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RELATÓRIO DA VISITA AO MUSEU

NACIONAL DO AZULEJO

Escola Artística António Arroio


2016 - 2017

Margarida Cardoso, 11ºD, nº13


Durante a realização da visita ao Museu Nacional do Azulejo, além de termos
tido a oportunidade de observar variadas obras e de aprender mais sobre a
história e evolução da azulejaria portuguesa, recebemos semelhantemente
informações importantes no que diz respeito a técnicas e conceitos que iremos
usar enquanto estudantes de cerâmica.

O azulejo tem 500 anos de produção nacional e é caso único como elemento
decorativo e arquitetónico. A originalidade da utilização do azulejo português e
o diálogo que estabelece com as outras artes, vai fazer dele caso único no
mundo pela longevidade do seu uso, sem interrupção durante cinco séculos,
pelo modo de aplicação, como elemento que estrutura as arquiteturas, através
de grandes revestimentos no interior dos edifícios e em fachadas exteriores, e
pelo modo como foi entendido ao longo dos séculos, não só como arte
decorativa mas como suporte de renovação do gosto e de registo de
imaginário.

Antes de abordar as questões históricas e culturais do azulejo, gostaria de


mencionar as questões técnicas.

Para a execução de qualquer azulejo, é necessário saber que existem


diversos tipos de óxidos e que cada um fornece ao azulejo uma coloração
diferente:

1. O óxido de ferro produz vermelho/castanho;


2. O óxido de cobre produz verde;
3. O óxido de cobalto produz azul;
4. O óxido de estanho produz branco;
5. O óxido de crómio produz verde azeitona;
6. O óxido de antimónio produz amarelo;
7. O óxido de manganês produz preto ou castanho roxeado.

Em cerâmica, os óxidos que usamos têm todos uma determinada cor, até ao
século XX tudo o que nós agora vemos com cor era cinzento, o que implicava
mais na realização das criações.

Outro aspeto indispensável de saber para a execução de um azulejo são as


inúmeras técnicas que podemos usar. Cada técnica surge num determinado
contexto histórico, e foi possível notar a evolução temporal da azulejaria
portuguesa à medida que as analisámos. Aferimos seis técnicas diferentes, que
são as seguintes:
1. A técnica de Corda seca, que surge no final do século XV e ínicio do
século XVI (técnica mourisca), e é uma das técnicas usadas na
separação de cores. Esta consiste em sulcar os motivos decorativos
com corda embebida em óleo de linhaça e óxido de manganês, nas
placas de barro ainda húmidas, evitando a posterior mistura entre
esmaltes na fase da pintura e na segunda cosedura.
2. A técnica de Aresta, que é uma técnica do período da de corda seca, em
que a separação de cores é feita levantando arestas na peça, que
surgem no barro ao pressionar o negativo do padrão (molde de madeira
ou metal).

3. A técnica do Alicatado, que esteve em voga durante os séculos XVI e


XVII, que consiste em cortar pedaços de cerâmica vidrada em tamanhos
e formas geométricas distintas. Cada pedaço é monocromático e faz
parte de um conjunto de várias cores que pode ser mais ou menos
complexo, semelhante ao trabalho em mosaico.

4. A técnica do Esgrafitado, que se propagou nos séculos XVI e XVII, e que


contém elementos decorativos abertos no vidrado raspando-se o azulejo
até a sua base com um estilete.

5. A técnica do Enxaquetado, que surge no século XVI até meados do


século XVII, segundo a qual se agrupa um conjunto de azulejos de modo
a formar uma figura geométrica em xadrez, utilizando elementos
alternados e com cores diferentes.

6. A técnica do Relevado, que apenas surge no século XIX, e que se


distingue pela variante do azulejo de aresta em alto relevo.

Uma obra que se destacou durante a visita foi a própria esfera armilar, que foi
a primeira encomenda específica feita para um palácio português, realizada por
D. Manuel I, e que é uma das peças mais importantes para a história de
Portugal. Esta foi feita de acordo com a técnica do esgrafitado.

Em meados do século XVI surge uma outra técnica com grande protagonismo:
a técnica de Majólica. Esta consiste numa alteração dos processos de
produção dos fornos, ou seja, os fornos passam a ser feitos de forma a ter uma
temperatura mais elevada, e os quadrados de argila passam a ser cozidos e
quando saem depois da cozedura são mergulhados numa calda que mistura
óxidos de estanho com óxido de chumbo, e sobre esta mistura coloca-se um
papel com um desenho cujos contornos foram picotados e sobre esse desenho
passa-se uma boneca (bolsa de carvão) com o objetivo de transferir o
contorno, realizada esta transferência pinta-se sobre a superfície com as várias
cores. Com este processo passa-se a poder fazer tudo o que pretendermos,
aquilo que a nossa imaginação quiser, enquanto que até à época não existia
figurativo. A vantagem é também, em termos químicos, o facto de os óxidos
serem pintados por cima do chumbo (que tem um peso atómico elevado), o
que leva a que na cozedura eles desçam e o chumbo fique à superfície,
permitindo manter as cores com vivacidade. A técnica de majólica provocou
uma revolução, no entanto os azulejos das técnicas anteriores coexistiram
simultaneamente e vinham de Espanha, Itália e Flandres.

A primeira encomendação desta técnica foram os azulejos para o Palácio de


Vila Viçosa, mais precisamente o Painel de Nossa Senhora da Vida.

O painel é uma peça de 1580 (quase no final do século XVI) que representa o
nascimento do menino jesus. Podemos notar um retábulo de pedras mármores
com duas esculturas e uma pintura no centro, e em cima um tondo. O efeito de
ilusão, fator fundamental da azulejaria portuguesa, era melhor conseguido
através da luz das velas. O elemento mais importante deste painel é a janela,
que não se encontra realmente na obra, mas que estava na igreja ao qual se
ele destinava. As pessoas viam a luz natural que era interpretada como a
manifestação de Deus e que representava o caminho que Espírito Santo fez
para chegar até Maria.

Nesta peça podemos notar dois fatores fundamentais para a azulejaria


portuguesa: o efeito de ilusão, que na época era acentuado pela própria luz das
velas, e a forma como esta está interligada à arquitetura (os azulejos
dependem do local para o qual foram criados).

A azulejaria começa a ter um forte impacto na arquitetura e na estética, e


começam-se a fazer padrões. Um dos padrões com mais relevância foi o
padrão ponta de diamante, criado em Espanha, mais especificamente
Talavera, e que aparece em Portugal em cerca de 1580, quando a coroa
portuguesa fica sob o domínio espanhol.

Os azulejos da Igreja de São Roque em Espanha são feitos com este padrão,
de forma perfeita, o que acaba também por impedir que se crie tanta ilusão e
bidimensionalidade em comparação aos azulejos portugueses, tendo em conta
que nós tudo usávamos, isto é, aproveitávamos os azulejos partidos,
juntávamo-los em fragmentos e colocávamos o azulejo com defeito na parede.
Apesar de ser um atentado ao profissionalismo, criava um efeito de ilusão bem
mais eficaz, e cada peça acabava por ser uma peça única, devido aos
acidentes e por não ter sido produzida em série como todas as outras no resto
do mundo.
No final do século XVI e início do século XVII, surge uma inovação na
azulejaria portuguesa - passam a ser concentrados vários tipos de artes
decorativas, entre as quais: joalharia (por exemplo o padrão com diamantes),
trabalho de ouro e trabalho de madeira. Os portugueses começam a fazer
padrões cada vez maiores, predominando o quatro por quatro e seis por seis,
mas chegando até ao doze por doze.

No final do século XVII e início do século XVIII surge uma grande mudança,
pois na Holanda cobiçavam muito a porcelana da China, então os azulejos
passam a ser feitos em azul e branco como a mesma, e começam a ser
encomendados painéis holandeses e a ser produzidos azulejos em azul e
branco. Esta inovação ocorre entre 1690 e vai até cerca de 1750, período curto
(60/70 anos). Mas revela-se muito importante porque é o período em que
grandes mestres vão começar a pintar azulejos, ou seja, pessoas com uma
formação de pintura de cavalete vão dar ao azulejo uma qualidade em termos
de figurativo que não existia anteriormente. Por outro lado, a produção massiva
de azulejos leva à própria exportação para outros países, como por exemplo
para o Brasil.

Entre as criações dessa época, observámos as figuras de convite – destinadas


a ser colocadas à entrada de edifícios, para que as personagens pudessem
indicar o caminho às pessoas – são cortadas de modo a que a aresta seja viva
e se confunda com a própria parede.

Em 1755 dá-se o terramoto que destrói grande parte da cidade e leva a duas
grandes alterações na azulejaria – por um lado, dá-se uma mudança na paleta
de cores (surgem painéis cada vez mais cheios de tonalidades), e outro lado
criam-se os registos. Estes eram painéis religiosos, colocados à entrada de
edifícios com o intuito de os defender de outro terramoto, as pessoas
acreditavam que desta maneira as suas casas estariam protegidas de qualquer
desgraça. É considerada uma novidade porque os azulejos passam, pela
primeira vez, para o exterior.

Outra consequência do terramoto foi a elevada produção de azulejos nas


habitações (por exemplo na Baixa Pombalina). Marquês de Pombal – principal
impulsionador da reconstrução da capital – veio de Inglaterra, pois terminou lá
os seus estudos, e trouxe com ele uma nova teoria acerca da higiene, isto é,
acreditava que era bom que as casas tivessem materiais fáceis de limpar para
evitar a propagação de doenças – e foi exatamente por esse motivo privilegiou
a utilização de azulejos nas habitações: é um material higiénico, porque é fácil
de limpar e térmico, porque torna o espaço quente no Inverno e frio no Verão.
No século XIX, é atribuído um papel muito importante à burguesia. Esta é uma
nova elite social com algum poder económico, que procura ser
diferente/individual, e que para isso se suceder passam a usar o azulejo nas
fachadas dos edifícios (nas suas casas), como forma de exaltação dos seus
nomes de família – cada fachada contava a história de quem lá habitava.
Existem, no entanto, duas distinções importantes a ser feitas relativamente às
peças das fachadas:

1. No sul - as peças são lisas e existe predominância de azulejos


estampilhados;
2. No norte - apreciam o relevado.

No século XX surge o modernismo no azulejo, que se enuncia com os padrões


do arquiteto Raul Lino, numa linguagem rigorosa de abstração geométrica.
Este movimento afirma-se a partir de 1933, com a política de espírito do Estado
Novo, que recupera o azulejo como elemento de identificação cultural, numa
atitude presente no painel “Lisbonne aux mille couleurs” de Paolo Ferreira.

A figura central da cerâmica artística foi Jorge Barradas, autor de importantes


composições de azulejo como “Os Reis Magos”. Surge, simultaneamente, um
espírito moderno, associado a uma arquitetura funcionalista, sendo aqui central
Maria Keil, autora dos revestimentos das primeiras estações do Metropolitano
de Lisboa.

No mesmo período afirma-se uma geração de ceramistas modernos como


Querubim Lapa, Cecília de Sousa, Manuela Madureira, ativos em Lisboa, e
Júlio Resende no Porto. Querubim Lapa fez os painéis de azulejo aplicados na
fachada da Escola António Arroio. Este artista diferencia-se dos restantes pelo
seu grande engenho de formas abstratizadas ou surrealizantes.

Para concluir, podemos atribuir as seguintes características a cada século:

1. Séc.XVI – experimentação;
2. Séc.XVII – padrão;
3. Séc.XVIII – figurativo;
4. Séc.XIX – importância da burguesia;
5. Séc. XX – modernismo.

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