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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Conteúdo temporal do imperfeito do subjuntivo em português

Graziela Jacques Prestes

Dissertação apresentada como requisito parcial


para a obtenção do grau de Mestre em Letras

Prof. Dr. Sérgio Menuzzi


Orientador

Data da Defesa: 20/01/03

Instituição depositária:
Biblioteca Central Irmão José Otão
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Porto Alegre, março de 2003.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................... 04

1 TEMPO E O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO ......................... 07


1.1 INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO .............................................................. ... 07
1.2 O TRATAMENTO REICHENBACHIANO DO TEMPO VERBAL ................ 08
1.2.1 Reichenbach .............................................................................................. 08
1.2.2 Hornstein ............................................. ..................................................... 18
1.3 ANÁLISES DO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO ....................................... 25
1.3.1 O imperfeito do subjuntivo em português ................................................. 25
1.3.2 O imperfeito do subjuntivo em orações condicionais ................................ 28
1.3.2.1 Givón ........................................................................................................ 28
1.3.2.2 Tapazdi & Salvi ............................ ............................................................. 31
1.3.2.3 Neves & Souza .......................................................................................... 34
1.3.3 O imperfeito do subjuntivo em orações substantivas................. ................ 39
1.3.4 O modo subjuntivo espanhol em orações concessivas ............................... 40
1.4 RESUMO DO CAPÍTULO .......................................................................... 47

2 OS VALORES TEMPORAIS DO IMPERFEITO DO 49


SUBJUNTIVO EM PORTUGUÊS
.....................................................
2.1 INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO ................................................................. 49
2.2 TEMPOS VERBAIS RELACIONADOS AO IMPERFEITO DO 50
SUBJUNTIVO
.............................................................................................................
2.2.1 Presente do indicativo ............................................................................... 50
2.2.2 Pretéritos do modo indicativo ........... ........................................................ 52
2.2.3 Futuro do pretérito simples e composto .................................................... 58
2.2.4 Pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo ............................................. .... 64
3

2.3 VALORES TEMPORAIS DO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO .................... 66


2.4 CRUZAMENTO DOS VALORES TEMPORAIS COM OS VALORES 75
MODAIS
.........................................................................................................
2.4.1 Imperfeito do subjuntivo factual ............................................................... 77
2.4.2 Imperfeito do subjuntivo contrafactual ..................................................... 82
2.4.3 Imperfeito do subjuntivo eventual ......... ................................................... 89

CONCLUSÃO ............................................................................ 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................... ................ 101

ANEXOS ..................................................................................... 104


INTRODUÇÃO

Diferente de outras ciências - como as ciências médicas que estudam o


corpo humano ou as jurídicas que estudam as leis -, a lingüística moderna
teve seu objeto delimitado apenas recentemente, a partir de Saussure, na
primeira década do século XX. Como se sabe, antes de o pai da lingüística
definir que nosso objeto de estudo seria a língua, o sistema abstrato de
regras, os estudos sobre a linguagem desenvolviam -se diacrônica ou
filosoficamente. Depois dele, várias teorias foram construídas e, em um
certo sentido, como na medicina ou no direito, acabaram por constituir as
"especialidades" da linguagem.

Desse modo, um tempo verbal pode ser abordado segundo a


sociolingüística, a sintaxe, o funcionalismo ou, entre outras, as teorias de
aquisição da linguagem - de língua materna ou de língua estrangeira. Nosso
trabalho insere-se no escopo da semântica, sustentado, aqui, por dois
pilares: a teoria reichenbachiana sobre o tempo verbal e as análises,
digamos, modais do modo subjuntivo da língua portuguesa.

Estamos interessados em investigar as possíveis significações


temporais que possa ter o imperfeito do subjuntivo da língua portuguesa.
Embora seja um tempo verbal pretérito, em geral, os gramáticos, como
Cunha (1975) e Bechara (1999), descrevem -no como aquele que pode
expressar idéia de presente, passado ou futuro. Através dos instrumentos da
teoria reichenbachiana - os três elementos referência R, fala F e evento E, as
5

regras de associação da referência, a condição de linearidade, etc -,


tentaremos investigar quais são as estruturas temporais características deste
tempo verbal. Buscaremos, ao longo desta dissertação, relacionar as
estruturas temporais encontradas em nosso corpus com os três grupos
modais - factual, contrafactual e eventual - onde o imperfeito do subjuntivo
tem expressão.

Sendo assim, esta dissertação está organizada em dois capítulos. No


primeiro, apresentamos a teoria de reichenbachiana - a original de
Reichenbach (1947) e as ampliações oferecidas por Hornstein (1977 e 1981) -
e as análises sobre o imperfeito do subjuntivo cujo foco recai sobre as noções
modais de factualidade, contrafactualidade e eventualidade, como as
análises de Tapazdi & Salvi (1998) e de Neves & So uza (1999). Neste
primeiro capítulo, está incluído também o estudo de Corral (1996) sobre o
modo subjuntivo espanhol em orações concessivas, para o qual atribuímos
um importante mérito: a comprovação de que o subjuntivo não pode
simplesmente ser concebido como o modo da irrealidade, da incerteza, da
dúvida, etc como tão costumeiramente verifica -se na literatura afim,
especialmente a de cunho tradicional. Corral (1996) discute a factualidade
deste modo e nos fornece subsídios para investigá -la também no modo
subjuntivo português.

Por sua vez, o segundo capítulo está dividido em três seções: a


primeira apresenta a descrição temporal dos tempos verbais relacionados ao
imperfeito do subjuntivo; a segunda, as descrições temporais deste mesmo; e
a terceira, procura fazer um levantamento dos seus valores temporais com
seus valores modais. Desse modo, o presente trabalho busca identificar o
conteúdo temporal do imperfeito do subjuntivo quando este apresenta -se
factual, contrafactual ou eventual.

Com respeito aos resultados, sucintamente, podemos dizer que: a) o


imperfeito do subjuntivo apresenta sete estruturas temporais diferentes, de
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acordo com a teoria de Reichenbach; b) há uma regularidade na relação


entre valor temporal e valor modal, dado que o imperfeito do sub juntivo
factual expressa, fundamentalmente, idéia de passado, o contrafactual, de
presente e o eventual, de futuro.

O interesse em estudar o imperfeito do subjuntivo surgiu das


inquietações experimentadas durante o ensino de português para
estrangeiros, quando se tornou claro que tínhamos nós, professores de
português, um conhecimento superficial sobre o modo subjuntivo.
Constatação semelhante em torno deste mesmo tema, podemos encontrar em
Comrie (1984) e Meyer & Medeiros (1995). Esperamos, porta nto, que nosso
trabalho traga alguma contribuição para a compreensão do imperfeito do
subjuntivo da língua portuguesa.
1 TEMPO E O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO EM
PORTUGUÊS

1.1 INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO

A fundamentação teórica deste capítulo está organizada em função do


objetivo geral de nosso trabalho, qual seja identificar o conteúdo temporal
do imperfeito do subjuntivo em português e o relacionar com seu conteúdo
modal - factual, contrafactual e eventual. Desse modo, por um lado,
apresentaremos a teoria reichenbahiana do tempo verbal e, por outro lado,
apresentaremos algumas análises preliminares sobre o imperfeito do
subjuntivo em português e seus valores modais.
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1.2 O TRATAMENTO REICHENBACHIANO DO TEMPO


VERBAL

1.2.1 A TEORIA DE REICHENBACH

Reichenbach (1947), filósofo interessado nas propriedades lógicas das


línguas naturais, propõe a organização do sistema dos tempos verbais 1
segundo três momentos na linha do tempo - momento da fala, momento do
evento e momento da referência - e duas relações entre estes elementos, as
relações de linearidade e de associação.

O autor define o momento da fala (MF) como o momento da realização


da fala, o momento em que se faz a enunciação sobre o evento 2, isto é, o
tempo em que acontece o ato comunicativo. Caso estrutu rássemos o sistema
dos tempos verbais inteiro tendo em vista somente este momento, teríamos
nada mais do que três tempos: um indicando anterioridade ao MF, ou
precedência linear, um concomitância por meio da relação de associação e
outro posterioridade, em que o MF precede linearmente o momento do
evento. Isto permitiria descrever os tempos verbais em (Ba), (Bb) e (Bc)
abaixo:

A: Paulo já chegou?

B: a) Já. Ele chegou ontem. (passado)

b) Olha ali, ele está chegando agora. (presente)

c) Não, ele vai chegar amanhã. (futuro)

O "momento de fala" no exemplo acima é o "agora", o momento do

1 O termo "tempo verbal" (tense), aqui, refere-se à categoria gramatical, à flexão verbal, ao recorte de tempo
realizado pelos diferentes idiomas. O termo "tempo" ( time), por sua vez, será empregado para se referir ao
tempo físico, ao fenômeno que existe independente de qualquer sistema lingüístico.
2 Entende-se "evento", aqui, como qualquer manifestação transmitida por um tempo verbal, seja uma ação, um
9

diálogo, da interação entre A e B. Em (Ba), o tempo usado é o passado


porque o momento em que o evento ocorre é anterior ao MF, é "ontem". Em
(Bb), o tempo é presente porque ocorre no momento em que a conversação é
travada, se dá no agora enunciativo. Em (Bc), o tempo é futuro porque o
momento em que o evento ocorre é posterior ao MF, é "amanhã".

Entretanto, como sabemos, as línguas dispõem de muitos outros


tempos, então, a fim de explicá-los, o autor elabora uma rede de
interpretação mais complexa, que envolve o momento do evento (ME) e o
momento da referência (MR).

O ME é, aparentemente, de fácil compreensão, trata -se do momento


em que o evento descrito (processo, estado ou ação) acontece, é o tempo da
predicação. Por sua vez, o MR mereceu discussões a posteriori, como as que
veremos a seguir, tendo em vista que Reichenbach não o define claramente,
como o afirmam vários autores, entre eles Declerck (1986, p.320):

"The idea is introduced in informal terms in the description of a


particular tense (...) and it is apparently left to the reader to d e-
duce a definition."

Do que compreendemos, o MR é o tempo da referência, é outro ponto


na linha do tempo que não o ME, é uma en tidade abstrata que ajuda a
explicar conceitos como "passado anterior" e "passado no futuro" (como o
afirma Hornstein, 1977, p.522). Corôa (1983, p. 16) faz, inclusive, alusão à
amizade existente entre Reichenbach e Einstein, contextualizando, assim, o
posicionamento teórico do primeiro. Segundo ela:

"Amigo pessoal de Einstein 3, com quem discutia profundamente


tanto a Teoria da Relatividade quanto suas bases filosóficas,
reconheceu que a revolucionária teoria não só afetava os conceitos

estado, um processo, etc. Também utilizaremos o termo "evento" com o significado de "momento do evento".
3 Corôa cita como fonte desta informação o livro de Mary Reichenbach, The theory of relativity and a priori

knowledge.
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fundamentais da física como também as verdades filosóficas."

Para a autora, o MR é uma perspectiva de tempo relevante, que o


falante "transmite" ao ouvinte, para a contemplação do ME, e, portanto, para
a caracterização de um dado tempo verbal.

Em seu livro, Reichenbach acaba construindo o conceito da referência


ao longo do capítulo The tense of verbs, inicialmente com exemplos e, em
seguida, com a apresentação do Princípio da Permanência do MR e do
Princípio do Uso Posicional do MR. O autor introduz o conceito de MR
descrevendo o Past Perfect da língua inglesa, em que, segundo ele, o ME
antecede o MR e ambos antecedem o MF. Como, por exemplo, em Peter had
gone.

Em seguida, fornece o trecho narrativo histórico, abaixo reproduzido,


cujo MR é o ano de 1678, com intuito de esta belecer uma comparação entre
os tempos Past Perfect e Simple Past (I saw John). Vejamos:

"In 1678 the whole face of things had changed... eighteen years of
misgovernment had made the... majority desirous to obtain secur i-
ty for their liberties at any risk. The fury of their returning loyalty
had spent itself in its first outbreak. In a very few months they had
hanged and half-hanged, quartered and emboweled enough to sa t-
isfy them. The Roundhead party seemed to be not merely ove r-
come, but too much broken and scattered ever to rally again. Then
commenced the reflux of public opinion. The nation began to find
out to what a man it had intrusted whitout conditions all its dea r-
est interests, on what a man it had lavished all its fondest affe c-
tion." (p. 288-289)

Constata que ambos compartilham do mesmo MR, 1678, porém que


enquanto os eventos no Simple Past ocorrem em relação de associação com a
referência, os eventos no Past Perfect ocorrem em relação de anterioridade ao
MR. Isto é, elementos que compartilham do m esmo ponto na linha do tempo
estão em relação de associação, são contemporâneos, como ocorre com o E e
a R no Simples Past, e elementos que não compartilham o mesmo ponto estão
em relação de anterioridade ou de posterioridade, não são contemporâneos,
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como ocorre no Past Perfect. Desse modo, eis suas respectivas descrições:
E,R__F e E__R__F.

Podemos perceber que as notações correspondem ao conteúdo


temporal de ambos: enquanto a característica do Past Perfect é a de indicar
um evento no passado anterior a outro passado, a do Simple Past é a de
marcar um evento no passado.

Diferentemente da língua portuguesa, o sistema dos tempos verbais da


língua inglesa distingue um passado simples ( Simple Past) de um passado
recente (Present Perfect). Se quiséssemos traduzir uma sentença com Presente
Perfect, como I have seen John, teríamos de indicar a idéia de passado recente
através de outra categoria gramatical, por exemplo, a de advérbio ou a de
perífrase verbal. Desse modo, a sentença acima ficaria Recém vi o João ou
Acabei de ver o João. Não a poderíamos traduzir somente com o emprego de
um tempo verbal, porque nenhum tempo verbal do sistema português
apresenta equivalente recorte do tempo. Observe que Eu tenho visto o João
indica idéia de iteração do evento que circun da o momento da fala, e não a
idéia de evento ocorrido em passado recente como em inglês.

O caso acima ilustra o que acontece em larga escala. Os sistemas dos


tempos verbais nas centenas de idiomas podem não apresentar uma
equiparação direta, isto é, as distinções semânticas de tempo verbal
marcadas por meio da flexão verbal em uma língua podem não o ser em
outra.

Além disso, não são apenas os tempos verbais que expressam eventos,
outras categorias gramaticais podem fazê -lo. Por exemplo, em português,
utilizamos a categoria de tempo verbal para expressar um desejo - Eu queria
uma água mineral bem gelada -, porém, em japonês, utiliza-se a categoria de
adjetivo - Mizu ga hoshii -, onde o adjetivo hoshii indica o fato de desejar,
mizu significa água e ga é a preposição.

Outro exemplo que pode nos mostrar quão distintamente as línguas


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construíram - e continuam a construir - suas visões ou representações do


mundo se estabelece na comparação entre as línguas espanhola, inglesa e
portuguesa com respeito à palavra "saudade". Enquanto na duas primeiras o
evento "sentir falta de" é codificado pela categoria de tempo verbal - Te
extraño e I miss you -, na terceira o mesmo fenômeno é codificado pela
categoria de substantivo - Eu tenho saudade de você.

Os comentários acima apenas ilustram aquilo que podemos perceber


através de nossa experiência empírica e através da literatura, como em
Corôa (1983), por exemplo. Nesse sentido, podemos afirmar que: a) cada
sistema lingüístico pode indicar um evento (ação, estado, processo , etc) não
somente através da categoria tempo verbal; b) uma vez indicado o evento
nesta categoria, o sistema de Reichenbach permite a descrição apropriada de
muitos dos tempos verbais tradicionalmente reconhecidos, bem como uma
primeira aproximação para tempos "complexos", como o Present Perfect.

Pesquisadores de várias línguas, ainda recentemente, têm apoiado


seus estudos na teoria reichenbachiana. Além dos lingüistas já mencionados,
podemos também citar García Fernandez (1999), da língua espanhola, e
Bumgärtner & Wunderlich (apud Corôa), da língua alemã. Corôa (1983, p.
32), por exemplo, afirma que os construtos teóricos propostos por
Reichenbach, com sua descrição unidimencional e unidirecional do tempo,
são necessários por dois motivos:

"(1º) permite a interpretação de todos os morfemas temporais com


o mesmo vocabulário e os mesmos intervalos de tempo e (2º)
fornece uma interpretação mais simples e mais precisa de um fato
inegável das línguas, a variação temporal."

Outra questão pertinente aos tempos verbais que também foi discutida
pelo lingüista amigo de Einstein é a questão do tempo de duração do evento
- se ele se caracteriza por um intervalo (tem duração, é "estendido") ou por
um ponto (não tem duração, não é "estendido"). Reichenbach (1947, p.29 1)
observa que a língua inglesa lida com a noção de "tempo verbal estendido",
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enquanto que as línguas alemã e francesa não; por isso acabam expressando
tal significado através de "palavras especiais", como "sempre",
"habitualmente", etc. A exceção na língua francesa ocorre nos tempos
passados Imparfait (Je voyais Jean) e Passé Défini (Je vis Jean), cuja distinção se
estabelece pelo primeiro ser do tipo "estendido" e o segundo não. Então,
temos as seguintes notações:

Imparfait Passé défini

____________ _____________
R,E F R,E F

Reichenbach utiliza-se do esquema de barras paralelas para indicar


um tempo verbal "estendido". Na verdade, tal representação corresponde
parcialmente ao que tradicionalmente se entende por "aspecto", cuj as
principais subcategorias são a imperfectividade e a perfectividade. O
Imparfait corresponderia ao aspecto imperfectivo - o evento tem duração - e
o Passé défini corresponderia ao aspecto perfectivo - o evento é pontual.

Introduzidos os três momentos MF, ME e MR e a noção de tempo


verbal extendido, Reichenbach passa ao estudo das sentenças compostas ou
complexas. Inicia pelo conceito, oriundo da Gramática Tradicional, da "regra
para a seqüência de tempo", segundo a qual há um número limitado de
combinações possíveis entre o tempo verbal da oração principal e o tempo
verbal da oração subordinada. Em português, por exemplo, não podemos
construir Pensei que ele *falará/*falar, mas podemos construir Pensei que ele
tinha falado/ falaria/ falava/ ia falar/ iria falar/ falasse/ tivesse falado. Weinrich
(1968, p.45) ressalta que este fenômeno é encontrado em todos os idiomas e
que foi denominado "concordância dos tempos", consecutio temporum, em
latim.

Reichenbach interpreta a regra do consecutio temporum como um


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princípio que exige o mesmo MR para todas as orações, embora seus ME


possam ocupar espaços distintos na linha do tempo. Para o autor, portanto,
este é o Princípio da Permanência do MR. Então, para a sentença I had mailed
the letter when John came and told m e the news, as três orações podem ser
respectivamente descritas como segue abaixo:

1ª oração: E1 __ R1 ______ S

2ª oração: R2,E2 ___ S

3ª oração: R3,E3 ___ S

O MR das três orações necessariamente coincidem. Caso uma das


orações não compartilhe do mesmo MR, a sentença não é possível, como é
verificado em *I had mailed the letter when John has come, onde o MR de John
has come está junto ao MF e não ao ME.

Ao final do capítulo, Reichenbach discute alguns casos da língua


inglesa que seriam um problema para o Princípio da Permanência do MR. As
sentenças fornecidas foram I shall take your photograph when you come e We
shall hear the record when we have dined. Quanto à primeira, afirma que a
subordinada estaria mais correta caso se usasse when you will come, mas esta
opção não é aceitável, visto que, como Reichenbach reconhece, em inglês, se
prefere mesmo o emprego do Present Tense em vez do Simple Future Tense
nestes contextos. Segundo o autor, isto ocorre porque a palavra when
direciona o MR da subordinada, claramente, a um evento futuro, mesmo que
sua morfologia identifique o Present Tense. Igualmente, na segunda sentença,
a subordinada está no Present Perfect em vez de estar no Future Perfect (when
we shall have dined), porque o conector when já direciona o evento para o
futuro. Reichenbach explica que quando este tipo de conector permite tal
"desvio" ou "anomalia", conforme suas próprias palavras, ocorre que, na
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subordinada, "o momento da fala é negligenciado" (p.296).

Notemos que nos exemplos do português correspondentes às frases


inglesas acima discutidas, o emprego do Futuro do Indicativo também não é
aceito:

*Eu vou tirar uma foto quando você virá.

*Nós ouviremos o disco quando jantaremos.

Isto poderia fornecer um argumento para a análise das R das frases do


inglês, entretanto, em português, parece -nos que o MF não é negligenciado,
visto que podemos empregar na subordinada dois tempos verbais que
mantêm relação de posterioridade ao MF: os Futuros Simples e Composto do
Subjuntivo. Abaixo segue, respectivamente, seus exemplos:

Eu vou tirar uma foto sua quando você vier.

Nós ouviremos o disco quando tivermos jantado/ tivermos acabado de jantar.

Como podemos verificar, tanto a oração principal quanto a


subordinada estão indicando eventos que se realizarão no futuro, no
momento posterior ao momento da fala, sendo que a primeira ação a
acontecer, no futuro, é expressa pelos tempos verbais do modo subjuntivo.
Ou seja, antes uma pessoa chega e depois outra tira sua foto; antes eles
jantam e depois ouvem o disco.

Em suma, ambas as línguas não aceitam o futuro do indicativo, nestes


contextos, na oração subordinada, porém, o português, como os demais
idiomas latinos, tem, em seu sistema de tempos verbais, o modo subjuntivo,
sendo ele que tomará lugar na subordinada. Como a língua inglesa não
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dispõe de tal modo, a opção é pelo uso do indicativo, mas não com o tempo
verbal no futuro, senão no presente.

Portanto, o problema levantado por Reichenbach sobre o Princípio da


Permanência do MR é um problema aparente, resolvido quando analisamos
outra(s) língua(s). Logo adiante, em Hornstein (1977 e 1981), veremos que,
na verdade, há sentenças cujas referências não coincidem, mas isto se deve a
outro fator, à Seqüência do Tempo (SoT).

Reichenbach desenvolve outro princípio sobre o funcionamento do


MR. Segundo o autor, nos casos em que uma expressão temporal é
acrescentada, como mostramos anteriormente através do exemplo da
narrativa histórica - o ano de 1678 -, ela refere-se não ao ME, mas ao MR da
sentença. É o que o autor denominou de Uso Posicional do MR: a referência
seria utilizada "como o carregador da posição de tempo" (p.294). São
exemplos desta classe expressões como: quando, antes, depois, agora, ontem ou
datas.

Desse modo, nas orações I met him yesterday e I had met him yesterday, o
advérbio yesterday traz consigo a posição da referência na linha do tempo.
Na primeira sentença, o autor diz que podemos dizer que o evento
aconteceu ontem porque o MR e o ME coincidem. Já na segunda sentença,
como o MR não está associado ao ME e como yesterday é o MR, o evento de
"encontrar" pode ter ocorrido antes de "ontem", antes do MR. Suas
respectivas representações temporais seriam: E,R___F e E__R__F. Em outras
palavras, Reichenbach afirma que a referência p ode ser associada aos
advérbios temporais e que ela pode manter com os outros dois elementos
relações de anterioridade, de simultaneidade ou de posteriorid ade.

Realizadas as explanações sobre o Princípio da Permanência do MR e


sobre o Princípio do Uso Posicional do MR, Reichenbach dedica-se à
formação de um sistema de tempos verbais baseado nas relações de
associação dos três elementos F, E, R.
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Com o intuito de definir os tempos verbais possíveis para as línguas


naturais, o filósofo (1947, p. 296) postula q ue: a) deve-se tomar o MF como o
"ponto de referência básica"; b) relativo a ele, o MR pode estar no passado,
ser simultâneo ou estar no futuro; c) o ME pode ser anterior, simultâneo ou
posterior ao MR. Dessa análise combinatória dos três momentos resultam 9
formas, que foram postuladas por Reichenbach como as "formas
fundamentais".

Para cada uma das 9 formas fundamentais, o autor propôs a


terminologia descrita no quadro abaixo, onde: a) a posição da R em relação à
F é indicada pelas palavras "passado", "presente" e "futuro"; b) a posição do
E em relação à R é indicada pelas palavras "anterior", "simples" e "posterior",
sendo a palavra "simples" empregada para indicar a associação de R e E.
Observe o quadro abaixo, no qual a terminologia tradicional da língu a
inglesa é comparada aos novos termos reichenbachianos.

Estrutura Novo nome Nome tradicional


E__ R __ F passado anterior Past perfect
E,R __ F passado simples Simple past
R __ E __ F
R __ F,E passado posterior _______
R __ F __ E
E __ F,R presente anterior Present perfect
F,R,E presente simples Present
F,R __ E presente posterior Simple future
F __ E __ R
F,E __ R futuro anterior Future perfect
E __ F __ R
F __ R,E futuro simples Simple future
F __ R __ E futuro posterior _______
18

Enquanto a gramática inglesa reconhece 6 tempos verbais em seu


sistema, a análise combinatória de Reichenbach permite reconhecer que um
tempo verbal pode apresentar mais de uma estrutura temporal, como é o
caso, por exemplo, do Simple Future.

Para haver outras formas, o autor afirma que isto somente seria
possível se se considerasse a posição do evento em relação ao momento da
fala, mas, em seguida, acrescenta que esta posição é usualmente irrelevante
(p.296).

Sobre a importância da Teoria Reichenbachiana (TR), Co rôa (1983, p.


32) salienta que: "as conceituações de Reichenbach continuam fecundas (...)
lingüistas modernos partem de suas conceituações para caracterizar os
tempora 4 de várias línguas." Entre eles, figura Hornstein (1977 e 1981), cuja
ampliação da TR veremos na exposição que segue.

1.2.2 A AMPLIAÇÃO DE HORNSTEIN

Adotando a perspectiva da gramática gerativa, para a qual as tarefas


fundamentais da lingüística são a identificação sobre o que os falantes
sabem quando sabem uma língua e sobre como eles ating em tal
conhecimento, Hornstein (1981) busca reconhecer qual teoria de tempo
verbal forneceria a resposta mais satisfatória. Em tal empenho, estabelece
uma comparação entre a Teoria Reichenbachiana, a Semântica Gerativa
(Generative Sematics) e a Lógica dos Tempos Verbais (Tense Logics). Conforme
o lingüista, a teoria ideal dos tempos verbais deveria ser suficientemente
forte para ser capaz de descrever todos os tempos verbais encontrados nas
diferentes línguas e também ser suficientemente limitada para preve r apenas
uma gama pequena de tempos verbais. E, segundo ele, a teoria mais
elucidativa é a de Reichenbach.
19

Um dos aspectos que fundamenta a comparação de Hornstein é o que


cada teoria considera como "um possível tempo verbal". Conforme destaca o
lingüista, a Semântica Gerativa e a Lógica dos Tempos Verbais consideram
os tempos verbais complexos como resultantes da iteração dos tempos
verbais básicos - presente, passado e futuro. Como estas duas teorias
permitem, em princípio, a recursividade na definição dos tempos verbais,
elas também permitem, em princípio, que as línguas tenham um número
infinito de tempos verbais, e sabemos todos que isto não procede. Como diz
Hornstein (1981, p. 130), não existe nenhum tempo verbal do tipo "passado
passado perfeito".

Definida a linha teórica adotada, Hornstein focaliza seus estudos na


relação dos três elementos F, E, R com os advérbios e as conjunções, ou
melhor, na relação destes com a R ou com o E.

Ao identificar as leituras ambíguas ocorridas na relação do tempo


verbal com um advérbio, Hornstein percebe que um advérbio associa -se ou à
R ou ao E do tempo descrito (p.126-127). Vejamos o exemplo abaixo, que
contém ambigüidade:

(8) The secretary had left the office at three o'clock.

(9) At three o'clock the secretary is already gone.

(10) At three o'clock the secretary is leaving.

Hornstein identifica que, na leitura (9), o advérbio identifica o


momento da referência e, na leitura (10), ele está associado ao momento do
evento - às 3h é o momento da saída da secretária -, respectivamente:

E____R____F

4 Tempora significa tempo verbal.


20

3 o'clock

E____R____F

3 o'clock

Dessa maneira, a ambigüidade é explicada sem, contudo,


descaracterizar a estrutura básica do Past Perfect (E__R__F).

Hornstein introduz outros recursos notacionais para tentar


instrumentalizar melhor a TR. Por exemplo, ele considera a ordem linear
importante mesmo quando os elementos estão associados - isto é, mesmo
quando a ordem não é interpretada semanticamente, como no caso do
Presente do Indicativo: para o autor, este tempo deve ter necessariamente a
estrutura F,R,E; por isso, F,E,R ou E,F,R ou ainda R,F,E não são
representações alternativas para o presente. Na verdade, com esta premissa,
Hornstein está preparando caminho para o funcionamento de um outro
princípio, o da Condição da Linearidade, formulada da seguinte maneira: "a
ordem linear de uma estrutura de tempo verbal derivada deve ser a mesma
que a ordem linear da estrutura básica" (1981, p.134). Como o autor afirma,
este possível universal estrutural limita a variedade de estr uturas deriváveis
pela aplicação de um advérbio a uma estrutura temporal básica: advérbios
podem alterar as relações de associação de um tempo básico desde que a
Condição da Linearidade seja respeitada - desde que a ordem linear
(independente das relações serem de associação ou de precedência) da
estrutura básica seja conservada. Vejamos alguns exe mplos:

(12)* John left tomorrow.

Estrutura básica: passado simples = E,R___F

Estrutura derivada por associação de tomorrow: F___E,R


21

tomorrow

Ou, na notação abreviada de Hornstein:

E,R ___ S tomorrow S ___ R,E


tomorrow

Como é possível constatar, ao deslocar a referência e o evento para


depois do momento da fala, o advérbio tomorrow altera a estrutura do Simple
Past, transformando-a em uma das duas estruturas possíveis para o Simple
Future, o que claramente não é possível. A impossibilidade de (12) se deve à
violação da Condição da Linearidade: na estrutura básica de passado
simples, E e R são linearmente anteriores à F; na estrutura derivada, tornam-
se posteriores à F, violando a condição. A sentença abaixo, ao contrário, o é
justamente porque não há violação. Vejamos:

(14) (...) John leaves for Europe in a week.

Estrutura básica: Present = F,R,E

Estrutura derivada por associação de in a week: F___R,E

in a week

Ou, na notação abreviada:

F,R,E in a week F _______ R,E


in a week

Como podemos verificar, (14) é aceitável porque a estrutura derivada


é igual à estrutura básica, no que tange a ordem linear de F, R e E. Note que,
22

nesta análise, (14) somente é possível porque a estrutura básica do presente


é necessariamente F,R,E e a de futuro, F__R,E; caso o presente fosse R,E,F,
por exemplo, teríamos:

R,E,F in a week F___R,E

in a week

que contaria com uma violação da Condição da Linearidade. Assim, a


extensão da teoria de Reichenbach por Hornstein é capaz de explicar porque
somente o presente, mas não o passado, pode ser usado para representar o
futuro simples - isso porque a ordem linear dos elementos é considerada
relevante independentemente de ser interpretada ou não. Observe que,
conforme vimos anteriormente, o advérbio está ligado ou à R ou ao E.

Como Reichenbach, Hornstein (1981, p. 135) lança mão da Regra de


Associação da Referência, por meio da qual sentenças complexas devem ter
seus pontos de referência associados, ou a sentença é impossível. No
entanto, tal regra será aplicável somente a sentenças adverbiais, com a
restrição de não violar a condição da linearidade. Observe os exemplos
fornecidos por Hornstein (1981, p. 135):

(24) John left when Harry ate the cake.

(25)* John left when Harry eats the cake.

Em (24), ambos tempos verbais apresentam a mesma estrutura


temporal de passado simples E,R__F e ambos eventos acontecem no passado,
pois estão associados às suas respectivas referências. Estando a R da
subordinada associada diretamente à R da principal, os eventos associam -se
indiretamente. Já em (25), o evento e a referência da principal são anterior es
23

ao momento da fala, mas o evento e a referência da subordinada são


contemporâneos à F, o que impede a associação das R. Veja suas respectivas
descrições:

(24') E,R_____F

E,R_____F

(25') * E,R_____F

F,R,E

É importante observar que: a) a regra de associação da R é crucial na


explicação da aceitabilidade de sentenças; b) a regra de associação da R está
sujeita à condição da linearidade; c) a regra de associação da R e a condição
da linearidade, juntas, explicam a ampla variedad e de julgamentos
aceitáveis às sentenças simples e complexas.

Entretanto, a regra de associação da R, diz -nos Hornstein (1981, p.


137-138), apenas é aplicável a sentenças que possuam Seqüência de Tempo
(SoT), como vê-se nos exemplos "b" abaixo; caso contrário, a regra de
associação da R não é necessária, como vê -se nos exemplos "a" abaixo:

(36) a: John said a week ago that Harry will leave in 3 days.

(36) b: John said a week ago that Harry would leave in 3 days.

(38) a: John said yesterday that Harry left 3 days ago.

(38) b: John said yesterday that Harry had left 3 days ago.
24

Em (36.a) e (38.a), a interpretação temporal das orações subordinadas


é calculada em relação ao momento da fala. Então, consoante à primeira,
Harry partirá em 3 dias a contar do momen to de quem reporta a notícia,
consoante à segunda, como entre o MF de John e de quem reporta a notícia
tem um dia de diferença - quando John disse Harry havia partido há dois
dias -, é preciso somar os dias e perceber que já se passaram 3.

Em (36.b) e (38.b), a interpretação temporal das orações subordinadas


é processada segundo a interpretação temporal da oração principal. Desse
modo, na primeira, Harry partiu no terceiro dia depois de John ter falado,
pois, se John falou há uma semana, Harry partiu há 4 dias em relação ao MF.
Na segunda, Harry partiu há 3 dias em relação ao MF, ao ME de John ter
dito. Em relação ao MF de quem reporta a fala de John, Harry partiu há 4
dias.

Com base no Princípio de Dominância e no Princípio C -comando da


Gramática Gerativa, Hornstein postula uma regra adicional que torna capaz
a recuperação da relevância dos fatos exibidos nas sentenças (36) e (38), uma
regra exclusiva para as sentenças de SoT, a regra (44):

(44) Associe S n com E n-1 .

(44) tem a propriedade de mudar o tempo verbal da oração


subordinada e de associá-lo com o ME da oração principal, isto é, associa o
MF da subordinada ao ME da principal, característica das sentenças do tipo
(36.b) e (38.b). Conforme veremos no capítulo destinado à análise dos dados,
há vezes em que o imperfeito do subjuntivo ocorre em sentenças sem SoT.

Encerramos esta seção considerando expostos os principais pontos da


teoria reichenbachiana - da original (1947) e da ampliada (1977 e 1981) -, que
permitirão o desenvolvimento de nosso trabalh o.
25

1.3 ANÁLISES DO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO

Nossa fundamentação teórica está organizada sob duas diferentes - e


complementares - perspectivas do tempo verbal. A primeira, a do
tratamento reichenbachiano, discute o valor temporal dos tempos verbais
em geral. A segunda apresenta algumas análises do imperfeito do
subjuntivo, o tema de nossa dissertação, à luz de abordagens que levam em
consideração as noções de modalidade realis e irrealis - de factualidade,
contrafactualidade e eventualidade.

Na subseção seguinte, exporemos algumas considerações gerais do


imperfeito do subjuntivo em português que julgamos complementares ao
entendimento deste tempo verbal. Na subseção subseqüente,
apresentaremos a classificação de Givón (1993) sobre as orações condicionai s
e, logo, as análises de Tapazdi & Salvi (1998) e de Neves & Souza (1999)
sobre o imperfeito do subjuntivo em orações condicionais. Feito isso,
apresentaremos a análise de Corral (1996) sobre o modo subjuntivo em
orações concessivas na língua espanhola. N osso intuito é, no capítulo da
análise, organizar os dados a partir destas classificações arroladas.

1.3.1 O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO EM PORTUGUÊS

Uma primeira apreciação que consideramos importante trazer à baila é


extraída de Zilles & Pereira (1998), em pesquisa sobre o desenvolvimento
discursivo de narrativas orais por crianças de 4 a 9 anos de idade.

Seguindo os preceitos teóricos de Hopper (1979), de Labov (1972) e de


26

Bardovi-Harlig (1995), quanto à narrativa ser constituída em dois planos, o


foreground (linha que contém os eventos principais, o "esqueleto" da história)
e background (informações que servem de suporte aos eventos principais,
como a descrição de um ambiente ou de um personagem), as autoras
dedicam-se a analisar em que faixas etárias as crianças se concentram no
desenvolvimento do FG e do BG e quais tempos verbais integram cada um
dos dois planos. Quanto ao imperfeito do subjuntivo, o objeto de nosso
trabalho, verificam que seu emprego aparece somente a partir dos 9 anos de
idade. E acrescentam que isto vem ao encontro da afirmação de Karmiloff -
Smith (1981 e 1986) de que estruturas complexas são adquiridas mais tarde.

Levando em consideração a teoria reichenbachiana, a expectativa


criada em torno desta afirmação é que o imperfeito do subju ntivo possa
apresentar um comportamento temporal multifacetado, ou seja, que ele
contenha não uma, mas sim uma variedade das descrições propostas por
Reichenbach.

Com respeito ao aspecto - ao tempo interno do tempo verbal, no qual


se inserem as noções de duração, instantaneidade, começo, desenvolvimento
e fim (Costa, 1997, p. 19) -, Travaglia (1981, p.156), afirma que: "o
aparecimento do subjuntivo está condicionado à expressão de uma
modalidade e aí o aspecto normalmente não aparece." Entretanto, baseando -
se em Comrie (1976), as descobertas de Costa (1997) vêm de encontro à idéia
de Travaglia.

Ao analisar os pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo e o


pretérito imperfeito do subjuntivo, Costa (1997, p. 50), a exemplo de outros
estudiosos como o próprio Reichenbach, percebe que o perfeito indica um
fato perfectivo e que os imperfeitos de ambos os modos expressam um fato
imperfectivo. Costa entende um fato perfectivo como um ponto de
intersecção que penetra na constituição temporal interna do fato
imperfectivo e um fato imperfectivo como algo que poderíamos ver se
27

estendendo no tempo. O exemplo abaixo traz o imperfeito do subjuntivo e o


perfeito do indicativo:

"(48) O sujeito ficou esperando que eu servisse o açúcar e eu


esperando que ele servisse o café, e um e outro não se entendia, eu
perguntei então: por que é que o senhor não serve o café?" (Costa, 1997, p.
51)

Para Costa, os pretéritos perfeito e imperfeito são utilizados como um


par aspectual opositivo.

Embora consideremos importante o estudo do aspecto, não o


desenvolveremos aqui, por não ser este o tema de nosso trabalho. Todavia,
nos valeremos da informação de que o imperfeito do subjuntivo expressa,
via de regra, imperfectividade.

Outra consideração a ser feita é oriunda de Ramalhete (1992 ), em


estudo sobre o subjuntivo em orações hipotéticas. Considerando que um
período hipotético constitui-se em duas partes: a condição - expressa pela
oração subordinada - e a conseqüência - expressa pela oração principal -, a
autora afirma que enquanto esta última permite variação de tempos verbais,
a primeira sempre será enunciada no modo subjuntivo. Desse modo, estando
o imperfeito do subjuntivo na condição, os tempos verbais que podem estar
na conseqüência são o futuro do pretérito, o imperfeito do indi cativo e as
perífrases verbais "ia + infinitivo" e "havia/haveria de + infinitivo".
Ramalhete (1992, p.100) fornece os seguintes exemplos:

"Se eu fosse ele, não faria/fazia aquilo."

"Se eu fosse ele, não ia fazer aquilo."

"Se eu fosse ele, não havia/haveria de fazer aquilo."


28

Conforme nos mostrarão os resultados das pesquisas de Tapazdi &


Salvi (1998) e de Neves & Souza (1999), há casos em que o imperfeito do
subjuntivo ocorre na conseqüência do período hipotético e há casos em que
o subjuntivo não é empregado na condição.

1.3.2 O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO EM ORAÇÕES


CONDICIONAIS

1.3.2.1 Givón

Givón (1993) classifica as orações condicionais em irreais simples,


irreais subjuntivas e contrafactuais. As orações condicionais irreais caem no
escopo da modalidade irreal, o que significa que o valor de verdade das
duas proposições da oração é indeterminado. Já nas orações condicionais
contrafactuais, o valor de verdade das duas proposições é "firme", como o
afirma o autor (p. 295), porém negativo.

As irreais simples são marcadas por uma "futuridade implicada", como


em If you finish on time, you can have this (Se você terminar na hora certa,
você poderá/ pode ter isto), por eventos no passado, como em If she did it, it
(surely) will make a difference (  I´m not sure, but if it turns out she did...) (Se ela
fez isto, certamente isto fará diferença), ou ainda pelo conector "quando".
Givón (1993, p. 292) destaca que, neste último caso, há uma tênue diferença
semântica entre uma interpretação temporal e uma interpretação
condicional. Por exemplo, dada a condicional (11) When you bring it, I'll pay
you (Quando você o trouxer, eu pagarei você), segue uma interpretação na
qual basta que a pessoa chegue com o objeto e a outra lhe pagará, e outra
interpretação, a condicional, na qual alguém somente pagará pelo objeto se
outra o trouxer realmente. Segundo Givón, na primeira, o falante atribui
29

uma mais alta certeza sobre a realização da proposição e, na segunda,


atribui uma mais baixa certeza; ambas interpretações, no entanto, con tinuam
a se caracterizar como condicionais irreais.

Ainda sobre as irreais destaca que a língua inglesa possui um


"subordinador especial", o "if not", que caracteriza condicionais negativas,
sendo diferente das condicionais contrafactuais, pois não há nega ção de
outra porposição. Veja o exemplo:

(14) b. If you don't pay up, we'll have you arrested.

Se você não pagar, nós prenderemos você.

Quanto à caracterização das irreais subjuntivas, afirma que são


marcadas em forma, sentido e uso pelo modo subjunti vo, como em If you did
that, you would be insane! (Se você fizesse isso, você seria um louco!). Givón
as distingue das irreais simples fornecendo exemplos que não se aplicam à
língua portuguesa, como em (16):

(16) a. Condicional irreal simples

If she agrees to come, we will go on and...

Se você concordar em vir, nós falaremos mais...

b. Condicional irreal subjuntivo

If she agreed to come, we would give her the sky!

Se ela concordasse em vir, nós daríamos a ela o céu!

Veja que a "futuridade implicada" em (16.a), em português, é expressa


não no presente do indicativo, como o é no inglês, mas no futuro do
30

subjuntivo, o que implicaria reconhecer este como um exemplo de oração


condicional irreal subjuntiva e não de irreal simples. O mesmo procede co m
os exemplos de (17) a (19) fornecidos pelo autor. Este é o problema que
percebemos na abordagem de Givón: a distinção entre irreais simples e
irreais subjuntivas não se aplica à língua portuguesa, pois o critério
fundamental recai no uso ou não da forma subjuntiva. Como é possível
perceber, através do exemplo acima, em português, a forma subjuntiva está
presente em ambas categorias.

Quanto à percepção do falante sobre as irreais subjuntivas, Givón (p.


294) afirma que elas são julgadas como sendo menos pro váveis, mas não
totalmente impossíveis de acontecer. Este traço [ - provável, + contrário à
realidade] é também atribuído ao imperfeito do subjuntivo espanhol nos
estudos de abordagem variacionista de Lavandera (1975) e de Corvalán
(1989).

Ao contrário das condicionais irreais, cujo valor de verdade é


indeterminado, o valor de verdade das condicionais contrafactuais é
determinado, mas negativo. A oração principal adjacente codifica uma
proposição que poderia ter sido verdade - se somente outra proposição,
codificada como oração contrafactual, fosse verdade. Mas como a proposição
da oração condicional é falsa, a proposição da oração principal também o é.

As contrafactuais podem ser marcadas com a combinação entre o


conector "se" e o passado perfeito ou o aspec to/tempo verbal passado. A
oração principal correspondente é então marcada por um "modal perfeito".
O lingüista atenta para o fato de que as contrafactuais podem vir sem o "se",
mas não sem o marcador "perfeito" e que, neste caso, há inversão dos
sintagmas como em: "Tivesse o João falado, teríamos ido com ele".

Givón (p. 296) conclui a seção afirmando que a contrafactualidade não


precisa estar exclusivamente associada à oração condicional, visto que pode
ser encontrada em outros contextos, como no emprego d os modais should,
31

would, might e could + have (equivalentes ao futuro do pretérito composto do


português) e como nas orações verbo-complemento, respectivamente:

(24) d. He could have done it. (  but he didn't)

Ele poderia ter feito isto. ( mas não o fez)

(27) b. I wish you were here. (  but you aren't)

Eu queria que você estivesse aqui. ( mas você não está)

Estas duas observações incitam-nos a analisar o imperfeito do


subjuntivo, no capítulo 2, não somente em orações condicionais, mas
também em outros contextos. Assim, nosso corpus será formado por orações
condicionais, concessivas e substantivas objetivas diretas e objetivas
indiretas, pois, nestes contextos, os teóricos sinalizam que o imperfeito do
subjuntivo pode ser encontrado ora com valor real, ora com valor irreal.
Neves (2000, p. 866), inclusive, classifica as orações concessivas em factuais,
contrafactuais e eventuais.

A discussão da classificação das orações condicionais será retomada


quando apresentarmos a análise de Neves & Souza (1999) so bre o imperfeito
do subjuntivo, neste mesmo capítulo.

1.3.2.2 Tapazdi & Salvi

Tapazdi & Salvi (1998) apresentam um estudo sobre o imperfeito e


mais-que-perfeito do subjuntivo em orações condicionais no português
brasileiro (PB) e no português europeu (PE ). Iniciam seu artigo afirmando
que, dado os resultados obtidos, há "a necessidade de fazer uma revisão das
normas estabelecidas nas descrições tradicionais, tanto no plano teórico
32

como no plano prático" (p.255).

Os dois lingüistas concebem as construções condicionais com o


imperfeito do subjuntivo na prótase (proposição da oração subordinada)
como expressão de um certo nível de falsidade ou irrealidade dos conteúdos
proposicionais da sentença. Tais períodos hipotéticos inserem -se ou no
conjunto da hipoteticidade ou no da contrafactualidade, sendo esta assim
caracterizada:

"não é um significado rigidamente conexo a uma determinada


concordância dos modos e dos tempos verbais, mas sim um efeito
semântico complexo que deriva da interacção da morfossintaxe com
o conteúdo proposicional da prótase e da apódose e com o contexto
lingüístico e extralingüístico." (p.257)

A nosso ver, a caracterização acima esclarece muito pouco sobre quais


critérios determinam que um período seja hipotético ou contrafactual. De
qualquer maneira, ao comparar as construções abaixo, Tapazdi & Salvi
reconhecem em (4) valor hipotético e em (5) valor co ntrafactual (p.257):

"(4) Se vocês lessem os jornais, saberiam o que se está a passar."

"(5) Se a Paula fosse russa, não teria que aprender russo."

No primeiro exemplo acima, não tendo "vocês" o hábito de ler os


jornais, o locutor hipotetiza sobre o fato; no segundo, há contra -afirmação
de "Paula não é russa".

Baseados na distinção acima, os dois autores apresentam a análise dos


dados de sua pesquisa, da qual destacamos as seguintes observações:

a) no PB, há maior ocorrência do uso do futuro do pretérito na


apódose (proposição da oração principal), enquanto no PE há maior
33

ocorrência do uso do imperfeito do indicativo - ambos combinando com o


imperfeito do subjuntivo na prótase, respectivamente: "se você construísse
seu carro você pensaria em poluição?" (p.263); "nós, se não fosse a
emigração aqui, nós não, comíamos uns aos outros." (p.260)

b) o imperfeito do subjuntivo pode assumir o valo r do mais-que-


perfeito do subjuntivo tanto no PB quanto no PE, respectivamente: "O Teatro
Municipal estava completamente lotado...e não é pelo fato de ter sido
grátis...para todo aquele público...que a peça faria sucesso...porque se o
público não gostasse teria saído antes de terminar (...) ou então não teria
batido palma no fim." (p.264); "tavam na parte mais alta, não é, e até digo
mais, se as inundações fosse, fosse durante o dia, teria morrido mais gente
porque a malta ia-se metendo nas lojas, tava a chover." (p.261)

Embora Tapazdi & Salvi não trabalhem com o aspecto verbal neste
referido artigo, se retomarmos os traços aspectuais perfectivo e imperfectivo
discutidos anteriormente, podemos verificar que a proposta de Costa (1997),
na qual o imperfeito do subjuntivo seria sempre imperfectivo, não
corresponde exatamente aos fatos do português observados por estes dois
pesquisadores. Ao tomar o valor do mais-que-perfeito do subjuntivo,
conforme os dados o revelam, o imperfeito poderia carregar seu traço
perfectivo. Ou seja, parece que temos de identificar no imperfeito, ao menos
quando usado em orações condicionais, ora o traço aspectual perfectivo, ora
o imperfectivo.

Outro contraponto possível de se estabelecer concerne ao tempo


verbal da prótase. Como vimos anteriormente, Ramalhete (1992) postula o
subjuntivo como o modo por excelência da condição; porém, não é isto que
revelam os dados de Tapazdi & Salvi. O presente do indicativo pode tomar o
valor do mais-que-perfeito do subjuntivo na prótase (no exem plo a seguir,
isso ocorre ao mesmo tempo em que o imperfeito do indicativo toma o valor
do futuro do pretérito na apódose): "e depois cheguei lá ao cinema e
34

obriguei aquela gente toda a sair. Se eu não os obrigo a sair, certamente


morriam lá" (p. 262). Embora este seja um exemplo do corpus do PE, não
soaria estranho ao PB.

Trajetória inversa pode se dar com exemplo abaixo, extraído do PB, no


qual o imperfeito do subjuntivo aparece duas vezes - uma na apódose e
outra na prótase: "se fizesse uma caixa desse tamanho, talvez funcionasse"
(p. 264). Apesar de não explicarem por quê, os autores consideraram que,
neste exemplo, os dois empregos do imperfeito se dão na apódose, ou seja,
nesta construção somente se teria a conseqüência, não se teria a prótase,
onde vem expressa a condição. Questionamos tal interpretação, pois
percebemos na oração "se fizesse uma caixa desse tamanho" a expressão da
condição, e na oração "talvez funcionasse" a expressão da conseqüência da
expressão hipotética; esta última poderia, inclu sive, ser totalmente
substituída por "funcionaria". Seja como for, é interessante observar que
podemos ter o imperfeito do subjuntivo presente tanto na apódose quanto
na prótase para os casos em que o conector seja "talvez".

Da pesquisa realizada por Tapazdi & Salvi levaremos adiante que: a)


em orações condicionais, o imperfeito do subjuntivo ocorre em modalidade
hipotética ou contrafactual; b) nos contextos contrafactuais, alterna com o
mais-que-perfeito do subjuntivo e o presente do indicativo; c) em oraç ões
condicionais, pode ainda ocorrer na "conseqüência" se esta contiver
advérbios como talvez ou possivelmente.

1.3.2.3 Neves & Souza

Outro estudo publicado que discute o imperfeito do subjuntivo e


envolve a noção de contrafactualidade é o de Neves & Souz a (1999): o
enfoque também recai sobre as construções condicionais. A fim de propor
uma tipologia destas construções, as autoras reportam -se à concepção
35

lógico-semântica, segundo a qual há três tipos de construção condicional 5:

a) dada a realização/ a verdade de p, segue-se, necessariamente, a


realização/ a verdade de q (real);

b) dada a não-realização/ a falsidade de p, segue-se, necessariamente,


a não-realização/ a falsidade de q (irreal);

c) dada a potencialidade de p, segue-se a eventualidade de q


(eventual);

Da classificação acima se origina a tipologia das construções


condicionais de Neves & Souza respectivamente: condicionais factuais/ reais,
condicionais contrafactuais/ irreais e construções eventuais/ potenciais, que a
seguir serão exemplificadas.

Prosseguindo na discussão sobre as noções fundamentais, Neves &


Souza (1999, p. 498) destacam que, em separado, real e factual constituem
diferentes níveis do enunciado, este relacionado à proposição (à expressão
de um fato possível) e aquele relacionado à predicação (à expressão de um
estado de coisas). E acrescentam:

"É óbvio que o uso lingüístico real das construções condicionais


não reflete pura e simplesmente a condicionalidade definida numa
implicação lógica se...então, isto é, não exige uma relação
condicional de valores de verdade e isso tem sido freqüentemente
ressaltado pelos estudiosos (Haiman, 1978 e 1986; Comrie, 1986)."

Embora reconheçam algumas perdas quando da avaliação do uso


efetivo da língua, definem as condicionais factuais/ reais redu zindo as
designações real e factual a um só grupo. Neves (2000, p. 836) esclarece:

" Em primeiro lugar, não se pode falar em 'realidade', em


referência ao que aparece num enunciado, já que a realidade não
se confunde com a linguagem: real ou não real não é, nunca, o que

5 A entidade "p" significa a condição, a prótase, e a entidade "q" significa a conseqüência, a apódose.
36

está dito, mas aquilo que realmente ocorre, ou seja, os estados de


coisas. Assim, não se pode dizer que, no primeiro exemplo
apresentado em 2.1 para construção condicional (Se tudo está desse
jeito, eu não posso confiar!), esteja sendo afirmada a realidade de um
estado de coisas. O que está sendo afirmada, aí, é a factualidade
do que é dito, isto é, da proposição. Assim, de um modo mais
exato, essas construções podem ser denominadas factuais, e não
reais."

Este mesmo posicionamento será adotado por nós quando da análise


dos dados.

As autoras afirmam que a noção mais geral deste grupo é aquela


envolvendo condição preenchida - conseqüência/ conclusão, um cruzamento
entre condicional e causal. Desse grupo, fazem parte os tempos verbais do
modo indicativo. Vejamos alguns exemplos:

a) presente/ presente:

"(13) se há presença de uma coloração ... mais forte, mais intensa que a
da pessoa ... e:: ... essa aréola ... possui ... uma séria de:: tubérculos ... então
o tubérculo é nomeado de ( )" (p. 512);

b) pretérito perfeito/ presente:

"(05) se ela foi criada para um FIM ... OUtro ... que NÂO ... a
contemplação estética ... ela é pragmática" (p. 514);

c) pretérito perfeito/ pretérito perfeito:

"(24) Se ... realmente a guerra foi perdida pelos países do eixo, é que as
condições ... sociológicas, econômicas e políticas etc etc fizeram com que
fosse perdida a guerra" (p. 519);

d) presente/ pretérito perfeito:

"(22) é, inclusive se há alguma coisa quebrada, por exemplo, eu chego


... foi um dos dois ... ou aquele que foi ... diz que foi ele que fez" (p. 518).

Quanto às do tipo contrafactuais/ irreais, Neves & Souza as definem


como construções que comunicam uma falsidade segura - servindo-se do
37

termo utilizado por Renzi (1991) -, e que repousam sobre a não-realidade,


apresentando estados de coisas como não-existentes, tanto na prótase como
na apódose. Neves (2000, p. 850) assim as define:

"As construções condicionais contrafactuais têm o verbo da


subordinada no modo subjuntivo, e numa forma passada (pretérit o
imperfeito e pretérito mais-que-perfeito). Assim, só há
contrafactual no passado, já que também o verbo da oração
principal é sempre passado, aí incluído o futuro do pretérito
composto. Observe-se que a eventual ocorrência de um verbo no
presente do indicativo na oração condicional, como em Se eu não
chego a tempo, o senhor bebia todo o rio Paraíba, não invalida essa
afirmação, já que apenas a forma é de presente, mas o valor é de
passado (= se eu não tivesse cheg ado)."

De acordo com este significado de contrafactualidade, os dados de


Neves & Souza (1999, p.525) revelaram que as construções contrafactuais só
ocorreram com o imperfeito do subjuntivo na prótase. No entanto, Neves
(2000, p. 850) constata também, neste mesmo contexto, o emprego do mais -
que-perfeito do subjuntivo, como em Se tivesse aparecido algum tatu por aqui,
estas formigas já estavam sem casa . Na apódose, os dados ocorreram com o
futuro do pretérito composto, que, segundo as autoras, assegura à
construção a falsidade devido à sua indicação morfológica de passado, e o
futuro do pretérito simples, que assegura a falsidade possível devido à sua
indicação morfológica de futuro. Sob nosso ponto de vista, a questão que,
aqui, se coloca é: qual é a relação entre passado e falsidade? As
contrafactuais referem-se somente ao passado, não poderiam também
referir-se ao presente? Ao futuro, não poderiam referir porque, para uma
oração ser contrafactual, o evento descrito tem de se contrapor a um "fato",
i. e., algo que aconteceu ou está acontecendo, e nã o há como isto ocorrer se o
evento por ela expresso ainda não aconteceu, como no caso de situação
descrita no futuro. Não há como contradizer o que não acont eceu.

Duas observações são acrescentadas por Neves & Souza. A primeira


informa que não basta relacionar a indicação morfológica dos tempos
38

verbais envolvidos para identificar a contrafactualidade; é necessário


também levar em consideração o "conhecimento de mundo". Por exemplo,
no caso da frase: "(31) mastectomia... infelizmente... a glândulas mamárias é
sede de tumores... se benignos só seria bom...mas...infelizmente é sede de
muitos tumores malignos...", as pesquisadoras argumentam que "o que
garante a contrafactualidade da construção é que já se sabe muito bem que
nem todos os tumores são benignos" (p.526).

A segunda observação diz que se a prótase estiver no mais -que-


perfeito do subjuntivo, a falsidade dos conteúdos proposicionais e, portanto,
a contrafactualidade da construção, está garantida. Ex.: "(16a) se tivesse
havido persistência do nódulo, aquele nódulo seria/ teria sido patológico."
As autoras observam que o fato de não ter havido persistência - o que é
inferido e não dito - evidencia a contrafactualidade.

Com respeito às construções eventuais/ potenciais, Neves & Souza as


definiram como aquelas cuja prótase repousa sobre a eventualidade; o
enunciado da apódose é tido como certo, desde que eventualmente seja
satisfeita a condição enunciada. Além disso, enquanto as factuais/reais
podem representar estado de coisas acabadas (telicidade) tanto n a prótase
como na apódose, e as contrafactuais/irreais podem apenas na apódose, as
eventuais, por sua vez, são todas [-télicas]: "nenhuma delas representa um
estado de coisas acabado" (p.527). Neves & Souza (1999, p. 527) citam os
seguintes exemplos:

a) reais: "(24) Se... realmente a guerra foi perdida pelos países do eixo,
é que as condições... sociológicas, econômicas e políticas, etc etc fizeram com
que fosse perdida a guerra";

b) irreais: "(29) e (30) a imagem que eu fazia era a seguinte se o Japão


fosse uma Birmânia, por exemplo que é um dos países atrasados, as
economias industriais que ganharam a Segunda Guerra não teriam ajudado
o Japão, quer dizer de outra maneira, se o Japão fosse a Birmânia né?";
39

c) eventuais: "(33) e no fim eu paguei mesmo pra c onseguir entrar no


apartamento quase cem mil cruzeiros. Se eu não tivesse cem mil cruzeiros
não entrava."

O esquema modo-temporal nas construções eventuais, como se vê em


(c) acima, mescla indicativo na apódose e subjuntivo na prótase. É neste
grupo, portanto, que temos a seqüência pretérito imperfeito do subjuntivo/
pretérito imperfeito do indicativo, como vimos no dado (33) acima.
Nenhuma referência, porém, é feita sobre o uso da perífrase verbal do
imperfeito do indicativo ("ia + infinitivo") ou do fut uro do pretérito ("iria +
infinitivo") na apódose, nas construções eventuais.

Em síntese, tanto a análise de Neves & Souza quanto a de Tapazdi &


Salvi reconhecem não apenas o valor hipotético (chamado de eventual por
Neves & Souza 1999 e Neves 2000), mas principalmente o contrafactual, no
emprego do imperfeito do subjuntivo em construções condicionais.

1.3.3 O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO EM ORAÇÕES


SUBSTANTIVAS

Há vários lingüistas que estudaram a contrafactualidade em orações


condicionais, como os citados anteriormente ou como Lavandera (1975) e
Corvalán (1989). Nesta seção, apresentaremos, suscintamente, a análise de
Wherritt (1978), cujo enfoque recaiu não nas orações condicionais, mas sim
nas orações substantivas objetivas diretas. Em seu artigo intitula do "Patterns
of subjunctive in Brazilian Portuguese", Wherritt investiga a alternância do
imperfeito do subjuntivo com o imperfeito do indicativo em orações do tipo:
"Pensei que...", como no exemplo "(3.10) Não pensei que fosse fruta, pensei
que era outra coisa".

Seus resultados revelam que o imperfeito do indicativo é utilizado


quando o falante considera a proposição mais próxima à factualidade (p. 52),
40

como em: "(3.9) pensei que era difícil seu nome", apesar de se caracterizar
como contrafactual ("seu nome não é difícil"). Já o imperfeito do subjuntivo
é utilizado quando a proposição em questão representa, explicitamente, uma
idéia contrária a outra, como em: "(3.11) Pensei que fosse professora... Ah,
você estuda."; ou em "(3.12) Ah, no cinema, sim, pensei que fosse na
televisão...". Outro contexto no qual se emprega o imperfeito do subjuntivo é
quando a comparação entre os fatos estabelecidos é ampliada, como em:
"(3.13) Pensei que tivesse muita gente" - onde se compara uma ou algumas
pessoas a um grupo maior.

Embora as definições acima não sejam suficientemente esclarecedoras,


julgamos importante a inclusão de Wherritt (1978) em nossa fundamentação
teórica porque, assim, poderemos analisar, no próximo capítulo, a
contrafactualidade também nas orações objet ivas. A propósito, apesar de
não usar a palavra "contrafactualidade", entendemos que a sociolingüista a
está discutindo, pois trabalha com a noção de "idéia contrária a outra", o que
pode equivaler à noção de contrafactualidade. Na verdade, parece -nos que a
autora está discutindo uma espécie de grau de contrafactualidade na
variação dos imperfeitos nos contextos "pensei que...". De qualquer modo,
para a análise dos nossos dados, consideraremos que o imperfeito do
subjuntivo pode apresentar o traço [+ contra factual] não somente nas
orações condicionais, mas também nas subordinadas substantivas objetivas
diretas.

Encerramos esta seção retomando Givón, Neves & Souza e Tapazdi &
Salvi. Como vimos antes, os referidos lingüistas constatam que, em orações
condicionais, o imperfeito do subjuntivo contrafactual refere -se somente a
eventos ocorridos no passado. Nossa pergunta, todavia, é: será que,
expressando modalidade contrafactual, o imperfeito do subjuntivo se limita
a estruturas temporais em que o evento é passad o (E__F)?
41

1.3.4 O MODO SUBJUNTIVO ESPANHOL EM ORAÇÕES


CONCESSIVAS

A última análise a ser apresentada neste capítulo aborda o modo


subjuntivo da língua espanhola, especificamente o que foi denominado de
Subjuntivo Concessivo Polêmico. Embora se concentre no presente deste modo,
Corral (1996) afirma que tal conceito pode ser estendido a outros tempos
verbais, inclusive o imperfeito. Julgamos importante sua inclusão neste
trabalho porque percebemos existir uma relação direta entre esta observação
e a modalidade factual discutida em Neves & Souza (1999) e Neves (2000).

Ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, que somente


permite o uso do modo subjuntivo em orações subordinadas adverbiais
concessivas, em espanhol estas orações podem vir expressa s no subjuntivo
ou no indicativo. Veja os exemplos abaixo retirados de Castro (1998, p. 149),
de González (1994, p.149) e de Corral (1996, p. 162), respectiv amente:

a) "Aunque regaba las plantas todos los días, se han secado" , cuja tradução
poderia ser: "Ainda que regasse/ tivesse regado/ *regava as plantas todos os
dias, elas secaram";

b) "El tiempo no parecia avanzar, aunque los rumores de la ciudad se iban


desvaneciendo en la noche somnoliente", cuja tradução poderia ser: "O tempo
não parecia avançar, embora os rumores da cidade fossem/*iam se esvaindo
na noite ensonada";

c) "Aunque está/ esté lloviendo, voy a salir.", cuja tradução poderia ser:
"Ainda que *está/ esteja chovendo, vou sair".

Como tais concessivas expressam eventos "reais", que de fato


aconteceram ou acontecem - em (a), as plantas foram regadas, em (b), os
42

rumores diminuiram e, em (c), está chovendo -, os lingüistas 6 afirmam que


mais esperado seria o emprego do indicativo; porém, "estranhamente",
verifica-se também o emprego do subjuntivo. Ou seja, aquele que é
considerado como o modo do irreal, da incerteza, da hipótese, etc, nestes
contextos, está realizando uma asserção.

Da discussão a seguir, devemos salientar que além da variação


morfológica ou modal no sistema verbal espanhol, estas c onstruções
carregam outro tipo de informação deveras útil a nosso trabalho: a de que o
modo subjuntivo pode ser também usado para indicar o traço "real", ou
factual.

Com o intuito de discutir o funcionamento do subjuntivo em tais


orações, apresentaremos a análise de Corral (1996).

Corral (1996, p. 161) afirma que Vallejo (1922) inspirou e influenciou o


trabalho de muitos pesquisadores por ter diferenciado os dois modos
segundo a distinção entre realidade nova e realidade dada por conhecida.
Para as construções com aunque, Vallejo aponta a seguinte diferença: a) o uso
do indicativo expressa uma nova realidade ao interlocutor: Lo deshereda,
aunque es su hijo; b) o uso do subjuntivo expressa uma realidade conhecida e
dada como argumento ineficaz para formar a objeção: Lo deshereda, aunque
sea su hijo. Trata-se do, por ele denominado, Subjuntivo Concessivo
Polêmico, aquele que tem como característica: a) a referência a uma
realidade dada por conhecida; e, ao mesmo tempo, b) a referência a uma
realidade refugada por ser considerada de baixo valor argumentativo.

No entanto, Corral (p. 163) refuta a idéia de que a "realidade dada por
conhecida" seria uma característica exclusiva do Subjuntivo Concessivo
Polêmico, argumentando que esta pode também ser atribuída ao mo do
indicativo. Sendo assim, dedica-se à segunda característica, a de "realidade
refugada por ser considerada de baixo valor argumentativo". Em seguida,

6 Lingüistas como Veiga, Guerrero & García, Lavandera e Vallejo, todos citados em Corral (1996).
43

Corral afirma que, definitivamente, o subjuntivo polêmico requer fatos reais


e apresentados previamente (explícita ou implicitamente).

A título de ilustração do subjuntivo polêmico, tomemos o exemplo


abaixo extraído de Corral (1996, p. 163):

"Voy a comprarme un periódico, aunque esté en griego."

Esta sentença é enunciada por um leitor contumaz depois de a lguns


dias de viagem pela Grécia. Tanto o falante quanto seus interlocutores estão
cientes de que o jornal está em grego, pois, afinal, todos estão na Grécia, ou
seja, esta informação é conhecida implicitamente e, ao mesmo tempo, é
desconsiderada por não impedir o acontecimento expresso na oração
principal - o fato de o sujeito comprar o jornal.

Como mencionado há pouco, Corral (1996) dedica -se a desenvolver a


segunda característica do subjuntivo polêmico - a da realidade descartada.
Para ele, a seleção do modo se relaciona com o significado pragmático do
período concessivo e depende do valor argumentativo que o falante concede
ao fato ser aceito ou não como conhecido pelos interlocutores. Sendo assim,
se o falante considera que a ação claramente conhecida constitui um
inconveniente forte para o cumprimento da proposição expressa na oração
principal, selecionará o indicativo na subordinada; se o falante considera
que o argumento, apesar de ser evidente, é fraco, sem relevância para o
cumprimento do conteúdo expresso no membro conjuntivo, escolherá o
modo subjuntivo.

Corral (1996, p.166) define as construções com aunque como aquelas


em que o falante pretende transmitir um conteúdo (M1), apesar de conhecer
uma informação (M2), cuja inferência I pode pôr em dú vida a veracidade de
M1. Vejamos o exemplo abaixo, contextualizado em uma casa de estudantes
44

durante a época de exames:

A: Uf! Tengo la cabeza que me va a estallar. No puedo más. Voy a tomar un


poco de aire, volveré en seguida.

B: Pero, si está lloviendo a mares!

A: No importa, aunque esté lloviendo a mares, voy a salir un momento,


necesito despejarme.

Como podemos verificar, A utiliza o subjuntivo para bloquear a


inferência de "está llovendo", qual seja, a de que quando está chovendo não se
deve sair à rua. A enfraquece o argumento da subordinada ( esté llovendo,
M2) a fim de viabilizar a realização da principal ( voy a salir un momento, M1).
Ao contrário, B utiliza o indicativo para produzir a inferência de que não se
deve mesmo sair à rua quando está chovendo. A escolha do modo verbal
depende, então, segundo o autor, da importância que o falante atribui ao
inconveniente causado pela I para o cumpr imento de M1.

O lingüista identifica o traço [+- relevância], na falta de um termo


melhor, como ele próprio diz, como o traço distintivo entre o indicativo, o
subjuntivo polêmico e o subjuntivo hipotético. Vejamos o quadro abaixo (p.
169):

relevância
+- + -
real indicativo indicativo subj. polêmico
não-real subj. hipotético

Desse modo, é imprescindível que o conteúdo em que aparece o


subjuntivo polêmico manifeste com clareza sua referência a um fato real,
45

caso contrário, o subjuntivo será interpretado em seu sentido mais habitual:


o da irrealidade, do hipotético, da não -afirmação, etc.

Corral ainda sugere, quando do processo de análise e interpretação


destas construções, que se siga três etapas:

1ª) partir da dicotomia real/ não-real atribuída ao indicativo/


subjuntivo;

2ª) reconhecer o contexto em que o subjuntivo perde sua característica


habitual de modo (não-real), i.e., reconhecer os traços comuns entre
subjuntivo polêmico e indicativo - a referência a uma realidade dada por
conhecida;

3ª) determinar o valor positivo ou negativo da relevância.

Com intuito de esclarecer um pouco mais as considerações de Corral,


extraímos dele os seguintes exemplos (p. 172):

a) contexto: informantes R= homem, 61 anos, universitário; MT=


mulher, 56 anos, universitária.

R: Me parece que la niña ha preguntado si es exactamente igual la educación


que se le da a un varón que a una niña.

MT: Ya.

R: Y yo entiendo que exactamente igual no.

MT: Ya.

R: En general sí, pero hay peculiaridades por razones de sexo.

MT: Ya.

R: Aunque el artículo 14 de la Constituición diga lo contrário.

Neste exemplo, se consultarmos a Constituição espa nhola, não há


46

dúvida de que o artigo 14 diz respeito à igualdade entre homens e mulheres.

b) contexto: informante T= homem, 20 anos, estudante de escola


técnica.

T: ... salen con un nivel, salen peor preparados, lo que pasa es que suelen
acabar antes y todo, y se suelen colocar antes. También lo que pasa es que tienen un
nivel más bajo. Pero no me arrepiento de haber estado en esta, aunque tenga que
estudiar más.

Igualmente, o conteúdo proposicional do membro conjuntivo é aceito


como um fato real, qual seja: escolas de maior primazia acadêmica exigem
que seus estudantes estudem e se esforcem mais.

Para finalizar, destacamos mais duas observações de Corral. A


primeira concerne à relação entre o subjuntivo e o contexto: "... el valor no
relevante - polêmico - del subjuntivo es hijo del contexto" (p.173). Caso o
contexto não seja suficientemente claro, os valores [+ - relevantes]
permanecerão indeterminados, como no exemplo que segue:

"T: Con los enfermos crónicos, los de oncología y todo... no sé, se


sufre a veces también con ellos, porque ves que son enfermos
terminales y, aunque tengan ganas de vivir, se sufre con ellos y
todo." (p. 173)

Para Corral, não é possível determinar se os pacientes têm mesmo


vontade de continuar vivendo ou se é o locutor que pensa tal coisa. É por
esta razão que tanto o indicativo quanto o subjuntivo hipotético, no quadro
anteriormente apresentado, têm o traço [+- relevante].

A outra observação diz respeito aos tempos verbais em que o


subjuntivo polêmico pode vir expresso. O a utor afirma que, apesar de
47

somente ter fornecido exemplos com o presente do subjuntivo em seu artigo,


o subjuntivo polêmico também pode ser visto e pesquisado em outros
tempos verbais deste mesmo modo. Corral (1996, p. 174) acrescenta:

"Pero si bien estas construcciones pueden expresar contenidos


vinculados con los tres vectores temporales, sin embargo, todo
parece indicar que las formas verbales habilitadas para actuar en la
oposición modal de 'relevancia' (OM2) - con valor, claro está, de 'no
relevancia' - son únicamente las que implican en su significado
primario alguna relación con el presente, es decir: presente y
antepresente de subjuntivo. Creemos, por tanto, que las formas
verbales restringen la posibilidad de aparición del subjuntivo
polémico."

Estabelecendo um paralelo com a teoria reichenbachiana, podemos


dizer que o subjuntivo polêmico pode ocorrer com tempos verbais cujas
estruturas temporais sejam de presente ou de passado, com exceção à
estrutura de presente posterior, dado que o evento é pro jetado no futuro:
F,R__E. Em relação ao imperfeito do subjuntivo, com valor de polêmico,
especulamos que possam ocorrer todas as estruturas cujo evento E é anterior
ou simultâneo à fala F, isto é, estruturas que expressam passado ou presente.
Desse modo, podem ocorrer casos de passado posterior (R__E__F e R__F,E),
de passado simples (E,R__F) e de passado anterior (E__R__F).

1.4 RESUMO DO CAPÍTULO

Ao longo deste capítulo, por um lado, expusemos a teoria


reichenbachiana - em sua versão original, a de Reichenbach (1947), e com as
revisões propostas por Hornstein (1977 e 1981) -, que nos fornece
instrumentos capazes de descrever o conteúdo temporal dos tempos verbais.
Por outro lado, expusemos análises que buscaram reconhecer o valor factual,
contrafactual ou eventual do imperfeito do subjuntivo em construções
condicionais (Ramalhete, Tapazdi & Salvi e Neves & Souza), em orações
48

substantivas (Wherritt) e em orações concessivas (Corral).

Para analisar o conteúdo temporal do imperfeito do subjuntivo,


utilizaremos os três elementos reichenbachianos - os momentos de fala F, de
referência R e de evento E -, que, por hipótese, estão contidos em todos os
tempos verbais de qualquer língua. Lançaremos mão da Regra de Associação
da Referência, segundo a qual orações que apresentam Seqüência de Tempo
(SoT) têm associadas as referências dos tempos verbais envolvidos, bem
como da Condição de Linearidade e das regras de associação de advérbios.

A partir das análises apresentadas sobre o imperfeito do subjuntivo,


concluímos que este pode indicar factualidade, contrafactualidade e
eventualidade, no mínimo, em orações condicionais, em concessivas e em
substantivas objetivas. Desse modo, no próximo capítulo, agruparemos os
dados sob esta tríade modal e sintática a fim de que possamo s definir as
relações entre as estruturas temporal, sintática e modal do imperfeito do
subjuntivo.

Prevemos que, ao expressar factualidade, o imperfeito poderá vir com


a estrutura de passado anterior (E__R__F), de passado simples (E,R__F) e de
passado posterior (R__E__F e R__F,E), visto que, sendo apreendido como
"real", o evento tem de ser conhecido pelo falante. Quanto à
contrafactualidade, Givón afirma que tem de haver a característica de
passado perfectivo ou simplesmente de passado, e o mesmo afirmam Neves
& Souza e Tapazdi & Salvi. Como a teoria reichenbachiana reconhece cinco
estruturas temporais de passado, sendo uma somente perfectiva (a de
passado anterior), prevemos que, de novo, apenas estarão integradas à
contrafactualidade aquelas estruturas cujos eventos E são anteriores ou
simultâneas à fala F: E__R__F, E,R__F, R__E__F e R__F,E.

Em contraposição às restrições temporais destes dois grupos estariam


as do imperfeito do subjuntivo expressando eventualidade, que apresenta
uma maior maleabilidade. Parece-nos que uma hipótese irreal pode se
49

referir a um evento no passado, no presente ou no futuro. Então, podemos


inferir que qualquer uma das descrições de passado pode integrar o grupo
das eventuais. Com respeito ao presente, podemos inferir a ocorrên cia da
estrutura R__F,E, e, quanto ao futuro, podemos inferir tanto a estrutura de
passado posterior R__F__E quanto as estruturas de futuro simples F__R,E e
de futuro posterior F__R__E.

Se, por um lado, o imperfeito factual e o contrafactual compartilha m a


característica de conter um número maior de restrições temporais, por
outro, o imperfeito contrafactual e o eventual compartilham a modalidade
do irrealis. Embora se saiba o que está sendo contradito, conforme o afirma
Givón, o imperfeito contrafactual é irreal pelo fato de não expressar um fato,
de ser a negação de uma proposição pressuposta no enunc iado.
2 OS VALORES TEMPORAIS DO IMPERFEITO DO
SUBJUNTIVO EM PORTUGUÊS

2.1 INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO

Neste capítulo, procuraremos verificar se as hipóteses levantadas no


capítulo anterior se confirmam em um corpus de frases contendo o
imperfeito do subjuntivo que coletamos na imprensa brasileira. As hipóteses
específicas que estaremos investigando são: a) o imperfeito do subjuntivo,
em seu uso factual e contrafactual, pode apresentar as estruturas temporais
de passado anterior E__R__F, de passado simples E,R__F e de passado
posterior R__E__F e R__F,E, mas não a de passado posterior R__F__E ou as
de futuro simples F__R,E ou de futuro posterior F__R__E; b) em s eu uso
eventual, pode apresentar todas as estruturas de passado anterior, simples e
posterior e, ainda, as de futuro simples e de futuro posterior.

Este capítulo está organizado a partir das questões adjacentes para a


questão central: antes discutimos os t empos verbais relacionados ao
imperfeito do subjuntivo e, depois, o próprio tempo verbal. Desse modo, em
primeiro lugar, descrevemos a estrutura temporal dos tempos verbais que
costumam co-ocorrer com o imperfeito do subjuntivo nos diversos contextos
sintáticos que estudamos. Em segundo, passamos à análise dos valores
temporais a ele atribuídos e, em terceiro e último, ao cruzamento destes com
51

os valores modais factual, contrafactual e eventual.

2.2 TEMPOS VERBAIS RELACIONADOS AO IMPERFEITO DO


SUBJUNTIVO

Discutiremos, nesta seção, os tempos verbais que podem combinar


com o imperfeito do subjuntivo nas orações, em geral, preferencialmente
mantendo a Seqüência do Tempo (SoT). São eles: presente do indicativo, os
pretéritos perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito do indicativo, bem como
o pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo 7.

2.2.1 PRESENTE DO INDICATIVO

Quanto ao presente do indicativo, é possível a identificação de quatro


descrições temporais consoantes aos contextos que seguem. Se o evento e a
referência ocorrem em concomitância ao momento da fala, como quando da
narração de um jogo de futebol, por exemplo, (1) Dunga chuta para Romário,
temos F,R,E, o que Reichenbach denomina de presente simples. Mas, se
considerarmos que, no momento em que o lo cutor enuncia a sentença acima,
o jogador já chutou a bola, teremos o evento ocorrido em um passado muito
próximo, o que nos leva a atribuir também como possível a descrição
E__F,R, de presente anterior, que é a estrutura correspondente ao Present
Perfect da língua inglesa.

A configuração F,R,E descreve outro tipo de presente, o gnômico ou


omnitemporal (Lyons, apud Corôa, 1983, p. 46), utilizado, freqüentemente,
pela ciência, pela religião e pela sabedoria popular para expressar verdades
eternas, como: (2) A água ferve a 100ºC ou (3) Deus ajuda a quem cedo madruga.

7Os exemplos desta seção 2.2 não fazem parte do corpus dos dados do imperfeito do subjuntivo analisados
nas seções subseqüentes.
52

Corôa (op. cit.) afirma que o presente gnômico:

"indica algo que ocorre não exatamente no momento da fala mas se


insere numa proposição que, por uma razão ou outra, sabemos ser
verdadeira independente do momento em que é enunciada. É uma
verdade quase onitemporal quando vista da nossa perspectiva de
tempo limitado da existência humana."

Há outro emprego para a forma de presente do indicativo quando


apenas a referência está associada à F e o evento é posterior a ambos, como
em (4) Eu faço isto agora mesmo, cuja notação é a do presente posterior
conforme Reichenbach, F,R__E, o que é igual à descrição do futuro imediato
(Eu vou fazer isto agora mesmo).

O presente também pode ser empregado para expressar eventos


durativos, i.e., para marcar eventos iniciados antes da F e terminados depois
da F. O presente durativo pode ser do tipo iterativo, aquele que representa
um evento que se repete, ou do tipo contínuo, aquele que representa um
evento prolongado, contínuo, ininterrupto (Fiorin, 2001, p.149). Tomando
como exemplos (5) Eu estudo francês e (6) Eu estou doente, poderíamos ter a
descrição F,R, E para ambos, onde o traço em cima de E representaria ou um
evento que se reitera para frente e para trás na linha do tempo, ou um
evento cuja duração se estende para frente e para trás na linha do tempo.

Diante destas quatro possibilidades de emprego - F,R,E; F,R, E ; F,R__E


e E__F,R -, faz-se pertinente a seguinte pergunta: "Afinal, qual é a
característica básica do presente do indicativo?". Para Corôa (1983, p. 48), o
que o define é o fato de que "os limites temporais de MR, ME e MF não
precisam coincidir: o importante é que haja ao menos um ponto de cada um
dos três que coincida". Concordamos em parte com e sta afirmação.
Realmente, se observarmos as descrições acima, podemos perceber que há,
pelo menos, um ponto de associação; entretanto, se observarmos mais
atentamente podemos perceber que F,R não se separam em nenhuma das
53

quatro descrições, o que nos leva a acreditar que a característica


fundamental do presente do indicativo, em po rtuguês, é a associação de F,R.

2.2.2 PRETÉRITOS DO MODO INDICATIVO

Passemos à análise dos pretéritos do modo indicativo. Conforme


vimos no quadro de Reichenbach, o passado po de resultar em cinco
combinações dos elementos F,R,E e o presente pode resultar em três
combinações. Em português, a forma que denominamos de pretérito
perfeito pode ter uma descrição do que Reichenbach chamou de passado
simples (E,R__F) e outra de presente anterior (E__F,R), como,
respectivamente, em: (7) João chegou ontem em casa e (8) João recém chegou em
casa (equivalente a João acabou de chegar). Como vimos anteriormente, em
inglês, cada um destes tempos é expresso por uma forma verbal distinta:
Simple Past e Presente Perfect. Considerando este comportamento duplo,
podemos caracterizar o pretérito perfeito em português como aquele que
indica um evento anterior à F, cuja referência pode ser associada ou ao E ou
à F, i.e., a referência oscila entre estes dois pontos, conforme explica a
notação abaixo:

E F

A mesma afirmação feita por Reichenbach sobre o pretérito imparfait e


o passé défini do francês - o primeiro é "estendido" e o segundo não - é válida
para os pretéritos imperfeito e perfeito do português, respectivamente.
Desse modo, no pretérito imperfeito a R e o E também são contemporâneos
54

e também são anteriores à F, porém, em relação ao perfeito, o evento


apresenta um intervalo de tempo prolongado. Assim como no presente do
indicativo, no imperfeito, o aspecto durativo tem dois significados: o de
continuidade e o de reiteração. Veja, respectivamente, os exemplos: (9) Hoje
de manhã, enquanto eu dormia, Paulo caminhava no parque; e (10) Quando morava
em Londres, Paulo caminhava no Hide Park. No primeiro, a ação se desenrola
ininterruptamente e, no segundo, a ação acontece em vários momentos
diferentes durante um intervalo "x" de tempo. Devido a este comportamento
duplo do aspecto no imperfeito do indicativo, podemos dizer que sua
estrutura é E ,R___F.

Sabemos que, no estado de língua atual, os brasileiros têm utilizado


esta categoria morfológica em contextos nos quais se esperaria o emprego do
futuro do pretérito, como por exemplo em (11 ) Se eu tivesse tempo, eu ia (iria)
com você. Porque este não é o tema de nossa investigação, deixamos ao leitor
a indicação de trabalhos como o de Costa (1997), de Silva (1998) e de Karam
(2000).

Fechando os pretéritos do indicativo, analisaremos o mais-que-


perfeito 8, aquele que indica uma ação anterior a outra ação no passado. Nos
termos da teoria reichenbachiana, o momento do evento E deve ser anterior
a um ponto da referência R que é, por sua vez, anterior ao momento da fala
F: E__R__F. Por exemplo, em (12) João já tinha saído quando Maria chegou, a
ação de João sair (E 1 ) é anterior à ação de Maria chegar (E 2 ). Na análise
proposta por Reichenbach, obtém-se esta interpretação porque, pelo
princípio de permanência dos pontos de referência, a R da oração
subordinada (R 2 ) deve ser associada à R da oração principal (R 1 ). Vejamos:

1ª oração: E 1 _____R 1 _____F

8Preferimos não ilustrar o uso deste tempo verbal com a forma do pretérito mais -que-perfeito simples (saíra)
por ser considerada arcaica.
55

2ª oração: E 2 ,R 2 _____F

Como no pretérito perfeito a R é contemporânea ao E, o E 2 acaba


sendo, indiretamente, associado à R 1 . E o resultado é o que se deseja: o
evento de Maria chegar (E 2 ) é posterior ao evento de Pedro sair (E 1 ).

Há casos em que a referência do mais-que-perfeito encontra-se no


advérbio ou na locução verbal, como em (13) Aos 13 anos de idade, João já
tinha passado pela FEBEM:

E R F

aos 13 anos
João passou pela FEBEM

Diferentemente de todos os outros tempos verbais do indicativo, o


mais-que-perfeito é o único que parece não admitir outro arranjo dos três
elementos F,R,E. Tomemos alguns exemplos, como os que seguem:

(14) João saiu quando Maria tinha acordado.

(15) João saiu quando Maria já tinha acordado.

(16) João saiu antes que Maria *tinha acordado.

(17) João saiu antes que Maria tivesse acordado.

(18) João saiu antes que Maria acordasse.

A sentença (14) apresenta-se duvidosa por apresentar leituras


ambíguas, entre as quais uma sem sentido. Pela definição do mais -que-
perfeito, poderíamos entender que Maria acordou (E 2 ) antes de João sair
56

(E 1 ), desse modo a descrição seria:

(14') 1ª oração: E 1 ,R 1 ____F

2ª oração: E 2 ____R 2 ____F

No entanto, para produzir a leitura acima claro seria se a sentença


fosse (15). A leitura na qual João sai antes de Maria acordar não é construída
pelo interlocutor porque justamente ela implicaria uma interpretação em
que o momento do evento fosse simultâneo ao da referência, como em (14")
abaixo:

João sair

(14") 1ª oração: E 1 ____R 1 ____F

2ª oração: E 2 ,R 2 ____F

Maria acordar

Caso introduzirmos o advérbio "já", ficará claro que esta interpretação


não é apropriada para o mais-que-perfeito:

(19) ?? João já saiu quando Maria tinha acordado.

Compare-se (19) com (15) acima e (20) abaixo, em que a semântica do


mais-que-perfeito é respeitada 9:
57

(20) João já tinha saído quando Maria acordou.

Outra possível interpretação seria aquela que estabelece uma relação


de concomitância entre E 1 e E 2 , onde o conector "quando" teria o significado
de "no momento em que"; mas, neste caso, se a estrutur a temporal do
pretérito perfeito do português fosse necessariamente E,R__F, haveria
violação da Condição da Linearidade de Hornstein. Como se pode verificar
através da descrição abaixo, E 2 teria de estar associado à R 2 para se tornar
simultâneo a E 1 :

(14") * 1ª oração: E 1 ,R 1 ___F * E 1 ,R 1 ___F

2ª oração: E 2 ___R 2 ___F E 2 ,R 2 ___F

O deslocamento de E2 para a direita associaria dois elementos que


não estão associados na estrutura básica, o que é p roibido e o que resultaria
na descrição de pretérito perfeito para o mais -que-perfeito. A propósito,
para expressar a simultaneidade do E1 com o E2, parece mais claro tanto o
uso do pretérito perfeito para ambas as orações - (21) João saiu quando Maria
acordou -, quanto o uso do mais-que-perfeito - (22) João tinha saído quando
Maria tinha acordado.

Os exemplos de (14) a (18) nos sugerem que a R do mais -que-perfeito


tem de ser identificada de algum modo, mesmo que implicitamente, caso
contrário a sentença será confusa ou impossível de interpretar. Corôa (1983,
p. 51) afirma que, devido a esta necessidade de a R ser identificável, o mais -
que-perfeito é freqüentemente chamado de "tempo relativo" pelo
gramáticos, em oposição aos "tempos absolutos", que aparente mente não
precisariam de outro ponto temporal de referência para serem interpretados

9 A estrutura de (20) é a representada em (14") acima.


58

apropriadamente. Para ilustrar, comparemos a sentença (14) com a (15),


onde o acréscimo do advérbio "já" provoca o desaparecimento da
ambigüidade:

(15') 1ª oração: E 1 ,R 1 ____F

2ª oração: E 2 ____R 2 ____F

A notação acima explicita o fato de que o advérbio está associado ao


E 2 , e que, porque a R 2 está associada à R 1 , o E 2 é anterior ao E 1 . O acréscimo
de "já" esclarece que a ação de Maria ter acordado (E 2 ) é acabada em relação
ao tempo de referência, R 2 , e, por conseqüência, torna-se anterior à ação de
João sair (E 1 ) na frase (14).

Quanto à sentença (16) João saiu antes que *Maria tinha acordado, vemos
que o emprego do mais-que-perfeito não é aceitável, talvez por a conjunção
"antes que" exigir um tempo verbal do modo subjuntivo.

Se o emprego do mais-que-perfeito do indicativo é impedido em


sentenças do tipo (16), o emprego do mais-que-perfeito do subjuntivo, por
sua vez, é exigido, como verificamos através da sentença (17) João saiu antes
que Maria tivesse acordado. Vejamos:

(17') 1ª oração: E 1 ,R 1 ________F

2ª oração: R 2 ___E 2 ___F

A notação acima mostra que ambas estrutur as são respeitadas, não


havendo a violação da Condição da Linearidade nem do Princípio da
59

Permanência do MR, ou seja, os tempos verbais mantêm suas características


básicas e estabelecem uma relação de associação entre R 1 e R 2 . Desse modo,
podemos interpretar que o evento de João sair (E 1 ) acontece antes do evento
de Maria acordar (E 2 ).

Processo análogo acontece quando do emprego do imperfeito do


subjuntivo na subordinada, como vemos em (18) João saiu antes que Maria
acordasse, que apresenta quase a mesma descrição (17'). Na verdade, estamos
lidando com a diferença aspectual básica existente entre estes dois tempos
verbais. O mais-que-perfeito do subjuntivo expressa eventos não -estendidos
no passado enquanto o imperfeito do subjuntivo expressa, sobretudo,
eventos estendidos, por isso podemos compreender que, em (17) João saiu
antes que Maria tivesse acordado, o evento de Maria acordar (E 2 ) é percebido
como um evento delimitado enquanto em (18) o E 2 é percebido como um
evento não delimitado.

2.2.3 FUTURO DO PRETÉRITO SIMPLES E COMPOSTO

O próximo tempo verbal a ser analisado é o que mais freqüentemente


é combinado com o imperfeito do subjuntivo em construções condicionais: o
futuro do pretérito.

Cunha (1975, p. 317) observa que antes de receber a denominaçã o


vigente, o futuro do pretérito era considerado um outro modo do nosso
sistema verbal, que recebia o nome de "condicional". Note que, na língua
espanhola, este mesmo tempo verbal permaneceu intitulado "condicional".
Ali (2001, p. 235), em um estudo diac rônico, chega a referi-lo como o "futuro
problemático do pretérito", o que pode nos sugerir o grau de dificuldade
envolvido em torno de seu entendimento.

Valendo-nos dos instrumentos fornecidos pela teoria reichenbachiana,


podemos verificar que o futuro do pretérito, na língua portuguesa, contém
60

todas as três combinações levantadas para o passado posterior - R__E__F,


R__F,E e R__F__E -, bem como a estrutura de futuro posterior - F__R__E.
Dito de outra maneira, o futuro do pretérito apresenta somente estrutu ras
do tipo "posterior", cuja característica fundamental é o fato de a referência
ser sempre anterior ao evento, R__E (conforme também sugestão de
Travaglia, 1999).

Quanto à estrutura R__E__F de passado posterior, segue o exemplo


abaixo:

(23) "Se punisse Fernando Baiano, ficava sem seu melhor jogador. Se
aceitasse a pressão do centroavante, enfraqueceria o técnico." (Zero Hora,
07.08.02. "Amor na sucursal", David Coimbra)

O autor deste trecho está fazendo um comentário hipotético a partir


de situações que já aconteceram, de decisões que já foram tomadas. Sua
opinião em nada mudará o que ocorreu. Por isso, o evento está em relação
de anterioridade ao momento da fala. Tudo o que o falante hipotetiza, neste
caso, não assume nenhuma projeção no futuro, ou s eja, tanto a R quanto o E
são anteriores à F, como vemos em (23') abaixo:

aceitar a pressão

(23') 1ª oração: E 1 ,R 1 _______________F

2ª oração: R 2 ______E 2 ______F

enfraquecer o técnico

A primeira oração, com o imperfeito do subjuntivo, apresenta a


estrutura temporal de passado simples - E,R__F -, enquanto a segunda, com
61

o futuro do pretérito apresenta a de passado posterior do tipo R__E__F.


Note que (23') descreve exatamente as mesmas relações que o imperfeito do
subjuntivo (punisse) e o imperfeito do indicativo (ficava) mantêm na sentença
anterior do mesmo exemplo (23). Mas como isso poderia ser possível, se a
estrutura deste último é E ,R___F? Se desconsiderássemos a afirmação de
Hornstein, segundo a qual os elementos apresentam uma ordem linear fixa,
poderíamos desenvolver o seguinte raciocínio: como o E do imperfeito do
indicativo tem aspecto durativo e a R é pontual, o E perdura por um tempo
que é futuro em relação à R, i. e., R, E implica R,E...E. Isto, por sua vez,
implica R__E. E, conforme vimos no início desta análise, a relação R__E
parece ser justamente a característica essencial do futuro do pretérito. Desse
maneira, seria possível compreender, pelo menos em parte, o porque da
variação entre o imperfeito do indicativo e o futuro do pretérito nestes
contextos.

O exemplo da próxima estrutura de passado posterior a ser analisada -


R__F,E - foi extraído do próprio capítulo de Reichenbach (1947, p. 293):

(24) "I did not know that you would be here."

(Eu não sabia que você estaria aqui.)

No momento em que este "eu" enuncia a frase, este "você" está


presente e integrado à mise en scéne, por isso o evento expresso no futuro do
pretérito (E 2 ) é contemporâneo ao momento da fala. Veja a respectiva
representação temporal de (24):

(24') 1ª oração: R 1 ,E 1 __________F


62

2ª oração: R 2 _____________F,E 2

Observe que a estrutura temporal do imperfeito do indicativo, na


oração principal, tem a R em relação de anterioridade à F e em relação de
associação direta à R do futuro do pretérito.

A próxima estrutura temporal de passado posterior a ser considerada


é R__F__E, onde a projeção parte do passado, por ser anterior à F, e onde o
evento está no futuro, por ser posterior à F. Apresentamos o seguinte
exemplo com o futuro do pretérito sendo usado com esta estrutura:

(25) "Se a lei fosse cumprida cegamente, Chicão deveria ser separado
daquela a quem chama de 'mãezinha'." (Folha de São Paulo, 16.01.02.
"Fernando Henrique e Cássia Eller", Luiz Mott)

Em (25), a oração subordinada carrega a informação explícita "a lei


não é cumprida cegamente" (E 1 ) e a implícita "a lei não tem sido, não foi
desde um ponto do passado, cumprida cegamente". Por esta razão, a
estrutura temporal do imperfeito do subjuntivo é, aqui, a de passado
posterior R__F,E, onde a projeção se dá a partir de um momento anterior à F
e o evento - a lei não cumprida cegamente - em um momento simultâneo à F.
A referência do futuro do pretérito, na oração principal, está ancorada nesta
referência passada, é deste ponto que ambas proposições são construídas;
porém, o evento (E 2 ) está em relação de posterioridade à F porque a situação
de Chicão ainda está em discussão, ainda será resolvida. Apesar de Chi cão,
filho da cantora Cássia Eller, ter ficado sob a guarda da ex -companheira da
cantora, a família pode requerer a tutela da criança. Desse modo, a
representação temporal de (25) é a seguinte:
63

a lei ser cumprida

1ª oração: R 1 ______F,E 1

2ª oração: R 2 ______F______E 2

Chicão ser separado de "mãezinha"

Com respeito à última estrutura temporal do futuro do pretérito a ser


analisada, a de futuro posterior F__R__E, segue o exemplo abaixo:

(26) " - Se o PMDB gaúcho disser sim, não teria nenhum problema de
aceitar (ser vice de Lula)." (Zero Hora, 05.6.02. "Dois PMDBs", Klécio Santos)

Em (26), ambos eventos de "dizer sim" (E 1 ) e de "não ter nenhum


problema" (E 2 ) estão indicando idéia de futuro, a primeira sendo expressa
pelo futuro do subjuntivo e a segunda, pelo futuro do pretérito. Em outras
palavras, na hipótese de, no futuro, a resposta do PMDB ser afirmativa, para
o autor da frase, o senador Pedro Simon, não há, no futuro, problema em ele
próprio ser o vice de Lula. Observe a descrição temporal de (26):

PMDB gaúcho dizer sim

1ª oração: F_____R 1 ,E 1

2ª oração: F_____R 2 _____E 2

Simon não ter problema

Como é possível verificar, a R 1 e a R 2 estão em relação de


posterioridade à F, o E 1 está em relação de simultaneidade à R 1 e o E 2 está
64

em relação de posterioridade à R 2 . Ou seja, o evento de "dizer sim" (E 1 )


acontece no futuro e o evento de "não ter problema" (E 2 ) acontece em um
futuro ainda mais futuro, em um futuro posterior.

Atendo-nos às estruturas temporais do futuro do pretérito, podemos


dizer, então, que ele pode indicar: a) eve ntos no passado, quando o E
antecede à F, como em R__E__F; b) eventos no presente, quando o E é
contemporâneo à F, como em R__F,E; e c) eventos no futuro, quando o E é
posterior à F, como em R__F__E, F__R__E e F,R__E.

Conforme a literatura afim mostra, o futuro do pretérito lida com


possibilidade, com eventos que podem ou não ser realizados: "Se a Maria
viesse, o Paulo também viria." O próximo e último tempo verbal que
analisaremos do modo indicativo é o futuro do pretérito composto, cujo
traço definidor é mesmo o da contrafactualidade: "Se a Maria tivesse vindo,
o Paulo também teria vindo" (a Maria não veio e o Paulo também não veio).
Neste caso, não há mais possibilidade de que o evento de "Paulo vir" seja
realizável, pois o momento temporal para eles vir em já passou. Quanto à
sua estrutura temporal, encontramos a de passado posterior R__E__F, como
no exemplo abaixo:

(27) "Comi-o por três motivos. Primeiro, porque sou leão e ele cometeu
o erro de me manter como leão. Se tivesse me transformado em macaco, não
o (o dono do circo) teria comido." (Zero Hora, 25.11.01. "Os trapezistas, os
leões a Síndrome do Circo", Moisés Mendes)

Neste exemplo, o autor levanta uma hipótese - expressa pelo futuro do


pretérito composto na apódose da condicional e pelo mais -que-perfeito do
subjuntivo na prótase - sobre uma ação ocorrida no passado, especula sobre
o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu. Os eventos "ser
transformado em macaco" (E 1 ) e "não ter comido o dono do circo" (E 2 ) não
65

aconteceram no passado, ambos são contrafactuais, irreais. Como tais


eventos estão expressos em uma construção condicional, e a parte da
condição - a prótase - ocorre antes da conseqüência - a apódose - na linha do
tempo, (27) apresenta a seguinte descrição temporal:

1ª oração: E 1 ____R 1 _____F

2ª oração: R 2 __E 2 __F

O evento no mais-que-perfeito (E 1 ) antecede a R 1 e a R 2 , e o evento no


futuro do pretérito composto (E 2 ) sucede R 2 , sendo todos anteriores ao
momento da fala.

2.2.4 PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO DO SUBJUNTIVO

Com respeito ao próximo tempo verbal que analisaremos, o mais-que-


perfeito do subjuntivo, tal qual o mais-que-perfeito do indicativo, apresenta
somente uma descrição temporal, a de passado anterior E__R__F. Segue
abaixo exemplo correspondente:

(28) "O que eles lamentavam, lá na gíria deles, era que se tivesse
perdido uma figura da subversão, da rebeldia, do comportamento
alternativo..." (Folha de São Paulo, 15.01.02. "O próximo ídolo a morrer",
Marlene Felinto)

Consideraremos o evento "lamentar" como E 1 e o evento "ter perdido"


como o E 2 , porque entendemos que a estrutura sintática elementar desta
sentença é: Eles lamentavam que se tivesse perdido uma figura da subversão...
66

Assim sendo, na linha do tempo, primeiro acontece E 2 , neste caso, o


falecimento da cantora Cássia Eller, e depois acontece E 1 , o lamento em
função de sua morte. Vejamos a estrutura de (28) por completo:

1ª oração: E 1 ,R 1 _____F

2ª oração: E 2 _____R 2 _____F

Como podemos verificar, a sentença (28): a) segue a regra de


associação da referência sem violar a Condição de Linearidade, adotando os
termos e a análise de Hornstein; b) junta -se ao subjuntivo polêmico devido
ao fato de o mais-que-perfeito do subjuntivo expressar, aqui, um evento
real, que aconteceu, a morte de Cássia Eller.

O próximo exemplo, ao contrário, integra -se ao subjuntivo irreal por


expressar uma hipótese sobre um evento ocorrido no passado. Vejamos:

(29) " 'A França disputaria a hegemonia em lugares como a África do


Sul e a Índia , que ainda não eram dominadas pela Inglaterra', diz Domício.
Se isso tivesse dado certo, os territórios britânicos teriam ficado restritos ao
Canadá e ao Caribe - e seriam os franceses, e não os ingleses, que teriam
importado da Índia o costume de tomar o chá das cinco." (Revista Sup er
Interessante, ago/01. "E se Napoleão tivesse vencido em Waterloo?", Fábio
Koleski)

Apresentando idêntica estrutura temporal ao do dado anterior, bem


como as mesmas relações de associação e de linearidade, (29) diferencia -se
de (28) por expressar um evento contrafactual, irreal. O trecho acima versa
sobre o que teria acontecido caso Napoleão tivesse vencido a batalha de
67

Waterloo, em 1815, na Bélgica. Ou seja, o evento expresso no mais -que-


perfeito é irreal porque, através do registro histórico, sabemos q ue
aconteceu o contrário de "dar certo", sabemos que Napoleão perdeu a
guerra.

Em resumo, o mais-que-perfeito do subjuntivo parece ocorrer sempre


com a estrutura temporal de passado anterior E__R__F, que pode ser realis
ou irrealis.

Realizamos a análise da descrição temporal dos tempos verbais


relacionados ao imperfeito do subjuntivo nesta seção, com o intuito de que
estes resultados auxiliem-nos nas próximas análises.

2.3 VALORES TEMPORAIS DO IMPERFEITO DO


SUBJUNTIVO

Esta seção é dedicada à análise dos possíveis valores temporais do


imperfeito do subjuntivo, segundo os pressupostos da teoria
reichenbachiana. Na seção subseqüente, realizaremos sua análise mais
detalhadamente.

No capítulo anterior, mencionamos a observação de Zilles segundo a


qual o tempo verbal em questão é um tempo verbal complexo; neste
capítulo, mostraremos que nossos resultados vão ao encontro desta idéia: de
fato, o imperfeito do subjuntivo é um tempo extremamente complexo tanto
pela variedade de estruturas temporais quanto pela tr íade modal que pode
expressar.

Constatamos que o imperfeito do subjuntivo apresenta todas as


descrições dos três tipos de passado - passado anterior (E__R__F), passado
simples (E,R__F) e passado posterior (R__E__F, R__F,E e R__F__E) -, bem
como as descrições de futuro simples F__R,E e de futuro posterior F__R__E.
Passemos às análises de cada uma de suas estruturas.
68

Com respeito à estrutura de passado anterior, E__R__F, segue o


exemplo abaixo 10:

(13) "... se eu soubesse que o transporte aéreo seria tão precário, teria
preferido pegar um ônibus em Fortaleza." (Revista Viagem e Turismo,
dez/00. "Pagou pelo avião, mas chegou de caminhão", Cristina Abritta)

Depois de narrar o episódio sobre os infortúnios ocorridos em sua


viagem, que não faz parte do trecho ac ima, a turista levanta uma hipótese
sobre o que teria feito naquela ocasião. Isto é, a sentença (13) registra
eventos que não ocorreram, que não são reais, por conseguinte, eventos que
caracterizam o subjuntivo irreal.

A estrutura de (13) é a seguinte:

1ª oração: E 1 ___R 1 ___F

2ª oração: R 2 ___F,E 2

3ª oração: E 3 ,R 3 ___F

O evento de saber (E 1 ) é mais anterior ao evento de pegar o ônibus


(E 3 ), uma vez que E 1 constitui a condição desta construção condicional e E 3 ,
a conseqüência. Observe, sob outro ponto de vista, que esta descrição
equivale à do mais-que-perfeito do subjuntivo, como vimos na seção
anterior, e que seu emprego também seria aceitável neste contexto, conforme
o exemplos abaixo mostra:

10A numeração dos dados da seção 2.3 e 2.4 corresponde à numeração realizada durante o procedimento da
coleta.
69

(13') "... se eu tivesse sabido que o transporte aéreo seria tão precário,
teria preferido pegar um ônibus em Fortaleza."

Quanto ao E 2 da sentença (13), entendemos que é contemporâneo à F


por se tratar de uma condição de existência: o que o falante implica é que o
transporte é precário.

A próxima descrição temporal do imperfeito do subjuntivo que


analisaremos é a de passado simples, E,R__F, para a qual seguem os
exemplos abaixo:

(127) "Mais do que qualquer coisa, a Tailândia é mesmo uma enorme


festa de cores, sabores, aromas e sensações. Circular de barco pelos canais,
pechinchar os preços (já incrivelmente baixos), caminhar pelos mercados.
Tudo isso fez com que eu me sentisse descobrindo, de fato, o que eu
acreditava ter conhecido seis anos antes, quando visitei o país pela primeira
vez." (Revista Viagem e Turismo, jan/02. "Comer, beber, viver...", Gabriel
Grossi.)

(15) "Embora eu fosse fluente em francês e não me sentisse intimidado,


os melhores momentos do nosso convívio ocorriam nos bistrôs para onde
íamos tomar vinho..." (Folha de São Paulo, 27.01.02. "Uma revolução
simbólica", Sérgio Miceli)

São dois casos de subjuntivo polêmico, ou melhor, de imperfeito do


subjuntivo com valor modal de factualidade, pois não há dúvidas de que,
em (127), o viajante realmente sentiu sua própria descober ta e que, em (15),
o autor do texto é fluente em francês e, por esse motivo, não se intimida em
uma situação de interação lingüística.

Repare que, no primeiro exemplo, o evento "tudo isso fez" e o evento


70

"sentir-se descobrindo" acontecem simultaneamente no passado, ambos em


relação de anterioridade ao momento da fala. Igualmente, no segundo
exemplo, os eventos "ser fluente", "não se sentir intimidado" e "ocorrer nos
bistrôs" acontecem simultaneamente no passado, embora os tempos verbais
da oração principal sejam diferentes para cada sentença. Em (15), emprega -
se o pretérito imperfeito do indicativo na oração principal e, em (127),
emprega-se o pretérito perfeito do indicativo. Com efeito, as sentenças
acima apresentam a seguinte estrut ura temporal:

1ª oração: E,R____F

2ª oração: E,R____F

Dediquemo-nos, a partir dos dados abaixo, à descrição R__E__F de


passado posterior atribuída ao imperfeito do subjuntivo:

(111) "Todos os passageiros do vôo tiveram que desembarcar para que


a Polícia Federal fizesse uma perícia no avião." (Correio do Povo, 23.7.02.
"Passageira morre durante vôo")

(18) " 'Eu já estava achando esse rosto feio, então rezei muito para que
mudasse, e agora consegui esse presente', disse. O pajé admitiu que a
vaidade contou para que aceitasse fazer a operação." (Folha de São Paulo,
26.4.02. "Pajé faz plástica para rejuvenescer", Sabrina Petry)

Nos casos acima, os eventos E 1 - "o desembarque", "a reza" e "a


aceitação da vaidade" -, presentes naquelas que consideraremos as primeiras
orações, acontecem antes dos eventos E 2 expressos no imperfeito do
subjuntivo. Estando todos os E 1 no pretérito perfeito do indicativo -
"tiveram", "rezei" e "admitiu" -, cuja estrutura básica é E,R__F, E 1 é
71

contemporâneo à R 1 . Vejamos a estrutura das sentenças (111) e (18):

1ª oração: E 1 ,R 1 __________F

2ª oração: R 2 ____E 2 ____F

Como é possível verificar, a R 2 está ligada à R 1 diretamente e à E 1


indiretamente. Além disso, a notação indica que o E 1 ocorre antes do E 2 e
que ambos estão em relação de anterioridad e ao momento da fala. Em outras
palavras, em (111), todos os passageiros desembarcaram (E 1 ) e depois a
Polícia Federal inspecionou o avião (E 2 ) e, em (18), o pajé rezou e depois
conseguiu mudar seu rosto, como também antes admitiu sua vaidade (E 1 ) e
depois aceitou fazer a cirurgia (E 2 ).

Para o caso em que o imperfeito do subjuntivo apresenta a estrutura


temporal R__F__E de passado posterior, segue o exemplo abaixo:

(90) "Ou seja, melhor mesmo era que os BCs (Bancos Centrais) fossem
substituídos por robôs fabricados em Chicago e destituídos de qualquer
poder discricionário." (Veja, 10.4.02. "Regras e mandatos", Gustavo Franco)

Na sentença acima, o economista Gustavo Franco constrói uma ironia


ao expressar seu desejo de transformar o Banco Central em um ro bô. Quanto
ao evento de "ser melhor" (E 1 ), podemos desenvolver duas linhas de
raciocínio: a) considerar que "era" contém, aqui, a estrutura de passado
simples E,R__F atribuída ao imperfeito do indicativo, como vimos
anteriormente; ou b) considerar que sua estrutura, aqui, é a de passado
posterior R__F,E, dado sua possível alternância com o futuro do pretérito,
que apresenta, aqui, tal estrutura de passado posterior. Preferimos esta
72

segunda linha de raciocínio, porque a julgamos mais condizente com os


fatos expressos em (90): a referência no passado explica que desde um ponto
anterior à fala, os Bancos Centrais (já) existem, e o evento no "agora"
enunciativo atualiza que os Bancos Centrais existem ainda "hoje", que não
foram substituídos por robôs.

Quanto ao evento expresso no imperfeito do subjuntivo, "ser


substituído" (E 2 ), a referência parte do passado, de uma informação pré -
existente ao momento da fala na linha do tempo - a existência dos BCs -, e o
evento E 2 alcança o futuro, pois, embora esdrúxula, a e xpectativa é de que
os BCs não existam mais. O E 2 indica uma eventualidade posterior à fala.
Desse modo, a estrutura temporal de (90) é de scrita como:

1ª oração: R 1 ___F,E 1

2ª oração: R 2 ___F____E 2

A próxima descrição do imperfeito do subjuntivo a ser analisada é a


de passado posterior R__F,E, para a qual fornecemos o seguinte exemplo:

(128) "Se o ex-ministro José Serra estivesse bem nas pesquisas, com
presença garantida no segundo turno e pelo menos o PSDB coeso em torno
de seu nome, o efeito Ricardo Sérgio seria menos danoso para sua
candidatura." (Zero Hora, 06.5.02. "Sombras", Rosane de Oliveira)

A sentença (128) expressa contrafactualidade nas duas orações da


condicional: José Serra não está bem nas pesquisas, e o efeito Ricardo Sérgio
foi ou é danoso à sua candidatura. Como podemos verificar, a referência de
"estivesse bem" (E1) parte de uma informação anterior, qual seja, a do
73

resultado das pesquisas, que, ao ser trazida para o presente enunciativo,


torna-se contemporânea à fala F. Dessa maneir a, a estrutura temporal de
"estivesse" é , aqui, R__F,E.

O mesmo raciocínio aplica-se ao evento expresso no futuro do


pretérito, "seria" (E 2 ), ou seja, tem-se a informação passada sobre o dano
causado pelo efeito Ricardo Sérgio, a referência, e a atualizaç ão do mesmo
ao "agora" do locutor, o evento posiciona-se no presente, está associado à
fala F. Então, a descrição temporal do exemplo (128) é a seguinte:

1ª oração: R 1 ___F,E 1

2ª oração: R 2 ___F,E 2

A penúltima estrutura temporal atribuída ao imperfeit o do subjuntivo


é a de futuro simples F__R,E, para a qual fornecemos o seguinte exemplo:

(97) "Talvez os índios achassem até graça se extraterrestres viessem à


Terra como amigos, dessem-nos brinquedos de teletransporte (como demos
espelhos) e acabassem nos tomando o poder e nos expulsando." (Zero Hora,
"Extraterrestres", Roberto Corrêa da Silva, Seção "Palavra do Leitor")

Este é um dos casos em que a apódose, a oração principal da


construção condicional, vem expressa no imperfeito do subjuntivo devido ao
emprego do advérbio "talvez". O leitor do jornal, Roberto da Silva, está
levantando uma hipótese sobre um fato improvável no futuro.

Para melhor explicar (97), adotaremos o procedimento de Reichenbach


quando da análise de um trecho de narrativa histórica, como vimos na
subseção 1.2.1, qual seja, identificar a referência a um ponto na linha do
74

tempo e o tomar como referência para todos os eventos expressos no


imperfeito do subjuntivo, nesta frase. Sendo assim, a referência de "viessem"
(E 2 ), projetada no futuro, na chegada dos ETs à Terra, é válida para os
demais eventos E 1 ("achassem"), E 3 ("dessem") e E 4 ("acabassem"), o que
implica reconhecer que todos, em um intervalo "x" de tempo no futuro,
apresentam associadas as suas R e os seus E, como mostra a desc rição
abaixo:

1ª oração: F_______R 1 ,E 1

2ª oração: F_______R 2 ,E 2

3ª oração: F_______R 3 ,E 3

4ª oração: F_______R 4 ,E 4

A última estrutura temporal atribuída ao imperfeito do subjuntivo é a


de futuro posterior F__R__E, para a qual fornecemos o seguinte exemplo:

(75) "... queria pedir que ele continuasse a ser o belo ser humano que é,
apesar do sofrimento." (Zero Hora, 07.8.02. "Paixão", David Coimbra)

Na sentença acima, o jornalista David Coimbra expressa seu desejo, na


verdade um consolo ou pêsames, para com o preparador físico Paulo Paixão
pelo recente falecimento de seu filho. Os eventos de "querer pedir" (E 1 ) e de
"continuar a ser" (E 2 ) estão distribuídos na linha do tempo a partir da
projeção de futuro imbricada em um pedido, sendo que o at o de fazer o
pedido (E 1 ) antecede o ato de fazer o seu cumprimento (E 2 ). Desse modo, a
descrição temporal de (75) é a seguinte:
75

1ª oração: F_____R 1 ,E 1

2ª oração: F_____R 2 _____E 2

Finda a análise sobre os valores temporais do imperfeito do subjuntivo


da língua portuguesa que encontramos em nossos dados, apresentaremos
algumas considerações.

Em primeiro lugar, as estruturas temporais reichenbachianas


confirmam, conforme a literatura afim já informa, que o imperfeito do
subjuntivo pode expressar idéia de passado, de presente ou de futuro. Em
segundo, as estruturas nos permitem perceber que há, aqui, não três tipos de
marcação temporal, mas sim sete: um de passado anterior, um de passado
simples, três de passado posterior e duas de futuro, como mostra o qu adro
abaixo:

Estruturas Temporais

do Imperfeito do Subjuntivo

E__R__F passado anterior

E,R___F passado simples

R__E__F

R___F,E passado posterior

R__F__E

F__R,E futuro simples

F__R__E futuro posterior


76

Na seção subseqüente, estabeleceremos um cr uzamento entre as


informações referentes às estruturas temporais do imperfeito do subjuntivo
e as informações de valor modal, que o identificam como factual,
contrafactual ou eventual. Conforme dito anteriormente, queremos verificar
as hipóteses de que as estruturas cujo E seja posterior à F não se integrarão
ao conjunto das factuais ou das contrafactuais, pois se o E é futuro, a
proposição nele contida é desconhecida, i.e., não há possibilidade de o
falante avaliá-la como uma asserção ou como uma negação da
pressuposição. Em outras palavras, estes dois grupos apresentariam
restrições quanto às estruturas temporais de futuro simples F__R,E e de
futuro posterior F__R__E, e, ao contrário, o grupo das eventuais não
apresentaria restrições temporais, podendo con ter, além de todas as
estruturas reichenbachianas de passado, as de futuro simples e de futuro
posterior.

2.4 CRUZAMENTO DOS VALORES TEMPORAIS COM OS


VALORES MODAIS

Nesta seção, analisaremos detalhadamente a estrutura temporal dos


exemplos que encontramos, dividindo os dados 11 em três grandes grupos: o
do imperfeito do subjuntivo factual, o do contrafactual e o do eventual.
Optamos por esta divisão porque, ao que nos parece, ela permite que
ampliemos nosso horizonte sobre o funcionamento do modo subjuntivo
como um todo; e, em particular, ela evita que repitamos que o subjuntivo é
simplesmente o modo do irreal, da incerteza, do improvável, etc; afinal, isto
pouco revela sobre ele. É verdade que o subjuntivo indica
contrafactualidade e eventualidade, mas, com certeza, também indica

11Os dados foram extraídos de revistas como Veja, Superinteressante, Viagem e Turismo, Elle e Show Bizz, e
de jornais como Folha de São Paulo, Z ero Hora, Correio do Povo e O Sul, em um procedimento aleatório,
durante os anos de 1999 e de 2002. Foram analisadas todas as frases que continham o imperfeito do
subjuntivo.
77

factualidade.

Analisamos um total de 128 frases contendo o imperfeito do


subjuntivo, sendo 51 eventuais, 45 contrafactuais e 32 factuais. Neste último
grupo, encontramos o mesmo tipo de estrutura temporal, a de passado
simples E,R__F em 29 dos 32 analisados, a de passado posterior R__E__F em
02 casos e a de passado anterior E__R__F em 01 caso. A nosso ver, embora
não tenhamos encontrado, nas factuais, a estrutura de passado posterior
R__F,E, cujo evento está associado à fala - a expressão de presente -, o
resultado está de acordo com as hipót eses levantadas anteriormente.

Como vimos no capítulo anterior, Corral (1996, p. 163) afirma que a


proposição factual tem de expressar, além de um fato real, um fato
previamente conhecido. É provável que esta exigência de ser "previamente
conhecido" bloqueie a ocorrência de estruturas que expressam pr esente.

No grupo das contrafactuais, a estrutura temporal predominante foi a


de passado posterior R__F,E, que foi encontrado em 32 dos 45 dados. J á no
grupo das eventuais, pode-se dizer que não houve uma estrutura temporal
predominante, apenas a estrutura de futuro simples F__R,E foi encontrada
em maior número: 19 dos 51 casos. Ambos resultados parecem ir ao encontro
das hipóteses arroladas anteriormente: a) nas contrafactuais poderíamos
encontrar tanto estruturas cujo evento expressasse passado quanto
estruturas cujo evento expressasse presente; b) nas eventuais poderíamos
encontrar todas as sete estruturas temporais atribuídas, neste trabalho, ao
imperfeito do subjuntivo.

Observando a disposição geral dos números acima referidos, podemos


dizer que, fundamentalmente, na língua escrita, o imperfeito do subjuntivo
factual registra eventos no passado, o contrafactual, eventos no presente e o
eventual, eventos no futuro. Embora o contrafactual e o eventual também
expressem outras estruturas temporais, estas são as principais tendências de
cada um deles.
78

Passemos à análise das estruturas em cada um dos três grupos.

2.4.1 IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO FACTUAL

O imperfeito do subjuntivo com valor de factualidade foi encontrado


apenas em orações concessivas e em orações substantivas. O fato de não o
encontrarmos em nenhuma oração condicional parece refletir a própria
definição de oração condicional e a de valor factual. Parece-nos que não
faria sentido encontrá-lo em uma condicional, pois esta é utilizada para
levantar uma hipótese - contrafactual ou eventual - sobre algum fato, e,
como o valor factual atribui "realidade" à proposição, há uma
incompatibilidade em estes dois conceitos compartilharem de uma mesma
estrutura sintática.

Dos 32 casos de factuais, 17 ocorreram em orações substantivas, 08 em


orações concessivas e 07 em orações finais e temporais (que não
analisaremos aqui), todas com a estrutura de pass ado simples E,R__F.
Interessante lembrar que também esperávamos a ocorrência de passado
posterior R__E__F, R__F,E, mas não encontramos nenhum caso. Talvez a
explicação esteja no fato de o pretérito perfeito ou o imperfeito do indicativo
estar presente em todas as orações principais deste grupo, o que "transmite"
ao evento expresso no imperfeito do subjuntivo o valor de passado, devido à
Seqüência de Tempo (SoT). De qualquer forma, a função primeira das
factuais, no que concerne ao conteúdo temporal, é descr ever eventos que
aconteceram no passado, que são anteriores ao momento da fala e
simultâneos ao momento da referência.

Com respeito à caracterização de um grupo verbal semântico, nas


79

orações concessivas, não foi observado nenhuma tendência, havendo vários


tipos de verbos, como "estar" (dados 16 e 17), "poder" (09), "ser" (15),
"gostar" (03), "trilhar" (23), "tratar" (105) e "apontar" (121). A título de
ilustração, analisaremos o dado 121 abaixo:

(121) "... Argentina e Nigéria foram eliminados na primeira fase da


Copa do Mundo, embora muitos adivinhos os apontassem entre os
favoritos." (Veja, 03.7.02. "Me chame de Uri Geller", Diogo Mainardi)

No enunciado acima, o colunista Diogo Mainardi está fazendo uma


referência irônica aos comentaristas esportivos q ue tomavam a Argentina e a
Nigéria como seleções favoritas na primeira fase da Copa do Mundo. O
evento da oração principal (E 1 ) está no pretérito perfeito, i.e., ambos times
de futebol foram eliminados antes do "agora" enunciativo do falante. O
mesmo ocorre com o evento expresso no imperfeito do subjuntivo (E 2 ), que
também é anterior ao momento da fala, aliás ainda mais anterior que E 1 na
linha do tempo. Antes os "adivinhos" fazem o prognóstico e, depois, o fato
de "serem eliminados" acontece. Este último a caba tornando-se a referência
das duas estruturas, como a notação abaixo mostra:

1ª oração: E 1 ,R 1 _____F

2ª oração: E 2 _____R 2 _____F

Este foi o único caso de imperfeito do subjuntivo encontrado com a


estrutura de passado posterior E__R__F. Observe que o mais-que-perfeito do
subjuntivo, cuja estrutura temporal é esta de passado posterior E__R__F,
80

poderia substitui-lo na sentença (121) acima:

(121') "...Argentina e Nigéria foram eliminados na primeira fase da


Copa do Mundo, embora muitos adivinhos os tivessem apotado entre os
favoritos."

Quanto às orações substantivas, o imperfeito do subjuntivo parece ser


empregado conforme a semântica de certos verbos, como "permitir" e "fazer
com que", que são classificados, por Givón (1993, p. 03), como v erbos de
manipulação - isto é, verbos que codificam, de um lado, a presença de um
sujeito-agente manipulador e, de outro, a presença de um evento -alvo que
foi ou será cumprido. Este autor os classifica em dois níveis: os de
manipulação mais atenuada, do qual fazem parte "permitir" e "fazer com
que", e os de manipulação forte, como "impedir" e "forçar".

Estamos trazendo esta informação para tentar explicar a ligação entre


a semântica dos verbos e a expressão da factualidade, aqui, e da
contrafactualidade na próxima seção. O fato é que encontramos, nas
factuais, 09 dos 17 casos de orações substantivas com verbos de manipulação
atenuada na oração principal e, nas contrafactuais, como veremos adiante,
04 dos 07 casos com verbos de manipulação forte. Este flagra nte sugere que
os verbos de manipulação tendem a distribuir -se em factuais ou
contrafactuais conforme sua oposição semântica, i. e., verbos de
manipulação antônimos não permanecem no mesmo grupo modal, como é o
caso de "permitir" e de "impedir". Vejamos um exemplo de factual com
"permitir":

(110) "A copa nova permitiu que esta iniciativa fosse retomada. Em
fevereiro, a antiga foi desativada por infiltrações e não pudemos mais
81

receber crianças." (Zero Hora, 09.8.02. "Crianças viram mestre -cucas no zôo",
Rodrigo Cavalheiro)

Em (110), o falante discorre sobre a retomada do projeto, com fins


pedagógicos, que leva as crianças em idade escolar para uma visita ao
zoológico. O projeto ficou suspenso por alguns meses porque a copa, onde
os alunos são convidados a preparar os alimentos dos animais, estava com
problemas estruturais (mas não temporais!), tinha infiltração. Os dois
eventos destacados acima "permitiu" (E 1 ) e "fosse retomada" (E 2 )
aconteceram no passado em relação à fala do locutor, sendo E 1 anterior a E 2 ,
pois antes há a permissão e, depois, a retomada, como mostra a descrição
abaixo:

1ª oração: E 1 ,R 1 _________F

2ª oração: R 2 ____E 2 ___F

O ponto de ancoragem da estrutura temporal de (110) é a reforma da


copa, é sob esta referência que se apóiam a R 1 de "permitiu" e a R 2 de "fosse
retomada".

A linha de raciocínio desenvolvida em (110) pode ser seguida para o


exemplo (119) abaixo, que também apresenta um verbo de manipulação
atenuada na oração principal:

(119) "A novidade fez com que ganhasse corpo a idéia de que João
Paulo II, por causa de sua doença, estava preparando o caminho para
abdicar logo depois do Jubileu de 2000." (Veja, 24.4.02. "O crepúsculo de um
Papa", Mario Sabino)
82

O ponto de referência em comum entre a referência R 1 de "fez com


que" e a referência R 2 de "ganhasse" é a "novidade", a nova lei da
Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis , que passa a permitir casos de
renúncia do pontífice. De novo, o evento expresso pelo verbo de
manipulação da oração principal é anterior ao evento expresso pelo
imperfeito do subjuntivo: antes há a "possibilidade de" e, depois, o "ganho".
Sendo assim, (119) apresenta a mesma descrição temporal de (110), ambos
contendo a estrutura de passado posterior R__E__F para o imperfeito do
subjuntivo.

Toda esta seção pode ser sintetizada em uma só idéia: o imperfeito do


subjuntivo com valor de factualidade existe e de modo não aleatório na
língua portuguesa, pois a ele podemos atribuir uma estrutura temporal
específica, que, inclusive, tem correlação com a semântica dos verbos com os
quais se arranja.

A seguir, apresentaremos um quadro resumitivo sobre as relações que


encontramos em nossos dados entre as estruturas temporais do imperfeito
do subjuntivo factual e as construções sintáticas.

Estruturas Temporais do Imperfeito do Subjuntivo Factual

condicionais concessivas substantivas

E__R__F __ 01 __

E,R___F __ 07 15

R__E__F __ __ 02

R___F,E __ __ __

R__F__E __ __ __
83

F___R,E __ __ __

F__R__E __ __ __

TOTAL 25

Como o quadro mostra, 22 dos 25 dados analisados apresentaram a


estrutura de passado simples E,R__F, 02 a de passado posterior R__E__F e 01
de passado anterior E__R__F, sendo que não houve nenhum registro de
imperfeito do subjuntivo factual em orações condicionais.

2.4.2 IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO CONTRAFACTUAL

O imperfeito do subjuntivo com valor de contrafactualidade foi


encontrado em orações condicionais, em substantivas, em concessivas, em
temporais e, sobretudo, em comparativas. Apesar de nos termos proposto a
restringir o corpus somente aos três primeiros tipos de construção sintática,
vemo-nos compelidos a, neste grupo, analisar também as orações
comparativas, visto que constituem o contexto sintático majoritário no qual
ocorrem os dados contrafactuais.

Dos 45 casos de imperfeito do subjuntivo contrafactual, 19 ocorreram


em orações comparativas, 17 em condicionais, 07 em substantivas, 01 em
concessiva e 01 em temporal (que não analisaremos). A maioria (32) destes
casos ocorreu com a estrutura temporal de passado posterior R__F,E, onde o
evento, embora visto de uma perspectiva do passado, é tomado como
simultâneo ao momento da fala.

Diante deste resultado, cabe uma importante observação, tendo em


vista as previsões feitas anteriormente com base nos pressupostos de Givón
(1993), de Neves & Souza (1999), de Neves (2000) e de Tapazdi & Salvi
(1998). Estes lingüistas, como vimos, afirmam que a condição essencial da
contrafactualidade é o traço [+ passado] ou [+ passado, + perfectividade]. A
84

estrutura R__F,E é de passado, com efeito; mas, como na teoria


reichenbachiana há cinco estruturas diferentes que descrevem o passado,
temos instrumentos suficientes para reconhecer exatamente qual é o tipo
predominante das contrafactuais. Verificar qual é o tipo predominante
significa reconhecer, de um lado, uma das maneiras nas quais o imperfeito
do subjuntivo vem sendo utilizado pelos falantes brasileiros, e, de outro,
sugere que é preciso compreender melhor as relações entre estrutura
temporal e interpretação modal dos tempos verbais.

O critério definidor do imperfeito do subjuntivo contrafactual acaba


sendo a estrutura de passado posterior R__F,E, e não o traço [+ passado] ou
[+ passado, + perfectividade], porque o grupo das contrafactuais fica
caracterizado e, ao mesmo tempo, distingüido do grupo das fact uais e das
eventuais. Outro argumento que corrobora a contra -indicar a perfectividade
como traço determinante é o fato de o mais-que-perfeito do subjuntivo, que
apresenta perfectividade positiva, poder expressar tanto eventos realis
quanto irrealis, como vimos anteriormente quando da sua análise. Portanto,
nossos dados revelam e confirmam que o traço aspectual [+ perfectivo] não é
critério definidor de contrafactualidade.

Passemos às análises do imperfeito do subjuntivo em orações


comparativas. Dos 19 casos encontrados, 10 ocorreram sem SoT, tendo na
oração principal o presente do indicativo, como em (116) abaixo:

(116) "Quantos dias de férias você tira por ano? Trinta? Vinte? Com
certeza, bem menos do que você gostaria, não é? E, não bastasse o custo da
viagem, que não costuma lá ser muito amigável, outros fatores podem
azedar sua temporada. O clima é o principal deles. O grande fantasma do
turista. (Viagem e Turismo, jan/02. "Siga o sol")

O evento E 1 da oração principal apresenta o modal "poder" no


85

presente do indicativo com a estrutura de presente simples F,R,E, a mesma


que descreve o presente gnômico ou omnitemporal, como vimos na seção
2.2.1. Já evento E 2 da oração subordinada que contém o imperfeito do
subjuntivo apresenta a estrutura de passado poster ior R__F,E, pois a
referência de "não bastar o custo da viagem" é a própria pressuposição
negada na proposição contrafactual, qual seja, "o custo da viagem já é o
bastante". A referência, neste caso, depende de uma experiência passada,
depende de se ter conhecimento ou não sobre o orçamento de uma viagem.
Os leitores que têm este conhecimento de mundo poderão, certamente, fazer
outra leitura sobre o enunciado (116) acima.

Salientamos que esta estrutura "(como se) não bastasse", "(como se)
não fosse suficiente" foi encontrada em 09 das 19 ocorrências do imperfeito
do subjuntivo contrafactual em orações comparativas. Geralmente, tal
estrutura é utilizada para expressar reclamações, todavia, ainda que mais
raramente, pode ser empregada em função oposta, como n o seguinte
exemplo:

(30) "Como se não bastassem os encontros com tartarugas gigantes,


ainda mergulhei entre cardumes de arrais e tubarões-martelo." (Viagem e
Turismo, jul/00)

Em (30), o leitor escreveu para a revista a fim de dar seu depoimento


positivo sobre viagem realizada a Galápagos, i.e., narra um episódio
ocorrido no passado, por isso, o evento "mergulhar" vem no pretérito
perfeito do indicativo, com a referência R 2 e o evento E 2 antecedendo o
momento da fala F. Como os encontros com as tartarugas também ocorreram
durante esta viagem passada, o evento de "não bastar" apresenta sua
referência R 1 em relação de simultaneidade com o E 2 . Entretanto, a
proposição da oração subordinada terá sempre uma relação direta - não
86

temporal, mas sim semântica - com a pressuposição contradita, que, em (30),


é "bastavam os encontros com as tartarugas gigantes". Desse modo, a
descrição temporal de tal sentença é a seguinte:

1ª oração: E 1 ,R 1 ______F

2ª oração: E 2 ,R 2 ______F

Como pudemos verificar, nossos dados mostr aram que o imperfeito do


subjuntivo com valor contrafactual em orações comparativas pode ter a
estrutura de passado simples E,R__F ou a de passado posterior R__F,E. Esta
última também foi atribuída a 15 das 17 ocorrências em orações
condicionais, como ilustra (107) abaixo:

(107) "Não estivéssemos numa crise de liquidez, a operação de busca


de dólar pela empresa endividada (a que os analistas atribuíram a culpa da
alta) teria sido corriqueira." (Zero Hora, "Hipopótamo na banheira", Lurdete
Ertel, 23.8.02)

No enunciado acima, a colunista de economia, Lurdete Ertel, faz um


comentário negativo sobre uma empresa endividada que buscou negociar
em dólares, ou seja, o fato comentado aconteceu no passado em relação ao
momento da fala. No passado também principiou a "crise de liquidez", uma
vez que o fenômeno não ocorre instantaneamente, mas sim
progressivamente desde um ponto no passado até o momento do ato de fala.
Desse modo, o evento de a operação ter sido corriqueira (E 2 ) antecede o
evento de estarmos em crise (E 1 ). Como a referência, a busca de dólares pela
empresa, é o primeiro ponto situado na linha do tempo, seguido pelo evento
87

E 2 de "ser corriqueira" e este seguido pelo E 1 de "estarmos em crise", (107)


apresenta a seguinte descrição temporal:

1ª oração: R 1 ________F,E 1

2ª oração: R 2 ___E 2 ___F

O exemplo acima representa um dos dois casos em que o futuro do


pretérito composto, na apódose, combina com o imperfeito do subjuntivo na
prótase. Encontramos outros dois exemplos com o pretérito perfeito na
apódose e nenhum com o pretérito imperfeito do indicativo ou suas
perífrases. De fato, nas condicionais contrafactuais, a maioria dos casos se
deu com o futuro do pretérito simples na apódose, sugerindo que, na língua
escrita, há uma obediência à norma culta, que prescreve o uso do imperfeito
do subjuntivo na prótase e do futuro do pretérito na apódose.

Com respeito às orações substantivas, o imperfeito do subjuntivo


contrafactual ocorreu em 07 casos, todos com a estrutura temporal de
passado simples E,R__F. Fizeram parte deste grupo, na oração principal,
verbos de crença, como "pensar" e "achar", e verbos de manipulação, como
"impedir". A propósito, "impedir" é um verbo de manipulação forte e faz par
opositivo com "permitir" e "fazer com que", que são de manipulaç ão
atenuada e fazem parte das factuais, como visto na seção anterior.

O significado de "impedir" - não deixar algo acontecer -, em si mesmo,


carrega a noção de contrafactualidade, mas sozinho não formaria uma
proposição. Obviamente, é por esta razão que exitem as orações principais e
as orações subordinadas, para se complementarem e fazerem sentido. Como
se sabe, em geral, o imperfeito do subjuntivo está na oração subordinada.

Abaixo segue um exemplo de imperfeito do subjuntivo contrafactual


determinado pelo uso de "impedir" na oração principal:
88

(112) "Barricadas e arame farpado, porém, impediram que eles


avançassem mais para dentro do complexo parlamentar." (Zero Hora,
07.8.02. "Violentos protestos sacodem Indonésia")

Em (112), o evento "impediram" (E 1 ), no pretérito perfeito, e o evento


"avançassem" (E 2 ), no imperfeito do subjuntivo, representam dois pontos de
intersecção passados na linha do tempo, sendo E 1 anterior a E 2 , pois antes há
o empedimento provocado por um agente e, depois, o não avanço que seria
provocado por outro agente, segundo os termos de Givón (1993, p. 03) sobre
os verbos de manipulação. Desse modo, a sentença acima apresenta a
seguinte descrição temporal:

1ª oração: E 1 ,R 1 ________F

2ª oração: R 2 ___E 2 ___F

Quanto às orações concessivas, encontramos apenas um caso com


significado contrafactual, qual seja:

(62) "Essas duas exemplificações, embora sucintas, comprovam que


não se pode esperar que o colegiado possa ser convencido a dar,
majoritariamente, interpretações evolutivas do s textos legais referidos. E,
mesmo que isso fosse factível, quem garante que essa interpretação seja
duradoura, mormente ante a grande mutabilidade da composição do pleno
de Cade, cujo mandato é de meros dois anos?" (Folha de São Paulo, 16.01.02.
"Como fica a defesa da concorrência no Brasil?")
89

Em (62), a pressuposição contradita é: "isso não é factível", que pomos


no presente do indicativo a fim de preservar a concordância temporal entre
as orações relacionadas; entretanto, não podemos reconhecer a SoT e ntre o
evento expresso pelo imperfeito e o expresso pelo presente, afinal, suas
referências não se associam. A referência temporal de "fosse" (E 2 ) está na
frase anterior, onde está expresso o evento passado "não deu interpretações
evolutivas" (E 1 ). O evento de E 2 está no momento presente à fala, afinal, o
autor está negando, no presente enunciativo, o E 1 . Desse modo, a estrutura
temporal do imperfeito do subjuntivo contrafactual, aqui, é a de passado
posterior R__F,E.

Com o intuito de colaborar com a leitura dos resultados, abaixo


apresentamos um quadro resumitivo sobre as relações que encontramos em
nossos dados entre as estruturas temporais do imperfeito do subjuntivo
contrafactual e as diferentes construções sintáticas que estudamos.

Estruturas Temporais do Imperfeito do Subjuntivo Contrafactual

comparativas condicionais substantivas concessivas

E__R__F __ 01 __ __

E,R___F 03 __ 03 __

R__E__F __ 01 02 __

R___F,E 16 15 02 01

R__F__E __ __ __ __

F_____R,E __ __ __ __

F__R__E __ __ __ __

Subtotal 19 17 07 01

TOTAL 44
90

Como o quadro sintetiza, a estrutura temporal de passado posterior


R__F,E ocorreu na maioria dos casos, em 34 dos 44 casos analisados,
revelando que, na maioria dos contextos sintáticos, a característica principal
do imperfeito do subjuntivo contrafactual é a relação de simultaneidade
entre o evento E e a fala F, à exceção das orações substantivas, onde o E
antecedeu à F em 05 dos 07 casos.

2.4.3 IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO EVENTUAL

O imperfeito do subjuntivo com valor eventual foi encontrado em 51


dos 128 dados selecionados: 19 em orações condicionais, 14 em orações
substantivas, 09 em adjetivas restritivas, 03 em concessivas e 15 em
temporais e finais (que não serão analisadas neste trabalho). No total,
analisamos 45 ocorrências de eventuais.

Anteriormente, havíamos previsto que o imperfeito do subjuntivo


eventual não teria restrições quanto às estruturas temporais
reichenbachianas, tendo em vista a viabilidade de se fazer hipótese sobre
eventos passados, presentes e futuros. Realmente, não encontramos uma
estrutura predominante neste grupo; entretanto, podemos dizer que
predominaram estruturas cujos eventos estão em relação de posterioridade à
fala, i. e., predominaram eventos que indicam futuridade. São elas as
estruturas de futuro simples F__R,E, que ocorreram em 19 casos, de futuro
posterior, que ocorreram em 03 casos, e de passado posterior R__F__E, que
ocorreram em 02 casos; juntos, estes somam 24 dos 45 dados analisados. Os
outros 16 dados ocorreram com o evento antecede ndo a fala, indicando
passado, e 05, com o evento em associação à fala, indicando presente. Em
outras palavras, nossos dados revelam que a tendência principal do
91

imperfeito do subjuntivo eventual é expressar eventos que acontecerão (ou


não) no futuro.

O quadro abaixo apresenta o número de ocorrências das estruturas


temporais identificadas ao imperfeito do subjuntivo com valor eventual:

Estruturas Temporais do Imperfeito do Subjuntivo Eventual

condicionais concessivas substantivas restritivas Subtotal

E__R__F 0

E,R__F 03 02 05 10

R__E__F 05 01 06

R__F,E 04 01 05

R__F__E 02 02

F__R,E 12 03 01 03 19

F__R__E 03 03

Subtotal 19 03 14 09

TOTAL 45

Note que, depois do grupo das estruturas de futuro simples e de


futuro posterior, o maior grupo é o das estruturas de passado simples
E,R__F, com 10 ocorrências, e de passado posterior R__E__F, com 06
ocorrências; juntas somam 16, ou seja, a segunda função do imperfeito do
92

subjuntivo eventual é indicar eventos que teriam acontecido no pa ssado. Por


último, vem a função de indicar eventos presentes: apenas 05 dos 45 casos
analisados apresentaram a estrutura de passado posterior R__F,E.

Se compararmos estes resultados com os obtidos nas factuais e nas


contrafactuais, podemos perceber uma c aracterística essencial na
distribuição dos usos do imperfeito do subjuntivo, que é a de estarem em
distribuição quase que complementar: o imperfeito do subjuntivo factual é
fundamentalmente utilizado para expressar presente, o contrafactual,
passado, e o eventual, futuro. Desse modo, sob nosso ponto de vista, a
relação entre cada uma destas três modalidades e as estruturas temporais
reichenbachianas deve ser resultado dos princípios fundamentais que
governam o funcionamento do imperfeito do subjuntivo na l íngua
portuguesa. Contentando-nos em apontar estas generalizações, nesta
dissertação, não procuraremos entender estes princípios.

Passemos às análises das eventuais no grupo das orações


condicionais, onde a estrutura F__R,E é predominante, aparecendo em 12
dos 19 casos, seguida da estrutura de passado posterior R__F,E (04) e da de
passado simples E,R__F (03). A seguir, analisaremos exemplos
representativos destas três estruturas temporais. Comecemos pela de futuro
simples F__R,E, com o exemplo abaixo:

(44) "Seria lindo se todos os candidatos a presidente da República


assinassem uma declaração conjunta informando que não aceitariam um só
ceitil da banca." (Folha de São Paulo, 16.01.02. "A receita precisa ouvir os
vândalos", Elio Gaspari)

Na condicional acima, o colunista Elio Gaspari levanta uma hipótese


sobre uma possível (ou improvável) atitude que os candidatos a presidência
da República poderiam tomar, qual seja, a de não aceitar nenhuma quantia
93

em dinheiro, por mais insignificante que fosse, proveniente dos banqueiros.


Na linha do tempo, o evento "seria lindo" (E 1 ) aconteceria depois do evento
"assinassem" (E 2 ), dado que aquele é conseqüência deste, que somente "seria
lindo" depois que "assinassem", antes não. A referência, que também está no
futuro, é a assinatura da declaração, o que a faz contemporânea ao E 2 e
anterior ao E 1 , como mostra a descrição abaixo:

1ª oração: F_____R 1 _____E 1

2ª oração: F_____R 2 ,E 2

A próxima estrutura a ser apresentada é a de passado posterior


R__F,E, cujo exemplo segue abaixo:

(84) "Se o Juscelino estivesse aqui, iria adorar ver aquelas luzes, ver
como Brasília está linda à noite." (D.O. Leitura, jun/02. "Causos de
Juscelino", Vera Brant)

A referência de (84) está na ausência, na morte do ex -presidente


Jucelino Kubitschek, um fato que aconteceu no passado. O evento de
"estivesse" (E 1 ) está no "agora" enunciativo, tanto que o advérbio "aqui" está
associado ao E 1 e não à R 1 . Igualmente, a perífrase verbal de futuro do
pretérito "iria adorar" apresenta sua referência R 2 no passado, ligada à R 1 , e
seu E 2 no presente. Na verdade, a ex-amiga de Juscelino levanta uma
hipótese na qual condição e conseqüência estão integradas ao seu momento
de fala, por isso, aqui não caberia o preciosismo de afirmar que E 1
aconteceria antes de E 2 ; afinal, na perspectiva do falante, eles são
concomitantes. Portanto, a descrição temporal de (84) é a seguinte:
94

aqui

1ª oração: R 1 _______F,E 1

2ª oração: R 2 _______F,E 2

Com respeito à alternância do futuro do pretérito, que não é tema de


nosso trabalho, (84) representa um dos dois casos encontrados de perífrase
verbal na apódose. Além destes, foram encontrados dois casos de imperfeito
do subjuntivo antecedido pelo advérbio "talvez" e um caso de i mperfeito do
indicativo.

A terceira e última estrutura temporal atribuída ao imperfeito do


subjuntivo eventual nas orações condicionais é a de passado simples E,R__F,
cujo exemplo segue abaixo:

(79) "Eles combinaram um código: quando o diretor da prova lh e desse


um tapinha nas costas, Pelé agitaria a bandeira." (Veja, 10.4.02. "Por que Pelé
não deu a bandeirada", seção Contexto)

Em (79), o locutor está tentanto explicar porque o Pelé não deu a


bandeirada na hora certa, quando o primeiro colocado de uma co rrida de F-
1 cruzou a linha de chegada. Ele está reportanto aquilo que eventualmente
deveria ter acontecido. Veja que tanto a referência quanto os eventos "dar
um tapinha" (E 1 ) e "agitar a bandeira" (E 2 ) antecedem o momento da fala,
porém, E 1 antecede E 2 . Diferentemente da perspectiva do exemplo anterior,
(84), neste, (79), o falante segmenta os dois eventos, não os toma em um só
ponto na linha do tempo, mas sim efetua duas intersecções no plano
temporal. Em (79), ao contrário de (84), E 1 e E 2 são informações importantes
95

para esclarecer a história. Desse modo, a descrição temporal de (79) é a


seguinte:

1ª oração: E 1 ,R 1 _______F

2ª oração: R 2 ___E 2 __F

Quanto à semântica dos verbos do grupo das condicionais, não


encontramos nenhuma regularidade, podend o-se, pois, empregar qualquer
tipo de verbo, tanto na apódose quanto na prótase. Igual resultado
verificamos nas condicionais contrafactuais, o que sugere que a semântica
verbal não define o emprego do imperfeito do subjuntivo nas orações
condicionais. Ao contrário, nas orações substantivas, aparece uma certa
ordem restritiva, conforme vimos anteriormente nas contrafactuais e
veremos a seguir nas eventuais.

O imperfeito do subjuntivo eventual em orações substantivas ocorreu


com 06 verbos de volição, 05 verbos de manipulação fraca e 03 de expressões
impessoais na oração principal. Lembre-se que os contrafactuais ocorreram
com verbos de manipulação forte e de crença, e os factuais, com verbos de
manipulação atenuada e de existência. Em outras palavras, podemos dizer
que: a) os verbos de manipulação relacionam -se com os três valores modais
do imperfeito do subjuntivo; e b) os verbos de volição parecem ser uma
tendência do grupo dos eventuais.

Quanto à estrutura temporal, não se pode dizer que há uma


majoritária; afinal, em um total de 14, 07 ocorreram com o evento
antecedendo a fala (05 R__E__F e 02 E,R__F), 06 ocorreram com o evento
sucedendo a fala (03 F__R__E, 02 R__F__E e 01 F__R,E) e 01 ocorreu com o
evento associado à fala (R__F,E).

Considerando esta aparente falta de regularidade, apresentaremos


96

somente uma das seis estruturas temporais identificadas para o imperfeito


do subjuntivo em orações substantivas, qual seja, a de passado posterior
R__E__F, cujo exemplo segue abaixo:

(89) "Ciro Gomes pediu a seu guru intelectual, Roberto Mangabeira


Unger, que não rebatesse as críticas do presidente do PPS..." (Veja, 24.4.02.
"Deixa comigo", seção Radar, por Felipe Patury)

Estamos diante de um dos usos mais reconhecidos pelos gramáticos, o


do imperfeito do subjuntivo expressando um pedido, um desejo ou uma
vontade, tendo um verbo de manipulação fraca na oração principal. Em (89),
"pediu" (E 1 ) antecede "rebatesse" (E 2 ) por uma questão cronológica: primeiro
se faz o pedido, depois vem ou não a sua realização. O ponto de ancoragem
de E 1 e de E 2 é o pedido, que está no passado em relação ao "agora"
enunciativo. O evento de "pedir" está em relação de associação com a
referência, enquanto o evento de "rebater" está em relação de
posterioridade, como mostra a descrição abaixo:

1ª oração: E 1 ,R 1 _________F

2ª oração: R 2 ____E 2 ___F

O próximo contexto sintático a ser analisado, o das orações


concessivas, apresentou somente 03 ocorrências de imperfeito do subjuntivo
com valor de eventualidade, todas com a estrutura de futuro simples
F__R,E, como ilustra o seguinte exemplo:

(47) "Se eu fosse seqüestrado, (126) e mesmo que tivéssemos todo esse
97

dinheiro, não aconselharia a família a pagar tanto pela minha vida." (Folha
de São Paulo, 30.01.02. "Muito além da ficção", Clóv is Rossi)

Na concessiva (126), a referência de "tivéssemos" (E 2 ) e de


"aconselharia" (E 3 ) está no futuro, junto à possibilidade de "ser seqüestrado"
(E 1 ), porém enquanto E 1 e E 2 estão em relação de associação, E 3 está em
relação de posterioridade a ambos e à referência, pois retrata a conseqüência
do ato de "ser seqüestrado", o não pagamento do resgate. Sendo assim, (126)
apresenta a seguinte descrição temporal:

1ª oração: F_____R 1 ,E 1

2ª oração: F_____R 2 ,E 2

3ª oração: F_____R 3 ______E 3

Embora nossa proposta inicial tenha sido a análise do valor temporal e


do valor modal do imperfeito do subjuntivo em orações condicionais,
substantivas e concessivas, neste grupo, vimo -nos impelidos a estudá-lo
também nas orações adjetivas restritivas, pois todos os casos de imperfeito
em restritivas ocorreram com valor eventual e julgamos que esta é uma
informação que pode vir a ser importante para a compreensão de nosso
tempo verbal.

Houve 09 casos de imperfeito nas restritivas, 05 ocorreram como


E,R__F, 03 como F__R,E e 01 como R__E__F. Dito de outra maneira, houve
06 casos que expressaram tempo passado e 03 que expressaram futuro.
Trazemos como exemplo uma estrutura de passado simples:
98

(78) "À medida que ganharam confiança, passaram a desafiar quem


passasse por seu caminho, conquistando fama de arrogantes e agressivas."
(Veja, 17.7.02. "Williams x Williams", Bel Moherdaui)

O enunciado acima é um trecho biográfico sobre a carreira profissional


de duas irmãs tenistas treinadas desde a infância pelo pai, que ti nha o
objetivo de enriquecer com o talento das duas meninas, segundo a
reportagem veiculada pela revista. Assim, (78) descreve seu comportamento
e narra suas atitudes passadas. Os eventos destacados aconteceram
simultaneamente em uma relação imediata de ca usa e reação, por isso,
"passaram a desafiar" (E 1 ) e "passasse" (E 2 ) estão ligados no passado, junto à
referência de "ser confiantes". Observe sua respectiva descrição te mporal:

1ª oração: E 1 ,R 1 _____F

2ª oração: E 2 ,R 2 _____F

Sob o olhar do falante, os dois eventos aconteceram simultanemente


no passado, como em um processo de interação entre jogadores, neste caso,
não muito positivo, se considerarmos as atitudes "arrogante e agressivas".

Retomando as informações desta seção, podemos concluir que:

 o imperfeito do subjuntivo eventual tende a se apresentar com uma


estrutura temporal cujo evento é posterior à fala, indicando idéia
de futuro;

 a estrutura temporal predominante nas orações condicionais é a de


futuro simples F__R,E;

 a exemplo das contrafactuais, a semântica verbal parece ter


influência somente sobre o funcionamento do imperfeito do
99

subjuntivo nas orações substantivas.


CONCLUSÃO

Sob uma perspectiva ampla, esperamos que nosso trabalho tenha


sustentado a idéia de que o imperfeito do subjunt ivo não expressa somente
irrealidade, contrafactual ou eventual, mas também realidade, a factualidade
da proposição. Especificamente, esperamos ter mostrado que, para cada um
destes três contextos, há certos tipos de estrutura temporal correspondentes,
típicas pelo menos quando consideramos as orações condicionais,
substantivas e concessivas.

No total, identificamos 07 das 13 estruturas reichenbachianas ao


imperfeito do subjuntivo da língua portuguesa, sendo elas as estruturas de:
passado anterior (E__R__F), passado simples (E,R__F), passado posterior
(R__E__F, R__F,E e R__F__E), futuro simples (F__R,E) e futuro posterior
(F__R__E). Este resultado revela a complexidade semântica deste tempo
verbal; porém, talvez pudéssemos, ainda assim, dizer que estamos lid ando,
essencialmente, com um tempo verbal que é simples e posterior, ou seja, cuja
referência é simultânea ou anterior ao evento, visto que, nos contextos em
que se caracteriza anterior, na verdade, assume o valor do mais -que-perfeito
do subjuntivo, como vimos na seção 2.3. Cabe a um trabalho futuro verificar
quais critérios semânticos ou sintáticos permitem tal alternância; se ser
passado posterior representa uma característica do próprio imperfeito do
subjuntivo, ou se há outra regra que evita o uso do ma is-que-perfeito em tais
contextos.
101

De qualquer forma, podemos afirmar que: a) o imperfeito do


subjuntivo factual caracterizou-se por apresentar predomínio absoluto de
marcação de passado, i. e., de estruturas cujo evento e referência são
anteriores à fala - a de passado simples E,R__F ocorreu em 22 dos 25 casos
analisados, a de passado posterior R__E__F em 02, e a de passado anterior
E__R__F em 01 caso; b) o imperfeito do subjuntivo contrafactual
caracterizou-se por apresentar, em 32 dos 44 casos analisados, a estrutura de
passado posterior R__F,E, cujo evento é contemporâneo à fala, revelando ser
predominante a expressão de presente; c) o imperfeito do subjuntivo
eventual caracterizou-se por apresentar, em 24 dos 45 casos analisados,
estruturas cujo evento é posterior à fala, mostrando haver uma maior
concentração na marcação de eventos futuros do que eventos presentes ou
passados.

Os resultados confirmaram e superaram nossas expectativas iniciais,


pois, para cada um dos três grupos modais, pode -se atribuir uma estrutura
temporal predominante. Nossa hipótese inicial era que todas as estruturas
cujo evento é anterior ou simultâneo à fala ocorressem nas factuais e nas
contrafactuais, mas os dados revelaram haver uma especificação da
estrutura temporal do imperfeito do subjuntivo para cada um dos dois
grupos. O mesmo aconteceu com o grupo das eventuais. Esperávamos a
ocorrência de todas as sete estruturas temporais atribuídas ao imperfeito do
subjuntivo - encontramos seis -, no entanto, houve predomínio daquelas que
expressam idéia de futuro. Portanto, os resultados mostram que há uma
regularidade entre a ocorrência das estruturas temporais e o conteúdo
modal do imperfeito do subjuntivo.

Como comentado no capítulo referente à análise, as estruturas


sintáticas são sensíveis ao conteúdo semântico do imperfeito, tendo em
vista, por exemplo, a ausência de orações condicionais nas factuais, que são
realis, ou o escasso número de orações concessivas nas contrafactuais e nas
eventuais, que são irrealis. Igualmente, é importante lembrar que a
102

semântica verbal, especificamente os verbos de manipulação, demonstrou


ser um componente seletivo para o imperfeito factual ou o contrafactual.

Enfim, esperamos que nosso trabalho tenha cumprido seu papel, que
tenha contribuído para a discussão e a compreensão do imperfeito do
subjuntivo na língua portuguesa. Naturalmente, não tomamos o tema por
encerrado, ao contrário, enfatizamos a necessidade de prosseguir
investigando-o.
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Destsaco, de início, dois pressupostos que, integrados a projeto pessoal de
reflexão sobre questões que se consideram abertas nos estudos
narratológicos, constam em trabalhos de recen te publicação (PINO, 1998,
2000, 2001).

Um desses pressupostos é de que todo texto se estrutura


semioticamente em três níveis espaciais, pois é possível, em narrativas,
identificarem-se o nível textual, configurado no e pelo suporte,
incorporando-o, portanto, e os níveis d i s c u r s i v o e d i e g é t i c o .

2.1.1 SEÇÃO TERNÁRIA (Título 3)

Trxtz sxbsrqürntr dsz rrsprstz wzs wsprctzs dw trmpzrwlsdwdr


nwrrwtsvw, bxscw-sr qxrstsznwr z pwprl nxlz qxr sxbsrqürntr dsz bxscw -sr
qxrstsznwr z pwprl nxlz bxscw-sr qxrstsznwr z pwprl nxlz bxscw-sr
qxrstsznwr z pwprl nxlz bxscw-sr qxrstsznwr z pwprl nxlz bxscw-sr
qxrstsznwr z pwprl nxlz.

2.1.1.1 Seção quaternária (Título 4)

Trxtz sxbsrqürntr dsz rrsprstz wzs wsprctzs dw trmpzrwlsdwdr


nwrrwtsvw, bxscw-sr qxrstsznwr z pwprl nxlz qxr sxbsrqürntr dsz rrsprst.

2.1.1.1.1 Seção quinária (Título 5)

Trxtz sxbsrqürntr dsz rrsprstz wzs wsprctzs dw trmpzrwlsdwdr


nwrrwtsvw, bxscw-sr qxrstsznwr z pwprl nxlz.

Exemplo de citação sangrada (com mais de três linhas)

Sumariamente, recorde-se que desde a física clássica o mundo é


4 cm descrito a partir das categorias do espaço e do tempo (substituído,
na física mais recente, desde Einstein (1994), pelo espaço -tempo).
Assim, cabia à estática o estudo dos corpos como entidades dotadas
de extensão, ou seja, sob o aspecto de sua constituição espacial; à
dinâmica correspondia o estudo do movimento dos corpos (SILVA,
108

2001, p. 34).

Conforme a NBR 10520 (jul. 2001):


Fonte: 10 pontos
Entrelinha simples

Segundo exemplo de citação sangrada, compatível com a Norma:

Sumariamente, recorde-se que desde a física clássica o mundo é descrito a


partir das categorias do espaço e do tempo (substituído, na física mais
recente, desde Einstein (1994), pelo espaço -tempo). Assim, cabia à
estática o estudo dos corpos como entidades dotadas de extensão, ou seja,
sob o aspecto de sua constituição espacia l; à dinâmica correspondia o
estudo do movimento dos corpos (SILVA, 2001, p. 34).

Conforme a NBR 10520 (jul. 2001):


Autores referidos no texto: s o m e n t e i n i c i a i s m a i ú s c u l a s .
Autores referidos entre parênteses: i n t e g r a l m e n t e e m m a i ú s c u l a s

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