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ANTROPOTECNOLOGIA - A ERGONOMIA DOS

PROJETOS INDUSTRIAIS

ANA REGINA DE AGUIAR DUTRA


FRANCISCO ANTONIO PEREIRA FIALHO
NERI DOS SANTOS
ROSSANA PACHECO DA COSTA PROENÇA
ANTROPOTECNOLOGIA - A ERGONOMIA DOS PROJETOS INDUSTRIAIS

Introdução

Capítulo 1. Transferência de tecnologia

Capítulo 2. A situação dos países em relação à tecnologia

Capítulo 3. Antropotecnologia

Capítulo 4. Os conhecimentos adquiridos da Antropotecnologia

Capítulo 5. Ergonomia e projetos industriais

Capítulo 6. Metodologia antropotecnológica - O acompanhamento ergonômico


de projetos industriais

Capítulo 7. A análise da população futura

Capítulo 8. O prognóstico da atividade futura

Capítulo 9. A participação dos trabalhadores na concepção de um projeto industrial

Capítulo 10. A concepção ergonômica dos locais e espaços de trabalho

Capítulo 11. A concepção ergonômica dos equipamentos materiais

Capítulo 12. Concepção de dispositivos de apresentação da informação, dos


comandos e dos softwares

Capítulo 13. Ergonomia e Organização do Trabalho (OT)

Capítulo 14. Ergonomia e Formação

Conclusão

Bibliografia Referenciada

Índice Geral

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Glossário

Anexos
Anexo 1 Planilhas para Levantamento de Campo
ANTROPOTECNOLOGIA - A ERGONOMIA DOS PROJETOS INDUSTRIAIS
Índice Geral

Introdução

Introdução

Capítulo 1. Transferência de tecnologia


1.1. Tecnologia - Definições e considerações gerais
1.2. Transferência de tecnologia
1.2.1. Uma tentativa de categorização da transferência de tecnologia
1.2.1.1. A transferência de tecnologia sob o controle estrangeiro
1.2.1.1.1. A transferência de tecnologias obsoletas
1.2.1.1.2. A transferência total
1.2.1.2. A Transferência de Tecnologia Sob Controle Nacional
1.2.1.2.1. Efeitos negativos da Transferência de Tecnologia
1.2.1.2.1.1. Os danos à saúde
1.2.1.2.1.2. A baixa produtividade
1.2.1.2.2. As Dimensões da Transferência
1.2.1.2.2.1. O controle da transferência
1.2.1.2.2.2. Nível de efetivação da transferência
1.2.2. Problemas clássicos da transferência de tecnologia
1.2.2.1. Geografia
1.2.2.2. Tecido Industrial
1.2.2.3. Limite Comercial e Financeiro
1.2.2.4. Tecido Social
1.3. A consideração dos fatores humanos - Ergonomia e sua evolução à
Antropotecnologia.
1.4. Bibliografia Sugerida

Capítulo 2. A situação dos países em relação à tecnologia


2.1. Aspectos ambientais e transferência de tecnologia
2.1.1. Ambiente Geral
2.1.1.1. Situação da capacitação tecnológica
2.1.1.2. Situação política
2.1.1.3. Situação econômica
2.1.1.4. Situação demográfica
2.1.1.5. Situação ecológica
2.1.1.6. Situação cultural
2.1.2. Ambiente de Tarefa
2.1.2.1. Fornecedores de insumos
2.1.2.2. Clientes ou usuários
2.1.2.3. Concorrentes
2.1.2.4. Entidades Reguladoras
2.2. A globalização da economia e a formação de blocos econômicos
2.3. Importância da transferência de tecnologia para o desenvolvimento industrial
2.4. A Teoria dos sistemas e a Teoria Contingencial
2.5. Bibliografia Sugerida

Capítulo 3. Antropotecnologia
3.1. Considerações iniciais
3.2. A Ergonomia
3.2.1. Ergonomia de projetos industriais e da automação da produção
3.2.2. Problemas ergonômicos da automação
3.2.2.1. Sistemas automatizados de produção - Produtica
3.2.2.1. A automação dos escritórios - Burótica
3.2.2.3. A indústria de processos contínuos
3.3. A Antropotecnologia
3.3.1. Origem e definição
3.3.2. As bases teóricas da antropotecnologia
3.3.2.1. Ergonomia
3.3.2.2. História das técnicas
3.3.2.3. Sociologia do trabalho
3.3.2.4. Geografia
3.3.2.5. Antropologia
3.3.2.5.1. Antropologia física ou biológica
3.3.2.5.2. Antropologia cultural
3.3.2.5.2.1. Antropologia cognitiva
3.3.2.6. Psicologia cognitiva
3.3.2.6.1. A complexidade do pensamento humano
3.3.2.6.1.1. A exploração perceptiva
3.3.2.6.1.2. Da percepção à ação
3.3.2.6.1.3. O encadeamento das representações e das ações
3.3.2.6.1.4. O papel das ações e da experiência
3.3.2.6.1.5. Alguns dados sobre a memória
3.3.2.6.1.6. A interferência entre tarefas
3.3.2.6.1.7. Situações perigosas (Erro humano X confiabilidade humana)
3.3.2.6.1.7.1. Informação insuficiente sobre o estado da instalação
3.3.2.6.1.7.2. Estabelecimento de um pré-diagnóstico falso
3.3.2.6.1.7.3. Aparecimento de uma situação inteiramente nova
3.3.2.6.1.7.4. Representações que não comunicam
3.3.2.6.1.7.5. Os períodos perturbados
3.3.2.6.1.7.6. As variações do estado do organismo
3.4. Bibliografia Sugerida

Capítulo 4. Os conhecimentos adquiridos da Antropotecnologia


4.1. Considerações iniciais
4.2. As Ilhas Antropotecnológicas
4.3. Alguns exemplos de estudos de Antropotecnologia e suas principais conclusões
4.4. Bibliografia Sugerida

Capítulo 5. Ergonomia e projetos industriais


5.1. A análise ergonômica do trabalho
5.1.1. Variabilidade individual
5.1.1.1. Variabilidade intra-individual:
5.1.1.2. Variabilidade inter-individual
5.1.1.3. Consideração da variabilidade pela Ergonomia
5.1.2. A determinação dos meios de trabalho
5.1.2.1. Meios de trabalho socialmente determinados
5.1.2.2. Meios de trabalho tecnologicamente determinados
5.1.3. Noção de tarefa
5.1.3.1. A tarefa prescrita
5.1.3.2. A tarefa induzida ou redefinida
5.1.3.3. A tarefa atualizada
5.1.4. Noção de atividade de trabalho - Aspecto central da abordagem ergonômica
5.1.5. Relações entre atividade de trabalho, saúde e desempenho
5.1.6. Critérios de saúde e critérios de produtividade
5.1.6.1. Aspectos convergentes
5.1.6.2. Aspectos divergentes
5.1.6.3. Ergonomia e critérios de gestão
5.1.6.4. A posição da Ergonomia
5.2. Desenvolvimento habitual de Projetos Industriais
5.2.1. Definição de projetos industriais
5.2.2. Os atores de um projeto industrial
5.2.3. As etapas de um projeto industrial
5.2.3.1. Estudos preliminares: anteprojeto
5.2.3.2. Os estudos de base: a Engenharia Básica:
5.2.3.3. Os estudos de detalhe: Engenharia de Detalhamento:
5.2.3.4. Engenharia de Compras
5.2.3.5. Montagem e implantação do projeto: o canteiro de obras
5.2.3.6. Operação piloto: os ensaios e a colocação em marcha
5.2.3.7. Projeto organizacional
5.2.3.8. Gerenciamento da implantação de um projeto industrial
5.2.4. Características habituais dos projetos industriais
5.2.5. Avaliação do gerenciamento tradicional de projetos industriais
5.3. A Ergonomia e a Gestão de Projetos Industriais
5.3.1. Considerações ergonômicas sobre o gerenciamento de projetos
industriais
5.3.2. Considerações dos aspectos humanos no gerenciamento de
projetos industriais
5.3.3. Análise dos diversos setores de uma empresa envolvidos num
projeto industrial
5.3.3.1. Engenharia de produto
5.3.3.2. Engenharia de Processos: Engenharia de Métodos e
Engenharia de Segurança do Trabalho
5.3.3.3. Serviços autorizados de atendimento aos consumidores (pós-
venda, assistência técnica, representantes, concessionários)
5.3.3.4. Os serviços sociais (Departamento de Pessoal, Serviço Social,
Relações empresariais, etc)
5.3.3.5. Serviço de medicina do trabalho
5.3.3.6. Engenharia de produção, gerência e operação
5.3.3.7. Serviços de representação do pessoal (CIPA, Delegado Sindical, Sindicatos, etc)
5.3.3.8. Análise estratégica
5.3.4. O campo de intervenção da Ergonomia - A posição do
ergonomista
5.3.4.1. O ergonomista consultor do empreendedor
5.3.4.2. O ergonomista consultor da Engenharia Consultiva
5.3.4.3. O ergonomista consultor dos representantes do pessoal
5.3.4.4. O ergonomista consultor das instâncias de negociação
5.4. Bibliografia Sugerida
Capítulo 6. Metodologia antropotecnológica - O gerenciamento ergonômico de
projetos industriais
6.1. As principais diretrizes da abordagem antropotecnológica - Gerenciamento
ergonômico de projetos industriais
6.2. Etapas da metodologia
6.2.1. Análise da situação local de transferência
6.2.2. Análise de situações de referência
6.2.2.1. A escolha das situações de referência
6.2.2.2. O desenvolvimento da análise de situações de referência
6.2.2.3. Os resultados da análise de situações de referência
6.2.3. Projeção do quadro de trabalho futuro
6.2.4. Reconstituição da atividade futura provável
6.2.5. Análise da atividade real
6.3. A metodologia antropotecnológica - Abordagem ergonômica e o cronograma do
projeto industrial
6.3.1. Intervenção ergonômica nos estudos preliminares de engenharia
6.3.2. Intervenção ergonômica nos estudos de Engenharia Básica
6.3.3. Intervenção ergonômica nos estudos de Engenharia. de Detalhamento
6.3.4. Intervenção ergonômica na Engenharia de Montagem
6.3.5. Intervenção ergonômica na Operação Piloto e na Produção Normal Estabilizada
6.4. Bibliografia sugerida

Capítulo 7. A análise da população futura


7.1. Considerações gerais sobre a população futura
7.2. A ergonomia e a determinação dos efetivos
7.3. Características importantes da população futura
7.4. Considerações sobre o envelhecimento e a experiência
7.4.1. Questões relativas ao envelhecimento
7.4.2. Componentes biológicos do envelhecimento
7.4.3. A usura devido ao trabalho
7.4.4. Envelhecimento e experiência
7.4.5. Envelhecimento e gestão das tarefas
7.5. Bibliografia sugerida

Capítulo 8. O prognóstico da atividade futura


8.1. Noção de atividade futura provável
8.2. Objetivo das reconstituições previsíveis da atividade
8.3. As diferentes etapas das reconstituições previsíveis da atividade
8.4. Condições para a implantação das reconstituições previsíveis da atividade
8.5. As diferentes formas e o desenvolvimento da reconstituição da atividade
8.5.1. Dados fisiológicos
8.5.2. Continuidade cronológica
8.5.3. Continuidade cognitiva
8.6. O prognóstico da atividade futura
8.7. Métodos clássicos utilizados pela Engenharia Consultiva Técnica
8.7.1. As árvores de falhas e as revisões de segurança
8.7.2. As recepções técnicas
8.8. Retorno sobre o produto
8.9 Bibliografia sugerida

Capítulo 9. A participação dos trabalhadores na concepção de um projeto industrial


9.1. Instâncias representativas e participação dos trabalhadores
9.2. A informação/consulta das instâncias legais
9.3. A participação dos trabalhadores no processo de concepção
9.3.1. A importância da participação
9.3.2. Campos de intervenção dos trabalhadores
9.3.2.1. A análise das situações de referência
9.3.2.2. A passagem da análise do existente aos termos de referência
9.3.2.3. Fases de reconstituição da atividade futura provável
9.3.2.4. A Engenharia de Montagem
9.3.2.5. Os ensaios e a colocação em marcha
9.3.3. As dificuldades da participação dos trabalhadores
9.3.4. Organização material
9.4. Bibliografia sugerida

Capítulo 10. Concepção ergonômica dos locais e dos espaços de trabalho


10.1. Os termos de referência
10.1.1. Considerações iniciais sobre os termos de referência
10.1.2. Informações contidas nos termos de referência
10.1.3. Características dos termos de referência
10.2. Especificidades da concepção dos locais e dos espaços de trabalho
10.3. Os passos do termo de referência “Locais e espaços de trabalho”
10.3.1. Etapas a serem consideradas
10.3.2. Elementos que influem na determinação do espaço de trabalho
10.3.3. Definições referentes à circulação e fluxos
10.3.4. Precauções a serem consideradas
10.3.5. Prever as evoluções posteriores
10.4. A concepção arquitetônica dos ambientes físicos
10.4.1. A concepção arquitetônica do ambiente luminoso (Iluminação)
10.4.1.1. Quantidade de luz
10.4.1.2. Ofuscamento
10.4.1.3. Propriedades da luz solar
10.4.1.4. Espectro das cores
10.4.1.5. Modulação
10.4.1.6. Sistemas de regulação do fluxo natural
10.4.1.7. Iluminação geral das zonas de trabalho horizontais
10.4.1.8. Iluminação localizada no posto de trabalho
10.4.1.9. Equilíbrio das luminâncias
10.4.2. A concepção arquitetônica do ambiente acústico (Insonorização)
10.4.2.1. O ruído das unidades
10.4.2.2. As conversações
10.4.2.3. Os dispositivos de intercomunicação
10.4.2.4. Outras fontes de ruído
10.4.3. A concepção arquitetônica do ambiente térmico (Climatização)
10.4.3.1. O conforto térmico
10.4.3.2. Precauções acústicas
10.4.3.3. Qualidade do ar
10.5. Meios para reconstituir a atividade futura
10.5.1. Plantas arquitetônicas
10.5.2. Maquetes
10.5.3. A “Ficha Local”
10.5.4. O cronograma físico da obra
10.5.5. Locais Pilotos
10.6. A ergonomia na concepção dos espaços de trabalho
10.7. Bibliografia sugerida

Capítulo 11. A concepção ergonômica dos equipamentos e das instalações


11.1. Considerações preliminares sobre a concepção ergonômica dos equipamentos e das
instalações
11.2. As recomendações gerais de projeto
11.3. A concepção detalhada dos equipamentos
11.4. Recomendações ergonômicas gerais
11.4.1. Dados antropométricos de base
11.4.2. Dimensionamento e acessibilidade
11.4.3. Esforços físicos de trabalho
11.4.4. Concepção dos comandos
11.4.5. Apresentação da informação
11.4.6. O meio ambiente de trabalho (os fatores de ambiente)
11.4.6.1. O ruído provocado pelos equipamentos
11.4.6.2. As vibrações provocadas pelos equipamentos
11.4.6.3. As condições térmicas geradas pelas instalações
11.4.6.4. O ambiente luminoso dentro das instalações
11.5. As reuniões de trabalho com a supervisão da obra
11.6. Considerações sobre a flexibilidade
11.7. Bibliografia sugerida

Capítulo 13. Concepção ergonômica dos dispositivos de apresentação das informações,


dos comandos e dos softwares
12.1. Considerações gerais de projeto
12.2. Metodologia geral de concepção de um dispositivo de apresentação da informação
12.2.1. A análise de situações de referência
12.2.2. A redação dos termos de referência
12.2.3. As reconstituições da atividade futura
12.2.4. A análise do trabalho na fase de operação do sistema
12.3. A análise de situações de referência
12.4. A concepção dos consoles e quadros sinóticos
12.4.1. Escolha do modo de apresentação das informações
12.4.1.1. Apresentação numérica
12.4.1.2. Apresentação analógica sem memória
12.4.1.3. Apresentação analógica com memória
12.4.1.4. Apresentação simbólica
12.4.2. Regras oficiais de apresentação da informação
12.4.2.1. Regras das características físicas
12.4.2.2. Regras das ligações informação/ação
12.4.2.3.Regra de reagrupamento
12.4.2.4. Regra de verificação
12.4.2.5. Regra de colocação em evidência
12.4.2.6. Regra de homogeneidade
12.4.2.7. Regra de manutenção
12.4.2.8. Uma conseqüência - a redundância
12.4.3. Recomendações específicas aos alarmes
12.4.3.1. As funções de um alarme
12.4.3.2. As dificuldades encontradas
12.4.3.3. A hierarquização dos alarmes
12.4.4. Recomendações específicas à apresentação da informação sobre os terminais de
vídeo
12.4.4.1. A divisão da informação
12.4.4.2. A utilização dos terminais sinóticos
12.5. A concepção dos softwares de diálogo
12.5.1. Os critérios e princípios de projeto dos softwares
12.5.1.1. Condução
12.5.1.2. Carga de trabalho
12.5.1.3. Controle explícito
12.5.1.4. Adaptabilidade
12.5.1.5. Gestão de erros
12.5.1.6. Homogeneidade/Consistência
12.5.1.7. Significância dos códigos
12.5.1.8. Compatibilidade
12.5.2. As considerações das teorias cognitivas
12.5.3. Os modelos de interação
12.5.4. As recomendações ergonômicas gerais
12.6. A seleção de um software dentre os vários existentes no mercado
12.7. A concepção da documentação
12.7.1. O guia do usuário
12.7.2. Manual de referência
12.8. Algumas considerações referentes à qualidade das traduções dos manuais
12.8.1. Considerações preliminares
12.8.2. A capacidade de aprendizagem técnica
12.8.3. Alguns problemas lingüísticos gerais
12.8.4. A rapidez da tradução
12.8.5. Termos familiares
12.8.6. Erros de tradução
12.8.7. Melhoria na qualidade das traduções
12.8.8. A tradução informatizada
12.9. Bibliografia sugerida

Capítulo 13. Ergonomia e Organização do Trabalho


13.1. Considerações preliminares sobre a organização do trabalho
13.2. Considerações conceituais sobre a organização do trabalho
13.3. Considerações sobre os aspectos organizacionais levantados nas situações existentes
13.4. A definição da organização do trabalho em uma determinada situação
13.5. A contribuição da ergonomia na definição da organização do trabalho
13.6. Explicitação das determinantes da atividade futura
13.7. Recomendações ergonômicas gerais
13.8. A instrução da decisão organizacional
13.9. Alguns campos de inter-relação entre ergonomia e organização do trabalho
13.9.1. Os horários de trabalho
13.9.2. A polivalência
13.9.3. A ampliação de tarefas
13.9.4. As qualificações
13.9.5. A comunicação
13.10. Bibliografia sugerida

Capítulo 14. Ergonomia e Formação


14.1. Importância de uma intervenção ergonômica na definição de um programa de
formação
14.2. O termo de referência “Formação”
14.3. As competências iniciais
14.3.1. O diagnóstico de formação
14.3.2. Consolidação das competências anteriores
14.4. Alguns elementos de reflexão para a definição de um plano de formação
14.4.1. Precisar os objetivos
14.4.2. Conhecimento para a ação
14.4.3. Os conhecimentos teóricos
14.4.4. As ferramentas reais de trabalho
14.4.5. Formar o coletivo de trabalho
14.4.6. Consolidar as ferramentas cognitivas de base
14.4.7. A formação dos trabalhadores idosos
14.5. Desenvolvimento da formação
14.6. Formação após a colocação em marcha das instalações
14.6.1. Durante a operação piloto
14.6.2. A formação continuada
14.7. Bibliografia sugerida

Conclusão

Bibliografia Referenciada

Índice Geral

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Glossário

Anexos

Anexo 1 Planilhas para Levantamento de Campo


LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1
Figura 1.1. Dimensões assumidas pela tecnologia
Figura 1.2. Os tipos de tecnologia segundo Faria (1992)
Figura 1.3. Categorização da transferência de tecnologia, segundo Wisner (1994b)

CAPÍTULO 2
Figura 2.1 Representação esquemática do modelo triádico das organizações, segundo uma
visão antropocêntrica
Figura 2.2 Representação esquemática da influência dos aspectos ambientais sobre a
organização
Figura 2.3 Blocos Econômicos, PIB e quantidade de pessoas
Figura 2.4 Participação dos países nos diferentes blocos

CAPÍTULO 3
Figura 3.1 Metodologia para a abordagem antropotecnológica
Figura 3.2 As bases teóricas da Antropotecnologia
Figura 3.3 Algumas das subdivisões da Antropologia
Figura 3.4 Representação Esquemática da Exploração Perceptiva

CAPÍTULO 5
Figura 5.1. A situação de trabalho
Figura 5.2. Controle das tomadas de informação e das ações.
Figura 5.3.a Situação de trabalho com condicionantes
Figura 5.3.b Situação de trabalho com condicionantes
Figura 5.4. Situação de trabalho sem condicionantes (ou com condicionantes controladas
pelo operador)
Figura 5.5. Situação de trabalho com fortes condicionantes (Os objetivos fixados são
alcançados com modificações do estado interno)
Figura 5.6. Situação de trabalho com fortes condicionantes (Os objetivos fixados não são
mais alcançados)
Figura 5.7. Etapas de um Projeto Industrial

CAPÍTULO 6
Figura 6.1.Etapas conceituais da metodologia antropotecnológica - o acompanhamento
ergonômico de projetos industriais
Figura 6.2. Interação do cronograma do projeto industrial com a intervenção ergonômica
Figura 6.3. Esquema geral do formalismo proposto para uma empresa de médio porte
Figura 6.4. Cronograma físico da intervenção ergonômica nas diversas etapas do processo

CAPÍTULO 10
Figura 10.1 Categorias de distância, medidas em centímetros
Figura 10.2 Deslocamentos

CAPÍTULO 11
Figura 11.1 Dados antropométricos de base
Figura 11.2 Planos e Volumes de Trabalho
Figura 11.3.a Limites de esforço recomendados para o Homem no Posto de Trabalho
Figura 11.3.b Limites de esforço recomendados para a Mulher no Posto de Trabalho
Figura 11.3.c Explicação do tipo de esforço, segundo sua natureza
Figura 11.4.a Dimensão dos comandos
Figura 11.4.b Dimensão dos comandos (conjunto)
Figura 11.5 Escolha do tipo de indicador
LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2
Tabela 2.1 Níveis Hierárquicos de uma Organização

CAPÍTULO 10
Tabela 10.1 Recomendações de níveis de iluminação para diversos tipos de leitura
Tabela 10.2 - Condições de conforto térmico, segundo as estações do ano

CAPÍTULO 11
Tabela 11.1 Recomendações de projeto
Tabela 11.2 Conseqüências provocadas pelas vibrações

INTRODUÇÃO

A globalização da economia tende a incrementar cada vez mais a integração, senão


entre os países, pelo menos entre os blocos econômicos organizados. O ambiente altamente
competitivo vem determinando o estabelecimento de novas formas de cooperação e
competição entre grupos econômicos, com vistas a repartir o mercado mundial, através de
intercâmbio e de barreiras de proteção.
Neste contexto, os processos de transferência de tecnologia, nas suas diversas
configurações, apresentam uma importância crescente, uma vez que se considera ser
amplamente aceita a premissa de que a tecnologia representa um fator essencial para o
desenvolvimento da competitividade.
Conforme Ofori (1994), a tecnologia pode ser transferida entre pessoas, entre partes
de uma mesma organização, entre organizações diferentes, de um centro de pesquisa ou
instituição educacional para indústrias e entre países. Comumente, a transferência de
tecnologia refere-se às combinações formais e diretas, baseadas em um acordo entre um
comprador e um vendedor, ou em um acordo não comercial entre um doador e um
beneficiário. A transferência é efetiva quando ela é requisitada, recebida, compreendida,
difundida amplamente e melhorada.
Porter (1982), analisando a formação de vantagens competitivas em um contexto
global, coloca que a tecnologia representa, atualmente, uma força capaz de ofuscar os
postulados da teoria econômica clássica, segundo os quais os recursos naturais, tais como,
terra , trabalho e capital, é que determinam a competitividade. Para este autor, a inovação
tecnológica, considerada tanto do ponto de vista dos elementos materiais como das
tecnologias de gestão, constitui-se hoje a única base de sustentação da competitividade.
Raciocínio semelhante é desenvolvido por Ellul apud Milier (1987) ao afirmar que
"os fenômenos técnicos exercem uma influência enorme sobre a nossa sociedade que, sobre
o seu impulso, passa de uma sociedade industrial, onde o valor agregado advém do trabalho
humano, à uma sociedade técnica, onde o valor agregado virá da inovação tecnológica".
Rodrigues et all (1987) encontraram em pesquisas de empresas que os argumentos
mais comuns relativos aos efeitos e objetivos da introdução de inovação tecnológica
envolvem: aumento da produtividade, melhor aproveitamento dos insumos, melhoria do
produto (obtenção de produtos mais nobres, de maior valor agregado e diferencial
competitivo), economia de energia e diminuição, tanto de riscos como de acidentes de
trabalho.
Acompanhando este mesmo eixo, Rosenthal et all (1992) desenvolvem um esquema
explicativo sobre a importância da inovação tecnológica, através dos seguintes pontos
principais:
* para cada tipo individual de bem ou serviço corresponderia um problema específico,
cuja solução poderia ser atingida através da utilização de diferentes tecnologias;
* dentro de um mesmo mercado, então, diferentes tecnologias podem levar a diferentes
resultados, com produtos e serviços diferenciados, tanto com relação aos custos de
produção quanto referentes ao valor que podem assumir para o cliente;
* a introdução de mudanças, isto é, inovações tecnológicas, constitui um dos principais
instrumentos de concorrência no sistema de economia de mercado, a partir da
premissa de que a heteroneidade tecnológica entre as empresas atuantes em um
mesmo mercado representa o principal determinante da diversidade de porte entre
as mesmas;
* de uma forma geral, o sucesso de uma empresa em seu mercado (grau de
competitividade) depende da sua capacidade de oferecer produtos passíveis de
serem vendidos de maneira a lhe garantir os lucros mais elevados possíveis,
garantindo a satisfação do cliente;
* esta capacidade, por sua vez, é determinada pela capacidade de introduzir inovações
que melhorem a aceitação do produto e/ou reduzam seus custos de produção,
destacando-se que estas inovações vão perdendo a efetividade, na medida em que
podem ser imitadas pela concorrência.
Neste sentido, a tecnologia tomada naquele seu sentido mais amplo, abrangendo o
conjunto de conhecimentos utilizados não apenas na fabricação, mas em todo o processo de
interação da empresa com o seu ambiente, constitui-se um elemento vital na determinação
do grau de competitividade de uma empresa. O nível da tecnologia utilizada constitui, então,
a principal fonte de vantagem competitiva e a introdução de novas tecnologias, uma das
principais ferramentas de concorrência, dentro de cada mercado.
Além deste aspecto, a OCDE (1988) alerta para o fato de que a mudança tecnológica
é um dos principais determinantes de crescimento a longo termo do emprego e do progresso
social. Salienta que, nos países industrializados, o aumento da produção sempre esteve
acompanhado de uma elevação do número de empregos e de um crescimento da
produtividade no trabalho, isto sendo imputável, em grande parte, pela mudança tecnológica.
As taxas de desemprego são geralmente mais elevadas em períodos de pequeno crescimento
da produtividade, como nas duas guerras mundiais ou na década de 70, e bem mais baixo
em períodos de altos ganhos de produtividade, como nos anos 50 e 60.
Destaca que o aumento de produtividade do trabalho permitido, pela mudança
tecnológica, gera uma renda que pode vir a ser distribuída sob a forma de aumento de salário
e reorganização do tempo e de condições de trabalho. Assim, o aumento da produtividade
pode permitir a melhoria dos salários e das condições de trabalho e, a longo prazo, fazer
progredir a qualidade de vida e o acesso ao lazer.
É, então, também com este intuito que ocorre a busca de inovação tecnológica, com
a transferência de tecnologia constituindo-se sempre um fator primordial para o
desenvolvimento econômico e a melhoria das condições sociais. Salienta-se que,
atualmente, máquinas, produtos e procedimentos formam um conjunto que é
incessantemente transferido entre laboratórios de pesquisa e empresas, entre empresas de um
mesmo país, ou desde os países industrializados até os países em desenvolvimento.
Os processos de transferência de tecnologia, seja qual for a configuração assumida,
envolvem um montante financeiro significativo e assumem uma real importância nas
questões estratégicas da empresa, na medida em que seus resultados venham a melhorar a
competitividade da mesma. Acrescente-se ainda que, ao representarem a criação ou a
transformação de um local de trabalho, estes processos podem ser analisados como um
momento extremamente importante na vida de uma empresa, por poderem propiciar a
reflexão e, a busca de aprimoramento de seus processos, suas instalações e sua organização.
Considerando-se todos estes aspectos, as atividades necessárias à consecução dos
objetivos do processo, desenvolvidas pelos diversos atores envolvidos, são normalmente
agrupadas e coordenadas na forma de um projeto industrial. Contudo, os projetos industriais
que envolvem a implantação de novos meios de trabalho ocasionam, freqüentemente, um
certo número de problemas, que dizem respeito:
* Aos trabalhadores:
- aprendizagem difícil;
- fadiga (em particular mental);
- problemas de saúde;
- invasão da vida pessoal, por preocupações ligadas ao trabalho;
- riscos de acidentes ligados a dificuldades de elaboração de uma representação
mental do estado real das instalações.
* À empresa:
- operação piloto longa e dispendiosa dos novos dispositivos;
- percentual de funcionamento do material menor que o previsto;
- dificuldade para assegurar a qualidade prevista dos produtos, ou para responder à
variedade das demandas dos clientes.
* À população em geral:
- acidentes envolvendo processos industriais considerados perigosos, tais como,
indústrias químicas e nucleares;
- complicações relativas a danos ambientais.

Estes problemas são muitas vezes apresentados, do ponto de vista técnico, como
doenças de juventude de dispositivos em curso de implantação. Daniellou (1988), porém,
dentro de uma ótica mais abrangente, recomenda que, para que um projeto de concepção
industrial atinja plenamente seus objetivos, torna-se necessário levar em conta os fatores
humanos envolvidos. Remy apud Decoster (1989) salienta que a qualidade dos produtos, a
produtividade e a confiabilidade dos meios de produção dependem de uma boa adequação
entre os sistemas técnicos e as tarefas a serem desenvolvidas, ou seja, dependem de boas
condições de trabalho.
Com relação à transferência de tecnologia entre países, destaca-se que o processo
considerado mais problemático é aquele realizado desde os Países Desenvolvidos
Industrialmente (PDI) até os Países em Vias de Desenvolvimento Industrial (PVDI). Essas
siglas aqui empregadas para designar ambos os grupos de países buscam substituir as
expressões habituais: Países Desenvolvidos e Países em Vias de Desenvolvimento, a fim de
enfatizar que a verdadeira diferença entre os dois não está no desenvolvimento cultural, e
sim nos âmbitos industrial e econômico. Uma série de países hoje desenvolvidos
industrialmente, tiveram como berço de sua cultura, ciência e técnica a Índia, a China, o
Egito ou o México, vistos, apesar disso, como países em vias de desenvolvimento (Wisner,
1981).
Atualmente, existe uma grande preocupação por parte das empresas privadas ou
públicas dos PVDI com a conquista da qualidade e da produtividade, buscando uma maior
competitividade diante da concorrência estrangeira. Assim, a ação de transferir tecnologias
de PDI para PVDI tornou-se bastante comum. Isto porque nenhum dos PVDI pode esperar
que seus cidadãos criem a base de conhecimento exigida para projetar as tecnologias
necessárias ao seu desenvolvimento industrial, posto que elas já existem nos PDI. Em
particular, no Brasil, existem áreas onde se pode desenvolver tecnologia nacional, enquanto
em outras há carência de qualificação em quantidade e qualidade para competir
internacionalmente.
As transferências de tecnologia, como já salientado, não são simples e tampouco
apresentam resultados sempre evidentes. Lasserre apud Villar (1992) descreve um estudo no
qual, a partir da análise de vários processos de transferência internacional de tecnologia no
sentido norte-sul, encontrou que, na grande maioria dos casos, tanto os vendedores como os
compradores deixaram de desenvolver estratégias por ele classificadas como de
desenvolvimento, ou seja, aquelas que trariam benefícios para ambos. Nestes casos, os
parceiros na transferência de tecnologia permaneceram em uma posição, ou de defesa ou
oportunista, revelando a falta de confiança no processo. O autor destaca, ainda, na ausência
de estratégias de desenvolvimento, um alto nível de insatisfação com o funcionamento dos
sistemas transferidos.
Wisner (1994a), a partir do conhecimento e análise de vários casos de transferência
de tecnologia deste tipo, relaciona os sérios problemas que podem ocorrer em virtude de
processos mal conduzidos, como, por exemplo, produção inferior em qualidade e em
quantidade ao que foi previsto, desgaste do material transferido e até mesmo atrofia do
sistema técnico. No plano humano, os riscos apresentam-se igualmente elevados, quais
sejam, acidentes de trabalho e doenças profissionais muito freqüentes, catástrofes
ecológicas, enfermidades relacionadas com o desenvolvimento e o urbanismo predatório que
provoca o aparecimento de várias doenças (paludismo, amebíase, tuberculose, perturbações
mentais).
Acredita este autor que a inadaptação ocorre pela não consideração dos diversos
aspectos relativos à situação do local onde instala-se o empreendimento no país importador,
que estão muito além das análises econômico-financeiras normalmente realizadas. Assim, a
origem de tantos fracassos está fortemente ligada à não realização de um estudo mais
aprofundado, preliminar à aquisição da tecnologia. São negligenciadas, por exemplo,
características (geográficas, climáticas, econômicas, sociais) do país comprador, bem como
de seus trabalhadores (antropométricas, culturais, cognitivas), às quais a tecnologia deve ser
adaptada para se obter uma maior taxa de sucesso. Destaca, ainda, a importância dos aspectos
referentes ao trabalho humano, que representam as condições de trabalho.
É neste contexto de avaliação e busca de melhorias para as condições de trabalho que
se insere a Ergonomia e, especificamente em processos que envolvam transferência de
tecnologia, sua evolução até a Antropotecnologia. Esta última busca adaptar a tecnologia à
realidade do país importador, analisando em que condições os sistemas produtivos
importados podem melhorar o seu funcionamento no local para onde será transferido. As
variáveis de ação consideradas envolvem, além dos aspectos básicos da ergonomia, a
influência que os denominados tecidos industrial, social e cultural possam representar para
o funcionamento satisfatório do sistema.
Neste sentido, na busca de um processo bem sucedido de transferência de tecnologia,
preconiza-se a realização preliminar de um estudo do tipo antropotecnológico, que permitirá
conhecer os sistemas industrial, cultural, habitacional, demográfico, climático, de
transportes, técnico, sócio-econômico, organizacional e dos recursos humanos existentes na
região. Este estudo, realizado conjuntamente com a análise ergonômica do trabalho em
situações de referência, poderá garantir uma melhor adaptação desta tecnologia ao local de
transferência.
É evidente que esta abordagem está mais relacionada a problemas de organização do
trabalho e de formação dos trabalhadores, os denominados aspectos não materiais da
tecnologia (software e humanware), do que sobre o próprio dispositivo técnico a ser
transferido (hardware). Todavia, em uma ótica abrangente, considerando os aspectos
materiais da tecnologia, o arranjo ergonômico das instalações e as interfaces homem-
máquinas serão amplamente considerados.
Kerbal (1990) diz que a contribuição da Ergonomia e da Antropotecnologia podem
ajudar consideravelmente na identificação e no tratamento das condicionantes reais ou
potenciais, suscetíveis de dificultar o funcionamento correto e durável dos sistemas
produtivos transferidos. Esta contribuição pode, assim, favorecer um processo de cooperação
entre a escolha e a concepção dos sistemas de produção, de organização e de formação mais
adequados às necessidades da população e às exigências das situações industriais dos PVDI.
Destaca-se que os problemas relacionados à transferência de tecnologia podem
apresentar-se de maneira diversa, quais sejam, jurídicos, econômico-social, políticos e
humanos. Todavia, neste livro, deseja-se abordar prioritariamente os aspectos humanos da
transferência de tecnologia. Apesar da particularidade do tema, acredita-se que os resultados
a serem obtidos com a difusão deste texto poderão contribuir, de forma significativa, ao
desenvolvimento da Antropotecnologia, isto é, de uma metodologia de análise que possa
permitir, quando da transferência de uma determinada tecnologia, de um país a outro, entre
regiões de um mesmo país, ou de um centro de pesquisa ao setor produtivo, prever as
principais dificuldades da implantação e operação, nas diversas etapas que apresenta o
processo.
O público alvo deste livro são pessoas interessadas em estudar os problemas
relacionados à transferência de tecnologia. O seu conteúdo destina-se, fundamentalmente, a
estudantes e docentes de Engenharia, Administração e Economia, tanto em nível de
graduação como de pós-graduação. Atende a profissionais de empresas industriais ou de
serviços que, por força de suas atividades cotidianas ou pela motivação que a questão
desperta, necessitam de subsídios práticos para entenderem o que é, e como se realiza a
transferência de uma tecnologia.
Este livro está estruturado em 14 capítulos, organizados didaticamente para permitir
a evolução do conhecimento em relação ao seu tema central, os aspectos humanos da
transferência de tecnologia. Assim, o Capítulo 1 analisa as questões referentes à
transferência de tecnologia. Inicialmente são apresentados e discutidos alguns conceitos que
podem assumir os termos tecnologia e inovação tecnológica, bem como a importância destes
termos para as empresas no contexto atual. Em seguida, discorre-se sobre o processo de
transferência de tecnologia, discutindo conceitos, configurações e aspectos históricos,
destacando alguns problemas clássicos que este processo pode apresentar.
O Capítulo 2 discute a situação dos países em relação à tecnologia. Aborda-se a
questão da abertura dos mercados e da formação dos blocos econômicos, dentro de um novo
contexto mundial. Relaciona-se os aspectos demográficos, sociais, econômicos e financeiros
que são enfrentados pelos PVDIs. Trata-se, enfim, da importância da transferência de
tecnologia como fator fundamental ao desenvolvimento industrial.
O Capítulo 3 define a Antropotecnologia, relacionando suas origens, seu
desenvolvimento e suas bases. Aborda a Antropotecnologia enquanto uma evolução da
Ergonomia, e focaliza alguns pontos relativos à Ergonomia dos Projetos Industriais.
Relaciona, dentre outras disciplinas que contribuem para a Antropotecnologia, aspectos da
Antropologia Cultural e da Antropologia Cognitiva. Na Antropologia Cultural, além da
definição, não demonstrados os sistemas de valores e crenças no trabalho. Já na Antropologia
Cognitiva mostram-se aspectos de Psicologia Cognitiva, relacionados às diversas formas de
manifestação da inteligência humana, o conhecimento, a percepção e a memorização.
O Capítulo 4 apresenta alguns estudos de caso, realizados com embasamento na
antropotecnologia, salientando seus principais resultados. Salienta, como principal
contribuição, o destaque da necessidade de adequação dos sistemas técnicos e
organizacionais a uma determinada população, quando de um processo de transferência de
tecnologia.
No capítulo 5 são enfatizados alguns pontos relativos à Ergonomia dos Projetos
Industriais. Inicialmente, relacionam-se os preceitos ergonômicos que regem a análise do
trabalho, a partir da inter-relação entre a atividade de trabalho, saúde e performance dos
operadores. O conceito e as etapas de um Projeto Industrial são colocados, relacionando os
problemas normalmente enfrentados neste processo. Discorre-se, ainda, sobre as
contribuições da Ergonomia e, conseqüentemente, da Antropotecnologia, para otimizar a
gestão de Projetos Industriais.
No Capítulo 6 é apresentada a metodologia antropotecnológica, salientando as
diversas etapas do gerenciamento ergonômico de Projetos Industriais. Destacam-se os
pontos principais da análise do local de transferência e das situações de referência.
Relaciona-se, ainda, as etapas da abordagem ergonômica com o cronograma do projeto.
O Capítulo 7 discorre sobre a análise da população futura de trabalhadores,
destacando a importância desta reflexão. Salienta a contribuição da ergonomia na
determinação dos efetivos, as características importantes da população futura, bem como a
relação entre o envelhecimento e a experiência.
O Capítulo 8 explicita as questões referentes a reconstituições previsíveis da
atividade futura provável. Inicialmente é definida a noção de atividade futura provável, bem
como o seu objetivo. As diferentes etapas, formas e condições, para a implantação destas
reconstituições, são analisadas. Focalizam-se, enfim, algumas questões sobre o prognóstico,
os métodos utilizados, bem como o retorno esperado sobre o produto.
No Capítulo 9 são analisados alguns pontos significativos envolvendo a participação
dos trabalhadores na concepção de um projeto industrial. Discorre-se sobre as instâncias
representativas, as formas de informação/consulta das instâncias legais e a importância desta
participação no contexto da abordagem antropotecnológica.
Os Capítulos de 10 a 14 explicitam as questões mais relevantes relativas aos cinco
campos destacados para o gerenciamento de Projetos Industriais, a saber: locais e espaços
de trabalho, equipamentos materiais, interfaces e softwares, organização do trabalho e
formação. Assim, o Capítulo 10 refere-se à concepção ergonômica dos locais e espaços de
trabalho, relacionando os termos de referência, a concepção arquitetônica, as recomendações
e os meios para reconstituir a atividade futura neste campo.
O Capítulo 11 trata da concepção de ferramentas, equipamentos e máquinas,
discorrendo sobre os aspectos importantes relativos às recomendações ergonômicas, à
definição destes materiais e ao acompanhamento da evolução da obra, no que diz respeito a
este campo. O Capítulo 12 envolve a concepção ergonômica de dispositivos de apresentação
da informação, dos comandos e dos softwares. Salienta os pontos significativos na relação
entre estes dispositivos e as características da inteligência humana. Apresenta a questão da
documentação que acompanha o sistema produtivo, com um destaque especial aos aspectos
envolvidos na tradução de documentos técnicos.
O Capítulo 13 discute a organização do trabalho a partir de conceitos, determinantes,
evolução histórica e contribuições possíveis, a partir da abordagem antropotecnológica. No
Capítulo 14 são analisados alguns aspectos envolvendo a formação dos trabalhadores.
Salienta a contribuição que a Ergonomia e sua evolução até a Antropotecnologia podem
prestar à definição, implantação e avaliação de um programa de formação.
Finalmente, são apresentadas algumas observações conclusivas sobre a proposição
desta nova abordagem. Em anexo, são colocados esquematicamente os documentos que
podem ser propostos para viabilizar o gerenciamento ergonômico de Projetos Industriais.
Visando facilitar a consulta e o aprofundamento de tópicos específicos, a
apresentação das referências bibliográficas é realizada em momentos distintos. Ao final de
cada capítulo constam, como Bibliografia Sugerida, tanto o material referenciado como
aquele cuja consulta possa enriquecer o entendimento das informações específicas deste
capítulo. Como Bibliografia Referenciada relaciona-se, ao final do volume, todo o material
referenciado no texto.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
KERBAL, A. La genèse du mode dégradé en milieu industriel. Le travail humain, Paris,
Tome 53, n. 4, p. 369-373, 1990.

MILLIER, P. Le sisteme technique. In: SILEM, A. et all. La diffusion des nouvelles


technologies. Paris: CNRS, p. 15-31, 1987.

OCDE. Nouvelles technologies, une stratégie socio-economique pour les années 90.
Rapport. Paris: OCDE, 1988.

OFORI, G. Construction industry development: role of technology transfer. Construction


Management and Economic, v.12, p. 379-392, 1994.

PORTER, M.E. The competitive advantage of nations. New York: Free Press, 1982.

RODRIGUES, I.P.; ORNELLAS, E. Influência da tecnologia na estrutura organizacional e


eficácia das empresas. Revista de administração. Rio de Janeiro, v. 22, n.2, p. 25-29,
1987.

ROSENTHAL, D.; MOREIRA, I.L. Algumas considerações sobre a natureza do processo


de capacitação tecnológica: "Fontes de inovação". Revista de administração pública,
Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 145-160, 1992.

VILLAR, V.S. Elaboration d’une méthode d’accompagnement de transfert de


technologie. Nancy, 1992.
Thèse (Doctorat en Génie des Systèmes Industriels).- Institut National Polytechnique de
Lorraine, Nancy (France), 1992.

WISNER, A. Vers une anthropotechnologie: comment pourvoir les pays en


developpement industriel de machines et d'usines qui marchent. Paris: CNAN, 1981.

WISNER, A. A inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. São Paulo:


FUNDACENTRO, 1994.

CAPÍTULO 1

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
Através dos tempos, o homem tem buscado métodos e processos de trabalho que minimizem o esforço
e aperfeiçoem o resultado na produção dos bens que necessita. Assim, se no início da atividade laboral
o trabalho era executado com as mãos, a evolução ocorreu no sentido da utilização de ferramentas,
máquinas de acionamento mecânico e, atualmente, equipamentos automatizados. A tecnologia pode ser
considerada, então, como uma potente força no sentido de poder estender as capacidades humanas.
Capacidades físicas, com a revolução industrial, e capacidades mentais, com a revolução da informática
(Gonçalves et all, 1993).

1.1. TECNOLOGIA - DEFINIÇÕES E CONSIDERAÇÕES GERAIS

Para Rodrigues et all (1987) na sociedade industrializada o progresso técnico


apresenta pelo menos três metas básicas, quais sejam, a redução do esforço de trabalho; o
aumento da produtividade e a melhoria da qualidade do produto. Em qualquer das metas
citadas, torna-se evidente não só a forte vinculação entre tecnologia e trabalho, aparecendo
a primeira como determinante do modo de execução e organização do segundo, como
também o objetivo de melhorar a eficácia da empresa.
A tecnologia pode ser definida como "o saber relativo aos meios servindo à realização
de diversos fins que se propõem à atividade econômica, saber portanto, sobre as técnicas
materiais mais diversas" (Guegan et all, 1987). Perrow (1976) considera que tecnologia são
os meios de transformar as matérias-primas (sejam humanas, simbólicas ou materiais) em
bens ou serviços desejáveis e Robbins (1994) a encara simplesmente como "a forma com
que a organização transforma insumos em produtos".
Para Perrin (1984) ela é o "conjunto de informações utilizadas pelos homens para
transformar a matéria e para organizar sua participação nesta transformação ao nível de uma
fábrica, de um setor industrial, de uma nação ou entre nações". Já Sabato apud Rodrigues
(1984) analisa a tecnologia como sendo "o conjunto ordenado de conhecimentos,
empregados na produção e comercialização de bens e serviços, e que está integrada não só
por conhecimentos científicos - provenientes das ciências sociais, humanas etc... mas
igualmente por conhecimentos empíricos, que resultam de observações, experiências,
atitudes específicas, tradição oral ou escrita...".
A tecnologia apresenta, para November (1991), três dimensões relativas à ciência, à
técnica e à sociedade, conforme Figura 1.1.

Figura 1.1. Dimensões assumidas pela tecnologia


Fonte: November, 1991.
TECNOLOGIA

ciência técnica sociedade

aplicação dos combinação dos interação com as


conhecimentos no procedimentos de estruturas
campo da produção produção: equipamentos econômicas e sociais
mais saber-fazer

Para Faria (1992), a tecnologia deve ser compreendida como o conjunto de


conhecimentos aplicados a um determinado tipo de atividade e não apenas às máquinas.
Distingue basicamente dois tipos de tecnologia, conforme figura 1.2., a tecnologia de
produto e a de processo. A primeira refere-se à mercadoria com função específica, seja esta
de consumo (liquidificador), de capital (máquina-ferramenta), ou intermediária-insumo
(autopeça). A tecnologia de processo por sua vez compreende as técnicas e o uso de técnicas
que interferem no processo de trabalho/produção, de maneira a modificá-lo, organizá-lo,
racionalizá-lo.
Este autor frisa ser o uso e a inserção num dado processo e não apenas seu conteúdo
ou natureza, que definem se uma tecnologia pertence ou não a uma categoria. Neste sentido,
a tecnologia de processo é dividida em tecnologia de gestão e tecnologia física. A tecnologia
de gestão é o conjunto de técnicas, instrumentos ou estratégias utilizadas pelos gestores para
controlar o processo de produção em geral, e de trabalho em particular, de maneira a otimizar
os recursos nele empregados, pondo em movimento a força de trabalho capaz de promover
a geração de excedentes apropriáveis de forma privada ou coletiva. Esta tecnologia de gestão
é subdividida em técnicas de ordem instrumental e técnicas de ordem comportamental e
ideológica. Já a tecnologia física compreende o agregado de máquinas, equipamentos, peças,
instalações utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo, envolvendo o emprego
tanto de técnicas mais simples quanto o de mais sofisticadas.

Figura 1.2. Os tipos de tecnologia segundo Faria (1992)

Como pôde ser observado, as definições para o termo tecnologia são quase tão
numerosas quanto os autores que discutem este assunto. Algumas são bastante restritivas,
associadas diretamente a questões materiais, físicas e concretas, sendo inerentes aos
equipamentos utilizados na produção de bens, tal como a primeira definição citada. Outras
apresentam-se mais abrangentes, envolvendo também fatores conceituais e abstratos, e
relacionando todos estes aspectos na interação com o homem. Para o entendimento e
discussão deste tema, analisa-se que algumas outras observações são importantes.
Chiavenato (1982) salienta que a tecnologia apresenta uma ampla área de
conhecimentos intencionais, cujo conteúdo pode advir de diversas ciências. A distinção entre
tecnologia e ciência pode ser feita na consideração de que a tecnologia pode ignorar as causas
dos fenômenos que utiliza e encontra-se estreitamente ligada a preocupações de ordem
econômica.
Rosenthal et all (1992) destacam dois pontos interessantes. O primeiro envolve a
consideração de que tecnologia é antes de tudo conhecimento, mais especificamente,
conhecimento útil no sentido a ser aplicado, ou aplicável, às atividades humanas -
especialmente, mas não exclusivamente àquelas ligadas aos processos de produção,
distribuição e utilização de bens e serviços - e de contribuir para a elevação quantitativa e/ou
qualitativa dos resultados de tais atividades e processos. O segundo diz respeito à origem
destes conhecimentos, que pode ser em grande medida científica, mas que abrange também
uma importante parcela de experiências e conhecimentos práticos, adquiridos e acumulados
no exercício da atividade à qual a tecnologia se refere.
Habert (1992) mostra a definição da antropologia na qual a tecnologia é um bem
cultural que pode ser desenvolvido através da habilidade e do treino, ou seja, a ligação entre
o homem e a língua, entre o homem e a técnica, significando que não se pode desligar a
tecnologia do homem e da cultura. Nesse sentido, se pode evoluir para a colocação de Perrin
(1984) de que a tecnologia pode ser considerada como uma mercadoria, quando é
comercializada por aqueles que a detêm, ou como resultado de um sistema econômico,
social, político e cultural particular, quando esta comercialização prevê uma necessária
adaptação.
Assim, considerando esta perspectiva mais ampla, Wisner (1992c) ressalva que a
tecnologia não é somente uma questão de máquinas ou de ciências aplicadas, sendo,
essencialmente, uma interface na interação do homem com seu ambiente, uma ferramenta
que, por sua vez, o ajuda na conquista da natureza e tem um efeito direto na sua vida em
sociedade.
A tecnologia é dinâmica e apresenta uma evolução constante, sendo considerada um
aspecto importante no desenvolvimento de uma empresa, de um setor industrial e de uma
nação. Stewart Jr. et all (1987) mostram-na como o novo e melhor caminho para alcançar
objetivos econômicos e permitir o crescimento e o desenvolvimento social.

1.2. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A busca constante por inovações tecnológicas determina uma relação entre aqueles
que desenvolvem e/ou detêm a tecnologia e aqueles que vão utilizá-la em um processo
denominado transferência de tecnologia. Este termo é definido por Ong (1991) como o
processo de introduzir um conhecimento tecnológico já existente onde ele não foi concebido
e/ou executado. Este processo pode ocorrer em diversas esferas, por exemplo, entre
laboratórios de pesquisa e empresas, entre unidades do mesmo setor produtivo ou entre
países.
A transferência de tecnologia entre países é um processo definido pela OIT (1988),
como a exportação de tecnologia de um país a outro segundo diversas modalidades, tais
como, construção de fábricas e plantas industriais completas, importação de equipamentos e
componentes, financiamento de projetos de industrialização e infra-estrutura, envio de
especialistas estrangeiros como consultores e formadores de pessoal local.
Analisando-se a tecnologia como um conceito ampliado, destaca-se que a
transferência engloba não somente as máquinas, mas também sua combinação - sistemas de
produção - assim como a colocação em marcha. Envolve tudo o que vai do modo de
utilização à organização do trabalho, incluindo a manutenção, o controle de qualidade, a
formação do pessoal e sua condição de vida no trabalho e fora dele (alojamento, transporte,
alimentação, serviços de saúde, etc.).
A transferência de tecnologia constitui-se numa atividade que remonta aos
primórdios da humanidade. Assim, durante muito tempo ocorreu no sentido leste-oeste (da
Índia e da China para os países europeus) e sul-norte (do mundo islâmico para a Europa)
antes de sofrer as inversões dos séculos recentes.
Mas, os resultados obtidos com esse processo nem sempre satisfazem às expectativas
do comprador, uma vez que a tecnologia transferida, muitas vezes, ou funciona de modo
degradado, ou, só funcionou no momento da operação piloto. O funcionamento em modo
degradado é definido por Kerbal (1990), como a tecnologia que sofre freqüentes rupturas,
causando sérios problemas sobre a eficiência da produção e especialmente sobre as
condições de trabalho.
Perrin (1984) diz que os obstáculos para a transferência de tecnologia para os PVDIs
apresenta origens diversas:
* as tecnologias não são mais detidas por indivíduos isolados, por artesões, mais por
empresas ou laboratórios de pesquisa. Transferir a grande diversidade de conhecimentos e
de experiência adquiridos por estas empresas é um processo complexo e longo;
* todas as informações são fonte de poder e as empresas detentoras de tecnologia
podem ter interesse, em certos casos, de recusar a venda. Em outros casos, a venda se fará
em contrapartida de restrições comerciais, técnicas ou de uma obrigação de compra de
máquinas e produtos intermediários ou de acesso privilegiado a mercados;
* o sistema de informações e de representação simbólica utilizados pelos homens,
em suas memórias, para produzir, está em forte interação com aquele utilizado para organizar
seu modo de vida. Toda aprendizagem técnica é ao mesmo tempo uma aprendizagem social;
* para ser adquirida, uma tecnologia deve se integrar ao sistema de representação
daquele que a está adquirindo. Este processo de integração não é espontâneo e impulsiona
mudanças profundas. Este processo pode ser colocado de uma maneira coercitiva em função
de modelos sócio-econômicos externos e desenvolver uma nova forma de dependência entre
o país vendedor e o país comprador.
Além das questões acima citadas, a transferência de tecnologia no sentido norte-sul,
processo intensificado nos últimos trinta anos, pode resultar em sistemas de produção que
apresentam um funcionamento aquém do esperado. Os efeitos negativos constatados situam-
se, simultaneamente, nos campos econômico, financeiro e da saúde. O sucesso econômico
do empreendimento pode ser ameaçado por diversas causas (Wisner, 1981 e 1984a, b):
* baixa taxa de utilização de máquinas e, conseqüentemente, volume insuficiente de
produção;
* qualidade medíocre dos produtos, comprometendo a exportação e tornando-os
inutilizáveis até mesmo em seu próprio país;
* freqüência elevada de deterioração do material, causada tanto pela inadequação das
condições ambientais e organizacionais de funcionamento, como por manutenção deficiente
e manipulação incorreta.
A partir destas questões ligadas à produção pode ocorrer o comprometimento de
aspectos financeiros do empreendimento resultando que:
* a empresa apresenta-se sem condições de oferecer aos operadores uma situação
adequada do ponto de vista salarial, de benefícios sociais e de condições de trabalho;
* pode ocorrer que a empresa ou o governo, a partir do insucesso inicial, busquem
um novo financiamento para manter o empreendimento em atividade e, assim, possibilitar o
pagamento das dívidas anteriores. Este procedimento leva a um aumento da dependência
diante dos organismos de empréstimo, podendo ter reflexos negativos quando de
negociações posteriores.
Já uma relação desfavorável ou inapropriada entre o dispositivo técnico (em sua
acepção mais ampla, incluindo localização, funcionamento e problemas de produção) e os
operadores pode determinar que a saúde destes últimos seja atingida de várias maneiras:
* alta freqüência de acidentes de trabalho e de trajeto;
* aumento significativo de doenças profissionais e outros problemas fisiológicos
ligados ao trabalho;
* aparecimento de distúrbios ligados ao desenvolvimento social e industrial. Entre
estes destaca-se a urbanização, normalmente rápida e desordenada, podendo ocasionar
problemas como inadequação de habitações e saneamento básico, bem como transportes
urbanos excessivamente longos e difíceis.
Uma maior especificação destes desajustes será feita nos tópicos seguintes que
relacionarão as grandes categorias da transferência de tecnologia e os problemas clássicos
que processos deste tipo podem apresentar.

1.2.1. Uma tentativa de categorização da transferência de tecnologia

Wisner (1984b), propõe uma categorização da transferência de tecnologia baseada


em dois eixos fundamentais. De um lado, a questão do domínio, que pode ocorrer sobre
controle estrangeiro ou nacional e, de outro lado, a questão dos efeitos desta transferência,
que podem ser positivos ou negativos, como esquematizado na figura 1.3.

Figura 1.3. Categorização da transferênncia de tecnologia segundo Wisner (1984b)

A Transferência de Tecnologia Sob Controle Estrangeiro

Em muitos casos, a transferência de tecnologia para um dos PVDI é realizada sob a


responsabilidade completa, financeira, técnica e social de uma firma estrangeira pertencendo
a um país desenvolvido industrialmente e, assim, a negociação das condições de trabalho
com as autoridades do país receptor é freqüentemente muito limitada. Nessa situação, os
resultados das condições de trabalho podem ser diversos, dependendo se a transferência for
de tecnologias obsoletas ou uma transferência total.

1) A transferência de tecnologias obsoletas

Nessa situação, incluem-se as empresas importadoras de máquinas de um modelo


antigo, às vezes perigosas, em que se utilizaram construções inadequadas do ponto de vista
do volume da produção, das condições térmicas e higiênicas, e onde não se levou em conta
o transporte, o alojamento, a alimentação, a formação e a saúde dos trabalhadores.
Exemplo desse tipo de transferência são as usinas nucleares brasileiras, modelos
antigos e obsoletos importados da Alemanha e cujos benefícios não superaram os custos
empregados. A quantidade de energia produzida nunca atingiu o que se previa.
Os efeitos da transferência de refugos sobre a saúde dos trabalhadores são
desastrosos ao mesmo tempo em que são observadas perdas também do ponto de vista da
produção. A solução para os problemas das más condições de trabalho provenientes da
transferência de refugos seria a aplicação rigorosa das leis trabalhistas. Porém, muitos
governantes toleram estas situações devido à sua fragilidade econômica e política ou então
devido ao seu compromisso com as empresas estrangeiras.

2) A transferência total

A transferência total quer designar uma situação quase oposta à anterior, onde devido
à natureza dos fabricantes, o que é transferido não é mais o velho dispositivo de produção,
mas o que há de mais moderno. Trata-se habitualmente de firmas multinacionais que vendem
o mesmo produto no mundo inteiro, devendo obter a mesma qualidade em todos os seus
centros de produção.
Assim, a empresa transfere não somente o mesmo dispositivo técnico, mas a
organização do trabalho e o dispositivo de formação, os mais recentes. Faz-se, então, a
seleção dos seus funcionários utilizando critérios bastante severos. Em contrapartida, muitas
delas oferecem aos seus empregados alojamentos, meios de transporte, escola para os seus
filhos e assistência médica aos seus familiares. Assim, constituem-se as denominadas ilhas
antropotecnológicas, nas quais se observam características bem próximas daquelas do país
de origem da tecnologia, incluindo-se as mesmas patologias (depressões nervosas na
eletrônica, por exemplo), mas também os mesmos benefícios (baixa taxa de acidentes, de
“turn over” e de absenteísmo).
Uma resultado importante que pode ser tirado do sucesso dessas ilhas
antropotecnológicas em diferentes países é a comprovação de que não existem diferenças
nas capacidades cognitivas fundamentais dos trabalhadores pertencendo aos diferentes
povos e civilizações. Um estudo realizado por Meckassoua (1986) a esse respeito mostra que
um indivíduo centro-africano, tendo passado sua infância e sua adolescência em uma vila
longe da civilização técnica moderna, pode elaborar, sem formação adequada, uma imagem
operativa de um dispositivo de produção bastante complexo que ele devia controlar.
Outro fato é que estas ilhas são bem vistas universalmente e, considerando o seu
sucesso técnico e humano, são as mesmas mostradas primeiramente aos visitantes oficiais.
Em certos países da Ásia, difundiu-se por muito tempo as transferências totais, objetivando-
se a formação de ilhas geográficas. Singapura é o melhor exemplo disto, com o fato histórico
de sua ruptura com a Malásia, ao passo que no Japão a importação exagerada da tecnologia
e da organização do trabalho estrangeiras, se fez sob controle nacional seguida da
constituição de uma poderosa produção nacional de tecnologia e de modos de produção.

A Transferência de Tecnologia Sob Controle Nacional

Os dados para responder às dificuldades que cada um dos PVDI encontra para se
industrializar comprando dispositivos mais ou menos adequados às suas necessidades são
bastante escassos. A pretensão da antropotecnologia é justamente de contribuir com a
elaboração de algumas respostas neste campo específico. De um lado, analisando os efeitos
negativos da transferência e, de outro lado, as dimensões desata transferência.

1) Efeitos negativos da Transferência de Tecnologia


Os efeitos negativos da transferência de tecnologia podem ser subdivididos em dois
itens: os que prejudicam a saúde dos trabalhadores e os que atingem a produtividade.

Os danos à saúde

A maioria das atividades industriais possuem seus próprios riscos tóxicos. É possível
que certas tecnologias particularmente perigosas sejam objeto de interdição no país
vendedor, mas, quando transferidas para um dos PVDI, estas limitações sejam ignoradas.
Trata-se, portanto, de uma transferência puramente negativa.
Pode acontecer, ainda, que as tecnologias sejam pouco perigosas nas condições
precisas de utilização do país exportador, mas que se tornam temíveis nas situações difíceis
do país importador. É este o caso da interdição pelo Brasil ao uso de um tipo de inseticida
utilizado no tratamento dos canaviais no norte do estado do Rio de Janeiro, após uma
epidemia de lesões neurológicas entre os trabalhadores. Neste exemplo, a transferência é
favorável à produção, porém prejudicial à saúde dos trabalhadores.
As moléstias assim surgidas por ocasião da transferência de tecnologia são as
denominadas doenças do desenvolvimento, afecções diversas que aparecem ou se
desenvolvem predominantemente nessas circunstâncias. O aumento das parasitas nas zonas
irrigadas de países tropicais como Egito e Costa do Marfim, por exemplo, só foi observado
após a construção de barragens. A soma destas parasitas com uma insuficiente alimentação
e com estados sucessivos de gravidez conduziu a uma redução da capacidade de trabalho
das coletoras de chá de Sri-Lanka.
É importante também lembrar dos problemas de higiene mental nas aglomerações
miseráveis que servem de alojamento a muitos operários dos PVDI: a duração excessiva da
jornada de trabalho e dos trajetos, a promiscuidade, insuficiência do sono, choque cultural,
todos esses problemas convergem para provocar, sejam grandes síndromes psiquiátricas, ou,
mais freqüentemente, síndromes depressivas marcadas por atos agressivos de alguns
operários em relação aos outros ou em direção a si mesmos.
Embora seja desfavorável na maior parte dos casos de transferência de tecnologia, a
segurança no trabalho é particularmente negligenciada na construção civil, nas obras
públicas e nas minas. Segundo estudo sobre a utilização e a manutenção dos suportes
hidráulicos nas minas de fosfato tunisianas, realizado por Sahbi apud Wisner (1984b), pode-
se observar taxas de acidentes duas a três vezes maiores do que é constatado nos PDI. As
causas dos acidentes são múltiplas: situações de co-atividade com um efetivo numeroso e
mal formado, dificuldades de comunicação (instruções redigidas em língua estrangeira,
executivos que mal conhecem a língua dos trabalhadores), más condições de conservação e
utilização do material.

A Baixa Produtividade

A baixa produtividade (baixo volume e qualidade insuficiente) é importante não


somente por razões diretas ligadas ao sucesso econômico da empresa, mas também porque
indiretamente podem acarretar dificuldades sociais ao se refletirem na redução dos salários
e dos investimentos para criar novos empregos ou melhorar a qualidade.
A baixa produtividade está ligada sobretudo à baixa taxa de engajamento das
máquinas. A parada das máquinas pode estar relacionada a diversas causas entre as quais
estão as condições climáticas ruins, manutenção insuficiente e a não disponibilidade de peças
de reposição, absenteísmo e turnover devido às más condições de trabalho e de vida, além
da deficiente formação do pessoal. É assim que a produtividade é mais elevada na usina
Renault, Valladolid, na Espanha, do que na matriz em Paris, uma vez que os operários
espanhóis têm boa formação geral e técnica, enquanto na usina de Paris os operários são
emigrantes não-qualificados (transferência de população). A fraca taxa de engajamento das
máquinas é também percebida em certos setores dos PDI a exemplo dos novas linhas de
produção robotizadas.
A baixa produtividade está igualmente relacionada a um material inadequado, à
manutenção insuficiente, à ausência de certos produtos, à deficiência do material de controle,
a uma formação medíocre ou nula do pessoal e, ainda, às más condições de trabalho e de
vida. Os resultados são, dessa forma, a impossibilidade de exportar e a necessidade de
proteger o mercado interno dos fabricantes estrangeiros que apresentam uma melhor
qualidade.

2) As Dimensões da Transferência

Embora os dirigentes da maioria dos PVDI estejam perfeitamente conscientes dos


eventuais efeitos negativos da transferência de tecnologia, continuam a considerar a
industrialização de seu país como indispensável. Nesse caso, quando a escolha do tipo de
tecnologia a transferir é um fato anterior à intervenção antropotecnológica, as reflexões são
elaboradas sobre duas dimensões da transferência: seu controle e seu nível de efetivação.

O controle da transferência

Em relação ao controle da transferência, num primeiro momento, a tendência natural


das empresas dos PVDI é a de importarem máquinas e equipamentos isoladamente, logo
percebendo as dificuldades e o custo de produção utilizando máquinas pouco ou nada
compatíveis entre si, pelo fato de serem freqüentemente adquiridas de diferentes
fornecedores. Neste sentido, Sahbi, apud Wisner (1984b), mostrou em seu trabalho, que a
divisão de manutenção da Companhia de Fosfatos tunisiana, que utilizava suportes
hidráulicos alemães, teve problemas de compatibilidade, quando importou este material da
França.
Num momento seguinte, a tendência é a da empresa comprar sistemas completos de
produção, com garantia de funcionamento, as denominadas fábricas com chave na mão (turn
key). No entanto, este empreendimento normalmente só irá funcionar a partir da aquisição
de dispositivos de controle e de manutenção, bastante complexos, envolvendo altos custos.
As dificuldades observadas neste caso exigem das empresas adquirirem um conjunto
ainda mais complexo, onde a qualidade e a quantidade da produção são garantidas pelo
vendedor que fornecerá, não somente o material, mas a organização do trabalho, os
procedimentos de gestão e de controle da empresa e a formação dos operários, dos gerentes
e dos executivos. A empresa vendedora, às vezes, garante também a permanência temporária
dos seus executivos e técnicos, o que leva a uma ligação durável do país comprador com
uma sociedade multi ou transnacional, privada ou pública.
Em relação aos PVDI, onde o desenvolvimento industrial é limitado, o controle da
transferência conhece limites inevitáveis. Subestima-se, freqüentemente, no sucesso e na
produtividade das grandes empresas de PDI, a importância do tecido industrial que as
contornam, as múltiplas micro, pequenas e médias empresas que fornecem o material
especializado e, mais ainda, o pessoal qualificado indispensável em caso de dificuldades.
Uma pane que é reparada em São Paulo em duas ou três horas, por exemplo, pode exigir
dois a três dias em outra cidade do interior paulista, duas a três semanas no nordeste
brasileiro e dois a três meses na região amazônica, em decorrência das diferentes densidades
do tecido industrial.
Para solucionar este tipo de dificuldade, duas soluções são propostas: a constituição
de grandes parques de peças de reposição e a organização dos serviços de manutenção na
empresa, ou a instalação de uma filial da sociedade vendedora próxima à empresa
importadora para garantir a manutenção. Entretanto, em qualquer dos casos, o custo torna-
se bastante elevado, influindo no resultado econômico do empreendimento.

Nível de efetivação da transferência

Essa dimensão da transferência não é menos importante, já que sua deficiência


freqüentemente causa vários problemas cujas origens situam-se nos erros iniciais, na
restrição do contrato, ou nas péssimas comunicações entre exportador e importador.
Os erros iniciais são muito comuns, principalmente devido ao fato de que o
exportador não conhece a realidade do país comprador que, por sua vez, não conhece a
origem complexa do sucesso da tecnologia no país exportador. Freqüentemente,
desconsidera-se, por exemplo, na transferência de uma máquina ou de um procedimento, os
exíguos limites térmicos que garantem o bom funcionamento das máquinas, a não tolerância
das flutuações da tensão elétrica ou as exigências de qualidade da água. De forma mais sutil
ainda, subestima-se as inter-relações dos elementos do sistema de produção pensando-se
poder economizar sobre determinados aspectos do projeto.
Como exemplo, pode-se citar o caso de uma fábrica de bicicletas Peugeot, que
utilizando os incentivos fiscais da zona franca de Manaus, implantou uma unidade de
montagem nesta região, sem considerar a necessidade de mão de obra especializada e de
problemas relativos aos fornecedores e ao mercado de consumo.
Já as restrições de contrato são justificadas, em princípio, pelo fato de que o saber
do construtor permite uma manutenção e um desenvolvimento mais eficaz. Na realidade,
isto se constitui numa arma poderosa para o vendedor obter benefícios e manter sob seu
controle, o fornecimento obrigatório de peças de reposição, às vezes, sem nenhuma relação
com as exigências da empresa compradora, resultando em contratos dispendiosos de
manutenção ou, por fim, de softwares caros cujo uso é discutível. É o caso, por exemplo, da
Xerox que, até recentemente, não vendia seus equipamentos fotocopiadores, alugando-os
sob contratos extremamente restritivos quanto à manutenção, exigindo não só peças de
reposição originais, mas também assistência técnica permanente.
Finalmente, outro fator que interfere na efetivação da transferência é a péssima
qualidade das comunicações entre vendedores e compradores, uma questão importante e
sobre a qual a ação antropotecnológica é possível. Chama-se a atenção aqui, sobretudo, para
a lingüística dos textos escritos. Nesse sentido, Sinaiko (1975) mostrou a relação estreita
entre a qualidade da tradução das instruções e o nível da manutenção. Várias máquinas, por
exemplo, são vendidas com indicadores, inscrições, ou modos de utilização escritos em uma
língua desconhecida ou apresentando uma má tradução.
Os vendedores alegam que os trabalhadores, gerentes e o pessoal de formação devem
conhecer o inglês, considerada hoje a língua técnica universal. Todavia, a maioria dessas
pessoas dispõem de um conhecimento muito superficial desta língua pois, na maioria dos
casos, as pessoas raciocinam na sua língua vernácula, a única que compreendem bem.
É importante considerar também o problema da língua no domínio da formação oral.
Aqui, encontram-se, pelo menos duas questões. É, certamente, muito mais difícil achar um
certo número de formadores conhecendo ao mesmo tempo a tecnologia e a língua vernácula
do que um bom tradutor. Uma tradução de boa qualidade é, em todos os casos, uma base
excelente para os formadores estrangeiros e nativos.
Outra questão importante é que existe, de um lado, o trabalho prescrito, concebido
nos escritórios, expresso nos manuais de instruções e então escrito em uma língua científica.
De outro lado está o trabalho real que permite ao dispositivo funcionar, elaborado e
transmitido entre os trabalhadores em sua língua própria com um vocabulário
freqüentemente inventado pelos mesmos. Questiona-se, então, sobre o que é necessário
transferir: o trabalho prescrito, que expressa a cultura dos engenheiros do país exportador e
de sua visão abstrata do sistema, ou o trabalho real marcado pela cultura operária do país
exportador ou o dos trabalhadores estrangeiros que este país emprega? Destaca-se o fato de
ser cada vez mais usual, em casos de pane em um sistema complexo transferido, que os
países vendedores enviem aos países compradores operadores experientes, ao invés de
engenheiros.

1.2.2. Problemas clássicos da transferência de tecnologia

A análise de vários casos envolvendo transferência de tecnologia permite o destaque


de alguns problemas que, pela sua repetição, podem ser considerados clássicos. Assim,
Wisner (1981; 1984a,b; 1994) relaciona que os problemas mais freqüentemente observados
referem-se aos fatores citados a seguir.

1) Geografia

Dentro dessa condicionante está o caso de muitos PVDI que se situam em clima
quente, o que faz surgir problemas difíceis para os trabalhadores, em razão das limitações
da capacidade humana em temperaturas elevadas. As próprias instalações são, por vezes,
sensíveis ao calor elevado, particularmente quando compostas por componentes eletrônicos.
Alguns estudos mostraram exemplos de dispositivos que passaram a funcionar de
forma inadequada em função da má qualidade e da insuficiente quantidade de água. Existem
casos nos quais as fábricas utilizam boa parte do manancial, prejudicando, assim, o
abastecimento de água às cidades vizinhas. Além disso, os cortes bruscos da corrente elétrica
e as oscilações na tensão provocam alterações nos sistemas automatizados, prejudicando a
continuidade e a confiabilidade dos mesmos, com freqüência, causando incidentes cuja
recuperação evidencia-se cada vez mais difícil.
Entre os problemas de origem geográfica, destacam-se os relacionados às áreas de
circulação, ressaltando-se os seguintes pontos:
* se a matéria-prima precisa fazer grandes trajetos em rodovias em más condições, a
qualidade pode ficar comprometida, principalmente quando se trata de produtos perecíveis
ou sensíveis;
* as más condições das rodovias podem acelerar a deterioração dos caminhões;
* outro fator importante a ser levado em conta, diz respeito ao transporte entre a
fábrica e o local de moradia dos trabalhadores, envolvendo tanto a distância a ser percorrida
como as condições dos acessos e dos meios de transporte.
Enfim, todos estes inconvenientes de origem geográfica devem ser levados em conta
pois, a possibilidade de redução ou eliminação dos mesmos, normalmente, exige altos
investimentos, solução praticamente inviável nos PVDIs onde há justamente carência de
recursos financeiros.

2) Tecido Industrial

Fator também importante a ser considerado em uma transferência de tecnologia é o


tecido industrial que contorna a empresa compradora da tecnologia, pois de sua consistência
pode depender o êxito ou fracasso do processo. Fazem parte deste tecido as empresas que
fornecem a matéria-prima, as peças para reposição e, ainda, o pessoal qualificado, para caso
de dificuldades. Quando os fornecedores estão próximos, normalmente é fácil obter seus
serviços a custos baixos, mas quando isto não ocorre, precisa-se de prazos maiores para ser
atendido e os custos podem tornar-se bastante elevados.
A demora no atendimento pode ser ilustrada citando-se o exemplo de um robô de
montagem empregado em uma fábrica da Zona Franca de Manaus, no qual qualquer pane,
mesmo mínima, pode demorar vários dias para ser reparada. Destaca-se que um problema
idêntico na região do ABC Paulista é consertada em poucas horas. O atraso, nesse caso, se
explica pela diferença na densidade do tecido industrial.
Essa fragilidade do tecido industrial pode, muitas vezes, ser compensada pelo
enriquecimento intelectual do próprio pessoal das empresas. Em uma indústria siderúrgica,
na Argélia, os aparelhos eletrônicos de medida eram consertados pelos próprios engenheiros,
devido à longa distância entre a usina e os centros industriais, que tornava inviável a vinda
de um especialista para repará-los ou então enviá-los para conserto. Contudo, neste caso,
este aumento das competências do pessoal técnico era prejudicado por uma significativa
rotatividade dos trabalhadores qualificados, uma vez que a região não oferecia boas
condições de vida aos seus moradores.
Salienta-se que as questões colocadas pela diferença de densidade do tecido industrial
não são observadas somente entre PVDI e PDI, mas também entre regiões de um mesmo
país.

3) Limite Comercial e Financeiro

Em muitos casos, a preocupação dominante dos dirigentes dos PVDI é obter a melhor
tecnologia nas condições financeiras mais favoráveis. Todavia, em alguns casos, essas
preocupações financeiras, apesar de legítimas, podem assumir tamanha proporção, a ponto
do financiamento e da opção por um sistema técnico determinado, estarem de tal forma
vinculados que não permita uma solução técnica satisfatória para o país importador. É o
caso, por exemplo, de muitas importações de instalações, máquinas e equipamentos,
realizadas com o leste europeu, normalmente negociadas por troca de exportação de café,
em condições financeiras favoráveis, mas tecnicamente bastante discutíveis.
Atualmente, grande número de empresas adotam o sistema just-in-time de produção,
onde busca-se a redução dos estoques a zero. Pode-se então avaliar o prejuízo quando se é
obrigado a formar estoques de matéria-prima, porque, por exemplo, não é garantido o
abastecimento de produtos semi-acabados para a indústria têxtil, devido a enchentes no Vale
do Itajaí, em Santa Catarina. Ou ainda quando o governo, por razões de controle do déficit
na balança comercial, aumenta as alíquotas de importação, atingindo involuntariamente
produções ou peças indispensáveis, cuja não substituição influi na degradação do sistema
técnico.

4) Tecido Social

A influência do tecido social em processos de transferência de tecnologia pode ser


evidenciada, por exemplo, em relação à disponibilidade de recursos humanos na região onde
será implantado o empreendimento. A valorização e a distinção do trabalho em certas
empresas multinacionais permitem atrair funcionários da região com melhor qualificação
profissional, possibilitando, não raras vezes, uma produção superior àquela do país de
origem. Por outro lado, pode-se observar também que, normalmente, nos PVDIs, os recursos
públicos insuficientes para atender às necessidades básicas da população (saúde, transporte,
educação e habitação), provocam uma produção de baixa qualidade. Este fato pode levar a
que a empresa assuma, na vida do empregado, uma importância bem maior do que aquela
encontrada nos países industrializados. Observa-se, inclusive, tolerâncias com relação às
legislações trabalhistas, fruto de um relacionamento paternalista entre patrões e empregados.
Da mesma forma, relacionado à influência do tecido social, os hábitos e costumes
regionais, muitas vezes de origem cultural e religiosa, podem interferir de maneira
importante na produção. O exemplo do Ramadam entre os povos muçulmanos é bastante
significativo. Nesta época, devido à necessidade de jejum durante o dia e com a alimentação
sendo feita somente à noite, as condições físicas dos trabalhadores são alteradas, com
reflexos evidentes nos níveis de produção.

1.3. A CONSIDERAÇÃO DOS FATORES HUMANOS - ERGONOMIA E SUA


EVOLUÇÃO ATÉ A ANTROPOTECNOLOGIA

Considerando que estes problemas, normalmente, não são observados no ambiente


de origem da tecnologia, ou seja, do país industrializado onde os equipamentos e os sistemas
de produção foram concebidos e construídos, pode-se deduzir que a anormalidade deve estar
na recepção e adaptação da tecnologia ao país ou região importadora.
Com efeito, estes aspectos negativos originam-se de uma produção identificada, a
partir de diversos estudos, como modo degradado de funcionamento. Nesta situação, por
razões diversas de inadequação da transferência de tecnologia, os sistemas de automação e
regulação são alterados, a utilização das máquinas ocorre em condições diferentes daquelas
previstas pelo construtor, a manutenção é negligenciada, o pessoal é insuficiente em número,
qualificação e experiência. Às vezes pode ocorrer, até, um volume aceitável de produção,
porém a atividade dos trabalhadores não é suficiente para substituir os sistemas de controle
e automação, não assegurando o bom funcionamento do sistema, com uma produção estável
e de boa qualidade.
Nestas situações, como a produção, de alguma maneira, é garantida, observa-se que
o prejuízo maior deste confronto entre a tecnologia importada e a realidade do país
importador, fica para os trabalhadores, com as conseqüências já analisadas. Destaca-se
também que, embora seja mais comumente identificado em PVDIs, o modo degradado de
produção pode, também, ser encontrado em países industrializados, a partir da transferência
de tecnologia entre regiões com níveis diferentes de industrialização. Nestes últimos, porém,
a extensão da deterioração costuma ser bem menor, visto que ocorrem pressões sociais e
econômicas rigorosas e as facilidades de prevenção costumam ser maiores.
Assim, as colocações feitas por Perrin (1984), Stewart Jr et all (1987), OIT (1988) e
Ong (1991) como aquelas de Wisner, em diversos momentos, demonstram que a
transferência de tecnologia terá maiores chances de apresentar sucesso se for proposta como
um processo ativo e adaptado, com a participação do governo, administradores e
trabalhadores. Neste sentido o país importador, ao invés de tentar criar artificialmente uma
situação similar aquela do país exportador, busca a consciência da sua identidade geográfica,
econômica e antropológica procurando inserir a tecnologia importada nesta realidade.
Outra questão importante, nesta adaptação, é a consideração das estratégias que os
trabalhadores do país de origem da tecnologia utilizam para viabilizar o funcionamento do
sistema produtivo, para além dos mecanismos prescritos em instruções formalizadas.
Constitui-se no denominado trabalho real, que somente pode ser apreendido a partir de
observações dos operadores em ação. Parte-se do princípio de que os fracassos, quando da
transferência de tecnologia, podem estar ligados não só à desconsideração dos fatores
geográficos, econômicos e antropológicos, citados acima, mas também ao desconhecimento
deste trabalho real.
Quando da transferência, os aspectos visíveis como máquinas e equipamentos e os
prescritos, como manuais, podem ser mais facilmente transferíveis do que os aspectos de
serviços de apoio, manutenção e aqueles ligados à organização do sistema produtivo. Esta
diferenciação entre trabalho real e trabalho prescrito é considerada como uma das
colaborações mais importantes da ergonomia à compreensão das relações entre o homem e
o trabalho. Mostra-se, então, que a utilização dos preceitos ergonômicos pode colaborar de
maneira significativa para a compreensão de processos de transferência de tecnologia.
No âmbito deste livro, a ênfase é colocada, justamente, nas dificuldades de adaptação
de uma tecnologia transferida à nova realidade, levando-se em consideração as diversas
dimensões do empreendimento, para a garantia dos resultados esperados sem, contudo,
degradar as condições de vida e trabalho das pessoas do local onde esta nova tecnologia será
implantada. A viabilização desta análise será feita a partir dos princípios propostos pela
Ergonomia, ampliados pela Antropotecnologia.

1.4. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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FUNDACENTRO, 1994.
CAPÍTULO 2

A SITUAÇÃO DOS PAÍSES EM RELAÇÃO À TECNOLOGIA


A consideração da desigualdade intelectual entre dois povos (o que fornece
e o que recebe a tecnologia) como justificativa do fracasso de muitas
transferências de tecnologia é uma atitude leviana e superficial. Um
ergonomista, ao fazer suas observações, não se limita somente a fatores
econômicos ou sociais. A sua análise deve abordar o que realmente fazem
os trabalhadores, de modo a tratar os problemas com a sua devida
profundidade, procurando uma melhor adaptação dos meios de trabalho ao
homem.

2.1 ASPECTOS AMBIENTAIS E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A análise ergonômica do trabalho (AET) visa estudar a atividade real do trabalhador,


em muitos casos muito diferente da prescrita pela organização. O levantamento das
diferenças entre o real e o prescrito é extremamente útil para evidenciar as dificuldades
encontradas para formalizar os diferentes aspectos da realidade do trabalho.
O aprimoramento da AET deu origem ao estudo do curso de ação (ECA), que visa
uma análise mais fina das atividades de trabalho, aquelas nas quais provavelmente ocorrem
erros ou dificuldades. Este tipo de observação permite ampliar de forma significativa, o
modelo comportamentalista tradicional, pois permite compreender a diversidade das
respostas dos trabalhadores a uma mesma situação. De fato, procura-se sair da dicotomia
determinismo sociológico, determinismo tecnológico,, acrescentando uma terceira
dimensão, que são os aspectos ambientais relacionados à contingência, conforme
características na figura 2.1.

Figura 2.1 Representação esquemática do modelo triádico das organizações, segundo uma
visão antropocêntrica

Os problemas nas transferências de tecnologia deixam claro a importância do


conceito de interpretante, que pode ser cultural ou contextual. Muitos aspectos da cultura
utilizáveis no trabalho não têm origem escolar, são competências latentes que se traduzem
em competências técnicas ou sociais. Entretanto, o aprendizado do trabalhador não se limita
somente ao domínio cognitivo, também o contexto da atividade cognitiva desempenha um
papel essencial na formação e na transformação desses modelos. Um país industrializado
tem necessidade de todas essas noções, uma vez que se tornam indispensáveis quando há
transferência de tecnologia para países culturalmente diferentes.
A organização menos rígida, flexível, é aconselhável, pela variabilidade e
conseqüente maior facilidade na adaptação que um dos PVDI tem que sofrer no processo de
transferência de tecnologia. Geralmente os PVDI não dispõem de pessoal técnico capacitado
para avaliar todos os elementos necessários à adequada adaptação desta tecnologia. Também
há que se considerar fatores, como os já citados, de transferência de tecnologia sucateada
pelos PDI, considerando ainda, as decisões políticas dos PVDI que podem contribuir para o
aumento dessas dificuldades de adaptação da tecnologia e mesmo, o fraco incentivo à
pesquisa e desenvolvimento que gerariam novas tecnologias.
Neste enfoque, torna-se relevante a consideração do ambiente, representando tudo
aquilo que envolve externamente uma organização ou um sistema, o contexto dentro do qual
um ou outro está inserido. Como o ambiente é vasto, complexo, envolvendo o “tudo mais”
além da organização, alguns autores preferem analisá-lo em dois segmentos: o ambiente
geral e o ambiente de tarefa, conforme esquematizado na figura 2.2.

Figura 2.2 Representação esquemática da influência dos aspectos ambientais sobre a


organização

AMBIENTE GERAL

É o macroambiente, ou seja, o ambiente genérico e comum a todas as organizações.


Tudo o que acontece no ambiente geral afeta direta ou indiretamente todas as
organizações. O ambiente geral é constituído de um conjunto de situações semelhantes
para todas as organizações. As principais situações são as seguintes:

a) Situação da Capacitação Tecnológica


O desenvolvimento tecnológico provoca profundas influências nas organizações,
principalmente porque toda a tecnologia é sujeita a inovações, ou seja, tecnologia
dinâmica e de futuro imprevisível. As organizações precisam se adaptar e incorporar
tecnologia que provém do ambiente geral para não perderem a sua competitividade.
b) Situação Política
São as decisões e definições políticas tomadas em nível federal, estadual e municipal
que influenciam as organizações e que orientam a própria situação econômica.
c) Situação Econômica
Constitui a conjuntura que determina o desenvolvimento econômico, de um lado, ou a
retração econômica, de outro, e que condiciona fortemente as organizações.
d) Situação Demográfica
Representa fatores como a taxa de crescimento, população, raça, religião, distribuição
geográfica, distribuição por sexo e idade são aspectos demográficos que determinam
as características do mercado atual e futuro das organizações.
e) Situação Ecológica
É a condição relacionada com o quadro demográfico que envolve a organização. O
ecossistema se refere ao sistema de intercâmbio entre os seres vivos e o seu meio
ambiente. No caso das organizações, existe a chamada ecologia social: as organizações
influenciam e são influenciadas por aspectos como poluição, clima, transportes,
comunicações, etc.
f) Situação Cultural
A própria cultura de um povo penetra nas organizações através das expectativas de
seus colaboradores e de seus consumidores.

AMBIENTE DE TAREFA
É o ambiente mais próximo e imediato de cada organização, o segmento do ambiente
geral da qual uma determinada organização extrai as suas entradas e deposita as suas
saídas. Representa o ambiente de operações de cada organização. O ambiente de tarefa
é constituído por:

a) Fornecedores de Insumos
Que são os recursos materiais, recursos financeiros, recursos humanos, etc.
b) Clientes ou Usuários
São os consumidores das saídas da organização.
c) Concorrentes
Cada organização não está sozinha, nem existe no vácuo, mas disputa com outras
organizações os mesmos recursos, entradas, e os mesmos consumidores de suas
saídas. Daí os concorrentes quanto a recursos e os concorrentes quanto a
consumidores.
d) Entidades Reguladoras
Cada organização está sujeita a um conjunto de outras organizações que procuram
regular ou fiscalizar as suas atividades. É o caso dos sindicatos, associações de classe,
órgãos regulamentadores do governo, órgãos de proteção ao consumidor, etc.

2.2 A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA E A FORMAÇÃO DE BLOCOS


ECONÔMICOS

"A internacionalização econômica tornou-se uma necessidade intrínseca ao


desenvolvimento mundial" (Alves, 1992). Com esta afirmação vemos um novo contexto
global onde, para a superação da crise, os países optaram pela formação de grandes blocos
econômicos.
Quando se pensa na economia mundial imagina-se, em geral, um grande processo de
relacionamento entre países associado, normalmente, a questões político-diplomáticas ou
econômico/comerciais. Na verdade, o novo conceito de globalização dos mercados e da
economia pressupõe algo muito além disso. Envolve parcerias multifacetadas, que avançam
até projetos conjuntos na área social, educacional, cultural, de infra-estrutura, etc. Em suma,
o novo conceito de globalização pressupõe vida conjunta em uma grande sociedade.
A tendência mundial aponta, pois, inevitavelmente, para a integração de economias,
como pensamento regulador de trocas em todos os setores, tais como, mercadorias, serviços,
conhecimento, tecnologia, ciências, etc., numa permanente e salutar permuta e união de
conhecimentos, de culturas e de valores.
O termo bloco econômico pode sugerir um retrocesso no processo de globalização
para uma economia internacional fracionada em blocos regionais (regionalização). Nesse
caso, os países que formam estes blocos concentrariam seus investimentos e comércio no
interior deles mesmos. As tendências, contudo, nunca são unilaterais, sempre existindo
vários vetores contraditórios operando ao mesmo tempo.
Assim, a principal característica do desenvolvimento da economia internacional
continua sendo, sem dúvida, o processo de globalização.
Entende-se por bloco, acordos ou tratados entre Estados numa determinada região.
Os blocos econômicos, por sua vez, apresentam diferenças quanto à sua concepção e atuação.
Como exemplo pode-se citar a União Européia (UE) e o Acordo Norte-Americano de Livre
Comércio (NAFTA). No caso da UE trata-se de uma delegação de poderes; de um mercado
integrado, com políticas integradas (na agricultura, tecnologia e siderurgia, por exemplo),
com abertura das fronteiras não somente para mercadorias e capital, mas também para as
pessoas. Tais termos estão completamente ausentes no NAFTA.
O caráter da economia globalizada está na capacidade do capital buscar mercados e
mudar-se com rapidez para tirar proveito das possibilidades de obter o máximo de retorno
dos investimentos em nível mundial. Se amanhã, os países asiáticos com altos índices de
crescimento entrarem em recessão, e ao mesmo tempo a economia Norte-Americana retomar
seu crescimento, fatalmente perderão investimentos diretos e seu peso no comércio com o
Japão.
Analisando a relação entre comércio internacional intra-regional (entre países que
pertencem à mesma região) e inter-regional (entre países situados em regiões diferentes),
verifica-se que mais da metade do comércio internacional é feito entre as regiões e não dentro
delas. Há, assim, uma tendência para a diminuição do peso do comércio intra-regional, em
comparação com a situação do início dos anos 70.
Dessa forma, apesar da existência e importância das forças que pressionam na direção
de blocos econômicos regionalizados, estes, porém, devem ser vistos e analisados no
contexto do processo de globalização da economia.
Esta análise deve ser feita levando-se em consideração dois aspectos: o primeiro é
quanto ao interesse dos vários governos como protagonistas dos acordos e tratados. Neste
caso os governos conduzem uma política industrial que tenta manter a base industrial,
tecnológica e comercial sob seu controle já que diante do processo de globalização da
economia este controle torna-se cada vez menor. O segundo aspecto encontra-se no campo
da economia: as políticas diversificadas das empresas multinacionais, principais
protagonistas do processo de globalização.
Na divisão interna de trabalho dentro dos blocos, tenta-se misturar os diversos fatores
de produção e distribuí-los por várias regiões. Como, por exemplo, as montadoras Norte-
Americanas preferem utilizar a mão-de-obra barata, oriunda do México, em prejuízo da mão
de obra local. O mesmo acontece com as montadoras instaladas no Brasil e na Argentina. Já
as montadoras francesas, em relação à mão de obra do MAGREB (Argélia, Tunísia e
Marrocos), tiram proveito de uma racionalização entre suas unidades, concentrando parte da
produção num país e parte da produção em outro país.
A associação dos interesses do Estado com aqueles das empresas, no contexto da
competição por investimentos, é um fator primordial para se compreender o processo de
criação dos blocos. Sendo assim, torna-se necessário levar-se em consideração alguns
fatores:
* a integração econômica já existente entre os países;
* a posição destes países no contexto internacional e a dependência em relação a
outras regiões, como também as possibilidades de que o tratado venha a substituir
esta dependência;
* os principais atores econômicos interessados no processo de integração e seu peso
na economia;
* os objetivos dos governos envolvidos, sobretudo em relação a outros países, nível
de integração das políticas industriais e agrárias e, por fim, criação de estruturas
supranacionais.

Os acordos de livre comércio podem ter duas conseqüências sobre os fluxos


internacionais de produtos e serviços:
1) A primeira diz respeito à substituição de produtos nacionais por importação de
produto do parceiro no bloco regional a um custo mais baixo, como por exemplo, a
substituição de produtos lácteos brasileiros por laticínios argentinos;
2) A segunda está relacionada ao privilegiamento das importações de produto do
parceiro regional, em detrimento às importações de outros países, como por exemplo,
o estabelecimento de uma menor alíquota para a importação de veículos automotores
da Argentina, em relação a outros países, até a alíquota zero, prevista para o ano 2005..

Num contexto de globalização, existe, sem dúvida, o risco de que os vários acordos
de livre comércio possam influenciar sobremaneira os fluxos de produtos e serviços
existentes, através de uma discriminação de países exportadores que não fazem parte do
acordo. A tendência em direção a políticas protecionistas não ocorre, porém, em função dos
acordos de livre comércio e sim, da ocorrência recessão econômica. Por outro lado, observa-
se que dentro desse contexto, de globalização, a tendência é cada vez mais, pela utilização
de barreiras não tarifárias, do tipo normativas, como por exemplo asa normas ISO:
ISO 9000  referentes à qualidade;
ISO 14000  referentes à gestão ambiental (selo verde);
ISO 22000  referentes à gestão social do trabalho (selo social)
A partir destas breves considerações sobre a globalização da economia mundial,
pode-se estabelecer duas categorizações da formação de blocos econômicos:
a) Do ponto de vista da estruturação em mercados regionais, conforme figuras 2.3 e
2.4, os países estão divididos em vários blocos: NAFTA, U.E., MERCOSUL, etc.

Figura 2.3 Blocos Econômicos, PIB e quantidade de pessoas

Figura 2.4 Participação dos países nos diferentes blocos

b) Do ponto de vista da isonomia mundial, pode-se dividir o mundo em três blocos:


1) O bloco dos países capitalistas centrais, que concentram a maior parte da riqueza
mundial, do consumo de matérias-primas e de produtos manufaturados, do
desenvolvimento industrial e tecnológico, dos investimentos diretos e
financeiros, e do comércio internacional;
2) O bloco formado pelos dos novos países industrializados ou em vias de
industrialização que estão interligados de forma periférica à economia mundial e
que, através de investimentos diretos e da exportação de matérias primas e de
produtos agrícolas industrializados para o primeiro bloco, procuram, cada vez
mais, inserir-se na economia mundial. Uma das características dos países deste
bloco, é que o comércio internacional e os fluxos dos investimentos dão-se
prioritariamente, com os países do primeiro bloco, e muito pouco entre si;
3) O bloco constituído pelos países não industrializados, apartados do
desenvolvimento industrial, pauperizados ao extremo, que sobrevivem com
ajudas financeiras de órgãos internacionais tipo UNICEF e da exportação de
algumas matérias-primas que, de forma continuada, perdem valor no mercado
internacional.

2.3 IMPORTÂNCIA DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA O


DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

O processo de inovação tecnológica tem sua origem em épocas remotas, desde a


utilização da pedra lascada como ferramenta do homem pré-histórico e o emprego dos
diversos metais nos agrupamentos humanos da antigüidade. Entretanto, foi a partir da
Revolução Industrial, que o progresso tecnológico foi intensificado na Europa e,
particularmente, na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, com a instalação do sistema fabril
e na difusão do capitalismo mercantilista. A grande inovação tecnológica foi a substituição
do trabalho braçal do homem pela máquina, quando o vapor, a energia elétrica e o motor a
explosão passaram a ser empregados para mover as máquinas nas fábricas de tecidos, nas
minas, nos transportes e na agricultura.
No início do século XIX, o emprego da máquina no processo produtivo, provocou a
ruína de milhares de artesãos, que se viram obrigados a vender sua força de trabalho aos
empresários. Revoltados, os operários ingleses liderados por King Ludd, destruíram as
máquinas introduzidas na indústria têxtil que, nas fábricas, substituíram seus instrumentos
de trabalho. Uma lei de 1812 reprimia com pena de morte ou com a deportação, esta prática
criminosa dos grupos de operários ingleses, cognominados Luditas.
Iniciada e difundida após a segunda Guerra Mundial, a automação revolucionou a
economia mundial, substituindo o trabalho intelectual do homem, tais como: operações de
controle, regulagem e correção da produção. A automação diminuiu os custos de produção
e aumentou em proporções gigantescas a produtividade do trabalho. Por outro lado, trouxe
conseqüências econômicas na estrutura da sociedade e novos conflitos sociais.
"(...) O microcomputador, o telefone e a TV por assinatura, foram as vedetes da
tecnologia dos últimos três anos. A verdade é que o futuro chegou mas ninguém percebeu,
tal a velocidade das modificações no cotidiano do cidadão comum. As mudanças
tecnológicas atingiram um ritmo mais rápido do que em qualquer época da história. A
espécie humana levou milhões de anos para descer da árvore e descobrir os metais. Cinco
milênios depois, criou as primeiras máquinas. Entre a Revolução Industrial e os primeiros
computadores, o intervalo é de apenas dois séculos. Em quarenta anos, aqueles trambolhos
movidos a válvula, do tamanho de uma casa, apelidados de "cérebros eletrônicos”,
diminuíram até poder ser colocados sobre uma mesa. Seis anos depois, eles já cabem na
palma da mão!" (Chiaretti, 1995)
As inovações tecnológicas determinam, quase sempre, a elevação dos índices de
produção e o aumento da produtividade do trabalho. O uso de conhecimentos tecnológicos
pressupõe, a princípio, a existência de uma adequação da mão de obra nela empregada, tais
como escolaridade, treinamento e experiência, entre outras. Todavia, não existe uma relação
direta entre as técnicas utilizadas pela sociedade e o conhecimento global dela por parte da
força de trabalho. Constata-se, também, o fato de que o emprego de novas tecnologias nem
sempre é vantajoso para a sociedade; chegando até mesmo a ser antieconômico e socialmente
desvantajoso quando há uma grande oferta de mão-de-obra barata e baixo nível de instrução.
Assim, a intensidade, o ritmo e o emprego de novas tecnologias variam em conformidade
com a sociedade, nível de instrução, oferta e demanda de bens e serviços, natureza da
concorrência, etc.

2.4 A TEORIA DOS SISTEMAS E A TEORIA CONTINGENCIAL

A crescente complexidade e turbulência da economia tem gerado, nos últimos anos,


a elaboração de múltiplas teorias de análise da relação pessoas/ambiente/tecnologia. A
defesa de tal integração baseia-se na necessidade de conjugar os níveis de análise
organizacional e ecológico, buscando abordagens capazes de tornar explícitos os
mecanismos organizacionais de aquisição de recursos e suas conseqüências ao nível das
pessoas e da organização.
Segundo Von Bertalanffy (1973), ‘os elementos de um sistema constituem um todo,
que não se reduz à soma das partes. Esta totalidade, adquire uma certa identidade em
relação ao meio ambiente de trabalho, estabelecendo com este meio trocas, através das
entradas e saídas’. As componentes, as relações e os objetivos, constituem os aspectos
fundamentais na delimitação de um sistema.
Assim, do ponto de vista da ergonomia, pode-se dizer que, um sistema é um conjunto
de componentes: homem, tecnologia, organização e meio ambiente de trabalho (que são as
partes ou órgãos de um sistema de produção), dinamicamente relacionados em uma rede de
comunicações (em decorrência da interação das diversas componentes), formando uma
atividade (que é o comportamento ou processamento do sistema), para atingir um objetivo
(finalidade do sistema), agindo sobre sinais, energia e matérias primas (que são os insumos
ou entradas a serem processados pelo sistema), para fornecer informação, energia ou produto
(que são as saídas do sistema).
De acordo com Koontz et all (1986), uma das definições de sistema pode ser: "uma
combinação ordenada e abrangente de fatos, princípios, doutrinas, e coisas semelhantes,
num campo específico do conhecimento ou pensamento." Considera-se, então, que toda
forma de vida é um sistema inclusive a empresa, o órgão público ou o departamento que
compõe essa empresa ou órgão.
A Teoria dos Sistemas traz alguns conceitos, a saber:
1. o sistema deve ser visto como um todo maior do que a soma de suas partes;
2. podem ser abertos (quando faz trocas com o meio) ou fechados (quando não
possuem interações com o meio);
3. o sistema deve ter fronteiras. Nos sistemas ditos sociais (por exemplo uma empresa)
as fronteiras, apesar de visíveis, não são rígidas, impenetráveis ou fechadas;
4. os sistemas físicos fechados tendem à entropia (morte). Os sistemas abertos têm
condições de sobreviver, desde que haja troca equilibrada com o meio;
5. para sobreviver, o sistema aberto deve buscar a "homeostase dinâmica" - para que
uma empresa sobreviva, as suas entradas devem ser, pelo menos, iguais às suas
saídas;
6. o equilíbrio e sobrevivência do sistema dependem de feedback para o controle
gerencial;
7. um sistema é composto de subsistemas que interagem entre si. São hierárquicos;
8. os sistemas abertos, e principalmente os sistemas sociais, tendem a crescer,
tornando-se mais complexos e elaborados, distendendo fronteiras, criando um novo
supra-sistema;
9. sistemas abertos podem alcançar resultados de diversos modos. "Num sistema
social, metas podem ser alcançadas com entradas diferentes e com os mais diversos
processos ou métodos; não existe uma única maneira ideal." (Koontz et all, 1986).

Na teoria administrativa é possível identificar duas linhas de pensamento: a linear e


a sistêmica. A forma de pensamento linear pode ser comparada ao ato de "olhar através de
um orifício - olha-se em frente, e os únicos resultados que podem ser vistos são os que se
querem ver." (Hampton, 1983). Dentro dessa forma de pensar, as situações têm uma única
causa, uma única solução, uma ação e o quadro se torna estável, sem mais alterações. Ao
contrário, o pensamento sistêmico considera que:
1. se existe um problema;
2. este faz parte de uma situação;
3. que requer uma solução;
4. sendo que esta solução apresentará impactos diversos, além dos esperados;
5. e que faz sentido antecipar esses efeitos;
6. de forma que a solução é avaliada com base nos efeitos esperados e inesperados;
7. considerando-se que a solução não é estável, uma vez que a situação é dinâmica.

A teoria da contingência, ampliando a abordagem sistêmica, salienta que as


características das organizações são variáveis dependentes do ambiente e da tecnologia e,
procura explicar que não há nada de absoluto nos princípios organizacionais. Os aspectos
universais e normativos devem ser substituídos pelo critério de ajuste entre organização,
ambiente e tecnologia.
Para a teoria da contingência não existe uma universalidade dos princípios de
administração, nem uma única melhor maneira de organizar e estruturar as organizações. A
estrutura e comportamento organizacional são variáveis dependentes. As variáveis
independentes são o ambiente e a tecnologia.
O ambiente impõe desafios externos à organização, enquanto a tecnologia impõe
desafios internos. Para se defrontar com os desafios externos e com os desafios internos, as
organizações se diferenciam em três níveis organizacionais, conforme tabela 2.1:

Níveis organizacionais Atribuições


Institucional Formulação de políticas gerais da
(componente estratégico) organização. Estabelece o Planejamento
Estratégico.
Gerencial Elaboração de planos e programas específicos
(componente tático)
Operacional Execução de rotinas e procedimentos
(componente técnico)

Tabela 2.1 Níveis Hierárquicos de uma Organização

A abordagem contingencial procura compreender as relações dentro e entre os


subsistemas, bem como entre a organização e seu ambiente, definindo padrões de relações
ou configurações das variáveis. Ela enfatiza a natureza multivariada das organizações e tenta
compreender como as organizações operam sob condições mutantes e em circunstâncias
específicas.
A teoria da contingência, segundo os teóricos, seria a última novidade dentro da
teoria administrativa, marcando um passo além da Teoria de Sistemas. Suas origens
remontam às recentes pesquisas de autores, tais como, Chandler, Burns e Stalker,
Woodward, Lawrence e Lorsch a respeito das organizações e seus ambientes. Todas essas
pesquisas revelaram que a teoria administrativa disponível até então era insuficiente para
explicar os mecanismos de afastamento das organizações dos seus ambientes de maneira
proativa e dinâmica.
Verificou-se que muita coisa existente dentro das organizações são decorrentes do
que existe fora delas, nos seus ambientes. As organizações escolhem seus ambientes e depois
passam a ser condicionadas por eles, necessitando adaptar-se a eles para poderem sobreviver
e crescer. O conhecimento do ambiente passou a ser vital para a compreensão dos
mecanismos organizacionais. Todavia, a análise ambiental, nos dias de hoje, ainda é
precária.
Outra variável que condiciona a estrutura e o comportamento organizacional é a
tecnologia utilizada pela organização. Para defrontar-se com o ambiente, a organização
utiliza tecnologias que irão condicionar a sua estrutura organizacional e o seu
funcionamento. A partir da teoria da contingência, a variável tecnologia passou a assumir
um importante papel na teoria administrativa. Alguns autores chegam a falar em imperativo
tecnológico sobre a estrutura organizacional.
Em uma apreciação crítica, verifica-se que a Teoria da Contingência é
eminentemente eclética e integrativa, mas ao mesmo tempo relativista e situacional. Em
alguns aspectos parece que a teoria da contingência é muito mais uma maneira relativa de
“se ver o mundo” do que propriamente uma teoria administrativa.
Alguns teóricos defendem que se deve buscar normas e procedimentos que definam,
determinem a atitude dos líderes frente às situações de trabalho, isto é, esses teóricos buscam
a forma ideal de fazer as coisas, não considerando as particularidades de cada situação. A
Teoria Contingencial defende que não há uma maneira ideal de conduzir as situações e essa
é uma de suas principais contribuições.
O pensamento contingencial (ou situacional) não é resultado do trabalho de uma
única pessoa ou grupo. Henry Fayol já falava no "senso de proporção", onde os gerentes
deveriam ser flexíveis, adaptando seus conhecimentos às diferentes situações. Mary Parker
Follet deixa claro o pensamento sistêmico ao alertar os "gerentes que sua liderança e direção
causariam menor ressentimento e confusão junto aos subordinados se pudessem perceber a
lógica ou lei da situação...". (Hampton, 1983). Pode-se citar ainda a contribuição de
McGregor com a elaboração de sua Teoria Y, onde os gerentes têm mais liberdade para
escolher uma abordagem mais participativa, de acordo com a maturidade de seus
subordinados.
A palavra contingência significa algo eventual, que pode ou não acontecer. É uma
possibilidade que pode ou não se concretizar através da experiência e da evidência. As
pesquisas mostram que o desenho organizacional depende da interface da organização com
o ambiente. Por esse motivo os estudos em tecnologia e ambiente se aprofundaram, uma vez
que as variações nesses últimos interferem na estrutura da organização.
As pesquisas de Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch levou-os a concluir que os
problemas organizacionais estão, basicamente, ligados à diferenciação e integração. Estes
são estados opostos e antagônicos, uma vez que a diferenciação divide a organização em
subsistemas, num contexto ambiental também especializado e o conceito de integração está
ligado às pressões externas que forçam a empresa a um funcionamento integrado.
Essa teoria apresenta alguns aspectos básicos:
1. a organização é considerada um sistema aberto;
2. as variáveis organizacionais apresentam um complexo inter-relacionamento (entre
si e com o ambiente);
3. as variáveis ambientais funcionam de forma independente, enquanto as variáveis
organizacionais são dependentes do ambiente.

Os autores que defendem a teoria contingencial mostram consenso acerca dos


seguintes aspectos:
1. rejeitam os conceitos rígidos e universais: não existe uma única forma de alcançar
os objetivos;
2. como a teoria é uma prática situacional, deve-se desenvolver habilidades de
diagnóstico, a fim de que se tenha a atitude certa na hora certa;
3. pode ser aplicada a inúmeras situações e, principalmente, naquelas que envolvem
componentes comportamentais.

Atualmente, o ambiente no qual estão inseridas as organizações é muito dinâmico e


imprevisível. Esse ambiente pouco controlável, ligado à rápida evolução tecnológica
determina um elevado grau de incerteza. Considera-se uma organização adequadamente
administrada quando se adapta às restrições do ambiente e da tecnologia.
A interação organizacional com o ambiente externo consiste na focalização dos
setores que lhe são relevantes e na determinação da estratégia para alcançar este fim.
De acordo com Chiavenato (1983), "As condições ambientais estáveis conduzem a
estruturas centralizadas, enquanto um ambiente dinâmico requer uma estrutura
descentralizada. Ambientes estáveis e estruturas mecanicistas andam de mãos dadas. Já os
ambientes menos estáveis requerem desenhos organizacionais mais flexíveis."
O impacto da tecnologia pode ser observado em qualquer direção que se olhe. Novos
produtos, novas máquinas, novos sistemas de produção, novos sistemas de informação,
enfim, uma diversidade que assusta pela velocidade de aparecimento, trazendo, além do
conforto e do bem-estar, conseqüências indesejáveis como desemprego, desequilíbrio
ecológico e falta de privacidade.
De maneira bem simplificada, pode-se dizer que tecnologia é a forma ou método
utilizado para se alcançar um resultado. A relação entre tecnologia e organização procura
definir o tipo de estrutura que se adapte aos resultados finais desejados. Ou seja, a tecnologia
empregada por uma organização fica revelada na sua estrutura. Pode-se concluir, então, que
alterações tecnológicas afetam a estrutura organizacional, isto é, certas estruturas adaptam-
se melhor a certos tipos de tecnologia.
Na teoria da contingência, observa-se que, o princípio básico da melhor forma de
organizar um sistema não é definitivo. Porém, em determinadas circunstâncias, poderá haver
um modelo ótimo que leve em consideração um número de contingências do “momento”,
como a tecnologia, estrutura, autoridade, relacionamento, mercado, economia, sociedade e
cultura, ambiente, entre outros. A preocupação é manter um equilíbrio entre forças,
responsáveis pela estabilidade das partes do sistema.
O estudo da organização da empresa e do trabalho é indispensável no caso da
transferência da tecnologia, pois levanta questões essenciais e permite por vezes encontrar
soluções relativamente simples e baratas para resolver dificuldades de importância crucial.
É dentro desta perspectiva que se insere a Antropotecnologia, cujo objeto central de estudo
é o trabalho no seu sentido mais amplo, envolvendo não só a concepção dos espaços, locais,
meios e a organização do trabalho, como também a cultura, a formação profissional, a
geografia, a antropologia, a história, todas as disciplinas enfim que tratam do homem
coletivo, de um povo.

2.4 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

ALVES, J. da S. MERCOSUL. Florianópolis: UFSC, 1992.


BURNS, T.; STALKER, G.M. The management of innovation. London: Tavistock, 1961.
CHIAVENATO, I. Administração de Empresas: uma abordagem contingencial. São
Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 606 p., 1982.
CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: Mc Graw-
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HALL, R.H. Organizações: estruturas e processos. 3 ed. São Paulo: Prentice/Hall do
Brasil, parte IV, 1984.
HAMPTON, D. R. Administração Contemporânea. 2 ed. São Paulo: McGraw-Hill do
Brasil. 1983.
KAST, F.E., ROSENWEIG,J.E. Organização e administração: um enfoque sistêmico.
São Paulo: Pioneira, v. 1, 377 p., 1976.
KOONTZ, H., O’DONNELL, C., WEHRICH, H. Administração - fundamentos da teoria
e da ciência. 14 ed. São Paulo: Pioneira, 1986.
LAWRENCE, P.R.; LORSCH, J.W. As empresas e o ambiente. Diferenciação e
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MINTZBERG, H. The structuring of organizations. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-
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PERROW, C.B. Análise organizacional: um enfoque sociológico. São Paulo: Atlas, 225
p., 1976.
ROBBINS, S.P.Organization theory: structure, design and applications. Englewood
Cliffs-N.J. : Prentice-Hall, 552 p., 1990.
ROBBINS, S.P. Comportamiento organizacional. Conceptos, controversias y
aplicaciones. 2 ed. Naucalpan de Juárez (México): Prentice Hall Hispano Americana,
780 p., 1994.
VON BERTALLANFFY, L. Teoria Geral dos Sistemas. In: Série de Ciências Sociais:
Teoria dos sistemas, p. 7-15, 1976.
WOODWARD, J. Organização industrial: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1977.

CAPÍTULO 3

A ANTROPOTECNOLOGIA

A transferência de tecnologia de PDI (Países Desenvolvidos Industrialmente) para PVDI (Países em


Vias de Desenvolvimento Industrial) tornou-se uma constante nos últimos anos. Isto porque nenhum
dos PVDI pode esperar, primeiro copiar uma base de conhecimento exigida para projetar as tecnologias,
que são necessárias para permitir o seu desenvolvimento industrial. A solução passa, então, pela
aquisição de tecnologias, além, é claro, de investimentos em educação e no desenvolvimento científico
e tecnológico. Em particular, no Brasil, existem áreas onde se pode desenvolver tecnologia nacional,
enquanto em outras há carência de qualificação, em quantidade e qualidade, para competir
internacionalmente. Por isso, as empresas dos PVDI vêem-se na necessidade crescente de
desenvolverem seus parques industriais, optando cada vez mais pela transferência de tecnologia, com o
intuito de se tornarem mais produtivas e eficientes, para competir com perspectiva de sucesso tanto no
mercado interno como no mercado externo. Todavia, os resultados obtidos com a transferência de
tecnologia, na maioria das vezes, nem sempre satisfazem às expectativas do comprador. É nesse
contexto que se insere a antropotecnologia, disciplina que procura adaptar uma determinada tecnologia
a um contexto local.

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A literatura relata diversos casos de transferência de tecnologias que encontraram


dificuldades na sua instalação e no seu funcionamento. Isso porque os países importadores
de dispositivos técnicos projetados/construídos em outras realidades, diferem destas não
somente pelo seu nível de vida, mas também, por sua geografia, clima, história e sua cultura.
Para a realização de uma transferência bem-sucedida, é necessário, primeiramente, conhecer
as características do país importador, através de estudos que abordem sua geografia, seu
clima, sua demografia, seus sistemas de transportes, seus recursos humanos, sua cultura e,
em particular, suas atividades produtivas (atuais e anteriores). Além disso, deve-se conhecer
situações de referência, ou seja, situações onde já se utiliza a tecnologia a ser transferida, a
fim de observar as dificuldades encontradas pelos trabalhadores ao operarem esta mesma
tecnologia.
Segundo Wisner (1984a), normalmente, quando a transferência se restringe apenas
às máquinas e instalações, observa-se, em geral, no novo ambiente, um desempenho inferior
que é sentido, tanto em nível da produtividade, como também em nível da segurança das
instalações.
Como estes resultados não são, normalmente, observados no ambiente de origem da
tecnologia, ou seja, nas regiões onde os equipamentos e os sistemas de produção foram
concebidos e construídos, deduz-se que a anormalidade deve estar na recepção e na
adaptação desta tecnologia ao país ou região importadora.
Com efeito, estes aspectos negativos originam-se de uma produção identificada, a
partir de diversos estudos, como modo degradado de funcionamento (Wisner et all, 1988;
Kerbal, 1990; Aw, Sahbi, Abrahão, Santos, apud Wisner, 1992a; Wisner, 1994b;
Meckassoua, 1986). Nesta situação, por razões diversas de inadequação da transferência de
tecnologia, os sistemas de automação e regulação são alterados, a utilização das máquinas
ocorre em condições diferentes daquelas previstas pelo construtor, a manutenção é
negligenciada, o pessoal é insuficiente em número, qualificação e experiência. Pode ocorrer
um volume aceitável de produção, porém o desempenho dos trabalhadores não é suficiente
para substituir os sistemas de controle e automação, não assegurando o bom funcionamento
do sistema, com produção estável e de boa qualidade.
Em situações deste tipo como a produção, de alguma maneira, é mantida, observa-se
que o prejuízo maior desta tensão, entre a tecnologia importada e a realidade do país
importador ocorre para a saúde dos trabalhadores, com conseqüências sensíveis sobre a
produtividade. Estes autores destacam também que, embora seja mais comumente
identificado em PVDI, o modo degradado de produção não se constitui em uma
exclusividade destes países, podendo também ser encontrado em países industrializados, a
partir da transferência de tecnologia entre regiões com níveis diferentes de industrialização.
Nestes últimos, porém, a extensão da deterioração costuma ser bem menor, visto que
ocorrem pressões sociais e econômicas rigorosas e as facilidades de prevenção costumam
ser maiores.
Outra questão importante na adaptação da tecnologia ao país importador é a
consideração das estratégias que os trabalhadores do país de origem da tecnologia utilizam
para viabilizar o funcionamento do sistema produtivo, para além dos mecanismos prescritos
em instruções formalizadas. Constitui-se no denominado trabalho real, que somente pode
ser apreendido a partir de observações dos trabalhadores no curso da ação. Parte-se do
princípio de que os insucessos, quando da transferência de tecnologia, podem estar ligados
não somente à desconsideração dos fatores geográficos, econômicos e antropológicos, mas
também ao desconhecimento deste trabalho real.
Quando da transferência, os aspectos visíveis como máquinas e equipamentos e os
prescritos, como manuais, podem ser mais facilmente transferíveis do que os aspectos de
serviços de apoio, manutenção e aqueles ligados à organização do sistema produtivo. Esta
diferenciação entre trabalho real e trabalho prescrito é considerada como uma das
contribuições mais importantes da ergonomia à compreensão das relações entre o homem e
o trabalho. Coloca-se, então, que a utilização dos preceitos ergonômicos pode colaborar de
maneira significativa para a compreensão de processos de transferência de tecnologia.

3.2 A ERGONOMIA

A Ergonomia estuda a atividade do homem no trabalho com o objetivo de contribuir


na concepção de ferramentas, máquinas e sistemas de produção adaptados às características
fisiológicas e psicológicas do ser humano, com critérios de saúde e de produtividade. Esta
definição evidencia três aspectos importantes:
• a ergonomia se situa num campo fronteiriço entre as ciências humanas, biológicas e
exatas;
• a ergonomia produz seus próprios resultados sobre as condições de desempenho do
homem numa determinada situação de atividade profissional.
• a ergonomia está voltada para a concepção dos meios de trabalho, levando-se em conta
as características humanas e a atividade real dos trabalhadores.
Num primeiro momento, a ergonomia fixou-se em analisar situações de trabalho
existentes, a fim de elucidar possíveis relações entre as condições de trabalho, os meios de
trabalho, as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores e as conseqüências sobre a saúde
e sobre a produção.
Neste sentido, a ergonomia desenvolveu métodos de análise, permitindo colocar em
evidência as estratégias utilizadas pelos trabalhadores para atingir os resultados, em
quantidades e em qualidade, estabelecidos pela empresa. A partir da análise das situações
existentes, a ergonomia propõe recomendações visando implantar modificações nos meios
de trabalho, de forma a permitir uma melhor adaptação à atividade dos trabalhadores
(ergonomia de correção e ergonomia de arranjo físico).
A amplitude das transformações tecnológicas e organizacionais que a indústria e os
serviços estão sujeitos atualmente faz com que a ergonomia, cada vez mais, fixe sua atenção
sobre projetos técnicos e organizacionais. Nesses casos, as situações de trabalho ainda não
existem e as atividades dos trabalhadores não podem ser analisadas de forma preliminar.
Assim, é necessário, então, desenvolver novos métodos de análise que permitam
prognosticar problemas ergonômicos em nível macro, característicos em projetos industriais,
e que serão propostos neste livro.
Todavia, antes de analisar esses novos métodos, é necessário precisar nosso campo
de interesse e algumas definições.

3.2.1. Ergonomia de projetos industriais e da automação da produção

A automação da produção designa um conjunto de técnicas (mecânica, informática,


automática, eletrônica) utilizadas na produção industrial. A Ergonomia de Projetos
Industriais engloba, além dos sistemas automatizados de produção (produtica), a automação
dos escritórios (burótica) e a evolução do nível de automação nas indústrias de processos
contínuos (salas de controle de processos).
A amplitude e a natureza dos projetos poderão ser bastante diversificadas:
• montante do investimento;
• dimensão e campo de atuação da empresa;
• tecnologias implantadas;
• projetos englobando uma ou várias plantas;
• condições sociais (efeitos sobre o pessoal, qualificações).
A Ergonomia de Projetos Industriais diz respeito, então, à ergonomia de concepção,
englobando elementos metodológicos gerais e linhas diretrizes comuns. Sua aplicação
deverá ser adaptada a cada projeto industrial, levando-se em conta as suas características
específicas.

3.2.2. Problemas ergonômicos da automação

Os métodos que serão desenvolvidos neste livro visam prevenir problemas, aos quais
são confrontados os trabalhadores e os empresários, quando da implantação de novas
tecnologias. Neste sentido, é importante apresentar, num primeiro momento, os resultados
de análises de trabalho efetuadas, a posteriori, nos diversos setores da atividade humana.

1) Sistemas Automatizados de Produção - Produtica


(unidades de usinagem, de montagem e de empacotamento)

• Subestimação do número de intervenções humanas: dispositivo concebido prevendo seu


funcionamento nominal sem incidentes. Na realidade, incidentes ocorrem, devidos à
variabilidade das matérias primas (tolerâncias), das ferramentas (jogos, usura,
regulagem), dos sistemas de tratamento da informação (sensores, servomecanismos) e
dos sistemas de potência (vazamentos de óleo, queda de tensão), exigindo a necessidade
de freqüentes intervenções humanas.
• Intervenções humanas dificultadas pelo dispositivo técnico: dispositivo concebido para a
produção, não prevendo a necessária manutenção preventiva e corretiva. Neste sentido,
dificuldades aparecem para os trabalhadores, em vários níveis: para ser informado
(distância, concepção da apresentação da informação e dos dispositivos de comunicação),
para estabelecer um diagnóstico, para intervir (acessibilidade, facilidade de manutenção
corretiva) e para programar ou para reprogramar robots.
• Dependência dos operadores em relação aos dispositivos automáticos: a introdução de
dispositivos automáticos em linhas de produção faz com que a cadência seja definida pela
alimentação e pela evacuação da linha. Por outro lado, é preciso salientar a dependência
do trabalhador em relação às maquinas à montante e à jusante do seu posto de trabalho.
• Dificuldades de coordenação entre os operadores: a introdução de dispositivos de
centralização, de controle e comando, gera algumas dificuldades de coordenação entre os
diversos operadores de um sistema de produção, devido a diversos aspectos: dimensão
das instalações, conhecimento insuficiente do trabalho dos outros operadores, concepção
dos sistemas de comunicação.
• Conseqüências para a empresa: Os problemas apresentados geram uma série de
conseqüências para as empresas, tais como: taxa de ocupação muitas vezes baixa
(necessitando às vezes colocar uma equipe noturna para assegurar a produção),
necessidade de aumento da cadência de produção, dispositivos automáticos que não
alcançam o desempenho esperado.

2) A automação dos escritórios- Burótica


• Informatização acompanhada de uma rigidificação da organização do trabalho e de um
aumento da pressão temporal.
• Softwares que não respondem à complexidade e à diversidade dos problemas reais.
Serviço executado que não corresponde aos objetivos fixados.
• Confronto entre a lógica informática (de funcionamento) e a lógica do operador (de
utilização), gerando diálogos patológicos e problemas de memorização.
• Superestimação pela hierarquia da facilidade de efetuar uma tarefa (exemplo: realizar
certas modificações num editor de texto).

3) Indústrias de processos contínuos

• Dificuldade de construção de uma informação confiável sobre o estado real do processo:


confiabilidade dos sensores, papel dos índices informais (operadores exteriores) muitas
vezes subestimado.
• Contradição entre uma visão da informatização, centrada sobre a otimização do
funcionamento em períodos estáveis, e a atividade dos operadores, voltada para a
prevenção e a recuperação das disfunções.
• Períodos de arranque ou de retomada difíceis: riscos de segurança.
• Eventualmente, nos processos bem estabilizados, risco de perda de experiência. Os
operadores não intervindo durante longos períodos perdem a habilidade no controle do
processo.
• Problemas de formação.
Em resumo, a informatização e a automação da produção baseiam-se numa visão
sumária que os engenheiros de projetos e de sistemas têm do trabalho efetuado pelos
trabalhadores, anteriormente à implantação das novas tecnologias. Visão, muitas vezes
teórica, que subestima a complexidade das estratégias desenvolvidas pelos trabalhadores que
asseguram a produção e a manutenção nas situações tradicionais. Subestimação em
particular da variabilidade industrial, dos incidentes e das fases de perturbação da produção
que ocorrem.
Neste sentido, o método que será desenvolvido neste livro, pode ser sintetizado,
conforme a representação mostrada na figura 3.1:

Figura 3.1 Metodologia para a bordagem antropotecnológica

Neste sentido, é necessário que esta abordagem seja convergente com a estrutura do
projeto industrial, procurando influenciá-lo nas suas diversas etapas.
No âmbito deste livro, o interesse coloca-se justamente nas dificuldades de adaptação
de uma tecnologia transferida à nova realidade, levando-se em consideração as diversas
dimensões do empreendimento para a garantia dos resultados esperados sem, contudo,
degradar as condições de vida e de trabalho dos operadores do sistema. A viabilização desta
análise será feita a partir dos princípios propostos pela Ergonomia, ampliados pela
Antropotecnologia.

3.3 ANTROPOTECNOLOGIA

3.3.1 Origem e definição

A análise da transferência de tecnologias, se suporta nas disciplinas que tratam do


homem enquanto ser coletivo. O emprego simultâneo destas disciplinas deu origem a um
novo campo de estudo, denominado ANTROPOTECNOLOGIA, fruto de estudos realizados,
em sua maioria, por pesquisadores dos PVDI, analisando os sucessos e fracassos das
transferências de tecnologias para seus próprios países.
Assim, em analogia à Ergonomia que procura a adaptação do trabalho ao homem
com o objetivo de alcançar, simultaneamente, a produtividade e a saúde dos trabalhadores,
desenvolveu-se um novo campo de estudo denominado Antropoteconologia, que pode ser
definida como a adaptação da tecnologia a ser transferida a uma determinada população,
considerando a influência de fatores geográficos, demográficos, econômicos, sociológicos e
antropológicos. Este termo foi criado com o intuito de aumentar a abrangência do campo de
ação da ergonomia. A Ergonomia procura usar e criar conhecimento sobre o homem em
atividade de trabalho, a partir de disciplinas como a antropometria, a biomecânica, a
fisiologia do trabalho e a psicologia cognitiva. Já a Antropotecnologia amplia esta
abordagem, procurando desenvolver conhecimentos sobre o homem em atividade coletiva
de trabalho, a partir de disciplinas como a ergonomia, a organização do trabalho, a
antropologia cultural e cognitiva, com o mesmo objetivo de incrementar a busca de soluções
às dificuldades na implantação de sistemas de produção.
A antropotecnologia desenvolveu-se, então, a partir de diversos estudos de
transferência de tecnologia, tanto do ponto de vista técnico como organizacional. Os
processos analisados demonstraram que as determinantes de sucesso de transferências
tecnológicas não ocorriam de maneira idêntica, variando de acordo com a localização em
um mesmo país e nos diversos países entre si. O estudo aprofundado destas diferenças,
envolvendo a busca de compreensão das causas complexas do fracasso de certos processos,
e as recomendações específicas a cada região e tipo de projeto, que podem advir deste estudo,
constitui-se o campo de pesquisa da antropotecnologia.
É próprio da Antropotecnologia, assim como da Ergonomia, orientar-se para o
trabalho, para as atividades daqueles que produzem. A abordagem busca o levantamento das
causas, baseadas nos seus efeitos sobre a situação de trabalho. A partir dos resultados da
análise do trabalho pode-se conceber uma árvore de causas, que permite assinalar as
anomalias críticas do processo de trabalho. A diferença entre a Ergonomia e a
Antropotecnologia é que a árvore de causas se limita, na Ergonomia, ao posto de trabalho
ou, de modo mais amplo, à situação de trabalho. A Antropotecnologia, objetiva a ampliação
desta questão para permitir o entendimento do sistema de trabalho e do ambiente em que o
mesmo se encontra (Wisner, 1994a).
Wisner (1981), ressalta que não se trata de substituir a decisão de governantes e de
empresas na escolha do tipo de produto a ser produzido ou dos modos de produção a serem
instalados, mas de sugerir as condições nas quais um projeto específico possa ter sucesso.
Salienta que cada região, país ou grupo de países no mundo, dispõe de uma combinação de
fatores favoráveis ou desfavoráveis, que faz com que ele seja obrigado a construir seu
próprio modo de organização industrial. Neste sentido, uma boa organização é aquela que,
mesmo tendo vindo de uma idéia externa, não foi simplesmente transferida e sim
reconcebida, transformada em função dos instrumentos sociais disponíveis e do modo de
funcionamento de uma dada sociedade.
A industrialização dos PVDI e seu aspecto mais crítico, a transferência de tecnologia,
provocam um grande número de dificuldades presentes em quase todos os casos de
transferência, mas que diferem muito em importância de um país a outro. É sobre a análise
desta unidade e desta diversidade que se detém a Antropotecnologia, chegando a resultados
que podem ser utilizados de duas formas: de um lado, para fornecer aos vendedores e aos
compradores alguns meios de reflexão sobre suas estratégias econômicas, políticas e
ideológicas; e de outro, para permitir o sucesso das transferências, graças à utilização de uma
metodologia adaptada a cada etapa do processo (Wisner, 1984a).
A Antropotecnologia baseia-se então em diversas disciplinas para resolver os
problemas ergonômicos em nível macro colocados pela transferência de tecnologia, as quais
estabelecem as bases teóricas deste novo campo de conhecimento.

3.3.2 As bases teóricas da antropotecnologia

A antropotecnologia foi desenvolvida utilizando-se de várias disciplinas a título de


ambasamento teórico como esquematizado na figura 3.2.

Figura 3.2. Bases teóricas da Antropotecnologia

1) Ergonomia

A Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e


necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser
utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia (Wisner, 1987a).
A intervenção ergonômica ocorre no local de trabalho, denominada análise do posto.
Diferentes técnicas são empregadas para este fim: observação direta do especialista,
observação clínica, registro das diversas variáveis fisiológicas do trabalhador, medidas do
ambiente físico (ruído, iluminação, vibração, poeira, temperatura, gases, etc.). Num segundo
momento, são levantadas as principais exigências do posto de trabalho, e em seguida, são
enumeradas as recomendações ergonômicas de modificação deste posto, destinadas a
eliminar ou ao menos reduzir os problemas detectados.
De fato, trata-se de uma prática destinada a resolver os problemas concretos do
mundo do trabalho, graças a uma metodologia e técnicas de análises, baseadas em
conhecimentos pertencentes a várias disciplinas científicas, sobretudo da fisiologia do
trabalho, da antropometria, da biomecânica, da psicologia do trabalho e, em particular, da
psicologia cognitiva.

2) História das Técnicas

A História contribui com um estudo do tipo antropotecnológico ao analisar a


evolução histórica das técnicas das várias nações.
Segundo Wisner (1984a) entre as nações onde o nível de industrialização é ainda
frágil, citam-se países como a China, o Egito, a Índia, e a Grécia, cuja cultura em muito
contribuiu para a formação da civilização técnica e cultural de vários países, hoje
desenvolvidos industrialmente. Há aproximadamente 200 anos atrás, comprovavam-se na
Europa os procedimentos técnicos da porcelana chinesa e da fabricação dos tecidos de
algodão indianos, bastante utilizados na Europa. As mudanças rápidas que surpreenderam
os europeus e os americanos, ocorridas nos últimos anos em certos países da Ásia não são
tão surpreendentes assim, se conhecermos suas histórias. Levi-Strauss afirmou em 1980, que
o alto nível da administração e da cultura japonesa no século XVI, fez surgir no século XVIII
companhias industriais e financeiras, que tornaram-se grandes grupos econômicos do país.
Certamente que tudo não se explica pelo passado; a decisão política e econômica, bem como
a descoberta de riquezas naturais também têm sua parcela de contribuição.
Subestimou-se da mesma maneira, durante os últimos 50 anos, a originalidade de
cada um dos países industrializados e sua dinâmica própria. O traço mais forte desta forma
de ver é a classificação de todos os países do mundo sobre uma mesma escala, em função
dos diversos índices de industrialização, em particular do P.N.B. por habitante. Assim os
países melhores colocados sobre esta escala são então propostos como modelos. É o caso,
por exemplo, do modelo japonês, o qual hoje é utilizado como paradigma do
desenvolvimento industrial.
Trata-se, evidentemente, de encontrar na história de cada povo os elementos positivos
e negativos que permitem compreender a situação atual, não somente sob a base de uma
história universal, mas sob uma história própria, local, e suas inter-relações com os outros
países. A industrialização do sul do Brasil, por exemplo, foi promovida por vários grupos
étnicos, principalmente pelos alemães e italianos, que tinham experiência e conhecimentos
técnicos industriais, trazidos de seus países de origem. É o caso do Estado de Santa Catarina.
que ocupa atualmente um papel de destaque na produção de cerâmica e de artigos têxteis,
indústrias desenvolvidas, respectivamente, pelos imigrantes italianos e alemães. Muitos dos
empresários brasileiros são, na verdade, imigrantes ou filhos de imigrantes, que vieram para
o Brasil a partir do século passado, trazendo de seus respectivos países de origem, não só as
tradições culturais mas, também, as tradições técnicas

3) Sociologia do Trabalho

A parte da sociologia que contribui para a Antropotecnologia é, sem dúvida, a


sociologia do trabalho, definida como o estudo dos diversos aspectos de todas as
coletividades humanas que se constituem graças ao trabalho.
A sociologia do trabalho, conforme Lakatos (1979), refere-se ao estudo sistemático
das relações sociais e à interação entre indivíduos e grupos de indivíduos, relacionados com
a função econômica da produção e distribuição de bens e serviços necessários à sociedade.
Analisa especificamente o conteúdo dos papéis profissionais, as normas e expectativas a eles
associados em diferentes organizações de trabalho
Num estudo do tipo antropotécnico, uma das contribuições mais importantes da
sociologia é na identificação da complexidade das transformações nas relações sociais,
oriundas da transferência de tecnologia. É o caso, por exemplo, ocorrido no oeste do estado
de Santa Catarina, com o desenvolvimento do sistema integrado agroindustrial, que
estabelece uma verdadeira rede entre as grandes agroindústrias e os pequenos produtores
rurais, promovendo uma grande transformação social na região.
De fato, a contribuição mais importante para a Antropotecnologia, é o estudo da
relação entre o dispositivo técnico e o tipo de vida social que ele produz. Neste sentido, tem-
se os exemplos de pequenos proprietários rurais do Marrocos, que resistiram à instalação de
uma bomba de água na aldeia porque eliminaria a tradicional tarefa feminina de carregar
água, e o dos trabalhadores nos canaviais porto-riquenhos, que se opuseram ao emprego de
dispositivos modernos porque a cana-de-açúcar precisaria do toque humano para crescer
bem. Estes dois exemplos, extraídos de Chinoy (1963), mostram que a rejeição à introdução
de novas tecnologias é uma tentativa de evitar mudanças nos hábitos de vida e na qualidade
do trabalho.
No estudo das relações entre tecnologia e sociedade, outra vertente procura causas
sociológicas locais para o fracasso econômico de um empreendimento industrial. Nas
diversas partes do mundo, existem usinas de alto custo, adquiridas pelos PVDI, que estão
atualmente fechadas ou que funcionam em modo degradado. Entre as causas destes
fracassos, identifica-se a inadequação grosseira dos recursos de mão-de-obra ao dispositivo
técnico.
Outra contribuição da sociologia está na capacidade de prever se a tecnologia a ser
transferida trará ganhos positivos na área social, se proporcionará novas oportunidades de
emprego, por exemplo, ou se, pelo contrário, irá acarretar um aumento na taxa de
desemprego. Na maioria das vezes, a busca da eficiência e da produtividade para alcançar a
competitividade, tem provocado o chamado desemprego estrutural. Na área de serviços, por
exemplo, a informática substitui legiões de empregados por computadores, ganhando em
eficiência e produtividade, mas reduzindo o número de postos de trabalho.

4) Geografia

No processo de transferência de tecnologia, é de fundamental importância também


que se realize um estudo geográfico do local onde vai ser instalado o novo dispositivo
técnico, desde uma simples máquina até uma usina completa. Esse estudo é importante
sobretudo por dois motivos:
Em primeiro lugar porque permite comparar as condições geográficas do país
importador com as do país vendedor, a fim de evidenciar as grandes diferenças existentes,
que podem comprometer o bom funcionamento do dispositivo técnico. Conhecendo-as, o
país importador poderá então fazer as adaptações necessárias para garantir um bom
funcionamento da tecnologia em condições geográficas mais adversas.
Além disso, permite identificar problemas locais. Dessa forma, no caso da instalação
de uma usina próxima a regiões áridas, é preciso levar em conta a velocidade e a direção do
vento, para que a invasão da areia não se torne uma surpresa indesejável. Pode-se, ainda,
identificar se o local é isolado dos grandes centros industriais e de difícil acesso, ou se o
local não oferece água em quantidade e em qualidade para abastecer tanto a usina como os
operários e suas famílias.
Além desses aspectos, o estudo geográfico do local engloba ainda:
* zonas perigosas: sismologia, regime das águas (inundações e seca);
* áreas de trabalho em grandes altitudes;
* condições climáticas do local;
* locais de abastecimento de matérias-primas e escoamento do produto final (portos,
aeroportos);
* quantidade e qualidade da água;
* áreas de circulação de matérias-primas e produto final (rodovia, ferrovia, hidrovia);
* trabalho no calor e limitação das capacidades humanas;
* importância das condições térmicas, dos transportes e do habitat;
* uniformes de trabalho e equipamentos de proteção individuais adequados a países de clima
quente;
* transferência da arquitetura dos países desenvolvidos industrialmente com ou sem
climatização;
* multiplicidade de parasitas humanos no local, etc.

5) Antropologia

Outra disciplina bastante importante para os estudos antropotecnológicos é a


Antropologia, mais especificamente a antropologia cultural e a cognitiva, assim como a
antropometria.
Marconi et all (1987) definem antropologia como a ciência da humanidade, com a
preocupação de conhecer cientificamente o ser humano na sua totalidade.
Hoebel et all (1981) afirmam que a antropologia fixa como objetivo o estudo da
humanidade como um todo. É um objetivo extremamente amplo, visar o homem como ser
biológico, pensante, produtor de culturas e participante da sociedade. Com essa finalidade,
a Antropologia está dividida em dois grandes campos: Antropologia Física e Antropologia
Cultural. , conforme mostra a Figura 3.3

Figura 3.3. Algumas das subdivisões da Antropologia


• Antropologia física ou biológica
Estuda a natureza física do homem, procurando conhecer suas origens, evolução, sua
estrutura anatômica, processos fisiológicos e as diferenças raciais das populações humanas,
antigas e modernas.
Faz parte deste campo de estudo a antropometria, cujo objetivo é o de levantamento
de dados das diversas dimensões dos segmentos corporais e, a partir destes dados, pode-se
construir os manequins com percentuais de 5% e 95%, como também determinar as
distâncias de mínimo e máximo alcance. São, pois, informações bastante relevantes, na
concepção de uma máquina e equipamentos adequados às características antropométricas da
população do país importador.
O problema de ajustar equipamentos às diferentes pessoas, devido às diferenças
antropométricas, é mais complexo do que aparenta ser e não se resolve, de acordo com
Chapanis apud Meshkati (1986), simplesmente pegando-se um componente do equipamento
construído para uma determinada população e regulando-o para cima ou para baixo, para
adaptá-lo a usuários de outro país. A dificuldade está ainda nas proporções do corpo que
diferem entre as populações do planeta. Por exemplo, os alemães, comparados aos outros
povos do mundo, têm pernas mais longas em proporção a seus pesos, enquanto os japoneses
têm pernas mais curtas, proporcionalmente a suas estaturas. Além disso, conforme o mesmo
autor, os padrões antropométricos americanos, quando aplicados a outros países, ajustam-se
aos alemães em 90% dos casos, aos homens franceses em 80%, aos indianos em 65%, aos
japoneses em 45% e aos vietnamitas em 10%.
Uma importante área de aplicação de dados antropométricos é no projeto do cockpit
de aviões. De acordo com Pierce apud Meshkati (1986), devido à estatura mais baixa dos
pilotos japoneses, eles eram incapazes de pilotar os aviões produzidos pelos americanos para
quem os layouts dos conveses e dos cockpits eram projetados. Mesmo quando ambos,
controles e assentos, eram ajustados ao limite, ainda assim, muitos pilotos japoneses não
conseguiam alcançar alguns controles.
Para a ergonomia, sublinha Phoon (1976), se o equipamento é adequado ao trabalho
deve sê-lo também ao trabalhador. Porém, nem sempre acontece assim, pois a maioria dos
equipamentos utilizadas pelos PVDI importados de PDI onde as medidas antropométricas
em relação às daqueles são bastante diferentes. Um exemplo, citado pelo autor, nos mostra
uma companhia do sudoeste da Ásia onde a taxa de absenteísmo entre seus caminhoneiros
era elevada. No estudo feito para detectar a origem do problema, entre as várias causas
apontadas, a principal dizia respeito às dimensões da cabina dos caminhões. Como os
veículos foram importados da Europa, a cabina era adequada aos europeus (mais altos e
largos) e não aos trabalhadores do sudoeste da Ásia (bem mais baixos). Em conseqüência
disso, os trabalhadores, após a jornada de trabalho, se sentiam fatigados, pois precisavam
esforçar-se para alcançar o breque, câmbio e outros comandos da cabina.
Também Sahbi (1985), notou grandes diferenças entre etnias e grupos ocupacionais
diversos quanto à altura, peso e altura sentada do corpo. A altura média das mulheres de
várias nações varia entre 160 cm e 175 cm. O peso médio correspondente varia entre 50 kg
e 70 kg, e sua relação com a estatura difere crescentemente entre países. Por exemplo, um
equipamento que serve aos trabalhadores franceses seria igualmente satisfatório aos
trabalhadores tunisianos, do ponto de vista das dimensões do corpo, mas não do ponto de
vista das diferenças de peso, estados nutricionais e forças musculares.
Conforme Abeysekera apud Kogi et all (1987), as dimensões do corpo diferem não
somente entre países, mas também dentro de um mesmo país. Esta colocação se aplica, por
exemplo, ao Brasil, colonizado por vários grupos étnicos (alemães, italianos, portugueses,
japoneses, etc.) e de grande extensão territorial, onde os trabalhadores da região norte, por
exemplo, apresentam dados antropométricos diferentes em relação aos trabalhadores da
região sul.
Wisner et all (1990) enfatizam que, para se ter equipamentos adequados à população
usuária, o fornecedor deveria conhecer os dados antropométricos desta população, que,
entretanto dificilmente estão disponíveis, e quando estão, são, muitas vezes, negligenciados.

• Antropologia Cultural
A antropologia cultural abrange o estudo do homem como ser cultural, isto é, fazedor
de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e
desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. A cultura, para os antropólogos, é a forma
de vida das pessoas - a soma de seus padrões comportamentais aprendidos, atitudes,
costumes, e coisas materiais. No vasto campo da antropologia cultural chama-se a atenção
para os estudos referentes à antropologia cognitiva e suas contribuições ao processo de
transferência de tecnologia.
Um consenso das definições de cultura para a antropologia é apresentado por
Kluckhohn (1972) para quem "a cultura consiste de uma forma padrão de pensar, sentir e
reagir, adquirida e transmitida principalmente por símbolos, constituindo as realizações
distintivas de grupos humanos, incluindo sua personificação em artefatos; o ponto essencial
da cultura consiste em idéias tradicionais e, especialmente, seus valores inerentes".
Todo ser humano nasce com a capacidade de participar de qualquer cultura, aprender
qualquer idioma, e desempenhar qualquer tarefa, mas é a cultura específica em que ele nasce
e vive que determina o idioma que fala, as atividades que faz segundo sua idade, sexo, e
posição social, e como pensa sobre o mundo em que vive.
A respeito de cultura e tecnologia, Meshkati (1988), formula a seguinte hipótese: "se
são tomadas as precauções concernentes à compatibilidade cultural com os vários aspectos
da transferência de tecnologia, o resultado do processo deverá ser positivo; do contrário a
falha é inevitável”.
A incompatibilidade, quando ocorre, segundo Meshkati, é refletida através de
atitudes em direção ao trabalho, à tecnologia, à organização e aos hábitos de trabalho, aos
costumes e crenças religiosas.

* Atitude em relação ao trabalho


Em alguns PVDI, os engenheiros e técnicos têm posição social relativamente baixa.
Então, os estudantes tendem a escolher as ciências humanas e optam por carreiras
administrativas, fato que causa uma escassez de engenheiros e técnicos, dificultando a
implementação da industrialização.

* Atitude em relação à tecnologia


Em países como a Índia, o trabalho é considerado uma responsabilidade familiar, de
forma que sua realização é dividida por toda a família. Trabalhar em máquinas automatizadas
é, por isso, considerado por muitos indianos algo degradante, pelo fato de passarem de
artesãos a operários.

* Atitude em relação aos hábitos de trabalho e à organização.


Em vários PVDI, indivíduos e grupos acostumados a uma indústria artesanal
(orientada para tarefas manuais) têm dificuldades em ajustar-se às técnicas e organizações
de empresas mecanicamente modernas. Pode-se citar aqui, o acidente de Bhopal, na Índia .
Muitos experts industriais apontam os operadores como os responsáveis, mas a verdadeira
causa do acidente foi a não internalização da cultura tecnológica pelos operadores ao
passarem do trabalho artesão para o automatizado. Grupos étnicos, não sendo expostos à
mecanização e não tendo um background histórico de industrialização, podem não entender
e, conseqüentemente, não aceitar os conceitos de compatibilidade, relacionamento
controle/display e operação da máquina.
A internacionalização de processos industriais demonstra que os princípios de
concepção que são eficazes em um determinado país podem não o ser em outro. Nesse
sentido cita-se o exemplo de samoanos que, apesar de serem trabalhadores fortes,
encontravam dificuldades para se adaptarem à disciplina imposta pela fábrica, horário de
trabalho e duração do turno. Em Samoa, o trabalho era feito e apreciado para completar uma
tarefa e, após o término, o descanso por alguns horas era normal, não sendo, porém tolerado
nas fábricas.

* Atitudes em relação aos costumes e crenças religiosas


A religião é uma variável que está entrelaçada com a cultura de qualquer sociedade
e, assim, também influencia a utilização da tecnologia. Um exemplo de como a rigidez
religiosa pode afetar o processo de produção foi observado em países muçulmanos onde,
durante o mês sagrado de Ramadan, o povo jejua durante o dia (do nascer ao por do sol).
Isto afeta drasticamente a performance dos trabalhadores e, conseqüentemente, a qualidade
e a quantidade da produção. Além disso, antes e depois do aniversário do martírio do Irmão
Housien, a febre religiosa aumenta e seus efeitos sobre a força de trabalho são refletidos
através da tristeza, desassossego e desmotivação para o trabalho. No início de suas
operações, a General Motors do Irã não havia previsto esta situação e não tinha um programa
sistemático para enfrentá-lo. Em decorrência disso experimentou severa animosidade e
extrema deficiência da produção (Meshkati, 1986). É preciso que não haja uma separação
entre dispositivo industrial e dados antropológicos.
Todavia, pode acontecer o contrário. Foi o que ocorreu em Gresik (Indonésia), onde
uma fábrica de cimento modificou gradualmente alguns dos velhos hábitos e costumes
locais. As crenças muçulmanas, tradicionalmente rígidas e ortodoxas, deram lugar a uma
nova onda de religiosos renascentistas, como resultado da introdução da nova tecnologia
naquela sociedade.
A compatibilidade a que Meshkati se refere, entre as variáveis culturais e a
tecnologia, não se limita apenas à cultura do país importador, mas também à maneira de ser,
sentir, e de fazer, peculiares a cada organização, cujos fatores internos podem contribuir ou
não para o sucesso de uma tecnologia transferida. Um dentre eles, pode-se até dizer, o mais
importante, é a cultura organizacional.
De acordo com Shein (1991) , cultura organizacional é “um conjunto de pressupostos
básicos - inventado, descoberto, ou desenvolvido por um dado grupo à medida que aprende
a lidar com seus problemas de adaptação externa e de integração interna - que tenha
funcionado bem para ser considerado válido e, assim, ser ensinado a novos membros como
a forma correta de perceber, de pensar e de sentir em relação àqueles problemas”. A
importância dessa definição é de ser operacionalizada para as empresas, e não apenas uma
particularização do conceito geral de cultura.
Os estudos realizados sobre cultura apresentam um zoom de amplitude variada, indo
desde os que tratam da cultura de um país e sua influência sobre as práticas de gestão das
empresas, aos estudos sobre cultura de uma determinada organização acrescidos das
discussões mais recentes sobre culturas dos subgrupos em uma organização, evidenciando-
se, dessa forma, a importância das variáveis culturais.
Um desses estudos, bastante conhecido, é o de Hofstede (1987), que define a cultura
essencialmente como um programa mental coletivo: é a parte de nosso condicionamento que
partilhamos com os outros membros de nossa nação, mas também de nossa região, e de nosso
grupo. É, por exemplo, a programação mental coletiva das pessoas que trabalham dentro dos
sistemas tecnológicos, fazendo-os funcionar.
A partir dos dados obtidos, através de questionários aplicados aos funcionários das
filiais da IBM em 50 países, avaliando atitudes e valores, o autor acima elaborou uma
terminologia utilizada para descrever as culturas nacionais, em quatro critérios diferentes
que ele chama de dimensões, a saber:
- individualismo x coletivismo;
- grande ou pequena distância hierárquica;
- forte ou fraco controle da incerteza;
- masculinidade x feminilidade.

- individualismo x coletivismo
o individualismo uma estrutura social do tipo "nó frouxo", onde os indivíduos cuidam
somente de si mesmos e de suas famílias, enquanto o coletivismo é caracterizado por uma
estrutura social firme, onde faz-se distinção entre os membros de um grupo e os que dele
não fazem parte. Os membros de um grupo (pais, clã, organização) esperam dele receber
cuidados, dando, em troca total lealdade.

-distância do poder
indica o quanto uma sociedade aceita a distribuição desigual do poder em instituições e
organizações.

- controle da incerteza
critério que mostra o quanto uma sociedade sente-se ameaçada pela incerteza e pelas
situações ambíguas e tenta evitá-las oferecendo maior estabilidade no emprego,
estabelecendo um número maior de regras formais, não tolerando idéias e comportamentos
diferentes, e acreditando em verdades absolutas.

- a masculinidade
expressa o quanto são masculinos os valores dominantes em uma sociedade, como por
exemplo, a imposição, aquisição de dinheiro e coisas, a despreocupação com os outros e com
a qualidade de vida. Feminilidade é o pólo oposto.

Prossegue com alguns resultados que confirmam os lugares-comuns em matéria


cultural. Por exemplo, nos países pertencentes às culturas do norte da Europa, por exemplo,
observam-se pequenas distâncias de poder, uma fraca tendência a evitar a incerteza, um forte
individualismo. Mas a dimensão masculinidade-feminilidade os separa em dois grupos. Os
países "nórdicos" (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Países-Baixos, Suécia) são femininos, ao
passo que os países anglo-americanos (África do Sul, Austrália, Canadá, Estados Unidos,
Grã-Bretanha, Irlanda, Nova Zelândia) são masculinos (Wisner, 1994a).
Em resumo, o autor diferencia os 50 países estudados em 4 diferentes dimensões,
mostram ainda que, para assegurar o sucesso das teorias e práticas americanas, é necessário
adaptá-las às dimensões culturais de cada país. Exemplo disso são os CCQ (Círculos de
Controle de Qualidade), de origem americana, adaptados ao forte controle da incerteza e ao
meio coletivo do Japão. Muitos países implantaram essas mesmas técnicas, mas não
obtiveram os mesmos resultados obtidos pelo Japão.
No Brasil, no início da década de 80, muitas empresas, aproveitando a onda dos CCQ,
procuraram assimilar e introduzir essa nova técnica. Embora alguns tenham tido relativo
sucesso, a maioria fracassou. Em parte, devido à falta de competência na implantação mas,
na maior parte das vezes, em virtude da incompreensão de que seriam necessárias inúmeras
mudanças no sistema de valores da organização (maior confiança, responsabilidade e
compromisso entre os indivíduos), para que essa técnica fosse bem sucedida (Ferro, 1992).
Voltando à pesquisa de Hofstede, Wisner (1992c) aponta algumas deficiências, pois
segundo ele, a terminologia elaborada por Hofstede é bastante simplista e quatro critérios
são insuficientes para descrever tanto as culturas de um país como, sobretudo, agir sobre
elas. Wisner continua a critica, dizendo que Hofstede menciona pouco o nível de vida e de
instrução, a psicopatologia, a linguagem, os outros modos cognitivos, evocando somente os
"modelos mentais", que são para ele o sistema de valores. Outro ponto criticado por Wisner
(1994a) é a idéia da homogeneidade cultural dentro de um mesmo país, como se no Canadá,
os habitantes do Quebec tivessem os mesmos valores que os de língua inglesa, ou, ainda nos
Estados Unidos, as grandes minorias negra e hispânica, partilhassem a mesma cultura com
os brancos anglo-saxões protestantes.
Hunt apud Wisner (1992c) também questiona Hofstede, no que diz respeito à
uniformidade cultural dentro de um mesmo país, ao se perguntar até que ponto uma enquete
na IBM representaria o mundo, em particular se a forte cultura dessa empresa não atrairia
uma categoria muito particular de pessoas em cada país. A questão colocada por Hunt faz
sentido, quando, por exemplo, tomamos um país como o Brasil onde cada região, ou cada
estado, tem suas próprias características culturais.
A abordagem simplista de Hofstede, talvez baste como primeira abordagem para
estrangeiros que inspecionam os estabelecimentos de seu grupo situados em diversos países.
Porém, somente pesquisas que tratem de um país, ou de uma região, dão condições aos
responsáveis de um dos PVDI, de escolher o modelo organizacional correto e determinar as
alterações por que deve passar para ficar bem adaptado à cultura local (Wisner, 1994a).
Outro trabalho importante, sobre cultura nacional, foi realizado por Ruffier (1987)
em uma usina ultramoderna de iogurtes, no México, pertencente a uma multinacional
francesa. Muitos dos trabalhadores eram camponeses, não sabiam ler, nem escrever, e não
tinham experiência leiteira e tampouco formação para tal. Apesar destes fatos, esta era, uma
das unidades da multinacional, de maior produtividade. Como explicar o sucesso sabendo
que na França, país de origem da tecnologia, era preciso um grande esforço de formação e
de recrutamento de especialistas? As razões para o sucesso da empresa mexicana, de acordo
com Ruffier, está na existência de uma rede de informação que é resultado de uma cultura
tradicional onde a aprendizagem e a troca de informações são facilitadas. A gerência põe a
"mão na massa" e os operários se ocupam da produção em todos os estágios, mesmo que não
seja sua função. Os mexicanos, comparados aos franceses, percebem mais rapidamente a
perda de leite ou um mal funcionamento do dispositivo técnico.
A importação pelo continente africano de modelos de gestão europeu, revelou-se um
fracasso humano e econômico. Conforme Olomo (1987), o modo de produção das grandes
empresas públicas e privadas, que constituem o tecido industrial africano, não respeita os
tratados culturais dos diferentes grupos sociais. Mostra-se a necessidade de desenvolver um
tipo de organização específica, ponte entre as referências culturais dos aldeões e as da
empresa moderna, a fim de permitir aos indivíduos produzirem eficazmente e exprimirem
suas qualidades próprias no trabalho. Só assim, pode-se promover, na consciência coletiva
africana, a empresa moderna, os valores que transmite e os comportamentos que exige no
trabalho.
D' Iribarne (1987) enfatiza as colocações dos autores já citados, afirmando que antes
de serem implantados novos métodos de gestão, é preciso conhecê-los, verificando se
existem possibilidades de adaptá-los à cultura do país importador. Faz-se necessário saber
de seus limites, quais países empregam tais métodos, as dificuldades encontradas no
processo de implantação e quais problemas que poderão surgir. Na França, segundo ele, o
desenvolvimento dos CCQ só aconteceu mediante importantes adaptações. Quando o autor
coloca a necessidade de se observar em outros países o funcionamento destes métodos, está
se referindo às análises de situações de referência, recomendação importante da metodologia
antropotecnológica para a importação de qualquer tipo de tecnologia.
Cada país, ou empresa, tem sua própria cultura, com características particulares, não
existindo uma cultura padrão a ser seguida, razão por que muitas tecnologias bem-sucedidas
nos países de origem, isto é, onde foram concebidas/executadas, apresentam níveis de
produtividade e qualidade inferiores quando transferidas a outros países cuja cultura difere
muito daquela do país exportador. Não se trata então de copiar integralmente fórmulas de
sucesso do Japão, Europa e Estados Unidos, é preciso adaptá-las à realidade (cultura) do país
ou da empresa adquirente.
De uma forma geral, trabalhar com tecnologias projetadas/construídas em outros
países é inteiramente possível, desde que se respeite as peculiaridades de cada país
importador. Independentemente de ser a tecnologia uma técnica de produção, técnicas e
práticas de gerenciamento, máquinas, plano de formação, equipamentos, usinas completas,
etc., no processo de transferência deverão ser tomadas as precauções no que se refere à
compatibilidade entre as culturas dos países adquirentes e as tecnologias. Isto determinará
com certeza, não somente o sucesso da transferência, como também a sobrevivência da
tecnologia transferida.

• Antropologia Cognitiva
Na definição de Casson (1981), a Antropologia Cognitiva é um sub-campo da
antropologia cultural onde se exploram as inter-relações entre a linguagem, a cultura e a
cognição. As palavras usadas para designar os objetos, eventos e atividades importantes para
o homem são desde, longa data, o objeto de pesquisa dos antropólogos.
O objetivo principal deste campo é entender e descrever o mundo dos indivíduos, em
outras sociedades, com seus próprios termos, e como isto é concebido e sentido pelas
próprias pessoas. Em última análise é buscar evitar o julgamento de padrões culturais de
outros grupos de acordo com um referido padrão (evitar o etnocentrismo). Nessa nova
perspectiva que é novo e crucialmente importante não é a ênfase no estudo de outra
sociedade, mas o fenômeno mental subjacente à linguagem.
A evolução da antropologia cognitiva pode ser vista em Dougherty (1985) que a
mostra desde a gênese do seu conceito a partir das definições de cultura. Em 1871, TYLOR
caracterizava a cultura como " o todo complexo que inclui o saber, a crença, a arte, a lei, a
moral, o costume e tudo aquilo adquirido pelo homem como membro da sociedade". Em
1930, BOAS incluía um conjunto de fenômenos ainda mais amplo sob o termo de cultura,
acrescentando-lhe todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações
do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo no qual ele vive e os produtos das atividades
humanas determinadas por estes hábitos. Em meados de 1957, houve uma redefinição do
conceito de cultura, quando então Goodenoug define-a como cognição: "a cultura de uma
sociedade consiste em tudo aquilo que alguém deve saber ou crer para poder se comportar
de forma aceitável por seus membros. Cultura não é um fenômeno material; não consiste de
coisas, comportamentos, ou emoções. Mas é sim a forma como estas coisas estão
organizadas na memória, seus modelos para percebê-las, relacioná-las, ou interpretá-las." A
partir dessa redefinição é que surge a antropologia cognitiva. Em resumo, enquanto antes a
cultura era definida como os eventos e comportamentos incluídos no mundo físico, passou
a ser, posteriormente, um sistema de conhecimento.

− * Linguagem
A linguagem e a cultura estão inteiramente ligadas, visto que a última é inteiramente
formada pela primeira. Assim a compreensão da linguagem é um pressuposto para entender
a cultura. Inclusive propuseram uma teoria que sugeria reduzir a análise do pensamento à
análise do discurso e entender a diversidade étnica a partir das diferentes linguagens. Mas,
conforme Gatewood (1985), o pensamento não tem o caráter de código formal da linguagem,
pois é multiforme e, em muitos casos, "a ação fala mais alto do que as palavras".
No entender de Wisner (1994a), muitas atividades são difíceis de explicar e muitas
palavras não correspondem a nenhuma ação precisa. Acrescenta no entanto, que o inventário
dos vocabulários específicos ao trabalho, quer sejam étnicos, quer sejam profissionais,
trazem muitas informações sobre as áreas de conhecimento. Quanto mais vasto e preciso um
vocabulário, melhor conhecido é o trabalho correspondente. Porém é compreensível que
seja difícil traduzir para o inglês ou francês os inúmeros matizes do vocabulário dos
cameleiros do Saara ou dos pescadores Pulawat. E é essa não-abrangência entre os vocábulos
originais e os exigidos pela produção industrial que leva segundo Wisner à introdução
maciça de palavras estrangeiras na língua do país importador já que não há como traduzi-
los. Convém aqui mencionar a tradução dos manuais que, às vezes, pouco ou nada
contribuem para o funcionamento do dispositivo técnico.

− * Cognição
Lévi-Strauss (antropólogo francês) estudando sobre a universalidade da cognição
humana, afirma em seu livro, O Pensamento Selvagem (1962), que "não existe diferença
significativa entre as capacidades mentais dos povos civilizados e primitivos". Muitos
povos, embora não conhecendo a escrita, utilizam-se de um estilo de pensamento em que as
qualidades sensíveis dos objetos e dos organismos (tamanho, cor, cheiro) são empregadas
na construção das categorias e na realização das operações lógicas, mais do que as qualidades
abstratas que a ciência ocidental considera úteis (massa, freqüência, aceleração, etc.).
Quanto ao aspecto cognitivo, também Wisner (1984a), coloca que as diferenças entre
países ou raças estão longe de serem óbvias. Em outros termos, afirma que não existem
diferenças significativas em relação às capacidades cognitivas básicas entre homens de
diferentes sociedades e culturas, embora, segundo Meshkati (1986), possam ser notados
algumas diferenças entre os níveis de desempenho dos seres humanos. atendendo a diversas
tarefas. Contudo, isto não é causado pelas disparidades nas capacidades cognitivas dos
indivíduos, senão por fatores como:
* complexidade cognitiva individual,
* habilidade psicomotora e
* a forma de processar a informação.
Entre alguns trabalhos, orientados pelo Professor Alain Wisner, onde fica
evidenciada a universalidade da cognição humana, está o de Meckassoua (1986), que
aprofundou a questão das capacidades cognitivas dos diversos povos, em seu trabalho de
doutorado. Ele mostra, particularmente, a indiscutível capacidade de regulação do operador
de uma cervejaria em Bangui e que, apesar de analfabeto, criado em um vilarejo cuja cultura
é baseada na queimada, na olaria, na caça e pesca, é capaz de construir uma representação
operatória mais vasta e complexa que o operador correspondente no país de origem da
tecnologia (França). Em Bangui, a extensão e a complexidade da representação, são
necessárias em função das inúmeras imperfeições do dispositivo técnico, que exigem, por
isso, uma maior capacidade cognitiva para fazer funcioná-lo, corrigindo, assim, os danos
gerados pelas condições de transferência.
Santos (1985), por sua vez, dá uma demonstração indiscutível da fidelidade de
reprodução do comportamento, que pode ser obtida na ocasião da transferência. Em uma
situação normal de trabalho dos operadores de uma sala de controles de metrô, o que
diferencia as séries de movimento dos olhos (mudanças de direção do olhar) não é o local
de trabalho - Paris ou Rio de Janeiro-, mas a experiência anterior do operador como condutor
de trens de metrô. Em caso de incidentes, essas diferenças de comportamento entre Rio e
Paris tornam-se significativas devido à má qualidade da transferência de organização do
trabalho
A obtenção da uniformidade de resultados em todos os países pode ocorrer nas
chamadas " ilhas antropotecnológicas" : usinas, aeroportos, bancos e hotéis que funcionam
no mundo inteiro, dando uma prova clara da capacidade industrial universal entre as
populações mundiais.
Para finalizar, Meshkati (1986) faz uma análise comparativa dos operadores
trabalhando sobre o mesmo equipamento em dois diferentes países demonstrando
claramente o caráter universal das qualidades cognitivas. A companhia americana Boeing
relatou que os pilotos e os trabalhadores da manutenção vietnamitas, treinados nos Estados
Unidos, desempenhavam suas atividades tão bem quanto os americanos.
Em resumo, ao se transferir um dispositivo técnico um dos principais cuidados que
se deve ter é a adaptação deste às características do raciocínio humano, ou seja , à forma
como o homem trata as informações e toma decisões.

6) Psicologia Cognitiva

Qualquer que seja seu nível de complexidade, os dispositivos automáticos ou


informáticos comportam sempre uma interface, com um ou vários operadores, isto é, com o
cérebro e o raciocínio humano. O raciocínio possui características próprias que não podem
ser modificadas à vontade. Sua descrição é o campo de interesse da Psicologia Cognitiva.

No seu estado de desenvolvimento atual, a Psicologia Cognitiva está longe de


explicar de forma precisa o conjunto dos mecanismos do raciocínio humano. Os
conhecimentos neste campo são parciais e não estão reagrupados de forma coerente dentro
de um só corpo teórico. Neste sentido, é praticamente impossível estabelecer relações
precisas entre as condutas e os raciocínios descritos pela psicologia e as estruturas nervosas
que constituem o suporte psicológico.

A COMPLEXIDADE DO PENSAMENTO HUMANO

O pensamento humano, que se apóia sobre bases biológicas, não pode em nenhum
caso ser assimilado ao tratamento da informação efetuado pelos computadores, mesmo os
mais sofisticados e potentes CRAY. Assim, para facilitar o entendimento, a consideração do
pensamento humano será feita a partir dos seguintes itens:

* A orientação perceptiva
O cérebro humano não recebe passivamente as informações provenientes do mundo
exterior. Ele orienta a exploração deste mundo pelos diferentes sentidos em função da
experiência anterior, dos objetivos perseguidos e dos eventos que ocorrem.

* O pensamento e a ação
Existe uma contínua vinculação entre o tratamento humano da informação e a ação
que é desenvolvida sobre a realidade. Geralmente, a exploração perceptiva, a elaboração de
condutas e o controle dos resultados destas condutas inscrevem-se numa continuidade
cognitiva.

* A aprendizagem e a história profissional


A aprendizagem é um termo utilizado para referenciar o processo seguido pelos
homens ao desenvolverem seus conhecimentos e capacidades, de modo a responder às
solicitações externas.
Na concepção de Netto (1987), a aprendizagem de um indivíduo inclui processos de
organização, integração, armazenamento e recuperação de informações. Dessa forma, o ser
humano é comparado a um manipulador de símbolos inteligente e flexível, que busca
informações e trata de assimilá-las ativamente, de modo a ajustá-las às suas estruturas
cognitivas.
Para Richard (1990), existem basicamente duas formas de aquisição de
conhecimentos: a aprendizagem por descoberta a partir da ação e a aprendizagem por
instrução que consiste em comunicar um conhecimento formulando-o num texto. Ambas
podem sofrer interferência, por um lado, das atividades de compreensão, notadamente, sob
a forma de construção de estruturas conceituais, e por outro, das atividades de memorização
e inferência.
a) A aprendizagem pela descoberta
A aprendizagem pela descoberta é concernente às aquisições feitas no decurso da
realização de tarefas, não somente de execução, mas também das que comportam resolução
de problemas. Essa capacidade que uma pessoa possui para se auto-instruir e resolver
problemas é composta por princípios de ordem superior habitualmente denominados de
estratégias. Esse tipo de aprendizagem produz principalmente conhecimentos procedurais -
Saber-Fazer, ou seja, o resultado das atividades de memorização e raciocínio que consistem
em formar hipóteses, testá-las, generalizar observações e modificar representações.
b) A aprendizagem pelo texto
Aqui, a aquisição de conhecimentos se dá a partir de informações simbólicas
vinculadas aos textos, produzindo principalmente conhecimentos declarativos - Saber. Essa
aprendizagem constitui-se de atividades de compreensão a que se segue uma tarefa de
memorização.
Para Harmon et all (1988), a aprendizagem pelo texto tem como resultado o
conhecimento em forma de definições, leis e axiomas. Estes autores dão o exemplo dos bons
alunos que saem dos cursos de física ou contabilidade com boa compreensão dos termos,
equações e leis que constituem as teorias formais e os princípios aceitos de suas disciplinas.
Contudo, mesmo que possam descrever os conhecimentos adquiridos, não sabem
exatamente como aplicá-los na forma prática. É o contrário do que acontece na aprendizagem
pela descoberta onde a aquisição do conhecimento se dá por meio da experiência ou com
ajuda de um mentor, a exemplo da aprendizagem " in-job", ou seja, da aquisição de
conhecimentos no próprio trabalho com ajuda de um operador mais experiente (mentor).
Nesse caso, a experiência ou o mentor dão condições ao aprendiz para executar tarefas ou
resolver problemas através de regras práticas.
Estas duas formas de aprendizagem, pelo texto e pela descoberta, produzem
conhecimentos que se assemelham respectivamente aos algoritmos e às heurísticas. Os
algoritmos formam um conjunto de regras precisas, destinado a obter determinado resultado,
a partir de certos dados iniciais. De uma forma mais geral, é um procedimento sistemático
que dá a certeza de chegar à solução do problema, para o qual o algoritmo foi concebido. Já
as heurísticas são procedimentos menos precisos, menos sistemáticos, que não permitem
chegar na solução do problema com certeza.
A tomada de informação sobre a realidade, a antecipação do resultado das ações,
graças à experiência profissional, e o confronto do resultado real em relação ao resultado
previsto modificam (ou reforçam) as bases dos tratamentos anteriores.
O tratamento da informação é, então, extremamente diferente da história profissional
do indivíduo e, em particular, das ações anteriores que ele tenha desenvolvido.

* A memória
A memória humana possui características próprias:
* Capacidade limitada e vulnerável da memória de curto termo;
* Capacidade ilimitada da memória de longo termo, mas dificuldades em relação ao processo
de rememorização (lembranças), isto é, dificuldade em relação ao processo de busca em
memória da informação que se encontra memorizada.
* A elaboração de novas condutas
O homem possui uma capacidade, que lhe é própria, de elaborar condutas em novas
situações não previstas. Evidentemente, estas condutas podem revelar-se mais ou menos
apropriadas. Entretanto, esta característica do raciocínio humano é fundamental na
repartição de tarefas entre o homem e a máquina: o raciocínio heurístico permite ao homem
fazer face a uma situação totalmente imprevista, coisa que as máquinas atuais não possuem.
Em particular, o homem identifica de forma muito mais eficaz que as máquinas atuais
situações "ligeiramente diferentes" de uma situação conhecida. Por outro lado, no que diz
respeito ao reconhecimento de padrões (formas e cores) o homem tem uma capacidade
infinitamente superior às máquinas atuais.
Em ambos os casos, fica o problema da interpretação: o que deve ser privilegiado, a
semelhança ou a diferença?

* As capacidades de comunicação
As capacidades humanas de comunicação permitem ao operador humano comunicar-
se com outros operadores (selecionando o interlocutor) para enriquecer as bases do
tratamento da informação. Da mesma forma, estas capacidades permitem uma coordenação
relativamente flexível entre as ações efetuadas por várias pessoas. Permanece, porém, a
remota possibilidade de uma fixação coletiva sobre um diagnóstico errôneo.

* O tempo de resposta
O raciocínio humano exige prazos que não podem ser reduzidos à vontade. De fato,
o raciocínio não pode ser comparado de forma simples a um dispositivo informático de
processamento da informação. A título de exemplo, pode-se afirmar que nas tarefas de
cálculo o tempo de processamento do cérebro humano é maior do que aquele desenvolvido
pelo computador. Por outro lado, no que se refere ao reconhecimento de formas ou de
configurações complexas, o cérebro humano é consideravelmente superior ao computador.

* A sensibilidade ao estado instantâneo:


As bases biológicas do pensamento humano implicam numa sensibilidade aos ritmos
biológicos e mais amplamente ao estado instantâneo do indivíduo, isto é, fadiga, stress,
emoções, etc.
É o conjunto destas características que deverá ser levado em conta na repartição entre
tratamento humano e tratamento automático da informação.

A EXPLORAÇÃO PERCEPTIVA

A percepção não se inicia com o aparecimento de um sinal (sonoro, luminoso, etc.).


Na realidade, a exploração perceptiva é um fenômeno permanente da atividade cognitiva
humana.
A cada instante, a percepção é particularmente disponível para certos sinais. O
espaço é analisado e explorado de forma seletiva. A exploração é dirigida por esquemas
antecipativos, que são tanto planificação da ação perceptiva como disponibilidade a tipos de
determinadas configurações (óticas, sonoras, etc.). Estes "esquemas" são desenvolvidos a
partir da herança genética e da história profissional do indivíduo, e são atualizados pelas
configurações que são constantemente percebidas. "O resultado da exploração modifica o
esquema inicial". O esquema assegura a continuidade no tempo e no espaço de duas
diferentes maneiras:
* Tendo em vista que o esquema tem um caráter antecipativo, ele é o meio através do qual
o passado afeta a futuro;
* Por outro lado, a informação que vem de ser adquirida determina qual deve ser a próxima
a ser percebida (conforme figura 3.4).

Evidentemente, existem sinais que são percebidos, ainda que eles não façam parte do
que foi antecipado. Entretanto, em geral, para que isto ocorra é preciso que eles se imponham
(sejam "salientes") por determinadas características físicas (nível ou freqüência sonora,
luminosidade, cor, "agressividade", etc.). A orientação perceptiva se traduz, de fato, por uma
filtragem considerável dos sinais, sobre os quais a percepção não é focalizada.

Figura 3.4 - Representação Esquemática da Exploração Perceptiva

A orientação perceptiva é ligada ao curso da ação no qual o indivíduo encontra-se


engajado num determinado momento e, em particular, aos objetivos que ele persegue. Da
mesma forma, ela depende do indivíduo, a qual permite um conhecimento da probabilidade
de aparecimento de certos sinais e dá um significado a uma série de eventos.
Esta descrição dos mecanismos de exploração perceptiva permite assinalar que a
vigilância de uma máquina ou de um aparelho não é um fenômeno passivo. A exploração
dos diferentes índices e indicadores visa detectar incidentes em vias de ocorrência, antes que
eles tenham conseqüências graves. Segundo o curso da ação no qual o operador está
engajado, os parâmetros não serão explorados com a mesma freqüência ou na mesma ordem.

DA PERCEPÇÃO À AÇÃO

Na realidade não existe uma descontinuidade entre a exploração perceptiva e a ação


sobre o ambiente. As condutas humanas (comportamento) colocam em jogo encadeamentos
de tomadas de informações e de ações, nos quais uma parte é disponível de forma preliminar,
fruto das aprendizagens anteriores.
Estes encadeamentos podem ter uma complexidade mais ou menos significativa. O
termo reflexo deve ser reservado a uma reação, rápida e involuntária, a estímulos que são
ativados devido à ocorrência de um "curto-circuito" do influxo nervoso entre certos terminais
sensitivos e certos músculos. Um exemplo de programa sensorial-motor complexo é
fornecido pelo andar: dentro de certos limites, as variações do estado do solo ou as mudanças
de direção do caminhar são tratados sem intervenção da consciência, para assegurar a
continuidade da progressão do andar e o equilíbrio.
Observa-se na vida cotidiana e nas atividades de trabalho vários encadeamentos
complexos de tomadas de informação de ações, que são resultados da aprendizagem. Não se
trata somente de seqüências fixas de tomadas de informações e de ações, que se reproduzem
de forma idêntica, uma em relação à outra. Teoricamente, pode-se descrevê-las da seguinte
maneira:

* A partir de sua formação e de sua experiência, um operador estabelece relações


preferenciais entre certas configurações da realidade e das ações a serem realizadas;
* Estas relações, quando são ativas, orientam a exploração perceptiva, o tratamento da
informação, a decisão das ações a serem realizadas, a antecipação de seu resultado e o
controle da coerência entre o resultado antecipado e o resultado real;
* Todas as relações potencialmente disponíveis não são ativas num determinado momento.
É o encadeamento das ações do operador e a realidade que provoca a ativação de certas
relações.
Atribui-se o termo "representação" (da situação atual) a esta focalização do operador
num determinado momento, que o torna atento de forma seletiva, disponível a certas classes
de eventos ao invés de outra e preparado a certas ações.

Por exemplo, a representação que um operador tem sobre o estado de ciclo de


usinagem, num determinado momento, comporta:

* Um conhecimento dos objetivos desta fase de usinagem;


* Uma previsão da evolução esperada do ruído da máquina;
* A antecipação dos sinais luminosos que vão se acender e uma evolução temporal
necessária;
* A preparação à ação seguinte (exemplo: retirar a peça).

As representações são construções que levam em conta o conjunto de elementos da


situação e da tarefa e realizam-se num contexto particular e com fins específicos. São ainda
ocasionais e precárias por natureza, pois qualquer modificação da situação faz com que a
representação seja modificada. Os conhecimentos, ao contrário, são construções
permanentes gravadas na memória de longo termo e, se não forem modificadas por novos
conhecimentos, se mantêm de forma permanente.
A representação mental que o operador tem de seu ambiente de trabalho influi de
forma crucial na realização de suas atividades. Em um sistema homem-máquina, o operador
age sobre os objetos do trabalho essencialmente através de meios intermediários técnicos
(meios de entrada e meios de saída), e não diretamente sobre o sistema de produção. Dessa
forma, as informações utilizadas devem ser, em grande parte, tomadas de suportes
simbólicos (códigos) e as ações sobre a máquina são realizadas através de comandos
intermediários.

Em alguns casos, os operadores não dispõem de visão direta do processo, nem do


resultado de suas ações (um exemplo típico é fornecido pelas salas de controle de processo
à distância). Nessas situações de trabalho, em que as informações necessárias não estão ao
alcance da percepção imediata, o operador deve representar, mentalmente, o funcionamento
à distância do sistema ou do estado dos objetos de trabalho, sobre os quais deve atuar.

De acordo com Sperandio (1988), a análise do trabalho deve então determinar para
cada operador humano, para cada tarefa, o grau de necessidade de uma representação mental,
da mesma maneira que há necessidade de memorizar e realizar sínteses entre várias fontes
de informações. Analogamente à memória, a representação mental funciona para várias
tarefas como um apoio aos raciocínios e aos processos de tomadas de informação.

Nesse sentido, Sperandio cita como exemplo as tarefas de vigilância e de controle de


processos industriais automatizados que, em situação normal, funcionam sem a intervenção
humana, mas em caso de incidente exigem a intervenção do operador. Todavia, para estarem
prontos a intervir, no momento certo, ou para antecipar e prevenir os incidentes, os
operadores devem efetuar tomadas de informações, sínteses entre várias fontes, comparações
e ainda ter permanentemente uma representação mental do funcionamento global do
processo.

A representação mental, de uma forma geral, tem uma função essencial em todas as
tarefas ditas de diagnóstico, a exemplo do diagnóstico médico, da pesquisa de panes nas
máquinas ou nas instalações técnicas e da pesquisa dos erros nos programas de informática.
A ergonomia cognitiva se interessa pela representação que o operador tem de seus
conhecimentos. Não existe resolução de problemas sem uma certa imagem, sem um
determinado esquema que lhe permita situar espacial, temporal e logicamente as
informações necessárias para o desenvolvimento de sua atividade. Neste sentido, a
representação pode ser comparada a uma rede viária onde, para resolver problema de tráfego,
deve-se procurar uma solução ótima, levando-se em conta os dados referentes aos veículos
e às regras de segurança, os prazos a serem respeitados e o fato de que a rede possa vir a ser
modificada. Na realidade, a representação mental é tanto o resultado das experiências
adquiridas pelo operador humano, como a condição necessária para a aquisição de novas
experiências.

O ENCADEAMENTO DAS REPRESENTAÇÕES E DAS AÇÕES

Considerando-se no exemplo anterior que ocorra uma modificação no ruído da


máquina, pode-se evidenciar o encadeamento das representações e das ações, a partir dos
seguintes aspectos:
* Em alguns casos este índice (modificação do ruído) não será considerado pelo
operador, porque sua atenção não está focalizada sobre este aspecto da situação, ou porque
trata-se de um evento normal, ou ainda porque o operador é inexperiente e não conhece bem
as características da máquina;
* Em certos casos, a própria parada da máquina permite ao operador elaborar
imediatamente uma nova representação da situação. Por exemplo, ele identificou que uma
ferramenta quebrou-se; sua experiência lhe permite pesquisar informações para identificar
de qual ferramenta se trata. Neste caso, sua atenção é focalizada sobre diferentes operações
que ele vai efetuar para retirar a peça, mudar a ferramenta e recolocar a máquina em
funcionamento. Assim sendo, uma nova representação da situação, disponível
preliminarmente, é imediatamente ativada, o que permite a planificação das atividades
seguintes.
* Em outros casos, ainda, a representação posterior ao incidente não permite
imediatamente o desenvolvimento de ações que comportam um resultado garantido. Tendo
percebido uma variação do estado da instalação, o operador é levado a um pré-diagnóstico,
isto é, a uma representação cheia de incertezas que pode comportar várias eventualidades.
Este pré-diagnóstico vai orientar a pesquisa de informações, o desenvolvimento de ações de
verificação ou de ações para retardar os efeitos nefastos do incidente (ações dilatórias). Pode-
se, então, assistir a uma atividade de elaboração de hipóteses a partir de conhecimentos
sobre a instalação obtidos pela experiência e pela formação.

Estes conhecimentos não são somente "saber" formais em mecânica, eletricidade,


etc. Eles podem resultar da repetição de experiências semelhantes e diferentes, que permitem
ao operador detectar invariantes. Neste caso, há a necessidade de uma manipulação mental
da realidade para se obter uma nova representação que permita a elaboração das ações
seguintes.

* Atividades cognitivas mais complexas podem ser observadas. Por exemplo, o


"raciocínio sobre o raciocínio": "há pouco, quando eu verifiquei se o arquivo encontrava-se
no disquete, era para ver se a ultima versão não tinha sido apagada. Mas, não é só porque o
nome do arquivo está certo no diretório, que seu conteúdo estará correto. É preciso que eu
faça uma listagem do conteúdo..."
* De uma maneira geral, o fato que um evento (um sinal) provoque ou não no
operador a ativação imediata de uma representação eficaz, depende da conjunção de três
fatores:
- A natureza do evento ou do sinal;
- Os conhecimentos que o operador possui, adquiridos por experiência e por
formação;
- A orientação do operador, no momento em questão: o fato de ele estar
engajado num determinado curso de ação com uma certa representação da situação.

Um determinado sinal poderá não se constituir num signo para o operador. Este caso
ocorre quando o sinal não é conhecido do operador, ou ainda, quando ele está engajado num
curso de ação dentro do qual este sinal não é pertinente. Esta propriedade particular da ação
humana é o centro das questões relativas à "confiabilidade humana".

O PAPEL DAS AÇÕES E DA EXPERIÊNCIA

Atribui-se o termo "modelo mental" ao conjunto dos conhecimentos virtualmente


disponíveis em um indivíduo, compreendendo as relações preferenciais entre certas
configurações da realidade e as ações a serem efetuadas e os conhecimentos que permitem
uma manipulação mental da realidade.

Uma representação é ativada num determinado momento a partir do modelo mental


do indivíduo, da configuração da realidade que ele percebe e do curso de ação no qual ele
está engajado. Este modelo mental é construído durante a história de cada indivíduo a partir
das situações nas quais ele se encontra engajado e das ações que ele efetua. Em situação de
trabalho, duas conseqüências clássicas:

* As diferenças de modelos mentais entre trabalhadores iniciantes e experientes. No


que concerne ao objetivo deste curso, assinalamos as diferenças freqüentes entre os
"modelos mentais" dos projetistas, dos responsáveis de produção (engenheiros,
supervisores) e dos operários;
* As diferenças de modelos mentais segundo as funções: a pane de um dispositivo
automático não tem a mesma representação para um eletricista e para um mecânico. Eles
não vão pesquisar as mesmas informações, dar importância aos mesmos parâmetros,
formular as mesmas hipóteses, estabelecer os mesmos diagnósticos, tendo em vista que as
diferentes ações que eles desenvolvem fazem com que eles estruturem diferentes modelos
mentais.

A partir destas duas conseqüências pode-se estabelecer a diferença fundamental que


existe entre a lógica de funcionamento ("se fizermos isto, então ocorre aquilo") e a lógica
de utilização ("para obtermos aquilo, fazemos isto").

Richard (1990) propõe uma distinção entre os conhecimentos que dizem respeito ao
funcionamento (como funciona), e aqueles concernentes à utilização (como se faz
funcionar). As instruções e as linguagens correspondentes, freqüentemente misturam estes
dois tipos de conhecimentos, trazendo dificuldades para os trabalhadores. Da mesma forma,
faz-se distinção entre os conhecimentos declarativos (referentes as propriedades dos objetos
tratados e seus estados) e os conhecimentos procedurais, que correspondem aos tratamentos
que o trabalhador realiza e que lhe permitem resolver efetivamente o problema. Fala-se,
ainda, de forma menos precisa, de conhecimentos teóricos, em oposição aos práticos.

ALGUNS DADOS SOBRE A MEMÓRIA


Para Guillevic (1991), a memória é considerada como o lugar de estocagem das
representações e dos conhecimentos e constitui um domínio importante da atividade do
trabalhador.
Já para Noulin (1992), a memória é um conjunto de processos que os psicólogos e/ou
psicofisiologistas distinguem segundo a estrutura cerebral envolvida, ou a natureza da
informação retida (visual, auditiva, etc.), e ainda conforme a duração da memorização.
Richard (1990) e os demais autores citados distinguem basicamente três tipos de
memórias:
a) Registros Sensoriais
As características da informação conservada nos registros sensoriais são as seguintes:
* a informação conservada é uma imagem precisa do estímulo tal como ele é percebido pelo
órgão sensorial;
* esta informação não é decodificada, mas bruta, não sendo modificada por mecanismos
cognitivos;
* a duração desse primeiro registro corresponde a menos de um segundo para sensações
visuais e a alguns segundos para as auditivas;
* ela é volátil, qualquer que seja a vontade do sujeito, que não pode mantê-la, mesmo por
um esforço de auto-repetição mental;
* a capacidade do registro sensorial é limitada: depende do tipo de órgão sensorial envolvido;
* em função da rápida queda da informação no registro sensorial, somente parte dela é
selecionada ou filtrada para processamento posterior.
b) Memória de Curto-termo (MCT)
Na MCT, a informação conservada, é totalmente diferente:
a informação é já o resultado de uma interpretação;
* pode ser síntese de várias informações proveniente de diferentes registros sensoriais (por
exemplo: visão + audição), mas não retém a totalidade das informações;
* a capacidade desta memória é limitada e volátil;
* conserva a informação durante segundos;
* pode ser mantida por auto-repetição, mas fica extremamente sensível às interferências de
outras informações. É o que acontece por exemplo, quando repetimos um número de telefone
e alguém vem nos perturbar com uma pergunta.
A noção de MCT foi progressivamente abandonada dando lugar à “Memória de
Trabalho” (MT). A diferença é que esta última é concebida como um sistema que realiza
não só o armazenamento mas o tratamento das informações.
c) Memória de Longo Termo (MLT)
Entre suas características importantes estão:
* organização mais complexa, não apresentando um declínio sistemático em função do
tempo;
*### capacidade praticamente ilimitada (isto não impede o esquecimento que se dá não por
razões de capacidade, mas de organização ou de mecanismos de decodificação ).
*### dependência, primeiramente, das transformações operadas por filtragem da memória
de curto termo para, em seguida, integrar a informação às estruturas que compõem os
esquemas cognitivos e às informações já memorizadas;
*### conservação das informações de forma permanente.

A INTERFERÊNCIA ENTRE TAREFAS

Nas situações de trabalho com sistemas automatizados complexos, é freqüente que


vários incidentes ou manobras ocorram simultaneamente. A atividade do operador não pode
ser descrita como a "soma" das atividades elementares ligadas a cada um dos incidentes,
devido:
* à interferência técnica entre diferentes incidentes, aumentando a gravidade de cada
um dentre eles (exemplo das interferências entre circuitos de regulação);
* à necessidade de planificar as intervenções, levando-se em conta prazos previsíveis
de cada fenômeno;
* às prioridades eventualmente conflituais;
* aos limites da memória de curto termo.

Ao mesmo tempo que um dos eventos é tratado, o operador pode procurar informar-
se do desenvolvimento de outros eventos. As informações que permitem controlar
globalmente esta evolução não são, necessariamente, as mesmas que permitem a resolução
detalhada e devem estar disponíveis, mesmo quando o operador centrar sua atividade sobre
a resolução de um outro incidente.

SITUAÇÕES PERIGOSAS ("ERRO HUMANO" X "CONFIABILIDADE HUMANA")

Normalmente quando acontece um incidente grave num sistema de produção


automatizado, é freqüente atribuir ao operador humano o "erro" ocorrido (na medida em que
"alguém deveria fazer diferente do que foi feito"). Porém esta situação condicional não
permite avançar na análise do incidente:
* A conduta que teria sido desejável é, muitas vezes, reconstituída somente a
posteriori, com informações diferentes daquelas que o operador dispunha no momento do
incidente e fora das condicionantes, em particular temporais, a que ele estava sujeito;
* Esta formulação evita procurar as determinantes de uma conduta inapropriada do
lado da concepção dos meios de trabalho. Se "erros" são cometidos, eles são devidos à
concepção dos dispositivos técnicos, à escolha da apresentação da informação, à organização
do trabalho, à definição da formação, etc.;
* Neste sentido, esta abordagem não permite a prevenção da ocorrência de incidentes
semelhantes.

Na realidade, é preferível falar de "fracasso" do que de "erro humano". Por outro


lado, os elementos fornecidos no item 4 permitem descrever as diferentes causas de uma tal
situação:

1. Informação insuficiente sobre o estado da instalação


* Panes de aparelhos, indo até a perda de informações sobre os painéis ou sobre os terminais
de vídeo;
* Ausência de informações sobre os estados particulares do material (trabalhos, regulagens
em curso, partes consignadas, etc.);
* Interfaces mal concebidas;
* Confiabilidade duvidosa dos aparelhos, que conduz a considerar como correto um valor
falso, ou a não levar em conta um valor atribuindo-lhe uma pane da cadeia de medida;
* Ausência de informação sobre o desenvolvimento automático de seqüências (em qual fase
ela parou?);
* Impossibilidade de verificar diretamente no local o estado de um sistema (acessibilidade,
efetivo insuficiente);
* Concepção dos próprios indicadores.

2. Estabelecimento de um pré-diagnóstico falso


Em certos casos, existem informações que podem ser utilizadas pelo operador para
orientar sua ação. Todavia, estas informações não chamam sua atenção, não são consultadas,
nem consideradas como significativas.
Os primeiros sinais do incidente conduzem o operador a um pré-diagnóstico que guia
sua pesquisa de informações complementares. Todas as novas informações são interpretadas
à luz deste pré-diagnóstico (dentro desta representação), sem apresentar descontinuidade
suficiente para provocar a ativação de uma representação apropriada. O operador entranha-
se pouco a pouco numa interpretação da realidade que não lhe permite retomar a situação.

Este tipo de incidente remete a uma dupla prevenção:

* A apresentação da informação: quando incidentes inteiramente diferentes podem


apresentar os primeiros sintomas análogos, é preferível que a apresentação da informação
inclua "parâmetros-alertas" característicos de uma das situações encaradas, mesmo se estes
parâmetros não são úteis para a própria conduta;
* A formação: em tais situações, a riqueza das hipóteses iniciais (isto deve ser... ou
bem...) é determinante. Mas o operador não formulará hipóteses extremamente pouco
freqüentes a não ser que sua formação e sua experiência lhe permitam dispor, em
determinado momento, das ferramentas mentais apropriadas. Entretanto, em determinadas
situações industriais, todos os fenômenos físicos e químicos suscetíveis de se produzirem
não são conhecidos da própria equipe de concepção (caso dos procedimentos implantados
em nível industrial antes de ser completamente controlado em nível semi-industrial).

3. Aparecimento de uma situação inteiramente nova


Não é certo que elementos da situação vão desencadear justamente a colocação em
funcionamento dos conhecimentos que vão permitir resolvê-la. Tudo depende da forma
como estes conhecimentos foram adquiridos e estruturados. Se o operador não teve
oportunidade de colocá-los em funcionamento em outras situações, é provável que estes
conhecimentos não serão acionados (não contribuirão à produção de uma representação) no
dia em que ele vai necessitá-los.

Este perigo existe principalmente se os operadores aplicam procedimentos


inteiramente concebidos por outros; se eles controlam máquinas automáticas sem poder
intervir sobre seu funcionamento; se eles não receberam uma formação sobre os
procedimentos que eles utilizam; ou ainda, se esta formação não está relacionada às ações
que eles efetuam.

4. Representações que não se comunicam


Uma outra fonte clássica de manobras inapropriadas reside nas dificuldades de
coordenação entre vários intervenientes. Uma boa coordenação supõe que cada um dos dois
intervenientes tenha uma representação precisa do trabalho que o outro realiza, isto é, que:

* Conheça a estrutura do curso de ação de seu colega;


* Disponha de informações que lhe permitam saber onde se encontra o colega a cada
instante de sua manobra.

Dificuldades de coordenação podem aparecer, em particular, quando a organização


do trabalho e a formação desenvolveram nos operadores funções distintas dos modelos
mentais, estruturados de forma muito diferente a propósito de uma manobra comum.
Riscos relacionados a uma organização do trabalho, onde os índices de alerta
expressos (eventualmente de forma parcial ou "incorreta") por alguns trabalhadores são
negligenciáveis, ao invés de serem objeto de uma confrontação entre as diferentes profissões
envolvidas, para encontrar soluções apropriadas. Riscos relacionados ao turn-over excessivo
do pessoal, notadamente de manutenção.

5. Os períodos perturbados
Em períodos extremamente carregados, ou em caso de incidente ocorrido de forma
muito brutal, observa-se muitas vezes com operadores experientes modos operativos
próprios dos operadores iniciantes:

* Menor antecipação;
* Reação passo a passo;
* Diagnóstico a partir de conjuntos limitados de parâmetros e não sobre a situação
global;
* Retorno freqüente aos procedimentos aprendidos há mais tempo, mesmo se eles
não são os mais apropriados.

Problemas relacionados à quantidade ou à velocidade de visualização das


informações nas situações de incidentes: papel do sistema de apresentação da informação.

6. As variações do estado do organismo


* Efeito muito importante dos ritmos biológicos em situações de trabalho com turnos
alternantes (efeitos sobre a vigilância, a memória, a atenção seletiva).
* Efeito dos eventos ocorridos nas horas que precedem o incidente.

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CAPÍTULO 4

OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS DA ANTROPOTECNOLOGIA

O presente capítulo tem como objetivo expor algumas considerações referentes às transferências
totais, mais conhecidas como Ilhas Antropotecnológicas e alguns estudos realizados a partir dos
conceitos da antropotecnologia visando demonstrar que a compreensão dos casos de transferência
de tecnologia passa, necessariamente, por uma análise que transcenda a dimensão econômica
normalmente utilizada. Torna-se importante, então, a consideração das dimensões ligadas aos
aspectos geográficos, climáticos, ergonômicos, antropológicos, entre outros, na situação em
questão. Visando colaborar com o entendimento da abrangência da antropotecnologia, serão
analisados alguns estudos já desenvolvidos na área, discorrendo sobre as suas principais
colaborações.

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Durante muito tempo, a lógica de desenvolvimento industrial utilizada pelos órgãos


internacionais de fomento, induziu os países menos desenvolvidos a importarem, de forma
intensiva, equipamentos, máquinas e fábricas, projetados nos países que dispunham de
tecnologia avançada. Juntamente com as máquinas e fábricas, eram importados, igualmente,
todos os aspectos organizacionais, incluindo a organização do trabalho, os programas de
seleção, de formação e de promoção de pessoal. Esta aquisição total, incluindo os aspectos
organizacionais, parecia o meio mais rápido de obtenção da produção esperada, mesmo não
tendo relação alguma com a situação e a cultura locais (Wisner, 1983).
Os empreendimentos mais impressionantes, deste período, podem ser imputados às
empresas multinacionais. Estas empresas consideram a homogeneidade de seus produtos
fabricados em diversas partes do mundo, como uma condição fundamental de sua imagem
de marca e de sua independência em relação à conjuntura sociopolítica local. Buscando este
objetivo, as empresas multinacionais reproduziram sistemas produtivos, não somente com
máquinas e prédios análogos mas também com uma política de pessoal planejada para dispor
de mão de obra com características próximas às originais da matriz. Constituíram, de fato,
verdadeiras "ilhas antropotecnológicas".

4.2 AS ILHAS ANTROPOTECNOLÓGICAS


As ilhas antropotecnológicas definidas por Wisner (1981; 1984a), caracterizam-se
por um funcionamento perfeito, ou pelo menos satisfatório, de conjuntos técnicos
complexos. Certas cadeias mundiais de hotéis fornecem, a todos os países, emissões de
televisão, banheiros, quartos ou bares cujo funcionamento não difere em nada de um país a
outro, evitando, assim, que o hóspede se sinta desorientado e incomodado. O que difere de
um país a outro é o pessoal empregado. Os empregados são, freqüentemente, pessoas do
próprio local, do diretor às camareiras. Mas a seleção, a formação, as condições sociais e as
exigências profissionais são tais que este pessoal se comporta de maneira análoga ao pessoal
do país da matriz hoteleira.
Estes empreendimentos constituem-se, contudo, em verdadeiras ilhas sociológicas e
culturais, em relação ao meio onde estão inseridos. O seu pessoal representa um grupo
totalmente distinto do restante da população, por dispor de condições de vida e trabalho,
estranhas ao local. A qualidade e custo dos produtos resultantes, muitas vezes, são
inacessíveis aos habitantes da região. Assim, estes empreendimentos contribuem muito
pouco para o desenvolvimento sócio-econômico geral e podem constituir-se em motivo de
instabilidade para as sociedades nas quais estão inseridos.
Pode-se destacar, ainda, que apesar dos resultados positivos obtidos por este tipo de
empreendimento, relativos à baixa taxa de acidentes, rotatividade e absenteísmo; bom nível
de qualidade dos serviços e produtos, observa-se, nos trabalhadores locais, patologias
operacionais também bastante próximas das que ocorrem no pessoal da matriz.
No entanto, considera-se evidente que o sucesso das ilhas antropotecnológicas
servem para comprovar que não existem diferenças cognitivas fundamentais entre os
diversos trabalhadores pertencentes a diferentes povos e civilizações. Pode-se assim,
reforçar a importância de considerar-se a situação da tecnologia transferida sob diversos
aspectos, como evidenciado nos estudos do tipo antropotécnico.
A Zona Franca de Manaus (ZFM) é um exemplo clássico de ilha antropotecnológica.
Segundo Costa Junior (1994), a ZFM tem como principal objetivo promover a ocupação e
a integração econômica da região, estabelecendo uma área de livre comércio de importação
e exportação e de incentivos fiscais especiais, com finalidade de criar na Amazônia, um
centro industrial, comercial e agropecuário. Os incentivos fiscais e financeiros, tais como a
isenção do imposto sobre produto industrializados, a redução do imposto de importação, a
isenção de ICMS e imposto de renda, são os principais atrativos para as diversas empresas
do mundo inteiro, que instalam ali suas filiais.
O referido autor, nos dá o exemplo de uma empresa pertencente a um grupo japonês,
maior fabricante mundial de motocicletas e uma das principais montadores de automóveis
do Japão. No Brasil, a empresa produz apenas motocicletas, nos estilos cross e passeio. Costa
Junior (ibid), sublinha alguns aspectos ao estudar a referida empresa, os quais estão presentes
na empresa matriz e nas sua filial, o que caracteriza uma ilha antropotecnólogica:

*Organização do Trabalho: a empresa adota uma organização assentada no


taylorismo/fordismo, característica comum de empresas japonesas, com parcelamento do
trabalho, simplificação das tarefas, de conteúdos pobre, repetidas ao longo de toda uma
jornada de trabalho.

* Gestão de Pessoal:
. para os cargos de diretores, seguindo a filosofia da empresa, são nomeados japoneses com
grande experiência, transferidos de suas fábricas dispersas pelo mundo, que permanecem na
função por três anos. O pessoal local é responsável pelos cargos operacionais;
. a empresa utiliza as técnicas dos Círculos de controle de Qualidade, amplamente difundidas
nas empresas do Japão;
* Capacidades cognitivas:
. trabalhadores recrutados do interior da Amazônia, os quais eram pescadores e pequenos
agricultores;
. uma tipo de motocicleta, responsável por 80% de suas vendas e exportada para 30 países
foi totalmente desenvolvida por engenheiros e técnicos brasileiros. Este fato vem confirmar
que não existem diferenças significativas, em relação às capacidades cognitivas básicas entre
povos de diferentes sociedades e culturas.

* Acidentes e doenças ocupacionais:


. na linha de montagem além dos riscos devidos a agentes mecânicos, que estão sempre
presentes, associados à tensão, há a vibração causada pelas máquinas pneumáticas;
. nas prensas, além do elevado nível de ruído, os acidentes podem ocorrer causados pela
obrigação de atender uma produção programada;
. as doenças mais freqüentes entre os trabalhadores desta empresa são: gastrites, úlceras e
neuroses; também bastante freqüentes na matriz do Japão

* Proteção Individual:
. a filial brasileira oferece aos seus trabalhadores, os EPIs adequados para cada tarefa. Esta
é uma preocupação de todas as filiais do grupo, a exemplo da matriz.

4.3 ALGUNS EXEMPLOS DE ESTUDOS ANTROPOTECNOLÓGICOS E SUAS


PRINCIPAIS CONCLUSÕES.

1) Mina de extração de Sulfato implantada em Mosul (Iraque)


Autores: Organização Internacional do Trabalho (OIT)/Organização Mundial de Saúde
(OMS)
Em 1978, uma equipe da OIT e OMS realizaram um estudo numa mina de extração
de sulfato localizada na cidade quente e relativamente úmida de Mosul, Iraque. De acordo
com Meshkati (1986), a tecnologia desta usina foi adquirida de um país do norte da Europa.
Ela foi projetada originalmente para o clima do país exportador e instalada sem qualquer
modificação no pais importador. Devido a este fato, a quantidade de gás sulfuroso em torno
da usina era muito alta e prejudicial à saúde dos trabalhadores. O projeto original não
apresentava nenhuma precaução para reduzir o calor por convecção e irradiação, que era
exigido para o conforto térmico dos trabalhadores naquele ambiente particular. Além disso,
a altura das chaminés da usina era inadequada ao tipo de vento predominante no local, pois
este soprava os gases para cima da usina.
Observou-se, ainda, alto nível de vazamento de gases, resultante de uma manutenção
pobre. O treinamento técnico dos operadores de manutenção e dos gerentes locais era
insuficiente. Os manuais de manutenção não foram adaptados à língua dos trabalhadores
locais.
O equipamento de proteção individual a ser utilizado pelos trabalhadores numa mina
deste tipo é um item essencial para assegurar a saúde e a segurança dos mesmos. Contudo,
estes equipamentos não eram adequados às condições climáticas da região, tornando-os
inutilizáveis.

2) Mina de fosfato instalada em Gafsa (Tunísia)


autor: N. Sahbi (1985)
País de origem: Tunísia
Sahbi (1985) estudou as minas de fosfato situadas em Metlaoui a 35 km de Gafsa
(Tunísia), região desértica e poluída pelas minas. A água é rara e utilizada prioritariamente
para a produção de fosfato, não havendo água corrente durante parte do dia (Sahbi, 1985;
Sahbi apud Wisner, 1984b; 1992b).
Sahbi (1985) mostrou a degradação do sistema de suporte das minas de fosfato em
Gafsa. Milhares de escoras hidráulicas, fora de uso, cobriam a área em volta da sala de
manutenção. Ele também descreveu as causas principais deste fato: materiais inadequados
às minas de fosfato, pois eles eram destinados às minas de carvão; ausência de comunicação
entre os serviços de manutenção e os mineiros trabalhando no fundo das minas;
predominância absoluta da preocupação com o volume de produção em relação aos custos
da degradação do material; baixo nível de desenvolvimento das atividades pelos
trabalhadores para assegurar a produção dentro de um sistema em modo degradado.
As origens do modo degradado são atribuídos aos fatores técnicos e organizacionais,
mas também à fragilidade do tecido industrial, aos fatores climáticos e geográficos, à má
qualidade de vida e dos transportes e à instabilidade na distribuição de energia elétrica.
É assim que os operários de manutenção não reparam as alças das escoras e não
recolocam no local as sapatas que protegem os pés das escoras, pois eles ignoram a
importância dessas atividades para os mineiros. Eles se limitam a separar ou substituir as
portas de alimentação, e que é completamente insuficiente. A existência de um sistema de
comunicação entre o fundo das minas e a seção de manutenção é de fato um elemento
importante da organização e muito freqüentemente negligenciado no momento da
modernização das minas. O caráter incompleto da transferência do sistema de comunicações
é muito freqüente, pois a situação é diferente no país comprador e desconhecida no país
vendedor.
Sahbi (1985) evidenciou que a seção de manutenção, importada da Alemanha pela
Companhia de fosfato tunisiana, não era adequada às escoras adquiridas na França. Isto
mostra que a maioria dos PVDI importam máquinas isoladas e muito rápido descobrem que,
para produzirem de forma integral, é muito difícil e custoso de utilizar máquinas pouco ou
nada compatíveis entre elas, pois freqüentemente elas são provenientes de diferentes
fornecedores.
Os manuais de manutenção escritos em alemão dificultavam o trabalho dos
operadores, pois eles conheciam apenas o árabe e o francês.

3) Sala de controle de tráfego do metrô do Rio de Janeiro


Autor: N. dos Santos (1985)
País de origem: Brasil
A pesquisa realizada por Santos (1985) trata de um estudo comparativo realizado
entre o controle do metrô do Rio de Janeiro e o metrô de Paris. Graças à precisa técnica de
medição dos movimentos dos olhos dos operadores, acrescida da análise de suas
comunicações com os maquinistas, nos casos de incidente, o autor mostra que o modo de
detecção de sinais, utilizados no posto de controle de tráfego, é idêntico no Rio e em Paris.
Mas, Santos mostra também que, o modo de detecção difere conforme a experiência anterior
de condução de trens de metrô.
No metrô do Rio, como a maioria dos controladores tiveram apenas uma formação
teórica, sem jamais terem conduzido um trem, as dificuldades na recuperação dos incidentes
eram mais significativas. Segundo o autor, aspectos fundamentais da gestão do tráfego, não
formalizados no metrô de Paris e, portanto, não transferidos ao metrô do Rio, influenciam
de forma marcante a qualidade do serviço, que é expresso, sobretudo, pelas dificuldades
enfrentadas pelos operadores do Rio, na manutenção da regularidade do tráfego (headway
constant)
4) Fábrica de Cerveja implantada em Bangui (República Centro-Africana).
Autor: A. Meckassoua (1986)
País de origem: República Centro-Africana.
Numa cervejaria, estudada por Meckassoua (1986) e situada em Bangui, na
República Centro-Africana, a atividade de encaixotar e desencaixotar garrafas cheias e
vazias, normalmente automatizadas, é realizada manualmente para aumentar o número de
empregos. Os operadores encarregados desta atividade devem trabalhar muito rápido, num
espaço pequeno e em condições desconfortáveis, pois o sistema técnico importado não foi
modificado depois da retirada do sistema automatizado. Além disso, o ambiente térmico é
constrangedor, com temperaturas e umidade relativa do ar elevadas. A freqüência cardíaca
dos operadores eleva-se ao limite aceitável para longos períodos. Para minorar o problema,
estes operadores alternam, entre esta atividade e aquela de inspeção da limpeza das garrafas.
A atividade de inspeção é mais confortável, pois os operadores ficam sentados e têm uma
atividade motora nula. Mas a performance dos operadores no posto de inspeção é medíocre,
pois sua vigilância é muito baixa e eles cochilam. Eles moram na área mais pobre da cidade,
situada a 5 km da fábrica. Durante a noite a temperatura também é elevada. As Janelas e
portas das casas ficam abertas e o barulho da vizinhança é forte, pois muitos dos vizinhos
não trabalham e levam uma vida noturna de festas. Os operários devem se levantar muito
cedo, pois o trabalho na fábrica começa às 6 horas da manhã. Para chegar até lá precisam
caminhar 1 hora, pois os transportes coletivos não funcionam tão cedo. O trajeto é penoso e
ao chegarem à fábrica pela manhã, a primeira de suas atividades é tomar uma ducha para se
refrescar.
Este exemplo, relatado de forma superficial, evidencia porque as garrafas de cerveja
em Bangui podem conter impurezas que não se encontram na matriz, em Armentieres,
França. A origem destes defeitos pode ser tratada, em nível de posto de trabalho, por uma
melhor iluminação das garrafas, ou por uma duplicação do posto de inspeção. Mas os
elementos determinantes estão em outro lugar. É preciso reduzir ou eliminar a carga de
trabalho excessiva nos postos de desencaixotamento e encaixotamento. Por outro lado, a
implantação de um sistema automatizado, como na matriz, provocaria demissões com sérias
repercussões sociais, pois não existe, na região, alternativa de emprego e, muito menos,
auxílio ao desemprego. As dificuldades ergonômicas são fáceis de serem resolvidas, em
nível técnico (organização do posto de inspeção e/ou dos postos de desencaixotagem e de
encaixotagem, climatização ou pelo menos ventilação destes postos), mas os recursos
financeiros da empresa são parcos tornando estas transformações discutíveis do ponto de
vista econômico.
A abordagem do trabalho dos operadores de Bangui parece bastante próxima de
certos estudos de sociologia do trabalho. Nota-se, entretanto, algumas particularidades neste
estudo. A pesquisa parte de uma questão importante para a empresa, aquela da qualidade dos
seus produtos: neste caso, o aspecto do produto, é essencial nas indústrias alimentícias. O
método consiste em observar o comportamento dos trabalhadores nas fases críticas: inspeção
das garrafas, o trabalho de desencaixotar e encaixotar garrafas, o trajeto e seu custo
fisiológico, as condições do sono. As bases teóricas destas observações foram de natureza
fisiológica (trabalho no calor com medida da freqüência cardíaca) e psicológica (vigilância
durante a inspeção e carência de sono). A reconstituição da árvore das causas é que permitiu
descobrir as causas econômicas (custo de transformação ), sociais (alojamento medíocre e
afastado) e antropológicas (vida noturna nas zonas de habitação, divisão das rendas na
família grande).
Entretanto, esta parte do estudo realizado por Meckassoua não apresentou grandes
dificuldades na análise do trabalho. O mesmo não ocorreu com o estudo do trabalho do
trasfegador, posto importante de qualquer cervejaria onde o operador deve regular o
funcionamento do sistema automático de preenchimento das garrafas pelo líquido. O
operador direciona seu olhar não só para os diversos pontos da máquina, mas também para
outros existentes na fábrica. A partir daí, modifica a posição de uma garrafa ou elimina uma
garrafa danificada, modifica a pressão do gás, diminui ou acelera as operações, pára ou
reativa novamente a máquina. Esta atividade de regulação era guiada pelas observações
acerca da orientação das garrafas, seu estado, sobre a regularidade do preenchimento das
garrafas e o nível da espuma da cerveja. Ele leva em conta também o acúmulo das garrafas
no desencaixotamento e no encaixotamento, como visto anteriormente, e nos incidentes na
colagem dos rótulos. De fato, os rótulos são, freqüentemente, mal colados sobre as garrafas
nos países equatoriais. Não se trata de negligência, e sim do emprego de colas mal adaptadas
ao clima quente e úmido. Da mesma forma, é preciso, às vezes, eliminar uma grande
quantidade de garrafas, pois a usina congolesa que fornece as mesmas não tem um bom
controle de qualidade: as garrafas variam de tamanho.
A observação das atividades do trasfegador e as explicações que ele dá, permitem
assim reconstituir as causas bem específicas na situação centro-africana: desencaixotamento
e encaixotamento manuais e lentos, ligados a exigências sociais de emprego, qualidade ruim
dos fornecedores de cola, dimensões não conformes das garrafas, vendidas por um
fornecedor pouco preocupado com a qualidade.
Estas observações e as explicações que as acompanham, permitem, além disso,
descobrir que existe no operário uma representação mental muito completa do
funcionamento do sistema técnico, representação esta que se estende ao conjunto da fábrica.
Ora, este operário é semi-analfabeto e fala muito mal o francês, língua veicular da República
Centro-Africana. Na época do estudo, este operário ocupava uma parte do seu tempo
treinando outros operários e regulando uma trasfegadora destinada a preencher outras
garrafas de refrigerantes.

5) Estudo comparativo entre duas destilarias de álcool instaladas no Brasil.


Autora: J. Abrahão(1986)
País de origem: Brasil
Abrahão (1986), comparou o funcionamento de duas destilarias de álcool de
cana-de-açúcar no Brasil, onde estas usinas ainda são numerosas, apesar da sensível
redução do Programa Pró-Álcool e do número de automóveis que funcionam a álcool.
Como se trata de uma tecnologia nacional, não há, rigorosamente falando, transferência
internacional de tecnologia, embora os engenheiros brasileiros certamente tenham
explorado e utilizado os conhecimentos mundiais disponíveis na época na concepção
dessas destilarias. Um dos aspectos mais importantes do estudo de Júlia Abrahão foi
mostrar que os problemas da transferência de tecnologia se colocam não só entre dois
países, mas também entre duas regiões de um mesmo país, desde que seus tecidos social
e industrial sejam diferentes. A tecnologia das duas destilarias é idêntica, com uma
capacidade nominal de produção de 150 mil litros por dia.
Mostra-se, então, no quadro abaixo, as diferenças significativas entre estas duas
destilarias.

Características Destilaria 1 Destilaria 2


referentes à (ao)
Local ao norte do estado de São Paulo a 40 km de próximo a uma pequena cidade rural do
Ribeirão Preto, nas proximidades da usina que estado de Goiás, ainda pouco
produz os equipamentos de destilação para as industrializada.
diversas partes do Brasil.

Capacidade da 180.000 l/dia 110.000 l/dia.


usina
Fornecedor os fornecedores de matérias-primas e as peças de reposição são adquiridas em
peças de reposição estão muito próximos São Paulo. As estradas que levam aos
desta destilaria. fornecedores são ruins e as distâncias
grandes

Mão-de-obra nesta região encontra-se mão-de-obra a mão-de-obra qualificada encontra-se a


competente. recruta pessoal fixado com suas 400km.
famílias próximo a região e assegura sua
formação pelos estágios práticos como
auxiliadores de fabricação, tanto no período de
fabricação como no período de paralisação da
destilaria, fora de safra.

Canaviais a destilaria está situada em meio aos canaviais os canaviais estão muito longe desta
destilaria, ligados por estradas de terra
esburacadas, deteriorando assim os
caminhões .

Número de 40 120 (10% estão sempre no


caminhões conserto) .

As manobras as manobras úteis no caso de transbordamento as manobras não são permitidas,


da espuma durante a fermentação são toleradas, pois deterioram o dispositivo
pois as peças de reposição estão próximas (1/2 técnico e as peças de reposição
dia) . levam alguns dias para chegar.

Direção formação industrial e de gestão empresarial a diretora tem uma boa formação de
química e de biologia, mas não tem
nenhuma formação industrial e de gestão
empresarial.

Organização da flexível correspondente a um esquema vertical,


usina clássico na organização taylorista.

A aprendizagem na destilaria de Ribeirão Preto é favorecida pela importância e


o caráter das comunicações entre os trabalhadores, os quais formam um verdadeiro
coletivo de trabalho - comunicações horizontais entre pessoas de mesmo nível
hierárquico, mesmo se elas executam atividades diferentes, comunicações diagonais
entre o responsável de um serviço e um colaborador de um outro chefe de serviço. Há
nesta destilaria uma grande flexibilidade no trabalho. Em contrapartida, a direção da
destilaria de Goiás segue estritamente a descrição do funcionamento prescrito tal como
é descrito no manual de funcionamento. O responsável pelo laboratório, como a
diretora, não está seguro de seu conhecimento e não confronta suas observações com as
do destilador, como sempre fazem o laboratorista e o destilador de Ribeirão Preto. Toda
decisão que não pode ser tomada pelo responsável local é tomada pela diretora via
manual. Os trabalhadores desta destilaria não têm elementos para compreenderem as
decisões tomadas. O saber de cada um permanece limitado e pouco ou nada se comunica
com o saber dos outros. A diretora, não conhece a representação funcional de cada um,
nem as atividades desenvolvidas nos níveis operacionais, pois isso não lhe interessa.
Com isso, o saber não é transmitido e resta pouco ou nenhuma possibilidade de
formação para auxiliares de fabricação que, aliás, não existe nesta destilaria.
Este duplo exemplo mostra que a transferência de tecnologia não está limitada
às relações comerciais internacionais e que, dentro de um mesmo país, a situação
geográfica, os tecidos industrial e social, o modo de escolha e a capacidade profissional
do dirigente podem conduzir a tipos de organizações diferentes para uma mesma
tecnologia. Este exemplo mostra, também, como os resultados econômicos e financeiros
estão ligados ao modo de funcionamento e, em particular, à organização da empresa e
do trabalho. O exemplo oferece, enfim, uma nova demonstração do efeito desfavorável
da organização "burocrática" ou taylorista nos sistemas de produção de fluxo contínuo.
Por fim, o estudo levanta a questão essencial das organizações qualificantes estudada
por Zarafian apud Fleury (1993).

6) Fábrica de inseticida implantada em Bhopal (Índia)


Autor: Grenouillet (1986)
Em dezembro de 1984, o vazamento de gases tóxicos de uma usina de inseticida de
origem americana, Union Carbide, transferida para Bhopal provocou a morte de mais de
2500 pessoas e feriu outras 200.000 (Meshkaty, 1986). Grenouillet em seu estudo referente
ao acidente de Bhopal chegou às seguintes conclusões:

* o erro industrial inicial


A usina produzia um inseticida chamado Carbaryl que estava vendendo cada vez
menos, e então, para conseguir preços mais competitivos, a usina precisaria produzir também
dois componentes importantes para fabricação do Carbaryl. O conhecimento técnico para a
produção de um destes componentes era bastante dominado o que não acontecia para o
segundo componente. Era preciso, então, importá-lo e a usina estava condenada a prejuízos.
Os prejuízos dessa usina foram se acumulando, antes do acidente previra-se um prejuízo de
40 milhões de rúpias para um montante de 120 milhões (a rúpia valia 40 centavos de dólar
americano)

* uma política cega de redução de custos


Esta política determinou a supressão de dispositivos essenciais de segurança e a
redução do número e da qualidade do pessoal. Pode-se citar por exemplo:
- a desativação dos alarmes, pois incomodava a vizinhança;
- o corte quase total de compra de material e peças de reposição;
- a refrigeração dos reservatórios onde se encontrava a matéria-prima fora cortada;
- os técnicos e operários mais qualificados foram embora e substituídos por outros sem
treinamento.

* uma usina mal concebida


Foram cometidos erros fundamentais de concepção:
- num mesmo painel havia indicadores mostrando o mesmo parâmetro em unidades
diferentes (psi e kg/cm2 );
- a quantidade e o local dos alarmes eram inadequados;
- a temperatura do reservatório de um dos componentes do inseticida variava de -25 a +25
 C, mas sem refrigeração a temperatura atingia bem mais de 25C;

* perseguição sindical
Os trabalhadores da usina estavam há muito conscientes dos perigos da usina de
Bhopal. Os operários realizavam manifestações a cada colega morto ou ferido na usina em
função das más condições de trabalho. Vários dirigentes sindicais foram demitidos.

* ausência de ação das autoridades


O governo de Madhya, estado onde estava situada a usina, não a considerava
perigosa, mesmo com a mortes de trabalhadores e de animais, estes últimos por beberem
água poluída pela usina. O governo acreditava que o empreendimento traria grandes
benefícios para seu estado.

* a razão do elevado número de mortos


Os trabalhadores da usina sabiam do perigo e conheciam a direção do vento e assim
puderam se proteger. A população local foi, portanto, avisada tarde demais, não sabia a
direção certa para fugir e não dispunha de meios de transporte. A direção e os médicos da
usina repetiam durante a semana precedente ao acidente que não se tratava de nada grave.
Para este mesmo acidente, Meshkaty (1986), atribuiu a incompatibilidade entre a
cultura do povo indiano e o dispositivo técnico transferido, como a grande causa da
catástrofe. Este autor enfatiza que os indianos passaram do trabalho artesanal para o trabalho
industrial, sem haver uma internalização da cultura tecnológica.
Para finalizar, todos devem preocupar-se quando as dificuldades financeiras da
empresa levam a afetar a segurança, suprimindo sistemas eficientes de controle ou
dispensando o pessoal competente e experiente. Isso é, particularmente, sensível nos
sistemas complexos e, ainda mais, perigoso, quando se trata de um dispositivo mal
concebido e que requer, por esse motivo, uma atividade cognitiva intensa e complexa dos
operadores. Outro fator importante, a ser considerado, são as colocações dos trabalhadores
e de seus supervisores, pois somente eles conhecem a verdadeira situação na qual se encontra
o dispositivo técnico.

7) Central telefônica instalada em Manilla (Filipinas)


Autora: C. Rúbio (1990)
País de origem: Filipinas
O objetivo deste trabalho situa-se em um nível ainda mais alto de integração. A
pesquisadora procurou conhecer o que permite que uma empresa adquira o domínio da
tecnologia importada ou pelo menos certo grau de autonomia frente ao fornecedor. Ela
considerou que, para tanto, é necessário uma dupla competência, a da empresa e a dos
trabalhadores. Esses dois tipos de competência dependem estreitamente do tecido industrial
e social.
Para levar a bom termo essa demonstração, Rúbio apud Wisner (1994a), estudou a
Philippine Long Distance Company (PLDT) e, mais particularmente, as atividades de
reparação do material danificado. A companhia continua a utilizar um material antigo, do
tipo eletromecânico, cujo domínio foi totalmente adquirido, assim como um material
importado mais recentemente, do tipo eletrônico, com relação ao qual ela adquiriu certa
autonomia, mas não ainda o domínio total.
Os tecidos social e industrial das Filipinas é muito favorável a essa atividade, pelo
menos na região de Manilla, onde se faz a manutenção do material. De fato, a população já
tem, há tempos, o costume de conservar em bom estado as peças dos aparelhos fora de uso,
para consertarem o que poderia estar quebrado. Numa primeira fase, alguns técnicos faziam
o mesmo com o material eletromecânico da PLDT. Mais tarde, foi organizada uma
estocagem sistemática dos elementos de aparelhos eletroacústicos e de computadores.
Chegou-se, em seguida, a uma oficina de fabricação de aparelhos telefônicos a partir dos
elementos assim estocados. Paralelamente, desde a compra da PLDT, de uma empresa
americana, pelo governo filipino, foram organizados cursos de formação técnica. O centro
de treinamento, propriamente dito, data de 1980. Esse treinamento tornara-se necessário pelo
custo elevado dos consertos e, sobretudo, da compra de peças novas. Além disso, o "êxodo
de cérebros" filipinos, para países do Oriente Médio, era, na época, muito acentuado, e era
preciso renovar o pessoal técnico para que a PLDT não sofresse com a sua falta.
Assim, em dez anos, a PLDT conseguiu tornar-se independente de seu fornecedor.
Ela adquiriu um verdadeiro domínio, já que não só conseguiu fazer o que fazia o vendedor,
mas também realizava reparos de elementos do material, a baixos custos, inventando para
tanto equipamentos de testes dessa produção. É interessante notar que, um tal fenômeno, tem
um caráter geral na transferência de tecnologia. Foi assim que engenheiros franceses, a partir
de uma licença americana da Westinghouse, construíram na França um conjunto de
elementos de produção de energia elétrica de origem nuclear. Pode-se, ainda, observar que,
uma tal aquisição do domínio de uma tecnologia, não é um fato exclusivo dos PDI. O que
deixou a todos estupefatos, algumas décadas atrás, na evolução industrial do Japão, no
sentido do domínio das tecnologias, está se passando agora, como é de conhecimento geral,
em outros países do sudeste asiático: Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura.
Quando, em 1979, a PLDT decidiu substituir uma parte de seu sistema
eletromecânico por um sistema eletrônico, o desafio da apropriação era, a priori, muito mais
difícil de se levar a bom termo, pois a empresa vendedora havia previsto medidas técnicas e
contratuais para permanecer com a exclusividade da assistência técnica do sistema, por
intermédio de uma filial filipina.
Todavia, o tecido social filipino mostrava-se muito favorável a uma tentativa de
autonomia. O sistema escolar produzia muitas competências individuais em informática em
diversos níveis, e a sociedade em seu conjunto acolhera a informática com muito interesse.
Atualmente, firmas européias executam parte de seus trabalhos de programação nas
Filipinas. Foi sobre esse terreno propício que a PLDT decidiu utilizar as competências que
havia adquirido com a tecnologia eletromecânica na área da organização da manutenção e
da formação para o sistema eletrônico. Em 1982, dois anos depois da aquisição do sistema
eletrônico, uma investigação sobre circuitos impressos defeituosos permitiu evidenciar os
tipos de circuitos que apresentavam defeitos com maior freqüência. O centro de assistência
técnica (1985) especializou-se inicialmente na reparação desses circuitos, freqüentemente
substituídos, a fim de aproveitar ao máximo esse esforço,. Em 1987, ao final da pesquisa de
Rúbio, ainda não se podia falar em domínio, pois ainda restava muito a fazer para poder
dispensar o vendedor. No entanto, se a própria PLDT consertava 30% de peças defeituosas
da parte periférica, ela havia avaliado as dificuldades para resolver e organizar um conjunto
de treinamento e de ações destinadas a aumentar a sua independência. Esta independência
ainda não fora totalmente conquistada, tendo em vista que 100% das peças defeituosas, das
partes centrais e intermediárias, ainda tinham de ser consertadas pelo fornecedor, mas a
PLDT se tornara autônoma.
Rúbio mostra que, em virtude do tecido social e industrial em que funciona, uma
empresa pode e deve analisar as suas dificuldades, as causas de sua dependência
relativamente ao fornecedor. A empresa pode organizar os meios de análise, de formação e
de ação correspondentes. Mas, ao mostrar, assim, a sua competência, ela não deve perder de
vista que deve essencialmente conhecer, desenvolver e utilizar as competências de seus
colaboradores. Enfim, a empresa deve saber que essa caminhada rumo ao domínio
tecnológico é longa e progressiva, ainda mais quando a tecnologia é complexa e protegida
pelo segredo do vendedor.

8) Indústria de papel implantada na Argentina


Autor: A. Kerbal (1990)
País de origem: Argélia
A introdução das novas tecnologias e os problemas encontrados no domínio dos
sistemas complexos contribuíram para a emergência da noção de “modo degradado”. Esta
noção está cada vez mais presente nos estudos ergonômicos, onde a identificação de
disfuncionamentos, de incidentes e de acidentes nos dispositivos técnicos está associada, em
numerosas situações, a um funcionamento em modo degradado, isto é, a situações de
perturbação que não acarretam necessariamente numa parada sistemática das instalações.
Portanto, a repetição ou a persistência deste tipo de funcionamento pode ter conseqüências
mais ou menos graves sobre a eficiência da produção e, sobretudo, sobre as condições de
trabalho (efeitos sobre a saúde e a segurança).
O estudo realizado por Kerbal em uma indústria de papel argelina, tenta evidenciar
os processos de degradação dos sistemas tecnológicos e as origens do modo degradado de
funcionamento.
A análise do processo de produção e das atividades de trabalho permitiu:
* estudar o funcionamento real do sistema tecnológico evidenciando as restrições
(condicionantes) de exploração e seus efeitos sobre a produção. O estudo mostrou como as
restrições contribuem para o aparecimento do modo degradado e para a elaboração de uma
lógica de utilização do sistema, baseada numa “exploração extensiva dos equipamentos”;
* analisar a atividade dos operadores e as condições nas quais eles intervêm no desenrolar
do processo de produção, mostrando como estes mesmos operadores se esforçam para
superar as dificuldades do funcionamento em modo degradado, às vezes, com um domínio
notável, mas que pode acarretar problemas para a produção e, sobretudo, para a saúde e a
segurança dos trabalhadores.
De fato, a lógica de utilização do sistema tecnológico, resultante do desconhecimento
e da subestimação da realidade do trabalho, conduziu a:
* uma “atrofia” do processo de produção marcada por um número elevado de equipamentos
abandonados , subtilizados, com paradas prolongadas ou em funcionamento deficiente. Esta
atrofia resulta de uma “agressão” repetida dos equipamentos, ampliada pelas restrições de
um ambiente instável e desfavorável (local de implantação inadequado, matérias-primas
inconvenientes, tecido industrial frágil, etc);
* uma manutenção problemática do sistema que se caracteriza pela freqüência elevada das
paradas não programadas em detrimento da manutenção preventiva;
* uma qualidade incerta, resultante do estado de degradação dos sistemas de regulação e da
marginalização da função controle-qualidade. Por outro lado os problemas de qualidade são
fortemente omitidos pelas pressões de uma demanda que não pode ser satisfeita por uma
oferta ainda muito limitada em produtos de papel;
* uma fragilização da relação trabalhista marcada pela existência de uma organização do
trabalho, baseada na lógica taylorista, que não contribui para a cooperação “inter e intra-
coletivos” (divisão extrema das tarefas, dualismo entre funções, etc). De fato, os
comportamentos individuais ou coletivos, tais como a “rejeição ao trabalho, as resistências
a mudança ou as dificuldades de adaptação”, resultantes não tanto de problemas culturais,
mas de subestimar as capacidades cognitivas e do desconhecimento da realidade da atividade
de trabalho, que são uma fonte de conflitos latentes ou declarados, conduzem a situações de
degradação. A fragilização da relação salarial é, além do mais, acentuada pelas inúmeras
rupturas entre a vida no trabalho e a vida fora dele.
Kerbal (1990), conclui o seu trabalho afirmando que só a aquisição da tecnologia é
insuficiente para dominá-la. Várias modificações e ajustes são necessários para superar as
restrições locais, podendo conduzir a um verdadeiro processo de “reconcepção”. A idéia de
reconcepção é interessante na medida em que se pode favorecer a inserção do sistema
“concebido” em função dos recursos e das contingências locais e na perspectiva de uma “
transferência ativa”. A análise ergonômica do trabalho, ao evidenciar as condições das
escolhas técnicas e da organização, pode ajudar, considerando as oportunidades e as
restrições locais na concepção, na instalação e na utilização do sistema tecnológico.
A integração controlada das diferentes restrições pode resultar no desenvolvimento
de um sistema novo, não mais ligado às suas origens. Este sistema não é ainda possível para
a maioria dos PVDI, mas a ergonomia e a antropotecnologia podem ajudar na identificação
e no tratamento das restrições reais ou potenciais, suscetíveis de travar o funcionamento
correto e durável dos sistemas tecnológicos a transferir. Uma tal contribuição pode ajudar
na escolha e na concepção dos sistemas de produção, de organização, e de formação mais
adaptados às necessidades das populações e às exigências das situações industriais dos
PVDI. Subestimar ou desconhecer estas necessidades e exigências conduz inevitavelmente
à aparição e, sobretudo, à permanência do modo degradado de funcionamento.

9) Fábrica de beneficiamento de óleo implantada em Kinshasa (República do Zaire).


Autor: P. Langa (1994)
País de origem: República do Zaire
Uma característica original do estudo de Langa apud Wisner (1994a; 1994b), é ter
tomado como objeto principal o estudo das atividades do gerente de uma fábrica de mistura
de óleos de petróleo, que produz, no subúrbio de Kinshasa, uma parte importante dos
lubrificantes necessários à economia do Zaire. Normalmente, a AET estuda trabalhadores de
nível operacional e não de nível gerencial. É verdade que um tal estudo apresenta
dificuldades especiais, já que a atividade de um gerente é, essencialmente, ligada à
linguagem, quer escrita ou falada. Além disso, essas atividades não podem ser entendidas
facilmente sem explicações complexas. Esta é a razão pela qual Langa utilizou três
abordagens complementares: a análise exaustiva da atividade, a autoconfrontação e a
entrevista orientada pelos fatos. Além disso, Langa constatou que o trabalho do gerente
comportava atividades diversas, que se misturavam, e cuja lógica só podia ser compreendida
descrevendo "histórias" que se desenrolavam simultaneamente, durante períodos bastante
longos. Por isso, as observações não podiam ser interpretadas, se não se estendessem por
pelo menos um dia de trabalho. De fato, Langa registrou oito dias de trabalho, cujo conteúdo
se revelou muito diversificado. Em todos os países, uma das características do trabalho é sua
variabilidade. De fato, a variabilidade aumenta com o nível hierárquico. Podemos considerar
que um aspecto essencial da organização da empresa e do trabalho é reduzir essa
variabilidade, a fim de que a quantidade e a qualidade da produção não sejam prejudicadas
com essa instabilidade fundamental. Outra observação geral é que a instabilidade é mais alta
nos PVDI. Alguns exemplos destas variações:
a) quantidade irregular dos óleos de base enviada pela Sozir (Sociedade produtora dos óleos
de base, situada a cerca de 300 km de Kinshasa, perto do porto de desembarque do petróleo)
e isso independentemente das encomendas feitas;
b) a companhia de transporte ferroviário não tem prazos de entrega fixos: pode entregar em
dois dias, duas semanas ou fazer esperar durante meses;
c) o processo de importação está ligado à disponibilidade de divisas do Banco do Zaire e à
busca de fornecedores em potencial.
Estas irregularidades traduzem-se em freqüentes quebras de estoques e perturbam a
atividade de cada empregado. Assim, no laboratório de controle, nunca se sabe quando se
terá trabalho; é comum os trabalhadores se entediarem todo o dia com papéis para, em
seguida, fazerem horas-extras até tarde da noite, porque os caminhões-tanques chegaram
muito tarde ou porque a fábrica ainda está em atividade. O trabalho do responsável pelo
funcionamento é profundamente perturbado. “Os documentos chegam não importa quando.
Às vezes, somos obrigados a assiná-los sem realmente tomarmos conhecimento deles ou lê-
los em condições tais que, alguns dias mais tarde, não conseguimos nos lembrar deles’’.
Para reduzir a variabilidade e o caráter inesperado das variações, é preciso antecipar.
Infelizmente, as regras administrativas seguidas por uma parte do pessoal não caminham no
mesmo sentido. Com efeito, o gerente da usina é prevenido das remessas de óleo quando
chegam os caminhões, e só é informado, por via administrativa, das remessas enviadas por
escrito à direção, o que, às vezes, só acontece depois da entrega. Assim, o gerente
desenvolveu uma ampla rede de informação por telefone, com um funcionário do serviço
comercial, que o avisa, mantendo-o informado. Este último sabe o estado dos estoques de
seus clientes, graças aos membros do serviço de compras ou pelos caminhoneiros-
petroleiros. A importantíssima rede de comunicações, assim construída, é totalmente
informal, mas indispensável para fornecer, a tempo, as quantidades necessárias de
lubrificante de que o cliente precisa e cuja compra não foi prevista corretamente. Caso
contrário, o chefe de produção (CP) deveria aguardar o programa de produção,
freqüentemente incorreto, e que chega numa data variável durante o mês que deveria
organizar. O mesmo acontece com as entregas dos óleos de base que alimentam a usina. O
CP não dispõe de capacidades consideráveis de estocagem. Ele faz encomendas em função
do programa de produção, mas ignora, em princípio, se seu fornecedor dispõe de estoques
correspondentes, pois esse fornecedor depende, ele próprio, da chegada irregular dos navios
petroleiros. As entregas dependem também das estradas de ferro do Zaire, como vimos
anteriormente. O CP informa-se sobre o estado dos estoques do fornecedor e "se garante",
encomendando tipos de óleos os quais podem não ter uma necessidade imediata, mas que
correm o risco de faltar no fornecedor. O CP preocupa-se também com os estoques de galões
vazios da usina e com a disponibilidade dos galões na única fábrica do Zaire que os produz.
Em Langa et all (1994), observa-se dois quadros que comparam as comunicações
reais efetuadas pelos chefes de Kinshasa e de Nanterre (cidade onde se encontra a matriz
francesa). Nota-se que a rede de comunicação elaborada pelo chefe de unidade de Kinshasa
é bem mais complexa do que a elaborada pelo seu correspondente em Nanterre.
Observa-se, também, que a grande incerteza diante dos fornecedores (óleos, galões)
e das remessas de matéria-prima é uma das fraquezas capitais do tecido industrial dos PVDI.
Nota-se que, se a organização do trabalho "burocrática" oficial fosse respeitada pelo CP,
ocorreriam freqüentes paralisações, por falta dos fornecimentos necessários e pelos prazos
bastante consideráveis de entrega das remessas, paralisações estas que teriam efeitos
consideráveis sobre o funcionamento das instalações dos clientes. A cultura zairense,
responsável em parte por essas dificuldades, também permite as soluções encontradas pelo
CP. De fato, é preciso uma grande tolerância da sociedade industrial, para que as extensas
relações do CP sejam toleradas, tanto no interior da empresa, onde são numerosas suas
comunicações horizontais e diagonais com os membros de outros departamentos de
funcionamento exterior à sua unidade de produção, quanto com os membros de outros
departamentos da empresa. E mais, as comunicações com os motoristas de caminhões-
tanques de outras empresas são notáveis pela qualidade e pela extensão.
Langa também evidenciou a facilidade, a qual dispõe o CP, para reter os
trabalhadores muito além dos horários normais de trabalho. Mas, por outro lado, ele aceita
que os trabalhadores estejam ausentes, no mais das vezes sem prevenir (pois não dispõem
de telefone), para cumprirem deveres sociais urgentes, como o de participar de funerais em
sua aldeia, cerimônias estas que podem durar três dias e nas quais a ausência de um membro
da família seria considerada uma ruptura com a família e a etnia. Naturalmente, o chefe da
unidade precisa de um profundo conhecimento das regras sociais e de seu grau de exigência
real, para gerenciar essas relações informais e não se deixar enganar.
4.4 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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BRADLEY, G. E.; HENDRICK, H.W. Human factors in organizational design and
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CAPÍTULO 5

ERGONOMIA E PROJETOS INDUSTRIAIS


A interação dos preceitos desenvolvidos pela Ergonomia e sua evolução até a
Antropotecnologia no gerenciamento de Projetos Industriais constitui-se no objetivo
deste livro. Neste sentido, o presente capítulo apresenta alguns princípios básicos da
Ergonomia, relacionando a compreensão de critérios relativos à saúde e critérios
relativos à produtividade na análise da atividade de trabalho. Explicita-se, também,
aspectos do desenvolvimento habitual de projetos industriais, com suas diferentes
etapas e atores envolvidos. Finalmente, aborda o ponto de vista ergonômico da gestão
destes projetos, bem como o papel que o ergonomista pode assumir neste processo.

5.1. A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Uma situação de trabalho pode ser descrita como um confronto de um indivíduo, que
tem suas próprias características e aspirações, a objetivos e meios de trabalho socialmente e
tecnologicamente determinados, conforme esquematizado na figura 5.1. Desta forma, pode-
se colocar em evidência que, os mesmos objetivos e meios de trabalho, alocados a diferentes
pessoas, constituirão diferentes situações de trabalho, traduzindo-se conseqüentemente, por
diferentes desempenhos e por diferentes efeitos sobre os indivíduos.

Figura 5.1. A situação de trabalho

Esta consideração da diversidade dos indivíduos, constitui-se em um dos pontos


fundamentais da Ergonomia. Freqüentemente, a análise ergonômica do trabalho levanta
importantes dificuldades, provocadas pela concepção dos meios de trabalho que não levam
em consideração esta diversidade.

5.1.1. Variabilidade individual

Pode-se abordar a questão da variabilidade individual em dois níveis:

- Variabilidade intra-individual
Neste nível, procura-se evidenciar as possíveis modificações do estado do indivíduo,
tanto a curto como a longo termo.

* A curto termo (modificação do estado instantâneo):


- efeitos do trabalho (fadiga...);
- ritmos biológicos;
- gravidez;
- efeito dos incidentes da vida.

* A longo termo:
- envelhecimento biológico;
- marcas do trabalho;
- treinamento e experiência;
- efeito dos incidentes da vida.
-Variabilidade inter-individual
Neste nível, procura-se evidenciar as possíveis variações biológicas de qualificação,
de condições de vida e de personalidade.

* Características biológicas gerais:


- antropometria;
- sexo;
- lateralidade (destro x canhoto);
- diversidade do estado das diferentes funções (ex: visão das cores, estado articular...);

* Diferenças inter-individuais ligadas à formação e à história profissional;

* Diferenças inter-individuais ligadas às condições de vida: relação entre as condições de


vida no trabalho e as condições de vida fora do trabalho (ex: trabalho doméstico, alojamento,
transporte, ...);

* Características eminentemente individuais da estrutura da personalidade (efeitos da


história pessoal) e suas conseqüências sobre a relação no trabalho, a saúde e os projetos de
vida.

- Consideração da variabilidade pela Ergonomia


A Ergonomia visa à adaptação dos meios de trabalho à maioria da população de
trabalhadores potenciais (5% e 95%). Ela procura evitar uma concepção dos meios de
trabalho que possa levar à exclusão, explícita ou implícita, de numerosos trabalhadores
potenciais. Uma tal seleção se traduz, na realidade, por dificuldades de emprego para alguns
trabalhadores e por perdas de potencialidades e de experiência pela empresa. A diversidade
dos trabalhadores deve, então, ser colocada em relação com a relativa unicidade dos meios
de trabalho.
Neste sentido, a Ergonomia busca:
* Caracterizar esta variabilidade inter e intra-individual quando da concepção de
meios de trabalho;
* Favorecer a introdução, na concepção dos meios de trabalho, de elementos flexíveis
que permitam a adaptação à maioria da população;
* Se for o caso, tratar por meios específicos diferenças extremas, que não podem ser
levadas em conta nas soluções gerais (paraplégicos graves, por exemplo).
Tendo em vista a diversidade das formações, das aprendizagens e das experiências,
a Ergonomia procura contribuir com a implantação de meios que favoreçam um
desenvolvimento contínuo das competências dos trabalhadores.

5.1.2. A determinação dos meios de trabalho

Segundo a visão contingencial das organizações, os meios de trabalho podem ser


socialmente ou tecnologicamente determinados, em função do contexto no qual eles estão
inseridos.

- Meios de trabalho socialmente determinados

Os objetivos, os meios e as condições de execução do trabalho são, em grande parte,


determinados por instâncias exteriores ao trabalhador. Segundo o caso, estas instâncias
podem ser ou não identificadas com pessoas em particular. No caso de uma micro, pequena
ou média empresa, por exemplo, a dimensão da cadeia hierárquica permite, em geral,
identificar de forma mais precisa a origem das prescrições do trabalho. Já em uma grande
empresa, a definição dos meios de trabalho é um processo particularmente complexo, que
exige a participação, por exemplo, do Departamento Comercial, da Engenharia de Métodos,
da Direção, da Gerência e Supervisão da Produção...
Todavia, em ambos os casos, existe uma influência importante de elementos externos
à empresa, tais como o estado do mercado e da concorrência, as normas e regulamentos
legais e o tecido industrial. Destaca-se que, mesmo em se tratando do trabalho artesanal,
ainda que não exista uma hierarquia que prescreva o trabalho a ser executado, pode-se
considerar que os objetivos são também especificados aos artesãos por instâncias externas a
ele. Por exemplo: as normas de qualidade e os prazos de produção são impostos pelo
mercado.
Entretanto, a definição dos meios de trabalho não é, inteiramente, determinada pelas
condicionantes econômicas ou técnicas. As relações sociais, em nível da empresa, do setor,
da região e até do país, têm uma influência considerável na determinação dos meios de
trabalho.
Assim sendo, pode-se concluir que a organização da produção é um compromisso
instável, cotidianamente reconstruída por diferentes atores, suscetível de sofrer evoluções
progressivas, crises e modificações consideráveis.

- Meios de trabalho tecnologicamente determinados

A evolução tecnológica modifica de forma considerável, a organização e os meios


de trabalho. De fato, pode-se observar que, a evolução do trabalho artesanal para o trabalho
industrial, deveu-se, sobretudo pela introdução da máquina à vapor e da mecanização do
trabalho. Segundo Bertrand Gille (1981), passamos do reino da ferramenta para o reino da
máquina. Da mesma forma, passamos de uma organização informal do trabalho para uma
organização taylorista do trabalho.
Com a introdução da micro-eletrônica e da informática nos sistemas de produção,
ocorre novamente uma considerável mutação do mundo do trabalho. O homem, cada vez
menos interfere diretamente sobre os meios de trabalho. Ele desenvolve suas atividades
através de interfaces.

5.1.3. Noção de tarefa

A tarefa é o que o trabalhador deve realizar e as condições sócio-técnicas e


organizacionais desta realização. É um objetivo a ser atingido.
De fato, a tarefa é um objetivo prescrito ao trabalhador por instâncias externas a ele.
Em certos casos, essa prescrição é extremamente fina e formalizada, constituída a partir da
consideração de uma certa gama de métodos. Então, não somente objetivos globais são
fixados ao trabalhador, mas também procedimentos que ele é obrigado a seguir, exatamente
como pré-estabelecidos, para atingir os objetivos prefixados.
Em outros casos, a prescrição é materializada nos meios de trabalho:
* deslocamento automático de um produto;
* encadeamento automático das telas de um software.
Enfim, a prescrição pode ser relativamente global:
* objetivos de produção definidos sobre longos períodos;
* pouca definição de objetivos intermediários;
* critérios de qualidade pouco precisos.
Segundo Poyet (1990), pode-se considerar três diferentes níveis de tarefa: prescrita,
induzida e atualizada.
− A tarefa prescrita

Trata-se do conjunto de objetivos, procedimentos, métodos e meios de trabalho, fixados


pela organização para os trabalhadores. É o aspecto formal e oficial do trabalho, isto é, o que
deve ser feito e os meios colocados à disposição para a sua realização.

* A tarefa induzida ou redefinida

É a representação que o trabalhador elabora da tarefa, a partir dos conhecimentos que ele
possui das diversas componentes do sistema. É o que o trabalhador pensa realizar. Pode-se
falar, neste caso, em tarefa real ou efetiva.

* A tarefa atualizada

Em função dos imprevistos e das condicionantes de trabalho, o trabalhador modifica a


tarefa induzida às especificidades da situação de trabalho, atualizando, assim, a sua
representação mental referente ao que deveria ser feito. Esta distinção da tarefa, em três
níveis, é importante porque permite, ao analista, compreender as distâncias que,
normalmente, existem entre a definição formal e oficial daqueles que concebem o trabalho
e as representações `deformadas` que o trabalhador elabora. De fato, a simples consideração
destas distâncias, na análise ergonômica do trabalho, evidencia as diferenças entre a
abordagem ergonômica e a abordagem taylorista do trabalho.

Uma das contribuições essenciais da ergonomia é de introduzir uma nítida distinção


entre tarefa nos seus diversos níveis e as atividades desenvolvidas pelo trabalhador. Neste
sentido, suas análise coincide com a análise das condições nas quais o trabalhador
desenvolve suas atividades de trabalho.

5.1.4. Noção de atividade de trabalho - Aspecto central da abordagem ergonômica

A atividade de trabalho é a mobilização total do indivíduo para realizar a tarefa que


é prescritas. Trata-se, então, da mobilização das funções fisiológicas e psicológicas de um
determinado indivíduo num determinado momento. O estudo da atividade de trabalho é o
centro da abordagem ergonômica. É a compreensão das principais características da
atividade de trabalho que permite à Ergonomia elucidar, de um lado, certos efeitos do
trabalho sobre a saúde daqueles que o executam e, de outro lado, certas características do
desempenho, constituída pelo resultado do trabalho.
A figura 5.2 esquematiza o controle, pelo sistema nervoso central, das tomadas de
informações e das ações. Trata-se de um primeiro nível de descrição da atividade, ligada a
uma abordagem fisiológica e psicológica.

Figura 5.2. Controle das tomadas de informação e das ações.


INCLUIR, AO INVÉS DE MÁQUINAS, MATERIAL
- MEIOS DE TRABALHO:
- FERRAMENTAS,
- MÁQUINAS,
-PROCEDIMENTOS,
- MANUAIS.
/
Esta primeira descrição permite evidenciar que a observação pode ser realizada sobre
as atividades musculares, sejam elas orientadas no sentido de ação, da preparação para a
ação, ou ainda, da comunicação. Todavia, a atividade de trabalho não pode ser
exclusivamente reduzida a esta atividade muscular. A atividade de comando e controle do
sistema nervoso central é sempre subjacente à atividade muscular, ainda que não seja, por
natureza, observável diretamente.
A Ergonomia não aceita a designação corrente de que o trabalho operário é
exclusivamente manual. Ao contrário, a Ergonomia coloca em evidência a atividade
cognitiva desenvolvida em qualquer tipo de trabalho, desde aquele considerado como
estritamente manual até, em um outro extremo, ao trabalho analisado como somente
intelectual, como exemplo, de certas tarefas ditas repetitivas a tarefas complexas de
programação de computadores.
Destaca-se que, do ponto de vista do tratamento ergonômico, o tratamento humano
da informação não é do tipo behaviorista, somente determinado pelo esquema sinal-resposta.
Deve-se considerar também, as seguintes características:
* a pesquisa ativa de informação, guiada pela experiência;
* a antecipação do resultado esperado de uma ação, antes da mesma ser realizada;
* o controle do resultado real em relação ao resultado esperado.
Estas características do tratamento humano da informação são ligadas a estruturas do
sistema nervoso, apresentando, então, um caráter incontornável. Todavia, os conhecimentos
atuais do homem não permitem fazer uma relação direta simples entre as características do
pensamento e da ação, com as estruturas neurofisiológicas superiores.
Por outro lado, este nível de descrição da atividade humana, é insuficiente para
evidenciar sua organização. A compreensão dos objetivos intermediários visados por um
indivíduo, de suas intenções, da interpretação que ele faz dos eventos que ocorrem, de sua
atividade de planificação, exigem uma descrição da atividade humana num nível mais
elevado.
Para evidenciar estes aspectos da atividade dispõe-se:
* dos elementos observáveis da atividade, levantados nos seus desenvolvimentos
dinâmicos;
* das verbalizações do sujeito, compreendendo verbalizações espontâneas durante o
trabalho, suas comunicações com outras pessoas, ou ainda, comentários que ele é levado a
fazer pelo observador, durante o trabalho ou após o mesmo.
Neste sentido, Pinsky e Theureau (1987) propuseram estudar o curso da ação de um
sujeito em atividade, isto é, "um comportamento consciente (ao menos em parte),
intencional, planificado, socialmente controlado (ou dirigido) e significativo para o sujeito
em situação de trabalho".
Esta abordagem é, particularmente, importante quando se trata de estudar uma
atividade onde a planificação da ação tem um caráter complexo, tal como tarefas múltiplas,
interrupções, caráter aleatório do aparecimento de certos eventos, incerteza sobre os
objetivos a atingir ou sobre os meios de atingi-los.
Os métodos desenvolvidos a partir deste objetivo teórico, permitem descrever uma
atividade complexa, não como uma justaposição indiferenciada de atividades elementares,
mas como uma organização de diferentes cursos de ações e de eventos, tendo cada qual uma
significação para o indivíduo. Em seguida, é possível, a partir do estudo de vários cursos de
ações e de eventos vizinhos, identificar situações de ação características. Esta noção é
particularmente importante numa problemática de concepção de uma situação de trabalho.

5.1.5. Relações entre atividade de trabalho, saúde e desempenho


A maneira de trabalhar, denominada modo operativo, desenvolvida pelo trabalhador,
é sempre um compromisso que leva em consideração:
* os meios de trabalho: máquinas, equipamentos, ferramentas, manuais,
procedimentos;
* os objetivos do trabalho: normas, padrão de qualidade, quantidade de produtos a
serem produzidos;
* os resultados produzidos segundo a informação de que dispõe o trabalhador: nível
de produtividade alcançada;
* o estado interno deste trabalhador: nível de agressão ao seu estado de saúde.
O modo operativo varia, então, em função destes diferentes dados, para que a
produção seja assegurada em quantidade e qualidade, conforme estabelecido pela
Engenharia de Produção, sem que ocorra efeitos nefastos sobre o estado interno da saúde do
trabalhador.

Figura 5.3.a Situação de trabalho

Figura 5.3.b Situação de trabalho com condicionantes


Fonte: Guerin et all (1991)

A figura acima mostra, esquematicamente, uma situação de trabalho desta natureza.


Todavia, pode ocorrer que nenhum dos modos operativos empregados permita satisfazer este
conjunto de fatores.
Neste sentido, segundo as condicionantes da situação de trabalho, o trabalhador pode
encontrar-se entre duas situações extremas:
* Uma situação sem condicionantes, representada por baixa carga de trabalho
(conforme figura 5.4), onde os índices de alerta relativos a seu estado interno podem
conduzi-lo a modificar os objetivos ou os meios de trabalho para evitar agressões à sua saúde.
Como exemplo pode ser colocado o trabalho do tipo artesanal.

Figura 5.4. Situação de trabalho sem condicionantes


(ou com condicionantes controladas pelo operador).
Fonte: Guerin et all (1991).

* Uma situação de fortes condicionantes, com alta carga de trabalho, onde não é
possível agir sobre os objetivos ou sobre os meios de trabalho. Como exemplo apresenta-se
o trabalho em linhas de montagem. Nestes casos, a evolução da situação de trabalho pode
ser considerada em dois momentos:
- Num primeiro momento, os objetivos fixados pela Engenharia de Produção
poderão ser alcançados a um custo extremamente elevado para o trabalhador,
através de modificações de seu estado interno, que podem provocar agressões à sua
saúde (figura 5.5).

Figura 5.5. Situação de trabalho com fortes condicionantes


(Os objetivos fixados são alcançados com modificações do estado interno)
Fonte: Guerin et all (1991).
- Num segundo momento, o trabalhador não consegue mais atingir os objetivos
fixados, qualquer que seja o modo operativo empregado, excedendo sua capacidade
de regulação no trabalho (figura 5.6).

Figura 5.6. Situação de trabalho com fortes condicionantes


(Os objetivos fixados não são mais alcançados)
Fonte: Guerin et all (1991).

Esta descrição da inte-relação entre os diversos mecanismos que contribuem na


elaboração dos modos operativos, embora superficial, permite precisar alguns aspectos:
* Não existe uma relação direta entre desempenho alcançado e o custo deste para o
trabalhador. Esta relação depende da medida na qual a elaboração do modo operativo leva
ou não em conta as modificações do estado interno do operador.
* O fato de que os objetivos fixados não possam mais ser alcançados, senão a um
custo de modificações importantes do estado interno do trabalhador, deve sempre ser
considerado como um indício de alerta, não somente para a sua saúde mas também para a
produção. É provável que pequenas mudanças na situação de trabalho sejam suficientes para
que os objetivos não possam mais ser atingidos. Salienta-se que esta constatação servirá de
base para a discussão do item seguinte, sobre as relações entre critérios de saúde e critérios
de produtividade.
* A noção de carga de trabalho pode ser interpretada como a margem de manobra
que o trabalhador dispõe, num determinado momento, e que lhe permite alcançar os
objetivos preestabelecidos.
* O objetivo da análise ergonômica do trabalho é colocar em evidência a natureza
dos compromissos que intervêm na elaboração dos modos operativos pelos trabalhadores e
de identificar como esses compromissos possam vir a fracassar, atingindo a saúde dos
trabalhadores e/ou a produção.
É preciso assinalar que os mecanismos reais são de uma complexidade muito maior
do que a formalização proposta pelas figuras anteriores, tendo em vista, particularmente, a
superposição de fenômenos com escalas de tempo diferenciadas. Estes fenômenos podem
ser representados pela organização instantânea da atividade e pela planificação a médio e
longo prazo, efeitos instantâneos sobre o estado interno, efeitos a médio prazo e influência
do passado sobre o estado atual. Além disso, intervêm igualmente componentes a longo
prazo tais como perspectivas de evolução e projetos de vida, cuja descrição não diz respeito
à análise ergonômica do trabalho.

5.1.6. Critérios de saúde e critérios de produtividade

A intervenção ergonômica na concepção dos meios de trabalho responde, em geral,


a duas exigências: melhoria das condições de trabalho (critério de saúde) e melhoria da
eficácia econômica do sistema produtivo (critério de produtividade). Pode-se acrescentar
ainda uma orientação de caráter geral, no sentido do desenvolvimento da competência dos
trabalhadores.
A gestão da convergência, ou da divergência, destes objetivos é um problema
constantemente colocado à Ergonomia, que deve analisá-lo nos seus diferentes aspectos.
Nos sistemas de produção de massa (por exemplo, linha de produção), a relação é
relativamente direta entre a quantidade de trabalho efetuada pelos trabalhadores e a produção
obtida. Nestes casos pode ocorrer, pelo menos na análise de curto prazo, que os critérios de
saúde e os critérios de produtividade apresentem-se nitidamente contraditórios.
Nos sistemas de produção fortemente automatizados não existe relação de
proporcionalidade entre o trabalho humano e a produção. Em tais sistemas, o trabalho
humano desenvolve um papel essencial de prevenção e de resolução de incidentes de
funcionamento. A produtividade dependerá, principalmente, das dificuldades encontradas
pelos trabalhadores para desenvolver este papel.

1. Aspectos convergentes

Contribuem para a convergência dos critérios de saúde e os aspectos de


produtividade, são os seguintes:
* Dificuldades encontradas pelos trabalhadores para assegurar a qualidade e a
quantidade dos produtos produzidos;
* Dificuldades para manter os prazos de entrega dos produtos;
* Dificuldades para responder à variabilidade das demandas dos clientes;
* Dificuldade para recrutar e/ou manter pessoal qualificado;
* Exclusão de trabalhadores experientes (perda de experiência);
* Absenteísmo e turn-over;
* Degradação das instalações;
* Problema de segurança, notadamente para a população em geral e o meio-ambiente.

2) Aspectos divergentes

Contribuem para a divergência dos critérios de saúde e os aspectos de produtividade,


são os seguintes:
* Efeitos sobre a saúde do trabalhador, somente a longo prazo, sem conseqüência
imediata para a empresa;
* Vários custos que não atingem diretamente a empresa (seguridade social,
aposentadoria por invalidez, custo do desemprego, ...);
* Critérios clássicos de gestão que não evidenciam todos os custos das condições de
trabalho.

3. Ergonomia e critérios de gestão

Em certos casos, a Ergonomia pode ser levada a evidenciar incidências econômicas


de problemas ligados às condições de trabalho, que não aparecem normalmente na
contabilidade gerencial da empresa. A Ergonomia não tem, todavia, a possibilidade de cifrar
os "custos indiretos não contabilizados", mas pode solicitar uma avaliação precisa da área
de custos.
Os casos mais clássicos são aqueles onde um desempenho julgado insuficiente pode
ser relacionado com as dificuldades encontradas pelos trabalhadores, devido aos seguintes
pontos:
* à política de gestão de estoques (falta de abastecimento, dificuldades de estocagem
ou de evacuação, ...);
* à planificação da produção (estabelecimento dos ciclos de produção, apresentação
das diferentes alternativas, ...);
* à política de manutenção (curativa ou preventiva, durante a produção ou fora da
produção, ...);
* à política de gestão da qualidade (critérios analíticos ou globais, retorno de
informações sobre os defeitos, ...);
* à gestão do pessoal (rotações freqüentes ou turnos fixos, efeitos das qualificações
formais sobre as relações entre os postos, ...);
* aos critérios de avaliação da produção: por exemplo, uma seção é julgada sobre o
número total de peças produzidas ou apenas sobre o número de peças boas? Da mesma
forma, o período de Operação Piloto de uma nova instalação é debitado na conta da empresa
que realizou o projeto ou da empresa contratante ?
* às estruturas de circulação e de tratamento da informação: tempo levado pela
empresa para obter uma modificação do produto ou das máquinas, tendo em vista as
diferentes fontes de informação sobre as dificuldades de fabricação, de manutenção e a
ausência de retorno de experiência após a Operação Piloto de uma nova unidade (em vista
de novos projetos).
A intervenção ergonômica poderá, em certos casos, chegar a definição de novos
indicadores de gestão, mais próximos do funcionamento real da instalação ou do serviço.

4. A posição da Ergonomia

Devido à dualidade de seus critérios de intervenção, a Ergonomia, quando aplicada


a um projeto industrial, é levada a assumir duas posições complementares:
* De um lado, ela trabalha na direção de uma convergência entre os critérios de saúde
e os critérios de produtividade, sempre que isto for possível, discutindo a validade de
critérios de gestão muito distantes da realidade da empresa.
* Por outro lado, quando os critérios de saúde aparecem nitidamente divergentes dos
critérios de produtividade, não cabe à Ergonomia estabelecer um compromisso. Seu objetivo
é de explicitar estas divergências e de fornecer métodos que permitam avaliar, para cada
solução possível, suas vantagens e inconvenientes a curto, médio e longo prazo, do ponto de
vista da atividade de trabalho, da performance previsível e da saúde.
A definição dos compromissos diz respeito, então, às estruturas de negociação,
dentro e fora da empresa (pessoal, direção, CIPA, sindicatos, DRT, ...), que podem integrar
o ponto de vista ergonômico sobre a atividade de trabalho.

5.2. DESENVOLVIMENTO HABITUAL DE PROJETOS INDUSTRIAIS

5.2.1. Definição de projetos industriais

Projetos industriais representam um conjunto de atividades interdisciplinares, finitas


e não repetitivas que visam alcançar um determinado objetivo com cronograma e orçamento
preestabelecidos (Casarotto Filho et all, 1992). Os conceitos embutidos nessa definição
pressupõem o envolvimento, num processo dinâmico, de especialistas em várias áreas do
conhecimento humano, com atividades desenvolvendo-se em uma relação que pode ser
linear e/ou paralela.
Destaca-se existir uma grande diversidade de projetos industriais. Alguns referem-se
à construção, resultando em instalações completamente novas, outros constituem-se na
renovação total ou parcial de máquinas e equipamentos. Há, ainda, aqueles que dizem
respeito a somente um dos vários aspectos da administração, tais como, centralização,
automação ou informatização, sem modificar as instalações.

5.2.2. Os atores de um projeto industrial

O empreendedor é a figura principal em um projeto pois é dele a responsabilidade


das decisões mais importantes, tais como, definição dos objetivos, contratação de técnicos,
decisão de investir, controle e pagamento de todo o processo. No serviço público trata-se,
por exemplo, de um órgão de governo municipal, estadual ou federal, ou ainda de uma
empresa estatal. Numa pequena empresa, trata-se do empresário, que normalmente é o
próprio presidente da empresa. Numa grande empresa, devido à delegação de poderes, pode
tratar-se da direção geral ou de uma direção industrial.
A Engenharia Consultiva possui as atribuições relacionadas com o gerenciamento e
os resultados do projeto, respeitando os objetivos explicitados pelo empreendedor. No
campo técnico, pode tratar-se da direção técnica da empresa ou de uma sociedade externa
(empresa de engenharia consultiva ou escritório de estudos técnicos).
Outros atores importantes de um projeto industrial:
* Departamento de produção;
* Departamento de processo de fabricação;
* Departamento de manutenção;
* Departamento de pessoal;
* Serviço de segurança do trabalho

Pode-se mencionar também os atores externos à empresa:


* Os fornecedores (de serviço e de equipamentos, ...);
* Os escritórios de controle (encarregados de verificar se todas as máquinas e
equipamentos estão conforme as especificações);
* Os poderes públicos ( DRT, Controle do meio-ambiente, Corpo de Bombeiros...)

5.2.3. As etapas de um projeto industrial

Com relação ao gerenciamento de projetos industriais, pode-se encontrar uma grande


diversidade de modalidades. Alguns grupos industriais possuem uma Engenharia Consultiva
integrada, outros utilizam-se de empresas de consultoria externa ou confiam os projetos
industriais aos próprios escritórios de estudos e projetos; outros, enfim, subcontratam uma
parte dos estudos de seus projetos a seus fornecedores de máquinas e equipamentos.
A diversidade encontra-se também nos critérios que influenciam, de maneira capital,
as etapas de desenvolvimento de um projeto industrial:
* a dimensão do projeto a ser desenvolvido;
* o custo do projeto;
* a localização do projeto a ser implantado;
* o caráter técnico do projeto;
Pode-se, em geral, distinguir as fases de um projeto industrial conforme constante na
figura 5.7., descrito detalhadamente a seguir.

Figura 5.7. Etapas de um Projeto Industrial

1) Estudos preliminares: anteprojeto

O empreendedor, baseado em relatórios econômicos, financeiros, comerciais e


técnicos, deseja realizar um estudo de viabilidade de um determinado projeto. Para isto, ele
contrata a Engenharia Consultiva para efetuar os estudos preliminares.
Desses estudos, o empreendedor recolhe, além da viabilidade técnica, os balanços
globais e as condições gerais de sucesso do empreendimento. Esses elementos, que definem
os objetivos gerais, são reunidos num Caderno de Encargos chamado, freqüentemente, de
Anteprojeto. Os estudos preliminares são efetuados por uma pequena equipe, normalmente
um chefe de projeto e alguns engenheiros especialistas em tempo parcial.
Esses estudos têm por finalidade levantar os parâmetros do empreendimento
industrial, que conduzem à alternativa ótima, e devem compreender os seguintes termos de
referência:
* Estudo de mercado, visando definir produtos, fatias de mercado e condições de
comercialização;
* Estudo de localização adequada do empreendimento;
* Definição da tecnologia a ser utilizada e caracterização do processo produtivo;
* Definição preliminar do investimento com precisão, neste estágio, da ordem de
80%;
* Projeções de produção, vendas, receitas e custos;
* Projeções de índices financeiros;
* Características de produtividade, de consumo de matéria-prima ou de energia;
* Uma primeira idéia do prazo global de implantação do empreendimento;
* Detalhes dos objetivos técnicos fixados para os estudos de Engenharia Básica.
* Estudo ambiental.

O custo dos estudos preliminares é habitualmente negligenciável em relação ao


montante do investimento representando, normalmente, um custo inferior a 0,5%. Esses
estudos são, em geral, altamente confidenciais e não se apresentam sob a forma de um único
relatório, mas como um acúmulo de notas técnicas solicitadas a diversos especialistas.

2) Os estudos de base: a Engenharia Básica

A partir dos estudos preliminares, o empreendedor retém uma ou várias proposições,


que lhe são apresentadas, e fixa as condições de sucesso no programa destinado à Engenharia
Consultiva.
O empreendedor pode decidir então efetuar os estudos de Engenharia Básica. Neste
estágio, desenvolvem-se as decisões mais importantes, tendo em vista as condições de
discussão nas escolhas de concepção, que são as mais favoráveis:
* o engajamento das despesas é ainda moderado;
* o escritório de estudos é ainda flexível;
* a globalidade do projeto é ainda perceptível.
A Engenharia Básica apresenta-se como particularmente importante por ser nesta
etapa que ocorre a decisão de investir. Por esta razão, considera-se que geralmente 30% dos
projetos industriais não têm seqüência a partir dos estudos de Engenharia Básica.
A Engenharia Básica representa o trabalho de uma pequena equipe, normalmente um
chefe de projeto, alguns engenheiros em tempo integral e, eventualmente, alguns
desenhistas. Seu custo atinge de 1 a 3% do montante do investimento.
Esta etapa normalmente abrange:
* Definição exata das características do(s) produto(s);
* Engenharia conceitual, definindo a concepção da planta industrial em termos de
meios de produção e dos objetivos fixados;
* Projeto básico de engenharia, definindo procedimentos, sob a forma de esquemas
de princípios, fluxogramas de produção e os parâmetros de cada equipamento ou conjunto
de equipamentos de um processo produtivo;
* Arquitetura do sistema de apresentação da informação e do controle do processo;
* Relação do material selecionado: especificação de máquinas e equipamentos;
* Avaliação do custo do empreendimento, com precisão de cerca de 85%-90%;
* Prazo de implantação do empreendimento: primeira definição do cronograma
físico/financeiro por tipo de tarefa a ser executada;
Os estudos de base devem conter, também, uma definição esquemática da
implantação das instalações (leiaute da planta); os balanços de materiais e de energia;
transporte de materiais; diagramas de tubulações unifilares e de instrumentação; bem como
a definição das características dos sistemas de utilidades.
A partir desses estudos e da decisão do empreendedor de realizar o investimento, a
Engenharia Consultiva estabelecerá os Cadernos de Encargos, que servirão de linha diretiva
aos estudos de detalhe e à aquisição de máquinas e equipamentos.

3) Os estudos de detalhe: Engenharia de Detalhamento

A decisão de investir foi tomada. A partir deste momento, iniciam-se os estudos de


detalhe, cujo objetivo é aprofundar as opções definidas anteriormente e estabelecer técnicas
de execução, visando definir os meios de trabalho num nível de precisão que permita sua
implantação.
A Engenharia de Detalhamento caracteriza-se por uma extrema divisão do trabalho
entre numerosas especialidades. Normalmente, um chefe de projeto, vários engenheiros
especialistas em tempo integral (mecânico, eletricista, civil, de produção, de segurança do
trabalho,.), técnicos em instrumentação hidráulica, em refrigeração e ar condicionado,
desenhistas, ...
Os resultados dos estudos de detalhe compreendem:
* Os documentos finais para a licitação de cada lote técnico;
* Redação das especificações detalhadas dos equipamentos, das instalações
(elétricas, hidráulicas, etc) e seus materiais;
* Definição completa do sistema de comando e controle: arquitetura e
funcionalidade do sistema, número e função das unidades periféricas, modalidades de
diálogo, apresentação da informação (notadamente quadros sinóticos e monitores de vídeo),
definição dos alarmes, estocagem e base de dados, ...;
* Definição detalhada da interligação de máquinas e equipamentos, desenhos de
montagem, projetos arquitetônicos e de construção civil, cálculos estruturais, elétricos,
hidro-sanitários, ar condicionado, ventilação, entre outros;
* Estimativa detalhada dos custos do empreendimento, por fatura para os
equipamentos e por medição para as redes atingindo uma precisão da ordem de 95%;
* Definição do prazo da implantação do projeto: cronograma detalhado de cada etapa
da implantação do projeto industrial.
Os estudos de Engenharia de Detalhe caracterizam-se por uma considerável
documentação, composta de alguns milhares de páginas digitadas, centenas de plantas e
planos de detalhe, a um custo que pode chegar a 10% do montante do investimento.

4) Engenharia de Compras

A partir das especificações definidas nos estudos de Engenharia Básica e de


Engenharia de Detalhamento torna-se possível realizar uma pesquisa de mercado junto aos
fabricantes e fornecedores de máquinas e equipamentos, para definir os modelos mais
convenientes ao projeto industrial em questão.
Nestes casos, ocorrem variações de preços, de qualidade, de prazos de entrega, de
riscos e outros aspectos que devem ser levados em consideração, quando da realização das
licitações. Deve-se procurar sempre conjugar os aspectos técnicos com os aspectos
econômicos e financeiros da compra de um determinado equipamento. Por outro lado, a
Engenharia de Compras envolve também a aquisição de todos os suprimentos necessários às
instalações industriais.
Esta é a fase da elaboração dos cadernos técnicos que definem todos os
procedimentos e especificações dos processos licitatórios.

5) Montagem e implantação do projeto: o canteiro de obras

A etapa de montagem e implantação do projeto, também chamada Engenharia de


Construção e Montagem, é a materialização do que foi concebido teoricamente nas etapas
anteriores.
Esta etapa, que se abre após a seleção dos fornecedores e instaladores e da emissão
dos pedidos correspondentes, costuma ser sucedânea às etapas de Engenharia de
Detalhamento e de Engenharia de Compras. Enquanto alguns lotes estão sendo detalhados,
outros estão sendo licitados e outros, ainda, já estão sendo montados no canteiro de obras.
Em se tratando da modernização de uma instalação industrial ou de um serviço
existente, a atividade das várias empresas que executam as obras e a montagem dos
equipamentos interfere, de forma considerável, com a produção normal da empresa.

6) Operação piloto: os ensaios e a colocação em marcha

Esta fase caracteriza-se pela transferência gradativa de responsabilidade pois, à


medida em que os diversos setores vão sendo concluídos, são entregues aos responsáveis da
empresa. Após montagem completa, os materiais instalados são testados, segundo
procedimentos mais ou menos formalizados e, em seguida, ocorre a colocação em marcha
de toda a instalação. É a fase de partida das máquinas, em que a planta é testada, até que a
produção atinja o funcionamento previsto pelo projeto (funcionamento nominal) ou, ao
menos, um funcionamento considerado como estabilizado.
Nesta etapa, são consumidos recursos materiais, tais como matérias-primas e energia,
e produzidos os produtos em fase de teste, quando então são analisados:
* a performance dos equipamentos;
* o desempenho dos recursos humanos;
* a qualidade dos produtos.

7) Projeto organizacional

Antes da colocação em marcha da instalação, é necessário definir a estrutura


organizacional do novo empreendimento. Neste sentido, é de fundamental importância a
definição de um projeto organizacional que estabeleça o organograma e a necessidade de
recursos humanos para cada setor da empresa.
Normalmente é estabelecida uma política de contratação e de treinamento de pessoal,
tanto administrativo quanto operacional. Da mesma forma, nesta etapa, são estabelecidos os
horários, as equipes, os turnos e a organização do trabalho, em nível de cada posto, de cada
seção e do empreendimento em geral. São definidas, ainda, as formas de recepção de posto
de trabalho, chamadas "profissiogramas", que estabelecem as qualificações exigidas de cada
trabalhador, para cada posto de trabalho a ser ocupado.
A participação da Ergonomia, nesta etapa, é fundamental tanto na definição do plano
de formação do pessoal, como na definição da organização do trabalho.

8) Gerenciamento da implantação de um projeto industrial


A finalidade da gerência da implantação do projeto é a de permitir a integração dos
atores envolvidos, nas diversas etapas do empreendimento, desde os estudos preliminares de
engenharia até à construção e montagem industrial.
Assim sendo, o gerenciamento de todo processo de implantação compreende a
organização da equipe da empresa, que fiscalizará a implantação, o planejamento e o
controle de todas as etapas de execução do projeto, de modo que o empreendimento atinja
os objetivos fixados pelo empreendedor.
As etapas apresentadas aqui são aquelas que normalmente aparecem na maioria dos
projetos industriais de uma empresa de médio porte. Quando a dimensão do projeto é de
maior porte ou quando recursos públicos são envolvidos (construção de uma usina
hidreléctrica, por exemplo), ou ainda, quando as empresas de engenharia fazem referências
a seus próprios procedimentos, a divisão utilizada pode ser ainda mais detalhada.
A correspondência é aproximadamente àquela apresentada na figura 5.7

* Estudos preliminares * Anteprojeto sumário


* Engenharia Básica

* Engenharia de Detalhamento * Anteprojeto detalhado


* Especificações técnicas detalhadas
* Plano de execução de obras
* Relatório de consulta das empresas

5.2.4. Características habituais dos projetos industriais

Algumas características observadas na maioria dos projetos industriais, gerenciados


de maneira tradicional, serão destacadas e discutidas a seguir.
Os objetivos do empreendedor são definidos, essencialmente, em termos técnicos e
econômicos: os custos/benefícios do empreendimento, a produção e as normas de qualidade
são definidos de forma precisa. Em contrapartida, poucas referências são feitas sobre as
características previstas da organização do trabalho ou sobre as mudanças de relação sociais
que são desejáveis, quando da implantação do projeto.
O empreendedor impõe, freqüentemente, não somente objetivos, mas também
soluções técnicas. Neste sentido, ele fecha antecipadamente o leque das possibilidades
tecnológicas e organizacionais, a partir das quais uma resposta global poderá ser elaborada
pela Engenharia Consultiva.
Normalmente sempre há uma Engenharia Consultiva, claramente designada,
encarregada da concepção das instalações aos espaços e locais de trabalho. Todavia, é
menos evidente saber quem estabelece a organização do trabalho e a formação aos
trabalhadores.
A Engenharia Consultiva pode, às vezes, ser levada a subcontratar parte do projeto a
outras empresas de consultoria. Nestes casos, o acompanhamento do projeto, para manter a
sua coerência, pode tornar-se extremamente complicado.
Em vários casos, observa-se um desaparecimento do empreendedor, tendo em vista
que, a partir da definição dos objetivos gerais, é a Engenharia Consultiva quem controla as
obras e avalia o resultado final.

5.2.5. Avaliação do gerenciamento tradicional de projetos industriais


Lapeyrière (1987), enumera algumas características dos projetos industriais, por ela
consideradas, como obstáculos ao bom andamento do mesmo. Salienta que os diferentes
atores envolvidos podem apresentar interesses diversos, convergentes ou divergentes,
levando a escolhas que desconsiderem os futuros usuários. Outra questão citada refere-se ao
recorte temporal e à segmentação do projeto. A repartição de papéis entre os atores pode
levar ao trabalho isolado de cada um, dificultando a comunicação entre os mesmos e a
conseqüente validação de cada etapa. A conseqüência pode ser a constatação tardia de
problemas, quando a solução é impossível ou muito dispendiosa.
Maire et all (1988), salientam que os métodos tradicionais de gerenciamento de
projetos apresentam muitos méritos, porém, falham porque sua abordagem não é global.
Tratam somente de uma parte dos problemas colocados para um projeto, os problemas
técnicos e econômicos. Argumentam, como exemplo, que de nada valem instalações técnicas
perfeitas se elas não são adaptadas às características físicas e cognitivas dos trabalhadores.
Os mesmos autores definem algumas características discutíveis dos projetos
industriais, quais sejam:
* Uma certa limitação nos objetivos dados à equipe responsável pelo projeto. Essa
limitação refere-se à aplicação, especificando que o objetivo do projeto não se pode reduzir
à disposição das instalações teoricamente operacionais, mas compreender a atenção ao
funcionamento nominal. Refere-se também, à extensão, na qual a confiabilidade técnica é
necessária, mas não suficiente para assegurar a capacidade real de produção da empresa.
* Uma certa insuficiência de meios de análise e concepção, referindo-se à falta de
consideração das características do trabalho que será realmente efetuado pelos operadores
das futuras instalações.
* Uma separação muito importante das funções de concepção e de operação, ao
considerar uma repartição de papéis onde freqüentemente os futuros usuários não podem
opinar na concepção das instalações. Os responsáveis pela concepção decidem sem o ponto
de vista dos usuários e, normalmente, não têm o retorno das informações sobre o
funcionamento, após a posta em marcha.
Como coloca Wisner (1987a), a concepção de uma nova fábrica gera a necessidade
de previsão das superfícies a construir, máquinas a comprar, pessoal a contratar em função
da produção esperada. Para isso, deve-se prever o conjunto do dispositivo e, particularmente,
o volume do trabalho necessário para cada categoria de trabalhador. Observa ser muito
freqüente que a precisão das situações do trabalho repouse em estudos equivocados, como
dados de um fornecedor que subestimou grosseiramente as exigências do dispositivo técnico
que vendeu. A conseqüência disso é que, para que os dados de fabricação, quando da posta
em marcha, correspondam ao esperado, é preciso forçar os fatos de produção a corresponder
às previsões.
Guerin et all (1991) reforçam essa colocação pois encontram que os responsáveis
pela concepção dos meios de trabalho apresentam uma visão equivocada do trabalho real
dos trabalhadores. Normalmente, os mesmos são levados a minimizar a variabilidade dos
sistemas técnicos, a diversidade e complexidade dos serviços a serem efetuados, ou a
acreditar que esta variabilidade é totalmente previsível e controlável.
É nesse contexto que os autores citados inserem a ergonomia, especificamente a
metodologia da análise ergonômica do trabalho. Guerin et all (1991) acreditam que "a análise
do trabalho permitirá a retificação dessas representações simplistas do homem" na medida
em que, como afirma Wisner (1987a), "sendo uma abordagem do trabalho real, a ergonomia
aparece então como o instrumento de medida da distância entre o trabalho prescrito e o
trabalho real". Enfim, Lepeyrière (1987), considera que a ergonomia pode favorecer o
diálogo entre os diferentes atores envolvidos, trazendo um aporte de substância e coerência
ao desenvolvimento de projetos industriais.
5.3. A ERGONOMIA E A GESTÃO DE PROJETOS INDUSTRIAIS

5.3.1. Considerações ergonômicas sobre o gerenciamento de projetos industriais

O gerenciamento de projetos industriais é um campo de estudo da engenharia, mais


especificamente da engenharia de produção industrial. Todavia, a Ergonomia pode
contribuir neste campo de estudos no que se diz respeito à análise das dificuldades
encontradas pelos trabalhadores ou pela empresa após a Operação Piloto de novas
instalações. Esta análise os coloca, freqüentemente, frente à maneira como foram tomadas
as decisões relativas aos diferentes meios de trabalho.
Algumas metodologias de gerenciamento de projetos aparecem, assim, mais
suscetíveis de levar em consideração, de forma preventiva, os fatores humanos relativos a
problemas ligados à atividade a ser desenvolvida pela futura população de usuários ou de
trabalhadores.
Atualmente, o gerenciamento de projetos tem sido objeto de várias publicações (ver
referência bibliográfica). Algumas destas publicações, apesar de não fazerem referência
específica à Ergonomia, revelam pontos comuns que serão analisados em detalhe na
seqüência deste livro, como por exemplo:
* Interesse na análise da realidade das situações existentes;
* Interesse numa definição "enriquecida" dos objetivos do projeto;
* Reflexão sobre o interesse e os métodos da “participação" dos futuros "usuários";
* Reflexão sobre a distribuição das responsabilidades entre os responsáveis do
projeto e da produção, para o acompanhamento da operação piloto.
Assim sendo, solicitada a intervenção de um especialista em Ergonomia sobre a
estrutura e o conteúdo do gerenciamento do projeto, ele é levado a propor a seguinte
abordagem:
* Analisar o desenvolvimento previsto do projeto em questão, as condicionantes de
tempo, a repartição de tarefas entre os diferentes responsáveis e, às vezes, analisar a atividade
dos projetistas, para propor métodos os mais apropriados possíveis, tendo em vista o
desenvolvimento real do projeto;
* Procurar, progressivamente, influenciar o próprio desenvolvimento do projeto, para
introduzir mais precocemente as análises e recomendações próprias ao campo da Ergonomia.

5.3.2. considerações dos aspecto humanos no gerenciamento de projetos industriais

Os fracassos de inúmeros projetos de automação ou de informatização industrial têm


levado as empresas a desenvolver uma reflexão mais global sobre o gerenciamento dos
projetos industriais, procurando elaborar metodologias de desenvolvimento de projetos que
levem em consideração a atividade humana no trabalho. Dentre as diferentes correntes que
contribuem a esta reflexão, é preciso assinalar a importância das metodologias de inspiração
sócio-técnica.
Neste item, serão apresentadas as principais características dos métodos de
gerenciamento de projeto, os mais compatíveis com os objetivos e com os métodos próprios
da Ergonomia. O Capítulo 6 estabelecerá as contribuições específicas da Ergonomia em
relação a estes métodos.
Neste sentido, as considerações que serão apresentadas a seguir, aparecem então
como condições favoráveis, às vezes até necessárias, a uma intervenção ergonômica no
gerenciamento de um projeto industrial.
1. A primeira consideração refere-se à necessidade de definição clara dos objetivos
do projeto por parte do empreendedor. Métodos são propostos para que se obtenha detalhes
desses objetivos, além dos resultados esperados, em termos de quantidade e qualidade de
produção. Deve ser solicitado ao empreendedor que defina objetivos relativos:
* à população que será empregada na futura unidade. Por exemplo: o empreendedor
pode desejar a manutenção da população existente, um rejuvenescimento da pirâmide de
idade, a introdução de novas competências, enfim, ele pode aproveitar a oportunidade para
implantar um plano de formação (reciclagem, reconversão profissional,...) que contribua no
aumento e solidificação das atuais competências dos trabalhadores, etc;
* à organização do trabalho futuro: uma modificação dos meios de produção pode
ser a ocasião para a introdução de mudanças significativas na organização da empresa. Neste
sentido, é necessário que, desde o início do projeto, a reflexão da Engenharia Consultiva
considere também os efetivos, a repartição das tarefas, os níveis de qualificação, a
polivalência, os horários de trabalho, etc. Neste estágio, não se trata de obter respostas
precisas, mas de explicitar os campos e as direções nas quais evoluções são desejáveis, tendo
em vista a situação atual da empresa e uma projeção da situação futura;
*às condições de execução do trabalho, por exemplo: o ambiente físico ou químico,
os esforços no posto de trabalho, as condicionantes de tempo. É fundamental que o
empreendedor desde o início do projeto defina, a partir dos conhecimentos que ele tem das
condições de execução nas instalações existentes, quais não devem ser repetidas nas futuras
instalações;
* ao desenvolvimento do projeto: o empreendedor pode querer aproveitar a ocasião
do desenvolvimento do projeto para modificar a repartição das tarefas entre os serviços de
concepção e de operação, para instaurar novos procedimentos de informação e de consulta,
das diversas instâncias hierárquicas.

É claro que esta definição dos objetivos por uma pessoa física, representando o
empreendedor, será profundamente influenciada pelas informações que, porventura, ele
possua sobre a situação já existente e pelas tensões existentes na empresa para provocar sua
evolução. Estas informações podem ser representadas, por exemplo, por relatórios dos
diferentes departamentos, intervenção dos representantes do pessoal e por sugestões de
especialistas externos.

2. A segunda consideração comum destes métodos de gerenciamento de projeto, é


que eles não se referem, desde o início do projeto, apenas a aspectos técnicos e econômicos,
mas também aos aspectos humanos, em particular sobre a organização do trabalho e a
formação. Pode-se considerar que o gerenciamento de projetos diz respeito explicitamente
a cinco campos bem definidos:
* Definição dos locais e espaços de trabalho (Capítulo 10);
* Definição dos equipamentos e instalações (Capítulo 11);
* Definição dos softwares e das ajudas ao trabalho (Capítulo 12);
* Definição da organização do trabalho (Capítulo 13);
* Definição dos programas de formação e das fichas de recepção de posto de trabalho
(Capítulo 14).

3. Destaca-se que a ampliação dos objetivos do projeto por parte do empreendedor,


se por um lado melhora a sua substância, por outro lado não contribui necessariamente para
a sua coerência. Aparece, então, a necessidade de um acompanhamento do projeto, por parte
de representantes do empreendedor, sobretudo quando se tem diferentes consultorias para os
campos definidos anteriormente.
Assim sendo, deve ser designado desde o estágio dos estudos de Engenharia Básica
e, às vezes, mesmo desde os estudos preliminares de engenharia, um coordenador de
gerenciamento do projeto. Este será encarregado de garantir, ao longo do desenvolvimento
do projeto, a coerência das respostas obtidas aos objetivos inicialmente fixados pelo
empreendedor. Uma das práticas mais correntes é designar como coordenador de
fiscalização do projeto o futuro responsável da instalação.
O coordenador de gerenciamento do projeto é o interlocutor privilegiado do controle
da obra. Em projetos de grande porte, pode constituir-se uma equipe de gerenciamento do
projeto por ele coordenada. A Engenharia Consultiva tem seu próprio coordenador de
gerenciamento do projeto.

4. Os métodos de gerenciamento de projeto, que fazem referência à abordagem


sociotécnica, assinalam a necessidade de uma intervenção dos trabalhadores envolvidos nas
várias etapas dos estudos e da montagem industrial. Este aspecto será discutido no Capítulo
9.

5. O papel do empreendedor, por intermédio do coordenador de gerenciamento do


projeto, é também reforçado no estágio de controle das obras de montagem e da colocação
em marcha das instalações.

5.3.3. Análise dos diversos setores de uma empresa envolvidos num projeto industrial

Normalmente, o gerenciamento de projetos industriais não apresenta as cinco


características levantadas anteriormente. Para possibilitar a introdução, nesse tipo de
processo, de métodos e resultados próprios da Ergonomia, torna-se necessário influenciar,
de forma progressiva, os métodos tradicionais de gerenciamento de projeto.
Neste sentido, uma análise das características e das condicionantes próprias de cada
setor envolvido no projeto revela-se indispensável. Alguns pontos de referência, que deverão
ser reavaliados em função das características específicas de cada empresa, são apresentados
nos tópicos seguintes.

1. Engenharia do produto
* extrema divisão do trabalho;
* vários problemas técnicos a resolver;
* fortes condicionantes de tempo;
* definição estratégica do produto é, às vezes, elementar;
* critérios de "sucesso" mal definidos;
* separação geográfica e organizacional em relação à produção;
* formação de pessoal de produto é, às vezes, essencialmente técnica, sem nenhum
conhecimento prévio dos usuários finais.

2. Engenharia de Processos: Engenharia de Métodos e Engenharia de Segurança do


Trabalho
* extrema divisão do trabalho entre especialistas de diversas áreas. Qual é o nível de
controle das técnicas empregadas?
* objetivos do empreendedor não foram bem estabelecidos;
* muitas vezes os critérios de avaliação final são implícitos, apesar do respeito ao
cronograma físico financeiro da obra;
* respeito às várias leis e normas regulamentares da implantação de um
empreendimento industrial;
* multiplicidade de interlocutores mas pouco acesso à realidade da produção;
* enorme quantidade de documentos de trabalho;
* planificação das tarefas, que são constantemente modificadas;
* existe algum especialista com formação em Ergonomia ?

3. Serviços autorizados de atendimento aos consumidores (pós-venda, assistência técnica,


representantes, concessionários)
* quantidade enorme de informações sobre as dificuldades encontradas pelos
clientes, informações muitas vezes não formalizadas, dispersas;
* status de pouca importância na empresa dos serviços autorizados; pouca
consideração na elaboração de um projeto ou de um reprojeto.

4. Os serviços sociais (Departamento de Pessoal, Serviço Social, Relações empresariais,


etc)
* problema da projeção do estado da população e das relações sociais no interior da
empresa num horizonte de 5 a 10 anos;
* eventualmente, noção de "desenvolvimento social";
* poucos esforços são dispensados, em termos de estudos, para abordar esses
problemas;
* serviços cujo papel é geralmente de intervir nos conflitos;
* pregnância da regulamentação e das convenções coletivas de trabalho;
* ausência de conhecimentos técnicos sobre a produção;
* disciplinas habitualmente tomadas como referência: Psicologia Diferencial,
Psicossociologia, Direito do Trabalho, raramente Sociotécnica e, muito raramente,
Ergonomia.

5. Serviço de medicina do trabalho


* papel legal: garantir a integridade da saúde da população de trabalhadores e opinar
a respeito em projeto industriais de grande porte;
* qual o grau de conhecimento que a Medicina do Trabalho tem sobre as condições
da produção da situação existente ?
* quais as competências sobre as técnicas de produção ?
* quais as relações com as diversas instâncias da empresa ?
* nível de conhecimento em Ergonomia?
* limite da participação do médico do trabalho na concepção dos meios de trabalho:
papel de "protetor" da saúde dos trabalhadores, que o limita a estabelecer certos
compromissos.

6. Engenharia de produção, gerência e operação


O termo "operação" é ambíguo porque designa tanto a gerência e os supervisores
como os trabalhadores das linhas de produção, ou de produção e manutenção, os quais têm
competências e condicionantes diferenciadas. Utilizaremos o termo "operação" para
designar o "conjunto constituído da produção e da gestão técnica das instalações".

* diversidade das estruturas da gerência e da supervisão;


* diversidade do papel da manutenção em relação à produção:
- quais relações estruturais ?
- qual ligação hierárquica da manutenção ?
* qual o conhecimento da novas técnicas que serão introduzidas pelo projeto ?
* qual o nível de informação sobre desenvolvimento do projeto ?
* quais meios estão disponíveis para acompanhar o desenvolvimento do projeto ?
* divisão delicada de tarefas, durante a Operação Piloto, entre as pessoas da produção
e as pessoas do projeto;
* importância do papel da supervisão e de seu conhecimento sobre o funcionamento
cotidiano das instalações.

7. Serviços de representação do pessoal (CIPA, Delegado Sindical, Sindicatos, etc)


* representantes com mandatos, definidos e reconhecidos em lei;
* disponibilidade limitada por acordo, sobre o tempo de delegação;
* qual o nível de informação sobre o andamento do projeto?
* qual a formação técnica dos representantes ?
* qual o conhecimento em Ergonomia ?
* responsabilidade das organizações sindicais em elaborar uma posição em relação
às informações fornecidas pelo empreendedor e em relação à estrutura do projeto:
diversidade de posições;
* diferença de posição entre as intervenções dos representantes do pessoal e as
intervenções dos próprios trabalhadores (ver capítulo 10);
* problemas de coordenação entre as diferentes instâncias de negociação;
* multiplicidade dos problemas a serem tratados;
* eventualmente, peso desigual das diferentes categorias de representação do pessoal;
* complexidade dos embates relativos a emprego/salário/condições de trabalho.

8. Análise estratégica
Quando se trata de introduzir, em um projeto industrial, métodos específicos da
Ergonomia, o responsável pelo gerenciamento do projeto deve efetuar uma análise
estratégica, segundo o modelo proposto pela Análise Ergonômica do Trabalho, na etapa
Análise da Demanda.
Destaca-se que a intervenção ergonômica em sucessivos projetos, numa mesma
empresa é, sem dúvida, um quadro favorável para a evolução progressiva dos métodos de
gerenciamento de projetos industriais.

5.3.4. O campo de intervenção da Ergonomia - A posição do ergonomista

As intervenções da Ergonomia durante o desenvolvimento do projeto serão


diferenciadas segundo a posição que o profissional de Ergonomia ocupa na estrutura do
gerenciamento do projeto industrial. Pode-se, assim, distinguir quatro situações, quais sejam,
consultoria de um especialista em Ergonomia ao empreendedor, à Engenharia Consultiva,
aos representantes do pessoal e às instâncias de negociação.

1) O ergonomista consultor do empreendedor

O ergonomista pode ser considerado como um consultor do empreendedor quando,


por exemplo, ele é ligado à Direção Geral ou quando ele é membro do grupo de projeto
formado pela direção da empresa.
Neste caso, ele pode influenciar na definição dos objetivos iniciais do projeto,
analisar os prováveis efeitos das diferentes soluções propostas nos estudos preliminares de
Engenharia, levantar argumentos sobre os custos não evidentes de determinadas definições,
etc. O profissional de Ergonomia desenvolve um papel de representante do trabalho real, que
não deve ser confundido com o papel desempenhado pelos representantes dos trabalhadores.
Nesta posição, o ergonomista deve assumir as condicionantes próprias das primeiras
fases do projeto, em termos confidenciais, e assumir sozinho os casos onde suas
recomendações não são levadas em conta.
Durante o estudo de Engenharia de Detalhamento, a posição do ergonomista dentro
do grupo de gerenciamento do projeto lhe permite assegurar a coerência das considerações
das atividades futuras, nos cinco campos definidos anteriormente. Ele pode, em particular,
intervir sobre as questões relativas à formação e à organização do trabalho. Suas
intervenções junto aos projetistas estão sob a coordenação do chefe de gerenciamento do
projeto.

2) O ergonomista consultor da Engenharia Consultiva

O profissional de Ergonomia é, nesta situação, membro do serviço de Engenharia de


Produção ou de uma empresa de Engenharia Consultiva que assegura a execução da obra.
Quando o controle da obra é executado internamente na empresa, ele pode
desempenhar um papel próximo ao do item anterior. Quando se trata de uma consultoria
externa, o ergonomista é relativamente mal colocado para influenciar nos objetivos iniciais
do projeto e para intervir sobre a organização do trabalho e sobre os programas de formação.
Em contrapartida, em qualquer situação, ele pode auxiliar a Engenharia Consultiva
no detalhe da concepção dos locais de trabalho e dos equipamentos, de forma, muitas vezes,
mais fina e mais precoce que o consultor do empreendedor.

3) O ergonomista consultor dos representantes do pessoal

As organizações sindicais e as comissões internas de prevenções de acidentes


utilizam-se, cada vez mais, de consultores especialistas em Ergonomia para substanciar as
negociações relativas à melhoria das condições de trabalho e, sobretudo, à introdução de
novas tecnologias.
É preciso distinguir o caso em que a intervenção ergonômica foi objeto de um acordo
entre a direção da empresa e dos representantes do pessoal daquele em que o ergonomista
serve de consultor unicamente dos representantes do pessoal, ou dos responsáveis sindicais.
Neste segundo caso, ele pode influenciar o desenvolvimento do projeto somente pela
formação e pelas recomendações que ele fornece a estes representantes, em vista de suas
intervenções nas instâncias habituais da empresa.

4) O ergonomista consultor das instâncias de negociação

Cada vez mais, os representantes do pessoal e a direção da empresa estão acordando


sobre a necessidade da presença de um ergonomista, consultor externo, a fim de que ele
intervenha no desenvolvimento de um projeto industrial.
Seu papel consiste em fornecer, às instâncias de negociação, uma visão sobre as
questões ergonômicas advindas das decisões técnicas e organizacionais, que são tomadas
durante o desenvolvimento do projeto. Ele contribui na instrução das decisões que serão
tomadas, a partir de uma reflexão sobre a atividade futura, e pode propor caminhos para a
transformação. Mas, após o relatório sobre as suas recomendações, em caso de desacordo
significativo entre as partes, ele não intervém nas negociações que se seguem.
Tendo em vista o desenvolvimento temporal de um projeto industrial e do número de
questões a serem tratadas, estruturas como a CIPA são, muitas vezes, pouco apropriadas para
acompanhar a evolução do processo em tempo real.
O ergonomista pode, então, propor a implantação de uma estrutura ad-hoc (grupo de
acompanhamento), composto de representantes do pessoal e de responsáveis da empresa,
mais especificamente encarregada do acompanhamento de sua intervenção e onde serão
tratados todos os pontos que são polêmicos. As questões que levantam maiores polêmicas
são, evidentemente, discutidas nas instâncias legais de negociação.

5.4. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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d'Organisation, 1977.

BRUMENT, J.M.; MAIRE,F. Guide process. Montrouge (France): Anact, 1987.

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GUÉRIN, F., LAVILLE, A., DANIELLOU, F., DURAFFOURG, J, KERGUELEN, A.


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1990.

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LORIG, J. Méthodologie participative en ingénierie de détails. Le travail humain, Paris,


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MAIRE, F.; BRUMENT, J. M. Conduite de projet industriel. Paris: Les Éditions


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RABIN, R., CHRISTOL, J., PORNIEN, J.-L. L'ergonomie au service de la conception


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RAZERA, D.L. Uma abordagem metodológica para avaliar a relação entre condições
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Éditions d’organisation, 1985.

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Gênesis, 1995.

WISNER, A. A quel homme le travail doit-il être adapté? Paris: CNAM/Laboratoire


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__________. Por dentro do trabalho. Ergonomia: método e técnica. São Paulo: FTD/
Oboré, 1987.
CAPÍTULO 6

METODOLOGIA ANTROPOTECNOLÓGICA - O
GERENCIAMENTO ERGONÔMICO DE PROJETOS INDUSTRIAIS
A abordagem antropotecnológica, baseada no gerenciamento ergonômico de projetos
industriais, desenvolveu-se a partir de dois tipos de informações: aquelas relativas ao local
importador da tecnologia e aquelas relativas ao próprio funcionamento da tecnologia. Este
último conjunto de informações é oriundo da análise das atividades desenvolvidas pelos
trabalhadores na situação de trabalho existente, anterior à introdução das novas tecnologias,
e nas situações de trabalho com tecnologia semelhante, utilizadas como referência.

6.1. AS PRINCIPAIS DIRETRIZES DA ABORDAGEM ANTROPOTECNOLÓGICA -


GERENCIAMENTO ERGONÔMICO DE PROJETOS INDUSTRIAIS

Algumas diretrizes básicas são propostas com o objetivo de nortear esta abordagem
quando do desenvolvimento dos projetos industriais:
1) A Ergonomia propõe a introdução de métodos visando antecipar as principais
características da atividade real dos trabalhadores, a fim de permitir a concepção de meios
de trabalho que as levem em consideração.
2) A Ergonomia distingue-se de outras áreas que participam da concepção dos meios
de produção, tendo em vista os seguintes pontos:
- A contribuição da Ergonomia não tem caráter prescritivo ou normativo quanto aos
procedimentos utilizados pelos trabalhadores. A Ergonomia não procura definir como os
trabalhadores devem trabalhar, contribui apenas no sentido de que os meios de trabalho lhes
permitam elaborar modos operativos, graças aos quais os objetivos fixados serão atingidos,
sem que isto se traduza por condições desfavoráveis à saúde.
- A contribuição da Ergonomia baseia-se em conhecimentos científicos sobre o
funcionamento fisiológico e psicológico do homem em atividade de trabalho. A Ergonomia
propõe um ponto de vista específico, diferente e complementar a outros pontos de vista que
habitualmente são apresentados nos processos de concepção.
- Enfim, considerando os resultados obtidos em vários estudos realizados em vários
setores da atividade humana, a Ergonomia é particularmente atenta às questões relativas à
variabilidade industrial, freqüentemente subestimada pela Engenharia de Produção. Esta
variabilidade intervirá, de forma decisiva, nas determinantes do trabalho futuro.
3) A Ergonomia, quando procura adaptar os meios de trabalho à atividade dos
trabalhadores, enfrenta sempre um paradoxo incontornável: a atividade desenvolvida
depende diretamente dos próprios meios de trabalho. Assim sendo, uma modificação nos
meios de produção se traduzirá por uma modificação da atividade de trabalho. A atividade
não é, então, transponível diretamente quando de uma modificação dos meios de trabalho.
A reflexão sobre a atividade futura provável deverá se dar em outras bases.
4) A Ergonomia evidencia que é impossível antecipar a atividade futura em todos
os seus detalhes: o que se pode determinar é o espaço de forma possível da atividade futura
provável. Por exemplo, numa instalação existente que será modernizada, as mesmas peças
serão produzidas a partir das mesmas matérias-primas, mas sobre novas máquinas. A análise
das atividades dos trabalhadores, na instalação existente, permite evidenciar como eles
detectam certos desvios das matérias-primas e como eles os levam em consideração. O que
é transponível à futura instalação não é a maneira como os trabalhadores praticam na situação
existente as correções, mas a existência de uma variabilidade das matérias-primas e certas
características da tomada de informação sobre o estado das peças ou do tratamento específico
que os trabalhadores efetuam sobre as peças que devem ser refugadas. Assim sendo, a
Ergonomia permite evidenciar uma ação tipo: controlar as peças na entrada. Esta ação tipo
é orientada no sentido de um objetivo, o qual é transponível, somente enquanto objetivo, ao
futuro sistema.

6.2. ETAPAS DA METODOLOGIA

A metodologia de análise proposta comporta cinco etapas, conforme esquematizado


na figura 6.1. São elas: análise da situação local, análise de situações de referência, projeção
do quadro de trabalho futuro, reconstituição da atividade futura provável e, finalmente
análise da atividade real. Trata-se, de fato, de precisar as etapas conceituais e não de definir
as modalidades práticas de sua implantação.
Neste sentido, numa primeira etapa, procede-se à coleta e análise de informações
sobre o local de transferência da tecnologia, buscando determinar aspectos relevantes para o
desenvolvimento do projeto industrial.
Na segunda etapa, a análise das atividades de trabalho na situação de referência
permite o levantamento de determinantes destas atividade e das estruturas significativas da
ação.
A terceira etapa, consiste em projetar o quadro futuro. Este quadro resulta de três
elementos:
. da população futura (Capítulo 7), conseqüência das decisões tomadas no que diz respeito à
política de pessoal (seleção, recrutamento, formação);
. do quadro técnico e organizacional, que resulta das decisões tomadas pelas diversas áreas
envolvidas na concepção e especificação de máquinas e equipamentos;
. das determinantes da atividade futura, reveladas pela análise de situação de referência e/ou
induzidas pelas normas ou procedimentos estabelecidos pela Engenharia de Produção.
A quarta etapa (Capítulo 8) é uma tentativa de reconstituição previsível da atividade
futura provável, permitindo estabelecer um prognóstico, isto é, avaliar a possibilidade para
os trabalhadores de colocar em funcionamento modos operativos eficazes, respeitando as
suas condições de saúde no trabalho. Salienta-se que as etapas 3 e 4 estão em interação
progressiva com o processo de concepção, convergindo numa decisão de realização.
Finalmente, a quinta etapa, é a análise das atividades, em situação real de trabalho,
já devidamente implantada, primeiro em operação piloto e, em seguida, em operação
nominal estabilizada.
Figura 6.1. Etapas conceituais da metodologia antropotecnológica.
Fonte: Adaptada a partir de Daniellou, 1985.
6.2.1. Análise da situação local de transferência

Nesta etapa procura-se fazer um reconhecimento inicial da situação local, a partir


da análise de vários aspectos do país importador da tecnologia e, particularmente, do local
de implantação do empreendimento. As informações podem advir de fontes de pesquisa
locais, nacionais e mundiais, através da documentação existente, de consulta a especialistas
e ainda de visitas ao próprio local de implantação.
Os dados climáticos, geográficos e antropológicos podem ser encontrados junto às
instituições especializadas (Institutos de meteorologia, Institutos Geográficos, etc). Já os
dados sobre aspectos patológicos ou nutricionais da região, bem como condições gerais de
vida e trabalho, podem ser coletados junto aos escritórios oficiais como OIT (Organização
Internacional do Trabalho), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), OMS
(Organização Mundial de Saúde), entre outros. Os PDI geralmente apresentam essas
informações de forma mais organizada, todavia o mesmo não ocorre na maioria dos PVDI,
onde a carência de dados pode dificultar a pesquisa.
Recomenda-se que a análise dos diversos fatores que intervêm no processo de
evolução da industrialização de um país, seja feita considerando, minimamente, os aspectos
referentes à nação, à empresa e à família. É assim que uma doença profissional, um acidente,
um salário mais elevado, um melhor estado nutricional, um nível mais elevado de
competência técnica, relacionam-se de maneira diferente às três categorias, de acordo com
o sistema fiscal e social do país.
Procura-se estabelecer uma relação dos dados sobre a situação local, que podem ser
considerados em estudos de cunho antropotecnológico, destacando-se que estas são
informações adicionais às análises econômicas normalmente realizadas (Wisner, 1981):
1. Dados político-econômicos: nível de renda média; tendência evolutiva de renda;
repartição da renda nacional entre consumo, investimento local e remuneração do capital
estrangeiro; distribuição entre as categorias da população da renda nacional consagrada ao
consumo, políticas governamentais referentes aos setores produtivos e relações externas.
2. Dados sócio-culturais e antropológicos: grau de urbanização (cidades e
aglomerações urbanas); nível de instrução (alfabetização, desenvolvimento do ensino
técnico, secundário e superior); orientação de instrução para as formações técnicas e
econômicas ou literárias e jurídicas; antigüidade das atividades artesanais e indústriais;
formação étnica da sociedade e seus costumes.
3. Dados geográficos e demográficos: geografia física (abalos sísmicos, variações
climáticas, regime de águas, topografia, condições do solo); geografia humana (dados
antropométricos, índices de saúde e nutrição); geografia energética, dos transportes e das
comunicações, geografia sanitária e geografia industrial.
4. Dados sobre as condições de trabalho:
. No sentido restrito: segurança do trabalho, doenças profissionais, carga de trabalho físico
e mental, condições de ambiente físico; relações entre o dispositivo técnico, a gerência e a
direção da empresa; duração e horários de trabalho.
. No sentido amplo: emprego e sua estabilidade; desemprego; salário bruto; salário social
(seguridade social, aposentadoria, seguro desemprego, auxílios de moradia, transporte..);
vantagens sociais relativas à empresa (auxílio moradia, refeições e alimentação familiares,
medicina do trabalho e familiar, transporte, escolarização); liberdades sindicais e políticas.
Assim, de uma maneira geral, a noção básica desta etapa é a de que as situações
desfavoráveis que poderão ser encontradas em estudos antropotecnológicos só poderão ser
analisadas a partir do exame da empresa inserida no seu ambiente regional e nacional, e de
acordo com a conjuntura econômica predominante na época considerada.
A heterogeneidade dos PVDI, a diversidade das situações conforme as regiões de um
mesmo país, as exigências particulares de cada ramo industrial, a tecnologia escolhida, a
história da empresa e de sua região, são fatores que se combinam de maneira diversa em
cada caso. Neste sentido, a metodologia de abordagem não é única, pois deve ser proposta a
partir de cada situação.

6.2.2. Análise de situações de referência

Nesta etapa torna-se evidente a utilização da ergonomia, na medida em que se busca,


através da análise ergonômica do trabalho, em situações análogas àquela estudada, levantar
as dificuldades existentes para, então, otimizar a utilização dos recursos envolvidos e o
funcionamento das instalações.
Nesta fase, então, a partir da análise das dificuldades encontradas em situações
industriais similares, denominadas situações de referência, compara-se, de maneira global e
em nível de postos de trabalho, as tarefas prescritas e as atividades desenvolvidas e busca-
se conhecer as razões de diferenças importantes entre o funcionamento real e o previsto.
A situação de referência deve, com a maior precisão possível, caracterizar em
detalhes a atividade buscada. Seu objetivo é permitir uma descrição da variabilidade
industrial envolvendo variações de demanda, de fornecedores, de produtos, de processos e
suas conseqüências sobre a atividade.

1) A escolha das situações de referência

A escolha da situação (ou situações) de referência depende de critérios que envolvem


a natureza do setor industrial em questão. Pode-se buscar a pesquisa de situações relativas à
matéria prima e processos de fabricação, à tecnologia e à população que conduzirá o futuro
sistema.
No caso da modernização de uma instalação existente, tratar-se-á, em primeiro lugar,
da própria situação atual, tal como ela se encontra. Entende-se, neste caso, que os mesmos
produtos serão fabricados com as mesmas matérias primas, pelos mesmos trabalhadores,
porém com sistema de produção diferente. Nesta situação, é possível colocar em evidência
determinantes da atividade ligadas à variabilidade das matérias-primas, das demandas dos
clientes, etc. Da mesma forma, pode-se recolher informações sobre as características da
população atual, antes de abordar sua evolução. De uma maneira geral, pode-se abordar três
aspectos:

* aspectos que desaparecerão com a modernização;


* aspectos que permanecerão apesar da modernização;
* novos aspectos que provavelmente aparecerão com a modernização.

Deve-se procurar, também, situações de referência onde já são empregados certos


equipamentos, máquinas ou mesmo softwares, análogos àqueles que são previstos pelo
projeto. Essas situações podem ser encontradas numa outra unidade da mesma planta
industrial, numa outra planta do mesmo grupo, ou ainda numa outra empresa (por exemplo,
um cliente do mesmo fornecedor).
Em casos específicos de transferência de tecnologia entre países, Wisner (1981 e
1984b,) coloca três situações que podem ser consideradas: uma planta instalada no país
vendedor, uma planta do mesmo tipo funcionando em outra região do país comprador ou
uma planta de tecnologia semelhante existente no país comprador.
A análise da planta localizada no país vendedor busca, além de evidenciar todas as
condicionantes impostas pela tecnologia escolhida, a compreensão do funcionamento real
do sistema produtivo, de forma mais aprofundada do que aquela que, normalmente, é
estabelecido pelas prescrições da Engenharia de Métodos. A falta de conhecimento por parte
do nível gerencial das empresas de como os trabalhadores do nível operacional agem, para
permitir o funcionamento das instalações, é considerada uma fonte de problemas nos PIDs,
que tende a agravar-se em casos de transferência. Deve-se, ainda, dedicar especial atenção à
identificação de aspectos que possam estar comprometendo as condições de trabalho na
situação analisada, a fim de permitir a sua correção na situação transferida.
Uma planta do mesmo tipo daquela a ser exportada e que funciona em uma outra
região do mesmo país é, evidentemente, um modelo particularmente interessante, mesmo se
certos aspectos geográficos e antropológicos são diferentes. Poderá ser analisado em que
medida o sistema produtivo original e, sobretudo, seu modo de utilização foi transformado
e quais são as conseqüências destas mudanças sobre a saúde dos trabalhadores, sua
estabilidade, a quantidade e a qualidade da produção. É recomendável que este seja um
estudo comparativo, realizado após a análise da situação no país vendedor.
No caso em que não exista no país comprador uma planta do mesmo tipo daquela a
ser transferida, a análise de um sistema produtivo localizado, se possível, na mesma região
do projeto e que utilize uma tecnologia semelhante àquela prevista, pode fornecer
informações importantes para o diagnóstico. Busca-se, nesta situação, observar de que
maneira o meio original foi modificado pela instalação da planta e de seu sistema social,
como são organizados e utilizados os sistemas de transporte, alojamento, serviços médicos,
alimentação. Da mesma forma procura-se levantar como ocorre na planta, não só o
funcionamento, mas também a manutenção das instalações e quais são as soluções que os
responsáveis encontraram para assegurar a adaptação do sistema produtivo ao local.
Com relação à implantação de uma nova tecnologia de fabricação, a questão é um
pouco mais complicada por não existir uma situação similar já em funcionamento. Nesse
caso, a sugestão é de que proceda-se à análise com os trabalhadores que conduzem os ensaios
de laboratório que geraram a nova tecnologia. Salienta-se, também, que raramente ocorre a
transposição direta do laboratório à indústria, sendo usual a instalação de unidades piloto
para testes e ensaios que servirão como situação de referência.
De forma mais específica, em qualquer dos casos, enfatiza-se a necessidade de buscar
situações de referência suscetíveis de revelar determinantes da atividade futura,
principalmente ligadas à:
• às características da população futura (competência dos trabalhadores);
• às futuras matérias-primas;
• aos futuros produtos e subprodutos;
• às futuras máquinas, métodos e processos (a organização do trabalho e as tecnologias a
serem empregadas);
• às relações com a entrada e a saída dos clientes;
• às futuras fontes de energia;
• ao ambiente geográfico e climático, ao tecido industrial, aos aspectos sociais e culturais.
É possível que a procura das situações de referência, relativas às futuras máquinas ou
processos, não seja possível no início dos estudos de Engenharia de Detalhamento, quando
as decisões ainda não foram tomadas. Todavia, na medida em que diferentes possibilidades
são apresentadas, pode-se iniciar a análise de situações de referência, justamente no
momento mais importante, quando então as escolhas serão feitas em bases mais concretas.

2) O desenvolvimento da análise de situações de referência

Segundo os procedimentos escolhidos, esta análise poderá ser efetuada pelo


profissional de Ergonomia, pelo grupo gerenciamento do projeto designado pelo
empreendedor, ou ainda, pelos grupos de trabalho designados pela Engenharia Consultiva.
Em função das condicionantes de tempo, dos meios disponíveis e da maior ou menor
semelhança com a situação prevista no projeto, as diversas situações de referência possíveis
serão objeto de uma análise ergonômica mais ou menos detalhada, podendo compreender:
* Uma ou várias visitas e/ou entrevistas com a direção/gerência/supervisão e com os
trabalhadores dos serviços envolvidos.
* Grupos de trabalho formais com estas pessoas.
* Técnicas "anátomo-patológicas" (observação dos "cadáveres" das máquinas, dos
rejeitos, dos refugos...).
* Análise de traços documentados do funcionamento da instalação ou do serviço:
relatórios da direção, da gerência, da supervisão, da representação dos trabalhadores, das
CIPAs, da medicina do trabalho, dos CCQs; balanços da quantidade e da qualidade da
produção; documentos relativos a incidentes, acidentes e manutenção; sobre a evolução da
população (histórico profissional e sua formação).
* Análise detalhada da atividade dos trabalhadores nos diversos postos de trabalho
da situação de referência, feita por um profissional de Ergonomia, conforme metodologia de
Análise Ergonômica do Trabalho.

3) Os resultados da análise de situações de referência

A análise ergonômica de situações de referência revela traços duráveis da atividade


que é desenvolvida. Todavia, ela permite observar o desenvolvimento desta atividade
somente durante um curto período de tempo. Um processo de abstração é necessário, então,
para levantar elementos úteis, visando à transposição ao trabalho futuro. Tratar-se, em
particular de:
* recensear as determinantes da atividade ligadas à variabilidade de máquinas,
equipamentos, meios de trabalho, matérias-primas e das ações tipos, correspondentes ao
tratamento desta variabilidade. Em particular, é possível levantar períodos críticos no
funcionamento das instalações ou dos serviços, bem como as variações de fluxos de
materiais, veículos, pessoas e informações;
* levantar características significativas da ação dos trabalhadores que aparecem, em
parte, como transponíveis à situação futura.
* levantar efeitos desfavoráveis, para a saúde dos trabalhadores e para a produção,
dos modos operativos que eles são levados a utilizar;
O principal interesse que esta análise de situações de referência apresenta, para o
desenvolvimento do projeto industrial, é que os dados obtidos baseiam-se sobre o
funcionamento real e não sobre o funcionamento teórico das unidades estudadas.
Assim, os resultados da análise de situações de referência podem servir para
enriquecer, talvez corrigir, as hipóteses sobre o trabalho humano, presentes no projeto
industrial. A ergonomia e sua evolução até a antropotecnologia contribuem, então, na
definição de objetivos detalhados a fim de permitir que a transferência de tecnologia
proporcione, além de benefícios econômicos, também boas condições de trabalho.

6.2.3. Projeção do quadro de trabalho futuro

Para Daniellou (1985) esta terceira etapa consiste na previsão das determinantes da
atividade futura, comportando duas descrições, das tarefas futuras e suas condições de
execução, e da população futura e suas variações.
A descrição das tarefas futuras envolve os aspectos técnicos e organizacionais
necessários para prever os objetivos a serem atendidos pelos trabalhadores. Sua consecução
origina-se de duas fontes principais, quais sejam, o conhecimento do trabalho real, a partir
da análise do trabalho atual e a descrição técnica do sistema de produção previsto e dos
procedimentos prescritos para a sua utilização.
Durante a análise da situação de referência pode-se evidenciar os objetivos que,
eventualmente, não foram previstos nos procedimentos prescritos, introduzindo-se, assim,
questões sobre as atividades de recuperação das componentes do sistema. Esta descrição das
tarefas futuras compreenderá, então, não somente uma categorização das mesmas, mas
também, uma previsão das principais interferências possíveis sobre o funcionamento e
manutenção do sistema.
Já a descrição da população futura, origina-se da análise do conteúdo de decisões
denominadas sociais, relativas ao trabalho nas futuras instalações, entre outras, número de
trabalhadores, repartição de tarefas e horários. Representa, também, o resultado da análise
da situação de referência, no sentido da identificação das competência necessárias pelos
sistemas analisados e das competências disponíveis entre os trabalhadores destinados ao
futuro sistema.

6.2.4. Reconstituição da atividade futura provável

Esta etapa será amplamente detalhada no capítulo 8. Trata-se de um prognóstico da


atividade futura, a partir dos dados levantados nas etapas anteriores da metodologia proposta.

6.2.5. Análise da atividade real

Após a implantação do empreendimento, pode-se realizar, então, uma análise


ergonômica da situação real, em toda a sua complexidade: população real, atividades reais e
determinantes reais. Esta etapa, permite a elaboração de um diagnóstico final, do ponto de
vista ergonômico, da implantação do projeto industrial num primeiro momento, em operação
piloto, num segundo momento, em operação nominal estabilizada. É a etapa do retorno sobre
o produto, onde as recomendações ergonômicas poderão, então, ser avaliadas e o progresso
dos conhecimentos em ergonomia constatados.

6.3. A METODOLOGIA ANTROPOTECNOLÓGICA - ABORDAGEM ERGONÔMICA


E O CRONOGRAMA DO PROJETO INDUSTRIAL

O desenvolvimento de um projeto industrial, como anteriormente analisado,


compreende várias fases com objetivos bem definidos. A metodologia em questão prevê
atividades que podem viabilizar a intervenção ergonômica em cada uma dessas etapas,
conforme figura 6.2. A análise feita a seguir compreende os principais pontos dessa
intervenção em cada etapa, destacando a contribuição da antropotecnologia no
gerenciamento do processo como um todo.

figura 6.2. Interação do cronograma do projeto industrial com a intervenção ergonômica

6.3.1. Intervenção ergonômica nos estudos preliminares de Engenharia

Quando os objetivos do projeto são definidos pelo empreendedor, nos estudos


preliminares de Engenharia, raramente ocorre a participação de um profissional de
Ergonomia. Todavia, a Ergonomia pode ter uma influência indireta sobre as decisões
tomadas pelo empreendedor, pelas informações que lhe são colocadas à disposição, a partir
da análise preliminar da situação existente:
* análise de aspectos negativos desta situação, do ponto de vista da saúde dos
trabalhadores e da produtividade da instalação;
* análise dos pontos positivos a serem mantidos na futura instalação (por exemplo,
competência dos trabalhadores);
* dados e projeções sobre o estado da população futura e sobre a organização do
trabalho.
A escolha da tecnologia constitui-se em um aspecto importante desta etapa,
principalmente no caso de transferência de tecnologia entre países, pois os diversos modos
de produção diferem tanto no plano técnico e econômico, como nas suas relações com o
homem. Os mesmos podem comportar riscos reais (toxidade, explosões, incêndios), ou
riscos potenciais de geração de condições inadequadas de trabalho. Salienta-se a necessidade
de especial atenção a substâncias que são proibidas ou são objeto de rigorosa legislação de
precaução nos países industrializados.
Além disso, são múltiplos os interesses que podem ser considerados, envolvendo
tanto os compradores como os vendedores. Como exemplo, cita-se a tendência que os
representantes dos PVDI apresentam em valorizar somente as tecnologias mais recentes em
termos de inovação, independente da sua aplicabilidade e conveniência à realidade local.
Assim, observa-se empreendimentos ultra-modernos que encontram-se parados ou
subutilizados em função da inexistência de meios para manter pessoal especializado ou
inadequação a algum aspecto geográfico.
Neste sentido, a OIT (1988) recomenda que o estudo de uma tecnologia cuja
transferência está sendo proposta deveria incluir um exame de outras tecnologias alternativas
possíveis e disponíveis para o mesmo fim, visando selecionar a que se apresentasse mais
segura.

6.3.2. Intervenção ergonômica nos estudos de Engenharia Básica

Durante os estudos de Engenharia Básica, a Ergonomia pode desenvolver um papel


essencial na análise detalhada da situação existente e de situações de referência,
evidenciando certas determinantes da atividade futura provável.
O conjunto dos resultados destas análises permitirá ao profissional de Ergonomia
contribuir na definição detalhada dos objetivos do empreendedor, na redação dos cadernos
de encargos para a concepção dos locais e espaços de trabalho, para a concepção e
especificação dos equipamentos, para a concepção de interfaces e softwares, para a definição
da organização do trabalho e para a definição dos programas de formação.
Esta definição de objetivos poderá tomar a forma de termos de referência, que
servirão de base à Engenharia Consultiva para a redação dos cadernos de encargos de
Engenharia de Detalhamento.
Destaca-se alguns pontos, referentes principalmente aos aspectos organizacionais,
que podem ser analisados para respaldar estas decisões, quais sejam:
* procedimentos: natureza e sensibilidade dos parâmetros a controlar;
* material: natureza e particularidades tecnológicas dos equipamentos e ferramentas;
* tipo de regulação: pneumática ou eletrônica, por exemplo;
* tipos de comandos a manipular;
* modalidades e limites de retomada manual da produção;
* tipologia do sistema de condução;
* qualificações requeridas em cada local;
* especialização ou polivalência dos trabalhadores.
Esse último ponto pode ser analisado a partir da reflexão sobre alguns aspectos,
referentes principalmente ao tecido social e industrial da situação analisada, tais como,
formação, tipo de tarefa, número de pessoas por equipe, as relações inter-individuais, a
possibilidade de um correspondente privilegiado na equipe que faça os contatos externos e
os acessos à sala de controle.
Em casos de transferência de tecnologia entre países, salienta-se que a escolha do
tipo de construção pode colocar também problemas graves na medida em que as condições
climáticas representam, muitas vezes, a causa principal de intolerância dos trabalhadores.
Nesse sentido, as instalações concebidas para um clima temperado apresentam-se, na
maioria das situações, inadequadas a climas tropicais sem a interferência de dispositivos de
climatização normalmente onerosos. As soluções arquitetônicas devem, assim, adequar-se
ao local proporcionando condições de trabalho com influências positivas sobre a saúde e a
produtividade dos trabalhadores, bem como sobre o funcionamento satisfatório das
instalações.

6.3.3. Intervenção ergonômica nos estudos de Engenharia de Detalhamento

A Ergonomia poderá contribuir durante os estudos de Engenharia de Detalhamento


no gerenciamento dos diversos projetos de detalhes, garantindo a substância e a coerência
das decisões tomadas pelo empreendedor.
O profissional de Ergonomia desenvolverá um papel específico, colocando em
prática meios de reconstituição da atividade futura provável, que permitirão a formulação de
prognósticos sobre os meios de produção e a interação com o processo de concepção. Esta
reconstituição baseia-se na necessidade de dados suficientes para a definição dos futuros
meios de trabalho e na participação efetiva dos futuros usuários.
Quando o profissional de Ergonomia tem a sua participação definida somente nesta
etapa do desenvolvimento do projeto, é necessário que ele desenvolva análises de situações
de referência, conforme descrito no item anterior.
Em geral, é sempre conveniente realizar nesta etapa do desenvolvimento do projeto
análises detalhadas de situações de referência, para precisar os estudos de Engenharia de
Detalhamento. Neste sentido, destaca-se que a precisão requerida por esta fase permite um
aprofundamento da análise da atividade futura provável, no sentido de integrar ao projeto os
conhecimentos básicos de ergonomia, como posturas, esforços físicos e trabalho mental.
Neste período podem, paralelamente, ocorrer as análises detalhadas de tipo e repartição das
tarefas a cumprir, da organização do trabalho e da qualificação dos trabalhadores.
Os principais objetivos da abordagem ergonômica nesta etapa podem ser colocados
como:
* enriquecer os documentos no sentido de levar em conta as características da
atividade futura provável dos trabalhadores;
* integrar os cadernos de encargos e os planos com as regras gerais de ergonomia;
* dotar o local de meios para iniciar a construção e recepcionar as instalações;
* iniciar a preparação do pessoal e aprofundar as discussões sobre a organização do
trabalho.
Na questão específica da organização do trabalho, ressalta-se que é nessa etapa que
ocorrem os ajustes da organização. Eles referem-se, principalmente, ao quadro
organizacional geral, envolvendo efetivos, qualificações, repartição de tarefas, polivalência,
ritmos de trabalho, estrutura hierárquica, relações com outros serviços. Referem-se, também,
às modalidades cotidianas de organização, tais como, meios de comunicação, instruções e
procedimentos.
Este quadro organizacional geral deve ser posto a prova com o funcionamento das
instalações que surgem durante os estudos detalhados. Já as modalidades cotidianas da
organização, os autores consideram que são, nesta fase, estabelecidas pela primeira vez. Os
procedimentos de trabalho são uma ferramenta essencial aos trabalhadores, sendo, por isso,
essencial que os mesmos participem da sua elaboração. Da mesma maneira, a reflexão sobre
os meios necessários para assegurar a continuidade da informação, em todos os sentidos,
deve ser iniciada, sempre associada aos futuros usuários.
Outro ponto importante desta etapa é a compra das máquinas que se constitui num
período crítico para a adaptação do trabalho ao homem, pois são muitos os problemas que
podem daí advir, com conseqüências relativas à avaliação do custo do empreendimento, ao
funcionamento do sistema e às condições de trabalho. Muitas vezes, os dados de
produtividade nominal de um equipamento, fornecidos pelo fabricante, dificilmente são
atingidos nas condições normais de funcionamento, a produtividade real. A conseqüência
disso é que, para que os dados de fabricação, quando da posta em marcha, correspondam ao
esperado, é preciso carregar o sistema de produção para corresponder às previsões, com
sobrecarga evidente para os trabalhadores.
Pode ocorrer, também, a subestimação das dificuldades de encontrar, não só pessoal
especializado para a empresa, como condições técnicas que permitam o funcionamento e
manutenção satisfatórios. Os aspectos a considerar, nesta fase, vão desde as características
antropométricas e formação dos trabalhadores disponíveis, passando pela capacidade que os
mesmos têm de entender os sistemas de comunicação dos equipamentos, até as condições
de alimentação básica dos equipamentos (água e energia elétrica, por exemplo) e a
disponibilidade de trabalhadores e peças de manutenção.

6.3.4. Intervenção ergonômica na Engenharia de Montagem

Na Montagem Industrial, pode-se realizar um acompanhamento através de planilhas


de controle, estabelecidas pelo Relatório de Gerenciamento do Projeto. Este controle deve
ser efetuado sobre o conjunto do sistema. As estações de trabalho (postos) devem ser
montadas prevendo-se todas as situações possíveis: funcionamento normal, funcionamento
degradado, intervenções para manutenção, recuperação, etc.
Em resumo, é preciso prever todos os cenários possíveis em relação aos futuros
objetivos de produção: acessibilidade, autonomia temporal, carga de trabalho, deslocamento,
postura, segurança, visibilidade.
Destaca-se que esta fase de instalação das máquinas coloca, pela primeira vez, o
confronto entre o que foi proposto pelo vendedor e o que é realmente entregue ao
comprador. Os cuidados referentes a um controle satisfatório do ambiente físico de trabalho
(por exemplo, sonoro, luminoso, térmico, vibratório, toxicológico do ar, espaços de
circulação e operação) devem ser completados com aqueles referentes à manutenção dos
equipamentos. É recomendável a previsão de elementos de sistemas de detecção de panes,
que sejam simples e seguros, bem como a possibilidade de troca padronizada de elementos
defeituosos. A importância desta questão é colocada na medida, em que o tecido industrial
e social da situação analisada possa ou não dispor de pessoal especializado e fornecedores
de material de reposição.
Com relação aos futuros usuários do empreendimento, a seleção do pessoal é uma
fase que a metodologia de intervenção ergonômica, em projetos industriais, recomenda seja
realizada o mais precocemente possível. Esta recomendação visa permitir que os
trabalhadores possam ter a sua formação acompanhando e participando do desenvolvimento
do projeto.
Da mesma forma, durante a fase a montagem das instalações, o ergonomista, num
trabalho conjunto com os futuros usuários, pode controlar se os objetivos definidos nos
termos de referência estão sendo cumpridos e sugerir algumas modificações possíveis. O
canteiro de obras, se bem utilizado, pode constituir-se num precioso suporte de formação.
Neste sentido, sempre que possível, recomenda-se visitas dos futuros usuários às instalações
em construção para que os mesmos apreendam, progressivamente, todos os detalhes
relativos aos seus futuros locais de trabalho. Enfatiza-se que essas visitas podem vir a
melhorar as condições em que se efetua a transferência de responsabilidade, a colocação das
instalações à disposição dos usuários.
É evidente a interferência que o tecido social e industrial pode ter nesta questão de
seleção e formação, posto que, tanto as qualificações dos trabalhadores, quanto as suas
condições de vida e saúde, são primordiais no desenvolvimento destes processos. Destaca-
se que a formação dos trabalhadores tem uma função importante junto a uma população
pouco ou nada qualificada em tarefas técnicas. A seleção deverá, então, ser feita dentro de
uma perspectiva dinâmica para fornecer bons elementos a formar. Os problemas
pedagógicos são, às vezes, de natureza árdua, não somente aqueles de natureza técnica, mas
também os que se referem ao sistema de valores industriais, precisão, confiabilidade,
exatidão, porque estas noções podem não corresponder à cultura local já que uma
transposição cultural não foi realizada. É preciso obter ferramentas de formação na língua
vernácula dos trabalhadores e ao mesmo tempo adequadas aos modelos culturais locais
(Wisner, 1984b).
Segundo Brument et all (1991), a formação deve proporcionar aos trabalhadores os
meios de compreender o que se passa por ocasião do funcionamento normal da instalação,
mas também de agir com conhecimento de causa nos períodos perturbados: incidentes,
arranques ou paradas. Isto exige, portanto, que o trabalhador conheça, além dos modos de
utilização dos equipamentos e dos procedimentos operacionais, os seguintes aspectos:
* localizar os índices e informações necessárias conforme as situações;
* saber confirmar estes índices e detectar os indicadores de pane;
* estabelecer o estado do processo e conhecer por antecipação suas evoluções
possíveis;
* fazer um diagnóstico se a situação não evolui normalmente e agir sobre o sistema
para recuperá-lo.
Os aspectos complementares referentes à formação serão discutidos no Capítulo 14.

6.3.5. Intervenção ergonômica na Operação Piloto e na Produção Nominal Estabilizada

A Ergonomia pode contribuir de forma considerável nas etapas de Operação Piloto e


Produção Nominal, evidenciando determinados índices de inadaptação dos meios de
produção, que não foram bem concebidos ou levados em consideração nas etapas anteriores.
Uma vez instalado todo o dispositivo técnico, o funcionamento ocorre
progressivamente. Este é o período crucial de observação, no qual falhas do sistema
aparecem, os problemas de segurança são evidenciados e dificuldades operacionais são
detectadas. Wisner (1981), alerta que nos PVDI a abundância de mão-de-obra disponível,
sua juventude e, talvez, o seu bom nível geral de instrução, podem vir a criar uma ilusão
perigosa, de que uma seleção severa do pessoal e um vasto plano de formação vão suplantar
o que o dispositivo técnico tem de inadequado em relação à situação local.
Daniellou (1988), ressalta a necessidade da análise das atividades dos trabalhadores
nessa etapa com os seguintes objetivos:
* notar os elementos que foram insuficientemente considerados quando da concepção
e fornecer soluções rápidas;
* completar, através da análise dos incidentes ocorridos, a formação e o
enquadramento dos trabalhadores;
* contribuir para uma acumulação de experiência da equipe para realizações
posteriores.
Recomenda-se, também, uma análise do trabalho quando da Produção Nominal
Estabilizada. Considera-se que esta permitirá evoluir o grau de validade da previsão da
atividade efetuado durante a fase de concepção. A avaliação dos desvios constatados
permitem o progresso dos conhecimentos em ergonomia e dos métodos de previsão da
atividade.
Neste ponto, é importante colocar um aspecto da metodologia, enfatizado por todos
os autores consultados, que é o da participação, nas diversas etapas, da população
trabalhadora. Dejean et all (1988), consideram que, como o saber do trabalhador engloba
conhecimentos adquiridos através da aprendizagem e da experiência profissional, sua
participação na definição das necessidades e exigências dos aspectos relacionados ao
exercício da atividade de trabalho torna-se um imperativo metodológico.
Salientam que essa participação, nas diversas fases do projeto, vai depender de
negociações entre os envolvidos, variando com o grau de comprometimento dos
trabalhadores, em função do contexto social da empresa. Relaciona certos princípios
fundamentais que devem ser respeitados em todos os casos:
* informar ao conjunto do pessoal envolvido sobre os objetivos do projeto, as etapas
e os métodos de estudo;
* solicitar a colaboração no recolhimento de informações sobre as atividades
desenvolvidas (situações de referência);
* restituir e validar as informações recolhidas com as pessoas que as forneceram;
* submeter as proposições de solução ao conjunto de pessoas envolvidas.
Lorig (1981), considera que a riqueza do saber do trabalhador permite a implantação
de vários melhorias e evita certos erros fundamentais de concepção, que podem representar
um custo importante para a empresa. Descreve uma intervenção ergonômica em um projeto
de concepção industrial, onde a participação dos trabalhadores resultou, inclusive, em
modificações nas políticas sociais da empresa.
Um aprofundamento desta discussão sobre a participação dos trabalhadores no
desenvolvimento de projetos industriais será apresentada no Capítulo 9.

6.4 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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FUNDACENTRO, 1994a.
CAPÍTULO 7

A ANÁLISE DA POPULAÇÃO FUTURA


Num estudo realizado por Glyn Thomas, publicado na Revista da Organização Mundial de Saúde
temos uma previsão de que, no ano 2000, a percentagem da população mundial com mais de 60 anos,
que em 1970 representava 8,4% do total, atingirá, 9.3%, o que elevará o número de idosos de 304
milhões para 581 milhões de pessoas. Pelo artigo "O Envelhecimento da Espécie Humana"
(Scientific American, 1993), prevê-se para 2050 a existência de 2,5 bilhões de pessoas com mais de
65 anos, cerca de 20% do total dos seres humanos. Esse capítulo discute o perfil dos trabalhadores
que irão operar as instalações futuras.

7.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A POPULAÇÃO FUTURA

Uma reflexão preliminar sobre as principais características da população de


trabalhadores que irá assegurar a produção, a manutenção, a supervisão, o controle, enfim,
a gestão das futuras instalações, é fundamental por diversas razões:
* o conhecimento do efetivo previsto e, progressivamente, da repartição das tarefas é
necessário para conceber os meios de trabalho;
* o conhecimento da história profissional dos futuros trabalhadores vai condicionar a reflexão
sobre os programas de formação e, de certa forma, sobre a organização do trabalho
(hierarquia);
* a escolha nominal das pessoas é uma preliminar à constituição do grupo de trabalhadores que
participará nas diferentes fases da concepção;
* se modificações de objetivos ou mutações são previstas nas futuras instalações, as decisões
a serem tomadas são freqüentemente conflituosas. É necessário que estas decisões sejam
anunciadas e negociadas suficientemente cedo, para que soluções aceitáveis para o conjunto
das partes envolvidas possam ser tiradas de forma consensual, antes da colocação em
funcionamento de todas as unidades.

7.2. A ERGONOMIA E A DETERMINAÇÃO DOS EFETIVOS

A previsão que a Engenharia Consultiva deve realizar sobre o efetivo de


trabalhadores, necessário para o funcionamento de uma nova unidade é sempre difícil.
Freqüentemente, considerando-se a implantação de um processo automatizado, procura-se
uma redução do pessoal necessário para atingir um certo nível de produção.
Por outro lado, é freqüente também que a substituição do trabalho humano por
automatismos seja superestimada e que a nova unidade de produção só possa efetivamente
funcionar com um efetivo maior do que as previsões iniciais.
Toda determinação de efetivo baseia-se sobre uma estimativa de uma "carga de
trabalho aceitável". Normalmente, o profissional de Ergonomia é consultado sobre esta
noção de "nível aceitável" de carga de trabalho. Na realidade, não existe nenhuma resposta
precisa sobre a questão "qual é a carga de trabalho aceitável?", tendo em vista que a carga
de trabalho varia em função da situação, mas também em função do indivíduo. Todavia, a
Ergonomia pode contribuir na definição dos próprios termos do debate, abordando os
seguintes aspectos:
* possibilidade de esclarecer, pela análise das atividades nas situações de referência, os limites
de uma substituição de homens por máquinas. Colocação em evidência das fontes de
variabilidade e dos critérios de decisão não modelizáveis por um programa automático. Papel
específico do homem, quando se trata de levar em conta a história e o contexto do processo,
para elaborar diagnósticos complexos em situações de incidentes não previstos pela
Engenharia de Produção. Atenção tanto a uma superestimação, quanto a uma subestimação
das possibilidades tecnológicas do sistema automatizado;
* possibilidade de evidenciar os limites de uma "comparação" de efetivos "equivalentes" entre
duas unidades "semelhantes", que não questione os problemas relacionados sobre a
repartição das tarefas nas diferentes organizações e, sobre as especificidades das condições
de cada estabelecimento (condições ambientais, produtos fabricados, ...);
* importância de uma reflexão sobre o "mínimo técnico", que permita assegurar o
funcionamento, e de uma reflexão sobre o absenteísmo previsível (sistemático + aleatório);
* noção de "efetivo médio técnico", muito problemático em situações de trabalho onde existem
grandes diferenças entre "períodos calmos" e "períodos conturbados", com problemas de
segurança;
* necessidade de prever a tempo à nominação das pessoas, suas disponibilidades durante os
períodos de formação e suas participações em eventuais grupos de trabalho. Muitas vezes,
necessidade de prever um sobre-efetivo temporário até o final da "posta em marcha" das
instalações;
* contribuição da Ergonomia à reflexão no que diz respeito à manutenção de trabalhadores
experientes, mas sem formação teórica, assim como na admissão de jovens diplomados, mas
sem experiência prática. Noção de "perda de experiência para a empresa";
* finalmente, importância da noção de "taxa de cobertura" (sobretudo nas situações de trabalho
em turnos alternantes), onde T é nitidamente superior ao número de equipes (turnos).
Estreitas relações entre "taxa de cobertura" necessária e "polivalência prevista a posta em
marcha", conforme evidenciado por Duarte (1994).

7.3. CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES DA POPULAÇÃO FUTURA

Existem algumas características da população disponível de trabalhadores que são


amplamente conhecidas através de dados disponíveis (literatura, anuários estatísticos,
publicações científicas, relatórios do Ministério do Trabalho e Previdência, etc.) e que
podem ser preliminarmente estudadas em vista da definição da população futura provável :
* O projeto que está sendo desenvolvido é a ocasião para uma modificação da repartição atual
das tarefas entre homens e mulheres? A partir de qual argumento?
Algumas características estatísticas da população feminina (força física menor, absenteísmo
específico) não devem ser nem ignoradas, nem superestimadas. A concepção de postos de
trabalho que possam ser ocupados "somente por homens" ou "somente por mulheres" é forte
indício de um provável revés na maioria dos casos.
* No que diz respeito aos trabalhadores imigrantes, é necessário distinguir as características
que lhe são próprias (cultura, hábitos, etc..) das características das atividades de trabalho que
eles desenvolveram até então. Normalmente, são pessoas oriundas do meio rural, sem
qualquer cultura técnica industrial, mas que se apresentam como mão-de-obra disponível.
Não existem diferenças de potencialidades intelectuais em relação aos trabalhadores
"urbanos". Todavia, a falta de conhecimento de aspectos fundamentais da atividade de
trabalho, do setor industrial e do setor de serviço, faz com que seja necessária a aplicação de
ferramentas cognitivas de base, para uma possível reconversão profissional. A industria da
construção civil tem sido, através dos anos, a porta de entrada destes trabalhadores, no
mercado de trabalho industrial;
* Em vista de uma reflexão sobre os programas de formação, é necessário também pesquisar
dados sobre o "histórico profissional" das pessoas admitidas. Neste sentido, devem ser
levantados dados globais sobre a população (dados estatísticos), mas também dados
individuais, que serão tratados confidencialmente.
Para descrever o histórico profissional dos trabalhadores, não se deve restringir a
cifras eventualmente disponíveis sobre o tempo passado em diferentes postos de trabalho e,
em diferentes empresas. Da mesma forma, os diplomas, certificados e outros atestados não
se constituem uma indicação suficiente. É necessário pesquisar a variedade das experiências
anteriores e as diversas ocasiões de aprendizagem, que as referidas pessoas tiveram durante
suas vidas. Atenção para não subestimar as potencialidades ligadas às experiências práticas,
individuais ou coletivas, desconhecidas na empresa;
* Os dados sobre o estado de saúde da população futura são de uma manipulação delicada. De
um lado, a consideração dos traços que o trabalho anterior deixou sobre os trabalhadores
experientes, pode permitir a adaptação dos meios de trabalho, de forma a evitar a exclusão
massiva dessas pessoas e a correspondente perda de experiência. De outro lado, a lembrança
de danos evidentes à saúde, no seio de uma determinada população, pode às vezes levar a
uma espécie de "neurose" e conduzir a decisões prematuras de recorrer a uma população
"jovem", "sadia", mas pouco experiente.
O tratamento dos dados, sobre o estado de saúde, deverá então ser objeto de uma
abordagem global, desde o estágio da definição dos objetivos do projeto com o
empreendedor. Neste estágio, já é necessário chamar a atenção do empreendedor sobre a
diversidade das características da população futura de trabalhadores que irão operar as
futuras instalações;
* Existência de serviços na empresa encarregados do tratamento desses dados sobre a
população: da seleção, do tratamento e da designação do pessoal. É fundamental que esses
serviços não trabalhem estas questões independentemente do conjunto das questões tratadas
no gerenciamento do projeto. Neste sentido, é o empreendedor quem deve definir a
Engenharia Consultiva, em matéria de seleção e de preparação do pessoal e, ao coordenador
de gerenciamento do projeto de garantir a coerência do conjunto do empreendimento;
* Importância de projetar as características da população num horizonte de 3, 5 e l0 anos.

7.4. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENVELHECIMENTO E A EXPERIÊNCIA

O fenômeno do envelhecimento atinge a todos os seres vivos. Em particular com o


homem, este fenômeno está relacionado intimamente com as condições de vida e trabalho.
Isto é, as pessoas podem retardar ou antecipar o envelhecimento, em função das condições
de vida e de trabalho nas quais elas se encontram submetidas.
Por outro lado, é senso comum que, na medida em que as pessoas vivem, vão
adquirindo mais experiência. Assim sendo, pode-se correlacionar as questões relativas ao
envelhecimento com as questões relativas à experiência.

7.4.1. Questões relativas ao envelhecimento

As questões relativas ao envelhecimento não podem ser abordadas unicamente em


termos de uma "determinada população": os trabalhadores idosos. Trata-se, na verdade, de
introduzir na reflexão sobre a população futura um aspecto dinâmico e de antecipar as
relações entre a evolução individual da idade de cada trabalhador com o futuro da empresa.
Esta antecipação deve se traduzir por influência sobre:
* A concepção dos meios de trabalho;
* A política de recrutamento da empresa.

Entretanto, problemas consideráveis existem quanto à:


* Exclusão prematura de trabalhadores idosos (problemas sociais e perda de experiência para
a empresa, ocasionados por programas de demissões ou aposentadorias incentivadas);
* A evolução da pirâmide de idade da empresa (risco do "envelhecimento conjunto",
aparecimento de classes vazias.

Por outro lado, é preciso lembrar também que, o envelhecimento atinge o conjunto
da população ativa. Na realidade, o envelhecimento é um fenômeno contínuo na vida das
pessoas, mas que pode ter manifestações em parte descontínuas. As dificuldades daí
decorrentes podem se manifestar em diferentes idades, segundo as condicionantes das
situações de trabalho. Pode-se ser "mais ou menos velho" em relação a uma determinada
situação de trabalho, mas é possível evitar certas dificuldades, devidas ao envelhecimento,
agindo-se sobre os meios de trabalho.
As "faixas de idade" atingidas pela problemática do envelhecimento, segundo a
Ergonomia, serão diversas: podem ser em determinados casos trabalhadores na faixa de 35
a 40 anos, de 40 a 45 anos, de 45 a 50 anos e assim sucessivamente.

7.4.2. Componentes biológicos do envelhecimento

Pode-se enumerar de forma superficial, alguns componentes biológicos que


determinam o envelhecimento humano. São eles:

* Diminuição do número de células do sistema nervoso. Mas o potencial cerebral não pode ser
avaliado somente em número de neurônios: importância das conexões estabelecidas durante
a vida.
* Rigidificação, esclerose de certos tecidos. Efeitos sobre a visão, as articulações, o sistema
cardiovascular. Em particular, a manutenção de certas posturas, os esforços bruscos e o
trabalho em temperaturas elevadas, podem tornar-se extremamente difíceis para pessoas
mais idosas.
* A audição é afetada pelo envelhecimento dos neurônios, mas em geral sem maiores
conseqüências para as conversações correntes.
* Efeitos sobre a manutenção do equilíbrio. Necessidade de superfícies de apoio.
* Tendência ao crescimento dos efeitos das decalagens de ritmos (trabalhos em turnos
alternantes).
* Em geral, a idade aumenta a dificuldade para suportar situações extremas (muito
quente/muito frio) e torna o indivíduo mais sensível à adição de condicionantes diversas
(ruído, calor, vibrações, etc.).

7.4.3. A usura devido ao trabalho

Os traços decorrentes das condições de trabalho na vida das pessoas podem


desenvolver um papel preponderante em relação ao "envelhecimento natural". Exemplo de
danos auditivos, problemas articulares ou vertebrais, ligados ao trabalho, constituem-se em
indícios claros do "envelhecimento precoce".
Do ponto de vista legal, a usura devido ao trabalho é classificada como doença
profissional (silicose, pneumoconiose, tenossinovite, etc.), que pode aparecer tanto a curto
como a longo prazo. Todavia, existe uma série de danos à saúde dos trabalhadores que,
infelizmente, não são classificados legalmente como doenças profissionais. São justamente
aqueles traços que se manifestam de forma mais tardia na vida dos trabalhadores.

7.4.4. Envelhecimento e experiência


A idade não traz somente efeitos negativos sobre as capacidades de trabalho. Os
anos de trabalhos permitem a acumulação de uma experiência profissional que facilita,
muitas vezes, a execução das tarefas.
Na realidade, se os trabalhadores idosos utilizassem os mesmos modos operativos,
para atingir um determinado objetivo, que os trabalhadores mais jovens, eles teriam
provavelmente dificuldades suplementares. Todavia, a experiência desenvolve um papel
fundamental na elaboração de "procedimentos mais econômicos" que permitem ao idoso a
execução de tarefas, que mesmo pessoas mais jovens têm dificuldades em executar.
O fenômeno da experiência é fruto da aprendizagem teórica/ prática, desenvolvida
ao longo dos anos, pelo exercício profissional dos indivíduos. Daí a importância que deve
ser dada à análise do histórico profissional de cada trabalhador.

7.4.5. Envelhecimento e gestão das tarefas

A gestão de tarefas também é afetada pelo envelhecimento. Relaciona-se a seguir


uma série de aspectos que caracterizam a forma como o envelhecimento influencia a gestão
e execução de tarefas.
* As condicionantes de tempo estritas são fontes de importantes dificuldades para os
trabalhadores idosos. Todavia, o desempenho global não é necessariamente menor. O custo
do trabalho (carga) para o idoso é que é sensivelmente maior. Importância da passagem da
produção instantânea à produção global (organização dos fluxos).
* Aumento da dificuldade de gestão de várias tarefas simultâneas com a idade. Mas a
experiência desenvolve um papel fundamental no gerenciamento de tarefas simultâneas. As
múltiplas interrupções são particularmente custosas para os idosos.
* A aprendizagem de dados codificados ou simbólicos é mais custosa para trabalhadores
idosos. Importância da concepção das interfaces e dos diálogos.
* Aumento da dificuldade com a idade para extrair uma informação pertinente de um ambiente
de trabalho, sob a influência de ruído de fundo, que mascara outros sinais sonoros. Esta
tendência pode ser, de certa forma, compensada pela experiência, que guia o indivíduo na
exploração do ambiente.
* O envelhecimento dificulta a aprendizagem de novas técnicas, de novos procedimentos, de
novos métodos de trabalho. Todavia, há possibilidade de formação em qualquer idade, sob
certas condições. Importância da experiência e das aprendizagens anteriores (escolar,
profissional e não-profissional). Papel da duração da formação e das relações teoria/prática;
* Importância da formação continuada (reciclagem) como meio de estruturar as aquisições da
experiência, favorável a uma forte capacidade de aprendizagem, em qualquer idade,
compensando assim a influência inevitável do envelhecimento das pessoas na execução e
gestão de tarefas.

7.5 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

DEJOURS, C., Trabalho e usura mental. São Paulo: Oboré, 1987.

DEJOURS,C. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. São Paulo:


Cortez-Oboré, 1991.

DUARTE, F. J. C. M., A análise ergonômica do trabalho e a determinação de efetivos:


estudo da modernização tecnológica de uma refinaria de petróleo do Brasil. Tese de
Doutoramento. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1994.
LAVILLE, A et all., Âge et contraites de travail. Paris: NEB, 1975.

MARCELIN, J., Veillir en travaillant. Montrouge (France): Anact, 1989.

SCHERRER, J., Precis de physiologie du travail: notions d’ergonomie. Paris: Masson,


1981.

WISNER, A., Neurophyisiologie du travail. Paris: Laboratoire d’Ergonomie/ CNAM,


Collection des cours, 1987.

__________., L’ amenagement des conditions de travail par equipes successives.


Moutrouge (França): Anact, 1976.

CAPÍTULO 8

O PROGNÓSTICO DA ATIVIDADE FUTURA


Ao longo dos capítulos precedentes procurou-se mostrar a necessidade de uma reflexão
sobre a atividade futura de trabalho, durante o desenvolvimento de um projeto industrial.
Neste capítulo, procurar-se-á discutir os problemas teóricos, relacionados à noção de
“Atividade Futura Provável", e os métodos possíveis de serem empregados para "evidenciá-
la". Assim sendo, trata-se de um capítulo transversal aos capítulos precedentes.

8.1. NOÇÃO DE ATIVIDADE FUTURA PROVÁVEL

A noção de Atividade Futura Provável foi introduzida em ergonomia por Daniellou


(1988), com o objetivo de permitir uma abordagem mais próxima da realidade, na concepção
de projetos industriais. Neste sentido, esta abordagem ergonômica difere da abordagem
tradicional, pois ela não se restringe apenas em procurar adaptar os meios de trabalho à
atividade desenvolvida pelo homem, dentro de um sistema homem-tarefa existente. De fato,
na medida em que esta atividade ainda não é conhecida e, em parte, também será
determinada pelas decisões técnicas e organizacionais, que serão tomadas pelo projeto
industrial. Esta abordagem necessita realizar, não só um diagnóstico do existente, mas
também um prognóstico do futuro.
A noção de atividade futura provável visa então, esclarecer a delimitação progressiva
das forma possíveis da atividade futura, que são construídas pelas decisões tomadas durante
o desenvolvimento do projeto. Na verdade, a atividade real na situação futura não será
totalmente determinada pelas estruturas técnicas e organizacionais escolhidas, mas estas irão
contribuir a delimitar de forma mais ou menos rígida, um Espaço das formas possíveis da
atividade.
Este espaço das formas possíveis da atividade é, de forma precisa, delimitado pelos
seguintes aspectos:
* características gerais do ser humano e características específicas do pessoal envolvido;
* objetivos que serão fixados a este pessoal e os meios de trabalho que lhes serão fornecidos;
* propriedades das matérias-primas, das ferramentas e do meio ambiente de trabalho.

No interior deste espaço das formas possíveis da atividade, os trabalhadores elaboram


modos operativos, mais ou menos variados, tendo em vista a variabilidade inter e
intraindividual, das configurações particulares num determinado momento e dos graus de
liberdade que os meios de trabalho permitem.

8.2. OBJETIVO DAS RECONSTITUIÇÕES PREVISÍVEIS DA ATIVIDADE

Primeiramente, é preciso assinalar, que não é possível prever com exatidão a


atividade futura. As reconstituições previsíveis da atividade tem os seguintes objetivos:

* Estabelecer os fatores que delimitam o "espaço das formas possíveis" da atividade futura;
* A partir destes fatores, tentar prever se os trabalhadores poderão elaborar modos operativos
eficazes e sem efeito desfavorável para a sua saúde.

Estas reconstituições previsíveis permitem o estabelecimento de um prognóstico


baseado neste ponto. Assim, índices de inadaptação poderão ser evidenciados. Tratam-se de
características dos meios de trabalho que constrangem a atividade, de uma forma
incompatível com a saúde ou com o desempenho.
A interação entre estas "reconstituições" e a abordagem de concepção têm um caráter
interativo, isto é, os índices de inadaptação constatados dão lugar a novos estudos(técnicos,
organizacionais,...), novas soluções são propostas, que podem novamente ser submetidas a
testes de "previsão" da atividade futura, até que uma decisão de realização seja tomada.
Pode-se ver que as "reconstituições previsíveis" não têm nenhum caráter prescritivo.
Não se trata de definir como os trabalhadores devem trabalhar, mas de verificar como, de
maneira provável, existe para cada caso, ao menos um modo operativo eficaz e sem efeito
desfavorável, tendo em vista as características da população envolvida.

8.3. AS DIFERENTES ETAPAS DAS RECONSTITUIÇÕES PREVISÍVEIS DA


ATIVIDADE

As reconstituições previsíveis podem ocorrer, de forma privilegiada, em duas etapas


de um projeto industrial:
* Durante os estudos de Engenharia de Detalhamento, elas permitem assinalar erros ou
omissões na concepção dos meios de trabalho, de forma que eles possam ser corrigidos a
tempo, antes da etapa de montagem industrial. Da mesma forma, nesta etapa, elas podem
contribuir na elaboração do plano de formação dos operadores do futuro sistema;
* Ao final dos estudos de detalhamento, elas permitem evidenciar pontos que devem ser
considerados, de forma especial, quando da montagem industrial. Elas contribuem também
na síntese dos diferentes módulos de formação, que serão ministrados aos operadores do
futuro sistema.

Para que as reconstituições previsíveis possam ocorrer nas datas previstas, é


necessário que os "termos de referência" especifiquem à Engenharia Consultiva, os meios
correspondentes que devem ser previstos. Em particular, os termos de referência
"organização do trabalho" e "formação", que devem especificar a necessidade da
disponibilidade dos operadores nas datas previstas e sua preparação preliminar.

8.4. CONDIÇÕES PARA A IMPLANTAÇÃO DAS RECONSTITUIÇÕES PREVISÍVEIS


DA ATIVIDADE

A primeira condição para implantar as sessões de "reconstituição da atividade" é a


presença do pessoal de nível operacional, que terá a responsabilidade efetiva de operar e
manter as futuras instalações. Caso a presença de todos não for possível, em particular na
primeira fase das reconstituições, é fundamental que ao menos um representante de cada
função esteja presente (pessoal de produção, de instrumentação, de manutenção,...).
No que diz respeito a presença do pessoal de nível gerencial e do pessoal de projeto,
as considerações já foram feitas anteriormente.
As pessoas a serem envolvidas neste processo de "reconstituição previsível da
atividade", deverão receber uma formação preliminar, suficientemente elaborada, para
participar destas sessões. O nível desta formação depende de vários aspectos e é motivo de
uma certa controvérsia:
* de um lado, pode-se considerar que a própria participação nas sessões de reconstituição, por
si só, já é um elemento de formação eficaz. Neste caso, o pessoal envolvido recebe uma
informação tecnológica preliminar, relativamente superficial e as primeiras sessões de
trabalho são, essencialmente, destinadas à exploração ativa do futuro sistema e das
atividades que aí são desenvolvidas. Um tempo maior, então, deve ser reservado para o
conjunto do processo de "reconstituição";
* de outro lado, pode-se prever que quando das primeiras "reconstituições", uma formação
aprofundada seja realizada preliminarmente, de mesma natureza daquela que deverá ser
ministrada antes da operação piloto das instalações.

Cada uma das duas soluções, apresentam vantagens e inconvenientes. A decisão a


ser tomada, neste caso, depende da dimensão do empreendimento, do efetivo, do tipo de
tecnologia e, sobretudo, do número de pessoas envolvidas no processo.
A segunda condição para implantar as sessões de "reconstituição da atividade" é a
existência de uma pré-configuração dos futuros meios de trabalho:
* maquetes dos locais e espaços de trabalho;
* maquetes ou planos dos equipamentos;
* maquetes ou planos das interfaces;
* protótipos dos softwares, para a realização de testes;
* simulador.

A terceira condição para implantar as sessões de "reconstituições da atividade" é a


elaboração preliminar, pelo pessoal de ergonomia, de uma série de Situações de Ação Tipo
prováveis, sobre o futuro sistema.
A partir da análise ergonômica do trabalho, das situações de referência, pode-se
evidenciar situações de ação tipo, como por exemplo:
* alimentar a máquina;
* mudar uma ferramenta;
* salvar um texto;
* evacuar cavacos;
* regular a ação de uma válvula;
* colocar em funcionamento uma parte das instalações;
* reiniciar um programa;
* procurar um arquivo num diretório;
* corrigir uma trajetória;
* mudar a produção;
* identificar o tratamento a ser efetuado sobre uma peça que chega;
* limpar a máquina.

Estas situações de ação tipo podem ser descritas num nível mais ou menos elevado
de generalidade, segundo a variabilidade previsível. Por exemplo, na situação "colocar em
funcionamento uma parte das instalações, após uma parada de emergência", o nível de
descrição, a priori, não está bem evidenciado. Assim sendo, durante as próprias
reconstituições, podemos ser levados a melhor especificar, ou ao contrário, reagrupar, as
situações tipo previstas.
Para cada uma dessas situações de ação tipo, o profissional de ergonomia pode
preparar, preliminarmente, uma descrição de algumas determinantes da atividade de
trabalho:
* fontes de variabilidade;
* condicionantes de tempo;

O Anexo1 apresenta algumas linhas gerais para esta preparação.

8.5. AS DIFERENTES FORMAS E O DESENVOLVIMENTO DA RECONSTITUIÇÃO


DA ATIVIDADE

O ponto comum às diferentes formas de "reconstituição previsível da atividade futura


provável" é a participação do pessoal de nível operacional, através de representantes da
população futura, na formulação de diferentes ação tipo, preliminarmente recenseadas.
Neste caso, deve-se avaliar o caráter de semelhança dos modos operatórios
empregados e suas repercussões potenciais sobre a saúde e sobre a produção.
As modalidades desenvolvidas das reconstituições serão diferentes segundo os meios
de pré-configuração do futuro sistema. Distingue-se essencialmente: a experimentação, o
trabalho sobre simulador e o trabalho sobre planos ou maquetes.
A experimentação é possível quando partes do futuro dispositivo são integralmente
disponíveis, por exemplo, sob a forma de protótipo. É o caso dos softwares no estado de
beta-teste, ou quando um produto é concebido para ser produzido em vários exemplares. O
trabalho sobre simulador é possível quando um dispositivo informatizado permite substituir
uma parte ou um todo das instalações, gerando situações incidentais ou acidentais, nas quais
os operadores são confrontados. O trabalho sobre maquetes e planos é realizado quando não
se dispõe de outros meios de pré-configurar as futuras instalações.
Nos dois primeiros casos, o pessoal de nível operacional efetua o trabalho em
condições experimentais. No terceiro caso, pode-se somente solicitar aos operadores de
descrever, de forma detalhada, a atividade que eles desenvolvem para realizar as diferentes
ação tipo.
Entretanto, o trabalho de avaliação do caráter de semelhança dos modos operativos é
indispensável em todos os três casos. De fato, tratando-se de uma experimentação ou de um
trabalho sobre simulador, o conjunto das determinantes da futura situação não é
completamente levantado, sendo necessário também questionar-se sobre a
"representatividade" da situação experimental, como do trabalho sobre planos ou maquetes.
Neste sentido, deve-se procurar verificar como a descrição fornecida ou a atividade
em situação experimental é plausível, tendo em vista os conhecimentos científicos sobre as
características do homem, em particular no que diz respeito a consideração de dados
fisiológicos, da continuidade cronológica e da continuidade cognitiva.

1) Dados fisiológicos

Verificação dos esforços desenvolvidos, das posturas correspondentes às diferentes


ações, das condições de acessibilidade (diversidade antropométrica + uso de vestuário de
trabalho), das exigências perceptivas (distâncias de leitura, ruídos que provocam efeitos de
máscara, ...), dos acessos aos comandos, etc.
Uma atenção particular deve ser dada à ação simultânea sobre dois comandos
afastados, às manobras que exigem "três mãos", aos comandos incompatíveis com os
vestuários de trabalho, etc...
2) Continuidade cronológica

A passagem de um curso de ação para um outro curso de ação, só é possível se os


objetivos do primeiro forem atingidos, ou ainda, se um novo evento ocorre, interrompendo
a ação em curso, que será eventualmente retomada posteriormente.
As lacunas na descrição ("eu faço isto, em seguida eu faço aquilo...") abrem a porta
a todos os erros de concepção, notadamente para o arranjo físico do espaço e da apresentação
da informação. Assim, é de fundamental importância a consideração de várias questões:
− "Como tu sabes que tua ação está concluída?"
− "O que te exige de passar a uma nova ação?"
− "Qual o caminho que tu deves percorrer para ir daqui até aquele outro ponto?"

Da mesma forma, deve-se dar uma atenção à continuidade cronológica no que se


refere às ferramentas:
− "Tu vais utilizar a chave de fenda, mas agora mesmo tu não a tinhas? Onde se encontra a
caixa de ferramentas?"

3) Continuidade cognitiva

Como já foi assinalado, existe uma continuidade entre a exploração perceptiva, as


operações efetuadas, a antecipação e o controle do resultado da ação. Quando de uma
"reconstituição previsível", deve-se então formular as seguintes questões:
− "Qual informação te assinala o que se passa?"
− "De onde tu te encontras é possível percebê-la?"
− "Como tua atenção é acionada?"
− "O que te permite saber se está tudo em ordem, ou se alguma coisa vai mal?"
− "Como tu podes verificar se o objetivo fixado foi atingido?"
− "Se tu fores interrompido neste momento, o que pode ocorrer?"

Uma dificuldade diz respeito ao nível de pertinência de descrição da atividade futura:


erros arquitetônicos podem ser evidenciados, a partir de uma "simples simulação de
deslocamentos". Para avaliar as condições de iluminação de um determinado ambiente,
deve-se realizar uma reconstituição das grandes zonas de exploração visual. A avaliação de
um sistema de apresentação de informação exige a simulação de um encadeamento de
manobras e de incidentes, o que permitirá a colocação em evidência, por exemplo, dos
reagrupamentos não pertinentes de parâmetros. Mas não será possível avaliar, assim, as
condições de desenvolvimento de longas seqüências de atividade, ou os efeitos das variações
nyctemerais do estado dos operadores do sistema.
Cada modalidade de descrição da atividade permite, assim, estabelecer um
prognóstico relativo a certas características dos meios de trabalho. Entretanto, a descrição
efetuada num certo nível (por exemplo: as zonas de exploração visual), baseia-se em
hipóteses relativas a outros níveis de análise (por exemplo: a atividade cognitiva).
Assim, é necessário, então, começar as reconstituições por uma descrição dos níveis
mais globais de planificação da atividade (objetivos intermediários, organização temporal,
etc.), para passar progressivamente a níveis de descrição mais detalhados, sobre partes mais
limitadas ao curso de ação.

8.6. O PROGNÓSTICO DA ATIVIDADE FUTURA


As reconstituições previsíveis da atividade permitem colocar em evidência certas
características prováveis dos modos operativos futuros. Todavia, esta constatação não é
suficiente. É necessário também, da parte do profissional de ergonomia, o estabelecimento
de um prognóstico, baseado nas conseqüências em matéria de saúde e produtividade.
Este prognóstico deve correlacionar os índices de inadaptação dos meios de trabalho
(falta de comandos, comandos mal posicionados, visibilidade insuficiente entre zonas,
proximidades não respeitadas, não previsão de zonas de acesso para manutenção, softwares
não amigáveis, estoques intermediários insuficientes, organização do trabalho rígida, ...)
com as conseqüentes dificuldades para o pessoal de nível operacional, assim como as
conseqüências para a saúde e produção.
Os resultados das sessões de "reconstituição previsível da atividade" e o prognóstico
estabelecido, devem ser explorados pelo grupo de gerenciamento do projeto do
empreendedor, que deve analisar as medidas a serem tomadas nas diferentes áreas de
concepção (espaço e locais de trabalho; equipamentos; softwares e interfaces; organização
do trabalho e formação) e as transmite à Engenharia Consultiva. Esta, por sua vez, pode
formular novas soluções técnicas ou organizacionais, integrando-as às recomendações
ergonômicas, formuladas pelo grupo de gerenciamento do projeto.
Pode-se constatar, então, que o prognóstico não é gerado automaticamente das
reconstituições efetuadas. Ele baseia-se nos conhecimentos científicos do homem em
atividade de trabalho.
A validade do prognóstico depende, então, amplamente da "arte" do ergonomista,
que sintetiza e torna disponível, em tempo real, um conjunto de conhecimentos sobre o
funcionamento do homem. O exercício desta "arte", na metodologia proposta, é balizada por
dois conjuntos de confrontações:
* Confrontação do prognóstico ergonômico com aqueles estabelecidos por outras áreas de
concepção do projeto, que dispõem de profissionais com outros pontos de vista, com outras
competências;
* Confrontação com os modelos de descrição da atividade humana, produzidos pela
comunidade científica de ergonomia.

8.7. MÉTODOS CLÁSSICOS UTILIZADOS PELA ENGENHARIA CONSULTIVA


TÉCNICA

Pode-se correlacionar os métodos de "reconstituição previsível da atividade futura"


com os métodos clássicos utilizados pela Engenharia Consultiva, como por exemplo, as
árvores de falhas, revisão de segurança (em particular na indústria química) e as recepções
técnicas.

1) As árvores de falhas e as revisões de segurança

As árvores de falhas e as revisões de segurança associam, em geral, um levantamento


exaustivo dos possíveis problemas com um cálculo probabilístico.
Se um profissional de ergonomia existe no seio da Engenharia Consultiva ele pode
participar no desenvolvimento destas ferramentas, para contribuir na consideração dos
aspectos humanos de segurança e de confiabilidade.
Se o profissional de ergonomia está situado no seio do grupo de gerenciamento de
projeto do empreendedor, ele poderá desenvolver neste grupo um controle dos documentos
de avaliação da segurança, fornecidos pela Engenharia Consultiva, reintroduzindo neste
caso, os fatores ligados à organização do trabalho e à formação do pessoal.

2) As recepções técnicas
A responsabilidade de controlar os fornecedores e o devido respeito ao caderno de
encargos, durante os estudos de engenharia até o canteiro de obras, pertence ao chefe de
projeto da Engenharia Consultiva.
Entretanto, é legítimo que o empreendedor, que tem a responsabilidade do
investimento e vai decidir pela aceitação ou não do serviço executado, possa utilizar-se de
meios de controle antes dos trabalhos de montagem industrial serem finalizados. Por
delegação, o grupo de gerenciamento de projeto do empreendedor, pode então proceder a
diferentes recepções:
* durante as obras;
* no final das obras, antes da operação piloto;
* durante a operação piloto;
* em funcionamento nominal estabilizado.

A recepção durante as obras (ou durante as montagens junto aos fornecedores)


permite levantar erros de concepção ou de montagem, que poderão ser retificados antes do
acabamento. Neste caso, é desejável que participem membros do serviço de produção e de
manutenção, fazendo parte quando possível dos grupos de trabalho estabelecidos, um
responsável do Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) e
Membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).
A recepção antes da operação piloto ocorre no próprio local da obra. Ela apresenta
decisões importantes, sobretudo no que diz respeito à segurança do trabalho. Neste caso, é
necessário associar ao máximo as equipes de produção, de manutenção e a CIPA. Se o
procedimento de recepção, em relação ao fornecedor, é muito formal para poder associar as
equipes de produção e de manutenção, deve-se realizar preliminarmente à recepção formal,
uma inspeção em canteiro, através do pessoal de nível operacional envolvido, lhes dando os
meios para considerar suas observações.
A recepção durante a operação piloto porta sobre o respeito aos cadernos de encargos,
em todos os campos, salvo eventualmente àqueles relativos à quantidade da produção. Neste
caso, poderão ser controlados os níveis de ruído da instalação, a eficácia da ventilação e/ou
do sistema de ar condicionado central, os níveis de iluminação, etc... . Deve-se associar o
pessoal da produção, da manutenção e membros da CIPA.
A recepção em funcionamento estabilizado (recepção nominal), marca o fim do
período de ajuste das instalações e quando este momento é decidido, a transferência de
responsabilidade passa da equipe de projeto para a equipe de operação do sistema
implantado. Esta recepção é a ocasião de uma avaliação global do respeito aos termos de
referência e também da pertinência destes termos, a fim de favorecer uma melhor
programação dos próximos projetos. Da mesma forma, é a ocasião de uma avaliação do
respeito aos cadernos de encargos relativos à quantidade da produção.

8.8. RETORNO SOBRE O PRODUTO

O período de aumento da produção até à produção nominal e os retornos de


experiência que são adquiridos nesta fase, é a ocasião de um acúmulo de informações sobre
o desenvolvimento do projeto. A análise destas informações permitirá, para um projeto
futuro, melhor ajustar certos procedimentos ou certas previsões.
Da mesma forma, em certos casos, a ocasião de uma reflexão sobre o próprio produto.
Em particular, quando se trata de um produto montado ou fabricado em operações
descontínuas, onde as dificuldades levantadas durante o projeto podem evidenciar problemas
ligados à concepção do próprio produto. Tendo em vista os prazos de concepção de certos
produtos dados ao serviço de projeto, é desde a colocação em marcha de uma linha de
fabricação que se deve questionar sobre a definição das propriedades do próximo produto,
que favorecem sua futura fabricação.

8.9. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

DANIELLOU, F. La modelisation ergonomique de l'activité de travail dans la conception


industrielle: le cas des industries de processus continu. Paris: CNAM, (Collection
ergonomie et neurophysiolofie du travail, n. 82), 1985.
DANIELLOU, F. Ergonomie et démarche de conception das les industries de processus
continus. Quelques étapes clés. Le Travail Humain, Paris, tome 51, n. 2, p. 185-194, 1988.
DANIELLOU, F.; GARRIGOU, A. La mise en oeuvre des répresentations des situations
passées et des situations futures dans la participation des opérateurs à la conception. In:
WEILL-FASSINA, A. et all. Répresentations pour l’action. Toulouse: Octares. Cap. XI,
p. 295-309, 1993.
CAPÍTULO 9
A PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NA CONCEPÇÃO DE UM
PROJETO INDUSTRIAL

Quando se discute o lugar que os trabalhadores possam ocupar em um processo de


concepção de um projeto industrial, é necessário distinguir de forma clara o papel das
instâncias legais de representação dos trabalhadores (sindicatos, CIPA) em relação à
contribuição direta que, individual ou coletivamente, os trabalhadores possam vir a dar.

9.1. INSTÂNCIAS REPRESENTATIVAS E PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES

As instâncias de representação dos trabalhadores têm um papel reconhecido e


estabelecido em lei. Estas instâncias são compostas de representantes eleitos, direta ou
indiretamente, pelo conjunto dos trabalhadores. São delegados para guardar o respeito dos
interesses do conjunto dos assalariados a curto e a longo prazo e dispõem, para esta
finalidade de meios legais (horas de delegação, direito de circulação, reuniões periódicas
com os representantes dos empresários, etc) que lhes permitem exercitar o mandato.
Todavia, as condições reais de utilização destes meios são variáveis segundo a
história social da empresa e a organização da categoria. Quando são membros de
confederações representativas em nível nacional (CUT, CGT, força sindical), estes
representantes podem utilizar a infra-estrutura da organização em matéria de reflexão
estratégica, de conselho jurídico, econômico, de formação sindical, etc.
A intervenção direta dos trabalhadores, num processo de concepção industrial,
apresenta um outro status. Neste caso, cada trabalhador representa apenas ele mesmo. Ele
contribui com as especificidades de sua competência profissional.
Quando os trabalhadores da produção e manutenção são levados a avaliar,
conjuntamente, a concepção e o funcionamento de uma instalação, cada um deles dispõe de
pontos de vista diferentes, no sentido geográfico. Cada qual privilegia aspectos particulares
do funcionamento, em relação com as ações por eles efetuadas sobre esta instalação.
Aspectos importantes para um passarão desapercebidos para outros. Nenhum dos pontos de
vista é melhor em relação aos outros. Trata-se, na verdade, da representação mental, da
imagem operativa que cada indivíduo tem do funcionamento e/ou da utilização da referida
instalação, fruto de suas experiências.
Neste sentido, o importante é considerar esta diversidade como um potencial e definir
as condições que tornem possível e aceitável a confrontação entre as diversas representações
mentais e a exploração desta potencialidade.
Por outro lado, é preciso considerar que, quando são consultados ou associados
individualmente, durante o processo de concepção, os trabalhadores não têm,
necessariamente, os meios para avaliar os problemas globais em nível da empresa e as
conseqüências de uma decisão sobre outras áreas que não as suas.
Da mesma forma, em geral, eles não estão em situação de negociar "as regras do
jogo" das relações do trabalho no qual eles participam. Estas regras incluem, por exemplo,
as conseqüências sobre o salário, sobre o emprego e sobre as condições de trabalho.
Assim sendo, a informação/consulta das instâncias representativas e a associação
direta de trabalhadores no processo de concepção de um projeto industrial não são medidas
que se excluem mutuamente. Ao contrário, elas devem ser necessariamente articuladas uma
com a outra, objetivando a maior participação possível dos trabalhadores no processo de
concepção das futuras situações de trabalho.
9.2. A INFORMAÇÃO/CONSULTA DAS INSTÂNCIAS LEGAIS

Este item não diz respeito, exclusivamente, ao direito do trabalho e não se trata aqui,
também, de lembrar em detalhes as medidas que são levantadas sobre informação/consulta
das instâncias legais. Todavia, existem determinados aspectos da legislação trabalhista que
serão lembrados, com o objetivo de explicitar as diversas instâncias legais de representação
dos trabalhadores.
A constituição brasileira, promulgada em outubro de 1988, estabeleceu novas
diretrizes nas relações capital/trabalho. Por outro lado, a consolidação das leis do trabalho
(CLT) estabelece, de forma precisa, os mecanismos que permitem a representação dos
trabalhadores. Desta forma, a representação dos trabalhadores é assegurada:
* Em nível nacional, pelas centrais sindicais (pluralismo sindical estabelecido pela
constituição) e pelas confederações das diversas categorias de trabalhadores;
* Em nível estadual, pelas regionais das centrais sindicais e pelas federações das
diversas categorias;
* Em nível local ou regional, pelos diferentes sindicatos, específicos de cada
categoria de trabalhadores.
Assim, por exemplo, um metalúrgico de Joinville pode ser filiado ao Sindicato dos
Metalúrgicos de Joinville, que por sua vez faz parte da Federação dos Metalúrgicos de Santa
Catarina e que forma, em nível nacional, a Confederação dos Metalúrgicos Brasileiros. Esta
confederação, as federações estaduais e os sindicatos da categoria podem, por sua vez, ser
filiados a uma central sindical.
Em relação a cada empresa, a participação dos trabalhadores pode se dar em dois
níveis:
* Comissão de fábrica ou comitê de empresa, que gradativamente vêm sendo
constituídos na maioria das grandes empresas que procuram implantar uma gestão mais
participativa, com aplicação de técnicas japonesas tipo CCQs ou outras variantes. Esta
comissão ou comitê não só é informada ou consultada sobre problemas gerais relacionados
à produção, manutenção e formação, mas participa também na elaboração de planos,
sobretudo táticas operacionais da empresa.
* Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que é uma instância legal de
participação paritária (empregado/empregador), mas cujo presidente é indicado pela direção
da empresa. A CIPA tem reuniões periódicas onde são levantados todos os problemas
relacionados à higiene, segurança e condições de trabalho que, posteriormente, são
encaminhados na forma de relatórios à direção da empresa e às Delegacias Regionais do
Trabalho (Ministério do Trabalho).
Antes de qualquer transformação importante na empresa, por exemplo, a introdução
de novas tecnologias, a CIPA é informada e consultada por parte da direção da empresa no
que diz respeito às condições de trabalho.
A norma NR-17 do Ministério do Trabalho, que dispõe sobre Ergonomia, estabelece
os parâmetros que devem ser obedecidos na modernização ou implantação de estações de
trabalho.
Em todos os casos, estas duas instâncias serão informadas e consultadas durante o
desenvolvimento do projeto. A forma desta consulta varia substancialmente de uma empresa
à outra e depende, sobretudo, da história social de cada empresa, sendo sempre objeto de
vários debates.
Não diz respeito à Ergonomia estabelecer critérios para esta forma de participação,
que normalmente atinge não só uma empresa, mas várias empresas de um mesmo grupo ou
várias empresas de um mesmo setor. Estas negociações dizem respeito somente à direção
da empresa e às organizações sindicais.
Todavia, uma informação suficientemente precoce das instâncias de representação
aparece como uma condição favorável a uma definição "rica" dos objetivos do projeto e à
análise de situações de referência. Além disso, se fases de trabalho com os diversos
operadores são previstas, é desejável que as instâncias representativas dos trabalhadores
sejam informadas e consultadas preliminarmente sobre:
* Os objetivos desses grupos de trabalho;
* Sua composição;
* As condições materiais de organização (freqüência, animação);
* Os métodos de trabalho;
* As condições de exploração e a divulgação dos resultados;
* As condições de seu acompanhamento pelas instâncias representativas.
Sobre este último ponto, pode ser que o ritmo habitual das reuniões da CIPA e
comitês da empresa não permitam o acompanhamento real do desenvolvimento do projeto.
Eventualmente, dependendo do caso, poderá ser constituída uma comissão ad-hoc (grupo de
gerenciamento), encarregada de acompanhar as atividades do grupo de trabalho, onde serão
discutidas suas implicações ergonômicas e sociais. A composição e os limites do papel desta
comissão serão definidos nas instâncias legais.

9.3. A PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NO PROCESSO DE CONCEPÇÃO

Trata-se aqui da participação individual de cada trabalhador que contribui com as


especificidades de sua competência profissional. Neste caso, a Ergonomia estabelece
critérios metodológicos que permitem aos diversos trabalhadores, das diversas áreas da
empresa, contribuírem de forma decisiva no processo de concepção de um projeto industrial.

9.3.1. A importância da participação

A participação do pessoal operacional, nas diferentes fases do processo de concepção


de um projeto industrial, tem por base o reconhecimento da diversidade dos pontos de vista
necessários para conceber os meios de trabalho. O conhecimento das tecnologias a serem
implantadas que possuem os engenheiros e técnicos das empresas de consultoria não é
suficiente para garantir que o projeto que está sendo desenvolvido tenha sucesso. Um
conhecimento de produção, das propriedades das matérias-primas, das características das
ferramentas e máquinas utilizadas, de suas variabilidade, etc, é indispensável para a
concepção da atividade futura provável.
Na realidade, os conhecimentos dos engenheiros são conhecimentos formais, do tipo
procedural, estruturados a partir de modelos matemáticos, que resolvem a maioria dos
problemas, mas não são operacionais para a maioria das pessoas. É um conhecimento
profundo, baseado no saber, fruto da lógica de funcionamento.
Os conhecimentos dos operários são conhecimentos informais, empíricos, do tipo
declarativo, estruturados a partir da experiência prática, que, apesar de não resolverem todos
os problemas, são operacionais para a maioria das pessoas. É um conhecimento superficial,
baseado no saber-fazer, fruto da lógica de utilização.

9.3.2. Campos de intervenção dos trabalhadores

Segundo as etapas do projeto, os campos nos quais os trabalhadores podem intervir


apresentam-se como extremamente diversos.

1) A análise de situações de referência


Esta é uma etapa em que a intervenção dos trabalhadores das futuras instalações, se
eles já foram recrutados, é possível e desejável. Segundo o método escolhido para analisar
as situações de referência, a participação dos trabalhadores assumirá diferentes formas:
* Quadro habitual da análise ergonômica da atividade de trabalho;
* Grupos de trabalho específico;
* Participação em visitas a outras situações de referência;
* Verbalizações dos trabalhadores sobre as constatações "anátomo-patológicas"
efetuadas.
Em todos os casos, é conveniente que os trabalhadores envolvidos possam ser
informados do objetivo da análise das situações de referência.
Quando as situações de referência e o projeto envolvem a mesma empresa, esta
informação aos trabalhadores envolvidos numa fase precoce do projeto pode ser
extremamente problemática. Refere-se, por exemplo, de casos em que o licitante não tome
o cuidado de informar preliminarmente as instâncias representativas dos trabalhadores.
Nesta fase, independentemente da possibilidade de associar o conjunto das categorias
de trabalhadores, a participação da supervisão permite levar em conta informações mais
próximas da realidade cotidiana, do funcionamento das instalações, do que aquelas
fornecidas pelos responsáveis do serviço.

2) A passagem da análise do existente aos termos de referência:

A transformação dos resultados da análise da situação existente em termos de


referência é um trabalho desenvolvido, de um lado, pelo profissional de Ergonomia e, de
outro lado, pelo grupo de gerenciamento do projeto:
* Quando o projeto diz respeito à modernização de uma instalação existente, é
relativamente fácil de associar por temas, grupos de trabalhadores para a elaboração destes
termos de referência;
* Quando se trata da implantação de uma nova unidade, esta fase é aquela em que a
intervenção dos futuros trabalhadores é a mais difícil. Ao final dos estudos de Engenharia
Básica, os futuros trabalhadores ainda não são conhecidos. O próprio local, onde será
implantado a unidade, pode não ter sido ainda escolhido de forma definitiva. Normalmente,
nesta fase, os trabalhadores são unicamente representados pelo coordenador de
gerenciamento do projeto e por seus adjuntos eventuais.
Numa tal situação, um rigor particular impõe-se ao profissional de Ergonomia na
exploração das análises de situações de referência. O conhecimento que ele tem ou adquire,
e o conhecimento do coordenador de gerenciamento do projeto, representam um papel
determinante na redação dos termos de referência.

3) Fases de reconstituição da atividade futura provável

É o momento privilegiado de intervenção dos trabalhadores no processo de


concepção. De fato, estes períodos contribuem tanto para um enriquecimento da concepção
dos futuros meios de trabalho, como para a formação dos trabalhadores. Tendo em vista que
os trabalhadores são conhecidos e disponíveis, nesta etapa do desenvolvimento do projeto,
tem-se um momento privilegiado para as suas participações, sobretudo na avaliação dos
trabalhos de concepção até aqui realizados.
Se a totalidade da população futura ainda não está disponível, existe, no entanto,
possibilidades de constituir grupos com um número limitado de trabalhadores
(amostragem), representando evidentemente a diversidade das origens profissionais.
Grupos de trabalhos podem ser formados, durante os estudos de Engenharia de
Detalhamento, para tratar de problemas específicos (arranjo físico dos espaços de trabalho,
as sinalizações, as interfaces e diálogos informatizados, ...). É desejável que seu
funcionamento não seja desvinculado da abordagem geral, visando prever características da
atividade futura provável.
Os grupos de trabalho estão em relação técnica com o grupo de gerenciamento do
projeto e, para o acompanhamento econômico e social, com as instâncias representativas dos
trabalhadores ou o grupo de acompanhamento.

4) A Engenharia de Montagem

É o momento de recepções formais de máquinas, equipamentos e trabalhadores de


diversas áreas. O caráter solene e regulamentar desta etapa não permite, em geral, que o
conjunto dos trabalhadores envolvidos possam ter uma participação mais efetiva. Destaca-
se, todavia, que a presença dos membros da CIPA apresenta-se como necessária. Em
contrapartida, é extremamente útil que estas recepções formais sejam precedidas por uma
inspeção da montagem feita pelos trabalhadores ou pelo menos por membros dos grupos de
trabalho, fornecendo assim, os meios de fazer conhecer suas observações antes da recepção
formal.

5) Os ensaios e a colocação em marcha

Durante os ensaios e a posta em marcha, os operadores trabalham no sentido do ajuste


dos meios de produção. O problema essencial é fazer com que as dificuldades encontradas
por cada operador e as sugestões emitidas sejam rapidamente tratadas e sejam objeto de uma
informação coletiva.
A circulação das informações em funcionamento nominal das instalações e a
consideração das observações feitas pelos trabalhadores nesta fase serão tratadas no Capítulo
13.

9.3.3. As dificuldades da participação dos trabalhadores

Se as dificuldades de natureza social, relativas à participação dos trabalhadores nas


diversas fases de concepção de um projeto industrial, foram resolvidas por uma negociação
precisa, resta todavia uma outra fonte de dificuldades a ser considerada. Trata-se, neste caso,
da estrutura dos conhecimentos dos trabalhadores sobre seu próprio trabalho.
Devido a suas experiências profissionais, os trabalhadores têm conhecimentos que
lhes permitem fazer face, por exemplo, aos diferentes incidentes que ocorrem na realização
do trabalho. Entretanto, em geral, eles jamais tiveram a oportunidade de explicitar
verbalmente estes conhecimentos que empregam no trabalho. O fato de não terem falado
sobre estes conhecimentos aliado ao seu pouco reconhecimento do ponto de vista social
contribuem para que o trabalhador não tenha, necessariamente, consciência de certas
competências suas, nem, antecipadamente, de sua pertinência em relação ao exame de um
projeto. Não é raro que trabalhadores digam: "Nós não podemos participar da concepção de
uma nova instalação, porque nós não conhecemos as tecnologias que serão empregadas".
Por outro lado, torna-se necessário assinalar que a atividade de concepção é de um
nível de abstração elevada e que as ferramentas utilizadas pelos projetistas não são
diretamente compreensíveis por todas as pessoas que não sejam da área.
Os grupos de trabalho não podem, então, basear-se sobre uma simples consulta dos
trabalhadores que neles participam. Uma explicitação precisa do método e de suas
justificativas é indispensável, podendo esta explicitação, inclusive, assumir o caráter de
formação dos membros do grupo. Neste sentido, será necessário expor os objetivos da
análise das situações de referência e das reconstituições da atividade futura provável,
baseados em exemplos tirados da experiência profissional dos participantes.
Na realidade, é necessário dar aos membros do grupo uma formação de análise
ergonômica de sua própria atividade, uma análise do tipo participante, que lhes irá permitir
a formalização dos conhecimentos por eles empregados no desenvolvimento de suas
atividades de trabalho.

9.3.4. Organização material

A participação dos trabalhadores, em qualquer fase de um projeto industrial, supõe


que, na data prevista, estes trabalhadores: sejam conhecidos, estejam disponíveis e tenham
recebido a formação necessária. É o chefe de gerenciamento do projeto quem deve planificar
com antecedência as medidas necessárias, referentes tanto aos efetivos como aos planos de
formação.
A composição dos grupos de trabalho é, segundo os casos, baseada sobre uma das
seguintes opções:
* Opção mínima: os grupos de trabalho são formados de um pequeno número de
trabalhadores, representativos da diversidade das funções (produção, manutenção, logística,
controle, qualidade, ...);
* Opção máxima: os grupos de trabalho são formados da totalidade dos trabalhadores
que intervirão na futura unidade.
Somente de acordo com a realidade de cada caso é possível escolher entre estas duas
opções. Entretanto, torna-se necessário assinalar que os trabalhadores que participam nestes
grupos de trabalhos recebem, de fato, uma formação bastante intensa, sem nenhuma
comparação com aquela que eles normalmente recebem teoricamente. O custo da
participação dos trabalhadores nas diferentes etapas de um projeto industrial não deve ser
considerado como uma despesa, mas sim como investimento.
A questão da participação da hierarquia (gerência, coordenador de gerenciamento do
projeto) e da supervisão da obra, em tais grupos de trabalho não tem uma resposta geral.
Todavia, existe a necessidade de definir, em cada caso, até que níveis hierárquicos a presença
é desejável em tais grupos e as “regras do jogo", que permitem que a presença de um gerente
ou de um supervisor não seja um obstáculo à expressão dos trabalhadores. Se uma parte da
supervisão não participa destes grupos, deve-se recorrer a outros meios para levar em conta
as suas competências;
Da mesma forma, não se dispõe de uma resposta sistemática para a questão da
coordenação dos grupos. Entretanto, deve-se ter cuidado de uma coordenação feita pela
supervisão da obra ou por um responsável técnico de alto nível que venha ter um caráter
extremamente técnico, caracterizando a pregnância das condicionantes técnicas. A
coordenação realizada pela supervisão intermediária permite uma descentralização do
trabalho dos grupos mas, eventuamente, apresenta dificuldades ligadas ao papel hierárquico.
Enfim, há o interesse de uma coordenação por um personagem externo, que pertença
ao grupo de gerenciamento do projeto. O profissional de Ergonomia desenvolve, às vezes,
este papel, o que permite uma coordenação dos grupos centrada sobre a previsão da atividade
futura provável. Destaca-se que esta disponibilidade pode ser limitada caso os grupos sejam
numerosos.
Em todos os outros casos, há necessidade de uma formação bastante intensa e precisa
sobre os métodos de reconstituição da atividade futura provável.
Ressalta-se a necessidade de uma circulação precisa da informação entre o grupo de
gerenciamento do projeto e os grupos de trabalho, onde intervêm os trabalhadores. Neste
sentido, o grupo de gerenciamento dá seqüência, se necessário junto à Engenharia
Consultiva, às questões levantadas pelos grupos de trabalho. Esta circulação de informação
é, evidentemente, simplificada nos casos em que o chefe de gerenciamento do projeto
participa do trabalho dos grupos. Em todos os casos, relatórios escritos para cada grupo de
trabalho são necessários e devem ser difundidos a seus membros e ao grupo de fiscalização
e acompanhamento do projeto.
As instâncias representativas do pessoal, ou no presente caso, o grupo de
gerenciamento, devem ser regularmente informados sobre o desenvolvimento das atividades
dos grupos de trabalho e consultados sobre os métodos previstos para as etapas seguintes.

9.4. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

BRUMENT, J. M.; SZADECZKI, Z. Partenaires sociaux et conduite de projet. Paris:


Corin, 145p., 1991.
CASSOU, B. et all. Les risques du travail. Paris: La Découverte, 1985.
CHRISTOL, J. Apports méthodologique de l’ergonomie dans la conduite d’un projet industriel.
Performances humaines et techniques, Toulouse (France), n. 49, p. 4-5, 1990.
COTTA, A. L'homme au travail. Paris: Fayard, 1987.
DANIELLOU, F. La modelisation ergonomique de l'activité de travail dans la conception
industrielle: le cas des industries de processus continu. Paris: CNAM, 1985.(Collection
ergonomie et neurophysiolofie du travail, n. 82).
DANIELLOU, F., RATTNER, H., SALERNO, M. Trabalhadores e novas tecnologias. Mesa
redonda. In: I Congresso Latino americano e III Seminário Brasileiro de Ergonomia e
5º Seminário Brasileiro de Ergonomia, 1992, São Paulo. Anais... São Paulo: Oboré, p.
72-79, 1992.
DANIELLOU, F.; GARRIGOU, A. La mise en oeuvre des répresentations des situations
passées et des situations futures dans la participation des opérateurs à la conception. In:
WEILL-FASSINA, A. et all. Répresentations pour l’action. Toulouse: Octares. Cap. XI,
p. 295-309, 1993.
DECOSTER, F. Vers une demarche sociotechnique en productique. Montrouge (France):
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GELINIER, O. Stratégie de l'entreprise et motivation des hommes. Paris: Hommes et
techniques, 1984.
HUBERLAND, J.-M.; MARGANNE, L.-M.; MALCHAIRE, J.; TILMAN, F.; MAWET, M.;
HERINCKX, M. Conception d’une nouvelle installation d’oxycupage. Le Travail Humain,
Paris, tome 50, n. 2, p.134-139, 1987.
LECKNER, J.M., BOUILLON, P., DIEN, Y., CERNES, A. Étude de conception détaillée du
recupérage en centrales nucléaires REP 900 mw. Le Travail Humain, Paris, tome 50, n. 2,
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LUZI, F., BACHELARD, A., KERAVEL, F. Informatisation et réorganisation des gares de
triagé SNCF. La place de l'ergonomie. Le Travail Humain, Paris, n. 2, p. 150-156, 1987.
MAIRE, F.; BRUMENT, J. M. Conduite de projet industriel. Paris: Les Ëditions d’
Organisation, 1988.
OPTSMANN, O. Changer le travail. Paris: Dunod, 1978.
ROULLEAULT, H. Travail, entreprise, société... Dossier. Le mensuel de l’ANACT,
Montrouge (France), n. 183, p. 11-18, 1993.
RABIN, R.; CHRISTOL, J.; PORNIEN, J.-L. L’ergonomie au service de la conception d’une
forge moderne. Le travail humain, Paris, tome 50, n. 2, p. 141-147, 1987.
REMY, P.-L. La prise en compte du travail dans la conception industrielle. Le travail humain,
Paris, tome 52, n. 3, p. 265-267, 1989.
RICHARD, E. et all. Une approche ergonomique d’un transfert d’usine. Montrouge
(France): Anact, Collection Outils et Méthodes, 1979.
WISNER, A. Le travailleur face aux systèmes complexes et dangereux. In: Futurisque.
Marcy l'Etoile (France): INTESP, 1988.
CAPÍTULO 10

A CONCEPÇÃO ERGONÔMICA DOS LOCAIS E DOS ESPAÇOS DE


TRABALHO
Os termos de referência têm por finalidade transmitir recomendações ergonômicas à
supervisão da obra, para precisar os objetivos inicialmente fixados pelo empreendedor.
Estes termos servirão de referência à Engenharia Consultiva para elaborar os Cadernos de
Encargos, que serão fornecidos aos diferentes serviços de concepção, às empresas
contratadas e aos fornecedores de máquinas e equipamentos. Um mesmo Caderno de
Encargos poderá ser instruído por vários termos de referência. Assim, um fornecimento de
material de informática poderá ser definido a partir dos termos de referência
"equipamentos", "interfaces", de "formação" e “organização do trabalho”.

10.1. OS TERMOS DE REFERÊNCIA

O termos de referência são documentos preliminares de acompanhamento do projeto,


que servem de base para a redação dos cadernos de encargos. Salienta-se aqui, além de
algumas considerações iniciais, as informações e as características contidas nos termos de
referência.

1. Considerações iniciais sobre os Termos de Referência

A análise das situações de referência, descrita anteriormente, permite prever:


* as determinantes da atividade futura, em particular das fontes de variabilidade;
* as ações tipos que devem ser levadas em conta na concepção dos meios de trabalho e algumas
de suas características temporais (seqüencialidade, dependência, simultaneidade,
interrupções, etc);
* as diferentes seqüências de fluxos;
* as fases críticas para as operações de produção.

2. Informações contidas nos Termos de Referência

Os termos de referência conterão vários tipos de informações para a supervisão da


obra:
* informações "descritivas", que serão evidenciadas a partir de situações de referência. Estas
informações procuram chamar a atenção da supervisão da obra sobre características
importantes dos produtos, das ferramentas, das ações prováveis.
* informações "prescritivas", que visam impor a supervisão da obra o respeito a certos
princípios ou "normas". Estas prescrições podem ser destinadas para assegurar a
compatibilidade sistêmica com o resto da planta (interfaces, ramificações, etiquetagens, etc),
ou para evitar acidentes, danos à saúde, riscos de erros (normas antropométricas, de ruído,
etc).
* informações "procedurais", que estabelecem à supervisão da obra encontros durante as
seguintes fases: etapas de reconstituição da atividade futura provável, revisões de segurança
e recepções diversas.
Neste sentido, é importante que os "termos" fixem os períodos e os procedimentos
relativos a estas etapas, em particular o tipo de apresentação que é esperado por parte da
supervisão da obra em cada uma destas fases (ex: planos, maquetes, mock-ups, cronograma
físico da obra, fichas "local", etc).
É preciso assinalar que, à exceção dos elementos de normalização descritos acima,
os "termos" fixam objetivos mas não definem as soluções técnicas correspondentes. Estas
soluções são definidas pela supervisão da obra.

3. Características dos termos de referência

O formalismo aqui sugerido é de adaptar a natureza e a amplitude do projeto.


Entretanto, é preciso considerar que, nos projetos industriais correntes de grandes empresas,
o equivalente dos "termos de referência" existe habitualmente sob forma dispersa. Os
procedimentos propostos aqui não significam, então, um aumento da carga de trabalho da
supervisão da obra. Estes procedimentos têm, em relação aos métodos correntes, as seguintes
características:
* referência explícita a uma análise do existente;
* reunião do conjunto das informações destinadas à supervisão da obra num só grupo de
documentos;
* introdução na mesma data dos termos de referência "técnicos" e dos termos de referência
"organização do trabalho" e "formação".

10.2. ESPECIFICIDADES DA CONCEPÇÃO DOS LOCAIS E DOS ESPAÇOS DE


TRABALHO

Dentre os diversos campos de concepção, a definição dos locais e dos espaços de


trabalho apresenta algumas especificidades:
* papel do arquiteto (quando ele existe) e definição de sua posição em relação à supervisão
técnica da obra: quando se trata da construção de uma nova usina, a estrutura do projeto pode
atribuir ao arquiteto um papel muito importante, às vezes até de consultor técnico
(Engenharia Consultiva). Quando se trata de modificações de locais existentes, o papel do
arquiteto pode ser muito mais limitado;
* papel dos escritórios técnicos de Engenharia Civil, que nem sempre tem um conhecimento
dos procedimentos de produção: realização de projetos arquitetônicos dos locais de trabalho,
das plantas de localização e arranjo físico das instalações, projeto dos diferentes sistemas
(hidro-sanitário, gás, ar condicionado, ventilação, elétrico);
* problema particular em relação à viabilidade técnica de construção, em termos ambientais e
patrimoniais, a partir da qual qualquer modificação da estrutura externa dos prédios exige
um procedimento burocrático extremamente moroso;
* a concepção arquitetônica comporta aspectos importantes (estéticos, arranjos ambientais, etc)
para os quais o profissional de Ergonomia não tem competência, a não ser que ele próprio
seja um arquiteto ou um desenhista industrial. Todavia, o ergonomista é levado a
acompanhar a compatibilidade das decisões tomadas neste campo com as atividades de
trabalho e seus conhecimentos sobre o funcionamento humano;
* extrema dispersão dos "lotes" licitados de obras, montagem e fornecimento de material (obras
civis, instalações elétricas, hidráulicas, pneumáticas, gases, ar condicionado, ventilação,
montagem industrial, recebimento das máquinas e equipamentos selecionados), abundância
de documentação e dificuldade da manutenção da coerência do projeto;
* avanço rápido do canteiro das obras civis, que torna extremamente difícil toda e qualquer
modificação mais importante durante a execução das obras, salientando a importância de
uma intervenção desde o estágio dos planos preliminares;
* problemas particulares de segurança para o pessoal que executa obras de construção civil.

10.3. OS PASSOS DO TERMO DE REFERÊNCIA “LOCAIS E ESPAÇOS DE


TRABALHO”
10.3.1. Etapas a serem consideradas

* Definição das plantas de volume, da estrutura das edificações e de seu aspecto externo;
* Definição dos arranjos físicos internos (disposição dos locais);
* Definição dos "lotes" a serem licitados para as obras de segunda etapa (instalações elétricas,
hidráulicas, etc);
* Definição dos arranjos físicos de "detalhamento" (mobiliário, equipamento leve, etc).
Na realidade, o ergonomista não pode abordar separadamente as duas primeiras
etapas. Na medida em que sua reflexão parte das situações de trabalho, não é desejável
abordar a definição dos espaços interiores como uma resultante das decisões globais sobre
um local já existente. É preferível raciocinar em termos de programação de conjunto.
Muitas vezes, a concepção das edificações baseia-se sobre uma análise global do
espaço necessário (uso de "normas"), sem referência precisa à atividade que se desenvolverá
nos futuros locais, dentro de uma visão estritamente taylorista de concepção de espaços de
trabalho, isto é, os trabalhadores irão executar as tarefas que serão prescritas. Neste sentido,
não há necessidade de qualquer consideração sobre a atividade futura provável. O objetivo
da abordagem aqui proposta é justamente o contrário, fornecer ao arquiteto uma descrição
das características importantes desta atividade e quais ele levará em consideração na
definição dos locais (espaços, proximidades, etc). A redação simultânea dos termos de
referência, nos diferentes campos, permite correlacionar o conjunto das condicionantes
levantadas pelo Relatório de Gerenciamento de Projeto.

10.3.2. Elementos que influem na determinação do espaço de trabalho

Dentre os diferentes elementos levantados pelo Relatório de Gerenciamento de


Projeto, existem alguns que têm uma influência particular na determinação do espaço de
trabalho:
* organização do trabalho: efetivos, divisão de tarefas, métodos de trabalho, comunicação,
necessidades de colaboração entre operadores e entre funções. Em particular, organização
da manutenção das máquinas e dos locais (durante ou fora da produção);
* estrutura temporal da atividade: condicionantes de tempo, "cavalgamento" e interrupções das
tarefas (que se traduzem pela necessidade de estoques temporários, por exemplo);
* presença de outras pessoas, além dos trabalhadores (clientes, fornecedores, visitantes);
* políticas de gestão de estoques (freqüência de entrega, de evacuação, variedade dos produtos,
estoques "de emergência", etc) e do controle de qualidade (destino reservado aos produtos
não conformes, retocados, etc);
* ações de acesso ao local de trabalho (circuito de chegada dos trabalhadores, vestuário, etc);
* tratamento dos incidentes de produção: procedimentos provisórios quando dos modos
degradados de produção (ex: zona para retomada "em manual");
* ações de preparação do material (ex: carregamento de baterias dos veículos elétricos);
* produção e evacuação de dejetos, refugos, subprodutos, produtos, condicionamentos;
* definição dos locais não diretamente produtivos (sanitários, salas de repouso, de reunião, de
formação do trabalho e das pausas).

10.3.3. Definições referentes à circulação e fluxos

* de trabalhadores;
* de outras pessoas (clientes, fornecedores, visitantes);
* de peças, produtos, matérias primas e seus condicionantes;
* de veículos e sistemas de transportes;
* de informação.

O termo "circulação" designa os diferentes caminhamentos possíveis entre a entrada


e a saída do sistema em questão. Por exemplo:
Entrega → produção
Entrega → amostragem → controle de laboratório.
Entrega → recusa → estocagem → evacuação.

O termo "fluxo" designa uma quantificação dos movimentos e das estadias nas
diferentes partes de cada uma das circulações (seqüências). Trata-se de uma quantificação
de volume, de tempo, da diversidade das "peças" consideradas.

10.3.4. Precauções a serem consideradas

O resultado da análise da situação existente, que é relatado no Termo de Referência


"Locais e espaços de trabalho", contribui no estabelecimento das circulações e dos fluxos
previsíveis. Isto se traduzirá, para o arquiteto ou para o escritório de consultoria técnica, em
precauções referentes:
* ao dimensionamento e à disposição dos locais de trabalho, à previsão dos locais ditos
"anexos" (ex: estocagem de matéria-prima, de produtos semi-acabados e acabados, do
material de manutenção, do material de limpeza);
* às "proximidades" entre os subsistemas;
* ao arranjo físico das "circulações";
* à prevenção dos efeitos de "barreira arquitetônica".

A implantação de um equipamento poderá ser feita em função não somente de suas


próprias dimensões, mas também considerando este equipamento como um dos elementos
de um sistema mais global, cujas trocas com o resto do sistema já foram descritas.

10.3.5. Prever as evoluções posteriores

A redação dos termos de referência é também a ocasião para chamar a atenção sobre
a evolução da utilização dos locais e espaços de trabalho no curso do tempo:
* fase de montagem das máquinas (prever a acessibilidade na concepção arquitetônica);
* ampliação posterior (salvaguardar se possível das zonas de ampliação).

10.4. A CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA DOS AMBIENTES FÍSICOS

Os ambientes físicos (acústico, térmico, luminoso, ...) de trabalho resultam de


decisões tomadas tanto no campo arquitetônico, como na concepção das máquinas e
equipamentos. A coordenação destas decisões é essencial para a qualidade final do ambiente
de trabalho.
O aspecto arquitetônico do tratamento dos ambientes físicos não diz respeito
unicamente ao arranjo físico interior (exemplo: definição das luminárias), mas sobretudo diz
respeito a certas decisões tomadas em relação a obras de grande porte, por exemplo:
* a previsão de fundações especiais (lajes flutuantes) para as máquinas barulhentas e vibrantes;
* a previsão de paredes especiais (isolamento acústico) para os locais potencialmente
barulhentos;
* a previsão de sistema de climatização e de ventilação;
* a previsão de "vazios técnicos" (forro falso, piso falso);
* a previsão de iluminação natural.
Antes de abordar os diferentes aspectos dos ambientes físicos, é preciso assinalar os
seguintes pontos:
* freqüentemente, é necessário consultar fornecedores especializados nas diversas áreas
(luminotécnica, acústica, térmica, etc), que dispõem de programas de computador que
permitem cálculos previsíveis de ambiente;
* entretanto, é preciso considerar que existem numerosas interações entre os diferentes
aspectos ambientais. Por exemplo: um material de revestimento de parede é especificado em
função de critérios acústicos, térmicos, reflexão da luz, resistência a choques, manutenção,
etc. Assim sendo, é preciso que estas interações sejam tratadas pela Engenharia Consultiva
ou mesmo pelo grupo de gerenciamento do projeto e levadas em consideração na redação
dos Cadernos de Encargos.

Para os diferentes aspectos do ambiente físico, indicaremos no final deste capítulo


algumas fontes bibliográficas úteis. Por outro lado, a seguir, apresentamos os principais
aspectos a serem considerados na concepção arquitetônica dos locais e espaços de trabalho
e algumas precauções clássicas.

10.4.1. A concepção arquitetônica do ambiente luminoso (Iluminação)

A atividade de trabalho em sistemas automatizados exige um cuidado especial na


concepção do ambiente luminoso. As qualidades de um sistema de iluminação não são
julgadas unicamente pela quantidade de luz disponível (tantos lux). Um sistema de
iluminação convenientemente concebido deve também evitar o ofuscamento, restituir certas
propriedades da luz solar, permitir um espectro de cores satisfatório e ser modulável em
função das condições ambientais e das necessidades dos usuários.

1) Quantidade de luz

A quantidade de luz necessária para a realização de um trabalho depende tanto das


características deste trabalho como do estado visual dos trabalhadores. A quantidade de luz
que chega sobre um plano de trabalho chama-se iluminação e mede-se em lux. A norma
ABNT define os níveis médios de iluminação recomendados para diversas tarefas. Estes
devem ser atingidos por uma combinação entre a iluminação geral e a iluminação local no
posto de trabalho.

2) Ofuscamento

Na "paisagem" que os olhos varrem encontram-se objetos mais ou menos luminosos


(ou iluminados): fontes primárias (lâmpadas, terminal de vídeo, sol) e fontes secundárias,
que recebem a luz e restituem uma parte (mobiliário, documentos, teto, paredes, etc). Se
existir uma grande diferença de luminosidade entre estas diferentes fontes, pode-se ter um
ofuscamento pelos pontos mais luminosos (ou iluminados) e não se distinguir os detalhes
nas zonas mais escuras. Neste caso, o trabalhador pode ter a impressão, de que seu posto de
trabalho está "muito iluminado", enquanto que o problema pode ser que as diversas zonas
"olhadas" tem luminosidades muito diferentes. A grandeza que permite evidenciar a
luminosidade é a luminância e mede-se em candelas por metro quadrado (cd/m2).

3) Propriedades da luz solar


Alguns estudos realizados (ver referências) mostram que pessoas que trabalham
constantemente sob luz artificial estão mais sujeitas a agressões de micróbios que outras
pessoas, sem que todos os mecanismos deste enfraquecimento sejam exatamente
conhecidos. Neste sentido, sempre que possível, é desejável permitir uma penetração de luz
natural em todos os locais de trabalho. Nos casos em que, por razões técnicas e/ou de
segurança, é exigido um local totalmente hermético à luz solar, a composição da luz artificial
fornecida deverá ser tal que possa restituir ao mais próximo possível, as características da
luz solar.

4) Espectro das cores

Os diferentes tipos de lâmpadas fornecem uma luz cuja composição difere da luz
solar. A cor dos objetos que elas iluminam pode parecer transformada. Um exemplo extremo
é a cor que os carros têm dentro de um túnel iluminado com luz de sódio. Esta transformação
das cores, sempre desagradável, pode tornar-se incômoda para certos trabalhos (ligação
elétrica com fios de diversas cores, por exemplo). Assim sendo, deve-se escolher um
conjunto de lâmpadas que permitam um bom espectro de cores.

5) Modulação

Os níveis luminosos julgados confortáveis são diferentes segundo os indivíduos,


segundo a hora e a metodologia. Neste sentido, é desejável poder variar a intensidade
luminosa (luminárias com reostato): iluminação local no posto de trabalho com regulação
de nível de intensidade luminosa.

6) Sistemas de regulação do fluxo natural

As superfícies envidraçadas permitem uma iluminação natural. Todavia, elas podem


ser uma fonte de ofuscamento e de produção de calor pelo "efeito estufa". É preciso então
prever um sistema de ocultação parcial das janelas. Estes sistemas devem ser colocados de
forma a facilitar a limpeza e a abertura dos vidros (se for o caso). Dentre os diferentes
sistemas existentes, os dispositivos colocados externamente permitem evitar o efeito estufa.
Diferentes regulagens, segundo as janelas, devem ser possíveis sem esforço, nem acessórios
especiais.

7) Iluminação geral das zonas de trabalho horizontais

A iluminação geral deve assegurar sobre os postos de trabalho (plano horizontal) uma
claridade regulável de 150 a 400 lux. De fato, ela deve permitir uma adaptação às condições
horárias e meteorológicas. A iluminação deve ser homogênea, não permitindo variações
importantes de claridade entre pontos vizinhos. Para evitar riscos de ofuscamento, é
importante limitar as diferenças de luminância entre as fontes luminosas e o resto do teto.
Deve-se procurar fontes de grande superfície e baixa luminância. A iluminação indireta não
é a única possível. Uma iluminação direta ou mesmo mista pode ser melhor adaptada. As
luminárias devem ser equipadas com difusores em grade ou em prisma, que asseguram em
todas as direções um ângulo de incidência ao menos igual a 55o, de sorte que a fonte não seja
diretamente aparente. Se a escolha recair sobre lâmpadas fluorescentes, deve-se ter os
seguintes cuidados:
* escolher tubos cuja temperatura de cor é da ordem de 4000K e o índice de espectro das cores
superior ou igual a 85 (segundo publicação 13-2 da Comissão Internacional de Iluminação).
O "branco industrial" deve ser evitado;
* para evitar o pestanejamento, os tubos devem ser montados aos pares (oposição de fase) e
trocados periodicamente;
* os reatores das lâmpadas fluorescentes devem ser colocados externamente ao local, para evitar
o ruído característico;
* os interruptores e os reostatos devem ser localizados em várias zonas distintas da sala
(definidas pelas características do trabalho e o afastamento em relação as janelas). As
lâmpadas de emergência poderão ser previstas desde este estágio do projeto.

8) Iluminação localizada no posto de trabalho:

Iluminações localizadas devem permitir a adaptação do nível de claridade ao trabalho


efetuado num determinado local, conforme mostrado na tabela 10.1.

Tabela 10.1 Recomendações de níveis de iluminação para diversos tipos de leitura

Estes dispositivos de iluminação local devem ser orientáveis, reguláveis, providos de


proteções anti-ofuscantes (jamais de visão direta da fonte) e situados de maneira a evitar
sombras. Da mesma forma, é igualmente necessário prever iluminações localizadas nas
zonas de manutenção (em particular eletrônica).

9) Equilíbrio das luminâncias

Para evitar ofuscamento, é necessário respeitar um equilíbrio das luminâncias no


campo visual. Este objetivo supõe tanto uma intervenção sobre as fontes (para evitar toda
luminância excessiva) como sobre as diferentes superfícies refletoras. A presença de
terminais de vídeo apresenta um problema particular, quando estes têm contraste negativo
(caracteres luminosos sobre fundo escuro). De fato, os olhos fixados sobre o terminal,
regulam-se para baixos níveis de luminância e são facilmente ofuscados por toda zona
luminosa vizinha (janela, documento iluminado, superfícies claras). Este problema não se
configura da mesma forma quando os vídeos têm contraste positivo (caracteres escuros sobre
fundo luminoso). Neste sentido, é recomendado que a relação de luminância entre zonas
vizinhas que são varridas pelos olhos durante o trabalho não exceda de 1 a 3. A relação de
luminância entre uma zona de trabalho e seu meio-ambiente, visto em visão periférica, não
deve ultrapassar de 1 a 10. A relação de luminância entre as luminárias e seu meio-ambiente
não deve exceder de 1 a 20. Para respeitar estas recomendações, além do cuidado que deve
se ter com relação ao dimensionamento das luminárias, é necessário adotar-se cores e
materiais para as diferentes superfícies, que permitam obter os seguintes coeficientes de
reflexão, recomendados na tabela 10.2.
COEFICIENTES DE REFLEXÃO (valores recomendados)
Teto 80%
Parede (parte alta) 60%
Parede (parte baixa) 40%
Parede situada atrás dos terminais (*) 25%
Quadro registradores clássicos 70%
Mobiliário situado próximo dos terminais (*) 25%
Mobiliário não situado próximo dos terminais (*) 40%
Solo 30%
Solo (*) 15 a 20%

(*) Terminais de vídeo com contraste negativo

Tabela 10.2. Valores recomendados para coeficientes de reflexão

As prescrições relativas à circunvizinhança dos terminais de vídeo com constraste


negativo são imperativas. O respeito dos coeficientes de reflexão preconizados deixa uma
ampla faixa de cores para cada zona. Todas as superfícies deverão ser foscas para evitar
reflexos (atenção especial aos protetores de impressoras e registradores). Os fornecedores
propõem, às vezes, mobiliários de consoles de visualização claros e brilhantes.
Esteticamente podem parecer atrativos mas sempre provocam ofuscamento, sobretudo
quando os terminais de vídeo são de contraste negativo.

10.4.2. A concepção arquitetônica do ambiente acústico (Insonorização)

O problema do tratamento acústico de ambientes de trabalho com sistemas


automatizados é difícil por duas razões:
* nestes locais, o nível sonoro não atinge jamais valores que colocam em perigo o aparelho
auditivo: o problema a ser tratado, então, é de incômodo e não de perigo. Este incômodo
pode dificultar de forma importante a atividade de gerenciamento e de supervisão dos
dispositivos automatizados. Todavia, para caracterizar de forma precisa o ambiente sonoro,
é necessário realizar medidas do nível e da composição do ruído, além de determinar a
natureza do sinal sonoro (conversações, ruído de fundo, ruídos previsíveis ou bruscos, etc)
e do trabalho efetuado.
* o ruído não tem apenas efeitos negativos. Ele apresenta também, aspectos informativos
indispensáveis (alarmes, telefone, conversações).

Assim sendo, deve-se limitar os incômodos do ruído, mantendo todavia seu caráter
informacional.

1) O ruído das unidades

É recomendável que o ruído de fundo devido às unidades não ultrapasse 45 dB(A) a


50 dB(A). Este nível corresponde a uma impressão de calma relativa. Um isolamento
acústico total não é recomendável, visto que os operadores devem poder entender ruídos
externos, não rotineiros, provenientes das unidades (acionamento de válvula). Este resultado
pode ser obtido pela concepção das paredes, envidraçamentos e portas de entrada.

2) As conversações
Os ambientes de trabalho com sistemas automatizados podem ter um nível sonoro
devido às conversações (comunicações de trabalho, encontros, visitas) que, às vezes, é um
incômodo para os operadores que não estão envolvidos. O problema não pode ser resolvido
apenas por regulamentos que devem ser respeitados. Na realidade, ocorrem muitas
conversações que são importantes para a realização das atividades de trabalho. Por exemplo,
é ilusório e perigoso interditar a entrada de pessoas externas nas salas de controle, tais como
os reguladores que têm a necessidade de informações que se encontram nos quadros
sinóticos. Soluções parciais podem ser encontradas na concepção dos locais e espaços de
trabalho, favorecendo no exterior destes locais as atividades que não necessitam da presença
dos operadores de controle. Por exemplo: sala para as empresas externas, organização das
visitas eventuais, etc. O nível sonoro das conversas é normalmente controlado pelas próprias
equipes, sobretudo em situação degradada. Em relação à acústica dos ambientes, o problema
deve ser tratado pela concepção das paredes (paredes, pisos e tetos): trata-se de evitar a
reverberação que apresentam as paredes lisas, prevendo materiais absorventes. A escolha e
o dimensionamento dos materiais absorventes devem ser confiados a um especialista em
acústica, a quem deve ser estabelecido como objetivo a obtenção de uma duração de
reverberação (tempo que leva a energia sonora para diminuir de 60 dB após a sua emissão)
compreendida entre 0,8 e 0,9 s, para as freqüências da voz (por exemplo, medida a 250 Hz,
500 Hz e 1000 Hz), com o mobiliário no local. Os materiais escolhidos deverão respeitar os
coeficientes de reflexão da luz.

3) Os dispositivos de intercomunicação

Os ambientes de trabalho com sistemas automatizados comportam habitualmente


vários dispositivos de intercomunicação: interfones, rádios de comunicação com operadores
externos, telefones, linhas diretas de segurança ("linhas vermelhas"). Eles deverão ser
equipados com sinais sonoros distintos e, eventualmente, com sinais luminosos, que
permitam identificar o aparelho envolvido. Os alto-falantes das comunicações de rádio
apresentam um problema difícil de ser resolvido quando vários operadores trabalham num
mesmo ambiente:
* para seu funcionamento "fora de cena", os alto-falantes permitem que os operadores
envolvidos sejam informados qualquer que seja sua função no ambiente de trabalho. Por
outro lado, eles favorecem que várias pessoas possam ser informadas ao mesmo tempo.
* mas quando existe várias freqüências de rádio, o funcionamento simultâneo de dois alto-
falantes (sobretudo em situação degradada) provoca muitas vezes dificuldade na
compreensão das mensagens.

Uma solução consiste em dobrar a saída do alto-falante por uma saída sobre um
combinado telefônico, dotando o alto-falante de um potenciômetro. Segundo os períodos, os
operadores podem então escolher a saída correspondente às suas necessidades.

4) Outras fontes de ruído

* Uma climatização mal estudada é fonte de ruído de fundo muito incômodo. As


recomendações correspondentes são apresentadas no item 10.4.3. O mesmo problema se
apresenta a propósito da ventilação dos terminais de vídeo;
* As impressoras (relatórios diários, alarmes) são uma fonte de ruído que é mais incômoda nas
situações anormais de trabalho. A tecnologia das impressoras atuais permite obter níveis
sonoros bastante aceitáveis, com escolhas variadas de técnicas de impressão. A
insonorização das impressoras deve ser efetuada pelo fornecedor, a quem o Caderno de
Encargos deve especificar um nível sonoro inferior a 55 dB(A) a 50 cm com impressão
contínua. Os acessórios de insonorização não devem introduzir dificuldades de leitura
(reflexos) ou de manipulação (mudança de papel);
* Outros acessórios: outros acessórios barulhentos devem ser colocados fora do ambiente do
trabalho. É o caso, em particular, dos reatores de lâmpadas fluorescentes, caixas de reles ou
minuteiras.

10.4.3. A concepção arquitetônica do ambiente térmico (Climatização)

O conforto térmico dos operadores exige a previsão de um sistema de climatização,


mas um sistema mal projetado apresenta uma série de inconvenientes. Neste sentido, três
aspectos devem ser levados em consideração:

1) O conforto térmico

As condições térmicas consideradas confortáveis variam conforme as condições


meteorológicas. Com exceção de ambientes onde estão implantados máquinas e
equipamentos (tipo computadores) que exigem temperatura e umidade relativa do ar
constantes, a maioria dos locais de trabalho não visa manter a temperatura constante o ano
todo. Isto é, deve existir uma faixa de variação de temperatura e umidade relativa do ar que
permita estabelecer o conforto térmico, conforme tabela 10.2.

Tabela 10.2 - Condições de conforto térmico, segundo as estações do ano

O cálculo do sistema de climatização deve levar em conta o calor liberado pela


iluminação, pelos terminais de vídeo e pelas pessoas. As definições das grandezas térmicas
e as condições de medida estão fixadas pela norma ABNT. Por outro lado, o conforto térmico
depende da atividade física desenvolvida pelo indivíduo e dos vestuários que ele porta. As
recomendações de temperatura apresentadas anteriormente correspondem a níveis de
atividade física indo de "atividade leve sentada" à "atividade leve em pé". Enfim, deve-se
assinalar que, a implantação de um sistema de climatização é muito difícil num local em que
as paredes não são concebidas com este objetivo. A escolha das técnicas de isolamento
(parede, solo, teto) obedece não somente a critérios de isolamento térmico, mas também a
critérios de isolamento acústico e de reflexão da luz, conforme visto anteriormente.

2) Precauções acústicas

O ruído de um sistema de climatização não deve ser audível dentro dos locais de
trabalho, particularmente, das salas de controle de processos. Os fornecedores de instalação
de ar condicionado central propõem diferentes classes de aparelhos (45 dB, 50 dB, etc). Para
a obtenção do resultado desejado deve-se especificar um aparelho cujo nível sonoro próprio
seja inferior, no mínimo, a 7 dB(A) do nível de ruído de fundo devido às outras instalações,
medido (ou previsto) no local.
A insonorização dos aparelhos de climatização é obtida através de diversas medidas:
* equilibragem cuidadosa das peças giratórias, em particular do ventilador;
* isolamento do solo das peças vibrantes, através de contatos elásticos e de amortecedores;
* capotagem do aparelho de ar condicionado, permitindo no entanto as operações de
manutenção do aparelho;
* enfim, seleção dos difusores de entrada de ar, de forma a evitar o "ruído de boca" (existem
ábacos específicos que permitem esta seleção).

3) Qualidade do ar

A qualidade do ar a ser condicionado é de fundamental importância para a qualidade


da climatização. Neste sentido, os circuitos da instalação de ar condicionado devem ser bem
cuidados para evitar a proliferação de bactérias. Devem ser previstos filtros de fácil
colocação e, sobretudo, manutenção regular do umidificador (purga, limpeza e desinfecção).
Por outro lado, para evitar a aspiração de poeira, a tomada de ar exterior deve estar situada
a 1 metro, no mínimo, do nível do solo e de todas as paredes. Quando gases tóxicos são
suscetíveis de se difundir no ambiente exterior, um corte de urgência da aspiração exterior
deve ser previsto dentro da sala.

10.5. MEIOS PARA RECONSTITUIR A ATIVIDADE FUTURA

As reconstituições previsíveis da atividade, estão ligadas de forma indissociável aos


espaços de trabalho e aos equipamentos que aí se encontram. Todavia, uma documentação
específica é necessária, por parte dos arquitetos, para permitir estas reconstituições.

10.5.1. Plantas arquitetônicas

As plantas arquitetônicas apresentam uma série de limitações para esta utilização:


* Dificuldade de leitura por várias pessoas dos grupos de trabalho;
* Dificuldade de imaginar as "proximidades verticais" (de um andar a outro);
* Dificuldade de prever os "efeitos de volume".

Entretanto, plantas dos locais de trabalho sobre as quais são plotados todos os
equipamentos (vagonetas, carros, reservatórios, etc), com o uso de cores, podem ser muito
úteis para descrever o meio-ambiente de um posto de trabalho.

10.5.2. Maquetes

A confecção de uma maquete permite evitar certos inconvenientes citados


anteriormente. Todavia, as maquetes tradicionais têm um aspecto estético sedutor mas não
facilitam o trabalho de reconstituição da atividade. As maquetes a serem utilizadas devem
ser:
* De cores neutras;
* Desmontáveis para permitir a acessibilidade aos diversos níveis;
* Munidas de divisórias móveis, enquanto as divisões dos diversos espaços ainda não foram
decididas;
* Acompanhadas de modelos em escala reduzida (figuras humanas, equipamentos, veículos,
etc).

Para o arranjo físico de toda uma usina, surge uma dificuldade de escala. Uma
maquete numa escala 1:100 é útil para estudar o conjunto dos fluxos da usina, as
proximidades, etc. Entretanto ela é insuficiente para estudar o arranjo físico dos postos de
trabalho, onde uma escala 1:20 e às vezes 1:10 é exigida. Por outro lado, é impossível fazer
uma maquete numa escala 1:20 de um grande pavilhão industrial (por exemplo 100m a 5m).
Neste caso, deve-se utilizar maquetes parciais do pavilhão, nesta escala. Constata-se que a
maquete, eventualmente confeccionada para facilitar a atividade dos grupos de trabalho,
revela-se também como um meio muito útil à chefia do projeto da Engenharia Consultiva
tomar decisões técnicas. Da mesma forma, a maquete poderá ser vista pelo conjunto do
pessoal da usina como uma previsão daquilo que foi projetado, permitindo ainda algumas
observações de caráter geral.

10.5.3. A "Ficha Local"

Como dito anteriormente, os estudos e a realização dos locais estão dispersos num
grande número de lotes de editais que são adjudicados a diferentes empresas. Para verificar
a substância e a coerência das decisões tomadas a propósito de um mesmo local, é preciso
muitas vezes reportar-se a uma documentação extremamente abundante.
A "Ficha Local" tem por objetivo sintetizar em um único documento, para cada local,
o conjunto dos dados que lhe diz respeito, qualquer que seja o lote aos quais se reportam.
Estes documentos estabelecidos pela Engenharia Consultiva, são de utilização prática em
todas as fases:
* verificação dos dossiês de consulta das empresas;
* utilização durante as reconstituições previsíveis da atividade futura provável (uso fácil pelo
ergonomista, pelos fiscais da obra, pelos futuros operadores, etc);
* utilização pelas empresas que estão sendo montadas;
* controle e recepção da montagem.

10.5.4. O cronograma físico da obra

Quando a montagem da obra ocorre simultaneamente com a utilização de uma parte


dos locais, ou quando a Operação Piloto se inicia antes do término das obras civis, ou quando
ainda uma mudança é necessária, múltiplos problemas aparecem, tanto para operadores da
usina como para operários de montagem:
* uso provisório de locais precariamente montados;
* funções provisoriamente não asseguradas (por exemplo, vestuários inexistentes durante
algumas semanas);
* problemas de segurança ligadas à coatividade, ao uso de material de montagem.

Estes problemas não podem ser previstos a partir apenas da análise de plantas de
arquitetura. Estas plantas não evidenciam o estado de avanço das obras de construção civil.
O cronograma físico é uma espécie de "desenho animado" que apresenta, por exemplo
semanalmente, o estado previsível das diferentes etapas, realizadas, em realização, a serem
realizadas. Este cronograma pode facilmente ser utilizado por todos os serviços envolvidos,
para verificar que a todo instante todas as funções importantes são asseguradas. Como a
realização de um cronograma não é normal em gerenciamento de projetos, é necessário que
ele seja previsto pelo Termo de Referência "Local e espaço de trabalho".

10.5.5. Locais Pilotos

Quando um mesmo tipo de espaço de trabalho é previsto em vários locais da usina,


é possível construir um "local piloto" a ser utilizado de forma experimental, prevendo-se
todas as ações possíveis. O ergonomista tem então uma situação extremamente favorável,
para prever em tempo as dificuldades possíveis que os futuros operadores terão e as devidas
soluções para estas dificuldades.

10.6 A ERGONOMIA NA CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS DE TRABALHO


A percepção do espaço é um aspecto complexo e dinâmico que relaciona o usuário
com o seu meio-ambiente. É um conjunto de processos perceptivos, cognitivos e afetivos
pelos quais um indivíduo adquire conhecimentos sobre seu ambiente sócio-físico. Segundo
a ótica da psicologia do espaço, esta percepção não se refere apenas a um simples decálogo
de propriedades físicas, mas consiste em uma construção mental, que transforma essas
propriedades em imagens do espaço (Ward et all apud Fischer, 1989).
Figura 10.1 Categorias de distância, medidas em centímetros (Fonte Fischer, 1983)

A distância interpessoal coloca em evidência o “valor da distância entre as pessoas”.


Os espaços de trabalho representam territórios definidos, de acordo com os diferentes estilos
de ocupação, apresentando características organizacionais próprias e simbólicas. Fischer
(1983, 1989) afirma que: “Os indivíduos agem fazendo uso do espaço de trabalho, definindo
a empresa como um território social”. A figura 10.1, acima, considera quatro grandes
categorias de distância: íntima, pessoal, social e pública. Convém assinalar, no entanto, que
essas distâncias variam em função de muitos fatores: individuais (idade, status social,
composição do grupo); interpessoais (atração, coesão, simpatia, antipatia); situacionais e
culturais.
A identidade de um indivíduo manifesta-se na personalização do espaço (Sommer
apud Fischer, 1989). O grau de personalização pode ser um índice da liberdade e do controle
que o trabalhador manifesta dentro de uma organização. Quanto mais personalizado está o
espaço, mais revelador será o grau de autonomia e autoridade. O deslocamento representa
uma forma de apropriação do espaço, ao definir a liberdade individual de transitar do seu
posto de trabalho a outros na organização. Esses deslocamentos podem ser funcionais,
conforme mostrado na figura 10.2, ou não funcionais.

Figura 10.2 Deslocamentos (Fonte: Fischer, 1989)

Considerando, portanto, que o espaço é portador, não somente de funções materiais,


em termos de produção, mas também de valores sociais, uma organização, neste sentido,
determina não só as normas de produção mas influencia diretamente a comunicação entre
os trabalhadores.

10.7. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

DANIELLOU, F., L’ergonomie des salles de controle. Montrouge (França): Anact, 1986.

DEJEAN, P. H., et all. Des espaces de travail à concevoir et à organiser: demarche


pour une programmation. Montrouge (França): Anact, 1987.

FISCHER, G. N., Le Travail et son Espaces. Paris: Dunod, 1983.

FISCHER, G. N., Pshychologie des espaces de travail. Paris: Armand Colin, 1989.

GONTIJO, L., Ergonomia e conforto no ambiente construído. Florianópolis:


PGEP/UFSC, 1990.

GRANDJEAN, E. J. et all., Précis d’ergonomie. Paris: Les Éditions d’Organizations,


1983.

McCORMICK, E. J., et all., Human factores in engineering and design. 5 ed. New
York: Mc Graw-Hill, 1982.
MURREL, K. F. H. Ergonomics: man in his working environment. London: Chapman
& Hall, 1965.

Normas técnicas:

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).


AFNOR (Associação Français de Normatisiation).
Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho (em particular a NR-17).

CAPÍTULO 11:

A CONCEPÇÃO ERGONÔMICA DOS EQUIPAMENTOS E DAS


INSTALAÇÕES

Uma das dificuldades encontradas pelos projetistas é que o leque de condicionantes


não é, em geral, explicitamente definido pelo cliente (o empreendedor), no momento
de sua demanda inicial. Muitas vezes, somente durante os estudos de Engenharia de
Detalhamento ou mesmo da Montagem Industrial, é que o cliente se dá conta da
necessidade de expressar as condicionantes que ele tinha considerado como implícitas
ou que ele próprio não tinha consciência. Assim sendo, neste capítulo procura-se
levantar todas as recomendações ergonômicas que poderão subsidiar a elaboração
de um termo de referência “equipamentos”.

11.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CONCEPÇÃO ERGONÔMICA


DOS EQUIPAMENTOS E DAS INSTALAÇÕES

Os projetistas de máquinas e equipamentos são obrigados a levar em consideração,


desde o início do processo de concepção, uma série de fatores, que se traduzem em
verdadeiras condicionantes de projeto. Pode-se citar os seguintes fatores:
* Objetivos de produção (quantidade, qualidade, variedade dos produtos);
* Previsão de diferentes tarefas relativas aos equipamentos (por exemplo: vigilância,
comandos, troca de ferramentas, manutenção, limpeza, etc);
* Condicionantes regulamentares (por exemplo, relativos a segurança);
* Condicionantes relativas às propriedades fisiológicas e psicológicas humanas
(antropometria, percepção, esforços, etc);
* Condicionantes de compatibilidade do sistema;
* Condicionantes ligadas às possibilidades posteriores de evolução;
* Condicionantes econômicas (preço de revenda, prazos, etc);

Assim sendo, as recomendações propostas pelo ergonomista, que participa na


elaboração de um projeto, não devem ser consideradas como condicionantes suplementares,
levadas à Engenharia Consultiva, mas como uma colocação em evidência "mais precoce" de
condicionantes que seriam reveladas posteriormente. Para organizar seu trabalho de análise,
em função dos prazos relativos à concepção, o ergonomista pode ser levado a distinguir dois
diferentes níveis no desenvolvimento dos estudos:
1) O primeiro nível, refere-se à própria estrutura dos equipamentos, que é dificilmente
modificável a partir dos estudos de Engenharia de Detalhamento. Tratam-se, por
exemplo:
− dos procedimentos de fabricação e das grandes decisões tecnológicas,
notadamente a consideração das fontes de variabilidade industrial;
− do nível de automação e dos encadeamentos entre operações;
− dos principais fluxos e, em particular, dos volumes de estocagem entre unidades
de produção;
− da acessibilidade às diversas partes de grandes equipamentos e, então, do
dimensionamento do conjunto das instalações;
− da implantação geográfica de importantes unidades.

Os estudos de situações de referência, em geral, só poderão influenciar estas decisões


se seus resultados forem conhecidos e difundidos antes de iniciados os estudos de
Engenharia de Detalhamento. Se erros graves, neste campo, são constatados durante os
estudos de Engenharia de Detalhe, as correções serão difíceis e caras, sendo às vezes, até
impossíveis.

2) O segundo nível diz respeito a outras decisões de concepção, que envolvem menos
a estrutura do equipamento. Tratam-se, por exemplo:
− da concepção da representação da informação;
− da definição dos comandos;
− do posicionamento de certos órgãos, sensores, etc;
− dos dispositivos de segurança;
− da documentação.

Se uma reconstituição previsível da atividade, efetuada durante os estudos de


Engenharia de Detalhamento, levanta algum problema num destes pontos, geralmente ele
poderá ser corrigido antes da construção dos equipamentos.
Neste sentido, é fundamental que as recomendações ergonômicas para a redação do
Termo de Referência "Equipamentos" não se reduzam somente a "recomendações de
detalhe", que podemos encontrar nos manuais de Ergonomia, mas também sobre as opções
estruturais, relativas às instalações.

11.2. AS RECOMENDAÇÕES GERAIS DE PROJETO

A partir da análise de situações de referência, o ergonomista poderá então participar


nas discussões relativas às recomendações gerais de projeto, em particular nos seguintes
campos:
1) A colocação em evidência de fontes de variabilidade no processo de fabricação
questiona a decisão de um nível de automação em cada parte da instalação. O
"totalmente automático" ou a "homogeneidade tecnológica" são às vezes referências
perigosas nas decisões técnicas importantes. As discussões sobre os modos degradados
de funcionamento que podem ser previsíveis, as intervenções humanas que são
necessárias, a partir das constatações feitas nas situações de referência, podem
conduzir a Engenharia Consultiva a optar por tecnologias menos sofisticadas, mais
flexíveis e mais dominadas do que aquelas previstas inicialmente. A baixa freqüência
ou urgência relativa de certas operações, a possibilidade de efetuá-las "em tempo
mascarado" em relação ao processo de fabricação, poderão conduzir a uma opção do
tipo "apoio à decisão do operador humano" (sistema cooperativo) do que a uma opção
do tipo "automação complexa" (sistema prótese que, em geral, é pouco confiável);
2) A análise de situações de referência pode conduzir e prever outras ações tipos, além
da simples vigilância das instalações em funcionamento. A atenção pode ser dada, em
particular, sobre:
− as intervenções sobre os incidentes;
− as tarefas de preparação, de regulagem, de programação, de correção de
trajetórias (robots), ...;
− as mudanças de fabricação e as trocas de ferramentas;
− as tarefas de controle, que necessitam uma amostragem (em funcionamento);
− as relações com as instalações à montante e à jusante;
− a manutenção das instalações e a substituição de partes importantes de máquinas
e equipamentos (motores, redutores, cilindros);
− a limpeza das máquinas.

A estrutura geral do equipamento poderá, então, ser concebida integrando estas


diferentes ações tipos e as condicionantes correspondentes de acessibilidade, visibilidade,
proximidade, comunicação, etc.

3) A constatação de uma importante variabilidade nas situações de referência pode


conduzir a um questionamento da forte dependência entre os subsistemas (ausência de
estoques intermediários ou múltiplas blocagens). De fato, este tipo de decisão técnica
pode ter como conseqüência, em caso de uma disfunção de um dos subsistemas, a
parada de toda a instalação. Pode também ficar mais difícil estabelecer um diagnóstico
em caso de incidente.

4) Eventualmente será útil prever no dimensionamento das instalações zonas para a


"retomada em manual" do controle do processo, em caso de falhas de uma parte do
sistema (exemplo: robots, salas de controle, etc).

5) Geralmente, o ergonomista pode contribuir para que quatro questões fundamentais


em controle de processos possam ser levadas em consideração ao longo de todo o
processo de concepção de cada subsistema. "Em caso de disfunção deste subsistema:
− Como os operadores poderão perceber?
− Como eles poderão recuperar a normalidade?
− Apesar da disfunção, há possibilidades de funcionamento degradado?
− Quais as conseqüências desta disfunção para o resto da unidade e, notadamente,
quanto tempo dispõe-se para intervir antes de comprometer outros subsistemas?"

6) Enfim, é preciso assinalar que, nessas discussões sobre as grandes decisões


tecnológicas, o ergonomista não poderá intervir a partir somente de recomendações
gerais tiradas da literatura. É a pertinência das constatações feitas na análise
ergonômica de situações de referência, seu valor de precisão e seu caráter
demonstrativo que permitirão chamar a atenção do coordenador de gerenciamento do
projeto e, através dele, da Engenharia Consultiva.

11.3. A CONCEPÇÃO DETALHADA DOS EQUIPAMENTOS

A concepção detalhada dos equipamentos vai desenvolver um papel fundamental na


atividade dos futuros operadores. Se por um lado, esta concepção é mais suscetível de ajustes
sucessivos que as grandes decisões técnicas, ela comporta, por outro lado, uma outra
dificuldade: a extrema dispersão do trabalho de concepção detalhada.
Sobre cada prancha de desenho, em cada parte do canteiro de obras e da montagem
dos equipamentos é que estão sendo criadas as "futuras condições de trabalho". Os projetistas
envolvidos são, às vezes, de um nível hierárquico inferior, bastante afastados da direção do
conjunto do projeto e, neste sentido, pouco preparados para avaliar as conseqüências sobre
a atividade de algumas soluções que eles concebem. Duas tendências extremas podem
coexistir, na escolha de algumas soluções:
* Uma tendência à recondução de soluções conhecidas, sem análise crítica de sua
eficácia atual;
* Uma tendência à "proeza tecnológica" e à adoção de soluções não dominadas.

Na realidade, é praticamente impossível para o ergonomista estar presente em cada


uma das etapas da concepção dos diversos equipamentos. Para evitar que numerosas
modificações sejam necessárias no final dos estudos de Engenharia de Detalhamento, é
preciso fornecer aos projetistas informações para que eles possam tratar uma parte
importante dos "problemas ergonômicos", da concepção detalhada dos equipamentos. Esta
transmissão de informação se dá de três formas complementares:
1) Fornecimento, nos termos de referência/equipamentos, de recomendações gerais,
de elementos de normalização e de ferramentas suscetíveis de ajudar os projetistas em
certas decisões;
2) Formação dos projetistas, em métodos e técnicas desenvolvidos pela Ergonomia;
3) Nas discussões com a supervisão da obra, que constituirão as reconstituições da
atividade futura provável e as "regras do jogo” correspondentes, permitindo assim aos
próprios projetistas antecipar certos problemas.

Algumas recomendações ergonômicas gerais são lembradas no próximo item.


Entretanto, é preciso assinalar o risco que se corre na utilização de tais recomendações sem
referência precisa às condicionantes da tarefa. Por exemplo, uma norma de iluminação não
deve ser utilizada sem uma reflexão sobre a natureza e a posição das fontes de informação
visual. Por outro lado, um manequim plano só pode ser utilizado se identificarmos as
ligações (alcances, olhar) entre o trabalhador e seu posto de trabalho.
Após ter fornecido estas informações iniciais aos projetistas, o ergonomista pode, é
claro, ser consultado por eles sobre as soluções adotadas do ponto de vista da Ergonomia.
Uma resposta "rápida" sobre soluções parciais é, normalmente, perigosa. Sempre que
possível, é desejável reconduzi-la a uma reconstituição da atividade, onde o contexto do
conjunto e as diferentes ações tipos poderão ser levadas em consideração.
11.4. RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS GERAIS

11.4.1. Dados antropométricos de base

Os dados antropométricos de base são extremamente importantes na análise


ergonômica do trabalho, mas é preciso levar em consideração que toda análise, mesmo do
ponto de vista dimensional, só tem sentido para a Ergonomia se for acompanhada da análise
das atividades que o trabalhador desenvolve.
Atualmente existem inúmeros dados antropométricos que podem ser utilizados na
concepção de espaços de trabalho, de postos, de máquinas, de ferramentas, enfim, de
produtos de uma forma geral.
Na maioria dos casos podemos utilizá-los de forma sistemática em termos de um
projeto industrial. Todavia, existem alguns casos em que as exigências do trabalho
acarretam conseqüências contraditórias sobre o plano dimensional. Nestes casos, é
necessário modificar as condicionantes da situação de trabalho, no sentido de estabelecer um
novo compromisso entre as exigências do trabalho e as características antropométricas da
situação de trabalho.
Assim sendo, podemos estabelecer quatro pontos a serem observados na utilização
dos dados antropométricos disponíveis:
1) Definir as características da população futura provável: sexo, idade e origem desta
população (medidas de uma amostragem desta população);

2) Determinar entre os dados antropométricos disponíveis aqueles que serão úteis para
o projeto em questão:
− distâncias inter-articulares;
− distâncias de máximo e mínimo alcances.

3) Utilizar dados antropométricos diretamente, através de manequins planos ou de


manequins tridimensionais com maquetes ou mock-ups das estações de trabalho.
Atualmente, existem os bancos de dados antropométricos, tipo o Ergodata francês, que
através de estações gráficas de alta resolução, permitem a utilização destes dados
diretamente para o projeto auxiliado por computador.

4) Normalmente os dados disponíveis são suficientes para determinar as dimensões


dos elementos materiais da situação de trabalho. Entretanto, em alguns casos, há
necessidade de determinar qual dado antropométrico disponível deve ser utilizado, em
função da tarefa a ser executada. Por exemplo, a altura de um painel de comando pode
ser definida pela altura de alcance da mão. Todavia, ela pode ser definida também pela
altura dos olhos, se for necessário controlar visualmente o referido painel. Neste caso,
é preciso levar em consideração que, se o comando estiver localizado no limite das
zonas de máximo alcance, necessita de uma extensão máxima das articulações e um
trabalho muscular local importante. Porém, em todos os casos estes dados consideram
muito pouco o "volume" dos operadores.

Figura 11.1 Dados antropométricos de base

11.4.2. Dimensionamento e acessibilidade

Os planos e volumes de trabalho devem ser dimensionados desde os estudos de


Engenharia Básica. Neste estágio os problemas de acessibilidade já devem ser considerados.
Os problemas são de diversas naturezas:
1)A acessibilidade dos equipamentos para os operadores externos: possibilidade de
verificações locais, tomadas de amostras, concepção de passarelas, de escadas. Nestes
casos, é necessário levar em conta a utilização de vestimentas especiais (escafandro)
ou de passagem de macas e outros utensílios especiais.

2)A proximidade entre dispositivos sobre os quais é necessário agir simultaneamente:


de fato, freqüentemente, a implantação das instalações, máquinas e equipamentos, é
concebida independentemente da atividade dos indivíduos que os operam. Os
operadores externos podem ficar sujeitos, então, a longos deslocamentos. Em certos
casos, dois homens serão necessários para operar uma válvula: um para acionar a
válvula e outro no local onde o resultado da ação ocorrerá. A análise, com os
operadores envolvidos, dos deslocamentos futuros prováveis pode evitar erros de
concepção desta natureza.

3)A acessibilidade para os diferentes veículos (carrinhos de deslocamento de material,


cisternas de entrega, veículos de combate ao incêndio).

4)A localização das zonas perigosas em relação aos locais de trabalho e às vias de
circulação (orientação das entradas de ar ou dos riscos de explosão, por exemplo).

5)Da mesma forma, neste estágio, devem ser considerados os problemas de


acessibilidade para intervenções de manutenção. Nenhum plano deve ser levado a
efeito sem que seja respondida a seguinte questão: "Como será realizada a manutenção
tanto preventiva como corretiva ?"

Normalmente, ocorre que as superestruturas metálicas sobre as quais são colocadas


as máquinas e equipamentos, não têm espaço suficiente para desmontar um componente ou
extrair um acessório. A previsão dos meios de elevação (guindastes, pontes rolantes, gruas)
é igualmente necessária desde o estágio de Engenharia Básica, tendo em vista as
condicionantes em relação à geometria das superestruturas.
Enfim, em relação ao dimensionamento e acessibilidade ao nível de cada posto de
trabalho, que deve levar em consideração as zonas de máximo e mínimo alcances,
visibilidade, apoio para os pés, assentos e encostos, etc.

Figura 11.2 Planos e Volumes de Trabalho

11.4.3. Esforços Físicos de Trabalho

Os esforços considerados aqui são os esforços solicitados pela ação sobre os


comandos, sobre as ferramentas ou sobre as peças, excluindo os esforços exigidos para o
transporte de cargas com deslocamentos do operador.
1) Na identificação dos esforços de trabalho: em caso geral, devem ser levadas em
conta as seguintes características:
− Operador habitual: homem, mulher, pessoa com capacidade fisica limitada;
− Elemento sobre o qual o esforço é exercido: comando, ferramenta, peça, ...;
− Volume de trabalho;
− Natureza do esforço: empurrar, puxar, baixar, ...;
− Postura de trabalho;
− Intensidade do esforço: medida a dinamômetro;
− Freqüência horária de repetição.

Em caso particular, para agir sobre certos comandos (botões de todos os tipos, pedais
volantes e manivelas de diâmetro menor de 200mm, operados manualmente) deve-se
levantar apenas a intensidade do esforço empregado.
2) Interpretação dos dados levantados: utilização dos ábacos. Os ábacos permitem
determinar as freqüências de repetição admissíveis segundo a intensidade do esforço
e segundo a natureza do esforço, combinado com o tipo de postura, para esforços
mantidos durante menos de 7s nos volumes bons e aceitáveis, após correção.
Os limites de esforços recomendados nos ábacos "homem" e "mulher" permitem
selecionar pessoas de aptidões físicas normais (valores de esforços > 40% destes limites não
convém > 60% da população). Um 3º ábaco é destinado para pessoas com capacidade física
reduzida.
3) O método proposto para a determinação dos esforços elementares admissíveis não
pode pretender a uma avaliação precisa da carga global de trabalho.

Intensidade dos esforços


(daN)
Freqüência Horária Valores teóricos
em contínuo
(esforço estático)

Figura 11.3.a Limites de esforço recomendados para o Homem no Posto de Trabalho

Intensidade dos esforços


(daN)

Freqüência Horária Valores teóricos


em contínuo
(esforço estático)

Figura 11.3.b Limites de esforço recomendados para a Mulher no Posto de Trabalho

Figura 11.3.c Explicação do tipo de esforço, segundo sua natureza

11.4.4. Concepção dos comandos

O método proposto para a concepção dos comandos é o seguinte:


1) Descrever as principais características da atividade futura provável para gerenciar
as manobras que serão efetuadas, as necessidades de manutenção, etc. Determinar
as ligações entre o operador e os dispositivos técnicos: o que ele tem necessidade
de ver, o que ele deve alcançar e contra o que ele deve proteger-se ?
2) Avaliar as ligações que podem ser flexibilizadas: por exemplo, um indicador
fixado sobre uma rótula, por cima de uma válvula, permitirá diminuir a rigidez da
ligação entre a posição dos olhos e a posição das mãos. Esta solução facilitará o
uso do aparelho por operadores de diferentes estaturas;
3) Utilizar dados antropométricos disponíveis, da população brasileira, dos diversos
segmentos corporais.
A norma francesa AFNOR fornece silhuetas correspondentes às diferentes
dimensões que podem ser reportadas sobre um plano. Além disso, manequins planos
articulados correspondentes aos diferentes percentuais (5%, 50% e 95%) são
comercializados. Eles são úteis para dimensionar dispositivos quando apenas duas
dimensões são suficientes (corte segundo o plano simétrico do corpo: plano sagital).
Pode-se utilizar estes manequins sobre um plano de um posto de trabalho, respeitando
as zonas de alcances, as zonas de informações visuais, etc. Entretanto, é preciso assinalar
que estes manequins fornecem informações dos segmentos corporais. Eles não dão o
"volume" dos operadores, que deve ser também considerado.

1) Dimensionar os dispositivos para permitir sua utilização na posição "em pé normal", isto
é, os dois pés no mesmo nível, sem flexão nem torção importante do tronco e sem flexão
ou extensão da nuca. Prever local para os pés e joelhos.
2) Definir as transmissões de movimento e dimensioná-las para limitar os esforços mesmo
em caso de aderência ou de usura.
3) Dimensionar as indicações impressas em função da distância de leitura (D):
− a altura (H) do caracter igual a D/200;
− a largura (L) da cifra maior ou igual a 3/4 de H;
− a espessura (E) do traço igual a H/7, no caso de caracteres pretos sobre fundo branco.
4) Prever uma iluminação suficiente e não ofuscante.

Tabela 11.1 Recomendações de projeto

Tipo Exemplos Dimensões


Botão basculante com duas L  10
posições
Botão basculante com três H = 7 ????
posições
Botão de pressão com uma L ou   20
posição de repouso
Botão de pressão que Botão: L ou   20
responde também ao toque Toque: L ou   12
Sensível ao toque L ou   20

Cursor que responde ao L  15


toque
Botão rotativo tipo track Segundo a utilização
ball
Cursor com botão
L  15 H  7
Botão para se empunhar   40  ótimo
entre 70 e 80
Botão rotativo  = 7 (dois dedos) a
80 (para a mão)
Botão rotativo denteado  = 15 a 80

Botão rotativo com dial ou L = 20 a 80


chave
Manipulador do tipo Joy  = 10 a 15
Stick L = 60 a 100

Figura 11.4 a Dimensão dos comandos

Tipo Exemplos Dimensões


Manivela ou empunhadeira  = 15 a 25
L  100
E  50
Alavanca oscilando em um  = 20 a 35
plano Comprimento conforme
Cursor com empunhadura o uso
Alavanca oscilante em mais  = 20 a 60
do que ums planos Comprimento conforme
o uso
Manivela A = 15 a 35
se rotação rápida
R  100,
Volante de manivela senão conforme o uso
Volante A = 20 a 35
B = 150 a 500
Roda em cruz A = 20 a 35
B conforme o uso
Botão para se apertar com H segundo postura

Pedal com pé apoiado H  50
Largura  90
Pedal com pé suspenso H segundo a postura
Largura  90
Célula foto elétrica ou outro Segundo a utilização
dispositivo imaterial

Figura 11.4 b Dimensão dos comandos (conjunto)

11.4.5. Apresentação da informação

Em relação à apresentação das informações nos equipamentos materiais, as


recomendações ergonômicas estão detalhadamente apresentadas no capítulo 13.
Agulha móvel Agulha fixa Informação
Quadro fixo Quadro móvel Numérica
Tipo de
Indicador

Utilização
imaginada
Precisão dos valores Aceitável Aceitável Muito bom,
(com números, agulhas ou rápido
quadros fixos, no momento
da leitura)
Estimação de um valor, A ou C, bom Passável Desfavorável
apreciação dos desvios ou B muito bom
controle de posição
Ajuste a um valor dado Muito bom Passável Bom
Regulagem e controle de Muito bom Desfavorável Desfavorável
um valor que se quer
constante

Figura 11.5 Escolha do tipo de indicador

11.4.6. O meio-ambiente de trabalho (os fatores de ambiente):


Os fatores ambientais de trabalho (ruído, vibração, iluminação, temperatura, ...)
influenciam as condições de trabalho de várias maneiras:
* Eles podem ser perigosos pelos danos diretos que eles causam (riscos de surdez
devido a um nível elevado de ruído, por exemplo);
* Eles podem ser incômodos pelos danos que provocam à execução do trabalho
(dificuldade de comunicação em ambiente barulhento, de leitura em locais mal
iluminados, ou ainda, de identificação de certos sinais);
* De uma maneira geral, eles condicionam a forma de trabalhar: por exemplo, posturas
desconfortáveis podem ser adotadas devido a uma iluminação insuficiente, ou ainda
para se proteger de uma zona quente.

As condições desfavoráveis de trabalho, do ponto de vista ambiental, podem ser


evitadas se o problema for tratado nas etapas de Engenharia Básica e, sobretudo, de
Engenharia de Detalhamento dos locais e espaços de trabalho, e dos equipamentos e das
instalações.
Neste item apresentaremos apenas alguns princípios fundamentais para cada aspecto
do ambiente físico referente à concepção dos equipamentos e das instalações.

1) O ruído provocado pelos equipamentos e máquinas


O ruído pode constituir-se tanto numa fonte de informação, como num incômodo e
até um perigo para os trabalhadores:
 Uma fonte de informação
O ruído de uma bomba, de uma canalização, de um forno, informa o operador sobre
o funcionamento dos equipamentos. Se trabalhos de insonorização são previstos, este
aspecto deve ser levado em consideração a fim de que a supressão de um possível incômodo
do ruído não seja acompanhada da supressão de informações úteis.

 Um incômodo
Num ambiente barulhento a reflexão é bastante dificultada. A memorização é mais
difícil e, às vezes, modificada. Numerosos erros podem ser cometidos e as comunicações
verbais tornam-se extremamente complicadas, tanto entre duas pessoas próximas, como
através de rádio.

 Um perigo
Níveis elevados de ruído provocam, como já visto, efeitos sobre o aparelho auditivo
(baixa temporária da acuidade auditiva e até riscos de surdez). Todavia, o ruído atinge o
conjunto do sistema nervoso e endócrino com repercussões sobre os sistemas digestivo e
cardiovascular. O ruído intenso pode contribuir a problemas de equilíbrio e reforçar os
efeitos de certos tóxicos.
De uma maneira geral, os ruídos agudos são mais perigosos que os ruídos graves, os
ruídos repentinos e inesperados mais que os ruídos previsíveis. Para um determinado ruído,
os riscos dependem não somente da duração total de exposição durante a jornada de trabalho
mas também da duração dos períodos contínuos de exposição (uma série de exposições
curtas com períodos de silêncio é menos perigoso que uma exposição contínua de mesma
duração total).
Nas indústrias de processos, as principais fontes de ruído são: máquinas giratórias,
os deslocamentos de fluidos (líquidos e gases) nas canalizações e os aparelhos (tiragem dos
fornos, colunas, válvulas de espera). Dentre os ruídos impulsivos é preciso citar, em
particular, os choques térmicos nas tubulações.
Reduções consideráveis no nível de ruído de máquinas, equipamentos e instalações
em geral podem ser obtidas agindo-se desde a concepção sobre:
* A equilibragem das máquinas giratórias: a eliminação do desequilíbrio limita
fortemente o nível de ruído. Ela pode ser especificada no Caderno de Encargos dos
aparelhos;
* A concepção das paredes dos aparelhos: os corpos de bombas, as paredes em chapas
constituem-se, às vezes, em repercutidores de sons. A rigidificação das paredes é
suficiente para eliminar este problema;
* A separação dos aparelhos: a previsão de suspensões elásticas sob máquinas
giratórias e aparelhos barulhentos evitará a transmissão do ruído por via sólida e a
ressonância das estruturas metálicas circunvizinhas. Estas suspensões são
calculadas em função da massa e do regime de rotação dos aparelhos e dos materiais
que são escolhidos para resistir ao ambiente (óleo, calor, etc). Da mesma forma,
juntas anti-vibratórias podem ser colocadas nas entradas e saídas dos aparelhos;
* A concepção da geometria das tubulações: o ruído de uma expansão gasosa ou de
fluxo líquido pode ser consideravelmente reduzido pelo desempenho das tubulações
(variação progressiva do diâmetro) ou da válvula. Os dados correspondentes são
fornecidos pelos manuais de mecânica dos fluidos. O mesmo acontece para os
escapamentos pneumáticos. Juntas de dilatação podem diminuir os efeitos de
"choques térmicos".
* A capotagem de certos aparelhos: a capotagem é a penúltima solução aos
problemas de ruído dos equipamentos (a última é a utilização dos equipamentos de
proteção individual). Este método apresenta, todavia, um certo número de
inconvenientes: pode privar os operadores de certos índices visuais ou táteis, torna
difícil a tomada de amostras, as manobras, as regulagens ou as reparações. Quando
esta solução for a escolhida, é necessário então prever desde a origem os arranjos
físicos da capotagem em função das atividades acima mencionadas, prevendo
também a desmontagem e a manutenção.

2) As vibrações provocadas pelos equipamentos e máquinas

Vibrações severas sofridas pelas mãos (ferramentas vibrantes) podem provocar


danos neurológicos, circulatórios, modificações da força muscular e da destreza manual.
Podem ocorrer danos graves que são reconhecidos como doenças profissionais. Por outro
lado, vibrações aplicadas em todo o corpo (veículo de transporte, pisos vibrantes) podem
provocar ressonâncias nas vísceras e solicitar particularmente os músculos e o esqueleto
(coluna vertebral).
Tendo em vista a importância destes problemas, é fundamental a utilização de
referências especializadas no assunto, quando estes equipamentos forem empregados (ver
referências bibliográficas no final do capítulo).
Sem atingir este nível de gravidade, numerosos equipamentos submetem os
trabalhadores a penosas vibrações: segundo a freqüência (vibrações mais ou menos rápidas),
diferentes funções podem ser afetadas, conforme quadro a seguir:

Freqüência Sensações provocadas


2 a 15 Hz Dores toráxicas, dificuldades respiratórias
2 a 20 Hz Dores abdominais, problemas digestivos
4 a 10 Hz Dores de cabeça
5 a 30 Hz Problemas visuais (perturbações do movimento |
dos olhos, baixa da acuidade visual)
4 a 300 Hz Formigamento nos dedos
Tabela 11.2 Conseqüências provocadas pelas vibrações

Em particular, a precisão dos gestos diminui e problemas de equilíbrio podem


aparecer. Para evitar as vibrações devido a um equipamento, pode-se calcular as freqüências
de ressonância que permitem eliminar o desequilíbrio, agir sobre a suspensão e sobre a
separação de máquinas giratórias.

3. As condições térmicas geradas pelas instalações

O trabalho sobre as unidades expõe os operadores às variações climáticas, devido às


intempéries e às condições térmicas particulares de certas instalações (zonas quentes, zonas
frias).
 Os efeitos sobre o organismo
O organismo reage ao frio por uma modificação da circulação sangüínea
(abaixamento da temperatura da pele), visando diminuir as perdas de calor, e por
movimentos involuntários (tremedeira). A precisão dos gestos diminui consideravelmente
(dedos dormentes).
Em ambiente quente, o organismo tem dificuldade de liberar seu calor próprio. A
circulação sangüínea é modificada e a freqüência cardíaca aumenta. A produção de suor
aumenta, mas somente com sua evaporação é que o organismo se refresca. Trabalhos físicos
intensos em ambientes quentes são perigosos: o coração é solicitado tanto pelos esforços
físicos, como pelas condições climáticas e em condições extremas uma síncope pode ocorrer.
Por outro lado, se a regulação térmica do organismo é ultrapassada, a temperatura interna
não é mais mantida (choque térmico).

 Principais problemas
Nas indústrias de processos, dois problemas principais devem ser tratados desde os
estudos de Engenharia Básica:
* A exposição às intempéries (vento, chuva, calor, frio) pode ser reduzida pela
concepção das superestruturas (cabines, paredes, etc). Entretanto, elas devem
respeitar as exigências de visibilidade e de acessibilidade reveladas pela análise do
trabalho e evitar a acumulação eventual de gases tóxicos.
* O trabalho em zonas quentes, tendo em vista os riscos que ele pode provocar sobre
os indivíduos, deve ser objeto de uma atenção particular. Neste caso, deve-se agir
tanto sobre o próprio ambiente de trabalho como sobre as fontes de esforços.

 As trocas térmicas
As trocas de calor entre os equipamentos e os operadores podem ocorrer:
* Por condução: contato entre a pele e uma parte do equipamento;
* Por convecção: contato entre a pele e um fluido (ar, água, vapor, etc);
* Por radiação: as paredes quentes emitem radiações que são absorvidas pela pele e
lhe transmitem calor.

Considerando as diferentes trocas térmicas, somente a medida da temperatura com


um termômetro não permite caracterizar um ambiente térmico. Neste caso, é necessário
realizar uma série de medidas (temperatura úmida, temperatura seca, umidade relativa,
velocidade do ar, etc), que permitem avaliar as condições de conforto térmico, considerando
os esforços efetuados e as vestimentas utilizadas.
Uma das principais ações durante a concepção diz respeito à radiação térmica: o calor
irradiado pelos equipamentos é perdido, o que faz com que em números casos, o isolamento
térmico seja decidido por razões econômicas. Certos dispositivos têm, entretanto, a função
de dissipar calor. Neste caso, é necessário encontrar soluções técnicas para que o calor
dissipado não atinja zonas onde são efetuadas manobras.

 Diminuição dos esforços físicos nas zonas quentes


É possível agir sobre os dispositivos técnicos para limitar as exigências de esforços
físicos elevados. Por exemplo, os comandos das válvulas de grandes dimensões podem ser
multiplicados (mas o tempo de manobra é ampliado), munidos de motores elétricos ou de
turbinas a ar comprimido, dispositivos de elevação e de manutenção podem ser previstos
para evitar a manipulação de sacos. Escadas podem ser instaladas ao invés de escadas de
mão, ...

 Escolha de vestimentas de trabalho adaptadas


As vestimentas protegem dos contatos com as partes quentes mas dificultam a
evaporação do suor, que é o principal meio utilizado pelo organismo para dissipar o calor.
Se o suor escorre ao invés de se evaporar, o calor não é eliminado.
Certas vestimentas de trabalho herméticas por razões de segurança levam este
inconveniente ao extremo. É necessário então limitar a utilização destas vestimentas
estritamente à duração e à intensidade dos esforços efetuados. Um ambiente quente e úmido
produz o mesmo efeito: o suor não pode se evaporar e o organismo não consegue mais
manter sua temperatura central. Uma ventilação adequada pode, às vezes, limitar estes
inconvenientes.

4) O ambiente luminosos dentro das instalações

Informações detalhadas sobre o ambiente luminoso são fornecidas no capítulo 10,


referentes à concepção dos locais e dos espaços de trabalho. Todavia, para a iluminação das
próprias instalações certas precauções particulares devem ser tomadas:

 A definição das zonas a iluminar


Uma iluminação geral é necessária, assim como uma iluminação das zonas de
circulação. Além disso, certas zonas devem ser objeto de cuidados especiais quando da
concepção das luminárias: trata-se de todas aquelas em que o operador procura a informação
sobre o estado do processo. Podem ser indicadores ou painéis, mas também zonas onde são
procurados "índices informais" (aspecto de um produto, por exemplo). Se as manobras são
efetuadas em função destes índices, a "tocha" individual de cada operador não é suficiente
para iluminar estas zonas à noite. Entretanto, os responsáveis pelo projeto não podem prever
sozinhos estas zonas significativas a serem iluminadas: é necessária a participação dos
próprios operadores.

 Ofuscamento
Se o ambiente em geral for menos iluminado, o operador será facilmente ofuscado à
noite pelas zonas mais iluminadas. Este ofuscamento pode ir até um nível de impedir a leitura
de certos indicadores. Para evitar estes problemas será necessário prever:
* Um nível geral de iluminação suficientemente elevado e homogêneo (200 lux) nas
vias de passagem;
* Uma variação progressiva da iluminação em torno das zonas mais iluminadas;
* Uma concepção das fontes luminosas que evita que o operador não veja diretamente
o tubo ou a ampola;
* Superfícies que não produzam reflexos (evitar pinturas brilhantes), com coeficientes
de reflexão suficientemente homogêneos (evitar uma zona clara no meio de uma
zona escura). Estas condicionantes não impedem de escolher, por razões estéticas,
cores "agradáveis".

 Limpeza e recolocação das fontes luminosas


Num ambiente industrial, as lâmpadas podem perder 30% de sua eficiência se elas
não são limpas anualmente (sobretudo nas zonas mais empoeiradas). É preciso acrescentar
ainda a usura das próprias lâmpadas, que diminuirá sua eficiência em 20% antes de sua
substituição.
Neste sentido, é indispensável prever uma limpeza regular das luminárias e uma
renovação preventiva das lâmpadas. Isto implica que no momento da concepção da
iluminação, a manutenção das luminárias seja prevista. Os fornecedores de material elétrico
propõem múltiplas soluções para facilitar esta manutenção.

11.5. AS REUNIÕES DE TRABALHO COM A SUPERVISÃO DA OBRA

O termo de referência/equipamentos pode estabelecer diferentes fases de "reuniões"


entre o grupo de gerenciamento da obra (ou dos grupos de trabalho) e a supervisão da obra:
* Reconstituições da atividade futura provável durante os estudos de Engenharia de
Detalhamento, desde que as decisões sobre a estrutura do equipamento estejam
estabilizadas e, em seguida, na medida em que a definição detalhada dos
equipamentos esteja completa;
* Visitas junto aos fornecedores durante a montagem das máquinas e equipamentos;
* Recepção formal das máquinas e equipamentos junto aos fornecedores, antes da
entrega;
* Recepção de "posta em marcha" de uma duração suficiente e o teste com o pessoal
real da futura instalação (perigo de um "teste-run" efetuado apenas por técnicos dos
fornecedores);
* Recepção de funcionamento estabilizado.

Os documentos necessários às reconstituições da atividade futura provável exigem


as mesmas considerações já vistas a propósito do Termo de Referência "Locais e espaços de
trabalho". Entretanto, é preciso assinalar a grande dificuldade de se representar os volumes,
no caso de um equipamento complexo, numa planta bidimensional. Por isso o interesse na
utilização de maquetes:
* Maquetes em escala 1:20 (ou 1:50) do equipamento em verdadeira grandeza;
* Mock-ups das estações de trabalho, das zonas de freqüentes intervenções humanas
ou particularmente sensíveis.

Em determinados casos, é possível realizar análises sobre máquinas análogas, já em


funcionamento, para permitir aos grupos de trabalho precisar alguns pontos.
No caso de um equipamento reproduzido em vários exemplares, pode-se realizar um
protótipo a partir de modelos em escala reduzida.
Da mesma forma, pode ser solicitada à Engenharia Consultiva que forneça ao grupo
de gerenciamento do projeto relatório preparado sobre os modos degradados de
funcionamento (por exemplo: "árvores de falhas"). Isto pode permitir ao ergonomista
levantar certas características prováveis da atividade de diagnóstico ou de recuperação de
incidentes.

11.6. CONSIDERAÇÕES DA FLEXIBILIDADE

Apesar do cuidado dispensado na análise das situações de referência, apesar das


competências dos serviços envolvidos na concepção, é impossível prever tudo durante os
estudos de engenharia. Fontes de variabilidade podem ser subestimadas e condicionantes do
ambiente podem evoluir.
É provável que graves dificuldades aparecerão durante a Operação Piloto e mesmo
em funcionamento nominal, se a boa marcha do dispositivo supõe que seja reunida uma série
(seqüência) de condicionantes de difícil estabilidade.
Um dos desafios da concepção é, então, que o sistema aceite faixas de variação em
torno de suas condições normais de funcionamento. Na realidade todo processo, mesmo em
funcionamento nominal, apresenta certas flutuações em torno de um ponto de equilíbrio.
Esta regra assume uma importância particular na concepção de interfaces entre os operadores
e a máquina: é necessário que as interfaces permitam uma diversidade dos modos operativos,
segundo os operadores, os momentos, etc.
A fim de favorecer esta flexibilidade, é necessário muitas vezes não definir
completamente (restringir) certas interfaces, certos acessórios, certas regulagens durante as
recepções, na montagem, nos ensaios e na operação piloto.
Para alguns equipamentos, uma outra característica importante é a facilidade que eles
têm de serem modificados posteriormente, para permitir evoluções do produto, da
organização, etc.
11.7. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

DANIELLOU, F., L’operateur, la vanne, l’ecran: l’ ergonomie des salles de controle.


Moutrouge (France): Anact, 1986.

INT., Levantamento antropométrico dos trabalhadores das indústrias de


transformação do RJ. Rio de Janeiro: INT, 1988.

INRS., Las vibrations industrialles. Paris: INRS, 1983.

Mc CORMICK, E., et all., Human factors in ingineering and design. New York: Mc
Graw-Hill, 1982.

PLUYETTE, J., Hygiène et sécurité. Paris: sirtes, 1983.

RNUR., Aie-mémoire d’ergonomie: conception et réception des postes de travail. Issy


Les Moulineaux (France): Sirtes, 1983.

WISNER, A., Diversité des característiques physiques dans les pays en dévelopement
industriel: conséquences ergonomiques. In: Industriel Ergonomiques. Amsterdam,
1989.

WOODSON, W. F., et all. Guide d’ergonomie. Paris: Editions D’organisation, 1978.


CAPÍTULO 12

A CONCEPÇÃO ERGONÔMICA DOS DISPOSITIVOS DE APRESENTAÇÃO


DAS INFORMAÇÕES, DOS COMANDOS E DOS SOFTWARES

O presente capítulo propõe procedimentos que permitem a adaptação dos dispositivos de apresentação
das informações, dos comandos e dos softwares às características psicofisiológicas do homem. Desta
forma, espera-se contribuir na concepção de dispositivos mais adequados, proporcionado ao indivíduo
uma confiabiliadade maior no tratamento das informações e, consequentemente, na tomada das
decisões.

12.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS DE PROJETO

A adaptação dos dispositivos de apresentação das informações, dos comandos e dos


softwares, às características de funcionamento do Homem atende, na realidade, a dois
aspectos parcialmente distintos:
1) a adaptação às características psicofisiológicas gerais do ser humano, levando-se
em conta as situações de trabalho as mais desfavoráveis. Neste sentido, procura-se
dimensionar o tamanho dos caracteres alfanuméricos para que eles sejam visíveis, mesmo
para os operadores que porventura tiver alguma dificuldade visual. Da mesma forma,
procura-se limitar as solicitações da memória de curto termo e respeitar os estereótipos os
mais corriqueiros.
Este aspecto já foi objeto de vários estudos em ergonomia e possui uma literatura,
relativamente, abundante (ver no final deste capítulo), tanto no que se refere ao campo dos
dispositivos clássicos de apresentação de informação (quadros sinóticos, consoles), como
no campo dos dispositivos mais recentes de sistemas informatizados, utilizando terminais de
vídeo para a apresentação das informações. Neste caso, designaremos as recomendações que
serão dadas, pelo termo de Recomendações Ergonômicas Gerais.
2) a adaptação do sistema de apresentação de informação e de diálogo à dinâmica das
ações do operador.
Este aspecto não pode ser abordado apenas a partir da consideração de dados e de
recomendações disponíveis na literatura. Ao contrário, para cada situação de trabalho a ser
concebida, procurar-se-á meios de prever as características pertinentes da estrutura da ação
futura dos operadores. A contribuição da ergonomia não consiste em apenas fazer
recomendações gerais, mas oferecer métodos de análise, cujo desenvolvimento leva ao que
se chama de Recomendações Ergonômicas Estruturais, da ação dos indivíduos.
De fato, estes aspectos são apenas parcialmente independentes: a disposição das
informações sobre uma console ou sobre uma tela de terminal de vídeo, por exemplo, não
pode ser definida apenas a partir de recomendações ergonômicas gerais do tipo "posicionar
as informações, as mais importantes, nas zonas visadas de maior freqüência da direção do
olhar". A aplicação desta recomendação geral, não é independente da compreensão da
estrutura de reagrupamento dos parâmetros, que é pertinente para a ação do indivíduo.
A dificuldade, no que diz respeito à Ergonomia de concepção, é que o segundo
aspecto deve ser considerado, de forma precoce, durante os estudos de engenharia básica,
enquanto que o primeiro é considerado ao longo dos estudos de engenharia de detalhamento
e diz respeito mais a concepção das interfaces, do que em relação à estrutura de base do
sistema.
Assim sendo, é necessário que métodos sejam empregados para fornecer aos
projetistas, suficientemente cedo no desenvolvimento do projeto industrial, características
pertinentes da estrutura da ação do indivíduo.

12.2 METODOLOGIA GERAL DE CONCEPÇÃO DE UM DISPOSITIVO DE


APRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO

A informação sobre o estado do processo, de uma determinada instalação


automatizada, pode ser apresentada de duas formas: analítica (sinóticos clássicos) ou
sintética (terminais de vídeo). Neste parágrafo, apresentaremos uma metodologia geral para
a concepção de um sistema de apresentação da informação, que leve em consideração estas
duas possibilidades e todas as combinações intermediárias.

12.2.1 A análise de situações de referência

A análise de situações de referência, que será desenvolvida no parágrafo 12.3,


permite fornecer aos projetistas, dados sobre a estrutura das ações dos trabalhadores e sobre
as situações de ação tipos suscetíveis de serem encontradas na situação futura.

12.2.2 A redação dos termos de referência

A partir da análise das situações de referência, é possível fornecer aos projetistas:


*Recomendações ergonômicas estruturais;
*Recomendações ergonômicas gerais, que poderão ser relacionadas com as
precedentes;
*Proposições para uma sistemática de avaliação das soluções, baseadas sobre uma
reconstituição da atividade futura provável.
Neste estágio dos termos de referência, será necessário fornecer aos projetistas,
indicações sobre o tipo de configuração do dispositivo futuro (maquete do console, protótipo
do software e outros) e determinar com eles, os períodos os mais favoráveis para o seu
desenvolvimento.

12.2.3 As reconstituições da atividade futura

Os métodos que podem ser empregados para as reconstituições futuras da atividade


e as precauções correspondentes já foram abordados no capítulo 8 deste livro.

12.2.4. A análise do trabalho na fase de operação do sistema


Uma análise ergonômica do trabalho, após a colocação em marcha das instalações, é
recomendável para compensar os limites da previsão da atividade futura e para permitir os
ajustes necessários no sistema.

12.3 ANÁLISE DE SITUAÇÕES DE REFERÊNCIA

A análise de situações de referência objetiva fornecer aos projetistas dados


pertinentes à atividade futura provável.
Na abordagem habitual de projetistas e analistas de sistemas, pode-se identificar uma
fase de análise, que visa recolher as características pertinentes do trabalho, que será
informatizado ou automatizado. Todavia, esses métodos apresentam em geral as seguintes
lacunas:
* o trabalho a ser efetuado é analisado a partir de descrições formais, documentos ou
de indicações fornecidas pela hierarquia;
* numerosos elementos de variabilidade do trabalho podem ser subestimados. A
ocorrência de "casos raros" podem ser numericamente pouco significativos, mas
representam uma parte importante das dificuldades encontradas pelos trabalhadores. Neste
sentido, se eles não forem detectados por uma análise preliminar, o sistema não o
simplificará, muito pelo contrário, na maioria dos casos, poderá ainda torná-lo mais
complexo sem tratamento;
* a análise formal assim realizada não evidencia a dinâmica das ações do indivíduo:
as diferentes classes de atividades são tratadas de forma independentes, enquanto que, na
realidade, elas podem se interromper mutualmente, ter relações de dependência, etc...;
* a análise aborda raramente as características da população de usuários;
* a análise do trabalho anterior, não permite prever as atividades ligadas à operação
do novo dispositivo (por exemplo, gestão dos disquetes, configuração do sistema,...) e as
interferências entre estas atividades de operação e a atividade principal.
A análise ergonômica da atividade dos trabalhadores, na situação que vai ser
modernizada (automatizada ou informatizada), permite precisar qual é o objeto do trabalho
realizado pelos mesmos. Assim, Leplat (1985), no controle da navegação aérea, evidenciou
que o objeto do trabalho dos controladores não era a posição individual dos aviões, mas os
pares de aviões, mais precisamente, os pares de aviões futuros. Da mesma forma, Daniellou
(1985), no controle de processo de uma refinaria de petróleo mostrou que, para a equipe de
gerenciamento, não se tratava somente de analisar a informação fornecida pelo sistema, mas
também de construir uma informação pertinente sobre o estado do processo.
A análise da situação anterior, permite fornecer aos projetistas uma imagem
do trabalho, que não diz respeito somente às operações as mais freqüentes ou as mais
próximas da tarefa prescrita, mas que evidencia um conjunto de "casos particulares", que
podem constituir uma parte importante da atividade dos operadores.
No caso da automação de escritórios, por exemplo, pode-se colocar em
evidência elementos de variabilidade ligados aos seguintes aspectos:
* A diversidade das demandas dos clientes, ou de suas formulações;
* A diversidade dos documentos de origem (caso dos documentos não formalizados,
por exemplo cartas dos clientes);
* As diferenças de atividade, durante uma jornada de trabalho, um mês, um ano,...;
* A regulamentação que serve de base ao tratamento da informação (caso das
administrações por exemplo);
* A recuperação de certos documentos após um longo período.
A previsão das atividades de operação do futuro dispositivo não pode, evidentemente,
ser feita somente a partir da análise da situação anterior. Neste sentido, é necessário então,
encontrar uma situação de referência, onde tenha um dispositivo técnico próximo daquele a
ser implantado (conforme capítulo 6). A análise desta situação parmitirá levantar, ao menos,
duas grandes classes de atividades de operação:
No caso de uma automação de escritório, pode-se levantar por exemplo:
* gestão dos fichários e dos disquetes;
* configuração inicial do sistema;
* utilização de programas aplicativos;
* utilização do equipamento (conexões, panes materiais).
No caso de uma automação industrial, pode-se levantar, por exemplo:
* as atividades ligadas ao acionamento e à inicialização dos equipamentos;
* as atividades de configuração do sistema para uma determinada produção;
* as atividades ligadas às paradas de urgência;
* as atividades de manutenção do console.
A partir destes dois tipos de análise (da situação existente e da situação de referência),
é possível prever a diversidade dos usuários que utilizarão o sistema de apresentação de
informação, assim como as diferenças de objetivos perseguidos por cada um deles.
Assim, pode-se, então, formalizar as situações de ação tipos, precisando para cada
uma:
* os usuários envolvidos;
* as "configurações" da situação que são suscetíveis de provocar cada uma dessas
ações, isto é, os "motivos-causas" das ações (o que provoca a ação);
* os "objetivos-visados" (motivos-termos), os critérios de sucesso, as alternativas em
caso de uma "manobra-falsa" e, eventualmente, os parâmetros que permitem verificar que
os objetivos foram atingidos;
* os diferentes objetivos intermediários necessários para atingir o objetivo global;
* as condicionantes de tempo;
* as variabilidades possíveis no interior de uma "situação de ação tipo";
* as necessidades de anulação ou de correção de uma ação considerada incorreta.
Por outro lado, é indispensável fornecer, também, aos projetistas, dados sobre a
estrutura temporal dessas diferentes ações tipos. Em particular:
* as interrupções previsíveis de uma ação por outra: interferências (responder a uma
chamada telefônica, que exige a consulta de um outro dossiê, diferente daquele que estava
sendo tratado), antecipações (enquanto aciona um comando, detecta uma informação e anota
imediatamente);
* os eventos que se desenvolvem simultaneamente e que exigem uma planificação
de seu tratamento por parte do operador;
* as relações de dependência entre ações.
Enfim, pode-se constatar que esses elementos, que caracterizam as situações de ação
futuras, não terão conseqüências somente sobre a concepção das interfaces, mas também,
sobre certas decisões em termos da própria arquitetura do sistema de tratamento da
informação:
* centralização versus descentralização da apresentação da informação: quando se
trata de instalações de grande porte este é um dos problemas da arquitetura do sistema que
deve ser considerado;
* dimensionamento do sistema (memória, capacidade do sistema);
* escolha e número de sensores a serem implantados nos diversos pontos sensíveis
do sistema;
* definição do que deve fazer parte das "camadas" internas do programa (os mais
difíceis de modificações) e das camadas externas (que devem permitir modificações após as
reconstituições previsíveis da atividade futura e das análises do trabalho);
* definição dos procedimentos que serão objeto de um tratamento automático e dos
procedimentos que poderão exigir uma intervenção manual;
* definição dos limites de controle automático sobre as ações do operador (ações
impossíveis);
* importância das interfaces tradicionais (sinóticos) e dos terminais de vídeo, no caso
de uma automação industrial; e dos documentos (manuais) e dos terminais de vídeo, no caso
de uma automação de escritório.

12.4 A CONCEPÇÃO DOS CONSOLES E QUADROS SINÓTICOS

Após a escolha das grandes decisões relativas ao sistema de apresentação da


informação é possível, então, definir a concepção dos diversos subsistemas, detalhando-se
os seguintes aspectos.

12.4.1 Escolha do modo de apresentação das informações

Importância da escolha entre a apresentação da informação do tipo exposta (quadro


sinótico, painéis, gravadores tradicionais) e a apresentação da informação do tipo solicitada
(terminal de vídeo, apresentação da informação multifunções).
A apresentação da informação do tipo exposta, possui as seguintes características:
* grande número de indicadores visíveis a partir de uma única "olhada";
* fácil memorização das zonas onde se encontra a informação;
* a consulta da informação por um operador é visível pelos outros e os informa sobre
o desenvolvimento da ação do primeiro;
* possibilidade de apresentação da informação em grandes caracteres, o que facilita
a visualização de longa distância;
* necessidade de deslocamento quando a informação é dispersa sobre grandes
quadros sinóticos;
* a apresentação é única: a informação encontra-se exposta num único local;
* a apresentação é rígida: se modificações forem necessárias, é preciso mudar a
instalação elétrica.

Em contrapartida, a apresentação da informação do tipo solicitada, possui as


seguintes características:
* pouco deslocamento para consultar a informação se a atividade se desenvolve
principalmente no console;
* possibilidades de apresentação gráficas diversas e de tratamentos computacionais
mais elaborados;
* vários acessos possíveis a um mesmo parâmetro;
* facilidade de redundância e de utilização de um mesmo parâmetro nos diferentes
reagrupamentos, segundo as ações efetuadas;
* apresenta grande limitação que somente as informações solicitadas é que são
apresentadas, somente os alarmes é que chamam a atenção;
* chamada dos parâmetros exigem memorização de códigos, comandos, números...
* quando vários problemas são tratados simultaneamente, é preciso, muitas vezes,
mudar de ponto de vista;
* somente uma pessoa, cada vez, tem acesso às informações que são apresentadas;
* não é possível anotar medidas como normalmente é feita nos quadros sinóticos
clássicos.
Independentemente do suporte (sinótico clássico ou terminal de vídeo), a informação
pode ser apresentada sob diferentes formas: numérica, analógica ou simbólica.

1) Apresentação Numérica
A informação é apresentada diretamente em cifras, por exemplo: 948,5°C. Este
tipo de apresentação permite uma leitura precisa de uma medida ou a realização de um
levantamento de várias medidas no final do turno, por exemplo. Todavia, não fornece
nenhuma informação sobre a tendência de evolução da medida.

2) Apresentação Analógica sem Memória


A informação é apresentada analogicamente, seja através de uma agulha que se
desloca frente a uma escala graduada, seja através de um painel. Este tipo de apresentação
permite recusar um parâmetro sobre um valor padrão, ou ainda, observar tendências de
evoluções rápidas. Entretanto, não se presta para a realização de levantamentos precisos ou
para o acompanhamento de tendências durante um período muito longo.

3) Apresentação Analógica com Memória


Trata-se de todas as gravações ou históricos que são realizados durante a evolução
do processo. Este tipo de apresentação permite seguir a evolução dos parâmetros ao longo
do processo. Assim, a cadência da evolução permite, às vezes, saber se é o processo ou o
instrumento que está desregulado. Permite também, julgar a velocidade de variação e,
conseqüentemente, prever as seqüências da evolução. Enfim, permite pesquisar os estados
anteriores dos parâmetros através da análise da fita gravada.
4) Apresentação Simbólica
A informação é apresentada de forma codificada, como por exemplo um sinal
luminoso que muda de estado (aceso/apagado). Outras apresentações simbólicas que
existem: diagramas que mudam de cor num quadro sinótico, gráficos cujas formas se
modificam em função do estado do processo num terminal de vídeo, etc... Este tipo de
apresentação permite identificar rapidamente as características essenciais de uma situação.
Permite também, memorizar um estado de um conjunto sem carregar a memória de uma
série de valores numéricos. Todavia, informa apenas qualitativamente a evolução do
processo, não sendo então, suficiente para permitir uma intervenção precisa.
Como se pode observar, os diferentes modos de apresentação da informação são
complementares. Em geral, a escolha de um ou de outro modo de apresentação depende das
ações que são realizadas pelo operador, por exemplo: vigilância geral das instalações,
levantamento de dados no final do turno, tomada de informações no início do turno,
manobras programadas, identificação de uma disfunção e o tratamento desta disfunção.

12.4.2 Regras oficiais de apresentação da informação

Após a escolha do modo de apresentação da informação, é possível entrar nos


detalhes da concepção dos consoles e quadros sinóticos. Um certo número de regras gerais
são utilizadas na concepção de todos os sistemas de apresentação da informação. Algumas
recomendações específicas, para certos tipos de apresentação, serão dadas nos parágrafos
seguintes.

1) Regra das Características Físicas


As características físicas dos sinais e dos comandos devem atender às capacidades
de percepção e de manipulação de todos os operadores:
* boa visibilidade;
* a informação não é transmitida quando ela é apresentada unicamente sob a forma
de mudança de cores;
* a localização dos sinais deve ser compatível com a dispersão das características
antropométricas da população;
* os sinais sonoros devem ter uma freqüência suficientemente baixa (menor ou igual
a 800 Hz), para serem entendidos por todos os trabalhadores.

2) Regras das Ligações Informação/Ação


Os comandos e as informações relativos a uma mesma ação devem estar situados
o mais próximo possível, a fim de favorecer o controle do resultado desta ação. Assim, é
necessário identificar, preliminarmente, as situações de ação tipos e o local onde pode
encontrar-se um operador, quando ele precisa de uma informação. Deve-se respeitar os
estereótipos "aquisição da informação/ação". Por exemplo: associação dos dispositivos de
informação e de comando, com os dispositivos de telecomunicação.

3) Regra de Reagrupamento
O reagrupamento de informações deve favorecer o diagnóstico, isto é, facilitar a
identificação de configurações significativas. Em particular, os diferentes indicadores, que
permitem escolher entre várias hipóteses aquela que é a mais pertinente, devem ser
reagrupados.

4) Regra de Verificação
É um caso particular da regra de reagrupamento: as informações que permitem
verificar a confiabilidade de um indicador devem estar colocadas junto a este indicador. Uma
indicação que nada permite verificar é, muitas vezes, um fator de complicação a mais e um
risco potencial.

5) Regra de Colocação em Evidência


As informações mais importantes para a segurança das instalações e as
informações mais freqüentemente consultadas, devem ser localizadas nas zonas de maior
freqüência de direção do olhar:
* para um quadro sinótico: à esquerda e no centro, na zona do olhar privilegiado (15°
sob a horizontal, ou seja em torno de 1,5m do solo, para uma leitura em posição de pé a 1m);
* para um terminal de vídeo: o canto superior esquerdo se o vídeo contém numerosas
informações, e a parte central se o vídeo contém poucas informações.

6) Regra de Homogeneidade
As convenções escolhidas devem ser as mesmas para todos os dispositivos
equivalentes:
- desenvolvimento do tempo no mesmo sentido em todos os mostradores;
- mesma graduação para todos os mostradores;
- mesmo sentido de variação (origem do mesmo lado);
- mesmas abreviações;
- mesmas cores.
Estas convenções devem respeitar os estereótipos disseminados na população em
questão.

7) Regra de Manutenção
Antes de instalar um sistema de apresentação da informação é necessário responder
algumas questões em caso de pane do sistema: como é detectada? como é reparada? como
se trabalha, apesar dela?
Acrescente-se a estas questões uma interrogação sobre a capacidade do dispositivo
de evoluir, em função das evoluções de produção, de populações de usuários, etc.

8) Uma conseqüência - a redundância


Uma conseqüência das regras precedentes é que é necessário que uma mesma
informação figure em vários locais (diferentes pontos da máquina, diferentes telas de vídeo)
e, eventualmente, sob diferentes formas (valor numérico, histórico, simbólico e outros).

12.4.3 Recomendações específicas aos alarmes

O problema da concepção dos alarmes é um dos mais difíceis dentre aqueles que são
encontrados durante a especificação do sistema.
A Ergonomia não fornece normas simples de serem empregadas para qualquer
sistema de alarmes. Todavia, pode se precisar como este problema, em geral, se apresenta, a
fim de facilitar a elaboração de soluções próprias para cada situação específica .

1) As Funções de Um Alarme
Um sistema de alarme é utilizado de forma diversa pelos operadores. Ele responde a
diferentes exigências que poderão encontrar soluções próprias em cada estágio da
concepção:
* Chamar a Atenção
A função mais evidente de um sistema de alarme é chamar a atenção de um operador
sobre a modificação de estado do processo, mesmo se ele não esteja vigiando esta parte da
instalação. O alarme lhe indica para se reportar a indicadores mais precisos para diagnosticar
a evolução em curso e tomar as decisões que se impõem.
* Assinalar Que Um Objetivo foi atingido
Os operadores utilizam, às vezes os alarmes como um terceiro olho. Por exemplo, no
enchimento de um reservatório tipo balão, no final da operação o operador será prevenido
por um alarme de nível cheio. O operador não tem necessidade de vigiar o nível,
permanentemente, e pode ocupar-se de outros problemas. O alarme desenvolve o mesmo
papel que um observador delegado pelo operador com a senha "me previna quando o
reservatório estiver cheio".
* Dar Uma Indicação Global do Estado do Processo
Quando o operador volta à sala de controle, depois de um certo tempo ausente, a
configuração dos alarmes lhe dá uma indicação global do estado do processo e possíveis
pontos a serem vigiados mais intensamente.
2) As Dificuldades Encontradas
A análise de diferentes sistemas de alarmes coloca em evidência múltiplos
problemas, relativos a importância que têm os mesmos no gerenciamento do processo.
Alguns sistemas têm soluções técnicas conhecidas, outras podem exigir um trabalho de
pesquisa aprofundado.
* Os Alarmes Normais e os Alarmes Antecipados
Certos alarmes são reputados como "normais”. Eles não exigem nenhuma
intervenção por parte do operador que os percebe. Eles são incômodos nas fases perturbadas
do sistema, quando sua percepção exige do operador a interrupção de uma ação prioritária,
que estava sendo realizada.
Outros alarmes são antecipados pelo operador. Ele percebe, por exemplo, a subida
da temperatura e procura, por todos os meios disponíveis, evitar que esta ultrapasse os limites
admissíveis. Neste momento, o alarme é acionado. Aqui também, o acionamento do sinal
pode representar uma condicionante que não corresponde a nenhuma percepção suplementar
de informação.
* O Procedimento de Acionamento do Alarme
O procedimento de acionamento de um alarme deve ser concebido de forma a não
representar uma carga suplementar, sobretudo nas fases perturbadas do sistema. O
aparecimento dos alarmes se dá, normalmente, por um sinal sonoro e por um sinal luminoso,
que precisa o parâmetro envolvido. O acionamento ocorre, às vezes, em dois tempos:
- supressão do sinal sonoro;
- acionamento do sinal luminoso, quando o operador identificou precisamente o
parâmetro envolvido.

Neste sentido, é essencial que todo sinal sonoro e todo sinal luminoso "agressivo"
(farol) possa ser suprimido por uma única ação do operador, sem necessidade de
deslocamentos. O operador é informado do acionamento do alarme, mas não é necessário
que uma sirene fique acionada durante o tempo que ele leva para atravessar a sala ou que ele
passe para visualizar uma tela correspondente. Um sinal luminoso já é suficiente para
precisar a natureza do alarme.
* A Identificação dos Alarmes Acionados
Uma sala de controle comporta algumas dezenas, às vezes algumas centenas de
alarmes. Nos quadros sinóticos clássicos, freqüentemente, pode-se observar operadores que
deslocam o olhar sobre o conjunto das informações antes de identificar o alarme acionado.
Esta pesquisa de informação pertinente, pode ser facilitada:
- por diferentes sinais sonoros segundo as zonas do quadro sinótico. Todavia, existem
limites na diversidade dos timbres sonoros que podem ser distinguidos. Esta medida aplica-
se, sobretudo, quando existe numa mesma sala, painéis de controle, relativos a unidades
distintas.
- pelo aparecimento, simultaneamente ao sinal sonoro, de um feixe luminoso em cima
do respectivo quadro de alarmes.
* A Detecção do Primeiro Defeito
Um mesmo aparelho pode ser dotado de numerosos alarmes. O funcionamento do
aparelho provoca, em certos casos, o acionamento de várias dezenas de alarmes. O operador
não sabe então, qual é o defeito que causou o acionamento e quais são aqueles que são
conseqüências do acionamento. Mesmo quando a hora de aparecimento é gravada, a precisão
não é suficiente para detectar o primeiro defeito. Esta detecção é possível graças à ajuda de
um, sistema programável, que poderá provocar uma visualização distinta entre causa e
conseqüência. A programação pode entretanto, ser complexa, na medida em que a noção de
"causa" é sempre renovada num contexto que pode englobar numerosos parâmetros.
* Alarmes "Oscilantes" :
Quando um parâmetro encontra-se próximo de seu valor limite, cada ultrapassagem
do limiar vai provocar o acionamento de um alarme, que o operador deverá considerar.
Freqüentemente pode-se constatar que os operadores inibem o alarme para não serem
constantemente interrompidos. Este método pode ser extremamente perigoso se a inibição
for esquecida.
Uma solução técnica consiste em evitar a "oscilação" dos alarmes, introduzindo um
histerese (ou faixa morta), isto é defasar o limiar de desaparecimento do sinal em relação ao
limiar de aparecimento. Uma vez acionado o alarme continua presente até que uma variação
importante se produza no sistema.
* Alarmes "Permanentes"
Um alarme que é acionado permanentemente não fornece nenhuma ou pouca
informação ao operador humano. Ele sabe somente que o limite foi ultrapassado, mas não
tem nenhuma informação sobre a tendência de evolução do processo. A solução neste caso,
é visualizar um valor alto que continua a subir e um valor que tende a se estabilizar.
* Identificação do Contexto do Alarme
Em geral o acionamento de um alarme não é suficiente para que o operador possa
decidir qual ação ele deve realizar. É necessário também localizar este alarme no seu
contexto. Neste sentido, deve-se favorecer a identificação do contexto do alarme.
Segundo a concepção de um sistema de apresentação da informação o alarme aparece
diretamente num contexto estruturado (sobre um quadro sinótico, por exemplo), ou ainda,
num ambiente não significativo (lista alfanumérica). A correlação do alarme com seu
contexto será completamente diferente num e noutro caso.

3) A Hierarquização dos Alarmes


O problema de hierarquização dos alarmes de um daqueles que tem sido objeto de
várias pesquisas e muitas polêmicas. Pode-se distinguir vários aspectos nesta discussão.
* A Noção de Pré-Alarmes
Certos alarmes não significam o aparecimento de uma situação perigosa ou mesmo
incidental. Eles simplesmente chamam a atenção do operador sobre a ultrapassagem de um
limite de tolerância, ou sobre um desvio em relação à situação considerada normal. Pode-se
chamá-los de "pré-alarmes".
O desvio admissível entre a medida e o padrão é diferente segundo as fases do
gerenciamento do sistema. Por outro lado, devem ser considerados os "pré-alarmes" como
uma ferramenta à disposição do operador a qual pode ajustar em função das circunstâncias.
Assim, pode-se prever que a regulagem dos limites dos "pré-alarmes" seja acessível ao
operador. Este poderá então utilizar os "pré-alarmes" como um apoio na vigilância
simultânea de vários parâmetros, seu acionamento não deve interromper o tratamento do
problema em curso.
Um caso particular de pré-alarme é a função "ampulheta". Se um operador tem "10
minutos para realizar uma manobra", pode-se prever uma "minuteira" que ele poderá utilizar
para lhe indicar que o lapso de tempo já transcorreu, o que alivia consideravelmente a
memória.
* Os Alarmes em Situação Perigosa
Outros alarmes exigem uma pronta intervenção do operador. Todavia como indicado
anteriormente não é cada alarme isoladamente que permite decidir as ações a serem
desenvolvidas, mas o estado global do processo.
Neste sentido a questão da hierarquização dos alarmes é muitas vezes um falso
problema. Os objetivos a serem atingidos são:
− informar ao operador que se passa alguma coisa ;
− dar ao operador meios de elaborar, o mais rapidamente possível uma representação
do estado do processo, para decidir as ações a serem desenvolvidas;
O segundo objetivo não ser atingido pelo sistema de alarme que fornece uma
informação muito limitada. Neste caso é possível questionar a hierarquização dos alarmes
da seguinte maneira:
− quais são as configurações de alarmes que impõe ao operador a necessidade de se
reportar aos mesmos grupos para julgar o estado real do processo ?
− como conceber o acionamento do alarme para que ele guie a orientação ao operador,
no sentido do grupo de indicadores significativos?
− como reagrupar os indicadores para que o operador possa elaborar, o mais
rapidamente, uma representação do estado do processo? (Em particular para que ele
possa formular diferentes hipóteses).
Assim sendo passamos de uma concepção de alarmes orientada no sentido das causas
de seu acionamento, para uma concepção orientada no sentido da antecipação das ações, que
permitirão restabelecer a normalidade da situação.
No caso, por exemplo, de um desencadeamento, a pesquisa das causas pode ser feita
com uma certa defasagem no tempo, graças às gravações. Mas o operador deve tomar,
imediatamente, medidas de salvaguarda.
A informação que esse necessita é, então, aquela que lhe permite saber se é possível
ou não retomar a normalidade da situação, de colocar ou não em funcionamento ações de
socorro. No momento seguinte ao desencadeamento do alarme, o raciocínio do operador é
orientado no sentido das ações a serem efetuadas é esta pesquisa, que o sistema de alarme
pode contribuir.

12.4.4 Recomendações específicas à apresentação da informação sobre os terminais de


vídeo
A utilização dos terminais de vídeo na automação da produção, particularmente nos
sistemas de controle de processos, tem-se generalizado nos últimos anos. Neste sentido,
presentar-se-á algumas recomendações ergonômicas a este sistema de apresentação da
informação.

1) A Divisão da Informação:
Em geral não é possível visualizar sobre uma mesma tela todos os parâmetros
referentes ao processo. É necessário, então, repartir a informação em várias telas. Essa
divisão da informação, vai desempenhar um papel essencial no gerenciamento do processo:
se porventura ela for mal concebida, os operadores, durante a resolução de um problema,
poderão ser obrigados a mudar de tela, o que exigirá de sua parte uma maior memorização e
uma maior atenção visual, dificultando a elaboração de uma representação mental do estado
das unidades e possibilitando uma maior fadiga visual do indivíduo.
Assim sendo, a repartição das informações entre telas deve ser concebida, não em
função da lógica de funcionamento do sistema (afetação administrativa dos equipamentos
por unidade), mas a partir da lógica de utilização, isto é, respeitando o reagrupamento dos
parâmetros e dos comandos, referentes a um mesmo curso de ação. A necessidade de uma
mudança freqüente de telas, dentro de um mesmo curso de ação, dificulta sobremaneira a
resolução de um incidente.
Por outro lado, deve-se considerar que, durante a resolução de um problema, há
necessidade de apresentar dois tipos diferentes de informações, de forma simultânea:
informações referentes ao problema que o operador está resolvendo e informações referentes
aos eventos que ele acompanha, sobre o desenvolvimento de forma sintética. Assim, pode-
se prever diferentes tipos complementares de terminais sinóticos de vídeo:
(a) Terminais Sinóticos de Redes
Redes hidráulicas, redes de vapor, redes de ar comprimido, enfim todo o circuito de
um produto na unidade. Esses terminais permitem varrer todos os pontos de produção e de
consumo de um produto, permitindo o estabelecimento de balanços e a detecção de possíveis
fugas;
(b) Terminais Sinóticos de Serviço
Trata-se da visualização de listas que não têm função de gerenciamento do processo,
mas que permitem efetuar levantamentos, conhecer todos os materiais implantados ou em
implantação, etc. Normalmente, é recomendável que eles possam ser vídeo copiados ou sair
via impressora;
(c) Terminais Sinóticos de Vigilância Geral
Como o próprio nome indica, esses terminais reagrupam parâmetros os mais
característicos do estado das diferentes unidades (informações analíticas). São utilizados
sobretudo nas situações normais de trabalho.
(d) Terminais Sinóticos de Manobra
Esses terminais são os mais importantes a serem concebidos. São utilizados
sobretudo nas situações anormais e de incidentes. Correspondem a situações de ação
identificadas e fornecem, para cada situação, o conjunto das informações e dos comandos
que aparecem como necessários. Para conceber em detalhes esse tipo de terminal, deve-se
considerar as seguintes regras:
− * as características físicas: é necessário respeitar as duas direções privilegiadas de
varredura visual: horizontal e vertical. Os parâmetros numéricos deverão, então, ser
repartidos sobre linhas e colunas.
É preciso assinalar que o suporte da informação a ser visualizada, normalmente uma
trama fixa, emite uma certa quantidade de informações somente no início. Esse suporte será
somente para situar os parâmetros, uns em relação aos outros. De fato, o que importa é a
figura (o detalhe a ser visualizado) e não o fundo. Neste sentido, o fundo deve ser o mais
leve possível. Uma estrutura de fundo muito pesada pode ser artisticamente bem concebida,
mas ergonomicamente carregam de forma inútil a percepção visual, em detrimento da
informação real. O problema é diferente quando o desenho de fundo muda conforme o estado
do processo.

* a ligação aquisição da informação/ação: para os terminais sinóticos de manobra, é


indispensável que o operador possa comandar as válvulas e os motores sem mudar de tela.
Duas técnicas privilegiadas são utilizadas:
− seja o operador possa fazer aparecer o comando da válvula ou do motor num
canto da tela;
− seja prever um pequeno terminal, anexo ao terminal principal, onde são
localizados os comandos.

* reagrupamento: a escolha das informações e o seu reagrupamento, constituem as


dificuldades essenciais da concepção de uma tela. De fato, muitas vezes, uma tela reagrupa
todas as medidas ligadas a uma parte da unidade. Todavia, as variações (ou possíveis
desregulagens) dessa parte têm conseqüências em outros locais, e, para localizá-las e
resolvê-las, os operadores são obrigados a percorrer várias telas.
A repartição proposta aqui, baseia-se numa análise das grandes classes de incidentes
ou de manobras, que interessam a uma parte da instalação. Num primeiro momento, é
necessário questionar sobre as razões pelas quais um operador deve intervir nesse local:
− partidas/paradas;
− mudanças de fabricação;
− mudança de quantidade de produção;
− incidentes (elevação de temperatura, variação de pressão ou de volume...).
Para as principais categorias de intervenções será possível, então, definir com os
operadores:

− os parâmetros que permitem estabelecer um diagnóstico (por exemplo: se a


elevação da pressão pode ter várias origens, é essencial que os indicadores que
permitem escolher dentre as diferentes hipóteses, estejam presentes sobre uma
mesma tela);
− os comandos que permitem efetuar a manobra;
− os parâmetros que permitem verificar o resultado das ações.
Assim, pode-se evidenciar um conjunto de elementos funcionalmente ligados, sobre
os quais vai basear-se a atividade de resolução. Esse conjunto de elementos serão
reagrupados sobre uma mesma tela.

* a verificação: dentre os parâmetros reagrupados sobre uma mesma tela, é necessário


assegurar-se que existam meios de verificação recíproca: valores que evoluem no mesmo
sentido (abertura de uma válvula de fluxo, temperatura e pressão...), sensores redundantes.
A disposição dos parâmetros sobre a tela pode facilitar essas verificações.
* a colocação em evidência: os principais parâmetros (parâmetros de segurança e parâmetros
mais consultados) devem ser localizados no alto à esquerda da tela ou no alto no centro da
tela. Esta regra não é, entretanto, imperativa se a estrutura de fundo da tela evidencia de
forma nítida uma zona privilegiada.

* a homogeneidade: a disposição dos parâmetros, em relação ao fundo, não deve provocar


confusão na sua visualização.

2) A Utilização dos Terminais Sinóticos


Freqüentemente, terminais sinóticos, mesmo projetados com cuidado, são pouco
utilizados pelos operadores. A compreensão das causas desse "abandono" pode permitir uma
melhor concepção deste tipo de dispositivo técnico:
* ausência de comandos: os terminais sinóticos unicamente de informação, sem comando de
acesso, são pouco utilizáveis.

* um único comando: os terminais sinóticos que permitem visualizar o comando de uma


única válvula, são difíceis de serem utilizados para certas manobras, onde vários parâmetros
devem ser regulados simultaneamente.

* ausência de histórico: os terminais sinóticos que compreendem apenas valores numéricos,


não permitem acompanhar as tendências. Por outro lado, do ponto de vista do raciocínio
humano, é preferível uma apresentação da informação de forma qualitativa (histórico,
curvas, tendências) ao invés da quantitativa (valores numéricos).

* acesso difícil: sobre certos sistemas, o operador deve compor um código de acesso, para
poder visualizar sobre o terminal uma determinada informação, o que pode exigir uma
memorização suplementar e, às vezes, um maior tempo de acesso.

12.5 - A CONCEPÇÃO DOS SOFTWARES DE DIÁLOGO

A importância da informática nos diversos setores da atividade humana faz com que,
atualmente, exista uma abundante literatura sobre a "Ergonomia da Informática" e,
particularmente, sobre a "Ergonomia de Software".
Assim sendo, neste parágrafo, apresentar-se-ão somente os critérios e princípios do
projeto, as considerações das teorias cognitivas, os modelos de interação e as recomendações
ergonômicas gerais.

12.5.1 Os critérios e princípios de projeto dos softwares

Os critérios ergonômicos são dimensões de projeto que, considerados ou como base


para as escolhas ou como objetivo de projeto, levam a um comportamento mais eficiente e
à prova de erros da interface com o usuário (Scapin, 1990a).
Bastien (1991), realizou um estudo para avaliar a pertinência das definições e
subdivisões dos critérios ergonômicos no qual ele apresenta a seguinte lista de critérios
elementares, com definições e justificativas:
1) Condução
Condução se refere ao conjunto de meios empregados para aconselhar, informar e
conduzir o usuário na interação com o computador. Objetiva facilitar a aprendizagem e a
utilização do sistema, permitindo que o usuário saiba em qualquer momento onde se
encontra na seqüência da interação ou na execução de uma tarefa, quais as ações permitidas,
bem como suas conseqüências, e como obter informação suplementar ao seu comando. A
facilidade de aprendizado e de utilização permite melhores desempenhos e ocasiona menos
erros. Os meios empregados são relacionados abaixo:
* presteza nas informações fornecidas aos usuários, relativas ao estado no qual ele se
encontra ;às ações possíveis ou esperadas e como acioná-las; as ajudas disponíveis e aos
formatos das entradas de dados.
* grupamento/distinção entre os itens com o objetivo de indicar seu parentesco ou
não-parentesco a uma mesma classe, ou ainda com o objetivo de mostrar a distinção entre
diferentes classes. Pode ser:
- por localização, isto é, pelo posicionamento dos itens uns em relação aos
outros. A compreensão de uma tela depende, entre outras coisas, do arranjo dos objetos,
imagens, textos e comandos. O usuário terá maior facilidade de identificar itens, de
memorizá-los e de aprender sobre eles, se forem arranjados logicamente .
- por formato, ou seja, pelas qualidades gráficas (formato, cor, etc). O usuário
terá maior facilidade de conhecer as ligações entre os itens ou classes de itens, se o seu
formato ou codificação refletirem as relações de proximidade e/ou afastamento.
* feed-back imediato nas respostas do computador. O computador deve responder a
todas as ações dos usuários o mais rapidamente possível. A qualidade e a rapidez do feed-
back são importantes para compreensão do diálogo e para estabelecer a confiança e a
satisfação do usuário, que terá assim uma boa representação do sistema. Respostas lentas
freqüentemente ocasionam ações que podem ser fontes de erros. Quando o computador está
em curso de operação o usuário deve ser informado.
* clareza nas características lexicais da apresentação da informação nas telas
(luminância dos caracteres, contraste caractere fundo, dimensões das letras, espaçamento
entre as palavras, linhas e parágrafos , comprimento das linhas e outros). A clareza facilita a
leitura das informações apresentadas. Assim, por exemplo, as letras escuras sobre fundo
claro são mais fáceis de serem lidas. Um texto apresentado em letras maiúsculas e
minúsculas é lido mais rapidamente, do que um outro só com maiúsculas

2) Carga de Trabalho
É o conjunto de elementos que desempenham para o usuário papel na redução de sua
carga perceptiva ou mnemônica e no aumento da eficiência do diálogo. Quanto maior a carga
de trabalho, maiores os riscos de erros. Da mesma forma, menos o usuário será distraído
com informações não pertinentes.
* Brevidade
− concisão nos elementos individuais das entradas e saídas (carga de trabalho ao nível
perceptivo e mnemônico). A capacidade da memória de curto termo é limitada,
conseqüentemente, quanto mais curtas forem as entradas e saídas, menor o risco de
erro.
− ações mínimas (carga de trabalho no nível das opções e meios disponíveis para
atingir um objetivo). Quanto mais numerosas e complicadas as ações necessárias
para atingir um objetivo, maior é a carga de trabalho e o risco de erros.
* Carga mental no conjunto dos elementos (carga de trabalho no nível perceptivo e
mnemônico). Os elementos sem ligação com o conteúdo da tela não devem constar nela, se
necessário, devem aparecer em outras telas.
3 ) Controle Explícito
É o controle que o usuário tem sobre o aplicativo e sobre a interface. Refere-se
também ao caráter explícito de suas ações. Quando as entradas dos usuários são
explicitamente definidas por eles próprios e sob o seu controle, as ambigüidades e os erros
são limitados.
* Ações explicitas: a interface deve executar somente as operações solicitadas pelos
usuários. Nestas situações observa-se uma menor incidência de erros.
* Controle do usuário : antecipar-se ao usuário e lhe fornecer as opções apropriadas
a cada ação, permitindo que ele tenha sempre o controle da interação.

4) Adaptabilidade
Adaptabilidade é a capacidade de interface de reagir segundo o contexto e segundo
as necessidades e preferências dos diversos usuários potenciais, tanto durante seu
aprendizado como na execução normal da tarefa. Quanto mais numerosas forem as diferentes
opções de efetuar uma mesma tarefa, maiores serão as possibilidades do usuário dominar
uma delas durante seu aprendizado. Deve-se:
* proporcionar flexibilidade nos meios disponíveis, para que o usuário possa
personalizar a interface e adaptá-la às suas estratégias ou habilidades no trabalho, fazendo
frente assim às exigências da tarefa. A personalização da interface pode contribuir para a
rapidez de aprendizado por parte do usuário.
* levar em consideração a experiência do usuário, permitindo que o sistema respeite
o nível de competência do usuário. Os usuários experientes têm necessidade de diálogos
menos explícitos que os novatos. Todas as informações e opções de comandos visíveis, bem
como diálogos sob a iniciativa do computador podem atrapalhar e tornar lento o trabalho do
usuário experiente .

5) Gestão de Erros
Gestão de erros refere às possibilidades de evitar ou diminuir a ocorrência de erros e
de corrigi-los, quando estes acontecerem. As interrupções provocadas pelos erros tem
conseqüências negativas sobre a qualidade do diálogo, prolongando as iterações e
perturbando a planificação. Itens a considerar:
* proteção contra os erros, ou seja, meios disponíveis no software para detectá-los. E
preferível detectar os erros na digitação do que na validação.
* qualidade das mensagens, isto é, pertinência e exatidão da informação fornecida ao
usuário sobre a natureza do erro cometido e das ações a executar para corrigi-lo. A qualidade
das mensagens favorece o aprendizado do sistema.
* correção de erros facilitada pelos meios disponíveis. Os erros são menos
perturbadores à medida, em que são facilmente corrigidos.

6) Homogeneidade/ Consistência
As escolhas de projeto, quanto aos objetos da interface, devem ser idênticas para
contextos idênticos. Este critério se aplica igualmente à localização e ao formato como à
sintaxe e à denominação. Os procedimentos, opções e informações são melhor reconhecidos,
localizados e utilizados quando seu formato, localização ou sintaxe são estáveis de uma tela
à outra, de uma sessão à outra e mesmo de uma aplicação à outra. Por serem mais previsíveis
estes sistemas proporcionam um melhor aprendizado. A falta de homogeneidade no
posicionamento das opções de menu, por exemplo, pode aumentar consideravelmente o
tempo de busca.

7) Significância dos Códigos


Refere-se à adequação entre a referência e o objeto de interface. Quando as
referências são significativas, a recuperação da memória e o reconhecimento são melhores .

8) Compatibilidade:
As características dos usuários devem ser levadas em conta na organização das
entradas, saídas e do diálogo, de forma que sejam compatíveis entre si. Reduzir a necessidade
de traduções, interpretações, transportes ou referências à documentação.
Os princípios de projeto encontrados principalmente em handbooks, (Schneiderman,
l988; Scapin, 1988) apontam os aspectos mais salientes de uma interface sob o ponto de vista
ergonômico. Indicam assim, como pré-requisitos para a atividade de concepção, a
consideração ao usuário e a seu trabalho. A referência ao trabalho concerne ao pleno
conhecimento de suas duas componentes: a tarefa e a atividade. Para tanto, torna-se
necessária a aplicação da metodologia ergonômica de análise do trabalho, que prevê duas
etapas principais: análise da tarefa e análise da atividade.
A etapa de análise da tarefa, ou do trabalho prescrito, descreve formalmente aquilo
que a pessoa deve realizar. Através de objetivos, procedimentos, regras de funcionamento e
restrições, evidencia a lógica de funcionamento e restrições, evidencia a lógica de
funcionamento de um sistema, como concebida por seus projetistas. O exame de métodos
informáticos revela ser esta a única lógica considerada até o momento. Já a análise da
atividade, ou do trabalho como ele é realmente realizado, faz referência à lógica de utilização
desenvolvida pelo usuário em sua rotina. Para tanto, observa-se "in loco":
* as informações que são realmente utilizadas (sua ordem, as que faltam, as inúteis e
as que induzem a erros);
* as operações efetuadas, seu encadeamento;
* tipos, freqüências, causas e condições de aparecimento dos erros e incidentes.
Pode-se inferir, assim, sobre a imagem operativa, que é a representação que o usuário
tem da realidade de trabalho, modificada e simplificada pelo que é funcionalmente
significativo. Ela amplia os elementos pertinentes e elimina os secundários. Enquanto a
lógica de funcionamento baseia-se no conhecimento das funções e de seus mecanismos
internos, a de utilização baseia-se nas repercussões visíveis do sistema (Richard, 1983). Os
conflitos entre estas duas lógicas, ou entre a tarefa prescrita e a atividade real evidenciam
muitas vezes, os pontos problemáticos, onde as pessoas desenvolvem mecanismos de
regulação cognitivamente custosos.

12.5.2 As considerações das teorias cognitivas


A questão principal, segundo as teorias cognitivas, é tornar as representações
propostas para uma interface compatíveis com aquelas desenvolvidas pelo homem em seu
trabalho (Norman, 1984).
Quando se analisa, por outro lado, as contribuições referentes aos usuários, estes
salientam de imediato as diferenças existentes inter e intra-individuos. A imagem operativa
varia de indivíduo para indivíduo e evolui nele próprio, em função de seu conhecimento do
sistema. Logo uma interface deve ser adequada a diferentes tipos de usuários, ao mesmo
tempo em que se adapta à evolução das características de um usuário específico durante seu
processo de aprendizado com o sistema.
Considerar o usuário significa conhecer, além das informações provenientes da
análise ergonômica do trabalho( idade, sexo, formação específica, conhecimentos, etc.),
também aquelas ligadas às habilidades e capacidades humanas em termos cognitivos. Na
medida em que se pretende o computador como uma extensão do cérebro humano, é
fundamental conhecer o papel que estas habilidades desempenham na tarefa informatizada.
Sem a pretensão de ser exaustiva, segue uma descrição de algumas características marcantes
da cognição humana.
Em termos de percepção, a abordagem "ecológica" de Gibson (1979) é significativa
quando coloca que a percepção humana tanto é fruto como está voltada para o meio em que
o homem vive. Este está condicionado por um meio gasoso que lhe permite a visão, a
audição, o olfato e as sensações térmicas. Vive sobre superfícies que lhe garantem os
movimentos e o contato com substâncias de diversas naturezas. Estas considerações
evidenciam um desempenho superior na percepção visual de formas, cores, distâncias,
tempo e movimentos, e limitações no tocante a códigos numéricos por exemplo. Evidenciam
a interação entre os sentidos e destes com a memória, para a compreensão da informação
como um todo lógico. Neste sentido, Rasmunssen (1980) salienta a possibilidade da
exploração de sinais, signos e símbolos como suporte perceptivos aos procedimentos
baseados em habilidades, regras e conhecimento, respectivamente.
A memória pode ser entendida a partir de um modelo de níveis com memória
sensorial, memória de curto termo (MCT) e memória de longo termo (MLT) (Cohen et all,
1986).
A memória sensorial é aquela que recebe a informação dos diferentes órgãos
sensitivos e a mantém em uma forma não interpretada por períodos de tempo muito curtos.
Da carga informacional que bombardeia constantemente os sentidos, uma pequena parte é
notada pelo indivíduo e é armazenada na memória de curto termo para processamentos
posteriores.
A memória de curto termo ou de trabalho tem uma pequena capacidade de
armazenamento, mas desempenha um papel fundamental em atividades mentais de
conversação ou de raciocínio, por exemplo. Nela são estocadas as informações sobre o
diálogo em curso ou dados de um problema matemático, enquanto que a pessoa se concentra
nos passos seguintes de sua atividade. É uma memória de trabalho, na medida em que ela é
acionada continuamente. A informação na MCT é mantida por meio de freqüentes
"rememorizações" que, com o tempo, podem transferi-la para a memória de longo termo.
Enquanto que na memória sensorial o esquecimento se dá espontaneamente, na MCT ele se
dá também pela substituição por novos itens de informação.
A memória longo termo (permanente) está organizada em estruturas que armazenam
o conhecimento adquirido no passado sobre um tipo de objeto ou evento. Os esquemas, como
são conhecidas estas estruturas, atuam por exemplo, quando a informação que chega é
ambígua ou incompleta. Nestes casos, as informações já armazenadas na estrutura
correspondente àquele evento ou objeto, ajudam a interpretar e a completar aquela que
chega. Esta característica é de grande importância no processo de aprendizado, sendo então
necessário a identificação de qual estrutura de conhecimento pode ser utilizada para melhor
assimilar o novo conhecimento. Outra característica importante é a organização hierárquica
dos esquemas, que definem prioridades de acionamento, por exemplo, para aqueles ligados
aos automatismos.
A resolução de problemas coloca em funcionamento os diferentes níveis de memória
e modos de raciocínio. Para caracterizá-la Hollnagel (1988) utiliza o termo "quase racional".
Em situações complexas, os especialistas, não conseguem explicar suas ações de uma lógica
consistente, por uma série de motivos. Entre eles está o fato do raciocínio basear-se em
modelos mentais, como os modelos operativos que, como já foi mencionado, são formas de
representação da realidade. Em muitas vezes as pessoas trabalham com pré-conceitos que
influenciam desde a sua percepção até os modos de raciocínios empregados. Em
conseqüência, nem sempre as soluções encontradas são as corretas. Em suma, as pessoas
apresentam limitações quanto ao raciocínio lógico formal e têm dificuldades para integrar as
informações no fator tempo, além de terem pouca velocidade e precisão. Por outro lado,
apresentam excelente desempenho quanto ao reconhecimento de padrões, em trabalhar com
generalizações, associações com experiências passadas e similaridades. Simplificando, o
raciocínio humano é do tipo fraco em algoritmos e forte em heurísticas, com grande
versatilidade para enfrentar situações inéditas.

12.5.3 Os modelos de interação


As contribuições relativas aos modelos de interação, fazem referência à interface com
o usuário a partir de analogia com uma linguagem de comunicação inter-pessoal. Foley et
all (1984 b) propõem uma estruturação segundo níveis de abstração conceitual, semântico,
sintático e lexical.
Em nível conceitual a interface é definida a partir de um conjunto de objetos, das
relações entre os objetos e das operações disponíveis sobre eles. Em nível semântico são
definidos os significados destes objetos, relações e operações. O nível sintático define a
gramática da linguagem, ou seja, a seqüência e o grupamento de entradas e saídas dos
"tokens" (unidades de informação que não podem ser decompostas sem a perda de seu
significado). O nível do léxico define os formatos das entradas e saídas através de "lexemas",
ou primitivas de linguagens, que podem ser alfanuméricas, gráficas ou sonoras, por exemplo.

12.5.4 As recomendações ergonômicas gerais

As recomendações ergonômicas apresentam possibilidades interessantes sob o ponto


de vista de engenharia de software. Elas são encontradas segundo os formatos gerais:
− * padrões: normas de organismos de padronização relativas à interface, como é o caso da
DIN 66234 (Principles of Dialogue Design) e da ISO/CD 9241-14 ( Menu Design
Guidelines).
− * guias: conjunto de recomendações para o projeto de IHC, geralmente com exemplos de
aplicações.
− * regras de projeto: conjunto de especificações para um sistema ou ambiente particular,
constituem os chamados "guias de estilo" de grandes companhias de software.
− * algoritmos: conjunto de regras de produção implementáveis em programas de
computador e aplicáveis ao projeto de interfaces.

São exemplos de recomendações para a apresentação de informações (Cybis,


1990):
 Minimizar as ações do usuário:
− não solicitar o mesmo dado várias vezes, tampouco as informares facilmente
dedutíveis;
− utilizar valores "default";
− o cursor não deve ter acesso a áreas não utilizadas da tela;
− prover movimentação automática do cursor;
− prover movimentação do cursor por tabulação;
− prover justificativa automática para valores decimais.
− minimizar as mudanças de modo mouse/teclado, shift/normal;
− evitar a necessidade de duplo toque;
− o software deve guardar a memória da interação de modo que o usuário não tenha
de entrar os mesmos parâmetros toda a vez em que for repetir um comando.

 Proteção:
− fornecer proteção adequada contra o acionamento involuntário de funções
perigosas;
− verificar a entrada de dados para detectar erros de formato e de conteúdo;
− fornecer funções UNDO para anular uma operação e recuperar os sistemas,
permitindo novas entradas.
 Ritmo e Ordem.
− seguir o ritmo do usuário e não o do computador;
− quando da transcrição de dados de um documento, a tela deve ter o mesmo
formato deste;
− em outros casos, seguir a seqüência lógica da tarefa.

Elas traduzem a aplicação do conhecimento ergonômico de diferentes formatos


diretamente sobre os objetos de interface e seus atributos. Embora existam problemas
relacionados principalmente com a sua organização e terminologia, trata-se de um tipo de
contribuição essencialmente prática que podem autorizar a abordagem analítica de
avaliações.
Analisando os exemplos de recomendações ergonômicas citados no inicio deste
tópico, verificas-se que seu formato é especialmente apropriado a soluções do tipo sistemas
especialistas ou sistemas de hipertexto, por exemplo. Porém, alguns limites de utilização
podem ser constatados.
Em sua maioria, elas são conclusivas naquilo que se refere às características de
sintaxe e do léxico, e que caracterizam a facilidade de uso de uma interface. Por exemplo:
"não solicitar o mesmo dado várias vezes" ou "o software deve guardar a memória da
interação de modo que o usuário não tenha de entrar os mesmos parâmetros toda vez que for
pedir um comando", são recomendações completas do ponto de vista do programador, pois
este não precisa de informações adicionais para aplicá-las Do ponto de vista do usuário, elas
contribuem para facilitar a operação da interface.
Já as recomendações ligadas aos níveis semântico e conceitual, e que caracterizam o
atributo adaptação à tarefa de uma interface, não inteiramente conclusivas. Por exemplo:
"quando da transcrição de dados de um documento, a tela deve ter o mesmo formato deste.
Em outros casos, seguir a seqüência lógica da tarefa". Para aplicar este tipo de recomendação
é necessário que o projetista conheça o formato do documento em questão ou qual a
seqüência lógica da tarefa. Assim, eles devem ter outro tipo de suporte, que possa atuar em
nível semântico e conceitual da interface. Do ponto de vista do usuário, esta recomendação
contribui para facilitar a realização da tarefa.
Além deste tipo de problema, existem outros ligados ao formato natural como são
encontradas as recomendações nas fontes de informações. Assim não é raro encontrar
dificuldades para aplicá-las devido à sua falta de organização geral, a premissas e a
conclusões mal postuladas e aos termos sem significado para leigos.

12.6 A SELEÇÃO DE UM SOFTWARE DENTRE OS VÁRIOS EXISTENTES NO


MERCADO

Muitas vezes a empresa não quer desenvolver um novo software, mas comprar um já
existente no mercado. Neste caso, o problema é então de seleção, isto é, escolher dentre os
vários existentes no mercado (programas grande público tipo editor de textos, planilhas
eletrônicas, base de dados e outros), aquele (ou aqueles) que preenchem as necessidades da
empresa.
Para efetuar esta seleção é preciso levantar informações sobre a diversidade da
população de usuários e a diversidade de tarefas que serão efetuadas com a ajuda do
aplicativo em questão (por exemplo, no caso de um editor de textos: redação de expedientes,
mala direta, digitação de relatórios, etc.). Dentre os critérios que poderão ser utilizados para
efetuar uma primeira seleção, pode-se citar:
− o tempo provável de aprendizagem;
− a facilidade aparente de utilização do programa para usos específicos que serão
desenvolvidos;
− a compatibilidade com os programas já utilizados na empresa ou a semelhança
dos comandos já empregados;
− a qualidade da documentação;
− as proposições do fornecedor em matéria de formação e de suporte após a venda
(manutenção e assistência “hot-line” );

Após essa primeira seleção, é desejável proceder a uma comparação experimental


dos softwares selecionados segundo uma análise ergonômica do software. Para elaborar um
diagnóstico de um software existente, dispõe-se geralmente de duas fontes de informações:
− os manuais do usuário e de referência, que correspondem, respectivamente, a
representação externa e à representação conceitual;
− o próprio software corresponde essencialmente à representação externa, apesar
de ser possível visualizar elementos da representação conceitual, e um elemento
da representação interna, é o tempo de resposta.
O manual do usuário, pode fornecer indicações interessantes, referentes ao esquema
da base de dados, à hierarquia do menu, ao encadeamento das operações e, eventualmente,
aos desenhos da tela. O manual de referência, indica os tipos de controle de erros efetuados
e o detalhe das entradas/saídas. Todavia, o diagnóstico ergonômico do software não pode,
de forma alguma, ser realizado somente a partir da analise desses manuais, tendo em vista
que os manuais são raramente completos e privilegiam a lógica de funcionamento e não a
lógica de utilização.
Assim sendo, os elementos pertinentes para a comunicação homem/maquina que são
levantados na análise desses manuais deverão ser ratificados na análise do software a ser
testado. O método mais simples de efetuar esta análise consiste testar pessoalmente o
software com critérios definidos a partir de planilhas de observação e, em seguida, efetuar
observações com usuários do software com as mesmas planilhas de observação.
Nos dois casos, deve-se realizar de forma sistemática cópias das telas que são
testadas, para poder recompor posteriormente as seqüências seguidas e para assegurar que o
conjunto do software foi testado. A planilha de observação a ser utilizada, baseia-se, em
grande parte, nos parâmetros da interface, vistos anteriormente:
− para cada tela deve-se observar os seguintes parâmetros: vocabulário, sintaxe,
dispositivos de entrada, dispositivos de saída, tempo de resposta, lógica de
utilização, tratamento de erros, HELP.
− para os encadeamentos de tela é preciso testar os seguintes elementos:
arborescência do menu, os comandos standars de encadeamento, a
homogeneidade entre telas.

12.7 A CONCEPÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO

Além das recomendações relativas ao software, deve-se considerar também a


importância da documentação que o acompanha. A elaboração dos manuais de utilização de
um software deve iniciar suficientemente cedo, no desenvolvimento do seu processo de
concepção. De fato, trata-se de um trabalho longo e difícil e é importante que uma versão
provisória dos manuais esteja já disponível para a fase de reconstituição da atividade futura.
As dificuldades encontradas na redação dos manuais contribuem, muitas vezes, para
colocar em evidência as próprias deficiências do processo de concepção do software. O
manual de utilização de um software deve preencher várias funções distintas:
− facilitar o primeiro contato do usuário com o programa: assistir ao usuário na
colocação em marcha do sistema, até mesmo a conectar o material;
− facilitar a aprendizagem progressiva da utilização do software para que o usuário
possa atingir os objetivos por ele fixados;
− permitir a "revisão" de conhecimentos fornecidos em sessão de formação;
− expor as funcionalidades que o programa oferece, seus limites e suas regras de
utilização;
− facilitar o diagnóstico quando da ocorrência de um incidente;
− facilitar a compreensão das mensagens emitidas pelo sistema.
Por outro lado, é preciso considerar também que os diferentes usuários terão,
provavelmente, um nível de experiência diverso: alguns já utilizaram um equipamento
semelhante, softwares relativamente parecidos, e outros não têm nenhuma experiência. Cada
um deve poder encontrar nos manuais uma "assistência" adaptada a seu nível de experiência.
A principal dificuldade na redação de um manual de utilização deve-se ao fato de
que alguns objetivos do usuário dizem respeito a uma lógica de utilização (o usuário visa os
objetivos e procura os meios para atingi-los) e outros de seus objetivos a uma lógica de
funcionamento (as regras de desenvolvimento das funcionalidades previstas no programa).
A "mistura" dessas duas lógicas, na apresentação do manual, é uma das fontes mais
freqüentes de dificuldades para os usuários. Neste sentido, é necessário distinguir dois tipos
de manuais:

1) o guia do usuário: este manual é estruturado a partir dos objetivos que o usuário pode
perseguir, isto é, a partir da lógica de utilização. Por exemplo, no caso de um software de
edição de texto:
− digitar e imprimir um primeiro texto (o que exige a colocação em marcha do
aplicativo, saber conectar a impressora, etc...);
− enviar a mesma carta a várias pessoas;
− melhorar a paginação (enquadrar um parágrafo, alterar os títulos com outras
fontes, etc).
A entrada numa parte do guia do usuário se faz a partir dos objetivos que ele
persegue. O guia ajuda o usuário a transformar um objetivo numa seqüência de ações
(assistência à planificação da ação). Em particular, o guia indica os pré-requisitos
eventualmente necessários para efetuar certas ações e remete o usuário, segundo seu nível
de experiência, à leitura preliminar de certos parágrafos.
Para cada seqüência de ação, o desenvolvimento da interação com o sistema é
descrito a partir de um exemplo, sob uma forma, a mais próxima possível, da interação real:
mensagens remetidas pelo programa, tempo de espera e outros. Os incidentes os mais
suscetíveis de ocorrer são descritos a partir de suas manifestações observáveis pelo
indivíduo. A conduta a ser seguida, para resolver o incidente, é indicada passo a passo.

2) o manual de referência: este manual é estruturado a partir da lógica de funcionamento do


sistema. Ele permite encontrar os limites de cada funcionalidade, as regras particulares de
utilização, etc. É neste manual, no parágrafo "salvaguarda de fichário", que se encontrará,
por exemplo, as regras detalhadas de dominação de um fichário (número de caracteres
autorizados, presença de sinais especiais e outros). Da mesma forma, pode-se encontrar neste
manual uma explicação das funcionalidades propostas para cada tecla/função, etc.
O manual de referência compreenderá também, uma lista exaustiva das mensagens
suscetíveis de serem emitidas pelo programa, e de suas origens. Evidentemente, é necessário
que "chamadas" sejam previstas no guia do usuário, para permitir ao mesmo encontrar
rapidamente no manual de referência, as indicações precisas sobre questões técnicas que ele
poderá vir a ter.
Assim sendo, deve-se dar uma grande importância à redação, à paginação e à
impressão desses dois manuais:
− escolha dos termos (ambigüidades, duas palavras para um mesmo sentido, dois
sentidos para uma mesma palavra, termos mal definidos, termos que têm um
sentido diferente do corrente);
− escolha do estilo e das fontes (homogeneidade com as lógicas respectivas dos
dois manuais);
− figuras (simples e claras, evitar gráficos complexos de difícil compreensão);
− papel essencial do índice: o usuário deve poder entrar no índice a partir de suas
próprias formulações. Eventualmente, índices idênticos nos dois manuais.
Enfim, deve-se considerar também que as estruturas desses manuais possam facilitar
as suas atualizações, acompanhando as novas versões do software.

12.8 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES REFERENTES À QUALIDADE DAS


TRADUÇÕES DOS MANUAIS

12.8.1 Considerações preliminares

Sinaiko (1975) desenvolveu um trabalho referente à qualidade das traduções dos


manuais e a influência dos mesmos no desempenho dos trabalhadores, utilizando tecnologias
estrangeiras. Duas fontes de informações foram utilizadas para obter os resultados.
Inicialmente, foram feitas entrevistas com pessoas bastante experientes em vários países:
Filipinas, China, Coréia, Afeganistão, Turquia, Paquistão, Índia, Nigéria, Tailândia e Vietnã.
As pessoas entrevistadas trabalhavam em operações militares e na indústria, responsáveis
pelos computadores, pelo transporte aéreo, pelos equipamentos para os trabalhos públicos e
pela concepção e utilização dos sistemas de comunicação. Uma segunda fonte de
informações vem de três categorias de experimentos realizados em laboratório. Apresentar-
se-ão, então, alguns resultados importantes do trabalho deste pesquisador.
Quando um equipamento é concebido em um país e transferido a um outro, sempre
surgem alguns tipos de problemas. Alguns destes problemas estão associados às variáveis
culturais e psicológicas que afetam a aprendizagem da utilização e da manutenção dos
equipamentos. Estas variáveis são as capacidades lingüísticas: leitura, escrita e fala, isto é, a
utilização das palavras para instruir e assistir aos indivíduos que utilizam o equipamento.
A transferência de equipamentos entre nações é um processo extremamente
complicado. Tradicionalmente admite-se que os seres humanos podem sempre aprender a
utilizar e a manter o que é inicialmente estrangeiro a eles. Esta afirmação parece se confirmar
quando se está sentado na sala de espera de um aeroporto internacional, onde aviões
britânicos, franceses, russos ou americanos são pilotados e reparados por brasileiros,
alemães, italianos, indianos, romenos, japoneses, enfim por pessoas do mundo inteiro.
Portanto, o custo da formação de pessoas utilizando tecnologias estrangeiras é muito
elevado, do ponto de vista cultural e também lingüístico. É necessário, por exemplo, um ano
para ensinar a um aviador vietnamita a ler e a compreender o inglês, para depois aprender a
tecnologia do avião.

12.8.2 A capacidade de aprendizagem técnica

A capacidade psicológica de aprendizagem técnica não é limitada à cultura, muitos


fatos mostraram que os vietnamitas e, provavelmente, qualquer outro povo sobre a terra,
podem aprender a utilizar e a reparar equipamentos complexos, não existindo limitações na
absorção da informação técnica e na aquisição de novas competências. Por exemplo, a
companhia Boeing afirma que os pilotos e técnicos de manutenção vietnamitas formados em
Seattle (Estados Unidos), trabalhavam tão bem quanto seus colegas das companhias aéreas
americanas. Outras empresas citam suas experiências com trabalhadores competentes de
equipamentos complexos que trabalhavam antes nas plantações de arroz. Encarregada da
organização de novas companhias aéreas nacionais, a PNAM formou pilotos e técnicos de
manutenção no Afeganistão, no Irã e no Paquistão que estavam somente separados das
atividades de cameleiro apenas por uma geração. A IBM descreveu experiências análogas
na Nigéria, onde homens não qualificados (no domínio da computação) foram formados na
instalação e na manutenção de computadores. No início dos anos 50, um pequeno grupo de
trabalhadores turcos, analfabetos na sua própria língua, foram enviados às escolas da USAF,
nos Estados Unidos, após uma formação lingüística e técnica, tornaram-se técnicos de
manutenção de motores à reação. Dois destes homens, ocuparam, em seguida, a direção de
centros de reparação de motores na Turquia.
A experiência mostra também que resultados notáveis com a formação não são
sempre fáceis de se obter. Em quase todos os casos citados, a formação tinha sido precedida
de uma aprendizagem muito séria da língua inglesa. Para os americanos, alguns estrangeiros
parecem adquirir lentamente os novos conhecimentos e sua freqüência de erros é elevada
para muito dos ensinamentos. Estes problemas, estão relacionados muito mais com as
dificuldades do trabalhador em compreender uma língua estrangeira, do que com a
aprendizagem dos conhecimentos técnicos. Finalmente, um dos fatores determinantes na
aprendizagem humana é a motivação de aprender. Fornecendo-se um equipamento
adequado, as ferramentas necessárias a sua utilização, a formação e a motivação necessárias,
parece não haver barreiras culturais que impeçam qualquer pessoa de se tornar um operador
ou um técnico de manutenção competente.

12.8.3 Alguns problemas lingüísticos gerais

Por “problemas lingüísticos gerais” compreende-se todos os documentos utilizados


numa determinada língua, referentes ao ensino (por exemplo: os livros de classe), às
atividades (as cartas ou as instruções verbais) e à manutenção (os manuais de utilização).
Existem duas propostas gerais para solucionar o problema dos documentos escritos
numa língua estrangeira:
1) Esperar que os trabalhadores aprendam a ler e a falar a língua estrangeira dos documentos:
esta é uma solução antiga e bastante utilizada. Um leitor será mais ou menos eloqüente numa
certa língua estrangeira, conforme a necessidade que ele tem de utilizá-la;
2) Fazer traduções: esta proposta é também bastante custosa, e que mesmo bem sucedida,
apresenta problemas próprios. Inicialmente, a tradução direta pode mesmo não ser possível
entre certas línguas. O vietnamita é uma língua rica no domínio da literatura, da cultura e da
filosofia, mas pobre no domínio tecnológico. Tradicionalmente, os vietnamitas empregam
palavras francesas ou chinesas para tratar de assuntos técnicos. Um outro problema da
tradução é que existe um número pequeno de tradutores competentes, principalmente para
as traduções técnicas. É perigoso pensar que toda pessoa bilíngüe possa fazer traduções ou
tratar de assuntos que não são a ela familiar. Neste sentido, é comum encontrarmos traduções
técnicas incorretas.

12.8.4 Rapidez da tradução

As pesquisas de Sinaiko (1975) mostram que as boas traduções são feitas muito
lentamente. Parece existir um limite superior de 400 a 450 palavras por hora para os bons
tradutores. Este resultado é mais ou menos constante entre diversas línguas.
12.8.5 Termos familiares

Um outro problema da tradução é a limitação dos bilíngües em relação aos termos


não-familiares. As observações de Sinaiko (1975) sobre as várias palavras traduzidas para o
vietnamita, mostram que os tradutores empregam um dos seguintes passos:
1. Utilizam simplesmente a expressão inglesa, talvez transcrita, a fim de relacionar
com a língua falada, por exemplo: “pison” torna-se “pittong”;
2. Substituem por um termo vindo de uma terceira língua, o francês ou o chinês;
3. Criam uma nova palavra;
4. Utilizam palavras disponíveis para contornar a palavra não-traduzível ou para
dar-lhe uma descrição funcional. Um exemplo disto é a palavra taquímetro para
a qual não existe uma equivalente em vietnamita. Os tradutores recomendaram,
por exemplo, a utilização de uma expressão como “ máquina para medir a
rotação” que pode existir em vietnamita.

12.8.6 Erros de tradução


Para cem palavras técnicas inglesas traduzidas em vietnamita, os resultados
mostraram que há cinco palavras ou expressões mal traduzidas. Segue-se com alguns
exemplos de erros observados:
− são omitidas palavras, preposições e até mesmo frases;
− sinônimos ambíguos são escolhidos aos invés dos termos claramente
equivalentes;
− palavras ou proposições falsas;
− o significado é trocado pela escolha de palavras ou de expressões errôneas.

12.8.7 Melhoria na qualidade das traduções

Sinaiko (1975) sugeriu algumas regras para a redação de documentos que poderão
ser traduzidos, a fim de minimizar os erros de tradução:
1. não escrever frases longas, isto é frases com mais de 16 palavras;
2. não utilizar expressões verbais complexas;
3. evitar advérbios e preposições que indicam graus como “relativamente
provável”;
4. evitar abreviações como “ alavanca de aterrissagem cont.” onde cont. pode ser
controlada, contida, contrariada, etc.
5. fornecer aos tradutores glossários bilíngües e dicionários técnicos.
12. 8.8 A tradução informatizada

Os resultados das experiências mostraram que, as traduções realizadas por bilíngües


altamente competentes eram melhores do que aquelas realizadas por computador. Por
exemplo, tomaram-se como critério as provas de compreensão de textos, os resultados
médios dos pilotos vietnamitas eram de 66% para a tradução humana, 57% para a tradução
automática revisada e 41% para a tradução automática não revisada. Um resultado
inesperado foi que os vietnamitas obtiveram seus melhores resultados (69%) com o texto em
inglês.
Duas considerações gerais podem ser desenvolvidas a respeito da qualidade da
tradução por computador. Inicialmente, a melhor tradução automática revisada se revelou
excelente, mas não era tão legível quanto o resultado do trabalho de um bom tradutor
humano. Enfim, o documento técnico torna-se cada vez menos legível, na medida em que
sua complexidade aumenta, em particular, para as traduções automáticas não revisadas.
Para finalizar, Sinaiko (1975) concluiu que:
1) parece existir algumas barreiras culturais na utilização e na manutenção de equipamentos
complexos. Quando um equipamento é concebido por uma multinacional, os ergonomistas
devem levar em consideração algumas variáveis culturais importantes:
− a maneira como as pessoas aprendem, sua atitude em direção à manutenção e à
forma como elas percebem a representação gráfica.
2) os fatores lingüísticos são importantes e infelizmente são os mais negligenciados.
− ensinar a língua estrangeira ao operador, sabendo-se que isto é lento e custoso;
− traduzir a língua estrangeira para a língua do operador, sabendo-se que isto é
também lento, custoso e sujeito a erros;
− traduzir o texto através do computador. Existem algumas técnicas de tradução
automática, mas que hoje estão longe de ser utilizadas sobre o plano operacional.
A qualidade da tradução está ligada à qualidade do trabalho. Uma boa tradução
produz um bom trabalho.

12.9 - BIBLIOGRAFIAS SUGERIDAS

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CAPITULO 13

ERGONOMIA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A organização do trabalho comporta, ao mesmo tempo, um aspecto que visa obter a


eficácia no trabalho e outro que materializa a divisão técnica do trabalho, entre
aqueles trabalhadores que projetam e aqueles que executam o trabalho. A definição
pela Ergonomia, de critérios em matéria de organização do trabalho, não é assim tão
simples: em primeiro lugar, os critérios exclusivos de eficácia do sistema de produção
não são aceitáveis em Ergonomia, porque certas formas de organização do trabalho,
julgadas "eficazes", num determinado momento, se traduzem por efeitos desfavoráveis
sobre a saúde dos trabalhadores. Por outro lado, os critérios de "consenso social" são
de uma extrema fragilidade, e não devem ser superestimados. Neste capítulo
procurar-se-á levantar estas questões, tendo em vista a elaboração do termo de
referência “organização do trabalho”.

13.1 - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO


TRABALHO

A busca incansável pela estabilidade e a previsibilidade do ambiente, o temor pelas


mudanças políticas, leva muitas vezes, às crises econômicas. Essa necessidade de
estabilidade e criação de rotina foi colocada por Perrow (1976), num tópico que denominou:
“A casa aberta”, pois quando se pensa em organizações, vêm-se as idéias de “(...) entidades
estáveis, duradouras(...) têm um local, um endereço e os indivíduos são parte delas, (...) ela
parece estar separada de tudo o mais, no mundo”.
No entanto, as organizações não são tão estáveis e previsíveis assim, não há controle
do comportamento dos que entram e saem dessa casa. Como o autor afirma de forma muito
consistente, os que por essa casa passam “têm consigo sinais muito fortes do mundo de fora,
é como se trouxessem os pés cheios de lama da rua, ao entrarem em casa”. Janelas e portas
devem estar sempre abertas, para a entrada e saída de know-how e matéria-prima (ibidem).
Pinchot (1993) cita uma sábia colocação de um fazendeiro de Dakota datada de 1938:
“O monstro [da burocracia] pensa que o homem comum é burro demais para pensar por si
mesmo e que o monstro precisa pensar por ele”. A burocracia serviu às tarefas repetitivas
típicas dos primórdios da Revolução Industrial. Além de não funcionarem para os tipos mais
modernos de organização, travam os princípios que os trabalhadores precisam ter para
alcançarem uma inteligência organizacional. Como, “(...) uma maior responsabilidade por
definir e dirigir o próprio serviço, uma maior responsabilidade pela coordenação com os
outros e uma mudança da autoridade do chefe para a autoridade dos “clientes” de cada
um”.
São essas mudanças tecnológicas, esse ambiente dinâmico que caracteriza as
necessidades organizacionais atuais que pode ser resumida na palavra flexibilização. No
entanto, alerta Perrow (1976) que: “Não é possível ter organizações totalmente flexíveis e
democráticas, nas quais “cada um faz o que quer”, visando o bem-estar de todos (...) a
especialização, a necessidade de controlar as influências exercidas pelos fatores externos
sobre os componentes da organização e a necessidade de lidar-se com um ambiente mutável
e instável”.

13.2. CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


A dificuldade da intervenção ergonômica sobre as questões relacionadas à
organização do trabalho deve-se ao fato que ela comporta diferentes aspectos que não podem
ser separados de forma simples:
 a organização do trabalho é o conjunto dos processos que permitem a realização de
uma potencialidade;
 a organização do trabalho é a definição das tarefas e das condições de extensão, por
instâncias exteriores aos trabalhadores (Dejours, 1981 a, b);
 a organização do trabalho é o resultado de um equilíbrio momentâneo, e
cotidianamente reconstruído, entre diferentes grupos sociais (abordagem
sociológica).

13.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS


LEVANTADOS NAS SITUAÇÕES EXISTENTES

Estudos ergonômicos realizados, em vários setores da atividade humana, constataram


uma estreita relação entre a organização do trabalho e as dificuldades encontradas pelos
trabalhadores, para assegurar a produção nas condições compatíveis com a saúde.
Dentre essas constatações, pode-se citar as mais freqüentes:
 Organização do trabalho baseada numa visão teórica das operações de produção: as
variabilidades não são consideradas e os objetivos só são atingidos graças a
estratégias desenvolvidas pelos trabalhadores "à margem" da organização da
produção. Essas estratégias podem ser custosas para a saúde dos trabalhadores.
 Organização do trabalho que não permite "progresso" do sistema organizacional: as
disfunções são tratadas na medida em que elas ocorrem, sem aquisição dos dados
que poderiam resultar da análise detalhada de cada uma delas. Nos sistemas
organizacionais, a supervisão e a gerência têm a tarefa de "evitar" as disfunções e,
muito pouco, de contribuir na prevenção de sua repetição. As potencialidades, que
representam as informações adquiridas dos operadores, e as suas competências são,
consideravelmente, negligenciadas.
 Confusão entre ferramentas destinadas a prever pelo cálculo um primeiro
dimensionamento dos meios de trabalho, e a utilização dessas ferramentas para
controlar o trabalho real. Assim, os métodos de cálculo dos tempos são utilizáveis
em certas situações de trabalho (cadeias de montagem, por exemplo) para
dimensionar o sistema de produção, calcular um engajamento previsível de homens
e máquinas. Esses métodos não podem ter a pretensão de descrever a realidade do
trabalho e, a fortiori, de controlá-lo.

Atualmente, é clássico em Ergonomia mostrar que as hipóteses dos métodos oriundos


do taylorismo (homem médio, produtos constantes, operações independentes, operações
descritas unicamente como gestos), estão em contradição com a variabilidade inter e intra-
individual, a variabilidade industrial, a dependência entre tarefas e a atividade cognitiva dos
trabalhadores. De fato, é a atividade cognitiva dos trabalhadores que assegura a essas formas
de organização do trabalho uma certa eficácia, enquanto a variabilidade dos produtos não
ultrapassa certos limites.
As conseqüências do trabalho repetitivo sob condicionantes de tempo sobre a saúde
dos trabalhadores são bem conhecidas: efeitos de uma sobrecarga cognitiva sobre o
comportamento, patologia articular, efeitos sobre a organização da vida fora do trabalho, e,
eventualmente, sobre a personalidade.
Se os métodos oriundos do taylorismo já são relativamente limitados para descrever
a realidade do trabalho repetitivo, do tipo gestual, no caso do gerenciamento de sistemas
complexos eles revelam-se totalmente inoperantes. A razão principal desse fracasso é devido
aos limites da previsibilidade dos fenômenos que ocorrem nesses sistemas.
Algumas formas de organização do trabalho são baseadas na noção de conformidade:
Supõe-se que os organizadores possam prever o conjunto dos eventos suscetíveis de ocorrer
e de definir os métodos que devem ser aplicados para tratar esses eventos. O julgamento diz
respeito à conformidade das ações reais dos operadores com os procedimentos previstos.
Estas formas de organização tornam-se, evidentemente, inoperantes, quando numerosos
eventos são suscetíveis de ocorrer de forma mais ou menos aleatória.
Outras abordagens remetem à noção de "espaço de problema". Os "problemas" aos
quais os trabalhadores deverão enfrentar, são considerados como não totalmente previsíveis:
uma iniciativa é esperada por parte dos trabalhadores, num "espaço", onde os objetivos, os
limites do autorizado e os meios são definidos pela organização do trabalho. Esse tipo de
abordagem é, evidentemente, mais adaptado para os casos de sistemas complexos.
Entretanto, dificuldades podem surgir se o espaço de problema é muito vasto, em relação à
sua formação e à sua experiência.

13.4. A DEFINIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NUMA DETERMINADA


SITUAÇÃO

Há muitos debates sobre a questão das determinantes da organização do trabalho.


Por exemplo, em que medida a organização do trabalho é determinada pelos procedimentos
técnicos (determinismo tecnológico), ou ao contrário, a organização do trabalho é
totalmente definida pelas relações sociais existentes na empresa (determinismo sociológico).
A teoria contingencial da organização considera que existe, de fato, em cada situação
particular, uma conjunção específica de vários fatores que conduz a escolha de uma
determinada forma de organização do trabalho.
Dentre esses fatores pode-se citar:
 os procedimentos técnicos de produção;
 as características da população disponível (compreendendo também os supervisores
e os gerentes);
 os grupos sociais existentes, as relações que existem entre eles e suas estratégias.

Esses fatores, normalmente, não são objetos de uma descrição explícita. As diferentes
possibilidades em matéria de organização do trabalho são raramente explicitadas, a fim de
se estabelecer um debate na empresa, sobre as vantagens e os inconvenientes, de cada
solução proposta. Durante o desenvolvimento de um projeto industrial, é freqüente que a
organização do trabalho seja definida pela simples recondução de sistemas existentes,
anteriormente ao projeto, ou de outras situações. Raramente, é definida uma engenharia
consultiva em matéria de organização do trabalho.
A posição da Ergonomia é que um novo investimento, um projeto industrial, é a
ocasião de uma reflexão de fundo sobre os sistemas organizacionais existentes e sobre as
modificações que são possíveis de serem introduzidas. Como visto anteriormente, o interesse
da Ergonomia é o enriquecimento dos objetivos iniciais do empreendedor. Neste sentido, é
necessário definir quem assegurará a gestão do projeto, no que diz respeito à organização do
trabalho.

13.5. A CONTRIBUIÇÃO DA ERGONOMIA NA DEFINIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO


TRABALHO

A contribuição da Ergonomia à definição de uma forma de organização do trabalho,


numa determinada situação, pode assumir as seguintes abordagens:
1) A partir da análise do trabalho, numa situação de referência, a Ergonomia pode contribuir
no sentido de evidenciar alguns fatores relativos ao meio-ambiente e aos procedimentos
técnicos, que podem ter sido subestimados pela engenharia de produção, particularmente
elementos de variabilidade.
2) A Ergonomia contribui no sentido de não evidenciar situações de ação tipo que deverão
ser consideradas na definição da futura organização .
3) A análise da população futura permite evidenciar as principais características dessa
população, que são importantes para a definição da organização .
4) A Ergonomia pode contribuir no sentido de guiar o trabalho dos organizadores,
colocando à disposição destes, elementos de princípios metodológicos sobre
determinados pontos.
5) Quando há várias proposições de organização futura, a Ergonomia pode auxiliar na
tomada de decisão, evidenciando as vantagens e os inconvenientes de cada forma de
organização, do ponto de vista da atividade futura dos trabalhadores.
6) Enfim, a Ergonomia pode favorecer numa evolução contínua do sistema organizacional,
através da análise do trabalho em funcionamento normal e através da formação do
próprio pessoal.

13.6. EXPLICITAÇÃO DAS DETERMINANTES DA ATIVIDADE FUTURA

Nos capítulos anteriores foi colocada em evidência a importância de uma descrição


da variabilidade industrial, previsível, nas futuras instalações (conforme Relatório de
Gerenciamento do Projeto).
No que se refere à reflexão sobre a organização do trabalho, essa descrição da
variabilidade industrial é, particularmente, importante, pois ela revela:
 as necessidades de flexibilidade do sistema organizacional, para encarar a variedade
e a variabilidade à montante, à jusante e no próprio ambiente, além das disfunções
do sistema técnico;
 as necessidades em matéria de manutenção, de gestão do material e da
documentação;
 as necessidades em matéria de "Regulação Estrutural" (atividades de coordenação
do conjunto do sistema).

Quando há possibilidades de realizar uma análise do trabalho, numa situação anterior


à modernização, e numa situação onde existe uma tecnologia análoga àquela que o projeto
prevê, pode-se aprofundar ,consideravelmente, a descrição da atividade futura no que diz
aos aspectos organizacionais.
De fato , a Ergonomia pode evidenciar situações de ação tipo, prováveis na futura
instalação, assim como precisar certas características. É evidente que, como a repartição das
tarefas entre os possíveis intervenientes, não está ainda definida, a caracterização das
situações de ação tipo é, ainda, de um nível de abstração, extremamente elevado.
Neste sentido, essa descrição de um conjunto de situações de ação prováveis,
constituirá para os organizadores, uma espécie de "Matéria Prima". Na realidade é
imaginando soluções organizacionais eficazes, em determinadas situações representativas,
que os organizadores poderão, progressivamente, propor sistemas organizacionais mais
adaptados.
A análise da população disponível é, também, uma preliminar à reflexão sobre as
formas organizacionais possíveis.
A análise do trabalho atual dos trabalhadores, que são suscetíveis de vir a ocupar os
futuros postos, e de seus históricos profissionais, permite caracterizar suas competências
atuais.
A análise do trabalho dos trabalhadores utilizando dispositivos análogos àqueles
previstos no projeto, contribui à colocação em evidência das competências coletivas. A
avaliação do "desvio" entre duas análises, contribui a uma reflexão sobre a repartição futura
das tarefas e as necessidades de formação que são decorrentes.
Uma atenção particular deve ser dada a dois riscos opostos:
 riscos ligados à hipótese, segundo a qual, trabalhadores que ocupando postos pouco
qualificados, não possam vir a adquirir competências necessárias para ocupar postos
automatizados: esta posição pode levar à exclusão desses trabalhadores e a uma
perda de experiência para a empresa, notadamente no que se refere às propriedades
das matérias primas e dos produtos a serem produzidos;
 riscos ligados à subestimação das dificuldades reais, que serão encontrados por
alguns trabalhadores para enfrentar uma reconversão profissional: fracassos durante
a formação ou durante a posta em marcha da instalação se traduzem também pela
exclusão de certos trabalhadores. Neste sentido, é importante uma reflexão sobre as
competências atuais e sobre os métodos de formação.

Pode-se ver, então, a necessidade de uma estreita interação, desde o estágio dos
estudos de Engenharia Básica, entre a reflexão sobre a organização do trabalho futuro e a
reflexão sobre a formação.

13.7 RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS GERAIS

Assim, a Ergonomia pode contribuir propondo, aos organizadores do trabalho, uma


descrição de algumas características do trabalho futuro provável. Da mesma forma, a
Ergonomia pode propor algumas recomendações gerais para a definição da organização do
trabalho:
1) Definir os objetivos da organização ao nível de todos os postos de trabalho: definir os
objetivos relativos à implantação dos meios de produção, mas também relativos à gestão
e à manutenção, à regulação estrutural e às coordenações à montante e à jusante desses
meios, ao aprovisionamento, a evacuação, ao controle, ao acompanhamento
administrativo, etc.
Neste caso, primeiramente serão descritas todas as funções esperadas ao nível de cada
subsistema (unidade de fabricação, serviço,...) e, somente então, após serão repartidas as
tarefas entre as diferentes pessoas ou instâncias. A divisão das tarefas é um meio para a
organização do sistema e não um objetivo. Por outro lado, deve-se levar em consideração
a importância de cada posto de trabalho, dentro do contexto global do sistema: deve-se
favorecer a consideração das exigências à montante e à jusante, e a coerência do conjunto
do sistema. As condições de colaboração entre os diferentes intervenientes, estão no centro
da reflexão sobre as diferentes soluções organizacionais possíveis.

2) Um sistema organizacional deve favorecer a antecipação das disfunções:


 relação entre a organização do trabalho e os dispositivos de apresentação da
informação sobre o estado do processo;
 tratamento rápido, pelas estruturas competentes, das informações que o operador
não pode tratar sozinho;
 planos de manutenção preventivas;
 análise, a posteriori, dos incidentes.

3) Um sistema organizacional deve permitir um contínuo progresso:
 reconhecimento do papel de todos os trabalhadores, no levantamento e no primeiro
tratamento da informação, sobre a realidade do funcionamento do sistema e na
elaboração de proposições de possíveis modificações (tratamento efetivo e rápido
dessas informações);
 capitalização das lições levantadas pela análise das disfunções, a fim de evitar a
repetição;
 análise dos retornos de informação, provenientes dos serviços de assistência técnica;
 fornecimento crítico de informação aos serviços de produção e aos fornecedores;
 a aprendizagem ao nível de um sistema ou de uma pessoa supõe um funcionamento
em circuito fechado (retorno de informação);
 papel da supervisão na circulação da informação.
Neste sentido, as dificuldades, fracassos ou acidentes, não devem ser "esquecidos
rapidamente": Existem meios para analisá-los e para tirar lições. Todavia isto exige que:
 os "julgamentos" tirados do sistema organizacional não se refiram à existência de
fracassos análogos e, sobretudo, nas suas repetições;
 o conjunto da estrutura organizacional (do nível operacional até o nível mais elevado
da hierarquia) seja submetido às mesmas exigências da consideração das
informações obtidas da realidade da produção.

4) Um sistema organizacional deve favorecer o progresso contínuo das competências dos


diferentes trabalhadores. Este princípio está estreitamente relacionado ao precedente, mas
se traduz também, pelas medidas que devem ser tomadas em termos de formação
continuada.

5) As últimas recomendações gerais que serão consideradas são oriundas das pesquisas da
Psicopatologia do Trabalho. A Psicopatologia do trabalho coloca em evidência que
algumas profissões são suscetíveis de desempenhar um papel positivo sobre a saúde dos
trabalhadores que as exercem.

Neste sentido, as condições necessárias (mas não suficientes) para a ocorrência de uma tal
situação são as seguintes:
 espaço de problema, a ser tratado pelo trabalhador, suficientemente amplo (flexível):
formulação do diagnóstico e construção do modo operativo pelo próprio
trabalhador, no quadro de um "espaço" recebido por regras coletivas;
 ação possível do trabalhador sobre os meios de trabalho e sobre uma certa
modulação dos objetivos. A margem de manobra, que cada trabalhador dispõe, no
seio da equipe de trabalho, lhe permite encontrar recursos, no caso em que:
− os objetivos não podem ser atingidos;
− os objetivos só podem ser atingidos por modos operativos prejudiciais à
saúde.
 um coletivo de trabalho que favoreça a expressão das diferenças individuais entre
seus membros (reconhecimento de competências particulares por exemplo), e não o
confronto dessas diferenças, estabelecendo assim um obstáculo comum;
 a competência de cada pessoa deve ser percebida no seu aspecto dinâmico
(possibilidades de aprendizagens e de evoluções).

O caráter de generalidade dessas recomendações é, ainda, bastante discutível. Eles


são aqui colocados, para contribuir a uma reflexão sobre as diversas formas de organização
possíveis, sem, no entanto, ter a pretensão de serem exaustivos. Essas recomendações devem
ser estudadas de forma aprofundada e, na medida do possível, devidamente ampliadas, tendo
em vista que elas ainda são pouco numerosas e insuficientemente estabelecidos.

13.8 A INSTRUÇÃO DA DECISÃO ORGANIZACIONAL

A partir dos dados fornecidos pelo "Termo de Referência: Organização do Trabalho"


(objetivos do empreendedor + análise de situações de referência + recomendações gerais),
as instâncias encarregadas da reflexão sobre a organização do trabalho poderão propor várias
formas possíveis de organização.
A decisão organizacional não cabe à Ergonomia, mas às estruturas de negociação e
de decisão dentro da empresa. Todavia, a Ergonomia pode contribuir na instrução da decisão,
fornecendo ao conjunto das instâncias, uma descrição precisa das vantagens e
inconvenientes de cada uma dessas formas organizacionais.
Dentre os critérios que a Ergonomia leva em consideração, para examinar as
diferentes soluções propostas, pode-se citar:
- as condicionantes temporais imediatas, às quais os trabalhadores serão submetidos;
- as condicionantes organizacionais dos horários de trabalho: a escala cotidiana,
semanal, mensal, anual, do rolamento das equipes...;
- os efeitos sobre a alimentação, sobre o sono, sobre os transportes e sobre a vida fora
do trabalho;
- a possibilidade de modificar a alocação dos recursos (materiais e humanos), no caso
de um problema particular, num determinado local;
- a possibilidade de encontrar esses recursos em caso de dificuldade;
- as condições de passagem de uma tarefa a uma outra, durante uma mesma jornada de
trabalho (consideração da "re-aprendizagem" necessária a cada vez, solicitação da
memória);
- a possibilidade de planificação de diferentes ações e as alterações prováveis da
planificação inicial;
- as condições que favorecem, ou tornam difícil, a colaboração entre diferentes
funções;
- a troca de informação entre os trabalhadores, no caso do trabalho em turnos, que se
alternam de forma sucessiva;
- as estruturas de circulação e de capitalização da informação, sobre as dificuldades
encontradas e sobre as modificações que são desejáveis;
- a disponibilidade dos operadores para ações de formação continuada;
- a capacidade do dispositivo organizacional em aceitar trabalhadores tendo
determinadas dificuldades (idosos, paraplégicos, etc.);
- a capacidade do dispositivo organizacional em evoluir.

As situações de ação tipo, preliminarmente recenseadas, poderão servir de base a esse


exame, das diferentes soluções organizacionais propostas.
Os critérios, anteriormente listados, são, em parte, contraditórios entre si. Neste
sentido, é necessário que a instrução da decisão organizacional, parta da adoção de um
compromisso entre os diversos critérios. O papel da Ergonomia é, então, de explicitar os
termos desse compromisso, para o conjunto das instâncias que participam de sua elaboração.

13.9. ALGUNS CAMPOS DE INTER-RELAÇÃO ENTRE ERGONOMIA E


ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
1) Os horários de trabalho
- efeito da duração do trabalho;
- efeito dos ritmos biológicos;
- efeitos nefastos do trabalho noturno;
- multiplicidade dos fatores que intervêm na escolha de um sistema de horários
(critérios fisiológicos e critérios de vida social, conforme bibliografia);
- um cuidado especial deve ser dado aos problemas de comunicação, quando os
trabalhadores de diferentes funções têm horários diferentes: levantamentos,
determinantes, atualização da informação, recurso em caso de decisão excepcional.

2) A polivalência
A polivalência é a organização da possibilidade, para um trabalhador, de ocupar
vários postos diferentes:
- ela apresenta o interesse de ampliar o espaço de problema que um operador é capaz
de, devidamente autorizado, tratar: fonte de evolução individual, melhoria da
capacidade do sistema para fazer face à variabilidade. Todavia, o benefício
individual não é, sempre, evidente se a polivalência limita-se à alternância de tarefas
similares, cuja execução de cada uma delas não irá enriquecer os conhecimentos
utilizáveis pelos outros.
- caráter, necessariamente, progressivo da aquisição da polivalência. Condições de
aprendizagem (dificuldades da aprendizagem sob condicionante de tempo).
- necessidade de emprego regular das competências. Problemas ligados a uma
polivalência teórica, mas não exercida.
- atenção à re-aprendizagem necessária, cada vez que se passa de uma tarefa para outra.
- problema relacionado à remuneração da polivalência, que não diz respeito à
Ergonomia.

3) A ampliação de tarefas
Segundo Fleury (1978) esta ampliação pode ocorrer no sentido horizontal (tarefas de
mesma natureza agrupadas num único cargo) ou vertical (tarefas diferentes agrupadas num
único cargo).
Assim, a ampliação de tarefas vertical consiste em confiar a um trabalhador tarefas
suplementares, de natureza diferente daquelas que ele já efetua sobre o posto de trabalho.
Por exemplo: um operador de produção é encarregado de executar tarefas de manutenção,
de controle, etc.
Neste sentido, deve-se considerar os seguintes aspectos:
- Interesse dessa ampliação (melhor consideração do conjunto dos fatores que
contribuem para a qualidade da produção, por exemplo, desenvolvimento das
competências do operador).
- Risco de um aumento da carga de trabalho se os meios apropriados não são
empregados.
- Risco que o operador seja levado a interiorizar conflitos que existiam anteriormente
entre dois serviços: conflitos "quantidade/qualidade" ou conflitos "continuação da
produção/parada para manutenção". Necessidade de apoio a decisão do operador
(critérios) e possibilidades de recursos se for preciso.

4) As qualificações
- Várias disciplinas abordam esta questão. Por outro lado, o sentido dado a esta palavra
também é bastante variado.
- A Ergonomia coloca em evidência a "qualificação operativa" empregada numa
determinada atividade de trabalho. A qualificação operativa representa apenas uma
parte da qualificação pessoal do trabalhador, adquirida de sua história, de sua
formação, de sua experiência, de suas atividades fora do trabalho. A qualificação
operativa não tem relação direta com a classificação profissional(remuneração).
- Durante o desenvolvimento de um projeto industrial, é importante caracterizar não
somente as qualificações operativas, mas também as potencialidades que
representam as qualificações pessoais reais, e que não são investidos na organização
atual.

5) A comunicação
- Favorecer a compatibilidade entre os "modelos mentais" das diferentes pessoas que
são levados a se comunicar. Consideração desses modelos quando da formação.
- Cada comunicação inscreve-se no curso de ação de cada interlocutor. Identificação
pelo outro, desta ação em curso, e seu estado de desenvolvimento.
- A identificação precoce de situações de ação tipo, permite considerar as necessidades
de comunicações, na disposição dos próprios meios de produção (proximidade,
visibilidade, acessibilidade).
- Concepção dos meios de comunicação ( número, localização, características,
técnicas...) em relação com uma previsão das ações de colaboração.

Em todo caso, é indispensável que uma reflexão sobre os meios de telecomunicação,


ocorra desde o início dos estudos da engenharia de detalhamento, para que propostas de
soluções técnicas possam ser avaliadas durante as "reconstituições da atividade".

13.10 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

CAMPOS, E. Sociologia da burocracia. 4a. edição: ZAHAR editores, Rio de Janeiro, 1985.
CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1983.
CHIAVENATO, I. Administração de Empresas: Uma Abordagem Contingencial. São Paulo: Mc
Graw-Hill do Brasil, 1982.
DEJOURS, C. Souffrance et Plaisir au Travail. Acte du Seminaire Interdisciplinaire de Psychopathologie
au Travail, (2 Tomes), Orsay: OACIP, 1987a.
DEJOURS, C. Trabalho: usura mental. São Paulo, Oboré, 1987b.
DURAND, J. P. A tecnologia da informação e o legado do taylorismo na França. RAE , São Paulo, v. 34,
no. 1, 1994.
FLEURY,A.C.C. Organização do trabalho industrial: um confronto entre teoria e realidade. Tese
(Doutorado em Engenharia) . São Paulo: POLI/ USP, 1978.
FLEURY, M.T.L. Cultura da qualidade e mudança organizacional. RAE, São Paulo, v. 33, n.2, p.26-34,
1993.
GUERIN,F., DROIT, S., SAILLY, M. Les métiers du condicionnement de la conduite d'une machine
à la maîtrise du système. Paris: Laboratoire d'Ergonomie/CNAM, rapport nº 85, 1986.
KAST, F., ROSENZWEIG, J.E. Contingency Views of Organization and Management. Chicago:
Science Research Associates, 1973.
MINTZBERG,H. Structure et Dynamique des Organisations. Paris: Ed. d'Organisations, 1982.
PEPIN,M. L'Organisation du Travail Posté. Montrouge: ANACT, 1987.
PERROW, C. Análise organizacional: um enfoque sociológico. São Paulo: Atlas, 1976.
PINCHOT, E. & GIFFORD. O poder das pessoas. São Paulo: Campus, 1993.
QUEINNEC, Y., TEIGER, C., TERSSAC, G. Repères Pour Negocier le Travail Posté. Toulouse:
Université de Toulouse - Le Mirail, Service de publications, 1985.
REGNAUD, D., DANIELLOU, F., LAPLACE, J., BRUMENT, J.M., Conduite de Projets Industriels:
Expérience du Japon. Lettre d’ANACT, n. 116, Montrouge,1987.
ROBBINS, S.P. Organization Theory: Structure, Design and Applications. Englewood Cliffs-N.J.: Ed.
Prentice-Hall, 1990.
ROSNAY, J. Le Macroscope: Vers Une Vision Globale. Paris: Ed. Seuil/Points, 1975.
SAILLY, M. Approche de la Qualification par Analyse Ergonomique de Activite de Travail. Mémoire
(D.E.A. d'Ergonomie). Paris: CNAM, 1986.
CAPÍTULO 14

ERGONOMIA E FORMAÇÃO

A ergonomia tem como principal campo de ação, a concepção de meios de trabalho,


adaptados às características fisiológicas e psicológicas do homem e de sua atividade.
Por outro lado, meios de trabalho (máquinas, ferramentas, ambientes e organização)
ergonomicamente concebidos são necessários, mas não suficientes, para garantir
boas condições de saúde e de produtividade no trabalho. Necessário se faz, também,
que as pessoas sejam suficiente qualificadas, do ponto de vista profissional, para
operar esses meios de trabalho. Neste sentido, é de fundamental importância, a
intervenção da ergonomia também na definição de um programa de
formação/adaptação.

14.1 IMPORTÂNCIA DE UMA INTERVENÇÃO ERGONÔMICA NA DEFINIÇÃO DE


UM PROGRAMA DE FORMAÇÃO

Fazemos aqui uma distinção entre formação/adaptação e formação profissional. A


primeira é uma formação centrada mais sobre o trabalho do que sobre o trabalhador,
enquanto que a segunda é mais centrada sobre o trabalhador do que sobre o trabalho.
Abordaremos neste capítulo, preferencialmente, a formação relativa à adaptação do homem
ao trabalho, sendo esta a única adaptação aceita pala ergonomia.
No caso dos projetos industriais, onde propomos uma metodologia de intervenção
ergonômica, em todas as fases do desenvolvimento do projeto, a ergonomia pode contribuir
na elaboração de planos de formação, a partir da análise do trabalho, facilitando a atividade
dos operadores, quando da posta em marcha do empreendimento.
Assim, seja no caso de um projeto industrial de modernização (automação ou
informatização da produção), ou seja na implantação de um novo empreendimento, ou seja
ainda, na transferência de uma tecnologia, a ergonomia pode contribuir em três aspectos da
definição da formação:
- A análise das atividades anteriores dos operadores, contribui a evidenciar aspectos
de suas "qualificações operativas", precisando elementos de suas "competências
atuais". Esta análise, permite estabelecer o ponto de partida da formação.
- A análise das atividades em situações próximas daquela que o projeto prevê, e o
trabalho de levantamento de determinantes da atividade futura, permitem descrever
certas situações de ação tipo nas quais os operadores podem se encontrar. Pode-se
assim, abordar certas competência que os operadores devem adquirir. A ergonomia
contribui assim, na definição dos objetivos de formação.
- Enfim, os resultados das pesquisas sobre as propriedades do raciocínio humano
(psicologia cognitiva), e sobre sua implantação no trabalho (ergonomia), podem
contribuir na reflexão sobre os conteúdos e, de certa forma, sobre os métodos de
formação.

14.2. O TERMO DE REFERÊNCIA "FORMAÇÃO”

Da mesma forma que para as outras "dimensões" do projeto, verdadeiros estudos são
necessários para se chegar na definição da formação que será desenvolvida. Neste sentido, é
de fundamental importância que esses estudos comecem o mais cedo possível, no
desenvolvimento do projeto, para que a própria formação possa ser iniciada durante os
estudos de engenharia de detalhamento.
A consultoria em matéria de formação pode ser realizada pelo serviço de formação
da própria empresa, por uma empresa externa, ou ainda, pela gerência do futuro
empreendimento. Em todos os casos, o "Termo de Referência de Formação" permite uma
discussão explícita com o empreendedor (ou seu representante), quanto aos objetivos da
formação. Igualmente, ele permite evidenciar, de forma precoce, a necessidade de liberar os
operadores durante um tempo suficiente para a formação, de organizar eventualmente
substituições ou reforçar, temporariamente, o efetivo.
O "Termo de Referência de Formação" compreenderá, notadamente, uma descrição
da população a ser formada e de sua experiência atual . Em primeiro lugar, a partir da análise
das situações de referência, pode-se estabelecer os objetivos da formação, não em termos de
conhecimentos (saber), mas em termos de situações de ação tipo, nas quais os operadores
devem poder elaborar uma conduta apropriada. Este programa levará em conta o fato de que,
não somente os operadores de produção é que devem receber uma formação. Os operadores
de manutenção e de controle são, igualmente, envolvidos pelo projeto. Da mesma forma, a
supervisão e a gerência, devem ser formados em relação aos novos equipamentos, mas
também em relação ao gerenciamento do projeto e à futura organização do trabalho.
É claro que, o planejamento da formação se dará em relação com o desenvolvimento
geral dos estudos: os módulos de formação, os mais gerais, e aqueles que se referem à
experiência anterior, serão programados em primeiro lugar, enquanto aqueles que se referem
à arquitetura do sistema, somente poderão começar quando os estudos técnicos estiverem
suficientemente avançados.

14.3. AS COMPETÊNCIAS INICIAIS

Como dito anteriormente, a formação não "parte do nada". A história individual de


cada indivíduo (sua infância, sua formação escolar, suas diferentes experiências
profissionais, suas atividades fora do trabalho, etc.) contribui no desenvolvimento das
competências que ele utiliza no trabalho. Uma preliminar na introdução de novos
conhecimentos é a identificação dessas competências anteriores e, eventualmente, formalizá-
los para consolidá-los de forma estruturada.

14.3.1 O diagnóstico de formação

A diversidade dos itinerários individuais não pode ser descrita, de forma simples,
quando prepara-se um plano de formação. Todavia a análise da população futura provável
permite determinar as ocasiões apropriadas para adquirir conhecimentos sobre:
- As matérias primas;
- Os produtos;
- As ferramentas;
- As máquinas;
- A documentação;
- Os procedimentos;
- Os critérios de qualidade;
- As ocasiões de colaboração, etc.
É preciso assinalar que tais conhecimentos não são, em geral, estruturados da mesma
forma que aqueles oriundos dos bancos escolares. Modelos explicativos foram
desenvolvidos, não sendo análogos aqueles dos engenheiros. Em todo caso, esses modelos
têm uma certa lógica interna. Quando esta lógica aparece como inadaptada para o
gerenciamento do novo sistema, é preciso saber que não se pode "apagá-la". A única
possibilidade é de religar esses elementos de conhecimento à outros, de forma
suficientemente sólida, para que as lógicas particulares não "ocorram" sozinhas.

14.3.2 Consolidação das competências anteriores

As tentativas de procurar elaborar uma ação de formação, baseada numa análise das
competências anteriores, encontram a seguinte dificuldade: como já assinalado
anteriormente, muitas competências desenvolvidas pelos operadores, jamais tiveram a
oportunidade de serem expressas verbalmente. Os operadores não são, então,
necessariamente "conscientes", do que eles sabem e do interesse de seus conhecimentos
atuais, em relação ao novo sistema.
Uma etapa importante do plano de formação pode consistir numa explicitação, pelos
próprios operadores, das estratégias e das competências que eles desenvolvem, no trabalho
atual. Evidentemente, isto supõe que eles possam ser dirigidos por um formador,
familiarizado com os métodos de análise ergonômica do trabalho. Este profissional, guiará
a descrição da atividade, procurando fazer verbalizar o operador sobre o direcionamento
cognitivo de sua ação e, em seguida, formalizará as principais características de sua
atividade.
Assim sendo, é possível assinalar certos elementos de continuidade, entre as
competências anteriores e aquelas que serão exigidas pelo novo sistema. Isto permitirá aos
operadores de se encontrarem numa situação de exploração ativa, em relação à formação.

14.4 ALGUNS ELEMENTOS DE REFLEXÃO PARA A DEFINIÇÃO DE UM PLANO


DE FORMAÇÃO

1) Precisar os objetivos

Em geral, os objetivos de formação não são definidos de maneira precisa. A formação


é desenvolvida de forma que os trabalhadores possam desempenhar suas funções ao nível de
seu posto de trabalho.
Objetivos mais precisos são necessários para a definição de um plano de formação.
Neste sentido, pode-se propor os seguintes objetivos:
 Os trabalhadores devem poder elaborar a cada instante, ao nível cognitivo, uma
representação da situação de trabalho, que lhes permita decidir a conduta a adotar, dentro
da organização coletiva prevista.
 Os conhecimentos adquiridos pela formação devem ser estruturados de tal forma que,
todos os conhecimentos adquiridos pela experiência, sejam considerados de forma
articulada, formando um todo coerente. Desta maneira, os trabalhadores poderão
desenvolver suas competências de forma contínua.

Todavia, para passar do enunciado desses objetivos, à definição de um plano de


formação, é necessário retornar às propriedades da ação humana desenvolvidas no capítulo
4. Uma das dificuldades encontradas, diz respeito aos limites dos conhecimentos existentes,
sobre os mecanismos de aprendizagem dos adultos, que não podem ser considerados
análogos àqueles que ocorrem com as crianças.

2) Conhecimento para ação

Anteriormente, vimos que existem uma continuidade cognitiva entre exploração,


antecipação dos efeitos de uma ação, decisão e controle da ação. A formação deve permitir
ao trabalhador, estruturar competências portanto sobre todas essas dimensões, de forma que
o mesmo possa encarar configurações, cada vez mais variadas do dispositivo de produção.
Trata-se então, de desenvolver ligações entre:
- A identificação de certas configurações da realidade;
- A antecipação da evolução provável e do efeito das diferentes ações;
- A realização das ações e o controle de seus resultados.
Desta forma, certas configurações (as mais freqüentes) ativarão imediatamente no
operador, uma representação diretamente eficaz. Por outro lado, uma determinada situação,
a representação do trabalhador será carregada de incertezas e ele será levado a manipular
mentalmente os elementos da situação, até que elabore uma representação eficaz. A
formação deve preparar o operador a essas duas situações:
De fato, é desejável que o trabalhador desenvolva competências que lhe permitam
identificar, imediatamente, certas situações e intervir o mais cedo possível. todavia, uma
aprendizagem que se limite no estabelecimento de relações entre sinal/resposta, pode ser
extremamente perigoso:
• somente repetição de seqüências semelhantes, não permite ao trabalhador
desenvolver uma capacidade de abstração necessária para fazer face a uma
variação (por menor que seja), da situação de trabalho. Este tipo de
aprendizagem não permite tratar as situações “standard”, que foram objeto de
ensino. Generalizando, pode-se afirmar que este tipo de aprendizagem (que se
baseia sobre a hipótese que os projetistas determinam todas as situações
possíveis), não permite tratar situações não previstas.
• por outro lado, este tipo de aprendizagem, não permite também, uma
programação das competências dos operadores, tendo em vista que os eventos
imprevistos, que ocorrem,, não podem ser relacionados com os conhecimentos
adquiridos durante a formação. Assim sendo, corre-se o risco de que o operador
adquira conhecimentos em “mosaico”, que não se comunicam entre si. Numa
determinada situação, não é garantido que a configuração da realidade, ativará
as competências necessárias, para que o operador possa fazer face a essa
situação.

Neste sentido, é então indispensável que a formação dê ao operador os meios


necessários, para fazer face, também, às situações em que o diagnóstico não é imediato: ele
deve poder estabelecer um diagnóstico, elaborar diferentes hipóteses e pesquisar
informações, para chegar a uma representação precisa do estado da máquina ou do sistema.
O desenvolvimento de uma tal capacidade de abstração supõe a prática de situações
próximas mas diferentes, e a correlação da evolução dessas situações de ação com um
modelo explicativo.
Os conhecimentos teóricos têm, por papel essencial, de designar, precisamente, o que
existe de comum (e de diferente) entre duas situações próximas, a fim de permitir
manipulações mentais, quando novas situações se apresentam.

3) Os conhecimentos teóricos
Os conhecimentos teóricos não devem ser considerados como verdades imutáveis,
mas como ferramentas que têm caráter dinâmico na confrontação com a realidade. Por
exemplo, a equação elétrica referente a lei de Ohm (V= I.R), permite:
• Prever a intensidade da corrente elétrica que passa numa resistência elétrica;
• Medir valores de resistência elétricas por comparação entre eles;

Todavia, é preciso ainda que:


• Os diferentes termos desta equação sejam objeto, pelos alunos, de uma
representação que lhes permita distinguir o que varia e o que fica constante,
durante a aplicação de um tensão (noções de diferença de potencial, de
intensidade de corrente e de resistência elétrica);
• A lei de Ohm tem sido, explicitamente, co-relacionada com fenômenos da
vida cotidiana;
• As ligações com a situação de trabalho tenham sido levantadas (ex.:
potenciômetros).

Para que os conhecimentos teóricos desenvolvam, efetivamente, um papel na


manipulação mental da realidade, um método foi proposto: a experimentação com hipóteses
preliminares. Segundo este método, antes da experiência, os participantes prevêem a
evolução dos parâmetros. Se suas previsões são refutadas pela experiência, as razões são
procuradas. A experiência é renovada com variações. Em seguida, as leis são formuladas
com seus limites. Enfim, essas leis são colocadas à prova numa outra experiência.

4) As ferramentas reais de trabalho

Durante o desenvolvimento da formação, é desejável que todas as ferramentas


utilizadas sejam mais próximas possíveis das futuras ferramentas de trabalho. Este
“realismo” não diz respeito somente ao material, mas também aos modos operativos. Por
exemplo, se uma ação somente pode ser efetuada, após certas precauções de segurança, é
indispensável que elas sejam integradas ao curso de ação, cada vez que este seja levantado
na formação.

5) Formar o coletivo de trabalho

No caso em que o funcionamento do futuro sistema, baseia-se na colaboração entre


operadores de diferentes funções, é necessário prever das formações específicas, uma
formação comum ao coletivo de trabalho.
Esta formação, pode basear-se numa exploração ativa do modo operativo, que cada
um dos operadores pode realizar em relação ao outro, para diferentes ações tipo. Não se trata
de suprimir as especialidades de cada um, mas de permitir que cada operador conheça o
desenvolvimento do trabalho do outro (duração, locais, intervenção, riscos, necessidades de
comunicação, em qual estado está o sistema durante este tempo...).

6) Consolidar as ferramentas cognitivas de base

As atividades de vigilância, de diagnóstico, necessitam do emprego de competências


de antecipação, de planificação, a prática de certas abstrações e generalizações, à formação
de hipóteses, etc. Pode-se afirmar que essas atividades baseiam-se em “ferramentas
cognitivas de base”, que não estão disponíveis de forma idêntica com todas as pessoas, num
determinado momento de suas vidas. A disponibilidade dessas ferramentas, não pode ser
relacionada, de forma simples, com a formação escolar, tendo em vista que mesmo pessoas
que não tenham passado pelos bancos escolares podem adquirir ferramentas cognitivas.
Só assim e possível explicar como trabalhadores analfabetos conseguem realizar
atividades, extremamente complexas, do ponto de vista cognitivo, como evidenciado por K.
Meckassoua (1986), numa fábrica de cerveja da República Centro-Africana.
Por outro lado, parece que certas condicionantes organizacionais extremas
(condicionantes temporais por exemplo), possam deixar traços nos trabalhadores, de forma
que estes manifestem dificuldades em imaginar modificações de uma situação, em raciocinar
sobre hipóteses alternativas, em efetuar classificações, em estabelecer prioridades, em
generalizações a partir de situações similares, etc.
Essas dificuldades, podem aparecer de forma acentuada, quando de uma
transformação de situação de trabalho, dificultando as possibilidades de reconversão
profissional ou mesmo comprometendo a formação desses trabalhadores a novas
tecnologias. Assim sendo, é necessário que o plano de formação antecipe tais dificuldades,
prevendo um treinamento específico à utilização dessas “ferramentas cognitivas de base”.

7) A formação dos trabalhadores idosos

Um problema que se apresenta freqüentemente, durante o desenvolvimento de um


projeto industrial é a formação às novas técnicas de trabalhadores, já com uma certa idade,
que ocupem postos de trabalho que serão automatizados. As dificuldades ligadas a idade,
desses trabalhadores são normalmente negligenciadas.
Os conhecimentos atuais sobre este sujeito, permitem descrever as seguintes
características de aprendizagem, com trabalhadores idosos e as precauções pedagógicas
correspondentes:
• Com a idade, ocorre uma manifestação, cada vez mais evidente , da necessidade de
compreender para aprender: tudo se passa como a aquisição de cada novo conhecimento,
exija reestruturação do conjunto dos conhecimentos que o indivíduo já possui. Isto leva
o trabalhador idoso, a formular muitas questões durante um processo de formação, o que
muitas vezes é tratado, erroneamente, como um sinal de dificuldade de aprendizagem. O
formador não deve, então, proceder por afirmações, mas explicitar as bases lógicas de seu
raciocínio. A impossibilidade para os estagiários de expressar questões que eles
formulam, pode levá-los a “perder o fio do raciocínio”. Assim, é necessário assegurar-se
que cada conceito chave possa ser assimilado, antes de se passar à etapa seguinte.
• O estabelecimento de relações constantes, entre o que é ensinado e o que é conhecido pela
experiência. É particularmente importante, neste caso (explicitação das competências
anteriores). Alternância entre a ação em situação de trabalho, a formalização na sala de
controle e eventualmente, as manipulações experimentais.
• Importância dos suportes concretos ao raciocínio: peças, maquetes, material de
demonstração, etc. A descoberta ativa e a manipulação desses suportes, antes da
formulação de regras de funcionamento e de utilização facilitam a aprendizagem.
• Importância das situações experimentais, que se baseiam em ações completas:
alimentação de máquinas, preparação e regulagem do material, previsão dos resultados,
emprego da experiência, controle dos resultados, redação de relatório, desmontagem do
material, etc. Nesse caso há interesse de assegurar uma assemelhança, a mais próxima
possível, entre as situações de formação com as situações profissionais.
• Importância da pesquisa coletiva dos mecanismos, que explicam os erros cometidos, e da
planificação da formação:
1. Duração mais longa do que para os trabalhadores jovens e sobretudo não
fechada: algumas sessões suplementares serão desenvolvidas, se elas forem
necessárias e determinadas desde o início da formação;
2. Interesse de uma mesclagem de trabalhadores de diferentes faixas etárias;
3. Desenvolvimento progressivo da formação: a passagem brutal de uma situação
de trabalho para uma situação escolar é muitas vezes, motivo de dificuldades
para os trabalhadores idosos;

14.5. DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO

Para estabelecer relações sólidas, entre diferentes conhecimentos, é necessário que


eles sejam desenvolvidos várias vezes, sob diferentes ângulos.
Pode-se, então, abordar a situação de trabalho futura, a partir de diferentes módulos,
propondo ângulos de abordagem. Em cada módulo, deve-se dar uma grande importância às
questões ativas dos trabalhadores. Exemplos de módulos que permitam atingir
progressivamente a realidade de trabalho, sob diferentes ângulos:
• Módulos relativos à arquitetura do sistema (a partir de dados concretos:
maquetes, planos, visitas à fábrica, a salões profissionais, a fornecedores, ...):
para que serve esta parte? O que existe dentro deste armário? Por onde passa
fisicamente a informação?,...
• Módulos relativos à própria tarefa de produção: Qual é a peça que é fabricada,
o dossiê que é tratado? De onde eles vêm? Para onde eles vão? Quais são os
critérios de qualidade em relação aos usuários?, ...
• Módulos relativos ao funcionamento do sistema: em que estado encontra-se a
peça quando ela chega? Como tal arquivo é salvado? O que passa fisicamente
se a corrente é cortada? (lógica de funcionamento);
• Módulos relativos às intervenções humanas em funcionamento normal: como
acionar o sistema? O que permite verificar que o desenvolvimento é normal
(lógicas de utilização);
• Módulos relativos aos incidentes prováveis: como se pode perceber um
incidente? O que permite estabelecer o diagnóstico? Quais critérios podem
ajudar a tomada de decisão (emprego de situações de ação tipo);
• Módulos relativos a linguagens ou lógicas cuja aquisição pode ser necessária
para o gerenciamento do novo sistema;
• Módulos relativos aos documentos utilizados, aos levantamentos de controle a
ser efetivado eventualmente, às noções de estatística correspondente, em relação
com a utilização que será feita desses levantamentos;
• Módulos de formação entre funções.

Quando a formação inicia-se suficientemente cedo, durante os estudos de engenharia


de detalhamento, pode-se desenvolver uma importante “ressonância” entre a concepção e a
formação. As reconstituições da atividade futura provável são ao mesmo tempo:
• Uma confrontação dos trabalhadores, com o estado de definição dos meios de
trabalho que contribui à sua formação;
• E um meio de levantar as insuficiências na concepção ou na formação
desenvolvidas até esse momento.

A participação dos trabalhadores na redação das prescrições postas em marcha


contribui, de forma considerável, na sua formação. Em particular, uma discussão com a
supervisão, das diferentes fontes de variabilidade, permite determinar:
• O que nas prescrições, assinala imperativos técnicos incontornáveis;
• E o que é destinado a servir de “apoio” aos trabalhadores.

Neste segundo caso, “excursões” em torno do procedimento são permitidas e


desejáveis, elas permitem aos trabalhadores aumentar o controle sobre as instalações.
Quando uma formação do tipo modular é desejável, para permitir o estabelecimento de
relações entre diferentes tipos de conhecimentos, é necessário que o conjunto desses
conhecimentos seja monopolizado simultaneamente, nas situações sintéticas. É o caso, por
exemplo, durante a última reconstituição previsível ao final dos estudos de engenharia de
detalhamento. Pode ser o caso, também, durante a montagem industrial e dos testes de
operação piloto, se meios forem previstos, para permitir aos trabalhadores de expressarem
suas constatações e suas questões, e de encontrar soluções.
Enfim, deve-se salientar também, a importância dos documentos entregues,
individualmente a cada trabalhador, os quais permitem rever certos aspectos da formação,
de acordo com as necessidades de cada um.

14.6. FORMAÇÃO APÓS A COLOCAÇÃO EM MARCHA DAS INSTALAÇÕES

1) Durante a operação piloto

Os meios “pedagógicos” empregados durante a montagem industrial, dos testes e da


operação piloto, para que os trabalhadores possam encontrar soluções às suas questões, são
os seguintes:
• Presença reforçada de responsáveis técnicos (técnicos dos fornecedores de
equipamentos, supervisores, engenheiros de sistemas). Estes responsáveis
técnicos têm um papel de assistência e não de substituição dos trabalhadores. Os
test-runs apresentam grande perigo de serem conduzidos, unicamente, pelos
técnicos das empresas que fornecem os equipamentos, sem a presença dos
futuros operadores, o que não permite garantir um funcionamento satisfatório
após esses testes;
• Meios de levantamento das dificuldades (relatórios, planilhas de dados,
reuniões);
• Tratamento cotidiano dos incidentes ocorridos e difusão da informação
correspondente a todas as equipes (no caso do trabalho em turma alternante). O
julgamento dos erros (quem é o culpado?) deve ser substituído pela busca das
causas dos erros (por que ocorrem?);
• Após a operação piloto, reuniões com os diversos trabalhadores, para evocar e
analisar as dificuldades que permanecem, procurando elaborar pistas de
transformação. Essas reuniões devem ter um status de seção de formação.

2) A formação continuada

A formação que se segue após o alcance do funcionamento nominal, tem por objetivo
permitir aos trabalhadores guardar uma certa vantagem, em relação aos seguintes aspectos:
• Prevenção das dificuldades ligadas ao envelhecimento dos trabalhadores;
• Preparação às evoluções tecnológicas posteriores;
• Melhoria contínua da qualidade.

Em particular, é possível desenvolver os conhecimentos teóricos dos trabalhadores:


a multiplicidade das situações que eles enfrentam durante a colocação em marcha das
instalações e em funcionamento nominal, constitui um ponto de partida ao ensino de
modelos teóricos, cada vez mais complexos, se estes forem claramente relacionados com a
realidade.
Os programas e a orientação da formação continuada devem ser relacionados com os
meios organizacionais destinados a permitir os “progressos” do sistema, em particular a
circulação e o tratamento da informação, e a evolução das responsabilidade confiadas a cada
trabalhador.

14.7 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

ANACT. Formation et estructuration du travail. Collection formation et conditions de


travail, Monographie A. Montrouge (France): Anact, 1982.
ANACT. Informatisation et formation. Collection formation et conditions de travail,
Monographie A. Montrouge (France): Anact, 1982.
ANACT. Cinquième équipe, automation et requalification. Collection formation et
conditions de travail, Monographie A. Montrouge (France): Anact, 1982.
ANACT. Formation et enrichissement des qualification. Collection formation et
conditions de travail, Monographie A. Montrouge (France): Anact, 1982.
ANACT. Formation et acroissement des qualifications. Collection formation et
conditions de travail, Monographie A. Montrouge (France): Anact, 1982
CARRAHER, T.N. Aprender pensando. 2 ed., Petrópolis; Vozes, 1986.
MONTMOLLIN, M. A psocotécnica da berlinda: uma autocrítica da psicologia
industrial. Rio de Janeiro: Agir, 1974.
MONTMOLLIN, M. L’analyse de travail préable à la formation. Paris: Armand Colin,
1974.
CONCLUSÃO

O homem ainda é visto, infelizmente, como meio de atingir os objetivos


organizacionais. É ele que está a serviço da organização e não ao contrário. As empresas se
modernizam, transformam-se em organizações de aprendizagem, passam a trabalhar em
grupo mas, em essência, continuam a ser espaços de pouca liberdade, onde não há realização
de metas pessoais.
O objetivo do homem é a sua evolução. Cada vez mais capacitadas, serão as pessoas
a recrutarem as organizações, escolhendo aquela na qual desejam trabalhar, aquela que será
o meio através do qual atingirão seus objetivos de crescimento e realização pessoal. Nesse
momento será a organização a serviço do homem e a sobrevivência da organização
dependerá do sucesso individual dos seus funcionários.
Pode-se dizer que o último grande avanço do pensamento administrativo é a Teoria
Contingencial. Originária da Teoria dos Sistemas, ela busca a harmonia entre a organização
e o seu meio ambiente. O modo como têm se processado as transferências de tecnologia para
os países em vias de desenvolvimento ignora muitos desses princípios de adaptação.
Desconsidera, principalmente, o ambiente que recebe a tecnologia. Algumas vezes, essa
implantação de tecnologia funciona muito bem porém, na maioria dos casos, os resultados
obtidos não são os esperados. Mais do que isso, nessa equação o homem se dilui, quer seja
dentro da organização, enquanto trabalhador, quer seja como cliente todo poderoso.
Para garantir o sucesso das transferências de tecnologia seria preciso, antes de tudo,
que todo esse processo ocorresse embasado por uma política que considerasse as
particularidades de cada país receptor. Estes, por sua vez, deveriam deixar claras as formas
de organização da empresa e do trabalho, a fim de incorporarem eficientemente as novas
tecnologias.
No âmbito deste livro, o interesse coloca-se justamente nas dificuldades de adaptação
de uma tecnologia transferida à nova realidade, levando-se em consideração as diversas
dimensões do empreendimento para a garantia dos resultados esperados sem, contudo,
degradar as condições de vida e trabalho dos operadores do sistema. A viabilização desta
análise é possível de ser concretizada a partir dos princípios propostos pela Ergonomia,
ampliados pela Antropotecnologia.
Uma avaliação da metodologia proposta é feita por Leckner et alli (1987) concluindo
que sua utilização leva os operadores a terem mais confiança, iniciativa e concentração para
atuar nos sistemas de trabalho propostos. Argumentam que os resultados significam uma
melhoria das condições de trabalho representadas, também, pela qualidade da produção,
segurança das instalações e seguridade dos operadores.
Para finalizar, coloca-se o explicitado por Luzi et alli (1987) ao constatarem que a
intervenção ergonômica em projetos industriais leva a busca de soluções técnicas para
problemas organizacionais. Essa constatação demonstra a evolução da demanda, marcando
uma melhor compreensão do papel do ergonomista que, através da sua ação, pode ser
reconhecido como um intermediário no processo de comunicação entre empreendedores,
responsáveis pela concepção e realização, e usuários.
Desta forma cumpre a Ergonomia o seu papel, ao resgatar o Homem e questionar o
paradigma da produtividade em nome da qual, muitas vezes, se sacrifica a saúde e o bem
estar dos trabalhadores. Propõe-se que o trabalho não seja visto como tripalium, algo obtido
através da coação e do sofrimento, mas como ergon, espaço de realização do eu, dentro dessa
Aldeia Global, mas não Humana, em que se transformou o planeta.
ANEXOS
DOCUMENTOS PROPOSTOS PARA A ABORDAGEM
ANTROPOTECNOLÓGICA - GERENCIAMENTO ERGONÔMICO DE
PROJETOS INDUSTRIAIS

Para o gerenciamento de um projeto industrial são propostos alguns documentos que,


utilizados no contexto da referida metodologia, facilitam a intervenção durante as diversas
etapas do projeto.
Estes documentos não podem ser considerados como "check-lists" que são
preenchidas de forma expedita, sem qualquer análise mais aprofundada. Na realidade, eles
devem ser utilizados unicamente dentro de um quadro metodológico global, que envolve
desde uma análise ergonômica preliminar da situação existente até uma análise ergonômica
da nova situação em produção normal, passando por análises detalhadas de situações de
referência.
Segundo a dimensão do projeto, o formalismo proposto poderá ser reduzido ou
ampliado. Este formalismo será, de qualquer forma, adaptado em função da estrutura
escolhida do gerenciamento de projeto e dos métodos de trabalho de cada um dos
intervenientes.
Decoster (1989) recomenda que, na redação dos documentos sejam evitadas as
formulações muito gerais, dando preferência à busca do realismo e da precisão. Argumenta
com a necessidade de se dispor de estruturas lingüísticas e termos que sejam acessíveis aos
diversos analistas das proposições, inclusive os futuros trabalhadores.

Análise de
viabilidade do
empreendimento

Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência Termos de Referência
Locais de Trabalho Equipamentos Interfaces / Software Organização Trabalho Formação

Lote 1 Lote 2 Lote K Lote j Lote n

*CERE CERE CERE CERE CERE

Figura 1. Esquema geral do formalismo proposto para uma empresa de médio porte
* CERE - Caderno de encargos de recomendações ergonômicas
A figura 1 coloca um esquema geral do formalismo proposto para um projeto
industrial de médio porte. Já a figura 2 sintetiza o cronograma físico da intervenção
ergonômica nas diversas etapas de desenvolvimento do projeto. Assim, são apresentados, a
seguir, modelos de documentos que facilitam o gerenciamento ergonômico de projetos
industriais:
 o Relatórios de Gerenciamento de Projeto;
 o Termos de Referência;
 a Fichas de Ação Tipo;
 o Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas.

Desenvolvimento do Intervenção Definição dos Equipamentos Locais e Interfaces e Organização Formação


Projeto Industrial ergonômica Procedimentos Espaços de Softwares do Trabalho
Trabalho
Estudos Preliminares Estudos a Priori Relatório de TR TR TR TR TR
Engenharia gerenciamento Equipamentos Locais e Interfaces e Organização Formação
do Projeto Espaços de Software do Trabalho
Trabalho
Estudos de Análise do (V1) CERE
Engenharia Básica Existente
Elaboração dos CERE CERE CERE CERE
(Decisão de Investir) Participação Termos de
Elaboração dos Referência
Termos de
Referência
Estudos de Estudos de Estudos Decisão: Estudos Fi
Estudos de Gerenciamento 1. RAF Detalhes Detalhes preliminares - Efetivos de Recepção
Engenharia e Detalhe (planos) (maquete) - Horário
Substância RGP (V2) (massa) - Equipe
Implantação
+
Coerência Prototipagem
+ 2. RFP Estudos de Estudos de Programação Decisão: Formação
Recomendação Detalhes Detalhes Experiment. Reparticão de Verificação
Detalhes RGP (V3) (maquete) (maquete) Software Tarefas Progressiva
(protótipos) (detalhe) (protótipo)

Implantação
Engenharia de
Experiment. Formação
Montagem Acompanh. 1. RAFP Realização Realização Software Verificação
Substância + Grandes Locais Real Progressiva
Coerência RGP (V4) Obras Decisões
Qualificação
2. RAFP Elaboração
Operação Piloto implantação implantação Acertos Finais Senhas
RGP (V5)
Revisão pré-
Operação Piloto Colocação Arranjos Acertos Assistência
em marcha Físicos Avaliação Finais O. P.
Retorno
Experiência
Funcionamento Análise de
Estabilizado Atividades 3. Recepção Avaliação Avaliação Avaliação
(transit.) Formação
Continuada
Figura 2. Cronograma físico da intervenção ergonômica nas diversas etapas do processo

RAFP - Reconstituição da Atividade Futura Provável


RGP - Relatório de Gerenciamento do Projeto
RAF - Reconstituição da atividade futura
CERE - Caderno de encargos de recomendações ergonômicas
Relatório de Gerenciamento do Projeto (RGP)

O RGP é elaborado para organizar os dados obtidos da análise ergonômica da


situação existente e das situações de referência. Em alguns casos, o RGP pode evidenciar
certos pontos que não foram suficientemente abordados durante estas análises. O RGP
aborda os seguintes aspectos:
* Situação existente: caracterização da situação em questão, antes da análise do
trabalho, a partir de aspectos de seu funcionamento. Esta parte pode ser, segundo
o projeto, redigida no início dos estudos preliminares de Engenharia e pode
contribuir para uma melhor definição dos objetivos do projeto por parte do
empreendedor. Baseia-se em conhecimentos científicos e tecnológicos do homem
em atividade de trabalho.
* Objetivos do projeto: resultado do trabalho de explicitação junto ao empreendedor.
* Condicionantes reveladas pela análise das situações de referência e que
permanecerão independente do dispositivo técnico escolhido.
* Condicionantes ligadas aos dispositivos técnicos escolhidos.
* Recapitulação dos "períodos sensíveis" ou "críticos" prováveis.
* Recapitulação das seqüências e dos fluxos. A palavra seqüência designa os
diferentes circuitos que podem ser tomados (exemplo num hospital: seqüência
"internação", seqüência "consultas", seqüência "emergência", etc.). A palavra fluxo
designa uma certa quantidade de circulação nas diferentes seqüências, em diferentes
períodos.
* Cronograma: desenvolvimento físico de todas as etapas de gerenciamento do
projeto.

Apresenta-se a seguir um modelo de RGP destacando, entretanto, que este


documento não visa normalizar a abordagem ergonômica de projetos industriais. Ao
contrário, é possível utilizá-lo em cada situação como uma fonte de novos questionamentos,
aos quais é necessário encontrar novas soluções na realidade existente.
MODELO: RELATÓRIO DE GERENCIAMENTO DO PROJETO

Empresa:
Seção : Data:

1. SITUAÇÃO EXISTENTE (descrição global antes da análise do trabalho)

* Características técnicas

* Relações com o ambiente externo

* Condições do ambiente interno (condições físicas e químicas)

* Características da população:
- idade
- histórico profissional
- níveis de formação inicial, ocasiões de formação profissional, indicadores de formação
pessoal, ...

* Características organizacionais:
- horários
- efetivos
- repartição das tarefas
- condicionamento de tempo, ...

* Ambiente social, estruturas e negociações, acordos, ...

* Produção:
- quantidade
- variedade
- qualidade
- indicadores relativos ao estado dos materiais

* Indicadores relativos aos trabalhadores:


- acidentes
- problemas de saúde
- absenteísmo, turn-over
- dificuldades de recrutamento
- queixas

* Dificuldades conhecidas
2. OBJETIVOS DO PROJETO (trabalho de explicitação com o empreendedor)

* Objetivos relativos à produção:


- quantidade
- variedade
- qualidade
- prazos

* Objetivos relativos à organização do trabalho:


- natureza da população
- efetivos
- repartição das tarefas
- organização temporal das tarefas
- qualificação
- polivalência
- horários
- estruturas de circulação da informação

* Objetivos relativos às condições de execução:


- efeitos sobre o meio-ambiente externo
- condições do ambiente interno
- esforços físicos
- tratamento da informação
- condicionantes de tempo

* Objetivos relativos à metodologia de concepção:


- evolução das relações sociais
- instâncias informadas
- implicação das diferentes áreas e participação das diferentes competências
- participação dos trabalhadores
3. CONDICIONANTES REVELADAS PELA ANÁLISE ERGONÔMICA DAS
SITUAÇÕES DE REFERÊNCIA

* Condicionantes relativas à população futura (se for conhecida):


- sexo
- idade (incluindo projeção)
- características físicas (incluindo projeção)
- experiência
- nível de formação
- qualificações e status (pessoal orgânico, subcontratação)

* Condicionantes relativas às matérias-primas:


- seqüência (recebimento, estocagem, acondicionamento, controle de qualidade,
carregamento), identificação dos itinerários
- fluxo (quantificação dos volumes e da repartição temporal)
- variedade
- variabilidade, tolerâncias, variações segundo os fornecedores e as estações
- fragilidade, sensibilidade à umidade, à temperatura, à poeira
- modo de acondicionamento
- prazo de utilização, caráter sazonal
- etiquetagem, identificação
- toxidade, caráter corrosivo, agressivo, inflamável
- ambiente regulamentar
- fluxo de informação relativo às matérias-primas

* Condicionantes relativas aos produtos e subprodutos:


- variedade (sazonal + variantes), prazo pedido/entrega, efeitos de um atraso
- seqüência (evacuação, controle de qualidade, refugos, estocagem, acondicionamento,
entrega, ...)
- fluxo (volumes, repartição temporal)
- fragilidade, sensibilidade, prazo de utilização
- tempo morto (resfriamento, descongelamento)
- exigências de qualidade, fontes de defeitos, critérios determinantes de qualidade
- etiquetagem, identificação
- toxidade, meio-ambiente regulamentar
- fluxo de informação relativo aos produtos

* Condicionantes relativas à presença de clientes (ou de distribuidores):


- seqüência (recebimento, espera, orientação, recepção, self-service, chamadas
telefônicas e telefonadas, ...)
- variação em volume (dia, semana, mês, ano) e em natureza (atividades periódicas)
- caráter aleatório ou programado da presença dos clientes e/ou distribuidores
- características particulares (paraplégicos, idade, língua, hábitos nacionais ou culturais)
- necessidades específicas (cabines telefônicas, vestuários, sanitários, ...)
- fluxo de informações relativo aos clientes

* Condicionantes relativas à documentação:


- natureza
- estocagem
- atualização
- caráter confidencial

* Condicionantes relativas ao meio-ambiente:


- localização
- vias de acesso
- espaço disponível
- variações meteorológicas
- especificações regionais
- tecido industrial, ...

* Condicionantes relativas às redes elétricas:


- corte de corrente elétrica
- queda de tensão
- penalizações (fator de potência), ...

* Condicionantes ligadas aos postos de trabalho circunvizinhos:


- dependência em relação à entrada (fluxo de informação, emergência, troca de material,
tempo de autonomia, ...)
- dependência em relação à saída (evacuação de produtos acabados ou semi-acabados...)
- relações com o serviço de manutenção
- empresas externas
- outros postos

* Características transponíveis da atividade existente:


- ações tipos
4. SOLUÇÃO TÉCNICA POSSÍVEL

* Procedimento técnico

* Grau de automação, de informatização: escolha de partes do processo que serão


automatizadas ou informatizadas

* Grau de centralização

* Condicionantes ligadas à solução técnica possível (reveladas pela análise de situações


onde elementos da solução existem):
- operações de produção:
. tolerâncias exigidas das matérias-primas
. normas de produção, cadências
. usura das ferramentas (marcas, freqüência)
. incidentes conhecidos (índices, intervenção)
. efeitos sobre o meio-ambiente interno e externo
. fatores de risco

- operações de limpeza, manutenção e preparação de produção:


. utilização de acessórios, ferramentas e produtos
. evacuação dos subprodutos.

- tratamento da informação:
. índices relativos ao estado das matérias-primas, dos produtos, do processo
. programação inicial
. necessidade de reprogramação ou de intervenção sobre panes de softwares
. incidentes conhecidos

- carregamento, provisão, evacuação:


. tolerâncias exigidas sobre os produtos pelo sistema de carregamento
. evacuação de refugos
. levantamento de amostras
. gestão da variedade e da variabilidade
5. PERÍODOS SENSÍVEIS:

PERÍODOS SITUAÇÕES DE AÇÃO TIPO A CONSIDERAR


Preparação da produção
Arranque
Funcionamento nominal
Mudanças de produção /
ferramentas
Parada
Período de parada
Manutenção/limpeza
Cortes da corrente elétrica
Falta de pessoal/
recrutamento
Variações sazonais
Incidentes previsíveis

6. RECAPITULAÇÃO DAS SEQÜÊNCIAS E FLUXOS

* Pessoas

* Matérias-primas e produtos (acondicionamentos, ...)

* Ferramentas

* Veículos

* Informação

7. CRONOGRAMA
Termos de Referência

Os Termos de Referência são elaborados, em conjunto com a Engenharia Consultiva,


a partir de dados ergonômicos já conhecidos e dos resultados das análises das situações de
referência. Funcionam como uma documentação intermediária antes da redação dos
cadernos de encargos. Envolvem os cinco domínios já citados, quais sejam:
* dos espaços de trabalho;
* dos equipamentos materiais;
* das interfaces e softwares;
* da organização do trabalho;
* da formação.
A. Termo de Referência "LOCAIS E ESPAÇOS DE TRABALHO"

1. Determinação das seqüências e dos fluxos


2. Determinação das condicionantes conhecidas
3. Determinação das fases sensíveis
4. Dados relativos às situações de ação prováveis:
Situações de ação tipo
* Coatividade
* Material utilizado
* Variabilidade, provisão, evacuação, estocagens intermediárias
* Tomadas de informação
* Relações de proximidade desejáveis
* Condicionantes de segurança
* ...
5. Princípios gerais de recomendações e regulamentação:
* antropometria (consideração dos paraplégicos)
* espaços exigidos, qualidade das circulações
* ambiente de trabalho (térmico, acústico, luminoso...)
* redes
* regulamentação
* indicativo
6. Graus de liberdade para evoluções posteriores
7. Ficha Termo de Referência por local (coerência entre os lotes):
* função, previsão de grandes equipamentos
* localização, proximidades a respeitar
* fluxos detalhados (estocagens), circulações
* espaço necessário
* acessibilidade, natureza das saídas
* redes necessárias (elétrica, ventilação, água, ar comprimido, gás)
* meios de comunicação
* gases tóxicos
* condicionantes do ambiente, precauções acústicas, luminosas
* facilidade de limpeza
* precauções particulares (fundações especiais)
* regulamentações particulares
* indicativo
8. Procedimentos de gerenciamento e de recepção:
* reconstituições previsíveis:
- período
- procedimentos
- ferramentas necessárias (maquetes, planos)
* quadro de defasagem e procedimentos de instalação
* controle de montagem
* recepções formais
B. Termo de Referência "EQUIPAMENTOS MATERIAIS"
1. Determinação dos fluxos
2. Determinação das condicionantes conhecidas
3. Determinação das fases sensíveis
4. Dados relativos às situações de ação prováveis:
Situações de ação tipo:
* Fontes de variabilidade, incidentes, natureza das intervenções
* Pessoas envolvidas, coatividade
* Fontes de informação
* Critérios de qualidade
* Comunicações
* Acessibilidade, deslocamentos, circulação
* Esforços físicos, levantamento de cargas
* Segurança
* Relações com entrada/saída, manutenção
5. Princípios gerais de recomendações e regulamentação:
* antropometria
* esforços
* ambiente de trabalho : físico, acústico, vibratório, térmico, luminoso, tóxico
* apresentação da informação, compatibilidade sistêmica, respeito aos estereótipos
* sinalização, etiquetagem
* segurança ("o mais perto" ou "o mais longe")
* regulamentação
* documentação exigida dos fornecedores
6. Evoluções a prever e a permitir
7. Fichas por subsistema (para cada subsistema, características que asseguram a coerência):
* localização, condicionantes ligadas às redes existentes, entradas (abastecimento), saídas
(evacuações), redes elétricas, variabilidade das cadências, estoques intermediários,
tempo de resposta, tempo morto, apresentação da informação, ...
* acessibilidade para produção, manutenção, limpeza, controle, início e fim de produção...
* caso de falha do subsistema, possibilidades de manutenção:
- Percepção da falha
- Reparação da falha
- Produzir apesar da falha ?
8. Procedimentos de gerenciamento e de recepção:
* visitas em instalações com materiais equivalentes
* visitas aos fornecedores
* reconstituições previsionais:
- período
- procedimentos
- ferramentas necessárias (maquetes, planos, simuladores)
* quadro de fase e procedimentos de instalação
* controle de obra
* recepções formais
* assistência do fornecedor para a fase de operação piloto
C. Termo de Referência "INTERFACES E SOFTWARES"

1. Determinação dos fluxos


2. Determinação das condicionantes conhecidas
3. Determinação das fases sensíveis
4. Situações de ação tipo a considerar:
Situações de ação tipo:
* Variabilidade das entradas
* Informação sobre motivos-causas
* Informação sobre a realização dos objetivos
* Critérios de decisão
* Memorização
* Possibilidades de correções
* Formato esperado para as saídas, segundo os destinatários
* Necessidade de assistência e cooperação
5. Princípios gerais e recomendações:
* características físicas das interfaces
* disponibilidade
* características dos softwares que são normalizadas (estrutura das linguagens de
comando, estruturas respectivas dos programas e das interfaces, modo de correção,
mensagens, proteções contra a perda de informação, tempos de resposta, ...)
* documentação exigida dos fornecedores
6. Graus de liberdade para evoluções posteriores
7. Procedimentos de regulação do avanço e da recepção:
* visitas a usuários de interfaces análogas
* prever experimentações:
- softwares e interfaces escolhidas
- período
- ferramentas necessárias (softwares, simuladores)
D. Termo de Referência "ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO"

1. Determinação dos fluxos


2. Determinação das condicionantes conhecidas
3. Determinação das fases sensíveis
4. Famílias de ações tipo a repartir entre as diferentes funções (*)
(*) Considerar também as tarefas de gerência, supervisão e administrativas
Situações de ação tipo:
* Grau de coerência
* Conseqüências sobre a produção e a qualidade
* Necessidades de cooperação
* Efeitos da ausência de um membro da equipe
5. Objetivos consignados na nova organização:
* condições materiais de trabalho
* relações profissionais
* status da supervisão
* eficácia econômica, engajamento dos meios, tratamento da diversidade de comandos
de clientes, redução dos prazos, política dos estoques, organização da manutenção
* horários
* gestão do absenteísmo
* progressão funcional, evolução da população
* melhoria da circulação de informação relativa aos materiais e procedimentos de
produção, às dificuldades encontradas e às evoluções desejáveis
6. Princípios gerais a respeitar na escolha da forma de organização:
* conhecimentos sobre o trabalho em turnos alternantes
* conhecimentos sobre a polivalência
* dados sobre o absenteísmo e seus efeitos (absenteísmo aleatório e absenteísmo
sistemático)
* dados sobre a disponibilidade dos trabalhadores e a taxa de cobertura desejável
* indicadores de gestão descentralizados
* condicionantes legais ou regulamentares
7. Critérios de avaliação das vantagens e inconvenientes das diferentes formas
organizacionais possíveis:
* condicionantes de tempo
* condicionantes de organização do tempo a médio termo
* efeitos sobre a vida fora do trabalho
* flexibilidade de aplicação dos recursos segundo critérios aleatórios (ao acaso)
* existência de recurso em caso de dificuldades
* condições da passagem de uma tarefa a outra
* possibilidade de planificação da ação de forma avançada
* condições de colaboração entre funções
* troca de informação eventual
* circulação e capitalização da informação sobre uma disfunção
* disponibilidade dos trabalhadores para formação continuada
* capacidade do sistema organizacional em aceitar trabalhadores idosos, paraplégicos, etc.
* capacidade do dispositivo organizacional em evoluir
8. Condições particulares para o período do projeto da colocação em marcha e o
funcionamento transitório.
9. Graus de liberdade a prever e evoluções possíveis a longo termo.
E. Termo de Referência "FORMAÇÃO"

1. Determinação dos fluxos


2. Determinação das condicionantes conhecidas
3. Determinação das fases sensíveis
4. Dados relativos às principais situações de ação:
Situações de ação tipo:
* Variabilidade
* Tratamento da informação
* Coatividade
* Uso de senhas
5. Características do estado inicial da população:
* idade, histórico profissional, formação, postos ocupados, ...
* características dos conhecimentos iniciais: experiência das matérias-primas, dos
produtos, das ferramentas, das máquinas, da documentação, dos procedimentos, dos
critérios de qualidade e índices correspondentes, de abstração e de formalismo
* disponibilidade durante os estudos de Engenharia de Detalhe e da Engenharia de
Montagem
6. Características dos conhecimentos a serem atingidos ("ser capaz de" e "ter conhecimentos
teóricos em matéria de”):
* vigilância
* controle de qualidade
* troca de ferramentas ou de produção
* uso de interfaces
* programação
* tratamento da variedade e da variabilidade
* intervenção sobre os incidentes
* relação com os clientes
* comunicações
* regulação estrutural
* segurança
* manutenção
* competências exigidas de abstração e de formalização.
7. Princípios gerais: pedagogia, documentos fornecidos, procedimentos de elaboração de
senhas (linhas diretrizes, atualização, ...)
8. Lista das "unidades de formação" para cada uma:
* "perfil" dos formadores
* objetivos
* métodos desejáveis: meios que permitam colocar em prática experiências anteriores e
meios que permitam exercer progressivamente o conjunto das competências
adquiridas
9. Meios para capitalizar a experiência dos ensaios e da Operação Piloto, para assegurar o
retorno de experiência após a colocação em funcionamento da instalação e para iniciar a
formação permanente em funcionamento normal estabilizado.
10. Cronograma
Fichas Ação Tipo

As fichas "Ações Tipo" permitem a preparação das reconstituições previsíveis da


atividade futura provável. Exemplos de elementos de descrição de cada situação de ação
tipo, úteis como preliminar a uma tentativa de reconstituição previsível de atividade:
* trabalhadores envolvidos;
* motivos da ação:
- ação planificada ou resposta a fontes de variabilidade (incidentes, variações
sazonais);
- modo de informação dos trabalhadores sobre a necessidade de intervir;
* natureza das intervenções: objetivos perseguidos e objetivos intermediários;
* material utilizado: variabilidade, características, provisão, evacuação;
* meio-ambiente de trabalho;
* condicionantes de tempo, normas de produção, critérios de qualidade;
* fontes de informação, critérios de decisão, uso de sinais, controle do resultado da ação;
* acessibilidade, deslocamentos, esforços físicos, porte de cargas, porte de vestimentas
especiais ou E.P.I., segurança;
* coatividade, comunicações, relações com a entrada e saída, relações com outros
serviços;
* ligação temporal com outras tarefas: seqüencialidade, simultaneidade, interrupções,
MODELO
FICHA "SITUAÇÃO DE AÇÃO TIPO"

Exemplos de elementos de descrição de cada situação de ação tipo, úteis como


preliminar a uma reconstituição da atividade.
* Pessoal operacional envolvido;
* Motivos da ação: ação planificada ou resposta a fontes de variabilidade
(incidentes, variações sazonais). Modo de informação dos operadores sobre a
necessidade de intervir.
* Natureza das intervenções: objetivos estabelecidos e objetivos intermediários.
* Material utilizado: variabilidade, características, abastecimento, evacuação.
* Condicionantes de tempo, normas de produção, critérios de qualidade.
* Fontes de informação, critérios de decisão, uso de senhas (ordens). Controle do
resultado da ação.
* Acessibilidade, deslocamento, esforços físicos, levantamento de cargas, uso de
vestuários especiais ou equipamentos de proteção individual, equipamentos de
segurança.
* Coatividade, comunicações, relações à montante e à jusante, relações com outros
serviços.
* Ligação temporal com outras tarefas: seqüencialidade, simultaneidade,
interrupções,..

Pode-se igualmente prever relações temporais entre diferentes cursos de ação


(interrupções, simultaneidade, seqüencialidade), o que permitira de reconstituir
combinações semelhantes de ações tipos.

Esta preparação preliminar, de situações de ação tipo e de suas características


temporal, é determinante para o sucesso da reconstituição previsível da atividade. Uma
reconstituição que seja elaborada, sem levantamento preliminar das ações, que o pessoal de
nível operacional tenha realizado, pode deixar de lado numerosas situações de ação, não
previstas pelos projetistas do sistema, que são justamente aquelas para os quais os meios de
trabalho podem ser os menos adaptados.
Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas (CERE)

A partir dos Termos de Referência desenvolvidos para os equipamentos, espaços de


trabalho, interfaces/softwares, organização do trabalho e formação, pode ser elaborado um
Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas, a ser entregue aos diversos
fornecedores nos diversos lotes de licitação. O CERE permitirá aos fornecedores terem uma
idéia condensada das especificações dispersas no RGP.

Por outro lado, a existência do CERE não dispensa a necessidade de se elaborar um


RGP, pois o Caderno de encargos serve como apoio às especificações introduzidas pelo
RGP.

A consideração das especificações ergonômicas, quando da realização dos estudos


de Engenharia, permite atingir mais rapidamente, de forma mais segura e a um menor custo,
os objetivos visados em matéria operacional: confiabilidade, qualidade, produtividade. Por
outro lado, uma apropriação mais rápida dos sistemas pelo pessoal se traduz por uma
colocação em marcha mais rápida e menos problemática. Uma parte das especificações
ergonômicas se apóiam sobre normas e especificações.

Um modelo de CERE, proposto por Decoster (1989) é colocado a seguir.


CADERNO DE ENCARGOS E RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS

1. DECISÕES DE BASE

* A uniformização deve ser procurada:


- escolha dos meios de trabalho
- escolha dos componentes
- procura da identidade, no caso de várias instalações destinadas a uma mesma produção,
mesmo sobre o plano topográfico.
* É preciso prestar atenção à possibilidade de desmontagem dos componentes, a fim de
evitar:
- perdas de tempo
- todo efeito perverso ligado à substituição ou troca de elementos ou peças (efeito, em
particular, sobre a qualidade).

2. IMPLANTAÇÃO GEOGRÁFICA DOS ELEMENTOS

As especificações que são apresentadas a seguir devem, na medida do possível, ser


mantidas na ordem, quando de sua consideração:

* A implantação geral deve ser concebida de forma a evitar o aparecimento de postos


mantidos por trabalhadores isolados (falta de visibilidade a partir de outros postos,
inacessibilidade). Se os postos isolados são inevitáveis, um estudo dos riscos deve ser
realizado, a fim de procurar o melhor arranjo físico. Se o arranjo físico baseia-se sobre
a implantação de meios de comunicação, os riscos de perturbação serão encarados
(parasitas hertzianas, efeito de máscara do ruído, fumaça, ...)

* As máquinas ou dispositivos que são barulhentos, vibratórios, radiativos ou que


apresentam qualquer outro efeito nocivo à saúde do trabalhador devem ser:
- afastados dos pontos onde os operadores possam ficar freqüentemente expostos
- isolados (capôs, dispositivos de proteção)

* O local não deve ter desnivelamento nem mudança de níveis (passarela, plataforma,
...). Se existem mudanças de níveis, os acessos a estes níveis devem ser em número
suficiente e implantados de forma a limitar os deslocamentos. As diferenças de níveis
devem ser as mais fracas possíveis.

* A implantação deve levar em conta a circulação de pessoas e de veículos, de forma a:


- evitar a criação de obstáculos aos deslocamentos, mesmo aos mais curtos;
- não criar incômodos

* Se obstáculos aos deslocamentos mais curtos são inevitáveis (exemplo: longa


transferência), meios de ultrapassagem devem ser previstos, desde os primeiros planos
(passarelas, "ponte de Veneza", ...).

* Estes meios de ultrapassagem devem ser dispostos de forma a:


- permitir mudanças de níveis (pequenas) quando do seu emprego
- reduzir os deslocamentos inúteis

3. IMPLANTAÇÃO DETALHADA DOS POSTOS MANTIDOS POR PESSOAS


* A arquitetura e o arranjo físico dos postos de trabalho mantidos pelos operadores
(postos manuais) devem levar em conta as seguintes exigências: acessibilidade,
posturas, esforços, deslocamentos, adaptação dos comandos e dos meios de sinalização
visual.
* As zonas de intervenção devem ser dimensionadas e arranjadas de forma a oferecer
espaços suficientes para circular e efetuar tarefas necessárias.
* Os estoques de provisão, com carregamento manual, devem ser dimensionados de
forma a oferecer uma margem de autonomia temporal suficiente.
* Os sinalizadores permitem suprimir um certo número de problemas de qualidade das
peças, causados pela atividade humana:
- colocação correta de peças ou de elementos defeituosos ou defasados
- má colocação de peças sãs ou de bons elementos

De acordo com a situação, três princípios podem ser considerados:


- colocação de uma advertência escrita (neste caso, o desengano não é técnico)
- colocação de um controle sem parada de produção, mas com alarme (o erro pode se
reproduzir, mas não passa desapercebido)
- colocação de um dispositivo que impede o erro de se reproduzir : seja por parada da
instalação, seja por impossibilidade de colocação, seja por impossibilidade de
transmitir ao posto seguinte.

Todo posto manual deve estar munido de sinalizadores, segundo um destes três
princípios, assim como de um sistema de alerta operador.

4. IMPLANTAÇÃO E ARRANJO FÍSICO DAS ZONAS DE INTERVENÇÃO

* Meios de manutenção ou pontos de ancoragem devem ser integrados à máquina para


facilitar a desmontagem dos órgãos mecânicos. Estes meios devem ser concebidos
sobre os planos, ao mesmo tempo que os dispositivos de produção.
* Os elementos materiais de proteção devem ser concebidos desde os primeiros planos
de implantação, de forma a evitar que uma implantação tardia aja negativamente sobre
os espaços destinados à circulação e às intervenções.
* O número e a colocação dos meios de acesso são determinados, levando-se em conta,
em particular, a localização das interfaces, de forma a evitar as perdas de tempo devido
a deslocamentos inúteis.
* As zonas de intervenção devem ser dimensionadas e arranjadas de forma a oferecer
espaços suficientes para circular e efetuar as tarefas necessárias.
* As interfaces devem ser orientadas de forma que o operador, que intervenha sobre cada
interface, veja o elemento comandado sem ter necessidade de se deslocar.
* A escolha dos comandos e dos sinais, a definição de suas características e seu
agenciamento sobre a interface devem responder às exigências das atividades dos
operadores.
* A colocação de um console descentralizado (com ou sem redundância de comandos e
de sinais em relação ao console principal) deve ser realizada se:
- existir um grande afastamento entre o console e a zona considerada;
- existir falta de visibilidade entre o console e esta zona.
* Os armários elétricos devem ser dispostos sobre o local e orientados de forma a:
- eliminar deslocamentos inúteis entre estes armários e outras interfaces e entre eles e
os locais de intervenção correspondentes;
- permitir uma visibilidade correta sobre o(s) local(is) de intervenção, quando se está
colocado face a estes armários;
- não dificultar a visibilidade geral (noção de vigilância).

5. DOCUMENTAÇÃO

* Se a documentação é impressa, ela deve ser sobre um papel resistente à manipulação


em áreas agressivas:
- persistência ao dilaceramento (da encadernação e páginas);
- resistência ao apagamento das páginas impressas.
* A documentação deve ser visível (tamanho dos caracteres).
* A documentação deve ser homogênea. Três possibilidades devem ser consideradas:
- um mesmo operador pode ser levado a consultar diferentes documentos;
- um mesmo documento pode ser consultado por diferentes operadores;
- vários documentos têm um conteúdo independente.
* No caso em que a documentação descreve procedimentos, eles devem estar em estreita
correspondência com o material utilizado.
* Tanto quanto possível, a documentação deve apresentar uma diagramação que facilite
sua atualização.
* A documentação deve ser redigida segundo duas finalidades bem distintas:
- manuais de utilização, que devem ser redigidos segundo a lógica dos usuários;
- manuais de funcionamento, que devem ser redigidos segundo a lógica dos
projetistas.

6. NíVEL DE RUÍDO

* A exposição sonora cotidiana e o valor máximo da pressão acústica não devem


ultrapassar respectivamente 85 dB (A) e 200 pascal, a fim de ficar num nível
compatível com a saúde, notadamente a proteção do ouvido.
* Os limites são relativos a danos à saúde. É preciso também levar em conta:
- os incômodos provocados à realização de uma determinada atividade e à fábrica
decorrente;
- os efeitos de máscara do ruído (comunicações verbais, sinais auditivos de perigo...)
que provocam:
. uma elevação do nível de risco;
. perdas de tempo;
. tomadas de decisões errôneas.

Assim sendo, o nível de 85 dB (A) não é um objetivo a ser atingido, mas um limite
que, absolutamente, não deve ser ultrapassado, conforme as normas ISO, ABNT e AFNOR.

7. VIBRAÇÕES

* Os limites admissíveis são avaliados conforme as normas ISO, ABNT e AFNOR.

8. NÍVEL DE ILUMINAÇÃO

* O nível de iluminação não visa, exclusivamente, à segurança do trabalho e da


circulação, mas também o conforto visual, conforme estabelecem as normas
ISO/ABNT e NR-17.

9. POLUIÇÃO DO AR
* Os critérios e os limites de exposição no posto de trabalho a serem respeitados, quando
da realização de medidas técnicas para suprimir os riscos profissionais devidos à
poluição do ar, são fixados pelo Ministério do Trabalho, através de portarias
específicas aos produtos manipulados (benzeno, chumbo, ...)
* Um conjunto de normas ISO, específicas aos diferentes poluentes, permite verificar o
respeito aos critérios e aos valores limites de exposição.
* No caso em que o projeto especifica, a aspiração deve ser feita em todos os locais da
planta industrial onde exista emissão de gazes, fumaça ou qualquer produto tóxico.

10. AMBIENTE TÉRMICO

* As condições de conforto térmico são estabelecidas pelas normas ISO, ABNT e


AFNOR.
* Fora das zonas de conforto, um método de estimativa da condicionante térmica, à qual
é submetida o pessoal, é especificada na norma ISO (índice IBUTG).
GLOSSÁRIO

Esta seção tem o objetivo de apresentar definições gerais de alguns termos utilizados no
decorrer deste livro, visando auxiliar sua leitura e análise.

Adaptação de tecnologia: atendimento dos objetivos colocados ao sistema técnico, quais


sejam, produtividade, qualidade do produto, condições de trabalho e saúde para os
operadores. Envolve, assim, os objetivos explicitados pela Ergonomia, definidos como a
busca de estratégias que permitam uma boa resolução aos entraves de um funcionamento
satisfatório do sistema produtivo.

Algoritmos: formam um conjunto de regras precisas, destinado a obter determinado


resultado, a partir de certos dados iniciais. De uma forma mais geral, é um procedimento
sistemático que dá a certeza de chegar à solução do problema, para o qual o algoritmo foi
concebido.

Ambiente: todos os elementos existentes fora dos limites da empresa e que tenham potencial
para afetá-la como um todo ou somente em alguma parte. O ambiente pode ser classificado
como geral (fatores, tendências e condições gerais comuns a todas as empresas) ou
específico (fatores que tenham relevância imediata para a empresa).

Análise Ergonômica do Trabalho: metodologia desenvolvida por ergonomistas de idioma


francês na qual observações no local de trabalho originam um diagnóstico, um projeto de
modificação e uma verificação dos efeitos resultantes. Apresenta o objetivo de transformar
o trabalho visando dar boas condições para os operadores e atendimento aos objetivos da
produção. É realizada em fases colocadas como análise da demanda, análise da tarefa e
análise da atividade (Guerin et all, 1991).

Antropologia Cultural: abrange o estudo do homem como ser cultural, isto é, fazedor de
cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, sua origens e desenvolvimento,
suas semelhanças e diferenças.

Antropologia Cognitiva: é um subcampo da Antropologia Cultural, onde se estuda as


relações entre cultura, linguagem e cognição. O objetivo da Antropologia Cognitiva é buscar
evitar o julgamento de padrões culturais de outros grupos segundo os nossos próprios
padrões.

Antropometria: é uma ciência que trata especificamente das medidas do corpo humano, a
fim de precisar as diferenças existentes entre indivíduos, grupos, etc (Panero, 1979).

Antropotecnologia: termo criado com o intuito de expandir o campo de ação da ergonomia


para análises de processos de transferência de tecnologia, busca a adaptação da tecnologia
ao local de transferência, considerando a influência dos fatores geográficos, demográficos,
econômicos, sociológicos e antropológicos (Wisner, 1981).

Aspectos organizacionais: relativos à empresa, referem-se à estruturação necessária ao


funcionamento da empresa no sentido de apreender e dirigir os sistemas de fluxos e
determinar os inter-relacionamentos entre as suas diferentes partes (Mintzberg, 1995).
Relativos ao trabalho, referem-se à “especificação do conteúdo, métodos e inter-relações
entre os cargos, de modo a satisfazer os requisitos organizacionais e tecnológicos, assim
como os requisitos sociais e individuais do ocupante do cargo” (Davis, apud Bresciani,
1991).

Atividade: designa um processo de encadeamento dos comportamentos reais dos operadores


no local de trabalho, tanto do ponto de vista físico (gestos, posturas) como mentais
(raciocínio, verbalização). Em ergonomia se opõe à tarefa (Montmollin, 1990).

Biomecânica: estuda as interações entre o trabalho e o homem, sob o ponto de vista dos
movimentos músculo-esqueletais envolvidos, e as suas conseqüências. Analisa basicamente
a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças (Iida, 1990)

Condições de trabalho: do ponto de vista físico, considera os aspectos ambientais (ruído,


temperatura, luminosidade, vibração, toxicologia do ar), bem como a disposição e adequação
de instalações e equipamentos. Do ponto de vista organizacional, considera a divisão do
trabalho, a parcelização das tarefas, o número e duração das pausas, a natureza das instruções
(ou sua ausência), o conhecimento dos resultados da ação (ou sua ignorância), as
modalidades de ligação entre tarefa e remuneração (Montmollin, 1980).

Cultura: " a cultura consiste de uma forma padrão de pensar, sentir e reagir, adquirida e
transmitida principalmente por símbolos, constituindo as realizações distintivas de grupos
humanos, incluindo sua personificação em artefatos; o ponto essencial da cultura consiste
em idéias tradicionais e, especialmente, seus valores inerentes" (Kluckhohn, 1972). O ser
humano nasce com a capacidade de participar em qualquer cultura, aprender qualquer
idioma, e desenpenhar qualquer tarefa, mas é a cultura específica em que ele nasce e vive
que determina o idioma que fala, quais atividades ele faz segundo sua idade, sexo e posição
social, e como ele pensa sobre o mundo em que vive.

Cultura Organizacional: é um sistema de representações e de valores partilhados por todos


os membros da empresa (Lemaître, 1984).

Empreendedor: é a figura principal em um projeto industrial, pois é dele a responsabilidade


das decisões mais importantes, tais como, definição dos objetivos, contratação de técnicos,
decisão de investir, controle e pagamento de todo o processo.

Ergonomia: “conjunto de conhecimentos a respeito do desempenho do homem em


atividade, a fim de aplicá-los à concepção de tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos
sistemas de produção” (Laville, 1977).

Esquemas: é uma estrutura que permite representar os conceitos estocados em memória. Os


esquemas podem representar entidades variadas: objetos, situações, eventos, ações,
seqüências de ações. Um esquema é, ainda, um conjunto organizado de variáveis podendo
tomar diferentes valores (Falzon, 1989).

Fisiologia do Trabalho: é uma das áreas da fisiologia que está centrada sobre as variações
e os limites do desempenho do homem, dentro de determinadas condições físicas de trabalho.

Heurísticas: são procedimentos menos precisos que os algoritmos, menos sistemáticos, que
não permitem chegar na solução do problema com certeza.
Imagem Operativa: é uma deformação funcional da realidade. Segundo Ochanine(1978), a
atividade de trabalho leva o indivíduo a construir representações, que são uma sorte de
empilhamento de traços pertinentes do objeto e que acionam a ação.

Lógica de Utilização : refere-se aos conhecimentos empregados pelo trabalhador, que lhe
permitem resolver eficientemente o problema.

Lógica de Funcionamneto: refere-se aos conhecimentos que dizem respeito ao


funcionamento do dispositivo técnico (como funciona).

Modo Degradado: é definido por Kerbal (1990), como a tecnologia que sofre freqüentes
rupturas, causando sérios problemas sobre a eficiência da produção e especialmente sobre
as condições de trabalho.

Países Desenvolvidos Industrialmente (PDI): são identificados como os “países que


possuem o mais alto nível de ingresso anual por habitante e, por conseguinte, de qualidade
de vida” (Vidossich et all, 1995).

Países em Vias de Desenvolvimento Industrial (PVDI): “locução que destaca, entre os


países subdesenvolvidos, aqueles que se diferenciam por terem programas de
desenvolvimento técnico e social contínuos e bem sucedidos, comprovado por indicadores
sócio-tecnológicos crescentes, de acordo com as publicações do Banco Mundial” (Vidossich
et all, 1995).

Psicologia Cognitiva: Para Jean Piaget (Estudos de Psicologia Genética, 1950), seria o
estudo da conduta., onde conduta é usada ao invés de comportamento, para deixar claro que
o interesse se concentra nos processos de aquisição e processamento do conhecimento.

Projetos Industriais: representam um conjunto de atividades interdisciplinares, finitas e


não repetitivas que visam a alcançar um determinado objetivo com cronograma e orçamento
preestabelecidos (Casarotto Filho et all, 1992). Os conceitos embutidos nessa definição
pressupõem o envolvimento, num processo dinâmico, de especialistas em várias áreas do
conhecimento humano, com atividades desenvolvendo-se em uma relação que pode ser
linear e/ou paralela.

Relatório de Acompanhamento do Projeto: constitui-se em uma documentação elaborada


para organizar os dados obtidos da análise ergonômica da situação existente e das situações
de referência. Em alguns casos, poderá evidenciar certos pontos que não foram
suficientemente abordados durante estas análises. Aborda os aspectos referentes à situação
existente, objetivos do projeto, condicionantes reveladas pela análise das situações de
referência e que permanecerão independente do dispositivo técnico escolhido,
condicionantes ligadas aos dispositivos técnicos escolhidos, recapitulação dos períodos
sensíveis ou críticos prováveis, recapitulação das seqüências e dos fluxos, cronograma.

Representações Mentais: são construções circunstanciais feitas num contexto particular e


com fins específicos: numa situação dada, e para fazer face às exigências da tarefa em curso,
um texto que se lê, uma ordem que se escuta, um problema a resolver (Richard, 1990).

Tarefa: objetivo que o operador tem a atingir, para o qual são atribuídos meios (máquinas e
equipamentos) e condições (tempos, paradas, ordem de operação, espaço e ambiente físicos,
regulamentos). Corresponde ao trabalho prescrito. (Laville, 1977).
Tecnologia: "o conjunto ordenado de conhecimentos, empregados na produção e
comercialização de bens e serviços, e que está integrada não só por conhecimentos
científicos - provenientes das ciências sociais, humanas etc... mas igualmente por
conhecimentos empíricos, que resultam de observações, experiências, atitudes específicas,
tradição oral ou escrita..." ( Sabato apud Rodrigues, 1984).

Termos de Referência: constituem-se em uma documentação elaborada em conjunto com


a Engenharia Consultiva, a partir de dados ergonômicos já conhecidos e dos resultados das
análises das situações de referência. Funcionam como uma documentação intermediária
antes da redação dos cadernos de encargos. Envolvem os domínios referentes a espaços de
trabalho; equipamentos materiais; interfaces e softwares; organização do trabalho;
formação.

Test-run (teste de garantia): é o momento no qual o vendedor da tecnologia, através de


seus técnicos, deve demonstrar que esta funciona bem no local para onde foi transferida.

Trabalho Prescrito: é a maneira como o trabalho deve ser executado: o modo de utilizar as
ferramentas e as máquinas, o tempo concedido para cada operação, os modos operativos e
as regras a respeitar.

Trabalho Real: contempla as estratégias realizadas pelo trabalhador na execução de sua


tarefa. É o que os trabalhadores fazem efetivamente, devido à sua experiência e inteligência,
este é usualmente desconhecido e não transferido.

Transferência de tecnologia: processo de introduzir um conhecimento tecnológico já


existente, onde ele não foi concebido e/ou executado (Ong, 1991, p. 799). Corresponde à
venda dos direitos de utilização dos conhecimentos, à venda de informações tecnológicas, e
também, à venda de bens e equipamentos industriais.

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