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Segurança e Saúde do

Trabalho no Contexto do
Teletrabalho

3 Fatores de Risco no
Teletrabalho

1
Conteudista:
Mara Queiroga Camisassa (conteudista, 2021);

Diretoria de Desenvolvimento Profissional.

Enap, 2021

Enap Escola Nacional de Administração Pública


SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF

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Sumário

Unidade 1: Ergonomia.................................................................................................................4
1.1 O que é a Ergonomia....................................................................................................................................... 4

1.1.1 Ergonomia no teletrabalho................................................................................................................ 5

1.2 Dimensões da Ergonomia............................................................................................................................. 5

1.2.1. Ergonomia Cognitiva......................................................................................................................... 5

1.2.2 Ergonomia Organizacional................................................................................................................ 8

1.2.3 Ergonomia Física.................................................................................................................................. 9

1.2.3.1 Qual a postura correta? . ...................................................................................................... 9

1.2.3.2 A posição sentada................................................................................................................11

Referências..............................................................................................................................................................13

Unidade 2: Conhecendo os Fatores de Risco..................................................................... 14


2.1 O mito da postura correta...........................................................................................................................14

2.1.1 Qual modelo de ser humano orienta as análises da Ergonomia?.......................................14

2.1.2 Biomecânica, dinâmica do corpo e o mito da postura correta............................................15

2.1.3 Qual é a melhor postura?................................................................................................................15

2.2 As Lesões por Esforços Repetitivos e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Traba-


lho (LER/DORT).....................................................................................................................................................16

2.2.1 Etiologia................................................................................................................................................17

2.2.2 LER/DORT na História.....................................................................................................................18

2.2.3 LER/DORT – Prevenção..................................................................................................................19

2.3 Recomendações da Ergonomia para o teletrabalho...........................................................................21

2.4. Riscos psicossociais.....................................................................................................................................29

2.4.1 Estresse relacionado ao trabalho.................................................................................................30

2.4.2 Classificação dos riscos psicossociais........................................................................................31

2.4.3 Consequências dos riscos psicossociais ...................................................................................31

2.4.4 Intervenção psicossocial.................................................................................................................32

2.4.5 Estratégias gerais de prevenção e controle..............................................................................33

Referências..............................................................................................................................................................34

3
MÓDULO

3 Fatores de Risco no Teletrabalho


O objetivo deste Módulo é apresentar o conceito de Ergonomia e os principais fatores de risco advindos do
teletrabalho e suas consequências.

Unidade 1: Ergonomia
Objetivo de aprendizagem

Ao final desta unidade você será capaz de compreender o conceito de ergonomia, identificar os fatores relacionados
aos riscos ergonômicos e psicossociais advindos do teletrabalho, suas consequências e como evitá-las.

1.1 O que é a Ergonomia


Segundo o professor Etienne Grandjean (1998), a palavra Ergonomia é formada pela junção de dois radicais
gregos: ergos (trabalho) e nomos (normas, leis, regras). Resumidamente, ergonomia pode ser definida como
a ciência da configuração do trabalho adaptado ao homem.

A International Ergonomics Association (IEA) (https://iea.cc/), fundada por Grandjean, define a Ergonomia
como uma disciplina científica que busca o entendimento das interações entre os seres humanos e outros
elementos ou sistemas. Tal disciplina também propõe a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a
projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema.

Nesse sentido, é fundamental que você compreenda nesta unidade que a Ergonomia vai muito além dos
aspectos físicos. Ela alcança também os aspectos psicofisiológicos, cognitivos e organizacionais.

Os profissionais da ergonomia são chamados de ergonomistas.


Entre suas funções, esses profissionais contribuem para o
planejamento, o projeto e a avaliação de tarefas, postos de
trabalho, produtos, ambientes e sistemas, de modo a torná-los
compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas (MARTINS, 2018).

Veja no próximo item como se dá a aplicação da ergonomia para o teletrabalho.

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1.1.1 Ergonomia no teletrabalho
A informática não é novidade e seus prós e contras vêm sendo discutidos há muito tempo, dada a
profundidade com que está presente na vida das pessoas. De fato, como você deve ter percebido, o debate
tem evoluído. Há muito tempo que a informática entrou profundamente nas nossas vidas. Os prós e os
contras da informatização foram discutidos desde o seu aparecimento e o debate tem evoluído à medida
que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e os seres humanos têm se tornado inseparáveis
(ABERGO, 2020).

Conforme a Abergo (2020), tal processo de evolução tecnológica acaba por colocar os seres humanos diante
de sistemas cada vez mais complexos e pode, nesse contexto, gerar efeitos indesejados para a sua saúde.

Normalmente as respostas e os comportamentos esperados do Homem perante sistemas complexos são


difíceis de compreender/predizer, o que introduz uma variedade de problemas nessa interação.

No caso das TICs, esse fenômeno é particularmente importante, sobretudo pela intrincada natureza das
interações. As TICs estão largamente presentes no cotidiano e, sendo assim, torna-se fundamental conviver
com esse tipo de sistema complexo. Nessa convivência a Ergonomia constitui um importante recurso para
gerir os desafios que a relação com as TICs representa.

Como você já sabe, a Ergonomia estuda o homem inserido numa situação de trabalho, incluído aí o trabalho
no contexto das Tecnologias de Informação e Comunicação.

Especificamente na situação do teletrabalho existe toda uma interferência na vida privada do trabalhador,
já que as dimensões sociais e familiares foram também inseridas no contexto do trabalho. Essa situação
coloca para a Ergonomia os seguintes desafios: como intervir? E usando qual referencial metodológico?

Considerados esses desafios, você vai conhecer, a seguir, as dimensões da Ergonomia e como elas se
inserem no contexto do teletrabalho.

1.2 Dimensões da Ergonomia


A Ergonomia pode ser pensada em seus aspectos cognitivos, organizacionais e físicos. Veja detalhadamente
cada um dos aspectos a seguir.

1.2.1. Ergonomia Cognitiva

A Ergonomia Cognitiva avalia a carga mental de trabalho, os processos de tomada de decisão,


o desempenho especializado, a confiabilidade humana, o estresse profissional e a respectiva
formação (especialidades, treinamentos).

Outros temas avaliados pela Ergonomia Cognitiva são percepção, a memória, o raciocínio e a
resposta motora ligadas à interface entre o trabalhador e os elementos de um sistema. Ou seja, a
Ergonomia Cognitiva se interessa por nossa maneira de reconhecer e interpretar as informações,
pelo trabalho com carga cognitiva intensa.

A Ergonomia Cognitiva alcança também a forma como o trabalhador interage com o computador,
com as máquinas, com os programas, como ele reconhece os dados que são importantes, como os
interpreta, e a partir daí consegue produzir com eficiência sem prejuízo da sua saúde.

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Avaliar a carga mental de trabalho é papel da ergonomia cognitiva.
Elaboração: CEPED/UFSC (2022).

No contexto da Ergonomia Cognitiva, o teletrabalho representa um grande


desafio: como conseguir se concentrar dentro de casa quando existem
inúmeras variáveis fora do nosso controle — filhos, vizinhos, obras, ruídos da
rua, internet que não funciona.

O ambiente de trabalho foi desenhado para se trabalhar, enquanto a casa da maioria das pessoas não foi pensada
como um local de trabalho. Nessa esteira, cada teletrabalhador deve se perguntar como manter a capacidade de
concentração no seu “posto de trabalho”. E, claro, as respostas podem ser as mais variadas possíveis.

A capacidade de concentração de seu colega pode ser substancialmente diferente da capacidade de


concentração que você, que está participando deste curso, apresenta. Um exemplo representativo disso é que
algumas pessoas não conseguem se concentrar quando há qualquer tipo de ruído no ambiente.

A capacidade de concentração dos teletrabalhadores e sua sensibilidade aos ruídos varia


diferentemente de pessoa para pessoa.
Elaboração: CEPED/UFSC (2022).

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Quando falamos da interferência dos sons do ambiente na capacidade de concentração, estamos falando sobre
“ruído de conforto” e, com relação a esse assunto, existem no Brasil pelo menos duas normativas importantes.

• Norma Regulamentadora Nº 17 (NR-17): A Norma Regulamentadora nº 17 (NR17)


(BRASIL, 2021) determina parâmetros relativos ao ruído de conforto, ou conforto acústico,
para ambientes de trabalho. Você deve considerar, contudo, que agora a casa também é um
ambiente de trabalho!

Para ler integralmente o texto da NR17, visite o seguinte link:https://www.gov.br/trabalho-e-


previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-
saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-17-nr-17.

• ABNT NBR 10152 – Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações:
A Norma Técnica NBR 10152, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, estabelece os
procedimentos técnicos a serem adotados na execução de medições de níveis de pressão sonora
em ambientes internos a edificações (incluindo residências!), bem como os valores de referência
para avaliação dos resultados em função da finalidade de uso do ambiente.

É claro que estes parâmetros são referências e atendem às condições de conforto para a maioria da
população. Contudo, para algumas pessoas, mesmo ruídos inferiores aos valores de referência podem ser
incômodos, podem causar estresse e ansiedade. Ao mesmo tempo, para outras pessoas, ruídos superiores
aos de referência podem nem ser tão incômodos assim.

É importante que você diferencie o desconforto que determinados ruídos geram da chamada “sobrecarga
acústica” que se aplicaria a certos ambientes de trabalho, geralmente indústrias.

Desse modo, ruído de conforto é aquele que permite que o


indivíduo mantenha sua capacidade de atenção e concentração,
produzindo com eficiência, sem prejuízo da sua saúde. Se
presente em níveis que prejudicam o conforto e a atenção,
passam a ser entendidos como perturbação passível de prejuízo
ao bom desempenho da tarefa.

Dicas da Ergonomia Cognitiva para manutenção da capacidade de concentração no teletrabalho

• É desejável que o teletrabalhador tenha um espaço separado para o trabalho e, de preferência, que
este ambiente não seja o seu quarto. O ambiente ideal deve ser silencioso e arejado.

• Alguns teletrabalhadores, se necessário e possível, podem lançar mão de protetores auditivos nos
casos em que ruídos externos não permitam que se tenha um ambiente silencioso. Nesses casos é
preciso cuidado com a conservação desses protetores.

• A ventilação do local também deve ser adequada.

• Deve ser dada preferência à iluminação natural em detrimento da artificial. A iluminação artificial deve
ser usada de forma complementar à iluminação natural, quando necessário.

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A capacidade de concentração no teletrabalho pode ser melhorada com dicas da ergonomia.
Elaboração: CEPED/UFSC (2022).

Entre as dicas para melhorar a capacidade de concentração que você recebeu, a iluminação é um
tópico muito importante!

Tal como preconizado pela NR-17, o iluminamento adequado não depende só da quantidade de luz que
incide no plano de trabalho. Depende também da refletância dos materiais, das dimensões do detalhe
a ser observado ou detectado, do contraste com o fundo etc.

A situação mais desejada seria aquela em que, além do iluminamento geral, o trabalhador dispusesse
de fontes luminosas individuais nas quais pudesse regular a intensidade.

Pode-se observar uma iluminação inadequada quando houver contrastes excessivos, sobretudo entre
o monitor do computador e o fundo e reflexos nas telas dos terminais.

Agora que você já conheceu melhor o trabalho da Ergonomia aplicada às questões cognitivas, aprendeu
o que é ruído de conforto e recebeu dicas para melhorar sua concentração no trabalho, chegou a hora
de passar para a Ergonomia Organizacional.

1.2.2 Ergonomia Organizacional


A Ergonomia Organizacional corresponde ao estudo do gerenciamento de recursos coletivos de trabalho,
incluindo a organização temporal do trabalho, os projetos participativos, os novos paradigmas do trabalho a
serem adotados, o trabalho cooperativo, o trabalho em grupo, a cultura organizacional, as organizações em rede,
os mecanismos de seleção de mão de obra, os métodos de treinamento, o teletrabalho e a gestão da qualidade.

Com o teletrabalho a dimensão coletiva e temporal da Ergonomia


Organizacional ganhou novos contornos, pois tempo e espaço agora
são, em regra, geridos pelo próprio teletrabalhador.

O trabalho cooperativo que antes era realizado presencialmente, por exemplo, nas reuniões em grupo, nos encontros
realizados em salas de reunião, agora ocorre a distância, o que pode levar a uma sensação de não participação, em
alguns casos até mesmo de não pertencimento ao grupo e de não inserção na cultura organizacional.

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1.2.3 Ergonomia Física
A Ergonomia Física corresponde aos estudos acerca da postura no trabalho, do manuseio de materiais
e dos distúrbios musculoesqueléticos devido a posturas e movimentos excessivos de tronco e membros
superiores, como, por exemplo, elevação de braços acima da linha dos ombros, esforço estático da coluna,
movimentos repetitivos e flexão excessiva de tronco.

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), a ergonomia física está relacionada com as
características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação com a atividade física.

No contexto da Ergonomia Física, é importante que você, a partir de agora, passe a questionar: Qual a
postura correta?

1.2.3.1 Qual a postura correta?


Segundo o professor Raoni Rocha (2018), não existe uma resposta engessada para esta pergunta. É
necessário pensar menos nas questões posturais e pensar mais no conforto, mas mesmo o que caracteriza
“conforto” é uma questão subjetiva, pois isso varia de pessoa para pessoa.

Nesse sentido, a customização do posto de trabalho deve acontecer de acordo com o que for mais confortável
para o teletrabalhador.

Estudos contemporâneos (ROCHA, 2018) que


investigam a postura no trabalho, mostram
que, por um lado, é necessário reduzir a rigidez
e priorizar a flexibilização do posto de trabalho,
no sentido de sua customização: por exemplo,
teclado e mouse devem ser independentes; as
cadeiras devem ser reguláveis com apoio lombar;
podem possuir apoios eventuais para os braços,
as plantas dos pés devem se apoiar no chão. O
trabalhador também deve fazer pausas regulares.
Mas até mesmo a regularidade ou periodicidade
das pausas vai variar de pessoa para pessoa.

Desta forma, na situação do teletrabalho se


deve buscar descobrir os ajustes para o posto de
trabalho da forma que seja mais confortável para
você trabalhar.

Além disso, os esforços estáticos, ou seja,


posições estáticas mantidas por longos períodos,
devem ser reduzidos ao máximo. Todo esforço
de manutenção postural implica uma contração
A customização do posto de trabalho deve priorizar o muscular estática que pode ser nociva à saúde
conforto do teletrabalhador. e, portanto, toda e qualquer postura rígida e fixa
Elaboração: CEPED/UFSC (2022). deve ser evitada.

O tempo de manutenção de uma mesma postura deve


ser o mais breve possível: devendo ser considerado para
tanto o tempo unitário de manutenção (sem possibilidade
de modificações) e o tempo total de manutenção diária.

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A necessidade de variar a postura e de evitar a sua manutenção prolongada é justificada porque os músculos
usados para manter a postura sentada e a postura em pé não são os mesmos, e porque a imobilidade
postural prejudica a nutrição dos discos intervertebrais, favorecendo sua degeneração.

Concluindo, qualquer postura mantida prolongadamente é mal tolerada. A alternância de posturas deve ser
sempre privilegiada, pois permite que os músculos recebam seus nutrientes e não fiquem fatigados.

Na verdade, o entendimento que aparece na Nota Técnica 060/2001 (BRASIL, 2001) é o de que não há que se
falar em postura correta, mas sim na postura mais adequada ao trabalhador, que é aquela escolhida livremente
e que pode ser variada ao longo do tempo. A alternância postural deve sempre ficar à sua livre escolha.

Você, teletrabalhador, é quem vai saber, diante da exigência momentânea da tarefa, se é melhor a posição
sentada ou em pé. Uma tarefa não tem exigências fixas, por isso nunca se pode afirmar de antemão qual é
a melhor postura baseando-se apenas em critérios biomecânicos (BRASIL, 2001).

O que você deve ter em conta é que o tempo de manutenção de uma postura, seja em pé ou sentado, deve
ser o mais breve possível, pois seus efeitos, nocivos ou não, serão em função do tempo durante o qual ela
será mantida (BRASIL, 2001).

Mais importante do que pensar em uma postura correta é apostar na variação de


posturas ao longo do tempo.
Elaboração: CEPED/UFSC (2022).

Ainda segundo a Nota Técnica 060/2001 (BRASIL, 2001) a totalidade dos esforços de manutenção postural
leva a uma tensão estática, caracterizada por um estado prolongado de contração da musculatura. Essa tensão
pode ser nociva à saúde. E difere, por sua vez, do trabalho dinâmico, que se caracteriza por uma sequência
rítmica de contrações e extensões, portanto de tensionamento e afrouxamento da musculatura em trabalho.

Por isso, não se pode suportar por muito tempo um trabalho estático: a dor obriga a interromper o trabalho,
já que “Manutenções estáticas prolongadas podem também induzir ao desgaste das articulações, discos
invertebrais e tendões” (BRASIL, 2001, p. 1). Por outro lado, o trabalho dinâmico — desde que num ritmo
adequado — pode ser feito por um período maior, sem cansaço ou dor.

Como apontaram Medeiros e Costa (2013, p. 42):

[...] tanto a postura corporal, como a aplicação de forças assumidas pelos trabalhadores são influenciadas
pelas características da tarefa e pelo meio ambiente de trabalho, podendo tais fatores favorecer o
desenvolvimento de sobrecargas corporais e o aumento do gasto energético com consequente produção
de tensões musculares nos ligamentos e articulações. Com isto, resultar em desconfortos e dores,
que são precedentes de doenças ocupacionais e perda da qualidade motriz no trabalho. (MEDEIROS;
COSTA, 2020, p. 42).

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Saiba mais

Para saber mais sobre ergonomia e os principais aspectos do trabalho real, acesse:
https://ergonomiadaatividade.com/

1.2.3.2 A posição sentada

Como você já deve imaginar, o teletrabalho tem como caraterística principal o trabalho sentado. Nesse
sentido, existe uma tendência a que o teletrabalhador permaneça por longos períodos nessa postura.

Segundo o “Manual de Aplicação da NR17” (BRASIL 2001), o esforço postural (estático) e as solicitações
sobre as articulações são mais limitados na postura sentada do que em pé.

A postura sentada permite melhor controle dos movimentos devido ao esforço de equilíbrio reduzido. É, sem
sombra de dúvida, a melhor postura para trabalhos que exijam precisão, atenção e solicitação constantes.

De maneira geral, os problemas lombares advindos da postura sentada são justificados pelo fato de a
compressão dos discos intervertebrais ser maior nessa posição do que em pé. No entanto, tais problemas
não são apenas decorrentes das cargas que atuam sobre a coluna vertebral, mas, principalmente, da
manutenção da postura estática (BRASIL, 2001).

Veja a seguir quais são as vantagens da posição sentada conforme a “Nota Técnica 06/2001” (BRASIL, 2001)

• Baixa solicitação da musculatura dos membros inferiores, reduzindo, assim, a sensação de


desconforto e cansaço;

• Possibilidade de evitar posições forçadas do corpo;

• Menor consumo de energia;

• Facilitação da circulação sanguínea pelos membros inferiores.

Agora que você já viu as vantagens, conheça também as desvantagens!

• Pouca atividade física geral (sedentarismo);

• Adoção de posturas desfavoráveis: lordose ou cifoses excessivas;

• Estase sanguínea nos membros inferiores, situação agravada quando há compressão da face
posterior das coxas ou da panturrilha contra a cadeira, se esta estiver mal posicionada.

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Trabalhar na postura sentada apresenta vantagens e desvantagens.
Fonte: Freepik

De posse desses conhecimentos produzidos pela Ergonomia acerca do mito da postura correta e das
vantagens e desvantagens de se trabalhar na posição sentada no contexto do teletrabalho, agora você
pode fazer melhores escolhas que lhe garantam saúde e conforto ao trabalhar!

Bons estudos!

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Referências

Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO). Sete Recomendações da Ergonomia para


o teletrabalho em casa e/ou ensino aprendizagem à distância para utilizadores de
Computadores Portáteis, Tablets e outros Dispositivos Móveis. ABERGO. The IEA Press,
2020.

ABRAHAO, J. et al. Introdução à ergonomia. São Paulo: Finatec/Blucher, 2009.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº


17. Brasília: MTE, SIT, 2002. Disponível em https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/
pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/manuais-e-
publicacoes/manual_de_aplicacao_da_nr_17.pdf/view. Acesso em: 12 nov. 2021.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Nota Técnica nº 60 de 3 de setembro de


2001. Ergonomia – Indicação da postura a ser adotada na concepção de pontos de trabalho.
Brasília, DF, 3 set. 2001.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. Portaria nº 423 de 07 de outubro de 2021.


Aprova a nova redação da Norma Regulamentadora nº 17 - Ergonomia. Diário Oficial
da União. Brasília, DF, 08 out. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-
previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/
seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-17-nr-17. Acesso
em: 4 mar. 2022.

GRANDJEAN, Etienne. Manual de Ergonomia: Adaptando o trabalho ao homem. Porto


Alegre: Ed. Bookman, 1998.

MARTINS, L. G. Análise Ergonômica do Trabalhador em Geral. Trabalho de Conclusão


(Bacharelado). Engenharia da Produção. Faculdade de Macapá (FAMA). Macapá, 2018.
Disponível em: https://repositorio.pgsskroton.com/bitstream/123456789/23055/1/
LUCIANA%20GOMES%20MARTINS.pdf Acesso em: 18 nov. 2021.

MEDEIROS; L.G; COSTA, M. L. A. As alterações musculoesqueléticas e suas implicações na


saúde ocupacional. Rebes. Pombal, PB. v.3. n.1, p.41-47, jan.-mar. 2013.

MOTA, J.D. A evolução do teletrabalho no ordenamento jurídico e sua regulamentação


com a reforma trabalhista. São Paulo: Editora Dialética, 2021.

ROCHA, Raoni. Ergonomia da Atividade. O mito da postura correta. 5 nov. 2018. Disponível
em: https://ergonomiadaatividade.com/2018/11/05/o-mito-da-postura-correta/ Acesso
em: 21 nov. 2021.

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Unidade 2: Conhecendo os Fatores de Risco
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade você será capaz de identificar os fatores de risco no teletrabalho, além de desmistificar
o conceito da postura correta.

2.1 O mito da postura correta


Você já ouviu falar em postura correta? Sabia que ela pode ser considerada um mito?

No artigo “A Cadeirologia e o mito da postura correta”, Ada Ávila Assunção (2004) questiona as abordagens
tradicionais sobre as posturas adotadas pelos trabalhadores. Segundo a autora, tais abordagens procuram
identificar e prescrever a postura correta sem, entretanto, considerar a ação humana durante o cumprimento
dos objetivos da produção. Nesse sentido, a postura pode ser tomada em seu aspecto multifatorial, o que
quer dizer que depende não somente de fatores antropométricos, mas também das condições ambientais,
das exigências cognitivas, dentre outros.

A abordagem (tradicional) da cadeira é, nesse contexto, denominada “Cadeirologia”, e reduz o conceito de


postura ao desconsiderar a dinâmica do aparelho musculoesquelético e ao desprezar as outras funções do
organismo implicadas na fisiologia postural, como a função visual; a mecânica circulatória; a posição dos
órgãos internos; e o sistema neurológico.

Veja o que Assunção diz sobre a cadeirologia:

“Sustentando-se em um modelo reducionista de ser humano, ou seja, o homem-máquina, a cadeirologia


elabora recomendações para concepção do mobiliário incompatíveis com as possibilidades do corpo
humano. A incompatibilidade gera conflitos entre os aparatos oferecidos pelo mobiliário e a utilização real
que o trabalhador faz deles” (ASSUNÇÃO, 2004, paginação irregular)

Para tratar as demandas do seu trabalho, o trabalhador mobiliza as informações sobre as características da
tarefa, arranja as diferentes partes de seu corpo em um ambiente com determinadas características térmicas,
sonoras e luminosas. Uma abordagem reduzida da situação do trabalho contentar-se-ia em avaliar as dimensões
antropométricas, desconsiderando o uso que o funcionário faz do seu mobiliário (ASSUNÇÃO, 2004).

2.1.1 Qual modelo de ser humano orienta as análises da Ergonomia?


O modelo de ser humano trabalhado pela Ergonomia não é um modelo mecânico, mas considera a ação que
o trabalhador realiza, ação essa mobilizada pela inteligência e pela experiência (ASSUNÇÃO, 2004).

Durante seu regime de trabalho, você, como trabalhador, muda de postura, fazendo uso de uma musculatura
que estava em repouso, efetua processo de decisão, está atento ao seu ambiente de trabalho etc. Nesse
sentido, é completamente irresponsável a comparação entre o indivíduo e uma máquina, uma vez que a
máquina não tem qualquer noção do mundo que a rodeia.

Ademais, é importante que você tenha em conta que existe variabilidade inter e intraindividual e que em
toda atividade profissional existe uma atividade mental.

Para que você avalie melhor como funciona o mito da postura correta, pense, por exemplo, no plano
cognitivo. Uma série de fatores — como excesso de luminosidade, ruídos, fadiga e horários extremos de
trabalho — pode deixá-lo, como trabalhador, suscetível ao cansaço e ao adoecimento.

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“Assim, de que adiantaria a utilização de uma cadeira de dimensões adequadas se a tensão provocada
pelos desajustes da organização do ambiente de trabalho provoca hiper contração da musculatura dorsal
e cervical?” (ASSUNÇÃO, 2004, paginação irregular).

2.1.2 Biomecânica, dinâmica do corpo e o mito da postura correta


A Biomecânica, uma ciência multidisciplinar que estuda as forças estáticas e dinâmicas que agem sobre o
corpo, pode oferecer muitas contribuições para a concepção dos espaços de trabalho.

Contudo, a biomecânica deve estar sempre articulada a outras dimensões humanas (experiência, inteligência,
ambiente, condições de trabalho), evitando-se dessa forma uma abordagem reduzida ao trabalhador, que
explicaria, por exemplo, o insucesso do mobiliário em garantir conforto e saúde ao teletrabalhador no
contexto do teletrabalho. (ASSUNÇÃO, 2004).

Por exemplo, o aumento de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) no mundo todo conduz à hipótese de
que as exigências biomecânicas têm sido superiores às capacidades individuais, o que têm impactado na
saúde dos trabalhadores.

Assim, se os conhecimentos da biomecânica são importantes para pensar as posturas no trabalho e


orientar como os postos de trabalho deverão ser organizados, é importante ter em conta que essa mesma
biomecânica desconsidera a dinamicidade dos corpos e, assim, deixa margens para que persevere o mito
da postura correta.

2.1.3 Qual é a melhor postura?

Se você fosse perguntado, saberia definir o que é postura?

“Postura é o arranjo relativo das partes do corpo. A postura é o principal elemento da atividade do ser
humano, ou seja, não se trata apenas de se manter em pé ou sentado, mas de ‘agir’ dando um suporte à
tomada de informações e à ação motora no meio de trabalho” (ASSUNÇÃO, 2004, paginação irregular)

Ou seja, vista dessa forma a postura é um meio através do qual o indivíduo simultaneamente localiza as
informações e prepara seu corpo para agir no ambiente. A melhor postura, portanto, é aquela que pode ser
variada ao longo da jornada de trabalho.

A postura saudável seria o estado de equilíbrio muscular


e esquelético no qual os músculos funcionam mais
eficientemente e posições ideais são proporcionadas
para acomodar os órgãos torácicos e abdominais.

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2.2 As Lesões por Esforços Repetitivos e os Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (LER/DORT)

Você provavelmente já ouviu falar em Lesão por Esforço Repetitivo e Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho! LER/DORT é o nome dado a um grupo de doenças que afeta todo o sistema
musculoesquelético e os ligamentos dos seres humanos, e que acarretam uma perda funcional parcial ou
total, temporária ou permanente. Alguns exemplos desse grupo de doenças são a síndrome do túnel do
carpo, a epicondilite, a tendinite, a bursite, entre outros tipos de patologias.

As LER/DORT acometem o trabalhador exposto a riscos relacionados a fatores ergonômicos e o teletrabalho


apresenta a possibilidade de potencializar o surgimento de novos casos de LER/DORT.

Segundo a Instrução Normativa DC/INSS nº 98 de 5 de dezembro de 2003:

“[...] entende-se LER/DORT como uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela ocorrência
de vários sintomas concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de
aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer membros inferiores.

[...]

São resultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a
falta de tempo para sua recuperação.

A sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em
movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela permanência de segmentos
do corpo em determinadas posições por tempo prolongado, particularmente quando essas posições
exigem esforço ou resistência das estruturas musculoesqueléticas contra a gravidade.” (BRASIL, 2003)

Até há alguns anos, as LER/DORT eram mais comumente associadas às dimensões fisiológicas do ser
humano. A tendência atual, por outro lado, é associá-las também às dimensões psíquicas, cognitivas e sociais.

Nesse sentido, as LER/DORT não devem ser explicadas apenas com base na dimensão fisiológica, mas
também a partir de todos os outros aspectos que compõem as situações de trabalho.

Por exemplo, a necessidade de concentração


e atenção para que o trabalhador realize suas
atividades e a tensão imposta pela organização
do trabalho são fatores que interferem de forma
significativa para a ocorrência das LER/DORT.

No contexto do teletrabalho, por sua vez, essas


exigências são potencializadas em função de alguns
fatores, como, por exemplo, inadequação do local de
trabalho e falta de controle de fatores como ruídos
externos e infraestrutura, como a internet.

Lesões incapacitantes como as LER/DORT


afetam psicologicamente o trabalhador e podem
causar transtornos mentais, mas, além disso,
sofrimentos ou adoecimentos mentais podem
provocar lesões incapacitantes.
A compreensão de LER/DORT deve considerar dimensões
fisiológicas e psicossociais
Fonte: Freepik

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2.2.1 Etiologia
Você sabe o que quer dizer Etiologia?

Etiologia é o ramo do conhecimento que estuda a causa e as origens de determinado fenômeno. No caso da
medicina, é o estudo da causa e origem das doenças.

Como aponta um documento produzido pelo Ministério da Saúde acerca de LER/DORT e dor relacionada
ao trabalho (BRASIL, 2006), a etiologia dos casos de LER/DORT é multifatorial. Isso quer dizer que,
diferentemente de uma intoxicação por metal pesado, cuja etiologia é claramente identificável, nos casos
de LER/DORT é importante analisar os vários fatores de risco envolvidos direta ou indiretamente.

Os fatores de risco não são necessariamente as causas diretas de LER/DORT, mas podem ocasionar as
ações que produzem as lesões ou os distúrbios. Assim, tais fatores não são independentes: eles estão em
constante interação e devem ser considerados integradamente.

Os fatores de risco envolvem: aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização do trabalho,
ou seja, todos eles presentes no teletrabalho. Por exemplo, fatores organizacionais como carga de trabalho e pausas
para descanso podem controlar fatores de risco quanto à frequência e à intensidade do trabalho.

Os fatores de risco das LER/DORT são fatores orientadores e


não determinantes para a ocorrência de lesões. Deve-se sempre
abrir possibilidades para novas formas de exposição aos fatores
de risco para a ocorrência de LER/DORT.

Os grupos de fatores de risco para LER/DORT no contexto do teletrabalho podem ser relacionados com o
mobiliário do posto de trabalho, com as condições ambientais do local onde o trabalho é realizado e com os
fatores organizacionais e psicossociais.

Seguem alguns fatores de risco conforme Kuorinka e Forcier (1995 apud BRASIL, 2006).

• Posto de trabalho inapropriado: Se as dimensões do posto de trabalho por si só não causam distúrbios
musculesqueléticos, elas podem forçar o trabalhador a adotar posturas estereotipadas, a suportar
certas cargas e a se comportar de forma a causar ou agravar as afecções musculoesqueléticas. Trata-
se, aqui, por exemplo, da adoção de posturas extremas ou que modificam a geometria corporal e
podem gerar estresse sobre tendões, músculos e outros tecidos.

• Mouse com fio curto demais: Um mouse inapropriado acaba por obrigar o teletrabalhador a
manter o tronco para frente e membro superior estendido.

• Reflexos no monitor: Os reflexos atrapalham a visão, o que obriga o teletrabalhador a permanecer


em determinada postura do corpo e da cabeça para vencer essa dificuldade.

• Exposição a ruídos: Em especial ruídos externos sobre os quais o teletrabalhador não tem controle
que, entre outros efeitos, pode produzir mudanças de comportamento.

• Pressão mecânica localizada: Trata-se, aqui, da pressão provocada pelo contato físico com cantos retos ou
quinas vivas dos móveis que ocasiona compressões de estruturas moles do sistema musculoesquelético.

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• Carga estática: Esse fator ocorre quando um membro é mantido numa posição que vai contra a gravidade,
de modo que a atividade muscular do teletrabalhador não pode se reverter a zero (esforço estático).

• Invariabilidade da tarefa: Que implica monotonia fisiológica e/ ou psicológica.

• Exigências cognitivas: Essas exigências podem ter um papel no surgimento das lesões e
dos distúrbios, seja causando aumento da tensão muscular, seja causando uma reação mais
generalizada de estresse.

• Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: São as percepções subjetivas que o


teletrabalhador tem dos fatores de organização do trabalho, por exemplo: considerações relativas
à carreira, à carga, ao ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. A “percepção”
psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas
da carga, da personalidade do indivíduo e das experiências anteriores.

Segundo Raoni Rocha (2018), citando o pesquisador François Daniellou, as LER/DORT estão associadas
a formas de patologias organizacionais, ou seja, uma empresa doente adoece seus trabalhadores.
Evidentemente, tal conceito também alcança os teletrabalhadores.

É importante, neste momento, o destaque para o fato de que os agravos ocasionados pela LER/DORT
também podem ser causados por doenças hormonais, metabólicas, imunológicas, infecciosas, psiquiátricas,
estresse, traumatismos, atividades de lazer, atividades esportivas, atividades com instrumentos musicais,
obesidade, gravidez e menopausa. Desse modo, essas doenças merecem especial atenção dos profissionais
de saúde, de forma multidisciplinar, inclusive e principalmente no contexto do teletrabalho (ROCHA, 2021).

2.2.2 LER/DORT na História


Conforme documento veiculado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), a dor relacionada ao trabalho é
descrita desde a Antiguidade, mas passou a ser registrada sistematicamente a partir da obra de Bernardino
Ramazzini, datada de 1700.

Nessa obra são mencionadas as dores que os escribas e notários relatavam, sobretudo considerando que
registravam manualmente aquilo que os príncipes desejavam que fosse escrito.

A Revolução Industrial, como você pode imaginar, configura um marco no desequilíbrio entre as atividades
realizadas pelos trabalhadores e a capacidade física dos indivíduos. Desse modo, a partir daí casos clínicos
de dor começaram ser mais numerosos.

Assim entende-se que a alta prevalência de LER/DORT (BRASIL, 2012) ocorre pelas transformações
sofridas tanto no âmbito do trabalho quanto nas próprias empresas como instituições: o aumento de metas
de produtividades e de competitividade que busca atender as necessidades da empresa e qualidade do
produto, sem levar em consideração os limites físicos e psicossociais dos trabalhadores.

É exigido dos trabalhadores uma adequação às características das empresas. Nesse


sentido, tem-se aumento e intensificação das jornadas de trabalho, prescrição rígida de
procedimentos e redução das manifestações de flexibilidade e criatividade. A isso soma-se
um posto de trabalho que não propicia conforto. Aliás, é importante notar, esse fenômeno
se estende ao teletrabalho e nele é intensificado.

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2.2.3 LER/DORT – Prevenção
Para que você saiba mais sobre como funciona a prevenção a LER/DORT, é importante ter em conta que,
segundo Rocha (2021) as ações preventivas são construídas a partir do tripé: abordagens biomecânicas,
gestão e organização do trabalho. Podem ser feitas, por exemplo, algumas mudanças nos equipamentos
e mobiliários e ajustes de postura. Além disso, aquecimento e alongamento são úteis para um melhor
condicionamento musculoesquelético, a partir de orientações de profissionais.

Quando não for possível a redução dos riscos relacionados


a fatores ergonômicos, o teletrabalhador deve ser
orientado a usufruir de pausas para recuperação, visando
ao descanso das estruturas osteomusculares.

No contexto brasileiro, segundo o estudo Saúde Brasil 2018 (BRASIL, 2019), do Ministério da Saúde, as
LER/DORT são as doenças que mais afetam os trabalhadores brasileiros.

O levantamento, que utilizou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), apontou
que entre os anos de 2007 e 2016, 67.599 casos de LER/DORT foram notificados à pasta, o que sinaliza
um alerta em relação à saúde dos trabalhadores, já que indica um aumento da exposição dessas pessoas a
fatores de risco que podem ocasionar incapacidade funcional.

Nesse cenário, a adoção do teletrabalho surge como agravante em função da não adaptação das condições
de trabalho – a casa agora é o escritório – dada a inadequação do mobiliário, das condições de iluminação e
de condições ambientais, sobrecarga visual, bem como das demandas profissionais e familiares que agora
se acumulam no mesmo local.

O ambiente físico do teletrabalho pode favorecer ou dificultar sua execução: se inadequado, pode ser fonte
de insatisfação, desconforto, sofrimento.

Um ambiente físico adequado para o teletrabalho pode facilitar sua realização.


Fonte: Freepik.

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Nesse sentido, veja a seguir, alguns elementos do ambiente de teletrabalho que podem ser ajustados de
forma a reduzir a dor e as doenças relacionadas ao trabalho.

Mobiliário

O mobiliário do posto de teletrabalho deve ser ajustado às características do teletrabalhador


(altura, peso, comprimento das pernas etc.). Deve permitir também alternâncias de posturas
(sentado, em pé etc.), pois não existe nenhuma postura estática que seja confortável.

Postura

A postura mais adequada ao trabalhador é aquela que ele escolhe livremente e que pode ser variada
ao longo do tempo. O tempo de manutenção de uma postura deve ser o mais breve possível, pois
seus efeitos, eventualmente nocivos, dependem do tempo durante o qual ela será mantida.

O posto de trabalho do teletrabalhador deve propiciar e facilitar a alternância de posturas, e a


postura de trabalho será adotada em função de diversas variáveis como a atividade desenvolvida,
a exigência da tarefa (por exemplo, visual, cognitiva), os espaços de trabalho, dentre outras.

Esforços estáticos

Os esforços estáticos devem ser reduzidos ao máximo. Todo esforço de manutenção postural
implica uma contração muscular estática que pode ser nociva à saúde e, portanto, toda e qualquer
postura rígida e fixa deve ser evitada.

Seleção do assento

Segundo o “Manual de Aplicação da NR17” (BRASIL, 2002), uma vez adaptado o posto para o
trabalho sentado, é preciso observar certos critérios na escolha do assento.

• No ajuste de assento, os pés do teletrabalhador devem estar apoiados no chão. Caso a superfície
de trabalho seja fixa e os pés não alcancem o chão, é importante o uso de suporte para os pés.

• A profundida do assento não pode ser muito reduzida, nem muito grande. O teletrabalhador
deve manter o centro de gravidade sobre o seu assento.

• A conformação do assento deve permitir alterações de postura, de forma a aliviar as tensões que
se acumulam na coluna.

• A densidade do assento é importante para proteger os extremos ósseos mais próximos do


mesmo — submetidos a maior pressão na posição sentada.

• É melhor o assento com inclinação para trás de cerca de 5 graus em relação à horizontal, o que
impede que o teletrabalhador escorregue para frente.

• O encosto deve fornecer um bom suporte lombar.

• Finalmente, qualquer perfil de assento poderá se tornar desconfortável com o tempo. O


conforto de trabalho sentado se dá em função do tempo de manutenção da postura, de fatores
antropométricos e de outros fatores organizacionais e psicossociais.

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Exigências visuais

A localização das fontes de informações visuais vai determinar o posicionamento da cabeça,


que pode, por sua vez, influenciar a postura do tronco, levando o trabalhador a adotar posturas
extremas ou repetitivas da nuca em flexão ou extensão, ou ainda de inclinação/torção do tronco.

Altura do plano de trabalho

A altura do plano de trabalho é um elemento importante para o conforto postural.

Se o plano de trabalho for muito alto, o teletrabalhador irá executar suas tarefas com os ombros e
os braços elevados durante toda a jornada. Ao contrário, se for muito baixo, ele trabalhará com as
costas inclinadas para frente.

Posicionamento do monitor do computador

A posição do monitor do computador com relação à(s) janela(s) do local de trabalho é


determinante para evitar reflexos.

Agora que você já sabe alguns ajustes importantes para manutenção da saúde no contexto do teletrabalho,
veja a seguir algumas recomendações da Ergonomia para o teletrabalho.

2.3 Recomendações da Ergonomia para o teletrabalho

Agora, você vai conhecer as “Sete Recomendações da Ergonomia” feitas em parceria entre a Associação
Brasileira de Ergonomia (ABERGO) e a APERGO – Associação Portuguesa de Ergonomia (APERGO) e
publicadas no ano de 2020 (ABERGO, 2020).

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Recomendação nº 1: Realizar Pausas

Realize pausas a partir da Regra “20-20-10”.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• “Regra 20-20-10”: Programe um alarme para tocar a cada 20 minutos de utilização do dispositivo
como um lembrete para fazer uma pausa, nesse momento, faça pelo menos 20 segundos de pausa
e fixe o olhar em um objeto ou paisagem a pelo menos 10 metros de distância.

• Quando realizar sessões a distância (como reuniões ou apresentações on-line), a cada 20 minutos
insira um slide pedindo uma pequena pausa ou coloque questões aos demais participantes.

• Alterne entre as posições sentado e de pé, e olhe para algo a pelo menos 10 metros de distância
durante 20 segundos. Além de seguir a regra 20-20-10, essa alternância ajuda a prevenir outros
problemas de saúde.

• Como alternativa, feche os olhos durante 20 segundos a cada 20 minutos, o que pode ser
igualmente benéfico. Além disso, pisque os olhos com frequência para evitar que fiquem secos, o
que propicia o aumento da produção de lágrimas.

• Defina intencionalmente tarefas diversificadas para evitar olhar continuamente para a tela durante
todo o dia. Por exemplo, faça anotações escritas durante as sessões remotas a que assistir em vez
de utilizar o teclado ou o tablet.

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Recomendação nº 2: Alternar Posturas

Alterne posturas evitando permanecer na mesma por muito tempo.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Procure uma mesa que permita ajustar a altura do plano de trabalho, porque é uma das melhores
formas de garantir a alternância postural.

• Tente combinar o tempo de trabalho de forma a estar 10 minutos sentado e 5 minutos em pé, pois
essa é uma forma de melhorar o desempenho e manter o nível de motivação.

• Ajuste a altura da mesa no nível do cotovelo ou ligeiramente abaixo dele, tanto quando estiver
sentado quanto de pé.

• Interrompa seu tempo sentado com um curto período de caminhada de baixa intensidade.

• Introduza uma pausa ativa de 2 minutos após cada 20 minutos de tempo sentado, o que pode
diminuir os níveis de glicose pós-prandial e de insulina. Evitar ficar sentado durante muito tempo
pode ser uma forma eficaz de prevenir ou reduzir o risco de diabetes tipo 2.

• De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a inatividade física
represente 5,5% de todos os fatores de risco de morte no mundo.

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Recomendação nº 3: Redução das Exigências Posturais

Faça ajustes de forma a reduzir as exigências de determinadas posturas.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Ao usar o celular, apoie o braço enquanto segura o telefone com a outra mão e levante-o para
manter o pescoço o mais vertical possível.

• Evite enviar mensagens de texto através de dispositivos móveis com frequência, pois isso favorece
a flexão do pescoço e uma posição extrema do punho.

• Saiba que utilizar o celular com apenas uma das mãos resulta em maiores exigências físicas no
lado do pescoço em questão e no ombro. Isso pode ser evitado com a troca frequente da mão que
está segurando o telefone.

• Mantenha uma distância superior a 40 cm entre os olhos e o dispositivo que está utilizando.
Normalmente a essa distância você terá mais conforto visual.

• Tenha atenção para o fato de que a flexão do pescoço devido à utilização do celular para
envio de mensagens de texto e utilização de jogos, por exemplo, está relacionada a queixas
musculoesqueléticas entre os usuários de dispositivos móveis.

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Recomendação nº 4: Atenção à Altura da Tela

Esteja atento a altura da tela.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Utilize um suporte para o computador portátil, tablet ou celular e tente elevar sua altura para o nível
dos olhos ou ligeiramente abaixo, por exemplo, colocando o dispositivo sobre livros ou revistas.

• Coloque o equipamento à sua frente para que a rotação da cabeça ou posturas extremas sejam
evitadas ao olhar para a tela.

• Mantenha uma distância de visualização adequada; isso também é importante para evitar o aumento
da tensão muscular no nível dos olhos e a flexão da cabeça/pescoço. Manter a tela muito longe
pode resultar em uma postura de flexão para a frente e segurar o equipamento muito próximo, com
intenso brilho da tela, pode causar problemas oculares.

• Ajuste também o ângulo de visão da tela. O dispositivo deve ser colocado ao nível dos olhos ou
ligeiramente abaixo deles. Utilize um suporte para colocá-lo em um ângulo reto com os olhos.

• Ajuste o layout da mesa de trabalho ou a fonte de luz para evitar que a luz incida diretamente na tela
do dispositivo.

• Mantenha reduzido o brilho da tela, ajustando a sua posição.

• Se a tela for mais brilhante do que o ambiente, ajuste o brilho para o nível da luz ambiente. Os tablets/
celulares mais recentes têm um sensor de iluminação que ajusta automaticamente o brilho se essa
função estiver ativada.

• aranta uma iluminação adequada e suficiente no seu local de trabalho durante a utilização de
G
dispositivos de informática.

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Recomendação nº 5: Posicionamento da Tela

Procure posicionar a tela horizontalmente.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Mantenha a orientação “paisagem” como padrão enquanto utiliza dispositivos informáticos ou


assiste a conteúdos nesses aparelhos.

• Gire a tela para a orientação de “paisagem”, o que pode aumentar o tamanho dos caracteres e das
imagens.

• Coloque o dispositivo sobre a mesa no modo paisagem, expandindo o teclado na tela. Certifique-
se de expandir o teclado o máximo possível ao inserir textos.

• A distância entre as teclas (“key pitch”) é um dos fatores que afeta a velocidade de digitação,
resultando em erros e insatisfação na usabilidade.

• Lembre-se que, embora colocar o tablet sobre a mesa seja apropriado para digitar ou escrever utilizando
um dispositivo de caneta ou de caneta bluetooth, isso implica uma flexão extrema do pescoço.

• Saiba que manter um tablet, mesmo de peso reduzido, em uma postura fixa durante longos períodos
e sem qualquer suporte pode causar lesões musculoesqueléticas, por exemplo, no pescoço, nos
punhos e nos braços.

• Utilizar uma capa protetora para o tablet para que seja mais fácil segurá-lo com ambas as mãos.

26
Recomendação nº 6: Micropausas

Faça micropausas no estilo Pare, Solte e Relaxe.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Siga a regra “Pare-Solte-Relaxe”, ou seja, faça micro pausas durante a atividade do teletrabalho.
Por exemplo, no fim de um e-mail ou texto, pare o que está fazendo e estique/alongue, enquanto
deixa os ombros caírem e as mãos rodarem para os lados.

• Pratique o exercício de retração do pescoço como indicado na figura. Os movimentos de retração


do pescoço são uma técnica de fisioterapia comumente prescrita para tratar pacientes com dor e
disfunções no pescoço.

• Faça breves exercícios físicos enquanto faz micropausas frequentes da atividade repetitiva.

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Recomendação nº 7: Teclado Ergonômico

Sempre que possível, faça uso de teclado ergonômico.


Fonte: ABERGO (2020). Elaboração: CEPED (2022).

• Utilize um teclado externo, preferencialmente ergonômico, ao enviar mensagens via tablet/celular


durante muito tempo.

• Utilize um teclado bluetooth externo se o seu trabalho exigir uma quantidade significativa de
inserção de texto.

• O key pitch (distância entre as teclas) é um dos fatores que afeta a velocidade de digitação,
levando a erros e insatisfação na usabilidade. Selecione um teclado ergonômico com um key
pitch padrão (19 mm).

• Busque separar o teclado da tela, uma vez que a distância de visualização adequada para o monitor
é diferente da distância de operação para um teclado, eles precisam ser independentes.

• Se um teclado for utilizado com frequência, ele deve estar suficientemente perto do seu corpo, a
uma distância que permite uma posição neutra dos cotovelos, geralmente em um raio de 40 cm à
frente do usuário.

• Quando o key pitch é reduzido, a postura de digitação tende a exigir a contração dos músculos do
antebraço. Por isso, tenha cuidado e evite uma postura tensa.

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Agora você já sabe de muitas dicas da Ergonomia que buscam melhorar sua saúde no contexto do
teletrabalho! Não perca tempo para incluí-las em sua rotina!

2.4. Riscos psicossociais


Como você viu nesta unidade, a saúde no contexto do teletrabalho, e mesmo do trabalho, corresponde a uma
série de fatores que estão interligados de maneira complexa. Assim, abordadas as questões ergonômicas e
correspondentes ao posto de trabalho, chegou a hora de conhecer os riscos psicossociais.

A expressão “riscos psicossociais no trabalho” diz respeito à probabilidade que certos aspectos da organização
e da gestão do trabalho têm de levar a resultados físicos, psicológicos e sociais negativos, por exemplo,
comportamentos sociais adversos, como violência ou assédio, e até mesmo intensidade excessiva de trabalho.

Os locais de trabalho, como você sabe, são caracterizados por uma organização social particular que inclui
relações interpessoais, hierarquias e diferentes abordagens de gestão. Essa organização social também
existe no teletrabalho, porém com as particularidades específicas desta modalidade.

Dessa forma, os riscos psicossociais têm suas raízes no complexo ambiente de organização do trabalho
e podem provocar consequências negativas para a saúde. Tais riscos não são tão evidentes como, por
exemplo, os acidentes de trabalho, contudo podem assumir a forma de situações como absenteísmo (as
faltas, saídas antecipadas ou chegadas atrasadas), a rotatividade de pessoal, defeitos na qualidade dos
produtos e estresse dos trabalhadores.

Os riscos psicossociais se referem à forma como o trabalho é


organizado, incluindo, por exemplo, as jornadas, os turnos (se
diurno, noturno, turno de revezamento), as relações sociais e
hierárquicas, o conteúdo do trabalho (se socialmente importante,
desafiador, monótono) e a carga de trabalho (o que inclui, por
exemplo, exigências cognitivas e biomecânicas). Todo este conjunto
representa uma demanda mental e social para o trabalhador.

No contexto do teletrabalho vários ricos psicossociais podem estar presentes, como: ambiente de trabalho
inadequado, inapropriado e não planejado para o teletrabalho; falta de controle da jornada, o que pode
levar ao trabalho em diferentes turnos de acordo com a demanda organizacional; e prejuízo no equilíbrio
vida pessoal x vida profissional, entre outros. Tudo isso pode levar ao estresse relacionado ao trabalho, à
insatisfação, ao sofrimento e ao adoecimento do trabalhador.

29
2.4.1 Estresse relacionado ao trabalho
Você saberia classificar o que é o estresse relacionado ao trabalho?

O estresse relacionado ao trabalho é um estado de disfunções e queixas físicas, psicológicas e sociais


devido à exposição a condições de trabalho como as já citadas, e que podem levar a problemas de saúde e
reduzir o desempenho no trabalho.

Um dos riscos psicossociais do teletrabalho a ser administrado é o estresse.


Fonte: Freepik

O estresse pode ser entendido como uma resposta do organismo a determinada situação que resulta em se colocar
em situação de alerta para poder agir. Esse processo garantiu a sobrevivência humana até os dias de hoje: desde o
início dos tempos, ao se deparar com uma situação ameaçadora, todo o nosso corpo se prepara para fugir ou lutar.
Assim que a ameaça desaparece, o organismo retorna ao seu estado normal.

Entretanto, o estresse passa a constituir um perigo quando a situação de alerta é continuada, se prolonga no
tempo, fazendo com que nosso organismo permaneça em um estado contínuo de tensão. Se essa situação
for mantida ao longo do tempo, pode dar origem a vários tipos de distúrbios.

Nesse sentido, o estresse pode ser definido como o conjunto de reações emocionais;
cognitivas; fisiológicas; e comportamentais a certos aspectos adversos ou prejudiciais do
conteúdo do trabalho; sua organização; ou ambiente, também caracterizado por elevados
níveis de excitação e ansiedade, com a sensação frequente de não conseguir enfrentar a
situação. Todos estes aspectos também estão presentes no teletrabalho.

Considerando essa definição de estresse, segundo ISASTUR (2010) sempre que houver um desequilíbrio
entre, por um lado, as interações do trabalho, seu ambiente, a satisfação no trabalho e as condições de
trabalho e, por outro lado, as capacidades do trabalhador, suas necessidades, sua cultura e sua situação
pessoal fora do trabalho, surge então um perigo de origem psicossocial.

30
2.4.2 Classificação dos riscos psicossociais
Segundo Isastur (2010), os riscos psicossociais podem ser classificados principalmente nas seguintes frentes:

• Relacionadas à tarefa: desenvolvimento das próprias habilidades, graus de monotonia e repetição,


controle sobre as pausas por parte do trabalhador, pressão, ritmo, existências sociais, afetivas e
emocionais, esforço intelectual etc.

• Relacionadas à jornada: duração e horário da jornada, trabalho noturno e por turnos, intervalos
formais e informais etc.

• Relacionadas com a estrutura da organização: apoio social de colegas de trabalho e superiores,


quantidade e qualidade das relações sociais no trabalho, treinamentos e capacitações,
estabilidade, perspectivas de promoção, tarefas de acordo com as qualificações, estima (respeito
e reconhecimento), apoio adequado, remuneração compatível, dentre outros.

2.4.3 Consequências dos riscos psicossociais


Como você já viu aqui, equilíbrio entre as condições de trabalho e os fatores humanos geram no trabalhador
sentimentos de superioridade e autoconfiança, aumentam a motivação, a capacidade de trabalho, a
satisfação no trabalho e consequentemente contribuem para o bem estar do trabalhador.

Por outro lado, quando um desequilíbrio é produzido, poderão surgir diversas consequências como:
sofrimento e insatisfação com o trabalho, efeitos psicológicos, reações comportamentais, consequências
psicofisiológicas e até mesmo incidentes e acidentes de trabalho.

Lembre-se de que o conjunto dos mencionados efeitos psicológicos, distúrbios de comportamento e


consequências psicofisiológicas constituem o que se denomina estado de estresse.

Veja, a seguir, algumas consequências dos riscos psicossociais.

Consequências psicológicas

A manutenção dos fatores psicossociais prejudiciais ao longo do tempo pode levar à diminuição das
defesas psicológicas do trabalhador, favorecendo o aparecimento de distúrbios emocionais como
sentimento de insegurança, medo, fobias, apatia e depressão. Além disso, essas queixas podem
ser acompanhadas de transtornos em funções cognitivas, como atenção, memória, pensamento,
concentração etc.

Reações comportamentais

As reações comportamentais afetam a vida pessoal, familiar, social e profissional do trabalhador.


As reações comportamentais podem ser divididas em Reações Ativas e Reações Passivas.

• Reações Ativas: reclamações, greves, confronto com patrões e superiores, atrasos etc.

• Reações passivas: resignação, resignação, indiferença quanto à qualidade do trabalho


realizado, absenteísmo, falta de participação, isolamento, apatia, infelicidade, insônia, abuso
de comida, álcool ou tabaco etc.

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Consequências psicofisiológicas

Como você viu, existe uma estreita relação entre fatores psicossociais e uma série de distúrbios
físicos funcionais e estados psicológicos limítrofes. O aparecimento de um ou outro distúrbio
depende da suscetibilidade individual.

Esses distúrbios podem ser de natureza cardiovascular (ataques cardíacos), respiratórios


(hiperatividade brônquica, asma), distúrbios do sistema imunológico (artrite reumatoide),
gastrointestinais, dermatológicos (psoríase, alergias), doenças endocrinológicas,
musculoesqueléticas (dores nas costas, contraturas), de saúde mental e vários outros.

Incidentes e acidentes de trabalho

Condições psicossociais prejudiciais podem resultar em incidentes ou acidentes, pois muitas vezes
o trabalhador pode estar fisicamente presente, porém mentalmente ausente.

2.4.4 Intervenção psicossocial


Segundo o “Manual de Segurança” de Isastur (2010), métodos de análise das condições de trabalho que
permitem avaliar a influência dos fatores psicossociais e identificar as medidas a serem adotadas para
eliminar ou, pelo menos, reduzir seus efeitos nocivos para a saúde dos trabalhadores, de forma a melhorar
a saúde dos trabalhadores.

Uma vez obtido o diagnóstico da situação, devem ser planejadas as ações necessárias para eliminar ou
reduzir os riscos detectados. Tais ações podem ser agrupadas em três grandes blocos: ações a serem
realizadas quanto ao estilo de gestão, quanto à organização do trabalho e quanto ao trabalhador. Para
saber mais sobre cada um, clique nos títulos a seguir.

Ações em relação ao estilo de gestão

A administração da empresa deve estar envolvida em todas as atividades relacionadas à prevenção


de riscos ocupacionais, incluídos aí os riscos psicossociais. Neste caso os esforços devem ser
direcionados para o alcance de boas relações humanas, justas e respeitosas, independente da
hierarquia, visando um bom clima social dentro da empresa.

Ações em relação à organização do trabalho

Após a avaliação dos fatores psicossociais, pode ser considerada necessária a aplicação de algum
tipo de medida relacionada à organização do trabalho, como a reorganização de tarefas, a alteração
do ritmo de trabalho, introdução de pausas para descanso, a delegação de responsabilidades e
maior autonomia. No caso do teletrabalho, aqui podem ser feitas orientações sobre condições
ergonômicas e medidas para melhorar as condições ambientais como temperatura, iluminação e
ruído — quando possível — como também adequação do espaço de trabalho.

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Ações em relação ao trabalhador

Ações em relação ao trabalhador se baseiam principalmente em capacitações e treinamento.


O planejamento da formação em prevenção de riscos ocupacionais deve partir de uma análise
das necessidades existentes, estabelecendo prioridades de ação com base nas necessidades
detectadas e determinando os objetivos de formação que se pretendem.

O objetivo principal é apresentar aos trabalhadores instrumentos e estratégias que lhes permitam,
por exemplo, se adaptar e se posicionar frente a novas situações de trabalho que são potenciais
geradoras de estresse.

2.4.5 Estratégias gerais de prevenção e controle


Toda organização que busca alcançar e manter o máximo bem-estar mental, físico e social de seus
trabalhadores precisará implantar programas com uma abordagem integrada de saúde e segurança, em
especial no que se refere à abordagem de saúde mental com procedimentos e gerenciamento de estresse,
com base nas necessidades da organização e dos trabalhadores. Este programa, inclusive, deve ser
periodicamente submetido a revisão e avaliação.

Para a prevenção do estresse, diferentes alternativas podem ser consideradas, como por exemplo:

• Prevenção primária: refere-se às ações destinadas a reduzir ou eliminar os agentes estressores (ou
seja, as fontes de estresse) e promover um ambiente de trabalho saudável e equilibrado. Também
chamada de prevenção ativa.

• Prevenção secundária: consiste na detecção e tratamento dos primeiros sintomas de depressão


e ansiedade por meio da conscientização dos trabalhadores e promoção de estratégias de
gerenciamento de estresse.

• Prevenção terciária: envolve reabilitação e recuperação de pessoas que já sofreram ou ainda


sofrem sérios problemas de saúde causados pelo estresse.

Uma política empresarial eficaz e abrangente deve integrar essas três abordagens.

Como você viu nesta unidade, além de cuidados com a ergonomia no contexto do teletrabalho também é
necessária a administração dos riscos psicossociais e o manejo do estresse.

Agora chegou a hora de realizar os Exercícios Avaliativos deste módulo que estão no ambiente virtual. Caso
ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos.

Bons estudos!

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Referências

Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO). Sete Recomendações da Ergonomia para o


teletrabalho em casa e/ou ensino aprendizagem à distância para utilizadores de Computadores
Portáteis, Tablets e outros Dispositivos Móveis. ABERGO. The IEA Press, 2020.

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