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PROJETOS INDUSTRIAIS
Introdução
Capítulo 3. Antropotecnologia
Conclusão
Bibliografia Referenciada
Índice Geral
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Glossário
Anexos
Anexo 1 Planilhas para Levantamento de Campo
ANTROPOTECNOLOGIA - A ERGONOMIA DOS PROJETOS INDUSTRIAIS
Índice Geral
Introdução
Introdução
Capítulo 3. Antropotecnologia
3.1. Considerações iniciais
3.2. A Ergonomia
3.2.1. Ergonomia de projetos industriais e da automação da produção
3.2.2. Problemas ergonômicos da automação
3.2.2.1. Sistemas automatizados de produção - Produtica
3.2.2.1. A automação dos escritórios - Burótica
3.2.2.3. A indústria de processos contínuos
3.3. A Antropotecnologia
3.3.1. Origem e definição
3.3.2. As bases teóricas da antropotecnologia
3.3.2.1. Ergonomia
3.3.2.2. História das técnicas
3.3.2.3. Sociologia do trabalho
3.3.2.4. Geografia
3.3.2.5. Antropologia
3.3.2.5.1. Antropologia física ou biológica
3.3.2.5.2. Antropologia cultural
3.3.2.5.2.1. Antropologia cognitiva
3.3.2.6. Psicologia cognitiva
3.3.2.6.1. A complexidade do pensamento humano
3.3.2.6.1.1. A exploração perceptiva
3.3.2.6.1.2. Da percepção à ação
3.3.2.6.1.3. O encadeamento das representações e das ações
3.3.2.6.1.4. O papel das ações e da experiência
3.3.2.6.1.5. Alguns dados sobre a memória
3.3.2.6.1.6. A interferência entre tarefas
3.3.2.6.1.7. Situações perigosas (Erro humano X confiabilidade humana)
3.3.2.6.1.7.1. Informação insuficiente sobre o estado da instalação
3.3.2.6.1.7.2. Estabelecimento de um pré-diagnóstico falso
3.3.2.6.1.7.3. Aparecimento de uma situação inteiramente nova
3.3.2.6.1.7.4. Representações que não comunicam
3.3.2.6.1.7.5. Os períodos perturbados
3.3.2.6.1.7.6. As variações do estado do organismo
3.4. Bibliografia Sugerida
Conclusão
Bibliografia Referenciada
Índice Geral
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Glossário
Anexos
CAPÍTULO 1
Figura 1.1. Dimensões assumidas pela tecnologia
Figura 1.2. Os tipos de tecnologia segundo Faria (1992)
Figura 1.3. Categorização da transferência de tecnologia, segundo Wisner (1994b)
CAPÍTULO 2
Figura 2.1 Representação esquemática do modelo triádico das organizações, segundo uma
visão antropocêntrica
Figura 2.2 Representação esquemática da influência dos aspectos ambientais sobre a
organização
Figura 2.3 Blocos Econômicos, PIB e quantidade de pessoas
Figura 2.4 Participação dos países nos diferentes blocos
CAPÍTULO 3
Figura 3.1 Metodologia para a abordagem antropotecnológica
Figura 3.2 As bases teóricas da Antropotecnologia
Figura 3.3 Algumas das subdivisões da Antropologia
Figura 3.4 Representação Esquemática da Exploração Perceptiva
CAPÍTULO 5
Figura 5.1. A situação de trabalho
Figura 5.2. Controle das tomadas de informação e das ações.
Figura 5.3.a Situação de trabalho com condicionantes
Figura 5.3.b Situação de trabalho com condicionantes
Figura 5.4. Situação de trabalho sem condicionantes (ou com condicionantes controladas
pelo operador)
Figura 5.5. Situação de trabalho com fortes condicionantes (Os objetivos fixados são
alcançados com modificações do estado interno)
Figura 5.6. Situação de trabalho com fortes condicionantes (Os objetivos fixados não são
mais alcançados)
Figura 5.7. Etapas de um Projeto Industrial
CAPÍTULO 6
Figura 6.1.Etapas conceituais da metodologia antropotecnológica - o acompanhamento
ergonômico de projetos industriais
Figura 6.2. Interação do cronograma do projeto industrial com a intervenção ergonômica
Figura 6.3. Esquema geral do formalismo proposto para uma empresa de médio porte
Figura 6.4. Cronograma físico da intervenção ergonômica nas diversas etapas do processo
CAPÍTULO 10
Figura 10.1 Categorias de distância, medidas em centímetros
Figura 10.2 Deslocamentos
CAPÍTULO 11
Figura 11.1 Dados antropométricos de base
Figura 11.2 Planos e Volumes de Trabalho
Figura 11.3.a Limites de esforço recomendados para o Homem no Posto de Trabalho
Figura 11.3.b Limites de esforço recomendados para a Mulher no Posto de Trabalho
Figura 11.3.c Explicação do tipo de esforço, segundo sua natureza
Figura 11.4.a Dimensão dos comandos
Figura 11.4.b Dimensão dos comandos (conjunto)
Figura 11.5 Escolha do tipo de indicador
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
Tabela 2.1 Níveis Hierárquicos de uma Organização
CAPÍTULO 10
Tabela 10.1 Recomendações de níveis de iluminação para diversos tipos de leitura
Tabela 10.2 - Condições de conforto térmico, segundo as estações do ano
CAPÍTULO 11
Tabela 11.1 Recomendações de projeto
Tabela 11.2 Conseqüências provocadas pelas vibrações
INTRODUÇÃO
Estes problemas são muitas vezes apresentados, do ponto de vista técnico, como
doenças de juventude de dispositivos em curso de implantação. Daniellou (1988), porém,
dentro de uma ótica mais abrangente, recomenda que, para que um projeto de concepção
industrial atinja plenamente seus objetivos, torna-se necessário levar em conta os fatores
humanos envolvidos. Remy apud Decoster (1989) salienta que a qualidade dos produtos, a
produtividade e a confiabilidade dos meios de produção dependem de uma boa adequação
entre os sistemas técnicos e as tarefas a serem desenvolvidas, ou seja, dependem de boas
condições de trabalho.
Com relação à transferência de tecnologia entre países, destaca-se que o processo
considerado mais problemático é aquele realizado desde os Países Desenvolvidos
Industrialmente (PDI) até os Países em Vias de Desenvolvimento Industrial (PVDI). Essas
siglas aqui empregadas para designar ambos os grupos de países buscam substituir as
expressões habituais: Países Desenvolvidos e Países em Vias de Desenvolvimento, a fim de
enfatizar que a verdadeira diferença entre os dois não está no desenvolvimento cultural, e
sim nos âmbitos industrial e econômico. Uma série de países hoje desenvolvidos
industrialmente, tiveram como berço de sua cultura, ciência e técnica a Índia, a China, o
Egito ou o México, vistos, apesar disso, como países em vias de desenvolvimento (Wisner,
1981).
Atualmente, existe uma grande preocupação por parte das empresas privadas ou
públicas dos PVDI com a conquista da qualidade e da produtividade, buscando uma maior
competitividade diante da concorrência estrangeira. Assim, a ação de transferir tecnologias
de PDI para PVDI tornou-se bastante comum. Isto porque nenhum dos PVDI pode esperar
que seus cidadãos criem a base de conhecimento exigida para projetar as tecnologias
necessárias ao seu desenvolvimento industrial, posto que elas já existem nos PDI. Em
particular, no Brasil, existem áreas onde se pode desenvolver tecnologia nacional, enquanto
em outras há carência de qualificação em quantidade e qualidade para competir
internacionalmente.
As transferências de tecnologia, como já salientado, não são simples e tampouco
apresentam resultados sempre evidentes. Lasserre apud Villar (1992) descreve um estudo no
qual, a partir da análise de vários processos de transferência internacional de tecnologia no
sentido norte-sul, encontrou que, na grande maioria dos casos, tanto os vendedores como os
compradores deixaram de desenvolver estratégias por ele classificadas como de
desenvolvimento, ou seja, aquelas que trariam benefícios para ambos. Nestes casos, os
parceiros na transferência de tecnologia permaneceram em uma posição, ou de defesa ou
oportunista, revelando a falta de confiança no processo. O autor destaca, ainda, na ausência
de estratégias de desenvolvimento, um alto nível de insatisfação com o funcionamento dos
sistemas transferidos.
Wisner (1994a), a partir do conhecimento e análise de vários casos de transferência
de tecnologia deste tipo, relaciona os sérios problemas que podem ocorrer em virtude de
processos mal conduzidos, como, por exemplo, produção inferior em qualidade e em
quantidade ao que foi previsto, desgaste do material transferido e até mesmo atrofia do
sistema técnico. No plano humano, os riscos apresentam-se igualmente elevados, quais
sejam, acidentes de trabalho e doenças profissionais muito freqüentes, catástrofes
ecológicas, enfermidades relacionadas com o desenvolvimento e o urbanismo predatório que
provoca o aparecimento de várias doenças (paludismo, amebíase, tuberculose, perturbações
mentais).
Acredita este autor que a inadaptação ocorre pela não consideração dos diversos
aspectos relativos à situação do local onde instala-se o empreendimento no país importador,
que estão muito além das análises econômico-financeiras normalmente realizadas. Assim, a
origem de tantos fracassos está fortemente ligada à não realização de um estudo mais
aprofundado, preliminar à aquisição da tecnologia. São negligenciadas, por exemplo,
características (geográficas, climáticas, econômicas, sociais) do país comprador, bem como
de seus trabalhadores (antropométricas, culturais, cognitivas), às quais a tecnologia deve ser
adaptada para se obter uma maior taxa de sucesso. Destaca, ainda, a importância dos aspectos
referentes ao trabalho humano, que representam as condições de trabalho.
É neste contexto de avaliação e busca de melhorias para as condições de trabalho que
se insere a Ergonomia e, especificamente em processos que envolvam transferência de
tecnologia, sua evolução até a Antropotecnologia. Esta última busca adaptar a tecnologia à
realidade do país importador, analisando em que condições os sistemas produtivos
importados podem melhorar o seu funcionamento no local para onde será transferido. As
variáveis de ação consideradas envolvem, além dos aspectos básicos da ergonomia, a
influência que os denominados tecidos industrial, social e cultural possam representar para
o funcionamento satisfatório do sistema.
Neste sentido, na busca de um processo bem sucedido de transferência de tecnologia,
preconiza-se a realização preliminar de um estudo do tipo antropotecnológico, que permitirá
conhecer os sistemas industrial, cultural, habitacional, demográfico, climático, de
transportes, técnico, sócio-econômico, organizacional e dos recursos humanos existentes na
região. Este estudo, realizado conjuntamente com a análise ergonômica do trabalho em
situações de referência, poderá garantir uma melhor adaptação desta tecnologia ao local de
transferência.
É evidente que esta abordagem está mais relacionada a problemas de organização do
trabalho e de formação dos trabalhadores, os denominados aspectos não materiais da
tecnologia (software e humanware), do que sobre o próprio dispositivo técnico a ser
transferido (hardware). Todavia, em uma ótica abrangente, considerando os aspectos
materiais da tecnologia, o arranjo ergonômico das instalações e as interfaces homem-
máquinas serão amplamente considerados.
Kerbal (1990) diz que a contribuição da Ergonomia e da Antropotecnologia podem
ajudar consideravelmente na identificação e no tratamento das condicionantes reais ou
potenciais, suscetíveis de dificultar o funcionamento correto e durável dos sistemas
produtivos transferidos. Esta contribuição pode, assim, favorecer um processo de cooperação
entre a escolha e a concepção dos sistemas de produção, de organização e de formação mais
adequados às necessidades da população e às exigências das situações industriais dos PVDI.
Destaca-se que os problemas relacionados à transferência de tecnologia podem
apresentar-se de maneira diversa, quais sejam, jurídicos, econômico-social, políticos e
humanos. Todavia, neste livro, deseja-se abordar prioritariamente os aspectos humanos da
transferência de tecnologia. Apesar da particularidade do tema, acredita-se que os resultados
a serem obtidos com a difusão deste texto poderão contribuir, de forma significativa, ao
desenvolvimento da Antropotecnologia, isto é, de uma metodologia de análise que possa
permitir, quando da transferência de uma determinada tecnologia, de um país a outro, entre
regiões de um mesmo país, ou de um centro de pesquisa ao setor produtivo, prever as
principais dificuldades da implantação e operação, nas diversas etapas que apresenta o
processo.
O público alvo deste livro são pessoas interessadas em estudar os problemas
relacionados à transferência de tecnologia. O seu conteúdo destina-se, fundamentalmente, a
estudantes e docentes de Engenharia, Administração e Economia, tanto em nível de
graduação como de pós-graduação. Atende a profissionais de empresas industriais ou de
serviços que, por força de suas atividades cotidianas ou pela motivação que a questão
desperta, necessitam de subsídios práticos para entenderem o que é, e como se realiza a
transferência de uma tecnologia.
Este livro está estruturado em 14 capítulos, organizados didaticamente para permitir
a evolução do conhecimento em relação ao seu tema central, os aspectos humanos da
transferência de tecnologia. Assim, o Capítulo 1 analisa as questões referentes à
transferência de tecnologia. Inicialmente são apresentados e discutidos alguns conceitos que
podem assumir os termos tecnologia e inovação tecnológica, bem como a importância destes
termos para as empresas no contexto atual. Em seguida, discorre-se sobre o processo de
transferência de tecnologia, discutindo conceitos, configurações e aspectos históricos,
destacando alguns problemas clássicos que este processo pode apresentar.
O Capítulo 2 discute a situação dos países em relação à tecnologia. Aborda-se a
questão da abertura dos mercados e da formação dos blocos econômicos, dentro de um novo
contexto mundial. Relaciona-se os aspectos demográficos, sociais, econômicos e financeiros
que são enfrentados pelos PVDIs. Trata-se, enfim, da importância da transferência de
tecnologia como fator fundamental ao desenvolvimento industrial.
O Capítulo 3 define a Antropotecnologia, relacionando suas origens, seu
desenvolvimento e suas bases. Aborda a Antropotecnologia enquanto uma evolução da
Ergonomia, e focaliza alguns pontos relativos à Ergonomia dos Projetos Industriais.
Relaciona, dentre outras disciplinas que contribuem para a Antropotecnologia, aspectos da
Antropologia Cultural e da Antropologia Cognitiva. Na Antropologia Cultural, além da
definição, não demonstrados os sistemas de valores e crenças no trabalho. Já na Antropologia
Cognitiva mostram-se aspectos de Psicologia Cognitiva, relacionados às diversas formas de
manifestação da inteligência humana, o conhecimento, a percepção e a memorização.
O Capítulo 4 apresenta alguns estudos de caso, realizados com embasamento na
antropotecnologia, salientando seus principais resultados. Salienta, como principal
contribuição, o destaque da necessidade de adequação dos sistemas técnicos e
organizacionais a uma determinada população, quando de um processo de transferência de
tecnologia.
No capítulo 5 são enfatizados alguns pontos relativos à Ergonomia dos Projetos
Industriais. Inicialmente, relacionam-se os preceitos ergonômicos que regem a análise do
trabalho, a partir da inter-relação entre a atividade de trabalho, saúde e performance dos
operadores. O conceito e as etapas de um Projeto Industrial são colocados, relacionando os
problemas normalmente enfrentados neste processo. Discorre-se, ainda, sobre as
contribuições da Ergonomia e, conseqüentemente, da Antropotecnologia, para otimizar a
gestão de Projetos Industriais.
No Capítulo 6 é apresentada a metodologia antropotecnológica, salientando as
diversas etapas do gerenciamento ergonômico de Projetos Industriais. Destacam-se os
pontos principais da análise do local de transferência e das situações de referência.
Relaciona-se, ainda, as etapas da abordagem ergonômica com o cronograma do projeto.
O Capítulo 7 discorre sobre a análise da população futura de trabalhadores,
destacando a importância desta reflexão. Salienta a contribuição da ergonomia na
determinação dos efetivos, as características importantes da população futura, bem como a
relação entre o envelhecimento e a experiência.
O Capítulo 8 explicita as questões referentes a reconstituições previsíveis da
atividade futura provável. Inicialmente é definida a noção de atividade futura provável, bem
como o seu objetivo. As diferentes etapas, formas e condições, para a implantação destas
reconstituições, são analisadas. Focalizam-se, enfim, algumas questões sobre o prognóstico,
os métodos utilizados, bem como o retorno esperado sobre o produto.
No Capítulo 9 são analisados alguns pontos significativos envolvendo a participação
dos trabalhadores na concepção de um projeto industrial. Discorre-se sobre as instâncias
representativas, as formas de informação/consulta das instâncias legais e a importância desta
participação no contexto da abordagem antropotecnológica.
Os Capítulos de 10 a 14 explicitam as questões mais relevantes relativas aos cinco
campos destacados para o gerenciamento de Projetos Industriais, a saber: locais e espaços
de trabalho, equipamentos materiais, interfaces e softwares, organização do trabalho e
formação. Assim, o Capítulo 10 refere-se à concepção ergonômica dos locais e espaços de
trabalho, relacionando os termos de referência, a concepção arquitetônica, as recomendações
e os meios para reconstituir a atividade futura neste campo.
O Capítulo 11 trata da concepção de ferramentas, equipamentos e máquinas,
discorrendo sobre os aspectos importantes relativos às recomendações ergonômicas, à
definição destes materiais e ao acompanhamento da evolução da obra, no que diz respeito a
este campo. O Capítulo 12 envolve a concepção ergonômica de dispositivos de apresentação
da informação, dos comandos e dos softwares. Salienta os pontos significativos na relação
entre estes dispositivos e as características da inteligência humana. Apresenta a questão da
documentação que acompanha o sistema produtivo, com um destaque especial aos aspectos
envolvidos na tradução de documentos técnicos.
O Capítulo 13 discute a organização do trabalho a partir de conceitos, determinantes,
evolução histórica e contribuições possíveis, a partir da abordagem antropotecnológica. No
Capítulo 14 são analisados alguns aspectos envolvendo a formação dos trabalhadores.
Salienta a contribuição que a Ergonomia e sua evolução até a Antropotecnologia podem
prestar à definição, implantação e avaliação de um programa de formação.
Finalmente, são apresentadas algumas observações conclusivas sobre a proposição
desta nova abordagem. Em anexo, são colocados esquematicamente os documentos que
podem ser propostos para viabilizar o gerenciamento ergonômico de Projetos Industriais.
Visando facilitar a consulta e o aprofundamento de tópicos específicos, a
apresentação das referências bibliográficas é realizada em momentos distintos. Ao final de
cada capítulo constam, como Bibliografia Sugerida, tanto o material referenciado como
aquele cuja consulta possa enriquecer o entendimento das informações específicas deste
capítulo. Como Bibliografia Referenciada relaciona-se, ao final do volume, todo o material
referenciado no texto.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
KERBAL, A. La genèse du mode dégradé en milieu industriel. Le travail humain, Paris,
Tome 53, n. 4, p. 369-373, 1990.
OCDE. Nouvelles technologies, une stratégie socio-economique pour les années 90.
Rapport. Paris: OCDE, 1988.
PORTER, M.E. The competitive advantage of nations. New York: Free Press, 1982.
CAPÍTULO 1
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
Através dos tempos, o homem tem buscado métodos e processos de trabalho que minimizem o esforço
e aperfeiçoem o resultado na produção dos bens que necessita. Assim, se no início da atividade laboral
o trabalho era executado com as mãos, a evolução ocorreu no sentido da utilização de ferramentas,
máquinas de acionamento mecânico e, atualmente, equipamentos automatizados. A tecnologia pode ser
considerada, então, como uma potente força no sentido de poder estender as capacidades humanas.
Capacidades físicas, com a revolução industrial, e capacidades mentais, com a revolução da informática
(Gonçalves et all, 1993).
Como pôde ser observado, as definições para o termo tecnologia são quase tão
numerosas quanto os autores que discutem este assunto. Algumas são bastante restritivas,
associadas diretamente a questões materiais, físicas e concretas, sendo inerentes aos
equipamentos utilizados na produção de bens, tal como a primeira definição citada. Outras
apresentam-se mais abrangentes, envolvendo também fatores conceituais e abstratos, e
relacionando todos estes aspectos na interação com o homem. Para o entendimento e
discussão deste tema, analisa-se que algumas outras observações são importantes.
Chiavenato (1982) salienta que a tecnologia apresenta uma ampla área de
conhecimentos intencionais, cujo conteúdo pode advir de diversas ciências. A distinção entre
tecnologia e ciência pode ser feita na consideração de que a tecnologia pode ignorar as causas
dos fenômenos que utiliza e encontra-se estreitamente ligada a preocupações de ordem
econômica.
Rosenthal et all (1992) destacam dois pontos interessantes. O primeiro envolve a
consideração de que tecnologia é antes de tudo conhecimento, mais especificamente,
conhecimento útil no sentido a ser aplicado, ou aplicável, às atividades humanas -
especialmente, mas não exclusivamente àquelas ligadas aos processos de produção,
distribuição e utilização de bens e serviços - e de contribuir para a elevação quantitativa e/ou
qualitativa dos resultados de tais atividades e processos. O segundo diz respeito à origem
destes conhecimentos, que pode ser em grande medida científica, mas que abrange também
uma importante parcela de experiências e conhecimentos práticos, adquiridos e acumulados
no exercício da atividade à qual a tecnologia se refere.
Habert (1992) mostra a definição da antropologia na qual a tecnologia é um bem
cultural que pode ser desenvolvido através da habilidade e do treino, ou seja, a ligação entre
o homem e a língua, entre o homem e a técnica, significando que não se pode desligar a
tecnologia do homem e da cultura. Nesse sentido, se pode evoluir para a colocação de Perrin
(1984) de que a tecnologia pode ser considerada como uma mercadoria, quando é
comercializada por aqueles que a detêm, ou como resultado de um sistema econômico,
social, político e cultural particular, quando esta comercialização prevê uma necessária
adaptação.
Assim, considerando esta perspectiva mais ampla, Wisner (1992c) ressalva que a
tecnologia não é somente uma questão de máquinas ou de ciências aplicadas, sendo,
essencialmente, uma interface na interação do homem com seu ambiente, uma ferramenta
que, por sua vez, o ajuda na conquista da natureza e tem um efeito direto na sua vida em
sociedade.
A tecnologia é dinâmica e apresenta uma evolução constante, sendo considerada um
aspecto importante no desenvolvimento de uma empresa, de um setor industrial e de uma
nação. Stewart Jr. et all (1987) mostram-na como o novo e melhor caminho para alcançar
objetivos econômicos e permitir o crescimento e o desenvolvimento social.
A busca constante por inovações tecnológicas determina uma relação entre aqueles
que desenvolvem e/ou detêm a tecnologia e aqueles que vão utilizá-la em um processo
denominado transferência de tecnologia. Este termo é definido por Ong (1991) como o
processo de introduzir um conhecimento tecnológico já existente onde ele não foi concebido
e/ou executado. Este processo pode ocorrer em diversas esferas, por exemplo, entre
laboratórios de pesquisa e empresas, entre unidades do mesmo setor produtivo ou entre
países.
A transferência de tecnologia entre países é um processo definido pela OIT (1988),
como a exportação de tecnologia de um país a outro segundo diversas modalidades, tais
como, construção de fábricas e plantas industriais completas, importação de equipamentos e
componentes, financiamento de projetos de industrialização e infra-estrutura, envio de
especialistas estrangeiros como consultores e formadores de pessoal local.
Analisando-se a tecnologia como um conceito ampliado, destaca-se que a
transferência engloba não somente as máquinas, mas também sua combinação - sistemas de
produção - assim como a colocação em marcha. Envolve tudo o que vai do modo de
utilização à organização do trabalho, incluindo a manutenção, o controle de qualidade, a
formação do pessoal e sua condição de vida no trabalho e fora dele (alojamento, transporte,
alimentação, serviços de saúde, etc.).
A transferência de tecnologia constitui-se numa atividade que remonta aos
primórdios da humanidade. Assim, durante muito tempo ocorreu no sentido leste-oeste (da
Índia e da China para os países europeus) e sul-norte (do mundo islâmico para a Europa)
antes de sofrer as inversões dos séculos recentes.
Mas, os resultados obtidos com esse processo nem sempre satisfazem às expectativas
do comprador, uma vez que a tecnologia transferida, muitas vezes, ou funciona de modo
degradado, ou, só funcionou no momento da operação piloto. O funcionamento em modo
degradado é definido por Kerbal (1990), como a tecnologia que sofre freqüentes rupturas,
causando sérios problemas sobre a eficiência da produção e especialmente sobre as
condições de trabalho.
Perrin (1984) diz que os obstáculos para a transferência de tecnologia para os PVDIs
apresenta origens diversas:
* as tecnologias não são mais detidas por indivíduos isolados, por artesões, mais por
empresas ou laboratórios de pesquisa. Transferir a grande diversidade de conhecimentos e
de experiência adquiridos por estas empresas é um processo complexo e longo;
* todas as informações são fonte de poder e as empresas detentoras de tecnologia
podem ter interesse, em certos casos, de recusar a venda. Em outros casos, a venda se fará
em contrapartida de restrições comerciais, técnicas ou de uma obrigação de compra de
máquinas e produtos intermediários ou de acesso privilegiado a mercados;
* o sistema de informações e de representação simbólica utilizados pelos homens,
em suas memórias, para produzir, está em forte interação com aquele utilizado para organizar
seu modo de vida. Toda aprendizagem técnica é ao mesmo tempo uma aprendizagem social;
* para ser adquirida, uma tecnologia deve se integrar ao sistema de representação
daquele que a está adquirindo. Este processo de integração não é espontâneo e impulsiona
mudanças profundas. Este processo pode ser colocado de uma maneira coercitiva em função
de modelos sócio-econômicos externos e desenvolver uma nova forma de dependência entre
o país vendedor e o país comprador.
Além das questões acima citadas, a transferência de tecnologia no sentido norte-sul,
processo intensificado nos últimos trinta anos, pode resultar em sistemas de produção que
apresentam um funcionamento aquém do esperado. Os efeitos negativos constatados situam-
se, simultaneamente, nos campos econômico, financeiro e da saúde. O sucesso econômico
do empreendimento pode ser ameaçado por diversas causas (Wisner, 1981 e 1984a, b):
* baixa taxa de utilização de máquinas e, conseqüentemente, volume insuficiente de
produção;
* qualidade medíocre dos produtos, comprometendo a exportação e tornando-os
inutilizáveis até mesmo em seu próprio país;
* freqüência elevada de deterioração do material, causada tanto pela inadequação das
condições ambientais e organizacionais de funcionamento, como por manutenção deficiente
e manipulação incorreta.
A partir destas questões ligadas à produção pode ocorrer o comprometimento de
aspectos financeiros do empreendimento resultando que:
* a empresa apresenta-se sem condições de oferecer aos operadores uma situação
adequada do ponto de vista salarial, de benefícios sociais e de condições de trabalho;
* pode ocorrer que a empresa ou o governo, a partir do insucesso inicial, busquem
um novo financiamento para manter o empreendimento em atividade e, assim, possibilitar o
pagamento das dívidas anteriores. Este procedimento leva a um aumento da dependência
diante dos organismos de empréstimo, podendo ter reflexos negativos quando de
negociações posteriores.
Já uma relação desfavorável ou inapropriada entre o dispositivo técnico (em sua
acepção mais ampla, incluindo localização, funcionamento e problemas de produção) e os
operadores pode determinar que a saúde destes últimos seja atingida de várias maneiras:
* alta freqüência de acidentes de trabalho e de trajeto;
* aumento significativo de doenças profissionais e outros problemas fisiológicos
ligados ao trabalho;
* aparecimento de distúrbios ligados ao desenvolvimento social e industrial. Entre
estes destaca-se a urbanização, normalmente rápida e desordenada, podendo ocasionar
problemas como inadequação de habitações e saneamento básico, bem como transportes
urbanos excessivamente longos e difíceis.
Uma maior especificação destes desajustes será feita nos tópicos seguintes que
relacionarão as grandes categorias da transferência de tecnologia e os problemas clássicos
que processos deste tipo podem apresentar.
2) A transferência total
A transferência total quer designar uma situação quase oposta à anterior, onde devido
à natureza dos fabricantes, o que é transferido não é mais o velho dispositivo de produção,
mas o que há de mais moderno. Trata-se habitualmente de firmas multinacionais que vendem
o mesmo produto no mundo inteiro, devendo obter a mesma qualidade em todos os seus
centros de produção.
Assim, a empresa transfere não somente o mesmo dispositivo técnico, mas a
organização do trabalho e o dispositivo de formação, os mais recentes. Faz-se, então, a
seleção dos seus funcionários utilizando critérios bastante severos. Em contrapartida, muitas
delas oferecem aos seus empregados alojamentos, meios de transporte, escola para os seus
filhos e assistência médica aos seus familiares. Assim, constituem-se as denominadas ilhas
antropotecnológicas, nas quais se observam características bem próximas daquelas do país
de origem da tecnologia, incluindo-se as mesmas patologias (depressões nervosas na
eletrônica, por exemplo), mas também os mesmos benefícios (baixa taxa de acidentes, de
“turn over” e de absenteísmo).
Uma resultado importante que pode ser tirado do sucesso dessas ilhas
antropotecnológicas em diferentes países é a comprovação de que não existem diferenças
nas capacidades cognitivas fundamentais dos trabalhadores pertencendo aos diferentes
povos e civilizações. Um estudo realizado por Meckassoua (1986) a esse respeito mostra que
um indivíduo centro-africano, tendo passado sua infância e sua adolescência em uma vila
longe da civilização técnica moderna, pode elaborar, sem formação adequada, uma imagem
operativa de um dispositivo de produção bastante complexo que ele devia controlar.
Outro fato é que estas ilhas são bem vistas universalmente e, considerando o seu
sucesso técnico e humano, são as mesmas mostradas primeiramente aos visitantes oficiais.
Em certos países da Ásia, difundiu-se por muito tempo as transferências totais, objetivando-
se a formação de ilhas geográficas. Singapura é o melhor exemplo disto, com o fato histórico
de sua ruptura com a Malásia, ao passo que no Japão a importação exagerada da tecnologia
e da organização do trabalho estrangeiras, se fez sob controle nacional seguida da
constituição de uma poderosa produção nacional de tecnologia e de modos de produção.
Os dados para responder às dificuldades que cada um dos PVDI encontra para se
industrializar comprando dispositivos mais ou menos adequados às suas necessidades são
bastante escassos. A pretensão da antropotecnologia é justamente de contribuir com a
elaboração de algumas respostas neste campo específico. De um lado, analisando os efeitos
negativos da transferência e, de outro lado, as dimensões desata transferência.
Os danos à saúde
A maioria das atividades industriais possuem seus próprios riscos tóxicos. É possível
que certas tecnologias particularmente perigosas sejam objeto de interdição no país
vendedor, mas, quando transferidas para um dos PVDI, estas limitações sejam ignoradas.
Trata-se, portanto, de uma transferência puramente negativa.
Pode acontecer, ainda, que as tecnologias sejam pouco perigosas nas condições
precisas de utilização do país exportador, mas que se tornam temíveis nas situações difíceis
do país importador. É este o caso da interdição pelo Brasil ao uso de um tipo de inseticida
utilizado no tratamento dos canaviais no norte do estado do Rio de Janeiro, após uma
epidemia de lesões neurológicas entre os trabalhadores. Neste exemplo, a transferência é
favorável à produção, porém prejudicial à saúde dos trabalhadores.
As moléstias assim surgidas por ocasião da transferência de tecnologia são as
denominadas doenças do desenvolvimento, afecções diversas que aparecem ou se
desenvolvem predominantemente nessas circunstâncias. O aumento das parasitas nas zonas
irrigadas de países tropicais como Egito e Costa do Marfim, por exemplo, só foi observado
após a construção de barragens. A soma destas parasitas com uma insuficiente alimentação
e com estados sucessivos de gravidez conduziu a uma redução da capacidade de trabalho
das coletoras de chá de Sri-Lanka.
É importante também lembrar dos problemas de higiene mental nas aglomerações
miseráveis que servem de alojamento a muitos operários dos PVDI: a duração excessiva da
jornada de trabalho e dos trajetos, a promiscuidade, insuficiência do sono, choque cultural,
todos esses problemas convergem para provocar, sejam grandes síndromes psiquiátricas, ou,
mais freqüentemente, síndromes depressivas marcadas por atos agressivos de alguns
operários em relação aos outros ou em direção a si mesmos.
Embora seja desfavorável na maior parte dos casos de transferência de tecnologia, a
segurança no trabalho é particularmente negligenciada na construção civil, nas obras
públicas e nas minas. Segundo estudo sobre a utilização e a manutenção dos suportes
hidráulicos nas minas de fosfato tunisianas, realizado por Sahbi apud Wisner (1984b), pode-
se observar taxas de acidentes duas a três vezes maiores do que é constatado nos PDI. As
causas dos acidentes são múltiplas: situações de co-atividade com um efetivo numeroso e
mal formado, dificuldades de comunicação (instruções redigidas em língua estrangeira,
executivos que mal conhecem a língua dos trabalhadores), más condições de conservação e
utilização do material.
A Baixa Produtividade
2) As Dimensões da Transferência
O controle da transferência
1) Geografia
Dentro dessa condicionante está o caso de muitos PVDI que se situam em clima
quente, o que faz surgir problemas difíceis para os trabalhadores, em razão das limitações
da capacidade humana em temperaturas elevadas. As próprias instalações são, por vezes,
sensíveis ao calor elevado, particularmente quando compostas por componentes eletrônicos.
Alguns estudos mostraram exemplos de dispositivos que passaram a funcionar de
forma inadequada em função da má qualidade e da insuficiente quantidade de água. Existem
casos nos quais as fábricas utilizam boa parte do manancial, prejudicando, assim, o
abastecimento de água às cidades vizinhas. Além disso, os cortes bruscos da corrente elétrica
e as oscilações na tensão provocam alterações nos sistemas automatizados, prejudicando a
continuidade e a confiabilidade dos mesmos, com freqüência, causando incidentes cuja
recuperação evidencia-se cada vez mais difícil.
Entre os problemas de origem geográfica, destacam-se os relacionados às áreas de
circulação, ressaltando-se os seguintes pontos:
* se a matéria-prima precisa fazer grandes trajetos em rodovias em más condições, a
qualidade pode ficar comprometida, principalmente quando se trata de produtos perecíveis
ou sensíveis;
* as más condições das rodovias podem acelerar a deterioração dos caminhões;
* outro fator importante a ser levado em conta, diz respeito ao transporte entre a
fábrica e o local de moradia dos trabalhadores, envolvendo tanto a distância a ser percorrida
como as condições dos acessos e dos meios de transporte.
Enfim, todos estes inconvenientes de origem geográfica devem ser levados em conta
pois, a possibilidade de redução ou eliminação dos mesmos, normalmente, exige altos
investimentos, solução praticamente inviável nos PVDIs onde há justamente carência de
recursos financeiros.
2) Tecido Industrial
Em muitos casos, a preocupação dominante dos dirigentes dos PVDI é obter a melhor
tecnologia nas condições financeiras mais favoráveis. Todavia, em alguns casos, essas
preocupações financeiras, apesar de legítimas, podem assumir tamanha proporção, a ponto
do financiamento e da opção por um sistema técnico determinado, estarem de tal forma
vinculados que não permita uma solução técnica satisfatória para o país importador. É o
caso, por exemplo, de muitas importações de instalações, máquinas e equipamentos,
realizadas com o leste europeu, normalmente negociadas por troca de exportação de café,
em condições financeiras favoráveis, mas tecnicamente bastante discutíveis.
Atualmente, grande número de empresas adotam o sistema just-in-time de produção,
onde busca-se a redução dos estoques a zero. Pode-se então avaliar o prejuízo quando se é
obrigado a formar estoques de matéria-prima, porque, por exemplo, não é garantido o
abastecimento de produtos semi-acabados para a indústria têxtil, devido a enchentes no Vale
do Itajaí, em Santa Catarina. Ou ainda quando o governo, por razões de controle do déficit
na balança comercial, aumenta as alíquotas de importação, atingindo involuntariamente
produções ou peças indispensáveis, cuja não substituição influi na degradação do sistema
técnico.
4) Tecido Social
PERROW, C.B. Análise organizacional: um enfoque sociológico. São Paulo: Atlas, 225
p., 1976.
SINAIKO, H.W. Verbal Factors in Human Engineering: some cultural and psychological
date. In: CHAPANIS, A. Ethnic variables in human factors engineering. John Hopkins
University Press: Baltimore, p. 159-177, 1975.
STEWART JR, C.T.; NIHEI, Y. Technology transfer and human factors. Lexington
(USA): Lexington Books, 1987.
Figura 2.1 Representação esquemática do modelo triádico das organizações, segundo uma
visão antropocêntrica
AMBIENTE GERAL
AMBIENTE DE TAREFA
É o ambiente mais próximo e imediato de cada organização, o segmento do ambiente
geral da qual uma determinada organização extrai as suas entradas e deposita as suas
saídas. Representa o ambiente de operações de cada organização. O ambiente de tarefa
é constituído por:
a) Fornecedores de Insumos
Que são os recursos materiais, recursos financeiros, recursos humanos, etc.
b) Clientes ou Usuários
São os consumidores das saídas da organização.
c) Concorrentes
Cada organização não está sozinha, nem existe no vácuo, mas disputa com outras
organizações os mesmos recursos, entradas, e os mesmos consumidores de suas
saídas. Daí os concorrentes quanto a recursos e os concorrentes quanto a
consumidores.
d) Entidades Reguladoras
Cada organização está sujeita a um conjunto de outras organizações que procuram
regular ou fiscalizar as suas atividades. É o caso dos sindicatos, associações de classe,
órgãos regulamentadores do governo, órgãos de proteção ao consumidor, etc.
Num contexto de globalização, existe, sem dúvida, o risco de que os vários acordos
de livre comércio possam influenciar sobremaneira os fluxos de produtos e serviços
existentes, através de uma discriminação de países exportadores que não fazem parte do
acordo. A tendência em direção a políticas protecionistas não ocorre, porém, em função dos
acordos de livre comércio e sim, da ocorrência recessão econômica. Por outro lado, observa-
se que dentro desse contexto, de globalização, a tendência é cada vez mais, pela utilização
de barreiras não tarifárias, do tipo normativas, como por exemplo asa normas ISO:
ISO 9000 referentes à qualidade;
ISO 14000 referentes à gestão ambiental (selo verde);
ISO 22000 referentes à gestão social do trabalho (selo social)
A partir destas breves considerações sobre a globalização da economia mundial,
pode-se estabelecer duas categorizações da formação de blocos econômicos:
a) Do ponto de vista da estruturação em mercados regionais, conforme figuras 2.3 e
2.4, os países estão divididos em vários blocos: NAFTA, U.E., MERCOSUL, etc.
CAPÍTULO 3
A ANTROPOTECNOLOGIA
3.2 A ERGONOMIA
Os métodos que serão desenvolvidos neste livro visam prevenir problemas, aos quais
são confrontados os trabalhadores e os empresários, quando da implantação de novas
tecnologias. Neste sentido, é importante apresentar, num primeiro momento, os resultados
de análises de trabalho efetuadas, a posteriori, nos diversos setores da atividade humana.
Neste sentido, é necessário que esta abordagem seja convergente com a estrutura do
projeto industrial, procurando influenciá-lo nas suas diversas etapas.
No âmbito deste livro, o interesse coloca-se justamente nas dificuldades de adaptação
de uma tecnologia transferida à nova realidade, levando-se em consideração as diversas
dimensões do empreendimento para a garantia dos resultados esperados sem, contudo,
degradar as condições de vida e de trabalho dos operadores do sistema. A viabilização desta
análise será feita a partir dos princípios propostos pela Ergonomia, ampliados pela
Antropotecnologia.
3.3 ANTROPOTECNOLOGIA
1) Ergonomia
3) Sociologia do Trabalho
4) Geografia
5) Antropologia
• Antropologia Cultural
A antropologia cultural abrange o estudo do homem como ser cultural, isto é, fazedor
de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e
desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. A cultura, para os antropólogos, é a forma
de vida das pessoas - a soma de seus padrões comportamentais aprendidos, atitudes,
costumes, e coisas materiais. No vasto campo da antropologia cultural chama-se a atenção
para os estudos referentes à antropologia cognitiva e suas contribuições ao processo de
transferência de tecnologia.
Um consenso das definições de cultura para a antropologia é apresentado por
Kluckhohn (1972) para quem "a cultura consiste de uma forma padrão de pensar, sentir e
reagir, adquirida e transmitida principalmente por símbolos, constituindo as realizações
distintivas de grupos humanos, incluindo sua personificação em artefatos; o ponto essencial
da cultura consiste em idéias tradicionais e, especialmente, seus valores inerentes".
Todo ser humano nasce com a capacidade de participar de qualquer cultura, aprender
qualquer idioma, e desempenhar qualquer tarefa, mas é a cultura específica em que ele nasce
e vive que determina o idioma que fala, as atividades que faz segundo sua idade, sexo, e
posição social, e como pensa sobre o mundo em que vive.
A respeito de cultura e tecnologia, Meshkati (1988), formula a seguinte hipótese: "se
são tomadas as precauções concernentes à compatibilidade cultural com os vários aspectos
da transferência de tecnologia, o resultado do processo deverá ser positivo; do contrário a
falha é inevitável”.
A incompatibilidade, quando ocorre, segundo Meshkati, é refletida através de
atitudes em direção ao trabalho, à tecnologia, à organização e aos hábitos de trabalho, aos
costumes e crenças religiosas.
- individualismo x coletivismo
o individualismo uma estrutura social do tipo "nó frouxo", onde os indivíduos cuidam
somente de si mesmos e de suas famílias, enquanto o coletivismo é caracterizado por uma
estrutura social firme, onde faz-se distinção entre os membros de um grupo e os que dele
não fazem parte. Os membros de um grupo (pais, clã, organização) esperam dele receber
cuidados, dando, em troca total lealdade.
-distância do poder
indica o quanto uma sociedade aceita a distribuição desigual do poder em instituições e
organizações.
- controle da incerteza
critério que mostra o quanto uma sociedade sente-se ameaçada pela incerteza e pelas
situações ambíguas e tenta evitá-las oferecendo maior estabilidade no emprego,
estabelecendo um número maior de regras formais, não tolerando idéias e comportamentos
diferentes, e acreditando em verdades absolutas.
- a masculinidade
expressa o quanto são masculinos os valores dominantes em uma sociedade, como por
exemplo, a imposição, aquisição de dinheiro e coisas, a despreocupação com os outros e com
a qualidade de vida. Feminilidade é o pólo oposto.
• Antropologia Cognitiva
Na definição de Casson (1981), a Antropologia Cognitiva é um sub-campo da
antropologia cultural onde se exploram as inter-relações entre a linguagem, a cultura e a
cognição. As palavras usadas para designar os objetos, eventos e atividades importantes para
o homem são desde, longa data, o objeto de pesquisa dos antropólogos.
O objetivo principal deste campo é entender e descrever o mundo dos indivíduos, em
outras sociedades, com seus próprios termos, e como isto é concebido e sentido pelas
próprias pessoas. Em última análise é buscar evitar o julgamento de padrões culturais de
outros grupos de acordo com um referido padrão (evitar o etnocentrismo). Nessa nova
perspectiva que é novo e crucialmente importante não é a ênfase no estudo de outra
sociedade, mas o fenômeno mental subjacente à linguagem.
A evolução da antropologia cognitiva pode ser vista em Dougherty (1985) que a
mostra desde a gênese do seu conceito a partir das definições de cultura. Em 1871, TYLOR
caracterizava a cultura como " o todo complexo que inclui o saber, a crença, a arte, a lei, a
moral, o costume e tudo aquilo adquirido pelo homem como membro da sociedade". Em
1930, BOAS incluía um conjunto de fenômenos ainda mais amplo sob o termo de cultura,
acrescentando-lhe todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações
do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo no qual ele vive e os produtos das atividades
humanas determinadas por estes hábitos. Em meados de 1957, houve uma redefinição do
conceito de cultura, quando então Goodenoug define-a como cognição: "a cultura de uma
sociedade consiste em tudo aquilo que alguém deve saber ou crer para poder se comportar
de forma aceitável por seus membros. Cultura não é um fenômeno material; não consiste de
coisas, comportamentos, ou emoções. Mas é sim a forma como estas coisas estão
organizadas na memória, seus modelos para percebê-las, relacioná-las, ou interpretá-las." A
partir dessa redefinição é que surge a antropologia cognitiva. Em resumo, enquanto antes a
cultura era definida como os eventos e comportamentos incluídos no mundo físico, passou
a ser, posteriormente, um sistema de conhecimento.
− * Linguagem
A linguagem e a cultura estão inteiramente ligadas, visto que a última é inteiramente
formada pela primeira. Assim a compreensão da linguagem é um pressuposto para entender
a cultura. Inclusive propuseram uma teoria que sugeria reduzir a análise do pensamento à
análise do discurso e entender a diversidade étnica a partir das diferentes linguagens. Mas,
conforme Gatewood (1985), o pensamento não tem o caráter de código formal da linguagem,
pois é multiforme e, em muitos casos, "a ação fala mais alto do que as palavras".
No entender de Wisner (1994a), muitas atividades são difíceis de explicar e muitas
palavras não correspondem a nenhuma ação precisa. Acrescenta no entanto, que o inventário
dos vocabulários específicos ao trabalho, quer sejam étnicos, quer sejam profissionais,
trazem muitas informações sobre as áreas de conhecimento. Quanto mais vasto e preciso um
vocabulário, melhor conhecido é o trabalho correspondente. Porém é compreensível que
seja difícil traduzir para o inglês ou francês os inúmeros matizes do vocabulário dos
cameleiros do Saara ou dos pescadores Pulawat. E é essa não-abrangência entre os vocábulos
originais e os exigidos pela produção industrial que leva segundo Wisner à introdução
maciça de palavras estrangeiras na língua do país importador já que não há como traduzi-
los. Convém aqui mencionar a tradução dos manuais que, às vezes, pouco ou nada
contribuem para o funcionamento do dispositivo técnico.
− * Cognição
Lévi-Strauss (antropólogo francês) estudando sobre a universalidade da cognição
humana, afirma em seu livro, O Pensamento Selvagem (1962), que "não existe diferença
significativa entre as capacidades mentais dos povos civilizados e primitivos". Muitos
povos, embora não conhecendo a escrita, utilizam-se de um estilo de pensamento em que as
qualidades sensíveis dos objetos e dos organismos (tamanho, cor, cheiro) são empregadas
na construção das categorias e na realização das operações lógicas, mais do que as qualidades
abstratas que a ciência ocidental considera úteis (massa, freqüência, aceleração, etc.).
Quanto ao aspecto cognitivo, também Wisner (1984a), coloca que as diferenças entre
países ou raças estão longe de serem óbvias. Em outros termos, afirma que não existem
diferenças significativas em relação às capacidades cognitivas básicas entre homens de
diferentes sociedades e culturas, embora, segundo Meshkati (1986), possam ser notados
algumas diferenças entre os níveis de desempenho dos seres humanos. atendendo a diversas
tarefas. Contudo, isto não é causado pelas disparidades nas capacidades cognitivas dos
indivíduos, senão por fatores como:
* complexidade cognitiva individual,
* habilidade psicomotora e
* a forma de processar a informação.
Entre alguns trabalhos, orientados pelo Professor Alain Wisner, onde fica
evidenciada a universalidade da cognição humana, está o de Meckassoua (1986), que
aprofundou a questão das capacidades cognitivas dos diversos povos, em seu trabalho de
doutorado. Ele mostra, particularmente, a indiscutível capacidade de regulação do operador
de uma cervejaria em Bangui e que, apesar de analfabeto, criado em um vilarejo cuja cultura
é baseada na queimada, na olaria, na caça e pesca, é capaz de construir uma representação
operatória mais vasta e complexa que o operador correspondente no país de origem da
tecnologia (França). Em Bangui, a extensão e a complexidade da representação, são
necessárias em função das inúmeras imperfeições do dispositivo técnico, que exigem, por
isso, uma maior capacidade cognitiva para fazer funcioná-lo, corrigindo, assim, os danos
gerados pelas condições de transferência.
Santos (1985), por sua vez, dá uma demonstração indiscutível da fidelidade de
reprodução do comportamento, que pode ser obtida na ocasião da transferência. Em uma
situação normal de trabalho dos operadores de uma sala de controles de metrô, o que
diferencia as séries de movimento dos olhos (mudanças de direção do olhar) não é o local
de trabalho - Paris ou Rio de Janeiro-, mas a experiência anterior do operador como condutor
de trens de metrô. Em caso de incidentes, essas diferenças de comportamento entre Rio e
Paris tornam-se significativas devido à má qualidade da transferência de organização do
trabalho
A obtenção da uniformidade de resultados em todos os países pode ocorrer nas
chamadas " ilhas antropotecnológicas" : usinas, aeroportos, bancos e hotéis que funcionam
no mundo inteiro, dando uma prova clara da capacidade industrial universal entre as
populações mundiais.
Para finalizar, Meshkati (1986) faz uma análise comparativa dos operadores
trabalhando sobre o mesmo equipamento em dois diferentes países demonstrando
claramente o caráter universal das qualidades cognitivas. A companhia americana Boeing
relatou que os pilotos e os trabalhadores da manutenção vietnamitas, treinados nos Estados
Unidos, desempenhavam suas atividades tão bem quanto os americanos.
Em resumo, ao se transferir um dispositivo técnico um dos principais cuidados que
se deve ter é a adaptação deste às características do raciocínio humano, ou seja , à forma
como o homem trata as informações e toma decisões.
6) Psicologia Cognitiva
O pensamento humano, que se apóia sobre bases biológicas, não pode em nenhum
caso ser assimilado ao tratamento da informação efetuado pelos computadores, mesmo os
mais sofisticados e potentes CRAY. Assim, para facilitar o entendimento, a consideração do
pensamento humano será feita a partir dos seguintes itens:
* A orientação perceptiva
O cérebro humano não recebe passivamente as informações provenientes do mundo
exterior. Ele orienta a exploração deste mundo pelos diferentes sentidos em função da
experiência anterior, dos objetivos perseguidos e dos eventos que ocorrem.
* O pensamento e a ação
Existe uma contínua vinculação entre o tratamento humano da informação e a ação
que é desenvolvida sobre a realidade. Geralmente, a exploração perceptiva, a elaboração de
condutas e o controle dos resultados destas condutas inscrevem-se numa continuidade
cognitiva.
* A memória
A memória humana possui características próprias:
* Capacidade limitada e vulnerável da memória de curto termo;
* Capacidade ilimitada da memória de longo termo, mas dificuldades em relação ao processo
de rememorização (lembranças), isto é, dificuldade em relação ao processo de busca em
memória da informação que se encontra memorizada.
* A elaboração de novas condutas
O homem possui uma capacidade, que lhe é própria, de elaborar condutas em novas
situações não previstas. Evidentemente, estas condutas podem revelar-se mais ou menos
apropriadas. Entretanto, esta característica do raciocínio humano é fundamental na
repartição de tarefas entre o homem e a máquina: o raciocínio heurístico permite ao homem
fazer face a uma situação totalmente imprevista, coisa que as máquinas atuais não possuem.
Em particular, o homem identifica de forma muito mais eficaz que as máquinas atuais
situações "ligeiramente diferentes" de uma situação conhecida. Por outro lado, no que diz
respeito ao reconhecimento de padrões (formas e cores) o homem tem uma capacidade
infinitamente superior às máquinas atuais.
Em ambos os casos, fica o problema da interpretação: o que deve ser privilegiado, a
semelhança ou a diferença?
* As capacidades de comunicação
As capacidades humanas de comunicação permitem ao operador humano comunicar-
se com outros operadores (selecionando o interlocutor) para enriquecer as bases do
tratamento da informação. Da mesma forma, estas capacidades permitem uma coordenação
relativamente flexível entre as ações efetuadas por várias pessoas. Permanece, porém, a
remota possibilidade de uma fixação coletiva sobre um diagnóstico errôneo.
* O tempo de resposta
O raciocínio humano exige prazos que não podem ser reduzidos à vontade. De fato,
o raciocínio não pode ser comparado de forma simples a um dispositivo informático de
processamento da informação. A título de exemplo, pode-se afirmar que nas tarefas de
cálculo o tempo de processamento do cérebro humano é maior do que aquele desenvolvido
pelo computador. Por outro lado, no que se refere ao reconhecimento de formas ou de
configurações complexas, o cérebro humano é consideravelmente superior ao computador.
A EXPLORAÇÃO PERCEPTIVA
Evidentemente, existem sinais que são percebidos, ainda que eles não façam parte do
que foi antecipado. Entretanto, em geral, para que isto ocorra é preciso que eles se imponham
(sejam "salientes") por determinadas características físicas (nível ou freqüência sonora,
luminosidade, cor, "agressividade", etc.). A orientação perceptiva se traduz, de fato, por uma
filtragem considerável dos sinais, sobre os quais a percepção não é focalizada.
DA PERCEPÇÃO À AÇÃO
De acordo com Sperandio (1988), a análise do trabalho deve então determinar para
cada operador humano, para cada tarefa, o grau de necessidade de uma representação mental,
da mesma maneira que há necessidade de memorizar e realizar sínteses entre várias fontes
de informações. Analogamente à memória, a representação mental funciona para várias
tarefas como um apoio aos raciocínios e aos processos de tomadas de informação.
A representação mental, de uma forma geral, tem uma função essencial em todas as
tarefas ditas de diagnóstico, a exemplo do diagnóstico médico, da pesquisa de panes nas
máquinas ou nas instalações técnicas e da pesquisa dos erros nos programas de informática.
A ergonomia cognitiva se interessa pela representação que o operador tem de seus
conhecimentos. Não existe resolução de problemas sem uma certa imagem, sem um
determinado esquema que lhe permita situar espacial, temporal e logicamente as
informações necessárias para o desenvolvimento de sua atividade. Neste sentido, a
representação pode ser comparada a uma rede viária onde, para resolver problema de tráfego,
deve-se procurar uma solução ótima, levando-se em conta os dados referentes aos veículos
e às regras de segurança, os prazos a serem respeitados e o fato de que a rede possa vir a ser
modificada. Na realidade, a representação mental é tanto o resultado das experiências
adquiridas pelo operador humano, como a condição necessária para a aquisição de novas
experiências.
Um determinado sinal poderá não se constituir num signo para o operador. Este caso
ocorre quando o sinal não é conhecido do operador, ou ainda, quando ele está engajado num
curso de ação dentro do qual este sinal não é pertinente. Esta propriedade particular da ação
humana é o centro das questões relativas à "confiabilidade humana".
Richard (1990) propõe uma distinção entre os conhecimentos que dizem respeito ao
funcionamento (como funciona), e aqueles concernentes à utilização (como se faz
funcionar). As instruções e as linguagens correspondentes, freqüentemente misturam estes
dois tipos de conhecimentos, trazendo dificuldades para os trabalhadores. Da mesma forma,
faz-se distinção entre os conhecimentos declarativos (referentes as propriedades dos objetos
tratados e seus estados) e os conhecimentos procedurais, que correspondem aos tratamentos
que o trabalhador realiza e que lhe permitem resolver efetivamente o problema. Fala-se,
ainda, de forma menos precisa, de conhecimentos teóricos, em oposição aos práticos.
Ao mesmo tempo que um dos eventos é tratado, o operador pode procurar informar-
se do desenvolvimento de outros eventos. As informações que permitem controlar
globalmente esta evolução não são, necessariamente, as mesmas que permitem a resolução
detalhada e devem estar disponíveis, mesmo quando o operador centrar sua atividade sobre
a resolução de um outro incidente.
5. Os períodos perturbados
Em períodos extremamente carregados, ou em caso de incidente ocorrido de forma
muito brutal, observa-se muitas vezes com operadores experientes modos operativos
próprios dos operadores iniciantes:
* Menor antecipação;
* Reação passo a passo;
* Diagnóstico a partir de conjuntos limitados de parâmetros e não sobre a situação
global;
* Retorno freqüente aos procedimentos aprendidos há mais tempo, mesmo se eles
não são os mais apropriados.
CAPÍTULO 4
O presente capítulo tem como objetivo expor algumas considerações referentes às transferências
totais, mais conhecidas como Ilhas Antropotecnológicas e alguns estudos realizados a partir dos
conceitos da antropotecnologia visando demonstrar que a compreensão dos casos de transferência
de tecnologia passa, necessariamente, por uma análise que transcenda a dimensão econômica
normalmente utilizada. Torna-se importante, então, a consideração das dimensões ligadas aos
aspectos geográficos, climáticos, ergonômicos, antropológicos, entre outros, na situação em
questão. Visando colaborar com o entendimento da abrangência da antropotecnologia, serão
analisados alguns estudos já desenvolvidos na área, discorrendo sobre as suas principais
colaborações.
* Gestão de Pessoal:
. para os cargos de diretores, seguindo a filosofia da empresa, são nomeados japoneses com
grande experiência, transferidos de suas fábricas dispersas pelo mundo, que permanecem na
função por três anos. O pessoal local é responsável pelos cargos operacionais;
. a empresa utiliza as técnicas dos Círculos de controle de Qualidade, amplamente difundidas
nas empresas do Japão;
* Capacidades cognitivas:
. trabalhadores recrutados do interior da Amazônia, os quais eram pescadores e pequenos
agricultores;
. uma tipo de motocicleta, responsável por 80% de suas vendas e exportada para 30 países
foi totalmente desenvolvida por engenheiros e técnicos brasileiros. Este fato vem confirmar
que não existem diferenças significativas, em relação às capacidades cognitivas básicas entre
povos de diferentes sociedades e culturas.
* Proteção Individual:
. a filial brasileira oferece aos seus trabalhadores, os EPIs adequados para cada tarefa. Esta
é uma preocupação de todas as filiais do grupo, a exemplo da matriz.
Canaviais a destilaria está situada em meio aos canaviais os canaviais estão muito longe desta
destilaria, ligados por estradas de terra
esburacadas, deteriorando assim os
caminhões .
Direção formação industrial e de gestão empresarial a diretora tem uma boa formação de
química e de biologia, mas não tem
nenhuma formação industrial e de gestão
empresarial.
* perseguição sindical
Os trabalhadores da usina estavam há muito conscientes dos perigos da usina de
Bhopal. Os operários realizavam manifestações a cada colega morto ou ferido na usina em
função das más condições de trabalho. Vários dirigentes sindicais foram demitidos.
Uma situação de trabalho pode ser descrita como um confronto de um indivíduo, que
tem suas próprias características e aspirações, a objetivos e meios de trabalho socialmente e
tecnologicamente determinados, conforme esquematizado na figura 5.1. Desta forma, pode-
se colocar em evidência que, os mesmos objetivos e meios de trabalho, alocados a diferentes
pessoas, constituirão diferentes situações de trabalho, traduzindo-se conseqüentemente, por
diferentes desempenhos e por diferentes efeitos sobre os indivíduos.
- Variabilidade intra-individual
Neste nível, procura-se evidenciar as possíveis modificações do estado do indivíduo,
tanto a curto como a longo termo.
* A longo termo:
- envelhecimento biológico;
- marcas do trabalho;
- treinamento e experiência;
- efeito dos incidentes da vida.
-Variabilidade inter-individual
Neste nível, procura-se evidenciar as possíveis variações biológicas de qualificação,
de condições de vida e de personalidade.
É a representação que o trabalhador elabora da tarefa, a partir dos conhecimentos que ele
possui das diversas componentes do sistema. É o que o trabalhador pensa realizar. Pode-se
falar, neste caso, em tarefa real ou efetiva.
* A tarefa atualizada
* Uma situação de fortes condicionantes, com alta carga de trabalho, onde não é
possível agir sobre os objetivos ou sobre os meios de trabalho. Como exemplo apresenta-se
o trabalho em linhas de montagem. Nestes casos, a evolução da situação de trabalho pode
ser considerada em dois momentos:
- Num primeiro momento, os objetivos fixados pela Engenharia de Produção
poderão ser alcançados a um custo extremamente elevado para o trabalhador,
através de modificações de seu estado interno, que podem provocar agressões à sua
saúde (figura 5.5).
1. Aspectos convergentes
2) Aspectos divergentes
4. A posição da Ergonomia
4) Engenharia de Compras
7) Projeto organizacional
É claro que esta definição dos objetivos por uma pessoa física, representando o
empreendedor, será profundamente influenciada pelas informações que, porventura, ele
possua sobre a situação já existente e pelas tensões existentes na empresa para provocar sua
evolução. Estas informações podem ser representadas, por exemplo, por relatórios dos
diferentes departamentos, intervenção dos representantes do pessoal e por sugestões de
especialistas externos.
5.3.3. Análise dos diversos setores de uma empresa envolvidos num projeto industrial
1. Engenharia do produto
* extrema divisão do trabalho;
* vários problemas técnicos a resolver;
* fortes condicionantes de tempo;
* definição estratégica do produto é, às vezes, elementar;
* critérios de "sucesso" mal definidos;
* separação geográfica e organizacional em relação à produção;
* formação de pessoal de produto é, às vezes, essencialmente técnica, sem nenhum
conhecimento prévio dos usuários finais.
8. Análise estratégica
Quando se trata de introduzir, em um projeto industrial, métodos específicos da
Ergonomia, o responsável pelo gerenciamento do projeto deve efetuar uma análise
estratégica, segundo o modelo proposto pela Análise Ergonômica do Trabalho, na etapa
Análise da Demanda.
Destaca-se que a intervenção ergonômica em sucessivos projetos, numa mesma
empresa é, sem dúvida, um quadro favorável para a evolução progressiva dos métodos de
gerenciamento de projetos industriais.
RAZERA, D.L. Uma abordagem metodológica para avaliar a relação entre condições
de trabalho e produtividade: um estudo de caso em uma indústria paranaense.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Florianópolis: UFSC, 1994.
ROY, O.; HUNAULT, J. C.; TUBIANA, J. Reussir l'investissement productif. Paris: Les
Éditions d’organisation, 1985.
__________. Por dentro do trabalho. Ergonomia: método e técnica. São Paulo: FTD/
Oboré, 1987.
CAPÍTULO 6
METODOLOGIA ANTROPOTECNOLÓGICA - O
GERENCIAMENTO ERGONÔMICO DE PROJETOS INDUSTRIAIS
A abordagem antropotecnológica, baseada no gerenciamento ergonômico de projetos
industriais, desenvolveu-se a partir de dois tipos de informações: aquelas relativas ao local
importador da tecnologia e aquelas relativas ao próprio funcionamento da tecnologia. Este
último conjunto de informações é oriundo da análise das atividades desenvolvidas pelos
trabalhadores na situação de trabalho existente, anterior à introdução das novas tecnologias,
e nas situações de trabalho com tecnologia semelhante, utilizadas como referência.
Algumas diretrizes básicas são propostas com o objetivo de nortear esta abordagem
quando do desenvolvimento dos projetos industriais:
1) A Ergonomia propõe a introdução de métodos visando antecipar as principais
características da atividade real dos trabalhadores, a fim de permitir a concepção de meios
de trabalho que as levem em consideração.
2) A Ergonomia distingue-se de outras áreas que participam da concepção dos meios
de produção, tendo em vista os seguintes pontos:
- A contribuição da Ergonomia não tem caráter prescritivo ou normativo quanto aos
procedimentos utilizados pelos trabalhadores. A Ergonomia não procura definir como os
trabalhadores devem trabalhar, contribui apenas no sentido de que os meios de trabalho lhes
permitam elaborar modos operativos, graças aos quais os objetivos fixados serão atingidos,
sem que isto se traduza por condições desfavoráveis à saúde.
- A contribuição da Ergonomia baseia-se em conhecimentos científicos sobre o
funcionamento fisiológico e psicológico do homem em atividade de trabalho. A Ergonomia
propõe um ponto de vista específico, diferente e complementar a outros pontos de vista que
habitualmente são apresentados nos processos de concepção.
- Enfim, considerando os resultados obtidos em vários estudos realizados em vários
setores da atividade humana, a Ergonomia é particularmente atenta às questões relativas à
variabilidade industrial, freqüentemente subestimada pela Engenharia de Produção. Esta
variabilidade intervirá, de forma decisiva, nas determinantes do trabalho futuro.
3) A Ergonomia, quando procura adaptar os meios de trabalho à atividade dos
trabalhadores, enfrenta sempre um paradoxo incontornável: a atividade desenvolvida
depende diretamente dos próprios meios de trabalho. Assim sendo, uma modificação nos
meios de produção se traduzirá por uma modificação da atividade de trabalho. A atividade
não é, então, transponível diretamente quando de uma modificação dos meios de trabalho.
A reflexão sobre a atividade futura provável deverá se dar em outras bases.
4) A Ergonomia evidencia que é impossível antecipar a atividade futura em todos
os seus detalhes: o que se pode determinar é o espaço de forma possível da atividade futura
provável. Por exemplo, numa instalação existente que será modernizada, as mesmas peças
serão produzidas a partir das mesmas matérias-primas, mas sobre novas máquinas. A análise
das atividades dos trabalhadores, na instalação existente, permite evidenciar como eles
detectam certos desvios das matérias-primas e como eles os levam em consideração. O que
é transponível à futura instalação não é a maneira como os trabalhadores praticam na situação
existente as correções, mas a existência de uma variabilidade das matérias-primas e certas
características da tomada de informação sobre o estado das peças ou do tratamento específico
que os trabalhadores efetuam sobre as peças que devem ser refugadas. Assim sendo, a
Ergonomia permite evidenciar uma ação tipo: controlar as peças na entrada. Esta ação tipo
é orientada no sentido de um objetivo, o qual é transponível, somente enquanto objetivo, ao
futuro sistema.
Para Daniellou (1985) esta terceira etapa consiste na previsão das determinantes da
atividade futura, comportando duas descrições, das tarefas futuras e suas condições de
execução, e da população futura e suas variações.
A descrição das tarefas futuras envolve os aspectos técnicos e organizacionais
necessários para prever os objetivos a serem atendidos pelos trabalhadores. Sua consecução
origina-se de duas fontes principais, quais sejam, o conhecimento do trabalho real, a partir
da análise do trabalho atual e a descrição técnica do sistema de produção previsto e dos
procedimentos prescritos para a sua utilização.
Durante a análise da situação de referência pode-se evidenciar os objetivos que,
eventualmente, não foram previstos nos procedimentos prescritos, introduzindo-se, assim,
questões sobre as atividades de recuperação das componentes do sistema. Esta descrição das
tarefas futuras compreenderá, então, não somente uma categorização das mesmas, mas
também, uma previsão das principais interferências possíveis sobre o funcionamento e
manutenção do sistema.
Já a descrição da população futura, origina-se da análise do conteúdo de decisões
denominadas sociais, relativas ao trabalho nas futuras instalações, entre outras, número de
trabalhadores, repartição de tarefas e horários. Representa, também, o resultado da análise
da situação de referência, no sentido da identificação das competência necessárias pelos
sistemas analisados e das competências disponíveis entre os trabalhadores destinados ao
futuro sistema.
Por outro lado, é preciso lembrar também que, o envelhecimento atinge o conjunto
da população ativa. Na realidade, o envelhecimento é um fenômeno contínuo na vida das
pessoas, mas que pode ter manifestações em parte descontínuas. As dificuldades daí
decorrentes podem se manifestar em diferentes idades, segundo as condicionantes das
situações de trabalho. Pode-se ser "mais ou menos velho" em relação a uma determinada
situação de trabalho, mas é possível evitar certas dificuldades, devidas ao envelhecimento,
agindo-se sobre os meios de trabalho.
As "faixas de idade" atingidas pela problemática do envelhecimento, segundo a
Ergonomia, serão diversas: podem ser em determinados casos trabalhadores na faixa de 35
a 40 anos, de 40 a 45 anos, de 45 a 50 anos e assim sucessivamente.
* Diminuição do número de células do sistema nervoso. Mas o potencial cerebral não pode ser
avaliado somente em número de neurônios: importância das conexões estabelecidas durante
a vida.
* Rigidificação, esclerose de certos tecidos. Efeitos sobre a visão, as articulações, o sistema
cardiovascular. Em particular, a manutenção de certas posturas, os esforços bruscos e o
trabalho em temperaturas elevadas, podem tornar-se extremamente difíceis para pessoas
mais idosas.
* A audição é afetada pelo envelhecimento dos neurônios, mas em geral sem maiores
conseqüências para as conversações correntes.
* Efeitos sobre a manutenção do equilíbrio. Necessidade de superfícies de apoio.
* Tendência ao crescimento dos efeitos das decalagens de ritmos (trabalhos em turnos
alternantes).
* Em geral, a idade aumenta a dificuldade para suportar situações extremas (muito
quente/muito frio) e torna o indivíduo mais sensível à adição de condicionantes diversas
(ruído, calor, vibrações, etc.).
CAPÍTULO 8
* Estabelecer os fatores que delimitam o "espaço das formas possíveis" da atividade futura;
* A partir destes fatores, tentar prever se os trabalhadores poderão elaborar modos operativos
eficazes e sem efeito desfavorável para a sua saúde.
Estas situações de ação tipo podem ser descritas num nível mais ou menos elevado
de generalidade, segundo a variabilidade previsível. Por exemplo, na situação "colocar em
funcionamento uma parte das instalações, após uma parada de emergência", o nível de
descrição, a priori, não está bem evidenciado. Assim sendo, durante as próprias
reconstituições, podemos ser levados a melhor especificar, ou ao contrário, reagrupar, as
situações tipo previstas.
Para cada uma dessas situações de ação tipo, o profissional de ergonomia pode
preparar, preliminarmente, uma descrição de algumas determinantes da atividade de
trabalho:
* fontes de variabilidade;
* condicionantes de tempo;
1) Dados fisiológicos
3) Continuidade cognitiva
2) As recepções técnicas
A responsabilidade de controlar os fornecedores e o devido respeito ao caderno de
encargos, durante os estudos de engenharia até o canteiro de obras, pertence ao chefe de
projeto da Engenharia Consultiva.
Entretanto, é legítimo que o empreendedor, que tem a responsabilidade do
investimento e vai decidir pela aceitação ou não do serviço executado, possa utilizar-se de
meios de controle antes dos trabalhos de montagem industrial serem finalizados. Por
delegação, o grupo de gerenciamento de projeto do empreendedor, pode então proceder a
diferentes recepções:
* durante as obras;
* no final das obras, antes da operação piloto;
* durante a operação piloto;
* em funcionamento nominal estabilizado.
Este item não diz respeito, exclusivamente, ao direito do trabalho e não se trata aqui,
também, de lembrar em detalhes as medidas que são levantadas sobre informação/consulta
das instâncias legais. Todavia, existem determinados aspectos da legislação trabalhista que
serão lembrados, com o objetivo de explicitar as diversas instâncias legais de representação
dos trabalhadores.
A constituição brasileira, promulgada em outubro de 1988, estabeleceu novas
diretrizes nas relações capital/trabalho. Por outro lado, a consolidação das leis do trabalho
(CLT) estabelece, de forma precisa, os mecanismos que permitem a representação dos
trabalhadores. Desta forma, a representação dos trabalhadores é assegurada:
* Em nível nacional, pelas centrais sindicais (pluralismo sindical estabelecido pela
constituição) e pelas confederações das diversas categorias de trabalhadores;
* Em nível estadual, pelas regionais das centrais sindicais e pelas federações das
diversas categorias;
* Em nível local ou regional, pelos diferentes sindicatos, específicos de cada
categoria de trabalhadores.
Assim, por exemplo, um metalúrgico de Joinville pode ser filiado ao Sindicato dos
Metalúrgicos de Joinville, que por sua vez faz parte da Federação dos Metalúrgicos de Santa
Catarina e que forma, em nível nacional, a Confederação dos Metalúrgicos Brasileiros. Esta
confederação, as federações estaduais e os sindicatos da categoria podem, por sua vez, ser
filiados a uma central sindical.
Em relação a cada empresa, a participação dos trabalhadores pode se dar em dois
níveis:
* Comissão de fábrica ou comitê de empresa, que gradativamente vêm sendo
constituídos na maioria das grandes empresas que procuram implantar uma gestão mais
participativa, com aplicação de técnicas japonesas tipo CCQs ou outras variantes. Esta
comissão ou comitê não só é informada ou consultada sobre problemas gerais relacionados
à produção, manutenção e formação, mas participa também na elaboração de planos,
sobretudo táticas operacionais da empresa.
* Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que é uma instância legal de
participação paritária (empregado/empregador), mas cujo presidente é indicado pela direção
da empresa. A CIPA tem reuniões periódicas onde são levantados todos os problemas
relacionados à higiene, segurança e condições de trabalho que, posteriormente, são
encaminhados na forma de relatórios à direção da empresa e às Delegacias Regionais do
Trabalho (Ministério do Trabalho).
Antes de qualquer transformação importante na empresa, por exemplo, a introdução
de novas tecnologias, a CIPA é informada e consultada por parte da direção da empresa no
que diz respeito às condições de trabalho.
A norma NR-17 do Ministério do Trabalho, que dispõe sobre Ergonomia, estabelece
os parâmetros que devem ser obedecidos na modernização ou implantação de estações de
trabalho.
Em todos os casos, estas duas instâncias serão informadas e consultadas durante o
desenvolvimento do projeto. A forma desta consulta varia substancialmente de uma empresa
à outra e depende, sobretudo, da história social de cada empresa, sendo sempre objeto de
vários debates.
Não diz respeito à Ergonomia estabelecer critérios para esta forma de participação,
que normalmente atinge não só uma empresa, mas várias empresas de um mesmo grupo ou
várias empresas de um mesmo setor. Estas negociações dizem respeito somente à direção
da empresa e às organizações sindicais.
Todavia, uma informação suficientemente precoce das instâncias de representação
aparece como uma condição favorável a uma definição "rica" dos objetivos do projeto e à
análise de situações de referência. Além disso, se fases de trabalho com os diversos
operadores são previstas, é desejável que as instâncias representativas dos trabalhadores
sejam informadas e consultadas preliminarmente sobre:
* Os objetivos desses grupos de trabalho;
* Sua composição;
* As condições materiais de organização (freqüência, animação);
* Os métodos de trabalho;
* As condições de exploração e a divulgação dos resultados;
* As condições de seu acompanhamento pelas instâncias representativas.
Sobre este último ponto, pode ser que o ritmo habitual das reuniões da CIPA e
comitês da empresa não permitam o acompanhamento real do desenvolvimento do projeto.
Eventualmente, dependendo do caso, poderá ser constituída uma comissão ad-hoc (grupo de
gerenciamento), encarregada de acompanhar as atividades do grupo de trabalho, onde serão
discutidas suas implicações ergonômicas e sociais. A composição e os limites do papel desta
comissão serão definidos nas instâncias legais.
4) A Engenharia de Montagem
* Definição das plantas de volume, da estrutura das edificações e de seu aspecto externo;
* Definição dos arranjos físicos internos (disposição dos locais);
* Definição dos "lotes" a serem licitados para as obras de segunda etapa (instalações elétricas,
hidráulicas, etc);
* Definição dos arranjos físicos de "detalhamento" (mobiliário, equipamento leve, etc).
Na realidade, o ergonomista não pode abordar separadamente as duas primeiras
etapas. Na medida em que sua reflexão parte das situações de trabalho, não é desejável
abordar a definição dos espaços interiores como uma resultante das decisões globais sobre
um local já existente. É preferível raciocinar em termos de programação de conjunto.
Muitas vezes, a concepção das edificações baseia-se sobre uma análise global do
espaço necessário (uso de "normas"), sem referência precisa à atividade que se desenvolverá
nos futuros locais, dentro de uma visão estritamente taylorista de concepção de espaços de
trabalho, isto é, os trabalhadores irão executar as tarefas que serão prescritas. Neste sentido,
não há necessidade de qualquer consideração sobre a atividade futura provável. O objetivo
da abordagem aqui proposta é justamente o contrário, fornecer ao arquiteto uma descrição
das características importantes desta atividade e quais ele levará em consideração na
definição dos locais (espaços, proximidades, etc). A redação simultânea dos termos de
referência, nos diferentes campos, permite correlacionar o conjunto das condicionantes
levantadas pelo Relatório de Gerenciamento de Projeto.
* de trabalhadores;
* de outras pessoas (clientes, fornecedores, visitantes);
* de peças, produtos, matérias primas e seus condicionantes;
* de veículos e sistemas de transportes;
* de informação.
O termo "fluxo" designa uma quantificação dos movimentos e das estadias nas
diferentes partes de cada uma das circulações (seqüências). Trata-se de uma quantificação
de volume, de tempo, da diversidade das "peças" consideradas.
A redação dos termos de referência é também a ocasião para chamar a atenção sobre
a evolução da utilização dos locais e espaços de trabalho no curso do tempo:
* fase de montagem das máquinas (prever a acessibilidade na concepção arquitetônica);
* ampliação posterior (salvaguardar se possível das zonas de ampliação).
1) Quantidade de luz
2) Ofuscamento
Os diferentes tipos de lâmpadas fornecem uma luz cuja composição difere da luz
solar. A cor dos objetos que elas iluminam pode parecer transformada. Um exemplo extremo
é a cor que os carros têm dentro de um túnel iluminado com luz de sódio. Esta transformação
das cores, sempre desagradável, pode tornar-se incômoda para certos trabalhos (ligação
elétrica com fios de diversas cores, por exemplo). Assim sendo, deve-se escolher um
conjunto de lâmpadas que permitam um bom espectro de cores.
5) Modulação
A iluminação geral deve assegurar sobre os postos de trabalho (plano horizontal) uma
claridade regulável de 150 a 400 lux. De fato, ela deve permitir uma adaptação às condições
horárias e meteorológicas. A iluminação deve ser homogênea, não permitindo variações
importantes de claridade entre pontos vizinhos. Para evitar riscos de ofuscamento, é
importante limitar as diferenças de luminância entre as fontes luminosas e o resto do teto.
Deve-se procurar fontes de grande superfície e baixa luminância. A iluminação indireta não
é a única possível. Uma iluminação direta ou mesmo mista pode ser melhor adaptada. As
luminárias devem ser equipadas com difusores em grade ou em prisma, que asseguram em
todas as direções um ângulo de incidência ao menos igual a 55o, de sorte que a fonte não seja
diretamente aparente. Se a escolha recair sobre lâmpadas fluorescentes, deve-se ter os
seguintes cuidados:
* escolher tubos cuja temperatura de cor é da ordem de 4000K e o índice de espectro das cores
superior ou igual a 85 (segundo publicação 13-2 da Comissão Internacional de Iluminação).
O "branco industrial" deve ser evitado;
* para evitar o pestanejamento, os tubos devem ser montados aos pares (oposição de fase) e
trocados periodicamente;
* os reatores das lâmpadas fluorescentes devem ser colocados externamente ao local, para evitar
o ruído característico;
* os interruptores e os reostatos devem ser localizados em várias zonas distintas da sala
(definidas pelas características do trabalho e o afastamento em relação as janelas). As
lâmpadas de emergência poderão ser previstas desde este estágio do projeto.
Assim sendo, deve-se limitar os incômodos do ruído, mantendo todavia seu caráter
informacional.
2) As conversações
Os ambientes de trabalho com sistemas automatizados podem ter um nível sonoro
devido às conversações (comunicações de trabalho, encontros, visitas) que, às vezes, é um
incômodo para os operadores que não estão envolvidos. O problema não pode ser resolvido
apenas por regulamentos que devem ser respeitados. Na realidade, ocorrem muitas
conversações que são importantes para a realização das atividades de trabalho. Por exemplo,
é ilusório e perigoso interditar a entrada de pessoas externas nas salas de controle, tais como
os reguladores que têm a necessidade de informações que se encontram nos quadros
sinóticos. Soluções parciais podem ser encontradas na concepção dos locais e espaços de
trabalho, favorecendo no exterior destes locais as atividades que não necessitam da presença
dos operadores de controle. Por exemplo: sala para as empresas externas, organização das
visitas eventuais, etc. O nível sonoro das conversas é normalmente controlado pelas próprias
equipes, sobretudo em situação degradada. Em relação à acústica dos ambientes, o problema
deve ser tratado pela concepção das paredes (paredes, pisos e tetos): trata-se de evitar a
reverberação que apresentam as paredes lisas, prevendo materiais absorventes. A escolha e
o dimensionamento dos materiais absorventes devem ser confiados a um especialista em
acústica, a quem deve ser estabelecido como objetivo a obtenção de uma duração de
reverberação (tempo que leva a energia sonora para diminuir de 60 dB após a sua emissão)
compreendida entre 0,8 e 0,9 s, para as freqüências da voz (por exemplo, medida a 250 Hz,
500 Hz e 1000 Hz), com o mobiliário no local. Os materiais escolhidos deverão respeitar os
coeficientes de reflexão da luz.
3) Os dispositivos de intercomunicação
Uma solução consiste em dobrar a saída do alto-falante por uma saída sobre um
combinado telefônico, dotando o alto-falante de um potenciômetro. Segundo os períodos, os
operadores podem então escolher a saída correspondente às suas necessidades.
1) O conforto térmico
2) Precauções acústicas
O ruído de um sistema de climatização não deve ser audível dentro dos locais de
trabalho, particularmente, das salas de controle de processos. Os fornecedores de instalação
de ar condicionado central propõem diferentes classes de aparelhos (45 dB, 50 dB, etc). Para
a obtenção do resultado desejado deve-se especificar um aparelho cujo nível sonoro próprio
seja inferior, no mínimo, a 7 dB(A) do nível de ruído de fundo devido às outras instalações,
medido (ou previsto) no local.
A insonorização dos aparelhos de climatização é obtida através de diversas medidas:
* equilibragem cuidadosa das peças giratórias, em particular do ventilador;
* isolamento do solo das peças vibrantes, através de contatos elásticos e de amortecedores;
* capotagem do aparelho de ar condicionado, permitindo no entanto as operações de
manutenção do aparelho;
* enfim, seleção dos difusores de entrada de ar, de forma a evitar o "ruído de boca" (existem
ábacos específicos que permitem esta seleção).
3) Qualidade do ar
Entretanto, plantas dos locais de trabalho sobre as quais são plotados todos os
equipamentos (vagonetas, carros, reservatórios, etc), com o uso de cores, podem ser muito
úteis para descrever o meio-ambiente de um posto de trabalho.
10.5.2. Maquetes
Para o arranjo físico de toda uma usina, surge uma dificuldade de escala. Uma
maquete numa escala 1:100 é útil para estudar o conjunto dos fluxos da usina, as
proximidades, etc. Entretanto ela é insuficiente para estudar o arranjo físico dos postos de
trabalho, onde uma escala 1:20 e às vezes 1:10 é exigida. Por outro lado, é impossível fazer
uma maquete numa escala 1:20 de um grande pavilhão industrial (por exemplo 100m a 5m).
Neste caso, deve-se utilizar maquetes parciais do pavilhão, nesta escala. Constata-se que a
maquete, eventualmente confeccionada para facilitar a atividade dos grupos de trabalho,
revela-se também como um meio muito útil à chefia do projeto da Engenharia Consultiva
tomar decisões técnicas. Da mesma forma, a maquete poderá ser vista pelo conjunto do
pessoal da usina como uma previsão daquilo que foi projetado, permitindo ainda algumas
observações de caráter geral.
Como dito anteriormente, os estudos e a realização dos locais estão dispersos num
grande número de lotes de editais que são adjudicados a diferentes empresas. Para verificar
a substância e a coerência das decisões tomadas a propósito de um mesmo local, é preciso
muitas vezes reportar-se a uma documentação extremamente abundante.
A "Ficha Local" tem por objetivo sintetizar em um único documento, para cada local,
o conjunto dos dados que lhe diz respeito, qualquer que seja o lote aos quais se reportam.
Estes documentos estabelecidos pela Engenharia Consultiva, são de utilização prática em
todas as fases:
* verificação dos dossiês de consulta das empresas;
* utilização durante as reconstituições previsíveis da atividade futura provável (uso fácil pelo
ergonomista, pelos fiscais da obra, pelos futuros operadores, etc);
* utilização pelas empresas que estão sendo montadas;
* controle e recepção da montagem.
Estes problemas não podem ser previstos a partir apenas da análise de plantas de
arquitetura. Estas plantas não evidenciam o estado de avanço das obras de construção civil.
O cronograma físico é uma espécie de "desenho animado" que apresenta, por exemplo
semanalmente, o estado previsível das diferentes etapas, realizadas, em realização, a serem
realizadas. Este cronograma pode facilmente ser utilizado por todos os serviços envolvidos,
para verificar que a todo instante todas as funções importantes são asseguradas. Como a
realização de um cronograma não é normal em gerenciamento de projetos, é necessário que
ele seja previsto pelo Termo de Referência "Local e espaço de trabalho".
DANIELLOU, F., L’ergonomie des salles de controle. Montrouge (França): Anact, 1986.
FISCHER, G. N., Pshychologie des espaces de travail. Paris: Armand Colin, 1989.
McCORMICK, E. J., et all., Human factores in engineering and design. 5 ed. New
York: Mc Graw-Hill, 1982.
MURREL, K. F. H. Ergonomics: man in his working environment. London: Chapman
& Hall, 1965.
Normas técnicas:
CAPÍTULO 11:
2) O segundo nível diz respeito a outras decisões de concepção, que envolvem menos
a estrutura do equipamento. Tratam-se, por exemplo:
− da concepção da representação da informação;
− da definição dos comandos;
− do posicionamento de certos órgãos, sensores, etc;
− dos dispositivos de segurança;
− da documentação.
2) Determinar entre os dados antropométricos disponíveis aqueles que serão úteis para
o projeto em questão:
− distâncias inter-articulares;
− distâncias de máximo e mínimo alcances.
4)A localização das zonas perigosas em relação aos locais de trabalho e às vias de
circulação (orientação das entradas de ar ou dos riscos de explosão, por exemplo).
Em caso particular, para agir sobre certos comandos (botões de todos os tipos, pedais
volantes e manivelas de diâmetro menor de 200mm, operados manualmente) deve-se
levantar apenas a intensidade do esforço empregado.
2) Interpretação dos dados levantados: utilização dos ábacos. Os ábacos permitem
determinar as freqüências de repetição admissíveis segundo a intensidade do esforço
e segundo a natureza do esforço, combinado com o tipo de postura, para esforços
mantidos durante menos de 7s nos volumes bons e aceitáveis, após correção.
Os limites de esforços recomendados nos ábacos "homem" e "mulher" permitem
selecionar pessoas de aptidões físicas normais (valores de esforços > 40% destes limites não
convém > 60% da população). Um 3º ábaco é destinado para pessoas com capacidade física
reduzida.
3) O método proposto para a determinação dos esforços elementares admissíveis não
pode pretender a uma avaliação precisa da carga global de trabalho.
1) Dimensionar os dispositivos para permitir sua utilização na posição "em pé normal", isto
é, os dois pés no mesmo nível, sem flexão nem torção importante do tronco e sem flexão
ou extensão da nuca. Prever local para os pés e joelhos.
2) Definir as transmissões de movimento e dimensioná-las para limitar os esforços mesmo
em caso de aderência ou de usura.
3) Dimensionar as indicações impressas em função da distância de leitura (D):
− a altura (H) do caracter igual a D/200;
− a largura (L) da cifra maior ou igual a 3/4 de H;
− a espessura (E) do traço igual a H/7, no caso de caracteres pretos sobre fundo branco.
4) Prever uma iluminação suficiente e não ofuscante.
Utilização
imaginada
Precisão dos valores Aceitável Aceitável Muito bom,
(com números, agulhas ou rápido
quadros fixos, no momento
da leitura)
Estimação de um valor, A ou C, bom Passável Desfavorável
apreciação dos desvios ou B muito bom
controle de posição
Ajuste a um valor dado Muito bom Passável Bom
Regulagem e controle de Muito bom Desfavorável Desfavorável
um valor que se quer
constante
Um incômodo
Num ambiente barulhento a reflexão é bastante dificultada. A memorização é mais
difícil e, às vezes, modificada. Numerosos erros podem ser cometidos e as comunicações
verbais tornam-se extremamente complicadas, tanto entre duas pessoas próximas, como
através de rádio.
Um perigo
Níveis elevados de ruído provocam, como já visto, efeitos sobre o aparelho auditivo
(baixa temporária da acuidade auditiva e até riscos de surdez). Todavia, o ruído atinge o
conjunto do sistema nervoso e endócrino com repercussões sobre os sistemas digestivo e
cardiovascular. O ruído intenso pode contribuir a problemas de equilíbrio e reforçar os
efeitos de certos tóxicos.
De uma maneira geral, os ruídos agudos são mais perigosos que os ruídos graves, os
ruídos repentinos e inesperados mais que os ruídos previsíveis. Para um determinado ruído,
os riscos dependem não somente da duração total de exposição durante a jornada de trabalho
mas também da duração dos períodos contínuos de exposição (uma série de exposições
curtas com períodos de silêncio é menos perigoso que uma exposição contínua de mesma
duração total).
Nas indústrias de processos, as principais fontes de ruído são: máquinas giratórias,
os deslocamentos de fluidos (líquidos e gases) nas canalizações e os aparelhos (tiragem dos
fornos, colunas, válvulas de espera). Dentre os ruídos impulsivos é preciso citar, em
particular, os choques térmicos nas tubulações.
Reduções consideráveis no nível de ruído de máquinas, equipamentos e instalações
em geral podem ser obtidas agindo-se desde a concepção sobre:
* A equilibragem das máquinas giratórias: a eliminação do desequilíbrio limita
fortemente o nível de ruído. Ela pode ser especificada no Caderno de Encargos dos
aparelhos;
* A concepção das paredes dos aparelhos: os corpos de bombas, as paredes em chapas
constituem-se, às vezes, em repercutidores de sons. A rigidificação das paredes é
suficiente para eliminar este problema;
* A separação dos aparelhos: a previsão de suspensões elásticas sob máquinas
giratórias e aparelhos barulhentos evitará a transmissão do ruído por via sólida e a
ressonância das estruturas metálicas circunvizinhas. Estas suspensões são
calculadas em função da massa e do regime de rotação dos aparelhos e dos materiais
que são escolhidos para resistir ao ambiente (óleo, calor, etc). Da mesma forma,
juntas anti-vibratórias podem ser colocadas nas entradas e saídas dos aparelhos;
* A concepção da geometria das tubulações: o ruído de uma expansão gasosa ou de
fluxo líquido pode ser consideravelmente reduzido pelo desempenho das tubulações
(variação progressiva do diâmetro) ou da válvula. Os dados correspondentes são
fornecidos pelos manuais de mecânica dos fluidos. O mesmo acontece para os
escapamentos pneumáticos. Juntas de dilatação podem diminuir os efeitos de
"choques térmicos".
* A capotagem de certos aparelhos: a capotagem é a penúltima solução aos
problemas de ruído dos equipamentos (a última é a utilização dos equipamentos de
proteção individual). Este método apresenta, todavia, um certo número de
inconvenientes: pode privar os operadores de certos índices visuais ou táteis, torna
difícil a tomada de amostras, as manobras, as regulagens ou as reparações. Quando
esta solução for a escolhida, é necessário então prever desde a origem os arranjos
físicos da capotagem em função das atividades acima mencionadas, prevendo
também a desmontagem e a manutenção.
Principais problemas
Nas indústrias de processos, dois problemas principais devem ser tratados desde os
estudos de Engenharia Básica:
* A exposição às intempéries (vento, chuva, calor, frio) pode ser reduzida pela
concepção das superestruturas (cabines, paredes, etc). Entretanto, elas devem
respeitar as exigências de visibilidade e de acessibilidade reveladas pela análise do
trabalho e evitar a acumulação eventual de gases tóxicos.
* O trabalho em zonas quentes, tendo em vista os riscos que ele pode provocar sobre
os indivíduos, deve ser objeto de uma atenção particular. Neste caso, deve-se agir
tanto sobre o próprio ambiente de trabalho como sobre as fontes de esforços.
As trocas térmicas
As trocas de calor entre os equipamentos e os operadores podem ocorrer:
* Por condução: contato entre a pele e uma parte do equipamento;
* Por convecção: contato entre a pele e um fluido (ar, água, vapor, etc);
* Por radiação: as paredes quentes emitem radiações que são absorvidas pela pele e
lhe transmitem calor.
Ofuscamento
Se o ambiente em geral for menos iluminado, o operador será facilmente ofuscado à
noite pelas zonas mais iluminadas. Este ofuscamento pode ir até um nível de impedir a leitura
de certos indicadores. Para evitar estes problemas será necessário prever:
* Um nível geral de iluminação suficientemente elevado e homogêneo (200 lux) nas
vias de passagem;
* Uma variação progressiva da iluminação em torno das zonas mais iluminadas;
* Uma concepção das fontes luminosas que evita que o operador não veja diretamente
o tubo ou a ampola;
* Superfícies que não produzam reflexos (evitar pinturas brilhantes), com coeficientes
de reflexão suficientemente homogêneos (evitar uma zona clara no meio de uma
zona escura). Estas condicionantes não impedem de escolher, por razões estéticas,
cores "agradáveis".
Mc CORMICK, E., et all., Human factors in ingineering and design. New York: Mc
Graw-Hill, 1982.
WISNER, A., Diversité des característiques physiques dans les pays en dévelopement
industriel: conséquences ergonomiques. In: Industriel Ergonomiques. Amsterdam,
1989.
O presente capítulo propõe procedimentos que permitem a adaptação dos dispositivos de apresentação
das informações, dos comandos e dos softwares às características psicofisiológicas do homem. Desta
forma, espera-se contribuir na concepção de dispositivos mais adequados, proporcionado ao indivíduo
uma confiabiliadade maior no tratamento das informações e, consequentemente, na tomada das
decisões.
1) Apresentação Numérica
A informação é apresentada diretamente em cifras, por exemplo: 948,5°C. Este
tipo de apresentação permite uma leitura precisa de uma medida ou a realização de um
levantamento de várias medidas no final do turno, por exemplo. Todavia, não fornece
nenhuma informação sobre a tendência de evolução da medida.
3) Regra de Reagrupamento
O reagrupamento de informações deve favorecer o diagnóstico, isto é, facilitar a
identificação de configurações significativas. Em particular, os diferentes indicadores, que
permitem escolher entre várias hipóteses aquela que é a mais pertinente, devem ser
reagrupados.
4) Regra de Verificação
É um caso particular da regra de reagrupamento: as informações que permitem
verificar a confiabilidade de um indicador devem estar colocadas junto a este indicador. Uma
indicação que nada permite verificar é, muitas vezes, um fator de complicação a mais e um
risco potencial.
6) Regra de Homogeneidade
As convenções escolhidas devem ser as mesmas para todos os dispositivos
equivalentes:
- desenvolvimento do tempo no mesmo sentido em todos os mostradores;
- mesma graduação para todos os mostradores;
- mesmo sentido de variação (origem do mesmo lado);
- mesmas abreviações;
- mesmas cores.
Estas convenções devem respeitar os estereótipos disseminados na população em
questão.
7) Regra de Manutenção
Antes de instalar um sistema de apresentação da informação é necessário responder
algumas questões em caso de pane do sistema: como é detectada? como é reparada? como
se trabalha, apesar dela?
Acrescente-se a estas questões uma interrogação sobre a capacidade do dispositivo
de evoluir, em função das evoluções de produção, de populações de usuários, etc.
O problema da concepção dos alarmes é um dos mais difíceis dentre aqueles que são
encontrados durante a especificação do sistema.
A Ergonomia não fornece normas simples de serem empregadas para qualquer
sistema de alarmes. Todavia, pode se precisar como este problema, em geral, se apresenta, a
fim de facilitar a elaboração de soluções próprias para cada situação específica .
1) As Funções de Um Alarme
Um sistema de alarme é utilizado de forma diversa pelos operadores. Ele responde a
diferentes exigências que poderão encontrar soluções próprias em cada estágio da
concepção:
* Chamar a Atenção
A função mais evidente de um sistema de alarme é chamar a atenção de um operador
sobre a modificação de estado do processo, mesmo se ele não esteja vigiando esta parte da
instalação. O alarme lhe indica para se reportar a indicadores mais precisos para diagnosticar
a evolução em curso e tomar as decisões que se impõem.
* Assinalar Que Um Objetivo foi atingido
Os operadores utilizam, às vezes os alarmes como um terceiro olho. Por exemplo, no
enchimento de um reservatório tipo balão, no final da operação o operador será prevenido
por um alarme de nível cheio. O operador não tem necessidade de vigiar o nível,
permanentemente, e pode ocupar-se de outros problemas. O alarme desenvolve o mesmo
papel que um observador delegado pelo operador com a senha "me previna quando o
reservatório estiver cheio".
* Dar Uma Indicação Global do Estado do Processo
Quando o operador volta à sala de controle, depois de um certo tempo ausente, a
configuração dos alarmes lhe dá uma indicação global do estado do processo e possíveis
pontos a serem vigiados mais intensamente.
2) As Dificuldades Encontradas
A análise de diferentes sistemas de alarmes coloca em evidência múltiplos
problemas, relativos a importância que têm os mesmos no gerenciamento do processo.
Alguns sistemas têm soluções técnicas conhecidas, outras podem exigir um trabalho de
pesquisa aprofundado.
* Os Alarmes Normais e os Alarmes Antecipados
Certos alarmes são reputados como "normais”. Eles não exigem nenhuma
intervenção por parte do operador que os percebe. Eles são incômodos nas fases perturbadas
do sistema, quando sua percepção exige do operador a interrupção de uma ação prioritária,
que estava sendo realizada.
Outros alarmes são antecipados pelo operador. Ele percebe, por exemplo, a subida
da temperatura e procura, por todos os meios disponíveis, evitar que esta ultrapasse os limites
admissíveis. Neste momento, o alarme é acionado. Aqui também, o acionamento do sinal
pode representar uma condicionante que não corresponde a nenhuma percepção suplementar
de informação.
* O Procedimento de Acionamento do Alarme
O procedimento de acionamento de um alarme deve ser concebido de forma a não
representar uma carga suplementar, sobretudo nas fases perturbadas do sistema. O
aparecimento dos alarmes se dá, normalmente, por um sinal sonoro e por um sinal luminoso,
que precisa o parâmetro envolvido. O acionamento ocorre, às vezes, em dois tempos:
- supressão do sinal sonoro;
- acionamento do sinal luminoso, quando o operador identificou precisamente o
parâmetro envolvido.
Neste sentido, é essencial que todo sinal sonoro e todo sinal luminoso "agressivo"
(farol) possa ser suprimido por uma única ação do operador, sem necessidade de
deslocamentos. O operador é informado do acionamento do alarme, mas não é necessário
que uma sirene fique acionada durante o tempo que ele leva para atravessar a sala ou que ele
passe para visualizar uma tela correspondente. Um sinal luminoso já é suficiente para
precisar a natureza do alarme.
* A Identificação dos Alarmes Acionados
Uma sala de controle comporta algumas dezenas, às vezes algumas centenas de
alarmes. Nos quadros sinóticos clássicos, freqüentemente, pode-se observar operadores que
deslocam o olhar sobre o conjunto das informações antes de identificar o alarme acionado.
Esta pesquisa de informação pertinente, pode ser facilitada:
- por diferentes sinais sonoros segundo as zonas do quadro sinótico. Todavia, existem
limites na diversidade dos timbres sonoros que podem ser distinguidos. Esta medida aplica-
se, sobretudo, quando existe numa mesma sala, painéis de controle, relativos a unidades
distintas.
- pelo aparecimento, simultaneamente ao sinal sonoro, de um feixe luminoso em cima
do respectivo quadro de alarmes.
* A Detecção do Primeiro Defeito
Um mesmo aparelho pode ser dotado de numerosos alarmes. O funcionamento do
aparelho provoca, em certos casos, o acionamento de várias dezenas de alarmes. O operador
não sabe então, qual é o defeito que causou o acionamento e quais são aqueles que são
conseqüências do acionamento. Mesmo quando a hora de aparecimento é gravada, a precisão
não é suficiente para detectar o primeiro defeito. Esta detecção é possível graças à ajuda de
um, sistema programável, que poderá provocar uma visualização distinta entre causa e
conseqüência. A programação pode entretanto, ser complexa, na medida em que a noção de
"causa" é sempre renovada num contexto que pode englobar numerosos parâmetros.
* Alarmes "Oscilantes" :
Quando um parâmetro encontra-se próximo de seu valor limite, cada ultrapassagem
do limiar vai provocar o acionamento de um alarme, que o operador deverá considerar.
Freqüentemente pode-se constatar que os operadores inibem o alarme para não serem
constantemente interrompidos. Este método pode ser extremamente perigoso se a inibição
for esquecida.
Uma solução técnica consiste em evitar a "oscilação" dos alarmes, introduzindo um
histerese (ou faixa morta), isto é defasar o limiar de desaparecimento do sinal em relação ao
limiar de aparecimento. Uma vez acionado o alarme continua presente até que uma variação
importante se produza no sistema.
* Alarmes "Permanentes"
Um alarme que é acionado permanentemente não fornece nenhuma ou pouca
informação ao operador humano. Ele sabe somente que o limite foi ultrapassado, mas não
tem nenhuma informação sobre a tendência de evolução do processo. A solução neste caso,
é visualizar um valor alto que continua a subir e um valor que tende a se estabilizar.
* Identificação do Contexto do Alarme
Em geral o acionamento de um alarme não é suficiente para que o operador possa
decidir qual ação ele deve realizar. É necessário também localizar este alarme no seu
contexto. Neste sentido, deve-se favorecer a identificação do contexto do alarme.
Segundo a concepção de um sistema de apresentação da informação o alarme aparece
diretamente num contexto estruturado (sobre um quadro sinótico, por exemplo), ou ainda,
num ambiente não significativo (lista alfanumérica). A correlação do alarme com seu
contexto será completamente diferente num e noutro caso.
1) A Divisão da Informação:
Em geral não é possível visualizar sobre uma mesma tela todos os parâmetros
referentes ao processo. É necessário, então, repartir a informação em várias telas. Essa
divisão da informação, vai desempenhar um papel essencial no gerenciamento do processo:
se porventura ela for mal concebida, os operadores, durante a resolução de um problema,
poderão ser obrigados a mudar de tela, o que exigirá de sua parte uma maior memorização e
uma maior atenção visual, dificultando a elaboração de uma representação mental do estado
das unidades e possibilitando uma maior fadiga visual do indivíduo.
Assim sendo, a repartição das informações entre telas deve ser concebida, não em
função da lógica de funcionamento do sistema (afetação administrativa dos equipamentos
por unidade), mas a partir da lógica de utilização, isto é, respeitando o reagrupamento dos
parâmetros e dos comandos, referentes a um mesmo curso de ação. A necessidade de uma
mudança freqüente de telas, dentro de um mesmo curso de ação, dificulta sobremaneira a
resolução de um incidente.
Por outro lado, deve-se considerar que, durante a resolução de um problema, há
necessidade de apresentar dois tipos diferentes de informações, de forma simultânea:
informações referentes ao problema que o operador está resolvendo e informações referentes
aos eventos que ele acompanha, sobre o desenvolvimento de forma sintética. Assim, pode-
se prever diferentes tipos complementares de terminais sinóticos de vídeo:
(a) Terminais Sinóticos de Redes
Redes hidráulicas, redes de vapor, redes de ar comprimido, enfim todo o circuito de
um produto na unidade. Esses terminais permitem varrer todos os pontos de produção e de
consumo de um produto, permitindo o estabelecimento de balanços e a detecção de possíveis
fugas;
(b) Terminais Sinóticos de Serviço
Trata-se da visualização de listas que não têm função de gerenciamento do processo,
mas que permitem efetuar levantamentos, conhecer todos os materiais implantados ou em
implantação, etc. Normalmente, é recomendável que eles possam ser vídeo copiados ou sair
via impressora;
(c) Terminais Sinóticos de Vigilância Geral
Como o próprio nome indica, esses terminais reagrupam parâmetros os mais
característicos do estado das diferentes unidades (informações analíticas). São utilizados
sobretudo nas situações normais de trabalho.
(d) Terminais Sinóticos de Manobra
Esses terminais são os mais importantes a serem concebidos. São utilizados
sobretudo nas situações anormais e de incidentes. Correspondem a situações de ação
identificadas e fornecem, para cada situação, o conjunto das informações e dos comandos
que aparecem como necessários. Para conceber em detalhes esse tipo de terminal, deve-se
considerar as seguintes regras:
− * as características físicas: é necessário respeitar as duas direções privilegiadas de
varredura visual: horizontal e vertical. Os parâmetros numéricos deverão, então, ser
repartidos sobre linhas e colunas.
É preciso assinalar que o suporte da informação a ser visualizada, normalmente uma
trama fixa, emite uma certa quantidade de informações somente no início. Esse suporte será
somente para situar os parâmetros, uns em relação aos outros. De fato, o que importa é a
figura (o detalhe a ser visualizado) e não o fundo. Neste sentido, o fundo deve ser o mais
leve possível. Uma estrutura de fundo muito pesada pode ser artisticamente bem concebida,
mas ergonomicamente carregam de forma inútil a percepção visual, em detrimento da
informação real. O problema é diferente quando o desenho de fundo muda conforme o estado
do processo.
* acesso difícil: sobre certos sistemas, o operador deve compor um código de acesso, para
poder visualizar sobre o terminal uma determinada informação, o que pode exigir uma
memorização suplementar e, às vezes, um maior tempo de acesso.
A importância da informática nos diversos setores da atividade humana faz com que,
atualmente, exista uma abundante literatura sobre a "Ergonomia da Informática" e,
particularmente, sobre a "Ergonomia de Software".
Assim sendo, neste parágrafo, apresentar-se-ão somente os critérios e princípios do
projeto, as considerações das teorias cognitivas, os modelos de interação e as recomendações
ergonômicas gerais.
2) Carga de Trabalho
É o conjunto de elementos que desempenham para o usuário papel na redução de sua
carga perceptiva ou mnemônica e no aumento da eficiência do diálogo. Quanto maior a carga
de trabalho, maiores os riscos de erros. Da mesma forma, menos o usuário será distraído
com informações não pertinentes.
* Brevidade
− concisão nos elementos individuais das entradas e saídas (carga de trabalho ao nível
perceptivo e mnemônico). A capacidade da memória de curto termo é limitada,
conseqüentemente, quanto mais curtas forem as entradas e saídas, menor o risco de
erro.
− ações mínimas (carga de trabalho no nível das opções e meios disponíveis para
atingir um objetivo). Quanto mais numerosas e complicadas as ações necessárias
para atingir um objetivo, maior é a carga de trabalho e o risco de erros.
* Carga mental no conjunto dos elementos (carga de trabalho no nível perceptivo e
mnemônico). Os elementos sem ligação com o conteúdo da tela não devem constar nela, se
necessário, devem aparecer em outras telas.
3 ) Controle Explícito
É o controle que o usuário tem sobre o aplicativo e sobre a interface. Refere-se
também ao caráter explícito de suas ações. Quando as entradas dos usuários são
explicitamente definidas por eles próprios e sob o seu controle, as ambigüidades e os erros
são limitados.
* Ações explicitas: a interface deve executar somente as operações solicitadas pelos
usuários. Nestas situações observa-se uma menor incidência de erros.
* Controle do usuário : antecipar-se ao usuário e lhe fornecer as opções apropriadas
a cada ação, permitindo que ele tenha sempre o controle da interação.
4) Adaptabilidade
Adaptabilidade é a capacidade de interface de reagir segundo o contexto e segundo
as necessidades e preferências dos diversos usuários potenciais, tanto durante seu
aprendizado como na execução normal da tarefa. Quanto mais numerosas forem as diferentes
opções de efetuar uma mesma tarefa, maiores serão as possibilidades do usuário dominar
uma delas durante seu aprendizado. Deve-se:
* proporcionar flexibilidade nos meios disponíveis, para que o usuário possa
personalizar a interface e adaptá-la às suas estratégias ou habilidades no trabalho, fazendo
frente assim às exigências da tarefa. A personalização da interface pode contribuir para a
rapidez de aprendizado por parte do usuário.
* levar em consideração a experiência do usuário, permitindo que o sistema respeite
o nível de competência do usuário. Os usuários experientes têm necessidade de diálogos
menos explícitos que os novatos. Todas as informações e opções de comandos visíveis, bem
como diálogos sob a iniciativa do computador podem atrapalhar e tornar lento o trabalho do
usuário experiente .
5) Gestão de Erros
Gestão de erros refere às possibilidades de evitar ou diminuir a ocorrência de erros e
de corrigi-los, quando estes acontecerem. As interrupções provocadas pelos erros tem
conseqüências negativas sobre a qualidade do diálogo, prolongando as iterações e
perturbando a planificação. Itens a considerar:
* proteção contra os erros, ou seja, meios disponíveis no software para detectá-los. E
preferível detectar os erros na digitação do que na validação.
* qualidade das mensagens, isto é, pertinência e exatidão da informação fornecida ao
usuário sobre a natureza do erro cometido e das ações a executar para corrigi-lo. A qualidade
das mensagens favorece o aprendizado do sistema.
* correção de erros facilitada pelos meios disponíveis. Os erros são menos
perturbadores à medida, em que são facilmente corrigidos.
6) Homogeneidade/ Consistência
As escolhas de projeto, quanto aos objetos da interface, devem ser idênticas para
contextos idênticos. Este critério se aplica igualmente à localização e ao formato como à
sintaxe e à denominação. Os procedimentos, opções e informações são melhor reconhecidos,
localizados e utilizados quando seu formato, localização ou sintaxe são estáveis de uma tela
à outra, de uma sessão à outra e mesmo de uma aplicação à outra. Por serem mais previsíveis
estes sistemas proporcionam um melhor aprendizado. A falta de homogeneidade no
posicionamento das opções de menu, por exemplo, pode aumentar consideravelmente o
tempo de busca.
8) Compatibilidade:
As características dos usuários devem ser levadas em conta na organização das
entradas, saídas e do diálogo, de forma que sejam compatíveis entre si. Reduzir a necessidade
de traduções, interpretações, transportes ou referências à documentação.
Os princípios de projeto encontrados principalmente em handbooks, (Schneiderman,
l988; Scapin, 1988) apontam os aspectos mais salientes de uma interface sob o ponto de vista
ergonômico. Indicam assim, como pré-requisitos para a atividade de concepção, a
consideração ao usuário e a seu trabalho. A referência ao trabalho concerne ao pleno
conhecimento de suas duas componentes: a tarefa e a atividade. Para tanto, torna-se
necessária a aplicação da metodologia ergonômica de análise do trabalho, que prevê duas
etapas principais: análise da tarefa e análise da atividade.
A etapa de análise da tarefa, ou do trabalho prescrito, descreve formalmente aquilo
que a pessoa deve realizar. Através de objetivos, procedimentos, regras de funcionamento e
restrições, evidencia a lógica de funcionamento e restrições, evidencia a lógica de
funcionamento de um sistema, como concebida por seus projetistas. O exame de métodos
informáticos revela ser esta a única lógica considerada até o momento. Já a análise da
atividade, ou do trabalho como ele é realmente realizado, faz referência à lógica de utilização
desenvolvida pelo usuário em sua rotina. Para tanto, observa-se "in loco":
* as informações que são realmente utilizadas (sua ordem, as que faltam, as inúteis e
as que induzem a erros);
* as operações efetuadas, seu encadeamento;
* tipos, freqüências, causas e condições de aparecimento dos erros e incidentes.
Pode-se inferir, assim, sobre a imagem operativa, que é a representação que o usuário
tem da realidade de trabalho, modificada e simplificada pelo que é funcionalmente
significativo. Ela amplia os elementos pertinentes e elimina os secundários. Enquanto a
lógica de funcionamento baseia-se no conhecimento das funções e de seus mecanismos
internos, a de utilização baseia-se nas repercussões visíveis do sistema (Richard, 1983). Os
conflitos entre estas duas lógicas, ou entre a tarefa prescrita e a atividade real evidenciam
muitas vezes, os pontos problemáticos, onde as pessoas desenvolvem mecanismos de
regulação cognitivamente custosos.
Proteção:
− fornecer proteção adequada contra o acionamento involuntário de funções
perigosas;
− verificar a entrada de dados para detectar erros de formato e de conteúdo;
− fornecer funções UNDO para anular uma operação e recuperar os sistemas,
permitindo novas entradas.
Ritmo e Ordem.
− seguir o ritmo do usuário e não o do computador;
− quando da transcrição de dados de um documento, a tela deve ter o mesmo
formato deste;
− em outros casos, seguir a seqüência lógica da tarefa.
Muitas vezes a empresa não quer desenvolver um novo software, mas comprar um já
existente no mercado. Neste caso, o problema é então de seleção, isto é, escolher dentre os
vários existentes no mercado (programas grande público tipo editor de textos, planilhas
eletrônicas, base de dados e outros), aquele (ou aqueles) que preenchem as necessidades da
empresa.
Para efetuar esta seleção é preciso levantar informações sobre a diversidade da
população de usuários e a diversidade de tarefas que serão efetuadas com a ajuda do
aplicativo em questão (por exemplo, no caso de um editor de textos: redação de expedientes,
mala direta, digitação de relatórios, etc.). Dentre os critérios que poderão ser utilizados para
efetuar uma primeira seleção, pode-se citar:
− o tempo provável de aprendizagem;
− a facilidade aparente de utilização do programa para usos específicos que serão
desenvolvidos;
− a compatibilidade com os programas já utilizados na empresa ou a semelhança
dos comandos já empregados;
− a qualidade da documentação;
− as proposições do fornecedor em matéria de formação e de suporte após a venda
(manutenção e assistência “hot-line” );
1) o guia do usuário: este manual é estruturado a partir dos objetivos que o usuário pode
perseguir, isto é, a partir da lógica de utilização. Por exemplo, no caso de um software de
edição de texto:
− digitar e imprimir um primeiro texto (o que exige a colocação em marcha do
aplicativo, saber conectar a impressora, etc...);
− enviar a mesma carta a várias pessoas;
− melhorar a paginação (enquadrar um parágrafo, alterar os títulos com outras
fontes, etc).
A entrada numa parte do guia do usuário se faz a partir dos objetivos que ele
persegue. O guia ajuda o usuário a transformar um objetivo numa seqüência de ações
(assistência à planificação da ação). Em particular, o guia indica os pré-requisitos
eventualmente necessários para efetuar certas ações e remete o usuário, segundo seu nível
de experiência, à leitura preliminar de certos parágrafos.
Para cada seqüência de ação, o desenvolvimento da interação com o sistema é
descrito a partir de um exemplo, sob uma forma, a mais próxima possível, da interação real:
mensagens remetidas pelo programa, tempo de espera e outros. Os incidentes os mais
suscetíveis de ocorrer são descritos a partir de suas manifestações observáveis pelo
indivíduo. A conduta a ser seguida, para resolver o incidente, é indicada passo a passo.
As pesquisas de Sinaiko (1975) mostram que as boas traduções são feitas muito
lentamente. Parece existir um limite superior de 400 a 450 palavras por hora para os bons
tradutores. Este resultado é mais ou menos constante entre diversas línguas.
12.8.5 Termos familiares
Sinaiko (1975) sugeriu algumas regras para a redação de documentos que poderão
ser traduzidos, a fim de minimizar os erros de tradução:
1. não escrever frases longas, isto é frases com mais de 16 palavras;
2. não utilizar expressões verbais complexas;
3. evitar advérbios e preposições que indicam graus como “relativamente
provável”;
4. evitar abreviações como “ alavanca de aterrissagem cont.” onde cont. pode ser
controlada, contida, contrariada, etc.
5. fornecer aos tradutores glossários bilíngües e dicionários técnicos.
12. 8.8 A tradução informatizada
Esses fatores, normalmente, não são objetos de uma descrição explícita. As diferentes
possibilidades em matéria de organização do trabalho são raramente explicitadas, a fim de
se estabelecer um debate na empresa, sobre as vantagens e os inconvenientes, de cada
solução proposta. Durante o desenvolvimento de um projeto industrial, é freqüente que a
organização do trabalho seja definida pela simples recondução de sistemas existentes,
anteriormente ao projeto, ou de outras situações. Raramente, é definida uma engenharia
consultiva em matéria de organização do trabalho.
A posição da Ergonomia é que um novo investimento, um projeto industrial, é a
ocasião de uma reflexão de fundo sobre os sistemas organizacionais existentes e sobre as
modificações que são possíveis de serem introduzidas. Como visto anteriormente, o interesse
da Ergonomia é o enriquecimento dos objetivos iniciais do empreendedor. Neste sentido, é
necessário definir quem assegurará a gestão do projeto, no que diz respeito à organização do
trabalho.
Pode-se ver, então, a necessidade de uma estreita interação, desde o estágio dos
estudos de Engenharia Básica, entre a reflexão sobre a organização do trabalho futuro e a
reflexão sobre a formação.
5) As últimas recomendações gerais que serão consideradas são oriundas das pesquisas da
Psicopatologia do Trabalho. A Psicopatologia do trabalho coloca em evidência que
algumas profissões são suscetíveis de desempenhar um papel positivo sobre a saúde dos
trabalhadores que as exercem.
Neste sentido, as condições necessárias (mas não suficientes) para a ocorrência de uma tal
situação são as seguintes:
espaço de problema, a ser tratado pelo trabalhador, suficientemente amplo (flexível):
formulação do diagnóstico e construção do modo operativo pelo próprio
trabalhador, no quadro de um "espaço" recebido por regras coletivas;
ação possível do trabalhador sobre os meios de trabalho e sobre uma certa
modulação dos objetivos. A margem de manobra, que cada trabalhador dispõe, no
seio da equipe de trabalho, lhe permite encontrar recursos, no caso em que:
− os objetivos não podem ser atingidos;
− os objetivos só podem ser atingidos por modos operativos prejudiciais à
saúde.
um coletivo de trabalho que favoreça a expressão das diferenças individuais entre
seus membros (reconhecimento de competências particulares por exemplo), e não o
confronto dessas diferenças, estabelecendo assim um obstáculo comum;
a competência de cada pessoa deve ser percebida no seu aspecto dinâmico
(possibilidades de aprendizagens e de evoluções).
2) A polivalência
A polivalência é a organização da possibilidade, para um trabalhador, de ocupar
vários postos diferentes:
- ela apresenta o interesse de ampliar o espaço de problema que um operador é capaz
de, devidamente autorizado, tratar: fonte de evolução individual, melhoria da
capacidade do sistema para fazer face à variabilidade. Todavia, o benefício
individual não é, sempre, evidente se a polivalência limita-se à alternância de tarefas
similares, cuja execução de cada uma delas não irá enriquecer os conhecimentos
utilizáveis pelos outros.
- caráter, necessariamente, progressivo da aquisição da polivalência. Condições de
aprendizagem (dificuldades da aprendizagem sob condicionante de tempo).
- necessidade de emprego regular das competências. Problemas ligados a uma
polivalência teórica, mas não exercida.
- atenção à re-aprendizagem necessária, cada vez que se passa de uma tarefa para outra.
- problema relacionado à remuneração da polivalência, que não diz respeito à
Ergonomia.
3) A ampliação de tarefas
Segundo Fleury (1978) esta ampliação pode ocorrer no sentido horizontal (tarefas de
mesma natureza agrupadas num único cargo) ou vertical (tarefas diferentes agrupadas num
único cargo).
Assim, a ampliação de tarefas vertical consiste em confiar a um trabalhador tarefas
suplementares, de natureza diferente daquelas que ele já efetua sobre o posto de trabalho.
Por exemplo: um operador de produção é encarregado de executar tarefas de manutenção,
de controle, etc.
Neste sentido, deve-se considerar os seguintes aspectos:
- Interesse dessa ampliação (melhor consideração do conjunto dos fatores que
contribuem para a qualidade da produção, por exemplo, desenvolvimento das
competências do operador).
- Risco de um aumento da carga de trabalho se os meios apropriados não são
empregados.
- Risco que o operador seja levado a interiorizar conflitos que existiam anteriormente
entre dois serviços: conflitos "quantidade/qualidade" ou conflitos "continuação da
produção/parada para manutenção". Necessidade de apoio a decisão do operador
(critérios) e possibilidades de recursos se for preciso.
4) As qualificações
- Várias disciplinas abordam esta questão. Por outro lado, o sentido dado a esta palavra
também é bastante variado.
- A Ergonomia coloca em evidência a "qualificação operativa" empregada numa
determinada atividade de trabalho. A qualificação operativa representa apenas uma
parte da qualificação pessoal do trabalhador, adquirida de sua história, de sua
formação, de sua experiência, de suas atividades fora do trabalho. A qualificação
operativa não tem relação direta com a classificação profissional(remuneração).
- Durante o desenvolvimento de um projeto industrial, é importante caracterizar não
somente as qualificações operativas, mas também as potencialidades que
representam as qualificações pessoais reais, e que não são investidos na organização
atual.
5) A comunicação
- Favorecer a compatibilidade entre os "modelos mentais" das diferentes pessoas que
são levados a se comunicar. Consideração desses modelos quando da formação.
- Cada comunicação inscreve-se no curso de ação de cada interlocutor. Identificação
pelo outro, desta ação em curso, e seu estado de desenvolvimento.
- A identificação precoce de situações de ação tipo, permite considerar as necessidades
de comunicações, na disposição dos próprios meios de produção (proximidade,
visibilidade, acessibilidade).
- Concepção dos meios de comunicação ( número, localização, características,
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CAPÍTULO 14
ERGONOMIA E FORMAÇÃO
Da mesma forma que para as outras "dimensões" do projeto, verdadeiros estudos são
necessários para se chegar na definição da formação que será desenvolvida. Neste sentido, é
de fundamental importância que esses estudos comecem o mais cedo possível, no
desenvolvimento do projeto, para que a própria formação possa ser iniciada durante os
estudos de engenharia de detalhamento.
A consultoria em matéria de formação pode ser realizada pelo serviço de formação
da própria empresa, por uma empresa externa, ou ainda, pela gerência do futuro
empreendimento. Em todos os casos, o "Termo de Referência de Formação" permite uma
discussão explícita com o empreendedor (ou seu representante), quanto aos objetivos da
formação. Igualmente, ele permite evidenciar, de forma precoce, a necessidade de liberar os
operadores durante um tempo suficiente para a formação, de organizar eventualmente
substituições ou reforçar, temporariamente, o efetivo.
O "Termo de Referência de Formação" compreenderá, notadamente, uma descrição
da população a ser formada e de sua experiência atual . Em primeiro lugar, a partir da análise
das situações de referência, pode-se estabelecer os objetivos da formação, não em termos de
conhecimentos (saber), mas em termos de situações de ação tipo, nas quais os operadores
devem poder elaborar uma conduta apropriada. Este programa levará em conta o fato de que,
não somente os operadores de produção é que devem receber uma formação. Os operadores
de manutenção e de controle são, igualmente, envolvidos pelo projeto. Da mesma forma, a
supervisão e a gerência, devem ser formados em relação aos novos equipamentos, mas
também em relação ao gerenciamento do projeto e à futura organização do trabalho.
É claro que, o planejamento da formação se dará em relação com o desenvolvimento
geral dos estudos: os módulos de formação, os mais gerais, e aqueles que se referem à
experiência anterior, serão programados em primeiro lugar, enquanto aqueles que se referem
à arquitetura do sistema, somente poderão começar quando os estudos técnicos estiverem
suficientemente avançados.
A diversidade dos itinerários individuais não pode ser descrita, de forma simples,
quando prepara-se um plano de formação. Todavia a análise da população futura provável
permite determinar as ocasiões apropriadas para adquirir conhecimentos sobre:
- As matérias primas;
- Os produtos;
- As ferramentas;
- As máquinas;
- A documentação;
- Os procedimentos;
- Os critérios de qualidade;
- As ocasiões de colaboração, etc.
É preciso assinalar que tais conhecimentos não são, em geral, estruturados da mesma
forma que aqueles oriundos dos bancos escolares. Modelos explicativos foram
desenvolvidos, não sendo análogos aqueles dos engenheiros. Em todo caso, esses modelos
têm uma certa lógica interna. Quando esta lógica aparece como inadaptada para o
gerenciamento do novo sistema, é preciso saber que não se pode "apagá-la". A única
possibilidade é de religar esses elementos de conhecimento à outros, de forma
suficientemente sólida, para que as lógicas particulares não "ocorram" sozinhas.
As tentativas de procurar elaborar uma ação de formação, baseada numa análise das
competências anteriores, encontram a seguinte dificuldade: como já assinalado
anteriormente, muitas competências desenvolvidas pelos operadores, jamais tiveram a
oportunidade de serem expressas verbalmente. Os operadores não são, então,
necessariamente "conscientes", do que eles sabem e do interesse de seus conhecimentos
atuais, em relação ao novo sistema.
Uma etapa importante do plano de formação pode consistir numa explicitação, pelos
próprios operadores, das estratégias e das competências que eles desenvolvem, no trabalho
atual. Evidentemente, isto supõe que eles possam ser dirigidos por um formador,
familiarizado com os métodos de análise ergonômica do trabalho. Este profissional, guiará
a descrição da atividade, procurando fazer verbalizar o operador sobre o direcionamento
cognitivo de sua ação e, em seguida, formalizará as principais características de sua
atividade.
Assim sendo, é possível assinalar certos elementos de continuidade, entre as
competências anteriores e aquelas que serão exigidas pelo novo sistema. Isto permitirá aos
operadores de se encontrarem numa situação de exploração ativa, em relação à formação.
1) Precisar os objetivos
3) Os conhecimentos teóricos
Os conhecimentos teóricos não devem ser considerados como verdades imutáveis,
mas como ferramentas que têm caráter dinâmico na confrontação com a realidade. Por
exemplo, a equação elétrica referente a lei de Ohm (V= I.R), permite:
• Prever a intensidade da corrente elétrica que passa numa resistência elétrica;
• Medir valores de resistência elétricas por comparação entre eles;
2) A formação continuada
A formação que se segue após o alcance do funcionamento nominal, tem por objetivo
permitir aos trabalhadores guardar uma certa vantagem, em relação aos seguintes aspectos:
• Prevenção das dificuldades ligadas ao envelhecimento dos trabalhadores;
• Preparação às evoluções tecnológicas posteriores;
• Melhoria contínua da qualidade.
Análise de
viabilidade do
empreendimento
Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência
Locais de Trabalho Equipamentos Interfaces / Software Organização Trabalho Formação
Figura 1. Esquema geral do formalismo proposto para uma empresa de médio porte
* CERE - Caderno de encargos de recomendações ergonômicas
A figura 1 coloca um esquema geral do formalismo proposto para um projeto
industrial de médio porte. Já a figura 2 sintetiza o cronograma físico da intervenção
ergonômica nas diversas etapas de desenvolvimento do projeto. Assim, são apresentados, a
seguir, modelos de documentos que facilitam o gerenciamento ergonômico de projetos
industriais:
o Relatórios de Gerenciamento de Projeto;
o Termos de Referência;
a Fichas de Ação Tipo;
o Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas.
Implantação
Engenharia de
Experiment. Formação
Montagem Acompanh. 1. RAFP Realização Realização Software Verificação
Substância + Grandes Locais Real Progressiva
Coerência RGP (V4) Obras Decisões
Qualificação
2. RAFP Elaboração
Operação Piloto implantação implantação Acertos Finais Senhas
RGP (V5)
Revisão pré-
Operação Piloto Colocação Arranjos Acertos Assistência
em marcha Físicos Avaliação Finais O. P.
Retorno
Experiência
Funcionamento Análise de
Estabilizado Atividades 3. Recepção Avaliação Avaliação Avaliação
(transit.) Formação
Continuada
Figura 2. Cronograma físico da intervenção ergonômica nas diversas etapas do processo
Empresa:
Seção : Data:
* Características técnicas
* Características da população:
- idade
- histórico profissional
- níveis de formação inicial, ocasiões de formação profissional, indicadores de formação
pessoal, ...
* Características organizacionais:
- horários
- efetivos
- repartição das tarefas
- condicionamento de tempo, ...
* Produção:
- quantidade
- variedade
- qualidade
- indicadores relativos ao estado dos materiais
* Dificuldades conhecidas
2. OBJETIVOS DO PROJETO (trabalho de explicitação com o empreendedor)
* Procedimento técnico
* Grau de centralização
- tratamento da informação:
. índices relativos ao estado das matérias-primas, dos produtos, do processo
. programação inicial
. necessidade de reprogramação ou de intervenção sobre panes de softwares
. incidentes conhecidos
* Pessoas
* Ferramentas
* Veículos
* Informação
7. CRONOGRAMA
Termos de Referência
1. DECISÕES DE BASE
* O local não deve ter desnivelamento nem mudança de níveis (passarela, plataforma,
...). Se existem mudanças de níveis, os acessos a estes níveis devem ser em número
suficiente e implantados de forma a limitar os deslocamentos. As diferenças de níveis
devem ser as mais fracas possíveis.
Todo posto manual deve estar munido de sinalizadores, segundo um destes três
princípios, assim como de um sistema de alerta operador.
5. DOCUMENTAÇÃO
6. NíVEL DE RUÍDO
Assim sendo, o nível de 85 dB (A) não é um objetivo a ser atingido, mas um limite
que, absolutamente, não deve ser ultrapassado, conforme as normas ISO, ABNT e AFNOR.
7. VIBRAÇÕES
8. NÍVEL DE ILUMINAÇÃO
9. POLUIÇÃO DO AR
* Os critérios e os limites de exposição no posto de trabalho a serem respeitados, quando
da realização de medidas técnicas para suprimir os riscos profissionais devidos à
poluição do ar, são fixados pelo Ministério do Trabalho, através de portarias
específicas aos produtos manipulados (benzeno, chumbo, ...)
* Um conjunto de normas ISO, específicas aos diferentes poluentes, permite verificar o
respeito aos critérios e aos valores limites de exposição.
* No caso em que o projeto especifica, a aspiração deve ser feita em todos os locais da
planta industrial onde exista emissão de gazes, fumaça ou qualquer produto tóxico.
Esta seção tem o objetivo de apresentar definições gerais de alguns termos utilizados no
decorrer deste livro, visando auxiliar sua leitura e análise.
Ambiente: todos os elementos existentes fora dos limites da empresa e que tenham potencial
para afetá-la como um todo ou somente em alguma parte. O ambiente pode ser classificado
como geral (fatores, tendências e condições gerais comuns a todas as empresas) ou
específico (fatores que tenham relevância imediata para a empresa).
Antropologia Cultural: abrange o estudo do homem como ser cultural, isto é, fazedor de
cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, sua origens e desenvolvimento,
suas semelhanças e diferenças.
Antropometria: é uma ciência que trata especificamente das medidas do corpo humano, a
fim de precisar as diferenças existentes entre indivíduos, grupos, etc (Panero, 1979).
Biomecânica: estuda as interações entre o trabalho e o homem, sob o ponto de vista dos
movimentos músculo-esqueletais envolvidos, e as suas conseqüências. Analisa basicamente
a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças (Iida, 1990)
Cultura: " a cultura consiste de uma forma padrão de pensar, sentir e reagir, adquirida e
transmitida principalmente por símbolos, constituindo as realizações distintivas de grupos
humanos, incluindo sua personificação em artefatos; o ponto essencial da cultura consiste
em idéias tradicionais e, especialmente, seus valores inerentes" (Kluckhohn, 1972). O ser
humano nasce com a capacidade de participar em qualquer cultura, aprender qualquer
idioma, e desenpenhar qualquer tarefa, mas é a cultura específica em que ele nasce e vive
que determina o idioma que fala, quais atividades ele faz segundo sua idade, sexo e posição
social, e como ele pensa sobre o mundo em que vive.
Fisiologia do Trabalho: é uma das áreas da fisiologia que está centrada sobre as variações
e os limites do desempenho do homem, dentro de determinadas condições físicas de trabalho.
Heurísticas: são procedimentos menos precisos que os algoritmos, menos sistemáticos, que
não permitem chegar na solução do problema com certeza.
Imagem Operativa: é uma deformação funcional da realidade. Segundo Ochanine(1978), a
atividade de trabalho leva o indivíduo a construir representações, que são uma sorte de
empilhamento de traços pertinentes do objeto e que acionam a ação.
Lógica de Utilização : refere-se aos conhecimentos empregados pelo trabalhador, que lhe
permitem resolver eficientemente o problema.
Modo Degradado: é definido por Kerbal (1990), como a tecnologia que sofre freqüentes
rupturas, causando sérios problemas sobre a eficiência da produção e especialmente sobre
as condições de trabalho.
Psicologia Cognitiva: Para Jean Piaget (Estudos de Psicologia Genética, 1950), seria o
estudo da conduta., onde conduta é usada ao invés de comportamento, para deixar claro que
o interesse se concentra nos processos de aquisição e processamento do conhecimento.
Tarefa: objetivo que o operador tem a atingir, para o qual são atribuídos meios (máquinas e
equipamentos) e condições (tempos, paradas, ordem de operação, espaço e ambiente físicos,
regulamentos). Corresponde ao trabalho prescrito. (Laville, 1977).
Tecnologia: "o conjunto ordenado de conhecimentos, empregados na produção e
comercialização de bens e serviços, e que está integrada não só por conhecimentos
científicos - provenientes das ciências sociais, humanas etc... mas igualmente por
conhecimentos empíricos, que resultam de observações, experiências, atitudes específicas,
tradição oral ou escrita..." ( Sabato apud Rodrigues, 1984).
Trabalho Prescrito: é a maneira como o trabalho deve ser executado: o modo de utilizar as
ferramentas e as máquinas, o tempo concedido para cada operação, os modos operativos e
as regras a respeitar.