rodagem possibilitaram uma farta distribuição do vidro para cantos
que até aquele momento não eram abastecidos com tais artefatos27.
Outro fator que ocasionou a expansão do consumo de produtos
acondicionados em recipientes de vidro – principalmente alimentos
e remédios – foi o aumento do número de agentes atuantes no mer-
cado. Com a abolição do trabalho escravo e a imigração, um número
maior de pessoas trocaria sua força de trabalho por dinheiro, possi-
bilitando a aquisição de bens antes distantes da realidade por eles
vivida.
Foi também neste período que se intensiicou a urbanização do país.
Com a expansão das cidades, algumas soluções arquitetônicas foram
Elementos SiO2 Al2O3 CaO MgO BaO Na2O K2O Fe2O3 FeO TiO2 SO3
% 65,82 2,71 21,83 3,11 0,18 3,04 1,86 0,93 0,30 0,20 0,024
A análise qualitativa feita com base na comparação entre os resulta-
dos obtidos e os catálogos históricos internacionais permitiu o se-
guinte veredicto: “Trata-se de garrafa produzida no último quartel do
século passado [XIX], na região central da França”.
Os vidros guardam em suas composições características químicas
derivadas das matérias-primas encontradas na região de fabrico:
orgânicas, determinadas pelas madeiras e gramíneas utilizadas na
Antiguidade, por exemplo; e minerais, determinadas pelas fontes de
sílica europeias, por exemplo. Até mesmo na produção industriali-
zada, que emprega produtos químicos para a composição e corre-
ção da massa, pode-se encontrar particularidades referentes ao local
de fabrico: o vidro produzido na Costa Leste norte-americana difere
quimicamente de seu concorrente, produzido na costa oposta, por
exemplo.
Conforme Bezborodov, importante estudioso russo, o vidro “asseme-
lha-se às condições da província bioquímica (solo, vegetação, cinzas,
etc.), diferenciando-se regionalmente” (Frisch, 1999). Ainda segundo
esse autor, as análises químicas não devem se limitar somente aos
componentes principais, incluindo-se também microelementos. Fo-
ram eles que permitiram a Bezborodov estabelecer 762 fórmulas de
vidros para a Antiguidade, classiicando-as nos seus grupos princi-
pais e regiões.
As proporções obtidas na análise da garrafa encontrada na Serra do
Mar guardam assim íntima relação com as matérias-primas da França
central, dotada de areias com alto teor de ferro (o exemplar analisado
possui 0,93% de Fe2O3 e 0,30% de FeO). O cerco se completa com a
alta taxa de CaO (21,83%), o qual excede em muito os padrões adota-
dos na moderna indústria (diicilmente ultrapassam os 10%).
4.1.1. Análise química: evitando equívocos
4.2.1. Procedimentos
Breve histórico
O edifício pertence à Fundação Patrimônio Histórico da Energia de
São Paulo (FPHESP), constituindo um de seus núcleos museológicos
(Museu da Energia). Está situado à rua Paula Sousa, n°.669, no perí-
metro do sítio histórico da fundação da cidade de Itu, Estado de São
Paulo.
Trata-se de exemplar remanescente do ciclo econômico do açúcar,
inclusive com planta e partido arquitetônico característicos desse
período, sendo datado de 1847 (inscrição na bandeira da porta prin-
cipal), tendo pertencido ao tenente Antônio Correia Pacheco e Silva,
natural de Itu, “em 1874 (…) registrado como eleitor sob a proissão
de capitalista, cuja renda anual alcançava 20.000$000 réis” (Toscano,
1981, p. 82 apud Zanettini, 1999a).
Conforme levantamentos, o sobrado foi doação testamentária da Srª.
Ignácia Joaquina Corrêa Pacheco a seu sobrinho Francisco de Assis
Pacheco Jr. (1907), que por sua vez vendeu-o à Companhia Ituana de
Força e Luz em 1908.
Em 1927 o edifício passou a integrar o acervo da São Paulo Tramway
Light and Power Co. Ltd., quando essa assumiu o controle acionário da
Cia. ltuana. Em 1981 o imóvel foi incorporado à Eletropaulo Eletrici-
dade de São Paulo S.A. por ocasião da transferência da Light para o
Governo do Estado de São Paulo, sendo doado, em 1998 à FPHESP
pela Eletropaulo, atual Empresa Bandeirante de Energia S/A.
Resultados
Esperávamos retirar do casarão uma coleção signiicativa de frascos
e garrafas que permitissem testar a eicácia da icha, sobretudo, para
os restos relacionados à ocupação do século XIX, além do exame de
padrões comportamentais já observados em sítios análogos para o
período.
Apesar do caráter prospectivo da pesquisa, o quintal não rendeu o
esperado, expondo uma faceta particular da sociedade aristocrática
ituana da segunda metade do século XIX, uma vez que não se obser-
vou a recorrência dos padrões de consumo já veriicados em outros
sítios semelhantes no Rio de Janeiro, Nordeste e Sul do Brasil.
Os fragmentos de vidros arqueológicos, ao contrário, corroboram
uma visão de que a alta sociedade ituana, apesar da riqueza gera-
da pelo ciclo paulista da produção de açúcar e, posteriormente, pela
cultura cafeeira, era alheia (ou até mesmo avessa) às inovações ma-
teriais que chegavam frequentemente da Europa nos portos brasilei-
ros, pelo menos até a introdução do transporte por via férrea, o que
se dá em 1873, com a ligação dessa cidade à Jundiaí, estação inal da
SP Railway29.
Essa airmação se torna mais clara diante da pouca expressão dos ar-
tefatos identiicados no sítio.
Nos estratos arqueológicos mais antigos, que abrangem possivel-
mente os séculos XVI e XVII, mas, seguramente, o século XVIII e a
primeira metade do XIX, encontramos poucos vestígios vítreos, não
fugindo ao padrão da grande maioria dos sítios paulistas que abran-
gem esta escala temporal.
Já nos estratos que abrangem tipicamente meados do século XIX
– época na qual foi erigido o sobrado que hoje abriga o Museu da
Energia – não encontramos os indícios compatíveis com os padrões
de consumo esperados para indivíduos que ocupavam àquela habi-
tação. Apesar da importância, tanto social, quanto econômica, dos
moradores do sobrado, os restos de vidros arqueológicos são extre-
mamente pobres, quantitativa e qualitativamente.
Resultados
Foram coletados cerca de 2.416 fragmentos, universo representado
por restos vítreos, louças, metais e artefatos elaborados com deriva-
dos de petróleo (borracha e plástico) que serviram como elementos
diagnósticos para o estabelecimento de uma cronologia de sua de-
posição, funcionando como um exercício metodológico.
A datação relativa, obtida a partir da análise das logomarcas presen-
tes no material cerâmico, remete-nos a produtos confeccionados en-
tre 1920 e 1974, aproximadamente, periodização indicada pelo iní-
cio, pico e término de funcionamento de fábricas tais como a Santo
Eugênio (que fechou suas portas em 1973), a cerâmica de Conrado
Bonadio (1940-?) e por algumas fábricas de Mauá e Jundiaí. Ainando
essa datação temos o período de instauração do “lixão”, que deve es-
tar situado entre a década de 1960 e início dos anos 70. Com relação
á data inal de deposição, sabe-se que a utilização do local para des-
pejo de entulho não excedeu a 1974, quando a fazenda foi adquirida
por Kalil e foi novamente introduzida a igura do administrador na
área, o qual permanece até hoje, garantindo o controle sobre a pro-
priedade e impedindo novos bota-foras.
Os fragmentos e recipientes de vidro identiicados nos remetem em
sua maioria às décadas de 1950/70. Juntamente com eles observa-
mos artefatos mais antigos, tais como vidraças decoradas, as quais
nos fazem recuar no tempo (época de produção certamente anterior
a 1950), sugerindo ter havido um boom de reformas/ demolições em
Jacareí no período referido, possivelmente relexo do “milagre eco-
nômico” vivenciado nos anos 1970.
Adotamos para a classiicação e análise do acervo vítreo a icha de
análise já mencionada, ligeiramente modiicada, aplicando-a em
70% da coleção global. Foram então analisados cerca de 800 frag-
mentos/ objetos inteiros, sendo observados atributos tecnológicos e
traços derivados de fabricação, aspectos morfológicos e funcionais.
Tabela 4 – Objetos inteiros analisados.
Copo/ Ou-
Garrafa Frasco Pote Adorno Plano
Artefato Cálice tros
Parte
Inteiro 79 1 2 3
Corpo 52 19 2 20 8 2
Gargalo 15 37 9 2 5
Base 24 53 10 3 4
Não identiicado/
60 28 7 19 25 76
tampa
Forma
Cilíndrica 76 86 1 22 1 4
Quadrada 1 7 4
Sextavado 5
Especíica/oitavado 7 85 12 7 33
Coloração
Incolor 29 138 3 32 21 30 69
Verde 74 6 1 6
Âmbar 45 51 1 1
Azul 6 4 1 3
Outras/branco/misto 2 1 1
Tipo de Vedação
Chapinha metálica 10
Rolha 3 14
Rosca/tampa plástica 1 49 1 1
Tampa de borracha 21
Nenhuma 1
Sinais de confecção
Copo/ Ou-
Garrafa Frasco Pote Adorno Plano
Artefato Cálice tros
Pontel 2
Ferramenta 1 1
Molde único 1 1 3
Molde duplo 18 52 2
Molde triplo 1
Parison e molde 27 3
Prensa
Indeinidos 17 6 1 1 7 1
Técnica
Manual 1 1(?) 2 (?) 2
Semiautomático 5 (?)
Automático 10 56 1 11 2
Float glass 9
Não identiicada 33 23 1 3 3 10 7
Inscrições
Molde (base e pa-
88 83 5 4 15 14
rede)
Aplicadas a posteriori
Conteúdo original
Bebidas alcoólicas 22 1 (?)
Refrigerantes 13
Remédio 83 1
Cosmético 16
Produto de limpeza
Comestível/mesa 2 15 19 1 17
Indeinido 83 28 3 7 14
Procedência
Nacional 4 60 8 1
Estrangeira 1
Indeinida 38 13 2 3 15 9
Foi possível reconstituir, a partir dos fragmentos, cerca de 151 garrafas,
216 frascos, 3 potes, 48 copos, 34 objetos de adorno, 25 porções de vi-
dro plano (vidraça) e 90 elementos relativos a peças automotivas, apa-
ratos de iluminação e outros componentes não identiicados (Gráico).
Gráico – Distribuição por tipo dos objetos inteiros analisados
Foram também observadas as seguintes marcas impressas, via de re-
gra na base dos utensílios.
INÍCIO DA PRO-
FÁBRICA LOGOMARCA PRODUTOS QUANTIDADE
DUÇÃO
Farmácia e cos-
Wheaton W 1952 52
méticos
Farmácia, Cosmé-
Santa Marina SM 1896/1901 ticos e alimentos/ 28
bebidas
1907/1913/
Nadir Figueire- Alimentos, artigos
N 1935 1
do (1935) de mesa
Artigos de mesa/ 6
Cisper C/CISPER/CI/Ci 1918
garrafas
INÍCIO DA PRO-
FÁBRICA LOGOMARCA PRODUTOS QUANTIDADE
DUÇÃO
?
A.G.W. ? Farmácia 1
?
V ? Farmácia 1
Ibimedical
Inscrições na
S/marca Cremizin/Floren- Farmácia
tampa plástica
zini
No corpo do
- grappette Refrigerante 1
recipiente
No corpo do
S/marca Perfume de Flores Cosmético 1
recipiente
LORENZ…
S/marca Farmácia 1 Na base
AUL…
Escritório (ade-
CJ Goyana 1 No corpo
sivo)
V Tic Tac Farmácia 1 No corpo
Mel poejo para Apresenta varia-
creanças OU ção na inscrição
S/marca Farmácia 2
Mel poejo para as (atualização
crianças português)
Contém dosíme-
S/marca Caçula “mamadeira’’ 1
tro
S/marca Colgate Cosmético 1
(Santa Marina)
Panvermina Remédio 1
SM
British Glass
1992 Making Glass. 3rd edition. Knight Design, London.
Trata-se de um livro (pequeno) sobre a indústria de vidro de uma for-
ma geral, mas que traz uma excelente explicação sobre alguns méto-
dos de fabricação de garrafas semiautomáticas e automáticas e que
foi seguida por muitos autores (Miller e Sullivan e Jones e Sullivan
nesta relação); o mesmo para o método pressed glassware; dá ainda
boas explicações sobre técnicas mais contemporâneas como fabrica-
ção de lâmpadas elétricas.
Busch, Jane
1991 Second Time Around: A Look at Bottle Reuse. Approaches to
Material Culture Research for Historical Archaeologists. George Miller
et al. (comp.). The Society for Historical Archaeology , Pennsylvania,
USA.
Trata da questão da reutilização. Discute a “sobrevida” de vasilhames
nos Estados Unidos nos séc. XVIII e XIX, com destaque para o comér-
cio de garrafas e suas implicações na análise destes artefatos. Muito
citado em diversos estudos.
Fike, Richard E.
1987 The Bottle Book. A Comprehensive Guide to Historic, Embossed
Medicine Bottles. Gibbs M. Smith, Salt Lake City, USA.
É um catálogo para identiicação de medicinais. Antes do catálogo
há um capítulo dedicado à interpretação de cor e forma. O catálo-
go, bastante amplo, foi criado com base em coleções arqueológicas
e anúncios. No im há uma bibliograia comentada que é excelente.
Embora seja uma ótima fonte para identiicação de peças, deve ser
usado com cautela, pois eu já encontrei algumas imprecisões; o leitor
deve ser também persistente ao consulta-lo porque o índice é muito
confuso.
Handall, Mark E.
1971 Early Marbles. Historical Archaeology, 5: 102-106.
Discute as técnicas de manufatura, tipos e cronologias das bolas de
gude de pedra, cerâmica e de vidro, ressaltando o potencial deste
tipo de artefato para deinição de cronologias.
Hill, Sarah
1982 An Examination of Manufacture-Deposition Lag for Glass
Bottles From Late Historic Sites. Archaeology of Urban America: The
Search for Pattern and Process. Roy J. Dickens Jr. (ed.), Academic Press,
New York. P. 291-327.
Trata-se de um estudo sobre o intervalo manufatura-deposição exis-
tente em três sítios. Anterior ao estudo, discute a aplicação da fór-
mula South para as garrafas, os vários processos pelos quais passa o
vasilhame até ser depositado no sítio (incluindo a reciclagem), seus
conteúdos e inferências possíveis. No estudo, aplica a fórmula Sou-
th, discorrendo a seguir sobre o comportamento das frequências em
que cada grupo de artefatos aparece em cada sítio. Sua interpretação
está centrada na observação de padrões de consumo.
Hume, Ivor Noel
1969 Artifacts of Colonial America. Vintage Books, New York, USA. P.
60-76.
Há capítulos dedicados às garrafas de bebidas alcoólicas e medici-
nais. No primeiro, destaque para as formas datadas de garrafas “de
vinho” que permitem que acompanhemos a evolução deste tipo de
artefato; destaque também para as case bottles – ele faz algumas con-
siderações sobre este tipo de garrafa e na literatura pouco encontra-
mos sobre elas; nos medicinais ele apresenta também algumas dis-
cussões e ilustrações de peças dos séculos XVII, XVIII e início do XIX,
também com aparições muito raras na literatura.
Jones, Olive R.
1971 Glass Bottle Push-ups and Pontil Marks. Historical Archaeolo-
gy, 5: 62-73.
Este artigo é um clássico. Deine e discute os push-ups e marcas de
pontel. Inicialmente fornece uma explicação sobre o porque da pre-
sença dos push-ups que mais complica do que esclarece; em seguida
apresenta os tipos de push-ups e de ponteis utilizados em garrafas e
como reconhece-los na peça, com respectivas medidas e traços diag-
nósticos; apresenta também cronologias para cada tipo. É um traba-
lho de referência para quem precisa entender as marcas de push-up
e de pontel, útil sobretudo para quem trabalha com o séc. XVIII e pri-
meira metade do XIX.
Jones, Olive R.
1983 The Contribution of The Ricketts Mould to the Manufacture
of the English “Wine” Bottle, 1820-1850. Journal of Glass Studies, 25:
167-77.
É um artigo ótimo sobre os moldes Ricketts, fornecendo cronologias
muitos estreitas.
Jones, Olive R.
1983 London Mustard Bottles. Historical Archaeology, 1983: 69-84.
Especíico sobre as garrafas de mostarda, cuja forma é bastante pecu-
liar. Apresenta suas principais características e a história de sua pro-
dução na Inglaterra e Estados Unidos (sobre as garrafas de mostarda
ver também Jones, 1993 nesta relação).
Jones, Olive R.
1986 Cylindrical English Wine e Beer Bottles. 1750-1850. National His-
toric Parks and Sites Branch/ Environment Canada - Parks, Canada.
A grande polêmica. É um estudo que foi realizado em garrafas “de vi-
nho” cilíndricas inglesas datadas (se não me engano quase todas com
selos) e outras não datadas visando estabelecer critérios de datação.
Ela apresenta sucintamente as técnicas de manufatura do período e
o uso dos vasilhames e como a cronologia foi estabelecida. A seguir
apresenta cronologias para o topo, corpo e fundo. Discute ainda mé-
todos de mensuração (melhor descritos em Jones e Sullivan nesta
relação) e capacidades. Embora a cronologia para a forma das garra-
fas seja muito interessante, deve ser visto com muita cautela porque
a autora se refere exclusivamente às garrafas inglesas, longe de ser
uma fórmula mágica, pois sabemos que pelo menos os padrões fran-
ceses eram diferentes em muitos aspectos.
Jones, Olive R.
1993 Commercial Foods, 1740-1820. Historical Archaeology, 27(2):
25-41.
Apenas um tópico do artigo é dedicado ao vidro, mas é interessante
porque integra como via analítica a identiicação dos vasilhames aos
anúncios. Ao discutir o vidro ela associa forma, tamanho e capacida-
de das peças aos conteúdos, dentro da proposta do artigo; faz ainda
algumas considerações sobre a questão da reutilização de garrafas,
extremamente importante (para esta discussão ver também Adams,
W. Historical Archaeology Strove for Maturity in the Mid-1980s. His-
torical Archaeology, 27(1): 30 e nesta relação Busch e Hill).
Lorrain, Dessamae
1968 An Archaeologist Guide to Nineteenth Century American
Glass. Historical Archaeology, 2: 35-44.
É um excelente panorama das técnicas para vidro no séc. XIX e acho
que o primeiro trabalho preciso publicado para arqueólogos; muito
do que ela apresentou já foi reinado, mas ainda hoje esse trabalho
é muito citado. Trata basicamente das técnicas de manufatura, apre-
sentando as principais e aponta quais são os traços diagnósticos, com
destaque para os cortes longitudinais que são muito elucidativos; ela
não se restringe só às garrafas; inclui também tampas; no im apre-
senta rapidamente algumas sugestões para categorias hierárquicas.
Miller, George L. e Catherine Sullivan
1991 Machine-Made Glass Containers and the end of Production
for Mouth-Blown Bottles. Approaches to Material Culture Research for
Historical Archaeologists. George Miller et al. (comp.). The Society for
Historical Archaeology; Pennsylvania, USA.
É um ótimo trabalho. Discute especiicamente as garrafas feitas em
máquinas (automáticas e semiautomáticas) e é leitura obrigatória
para quem trabalha com identiicação de garrafas do im do século
XIX e início do XX. Explica, de forma muito clara, todos os processos,
as máquinas e suas patentes.
Newman, T. Stell
1970 A Dating Key for Post-Eighteenth Century Bottles. Historical
Archaeology, 4: 70-75.
Apresenta uma chave de datação para garrafas, com uma introdução
discutindo o problema do intervalo manufatura-deposição (nessa
época acho que ainda não se usava esse termo – ela não o usa, mas
a discussão é muito útil para essa questão). A chave de datação apre-
senta algumas falhas, é simpliicadora e, por esses motivos, não acho
aconselhável usa-la, mesmo porque não sei em que medida isto vale
para o Brasil, mas é interessante para confronto com outras cronolo-
gias.
Schavelzon, Daniel
1991 Arqueologia Histórica de Buenos Aires. La Cultura Material
Porteña de Los Siglos XVIII y XIX. Corregidor, Buenos Aires. P.104-142.
Identiica e data alguns atributos, discutindo cor, técnicas de manu-
fatura e forma dos vasilhames, assim como seus conteúdos, confron-
tando os artefatos identiicados em escavações na Argentina com
anúncios. Com ilustrações de peças reconstituídas. Algumas das cro-
nologias que ele apresenta são equivocadas, devendo ser conside-
radas com cautela, mas é interessante porque se referem à América
Latina.
Spector, Janet D.
1976 The Interpretative Potential of Glass Trade Beads in Historical
Archaeology. Historical Archaeology, 10: 17-27.
Sobre contas de vidro. Propõe duas abordagens para análise: uma
etno-histórica e outra arqueológica, buscando contribuir para os mé-
todos descritivos e passos iniciais da análise de contas. Dá algumas
contribuições para a questão das cronologias e estabelecimento de
identidade cultural (com foco na cultura indígena).
Sprague, Roderick
1985 Glass Trade Beads: A Progress Report. Historical Archaeology,
19(2): 87-102.
Sobre contas de vidro. É um excelente panorama das técnicas de ma-
nufatura desta classe de artefatos e tipos; fornece também cronolo-
gias; conclui com algumas sugestões de níveis de análise, incluindo
análise de laboratório, histórica e cultural.
Staski, Edward
1991 Just what Can a 19th Century Bottle Tell Us ? Approaches to Ma-
terial Culture Research for Historical Archaeologists. George Miller et al.
(comp.). The Society for Historical Archaeology, Pennsylvania, USA.
Trata-se de um estudo sobre o consumo de bebidas alcoólicas com
base em pesquisas do lixo contemporâneo do Garbage Project. O ob-
jetivo do artigo é discutir etnicidade. A partir daí o autor apresenta
algumas possibilidades de análise dos artefatos de vidro. Muito cita-
do em diversos estudos.
Toulouse, Julien
1970 Fruit Jars. Thomas Nelson Inc., New Jersey, USA.
É um catálogo bastante completo para identiicação deste tipo de ar-
tefato. Anterior ao catálogo a autora apresenta os principais vidreiros
e sua história, assim como os tipos. O catálogo é uma referência in-
substituível para quem está ocupado em identiicar potes de frutas.
Toulouse, Julien
1972 Bottle Makers and Their Marks. Thomas Nelson inc, New York.
É também uma referência única e da maior importância para
identiicação de marcas. Muito completo. É raríssimo.
White, John R.
1978 Bottle Nomenclature: A Glossary of Landmark Terminology
for the Archaeologist. Historical Archaeology, 12: 58-67.
Discute brevemente o problema da terminologia na literatura: a falta
de uniformidade e deinições precisas, apresentando em seguida um
glossário ilustrado, que embora extremamente reduzido, se propõe
a prestar auxilio neste campo. Não dá para ser seguido à risca, mas é
interessante para resolver dúvidas.
Wyatt, Victor
1966 From Sand Core To Automation: A History of Glass Containers.
Glass Manufacturers’ Federation, London.
É uma excelente introdução. Discute a origem e evolução da
manufatura de peças de vidro (com destaque para a Inglaterra) e das
principais formas: garrafas “de vinho” (com um tópico sobre capaci-
dades), cerveja, soft drinks, conservas, leite, medicinais e toucador;
em seguida fala da tecnologia das peças feitas em máquinas, che-
gando até os dias atuais.
ENCICLOPÉDIA:
Existem outras, mas acho que a do Diderot e D’Alembert é a mais
interessante. Eles descrevem uma oicina de manufatura de vidro
com muitos detalhes. Sobre formas, vale a pena dar uma conferida
na obra de 1865 (sem autor). Ambas existem na Biblioteca Nacional
(Rio de Janeiro).
Diderot e D’Alembert
1772 Verrerie en Bouteiles Chaufée en Charbon de Terre. Recueil
de Planches Sur Les Sciences, Les Arts Libéraux et Les Arts Méchaniques,
Avec Leur Explication. Vol.10.
Sem Autor
1865 Estampas de Sciencias Artes e Ofícios. Paris.
BOTTLE TICKET:
Aqui não estamos mais tratando de garrafas, mas tal como as tam-
pas e rótulos estas peças formaram partes integrantes de garrafas. O
bottle ticket era uma espécie de “colar” que icava no pescoço da gar-
rafa e que também pode ser encontrado em sítios históricos. Há uma
excelente obra sobre o assunto na Biblioteca Nacional, que apresenta
muitos padrões e cronologias:
Victoria and Albert Museum
1958 Bottle Tickets. Victoria and Albert Museum. London.
8. ANEXOS
ANEXO 1
ANEXO 2