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Índice:

1 - Introdução

1.1 - Resumo!

1.2 - Objeto e Tema!


1.3 - Objetivo, Método e Estrutura !

2 - Elementos gráficos

2.1 - Cronologia!

2.2 - Desenhos!

3 - Desenvolvimento

3.1 - Estrutura Urbana!

3.2 - Planta Centralizada!


3.3 - Estrutura e Materialidade!
3.4 - Pintura Mural!

3.5 - O Terramoto de 1755!

4 - Conclusão

4.1 - Considerações Finais!

4.2 - Referências Bibliográficas!


4.3 - Referências de Imagens!
4.4 - Anexos!
1.1 - Resumo

" O ensaio seguinte é o resultado de um estudo crítico sobre a Capela de São João Batista
da Carrasqueira. O estudo centra-se em temas de arquitetura, analisados sobretudo através do

desenho. Para compreender o melhor possível o edifício em estudo foi necessário entender o
melhor possível o contexto em que se insere (3.1 - Estrutura urbana / Espaço público). O desenho
da capela é erudito, de planta central, e a geometria complexa, algo que não aparenta pelo

exterior. O estudo da planta e das suas proporções seria inevitável nesta obra de arquitetura (3.2
- Planta Centralizada). Como estudantes de arquitetura e não teóricos seria impossível continuar
o estudo das plantas, das suas relações e medidas sem considerar imediatamente o material que

compõe o edifício, não apenas na sua estrutura mas também nos detalhes (3.3 - Estrutura e
Materialidade). O interior da capela de São João Batista estabelece uma relação de opostos com

o seu volume exterior simples e puro. A geometria complexa das abobadas e cúpula está
totalmente revestida de pinturas murais, também abordadas neste ensaio pelo seu papel
arquitectónico no edifício como um todo (3.4 - Pintura Mural).!

" Por fim, após se levantar questões e sucessivas suposições nos quatro capítulos acima
referidos lança-se uma ultima teoria. Esta teoria tem tanto de ousado como de bem
argumentado, e levanta a hipótese de uma grande reconstrução levada a cabo após a destruição

de que a capela terá (possivelmente) sido alvo durante um sismo que abalou fortemente Vila
Viçosa (3.5 - O terramoto de 1755).!
" !
1.2 - Objeto e Tema

" O objeto em estudo no presente ensaio é a Capela de S. João Baptista da Carrasqueira. A


capela data da década de setenta do século XVI e situa-se na entrada poente de Vila Viçosa. Esta

entrada seria de grande importância pois nela culmina o caminho vindo de Évora.!
" A sua situação estratégica no terreno anuncia ao longe a existência de um local
importante, merecedor de um objeto simbólico e marcante na paisagem, onde o programa

religioso passa a ser quase secundário ou um pretexto por detrás de uma intenção arquitetónica
de afirmação do lugar.!
" A ermida é construída em planta de cruz grega perceptível tanto no espaço interior como

no exterior. O volume exterior da ermida, caiado de branco esconde por completo a


complexidade formal e geométrica do interior. O alçado principal virado a sul é elementar e

apresenta os únicos três vãos do edifício: duas janelas e uma porta. Alinhado com a porta, no
adro, está o cruzeiro. O ornamento é praticamente inexistente pelo exterior reduzindo-se às
molduras em mármore dos vãos, cujas três padieiras apresentam uma cornija pouco complexa,

assim como a cornija que remata o volume de entrada, correspondente ao braço sul da planta
em cruz grega. Numa cota inferior à cornija um conjunto de gárgulas semicilíndricas rodeia o
edifício. A cobertura é inclinada e adapta-se de forma tosca, tanto ao perímetro exterior do

edifício como à cúpula central do seu interior. No cimo da cobertura foi colocado um zimbório
que marca o ponto central do edifício, assim como o campanário que contém o sino que está
colocado alinhado com a entrada diretamente por cima da cornija. Cada um dos braços da cruz

em planta corresponde a espaços pouco profundos encimados por abóbadas de canhão. O


braço sul contém a porta de entrada enquanto que no braço oposto, a norte, está o altar,
separado do nível de entrada por dois degraus em mármore. O braço oeste é diretamente

iluminado por uma das janelas viradas a sul e o braço este seria simétrico caso não tivesse a
escada de acesso ao púlpito, que pelo seu lugar destoante na simetria do espaço e forma
descuidada não será original. Todo o interior é coberto de frescos em tom laranja com episódios

referentes ao santo padroeiro. Nas paredes interiores opostas aos vãos encontram-se os três
altares, a meio o altar central alinhado com a porta e nas extremidades os altares secundários,

mais pequenos. O espaço central é de planta próxima ao quadrado e encimado por uma cúpula
semiesférica.!
1.3 - Objetivo, Método e Estrutura

" O presente trabalho desenvolve uma análise crítica referente à Capela de São João
Batista em Vila Viçosa. O método para a compreensão dos temas arquitetónicos inerentes ao
edifício é principalmente a interpretação de elementos gráficos produzidos pelo grupo. Por

acreditarmos que uma determinada intenção e linguagem arquitetónica só pode ser plenamente
compreendida tendo em conta o contexto em que se insere, ao longo do tempo, tentámos neste
ensaio cruzar os desenhos com a informação disponível acerca dos temas abordados, num

esforço para não tratar a Capela como um objeto isolado."A estrutura do ensaio revela ambas as
preocupações acima referidas, onde a ordem dos temas analisados vai do geral (Estrutura
Urbana) ao particular (Pintura Mural), culminando numa suposição elaborada pelo grupo referente

a uma grande mudança que a Capela sofreu após o Terramoto de 1755.!


3.1 - Estrutura Urbana

" Vila Viçosa, outrora Vale Viçoso e Callipole1 , situa-se no distrito de Évora, Alentejo, e é
atualmente um concelho candidato a Património Mundial da UNESCO. O primeiro foral da vila
data o ano de 1270 e fora concedido por D. Afonso III, quinto monarca de Portugal, documento

que seguiu os moldes do de Monsaraz, Estremoz e Santarém, atribuindo largas regalias a Vila
Viçosa.!
" Tomando a segunda metade do século XIII2 como ponto de partida desta investigação,

verificámos que este período corresponde a um momento decisivo na história do


desenvolvimento urbano em Portugal, nomeadamente no Alto Alentejo, e do desenvolvimento
das formas urbanas portuguesas que ainda hoje perduram na sua maioria. Em 1267, D. Afonso III

começa a doação de terrenos para a implantação de um convento dos Agostinhos que viria a ser
construído junto ao eixo Norte-Sul unindo Vila Viçosa a Borba e a Estremoz. Anos mais tarde, em
1290, por intermédio de D. Dinis, o castelo e a cerca medieval foram construídos no ponto mais

elevado do concelho, respeitando as regras defensivas vigentes, sendo a segunda amplamente


melhorada por D. Fernando que “tornou Vila Viçosa num quartel-general da guerra contra

Castela”3 . A construção do castelo é contemporânea da construção da vila e, portanto, é visível o


sentido unificador existente da proposta; um grande eixo liga a porta principal da cidade ao
castelo, e o outro atravessa-o perpendicularmente. Estes dois eixos foram preponderantes na

definição das ruas e das travessas existentes sendo que, no cruzamento destes dois eixos,
encontra-se a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a Matriz, perante a qual (Poente) se
estende uma pequena praça quadrangular. Tendo em conta que a construção deste equipamento

religioso data o fim do século XVI e inícios do XVII, deduzimos que a respectiva praça, ou pelo
menos o seu desenho na planta de Nicolau de Langres, é também deste período. !
" Em Vila Viçosa, a construção do núcleo urbano medieval dentro da alcáçova evidencia um

traçado ortogonal de ordem e de grandeza – o seu desenho enquadra-se na tipologia das


cidades medievais da época – e resultante forma assemelha-se, respeitando a escala e

1No século XVI, André de Resende, escritor e humanista português, a propósito da sua visita à corte dos duques de
Bragança, atribuiu a Vila Viçosa o nome Callipole em seu escrito “Antiguidades da Lusitânia”. Esta designação foi de tal
modo bem aceite pela corte que, ainda hoje, os habitantes de Vila Viçosa se chamam “calipolenses”.

2 TEIXEIRA C., Manuel, “É principalmente ao longo da fronteira terrestre que nos séculos XIII-XIV são fundadas várias
cidades novas com o objectivo de povoar os novos territórios e de os defender. O período fundamental deste processo
(…) decorre da segunda metade do século XIII ao final do primeiro quartel do século XIV”, in Callipole revista de cultura
n.º 12 – 2004, Câmara Municipal de Vila Viçosa, p. 210

3 TEIXEIRA C., Manuel, op. cit., p. 214


proporção evidentemente, à de Nisa e Olivença (nas quais coincidem a posição das portas da

cerca). A estrutura urbana intramuros era composta por quatro fiadas de quarteirões
rectangulares (em rigor trapezoidais), perpendiculares ao eixo principal. No total, portanto, eram
oito quarteirões que definiram três ruas longitudinais – uma central e duas laterais. Nas laterais

deste conjunto havia sido deixado um espaço para a construção de praças, porém, a praça –
dispositivo de organização espacial – não parece ter sido, segundo Manuel C. Teixeira, “um
elemento muito estruturante da composição urbana medieval portuguesa, surgindo na maioria

dos casos como espaço periférico à composição” e remata “as praças formais e centrais que
hoje vemos nas estruturas urbanas de origem medieval parecem-nos ter sido de desenvolvimento
posterior.”.4 !

" Parece-nos agora evidente que a regularidade do traçado é uma forte característica das
cidades medievais e este conceito traduz uma vontade expressa de racionalização, planeamento
do território5 e de construção de modelos que permitiram infraestruturar e povoar amplos

territórios; consequentemente, a adopção da malha regular quadrangular foi utilizada


precisamente por ser o método mais rápido, eficaz e equitativo de fundar novas cidades em
locais novos. !

" Para além das intervenções intramuros, Vila Viçosa também se desenvolveu extramuros
sobre de um arrabalde contíguo na encosta Poente. Contexto e topografia revelaram-se, assim,

determinantes na configuração desta vila, provocando dois eixos absolutamente essenciais – um


que liga Estremoz-Alandroal e um outro perpendicular que liga Vila Viçosa a Évora. Estes dois
eixos definiram as rotas de longo curso e, no sentido inverso, ofereceram a partir da(s) entrada(s)

da vila uma ramificação de percursos “que organiza a direcção dos lugares centrais”.6 O primeiro
eixo determinou a orientação dos arruamentos estruturantes do arrabalde e o segundo organizou
melhor o espaço público constituindo referência para o ordenamento da expansão urbana da

Baixa Idade Média. !


" Sobre o arrabalde, e obedecendo a regras geométricas de implantação, surgiram
quarteirões rectangulares alongados nos quais os respectivos lotes viravam-se para as ruas

longitudinais. Em nossa opinião, aquilo que determinou a forma desta malha urbana do arrabalde
foi a rua/estrada de Évora devido à sua posição geográfica e a facilidade de acessos que esta
proporcionava; pois, em torno da qual, se dispõem simetricamente os equipamentos de um e

4 TEIXEIRA C., Manuel, op. cit., p.214

5TEIXEIRA C., Manuel, “Esta noção de planeamento está associada à ideia de poder: o poder de planear e o poder de
dispor dos recursos necessários para impor a concretização do modelo planeado.”, op. cit., p. 211

6 OLIVEIRA, M. Marta, in Callipole revista de cultura n.º 12 – 2004, Câmara Municipal de Vila Viçosa, p. 226
outro lado. A disposição da malha evidencia rigor, geometria e (sobretudo) simetria, conceitos

fundamentais para o desenho de cidade.!


" A expansão da vila no século XVI.!
" A partir do século XVI, Vila Viçosa ganha uma outra dimensão no panorama arquitectónico

e urbanístico português através de um plano de expansão que procurou modernizar a vila e fazer
face às exigências funcionais e administrativas decorrentes da época. Com a chegada de
numerosas famílias da nobreza a partir do segundo quartel do século XV, atraídas pela Casa de

Bragança, Vila Viçosa viu-se obrigada a repensar de forma ordenada o crescimento provocado
pelo movimento.!
" Ora, em Portugal, as transformações urbanas deste período traduzir-se-ão na reforma de

espaços públicos e na expansão de cidades existentes e, destas, podemos traçar três


características que definem o urbanismo Quinhentista português: a rua como traçado organizador
e regulador; as praças regulares; e malhas urbanas ortogonais que correspondiam aos ideais de

racionalidade e de uniformidade estética renascentista.!


" Em 1501, o duque D. Jaime, filho de D. Fernando II, dá início à construção do novo Paço
Ducal e respectivo terreiro, junto à igreja de Santo Agostinho, no quadrante Norte da vila. Esta

nova construção veio consolidar aquela área do tecido e urbano e enfatizar o eixo Norte-Sul.
Mais de um século depois, em 1630, a Casa de Bragança propõe aos Agostinhos que o edifício

monástico se vire para o paço oferecendo maior importância ao terreiro. A relação que daqui
resulta terá “facilitado a alteração da rua de Lisboa – eixo central do Arrabalde Medieval – que
continuaria a direito e passaria pela frente (agora as traseiras) do Convento dos Agostinhos”7 .

Simultaneamente à edificação dos paços de Vila Viçosa decorre a construção de “ensanche” de


quarteirões que regulariza a expansão urbana da vila, e inicia-se o levantamento de uma nova
cerca que vai envolver os arrabaldes medievais da vila, o paço do Reguengo e os novos

quarteirões. Note-se o seguinte: em oposição à lógica estabelecida pela retícula proveniente da


Idade Média, que tomava por ordenada a direcção de Évora, a estrutura de quarteirões da
expansão Quinhentista orientar-se-á paralela ao fuso; ruas direitas longas, atravessadas por

outras ruas ou travessas, conduzem os percursos desde os lugares de apresentação da casa


ducal, nos novos paços, “em direcção ao centro da vila que gravita numa linha mediana do
tecido urbano, entre o norte e o sul e entre a vila alta e os campos do Carrascal, na elevação

fronteira poente”.8 Estes percursos, que obedecem às cotas do terreno, convergem no largo
paroquial de São Bartolomeu, junto do Hospital do Espírito Santo e da sede da Misericórdia. "

7 TEIXEIRA C., Manuel, op. cit., p. 219

8 OLIVEIRA, M. Marta, op. cit., p. 234


" Nesta remodelação, é visível como se foi concretizando a estratificação social através da

diferença de lugares no tecido urbano. A norte encontrava-se a corte ducal, num lugar
ligeiramente mais alto, e a sul os bairros para os habitantes com menos posses financeiras. E
como é que isto se traduz na arquitectura? Através da diferença de medidas de ruas e de

quarteirões, e do parcelamento “que define as possibilidades das casas e de logradouros”.9 !


" Vila Viçosa durante Seiscentos !
" Com a saída do duque D. Jaime da Almedina para o Paço do Reguengo, em 1500,

sucedeu-se a demolição do castelo medieval e consequente substituição por fortaleza de tipo


italiano. Construiu-se a Cerca Nova e a cerca preexistente foi reforçada por um polígono
periférico, em forma de estrela.!

" No século XVII, período correspondente à Restauração, muitas cidades portuguesas


sofreram intervenções arquitectónico-militares baseadas nos sistemas defensivos que então
vigoravam na Europa. Vila Viçosa não foi excepção. Devido à perda de Jerumenha em 1662, facto

que expôs a praça de Vila Viçosa na fronteira militar com Espanha, determinou-se no imediato a
ampliação do seu perímetro defensivo que passou a englobar “toda a povoação da cintura
mediévica”.10 O responsável do novo plano foi o general conde de Schomberg que lhe ampliou o

polígono no exterior da estrela abaluartada. Consequência desta nova empreitada,


desapareceram todos os imóveis que através dos tempos se haviam encostado, interna e

externamente aos muros primitivos. !


" Equipamentos públicos: fontenários e chafarizes !
" As obras de abastecimento de água, fontenários, chafarizes e outros equipamentos

semelhantes constituíram uma posição de afirmação (solidária) por parte da Casa de Bragança.
Esta acção proporcionou uma significativa melhoria nas condições de higiene e salubridade dos
meios urbanos e valorizou a imagem do Ducado. Ao fundo da rua da Corredoura, junto ao largo

da Saboaria, já existia no tempo de D. João I (1569), uma fonte “monumental que dá nome ao
largo da Fonte Pequena, na transição para o adro do convento Agostinho.” Essa fonte, diz-se,
tratava-se de uma construção com “um pórtico de mais de cinco metros, com frontão-obelisco

piramidal”, com duas entradas laterais de mármore. Em anexo “havia um lavadouro e um chafariz
concelhio que corria ao longo da linha de casas, de planta rectangular, de mármore, com cerca
de um metro de altura, e no qual podiam beber mais de 200 (duzentos) animais sem

impedimento, centrado por um cavalo esculpido em mármore, jorrando água pelas narinas,

9OLIVEIRA, M. Marta, “A toponímia antiga confirma as diferenças dos lugares da vila: a Norte, as ruas dos Fidalgos,
das Cortes, a Sul, as ruas do Poço, das Vaqueiras, de Trás ou de Três, a rua de Fora.”, op. cit., p. 235

10 TEIXEIRA C., Manuel, op. cit., p. 224


ininterruptamente pelas narinas, olhos, boca e ouvidos”.11 Facilmente se imagina o impacto

significativo que este equipamento teve na vila, dada a sua presença e escala monumental, e o
modo como surgiria no enfiamento visual das ruas que desembocavam no largo.12 Ainda durante
o período Quinhentista, na praça Martim Afonso de Sousa, ao fundo das ruas que desciam a

porta de Estremoz para o adro de Santo Agostinho, foi erguida em 1588-1589 uma fonte de
mergulho, “com um pórtico de três tramos arquitravados de colunas dóricas, a que se associava
um lavadouro anexo, obra de Manuel Ribeiro, mestre das obras do duque e mestre do

Concelho”.13 O lavadouro, inspirado num modelo italiano existente em Roma, tinha capacidade
para “mais de cem mulheres oferecia postos individualizados de lavagem, com pedras
intervaladas e canais próprios de adução das águas.14 A fonte sofreu várias alterações ao longo

do tempo e mudou três vezes de sítio (1693, 1856, 1940), tendo o lavadouro de modelo romana
desaparecido na reforma seiscentista. Em 1772, por baixo da Casa de Lisboa, havia sido
construído um outro chafariz destinado para uso público e para “as manadas de cavalos da

Coudelaria de Alter que vinham pastar nas coutadas da casa de Bragança”.15 (o chafariz
desapareceu nas obras de arranjo do terreiro, em 1939-1940). Uma das fontes que está mais
directamente ligada com tema da investigação, era a fonte do Carrascal, com chafariz e

lavadouro, junto da Ermida de São João Baptista da Carrasqueira, obra de D. João II que
“aproveitava um extenso sistema de canos que traziam água dos domínios do paço por

aqueduto, com arcas de água e dois lugares de fresca”.16 Já o Rossio, era servido por duas
fontes: uma junto ao Convento da Esperança e a outra ao lado de São Paulo junto de uma ponte
na embocadura da rua de Frei Manuel.17 !

11ESPANCA, Túlio, in Inventário Artístico de Portugal, volume IX Distrito de Évora, Academia de Belas Artes, 1978, p.
710-711

12 OLIVEIRA, M. Marta, op. cit., p. 240

13 TEIXEIRA, José, in O Paço Ducal de Vila Viçosa: sua arquitectura e suas colecções, Fundação da Casa de Bragança,
Lisboa, 1983, p. 84

14 ESPANCA, Túlio, op. cit., p. 710

15 ESPANCA, Túlio, op. cit., p. 712

16 ESPANCA, Túlio, op. cit., p. 711

17 OLIVEIRA, M. Marta, op. cit., p. 241


3.2 - Planta Centralizada

De modo a perceber o culto e características mais importantes da planta centralizada


baseada na cruz grega da segunda metade do século XVI e dos primeiros anos do século XVII, é

importante discutir o seu enquadramento histórico, influências e relação entre a doutrina católica
e tipologias.!
As construções em planta centralizada, são uma presença constante, embora discreta, na

arquitetura ocidental (na maior parte das vezes são aplicados a edifícios religiosos). O tema de
planta central era entendido pelos católicos como obras excecionais, opondo-se a planta
basilical através de um complexo de razões de carácter simbólico e de função (“…Ceballos

(1983) concluiu que a planta centralizada se reservava a santuários de peregrinação, capelas


votivas, templos funerários e, em geral, igrejas de culto não paroquial mas devocional em

conexão simbólica com certos mistérios da vida da Virgem e da Paixão e Ressurreição de


Cristo…”)18 , bem como a sua evolução e articulação com a cultura e a história da humanidade.!
A principal razão da construção destes edifícios tem a ver com o significado simbólico

atribuído a estas formas tais como, poder de união e eternização, por exemplo. Surgiram
diversos exemplos a partir do século XVI, em Portugal e por toda a europa, influenciadas do
Renascimento italiano, que recuperou da antiguidade essas formas. No entanto, este núcleo

destaca-se pelo afastamento da arquitetura da época em Portugal, pelas suas dimensões


reduzidas e pelo seu carácter regional. As suas formas variavam consoante os diferentes tipos de
polígonos: planta de cruz grega, plantas poligonais regulares, etc.!

O renascimento em Portugal foi um período de redescoberta da Antiguidade Clássica,


possibilitando a descoberta do natural e humano (Humanismo). Assim, muitas construções
adquirem um sentido novo, humano e racional, estendendo-se de casas de habitação, a edifícios

públicos e urbanismo. Este período também é marcado pela arquitetura de estilo maneirista
impulsionado pelas encomendas (…” passado o breve episódio renascentista, a nossa
arquitetura percorreu uma fase de maneirismo experimental, ensaiado ao longo do segundo terço

do século XVI, num processo de reação contra o ideal classicista do Renascimento…”)19. Tal
movimento foi profundamente criticado, por adotar modelos clássicos e torná-los subjetivos,

intelectualizando até ao extremo a realidade. O maneirismo português, ao contrário do italiano,

18PAULO VARELA GOMES, Arquitetura, Religião e Política no Século XVII – A Planta Centralizada, FAUP, Publicações,
Porto, 2001, página 18.

19 JOAQUIM VERÍSSIMO SERRÃO, História de Portugal, vol. IV, Editorial Verbo, Lisboa, 1980, páginas 431-432
(teve uma passagem gradual do Renascimento para o Maneirismo) são o resultado de sucessivas

influências e não se encontram autónomos, resultando mais como experiência.!


O aparecimento de planta centralizada em Portugal deve-se a um conjunto de diversos
fatores políticos, sociais, culturais e religiosos que se vivia na época. Este núcleo organiza-se em

três diferentes grupos: o aparecimento igrejas baseadas no quadrado com cruz grega inscrita
(segunda metade século XVI e início do século XVII); as plantas poligonais, ligadas às ordens
religiosas; e por fim o aparecimento de igrejas hexagonais e octogonais, no século XVII.!

Os motivos que levaram a construção de igrejas baseadas no quadrado com cruz grega
prendem-se com a relação entre a tipologia e o culto ao Santíssimo Sacramento muito praticado
na época: …” O culto do Santíssimo implicou que se repensasse o espaço interno das igrejas de

modo a orientar os celebrantes para o altar e garantir a clara visibilidade deste…”20. Além disso,
um dos maiores prelados da igreja do século XVI, S. Carlos Borromeu, preferiu as plantas em
cruz grega e em cruz oblonga, pois eram próprias da igreja primitiva 21. Os templos apostólicos e

as basílicas paleocristãs eram a fonte de inspiração das propostas de S. Carlos Borromeu.


Porém, Borromeu excluía as plantas circulares, pois as considerava pagãs. Já Serlio escreveu um
tratado que aborda diversas formas de templos que podem ser vistos em toda a cristandade

(forma circular, poligonal, cruz grega e cruz latina), admitindo as preexistências condicionarem a
liberdade criativa do arquiteto. Já Alberti preferia a igreja circular, pois o círculo era a forma

preferida pela Natureza.!


A tipologia de cruz grega, era, geralmente constituída pelo desenvolvimento de quatro
lados de um quadrado. Esta, inscreve-se num círculo ou quadrado com lados iguais provocando

forte sentido de centralidade cuja espacialidade reforça a imediata presença da cúpula, visível
internamente logo à entrada da edificação: (…)” Por edifício de planta centralizada entendo
aquele que foi gerado a partir de uma planta em figura geométrica caracterizada pela

convergência de eixos para um único centro” (…)22 .!


No caso de estudo, a ermida de S. João Baptista da Carrasqueira trata-se de uma planta
de cruz grega de braços curtos localizada numa das entradas de Vila Viçosa. Está revestida de

pinturas quinhentistas que representam, na abóbada de canhão do altar, o batismo de Cristo, no

lado da Epístola, Adão e Eva no Paraíso e, do lado oposto, uma Fons Vitae. Um outro

20PAULO VARELA GOMES, Arquitetura, Religião e Política no Século XVII – A Planta Centralizada, FAUP, Publicações,
Porto, 2001, página 151.

21PAULO VARELA GOMES, Arquitetura, Religião e Política no Século XVII – A Planta Centralizada, FAUP, Publicações,
Porto, 2001, página 29.

22PAULO VARELA GOMES, Arquitetura, Religião e Política no Século XVII – A Planta Centralizada, FAUP, Publicações,
Porto, 2001, página 15.
monumento com planta central da região sul do Alentejo é a fonte de Vila de Elvas, de 1622.

Além da ermida de Vila Viçosa, este é (…) “uma obra característica da arquitetura das ermidas
rurais dos Bragança” (…)23 ." !
A estrutura da Ermida, em Cruz Grega, de presença exterior austera e simples, porém,

valorizada através proporções bem trabalhadas para sua volumetria de pequenas dimensões.
Embora não apresente de maneira clara em seu exterior, a edificação contém uma cúpula
semiesférica e quatro abóbadas, conformando a força do seu espaço interior. Estes elementos

são sobrepostos por uma cobertura de telha que oculta a espacialidade interna do edifício.!
Devido ao contraste entre interior e exterior, ao entrar na Ermida provoca grande surpresa e
experimentação de sua espacialidade. A presença da cúpula é forte e imediata, visível desde a

entrada da capela, devido à sua planta de “braços curtos”. Além disto, todo o teto é composto
de formas semicirculares. Esta estrutura apresenta em consonância com as pinturas interiores,
apresentando uma gramática decorativa em tons vibrantes, que faz uma série de referências

religiosas a episódios da vida de S. João Baptista, reforçando o sentido do espaço e seu


contraste com o exterior. As proporções da planta são fundamentais para a composição e
ornamentação dos tetos da capela.!

Alguns exemplos comparativos de planta de Cruz Grega encontram-se na planta de


Misericórdia de Faro, Igreja de Sacramento de Alcântara, S. Pedro de Beja e S. Frutuoso

Montélios, entre outros, onde podemos identificar relações proporcionais idênticas. A geometria
geral do desenho desenvolve-se inscrevendo círculos múltiplos de um palmo em todas a igrejas.
As plantas são assim, definidas por uma geometria de círculos proporcionais entre si, nos dois

eixos direcionais. Além disso, todas as plantas são inscritas num rectângulo próximo ao
quadrado que define os seus limites. O círculo é recorrentemente usado, como medidor de
escala, pois pode ser inscrito em qualquer polígono regular (é o caso das plantas centralizadas).!

" No caso da Ermida de S. João Baptista, o desenho da planta é desenvolvido por uma
série de círculos com 264 centímetros de diâmetro (doze palmos), que configuram os dois eixos
axiais e toda a dimensão da planta. Esta estabelece uma relação proporcional forte e típica na

arquitetura renascentista. Além do desenho da planta, toda a estrutura da igreja tende a seguir
esta medida proporcional.!
" Podemos concluir que todo o processo histórico da época teve grande influência na

maneira de pensar a arquitetura centralizada. Além das descobertas no Renascimento, a


passagem pelo Humanismo teve grande importância no desenvolvimento da cultura

23PAULO VARELA GOMES, Arquitetura, Religião e Política no Século XVII – A Planta Centralizada, FAUP, Publicações,
Porto, 2001, página 202.
arquitetónica. A forma e dimensão das plantas centralizadas surgem relacionadas geometrica e

proporcionalmente, independentemente de enquadrar uma base mais ou menos erudita.!


" !
" !

!
3.3 - Estrutura e Materialidade

" A taipa ou o adobe, apesar apesar de uso comum em construções no Alentejo, parecem
soluções pouco prováveis para a elaboração das paredes da ermida devido à relativa pouca
espessura que apresentam (entre 0.8 e 1 metros) comparada ao enorme esforço horizontal a que

estão sujeitas devido aos impulsos provocados pela cúpula e abóbadas. No entanto também é
verdade que o perímetro do edifício em forma de cruz oferece grande rigidez à construção,
funcionando as faces menores como contrafortes e possibilitando o uso da taipa. Estes

“contrafortes” são ainda de tamanho inferior aos gigantes utilizados em comuns edifícios
agrícolas ou habitacionais no Alentejo, que têm de suportar esforços inferiores, de simples
telhados com estrutura de madeira. Logo, a utilização de taipa neste edifícios provavelmente só

seria utilizada com espessuras de parede superiores à existente.!


" A hipótese mais plausível defende que as paredes sejam compostas por alvenaria de
pedra (granito ou xisto), tijolo ou um sistema misto que compreenda a utilização destes dois

materiais. Tal solução suportaria mais facilmente o peso do tijolo das abobadas e cúpula com
menor volume de parede. !

" Destas paredes resistentes são lançadas as quatro abóbadas de canhão certamente em
tijolo, que conformam os espaços correspondentes aos braços da cruz grega em planta. Sobre
as abóbadas ergue-se a cúpula central também em tijolo. A transição em planta do espaço

central quadrado para o círculo de arranque da cúpula é feito com recurso a pendentivos ou
trompas, à cota do ponto mais alto dos arcos de volta inteira resultantes da abóbada de canhão. !
" As paredes exteriores são rebocadas e caiadas enquanto que as interiores, incluindo os

tetos são estucadas e pintadas. !


" O pavimento é revestido com ladrilho retangular na proporção de dois para um.!
" Mármore rosado é utilizado nas subtis peças de remate das guarnições dos vãos, nos

degraus de acesso ao altar e nas oito gárgulas que rodeiam o edifício. Dos seis tipos de mármore
rosa existentes em Vila Viçosa24 foi provavelmente utilizado o mármore Rosa Venado de Lagoa,
pois os seus laivos branco-cremes, o grão fino a médio e as vergadas cinzento-esverdeadas e

avermelhadas correspondem na perfeição à pedra observada na Capela. !


" !

24 Ver anexo
" A cobertura apresenta duas soluções distintas não contemporâneas. Grande parte da

cobertura é resolvida com telha de meia cana montada provavelmente numa estrutura de
madeira que se adapta de forma imperfeita à geometria do extradorso da cúpula central. A sul,
uma pequena parte apresenta um terraço em ladrilho e parte do que seria uma semiesfera

revestida a soletos cerâmicos vidrados que corresponde à geometria da cúpula.!


" A capela apresenta uma geometria que ultrapassa a construção religiosa vernácula do
Alentejo e reflete um desenho erudito que explora temas de arquitetura universais e intemporais.

A escolha dos materiais e a forma em que estes são utilizados está associada aos temas de
arquitetura que o edifício explora e a sua justificação não se limita à disponibilidade dos mesmos
na região.!

!
3.4 - Pintura Mural

A presença da corte Bragantina em Vila Viçosa foi um dos elementos propulsores à


produção artística, não só na vila, como nos concelhos vizinhos. Um período fértil de

composições pictóricas iniciado com o Paço Ducal prolonga-se pelos séculos XVI e XVII. !
Muitos artistas atraídos pelas campanhas artísticas promovidas pela corte dos Bragança
produzem um importante núcleo de composições, com destaque à pintura mural. Alguns dos

artistas que trabalharam em Vila Viçosa foram Francisco de Campos (1515 -1580) ao serviço do
duque D. Teodósio I, Giraldo Fernandes de Prado (1530-1592), cavaleiro pintor privativo do duque
D. Teodósio II e Tomás Luís (1565 – 1612). !

Referente à Ermida de São João Baptista, observa-se a utilização de fundos do tom


vermelho escuro, tradição que persistiu na região, em casos como os das pinturas das igrejas do

Convento da Esperança e das Chagas, assim como nas Salas da Música, no Paço Ducal. As
molduras que cercam os painéis da Ermida são também elementos comuns aos edifícios da
região. Além disso, destaca-se a presença dos retábulos fingidos, tão populares em todas as

regiões do Alentejo. Essa tipologia dos retábulos se relaciona com o espírito da Igreja Pós-Trento,
com a consagração de amplo significado catequético às representações artísticas.!
" A Ermida de São João Baptista, portanto, apresenta um modelo misto de composição

pitoresca, combinando o brutesco preenchendo as paredes e teto (foto), enquadrando um painel


central como um medalhão, com representações de cenas maioritariamente sagradas, com
exceção de um dos painéis que representa uma paisagem e uma fonte (foto). Já ao centro, na

cúpula, encontra-se a representação do Cordeiro de Deus com as inscrições “Ecce Agnus Dei,

ecce qui tollit peccata mundi.”.


3.5 - O Terramoto de 1755

" !

" O presente capítulo elabora uma suposição que nasceu somente da análise de material
gráfico referente ao caso de estudo, não tendo sido encontrado qualquer comprovativo ou

mesmo suposição escrita sobre o tema. Esta tese defende que a ermida foi alterada de forma
significativa após os muito prováveis estragos provocados pelo sismo de 1755, com epicentro no
Oceano Atlântico perto de Lisboa.!

" Sabe-se com certeza que o sismo abalou gravemente Vila Viçosa, tendo provocado sérios
danos em edifícios e na população:!
" “Os efeitos do terramoto ocorrido no dia 1 de Novembro de 1755 também foram notáveis

em Vila Viçosa. Com o passar do tempo, as memórias das ruínas e das mortes de 29 mulheres e
2 crianças neste terramoto têm-se esquecido, à excepção do desabamento da nave central da

Igreja Matriz, um princípio de destruição na igreja dos Capuchos, e algumas casas onde
funcionava a Câmara que ficaram inabitáveis. Também sofreram bastante ruína os Conventos de
S. Paulo, da Esperança, de Santa Cruz, das Chagas e dos Agostinhos. !

Como era dia de Todos-os-Santos e era sábado dirigia-se um grande número de pessoas à Igreja
Matriz para ir à missa de Nossa Senhora da Conceição. Entre as nove e as dez horas, quando se
cantava a missa, a terra começa a tremer com um ruído assustador e as abóbadas oscilam,

tendo a abóbada da nave central aberto uma fenda e deixado penetrar os raios de sol. Os
músicos e os coristas gritam para que o povo fuja, mas um novo tremor de terra faz destruir a
abóbada no centro, caindo aos bocados em cima das pessoas que ali se costumavam sentar.”25 !

" Perante um sismo de tal poder destrutivo será bastante improvável que a ermida tivesse
escapado completamente ilesa. Do seu lado sul, por cima do volume da entrada, parte da
cobertura é plana e contém um revestimento de soletos cerâmicos vidrados que protegem

parcialmente a estrutura da cúpula. As duas gárgulas em funcionamento servem para escoar a


água da cobertura plana através de tubos de queda internos. Na restante cobertura composta
por telha de meia cana numa estrutura tosca e sem regra as gárgulas existentes tornam-se

dispensáveis e ilógicas, pois o plano do telhado ultrapassa o da fachada permitindo a queda


direta da água. Onde a cobertura é de telha também a cornija desaparece. Estas evidências

tornam bastante provável que o telhado tenha sido posterior.!

25ESPANCA, Pe. Joaquim José da Rocha Espanca (1983). Memórias de Vila Viçosa. Vila Viçosa:
Cadernos Culturais da Câmara Municipal de Vila Viçosa, vol. 11.
" Não é descabido supor que o sismo fez desabar a parte norte da cobertura original da

capela, tendo esta sido reconstruída mais tarde de forma descuidada e sem preocupação de
preservar nem as formas nem as ideias arquitetónicas inerentes à sua conceção original, da qual
resta apenas uma pequena parte ainda existe. Esta nova cobertura foi colocada de forma acrítica

e descuidada, desrespeitando o desenho original. A sua colocação tornou os tubos de queda e


gárgulas desnecessários e criou espaços internos inacessíveis e sem sentido. O facto desta
reconstrução ter sido despreocupada é fundamentado pela menor importância que a vila tinha no

século XVIII, contrariamente à época em que foi construída.!


" A cobertura da capela seria totalmente plana na sua origem e revestida a ladrilho (como
indica a parte sul) interrompida ao centro por uma semiesfera revestida de soletos cerâmicos

vidrados. A Capela de São Pedro de Beja pode ser útil apenas para encontrar um paralelo na
arquitetura portuguesa onde uma cúpula assenta diretamente numa cobertura plana. A utilização
de soletos vidrados provoca na paisagem o efeito semelhante a um farol, pois com a reflexão

proveniente da incidência solar, este objeto que pela sua situação no terreno é de grande
visibilidade torna-se ainda mais evidente. Este efeito é conseguido de formas diferentes em obras
semelhantes como é o caso da Capela de São Gonçalinho, em Aveiro, onde o material refletor

que reveste a cúpula é o azulejo. Na Capela do Socorro, de Vila do Conde, o material refletor é o
pó de mármore, na Capela de Santa Luzia, em Alvito, é a forma quase insólita e agulhada da

cúpula que chama a atenção e na Capela de Santa Catarina, em Monsaraz, é a geometria da


torre hexagonal.!
" O zimbório atual, cujo desenho aponta para a época pombalina, sendo muito semelhante

ao existente na capela do Solar dos Peixinhos, em Vila Viçosa, dessa época. Caso existisse
algum elemento no topo da cobertura semi-esférica não se sabe como seria, no entanto pode-se
supor que fosse um remate mais simples que não perturbasse a leitura e geometria dos volumes

puros. De forma a tornar a experiência do espaço interior mais rica talvez até no lugar do
zimbório existisse um lanternim encarregue de iluminar o espaço interior, evidenciando a sua
geometria. O lanternim da Capela das Onze Mil Virgens, em Alcácer do Sal, de construção

contemporânea à ermida de São João Batista, pode servir como exemplo do que poderia ter sido
tal lanternim, onde a utilização do mármore seria óbvia.!
" O desenho pombalino do zimbório corresponde obviamente à altura da reconstrução da

capela após o terramoto. Os frescos da cúpula central terão sido refeitos também nessa data. A
estrutura do sino será também desta época, embora nada o comprove senão a sua escala algo
desajustada ao tamanho do edifício. O púlpito e os altares interiores poderão também ser

contemporâneos à reconstrução do século XVIII. A estrutura em madeira ou alvenaria dos altares


imita uma composição de elementos arquitetónicos clássicos que não se enquadra na linguagem

da restante capela. Também o púlpito, apesar da sua estrutura de alvenaria, imita através da
pintura uma coluna e cornija. Estes objetos construídos com materiais banais imitam algo que
não são verdadeiramente, através de elementos superficiais, e seria impossível que esta atitude

estivesse presente na mente de quem idealizou originalmente a capela.!


4.1 - Considerações Finais

" O presente trabalho permitiu acima de tudo levantar questões e suposições que

pensamos ser pertinentes para a compreensão do objeto em estudo. A análise dos desenhos e o
constante cruzamento com informação produzida por outros possibilitou a chegada a

considerações que não podem ser dadas como verdadeiras mas cujos argumentos as tornam
possíveis e até prováveis. !
4.2 - Referências bibliográficas

CHICÓ, Mário; REIS, Humberto; "A Arquitectura Religiosa do Alto Alentejo na segunda metade do século XVI e nos
séculos XVII e XVIII"; Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983.!

ESPANCA, Pe. Joaquim José da Rocha Espanca; “Memórias de Vila Viçosa”; Cadernos Culturais da Câmara Municipal
de Vila Viçosa, volume XI, 1983.!

ESPANCA, Túlio; “Inventário Artístico de Portugal”, volume IX Distrito de Évora; Academia de Belas Artes, 1978.!

GOMES, Paulo Varela; "Arquitectura, Religião e Política em Portugal no Século XVII - A Planta Centralizada"; FAUP
publicações, 2001.!

GONÇALVES, António Nogueira; “Estudos de História da Arte da Renascença. ”!

KLUBER, G. (1988); “A Arquitetura Portuguesa Chã. Entre as Especiarias e os Diamantes (1521-1706) ”. Tradução de
Jorge Henrique Pais da Silva. Prefácio à edição portuguesa de José Eduardo Horta Correia. 2ª edição, Nova Vega e
Herdeiros do Autor, 2005. Lisboa!

MONTEIRO, Patrícia Alexandra Rodrigues Monteiro; “A Pintura Mural na Região do Mármore (1640-1750): Estremoz,
Borba, Vila Viçosa e Alandroal”. Lisboa. Universidade de Lisboa, 2007. Tese de Mestrado em Arte, Património e
Restauro.!

MOREIRA, Rafael de Farias Domingues; “A arquitectura do renascimento no Sul de Portugal: a encomenda régia entre
o moderno e o romano”; Lisboa: Univ. Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1991.!

OLIVEIRA, M. Maria; “Vila Viçosa: temas de ordenamento da forma urbana” in Callipole revista de cultura da Câmara
Municipal de Vila Viçosa, 2004. !

OLIVEIRA, J.T., OLIVEIRA, V. & PIÇARRA, J.M.– Traços gerais da evolução tectonoestratigráfica da Zona de Ossa
Morena, em Portugal: síntese crítica do estado atual dos conhecimentos. Comun. Serv. Geol. Portugal, Tomo 77, 1991.!

SANTOS, Jorge Miguel Marques; “Estudo Construtivo e Estrutural de Abóbodas Alentejanas”. Lisboa. Técnico Lisboa.
Academia Militar, 2014. Tese de Mestrado em Engenharia Militar.!

TAVARES, Domingos; "António Rodrigues - Renascimento em Portugal"; Dafne Editora, 2007.!

TAVARES, Domingos; "Michelangelo - Aprendizagem da Arquitectura"; Dafne Editora, 2012.!

TEIXEIRA, C. Manuel; “Vila Viçosa, Cidade Erudita” in Callipole revista de cultura da Câmara Municipal de Vila Viçosa,
2004. !

TEIXEIRA, José; “O Paço Ducal de Vila Viçosa: sua arquitectura e suas colecções” Fundação da Casa de Bragança,
Lisboa, 1983.

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